130
Flávia Fonseca Pezzini Fenologia e características reprodutivas em comunidades arbóreas de três estágios sucessionais em Floresta Estacional Decidual do norte de Minas Gerais. Orientadora: Dra. Claudia Maria Jacobi Co-Orientador: Dr. Geraldo Wilson Fernandes Belo Horizonte – Minas Gerais Maio de 2008

Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

  • Upload
    vuphuc

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

Flávia Fonseca Pezzini

Fenologia e características reprodutivas em comunidades arbóreas de três estágios

sucessionais em Floresta Estacional Decidual do norte de Minas Gerais.

Orientadora: Dra. Claudia Maria Jacobi

Co-Orientador: Dr. Geraldo Wilson Fernandes

Belo Horizonte – Minas Gerais Maio de 2008

Page 2: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

Flávia Fonseca Pezzini

Fenologia e características reprodutivas em comunidades arbóreas de três estágios

sucessionais em Floresta Estacional Decidual do norte de Minas Gerais.

Dissertação apresentada ao Instituto de

Ciências Biológicas da Universidade

Federal de Minas Gerais como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre

em Ecologia, Conservação e Manejo da

Vida Silvestre.

Orientadora: Dra. Claudia Maria Jacobi

Co-Orientador: Dr. Geraldo Wilson Fernandes

Belo Horizonte – Minas Gerais Maio de 2008

Page 3: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

Este trabalho foi realizado com auxílio de verbas do Interamerican

Institute for Global Change Research (IAI) CRN II-21, que é financiado

pela Fundação Nacional para a Ciência dos Estados Unidos (US

National Science Foundation, Grant GEO-0452325), do CNPq e

FAPEMIG. Agradecemos o apoio logístico da University of Alberta,

Canadá, do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG),

do Programa de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre

(ECMVS), Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) e da

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Page 4: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

“Poeira entra em meus olhos,

Não fico zangado não

Pois sei que quando eu morrer

Meu corpo irá para o chão

Se transformar em poeira, poeira vermelha,

Poeira, poeira do meu Sertão...”

Serafim Colombo Gomes e Luís Bonan

“Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias.

Deus mesmo, quando vier, que venha armado!

E bala é um pedacinhozinho de metal...”

“Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente

se forma mais forte do que o poder do lugar.”

“O Sertão é do tamanho do mundo.”

Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas

Page 5: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

Agradecimentos

Aos meus excelentes orientadores, Dra. Claudia Jacobi e Dr. Geraldo Wilson, pelos valiosos ensinamentos e pela paciência durante esses anos;

À equipe da secretaria do curso de pós-graduação, Clayton, Mary e Joyce, por todos os pepinos resolvidos e pela disponibilidade em ajudar;

Ao pessoal dos Laboratórios de Interação Animal-Planta e Ecologia Evolutiva e Biodiversidade pela ajuda sempre que necessária e pelo ótimo convívio durante esses anos;

Ao José Luis Vieira, gerente do Parque Estadual da Mata Seca, por toda ajuda incondicional e indispensável no campo, na maioria das vezes durante fins de semana e feriados;

Ao pessoal do Tropi-Dry, pelo financiamento, pelos ótimos momentos de convívio e pela busca da conservação das matas secas;

Aos professores Drs. José Eugênio, Claudia Jacobi e José Pires por suas incríveis lições de ecologia e por me inspirarem nessa jornada;

Ao Mário Espírito-Santo e à Felisa Anaya, por sempre me receberem em sua casa em Montes Claros;

Em especial ao Mário pelo apoio desde o início desse trabalho e por sempre se prontificar a me ajudar em todas as ocasiões;

Ao Fred Neves, pela ajuda nas análises estatísticas;

Ao Tropi-Gol, por nunca quebrar no campo comigo e ao Tropi-Niva por quebrar somente em momentos passíveis de solução. Não posso deixar de mencionar o Versailles, companheiro incansável durante tantos anos;

Ao Diego, por ser um exemplo de dedicação à biologia, um excelente companheiro de campo e amigo. Pelas cantorias durante a coleta e por sempre me lembrar, quando tudo está dando errado no campo, que o importante é ser feliz! Diego, este estudo simplesmente não seria possível sem você.

Ao Marcell Soares, Fernanda Vieira, Fernando Calouro, Maria Fernanda, Giovanna, George, Serapião e Leide pela ajuda imprescindível nas coletas;

A todos os companheiros de Sertão, especialmente Diego, Serapião, Herbert e Bill, pelos momentos no campo muito divertidos, por me ensinarem a cozinhar e elogiarem a minha comida, na medida do possível. Mas não agradeço por me fazerem medo à noite naquela casa de arrepiar;

À fundação João Pezzini, pelo financiamento em vários momentos desse trabalho;

Page 6: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

Aos meus queridíssimos amigos da Puc, por me proporcionarem momentos incrivelmente divertidos nesses anos de convívio. Especialmente Robson (Leo), Paulo e Guilherme, por serem meus amigos desde sempre e para sempre;

Ao Guilherme, por compartilhar todo o amor pelo Sertão e pelas discussões sobre ecologia, projetos futuros, indecisões, crises...;

À Eliane, Pedro, Kika, Bia e Agostinho Ranieri, pela amizade, pelo ótimo convívio e por me receberem em sua família;

Ao Bê, por ser meu melhor amigo e companheiro durante todos esses anos. Por toda ajuda imprescindível em todos os momentos desse trabalho, por sempre me incentivar a ler mais e mais, por me ensinar tanto sobre biologia e por sempre estar comigo, fazendo tudo parecer mais fácil;

À minha mãe, por sempre se interessar pelo meu trabalho e se preocupar com minha ida ao campo. Por sempre me perguntar o que acontece com a mata seca quando ela molha. No fundo no fundo, sei que ela compreendia o objetivo principal desse estudo. Praticamente uma cientista!

Ao meu pai, pelo carinho, pelo exemplo de vida e apoio durante todos esses anos;

Às minhas irmãs pelo companheirismo e amizade;

Ao meu avô Ismael, meu tio KK, Kelli e ao neném, mesmo me xingando sempre por não ir mais a Matozinhos, eles gostam do que eu faço e sempre me apoiaram;

Aos meus primos e amigos, Tajo, Folete e Camila Chamas, por nunca entenderem o que eu faço, mas sempre acharem legal e me perguntarem se eu já acabei de “colher” meus dados. E eu respondo: a “colheita” nunca acaba!

E finalmente ao Sertão, simplesmente por existir.

Page 7: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

Índice Apresentação ............................................................................................................ 8 Resumo ..................................................................................................................... 9 Abstract ................................................................................................................... 11 Introdução Geral ..................................................................................................... 12

As Matas Secas .................................................................................................. 12 Sucessão ecológica ............................................................................................ 16

Objetivo Geral ......................................................................................................... 17 Referências Bibliográficas ...................................................................................... 18

CAPÍTULO I Caracterização abiótica e biótica de trechos de Floresta Estacional Decidual em distintos estágos sucessionais no Parque Estadual da Mata Seca, MG

Introdução ............................................................................................................... 21 Fatores Abióticos ................................................................................................ 21 Fatores Bióticos .................................................................................................. 24

Material e Métodos ................................................................................................. 26 Fatores Abióticos ................................................................................................ 29 Fatores Bióticos .................................................................................................. 30

Resultados e Discussão ......................................................................................... 32 Fatores Abióticos ................................................................................................ 32 Fatores Bióticos .................................................................................................. 42

Referências Bibliográficas ...................................................................................... 58 CAPÍTULO II Fenologia da comunidade arbórea em três estágios sucessionais no Parque Estadual da Mata Seca, MG

Introdução ............................................................................................................... 63 Fenologia de Comunidades Vegetais ................................................................. 63 Fenologia e Interações com o Clima .................................................................. 64 Fenologia e Sucessão Florestal Secundária ...................................................... 65 Fenologia e Síndromes de Polinização e Dispersão de Sementes ................... 65

Material e Métodos ................................................................................................. 68 Coleta de Dados ................................................................................................. 68 Análise de Dados ................................................................................................ 68

Resultados .............................................................................................................. 71 Análise por Estágios Sucessionais ..................................................................... 71 Análise por Síndromes de Polinização ............................................................. 102 Análise por Síndromes de Dispersão de Sementes ......................................... 107

Discussão ............................................................................................................. 112 Referências Bibliográficas .................................................................................... 121

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 127 ANEXO 1 .................................................................................................................. 128

Page 8: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

8

Apresentação

O presente estudo aborda aspectos da sucessão em Floresta Estacional

Decidual, conhecida como mata seca, no Parque Estadual da Mata Seca, localizado

no norte de Minas Gerais. São avaliados aspectos do solo, clima, estrutura, guildas

de polinização e dispersão de sementes e fenologia em três estágios sucessionais.

As matas secas são ambientes extremamente ameaçados e, ao mesmo

tempo, muito pouco estudados no mundo e principalmente no Brasil. Estudos como

este nos fornecem informações ecológicas importantes e básicas para o manejo

desses ecossistemas. É ainda mais premente a necessidade de pesquisas em

áreas de matas secas, uma vez que recentemente foi sancionada pelo Governo do

Estado de Minas Gerais a Lei 17.353, que aumenta a possibilidade de

desmatamento para 70% da comunidade arbórea secundária das Florestas

Estacionais Deciduais e para 60% a cobertura florestal em estado primário. Aliado a

isso, a maioria da comunidade não-científica não conhece as matas secas ou então

as julgam “feias” e sem importância ecológica. É nosso dever também trabalhar

para que essa visão mude, principalmente em relação às pessoas que vivem

nesses ambientes.

Este trabalho faz parte de uma rede de pesquisas internacional, TROPI-DRY,

que tem como objetivo entender, integrar e comparar informações sobre a estrutura,

funcionamento e dinâmica das florestas tropicais secas nas Américas, visando o

estudo da sua regeneração natural, no contexto dos serviços do ecossistema

propiciados à sociedade humana. No Parque Estadual da Mata Seca estão sendo

realizados estudos de fitossociologia, herbivoria, riqueza e abundância de

invertebrados, aves e morcegos, genética de populações arbóreas, estudos em

ecossistemas lacustres, além da fenologia. Estudos como esses também estão

sendo realizados em outros países como México, Costa Rica e Venezuela.

Portanto, espero que esta dissertação possa nos ajudar a entender esses

ecossistemas, subsidiando estratégias de manejo para as matas secas. Ao mesmo

tempo, espero que possa servir de inspiração para que outros pesquisadores se

interessem por esse ambiente tão incrível. Boa leitura.

Page 9: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

9

Resumo

A Floresta Estacional Decidual, também chamada de mata seca, é um dos

ecossistemas mais ameaçados do mundo. Por ocorrerem em solos férteis, esses

ambientes têm sido as zonas prioritárias para a expansão da agricultura e

assentamento humano na América Latina. Portanto, estudos acerca do processo de

regeneração de matas secas são extremamente necessários. Apesar disso, existe

uma lacuna em termos de pesquisa cientifica em relação a este ambiente. Esse

estudo tem como objetivo caracterizar a fenologia da comunidade arbórea em três

estágios sucessionais em área de mata seca do norte de Minas Gerais. Os dados

foram coletados em 6 parcelas de 50mx20m, em cada um dos três estágios

sucessionais: inicial, intermediário e tardio. Os estágios foram caracterizados com

relação à fertilidade do solo, micro-clima, estrutura da comunidade e freqüência de

síndromes de polinização e dispersão de sementes. A fenologia das comunidades

arbóreas de cada estágio foi estudada semi-quantitativamente durante 12 meses e

relacionada às síndromes de polinização e de dispersão de sementes e variáveis

climáticas. Os resultados indicam que o micro-clima é parecido entre os três

estágios sucessionais. Os estágios inicial e tardio apresentaram solo semelhante e

mais fértil do que o do estágio intermediário. Em relação à estrutura, síndromes de

polinização e dispersão de sementes e ao comportamento fenológico, o estágio

intermediário se assemelhou ao tardio. Com base nas síndromes, em geral, os

vetores bióticos se revelaram mais importantes para a polinização do que para a

dispersão de sementes. A fenologia vegetativa apresentou comportamento

marcadamente sazonal, com quase todas as espécies senescentes durante a

estação seca. Entretanto, no estágio inicial a perda de folhas ocorreu de forma mais

gradual. A atividade reprodutiva ocorreu predominantemente na estação seca e com

baixa intensidade nos estágios intermediário e tardio. Por outro lado, a produção de

flores e frutos ocorreu durante todo o ano com intensidade maior no estágio inicial.

O período de florescimento e de dispersão de sementes variou entre as espécies de

acordo com as respectivas síndromes, ocorrendo nas épocas mais favoráveis a

cada uma. A produção de frutos zoocóricos na estação seca pelos estágios

intermediário e tardio representa um recurso chave para a fauna local nesse

período. As semelhanças entre os estágios intermediário e tardio nos indica uma

Page 10: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

10

alta resiliência nas comunidades arbóreas de matas secas. Estudos que integram

características estruturais e funcionais do processo de sucessão nos fornecem

informações essenciais para que possamos manejar florestas secas secundárias.

Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização, síndrome de dispersão de

sementes, micro-clima, pedologia

Page 11: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

11

Abstract

Tropical Dry Forests are one of the most threatened ecosystems in the world. They

occur in fertile soils and have been the main target of new agriculture and human

settlements in Latin America. Therefore, studies regarding regeneration processes

are needed. Despite that, research in tropical dry forest is lacking. This study aims to

characterize the tree community successional processes in three successional

stages in a dry forest in the north of Minas Gerais, Brazil. Data were collected in

6plots (50mx20m) of each successional stage (early, intermediate and late). The

stages were characterized according to micro-climate conditions, soil properties and

data with respect to tree community structure and frequency of pollination and

dispersal syndromes. A 12 month semi-quantitative phenological study of the tree

community was done relating the data to the pollination and dispersal syndromes as

well as to the climatic data. Micro- climatic conditions were similar among the three

successional stages. Soil was more fertile in the early and late stages. Regarding the

other factors, the intermediate and late stages were similar. In general, biotic vectors

were more important to pollination than to seed dispersal. Vegetative phenology is

extremely seasonal and almost all species are leafless during the dry season.

However, leaf shed was less abrupt in the early stage. Reproductive activity

occurred during the dry season and in smaller amounts in the intermediate and late

stages. On the other hand, flower and fruit production occurred throughout the year

and in bigger amounts in the early stage. Seasonality in flower and fruit productions

occurred according to the pollination and dispersal syndromes. The zoochoric fruit

production by the intermediate and late stages during the dry season may be key

resources to the local fauna during this period. The similarities between the

intermediate and late stages suggest a high resilience of the Tropical Dry Forests.

Integrating the structural and functional characteristics of secondary succession can

lead us to better management of the secondary remnants of this ecosystem.

Key words: Tropical Dry Forest, pollination syndrome, seed dispersal syndrome,

micro-climate, pedology

Page 12: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

12

Introdução Geral

As Matas Secas

As Florestas Estacionais Deciduais são caracterizadas por uma vegetação

tipicamente decídua (com pelo menos 50% de deciduidade arbórea na estação seca

do ano), temperatura anual média de 25°C e precipitação anual média entre 700 e

2000 mm, com três ou mais meses secos por ano (precipitação ≤ 100 mm/mês)

(Sánchez-Azofeifa et al. 2005). Durante este período seco, a razão entre a

evaporação potencial e a precipitação (E/P) é maior que um, gerando baixo

potencial hídrico no solo (Olivares & Medina 1992).

Existe ainda grande controvérsia relacionada à nomenclatura desses

ambientes. O termo Florestas Tropicais Secas (Tropical Dry Forests) também é

utilizado como sinônimo de Florestas Estacionais Deciduais. Entretanto, nessa

denominação inclui-se também as Florestas Estacionais Semi-Deciduais, que

perdem menos de 50% da folhas durante certa época do ano (Scariot & Sevilha

2005). No norte de Minas Gerais, as Florestas Estacionais Deciduais são

conhecidas como “matas secas” ou então como Caatinga arbórea. Existem ainda as

Florestas Estacionais Deciduais de Encosta, ocorrentes em áreas de afloramento

calcário no bioma Cerrado, conhecidas com Matas Secas de Calcário (Nascimento

et al. 2004). Existem ainda florestas deciduais não tropicais, localizadas

principalmente no sul do Brasil, onde as baixas temperaturas são responsáveis pela

queda das folhas. No Brasil, as Florestas Estacionais Deciduais estão associadas à

diferentes tipos fitofisionômicos e regimes de estacionalidade em volume de

precipitação e temperatura, topografia e caracterísitcas físicas e químicas dos solos

(Scariot & Sevilla 2005).

As Florestas Tropicais Secas são ecossistemas dominados por árvores, com

um dossel relativamente contínuo e onde o estrato herbáceo é pouco freqüente

(Mooney et al. 1995) e está presente somente durante a estação chuvosa. Estas

formações vegetais não possuem associação com cursos de água e ocorrem nos

interflúvios em solos desenvolvidos em rochas básicas (geralmente calcário ou

basalto) de alta fertilidade (Ribeiro & Walter 1998), em relevos mais planos. Como

Page 13: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

13

anteriormente mencionado, ocorrem também sobre maciços de calcário em regiões

cársticas.

Nesses tipos florestais, a sazonalidade climática pronunciada determina os

padrões de produção de sementes, germinação, sobrevivência e desenvolvimento

de plântulas na comunidade vegetal. O período de crescimento favorável é

usualmente restrito à curta estação chuvosa, quando é esperado que as sementes

germinem e as plântulas se estabeleçam (Khurana & Singh 2001). O número de

espécies e indivíduos decíduos varia enormemente com o estágio sucessional e

topografia. Uma mistura de espécies perenifólias e decíduas (com variações no

tempo de queda das folhas) gera nas Florestas Tropicais Secas um tipo de

complexidade fenológica não encontrada em outras formações florestais tropicais

(Burnham 1997).

Atualmente estima-se que há uma área de 1.048.700 km2 de Florestas

Tropicais Secas remanescentes no mundo. As duas maiores áreas contínuas dessa

fisionomia estão localizadas na América do Sul: uma no nordeste do Brasil e outra

que engloba o sudeste da Bolívia, Paraguai e norte da Argentina (Miles et al. 2006).

Somadas, estas áreas representam, 54,2% da área total restante dessas florestas

no mundo. Outras áreas com fragmentos significativos de matas secas estão

localizadas na península de Yucatán (México), norte da Venezuela, Colombia e

Indochina Central (Tailândia, Vietnam, Laos e Camboja), além de outras pequenas

áreas na América do Norte, África e Eurásia e Austrália. A Figura 1 representa a

distribuição das formações secas da América Latina, nas épocas seca e chuvosa,

baseado no índice de área foliar.

No Brasil, as matas secas são encontradas principalmente nas regiões

central e nordeste do Brasil, ocupando cerca de 3,02% do território nacional.

Ocorrem também na Amazônia em áreas esparsas, cuja composição florística difere

daquelas do Brasil Central. São formações residuais de climas secos do período

Pleistocênico (de 10 mil a 1 milhão de anos atrás), quando estavam ligadas ao

Chaco e à Caatinga, formando uma floresta única (Rizzini 1979) (Figura 2).

Estima-se que entre 1980 e 2000, 12% de toda área de Floresta Estacional

Decidual da América Latina tenha sido destruído, o que enquadra este ecossistema

como o de maior taxa de perda de área no mundo. Considerando o alto grau de

ameaça e perda de habitat, aliado à sua grande importância para conservação da

Page 14: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

14

biodiversidade em relação à alta freqüência de endemismo de plantas, este

ecossistema deveria ser conservado prioritariamente (Miles et al. 2006).

Figura 1: Formações vegetais secas e sazonalidade em diferentes biomas na

América Latina utilizando índice de área foliar. Fonte: http://tropi-

dry.eas.ualberta.ca.

As matas secas ocorrem em solos férteis, com valores moderados de pH e

disponibilidade de nutrientes e baixos níveis de alumínio. Solos como estes são

favoráveis à agricultura (Ratter et al. 1978), o que contribuiu para a enorme

destruição dessas florestas. Além disso, vários fatores políticos e econômicos têm

aumentado os impactos antropogênicos sobre as florestas tropicais secas, levando

a distúrbios severos e desmatamento intenso. Desta forma, estes ecossistemas têm

sido as zonas de agricultura e assentamento humano preferidas na Mesoamérica,

Caribe e América do Sul (Murphy & Lugo 1986, Maass 1995, Murphy 1995).

No Brasil, devido à exploração dos maciços de calcário pelas fábricas de

cimento, pela agricultura e pelo extrativismo madeireiro, a distribuição das matas

secas é cada vez mais restrita (Ramos 1989). Portanto, são necessários estudos

para compreendermos sua dinâmica e a sua importância na manutenção da

biodiversidade e para se desenvolver políticas de conservação destes

ecossistemas.

Page 15: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

15

Existe uma lacuna em termos de pesquisa científica em Florestas Tropicais

Secas em comparação às florestas tropicais úmidas. Entre 1945 e 2004, apenas

14% dos estudos realizados em florestas tropicais foram realizadas em ambientes

secos, enquanto 86% foram realizados em regiões úmidas (Sánchez-Azofeifa et al.

2005). Esse número é alarmante, considerando que 42% das florestas tropicais se

enquadram na definição de Florestas Tropicais Secas (Murphy & Lugo 1986). Além

disso, a informação científica sobre Florestas Tropicais Secas é fragmentada e

limitada a poucas áreas, localizadas principalmente no México e na Costa Rica

(Sánchez-Azofeifa et al. 2005b).

Figura 2: Distribuição de matas secas no Brasil. Modificado de Espírito-Santo

e colaboradores (2008).

Matas Secas

Mata Atlântica

Legenda

Bioma

AmazôniaPampa

PantanalCerrado

Caatinga

Page 16: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

16

Sucessão ecológica

Sucessão é um processo de contínua colonização e extinção por diferentes

populações em um determinado local (Bazzaz 1979). Com o aumento de áreas de

florestas secundárias, também há um aumento na atenção dedicada ao estudo de

locais de diferentes estágios sucessionais (Kalacska et al. 2004). Alterações nas

condições ecológicas durante a sucessão resultam na variação de pressões

seletivas que atuam na evolução da história de vida dos organismos (Ronce et al.

2005). Estas mudanças nas condições ecológicas permitem a manutenção de

certas características (Olivieri et al. 1995) ou promoção da evolução de estratégias

de vida mais plásticas (Ronce et al. 2005). A variabilidade ambiental em estágios

iniciais de sucessão é maior do que em estágios mais avançados, sendo que a

disponibilidade de luz é um dos mais importantes fatores na substituição de

espécies em uma sucessão. O grau de tolerância à sombra e a arquitetura da copa

são importantes na determinação de seqüências sucessionais em florestas

decíduas sendo que, em geral, a taxa fotossintética e respiratória de plantas em

estágios iniciais é maior (Bazzaz 1979).

Devido ao ambiente mais rigoroso, as Florestas Estacionais Deciduais são

mais vulneráveis a fatores de estresse durante o processo sucessional do que, por

exemplo, as florestas perenifólias (Ewel 1977). Esse processo ocorre

majoritariamente durante a estação chuvosa, sendo retardado durante a estação

seca (Ewel 1980). Porém, devido à menor altura do dossel e sua estrutura mais

simples quando comparadas a florestas tropicais úmidas, as matas secas têm o

potencial de mais rápida recuperação para um estado maduro sendo consideradas,

portanto, mais resilientes (Ewel 1980, Murphy & Lugo 1986).

Padrões de sucessão em ambientes tropicais em campos de agricultura

abandonados têm sido documentados em muitos estudos nas últimas décadas

(Brown & Lugo 1990, Finegan 1996, Guariguata & Ostertag 2001). Porém, a maioria

destes estudos foi realizada em florestas úmidas, apesar do fato de Florestas

Tropicais Secas apresentarem maior taxa de conversão em florestas secundárias

(Mooney et al. 1995).

Page 17: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

17

Objetivo Geral O objetivo geral deste estudo é caracterizar o processo da sucessão

ecológica em uma Floresta Estacional Decidual, utilizando como ferramenta de

comparação fatores abióticos e bióticos de trechos de floresta em três estágios da

sucessão natural. Como fatores abióticos, foram estudados a sazonalidade climática

e características fisicas e químicas de fertilidade do solo dos estágios sucessionais.

Como fatores bióticos, as comunidades arbóreas foram estudadas com relação à

sua estrutura física e de síndromes de polinização e dispersão de sementes, além

do acompanhamento mensal da fenologia ao longo de 12 meses. Os dados sobre a

fenologia das comunidades foram, ainda, relacionados com a sazonalidade climática

e comparados entre estágios e grupos de síndromes de polinização e dispersão de

sementes.

Page 18: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

18

Referências Bibliográficas

Bazzaz, F. A. 1979. The Physiological Ecology of Plant Succession. Annual Review

of Ecology and Systematics 10: 351-371.

Brown, S. & Lugo, A. 1990. Tropical secondary forests. Journal of Tropical Ecology

6: 1–32.

Burnham, R. J. 1997. Stand Characteristics and Leaf Litter Composition of a Dry

Forest Hectare in Santa Rosa National Park, Costa Rica. Biotropica 29: 384-

395.

Espírito-Santo, M. M., Sevilha, A., Anaya, F. C., Barbosa, R., Fernandes, G. W.,

Sanchez-Azofeifa, A., Scariot, A., Noronha, S. E. & Sampaio, C. 2008.

Sustainability of tropical dry forests: two study cases in southeastern and

central Brazil. Land Use Policy. Submetido.

Ewel, J. J. 1977. Differences between wet and dry successional tropical ecosystems.

Geo Eco Trop 1: 103-117.

