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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: O valor literário da cultura Hip-Hop e a contribuiç ão africana

Autor Marta Tomé de Lima Soto

Escola de Atuação Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira – Ensino Fundamental e Médio

Município da escola Maringá

Núcleo Regional de Educação

Maringá

Orientador Dr. Marciano Lopes e Silva

Instituição de Ensino Superior

UEM

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Público Alvo 3° ano do Ensino Médio – Bloco - Matutino

Localização

Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira

Rua Libertador San Martin, s/n°, Conjunto Guaiapó

Apresentação: A elaboração desse caderno pedagógico nasceu da necessidade de estimular o interesse do educando em aprender a língua portuguesa, visto que a maioria dos alunos apresenta resistência em fazer leituras e aprender o ensino da língua materna por não estarem familiarizados com a linguagem literária. Assim, buscou-se criar um material que partisse de textos que fazem parte do cotidiano dos educandos para, gradativamente, passar para textos mais complexos. Para isso, fundamentamos nossa pesquisa nos Métodos Recepcional e Criativo, de Bordini e Aguiar. Esse material também contempla a cultura afrobrasileira para que o aluno possa conhecer a contribuição africana para a formação da identidade nacional. A implementação dessa produção didático-pedagógica na escola contribuirá com a superação dos problemas encontrados no processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa, garantindo assim uma melhor qualidade de ensino.

Palavras-chave Hip-Hop, aprendizagem, cultura africana, leitura

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1) IDENTIFICAÇÃO 1.1) ÁREA: Língua Portuguesa 1.2) Professor PDE: Marta Tomé de Lima Soto 1.3) Professor orientador IES: Doutor Marciano Lopes e Silva 1.4) NRE/ Município: Maringá 1.5) IES Vinculada: Universidade Estadual de Maringá - UEM: 1.6) Escola de implementação: Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira - Ensino Fundamental e Médio 1.7) Público objeto de intervenção: 3º ano do Ensino Médio - matutino 1.8) Tema do estudo: A influência da cultura Hip-Hop nos adolescentes dentro do

espaço escolar e o aproveitamento desse interesse em favor do ensino-

aprendizagem, bem como o estudo da cultura afrobrasileira.

1.9) Título: O valor literário da cultura Hip-Hop e a contribuição africana

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INTRODUÇÃO

O ensino da língua portuguesa nas escolas públicas tem se tornado

enfadonho e monótono, muitas vezes pelas aulas pouco dinâmicas e sempre da

mesma maneira. O aluno, por sua vez, traz o desinteresse estampado e a cada dia

mais o espaço escolar é lugar para encontros e brincadeiras.

Para enfrentar esta realidade e tentar alterá-la no espaço social em que o

projeto será desenvolvido, algumas questões se impõem:

a) Como tornar essas aulas mais interessantes e produtivas?

b) Pensar em novos métodos de trabalhar a língua materna, com uma

proposta didática diferenciada, por meio do lúdico e partindo da realidade

do educando, motivará mais e acontecerá um ensino-aprendizagem com

mais eficiência?

c) É importante conhecer a cultura afrobrasileira e entender sua contribuição

na formação da identidade do povo brasileiro?

d) Estudar e compreender a cultura Hip-Hop, que faz parte do cotidiano do

aluno ajudará a melhorar a aprendizagem?

e) A cultura Hip-Hop em suas várias formas de manifestação tem valor

literário?

As diretrizes Curriculares do Paraná - DCEs - Língua Portuguesa (2008,

página 55), chamam a atenção para o fato de se partir da realidade do aluno, como

podemos observar em: “No processo de ensino-aprendizagem, é importante ter claro

que quanto maior o contato com a linguagem, nas diferentes esferas sociais, mais

possibilidades se tem de entender o texto, seus sentidos, suas intenções e visões de

mundo”.

Na comunidade em que se encontra o Colégio Estadual Tânia Varella

Ferreira, trabalhar com leitura, interpretação e compreensão de texto é uma tarefa

difícil porque os adolescentes são provenientes de famílias simples e muitas delas

desestruturadas, que não valorizam a escola, tendo nela um ponto de encontro, já

que não possuem lazer algum no bairro. Fazer leitura de livros, poemas, etc. para

eles não é algo interessante porque a leitura não é entendida como um fator

humanizador, ou seja, como elemento importante para a formação do sujeito.

Assim, os educandos chegam à escola apresentando resistência em realizar

leitura de textos, principalmente por não estarem familiarizados com a linguagem

literária. Por outro lado, o rap, o street dance, o grafite e todas as manifestações que

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fazem parte da cultura Hip-Hop fazem parte do cotidiano deles, e é uma linguagem

pela qual eles se interessam e que prende muito a atenção desses educandos.

