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SUMÁRIOPágina
1- INTRODUÇÃO 01
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 06
2- CONCEITOS FUNDAMENTAIS 07
2.1-Conceitos 07
2.1.1- Fluídos 07
2.1.2- Força e Tensão 08
2.1.3- Energia 11
2.1.4- Mecanismos de Transporte 12
2.2-Unidades 14
EXERCÍCIOS 27
3- VISCOSIDADE 31
3.1-Definição de viscosidade e lei de Newton da Viscosidade 31
3.1.1- Interpretação física de τyx 35
3.1.2- Dimensão da viscosidade 40
3.2-Viscosidade de gases 43
3.3-Viscosidade de líquidos 52
3.3.1- Viscosidade de metais líquidos 54
3.3.2- Viscosidade de escórias 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 73
EXERCÍCIOS 74
4- ESCOAMENTO LAMINAR E BALANÇO DE MOMENTO 77
4.1-Escoamento laminar e turbulento 77
4.2-Balanços de Massa e de Quantidade de Movimento 80
4.2.1- Balanço de massa 81
4.2.2- Balanço de quantidade de movimento 81
ii
4.3- Aplicação dos Balanços de Massa e Quantidade de Movimento 85
4.3.1- Escoamento entre duas placas horizontais 85
4.3.2- Escoamento de uma película de fluido 97
4.3.3- Escoamento axial em um duto cilíndrico 116
4.3.4- Escoamento em dutos concêntricos 134
4.3.5- Escoamento laminar bifásico 139
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 145
EXERCÍCIOS 146
5- EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE ESCOAMENTO DE FLUIDOS 151
5.1-Equação da Continuidade 153
5.2-Equação do Movimento 156
5.3-Equação da Continuidade e do Movimento em Coordenadas 165
Cilíndricas e Esféricas
5.3.1- Coordenadas cilíndricas 166
5.3.2- Coordenadas esféricas 166
5.4-Soluções de Equações Diferenciais 167
5.4.1- Escoamento em uma película de fluido 168
5.4.2- Escoamento em um tubo circular 170
5.4.3- Escoamento anelar tangencial 171
5.4.4- Formato da superfície de um líquido com movimento de rotação 176
5.4.5- Escoamento laminar em torno de uma esfera 179
5.4.6- Camada limite 185
5.4.7- Escoamento não estacionário em um tubo circular 188
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 191
APÊNDICE 192
EXERCÍCIOS 201
6- ESCOAMENTO TURBULENTO E RESULTADOS EXPERIMENTAIS 204
6.1- Introdução 205
6.2- Modelos de Turbulência 209
6.2.1- Equações da continuidade e do movimento suavizadas 211
iii
6.2.1.1- Equação da continuidade suavizada 212
6.2.1.2- Equação do movimento suavizada 212
6.3- Fatores de fricção 219
6.3.1- Escoamento em dutos (interno) 221
6.3.1.1- Análise dimensional 224
6.3.1.2- Escoamento em dutos não-cilíndricos 240
6.3.2- Escoamento em torno de objetos (externo) 241
6.3.2.1- Escoamento em torno de esferas 243
6.4- Fatores de Fricção para Leitos de Partículas 248
6.4.1- Equação de Ergun 249
6.4.1.1- Regime laminar 257
6.4.1.2- Regime turbulento 258
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 261
EXERCÍCIOS 263
7- BALANÇOS GLOBAIS NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS ISOTÉRMICOS 266
7.1-Balanço Global de Massa 267
7.2-Balanço Global de Energia 272
7.2.1- Avaliação do termo de energia cinética 274
7.2.2- Avaliação do termo de energia potencial 278
7.2.3- Teorema de Bernoulli 279
7.2.4- Avaliação das perdas por fricção 282
7.2.4.1- Perdas por fricção em dutos retos 282
7.2.4.2- Perdas por fricção em expansão e contração 288
7.2.4.3- Perdas por fricção em válvulas e conexões 292
7.3-Escoamento em panelas e Distribuidores 298
7.3.1- Vazamento de uma panela 298
7.3.2- Transferência de metal do distribuidor para o molde 309
7.4-Técnicas de medida de vazão de fluidos 316
7.4.1- Medidores de diferença de pressão 316
7.4.1.1- Medidores de orifício 317
7.4.1.2- Tubo de Pitot 324
iv
7.4.1.3- Rotâmetros 328
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 331
EXERCÍCIOS 332
1
1 - INTRODUÇÃO
No estudo da termodinâmica metalúrgica, fica bastante clara uma das limitações
dessa ciência: a impossibilidade de prever a velocidade com que os fenômenos
ocorrem. Através de alguns exemplos simples, pode-se observar esta limitação.
Inicialmente será considerado o caso visto na figura 1.1, onde estão representadas
duas barras de um metal, em contato perfeito. Uma das barras está a 1000º C e a outra
a 200º C. A termodinâmica prevê que calor vai ser transportado da barra que está em
temperatura mais alta para a barra que está em temperatura mais baixa e que, no
equilíbrio, as duas barras estarão a uma mesma temperatura. Entretanto, a
termodinâmica não prevê quanto tempo levará para se atingir o equilíbrio nem permite
determinar os perfis de temperatura nas duas barras em um dado tempo.
Figura 1.1 - Transporte de calor entre duas barras metálicas.
Um caso análogo a esse pode ser imaginado considerando duas barras de aço
a uma mesma temperatura; entretanto, com diferentes teores de carbono, conforme
mostrado na figura 1.2. Neste caso, a termodinâmica informa que vai haver um
CALOR
200 C1000 Co o
INÍCIO
TEMPO = ?
PERFIS DETEMPERATURA = ?
T
EQUILÍBRIO
Teq eq
2
transporte de carbono da barra que possui maior concentração para a barra de menor
concentração. Contudo, não fornecerá o tempo necessário para se alcançar o equilíbrio,
nem os perfis de concentração em um certo instante de tempo.
Figura 1.2 – Transporte de massa entre duas barras de aço
Finalmente, considere-se a situação mostrada na figura 1.3, onde se tem uma
panela com aço líquido no seu interior. Sabe-se que ao se abrir a válvula, o aço deve
ser vazado da panela. Mas não se sabe, por exemplo, determinar o tempo de
esvaziamento dessa panela, em função da quantidade de aço nela contido.
Esses três exemplos mostram as três áreas distintas que constituem o que se
chama de Fenômenos de Transporte:
- Transporte de energia (ou calor): exemplo da figura 1.1;
- Transporte de massa: exemplo da figura 1.2;
- Transporte de quantidade de movimento: exemplo da figura 1.3.
MASSA
%C = 0,7
INÍCIO
TEMPO = ?
PERFIS DECONCENTRAÇÃO = ?
% C
EQUILÍBRIO
% Ceqeq% C = 0,1
3
Figura 1. 3 - Esvaziamento de uma panela de aço
O estudo de fenômenos de transporte permitirá, então, responder as perguntas
formuladas nos três exemplos. Além de responder essas questões, a ciência
“Fenômenos de Transporte” ainda encontra inúmeras aplicações dentro da metalurgia.
Algumas delas podem ser identificadas com o auxílio da figura 1.4, onde se tem um
fluxograma geral para a produção de aço laminado em usinas integradas e semi-
integradas.
A seguir, citam-se algumas dessas aplicações:
A) Transporte de calor:
- Trocas térmicas entre gases e sólidos na sinterização e no alto-forno. Esse estudo
permite determinar a taxa de aquecimento dos sólidos, que afeta diretamente a
eficiência do processo;
- Solidificação nas etapas de lingotamento contínuo, indireto e direto. Especialmente
no lingotamento contínuo, o estudo do transporte de calor durante a solidificação é
TEMPO DEESVAZIAMENTO = ?
Aço líquido
PANELA
VÁLVULA
PANELA
VÁLVULA
Aço líquido
4
de fundamental importância, pois através dele pode-se determinar o tamanho do
molde e a produtividade do equipamento;
- Trocas térmicas entre gases e o aço nos fornos de reaquecimento e fornos-poço.
B) Transporte de massa:
Todas as etapas que envolvem reações químicas estão ligadas ao transporte de
massa e à cinética química. Pode-se citar:
- Reações de redução dos óxidos de ferro no alto-forno;
- Reações de dessulfuração na estação de dessulfuração;
- Reações de fabricação do aço, especialmente descarburação;
- Reações de refino do aço, dentre as quais destaca-se a desgaseificação.
C)Transporte de quantidade de movimento:
Toda etapa que envolve movimentação de fluidos está ligada ao transporte de
quantidade de movimento. Logo, tem-se:
- Movimento dos gases ao longo dos leitos de sinterização e alto-forno. Nesse caso,
o estudo do transporte de quantidade de movimento permite dimensionar o exaustor
e o soprador a serem usados nessas instalações;
- Injeção de gases nos processos de fabricação e refino do aço, permitindo determinar
os perfis de velocidade do aço e com isso indicar os pontos mais adequados para
injeção dos agentes de refino;
- Escoamento do aço nos processos de refino sob vácuo, particularmente no reator
RH. Nesse caso, o conhecimento do campo de velocidades do aço, e de como ele
é afetado pela configuração do sistema, pode ser útil na otimização da operação do
5
equipamento e até no seu projeto.
Além dessas, inúmeras outras aplicações podem ser citadas. Estas aplicações se
tornam cada vez mais comuns e importantes à medida que se desenvolvem as técnicas
numéricas para solução das equações que são obtidas.
Finalmente, é importante mencionar que a ciência Fenômenos de Transporte não
tem aplicações restritas à área de metalurgia. Seus conceitos são largamente aplicados
na indústria aeroespacial, química e mecânica. Merece destaque ainda a sua aplicação
na meteorologia.
Figura 1. 4 – Fluxograma geral de fabricação dos aços (Cho, 2005)
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
J.E. Cho. Some Aspects of TRIZ Applications in Steel Making Process. Third European
TRIZ Congress, 2005.
.
7
2- CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Para se desenvolver o estudo de transporte de momento, uma conceituação
básica deve ser feita. Uma análise das unidades normalmente usadas na quantificação
das grandezas envolvidas nesse estudo também se torna importante.
2.1 Conceitos
2.1.1 - Fluidos
Como no estudo de transporte de quantidade de movimento está-se envolvido
na maioria dos casos com o movimento dos fluidos, torna-se importante, inicialmente,
definir o que é um fluido. A definição de um fluido pode ser feita através de uma
propriedade comum a todos eles: um fluido não consegue preservar a sua forma a não
ser que esteja contido dentro de um recipiente. Nesse caso, o fluido assume a forma
do recipiente.
Uma definição mais rigorosa estabelece que um fluido é uma substância que se
deforma continuamente sob a ação de uma tensão de cisalhamento, independente de
seu valor. É importante observar que existem substâncias que não são fluidos e que se
deformam sob uma tensão de cisalhamento; entretanto, essa deformação não se dá de
modo contínuo. Esse é o caso dos sólidos.
Pelas definições, observa-se que fluidos são os gases e líquidos. Ainda dentre
os fluidos pode-se fazer uma distinção: fluidos compressíveis e incompressíveis.
Fluidos incompressíveis são aqueles cuja densidade se mantém constante com
8
a variação de pressão. Nas condições normais que acontecem nos problemas de
engenharia, os líquidos são considerados fluidos incompressíveis e gases são
considerados fluidos compressíveis, desde que suas densidades tenham uma variação
significativa. Entretanto, em algumas situações particulares os gases apresentam
comportamento de fluidos incompressíveis.
2.1.2 - Força e Tensão
Uma outra definição importante é a da força. O conceito de força é derivado da
segunda lei do movimento de Newton, que pode ser colocada na seguinte forma:
onde:
Σ Fx = resultante das forças atuando no corpo na direção x;
m = massa do corpo;
ax = aceleração do corpo na direção x.
Uma outra maneira de expressar essa lei é:
onde:
vx = velocidade do corpo na direção x;
t = tempo.
Deve-se observar que as equações (2.1) e (2.2) se confundem quando a massa
é constante, pois:
(2.1) a m = F xx∑
)(2.2 t
)v (m = F x
x ∂∂
∑
(2.3) t d
v = a x
x∂
9
Lembrando da definição de quantidade de movimento:
constata-se que força nada mais é do que a taxa de variação de momento com o
tempo.
As forças que atuam em um dado sistema podem ser classificadas em duas
categorias: forças de volume e forças de superfície. Forças de volume são aquelas
causadas pela gravidade ou campos eletromagnéticos e atuam no fluido como um todo.
Estas forças são normalmente expressas em termos de força por unidade de volume.
Em contraste, forças de superfície representam a ação da vizinhança no
elemento fluido sendo considerado. Estas forças são normalmente dadas em termos
de força por unidade de área.
Um conceito importante é o de tensão. Para definir essa grandeza será
considerado o elemento de volume de fluido visto na figura 2.1.
Figura 2.1 - Forças atuando na superfície de um elemento de volume
Considerando a área hachurada, ΔA e a força exercida pela vizinhança nessa
pequena área, ΔF, pode-se decompor essa em dois componentes: ΔFn é a componente
)(2.4 m.v = movimento de Quantidade x
ΔF
ΔF
ΔFn
t
10
normal à área ΔA e ΔFt é a componente tangencial à área ΔA.
As quantidades ΔFn e ΔFt são chamadas de força normal e força de
cisalhamento, respectivamente. Lembrando que tensão é definida como força por
unidade de área, pode-se considerar dois tipos de tensão de atuando no elemento
fluido:
- Tensão normal:
- Tensão de cisalhamento:
Mais especificamente, uma tensão é identificada pela direção da força e pela
orientação da área sob a qual ela atua. A figura 2.2 mostra um elemento de volume na
forma de um cubo. Nessa mesma figura são mostradas as nove possibilidades de
tensões atuando nesse elemento.
Figura 2. 2 - Tensões atuando em um elemento de volume
Os dois subscritos obedecem à seguinte convenção:
- Primeiro subscrito: direção da normal à superfície sobre a qual a força está atuando;
)(2.5 A)(
)F(Δ = n
0ΔAn Δ →
τ
)(2.6 A)(
)F(Δ = t
0ΔAt Δ →
τ
τ
τ
τ
τ
τ
ττ
τ
τ
xz
xy
xx
yy
yz
yx
zz
zy
zx
x
y
z
11
- Segundo subscrito: direção da força que produz a tensão.
Observa-se facilmente que τxx , τyy e τzz são tensões normais, ao passo que τxy ,
τxz , τyx, τyz , τzx e τzy são tensões de cisalhamento.
2.1.3 - Energia
No estudo do escoamento de fluidos, duas formas de energia são particularmente
importantes: a energia potencial e a energia cinética.
Energia potencial é a energia possuída pelo fluido em virtude de sua massa, sua
posição e o efeito da gravidade. Numericamente, a energia potencial por unidade de
volume do fluido é dada pela seguinte relação:
sendo:
Ep = energia potencial por unidade de volume do fluido;
ρ = densidade do fluido (razão entre a massa e o volume);
g = aceleração da gravidade;
z = altura do fluido, em relação a um nível arbitrário no qual a energia potencial é
tomada como zero.
Já a energia cinética é a energia que o fluido possui em virtude de seu movimento.
O seu valor, por unidade de volume do fluido, pode ser determinado através da seguinte
relação:
(2.7) z g ρ = E p
)(2.8 u ρ 21 = E 2
c
12
onde:
Ec = energia cinética por unidade de volume do fluido;
u = velocidade do fluido.
2.1.4 - Mecanismos de Transporte
Antes de se passar ao estudo das unidades envolvidas na avaliação das
grandezas que aparecem em fenômenos de transporte, uma última conceituação deve
ser feita. Ela está relacionada aos mecanismos de transporte de momento, calor e
massa.
Basicamente, existem dois mecanismos de transporte de momento, calor e massa.
Esses dois mecanismos são denominados:
- difusão;
- convecção.
Para transporte de calor existe ainda um mecanismo adicional denominado radiação.
O mecanismo de difusão depende da existência de um meio físico e ocorre devido
à presença de um gradiente de uma dada grandeza:
- velocidade no caso do transporte de quantidade de movimento;
- temperatura no caso do transporte de calor;
- concentração ou potencial químico no caso de transporte de massa, sem que ocorra
necessariamente uma movimentação macroscópica do meio.
A convecção também depende da existência de um meio e se dá como uma
conseqüência de um movimento macroscópico do fluido.
13
Para caracterizar melhor a distinção entre esses dois mecanismos, considere-se
os exemplos mostrados nas figuras 2.3 e 2.4.
Na figura 2.3, dentro da barra de metal ocorre o transporte de calor por difusão
(também denominada condução) devido ao gradiente de temperatura entre as duas
faces. Observa-se que não existe nenhum movimento macroscópico dos átomos dentro
da barra. Na superfície direita da barra, existe um ventilador soprando ar frio sobre a
barra. Nesse caso, o calor é retirado da barra através do mecanismo de convecção:
existe um movimento macroscópico do fluido (no caso ar).
Figura 2. 3 - Transporte de calor por difusão e convecção
Na figura 2.4.a tem-se um caso de transporte de massa por difusão. Carbono é
transportado de uma superfície para a outra devido ao gradiente de concentração.
Novamente, constata-se que não existe nenhum movimento macroscópico do sistema.
Na figura 2.4.b, o transporte de massa se dá por convecção. O açúcar se dissolve na
água e é transportado às diversas partes do sistema, devido à movimentação da água
decorrente da presença do agitador.
T = 200 C
T = 1000 C
o
o
Ar ventiladorT = 20 Co
Metal
14
Figura 2. 4 – Transporte de massa por difusão e convecção
2.2. Unidades
A representação quantitativa dos fenômenos de escoamento de fluidos requer o
uso de diferentes tipos de equações. Essas equações, descrevendo os fenômenos
físicos, têm que ser dimensionalmente homogêneas. Em outras palavras, todos os
termos têm que ter a mesma dimensão expressa nas mesmas unidades.
Ao longo dos anos, vários sistemas de unidades têm sido adotados pelas
comunidades científica e de engenharia, como por exemplo: sistema inglês, sistema
cgs, sistema mks.
Em 1960, um novo e racional sistema de unidades foi recomendado para uso
internacional, sendo denominado: sistema internacional de unidades. Nesse sistema,
que será adotado ao longo do texto, a unidade de massa é o quilograma, a unidade de
comprimento é o metro e a unidade de tempo é o segundo.
%C = 0,1
%C = 1
Aço
(a) Difusão
Água
Açúcar
(b) Convecção
15
A tabela 2.1 contém uma lista de unidades e dimensões das principais
quantidades envolvidas em fenômenos de transporte, bem como a natureza dessas
quantidades (escalar, vetorial ou tensorial).
Como normalmente ainda se encontra na literatura outros sistemas de unidades
que não o SI (Sistema Internacional), é importante que se saiba fazer as devidas
conversões.
A tabela 2.2 mostra alguns fatores de conversão úteis no estudo de fenômenos
de transporte.
Em relação à temperatura deve-se fazer um comentário mais detalhado. Nas
escalas relativas, tem-se:
- Temperatura em centígrados: oC
- Temperatura em graus Fahrenheit: oF
Nas escalas absolutas, o zero é fixado como sendo a temperatura mais baixa que
o homem acredita que possa existir. Tem-se:
- Centígrado: Kelvin: 0 K = - 273 oC;
- Fahrenheit: Rankine: 0 oR = - 460 oF.
É importante observar que um centígrado equivale exatamente a 1 Kelvin e que um
grau Fahrenheit é igual a 1 Rankine.
A figura 2.5 apresenta um diagrama relacionando as diferentes escalas de
temperatura.
16
Tabela 2.1 - Unidades e dimensões das principais quantidades envolvidas em
Fenômenos de Transporte.
Quantidade Dimensão Unidade (SI) Natureza
Massa M kg escalar
Comprimento L m escalar
Tempo t s escalar
Temperatura T K (oC) escalar
Aceleração L t-2 m.s-2 vetorial
Velocidade angular t-1 s-1 vetorial
Área L2 m2 escalar
Densidade M L-3 kg.m-3 escalar
Viscosidade dinâmica M L-1 t-1 kg.m-1.s-1 escalar
Viscosidade cinemática L2 t-1 m2.s-1 escalar
Energia, trabalho M L2 t-2 J (N.m) escalar
Força M L t-2 N (kg.m.s-2) vetorial
Quantidade de Movimento M L t-1 kg.m/s vetorial
Pressão M L-1 t-2 Pa (N.m-2) escalar
Tensão M L-1 t-2 Pa (N.m-2) tensorial
Potência M L2 t-3 W (N.m.s-1) escalar
Calor específico L2 t-2 T-1 J.kg-1.K-1 escalar
Velocidade L t-1 m.s-1 vetorial
Volume L3 m3 escalar
17
Tabela 2.2 - Fatores de conversão úteis no estudo de fenômenos de transporte.
Unidade Unidade do Sistema
Internacional
1 ft (pé) 0,3048 m
1 in (polegada) 0,0254 m
1 lbm (libra massa) 0,45359 kg
1 BTU (unidade térmica britânica) 1055 J
1 cal (caloria) 4,184 J
1 lbf 4,4482 N
1 kgf 9,8 N
1 hp 745,7 W
Figura 2.5- Relações entre as diferentes escalas de temperatura.
São válidas ainda as seguintes relações:
)(2.10 F 5/9 = ΔK (2.9) F 5/9 = C
o
oo
Δ
ΔΔ
KCo RoFo
0 273 32 492
100 373 212 672
180492R
18032F
100273K
100C ooo −
=−
=−
=
18
As relações acima indicam que o grau Celsius é 1,8 vezes maior que o grau
Fahrenheit. A mesma relação existe entre o Kelvin e o grau Rankine. As relações acima
são úteis quando se pensa em conversão de variações nas temperaturas.
Para conversão de temperatura, tem-se as seguintes relações:
Algumas unidades ainda recebem nomes especiais e é importante que estes
nomes sejam conhecidos, bem como os seus significados. Tem-se:
dina = g cm / s2 (força);
poundal = lbm ft / s2 (força);
Pascal = N/m2 (pressão);
erg = g cm2 / s2 (energia);
Poise = g / cm s (viscosidade).
Para se praticar a conversão de unidades, alguns exemplos serão resolvidos a
seguir.
Exemplo- Um avião viaja a uma velocidade igual a velocidade do som. Qual é a sua
velocidade, expressa em unidades do sistema internacional ? Velocidade do som = 3,96
x 106 ft/h.
Solução - Tem-se os seguintes fatores de conversão:
1 ft = 0,3048 m;
1 h = 3600 s.
(2.13) 32] - F)[T( 95 =C)T(
(2.12) 273 + C)T( = T(K)
(2.11) 460 + F)T(= R)T(
oo
o
oo
19
Usando os fatores de conversão acima, a velocidade em unidades do sistema
internacional será dada por:
Exemplo- 100 lbm de água escoam num tubo a uma velocidade de 10 ft/s. Qual a
energia cinética da água, em unidades do sistema internacional ?
Solução- A energia cinética é dada por:
Os fatores de conversão pertinentes são:
1 lbm = 0,45359 kg;
1 ft = 0,3048 m.
Logo, pelo mesmo procedimento do exemplo anterior, tem-se:
Exemplo- Qual é a energia potencial, em unidades SI, de um corpo de 30 lbm situado
a 10 ft acima do nível de referência ?
Solução - A energia potencial é dada por:
Usando os fatores de conversão já utilizados acima, tem-se:
m/s 335,3 = s)(3600m) (0,3048 10 x 3,96 =
hft 10 x 3,96 = (SI) velocidade 66
u m 21 = E 2
c
J 210,7= sm kg 210,7 = ]/s m) (0,3048 x [10 kg) (0,45359 100
21 = ) s/ ft (10 lb 100
21 = E 22
mc
zgm=E p
)m (0.3048 10 )sm (9,8 kg) (0.45359 30 = ft 10 g lb 30 = E 2mp
J 406,47 = sm kg 406,47 = E 2
2
p
20
Exemplo- Um parâmetro muito usado em transferência de calor é denominado
coeficiente de transferência de calor. Esse parâmetro é normalmente fornecido através
de correlações empíricas. Uma delas é:
onde:
h = coeficiente de transferência de calor (BTU/h ft2 oF);
G = fluxo de massa (lbm / h ft2);
D = diâmetro do tubo (ft).
Deseja-se escrever a mesma equação adotando unidades SI. Qual deve ser a nova
constante no lugar de 0,026 ?
Solução - Em unidades do sistema internacional, tem-se:
GSI ( kg / m2 s) ; DSI (m) ; hSI (J / s m2 oC)
Usando os fatores de conversão da tabela 2.2, tem-se:
Substituindo estes valores na relação, resulta que:
DG 0,026 = h
0,2
0,6
G 737,34 = ft
m )(0,3048 h
s3600 kg 0,45359
lb 1 G =G SI2
22m
SI
D 3,28 = m 0,3048
ft 1 D = D SISI
h 0,176 = F81,
C1 ft
m )(0,3048 h
s3600 J 1055
BTU 1 h = h SIo
o
2
22
SI
)D (3,28)G (737,34 0,026 = h 0,176
SI0,4
0,6SI
SI
21
Finalmente:
Logo, a nova constante é 4,8274.
Finalmente, é importante comentar a respeito da pressão e das várias maneiras
de expressar esta variável. Pressão é normalmente definida como sendo força por
unidade de área, agindo na direção normal à superfície em consideração.
Considere-se, então, a figura 2.6. Dentro do tubo de vidro há um líquido. A força
que o líquido exerce sobre a placa da base esta associada ao seu peso. Logo:
onde:
F = força exercida pelo líquido sobre a placa de base;
m = massa de líquido contido no tubo;
g = aceleração da gravidade.
Figura 2.6 - Dispositivo para definição de pressão
DG 4,8274 = h
SI0,4
0,6SI
SI
(2.14) g m = F
hLíquido
Área
Vácuo
22
A massa de líquido contido no tubo é dada por:
onde:
ρ = densidade do líquido;
V = volume de líquido no tubo.
O volume de líquido contido na coluna cilíndrica pode ser determinado por:
onde:
A = área da base da coluna de líquido;
h = altura da coluna de líquido.
A pressão exercida pelo líquido na área da base é dada por:
Combinando as relações acima, pode-se obter uma expressão genérica para
avaliação da pressão exercida pela coluna de líquido:
Considerando-se uma coluna de 0,5 m de mercúrio (ρ = 13600 kg/m3), tem-se a
seguinte pressão:
Algumas vezes, a pressão é expressa em termos da altura da coluna de líquido
(normalmente, mercúrio ou água). É comum se dizer pressão de 20 mm de mercúrio,
referindo-se à pressão exercida por uma coluna de 20 mm de mercúrio.
)(2.15 V ρ = m
)(2.16 h A = V
(2.17) A
.A.h.g A.V.g
Am.g
AF = P ρρ
===
)(2.18 h g ρ = P
aP 66640 = m) (0,5 )sm (9,8 )
mkg (13600 = P
23
23
Usando-se os resultados acima, pode-se determinar um fator de conversão de mm
de mercúrio para Pascal. Tem-se que:
Um outro ponto importante ligado à pressão está relacionado à maneira de
expressar os valores de pressão. Duas maneiras são normalmente empregadas:
pressão relativa e pressão absoluta. A diferença entre elas é vista esquematicamente
na figura 2.7.
Tem-se que a pressão absoluta é dada por:
ou, pela figura 2.7:
.
Figura 2.7 - Quadro esquemático identificando a diferença entre a pressão absoluta e
relativa
Pa 133,33 = Hg mm 1
logo
Pa 66640 = Hg mm 500
(2.19) aatmosféric pressão + relativa pressão = absoluta pressão
Gás Gás
Manômetro Manômetro
Δh1
Δh2
Vácuo
Atmosfera
Pressão relativa Pressão absoluta
Δh
Vácuo
Barômetro
Pressão atmosférica
hh h 12 Δ+Δ=Δ
24
A pressão atmosférica é determinada por um aparelho denominado barômetro.
No sistema britânico de unidades, é comum encontrar-se pressões fornecidas em
termos das seguintes unidades:
- psia (pounds per square inch absolute)= libra-força por polegada quadrada absoluta;
- psig (pounds per square inch gage) = libra-força por polegada quadrada relativa.
Essas unidades são as comumente utilizadas na especificação de calibração de pneus
Exemplo- Usando o mesmo procedimento adotado para correlacionar mm de Hg e Pa,
determine um fator de conversão de metro de coluna de água para Pascal.
Solução - Pela relação (2.18), tem-se que:
Considerando a densidade da água igual a 1000 kg/m3, tem-se:
Dessa forma, constata-se que 1 m de coluna de água equivale a 9800 Pa.
Exemplo- A pressão atmosférica ao nível do mar equivale a 760 mm Hg. Determine
esse valor em psia e em Pascal.
Solução- Pelo fator de conversão determinado anteriormente, sabe-se que:
1 mm Hg = 133,33 Pa
Logo:
760 mm Hg = 760 x 133,33 Pa = 101330 Pa = 101330 N/m2.
Usando os fatores de conversão da tabela 2.2, encontra-se que:
1 lbf = 4,4482 N
h g ρ = P
aP 9800 = m) (1 )sm (9,8 )
mkg (1000 = P 23
25
1 in = 0,0254 m
Logo:
Exemplo- Um manômetro indica que a pressão dentro de um tanque é 51 psi. A pressão
barométrica é de 28 in de Hg. Calcular a pressão absoluta de CO2 no tanque em Pa.
Solução - Para determinar a pressão absoluta basta converter os dados de pressão
relativa e barométrica para Pa e somar os resultados. A pressão relativa é de 51,0 psi.
Pelo resultado do exemplo anterior, tem-se que:
101330 Pa = 14,7 psi
Logo:
51 psi = 351553 Pa
Já a pressão barométrica (atmosférica) é de 28 in Hg. Mas:
1 in = 0,0254 m = 25,4 mm
Logo:
28 in = 711,2 mm Hg
Do exemplo anterior, sabe-se que:
1 mm Hg = 133,33 Pa
Assim, 28 in Hg = 94824,3 Pa.
Finalmente, a pressão absoluta é dada por:
pressão absoluta = (351553 + 94824,3) Pa = 446377,3 Pa
A seguir serão resolvidos mais dois exemplos relativos à conversão de unidades
e dimensões das variáveis encontradas no estudo de transporte de momento.
psia 14,7 = in
m )0,0254( N 4,4482
lb 1 101330 = Pa 101330
2
22f
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛
26
Exemplo- A densidade da água a 25oC é de 62,4 lbm/ft3. Fornecer o valor dessa
densidade em kg/m3.
Solução- Usando os fatores de conversão da tabela 2.2:
1 lbm = 0,45359 kg
1 ft = 0,3048 m.
Assim, determina-se a densidade da água nas unidades do sistema internacional:
Exemplo- Mostrar que o parâmetro P/ρ tem a dimensão de energia por unidade de
massa.
Solução- Consultando a tabela 2.1, tem-se:
pressão: M L-1 t-2 ;
densidade: M L-3 ;
energia: M L2 t-2 .
Assim,
Constata-se, portanto, que pressão/densidade tem a mesma dimensão de energia por
unidade de volume.
mkg 999,55 =
m )(0,3048ft1
lbkg 0,45359 62,4 = ρ 333
3
mOH 2 ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
tL =
MtLM =
MassaEnergia
tL =
LMtLM =
ρP =
DensidadePressão
2
22-2
2
2
3-
-2-1
27
EXERCÍCIOS
1- Calcular o volume em m3, de um cilindro com as seguintes dimensões:
- altura ou comprimento: 15 in;
- Diâmetro: 3 in.
2- Se um foguete usa 255 ft3/h de oxigênio líquido, quantos m3/s de oxigênio são
usados?
3- Calcular todas as temperaturas a partir de um dos valores dados:
Unidade a b c d e f g
oF 140 1000
oR 500 1000
K 298 1000
oC -40
4- Um manômetro indica que a pressão relativa dentro de um condensador é de 3,53
metros de coluna d’água. O barômetro indica 30,4 in de Hg. Qual a pressão absoluta
no condensador em psi e em Pa?
5- Pequenos animais (insetos e roedores) podem viver em pressões reduzidas (3,0
psia). Num teste, um manômetro de Hg foi ligado a um recipiente, conforme a figura
a seguir. A leitura do manômetro indica 25,4 in Hg e a pressão barométrica é igual
a 14, 79 psi. Poderão os insetos sobreviver sob tais condições?
28
6- Calcular a energia cinética de 1 tonelada de água movendo a 60 milhas/hora.
Fornecer a resposta em:
a- ft . lbf ;
b- ergs;
c- Joules;
d- hp . seg;
e- Watt. seg
Dado: 1 milha = 1,6 Km
7- Densidades podem ser expressas como funções lineares da temperatura. A
expressão geral tem a seguinte forma:
Sendo que:
ρ : kg/m3 ; T : oC.
Se a equação é dimensionalmente consistente, qual deve ser a unidade de A?
8- Num alto-forno, a queda de pressão do gás pode ser expressa por:
ManômetroΔh
Atmosfera
= 25,4 in Hg
Insetos
T A + ρ = ρ o
29
onde:
ΔP = queda de pressão;
H = altura do leito;
μ = viscosidade do gás;
ρ = densidade do gás;
V = velocidade do gás.
Determinar as unidades das constantes “a” e “b”, usando o sistema internacional.
9- Uma correlação empírica para determinar o coeficiente de transferência de calor de
uma placa vertical para o ar pode ser expressa por:
Onde
h = coeficiente de transferência de calor [=] Btu/h.ft2 oF
ΔT = diferença de temperatura entre a superfície da placa e o ar, [=] oF
L = comprimento da placa [=] ft.
Deseja-se escrever a mesma relação adotando unidades SI. Qual deve ser a nova
constante no lugar de 0,29?
10- Provar que os seguintes números são adimensionais:
onde:
V ρ b + V μ a = HΔP 2
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
LΔT 0,29 = h
21
νL ΔT β g = Gr
μρ V D = Re
2
3
30
D = diâmetro;
V = velocidade;
ρ = densidade;
μ = viscosidade dinâmica;
g = aceleração da gravidade;
ΔT= diferença de temperatura;
L = comprimento;
ν = viscosidade cinemática;
β = coeficiente de compressibilidade, avaliado pela seguinte relação:
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛∂∂Tρ
ρ1 - = β
P
31
3-VISCOSIDADE
Uma das principais propriedades dos fluidos, que tem grande importância no seu
escoamento, é a viscosidade. Essa propriedade será definida neste capítulo. Serão
apresentadas também maneiras de se estimar o seu valor para diferentes tipos de
fluidos de interesse na metalurgia.
3.1- Definição de Viscosidade e Lei de Newton da Viscosidade
A viscosidade é uma propriedade física que caracteriza a resistência ao
escoamento de um fluido simples. Para quantificá-la, considere-se a situação vista na
figura 3.1, onde se tem uma certa quantidade de fluido entre duas placas paralelas.
Figura 3.1 - Situação esquemática para definição de viscosidade
No tempo t = 0, a placa inferior começa a se mover a uma velocidade constante
V. A partir desse instante, o fluido que está sobre essa placa também começa a se
mover. Com o tempo, o fluido move-se até atingir o estado estacionário: a distribuição
de velocidade ao longo do fluido se torna constante com o tempo. Essa situação é
mostrada na figura 3.2, onde se tem os perfis de velocidade em função do tempo a
Placa em movimento Velocidade V Fluido
Placa estacionária
32
partir do qual a placa inferior começou a se movimentar.
Figura 3.2 - Evolução do perfil de velocidades em um sistema de placas paralelas
Quando o estado estacionário é atingido, uma força constante F é necessária para
manter o movimento da placa inferior. Essa força pode ser expressa da seguinte
maneira:
onde:
F = força para manter a placa inferior em movimento;
(3.1) LV μ =
AF
FLUIDO EM RESPOUSO
L t = 0
V
PLACA INFERIOR É COLOCADA EM MOVIMENTO
L t < 0
ESCOAMENTO NÃO ESTACIONÁRIO:VELOCIDADE VARIA COM O TEMPOL
t > 0 (pequeno)
V
DISTRIBUIÇÃO FINAL DE VELOCIDADE:ESTADO ESTACIONÁRIO
y
x
y
x
y
x
y
x
L t > 0
V
y = 0
y = L
y = 0
y = L
y = 0
y = L
y = 0
y = L
33
A = área da placa;
V = velocidade da placa inferior;
L = distância entre as placas;
μ = constante de proporcionalidade. Esta constante depende do fluido que está entre
as placas e é denominada viscosidade dinâmica ou molecular.
Observa-se que a força por unidade de área é proporcional à velocidade e
inversamente proporcional à distância entre as placas. Como a força aplicada nesse
caso é tangencial á superfície da placa, tem-se ainda que:
Na interface entre o fluido e as placas prevalece a condição de não-
escorregamento. Isso significa que o fluido que está em contato com a placa assume
a velocidade da placa. Como as placas em questão possuem velocidades diferentes,
há o aparecimento de um gradiente1 de velocidade no interior do fluido.
No estado estacionário, quando o perfil de velocidade é linear, V/L pode ser
associado ao gradiente de velocidade. No caso mostrado na figura 3.2, como o perfil
de velocidades é linear, o gradiente de velocidade pode ser determinado considerando-
se que:
- em y = 0, vx = V;
- em y = L, vx = 0.
Logo:
1 Gradiente é a variação no valor de alguma grandeza com a posição dentro do sistema .
(3.2) tocisalhamen de Tensão = área
Força=τ
)(3.3 0 - LV - 0 =
dyvd =
ΔyvΔ = velocidade de gradiente xx
34
Deve-se observar que, na avaliação do gradiente de velocidade pela equação
acima, há uma correspondência direta entre as velocidades que aparecem no
numerador da fração e as posições indicadas no denominador.
Substituindo as equações (3.2) e (3.3) em (3.1), pode-se escrever que:
A relação (3.4) é a expressão matemática da lei de Newton da viscosidade
aplicada a casos de escoamentos unidimensionais, onde se tem apenas uma
componente de velocidade (vx), variando somente em uma direção (y). Esta lei
estabelece que a tensão de cisalhamento, τyx (y é a direção da normal à superfície
sobre a qual a força atua e x é a direção da força aplicada - veja figura 3.2 ) é
proporcional ao negativo do gradiente de velocidade.
No capítulo 5 será apresentada a forma mais completa da lei de Newton da
viscosidade aplicada a escoamentos tridimensionais.
Um fluido que obedece à lei de Newton da viscosidade é denominado Newtoniano.
Os fluidos comuns na metalurgia (gases, metais e escórias líquidos) são fluidos
Newtonianos. Exemplos de fluidos não-Newtonianos são os polímeros, as partículas de
argila em suspensão na água (usadas no processo de colagem por barbotina), as
pastas e tintas. Estes fluidos não obedecem à equação (3.4). Existe um ramo da ciência
que se dedica ao estudo dos fluidos, buscando determinar equações constitutivas
(similares à equação (3.4)), que regem o seu comportamento. Esse ramo é denominado
reologia.
(3.4) dydv μ - = τ = tocisalhamen deTensão x
yx
35
Ainda em relação à equação (3.4), deve-se observar que quanto maior é a
viscosidade do fluido, μ, maior será a tensão de cisalhamento, ou a força, necessária
para manter a placa inferior em movimento.
3.1.1- Interpretação física de τyx
Na análise da equação (3.4) feita acima, interpretou-se τyx como sendo a tensão
de cisalhamento (atrito) existente devido ao gradiente de velocidade.
A expressão (3.4) pode ser interpretada de um outro modo. Na vizinhança da
superfície que está se movendo em y = 0, o fluido adquire uma certa quantidade de
movimento na direção x. Este fluido, por sua vez, passa uma certa fração desta
quantidade de movimento para a camada adjacente de fluido, fazendo com que ela
adquira também movimento na direção x. Desse modo, pode-se dizer que quantidade
de movimento da direção x é transmitido por difusão na direção y ao longo do fluido.
Como visto no Capítulo 2, para que quantidade de movimento seja transportado por
difusão é necessária a existência de um gradiente de velocidade.
τyx pode, então, ser interpretado como fluxo1 de quantidade de movimento na
direção “x” sendo transportado por difusão na direção “y”. Essa interpretação é bastante
conveniente, pois é análoga ao tratamento que será utilizado para o transporte de calor
e massa. E mais, através dessa interpretação, se torna mais fácil entender o sinal de
τyx.
1 Fluxo de alguma grandeza (quantidade de movimento, calor e massa) representa a quantidade desta
grandeza que é transportada por unidade de tempo e área. Taxa representa a quantidade transportada
por unidade de tempo.
36
Quantidade de movimento por difusão é transportado das regiões de alta para as
de baixa velocidade (similar ao que Robin Hood fazia, tirando dos ricos e passando para
os pobres). Assim, na figura 3.2, quantidade de movimento vai de y = 0 (alta velocidade)
para y = L (baixa velocidade).
É importante lembrar que velocidade é uma grandeza vetorial. Assim, uma
velocidade de - 100 m/s é menor que uma velocidade de 0,01 m/s.
Com esta nova interpretação para τyx, pode-se dizer que a lei de Newton da
viscosidade estabelece que o fluxo de quantidade de movimento por difusão é
proporcional ao negativo do gradiente de velocidade. O sinal de τyx pode ser
determinado considerando-se que o fluxo de quantidade de movimento na direção x
será positivo se ele se der no mesmo sentido do crescimento do eixo y (y é a direção
do gradiente de velocidade). Se o fluxo de quantidade de movimento for no sentido
oposto ao crescimento do eixo y, ele será negativo.
Finalmente, o sinal do gradiente de velocidade pode ser determinado de uma
maneira bastante simples. Se a velocidade vx aumenta quando a posição ao longo do
eixo y aumenta, pode-se dizer que o gradiente de velocidade é positivo. Se a velocidade
vx diminui quando a posição ao longo do eixo y aumenta, o gradiente de velocidade é
negativo.
A seguir serão resolvidos alguns exemplos de aplicação, enfatizando a
interpretação da lei de Newton da viscosidade.
37
Exemplo- Para a figura mostrada abaixo, determine:
- direção e sentido do transporte de quantidade de movimento por difusão;
- direção e sentido do fluxo de quantidade de movimento por convecção.
Aplique a lei de Newton da viscosidade à situação mostrada.
Solução - Conforme visto acima, quantidade de movimento por difusão é transportada
na direção do gradiente de velocidade. Assim, a direção do transporte de quantidade
de movimento por difusão é a direção z.
Como quantidade de movimento é transportada por difusão das regiões de alta (z = H)
para as de baixa velocidade (z = 0), tem-se que o sentido do transporte de quantidade
de movimento por difusão é o negativo de z.
Transporte de quantidade de movimento por convecção ocorre na direção do
movimento macroscópico do fluido (veja Capítulo 2), que nesse caso é a direção y.
Como as velocidades estão no mesmo sentido de crescimento do eixo y, elas são todas
positivas e, portanto, o sentido do fluxo de quantidade de movimento por convecção é
o positivo de y.
Para o sistema visto acima, a lei de Newton pode ser colocada na seguinte forma:
Para o caso em estudo, a velocidade vy aumenta quando z aumenta. Dessa forma o
y
z
z = 0
z = H
dzdv μ - = τ y
zy
38
gradiente de velocidade é positivo e o fluxo de quantidade de movimento por difusão,
τzy, é negativo, pois ocorre no sentido oposto ao crescimento do eixo z.
Exemplo - Repita o exemplo acima para a situação vista abaixo:
Solução - Nesse caso, as velocidades são negativas, pois estão no sentido oposto ao
crescimento do eixo z.
Quantidade de movimento por difusão é transportada na direção x (direção do gradiente
de velocidade), da região de altas (x = H) para as de baixa velocidade (x = 0). (Lembre-
se que velocidade é uma grandeza vetorial !). Desta forma, o sentido do transporte de
quantidade de movimento por difusão é o negativo de x.
Quantidade de movimento por convecção é transportada na direção do movimento
macroscópico do fluido, que na situação vista acima é a direção z, no sentido negativo
deste eixo.
Para este caso, a lei de Newton da viscosidade pode ser colocada na seguinte forma:
O fluxo de quantidade de movimento por difusão é negativo e o gradiente de velocidade
é positivo (vz aumenta quando x aumenta).
x
z
x = H
x = 0
dxdv μ - = τ z
xz
39
Exemplo - Repita os exemplos acima para o caso apresentado na figura a seguir.
Solução - A situação acima é um pouco mais complexa que as anteriores. Nesse caso,
há uma alteração no sentido da velocidade na região mostrada.
Considerando-se a orientação dos eixos, tem-se que a velocidade vy é positiva na
região definida por: 0 < z < b. Na região dada por b < z < H, as velocidades são
negativas. A velocidade máxima no domínio considerado ocorre em z = a. Logo, o
transporte de quantidade de movimento por difusão vai ocorrer na direção z (direção
do gradiente de velocidade), no sentido de z = a para z = 0 e de z = a para z = H. Deste
modo, tem-se que:
- Região: 0 < z < a : fluxo de quantidade de movimento por difusão é negativo -
sentido contrário ao do crescimento do eixo z;
- Região: a < z < H : fluxo de quantidade de movimento por difusão é positivo -
mesmo sentido do crescimento do eixo z.
O transporte de quantidade de movimento por convecção ocorre na direção do
deslocamento macroscópico do fluido, que nesse caso é a direção y. Tem-se que:
- Região: 0 < z < b : fluxo de quantidade de movimento por convecção é positivo -
velocidades positivas;
- Região: b < z < H : fluxo de quantidade de movimento por convecção é negativo
y
z
z = 0
z = a
z = bz = H
40
- velocidades negativas.
Para o sistema em estudo, a lei de Newton pode ser colocada na seguinte forma:
Analisando-se o sinal do gradiente de velocidade, obtém-se que:
- Região: 0 < z < a :velocidades aumentam com o aumento em z - gradiente é positivo;
- Região: a < z < H : velocidades diminuem com o aumento em z - gradiente é
negativo.
Os exemplos anteriores demonstram que os mecanismos de transporte, difusão
e convecção, podem estar presentes simultaneamente. O fato de haver transporte de
quantidade de movimento por difusão não elimina a possibilidade de existência de
transporte por convecção e vice-versa.
3.1.2- Dimensão da viscosidade
Através da lei de Newton de viscosidade expressa através da equação (3.4), pode-
se determinar a dimensão da viscosidade dinâmica ou molecular, μ. Tem-se que:
Substituindo-se na lei de Newton da viscosidade, encontra-se que:
dzdv μ - = τ y
zy
t = t L
L : ddv velocidade de Gradiente
t L
M : τ tocisalhamen de Tensão
1-
y
x
2yx
t1 μ =
t LM
2
41
Logo,:
No sistema internacional, a viscosidade é expressa em termos das seguintes
unidades:
μ : kg.m-1.s-1 = Pa s.
Uma unidade de viscosidade bastante popular é a referente ao sistema cgs
(centímetro-grama-segundo). Nesse sistema, a viscosidade é dada em g/cm s. Essa
unidade é denominada Poise, P, em homenagem ao cientista francês Poiseuille, que
desenvolveu estudos na área de mecânica dos fluidos.
O centipoise, cP, é uma unidade derivada do Poise e eqüivale a um centésimo
dessa unidade:
1 cP = 10-2 P
Uma outra grandeza de importância no estudo do transporte de quantidade de
movimento é a viscosidade cinemática, definida pela seguinte relação:
onde:
ν= viscosidade cinemática e ρ = densidade do fluido.
A viscosidade cinemática tem dimensão de M2 / t (verifique isso como um
exercício) e é conhecida também como difusividade de quantidade de movimento.