Ewel, J. J. 1980. Tropical Succession: Manifold Routes to Maturity. Biotropica 12: 2-

7.

Finegan, B. 1996. Pattern and process in neotropical secondary rain forests: the first

100 ys. of succession. Tree 11:119–124.

Guariguata, M. R. & Ostertag, R. 2001. Neotropical secondary succession: changes

in structural and functional characteristics. Forest Ecology and Management

148: 185–206.

Kalacska, M., Sanchez-Azofeifa, G. A., Calvo-Alvarado, J. C., Quesada, M., Rivard,

B. & Janzen, D. H. 2004. Species composition, similarity and diversity in three

successional stages of a seasonally dry tropical forest. Forest Ecology and

Management 200: 227-247.

Khurana, E. & Singh, J.S. 2001. Ecology of seed and seedling growth for

conservation and restoration of tropical dry forest: a review. Environmental

Conservation 28: 39-52.

Page 19: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

19

Maass, J. 1995. Conversion of tropical dry forest to pasture and agriculture. In S.

Bullock, H. A. Mooney, & E. Medina (Eds.). Seasonally dry tropical forests.

New York: Cambridge University Press (pp. 399-422).

Miles, L., Newton, A. C., DeFries, R. S., Ravilious, C., May, I., Blyth, S., Kapos, V. &

Gordon, J. E. 2006. A global overview of the conservation status of tropical

dry forests. Journal of Biogeography 33: 491-505.

Mooney, H., Bullock, S. & Medina, E. 1995. Introduction. In S. Bullock, H. Mooney,

& E. Medina (Eds.). Seasonally dry tropical forests. New York: Cambridge

University Press (pp. 1-8).

Murphy, P. G. 1995. Dry forests of Central America and the Caribbean. In S. Bullock,

H. A. Mooney, & E. Medina (Eds.). Seasonally dry tropical forests. New York:

Cambridge University Press (pp. 9-34).

Murphy, P. G., & Lugo, A. E. 1986. Ecology of Tropical Dry Forest. Annual Review of

Ecology and Systematics 17: 67-88.

Nascimento, A. R. T., Felfili, J. M. & Meirelles, E. M. 2004. Florística e estrutura da

comunidade arbórea de um remanescente de Floresta Estacional Decidual de

encosta, Monte Alegre, GO, Brasil. Acta Botanica Brasilica 18: 659-669.

Odum, E. P. 1969. The Strategy of Ecosystem Development. Science 164: 262-270.

Olivares, E. & Medina, E. 1992. Water and nutrient relations of woody perennials

from tropical dry forests. Journal of Vegetation Science 3: 383–92.

Olivieri, I., Michalakis, Y. & Gouyon, P. H. 1995. Metapopulation Genetics and the

Evolution of Dispersal. American Naturalist 146: 202-228.

Ramos, P. 1989. Estudos fitossociológicos em uma floresta mesofítica semidecídua

na Fercal. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Ecologia). Universidade de

Brasília, Distrito Federal. 134p.

Ratter, J. A., Askew, G. P., Montgomery, R. F., & Gifford, D. R. 1978. Observations

on the Vegetation of Northeastern Mato Grosso. II. Forests and Soils of the

Rio Suia-Missu Area. Proceedings of the Royal Society of London. Series B,

Biological Sciences 203: 191-208.

Page 20: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

20

Ribeiro, J.F. & Walter, B.M.T. 1998. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In: S.M.

Sano & S.P. Almeida (Eds.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA

– CPAC (pp. 89-166).

Rizzini, C. 1979. Tratado de Fitogeografia do Brasil. São Paulo: Huicitec/Edusp.

Ronce, O., Brachet, S., Olivieri, I., Gouyon, P. H., & Clobert, J. 2005. Plastic

changes in seed dispersal along ecological succession: theoretical predictions

from an evolutionary model. Journal of Ecology 93: 431-440.

Sanchez-Azofeifa, G. A., Quesada, M., Rodriguez, J. P., Nassar, J. M., Stoner, K. E.,

Castillo, A., Garvin, T., Zent, E. L., Calvo-Alvarado, J. C. & Kalacska, M. E.

R. 2005. Research priorities for Neotropical Dry Forests. Biotropica 37: 477-

485.

Sanchez-Azofeifa, G.A., Kalacska, M., Quesada, M., Calvo-Alvarado, J., Nassar, J.

& Rodriguez, J. 2005b. Need for Integrated Research for a Sustainable Future

in Tropical Dry Forests. Conservation Biology 19: 285-286.

Scariot, A. & Sevilha, A.C., 2005. Biodiversidade, estrutura e conservação de

florestas estacionais deciduais no Cerrado. In A. Scariot, J. Felfili, & J. Sousa-

Silva (Eds.) Cerrado: Ecologia, Biodiversidade e Conservação. Brasília:

Ministério do Meio Ambiente (pp. 123-139).

Page 21: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

21

CAPÍTULO I

Caracterização abiótica e biótica de trechos de Floresta Estacional Decidual em distintos estágos

sucessionais no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Introdução

A sucessão é o processo pelo qual uma comunidade de plantas se

transforma em outra (Crawley 1997). À medida que se processa, ocorrem mudanças

graduais nas condições abióticas e na composição e estrutura vegetal, assim como

em seus organismos associados (Begon et al. 2006).

Fatores Abióticos

A compreensão das variações nas condições climáticas e pedológicas no

decorrer da regeneração natural é de extrema importância, apesar de este tema ser

pouco estudado. Existem estreitas relações entre essas variáveis abióticas e a

vegetação, e sua compreensão é fundamental para o estudo do comportamento de

ambos no meio ambiente (Reatto et al. 1998). A distribuição geográfica das

espécies, por exemplo, é influenciada pela interação entre a tolerância ecofisiológica

de cada uma às variáveis micro-climáticas e micro-edáficas (Mulkey et al. 1996).

O clima determina as condições para o crescimento das plantas e sua

amplitude de distribuição pelo fato de que impõe limites para seu estabelecimento e

sobrevivência (Larcher 2004). As variáveis climáticas usualmente mais relacionadas

à estrutura, e funcionamento da vegetação são: radiação solar, temperatura e

disponibilidade hídrica (Lieberman 1982; Bullock & Solis-Magallanes 1990; Goulart

et al. 2005).

A radiação fotossinteticamente ativa (RFA) representa a faixa do espectro

solar que pode ser utilizada pelas plantas (entre 400 e 700 nm). Aproximadamente

56% da radiação incidente na superfície da Terra está fora da faixa da RFA e

conseqüentemente não está disponível como recurso para plantas verdes (Begon et

Page 22: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

22

al. 2006). Em habitats terrestres, o regime de radiação varia ao longo do dia e do

ano e, principalmente em florestas, existe competição por este recurso, o que

modifica a quantidade e a qualidade da radiação recebida por cada indivíduo

(Begon et al. 2006). Altas intensidades de radiação podem também acarretar num

perigoso superaquecimento das plantas, debilitando o metabolismo celular devido à

desnaturação de proteínas, dano às membranas ou produção de substâncias

tóxicas (Levitt 1980).

Para a maioria das plantas terrestres, a principal fonte de água é o solo e seu

acesso a ela se dá por meio das raízes. Em regiões em que há baixa disponibilidade

hídrica, as plantas evitam a dessecação por meio de certas adaptações estruturais e

funcionais (características xeromórficas) como a presença de cera ou tricomas nas

folhas, estômatos localizados na face abaxial das folhas, diminuição de área foliar,

raízes profundas, modificações do caule ou das raízes para formação de órgãos de

armazenamento de água e senescência foliar durante o período seco (Grace 1997).

O ponto de orvalho é a temperatura abaixo da qual o vapor de água presente na

atmosfera se condensa em certa superfície (Stone 1963). O orvalho é,

especialmente durante a estação seca, uma fonte alternativa de água líquida para o

solo e, conseqüentemente, para as plantas em ambientes áridos (Agam & Berliner

2006).

Os solos podem ser classificados quantificando seus componentes físicos e

químicos (nutrientes, pH, matéria orgânica), assim como sua composição

granulométrica (porcentagens relativas de areia, silte e argila). O material nutritivo

para o vegetal está presente no solo na forma ligada e na forma solúvel (Larcher

2004). Aproximadamente 98% dos elementos do solo estão na forma de

serrapilheira e húmus, ligados ao material inorgânico de difícil solubilização ou ainda

incorporados aos minerais (Larcher 2004).

Os macronutrientes são nutrientes minerais necessários em grandes

quantidades e incluem: nitrogênio (N), fósforo (P), enxofre (S), potássio (K), cálcio

(Ca), magnésio (Mg) e ferro (Fe). Os micronutrientes são, por exemplo: manganês

(Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), boro (B) e molibidênio (Mo). Os dois elementos

determinantes do desempenho da planta são nitrogênio (N) e fósforo (P) (Fitter

1997), sendo que as plantas somente conseguem absorver as formas fixadas de N:

amônia (NH4+) e nitrato (NO3

-). Não existe reserva mineral de nitrogênio no solo, já

que os íons NO3- e NH4

+ são solúveis e são rapidamente convertidos pelas plantas e

Page 23: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

23

microorganismos em formas orgânicas. A mineralização do N é realizada pelos

decompositores, ou seja, dependente da biologia do solo. Ao contrário do N, o P é

um elemento raro, cuja fonte são as rochas e sua disponibilidade é dependente da

química do solo (Fitter 1997).

A fertilidade do solo é inferida principalmente com base na saturação por

bases (V), na capacidade total de troca de cátions (CTC), saturação por alumínio e

do grau de acidez (pH). A saturação por bases (V) constitui a riqueza do solo em

bases trocáveis, principalmente Ca+2, Mg+2 e K+; CTC representa a capacidade da

superfície das partículas do solo em trocar bases com a solução do solo. Em função

dessas variáveis, pode-se classificar os solos como eutróficos, distróficos, álicos ou

ácricos. Os solos eutróficos diferenciam-se dos distróficos por apresentarem

saturação por bases superior a 50%, o que é um referencial técnico para separar

solos de alta e baixa fertilidade. Em ambos, o alumínio é nulo ou reduzido (Reatto,

Correia & Spera 1998).

O pH do solo influencia a disponibilidade de nutrientes no solo e é um dos

principais fatores que determina a nutrição e distribuição das plantas, sendo que a

maioria tolera valores entre 3,5 e 8,5 (Buckman & Brady 1976, Larcher 2004). A

matéria orgânica é um atributo importante como fonte de nutrientes e no aumento

da capacidade de reter e trocar cátions (que serão eventualmente disponibilizados

às plantas pela solubilização). Seu poder de tamponamento permite manter em

equilíbrio as cargas do solo (Reatto et al. 1998).

A textura do solo diz respeito às proporçòes relativas das frações de areia,

silte e argila do solo e determinam, por exemplo, a permeabilidade e capacidade de

campo do solo. Com base nesse fator, é possível classificar os solos de acordo com

seu conteúdo dessas partículas minerais, desde arenoso (partículas mais grossas)

até argiloso (partículas mais finas) (Buckman & Brady 1976; Larcher 2004).Quanto

mais grossas as partículas do solo, melhor é a sua drenagem e quanto mais finas,

maior a capacidade do solo de reter nutrientes (Raven et al. 2001). O silte é

importante para formar os colóides do solo já que ele tem a capacidade de reter os

cátions até que sejam liberados lentamente na solução do solo. A presença do silte

e da argila no solo lhe assegura textura fina e movimentação lenta de ar e de água.

Page 24: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

24

Fatores Bióticos

A sucessão vegetal geralmente é estudada avaliando-se mudanças nas

características estruturais e na composição de espécies da comunidade em

questão. Entretanto, variações nas características funcionais ao longo da

regeneração secundária têm recebido pouca atenção dos ecólogos, apesar de essa

caracterização ser importante para permitir a análise da sucessão em escalas

espaciais maiores (Guariguata & Ostertag 2001).

Características funcionais como síndromes de polinização e dispersão de

sementes são relacionadas à dinâmica vegetacional e processos sucessionais

(Ibarra-Manriquez & Oyama 1992). A relação entre essas características

reprodutivas das plantas e os padrões de abundância de espécies em florestas

tropicais em diferentes estágios de sucessão nos fornece conhecimento

fundamental para o entendimento do processo de regeneração e o papel essencial

dos animais como agentes polinizadores e dispersores de sementes (Corner 1949,

Baker 1970, Howe & Smallwood 1982, Baker et al. 1983, Kress & Beach 1994,

Wunderle 1997 apud Chazdon et al. 2003).

A síndrome de polinização pode ser definida como um conjunto de

características das flores que denotam o agente mais efetivo para dispersar seu

pólen, seja ele biótico ou abiótico (Fenster et al. 2004). Do mesmo modo, a

síndrome de dispersão de sementes é inferida a partir da morfologia dos frutos e

sementes (Howe & Smallwood 1982).

A polinização é um estágio crítico para a reprodução das plantas e, portanto,

na manutenção e evolução de espécies e comunidades (Machado & Lopes 2004). A

maioria dos estudos sobre polinização é focada em apenas uma ou poucas

espécies. Entretanto, uma abordagem das comunidades planta-polinizador nos

permite comparar diferentes ambientes, entender como a polinização é organizada

em reposta à, por exemplo, a geografia e estrutura da vegetação (Ramírez 2004).

Além disso, essa abordagem pode fornecer subsídios para programas de

conservação de ambientes fragmentados ou ameaçados (Machado & Lopes 2004).

A ecologia de dispersão de sementes constitui uma importante base para o

entendimento da estrutura e funcionamento das comunidades florestais nos

neotrópicos. Em casos de regeneração natural de comunidades, a dispersão de

sementes tem um papel fundamental no aporte de propágulos de áreas fonte

Page 25: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

25

próximas, acelerando a regeneração de florestas degradadas (Wunderle 1997).

Além disso, por meio do recrutamento de plantas, pode estimular e atrair herbívoros

(Dirzo et al. 1992; Fort & Richards 1985), já que representa a fonte de alimento para

esses consumidores primários. Possíveis incoerências entre a síndrome

estabelecida para as diferentes espécies e seus reais visitantes nesse tipo de

estudo são aceitáveis, no sentido de que as características reprodutivas não são

indicadores infalíveis e precisos na determinação do polinizador ou do dispersor de

sementes, e sim, um guia importante para estudar a ecologia reprodutiva (Howe &

Smallwood 1982; Machado & Lopes 2004).

O objetivo desse estudo foi caracterizar três diferentes estágios sucessionais

encontrados na floresta do Parque Estadual da Mata Seca, MG em relação a fatores

abióticos (micro-clima e solo) e bióticos (estrutura da comunidade e síndromes de

polinização e dispersão de sementes).

As hipóteses desse estudo são:

(i) Os três estágios sucessionais apresentam-se sob condições micro-climáticas

semelhantes.

(ii) Os três estágios apresentam diferenças pedológicas, de modo que as

condições são melhores quanto mais avançada a sucessão.

(iii) Há um gradiente crescente de complexidade estrutural, representado pelos

valores de CAP e altura, do estágio inicial para o tardio.

(iv) Há diferenças com relação às proporções das diferentes síndromes de

polinização entre os três estágios, sendo a polinização abiótica menos

comum quanto mais avançada a sucessão.

(v) Há diferenças com relação às proporções das diferentes síndromes de

dispersão de sementes entre os três estágios, sendo a dispersão abiótica

menos comum quanto mais avançada a sucessão.

Page 26: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

26

Material e Métodos

A região Norte de Minas Gerais apresenta localização geográfica estratégica

para a conservação da biodiversidade no Estado, pois está situada em área de

ecótone entre os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, apresentando alta

diversidade de fauna e flora (Drummond et al. 2005; Scolforo & Carvalho 2006). A

cobertura vegetal da região é naturalmente complexa, composta por formações

vegetais distintas, predominantemente caducifólias. Além dessas, destacam-se

florestas perenifólias que recobrem porções significativas das várzeas dos rios

Verde Grande e, principalmente, do São Francisco (Scolforo & Carvalho 2006).

O Parque Estadual da Mata Seca (PEMS) localiza-se no Vale do Médio São

Francisco e sua área de influência abrange os municípios de Manga, Itacarambi,

São João das Missões e Matias Cardoso, entre as coordenadas 43°97’02”S -

14°64’09”W e 44°00’05”S - 14°53’08”W. O PEMS foi criado em 2000 englobando

10.000 ha, sob a responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas de Minas

Gerais (IEF-MG). O PEMS representa a única unidade de conservação na margem

esquerda do rio São Francisco que apresenta matas secas em solo não-cárstico e

mata ciliar ainda preservada em Minas Gerais. Na região do PEMS, ainda podem

ser encontradas outras formações vegetais, como florestas perenifólias nas várzeas

do rio, florestas semi-decíduas em terrenos mais altos ao longo dos cursos d’água,

vegetação rupestre em solos litólicos calcáreos além das florestas deciduais em

solos litólicos, podzólicos, latossolos e cambissolos (IEF 2000) (Figura 1).

O histórico de uso antrópico do PEMS inclui o estabelecimento de dois pivôs

centrais de cerca de 100 ha cada, para o cultivo de feijão, milho e tomate.

Entretanto, a principal atividade nesta área era a criação de gado sendo que cerca

de 1.525 ha da área do PEMS são constituídos por pastagens abandonadas em

diferentes estágios de regeneração (IEF 2000). Três estágios sucessionais

principais da regeneração da Floresta Estacional Decidual foram definidos com base

na estrutura vegetal:

• Inicial - no qual o principal componente é o herbáceo-arbustivo, com

manchas esparsas de vegetação lenhosa de porte mais alto, formando um

dossel descontínuo de, no máximo, 6-8 metros de altura. Em regeneração há

oito anos;

Page 27: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

27

• Intermediário - no qual existem dois estratos. O primeiro é composto de

árvores decíduas de crescimento rápido, que atingem um tamanho máximo

de 15-20 metros de altura e formam um dossel fechado. O segundo estrato é

composto por lianas, árvores adultas pertencentes a espécies tolerantes à

sombra e árvores juvenis. Em regeneração há 20-25 anos;

• Tardio - no qual existem três estratos. O primeiro estrato é constituído por

árvores de 15-30 metros de altura que formam um dossel bastante fechado.

O segundo estrato é formado por árvores juvenis de diferentes idades e

portes, e o terceiro estrato é composto por espécies herbáceas e arbustivas

típicas de sub-bosque. Em regeneração há mais de 50 anos.

 

Figura 1: Localização do Parque Estadual da Mata Seca, MG.

Fonte: http://tropi-dry.eas.ualberta.ca.

Page 28: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

28

Para cada estágio sucessional, foram demarcadas 6 parcelas de 50 m x 20 m

(0,1 ha), totalizando 18 parcelas e 1,8 ha amostrados (Figura 2). Cada parcela

representa uma unidade amostral, totalizando, portanto, seis repetições por estágio.

Nessas parcelas estão sendo realizados estudos periódicos de fitossociologia,

fenologia, herbivoria, riqueza e abundância de borboletas, formigas, besouros

escarabeídeos, morcegos e aves, medições de Índice de Área Foliar, análise de

solo e coleta de dados climáticos dentro do Tropi-Dry.

As parcelas amostradas no Parque Estadual da Mata Seca apresentam um

total de 59 espécies arbóreas, distribuídas em 25 famílias. O estágio inicial

apresenta 24 espécies, o intermediário 33 espécies e o tardio 42 espécies (Madeira

et al. 2008, submetido). Para a realização deste estudo, foram utilizados dados

secundários obtidos nas parcelas demarcadas relativos à análise de solos, coleta de

dados climáticos e fitossociologia provenientes da base de dados do Tropi Dry

(2007).

0 1000m

N

Figura 2: Desenho esquemático da localização das parcelas demarcadas no

Parque Estadual da Mata Seca, MG.

Estágio

Inicial

Intermediário

Tardio

Page 29: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

29

Fatores Abióticos

Para a caracterização meteorológica foram instaladas, no sub-bosque dos

fragmentos, três estações climáticas (Figura 3), uma em cada estágio sucessional.

Cada estação coletou dados de conteúdo hídrico do solo, umidade relativa do ar,

temperatura, ponto de orvalho e Radiação Fotossinteticamente Ativa (RFA) durante

o período de Dezembro de 2006 a Novembro de 2007. As medidas são tomada a

cada minuto e uma média desses valores registrada a cada 30 minutos, sendo

que,para a análise dos dados, foram calculadas as médias mensais dos valores

registrados. Os valores de minutos de luz. dia-1 foram obtidos a partir de dados de

RFA. Foi utilizada a estação climática localizada no estágio inicial uma vez que as

estações localizadas nos outros estágios apresentaram mal-funcionamento durante

parte do período de estudos.

Figura 3: Estação Meteorológica instalada em uma das parcelas no Parque Estadual

da Mata Seca, MG. Foto: M. Espírito-Santo.

Page 30: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

30

Os dados de pluviosidade foram obtidos por meio do banco de dados da

Agência Nacional de Águas (ANA) da estação pluviométrica de Manga, MG, desde

1938 até 2007. Para melhor definir as estações do ano, foi realizada uma análise de

agrupamento (utilizando ligação completa como método de amalgamação e

distância Euclidiana como coeficiente de associação) considerando as médias

mensais ao longo dos 69 anos (Madeira & Fernandes 1999, Couto-Santos 2007).

Para análise estatística dos dados climáticos coletados pelas estações

meteorológicas, foram realizados testes não paramétricos de distribuição de

frequências (Kolmogorov-Smirnov Two Sample) para comparar a variação dos

parâmetros climáticos ao longo do ano entre os estágios sucessionais.

Para a coleta de solo, foram feitas amostragens em três parcelas de cada

estágio sucessional e o material coletado levado à Embrapa Solos, RJ, para análise.

Para análise estatística dos dados de solo, foram calculadas as médias dos valores

dos componentes químicos e físicos do solo, da composição granulométrica e dos

teores de metais. Devido às diferenças nas unidades e magnitudes entre as

variáveis, foi realizada uma transformação para estandardizar os dados para a

realização dos testes de hipótese, segundo a seguinte fórmula (Vincent 2004):

Valor padronizado = (valor original – média) / desvio padrão

Para comparação das médias foi utilizada Análise de Variância (ANOVA)

seguida de teste de Tukey HSD a 5% de probabilidade para segregar as diferentes

médias (Zar 1996). A homogeneidade das variâncias dos dados transformados foi

verificada para realização desses testes paramétricos. Para análise exploratória, foi

realizada uma Análise de Componentes Principais (PCA) (Vincent 2004).

Fatores Bióticos

Para a coleta de dados bióticos, em cada parcela de cada estágio

sucessional, todas as espécies arbóreas com diâmetro a altura do peito (DAP) > 5

cm foram marcadas e identificadas. Para análise de estrutura, foram calculadas as

médias dos valores de CAP (Circunferência à Altura do Peito), altura, área basal e

densidade de indivíduos em cada estágio sucessional. Para comparação das

médias foi utilizada Análise de Variância (ANOVA) seguida de teste de Tukey HSD a

5% de probabilidade para segregar as diferentes médias (Zar 1999). A

homogeneidade das variâncias dos dados foi verificada previamente à realização de

todos os testes.

Page 31: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

31

Para todos os indivíduos marcados, as síndromes de polinização (sensu

Faegri & Pijl 1979) e de dispersão (sensu Howe & Smallwood 1982) foram inferidas

a partir da morfologia e cor das flores e frutos, observações de campo e informação

da literatura.

Como o foco deste trabalho foi a comunidade, foi preferido realizar as

análises utilizando o número de indivíduos, apesar de alguns resultados serem

expostos com o número de espécies, para efeito de comparação. Sendo assim, em

cada estágio sucessional, foram calculados o número de indivíduos e sua

porcentagem para cada síndrome encontrada e os valores comparados por meio de

análise de variância (ANOVA) comparando-se os pares por meio de teste de Tukey

HSD a 5%. A homogeneidade das variâncias foi verificada previamente a todas as

análises.

Para avaliar a similaridade de síndromes de polinização e dispersão de

sementes entre cada parcela dos diferentes estágios sucessionais, uma análise de

agrupamentos foi realizada. A similaridade foi medida utilizando distância euclidiana

e o método de aglomeração foi o de ligação completa.

Page 32: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

32

Resultados e Discussão

Fatores Abióticos

• Micro-Clima

Com relação ao micro-clima, não foram observadas diferenças entre os

estágios sucessionais, exceto para as variáveis conteúdo hídrico do solo e RFA. A

temperatura média mensal se mostrou relativamente constante e alta durante o ano,

sendo a média geral de 24,1oC; a média máxima de 30,1oC (Outubro 2007, estágio

tardio) e a mínima de 20,9oC (Agosto 2007, estágio inicial). Não houve diferença

significativa entre os estágios sucessionais (p>0,05) (Figura 4).

A Radiação Fotossinteticamente Ativa apresentou forte sazonalidade, tendo

valor máximo de 439,5 (Outubro 2007, estágio inicial) e mínimo 44 uE (Fevereiro

2007, estágio tardio), sendo a média 237,6 uE. Houve diferença significativa entre

os estágios sucessionais, com os maiores valores nos estágios inicial e

intermediário e os menores no estágio tardio (p<0,05) (Figura 4). É importante

ressaltar que as estações climáticas estão localizadas no sub-bosque, gerando

padrões inversos ao esperado com base nas estações do ano. Os maiores valores

observados durante a estação seca refletem a deciduidade do dossel, permitindo

que toda a radiação chegue ao solo enquanto na estação chuvosa grande parte

dessa radiação é interceptada pelas folhas.

