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Fernando Gonçalves Ferreira-Alves Setembro de 2011 Universidade do Minho Instituto de Letras e Ciências Humanas UMinho|2011 As faces de Jano: Contributos para uma cartografia identitária e socioprofissional dos tradutores da região norte de Portugal Fernando Gonçalves Ferreira-Alves As faces de Jano: Contributos para uma cartografia identitária e socioprofissional dos tradutores da região norte de Portugal

Fernando Gonçalves Ferreira-Alves

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  • Fernando Gonalves Ferreira-Alves

    Setembro de 2011

    Universidade do MinhoInstituto de Letras e Cincias Humanas

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    |201

    1

    As faces de Jano: Contributos para uma cartografia identitria e socioprofissional dos tradutores da regio norte de Portugal

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  • Tese de Doutoramento em Cincias da LinguagemEspecialidade Sociolingustica

    Trabalho efectuado sob a orientao da Professora Doutora Eduarda Keating (Universidade do Minho)e doProfessor Doutor Jos Lambert

    (CETRA ? Universidade de Leuven)

    Fernando Gonalves Ferreira-Alves

    Setembro de 2011

    Universidade do MinhoInstituto de Letras e Cincias Humanas

    As faces de Jano: Contributos para uma cartografia identitria e socioprofissional dos tradutores da regio norte de Portugal

  • ii

    ANEXO 3

    DECLARAO

    Nome : Fernando Gonalves Ferreira Alves

    Endereo electrnico: [email protected]

    Ttulo dissertao /tese

    As faces de Jano: Contributos para uma cartografia identitria e socioprofissional dos tradutores

    da regio norte de Portugal

    Orientador(es):

    Professora Doutora Eduarda Keating (Universidade do Minho) Professor Doutor Jos Lambert (CETRA Universidade de Leuven)

    Ano de concluso: 2011

    Designao do Mestrado ou do Ramo de Conhecimento do Doutoramento:

    Tese de Doutoramento em Cincias da Linguagem Especialidade Sociolingustica

    1. DE ACORDO COM A LEGI SLAO EM VIGOR, NO PERMITIDA A

    REPRODUO DE QUALQUER PARTE DESTA TESE/ TRABALHO Universidade do Minho, 20/09/2011 Assinatura: ________________________________________________

  • iii

    - Pai, quando for grande quero ser profissional.

    - Mas o que ser profissional para ti?

    - ser bonita como a Bibi.

    Para a Beatriz e a Ins, quando forem grandes

  • iv

  • v

    Traduzir , primordialmente, um acto de amor. S quem for tocado na

    mente e no corao pela singularidade radical de uma voz sente a necessidade

    e o gosto de a alargar aos ouvidos do mundo.

    E o pobre poeta de qualquer S. Martinho de Anta, que sonha com o

    seu canto a ecoar para alm das fronteiras que o limitam, nessas almas

    sintonizadas e medinicas que confia. So elas as difusoras mgicas das suas

    palavras, que procuram entender em todos os recnditos sentidos e preservar

    vivas e equivalentes na transplantao verbal.

    Nunca ser por demais exaltado o servio que prestam humanidade

    esses obreiros de uma outra comunicao dos santos, terrena, encarnada,

    naturalmente oposta sobrenatural do Credo.

    Se nos faltassem, ficariam sem respostas inimaginveis interrogaes,

    apelos e desafios.

    Miguel Torga

    Hammer your thoughts into unity. W. B. Yeats

  • vi

  • vii

    AGRADECIMENTOS

    Ao longo deste trabalho muitos so aqueles a quem devemos a mais sincera gratido.

    Apresento os meus maiores agradecimentos Professora Doutora Eduarda Keating e ao

    Professor Doutor Jos Lambert, com quem tive o prazer e a honra de privar e por quem

    tive o privilgio de ser orientado com sabedoria e rigor.

    Ao Doutor Peter Flynn, cuja simpatia e inestimvel disponibilidade me permitiram o

    acesso ao fascinante universo do trabalho de campo no domnio dos Estudos de

    Traduo.

    Doutora Ana Paula Marques, do ICS (UM), pelos conselhos e pela valiosa ajuda na

    formulao dos questionrios.

    Ao Doutor Orlando Petiz da EEG (UM), pela abertura partilha de conhecimentos.

    Dr Elisabete Maciel, pelo inestimvel apoio ao nvel do tratamento dos dados

    atravs da ferramenta SPSS.

    Ao CEHUM, na pessoa da Professora Doutora Ana Gabriela Macedo, pelo importante

    apoio prestado a este projecto de investigao ao longo dos ltimos anos.

    Aos meus alunos, Sara Rocha, Diogo Cunha, Cristvo Soares, Andreia Silva e

    Amandine Azevedo pelo apoio nas transcries das entrevistas e nas mltiplas questes

    associadas profissionalizao do tradutor.

    Aos tradutores por mim entrevistados, com quem convivi ao longo destes anos, e sem

    os quais este trabalho jamais teria sido possvel. O meu bem-haja especial a essa

    multido annima e invisvel, pela forma como se dedicam diariamente profisso.

    s minhas colegas, Leitoras do DEINA, Salom Osrio e Ana Chaves, pela

    cumplicidade.

    Dr Isabel Ribeiro, pelo profissionalismo e amizade.

    minha famlia pelo apoio e incentivos constantes e incondicionais.

    Ao duo fantstico do Querido, Mudei a Tese pelas crticas construtivas e preciosa

    ajuda na reviso formal da tese.

    E, finalmente, Rita, pela resistncia, carinho e confiana e por permitir que tudo

    acontea

  • viii

  • ix

    RESUMO: As faces de Jano: Contributos para uma cartografia identitria e

    socioprofissional dos tradutores da regio norte de Portugal

    A traduo profissional uma actividade transversal e estratgica, e um fenmeno

    marcadamente interdisciplinar e intercultural, desenvolvido no mbito da prestao de servios.

    Para alm disso, a traduo ainda uma actividade social fortemente ancorada nos textos que

    circulam num complexo sistema matricial, onde vrios actores e agentes convergem e

    interagem, possuindo a aplicao comercial de um conjunto especializado e organizado de

    conhecimentos do foro profissional.

    Numa altura em que as componentes lingusticas, sociais e culturais esto consolidadas

    nos discursos em torno da traduo, este projecto pretende reflectir sobre a construo de uma

    identidade profissional entre os tradutores da regio norte de Portugal, procurando, ao mesmo

    tempo, cartografar o mercado da traduo nacional, em confronto com o panorama da indstria

    das lnguas no contexto da globalizao.

    O estudo centra-se nos tradutores freelancer enquanto grupo profissional no seio do

    qual ocorrem choques e tenses, e onde diferentes estratgias so desenvolvidas rumo

    construo de uma identidade socioprofissional especfica. Com base numa abordagem

    metodolgica interdisciplinar, conjugando elementos quantitativoss e qualitativos, tentaremos

    traar os caminhos que conduzem construo do perfil identitrio profissional, apresentando,

    em simultneo, algumas das concluses obtidas no decurso de vrios projectos direccionados

    para circunscrever as dinmicas do mercado, bem como o perfil socioeconmico dos agentes

    que operam nesta regio.

    A anlise e os modelos propostos procuram identificar os mltiplos aspectos endgenos

    e exgenos que so normalmente atribudos ao prestador de servios lingusticos enquadrando o

    impacto destas variveis ao nvel da construo de uma cultura/identidade profissional

    especfica. Espera-se que as concluses conduzam a uma melhor contextualizao da natureza

    exacta da profissionalizao dos tradutores, permitindo o posicionamento no seu campo

    profissional e fornecendo novas perspectivas sobre as expectativas profissionais Por ltimo,

    pretende-se fornecer novas perspectivas sobre o posicionamento bipolar do prestador de

    servios de traduo no mercado. As nossas concluses levar-nos-o a redefinir e reenquadrar o

    perfil do tradutor, bem como a formao de tradutores de acordo com normas sociais e

    profissionais claramente orientadas para o mercado.

    Palavras-chave: Traduo, Prestador de Servios de Traduo, Estudos de Traduo,

    Sociologia da Traduo, Economia das Lnguas, Indstria das Lnguas, Profissionalismo,

    Ergonomia, Norte de Portugal

  • x

  • xi

    ABSTRACT: The faces of Janus: Notes towards a self-defining and socioprofessional

    cartography of freelance translators from Northern Portugal

    Translation is a strategic and powerful profit-generating activity and an

    interdisciplinary, intercultural social phenomenon, set within the scope of service provision,

    marked by specific business-oriented goals and management-oriented procedures, associated

    and built upon the concept of the production of texts as goods or commodities. Translation is

    also a textual-linguistic, social-based, norm-driven activity, developed in a complex network

    system, where several actors or agents converge and interact, holding the commercial

    application of a specific set of organised professional knowledge.

    In a time where the linguistic, the social and the cultural are consolidated issues in

    translation discourses, this project aims at reflecting upon the construction of a professional

    identity among translators from Northern Portugal, as a specific occupational group, while

    mapping the Portuguese translation market in confrontation with a broader perspective of the

    language industry landscape in globalized settings.

    This project focuses on individual translators as a professional group in which tensions

    and clashes occur, and where different strategies are formed towards building a specific

    professional identity. Based on an interdisciplinary approach, mixing both qualitative and

    quantitative variables, we will try to map the ways that lead to the construction of a professional

    identity profile, while presenting some of the findings from different research projects designed

    to outline the market dynamics and the socio-economic profile of the agents operating in this

    region.

    The proposed analysis and research models seek to identify multiple

    endogenous/exogenous aspects that are normally ascribed to the language service provider by

    framing the impact of these variables/perceptions on the construction of a specific professional

    culture/identity. Hopefully, this approach will lead to a better contextualisation of the exact

    nature of professionalisation, professional culture and socialising routines as applied to

    translators, while positioning these professionals in the field and providing new insights into

    professional expectations.

    Ultimately it is our wish to provide new insights into market expectations and help to

    build a picture of the ideal translation services provider. Our conclusions will eventually lead to

    the reshaping of the translators profile as well as translators training according to prescriptive

    social and professional standards and to new business-oriented settings.

