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FICHA PARA CATÁLOGO

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: A HETEROGENEIDADE NA EJA

Autor Neusa Maria Delgado Miranda

Escola de Atuação CEEBJA Professor Ignácio Alves de Souza Filho

Município da escola

Município de Jaguariaíva

Núcleo Regional de Educação Wenceslau Braz

Orientador Professora Dr.ª Rita de Cássia da Silva Oliveira

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual De Ponta Grossa/UEPG

Disciplina/Área (entrada no PDE) PEDAGOGIA

Produção Didático-pedagógica CADERNO TEMÁTICO

Relação Interdisciplinar

Todas as Disciplinas

Público Alvo

Alunos e Professores

Localização

CEEBJA Professor Ignácio Alves de Souza Filho

Apresentação:

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) contempla uma

diversidade de alunos que buscam retomar sua trajetória

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escolar interrompida em algum momento pelos motivos

mais adversos. Para garantir além do ingresso, a

permanência e o sucesso dos alunos nesta modalidade

de ensino, é necessário adequar estratégias de ensino

distintas para viabilizar e criar um ambiente prazeroso,

levando os alunos a se sentirem valorizados pelo

ambiente escolar. O objetivo deste trabalho é promover a

discussão sobre a necessidade de reflexão e auto-crítica

das práticas pedagógicas utilizadas no contexto escolar

e para isso há a necessidade do professor conhecer as

experiências e expectativas dos alunos da EJA, para

melhor orientar o processo de ensino-aprendizagem.

Procura-se analisar o contexto social em que a EJA está

inserida, coletando dados através de entrevista com

professores e alunos, grupos de estudo para a produção

didático-pedagógica, ofertar espaços em parceria com

professores das diversas áreas para reflexão e debates.

Espera-se que ao final deste trabalho, os professores

tenham um novo olhar sobre os alunos, entendendo e

redescobrindo as metodologias da sua docência.

Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Reflexão - auto análise – prática docente

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REGISTRO DAS AÇÕES PREVISTAS

AÇÃO

DATA AÇÃO DESENVOLVIDA OBJETIVO

01 (22/07/11) Apresentação do Projeto no CEEBJA

Estabelecer relação harmoniosa e interação do projeto.

02 A definir Aplicação dos questionários: (professores, ex-alunos, alunos)

Diagnóstico do estudo do caso.

03 A definir Análise dos dados Analisar as possíveis relações entre evasão escolar e metodologias de ensino.

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A definir Exposição do material Apresentar os resultados frente a Comunidade escolar.

05 (12/08/11) Grupo de estudos: Organização do Processo Ensino Aprendizagem (apresentação dos temas propostos).

Buscar através de práticas diferenciadas a garantia do ingresso do aluno até o alcance dos objetivos finais.

06 Sexta-feira (12/08/11)

1º Encontro- As características dos alunos da EJA

Compreender a importância das características dos alunos da EJA, o que possibilita uma ação docente efetiva, a permanência e o sucesso dos alunos na escola.

07 Sexta-feira (12/08/11)

2º Encontro- 2º- A Heterogeneidade na EJA

Refletir sobre a heterogeneidade na EJA com eficiência para produzir conhecimento acelerando o relacionamento das idéias e respectivamente a saídas para o

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enfrentamento dos problemas existentes.

08 Terça-feira (06/09/11)

3º - Auto conceito e motivação na EJA

Possibilitar através do estudo diminuir o distanciamento existente entre professores e alunos.

09 Quinta-feira (29/09/11)

4º - A essência humana e a solidariedade na EJA.

Quebrar barreiras para o não afastamento do aluno da escola, e contribuir para o ambiente harmonioso no ambiente escolar.

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A definir Leitura e análise reflexiva da construção didático-pedagógica

Elencar metas e objetivos a serem alcançados.

11 A definir Momento para reflexão dos pontos positivos e negativos do trabalho desenvolvido

Promover um diálogo prazeroso com todos os envolvidos.

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“A prática de pensar a prática, é a melhor maneira de aprender a pensar certo. O pensamento que ilumina a prática é por ela iluminado, tal como a prática que ilumina o pensamento é por ele iluminado”. (FREIRE, 1996, p. 59)

Estimados professores da EJA!

O desafio de construir este trabalho com tema gerador “Quebrar barreira

humanizando o olhar docente na EJA: limites e possibilidades”, tem por finalidade

contribuir para um repensar de todos nós educadores da Educação de Jovens e

Adultos, propondo a reflexão da prática docente que se deve gerar na escola,

especialmente como formadores de cidadãos conscientes de seu papel na

sociedade, o que nos remete a algumas análises que nem sempre estamos atentos.

Nessas idas e vindas de inquietações, de indagações, saí em busca de

esclarecimentos e, lendo o que os estudiosos escrevem sobre o universo da EJA,

quero acreditar que essas interrogações sejam o norte, a luz para realizar as

mudanças, as inovações necessárias com intuito de atenuar os problemas

enfrentados no ambiente escolar da EJA, pois o caminho para a superação dessa

problemática que tanto nos inquieta é de assegurar além do ingresso, a

permanência e o sucesso dos alunos nos estudos e uma ação docente efetiva.

Desde quando comecei a trabalhar no CEEBJA e atuar há doze anos na

função de pedagoga nesta modalidade de ensino, cuja especificidade é marcada

pela diversidade, fui apurando o meu olhar e pude constatar que os alunos jovens e

adultos, provém das mais diferentes condições sociais, possuem idades diferentes

e, muitos deles permaneceram um longo tempo afastados do cotidiano escolar,

outros vieram de um ensino fracassado, optando por estudar na EJA na tentativa,

assim como os demais, de concluir seus estudos.

Portanto, respeitando toda essa diversidade, nunca é demais lembrar que o

acolhimento, o diálogo, é fundamental a todo instante no ambiente escolar, pois

estabelece vínculos de amizade, de afetividade, de partilha, resgatando os

sentimentos, valores humanos, que por vezes estão adormecidos.

