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17/04/15 ‘Feminismo Intersecional’. Que diabos é isso? (E porque você deveria se preocupar) | blogueirasfeministas.com/2014/07/feminismo-intersecional-que-diabos-e-isso-e-porque-voce-deveria-se-preocupar/ 1/3 Home Contato Editorial Como Participar Quem Somos Sobre o Blog Biblioteca ‘Feminismo Intersecional’. Que diabos é isso? (E porque você deveria se preocupar) Postado em: 24/07/2014 por: Blogueiras Feministas Texto de Ava Vidal. Tradução de Bia Cardoso. Publicado originalmente com o título: ‘Intersectional feminism’. What the hell is it? (And why you should care) no site do jornal inglês Telegraph em 15/01/2014. Atualmente, dizem que o movimento feminista corre o risco de perder fôlego, a menos que reconheça que nem toda feminista é branca, classe média, cisgênera e sem deficiências dá pistas sobre a intersecionalidade, que tem sido a palavra polêmica e controversa do momento. Intersecionalidade é um termo cunhado pela professora norte-americana Kimberlé Crenshaw em 1989. O conceito já existia, mas ela deu um nome a ele. A definição segundo seu l A visão de que as mulheres experimentam a opressão em configurações variadas e em diferentes graus de intensidade. Padrões culturais de opressão não só estão inte mas também estão unidos e influenciados pelos sistemas intersecionais da sociedade. Exemplos disso incluem: raça, gênero, classe, capacidades físicas/mentais e etn Em outras palavras, certos grupos de mulheres têm que lidar com múltiplas facetas na vida, que possuem diferentes camadas. Não há um tipo de feminismo tamanho único. Por ex sou uma mulher negra e, como resultado, enfrento tanto o racismo como o sexismo ao caminhar em minha vida cotidiana. Mesmo com o conceito de intersecionalidade rondando o femininsmo há décadas, parece que ele só foi incluído no debate majoritário no ano passado ou alguns anos atrás. E, aind muitas pessoas estão confusas com o seu significado ou o que ele representa. Não ajuda em nada que, nos últimos meses, as mensagens difundidas sobre o feminismo intersecional tenham sido um pouco confusas. No último programa “Hora da Mulher de 20 Radio 4, a feminista negra Reni Eddo-Lodge foi convidada para debater como foi o ano do feminismo. Ela começou a falar sobre intersecionalidade e racismo estrutural, mas foi seg Caroline Criado Perez, que escolheu aquele momento para falar sobre insultos que ela havia recebido na internet vindos de pessoas que a atacaram sob o pretexto, segundo ela afir intersecionalidade. Eu preciso avisar que Eddo-Lodge não foi responsável por nenhum dos insultos que ela recebeu, mas a conversa descarrilou e a oportunidade que ela teve de falar sobre o assunto grande audiência, num programa popular de rádio, foi perdida. Caroline Criado Perez, posteriormente, se desculpou. Independentemente disso, o que realmente importa aqui é: as pessoas estão interessadas em saber o que é intersecionalidade e como isso as afeta? Estou ansiosa para redirecio conversa de volta ao tema da intersecionalidade no feminismo e o que isso realmente significa. Para mim, o conceito é muito simples. Como feminista negra, eu não desculpo Chris Brown por agredir fisicamente sua (então) namorada Rihanna, mas sou contra que alguém o d O Feminismo Intersecional reconhece que certos grupos de pessoas têm facetas múltiplas e camadas de v ida com as quais tem de lidar, como o racismo e o sexismo — como é mostrado nesse projeto de fotografia de Kiy un. Foto: Jezebel.

‘Feminismo Intersecional’

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    Home Contato Editorial Como Participar Quem Somos Sobre o Blog Biblioteca

    Feminismo Intersecional. Que diabos isso? (E porque voc deveria se

    preocupar)Postado em: 24/07/2014 por: Blogueiras Feministas

    Texto de Ava Vidal. Traduo de Bia Cardoso. Publicado originalmente com o ttulo: Intersectional feminism. What the hell is it? (And why you should care) no site do jornal ingls The

    Telegraph em 15/01/2014.

    Atualmente, dizem que o movimento feminista corre o risco de perder flego, a menos que reconhea que nem toda feminista branca, classe mdia, cisgnera e sem deficincias. Ava Vidal

    d pistas sobre a intersecionalidade, que tem sido a palavra polmica e controversa do momento.

    Intersecionalidade um termo cunhado pela professora norte-americana Kimberl Crenshaw em 1989. O conceito j existia, mas ela deu um nome a ele. A definio segundo seu livro :

    A viso de que as mulheres experimentam a opresso em configuraes variadas e em diferentes graus de intensidade. Padres culturais de opresso no s esto interligados,

    mas tambm esto unidos e influenciados pelos sistemas intersecionais da sociedade. Exemplos disso incluem: raa, gnero, classe, capacidades fsicas/mentais e etnia.

    Em outras palavras, certos grupos de mulheres tm que lidar com mltiplas facetas na vida, que possuem diferentes camadas. No h um tipo de feminismo tamanho nico. Por exemplo, eu

    sou uma mulher negra e, como resultado, enfrento tanto o racismo como o sexismo ao caminhar em minha vida cotidiana.