    Keywords: Translation, Translation Service Provider, Translation Studies, Sociology of

    Translation, Economics of Language, Language Industry, Professionalism, Ergonomics,

    Northern Portugal

  • xii

  • xiii

    NDICE

    Introduo 1

    A propsito de cartas, mapas e outras representaes do real 3

    Breves notas para uma cartografia da traduo em Portugal 7

    A inscrio do projecto no seu espao geogrfico e contextual 17

    Arquitectura da tese: Vectores estruturantes 22

    Referenciais tericos e metodolgicos 27

    Os Estudos de Traduo como matriz operacional 29

    Normas, habitus e agncia 41

    Hipteses preliminares 53

    A imerso no terreno: Uma viso holstica 64

    Trabalho de campo 66

    Porqu uma abordagem etnogrfica de anlise do discurso/narrativas 73

    Documentaao e corpus 78

    As entrevistas 80

    PARTE I 87

    Captulo Um: Translation(s) around us / O social da traduo 89

    As vrias manifestaes da traduo 91

    Mltiplos olhares sobre a traduo 92

    O peso real da traduo 95

    As tradues que nos rodeiam 97

    A profisso vista do exterior: primeiros movimentos 99

    Uma profisso invisvel e subalterna 102

    O estranho caso do memorando de entendimento da Troika 107

    Os estigmas da traduo 113

    Quando dizer mal o mote..: O caso Magalhes 117

    A viso exgena da profisso 119

    O Star System da Traduo: Um paradoxo? 122

    Literrio versus No literrio: Uma imensa minoria esquecida 125

    Imagens cruzadas 127

    A subalternizao da traduo 131

    O tradutor annimo e frgil 133

    Uma realidade hbrida 135

    Um mercado de contornos difusos 141

    Uma actividade estratgica, negligenciada pelas lgicas empresariais 146

    Uma profisso oculta... 148

    ... e institucionalmente no reconhecida 151

    Captulo Dois: Traduo e profisso no mbito dos Estudos de Traduo:

    o status quaestionis

    153

    Notas para a caracterizao de uma profisso 155

    A Traduo como Profisso:

    Um territrio precrio e de difcil sistematizao

    162

    Vrias perspectivas em torno de uma (mesma) profisso? 180

  • xiv

    Proto-, para-, pseudo-: trs prefixos procura de uma profisso 182

    Captulo Trs: Os Mercados e a Economia das Lnguas 189

    Contexto macro 191

    A Economia das Lnguas: breve enquadramento 191

    O valor econmico das lnguas 198

    Os mercados das lnguas 201

    David contra Golias as empresas perante as lgicas fracturantes dos

    mercados

    209

    Novas tendncias no domnio da indstria das lnguas 213

    A indstria das lnguas em 2011 217

    Contexto meso 225

    O contexto europeu 225

    Principais tendncias do mercado 227

    Caracterizao das empresas 232

    As PME e o mercado da traduo 234

    Distribuio e anlise por pas 237

    Principais tendncias subjacentes 242

    Contexto micro 248

    O mercado das lnguas em Portugal 248

    A obrigatoriedade de traduo ao abrigo da legislao nacional 254

    A traduo em Portugal: alguns nmeros 258

    Um mercado pautado pela abundncia de PME 273

    Dilogos ibricos: O carcter sui generis do mercado portugus 280

    O mercado cinzento da traduo 283

    Traduo e Economia No Registada 286

    PARTE II 291

    Captulo Quatro: Cartografias socioprofissionais 293

    O Norte 295

    Breve Radiografia 295

    Descrio do espao geogrfico em estudo 296

    Em resumo 304

    A situao dos tradutores na regio norte de Portugal 306

    O inqurito quantitativo 308

    Anlise e discusso dos resultados 311

    Ser ou no ser uma actividade principal (eis a questo) 326

    Captulo Cinco: as palavras no se escrevem sozinhas: a construo da

    identidade profissional dos tradutores da regio norte atravs da anlise das

    suas narrativas

    337

    Brigith Guimares Retrato de uma profissional 340

    Caracterizao 340

    Principais traos distintivos 356

    Mas a minha profisso com letra grande , sem dvida, tradutora:

    percursos socioprofissionais dos tradutores da regio norte de Portugal

    360

    1. Apresentao 361

  • xv

    2. Gnero 370

    3. Idade 377

    4. Lnguas e reas temticas (Domnios do saber) 381

    5. Formao / Background 391

    6. Esperincia profissional 400

    7. Incio 410

    8. Traos profissionais caractersticos 417

    9. Marcas de profissionalismo 424

    Eremitas modernos ou Escravos de J 438

    10. Sentimentos e percepes associados profisso 441

    Qualidade 454

    11. Variveis econmico-financeiras e produtividade 458

    12. Condies de trabalho 492

    13. Redes relacionais 498

    Relao com os empregadores e com o mercado 507

    14. Conscincia de classe 526

    Constataes finais: Um espao dicotmico 533

    Sob o signo de Jano 535

    A traduo profissional: cinco dinmicas subjacentes 552

    O paradigma ergonmico: uma soluo? 555

    Um novo homo transferens? 558

    Algumas pistas para a formao de tradutores em contexto de trabalho 559

    Referncias bibliogrficas 561

    Anexos (disponveis em CD) 599

    Anexo 1. Breve radiografia das empresas de traduo portuguesas (estudo de

    caso)

    Anexo 2. Questionrio. O perfil das empresas de traduo em Portugal - Estudo

    Sociolgico

    Anexo 3: Respondentes disponveis para entrevista e respectivas reas de

    actividade

    Anexo 4. Outras combinatrias lingusticas seleccionadas

    Anexo 5. Palavras-chave obtidas aps as entrevistas

    Anexo 6. Wordle: Anlise semntica das principais reas de actividade e lnguas

    mais solicitadas

    Anexo 7. Questionrio: A Profissionalizao da Traduo no Norte de Portugal

    (tradutores freelancer)

    Anexo 8. Resultados do questionrio: A Profissionalizao da Traduo no Norte

    de Portugal (tradutores freelancer)

    Anexo 9. Guio das entrevistas

    Anexo 10. Apresentao de Brigith Guimares: Lnguas, reas de actividade e

    amostras de tradues

    Anexo 11. MindMap Brigith Guimares

    Anexo 12. Notas manuscritas da entrevista Brigith Guimares

    Anexo 13. Transcrio integral da entrevista Brigith Guimares

  • xvi

    Anexo 14. Ficheiro udio da entrevista Brigith Guimares

    Anexo 15. Transcrio integral entrevista A.C.

    Anexo 16. Transcrio integral entrevista J.P.

    Anexo 17. Retrato-rob de uma profisso

    Anexo 18. Questionrio: A Prestao de Servios de Traduo na ptica do

    Consumidor/Cliente

    Anexo 19. Resultados do questionrio: A Prestao de Servios de Traduo na

    ptica do Consumidor/Cliente

    Anexo 20. Dados Pginas Amarelas

    Anexo 21. Exemplos de tradues efectuadas por Brigith Guimares

    Anexo 22. Declarao de autorizao Brigith Guimares

  • xvii

    NDICE DAS FIGURAS

    Breves notas para uma cartografia da traduo em Portugal

    Figura 1. Matriz orgnica do projecto 14

    Referenciais tericos e metodolgicos

    Figura 1. Proposta de esquema para descrio das tradues (adaptado de

    Lambert e van Gorp, 1985)

    31

    Figura 2. Esquema sinttico para descrio de tradues 33

    Figura 3. Trs eixos fundamentais da Sociologia da Traduo segundo

    Chesterman, 2006

    38

    Figura 4. Mapa de Holmes. Baseado em Holmes, 1988 39

    Figura 5. Esboo dos Estudos do Tradutor (adaptado de Chesterman, 2006) 40

    Captulo Um: Translations around us/O social da traduo

    Figura 1. Jano 92

    Figura 2. A traduo segundo Quino 99

    Figura 3. Referncia a servios de traduo em embalagem 101

    Figura 4. Indicao do nome dos tradutores com honras de destaque na capa da

    obra

    123

    Figura 5. Marcas de originalidade do tradutor na obra traduzida 124

    Figura 6. Vulnerabilidade do campo profissional 137

    Figura 7. Contaminao do campo profissional 138

    Figura 8. Exemplo de publicitao de servios de traduo (1) 141

    Figura 9. Exemplo de publicitao de servios de traduo (2) 141

    Figura 10. Exemplo de publicitao de servios de traduo (3) 142

    Figuras 11 e 12. Exemplo de publicitao de servios de traduo (4) 143

    Figuras 13 e 14. Exemplo de publicitao de servios de traduo (5) 143

    Figura 15. Traduo e jet set 148

    Figura 16. Obra traduzida por Rui Reininho 150

    Captulo Dois: Traduo e profisso no mbito dos estudos de traduo O Status

    quaestionis

    Figura 1. Hierarquizao da profisso segundo Pym (2000) 159

    Figura 2. Exemplo de oferta de servios de lngua e traduo (1) 183

    Figura 3. Exemplo de oferta de servios de lngua e traduo (2) 184

    Figura 4. Exemplo de oferta de servios de lngua e traduo (3) 184

    Captulo Trs: Os Mercados e a Economia das Lnguas

    Figura 1. A importncia estratgica da traduo e da aprendizagem de lnguas

    como actividades de mediao em contextos gestionrios multilingues e

    multiculturais (adaptado de Steyaert & Janssens 1997: 134)

    192

    Figura 2. Lnguas mais traduzidas no mbito das palestras TED Talks 200

    Figura 3. O triunvirato condicionador da traduo profissional 202

    Figura 4: Densidade populacional Prestadores de Servios Lingusticos

    (Repartio por regio)

    211

    Figura 5: Percentagem do mercado global dos Prestadores de Servios 212

  • xviii

    Lingusticos por regio

    Figura 6. Principais sectores em termos de procura de servios lingusticos 214

    Figura 7: Distribuio regional dos Prestadores de Servios Lingusticos em

    2011

    218

    Figura 8: Percentagem / quota de mercado dos servios lingusticos por regio 219

    Figura 9: Nmero de LSP (Prestadores de Servios Lingusticos) a nvel mundial

    por dimenso das empresas/n de funcionrios

    221

    Figura 10. Nmero de anos de experincia do LSP 221

    Figura 11. Localizao das sedes das empresas europeias de prestao de

    servios lingusticos

    233

    Figura 12. Dimenso das empresas por nmero de funcionrios 233

    Figura 13. Rendimento anual dos Prestadores de Servios Lingusticos (LSP) 235

    Figura 14. Facturao em milhes de euros por Estado-Membro 237

    Figura 15. Sectores mais importantes (Kelly 2009) 239

    Figura 16: As cinco reas ou domnios de conhecimento mais solicitados 240

    Figura 17. reas de especializao dos tradutores/fornecedores de servios de

    traduo

    245

    Figura 18. Subreas das Cincias Tecnolgicas com maior volume de trabalho de

    Ingls para Portugus europeu nos ltimos cinco anos

    246

    Figura 19. A ausncia de traduo em produtos de origem estrangeira 257

    Figura 20. Nmero de empresas por Actividade econmica e Forma jurdica;

    Anual

    271

    Figura 21. Caracterizao do tecido empresarial portugus, 2006 276

    Figura 22. Grau de envolvimento na profisso (actividade principal, secundria,

    part-time/temporria/ocasional)