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Por certo, é uma forma de abrir espaços para descobrir as tensões, as

angústias, os anseios desses cidadãos na condição de alunos trabalhadores, sentir

o que eles vêm tentando demonstrar pelas suas atitudes, mas também tomar

cuidado de nunca deixar de respeitar a bagagem, as experiências que esses alunos

trazem consigo na sua trajetória de vida.

Dessa forma, o professor quando estabelece o acolhimento, o diálogo na sua

ação docente, faz a diferença no ambiente escolar, fica bem informado de onde ele

vem, como é a sua família, de que forma chega à escola, qual o seu nível de

carência, demonstra interesse por sua história de vida, sendo que um início

aconchegante e alegre, desperta atitudes favoráveis em relação à aprendizagem e

consequentemente a frequência na escola.

Diante da realidade apresentada, há necessidade em se romper com modelos

ultrapassados e, nessa perspectiva, a prática pedagógica inovada e diferenciada se

realiza em um contexto sócio-histórico-cultural enquanto processo essencialmente

humano, envolvendo a todos os envolvidos nesse processo, buscando mudanças

significativas de superação, pois esses cidadãos em sua maioria, com pouca

escolaridade ou talvez nenhuma, têm entre si uma característica: são pessoas

menos favorecidas, que no passado não tiveram acesso à escolaridade.

É nesse contexto que a prática docente para ser efetiva, propondo estratégias

significativas que atendam o perfil desses jovens e adultos em sua maioria.

Aproveito esse momento para compartilhar minhas preocupações referente

aos demais professores dessa modalidade de ensino, e trazer algumas reflexões

diante dos temas propostos, para concentrar esforços em articular meios que

possibilitem rever caminhos, pensar, organizar e agir, pois creio que este será o

ponto de partida para uma tentativa de compreender os sentimentos que os alunos

manifestam e assim compreender a importância do conhecimento das

características desses alunos que é de grande relevância, pois possibilita uma ação

efetiva na tentativa de quebrar as barreiras que afastam esses jovens e adultos da

escola.

Considerando o exposto, espero que o presente Caderno Temático, sirva de

base para que todos os envolvidos nesse processo, parem, reflitam, façam uma

autoanálise das suas práticas docentes e provoquem uma mudança de postura,

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questionando sempre o seu papel e comprometendo-se com a construção e

socialização de um conhecimento emancipatório na EJA.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09 AS CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS DA EJA 11 A HETEROGENEIDADE NA EJA 14 AUTO CONCEITO E MOTIVAÇÃO NA EJA 18 PROMOÇÃO DO AUTO CONCEITO 21 A ESSÊNCIA HUMANA NA EJA 22 A SOLIDARIEDADE NA EJA 26 MENSAGEM 29 PARA ENRIQUECER O CONHECIMENTO 30

REFERÊNCIAS 31

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Introdução

Diante da realidade na Educação de Jovens a Adultos (EJA), com

situações socialmente diferenciadas, é preciso proporcionar mudanças na

forma de organizar a prática pedagógica. É necessário adequar práticas

diferenciadas e significativas para viabilizar e criar um ambiente prazeroso,

levando os jovens e adultos a sentirem-se valorizados pela escola.

Daí surge a necessidade dos envolvidos nesta modalidade de ensino,

refletirem sobre suas práticas docentes, com a possibilidade de criar

alternativas diante dessa realidade, de criar meios que auxiliem na construção

significativa de conhecimentos, de modo a assegurar a forma de um cidadão

apto, a interagir no meio social no qual está inserido.

A viabilidade no caso dessa situação, deve ser fortalecida, para que a

escola possa garantir um atendimento que torne os jovens e adultos mais

seguros e auto confiantes para o enfrentamento ao acesso dos saberes em

suas diferentes linguagens, articulando com as necessidades, expectativas e

suas trajetórias de vida, despertando-lhes a oportunidade de continuar a

frequentar a escola, pois esses jovens e adultos tiveram no passado esse

direito violado.

Nessa perspectiva, é imprescindível repensar o fazer pedagógico para

que tenha significado para os alunos, pois possibilita a indicação de novos

caminhos mais adequados e satisfatórios para uma ação docente efetiva.

Nesse cenário da EJA, todos os envolvidos, principalmente o professor

deve refletir sobre a sua prática docente, fazendo uma autoanálise, uma auto-

crítica de como anda o seu trabalho, a fim de estimular a aprendizagem, a

motivação dos seus alunos, de modo que cada um deles, seja um ser

consciente, ativo, autônomo, participativo e agente crítico modificados da sua

realidade.

O professor da EJA, tem que estar convencido, ter a consciência

de se integrar, de se dispor para a sua ação docente como uma forma de

inspiração, para que continue a buscar um caminho com a possibilidade de se

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chegar ao coração e a mente desses jovens e adultos. Embora o professor

sendo o agente principal na formação desses cidadãos, deve sempre

questionar o seu papel:

Será que na minha ação docente, procuro me aproximar dos alunos,

criar vínculos de amizade, de afetividade?

Será que o diálogo, o acolhimento, estimula os alunos a permanecerem

na escola e assim concluírem seus estudos?

A intenção de provocar essas reflexões com os professores, pressupõe

à atenção, para rever caminhos, para compreender, sensibilizar, humanizar e

agir sobre a prática pedagógica que será talvez, o ponto de partida em

concentrar esforços, para se sentirem entusiasmados, cientes do sublime papel

em tocar a alma, de ajudar os alunos a entender que vale a pena aprender, e

aprender sempre, para que sejam ao mesmo tempo mais sábios e lutadores

dos seus direitos.

