8
Hoehnea 30(3): J 73-179, 2 fig., 2003 FI6ruia fanerogamica da planicie Iitoranea de Picinguaba, Ubatuba, SP, Brasil: Boraginaceae Larissa Cavalheiro l , 2, Denilson Fernandes Peralta I e Antonio Furlan I Recebido: 06.09.2002: aceito: 21.072003 ABSTRACT - (Fanerogamic florula fi'om coastal plain ofPicinguaba, Ubatuba, Sao Paulo, Brazil: Boraginaceae). The taxonomic study of Boraginaceae from coastal plain of Picinguaba showed the occurrence of two genera and seven species. Cordia was represented by six species and TO/lrnejorlia by only one. Keys to genera and species, descriptions, illustrations, and taxonomy comments were included. Key words: Atlantic-Florest, Cordia, taxonomy, TO/ll'nejorlia RESUMO - (Flarula fanerogamica da planicie litoranea de Picinguaba, Ubatuba-SP, Brasil: Boraginaceae). No tratamento taxonomico da familia Boraginaceae para a planicie litoranea de Picinguaba, Ubatuba, SP, foram reconhecidos dois generos e sete especies. 0 genero Cordia apresentou maior diversidade com seis especies e Tournejorlia apenas uma especie. Foram feitas chaves de identificacyao para generos e especies, descricy5es, ilustracy5es e comentarios taxonomicos. Palavras-chave: Cordia, Mata Atlantica, taxonomia, Tournejol'lia A familia Boraginaceae, segundo Judd et al. (1999), esta composta pOI' cerca de 117 generos e 2.400 especies, constituindo um taxon numeroso, com ampla distribuiyao nos tropicos, subtropicos, regioes temperadas e articas. Os centros de dispersao estao localizados no Mediternlneo e America. No Brasil, existem nove generos nativos de Boraginaceae: Cordia, Palagonu!a, Auxel11l11a, Lepidocordia, ROlu!a, Tournejorlia, Heliolropiul11, Morilzia e Thaul11alocaryu//1 (Barroso et al. 1986). Furlan et al. (1990) iniciaram a Florula Fanerogamica de Picinguaba, delimitando 0 estudo e estimando 0 provavel numero de especies para cada familia encontrada nesta area. Seguindo esta proposta podem ser citados trabalhos sobre as familias Orchidaceae (Ribeiro & Monteiro 1994), Melastomataceae (Romero & Monteiro 1994) e Leguminosae (Garcia & Monteiro 1994), onde cada familia recebe 0 devido tratamento taxonomico, colaborando assim para 0 conhecimento da riqueza local e da biodiversidade litoranea do estado de Sao Paulo. Este trabalho consiste no tratamento taxonomico da familia Boraginaceae, incluindo chaves de identificayao para generos e especies, ilustrayoes dos especimes encontrados, alem de alguns comentarios taxonomicos para os taxons ocorrentes na planicie litoranea do Nucleo Picinguaba, Ubatuba, Sao Paulo, Brasil. Material e metodos Foram analisadas exsicatas do Herbario Rio- Clarense (HRCB) e Universidade Estadual Paulista do Campus de Sao Jose do Rio Preto (SJRP) e, ainda, amostras adicionais do Herbario do Estado "Maria Eneyda P. K. Fidalgo" (SP), Herbario do Departa- mento de Botanica da Universidade de Sao Paulo (SPF). Alem de amostras da IIha do Cardoso (Sao Paulo) depositados nos Herbarios SP e UEC (Herbario do Departamento de Botanica da Universidade Estadual de Campinas). As abreviayoes correspondentes a cada herbario estao de acordo com o Index Herbariorum (Holmgren et al. 1990). A analise das exsicatas foi realizada com estereomicroscopio Olympus (SZ40), para 0 exame I. Universidadc Estadual Paulista. Campus de Rio Claro. Caixa Pastal 199. 13506-900 Rio Claro, SP, Brasil. 2. Autor para eorrespondcncia: [email protected]

FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada

Hoehnea 30(3): J 73-179, 2 fig., 2003

FI6ruia fanerogamica da planicie Iitoranea de Picinguaba,Ubatuba, SP, Brasil: Boraginaceae

Larissa Cavalheiro l, 2, Denilson Fernandes Peralta I e Antonio Furlan I

Recebido: 06.09.2002: aceito: 21.072003

ABSTRACT - (Fanerogamic florula fi'om coastal plain ofPicinguaba, Ubatuba, Sao Paulo, Brazil: Boraginaceae). The taxonomicstudy of Boraginaceae from coastal plain of Picinguaba showed the occurrence of two genera and seven species. Cordiawas represented by six species and TO/lrnejorlia by only one. Keys to genera and species, descriptions, illustrations, andtaxonomy comments were included.Key words: Atlantic-Florest, Cordia, taxonomy, TO/ll'nejorlia

RESUMO - (Flarula fanerogamica da planicie litoranea de Picinguaba, Ubatuba-SP, Brasil: Boraginaceae). No tratamentotaxonomico da familia Boraginaceae para a planicie litoranea de Picinguaba, Ubatuba, SP, foram reconhecidos dois generose sete especies. 0 genero Cordia apresentou maior diversidade com seis especies e Tournejorlia apenas uma especie.Foram feitas chaves de identificacyao para generos e especies, descricy5es, ilustracy5es e comentarios taxonomicos.Palavras-chave: Cordia, Mata Atlantica, taxonomia, Tournejol'lia

Introdu~ao

A familia Boraginaceae, segundo Judd et al.(1999), esta composta pOI' cerca de 117 generos e2.400 especies, constituindo um taxon numeroso, comampla distribuiyao nos tropicos, subtropicos, regioestemperadas e articas. Os centros de dispersao estaolocalizados no Mediternlneo e America. No Brasil,existem nove generos nativos de Boraginaceae:Cordia, Palagonu!a, Auxel11l11a, Lepidocordia,ROlu!a, Tournejorlia, Heliolropiul11, Morilzia eThaul11alocaryu//1 (Barroso et al. 1986).

Furlan et al. (1990) iniciaram a FlorulaFanerogamica de Picinguaba, delimitando 0 estudo eestimando 0 provavel numero de especies para cadafamilia encontrada nesta area. Seguindo esta propostapodem ser citados trabalhos sobre as familiasOrchidaceae (Ribeiro & Monteiro 1994),Melastomataceae (Romero & Monteiro 1994) eLeguminosae (Garcia & Monteiro 1994), onde cadafamilia recebe 0 devido tratamento taxonomico,colaborando assim para 0 conhecimento da riquezalocal e da biodiversidade litoranea do estado de SaoPaulo.

Este trabalho consiste no tratamento taxonomicoda familia Boraginaceae, incluindo chaves deidentificayao para generos e especies, ilustrayoes dosespecimes encontrados, alem de alguns comentariostaxonomicos para os taxons ocorrentes na planicielitoranea do Nucleo Picinguaba, Ubatuba, Sao Paulo,Brasil.

Material e metodos

Foram analisadas exsicatas do Herbario Rio­Clarense (HRCB) e Universidade Estadual Paulistado Campus de Sao Jose do Rio Preto (SJRP) e, ainda,amostras adicionais do Herbario do Estado "MariaEneyda P. K. Fidalgo" (SP), Herbario do Departa­mento de Botanica da Universidade de Sao Paulo(SPF). Alem de amostras da IIha do Cardoso (SaoPaulo) depositados nos Herbarios SP e UEC(Herbario do Departamento de Botanica daUniversidade Estadual de Campinas). As abreviayoescorrespondentes a cada herbario estao de acordo como Index Herbariorum (Holmgren et al. 1990).