    Mesmo com o conceito de intersecionalidade rondando o femininsmo h dcadas, parece que ele s foi includo no debate majoritrio no ano passado ou alguns anos atrs. E, ainda assim,

    muitas pessoas esto confusas com o seu significado ou o que ele representa.

    No ajuda em nada que, nos ltimos meses, as mensagens difundidas sobre o feminismo intersecional tenham sido um pouco confusas. No ltimo programa Hora da Mulher de 2013 da BBC

    Radio 4, a feminista negra Reni Eddo-Lodge foi convidada para debater como foi o ano do feminismo. Ela comeou a falar sobre intersecionalidade e racismo estrutural, mas foi seguida por

    Caroline Criado Perez, que escolheu aquele momento para falar sobre insultos que ela havia recebido na internet vindos de pessoas que a atacaram sob o pretexto, segundo ela afirmou, da

    intersecionalidade.

    Eu preciso avisar que Eddo-Lodge no foi responsvel por nenhum dos insultos que ela recebeu, mas a conversa descarrilou e a oportunidade que ela teve de falar sobre o assunto para uma

    grande audincia, num programa popular de rdio, foi perdida.

    Caroline Criado Perez, posteriormente, se desculpou.

    Independentemente disso, o que realmente importa aqui : as pessoas esto interessadas em saber o que intersecionalidade e como isso as afeta? Estou ansiosa para redirecionar essa

    conversa de volta ao tema da intersecionalidade no feminismo e o que isso realmente significa.

    Para mim, o conceito muito simples. Como feminista negra, eu no desculpo Chris Brown por agredir fisicamente sua (ento) namorada Rihanna, mas sou contra que algum o descreva

    O Feminismo Intersecional reconhece que certos grupos de pessoas tm facetas mltiplas e camadas de

    v ida com as quais tem de lidar, como o racismo e o sexismo como mostrado nesse projeto de

    fotografia de Kiy un. Foto: Jezebel.

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    como um preto s****o , do mesmo modo que uma mulher branca fez comigo. Isso no significa que eu apoio a violncia domstica, como ela, ento, me acusou de fazer. Isso significa que

    eu, como a maioria das mulheres negras, no suporto o racismo.

    A principal coisa que a intersecionalidade est tentando fazer, eu diria, evidenciar que o feminismo, que excessivamente branco, classe mdia, cisgnero e capacitista, representa apenas

    um tipo de ponto de vista e no reflete sobre as experincias de diferentes mulheres, que enfrentam mltiplas facetas e camadas presentes em suas vidas.

    Roqayah Chamseddine uma feminista e escritora que explica isso melhor, dizendo: O feminismo branco extremamente reticente e se recusa a reconhecer os obstculos que as mulheres

    no-brancas enfrentam sistematicamente, j que elas no so visveis. Nossas vozes precisam ser ampliadas porque o feminismo branco nos trata como um trofu e usurpa nossas vozes.

    Ento, at que o movimento feminista majoritrio comece a ouvir os diferentes grupos de mulheres dentro dele, ele vai continuar a estagnar e no ser capaz de seguir em frente. O nico

    resultado disso que o movimento torna-se fragmentado e continuar a ser menos eficaz.

    Racismo no feminismo

    Sempre que o tema do racismo levantado no feminismo, no diferente de quando esse tema proposto em qualquer outro espao de debate. Os discursos banais habituais so usados e a

    acusao de dividir o movimento muitas vezes atirada ao redor.

    A frase verifique seus privilgios que geralmente acompanha muitas discusses sobre intersecionalidade, um exemplo. No Twitter, no incio de janeiro, houve uma hashtag iniciada por uma

    feminista branca: #ReivindicandoIntersecionalidadeEm2014; que levou muitas feministas negras a questionarem como ela pretendia recuperar algo que nunca tinha sido dela em primeiro lugar.

    Mas isso prova que o conceito realmente tornou-se popular, agora que h o risco de ser apropriado.

    H a crena equivocada de que o nico privilgio que voc pode ter se refere cor da pele. Este no o caso. Voc pode ser privilegiado por causa de sua classe social, formao

    educacional, religiosa, ou pelo fato de que voc tem capacidades mentais e fsicas ou cisgnero. Um monte de mulheres negras podem e tm privilgios tambm.

    Um usurio do Twitter disse: O fato de que um importante conceito feminista foi empurrado para dentro das discusses majoritrias irrita as feministas brancas que se recusam a reconhecer

    que elas se beneficiam de um sistema patriarcal, supremacista, heteronormativo e branco.

    Veja esta citao da famosa feminista negra e mulherista Alice Walker, que disse: Parte do problema com as feministas ocidentais, eu acho, que elas se comparam com seus irmos e

    seus pais. E isso um problema real.

    Eu lembro de uma discusso que tive com uma senhora muulmana que me disse: Eu odeio o feminismo. No h necessidade para isso existir e eu no quero ter que carregar caixas

    pesadas s porque vocs, mulheres, querem lutar para serem iguais aos homens.