Antes de ver os métodos para estimativa de viscosidade de fluidos de interesse
na metalurgia, é importante ver a similaridade existente entre a lei de Newton da
viscosidade e leis similares que regem o transporte de calor e massa por difusão.
O transporte de calor por difusão é governado pela seguinte relação:
t L
M μ =
(3.5) ρμ = ν
)(3.6 dydT k - = qy
42
onde:
qy = fluxo de calor por difusão;
k = condutividade térmica do material ao longo do qual o calor é transferido;
T = temperatura.
Essa relação é conhecida como lei de Fourier.
Para o transporte de massa por difusão, tem-se a seguinte expressão:
sendo:
jy = fluxo de massa por difusão;
D = difusividade de massa;
C = concentração ou potencial químico da espécie química que se difunde.
Essa expressão é a representação matemática da lei Fick para difusão de massa.
É imediata a similaridade entre as leis de Newton da viscosidade, de Fourier e de
Fick. Todas elas estabelecem que o fluxo (de quantidade de movimento, calor ou
massa) é proporcional ao gradiente de uma dada variável (velocidade, temperatura e
concentração ou potencial químico). As constantes de proporcionalidade são
específicas para cada situação:
- Transporte de quantidade de movimento: μ (viscosidade);
- Transporte de calor: k (condutividade térmica);
- Transporte de massa: D (difusividade de massa).
A principal diferença entre a lei de Newton e as leis de Fourier e de Fick está
relacionada com a natureza das variáveis envolvidas. Na lei de Newton, o gradiente
(3.7) dydC D - = j y
43
envolve uma variável vetorial, que é a velocidade.
Nas leis de Fourier e Fick, o gradiente é de uma variável escalar, temperatura e
concentração (ou potencial químico), respectivamente. Como conseqüência desta
diferença, o fluxo de quantidade de movimento, τyx, é uma grandeza tensorial: um índice
está associado à direção da velocidade, e outro à direção do gradiente. Os fluxos de
calor e de massa, qy e jy, são grandezas vetoriais, e o seu índice está relacionado com
a direção do gradiente de temperatura ou concentração (ou potencial químico).
3.2- Viscosidade de Gases
No estudo da transferência de quantidade de movimento, uma das características
do fluido que deve ser conhecida é a sua viscosidade.
Um grande volume de dados de viscosidade de fluidos encontra-se tabelado na
literatura. Entretanto, nem sempre os valores de que se necessita são encontrados,
especialmente quando se lida com gases, mistura de gases e metais líquidos em altas
temperaturas.
Nesses casos, alguma alternativa para determinação da viscosidade (nem que
seja de modo aproximado) deve ser buscada.
Para gases já existem algumas teorias que permitem uma estimativa da
viscosidade. Uma dessas é a teoria cinética dos gases. Por essa teoria, considera-se
um gás ideal possuindo as seguintes características:
- As moléculas são rígidas como bolas de bilhar, possuindo um diâmetro “d” e massa
“m”;
- As moléculas não exercem forças umas sobre as outras, exceto quando elas
44
colidem;
- As colisões são perfeitamente elásticas e obedecem as leis clássicas de conservação
de quantidade de movimento e energia;
- As moléculas estão uniformemente distribuídas. Elas estão em contínuo movimento
e estão separadas por distâncias que são grandes comparadas com seu diâmetro;
- Todas as direções para a velocidade são igualmente prováveis. A magnitude da
velocidade de uma molécula pode possuir qualquer valor entre zero e infinito.
Assumindo que as moléculas possuem uma distribuição de velocidade dada pela
equação de Maxwell (isto é, a energia térmica do gás é dada pela energia cinética de
todas as moléculas que se movem) e através de um longo desenvolvimento (Geiger e
Poirier, 1980) pode-se determinar que a viscosidade é dada pela seguinte expressão:
onde:
μ = viscosidade do gás em Poise (g/cm s);
m = massa de uma molécula (g);
KB = constante de Boltzmann (1,38 x 10-16 erg/molécula K);
T = temperatura (K);
d = diâmetro de uma molécula (cm).
(Verifique a consistência das unidades da equação acima).
Uma conclusão importante que pode ser obtida através da equação acima é a de
que a viscosidade de um gás é independente da pressão e depende apenas da
temperatura. Esta conclusão está em boa concordância com dados experimentais até
pressões de dez atmosferas. Entretanto, a dependência com a temperatura está apenas
)(3.8 d
T K m
π 32 = μ
2B
3/2
45
qualitativamente correta: a viscosidade de um gás cresce com a temperatura.
Quantitativamente, dados reais obtidos para vários gases indicam que μ varia com Tn,
onde “n” está entre 0,6 e 1,0, ao invés de 0,5 como é indicado pela equação (3.8).
Uma teoria mais elaborada substituiu o modelo de bolas de bilhar por um modelo
mais realístico. Este novo modelo considera um campo de forças, englobando forças
de atração e repulsão entre as moléculas. Esta teoria faz uso da energia potencial de
interação entre um par de moléculas no gás. Esta função, normalmente denominada
potencial Lennard-Jones, mostra um comportamento de interação molecular: fraca
atração para grandes separações e forte repulsão para pequenas separações. A figura
3.3 explicita este comportamento.
A função potencial, ψ(r), é descrita pela seguinte relação:
onde:
ε = energia característica (erg/molécula);
σ = diâmetro de colisão (Angstrom).
A posição de equilíbrio das moléculas é dada pelo ponto δ, onde a energia
potencial é mínima e vale -ε. O parâmetro ε é chamado de energia característica.
(3.9) rσ -
rσ ε 4 = Ψ(r)
612
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
46
Figura 3.3 – Função potencial de Lennard-Jones, descrevendo a interação de duas
moléculas não polares (Jastrzebski, 1976).
Usando o potencial Lennard-Jones, Chapman e Enskog desenvolveram a seguinte
equação para cálculo de viscosidade de gases não polares a baixas pressões:
)(3.10 Ω σ
T M 102,6693x = μμ
25-
0
Atração
Repulsão
δ Distância interatômica, r
Força, F
0
Atração
Repulsão
σ δ
ε
Energia potencial, Ψ(r)
Rep
ulsã
oAt
raçã
o
Distância interatômica, r
Rep
ulsã
oAt
raçã
o
47
Sendo que:
μ = viscosidade do gás (Poise);
σ = diâmetro de colisão da molécula (Angstrom);
M = massa molecular do gás (g/mol);
Ωμ = integral de colisão da teoria de Chapman-Enskog;
T = temperatura (K).
A constante da equação (3.10) já incorpora fatores de conversão para que o
resultado de viscosidade seja obtido em Poise, quando os valores de σ, M e Ωμ são
fornecidos nas unidades listadas acima.
A integral de colisão é função do parâmetro adimensional de temperatura KB . T/ε.
Para usar a equação (3.10), são necessários os valores de σ e ε/KB. Esses parâmetros
são conhecidos para várias substâncias, sendo que uma lista parcial é fornecida na
tabela 3.1.
Para determinar a integral de colisão, pode-se usar a tabela 3.2. Se o gás fosse
composto de esferas rígidas de diâmetro σ (ao invés de moléculas reais com forças de
atração e repulsão), o parâmetro Ωμ seria igual a um. Desse modo, pode-se dizer que
a função Ωμ quantifica o desvio do comportamento de esferas rígidas.
A relação (3.10) é, então, útil para determinar a viscosidade de gases não polares
a baixas densidades. Entretanto, ela não pode ser aplicada com confiança para gases
constituídos por moléculas polares ou muito grandes, em especial para H2O, NH3,
CH3OH e NOCl.
Uma alternativa ao uso da tabela 3.2 consiste no uso de correlações matemáticas
obtidas a partir de ajuste de função aos dados desta tabela. Desta forma, evita-se
48
interpolações, uma vez que os valores do parâmetro ε/KB T nem sempre são os
indicados nesta tabela. As correlações obtidas através deste ajuste são:
- para KB T/ ε < 2:
- para KB T/ ε > 2:
Uma limitação da equação (3.10) é que ela fornece resultados bons apenas para
temperaturas acima de 100 K. Para a metalurgia, isso não representa uma restrição
importante, pois na maioria dos casos de lida com temperaturas bem acima deste valor.
Em metalurgia, é bastante comum se ter misturas de gases. Para estas misturas,
a viscosidade pode ser estimada a partir da seguinte relação:
onde:
i = número de componentes da mistura;
xi = fração molar do componente i na mistura;
μi = viscosidade do componente i na mistura;
Mi = massa molecular do gás i.
)(3.11 ε
T K log 0,4662 - 0,2071 = Ω log Bμ ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
(3.12) ε
T K log 0,1497 - 0,0689 = Ω log Bμ ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
)(3.13 M x
M μ x = μ
ii
n
=1i
iii
n
=1iMISTURA
∑
∑
49
Tabela 3.1- Parâmetros de Lennard-Jones ((Bird, Stewart e Lighfoot, 1960; Geiger e
Poirier, 1980), Cussler (1997))
Substância )A(o
σ εTk B
Substância )A(o
σ εTk B
Ar 3,542 93,3 CH3COCH3 4,600 560,2
He 2,551 10,22 CH3COOCH3 4,936 469,8Kr 3,655 178,9 n-C4HIO 4,687 531,4
Ne 2,820 32,8 Isso-C4H1O 5,278 330,1
Xe 4,047 231,0 C2H5OC2H5 5,678 313,8
Ar 3,711 78,6 CH3COOC2H5 5,205 521,3
Br2 4,296 507,9 n-C5H12 5,784 341,1
CCl4 5,947 322,7 C(CH3)4 6,464 193,4
CF4 4,662 134,0 C6H6 5,349 412,3
CHCl3 5,389 340,2 C6H12 6,182 297,1
CH2Cl2 4,898 356,3 n-C6H14 5,949 399,3
CH3Br 4,118 449,2 Cl2 4,217 316,0
CH3Cl 4,182 350 F2 3,357 112,6
CH30H 3,626 481,8 HBr 3,353 449
CH4 3,758 148,6 HCN 3,630 569,1CO 3,690 91,7 HCl 3,339 344,7
CO2 3,941 195,2 HF 3,148 330
CS2 4,483 467 HI 4,211 288,7
C2H2 4,033 231,8 H2 2,827 59,7
C2H4 4,163 224,7 H2O 2,641 809,1
C2H6 4,443 215,7 H202 4,196 289,3
C2H5CI 4,898 300 H2S 3,623 301,1
C2H5OH 4,530 362,6 Hg 2,969 750
CH3OCH3 4,307 395,0 I2 5,60 474,2
CH2CHCH3 4,678 298,9 NH3 2,900 558,.3
CH3CCH 4,761 251,8 NO 3,492 116,7
C3H6 4,807 248,9 N2 3,98 71,4
C3H8 5,118 237,1 N20 3,828 232,4
n-C3H7OH 4,549 576,7 O2 3,467 106,7
CH3COCH3 4,600 560,2 PH3 3,981 251,.5
S02 4,112 335,4
50
Tabela 3.2- Valores da Integral de Colisão, baseados no potencial de Lennard-Jones
(Bird, Stewart e Lighfoot, 1960; Geiger e Poirier, 1980)
εTk B
Ω εTk B
Ω εTk B
Ω εTk B
Ω0,30 2,785 1,30 1,399 2,6 1,081 4,6 0,94220,35 2,628 1,35 1,375 2,7 1,069 4,7 0,93820,40 2,492 1,40 1,353 2,8 1,058 4,8 0,93430,45 2,368 1,45 1,333 2,9 1,048 4,9 0,93050,50 2,257 1,50 1,314 3,0 1,039 5,0 0,92690,55 2,156 1,55 1,296 3,1 1,030 6 0,89630,60 2,065 1,60 1,279 3,2 1,022 7 0,87270,65 1,982 1,65 1,264 3,3 1,014 8 0,85380,70 1,908 1,70 1,248 3,4 1,007 9 0,83790,75 1,841 1,75 1,234 3,5 0,9999 10 0,82420,80 1,780 1,80 1,221 3,6 0,9932 20 0,74320,85 1,725 1,85 1,209 3,7 0,9870 30 0,70050,90 1,675 1,90 1,197 3,8 0,9811 40 0,67180,95 1,629 1,95 1,186 3,9 0,9755 50 0,65041,00 1,587 2,00 1,175 4,0 0,9700 60 0,63351,05 1,549 2,1 1,156 4,1 0,9649 70 0,61941,10 1,514 2,2 1,138 4,2 0,9600 80 0,60761,15 1,482 2,3 1,122 4,3 0,9553 90 0,59731,20 1,452 2,4 1,107 4,4 0,9507 100 0,58821,25 1,424 2,5 1,093 4,5 0,9464 200 0,5320
400 0,4811
Os cálculos de viscosidades de gases puros e misturas de gases geralmente
encontrados em metalurgia podem ser realizados através da planilha viscosidade-
gases.xls (CD que acompanha este livro).
Usando a planilha acima, resolva os exemplos apresentados abaixo.
Exemplo- Avalie a viscosidade do hidrogênio a 1 atm de pressão e a 1000 K.
Solução- Usando a planilha acima, obtém-se:
Ωμ = 0,7183
Logo:
51
μ = 1,94 x 10-4 P.
Exemplo- Calcule a viscosidade do CO2 a 200, 300 e 800 K. Compare com os seguintes
dados experimentais:
200 K: μ = 1,015 x 10-4 P;
300 K: μ = 1,495 x 10-4 P.
Solução- Para as temperaturas de 200, 300 e 800 K tem-se, respectivamente:
Ωμ (200 K) = 1,5729
Ωμ (300 K) = 1,302
Ωμ (800 K) = 0,945
As viscosidades obtidas são:
(200 K) = 9,971 x 10-5 P;
(300 K) = 1,475 x 10-4 P;
(800 K) = 3,319 x 10-4 P;
Exemplo- Estime a viscosidade de um gás de alto-forno com a seguinte composição:
N2 = 50 % CO = 24 % CO2 = 22 % H2 = 4 %;
a uma temperatura de 100 oC.
Solução- Pelos resultados da planilha, tem-se
μ (N2) = 2,121 x 10-4 P;
μ (CO) = 2,169 x 10-4 P;
μ (CO2) = 1,821 x 10-4 P;
μ (H2) = 1,035 x 10-4 P;
A viscosidade da mistura é, então:
52
μ (mistura) = 2,04 x 10-4 P;
3.3- Viscosidade de Líquidos
Ao se lidar com o transporte de quantidade de movimento em líquidos, usualmente
defronta-se com o problema de que a estrutura dos líquidos é bem menos conhecida
que a estrutura de gases e sólidos. Entretanto, existe mais similaridade entre sólidos
e líquidos que entre líquidos e gases. Essa afirmação é baseada na pequena variação
de volume que ocorre quando se passa de sólido para líquido (3 a 5% no caso de
metais) e no pequeno valor do calor de fusão quando este é comparado com o calor de
vaporização.
Dados de raios-X mostram também que nos líquidos existe uma organização a
curta distância.
Várias teorias têm sido formuladas para explicar algumas das propriedades dos
líquidos. Contudo, todas elas apresentam problemas.
Uma dessas teorias propõe a seguinte relação para cálculo de viscosidade de
líquidos:
onde:
μ = viscosidade do líquido (Poise);
A = constante (Poise)
T = temperatura absoluta;
R = constante dos gases (cal/mol . K);
(3.14) T R
GΔ exp A = μ vis ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
53
ΔGvis = energia de ativação da viscosidade (cal/mol).
A constante A é objeto de muitos estudos teóricos desenvolvidos sobre a estrutura
dos líquidos. Nenhuma dessas teorias fornece valores satisfatórios. A teoria que fornece
os melhores valores é a de Eyring, que propõe a seguinte equação para avaliação da
constante A:
onde:
No = número de Avogadro;
h = constante de Planck (6,624 x 10-27 erg . s);
Vm = volume molar(cm3/mol).
Para líquidos que apresentam interações apenas do tipo van der Waals a energia
de ativação do fluxo viscoso pode ser obtida da energia de vaporização:
sendo:
ΔEvap= energia de vaporização (cal/mol).
Essa energia de vaporização pode ser relacionada com a entalpia de vaporização
através da seguinte expressão:
onde:
ΔHvap = entalpia de vaporização (cal . mol).
Tb = temperatura de ebulição (K)
Infelizmente as relações (3.16) e (3.17) não são válidas para metais líquidos e não
)(3.15 V
h N = Am
o
)(3.16 EΔ 0,41 = GΔ vapvis
)(3.17 T R - HΔ = EΔ bvapvap
54
devem ser usadas, a não ser como último recurso.
É surpreendente como líquidos completamente diferentes, em termos de ligação,
apresentam viscosidade com valores próximos.
A tabela 3.3 mostra faixas de valores de viscosidade para diversos líquidos.
Tabela 3.3- Viscosidade para diferentes tipos de líquidos (Geiger e Poirier, 1980).
Faixa de viscosidade
(Poise)
Materiais
1 - 100 Escórias: CaO - SiO2 - Al2O3
50 % NaOH - 50 % H2O
Óleos
0,1 - 1,0 H2SO4
0,01 - 0,1 Sais fundidos
Metais pesados (Pb, Au, Zn)
Metais alcalinos (Ca, Mg)
Metais de transição (Fe, Ni, Co)
Água (20 oC)
Querosene (20 oC)
0,001 - 0,01 Acetonas
3.3.1. Viscosidade de metais líquidos
As interações existentes nos metais líquidos não são do tipo van der Waals e,
desse modo, as relações de (3.14) a (3.17) não se aplicam a esses materiais.
55
Chapman desenvolveu uma teoria considerando as interações entre os átomos
nos metais e obteve uma relação entre três grandezas adimensionais:
- μ*: viscosidade reduzida;
- T*: temperatura reduzida;
- V*: volume reduzido.
Essas grandezas são definidas através das seguintes expressões:
onde:
δ = distância interatômica no cristal a 0K (cm);
ε = parâmetro de energia, característica do metal (erg);
No= número de Avogadro;
M = massa atômica (g/mol);
R = constante dos gases (8,314 x 107 g . cm2 / s2 . mol . K);
T = temperatura absoluta (K);
KB= constante de Boltzmann; 1,38 x 10-16 erg/K;
n = número de átomos por unidade de volume (átomos/cm3).
O relacionamento entre os três parâmetros acima é mostrado na figura 3.4.
(3.18) T R M
N δ μ = μ o2
*
)(3.19 ε
T K = T B*
(3.20) δ n1 = V 3
*
56
Figura 3.4 - Curva para a estimativa da viscosidade de metais líquidos (Geiger e Poirier,
1980)
A relação vista graficamente na figura 3.4 pode ser expressa através do seguinte
polinômio:
A tabela 3.4 fornece valores de δ e ε/KB para diversos metais. Os valores de ε/KB
quando colocados como função da temperatura se ajustam bastante bem a uma curva
do tipo:
onde:
Tf = temperatura de fusão do metal (K).
0 1 2 3 4 5 6 70
1
2
3
4
8
5
6
7
1/T*
μ*V*2
(3.21) T1 0,0156 +
T1 0,0262 -
T1 0,4488 + 0,0088- = V μ *
3
*
2
*2** ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
(3.22) T 5,20 = Kε
fB
57
Tabela 3.4- Valores dos parâmetros δ e ε/KB para diversos metais (Geiger e Poirier,
1980).
Metais δ (Angstron) ε/KB (K)
Na
K
Li
Mg
Al
Ca
Fe
Co
Ni
Cu
Zn
Rb
Ag
Cd
In
Sn
Au
Hg
Pb
Pu
3,84
4,76
3,14
3,20
2,86
4,02
2,52
2,32
2,50
2,56
2,74
5,04
2,88
3,04
3,14
3,16
2,88
3,10
3,50
3,10
1970
1760
2350
4300
4250
5250
10900
9550
9750
6600
4700
1600
6400
3300
2500
2650
6750
1250
2800
5550
58
A planilha viscosidade-metais.xls, contida no CD que acompanha o livro, permite
que se faça a estimativa de valores de viscosidade de metais líquidos, bastando digitar
o metal (símbolo), a sua densidade e a temperatura de interesse. Os exemplos a seguir
demonstram o uso da planilha e o cálculo de viscosidade de metais líquidos usando as
relações acima.
Exemplo- Estime a viscosidade do titânio líquido 1850 oC. Os seguintes dados estão
disponíveis:
Tf = 1800 oC M = 47,9 g/mol densidade = 4,5 g/cm3 δ = 2,89 A.
Solução- Usando a equação (3.22), determina-se ε/KB :
A temperatura reduzida é:
Pela equação (3.21), encontra-se que:
Resta ainda determinar o valor de V*. Uma vez que:
Logo:
Assim:
10779,6 = 273) + (1800 5,20 = Kε
B
5,0787 = T1 0,1969 =
10779,6273 + 1850 = T *
* ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
3,6383 = V μ *2*
cm / átomos 10 x 5,6584 = 47,94,5 10 x 6,023 =
Mρ N = n 32223
o
0,7322 = )10 x (2,89 )10 x (5,6584
1 = δ n1 = V 38-223
*
59
A partir da relação (3.18), pode-se escrever:
Exemplo- Avalie a viscosidade do ferro líquido a 1873 K. Densidade do ferro: 7 g/cm3.
Solução- Usando a planilha, obtém-se:
T* = 0,1718;
n = 7,549 x 1022;
V* = 0,8278;
μ* = 6,9795.
E, finalmente:
μ = 5,38 cP
Para o caso de ligas, não há modelos de aplicação geral. É comum representar estes
dados de viscosidade, superpondo-se linhas de isoviscosidade ao diagrama de fase da
liga. Exemplo deste tipo de abordagem é apresentado na figura 3.5.
6,7864 = (0,7322)3,6383 =
V3,6383 = μ 22*
*
cP 3,92 = P 0,0392 = )10 x (6,023 )10 x (2,89
(2123) )10 x (8,314 (47,9) 6,7864 =
N δT R M μ = μ
2328-
7
o2
*
60
Figura 3.5 – Viscosidade da liga ferro-carbono (Geiger e Poirier, 1980)
3.3.2- Viscosidade de escórias
Um outro material que freqüentemente aparece nos processos metalúrgicos e que
apresenta bastante interesse é a escória.
Para se ter uma idéia da importância da viscosidade da escória, pode-se citar o
exemplo do alto-forno. Neste reator, uma escória pouco viscosa (ou muito fluida) é
essencial para que se consiga uma boa produtividade e um ferro gusa menos
contaminado de elementos indesejáveis. Desse modo, torna-se importante estudar a
determinação de viscosidade de escórias, especialmente daquelas que são formadas
nos processos siderúrgicos.
A viscosidade é uma propriedade intrínseca de uma determinada escória, sendo
que o conhecimento de sua estrutura ou do arranjo de suas moléculas ajuda no
61
entendimento dos fatores que afetam a viscosidade. Em geral, escórias são formadas
por cátions e ânions resultantes da ionização de óxidos básicos e ácidos em solução
líquida. Pode-se considerar que óxidos ácidos são aqueles que, quando dissolvidos na
escória, adquirem íons de oxigênio adicionais formando complexos aniônicos, enquanto
os óxidos básicos fornecem os íons oxigênio e o seu cátion possa a se mover
livremente através da estrutura iônica da escória. Os óxidos ácidos mais comuns são
SiO2 e Al2O3, que se comportam de maneira similar. Os óxidos básicos mais
importantes são o CaO e o MgO.
A estrutura da sílica líquida é similar à da sílica sólida, onde cada íon Si+4
compartilha um elétron com cada um dos quatro íons O-2, que formam um tetraedro em
torno do íon Si+4. No estado sólido, a eletro-neutralidade é mantida com cada íon O-2
compartilhando seu outro elétron entre dois tetraedros ou íons Si+4. A estrutura é um
arranjo cristalino regular de grupos SiO4-4 , como é mostrado na figura 3.6.
Quando a sílica é fundida, o arranjo continua, mas não em toda a sua extensão
sendo que algumas ligações são rompidas, conforme se vê na figura 3.6b. Mesmo
assim, continuam existindo muitas ligações Si-O e a viscosidade do líquido SiO2 é muito
elevada (1,5 x 105 Poise a 1940ºC).
62
Figura 3.6 - Estrutura da sílica sólida e líquida (Geiger e Poirier, 1980)
Quando CaO, ou outro óxido bivalente similar é dissolvido na sílica líquida, os íons
Ca+2 são acomodados nos interstícios da estrutura da sílica e os íons O-2 entram dentro
da rede cristalina, conforme se vê na figura 3.7. Cada íon O-2 do óxido CaO causa a
separação de dois tetraedros, pois com a presença de mais um íon O-2 cada tetraedro
pode ter um oxigênio que seja somente dele. Assim o aumento da dissolução de CaO
resulta numa quebra progressiva da rede tridimensional original, implicando numa
queda acentuada da viscosidade da solução, conforme se vê na figura 3.8.
Essa figura mostra também que o aumento da temperatura contribui para uma
maior quebra de ligações e consequentemente diminui a viscosidade da solução
63
Figura 3.7- Efeito da dissolução da CaO na estrutura da sílica líquida (Geiger e Poirier,
1980)
Figura 3.8 - Viscosidade da solução CaO-SiO2 (Geiger e Poirier, 1980)
64
A figura 3.8 não pode ser aplicada diretamente para escórias de alto-forno devido
à presença de outros óxidos importantes como o Al2O3 e o MgO. A seguir serão vistos
alguns métodos usados na determinação da viscosidade das escórias.
A- Diagrama de isoviscosidade
Na literatura (Carvalho et alii, 1977; e Slag Atlas, 1981), há uma série de
diagramas ternários e pseudo-ternários, para vários sistemas e temperaturas, que
permitem a obtenção de valores de viscosidade para diversos tipos de escória.
Para se usar esses diagramas é necessário saber marcar o ponto referente à
composição da escória. Através da figura 3.9, pode-se ver como assinalar o ponto
referente a uma dada composição da escória.
Figura 3.9 - Diagrama ternário usado na locação de pontos de composição
65
O ponto A representa o componente A puro e qualquer ponto na linha AC
representa uma mistura de A e C sem o componente B. As linhas paralelas ao lado
oposto do vértice A representam linhas de igual concentração de A, sendo que quanto
mais próxima elas estiverem desse vértice, maior será o teor de A .Nesse diagrama,
tem-se que os pontos 1 e 2 apresentam a seguinte composição:
- ponto 1: A = 40%; B = 20%; C = 40%
- ponto 2: A = 30%; B = 40%; C = 30%
É importante salientar que a soma dos teores dos componentes da escória, que estão
incluídos no diagrama, deve ser igual a 100.
A figura 3.10 mostra um diagrama de isoviscosidade adequado para determinação
de viscosidade de escórias de altos-fornos.
Figura 3.10 - Diagrama de isoviscosidade para o sistema CaO-SiO2-Al2O3-MgO.
Temperatura de 1500ºC. Teor de sílica - 35%. (Carvalho et alii, 1977)
66
B) Método da Sílica Equivalente
Um outro método usado para determinação de viscosidade de escórias é o da
sílica equivalente. A base para o desenvolvimento desse método é discutida a seguir.
A alumina (Al2O3), quando dissolvida na escória, forma ânions (AlO3)-3 e o seu
comportamento com relação à viscosidade é similar ao da sílica. Todavia, a base é
(AlO3)-3 (diferente de SiO4-4) e dois íons Al+3 podem substituir dois íons Si+4 somente se
um íon Ca+2 está disponível para manter a eletroneutralidade. Portanto, com relação à
viscosidade, a alumina é equivalente a uma certa quantidade de sílica Xa (denominada
sílica equivalente), que depende da relação Al2O3/CaO e da quantidade total de Al2O3,
como mostra a figura 3.11. Os dados de sílica equivalente foram correlacionados com
a viscosidade para o sistema CaO - MgO - Al2O3 - SiO2 para várias temperaturas, como
mostra a figura 3.12. Para se calcular a viscosidade de uma escória, primeiro deve-se
converter a porcentagem dos constituintes para fração molar e determinar Xa (sílica
equivalente) pela figura 3.11. O MgO é equivalente ao CaO, até cerca de 10% de MgO.
O FeO e o MnO também são equivalentes ao CaO até 5%. Todas essas frações
molares devem ser somadas para se obter XCaO. Passa-se, então, à figura 3.12 e
obtém-se a viscosidade da escória, especificando-se a temperatura desejada.
C) Fórmula de Viscosidade
Outra possibilidade que pode ser adotada para cálculo de viscosidade de escórias
é o uso da equação de viscosidade, que é dada pela seguinte expressão (Castro et alii,
1989):
(3.23) )OAl (% 0,008013 - MgO)(% 0,11818 - CaO) (% 0,09633 - T
25144 + 10,3469- = μ ln 32
67
onde:
μ = viscosidade da escória (kgm-1. s-1);
T = temperatura (K);
% i = porcentagem em massa do óxido “i” na escória.
Para se poder aplicar a equação (3.23), o teor de SiO2 deve estar entre 35 e 45%.
Figura 3.11 – Sílica equivalente à alumina , para várias frações molares de alumina e
para várias relações Al2O3/CaO (Geiger e Poirier, 1980).
68
Figura 3.12 - Viscosidade do sistema líquido CaO-SiO2-Al2O3-MgO (Geiger e Poirier,
1980)
69
Exemplo- Estimar a viscosidade de uma escória com a seguinte composição:
CaO = 41,46 % SiO2 = 35 % MgO = 5,62 % Al2O3 = 17,92 %.
Temperatura = 1500oC.
Usar os três métodos apresentados acima.
Solução - Diagrama de isoviscosidade. A temperatura e o teor de SiO2 estão dentro do
limite de validade da figura 3.10. Logo, marcando-se o ponto referente à composição
da escória nesse diagrama, pode-se determinar a viscosidade da escória. O resultado
é visto no diagrama ternário abaixo. O valor obtido é de 4 P.
Para aplicar o método da sílica equivalente, calcula-se, inicialmente, a fração molar dos
óxidos na escória. Tem-se:
XCaO = 0,4516
XSiO2 = 0,3558
XAl2O3 = 0,1074
XMgO = 0,0852.
70
A relação XAl2O3 / XcaO será dada por:
Tomando a curva correspondente a 0,20, obtém-se uma sílica equivalente de: Xa =
0,1654. (Observe a figura a seguir).
O valor de (XSiO2 + Xa) é, então: 0,3558 + 0,1654 = 0,5212. Este valor é lançado no
gráfico da figura 3.12, para a temperatura de 1500 oC, obtendo-se uma viscosidade de
4,03 P (log μ = 0,605), conforme mostrado na figura a seguir.
0,2001 = 0,0852 + 0,4516
0,1074 = X + X
XMgOCaO
OAl 32
X = 0,1654 a
71
Finalmente, usa-se a fórmula de viscosidade, dada pela equação (3.23). Substituindo
valores, obtém-se:
Observa-se que os três métodos forneceram resultados bem semelhantes.
P 3,802 = sm
kg 0,3802 = μ
0,9670 - = (17,92) 0,0080126 - (5,62) 0,118176 - (41,46) 0,096334 - 177325144 + 10,3469- = μ ln
log μ = 0,605
72
Vários modelos mais elaborados têm sido desenvolvidos para previsão de valores
de viscosidades de diferentes tipos de escórias. Os métodos apresentados acima
representam apenas algumas das alternativas que se tem para avaliação de
viscosidades deste tipo de fluido, de grande importância na metalurgia.
73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
E. L. Cussler. Diffusion – Mass Transfer in Fluid Systems. Cambridge University Press,
1997, 105-107 p.
G.H. Geiger; D.R. Poirier. Transport Phenomena in Metallurgy. Addison-Wesley
Publishing Company, Massachusetts, 1980, 616 p.
J.L.R. Carvalho et alii. Dados Termodinâmicos para Metalurgistas. Edições Engenharia,
Belo Horizonte, 1977, 394 p.
L.F.A. Castro et alii. Tecnologia de Fabricação do Gusa Líquido em Altos-fornos.
Volume 9 - Escórias de Alto-forno, 1989.
Slag Atlas, Verlag StahlEisen M.B.H., Dusseldorf, 1981.
Z.D. Jastrzebski. The Nature and Properties of Engineering Materials, John Wiley, New
York, 1976.
74
EXERCÍCIOS
1- O perfil de velocidade de um fluido em um dado sistema é expresso por:
Faça um esboço desse perfil de velocidades (y varia entre 0 e 0,5 m).
Usando a equação do perfil de velocidade, determinar:
- direção e sentido do fluxo de quantidade de movimento por convecção;
- direção e sentido do fluxo de quantidade de movimento por difusão;
- fluxo de quantidade de movimento por difusão em y=0 m;
- tensão de cisalhamento em y = 0 e y=0,5 m;
O fluido apresenta as seguintes características:
ρfluido = 3 g/cm3 μfluido = 2 x 10-3 lbm/ft.s
2- Para a figura a seguir, indicar a direção e sentido do transporte de quantidade de
movimento por convecção e difusão. Enuncie a lei de Newton da viscosidade para
o caso mostrado. Explicar todas as respostas dadas.
)m[=] y m/s,[=] v( 1 -y 6,25 + y 6,25 - = v x2
x
Placa superior
Placa inferior
zz = a
z = b
z = 0
z = L
x
75
3- Calcular as viscosidades do CO2 e N2 no intervalo de 600 a 2000K com incrementos
de 200K. Fazer um gráfico de μN2 e μCO2 versus temperatura (K).
4- Determinar as viscosidades de oxigênio, nitrogênio e metano gasosos a 20 oC e
pressão atmosférica. Fornecer o resultado em centipoise. Comparar com os dados
experimentais abaixo:
μN2 = 0,0175 cP;
μO2 = 0,0203 cP;
μCH4 = 0,0109 cP.
5- a) Calcular a viscosidade do ar a 20º C, considerando-o como uma mistura de 79%
de N2 e 21% de O2.
b)Comparar o resultado com o valor experimental: 0,01813 cP.
6- Determinar a viscosidade do cromo líquido a 2000º C. Os dados são:
- ponto de fusão: 1898º C;
- massa atômica: 52,01 g/mol;
- densidade: 7,1 g/cm3;
- δ: 2,72 A.
7- Estimar a viscosidade do titânio líquido a 1900ºC. Os seguintes dados são
disponíveis:
- temperatura de fusão: 1800ºC;
- massa atômica: 47,9 g/mol;
76
- densidade: 4,50 g/cm3;
- δ: 2,89 A.
8- Avaliar a viscosidade do ferro a 1800º C. Dados:
- temperatura de fusão: 1536ºC
- massa atômica: 55,85 g/mol
- densidade: 7 g/cm3.
9- Estimar a viscosidade da seguinte escória:
% SiO2 = 45
% CaO = 35
% Al2O3 = 20
a 1500ºC. Usar os três métodos discutidos e comparar os resultados.
10- Calcular a viscosidade da seguinte escória de alto-forno:
% SiO2 = 40
% CaO = 35
% Al2O3 = 18
% MgO = 7
a 1400ºC.
Comparar os resultados obtidos pelos diferentes métodos de cálculo.
77
4 - ESCOAMENTO LAMINAR E BALANÇO DE QUANTIDADE
DE MOVIMENTO
Neste capítulo será desenvolvido o cálculo da distribuição de velocidade de um
fluido que escoa através de sistemas de geometria simples, em fluxo laminar. Para tal,
serão usados os conceitos de viscosidade e de balanço de massa e quantidade de
movimento. Inicialmente, será feita a distinção entre escoamento laminar e turbulento.
4.1. Escoamento laminar e turbulento
Quando um fluido se move através de um sistema, dois regimes diferentes de
escoamento podem ocorrer. A experiência feita por Reynolds em 1883 demonstra esses
dois tipos de escoamento.
Considere-se, inicialmente, um tubo transparente com água escoando através
dele. Um jato filiforme de tinta é injetado paralelo ao curso do escoamento da água.
Para baixas velocidades do fluido, a tinta escoará em linha reta, sem se misturar com
as camadas adjacentes de água, conforme mostrado na figura 4.1a. Esse tipo de
escoamento é chamado de laminar.
À medida que a velocidade da água é aumentada, atinge-se a situação mostrada
na figura 4.1b. A partir de um certo ponto, a água fica toda colorida pela tinta. Esse é
o escoamento turbulento.
78
Figura 4.1 – Vista esquemática da experiência de Reynolds
O significado do escoamento laminar é que o movimento do fluido é feito através
de camadas infinitesimais de fluido que se movem em trajetórias bem definidas. No
escoamento turbulento, o movimento das partículas do fluido é irregular e as
velocidades são variáveis com o tempo, conforme se observa na figura 4.2, obtida
experimentalmente usando um anemômetro a laser.
Figura 4.2 - Medidas de velocidade no centro de um tubo de 22 mm de diâmetro interno.
Número de Reynolds = 6500 (Guthrie, 1992)
INJEÇÃO DE CORANTE
INJEÇÃO DE CORANTE
a- Escoamento laminar
b- Escoamento turbulento
79
O ponto onde ocorre a transição de um regime de escoamento para o outro é
determinado experimentalmente e varia de acordo com a configuração do sistema.
Normalmente, o critério para se saber o tipo de escoamento que prevalece no fluido
é estipulado através de uma grandeza adimensional denominada número de Reynolds.
Esse número é definido genericamente através da seguinte relação:
onde:
L = dimensão característica (definida de acordo com a configuração do sistema);
V = velocidade média do fluido ao longo da seção transversal do tubo;
ρ = densidade do fluido;
μ= viscosidade dinâmica do fluido.
(Verificar que Re é um número adimensional).
No caso de tubos, a dimensão característica é o diâmetro. Dessa forma, o número
de Reynolds em tubos é definido por:
onde:
D = diâmetro do tubo.
O valor do número de Reynolds para o qual ocorre a transição de escoamento
laminar para turbulento em tubos é de aproximadamente 2100. Esse número foi
determinado empiricamente. Sistemas com outras configurações apresentam transição
em outros valores de números de Reynolds.
(4.1) μρ V L = Re
(4.2) μρ V D = Re
80
4.2. Balanços de Massa e de Quantidade de Movimento
Nesse item, será desenvolvida a metodologia que é normalmente utilizada na
obtenção de perfis de velocidade de fluidos, escoando sob regime laminar em sistemas
de geometria simples. O uso inicial de geometrias simples tem a finalidade de reduzir
a complexidade matemática e enfatizar os conceitos de Fenômenos de Transporte.
A determinação dos perfis de velocidade de fluidos é feita através do
desenvolvimento de balanços de massa e de quantidade de movimento e da aplicação
da equação de Newton da viscosidade.
Nos problemas de engenharia, que envolvem o escoamento de um fluido, é
importante determinar uma relação matemática entre a força motriz necessária ao
escoamento do fluido e a vazão do fluido no sistema em análise. Trata-se, portanto, de
uma relação de causa (força motriz) e efeito (vazão do fluido). Além desta relação,
outras informações adicionais podem também ser obtidas:
- velocidade máxima;
- velocidade média;
- tensão de cisalhamento nas paredes do duto por onde o fluido escoa.
O tratamento matemático desse tipo de problema é feito através do
desenvolvimento de balanços de massa e quantidade de movimento aplicados ao
sistema em estudo. As diferenças principais destes balanços em relação àqueles que
são feitos na termodinâmica e na cinemática clássicas são:
- Os balanços são desenvolvidos considerando o aspecto tempo, ou seja, são
avaliadas as taxas de entrada e saída de massa e quantidade de movimento. Na
termodinâmica, o balanço de massa não considera a variável tempo, adotando-se
81
uma referência arbitrária, normalmente vinculada à quantidade de produto gerado ou
de matérias-primas utilizadas;
- Os balanços são aplicados a porções infinitesimais do sistema e não ao sistema
como um todo, como ocorre na termodinâmica e na cinemática. Esses balanços
infinitesimais são, então, integrados para se obter informações globais sobre o
sistema.
4.2.1- Balanço de massa
O balanço de massa é estabelecido a partir do princípio de conservação de massa
(na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma).
Para um sistema no estado estacionário (parâmetros não sofrem alteração com
o tempo), o balanço de massa pode ser genericamente expresso da seguinte forma:
4.2.2- Balanço de quantidade de movimento
O balanço de quantidade de movimento pode ser entendido genericamente como
um balanço das forças atuando no sistema.
Considerando novamente um sistema no estado estacionário, o balanço de
quantidade de movimento pode ser expresso da seguinte forma genérica:
[ ] [ ] (4.3) 0 = massa de saÍdade Taxa - massa de entrada de Taxa
[ ] [ ]
[ ] (4.4) 0 = sistemano atuando forças de Somatório
+ momento de saídade Taxa - momento de entrada de Taxa
82
Essa equação é dimensionalmente correta, uma vez que, conforme já foi visto no
Capítulo 2, a taxa de entrada ou saída de quantidade de movimento tem a mesma
dimensão de força.
Conforme já discutido nos Capítulos 2 e 3, quantidade de movimento pode entrar
e sair de um dado sistema por dois mecanismos:
- Difusão, associado à existência de um gradiente de velocidade. Nesse caso, o fluxo
de quantidade de movimento é estimado através da lei de Newton da viscosidade;
- Convecção, associado ao movimento macroscópico do fluido.
As forças atuando no sistema são essencialmente de dois tipos:
- Forças de pressão, que atuam nas superfícies;
- Força de gravidade, que atua no volume do elemento considerado.
Antes de prosseguir, é importante esclarecer que a equação (4.4) representa uma
outra forma de escrever a bem conhecida relação:
que é uma forma simplificada da expressão:
onde:
ΣFx= somatório de forças atuando no corpo na direção x;
m = massa do corpo;
ax = aceleração na direção x;
vx = velocidade na direção x;
t = tempo.
(4.5) a m = F xx∑
( )(4.6)
t d v m d
= F xx∑
83
Quando a massa do corpo é constante, as equações (4.5) e (4.6) se equivalem.
A equação (4.6) - segunda lei de Newton - estabelece que a taxa de variação de
quantidade de movimento (m.v) é igual ao somatório de forças atuando no elemento,
que é exatamente o mesmo que a equação (4.4) informa.
De um modo geral, o procedimento para estabelecer os balanços de massa e
quantidade de movimento e resolver os problemas de escoamento de fluidos em regime
laminar é o seguinte:
a) Uma vez definido o sistema a ser analisado, escolher eixos coordenados para
representar a geometria do sistema;
b) Selecionar um elemento de volume no qual serão estabelecidos os balanços;
c) Escrever o balanço de massa, na forma da equação (4.3), para o elemento de
volume selecionado;
d) Escrever o balanço de quantidade de movimento, na forma da equação (4.4), para
o mesmo elemento de volume acima;
e) Dividir as equações acima pelo volume do elemento e fazer esse volume tender
a zero. Usar, então, o conceito de derivada para obter equações diferenciais, que
representem os princípios de conservação de massa e quantidade de movimento
no sistema em estudo;
f) Integrar as equações acima. Na equação do balanço de quantidade de
movimento, substituir a expressão para o fluxo de quantidade de movimento pela
equação que representa a lei de Newton da viscosidade, para obter uma equação
diferencial para a distribuição de velocidade;
g) Integrar as equações diferenciais acima para obter as distribuições de fluxo de
quantidade de movimento e de velocidade no sistema.
84
As informações obtidas através do emprego do procedimento acima permitem
determinar outros parâmetros de interesse, além do perfil de velocidades do fluido:
- Velocidade média;
- Velocidade máxima;
- Vazão volumétrica;
- Queda de pressão;
- Forças atuando nas superfícies.
Nas integrações mencionadas acima, várias constantes de integração aparecem.
Estas constantes são avaliadas usando as chamadas condições de contorno, que nada
mais são do que estabelecimentos de fenômenos físicos que ocorrem em determinadas
posições do sistema. A seguir são listadas algumas das condições de contorno mais
comumente usadas:
- Nas interfaces sólido-fluido, a velocidade do fluido se iguala à velocidade com que
o sólido se move. Essa condição é usualmente designada como condição de não
escorregamento e é válida para os fluidos Newtonianos (aqueles que obedecem à
lei de Newton da viscosidade), tais como gases, água, metais e escórias líquidos,
que são os fluidos que normalmente estão presentes nos sistemas metalúrgicos;
- Nas interfaces líquido-gás, a tensão de cisalhamento (ou o fluxo de quantidade de
movimento) na fase líquida é aproximadamente zero e pode ser assumida como zero
em cálculos práticos. Essa condição decorre do fato dos gases oferecerem pouca
resistência ao movimento do líquido, devido à sua baixa viscosidade (cerca de 3 a
4 ordens de grandeza inferior à dos líquidos);
85
- Em interfaces líquido-líquido, o fluxo de quantidade de movimento e a velocidade são
funções contínuas.
4.3- Aplicações dos Balanços de Massa e Quantidade de Movimento
Neste item, o procedimento descrito acima será utilizado para resolver alguns
problemas elementares de escoamento laminar. Em todas as situações abaixo serão
estudados escoamentos em regime estacionário (independentes do tempo), aplicados
a fluidos de densidade e viscosidade constantes, escoando em regime laminar. Estas
restrições serão removidas nos capítulos 5 e 6, onde serão analisadas situações mais
complexas e também casos que envolvam escoamento turbulento.
4.3.1- Escoamento entre duas placas planas horizontais
O sistema a ser analisado é visto esquematicamente na figura 4.3 a seguir. Trata-
se de um escoamento entre duas placas planas horizontais. Apesar de nenhum sistema
de interesse prático apresentar esta configuração, o interesse em analisar este caso
vem da sua simplicidade, o que facilitará a aplicação dos balanços de massa e de
quantidade de movimento
86
Figura 4.3 - Escoamento entre duas placas paralelas planas e horizontais
No sistema visto na figura 4.3, o escoamento do fluido é causado pela
movimentação da placa superior, que se move para a direita com uma velocidade V.
A placa inferior permanece parada.
Conforme mencionado acima, a primeira etapa para se estabelecer os balanços
de massa e quantidade de movimento consiste em escolher os eixos coordenados para
representar a geometria do sistema. Obviamente, qualquer escolha de eixos ortogonais
está correta; entretanto, existe uma escolha mais conveniente, que vai simplificar o
problema. Na figura 4.3, duas possibilidades de escolhas de eixos são exibidas, uma
em preto e outra em cinza. Como o fluido escoa em decorrência do movimento da placa
superior, só há força motriz para criar escoamento na direção horizontal. A escolha dos
eixos em cinza faria com que existissem duas componentes de velocidade. A soma
vetorial destas duas componentes teria como resultante uma velocidade horizontal. A
escolhas dos eixos em preto levaria à existência de apenas uma componente de
velocidade na direção x. Obviamente, esta escolha é mais prática, pois nesse caso só
haverá uma componente de velocidade, o que simplifica o tratamento matemático do
problema. Deve-se mencionar, contudo, que nem sempre é possível escolher um
VPlaca superior
Placa inferior
Fluidoz
x
z
x
87
posicionamento de eixos coordenados que forneça apenas uma componente de
velocidade. Nesses casos, têm-se problemas onde o escoamento tem características
bi ou tridimensionais.
Uma vez definido o sistema de eixos coordenados, pode-se definir o elemento de
volume que será tomado como referência para estabelecimento dos balanços de massa
e quantidade de movimento. Esse elemento é escolhido de acordo com os eixos
coordenados e é mostrado na figura 4.4.
