FGV Economia Aplicada-Apostila

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Sumrio1. PROGRAMA DA DISCIPLINA 1.1 EMENTA DO CURSO 1.2 CARGA HORRIA DA DISCIPLINA 1.3 OBJETIVOS GERAIS 1.4 CONTEDO PROGRAMTICO 1.5 METODOLOGIA 1.6 CRITRIOS DE AVALIAO 1.7 BIBLIOGRAFIA ADOTADA E RECOMENDADA 1.8 SITES DE INTERESSE: CURRCULO RESUMIDO DO PROFESSOR 2. INTRODUO E MICROECONOMIA 2.1 ECONOMIA E MICROECONOMIA 2.1.1 O CASO DOS MERCADOS COMPETITIVOS 2.1.2 ELASTICIDADE E A CURVA DE DEMANDA 2.1.3 ESTRUTURAS DE MERCADO 3. MACROECONOMIA 1 1 1 1 2 2 2 3 3 4 5 5 5 16 18 25

3.1 O MERCADO DE BENS E SERVIOS: CRESCIMENTO E INFLAO 29 3.1.1 PIB: CONCEITO E FATORES DE CRESCIMENTO DA OFERTA AGREGADA 29 3.1.2 O CONCEITO DE VALOR AGREGADO 32 3.1.3 PIB E PNB 39 3.1.4 A DEMANDA AGREGADA EM UMA ECONOMIA COMPLETA (COM GOVERNO E RELAES COM O EXTERIOR) 43 3.1.5 O PIB E O CICLO DE NEGCIOS 47 3.2 FINANAS PBLICAS 51 3.2.1 DVIDA E DFICITS PBLICOS 51 3.3 O MACROMERCADO MONETRIO: A ATUAO DO BANCO CENTRAL E AS METAS DE INFLAO 55 3.3.1 O PROCESSO INFLACIONRIO 55 3.3.2 A OFERTA DE MOEDA E A DETERMINAO DA TAXA DE JUROS DE MERCADO 58 3.4 O MACROMERCADO DE CMBIO 66 3.4.1 REGIMES CAMBIAIS 66 3.4.2 AS CONTAS DO BALANO DE PAGAMENTOS 70 4. PEQUENO GLOSSRIO DE TERMOS ECONMICOS 5. TEXTOS DE APOIO 76 83

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1. Programa da Disciplina

1.1 Ementa do CursoNoes de Microeconomia: Custo de oportunidade, Assimetria da informao, Equilbrio de mercado, Estudos das elasticidades, Teoria dos jogos e Cartel . Macroeconomia, O mercado de bens e servios: PIB e PNB, o Balano de Pagamentos, o Fluxo Circular de Renda, poupana e investimento, crescimento e inflao. Meios de Pagamento, Polticas Macroeconmicas (Monetria, Fiscal, Cambial e Comercial) e Finanas Pblicas.

1.2 Carga Horria da DisciplinaPara esta disciplina tem-se destinada uma carga horria mnima de 24 horas/aula, para que haja um bom desenvolvimento das idias, conceitos e teorias econmicas que podem ser aplicadas ao bom gerenciamento das organizaes em todas as suas esferas.

1.3 Objetivos geraisCompreender os conceitos e processos econmicos mais relevantes e suas aplicaes dentro das organizaes. Identificar os aspectos microeconmicos e ao mesmo tempo concili-los com movimentos macroeconmicos que sejam de interesse para as empresas e interfiram em seu processo de gesto. Permitir evolues no posicionamento estratgico das empresas em antecipao s aes disseminadas nas polticas econmicas adotadas no mbito nacional e internacional. Compreender alternativas e a lgica subjacente conduo das polticas macroeconmicas. Proporcionar aos gestores uma viso econmica local e ao mesmo tempo global, de

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2 maneira que possam usufruir dos conhecimentos econmicos em suas atividades pessoais e profissionais.

1.4 Contedo ProgramticoMicroeconomia Oferta e demanda; O conceito de elasticidade; Estruturas de Mercados; Teoria dos jogos no Oligoplio. Determinao da renda como fluxo de valor; Os conceitos de PIB e PNB; Poupana, investimento e crescimento econmico e Inflao; O balano de pagamentos; Polticas Macroeconmicas; O papel do Banco Central: polticas de mercado; Polticas de estabilizao e as metas de inflao. Taxas de cmbio e regimes cambiais.

Macroeconomia: o fluxo circular de renda e o mercado de bens e servios. O mercado monetriofinanceiro O mercado cambial e fluxo de divisas

1.5 MetodologiaAulas expositivas com o foco em fornecer um conjunto de elementos que visam a discusso continuada de temas que envolvam a realidade econmica das empresas, do Brasil e demais componentes do mercado internacional. As atividades e discusses sero realizadas em pequenos grupos, com o intuito de analisar os fatos do passado, da atual e da futura conjuntura econmica que, de certa forma, contribuir positivamente na formulao das estratgias por parte dos alunos.

1.6 Critrios de AvaliaoProva discursiva envolvendo temas apresentados e amplamente debatidos durante todo o curso. Em algumas turmas, de acordo com apontamento do professor, a prova poder envolver questes relacionadas a algum estudo de caso que tenha relao direta com a vida econmica das organizaes. Existem casos em que parte da avaliao ser alternativa.

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1.7 Bibliografia Adotada e RecomendadaCASTRO, L. B. de (e outros). Economia Brasileira Contempornea. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2004. EQUIPE DE PROFESSORES DA USP. Manual de Introduo Economia. So Paulo: Saraiva, 1998. GONALVES, A.C.P. (org.) e outros. Economia Aplicada. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009. GREMAUDI, A. P. (e outros). Economia Brasileira Contempornea. So Paulo: Editora Atlas, 2002. MANKIW, G. N. Introduo Economia. So Paulo: Editora Campus, 2000. MOCHN, Francisco Morcillo. Introduo Economia. So Paulo: Editora Makron, 2002. OBTSFELD, N. e KRUGMAN, P. Economia Internacional: teoria e prtica. Editora Makron Books, 2000. PORTER, Michael E. Estratgia competitiva. Rio de Janeiro, Campus, 2005. SILVA, Csar R. L e LUIZ, Sinclair. Economia e Mercados. So Paulo: Saraiva, 2005. VASCONCELLOS, M. A. S. de. Economia: Micro e Macro. So Paulo: Ed. Atlas, 2002.

1.8 Sites de Interesse: Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br Banco Mundial: www.worldbank.org BNDESBanco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social:

www.bndes.gov.br Google Acadmico: www.scholar.google.com IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica: www.ibge.gov.br IPEA- Instituto Pesquisas Econmicas Aplicadas: www.ipeadata.gov.br Ministrio das Relaes Exteriores: www.mre.gov.br Ministrio do Desenvolvimento: www.desenvolvimento.gov.br SEADE- Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados: www.seade.gov.br Universo Jurdico: www.uj.com.br

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Currculo Resumido do ProfessorClaudio Augusto Garbi nascido na cidade de So Paulo, SP. Formado em Cincias Econmicas, pela Instituio Toledo de Ensino (ITE-Bauru), e tambm graduado em Administrao (CEUCLAR). Tornou-se especialista em Economia por escolas da USP-ESALQ e UFSCar. Estudou na Inglaterra e Estados Unidos, alm de ter conhecido 13 pases em diferentes continentes (frica, Amrica, Europa, Oriente Mdio e Oceania). mestre em Administrao pela Universidade So Francisco-USF, e desde ento, desenvolve estudos na rea de docncia e negcios na FGV, instituio esta que atua desde 2004 na graduao e em vrios cursos dos programas de ps-graduaes. Foi premiado pela FGV como destaque e melhor professor em Economia do FGV Management em 2009. coordenador de ps-graduao e vice-diretor acadmico da Faculdade de Agudos (FAAG), a qual coordena o MBA Internacional em Gesto Empresarial e de Pessoas na Universidade de Benguela e em Luanda, capital de Angola. Atua paralelamente como industrial do setor caladista nas funes de gerente geral e de custos em sua empresa. Vem desenvolvendo diversos trabalhos no cenrio educacional e de consultoria, tanto no Brasil como em outras naes. Suas pesquisas englobam as reas de Gesto, Economia, Estratgia, Custos, Projetos, Teorias Micro e Macroeconmicas, Empreendedorismo e Sustentabilidade Socioambiental.

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2. Introduo e Microeconomia

A Economia pode ser definida como a cincia social que estuda como o indivduo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produo de bens e servios, de modo a distribu-los entre as vrias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer s necessidades humanas. (VASCONCELLOS, 2002)

2.1 Economia e MicroeconomiaPontos-chave: Custo de oportunidade; Assimetria da informao, Demanda e Oferta, Equilbrio de mercado; Elasticidade; Funcionamento dos Mercados, Teoria dos Jogos e Formulao de Cartel.

2.1.1 O Caso dos Mercados CompetitivosNuma definio bastante geral, o objeto da Economia so as relaes materiais entre os indivduos, com especial ateno para aquelas que se realizam atravs do mercado, ou seja, atravs de relaes de carter mercantil. Um elemento bsico com o qual trabalha a Cincia Econmica o fato de que, na sociedade moderna, os desejos ou necessidades materiais dos indivduos so, em geral, mais amplos do que a disponibilidade de recursos existentes. Em outros termos, podemos imaginar que no existe um limite, a priori, para os desejos ou necessidades materiais, ao mesmo tempo em que existem claras limitaes produo dos bens e servios necessrios ao atendimento destes desejos ou necessidades.

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6 Este confronto entre desejos ilimitados e recursos limitados resulta no que se convencionou chamar escassez. Este conceito, de carter explicitamente relativo, implica que a sociedade precisa encontrar meios de alocar recursos para a produo de bens e servios e desenvolver formas de distribuir estes sabendo que apenas uma parcela dos desejos materiais dos indivduos ser satisfeita. Assim passamos a ter a idia que apenas uma parcela dos indivduos poder satisfazer seus desejos ou necessidades. Quando o critrio de definio de quais desejos ou necessidades ser atendido e quais no o sero passa por relaes mercantis, de forma que o problema da escassez se transforma em uma soluo estritamente de carter econmico. Compreendida desta forma, a escassez o elemento central que justifica a existncia dos mercados. E os mercados so a melhor forma de resolver este problema econmico ou pelo menos o que afirmam os economistas. Por mercado deve-se compreender to somente um conceito abstrato que est referido, em ltima anlise, a relaes mercantis especficas entre agentes econmicos. Assim, quando falamos em mercado de automveis, por exemplo, estamos nos referindo ao conjunto de relaes mercantis que tm por objeto carros, motos, caminhes, etc. Se quisermos ser mais precisos, podemos falar no mercado brasileiro de automveis, restringindo geograficamente a idia de mercado. A relao entre a idia de escassez e o conceito de mercado pode ser construda de diversas formas. Uma delas atravs da dicotomia tradicional entre oferta e demanda. Em um mercado competitivo, temos sempre muitos ofertantes e demandantes, isto , pessoas que querem se desfazer de determinado bem e pessoas que desejam adquiri-lo. O grande nmero de demandantes e ofertantes o caso tpico de mercados que transacionam bens relativamente padronizados e em grandes quantidades. Ainda que no seja o caso mais comum na histria, o mercado competitivo sempre a referncia de anlise e estudo do economista tradicional. A idia de recursos escassos nos impe o fato de que toda oferta limitada, e se contrape a uma demanda (potencialmente) ilimitada. No caso dos automveis, existe um claro limite para a sua produo; entre outros motivos, os recursos que so utilizados na produo de carros podem ter diversos outros usos e, certamente, a sociedade no estaria interessada em despender todos os seus meios produtivos (energia, trabalho, matrias-primas) exclusivamente na produo de automveis. Em outras palavras, existe um custo de oportunidade na produo de automveis, mensurvel pelo valor de todos os outros bens e servios que deixam de ser produzidos Economia Aplicada

