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FERNANDO PESSOA ORTÓNIMO
a poesia está não na dor experimentada ou sentida mas
no fingimento dela
CONTEXTO o modernismo e os –ismos da vanguarda
MODERNISMO – a literatura surge associada às artes plásticas e por elas
influenciada; nova visão da vida, que se traduz, na literatura, por uma
diferente concepção da linguagem e por uma diferente abordagem dos
problemas que a humanidade se vê obrigada a enfrentar, num mundo em
crise.
DECADENTISMO – exprime o cansaço, o tédio, a busca de sensações novas.
PAULISMO – o significado de “paul” liga-se à água estagnada, aos pântanos,
onde se misturam e confundem imensas matérias e sugestões. A estagnação
remete para a agonia da água, paralisada e impedida de seguir o seu curso.
INTERSECCIONISMO – caracteriza-se pelo entrecruzamento de planos que
se cortam: intersecção de percepções ou sensações.
FUTURISMO – propõe cortar com o passado, exprimindo em arte o
dinamismo da vida moderna.
SENSACIONISMO – considera a sensação como base de toda a arte.
O ESTILO DE FERNANDO
PESSOA
características temáticas
A dor de pensar
Nostalgia da infância
A fragmentação do “eu” – o tédio existencial
Fingimento artistico/poético –
anti-sentimentalismo/intelectualização da emoção
Identidade perdida
Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço,
desespero, frustração, nostalgia
Inquietação metafísica, dor de viver
Auto-análise.
Inquietação perante o enigma inecifrável do mundo
O sebastianismo
A DOR DE PENSAR
Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar.
Gostava de ter a inconsciência das coisas ou dos seres comuns (como uma
pobre ceifeira ou como o gato que brinca na rua, cumprindo apenas as leis
do instinto).
Assim, o “eu” poético tanto aceita a consciência como sente uma verdadeira
dor de pensar, que traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do
pensamento.
Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de
ter uma consciência inconsciente. Mas ao pensar sobre o pensamento,
percebe o vazio que não permite conciliar a consciência e a inconsciência.
Esta dor de pensar persegue-se desde sempre, manifestando-se em vários
poemas. Como tal, são frequentes as tensões ou dicotomias que espelham a
sua complexidade interior:
BINÓMIOS/DICOTOMIAS
sinceridade/fingimento
O poeta questiona-se sobre a sinceridade poética e conclui que “fingir é
conhecer-se”, daí a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se
identifica com a própria criação poética.
No poema “Autopsicografia” definem-se claramente os lugares da
inteligência e do coração (sentimento) na criação artística.
- Intelectualização do sentir = fingimento poético, a única forma de
criação artística (autopsicografia, isto) e uso da ironia para colocar a própria
sinceridade em causa
- Mentira: linguagem ideal da alma, pois usamos as palavras para
traduzir emoções e pensamentos (incomunicável)
sentir/pensar e consciência/inconsciência
Pessoa ortónimo tenta encontrar um ponto equilíbrio mas não consegue
(aumento da autoconsciência humana)
Em “Ela canta pobre ceifeira”, o poeta vive intensamente estas dicotomias:
deseja ser a ceifeira que canta inconscientemente e simultaneamente “a
consciência disso!” – FRAGMENTAÇÃO DO EU
Em “Gato que brincas na rua”, o poeta reforça a ideia da felicidade de não
pensar e a dor do sujeito poético devido à incapacidade de racionalização do
animal.
A luta incessante entre várias dialéticas origina a dor de pensar e a angústia
existencial que tão bem caraterizam este poema que é “um mar sargaço”
(“Tudo o que faço ou medito”), pois, quando quer, “quer o infinito”, “Fazendo
nada é verdade”.
Obsessão da análise, extrema lucidez, a dor de pensar (ceifeira)
Solidão interior, angústia existencial, melancolia.
Inquietação perante o enigma indecifrável do mundo.
Nega o que as suas percepções lhe transmitem - recusa o mundo sensível,
privilegiando o mundo inteligível.
Fragmentação do eu, perda de identidade – sou muitos e não sou ninguém
interseccionismo entre o material e o sonho; a realidade e a idealidade;
realidades psíquicas e físicas; interiores e exteriores; sonhos e paisagens
reais; espiritual e material; tempos e espaços; horizontalidade e
verticalidade.