Figura 4.4 – Elemento de volume para estabelecimento dos balanços de massa e de
quantidade de movimento
Com a escolha de eixos acima, tem-se que o transporte de quantidade de
movimento por convecção ocorre na direção x, que é a direção do movimento
macroscópico do fluido. O transporte de quantidade de movimento por difusão ocorre
na direção z, que é a direção do gradiente de velocidade. É fácil se constatar que há
um gradiente de velocidade na direção z. No ponto z = 0 (placa inferior), a velocidade
do fluido é nula. Em um outro ponto z qualquer, o fluido estará se movendo. Desse
modo, há um gradiente de velocidade na direção z (a velocidade do fluido varia com a
posição z). É importante enfatizar que não é necessário saber onde a velocidade é
VPlaca superior
Placa inferior
Fluidoz
x
x x + Δx
z + Δzz
x
y + Δyy
z = 0
z = δ
88
maior ou menor, basta saber que vai haver variação de velocidade na direção z, e isso
é bastante simples de se verificar.
Pode-se, então, considerando a análise feita acima, estabelecer os balanços de
massa e quantidade de movimento.
Balanço de massa
Considerando a direção do movimento macroscópico do fluido, pode-se enunciar
o balanço de massa da seguinte maneira:
Os pontos onde se considera entrada e saída de massa são determinados em
função da orientação dos eixos, e não em função do sentido de escoamento do fluido.
Nesse caso, o fluido está realmente escoando da esquerda para a direita; entretanto,
as entradas e saídas de massa permaneceriam sendo nos pontos x e x + Δx,
respectivamente, mesmo se o fluido escoasse da direita para a esquerda. O fato dos
pontos de entrada e saída de massa serem definidos em função da escolha da
orientação dos eixos coordenados elimina a necessidade de se saber de antemão o
sentido de escoamento do fluido. Em muitas situações, o sentido de escoamento não
é tão óbvio.
As taxas de entrada e saída de massa podem ser avaliadas pelas expressões abaixo:
[ ] [ ] )(4.7 0 = Δx + x = x em massa de saídade Taxa - x = x em massa de entrada de Taxa
[ ] )(4.8 |ρ) vΔz y ( = x = x em massa de entrada de Taxa x=xxΔ
[ ] )(4.9 |ρ) vz y( = x Δ + x = x em massa de saídade Taxa Δx+x=xxΔΔ
89
Nas equações acima, o produto Δy Δz corresponde à área do elemento de volume
perpendicular á direção do escoamento do fluido (direção x), vx é a componente de
velocidade e ρ é a densidade do fluido. O produto destes fatores tem a dimensão de
massa por unidade de tempo (taxa ou vazão de massa). O produto Δy Δz vx é
denominado vazão volumétrica e tem dimensão de volume por unidade tempo.
(Verifique as dimensões acima como um exercício).
O balanço de massa pode, então, ser colocado na seguinte forma:
Seguindo a seqüência de procedimentos listada no item 4.2, tem-se que o próximo
passo corresponde a dividir a equação acima pelo volume do elemento, Δx Δy Δz. Tem-
se:
Fazendo-se o limite quando Δx tender a zero, obtém-se:
O sinal “-“na equação acima vem da definição de derivada primeira, dada por:
0)(4.1 0 = |ρ) vΔz y ( - |ρ) vΔz y ( Δx+x=xxx=xx ΔΔ
(4.12) 0 = Δx
|ρ) v( - |ρ) v(
(4.11) 0 = ΔzΔy Δx
|ρ) vΔz y ( - |ρ) vz y(
Δx+x=xxx=xx
Δx+x=xxx=xx ΔΔΔ
(4.13) 0 = xρ) v( - = 0 =
Δx|ρ) v( - |ρ) v(
lim xΔx+x=xxx=xx0Δx ∂
∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡→
(4.14) Δx
|(f) - |(f)lim =
dxdf x=xΔx+x=x
0Δx ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡→
90
onde f é uma função qualquer (na equação (4.13), a função é o produto vx ρ). Observe
que os limites de avaliação da função f na definição de derivada são os opostos
daqueles que aparecem na equação (4.13).
Como foi assumido inicialmente que a densidade do fluido não varia com a direção
x (ela foi considerada constante), pode-se rescrever a equação (4.13) da seguinte
forma:
Como a densidade do fluido não é nula, obtém-se finalmente que:
A equação precedente estabelece que a velocidade vx na situação sendo estudada não
depende da posição x (vx não é função de x). É comum se referir a esta situação como
sendo a de um escoamento plenamente desenvolvido. A equação (4.16) representa a
informação obtida pela aplicação do princípio de conservação de massa.
Balanço de quantidade de movimento
No caso do balanço de quantidade de movimento, deve-se lembrar que
quantidade de movimento pode ser transportada por dois mecanismos: difusão e
convecção. Ambos devem ser considerados quando se estabelece o balanço.
Considerando que quantidade de movimento por difusão é transportado na direção do
gradiente de velocidade (direção z) e que o transporte de quantidade de movimento por
convecção ocorre na direção do movimento macroscópico do fluido, pode-se expressar
o balanço de quantidade de movimento da seguinte forma:
(4.15) 0 = xv ρ x
∂∂
(4.16) 0 = xvx
∂∂
91
É importante enfatizar mais uma vez que os pontos de entrada e saída de
quantidade de movimento por convecção e por difusão são determinados em função
da escolha da orientação dos eixos coordenados, e não em função do conhecimento
do sentido real do transporte de quantidade de movimento por estes mecanismos. Não
é necessário conhecer de antemão os sentidos de escoamento de quantidade de
movimento para se estabelecer os balanços de quantidade de movimento. Estes
sentidos serão naturalmente determinados durante o desenvolvimento da análise do
problema.
As diversas taxas que aparecem na equação acima podem ser avaliadas através
das expressões a seguir:
[ ]
[ ]
[ ]
[ ]
[ ] (4.17) 0 = volume de elemento no atuando forças de Somatório +
+ Δz +z =z em difusão por movimento de quantidade de saídade Taxa -
- z =z em difusão por movimento de quantidade de entrada de Taxa +
+ Δx + x = x em convecção por movimento de quantidade de saídade Taxa -
- x = x emconvecção por movimento de quantidade de entrada de Taxa
[ ]8)(4.1 |)v ρ vΔz y (
= x = x em conveccão por movimento de quantidade de entrada de Taxa
x=xxxΔ
[ ])(4.20 |)Δy x(
= z =z em difusão por movimento de quantidade de entrada de Taxa
zz=zxτΔ
[ ])(4.19 |)v ρ vΔz y (
= xx = x em conveccão por movimento de quantidade de saídade Taxa
xx=xxx Δ+ΔΔ+
92
Como o escoamento ocorre em virtude apenas do deslocamento da placa
superior, não há forças (associadas à diferença de pressão ou gravidade) atuando no
sistema na direção do escoamento (direção x). Deve-se observar que a força da
gravidade está presente; entretanto, ela atua na direção vertical (direção z) e não tem
nenhuma componente na direção do deslocamento do fluido. Na equação (4.17), o
somatório de forças se refere apenas às forças que possuem componentes na direção
de escoamento do fluido. É importante lembrar que quantidade de movimento é uma
grandeza vetorial. O balanço de quantidade de movimento (ou balanço de forças) sendo
estabelecido nesse caso refere-se à direção x.
Nas equações (4.18) e (4.19), o produto Δy Δz vx ρ representa a vazão de massa.
Quando estes fatores são multiplicados pela velocidade vx , obtém-se quantidade de
movimento por unidade de tempo, que corresponde à taxa de quantidade de
movimento.
Nas equações (4.20) e (4.21), τzx representa o fluxo de quantidade de movimento
por difusão (veja capítulo 3). Quando este fluxo é multiplicado pela área normal à sua
direção, Δx Δy, obtém-se a taxa de quantidade de movimento por difusão.
Substituindo as expressões de (4.18) a (4.21) na equação (4.17), obtém-se a
equação geral do balanço de quantidade de movimento para o problema em análise:
Dividindo pelo volume do elemento, encontra-se que:
[ ]1)(4.2 |)Δy x(
= Δz+z =z em difusão por movimento de quantidade de saídade Taxa
Δz+zz=zxτΔ
(4.22) 0 =] |)Δy x( - |)Δy x[( +] |)v ρ vΔz y ( - |)v ρ vz y[ Δz+zz=ZXzz=zxΔx+x=xxxx=xxx ττ ΔΔΔΔΔ
93
Fazendo o limite da equação (4.24) quando o volume do elemento tende a zero
(Δx e Δz → 0), tem-se:
Usando-se o conceito de derivada primeira, permite-se escrever:
Do balanço de massa, sabe-se que:
Como o fluido possui densidade constante, pode-se escrever que:
De onde resulta que:
A equação diferencial acima pode ser integrada através de separação de
variáveis, para se obter:
(4.24) 0 = Δz
]|)( - |)[( +
Δx]|)v ρ v( - |)v ρ v[(
ou
(4.23) 0 = ΔzΔy Δx
]|)Δy x( - |)yx[ +
ΔzΔy Δx]|)v ρ vΔz y ( - |)v ρ vΔz y [
Δz+zz=zxzz=zxΔx+x=xxxx=xxx
Δz+zz=zxzz=zxΔx+x=xxxx=xxx
ττ
ττ ΔΔΔΔΔ
(4.25) 0 = Δz
]|)( - |)[( lim +
Δx]|)v ρ v( - |)v ρ v[(
lim Δz+zz=zxzz=zx0Δz
Δx+x=xxxx=xxx0Δx ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡→→
ττ
(4.26) 0 = z
)( - x
)v ρ v( - zxxx
∂∂
∂∂ τ
(4.27) 0 = xvx
∂∂
(4.28) 0 = x
)v( v ρ 2 = x
)v v( ρ xx
xx
∂∂
∂∂
(4.29) 0 = dz
)d( zxτ
94
onde C1 é uma constante de integração.
Pela lei de Newton da viscosidade, pode-se estabelecer que:
Combinando as equações (4.31) e (4.32), obtém-se:
Separando variáveis e integrando novamente, permite escrever que::
onde C2 é uma nova constante de integração. A integração acima foi feita assumindo-se
que a viscosidade do fluido é constante.
A equação (4.35) fornece uma equação genérica para o perfil de velocidade entre
as duas placas planas paralelas e horizontais. Para se ter o perfil específico para o caso
em estudo, deve-se determinar os valores das constantes C1 e C2. Estas duas
constantes são determinadas a partir do uso das condições de contorno. Pelo que foi
mencionado no item 4.2, sabe-se que nas interfaces sólido-líquido, a velocidade do
fluido se iguala à velocidade do sólido. Dessa forma, pode-se afirmar que:
(4.31) C + 0 =
(4.30) dz 0 = )d(
1zx
zx
τ
τ ∫∫
(4.32) dzvd μ - = x
zxτ
)(4.33 C = dzvd μ - = 1
xzxτ
)(4.35 C +z μ
C - = v
(4.34) dz μ
C - = vd
21
x
1x ∫∫
95
Aplicando as condições de contorno acima na equação do perfil de velocidade,
resulta que:
Das equações acima, pode-se determinar os valores de C1 e C2 :
Finalmente, o perfil de velocidades para o fluido entre as placas pode ser
determinado susbtituindo as expressões para C1 e C2 na equação (4.35), obtendo-se:
(verifique que o perfil acima atende às condições de contorno).
Como já tinha sido observado na figura 3.2, trata-se de um perfil linear.
A partir do perfil de velocidades acima, uma série de informações a respeito do
sistema pode ser obtida.
Inicialmente, pode-se determinar o perfil da tensão de cisalhamento (ou fluxo de
quantidade de movimento por difusão) no sistema. Pela lei de Newton da viscosidade,
tem-se:
Observa-se que τzx é constante, não variando com a posição entre as placas.
)2 (C.C.δ =z em V = v : 2 contorno de Condição
1) (C.C. 0 =z em 0 = v : 1 contorno deCondição
x
x
)2 (C.C. C +δ μ
C - = V
1) (C.C. C + 0 μ
C - = 0
21
21
δμ V - = C
0 = C
1
2
(4.36) δz V = vx
96
Além do perfil da tensão de cisalhamento, pode-se determinar também as vazões
volumétrica e de massa de fluido entre as placas. Para tal, será considerado que as
placas possuem largura W. Essa largura W é a dimensão na direção y, perpendicular
ao plano do papel. As vazões são calculadas somando-se as quantidades de fluido que
escoam em cada porção infinitesimal dz ao longo da distância entre as placas. Pelas
parcelas do balanço de massa, sabe-se que, em cada camada infinitesimal, a
quantidade de fluido que escoa é dada por:
onde dQ é a vazão volumétrica infinitesimal ao longo de uma camada de dimensões W
dz.
A soma de parcelas infinitesimais corresponde a se fazer uma integração das
parcelas acima na região compreendida entre z = 0 e z = δ. Dessa forma, integrando
(4.38) entre os limites especificados, encontra-se:
Como a velocidade do fluido varia em função da posição (equação (4.36)), pode-
se substituir o perfil de velocidades na expressão (4.39), para obter:
)(4.37 δV μ - =
dzvd μ - = x
zxτ
(4.38) )vdz (W = dQ x
)(4.39 )vdz (W = dQ x
δz=
z=0
δz=
z=0∫∫
)(4.40 2δ V W = )vdz (W = Q x
δz=
z=0∫
97
A vazão de massa, Γ, é dada por:
A velocidade média é determinada dividindo-se a vazão volumétrica pela área total
disponível para o escoamento. Nesse caso, essa área é dada pelo produto da largura
das placas (W) pela distância entre elas (δ). Assim:
Esse resultado já era esperado, pois no caso de uma variação linear, a velocidade
média é certamente dada pela média das velocidades nos extremos (0 e V).
4.3.2. Escoamento de uma película de fluido.
No item anterior, tratou-se de um problema de pouca aplicação prática, mas de
extrema simplicidade, o que facilita o desenvolvimento dos balanços de massa e de
quantidade de movimento. Nesse item, tratar-se-á de um caso que se aproxima mais
de situações que podem ser encontradas na realidade. Trata-se do escoamento de uma
película de fluido em um plano inclinado, figura 4.5. Situações similares à esta podem
ser encontradas no vazamento de metais do interior de fornos através dos chamados
canais de corrida, nos transbordos de usinas hidroelétricas, ou até da água escorrendo
pela rua em dias de chuva. O tratamento a ser adotado será similar ao empregado no
item 4.3.1.
(4.41) 2δ ρ V W =ρ Q = Γ
(4.42) 2V = V
98
Figura 4.5 - Vista esquemática do escoamento de um fluido em um plano inclinado
No sistema visto na figura 4.5, o escoamento do fluido é causado pela componente
da gravidade na direção paralela ao plano inclinado. A superfície inferior permanece
parada e a superior está em contato com a atmosfera.
Conforme mencionado anteriormente, a primeira etapa para se estabelecer os
balanços de massa e quantidade de movimento consiste em escolher os eixos
coordenados para representar a geometria do sistema. Novamente, qualquer escolha
de eixos ortogonais está correta; entretanto, há uma escolha mais conveniente, que vai
simplificar a formulação do problema.
Na figura 4.6 são exibidas duas possibilidades de escolhas de eixos, uma em preto
e outra em cinza. Como o fluido escoa em decorrência da componente da gravidade na
direção paralela ao plano inclinado, só há força motriz para criar escoamento nesta
direção. Dessa forma, a escolha dos eixos em azul faria com que existissem duas
componentes de velocidade. A soma vetorial destas duas componentes teria como
resultante uma velocidade paralela ao plano inclinado.
Filme de líquido
Reservatório de líquido
Entrada de líquido
Distúrbios na entrada
Distúrbios na saída
L
99
A escolha dos eixos em preto levaria à existência de apenas uma componente de
velocidade na direção y. Obviamente, esta escolha é mais prática, pois nesse caso só
haverá uma componente de velocidade, o que facilita o tratamento matemático do
problema. É importante mencionar que nem sempre é possível escolher um
posicionamento de eixos coordenados que forneça apenas uma componente de
velocidade.
Uma vez definido o sistema de eixos coordenados, pode-se definir o elemento de
volume que será tomado como referência para estabelecimento dos balanços de massa
e quantidade de movimento. Esse elemento é escolhido de acordo com os eixos
coordenados e também está mostrado na figura 4.6.
Figura 4.6- Escolha de eixos coordenados para o estudo de escoamento em um plano
inclinado e elemento de volume para o estabelecimento dos balanços de
massa e de quantidade de movimento
Com a escolha de eixos acima, tem-se que o transporte de quantidade de
Interface com o ar
Superfície do plano inclinado
Fluido
z
y
y + Δy
z + Δz
z
y
x + Δx
x
Gravidade
α
y
z
z = 0
z = H
x
x
100
movimento por convecção ocorre na direção y, que é a direção do movimento
macroscópico do fluido. O transporte de quantidade de movimento por difusão ocorre
na direção z, que é a direção do gradiente de velocidade. É fácil se constatar que há
um gradiente de velocidade na direção z. No ponto z = 0 (superfície inferior), a
velocidade do fluido é nula. Em um outro ponto z qualquer, o fluido está se movendo.
Desse modo, há um gradiente de velocidade na direção z (a velocidade do fluido varia
com a posição z). Mais uma vez, é importante mencionar que não é necessário saber
onde a velocidade é maior ou menor nem o sentido do escoamento, basta saber que
vai haver variação de velocidade na direção z, e isso é simples de se verificar.
Pode-se agora, considerando a análise feita acima, estabelecer-se os balanços
de massa e quantidade de movimento.
Balanço de massa
Considerando a direção do movimento macroscópico do fluido, pode-se enunciar
o balanço de massa da seguinte maneira:
Os pontos onde se considera entrada e saída de massa são determinados em
função da orientação dos eixos, e não em função do sentido de escoamento do fluido.
Nesse caso, considerando-se o sentido da força da gravidade, o fluido deverá
realmente escoar de cima para baixo, que é o sentido oposto ao do crescimento do eixo
y; entretanto, as entradas e saídas de massa permaneceriam sendo nos pontos y e y
+ Δy, respectivamente. O fato dos pontos de entrada e saída de massa serem definidos
[ ] [ ] )(4.43 0 = Δy +y =y em massa de saídade Taxa - y =y em massa de entrada de Taxa
101
em função da escolha da orientação dos eixos coordenados elimina a necessidade de
se saber de antemão o sentido de escoamento do fluido. Esse sentido aparecerá
naturalmente no desenvolvimento do tratamento matemático do problema em função
do sinal da velocidade. Velocidades positivas estão no mesmo sentido de crescimento
do eixo. Velocidades negativas estão no sentido inverso do crescimento do eixo.
As taxas de entrada e saída de massa podem ser avaliadas pelas expressões
abaixo:
Nas equações acima, o produto Δx Δz corresponde à área do elemento de volume
perpendicular à direção do escoamento do fluido (direção y), vy é a componente de
velocidade na direção y e ρ é a densidade do fluido.
O produto destes fatores tem a dimensão de massa por unidade de tempo (taxa
ou vazão de massa). O produto Δx Δz vy é denominado vazão volumétrica e tem
dimensão de volume por unidade tempo.
O balanço de massa pode, então, ser colocado na seguinte forma:
Novamente, seguindo a seqüência de procedimentos listada no item 4.2, tem-se
que o próximo passo corresponde a dividir a equação acima pelo volume do elemento,
Δx Δy Δz. Tem-se:
[ ] 4)(4.4 |ρ) vΔz x( = y =y em massa de entrada de Taxa yy=yΔ
[ ] 5)(4.4 |ρ) vΔz x( = y Δ +y =y em massa de saídade Taxa Δy+yy=yΔ
6)(4.4 0 = |ρ) vΔz x( - |ρ) vΔz x( Δy+yy=yyy=y ΔΔ
102
Fazendo o limite quando Δy tende a zero, obtém-se:
É importante recordar ainda que o sinal negativo na equação precedente origina-se da
definição de derivada primeira.
Como foi assumido inicialmente que a densidade do fluido é constante, pode-se
rescrever a equação (4.13) da seguinte forma:
Como a densidade do fluido não é nula, finalmente pode-se escrever que:
A equação demonstra que a velocidade vy , na situação sendo estudada, não
depende da posição y (vy não é função de y).
A equação (4.51) representa a principal conclusão obtida pela aplicação do
princípio de conservação de massa.
(4.48) 0 = Δy
|ρ) v( - |ρ) v(
(4.47) 0 = ΔzΔy Δx
|ρ) vΔz x( - |ρ) vΔz x(
Δy+yy=yyy=y
Δy+yy=yyy=y ΔΔ
(4.49) 0 = yρ) v(
- = 0 = Δy
|ρ) v( - |ρ) v(lim
yΔy+yy=yyy=y0Δy ∂
∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡→
(4.51) 0 = yvy
∂∂
(4.50) 0 = yv ρ y
∂∂
103
Balanço de quantidade de movimento
Antes de se equacionar o balanço de quantidade de movimento, deve-se observar
que quantidade de movimento pode ser transportado por dois mecanismos: difusão e
convecção. Ambos os mecanismos devem ser incluídos no desenvolvimento do
balanço. Considerando que quantidade de movimento por difusão é transportado na
direção do gradiente de velocidade (direção z) e que o transporte de quantidade de
movimento por convecção ocorre na direção do movimento macroscópico do fluido
(direção y), pode-se expressar o balanço de quantidade de movimento da seguinte
forma:
Mais uma vez é de extrema importância enfatizar que os pontos de entrada e
saída de quantidade de movimento por convecção e por difusão são determinados em
função da escolha da orientação dos eixos coordenados, e não em função do
conhecimento do sentido real do transporte de quantidade de movimento por estes
mecanismos. Não é necessário conhecer de antemão os sentidos de escoamento de
quantidade de movimento para se estabelecer os balanços de quantidade de
movimento. Estes sentidos serão naturalmente determinados durante o
[ ]
[ ]
[ ]
[ ]
[ ] (4.52) 0 = volume de elemento no atuando forças de Somatório +
+ Δz +z =z em difusão por movimento de quantidade de saídade Taxa -
- z =z em difusão por movimento de quantidade de entrada de Taxa +
+ Δy +y =y em convecção por movimento de quantidade de saídade Taxa -
- y =y em convecção por movimento de quantidade de entrada de Taxa
104
desenvolvimento da análise do problema em função do sinal das velocidades.
Intuitivamente, sabe-se que o fluido deverá estar descendo pelo plano inclinado. Esta
informação não é necessária ao equacionamento correto do problema
As diversas taxas que aparecem na equação acima podem ser avaliadas através das
expressões a seguir:
No sistema em análise, a força motriz para o escoamento é a componente da
gravidade atuando na direção do escoamento (direção y). Dessa forma, o somatório das
forças que possuem componentes na direção de escoamento do fluido vai incluir
apenas a componente da gravidade na direção y. Deve-se, mais uma vez, lembrar que
quantidade de movimento é uma grandeza vetorial. O balanço de quantidade de
movimento (ou balanço de forças) sendo estabelecido nesse caso refere-se à direção
y, que é a direção de escoamento do fluido. O somatório de forças atuando no
elemento de volume é, então, dado por:
Nas equações (4.53) e (4.54), o produto Δx Δz vy ρ representa a vazão de massa.
[ ])(4.57 α)] cos g (- ρΔz Δy Δx [
= volume de elemento no atuando forças de Somatório
[ ]3)(4.5 |)v ρ vΔz x(
= y =y em convecção por movimento de quantidade de entrada de Taxa
yy=yyΔ
[ ])(4.54 |)v ρ vΔz x(
= yy =y em convecção por movimento de quantidade de saídade Taxa
yyy=yy Δ+Δ
Δ+
[ ])(4.56 |)Δy x(
= zz =z em difusão por movimento de quantidade de saídade Taxa
zzz=zy Δ+Δ
Δ+
τ
[ ])(4.55 |)Δy x(
= z =z em difusão por movimento de quantidade de entrada de Taxa
zz=zyτΔ
105
Quando estes fatores são multiplicados pela velocidade vy obtém-se quantidade de
movimento por unidade de tempo, que corresponde à taxa de quantidade de
movimento.
Nas equações (4.55) e (4.56), τzy representa o fluxo de quantidade de movimento
por difusão. Quando este fluxo é multiplicado pela área normal à sua direção, Δx Δy,
obtém-se a taxa de quantidade de movimento por difusão.
Na equação (4.57), o produto Δx Δy Δz representa o volume do elemento (lembre-
se que a gravidade é uma força que atua no volume - ver Capítulo 2). O fator -g cos α
representa a componente da gravidade na direção y, que é a direção do escoamento
do fluido. O sinal negativo decorre do fato da componente da gravidade ter sentido
oposto ao da orientação positiva do eixo y.
Substituindo as expressões de (4.53) a (4.57) na equação (4.52), obtém-se a
equação geral do balanço de quantidade de movimento para o problema em análise:
Dividindo pelo volume do elemento, resulta que:
Fazendo o limite da equação (4.60) quando o volume do elemento tende a zero
(4.58) 0 =α)] cos g (- ρΔz Δy x[ +] |)Δy x( - |)Δy x[
+] |)v ρ vΔz x( - |)v ρ vΔz x[
Δz+zz=zyzz=zy
Δy+yy=yyyy=yy
ΔΔΔ
ΔΔ
ττ
(4.59) 0 = ΔzΔy Δx
α)] cos g (- ρΔz Δy x[ +] |)Δy x( - |)Δy x[
+ΔzΔy Δx
]|)v ρ vΔz x( - |)v ρ vz x[
Δz+zz=zyzz=zy
Δy+yy=yyyy=yy
ΔΔΔ
ΔΔΔ
ττ
(4.60) 0 =α)] cos g (- [ρ + Δz
]|)( - |)[( ++
Δy]|)v ρ v( - |)v ρ v[( Δz+zz=zyzz=zyΔy+yy=yyyy=yy ττ
106
(Δy e Δz → 0), tem-se:
Usando-se o conceito de derivada primeira, obtém-se:
Do balanço de massa, sabe-se que:
Como o fluido possui densidade constante, pode-se escrever que:
Combinando as equações (4.51), (4.62) e (4.63), obtém-se:
A equação diferencial acima pode ser integrada através de separação de
variáveis, para se obter:
onde C1 é uma constante de integração.
No sistema em análise, o valor da constante C1 já pode ser determinado pela
(4.62) 0 = α cos g ρ - z
)Τ( - y
)v ρ v( - zyyy
∂∂
∂∂
(4.61) 0 =α)] cos g (- [ρ
+ Δz
]|)( - |)[( ++
Δy]|)v ρ v( - |)v ρ v[(
limΔz+zz=zyzz=zyΔy+yy=yyyy=yy
0z,y
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
+→ΔΔ
ττ
(4.51) 0 = yvy
∂∂
)(4.63 0 = y
)v( v ρ 2 =
y)v v(
ρ yy
yy
∂∂
∂∂
(4.64) 0 = α cos g ρ + dz
)d( = α cos g ρ -
dz)d(
- zyzy ττ
(4.66) C +z α cos g ρ - =
(4.65) dz α cos g ρ - = )d(
1zy
zy
τ
τ ∫∫
107
condição de contorno na interface com o ar (z = H). Como mencionado anteriormente,
nessa interface tem-se que:
Aplicando esta equação em (4.66), obtém-se:
Substituindo o valor de C1 acima na equação (4.66), resulta que::
Pela lei de Newton da viscosidade, pode-se escrever que:
Combinando as equações (4.67) e (4.68), obtém-se:
Separando variáveis e integrando novamente, tem-se:
onde C2 é uma nova constante de integração. A integração acima foi feita assumindo-se
que a viscosidade do fluido é constante.
A equação (4.71) fornece uma equação geral para o perfil de velocidade do fluido
)1 (C.C. H =z em 0 τ : 1 contorno de Condição zy ≅
H α cos g ρ = C
1) (C.C. C + H α cos g ρ - = 0
1
1
(4.67) z) - (H α cos g ρ = zyτ
(4.68) dzvd
μ - = yzyτ
(4.69) z) - (H α cos g ρ = dzvd
μ - = yzyτ
)(4.71 C + )2z -z (H
μα cos g ρ - = v
(4.70) dz μ
z) - (H α cos g ρ - = vd
2
2
y
y ∫∫
108
escoando por gravidade sobre um plano inclinado. Para se ter o perfil específico para
o caso em estudo, deve-se determinar o valor da constante C2. Esta constante é
determinada a partir do uso de uma condição de contorno. Pelo que foi mencionado no
item 4.2, sabe-se que nas interfaces sólido-líquido, a velocidade do fluido se iguala à
velocidade do sólido. Dessa forma, pode-se afirmar que:
Aplicando a condição de contorno acima na equação do perfil de velocidade, tem-
se:
Da equação acima, pode-se determinar o valor de C2 :
Finalmente, o perfil de velocidade para o fluido entre as placas pode ser expresso
por:
(verifique o perfil de velocidades acima atende às condições de contorno especificadas).
A equação (4.72) indica que o perfil de velocidades é parabólico, com todas as
velocidades negativas. No ponto z = 0, como indicado pela condição de contorno 2, a
velocidade é nula. As velocidades são negativas por que o eixo y foi orientado para
cima, e o fluido escoa para baixo, devido à gravidade. É importante observar que o
sentido do escoamento apareceu naturalmente no desenvolvimento do problema,
bastando, durante o desenvolvimento dos balanços, manter a coerência com a
)2 (C.C. 0 =z em 0 = v : 2 contorno de Condição y
(C.C.2) C + )20 - 0 (H
μα cos g ρ - = 0 2
2
0 = C2
(4.72) )2z -z (H
μα cos g ρ - = v
2
y
109
orientação dada aos eixos.
A partir do perfil de velocidades acima, uma série de informações a respeito do
sistema pode ser obtida.
O perfil da tensão de cisalhamento (ou fluxo de quantidade de movimento por
difusão) no sistema é expresso através da equação (4.69). Observa-se que τzy varia
linearmente com a posição z, sendo nulo na interface com o ar (em conformidade com
a condição de contorno 1). Para todos os outros pontos, τzy é positivo. Isso significa que
quantidade de movimento por difusão é transportado no sentido positivo do eixo z.
Quantidade de movimento por difusão vai das regiões de alta velocidade para as de
baixa. No caso em estudo, a maior velocidade está em z = 0 (velocidade nula). Para 0
< z ≤ H, as velocidades são negativas e, portanto, menores que em z = 0. Lembre-se
que velocidade é uma grandeza vetorial.
Além do perfil da tensão de cisalhamento, pode-se determinar também as vazões
volumétrica e de massa do fluido no sistema. Para tal, será considerado que o plano
inclinado possui largura W. Essa largura W é a dimensão na direção x, perpendicular
ao plano do papel. As vazões são calculadas somando-se as quantidades de fluido que
escoam em cada porção infinitesimal dz ao longo da altura do filme de líquido. Pelas
parcelas do balanço de massa, sabe-se que, em cada camada infinitesimal, a
quantidade de fluido que escoa é dada por:
onde dQ é a vazão volumétrica infinitesimal ao longo de uma camada infinitesimal de
dimensões W dz.
A soma de parcelas infinitesimais corresponde a se fazer uma integração das
parcelas acima na região compreendida entre z = 0 e z = H. Assim, integrando (4.73)
(4.73) )vdz (W = dQ y
110
entre os limites especificados, obtém-se:
Como a velocidade do fluido varia em função da posição (equação (4.72)), pode-
se substituir o perfil de velocidades na expressão (4.74), para obter:
O sinal “-“na equação acima é conseqüência da orientação dada aos eixos. A vazão de
massa é dada por:
A equação para a vazão volumétrica pode ser colocada na seguinte forma:
Nessa equação fica fácil de se identificar a força motriz para o escoamento (- g
cos α), o termo associado à resistência ao escoamento (v = μ / ρ), que é viscosidade
cinemática do fluido, e um termo associado à geometria do sistema (W H3 / 3).
Observe a similaridade entre a equação (4.77) e a famosa lei de Ohm da
eletricidade, que estabelece que a corrente é a razão entre a força eletromotriz e a
resistência. Na equação (4.77), a vazão volumétrica Q tem papel análogo à corrente
dos circuitos elétricos. A viscosidade cinemática representa a resistência. É importante
notar que, para uma dada força motriz de escoamento, a propriedade do fluido que vai
determinar se a sua vazão vai ser grande ou pequena é a viscosidade cinemática (dada
)(4.74 )vdz (W = dQ x
Hz=
z=0
Hz=
z=0∫∫
(4.75) 3
H μ
α cos ρg W - =dz )2z -z (H
μα cos g ρ W( - = )vdz (W = Q
32Hz=
z=0x
Hz=
z=0∫∫
(4.76) 3
H μ
α cos ρg ρ W - =ρ Q = Γ3
( ) (4.77) 3
H W ν
α) cos g (-= 3
H W
ρμ
α) cos g (- = Q33
⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
111
por μ / ρ), e não a viscosidade dinâmica. Daí a importância da viscosidade cinemática
de um fluido.
A velocidade média é determinada dividindo-se a vazão volumétrica pela área total
disponível para o escoamento. Nesse caso, essa área é determinada pelo produto da
largura das placas (W) pela distância entre elas (H). Assim:
A figura 4.7 mostra esquematicamente o perfil de velocidade para o sistema
analisado neste item.
Figura 4.7 - Vista esquemática do perfil de velocidades de um fluido escoando em um
plano inclinado
Pode-se, finalmente, determinar a força exercida pelo fluido sobre a superfície do
plano inclinado na direção paralela a esta superfície. Essa força é avaliada fazendo a
(4.78) 3
H μ
α cos ρg - = H W
Q = V2
Interface com o ar
Superfície do plano inclinado
Fluido
z
y Gravidade
α
z = 0
z = H
Perfil de velocidades
112
integral dupla da tensão de cisalhamento, τzy , avaliada na superfície do plano (posição
z=0) ao longo da sua largura, W, e comprimento, L. Tem-se:
O valor da força acima corresponde exatamente à componente do peso do fluido
na direção paralela ao plano inclinado, resultado que seria necessário para que o
escoamento ocorresse em estado estacionário, como admitido inicialmente.
Todas as relações obtidas nesse item são válidas apenas quando se tem
escoamento laminar. Para escoamento lento de filmes viscosos de pequena espessura,
estas condições são satisfeitas. Foi encontrado experimentalmente que à medida que
a velocidade do filme aumenta, a espessura H aumenta e a viscosidade cinemática
diminui, a natureza do escoamento se altera. De acordo com resultados experimentais
(Bird, Stewart e Lightfoot, 1960), o escoamento em um plano inclinado é laminar quando
prevalece a condição indicada na equação (4.81), expressa em termos do número de
Reynolds, Re:
Exemplo- Um óleo de viscosidade cinemática igual a 2 x 10-4 m2/s e densidade de 800
kg/m3 escoa na forma de um filme sobre uma parede vertical. Qual deve ser a vazão
de massa do fluido, por unidade de largura da parede, de modo a se ter uma espessura
do filme igual a 2,5 mm?
Solução- Pela equação de vazão de massa acima, tem-se:
(4.80) W L H α cos g ρ = F
(4.79) dxdy H α cos g ρ = dxdy | = F
z
W=x
=0x
Ly=
y=0z=0zy
W=x
=0x
Ly=
y=0z ∫∫∫∫ τ
(4.81) 6 μ
V ρ H = Re ≤
113
Para uma parede vertical, α = 0. Considerando W = 1 m (largura unitária), a equação
da vazão de massa pode ser escrita da seguinte forma, já introduzindo a definição de
viscosidade cinemática:
Substituindo valores, obtém-se:
ρ = 800 kg/m3;
v = 2 x 10-4 m2/s;
H = 2,5 mm = 2,5 x 10-3 m.
O resultado acima só será correto se o escoamento for laminar. Para verificar esta
hipótese, calcula-se o número de Reynolds, pela equação (4.81):
Mas sabe-se que:
Logo, Reynolds é dado por (para W = 1 m):
Como Reynolds está abaixo do limite para transição de laminar para turbulento, o
cálculo desenvolvido é válido.
3H
μα cos ρg ρ W = Γ
3
3H
νg ρ = Γ
3
smkg 0,2042 =
3)10 x (2,5
)10 x (29,8 800 = Γ
3-3
4-
νV H =
μV ρ H = Re
W H ρΓ = V
1,276 = )10 x (2 (800)
0,2042 = ν ρΓ = Re
4-
114
Exemplo- Escória líquida passa sobre mate dentro de um forno de produção de cobre
para recuperar o cobre nela contido. Essa operação se desenvolve dentro de um forno
de revérbero com 25 metros de comprimento e 9 m de largura. Assumindo que o mate
está estacionário e que a escória flui continuamente (vazão volumétrica 6,3 x 10-4 m3/s),
determinar:
- Equação de distribuição de velocidade na camada de escória;
- Fração de material que permanece no forno por um tempo superior a duas vezes o
tempo de residência médio.
A espessura da camada de escória é de 0,6 m.
Uma vista esquemática do sistema em análise é mostrada na figura abaixo.
Solução- Inicialmente, assume-se que o regime de escoamento é laminar. Como não
foi fornecida a inclinação do plano, deve-se usar o dado referente à vazão volumétrica
para resolver o problema.
A partir da equação (4.76), pode-se escrever a seguinte equação para a vazão
volumétrica de escória:
115
Rearranjando a equação acima, tem-se:
Substituindo a expressão acima, na equação (4.72), que fornece o perfil de velocidade
de um fluido escoando em um plano inclinado, tem-se:
Substituindo valores, obtém-se a equação para o perfil de velocidades: H = 0,6 m; W
= 9 m; Q = 6,3 x 10-4 m3/s;
O tempo de residência médio da escória no forno é dado por:
onde L é o comprimento do plano inclinado e V a velocidade média.
Pela equação (4.78), a velocidade média é dada por:
Dessa forma, para o material ter pelo menos dobro do tempo de residência médio no
forno, a sua velocidade deverá ser menor que ou igual à metade da velocidade média.
O ponto onde ocorre essa velocidade é determinado através da equação:
3H
μα cos ρg W = Q
3
W HQ 3 =
μα cos ρg
3
)2z -z (H
W HQ 3 = )
2z -z (H
μα cos g ρ = v
2
3
2
y
)z 0,5 -z (0,6 10 x 9,72 = )2z -z (0,6
(9) (0,6))10x (6,3 (3) = v 24-
2
3
-4
y
VL = t
sm/ 10 x 1,17 = (0,6) (9)
10 x 6,3 = H W
Q = V 4--4
210 x 1,17 = )z 0,5 -z (0,6 10 x 9,72 = v
-424-
y
116
A solução da equação acima permite determinar o ponto z que satisfaz a igualdade. O
valor obtido é:
Como a altura total da camada de escória é de 0,6 m, a fração de material cujo tempo
de residência no forno é pelo menos duas vezes o tempo médio é dada por:
4.3.3- Escoamento axial em um duto cilíndrico
Um dos tipos de escoamento de fluido mais comum é aquele que ocorre em um
duto cilíndrico ou tubo. Para se tratar um sistema com esta geometria, torna-se
interessante introduzir um novo sistema de coordenadas, as coordenadas cilíndricas.
O uso de coordenadas cartesianas (x, y e z), como feito nos itens anteriores, tornaria
bastante complicado o estudo do escoamento em tubos.
O sistema de coordenadas cilíndricas é apresentado na figura 4.8.
Pela figura 4.8, evidencia-se que a coordenada z corresponde à direção axial. A
coordenada r corresponde à distância à origem dos eixos no sistema de coordenadas
cilíndricas. A coordenada θ representa o ângulo de rotação em relação a uma linha de
referência. A posição de um determinado ponto em um sistema de coordenadas
cilíndricas pode, então, ser especificada em termos dos valores das coordenadas r, θ
e z. É importante enfatizar que a coordenada r corresponde à distância à origem e
nunca assume valores menores que 0. O valor do ângulo θ pode variar entre 0 e 2 π.
m 0,1102 =z
% 18,4ou 0,184 = 0,6
0) - (0,1102 = Fração
117
Figura 4. 8 - Sistema de coordenadas cilíndricas
O uso de coordenadas cilíndricas em problemas de escoamento em tubos é feito
com a finalidade de simplificar a parte matemática do estudo. Estes mesmos problemas
poderiam ser tratados usando coordenadas cartesianas, mas a parte matemática seria
mais elaborada.
Nesse item será, então, estudado o escoamento axial em um duto cilíndrico
vertical, considerando a existência de uma diferença de pressão ao longo do seu
comprimento. Este sistema é visto esquematicamente na figura 4.9. A mesma
seqüência de etapas adotada nos itens anteriores será empregada aqui.
Determinado o sistema de eixos coordenados, pode-se definir o elemento de
volume que será tomado como referência para desenvolvimento dos balanços de
massa e quantidade de movimento. Esse elemento está destacado em cinza na figura
4.9.
z
rθ
y
x
r
θ
118
Figura 4.9 - Vista esquemática do sistema para estudo do escoamento em dutos
cilíndricos
Com a escolha feita para os eixos coordenados, o transporte de quantidade de
movimento por convecção só ocorrerá na direção z (direção axial), que é a direção do
movimento macroscópico do fluido. Só existe força motriz (gravidade e diferença de
pressão) para o deslocamento nesta direção. Dessa forma, não há movimento na
direção radial nem na direção angular (movimento de rotação). O transporte de
quantidade de movimento por difusão ocorre na direção r, que é a direção do gradiente
de velocidade. A existência desse gradiente pode ser evidenciada observando que,
r
z
θ
Entrada de momentopor convecção
Saída de momentopor convecção
Entrada de momentopor difusão
Saída de momentopor difusão
z
z+Δz
P|z
P|z+Δz
R
119
junto à parede do tubo (posição r = R), o fluido está parado. Em qualquer outro ponto
no interior do tubo ( r ≠ R), o fluido está se movendo. Nesse ponto, é importante mais
uma vez mencionar que não há necessidade de se saber onde a velocidade é maior ou
menor, basta saber da existência do gradiente na direção r.
A partir da análise preliminar acima, pode-se agora desenvolver os balanços de
massa e de quantidade de movimento.
Balanço de massa
Considerando a direção do movimento macroscópico do fluido, pode-se enunciar
o balanço de massa da seguinte maneira:
Os pontos onde se considera entrada e saída de massa são determinados em
função da orientação dos eixos, e não em função do sentido de escoamento do fluido.
Nesse caso, ainda não se sabe o sentido de escoamento, pois este sentido vai
depender do valor da diferença de pressão existente. O fato dos pontos de entrada e
saída de massa serem definidos em função da escolha da orientação dos eixos
coordenados elimina a necessidade de se saber a priori o sentido de escoamento do
fluido.
As taxas de entrada e saída de massa podem ser avaliadas pelas expressões
abaixo:
[ ] [ ] )(4.82 0 = Δz +z =z em massa de saídade Taxa - z =z em massa de entrada de Taxa
[ ] 3)(4.8 |ρ) v Δr r π (2 = z =z em massa de entrada de Taxa zz=z
[ ] (4.84) |ρ) v Δr r π (2 = z Δ +z =z em massa de saídade Taxa Δz+zz=z
120
Nas equações (4.83) e (4.84), o produto 2 π r Δr corresponde à área do elemento
de volume perpendicular à direção do escoamento do fluido (direção z), vz é a
componente de velocidade e ρ é a densidade do fluido. O produto destes fatores tem
a dimensão de massa por unidade de tempo (taxa ou vazão de massa). O produto 2 π
r Δr vz é denominado vazão volumétrica e tem dimensão de volume por unidade tempo.
O balanço de massa pode, então, ser colocado na seguinte forma:
Pela mesma seqüência de procedimentos usada anteriormente, tem-se que o
próximo passo corresponde a dividir a equação acima pelo volume do elemento, 2 π r
Δr Δz. Tem-se:
Fazendo-se o limite quando Δz tender a zero, obtém-se:
Mais uma vez, é conveniente lembrar que o sinal negativo na equação acima vem
da definição de derivada primeira, dada por:
onde f é uma função qualquer (na equação (4.88), a função é o produto vz ρ). Observe
que os limites de avaliação da função f na definição de derivada são os opostos
(4.85) 0 = |ρ) v Δr r π (2 - |ρ) v Δr r π (2 Δz+zz=zzz=z
(4.87) 0 = Δz
|ρ) v( - |ρ) v(
(4.86) 0 = Δz Δr r π 2
|ρ) v Δr r π (2 - |ρ) v Δr r π (2
Δz+zz=zzz=z
Δz+zz=zzz=z
)(4.88 0 = zρ) v( - = 0 =
Δz|ρ) v( - |ρ) v(
lim zΔz+zz=zzz=z0Δz ∂
∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡→
(4.89) Δz
|(f) - |(f)lim =
dzdf zz=Δz+zz=
0Δz ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡→
121
daqueles que aparecem na equação (4.88).
Como foi assumido inicialmente que a densidade do fluido é constante, pode-se
rescrever a equação (4.88) da seguinte forma:
Como a densidade do fluido não é nula, obtém-se finalmente que:
A equação acima estabelece que a velocidade vz na situação sendo estudada não
depende da posição z (vz não é função de z).
Balanço de quantidade de movimento
Inicialmente, deve-se lembrar que quantidade de movimento pode ser transportado
por dois mecanismos: difusão e convecção. Ambos devem ser considerados quando
se estabelece o balanço. Considerando que quantidade de movimento por difusão é
transportado na direção do gradiente de velocidade (direção r) e que o transporte de
quantidade de movimento por convecção ocorre na direção do movimento
macroscópico do fluido (direção z), pode-se expressar o balanço de quantidade de
movimento da seguinte forma:
(4.90) 0 = zv ρ z
∂∂
(4.91) 0 = zvz
∂∂
122
É importante enfatizar novamente que os pontos de entrada e saída de quantidade
de movimento por convecção e por difusão são determinados em função da escolha da
orientação dos eixos coordenados, e não em função do conhecimento do sentido real
do transporte de quantidade de movimento por estes mecanismos. Não é necessário
conhecer a priori os sentidos de escoamento de quantidade de movimento para se
estabelecer os balanços de quantidade de movimento. Estes sentidos serão
determinados durante o desenvolvimento da análise do problema.
As diversas taxas que aparecem na equação acima podem ser avaliadas através
das expressões a seguir:
[ ] (4.94) |)v ρ v Δr r π (2 = Δz+z =z em convecção por momento de saídade Taxa Δz+z=zzz
[ ] )(4.96 |) zr (2 = rr = r em difusão por momento de saídade Taxa rr=rrz Δ+ΔΔ+ τπ
[ ]
[ ]
[ ]
[ ]
[ ] )(4.92 0 = volume de elemento no atuando forças de Somatório +
+ Δr + r = r em difusão por momento de saídade Taxa -
- r = r em difusão por momento de entrada de Taxa +
+ Δz +z =z em convecção por momento de saídade Taxa -
- z =z em convecção por momento de entrada de Taxa
[ ] (4.93) |)v ρ v Δr r π (2 = z =z em convecção por momento de entrada de Taxa zz=zz
[ ] )(4.95 |)zr(2 = r = r em difusão por momento de entrada de Taxa r=rrzτπ Δ
[ ]
(4.97) 0 = )|P - |(P Δr r π 2 + g) ρΔz Δr r π (2 +
volume de elemento no atuando forças de Somatório
Δz+zz
=
123
Na equação (4.97), o somatório de forças se refere apenas às forças que possuem
componentes na direção de escoamento do fluido. É importante lembrar que quantidade
de movimento é uma grandeza vetorial. O balanço de quantidade de movimento (ou
balanço de forças) sendo estabelecido nesse caso refere-se à direção z.
Nas equações (4.93) e (4.94), o produto 2 π r Δr vz ρ representa a vazão de
massa. Quando estes fatores são multiplicados pela velocidade vz, obtém-se
quantidade de movimento por unidade de tempo, que corresponde à taxa de quantidade
de movimento.
Nas equações (4.95) e (4.96), τrz representa o fluxo de quantidade de movimento
por difusão (veja capítulo 3). Quando este fluxo é multiplicado pela área normal à sua
direção, 2 π r Δz, obtém-se a taxa de quantidade de movimento por difusão.
