38

FICHA CATALOGRÁFICA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · poesia, especialmente a Concreta, por acreditar que a convivência com a Palavra escrita e falada se torna mais dinâmica e atrativa

  • Upload
    hanhi

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

FICHA CATALOGRÁFICA

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: A POESIA CONCRETA COMO INCENTIVO À LEITURA

Autora ROSEMERY PELIKY SILVA

Escola de Atuação Colégio Estadual Dom Áttico Eusébio da Rocha

Município da escola Curitiba

Núcleo Regional de Educação Curitiba

Orientador Prof. Dr. Ubirajara Inácio de Araújo

Instituição de Ensino Superior UFPR

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Produção Didático-pedagógica Unidade Didática

Público Alvo Alunos do 9º ano do Ensino Fundamental

Localização

Colégio Estadual Dom Áttico Eusébio da Rocha

Av. Presidente Wenceslau Bráz, 2779, Lindoia.

Curitiba – PR CEP 81010-001

Apresentação:

Este projeto propõe a prática de leitura de textos poéticos, levando-se em conta os aspectos de construção dos poemas concretos e cinéticos. Tendo como referência a característica de constante transformação visível no mundo contemporâneo e, em decorrência dessa característica a necessidade de se formar leitores eficientes para um ambiente marcado pela expressiva quantidade de informação que circula em diferentes esferas sociais, entende-se que o leitor deve ser incentivado a interagir criativamente com o texto para a compreensão de seus sentidos. Assim, justifica-se esta proposta para o ensino de textos poéticos na escola, a fim de subsidiar a sua prática de leitura. Entende-se que o principal desafio no sistema de ensino público atualmente é formar leitores e o deste trabalho é formar leitores literários por meio da poesia.

Palavras-chave Leitura; Literatura; Poesia Concreta.

2

3

APRESENTAÇÃO

Esta Unidade Didática dedica suas páginas à

poesia, especialmente a Concreta, por acreditar que a

convivência com a Palavra escrita e falada se torna

mais dinâmica e atrativa para o aluno quando oferece

oportunidades de explorar recursos, como as formas e o

movimento, numa combinação de significados, sons,

ritmos e imagens.

Como escrever é exteriorizar ideias e sentimentos,

fica aqui o convite ao leitor para o desafio de permitir-se

viajar no imaginário e deixar fluir toda a emoção que

certamente o terá envolvido fazendo com que o seu

pensamento se materialize na linguagem dando vida e

arte à sua criação.

“Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.”

Carlos Drummond de Andrade

4

INTRODUÇÃO

Transformar nossos alunos em leitores críticos e

reflexivos requer um trabalho persistente e progressivo.

Ler não é simplesmente extrair informação da escrita

fazendo decodificações de letra por letra, palavra por

palavra. É uma atividade em que a compreensão se faz

necessária e indispensável. Para que isso ocorra, o

professor deve promover situações favoráveis ao

desenvolvimento da leitura, assumindo seu papel de

orientador, de mediador da aprendizagem, como também de

interlocutor presente.

Se a escola é o lugar onde se aprende a ler e a

escrever e a conhecer a literatura, é preciso que ela

passe a desempenhar com destreza o seu papel, ainda mais

considerando que, para muitos alunos, a escola é a única

oportunidade de o texto literário apresentar-se como

intermediário entre o sujeito e o mundo.

A poesia está sempre presente na vida do ser humano:

nas canções de ninar, nos diários dos adolescentes, nas

frases de amor, de dor ou de consolo, nas músicas ouvidas

e cantadas.

O tratamento que se dá a ela na escola com frequência

estimula a passividade do leitor obediente, e isso é

facilmente percebido ao se observar os questionamentos

propostos a partir de textos que reiteram a compreensão da

sequência e dos significados apenas superficiais do texto.

O processo de leitura quase sempre se limita a um

sentido único, aquele que já vem construído, criado ou

proposto no livro didático. Nesse modo de leitura, não há

reflexão por parte do leitor para que haja a compreensão

dos sentidos do texto; o ler limita-se ao decodificar.