Além das manifestações artísticas que fazem parte da cultura Hip-Hop serão

pesquisados textos da cultura afrobrasileira para que o educando possa entender

melhor a contribuição africana para a formação da identidade nacional, mostrando

que aquela é vertente desta.

Diante de tais considerações, é que esse material didático foi pensado e

elaborado, para trabalhar com o 3° ano do Ensino Mé dio, utilizando como suporte

teórico os Métodos Recepcional e Criativo, de Bordini e Aguiar, acreditando-se que

dessa maneira possamos formar leitores críticos.

O Método Recepcional visa a ampliação do horizonte de expectativas do

aluno levando-o a descobrir o gosto pela leitura. Partiremos da leitura de textos

simples, que fazem parte do cotidiano destes alunos para chegarmos a textos mais

complexos que eles possam ler compreender e interpretar, fazendo as inferências

necessárias, o que provocará a ruptura de seus horizontes de expectativas

tornando-o um leitor cada vez mais crítico e preparado para uma boa e prazerosa

leitura.

Para que isso aconteça, percorreremos as cinco etapas do Método

Recepcional: A Determinação do horizonte de expectativa; o Atendimento ao

horizonte de expectativa; a Ruptura do horizonte de expectativa; o Questionamento

do horizonte de expectativa e a Ampliação do horizonte de expectativa.

Recorreremos ao Método Criativo, de Bordini e Aguiar, que é composto de seis

etapas: A Constatação de uma carência; a Coleta de dados desordenada; a

Elaboração interna de dados; a Constituição do projeto criador; a Elaboração do

material e a divulgação do material por meio de uma mostra.

Acredita-se que a implementação desse material didático na sala de aula

oferecerá condições para que os alunos possam ter um ensino aprendizagem de

fato, com significação para eles, percebendo, assim, a importância do ensino da

língua portuguesa para o seu dia a dia, e que desse modo possamos garantir uma

melhor qualidade de ensino nas escolas públicas do Paraná.

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PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

O vídeo e a letra do rap na íntegra encontram-se disponíveis em:

http://letras.terra.com.br/mv-bill/97244/ acessado em 19/07/2011.

CONTRASTE SOCIAL - MV-Bill Eu quero denunciar o contraste social Enquanto o rico vive bem, o povo pobre vive mal Cidade maravilhosa é uma grande ilusão Desemprego pobreza miséria corpos no chão As crianças da favela não tem direito ao lazer Governantes muito falam e nada querem fazer O posto de saúde é uma indecência Só atendem se o caso for uma emergência Sociedade capitalista de sorriso aberto Rir de longe é melhor do que sofrer de perto Miséria e morte é o nosso dia a dia Pelo menos entre nós não existe judaria [...] Por isso que muito cara fica revoltado Com o sistema que deixa os pobres acorrentados Deve ser muito fácil falar da cobertura Mas daqui debaixo a realidade é bem mais dura [...] Se na sua cabeça, eu estou equivocado Deça da cobertura e passe aperto do meu lado Contraste social, o povo pobre é que vive mal Eles querem negão dentro da prisão [...]

INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O TEXTO 1) O que o eu lírico quer denunciar? Justifique sua resposta com elementos retirados do texto. 2) Podemos perceber que a voz poética do texto tenta chamar a atenção para as diferenças sociais no Brasil. a) Indique essas contradições com elementos do texto.

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3) Leia com atenção o trecho abaixo e responda à questão que segue: “Se liga então, nada mudou/ Se na sua cabeça, eu estou equivocado/ Desça da cobertura e passe aperto do meu lado” De acordo com o trecho, quem é o interlocutor da canção? 4) “O rap articula-se como atos de comunicação, através de rappers e DJs, produzindo discursos, diferentes dos discursos dos grupos dominantes a serviço de sua comunidade, a fim de modificar suas crenças, seus posicionamentos político-social e sua identidade étnica e transformar sua visão de mundo”. Na sua opinião, a canção consegue alcançar seu objetivo? 5) Qual a importância desse tipo de poesia para os jovens? 6) Quais as inferências que podemos fazer a partir da mensagem desse texto?

O vídeo e a letra do rap na íntegra encontram-se disponíveis em http://letras.terra.com.br/racionais-mcs/88492/?domain_redirect=_es acessado em 19/07/2011. TEMPOS DIFÍCEIS - Racionais Mc's Composição : Edy Rock / KL Jay Eu vou dizer porque o mundo é assim. Poderia ser melhor mas ele é tão ruim. Tempos difíceis, está difícil viver. Procuramos um motivo vivo, mas ninguém sabe dizer. Milhões de pessoas boas morrem de fome. E o culpado, condenado disto é o próprio homem. O domínio está em mão de poderosos, mentirosos. Que não querem saber. Porcos, nos querem todos mortos. Pessoas trabalham o mês inteiro. Se cansam, se esgotam, por pouco dinheiro. Enquanto tantos outros nada trabalham. Só atrapalham e ainda falam. Que as coisas melhoraram. Ao invés de fazerem algo necessário. Ao contrário, iludem, enganam otários. [...] Tempos... Tempos difíceis! (4x vezes ) […]