Na equação (4.97), a primeira parcela do lado direito da igualdade refere-se à
força da gravidade (que é uma força que atua no volume do elemento considerado).
Nessa parcela, 2 π r Δr Δz representa o volume do elemento. Quando este produto é
multiplicado pela densidade, ρ, obtém-se a massa do elemento de volume. Finalmente,
multiplicando esta massa pela aceleração da gravidade (g), obtém-se a força da
gravidade. A segunda parcela do lado direito é a força decorrente da diferença de
pressão. Esta força atua perpendicularmente (pressão é sempre associada a uma força
normal) à área 2 π r Δr do elemento de volume. O produto da área pela diferença de
pressão vai fornecer a força associada a esta diferença de pressão.
Substituindo as expressões de (4.93) a (4.97) na equação (4.92), obtém-se a
equação geral do balanço de quantidade de movimento para o problema em análise:
(4.98) 0 = )|P - |(P Δr r π 2 + g) ρΔz Δr r π (2 +
]|)Δz r π (2 - |)Δz r π [(2 + ]|)v ρ v Δr r π (2 - |)v ρ v Δr r π [(2
Δz+zz
Δr+r=rrzr=rrzΔz+zz=zzzz=zz ττ
124
Dividindo pelo volume do elemento, obtém-se:
É importante destacar que na segunda parcela da equação (4.100), o raio r que
aparece no numerador e no denominador não pode ser cortado. No numerador, este
raio é avaliado em duas posições diferentes, r e r + Δr. O termo (r τrz)|r+Δr é equivalente
a ( r + Δr) (τrz)|r+Δr. Dessa forma, a maneira mais simples de fazer o desenvolvimento
matemático, que será apresentado a seguir, consiste em deixar o termo r no
denominador e no numerador.
Tomando o limite da equação (4.100) quando o volume do elemento tende a zero
(Δr e Δz → 0), tem-se:
Usando-se o conceito de derivada primeira, como já feito anteriormente, obtém-
se:
Do balanço de massa, sabe-se que:
00)(4.1 0 = Δz
)|P - |(P + g) (ρ +
Δr r]|) (r - |) [(r
+ Δz
]|)v ρ v( - |)v ρ v[(
(4.99) 0 = Δz Δr r π 2
)|P - |(P Δr r π 2 + g) ρΔz Δr r π (2 +
+ Δz Δr r π 2
]|)Δz r π (2 - |)Δz r π [(2 +
Δz Δr r π 2]|)v ρ v Δr r π (2 - |)v ρ v Δr r π [(2
Δz+zzΔr+r=rrzr=rrzΔz+zz=zzzz=zz
Δz+zz
Δr+r=rrzr=rrzΔz+zz=zzzz=zz
ττ
ττ
(4.102) 0 = zP - g ρ +
r r) (r -
z)v ρ v( - rzzz
∂∂
∂∂
∂∂ τ
)10(4.1 0 =
Δz)|P - |(P
+ g) (ρ
+Δr r
]|) (r - |) [(r +
Δz]|)v ρ v( - |)v ρ v[(
limΔz+zz
Δr+r=rrzr=rrzΔz+zz=zzzz=zz
0z,r
⎪⎪⎭
⎪⎪⎬
⎫
⎪⎪⎩
⎪⎪⎨
⎧
→ΔΔ
ττ
125
Como o fluido possui densidade constante, pode-se escrever que:
Logo:
As derivadas parciais acima podem ser transformadas em ordinárias, pois τrz só
depende de r e a pressão só varia com z.
Considerando um comprimento L do tubo, o gradiente de pressão que aparece na
equação (4.104) pode-se escrito da seguinte forma:
onde Po e PL são as pressões em pontos z = zo e z = zL, respectivamente.
Substituindo a equação (4.105) em (4.104), obtém-se finalmente a equação
diferencial que rege o escoamento do fluido em um tubo.
A equação diferencial acima pode ser integrada através de separação de
variáveis, para se obter:
(4.103) 0 = z
)v( v ρ 2 = z
)v v( ρ z
zzz
∂∂
∂∂
(4.104) 0 = zP - g ρ +
r r) (r
- rz
∂∂
∂∂ τ
(4.91) 0 = z
)v( z
∂∂
(4.105) L
P - P = zP - Lo
∂∂
(4.106) 0 = L
P - P + g ρ + r r
) (r - Lorz
∂∂ τ
(4.108) C + 2r
LP - P + g ρ = ) (r
(4.107) dr r L
P - P + g ρ = ) d(r
1
2Lo
rz
Lorz
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡∫∫
τ
τ
126
onde C1 é uma constante de integração.
A equação (4.108) é válida para a seguinte faixa de valores de r:
Para esta equação ser válida em r = 0, o valor de C1 deve ser obrigatoriamente
igual a 0. Isso é verdadeiro desde que τrz, ρg e (Po - PL)/L sejam números finitos1. Essa
condição é normalmente atendida e, dessa forma, pode-se assumir que C1 seja igual
a 0.
Com esse valor de C1, pode-se rescrever a equação (4.108) da seguinte forma:
Pela lei de Newton da viscosidade, pode-se escrever que:
Combinando as equações (4.109) e (4.110), obtém-se:
Separando variáveis e integrando novamente, tem-se:
1 Lembre-se que o produto de qualquer número finito por zero é zero. O produto de infinito por zero
é indeterminado.
R r 0 ≤≤
(4.109) 2r
LP - P + g ρ = )( Lo
rz ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
τ
)(4.110 drvd μ - = z
rzτ
(4.111) 2r
LP - P + g ρ =
drvd μ - = Loz
rz ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
τ
(4.113) C + 4r
LP - P + g ρ
μ1 - = v
(4.112) 2dr r
LP - P + g ρ
μ1 - = vd
2
2Lo
z
Loz
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡∫∫
127
onde C2 é uma nova constante de integração. A integração acima foi feita assumindo-se
viscosidade e densidade do fluido constantes.
A equação (4.113) fornece uma equação genérica para o perfil de velocidade
dentro de um duto cilíndrico. Para se ter o perfil específico para o caso em estudo,
deve-se determinar o valor da constante C2. Esta constante é determinada a partir do
uso de uma condição de contorno. Sabe-se que nas interfaces sólido-líquido, a
velocidade do fluido se iguala à velocidade do sólido. Dessa forma, pode-se afirmar
que:
Aplicando esta condição de contorno na equação do perfil de velocidade, tem-se:
Da equação acima, pode-se determinar o valor de C2 e finalmente obter a
expressão para o perfil de velocidades:
(verifique que o perfil acima atende às condições de contorno).
A equação (4.114) representa um perfil parabólico.
Alguns comentários podem ser feitos em relação à equação do perfil de
velocidades acima.
Como a viscosidade do fluido tem um valor sempre maior que zero e o termo (R2
- r2) é maior que ou igual a zero, o sentido da velocidade do fluido, para baixo ou para
cima (velocidades positivas ou negativas, respectivamente), depende unicamente do
sinal do termo entre colchetes. Nota-se que:
R = r em 0 = v : contorno de Condição z
(C.C.) C + 4R
LP - P + g ρ
μ1 - = 0 2
2Lo⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
)(4.114 4
)r - R( L
P - P + g ρ μ1 = v
22Lo
z ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
128
Este termo representa a força motriz para a ocorrência do escoamento. Quando
não há diferença de pressão, o escoamento ocorre só em virtude da força da gravidade
e as velocidades serão positivas (fluido desce). Nesse caso, o perfil de velocidades será
dado por:
Pela equação acima, evidencia-se que no caso de um fluido escoando apenas
devido à gravidade, as velocidades são inversamente proporcionais à viscosidade
cinemática do fluido. Essa propriedade é que realmente define a resistência que um
fluido oferece ao escoamento. Quanto maior a viscosidade cinemática, maior será a
resistência ao escoamento e menores serão as velocidades. Um ponto interessante a
ser observado é que o aço e a água possuem viscosidades cinemáticas
aproximadamente iguais (verifique isso usando os dados do Capítulo 3).
A equação (4.114) pode ser facilmente modificada para o caso de dutos
inclinados. Se β é o ângulo que o tubo faz com a vertical, o perfil de velocidades é dado
por:
parado) (fluido nulas svelocidade 0 = L
P - P + g ρ
sobe)(fluido negativas svelocidade 0 < L
P - P + g ρ
desce) (fluido positivas svelocidade 0 > L
P - P + g ρ
Lo
Lo
Lo
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
)(4.115 4
)r - R( νg =
4)r - R( g =
4)r - R(
μ g ρ = v
222222
z
⎟⎠⎞⎜
⎝⎛
ρμ
(4.116) 4
)r - R( L
P - P + β cos g ρ μ1 = v
22Lo
z ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
129
Quando β = 90o, o tubo está na horizontal e o efeito da gravidade é anulado. A
única força motriz para o escoamento nesse caso seria a diferença de pressão.
A partir do perfil de velocidades acima, uma série de informações a respeito do
sistema pode ser obtida.
Pela equação (4.114), observa-se que a velocidade máxima do fluido ocorre no
centro do tubo (r = 0) e é dada por:
Usando-se esta expressão para a velocidade máxima, pode-se rescrever o perfil
de velocidades na seguinte forma:
A equação (4.109) fornece o perfil do fluxo de quantidade de movimento por
difusão ou tensão de cisalhamento ao longo do raio do tubo. Na parede do duto (r = R),
essa tensão é dada por:
O perfil da tensão de cisalhamento pode, então, ser expresso da seguinte forma:
A figura 4.10 mostra esquematicamente os perfis de velocidade e tensão de
cisalhamento ao longo do raio do tubo, conforme indicado pelas equações (4.118) e
(4.117) 4R
LP - P + g ρ
μ1 = v
2Lomax
z ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
(4.118) Rr - 1 =
vv
2
x mz
z ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
(4.119) 2R
LP - P + g ρ = )( Loparede
rz ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
τ
)(4.120 Rr =
)()(
parederz
rz
ττ
130
(4.120), respectivamente.
Figura 4.10 - Perfis de velocidade e tensão de cisalhamento ao longo do raio de um
duto cilíndrico
Além dos perfis de velocidade e da tensão de cisalhamento, pode-se determinar
também as vazões volumétrica e de massa de fluido no interior do tubo. O
procedimento a ser adotado é similar ao empregado nos casos analisados
anteriormente. As vazões são calculadas somando-se as quantidades de fluido que
escoam em cada porção infinitesimal de área ao longo do raio do tubo. Como a
velocidade só depende da posição radial, esse elemento infinitesimal de área
corresponderia a um pequeno anel de espessura radial dr. Pelas parcelas do balanço
de massa, sabe-se que, em cada uma camada infinitesimal, a quantidade de fluido que
escoa é dada por:
onde dQ é a vazão volumétrica infinitesimal ao longo de um anel de área equivalente
r
z
v
vz
zmáx
0
1
r
z
τ rz
0
1
τ rzparede
Perfil de velocidades parabólico Perfil linear do fluxo de momentoou tensão de cisalhamento
r=R r=R r=R r=R
(4.121) )v dr r π (2 = dQ z
131
a 2 π r dr.
Integrando-se a equação (4.121) entre o centro e parede do tubo, pode-se
determinar a vazão volumétrica do fluido:
Como a velocidade do fluido varia em função da posição (equação (4.114)), pode-
se substituir o perfil de velocidades na expressão (4.39), para obter:
A expressão (4.124) é conhecida como equação de Hagen-Poiseuille.
Como já visto anteriormente, a vazão de massa é dada pelo produto da vazão
volumétrica pela densidade do fluido:
A velocidade média é determinada dividindo-se a vazão volumétrica pela área total
disponível para o escoamento. Nesse caso, essa área é a área da seção transversal
do tubo (π R2).
Logo:
Um outro parâmetro que pode ser avaliado a partir dos dados acima é a
)(4.122 )v dr r π (2 =dQ z
R=r
=0r
R=r
=0r∫∫
(4.124) L
P - P + g ρ μ 8R π =Q
(4.123) dr 4
)r - R( L
P - P + g ρ μ1 r π 2 =dQ
Lo4
22Lo
R=r
=0r
R=r
=0r
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡∫∫
(4.125) L
P - P + g ρ μ 8R ρ π = Q ρ = Γ Lo
4
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
(4.126) L
P - P + g ρ μ 8
R = V Lo2
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
132
componente vertical (direção z) da força que o fluido exerce sobre a parede do tubo.
Essa força corresponde ao produto da tensão de cisalhamento na interface fluido-
parede pela área superficial da parede do tubo ao longo de um comprimento L. Dessa
forma, tem-se:
Na equação (4.128), a primeira parcela do lado direito da igualdade corresponde
à força associada ao peso do fluido, e o segundo termo é a força ligada à diferença de
pressão. O que a equação (4.128) mostra é que a força de atrito entre o fluido e a
parede é igual à soma do peso do fluido e a força associada à diferença de pressão, ou
seja, as forças que causam o escoamento se igualam à força que resiste ao movimento
do fluido. Em termos globais, o somatório de forças atuando no fluido é nulo e o fluido
se move com velocidade constante (de acordo com a segunda lei de Newton!).
Todas as relações obtidas nesse item são válidas apenas para o caso de
escoamento laminar. Para tubos, esse é o regime de escoamento quando se satisfaz
a condição abaixo:
onde D é o diâmetro do tubo.
No desenvolvimento feito, foram também desprezados os efeitos de entrada e
saída do fluido no duto. Na realidade, os efeitos da entrada se manifestam em
comprimentos inferiores a Le , estimado através da seguinte expressão:
(4.129) 2100 < μρ V D = Re
(4.130) Re D 0,035 = Le
(4.128) )P - P( R π + g ρ L R π = F
(4.127) 2R
LP - P + g ρ L R π 2 = )( L R π 2 = F
Lo22
z
Loparederzz ⎥⎦
⎤⎢⎣⎡
τ
133
Exemplo- Água escoa através de um tubo horizontal com diâmetro de 1,59 x 10-3 m e
sob uma diferença de pressão de 904,82 Pa/m. Determinar a vazão de massa da água
no tubo.
Dados: - densidade da água = 1000 kg/m3;
- viscosidade da água = 0,001 Pa.s.
Solução- Usando a equação (4.125) para a vazão de massa, tem-se para tubos
horizontais que:
Substituindo dados na relação acima, obtém-se:
Finalmente, deve-se verificar a validade do cálculo acima. Para tal, avalia-se o número
de Reynolds. Combinando-se as expressões para a vazão de massa, velocidade média
e a definição do número de Reynolds para tubos, tem-se:
Como Re < 2100, o cálculo desenvolvido é válido.
Exercício de demonstração - Use os conceitos de balanço de massa e quantidade de
movimento desenvolvidos neste capítulo, para demonstrar que, para o sistema visto na
figura abaixo, o perfil de velocidades e a vazão volumétrica do fluido escoando entre as
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
LP - P
μ 8R ρ π = Γ Lo
4
[ ] skg/ 10 x 1,42 = 904.82 (0,001) 8
)2
10 x 1,59( (1000) π = Γ 4-
4-3
113,7 = (0,001) )10 x 1,59( π
)10 x (1,42 4 = μ D πΓ 4 = Re
3-
-4
134
placas são expressos por:
onde W é a largura das placas.
4.3.4- Escoamento em dutos concêntricos
Em muitas situações de interesse prático, tem-se o escoamento de fluidos em
tubos concêntricos. Um exemplo típico de aplicação desse tipo de sistema é o da
refrigeração da lança de injeção de oxigênio no processo LD de fabricação de aço.
Nesse caso, oxigênio é transportado através de um tubo central, que é envolvido por
um outro tubo de diâmetro maior, dentro do qual circula a água de resfriamento.
A figura 4.11 mostra uma vista esquemática da configuração a ser estudada. O
fluido está escoando na região localizada entre os tubos de diâmetro menor e o de
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
LP - P
μδ W
32 =Q
δy - 1
μ 2δ
LP - P = v
Lo3
22Lo
x
x=0 x=L
xy
2δ
x = δ
x = - δ
P Po L
Fluido
Placas paralelas e horizontais
135
diâmetro maior. Novamente, vai se analisar a situação onde o fluido apresenta
velocidades apenas na direção z. As forças motrizes para ocorrência do escoamento
são a força da gravidade e a diferença de pressão. O sistema é análogo àquele
apresentado na figura 4.9. Desse modo, o elemento de volume a ser considerado será
similar ao usado nos balanços desenvolvidos no item 4.3.3. Este elemento está
destacado em cinza na figura 4.11.
Figura 4.11 - Vista esquemática do sistema de tubos cilíndricos concêntricos e do
elemento de volume usado nos balanços de massa e de quantidade de
movimento
Como o elemento de volume acima é análogo ao do caso estudado no item
anterior, não há necessidade de se refazer os balanços de massa e de quantidade de
movimento. O ponto de partida para o tratamento deste problema pode ser a equação
(4.108), que fornece o perfil de tensão de cisalhamento ou fluxo de quantidade de
movimento no fluido. Essa equação é reproduzida abaixo:
kR
R
r
z
Δr
z = z
z = z
o
L
P
P
o
L
Fluido
Elementode volume
136
No caso analisado anteriormente, essa equação era válida no seguinte domínio
de valores de posição radial:
A condição de τrz finito em r = 0 serviu, então, de condição de contorno para se
determinar o valor de C1.
No sistema de tubos concêntricos, a região de interesse para análise é definida
pela seguinte expressão:
Obviamente, esta região não inclui o ponto r = 0 e, desse modo, a condição de
contorno acima não pode ser aplicada na determinação de C1. O valor dessa constante
será obtido através da substituição da lei de Newton da viscosidade na equação (4.108)
e de sua integração para obter o perfil de velocidades.
Combinando as equações (4.109) e (4.110), obtém-se:
Separando variáveis e integrando, tem-se:
onde C2 é uma nova constante de integração. A integração acima foi feita novamente
)(4.108 C + 2r
LP - P + g ρ = ) (r 1
2Lo
rz ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
τ
R r 0 ≤≤
R r kR ≤≤
)(4.131 r
C + 2r
LP - P + g ρ =
drvd μ - = 1Loz
rz ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
τ
(4.133) C + r ln μ
C - 4r
LP - P + g ρ
μ1 - = v
(4.132) dr r μ
C - 2dr r
LP - P + g ρ
μ1 - = vd
21
2Lo
z
1Loz
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡∫∫
137
assumindo-se viscosidade e densidade do fluido constantes.
As constantes C1 e C2 são determinadas a partir de condições de contorno.
Considerando-se que nas interfaces sólido-líquido, a velocidade do fluido se iguala à
velocidade do sólido, pode-se definir as duas condições de contorno necessárias. Tem-
se que:
Aplicando estas condições de contorno na equação do perfil de velocidade, obtém-
se:
Das equações acima, pode-se determinar os valores de C1 e C2 :
Substituindo as expressões de C1 e C2 na equação do perfil de velocidades,
obtém-se após alguns rearranjos:
(verifique que o perfil acima atende às condições de contorno).
R = r em 0 = v : 2 contorno de Condição
kR = r em 0 = v : 1 contorno deCondição
z
z
C + (R) ln μ
C - 4
)(R L
P - P + g ρ μ1 - = 0
C + (kR) ln μ
C - 4
)(kR L
P - P + g ρ μ1 - = 0
21
2Lo
21
2Lo
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
(4.135) R ln k ln
)k - (1 + 1 μ 4
R L
P - P + g ρ = C
(4.134) k ln
)k - (1 4R
LP - P + g ρ = C
22Lo
2
22Lo
1
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
(4.136) Rr ln
1/k ln)k - (1 +
Rr - 1
μ 4R
LP - P + g ρ = v
222Lo
z⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
138
Conhecendo-se o perfil de velocidades, outras grandezas de importância podem
ser determinadas.
Inicialmente, pode-se determinar a posição onde ocorre e o valor da velocidade
máxima (ou mínima, dependendo do sentido do escoamento). Para tal, basta derivar
a equação do perfil de velocidade e igualar a expressão obtida a zero. Com tal
procedimento, obtém-se:
- Posição radial onde ocorre a velocidade máxima (ou mínima):
- Valor da velocidade máxima (ou mínima):
Por procedimento similar ao empregado nos itens anteriores, pode-se avaliar a
vazão volumétrica do fluido:
A velocidade média é determinada pela seguinte expressão:
É interessante observar que as equações obtidas para os dutos concêntricos
tendem para aquelas de escoamento em tubos quando k se aproxima de zero.
(Verifique esta afirmativa como exercício).
As relações desenvolvidas nesse item são válidas para escoamento laminar.
Nesse caso, o escoamento laminar predomina quando o número de Reynolds, definido
(4.137) (1/k) ln 2
)k - (1 R = r2
x ma
(4.138) (1/k) ln 2
)k - (1 ln (1/k) ln 2
)k - (1 + (1/k) ln 2
)k - (1 - 1 μ 4
R L
P - P + g ρ = v2222
Lozmax ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
)(4.139 (1/k) ln
)k - (1 - k - 1 μ 8
R L
P - P + g ρ = dr v r π 2 = Q2 2
44
Loz
R=r
kR=r ⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎥⎦⎤
⎢⎣⎡∫
)(4.140 (1/k) ln
)k - (1 - )k - (1)k - (1
μ 8R
LP - P + g ρ =
)k - (1 R πQ = v
2
2
42Lo
22z ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
139
pela equação abaixo, é inferior a 2000:
onde D é o diâmetro do tubo externo.
4.3.5- Escoamento laminar bifásico
Em algumas situações de interesse prático, tem-se o escoamento de dois líquidos
imiscíveis de densidades diferentes. Como são dois fluidos diferentes (duas fases), é
costume se denominar este tipo de escoamento de bifásico. Um exemplo típico desse
tipo de escoamento é do vazamento de ferro gusa e escória pelo canal de corrida de
um alto-forno. Nesse caso, o ferro gusa mais denso escoa pela parte inferior do canal,
e a escória mais leve se desloca sobre o gusa.
O que aparece de novo nesse tipo de sistema são as condições de contorno que
devem ser aplicadas na interface entre os dois fluidos. Essas condições se baseiam na
continuidade dos perfis de velocidade e do fluxo de quantidade de movimento (ou
tensão de cisalhamento). Desse modo, pode-se afirmar que na interface entre os dois
líquidos tem-se:
- velocidade no líquido 1 = velocidade no líquido 2;
- fluxo de quantidade de movimento no líquido 1 = fluxo de quantidade de movimento
no líquido 2.
Essas duas condições de contorno devem ser usadas para se determinar o perfil
de velocidades nos líquidos nesse tipo de sistema.
Considerando-se o sistema ilustrado na figura 4.12, pode-se desenvolver
(4.141) 2000 < μ
ρ V k) - (1 D = Re z
140
balanços de massa e quantidade de movimento para determinar o perfil de velocidades
dos líquidos.
Figura 4.12 - Escoamento de dois líquidos entre placas planas e paralelas
O escoamento está ocorrendo na direção x, e apenas em decorrência da diferença
de pressão. Como o sistema acima é similar a casos já tratados, pode-se partir de
informações já obtidas anteriormente.
Pelo balanço de massa, sabe-se que (ver equação (4.16) deduzida enteriormente):
Do exemplo de demonstração resolvido acima, pode-se escrever que:
x=0 x=L
xy
y = h
y = - h
P Po L
Fluido A: ρ , μ
Placas paralelas e horizontais
Fluido B: ρ , μInterface
a a
b b
(4.142) 0 = xvx
∂∂
(4.144) C +y L
P - P = τ
(4.143) C +y L
P - P = τ
B1
LoByx
A1
LoAyx
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
141
Como os perfis de tensão de cisalhamento nos dois líquidos não são
necessariamente iguais, deve-se escrever uma equação para cada líquido, com as
respectivas constantes de integração, C1A e C1
B.
Pelas condições fornecidas inicialmente, sabe-se que na interface entre os líquidos
(posição y = 0), os dois fluxos de quantidade de movimento (ou tensão de cisalhamento)
acima são iguais. Logo:
Nesse caso, as duas constantes de integração são iguais e pode-se continuar o
desenvolvimento adotando-se apenas uma constante C1.
Usando a lei de Newton da viscosidade, pode-se escrever que:
Integrando as equações acima assumindo viscosidades constantes, obtém-se:
As constantes de integração acima são determinadas com as seguintes condições
de contorno:
(C.C.1) C = C = C
(C.C.1) τ = τ : 0 =y
1B1
A1
Byx
Ayx
(4.145) CyL
PPy
vμ 1
LoAx
aAyx +⎥⎦
⎤⎢⎣⎡ −
=∂
∂−=τ
(4.146) CyL
PPy
vμ 1
LoBx
aByx +⎥⎦
⎤⎢⎣⎡ −
=∂
∂−=τ
)(4.148 C + μC -
2y
LP - P
μ1 - = v
(4.147) C + μC -
2y
LP - P
μ1 - = v
B2
b
12
Lo
b
Bx
A2
a
12
Lo
a
Ax
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
142
Das condições de contorno acima, pode avaliar as constantes de integração:
Com estas constantes, pode-se determinar finalmente os perfis de velocidades na
duas camadas de fluidos:
Quando as viscosidades dos líquidos forem iguais (μa = μb), as expressões acima
se igualam àquelas obtidas para escoamento de um único fluido entre placas paralelas
horizontais.
As expressões para vazão de massa, volumétrica e velocidade média são
determinadas de modo análogo ao que foi feito nos itens anteriores. Pode-se
demonstrar que as velocidades médias nas camadas são dadas por:
)(C.C.4 0 = v : h =y
(C.C.3) 0 = v : h - =y
(C.C.2) v = v : 0 =y
Bx
Ax
Bx
Ax
(4.150) μ + μμ 2
μ2
h L
P - P = C
(4.149) μ + μμ - μ
2h
LP - P - = C
C = C = C
ba
a
a
2Lo
2
ba
baLo1
2B2
A2
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
(4.152) hy -
hy
μ + μμ - μ
+ μ + μμ 2
2h
LP - P
μ1= v
(4.151) hy -
hy
μ + μμ - μ
+ μ + μ
m 2
2h
LP - P
μ1= v
2
ba
ba
ba
b2
Lo
b
Bx
2
ba
ba
ba
a2
Lo
a
Ax
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
143
Finalmente, torna-se interessante determinar onde a velocidade será máxima.
Para tal, basta derivar os perfis de velocidades e igualar o resultado a zero.
Das equações acima, constata-se que a derivada será zero quando o termo entre
colchetes for zero. Assim, o ponto de velocidade máxima será dado por:
Uma análise da equação acima permite concluir que:
- se μa > μb: yv máx > 0, o que significa que a maior velocidade ocorrerá na camada de
fluido B, que é o líquido menos viscoso;
- se μa < μb: yv máx < 0, significando que a maior velocidade ocorrerá na camada de
fluido A, que é o líquido menos viscoso;
- se μa = μb: yv máx = 0. A maior velocidade ocorrerá no centro da distância entre as
placas.
É interessante observar que a maior velocidade ocorrerá sempre na camada de
(4.154) μ + μμ 7 + μ
12h
LP - P
μ1= v
(4.153) μ + μμ + μ 7
12h
LP - P
μ1= v
ba
ba2
Lo
b
Bx
ba
ba2
Lo
a
Ax
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
(4.156) 0 = μ + μμ - μ
2h +y -
LP - P
μ1 =
yv
(4.155) 0 = μ + μμ - μ
2h +y -
LP - P
μ1 =
yv
ba
baLo
b
Bx
ba
baLo
a
Ax
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
(4.157) μ + μμ - μ
2h = y
ba
bav x m ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
144
fluido de menor viscosidade.
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
R.B. BIRD; W.E. STEWART; E.N. LIGHTFOOT. Transport Phenomena. John Wiley &
Sons, New York, 1960, 780 p.
R.I.L. GUTHRIE. Engineering in Process Metallurgy. Oxford Science Publications,
Oxford, 1992, 528 p.
146
EXERCÌCIOS
1- Um método para determinação do raio de tubos capilares consiste na medida da
vazão de fluido através desse tubo. Avaliar o diâmetro do capilar que apresentou os
seguintes dados de escoamento:
- comprimento do capilar: 50,02 cm;
- viscosidade cinemática do fluido: 4,03x10-5 m2/s;
- densidade do fluido: 0,9552x103 kg/m3;
- queda de pressão ao longo do tubo capilar (horizontal): 4,829x105 N/m2;
- vazão de massa através do tubo: 2,997x10-3 Kg/s.
2- Dois cilindros concêntricos horizontais possuem um comprimento de 8,23m. O
diâmetro externo do cilindro interno é 1,26 cm. O diâmetro interno do cilindro externo
é 2,79 cm. Uma solução aquosa é bombeada entre os dois cilindros. A densidade
dessa solução é 1286,3 kg/m3 e a sua viscosidade é 0,0565 kg/m.s. Determinar a
vazão volumétrica do fluido quando a queda de pressão é 3,716x104 N/m2.
3- Um líquido está escoando por gravidade através de um tubo vertical com
comprimento de 1 ft e diâmetro interno de 0,1 in. A densidade do líquido é 1,26 g/cm3
e a vazão de massa é 0,005 lb/min. Determinar a viscosidade do fluido em unidades
do sistema internacional. Testar a validade dos resultados obtidos.
4- Desenvolver expressões para o escoamento de um fluido entre duas placas paralelas
verticais. As placas são separadas por uma distância 2 δ. Considerar estado
147
estacionário e fluido de densidade e viscosidade constantes. Incluir a diferença de
pressão. Obter relações para:
- distribuição de velocidade;
- vazão volumétrica do fluido.
Relacionar a velocidade média a velocidade máxima.
5- Água está colocada entre duas placas paralelas, planas infinitas distantes 3 cm uma
da outra. Se as placas se movem em sentidos opostos com velocidades de 0,18 m/s
e 0,21 m/s, deduzir a expressão do perfil de velocidade e calcular a velocidade média
da água. Fazer um diagrama do sistema em análise.
Dados:
- densidade da água: 1 g/cm3;
- viscosidade da água: 1 cP.
6- Em experiências de absorção de gás, um fluido viscoso escoa de baixo para cima
através de um tubo circular. No final do tubo ocorre um transbordamento e o fluido
escoa, de cima para baixo sobre a superfície externa do tubo. Deduzir a expressão
de distribuição de velocidade no fluido que escoa sobre a superfície externa do tubo.
Propor uma equação para avaliação da vazão volumétrica de fluido.
148
7- Um arame de aço de raio R é resfriado em um tanque de óleo, conforme mostrado
na figura a seguir. Este tipo de resfriamento ocorre em vários processos de
tratamentos térmicos de metais. A partir das equações de balanço de massa e
quantidade de movimento, determinar uma equação para o perfil de velocidades do
fluido que escoa no trecho L indicado na figura. Neste trecho, o diâmetro do tubo no
interior do tanque é KR. Considerar estado estacionário, fluido de densidade e
viscosidade constantes e que a pressão no interior do tanque é uniforme. A
velocidade do arame é V.
aR
R
r
zz = zo
z = zL
Fluido
Transbordo
Ar
Reservatório de óleo
Arame
L
149
8- Uma técnica utilizada na determinação da vazão de fluidos em dutos cilíndricos
consiste em medir a diferença de pressão entre dois pontos ao longo da tubulação,
conforme visto na figura a seguir.
Através de balanços de massa e de quantidade de movimento, obter uma equação
matemática que expresse o perfil de velocidade do fluido em função da posição radial
no tubo. A partir dessa equação, desenvolver uma expressão matemática
relacionando a vazão volumétrica do fluido com a diferença de pressão entre os
pontos 1 e 2, expressa em termos da diferença da altura da coluna de água no
manômetro. Aplicar a fórmula desenvolvida para determinar a vazão volumétrica de
N2, nas seguintes condições:
- diâmetro do tubo: 10 polegadas;
- diferença de altura da coluna de água no manômetro: 6 mm;
- densidade da água: 1 g/cm3;
- densidade do nitrogênio: 1 kg/m3;- distância entre os pontos 1 e 2: 8 ft;
h
1 2
Fluido
L
D
Água
150
- temperatura: 298 K;
- propriedades do nitrogênio (para avaliação da viscosidade):
- massa atômica: 28,02 g/mol - σ = 3,681 A - ε / kB = 91,5 K
Expressar os resultados em unidades do sistema internacional.
9- Em uma máquina de lingotamento contínuo, tem-se a configuração vista
esquematicamente na figura abaixo. Determinar o perfil de velocidades no interior da
camada de escória lubrificante, em função das velocidades UMOLDE e ULINGOTAMENTO.
Assumir escoamento laminar, μ e ρ constantes. Considerar que se atinge o estado
estacionário instantaneamente para cada valor de velocidade do molde, que é
oscilatório.
A partir do resultado acima, como você faria para avaliar o consumo desta escória,
considerando que o molde possui quatro faces iguais de largura W ?
Aço - Veio
Molde Escória
VISTA DE CIMA
A A'
CORTE A-A'
x
y
δ
Aço - Veio
Molde
Ulingotamento
Pressão P
Pressão P
W
W
Umolde
x = direção vertical
Esc
ória
Escória
151
5- EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE ESCOAMENTO DE
FLUIDOS
No capítulo anterior, a distribuição de velocidades para escoamento em sistemas
simples e unidimensionais foi determinada a partir de balanços de quantidade de
movimento em um determinado elemento de volume desse sistema. A distribuição de
velocidade foi, então, usada para calcular outras quantidades, tais como velocidade
média, vazão volumétrica e força exercida pelo fluido na superfície do sólido.
Entretanto, não é necessário formular um balanço de quantidade de movimento sempre
que se começa a analisar um novo problema de escoamento. Na realidade, existe uma
forma mais segura e rápida de abordar esses problemas. Ela consiste no uso das
equações gerais de conservação de massa e quantidade de movimento. Essas
equações são, então, simplificadas para se ajustar ao problema em estudo.
As equações diferenciais mencionadas acima regem o escoamento laminar de
fluidos em sistemas tridimensionais e transientes.
A equação da continuidade é obtida a partir da aplicação do princípio de
conservação de massa a um pequeno elemento de volume no fluido.
A equação do movimento é uma generalização do balanço de quantidade de
movimento que foi aplicado no capítulo anterior. A combinação dessa equação com a
equação da continuidade permite resolver todos os problemas abordados no capítulo
anterior e problemas mais complexos.
Antes de se iniciar o desenvolvimento das equações da continuidade e do
movimento, é interessante distinguir os três tipos de derivadas parciais do tempo.
Considere-se que se deseja fornecer a concentração de peixes em um
152
determinado rio. Como os peixes estão se movendo, a sua concentração “c” será
função da posição ( x, y e z) e do tempo t. Desse modo, pode-se definir três derivadas
em relação ao tempo.
a) Derivada parcial em relação ao tempo, ∂C/∂t
Nesse caso, observa-se a variação da concentração de peixes com o tempo em
um ponto fixo no espaço. Desse modo, ∂C/∂t significa derivada parcial de “c” com
respeito a “t”, mantendo, x, y e z constantes.
b) Derivada total em relação ao tempo, dc/dt
Considere-se que agora, ao invés de se analisar um ponto fixo, toma-se um barco
a motor e começa-se a movimentar ao longo do rio. Ao se fornecer a variação da
concentração com o tempo, os números vão refletir também o movimento do barco.
Logo, a derivada total com o tempo é dada por:
onde ∂x/∂t, ∂y/∂t e ∂z/∂t são componentes da velocidade do barco.
c) Derivada segundo o movimento.
Suponha-se que agora ao invés de se tomar um barco a motor, entra-se numa
canoa sem remo e segue-se a correnteza. A variação de concentração de peixes com
o tempo vai depender também da velocidade da correnteza. Essa derivada é
denominada derivada seguindo o movimento e é dada por:
(5.1) tz
zc +
ty
yc +
tx
xc +
tc =
dtdc
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
(5.2) zc v +
yc v +
xc v +
tc =
dtdc
zyx ∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
153
sendo que vx, vy e vz são as componentes da velocidade local do fluido.
Pode-se agora iniciar o desenvolvimento das equações da continuidade e do
movimento.
5.1. Equação da continuidade
A equação geral do balanço de massa é:
Essa equação é aplicada a um elemento de volume estacionário Δx Δy Δz, ao
longo do qual o fluido está se movendo, conforme se vê na figura 5.1.
Figura 5.1 - Elemento de volume para balanços de massa e de quantidade de
movimento
Expressando cada um dos termos acima e considerando as três direções, tem-se:
- taxa de acumulação de massa:
[ ] [ ] [ ] (5.3) massa de acumulação de Taxa = massa de saídade Taxa - massa de entrada de Taxa
z
y
x
z
z+Δz
x y
Δz
x+Δx
y+Δy
Δx
Δy
)(5.4 ΔtΔρΔz Δy Δx
154
- taxa de entrada de massa em x:
- taxa de saída de massa em x + Δx:
- taxa de entrada de massa em y:
- taxa de saída de massa em y + Δy:
- taxa de entrada de massa em z:
- taxa de saída de massa em z + Δz:
Combinando todos esses termos no balanço geral de massa, obtém-se:
Dividindo toda essa expressão pelo volume do elemento em análise, resulta que:
Fazendo Δx, Δy e Δz tender a zero e lembrando o conceito de derivada, tem-se:
Essa é uma das formas de se apresentar a equação da continuidade. Por outro
(5.5) |)v ρΔz y ( xxΔ
(5.6) |)v ρΔz y ( Δx+xxΔ
(5.7) |)v ρΔz x( yyΔ
(5.8) |)v ρΔz x( Δy+yyΔ
(5.9) |)v ρΔy x( zzΔ
(5.10) |)v ρΔy x( Δz+zzΔ
[ ]
[ ] [ ] (5.11) |)v ρΔy x( - |)v ρΔy x( + |)v ρz x( - |)v ρΔz x( +
|)v ρΔz y ( - |)v ρΔz y ( = ΔtΔρΔz Δy Δx
Δz+zzzzΔy+yyyy
Δx+xxxx
ΔΔΔΔΔ
ΔΔ
[ ] [ ] [ ].12)(5
Δz|)v (ρ - |)v (ρ
+ Δy
|)v (ρ - |)v (ρ +
Δx|)v (ρ - |)v (ρ
= ΔtΔρ Δz+zzzzΔy+yyyyΔx+xxxx
(5.13) )v (ρ z
- )v (ρ y
- )v (ρ x
- = tρ
zyx ∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
155
lado, sabe-se ainda que:
Substituindo as relações (5.14), (5.15) e (5.16) em (5.13), obtém-se:
Isolando do lado esquerdo os termos que envolvem derivada da densidade,
obtém-se:
Nota-se que o lado esquerdo dessa expressão representa a derivada seguindo o
movimento da densidade. Assim, em notação compacta, pode-se rescrever a relação
(5.18) da seguinte forma:
onde o operador gradiente ∇ significa:
A equação (5.19) descreve a taxa de variação da densidade vista por um
observador que se movimenta junto com o fluido.
É importante mencionar que a equação da continuidade, em qualquer forma que
(5.14) xρ v +
xv ρ = )v (ρ
x xx
x ∂∂
∂∂
∂∂
)(5.15 yρ v +
yv ρ = )v (ρ
y yy
y ∂∂
∂∂
∂∂
)(5.16 zρ v +
zv ρ = )v (ρ
z zz
z ∂∂
∂∂
∂∂
)(5.17 0 = zρ v +
zv ρ +
yρ v +
yv ρ +
xρ v +
xv ρ +
tρ
zz
yy
xx
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
)(5.18 zv +
yv +
xv ρ - =
zρ v +
yρ v +
xρ v +
tρ zyx
zyx ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
( ) (5.19) .v ρ - = DtDρ
∇
(5.20) z
+ y
+ x
= ∂∂
∂∂
∂∂
∇
156
seja apresentada, representa simplesmente o princípio de conservação de massa.
Deve-se ainda observar que o desenvolvimento feito não está restrito a elementos de
volume retangulares, o mesmo tratamento pode ser feito com elementos de forma
arbitrária.
Uma forma especial da equação de continuidade, que será bastante usada, é a
que é aplicada a um fluido de densidade constante. Nesse caso, tem-se:
para um fluido cuja densidade é diferente de zero.
Diz-se que essa equação é aplicada a fluidos incompressíveis. É claro que
nenhum fluido é verdadeiramente incompressível, mas muito freqüentemente em
engenharia essa suposição de densidade constante é bastante razoável e não causa
erro significativo nos cálculos.
5.2. Equação do movimento
Para o mesmo elemento de volume Δx.Δy.Δz visto na figura 5.1, pode-se
desenvolver o balanço de quantidade de movimento. A forma geral do balanço de
quantidade de movimento para o estado estacionário é:
Nota-se que a expressão (5.22) é uma extensão da relação (4.4) para o estado
não-estacionário. Desse modo, proceder-se-á de maneira similar à que foi desenvolvida
no o capítulo anterior.
(5.21) 0 = zv +
yv +
xv zyx
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
[ ] [ ]
[ ] (5.22) momentode acumulação de Taxa = forças de Somatório
+ movimento de quantidade de saídade Taxa - movimento de quantidade de entrada de Taxa
157
Nesse caso, além de considerar o estado não-estacionário, será analisada a
possibilidade do fluido se mover através das seis faces do elemento de volume em
qualquer direção arbitrária.
É importante enfatizar que a equação (5.22) é vetorial com componentes em todas
as três direções. Por simplicidade será considerada apenas a direção x, as outras duas
(y e z) podem ser tratadas analogamente. O desenvolvimento do balanço de quantidade
de movimento nestas outras duas direções fica como um exercício.
Inicialmente serão consideradas as taxas de entrada e saída de quantidade de
movimento na direção de x, no elemento de volume visto na figura 5.1. Como se sabe,
quantidade de movimento entra e sai do elemento de volume por dois mecanismos: por
convecção (devido ao movimento global do fluido) e por difusão (devido aos gradientes
de velocidade).
Avaliando-se cada uma das parcelas que aparecem na equação (5.22), tem-se
(apenas na direção x):
- taxa de acumulação de quantidade de movimento na direção x:
- taxa de entrada de quantidade de movimento por difusão em x:
- taxa de entrada de quantidade de movimento por difusão em y:
- taxa de entrada de quantidade de movimento por difusão em z:
- taxa de saída de quantidade de movimento por difusão em x +Δx:
)(5.23 Δt
)v Δ(ρΔz Δy Δx x
(5.24) |)z y ( xxxτΔΔ
(5.25) |)z x( yyxτΔΔ
(5.26) |)y x( zzxτΔΔ
(5.27) |)z y ( x+xxx ΔΔΔ τ
158
- taxa de saída de quantidade de movimento por difusão em y + Δy:
- taxa de saída de quantidade de movimento por difusão em z + Δz:
Para avaliar as parcelas associadas ao mecanismo de convecção, é importante
lembrar que quantidade de movimento é dado pelo produto de massa por velocidade.
Logo, taxa de quantidade de movimento por convecção pode ser determinada pelo
produto da taxa de massa (já determinada no balanço de massa) pela velocidade
(componente x da velocidade, nesse caso). Assim, tem-se:
- taxa de entrada de quantidade de movimento por convecção em x:
- taxa de entrada de quantidade de movimento por convecção em y:
- taxa de entrada de quantidade de movimento por convecção em z:
- taxa de saída de quantidade de movimento por convecção em x +Δx:
- taxa de saída de quantidade de movimento por convecção em y + Δy:
- taxa de saída de quantidade de movimento por convecção em z + Δz:
- forças que atuam no elemento de volume na direção de x:
(5.28) |)z x( y+yyx ΔΔΔ τ
(5.29) |)y x( z+zzx ΔΔΔ τ
)(5.30 |)v ρ vΔz y ( xxxΔ
(5.31) |)v ρ vΔz x( yxyΔ
2)(5.3 |)v ρ vΔy x( zxzΔ
(5.33) |)v ρ vΔz y ( Δx+xxxΔ
(5.34) |)v ρ vΔz x( Δy+yxyΔ
(5.35) |)v ρ vΔy x( Δz+zxzΔ
159
- forças de pressão:
- força da gravidade:
Em relação aos termos de entrada e saída de quantidade de movimento por
convecção, uma explicação torna-se útil. Por exemplo: no termo Δy Δz vx ρ vx , vx
representa a componente da velocidade na direção x, Δy Δz vx ρ representa a taxa de
entrada de massa através da face de área Δy Δz. O produto desses dois parâmetros
fornece a taxa de entrada de quantidade de movimento. Explicação análoga vale para
os termos similares nas direções y e z.
Combinando todos esses termos na equação geral do balanço de quantidade de
movimento, obtém-se a seguinte relação válida para a direção x:
Dividindo pelo volume do elemento em estudo (Δx Δy Δz), obtém-se:
(5.36) )|P - |(Pz y x+xx ΔΔΔ
(5.37) g z y x xρΔΔΔ
[ ]
[ ] [ ]
[ ] [ ]
[ ]
(5.38) g ρΔz Δy Δx + )|P - |(PΔz Δy +
+ |)v ρ vΔy x( + |)v ρ vΔy x( +
+ |)v ρ vΔz x( - |)v ρ vΔz x( + |)v ρ vΔz y ( - |)v ρ vΔz y ( +
+ |)Δy x( - |)y x( + |)Δz x( - |)Δz x +
+ |)Δz y ( - |)z y( = Δt
)v Δ(ρΔz Δy Δx
xΔx+xx
Δz+zxzzxz
Δy+yxyyxyΔx+xxxxxx
Δz+zzxzzxΔy+yyxyyx
Δx+xxxxxxx
ΔΔ
ΔΔΔΔ
ΔΔΔΔΔ
ΔΔΔ
ττττ
ττ
160
Fazendo Δx, Δy e Δz tender para zero e lembrando o conceito de derivada, obtém-
se a seguinte expressão:
Para as direções y e z, tem-se expressões análogas a esta:
- Direção y:
- Direção z:
Considerando apenas a componente x da equação do movimento, pode-se fazer
os seguintes desmembramentos:
Os termos dentro das chaves na equação acima correspondem àqueles da
[ ] [ ] [ ]
[ ] [ ]
[ ](5.39) g ρ +
Δx)|P - |(P
+ Δz
|)v ρ v( + |)v ρ v( +
+ Δy
|)v ρ v( - |)v ρ v( +
Δx|)v ρ v( - |)v ρ v(
+
+ Δz
|)( - |)( +
Δy|)( - |)(
+ Δx
|)( - |)( =
Δt)v Δ(ρ
xΔx+xxΔz+zxzzxz
Δy+yxyyxyΔx+xxxxxx
Δz+zzxzzxΔy+yyxyyxΔx+xxxxxxx ττττττ
)(5.40 g ρ + xP - )v ρ v(
z - )v ρ v(
y - )v ρ v(
x -
z -
y -
x - = )v (ρ
t xxzxyxxzxyxxx
x ∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂ τττ
(5.41) g ρ + yP -)v ρ v(
z - )v ρ v(
y - )v ρ v(
x -
z -
y -
x - = )v (ρ
t yyzyyyxzyyyxy
y ∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂ τττ
)(5.42 g ρ + zP -)v ρ v(
z - )v ρ v(
y - )v ρ v(
x -
z -
y -
x - = )v (ρ
t zzzzyzxzzyzxz
z ∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂ τττ
)43.5( ρgxP
zv
ρvyv
ρvxv
ρv
zv
ρzρv
yv
ρyρv
xv
ρxρvv
xyxtv
ρ tρv
xx
zx
yx
x
zz
yy
xxx
xzyxxxxx
+∂∂
−⎭⎬⎫
⎩⎨⎧
∂∂
+∂∂
+∂∂
−
+⎪⎭
⎪⎬⎫
⎪⎩
⎪⎨⎧
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂
∂+
∂∂
+∂∂
+∂∂
−⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂+
∂
∂+
∂∂
−=∂
∂+
∂∂ τττ
161
equação (5.40). (Lembre-se da regra de derivação de um produto). A derivada em
relação ao tempo na equação (5.40) foi desmembrada nos dois termos do lado
esquerdo da igualdade na equação (5.43). Transpondo termos na equação acima,
obtém-se:
Lembrando da equação da continuidade (relação (5.17)), constata-se que os
termos dentro do retângulo inserido na equação acima se anulam. Dessa forma, a
equação (5.44) pode ser escrita da seguinte forma:
Lembrando da definição de derivada seguindo o movimento (equação (5.3)), nota-
se que o termo entre colchetes do lado esquerdo da equação (5.45) equivale à derivada
seguindo o movimento da componente de velocidade vx. Assim, pode-se escrever que:
A equação (5.46) enfatiza o significado da equação de balanço de quantidade de
movimento como um balanço de força. Considerando que a equação acima foi
desenvolvida para um dado elemento de volume, pode-se dizer que o termo do lado
(5.45) g ρ + xP -
z +
y +
x - =
zv v +
yv v +
xv v +
tv ρ x
zxyxxxxz
xy
xx
x
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂∂
∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂ τττ
(5.46) g + xP -
z +
y +
x - =
DtvD x
zxyxxxx ρτττρ∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂∂
∂
(5.44) g ρ + xP -
zv ρ +
zρ v +
yv ρ +
yρ v +
xv ρ +
xρ v +
tρ v -
- z
+ y
+ x
- = zv v +
yv v +
xv v +
tv ρ
x
zz
yy
xxx
zxyxxxxz
Xy
xx
x
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂∂∂
∂∂ τττ
162
esquerdo representa o produto de massa pela aceleração (para um referencial se
movendo com o fluido). Do lado direito, tem-se o somatório das forças associadas à
fricção (devido à viscosidade), pressão e gravidade (segunda lei de Newton).
