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Gragoatá Niterói, n. 23, p. 189-203, 2. sem. 2007 Recebido 18, jul. 2007/Aprovado 27, set. 2007 Resumo Este texto tem como objetivo observar, no prefácio- manifesto de Ferréz, “Terrorismo literário”, como a literatura marginal, articulada a um forte sen- tido de pertença de quem escreve a partir de uma determinada posição, o morador da periferia e da favela da grande cidade brasileira, inventa um novo estatuto da literatura bem como estabelece uma maneira singular, de natureza étnica e polí- tica, de lidar com a tradição literária. Palavras-chave: Literatura marginal. Tradição. Identidade. Pertença. A literatura marginal e a tradição da literatura: o prefácio-manifesto de Ferréz, “Terrorismo Literário” Luciano Barbosa Justino

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  • Gragoat Niteri, n. 23, p. 189-203, 2. sem. 2007

    Recebido 18, jul. 2007/Aprovado 27, set. 2007

    ResumoEste texto tem como objetivo observar, no prefcio-manifesto de Ferrz, Terrorismo literrio, como a literatura marginal, articulada a um forte sen-tido de pertena de quem escreve a partir de uma determinada posio, o morador da periferia e da favela da grande cidade brasileira, inventa um novo estatuto da literatura bem como estabelece uma maneira singular, de natureza tnica e pol-tica, de lidar com a tradio literria.

    Palavras-chave: Literatura marginal. Tradio. Identidade. Pertena.

    A literatura marginal e a tradio da literatura: o prefcio-manifesto de Ferrz, Terrorismo Literrio

    Luciano Barbosa Justino

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    Inserida no debate sobre o ps-modernismo, a literatura tem sido pressionada a rever alguns de seus fundamentos. Tanto questes imanentes, como o debate sobre os gneros literrios como gneros do discurso, sobre as formas da poesia nos meios eletrnicos e sobre os novos estatutos semiticos do romance contemporneo, por exemplo, quanto questes que dizem res-peito ao campo literrio como espao de saber social e a respeito de suas relaes com as formas hegemnicas do poder poltico e com as elites intelectuais e econmicas esto postas na mesa.

    a ascenso dos estudos culturais dentro dos estudos li-terrios criou uma expanso que vem acompanhada de uma profunda crise. Tal ambigidade, dor e delcia dos profissionais da literatura, tem gerado duas espcies de pesquisadores: de um lado, os que no se interessam pelas propriedades imanentes do texto, objetivam apreender os contedos mais pelas verdades ou pelas configuraes ideolgicas que enunciam do que por sua configurao esttica e no raro do a sensao de que as obras literrias acabam sempre por dizer a mesma coisa, aquela procurada pelo pesquisador; por outro, uma defesa apaixonada, quando no intolerante, da literatura como espao do saber dife-renciado, acima e alm da contingncia histrica. Harold Bloom (1995, p. 25-49), representante quase caricato desta segunda ten-dncia, chamou os culturalistas de escola do ressentimento. Os mais acalorados questionam at a pertinncia e a existncia da literatura nas prximas dcadas e, na esteira de Michel Foucault (2001, p. 137-174), dizem que a literatura no tem mais que dois sculos de existncia efetiva e coincide com a sociedade burguesa moderna etc. outros levantam suas armas para enunciar que a literatura imorrvel; no difcil encontrar em nossa poca estes novos quaresmas que j no defendem as razes nacionais, como o heri de Lima Barreto, mas a literatura por si mesma.

    Enfim, na tenso entre os estudos culturais e os estudos de potica que quero situar o problema da tradio da literatura na contemporaneidade na medida em que um dilogo fecundo entre culturalistas e tericos da literatura parece ainda no ter se dado de forma a produzir uma releitura verdadeiramente crtica da tradio literria. As duas faces da moeda ora osci-lam entre a negao pura e simples dos grandes autores, em busca da literatura de gays, mulheres, ndios, negros etc., ora torcem o nariz para as aberturas, sobretudo naquilo que pode ser chamado de uma poltica literria, em defesa da tradio como espao do sagrado.