A analise das exsicatas foi realizada comestereomicroscopio Olympus (SZ40), para 0 exame

I. Universidadc Estadual Paulista. Campus de Rio Claro. Caixa Pastal 199. 13506-900 Rio Claro, SP, Brasil.2. Autor para eorrespondcncia: [email protected]

Page 2: FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada

174 lIoehnea 30(3). 2003

geral das estruturas e Zeiss (Citoval 2) com camaraclara acoplada, para a confecyao dos desenhos. Paraa descriyao das especies foram anotadas e/ou medidasas caracteristicas diagn6sticas de suas estruturas, taiscomo comprimento e largura do limbo foliar eindumento de ramos, folhas e flores. As peyas florais(cal ice, corola, androceu e gineceu) foram reidratadas,sendo posteriormente examinadas e medidas.

A determinayao e confirmayao do conceito enomenclatura das especies foram estabelecidasatraves de estudos comparativos dos exemplares comdiagnoses e descriyoes existentes na literaturaespecializada (Fresenius 1857, Johnston 1930, Smith1970, Barroso et al. 1986, Taroda & Gibbs 1986,Taroda & Gibbs 1987, Taroda & Cavalheiro 2002).

Resultados e Discussao

Boraginaceae Juss.

Plantas variando de ervas, arbustos, arvores eraramente lianas, em geral muito ramificadas, cominflorescencias do tipo cimeiras escorpi6ides, floreshermafroditas e, em geral, regulares penUimeras,corola simpetala, 5 estames epipetalos e ovariocomposto pOI' 2 carpelos e 4 6vulos, frutos drupaceosseparando-se em 4 nuculas ou reduzidos a uma unicanllcula.

Descriyao baseada nos especimes analisados eem obras de referencia como Johnston (1930) eBarroso et al. (1986). Para Picinguaba foramreconhecidos dois generos, Cordia e Tourneforliatotalizando sete especies.

Chave para identificayao dos generos

I. Estilete dicotomico duas vezes, 4estigmas; calice persistente no fruto, estecontendo I semente; arvores ou arbustos................................................................. Cordia

I. Estilete simples, estigma lmica; calice naapersistente no fruto, este se eparandona maturidade em 2-4 nuculas, cada qualcam 1-2 sementes; arbustas ou lianas........................................................ Tourneforlia

Cordia L.

Arvores au arbustos, invariavelmentepubescentes, tricomas geralmente simples,ocasionalmente estrelados. Folhas alternas usual mentemonom6rficas, as vezes dim6rficas, pecioladas ousesseis. Inflorescencia cimosa, bracteada, geralmentecorimbiforme, espigada ou capitul iforme, naoescorpi6ide. Flores pentiimeras; cal ice alto-conato,lobos muito curtos; corola campanulada ateinfundibuliforme, pequena ate grande, branca, amarela,alaranjada au vermelha, tuba cilindrico ou ampliadopara cima; estiletes delgados, dicotomicos duas vezescom 4 estigmas; avario 4-locular, l-ovulado. Frutodrupaceo arredondado no apice.

Esta presente em todo a mundo, principalmentenas regioes tropicais (Taroda & Gibbs 1986). NoBrasil, e encontrado em quase todo 0 pais, doAmazonas ao Rio Grande do SuI. Nos paises vizinhose citado desde a Venezuela ate 0 Uruguai, Paraguai eArgentina (Smith 1970).

Chave para as especies de Cordia

I. Plantas arbustivas, ate 2 malt. 22. Ramos pubescentes, estigmas achatados nas extremidades C. 1110110Sper177a2'. Ramos glabros, estigmas fol iaceos 3

3. Margem da folha denteada, flor ca. I cm C. eurassaviea3'. Margem da folha inteira, flor ca. 7 cm C. laguahyensis

I'. Plantas arb6reas, mais de 2,5 m aIt. .44. Folhas oblongas, maiores que 3,5 cm larg C. serieica/yx4'. Folhas lanceoladas, ate 3,5 cm larg 5

5. Folhas com ambas faces glabras ou glabrescentes C. eea/yeu/ala5'. Folhas com face abaxial glabra e adaxial pouco pubescente C. !>)"/veslris

Page 3: FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada

L. Cavalheiro. D.F. Peralta & A. Furlan: FI6ruia fanerogiimiea da planieic litoriinea de Pieinguaba: Boraginaecac 175

Cordia monosperma (Jacq.) Roem. & Schult., Syst.Veg.4:463.1819.Figura I A-D

Balieira, Erva-balieira.