Que todos os envolvidos na EJA, se abram para a eterna novidade da

vida, da amizade, da solidariedade, do amor, da generosidade, da paz, tocando

o coração de cada um nesta modalidade de ensino, sem distinção e, que a

carência que muitos de nós educadores sentimos e principalmente a carência

que vem desses alunos menos favorecidos, seja amenizada num esforço

comum para o bem comum.

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AS CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS DA EJA

A importância desse conhecimento

Conhecer as características dos alunos da EJA permite analisar o

quanto o acesso à escolarização obrigatória foi aos poucos conquistada pela

população historicamente excluída, além de indicar o quanto ainda é preciso

ser feito para que a escolarização oferecida garanta além do ingresso, a

permanência e o sucesso desses alunos em suas aprendizagens, numa escola

pública de qualidade, que contribua de forma significativa para a redução das

desigualdades sociais.

Pinto (1984) coloca que: Existencialmente, o adulto é o homem na fase mais rica de sua existência, mais plena de possibilidades. Por isso, é o ser humano no qual melhor se verifica seu caráter de trabalhador. O trabalho expressa e define a essência do homem em todas as fases de sua vida (da infância à velhice), mas é no período adulto que melhor se compreende seu significado como fator construtivo da natureza humana. (PINTO, 1984, p. 79)

Sendo assim é fundamental levar em consideração a natureza humana,

isto é, a essência humana, desses jovens e adultos atendidos, em suas

diversidades e suas especificidades, além de suas condições sócio-

econômicas, culturais e religiosas.

Portanto, os professores da EJA, necessitam refletir para considerar que

os jovens e adultos com os quais trabalha, são cidadãos úteis à sociedade,

considere esses sujeitos na condição de alunos não como seres

marginalizados, mas, ao contrário, como seres participantes da sociedade em

que vivem. O professor tem de considerar o educando como um ser pensante,

atuante e importante da sociedade, não apenas por ser trabalhador, e sim pelo

conjunto de ações que exerce sobre um círculo de existência.

Nesse propósito, a competência técnica e pedagógica individual dos

professores precisa estar no cotidiano a serviço do coletivo da escola, cujo

desafio é o zelo pela aprendizagem de todos os seus alunos,

independentemente das condições sociais, econômicas e culturais que esses

jovens e adultos se encontram.

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Ao reconhecer as características dos alunos da EJA, bem como o papel

desta modalidade de ensino na formação para o exercício da vida cidadã, e,

para a continuidade dos estudos, é preciso oportunizar a todos esses alunos,

conhecimentos das diferentes linguagens, independentemente de raça, etnia,

gênero e classe social. Isso implica questionar práticas excludentes que ainda

persistem no ambiente escolar e que se não forem superadas por

encaminhamentos pedagógicos no processo de ensino e de aprendizagem,

contribuirão para a manutenção das desigualdades sociais que marcam a

história de vidas desses alunos.

A escola deve ter sempre a preocupação em dar atendimento à

diversidade social, econômica e cultural existente que lhe garanta ser

reconhecida como instituição voltada, indistintamente, para a inclusão de todos

os indivíduos. Entretanto para que se efetive e ocorra a universalização do

ensino, é imprescindível assegurar o acesso, a permanência e o sucesso nos

estudos destes jovens e adultos.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), estabelece a necessidade de uma

formação adequada para se trabalhar com o jovem e o adulto, bem como

atenção às características específicas dos trabalhadores matriculados nos

cursos noturnos.

Ainda as Diretrizes Curriculares Nacionais de Jovens e Adultos

estabelece, no item VIII, que os docentes deverão se preparar e se qualificar

para a constituição de projetos pedagógicos que considerem modelos

apropriados e essas características e expectativas.

A EJA deve possibilitar que esses indivíduos recuperem e transcendam

os conteúdos sensíveis de suas experiências e se apropriem das significações

socialmente compartilhadas para que, assim, se tornem letrados.

O grande desafio dos educadores é estabelecer uma prática docente

que reconheça e valorize práticas culturais de tais sujeitos sem perder de vista

o conhecimento historicamente produzido, que constitui patrimônio de todos.

As Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação de Jovens Adultos,

não se refere exclusivamente a uma característica etária, mas a articulação

desta modalidade com a diversidade sócio-cultural da parcela de alunos

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composta por populações do campo, em privação de liberdade, com

necessidades educativas especiais, indígenas remanescentes de quilombos,

assentados rurais, que demandam uma proposta pedagógica que considere as

condições específicas de aprendizagem desses alunos.

Em relação aos alunos com necessidades especiais, o pressuposto de

que a escola pública é direito de todos garantido por lei e assegurado o seu

atendimento preferencial. Nesse sentido, há que se reconhecer as diferenças e

propiciar a oferta de condições de trabalho que viabilizem um processo

educativo e que lhes proporcione acolhimento e aprendizagem efetiva.

A EJA precisa organizar-se e prever formas de atender às necessidades

de seus alunos, visando à preservação da dignidade, o fortalecimento da

identidade e o exercício da cidadania de cada um dos envolvidos no processo

de ensino e aprendizagem. Mesmo que os alunos apresentem características

diferenciadas decorrentes não apenas de deficiências, mas também de

condições sócio-culturais diversas e econômicas desfavoráveis, eles terão

direito a receber apoios diferenciados daqueles normalmente oferecidos pela

educação escolar.

Nesse contexto, independentemente desses sujeitos, detentores ou não

de necessidades especiais, para que se tornem ativos do processo

educacional, todo professor da EJA, deve reconhecer, compreender e cooperar

para que ampliem seus conhecimentos de forma crítica, possibilitando à

reflexão pela busca de seus direitos, qualidade de vida, pois, quando retomam

seus estudos trazem consigo, histórias, cultura própria e costumes,

experiências de vida que não devem deixar de ser esquecidos e sempre

respeitados, colaborando para que se apropriem para o mundo do trabalho e o

exercício da cidadania.