    284

    Captulo Quatro: Cartografias socioprofissionais

    Figura 1. Mapa de Portugal Continental NUTS III 297

    Figura 2. NUTS (regio norte) 298

    Figura 3. Identificao do local de origem dos respondentes 311

    Figura 4. Grau acadmico 313

    Figura 5. Lngua materna 315

    Figura 6. Lnguas de trabalho 315

    Figura 7. Percentagem traduo literria vs Traduo tcnica 316

    Figura 8. Percepes dos respondentes acerca do reconhecimento da traduo 318

    Figura 9. Grau de satisfao sobre o estatuto do tradutor em Portugal 319

    Figura 10. Grau de satisfao sobre o mercado da traduo em Portugal 319

    Figura 11. Grau de satisfao sobre o nvel tico e deontolgico da profisso 320

    Figura 12. Considera que os tradutores tm uma formao adequada? 321

    Figura 13. Percepes vocacionais 321

    Figura 14. Percepes sobre auto-imagem/auto-estima 322

    Figura 15. Grau de satisfao com as condies de exerccio da profisso 322

    Figura 16. Percepes relativamente segurana da profisso 323

    Figura 17. Grau de satisfao com a qualidade da vida profissional 324

    Figura 18. Percepes acerca da imagem dos tradutores na sociedade 324

  • xix

    Figura 19. Percepes acerca da qualidade da traduo 325

    Captulo Cinco: as palavras no se escrevem sozinhas: a construo da

    identidade profissional dos tradutores da regio norte atravs da anlise das suas

    narrativas

    Figura 1. Brigith Guimares Retrato de uma profissional (Mapa conceptual) 359

    Figura 2. Tipo de regime de trabalho 362

    Figura 3. Tipo de regime de trabalho (Prestador de servios) 364

    Figura 4. Tipo de regime de trabalho (Empresrio em nome individual) 364

    Figura 5. Tipo de regime de trabalho (scio de sociedade comercial/traduo) 365

    Figura 6. Grau de envolvimento na profisso 368

    Figura 7. Vocao 369

    Figura 8. Satisfao com a qualidade de vida 369

    Figura 9. Sexo 376

    Figura 10. Taxa de actividade (%) do sexo feminino (56,1%) 376

    Figura 11. Taxa de emprego (%) do sexo feminino (50,4%) 376

    Figura 12. Idade 378

    Figura 13. Percentagem traduo / retroverso nos servios prestados 385

    Figura 14. Principal sentido de lngua 386

    Figura 15. Lnguas de trabalho 386

    Figura 16. Percentagem traduo literria vs Traduo tcnica 388

    Figura 17. Grau acadmico 394

    Figura 18. Formao especfica em traduo 395

    Figura 19. Formao de carcter generalista ou especializado 396

    Figura 20. Ano em que comeou a traduzir 401

    Figura 21. Exemplo de oferta de trabalhos de traduo 402

    Figura 22. A quem recorre quando necessita de servios de traduo? 404

    Figura 23. A Lenda das Cruzes (edio bilingue) 404

    Figura 24. Percentagem de tempo de trabalho dedicado traduo (por ms) 408

    Figura 25. Aspectos mais relevantes para o exerccio da traduo (1) 425

    Figura 26. Aspectos mais relevantes para o exerccio da profisso (2) 425

    Figura 27. reas mais importantes para o exerccio profissional 428

    Figura 28. Aspectos mais importantes para ser um tradutor 428

    Figura 29. O que preciso para ser um tradutor? 429

    Figura 30. Caractersticas mais relevantes para a subcontratao de um

    colaborador/colega.

    430

    Figura 31. Considera-se um tradutor profissional? 445

    Figura 32. Como avalia a sua prestao como tradutor profissional? 445

    Figura 33. Como avalia a prestao dos tradutores profissionais a quem recorre? 446

    Figura 34. Aspectos vocacionais 447

    Figura 35. Considera que os tradutores tm formao adequada para a prtica

    profissional?

    450

    Figura 36. Considera que os tradutores tm uma formao adequada para a

    prtica da sua profisso?

    451

    Figura 37. Auto-imagem/auto-estima 452

  • xx

    Figura 38. Percepes sobre a qualidade geral da traduo em Portugal 455

    Figura 39. Percepes sobre a qualidade geral da traduo (clientes) 457

    Figura 40. Acha que a traduo bem considerada e reconhecida enquanto

    actividade profissional em Portugal?

    457

    Figura 41. Exemplo de oferta de servios de lngua e traduo (1) 467

    Figura 42. Exemplo de oferta de servios de lngua e traduo (2) 467

    Figura 43. Satisfao com as condies de exerccio da profisso 468

    Figura 44. Sentimentos de segurana em relao profisso 469

    Figura 45. Satisfao com a qualidade da vida profissional 470

    Figura 46. Considera que a imagem dos tradutores na sociedade positiva? 473

    Figura 47. Acha que a traduo bem considerada e reconhecida em Portugal? 474

    Figura 48. Considera que a imagem dos tradutores positiva? 474

    Figura 49. Percentagem que a traduo ocupa no rendimento global 475

    Figura 50. Acha que conseguiria viver de forma confortvel nica e

    exclusivamente dos rendimentos obtidos da traduo?

    477

    Figura 51. Avaliao da remunerao/honorrios praticados no mercado 478

    Figura 52. Considera a traduo como algo estratgico e importante para a sua

    empresa?

    480

    Figura 53. Considera a traduo como uma profisso legitimamente enquadrada,

    tecnicamente estruturada e socialmente aceite?

    481

    Figura 54. Considera que a imagem dos tradutores na sociedade positiva? 482

    Figura 55. Percentagem que a traduo ocupa no oramento global das empresas 483

    Figura 56. Peso que a traduo ocupa no volume total de negcios 483

    Figura 57. A quem recorre quando precisa de servios de traduo? 487

    Figura 58. Cumpre normalmente o seu oramento? 489

    Figura 59. Sente-se obrigado a baixar os preos devido concorrncia? 490

    Figura 60. Aceita os pedidos dos clientes para baixar os preos? 490

    Figura 61. Como classifica os preos praticados pelo mercado? 491

    Figura 62. Sente-se obrigado a negociar preos, oramentos e condies com os

    tradutores?

    491

    Figura 63. Local onde decorre o exerccio profissional (1) 492

    Figura 64. Local onde decorre o exerccio profissional (2) 495

    Figura 65. Como se desenvolve habitualmente o trabalho de traduo? 496

    Figura 66. Costuma ser subcontratado por outros colegas ou agncias para a

    realizao de trabalhos de traduo?

    503

    Figura 67. Com que frequncia? 505

    Figura 68. Percentagem da subcontratao/outsourcing no volume de trabalho 506

    Figura 69. Como caracteriza a actuao das agncias de traduo? 513

    Figura 70. Cinco exigncias mais frequentes em termos de prestao de servios

    lingusticos

    530

    Figura 71. Trs principais motivos pelos quais recorre a servios de traduo 531

    Consideraes finais: Um espao dicotmico

    Figura 1. Marcas de profissionalidade Brigith Guimares (1) 548

    Figura 2. Marcas de profissionalidade Brigith Guimares (2) 549

  • xxi

    Figura 3. Marcas de profissionalidade Brigith Guimares (3) 549

    Figura 4. Marcas de profissionalidade M.M.C.U. (1) 550

    Figura 5. Marcas de profissionalidade M.M.C.U. (2) 551

    Figura 6. Marcas de profissionalidade M.M.C.U. (3) 551

  • xxii

    NDICE DAS TABELAS

    Referenciais tericos e metodolgicos

    Tabela 1: Respondentes entrevistados, cargo, rea e durao da entrevista 81

    Captulo Um: Translations around us/O social da traduo

    Tabela 1. Evoluo das obras traduzidas numa editora desde 2000 96

    Tabela 2. Repartio dos Empresrios em nome individual e das Sociedades,

    Volume de Emprego, e Volume de Negcios das Sociedades

    152

    Captulo Trs: Os Mercados e a Economia das Lnguas

    Tabela 1. Estimativa dos lucros projectados em termos de servios lingusticos e

    distribuio regional

    205

    Tabela 2: Estimativa dos lucros em servios lingusticos para 2009-2013 em

    milhes de dlares

    206

    Tabela 3: Estimativa dos lucros projectados em termos de servios lingusticos e

    distribuio regional (previso at 2014)

    220

    Tabela 4: Servios com mais rpido crescimento entre 2010 e 2011 222

    Tabela 5: Servios lingusticos e segmentao do mercado tecnolgico 222

    Tabela 6. Excerto da tabela de correspondncias entre a NACE Rev. 1.1. classe

    74.85 e a NACE Rev. 2 (Eurostat)

    226

    Tabela 7: Estimativas da LTC para 2008 e previses at 2015 do valor da

    indstria das lnguas / Taxa de crescimento mdio anual: 10% / Facturao anual

    em milhes de euros e Previses

    236

    Tabela 8. Estimativa das despesas em servios lingusticos por pas em 2009 (em

    milhes de dlares)

    238

    Tabela 9. Lnguas mais solicitadas (Kelly 2009) 239

    Tabela 10. Obras publicadas e traduzidas em Portugal (2000-2007) 250

    Tabela 11. Dados sobre a importncia do portugus (obras traduzidas e

    publicadas)

    251

    Tabela 12. Ttulos em lngua portuguesa: total, originais e traduzidos 251

    Tabela 13. Nmero de empresas por actividade econmica e escalo de pessoal

    ao servio

    258

    Tabela 14. Repartio dos Empresrios em nome individual e das Sociedades, de

    acordo com o Volume de Emprego e o Volume de Negcios das Sociedades,

    segundo os Distritos, para os cdigos 74830 e 74842 da CAE

    262

    Tabela 15. Empresas (N.) por Actividade econmica (CAE Rev. 3) e Escalo de

    pessoal ao servio; Anual

    266

    Tabela 16. Volume de negcios () das empresas por Localizao geogrfica

    (NUTS - 2002) e Actividade econmica (CAE Rev. 3); Anual

    267

    Tabela 17. Pessoal ao servio (N.) das empresas por Localizao geogrfica

    (NUTS - 2002) e Actividade econmica (CAE Rev. 3); Anual / Volume de

    negcios () das empresas por Localizao geogrfica (NUTS - 2002) e

    Actividade econmica (CAE Rev. 3); Anual

    269

    Tabela 18. Volume de negcios () das empresas por Localizao geogrfica

    (NUTS - 2002) e Actividade econmica (CAE Rev. 3); Anual

    271

  • xxiii

    Tabela 19. Quadro da Empresa e do Sector Banco de Portugal (Dados de 2008) 272

    Tabela 20. Evoluo da populao portuguesa empregada por situao na

    profisso (%)

    274

    Tabela 21. Evoluo do nmero de trabalhadores por conta prpria, segundo o

    sexo (%)