Arbusto ate 2 m, ramos pubescentes, tricomas

simples de varios tamanhos. Folha el iptica aoblongo-Ianceolada, 2,5-5,0 x 0,9-1,5 cm, apice agudo,base atenuada, margem denteada, face adaxial

glabrescente, tricomas diminutos e face abaxialdensamente pubescente; peciolo 2-4 mm. Inflores­cencia corimbiforme, Dores sesseis regularmentedispostas; calice pubescente 3 mm, lobos menores queI mm; corola branca ou creme, 3 mm compr., tricomasna base dos estames, lobos 0,5 mm; anteras globosas;estilete curto menor que I mm, estigmas achatadosnas extremidades. Fruto glabro 6 mm, globoso.

Material examinado: VIII-1994, M.A. de Assis 300(HRCB, SJRP).

Amplamente dispersa pOI' todo 0 pais, Venezuelaate Uruguai, Paraguai e ao norte da Argentina, oconeprincipalmente nas capoeiras e nas orlas de mata.

Floresce quase todo 0 ano, sem picos expressivos(Smith 1970).

Cordia curassavica (Jacq.) Roem. & Schult., Sist.Veg. 4: 460. 1819.Figura I E-H

Arbusto ate 2 m, ramos glabros. Folha elipticaate lanceolada 5,5-11,0 x 2,0-4,5 cm, apice acuminado,

base atenuada, margem denteada, face adaxialpuberula e abaxial densamente pubescente,uniformemente distribuidos sobre lamina e nervura;peciolo 0,5-1,0 cm. Inflorescencia em espiga cimosa,Dores sesseis irregularmente dispostas; calice poucopubescente ate 4 mm, lobos 2 mm; corola branca 7 mmcompr., tricomas ausentes, lobos 2 mm; anteraslineares; estilete 1,5 mm, estigmas foliaceos. Fruto

glabro, globoso 5 mm.

Material examinado: IV-I988, A. Furlan et al. 505(HRCB).

Material adicional examinado: BRASIL. SAo PAULO:Ilha do Cardoso, IX-1976, P.H. Davis et al. 60653,6070 I (UEC); VII-1977, O. Vano 773 (SP); 111-1978,D.A. de Grande et al. 29, (SJRP, SP); XI-I978,M.A.V. Cruz et al. sin (UEC); VIII-1979, C.F.S.Muniz et al. 88 (SJRP, SP); 11-1980, D.A. de Grandeet al. 382 (SJRP, SP); X-1980, E. Forero et al. 8516,

(SJRP, SP), 8612 (SJRP, SP); X-1980, F. Barros 467(SJRP, SP); X-1981, M. Fonseca 483 (SJRP, SP);IV-1982, C.R.F. Guedes et al. 04 (SJRP, SP);XII-I985, J.Y. Tamashiro et al. 17982 (UEC).

Amplamente distribuida pOI' toda a regiao tropicaldo Novo Mundo, do Ceara ao Rio Grande do Sui,Argentina e Paraguai. De taxonomia dificil, no Brasiltem sido identificada como Cordia verbenacea DC.

mas, de acordo com Taroda & Gibbs (1986), este

binomio e um sinonimo de Cordia curassavica.Flora<;ao fevereiro-abril e setembro-dezembro.