    Com o intuito de evitar o erro dos binarismos excessivos e infrutferos, que acabam dizendo mais sobre os atores da contenda do que sobre o prprio objeto de anlise e de disputa, e notando a necessidade de articular os estudos de potica aos estudos culturais naquilo que eles tm de mais fecundo, parto da hiptese terico-metodolgica de que os estudos literrios

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    no Brasil no podem dissociar-se do debate sobre a identidade nacional e sobre suas rupturas e novas configuraes. Antonio Candido, em um texto bastante conhecido e citado, chegou a dizer que diferentemente do que sucede em outros pases, a literatura tem sido aqui, mais do que a filosofia e as cincias humanas, o fenmeno central da vida do esprito (CANDIDO, 2000, p. 119). De outra perspectiva, Fabio Lucas sugeriu algo anlogo: os sinais da identidade gravam-se na sua expresso mais intensiva e duradoura que a literatura (LUCAS, 2002, p. 28). Lcia Helena (2000), se referindo obra de Jos de Alencar, chamou-a de pedagogia da vontade de ser nao:

    Uma pedagogia da vontade de ser nao em que, ao contrrio de vtimas sacrificiais, constroem personagens suficientes e necessariamente rasas para que possam carregar, sem dese-quilbrio maior uma instabilidade fundadora: personagens nos quais e atravs dos quais se pode recordar e esquecer, enquanto formas libertadoras de identificao nacional, a memria da Histria, para reconstru-la na fbula de um texto cuja vocao fundamental parecer que re-inaugura, no tempo imemorial da lenda, a comunidade imaginada possvel para uma sociedade contraditria e no-harmnica, no orgnica, no liberal. (HELENA, 2000, p. 90)

    Embora no se possa mais dizer, em tempos de audioviso, que a literatura o fenmeno central da vida do esprito, a tra-dio literria brasileira est umbilicalmente ligada identidade nacional como construda pelo Estado-nao e o questionamento da tradio empreendido pelos culturalistas se deve sobretudo s novas demandas de identidade no totalizadoras, de base t-nica, de classe, sexualidade e regio. Se a identidade construda pelo Estado-nao monopolista e monolgica, s uma visada plural, um esfacelamento positivo desta identidade, ser capaz de dar conta das mltiplas facetas do nacional. Esta hiptese me parece fundamental para que se consiga observar a pluralidade da produo literria contempornea no Brasil luz da leitura da tradio, visto ser ela capaz de ajudar na compreenso tanto destas novas demandas que se efetivam sob a forma da escrita quanto da necessidade de discutir uma tradio coletiva que no pode ser descartada pura e simplesmente como se fosse coisa de um passado morto e que no nos pertence. os novos estatutos da literatura reenviam para uma nova construo de memria coletiva a partir de novos agentes, novas tradies, e a necessidade de outro olhar sobre as velhas.

    Para situar minha posio quanto necessidade de releitu-ra da tradio, tomo como texto norteador o prefcio-manifesto de Ferrz ao livro que rene autores da periferia das grandes cidades brasileiras, intitulado Terrorismo literrio (FERRZ, 2005, p. 9-14). Terrosismo literrio coloca de maneira contundente a relao entre um lugar de pertena, a favela e a perifa, e a

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    posio de quem escreve quanto ao pblico consumidor da lite-ratura e a desigualdade na distribuio dos bens culturais e na sua hierarquizao. Neste sentido, na medida em que reconfigura a prpria noo de literatura e suas prticas, o texto de Ferrz, contm um posicionamento sobre a tradio literria.

    ao contrrio do bandeirante que avanou com as mos sujas de sangue sobre nosso territrio e arrancou a f verdadeira, doutrinando nossos antepassados ndios, e ao contrrio dos senhores das casas-grandes que escravizaram nossos irmos africanos e tentaram dominar e apagar toda a cultura de um povo massacrado mas no derrotado. Uma coisa certa, quei-maram nossos documentos, mentiram sobre nossa histria, mataram nossos ancestrais. outra coisa tambm certa: men-tiro no futuro, escondero e queimaro tudo o que prove que um dia a periferia fez arte. [...] Mas estamos na rea, e j somos vrios, e estamos lutando pelo espao para que no futuro os autores do gueto sejam tambm lembrados e eternizados. Neste primeiro ato, mostramos as vrias faces da caneta que se manifesta na favela, pra representar o grito do verdadeiro povo brasileiro. (FERRZ, 2005, p. 8)

    Quero crer que s uma abordagem que leve em conta tanto as novas demandas de tradio que o Prefcio-manifesto prope de modo contundente, sobretudo no que diz respeito posio do escritor em relao a sua memria coletiva, bem como a sua escrita e a seu pblico, quanto as conquistas da teoria literria e da potica, enquanto cincia da literatura, pode lanar novas luzes sobre a tradio da literatura no Brasil e seus relaes com os diversos grupos que compem a nao e hoje tm a literatura como objeto de disputa. Para minimizar os riscos do conteudis-mo e a improdutividade dos estudos literrios puros encanta-dos com a obra-prima, preciso unir a cultura s propriedades semiticas da literatura.