    274

    Tabela 22. Localizao das empresas: Dados IAPMEI 276

    Tabela 23. Nmero de empresas (INE) 277

    Tabela 24. Empresas e localizao 277

    Tabela 25. Empresas e subsectores 278

    Tabela 26. Empresas e Tipo de Sociedade 278

    Tabela 27. Empresas e ano de constituio 278

    Tabela 28. Empresas no financeiras com menos de 10 pessoas ao servio em %

    do total de empresas no financeiras: por sector de actividade econmica

    279

    Tabela 29. Evoluo do nmero de artigos traduzidos na UM 283

    Captulo Quatro: Cartografias socioprofissionais

    Tabela 1. Populao residente em 31/12/2009, segundo o gnero, por NUTS II 299

    Tabela 2. Empregados por conta de outrem e por conta prpria no total de

    empregados por NUTS II (2009)

    300

    Tabela 3. Volume de negcios: Actividade de servios prestados s empresas 301

    Tabela 4. Anlise detalhada dos respondentes atravs do SPSS 309

    Tabela 5. Considera-se um tradutor profissional? 327

    Tabela 6. Idade 328

    Tabela 7. Traduo tcnica vs Traduo literria 328

    Tabela 8. Sexo 329

    Tabela 9. Grau de satisfao com o estatuto do tradutor 329

    Tabela 10. Grau de satisfao com o mercado 330

    Tabela 11 Grau de satisfao com o nvel tico e deontolgico 330

    Tabela 12. Vocao 331

    Tabela 13. Satisfao com as condies de exerccio da profisso 331

    Tabela 14. Segurana em relao profisso 332

    Tabela 15. Identificao com a classe profissional 332

    Tabela 16. Satisfao com a qualidade de vida 333

    Tabela 17. Imagem dos tradutores na sociedade 333

    Tabela 18. Qualidade geral da traduo em Portugal 334

    Tabela 19. Quando comeou a traduzir? 334

    Tabela 20. Percentagem de tempo de trabalho dedicado traduo por ms 335

    Captulo Cinco: as palavras no se escrevem sozinhas: a construo da

    identidade profissional dos tradutores da regio norte atravs da anlise das suas

    narrativas

    Tabela 1. Nmero de sociedades unipessoais ou empresas individuais, ligadas

    prestao de servios de lnguas

    363

    Tabela 2. Taxas de variao do emprego nos escritrios, por sexo, segundo a

    profisso

    373

  • 1

    INTRODUO

  • 2

  • 3

    A PROPSITO DE CARTAS, MAPAS E OUTRAS REPRESENTAES DO REAL

    nothing is more delusive than the concept/idea of translation

    Jos Lambert, Rcits du pouvoir et pouvoirs du rcit, 2006

    Os ltimos cinquenta anos assistiram a uma proliferao das representaes

    metafricas com recurso figura do mapa, enquanto instncia de fixao, no mbito do

    discurso crtico, terico e ficcional. De facto, as mltiplas referncias s noes de

    mapeamento e cartografia so endmicas da teoria ps-estruturalista, algo que explica a

    razo pela qual, muitos dos autores do sculo XX, das mais variadas reas disciplinares

    e quadrantes cientficos parecem nutrir uma especial atraco pelo conceito de mapa em

    termos geogrficos, textuais, sociais, polticos e culturais.

    Muito embora a metfora do mapa tenha sido utilizada ao longo dos sculos para

    destacar instncias de representao textual e epistemolgica, a utilizao metafrica da

    noo de mapa tem sofrido algumas alteraes na era ps-moderna (Mitchell 2008).

    Paralelamente, a prpria metamorfose do conceito engloba ainda conceptualizaes ps-

    estruturalistas no domnio da epistemologia, textualidade, cartografia e metfora, ao

    mesmo tempo que sublinha uma mudana clara nas preocupaes modernistas em torno

    da temporalidade e objectividade, rumo a um pragmatismo ps-moderno dos

    referenciais de espacialidade e subjectividade.

    O mapa enquanto momento de representao e conceptualizao do

    conhecimento no mbito dos Estudos de Traduo tem sido uma ferramenta recorrente e

    frequentemente utilizada por vrios autores. Desde o clebre mapa de Holmes,

    desenhado por Toury (1995), fixando a taxonomia da, ento, recm-formada disciplina

    dos Estudos de Traduo, at ao conhecido The Map, obra de referncia para qualquer

    investigador neste domnio (Chesterman & Williams 2002), a verdade que o modelo

    do mapa como elemento plstico e multiforme de consolidao espacial do real adquire

    contornos de ferramenta indispensvel no domnio desta rea cientfica, definindo

    claramente a sua geometria e contornos, como prova o constante recurso a termos como

    fronteira, limites, sistemas (Hermans 1999), borders (Pym 1993), map (van

    Doorslaer 2007), bem como a prpria definio de campo importada da sociologia de

    Bourdieu, ou ainda o conceito de Polissistema (Even Zohar 1978).1

    1 Ver Alternatives to Borders in Translation Theory (1993), in Susan Petrilli (ed.) Translation Translation. Amsterdam & New

    York: Rodopi, 2003. 451-463.

  • 4

    O termo cartografias aplicado no contexto dos Estudos de Traduo no

    novo, e tem a sua gnese nos vrios contributos de Jos Lambert no domnio dos

    Estudos Culturais e Literatura Comparada, sobretudo em " la recherche de cartes

    mondiales des littratures (Lambert 1990/19991) 2

    , que encontramos na obra em sua

    homenagem de 2006, sob o ttulo In quest of literary world maps, onde o autor

    defende a criao de um mapa dos Estudos Comparatistas, a new world picture, face

    necessidade de reordenao virtual e inclusiva das literaturas nacionais e regionais

    numa poca em que a literatura, tal como a economia, surge como um fenmeno cada

    vez mais homogeneizado e global (Lambert 1990).3

    A interaco cultural e literria assente na circulao de textos e na anlise das

    tradues um dado adquirido, necessrio para determinarmos as mltiplas relaes e

    variveis que so estabelecidas e convocadas no terreno, decorrentes da abertura a

    novos espaos interdisciplinares e criativos de miscigenao, como confirma Lambert:

    Ni en termes de nations ni en termes de langues, les littratures ne constituent des systmes de

    communication homognes ou clos, et linteraction avec dautres types de communication

    (littraire), dorigine locale ou dorigine internationale, se produit tout moment. (Lambert

    1990) 4

    De facto, em pleno sculo XXI, e no contexto da globalizao, a traduo

    revela-se uma actividade transversal integrada e disseminada a todos os nveis da

    sociedade atravs de uma rede de contornos indefinidos e, como tal, indispensvel ao

    seu funcionamento, mas que importa definir. Certos autores, como veremos, falam

    claramente do seu carcter ubquo, visvel ou invisvel. Por outro lado, a traduo

    encerra em si uma funo comunicativa, como reitera Jos Lambert, ou melhor ainda, o

    princpio da internacionalizao da comunicao numa rede tentacular, enquanto acto

    de comunicao que estabelece uma relao interactiva entre lnguas e culturas

    (Lambert 1995: 20).5

    2 Jos Lambert, la recherche de cartes mondiales des littratures , in Semper aliquid novi. Mlanges offerts A. Girard, J.

    Riesz et A. Richard d., Gunter Narr Verlag, Tbingen, 1990, p. 109 3 Ver ainda Teresa Seruya, Marta Teixeira Anacleto , Maria Dos Anjos Guincho , Dionisio Martinez Soler , Maria Lin Moniz & Alexandra Lopes (2007). Notes for a cartography of literary translation history in Portugal In: Yves Gambier, Miriam Shlesinger,

    Radegundis Stolze, Doubts and directions in Translation Studies: selected contributions from the EST Congress, Lisbon 2004, p. 59-

    71, onde as autoras fornecem uma completa panormica sobre os esforos desenvolvidos para identificar o trabalho dos tradutores literrios em Portugal, partindo da metfora da excavao arqueolgica, como forma de detectar esses underground agents. 4 In Janos Riez e Alain Ricard (dir.) (2009), Semper Aliquid Novi, Tbingen, Narr.

    5 Relativamente designao de cartografia aplicada traduo, ver ainda Lambert 1980, onde o autor analisa os textos

    traduzidos como constructos de pleno direito, procedendo sua integrao numa perspectiva mais ampla no contexto da comunicao e interaco literrias, numa anlise que devedora da teoria dos polissistemas e no decurso do qual o autor destaca

    trs categorias que se entrecruzam: produo, tradio e importao. E ainda Lambert 1983, onde proposta a noo de 'cartografia'

    das literaturas europeias, como forma de permitir que as provncias literrias possam, de facto, ocupar o seu devido lugar de

  • 5

    Com efeito, a traduo, sobretudo, a traduo literria, ou melhor dizendo, a

    literatura traduzida, no s tem uma funo comunicativa, como tambm encerra em si

    uma funo essencialmente cultural ou intercultural que se sobrepe de forma dinmica,

    como constata Pym (1998: 1991).

    If we want to know how cultures interrelate, it is worth looking closely at who intermediaries are

    and how they work in intercultures (overlaps of cultures, defined by criteria of professionalism

    and 'secondness'). (Pym 1998) 6

    Para alm da bvia analogia visual dos elementos cartogrficos, o mapa permite

    ainda a exposio de modelos narrativos e, ao mesmo tempo, uma ferramenta valiosa

    para intervir no mbito de realidades complexas, heterogneas e dinmicas, como as

    resultantes da anlise dos fenmenos associados traduo. O mapa, neste contexto,

    no apenas uma representao passiva da realidade, mas tambm, e sobretudo, uma

    ferramenta que permite a produo de sentido, o avano do conhecimento e a gerao e

    testagem de hipteses, porque associado noo de deriva e viagem, como nos mostram

    Joo Barrento em O Judeu errante e a deriva moderna (1986) ou Maria Eduarda

    Keating, em Escritas Nmadas e Subservo do Paradigma da Viagem (2001).

    Por conseguinte, o mapa , antes de mais, um dispositivo comunicativo, um

    artefacto de representao maduro, dotado de uma linguagem, identidade e plasticidade

    prprias, e com uma retrica especfica, dotado das suas prprias ferramentas,

    linguagens, tcnicas e mecanismos de apoio.

    Trata-se, antes de mais, de um modelo que recupera ainda as capacidades

    narrativas de sistematizao prprias dos mapas pr-cientficos e escolares e que, ao

    mesmo tempo, se apresenta no apenas como um artefacto mimtico, mas como uma

    ferramenta potica e poltica.