7 para que se possa fabric-los. Por outro lado, o nmero de pessoas que gostaria de ter um, dois ou diversos carros tambm elevado. Suponha que atualmente existe uma oferta limitada de automveis em um determinado pas. Agora complemente com a idia que os vendedores percebam que existem mais compradores do que unidades para serem vendidas. Como resolver quem poder levar as unidades disponveis e quem ficar insatisfeito? Dentre todas as alternativas possveis, a que possui maior relevncia econmica a elevao dos preos de venda. Tal elevao ir reduzir gradualmente o nmero de compradores, at que este iguale o nmero de unidades disponveis para a venda. Quando isto ocorrer, o mercado de automveis estar em equilbrio, ou seja, estar em vigor um preo suficientemente alto e far com que todos aqueles que continuem dispostos a (ou ainda podem) comprar seu automvel consigam adquiri-lo, sem que haja nenhum consumidor em potencial no atendido. Mas, e se o nmero de compradores fosse menor que o de unidades disponveis para a venda? Os vendedores estariam acumulando estoques indesejados e no estariam satisfeitos. A forma de resolver este problema seria reduzir os preos, at que o nmero de compradores se elevasse. O preo de equilbrio seria aquele que deixasse relativamente satisfeitos tanto compradores quanto vendedores, ou seja, quele preo, todos os que queriam comprar puderam faz-lo, assim como todos os que queriam vender. Com esta descrio ilustrativa, o mercado aparece como uma forma de decidir quem ter acesso de fato aos bens e servios produzidos na economia, dada sua escassez. Por trs desta viso, com um apelo intuitivo claro, esto dois princpios que fundamentam o funcionamento dos mercados, e que podem ser expressos de forma bastante simples:Princpio da demanda: Apresenta relao inversa entre o preo e a quantidade que os demandantes desejam e podem comprar de um determinado bem ou servio.

Princpio da oferta: Apresenta relao direta entre o preo e a quantidade que os ofertantes desejam e podem produzir e vender de determinado bem ou servio.

Ambos os princpios esto na base do funcionamento dos mais diferentes tipos de mercados. Se estivermos pensando em mercados muito especficos, como o de Economia Aplicada

8 automveis ou, de uma forma ainda mais precisa, de automveis populares em So Paulo em 2004, podemos dizer que estamos tratando de um micromercado.

Custo de Oportunidade: O conceito de custo de oportunidade envolve uma avaliao das escolhas que fazemos em tudo em nossas vidas, especialmente na esfera econmica. Ningum gosta de se arrepender de suas decises. E isso vlido tambm em Economia. Uma pessoa pode decidir aplicar seu dinheiro em renda fixa por receio do risco do mercado de aes. Mas, se a bolsa subir muito, essa pessoa vai avaliar a diferena entre o que ganhou em renda fixa e o que poderia ter ganho caso tivesse aplicado em aes. Essa diferena mede o tamanho do arrependimento dessa pessoa ou o custo da oportunidade perdida. Mas existem outros exemplos de avaliao do custo de oportunidade que nada tem a ver com ganho financeiro. Comprar um apartamento e descobrir, dias depois, um novo lanamento com mais itens de conforto ou localizao gera arrependimento. De novo, esse arrependimento a diferena entre a satisfao que temos pelo imvel comprado e a satisfao que poderamos ter se tivssemos esperado mais uns dias.

Assimetria da Informao: Em Economia, assimetria da informao ou informao assimtrica interpretada como um fenmeno que ocorre quando dois ou mais agentes econmicos estabelecem entre si uma transao econmica com uma das partes envolvidas detendo informaes qualitativa ou quantitativamente superiores aos da outra parte. Essa assimetria gera o que se define na microeconomia como falhas de mercado. Esse fenmeno ocorre freqentemente quando no se possui toda informao suficiente em uma negociao, ou mesmo os segredos comerciais to resguardados por inmeras empresas, uma vez que far toda a diferena no processo comercial, afetando diretamente a atratividade dos bens ou servios, ou mesmo no auxlio da formulao estratgica empresarial.

Suponha que a curva D1 (representada na Figura 1, abaixo) representa a demanda por determinado bem como automveis populares. Atravs de sua representao grfica, podemos notar que, ao preo de $ 30.000 a unidade, o total de vendas de 2 milhes de unidades. A este preo, apenas uma pequena parcela dos consumidores estaria disposta a abrir mo do consumo de outros bens e servios para adquirir um automvel deste tipo. Caso o preo fosse reduzido para $ 20.000 a unidade, a demanda seria ampliada para 4 milhes de unidades. A este preo, um nmero maior de pessoas poderia adquirir este bem; outras pessoas acreditariam que o sacrifcio (custo de oportunidade), mensurado pelos demais bens que deixariam de ser comprados, passaria a valer a pena ao preo unitrio de $ 20.000. Finalmente, caso o preo fosse de $ 10.000 a unidade, a demanda seria de 6 milhes de unidades, isto , um nmero maior

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9 de consumidores estaria disposto a abrir mo do consumo de outros bens e servios para adquirir um automvel popular. Note que, para desenharmos uma curva de demanda como D1, estamos fazendo a hiptese de que tudo mais permanecer constante naquela economia (coeteris paribus, em latim). Isto significa que a relao entre preo e quantidade demandada, expressa em D1, supe que permaneceram inalterados elementos como as preferncias dos consumidores, o preo de todos os outros bens, a renda dos consumidores, e tudo mais. Em outras palavras, estamos analisando, por enquanto, apenas a relao estrita entre preo e quantidade, tanto do ponto de vista da demanda quanto da oferta.

Figura 1 - Princpio da Demanda

Preo unitrio em R$ D2 D1 30.000

20.000

10.000

2

4

6

10

Unidades em milhes

Agora, observe a curva D2. Para cada preo constante no eixo vertical est associada uma quantidade demandada maior em D2 relativamente a D1. Se, por exemplo, o preo unitrio dos automveis populares fosse de $ 10.000, a quantidade demanda seria de 10 milhes de unidades. A curva D2 representa uma situao onde alguma das condies antes includas em nossa hiptese coeteris paribus foi alterada (em geral, apenas uma das condies alterada de cada vez nas anlises econmicas, todas as demais permanecendo, constantes). Por exemplo, imagine que houve um aumento da renda dos consumidores de automveis populares. Tudo mais constante haver um deslocamento da curva de demanda de D1 para D2, conforme indicado pelas setas na Figura 1. Agora, com os

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10 consumidores possuindo mais renda, a cada preo unitrio, a demanda por automveis ser mais elevada do que na situao anterior, expressa em D1. Agora, observe a Figura 2. Nela est representada uma expresso grfica para o princpio da oferta. Quanto mais alto o preo, maior o volume ofertado. Vamos nos fixar novamente no caso dos automveis populares. Observe a curva de oferta O1. Caso o preo de oferta seja de $ 10.000, apenas um pequeno nmero de carros ser ofertado, ou seja, os fabricantes estariam dispostos a ofertar apenas 2 milhes de unidades. A este preo relativamente baixo, os fabricantes estaro mais interessados em modelos com preos mais elevados, e mesmo os comerciantes estaro desinteressados em oferecer automveis deste tipo. Se o preo for de $ 30.000 a unidade, o nmero de automveis ofertados tambm aumenta, passando para 6 milhes de unidades. Note que, quando o preo de $ 20.000, a quantidade ofertada de 4 milhes de unidades. Novamente, a curva O1 construda com a tradicional hiptese de coeteris paribus. Em termos da oferta, isto significa que elementos como a tecnologia, o nmero de fabricantes, o preo dos insumos etc, so fixos e no se alteram. Mas, o que ocorreria caso houvesse uma alterao do nmero de fabricantes? Suponha que algumas novas empresas ingressam no mercado. Caso isso ocorra, razovel supor que, a cada preo, haver uma oferta maior de automveis. Isto ilustrado na Figura 2 atravs do deslocamento da curva de oferta de O1 para O2. Figura 2 - Princpio da OfertaPreo unitrio em R$

O3 O1 O2

30.000

20.000

10.000

2

4

6

Unidades em milhes

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11 Com mais fabricantes no mercado a disputa (ou concorrncia) ser ampliada e, ao preo de $ 10.000, por exemplo, o volume de automveis ofertado ser de 4 milhes de unidades, e no mais apenas 2 milhes. O mesmo ocorreria se, por exemplo, o preo dos insumos fosse reduzido. Caso isso acontecesse, 4 milhes de automveis populares poderiam ser fabricados a um preo menor do que $ 20.000 a unidade (como estava expresso na curva O1); em nosso exemplo, caso esta reduo de preos de insumos pudesse ser descrita pela curva O2, o preo unitrio para uma produo de 4 milhes de unidades passaria para $ 10.000, exatamente como no caso do ingresso de mais um concorrente. Situaes opostas, isto , a sada de um fabricante e/ou o encarecimento dos insumos, levariam a uma contrao da oferta. Isto significa que, para uma produo de 2 milhes de unidades, o preo unitrio deveria ser de $ 20.000, tal como expresso na curva O3. Compreendidas as formas de representao grfica dos princpios da oferta e da demanda, podemos completar nosso mercado, indicando como as curvas de oferta e demanda interage simultaneamente. Observe a Figura 3. Ela nada mais do que a reunio, em um s grfico, das curvas D1 e O1. Da forma como foram construdas, estas curvas de oferta e demanda se interceptam no ponto E, no qual os preos de oferta e de demanda so idnticos ($ 20.000) e a quantidade transacionada de 4 milhes de unidades. O ponto E (break-even point) caracteriza o equilbrio de mercado.

Figura 3 - Ponto de Equilbrio Econmico, ou equilbrio de Mercado

Preo unitrio em R$

O1

A 30.000

B

20.000 C 10.000

E D D1 2 4 6 Unidades em milhes

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Conceito de equilbrio de mercado: o equilbrio de mercado atingido quando, a determinado preo, todos os consumidores dispostos a comprar, bem como todos os produtores dispostos a vender, atingem seus objetivos mercantis.