    Se um princpio elementar da histria das invenes humanas que todo novo meio lana nova luz sobre o anterior, este ensaio tenta observar como o prefcio-manifesto dialoga, rompe e sustm a tradio da literatura no mesmo ato em que se prope arromb-la. Neste sentido, a Literatura marginal inventa um outro consumo que uma outra produtividade da tradio (Cf. CERTEAU, 1994), bem como de seus pressu-postos de elaborao, arquivamento e circulao, o que ajuda a compreender as polmicas contemporneas em torno dos novos estatutos do texto literrio no chamado ps-modernismo.

    O prprio percurso que o projeto da Literatura marginal perfaz, organizado e compilado por Ferrz, que vai da escrita na comunidade, passando por uma revista de circulao na-cional com fortes conotaes contra-hegemnica, como Caros Amigos, at se transformar em um livro publicado por uma grande editora, aferidor de que a questo que se coloca aqui no exclusivamente literria e/ou esttica. Qualquer critrio

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    de valorao da obra situado no plano estritamente literrio ou esttico no poder apreender o valor que o projeto da Literatura marginal atribui a si mesmo. Contudo, um percurso analtico que descarte pelo menos dois sculos de potica literria e pesquisas em literatura ser puro diletantismo empobrecedor.

    Assim, parece evidente que o Prefcio-manifesto de Ferrz negocia uma cidadania cultural pela literatura, com implicaes no exclusivamente culturais ou literrias, mas de natureza po-ltica e social e que exigem uma definio alargada de cultura e da literatura dentro dela. Marilena Chau prope quatro pers-pectivas para a definio de cidadania cultural que ajudam na compreenso das demandas abertas por Terrorismo literrio:

    1) Uma definio alargada da cultura, que no a identifi-casse com as belas artes, mas a apanhasse em seu miolo antropolgico de elaborao coletiva e socialmente di-ferenciada de smbolos, valores, idias, objetos, prticas e comportamentos pelos quais uma sociedade interna-mente dividida, e sob hegemonia de uma classe social, define para si mesma as relaes com o espao, o tempo, a natureza e os humanos;

    2) uma definio poltica da cultura pelo prisma democr-tico e, portanto, como direito de todos os cidados, sem privilgios e sem excluses;

    3) uma definio conceitual da cultura como trabalho da criao: trabalho da sensibilidade, da imaginao e da inteligncia na criao das obras de arte; trabalho de reflexo, da memria e da crtica na criao de obras de pensamento. Trabalho no sentido dialtico de negao das condies e dos significados imediatos da experincia por meio de prticas e descobertas de novas significaes e da abertura do tempo para o novo, cuja primeira expresso a obra de arte ou a obra de pensamento enraizadas na mudana do que est dado e cristalizado;

    4) uma definio dos sujeitos sociais como sujeitos histri-cos, articulando o trabalho cultural e o trabalho da me-mria social, particularmente como combate memria social una, indivisa, linear e contnua, e como afirmao das contradies, das lutas e dos conflitos que constituem a histria de uma sociedade. (CHAU, 2006, p. 72)

    A cidadania cultural em seus quatro eixos antropolgico, poltico, conceitual e histrico-social consiste num debate a respeito do prprio valor literatura bem como numa redefi-nio de seus agentes de construo de hegemonia. a noo de tradio literria precisa ser ampliada para abarcar um objeto agora em franca expanso disseminadora, o que significa um

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    objeto capaz de inventar novas tradies e de propor uma re-inveno de antigas.

    Se toda tradio em certo sentido inventada, como suge-riu Eric Hobsbawm (1997, p. 9), a nossa relao com os clssicos precisa ser problematizada, eles devem voltar a causar em ns um estranhamento produtivo, que tanto permite desencobrir seus substratos profundos, ideolgicos, de classe, tnicos, de valor etc., e ao mesmo tempo seja capaz de alarg-los para dar conta da diversidade, das contradies, das lutas e dos conflitos que constituem a histria de uma sociedade e que fundamenta a apreenso de trabalho criativo humano, alm de questionar critrios de hierarquizao e valor cultural. Uma releitura da tradio no Brasil tem que substituir o singular pelo plural, pois num pas multitnico e intercultural s possvel falar de tra-dies, aquelas includas e subalternizadas na prpria tradio hegemnica, o passado dos vencedores, para lembrar Walter Benjamin, e aquelas soterradas, as tradies-tabus, a cultura de um povo massacrado mas no derrotado, nas palavras de Ferrz.