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A HETEROGENEIDADE NA EJA

Compreender? Uma necessidade para a prática docente

A EJA reúne alunos de diferentes idades com diferentes níveis de

aprendizagem e condições sociais. São, portanto, grupos bastante

heterogêneos em gênero, faixa etária, raça, etnia, costumes, culturas, religiões,

etc. Muitos deles permaneceram um longo tempo afastado do cotidiano escolar

por motivos adversos à sua vontade, o que a princípio pode parecer um

complicador para o trabalho docente de sala de aula.

Mas estas diferenças, quando bem acolhidas, bem entendidas, são

enriquecedoras para a prática docente, tornam-se fatores positivos, pois

permitem o enriquecimento e estabelecem o humanismo, a construção do

conhecimento possibilitando a esses alunos, jovens e adultos, uma formação

de verdadeiros cidadãos conscientes para que possam lutar por seus direitos.

Um professor que identifica essa heterogeneidade tem as condições

necessárias para sanar as dificuldades do aluno e auxiliá-lo na superação de

tais fatores, dispondo-se a conhecer as suas causas e saber lidar com essa

heterogeneidade, trabalhar com os problemas que surgem no dia a dia da

escola. Para isso, é necessário buscar conhecimentos sobre os aspectos

históricos da realidade da EJA. Arroyo destaca por exemplo: Como um campo das ciências humanas, a educação lida diretamente com seres humanos, e, sendo a EJA um campo da educação que se dedica a seres humanos marcados pela exclusão social ou, no dizer de Paulo Freire, seres humanos que vivenciam o processo de sua “humanidade roubada”, “seres humanos proibidos de ser”, cabe à educação captar como os oprimidos “tentam superar condições que proíbem de ser”, perceber e se contrapor às situações e às condições em que realizam sua existência, em que se deformam e se desumanizam”. (ARROYO, 2000, p. 242, apud, Soares, 2007, p.2)

A fim de propiciar a efetivação desse conhecimento, é necessário que o

professor também conheça as experiências e expectativas desses alunos,

cuidar das formas de conduzir o trabalho docente para melhor orientar o

processo de aprendizagem, o que é precioso o estabelecimento de rotinas

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diárias em relação ao tempo, o espaço da sala de aula e as ações pedagógicas

a serem desenvolvidas.

Para que esse tempo do professor e o dos alunos seja melhor

aproveitado, estas ações pedagógicas devem ser bem distribuídas e

planejadas ao longo da conclusão da disciplina que o aluno está cursando.

Portanto, é preciso analisar as ações propostas, bem como as que se pretende

desenvolver, planejando sua distribuição neste tempo certo, pois não se pode

esquecer que cada um de nós ou principalmente os alunos têm o seu tempo

certo, o seu ritmo próprio e este sempre deve ser lembrado e respeitado.

O Professor também não pode esquecer de que seu componente

curricular não é único. Os alunos apesar de estarem cansados do seu trabalho

e muitas vezes desatentos sentem-se na obrigação de dar conta dos

conteúdos e tarefas de solicitadas. Sendo assim, o professor deve ter essa

preocupação em procurar saber o que os outros colegas estão trabalhando e o

que há de interdisciplinar para elaboração de sua proposta.

O planejamento das rotinas em conjunto com os alunos favorece a

organização pessoal, contribuindo para o sucesso das tarefas escolares. O

professor deve assegurar que todos tenham clareza do que se pretende, pois,

à medida que vão entendendo o que têm de fazer e como, o professor poderá

dedicar mais tempo àqueles que têm mais dificuldades. Com certeza, de início

esse planejar cooperativo, será um tanto difícil e irá demandar certo tempo, no

entanto acredita-se que esse tempo é um investimento que traz pontos

positivos, tanto para o professor quanto para os alunos, propiciando o aumento

da autoestima e a confiança necessária para o avanço da escolaridade.

A sala de aula da Educação de Jovens e Adultos deve ser um espaço

para trabalhar na formação de cidadãos, levando os alunos a produzir o

conhecimento necessário dentro das suas especificidades, pois, esse é o

grande desafio da escola, fazer com esses jovens e adultos sejam

reconhecidos como sujeitos ativos na sua trajetória escolar, estimulados a

atuar e participar da vida cidadã com dignidade. Haddad (1998) ressalta que

“Não basta oferecer escola; é necessário criar as condições de freqüência,

utilizando uma política de discriminação positiva, sob o risco de, mais uma vez

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culpar os próprios alunos pelos seus fracassos.”( Haddad, 1998, p. 116, apud

Soares, 2003 p. 37).

Diante dessa situação cabe ao professor como agente do saber, munir-

se de muitos recursos para trabalhar neste cenário da EJA com tantas

diversidades e também providenciar com antecedência os materiais de que irá

precisar. Conversar também com os colegas que trabalharam com os alunos

antes e depois dele para que, dentro do possível, encontrarem formas de

organizar melhor os conteúdos que irá trabalhar com esses alunos de acordo

com a sua especificidade e necessidade. O professor deve se lembrar de que,

na escola, juntamente com os conteúdos das diferentes áreas do

conhecimento, também se promovem valores morais e éticos que por vezes

estão adormecidos como a generosidade, a solidariedade que são importantes

para esses jovens e adultos construírem a cidadania.

No entanto o professor deve aguçar a percepção para desenvolver

atividades que contemplem momentos de participação coletiva, momentos para

os alunos interagirem em grupos, e momentos de trabalho individual; deve ter a

percepção que os momentos coletivos ajudam a fortalecer o conjunto na sala

de aula e possibilitam o diálogo sobre as conquistas e dificuldades gerais, de

forma que todos percebam que formam um só grupo; propicia a necessária

troca de informações entre os alunos, criando situações de interação que

favorecem aprendizagens significativas como a cooperação a generosidade e a

solidariedade. A diversidade entre os alunos da EJA confere riqueza de grupo.

O professor deve aproveitar as diferenças de modo a propiciar oportunidades

de ajuda mútua e aprendizagem mais efetiva e afetiva para todos.