As equações (5.45) ou (5.46) são aplicáveis a qualquer tipo de fluido, Newtoniano
ou não.
Para se colocar as equações do movimento (componente x derivada acima, e as
componentes y e z) em uma forma útil para determinação de distribuição de velocidade,
deve-se substituir as tensões de cisalhamento ou fluxos de quantidade de movimento
por difusão por expressões que os relacionem com as velocidades. Estas expressões
são dadas a seguir para fluidos Newtonianos e representam a lei de Newton da
viscosidade para sistemas tridimensionais:
As relações de (5.48) a (5.52) foram apresentadas sem prova por que os
argumentos envolvidos são extremamente longos. A dedução destas equações pode
(5.47) zv +
yv +
xv μ
32 +
xv μ 2 - = zyxx
xx ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
τ
)(5.48 zv +
yv +
xv μ
32 +
yv μ 2 - = zyxy
yy ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
τ
)(5.49 zv +
yv +
xv μ
32 +
zv μ 2 - = zyxz
zz ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
τ
(5.50) xv +
yv μ - = = yx
xyyx ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂
∂∂∂
ττ
(5.51) zv +
yv μ - = = yz
zyyz ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂
∂∂∂
ττ
(5.52) xv +
zv μ - = = zx
xzzx ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂ττ
163
ser encontrada em Lamb (1932). Estas equações representam expressões mais
completas da lei de Newton da viscosidade, que se aplicam em situações nas quais o
fluido se move em mais de uma direção.
Quando um fluido se move na direção x entre duas placas paralelas e
perpendiculares à direção y, vx é função apenas de y e desse modo:
que é a equação simplificada da lei de Newton da viscosidade usada no Capítulo 4.
Substituindo as expressões de (5.47) a (5.52) na equação (5.45), obtém-se:
A equação (5.54) é a expressão geral do balanço de quantidade de movimento na
direção x. Expressões análogas podem ser obtidas nas direções y e z.
Considerando um fluido de densidade constante, a equação da continuidade pode
ser escrita da seguinte forma:
Substituindo (5.21) na equação (5.54), pode-se escrever que:
(5.53) yv μ - = x
yx ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
τ
(5.54) g ρ + xP -
xv +
zv μ
z-
xv +
yv μ
y
zv
yv
xvμ
32 +
xv 2
x =
zv v +
yv
v + xv v +
tv ρ
xzxyx
zyxxxz
xy
xx
x
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
−∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
−∂∂
−
+⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂
∂+∂
∂+∂
∂∂∂−
∂∂
−⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂ μ
(5.21) 0 = zv +
yv +
xv zyx
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
164
Rearranjando a expressão acima e assumindo viscosidade constante, obtém-se:
Agrupando os termos com derivadas cruzadas:
Usando novamente a equação da continuidade (equação (5.21)), obtém-se que:
(5.55) g ρ + xP
- xv +
zv μ -
z +
xv +
yv μ -
y +
xv μ 2 -
x -
= zv v +
yv
v + xv v +
tv ρ
x
zxyxx
xz
xy
xx
x
∂∂
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂
∂∂∂
∂∂
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
(5.56) g ρ + xP -
z x
v μ + xv μ +
y xv μ +
zv μ +
yv μ +
xv μ +
= zv v +
yv
v + xv v +
tv ρ
x
z2
2x
2y
2
2x
2
2x
2
2x
2
xz
xy
xx
x
∂∂
+⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
∂∂∂
∂∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
)(5.57 g ρ + xP -
zv +
yv +
xv
x μ +
zv μ +
yv μ +
xv μ +
= zv v +
yv
v + xv v +
tv ρ
x
zyx2x
2
2x
2
2x
2
xz
xy
xx
x
∂∂
+⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
165
Essa é a equação do movimento na direção x, para um fluido Newtoniano de
densidade e viscosidade constantes.
Para as direções y e z, as expressões são:
- Direção y:
- Direção z:
Essas relações são mostradas nas tabelas 5.1, 5.2 e 5.3 (anexo no final do
capítulo), onde se tem um sumário das equações da continuidade e do movimento em
coordenadas cartesianas. Nestas tabelas, são apresentadas também as equações para
as tensões de cisalhamento para um fluido Newtoniano.
5.3- Equação da continuidade e do movimento em coordenadas cilíndricas e
)(5.58 g ρ + xP -
zv μ +
yv μ +
xv μ +
= zv v +
yv
v + xv v +
tv ρ
x2x
2
2x
2
2x
2
xz
xy
xx
x
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
)(5.59 g ρ + yP -
zv μ +
yv μ +
xv μ +
= zv v +
yv v +
xv v +
tv ρ
y2y
2
2y
2
2y
2
yz
yy
yx
y
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
)(5.60 g ρ + zP -
zv μ +
yv μ +
xv μ +
= zv v +
yv v +
xv v +
tv ρ
z2z
2
2z
2
2z
2
zz
zy
zx
z
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
166
esféricas
Em algumas ocasiões, os problemas são formulados de maneira mais simples em
coordenadas cilíndricas e esféricas. Desse modo, torna-se interessante conhecer as
equações da continuidade e do movimento em termos de coordenadas cilíndricas e
esféricas.
5.3.1. Coordenadas cilíndricas
O relacionamento entre as coordenadas cartesianas e cilíndricas é apresentado
nas equações a seguir (ver figura 4.8):
As equações gerais da continuidade e do movimento, bem como as expressões
para tensões de cisalhamento para um fluido Newtoniano, em coordenadas cilíndricas
são apresentadas nas tabelas 5.4, 5.5 e 5.6, no anexo ao final do presente capítulo.
5.3.2. Coordenadas esféricas
O relacionamento entre as coordenadas retangulares e esféricas é visto na figura
5.2. As relações matemáticas entre estas coordenadas são fornecidas nas expressões
abaixo:
(5.61) cos r = x θ
(5.63) z =z
(5.62) senr =y θ
(5.64) cos senr = x φθ
167
As equações gerais da continuidade e do movimento, bem como as expressões
para tensões de cisalhamento para um fluido Newtoniano, em coordenadas cilíndricas
são apresentadas nas tabelas 5.7, 5.8 e 5.9, no anexo ao final deste capítulo.
Figura 5.2 - Relação entre coordenadas retangulares e esféricas
5.4. Soluções de equações diferenciais
Nesse item, as equações da continuidade e do movimento serão usadas para
resolver alguns problemas que foram abordados no capítulo 4 e mais alguns novos
exemplos.
Nesta seção são tratados problemas de escoamento laminar através da
(5.65) sen senr =y φθ
(5.66) cos r =z θ
z
y
x
R
θ
φ
Posição(x,y,z) ou (r,θ,φ)
168
simplificação das equações gerais da continuidade e do movimento apresentadas
anteriormente. Isto é feito descartando-se alguns termos nessas equações gerais que
são zero (ou aproximadamente zero). Para determinar os termos a serem descartados,
deve-se antes fazer uma análise do comportamento do sistema: padrões de
escoamento, distribuição de pressão, etc. Uma das vantagens desse procedimento é
que uma vez terminado o processo de descarte, tem-se, automaticamente, uma lista
completa das suposições que foram feitas no seu desenvolvimento.
5.4.1. Escoamento de uma película de fluido
Esse sistema é visto esquematicamente na figura 5.3. De acordo com a orientação
dada aos eixos, só existe velocidade na direção z. É óbvio também que este problema
é resolvido mais facilmente usando coordenadas retangulares.
Figura 5.3 - Escoamento em um plano inclinado
Para um fluido de densidade e viscosidade constantes, considerando estado
xz
Interface com o ar
Superfície do plano inclinado
Fluido
Gravidade
α
169
estacionário, velocidade apenas na direção z e escoamento só devido à gravidade, as
equações da continuidade e do movimento fornecem:
- Equação da continuidade:
- Equação do movimento (apenas componente z - direção do movimento
macroscópico).
Nesse caso, tem-se que:
A equação (5.68) pode ser integrada duas vezes para fornecer o seguinte perfil:
Para determinação de C1 e C2, usa-se as seguintes condições de contorno:
Tem-se, então, que:
Finalmente, o perfil de velocidade é dado por:
Esta equação é similar à obtida através dos balanços de massa e quantidade de
(5.67) 0 = zvz
∂∂
)(5.68 0 = g ρ + xv μ z2
z2
∂∂
(5.69) cos g = g z β
)(5.70 C + x C + x μ 2β cos g ρ - = v 21
2z
0 = vδ = x :2 contorno de Condição
0 = xv μ - = τ 0 = x :1 contorno de Condição
z
zxz ∂
∂
δμ
βρ 22
1
2
cos g = C
0 = C
(5.71) )x - δ( μ 2β cos g ρ = v 22
z
170
movimento no elemento de volume considerado no Capítulo 4.
5.4.2. Escoamento em um tubo circular
Este sistema é visto esquematicamente na figura 4.9. Como se trata de um
sistema cilíndrico, o uso de coordenadas cilíndricas é o mais adequado para abordagem
do problema.
Considerando estado estacionário, que só existe velocidade do fluido na direção
z e que o fluido possui densidade e viscosidade constantes, obtém-se:
- Equação da continuidade:
Com a informação da equação da continuidade, tem-se:
- Equação do movimento (apenas componente z):
Tem-se ainda que:
Considerando a variação linear da pressão com z, tem-se:
Desse modo, tem-se:
Transpondo temos e integrando-se essa equação, obtém-se:
)(5.72 0 = zvz
∂∂
(5.73) 0 = g ρ + zp -
rvr
r
r1 μ z
z
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
(5.74) g = g z
(5.75) L
P - P = zp - L0
∂∂
(5.76) g ρ + L
P - P - = rv r
r
rμ L0z ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
171
Assumindo que os gradientes de velocidade e de pressão sejam finitos, para que
a equação acima seja válida em r = 0, o valor de C1 deve ser zero. Usando-se esta
informação, pode-se integrar a equação (5.77) para obter:
A condição de contorno para determinação de C2 é:
Desse modo:
E assim o perfil de velocidade será dado por:
que é igual à relação (4.114), obtida no Capítulo 4.
A seguir, serão tratados mais alguns problemas diferentes daqueles analisados
no Capítulo 4.
5.4.3. Escoamento anelar tangencial
Alguns tipos de equipamentos usam o sistema visto na figura 5.4 para
determinação da viscosidade de líquidos, especialmente escórias. Nesse tipo de
aparelho, é medido o torque necessário para girar o bastão (cilindro interno) a uma
)(5.77 C + μ 2
r g ρ + L
P - P - = rv r 1
2L0z ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
(5.78) C + μ 4
r g ρ + L
P - P - = v 2
2L0
z ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
0 = v R = r :contorno deCondição z
(5.79) 4R g +
LP - P = C
2L0
2 μρ ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
(5.80) Rr - 1
μ 4R g ρ +
LP - P = v
22L0
z⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
172
dada velocidade. O conjunto é colocado dentro de um forno, que permite manter a
temperatura do sistema constante em um valor pré-determinado.
Nesse sistema, têm-se dois cilindros concêntricos (um cadinho e um bastão
cilíndrico), sendo que o interno está girando a uma velocidade Ωi e o cilindro externo
está parado. Considerando escoamento laminar de um fluido de densidade e
viscosidade constante, pode-se determinar a distribuição de velocidade e, a partir dela,
a de tensão de cisalhamento. Com estas informações, pode-se relacionar o torque
necessário para girar o bastão e a viscosidade do fluido.
No desenvolvimento a ser feito, será considerado que a única componente de
velocidade é vθ, que varia apenas com a posição r. Não existe também gradiente de
pressão na direção θ. O movimento do fluido é induzido apenas pela rotação do bastão.
Figura 5.4 - Escoamento anelar tangencial entre dois cilindros concêntricos
A variação da velocidade com a componente z também será desprezada. Esta
R
kR
r
z
Fluido
Ωi
kRR
Fluido
Ωi
173
aproximação é razoável quando se tem um sistema com uma relação altura/diâmetro
elevada.
Desse modo, usando as equações da continuidade e do movimento em
coordenadas cilíndricas, obtém-se:
- Equação da continuidade:
- Equação do movimento (componente θ):
Para obtenção da equação acima, foi também assumido estado estacionário.
O perfil de velocidade pode ser determinado através da integração da equação
(5.82). Tem-se:
Transpondo termos e integrando novamente, obtém-se:
ou:
As condições de contorno para avaliação de C1 e C2 são:
Assim, encontra-se que:
( ) (5.81) 0 = v ρθr1
θ∂∂
(5.82) 0 = )v (rr
r1
r θ ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
(5.83) C = )v (rr
r1
1θ∂∂
)(5.84 C + 2r C = v r 2
2
1θ
)(5.85 r
C + 2r C = v 2
1θ
0 = v R = r :2 contorno de Condição
R k Ω = v R k = r :1 contorno de Condição
θ
iθ
174
Combinando (5.86) e (5.87), tem-se:
Rearranjando, resulta que:
Substituindo o valor de C2 em (5.87), obtém-se:
Portanto,
Combinando esses resultados, o perfil de velocidade será dado por:
Rearranjando, pode-se, finalmente, expressar o perfil de velocidade da seguinte
forma:
Essa é a distribuição de velocidade na direção θ.
(5.87) RC +
2R C = 0
(5.86) R k
C + 2R k C = R k
21
21iΩ
( ) (5.88) k - 1 R k
C = Rk -
R k1 C = R k 22
2i ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
Ω
( ) (5.89) k - 1
R k = C 2
22i
2Ω
( ) (5.90) k - 1
R k + 2R C = 0
2
2i
1Ω
( ) (5.91) k - 1
k 2 - = C 2
2i
1Ω
( ) ( ) )(5.92 r1
k - 1R k Ω + r
k - 1k Ω - = v 2
22i
2
2i
θ
( ) (5.93) r - rR
k - 1k Ω = v
2
2
2i
θ ⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛
175
A tensão de cisalhamento τrθ é dada pela seguinte relação extraída da tabela 5.5:
Mas:
e:
Logo:
ou por derivação:
Em r = kR, a tensão de cisalhamento é dada por:
O torque, Ψ, necessário para rodar o cilindro interno é dado pelo produto da força
(tensão x área) que atua nesse cilindro pelo braço de alavanca (kR). A força está
associada à fricção com o fluido, cuja viscosidade está sendo determinada. Nesse caso,
onde H é a altura do bastão em contato com o fluido.
Pela relação (5.100), nota-se que é possível determinar a viscosidade do fluido
através da avaliação do torque necessário para mover o bastão. Há uma relação linear
(5.94) θv
r1 +
rv
r r μ - = τ rθ
rθ ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
(5.95) 0 = θvr
∂∂
( ) (5.96) 1 - rR
k - 1k Ω =
rv
2
2
2
2iθ ⎟
⎠
⎞⎜⎝
⎛
( ) (5.97) 1rR
k - 1k
r r - = 2
2
2
2i
r ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ Ω∂∂μτ θ
( ) (5.98) )r2 (-
k - 1R k r - =
32
22i
rΩμτ θ
( ) (5.99) k - 1
2 = | 2i
kR=rrΩμτ θ
( ) (5.100) k - 1
H R k 4 = R) (k )|( H) R k (2 = 2
i22kR=rr μπτπ θ
ΩΨ
176
entre estas duas grandezas. Esse tipo de viscosímetro é denominado Couette-
Hatschek.
5.4.4- Formato da superfície de um líquido com movimento de rotação
Um fluido de densidade e viscosidade constantes está contido em um recipiente
cilíndrico de raio R, conforme visto na figura 5.5.
Figura 5.5. - Formato da superfície de um líquido em rotação
O recipiente está rodando em torno de seu próprio eixo, com velocidade angular
Ω. A orientação do cilindro é tal que: gr = gθ = 0 e gz = -g. Nesse caso, deseja-se usar
as equações do movimento e da continuidade para determinar o formato da superfície
do líquido no estado estacionário.
Obviamente, o sistema visto na figura 5.5 é melhor descrito em coordenadas
cilíndricas. Assumindo que vz = vr = 0 e que vθ é função apenas de r, as equações do
zo
R
z
r
P=P nasuperfície
o
P = P(r,z)no fluido
Ω
177
movimento fornecerão:
- Componente r:
É importante lembrar que a derivada de vθ com θ é nula (equação da
continuidade).
- Componente θ:
- Componente z:
Foi considerado também que não há gradiente de pressão na direção θ.
A integração da equação diferencial da componente θ fornece:
As condições de contorno para avaliação de C1 e C2 são:
Usando-se estas condições de contorno, obtém-se:
Desse modo, a velocidade vθ é dada por:
(5.101) rP =
rv ρ θ
2
∂∂
(5.102) 0 = r
)v(r r1
r μ θ
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
(5.103) 0 = g - zP - ρ
∂∂
)(5.104 r
C + 2r C = v 2
1θ
RΩ = v R = r :2 contorno de Condição
finita = v 0 = r :1 contorno deCondição
θ
θ
0 = C
2 = C
2
1 Ω
(5.105) rΩ = vθ
178
Essa expressão pode ser substituída na equação da componente r para
determinar o perfil de pressão. Fazendo isso, obtém-se:
Assumindo que a pressão é uma função analítica da posição, pode-se escrever
que:
Substituindo (5.106) e (5.107) em (5.108), obtém-se:
Integrando-se ambos os lados da equação (5.109), tem-se:
A condição de contorno para avaliação de C3 é:
Logo:
A distribuição de pressão será, então, dada por:
A superfície é o lugar geométrico dos pontos onde P = Po. Assim, a equação que
descreve o formato da superfície é:
)(5.107 g ρ - = zP
(5.106) r Ω ρ = r
v ρ = rP 2θ
2
∂∂
∂∂
(5.108) dz zP + dr
rP = dP
∂∂
∂∂
(5.109) dz g - dr r = dP 2 ρρ Ω
(5.110) C +z g - 2r = P 3
22 ρρ Ω
P = P : zz,0r : contorno de Condição oo==
(5.111) z g + P = C oo3 ρ
(5.112) )z -(z g - 2r = P - P o
22
o ρρ Ω
(5.113) r g 2 = z -z 2
2
o ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ Ω
179
Nota-se que essa é a equação de uma parábola, onde o ponto de nível mais baixo
ocorre exatamente no centro do cilindro.
5.4.4. Escoamento laminar em torno de uma esfera
Nesse item será analisado o escoamento de um fluido incompressível em torno
de uma esfera sólida, conforme mostrado na figura 5.6. O fluido se aproxima da esfera
de baixo para cima, ao longo do eixo z, com velocidade uniforme e igual a v∞
(velocidade em um ponto bem afastado da esfera).
Figura 5.6 - Movimento laminar do fluido em torno da esfera
O perfil de velocidades está sendo determinado para o caso de um fluido
Newtoniano, com densidade e viscosidade constantes. Além disso, está sendo
assumido estado estacionário. O uso de coordenadas esféricas torna o problema mais
Em cada ponto,há pressão e forçasde fricção atuandona superfície
Fluido se aproxima de baixo com velocidade
180
simples.
Pela geometria do sistema, observa-se claramente que o problema não envolve
a componente φ. Desse modo, com as considerações feitas acima, as equações da
continuidade e do movimento fornecem os seguintes resultados:
- Equação da continuidade:
- Equações do movimento:
- Componente r:
- Componente θ:
É importante observar que na equação do movimento todos os termos associados
ao transporte convectivo de quantidade de movimento foram desprezados. Isto foi feito
porque se está considerando fluxo laminar com velocidades extremamente baixas do
fluido.
As equações (5.113), (5.114) e (5.115) foram resolvidas analiticamente por
Streeter, citado por Bird, Stewart e Lightfoot (1960), para obtenção da distribuição do
fluxo de quantidade de movimento e dos perfis de pressão e velocidade. Os resultados
obtidos são:
(5.114) 0 = θ) senv( θθ senr
1 + )v r( r
r1 ρ θr
22 ⎥⎦
⎤⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
(5.115) g ρ + rP - θ cot v
r2 -
θv
r2 - v
r2 -
θv senθ
θθ senr1 +
rv r
r
r1 μ rθ2
θ2r2
r2
r22 ∂
∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
(5.116) g ρ + θP
r1 -
θ sen rv -
θv
r2 +
θv senθ
θθ senr1 +
rv r
r
r1 μ θ22
θr2
θ2
θ22 ∂
∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
181
onde:
Po = pressão no plano z = 0, bem longe da esfera;
V∞ = velocidade de aproximação do fluido.
As condições de contorno que foram adotadas para obtenção dessa solução são:
r = R vr = vθ = 0
r = ∞ vz = v∞
As equações de (5.117) a (5.120) são válidas para números de Reynolds
(D.v∞.ρ/μ) menores que um.
Com esses resultados pode-se avaliar a força exercida pelo fluido sobre a esfera.
Essa força é determinada integrando a força normal e tangencial que atua sobre a
superfície da esfera. Essa avaliação é apresentada a seguir.
A força normal atuando no sólido é devido à pressão dada pela equação (5.118),
com r = R e z = R cos θ. Tem-se que :Fn = força normal < 0 para 0 < θ < π/2 ; e Fn >
0 para θ > π/2.
Desse modo, a componente vertical dessa força é dada por:
(5.120) θ senrR
41 -
rR
43 - 1 v - = v
(5.119) θ cos rR
21 +
rR
23 - 1 v = v
(5.118) θ cos rR
Rv μ
23 -z g ρ - P = P
(5.117) θ senrR
Rv μ
23 =
3
θ
3
r
2
o
4
rθ
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∞
∞
∞
∞τ
182
O elemento de área é visto na figura 5.7.
Figura 5.7 - Elemento de área na superfície de uma esfera
Substituindo a expressão para a pressão, obtém-se:
Lembrando que z = R cos θ, e integrando a equação acima, obtém-se:
( )
força daz área de Elemento Componente
(5.121) dφ dθ θ senR θ cos |P- = F 2R=r
π=θ
=0θ
2π=φ
=0φn ∫∫
(5.122) dφ dθ θ senR θ cos θ cos Rv μ
23 -z g ρ - P- = F 2
o
π=θ
=0θ
2π=φ
=0φn ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ ∞∫∫
(5.123) V R μ π 2 + g ρ R π 34 = F 3
n ∞
R sen θ
R sen θ dφ
R dθ
183
Nessa equação, o primeiro termo do lado direito corresponde ao empuxo e o
segundo termo é uma força de arraste, denominada arraste de forma.
Em cada ponto da superfície existe também a tensão de cisalhamento atuando
tangencialmente . A componente z dessa força é dada por:
Substituindo a relação τrθ (equação (5.117)), obtém-se:
Integrando obtém-se:
Essa força é denominada arraste por fricção.
Assim, a força total exercida pelo fluido sobre a esfera é dada por :
ou finalmente:
É comum se designar os dois termos do lado direito da equação acima da seguinte
maneira:
( )
força daz área de Elemento Componente
(5.124) dφ dθ θ senR θ sen|Τ = F 2R=rrθ
π=θ
=0θ
2π=φ
=0φt ∫∫
(5.125) dφ dθ θ senR θ senθ senRv μ
23 = F 2
π=θ
=0θ
2π=φ
=0φt ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ ∞∫∫
)(5.126 v R μ π 4 = F t ∞
)(5.127 V R μ π 4 + V R μ π 2 + g ρ R π 34 = F + F 3
tn ∞∞
)(5.128 V R μ π 6 + g ρ R π 34 = F + F 3
tn ∞
(5.129) g ρ R π 34 = F 3
s
184
Essa é a força que seria exercida mesmo se o fluido não estivesse em movimento
(força de empuxo).
Essa força surge devido ao movimento do fluido. A equação (5.130) é conhecida
como lei de Stokes e é válida para número de Reynolds inferior a 1.
Exemplo: Desenvolver uma relação que permita avaliar a viscosidade de um fluido
medindo a velocidade de queda de uma esfera nesse fluido, quando se atinge o estado
estacionário. Assumir regime laminar.
Solução: Deixando-se uma esfera cair dentro de um líquido a partir do repouso, ela vai
acelerar até atingir uma velocidade constante (velocidade terminal). Quando este
estágio é atingido, a soma das forças atuando na esfera é zero. A força da gravidade
atua no sólido no sentido da queda enquanto o empuxo e o arraste atuam na direção
oposta, conforme é visto na figura a seguir.
(5.130) V R μ π 6 = F k ∞
4 π R ρ g3 s
3
Peso
4 π R ρ g3
3
Empuxo6 π μ R voo
Esfera
185
Como o somatório de forças é nulo, tem-se:
onde ρs é a densidade do sólido e Vt é a velocidade terminal da esfera.
Desse modo, a viscosidade do fluido é dada por:
Conforme já mencionado anteriormente, a relação acima é válida para Re < 1.
5.4.6. Camada limite
A figura 5.8 mostra o perfil de velocidade de um fluido escoando paralelamente a
uma placa plana.
Figura 5.8 - Perfil de velocidade para fluxo paralelo a uma placa plana
V R μ π 6 + g ρ R π 34 = g ρ R π 3
4 = Peso t3
s3
V 9g ρ) - ρ( R 2
= μt
s2
Placa
Superfície dacamada limiteFluido escoando
com velocidade
186
Antes de atingir a placa, o fluido possui velocidade uniforme v∞. Depois do início
da placa, observa-se que a velocidade cresce de zero junto à parede para valores
próximos de v∞ a uma distância δ da parede. A região na qual vx / v∞ é ≤ 0,99 é
denominada camada limite.
O lugar geométrico dos pontos onde vx/ v∞ = 0,99 é δ, e é definido como espessura
da camada limite. No início da placa (x = 0), δ é igual a zero, crescendo
progressivamente à medida que se caminha para valores mais elevados de x.
Sempre que problemas desse tipo aparecem: escoamento de um fluido em
contato com um sólido estacionário, os efeitos viscosos (de fricção) são sentidos
apenas no fluido perto do sólido, isto é: y < δ. É claro que é nessa região que o
comportamento do fluido deve ser analisado, uma vez que para y > δ, vx é
essencialmente uniforme, constante e igual a v∞.
A observação da figura 5.8 permite constatar que vx é função de y e a
determinação dessa função é a parte principal do problema, pois ela descreverá como
o sólido e o fluido interagem mutuamente. Entretanto vx depende também de x. Isso
resulta do fato de que à medida que o fluido caminha sobre a placa, ele sofre um
retardamento devido à fricção. Desse modo, ∂vx/∂x não é zero. Assim as equações da
continuidade e do movimento para o sistema mostrado na figura 5.8, considerando
estado estacionário e fluido de densidade e viscosidade constantes são:
- Equação da continuidade:
- Equações do movimento:
- Componente x:
(5.131) 0 = yv +
xv yx
∂∂
∂∂
187
- Componente y:
As equações acima foram resolvidas considerando que vy é pequena comparada
com vx e que o gradiente de vx na direção y é bem maior que na direção x. Na direção
x, foi assumido também que a componente convectiva do transporte de quantidade de
movimento é bem maior que a componente associada à difusão.
As condições de contorno consideradas foram:
As equações de (5.131) a (5.133) foram resolvidas analiticamente por Bird,
Stewart e Lightfoot (1960), fornecendo as posições onde vx/ v∞ = 0,99. Os resultados
são expressos em termos da velocidade v∞, da posição ao longo da placa e da
viscosidade cinemática do fluido. A relação obtida foi:
Dividindo ambos os lados por x, a equação (5.134) se torna adimensional :
(5.132) xP -
yv +
xv μ =
yv v +
xv v ρ 2
x2
2x
2x
yx
x ∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
(5.133) g ρ + yP -
yv +
xv μ =
yv v +
xv v ρ y2
y2
2y
2y
yy
x ∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
0 = v v = v :y c)
0 = v 0 = v :0 =y b)
0 = v v = v :0 = x a)
yx
yx
yx
∞
∞
∞→
(5.134) x v ρμ 5.0 =δ 1/2
1/2
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
∞
(5.135) x v ρ
μ 5.0 = xδ
1/2
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
∞
188
Lembrando da definição do número de Reynolds, tem-se:
onde o número de Reynolds é avaliado para cada posição x (a posição x é usada como
o comprimento característico na definição do número de Reynolds).
A espessura da camada limite fornece uma medida da região do fluido que é
afetada pela presença da placa. Nessa região, os efeitos da viscosidade (e da fricção)
são mais significativos. Fora dessa região, a velocidade do fluido é praticamente
uniforme e os efeitos da viscosidade desprezíveis. Pela relação (5.136) observa-se que
a espessura da camada limite tende a ficar menor quando se aumenta o número de
Reynolds.
5.4.7. Escoamento não estacionário em um tubo circular
Nesse item será vista a solução de um problema de escoamento não-estacionário,
no qual as velocidades variam com o tempo. Assim será estudado o seguinte problema:
um fluido de densidade e viscosidade constantes está contido dentro de um longo tubo
horizontal de comprimento L e o raio R. Inicialmente, o fluido está em repouso. Em um
tempo t=0, o sistema é submetido a um gradiente de pressão (P0 - PL)/L. Interessa-se
em determinar como os perfis de velocidade do fluido vão variar em função do tempo.
Obviamente, para solução desse sistema, é mais prático o uso de coordenadas
cilíndricas. Será considerado também que vr = vθ = 0.
Logo: vz = vz (r, t). assim, pela equação da continuidade e do movimento tem-se:
- Equação da continuidade:
( ) (5.136) Re 5.0 = xδ
x1/2-
189
- Equação do movimento, componente z:
As condições inicial e de contorno para solução desse problema são:
A equação (5.138), submetida às condições iniciais e de contorno acima, foi
resolvida usando séries de potências. Os resultados são apresentados na figura 5.9,
onde se tem um gráfico dos perfis de velocidade adimensional ao longo do raio do tubo
para diversos tempos.
Os problemas bi e tridimensionais no estado estacionário ou transiente são
normalmente resolvidos por métodos numéricos, uma vez que a maioria deles não
apresenta solução analítica. Existe uma série de programas de computador
desenvolvidos com essa finalidade, onde se deve definir apenas a geometria e as
condições de contorno do problema e obtém-se os perfis de velocidade e pressão no
sistema.
(5.137) 0 = zvz
∂∂
(5.138) rv r
r
r1 μ +
LP - P =
tv ρ zLoz
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
∂∂
0 = r para finito = rv 0 > t b)
R = r para 0 = v 0 > t a)
:contorno de Condição
R r 0 para 0 = v 0 = t :inicial Condição
z
z
z
∂∂
≤≤
190
Figura 5.9 - Perfis de velocidade para o escoamento não-estacionário dentro de um
tubo circular (Bird, Stewart e Lightfoot, 1960)
Centro do tuboParede do tubo
191
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
H. Lamb. Hydrodynamics. New York, 1945
R. B. Bird; W. E. Stewart; E. N. Lightfoot. Transport Phenomena. New York. John Wiley
& Sons, 1960.
192
APÊNDICE
Tabela 5.1- Equações da continuidade e do movimento em coordenadas retangulares.
Continuidade:
Movimento: Em termos das tensões de cisalhamento
- componente x:
- componente y:
- componente z:
0 = )v ( z
+ )v ( y
+ )v ( x
+ t zyx ρρρρ
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
g + xP -
z +
y +
x - =
zv v +
yv v +
xv v +
tv x
zxyxxxxz
xy
xx
x ρτττρ∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂∂
∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
g + yP -
z +
y +
x - =
zv v +
yv
v + xv v +
tv y
zyyyxyyz
yy
yx
y ρτττρ∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂
∂∂
∂∂
g + zP -
z +
y +
x - =
zv v +
yv v +
xv v +
tv z
zzyzxzzz
zy
zx
z ρτττρ∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂∂
∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
193
Tabela 5.2- Tensões normais e de cisalhamento para um fluido Newtoniano.
Coordenadas retangulares.
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
zv +
yv +
xv
32 +
xv 2 - = zyxx
xx μμτ
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
zv +
yv +
xv
32 +
yv 2 - = zyxy
yy μμτ
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
zv +
yv +
xv
32 +
zv 2 - = zyxz
zz μμτ
xv +
yv μ - = = yx
xyyx ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂
∂∂∂
ττ
zv +
yv μ - = = yz
zyyz ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂
∂∂∂
ττ
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
xv +
zv μ - = = zx
xzzx ττ
194
Tabela 5.3- Equações do movimento em termos dos gradientes de velocidade para
um fluido Newtoniano de densidade e viscosidade constantes.
Coordenadas retangulares.
- componente x:
- componente y:
- componente z:
g + xP -
zv +
yv +
xv =
zv v +
yv v +
xv v +
tv x2
x2
2x
2
2x
2x
zx
yx
xx ρμρ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
g + yP -
zv +
yv +
xv =
zv v +
yv
v + xv v +
tv y2
y2
2y
2
2y
2y
zy
yy
xy ρμρ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂
∂∂
∂∂
g + zP -
zv +
yv +
xv =
zv v +
yv v +
xv v +
tv z2
z2
2z
2
2z
2z
zz
yz
xz ρμρ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
195
Tabela 5.4- Equações da continuidade e do movimento em coordenadas cilíndricas
Continuidade:
Movimento: Em termos das tensões de cisalhamento
- componente r:
- componente θ:
- componente z:
0 = )v ( z
+ )v ( r1 + )v r (
r
r1 +
t zr ρρθ
ρρθ ∂
∂∂∂
∂∂
∂∂
g + rP -
z +
r -
r1 +
r)(r
r1 - =
zv v +
rv - v
rv +
rv v +
tv r
zrrrrrz
2rr
rr ρττ
θττ
θρ θθθθθ
∂∂
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
g + P r1 -
z +
r1 +
r)r(
r1 - =
zv v +
rv v + v
rv +
rv v +
tv zr
2
2zr
r θθθθθθθθθθθ ρ
θτ
θττ
θρ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂∂
∂⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
g + zP -
z +
r1 +
r) (r
r1 - =
zv v + v
rv +
rv v +
tv z
zzzrzzz
zzr
z ρτθττ
θρ θθ
∂∂
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
196
Tabela 5.5- Tensões normais e de cisalhamento para Fluido Newtoniano.
Coordenadas cilíndricas.
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡ •Δ
∂∂ v)(
32 -
zv 2 - = z
zz μτ
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
zv +
rv - = = rz
zrrz μττ
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
θμττ θ
θθv
r1 +
zv - = = z
zz
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
θμττ θ
θθv
r1 +
rv
r r - = = r
rr
zv + v
r1 + )v (r
rr1 = v)( z
r ∂∂
∂∂
∂∂
•Δθ
θ
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡ •Δ
∂∂ v)(
32 -
rv 2 - = r
rr μτ
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡•Δ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛ +
∂∂ v)(
32 -
rvv
r1 2 - = r
θμτ θ
θθ
197
Tabela 5.6- Equações do Movimento em termos dos gradientes de velocidade para
um fluido Newtoniano de densidade e viscosidade constantes.
Coordenadas cilíndricas.
- componente r:
- componente θ:
- componente z:
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
zv + v
r2 - v
r1 +
r)v(r
r1
r +
+ g + rP - =
zv v +
rv - v
rv +
rv v +
tv
2r
2
22r
2
2r
rr
z
2rr
rr
θθμ
ρθ
ρ
θ
θθ
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
zv + v
r2 + v
r1 +
r)v(r
r1
r +
g + P r1 - =
zv v +
rv v + v
rv +
rv v +
tv
2
2r
22
2
2
zr
r
θθθ
θθθθθθθ
θθμ
ρθθ
ρ
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
∂∂
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
zv + v
r1 +
rv r
r
r1 +
+ g + zP - =
zv v + v
rv +
rv v +
tv
2z
2
2z
2
2z
zz
zzz
rz
θμ
ρθ
ρ θ
198
Tabela 5.7- Equações da continuidade e do movimento em coordenadas esféricas
Continuidade:
Movimento: Em termos das tensões de cisalhamento
- componente r:
- componente θ:
- componente φ:
0 = )v ( senr
1 + ) senv ( senr
1 + )v r ( r
r1 +
t r2
2 φθ ρφθ
θρθθ
ρρ∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
g + rP -
r +
- senr
1 + )sen( senr
1 +) r( r
r1 -
= v senr
v + r
v + v - v rv +
rv v +
tv
rr
rrr2
2
r22
rrr
r
ρττ
φτ
θθτ
θθτ
φθθρ
φφθθφθ
φφθθ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
g + P r1 -
r cot -
r +
senr1 + ) sen(
senr1 +) r(
r
r1 -
= rv v + v
senrv +
r cot v - v
rv +
rv v +
tv
rr
22
r2
r
θφφθθφ
θθθ
θθφφθθθθ
ρθ
τθτφ
τθ
θτθθ
τ
φθθ
θρ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂∂
∂∂
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
g + P senr
1 - r
cot 2 + r
+ senr
1 + r1 + ) r(
r
r1 -
= cot rv v +
rv v + v
senrv + v
rv +
rv v +
tv
rr
22
rr
φθφφφφθφ
φ
φθφφφφθφφ
ρφθ
τθτ
φτ
θθτ
τ
θφθθ
ρ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂
∂∂
∂
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
199
Tabela 5.8- Tensões normais e de cisalhamento para um fluido Newtoniano.
Coordenadas esféricas.
φθθ
θθφ
θ ∂∂
∂∂
∂∂
•Δ v senr
1 + ) senv( rsen
1 + )v r(rr
1 = v)( r2
2
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
rv
r r + v
senr1 - = = r
rrφ
φφ φθμττ
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡ •Δ
∂∂ v)(
32 -
rv 2 - = r
rr μτ
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
φθθθθμττ θφ
θφφθv
senr1 +
senv
r sen - = =
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡•Δ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
v)( 32 -
r v +
rv + v
senr1 2 - = r θ
φθμτ θφ
φφcot
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
θμττ θ
θθv
r1 +
rv
r r - = = r
rr
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡•Δ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛ +
∂∂ v)(
32 -
rvv
r1 2 - = r
θμτ θ
θθ
200
Tabela 5.9- Equações do movimento em termos dos gradientes de velocidade para
um fluido Newtoniano de densidade e viscosidade constantes.
Coordenadas esféricas.
- componente r:
- componente θ:
- componente φ:
g + rP - v
senr2 - cot v
r2 - v
r2 - v
r2 - v -
= v senr
v + r
v + v - v rv +
rv v +
tv
r222r2r2
r22
rrr
r
ρφθ
θθ
μ
φθθρ
φθ
θ
φφθθ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
Δ
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
g + P r1 - v
sen cos
r2 -
sen rv - v
r2 + v -
= rv v + v
senrv +
r cot v - v
rv +
rv v +
tv
2222r
22
r2
r
θφθ
θ
θθφφθθθθ
ρθφθ
θθθ
μ
φθθ
θρ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
Δ
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
g + P senr
1 - v sen cos
r2 + v
senr2 +
sen rv - v -
= cot rv v +
rv v + v
senrv + v overrv +
rv v +
tv
22r
2222
rr
φθφ
φ
φθφφφφθ
φφ
ρφθφθ
θφθθ
μ
θφθθ
ρ
∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∇
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
∂∂⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
∇φθθ
θθθ 2
2
2222
22
sen r1 + sen
senr1 +
r r
r
r1 =
201
EXERCÍCIOS
1- Calcular o torque e a potência necessária para girar o cilindro conforme mostrado na
figura abaixo. O comprimento do cilindro é 0,0508 m e ele está girando a 200 rpm.
O lubrificante que separa o cilindro da parte fixa possui uma viscosidade de 2 P e
sua densidade é 800,92 kg/m3.
2- O viscosímetro Stromer consiste essencialmente de dois cilindros concêntricos,
sendo que o interno gira e o externo permanece estacionário. A viscosidade é
determinada medindo-se a velocidade de rotação do cilindro interno sob a aplicação
de um torque conhecido. Desenvolver uma expressão para a distribuição de
velocidade como função do torque aplicado, para escoamento de um líquido
Newtoniano.
3- Determinar vθ (r) entre dois cilindros coaxiais de raios R e kR girando com
velocidades angulares Ω0 e Ω1, respectivamente. Considerar que o espaço entre dois
2 in
0,002 in
Lubrificante
202
cilindros é preenchido com um fluido isotérmico e incompressível em escoamento
laminar. Assumir estado estacionário.
4- Aço líquido a 1600ºC é desoxidado pela adição de alumínio que forma alumina
(Al2O3 ). Pode-se obter melhor qualidade do aço, se as partículas de alumina que
foram formadas flutuarem até a superfície do banho. Determinar o menor tamanho
de partícula que atinge a superfície, dois minutos após a desoxidação, considerando
que a altura do banho é de 1,5m.
Dados :
ρaço = 7100 kg/m3;
ρAl2O3 = 3000 kg/m3.
Verificar a validade do cálculo e comentar.
5- Um arame é resfriado depois de um tratamento térmico passando através de um tubo
que está imerso em um tanque de óleo. Obter a distribuição de velocidade do óleo na
região do tubo, usando as equações da continuidade e do movimento. Considerar
estado estacionário. O sistema é visto na figura abaixo. A pressão do óleo no interior
do tanque é uniforme.
Reservatório de óleo
Arame
L
203
6- a- Um óleo pesado com viscosidade cinemática igual a 3,45x10-4 m2/s está em
repouso em um longo tubo vertical com raio de 0,7 cm. Repentinamente deixa-se
o fluido escoar pela parte de baixo devido à gravidade. Depois de quanto tempo
a velocidade no centro do tubo é equivalente a 90 % de seu valor final?
b- Qual seria o resultado se o óleo fosse substituído por água a 20 oC (υ = 0,01
cm2/s). Usar a figura 5.9 para obter as respostas.
7- Um fluido está sendo injetado em um reservatório onde sofrerá um processo de
purificação. A geometria do sistema é mostrada na figura abaixo. Usando as
equações gerais da continuidade e do movimento, obtenha as equações diferenciais
que regem o escoamento do fluido neste sistema. Justifique as simplificações feitas.
Enuncie as condições de contorno necessárias para a solução das equações.
Restrinja a sua análise à região definida por: 0 < x < L e 0 < z < H. Explique as
condições de contorno. Considerar estado estacionário e fluido de densidade e
viscosidade constantes. As velocidades de entrada e saída do reservatório são
uniformes.
z
x
x = 0 x = L
z = 0
z = H
x = a x = b
V
Pressão P
Fluido
Parede
Parede
Pressão Ps e
204
6 - ESCOAMENTO TURBULENTO E RESULTADOS
EXPERIMENTAIS
Nos capítulos anteriores, apenas problemas de escoamento laminar foram
abordados. Naqueles casos, a equação diferencial que descrevia o escoamento era
conhecida e os perfis de velocidade e outros parâmetros de importância podiam ser
determinados para sistemas simples. A única limitação que aparecia estava relacionada
com a complexidade matemática quando se tinha situações onde várias componentes
de velocidade estavam presentes.
Entretanto, um grande número de problemas de engenharia envolve escoamento
turbulento. Apesar das equações da continuidade e do movimento continuarem sendo
válidas, a existência de flutuações de velocidade com freqüências extremamente
elevadas (figura 4.2) dificulta a abordagem do problema de maneira similar à que foi
feita no Capítulo 5. A quantificação destas flutuações exigiria recursos computacionais
bem acima da capacidade que se tem disponível hoje, mesmo com todos os avanços
que têm ocorrido nesta área. Desse modo, para problemas que envolvem turbulência,
é mais comum se tentar outros tipos de abordagem: uma delas é a abordagem
empírica.
Neste capítulo será feito um estudo do escoamento turbulento, através de uma
abordagem que permitirá contornar a sua grande complexidade matemática. Antes de
se desenvolver esta abordagem, serão apresentados alguns fundamentos dos modelos
de turbulência que têm sido propostos, visando determinar perfis de velocidade no
regime turbulento de modo semelhante o que foi feito para o escoamento laminar.
205
6.1- Introdução
No Capítulo 4 foi visto que a transição do regime de escoamento laminar para o
turbulento é determinada experimentalmente e varia de acordo com configuração do
sistema em análise. Normalmente, o critério para se saber o tipo de escoamento que
prevalece no fluido é estipulado através de uma grandeza adimensional denominada
número de Reynolds. Para o caso de escoamento em tubos, o número de Reynolds é
avaliado através da seguinte equação:
onde:
D = diâmetro do tubo;
= velocidade média do fluido no tubo;
ρ = densidade do fluido;
μ = viscosidade dinâmica do fluido.
O valor do número de Reynolds para o qual ocorre a transição de escoamento
laminar para turbulento em tubos é de aproximadamente 2100. Esse número foi
determinado empiricamente. Sistemas com outras configurações apresentam transição
de regime laminar para turbulento em outros valores de números de Reynolds.
Para se poder ter uma idéia de como na prática industrial predomina o
escoamento turbulento, considere-se o exemplo do processo de lingotamento contínuo,
onde aço líquido é alimentado em um molde de cobre refrigerado com água. Essa
alimentação é feita através de um tubo refratário, denominado válvula submersa.
(6.1) μρ V D = Re
V
206
Considerando que esta máquina produza placas com dimensões de 1,2 x 0,25 m,
com uma velocidade de lingotamento de 1 m/min, pode-se avaliar a vazão volumétrica
de aço na válvula submersa. Essa vazão será tal que permitirá manter constante o nível
de aço no molde. Desse modo, a vazão através da válvula corresponderá à vazão de
aço sendo produzido na forma de placas.
Essa vazão é dada por:
Considerando que a válvula submersa tenha um diâmetro de 70 mm, pode-se
avaliar a velocidade média do aço no seu interior e, a partir desta velocidade, estimar
o número de Reynolds. Tem-se:
Sabe-se que para uma válvula, o número de Reynolds será dado por:
Usando as propriedades do aço líquido:
ρ = 6700 kg/m3;
μ = 0,0065 Pa.s;
obtém-se o seguinte valor para o número de Reynolds:
Pelo valor acima, constata-se que o escoamento no interior da válvula se dá com
sm 0,0042 =
minm 0,25 =
minm 1 x m 0,25 x m 1 = aço de Vazão
33
m/s 1,083 =
4)(0,070 π
0,0042 =
4d π
0,0042 = A
Q = aço do Velocidade22
válvulaválvula⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
μρ V d = Re válvula
78.142 = 0,0065
6700 x 1,083 x 0,070 = μ
ρ V d = Re válvula
207
um número de Reynolds bem acima do que caracteriza a transição de regime laminar
para turbulento. Logo, o escoamento na válvula é turbulento. Se este mesmo exemplo
fosse repetido para outros sistemas de interesse do metalurgista, constatar-se-ia que
na grande maioria dos predominam regimes turbulentos.