    Neste sentido, melhor que descartar o cnone, um outro nome para a tradio hegemnica, nacional e internacional, l-lo sob novo ngulo, procurando outras coisas, buscando en-contrar aquilo que ele no quis conter e representar. Este um sentido forte de reler. E encontrar este vazio, este relampejar dos mortos em tempo de perigo iminente (Cf. BENJAMIN, 1994). Pensar na tradio como um espao saturado, inclusive por uma falta que se insinua e toma corpo.

    Das expanses da memria

    A expanso da literatura brasileira contempornea se situa, grosso modo, em dois grandes eixos: um para dentro da literatura (verticalizao) e outro para fora (horizontalizao). o primeiro aponta para o patrimnio da literatura depois de, no mnimo, dois sculos de dominncia da escrita e do livro no ocidente, em que ela se transformou no paradigma esttico ide-ologicamente dominante (JAMESON, 1996, p. 92), a expresso cultural de maior tradio no ocidente. O outro eixo diz respeito ao papel da literatura na prpria sociedade enquanto discurso construtor de uma identidade coletiva e de sentidos de pertena, bem como, no caso do Manifesto-prefcio de Ferrz, a crtica a esta mesma identidade.

    As duas disseminaes so fruto do tumultuado e fecundo processo que vai dos primeiros posicionamentos do marginal ro-mntico at a fundao moderna da potica por Roman Jakobson e seu grupo de cientistas-poetas. Um campo tornado autnomo, com seus agentes de circulao, escritores famosos, livreiros e livrarias, leitores fiis e combativos, pesquisadores da arte e da esttica, se dissemina a tal ponto que a prpria literatura passa

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    a ser, em certo momento e sob certo aspecto, o inimigo nmero um de si mesma, as relaes entre o texto literrio e a poesia sonora demonstram cabalmente isto. A busca, fundamental na poesia sonora, de estgios pr-fonticos e ps-verbais aliados alta tecnologia de som e a experimentos de vanguarda do teatro e da msica concreta demonstram que o caminho percorrido pela literatura se adensa de tal forma que a noo de escrita literria passou a ser questionada dentro da prpria literatura. Os experimentos da poesia concreta e visual embaralham e refundam os conceitos do que seja sonoro, visual, verbal, bem como, o que parece mais importante, as relaes indissociveis que mantm entre si. O que dizer das complexas teias que a narrativa contempornea constri exigindo um leitor altamente aparelhado, conhecedor das formas de narrar da modernidade e de seus textos fundadores, como a Clarice Lispector de gua viva e o Osman Lins do belssimo Avalovara e sua tenso constante com a tradio da literatura?

    Do outro lado da mesma moeda, a democratizao rela-tiva do acesso escrita, ao ensino mdio e Universidade no Brasil a partir da abertura poltica, meados dos anos 80, satura a homogeneidade do valor literrio e a idia de canonicidade se abre para um relativismo no mnimo multiplicador e de vrias faces. O campo unificado e construdo primeiramente por um patriarcado rural e posteriormente por uma burguesia urbana toma a forma de um caleidoscpio no de estilos ou de expe-rimentos, mas sobretudo de grupos sociais pressionando de diversos modos e posies a escritura literria: favelados, gays, ndios, mulheres pescadoras, rapers, operrios, desempregados, camponeses.

    Lugar por excelncia das tradies modernas, a literatura um discurso constituinte e implica um valor-literatura. Para Dominique Maingueneau (2006, p. 60-64) discursos constituintes so discursos que se propem como discursos de origem, va-lidados por uma cena de enunciao que autoriza a si mesma e precisam elaborar um dispositivo em que a atividade enun-ciativa integre um modo de dizer, um modo de circulao de enunciados e um certo tipo de relacionamento entre os homens. Sobre o valor-literatura, Pascale Casanova, em A repblica mun-dial das letras (2002), argumenta que

    Valry acha possvel a anlise de um valor especfico que s teria cotao nesse grande mercado dos negcios humanos, avalivel segundo normas prprias do universo cultural, sem medida comum com a economia econmica, mas cujo reconhecimento seria indcio certo da existncia de um espao, jamais denominado como tal, universo intelectual, onde se organizariam intercmbios especficos. A economia literria seria, portanto, abrigada por um mercado, para retomar os termos de Valry, isto , um espao onde circularia e se per-