5

A partir dessa premissa é importante que o professor

repense sua prática didático-pedagógica e promova

situações favoráveis para a aprendizagem possibilitando o

desenvolvimento e a ampliação da capacidade leitora, da

competência comunicativa e da criatividade por meio do

trabalho sistemático de leitura de textos poéticos

familiarizando os alunos com a poesia, para que tenham

motivação em ler e ouvir poemas e expor suas emoções por

meio dos recursos expressivos da linguagem.

As aulas de literatura devem se converter em aulas de

leitura, promovendo o resgate da poesia e incentivando o

aluno a refletir e questionar sobre as formas de leitura

que norteiam a poesia como obra de arte.

Natureza - Foto de Rosemery Peliky Silva

Há sempre muitos caminhos a seguir.

Solta a tua imaginação e deixa a poesia te conduzir.

6

ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

O professor deverá desenvolver atividades de leitura

de textos poéticos que oportunizem momentos lúdicos e de

fruição ao aluno, despertando a imaginação, a fantasia e a

criatividade, bem como o conhecimento e a aprendizagem.

Porém, antes de iniciar o trabalho com o texto

propriamente dito, serão apresentados ao aluno alguns

pontos teóricos que lhe permitirão ativar os conhecimentos

prévios sobre o assunto e, dessa maneira, assumir um papel

ativo na leitura, fazendo previsões, questionando e

revendo informações a respeito do texto.

Posteriormente, será solicitado que traga para a sala

de aula poemas que sejam de seu conhecimento, a fim de

intensificar o contato com a poesia. O professor orientará

o ato da leitura e escuta de cada poema, a fim de que

saboreiem o ritmo, os sons, as imagens, a disposição

gráfica, não apenas uma vez, mas inúmeras, buscando novas

descobertas.

O trabalho com a poesia concreta, bem como com os

poemas cinéticos, será introduzido com apresentações de

vídeos que ilustrarão as atividades com os textos

poéticos.

Devem-se explorar as diferenças existentes nesse tipo

de poema, além dos recursos usuais, como métrica, rima ou

a ausência delas, e os versos livres; os efeitos gráficos

(visuais) para enfatizar as mensagens poéticas e o uso do

espaço gráfico como elemento riquíssimo e bastante

explorado pelos poetas, que não apenas escrevem, mas

“desenham” seus poemas.

Expressar ideias por meio da disposição gráfica do

poema é uma atividade que envolve o aluno, possibilitando

a elaboração de textos bastante criativos. Não se

pretende, somente, estudar esses recursos de forma

7

teórica, mas também sensibilizar os alunos para uma

observação mais apurada dos elementos com os quais se tece

a poesia.

Para finalizar, sugere-se organizar um Varal de

Poesias, que servirá de motivação para que o aluno

aprimore seus textos, só assim a leitura e a escrita terão

sua função social assegurada. Alguns poemas serão

selecionados para fazer parte de uma coletânea.

Durante todo o processo pode-se propor a produção de

um portfólio informal para estimular a originalidade e a

criatividade e facilitar a autoavaliação.

Paradoxoneuronal.blogspot.com

PORTFÓLIO

INFORMAL

8

UNIDADE 1

Por se tratar de reflexões teóricas sobre a construção de poemas, esta

unidade requer um trabalho especial que desperte atenção e interesse para

que o aluno se concentre durante todo o desenvolvimento da atividade.

É preciso que o aluno se aproprie das características dos textos poéticos

a fim de se possibilitar o reconhecimento da poesia em suas diversas formas

de expressão.

Sugere-se, como estratégia, que a turma seja dividida em equipes e que

o texto – com fonte ampliada - seja recortado em pequenos trechos. Entregar

aos alunos e solicitar que organizem a sequência.

Cada equipe deverá colar em papel tigre ou cartolina o texto já

estruturado e apresentar oralmente para a sala de aula. O professor poderá

colaborar fazendo as leituras e as inferências necessárias.