Na Figura 3, acima, ao preo de $ 20.000 a unidade, os consumidores esto dispostos a adquirir 4 milhes de unidades do bem transacionado, quantidade que idntica quela que os produtores esto dispostos a ofertar quele preo. Com isso, tanto consumidores quanto produtores esto (relativamente) satisfeitos. Os consumidores gostariam de adquirir um nmero maior de automveis, mas apenas se o preo fosse mais baixo. Isto porque, a um preo menor, o custo de oportunidade (o sacrifcio de outros bens que deixariam de ser comprados), tambm seria reduzido, estimulando a compra do bem em questo - automveis populares. Por outro lado, os produtores somente estariam dispostos a ampliar a produo caso o preo fosse mais elevado; apenas nestas condies, o negcio de produo e venda de carros populares seria suficientemente atraente para faz-los mobilizar recursos para sua produo, abandonando outras alternativas de negcios. Agora, suponha que houvesse um tabelamento de preos, e os automveis populares passassem a ter um preo mximo de $ 10.000 a unidade. A este preo, os consumidores desejam adquirir um total de 6 milhes de unidades. Por seu turno, dada a baixa atratividade do negcio, os produtores esto dispostos a ofertar apenas 2 milhes de unidades. A diferena entre a quantidade demandada e a quantidade ofertada pode ser representada graficamente atravs do segmento C-D. Este segmento indica o excesso de demanda que ocorreria caso o preo fixado fosse baixo demais. Para 6 milhes de 10 unidades desejadas pelos consumidores, haveria apenas 2 milhes de unidades disponveis, gerando um contingente de consumidores insatisfeitos. Caso anlogo ocorreria caso o preo fosse fixado em $ 30.000. Neste caso, porm, o segmento A-B ilustra o excesso de oferta, pois, a este preo, a quantidade ofertada (6 milhes de unidades) excederia a quantidade demanda (2 milhes). O exemplo dos automveis pode no parecer muito realista neste caso. Isto porque, dada a existncia de um nmero muito pequeno de produtores de automveis, estes em geral sabem qual a quantidade mxima que o mercado poder absorver a cada preo. Em outras palavras, cada produtor conhece a curva de demanda. Este tipo de situao (excesso de oferta) bastante comum quando da fixao de preos mnimos

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13 para produtos agrcolas. Neste caso, como cada produtor muito pequeno diante dos volumes totais de produtos transacionados, tende a elevar sua oferta quanto o preo mnimo fixado em nveis muito elevados, apostando na possibilidade de poder vender toda sua produo quele preo. No entanto, quando todos os produtores agem da mesma forma, o resultado um excesso de oferta no mercado. Caso o mercado com muitos ofertantes e muitos demandantes (isto , um mercado competitivo) fosse deixado para funcionar livremente, tanto os excessos de oferta quanto os excessos de demanda seriam automaticamente corrigidos. Isto que se chama tendncia automtica ao equilbrio. Situaes de excesso de demanda tendem a gerar disputas entre os consumidores, cuja manifestao mais simples a existncia de filas. Havendo tal disputa, a tendncia de que os consumidores mais vidos pela aquisio do bem faam lances mais altos, como em um leilo. O resultado uma elevao do preo que tende a reduzir a demanda e ampliar a oferta. Diante de lances mais altos, uma parte dos consumidores desiste da compra, ao mesmo tempo em que um nmero maior de unidades ofertado. Na figura acima, esta tendncia ao equilbrio mostrada nas setas que indicam o movimento de A e B em direo a E. Quando oferta e demanda coincidirem, no haver mais presso por alteraes de preo. O mesmo ocorre quando h excesso de oferta; os ofertantes passariam a acumular estoques que no conseguem vender e tenderiam a baixar seus preos para atrair compradores, ao mesmo tempo em que reduziriam a produo. Diante de preos mais baixos, a prpria oferta tende a reduzir-se, ao mesmo tempo em que um nmero maior de consumidores passa a demandar o produto. Este processo aconteceria at que oferta e demanda fossem coincidentes, quando ento dizemos que o mercado est em equilbrio. Agora, observe a Figura 4, abaixo. Ela mostra deslocamentos da curva de oferta. No ponto E1, podemos observar o equilbrio de mercado quando as curvas de oferta e demanda so, respectivamente, O1 e D1, o preo de equilbrio $ 20.000 e a quantidade de equilbrio 4 milhes. A curva O3 mostra uma contrao da oferta, ou seja, para cada preo, os ofertantes esto dispostos a colocar uma quantidade menor de produto no mercado (o que pode ter sido causado pela sada de produtores ou por uma elevao nos preos dos insumos, por exemplo).

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14 Figura 4 Deslocamentos da Oferta

Preo unitrio em R$

O3 O1 O2

28.000 20.000 10.600

E3 E1 E2

D1

2,3

4

5,6

Unidades em milhes

Podemos notar que, toda vez que a oferta se retrai, tudo mais constante, o preo de equilbrio se eleva. No caso da figura acima, ele passa de $ 20.000 para $ 28.000. Paralelamente, a quantidade de equilbrio se reduz, passando de 4 milhes para 2,3 milhes de unidades. O ponto de equilbrio que era representado por E1 passa agora a ser E3. Situao inversa ocorre quando a oferta se expande, passando de O1 para O2. Toda vez que a oferta se expande, o preo de equilbrio se reduz e a quantidade transacionada se eleva. A Figura 5 mostra uma situao onde a curva de demanda que se desloca: ocorre uma expanso de D1 para D2 e uma contrao de D1 para D3. No caso de uma expanso de demanda, preos e quantidades transacionadas se elevam, ocorrendo o oposto quando a demanda se contrai.

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15 Figura 5 - Deslocamentos da Demanda

Preo unitrio em R$ O1

29.000 20.000 10.400D1 D3 D2

1,8

4

5,3

Unidades em milhes

O funcionamento dos mercados competitivos, tal como descrito pela Economia, nos permite compreender uma srie de fenmenos. A relao bsica, por trs dos mecanismos que acabamos de descrever, refere-se a interao mtua entre preos e quantidades transacionadas de determinado bem ou servio. Se tal bem ou servio for descrito atravs de caractersticas bastante especficas (automveis ou, de forma ainda mais precisa, carros populares, por exemplo), estaremos tratando de um micromercado e, portanto, estaremos no mbito da microeconomia. No entanto, podemos pensar em mercados cuja principal caracterstica seja a descrio bastante genrica do bem ou servio transacionado. Por exemplo, quando analisamos o mercado de trabalho, estamos em um nvel muito geral, sem explicitarmos nenhuma caracterstica especfica da mercadoria transacionada. Afinal, estamos preocupados como o trabalho feminino na indstria paulista, por exemplo? Ou com o trabalho de recm formado em direito em Porto Alegre? Se estivermos pensando no mercado de trabalho global de um pas, no estaremos fazendo distines deste tipo e, portanto, no estaremos no mbito da microeconomia, mas no da macroeconomia. Em outras palavras, quando pensamos em um mercado definido de forma bastante genrica e para um pas como um todo, estamos tratando de macromercados. Apesar de sua caracterstica de generalidade e abrangncia nacional, os macromercados obedecem, em linhas gerais, os mesmos princpios de funcionamento

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16 de micromercados como o de carros populares, utilizado acima. Assim, possvel pensar em oferta, demanda, preo, equilbrio, e tudo mais que foi definido para micromercados.

2.1.2 Elasticidade e a Curva de DemandaO conceito de elasticidade da demanda procura mensurar a sensibilidade dos agentes que desejam comprar algum bem a alteraes em alguma das variveis que determinam a curva de demanda, normalmente sobre a tica do preo. As duas elasticidades mais importantes so a elasticidade-preo (que representaremos por Ep) e a elasticidade-renda (representada por Er) da demanda. Genericamente, a elasticidade da demanda calculada da seguinte forma:

Ep ou Er =

Variao percentual na quantidade demandada Variao percentual no preo ou na renda (Qf Qi) / Qi (Pf Pi) / Pi

EP =

Como mostra a figura abaixo, nem todas as demandas reagem do mesmo modo a variaes no preo. Quando o preo cai de P1 para P2, observe que a quantidade demanda na curva A varia menos que na curva B. Assim, a sensibilidade (elasticidade) preo maior para a curva B. O valor crtico para a elasticidade-preo 1. Se o preo variar 10% e a quantidade demandada variar, por exemplo, 5%, teremos uma Ep < 1 (desprezando-se o sinal). Isso significa que a demanda pouco sensvel a preo como a demanda A da Figura 6. Se o preo variar os mesmos 10% e a quantidade varia, por exemplo, 25%, teremos uma Ep > 1. Isso significa que a demanda muito sensvel a preo e os impactos sofridos com qualquer elevao do mesmo ser direto na comercializao do bem ou servio.

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17 Figura 6 Elasticidade-preo

PP2

P1 DA DB

QA1=QB1 QA2

QB2

Q

Na economia h basicamente trs fatores determinantes da elasticidade-preo da demanda, so eles: Necessidade ou essencialidade: reagimos menos s altas no preo dos remdios ou da energia eltrica residencial do que s altas de igual proporo nos preos de itens como mensalidades de revistas ou viagens internacionais. Isso porque os dois primeiros itens so considerados mais essenciais que os ltimos. Peso no oramento: todos ns somos mais sensveis a variaes nos preos dos itens com maior peso em nosso oramento. Voc reagiria mais a um aumento de 15% no preo do cafezinho ou a um aumento dos mesmos 15% no preo da gasolina? Certamente, como gastamos maiores parcelas de nosso oramento em gasolina, reagimos muito mais s variaes de preo desse ltimo item. Da mesma forma, pessoas com menor renda so mais sensveis ao preo, pois mesmo pequenas variaes nos preos acabam pesando demasiadamente em seu oramento. Concorrncia ou existncia de substitutos: se houvesse uma nica marca disputando um determinado mercado, aumentos de preo seriam seguidos de pouca reao dos demandantes devido falta de opes em termos de substitutos. O mesmo ocorre quando h grande fidelidade do consumidor a determinada marca: mesmo diante de elevaes de preo, como para um consumidor fiel no h substitutos perfeitos para sua marca preferida, a reao em termos de quantidades seria muito pequena. Existe tambm a viso da Fidelidade por um bem ou servio que impacta em sua elasticidade, porm esse item cada vez mais est sendo difcil de se conciliar, dado o

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18 enorme volume de opes que o mercado apresenta rotineiramente, seja ele de bens ou de servios. Por sua vez, a elasticidade-renda (Er) til para classificarmos os bens e servios em superiores ou normais (tops de linha) ou inferiores (pops, ou populares). O valor crtico para a elasticidade-renda zero. No caso dos bens top (superiores), quando a renda aumenta, a demanda pelo mesmo tambm se eleva. Com isso, na frmula da elasticidade, teremos variaes positivas tanto no numerador quanto no denominador. Por outro lado, quando a renda cai, a demanda tambm deste bem ou servio tambm cai. Com isso, na mesma frmula, teremos variaes negativas tanto no numerador quanto no denominador. Em outras palavras, a Er dos bens superiores sempre ser um nmero maior que zero, ou seja, positiva. Quando nossa renda aumenta, aumentamos a demanda por fil mignon, pulsos de telefonia celular e sesses de cinema. Esses so bens e servios para os quais a demanda varia junto com a renda. Se a renda cai, a demanda por esses itens tende a cair tambm pelo fato de existirem bens mais baratos que substituem os mesmos. No caso dos bens pop (inferiores) ocorre o inverso. Quando nossa renda cai, a demanda por eles aumenta, pois estamos substituindo os bens top pelos mais populares. Mas quando a renda aumenta, fazemos o contrrio. Na frmula acima, teremos variaes positivas divididas por variaes negativas e vice-versa. Em outras palavras, a Er dos bens inferiores sempre menor que zero, ou seja, um resultado negativo.