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    mutaria o nico valor reconhecido por todos os participantes: o valor literrio. (CASANOVA, 2002, p. 28)

    E Antoine Compagnon, em um captulo de ttulo sugestivo, Que fim levou nossos amores?:

    Identificar a literatura com o valor literrio (os grandes escri-tores) , ao mesmo tempo, negar (de fato e de direito) o valor do resto dos romances, dramas e poemas, e, de modo mais geral, de outros gneros de verso e prosa. Todo julgamento de valor repousa num atestado de excluso. Dizer que um texto literrio subentende sempre que um outro no . O es-treitamento institucional da literatura no sculo XIX ignora que, para aquele que l, o que ele l sempre literatura, seja Proust ou uma fotonovela, e negligencia a complexidade dos nveis de literatura (como h nveis de lngua) numa sociedade. (2001, p. 33)

    Pierre Bourdieu, que nos ajudou a observar a literatura a partir de uma outra dimenso, afirma que

    As categorias utilizadas para perceber e apreciar a obra de arte esto duplamente ligadas ao contexto histrico: associadas a um universo social situado e datado, elas so objeto de usos tambm eles marcados socialmente pela posio social dos utilizadores que envolvem, nas opes estticas por elas permi-tidas, as atitudes constitutivas de seus habitus. (2000, p. 293)

    O socilogo francs chama habitus a uma postura que tanto metafsica quanto prtica. Aplicada literatura e arte, permite demonstrar o quanto a prtica e o pensamento sobre a literatura esto imbudos de uma espcie de mito fundador e uma atitude perante a vida e a linguagem, ligados a certos papis sociais, lentamente construdos ao longo de dois sculos: a tradio literria e o cnone, que se funda numa autonomia e independncia, postulada quase total, entre os valores da lite-ratura e da arte e os valores da vida social.

    as categorias da percepo, ingenuamente consideradas como universais e eternas, que os amadores de arte de nossas so-ciedades aplicam obra de arte, so categorias histricas, das quais preciso reconstituir a filognese, pela histria social da inveno da disposio pura e da competncia artsticas, e a ontognese, pela anlise diferencial da aquisio dessa disposio e dessa competncia. (BOURDIEU, 2002, p. 348)

    Reconstituir a filognese do campo literrio pela histria social da inveno da disposio pura. A Literatura marginal excede e ao mesmo tempo no alcana, excede por no alcanar, pode-se dizer, o valor em literatura, e parece no ter isso muita importncia, visto o manifesto assinado por Ferrz ser intitula-do, no toa, Terrorismo literrio. O texto negocia de maneira to tensa e claramente desigual com o valor literatura, que a negociao assume a forma ambgua do ataque, terrorista, e da vontade de participar, de assumir para si o valor literrio.

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    A horizontalizao aponta para um outro uso da literatura. ao contrrio da busca pela obra singular e de ruptura esttica, fundamento do modernismo, o que estas escritas postulam ou-tra coisa. So textos fticos, enviam mensagens imediatamente para o interlocutor, que no flutua, assume uma identidade de relao, como opositor ou parceiro do mesmo: boa leitura, e muita paz se voc merec-la, seno, bem vinda guerra (FER-rZ, 2005, p. 13). Na medida em que Terrorismo literrio demarca com clareza um espao de pertena, a funo potica assume uma dimenso poltica imediata. tal dimenso, ao postular o resgate, a retirada do seqestro, de espaos coletivos de mem-ria e a construo de uma nova tradio que consiga dar conta do carter multidimensional da histria, no caso especfico da histria brasileira, conecta a literatura aos movimentos sociais, ou melhor, questiona o individualismo do gnio para edificar um passado coletivo cuja pluralidade proporcional s muitas demandas que carrega.