Para auxiliar o aluno a “olhar” o significado da poesia, o professor deve

vivenciar a obra literária e compartilhar com ele esse “olhar”, bem como ouvir e

analisar as concepções feitas pela turma, a fim de que haja uma apropriação

do conteúdo, tanto do professor quanto do aluno.

No trecho que explana sobre SONETO, o professor deverá ler o poema

A CAROLINA, de Machado de Assis, para os alunos, parando a cada estrofe

para perguntar sobre o eu poético, o tema, a quem é dirigido e em que espaço

os fatos acontecem.

Em seguida ditará o poema CEMITÉRIO, de José Paulo Paes. Ao fazer

isso, abordará todo o assunto visto até então, revisando verso, estrofe, a

pontuação empregada, ao mesmo tempo interpretando e interagindo com os

alunos.

As atividades propostas deverão ser trabalhadas por todas as equipes.

9

Existe uma “fórmula mágica” para escrever poesia?

ssa é a pergunta que se faz quando se veem tantos livros publicados,

quando se lê um poema e muitas vezes nos identificamos nele,

quando suas palavras materializam os sentimentos que estão em

nossa alma. No entanto, para se começar a falar em poesia, faz-se necessário

construir caminhos que subsidiem a produção de futuros textos.

Saber escrever implica em ler e pensar. E ler é fundamental para escrever. A

arte de escrever exige raciocínio lógico, domínio de regras e uma prática diária.

E

Vamos iniciar nossa aventura pela arte de

escrever poesia?

Siga o caminho ...

10

ATIVIDADE 1

Para aquecer as emoções e começar a pensar em

poesia, propõe-se o trabalho com o texto de Chico

Buarque, MINHA CANÇÃO. Transcrever o texto no

quadro negro para que todos tenham um campo visual

mais amplo, deixando o título para o final.

As lacunas deverão ser preenchidas para completar a

letra da música. Após, pode-se cantar com os alunos

utilizando a melodia das notas musicais.

Essa atividade possibilita uma reflexão sobre a forma do

texto, influenciando a compreensão dos sentidos do

poema.

http://www.google.com.br/search?q=desenhos+com+notas+musicais&hl=pt

BR&biw=1366&bih=595&prmd=ivns&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&

ei=Ql0sTvi0D9OltweWvKDXAg&sqi=2&ved=0CCIQsAQ

11

“Pode-se dizer que a linguagem poética é uma comunicação

singela e nobre que fala mais ao coração do que à razão.”

(http://www.webartigos.com/aticles)

Cada situação no dia a dia necessita de diferentes meios para a manifestação

da linguagem. Ao selecionar e combinar palavras, a mensagem pode expressar

sentimentos e emoções, revelando o estado de espírito do emissor. As

palavras utilizadas são mais rebuscadas, cheias de “floreios”.

O que mais caracteriza a linguagem poética é a maneira como as palavras são

organizadas e a energia que elas carregam. Diferentemente da linguagem

diária, há uma recriação do significado das palavras, pois elas são empregadas

num contexto que diverge do convencional. A linguagem comum é desvelada

ou transfigurada pelo poeta.

A linguagem poética se utiliza da conotação, que é o uso do signo em

sentido figurado, simbólico, ou seja, o uso da palavra, dando-lhe outro

significado, que não o original; um sentido figurado.

Linguagem Poética

Conotação Denotação

12

Observe os versos de Elias José, no poema O girassol :

Percebe-se nestes versos que foi atribuído à palavra girassol um significado

diferente do seu sentido real: ser uma flor. O girassol e a lua passaram a ter

características que pertencem a outra área de percepção, próprias do ser

humano. O girassol não dorme e a lua também não sorri. Atribuíram-se

qualidades de pessoas à natureza. São recursos que a linguagem utiliza para

dar mais vida a um texto por meio das palavras.

A denotação é o uso do signo em seu sentido real, isto é, o uso da

palavra em seu sentido original.

Observe neste trecho do texto - A água potável está no fim? - de

Armênio Uzunian e Sezar Sasson, publicado no Folheto do Anglo Vestibulares.

Por ser um texto informativo, as palavras são empregadas no sentido

denotativo. No texto não literário há a necessidade de uma linguagem mais

objetiva e direta.