2.1.3 Estruturas de MercadoUma hiptese bsica para o funcionamento do sistema descrito nas sees anteriores que os mercados estejam operando com um grau elevado de concorrncia. Numa situao limite, estaramos em concorrncia perfeita. Se os mercados estiverem funcionando com essa estrutura, as firmas no estaro em condies de realizarem conluios ou cartis. Isso poderia ocorrer porque, caso houvesse um cartel que tentasse elevar preos e margens de lucro, qualquer empresa de fora poderia entrar no mercado com preos mais baixos e se apossar de toda a demanda. O cartel crime contra a ordem econmica previsto no art. 4 da Lei n. 8.137, de 27 de dezembro de 1990. Trata-se da formao de acordo, convnio, ajuste ou Economia Aplicada

19 aliana entre ofertantes, visando fixao de preos ou quantidades vendidas ou produzidas, prevista no inciso II, "a" do dispositivo em questo. Falamos de crime pessoal, cuja sano consiste em pena de recluso ou multa. O cartel , tambm, crime concorrencial e, portanto, infrao econmico-penal. Nos termos do art. 21 da Lei n. 8.884, de 11 de junho de 1.994, trata-se de fixao de preo e condies de venda de bens e prestao de servios em acordo com concorrente; obteno de conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes; diviso de mercados de servios ou produtos; combinar previamente preos ou vantagens em concorrncia pblica. Os crimes concorrenciais, equiparados ao tort anglo-saxo, ao serem enquadrados como infraes de cunho econmico-penal, ensejam penalizao essencialmente econmica. Crimes contra a ordem econmica, ao serem perpetrados pela pessoa jurdica (responsabilidade empresarial) ensejam punio econmica. O cartel, ao gerar a generalizada perda de bem-estar econmico da sociedade e de competitividade do prprio cartel que assegura, ardilosamente, seu poder de mercado deve ser combatido com veemncia. Assim se faz necessrio, uma analise como o governo pode caracterizar algumas situaes da indstria como sendo um cartel. Evidentemente que isso exigiria que o produto em questo fosse altamente padronizado (semelhantes) e que a tecnologia1 necessria para produzi-lo fosse totalmente acessvel. Em resumo, a concorrncia perfeita uma situao onde, por quaisquer motivos, todas as firmas tm que cobrar preos muito parecidos ou at mesmo idnticos e no h como impedir que novas firmas entrem no mercado ofertando o produto. Isso s seria possvel se esse mercado tivesse as seguintes caractersticas:

1) Transacionasse um bem padronizado, isto , que no apresentasse diferenas de marca ou origem relevantes; 2) Fosse de livre entrada para firmas que quisessem passar a operar nele; 3) Tivesse um grande nmero de firmas operando. Ocorre que esse tipo de mercado, muito embora seja o mais estudado, no constitui o caso mais tpico nas economias modernas. No extremo oposto da

1

Por tecnologia, os economistas entendem no somente saber como fazer, mas tambm como comercializar, o que inclui o domnio de estratgias mercadolgicas na definio da marca e de distribuio do produto.

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20 concorrncia perfeita, estaria o monoplio, isto , o mercado dominado por uma nica firma. Em geral, o monoplio surge devido a trs causas bsicas: 1) O tamanho do mercado: imagine uma cidade pequena na qual se instala um hipermercado. Esse estabelecimento, por operar em escala mais ampla e ter custos de comercializao mais baixos, pode levar falncia todos os mercados tradicionais da cidade. Mais ainda, caso outro hipermercado se instale na mesma cidade, o movimento em cada um deles ser to pequeno que ambos passaro a operar com prejuzo. Portanto, s h mercado para uma firma. Esse tipo de estrutura de mercado chamado de monoplio natural. 2) O monoplio pode ser institudo por lei, como foi o caso diversos servios de utilidade pblica no Brasil at h alguns anos atrs. Esse o monoplio legal. 3) Por fim, o monoplio pode ser resultado de uma inovao tecnolgica desenvolvida por uma empresa que a mantm como segredo industrial (assimetria) ou patente. Essa inovao pode ser a descoberta de um novo produto (caso tpico da indstria farmacutica), a descoberta de um novo tipo de empreendimento (como foi o caso da Disneylndia que, durante muitos anos, simplesmente no teve concorrentes em escala mundial), a conquista de uma reputao ou a fixao de uma marca (caso tpico de produtos de perfumaria ou moda e mesmo de informtica, como certas marcas de perfume francs, ou softwares).

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21 Quadro1 - Caractersticas das estruturas de mercadoEstruturas Natural Legal Monoplio Tecnolgico Um nico ou uma empresa muito maior que as demais Nmero de concorrentes Caractersticas bsicas Tamanho do mercado no permite mais de uma firma. Legislao que institui monoplio. Domnio de segredos industriais (assimetria), patentes ou marcas que impedem a concorrncia. Produto padronizado, barreiras entrada de novos concorrentes e preos uniformes. Produto diferenciado, barreiras entrada de novos concorrentes e preos diferenciados. Produtos nicos, com caractersticas semelhantes que atendem um mercado especfico. Produtos padronizados, onde h livre entrada de firmas e os preos so uniformes.

Oligoplio

Com combinao

Poucos

Competio Monopolstica

Muitos

Concorrncia Perfeita

Muitos

Entre os dois extremos da concorrncia perfeita e do monoplio, temos os mercados que operam com poucas firmas - isto , ao menos duas, mas no muitas estes so os oligoplios. A caracterstica bsica dessa estrutura de mercado a existncia de barreiras entrada, de forma que no fcil para uma firma nova entrar no mercado e passar a concorrer com as j estabelecidas. Isso pode ocorrer por razes parecidas com aquelas que explicam a existncia de monoplios. Por exemplo, na atualidade, o tamanho do mercado brasileiro no permite que existam mais de duas empresas de telefonia fixa de longa distncia. Na indstria automobilstica ou eletrnica, no fcil dominar a tecnologia de produo. Quando o produto ofertado pelas empresas que operam em oligoplio muito padronizado (como o caso de papel para impresso ou baldes de plstico), dizemos que se trata de um oligoplio homogneo. Nesse caso, os preos cobrados por cada ofertante no podem ser muito diferentes, caso contrrio os consumidores simplesmente escolhero o produto mais barato.

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22 Quando h uma clara diferenciao entre as diferentes marcas (como o caso e eletroeletrnicos, automveis ou cervejas), dizemos que se trata de um oligoplio diferenciado. O Quadro 1, acima, resume as principais caractersticas das estruturas de mercado. Para entender como atuam os oligoplios vamos inicialmente estudar uma situao muito utilizada no ensino de microeconomia. Trata-se de um acontecimento imaginrio, cujos resultados podem ser imediatamente aplicados atuao de um oligoplio homogneo de duas firmas - isto , um duoplio. Essa situao hipottica chamada de dilema dos prisioneiros, vinculado ao estudioso John Nash. A Teoria dos Jogos o estudo econmico que visa representar os padres de interaes nos quais os resultados auferidos por qualquer participante (players) depende das aes de alguns ou todos os integrantes deste mercado. Suponha que duas pessoas foram presas e so acusadas de terem cometido um crime juntas. Cada uma colocada em uma cela separada e precisa decidir se confessa ou no o crime, antes de saber o que o outro prisioneiro decidiu. As penas a serem aplicadas sero as seguintes: 1) Caso ambos os suspeitos confessem o crime, sero condenados a uma pena de 2 anos na priso; 2) Caso um confesse e o outro no, o que confessou libertado imediatamente por ter colaborado com a justia e desmascarado o outro que ficou calado, mas o suspeito que no confessou, por ter tentado obstruir a justia, ser condenado a 4 anos (2 pelo crime e mais 2 pela tentativa de obstruo); 3) Caso nenhum dos dois confesse, eles permanecero presos por apenas 1 ano, durante as investigaes. O quadro abaixo resume o dilema dos prisioneiros. Os nmeros entre parnteses representam as penas aplicadas em cada caso (o nmero da esquerda a do prisioneiro A e o da direita a do prisioneiro B). Note que estamos representando as penas com sinais negativos para indicar que cada ano na priso um custo ou perda.Prisioneiro B Confessa No confessa Prisioneiro A Confessa No confessa (-2; -2) (-4; 0) (0; -4) (-1; -1)

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23 O que voc acredita que os prisioneiros fariam? Note que o melhor resultado para ambos analisados em conjunto seria no confessarem os dois a um s tempo. Isso resultaria em apenas 1 ano de priso para cada um. Qualquer outro comportamento faria com que pelo menos um deles passasse no mnimo 2 anos atrs das grades. Mas, se voc olhar atentamente para a figura acima, vai notar que a atitude de confessar sempre melhor que a de no confessar. Se, por exemplo, o prisioneiro A espera que o outro vai confessar, o melhor que A tem a fazer confessar tambm e, assim, pegar uma pena de 2 anos em lugar de 4. Mas se A imagina que B no vai confessar, ele tambm prefere confessar pois, nesse caso, solto imediatamente em lugar de ficar na cadeia por 6 meses. Observando com ateno o quadro acima, possvel notar que, qualquer que a expectativa do prisioneiro A sobre a deciso do outro, o melhor a fazer confessar. Isso tambm vale para o prisioneiro B. Nesse caso, dizermos que confessar a estratgia dominante para ambos os prisioneiros (vamos passar a cham-los de agentes, que um termo mais leve). A hiptese de comportamento, muito razovel e racional, de que os agentes escolhem sempre as estratgias dominantes, isto , se adotar uma determinada estratgia sempre melhor que adotar qualquer outra, evidentemente que o agente adotar essa estratgia. A limitao do nosso exemplo para que possamos passar a uma aplicao econmica do dilema dos prisioneiros que os agentes no podem se comunicar antes de decidir o que faro e, obviamente, as empresas que atuam em oligoplio trocam informaes, ainda que indiretamente. Assim, vamos alterar um pouco o exemplo, permitindo aos agentes uma nica comunicao prvia. Suponha que os prisioneiros tenham feito um pacto de no confessar o crime em caso de priso. Voc acredita que eles manteriam o pacto depois de terem sido pegos, abandonando a estratgia dominante? Se o prisioneiro A acreditar que B vai manter a promessa, ele estar tentado a romper o acordo. Nesse caso, A confessa e solto imediatamente e B fica preso por 4 anos. Nesse ponto, caso B tenha receio de que A vai cair em tentao, ele prefere confessar tambm, por simples medo. Se A acha que B no acredita nele, tambm poder confessar, confirmando o receito de B de que A confessaria, rompendo o acordo. Mas se ambos confessarem, ambos tero agido como se o pacto no existisse. Quando chegamos nesse ponto da anlise do dilema dos prisioneiros, j estamos nos encaminhando para o estudo das empresas que atuam em oligoplio. Para isso, basta substituir a situao analisada por outra, muito parecida, mas com a mesma Economia Aplicada

24 estrutura. Suponha que em um mercado existem apenas duas firmas: A e B. Suponha que essas firmas atuam em uma estrutura de oligoplio homogneo e esto decidindo sobre que quantidades devero ofertar de um produto padronizado. Suponha ainda que essas firmas tenham que escolher entre dois nveis de oferta: 1 e 2. Os resultados em termos de lucros esto resumidos no quadro a seguir.