No Capítulo 4 foi visto que, para o escoamento laminar em tubo, a distribuição de
velocidades e a relação entre as velocidades média e máxima são dadas por:
onde vz,máxima corresponde à velocidade no centro do tubo e R é o seu raio.
Foi visto também que a queda de pressão é diretamente proporcional à vazão
volumétrica (equação (4.124)).
Para escoamento turbulento, tem sido mostrado experimentalmente que o perfil
de velocidades e a relação das velocidades média e máxima são dados por:
A velocidade média referida acima é obtida considerando-se as flutuações de
velocidade com o tempo. Essas expressões são válidas para números de Reynolds na
faixa de 104 a 105. Nessa faixa do número de Reynolds, a queda de pressão é
(6.3) 21 =
vv
(6.2) Rr - 1 =
vv
xima máz,
z
2
máximaz,
z
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
(6.5) 54 =
vv
(6.4) Rr - 1 =
vv
máximaz,
z
71
xima máz,
z
⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢
⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
208
proporcional à vazão volumétrica elevada a 7/4. Uma comparação entre os perfis de
velocidade para escoamento laminar e turbulento é apresentada na figura 6.1.
Figura 6.1 - Comparação qualitativa entre as distribuições de velocidade nos
escoamentos laminar e turbulento (Bird, Stewart e Lighfoot, 1960)
Nota-se claramente na figura 6.1, a transformação de um perfil parabólico,
característico do escoamento laminar, para um perfil mais achatado, no caso do
escoamento turbulento. Nesse último, as variações de velocidade concentram-se na
região próxima à parede do tubo. Na sua parte central, as velocidades são praticamente
uniformes. Para o escoamento turbulento, como visto na equação (6.5), os valores de
velocidade média e máxima são bastante próximos e tendem a ficar cada vez mais
próximos, quanto mais elevado é o número de Reynolds. Isso também pode ser
Turb
ulen
to
Centro do tubo Parede
Posição radial
209
observado na figura 6.1.
De um modo geral, os problemas que envolvem escoamento turbulento têm sido
tratados através de duas abordagens. Uma delas, bastante mais elaborada do ponto
de vista matemático, consiste em se utilizar modelos de turbulência para se determinar
os perfis de velocidade do fluido no sistema em análise. A partir deste perfil, são
deduzidas outras grandezas de importância. Esse tipo de tratamento é de uso bastante
difundido em problemas de projeto de novas instalações, protótipos e até na área de
previsão do tempo. Uma outra abordagem consiste no uso de resultados experimentais,
onde as quantidades de interesse são obtidas empiricamente. Neste caso, busca-se,
a partir das experiências, obter relações matemáticas que sejam úteis na determinação
das grandezas que caracterizem o escoamento. Esta segunda abordagem é bem mais
simples que a anterior e é normalmente denominada abordagem de engenharia. A
maior parte dos problemas que aparecem no dia-a-dia do engenheiro, que lida com
escoamento de fluidos, pode ser tratada através desta segunda abordagem.
No próximo item será feita uma apresentação sucinta da primeira abordagem,
enfatizando os fundamentos dos modelos de turbulência e os resultados que são
normalmente obtidos com seu uso.
6.2- Modelos de Turbulência
Vários modelos de turbulência têm sido propostos ao longo do tempo. Uma
característica básica e comum a todos estes modelos é a de trabalhar com uma
velocidade suavizada com o tempo (time-smoothed velocity). Esta velocidade é
determinada através de uma média das velocidades instantâneas, avaliada ao longo de
210
um dado período de tempo. Este intervalo de tempo é grande, quando comparado com
o tempo associado às flutuações de velocidade, mas pequeno em relação às variações
com o tempo, que ocorrem em virtude de uma alteração na queda de pressão no
sistema, por exemplo.
A definição desta velocidade suavizada é vista graficamente na figura 6.2 e
expressa matematicamente através da equação:
onde to é o intervalo de tempo usado para se fazer a integração e vz é o valor
instantâneo da velocidade.
Os valores instantâneos da velocidade podem, então, ser escritos como uma
soma da velocidade suavizada e de uma flutuação de velocidade:
onde vz/ é a flutuação de velocidade.
Figura 6.2 - Oscilação de uma componente de velocidade em torno de um valor médio
(Guthrie, 1993)
(6.6) dt v t1 = v z
t+t
toz
o
∫
(6.7) v + v = v /zzz
Oscilação da velocidade
Valor médio
211
Expressões similares às equações (6.6) e (6.7) podem ser escritas para as outras
componentes de velocidade e para a pressão, que também sofre flutuações no
escoamento turbulento.
Pela definição de flutuação da velocidade, pode-se constatar que:
ou seja, a média das flutuações de velocidade ao longo de um dado intervalo de tempo
é nula. Entretanto, a média dos quadrados das flutuações não será nula:
Na realidade, é comum se utilizar a relação:
como uma forma de quantificar a intensidade de turbulência. Para escoamento em
tubos, o valor do parâmetro acima varia usualmente entre 0,01 e 0,10 (Bird, Stewart e
Lighfoot, 1960).
6.2.1- Equações da continuidade e do movimento suavizadas
Usando a equação (6.7), pode-se rescrever as equações da continuidade e do
movimento, em termos das velocidades suavizadas. Estas novas equações são, então,
resolvidas para se determinar os perfis de velocidade.
(6.8) 0 = dt v t1 = v /
z
t+t
to
/z
o
∫
(6.9) 0 dt )v( t1 = v 2/
z
t+t
to
/2z
o
≠∫
(6.10) vv
z
/2z
212
6.2.1.1- Equação da continuidade suavizada
Considerando um fluido com densidade constante e em regime estacionário, pode-
se escrever a equação da continuidade da seguinte forma:
Introduzindo a definição dada pela equação (6.7) (e as suas formas similares para
as outras componentes de velocidade), obtém-se:
Pode-se, então, fazer a média da equação acima ao longo de um intervalo to, de
modo análogo ao que se fez com a velocidade (equação (6.7)). Esse procedimento
corresponde a uma suavização (time-smoothing) da equação da continuidade. Através
deste procedimento e usando a equação (6.8), obtém-se que:
Essa equação é absolutamente idêntica à equação da continuidade deduzida no
Capítulo 5, mas escrita em função das velocidades suavizadas.
6.2.1.2- Equação do movimento suavizada
Um procedimento análogo ao adotado no item anterior pode ser aplicado para se
obter as equações do movimento suavizadas.
(6.11) 0 = )v( z
+ )v( y
+ )v( x zyx ∂
∂∂∂
∂∂
(6.12) 0 = ) v + v( z
+ ) v + v( y
+ ) v + v( x
/zz
/yy
/xx ∂
∂∂∂
∂∂
)(6.13 0 = )v( z
+ )v( y
+ )v( x zyx ∂
∂∂∂
∂∂
213
O desenvolvimento a seguir será feito para a componente x da velocidade, mas
procedimentos similares podem ser aplicados para as outras componentes.
Considerando um fluido com viscosidade constante, tem-se a seguinte equação
do movimento para a componente x da velocidade:
Novamente usando a definição da velocidade instantânea (equação (6.7)), pode-
se escrever a equação acima na seguinte forma:
A equação acima pode ser suavizada tirando-se uma média ao longo de um
intervalo to. Usando-se as equações (6.8) e (6.9), obtém-se:
A equação acima é similar à equação (6.14); entretanto, aparecem os três novos
termos adicionais destacados no retângulo. Estes termos estão associados às
flutuações de velocidade, características do escoamento turbulento.
Por conveniência, é comum se introduzir a seguinte notação:
)(6.14 g ρ + xP - v μ + )v v (ρ
z - )v v (ρ
y - )v v (ρ
x - =
t)v (ρ
xx2
xzxyxxx
∂∂
∇∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
5)(6.1 g ρ + )P + P(x
- )v + v( μ +)] v + v)(v + v([z
-
- )v + v)(v + v([y
-)] v + v)(v + v( [ρx
- = t
)]v + v( [ρ
x//
xx2/
xx/zz
/xx
/yy
/xx
/xx
/xx
∂∂
∇∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
ρ
ρ
(6.16) )v v (ρz
- )v v (ρy
- )v v (ρx
-
- g ρ + xP - v μ +)v v (ρ
z - )v v (ρ
y - )v v (ρ
x - =
t)v (ρ
/x
/z
/x
/y
/x
/x
xx2
xzxyxxx
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∇∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
214
Estes termos correspondem aos fluxos de quantidade de movimento turbulento,
que são normalmente denominados tensões de Reynolds (lembrar que todos os termos
na equação (6.16) têm dimensão de fluxo de quantidade de movimento ou tensão).
Os temos adicionais da equação (6.16) é que criam toda a dificuldade de se resolver
as equações do movimento no escoamento turbulento. Para se avaliar estes termos,
têm sido propostos diferentes modelos de turbulência. Até hoje, não surgiu um modelo
que seja de aplicação universal; entretanto, com os modelos já desenvolvidos tem-se
conseguido respostas adequadas a uma série de problemas de interesse prático.
Uma das primeiras propostas para avaliação dos fluxos de quantidade de
movimento turbulento foi feita por Boussinesq (Bird, Stewart e Lightfoot, 1960).
Adotando uma analogia com a equação de Newton da viscosidade, foi sugerido que
fosse avaliada através da seguinte equação:
onde μ(t) é a viscosidade turbulenta. Expressões similares para as outras tensões
podem ser definidas.
A viscosidade turbulenta não é uma propriedade do fluido e deve ser avaliada ou
estimada para cada sistema em particular.
Nota-se que a proposta de Boussinesq não resolve o problema de avaliação do
fluxo turbulento de quantidade de movimento, apenas o transforma em um outro
)(6.17 )v v (ρ = τ /x
/x
(t)xx
(6.18) )v v (ρ = τ /x
/y
(t)yx
(6.19) )v v (ρ = τ /x
/z
(t)zx
(6.20) yv μ - = τ
x(t)(t)yx ∂
∂
215
problema: o de determinar a viscosidade turbulenta μ(t).
O aspecto interessante dessa proposta é que ela faz com que a equação do
movimento para escoamento turbulento fique idêntica à equação para o regime laminar,
apenas substituindo a viscosidade molecular, μ, por uma viscosidade efetiva, μeff,
expressa pela soma das viscosidades molecular (ou laminar) e turbulenta:
Uma série de outras propostas para avaliação do fluxo turbulento de quantidade
de movimento foram feitas.
Dentre elas, pode-se citar (Bird, Stewart e Lighfoot, 1960):
- Proposta de Prandtl (comprimento de mistura):
onde l é o comprimento de mistura, avaliado em função da distância do ponto à parede.
- Proposta de von Kármán:
onde κ2 é uma constante igual a 0,36 (determinada a partir de medidas de perfis de
velocidade em tubos).
- Proposta de Deissler (empírica):
onde y é a distância da parede e n é uma constante avaliada empiricamente (0,124).
(6.21) μ + μ = μ (t)eff
(6.22) dyvd
dyvd l ρ - = τ
xx2(t)yx
(6.23) dyvd
)yd/vd()dy/vd( κ ρ - = τ
x22
x2
3x2
2(t)yx
(6.24) dyvd)
νy v n exp(- - 1 y v n ρ - = τ
xx2
x2(t)
yx ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
216
Dentre estas propostas, a que tem sido mais utilizada é a de Boussinesq. Nesse
caso, uma série de abordagens tem sido desenvolvida para permitir a avaliação da
viscosidade turbulenta. Estas abordagens podem ser classificadas em três categorias
de acordo com o número de equações diferenciais adicionais que são usadas para
avaliação da viscosidade:
- Modelo de zero equação. Nesse caso, é estipulado um valor constante para a
viscosidade turbulenta no interior do sistema em estudo. A escolha do valor a ser
adotado é geralmente arbitrária e visa obter concordância entre valores previstos
pelo modelo matemático e valores experimentais. Este tipo de abordagem foi usado
inicialmente no modelamento de turbulência e funciona razoavelmente bem em
sistemas onde predomina o transporte de quantidade de movimento por convecção
(Guthrie, 1993);
- Modelo de uma equação. Nesse tipo de modelo, resolve-se uma equação diferencial
adicional (além das de conservação de massa e quantidade de movimento). É ainda
necessário especificar o valor de um parâmetro, denominado comprimento de
mistura, para se poder calcular a viscosidade turbulenta;
- Modelo de duas equações. Nesses modelos, empregam-se duas equações
diferenciais adicionais para se estimar a viscosidade turbulenta. Não é necessária
a especificação arbitrária de nenhum parâmetro. Nesta categoria, encontram-se os
populares modelos κ-ε (nas suas diversas formas), de emprego bastante difundido.
Estes modelos têm tido um sucesso bastante grande na previsão de características
de escoamentos turbulentos em várias áreas de aplicação, inclusive na metalurgia.
Entretanto, nenhum deles fornece resultados quantitativamente corretos em uma
faixa ampla de aplicações. Geralmente, há um tipo de modelo que funciona melhor
217
para um dado tipo de aplicação.
O modelo κ-ε proposto por Launder e Jones (1972) é um dos que tem fornecido
os melhores resultados em aplicações metalúrgicas. As figuras de 6.3 a 6.5 mostram
exemplos de perfis de velocidades obtidos com o uso destes modelos aplicados ao
processo RH de refino, aos distribuidores e aos moldes de lingotamento contínuo.
Figura 6. 3 - Perfil de velocidades no plano de simetria de um desgaseificador RH.
218
Figura 6. 4 – Perfil de velocidades em um distribuidor de lingotamento contínuo
(Tavares e Castro, 1999)
Figura 6.5 - Perfil de velocidades em um molde de lingotamento continuo (Huang e
Thomas (1996)
X
Y
X
Y
Z
X
Y
Z
X
Y
a- Sem modificadores de fluxo
c- Com uma barragem
b- Com um dique
d- Com um dique e uma barragem
Válvula de alimentaçãoVálvula de alimentação Válvula de alimentação
219
A abordagem descrita acima é bastante trabalhosa e invariavelmente envolve o
uso de técnicas numéricas complexas e recursos computacionais, para solução das
equações diferenciais de conservação de massa e quantidade de movimento. Conforme
mencionado anteriormente, o uso desta abordagem é geralmente restrito a aplicações
mais elaboradas, nas quais a obtenção dos perfis de velocidade é absolutamente
essencial para a solução do problema.
Em muitos problemas de aplicação prática na engenharia, pode-se empregar
técnicas mais simples (do ponto de vista matemático), mas que conseguem fornecer
respostas adequadas. Este tipo de abordagem vai ser apresentado no próximo item.
6.3- Fatores de fricção
Muitos problemas de escoamento em engenharia caem em uma das categorias
abaixo:
- Escoamento em dutos ou canais (escoamento interno);
- Escoamento em torno de objetos (escoamento externo).
Para escoamento de fluidos em dutos ou canais, pode-se citar os seguintes
exemplos: bombeamento de petróleo em oleodutos, escoamento de água em canais
abertos e a extrusão de polímeros em matrizes. Exemplos de escoamento em torno de
objetos são: o movimento do ar em torno de um automóvel ou de uma asa de avião, o
movimento da água em torno de partículas sofrendo sedimentação (operações de
tratamento de minérios) ou o movimento de inclusões no aço líquido.
Em problemas de escoamento em canais ou dutos, geralmente se está
interessado em obter uma relação entre a queda de pressão e a gravidade e a vazão
220
volumétrica do fluido. Em problemas de escoamento em torno de objetos submersos
normalmente se quer saber a relação entra velocidade de aproximação do fluido e a
força de arraste do fluido sobre a partícula. Foi visto nos capítulos anteriores que,
quando se conhece as distribuições de velocidade e pressão em um dado sistema, as
informações mencionadas acima podem ser obtidas com relativa facilidade. Para
regimes turbulentos, a determinação dos perfis de velocidade implica em um esforço
muito grande. O tratamento que vai ser dado a seguir visa simplificar o tratamento
matemático do escoamento turbulento, mas ainda possibilitando responder as questões
mencionadas acima.
A resposta às questões listadas no parágrafo anterior envolve a avaliação da força
que atua na interface entre o fluido e o sólido, seja este a parede de um duto, ou canal,
ou a superfície de um corpo submerso no fluido.
Para ambos os sistemas de interesse (escoamento interno e externo), foi proposto
arbitrariamente que a força de fricção ou de atrito, atuando entre o fluido e o sólido em
contato com ele, fosse avaliada através da seguinte equação:
onde:
Fk = força de atrito entre o sólido e o fluido;
A = área característica;
K = energia cinética do fluido por unidade de volume;
f = fator de fricção.
Deve-se observar que a equação (6.25) não é uma lei de mecânica dos fluidos,
mas sim uma definição para o fator de fricção. Obviamente para um dado sistema, f não
está definido até que a área característica, A, seja especificada. A definição dessa área
(6.25) f K A = F k
221
varia de acordo com a configuração do sistema, escoamento interno ou externo.
6.3.1- Escoamento em dutos (interno)
Para escoamento em dutos, a área característica na equação (6.25) é a superfície
molhada (área da região em contato com o fluido). A energia cinética do fluido, por sua
vez, é avaliada em função da velocidade média do fluido. Dessa forma, para um tubo
cilíndrico de diâmetro D e comprimento L, a força de fricção pode ser estimada pela
seguinte equação:
onde:
π D L = área de contato fluido-sólido;
½ ρ V2 = energia cinética do fluido por unidade de volume.
A equação acima ainda não é útil para se calcular a força de fricção, pois não se
conhece o valor de f.
O fator de fricção é um parâmetro avaliado experimentalmente.
É bastante simples imaginar um aparato que permita a determinação experimental
do fator de fricção, f. A figura 6.6 mostra um exemplo de montagem que pode ser
empregada com esta finalidade.
(6.26) f )V ρ 21( L) D (π = F 2
k
222
Figura 6.6 - Montagem experimental para a avaliação do fator de fricção
Considerando que no sistema acima o escoamento do fluido esteja sendo causado
apenas pela diferença de pressão, e que o fluido esteja se deslocando com velocidade
constante, pode-se afirmar que o somatório de forças atuando no fluido é nulo (segunda
lei de Newton). Dessa forma, a seguinte expressão representando o balanço de forças
é valida:
Avaliando experimentalmente a diferença de pressão, P0 - PL, para uma dada
vazão de fluido (ou uma velocidade média) e medindo o diâmetro e o comprimento do
tubo, pode-se aplicar a equação (6.27) para se estimar o fator de fricção. Logicamente,
a densidade do fluido sendo utilizado na experiência deve ser conhecida.
A equação (6.27) pode ser colocada na seguinte forma, para facilitar o cálculo de
f:
Pressão P Pressão P0 L
z = 0 z = L
D
(6.27) f )V ρ 21( L) D (π = F = )P - P(
4D π
fluido e sólidoentre fricção de Força = pressão de diferença à associadaForça
2kL0
2
223
Com a equação (6.29) pode-se, então, calcular o valor de f a partir de medidas
experimentais da queda de pressão.
É interessante observar que quanto mais alto for o valor de f, mais intensa será
a força de fricção na interface sólido-fluido.
Certamente uma série de fatores deve afetar o valor de f. Para se determinar, de
modo quantitativo, os efeitos destes diversos fatores, um número muito elevado de
experimentos seria necessário. Para reduzir o número de experimentos, antes de se ir
para o laboratório, normalmente se desenvolve um tratamento denominado análise
dimensional. Existem várias maneiras de se proceder esta análise. A técnica que vai ser
apresentada aqui é baseada num teorema denominado Teorema π de Buckingham.
Este teorema (apresentado aqui sem demonstração) estabelece que é possível agrupar
as variáveis que afetam o valor de f em grupos adimensionais, que representam o
problema tão bem quanto as variáveis originais; entretanto, o número de grupos
adimensionais necessários é inferior ao de variáveis originais. Obviamente, a aplicação
da técnica de análise dimensional não é restrita ao caso de avaliação experimental de
fatores de fricção. Ela pode ser empregada em diversos campos da engenharia,
inclusive para estabelecimento de critérios de similaridade entre plantas industriais e
modelos físicos em escala de laboratório. Outros exemplos de aplicação da análise
dimensional são encontrados em Szekely e Themelis (1970).
(6.29) V ρD
L)P - P(
21 = f
(6.28) f = )V ρ 2
1( L) D (π
)P - P( 4D π
2
L0
2
L0
2
224
A seguir será apresentado o desenvolvimento de uma análise dimensional
(baseada no teorema π de Buckingham, aplicada à determinação de fatores de fricção
em tubos.
6.3.1.1- Análise dimensional
O primeiro passo no desenvolvimento de uma análise dimensional consiste em se
listar todas as variáveis que possivelmente afetam o valor do fator de fricção. Não existe
problema em listar mais variáveis do que as que realmente têm efeito. As experiências
vão determinar se isso de fato ocorre.
a) Listagem das variáveis
Na hora de listar as variáveis, o conhecimento sobre o sistema em análise ajuda
bastante, mas intuição e sentimento sobre o fenômeno em estudo são bastante úteis.
Suponha-se que foram, inicialmente, selecionadas as seguintes variáveis como
aquelas que afetam o valor do fator de fricção em tubos:
- variáveis: D, L, ρ, μ, e ε.
A variável ε acima corresponde à rugosidade do tubo. Este parâmetro depende
basicamente do material empregado na fabricação do tubo e dá uma idéia da sua
aspereza. Ela representa a altura média dos picos e profundidade média dos vales, que
podem ser vistos na superfície interna do tubo, quando esta é observada com algum
dispositivo que permite ampliá-la. O valor da rugosidade é normalmente determinado
através de um aparelho denominado perfilômetro. Na literatura especializada, é
bastante comum se encontrar valores de rugosidade para tubos de diferentes materiais.
V
225
A figura 6.7 mostra esquematicamente a definição da rugosidade.
Figura 6. 7 - Representação esquemática da rugosidade de um tubo
A tabela 6.1 apresenta alguns valores de rugosidade para materiais comumente
utilizados na fabricação de tubos.
Material Rugosidade (mm)
Aço comercial
Ferro galvanizado
Ferro fundido
Concreto
0,046
0,15
0,259
0,3-3
Listadas as variáveis, a próxima etapa consiste em determinar as suas dimensões.
b) Dimensão das variáveis
A partir do que foi apresentado no Capítulo 3, pode-se determinar as dimensões
Tubo
Vista ampliada da parede
Picos
Vales
Rugosidade - altura média de vales e picos
226
das variáveis listadas acima:
D [=] L;
L [=] L;
ρ [=] M L-3;
μ [=] M L-1 t-1;
[=] L t-1;
ε [=] L.
Nas dimensões acima, M designa massa, L designa comprimento (não confundir
com o comprimento do tubo) e t refere-se ao tempo.
Através da equação (6.29), determina-se a dimensão do fator de fricção. Tem-se:
Como se vê, f é uma grandeza adimensional.
c) Classificação das variáveis
Depois de determinadas as suas dimensões, as variáveis devem ser classificadas.
Essa classificação é feita de acordo com os grupos abaixo:
- variáveis geométricas;
- variáveis cinemáticas;
- variáveis dinâmicas.
A tabela 6.2 fornece uma lista de variáveis normalmente envolvidas em problemas
aladimension[=] )t L( )L(M
L L
)tL(M[=] f
(6.29) V ρD
L)P - P(
21 = f
2-23-
2-1-
2
L0
V
227
de Fenômenos de Transporte e a sua classificação, de acordo com as categorias
acima.
Nota-se que as variáveis que apresentam dimensões envolvidas apenas com
comprimento, são denominadas variáveis geométricas. As que apresentam dimensões
que envolvam a variável tempo, sem envolver massa, são as cinemáticas. Finalmente,
as variáveis que apresentam dimensões envolvendo massa, são definidas como
dinâmicas.
De acordo com esses critérios de classificação, tem-se:
- variáveis geométricas: D, L, ε;
- variáveis cinemáticas: ;
- variáveis dinâmicas: ρ e μ.
É interessante notar, que, de acordo com a lista de variáveis formulada, existem
6 variáveis independentes, D, L, ρ, μ, e ε (cujos valores podem ser selecionados na
hora de se fazer o experimento) e 1 variável dependente, f (cujo valor foge ao controle
de quem faz a experiência e que depende dos valores adotados para as variáveis
independentes).
V
V
228
Tabela 6.2- Classificação das diferentes variáveis.
Geométricas
Variável Símbolo Dimensão Unidade (S.I.)
Comprimento L L m
Área A L2 m2
Volume V L3 m3
Cinemáticas
Tempo t t s
Velocidade V L t-1 m/s
Viscosidade cinemática ν L2 t-1 m2/s
Vazão volumétrica Q L3 t-1 m3/s
Aceleração a L t-2 m/s2
Dinâmicas
Densidade ρ M L-3 kg/m3
Massa M M kg
Viscosidade dinâmica μ M L-1 t-1 kg/m.s
Vazão de massa Γ M t-1 kg/s
Quantidade de movimento - M L t-1 kg.m/s
Pressão p M L-1 t-2 N/m2
Tensão de cisalhamento τ M L-1 t-2 N/m2
Força F M L t-2 N
Energia E M L2 t-2 J
Potência P M L2 t-3 W
229
d) Seleção de variáveis
Para se desenvolver a análise dimensional propriamente dita, seleciona-se
inicialmente 3 variáveis independentes, que são denominadas variáveis básicas. O
número de variáveis básicas deve ser igual ao número de dimensões necessárias para
se expressar as grandezas das variáveis envolvidas no problema. No caso em estudo,
este número de dimensões é 3 (dimensões: M, L e t). Nessa seleção de variáveis, deve-
se ter uma variável de cada um dos grupos da tabela 6.1: geométricas, cinemáticas e
dinâmicas.
Um exemplo de seleção é:
- variável geométrica: D;
- variável cinemática: ;
- variável dinâmica: ρ.
É importante enfatizar que qualquer outra seleção, que obedecesse ao critério de
uma variável de cada grupo, atenderia às especificações para desenvolvimento da
análise dimensional.
e) Montagem dos grupos adimensionais
O número de grupos adimensionais que são necessários para se especificar o
problema é avaliado através da seguinte relação:
Existem 7 variáveis envolvidas (6 independentes e 1 dependente) e são 3 as
(6.30) básicas variáveis de Número -
- envolvidas variáveis de Número = aisadimension grupos de Número
V
230
variáveis básicas. Desse modo, o número de grupos adimensionais é:
Desse total, 3 grupos serão independentes e 1 será um grupo dependente.
Nesse ponto é interessante fazer um comentário sobre a grande redução de
número de experimentos necessários, que se obtém quando se faz a análise
dimensional. Inicialmente, tinha-se 6 variáveis independentes. Caso se decidisse
realizar as experiências adotando seis valores diferentes para cada uma destas
variáveis, o número de experimentos necessários para cobrir todas as possíveis
combinações de valores seria de 66 (46 656). Quando se emprega a análise
dimensional, o número de grupos adimensionais independentes, no caso em estudo,
é 3. Considerando novamente 6 valores diferentes para cada um destes grupos, seriam
necessários 36 (729) experimentos para cobrir todas as possíveis combinações. Há uma
redução de 64 vezes no número de experiências necessárias !! Esse é um dos grandes
benefícios da análise dimensional.
Os grupos adimensionais são montados usando-se as três variáveis básicas
selecionadas acima, combinadas com cada uma das variáveis restantes. Nestes
grupos, as variáveis básicas são elevadas a expoentes a se determinar, e as variáveis
que restaram são elevadas a um expoente unitário. Denominando genericamente os
grupos adimensionais como π, tem-se:
4 = 3 - 7 = aisadimension grupos de Número
(6.34) f ρ V D = π Grupo
(6.33) ε ρ V D = π Grupo
(6.32) L ρ V D = π Grupo
(6.31) μ ρ V D = π Grupo
qon4
jih3
fed2
cba1
231
Nas equações acima, a, b, c, d, e, f, h, i, j, n, o e q são os expoentes a serem
determinados. Estes expoentes são calculados de modo a fazer com que os grupos
acima sejam adimensionais.
Considerando-se inicialmente o primeiro grupo adimensional, pode-se substituir
as dimensões das variáveis nele envolvidas. Tem-se:
O grupo acima deve ser adimensional. Desse modo, a, b e c devem ser tais que
π1 não tenha dimensão de L, M e t, ou seja:
Igualando-se as equações (6.35) e (6.36), obtém-se um sistema de 3 equações
onde as incógnitas são os expoentes a, b e c. Tem-se:
A solução do sistema acima fornece:
(6.35) )tL(M )L(M )t (L L = π Grupo -1-1c-3b-1a1
(6.36) t M L = π Grupo 0001
0 = 1 - b - : t
0 = 1 + c : M
0 = 1 - c 3 - b + a : L
t M L = )tL(M )L(M )t (L L = π 000-1-1c-3b-1a1
1- = c
1- = b
1- = a
232
Com estes valores, obtém-se:
Comparando as equações (6.37) e (6.1), observa-se que o grupo π1 corresponde
ao inverso do número de Reynolds.
Por procedimento semelhante ao adotado acima para determinar os expoentes a,
b e c, pode-se determinar os outros expoentes que aparecem nos demais grupos
adimensionais. Os resultados são:
(Demonstre esses resultados como um exercício)
Com estes valores, obtém-se os seguintes grupos adimensionais:
O grupo π3 é normalmente conhecido como rugosidade relativa.
Os grupos independentes são π1, π2 e π3. O grupo π4 é o grupo dependente.
Desse modo, pode-se dizer que π4 é uma função de π1, π2 e π3, ou seja:
(6.37) ρ V D
μ = μ ρ V D = π Grupo 1-1-1-1
0 = q = o = n
0 =j = i 1- = h
0 = f = e 1- = d
(6.40) f = π Grupo
(6.39) Dε = π Grupo
(6.38) DL = π Grupo
4
3
2
(6.41) )Dε ,
DL ,(Re função = f
233
A função acima deve ser determinada experimentalmente.
Os primeiros resultados correlacionando as grandezas acima foram obtidos por
Moody (Bird, Stewart e Lightfoot, 1960), que os colocou na forma do diagrama visto na
figura 6.8.
Figura 6. 8 – Fator de fricção para tubos: Diagrama de Moody (Bird, Stewart e Lightfoot,
1960)
Pelo diagrama, contata-se que o fator de fricção é uma função do número de
Reynolds e da rugosidade relativa. O grupo L/D não apresentou efeito significativo no
seu valor. Isso é verdade para tubos com comprimentos cerca de 50 vezes maiores que
o diâmetro(1). Os tubos hidraulicamente lisos são aqueles que apresentam rugosidade
nula (ε = 0).
Mais recentemente, Haaland, citado por Gaskell (1992), conseguiu uma
Número de Reynolds
Fato
r de
fric
ção,
f
Laminar Transição Turbulento
Rug
osid
ade
rela
tiva,
ε/D
234
representação matemática dos resultados apresentados na figura 6.8. A função obtida
é:
A seguir serão resolvidos alguns exemplos de aplicação da equação acima, para
avaliação de queda de pressão necessária para se obter uma dada vazão de um fluido
em um tubo. Será visto também um procedimento que pode ser adotado para se
estimar a vazão do fluido para uma dada queda de pressão.
Exemplo- Estimar a queda de pressão necessária para se obter uma vazão de 0,25 l/s
em tubo horizontal de ferro galvanizado com 1,27 cm de diâmetro. O comprimento do
tubo é 6 m. O fluido sendo transportado é a água.
Propriedades da água: ρ = 1000 kg/m3 ; μ = 1 cP = 10-3 Pa.s.
Solução- Este exemplo pode ser resolvido desenvolvendo-se um balanço de forças para
o sistema em estudo, considerando que o fluido estará escoando com velocidade
constante.
Para um tubo horizontal, pode-se colocar o balanço de forças na seguinte forma:
Para obtenção do valor da diferença de pressão, é necessário avaliar a velocidade
média do fluido no tubo e o fator de fricção. Tem-se:
(6.42) Re6,9 +
3,7ε/D log 3,6- =
f1 1,11
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
f )V ρ 21( L) D (π = )P - P(
4D π
fluido e sólidoentre fricção de Força = pressão de diferença à associada Força
2L0
2
4D πQ =
AQ = V 2
235
Tem-se que:
Q = 0,25 l/s = 2,5 x 10-4 m3/s;
D = 1,27 cm = 0,0127 m
Logo:
Para determinar o fator de fricção deve-se calcular o número de Reynolds e a
rugosidade relativa. Pela tabela 6.1, tem-se para tubos de ferro galvanizados que:
ε = 0,15 mm = 1,5 x 10-4 m. Logo:
Com estes valores, pode-se determinar o valor de f usando a equação (6.42):
Voltando à equação para a queda de pressão, obtém-se:
sm/ 1,974 =
4)(0,0127 π
10 x 2,5 = V 2
-4
0,0118 = 0,0127
10 x 1,5 = Dε
25069,8 = (0,001)
(1000) (1,974) (0,0127) = μρ V D = Re
4-
0,0105 = f
25069,86,9 +
3,70,0118 log 3,6- =
f1 1,11
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
Pa 6443,3 = (0.0105) (1,974) (1000) 0,0127
6 2 = f V ρ DL 2 = )P - P( 22
L0 ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
236
Em algumas situações, o valor de queda de pressão medida ao longo de uma tubulação
é utilizado para se estimar a vazão de fluido que escoa em seu interior. O exemplo a
seguir ilustra esta situação e mostra uma das possíveis abordagens que pode ser
adotada nestas circunstâncias.
Exemplo- Estimar a vazão do fluido em uma tubulação vertical, onde foi medida uma
diferença de pressão de 70000 Pa. O fluido está subindo e o comprimento do tubo é 6
m.
Dados: - propriedades da água: ρ = 1000 kg/m3 ; μ = 10-3 Pa.s.
- diâmetro do tubo: 0,0254 m;
- material do tubo: ferro fundido.
Solução- Inicialmente desenvolve-se um balanço de forças. Para um tubo vertical, com
o fluido subindo, pode-se colocar o balanço de forças na seguinte forma:
Nota-se que a diferença de pressão atua em sentido contrário às forças de fricção e da
gravidade.
Neste balanço de forças, os valores de V e de f são desconhecidos. Tem-se, portanto,
duas incógnitas e apenas uma equação. A outra equação necessária para solução do
problema é a expressão (6.42). Esta última equação relaciona f e Re (que está
relacionado com a velocidade média do fluido). Deve-se notar que avaliando a
velocidade média, pode-se calcular a vazão de fluido no tubo.
As máquinas de calcular mais modernas permitem a solução simultânea das duas
equações acima, fornecendo os valores de f e V. O mesmo poderia ser feito utilizando
L g ρ 4D π + f )V ρ 2
1( L) D (π = )P - P( 4D π 2
2L0
2
237
uma planilha eletrônica. O método que vai ser apresentado não lançará mão destes
recursos. A metodologia a ser seguida poderá ser implementada utilizando-se apenas
uma máquina de calcular científica comum.
Para facilitar a solução do problema, o primeiro passo consiste em transformar a
equação do balanço de forças em uma equação relacionando o número de Reynolds
e o fator de fricção. Para tal, basta expressar a velocidade média em termos do número
de Reynolds. Tem-se que:
Substituindo esta expressão no balanço de forças, obtém-se:
Fazendo-se as devidas simplificações e transposições de termos, obtém-se:
Substituindo dados na expressão acima, tem-se:
A outra equação é a do fator de fricção. Para um tubo de ferro fundido, tem-se na tabela
6.1 que ε = 0,259 mm = 2,59 x 10-4 m. Logo, substituindo valores em (6.42), obtém-se:
Para se resolver simultaneamente as duas equações não-lineares acima, o método
mais simples é o iterativo. Nesse método, parte-se de um valor inicial de f, por exemplo,
ρ Dμ Re = V
L g ρ 4D π + f
ρ Dμ Re ρ
21 L) D (π = )P - P(
4D π 22
L0
2
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
[ ]L g ρ - )P - P( μ Lρ D
21 = f Re L02
32
[ ] ,0715.294.593 = (6) (9,8) (1000) - (70000) )(0,001 (6)
(1000) )(0,025421 = f Re 2
32
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛Re6,9 +
3,7)/(0,0254)10 x (2,59 log 3,6- =
f1
1,114-
238
e através de sucessivas iterações, vai-se obtendo valores de Re e f, que vão se
aproximando da solução do problema. Esse processo é ilustrado a seguir.
Considere-se um valor inicial de f igual a 0,006. Esse valor inicial não altera o resultado
final, mas afeta o número de iterações necessárias para se chegar a uma solução
adequada.
Usando-se o valor de f acima, calcula-se Re pela equação do balanço de forças. Tem-
se:
Com o número de Reynolds acima, volta-se à equação do fator de fricção e avalia-se
um novo valor de f. Com esse procedimento uma iteração foi completada. O valor obtido
é:
Com esse novo valor de f, vai-se na equação do balanço de forças e determina-se um
valor atualizado para o Reynolds. Esse procedimento é repetido até se obter valores de
f e Re que não apresentem mais variações significativas. A tabela a seguir mostra um
sumário dos resultados para sucessivas iterações.
50.488,6 = 0,006
,0715.294.593 = f
,0715.294.593 = Re
,0715.294.593 = f Re2
0,0098 = f
50.488,66,9 +
3,7)/(0,0254)10 x (2,59 log 3,6- =
f1
1,114-
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
239
Iteração f Re
1
2
3
4
5
0,006
0,009828
0,009902
0,009903
0,009903
50.488,6
39.449,0
39.301,4
39.299,4
39.299,4
(Faça os cálculos para verificar os resultados mostrados na tabela acima).
A partir da quarta iteração os valores de Reynolds e de f começaram a se repetir. Desse
modo, a solução do problema corresponde a um número de Reynolds igual a 39.299,4.
Com esse valor, determina-se a velocidade média do fluido e a sua vazão volumétrica.
Tem-se:
Com essa velocidade, determina-se a vazão volumétrica de fluido:
ou seja, Q = 0,784 l/s.
m/s 1,547 = (1000) (0,0254)(0,001) (39.299,4) =
ρ Dμ Re = V
/sm 10 x 7,84 = (1,547) 4
)(0,0254 π = V 4D π = Q 34-
22
240
6.3.1.2- Escoamento em dutos não-cilíndricos
Todo o desenvolvimento acima foi feito para dutos cilíndricos. Constatou-se
empiricamente que os valores de f obtidos para tubos cilíndricos (figura 6.8 e equação
(6.42)) são válidos para tubulações não-cilíndricas, desde que se defina o número de
Reynolds usando-se o diâmetro hidráulico equivalente, avaliado pela expressão abaixo:
onde:
A = área da seção transversal do duto efetivamente usada para o escoamento;
PM = perímetro molhado (comprimento da linha de contato fluido-parede do duto).
Aplicando-se a definição acima a um duto de seção retangular, como visto na
figura 6.9, tem-se:
Para um tubo cilíndrico, o diâmetro hidráulico equivalente se iguala ao diâmetro
do tubo. (Provar isso como um exercício).
Figura 6. 9 – Vista da seção transversal de um duto não-circular para a definição de Dh
A aproximação acima funciona bastante bem no regime turbulento. No
(6.43) P
A4 = D
Mh
H) 2 + W (2H W4
= Dh
W
H
Duto não circular
241
escoamento laminar é necessário que se introduza uma correção adicional no fator de
fricção, além da de usar o diâmetro hidráulico equivalente na definição do Reynolds.
O valor de f para dutos não-cilíndricos com um fluido escoando em regime laminar é,
então, avaliado por:
onde φ é um parâmetro que depende da geometria do sistema. Para dutos com seção
transversal retangular, φ é avaliado através do gráfico da figura 6.10.
Figura 6. 10 - Parâmetro φ - correção do fator de fricção para o escoamento laminar em
dutos retangulares (Gaskell, 1992)
Na figura 6.10, z1 corresponde à dimensão da face menor e z2 da face maior do
retângulo.
É interessante observar que o balanço de forças para dutos não-cilíndricos pode
ser todo ele feito usando o diâmetro hidráulico equivalente; entretanto, o cálculo da
velocidade é feito usando-se as dimensões reais da tubulação.
6.3.2- Escoamento em torno de objetos (externo)
(6.44) Re φ
16 = f
242
Conforme mencionado anteriormente, para o caso de escoamento externo, a força
de arraste que o fluido exerce sobre o objeto pode também ser avaliada pela equação
(6.25), reproduzida abaixo:
entretanto, as definições de A e K são diferentes.
Para esse sistema, a área característica, A, é tomada como sendo a área obtida
pela projeção do sólido em um plano perpendicular à velocidade de aproximação do
fluido.
Essa definição é ilustrada esquematicamente na figura 6.11, para o caso em que
o objeto é uma esfera.
Figura 6.11 - Definição da área característica para o escoamento em torno de objetos
A energia cinética por unidade de volume do fluido é avaliada usando-se a
velocidade relativa entre o sólido e o fluido. Para tal, considera-se um ponto do fluido
(6.25) f K A = F k
PlanoperpendicularProjeção
Esfera
243
suficientemente afastado do sólido, para não ter a sua velocidade afetada por ele.
De modo similar ao que acontece no caso de escoamento interno, o fator de
fricção é também avaliado experimentalmente. Estas experiências demonstraram que
para o escoamento externo, o valor do fator de fricção depende do formato do objeto
em torno do qual o fluido escoa. Além disso, o valor de f é também afetado pelo valor
do número de Reynolds associado ao escoamento. Isso será demonstrado a seguir.
6.3.2.1- Escoamento em torno de esferas
Um dos objetos de interesse para estudo do escoamento externo é a esfera. O
valor do fator de fricção para esferas pode ser determinado através de experiências
bem simples. Nestas experiências avalia-se a velocidade terminal de esferas se
deslocando em um fluido estagnado. A velocidade terminal corresponde à velocidade
que a esfera atinge quando o somatório de forças atuando sobre ela se anula.
Quando uma esfera é colocada no interior de um fluido, duas forças de volume
atuam sobre ela: o peso e o empuxo. Estas duas forças vão sempre existir,
independentemente da esfera estar parada ou se movimentando. Ambas atuam na
direção vertical, mas em sentidos opostos: o peso para baixo e o empuxo para cima.
O empuxo corresponde ao peso do fluido que foi deslocado pelo corpo sólido.
Se a esfera se movimentar no interior do fluido, surge uma força de fricção, FK,
que atua na sua superfície. Essa força pode ser avaliada através da equação (6.25). É
importante observar que a força de fricção tem sempre o sentido oposto ao da
velocidade da esfera. Caso a esfera seja mais densa que o fluido, ela irá descer. Dessa
forma, a força de fricção atua no mesmo sentido do empuxo: para cima. Quando a
244
esfera é mais leve que o fluido, ela sobe. A força de fricção, nesse caso, tem o mesmo
sentido do peso: para baixo. Estas duas situações são explicitadas na figura 6.12.
Figura 6. 12 – Forças atuando em uma esfera no interior de um fluido
Dessa forma, o balanço de forças para uma esfera se movendo com velocidade
constante na direção vertical em um fluido estagnado pode ser expresso por
(considerando-se uma esfera mais densa que o fluido):
Na equação (6.46), πD3 / 6 corresponde ao volume da esfera, ρs é a sua densidade
e vt a sua velocidade terminal. Conhecendo-se a densidade do fluido, a densidade da
Esfera
Esfera
Densidade da esfera > densidade do fluido
Densidade da esfera < densidade do fluido
Peso
Peso
Empuxo
Força de fricção
Empuxo
Força de fricção
Esfera desce
Esfera sobe
)(6.46 f )v ρ 21(
4D π + g ρ
6D π = g ρ
6D π
(6.45) fricção de Força + Empuxo = Peso
2t
23
s
3
245
esfera e o seu diâmetro, a determinação experimental da velocidade terminal pode ser
usada para calcular o fator de fricção, f.
A figura 6.13 mostra resultados experimentais de fator de fricção para esferas.
Através dessa figura, constata-se que a dependência de f com o número de Reynolds
pode ser expressa matematicamente através de três expressões, válidas em faixas
específicas do número de Reynolds:
Figura 6.13 - Fatores de fricção para escoamento em torno de esferas (Bird, Stewart e
Lightfoot, 1960)
A região de números de Reynolds inferiores a 1, corresponde ao escoamento
laminar, para a qual vale a lei de Stokes, vista no Capítulo 5. (Exercício: usando a lei
(6.49) 500 > Re para 0,44 f
(6.48) 500 Re < 1 para Re18,5 = f
(6.47) 1 Re para Re24 = f
3/5
≈
≤
≤
Fato
r de
fricç
ão, f
Laminar Intermediária Lei de Newton
tμ
246
de Stokes deduzida no Capítulo 5, demonstre a equação (6.47)).
Exemplo- Calcular a velocidade terminal de uma inclusão de alumina no aço líquido.
Dados:
- diâmetro da inclusão: 200 μm;
- densidade da inclusão: ρs = 2300 kg/m3;
- densidade do aço: ρ = 6700 kg/m3.
- viscosidade do aço: μ = 6,5 cP.
Repetir o cálculo para inclusões de 100 e 50 μm.
Solução - Como a inclusão é menos densa que o aço, o balanço de forças pode ser
colocado na seguinte forma:
Na equação acima, os valores de vt e f são desconhecidos. Por uma abordagem similar
à que foi adotada no caso de escoamento em tubos, pode-se, através do balanço
acima, obter uma relação entre o número de Reynolds e o fator de fricção. Para tal,
basta expressar o valor de vt na equação em função do número de Reynolds:
Assim, obtém-se:
Fazendo-se simplificações e transpondo termos, obtém-se:
f )v ρ 21(
4D π + g ρ
6D π = g ρ
6D π
fricção deForça + Peso = Empuxo
2t
2
s
33
ρ Dμ Re = vt
f ρ Dμ Re ρ
21
4D π + g ρ
6D π = g ρ
6D π
22
s
33
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
247
Substituindo dados, obtém-se:
Como não se sabe o valor de Re, não se pode determinar qual das equações de f em
função de Reynolds (equações (6.47) a (6.49)) é adequada à situação. Adota-se, então,
um procedimento de tentativa-e-erro. Inicialmente, postula-se que a equação (6.47), por
exemplo, seja a correta. Com essa hipótese, verifica-se se o valor de Re obtido vai estar
dentro da faixa de validade dessa relação. Se não estiver, seleciona-se umas das
outras correlações, até se determinar uma que forneça um número de Reynolds dentro
da sua faixa de validade.
Usando-se a primeira equação, expressão (6.47), obtém-se:
Como a expressão usada inicialmente só é correta para Re até 1, o resultado acima
está incorreto.
Adota-se, então, a segunda correlação (equação (6.48)). Tem-se:
Este valor de Reynolds está dentro da faixa da validade da relação usada, sendo,
portanto, a solução do problema.
μD g ρ )ρ - (ρ
34 = f Re 2
3
s2
72,9383 = (0,0065)
)10 x (200 (9,8) (6700) 2300) - (6700 34 = f Re 2
3-62
3,039 = Re
72,9383 = Re24 Re = f Re 22 ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
2,664 = Re
72,9383 = Re18,5 Re = f Re 3/5
22 ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
248
A partir deste valor do Reynolds, avalia-se a velocidade terminal da inclusão:
Por procedimentos análogos, determina-se as velocidades para as inclusões de 100 e
50 μm. Obtém-se:
- inclusão de 100 μm : vt = 0,00369 m/s;
- inclusão de 50 μm : vt = 0,00092 m/s.