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INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O TEXTO 1) Compare os dois textos: Em que eles se parecem? Explique e justifique comparando alguns trechos retirados de cada texto. 2) Para o eu-lírico, quem é o culpado do mundo estar tão ruim? 3) No texto II, o eu-lírico não deixa claro quem são os poderosos e mentirosos. Na sua opinião, quem são estas pessoas? 4) Para você, como podem ser resolvidos os problemas listados no rap “Tempos difìceis”? 5) Reúna-se com seus colegas de grupo e, juntos concluam: Quais são as principais caracteristicas do rap? Respondam levando em conta os seguintes critérios: finalidade do gênero, perfil dos interlocutores, tema, estrutura e linguagem (variedade linguística).

OFICINA NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA Agora vamos separar a sala em grupos para pesquisar as definições de hip-hop em diferentes sites. Pesquisem também a história do hip-hop geral e no Brasil.

PRODUZINDO UM RAP Agora que você já ouviu os dois estilos musicais, vamos produzir um rap que tenha como tema assuntos relacionados com a desigualdade social.

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Após ter ouvido e analisado os raps “Contraste social” e “Tempos difíceis”, veja o vídeo e a letra da canção “Classe Média”, de Max Gonzaga que estão disponíveis na íntegra no site http://www.youtube.com/watch?v=otS-uONfS2c, acessado em 19/07/2011. CLASSE MÉDIA - Max Gonzaga Sou classe média Papagaio de todo telejornal Eu acredito na imparcialidade da revista semanal Sou classe média Compro roupa e gasolina no cartão Odeio coletivos e vou de carro que comprei à prestação [...] Mas eu to nem aí se o traficante é quem manda na favela Mas não to nem aqui se morre gente ou tem enchente em Itaquera Eu quero é que se exploda A periferia toda [...] Toda tragédia só me importa Quando bate em minha porta Porque é mais fácil condenar Quem já cumpre pena de vida. [...]

INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O TEXTO

1) A qual classe social pertence o eu-lírico do texto?

2) Retire do texto dois versos que trazem a ironia.

3) Muitas vezes o enunciador troca uma palavra por outra criando um efeito inesperado, aproveitando-se, assim, o efeito da surpresa entre o ouvinte e o leitor. No final da música foi empregado este recurso estilístico. Leia os versos abaixo e interprete-os:

“Toda tragédia só me importa Quando bate em minha porta Porque é mais fácil condenar Quem já cumpre pena de vida”.

4) A atitude do eu lírico retrata com fidelidade o comportamento das pessoas da classe média brasileira? 5) Na sua opinião, esse comportamento de indiferença contribui com a violência do país?

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6) Compare o texto “Classe Média” com os raps “Contraste social” e “Tempos difíceis”. a) No que se diferem os eu- líricos dos três textos?

b) Analisando a música “Classe média” e os raps “Contrastes sociais” e “Tempos difíceis”, podemos observar que a visão da classe média e a visão que as pessoas da favela têm dos problemas sociais do Brasil são diferentes. Na sua opinião, isso se dá pela diferença cultural? Justifique sua resposta. BODARRADA - (Quem sou eu?) Luiz Gama Amo o pobre, deixo o rico, Vivo como o Tico-tico; Não me envolvo em torvelinho, Vivo só no meu cantinho: Da grandeza sempre longe Como vive o pobre monge. Tenho mui poucos amigos, Porém bons, que são antigos, Fujo sempre à hipocrisia, À sandice, à fidalguia; Das manadas de Barões? Anjo Bento, antes trovões. Faço versos, não sou vate, Digo muito disparate, Mas só rendo obediência À virtude, à inteligência: Eis aqui o Getulino Que no plectro anda mofino. Sei que é louco e que é pateta Quem se mete a ser poeta; Que no século das luzes, Os birbantes mais lapuzes, Compram negros e comendas, Têm brasões, não – das Calendas, E, com tretas e com furtos Vão subindo a passos curtos; Fazem grossa pepineira, Só pela arte do Vieira, E com jeito e proteções, Galgam altas posições! Mas eu sempre vigiando Nessa súcia vou malhando De tratante, bem ou mal, Com semblante festival. Dou de rijo no pedante De pílulas fabricante, Que blasona arte divina, Com sulfatos de quinina,