    Em outro lugar (JUSTINO, 2007, p. 13-28) me detive na fac-ticidade da Literatura marginal como um todo; por ora, quero me deter no Prefcio-manifesto de Ferrz, observando-o luz das trs caractersticas bsicas que Manuel Castells disse possuir todo movimento social:

    Creio que seja apropriado inclu-los [os movimentos sociais] em categorias nos termos da tipologia clssica de alain touraine, que define movimento social de acordo com trs princpios: a identidade do movimento, o adversrio do movimento e a viso ou modelo social do movimento, que aqui denomino meta societal. Em minha adaptao (que acredito estar coerente com a teoria de touraine), identidade refere-se autodefinio do movimento, sobre o que ele , e em nome de quem se pronun-cia. Adversrio refere-se ao principal inimigo do movimento, conforme expressamente declarado pelo prprio movimento. Meta societal refere-se viso do movimento sobre o tipo de ordem ou organizao social que almeja no horizonte histrico da ao coletiva que promove. (CASTELLS, 2001, p. 95)

    A identidade permite ao grupo se autodefinir e a autodefi-nio se d como construo de uma tradio coletiva que remete construo de um passado comum, neste caso um passado de excluso e diferena. Pode-se dizer que a idia de identida-de aqui condensa as duas temporalidades, do presente como conscincia de posicionamento e do tempo passado enquanto histria comum que d coeso ao grupo, aquilo que faz dele um movimento social. Sem a construo de uma identidade estrat-gica, a meta societal no pode ser formulada nem a delimitao do adversrio que a impede. assim, a construo da identidade nos movimentos sociais funciona como contra-hegemonia, pois implica na pluralizao da tradio congelada pela hegemonia da

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    histria dos vencedores. Ela arranca a tradio do conformismo (BENJAMIN, 1994, p. 224) e a obriga a sair da esfera do Um.

    Por hiptese, situo na posio que o escritor ocupa no apenas no campo literrio, mas na sociedade, ou melhor, na relao entre a escrita, seus gneros e suportes, e a posio de quem escreve, um caminho instigante para observar em que medida a tradio da literatura se mantm, enquanto valor no de todo insignificante, visto ser colocado a todo momento, e sofre um ataque demolidor, nico capaz de incluir os novos agentes e suas metas.

    Por outro lado, os movimentos sociais possuem um dina-mismo, inclusive em seus poderes dirigentes, que no pode ser aceito no mesmo grau por outras instituies, como a institui-o literria, a no ser a custa da relativizao de seus valores, de seus critrios e da autoridade de seus agentes de validao (DOWNING, 2002, p. 55). A interdependncia dialtica e no hierrquica que os movimentos sociais estabelecem entre a esfera da cultura e das relaes econmicas, entre a super e a infraestrutura, para falar como o marxismo clssico, a faz diferir quanto ao modo de produo, de circulao e de consumo dos seus equivalentes em literatura. Da que para avaliar a que se prope a Literatura marginal so necessrios novos parmetros de aferio, qui um novo mtodo de abordagem literria, para dar conta de uma escrita que nasce de um outro lugar e se prope algo um tanto diverso, pelo menos em seus aspectos mais importantes, do que comumente se chama de literatura. o critrio poltico, inclusive com reivindicaes prprias do direito alternativo, to importante quanto o critrio esttico e/ou literrio. Pode-se dizer (para espanto dos literatos) que a Literatura marginal, como proposta por Ferrz em parceria com a Revista Caros Amigos, se insere como ao democratizante ao monoplio do campo literrio e, sobretudo, como insero da literatura nos espaos abertos do direito alternativo e da cida-dania cultural, cujo objetivo maior a refundao da tradio em tradies mltiplas e democrticas.

    Seno vejamos, comparativamente, trechos do prefcio de Ferrz e de fragmentos da Elegia para o cnone (1995), de Harold Bloom, que podemos considerar um representante e um defensor apaixonado da tradio da literatura. Bloom, num quase manifesto, inserido num livro claramente anglocntrico, mas com momentos de brilhantes reflexes crticas sobre a literatura, afirma, dentre outras preciosidades, que

    A crtica cultural mais uma triste cincia social, mas a crtica literria, como uma arte, sempre foi e sempre ser um fenme-no elitista. Foi um erro acreditar que a crtica literria podia tornar-se uma base para a educao democrtica ou para a melhoria da sociedade.

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    O valor esttico pode ser reconhecido ou experimentado, mas no pode ser transmitido aos incapazes de apreender suas sensaes e percepes. Brigar por ele sempre um erro.

    Exorto uma obstinada resistncia, cuja nica meta preservar a poesia to plena e puramente quanto possvel.

    De Pndaro at hoje, o escritor que combate pela canonicida-de pode lutar por uma classe social, como fez Pndaro pelos aristocratas, mas basicamente todo escritor ambicioso luta por si mesmo, e muitas vezes trair ou esquecer sua classe para promover seus prprios interesses, que se centram inteira-mente na individuao. (grifo do autor)

    o movimento de dentro da tradio no pode ser ideolgico nem colocar-se a servio de quaisquer objetivos sociais, por mais moralmente admirveis que sejam. a gente s entra no cnone pela fora potica, que se constitui basicamente de um amlgama: domnio da linguagem figurativa, originalidade, poder cognitivo, conhecimento, dico exuberante.