Já os momentos de trabalho individual auxiliam a desenvolver a

concentração e a disciplina necessária à atividade intelectual. Além disso, é

uma ótima oportunidade para o professor estabelecer uma relação mais

próxima com o aluno, criar vínculos de amizade e investigar ou cuidar de suas

dificuldades e necessidades específicas. Isso é particularmente importante

para esses alunos, que precisam desenvolver a autoconfiança em relação à

capacidade de aprender.

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Compreendendo essa heterogeneidade, o professor deve também ter a

percepção que cada um de nós tem um jeito de aprender, um ritmo próprio e

um acúmulo de conhecimentos diferenciados, em função das nossas histórias

de vida. Apresentar um determinado conteúdo sempre da mesma forma pode

atingir determinados alunos e não outros, portanto é necessário criar

estratégias diferenciadas, alternar as formas de apresentação e

desenvolvimento, bem como as modalidades de interação.

À medida que um professor adotar a percepção na sua prática docente

vai se desenvolvendo, criando uma autoanálise do seu trabalho, que

proporciona uma mudança sua postura, valorizando a troca de idéias entre

docentes sobre a situação desses alunos trabalhadores e sofridos, planejando

em conjunto as intervenções necessárias. Talvez seja essa a ocasião para

verificar em qual área do conhecimento determinado, o aluno demonstra mais

interesse ou facilidade, propondo uma ponte para a superação das dificuldades

que impedem a aprendizagem e que afastam muitos desses alunos da escola.

Se assim for, somente um trabalho unido dos professores da EJA pode

modificar tal situação, promover a permanência e o sucesso desses alunos em

seus estudos e uma ação docente efetiva.

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AUTO CONCEITO E MOTIVAÇÃO NA EJA

Uma ação necessária para o aluno avançar a escolaridade

Inicialmente pode-se pensar na etimologia da palavra motivação: vem do

verbo latino movere, cujo tempo supino motum e o substantivo motivum deu

origem ao nosso termo motivo: aquilo que move a pessoa, faz mudar de curso

(Bzuneck, 2001). O termo motivação é descrito pela Enciclopédia Encarta

como: (...) causa do comportamento de um organismo e razão pela qual se leva adiante uma atividade determinada. A motivação abrange tanto os impulsos conscientes como os inconscientes. As teorias estabelecem um nível de motivação primário, que se refere à satisfação das necessidades elementares (respirar, comer ou beber) e um secundário referido às necessidades sociais. (ENCARTA (1993-1999)

A imagem que uma pessoa tem de si é, em grande parte, formada a

partir da maneira como ela é vista pelos outros com quem convive e a opinião

do outro tem influência proporcional ao valor que ele tem em nossa vida.

Assim, quando pessoas que são importantes para nós nos elogiam, sentimo-

nos encorajados a enfrentar desafios, fortalecendo nossa autoimagem. O

professor é muito importante para os alunos e constitui uma referência para a

formação de seu auto-conceito; a maneira como se relaciona com eles é

fundamental para que se sintam estimulados, entusiasmados e capazes. Para

isso, é bom não só elogiar o aluno na ocasião adequada, mas também mostrar-

lhe de forma precisa e direta, quais foram suas conquistas. Tais informações

ajudam os alunos a tomar consciência de sua própria aprendizagem e a usar

com mais segurança os conhecimentos de que se apropriaram.

Uma das formas que contribui para o desenvolvimento dessa

consciência é expressar para o outro o que estamos sentindo, o que estamos

aprendendo, sendo que a expressão organiza o pensamento. Muitas vezes

nos damos conta do que pensamos somente no momento em que estamos

conversando com outra pessoa. Quando alguém nos indaga por não entender

o que queremos dizer, ajuda-nos a organizar e completar uma idéia que estava

confusa. Através do diálogo, vamos organizando nossa fala e, ao mesmo

tempo, nosso pensamento.

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No entanto, muitas pessoas tem dificuldade para se expressar, pois

nem sempre é fácil. Por isso o professor tem a consciência de que o aluno é o

agente principal da escola, deve ter a percepção em aproveitar esse momento

para dialogar, criando oportunidades para o aluno falar de si, emitir opiniões

sobre os acontecimentos e explicar suas hipóteses nas situações de

aprendizagem. O professor deverá se esforçar para construir vínculos de

amizade, de afetividade com os alunos jovens e adultos, e entre eles, de forma

a criar um ambiente prazeroso, de alegria, de entusiasmo onde todos sejam

respeitados em suas diferenças e especificidades para que superem as

dificuldades ajudando a crescerem e a seguirem em frente a sua escolaridade.

Barreto aponta: A pedagogia do entusiasmo, muito ligada às do assombro e da alegria, supõe que o professor ou mestre se assuma como animador, como a pessoa mais motivada da sala, capaz de deixar fora dela os seus problemas e dificuldades para não contaminar com eles os alunos. É uma pessoa orgulhosa e feliz de ser professor, que espalha vocação, vontade de aprender, vontade de viver. Mais que transmitir seus conhecimentos, comunica seus desejos e habilidades para que os alunos os adquiram. Vive com eles a aventura da aprendizagem cotidiana, transforma sua sala em uma oficina, um laboratório, um lugar de busca, de encontro e convivência, de construção de novos conhecimentos e valores. (BARRETO, 1987, p. 11, apud ESCLARÍN, 2006, p. 158)

O professor da EJA que de fato se constitui como educador responsável

e competente, é possuidor de autonomia, aquele que volta seu olhar para os

alunos, que tem percepção aguçada, proporciona um clima de confiança e

respeito mútuo, garantindo um ambiente de alegria, de entusiasmo, que é

propício para a aprendizagem, o que possibilita os alunos a se sentirem

seguros para dizer o que pensam e desejam, num permanente exercício de

democracia.