6.4- Fatores de Fricção para Leitos de Partículas
Nas seções anteriores, foram vistas algumas correlações para avaliação do fator
de fricção em alguns sistemas de importância na engenharia. O escoamento através
de leitos de partículas representa também um sistema de interesse para o metalurgista.
Leitos fixos, compostos de sólidos granulados ou aglomerados de finas partículas,
aparecem em vários processos metalúrgicos, desde o processo de sinterização até o
alto-forno. Nesses sistemas, é de interesse se poder prever a queda de pressão que
o fluido sofre ao atravessar o leito com uma dada vazão. Essa informação pode ser
usada, por exemplo, no dimensionamento de equipamentos para injeção (ou sucção)
de gases através destes leitos
Ao longo da discussão que será apresentada a seguir, será considerado que o
leito de partículas é uniforme e que não são formadas chaminés, isto é, não há
escoamento preferencial por certos caminhos. Será assumido também o diâmetro das
partículas que compõem o leito é pequeno comparado com o diâmetro da coluna que
sm/ 0,0129 = (6700) )10 x (200
(0,0065) (2,664) = ρ Dμ Re = v 6-t
249
contém o leito. Será analisado apenas o caso do escoamento de um gás através desse
leito.
6.4.1- Equação de Ergun
Antes de se desenvolver uma metodologia para estimativa da queda de pressão
de gases ao atravessar leitos de partículas, serão definidas algumas grandezas que são
usualmente utilizadas para caracterizar um leito.
A figura 6.14 mostra um vista esquemática de um leito de partículas.
Figura 6.14 - Vista esquemática de um leito de partículas
Observa-se que o leito é composto pelas partículas e pelos vazios que se formam
entre elas. Dessa forma, pode-se escrever que:
Um parâmetro importante na caracterização de um leito é a sua fração de vazios.
Dividindo os dois lados da equação acima pelo volume do leito, obtém-se:
Partículas
Vazios
Leito de partículas
)(6.50 vazios de volume + partículas das Volume = leito do Volume
250
A fração de vazios é definida através da seguinte equação:
Desse modo, tem-se:
Uma série de fatores interfere no valor da fração de um leito. Dentre eles, os mais
importantes são certamente a distribuição granulométrica e o tamanho médio das
partículas que o compõem.
Uma outra variável de importância em leitos é a sua área superficial. Essa área
é definida através da equação abaixo:
Pode-se rescrever a equação acima da seguinte forma:
Considerando inicialmente partículas esféricas de tamanho uniforme, tem-se que:
(6.51) leito do volume
vazios de volume + leito do volume
partículas das volume = 1
(6.52) leito do volume
vazios de volume = = vazios de Fração ω
(6.54) - 1 = leito do volume
partículas das volume
(6.53) + leito do volume
partículas das volume = 1
ω
ω
(6.55) leito do volume
partículas das al superficiarea = a
(6.56) leito do volume
partículas das volume partículas das volume
partículas das al superficiárea = a ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
(6.57) d6 =
6d πd π =
partículas das volumepartículas das al superficiárea
3
2
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
251
Combinando as equações (6.54), (6.56) e (6.57), obtém-se:
A relação acima vale somente para partículas esféricas. Não é comum se ter
partículas esféricas em leitos de interesse na metalurgia. Para se tratar com partículas
não esféricas é comum se utilizar o conceito de esfericidade.
A esfericidade procura medir o quanto a forma de uma partícula se aproxima do
formato de uma esfera. A sua definição pode ser entendida através da figura 6.15.
Figura 6.15 - Definição de esfericidade de uma partícula
A esfericidade é definida como a relação entre as áreas superficiais da esfera e
da partícula, ambas como o mesmo volume:
Como a esfera é o sólido com menor área superficial por unidade de volume, os
valores de esfericidade são sempre menores que um. Logicamente, a esfericidade de
uma esfera é 1.
A equação (6.59) pode ser colocada na seguinte forma:
(6.58) ) - (1 d6 = a ω
Volume = V Volume = V
Esfera Partícula
Área superficial = A Área superficial = Aesfera p
Esfericidade = AesferaAp
(6.59) particula da rea á
esfera da área = φ = deesfericida
252
Combinando (6.60) e (6.58), obtém-se uma expressão para avaliação da área
superficial de um leito composto por partículas não esféricas. Tem-se:
Exemplo- Estime a esfericidade das partículas de um minério de ferro tipo chapinha. As
suas dimensões aproximadas são vistas na figura abaixo. O formato da partícula foi
simplificado para facilitar os cálculos.
Solução - Inicialmente, calcula-se o volume da partícula de minério de ferro:
A área superficial da partícula é:
A área acima corresponde à área das seis superfícies laterais da partícula.
Determina-se agora a área superficial da esfera de mesmo volume da partícula. O raio
da esfera de mesmo volume é calculado igualando-se o volume da partícula à equação
para cálculo de volume da esfera:
(6.60) φ
esfera da área = partícula da área
(6.61) ) - (1 d6 = a ωφ
15 mm
4 mm10 mm
mm 600 = 4 x 10 x 15 = V 3p
mm 500 = 2 x 4) x 15 + 4 x 10 + 10 x (15 = A 2p
mm 600 = R π 34 = V 33
253
A solução da equação acima fornece:
Calcula-se agora a área superficial da esfera com raio de 5,23 mm:
Logo, a esfericidade da partícula de minério de ferro será dada por:
Na equação (6.61), o diâmetro d corresponde ao diâmetro da esfera de mesmo
volume da partícula. Como a determinação desse diâmetro é trabalhosa, costuma-se
trabalhar com o tamanho da partícula definido em termos de aberturas das peneiras
onde as partículas são tratadas. Dessa forma, pode-se também considerar situações
onde o tamanho das partículas não seja uniforme. Nesse caso, define-se um tamanho
médio a partir da análise granulométrica. Essa abordagem é a mesma usada em
Tratamento de Minérios.
Quando se tem partículas não esféricas, com uma certa distribuição
granulométrica, o valor do tamanho médio das partículas é determinado através da
seguinte relação:
onde:
n = número de peneiras usadas no peneiramento e onde ficou material retido;
mm 5,23 = π 4600 x 3 = R
31
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
mm 344 = R π 4 = A 22esfera
0,688 = 500344 =
AA
p
esfera
(6.62)
d/100 (%i)
1 = d
i
n=i
=1i∑
254
d = diâmetro das partículas;
di = diâmetro médio do material retido na peneira i;
(% i) = porcentagem de material retido na peneira i.
O diâmetro médio do material retido na peneira i é determinado através da média
geométrica da abertura da peneira onde o material ficou retido e da peneira
imediatamente superior, por onde o material passou. A média geométrica é calculada
pela raiz quadrada do produto das aberturas dessas peneiras.
O exemplo abaixo ilustra o cálculo do tamanho médio de partículas a partir de sua
análise granulométrica.
Exemplo- A tabela abaixo apresenta a análise granulométrica de um minério de ferro.
A partir destes dados, determine o tamanho médio do minério.
Abertura das peneiras (mm) Porcentagem retida (%)
Superior Inferior
25,4
19,1
15,9
12,7
6,3
4,8
19,1
15,9
12,7
6,3
4,8
1
0,44
2,27
18,37
68,66
5,95
4,31
Solução- Com os dados da tabela acima, pode-se construir a tabela a seguir:
255
Abertura das peneiras (mm) Tamanho médio do
material retido (mm)
Porcentagem
retida (%)
Superior Inferior
25,4
19,1
15,9
12,7
6,3
4,8
19,1
15,9
12,7
6,3
4,8
1
22,03
17,43
14,21
8,94
5,5
2,19
0,44
2,27
18,37
68,66
5,95
4,31
0,0002
0,0013
0,0129
0,0768
0,0108
0,0197
Σ = 0,1217
Diâmetro médio = d = 8,215 mm
Com os desenvolvimentos e definições acima, pode-se finalmente determinar
relações para estimativa da queda de pressão em leitos atravessados por gases.
O tratamento para escoamento em leitos é feito a partir do conceito de diâmetro
hidráulico equivalente. Para tal, basta imaginar um leito de partículas como sendo um
duto de formato bastante irregular, através do qual o gás vai escoar.
Lembrando da definição do diâmetro hidráulico equivalente, tem-se:
onde A representa área da seção transversal por onde o fluido escoa e PM o perímetro
molhado.
Resta agora traduzir as variáveis acima em função das características do leito.
id100/)i(%
(6.43) P
A4 = D
Mh
256
Para tal, multiplicar-se-á o denominador e o numerador da equação acima pela altura
do leito, L. Tem-se:
Analisando a equação acima, constata-se que o produto A L corresponde ao
volume disponível para o gás passar. Em um leito, esse volume é o volume de vazios.
No denominador, o produto PM L corresponde à área molhada, que é a área de contato
do gás com as partículas (a área de contato com as paredes do recipiente que contem
o leito é muito pequena comparada com a área superficial das partículas). A área de
contato gás-partículas é a área superficial destas partículas (despreza-se as áreas de
contato entre as partículas). Pode-se, então, colocar a equação (6.63) na seguinte
forma:
Dividindo agora a equação (6.64) pelo volume do leito, tem-se:
Combinando a equação acima com as expressões (6.52) e (6.61), pode escrever
a equação acima na seguinte forma:
A equação (6.66) expressa o diâmetro hidráulico equivalente de um leito em
(6.63) L P
L A4 = D
Mh
(6.64) partículas das al superficiárea
vazios de volume 4 = Dh
(6.65)
leito do volumepartículas das al superficirea á
leito do volumevazios de volume4
= Dh
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
(6.66) ) - (1 3φ d 2 =
) - (1 φ d
64
= Dh ωω
ω
ω
257
função de suas características. De posse da equação acima, pode-se utilizar as
expressões de queda de pressão em tubos para os regimes laminar e turbulento e
expressá-las em função do diâmetro hidráulico equivalente do leito.
6.4.1.1- Regime laminar
A equação (4.126) permite estimar a queda de pressão de um gás com
escoamento laminar em um tubo, em função da velocidade média do gás. Desprezando
a força da gravidade (para gases, isso é razoável devido à sua baixa densidade), pode-
se escrever a equação (4.126) da seguinte forma, já em termos do diâmetro hidráulico
equivalente:
Substituindo a definição do diâmetro hidráulico equivalente (equação (6.68)),
obtém-se:
Os valores de queda de pressão previstos pela equação acima foram comparados
com dados experimentais. Foi constatado que os efeitos das variáveis estavam
corretos; entretanto, a constante que melhor se ajustava aos resultados era 150 ao
invés de 72. Isso certamente se deve ao fato do caminho percorrido pelo gás ser mais
(6.67) D
V μ 32 = R
V μ 8 = L
P - Ph
2h
L0
(6.69) φ d
)ε - (1 V μ 72 = L
P - P
(6.68)
) - (1 3φ d 2
V μ 32 = D
V μ 32 = L
P - P
222
2L0
22h
L0
ω
ωω
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
258
longo que a altura do leito, L, considerada na avaliação da queda de pressão. Dessa
forma, a equação que é utilizada para estimativa de quedas de pressão em leito de
partículas com escoamento laminar é:
A expressão acima é conhecida como equação de Blake-Kozeny.
É ainda comum substituir a velocidade do gás através do leito, V, pela chamada
velocidade a vazio, Vo, expressa através da seguinte equação:
A velocidade a vazio seria a velocidade do gás se toda a seção transversal do leito
estivesse disponível para o seu escoamento. Substituindo (6.73) em (6.72), obtém-se
finalmente:
6.4.1.2- Regime turbulento
A equação (6.27) possibilita estimar a queda de pressão de um gás com
escoamento turbulento em um tubo. Esta equação pode ser escrita da seguinte forma,
já em função do diâmetro hidráulico equivalente:
Substituindo a definição do diâmetro hidráulico equivalente (equação (6.68)),
(6.70) φ d
) - (1 V μ 150 = L
P - P222
2L0
ω
ω
)(6.71 V = V o
ω
(6.72) φ d
) - (1 V μ 150 = L
P - P223
2oL0
ω
ω
(6.73) D1 f V ρ 2 =
L)P - P(
h
2L0
259
obtém-se:
O fator de fricção para leitos foi avaliado experimentalmente e o valor obtido foi:
Substituindo esse valor em (6.76) e já usando a definição de velocidade a vazio,
obtém-se:
A expressão acima é conhecida como equação de Burke-Plummer e permite
estimar a queda de pressão de um gás ao atravessar um leito, em condições onde o
escoamento seja turbulento.
No final da década de 1940, Ergun unificou as expressões de Blake-Kozeny e
Burke-Plummer, mostrando que a queda de pressão em leitos era composta de duas
contribuições: uma associada aos atritos viscosos, que predominava na região laminar,
e outra, associada aos efeitos de inércia, que predominava no regime turbulento. Na
realidade, a queda de pressão do gás ao longo de toda a faixa de regimes de
escoamento pode ser expressa pela soma da equações de Blake-Kozeny e Burke-
Plummer. Logo:
Essa equação é conhecida como equação de Ergun e pode ser usada para
determinar a queda de pressão em leitos, sendo válida para os regimes laminar e
(6.74) f φ d
) - (1 V ρ 3 =
) - (1 3φ d 2f V ρ 2 =
L)P - P( 22
L0
ωω
ωω
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
(6.75) 3
1,75 = f
)(6.76 φ d
) - (1 V ρ 1,75 = L
)P - P(3
2oL0
ωω
(6.77) φ d
) - (1 V ρ 1,75 + φ d
) - (1 V μ 150 = L
P - P3
2o
223
2oL0
ωω
ω
ω
260
turbulento.
Pela equação acima, observa-se que os parâmetros que favorecem uma
diminuição da queda de pressão do gás ao atravessar o leito (tornam o leito mais
permeável) são:
- maior fração de vazio, ω;
- maior diâmetro médio das partículas, d;
- maior esfericidade, φ;
- menores viscosidade, μ ; densidade, ρ, e velocidade do gás, Vo.
261
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
D.R. GASKELL. An Introduction to Transport Phenomena in Materials Engineering,
Macmillan Publishing Company, 1992, 637 p.
J. SZEKELY; N.J. THEMELIS. Rate Phenomena in Process Metallurgy. Wiley
Interscience, New York, 1970, 784 p.
R.B.BIRD; W.E. STEWART; E.N. LIGHTFOOT. Transport Phenomena. John Wiley &
Sons., New York, 1960, 780 p.
R.I.L. GUTHRIE. Engineering in Process Metallurgy. Oxford Science Publications,
Oxford, 1992, 528 p.
R.P. TAVARES; L.F.A. CASTRO. Modelagem matemática do escoamento de fluido e
transferência de calor em um distribuidor de lingotamento contínuo. In: 54 Congresso
Anual da ABM, São Paulo, 1999, p. 544-554.
W.P. JONES; B.E. LAUNDER. The prediction of laminarization with a two-equation
model of turbulence. International Journal of Heat and Mass Transfer, Vol. 15, 1972, p.
301-314.
X. HUANG; B.G. THOMAS. Modeling of transient flow phenomena in continuous casting
of steel. Computational Fluid Dynamics and Heat/Mass Transfer Modeling in the
262
Metallurgical Industry, 1996, p. 129-145.
263
EXERCÍCIOS
1- Calcular a velocidade terminal de ascensão de uma inclusão com 20 μm de diâmetro,
sólida, em aço líquido estagnante.
Dados:
ρINCLUSÃO = 2,7 x 103 kg/m3
ρAÇO = 7,1 x 103 kg/m3
μAÇO = 5,5 x 10-3 kg/m.s
A inclusão pode ser considerada esférica. Verificar a validade dos cálculos.
2- Uma técnica empregada para determinar a viscosidade de fluidos consiste em medir
a velocidade terminal de uma esfera que cai dentro do fluido. Determinar, então, a
viscosidade do fluido onde foram obtidos os seguintes dados:
DESFERA = 1 cm;
ρ = 1,261 g/cm3;
ρESFERA = 7,1 g/cm3.
Sabe-se, também, que no período de velocidade constante, a esfera percorre 2 metros
em 7 segundos.
3- Uma esfera de aço oca, com 5 mm de diâmetro e massa de 0,05 g é solta na
superfície de uma coluna de líquido e atinge uma velocidade terminal de 0,5 cm/s.
A densidade do líquido é 0,9 g/cm3 e a aceleração da gravidade no local é 980,7
cm/s2. A esfera está bem afastada das paredes do duto. Determinar:
264
- força de arraste;
- fator de fricção;
- viscosidade do fluido.
4- Calcular a esfericidade de um cubo com dois centímetros de lado.
5- Calcular o diâmetro médio do material que apresenta a seguinte análise
granulométrica:
Abertura das peneiras (mm) Porcentagem
retida (%)
Superior Inferior
25,4
19,1
15,9
12,7
6,4
4,8
19,1
15,9
12,7
6,4
4,8
1
0,22
4,3
15,36
72,95
3,89
3,28
6- Uma esfera de aço (raio = 8,87 cm) é jogada em escória líquida para determinar a
viscosidade desse fluido. A densidade do aço é duas vezes maior que a da escória
e a velocidade terminal da esfera é 1,524 m/s (determinada experimentalmente).
Calcular a viscosidade cinemática da escória.
265
7- Gás atravessa um leito de seção quadrada de 3,048 m de lado e 14,11 m de
comprimento. As pressões de entrada e saída do gás são 104 109,97 e 103 420,5
N/m2, respectivamente. A vazão mássica de gás é 90,72 kg/h. Avaliar a fração de
vazio do leito (entre 0 e 0,6) para as condições abaixo:
- diâmetro de partícula = 3,048 cm;
- viscosidade do gás = 2,067 x 10-5 kg/m.s;
- densidade do gás = 0,12 kg/m3 (densidade média).
8- Calcular a diferença de pressão necessária para fazer água subir em um tubo
vertical de 10 m de comprimento a uma vazão de 0,5 l/s. O diâmetro do tubo é de
1,5 cm e sua rugosidade de 0,1 mm.
9- Avaliar a vazão de água em um tubo horizontal de 1 polegada de diâmetro, ao longo
do qual foi medida uma diferença de pressão de 50.000 Pa. A rugosidade do tubo
é de 0,5 mm. O comprimento do tubo é 5 m.
266
7 - BALANÇOS GLOBAIS NO ESCOAMENTO DE
FLUÍDOS ISOTÉRMICOS
Na maioria dos problemas de engenharia que envolvem o escoamento de
fluidos, um dos objetivos (talvez o mais importante) é obter uma relação entre a vazão
volumétrica do fluído e os fatores que causam o seu escoamento, tais como diferença
de pressão, gravidade forças eletromagnéticas.
Para obtenção da relação da mencionada acima, dois métodos podem ser
utilizados: o microscópico e o macroscópico. No método microscópico, ilustrado
esquematicamente na figura 7.1a, o volume de controle é infinitesimal e é localizado
longe das fronteiras do sistema. A aplicação desse método resulta em equações
diferenciais e os parâmetros fisicamente observáveis, tais como a entrada e saída de
fluido e condições nas superfícies de contorno, entram como condições de contorno do
problema. Esse foi o método de estudo aplicado nos capítulos 4 e 5.
Figura 7.1- Elementos de volume para as abordagens: a) microscópica e b)
macroscópica para um problema de escoamento de fluidos
Entrada Saída
Elemento infinitesimala)
Entrada Saída
b)
Elemento de volume
267
No caso da abordagem macroscópica, ilustrada na figura 7.1b, o volume de
controle é tomado como sendo o volume total de sistema e, portanto, as condições de
entrada e saída são incluídas nas equações básicas.
Em geral, o estabelecimento do balanço global (tratamento macroscópico)
resulta em equações algébricas para sistemas no estado estacionário e equações
diferenciais de primeira ordem no estado não-estacionário. Este método simplifica
consideravelmente as manipulações matemáticas necessárias, mas as soluções
resultantes fornecem menos informações a respeito do sistema.
O método macroscópico foi empregado no Capítulo 6, quando se desenvolveu
balanços globais de forças aplicados ao escoamento de fluidos em dutos (escoamento
interno) e em torno de objetos (escoamento externo). Neste capítulo, continuar-se-á a
empregar a abordagem macroscópica, mas agora utilizada no estabelecimento de
balanços globais de massa e energia aplicados ao escoamento de fluidos em dutos. As
ferramentas que serão desenvolvidas neste capítulo têm aplicação prática muito grande
nas engenharias de modo geral e, em particular, na engenharia metalúrgica.
7.1. Balanço Global de Massa
Para desenvolvimento do balanço global de massa será considerado o sistema
visto na figura 7.2.
268
Figura 7.2 - Sistema para o desenvolvimento do balanço global de massa
No desenvolvimento do balanço global de massa serão feitas ainda as seguintes
suposições:
- as velocidades médias nos planos 1 e 2 são paralelas às paredes do duto;
- a densidade e outras propriedades físicas não variam ao longo da seção transversal
nos planos 1 e 2.
A equação de conservação de massa estabelece que:
Em símbolos essa equação se torna:
sendo:
- A1, A2 = áreas das seções transversais nos planos 1 e 2;
- ρ1, ρ2 = densidades do fluido nos planos 1 e 2;
1
2
A , V , ρ1 1 1
A , V , ρ2 2 2
Massa total, mT
(7.1) massa] de acumulação de total [Taxa =
=massa] de saídade total [Taxa -massa] de entrada de total [Taxa
(7.2) t d
m d = V ρ A - V ρ A T222111
269
- = velocidades médias do fluido nos planos 1 e 2;
- mT = massa total de fluido no sistema;
- t = tempo.
Pode-se, também, definir a seguinte variável:
que representa a vazão de massa de fluído em um dado plano. Com o uso dessa
variável, a equação (7.2) se transforma em:
No estado estacionário:
logo:
Exemplo- Aço líquido é vazado de uma panela através de um bocal colocado no seu
fundo. O diâmetro desse bocal é 7,62 cm. Calcular o tempo necessário para esvaziar
a panela. Considerar, como uma primeira aproximação, que a velocidade do aço no
bocal pode ser relacionada com a altura de aço na panela através da seguinte equação:
onde h = altura de metal na panela e CD é o coeficiente de descarga (nesse caso,
considerado como sendo equivalente a 0,9) Mais a frente, serão determinados os
(7.3) V ρ A = m•
(7.4) t d
m d = m- m T21
••
(7.5) 0 = t d
m d T
(7.6) 0 = m - m 21
••
h g 2C = V Dbocal
21 V ,V
270
fatores que afetam o valor de CD.
Dados:
- diâmetro da panela: 3,0 m;
- altura inicial de líquido: 3,3 m;
- densidade do aço: 7000 kg/m3.
Solução- A situação em estudo pode ser vista esquematicamente na figura abaixo:
O plano de referência 1 é colocado na superfície do aço líquido na panela e o plano 2
é colocado na saída do bocal de vazamento.
Assim:
A equação do balanço de massa pode, então, ser colocada na seguinte forma:
Sabe-se ainda que:
Usando a expressão para velocidade média no bocal, tem-se:
Aço líquido h
Bocal
1
2
DP
d
0 = m1
•
t dm d = m - T
2
•
V A = m 2222 ρ•
h g 2C A = m D222 ρ•
271
Considerando que a densidade do aço seja constante em todo o sistema, pode-se
escrever a seguinte equação para a massa total de aço na panela:
onde Ap é a área da seção transversal da panela (considerada constante ao longo da
altura da panela).
Diferenciando a equação para a massa de aço na panela, obtém-se:
Combinando-se as equações desenvolvidas acima, pode-se escrever que:
Separando variáveis na equação acima, tem-se:
A equação acima pode ser integrada, considerando os seguintes limites:
onde:
- hi é a altura inicial de aço na panela;
- te é o tempo de esvaziamento da panela.
A integração fornece:
Substituindo os limites de integração, tem-se:
h A = m PT ρ
h d A = m d PT ρ
h g 2C ρ A - = m - = t dh d ρ A =
t dm d
D222PT
•
t d g 2C AA - =
hh d
DP
21/2
t = t para 0 = h
0 = t para h = h
e
i
[ ] [ ] t g 2C AA - = h 2 t
0 DP
21/2 0 h
e
0
272
Finalmente, o tempo de esvaziamento da panela será dado pela seguinte expressão:
As áreas das seções transversais do bocal e da panela (considerados circulares) são
dadas por:
Dessa forma:
Substituindo dados, tem-se:
Esse tempo equivale aproximadamente a 24 minutos.
7.2. Balanço Global de Energia
Para desenvolvimento de um balanço global de energia será considerado o
sistema visto na figura 7.3. A aplicação do princípio de conservação de energia fornece
a seguinte equação:
t g 2C AA - = h 2 - eD
P
20
1/2
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛gh 2
CAA = t 0
1/2
D2
Pe
4D = A
4d = A
2P
P
2
2
π
π
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛gh 2
CdD = t 0
1/2
D2
2P
e
s4131 = 9,8
3,3 x 2 (0,0762))9,0((3) =
gh 2
dCD = t
1/2
2
20
1/2
D2
2P
e ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
273
Figura 7.3 - Sistema para aplicação do balanço global de energia
Considerando o sistema visto na figura 7.3, pode-se colocar a equação acima na
seguinte forma:
onde:
- Etotal = energia total do fluido, dada pela soma das energias interna, potencial e
cinética;
- H = entalpia do fluido por unidade de massa;
- EP = energia potencial do fluido por unidade de massa;
- Ec = energia cinética do fluido por unidade de massa;
- *.m = vazão de massa de fluido no sistema;
- Q = taxa líquida de entrada de calor no sistema;
- M = trabalho mecânico realizado pelo fluido sobre a bomba (ou qualquer outro
(7.7) energia] de acumulação de total [Taxa =
=energia] de saídade total [Taxa -energia] de entrada de total [Taxa
A , V , ρ1 1 1
A , V , ρ2 2 2
Bomba
z
z
1
2
Q
(7.8) M- S + Q + m) E + E + (H - = ) E (t d
dRcPtotal ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡Δ
•
274
dispositivo de manuseio de fluidos);
- SR = geração líquida de energia no sistema, devido a reações químicas ou outras
fontes.
Na equação acima, o operador Δ significa (saída - entrada). Dessa forma, - Δ vai
significar (entrada - saída).
Nesse capítulo, serão consideradas apenas situações onde se tem estado
estacionário. Nesse caso, pode-se escrever que:
Considerando sistemas onde não ocorrem reações químicas e onde não há outras
fontes de energia, tem-se:
Desse modo, com a transposição de termos, a equação (7.8) se torna:
A seguir, será visto como cada uma dos termos acima pode ser avaliado em
termos de parâmetros mensuráveis.
7.2.1. Avaliação do termo de energia cinética
A taxa de entrada de energia cinética no sistema através da área A1 (normal ao
(7.9) 0 = ) E (t d
dtotal
(7.10) 0 = S R
(7.11) 0 = M+ Q - m) E + E + (H cP ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡Δ
•
275
escoamento) pode ser avaliada através da seguinte equação:
Considerando um duto cilíndrico, o elemento diferencial de área, dA1, será
determinado através da seguinte expressão
:
Combinando-se as equações (7.12) e (7.13), obtém-se:
onde R1 é o raio do duto na seção 1.
Para integrar a equação acima, é importante lembrar que as velocidades do fluido
variam ao longo da seção transversal do duto. Para tal, dois casos limites serão
considerados: escoamento laminar e escoamento altamente turbulento.
a) Escoamento laminar
Conforme obtido no Capítulo 4, para o escoamento laminar são válidas as
seguintes equações para o perfil de velocidades ao longo da seção transversal do duto
e para a sua velocidade média:
Combinando as duas equações acima, pode-se obter uma expressão relacionando
(7.12) v )dA v ( 21 = E m 2
1111
A
0c1
1
1 ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡∫
•
ρ
(7.13) r d r 2 = Ad 1 π
(7.14) v dr) r 2 v ( 21 = E m 2
111
R
0c1
1
1 ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡∫
•
πρ
(4.126) L
P - P + cos g 8R = V Lo
2
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡ βρ
μ
(4.116) 4
)r - R( L
P - P + cos g 1 = v22
Loz ⎥⎦
⎤⎢⎣⎡ βρ
μ
276
o perfil de velocidades com a velocidade média:
Substituindo a equação (7.15) na expressão para a energia cinética, tem-se:
A integração da equação acima fornece:
(prove este resultado como um exercício).
Conforme visto acima, tem-se que:
Logo, pode-se escrever que:
A equação acima permite a determinação da energia cinética do fluido por unidade
de massa em função da sua velocidade média. Esta expressão é válida para
escoamento laminar.
b) Escoamento turbulento
No regime turbulento, o perfil de velocidades do fluído em uma dada seção
transversal da tubulação, é bastante diferente daquele perfil parabólico, que prevalece
do regime laminar. Isso pode ser constatado na figura 7.4.
(7.15) R
)r - R( V 2 = v 2
22
z
(7.16) R
) r - R( V 2 r d r 2 R
) r - R( V 2 21 = E m
2
22
1
2
2
22
11
R
0c1
1
1
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛∫
•
πρ
(7.17) R V = E m 21
3 11c1 1
ρπ•
(7.18) V R = m 11211 ρπ
•
(7.19) V = E 2 1c1
277
Figura 7.4 - Comparação qualitativa entre as distribuições de velocidade nos
escoamentos laminar e turbulento (Bird, Stewart e Lightfoot, 1960)
Para regime altamente turbulento, observa-se que as velocidades ficam
aproximadamente constantes na região central do duto. Os gradientes de velocidade
ficam confinados a uma região bastante estreita, próxima às paredes do duto. Desse
modo, pode-se fazer a seguinte aproximação:
Isso significa que o valor de velocidade média representa bastante bem o perfil de
velocidades do fluido.
Combinando as equações (7.14) e (7.20), obtém-se:
A integração da equação acima fornece:
Turb
ulen
to
Centro do tubo Parede
Posição radial
(7.20) V = vz
( ) ( ) (7.21) V r d r 2 V 21 = E m 1
2 11
R
0c1
1
1 ⎥⎦⎤
⎢⎣⎡∫
•
πρ
278
(prove este resultado como um exercício).
Aplicando novamente a equação (7.18), determina-se que:
A equação acima permite a determinação da energia cinética do fluido por unidade
de massa em função da sua velocidade média, para o caso de escoamento turbulento.
As equações para regime laminar e turbulento podem ser escritas em uma mesma
forma geral, como apresentado a seguir:
sendo β1= 1/2 para o regime laminar e β1 = 1 para o regime turbulento.
7.2.2. Avaliação do termo de energia potencial
A energia potencial é definida em relação a um dado plano de referência arbitrário.
A taxa de entrada de energia potencial no plano 1 pode ser estimada através da
seguinte equação:
onde z1 é a altura do ponto médio da seção transversal do duto no plano 1, em relação
ao plano de referência.
Eliminando a vazão de massa nos dois lados da equação (7.25), tem-se a seguinte
(7.22) R V 21 = E m 2
13
11c1 1ρπ
•
(7.23) V 21 = E 2
1c1
(7.24) V 21 = E 2
11
c1 β
(7.25) zgm = E m 11p11
••
279
expressão para estimativa da energia potencial por unidade de massa do fluido:
7.2.3. Teorema de Bernoulli
Retomando a equação geral do balanço de energia para o estado estacionário e
dividindo-a pela vazão de massa do fluido (que é constante ao longo do sistema -
conservação de massa), pode-se escrever que:
onde:
representam a taxa líquida de entrada de calor e o trabalho mecânico realizado pelo
fluido, ambos por unidade de massa de fluído que escoa no sistema.
Lembrando agora das definições da Termodinâmica, tem-se:
onde:
- E = energia interna por unidade de massa do fluido;
- P = pressão do fluido.
Combinando as equações (7.27) e (7.30), obtém-se:
(7.26) z g = E 1p 1
(7.27) 0 = M+ Q - E + E + H **cP ΔΔΔ
(7.29) m
M = M
(7.28) m
Q = Q
1
*
1
*
•
•
(7.30) P + E = Hρ
280
Considerando um comprimento infinitesimal do sistema, a equação acima pode
ser colocada na seguinte forma diferencial:
Deve-se observar que o termo M* desaparece nessa equação, pois ele está
normalmente associado a bombas ou a algum outro equipamento para transporte do
fluido. Estes equipamentos não vão existir em um elemento de volume infinitesimal,
A forma mais comum do balanço de energia aplicado ao escoamento de fluidos
é conhecida como balanço de energia mecânica (que é uma forma do teorema de
Bernoulli). Esta forma será desenvolvida a seguir.
A variação de energia interna por unidade de massa do fluido, à medida que ele
passa por um pequeno segmento do duto, é dada por:
onde δEf é a energia mecânica por unidade de massa do fluído que é convertida em
calor devido à fricção. A equação (7.33) vem da primeira lei da Termodinâmica.
Lembrando das regras de derivação, tem-se:
Combinando (7.32), (7.33) e (7.34), obtém-se:
(7.31) 0 = MQ- E + E + P + E **cP +ΔΔ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ΔΔ
ρ
(7.32) 0 = Q - dEdE + P d + dE *CP δ
ρ+⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
(7.33) E + 1 d P - Q = E d f* δ
ρδ ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
(7.34) P d 1 + 1 d P = P dρρρ ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
(7.35) 0 = Q - Ed + Ed + dp 1 + 1 Pd + E + 1 Pd - Q *cPf
_ δρρ
δρ
δ ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
281
Cancelando termos, tem-se:
A integração dessa equação ao longo de todo o sistema (com o termo M*
aparecendo novamente) fornece a chamada Equação de Bernoulli, numa forma que
pode ser aplicada à maioria dos problemas de escoamento de fluídos:
Deve-se observar que a equação acima está escrita em termos da unidade de
massa do fluído que está escoando.
O termo Ef acima está associação às perdas por fricção ao longo da tubulação.
A equação (7.37) pode ser rescrita em duas formas básicas, dependendo do fluído
que está escoando. Uma delas aplicada a fluidos incompressíveis. Nesse caso, ρ é
constante ao longo do sistema e pode passar para fora da integral, resultando em:
A outra forma é aplicada a fluidos compressíveis. Considerando o caso de um gás
ideal isotérmico, pode-se obter a seguinte equação para avaliação da densidade em
função da pressão:
onde MM é o peso molecular do gás. (Demonstre esta equação a partir da lei dos gases
(7.36) 0 = E + Ed + Ed + dp 1fcP δ
ρ
(7.37) 0 = E + M+ 2
V - 2
V + )z- (z g + p d 1f
*
1
2 1
2
2 2
12
2
1⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∫ ββρ
(7.38) 0 = E + M+ 2
V - 2V + )z(z g + P - P
f*
1
2 1
2
2 2
1212
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
ββρ
(7.39) T R
MP = Mρ
282
ideais).
Substituindo (7.39) em (7.37) e integrando, obtém-se:
As expressões (7.38) e (7.40) são as formas mais comuns da equação de
Bernoulli.
7.2.4. Avaliação das perdas por fricção
Para aplicação prática das equações (7.38) e (7.40), torna-se necessário
desenvolver métodos de estimativa das perdas por fricção, Ef, nas várias partes de um
sistema por onde o fluido escoa.
Logicamente, as perdas por fricção poderiam ser determinadas experimentalmente
medindo-se todas as outras grandezas que aparecem nas equações (7.38) ou (7.40),
e deixando apenas o seu valor como incógnita nas equações. Entretanto, o que
normalmente se procura fazer é estimar Ef a partir das características do sistema e usar
as expressões acima para determinar uma outra quantidade, tal como o trabalho
necessário para bombear o fluido a uma dada velocidade ao longo da tubulação. Esse
item é, então, dedicado à avaliação das perdas por fricção que ocorrem nas diversas
partes de um sistema onde ocorre escoamento de um fluído.
7.2.4.1. Perdas por fricção em dutos retos
Será considerado inicialmente o caso de um fluído de densidade constante
(7.40) 0 = E + M+ 2
V - 2
V + )z - z( g + PP ln
PT R
f*
1
2 1
2
2 2
121
2
M⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛ββ
283
escoando a uma dada velocidade em um duto horizontal, conforme mostrado na figura
7.5.
Figura 7.5 – Fluido escoando em um duto horizontal com seção transversal constante
Assumindo que o fluído escoa devido a uma diferença de pressão, pode-se
estabelecer através do balanço de forças que:
onde:
- FK = força de atrito entre o fluído e a parede do duto;
- P1 - P2 = diferença de pressão entre os pontos 1 e 2 (o fluido escoa do ponto 1 para
o 2);
- A = área da seção transversal do duto.
A equação acima é estabelecida considerando que quando o fluído escoa com
velocidade constante, o somatório de forças atuando sobre ele é nulo.
Aplicando-se agora um balanço de energia para o fluído escoando no sistema
visto na figura 7.5, obtém-se:
Pressão P Pressão P1 2
D
L
(7.41) A )P - P( = F 21K
284
Para se chegar à equação acima, considerou-se que o duto tem seção transversal
constante (assim ), está na posição horizontal ( 21 ZZ = ) e que não há
equipamentos para bombeamento do fluido entre os pontos 1 e 2 (M* = 0).
Combinando as equações (7.41) e (7.42), tem-se:
Do Capítulo 6, tem-se que a força de atrito entre o fluido e as paredes do duto
pode se expressa através da seguinte equação:
Para um duto de seção transversal circular, tem-se:
Combinando-se as equações (7.43), (6.26) e (7.44), pode-se obter uma expressão
para estimativa das perdas de energia por fricção em seção retas de tubulações:
(Demonstre que uma equação idêntica à expressão acima seria obtida se fosse
considerado um duto vertical).
A equação (7.45) acima pode também ser usada para dutos não circulares,
bastando substituir o diâmetro D pelo diâmetro hidráulico equivalente, definido pela
(7.42) 0 = E + P - Pf
12
ρ
(7.43) A
F = E Kf ρ
(6.26) f )V 21( L) D ( = F 2
k ρπ
(7.44) 4
D = A2
π
(7.45) V DL f 2 =
4D
f )V 21( L) D (
= E 2 2
2
f ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
πρ
ρπ
21 V V =
285
equação (6.43).
Exemplo- Um ventilador sobra ar ao longo de um duto retangular com as seguintes
dimensões: seção: 0,20 m x 0,30 m e comprimento de 50,0 m. O ar entra a 20 oC e 750
mm Hg de pressão. A vazão de ar ao longo da tubulação é: 0,5 m3/s. Considerar duto
hidraulicamente liso (rugosidade = 0) e na posição horizontal. Qual deve ser a potência
do ventilador para obter a vazão acima, considerando que na saída o ar está à mesma
temperatura e pressão da entrada?
Solução - O sistema sendo analisado é visto esquematicamente na figura abaixo.
Nesse caso, apesar de se estar soprando um gás, como a temperatura e a pressão não
variam, pode-se considerar a forma da equação de Bernoulli aplicada a um fluido
incompressível. Tem-se:
Como as pressões são as mesmas nos pontos 1 e 2, tem-se que:
12
50 m
ar
0 = E + M+ 2
V - 2
V + )z(z g + P - Pf
*
1
2 1
2
2 2
1212
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
ββρ
12 PP =
286
Por se tratar de um conduto horizontal, tem-se:
O ventilador capta o ar que está em repouso, logo:
Com essas considerações, a equação de Bernoulli fica reduzida à:
Para determinar M* resta, então, avaliar a velocidade no ponto 2 e Ef.
Para calcular a velocidade no ponto 2 e Ef é necessário conhecer a densidade do ar,
a área da seção transversal do duto e o número de Reynolds para esse escoamento.
A densidade do ar pode ser calculada através da seguinte relação:
sendo:
Substituindo valores, obtém-se:
A área da seção transversal do duto é:
12 zz =
0 = V 1
0 = E + M+ 2
V f*
2
2 2 ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡
β
T R MP = Mρ
m / kg 1,1844 = 293 x 8,310,02884 x 992,44 99 =
T R MP = 3Mρ
m 0,06 = 0,3 x 0,2 = A 2
mol / J 8,31 = R
)N de % 79 e O de % 21 ndo(considera mol / kg 0,02884 = P
K 293 = 273 + 20 = T
Pa 992,44 99 = Pa 101330 x 0,9868 = atm 0,9868 = Hg mm 750 = P
22M
287
Assim, a velocidade no ponto 2 é:
Para determinar o número de Reynolds, ainda é necessário conhecer a viscosidade do
ar e o diâmetro hidráulico equivalente da tubulação.
A viscosidade do ar nessa temperatura é:
(Relembre o cálculo de viscosidade de gases no Capítulo 3 – Equação (3.10)).
O diâmetro hidráulico equivalente é calculado através da seguinte equação:
Com esses valores, pode-se calcular o número de Reynolds:
Como a tubulação é hidraulicamente lisa, pode-se determinar o fator de fricção a partir
da seguinte equação, usando ε = 0:
Assim, as perdas por fricção são dadas por:
Voltando à equação de Bernoulli e transpondo termos, obtém-se:
s/ m 8,33 = 0,060,5 =
AQ = V 2
m.s / kg 10 x 1,8 = -5μ
m 0,24 = 0,3) + (0,2
0,3 x 0,2 x 2 = Dh
665,46 200 = 10 x 1,18
1,1844 x 8,33 x 0,24 = x V x D = Re
5-2h
μρ
Re6,9 +
3,7ε/D log 3,6- =
f1 1,11
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
s / m 112,757 = )(8,33 x 0,2450 x 0,0039 x 2 = V
DL f 2 = E 2222
hf ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
E - 2V - = M f
2
2 2*
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
β
288
Como o fluxo é altamente turbulento (Re >> 2100), β2 = 1, logo:
O valor de M* é negativo pois ele representa o trabalho feito pelo fluido sobre o sistema.
Nesse caso é o sistema (ventilador) que realiza trabalho sobre o fluído.
O valor (M*) representa o trabalho feito pelo ventilador por unidade de massa do fluido
sendo transportado. Logo:
Usando o fator de conversão (veja Capítulo 2 – Tabela 2.2), obtém-se:
7.2.4.2. Perdas por fricção em expansão e contração
As perdas por fricção associadas à presença de expansões ou contrações ao
longo das tubulações são normalmente calculadas através de correlações empíricas,
usando um parâmetro denominado fator de perda por fricção, ef .
Essas perdas são estimadas através da seguinte relação:
O parâmetro ef é determinado através de correlações experimentais, que
expressam o seu valor em função do tipo de expansão ou contração (repentina ou
s / m 147,45 = 112,757 - 1 x 2)(8,33 - = M 22
2 * −⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡
W 87,32 = 1,1844 x 0,5 x 147,45 = Q M = |M| * ρ
hp 0,117 = 745,787,32 = |M|
(7.46) V e 21 = E 2
ff
289
gradual), da relação das áreas antes e após a contração/expansão e do valor do
número de Reynolds.
a) Contrações
A figura 7.6 mostra esquematicamente uma contração repentina em uma
tubulação.
Figura 7.6 – Vista esquemática de um contração
Para o caso de contrações repentinas (como a que é vista na figura 7.6) e regime
altamente turbulento, o valor do fator de perda por fricção pode ser avaliado através da
seguinte equação:
onde α é definido pela seguinte expressão:
Quando se usa a equação (7.47) para previsão do fator de perda por fricção, a
velocidade que aparece na equação (7.46) deve ser estimada usando a área da seção
após a contração (menor área).
Para o caso de contrações, além da relação de áreas expressa através do
parâmetro α, o acabamento dado à região de transição da maior para a menor seção
1
2
CONTRAÇÃO
(7.47) ) - (1 0,45 = e f α
(7.48) tubulação da ltransversa seçãomaior da área tubulação da ltransversa seçãomenor da área = α
290
também vai afetar o valor do fator de perda por fricção. Este efeito é visto na figura 7.7.
Figura 7. 7 – Correção dos valores de ef em função do acabamento da contração
(Geiger e Poirier, 1973)
Como se vê na figura, o arredondamento da região de entrada da contração faz
com que o fator de perda por fricção seja 1/3 daquele previsto para quinas vivas
(equação (7.47)).
Em outros textos (Gaskell, (1992); White (1979)) existem mais correlações para
previsão dos valores de ef em diversas configurações de contração e para diversos
números de Reynolds.
b) Expansão
Para uma expansão repentina e em escoamento altamente turbulento, o fator de
perda por fricção pode ser estimado a partir da seguinte correlação:
(7.49) ) - (1 = e 2f α
291
Quando se usa a equação acima para avaliação do fator de perda por fricção, a
velocidade que aparece na equação (7.46) deve ser estimada usando a área da seção
antes da expansão (menor área).
Os valores de ef no caso de expansões se aplicam igualmente bem a todos os
tipos de acabamentos dados na região de transição da menor para a maior seção
(exceto para expansões graduais, como será visto a seguir), uma vez que a formação
de vórtices depois das expansões não se altera se as quinas são ou não arredondadas.
Para escoamento através de expansões graduais, as perdas por fricção são
significativamente reduzidas, devido à eliminação de vórtices. Resultados experimentais
mostram que, para esse caso, ef é função do ângulo de abertura e da relação das áreas
A1/A2, como se vê na figura 7.8.
Figura 7.8 – Valores de fator de perda por fricção para expansões graduais e
escoamento turbulento (Geiger e Poirier, 1973)
292
7.2.4.3. Perdas por fricção em válvulas e conexões
Para avaliar as perdas por fricção para escoamento através de válvulas e
conexões, utiliza-se a técnica do comprimento equivalente. As perdas por fricção são
dadas pela seguinte relação:
onde:
- f= fator de fricção avaliado para um número de Reynolds de um tubo com o mesmo
diâmetro da válvula ou da conexão;
- Le = comprimento equivalente da válvula ou conexão. É o comprimento do tubo (de
mesmo diâmetro da conexão ou válvula) que causaria a mesma perda por fricção
provocada pela válvula ou conexão.
É interessante observar que a equação (7.50) é similar à expressão (7.45), usada
para prever perdas por fricção em seções retas de tubulações.
Os valores da relação Le/D para alguns tipos de conexão e válvulas são fornecidos
na tabela 7.1.
Os dados mostrados na tabela 7.1 são válidos para escoamento turbulento.
Desse modo, quando se tem no mesmo sistema várias válvulas e conexões, os
comprimentos equivalentes (Le/D) de todas elas são somados e a equação (7.50) é
utilizada para obter as perdas por fricção.
(7.50) V DL f 2 = E 2 e
f ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
293
Tabela 7.1- Relação Le/D para alguns tipos de válvulas e conexões (Geiger e Poirier,
1973)
COMPONENTE Le/D
Joelho de 45º 15
Joelho de 90º, raio padrão 31
Joelho de 90º, raio médio 26
Joelho 90º, quadrado 65
Retorno de 180º 75
Válvula gaveta, aberta 7
Válvula gaveta, ¼ fechada 40
Válvula gaveta, ½ fechada 190
Válvula gaveta, ¾ fechada 840
Uniões Desprezível
Exemplo- Qual é a potência necessária para bombear a água através do sistema
mostrado na figura a seguir ? Água (ρ = 1000 kg/m3 e μ = 1 cP) deve ser descarregada
no tanque superior com uma vazão de 6 x 10-3 m3/s. Toda a tubulação tem diâmetro
interno de 10,16 cm (4 polegadas). A rugosidade da tubulação é 0,1 mm.