O girassol da minha rua,

numa noite sem dormir,

numa noite muito escura,

viu a lua sorrir.

A disponibilidade de água doce está muito

prejudicada pela poluição crescente de rios e

lagos.

13

Veja nos exemplos o uso da palavra naufragar:

Na primeira frase o verbo naufragar está empregado no seu sentido real,

significando afundar. Já na segunda está empregado no sentido figurado, isto

é, a vida acabou, algo ruim aconteceu e transformou a vida em momentos

difíceis.

A linguagem poética, no entanto, não é exclusiva da poesia. Ela pode se

apresentar em textos escritos em prosa, em anúncios publicitários, nos

classificados poéticos e, até em construções da linguagem cotidiana.

O TEXTO EM PROSA se diferencia do texto em verso pela

construção da sua estrutura. Pode vir em parágrafos, ocupar toda a extensão

da linha, não há rimas, as palavras não têm sonoridade. Na prosa bem escrita

pode-se perceber uma preocupação especial com as palavras em busca de

uma expressividade mais rica.

Neste pequeno trecho do texto PAISAGEM URBANA, pode-se observar como

o autor fala da natureza comparando-a a outros elementos.

O navio naufragou rapidamente.

A vida daquela mulher naufragou rapidamente.

São cinco horas da manhã e a garoa fina cai branca

como leite, fria como gelo. Milhões de gotinhas

d’água brilham em trilhos de ferro.

Marco Antonio Hailer

14

Resumindo

Denotação é o significado real da palavra, a linguagem comum. Encontrada nos textos não literários.

Conotação é o significado mais amplo da palavra, usada de forma criativa, rica e expressiva. Encontrada nos textos

literários.

Pássaros – Foto de Rosemery Peliky Silva

ATIVIDADE 2

Analise atentamente a foto e escreva em seu

caderno frases com sentido real (denotativo) e

frases com sentido figurado (conotativo).

Depois tente montar um texto literário e outro

não literário.

15

DIFERENÇAS ENTRE

POESIA E POEMA?

O conceito de poesia pode variar de acordo com o movimento literário.

Quando se usa uma linguagem capaz de despertar no leitor emoções e

sentimentos, quando a arte da palavra sensibiliza seu interior, então está se

falando de Poesia.

A poesia está no desenho, na pintura, na dança, no canto, enfim em todas as

manifestações artísticas. Constitui o material abstrato.

A foto abaixo apresenta a natureza em perfeita harmonia, tudo parece ter sido

construído para a apreciação dos olhos humanos. Pode-se encontrar poesia

nessa composição?

Parque – Foto de Rosemery Peliky Silva

16

Poesia

é brincar com palavras

como se brinca

com bola, papagaio, pião.

O poema CONVITE, de José Paulo Paes, resume com eficácia o

que é poesia:

ATIVIDADE 3

Ao iniciar esta atividade, encare-a como uma

experiência. Não se preocupe se vai acertar ou errar.

Apenas tente.

Escreva um pequeno trecho, em prosa, sobre a paisagem

acima.

Comece fazendo uma análise das lembranças que ela lhe

traz, de algum momento importante que tenha vivido ou o

que ela poderia representar em sua vida. Ao produzir o

seu texto, tente usar palavras que mexam com os

sentimentos, com a emoção, faça comparações entre o que

você vê na foto e o que você sente.

Ao terminar, continue lendo as informações abaixo.

17

O Poema é a disposição criativa das palavras.

Apresentada em versos e estrofes, “é um objeto literário com existência

material concreta”. Os poemas têm elementos sonoros importantes, como

métrica, ritmo e rima, justamente porque eram acompanhados de música e

dela herdam esses elementos.

É, portanto, a estrutura com a qual se constrói o texto.

VERSO é cada linha de um poema, com um número determinado de

sílabas e sonoridade harmoniosa entre as sílabas átonas e tônicas.

Veja nessas quatro linhas do poema de Machado de Assis, LIVROS E

FLORES:

Verso 1: Teus olhos são meus livros.