A umidade relativa do ar apresentou forte sazonalidade, tendo valor máximo

de 95,2% (Fevereiro 2007, estágio inicial) e mínimo de 36% (Outubro 2007, estágio

tardio), sendo a média 66,1%. A distribuição dos valores ao longo do ano foi

estatisticamente semelhante entre os estágios (p>0,05) (Figura 4).

O conteúdo hídrico do solo também apresentou forte sazonalidade, tendo

valor máximo de 0,202 m3água.m3solo-1 (Fevereiro 2007, estágio inicial) e mínimo

0,024 (Outubro 2007, estágio intermediário), sendo a média 0,089. Houve diferença

significativa entre os estágios sucessionais, tendo sido registrados os maiores

valores no estágio inicial,os menores no estágio intermediário e valores

intermediários no estagio tardio (p<0,05) (Figura 4). Entretanto, essa diferença pode

ter sido causada por fatores geográficos, uma vez que algumas parcelas do estágio

inicial estão localizadas em áreas sujeitas a influência de um lençol freático mais

raso, em razão da proximidade com um curso d’água (veja Figura 2).

Page 33: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

33

Os valores de ponto de orvalho seguiram o mesmo padrão de forte

sazonalidade apresentado pelo conteúdo hidrico, com máxima de 22,8oC (Fevereiro

2007, estágio inicial), mínima de 9,1oC (Agosto 2007, estágio inicial) e média de

15,8 oC. Não houve diferença significativa entre os estágios sucessionais (p>0,05)

(Figura 4).Os valores de minutos de luz.dia-1 também apresentaram comportamento

sazonal, com os menores valores ocorrendo no período de Abril a Julho, durante a

estação seca (Figura 5).

A pluviosidade média anual da região, nos últimos 69 anos, foi de 805,29

mm, enquanto a pluviosidade anual no período de estudo foi de 704,5 mm.

Analisando-se as médias mensais de 1938 até 2007, a máxima pluviosidade ocorre

no mês de Dezembro (183,3 mm) e a mínima em Julho (0,29 mm) (Figura 6). O ano

de 2007 apresentou um regime pluviométrico peculiar devido ao pico de chuvas

ocorrente no mês de Fevereiro (300 mm), seguido por uma redução brusca do

volume de chuvas no mês de Março. Entretanto, as diferenças observadas entre as

médias mensais pluviométricas históricas e do ano de estudos só ocorreram durante

os meses chuvosos, tendo os meses secos sido semelhantes entre si (Figura 6).

A análise de agrupamento dos dados históricos (Figura 7) indicou a

ocorrência de duas estações bem definidas (seca e chuvosa), e períodos de

transição entre essas estações. A estação seca compreendeu cinco meses: Maio,

Junho, Julho, Agosto e Setembro; a estação chuvosa foi representada por três

meses: Novembro, Dezembro e Janeiro. A estação de transição compreendeu os

meses de Outubro Fevereiro, Março e Abril. Os meses da estação chuvosa se

segregaram completamente dos outros meses, indicando que os meses de

transição são mais semelhantes aos meses secos do que aos chuvosos (Figura 7).

Page 34: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

34

15

20

25

30

35

dez jan fev mar abr mai jun jul aug sep oct nov

Tempe

ratura (oC)

0

100

200

300

400

500

dez jan fev mar abr mai jun jul aug sep oct nov

PAR (uE)

0

20

40

60

80

100

dez jan fev mar abr mai jun jul aug sep oct nov

Umidade Re

lativa (%)

0

5

10

15

20

25

dez jan fev mar abr mai jun jul aug sep oct nov

Ponto de

 Orvalho

 (oC

)

inicial intermediário tardio

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

dez jan fev mar abr mai jun jul aug sep oct nov

Conteú

doHídrico

Figura 4: Variação da temperatura (oC), Radiação Fotossinteticamente Ativa (RFA),

umidade relativa do ar (%), conteúdo hídrico do solo e ponto de orvalho (oC) médias

da área de estudos nos três estágios sucessionais no Parque Estadual da Mata

Seca, MG, de Dezembro de 2006 a Novembro de 2007. Letras diferentes

representam diferenças significativas para todo o período pelo teste de Kolmogorov-

Smirnov Two Sample (p<0,05).

A

A

A A

A

A A

B

A A

A

B

A A

AB

Page 35: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

35

Figura 5: Variação do número de minutos luz/dia durante o período de estudo no

Parque Estadual da Mata Seca, MG.

0

50

100

150

200

250

300

350

jan fev mar apr mai jun jul ago set out nov dez

Pluviosidade

 (mm)

1938‐2007

Período do estudo

Figura 6: Variação da pluviosidade mensal (mm) média ao longo do ano para 69

anos e durante o período de estudo no município de Manga, MG.

Meses

Page 36: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

36

Figura 7: Dendrograma elaborado a partir das médias mensais de pluviosidade de

69 anos, segundo o método de ligação completa e ligação euclidiana, no município

de Manga, MG.

Durante os cinco meses da estação seca a precipitação é inferior a 10 mm

por mês sendo que, nesse período, foram registrado os menores valores de

temperatura, umidade relativa do ar, conteúdo hídrico do solo, ponto de orvalho,

fotoperíodo (nesse caso, de Abril a Agosto) e os maiores valores de RFA. O termo

“seca” significa um período sem precipitação apreciável durante o qual o conteúdo

de água no solo é reduzido gerando um déficit hídrico, que gera um estresse na a

maioria das plantas (Larcher 2004). Em ambientes sazonais como as matas secas,

esta “seca” pode chegar a 6 meses (Murphy & A. E. Lugo 1986), sendo um

importante fator evolutivo . Em florestas secas, a quantidade de chuva é excessiva

nos três ou quatro primeiros meses da estação chuvosa e virtualmente ausente

durante alguns meses da estação seca, que varia de dois a seis meses (Olivares &

Medina 1992). Portanto, o principal fator limitante nesses ambientes é a duração

dessa estação e não somente o valor absoluto de chuva (Janzen 1967). Além disso,

freqüentemente o estado de dessecação do solo é acompanhado de forte

Dis

tânc

ia E

uclid

iana

JanFev Mar AbrMaiJun Ago Set Out Nov DezJul

200

50

100

150

0

Transição

Seca

Chuva

Page 37: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

37

evaporação causada pela demanda evaporativa do ar e de altos níveis de radiação

(Larcher 2004).

Os efeitos do pico de pluviosidade no mês de Fevereiro podem ser

observados principalmente nos valores de conteúdo hídrico do solo em todos os

estágios. Entretanto, esse valor foi maior no estágio inicial e menor no estágio

intermediário. Apesar de as regiões de mata seca serem definidas pela quantidade

total de chuvas e duração da estação seca, um outro fator importante em termos de

compreensão das diferenças na fenologia e composição de espécies entre

diferentes áreas pode ser a disponibilidade de água no solo (Holbrook et al. 1995).

Diferenças na sincronia de queda de folhas, florescimento e expansão de raízes

entre árvores decíduas são comumente associadas ao conteúdo hídrico do solo,

diferenças inter-anuais de pluviosidade e tamanho da planta (Holbrook, Whitbeck &

Mooney 1995). Entretanto, essa variável não é dependente somente da

pluviosidade e evaporação uma vez que a textura, estrutura e conteúdo de matéria

orgânica também são determinantes da capacidade de retenção de água do solo

(Cuevas 1995). A relação entre as variáveis climáticas e outras características do

solo serão discutidas adiante.

A sazonalidade acentuada das variáveis umidade relativa do ar, conteúdo

hídrico do solo, ponto de orvalho, fotoperíodo e RFA nos mostra a importância

dessas para a comunidade biótica, enquanto temperatura não apresenta padrão

sazonal acentuado. A variação da pluviosidade cria uma diferença fundamental nos

padrões da sucessão de matas secas e florestas tropicais úmidas (Kennard 2002),

uma vez que a disponibilidade hídrica o principal fator regulador de processos em

florestas secas.

Os valores médios de ponto de orvalho foram inferiores aos valores de

temperatura em todos os meses e todos os estágios sucessionais. Isto indica que

aparentemente o orvalho não é uma fonte de água muito importante nas

comunidades em estudo. Por outro lado, foi detectado que temperaturas no patamar

das do ponto de orvalho ocorreram durante todo o período chuvoso e normalmente

durante poucas horas da madrugada em poucos dias durante o período seco.

Assim, o ponto de orvalho pode atuar como um importante sinalizador de mudanças

na disponibilidade hídrica para as plantas, desencadeando diversos processos

metabólicos.

Page 38: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

38

• Solo

Os resultados das análises físicas e de fertilidade dos substratos dos trechos

em diferentes estágios sucessionais apontaram maior semelhança entre os estagios

inicial e tardio. Em geral, o solo das florestas deciduais do PEMS possui pH ácido,

dentro da faixa comum para solos minerais de regiões áridas e úmidas (de 5 a 9)

(Buckman & Brady 1976). A relação C/N é considerada ideal, inserida na faixa de

8/1 a 15/1. De fato, a proporção C/N tende a ser reduzida em solos de regiões

áridas, devido a baixa disponibilidade hídrica (Buckman & Brady 1976) (Tabela 1).

Apesar de haver diferenças significativas entre os valores de nutrientes, os

solos dos três estágios sucessionais se mostraram férteis, sendo os estágios inicial

e tardio os que possuem os melhores solos. O solo do estágio intermediário é o

mais ácido, com menor concentração de carbono, matéria orgânica e nitrogênio e

menores valores de V e CTC (Tabela 1). A quantidade de areia é semelhante para

todos os estágios, porém a quantidade de silte é maior no estágio tardio e a

quantidade de argila maior no estágio intermediário (Tabela 2). Solos mais ricos em

silte apresentam maior tendência ao encrostamento, ou seja, formação de uma

camada endurecida nos primeiros centímetros do solo, reduzindo a infiltração de

água (aumentando a susceptibilidade à erosão) e dificultando a emergência de

plântulas (Tomé Jr. 1997). Já um solo com textura argilosa é menos susceptível à

erosão em área não muito declivosa. Possui boa drenagem, com altos valores de

retenção de água (Tomé Jr. 1997). Entretanto, possui baixa permeabilidade e é

mais susceptível à compactação (Buckman & Brady 1976).

Os menores valores de matéria orgânica, de CTC e de V sugerem que o solo

do estágio intermediário é o menos fértil entre os ocorrentes nos três estágios. O

valor de CTC é influenciado também pela quantidade de matéria orgânica, em uma

relação positiva. Baixos valores de CTC refletem baixos valores de matéria orgânica

o que gera dificuldade na absorção de nutrientes pelas plantas (Guariguata &

Ostertag 2001). Não foi observado um gradiente de fertilidade entre os três estágios

sucessionais nesse estudo. Os solos dos estágios inicial e tardio são mais férteis e

semelhantes entre si.

O padrão de variação das características do solo ao longo da sucessão

vegetal é variável, sendo que alguns estudos relatam aumento de nutrientes no solo

(Silver et al. 1996) enquanto outros relatam o contrário (Uhl & Jordan 1984). Essas

Page 39: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

39

variações são atribuídas principalmente a diferentes métodos de amostragem,

diferentes ecossistemas analisados, e diferenças no tipo e intensidade do distúrbio

inicial (Guariguata & Ostertag 2001). No caso em estudo, o padrão encontrado

reflete uma diminuição da fertilidade em estágios intermediários de sucessão, e um

aumento de fertilidade em estágios mais avançados. Segundo Brown & Lugo

(1990), a variação na disponibilidade de luz, água e nutrientes pode determinar a

progressão do aporte de matéria orgânica proveniente das espécies vegetais

durante uma sucessão. As espécies de estágios iniciais desenvolvem maior índice

de área foliar, proporcionam maior cobertura vegetal e acumulam maior matéria

orgânica no solo, tornando mais favoráveis as condições para que a sucessão

continue. Por este estudo ter sido realizado ao mesmo tempo nos três estágios

sucessionais, variações microclimáticas ou de uso de solo podem ter influenciado o

resultado. Uma análise de fertilidade do solo ao longo do tempo em uma mesma

parcela pode ser mais adequada para se detectar as diferenças entre estágios.

Os resultados descritos acima podem ser observados no diagrama obtido por

meio da PCA. Em geral, é possível observar segregação entre os três estágios

sucessionais em relação ao solo. O primeiro eixo explicou 52,3% da variação e o

segundo 21,4%, totalizando 73,7% (Figura 8). O Eixo 1 formou um gradiente de

fertilidade, sendo o lado direito o menos fértil. Os três estágios sucessionais foram

separados, estando o estágio intermediário agrupado à direita desse eixo,

associando-se às variáveis alumínio, hidrogênio e argila. Os estágios inicial e tardio,

por outro lado, se agruparam à esquerda desse eixo, se associando às demais

variáveis. No Eixo 2, as parcelas dos estágios inicial e tardio estão agrupadas

principalmente segundo as variáveis C/N, fósforo e areia. O estágio inicial está

agrupado abaixo do Eixo 2, apresentando maiores valores de areia e fósforo.

Page 40: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

40

Tabela 1: Características físicas e químicas dos solos dos estágios Inicial (Ini),

Intermediário (Int) e Tardio (Tar) no Parque Estadual da Mata Seca, MG. M.O.:

matéria orgânica; CTC: Capacidade de Troca Catiônica; V: saturação de bases.

Letras diferentes após a média indicam diferenças significativas na ANOVA pelo

teste de Tukey HSD (p<0.05).

Ini (n=3) Int (n=3) Tar (n=3) X d.p. X d.p. X d.p. pH (H2O) 6.80 ± 0.20 a 5.30 ± 0.10 b 6.63 ± 0.29 a C (g/kg) 15.97 ± 1.00 ab 14.60 ± 2.08 b 18.43 ± 0.49 a M.O. (g/kg) 27.50 ± 1.66 ab 25.07 ± 3.61 b 31.80 ± 0.87 a N (g/kg) 1.97 ± 0.15 ab 1.73 ± 0.12 b 2.17 ± 0.12 a C/N 8.14 ± 0.62 a 8.39 ± 0.67 a 8.52 ± 0.22 a Ca2+ (cmol/kg) 8.43 ± 0.32 a 2.67 ± 1.01 b 7.70 ± 0.87 a Mg2+ (cmol/kg) 2.37 ± 0.67 a 1.13 ± 0.06 b 2.00 ± 0.26 ab K+ (cmol/kg) 0.37 ± 0.08 a 0.16 ± 0.01 b 0.32 ± 0.06 a Na+ (cmol/kg) 0.01 ± 0.01 0.01 ± 0.00 0.01 ± 0.00 H+ (cmol/kg) 1.77 ± 0.55 b 4.33 ± 0.32 a 2.57 ± 0.40 b Al3+ (cmol/kg) 0 ± 0 0.3 ± 0.2 0 ± 0 CTC 12.95 ± 0.86 a 8.61 ± 0.98 b 12.60 ± 1.50 a V (%) 86.50 ± 3.40 a 45.70 ± 7.28 b 79.70 ± 0.86 a P (mg/kg) 7.00 ± 2.00 a 5.00 ± 0.00 a 5.33 ± 1.53 a

Tabela 2: Composição granulométrica dos solos dos estágios Inicial (Ini),

Intermediário (Int) e Tardio (Tar) no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Letras

diferentes após a média indicam diferenças significativas na ANOVA com o teste de

Tukey HSD (p<0.05).

Ini (n=3) Int (n=3) Tar (n=3) X d.p. X d.p. X d.p. Areia (%) 53.4 ± 4.8 a 47.7 ± 2.2 a 43.2 ± 10. a Silte (%) 19.9 ± 1.7 ab 13.6 ± 1.2 b 22.8 ± 5.8 a Argila (%) 26.6 ± 4.1 b 38.6 ± 1.1 a 34.0 ± 5.2 ab

Page 41: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

41

Ini 1

Ini 2

Ini 3

Int 1Int 2

Int 3

Tar 1

Tar 2

Tar 3

areia

silte

argila

pH

C m.o.

N C/N

NA+

Al+3

H+

CTCV

P

0

0

40 8040

80

Eixo1

Eix

o2

Figura 8: Diagrama de ordenação da análise de componentes principais (PCA) a

partir das variáveis físicas e químicas dos solos dos estágios Inicial (Ini),

Intermediário (Int) e Tardio (Tar) no Parque Estadual da Mata Seca, MG.

Page 42: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

42

Fatores Bióticos

Com relação à estrutura da comunidade, o estágio tardio apresentou as

maiores médias para todas as variáveis medidas (Tabela 3), sendo que os valores

de CAP e Área Basal são estatisticamente iguais ao estágio intermediário. O estágio

inicial apresentou as menores médias para todas as variáveis, mostrando uma clara

segregação em relação aos outros dois estágios.

Tabela 3: Circunferência a Altura do Peito (CAP) (cm), Altura (m), Área Basal

(m2/ha) e Densidade de Indivíduos (ind/ha) médios dos indivíduos arbóreos nos

diferentes estágios sucessionais no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Letras

diferentes após a média indicam diferenças significativas na ANOVA com o Teste de

Tukey HSD (p<0.05). Modificado de Madeira et al. submetido.

Inicial (n=295) Intermediário (n=453) Tardio (n=611)

X ± e.p X ± e.p X ± e.p

CAP 27,32 ± 1,24 b 41,01 ± 1,24 a 43,97 ± 1,24 a

Altura 3,36 ± 0,62 c 7,98 ± 0,62 b 12,25 ± 0,62 a

Área Basal 68,6 ± 11,84 b 198,91 ± 11,84 a 237,84 ± 11,84 a

Densidade 491,67 ± 63,78 c 755 ± 63,78 b 1018,33 ± 63,78 a

As famílias mais abundantes no estágio inicial foram Fabaceae,

Anacardiaceae e Bignoniaceae que compreenderam 59,1%, 23,3% e 12,1% dos

indivíduos e 15, 3 e 2 espécies respectivamente. Juntas, essas famílias

correspondem a 92,5% dos indivíduos nesse estágio. No estágio intermediário, as

famílias mais abundantes foram Bignoniaceae (31,3% dos indivíduos e 3 espécies),

Combretaceae (25,6% e 2), Fabaceae (19,9% e 13) e Euphorbiaceae (5,7% e 3). No

estágio tardio as famílias mais abundantes foram Bignoniaceae, Fabaceae,

Combretaceae e Anacardiaceae (Tabela 4).

Page 43: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

43

Tabela 4. Famílias mais representativas nos diferentes estágios sucessionais no

Parque Estadual da Mata Seca. Fonte: Madeira et al. 2008 submetido.

Estágio Família Composição (%)

Número de

Espécies

inicial Anacardiaceae 23.3 3

Bignoniaceae 10.1 2

Fabaceae 59.1 15

intermediário Bignoniaceae 31.3 3

Combretaceae 25.6 2

Euphorbiaceae 5.7 3

Fabaceae 19.9 13

tardio Anacardiaceae 5.1 2

Bignoniaceae 35.8 5

Combretaceae 19.5 2

Fabaceae 20.5 12

Considerando as 59 espécies identificadas nas parcelas no Parque Estadual

da Mata Seca, MG, sete síndromes de polinização foram encontradas: anemofilia

(vento), cantarofilia (besouros), falenofilia (mariposas), melitofilia (abelhas), não

especializadas (pequenos insetos), ornitofilia (beija-flores) e quiropterofilia

(morcegos) (Tabela 5). Quatro síndromes de dispersão de sementes foram

encontradas: zoocoria (animais), anemocoria (vento), barocoria (gravidade) e

balística (explosão) (Pranchas 1 a 3, Tabela 5). Para varias espécies não foram

encontradas informações na literatura como, por exemplo, Pterocarpus rohrii, cuja

flor pode ser polinizada tanto por borboletas ou mariposas. Não foi encontrada

informação sobre a hora da antese dessa espécie, o que poderia indicar com mais

precisão o agente polinizador. A síndrome dessa espécie foi, portanto, considerada

como falenofilia. Para caracterização da síndrome da espécie Vernonia sp., foram

consideradas as informações disponíveis sobre as espécies Vernonia rubricaulis e

V. scabra. Para a espécie Combretum duarteanum, foi utilizada como base as

informações sobre síndrome de polinização e dispersão de sementes da espécie C.

Page 44: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

44

leprosum, característica de áreas de Caatinga. Para Centrolobium sp. foi atribuida a

síndrome de C. robustum, C. tomentosum e C. microchaete.

Há ainda algumas questões taxonômicas não resolvidas nas parcelas do

Parque Estadual da Mata Seca como, por exemplo, espécies identificadas a até

somente o nível de gênero. Entretanto, essas questões não influenciaram na

classificação das síndromes, uma vez que a análise foi realizada em relação à

porcentagem de indivíduos.

Page 45: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

45

Tabela 5: Síndromes de polinização e de dispersão das espécies identificadas nos três estágios sucessionais no Parque Estadual

da Mata Seca, MG. Estágio: ini – inicial, int – Intermediário, tar – Tardio; Poli – síndrome de polinização: n.e. – não especializados,

mel – melitofilia, ane – anemofilia, orn – ornitofilia, can – cantarofilia, fal – falenofilia, qui – quiropterofilia; Dis – síndrome de

dispersão de sementes: ane – anemocoria, zoo – zoocoria, bal – balística, bar – barocoria. Bibliografia no Anexo 1.

Família Espécies Estágio Poli Dis Bibliografia

Anacardiaceae Astronium fraxinifolium Schott ex Spreng. ini n.e. ane 15, 16

Myracrodruon urundeuva Allemão ini - int - tar n.e. ane 8, 11

Schinopsis brasiliensis Engl. ini n.e. ane 2, 11

Spondias tuberosa Arruda int - tar n.e. zoo 8,11

Apocynaceae Aspidosperma polyneuron Müll.Arg. tar fal ane 6, 12, 13

Aspidosperma pyrifolium Mart. ini – tar fal ane 8,12

Aspidosperma subincanum Mart. int - tar fal ane 8,12

Calotropis procera (Aiton) W.T. Aiton* ini mel ane 19

Araliaceae Aralia warmingiana (Marchal) J. Wen int – tar mel zoo 4,18

Arecaceae Syagrus oleracea (Mart.) Becc. tar can zoo 15,20

Asteraceae Vernonia sp. ini n.e. ane 1,20

Bignoniaceae Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC) Standl. int – tar mel ane 3, 5, 12

Tabebuia ochracea (Cham.) Standl. ini – int – tar mel ane 3, 5, 12

Tabebuia roseo-alba (Ridl.) Sandwith tar mel ane 3, 5, 12

Tabebuia sp. 2 int mel ane 3, 5, 12

Zeyheria tuberculosa (Vell.) Bur. ini orn ane 12, 15

*Espécie introduzida

Page 46: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

46

Tabela 5 continuação.

Família Espécies Estágios Poli Dis Bibliografia

Bixaceae Cochlospermum vitifolium Spreng. int – tar mel ane 5, 7

Burseraceae Commiphora leptophloeus (Mart.) J. B. Gillet int - tar mel zoo 8, 11

Cactaceae Cereus jamacaru DC. int – tar mel zoo 7

Pereskia grandifolia Haw. int - tar mel zoo 13

Cannabaceae Celtis iguanaea (Jaqc.) Sarg. ini ane zoo 10

Combretaceae Combretum duarteanum Cambess. int – tar n.e. ane 7, 8

Terminalia eichleriana Alan & Stace int – tar n.e. ane 15, 16

Euphorbiaceae Cnidoscolus pubescens Pax (Pax) int fal bar 8, 18

Manihot anomala Pohl ini – int mel bar 8, 12

Sapium obovatum Klotzsch ex Mull. Arg. int – tar n.e. zoo 5

Fabaceae-

Caesalpinioideae Bauhinia sp. ini qui bal 8, 12

Caesalpinia pyramidalis (Tul.) ini – int – tar mel bal 8

Goniorrhachis marginata Taub. tar mel bar 2, 18

Senna multijuja (Rich.) ini mel bar 20

Senna spectabilis (DC.) H. S. Irwin &

Barneby ini mel bar 1

(continua)

Page 47: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

47

Tabela 5 continuação.

Família Espécies Estágios Poli Dis Bibliografia

Fabaceae-Faboideae Centrolobium sp. int – tar mel ane 6

Machaerium acutifolium Vog. int – tar mel ane 12, 15

Machaerium brasiliense Vog. int – tar mel ane 12, 15

Machaerium cf. floridum (Mart.) Ducke int – tar mel ane 12, 15

Machaerium scleroxylon Tul. int mel ane 12, 15

Platymiscium blanchetii (Benth.) ini – tar mel bar 18

Pterocarpus rohrii Vahl tar fal ane 18

Fabaceae-Mimosoideae Acacia cf. polyphylla DC. ini-int-tar mel bar 8, 20

Acacia sp. 1 ini mel bar 8, 20

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan int – tar n.e. ane 8, 12

Chloroleucon tortum (Mart.) ini – tar mel bar 18

Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong int - tar can bar 1

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. ini n.e. bar 10

Piptadenia viridiflora (Kunth.) Benth. ini – int n.e. bar 10, 16

Plathymenia reticulata Benth. ini – int n.e. ane 15, 18

(continua)

Page 48: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

48

Tabela 5 continuação.

Família Espécies Estágios Poli Dis Bibliografia

Malvaceae Cavanillesia arborea (Willd.) K. Schum. int – tar qui ane 17, 19

Ceiba glaziovii (Kuntze) E. Santos int – tar qui ane 8, 19

Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.) A. Robyns. int - tar qui ane 11, 19

Sterculia striata A. St. Hil. & Naudin tar mel zoo 1

Meliaceae Cedrela odorata L. int – tar ane ane 10

Myrtaceae Myrtaceae sp. tar - -

Nyctaginaceae Ramisia brasiliensis Oliv. tar fal bar 10

Polygonaceae Coccoloba schwackeana Lindau ini – tar mel zoo 18

Rhamnaceae Zizyphus joazeiro Mart. ini mel zoo 11

Rubiaceae Randia ferrox (Cham. & Schltdl.) DC ini fal zoo 4, 18

Vochysiaceae Callisthene major Mart. tar mel ane 10, 16

Page 49: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

49

Prancha 1: Flores de (a) Sapium obovatum no estágio intermediário; (b) Bauhinia

sp. no estágio tardio; (c) (d) Mimosoidae no estágio inicial; (e) (f) Senna spectabilis

no estágio inicial. (a),(c) e (d) são polinizadas por pequenos insetos, (b) por

morcegos e (e) e (f) por abelhas.