Cordia taguahyensis Veil., FI. Flum. 98. 1825.Figura I I-M

Arbusto ca. 1,5 m, ramos glabros. Folha elipticaate lanceolada 8,0-16,0 x 2,0-4,0 cm, apice agudo, baseatenuada, margem inteira, face adaxial e abaxialglabrescentes, tricomas diminutos espalhados nalamina e maiores concentrados nas nervuras; pecioloate 1,5 cm. Inflorescencia corimbiforme, floresregularmente dispostas; calice sub-sessil glabrescenteate I cm, lobos 4 mm; corola branca 7 cm, tricomas

apenas na base dos estames, lobos I cm; anteraslevemente globosas; estilete 1,5 cm, estigmasfoliaceos. Fruto nao examinado.

Material examinado: 11-1988, J .E.L.S. Ribeiro et al.233 (HRCB); IV-I988, A. Furlan et al. 442 (HRCB,SJRP); 111-1989, A. Furlan et al. 768 (HRCB, SJRP);111-1989, A. Furlan et al. 774 (HRCB, SJRP);XI-1989, A. Furlan et al. 887 (HRCB, SJRP); XI-1990,A. Furlan et al. 1288 (HRCB, SJRP); X-1992, M.Sanchez et al. 3 (HRCB); 1-1995, A. Takahasi et al.76 (HRCB); 11-1995, A. Takahasi 83 (HRCB).

No Brasil, esta presente do Maranhao ate 0

Parana, concentradas na regiao costeira (Guimaraeset al. 1971). Relacionada a Cordia superba Cham.mas esta possui folhas e cal ice pubescentes enquantoque Cordia taguahyensis e facilmente reconhecidapela corola larga e pOI' suas folhas glabrescentes(Johnston 1930). Flora<;ao de fevereiro a abril e outubroa dezembro (Smith 1970).

Cordia sericica/yx A. DC., Prodr. Syst. Nat. RegniVeg. 9: 485. 1845.Figura I

Arvore 4 m (2,5-)4,0(8,0) m, ramos glabrescentes.Folha lanceolada, oblonga ou eliptica 7,0-15,0 x

3,5-4,5 cm, apice agudo a caudado ou acuminado, baseatenuada ou acuminada, margem inteira, membra-

Page 4: FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada

176 Hoehnea 30(3), 2003

nacea, escassamente hispida em ambas faces, faceabaxial rna is pal ida; peciolo ate 1,5 cm. Inflorescenciacorimboso-paniculada, repetidamente dicotomica,flores laxamente distribuidas; cal ice cilindrico ouestreitamente obov6ide no boUio, ate 2 mm, lobos3-4 mm; corola esbranquis:ada, ate 3 mm, lobes 2 mmcom pilosidade na base; anteras globosas; estileteI mm, estigmas foliaceos. Fruto globoso 6 mm, glabro.

Material examinado: IV-I988, A. Furlan et al. 392(\-IRCB, SJRP); V-1988, R. Costa et al. 59 (\-IRCB);1- I996, A. Takahasi et al. 236 (\-IRCB).

Presente nas regioes tropicais do mundo: AmericaCentral, Guatemala e indias Ocidentais. Ocorre nonorte da America do Sui, do Suriname a Colombia eoeste da Bolivia; no Brasil ocon'e desde 0 Amazonasate 0 Mato Grosso. Nota-se uma grande discussaosobre sua proximidade com Cordia hie%r A. DCmas diferem quanta as folhas com indumento bemdemarcado, a pilosidade curta e adpressa, alem doaspecto geral da planta. \-Ia notavel diferens:a na formado calice durante os estagios de seu desenvolvimento:o tuba geralmente cilindrico, com evidentes tras:oslongitudinais das nervuras no inicio passando a ov6ideou obov6ide sem essas marcas (Johnston 1930); 0

nome da especie provem do calice ser sericeo(Guimaraes et al. 1971). Floras:ao de janeiro a maio eabril a julho. 0 material estudado encontrava-se emestado vegetativo, assim a descris:ao foi baseada emE.P. Killip (comunicas:ao pessoal) e tambem nadescris:ao original.

Cordia eea/yeulala VeIL, FI. Flum. 96. 1825.Figura 2 E-\-I

Claraiba, louro salgueiro, laura mole, cha de bugre,cha de frade.

