Ficha Formativa Osmaias 11º CC

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  • 7/24/2019 Ficha Formativa Osmaias 11 CC

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    Agrupamento de Escolas de Ribeira de Pena

    FICHA DE AVALIAO FORMATIVA-OS MAIASDE EA DE QUEIRS

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    Mas nessa noite teve o regozijo de encontrar aliados. Craft no admitia tambm o naturalismo, arealidade feia das coisas e da sociedade estatelada nua num livro. A arte era uma idealizao! Bem:

    ento que mostrasse os tipos superiores duma humanidade aperfeioada, as formas mais belas doviver e do sentir... Ega horrorizado apertava as mos na cabea - quando do outro lado Carlosdeclarou que o mais intolervel no realismo eram os seus grandes ares cientficos, a sua pretensiosaesttica deduzida duma filosofia alheia, e a invocao de Claude Bernard, do experimentalismo, dopositivismo, de Stuart Mil e de Darwin, a propsito duma lavadeira que dorme com um carpinteiro!Assim atacado, entre dois fogos, Ega trovejou: justamente o fraco do realismo estava em ser

    ainda pouco cientfico, inventar enredos, criar dramas, abandonar-se fantasia literria! a forma purada arte naturalista devia ser a monografia, o estudo seco dum tipo, dum vcio, duma paixo, tal qualcomo se se tratasse dum caso patolgico, sem pitoresco e sem estilo!...- Isso absurdo, dizia Carlos, os caracteres s se podem manifestar pela aco...- E a obra de arte, acrescentou Craft, vive apenas pela forma...Alencar interrompeu-os, exclamando que no eram necessrias tantas filosofias.- Vocs esto gastando cera com ruins defuntos, filhos. O realismo critica-se deste modo: mo no

    nariz! Eu quando vejo um desses livros, enfrasco-me logo em gua-de-colnia. No discutamos oexcremento.-Sole normande? perguntou-lhe o criado, adiantando a travessa.Ega a fulmin-lo. Mas, vendo que o Cohen dava um sorriso enfastiado e superior a estas

    controvrsias de literaturas, calou-se; ocupou-se s dele, quis saber que tal ele achava aqueleSt.Emilion; e, quando o viu confortavelmente servido desole normande, lanou com grande alarde de

    interesse esta pergunta:- Ento, Cohen, diga-nos voc, conte-nos c... O emprstimo faz-se ou no se faz?E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados, que aquela questo do emprstimo era grave.

    Uma operao tremenda, um verdadeiro episdio histrico!...O Cohen colocou uma pitada de sal beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o

    emprstimo tinha de se realizar absolutamente. Os emprestamos em Portugal constituam hoje umadas fontes de receita, to regular, to indispensvel, to sabida como o imposto. A nica ocupaomesmo dos ministrios era esta - cobrar o imposto e fazer o emprstimo. E assim se havia decontinuar...Carlos no entendia de finanas: mas parecia-lhe que, desse modo, o pas ia alegremente e

    lindamente para a bancarrota.- Num galopezinho muito seguro e muito a direito, disse o Cohen, sorrindo. Ah, sobre isso,ningum tem iluses, meu caro senhor. Nem os prprios ministros da fazenda!... A bancarrota inevitvel: como quem faz uma soma...Ega mostrou-se impressionado. Olha que brincadeira, hem! E todos escutavam o Cohen. Ega,

    depois de lhe encher o clice de novo, fincara os cotovelos na mesa para lhe beber melhor as palavras.- A bancarrota to certa, as coisas esto to dispostas para ela - continuava o Cohen - que seria

    mesmo fcil a qualquer, em dois ou trs anos, fazer falir o pas...Ega gritou sofregamente pela receita. Simplesmente isto: manter uma agitao revolucionria

    constante; nas vsperas de se lanarem os emprstimos haver duzentos maganes decididos que

    cassem pancada na municipal e quebrassem os candeeiros com vivas Repblica; telegrafar istoem letras bem gordas para os jornais de Paris, Londres e do Rio de Janeiro; assustar os mercados,assustar o brasileiro, e a bancarrota estalava. Somente, como ele disse, isto no convinha a ningum.(Cap. VI)

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    1.Identifica o episdio a que pertence este excerto, inserindo-o numa das intrigas deOs Maias.1.1.Comenta a sua importncia para o desenvolvimento da narrativa.

    2.Diferentes vises da corrente literria Naturalismo so expostas neste excerto.