Page 50: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

50

Prancha 2: (a) Botões florais e (b) flores de Myracrodruon urundeuva no estágio

inicial, flores de (c) Cochlospermum vitifolium no estágio intermediário, (d) detalhe

flor de Cochlospermum vitifolium, (e) Mimosoidae no estágio inicial, (f) Spondias

tuberosa no estágio tardio, (g) botões florais de Pereskia grandifolia no estágio

intermediário e (h) flores de Zeyheria sp. no estágio inicial. (a), (b), (e) e (f) são

polinizadas por pequenos insetos, (c), (d) e (g) por abelhas, (h) por beija-flores.

Page 51: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

51

Prancha 3: Frutos de (a) Zizyphus joazeiro no estágio inicial (b) Sapium obovatum

no estágio intermediário (c) Randia armata no estágio inicial (d) Spondias tuberosa

no estágio intermediário (e) Manihot anomala no estágio intermediário (f)

Caesalpinia pyramidalis no inicial (g) Cavanillesia arborea no estágio tardio (h)

detalhe fruto maduro de Cavanillesia arborea. (a), (b), (c), (d), (e) são dispersas por

zoocoria, (f) balística e (g), (h) por anemocoria.

Page 52: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

52

Em geral, a melitofilia foi a síndrome mais comum entre os indivíduos (75,8%)

seguido por não especializadas (17,7%), falenofilia (3,6%), anemofilia (1,5%),

quiropterofilia (0,9%), cantarofilia (0,4%) e ornitofilia (0,1%). A polinização por

abelhas foi mais comum em todos os estágios sucessionais, seguido pela

polinização por pequenos insetos (Figura 9 – a,b,c).Tanto na análise por indivíduos,

quanto na por espécies, só foi observada diferença significativa entre os estágios

sucessionais para as síndromes melitofilia e pequenos insetos (p<0,,05). Os

estágios intermediário e tardio apresentaram porcentagens maiores e semelhantes

entre si de indivíduos (80,35% e 80,36% respectivamente) e espécies (56,25% e

58,97% respectivamente) melitófilas quando comparados ao estágio inicial (59,32%

para indivíduos e 39,29% para espécies). Por sua vez, o estágio inicial apresentou

maior porcentagem de indivíduos (35,93%) e espécies (42,86%) polinizadas por

pequenos insetos quando comparado aos estágios intermediário (13,91% para

indivíduos e 21,88% para espécies) e tardio (11,78% pra indivíduos e 12,82% para

espécies).

Quando se compara as análises por indivíduos e por espécies dentro de um

mesmo estágio, nota-se que a freqüência das síndromes de polinização seguiu o

mesmo padrão para os estágios intermediário e tardio, com predominância de

espécies melitófilas. Entretanto, no estágio inicial, a porcentagem de espécies

polinizadas por pequenos insetos foi maior em relação à porcentagem de espécies

melitófilas. Por outro lado, na análise por número de indivíduos a melitofilia

representou 59,32% da comunidade e não especializadas 35,93% (Figura 9).

Em área de Caatinga, Machado & Lopes (2004) observaram que a melitofilia

é a síndrome de polinização mais freqüente, ocorrendo em 61,7% das espécies,

seguido por psicofilia (polinização por borboletas – 15%) e quiropterofilia (13,1%). A

proporção de quiropterofilia e ornitofilia na Caatinga é maior quando comparada

com floresta tropical úmida (Bawa et al. 1985). A anemofilia é registrada como

pouco freqüente pela maioria dos estudos, ocorrendo em 2% das espécies em área

de Caatinga (Machado & Lopes 2004), 2,5% em floresta tropical úmida (Bawa et al.

1985) e até ausente em área de Cerrado (Oliveira & Gibbs 2000).

Por outro lado, há relatos de que a anemofilia predomina em tipos

vegetacionais de climas secos ou com forte estacionalidade pluvial e em espécies

pioneiras (Howe & Smallwood 1982; Gentry 1983; Janzen 1988; Tabarelli et al.

1999). Porém, neste estudo, a polinização por insetos foi a síndrome mais freqüente

Page 53: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

53

e a polinização por vento uma das menos freqüentes, o que está de acordo com o

estudo de Machado e Lopes (2004). Insetos polinizadores são favorecidos nas

condições climáticas da estação seca por diversos motivos, dentre eles: há mais

horas de sol devido a falta de nuvens; não há chuva para diluir o néctar das flores; o

ar seco pode servir para concentrar o néctar; a ausência de folhas aumenta a

visibilidade das flores (Janzen 1967).

As diferenças encontradas nas proporções de síndromes de polinização

foram mais evidentes entre o estágio inicial e os demais. Chazdon e colaboradores

(2003) mostram que o estágio successional influencia a abundância de espécies

arbóreas com diferentes sistemas sexuais e síndromes de polinização, De acordo

com Ramirez e Brito (1992), a fauna de polinizadores em uma área é fortemente

correlacionada com a estrutura da vegetação e diversidade de espécies de plantas.

Page 54: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

54

Figura 9: Proporção do número de: indivíduos apresentando as diferentes

síndromes de polinização no (a) estágio inicial (n=295); (b) estágio intermediário

(n=453); (c) estágio tardio (n=611); e de espécies apresentando as diferentes

síndromes de polinização no (d) estágio inicial (n=27); (e) estágio intermediário

(n=32); (f) estágio tardio (n=39).

Com relação às síndromes de dispersão, em geral, anemocoria foi a

síndrome mais comum, representada por 70,8% de todas as espécies estudadas

em todos os estágios sucessionais, seguido pela barocoria (16,9%), zoocoria (8,8%)

e balística (3,5%). No estágio inicial, a síndrome de dispersão mais comum foi a

barocoria (59%), seguido pela anemocoria (38,3%), zoocoria (2%) e balística

(0,7%). No estágio intermediário, 76% das espécies foram classificadas como

anemocóricas, 12% zoocóricas, 8,4% barocóricas e 3,7% balísticas. No estágio

(d)   (e) (f)

(a) (b) (c)

Melitofilia

Anemofilia

Ornitofilia

Cantarofilia

Falenofilia

Quiropterofilia

Não Especializados

Page 55: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

55

tardio a anemocoria também foi a síndrome de dispersão mais comum (82,6%),

seguida pela zoocoria (9,6%), balística (4,7%) e barocoria (2,9%) (Figura 10)

Foram observadas diferenças significativas entre os estágios para

anemocoria, barocoria e zoocoria, tanto na análise por indivíduos quanto por

espécies. As porcentagens de síndromes zoocoria e anemocoria foram

estatisticamente semelhantes entre si nos estágios intermediário e tardio e

superiores ao estágio inicial. Já a barocoria foi mais freqüente no estágio inicial do

que nos estágios intermediário e tardio

A freqüência das síndromes de dispersão de sementes, quando analisada por

espécies, seguiu o mesmo padrão para os estágios inicial e intermediário, com

predominância de espécies barocóricas no primeiro (48,1%) e anemocóricas

(62,5%) no segundo. O estágio tardio apresentou maior proporção de espécies

anemocóricas, como observado na análise por indivíduos. Entretanto, a barocoria foi

superior à balística, diferentemente da análise anterior (Figura 10).

A zoocoria foi mais representativa no estágio tardio, confirmando a maior

freqüência de espécies zoocóricas em formações florestais úmidas ou secas

(Fenner 1985, Griz & Machado 2001).Porém, em geral, a zoocoria foi menos comum

na comunidade como um todo. Nas florestas tropicais a síndrome de dispersão de

sementes mais freqüente é a zoocoria, seguida da anemocoria e da autocoria

(Howe & Smallwood 1982). Em Mata Atlântica, a baixa ocorrência de anemocoria é

explicada pelas condições mais úmidas do ambiente, o que dificultaria a dispersão

de diásporos, quando comparado com florestas menos úmidas (Negrelle 2002,

Kinoshita et al. 2006). Em estudo em área de caatinga, Griz e Machado (2001)

observaram que a zoocoria representou o modo de dispersão mais observado,

seguido da anemocoria, balística e barocoria, um padrão divergente do encontrado

no PEMS.

A dependência de fatores abióticos para dispersão de sementes foi mais

comum em todos os estágios. A dispersão por vento é relativamente comum em

florestas decíduas (van Schaik et al. 1993) e presente em grandes proporções em

matas secas (Bullock 1995). Em geral, a velocidade do vento aumenta com o

aumento da altura, afetando a copa dos indivíduos arbóreos altos (Oliveira &

Moreira 1992). De fato, quando comparada ao estagio inicial, a anemocoria foi mais

importante nos estágios intermediário e tardio, que apresentam as árvores mais

altas (Tabela 3). Em florestas secas tropicais, as plantas perdem suas folhas

Page 56: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

56

sazonalmente, permitindo então uma maior circulação do vento não somente no

dossel, mas também em estratos mais baixos da vegetação. (Griz & Machado

2001).

Figura 10: Proporção do número de: indivíduos apresentando as diferentes

síndromes de dispersão no (a) estágio inicial (n=295); (b) estágio intermediário

(n=453); (c) estágio tardio (n=611); e de espécies apresentando as diferentes

síndromes de dispersão no (d) estágio inicial (n=27); (e) estágio intermediário

(n=32); (f) estágio tardio (n=39).

As diferenças nas síndromes de polinização e dispersão não foram evidentes

entre os estágios intermediário e tardio. Em matas secas, a disponibilidade sazonal

de água é o maior fator determinante da reprodução vegetal (Griz & Machado 2001).

Esse fator pode ser o responsável pela convergência na época de reprodução dos

estágios intermediário e tardio (tema discutido no próximo capítulo) e conseqüente

 

 

(d)   (e)  (f)

 

(a)  

 

(b) (c)

Anemocoria

Barocoria

Balística

Zoocoria

Page 57: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

57

seleção de seu polinizadores e dispersores. Apesar das diferenças na composição

de espécies entre os estágios sucessionais da floresta seca estudada (Madeira et

al. 2008 submetido), os padrões encontrados para as síndromes de polinização e de

dispersão de sementes mostraram que somente o estágio inicial difere

marcadamente dos outros dois. Por outro lado, as matas secas são mais resilientes

quando comparadas a outras formações florestais (Murphy & Lugo 1986) pelo fato

de que emflorestas secas, a sucessão é floristicamente mais simples e o número de

estágios menor do que em florestas tropicais úmidas (Ewel 1980). De fato, os

estágios intermediário e tardio apresentam mais semelhanças estruturais e

taxonômicas entre si do que quando comparados ao estágio inicial. Sendo assim, é

possível que a diferença de idadeentre os estágios intermediário e tardio não seja

suficiente para evidenciar suas diferenças e que um fragmento com 20 anos de

regeneração ou mais já apresenta características ecológicas semelhantes a uma

comunidade clímax.

Em fragmentos florestais, árvores podem se tornar extintas localmente à

medida que seus polinizadores e/ou dispersores de sementes também se sejam

extintos (Janzen, 1986). Portanto, estudos de características reprodutivas da

comunidade vegetal ao longo da sucessão, aliados a estudos de riqueza e

abundância da fauna polinizadora e dispersora de sementes podem fornecer

informações sobre a sustentabilidade populacional de espécies desses fragmentos.

Os resultados desse estudo mostram a semelhança entre os estágios inicial e

intermediário em relação a características micro-climáticas e entre os estágios inicial

e tardio em relação à características do solo. As diferenças encontradas entre os

estágios, embora significativas, do ponto de vista estatístico, surtem pouco efeito

ecológico uma vez que a maioria dos fatores climáticos não mostrou diferença

alguma e o solo de todos os estágios pode ser considerado fértil. Por outro lado,

apesar das diferenças na composição de espécies entre os três estágios, há

semelhança na proporção das síndromes de polinização e de dispersão de

sementes entre os estágios intermediário e tardio, sugerindo uma recuperação do

funcionamento do ecossistema antes mesmo da recuperação da composicao

floristica da comunidade. Esse estudo mostra também a maior importância de

vetores bióticos para a polinização do que para a dispersão de sementes nos

trechos de mata seca.

Page 58: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

58

Referências Bibliográficas Agam, N. & Berliner, P. R. 2006. Dew formation and water vapor adsorption in semi-

arid environments—A review. Journal of Arid Environments 65: 572-590.

Bawa, K. S. 1990. Plant-pollinator interactions in tropical rain forests. Annual Review

of Ecology and Systematics. 21: 399-422.

Bawa, K. S., H. Kang, & M. H. Grayum. 2003. Relationships among time, frequency,

and duration of flowering in tropical rain forest trees. American Journal of

Botany 90: 877–887.

Bawa, K.S., Bullock, S.H., Perry, D.R., Coville, R.E., Grayum, M.H. 1985.

Reproductive biology of tropical lowland rain forest trees. II. Pollination

systems. Biología reproductiva de árboles del bosque lluvioso tropical de las

tierras bajas. II. Sistemas de polinización. American Journal of Botany 72:

346-356.

Begon, M., Townsend, C. R., & Harper, J. L. 2006. Ecology: From Individuals to

Ecosystems. United Kingdom: Blackwell Publishing.

Brown, S., Lugo, A.E. 1990. Tropical secondary forests. Journal of Tropical Ecology

6: 1-32.

Buckman, H.O. & Brady, N.C. 1976. Natureza e propriedade dos solos. 4th ed., Rio

de Janeiro: Freitas Bastos.

Bullock, S. H. 1994. Wind pollination of Neotropical dioecious trees. Biotropica. 26:

172-179.

Bullock, S. H. 1995. Plant reproduction in Neotropical dry forests. In S. H. Bullock, H.

A. Mooney, & E. Medina (Eds.). Seasonally dry tropical forests. New York:

Cambridge University Press (pp. 277–303).

Bullock, S. H. & Solis-Magallanes, J. A. 1990. Phenology of canopy trees of a

tropical deciduous forest in México. Biotropica 22: 22-35.

Chazdon, R.l., Careaga S,Webb C,Vargas O. 2003. Community and phylogenetic

structure of reproductive traits of woody species in wet tropical forests.

Ecological Monographs 73: 331–348

Page 59: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

59

Crawley, M.J. 1997. The structure of plant communities. In Plant Ecology. Oxford:

Blackwell Science, p. 475-531.

Couto-Santos, F.R. 2007.Fenologia de espécies arbóreas do dossel e sub-dossel

em um fragmento de Mata Atlântica semi-decídua em Caratinga, Minas

Gerais, Brasil. Dissertação (Mestrado em Ecologia Conservação e Manejo de

Vida Silvestre). Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais. 100 p.

Cuevas, E. 1995. Biology of the belowground system of tropical dry forests. In

Bullock, S. H., Mooney, H. A. & Medina, E. (Eds). Seasonally dry tropical

forests. New York: Cambridge University Press (pp. 362–383)

Dirzo, R.; Horvitz, C.C.; Quevedo, H.; Lópes, M.A. 1992. The effects of gap size and

age on the understorey herb community of a tropical mexican rain forest.

Journal of Ecology 80: 809-822.

Drumond, G.M., Martins, C.S., Machado, A.B.M., Sebaio, F.A. & Antonini, Y. (Orgs.).

2005. Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas para sua conservação. 2 ed.

Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas.

Ewel, J.J. 1980. Tropical Succession: Manifold Routes to Maturity. Biotropica 12: 2-

7.

Fægri K, van der Pijl L. 1979. The Principles of Pollination Ecology. 3 ed. Oxford:

Pergamon.

Fenner, M. 1985. Dispersal. In Fenner, M. (Eds.). Seed ecology. London: Chapman

& Hall (pp. 38-56).

Fenster, C.B., Armbruster, W.S., Wilson, P., Dudash, M.R., & Thomson, J.D. 2004.

Pollination syndromes and floral specialization. Annual Review of Ecology and

Systematics 35: 375-403.

Fitter, A. 1997. Nutrient Acquisition. In M. J. Crawley (Eds.). Plant Ecology. United

Kingdom: Blackwell ScientificPublications (pp. 51-72).

Fort. K.P. & Richards, J.H. 1998. Does seed dispersal limit iniciation of primary

succession in desert playas? American Journal of Botany 85: 1722-1731.

Gentry, A.H. 1983. Dispersal ecology and diversity in neotropical forest communities.

Sonderbände Naturwissenschaftlichen Vereins im Hamburg 7: 315-352.

Page 60: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

60

Goulart, M. 2004. Variação morfológica e na fenológica de Plathymenia

(Leguminosa-Mimosoidade) em áreas de Cerrado, Mata Atlântica e de

transição entre biomas, no estado de Minas Gerais, Brasil. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais.

Grace, J. 1997. Plant water relations. In M. J. Crawley (Eds.) Plant Ecology. United

Kingdom: Blackwell ScientificPublications (pp. 28-50).

Griz, L.M.S, Machado, I.C. 2001. Fruiting phenology and seed dispersal syndromes

in Caatinga, a tropical dry forest in the northeast of Brazil. Journal of Tropical

Ecology 17: 303–321.

Guariguata, M.R. & Ostertag, R. 2001. Neotropical secondary succession: changes

in structural and functional characteristics. Forest Ecology and Management

148: 185–206.

Holbrook, N.M., Whitbeck, J.L., & Mooney, H.A. 1995. Drought responses of

neotropical dry forest trees. Seasonally Dry Tropical Forests: 243–276.

Howe, H.F. & Smallwood, J. 1982. Ecology of seed dispersal. Annual Review of

Ecology and Systematics.13: 201-228.

Ibarra-Manríquez, G., Oyama, K. 1992. Ecological correlates of reproductive traits of

Mexican rain forest trees. American Journal of Botany 79: 383-394.

IEF, Instituto Estadual de Florestas. 2000. Parecer técnico para a criação do Parque

Estadual da Mata Seca, Belo Horizonte, MG.

Janzen, D.H. 1967. Synchronization of Sexual Reproduction of Trees Within the Dry

Season in Central America. Evolution 21: 620-637.

Janzen, D.H. 1986. The future of tropical ecology. Annual Review of Ecology and

Systematics 17 : 305–324.

Janzen, D.H. 1988. Tropical dry forests. The most endangered major tropical

ecosystem. In E.O. Wilson (Ed.). Biodiversity. Washington DC: National

Academy of Sciences/Smithsonian Institution. (pp. 130–137).

Kang, H. & K. S. Bawa. 2003. Effects of successional status, habitat, sexual

systems, and pollinators on flowering patterns in tropical rain forest trees.

American Journal of Botany 90: 865–876.

Page 61: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

61

Kennard, D. 2002. Secondary forest succession in a tropical dry forest: patterns of

development across a 50-year chronosequence in lowland Bolivia. Journal of

Tropical Ecology 18: 53-66.

Kinoshita, L.S., Torres, R.B., Forni-Martins, E.R., Spinelli, T., Ahn, Y.J. &

Constâncio, S.S. 2006. Composição florística e síndromes de polinização e

de dispersão da mata do Sítio São Francisco, Campinas, SP. Acta Botanica

Brasilica 20: 313-327.

Larcher, W. 2004. Ecofisiología vegetal. São Carlos: Rima.

Levitt, J. 1980. Responses of plants to environmental stresses. v. 2. Water, radiation,

salt, and other stresses. In T. T. Kozlowski (Ed.). EUA: Academic Press.

Lieberman, D. 1982. Seasonality and Phenology in a Dry Tropical Forest in Ghana.

The Journal of Ecology, 70: 791-806.

Machado, I.C. & Lopes, A.V. 2004. Floral traits and pollination systems in the

caatinga, a Brazilian tropical dry forest. Annals of Botany 94:365-376.

Madeira, J.A. & Fernandes, G.W. 1999. Reproductive phenology of sympatric taxa of

Chamaecrista (Leguminosae) in Serra do Cipó, Brazil. Journal of Tropical

Ecology 15: 463-479.

Mulkey, S.S., Chazdon, R.L., & Smith, A.P. 1996. Tropical Forest Plant

Ecophysiology. New York: Chapman & Hall.

Murphy, P. G. & A. E. Lugo. 1986. Ecology of tropical dry forest. Annual Review of

Ecology and Systematics 17: 67–88.

Negrelle, R.R.B. 2002. The Atlantic forest in the Volta Velha Reserve: a tropical rain

forest site soutside the tropics. Biodiversity and Conservation 11: 887-919

Olivares, E. & Medina, E. 1992. Water and Nutrient Relations of Woody Perennials

from Tropical Dry Forests. Journal of Vegetation Science 3: 383-392.

Oliveira, P. E. & Gibbs, P. E. 2000. Reproductive biology of woody plants in a

cerrado community of Central Brazil. Flora 195: 311-329.

Oliveira, P.E.A.M. & Moreira, A.G. 1992. Anemocoria em espécies do cerrado e

mata de galeria de Brasília, DF. Revista Brasileira de Botânica 15: 163-174.

Page 62: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

62

Ramirez, N. & Brito, Y. 1992. Pollination biology in a palm swamp community in the

Venezuelan Central Plains. Botanical Journal of the Linnean Society 110:

277–302.

Reatto, A., Correia, J., & Spera, S. 1998. Solos do bioma Cerrado: aspectos

pedológicos. In S. Sano & S. Almeida (Eds.). Cerrado: ambiente e flora. .

Planaltina : Embrapa-CPAC (pp. 47-86).

Scolforo, J.R. & Carvalho, L.M.T. 2006. Mapeamento e inventário da flora nativa e

dos reflorestamentos de Minas Gerais. Lavras: UFLA.

Silver, W.L., Scatena, F.N., Johnson, A.H., Siccama, T.G., Watt, F. 1996. At what

temporal scales does disturbance affect below-ground nutrient pools?

Biotropica 28: 441-457.

Stone, E. C. 1963. The Ecological Importance of Dew. The Quarterly Review of

Biology 38: 328-341.

Tabarelli, M., Mantovani, W. & Peres, C.A. 1999. Effects of habitat fragmentation on

plant guild structure in the montane Atlantic forest of southeastern Brazil.

Biological Conservation 91: 119-127.

Tomé Júnior, J.B. 1997. Manual para interpretação de análise de solo. Guaíba:

Agropecuária. 247p.

Uhl, C. & Jordan, C.F. 1984. Succession and nutrient dynamics following forest

cutting and burning in Amazonia. Ecology 65: 1476-1490.

Van Schaik, C. P., J. W. Terborgh, & S. J. Wright. 1993. The phenology of tropical

forests: adaptive significance and consequences for primary consumers.

Annual Review of Ecology and Systematics 24: 353–377.

Vincent, R.C. 2004. Florística, fitossociologia e relações entre a vegetação e o solo

em áreas de campos ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais.

Tese de Doutorado. Universadade Estadual de São Paulo, São Paulo.

Wunderlee, J. M. 1997. The role of animal seed dispersal in accelerating native

forest regeneration on degraded tropical lands. Forest Ecology and

Management. 99: 223-235.

Zar, J. H. 1996. Biostatistical Analysis. 3 ed. New Jersey: Prentice Hall.

Page 63: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

63

CAPÍTULO II

Fenologia da comunidade arbórea em três estágios sucessionais no Parque Estadual da Mata Seca, MG

Introdução

Fenologia de Comunidades Vegetais

A fenologia é o estudo da ocorrência de eventos biológicos e a influência dos

fatores bióticos ou abióticos nesses eventos (Lieth 1974), gerando informações

sobre períodos de crescimento e reprodução das espécies vegetais (Morellato &

Leitão-Filho 1992). O estudo sistemático da fenologia pode ser utilizado para

compreender as relações entre as fases do desenvolvimento das populações e

espécies (Lieth 1974). Pode também contribuir para o entendimento de fatores

ligados à regeneração natural e organização temporal dos recursos dentro das

comunidades (Van Schaik et al. 1993, Williams et al. 1999).

As variações periódicas no desenvolvimento vegetativo e na produção de

flores e frutos refletem adaptações morfológicas e fisiológicas das plantas aos seus

habitats (Van Schaick et al. 1993). Dessa forma, os padrões de comportamento

fenológico representam estratégias adaptativas das plantas para otimizar a

utilização dos recursos ou interações bióticas e abióticas (Kemp & Gardetto 1982,

Herrera 1986, Rathcke & Lacey 1985, Van Schaik et al. 1993).

Os mecanismos que desencadeiam os eventos de desenvolvimento

vegetativo e reprodutivo das plantas podem ser influenciados por causas

endógenas, de origem filogenética ou causas exógenas (Borchert 1980, Lieberman

1982, Reich & Borchert 1984, Wright & Calderón 1995, Lobo et al. 2003). O grau de

sincronia das respostas fenológicas pode indicar quais são as causas controladoras

dessas respostas. Nas comunidades, um padrão assincrônico indicaria, por

exemplo, que causas endógenas influenciam a fenologia e um padrão sincrônico

indicaria que principalmente fatores exógenos seriam os responsáveis pelas

respostas fenológicas (Borchert 1980).