Lucro das empresas em $ milhes.Empresa B Nvel 1 Empresa A Nvel 1 Nvel 2 (9; 9) (6; 12,5) Nvel 2 (12,5; 6) (10; 10)

Vamos admitir que o nvel 1 seja uma grande oferta de produtos. Isso permitiria $ 9 milhes de lucro para cada uma. Mas, se ambas as empresas produzirem nesse nvel alto, s conseguiro vender a produo a preos baixos, pois o mercado tender a ficar saturado. Elas podem formar um cartel e combinarem de produzir ambas no nvel 2 (mais baixo). Isso faria com que houvesse escassez do produto, elevando os preos e fazendo os lucros subirem de $ 9 milhes para $ 10 milhes. Acontece que, como no dilema dos prisioneiros, as firmas esto tentadas a desrespeitarem o cartel. Observe que, caso a empresa A suponha que a empresa B vai honrar o acordo e produzir no nvel 2, ela (firma A) pode ter um lucro ainda maior ($ 12,5 milhes) caso produza no nvel 1, rompendo o acordo e ganhando na quantidade vendida. Com isso, os preos iro baixar um pouco (pois o produto no ser to escasso) e a firma B ter uma reduo nos seus lucros (que passaro para $ 6 milhes quando ela esperava $ 10 milhes).

Economia Aplicada

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3. MacroeconomiaEm uma perspectiva empresarial, o estudo da Macroeconomia se dedica anlise de um conjunto de fenmenos, derivados da ao conjunta dos agentes econmicos, e que determina o entorno mais amplo do ambiente de tarefa da empresa. Muito embora cada firma esteja sempre e antes de tudo preocupada com o que ocorre em seus prprios mercados (de bens e servios, em um extremo, e de insumos, no outro), cada um destes mercados afetado diariamente pelas chamadas variveis macroeconmicas: taxas de cmbio, carga tributria, taxa de juros, etc. Mesmo a empresa que no tenha nenhum tipo de relao com o exterior deve se preocupar com o comportamento da taxa de cmbio; mesmo a empresa que no nem credora nem devedora lquida deve se preocupar com a taxa de juros, e assim por diante. Isto porque as variveis macro afetam um grande nmero de agentes de uma s vez. Se a empresa no for ela prpria afetada, certamente ou seus clientes, ou seus fornecedores, ou seus trabalhadores ou todos a um s tempo o sero. Figura 7 - Esferas que compem o ambiente de tarefa da empresa

EMPRESARIAL

SETORIAL

MACROECONMICA

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26 por isso que, se imaginarmos que o ambiente de tarefa da empresa , na verdade, representado por uma sobreposio de nveis, como na figura acima, cada um dos quais com um determinado tipo de influncia sobre suas atividades cotidianas, o nvel macroeconmico ser o mais amplo de todos, no sentido de que no se refere s variveis diretamente controladas pela firma. Ao mesmo tempo, porm, os destinos dos negcios da empresa a longo prazo esto intimamente relacionados s tendncias das variveis macroeconmicas. Uma empresa jamais manter seus preos constantes se houver uma inflao acelerada; jamais poder manter-se pesadamente endividada se a taxa de juros for alta demais; jamais manter um mesmo nmero de empregados caso os salrios caiam fortemente, e assim por diante. por razes como esta que o estudo da macroeconomia se insere na dimenso estratgica da firma, e pode contribuir explicitamente com a manuteno de um padro adequado de gesto de seus negcios. A Macroeconomia pode ser compreendida atravs do estudo do funcionamento e da interao recproca de trs macromercados. Como dissemos acima, tais mercados so definidos da forma mais genrica e abrangente possvel, e esto sempre referidos ao conjunto de uma economia nacional. Os trs macromercados so: a) Bens e servios; b) Moeda (e demais ativos financeiros); c) Cmbio. Como em todo mercado, cada um destes trs macromercados possui preos e quantidades transacionadas. No entanto, os preos e quantidades nestes mercados possuem algumas peculiaridades. Em nosso exemplo dos automveis populares, era fcil mensurar as quantidades transacionadas; tais quantidades eram simplesmente o nmero de unidades de automveis vendidos em determinado perodo. No entanto, com fazer para contar unidades no macromercado de bens e servios, por exemplo? Como somar unidades de uma infinidade de bens e servios, com caractersticas muitas vezes absolutamente distintas? Antes de tentarmos propor uma soluo para este tipo de problema, vamos apresentar o que seriam os preos e as quantidades em cada um dos macromercados (ou, pelo menos, quais so as variveis que fazem as vezes de preos e quantidades nestes mercados). Quando falamos do conjunto de todos os bens e servios produzidos em um pas, podemos avaliar seus preos atravs de uma mdia. Esta mdia deve ser construda Economia Aplicada

27 ponderando cada bem ou servio de acordo com sua importncia relativa no total de bens e servios produzidos. Esta mdia ou preo mdio o chamado Nvel Geral de Preos e pode ser compreendido como o preo vigente no macromercado de bens e servios. No entanto, dada a infinidade de bens e servios produzidos em um pas a cada ano, literalmente impossvel saber com exatido qual o nvel geral de preos (ou qual o preo mdio de todos os bens e servios). Diante desta dificuldade, costuma-se estimar o Nvel Geral de Preos atravs de ndices, calculados por institutos de pesquisa. No Brasil, a melhor aproximao para o Nvel Geral de Preos o ndice Geral de Preos (IGP). As variaes no IGP nos oferecem uma forma de medir a inflao, que nada mais do que uma elevao do Nvel Geral de Preos. No que se refere s quantidades no macromercado de bens e servios, costumase utilizar como aproximao o PIB ou Produto Interno Bruto. Voltaremos a tratar do PIB com mais detalhes adiante. Por enquanto, podemos dizer que o PIB a soma dos valores de todos os bens e servios finais, produzidos em uma economia durante certo perodo de tempo. Assim, a produo de ao, utilizada na fabricao de automveis ou na construo de edifcios no entra no cmputo do PIB, uma vez que o ao no um bem final e sim um insumo. O preo do ao ser computado nos preos dos automveis e dos edifcios, os quais j incorporam todos os custos, incluindo o preo do prprio ao. Isto evita que se faa dupla contagem, isto , que somemos o preo do ao duas vezes, uma quando ele prprio produzido e outra quando consideramos os preos dos automveis e dos edifcios, os quais j trazem embutidos os custos com o ao. O clculo do PIB nos permite somar bens e servios com caractersticas muito diferentes, como casas e cortes de cabelo, ponderando cada item por seu prprio preo. Como em todo mercado, no macromercado de bens e servios haver uma oferta (chamada de oferta agregada) e uma demanda (chamada de demanda agregada). Os ofertantes so em geral empresas (tambm os trabalhadores autnomos) e os demandantes so tanto consumidores quanto outras empresas. Estas ltimas podem estar interessadas, por exemplo, em adquirir automveis para sua frota ou contatar servios de engenharia. No macromercado de moeda (e outros ativos financeiros), o preo a taxa de juros. Isto porque a moeda pode ser emprestada, como se fosse um bem que se aluga, e a remunerao por este aluguel exatamente a taxa de juros. A quantidade neste mercado o volume de moeda em circulao, o qual pode ser avaliado pelo volume de meios de pagamento. Este conceito tambm ser melhor explicado adiante; por Economia Aplicada

28 enquanto podemos definir meios de pagamento como os ativos financeiros que so inequivocamente aceitos para o pagamento de obrigaes, isto , a moeda propriamente dita (que est nas mos das pessoas ou nas reservas dos bancos) e depsitos vista. Finalmente, no macromercado de cmbio, negocia-se moeda estrangeira, principalmente o dlar americano. Ofertantes e demandantes so simplesmente pessoas querendo se desfazer ou querendo adquirir dlares (ou outra moeda estrangeira). As quantidades so simplesmente os fluxos de dlares transacionados e o preo a taxa de cmbio. Esta ltima nada mais do que o preo em moeda nacional de cada unidade da moeda estrangeira. Quando dizemos que US$ 1 vale R$ 2,95, estamos afirmando que o preo do dlar R$ 2,95. Em toda nossa discusso macroeconmica, estaremos nos referindo sempre a um ou mais destes macromercados uma vez que o dia-a-dia da economia de um pas pode ser descrito atravs do funcionamento deles. No entanto, ao contrrio de alguns micromercados, os macromercados esto fortemente relacionados entre si e o que se passa em cada um deles tem conseqncias diretas e indiretas sobre os demais. Assim, para compreendermos este tipo de interao, faremos um percurso mais ou menos longo, at que, ao final desta apostila, possamos tratar novamente dos trs macromercados, interagindo mutuamente.

Figura 8 - Sistemas de Polticas Macroeconmicas

Monetrio

Bens e servios

Cambial

Poltica Monetria

Poltica Fiscal e Poltica Comercial

Poltica Cambial

Os trs macromercados no apenas tm relaes importantes entre si como tambm so influenciados pela ao da poltica econmica do governo. Veremos que h trs frentes principais de ao da poltica econmica: a poltica cambial, a poltica fiscal Economia Aplicada

29 e a poltica monetria, cada uma delas atuando diretamente sobre cada um dos macromercados e, indiretamente, sobre os demais, com reflexos sobre o ambiente de atuao das empresas.

3.1 O Mercado de Bens e Servios: Crescimento e InflaoPontos-chave: PIB como fluxo de bens, servios e gerao de renda; Valor agregado ou valor adicionado; PIB versus PNB; Conceitos econmicos de Poupana e Investimento; Fluxo circular de renda.

3.1.1 PIB: Conceito e Fatores de Crescimento da Oferta AgregadaAs duas variveis centrais em qualquer exerccio de cenarizao

macroeconmica so crescimento e inflao. Em outras palavras, a evoluo no tempo do Produto Interno Bruto (PIB) e do Nvel de Preos (mensurado estatisticamente pelo ndice Geral de Preos - IGP). Esses so dois dos principais agregados macroeconmicos. Como o prprio nome diz, esses agregados so mega-variveis que permitem acompanhar a evoluo do ambiente econmico em seu nvel mais geral. Crescimento econmico e inflao representam, portanto, o ponto de partida para qualquer construo de cenrios em Macroeconomia. Vamos comear pela definio da primeira dessas variveis. Como o prprio nome diz, o Produto Interno Bruto representa, em primeiro lugar, o total da produo em um pas.

Economia Aplicada

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Principais ndices de preo no Brasil ndices Gerais de Preo: so calculados atravs da mdia ponderada de outros trs ndices (60% IPA - ndice de Preos por Atacado, 30% IPC - ndice de Preos ao Consumidor e 10% - ndice Nacional de Custos da Construo). Como Duas instituies calculam, cada uma, seu prprio IGP: a) IGP-DI (disponibilidade interna) evoluo dos preos do dia 30 ao 30 do ms posterior (FGV contratado pelo governo federal) b) IGP-M (de mercado) evoluo dos preos do dia 21 ao 21 do ms posterior (FGV - contratado pelo setor privado) ndices de Preo ao Consumidor (IBGE): como o prprio nome diz, visa monitorar o chamado custo de vida, isto , os preos ao consumidor tais como despesas com supermercados, aluguis, servios pessoais e de utilidade pblica, etc. Os dois principais ndices de preo ao consumidor divergem basicamente pela abrangncia em termos da cesta de consumo que serve de referncia para o clculo. Alm disso, o IPCA ganhou notoriedade desde 1999 ao ser adotado como meta oficial de inflao pelo Banco Central. Ambos os ndices abaixo so calculados pelo IBGE: a) INPC (nacional) baseado no padro de consumo de famlias com renda entre 1 e 6 Salrios Mnimos (S.Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Fortaleza, Salvador, Braslia, Belm e Goinia) b) IPCA (amplo) baseado no padro de consumo de famlias com renda entre 1 e 40 Salrios Mnimos, com a mesma abrangncia geogrfica.