    O qu?! Eu tive que enumerar algumas coisas para ela. Primeiro de tudo, o feminismo no sobre ter o direito de carregar caixas pesadas. E, como uma mulher negra que mede 1,80m de

    altura, posso assegurar-lhe que ser vista como fraca fisicamente no foi um problema que eu tive que enfrentar na minha vida adulta. Na verdade, nas poucas ocasies em que pedi ajuda a

    homens por causa de um objeto pesado, eles riram de mim e disseram coisas como: Vamos l, amor! No finja que voc no consegue lidar com isso. Uma moa robusta como voc!

    Enquanto conversvamos, ficou evidente que o problema dela era com o feminismo majoritrio. Ou seja, o feminismo que esmagadoramente branco, classe mdia, cisgnero e capacitista.

    Quando vozes so marginalizadas dentro de um movimento, at o ponto em que h mulheres que nem sequer pensam que o feminismo para elas, o nico resultado disso que o movimento

    est enfraquecido e cada vez menos eficaz. Por exemplo, tenho ouvido as feministas tradicionais que esto tentando proibir o vu apesar da resistncia de mulheres muulmanas, afirmam que

    elas no sabem o se passa em suas prprias mentes, e querer usar o vu o resultado bvio dessa doutrinao.

    Ento, o que podemos aprender com tudo isso? Como vimos, em discusses acaloradas numa rdio no final do ano passado, fcil nos atolarmos em palavras e em discusses no estilo ele-

    disse-ela-disse, o que isso significa e o que aquilo significa.

    Intersecionalidade ainda um termo relativamente novo para as massas mas, sua mensagem algo com o qual certamente qualquer feminista pode estabelecer uma relao ao comear a

    ouvir e incluir diferentes grupos de mulheres, suas mltiplas facetas e experincias de vida nos debates em geral e respeit-las.

    Autora

    Ava Vidal uma divertida comediante britnica de stand-up. Desde que foi uma das finalistas do BBC New Comedy Awards sua presena na televiso constante. Ava se tornou me aos 18

    anos e passou cinco anos trabalhando como guarda de priso em Pentonville. Ela escreve de maneira prazerosa sobre cultura toda semana no site Wonder Women. Twitter: @thetwerk inggirl

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    deveria-se-preocupar/] .

    Um guia para voc que tem vergonha de se assumir

    como feminista

    Em "campanha"

    Kimberl Crenshaw sobre intersecionalidade: "Eu

    queria criar uma metfora cotidiana que qualquer

    pessoa pudesse usar"

    Em "Gnero e Diversidade"

    Laerte, que mulher!

    Em "Cultura e Mdia"

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    Clara Terezo

    no dia 26/07/2014 s 03:29 disse:

    As fotografias do post me lembram como fico incomodada quando estou na internet, no Tumblr, em algum frum, e pessoas no-brancas debocham de garotas brancas, referindo-se a tais como

    dumb white girls (garotas brancas estpidas). Eu no sei, e acho arriscado dizer, mas Isso no um pouco errado?

    Eu sou branca e posso me considerar uma pessoa em posio privilegiada, mas acho que isso no significa que seja engraado fazer tais deboches e que no tenha nada de errado com isso.

    Luiza

    no dia 02/09/2014 s 16:12 disse:

    Concordo com a maioria das coisas que esto escritas ai. Porm, me pareceu um pouco equivocada a maneira que categorizou o feminismo branco. Porque chamar de feminismo branco e

    relatar de modo pejorativo o feminismo que parte de uma garota branca? Pode no ser exatamente essa a inteno, mas isso o que vi escrito em vrios momentos E me senti ofendida de

    certa maneira. Sou branca e sou feminista, penso em todas as mulheres e homens que sofrem com o machismo, entre outros terrveis preconceitos. Podem alegar que tenho privilgios por ser

    branca e outras coisas, porm isso no parte de mim, no acho isso justo e luto com o que posso para que isso seja destrudo em nossa cultura. Agora, muito me admira algum que no deseja

    racismos ou outros preconceitos denominar um feminismo distorcido e problemtico por feminismo branco. Nesse caso a cor da pele est dividindo, serve para definir um problema No

    estamos aqui pra defender que a cor da pele no tem importncia nenhuma, afinal?

    Maria Lusa

    no dia 02/09/2014 s 23:16 disse:

    Sou branca, de classe mdia, cisgnera, capacitada e tambm sou interseccional. No quero e nem vou protagonizar uma luta que no minha. Isso bem ciente na minha cabea. Assim

    como sei da importncia e no vou deixar de lado lutas que devem SIM serem visibilizadas e debatidas. Me defino como feminista interseccional exatamente por transitar e fluir dentre as pautas do

    feminismo, das quais eu acredito que a de Negrxs, tnico-raciais, etc faa parte. Luto e defendo at o fim xs negrxs e sua luta. Levanto a bandeira LGBT (at por ser uma), mas defendo sim. E

    acho que ser interseccional tambm ter cincia dos privilgios que se tem e ainda assim no us-los para diminuir algum ou alguma luta, no colocar-se como superior. O debate deve ser

    amplo e as lutas todas devem ser dadas a sua devida importncia! ;D