Caixa d´água
Joelho de 90raio padrão
o
Bomba
1,524 m
0,1m
91,44 m
36,576 m
24,384 m12,192 m
Joelho de 90raio padrão
o Joelho de 90raio padrão
o
1
2
294
Solução- Os pontos 1 e 2 assinalados na figura serão tomados como base para o
balanço de energia. Como a água é um fluído incompressível, a equação de Bernoulli
aplicada ao sistema em estudo pode ser colocada na seguinte forma:
Para os pontos escolhidos para o balanço, tem-se:
Para se calcular a variação de energia cinética e as perdas por fricção, deve-se
determinar as velocidades nos pontos 1 e 2 e ao longo da tubulação. Para tal, usa-se
a vazão fornecida. O balanço global de massa estabelece que:
Como a densidade da água é constante, tem-se:
As seções transversais no ponto 2 e ao longo da tubulação são as mesmas, logo as
velocidades da água nestas duas regiões serão iguais. Considerando também que a
área do reservatório (ponto 1) é bem maior que a do ponto 2 (saída da tubulação),
pode-se, para efeito de estimativa da variação de energia cinética, assumir que:
sendo, portanto, desprezível.
Usando o diâmetro da tubulação, pode-se calcular a área no ponto 2 e ao longo do
0 = E + M+ 2
V - 2
V + )z(z g + P - Pf
*
1
2 1
2
2 2
1212
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
ββρ
caatmosférii12 P = P = P
m 25,908 = 12,192) - 36,576 + (1,524 = zz 12 −
V A = V A = V A dutodutoduto222111 ρρρ
V A = V A = V A = Q dutoduto2211
V < < < V 21
295
duto:
Logo, as velocidades ao longo da tubulação e no ponto 2 são:
Deve-se agora determinar o valor de β2. Isto é feito avaliando-se o número de Reynolds
no ponto 2, para saber se o escoamento é laminar ou turbulento. Tem-se:
Como Re > 2100, o escoamento é turbulento e β2 é, então, igual a 1.
Pode-se agora avaliar a variação da energia cinética entre os pontos 1 e 2:
Para se determinar a potência da bomba, é, ainda, necessário estimar as perdas de
energia por fricção entre os pontos 1 e 2. Ao longo do trajeto entre estes dois pontos,
tem-se perdas associadas à:
- contração na entrada do duto que está no interior do reservatório;
- fricção ao longo das seções retas de tubulação;
- fricção nos 3 joelhos de 90o.
a) Perda associada à contração
Conforme visto acima, esta perda é estimada a partir da seguinte equação:
m 0,0081 = 4
)(0.1016 = 4
D = A = A 222
dutoduto2 ππ
m/s 0,74 = AQ = V = Vduto
duto2
184 75 = 0,001
1000 x 0,74 x 0,1016 = V D = Re 2duto
μρ
s/m 0,274 = 0 - 1 x 2
(0,74) = 2
V - 2
V 222
1
2 1
2
2 2 ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
ββ
V e 21 = E 2
dutoff
296
sendo que, para contrações repentinas, ef é dado por:
Para a configuração sendo estudada:
Considerando a configuração da região onde o fluido entra no duto, deve-se introduzir
a correção no valor de ef acima, conforme indicado na figura 7.6. Tem-se, então, que:
Logo, as perdas pela contração são:
b) Perda associada às seções retas
As perdas em seções retas são avaliadas pela equação:
Inicialmente, avalia-se o fator de fricção para o escoamento dentro da tubulação.
O fator de fricção é calculado pela seguinte equação:
Substituindo valores:
O comprimento total das seções retas é:
As perdas nas seções retas são, então:
) - (1 0,45 = e f α
0 ≈α
0,90 = 2 x 0) - (1 x 0,45 = e f
s/m 0,246 = (0,74) (0,9) 21 = V e 2
1 = E 2222 dutoff
V D
L f 2 = E 2 duto
dutof ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛Re6,9 +
3,7D/
log 3,6- = f
11,11ε
0,0056 = 75184
6,9 + 3,7
(0,1016)/(0,0001) log 3,6- = f
1 1,11
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
m 166,216 = 12,192 + 24,384 + 36,576 + 91,44 + 1,524 + 0,1 = L
s/m 10,034 = (0,74) 0,1016166,216 (0,0056) 2 = V
DL f 2 = E 2222
dutoduto
f ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
297
c) Perdas nos joelhos de 90o
As perdas por fricção em conexões são determinadas através da seguinte relação:
Considerando 3 joelhos de raio padrão, tem-se:
e
De posse dos valores determinados acima, pode-se retornar à equação de Bernoulli,
para avaliação da potência da bomba. Tem-se:
O valor negativo de M* deve-se ao fato do fluído estar recebendo trabalho da bomba
e não realizando trabalho sobre ela.
A potência da bomba pode ser determinada multiplicando o valor acima pela vazão de
massa de água na tubulação. Tem-se:
O valor acima corresponde ao valor de energia que a bomba efetivamente transfere
V DL f 2 = E 2
dutoduto
ef ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
31 = DLe ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
( ) s/m 0,570 = (0,74) 31( )3 (0,0056) 2 = V DL f 2 = E 2222
dutoe
f ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
s/m 265,02- = M
0,570) + 10,034 + (0,246 + M+ 0,274 + (25,908) 9,8 + 0 =
= E + M+ 2
V - 2V + )z(z g + P - P
22*
*
f*
1
2 1
2
2 2
1212
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
ββρ
hp 2,13 = W 1590,12 = 1000 x 10 x 6 x 265,02 = Q |M| = bomba da Potência -3_ ρ
298
para o fluído. A potência da bomba deve ser maior que o valor acima, devido às perdas
que ocorrem no seu interior. Estas perdas são normalmente incorporadas no cálculo
assumindo uma eficiência da bomba. Este valor depende basicamente do tipo e do
projeto do equipamento sendo usado. Para uma eficiência de 50 %, ter-se-ia:
7.3- Escoamento em Panelas e Distribuidores
Em várias situações de interesse prático, o metal contido em panelas e
distribuidores é vazado destes recipientes para lingoteiras ou moldes, onde são
solidificados. Nesses casos, torna-se relevante obter relações que permitam determinar
a taxa de vazamento do metal, em função do seu nível dentro do recipiente que o
contém. A equação de Bernoulli permite fazer o estudo destes sistemas, de maneira a
estabelecer as relações acima.
Inicialmente será estudado o caso de uma panela cilíndrica, sendo vazada através
de um orifício no seu fundo.
7.3.1- Vazamento de uma panela
A configuração do sistema em estudo é visto na figura 7.9.
hp 61,4 = 0/100)5(2,13 = bomba da Potência
299
Figura 7. 9 – Vista esquemático de uma panela contendo metal
Para se estabelecer uma equação relacionando a velocidade do metal no orifício
de vazamento com a altura de metal na panela, pode-se aplicar a equação de Bernoulli
aos pontos 1 e 2, conforme mostrado na figura. Como trata-se de um fluido
incompressível, a equação de Bernoulli fica na seguinte forma:
Para os pontos escolhidos para o balanço, tem-se:
Para se calcular a variação de energia cinética, deve-se relacionar as velocidades
nos pontos 1 e 2. Para tal, pode-se estabelecer um balanço de massa entre os pontos
1 e 2. Tem-se:
Como a densidade do metal é constante, tem-se:
Atmosfera
Atmosfera
Metal
h
PanelaDiâmetro: D panela
OrifícioDiâmetro: D orifício
1
2
(7.38) 0 = E + M+ 2
V - 2V + )z(z g + P - P
f*
1
2 1
2
2 2
1212
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
ββρ
(7.51) P = P = P aatmosféric12
(7.52) h - = zz 12 −
(7.53) V A = V A 222111 ρρ
300
As seções transversais nos pontos 1 e 2 são avaliadas através das seguintes
equações:
Substituindo as relações acima na equação (7.54), obtém-se:
Como o diâmetro do orifício é bem menor que o da panela, pode-se afirmar que:
Dessa forma, a variação de energia cinética entre os pontos 1 e 2 pode ser
estimada através da seguinte expressão:
Para o sistema em análise, não há equipamentos para bombeamento do fluído,
logo:
Resta agora avaliar as perdas por fricção entre os pontos 1 e 2. Estas perdas estão
associadas a:
- fricção em seção reta no interior da panela;
- fricção devido à contração na entrada do orifício.
(7.54) V A = V A 2211
(7.55) 4
D = A2panela
1 π
(7.56) 4
D = A2orificio
2 π
(7.57) V DD = V 22
panela
2orificio
1
(7.58) V < < < < V 21
(7.59) 2V
2V -
2V
2
2 2
1
2 1
2
2 2
βββ≈⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡
(7.61) 0 =M *
301
A perda por fricção na seção reta no interior da panela pode ser avaliada através
da seguinte equação:
Já a perda por fricção na contração é avaliada através da seguinte expressão:
Para contração, o fator de perda por fricção é dado por:
onde:
Para a situação em estudo:
Considerando que a contração não possui nenhum acabamento especial na região
de entrada, tem-se:
Assim, as perdas por fricção são dadas por:
Como visto acima, a velocidade no ponto 1 é bem menor que a velocidade no
ponto 2. Dessa forma, o termo associado às perdas no interior da panela podem ser
desprezados quando comparados com a perda devido à contração.
Voltando à equação de Bernoulli, incorporando as avaliações acima, tem-se:
(7.62) V D
h f 2 = E 2 1
panelapanelaf ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
(7.63) V e 21 = E 2
2ff
(7.64) ) - (1 0,45 = e f α
(7.65) panela da ltransversa seçãoda área orifício do ltransversa seçãoda área = α
(7.66) 0 ≈α
(7.67) 0,45 = 0) - (1 x 0,45 = e f
)8(7.6 V (0,45) 21 + V
Dh f 2 = E 2
22
1panela
panelaf ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
302
Rearranjando termos, pode-se obter uma equação para a velocidade do metal na
saída da panela:
A equação (7.66) é comumente escrita na seguinte forma:
onde CD é denominando coeficiente de descarga e é avaliado por:
É interessante observar que considerando escoamento turbulento na saída da
panela (β2 =1) e desprezando as perdas por fricção, o valor de CD se torna unitário e
tem-se, então, a máxima velocidade do metal no orifício, que é dada por:
Exemplo- Adapte a equação (7.71) acima para a situação mostrada na figura abaixo,
onde se tem um duto refratário acoplado ao orifício da panela. Nesse duto, foi colocada
uma válvula gaveta, cuja abertura pode ser modificada.
)9(7.6 0 = V (0,45) 21 +
2V + (-h) g 2
22
2 2 ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡
β
)70(7. 0,45 +
1
h g 2 = V
2
21
2
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
β
[ ] )71(7. h g 2 C = V 21
D2
)72(7. 0,45 +
1
1 = C
2
21
D
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
β
[ ] )73(7. h g 2 = V 21
2
303
Solução - Para se estabelecer uma relação para avaliação da velocidade do metal na
saída da panela, aplica-se novamente a equação de Bernoulli, mas agora com os
pontos 1 e 2 selecionados conforme indicação na figura acima. A mudança na
localização do ponto 2 é feita por conveniência, pois se fosse mantida a sua localização
na saída da panela, não seria possível assumir a sua pressão como igual à pressão
atmosférica. Usando a localização mostrada na figura, pode-se novamente assumir que:
onde Lduto é o comprimento do duto refratário acoplado à panela.
Para se calcular a variação de energia cinética, deve-se relacionar as velocidades nos
pontos 1 e 2. Para tal, desenvolve-se um balanço de massa entre os pontos 1 e 2. Já
considerando uma densidade constante para o metal, tem-se:
Atmosfera
Metal
h
PanelaDiâmetro: Dpanela
1
Lduto
2Diâmetro: Dduto
Válvula gaveta
P = P = P aatmosféric12
) L + h ( - = z - z duto12
V A = V A 2211
304
As seções transversais nos pontos 1 e 2 são avaliadas através das seguintes equações:
Substituindo as relações acima na equação do balanço de massa, obtém-se:
Como o diâmetro do duto é bem menor que o da panela, a variação de energia cinética
entre os pontos 1 e 2 pode ser estimada através da seguinte expressão:
Para o sistema em análise, não há equipamentos para bombeamento do fluído, logo:
Para o caso em análise, as perdas por fricção estão associadas a:
- fricção em seção reta no interior da panela;
- fricção devido à contração na entrada do orifício;
- fricção na seção reta do duto refratário;
- fricção devido á válvula gaveta.
A perda por fricção na seção reta no interior da panela é avaliada através da seguinte
equação:
Já a perda por fricção na contração é avaliada através da seguinte expressão:
4D = A
2panela
1 π
4D = A
2duto
2 π
V DD = V 22
panela
2duto
1
βββ 2
2 2
1
2 1
2
2 2
2V
2V -
2V ≈⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡
0 = M *
V D
h f 2 = E 2 1
panelapanelaf ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
V e 21 = E 2
2ff
305
Para contração, o fator de perda por fricção é dado por:
onde:
Para a situação em estudo:
Considerando ainda que a contração não possui nenhum acabamento especial na
região de entrada, tem-se:
A perda por fricção na seção reta no interior do duto é dada por:
A perda na válvula gaveta é estimada através de :
onde o valor do parâmetro Le/D depende da abertura da válvula.
Assim, as perdas totais por fricção são dadas por:
Como visto acima, a velocidade no ponto 1 é bem menor que a velocidade no ponto 2.
Dessa forma, o termo associado à perda no interior da panela pode ser desprezado em
relação às demais perdas. Voltando à equação de Bernoulli, incorporando as
) - (1 0,45 = e f α
panela da ltransversa seçãoda área duto do ltransversa seçãoda área
= α
0 ≈α
0,45 = 0) - (1 x 0,45 = e f
V DL f 2 = E 2
2duto
dutodutof ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
V DL f 2 = E 2
2e
gaveta válvuladutof ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
V DL f 2 + V
DL f 2 + V (0,45)
21 + V
Dh f 2 = E 2
2e
gaveta válvuladuto
2 2
duto
dutoduto
2 2
2 1
panelapanelaf ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
306
avaliações acima, tem-se:
Rearranjando termos, pode-se obter uma equação para a velocidade do metal na saída
da panela:
A dificuldade que surge para o uso da equação acima para avaliação da velocidade na
saída da panela está associada ao fato do fator de fricção (fduto) depender do número
de Reynolds, que, por sua vez, depende da velocidade de saída do metal. Dessa forma,
para se avaliar a velocidade é necessário conhecer fduto, mas para avaliar este
parâmetro precisa-se conhecer a velocidade. Esta dificuldade é contornada utilizando-
se um método iterativo. Nesse método, parte-se de um valor inicial de fduto (que não é
correto, pois não se conhece a velocidade do metal) e determina-se a velocidade. Esta
velocidade é também aproximada, pois foi calculada usando um valor incorreto para o
fator de fricção. Com essa nova velocidade, calcula-se o número de Reynolds e um
valor atualizado para o fator de fricção. Com este valor, reinicia-se o processo,
executando-se mais uma iteração. Usualmente, este processo iterativo converge e os
valores de velocidade e de fator de fricção começam a se repetir após sucessivas
iterações. Um exemplo de aplicação deste método é apresentado a seguir. Para tal,
serão usados os seguintes dados:
- altura de aço na panela, h = 3 m;
0 = V DL f 2 + V
DL f 2 + V (0,45)
21 +
2V + ) L + h ( g - 2
2e
gaveta álvula vduto
2 2
duto
dutoduto
2 2
2
2 2
duto ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
β
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛⎟
⎠
⎞⎜⎝
⎛
DL f 4 +
DL f 4 + 0,45 +
1
) L + h ( g 2 = Ve
gaveta válvuladuto
duto
dutoduto
2
duto
21
2
β
307
- comprimento do duto, Lduto = 1 m;
- rugosidade do duto, εduto = 0,0002 m.
- diâmetro do duto, Dduto = 0,075 m.
- válvula gaveta metade aberta, (Le/D) = 190.
Considerando que o fluído é o aço líquido, tem-se:
- densidade, ρ = 7000 kg/m3;
- viscosidade, μ = 0,007 Pa.s.
Substituindo dados na equação para a velocidade, tem-se:
O fator de fricção é estimado através da seguinte expressão (assumindo escoamento
turbulento):
Substituindo dados:
Inicia-se o processo iterativo com um valor arbitrário de fduto. Assumindo esse valor
como 0,005, e substituindo na equação para a velocidade (equação (A)), tem-se:
( )(A)
190 f 4 + 0,075
1 f 4 + 0,45 + 1) 1 + 3 ( x 9,8 x 2 = V
dutoduto2
21
2
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
β
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
μρ
ε V D
6,9 + 3,7
D/ log 3,6- = f1
2duto
dutoduto1,11
duto
(B)
0,007)7000 )(V( )0,075(
6,9 + 3,7
0,075 / 0,0002 log 3,6- = f1
2
1,11
duto⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
308
Substituindo este valor na equação B, tem-se:
Com estes dois cálculos, executou-se uma iteração. Repetindo-se este processo,
obtém-se a tabela abaixo:
Iteração Velocidade (m/s) Fator de fricção
1 3,7698 0,006459
2 3,4200 0,006470
3 3,4176 0,006470
4 3,4176 0,006470
Pela tabela acima, constata-se que após a quarta iteração os valores de velocidade e
fator de fricção começam a repetir. Desse modo, a velocidade correta é 3,4176 m/s.
Uma outra forma de resolver o problema pode ser adotada através do uso de planilhas
eletrônicas. Nesse caso, a equação para fduto seria substituída na equação para a
velocidade e se buscaria o zero da seguinte função:
Logicamente, o resultado é idêntico ao obtido através do método iterativo.
Exercício - Usando uma planilha, analise o efeito da abertura da válvula e do
comprimento do duto refratário sobre a velocidade do metal na saída da panela.
Construa gráficos mostrando os resultados obtidos.
m/s 3,7698 = V 2
0,006459 = f duto
( )0 =
190 f 4 + 0,075
1 f 4 + 0,45 + 1) 1 + 3 ( x 9,8 2x - V = função
)Vf(duto
)Vf(duto
2
21
222 ⎥
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
β
309
7.3.2- Transferência de metal do distribuidor para o molde
Nesse item vai ser estudado o processo de transferência de metal do distribuidor
para o molde de lingotamento contínuo. O sistema é visto na figura 7.10.
Para a configuração mostrada na figura 7.10, vai ser desenvolvida uma expressão
para determinação da vazão de aço entre os dois reatores, em função da altura de aço
no distribuidor e da posição de abertura da válvula gaveta. Novamente, a equação de
Bernoulli pode ser utilizada para obter esta expressão.
Figura 7.10 - Vista esquemática do sistema de transferência de metal do distribuidor
para o molde de lingotamento continuo
Distribuidor
Molde
Válvula gaveta
h
p
L
Atmosfera
AtmosferaD
Aço líquido
Aço líquido
duto
1
2duto
310
Para a situação em análise, a equação de Bernoulli fica na seguinte forma:
A escolha da localização dos pontos 1 e 2 deve ser feita considerando que nestes
pontos deve-se conhecer os parâmetros que aparecem na equação de Bernoulli, tais
como pressão, velocidade e altura em relação a um dado plano de referência. Destes
parâmetros, o que apresenta maior dificuldade é a pressão. Nesse caso, a escolha mais
conveniente é aquela mostrada na figura 7.10, com os pontos 1 e 2 localizados nas
superfícies do metal no distribuidor e no molde, respectivamente.
Para estes pontos, tem-se que:
Para as posições relativas destes pontos, pode-se escrever a seguinte equação:
Para calcular a variação de energia cinética e as perdas por fricção, deve-se
conhecer as velocidades nas diversas regiões do sistema. A relação entre estas
velocidades é expressa pela equação abaixo (obtida através de um balanço de massa):
Como a densidade do metal é constante, tem-se:
)4(7.7 0 = E + 2
V - 2V + )z(z g + P - P
f1
2 1
2
2 2
1212
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
ββρ
)5(7.7 P = P = P aatmosféric12
)6(7.7 ) p - L + h ( - =zz duto12 −
)7(7.7 V A = V A = V A dutodutoduto222111 ρρρ
)8(7.7 V A = V A = V A dutoduto2211
311
As seções transversais nos pontos 1, 2 e no duto são avaliadas através das
seguintes equações:
onde:
- Wdist = largura do distribuidor;
- Tdist = espessura do distribuidor;
- Wmolde = largura do molde;
- Tmolde = espessura do molde.
Substituindo as relações acima na equação (7.74), obtém-se:
Para as dimensões usuais de distribuidores e moldes, pode-se escrever que:
:
Dessa forma, pode-se afirmar que os termos associados à energia cinética são
pouco relevantes, sendo válida a seguinte aproximação:
)9(7.7 T x W = A distdist1
)80(7. T x W = A moldemolde2
)81(7. 4
D = A2duto
duto π
)82(7. V T W 4
D = V dutodistdist
2duto
1π
)83(7. V T W 4
D = V dutomoldemolde
2duto
2π
)4(7.8 V < < < < V duto1
)5(7.8 V < < V duto2
)6(7.8 0 2
V - 2V
1
2 1
2
2 2 ≈⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡
ββ
312
Deve-se agora avaliar as perdas por fricção entre os pontos 1 e 2. Estas perdas
estão associadas à:
- a - fricção em seção reta no interior do distribuidor;
- b - fricção devido à contração na entrada do orifício na saída do distribuidor;
- c - fricção na seção reta do duto;
- d - fricção devido à válvula gaveta;
- e - fricção devido à expansão na saída do duto e entrada do molde;
- f - fricção na seção reta do molde.
As perdas por fricção nas seções retas são proporcionais ao quadrado da
velocidade na seção em consideração (veja equação (7.62), por exemplo). Como as
velocidades no interior do distribuidor e do molde são pequenas (especialmente quando
comparadas com a velocidade no duto), pode-se desprezar as perdas relativas aos
itens “a” e “f” listados acima. A seguir serão, então, avaliadas as perdas associadas aos
itens de “b”, a “e”.
b- Fricção devido à contração na entrada do orifício na saída do distribuidor
A perda por fricção na contração é avaliada através da seguinte expressão:
Para contração, o fator de perda por fricção é dado por:
onde:
)7(7.8 V e 21 = E 2
dutoff
)8(7.8 ) - (1 0,45 = e f α
)9(7.8 ordistribuid do ltransversa seçãoda área
duto do ltransversa seçãoda rea á = α
313
Como já comentado anteriormente, para o caso em análise tem-se que:
Considerando que a contração não possui nenhum acabamento especial na sua
região de entrada, tem-se:
Assim:
c- Fricção na seção reta do duto
Estas perdas são avaliadas através da seguinte equação:
d- Fricção devido à válvula gaveta
As perdas devido à presença da válvula gaveta são estimadas através da
expressão:
onde (Le/D)válvula depende da abertura da válvula gaveta.
e- Fricção devido à expansão na saída do duto e entrada do molde
A perda por fricção na expansão é dada por:
Para expansão, o fator de perda por fricção é dado por:
)90(7. 0 ≈α
)91(7. 0,45 = 0) - (1 x 0,45 = e f
)92(7. V x 0,45 x 21 = E 2
dutof ocontraáª
)93(7. V DL f 2 = E 2
dutoduto
dutodutof duto ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
)4(7.9 V DL f 2 = E 2
dutoe
lvula vdutof lvula v
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
)5(7.9 V e 21 = E 2
dutoff
314
onde
Novamente pode-se escrever que:
Assim:
Somando todas as perdas por fricção, tem-se:
Colocando o quadrado da velocidade no duto em evidência, tem-se:
Substituindo estes termos na equação de Bernoulli:
Rearranjando, obtém-se uma expressão para a velocidade do metal no duto:
)6(7.9 ) - (1 = e 2f α
)7(7.9 molde do ltransversa seçãoda área duto do ltransversa seçãodaárea
= α
)8(7.9 0 ≈α
)9(7.9 V x 1 x21 = E 2
dutof oexpansª
)100(7. V x 1 x21 +V D
L f 2 + V DL f 2 + V 0,45x x
21 = E 2
duto2 duto
e
lvula vduto
2 duto
duto
dutoduto
2 dutof ⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
)101(7. 1 + DL f 4 +
DL f 4 + 0,45 V 2
1 = E e
lvula vduto
duto
dutoduto
2 dutof ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
)102(7. 0 = 1 + DL f 4 +
DL f 4 + 0,45 V 2
1 + ) p - L + h ( g - e
válvuladuto
duto
dutoduto
2 dutoduto ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
)103(7. 1 +
DL f 4 +
DL f 4 + 0,45
) p - L + h ( g 2 = Ve
válvuladuto
duto
dutoduto
duto
21
duto
⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
315
Exemplo- Usar a equação (7.98) para determinar a velocidade do aço no duto que liga
o distribuidor e o molde de lingotamento contínuo. Considerar os seguintes dados:
- comprimento do duto, Lduto = 1m;
- altura de aço no distribuidor, h = 0,80 m;
- diâmetro do duto, Dduto = 0,075 m;
- penetração do duto no interior do molde, p = 0,20 m;
- rugosidade do duto, ε = 0,0002 m;
- posição da válvula gaveta: meio aberta.
Solução- Substituindo dados na equação (7.98) acima, tem-se:
Para determinar a velocidade no duto, resta avaliar o fator de fricção. Este fator é
calculado através da seguinte expressão:
Substituindo dados:
As equações (A) e (B) devem ser resolvidas simultaneamente para que se determine
a velocidade no duto. Usando métodos iterativos, obtém-se:
( )(A)
1 + 190 f 4 + 0,075
1 f 4 + 0,45
) 0,20 - 1 + 0,8 ( x 9,8 x 2 = Vdutoduto
21
duto
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
μρ
ε V D
6,9 + 3,7
D/ log 3,6 - = f1
dutoduto
dutoduto1,11
duto
(B)
0,0077000 V 0,075
6,9 + 3,7
0,075 / 0,0002 log 3,6 - = f1
duto
1,11
duto⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
316
A partir da velocidade, determina-se as vazões volumétrica e de massa de aço. Tem-se:
e
Analise o efeito da abertura da válvula gaveta sobre a vazão de aço.
7.4. Técnicas de medida de vazão de fluidos
Em muitas situações, a operação eficiente e o controle de processos metalúrgicos
e de montagens experimentais requerem informações relativas às quantidades de fluido
que estão escoando. Para medidas de escoamento em dutos fechados, existe uma
grande variedade de equipamentos, tais como: medidores de diferença de pressão,
medidores de área variável, etc. Neste item serão estudados alguns dispositivos de
medida de vazão de fluídos, cujos princípios de funcionamento se encontram
associados à equação de Bernoulli.
7.4.1. Medidores de diferença de pressão
Um grupo de dispositivos de medida de vazão de fluídos permite avaliar essa
vazão a partir da determinação de diferenças de pressão nos sistemas por onde o fluído
escoa. Neste grupo, encontram-se os medidores de orifício (placa de orifício e Venturi)
e o tubo de Pitot.
0,006542 = f e m/s 2,152 = V dutoduto
/sm 0,0095 = 2,152 x 4
(0,075) = V 4D = Q 3
2
duto
2duto ππ
ton/h 239,6 = kg/s 66,55 = )7000.( )0,0095( = x Q = ρΓ
317
7.4.1.1. Medidores de orifício
As figuras 7.11 e 7.12 apresentam dois exemplos de medidores de orifício. Ambos
possuem o mesmo princípio de funcionamento, que consiste em introduzir uma redução
(brusca como no caso da placa de orifício, ou gradual como no Venturi) na seção
transversal do duto por onde o fluído escoa. Essa redução provoca um aumento local
na velocidade do fluido, com o correspondente decréscimo na pressão. Esse
decréscimo de pressão é medido e usado para deduzir a vazão de fluído.
Figura 7.11 - Vista esquemática de uma placa de orifício
Figura 7.12 - Vista esquemática de um Venturi
1
2D1 D2
P - P1 2
P - P
1 2
D DD
Placa de orifício
1
1 2
0 2
Vena contracta
Limite da região do fluidocom velocidades positivas
318
Para a análise a ser desenvolvida será considerada a placa de orifício vista na figura
7.11. Nesse dispositivo, um disco fino com um orifício circular no centro é inserido no
duto, conforme indicado na figura.
Como se vê na figura 7.11, o fluxo se contrai antes do orifício e continua a contrair
por uma pequena distância a partir da posição da placa do orifício, formando uma
região onde a área para escoamento é mínima. A posição onde isso acontece é
denominada “vena contracta”.
Para se entender o princípio de funcionamento deste equipamento, será aplicada
a equação de Bernoulli aos pontos 1 e 2 na figura 7.10. Nesse estudo, serão
desprezadas as perdas por fricção e considerar-se-á a forma da equação de Bernoulli
válida para fluídos incompressíveis. Isso visa simplesmente facilitar o tratamento
matemático do problema. Tratamentos similares podem ser feitos introduzindo as
perdas por fricção e usando a equação de Bernoulli para fluídos compressíveis.
Para os pontos 1 e 2 da figura 7.10, a equação de Bernoulli toma a seguinte forma:
Considerando escoamento turbulento em ambos os pontos, tem-se: β1 = β2 = 1,
logo:
Considerando que o fluído possui densidade constante e aplicando-se um balanço
de massa entre os pontos 1 e 2, obtém-se:
)104(7. 0 = 2
V - 2V +
P - P
1
2 1
2
2 212
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
ββρ
)5(7.10 0 = 2
V - 2
V + P - P 2
12 212
ρ
)6(7.10 V A = V A 2211
319
Mas, tem-se que:
Combinando as equações (7.106), (7.107) e (7.108), obtém-se:
ou ainda:
Substituindo a equação (7.105) na equação de Bernoulli, obtém-se:
Explicitando a velocidade no ponto 2, tem-se:
Essa é a velocidade teórica no ponto de vena contracta. Essa expressão não
considera as perdas por fricção e a velocidade calculada através dela não é alcançada
na prática. Além disso, a equação acima não é útil para se determinar a vazão do fluido,
uma vez que não se conhece o diâmetro D2. Seria mais interessante ter uma equação
)8(7.10 4
D = A
)7(7.10 4
D = A
22
2
21
1
π
π
)9(7.10 V D = V D 2221
21
)10(7.1 V DD = V 2
1
22
1 ⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛
)11(7.1 0 = DD - 1
2V + P - P
1
242
212
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛ρ
)12(7.1
DD - 1
)P - P( 2 = V
1
24
212
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛ρ
320
que avaliasse a velocidade em função do diâmetro da abertura da placa de orifício e
que também levasse em consideração os efeitos da fricção.
Para introduzir os efeitos acima e para permitir a avaliação da velocidade na
região do orifício é introduzido na equação (7.112) um coeficiente de descarga, CD,
determinado empiricamente. Com a introdução deste coeficiente, a equação (7.107)
passa a ser escrita da seguinte forma:
Uma outra forma de escrever a equação acima é:
onde K é denominado coeficiente de escoamento e é avaliado pela seguinte expressão:
onde B é a relação entre os diâmetros do orifício e do duto:
A figura 7.13, determinada experimentalmente, mostra os valores de K em função
do parâmetro B, definido acima, e da posição do medidor de pressão, após a placa de
orifício.
O exemplo a seguir ilustra a determinação do valor de K para uma dada placa de
)13(7.1
DD - 1
)P - P( 2 C = V
1
o4
21Do
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛ρ
)14(7.1
)P - P( 2 K = V21
o ρ
)5(7.11 B - 1
C =
DD - 1
C = K4
D
1
o4
D
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛
)6(7.11 DD = B
1
o
321
orifício.
Figura 7.13 - Valores do coeficiente de escoamento para a placa de orifício (Geiger e
Poirier, 1973)
Exemplo- Determine o valor do coeficiente de escoamento para uma placa de orifício
com abertura de 20 cm, instalada em duto com diâmetro de 40 cm. O segundo medidor
de pressão está instalado 60 cm após a placa de orifício.
Solução - Pelos dados acima, tem-se que:
0,5 = DD = B
cm 40 = D cm 20 = D
1
o
1o
322
A posição do segundo medidor de pressão, expressa em termos da razão entre sua
distância à placa de orifício e o diâmetro do duto, é:
Usando os dados acima, pode-se usar a figura 7.13 para determinar o valor de K,
conforme indicado na figura a seguir.
Para a configuração da placa de orifício e posição do medidor de pressão propostos,
o valor de K é de aproximadamente 0,65. Dessa forma, a velocidade média do fluido no
orifício será dada por:
e a vazão volumétrica por:
1,5 = cm40cm 60 =
dutododiâmetroplaca aaté pressão de medidor do distância
=
= pressão de medidor segundodo Posição
)P - P( 2 0,65 = V
21o ρ
)P - P( 2
4D 0,65 = V 4
D = Q 212o
o
2o
ρππ
323
A equação (7.113) se aplica ao medidor do tipo Venturi; entretanto, o valor do
coeficiente de descarga, CD, é próximo de um. Para este tipo de medidor, a máxima
contração corresponde exatamente à posição onde P2 é medido.
Como visto na figura 7.13, para uma placa de orifício é de grande importância a
escolha da posição dos medidores de pressão em relação à placa. Usualmente, um
medidor de pressão é colocado de um a dois diâmetros do tubo à frente da placa de
324
orifício, enquanto o outro medidor de pressão é colocado a meio diâmetro do tubo
depois da placa ou, então, no vena contracta, cuja posição pode ser determinada
experimentalmente.
7.4.1.2. Tubo de Pitot
O tubo de Pitot é um instrumento para avaliação de velocidades puntuais de
fluidos. Esta velocidade é determinada através da medida da diferença entre a pressão
estática e a pressão de impacto (chamada de pressão estagnante) em um dado ponto
de escoamento. A abertura de impacto está posicionada perpendicular ao escoamento,
enquanto os orifícios estáticos estão paralelos à direção do escoamento. A figura 7.14
mostra esquematicamente um tubo de Pitot.
Figura 7.14 - Vista esquemática de um tubo de Pitot
Para se obter uma relação entre a diferença de pressão medida e a velocidade do
1 2
P - P1 2
Furos na parede externa
325
fluido em um dado ponto ao longo da seção transversal de um duto, deve-se
estabelecer um balanço de energia (equação de Bernoulli) entre os pontos 1, no início
da abertura de impacto , e 2, conforme indicados na figura 7.14.
Aplicando-se a equação de Bernoulli, assumindo um fluído incompressível e
desprezando as perdas por fricção, tem-se:
Considerando β2 = 1 (escoamento turbulento) e que no ponto 1 a velocidade do
fluido cai para zero, pode-se rescrever a equação (7.112) na seguinte forma:
ou ainda:
Para corrigir os efeitos das aproximações feitas no desenvolvimento da relação
acima (incompressibilidade do fluido e inexistência de perdas por atrito), normalmente
é incorporado na equação (7.114) um coeficiente CP, denominando coeficiente de tubo
de Pitot, e a expressão fica na seguinte forma:
Geralmente, esse coeficiente possui valores na faixa de 0,98 a 1,00.
Um cuidado que se deve ter com o uso de tubos de Pitot está associado à
localização e à forma das aberturas estáticas, de tal modo que elas possam oferecer
uma medida real da pressão estática ao longo da mesma linha de escoamento em que
)7(7.11 0 = 2
V - 2
V + P - P1
2 1
2
2 212
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
ββρ
)8(7.11 0 = 2
V + P - P2 212
ρ
)9(7.11 )P - P( 2 = V21
2 ρ
)20(7.1 )P - P( 2 C = V21
P2 ρ
326
é medida a pressão de impacto. Rebarbas ou localizações não paralelas destas
aberturas introduzem erros nas medidas.
Como o tubo de Pitot mede apenas velocidades locais, para se determinar a
velocidade média deve-se obter os valores de velocidade em diversos pontos ao longo
da seção transversal do duto. Para obter a densidade ρ, usualmente se determina a
temperatura antes do tubo de Pitot.
Em algumas situações, a velocidade máxima, Vmáxima (medida no centro do duto)
pode ser relacionada com a velocidade média. Isto evita que se tenha que determinar
a velocidade em vários pontos. Como se viu no Capítulo 4 (equações (4.117) e (4.126)),
para fluxo laminar em dutos circulares, tem-se:
Para escoamento turbulento em dutos circulares e para números de Reynolds
entre 104 e 107, tem-se:
Para números de Reynolds entre 2100 e 104 não existe nenhuma expressão
relacionando V e Vmáxima.
Exemplo - Um tubo de Pitot está instalado em um tubo com sua abertura de impacto ao
longo da linha central. O diâmetro interno do tubo é de 0,3048 m. Ar a 65,5 oC e
82736,4 Pa de pressão relativa escoa através do tubo. A pressão barométrica é
99323,4 Pa. A diferença de pressão medida pelo tubo de Pitot é de 104,55 Pa. A
viscosidade do ar é: 2 x 10-5 kg/m.s. Estime a vazão de massa de ar.
)21(7.1 21 =
VV
xima má
__
)22(7.1 V D log x 0,04 + 0,62 = V
V xima má
xima má
__
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛μ
ρ
327
Solução: Inicialmente, determina-se a densidade do ar nas condições de medida.
A pressão absoluta na região de interesse é:
A densidade do ar é calculada pela seguinte expressão:
sendo:
- MM = massa molecular do ar = 0,02884 kg/mol;
- R = constante dos gases = 8,31 J/mol.K;
- T = temperatura (K).
Substituindo valores, tem-se:
Assumindo Cp = 0,99, pode-se calcular a velocidade máxima do ar (no centro do tubo):
Determina-se agora o número de Reynolds baseado na velocidade máxima. Tem-se:
Assim, tem-se:
e
Pa 059,8 182 = 323,4 99 + 736,4 82 = P2
T R MP = Mρ
mkg/ 1,867 = 273) + (65,5 ).8,31(
)0,02884( . 059,81) (182 = T R
MP = 3Mρ
m/s 10,477 = 1,867104,55 x 2 0.99 = P 2 C = V P2 ρ
Δ
424 301 = 10 x 2
1,886 10,477x x 0,3048 = V D = Re 5-áxima m
áxima m μρ
( ) 0,839 = 424 301 log x 0,04 + 0,62 = V
Váxima m
m/s 8,79 = 10,477 x 0,839 = V
328
Finalmente, a vazão de massa será dada por:
7.4.1.3. Rotâmetros
O rotâmetro é um aparelho indicado para medida de vazões relativamente
pequenas de líquidos e gases.
Esse tipo de medidor é também baseado no princípio de colocar uma restrição ao
escoamento do fluido, criando uma queda de pressão e a correspondente variação de
velocidade através da região onde a área foi reduzida. Entretanto, nesse caso, a queda
de pressão permanece constante e a área para escoamento muda à medida que a
velocidade do fluido se altera. Esse tipo de medidor está ilustrado na figura 7.15.
Figura 7.15 - Vista esquemática de um rotâmetro
kg/s 1,197 = 1,866 x 8,79 x 4
(0,3048) = x V x 4
D = 22
πρπΓ
Flutuador
Entrada de fluído
Saída de fluído
Duto cônico
Escala graduada
329
A vazão do fluido é obtida pela medida da altura de um flutuador ao longo de uma
seção ligeiramente afunilada, com a região de maior diâmetro na parte superior.
Um balanço de forças aplicado ao flutuador determina a sua posição de equilíbrio.
Quando um fluido de densidade ρ se move em torno de um flutuador de densidade ρf
e o mantém em suspensão, as forças atuando no flutuador devem ser balanceadas de
tal modo que nenhuma força líquida atua para movê-lo.
As forças que atuam sobre o flutuador são:
- FG : peso, atuando para baixo;
- FE : empuxo, atuando com o objetivo de suspender o flutuador;
- FA : força de arraste, resultante do atrito entre o fluido e o flutuador. Atua no mesmo
sentido da velocidade do fluido.
No estado de equilíbrio de forças obtém-se:
Transpondo termos e expressando o peso e o empuxo em termos do volume do
flutuador, Vf, e das densidades do fluido, ρ , e do flutuador, ρf, tem-se:
Mas o volume do flutuador é dado por:
onde mf é a massa do flutuador.
Combinando as equações (7.124) e (7.125), tem-se:
)23(7.1 F + F = F AEG
)24(7.1 F = g ) - ( V Aff ρρ
)5(7.12 m = Vf
ff ρ
)6(7.12 F = g ) - ( mAf
f
f ρρρ
330
Para um dado medidor de vazão através da qual um fluido escoa, o lado esquerdo
da equação (7.126) é uma constante. Desse modo, FA é constante quando o flutuador
está em equilíbrio e se a vazão do fluido se altera, o flutuador contrapõe esse efeito
assumindo uma nova posição de equilíbrio. Por exemplo, se o flutuador está numa
posição de equilíbrio correspondente a uma dada vazão de massa e, então, essa vazão
de massa se torna maior, FA cresce e o flutuador sobe. Entretanto, à medida que o
flutuador sobe, a área da seção transversal do tubo aumenta e a velocidade do fluido
entre o flutuador e a parede do tubo diminui, de modo a se atingir um valor de FA que
satisfaça à equação (7.126).
331
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
D.R. GASKELL. An Introduction to Transport Phenomena in Materials Engineering,
Macmillan Publishing Company, 1992, 637 p.
F.M. WHITE. Fluid Mechanics. McGraw-Hill Book Company, New York, 1979, 701 p.
G.H. GEIGER; D.R. POIRIER. Transport Phenomena in Metallurgy. Addison-Wesley
Publishing Company, Massachusetts, 1980, 616 p.
332
EXERCÍCIOS
1- Tem-se uma instalação de lingotamento contínuo conforme a figura a seguir:
Os diâmetros dos dutos de alimentação do distribuidor e do molde são,
respectivamente, 70 e 60 mm. A rugosidade do refratário é 0,1 mm.
A panela de aço esvaziou e vai ser trocada por uma cheia. Esta operação consome
1 minuto. Neste período não vai haver alimentação de aço no distribuidor, mas a
alimentação de aço no molde vai ser mantida constante e igual a 108 toneladas/hora.
Estimar a queda no nível de aço no distribuidor durante este período.
2- Uma panela está alimentando aço líquido nas lingoteiras, conforme visto na figura a
seguir. Determine o tempo gasto para encher uma lingoteira com capacidade de 2
toneladas de aço. Aço: - densidade: 6,7 g/cm3; - viscosidade: 0,07 P. O orifício no
fundo da panela tem diâmetro de 70 mm. Desconsiderar a espessura do refratário.
PanelaDiâmetro = 3 m
Área da seção transversal horizontal = 0,8 m2
Distribuidor
MoldeSeção transversal = 1,2 m x 0,25 m
0,5 m
0,5 m
0,8 m
0,1 m
0,2 m
Ar
PanelaPanela
ArVálvula gaveta
333
3- Em uma instalação de lingotamento contínuo, uma panela é utilizada para alimentar
aço líquido em um distribuidor, que abastece dois veios de lingotamento de placas,
conforme mostrado a seguir:
Deseja-se manter o nível de aço no distribuidor o mais constante possível. Para tal,
é necessário variar o diâmetro do orifício da panela à medida que esta vai
esvaziando. Obter uma relação matemática entre a área de abertura do orifício da
h = 3 m
45o
: diâmetro = 3,5 mPanela
Lingoteira
Câmara de vácuo
Pressão: 0,01 atm
Aço
Ar
h = 3 m
45o
A o
D = 3,5 mp
Veio 1 Veio 2
Placa 1 Placa 2
Distribuidor
Panela
334
panela e altura de aço no seu interior, de modo a garantir uma altura constante de
aço no distribuidor, até que se tenha apenas 100 mm de aço na panela. Usando a
relação desenvolvida, calcular quais deverão ser as áreas do orifício para as alturas
inicial (3 m) e final (100 mm) de aço na panela.
Assumir escoamento turbulento.
Dimensões das placas: 2 m de largura - 0,25 m de espessura
Velocidade do veio: 1,5 m/min.
4- Determinar a pressão interna, P, que se deve ter na câmara de pressão para que se
obtenha uma vazão de aço líquido compatível com a situação mostrada na figura a
seguir.
Assumir escoamento turbulento. Considerar dutos hidraulicamente lisos.
- densidade do aço: 7000 kg/m3;
- viscosidade do aço: 7 cP.
h= 0,5 m
Câmara de pressão: P
D
h= 0.5 m
Tira de aço(seção transversal 2 mm x 1 cm)
Cinto móvel(velocidade= 1m/s)
Joelho: raio padrão
Aço líquido
D= 1 cm
1 m
335
5- Dimensionar a bomba para o sistema representado na figura a seguir, onde se tem
um spray de água para resfriamento acelerado de uma tira de aço após laminação.
Diâmetro do duto: 2,54 cm
Rugosidade relativa do duto, ε/D = 0,004
Joelhos : 90o de raio padrão. - Vazão de água: 1 l/s.
Fluido: água: - densidade : 1000 kg/m3 - viscosidade: 1cP. - 1 hp = 745,7 W
Considerar que a queda de pressão no bico do spray é de 1,7 atm. 1 atm = 101330
Pa.
6- Tem-se o sistema visto na figura a seguir. Estimar o tempo necessário para esvaziar
o reservatório 1 até o nível de entrada do tubo. A entrada do tubo no reservatório 2
está fechada.
Reservatório
Bomba
2 m
6 m
3 m
6 m
1 m
Tira de aço
"Spray"
Bico do "spray"
2 m
0,5 m
336
Se a rolha do tubo no reservatório 2 for retirada, os tempos de esvaziamento dos
reservatórios serão os mesmos ? Justificar a resposta.
h1 = 10 cm h2 = 15 cm h3 = 15 cm h4 = 20 cm
L = 8 cm H = 10 cm.
Considerar que o tubo de vidro é hidraulicamente liso e que o fator de fricção é dado
por:
7- Uma panela com diâmetro interno de 1 m contém alumínio líquido. A altura inicial de
metal líquido é de 1,5 m e o orifício de vazamento, localizado na base da panela,
possui diâmetro de 0,1 m. Determinar:
- tempo requerido para esvaziar a panela pelo orifício do fundo;
- taxa inicial de vazamento de metal em kg/s
- taxa de vazamento de metal (kg/s) quando a panela está 50 % cheia.
hh
h
2 3
4
h1 L
D = 10 cm
d = 6,8 mm
Água H
Reservatório 1 Reservatório 2
)Re log - (0,8390,0385 +
Re8 = f 2
337
Deduzir todas as relações usadas nos cálculos. Assumir escoamento turbulento e
considerar perdas por fricção.
Propriedades do alumínio: - densidade: 2410 kg/m3 ; - viscosidade: 2,75 x 10-3 Pa.s.
8- Água está sendo sifonada do reservatório visto esquematicamente na figura a seguir.
Determinar a velocidade média da água na saída do sifão para a situação vista na
figura a seguir.
Propriedades do fluido: - densidade: 1 g/cm3; - viscosidade: 1 cP (1 P = 1 g/cm.s).
Tubulação: - diâmetro: 0,0254 m; - rugosidade relativa: ε/D = 0,001.
9- Considerando o modelo físico mostrado na figura a seguir, determine o diâmetro
mínimo do duto, que garanta ser possível obter uma vazão de alimentação de água
de 50 litros/minuto no distribuidor, apenas por gravidade. A rugosidade da tubulação
é de 0,1 mm. Propriedades da água: densidade: 1g/cm3, viscosidade: 1 cP.
Retorno de 180o
1 m1,7 m
1 m
Reservatório: diâmetro = 2 m
338
10- Determine se há risco de transbordamento da água no reservatório abaixo, se a
vazão de alimentação é de 400 l/minuto. Rugosidade do duto = 0,3 mm.
Caixa d'água
Distribuidor
Joelho: raio padrão120 cm
10 cm
200 cm
30 cm
8 cm
Válvula gaveta
Água, Q = 400 l/minuto
Ar
Ar
Altura do reservatório = 1 m
0,8 m
Diâmetro = 2m
Diâmetro = 50 mm