    Assim sendo, o mapa como narrativa tambm a expresso de um objectivo

    marcadamente comunicativo. Tal como um texto, o mapa selecciona, avalia e classifica

    o real, distorce e molda os eventos, evolui dinamicamente, classifica e esclarece o

    mundo de forma a melhor direccionar o olhar para um aspecto particular de um

    determinado acontecimento, possibilitando ainda a construo de um discurso

    destaque, paralelamente a um centralismo cannico. E, finalmente, Lambert 2004, onde o autor advoga um modelo cartogrfico

    como forma de resistncia a modelos mais estticos, monolingues e uniculturais de forma a fixar o posicionamento das culturas e

    literaturas em contextos dinmicos e multidisciplinares, revelando uma permanente hesitao e descentramento entre diferentes centros responsveis por uma difcil construo identitria. 6 Artigo em linha disponvel em http://usuaris.tinet.cat/apym/on-line/intercultures/studies/studies.html. (Data de acesso: 22 de

    Setembro de 2011)

  • 6

    ideolgico. Neste contexto, mapa ainda sinnimo de narrativa visual do espao, um

    artefacto cultural criado pelo autor para descrever o espao e o tempo de acordo com

    objectivos predefinidos.

    Por outro lado, o mapa como ferramenta afigura-se como um meio que permite

    ao utilizador atingir um desgnio inalcanvel, assumindo-se como uma ferramenta

    eficaz e objectiva. Como instrumento e elemento potenciador de sentidos, o mapa

    permite que o utilizador defina metas, consolide posies e cumpra objectivos, ao

    mesmo tempo que potencia a estruturao do real e a prossecuo das tarefas planeadas.

    Como tal, o conceito de cartografia encerra tambm em si a noo de sistema de

    representao conceptual do espao, como uma ferramenta de comunicao que visa a

    representao de contextos complexos atravs do recurso a vrias narrativas parciais

    que se sobrepem e conjugam num elemento final: no fundo, uma rede de mapas,

    sistemas, diagramas, textos e peritextos, que se entrecruzam e moldam dinamicamente

    para circunscrever os espaos e objectos da investigao nos seus aspectos mais

    multifacetados.

    Partindo da hiptese de Lambert, segundo a qual a traduo estabelece uma

    relao interactiva entre culturas (ou interculturas, Pym 1998), procuraremos descrever

    a posio dos tradutores profissionais no sistema social e cultural da regio norte de

    Portugal.

    Finalmente, no nosso caso, a figura do mapa assume particular relevncia pela

    forma como, perante uma realidade to voltil e pluridisciplinar como a traduo

    profissional, permite a fixao objectiva de um objecto de estudo concreto num espao e

    tempo especficos, registando no terreno as diferentes configuraes captadas no

    decurso de uma anlise em que textos, discursos e contextos, o textual, o lingustico e o

    discursivo se entrecruzam.

  • 7

    BREVES NOTAS PARA UMA CARTOGRAFIA DA TRADUO EM PORTUGAL

    Cartografia: cincia e arte de desenhar, segundo determinados sistemas de projeco e uma

    escala, a totalidade ou parte da superfcie terrestre num plano, isto , traar cartas ou mapas

    geogrficos em reproduo bidimensional e tridimensional.

    Dicionrio da Lngua Portuguesa, Porto Editora, 8 edio

    O crescente desenvolvimento do fenmeno da internacionalizao e o

    consequente aumento da reciprocidade dos contactos internacionais em contextos

    multilingues dentro das prprias organizaes so, de acordo com Steyaert e Janssens

    (Steyaert & Janssens 1997: 131 e 132) e Shreve (Shreve 1999), uma das principais

    caractersticas do mundo empresarial que emergiu sensivelmente a partir da dcada de

    90 no sculo XX. A evoluo e a especificidade dos contactos e a prpria natureza e

    perfil dos prestadores de servios no domnio das lnguas, primeiramente no rescaldo da

    Segunda Guerra Mundial, posteriormente, durante a Guerra Fria e, sobretudo ao longo

    das ltimas dcadas do sculo XX com os fenmenos de globalizao escala

    planetria, implicaram de forma profunda a redefinio do papel e funo do tradutor

    nas sociedades modernas, no isentos de problemas e dificuldades7.

    De facto, o inimaginvel excesso de informao e o crescimento exponencial

    daquilo a que a revista The Economist chama big data8, a abundncia da informao

    digital e a rapidez com que os fluxos comunicacionais ocorrem so fenmenos que

    acabam por condicionar seriamente as profisses das lnguas, em concreto perante a

    necessidade de adaptao constante e em tempo real de contedos a novos locales (Pym

    2003)9 e, ao mesmo tempo, implicar uma inegvel redefinio dos respectivos perfis

    profissionais.

    Epistemologically speaking, information is made up of a collection of data and knowledge is

    made up of different strands of information. But this special report uses data and information

    interchangeably because, as it will argue, the two are increasingly difficult to tell apart. Given

    enough raw data, todays algorithms and powerful computers can reveal new insights that would

    previously have remained hidden. () The business of information managementhelping

    7 Cfr. com posicionamento crtico de Steyaert e Janssens 1997: 132. 8 Artigo Data, data everywhere. The Economist. Disponvel em linha em http://www.economist.com/node/15557443?story_id=15557443 [Data de acesso: 8 de Setembro de 2011] 9 Segundo Pym, localizao poder ser definida da seguinte forma: taking a product and tailoring it to an individual local market

    (i.e. locale). Por locale, entendemos A collection of rules and data specific to a language and a geographic area. Locales include information on

    sorting rules, date and time formatting, numeric and monetary conventions, and character classification.

    (MS.NET Framework Glossary ), ou ainda A set of parameters that defines the user's language, country and any special variant preferences that the user wants to see in their user interface. Usually a locale identifier consists of at least a language identifier and a

    region identifier. (Wikipedia)

    http://www.economist.com/node/15557443?story_id=15557443

  • 8

    organisations to make sense of their proliferating datais growing by leaps and bounds. ().

    This industry is estimated to be worth more than $100 billion and growing at almost 10% a year,

    roughly twice as fast as the software business as a whole. () Chief information officers (CIOs)

    have become somewhat more prominent in the executive suite, and a new kind of professional

    has emerged, the data scientist, who combines the skills of software programmer, statistician and

    storyteller/artist to extract the nuggets of gold hidden under mountains of data. (The Economist,

    25 de Fevereiro de 2010)

    J em 1998 Frank Austermhl publicara um pequeno texto sobre o panorama da

    traduo na era da informao, convenientemente intitulado Between Babel and Bytes

    - The Discipline of Translation in the Information Age, onde analisava o crescimento

    exponencial da comunicao internacional e o efeito de bola de neve nos Estudos de

    Traduo resultante do significativo aumento da circulao da informao a nvel

    mundial, da imensido das redes de informao disponveis, do nmero crescente de

    encontros interculturais e da contnua virtualizao da vida empresarial e privada.10

    Como resultado, apontava o autor, a revoluo digital e a prpria globalizao dos

    fenmenos econmicos, polticos, sociais e culturais teriam como consequncia o

    aumento gradual das expectativas em termos das competncias esperadas pelos novos

    profissionais das lnguas, cada vez mais expostos a um mercado movedio e dinmico,

    sociologicamente marcado pela fluidez e pela ausncia de fronteiras.11

    Por outro lado, o avano inexorvel das chamadas indstrias das lnguas

    decorrente do surgimento do acrnimo GILT (G11n, I18n, L10n e Traduo) em finais

    do sculo XX, fenmeno caracterizado pela contnua digitalizao e gesto de

    contedos, pelo aumento da utilizao das ferramentas electrnicas para a transferncia

    lingustica, emergncia da traduo digital e pelo desenvolvimento de complexas redes

    de colaborao multilingue, acabou por afectar de forma decisiva o papel,

    posicionamento e funo do tradutor contemporneo, com consequncias imprevisveis

    que importa analisar.12

    10 Austermhl, Frank (1998). Between Babel and Bytes - The Discipline of Translation in the Information Age. Artigo em linha disponvel em http://gandalf.aksis.uib.no/AcoHum/abs/Austermuehl.htm. [Data de acesso: 3 de Dezembro de 2008]

    11 Ver, a propsito, Shreve (2000), para uma descrio mais aprofundada das razes subjacentes a esta transformao, como por

    exemplo, o aumento brutal da actividade translatria, a crescente diferenciao das tipologias textuais e tipos de documentos em circulao, a exploso do domnio dos ecossistemas terminolgicos ou terminologias especializadas, bem como os respectivos usos,

    resultantes da expanso e diversificao dos avanos cientficos e tecnolgicos, a par do significativo crescimento dos meios de

    distribuio e da crescente digitalizao da informao.

    12 Para uma definio mais completa dos conceitos em causa, ver Pym em "Globalization and Segmented Language Services"

    (2000a), "Globalization and the Politics of Translation Studies" (2003), "Localization: On its nature, virtues and dangers" (2005) e o

    mais recente "Localization, training and the threat of fragmentation" (2006).

  • 9

    Se a isto juntarmos os desmesurados investimentos em novas tecnologias

    motivados por estratgias agressivas de globalizao, especializao, diversificao e

    desenvolvimento internacionais, o fornecimento dos chamados servios integrados tipo

    "chave na mo e, sobretudo, conforme sustentava Reinhard Schler, a transformao

    dos servios de traduo num bem de consumo [ the commoditisation of translation

    services]13

    (Schler 2005), percebemos claramente o alcance da afirmao proferida por

    este empresrio:

    All of us who are involved in the translation and localization world know perfectly well that we

    are in a deregulated industry, in which we institute our own standards, if they are not already

    imposed for us by our direct or end customers. We also know that every business has its own

    procedures, sometimes similar, and on other occasions absolutely the opposite. But all these

    procedures seek the same purpose: to achieve the translation or localization of a product with the

    highest possible quality.

    Juan Jos Arevalillo Doval, Scio-gerente da Hermes Traducciones y Servicios Lingsticos e Presidente da

    Comisso Tcnica espanhola para a Norma EN-15038, in The EN-15038 European Quality Standard for

    Translation Services: Whats Behind It?14

    Em simultneo, o progressivo protagonismo das tecnologias de informao e

    comunicao, o desenvolvimento de solues informticas globais ao servio da

    simplificao dos processos de anlise e produo textuais, a ubiquidade das

    ferramentas de apoio traduo e a contaminao global decorrente do cruzamento

    entre elementos de comunicao tcnica e intercultural no domnio da traduo acabam

    por demonstrar uma ligao una e indivisvel, intimamente relacionada com o conceito

    de metamorfose e transformao numa aldeia global ligada em rede, desprovida de

    fronteiras estanques e lineares e com um elevado grau de imprevisibilidade.