Arvore ca. 5 m, ramos glabros. Folha lanceolada5,5-13,0 x 2-3 cm, apice agudo, base aguda a atenuada,margem inteira; glabras ou glabrescentes em ambasfaces, tricomas diminutos; peciolo menor que I cm.Inflorescencia corimbosa-paniculada, flores laxamentedispostas; calice glabrescente 3,5 mm, lobos ate 1,5mm; corola branca ou amarelada, 6 mm, tricomasapenas na base dos estames, lobos largamentelanceolados,3 mm; anteras globosas; estilete 1 mm,estigmas achatados nas extrem idades. Frutosubgloboso ate 1,5 cm.

Material examinado: 11-1988, J.E.L.S. Ribeiro et al.196 (\-IRCB); IV-I988, A. Furlan et al. 371 (\-IRCB,

SJRP); VI-1988, J.E.L.S. Ribeiro et al. 289 (\-IRCB);V-1995, M.A. de Assis et al. 555 (\-IRCB).

No Brasil, estende-se do nordeste ao sui do paisnas florestas semidecidua e de galeria (Lorenzi 1992),de Minas Gerais ate 0 Rio Grande do Sui (Guimaraeset al. 1971); nordeste da Argentina e Paraguai. (Smith1970). Muito relacionada a Cordia magnoliaefolia,diferindo desta por apresentar folhas diminutas ealongadas. Floras:ao de outubro-maio.

Cordia silveslris Fresen. in Mart., FI. Bras. 8( 1): 12.1857.Figura 2 A-D

Louro-mole, louro, louro-branco.

Arvore ca. 3 m, ramos glabrescentes. Folhaeliptica ate oblongo-Ianceolada 5,5-10,5 x 2,5-3,0 cm,apice cuspidado, base aguda a atenuada, margeminteira, face adaxial glabrecente e abaxial glabra, trico­mas diminutos; peciolo 0,5-1,0 cm. Inflorescenciacorimbiforme, flores regularmente dispostas; calicesub-sessil pubescente ate 6 mm, lobos 4 mm; corola8 mm, glabra, lobos 3 mm; anteras lineares; estileteate 4 mm, estigmas achatados nas extremidades. Frutogloboso J cm.

Material examinado: 1-1993, M.A. de Assis 44 (\-IRCB).

Material adicional examinado: BRASIL. SAO PAULO:IIha do Cardoso, 11-1986, M.M.R.F. Melo et al. 641(SJRP, SP).

No Brasil estende-se do Amazonas e Bahia ateSanta Catarina em formas:oes florestais. Possui a coparelativamente pequena, com densa folhagemverde-escuro, permitindo assim 0 seu pronto reconhe­cimento (Smith 1970). Esta proximamente relacionadaa Cordia eea/yeu/ala pela forma das folhas e saoseparadas pela propors:ao das mesmas. Florayao dedezembro a maryo.

Tourneforlia L.

Tourneforlia hie%r Sw., Prod. Veg. Ind. Occ. 40.1788.Figura 2 I-L

Carul'll de veado bicolor

Arbusto ate 4 m ou lianas, ramos glabros. Folhaeliptica ate oblongo-lanceolada 6,5-1 1,0 x 2,5-5,0 cm,discolor, apice agudo ou acuminado, base aguda a

Page 5: FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada

L. Cavalheiro, D.F. Peralta & A. Furlan: FI6rllia faneroga1llica da planicic litoranca de Picingllaba: Boraginaceae 177

Eu \

11)

fu

1'\

A

1] H

J] M

Figura I. A-D. Cordia lI1onosperllla (M.A. de Assis 300). A. Ilabito. B. Flor. C. Detalhe do gineccu. D. Corola abcrta mostrando osestames. E-II. Cordia clirassavica (I\. Furlan 505). E. I hlbito. F. Flol". G. Corola aberta mostrando os estames. 1-1. Detalhe do gineeeu,I-M. Cordia lagllayenis (J.E.S. Ribeiro et al. 233). 1. Ilabito. J. Flol". L, Corola aberta moslrando os estames. M. Dctalhe do gineeeu.N. Cordia sericicalyx (A. Furlan et al. 392) habito.