Ocorre que realizar essa mensurao pode acarretar em erros grosseiros se a metodologia no for simples e inteligente em termos contbeis. Isso sem falar nas dificuldades estatsticas de realizar uma amostra adequada de empresas e setores. Assim, vamos analisar a primeira e mais direta definio de PIB, abaixo.PIB: calculado a partir da soma dos valores de todos os bens e servios finais produzidos dentro das fronteiras de um pas durante certo perodo de tempo (um ano, um semestre, um trimestre etc.).

Vale destacar um a um os diferentes aspectos da definio acima. Antes de mais nada, preciso estar atento para o termo bem final (vide glossrio). Ao definirmos o PIB como o somatrio de todos os bens e servios finais gerados em um pas durante um certo perodo de tempo estamos evitando a chamada dupla contagem. Imagine que em lugar dos bens e servios finais, tentssemos mensurar o PIB pela soma de todos os bens e servios gerados em um pas, fossem eles finais ou no. Suponha que comessemos pela produo de cimento, ao e edifcios, como ilustrado na figura abaixo.

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31 Figura 9 Valor agregado

A relevncia em se agregar valorAo = $ 4 bi $ 1 bi-------Lucro

ExportaoVA $ 5 bi

Construo $ 3 bi Transformao

VP$ 9 bi VI $ 4 bi

$ 1 biCimento = $ 1 bi

VA = VP VIValor Agregado = Valor do Produto Valor dos InsumosProf. M.Sc. Claudio A. Garbi

O valor da produo total de cimento em um pas em determinado ano teria sido, digamos, R$ 1 bilho. A produo de ao teria sido de R$ 4 bilhes e a de edifcios R$ 9 bilhes. Se estivssemos comeando a calcular o PIB pela soma destes trs setores j teramos um total de R$ 10 bilhes. No entanto, sabemos que o valor total de cimento produzido foi vendido para o setor de construo civil e utilizado na construo de edifcios como insumos naquele ano. O mesmo ocorreu com 1/4 da produo de ao (ou seja, R$ 3 bilhes). O restante foi exportado. Isto significa que nos R$ 9 bilhes correspondentes produo de edifcios j estavam embutidos na forma de custos de insumos R$ 4 bilhes correspondentes utilizao de cimento e ao. Ao somarmos o valor da produo dos trs setores em nossos primeiros clculos para mensurarmos o PIB, incorremos no erro de dupla contagem desse valor. por isso que todas as vendas de cimento e ao feitas por seus produtores aos produtores de bens finais devem ser contabilizadas no PIB apenas de forma indireta. Assim, os R$ 9 bi j carregam em seu valor R$ 1,0 bi de cimento (insumo) e R$ 3 bilhes de ao (outro insumo). Se considerarmos o bem final (edifcios) no clculo do PIB, devemos excluir do clculo do PIB os insumos j incorporados. Ao mesmo tempo, o valor do ao exportado deve ser igualmente somado, pois esse ao no foi utilizado como insumo no pas em questo e, Economia Aplicada

32 por conveno, bem final todo aquele que no utilizado como insumo (ver glossrio). E isto explica o mtodo de clculo do PIB, destacado acima.

3.1.2 O Conceito de Valor AgregadoO conceito de valor agregado ou de agregar valor possui um uso corrente impreciso. Quando um arteso transforma argila em um vaso de barro cru e depois esse mesmo vaso comprado por um artista que pinta esse vaso, dizemos que o artista agregou valor ao vaso e conseguiu vende-lo por um preo maior do que havia pago para o arteso. Mas, e a transformao do barro em vaso? Agora, pense na atividade de coleta. Uma pessoa entra na mata e colhe uma fruta. Leva a fruta para a beira da estrada e a vende por determinado preo. Houve agregao de valor? Esse caso difere do artista que decorou o vaso de barro cru, feito pelo arteso? Para evitar imprecises, vamos definir de forma simples e clara o conceito de valor agregado (VA). Considere uma empresa que vende um produto por R$ 150. Esse o valor bruto da produo (VP). Agora, suponha que a produo desse bem exija a compra de insumos no valor de R$ 120. Chamaremos esse valor de VI (isto , valor dos insumos). Vamos definir insumos como aqueles materiais que, de alguma forma, so incorporados ao produto: matrias-primas, energia, material de acabamento ou de embalagem. O importante que os insumos so comprados de outras empresas e s podem ser utilizados uma nica vez, pois so incorporados ao produto final. O valor agregado (VA) na atividade em anlise ser dado simplesmente pela expresso:

VA = VP - VI No caso em questo, o valor agregado ser 150 - 120 = 30. Vamos voltar aos casos citados acima. O arteso que produziu o vaso de barro cru e o vendeu por, digamos, R$ 30 talvez no tenha gasto um nico centavo com insumos: recolheu a argila e a gua na natureza para moldar o vaso que secou ao sol. O valor agregado por sua atividade foi de R$ 30, isto , igual ao valor da produo. O mesmo ocorre com os coletores de frutas que simplesmente as recolhem e colocam na beira da estrada para venda. Essas atividades agregam valor, ou transformando o barro ou simplesmente transportando as frutas para a beira da estrada. Agora, vamos considerar o artista que decora o vaso. Ele comprou o vaso cru, que o principal insumo do vaso decorado, pagando R$ 30. Tambm gastou R$ 40 com Economia Aplicada

33 as tintas e mais R$ 15 com a energia eltrica de um forno necessrio para queimar o vaso. Se esses foram todos os insumos e o vaso decorado foi vendido por R$ 200, o valor agregado ser: VA = 200 - (30 + 40 + 15) = 115 Note que esse o valor agregado total. Ele no , necessariamente, o lucro do artista. Se ele vender 1000 vasos como esse por ms, teria um ganho bruto de R$ 115.000. Essa margem total tambm ser utilizada para pagar a folha de salrios dos funcionrios (que no insumo!), os aluguis da oficina (que tambm no so insumo!), eventuais juros devidos sobre o capital de giro e, claro, os impostos embutidos no preo final do vaso decorado. Esses itens no so insumos, pois no esto incorporados ao produto final. Os trabalhadores voltam a cada ms, a oficina pode ser utilizada continuamente, os emprstimos podem ser renovados, etc. Figura 10 Importncia do Valor agregadoLucro do artista, aluguis, juros, salrios, impostos embutidos no preo final.

VA $115 Energia $15 VI $85 Tintas $40 Vaso cru $30

VP $200

Esquematicamente, nosso exemplo ficaria da seguinte forma: uma situao parecida com o exemplo da construo civil, mostrado acima, que entrega prdios no valor de R$ 12 milhes tendo empregado insumos (cimento e ao) no valor total de R$ 1,5 bilho. Para que possamos discutir quais os fatores que podem contribuir com o crescimento do PIB ao longo do tempo ser conveniente desagregar (dividir) esse agregado econmico a fim de refinar a anlise. Assim, o PIB pode ser separado em subconjuntos de bens e servios de diversas formas. Uma maneira seria por setor de Economia Aplicada

34 atividade: agricultura, indstria e servios. Para qualquer pas, possvel calcular o PIB industrial, o PIB agrcola e o PIB do setor de servios, cuja soma corresponde ao produto interno bruto em sua totalidade. Outra forma separar os bens em duas categorias bsicas: os bens de consumo e os bens de investimento. Esta separao nos permitir analisar em mais detalhes o que se chama de consumo agregado e investimento agregado. Suponha inicialmente que um determinado pas no possui governo, nem se relaciona com o resto do mundo atravs de importaes e exportaes. uma situao meramente hipottica que se convenciona chamar de economia fechada e sem governo. Toda a produo de bens e servios finais s pode ser classificada em duas categorias: bens de consumo, que se destinam a satisfazer necessidades ou desejos dos consumidores, e bens de investimento, adquiridos pelas empresas para viabilizar a produo de outros bens e servios. Assim, podemos representar o PIB pela igualdade abaixo:

PIB = consumo agregado + investimento agregado, ou (3.1) PIB = C + I

Esta representao apresenta o PIB sob a tica da produo. Isto , os bens e servios produzidos na economia em um determinado ano so classificados ou como bens de consumo ou como bens de investimento. No entanto, em uma economia fechada e sem governo, as empresas acabam transformando sua produo agregada (ou produto agregado) em renda agregada. A tica da renda agregada permite outra representao do PIB. Ao venderem seus produtos aos preos de mercado, as empresas obtm um faturamento que transferido s pessoas (fsicas) atravs do pagamento de salrios, juros, aluguis, lucros e dividendos. Isto o que se chama remunerao dos fatores de produo. Os fatores de produo so os elementos essenciais para que uma economia possa produzir. Em ltima instncia, os fatores de produo so o capital e o trabalho. A remunerao do trabalho feita atravs dos salrios. J a remunerao do capital se desdobra em vrias categorias. Aquele que aluga um escritrio para instalar sua firma se utiliza dele como capital, e tem que remunerar o dono deste capital atravs do pagamento de aluguis. Aquele que toma dinheiro emprestado para utilizar como capital de giro paga juros ao

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35 dono do dinheiro. J o empresrio, quando dono de sua empresa, tem direito aos lucros que a empresa gera.2 Por seu turno, a renda agregada pode ser transformada em gasto (o gasto agregado). Em uma economia fechada e sem governo, o gasto somente pode se dar atravs da aquisio de bens e servios de consumo ou de investimento, fechando o ciclo. Os bens de consumo so adquiridos pelas pessoas (fsicas), ao gastarem parte de sua renda. J os bens de investimento so adquiridos pelas empresas (pessoas jurdicas). No entanto, se a empresa transfere todo o seu ganho na forma de remunerao dos fatores produtivos, como ela poder adquirir bens de investimento? Na Macroeconomia, costuma-se supor que todo o investimento financiado com recursos de fora da empresa. Por exemplo, se a empresa acumula lucros para financiar seus projetos de investimento, tudo se passa como se os donos da empresa decidissem emprestar parte do lucro a que tm direito para sua prpria empresa. Por enquanto devemos lembrar que os bens de consumo so adquiridos pelas pessoas (fsicas), atravs do gasto de parte de sua renda, e que os bens de investimento so adquiridos de algumas empresas que compram de outras, e que se financiam tomando recursos emprestados. Este movimento atravs do qual a produo vendida, viabilizando a gerao de renda que, por sua vez, se transforma em gasto que nada mais do que a compra daquela mesma produo o chamado fluxo circular de renda, o qual est representado esquematicamente na figura abaixo. As setas representam fluxos financeiros. Figura 11 Fluxo Circular da Renda

Fluxo circular de renda PRODUO

GASTOS

RENDA

2

interessante notar que a Economia considera fatores como terra e tecnologia como formas de capital. A terra sendo uma espcie de capital natural e a tecnologia como capital intelectual.