Nesse contexto o professor sendo o agente principal do saber deve

adquirir espírito de equipe, não pode trabalhar isolado, distanciado, lembrando

que, quanto maior for auto-estima, mais eficaz será o tratamento do outro com

estima, respeito e boa vontade, uma vez que não tendemos a percebê-los

como ameaça, e que o auto respeito é a base do respeito pelo outro. Enfim, a

auto-estima elevada é a base para a felicidade pessoal. Para Barreto os olhos:

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[…] são janelas do corpo e, junto com a totalidade do rosto, têm um significado muito especial, quando se trata de auto-estima. Olhar de frente é responder por si mesmo, ser responsável. Os olhos expressam vida ou morte, excitação ou passividade, ternura ou desprezo. Os olhos são portas da auto-estima. (BARRETO, 1987, p. 11 apud ESCLARÍN, 2006, p. 57)

Todo educador, se é honesto consigo mesmo e com seu semelhante

deve conduzir o educando para alcançar a verdadeira realização, pois

consegue promover o conceito positivo dos alunos e o respeito a seus

diferentes ritmos de aprendizagem, para que readquiram a confiança na

capacidade de aprender. É uma ação humana que o professor deve praticar

constantemente no ambiente escolar da EJA, pois possibilita o jovem e adulto a

desenvolver suas potencialidades. Sendo que uma pessoa só se sente

motivada quando se vê como indivíduo participante ou até encontrar-se como

ser humano. É a partir daí que consegue se tornar capaz de enfrentar os

desafios da sua vida com mais êxito.

No entanto assumir o compromisso com a aprendizagem desses alunos

jovens e adultos com diferentes ritmos de aprendizagem, nos remete a um

empenho, a uma revisão da ação docente do que é realmente necessário

assegurar nesta retomada do percurso, estruturando uma proposta pedagógica

significativa e relevante que recomponha, mediante aprendizagens bem

sucedidas, o auto conceito positivo e confiança desses alunos na escola, na

própria capacidade de aprender, sendo condições básicas para continuarem os

estudos com chances de sucesso.

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Promoção do auto conceito

Reflexões sobre o trabalho do professor quanto ao desenvolvimento do

auto conceito positivo dos alunos

- Procuro conhecer melhor os alunos, para orientar a forma de me

relacionar com eles?

- Aponto os avanços que percebo em sua aprendizagem?

- Estimulo constantemente os alunos a enfrentar situações

desafiadoras, participar das atividades, falar o que pensam?

- Consigo criar um clima de confiança para que falem de si, da sua

vida, das suas angústias, arrisquem palpites, participem sem medo das

atividades diárias?

- Procuro criar um clima de respeito em sala de aula, para que

valorizem os trabalhos dos colegas e aceitem, em seus grupos, aqueles que

tem mais dificuldade, sem zombar uns dos outros?

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A ESSÊNCIA HUMANA NA EJA

Um despertar para se humanizar

Falar sobre a essência humana é algo complexo, porém no ambiente

escolar da EJA, é necessário. Perante o mundo em que estamos vivendo com

tantos problemas de violência, drogas, álcool, sexo descompromissado, meios

de comunicação descarregando informações negativas, banais, precisa-se com

urgência despertar o nosso olhar para que não nos afastemos de

conhecimentos verdadeiros, de sabedoria, o que nos permite adquirir um maior

compromisso em não deixar passar despercebido a nobreza, que é uma

característica da essência humana.

O capitalismo mal interpretado, que está tomando conta da nossa

sociedade atual, que desenraíza, brutaliza, leva as pessoas para um consumo

desenfreado, toma conta das pessoas, e dessa forma o cientificismo positivista,

marcado pelo determinismo científico, fez prevalecer as ciências exatas sobre

as ciências humanas, favorecendo o aparecimento de uma cultura

extremamente racionalista, mecanicista e materialista, que gera homens,

insensíveis, calculistas, individualistas, com predomínio da razão sobre os

valores morais e éticos.

No entanto os educadores tem que despertar para uma visão de que o

desenvolvimento científico e tecnológico, como expressão máxima da verdade,

estimulou o homem para um busca incansável de ter mais, de consumir,

sobrepondo os valores humanos, isto é, temporais e espirituais, o

sensacionalismo e a exterioridade sobre a interioridade e a reflexão, vem

transformando as pessoas em máquinas pensantes. Conforme Finkielkraut: No exato momento em que a técnica, através da televisão e dos computadores, parece capaz de fazer que todos os saberes penetrem em todos os lugares, a lógica do consumo destrói a cultura. A palavra permanece, mas esvaziada de qualquer idéia de formação, de abertura para o mundo e de cuidado da alma(...) Já não se trata de transformar os homens em sujeitos autônomos, mas de satisfazer seus desejos imediatos, de diverti-los ao menor preço possível. (FINKIELKRAUT, 1990, p. 128, Esclarín, (2002, p. 17)

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Isso não quer dizer que o desenvolvimento científico e tecnológico não

sejam importantes, mas, devem ser construídos em bases sólidas da justiça e

da igualdade para todos.

Porém, a escola além de tratar conteúdos específicos, também é lugar

propício para anunciar a religiosidade, como um espaço significativo para

exprimir a essência divina que está em cada Ser e a busca da sintonia com o

contexto cósmico; que a verdadeira experiência cristã saia do coração, da alma

de todos os educadores da EJA, e não de padrões pré-determinados por

Instituições Religiosas. Assim nas palavras de João Malheiro: Sem religião é mais fácil duvidar se vale a pena ser fiel à ética e mais difícil ver claramente o porquê de se sacrificar em determinadas situações. Há ocasiões em que os motivos de conveniência natural para agir bem são suficientes. Mas existem outras – e não são poucas – em que esses motivos humanos perdem peso em nossa mente, pela razão que seja, e é então que os motivos sobrenaturais assumem papel decisivo. Prescindir da educação religiosa, é, portanto, um grave erro dos educadores. Quando se dão conta, depois, quase sempre já é tarde. (Malheiro, 2010, p. 59)

Nesse contexto, o educador deve compreender que frente a toda essa

situação, a religiosidade é importante na escola, pois recupera valores e

desperta para a visão de que, o homem está se robotizando, perdendo a sua

dignidade humana, que caminha para um processo de desumanização cada

vez mais crescente.