Verso 2: Que livro há aí melhor,

Verso 3: Em que melhor se leia

Verso 4: A página do amor?

Cada linha é um verso e a união deles vai formando a estrofe.

Os versos podem ser classificados em tradicionais ou livres.

São tradicionais quando possuem o mesmo número de sílabas e o espaço

entre as sílabas tônicas ocorre no mesmo ritmo.

São livres quando os versos não possuem o mesmo número de sílabas; ou

quando as pausas entre as sílabas tônicas são irregulares.

Veja os exemplos:

18

Versos tradicionais:

Apresenta a mesma

quantidade de sílabas em

todos os versos do

poema.

Versos livres: Versos de diferentes medidas em um mesmo poema.

BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.

Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.

Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.

Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.

Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.

Porque amigo sofre e chora.

Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam

a realidade.

Porque amigo é a direção.

Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.

Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.

Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho, Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

Machado de Assis

"Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.

[...]”

Machado de Assis

19

ESTROFE é o conjunto de versos, ou seja, cada agrupamento de

versos, com ou sem rimas.

Quanto ao número de versos a estrofe pode ser:

1 verso - Monóstico

2 versos - Dístico

3 versos - Terceto

4 versos - Quarteto ou quadra

5 versos - Quintilha

6 versos - Sextilha

7 versos - Septilha

8 versos - Oitava

9 versos - Nona

10 versos - Décima

Mais de dez versos - Estrofe irregular.

Exemplos de estrofes:

a. Monóstico

Poema de Manuel Bandeira, O bicho.

Dividido em três tercetos e um monóstico:

“O bicho, meu Deus, era um homem.”

b. Dístico

"Basta amar para escolher bem;

o diabo que fosse era sempre boa escolha."

Machado de Assis, Memorial de Aires

20

c. Terceto

No alto O poeta chegara ao alto da montanha, E quando ia a descer a vertente do oeste, Viu uma cousa estranha, Uma figura má. Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste, Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha, Num tom medroso e agreste Pergunta o que será. Como se perde no ar um som festivo e doce, Ou bem como se fosse Um pensamento vão, Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta. Para descer a encosta O outro lhe deu a mão.

Machado de Assis

d. Quarteto ou Quadra

Observe no mesmo poema de Machado de Assis:

Livros e flores

Teus olhos são meus livros. Que livro há aí melhor, Em que melhor se leia

A página do amor?

Flores me são teus lábios. Onde há mais bela flor, Em que melhor se beba

O bálsamo do amor?

21

Quando a estrofe é formada por quatro versos, dá-se a ela o nome

de quadra.

A reunião das estrofes forma o poema e, consequentemente, a

poesia.

Por ser um instrumento que contribuirá na construção do conhecimento,

o aluno poderá pesquisar outros tipos de estrofe, ampliando assim a

leitura de outros poemas e autores.

uando um verso se repete no início de todas as estrofes de um

poema, é chamado antecanto. Se essa repetição ocorrer no final, é

conhecido por bordão. Ao conjunto de versos repetidos no decorrer

do poema dá-se o nome de estribilho ou refrão.

Há ainda outras formas de estrofe, chamadas de fixas. Serão citadas

aqui o haicai e o soneto.

Haicai é uma forma de poesia de origem japonesa. Formado por três

versos consegue transmitir muitas informações com um mínimo de palavras.

Q

Velhice

Uma folha morta Um galho, no céu grisalho.

Fecho a minha porta.

Guilherme de Almeida

Guilherme de Almeida

22

ATIVIDADE 4

Como exemplo, pesquise, copie e leia os haicais de

Helena Kolody, citados abaixo.

1. Último 2. Aplauso

3. Alegria

4. Flecha de sol

5. Ipês floridos

ATIVIDADE 5

Em dupla, produza um haicai, levando-se em conta a pesquisa feita anteriormente.

Ela servirá de modelo para a sua produção.

Terminada a atividade, compartilhe e faça a leitura da sua produção.

23

Soneto é o poema formado por dois quartetos e dois tercetos,

geralmente composto por versos decassílabos e de conteúdo lírico.