NOSTALGIA DA INFÂNCIA
Ele, que foi “criança contente de nada” e que em adolescente aspirou a tudo,
experimenta agora a desagregação do tempo e de tudo. Um profundo
desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da
passagem dos dias.
Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam,
sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.
Desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e
da passagem dos dias
FRAGMENTAÇÃO DO “EU”
Fernando Pessoa deseja «Ser outro constantemente» revelando o «eu»
fragmentado e demonstrando o drama de personalidade que o leva à
dispersão do real e de si mesmo. O poeta adquire uma grande capacidade de
despersonalização, «Quantos sou?», permitindo-‐lhe a heteronímia criar
diferentes personalidades, o que lhe possibilita exprimir estados de alma e
consciência distintos. É esta despersonalização que o faz um ser plural,
procurando a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir, para
expressar melhor a apreensão da vida, do Ser e do mundo, de modo a
«sentir tudo de todas as maneiras». «Por a alma não ter raízes», Pessoa
pretende «Viajar!» no seu próprio ser, submetendo-‐se ao processo de
outração, de modo a experienciar todas as possibilidades do «eu» e a atingir
o mundo inteligível que «É em nós que é tudo». Em suma, Pessoa, indivíduo
singular, apresenta-‐se «múltiplo» querendo exprimir o todo e abarcar a
totalidade. É a fragmentação que lhe permite, então, ser «variamente outro»
e alcançar a unidade.
O poeta é múltiplo: dentro dele encerram-se vários “eus” e ele não se
consegue encontrar nem definir em nenhum deles, é incapaz de se
reconhecer a si próprio – é um observador de si próprio. Sofre a vida
sendo incapaz de a viver.
O FINGIMENTO POÉTICO
A poesia de Fernando Pessoa Ortónimo aborda temas como o cepticismo e o idealismo, a dor de pensar, a obsessão da análise da lucidez, o eu fragmentário, a melancolia, o tédio, a angústia existencial , a inquietação perante o enigma indecifrável do mundo, a nostalgia do mundo maravilhoso da infância.
O Fingimento poético é inerente a toda a composição poética do Ortónimo e surge como uma nova concepção de arte.
O Ortónimo conclui que o poeta é um fingidor : “ finge tão completamente / que chega a pensar se é dor/ a dor que deveras sente/”, bem como um racionalizador de sentimentos.
A expressão dos sentimentos e sensações intelectualizadas são fruto de uma construção mental, a imaginação impera nesta fase de fingimento poético. O pensamento e a sensibilidade são conceitos fundamentais na ortonímia, o poeta brinca intelectualmente com as emoções, levando-as ao nível da arte poética.
O poema resulta ,então ,de algo intelectualizado e pensado.
O fingimento está ,pois, em toda arte de Pessoa. O Saudosismo que se encontra na obra de Pessoa não é mais do que “vivências de estados imaginários” : “ Eu simplesmente sinto/ com a imaginação/ não uso o coração”.
POEMAS
- “Meu coração é um pórtico partido”
- fragmentação do “eu”
- “Hora Absurda”
- fragmentação do “eu”
- interseccionismo
- “Chuva Oblíqua”
- fragmentação do “eu”: o sujeito poético revela-se duplo, na busca de sensações que lhe permitem antever a felicidade ansiada, mas inacessível.
- interseccionismo impressionista: recria vivências que se interseccionam com outras que, por sua vez, dão origem a novas combinações de realidade/idealidade.
- “Autopsicografia”
- dialéctica entre o eu do escritor e o eu poético, personalidade fictícia e criadora.
- criação de 1 personalidade livre nos seus sentidos e emoções <> sinceridade de sentimentos
- o poeta codifica o poema q o receptor descodifica à sua maneira, sem necessidade de encontrar a pessoa real do escritor
- o acto poético apenas comunica 1 dor fingida, pois a dor real continua no sujeito que tenta 1 representação.
- os leitores tendem a considerar uma dor que não é sua, mas que apreendem de acordo com a sua experiência de dor.