Page 64: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

64

Em Florestas Tropicais Secas, a evolução do comportamento fenológico das

plantas tem sido relacionada a fatores exógenos. Esses são representados por

pressões abióticas como sazonalidade climática de disponibilidade hídrica,

temperatura e fotoperíodo (Lieberman 1982, Bullock & Solis-Magallanes 1990); e

bióticas, como competição por polinizadores e agentes de dispersão, desperdício de

pólen e polinização heteroespecífica e pressões por predadores de flores, frutos e

sementes (Rathcke & Lacey 1985, Lobo et al. 2003). Nessas florestas, a fenologia

vegetativa geralmente é controlada por fatores abióticos enquanto a reprodutiva é

controlada principalmente por fatores bióticos (Lieberman 1982, Lobo et al. 2003,

Zalamea & González 2008).

Apesar da importância das Florestas Tropicais Secas, o comportamento

fenológico das comunidades desse ecossistema não é atualmente bem

compreendido em comparação com o que se conhece sobre as Florestas

Ombrófilas (Murphy & Lugo 1986). Alguns estudos, como os de Borchert (1980),

Lobo et al. (2003), Fuchs et al. (2003) e Herrerías-Diego et al. (2006), apresentam o

comportamento fenológico de populações de florestas secas. No entanto, existem

poucos estudos publicados sobre a fenologia de comunidades nestes ecossistemas,

podendo-se citar os de Frankie et al. (1974), Lieberman (1982), Bullock & Solis-

Magallanes (1990) e Justiniano & Fredericksen (2000). Mais raros ainda são

estudos desta natureza nas florestas secas do Brasil (Brina 1998, Griz & Machado

2001, Couto-Santos 2007).

Fenologia e Interações com o Clima

A sazonalidade climática é o principal fator exógeno regulador da atividade

fenológica em ambientes tropicais, uma vez que induz a adequação dos padrões de

atividade dos meristemas (Holbrook et al. 1995). A variação sazonal da precipitação

e da disponibilidade de RFA seriam normalmente fortemente correlacionadas com

as fenologias vegetativa e reprodutiva de árvores em florestas tropicais (Kramer

1995). Há uma tendência das comunidades a apresentarem a fenologia associada

aos fatores ambientais aos quais estão sujeitos (Kramer 1995). Para plantas que

ocorrem em regiões semi-áridas como as Florestas Estacionais Deciduais,

caracterizadas pela alternância de condições favoráveis e desfavoráveis, o

crescimento e reprodução devem ocorrer durante períodos nos quais as condições

são favoráveis (Debussche & Lepart 1992).

Page 65: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

65

Nos ecossistemas tropicais, a fenologia apresenta variação sazonal cíclica

normalmente sinalizada pela variação de precipitação (Opler et al. 1976). Os

padrões de desenvolvimento e reprodução de plantas têm sido relacionados à

disponibilidade de água uma vez que ela representa o recurso limitante mais

importante em ecossistemas áridos e semi-áridos (Pavón & Briones 2001). Essa

disponibilidade é dependente não somente da precipitação, mas também das

condições do solo e hidrologia (Bullock & Solis-Magallanes 1990). No entanto,

outros fatores climáticos, como a variação de temperatura e fotoperíodo, podem

atuar como sinalizadores de condições propícias a eventos fenológicos, gerando

uma sincronia que assegura que eventos subseqüentes ocorram durante períodos

mais propícios (Augspurger 1981).

Fenologia e Sucessão Florestal Secundária

A sucessão vegetal geralmente é estudada somente de acordo com suas

características estruturais (biomassa, riqueza de espécies, densidade, abundância,

por exemplo). Entretanto, o estudo da estrutura aliado ao funcionamento de

comunidades em sucessão é extremamente interessante, já que comunidades

podem recuperar sua função ecológica antes de recuperarem sua composição

florística (Guariguata & Ostertag 2001).

A fenologia tem sido considerada como um dos melhores parâmetros

utilizados para caracterizar ecossistemas (Lieth 1974), especialmente em trabalhos

que abordam diferentes comunidades em locais próximos (Morellato et al. 1989).

Fenologia e Síndromes de Polinização e Dispersão de Sementes

A caracterização de comunidades de plantas com relação a guildas de

polinização e dispersão de sementes é uma excelente abordagem para o estudo da

relação entre biodiversidade e funcionamento do ecossistema (Naeem & Wright

2003). Esta abordagem é também interessante para se determinar os efeitos de

fatores climáticos sobre os processos ecológicos que regem as comunidades como

a fenologia (Diaz & Cabido 1997). A época de ocorrência, duração e sincronia das

várias fases fenológicas na comunidade têm grandes conseqüências para a

estrutura, funcionamento e regeneração da vegetação. Estes fatores afetam

também a quantidade e qualidade de recursos disponíveis para os consumidores

nos ecossistemas florestais (Williams et al. 1999).

Page 66: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

66

A importância de atores bióticos na evolução de padrões fenológicos em

comunidades tropicais já foi sugerida por vários autores (Jansen 1967, Smythe

1970, Frankie et al. 1974, Lieberman 1982). Herbívoros, polinizadores, predadores e

dispersores de sementes podem, por exemplo, atuar na seleção de padrões

fenológicos (Augspurger 1981, Lieberman & Lieberman 1984, van Schaik et al.

1993).

Da mesma forma, a ocorrência de eventos reprodutivos de espécies

dependentes de fatores abióticos para polinização e dispersão de sementes pode

estar sincronizada com a época mais favorável (Janzen 1967). Portanto, espécies

com diferentes síndromes de polinização e dispersão de sementes podem

apresentar estratégias fenológicas distintas (Morellato & Leitão-Filho 1992), uma vez

que a sazonalidade climática proporciona flutuações no tamanho de populações ou

grau de atividade de agentes polinizadores e dispersores de sementes e predadores

(Lieberman 1982).

Este capítulo tem como objetivo principal relacionar a sazonalidade ambiental

e a atividade fenológica das comunidades arbóreas de diferentes estágios

sucessionais numa área de Floresta Estacional Decidual no Norte de Minas Gerais.

São comparados os efeitos desta sazonalidade sobre a fenologia nas comunidades

agrupadas de acordo com seu estágio sucessional e síndromes de polinização e

dispersão de sementes.

As hipóteses desse estudo são:

(i) O comportamento fenológico das comunidades arbóreas da Floresta

Estacional Decidual é fortemente sazonal, correlacionando-se às

variações anuais da disponibilidade hídrica, temperatura e luz.

(ii) Considerando-se que as comunidades dos três estágios sucessionais estão

sujeitas a regimes climáticos semelhantes, não haverá variações

significativas no comportamento fenológico vegetativo entre os estágios

sucessionais ao longo do ano.

(iii) O padrão de produção de botões florais e flores pelas comunidades é

diferente entre os estágios sucessionais e está relacionado às diferentes

proporções de síndromes de polinização.

(iv) O padrão de produção de frutos imaturos e frutos maduros pelas

comunidades é diferente entre os estágios sucessionais e está

Page 67: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

67

relacionado às diferentes proporções de síndromes de dispersão de

sementes.

(v) As fenofases reprodutivas de cada espécie ocorrem na época mais favorável

à polinização e dispersão de sementes de cada síndrome, estando essas

relacionadas com as variações sazonais da disponibilidade de água, luz e

temperatura.

Page 68: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

68

Material e Métodos

Coleta de Dados

Foram demarcadas seis parcelas de 20mx50m (totalizando 1000m2) em cada um

dos três estágios sucessionais na Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual

da Mata Seca (veja descrição dos estágios sucessionais no Capítulo 1). Dentro de

cada parcela foram demarcados dois transectos de 3mx50m cada, onde todos os

indivíduos com diâmetro à altura do peito (DAP) maior que 5 cm foram então

marcados. Portanto, em cada parcela, realizou-se a amostragem numa área total de

300m2 sendo que, em cada estágio sucessional, a área total amostrada foi de

1800m2.

Para os indivíduos marcados em cada parcela de cada estágio sucessional, foi

determinada mensalmente a ocorrência das fenofases vegetativas folhas verdes e

folhas senescentes e das fenofases reprodutivas botões florais, flores, frutos

imaturos e frutos maduros. O Percentual de Intensidade de Fournier (PIF) de cada

uma das fenofases, segundo Fournier (1974), foi estimado mensalmente para cada

indivíduo, de acordo com as seguintes classes de porcentagem de ocorrência na

copa das árvores: 0 (0%), 1 (1-25%), 2 (25-50%), 3 (50-75%) e 4 (75-100%). No

caso de Cactaceae, a produçao de folhas foi determinada como o número de

aréolas produzidas no ápice (Pavón & Briones 2001). Em cada mês, os valores de

PIF de todos os indivíduos foram somados e o resultado foi dividido pelo valor

máximo possível (número de indivíduos multiplicado por 4). O valor, correspondente

a uma proporção, foi então multiplicado por 100 para ser transformado em

porcentagem (Bencke & Morellato 2002).

Análise de Dados

Foram realizadas análises dos dados fenológicos, bem como a interação entre

eles e a sazonalidade climática, abordando-se os estágios sucessionais, síndromes

de polinização e dispersão de sementes. Os estágios sucessionais foram

comparados com relação a todas as fenofases vegetativas e reprodutivas. As

diferentes síndromes de polinização foram comparadas com relação às fenofases

botões e flores, enquanto as síndromes de dispersão de sementes foram

comparadas com relação às fenofases frutos imaturos e frutos maduros.

Page 69: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

69

• Comportamento Fenológico

Os diferentes estágios sucessionais foram comparados com relação aos valores

de PIF de cada fenofase ao longo do ano por meio de Análises de Variância para

Medidas Repetidas não paramétricas (ANOVAR não paramétrico), utilizando-se

estágio como fator de agrupamento e o mês de amostragem como fator de

repetição (Potvin et al. 1990). Um ANOVAR não paramétrico foi apropriado porque

as amostragens dos eventos fenológicos ao longo do ano se deram sempre nas

mesmas parcelas e nos mesmos indivíduos de forma repetida, sendo que elas não

são consideradas independentes. Além disso, um ANOVAR não paramétrico não

necessita de pressupostos com relação à estrutura da matriz de covariância (Potvin

et al. 1990). Dessa forma, a análise de Kruskal-Wallis foi utilizada para se

determinar diferenças entre estágios dentro de cada mês para casa fenofase. O

teste de Friedman foi utilizado para determinar diferenças entre os meses (Pavón &

Briones 2001). O software utilizado para estas análises foi o Systat 8.0 (SPSS Inc.

1998).

• Interações com o Clima

Para verificar a existência de influência climática sobre a fenologia dos diferentes

estágios sucessionais e dos grupos de diferentes síndromes de polinização e

dispersão de sementes durante o período de estudos, foram realizadas análises de

correlação de Spearman entre as médias dos valores de parâmetros climáticos

mensais e os valores mensais de PIF de cada fenofase.

Os dados climáticos umidade relativa do ar, temperatura média do ar, conteúdo

hídrico do solo, ponto de orvalho e radiação fotossinteticamente ativa foram obtidos

de estações climáticas localizadas em cada um dos estágios sucessionais. Os

dados de precipitação do município de Manga foram gentilmente fornecidos pela

Agência Nacional de Águas (ANA). Os dados de fotoperíodo foram obtidos da

estação climática localizada no estágio inicial uma vez que as estações localizadas

nos outros estágios apresentaram mal-funcionamento durante parte do período de

estudos. Para estas análises foi utilizado o software Statistica 6.0 (SAS Institute).

Foi também realizada uma Análise de Correspondência Canônica (ACC)

correlacionando-se os dados fenológicos de cada estágio sucessional com os

valores das médias mensais dos dados climáticos (Ter Braak 1986) de modo a

analisar ambos os grupos de variáveis simultaneamente (Pavón & Briones 2001).

Page 70: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

70

Dessa forma foi possível investigar as relações entre os parâmetros climáticos e os

comportamentos fenológicos das espécies estudadas (Goulart 2004, Ranieri 2006).

Para as variáveis temperatura, umidade relativa do ar e ponto de orvalho, as quais

não diferiram estatisticamente entre os estágios sucessionais (ver Capítulo 1), foi

utilizada a média dos valores de todos os estágios. Para as variáveis conteúdo

hídrico do solo e radiação fotossinteticamente ativa (RFA), as quais diferiram entre

estágios, foram utilizados os valores mensais para cada estágio sucessional. A

análise de ACC foi realizada utilizando-se o software PC Ord 4.0 (McCune &

Mefford 1999).

Page 71: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

71

Resultados

Análise por Estágios Sucessionais

Foram amostrados no total 47 espécies e 491 indivíduos em todos os

estágios, sendo que o estágio inicial apresentou 19 espécies e 109 indivíduos, o

intermediário apresentou 25 espécies e 153 indivíduos e o estágio tardio, 29

espécies e 229 indivíduos. As figuras 1 a 6 mostram o comportamento fenológico de

cada espécie ao longo do ano, para cada fenofase. Essas figuras foram construídas

baseadas nas classes de percentual de intensidade de Fournier, de maneira que as

classes 3 e 4 correspondem à cor preta, a classe 2 corresponde à cor cinza-escuro,

a classe 1 corresponde à cor cinza-claro e a ausência da fenofase corresponde à

cor branca.O número de indivíduos por espécie variou entre 1 e 71 (Figuras 1 a 6).

• Fenologia

As ANOVARs não paramétricas realizadas mostraram diferenças

significativas na produção de todas as fenofases entre os estágios sucessionais,

assim como diferenças entre os meses do ano (p<0,05). O comportamento

fenológico exibido pelas comunidades foi, em geral, semelhante entre os estágios

sucessionais intermediário e tardio, os quais diferiram do padrão exibido pelo

estágio inicial. De maneira geral, o padrão da fenologia vegetativa seguido pelas

espécies estudadas nas comunidades de todos os estágios sucessionais foi

bastante sincrônico (Figuras 1 a 7), ao contrário do padrão observado para a

fenologia reprodutiva.

Quanto à fenologia vegetativa, foi observada uma sazonalidade marcante em

todos os estágios sucessionais, de modo que a grande maioria das espécies

apresentava a copa com mais altas porcentagens de folhas verdes durante a

estação chuvosa (Figuras 1 a 3). Do mesmo modo, grande parte das espécies, em

todos os estágios sucessionais, apresentava-se em senescência durante os meses

mais secos (Março a Setembro) (Figuras 4 a 6).

Houve diferenças significativas na porcentagem de intensidade da fenofase

folhas verdes entre estágios nos meses de Abril até Outubro (p<0,05), sendo a

intensidade de produção de folhas verdes nos estágios intermediário e tardio

semelhante e inferior às médias do estágio inicial (Figura 7). Para a fenofase folhas

Page 72: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

72

senescentes, houve diferença significativa em sua porcentagem de intensidade nos

meses de Dezembro até Abril e no mês de Outubro (p<0,05) (Figuras 7 e 8).

Em todos os estágios, o pico de intensidade de folhas verdes ocorreu em

Março, sendo que nos meses de Julho, Agosto e Setembro os valores do PIF dessa

fenofase foram menores que 1,5% para os estágios intermediário e tardio e 14,05%

(em Setembro) para o estágio inicial (Figura 7). O pico de intensidade de produção

de folhas senescentes ocorreu em Abril (24,6%) para o estágio inicial e em Maio

para os outros estágios (29,8% no intermediário e 34,1% no tardio).

Page 73: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

73

Inicial – Folhas Verdes

Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Acacia sp. 2

Aspidosperma pyrifolium 2

Astronium fraxinifolium 1

Caesalpinia pyramidalis 1

Calotropis procera 1

Celtis iguanaea 3

Coccoloba schwackeana 1

Enterolobium contortisiliquum 1

Manihot anomala 1

Mimosa tenuiflora 3

Mimosoidae sp. 2 4

Myracrodruon urundeuva 24

Piptadenia viridiflora 1

Platymiscium blanchetii 6

Schinopsis brasiliensis 1

Senna spectabilis 43

Tabebuia ochracea 12

Zeyheria tuberculosa 1

Zizyphus joazeiro 1

Figura 1: Comportamento das espécies arbóreas em relação à presença de folhas verdes no

estágio inicial no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes classes

de intensidade de fenofases(%):

■ → x ≥ 50, ■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 74: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

74

Intermediário - Folhas Verdes Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Anadenanthera colubrina 8 Aralia warmingiana 2 Aspidosperma subincanum 3 Caesalpinia pyramidalis 6 Cedrela odorata 1 Centrolobium sp. 2 Cereus jamacaru 1 Chorisia glaziovii 1 Cnidosculos pubescens 1 Cochlospermum vitifolium 3 Combretum duartenaum 36 Commiphora leptophloeos 3 Enterolobium contortisiliquum 1 Machaerium acutifolium 3 Machaerium brasiliense 1 Machaerium floridum 1 Machaerium scleroxylon 6 Myracrodruon urundeuva 1 Pereskia grandifolia 2 Pseudobombax longiflorum 1 Sapium obovatum 6 Spondias tuberosa 4 Tabebuia ochracea 56 Tabebuia sp. 2 2 Terminalia fagifolia 2

Figura 2: Comportamento das espécies arbóreas em relação à presença de folhas verdes

no estágio intermediário no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as

seguintes classes de intensidade de fenofases (%):

■ → x ≥ 50, ■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 75: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

75

Tardio - Folhas Verdes

Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Anadenanthera colubrina 7 Aralia warmingiana 4 Aspidosperma polyneuron 3 Aspidosperma pyrifolium 1 Caesalpinia pyramidalis 15 Cedrela odorata 4 Centrolobium sp. 8 Cereus jamacaru 2 Chloroleucon tortum 1 Coccoloba schwackeana 4 Cochlospermum vitifolium 1 Combretum duarteanum 44 Commiphora leptophloeos 3 Goniorrhachis marginata 1 Machaerium acutifolium 5 Machaerium brasiliense 2 Machaerium floridum 6 Myracrodruon urundeuva 14 Myrtaceae sp. 1 Pseudobombax longiflorum 1 Pterocarpus rorum 1 Ramisia brasiliensis 1 Sapium obovatum 8 Syagrus oleracea 4 Tabebuia impetiginosa 1 Tabebuia ochracea 8 Tabebuia roseo-alba 1 Tabebuia sp. 2 71 Terminalia fagifolia 7

Figura 3: Comportamento em relação à presença de folhas verdes no estágio tardio

no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes classes

de intensidade de fenofases (%):

■ → x ≥ 50, ■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 76: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

76

Inicial – Folhas Senescentes

Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out novAcacia sp. 2

Aspidosperma pyrifolium 2

Astronium fraxinifolium 1

Caesalpinia pyramidalis 1

Calotropis procera 1

Celtis iguanaea 3

Coccoloba schwackeana 1

Enterolobium contortisiliquum 1

Manihot anomala 1

Mimosa tenuiflora 3

Mimosoidae sp. 2 4

Myracrodruon urundeuva 24

Piptadenia viridiflora 1

Platymiscium blanchetii 6

Schinopsis brasiliensis 1

Senna spectabilis 43

Tabebuia ochracea 12

Zeyheria tuberculosa 1

Zizyphus joazeiro 1

Figura 4: Comportamento das espécies arbóreas em relação à produção de folhas senescentes

no estágio Inicial no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes

classes de intensidade de fenofases (%):

■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 77: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

77

Intermediário – Folhas Senescentes Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out novAnadenanthera colubrina 8

Aralia warmingiana 2

Aspidosperma subincanum 3

Caesalpinia pyramidalis 6

Cedrela odorata 1

Centrolobium sp. 2

Cereus jamacaru 1

Chorisia glaziovii 1

Cnidosculos pubescens 1

Cochlospermum vitifolium 3

Combretum duartenaum 36

Commiphora leptophloeos 3

Enterolobium contortisiliquum 1

Machaerium acutifolium 3

Machaerium brasiliense 1

Machaerium floridum 1

Machaerium scleroxylon 6

Myracrodruon urundeuva 1

Pereskia grandifolia 2

Pseudobombax longiflorum 1

Sapium obovatum 6

Spondias tuberosa 4

Tabebuia ochracea 56

Tabebuia sp. 2 2

Terminalia fagifolia 2

Figura 5: Comportamento das espécies arbóreas em relação à produção de folhas senescentes

no estágio intermediário no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as

seguintes classes de intensidade de fenofases (%):

■ → x ≥ 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 78: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

78

Tardio – Folhas Senescentes

Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Anadenanthera colubrina 7

Aralia warmingiana 4

Aspidosperma polyneuron 3

Aspidosperma pyrifolium 1

Caesalpinia pyramidalis 15

Cedrela odorata 4

Centrolobium sp. 8

Cereus jamacaru 2

Chloroleucon tortum 1

Coccoloba schwackeana 4

Cochlospermum vitifolium 1

Combretum duarteanum 44

Commiphora leptophloeos 3

Goniorrhachis marginata 1

Machaerium acutifolium 5

Machaerium brasiliense 2

Machaerium floridum 6

Myracrodruon urundeuva 14

Myrtaceae sp. 1

Pseudobombax longiflorum 1

Pterocarpus rorum 1

Ramisia brasiliensis 1

Sapium obovatum 8

Syagrus oleracea 4

Tabebuia impetiginosa 1

Tabebuia ochracea 8

Tabebuia roseo-alba 1

Tabebuia sp. 2 71

Terminalia fagifolia 7

Figura 6: Comportamento das espécies arbóreas em relação à produção de folhas senescentes

no estágio tardio no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes

classes de intensidade de fenofases (%):

■ → x ≥ 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 79: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

79

inicialintermediáriotardio

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

0

5

10

15

20

25

30

35

40

dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Folh

asVe

rdes

Folh

asSe

nesc

ente

s

Meses Figura 7: Percentual de Intensidade de Fournier para as fenofases vegetativas

folhas verdes e folhas senescentes ao longo do ano em três estágios sucessionais

da Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual da Mata Seca, MG.

Folh

as V

erde

s Fo

lhas

Sen

esce

ntes

Per

cent

ual d

e In

tens

idad

e de

Fou

rnie

r

Estágios Sucessionais:InicialIntermediárioTardio

Meses

Page 80: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

80

a

b

d

e

c f

Figura 8: Comunidade arbórea no Parque Estadual da Mata Seca, MG na estação

seca: estágio inicial (a), intermediário (b) e tardio (c) e na estação chuvosa: estágio

inicial (d), intermediário (e) e tardio (f).

Page 81: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

81

Quanto à fenologia reprodutiva, a intensidade de produção de botões florais,

flores, frutos imaturos e frutos maduros foi baixa em toda a comunidade (p>0,05),

não ultrapassando o valor de 15% ao longo de todo o período de estudos (Figuras

21 e 22). As figuras 9 a 20 mostram o comportamento fenológico de cada espécie

ao longo do ano, para cada fenofase.