Machado de Assis escreveu este soneto quando sua esposa morreu.

Leia e observe a construção:

Com base no tema do poema acima, que relata a saudade da mulher amada,

pode-se aproveitar o momento e introduzir o poema CEMITÉRIO, de José

Paulo Paes. Embora seja um texto mórbido, trata a morte de forma divertida,

A CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro

em que descansas dessa longa vida,

aqui venho e virei, pobre querida,

trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

que, a despeito de toda a humana lida,

fez a nossa existência apetecida

e num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados

da terra que nos viu passar unidos

e ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos

pensamentos de vida formulados,

são pensamentos idos e vividos.

24

recorrendo a uma estratégia tradicional da literatura infantil: animais

representando as personagens.

O professor deverá ditar o texto e durante esse trabalho poderá ir discutindo

com os alunos as palavras que aparecem nos versos.

Ao término da interpretação, pode-se pedir a produção de um obituário de

personagem fictícia.

ATIVIDADE 7

Agora, para descontrair, pesquise o soneto de

Vinícius de Moraes, FIDELIDADE, e escreva-o no seu

caderno. Compare-o com o de Machado de Assis.

Relacione o tema, o eu poético e os versos em que

ocorrem ideias de oposição.

ATIVIDADE 6

Após ter transcrito no seu caderno o texto ditado

pelo professor, responda as questões solicitadas:

Que relação o poema faz com o nome do animal e o

nome Augusto?

Por que a palavra suiCida está escrita com o C

em maiúsculo?

Na terceira estrofe, o eu poético faz uma

associação entre as palavras “cego e morcego”. O

que se entende sobre isso?

Faça uma paráfrase e uma paródia do poema.

25

ima é a semelhança sonora entre fonemas de diferentes

palavras. Geralmente se localiza no final da palavra, a partir de

sua última sílaba tônica.

Exemplo:

Verso Branco é o que não rima com qualquer outro da mesma

estrofe num poema.

Observe:

R

ELA

Seus olhos que brilham tanto,

Que prendem tão doce encanto,

Que prendem um casto amor

Onde com rara beleza,

Se esmerou a natureza

Com meiguice e com primor.

Machado de Assis

A Flor e a Náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas vou de branco

pela rua cinzenta.

Melancolias, mercadorias espreitam-me.

Devo seguir até o enjoo?

Posso, sem armas, revoltar-me?

Carlos Drummond

26

Ritmo é a medida que resulta das pausas determinadas pelas sílabas

fortes e várias cadências, ou seja, é o estudo do posicionamento das sílabas

tônicas e átonas no verso.

É o ritmo que dá beleza ao poema.

Observe o trecho da música abaixo:

"Deixa a cidade, formosa morena, linda pequena, e volta ao sertão, beber da água da fonte que canta, que se levanta no meio do chão."

"Chuá-chuá" - Pedro de Sá Pereira e Ary Machado

ATIVIDADE 8

1. Que efeito é percebido no poema de Machado de Assis

ao ser comparado com o de Drummond?

2. Explique que função exerce a rima no poema Chuá-Chuá,

no poema citado acima.

3. Faça uma paráfrase, transformando a poesia acima em

um texto em texto em prosa e analise o efeito da

rima e do ritmo nessa nova produção.

27

UNIDADE 2

Agora que já se brincou bastante com a poesia e suas particularidades,

está na hora de iniciar o trabalho com a Poesia Concreta.

Para introduzir o assunto, serão apresentados vídeos, que poderão ser

encontrados acessando os sites:

www.youtube.com/watch?v=yc3e7mSY4;

www.videolog.tv/video.php?id=353752;

www.poemavisual.com.br/dowloads/Poemas_Visuais_Riso.pdf

Posteriormente, o professor poderá usar como recurso os poemas

citados nas atividades abaixo, digitados e distribuídos para os alunos, que

estarão trabalhando em duplas.

A leitura oral deverá ser feita pelo professor, que durante esta atividade

explicará o que é a Poesia Concreta e o porquê da sua construção

diferenciada, possibilitando o contato com a beleza, a brincadeira com as

palavras, seus sons e significados.