- A dor surge em 3 níveis: a dor real, a dor fingida e a “dor lida”
características estilísticas
• A simplicidade formal; rimas externas e internas; redondilha maior (gosto pelo popular) que dá uma ideia de simplicidade e espontaneidade
• Grande sensibilidade musical:
- eufonia – harmonia de sons
- aliterações, encavalgamentos, transportes, rimas, ritmo
- verso geralmente curto (2 a 7 sílabas)
- predomínio da quadra e da quintilha
• Adjectivação expressiva
• Economia de meios:
- Linguagem sóbria e nobre – equilíbrio clássico
• Pontuação emotiva
• Uso frequente de frases nominais
• Associações inesperadas [por vezes desvios sintácticos – enálage (“Pobre velha música”)]
• Comparações, metáforas originais, oxímoros
• Uso de símbolos
• Reaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio, mar...)
FIGURAS DE ESTILO
. Adjectivação – utilização de quantificadores para atribuir qualidades a substantivos: Ela canta pobre ceifeira – “pobre”; “feliz”; “anónima”; “alegre”
. Aliteração – repetição se sons consonânticos de várias: Isto – “Eu simplesmente sinto/Com a imaginação/Não uso o coração; Ela canta pobre ceifeira – “limpo” e “limiar”
. Anáfora – Repetição de uma ou mais palavras no início de verso ou de período
. Antítese – ou contraste, consiste na oposição de duas palavras, expressões ou ideias antagónicas, para reforçar a mensagem: Isto – antítese: sentimento (coração) – pensamento (razão); Ela canta pobre ceifeira – “pobre ceifeira/julgando-se feliz”
. Apóstrofe – ou invocação consiste na nomeação apelativa de chamar ou invocar pessoas ausentes, coisas ou ideias: Ela canta pobre ceifeira – “Ó Céu! Ó campo! Ó canção!...”
. Assonância – sons vocálicos
. Comparação – consiste na aproximação entre dois termos ou expressões, através do elemento linguístico comparativo, proporcionando o destaque do primeiro elemento ou termo: Ela canta pobre ceifeira – entre o canto da ceifeira e o canto de ave
. Gradação – consiste na apresentação de vários elementos segundo uma ordenação, que pode ser ascendente ou descendente: O menino de sua mãe – “Jaz morto, e arrefece/Jaz morto, e apodrece”
. Hipálage – consiste na transferência de uma impressão causada por um ser para outro ser, ao qual logicamente não pertence, mas que se encontra relacionado com o primeiro: O menino de sua mãe – “No plaino abandonado”
. Hipérbato – consiste na separação de palavras que pertencem ao mesmo segmento por outras palavras não pertencentes a este lugar: Autopsicografia – última estrofe
. Metáfora – consiste em igualar ou aproximar dois termos que pertencem à mesma categoria sintáctica mas cujos traços se excluem mutuamente: Autopsicografia – “Gira, a entreter a razão/Esse comboio de corda”; Ela canta, pobre ceifeira – “E há curvas no enredo suave”
. Oxímoro – consiste em relacionar dois termos metafóricos perfeitamente antonímicos: Tudo que faço ou medito – “Não o sei e sei-o bem”
. Perífrase – consiste em utilizar uma expressão composta por vários elementos em vez do emprego de um só termo: Autopsicografia – “Os que lêem o que escreve”
. Personificação – consiste em atribuir propriedades humanas a seres inanimados ou irracionais: Ela canta pobre ceifeira – “…tornai/Minha alma vossa sombra leve!”
. Pleonasmo – Repetição de uma ideia já expressa; a repetição do mesmo significado por dois significantes diferentes na mesma expressão: Ela canta pobre ceifeira – “Entrai por mim dentro!”
. Quiasmo – repetição simétrica do mesmo tipo de construção simples.
. Sinestesia – consiste na mistura de dados sensoriais que pertencem a sentidos diferentes. Deste facto pode resultar uma expressividade muito original e inesperada: Ela canta pobre ceifeira – “A tua incerta voz ondeando”
“Tirar Inês ao mundo determina.” (Camões)
Anástrofe – Inversão da ordem directa das palavras.
É brando o Sol e brando o céu.” (Fernando Pessoa)
Eufemismo – suavizar /-/ disfemismo – exagerar de forma violenta
Hipérbole – exagero da realidade
Paradoxo – Um mesmo elemento produz efeitos opostos.