    Ler a servio de qualquer ideologia , em minha opinio, no ler de modo algum. A recepo da fora esttica nos possibilita aprender a falar a ns mesmos e a suportar a ns mesmos. A verdadeira utilidade de Shakespeare ou Cervantes, de Homero ou Dante, de Chaucer ou Rabelais, aumentar nosso prprio eu crescente. (grifo do autor)

    Para cada Shelley ou Brecht h uma dezena de poetas ainda mais poderosos que gravitam naturalmente para o partido das classes dominantes em qualquer sociedade.

    Estamos destruindo todos os padres intelectuais e estti-cos nas humanidades e cincias sociais, em nome da justia social. Nossas instituies mostram m f no seguinte: no se impe quota alguma a neurocirurgies ou matemticos. O que foi desvalorizado foi o ensino enquanto tal, como se a erudio fosse irrelevante nos campos do julgamento e do erro de julgamento.

    Sem Shakespeare, no h cnone, porque sem Shakespeare no h eus reconhecveis em ns, quem quer que sejamos. Devemos a Shakespeare no apenas nossa representao da cognio, mas muito de nossa capacidade de cognio. (BLOOM, 1995, p. 25-49)

    Em Terrorismo literrio, l-se:Literatura de rua com sentido, sim, com um princpio, sim, e com um ideal, sim, trazer melhoras para o povo que constri esse pas, mas no recebe sua parte.

    Somos mais, somos aquele que faz a cultura, falem que no somos marginais, nos tirem o pouco que sobrou, at o nome, j no escolhemos o sobrenome, deixamos para os donos da casa-grande escolher por ns, deixamos eles marcarem nossas

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    peles, por que teramos espao para um movimento literrio? Sabe duma coisa, o mais louco que no precisamos de sua legitimao, porque no batemos na porta para algum abrir, ns arrombamos a porta e entramos.

    Estamos na rua loco, estamos na favela, no campo, no bar, nos viadutos, e somos marginais mas antes somos literatura, e isso vocs podem negar, podem fechar os olhos, virar as costas, mas, como j disse, continuaremos aqui, assim como o muro social invisvel que divide este pas.

    Jogando contra a massificao que domina e aliena cada vez mais os assim chamados por eles de excludos sociais e para nos certificar de que o povo da periferia/favela/gueto tenha sua colocao na histria, e que no fique mais quinhentos anos jogado no limbo cultural de um pas que tem nojo de sua prpria cultura, a literatura marginal se faz presente para representar a cultura de um povo, composto por minorias, mas em seu todo uma maioria.

    Mas estamos na rea, e j somos vrios, estamos lutando pelo espao para que no futuro os autores do gueto sejam tambm lembrados e eternizados, mostramos as vrias faces da caneta que se faz presente na favela, e pra representar o grito do ver-dadeiro povo brasileiro, nada mais que os autnticos.

    Hoje no somos uma literatura menor, nem nos deixamos taxar assim, somos uma literatura maior, feita por maiorias, numa linguagem maior, pois temos as razes e as mantemos.

    Cansei de ouvir:

    - Mas o que cs to fazendo separar a literatura, a do gueto e a do centro.

    E nunca cansarei de responder:

    - o barato j ta separado h muito tempo, s que do lado de c ningum deu um grito, ningum chegou com a nossa parte, foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado de l, e do c mal terminamos o ensino dito bsico.

    Boa leitura, e muita paz se voc merec-la, seno, bem-vindo guerra. (FERRZ, 2005, p. 9-13)

    A guerra literria, que tambm cultural e poltica, im-plcita em Bloom e explcita em Ferrz, torna patente o fosso que separa as duas vises, as duas prticas, as duas funes, enfim, as duas tradies da literatura que nada mais so que duas me-mrias coletivas diversas seno antagnicas. Terreorismo literrio esfacela o ngulo fechado do objeto literatura. Aos valores de individualidade, originalidade, universalidade, atemporalidade, implcitos nos argumentos de Bloom, Ferrz contrape um lu-gar, a favela, o gueto, a periferia. Ao valor esttico, pe em cena

  • A literatura marginal e a tradio da literatura: o prefcio-manifesto de Ferrz, Terrorismo Literrio

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    valores de natureza tnica, identitria, de emancipao. Uma tradio potica contraposta a uma tradio cotidiana em que a escrita assume todas as conotaes da oralidade. Terrorismo literrio quer entrar no cnone por uma outra espcie de fora que no a fora potica de Bloom.