Page 6: FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada

178 Hoehnea 30(3), 2003

fu

Figura 2. A-D. Cordia sy/veslris (M.A. de Assis 44), A. Habito. B. Flor. C. Corola aberta mostrando os estames. D. Detalhe do gineccu.E-II. Cordia eca/vclI/ala (J.E.L.S. Ribeiro et al. 196). E. Iiabilo. F. Flor. G. Corola aberta mostrando os estames. II. Detalhe do gineccu.J-L. TOllme!orlia hic%r (A. Furlan ct al. 763). I. Ilabito. ./. Detalhe da innoresccncia. L. Flor em corte longitudinal.

Page 7: FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada

L. Cavalhciro, D.F. Pcralta & A. Furlan: FI6ruia fancrogiimica cia planicic litoriinca clc Picinguaba: Boraginaccac 179

atenuada, margem inteira; glabra ou glabrescente em

am bas faces; peciolo ate 1,5 cm. Inflorescencia termi­nal, flores laxas regularmente dispostas; cal ice glabres­cente ate I mm, lobos lanceolados 0,5 mm; corolabranca Oll amarelada 5,0 mm, tricomas esparsos, loboslargamente ovalados ou lanceolados 1,0 mm; anteras

livres entre si e fixadas ao tubo da corola; estigmasessil encimado pOI' um apendice triangular; ova rio4-locular I-ovulado. Fruto glabro 0,5 cm, largamenteelipsoide, levemente tetralobado; embri30 reto.

Material examinado: IV-I988, A. Furlan et al. 407(HRCB, SJRP); 111-1989, A. Furlan et al. 763 (HRCB,SJ RP); 1-1990, F.C.P. Garcia et al. 555 (HRCB);1-1991, F.c.P. Garcia et al. 612 (HRCB).

Material adicional examinado: BRASIL. SAO PAULO:Ilha do Cardoso, 1-1978, D.A. de Grande 20 (SJRP,SP, SPF); 11-1978, G.T. Prance et al. 6974 (UEC);111-1982, S.L. Jung et al. 449 (SJRP, SP); IV-1989, F.Barros et al. 1638 (SP).

Ampla distribuiy30 na America Tropical incluindoGuiana e Paraguai. No Brasil esta presente noAmazonas, Pernambuco ate 0 extremo sui do paiscom maior concentray30 proxima ao litoral (Smith1970). As folhas discolores e 0 aspecto geral dainflorescencia, alem do estigma sessil, permitem apronta identificay30 desta especie (Taroda &Cavalheiro 2002). Floray30 de setembro-janeiro,janeiro a meados de abril.

Agradecimentos

Aos curadores dos Herbarios SP, SPF e UEC,em especial, a Profa. Dra. Neusa Taroda Ranga peloemprestimo de bibliografia e acesso ao acervo doHerbario SJRP.

Literatura citada

Barroso, GM., Peixoto,A. L., Ichaso, e.L.F., Costa, e.GGuimaraes, E.F. & Lima, H.e. 1986. Sistematica deAngiospermas do Brasil. v. 3. Imprensa Universitaria,Vic;osa, pp. 88-90.

Fresenius, G. 1857. Cordiaceae Heliotropieae et BoragineaeIn: c.F.P. Mattius; Eichler,A.G.; Endlicher, S.L. & I. Urban(eds.). Flora Brasiliensis, Typographia Regia, Monachii,v. 8, pp. 1-63.

Furlan, A., Cesar, O. & Monteiro, R. 1990. ESluciosnoristicos das matas de restinga de Picinguaba, SP. In:Anais do II Simp6sio de Ecossistemas da Costa Sui eSucleste Brasileira: Estrutura, Func;ao e Manejo. Aguascle Lind6ia, SP. Sao Paulo: Aciesp, v. 71, n. 2, pp. 220-227.