    Esta nova economia da produo de bens e servios, ligada actividade

    intelectual e, ao mesmo tempo, produo e circulao da informao e consequente

    mercantilizao do conhecimento (Caria 2005: 29), pode ser explicada luz das

    recentes transformaes que implicaram uma profunda mudana no paradigma dos

    modelos de produo e organizao do trabalho e a consequente transio para um

    13

    A propsito da comodificao da traduo ver ainda Apter, Emily (eds). (2001) Translation in a global market Chicago: Duke University Press. 251 pp. 14 Na gnese deste artigo encontra-se outro texto da autoria de Pierre Cadieux, Presidente da i18N Inc. e Bert Esselink, intitulado

    "GILT: Globalization, Internationalization, Localization, Translation", com o qual se pretende estabelecer dilogo, e no qual os autores admitem um certo sentimento de culpa perante a incapacidade de definir correctamente os outros termos que, para alm do

    prprio conceito de traduo em si, compem o acrnimo em causa (GILT), reconhecendo, tal como Donald DePalma e Hans

    Fenstermacher, a impossibilidade de fixar convenientemente termos to dspares e, ao mesmo tempo, to volteis como globalizao, internacionalizao e localizao:

    "we should perhaps feel a little GILTy that of the above four terms, only translation is generally well understood."

  • 10

    modelo ps-fordista de produo mais flexvel, caracterizado pela massificao da

    produo, organizado escala global atravs de uma rede de ligaes entre os diferentes

    agentes econmicos, capaz de conciliar uma elevada produtividade com unidades de

    produo informatizadas e facilmente programveis, susceptvel de responder

    rapidamente s constantes alteraes verificadas ao nvel da procura (flexibilidade do

    produto) ou da tecnologia (flexibilidade do processo).

    Inserida numa espcie de "vcuo social" e exposta ao turbilho ciclnico da

    mudana", conforme descrevia Don Kiraly (Kiraly 2000: 20), a traduo, enquanto

    modelo empresarial ou de gesto de redes de actores, evoluiu de forma impactante ao

    longo dos ltimos anos, medida que a informtica e as novas tecnologias da

    informao e comunicao foram entrando gradualmente nas fases de concepo e

    desenvolvimento dos prprios processos e produtos, permitindo, dessa forma,

    automatizar algumas rotinas de trabalho e oferecendo uma oportunidade clara e

    inequvoca de melhorar a oferta, em termos de qualidade, coerncia, consistncia,

    rapidez, tratamento e apresentao do produto final.

    Porm, paralelamente sua crescente tecnificao e especializao, conforme

    descrito por Miguel Nez Ferrer (2005)15

    , evoluram tambm muitas das formas mais

    diversificadas e complexas de prestao desse servio ao cliente. A traduo coloca-nos

    hoje desafios totalmente novos e inesperados, assumindo-se cada vez mais como um

    processo completamente tecnicizado e formatado, tendo adquirido uma nova dimenso

    e contornos de difcil representao. 16

    De facto, a actual cadeia de fornecimento de servios de traduo caracterizada

    por uma estrutura em rede, na qual a cooperao uma parte essencial do trabalho no

    sentido de permitir o cumprimento e a execuo dos servios fornecidos. Para alm de

    uma rede funcional e profissional, esta tambm uma rede social e relacional marcada

    pelo hibridismo de processos e mediaes individuais (Caria 2005: 37), caracterizada

    por interdependncias estabelecidas a vrios nveis e estruturadas ou hierarquizadas em

    diferentes patamares no mbito do trabalho tcnico-intelectual (Hermans & Lambert

    1998: 118).

    15 Nez-Ferrer, Miguel (2005) Translation Services Service Requirements (pr EN 15038). [Em linha] Comunicao apresentada durante a 1 conferncia da EUATC, Bruxelas, 2005. [Data de acesso: 17 de Julho de 2006]. Disponvel em

    http://www.euatc.org/conferences/index.html.

    16

    Sublinhamos, neste caso, o carcter industrial da traduo, que Belinda Maia destaca em The Industrialisation of Translation Will it work? (2002), recorrendo a uma sugestiva metfora, ao associar a traduo s tarefas domsticas (e femininas),

    nomeadamente ao processo da lavagem da roupa.

    http://www.euatc.org/conferences/index.html

  • 11

    Perante o dinamismo e a mutabilidade de uma profisso poucas vezes estudada

    do ponto de vista sociolgico, e tantas vezes negligenciada em termos de

    enquadramento e contexto socioprofissionais, estudar a traduo, hoje, como acto

    social, discursivo e intercultural, mostrar-se atento e receptivo a um mundo cada vez

    mais diversificado em constante mutao, e tambm enfrentar e tentar solucionar os

    desafios colocados, por um lado, pela globalizao e, por outro, pela omnipresena de

    novos modelos de produo decorrentes da sofisticao dos processos associados

    produo textual, sem dvida os ambientes privilegiados em que se desenvolve,

    actualmente, a prtica da traduo. 17

    A verdade que a traduo serve de forma engenhosa como metfora da

    universalidade e ambivalncia da comunicao e das relaes interpessoais entre

    culturas (interculturas), precisamente pela forma como encerra em si mltiplas

    vertentes, valncias e categorias que podem ser facilmente preenchidas, de acordo com

    motivaes especficas e conforme a sua utilidade, pelos mais diferentes actores que

    partilham e participam, de forma passiva ou activa, neste fenmeno, transformando-se

    num fenmeno social to marcadamente interdisciplinar. Traduzir hoje ser, porventura,

    resolver o dilema entre o social, o tcnico e o humano.

    Esta uma reflexo que nos levar a analisar as mltiplas facetas e

    configuraes, em contexto nacional, mas sempre em confronto com um cenrio mais

    lato e abrangente, de uma profisso tantas vezes esquecida e negligenciada e, em

    simultneo, a detectar e a traar as redes de relaes e dinmicas que envolvem aquilo

    que, actualmente, se designa como a Prestao de Servios de Traduo, conforme

    especificao resultante da recm-adoptada Norma Europeia de Servios de Traduo -

    EN15038.

    Por outro lado, o nosso objectivo ser igualmente partilhar um testemunho

    emprico marcado pelas reflexes pessoais e profissionais dos principais actores que

    convergem no terreno, sobre a forma como decorre o processo de construo de uma

    identidade profissional especfica, associada a uma profisso marcadamente sujeita a

    constrangimentos internos e externos, onde tenses e conflitos ocorrem, em constante

    jogo. E, ao mesmo tempo, pelo confronto discursivo, analisar a forma como esse

    processo acompanha a definio e a construo de um mercado, ou melhor dizendo, a

    17

    Disto sintoma o ttulo da conferncia de Derek Coffey, da Welocalize The Future: Will we be the Walmart of Words or the FedEx of Words?, realizada na 16 Conferncia da LRC (2011).

  • 12

    disposio geogrfica de vrios mercados que se entrecruzam e moldam a sua

    territorialidade.

    Por conseguinte, serve esta instncia introdutria para tecer algumas das linhas

    orientadoras que vo urdir o presente trabalho e que visam caracterizar os mltiplos

    cenrios onde se inscreve a prtica da traduo no panorama portugus e, em concreto,

    da regio norte do pas, face a um mercado movedio e dinmico, sociologicamente

    marcado pela fluidez e pela ausncia de barreiras e fronteiras.

    Trata-se de um trabalho feito de experincias, textos, discursos e linhas que se

    cosem e entrelaam, ecos e reverberaes que nos revelam uma imensa teia de redes e

    relaes onde a traduo se insere e constri o seu espao numa dinmica de mobilidade

    e metamorfose. Trata-se ainda de um confronto frtil entre textos e contextos, um

    dilogo que, esperamos, profcuo, estabelecido entre a traduo e os diferentes

    ecossistemas onde ocorre, um confronto, simultaneamente tenso e complexo, que nos

    leva a situar as dinmicas relacionais que so estabelecidas a montante e a jusante, e que

    nos permite circunscrever os espaos geogrficos de um fenmeno to intrinsecamente

    enraizado na sociedade como a traduo.

    A nossa perspectiva parte de um modelo de anlise em que o tradutor assume

    um lugar central pivotal (Simeoni 1998) num plano cartogrfico, plstico e multiforme,

    de fronteiras tnues, marcado por vrios agentes e actores que se cruzam e interagem, e

    que vo inscrevendo nesse mapa as marcas indelveis de uma identidade profissional,

    tantas vezes difusa. Modelo esse que nos permitir, em ltima anlise, proceder ao seu

    mapeamento, ou seja, anlise das correspondncias entre contextos e estruturas

    favorveis prtica translatria como algo socialmente delimitado, mas tambm

    cartografia das dinmicas emergentes nesse domnio, lanando as bases para uma

    avaliao rigorosa de uma nova realidade socioprofissional, identificando perspectivas

    de evoluo, factores crticos, bem como principais tendncias e orientaes de

    mudana.

    O modelo de anlise que propomos pretende encarar a profisso como uma rede

    complexa de relaes, tenses e distenses, convergncias e divergncias entre os vrios

    actores, e no interior da qual circula uma mesma matriz orgnica, caracterizada pelo

    elemento humano em contexto social, e logicamente enquadrado por uma dimenso

    textual e discursiva.

    Para tal, servimo-nos de uma citao de Reine Meylaerts, onde surge sintetizada

    a questo da necessidade de conceptualizao do actor humano como indivduo

  • 13

    socializado, integrado numa realidade social, simultaneamente como profissional

    (Simeoni 1998, Inghilleri 2003 e 2005, Sela-Sheffy 2005, Gambier 2006), mas tambm,

    e sobretudo, como actor capaz de interiorizar vrias estruturas sociais, culturais,

    polticas e lingusticas, de carcter mais amplo, e de natureza institucional e discursiva:

    Recent insights insist on habitus as a dynamic, plural concept, as the object of confrontations

    with various field logics and thus of multiple definitions and discontinuities (Lahire 2001, 2003,

    2004; Sela-Sheffy 2005). Every (inter)cultural actor appears as a complex product of multiple

    processes of socialization disseminated in various institutions (family, schools, friends, work,

    neighborhood, etc.). Attitudes, perceptions and practices are the result of an unstable interplay of

    multiple kinds of habituses, questioning the uniqueness and permanence of the individual person.

    The actors plural and dynamic (intercultural) habitus therefore forms a key concept for

    understanding the modalities of intercultural relationships. It can reveal how (intercultural)

    actors interiorize dynamically and variably (institutional and discursive) normative structures of

    the source and target fields, and indeed of their mutual contacts and intersections. (Meylaerts

    2008: 94)

    Como tentaremos demonstrar, uma das nossas hipteses de trabalho ser

    precisamente verificar se, de facto, existe uma mesma sintonia e coerncia ao nvel do

    discurso identitrio e das manifestaes sociais e profissionais desta comunidade que

    nos propomos estudar, ou se, pelo contrrio, essa similitude no se verifica, e antes

    dspar e inconstante.

    Pretendemos ainda verificar se a definio do profissionalismo uma constante

    e ocorre, de facto, de forma homognea e natural, ou se uma construo ficcionada,

    eventualmente motivada e orientada pelos discursos e prticas envolventes, bem como

    pelos fenmenos textuais e contextos interculturais que circulam paralelamente

    profisso.