Que saudade, gosto amargo.”
ESTRUTURA INTERNA E EXTERNA
A estrutura interna refere-se à mensagem, a temática e ao tema da composição poética.
A estrutura externa refere-se à composição (número de estrofes e de versos), métrica (número de sílabas métricas) e rima (esquema rimático).
Neste poema, a estrutura externa pode ser explicada da seguinte forma: estamos perante um poema de versificação tradicional (feita através de quadras) regular. É composto por três quadras, rimadas com rima cruzada cujo esquema rimático é abab e em versos de redondilha maior (7 sílabas métricas).
POEMAS
dor de pensar
Ó sino da minha aldeia
Sino é símbolo da passagem do tempo (dolorosa); pouca expectativa em relação ao futuro; inconformismo, procura constante do eu; tempo dividido em fragmentos (o passado não existe, já passou e nele eu não fui capaz de sentir, de ser feliz na altura); solidão ansiedade, nostalgia da infância; musicalidade – aliteração.
No entardecer da terra
1o momento em que o poeta descreve o que vê; 2º momento em que faz a passagem para o seu interior; análise ao seu interior: frustração em relação ao passado (os sonhos não se concretizaram), incapacidade de viver de acordo com o momento – só posteriormente se apercebe que esse momento
não foi verdadeiramente vivido (não se sente feliz, realizado em nenhum momento), tristeza, angústia, solidão.
fragmentação do eu
Não sei quantas almas tenho
O poeta confessa a sua desfragmentação em múltiplos “eus”, revelando a sua dor de pensar, porque esta divisão provém do facto de ele intelectualizar as emoções; a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si mesmo (não reconhece aquilo que escreveu); metáfora da vida como um livro: lê a sua própria história (despersonalização, distancia-se para se ver).
Chuva Oblíqua
- Poema que costuma ser apresentado como exemplo de interseccionismo, embora nele se denuncie nitidamente o Sensacionismo, que Álvaro de Campos imortalizará nas sua odes. Trata-se de um poema em verso livre, com seis partes de tamanho, estrutura e forma muito irregular.
- Fragmentação do “eu”: o sujeito poético revela-se duplo, na busca de sensações que lhe permitem antever a felicidade ansiada, mas inacessível.
- Interseccionismo impressionista: recria vivências que se interseccionam com outras que, por sua vez, dão origem a novas combinações de realidade/idealidade.
Hora Absurda
sonho/realidade
Entre o sono e o sonho
- símbolo do rio: divisão, separação, fluir da vida – percurso da vida; é a imagem permanente da divisão e evidencia a incapacidade de alterar essa situação (o rio corre sem fim – efemeridade da vida); no presente, tal como
no passado e no futuro (fatalidade), o eu está condenado à divisão porque condenado ao pensamento (se fosse inconsciente não pensava e por isso não havia possibilidade de haver divisão); tristeza, angústia por não poder fazer nada em relação à divisão que há dentro de si; metáfora da casa como a vida: o seu eu é uma casa com várias divisões – fragmentação.
Não sei se é sonho, se realidade
- exprime um tensão entre o apelo do sonho (caracterizado pela tranquilidade, sossego, serenidade e afastamento) e o peso da realidade; a realidade fica sempre aquém do sonho e mesmo no sonho o mal permanece – frustração; conclui que a felicidade, a cura da dor de viver, de pensar, não se encontra no exterior mas no interior de cada um.
Viajar, perder países! (Poema-síntese)
- “ser outro constantemente” – multiplicidade, diversidade do eu
- procura de emoções – ideia de viagem
- “De viver somente” – incapacidade de permanecer no sentir
- “Não pertencer a mim!” – despersonalização, angústia da separação entre o sonho e a realidade
- “A ausência de ter um fim” – consciência da efemeridade da vida
- No último verso: contraste sonho/realidade – a realidade é ultrapassada através da criação
- Quadras; redondilha maior; rima cruzada; musicalidade (aliterações; repetições; anáfora); transporte
nostalgia de infância
(“Quando as crianças brincam”/”Menino da sua mãe”/”Não sei, ama, onde era”)
INCAPACIDADE DE SER – NÃO SEI QUANTAS ALMAS TENHO
A NOITE – A MULHER – O MAR