Como uma pipa a voar

Na imaginação viajar

Com as palavras criar

Poesias a bailar

28

POESIA CONCRETA

ATIVIDADE 1

A partir da leitura feita pelo professor do poema

PÁSSARO EM VERTICAL, de Libério Neves, responda

oralmente as seguintes questões:

1. O texto pode ser considerado uma poesia?

2. Por que está disposto de forma diferente dos

poemas vistos até agora?

3. Por que o autor preferiu trabalhar com as

palavras dispondo-as em um desenho?

4. A estrutura retrata o tema encontrado no texto.

Como ela pode se relacionar com o título?

5. Qual é a conclusão do poema quanto ao pássaro

que voava para lá e para cá?

6. Agora, faça o mesmo com o poema CANÇÃO

PARA NINAR GATO COM INSÔNIA, de Sérgio

Caparelli, porém, responda as questões

escrevendo-as em seu caderno.

29

O QUE É POESIA

CONCRETA?

a história da Literatura Brasileira, a Poesia Concreta foi

criada por autores como Décio Pignatari, Haroldo de

Campos e Augusto de Campos com o objetivo de

mudança, visando um novo tipo de expressão, baseada em

princípios experimentalistas.

Já não se queria mais o tipo de verbalismo e subjetivismo próprios

da poesia anterior - com a abolição do verso tradicional, nascia a

poesia objetiva, construída com substantivos e verbos - bem como

a incapacidade para refletir as realidades do novo tempo

inaugurado pelas Revoluções, que alteraram o rumo da história

humana.

A Poesia Concreta valoriza o espaço gráfico-visual e os elementos

constitutivos da palavra. A função poética está centrada na

mensagem. Caracteriza-se pela seleção vocabular na sua

elaboração. O principal traço de função poética é o emprego das

palavras em sentido conotativo.

Isso quer dizer que os versos podem ser organizados de uma

maneira incomum, apresentando o formato de alguma coisa, ou

explorando diferentes tipos de letras, com o objetivo de produzir

N

30

novos sentidos, transmitindo além de emoções e sentimentos, o

movimento e a forma.

Exemplos destas propostas podem ser encontrados no poema

Terra, de Décio Pignatari e Lixo Luxo, de Augusto de Campos,

entre outros. Eles podem ser apresentados em cartazes para os

alunos, explorando algumas informações, como:

Que tipo de texto é.

Por que sua estrutura é diferente.

O que representa o desenho.

Que elementos da poesia estão presentes.

Qual o objetivo da elaboração artística.

Percepção da valorização da palavra.

Quais os recursos tipográficos.

Qual a relação entre palavra e imagem.

É uma poesia?

31

ATIVIDADE 3

o poema PÊNDULO, Ronaldo Azeredo explora os aspectos

sonoros e visuais, características próprias da

poesia concreta. Com base nessa informação,

responda:

a) Que sons recriam os versos?

b) O poema ao ser lido verticalmente reproduz uma

imagem. Você consegue identificá-la? Que leitura

pode se fazer a partir do título?

N

ATIVIDADE 2

Após ler o poema VELOCIDADE, de Ronaldo Azeredo,

responda as questões abaixo:

1. Qual o significado do poema, partindo do primeiro

olhar?

2. Por que ele vem estruturado na letra V?

3. Qual a importância das letras na formação do poema?

4. Que figura geométrica se forma a partir das dez

letras da palavra velocidade?

5. Depois de se familiarizar com o poema, o primeiro

“olhar” ainda permanece? Justifique, explanando sua

opinião.

32

ATIVIDADE 4

screva em seu caderno o poema BEBA

COCA COLA, de Décio Pignatari.

Leia os versos e registre suas impressões

iniciais, qual a mensagem implícita.

Prossiga, analisando passo a passo o poema.

A qual slogan o poema remete?

O poeta altera as letras de lugar a fim de criar um novo

significado. Identifique as mudanças ocorridas e explique as

interferências que elas produzem.

O que se entende por “cloaca”?