Inicial – Botões Florais Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Acacia sp. 2 Aspidosperma pyrifolium 2 Astronium fraxinifolium 1 Caesalpinia pyramidalis 1 Calotropis procera 1 Celtis iguanaea 3 Coccoloba schwackeana 1 Enterolobium contortisiliquum 1 Manihot anomala 1 Mimosa tenuiflora 3 Mimosoidae sp. 2 4 Myracrodruon urundeuva 24 Piptadenia viridiflora 1 Platymiscium blanchetii 6 Schinopsis brasiliensis 1 Senna spectabilis 43 Tabebuia ochracea 12 Zeyheria tuberculosa 1 Zizyphus joazeiro 1

Figura 9: Comportamento em relação à presença de botões florais no estágio inicial

no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes classes

de intensidade de fenofases (%):

■ → x ≥ 50, ■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 82: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

82

Intermediário – Botões Florais Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Anadenanthera colubrina 8

Aralia warmingiana 2

Aspidosperma subincanum 3

Caesalpinia pyramidalis 6

Cedrela odorata 1

Centrolobium sp. 2

Cereus jamacaru 1

Chorisia glaziovii 1

Cnidosculos pubescens 1

Cochlospermum vitifolium 3

Combretum duartenaum 36

Commiphora leptophloeos 3

Enterolobium contortisiliquum 1

Machaerium acutifolium 3

Machaerium brasiliense 1

Machaerium floridum 1

Machaerium scleroxylon 6

Myracrodruon urundeuva 1

Pereskia grandifolia 2

Pseudobombax longiflorum 1

Sapium obovatum 6

Spondias tuberosa 4

Tabebuia ochracea 56

Tabebuia sp. 2 2

Terminalia fagifolia 2

Figura 10: Comportamento em relação à presença de botões florais no estágio

intermediário no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as

seguintes classes de intensidade de fenofases (%):

■ → x ≥ 50, ■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 83: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

83

Tardio – Botões Florais Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Anadenanthera colubrina 7

Aralia warmingiana 4

Aspidosperma polyneuron 3

Aspidosperma pyrifolium 1

Caesalpinia pyramidalis 15

Cedrela odorata 4

Centrolobium sp. 8

Cereus jamacaru 2

Chloroleucon tortum 1

Coccoloba schwackeana 4

Cochlospermum vitifolium 1

Combretum duarteanum 44

Commiphora leptophloeos 3

Goniorrhachis marginata 1

Machaerium acutifolium 5

Machaerium brasiliense 2

Machaerium floridum 6

Myracrodruon urundeuva 14

Myrtaceae sp. 1

Pseudobombax longiflorum 1

Pterocarpus rorum 1

Ramisia brasiliensis 1

Sapium obovatum 8

Syagrus oleracea 4

Tabebuia impetiginosa 1

Tabebuia ochracea 8

Tabebuia roseo-alba 1

Tabebuia sp. 2 71

Terminalia fagifolia 7

Figura 11: Comportamento em relação à presença de botões florais no estágio tardio

no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes classes

de intensidade de fenofases (%):

■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 84: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

84

Inicial - Flores Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Acacia sp. 2 Aspidosperma pyrifolium 2 Astronium fraxinifolium 1 Caesalpinia pyramidalis 1 Calotropis procera 1 Celtis iguanaea 3 Coccoloba schwackeana 1 Enterolobium contortisiliquum 1 Manihot anomala 1 Mimosa tenuiflora 3 Mimosoidae sp. 2 4 Myracrodruon urundeuva 24 Piptadenia viridiflora 1 Platymiscium blanchetii 6 Schinopsis brasiliensis 1 Senna spectabilis 43 Tabebuia ochracea 12 Zeyheria tuberculosa 1 Zizyphus joazeiro 1

Figura 12: Comportamento em relação à presença de flores no estágio inicial no

Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes classes de

intensidade de fenofases (%):

■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 85: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

85

Intermediário - Flores Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Anadenanthera colubrina 8

Aralia warmingiana 2

Aspidosperma subincanum 3

Caesalpinia pyramidalis 6

Cedrela odorata 1

Centrolobium sp. 2

Cereus jamacaru 1

Chorisia glaziovii 1

Cnidosculos pubescens 1

Cochlospermum vitifolium 3

Combretum duartenaum 36

Commiphora leptophloeos 3

Enterolobium contortisiliquum 1

Machaerium acutifolium 3

Machaerium brasiliense 1

Machaerium floridum 1

Machaerium scleroxylon 6

Myracrodruon urundeuva 1

Pereskia grandifolia 2

Pseudobombax longiflorum 1

Sapium obovatum 6

Spondias tuberosa 4

Tabebuia ochracea 56

Tabebuia sp. 2 2

Terminalia fagifolia 2

Figura 13: Comportamento em relação à presença de flores no estágio intermediário

no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes classes

de intensidade de fenofases (%):

■ → x ≥ 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 86: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

86

Tardio - Flores

Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Anadenanthera colubrina 7

Aralia warmingiana 4

Aspidosperma polyneuron 3

Aspidosperma pyrifolium 1

Caesalpinia pyramidalis 15

Cedrela odorata 4

Centrolobium sp. 8

Cereus jamacaru 2

Chloroleucon tortum 1

Coccoloba schwackeana 4

Cochlospermum vitifolium 1

Combretum duarteanum 44

Commiphora leptophloeos 3

Goniorrhachis marginata 1

Machaerium acutifolium 5

Machaerium brasiliense 2

Machaerium floridum 6

Myracrodruon urundeuva 14

Myrtaceae sp. 1

Pseudobombax longiflorum 1

Pterocarpus rorum 1

Ramisia brasiliensis 1

Sapium obovatum 8

Syagrus oleracea 4

Tabebuia impetiginosa 1

Tabebuia ochracea 8

Tabebuia roseo-alba 1

Tabebuia sp. 2 71

Terminalia fagifolia 7

Figura 14: Comportamento em relação à presença de flores no estágio tardio no

Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes classes de

intensidade de fenofases (%):

■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 87: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

87

Inicial – Frutos Imaturos Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Acacia sp. 2 Aspidosperma pyrifolium 2 Astronium fraxinifolium 1 Caesalpinia pyramidalis 1 Calotropis procera 1 Celtis iguanaea 3 Coccoloba schwackeana 1 Enterolobium contortisiliquum 1

Manihot anomala 1 Mimosa tenuiflora 3 Mimosoidae sp. 2 4 Myracrodruon urundeuva 24 Piptadenia viridiflora 1 Platymiscium blanchetii 6 Schinopsis brasiliensis 1 Senna spectabilis 43 Tabebuia ochracea 12 Zeyheria tuberculosa 1 Zizyphus joazeiro 1

Figura 15: Comportamento em relação à presença de frutos imaturos no estágio

inicial no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes

classes de intensidade de fenofases (%):

■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 88: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

88

Intermediário – Frutos Imaturos Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Anadenanthera colubrina 8

Aralia warmingiana 2

Aspidosperma subincanum 3

Caesalpinia pyramidalis 6

Cedrela odorata 1

Centrolobium sp. 2

Cereus jamacaru 1

Chorisia glaziovii 1

Cnidosculos pubescens 1

Cochlospermum vitifolium 3

Combretum duartenaum 36

Commiphora leptophloeos 3

Enterolobium contortisiliquum 1

Machaerium acutifolium 3

Machaerium brasiliense 1

Machaerium floridum 1

Machaerium scleroxylon 6

Myracrodruon urundeuva 1

Pereskia grandifolia 2

Pseudobombax longiflorum 1

Sapium obovatum 6

Spondias tuberosa 4

Tabebuia ochracea 56

Tabebuia sp. 2 2

Terminalia fagifolia 2

Figura 16: Comportamento em relação à presença de frutos imaturos no estágio

intermediário no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as

seguintes classes de intensidade de fenofases (%):

■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 89: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

89

Tardio – Frutos Imaturos Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Anadenanthera colubrina 7

Aralia warmingiana 4

Aspidosperma polyneuron 3

Aspidosperma pyrifolium 1

Caesalpinia pyramidalis 15

Cedrela odorata 4

Centrolobium sp. 8

Cereus jamacaru 2

Chloroleucon tortum 1

Coccoloba schwackeana 4

Cochlospermum vitifolium 1

Combretum duarteanum 44

Commiphora leptophloeos 3

Goniorrhachis marginata 1

Machaerium acutifolium 5

Machaerium brasiliense 2

Machaerium floridum 6

Myracrodruon urundeuva 14

Myrtaceae sp. 1

Pseudobombax longiflorum 1

Pterocarpus rorum 1

Ramisia brasiliensis 1

Sapium obovatum 8

Syagrus oleracea 4

Tabebuia impetiginosa 1

Tabebuia ochracea 8

Tabebuia roseo-alba 1

Tabebuia sp. 2 71

Terminalia fagifolia 7

Figura 17: Comportamento em relação à presença de frutos imaturos no estágio

tardio no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes

classes de intensidade de fenofases (%):

■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 90: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

90

Inicial – Frutos Maduros Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Acacia sp. 2 Aspidosperma pyrifolium 2 Astronium fraxinifolium 1 Caesalpinia pyramidalis 1 Calotropis procera 1 Celtis iguanaea 3 Coccoloba schwackeana 1 Enterolobium contortisiliquum 1 Manihot anomala 1 Mimosa tenuiflora 3 Mimosoidae sp. 2 4 Myracrodruon urundeuva 24 Piptadenia viridiflora 1 Platymiscium blanchetii 6 Schinopsis brasiliensis 1 Senna spectabilis 43 Tabebuia ochracea 12 Zeyheria tuberculosa 1 Zizyphus joazeiro 1

Figura 18: Comportamento em relação à presença de frutos maduros no estágio

inicial no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes

classes de intensidade de fenofases (%):

■ → 25 < x < 50, ■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 91: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

91

Intermediário – Frutos Maduros Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Anadenanthera colubrina 8

Aralia warmingiana 2

Aspidosperma subincanum 3

Caesalpinia pyramidalis 6

Cedrela odorata 1

Centrolobium sp. 2

Cereus jamacaru 1

Chorisia glaziovii 1

Cnidosculos pubescens 1

Cochlospermum vitifolium 3

Combretum duartenaum 36

Commiphora leptophloeos 3

Enterolobium contortisiliquum 1

Machaerium acutifolium 3

Machaerium brasiliense 1

Machaerium floridum 1

Machaerium scleroxylon 6

Myracrodruon urundeuva 1

Pereskia grandifolia 2

Pseudobombax longiflorum 1

Sapium obovatum 6

Spondias tuberosa 4

Tabebuia ochracea 56

Tabebuia sp. 2 2

Terminalia fagifolia 2

Figura 19: Comportamento em relação à presença de frutos maduros no estágio

intermediário no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as

seguintes classes de intensidade de fenofases (%):

■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 92: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

92

Tardio – Frutos Maduros Espécie N dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Anadenanthera colubrina 7

Aralia warmingiana 4

Aspidosperma polyneuron 3

Aspidosperma pyrifolium 1

Caesalpinia pyramidalis 15

Cedrela odorata 4

Centrolobium sp. 8

Cereus jamacaru 2

Chloroleucon tortum 1

Coccoloba schwackeana 4

Cochlospermum vitifolium 1

Combretum duarteanum 44

Commiphora leptophloeos 3

Goniorrhachis marginata 1

Machaerium acutifolium 5

Machaerium brasiliense 2

Machaerium floridum 6

Myracrodruon urundeuva 14

Myrtaceae sp. 1

Pseudobombax longiflorum 1

Pterocarpus rorum 1

Ramisia brasiliensis 1

Sapium obovatum 8

Syagrus oleracea 4

Tabebuia impetiginosa 1

Tabebuia ochracea 8

Tabebuia roseo-alba 1

Tabebuia sp. 2 71

Terminalia fagifolia 7

Figura 20: Comportamento em relação à presença de frutos maduros no estágio

tardio no Parque Estadual da Mata Seca, MG. Cores de acordo com as seguintes

classes de intensidade de fenofases (%):

■ → 0 < x < 25 e □ → x = 0.

Page 93: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

93

Houve diferença significativa na porcentagem de intensidade da fenofase

botões florais entre estágios nos meses de Janeiro a Março e em Maio, sendo que

nos três primeiros, os valores apresentados pelo estágio inicial foram superiores e

no mês de Maio os estágios intermediário e tardio apresentaram maiores médias

(p<0,05). Para a fenofase flores, observou-se diferença significativa entre os

estágios nos meses de Janeiro a Abril, quando a produção de flores foi maior no

estágio inicial; em maio, quando a produção dessa fenofase foi superior no estágio

tardio e em Outubro, quando o estágio intermediário apresentou maior produção de

flores (p<0,05).

Em geral, o padrão observado foi o de produção de botões florais e flores

durante o final da estação chuvosa no estágio inicial e durante a estação seca nos

estágios intermediário e tardio. O pico de intensidade de produção de botões florais

no estágio inicial ocorreu em Janeiro (12,49%) no entanto, com produção moderada

durante todo o ano, com valores inferiores a 8,5%. Os estágios intermediário e

tardio apresentaram um padrão bimodal de intensidade de produção de botões

florais, sendo que os picos de intensidade ocorreram em Maio (em ambos os

estágios), em Outubro (no estágio intermediário) e em Setembro (no estágio tardio)

(Figura 21).

Os maiores valores de porcentagem de intensidade de flores observados no

estágio inicial ocorreram em Fevereiro (11,3%) e em Março (12,7%). Entretanto, a

exemplo da fenofase botões, observou-se porcentagens moderadas de flores nesse

estágio durante todo o período de estudos, com valores inferiores a 5%. O estágio

intermediário apresentou maior valor de intensidade de flores no mês de Outubro

(15,7%), sendo que nos meses de Maio a Setembro também ocorreram valores

inferiores a 1%. O estágio tardio apresentou um padrão bimodal de intensidade de

produção de flores, sendo que os picos ocorreram em Maio, com 3,2%, e em

Outubro com 2,7% (Figura 21).

A espécie que mais contribuiu para os picos de produção das fenofases

botões florais e flores no estágio inicial foi Senna spectabilis, que é amplamente

distribuída no PEMS, ocupando áreas em estágio inicial de sucessão. Sete espécies

contribuíram para o primeiro pico de produção de botões florais do estágio

intermediário, sendo que Meliaceae sp. foi o táxon que apresentou maior

intensidade de produção. As espécies Spondias tuberosa e Tabebuia ochracea

foram as principais responsáveis pelo segundo pico, sendo que essa última foi a

Page 94: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

94

espécie que mais contribuiu para o pico de produção de flores desse estágio. No

estágio tardio, Myracrodruon urundeuva foi a espécie que mais contribuiu para o

pico dessas duas fenofases no mês de Maio e Tabebuia sp.2 no mês de Outubro.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

inicialintermediáriotardio

Bot

õesF

lora

isFl

ores

Meses Figura 21: Comparação do Percentual de Intensidade de Fournier para as fenofases

reprodutivas botões florais e flores ao longo do ano em três estágios sucessionais

da Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual da Mata Seca, MG.

Bot

ões

Flor

ais

Flor

es

Per

cent

ual d

e In

tens

idad

e de

Fou

rnie

r

Estágios Sucessionais:

Inicial

IntermediárioTardio

Meses

Page 95: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

95

Houve diferença significativa na porcentagem de intensidade da fenofase

frutos imaturos nos meses de Março a Julho, quando o estágio inicial apresentou

produção superior aos estágios intermediário e tardio (p<0,05). Para a fenofase

frutos maduros, observou-se diferença significativa entre os estágios nos meses de

Dezembro, quando o estágio intermediário apresentou maior produção (p<0,05) e

de Abril até Outubro, quando o estágio inicial apresentou as maiores médias,

superiores às dos demais estágios (p<0,05).

A produção de frutos, em linha gerais, ocorreu predominantemente durante

estação seca em todos os estágios sucessionais. Quanto à fenofase frutos imaturos,

os picos de porcentagem de intensidade ocorreram em Abril no estágio inicial

(9,4%) e em Junho no tardio (3,2%) (Figura 22). O estágio intermediário não

apresentou um pico de intensidade desta fenofase, tendo a produção de frutos

imaturos sido relativamente constante, com valores inferiores a 1,3%, entre Julho e

Outubro e em Dezembro e Fevereiro (Figura 22).

Com relação à produção de frutos maduros, o pico de intensidade ocorreu

em Agosto no estágio inicial e tardio (7,1% e 2,4% respectivamente) (Figura 22). No

entanto a amplitude temporal dessa fenofase foi maior no estágio inicial, iniciando-

se em Fevereiro e cessando apenas em Novembro (exceto no mês de Março). No

estágio tardio observou-se, de Maio a Novembro, a presença de frutos maduros na

copa das árvores. No estágio intermediário, a produção de frutos maduros iniciou-se

em Abril e cessou apenas em Outubro, com um pico isolado em Dezembro de 2006

(0,8%). A produção de frutos nesse estágio foi menor quando comparada aos outros

dois estágios durante todo o ano (Figura 22).

A espécie que mais contribuiu para os picos de intensidade de produção de

frutos imaturos e frutos maduros no estágio inicial foi Senna spectabilis. No estágio

intermediário, Spondias tuberosa foi a espécie que mais contribuiu para os picos de

produção de frutos imaturos e maduros em Dezembro e Sapium obovatum foi a

espécies que mais contribuiu para o pico de produção de frutos imaturos em

Fevereiro. No estágio tardio, Myracrodruon urundeuva foi a espécie que mais

contribuiu para os respectivos picos de produção de frutos imaturos e maduros.

Page 96: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

96

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

inicialintermediáriotardio

Frut

osVe

rdes

Frut

osM

adur

os

Meses

Figura 22: Percentual de Intensidade de Fournier para as fenofases reprodutivas

frutos imaturos e frutos maduros ao longo do ano em três estágios sucessionais da

Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual da Mata Seca, MG.

Frut

os Im

atur

os

Frut

os M

adur

os

Per

cent

ual d

e In

tens

idad

e de

Fou

rnie

r

Estágios Sucessionais:

InicialIntermediárioTardio

Meses

Page 97: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

97

• Interações com o Clima

A Tabela 1 apresenta a matriz de correlações de Spearman entre as médias

mensais dos valores das variáveis climáticas e as médias mensais de Porcentagem

de Intensidade de Fournier (PIF) de cada uma das fenofases em cada um dos três

estágios sucessionais estudados.

Com exceção da variável temperatura no estágio intermediário, todas as

variáveis apresentaram alguma correlação com os valores de PIF, indicando que os

eventos climáticos avaliados podem influenciar direta ou indiretamente os padrões

fenológicos nas comunidades estudadas. Somente a fenofase folhas verdes

apresentou padrão semelhante em todos os estágios, demonstrando correlações

positivas com as variáveis relacionadas à disponibilidade de água. No entanto,

observou-se também correlação negativa significativa entre essa fenofase e a

radiação fotossinteticamente ativa (RFA) somente no estágio tardio.

O estágio inicial apresentou 16 correlações significativas entre as variáveis

climáticas e fenológicas, sendo três positivas e 13 negativas. A fenofase folhas

senescentes apresentou correlação negativa com as variáveis RFA, temperatura,

precipitação e fotoperíodo. A fenofase flores apresentou correlação positiva com

umidade relativa do ar e ponto de orvalho e negativa com RFA. A fenofase frutos

imaturos apresentou correlações negativas com as variáveis relacionadas à

disponibilidade de luz enquanto a fenofase frutos maduros apresentou correlações

negativas com todas as variáveis ambientais, exceto RFA.

O estágio intermediário apresentou 15 correlações significativas, sendo cinco

positivas e nove negativas. Nesse estágio observaram-se correlações positivas

entre folhas verdes e as variáveis relacionadas à disponibilidade de água. A

fenofase folhas senescentes apresentou correlação negativa com conteúdo hídrico

do solo, precipitação e fotoperíodo. As fenofases reprodutivas botões florais e flores

apresentaram correlação negativa com as variáveis conteúdo hídrico do solo,

umidade relativa do ar e ponto de orvalho, além de correlações positivas com a

RFA.

O estágio tardio apresentou 23 correlações, sendo sete positivas e 16

negativas. Observaram-se correlações negativas entre a fenofase folhas

senescentes e as variáveis temperatura, ponto de orvalho, precipitação e

Page 98: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

98

fotoperíodo. Esse estágio foi o que apresentou o maior número de correlações

significativas entre as fenofases reprodutivas e as variáveis climáticas, sendo essas,

no geral, negativas com as variáveis relacionadas à disponibilidade hídrica e

positivas com RFA.

A Figura 23 apresenta o diagrama de Análise de Correspondência Canônica

(ACC) relacionando as fenofases da comunidade de mata seca com os dados

climáticos. Nos dois primeiros eixos de ordenação, as correlações entre os dados

fenológicos e climáticos foram significativas pelo teste de permutação de Monte-

Carlo, e a variância total explicada por estes dois eixos foi de 84,9% (Tabela 2). O

Eixo 1 correlacionou-se forte e negativamente com as variáveis conteúdo hídrico do

solo de todos os estágios, precipitação, temperatura do ar, umidade relativa do ar,

ponto de orvalho e fotoperíodo. Além disso, o Eixo 1 também correlacionou-se forte

e positivamente com a variável RFA do estágio tardio. O Eixo 2 se correlacionou

forte e negativamente com a variável umidade relativa do solo e positivamente com

as variáveis RFA inicial, RFA intermediário e temperatura (Tabela 3).

Sendo assim, o Eixo 1 representa um gradiente chuva-seca, com a metade

esquerda desse eixo representando a estação chuvosa e agrupando a fenofase

folhas verdes de todos os estágios e botões florais e flores do estágio inicial. A

metade direita representa a estação seca, agrupando as demais fenofases. O Eixo 2

representa principalmente variações na disponibilidade de luz, sendo que os meses

na parte superior do eixo refletem maior disponibilidade de RFA, que ocorrem

durante a estação seca, quando os indivíduos estão senescentes.

Page 99: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

99

Tabela 1: Índice de Correlação de Spearman (r) entre valores médios de variáveis climáticas e de Percentual de

Intensidade de Fournier das fenofases em três estágios sucessionais no Parque Estadual da Mata Seca, MG. RFA =

Radiação Fotossinteticamente Ativa.

Estágio Sucessional

Fenofases

Conteúdo Hídrico do

Solo RFA

Temperatura do Ar

Umidade Relativa do

Ar

Ponto de Orvalho Precipitação Fotoperíodo

Inicial

Folhas Verdes 0.95 -0.54 0.43 0.79 0.95 0.47 0.53 Folhas Senescentes -0.27 -0.59 -0.79 0.31 -0.13 -0.85 -0.90

Botões Florais 0.12 -0.15 -0.16 0.26 0.14 0.05 -0.03 Flores 0.27 -0.59 -0.24 0.55 0.34 -0.25 -0.18

Frutos Imaturos -0.05 -0.64 -0.51 0.40 0.12 -0.57 -0.74 Frutos Maduros -0.87 0.40 -0.61 -0.65 -0.88 -0.64 -0.69

Intermediário

Folhas Verdes 0.74 -0.39 0.40 0.83 0.91 0.80 0.57 Folhas Senescentes -0.66 0.05 -0.57 -0.34 -0.53 -0.78 -0.91

Botões Florais -0.82 0.62 0.02 -0.85 -0.72 -0.57 -0.32 Flores -0.68 0.80 0.06 -0.97 -0.85 -0.43 -0.08

Frutos Imaturos -0.12 0.06 0.07 -0.15 0.01 0.16 0.27 Frutos Maduros -0.54 0.11 -0.03 -0.50 -0.38 -0.41 -0.11

Tardio

Folhas Verdes 0.87 -0.89 0.37 0.87 0.98 0.78 0.48 Folhas Senescentes -0.55 0.49 -0.68 -0.42 -0.62 -0.87 -0.89

Botões Florais -0.58 0.41 -0.06 -0.44 -0.43 -0.56 -0.52 Flores -0.82 0.62 -0.23 -0.73 -0.72 -0.69 -0.46

Frutos Imaturos -0.56 0.67 -0.06 -0.69 -0.65 -0.22 0.00 Frutos Maduros -0.80 0.90 -0.25 -0.90 -0.95 -0.58 -0.22

Em negrito, valores de r estatisticamente significativos (p<0,05).

Page 100: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

100

Tabela 2: Resumo da Análise de Correspondência Canônica englobando médias mensais

de Porcentagem de Intensidade de atividade fenológica e de dados meteorológicos.

Eixo 1 Eixo 2 Eixo 3

Autovalores 0,395 0,111 0,029

% de variância acumulada para fenologia 66,3 84,9 89,8

Correlação fenologia-meteorologia (Pearson) 1,000 1,000 1,000

Teste de permutação de Monte-Carlo (p) 0,010 0,010 0,010

Em negrito valores estatisticamente significativos pelo Teste de Monte-Carlo (p≤0,05).

Tabela 3: Correlações entre as variáveis climáticas analisadas e os três primeiros eixos

da ordenação da Análise de Correspondência Canônica. RFA = Radiação

Fotossinteticamente Ativa.

Eixo 1 Eixo 2 Eixo 3

Conteúdo Hídrico do Solo inicial -0,872 -0,043 0,035

RFA Inicial 0,347 0,586 0,316

Conteúdo Hídrico do Solo intermediário -0,649 -0,087 0,162

RFA Intermediário 0,251 0,665 0,063

Conteúdo Hídrico do Solo tardio -0,623 -0,190 0,205

RFA Tardio 0,636 0,382 0,079

Precipitação -0,562 0,035 0,227

Temperatura -0,498 0,623 -0,078

Umidade Relativa do Ar -0,698 -0,434 -0,039

Ponto de Orvalho -0,875 -0,252 -0,060

Fotoperíodo -0,686 0,409 -0,228

Em negrito correlações > │0,5│.

Page 101: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

101

dezjan

fevmar

abrmai jun jul

ago set

out

nov fov

fos

bot

flofri

frumfov

fos

bot

flo

fri frum

fovfos

bot

flo

fri frum

CH

RFA

CH

RFA

CH

RFA

PREC

TEMP

UR

PO

FOTO

0

0

40 80

40

80

Eixo1

Eixo2

Figura 23: Diagrama da Análise de Correspondência Canônica (ACC) de comportamentos

fenológicos e médias mensais de variáveis climáticas no Parque Estadual da Mata Seca, MG.

Estágios: ●=Inicial, ●=Intermediário, ●=Tardio. Fenofases: fov = folhas verdes, fos = folhas

senescentes, bot=botões florais, flo=flores, fri=frutos imaturos, frum=frutos maduros.

Variáveis Climáticas: TEMP=temperatura do ar, UR=umidade relativa do ar,

PREC=precipitação, FOTO=fotoperíodo, PO=ponto de orvalho. Os vetores em azul, vermelho

e verde representam os valores de CH=conteúdo hídrico do solo e RFA=radiação

fotossinteticamente ativa, respectivamente dos estágios inicial, intermediário e tardio.

Page 102: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

102

Análise por Síndromes de Polinização

• Fenologia

Quando as fenofases botões florais e flores foram avaliadas de acordo com as

síndromes de polinização das espécies, foi observada uma separação dos picos das

respectivas fenofases em relação às síndromes (Figuras 24 e 25). Em geral, houve pequena

sobreposição na época de produção de botões florais entre os estágios dentro de uma mesma

síndrome.

No estágio inicial, as espécies melitófilas apresentaram pico de produção de botões

florais (17,5%) em Janeiro, ao final da estação chuvosa. As espécies anemófilas apresentaram

pico de produção desta mesma fenofase em Outubro (3,3%), na transição entre as estações

seca e chuvosa, enquanto as espécies de flores não especializadas, polinizadas por pequenos

insetos, apresentaram dois picos de produção de botões florais, um no mês de Janeiro (7,5%),

na estação chuvosa, e outro no mês de Julho (7,9%), durante a estação seca (Figura 24).

No estágio intermediário foi observada maior produção de botões pelas espécies

ornitófilas em Maio (4,16%), no início da estação seca. As espécies de flores não

especializadas exibiram um pico de produção de botões em Setembro (10,2%), no final da

estação seca, e outro menor em Maio (2,7%) no início dessa estação. Foram observados dois

picos semelhantes nos valores de PIF de botões nas espécies melitófilas em Junho (2,3%),

durante a seca, e em Outubro (2,9%), na transição seca chuva.

No estágio tardio foi observado um pico de produção de botões pelas espécies não

especializadas, polinizadas por pequenos insetos, em Maio (12,3%) no início da estação seca,

e outro menor em Setembro (3,4%), no final da estação seca. Foram também observadas

ocorrência de valores semelhantes de PIF desta fenofase no grupo das espécies melitófilas em

Maio (1,8%) e Setembro (3,9%). O mesmo ocorreu para as espécies cantarófilas também em

Maio (1%) e em Setembro (2%).