    2.1.Enuncia as principais diferenas das perspetivas apresentadas.3.Ega ia fulmin-lo. (l. 19).3.1.Indica o alvo da fria de Ega e os motivos que a justificam.3.2.Explicita os motivos que o levam a desistir das suas intenes.

    4.Expe sucintamente a situao financeira do pas.5.Comenta as diferentes posturas- de Carlos e de Cohen- em relao situao econmica dePortugal.

    6.Olha que brincadeira, hem! (l. 36).6.1.Avana uma interpretao para esta exclamao de Ega.

    7.Indica trs marcas do estilo queirosiano, ilustrando-as com segmentos textuais.8.Na frase estatelada nua num livro (l. 2) o termo sublinhado pode ser substitudo pora)discreta.b)disfarada.c)exposta.d)aliviada.

    9.Na frase Cohen dava um sorriso enfastiado (l. 19), o significado do termo sublinhado ope-seaa)exagerado.

    b)aborrecido.c)deselegante.d)satisfeito.

    BOM TRABALHO!!!!A PROFESSORA:Lucinda Cunha

    PROPOSTA DE CORREO( ficha e respostas retiradas do manual Outros Percursos 11 ano da Asa,cad. de atividades- adap. nas questes 7 e 9):1.O excerto faz parte do episdio do jantar no Hotel Central que um pretexto para homenagearCohen e apresentar Carlos sociedade lisboeta. tambm apresentada uma perspetiva crtica dealguns problemas e Carlos da Maia v Eduarda pela primeira vez.

    1.1.Carlos interessa-se pela deusa que viu no hall do Hotel, de quem irmo, com quem vir a ter umromance, o que por a nu a temtica do incesto.

    2.1. Para Craft, a arte deveria ser uma idealizao, o que no se verificava no Naturalismo, j que estacorrente literria estatelava num livro a realidade feia da sociedade. A Carlos o que mais lhedesagradava eram os grandes ares cientficos do realismo, bem como as suas bases filosficas. ParaAlencar, o realismo fedia. Ega, o grande defensor desta corrente literria, argumentava sozinho que o

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    realismo era ainda pouco cientfico, uma vez que ainda cedia esttica. Segundo ele, a forma pura daarte naturalista devia ser a monografia, o estudo seco dum tipo, dum vcio, duma paixo, tal qual comose se tratasse dum caso patolgico, sem pitoresco e sem estilo!3.1. O alvo da fria de Ega era o criado, pois vinha interromper a discusso, trazendo uma nova travessade sole normande.3.2. Ega pretendia tambm homenagear Cohen e como lhe pareceu que este estava um pouco entediadocom a discusso literria, achou prefervel dar-lhe um pouco de ateno.

    4. O pas caminhava para a bancarrota. Em Portugal vivia-se de emprstimo e da cobrana de impostos.5. As posturas so opostas: enquanto Cohen pensa que inevitvel- e natural- a bancarrota, Carlos achaque pedir emprstimos uma atitude inconsciente.6.1. Esta exclamao de Ega pretender mostrar a sua indignao perante a atual situao econmica dopas e a total falta de empenho dos homens das finanas para a mudar.7. Marcas do estilo queirosiano (entre outras):-adjetivao (Os emprestamos em Portugal constituam hoje uma das fontes de receita, to regular, toindispensvel, to sabida como o imposto. ll.27-28)- este exemplo serve, tambm, para ilustrar asrepeties, to prprias do estilo de Ea;-utilizao expressiva do advrbio : tinha de se realizar absolutamente (l.27); o pas ia alegremente e

    lindamente para a bancarrota. (ll. 31-32);-estrangeirismos que marcam a poca: Sole normande (l. 21);- verbos expressivos: Ega trovejou (l. 8); para lhe beber melhor as palavras. (ll. 37-38;- discurso indireto livre como manifestao da focalizao interna: A arte era uma idealizao! Bem:

    ento que mostrasse os tipos superiores duma humanidade aperfeioada, as formas mais belas do viver edo sentir... (ll. 2-4);-a ironia/ o sarcasmo: O realismo critica-se deste modo: mo no nariz! Eu quando vejo um desses

    livros, enfrasco-me logo em gua-de-colnia. No discutamos o excremento. (l. 15-17);- o uso do diminutivo: Num galopezinho muito seguro e muito a direito (l. 33)

    8. c)9. b)