Esclarín descreve que: Educar é ajudar cada aluno a se conhecer, a valorizar-se e a empreender com honestidade o caminho da própria realização. O único conhecimento realmente importante é o conhecimento de si mesmo: “Conheça-se, queira-se, seja você mesmo, atreva-se a viver, a amar e a ser livre”. Este deve ser o objetivo essencial de todo autêntico educador. (ESCLARÍN, 2002, p. 54)

O homem está perdendo aos poucos, a visão de sua essência como

pessoa, sua totalidade do Ser, sua originalidade e autenticidade, esquecendo o

potencial interior existente. Os sistemas estão cada vez mais automatizados e

menos voltados para a humanização.

É preciso refletir sobre o significado da escola em proporcionar uma

educação voltada para o resgate dos valores que estão adormecidos dentro de

cada indivíduo. Malheiro (2010) afirma que “Desde os tempos mais remotos,

educar sempre objetivou primeiro que o aluno seja uma pessoa humana

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completa, formada em suas dimensões racionais, volitivas, afetivas e

espirituais.” (MALHEIRO, 2010, p. 11). Acrescenta que é preciso “Uma escola

de corpo e alma. Uma escola que realmente eduque os cidadãos que são

primeiro lugar pessoas que foram criadas para serem felizes.” (MALHEIRO,

2010, p. 14)

Talvez a escola hoje, lugar propício para manifestar a criatividade, a

interioridade do Ser humano, se torna causadora de encolhimentos e

embaraços, impedindo o desenvolvimento global das pessoas.

Daí a importância da escola em ajudar o aluno a se conhecer melhor, a

ter um relacionamento mais afetivo, buscando transformar as carências e

fraquezas em desafios e superação.

Caminha-se para um processo de desumanização cada vez mais

crescente, perdendo a sua dignidade de pessoa, considerando-a como objeto.

Arroyo atenta para o fato de que: Reeducar nosso olhar, nossa sensibilidade para com os educandos e as educandas pode ser de extrema relevância na formação de um docente-educador. Pode mudar práticas e concepções, posturas a até planos de aula, de maneira tão radical que sejamos instigados(as) a aprender mais, a ler mais, a estudar como coletivos novas teorias; novas metodologias ou novas didáticas. A maneira como enxergamos pode ser determinante da maneira como lhes ensinamos e os educamos. Pode ser determinante da maneira como vemos nossa humana docência. (ARROYO, 2004, p. 62)

Abrir caminhos para a percepção, transpõe a essência do outro, ver o

mundo e as pessoas além do mapa que se inventou, do muro que se traçou, na

tentativa de uma convivência mais harmoniosa e interativa. É trabalho de cada

ser humano integrar os níveis intensos de cada ser, para que haja

harmonização. Dessa forma, a escola poderá transferir valores humanos e

éticos, auxiliando os jovens e adultos com que se convive. Conforme Serrano: Os valores e as atitudes são fomentados sempre em contextos de realidade, de relação e interação da pessoa com os outros, com o meio e com a realidade em que vive. Não é algo abstrato que se aprende e que se incorpora conceitualmente na estrutura do conhecimento. Traduzem-se em atividades e em comportamentos concretos, comprometidos com a realidade. Mas ainda, nenhum valor efetivo pode ser vivenciado sem um envolvimento ativo. Precisa-se de espaços significativos para facilitar experiências que ajudem a descobrir, a observar e, sobretudo, a viver a essência comunitária dos valores. (SERRANO, 2002, p. 115)

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A EJA deve ser um espaço que favoreça a integração do Ser, o

equilíbrio entre as reações decorridas do hemisfério direito (intuição, emoção,

percepção, sentimentos) e do hemisfério esquerdo (razão, intelecto, raciocínio),

em vista à formação do ser em sua totalidade.

Educar significa “levar a descobrir” a humanidade futura, que se acha na

“criança, jovem ou adulto”, de maneira que o indivíduo educado possa

interpretar a realidade humana.

Existe uma conscientização de um poder controlador, mas resgatar o

valor de que se é o piloto, o capitão, o comandante que controla essa viagem.

E, na proporção que exista união, solidariedade e participação, cada avanço

contará para a superação dos os limites.

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A SOLIDARIEDADE NA EJA

Um valor essencial

Percebe-se que frente ao comportamento de determinados alunos que

procuram a EJA para retomar seus estudos, faz-se necessário de forma

cuidadosa, desenvolver nas práticas pedagógicas este tema que é de

fundamental importância, com a intenção de buscar cada vez mais colaborar

com todos os envolvidos, chamar a atenção para tornar a escola um espaço de

comunidade e de companheirismo. Por isso, esses jovens e adultos,

trabalhadores em sua maioria, são todos igualmente importantes e

merecedores de apoio, de atenção, enfim dos cuidados que forem possíveis.

