Fernando Pessoa - Leve, Breve, Suave

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  • 8/2/2019 Fernando Pessoa - Leve, Breve, Suave...

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    Fernando Pessoa - Leve, breve, suave...

    Este poema ortnimo de Fernando Pessoa reflecte sobre um acto simples: a observao do cantomatinal de uma ave. Mas, quanto a mim, o poema esconde um significado mais profundo.

    Embora possamos interpretar o poema pela sua suposta musicalidade ( o que parece fazer porexemplo Amlia Pinto Pais (no seu livro "Para Compreender Fernando Pessoa"), em que as rimas edoura meldica transparecem o prprio cantar da ave; eu antes preferia ver a oposio que o poeta fazentre o canto da ave (que representa o mistrio da Natureza imutvel) e o papel do observador (nestecaso o poeta).

    Veja-se como o princpio do poema "Leve, breve, suave, / Um canto de ave / Sobe no ar com queprincipia / O dia" marcado por uma leveza que vem da falta de significados, de anlise, s purarealidade - a Natureza, sem pensamento.

    Quanto pessoa escuta, tudo pra de repente: "Escuto, e passou...". Quer ele dizer que a oposio do seupensamento, da anlise racional, matou a aco pura da Natureza. Parece-lhe mesmo que foi s por ele

    ouvir que tudo parou. Veja-se - ouvir! Nada mais. Pessoa sentiu-se um estranho Natureza.

    O incio da segunda estrofe marca esse "fim do edlio", do paraso do que era s natural. Se a primeiraestrofe positiva, a segunda negativa:

    "Nunca, nunca, em nada, / (Raie a madrugada, / Ou splenda o dia, ou doire no declive) / Tive / Prazer adurar / Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir / Gozar".

    essencial que se separe (Raie a madrugada, / Ou splenda o dia, ou doire no declive) do resto daestrofe, para que a possamos ler s assim: "Nunca, nunca, em nada, / Tive / Prazer a durar / Mais doque o nada, a perda, antes de eu o ir / Gozar". Quer Pessoa dizer que nunca pode tirar prazer das coisasnaturais: ele assim que pensa mata tudo o que natural. No consegue ter em si esse prazer natural das

    coisas, um "prazer a durar" (ou seja, um prazer que se prolongue no tempo).

    Embora parea complexo, o poema afinal bastante simples no seu significado:

    Pessoa no consegue sentir e gozar as coisas de maneira simples. No consegue ter prazer nas coisas,porque pensa logo da perda das mesmas, racionaliza-as demasiado. esta complexidade da sua mente,do seu raciocnio que prejudica (que cala) o que Natural. A ave calou-se (metaforicamente) por causada intruso do raciocnio de Pessoa.

    O poema afinal uma metfora sobre a oposio entre Natureza e Pensamento, entre o que Natural eo que Humano (pensado)".