    No esquecendo a componente absolutamente central dos aspectos lingustico-

    textuais e culturais associados aos fenmenos que envolvem a prtica da traduo, o

    nosso mapa parte de um modelo essencialmente marcado por trs vectores estruturantes

    que correspondem aos trs primeiros captulos da tese, ou seja, o social, o profissional e

    o econmico, onde a traduo se assume como uma actividade social e historicamente

    enquadrada, marcada por diferenas de percepo em termos de imagem pblica,

    imagem individual e imagem colectiva profissional, mas tambm uma actividade

    geradora de riqueza e com um valor econmico intrnseco e, como tal, estratgica e

    vital, orientada por dinmicas empresariais e profissionais, aliceradas numa praxis

  • 14

    individual e grupal, enquanto actividade, processo e produto, desenvolvidos para

    clientes e pblicos-alvo definidos.

    Antecipando eventuais crticas de cegueira intelectual e ortodoxia unilateral na

    forma como nos posicionamos no terreno enquanto investigadores no domnio dos

    Estudos de Traduo, gostaramos, desde j, de sublinhar que no pretendemos descurar

    de todo os aspectos lingusticos, textuais e discursivos dos fenmenos que envolvem a

    traduo, tal como no renunciamos ao seu carcter tradicionalmente intercultural.

    A matriz que assumimos como base do nosso trabalho prev, de facto, um

    pentgono, onde as variveis sociais, profissionais e econmicas se encontram

    intimamente ligadas aos aspectos textuais, lingusticos e culturais que configuram a

    actividade no domnio dos Estudos de Traduo, e que no pretendemos renegar.

    Figura 1. Matriz orgnica do projecto

    Uma das justificaes para a escolha deste tema prende-se com o facto de,

    enquanto tradutor profissional e formador de tradutores, nos confrontarmos diariamente

    com a necessidade de definir e circunscrever campos de conhecimento e aco que

    distingam e particularizem a Traduo enquanto objecto de estudo enquadrado numa

    dinmica social e, ao mesmo tempo, estabeleam os limites do seu profissionalismo,

    definam os seus objectivos e delimitem o seu objecto territorial. Ser desnecessrio

    frisar que nos movemos por uma agenda marcadamente individual e claramente

    enviesada, um desgnio pessoal e profissional decorrente da forma como este trabalho

    Lingustico/Textual

    Cultural

    Profissional Econmico

    Social

  • 15

    tem uma histria peculiar e nasce de uma motivao pessoal, fortemente marcada por

    um desgnio particular. O resultado , esperamos, um objecto de estudo,

    simultaneamente reflexivo e auto-reflexivo, j que a reflexividade se assume como um

    instrumento potenciador do desenvolvimento de instrumentos analticos.

    A heterogeneidade das tarefas desenvolvidas, a multidimensionalidade dos seus

    problemas, a (in)visibilidade socioprofissional (tcita e implcita) do tradutor, bem

    como a sua situao de desequilbrio, subservincia e subalternidade constantemente

    invocada em contexto de interaco social potenciam a diluio das fronteiras do

    conhecimento e aco, j de si caractersticas de contextos inter e multidisciplinares

    marcados pelas dinmicas de mercado e empreendedorismo no mbito da indstria das

    lnguas. Afectando de forma inequvoca a noo de identidade profissional, auto-

    reflexividade e lgicas de socializao, bem como a complexidade das relaes geradas

    socialmente no domnio profissional.

    O objectivo central deste projecto , essencialmente, dar conta de um

    testemunho individual, simultaneamente reflexivo e auto-reflexivo, marcado por um

    desgnio pessoal e profissional, atravs da qual ser possvel partilhar um conjunto de

    reflexes sobre o processo de construo de uma identidade associada a uma profisso

    (eventualmente semiprofisso, segundo Monz 2006), num contexto social

    geograficamente enquadrado, a regio norte de Portugal, sabendo de antemo que uma

    das questes essenciais que se colocam a uma nova profisso a sua pertinncia social,

    real e simblica (Bourdieu 1985), inata ou construda, ou seja, a sua utilidade social no

    mbito do espao das profisses e ocupaes j existentes.

    Este trabalho pretende constituir um contributo para a rea dos Estudos de

    Traduo, via Cincias da Linguagem, atravs de um contacto permanente, observador e

    atento com uma comunidade especfica, socorrendo-se, para tal, de uma abordagem

    sociolingustica assente nas narrativas dos actores envolvidos, confrontando discursos e

    contextos, de forma a descortinar saberes, sentidos e fazeres que enformam um

    determinado campo profissional capaz de definir e assumir o espao e as lgicas de

    interaco do tradutor.

    Por conseguinte, este um trabalho sobre o processo de construo identitria

    com base nas narrativas dos profissionais, cujo objectivo ltimo ser analisar o discurso

    dos prestadores de servios de traduo desenvolvido sobre si prprios, sobre a sua

    prpria actividade e sobre a realidade envolvente, com inegveis ramificaes e elos de

    ligao a um universo mais lato, estabelecendo um dilogo com a sua dimenso

  • 16

    nacional e internacional.

    Paralelamente s tradues e textos que circulam em torno da profisso,

    interessa-nos, sobretudo, detectar as dinmicas subjacentes em termos de percepes

    socioprofissionais, bem como as marcas discursivas subjacentes e subterrneas que

    escondem estratgias de ocultao e dissimulao (van Leeuven 1997, Fairclough 1997,

    2003 e 2005, van Dijk 1998 e Nogueira 2001), e que concorrem para a construo e

    encenao de um discurso identitrio simblico, porventura desfasado do real (Goffman

    1975).

  • 17

    A INSCRIO DO PROJECTO NO SEU ESPAO GEOGRFICO E CONTEXTUAL

    Temos absoluta conscincia da necessidade e pertinncia de um estudo desta

    natureza no mbito dos Estudos de Traduo, sobretudo no contexto portugus. Apesar

    da vitalidade da disciplina em Portugal nos ltimos anos, consubstanciada na

    considervel produo cientfica resultante e no largo predomnio da anlise da

    literatura traduzida (Seruya 2006, 2007, 2008 e 2009; Ferreira Duarte, Assis Rosa e

    Seruya 2006, Ferreira Duarte 2001 e 2008, Neves 2005, Almeida e Pinho 2006,

    Barrento 2002, Maia 2002, Frei 2002, Keating 1992, 1995, 1996, 2000, 2001, 2005 e

    2006, Almeida Flor 1983 e 2009, Zurbach 2003, Castilho Pais 1997, 2000, 2001 e 2005,

    Horster 2007 e 2008, Jorge 1997, Carvalho Homem 2004 e 2009) so ainda escassos os

    estudos descritivos aprofundados sobre a sua dimenso social, econmica e

    profissional.18

    Para alm de algumas publicaes avulsas sobre a profisso, muitas delas

    oriundas de empresas, freelancers ou associaes profissionais, com uma agenda

    claramente especfica, os contributos acadmicos e cientficos sobre o fenmeno tm

    sido relativamente dispersos e pouco consistentes.

    Para alm do enciclopdico trabalho de Gonalves Rodrigues (1992)19

    , a nvel

    nacional destacamos o importante contributo dado profisso pelo primeiro estudo

    sociolgico desenvolvido por Francisco Magalhes, em 1996, sob o ttulo Da Traduo

    Profissional em Portugal (1996), em que o autor dedica especial ateno a uma

    tripartio das grandes reas da profisso em Portugal, nomeadamente o Mercado da

    Traduo, o Trabalho do Tradutor e a Formao do Tradutor Profissional,

    estabelecendo importantes pontos de convergncia entre esses trs vectores. Mais

    recentemente, podemos ainda citar alguns dos trabalhos que desenvolvemos,

    nomeadamente ao nvel do perfil das empresas de traduo portuguesas (Ferreira-Alves

    2005 e 2006), com ramificaes no mbito da sociologia da traduo (Ferreira-Alves

    2008), economia das lnguas (Ferreira-Alves 2009) e ainda ergonomia e traduo

    (Ferreira-Alves 2011).

    18 De realar ainda os vrios contributos dispersos em mltiplas revistas de especialidade, como a Gnesis, revista cientfica do

    ISAI, ou ainda as actas das Jornadas de Traduo desta mesma instituio, a Polissema Revista de Letras do ISCAP, O Lngua

    Revista Digital sobre Traduo, Babilnia - Revista Lusfona de Lnguas, Culturas e Traduo, Confluncias Revista de Traduo Cientfica e Tcnica, Relmpago, A Phala, entre outras. 19 Gonalves Rodrigues, A. A. (1992) A

    Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.

    http://revistas.ulusofona.pt/index.php/babilonia

  • 18

    Dentro deste domnio, podemos ainda citar outros estudos como o projecto

    desenvolvido por Elena Galvo junto dos compradores de servios de traduo na zona

    do Grande Porto (Galvo 2006)20

    , a comunicao apresentada por Flix do Carmo em

    2002 no V Seminrio de Traduo Cientfica e Tcnica em Lngua Portuguesa da Unio

    Latina, onde o autor analisa os contornos socioprofissionais e formativos da actividade

    (Carmo 2002)21

    , o trabalho de Ftima Dias (2006) sobre a imagem dos tradutores nos

    anncios de emprego22

    , o estudo de Rosrio Duro intitulado Primeiro Relatrio de um

    Inqurito a Fornecedores de Servios de Traduo Cientfica e Tcnica de Ingls para o

    Portugus Europeu (2008) 23

    , ou mesmo o projecto iniciado por Joslia Neves e Maria

    Jos Veiga em 2002, na rea da Traduo para Legendagem que visava colher

    informaes sobre a prtica da traduo profissional de traduo/legendagem em

    Portugal (2002). Mais recentemente destacamos a pertinncia do trabalho de Susana

    Valdez sobre a invisibilidade do tradutor no contexto portugus (2009).24

    Em termos empresariais e associativos existem ainda algumas tentativas avulsas

    de circunscrever o mercado profissional, com especial destaque para a APET

    (Associao Portuguesa de Empresas de Traduo), o SNATTI (Sindicato Nacional de

    Actividade Turstica, Tradutores e Intrpretes), a APIC (Associao Portuguesa de

    Intrpretes de Conferncia), a AIIC (Associao Internacional de Intrpretes de

    Conferncia), a APT (Associao Portuguesa de Tradutores) ou a j extinta AteLP

    (Associao de Traduo em Lngua Portuguesa). Em paralelo, podemos igualmente

    identificar as tentativas de sistematizao do mercado da Tradulnguas, a experincia

    pouco consistente de Lus Almeida Espinosa, no seu Terminologias.com, com o texto

    de 2003, A Formao do Tradutor e as Necessidades do Mercado de Traduo em

    Portugal, apresentado no VI Seminrio de Traduo Cientfica e Tcnica em Lngua

    Portuguesa, a impressionista Anlise do Mercado da Traduo em Portugal, que

    encontrmos na revista, entretanto descontinuada, Translation Magazine, publicada pelo

    20 Galvo, Elena (2006) Entre inovao e tradio: viagem ao mundo dos compradores de servios de traduo na zona do Grande

    Porto. Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Actas das 5as Jornadas de Traduo, ESTG, Leiria. 21 Carmo, Flix (2002) De formando a formador, passando por formado em traduo .. Actas do V Seminrio de Traduo Cientfica e Tcnica em Lngua Portuguesa. Lisboa: Unio Latina. 22 Tradutores Precisam-se: A imagem da Traduo Transmitida pelos Anncios de Emprego, in Confluncias Revista de Traduo Cientfica e Tcnica, N4 (2006).