Com as alterações morfológicas – “beba” “babe” – ocorre

um processo de gradação que denigre o sentido da

propaganda. Como isso acontece?

O autor faz uma crítica. A quem ela é destinada neste

caso? E por quê?

E agora? Suas impressões iniciais ainda são as mesmas?

Comente.

Tente, em dupla, produzir um poema semelhante utilizando o

recurso morfológico para transformar as palavras. Explore os

diferentes tipos de letras, criando novos sentidos. Faça em

folha separada, troque com outra dupla e discuta os

significados dos dois poemas.

E

33

ATIVIDADE 6

Usando as características até agora apresentadas no material de apoio sobre Poesia Concreta escolha um tema e produza o seu poema.

ATIVIDADE 5

O trecho abaixo reproduz os versos do poema JANELA, de

Adélia Prado. Pesquise e continue a escrevê-lo no seu

caderno. Releia e reflita sobre as comparações feitas acerca da

palavra “janela”. Que comparações são essas? Que recurso de

linguagem foi empregado? Transcreva o trecho em que ele

ocorre.

Janela, palavra linda.

Janela é o bater das asas da borboleta amarela.

Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa

pintada,

janela jeca, de azul.

Para finalizar essa atividade reescreva o poema explorando as

letras e a disposição visual das palavras, dando-lhe

movimento.

34

ATIVIDADE 7

Observe os trechos dos poemas cinéticos de Millõr

Fernandes reproduzidos logo abaixo. Com base neles,

responda:

1. Que significado você atribui para os versos

escritos de forma diferente?

2. É possível afirmar que os dois textos

apresentam a mesma estrutura?

3. Qual a intenção do autor ao usar esse

recurso?

4. E quanto ao tema, eles são semelhantes ou

diferentes? Comente.

5. Para dar beleza aos versos, o poeta faz uma

combinação de palavras e utiliza a rima. Em

qual dos dois textos ela aparece?

Identifique-a.

6. Produza, a partir dos poemas, uma paródia.

Escolha um tema. Comece brincando com as

palavras e ideias. Ao final, apresente o

trabalho para os colegas.

35

Texto 1

O moço entra apressado Para ver a namorada E é da seguinte forma escada.

a

sobe

ele

Que

Texto 2

Bebeu muito, bebeu tanto Que S i a u e d á l a s s i m.

36

ATIVIDADE 8

Paradoxoneuronal.blogspot.com

Como última

atividade,

verifique se todos

os poemas

pesquisados estão

registrados no seu

portfólio.

Faça também uma

viagem pela

internet e

pesquise outros

poemas concretos.

Imprima-os e

cole-os no

portfólio.

37

REFERÊNCIAS

BORGATTO, A. M. Tudo é linguagem: língua portuguesa / Ana Maria Borgatto, Terezinha Costa Hashimoto Bertin, Vera Lúcia de Carvalho Marchezi. 2. ed. São Paulo: Áttica, 2009. CAMPOS, A. de, Campos, H. de, Pignatari, D. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. 2.ed. São Paulo: Duas Cidades, 1975. Campos, H. de. Construtivismo no Brasil - concretismo e neoconcretismo. Disponível em: <http://www.artbr.com.br/casa/noigand/index.html>. Acesso em: 27 de junho de 2011. FERREIRA, A. B. de H. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua Portuguesa. 4.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. FRANCHETTI, P. Alguns aspectos da teoria da poesia concreta. Campinas: Editora da UNICAMP, 1989.

GERALDI, J. W. (org.). O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002. KLEIMAN, A. Oficina de Leitura: Teoria e Prática. 9. ed. Campinas: Pontes, 2002.

LYRA, P. Conceito de Poesia. São Paulo: Ática, 1986.

MENEZES, P. Poética e visualidade – uma trajetória da poesia brasileira

contemporânea. Campinas: Unicamp, 1991.

MICHELETTI, G. Leitura e construção do real: o lugar da poesia e da ficção. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2006.

MOISÉS, M. Dicionário de Termos Literários, São Paulo: Brasil, Coltrix, 1974.