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36 Na comparao do PIB de diversos pases, usual utilizar o mtodo chamado de Paridade do Poder de Compra (Puchased Power Parity). Esse mtodo consiste em desprezar a taxa de cmbio corrente, sujeita s grandes oscilaes no dia a dia, e empregar uma taxa de cmbio alternativa para transformar o valor do PIB de um pas de sua prpria moeda para dlares. Essa taxa de cmbio alternativa calculada reunindo-se uma cesta de bens e servios idntica em todos os pases. Se essa cesta custa, por exemplo, R$ 2.100 no Brasil e US$ 1.000 nos EUA, a taxa de cmbio segundo a Paridade do Poder de Compra ser R$ 2,10. Veja abaixo como ficam os valores PIBs dos mesmos pases listados anteriormente segundo a Paridade do Poder de Compra:

Valores em US$ Trilhes em 2009

1- Estados Unidos- 14,266 3- China- 4,757 5- Frana- 2,634 2,198 7- Itlia- 2,089 9- Espanha- 1,438

2- Japo- 5,048 4- Alemanha- 3,235 6- Reino Unido-

8- Brasil- 1,481 10- Canad- 1,319

Fonte: Fundo Monetrio Internacional - World Economic Outlook Database, 2010.

Numa economia fechada, isto , sem relaes com o exterior, vale sempre a igualdade entre produto agregado, renda agregada e gasto agregado. Mas a representao do fluxo circular de renda, no qual a produo agregada, a renda agregada e o gasto agregado so necessariamente iguais, nos permite representar uma outra relao, to importante quanto a relao (3.1), mostrada acima. Se a produo se transforma em renda (alguns autores usam o jargo PIB => RIB, ou seja, Produto Interno Bruto gerando a Renda Interna Bruta) a renda, por sua vez, no poderia ser desagregada, da mesma forma que desagregamos o PIB? De que forma as pessoas em geral alocam sua renda em uma economia fechada e sem governo? Nesta situao hipottica, s h duas coisas que se pode fazer com a renda: consumir ou poupar. Se o seu consumo for menor que sua renda, ento sua poupana ser positiva, isto , haver um excedente de renda que poder ser emprestado. Mas emprestado para quem? Se algum possui gastos maiores que sua renda, ter uma Economia Aplicada

37 poupana negativa, isto , precisar pedir emprestado (caso esta pessoa no tenha ela mesma poupado no passado). Alm disso, como vimos, as prprias empresas precisam de recursos de terceiros para investir. Assim, neste exemplo hipottico, aqueles que tm poupana positiva podem emprestar para aqueles que tm poupana negativa ou que precisam investir. Ainda assim, s h duas coisas a fazer com a renda: consumir ou poupar. E como a renda agregada igual ao produto agregado (que nada mais do que o PIB), chegamos seguinte relao:

PIB = consumo agregado + poupana agregada, ou (3.2) PIB = C + S

Agora observe. Vamos colocar lado a lado as relaes (3.1) e (3.2) apresentadas acima3:

(3.1) (3.2)

PIB = C + I PIB = C + S

Produto e Gasto Agregados Renda Agregada

Considerando estas duas igualdades (na verdade, estas duas identidades, pois resultam de uma definio do que seja o PIB e a Renda Agregada), podemos derivar uma segunda relao de grande importncia: PIB = C + I = PIB = C + S C+I=C+S (3.3)

I=S

3

Note: em Macroeconomia, investimento no sinnimo de aplicao financeira. Neste contexto,

investimento significa a produo de bens e servios que so utilizados na produo de outros bens e servios sem serem transferidos diretamente para estes novos produtos. Assim, bens de investimento so, tipicamente, mquinas, equipamentos, instalaes industriais, implementos agrcolas, automveis que so utilizados por empresas de transporte de passageiros (taxis, nibus, etc). Os bens que se transferem para os produtos (areia na construo civil, tinta nos automveis, plstico na indstria de brinquedos) no so bens finais, mas insumos ou matrias-primas. Do mesmo modo, como veremos adiante, poupana no sinnimo de caderneta de poupana, representando apenas a parcela da renda agregada no consumida no perodo corrente.

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38 Poupana (=Investimento) em pases selecionados como percentual do PIB: China: 39% Coria: 30% Turquia: 26% Brasil: 19% EUA: 18% ndia: 30% Espanha: 28% Japo: 24% Argentina: 19% Bolvia: 12%

Os dados acima mostram que os pases com maior potencial de crescimento sustentado a longo prazo so os que tm maiores taxas de investimento e poupana. Um pas com a China pode manter a taxa de crescimento do PIB perto de 10% ao ano em mdia graas a um nvel de investimento prximo a 40% do prprio PIB. Outros pases como Brasil e Argentina tm crescido muito pouco nos ltimos dez anos (em mdia), pois no investem o suficiente para sustentar o crescimento. Em algum momento, pases que se deparam com baixos nveis de investimento ou tero falta de capacidade produtiva ou tero que importar bens e servios em escala crescente (caso dos EUA). A identidade (3.3) mostra que, em uma economia fechada e sem governo, o investimento agregado necessariamente igual poupana agregada. Caso o pas hipottico em questo consuma demais, haver menos recursos disponveis para o investimento. A capacidade produtiva estar sendo destinada prioritariamente para a gerao de bens de consumo. Agora, caso as pessoas decidam consumir menos e, portanto, poupar mais (no h nada mais a fazer com a renda que no consumir ou poupar), sobraro recursos que podero ser emprestados para as empresas que podero investir. Como, em geral, os projetos de investimento so feitos, mesmo que parcialmente, com recursos tomados de emprstimo, o investimento agregado poder ser expandido com a ajuda do aumento da poupana. Note um detalhe importante. Caso as firmas decidam, por exemplo, reter uma parcela dos lucros gerados para financiar seus prprios projetos de investimento, tal reteno de lucros tambm ser caracterizada como poupana. Isto porque, as firmas, por deciso de seus proprietrios e/ou acionistas, no transferem os lucros, na forma de rendas, para estes mesmos proprietrios e acionistas. Assim, em ltima anlise, foram eles mesmos que tomaram a deciso de poupar recursos que eram seus por direito, deixando-os acumulados na firma. Assim, como se a firma financiasse, ainda que

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39 parcialmente, seus projetos de investimento, com recursos dos prprios donos da empresa. Outra observao importante que poupana, em Macroeconomia, no sinnimo de caderneta de poupana. Poupana simplesmente a parcela da renda que no consumida no perodo analisado, seja ela emprestada diretamente a algum agente que precise de recursos, seja ela aplicada no sistema financeiro em qualquer tipo de aplicao financeira.

3.1.3 PIB e PNBAgora, vamos supor que nossa economia hipottica possui um nico tipo de relao com o exterior. Ainda no h importao ou exportao de bens, por exemplo, mas suponhamos que existem empresas estrangeiras operando no pas, assim como existem empresas do pas operando no exterior. Uma empresa estrangeira aquela cujo capital pertence a pessoas no residentes no pas. Por analogia, uma empresa nacional aquela que pertence a pessoas que residem no pas. Como as empresas tm que remunerar os fatores de produo, as empresas estrangeiras enviam periodicamente recursos aos respectivos donos. Isto significa que existem remessas de lucros e dividendos para fora do pas. Ao mesmo tempo, as empresas nacionais, operando no estrangeiro, enviam lucros e dividendos ao pas. s remessas para o exterior chamaremos de Renda Enviada ao Exterior (REE) e s remessas feitas a partir de fora chamaremos de Renda Remetida do Exterior (RRE). diferena entre elas, chamaremos de Renda Lquida Enviada ao Exterior (RLEE, isto , RLEE=REE - RRE). Ao introduzirmos o conceito de RLEE, estamos fazendo uma distino entre a renda gerada dentro das fronteiras de um pas (que se relaciona com o PIB) e a renda gerada por empresas pertencentes a residentes no pas. Se existirem muitas empresas multinacionais operando em um pas, e as remessas feitas s matrizes superarem as remessas feitas pelas empresas nacionais para dentro dele, ento parte do produto agregado no se transforma em renda agregada. Os produtos so gerados, vendidos, permitem a remunerao dos fatores de produo nacionais, mas, da mesma forma, tm que remunerar os fatores de produo estrangeiros e, por conta disso, se transformam em renda de pessoas residentes no exterior. Quando descontamos do PIB a RLEE, chegamos a um novo conceito: o de Produto Nacional Bruto, isto , a produo total,

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40 realizada em um pas em determinado perodo de tempo, e que se transformou, de fato, em renda nacional. Pases que enviam mais renda ao exterior do que recebem (Brasil) tm PIB > PNB. Pases com grandes volumes de capitais investidos no exterior (Holanda, Japo) ou muitos emigrantes enviando renda para as famlias no pas de origem (Portugal e Israel) tm PNB > PIB. Em 2005, por exemplo, o PIB brasileiro foi de R$ 1,937 trilhes e o PNB foi de R$ 1,876. Portanto, a RLEE foi de cerca de 3,2% do PIB brasileiro naquele ano. Como regra, comparaes de renda per capita entre diferentes pases devem considerar a varivel PNB (em ingls, GNP - Gross National Product ou GNI - Gross National Income). Caso contrrio, no caso da Sua ou da Holanda, estaramos excluindo os lucros das filiais de empresas como a Nestl e a Phillips, remetidas para os acionistas naqueles pases.

Figura 12 PIB e PNB

Anlises do PIB e do PNBSRL= Saldo de Receitas LquidasSRL = diferena entre RLRE e RLEE, em que:RLRE- Receitas Lquidas Recebidas do Exterior; RLEE- Receitas Lquidas Enviadas ao Exterior

BrasilSRL

HolandaSRL

PIB

PNB

PIB

PNB

Prof. M.Sc. Claudio A. Garbi

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41 A Renda Lquida Enviada ao Exterior um dos componentes das contas externas dos pases, mas muito pouco citada na mdia. Juntamente com as importaes e exportaes, a RLEE compe as chamadas Transaes Correntes do pas. Pases onde as importaes (cujo smbolo tradicional M) somadas RLEE so superiores s exportaes (cujo smbolo X) tm dficit externo ou dficit em transaes correntes. Para no esgotarem suas reservas internacionais, os pases que tm dficit externo ou dficit em transaes correntes devem atrair capitais estrangeiros, que so uma fonte alternativa de dlares para abastecer as reservas internacionais do pas, administradas pelo Banco Central. Quando nem mesmo o fluxo de capitais estrangeiros (tambm chamados de poupana externa ou SX) suficiente para compensar a perda de dlares decorrente do dficit externo, em geral os paises recorrem ao Fundo Monetrio Internacional. A figura abaixo resume essas relaes. Figura 13 Fluxo de divisas

Exportaes (X) + RLRE BACEN Importaes (M) + RLEE Transaes correntes

Capitais estrangeiros (Sx) + FMI

A importncia do investimento agregado em uma economia decorre do fato de que, ao investirem, as empresas ampliam sua capacidade de produo de bens e servios. Seria impossvel para um pas fazer com que o consumo crescesse ano a ano sem que as empresas estivessem investindo. Ao expandirem sua capacidade de produo, as empresas adquirem novas mquinas, constroem novas instalaes, modernizam seus equipamentos ( o chamado investimento em capital fsico) ou ainda oferecem treinamento sua mo-de-obra, promovem reordenamento nas tcnicas de

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42 gesto, modificam as rotinas de trabalho ( o chamado investimento em capital humano). No entanto, na discusso feita at aqui, fizemos uma simplificao que j pode ser superada. Tratamos apenas de uma forma de investimento: o investimento das empresas. Do mesmo modo, toda a poupana era tratada simplesmente como renda no consumida (do setor privado). Na realidade, como mostram os dados do quadro abaixo, h duas fontes de investimento: o realizado pelas empresas (aquisio de mquinas, equipamentos etc. pelo setor privado) e o realizado pelo governo (obras pblicas, compra de equipamentos para instituies governamentais como hospitais pblicos, escolas etc.). Continuaremos chamando o investimento privado de I e passaremos a chamar o investimento pblico de IG. Do mesmo modo, no h apenas uma fonte de poupana, mas trs. Continuaremos chamando a renda no consumida do setor privado de S. Mas o prprio setor pblico pode alocar parte de suas receitas tributrias (que chamaremos de T) para realizar investimento. Toda vez que essas receitas superam as despesas de custeio (que chamaremos de G: salrios do funcionalismo, despesas com previdncia e com a manuteno da mquina administrativa), pode haver alocao de poupana pblica (SG = T - G) para investimentos. Por fim, todos os pases podem contar com fluxos de capitais estrangeiros, isto , poupana externa (SX) que pode ser carreada para investimentos internamente.4 Com esses novos elementos, a expresso 3.3, acima, pode ser completada, passando a assumir a forma da expresso 3.3a, a seguir.