Para a fenofase flores, foi observada baixa sobreposição na época de produção entre os

estágios dentro de uma mesma síndrome. No estágio inicial foi observado um pico de

produção de flores pelas espécies melitófilas em Março (18,2%), na transição chuva-seca, um

pico de produção de flores por espécies polinizadas por pequenos insetos em Março (3,7%) e

outro maior em Julho (7,7%), no meio da estação seca e um pico de espécies anemófilas em

Novembro (5%), no início da estação chuvosa (Figura 25).

No estágio intermediário houve um pico de produção de flores por espécies ornitófilas

em Maio, no início da estação seca, dois picos de produção por espécies polinizadas por

Page 103: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

103

pequenos insetos em Junho (6,2%) e em Setembro (7,1%) e um pico das espécies melitófilas

em Outubro (18,6%).

No estágio tardio houve um pico de produção de flores por espécies polinizadas por

pequenos insetos em Maio (17,1%), um pico de flores cantarófilas em Agosto (4,1%) e em

Outubro um pico de flores de espécies melitófilas (2,7%) e outro de espécies anemófilas

(16,6%). A produção de flores nos estágios intermediário e tardio se restringiu aos meses mais

secos e início das chuvas, de Abril a Novembro. No estágio inicial houve produção de flores

durante todo o ano, sendo a maior intensidade nos meses chuvosos (Figura 25).

• Interações com Clima

A Tabela 4 apresenta a matriz de correlações de Spearman entre as médias mensais

dos valores das variáveis climáticas e dos valores do Percentual de Intensidade de Fournier

para as fenofases reprodutivas botões florais e flores dos três estágios sucessionais de acordo

com as síndromes de polinização. Somente a variável fotoperíodo não apresentou nenhuma

correlação com as variáveis fenológicas botões florais e flores.

No estágio inicial apenas a fenofase flores das espécies melitófilas apresentou alguma

correlação com variáveis climáticas, sendo negativa com a RFA e positiva com a umidade

relativa do ar. Isto indica que o florescimento das espécies polinizadas por abelhas neste

estágio ocorre principalmente durante os meses com menores valores de RFA e maior

disponibilidade hídrica, ou seja, na estação chuvosa.

No estágio intermediário observaram-se correlações negativas entre as fenofases

botões florais e flores das espécies melitófilas e não especializadas com as variáveis climáticas

conteúdo hídrico de solo, umidade relativa do ar e ponto de orvalho. Estas fenofases foram

também positivamente correlacionadas à RFA o que indica que a produção de botões e flores

pelas espécies polinizadas por abelhas e pequenos insetos ocorre, neste estágio,

principalmente durante os meses mais secos e com maior intensidade de irradiância solar.

No estágio tardio foram observadas correlações entre a fenofase flores das espécies

cantarófilas, sendo essa positiva com RFA e negativa com ponto de orvalho. As espécies

melitófilas e não especializadas apresentaram correlações negativas entre as fenofases botões

florais e flores e variáveis ambientais relacionadas à disponibilidade hídrica, indicando

florescimento favorável na época seca.

Page 104: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

104

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

Anemofilia

Cantarofilia

Falenofilia

Melitofilia

Não Especializados

Ornitofilia

Índi

ce d

e Fou

rnie

r par

a B

otõe

s Flo

rais

Inicial

Tardio

Intermediário

Figura 24: Percentual de Intensidade de Fournier ao longo do período de estudos para a

fenofase reprodutiva botões florais de acordo com as síndromes de polinização ocorrentes em

três estágios sucessionais de Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual da Mata Seca,

MG.

Meses

Per

cent

ual d

e In

tens

idad

e de

Fou

rnie

r par

a B

otõe

s Fl

orai

s

Inicial

Intermediário

Tardio

Síndromes de Polinização:

Page 105: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

105

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

Índi

ce d

e Fou

rnie

r par

a Fl

ores

s Anemofilia

Cantarofilia

Falenofilia

Melitofilia

Não Especializados

Ornitofilia

Inicial

Tardio

Intermediário

Figura 25: Percentual de Intensidade de Fournier ao longo do período de estudos para a

fenofase reprodutiva flores de acordo com as síndromes de polinização ocorrentes em três

estágios sucessionais de Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual da Mata Seca, MG.

Meses

Per

cent

ual d

e In

tens

idad

e de

Fou

rnie

r par

a Fl

ores

Inicial

Intermediário

Tardio

Síndromes de Polinização:

Page 106: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

106

Tabela 4: Índice de Correlação de Spearman (r) entre valores médios de variáveis climáticas e fenológicas de acordo com a síndrome de polinização nos três estágios sucessionais no Parque Estadual da Mata Seca, MG. RFA = Radiação Fotossinteticamente Ativa.

Estágio Sucessional Síndromes Fenofases Conteúdo

Hídrico do Solo RFA Temperatura do Ar

Umidade Relativa do Ar

Ponto de Orvalho Precipitação Fotoperíodo

Inicial

Anemofilia Botão -0.04 0.48 0.39 -0.39 -0.13 0.14 0.22 Flor 0.22 0.31 0.48 -0.22 0.04 0.41 0.48

Melitofilia Botão 0.04 -0.07 -0.27 0.21 0.07 0.01 -0.08 Flor 0.28 -0.71 -0.36 0.64 0.39 0.01 -0.37

Não Especializados Botão -0.11 0.21 -0.13 -0.07 -0.14 -0.04 0.03 Flor -0.34 0.15 -0.50 -0.12 -0.36 -0.41 -0.26

Intermediário

Falenofilia Flor -0.39 0.48 0.39 -0.48 -0.13 0.14 0.22

Melitofilia Botão -0.62 0.53 0.12 -0.71 -0.59 -0.39 -0.25 Flor -0.25 0.64 0.36 -0.69 -0.55 -0.02 0.19

Não Especializados Botão -0.82 0.65 0.04 -0.70 -0.51 -0.49 -0.10 Flor -0.71 0.63 -0.24 -0.78 -0.78 -0.53 -0.24

Quiropterofilia Botão -0.31 -0.04 -0.04 0.04 0.04 -0.32 -0.39 Flor -0.31 -0.04 -0.04 0.04 0.04 -0.32 -0.39

Tardio

Anemofilia Flor -0.48 0.22 0.48 -0.48 -0.22 0.14 0.22

Cantarofilia Botão -0.34 0.35 -0.05 -0.28 -0.28 -0.47 -0.23 Flor -0.51 0.64 -0.22 -0.51 -0.65 -0.47 -0.08

Melitofilia Botão -0.67 0.46 -0.10 -0.55 -0.50 -0.60 -0.50 Flor -0.67 0.45 0.08 -0.59 -0.44 -0.40 -0.23

Não Especializados Botão -0.44 0.30 -0.04 -0.29 -0.28 -0.49 -0.51 Flor -0.59 0.37 -0.07 -0.52 -0.44 -0.49 -0.34

Em negrito valores de r estatisticamente significativos (p<0,05).

Page 107: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

107

Análise por Síndromes de Dispersão de Sementes

• Fenologia

Quando as fenofases frutos imaturos e frutos maduros foram avaliadas de acordo com

as síndromes de dispersão de sementes das espécies, foi observada uma separação dos picos

de produção das respectivas fenofases em relação às síndromes (Figuras 26 e 27). Em geral,

não houve sobreposição entre a produção de frutos imaturos e maduros entre os estágios,

dentro de uma mesma síndrome. Para a fenofase frutos imaturos no estágio inicial, foi

observado um pico de produção pelas espécies barocóricas em Abril (17%), na transição

chuva-seca, produção com intensidade de 5% em Maio e Junho por espécies balísticas e um

pico em Junho (5,1%) produzido por espécies anemocóricas, todos na estação seca (Figura

26). No estágio intermediário houve produção de frutos zoocóricos em picos espalhados ao

longo do ano, com intensidades de aproximadamente 5% em Dezembro, Fevereiro e Agosto.

As outras síndromes de dispersão apresentaram valores muito baixos nesse estágio, inferiores

a 0,4%. No estágio tardio, houve produção de frutos imaturos zoocóricos em Junho (3,1%),

Setembro (5,5%) e Novembro (1,6%) e de frutos imaturos anemocóricos em Junho (3,7%) e

em Outubro (1,4). Não houve produção de frutos barocóricos e balísticos ao longo do ano.

Em relação às fenofase frutos maduros, em Julho observou-se maior produção de frutos

barocóricos (14,3%) e anemocóricos (2,9%), na estação seca no estágio inicial (Figura 27). No

estágio intermediário, a maior intensidade de produção de frutos zoocóricos ocorreu em

Dezembro (2,5%), na estação chuvosa e uma pequena produção de frutos anemocóricos em

Setembro (0,7%), na estação seca. No estágio tardio houve maior produção de frutos

anemocóricos em Agosto (3%), na estação seca e zoocóricos em Novembro (2,7%), no início

da estação chuvosa.

• Interações com Clima

A Tabela 5 apresenta a matriz de correlações de Spearman entre as médias mensais

dos valores das variáveis climáticas e dos valores do Percentual de Intensidade de Fournier

para as fenofases reprodutivas frutos imaturos e frutos maduros dos três estágios sucessionais

de acordo com as síndromes de dispersão de sementes.

No estágio inicial a fenofase frutos maduros das espécies anemocóricas apresentou

correlação negativa com as variáveis climáticas conteúdo hídrico do solo, temperatura do ar,

ponto de orvalho e fotoperíodo. Neste estágio ocorreram, também, correlações negativas entre

Page 108: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

108

a produção de frutos maduros das espécies barocóricas e as todas as variáveis, exceto RFA.

Nos estágios intermediário e tardio, as espécies anemocóricas apresentaram produção de

frutos maduros também negativamente correlacionada a variáveis relacionadas à

disponibilidade hídrica. Estes resultados indicam haver um padrão de maior dispersão de

sementes durante a estação seca por espécies com síndromes não dependentes de animais.

No estágio tardio a fenofase frutos maduros das espécies zoocóricas apresentaram

correlação positiva com as variáveis RFA e temperatura do ar, o que indica uma concentração

da dispersão de sementes, por este grupo, durante a estação chuvosa.

Page 109: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

109

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

Índi

cede

Fou

rnie

r par

aFr

utos

Verd

esInicial

Tardio

Intermediário Anemocoria

Balística

Barocoria

Zoocoria

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

Figura 26: Percentual de Intensidade de Fournier (PIF) ao longo do período de estudos para a

fenofase reprodutiva frutos imaturos de acordo com as síndromes de dispersão ocorrentes em

três estágios sucessionais de Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual da Mata Seca,

MG.

Per

cent

ual d

e In

tens

idad

e de

Fou

rnie

r par

a Fr

utos

Imat

uros

Inicial

Intermediário

Tardio

Anemocoria

Balística

Barocoria

Zoocoria

Síndromes de Dispersão:

Meses

Page 110: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

110

Figura 27: Percentual de Intensidade de Fournier (PIF) ao longo do período de estudos para a

fenofase reprodutiva frutos maduros de acordo com as síndromes de dispersão ocorrentes em

três estágios sucessionais de Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual da Mata Seca,

MG.

Per

cent

ual d

e In

tens

idad

e de

Fou

rnie

r par

a Fr

utos

Mad

uros

Inicial

Intermediário

Tardio

Anemocoria

Balística

Barocoria

Zoocoria

0

2

4

6

8

10

12

14

16

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

Índi

cede

Fou

rnie

r par

aFr

utos

Mad

uros

Inicial

Tardio

IntermediárioAnemocoria

Balística

Barocoria

Zoocoria

0

2

4

6

8

10

12

14

16

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

0

2

4

6

8

10

12

14

16

DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

Per

cent

ual d

e In

tens

idad

e de

Fou

rnie

r par

a Fr

utos

Mad

uros

Inicial

Intermediário

Tardio

Anemocoria

Balística

Barocoria

Zoocoria

Síndromes de Dispersão:

Meses

Page 111: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

111

Tabela 5: Índices de Correlação de Spearman (r) entre valores médios de variáveis climáticas e fenológicas de acordo com a síndrome de

dispersão nos três estágios sucessionais no Parque Estadual da Mata Seca, MG. RFA = Radiação Fotossinteticamente Ativa.

Estágio Sucessional

Síndromes Fenofases Conteúdo Hídrico do Solo RFA Temperatura

do Ar Umidade

Relativa do Ar Ponto de Orvalho Precipitação Fotoperíodo

Inicial

Anemocoria Fruto Imaturo -0.10 -0.09 -0.62 0.14 -0.10 -0.17 -0.48

Fruto Maduro -0.81 0.45 -0.61 -0.55 -0.82 -0.72 -0.48

Balística Fruto Imaturo -0.26 -0.19 -0.52 0.00 -0.19 -0.47 -0.65

Barocoria Fruto Imaturo -0.07 -0.58 -0.49 0.34 0.08 -0.37 -0.73

Fruto Maduro -0.87 0.40 -0.61 -0.65 -0.88 -0.77 -0.69

Intermediário

Anemocoria Fruto Imaturo -0.68 0.16 -0.51 -0.51 -0.65 -0.85 -0.65

Fruto Maduro -0.73 0.26 -0.08 -0.67 -0.54 -0.56 -0.24

Zoocoria Fruto Imaturo -0.09 0.20 0.04 -0.25 -0.13 0.14 0.35

Fruto Maduro 0.16 -0.22 -0.15 0.10 -0.01 0.04 -0.01

Tardio

Anemocoria Fruto Imaturo -0.36 0.41 -0.19 -0.49 -0.44 -0.04 -0.10

Fruto Maduro -0.80 0.90 -0.25 -0.90 -0.95 -0.58 -0.22

Zoocoria Fruto Imaturo -0.29 0.56 -0.17 -0.37 -0.48 -0.36 -0.03

Fruto Maduro -0.35 0.63 0.59 -0.60 -0.39 0.20 0.51

Em negrito valores de r estatisticamente significativos (p<0,05).

Page 112: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

112

Discussão

A hipótese de que a atividade fenológica das comunidades avaliadas é

fortemente sazonal e correlacionada com as variáveis abióticas foi corroborada.

Entretanto, os estágios intermediário e tardio foram similares entre si quanto aos

padrões da fenologia vegetativa e foram diferentes do estágio inicial. Este resultado

não corrobora a hipótese de que os três estágios apresentariam comportamento

semelhante em relação à fenologia vegetativa por estarem sujeitos a regimes

climáticos semelhantes.

A atividade reprodutiva apresentou padrão diferente entre os estágios

sucessionais e está relacionada às síndromes de polinização e dispersão de

sementes. Estes resultados corroboram a terceira e a quarta hipóteses de que o

padrão de produção das fenofases reprodutivas estaria relacionado às diferentes

proporções de síndromes de polinização e de dispersão de sementes de cada

estágio sucessional. As fenofases reprodutivas avaliadas segundo suas síndromes

também apresentaram correlações com os fatores abióticos, com forte coerência

com o proposto pela hipótese de que as fenofases reprodutivas de cada espécie

ocorreriam na época mais favorável à polinização e dispersão de sementes de cada

síndrome.

A grande maioria das espécies arbóreas na Floresta Estacional Decidual do

Parque Estadual da Mata Seca apresentou uma forte sazonalidade, principalmente

nos seus padrões de produção e senescência de folhas durante o período estudado.

O período de maior intensidade de produção de folhas verdes ocorreu nos meses

chuvosos e começou a decair na transição da estação chuvosa para a seca. O pico

de intensidade de produção de folhas senescentes ocorreu em Abril para o estágio

inicial e em Maio para os outros estágios. A partir de Agosto, a intensidade de

porcentagem de folhas senescentes começou a diminuir, atingindo seu valor mínimo

em Novembro em todos os estágios. Entretanto a porcentagem de folhas verdes na

copa das árvores somente começou a aumentar a partir de Outubro. Portanto, nos

meses de Agosto e Setembro a maioria dos indivíduos das comunidades arbóreas

dos três estágios está decídua.

A sazonalidade expressiva nos padrões fenológicos vegetativos foi

observada em muitos estudos em Florestas Estacionais Deciduais (Frankie et al.

Page 113: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

113

1974, Lieberman 1982, Bullock & Solis-Magallanes 1990, Brina 1998). Assim,

percebe-se que a maioria das espécies da comunidade estudada apresentou

comportamento consistente com este padrão fenológico, que evoluiu de maneira a

evitar o estresse hídrico vigente na estação seca por meio da perda de folhas, o que

evita a transpiração e a desidratação ainda mais acentuada (Frankie et al. 1974,

Lieberman & Lieberman 1982, Bullock & Solis-Magallanes 1990). Segundo Holbrook

et al. (1995), o fato de que estas árvores lidam eficientemente com a sazonalidade

de redução de umidade no solo e aumento da evaporação lhes permite ser atribuída

a categoria de “evitadoras de seca” (Levitt 1980). Por definição, uma planta

“evitadora de seca” adaptou-se de forma a manter um equilíbrio do potencial hídrico

de seus tecidos, mesmo quando exposta a severo estresse hídrico.

Existem dois tipos de “evitadoras de seca”, segundo Levitt (1980), as

“armazenadoras de água” (water savers) e as “gastadoras de água” (water

spenders). Como exemplo do primeiro tipo podemos citar, dentre as espécies

amostradas neste estudo, plantas que acumulam água em tecidos ou em estruturas

de reserva como Zizyphus joazeiro, a qual apresenta alta porcentagem de folhas

verdes durante todo o ano. Este tipo de estratégia é mais comum no Cerrado, onde

diversas espécies arbóreas acumulam grandes volumes de água em estruturas

subterrâneas de reserva (Ferri 1955). Como exemplo do segundo tipo, podemos

citar plantas da Caatinga, onde o solo não possui reservas hídricas (Ferri 1955) e as

plantas devem apresentar algum tipo mecanismo para evitar o déficit hídrico. A

estratégia da maioria das espécies arbóreas de matas secas em estudo se encaixa

neste tipo, uma vez que, como anteriormente descrito, as mesmas são

completamente decíduas durante toda a estação seca.

No estágio inicial, a diminuição do percentual de folhas verdes e o aumento

do percentual de folhas senescentes foram mais graduais do que nos outros

estágios. Houve uma queda brusca do PIF de folhas verdes e um aumento também

brusco do PIF de folhas senescentes nos estágios intermediário e tardio. As

diferenças na fenologia vegetativa entre os estágios são observadas principalmente

durante a época de transição, tanto da estação chuvosa para a seca quanto da

estação seca para chuvosa. Uma possível explicação para o fato de que o estágio

inicial apresentou uma maior retenção foliar durante a estação seca seria devido ao

maior conteúdo hídrico do solo nesse estágio (Capítulo 1). Entretanto, deve-se

Page 114: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

114

ressaltar que esse valor foi estatisticamente semelhante ao valor do estágio tardio.

Ainda assim, é durante a estação chuvosa que a diferença entre o estágio inicial e

os demais é mais acentuada, sendo que nos meses da estação seca essa diferença

é mínima (Figura 4, Capítulo 1). Do mesmo modo, mesmo com valores absolutos de

conteúdo hídrico do solo maior do que os valores dos demais estágios durante a

estacao chuvosa, a produçao de folhas senescentes inicia-se pelo menos um mês

antes dos demais estágios.

A longevidade das folhas em plantas decíduas está relacionada

principalmente a mecanismos de controle interno da planta (Reich 1995). Segundo

Bazzaz (1979), plantas de estágios tardios têm maior sensibilidade à redução da

disponibilidade hídrica. Em espécies pioneiras, a taxa fotossintética líquida é maior,

assim como o teor de nitrogênio na folha e sua longevidade foliar menor (Bazzaz

1979, Reich et al. 1992).

Neste estudo, constatou-se que, em todos os estágios sucessionais, a

atividade reprodutiva ocorreu predominantemente durante a estação seca, com

exceção da produção de botões florais e de flores no estágio inicial, que foi mais

intensa durante a estação chuvosa. Entretanto, as intensidades de produção de

botões florais, flores, frutos imaturos e frutos maduros foram baixas em toda a

comunidade.

Diversos estudos demonstraram maior produção de flores e frutos durante a

estação seca nas comunidades de Florestas Estacionais Deciduais (Frankie et al.

1974, Janzen 1967, Justiniano & Fredericksen 2000). A seca seria ativadora da

floração, desencadeando processos metabólicos para o início dessa fenofase por

meio da diminuição da umidade do ar e do solo (Croat 1975). Por outro lado, em

uma Floresta Estacional Decidual na Índia, Murali & Sukumar (1994) observaram

que a produção de flores ocorreu no início da estação chuvosa, simultaneamente à

produção de novas folhas, enquanto a produção de frutos ocorreu no final desta

estação. O padrão encontrado para os estágios intermediário e tardio é condizente

com o primeiro caso.

No geral, a atividade reprodutiva das comunidades da mata seca estudada

durante o período de estudos foi baixa no estágio inicial e extremamente baixa nos

estágios intermediário e tardio. A ocorrência de eventos reprodutivos pouco

regulares é uma característica comum em diversas comunidades de florestas

Page 115: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

115

tropicais (Frankie et al. 1974) e pode ser uma estratégia de escape contra os

predadores de sementes e plântulas (Janzen 1969, 1970) ou contra períodos

desfavoráveis. A variação inter-anual da fenologia reprodutiva pode também ser

reflexo das condições climáticas, principalmente de disponibilidade hídrica (Murali &

Sukumar 1994). Em anos atípicos mais secos, é comum que árvores de florestas

tropicais estacionais reduzam o investimento reprodutivo de forma a reduzir o custo

energético num período desfavorável e de provável baixo sucesso reprodutivo. De

fato, no período de estudo, a pluviosidade total foi de 704,5mm, mais que 100 mm

inferior à média histórica (805,29mm). É comum que muitas espécies abortem suas

flores ou frutos imaturos e produzam frutos maduros a partir de uma pequena

proporção de flores (Stephenson 1981). A ocorrência de florescimento supra-anual é

tida como bastante comum em estágios sucessionais mais avançados, sendo que a

duração do florescimento é menor nesses estágios do que nos iniciais (Kang &

Bawa 2003).

Os dados apresentados demonstram que a comunidade arbórea do estágio

sucessional inicial apresentou atividade reprodutiva ao longo de praticamente todo o

período de estudos, enquanto uma baixa intensidade de eventos reprodutivos foi

apresentada pelas árvores dos estágios intermediário e tardio. Espécies de estágios

iniciais têm maior acesso a recursos como luz e nutrientes (Pearcy, 1983; Vitousek

and Denslow, 1986; Becker et al.,1988), portanto, tendem a florescer durante um

período mais longo em comparação a espécies de estágios mais avançados (Kang

& Bawa 2003). Entretanto, Kang & Bawa (2003), estudando uma floresta tropical

úmida na Costa Rica, não confirmaram essa hipótese. Esses autores detectaram,

também, que não houve diferença na época de florescimento entre espécies dos

estágios sucessionais inicial e tardio, sendo que as comunidades de ambas

floresceram durante todas as estações do ano. Para a Floresta Estacional Decidual

do presente estudo, a hipótese testada e refutada por Kang & Bawa (2003) foi

confirmada.

Os dados fenológicos vegetativos e reprodutivos da comunidade arbórea do

Parque Estadual da Mata Seca mostraram-se fortemente correlacionados com os

fatores climáticos. Isto indica que, nessa comunidade, o ritmo fenológico é

fortemente ditado por estes fatores climáticos e menos por fatores endógenos.

Page 116: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

116

De um modo geral, observou-se maior variação no comportamento fenológico

entre as estações do ano do que entre os entre os estágios sucessionais. O Eixo 1

da ACC, ao longo do qual estão distribuídas a grande maioria das variáveis

fenológicas, representa um gradiente chuva-seca que mostra a relação destas

variáveis com períodos de maior ou menor disponibilidade hídrica. A fenofase folhas

verdes de todos os estágios se agruparam à esquerda desse eixo, o que indica

ocorrerem com maior intensidade nos meses úmidos, enquanto as fenofases

reprodutivas com exceção das fenofases botões florais e flores do estágio inicial, se

agruparam à direita, relacionando-se aos meses mais secos. A relação entre

fenofases de indivíduos arbóreos e variáveis climáticas também foi observada por

meio da ACC por Goulart (2004).

No entanto, Borchert (1980), estudando populações de Erythrina poeppigiana

na Costa Rica, observou um padrão fenológico assincrônico entre diferentes

populações e concluiu que fatores endógenos seriam responsáveis por essa

variação. A senescência, por exemplo, ocorreria devido ao tempo de vida das

folhas, geralmente de 6 a 8 meses. Esse tempo de vida poderia ser diminuído pelo

déficit hídrico durante a estação seca, indicando um controle secundário das

variáveis ambientais sobre os padrões fenológicos (Borchert 1980). Bullock & Solis-

Magallanes (1990), estudando uma comunidade de Floresta Estacional Decidual na

Bolívia, também encontraram variações individuais no padrão de queda de folhas

sendo estas variações foram atribuídas, porém, a diferenças no micro-clima.

Além de controlarem de forma direta os padrões fenológicos, desencadeando

processos fisiológicos, os fatores ambientais podem também atuar de forma

indireta, por estarem relacionados às condições adequadas para que determinada

fase ocorra (Rathcke & Lacey 1985). Entretanto, dificilmente pode-se distinguir entre

essas possíveis formas de influência do clima sobre a fenologia das plantas.

Estudos de longo prazo, relacionando variações interanuais nos padrões

fenológicos às variações nas condições climáticas seriam úteis na elucidação

dessas questões.

Neste estudo, apesar de haver pequena variação no micro-clima entre os

estágios sucessionais (Capítulo 1), a variaçao inter-específica no comportamento

fenológico vegetativo foi mínima. Além disso, os altos valores de correlação de

Spearman das fenofases com as variáveis ambientais e os resultados da ACC

Page 117: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

117

reforçam a idéia da maior influência dos fatores exógenos para o comportamento

fenológico da comunidade em questão.