Garcia, F.C.P. & Monteiro, R. 1994. Especies cleLeguminosae na Planicie Litoranea Arenosa emPicinguaba, Ubatuba-SP. In: Anais clo III Simp6sio cleEcossistemas da Costa Brasileira: subsidios a umgerenciamento ambiental. Serra Negra, SP. Sao Paulo:Aciesp, v. 3, pp. 107-114.

Guimadies, E.F., Barroso, GM., Ichaso, eL.F. & Bastos,A.R. 1971. Flora da Guanabara: Flacourtiaceae,Olacaceae, Boraginaceae. Rodriguesia 38: 142-246.

Hickey, M. & King, e. 2002. Illustrateci Glossaty ofBotanicalTerms. Cambridge University Press. United Kingdon. 2ed. 208 p.

Holmgren, P.K., Holmgren, N.H. & Barnett, L.e 1990.Index Herbariorum, Parte I: The Herbaria of the World.editores. New York, 8 ed. v. 1.630 p.

Johnston, I.M. 1930. Studies in the Boraginaceae, VII I.Observations on the species ofCordia and Tournefortiaknown from Brazil, Paraguay, Uruguay, and Argentina.Contrtribution Gray Herbarium 92: 3-89.

Judd, W.S., Campbell, es., Kellog, E.A. & Stevens, P.F.1999. Plant Systematics, a phylogenetic approach.Sinauer Associates Inc., Sunderland, 464 p.

Lorenzi, H. 1992. Arvores Brasileiras: Manual deIdentificac;ao e Cultivo de Plantas Arb6reas Nativas doBrasil. v. I, Editora Plantarum, Nova Odessa, 351 p.

Ribeiro, J.E.L.S. & Monteiro, R. 1994. Diversidade dasOrquideas (Orchidaceae) da Planicie Litoranea da Praiada Fazenda (Vila de Picinguaba, Municipio de Ubatuba,SP) e ocorrencia no litoral brasileiro. In: Anais do IIISimp6sio de Ecossistemas da Costa Brasileira: subsidiosa um gerenciamento ambiental. Serra Negra, SP. SaoPaulo: Aciesp, v. 3, p. 99-106.

Romero, R. & Monteiro, R. 1994. Ocorrencia da familiaMelastomataceae na Planicie Litoranea de Picinguaba,Municipio de Ubatuba, Sao Paulo. In: Anais do IIISimp6sio de Ecossistemas cia Costa Brasileira: subsidiosa um gerenciamento ambiental. Serra Negra, SP. SaoPaulo: Aciesp, v. 3, p. 115-123.

Smith, L.B. 1970. Boraginaceae. In: Reitz, R. (ed.). FloraIlustrada Catarinensis. Itajai. 85 p.

Taroda, N. & Gibbs, P.E. 1986. A revision of the Brazilianspecies of Cordia subgenus Varronia (Boraginaceae).Notes from the Royal Botanic Garden Edinburg v. 44, n.I, pp. 105-140.

Taroda, N. & Gibbs, P.E. 1987. Studies on the genusCordia L. (Boraginaceae) in Brazil. 2. An outlinetaxonomic revision of subgenus Myxa Tarocla.Hoehnea 14: 31-52.

Tar-oda, N. & Cavalheiro, L. 2002. Flora Fanerogamica ciaIlha clo Cardoso (Sao Paulo, Brasil): Boraginaceae. InM.M.R.F. Melo et al. (eds.). Flora Fanerogamica da IIhaclo Carcloso, Instituto de Botanica de Sao Paulo v. 9,pp.105-114.

Page 8: FI6ruia fanerogamica da planicieIitoranea de Picinguaba ...arquivos.ambiente.sp.gov.br/hoehnea/2015/07/303_T01_21_07_2015.pdfdiagnoses e descriyoes existentes na literatura especializada