(3.3a)

I + IG = S + S G + S X Temos agora, explicitamente, dois tipos (complementares) de investimento

(privado e pblico) e trs fontes de poupana (privada interna, pblica e externa). Os dados abaixo ilustram a evoluo dessas variveis no passado recente do pas, permitindo a discusso sobre o potencial de crescimento acumulado ao longo de mais de vinte anos.

4

Rigorosamente, a poupana externa corresponde ao dficit em transaes correntes do Balano de Pagamentos, como demonstrado no glossrio. Um pas que remete.

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43

3.1.4 A Demanda Agregada em uma Economia Completa (Com Governo e Relaes com o Exterior)Vamos agora relaxar nossas hipteses de que o nosso pas imaginrio no possui nem governo nem relaes comerciais com o resto do mundo e vamos voltar a analisar os componentes do PIB. Agora que j sabemos o que leva ao aumento da capacidade de produo ao longo do tempo, nosso foco ir se voltar para quais bens e servios esto sendo demandados a cada momento e que fatores podem influenciar no nvel e na composio da demanda agregada. Em uma economia fechada e sem governo, toda a produo em cada perodo de tempo somente pode ser classificada como bens e servios de consumo ou de investimento do setor privado domstico. Ao introduzirmos o governo, podemos imaginar que parte de tudo o que se produz em um pas pode, tambm, destinar-se ao consumo ou ao investimento governamentais. Existiro pessoas que sero remuneradas por prestarem servios ao governo (funcionrios pblicos, empresas contratadas etc.); parte da produo de bens (material de escritrio, roupas, combustveis etc.) ser adquirida pelo setor pblico, o qual tambm comprar parte dos bens de investimento (caminhes, edifcios comerciais, equipamentos etc.). Aos gastos do governo com bens e servios de uso corrente (servios prestados de forma contnua, energia eltrica e combustveis, materiais de escritrio etc.), chamaremos de consumo do governo. J a aquisio de bens que se destinam viabilizao do desempenho das funes atribudas ao governo (obras de infra-estrutura, caminhes, escolas, hospitais etc.) ser chamada de investimento do governo. Note que no h muita novidade em relao desagregao do PIB, mostrada atravs da expresso (3.1). Estamos apenas destacando, no consumo e no investimento agregados, a parcela do governo, j que este somente foi introduzido na anlise a partir de agora. Assim, considerando o setor governamental, a expresso (3.1) passa a apresentar a seguinte forma:

PIB = consumo privado + investimento privado + investimento do governo + consumo do governo, ou

(3.1a)

PIB = C + I + IG + G

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44 Agora, vamos admitir que o pas possua relaes comerciais com o resto do mundo. Parte de tudo que se produz dentro do pas se destina s exportaes, ou seja, no consumido nem investido dentro do pas, seja pelo governo, seja pelo setor privado. Como no poderia deixar de ser, teremos que somar as exportaes (gastos realizados por no-residentes com produtos e servios produzidos dentro de nosso pas) ao nosso PIB. Mas, por outro lado, como o pas importa bens e servios do resto do mundo, haver um sem nmero de produtos cujo valor trar embutido uma parcela de importados (matrias-primas, componentes, servios como fretes, seguros, etc.). Sendo assim, o valor das importaes dever ser retirado do PIB, pois a parcela de importados presente em nossos gastos totais no foi produzida aqui. Como conseqncia, a expresso (3.1a) passa a apresentar a seguinte forma:

(3.1b)

PIB = C + I + IG + G + X - M Note que o termo (X - M) simplesmente o resultado da balana comercial de

um pas5. Se existir um dficit comercial (isto , X < M), o comrcio externo tender a reduzir o PIB. Havendo supervit comercial (X > M), o comrcio externo tender a aumentar o PIB. Por fim, vamos supor que nossa economia possui um sistema financeiro. Desta forma, as pessoas que poupam no mais emprestaro s empresas (e s pessoas que consomem alm de sua renda corrente) de forma direta. Os poupadores passaro a aplicar seus recursos financeiros excedentes no sistema financeiro que repassar estes recursos na forma de crdito queles que precisarem de emprstimo. Alm das pessoas (fsicas) que consomem mais do que ganham e as empresas que desejam fazer gastos com investimento, o governo pode, eventualmente, precisar de emprstimos. Para isto, basta que, em algum momento, o total arrecadado com impostos (T) seja menor que o total de gastos com consumo e investimento (isto , T < G + IG). Se, em algum momento, o governo arrecadar com impostos mais do que seus gastos, ento ele pode se tornar um emprestador de recursos.

5

Em termos rigorosos, X e M incluem as transaes internacionais de bens e servios no-fatores de produo. Estes termos sero melhor explicados quando analisarmos o balano de pagamentos, na seo dedicada ao macromercado de cmbio.

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45 Figura 14 Fluxo Circular da renda

Fluxo Circular de RendaImportao

MExportao

ProdutoConsumo

X

GastoInvestimento Poupana

RendaSistema FinanceiroEndividamento pblico

Saldo de RL

Gastos+ Invest. do Governo (G+Ig)

Tributos

GovernoProf. M.Sc. Claudio A. Garbi

A figura mostra que, de tudo que produzido dentro das fronteiras de um pas em termos brutos (isto , desconsiderando-se a depreciao, o que significa que estamos tratando do PIB), parte se transforma em renda dos residentes (renda nacional bruta) e parte remetida para fora do pas (RLEE ou renda lquida enviada ao exterior, conceito que j desconta a renda recebida do exterior). A renda nacional bruta (isto , incluindo a depreciao) passa a ser igual ao PNB, e se destina ao consumo, poupana e ao pagamento de tributos. J a poupana, transformada em crdito pelo sistema financeiro, financia o investimento das empresas, bem como o consumo daqueles que gastam mais do que ganham e, eventualmente, o excesso de gastos do governo sobre o total arrecadado com tributos. No entanto, do total de gastos na economia (gasto agregado), uma parcela enviada ao exterior na forma de pagamento pela importao de bens e servios. O restante compra a produo nacional, a qual tambm parcialmente adquirida por estrangeiros que gastam comprando nossos produtos de exportao, o que fecha o fluxo circular de renda. A Demanda Agregada representada na figura pela categoria GASTO e corresponde exatamente expresso 3.1b. Toda vez que um de seus componentes estiver crescendo, isso dever colaborar para a expanso do nvel de atividade. Com isso, vamos analisar os determinantes de dois dos principais componentes da Demanda

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46 Agregada: consumo e investimento. Os demais componentes, ligados ao setor governamental e externo sero analisados nas sees seguintes.

1) A influncia do nvel de renda dos perodos anteriores: ciclos virtuosos ou ciclos viciosos so comuns em Economia. Se o nvel de atividade de um pas j se encontra em uma trajetria de expanso, isso significa que o nvel de renda das pessoas e o volume de lucro das empresas tambm devem estar em expanso. Em economias prsperas observa-se o crescimento sustentado do consumo, com o surgimento de novos hbitos e de novos mercados. Isso tende a estimular o crescimento das empresas, que passam a investir na tentativa de se antecipar demanda. Isso gera novos empregos e novas encomendas para outras empresas, auto-sustentando o ciclo virtuoso. interessante notar que o crescimento da renda permite o aumento simultneo de consumo e de poupana (combinados em alguma proporo). Com isso, os investimentos acabam encontrando fontes de financiamento geradas pela expanso da atividade econmica ao longo da trajetria de prosperidade econmica. Infelizmente, o contrrio tambm ocorre. Quando uma economia inicia uma etapa de reduo do nvel de atividade, muitas pessoas cortam o consumo preventivamente, iniciando reaes em cadeia que reforam a trajetria de queda. 2) A influncia dos impostos: a regra nesse caso simples. O volume de renda disponvel para consumo ou poupana depende tanto da renda bruta quanto da fatia de impostos a ser paga. Elevaes de carga tributria deprimem, a um s tempo, o consumo e a poupana do setor privado. Ao mesmo tempo, se esse aumento de carga tributria reduzir a rentabilidade dos projetos de investimentos, muitos podero ser simplesmente deixados de lado, o que reduziria tambm os gastos das empresas na compra de bens de capital. Em resumo, aumentos de impostos tendem a reduzir

consumo, poupana do setor privado e, eventualmente, o investimento do setor privado. Cortes de impostos so uma medida padro para estimular o consumo e reaquecer a Demanda Agregada em tempos de recesso. A influncia do nvel de taxa de juros: o impacto mais imediato de uma elevao dos juros reduzir despesas de consumo. Tanto as pessoas que compram a crdito (e que notam que o valor das prestaes se eleva) quanto as que compram vista (mas que sacam recursos do sistema financeiro para consumir bens de alto valor) reduzem o consumo quase que de imediato quanto os juros se elevam. No entanto, com o encarecimento do capital de terceiros, as empresas tambm reavaliam seus projetos de investimento. Caso o retorno esperado sobre um Economia Aplicada

47 projeto seja inferior taxa de juros (custo de capital), ele certamente ser abandonado ou adiado. Assim, as taxas de juros so um fator decisivo para influenciar o nvel de demanda agregada. Se for possvel alterar separadamente os juros que incidem sobre consumo e sobre investimento, tambm se pode influenciar a composio da

Demanda Agregada, estimulando um desses componentes em detrimento do outro. 3) A influncia das expectativas e da averso ao risco: ainda que cada um dos fatores acima seja favorvel, possvel imaginar que a Demanda Agregada no esteja aquecida em funo de meras expectativas. Quando os consumidores acreditam que ocorrer uma recesso ou um aumento dos impostos no futuro prximo, razovel supor que j devam iniciar um movimento de reduo do consumo e ampliao da poupana como medida preventiva. Ao mesmo tempo, se os empresrios esperam que os juros sero elevados no curto prazo, iniciar um projeto de investiment