As fenofases reprodutivas de todos os estágios sucessionais se

correlacionaram negativamente com variáveis relacionadas à disponibilidade

hídrica, indicando uma preferência para a reprodução na estação seca,

principamente nos estágios intermediário e tardio. O padrão temporal de

disponibilidade de água provavelmente é o fator mais conhecido na determinação

da reprodução de plantas em regiões tropicais, especialmente em matas secas (Griz

& Machado 2001). A umidade do solo é também relatada como sendo a principal

variável ambiental na determinação de queda de folhas (Bullock & Solis-Magallanes

1990) e eventos reprodutivos (Pavón e Briones 2001). De fato, essa variável

apresentou um grande número de correlações com as fenofases, indicando ser um

importante fator na determinação do padrão fenológico encontrado.

Esse padrão de reprodução durante a estação seca diverge dos resultados

encontrados em Florestas Tropicais Secas por Bullock & Solis-Magallanes (1990),

Lieberman (1982) e Murali & Sukumar (1994), no qual a atividade reprodutiva se

concentrou na estação chuvosa. Por outro lado, a reprodução durante a estação

seca pode estar relacionada à maximização da competitividade vegetativa de modo

a concentrar todo o crescimento durante a estação chuvosa. A atividade reprodutiva

na época seca pode também maximizar o aproveitamento dos agentes bióticos

polinizadores e dispersores de sementes, já que as flores e frutos produzidos seriam

os poucos recursos disponíveis durante esses períodos menos favoráveis (Janzen

1967).

Sendo assim, nas Florestas Estacionais Deciduais pode haver maior

vantagem em se concentrar a reprodução na estação seca que na chuvosa (Janzen

1967). É importante notar que, nos estágios intermediário e tardio, a produção de

flores e botões florais se restringiu à estação seca. Isto demonstra a importância dos

fragmentos florestais deciduais em melhor estado de conservação na

disponibilização de recursos para a fauna associada. Por outro lado, o estágio inicial

disponibilizaria recursos durante a estação chuvosa. No entanto, nos estágios mais

maduros de sucessão das matas secas, as lianas podem suprir essa necessidade,

já que várias espécies florescem durante as chuvas (Pezzini, F.F. obs. pess.). A

Page 118: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

118

perturbaçao de habitas, com florestas permanecendo em estagios iniciais de

sucessão, pode não sustentar os agentes polinizadores em épocas secas.

Muitas espécies decíduas podem florescer após eventos esporádicos de alta

disponibilidade hídrica que desencadeiam respostas fisiológicas instantâneas para a

ocorrência deste evento fenológico durante a estação seca (Opler et al. 1976). De

fato, Bullock & Solis-Magallanes (1990) mostraram que chuvas anômalas durante a

estação seca levaram a eventos reprodutivos sub-anuais. Espécies como Tabeuia

ochracea são conhecidas por apresentarem esse padrão e, na região do estudo, as

chamadas “chuva de broto” no meio da estação seca são responsáveis pelo seu

florescimento. O pico de florescimento apresentado por essa espécie no mês de

Outubro confirma esse fato. Além disso, em ambientas sazonais, a produção de

flores de forma explosiva é esperada e contribui para o maior display das mesmas e

evita a competição por polinizadores (Rathcke & Lacey 1985).

Comparando as síndromes de polinização com relação aos valores gerais

das fenofases botões florais e flores entre os três estágios, observa-se que a

produção destas estruturas reprodutivas não ocorre na mesma época dentro das

mesmas síndromes. Somente as espécies polinizadas por abelhas e por pequenos

insetos nos estágios intermediário e tardio apresentam sobreposição no

florescimento. Porém, os valores de intensidades mostraram-se diferentes entre os

estágios sucessionais. Isso sugere que há disponibilidade de recursos florais aos

diferentes tipos de polinizadores durante praticamente todo o ano nos diferentes

estágios sucessionais, ainda que em intensidade baixa durante alguns meses,

especialmente no mês de Dezembro.

Variáveis bióticas, como presença de agentes polinizadores e dispersores,

podem atuar na seleção de padrões fenológicos mais favoráveis, sendo o principal

fator limitante à polinização e dispersão de sementes (Augspurger 1981, Lieberman

& Lieberman 1984, Van Schaik et al. 1993). O menor número de correlações de

Spearman significativas entre as variáveis ambientais e as fenofases reprodutivas,

quando comparadas com as fenofases vegetativas também mostra esse possível

controle da produção de botões florais e flores por variáveis bióticas.

Houve maior número de correlações entre flores e frutos maduros com as

variáveis climáticas quando comparados respectivamente com botões florais e

frutos imaturos Este resultado indica que o tempo de desenvolvimento dos botões

Page 119: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

119

florais e frutos imaturos pode ser variável, sendo mais importante a sincronia entre a

produção de flores e frutos maduros com a época mais favorável. Segundo

Augspurger (1983), há seleção para alta sincronia intra-específica de florescimento

devido a aumentos potenciais na polinização cruzada, na eficiência energética do

polinizador, na atração de polinizadores e no escape contra predadores de flores e

sementes. Da mesma forma, Smythe (1970) sugere que os fatores físicos do

ambiente podem ser os mais importantes na determinação da época de frutificação,

sendo que a competição por dispersores também pode agir como uma pressão

seletiva adicional em que o modo de alimentação dos dispersores pode influenciar a

época de amadurecimentos dos frutos. Além disso, fatores como a germinação de

sementes e o estabelecimento de plântulas podem atuar como pressões seletivas

que geram padrões de desenvolvimento reprodutivo em cadeia de modo a favorecer

a época mais favorável para a dispersão de sementes (Rathcke & Lacey 1985). De

fato, é relatado que nos trópicos, é comum que a época de maturação dos frutos de

uma síndrome de dispersão em particular coincida com as condições ideais (bióticas

e abióticas) para a dispersão das sementes (Frankie et al. 1974, Smythe 1970).

Portanto, espécies anemocóricas aparentemente evoluíram de modo a

apresentarem pico de dispersão de sementes durante a estação seca; período com

mais altos valores de velocidade e intensidade do vento. Mantovani & Martins

(1988) verificaram ainda que a deiscência e a dispersão das espécies anemocóricas

e balísticas é facilitada durante a estação seca pela desidratação do pericarpo dos

frutos e sementes. Além disso, a redução de obstáculos físicos devido à alta taxa de

deciduidade nas comunidades de ambientes sazonais, durante a época seca, facilita

o transporte de sementes anemocóricas a maiores distâncias (Janzen 1967, Ranieri

2006). As espécies zoocóricas, por outro lado, apresentam mais freqüentemente,

pico de dispersão de sementes na estação chuvosa (Frankie et al. 1974, Griz &

Machado 2001), quando a maior umidade do ar permite maior atividade animal

(Smythe 1970). Ambos os padrões foram observados na mata seca em estudo,

comprovando a hipótese de que a variação encontrada na fenologia reprodutiva

pode ser devido às diferentes proporções de síndromes de polinização e dispersão

nos diferentes estágios sucessionais, em que cada conjunto de espécies

pertencentes à mesma síndrome concentra sua atividade reprodutiva em um

determinado período.

Page 120: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

120

O comportamento fenológico vegetativo da comunidade em estudo é

fortemente sazonal e altamente correlacionado com os fatores ambientais,

demonstrando a importancia de fatores exógenos nessa comunidade. Além disso, a

fenologia vegetativa é semelhante entre os três estágios sucessionais. A variação

observada na fenologia reprodutiva principalmente entre o estágio inicial e os

demais reflete as diferentes proporções de síndromes de polinização e de dispersão

de sementes, que por sua vez reflete a variação na composição de espécies nos

três estágios. A atividade reprodutiva em geral foi baixa, mas deve-se destacar que

a produção de frutos zoocóricos na estação seca pelos estágios intermediário e

tardio representa um recurso chave para a fauna local durante esse período.

Page 121: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

121

Referências Bibliográficas

Augspurger, C.K. 1981. Reproductive synchrony of a tropical shrub: experimental

effects of pollinators and seed predators on Hybanthus prunifolius

(Violaceae). Ecology 62:775-788.

Augspurger, C.K. 1983. Offspring recruitment around tropical trees: changes in

cohort distance with time. Oikos 40: 189-196.

Bazzaz, F. A. 1979. The Physiological Ecology of Plant Succession. Annual Review

of Ecology and Systematics 10: 351-371.

Bencke, C.S.C. & Morellato, L.P.C. 2002. Comparação de dois métodos de

avaliação da fenologia de plantas, sua interpretação e representação. Revista

Brasileira de Botânica 25: 269-275.

Borchert, R. 1980. Phenology and Ecophysiology of Tropical Trees: Erythrina

poeppigiana O. F. Cook. Ecology 61: 1065-1074.

Brina, A.E. 1998. Aspectos da dinâmica da vegetação associada a afloramentos

calcários na APA Carste de Lagoa Santa, MG. Dissertação de Mestrado,

Universidade Federal De Minas Gerais, Minas Gerais. 105 p.

Becker, P., P. E. Rabenold, J. R. Idol, & A. P. Smith. 1988. Gap and slope gradients

of soil and plant water potentials during the dry season in a tropical moist

forest. Journal of Tropical Ecology 4: 173–184.

Bullock, S. H. & Solis-Magallanes, J. A. 1990. Phenology of canopy trees of a

tropical deciduous forest in México. Biotropica 22: 22-35.

Couto-Santos, F.R. 2007.Fenologia de espécies arbóreas do dossel e sub-dossel

em um fragmento de Mata Atlântica semi-decídua em Caratinga, Minas

Gerais, Brasil. Dissertação (Mestrado em Ecologia Conservação e Manejo de

Vida Silvestre). Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais. 100 p.

Croat, T.B. 1975. Phenological behavior of habit and habitat classes on Barro

Colorado Island (Panama Canal Zone). Biotropica 7: 270-277.

Debussche, M. & Lepart, J. 1992. Estabilishment of woody plants in mediterranean

old fields:opportunities in space and time. Landscape Ecology 6:133-145.

Page 122: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

122

Díaz, S. & Cabido, M. 1997. Plant functional types and ecosystem function in relation

to global change. Journal of Vegetation Science 8: 463-474.

Ferri, M. G. 1955. Contribuição ao conhecimento da ecologia do cerrado e da

caatinga: estudo comparativo da economia d'água de sua vegetação. Boletim

da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo

no195. 12: 1-170.

Fournier, L.A. 1974. Un método cuantitativo para la medición de características

fenológicas en árboles. Turrialba 24: 422-423.

Frankie, G.W., Baker, H.G. & Opler, P.A. 1974. Comparative phenological studies of

trees in tropical wet and dry forests in the lowlands of Costa Rica. Journal of

Ecology 62: 881–919.

Fuchs, E.J., Lobo, J.A. & Quesada, M. 2003 Effects of forest fragmentation and

flowering phenology on the reproductive success and mating patterns on the

tropical dry forest tree, Pachira quinata (Bombacaceae). Conservation Biology

17: 149-157

Goulart, M. 2004. Variação morfológica e na fenológica de Plathymenia

(Leguminosa-Mimosoidade) em áreas de Cerrado, Mata Atlântica e de

transição entre biomas, no estado de Minas Gerais, Brasil. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais.

Griz, L.M.S & Machado, I.C. 2001. Fruiting phenology and seed dispersal syndromes

in Caatinga, a tropical dry forest in the northeast of Brazil. Journal of Tropical

Ecology 17: 303–321.

Guariguata, M.R. & Ostertag, R. 2001. Neotropical secondary succession: changes

in structural and functional characteristics. Forest Ecology and Management

148: 185–206.

Herrera, J. 1986. Flower and fruiting phenology in the coastal shrublands of Donana,

South Spain. Vegetatio 68: 91–98.

Herrerías-Diego, Y, Quesada, M., Stoner, K.E. & Lobo, J.A. 2006. Effects of forest

fragmentation on phenological patterns and reproductive success of the

Tropical Dry Forest tree Ceiba aesculifolia. Conservation Biology 20: 1111–

1120.

Page 123: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

123

Holbrook, N.M., Whitbeck, J.L. & Mooney, H.A. 1995. Drought responses of

neotropical dry forest trees. In S.H. Bullock, H.A. Mooney & E. Medina (Eds.).

Seasonality dry tropical forests. New York: Cambridge University Press

(pp.243-270).

Janzen, D. H. 1967. Synchronization of sexual reproduction of trees within the Dry

Season in Central America. Evolution. 21:620-637.

Janzen, D.H. 1970. Herbivores and the number of tree species in tropical forest.

American Naturalist 104:501-528.

Justiniano, M.J. & Fredericksen, T.S., 2000. Phenology of Tree Species in Bolivian

Dry Forests. Biotropica, 32: 276-281.

Kang, H. & Bawa. K.S. 2003. Effects of successional status, habit, sexual systems,

and pollinators on flowering patterns in tropical rain forest trees. American

Journal of Botany 90: 865–876.

Kemp, P.R. & Gardetto, P.E. 1982. Photosynthetic pathway types of evergreen

rosette plants of the Chihuahuan desert. Oecologia 55: 149–156.

Kramer K. 1995. Phenotypic plasticity of phenology of seven European trees species

in relation to climatic warming. Plant, Cell and Environment 18: 93–104.

Levitt, J. 1980. Responses of plants to environmental stresses. v. 2. Water, radiation,

salt, and other stresses. In T. T. Kozlowski (Ed.). EUA: Academic Press.

Lieberman, D. & Lieberman, M. 1984. The causes and consequences of syncronous

flushing in a dry tropical forest. Biotropica 16:193-201.

Lieberman, D. 1982. Seasonality and Phenology in a Dry Tropical Forest in Ghana.

The Journal of Ecology 70: 791-806.

Lieth, H. (Ed.).1974. Phenology and seasonality modelling. Berlin: Springer Verlag.

Lobo, J., Quesada, M., Stoner, K., Fuchs, E., Herrerías-Diego, Y., Rojas, J. &

Saborío G 2003. Factors affecting phenological patterns of bombacaceus

trees in seasonal forests in Costa Rica and Mexico. American Journal of

Botany 90:1054–1063

Page 124: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

124

Mantovani, W. & Martins, F.R. 1988. Variações fenológicas das espécies do cerrado

da Reserva Biológica de Moji Guaçu, Estado de São Paulo. Revista Brasileira

de Botânica 11: 101-112.

McCune, B. & Mefford, M.J. 1999. PC-ORD - Multivariate analysis of ecological data,

Version 4. MjM Software Design, Gleneden Beach.

Morellato, L. P. C., Rodrigues, R. R., Leitão-Filho, H. F. & Joly, C. A. 1989. Estudo

comparativo de fenologia d espécies arbóreas de florestas de altitude e

mesófila semidecídua na Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo. Revista Brasileira

de Botânica. 12: 85-89.

Morellato, L.P.C. & Leitão-Filho, H.F. 1992. Padrões de frutificação e dispersão na

Serra do Japi. In História natural da Serra do Japi: ecologia e presevação de

uma área florestal no Sudeste do Brasil (L.P.C. Morellato, org.). Campinas:

Unicamp/Fapesp (pp. 112-140).

Murali, K.S. & Sukumar, R., 1994. Reproductive phenology of a Tropical Dry Forest

in Mudumalai, southern India. The Journal of Ecology, 82: 759-767.

Murphy, P. G. & A. E. Lugo. 1986. Ecology of tropical dry forest. Annual Review of

Ecology and Systematics 17: 67–88.

Naeem, J. & Wright, J.P. 2003. Disentangling biodiversity effects on ecosystem

functioning: deriving solutions to a seemingly insurmountable problem.

Ecology Letters. 6: 567-579.

Opler, P.A., Frankie, G.M. & Baker, H.G. 1976. Rainfall as a factor in the release,

timing and syncronization of anthesis by tropical trees and shrubs. Journal of

Biogeography 3:231-236.

Pavón, N.P. & Briones, O. 2001. Phenological patterns of nine perennial plants in an

intertropical semi-arid Mexican scrub. Journal of Arid Environments 49: 165-

277.

Pearcy, R. W. 1983. The light environment and growth of C3 and C4 species in the

understory of a Hawaiian forest. Oecologia 58: 26–32.

Page 125: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

125

Potvin, C., Lechowics, M.J. & Tardif, S. 1990. The statistical analysis of

ecophysiological response curves obtained from experiments involving

repeated measures. Ecology 71: 1389–1400.

Ranieri, B.D. 2006. Caracterização do habitat, fenologia e germinação de sementes

de duas espécies rupestres (Gesneriaceae), endêmicas de Minas Gerais.

Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas

Gerais. 106 p.

Rathcke, B. & Lacey, E.P. 1985. Phenological patterns of terrestrial plants. Annual

Review of Ecology and Systematics 16: 179–214.

Reich, P.B. & Borchert, R. 1984. Water stress and tree phenology in a tropical dry

forest in the lowlands of Costa Rica. Journal of Ecology 72: 61-74.

Reich, P.B. 1995. Phenology of tropical forests: patterns, causes, and

consequences. Canadian Journal of Botany 73:164-174.

Reich, P.B.; Walters, M.B. & Ellsworth, D.S. 1992. Leaf life-span in relation to leaf,

plant, and stand characteristics among diverse ecosystems. Ecological

Monographs 62: 365-392.

Smythe, N. 1970. Relationships between fruiting seasons and seed dispersal

methods in a Neotropical forest. American Naturalist 104: 25-35.

SPSS Inc. 1998. SYSTAT 8.0. Chicago, IL.

Stephenson, A.G. 1981. Flower and fruit abortion: proximate causes and ultimate

functions. Annual Review of Ecology Systematics 12: 253-279.

Ter Braak C.J.F. 1986. Canonical correspondence analysis: a new eigenvector

technique for multivariate direct gradient analysis. Ecology 67: 1167–1179.

Van Schaik, C.P., Terborgh, J. & Wright, S.J. 1993. The phenology of tropical

forests: adaptative significance and consequences for primary consumers.

Annual Review of Ecology and Systematics. 24: 353-377.

Vitousek, P. M., And J. S. Denslow. 1986. Nitrogen and phosphorus availability in

treefall gaps of a lowland tropical forest. Journal of Ecology 74: 1167–1178.

Williams, R.J., Myers, B.A., Eamus, D. & Duff, G.A. 1999. Reproductive phenology of

woody species in a north Australian tropical savanna. Biotropica 31:626-636.

Page 126: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

126

Wright, S. J. & Calderon, O. 1995. Phylogenetic patterns among tropical flowering

phenologies. Journal of Ecology 83: 937-948.

Zalamea, M., González, G. 2008.Leaffall Phenology in a Subtropical Wet Forest in

Puerto Rico: From Species to Community Patterns. Biotropica 40: 295-304.

Page 127: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

127

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da fenologia em comunidades geralmente é realizada

qualitativamente, de forma a analisar os dados com base no numero de espécies ou

de indivíduos apresentando dada fenofase, mesmo que a mesma ocorra por

exemplo em 5 ou 90% da copa dos indivíduos (Frankie et al. 1974; Lieberman

1982). Nesse estudo, a análise dos dados utilizando-se o Percentual de Intensidade

de Fournier nos mostra a real intensidade da presença de cada fenofase em cada

indivíduo na comunidade. Dessa forma, foi possível analisar mais consistentemente

as respostas funcionais das comunidades e oscilações da disponibilidade de

recursos para herbívoros, polinizadores e dispersores de sementes em resposta às

alterações ambientais.

Estudos que integram características estruturais e funcionais do processo de

sucessão são de extrema importância, já que nos fornecem informações essenciais

para que possamos manejar florestas secas secundárias. Com base nos resultados

desses estudos, é possível conhecer as condições físicas em estágios de sucessão,

as quais exercem forte influência no comportamento das comunidades vegetal e

animal; a geração de propágulos na comunidade e o grau de importância dos

animais como agentes polinizadores e dispersores de sementes para a regeneração

do ecossitema e principalmente, a disponibilidade de recursos para esses animais,

inferida a partir do comportamento fenológico. Nossos resultados indicam que,

apesar da diferença na composição de espécies, as semelhanças estruturais e

funcionais entre os estágios intermediário e tardio nos revela uma alta resiliência

nas comunidades arbóreas de matas secas. Isto reforça a idéia de que as

comunidades secundárias podem recuperar suas características funcionais antes

mesmo de recuperar sua composição de espécies

Essas informações são ainda mais úteis quando se leva em conta o grau de

ameaça sofrido pela matas secas, aliado à falta de conhecimento sobre esse

ambiente. Recentemente, a Lei Estadual 17.353 aprovada pelo Governo do Estado

de Minas Gerais aumenta a possibilidade de desmatamento para 70% de áreas

secundárias das Florestas Estacionais Deciduais e para 60% a cobertura florestal

em estado primário. Esse fato torna mais urgente a necessidade de conhecimento e

proteção de Florestas Tropicais Secas.

Page 128: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

128

Anexo 1

Bibliografia utilizada para determinação das síndromes de polinização e de

dispersão de sementes.

1. Araújo, A., 2001. Flora, fenologia de floração e polinização em capões do

Pantanal Sul Mato Grossense. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de

Campinas, São Paulo. 109 p.

2. Barbosa, A. & de Lima, L.C.M., 2003. Fenologia de Espécies Lenhosas da

Caatinga. In I. Leal , M. Tabarelli, & J. Silva (Eds.). Ecologia e Conservação

da Caatinga. Recife: Editora Universitária UFPE. (pp. 657-693).

3. Barros, M., 2001. Pollination ecology of Tabebuia aurea (Manso) Benth. &

Hook. and T. ochracea (Cham.) Standl.(Bignoniaceae) in Central Brazil

cerrado vegetation. Revista Brasileira de Botânica 24: 255-261.

4. Barroso, G.M.; Morim, M.P.; Peixoto, A.L.; Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e

sementes: morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa:

Editora UFV Universidade Federal de Viçosa.

5. Batalha, M. & Mantovani, W. 2000. Reproductive phenological patterns of

cerrado plant species at the Pé-de-Gigante Reserve (Santa Rita do Passa

Quatro, SP, Brazil): a comparison between the herbaceous and woody floras.

Revista Brasileira de Biologia, 60:129-145.

6. Carvalho, P.E.R. 2003. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília: Embrapa

Informação Tecnológica.

7. Ferreira Ribeiro, L. & Tabarelli, M. 2002. A structural gradient in cerrado

vegetation of Brazil: changes in woody plant density, species richness, life

history and plant composition. Journal of Tropical Ecology 18: 775-794.

8. Griz, L. & Machado, I., 2001. Fruiting phenology and seed dispersal

syndromes in caatinga, a tropical dry forest in the northeast of Brazil. Journal

of Tropical Ecology 17:.303-321.

9. Herrerías-Diego, Y, Quesada, M., Stoner, K.E. & Lobo, J.A. 2006. Effects of

forest fragmentation on phenological patterns and reproductive success of

Page 129: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

129

the Tropical Dry Forest tree Ceiba aesculifolia. Conservation Biology 20:

1111–1120.

10. Lorenzi, H., 2002. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de

plantas arbóreas do Brasil. 2 ed., Nova Odessa: Instituto Plantarum.

11. Machado, I.C.S., Barros, L.M. & Sampaio, E. 1997. Phenology of caatinga

species at Serra Talhada, PE, Northeastern Brazil. Biotropica 29: 57-68.

12. Martins, F.Q. & Batalha, M.A. 2006. Pollination systems and floral traits in

cerrado woody species of the Upper Taquari region (central Brazil). Brazilian

Journal of Biology 66: 543-552.

13. Morellato, L., 1991. Estudo da fenologia de árvores, arbustos e lianas de uma

floresta semidecídua no sudeste do Brasil. Tese de Doutorado. Universidade

Estadual de Campinas, São Paulo.

14. Morellato, L. & Leitão-Filho, H., 1992. Padrões de frutificação e dispersão na

Serra do Japi. In L. Morellato, (Ed.). História natural da Serra do Japi:

ecologia e preservação de uma área florestal no Sudeste do Brasil.

Campinas: UNICAMP/FAPESP (pp. 112-140).

15. Oliveira Filho, A.T. Carvalho, D.A., Vilela, E.A. & Curi, N. 2004. Diversity and

structure of the tree community of a fragment of tropical secondary forest of

the brazilian Atlantic Forest domain 15 and 40 years after logging. Revista

Brasileira de Botânica 27: 685-701.

16. Oliveira, P. & Paula, F., 2001. Fenologia e Biologia reprodutiva de plantas de

matas do Brasil central. In J. Ribeiro, C. Fonseca, & J. Souza-Silva (Eds.).

Cerrado: caracterizações e recuperação de matas de galeria. Brasília:

Embrapa-CPAC, (pp. 303-332).

17. Silva Jr, M. 2005. 100 árvores do Cerrado: guia de campo, Brasília: Rede de

Sementes do Cerrado.

18. Souza, V.C. & Lorenzi, H. 2005. Botânica sistemática: guia ilustrado para

identificação das famílias de Angiospermas da flora brasileira, baseado em

APG II, São Paulo: Instituto Plantarum.

Page 130: Fenologia e características reprodutivas em comunidades ...pos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D202_Flávia_Pezzini.pdf · Palavras – chave: Mata Seca, síndrome de polinização,

130

19. Willmer, P.G. 1988. The role of insect water balance in pollination ecology:

Xylocopa and Calotropis. Oecologia 76: 430-438.

20. Yamamoto, L.F., Kinoshita, L.S. & Martins, F.R., 2007. Síndromes de

polinização e de dispersão em fragmentos da Floresta Estacional

Semidecídua Montana, SP, Brasil. Acta Botânica Brasilica 21: 553-573.