    23 Primeiro Relatrio de Um Inqurito a Fornecedores de Servios de Traduo Cientfica e Tcnica de Ingls para Portugus Europeu, in Confluncias - Revista de Traduo Cientfica e Tcnica: A Traduo Cientfica e Tcnica em Lngua Portuguesa no

    Mundo, n. 3, 2005, pp. 29-61.

    24 Valdez, Susana (2009) O Autor Annimo. A Invisibilidade do Tradutor no Contexto Portugus. Dissertao de mestrado.

    Universidade de Lisboa.

    http://www.linkedin.com/redirect?url=http%3A%2F%2Frepositorio%2Eul%2Ept%2Fbitstream%2F10451%2F1710%2F1%2F21664_ulfl071875_tm%2Epdf&urlhash=--LY

  • 19

    gabinete de traduo Jaba Translations (Setembro de 2007) ou o informativo Quase

    tudo o que eu (sempre) quis saber sobre traduo: Guia de sobrevivncia, traduo e

    adaptao da brochura Translation: Getting it Right (Ferreira-Alves et al 2006), guia

    que, alegadamente, ter sido alvo de uma verso posterior da autoria da AteLP.25

    De qualquer das formas, pela sua actualidade, pertinncia e transversalidade, a

    reflexo em torno dos aspectos socioprofissionais associados traduo indispensvel

    para a consolidao de uma actividade que teima em no se afirmar como uma profisso

    autnoma, de direito prprio, muito por causa da forma como vista, interna e

    externamente, como uma actividade menor, subalterna e pouco prestigiante.

    A par da sua inegvel componente textual e lingustica, acreditamos que o

    desenvolvimento e a aplicao de estudos rigorosos e consistentes sobre o papel

    estratgico, do ponto de vista social e econmico, da traduo num mundo globalizado,

    podero conduzir esta arte de negociao (Eco 2003) ao estatuto que realmente

    merece na sociedade, atravs da sensibilizao dos principais actores envolvidos no

    processo e, em especial, das instncias governativas responsveis pelo seu real

    reconhecimento.

    Estamos, no entanto, conscientes de que, apesar das vrias pretenses em

    concurso, em torno de uma suposta necessidade de uniformizao e harmonizao de

    uma cultura profissional, a verdade que a traduo, enquanto profisso em trabalho

    tcnico-intelectual, tal como sustenta Telmo Caria (Caria 2005), cada vez menos

    homognea e uniforme (Klein 1976). Nesse sentido, consideramos que precisamente a

    sua diversidade e heterogeneidade que lhe conferem um carcter to especial e difcil de

    apreender. Como tal, a forma como hoje os Estudos de Traduo concebem e

    entendemos o fenmeno da traduo enquanto funo, processo e produto orientados e

    condicionados por constrangimentos profissionais especficos e dspares, depende muito

    do(s) prprio(s) segmento(s) onde nos encontramos inseridos.

    Pour comprendre la traduction comme pratique sociale et comme vecteurs des changes culturels

    internationaux, il est ncessaire de rintegrer dans lanalyse tous les acteurs individues et

    institutions qui en sont partie prenante. Il faut tout dabord la resituer dans lespace

    international de circulation des textes, espace hirachis dans lequel les changes sont inegaux.

    Cette hirarchie rsulte de la structure des rapports de force selon trois principales logiques,

    politique, conomique et culturelle (Heilbron & Sapiro 2008: 43)

    Queremos, em concreto, convocar para o nosso estudo a posio defendida por

    25 Como comprar uma boa traduo: Guia breve para compradores de servios de traduo (ATeLP 2006).

  • 20

    Hermans e Lambert, segundo a qual ser necessrio redefinir o papel daquilo a que

    chamam "business translation" (traduo em contexto empresarial, diramos ns) no

    domnio dos Estudos de Traduo e, nesse sentido, abordar este novo fenmeno a partir

    da anlise da organizao social e dos processos de gesto em ambientes empresariais

    caracterizados pela prestao de servios.

    De facto, por vezes, o domnio eminentemente profissional e empresarial parece

    ter sido esquecido no mbito do paradigma dos Estudos de Traduo e apagado de

    eventuais apresentaes programticas ou categorizaes da traduo, ainda que

    aflorado nos seus textos fundadores. Como veremos mais adiante, este carcter fugaz e

    praticamente invisvel do fenmeno explica, em parte, a tendncia para uma disperso e

    fragmentao, traduzidas na forma como o mundo profissional tende a gerar os seus

    prprios grupos e subgrupos especficos e hermticos, preferindo um distanciamento

    prudente face aos crculos acadmicos, como se estes fossem incapazes de adaptar e

    integrar a componente empresarial aos seus curricula.

    Esto, ento, criadas as condies para que nasa essa "terra de ningum"

    (Hermans & Lambert 1998: 114) que pretendemos explorar atravs deste estudo, cientes

    que estamos da necessidade de reenquadrar os vrios ngulos atravs dos quais a

    traduo vista nesses domnios.

    Por ltimo, gostaramos ainda de convocar o modelo tripartido definido por

    Steyaert e Janssens, como suporte eficaz para conceptualizarmos esta aparente diviso

    entre lngua, cultura e gesto. No seu artigo intitulado "Translation and Language

    Learning as Mediating Activities in a Multi-Cultural and Multi-Lingual Management

    Setting", os autores traam um tringulo estruturado em torno de trs eixos que, por sua

    vez, integram os seguintes conceitos: cultura, lngua e gesto, e no centro do qual, em

    perfeita articulao com os restantes vrtices, encontramos a traduo e a aprendizagem

    de lnguas (Steyaert & Janssens 1997: 135), entidades que coexistem no seio das

    organizaes, enquanto organismos multiculturais e multilngues.

    Ou seja, embora a viso do fenmeno translatrio como um produto textual

    cultural seja um facto amplamente aceite pelos Estudos de Traduo, a verdade que

    esta perspectiva necessita ainda de ser integrada ao nvel da produo da prpria

    organizao social, algo que implica uma abordagem essencialmente interdisciplinar,

    isto , atravs da reconsiderao radical e extrema do papel da traduo e do estatuto do

    tradutor dentro das organizaes empresariais (Steyaert & Janssens 1997: 144), do

    reenquadramento do valor econmico das lnguas e, em ltima instncia, da redefinio

  • 21

    de uma viso mais pragmtica do prprio estudo da traduo profissional em contexto

    social.

  • 22

    ARQUITECTURA DA TESE: VECTORES ESTRUTURANTES

    Seguidamente, apresentaremos a estrutura que decidimos conferir ao nosso

    trabalho.

    A Introduo pretende dar conta das principais motivaes subjacentes ao

    projecto de investigao em curso, apresentando as linhas gerais condutoras que

    orientam a tese, do ponto de vista da organizao do trabalho, com especial destaque

    para os objectivos gerais e especficos, breve contextualizao terica e enquadramento

    temtico. Ser igualmente apresentado um captulo dedicado aos Referenciais Tericos

    e Metodolgicos utilizados no mbito do nosso trabalho, no contexto dos Estudos de

    Traduo.

    Como referimos antes, o nosso modelo de anlise parte essencialmente de uma

    perspectiva que prev a triangulao de trs componentes estruturais do fenmeno da

    traduo que se encontram inexoravelmente ligadas entre si, e que complementam a sua

    dimenso textual e cultural. Ou seja, o vector social, o vector profissional e o vector

    econmico, que representam os trs primeiros captulos angulares do nosso trabalho e

    constituem a primeira parte desta tese (Parte I). Prevendo eventuais problemas de

    descompensao e desequilbrio da mesma, contamos apresentar nos Anexos o material

    textual resultante de um pequeno corpus de tradues efectuadas por uma das nossas

    entrevistadas, e que podero ser colocadas em dilogo com as narrativas que registmos.

    Por isso mesmo, os captulos subsequentes seguem essa lgica e essa ordenao,

    tentando analisar, no contexto da realidade portuguesa, mas sempre em dilogo com a

    dimenso macro [internacional] e micro [regional], as mltiplas facetas de que a

    actividade se reveste.

    Por conseguinte, o primeiro captulo [da Parte I], que optmos por chamar

    Translations around us/O social da traduo pretende dar conta do carcter

    transversal e omnipresente do fenmeno, colocando o enfoque na sua dimenso social e

    relacional, bem como nas percepes endgenas e exgenas associadas profisso no

    contexto portugus. De igual forma, pretende-se, com este captulo, descrever

    brevemente o carcter no-formal da actividade recorrendo a registos dispersos por

    vrias fontes textuais e, ao mesmo tempo, analisar os cenrios e enquadramentos que

    rodeiam a prestao de servios de traduo a nvel nacional, bem como a forma como

    os diversos actores e agentes envolvidos no processo, amadores e profissionais, se

    posicionam e relacionam em termos histricos, culturais e sociais.

  • 23

    O segundo captulo centrar-se- na noo de profissionalismo aplicada

    traduo, analisando alguma da literatura existente neste domnio, e fazendo a

    transposio para a realidade portuguesa de forma a caracterizarmos a profisso e o

    estatuto do tradutor. Pretendemos, neste espao, analisar os conceitos de profisso e

    profissionalismo associados traduo, procurando fazer o respectivo enquadramento

    terico-conceptual em dilogo com alguma da recente literatura existente sobre o tema

    no domnio dos Estudos de Traduo. Neste captulo iremos ainda apresentar um

    enquadramento terico susceptvel de analisar a traduo sob o ponto de vista

    profissional, recorrendo a exemplo de outras reas disciplinares, como a sociologia das

    profisses, bem como estudos desenvolvidos sobre a profissionalizao dos tradutores e

    intrpretes, com especial destaque para a situao profissional em Portugal. O objectivo

    ser enquadrar a noo da prestao de servio no mbito dos principais actores

    envolvidos na cadeia de produo e consumo de tradues, nomeadamente atravs da

    tripartio do nosso objecto de estudo, respectivamente em tradutores, agncias e

    clientes/consumidores finais.

    Por ltimo, o terceiro captulo da Parte I direcciona o olhar para a dimenso

    econmica das lnguas no contexto da globalizao e, em concreto para o valor

    estratgico da traduo, caracter