    Se o ato terrorista a violncia produzida por meu opo-nente e por meu inimigo, sendo o terrorista sempre o outro que ameaa minha integridade, neste caso, ao contrrio do debate sobre o terrorismo nas relaes internacionais, o epteto de auto-atribuio: o terrorista no o outro, sou eu mesmo. Claro est que a singularidade de uma tal atitude se deve em parte aos riscos sociais menores, pelo menos a curto prazo, do terro-rismo na literatura do que na relaes internacionais. Contudo, a auto-atribuio tambm a demarcao de um espao social, diferente, para no dizer opositor, do espao da tradio literria e de sua funo poltica e de memria coletiva.

    Dominique Maingueneau usou o termo paratopia para designar o carter problemtico da posio do escritor em lite-ratura, uma negociao difcil entre o lugar e o no-lugar, uma localizao parasitria, que vive da prpria impossibilidade de se estabilizar (2001, p. 78), e que consiste na no estabilidade do escritor, que possui um lugar, mas no um territrio, uma estabilidade e uma segurana na ordem, pois sua no-estabilidade, seu no pertencimento a um espao claramente demarcado, condio sine que non para produzir obras primas. Se a literatura uma espcie de no-lugar, estando o escritor da grande literatura acima e alm de sua classe social, como sugere Bloom, no prefcio de Ferrz no se separam escrita e posio de quem escreve, pois em Terrorismo literrio justamente o territrio que permitiu a produo da obra; a obra no tem razo de ser se no posicionar ou demarcar o territrio: o gueto, a favela, a periferia. A marginalidade neste caso, a paratopia, no esttica, poltica e social. trata-se de uma outra modali-dade de paratopia. Porm, ao contrrio do lugar a que se refere Maingueneau, o campo propriamente literrio, o territrio aqui s fundante porque problemtico e no literrio. territrio de excluso, onde no h o que recordar, mas o que conquistar. A prpria recordao uma refundao.

    Na mesma medida em que demarca seu prprio espao de ao, o terrorista demarca seu inimigo: vocs. Os agentes do campo literrio? os leitores de literatura erudita? a classe dominante? Uma hegemonia cultural? A prpria literatura?

    H que se notar, por fim, a utopia de fundo, a meta so-cietal de que fala Castells. A auto-legitimao demolidora no apaga um apego quilo que se quer destruir ou arrombar, no se trata de uma negao pura e simples, mas de uma negao afirmativa, que reconhece o valor-literatura e a tradio literria. A violncia contra a tradio da literatura se d como projeto

  • Gragoat Luciano Barbosa Justino

    Niteri, n. 23, p. 189-203, 2. sem. 2007202

    de incluso nela. Em termos semiticos, a constante oscilao entre a linguagem de rua e a linguagem da literatura, entre a gria e os rituais da norma culta, demonstram cabalmente isto. H uma utopia do reconhecimento. Nas palavras de Zygmum Bauman,

    o reconhecimento de tal direito , isso sim, um convite para um dilogo no curso do qual os mritos e demritos da diferena em questo possam ser discutidos e (esperemos) acordados, e assim difere radicalmente do fundamentalismo universalis-ta que se recusa a reconhecer a pluralidade de formas que a humanidade possa assumir. (2002, p. 74)

    Terrorismo literrio transforma a literatura num espao de luta poltica contestatria em que sobressaem os interesses co-letivos e de pertena comunitria em tudo opostos aos valores literrios da personalidade, da autoria, da originalidade etc. a literatura se transforma numa arena em que diversos grupos situados em diferentes lugares da distribuio do patrimnio cultural e do direito literatura disputam tanto a manuteno de suas tradies quanto a reinveno da memria coletiva nacional e individual. Terrorismo literrio exige que a tradio reconhea a pluralidade de formas que a literatura contem-pornea configura.

    AbstractThis paper aims to investigate the Literacy ter-rorism in Ferrzs manifest-preface as the side literature related to a strong domain sense on the part of those who write from a certain position the slum dweller in a big brazilian city who creates a new literature rule and sets a particular style to deal with the literacy tradicion.

    Keywords: Tradition. Literacy terrorism. Identity.

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  • A literatura marginal e a tradio da literatura: o prefcio-manifesto de Ferrz, Terrorismo Literrio

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