Nesse contexto, deve-se ter um olhar voltado para a verdadeira

realidade, sendo que se trata de pessoas ou grupo sociais que buscam um

mesmo interesse, a elevação do conhecimento. Portanto há necessidade de

um olhar ser mais atento e solidário, pois o homem é um ser racional e na

medida em que exercer a racionalidade poderá desenvolver suas

potencialidades, uma vez que a solidariedade, se baseia na igualdade e na

dignidade humana. Segundo Camps: Não deve ser entendido como substituição do dever de justiça, pela educação na solidariedade. Trata-se de valores complementares. A solidariedade deve compensar e complementar as deficiências da justiça. A solidariedade deve ser seletiva em relação aos mais despossuídos, aos que não vêem reconhecida sua categoria de cidadão ou de pessoa. (CAMPS, 1990, p. 52, apud SERRANO, 2002, p. 99)

Dessa forma, a EJA deve ser reconhecida como um centro de aquisição

de conhecimento pela vivência de valores morais e éticos e pelo respeito aos

princípios humanos nas relações interpessoais. Deve ser concebida como uma

organização pública que em nenhuma instância deixa de medir esforços para

atender as exigências, ansiedades e angústias dos que nela buscam

alternativas para a solução de problemas, um espaço de harmonia e interação

entre professores e jovens e adultos trabalhadores, integrados pelo mesmo

ideal.

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Ainda em Camps:

É preciso afirmar que temos a obrigação de nos sentirmos solidários com todos os seres humanos e de reconhecer nossa humanidade comum. Explicar em que consiste ser solidário não significa tentar descobrir uma essência do humano, mas sim insistir na importância de ver as diferenças ( raça, sexo, religião, idade) sem abdicar do “nós” que nos contém a todos. Pode-se e deve-se ser etnocêntrico, tornando cada vez mais amplo o universo comum do “nós”. A solidariedade é, em suma, uma possibilidade – e um imperativo – de modo algum contrária ao cuidado de cada um com sua própria pessoa. (CAMPS, 1990, p. 35, apud SERRANO, 2002, p. 101)

O valor da solidariedade remete-se a um compromisso, uma ação

docente, não apenas a uma declaração de intenções. Por isso, o professor

entendendo que o agente principal da escola é o aluno, deve adotar em seu dia

a dia, hábitos, atitudes e valores que busquem caminhos para a criação de

alternativas na sua prática docente, rompendo com práticas individualistas e

egoístas.

Sendo assim, o professor que adotar essa postura, está consciente da

importância do quão importante é a solidariedade, o compromisso na sua ação

docente de criar condições para que esses jovens e adultos apreciem as

diversas formas do viver humano, compreendendo, valorizando e percebendo

que a dignidade humana não é mera opinião, mas princípio fundamental da

ética e do convívio democrático. De acordo com a afirmação de Malheiro: Podemos afirmar que quem não tiver sendo preparado, através de uma educação global e de valores humanos, para os princípios que fortalecem a solidariedade humana, não estará sendo preparado para sobreviver num mundo que cada vez mais estaremos precisando dos outros. (MALHEIRO, 2010, p. 86)

O professor que ainda acredita, que está comprometido, tem essa

importante contribuição a dar. Enquanto não houver coragem de assumir esse

desafio, não haverá possibilidade de mudança de postura nas suas práticas

pedagógicas que ajudem esses jovens e adultos a “ser mais”.

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É preciso afirmar que todos os envolvidos na escola, num esforço

conjunto, tenham uma sensibilidade maior em relação aos valores humanos,

realizem mudanças necessárias em suas práticas pedagógicas, visando formar

cidadãos que busquem a transformação da sociedade para torná-la digna,

justa e humana.

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Mensagem

Que cada educador coloque o melhor de si aos seus alunos: a vida, a

fé, a esperança, a alegria, o desejo de ser feliz. Sabemos que a vida não é feita

só de flores, mas a caminhada nos ensina que quando se lançam sementes se

colhem frutos.

Que cada educador colha como resultado do seu trabalho os frutos que

um dia semeou no coração de cada aluno.

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Para enriquecer o conhecimento

Enriquecê-lo nunca é demais!

Procure ler os livros abaixo relacionados que servirão de suporte para

humanizar o olhar docente na EJA, contribuindo para uma ação efetiva:

- A Alma da Escola do Século XXI – Como conseguir a formação dos

alunos de João Malheiro;

- Educar para Humanizar de Antonio Pérez Esclarín;

- Educação em valores – Como Educar para a Democracia de Glória

Pérez Serrano.

Conheça também a “Coleção Trabalhando com a Educação de Jovens

e Adultos”, produzida pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e

Diversidade (SECAD), do Ministério de Educação e Cultura ( MEC ), que busca

contribuir para atenuar a dívida histórica que o Brasil tem para com todos os

cidadãos de 15 anos ou mais que não concluíram e educação básica.

Boa leitura!

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REFERÊNCIAS:

ALVARES, Sonia Carbonell. Educação estética para jovens e adultos: a beleza no ensinar e no aprender – São Paulo: Cortez, 2010. ARROYO, Miguel Goncález. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

BARCELOS, Valdo. Educação de Jovens e Adultos: Currículo e Práticas Pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

BEHRENS, Marilda Aparecida. O Paradigma Emergente e a prática Pedagógica. Petrópolis, RJ: 3.ed. Vozes, 2009.

BRASIL, Ministério Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares para Educação de Jovens e Adultos. Brasília, DF, 2000.

ESCLARÍN, Antonio Pérez. Educar para Humanizar. São Paulo, Paulinas, 2006.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MALHEIRO, João. A Alma da Escola do Século XXI: com conseguir a formação integral dos alunos. – 1 ed. Curitiba CRV, 2010.

MENDONÇA. Nelino Azevedo de. Pedagogia da Humanização: a pedagogia humanista de Paulo Freire – São Paulo: Paulus, 2008.

PINTO, Álvaro V. Sete lições sobre a educação de Adultos. São Paulo, Cortez, Autores Associados, 2003, 13 ed.

SEED/PR. Diretrizes Curriculares da educação de jovens e adultos. Paraná, 2006.

SERRANO, Gloria Pérez. Educação em Valores: como educar para a democracia. 2 ed.- Porto Alegre: Artmed. Editora S.A.,2002.

SOARES, Leôncio. Diálogos na Educação de Jovens e Adultos, 2 ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

________, Aprendendo com a diferença – estudos e pesquisas em educação de jovens e adultos – Belo Horizonte: Autêntica, 2003.