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Trabuzanas, xaropadas, E mil outras patacoadas, Que, sem pingo de rubor, Diz a todos, que é DOUTOR! Não tolero o magistrado, Que do brio descuidado, Vende a lei, trai a justiça, – Faz a todos injustiça – Com rigor deprime o pobre Presta abrigo ao rico, ao nobre, E só acha horrendo crime No mendigo, que deprime. – Neste dou com dupla força. Té que a manha perca ou torça. Fujo às léguas do lojista, Do beato e do sacrista – Crocodilos disfarçados, Que se fazem muito honrados Mas que, tendo ocasião, São mais feros que o Leão. Fujo ao cego lisonjeiro, Que, qual ramo de salgueiro, Maleável, sem firmeza, Vive à lei da natureza; Que, conforme sopra o vento, Dá mil voltas num momento. O que sou, e como penso, Aqui vai com todo o senso, Posto que já veja irados Muitos lorpas enfunados, Vomitando maldições, Contra as minhas reflexões. Eu bem sei que sou qual Grilo, De maçante e mau estilo; E que os homens poderosos Desta arenga receosos Hão de chamar-me tarelo, Bode, negro, Mongibelo; Porém eu que não me abalo, Vou tangendo o meu badalo Com repique impertinente, Pondo a trote muita gente. Se negro sou, ou sou bode Pouco importa. O que isto pode? Bodes há de toda a casta, Pois que a espécie é muito vasta... Há cinzentos, há rajados, Baios, pampas e malhados, Bodes negros, bodes brancos, E, sejamos todos francos, Uns plebeus, e outros nobres, Bodes ricos, bodes pobres,

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Bodes sábios, importantes, E também alguns tratantes... Aqui, nesta boa terra, Marram todos, tudo berra; Nobres Condes e Duquesas, Ricas Damas e Marquesas Deputados, senadores, Gentis-homens, veadores; Belas Damas emproadas, De nobreza empantufadas; Repimpados principotes, Orgulhosos fidalgotes, Frades, Bispos, Cardeais, Fanfarrões imperiais, Gentes pobres, nobres gentes Em todos há meus parentes. Entre a brava militança – Fulge e brilha alta bodança; Guardas, Cabos, Furriéis, Brigadeiros, Coronéis, Destemidos Marechais, Rutilantes Generais, Capitães-de-mar-e-guerra, – Tudo marra, tudo berra – Na suprema eternidade, Onde habita a Divindade, Bodes há santificados, Que por nós são adorados. Entre o coro dos Anjinhos Também há muitos bodinhos. – O amante de Siringa Tinha pêlo e má catinga; O deus Mendes, pelas costas, Na cabeça tinha pontas; Jove quando foi menino, Chupitou leite caprino; E, segundo o antigo mito, Também Fauno foi cabrito. Nos domínios de Plutão, Guarda um bode o Alcorão; Nos lundus e nas modinhas São cantadas as bodinhas: Pois se todos têm rabicho, Para que tanto capricho? Haja paz, haja alegria, Folgue e brinque a bodaria; Cesse pois a matinada, Porque tudo é bodarrada! Disponível em: http://www.america.org.br/personalidades/luis_gama.html, - acessado em 14/06/2011.

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VOCABULÁRIO Enfunados- vaidosos, orgulhosos Casta- raça, geração, qualidade, classe social Marrar- Arremeter com a cornada (animal cornígero): bater com a cabeça Emproadas- orgulhoso, vaidoso Empantufadas- empavonada, ensoberbada Repimpados-abarrotados, fartos, refestelados Principotes- príncipe de meia-tigela Fidalgotes- Fidalgos de poucos recursos, fidalgo de meia-tigela Militança- participação ativa em partidos, instituições, etc. Fulge-brilha Rutilantes- Que rutilam, muito brilhantes, resplandecentes Chupitou- sugou, absorveu, chupou Fauno-homens com pés de cabra e chifres que habita nos bosques e toca flauta Plutão- o mais afastado planeta do sistema solar Lundus- dança cantada de origem africana Matinada- madrugada, estrondo, ruído, algazarra

CONHECENDO O AUTOR

Luiz Gama era filho de uma negra quitandeira que lutava pelas causas abolicionistas e de um fidalgo português que o vendeu para pagar dívidas de jogo. Foi para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro onde ninguém o quis comprar por ser escravo baiano. Aprendeu a ler e escrever com um amigo, entrou para o serviço militar mas pediu baixa logo após ter sido insultado por um oficial e respondido a altura. Seu ato foi visto como insubordinação. Foi copista e amanuense, sempre perseguido e afastado de seu emprego por pessoas racistas que não toleravam sua luta em favor do negro. Tornou-se advogado e conseguiu libertar muitos negros através de seu empenho. Jornalista, abolicionista eloquente, ligou-se ao Partido Liberal, e utilizou de seus escritos como instrumento para achincalhar os exploradores e defender a causa por que lutava.

INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O POEMA

1) Leia com atenção o poema “Bodarrada”, de Luiz Gama, e explique o que você

entendeu. 2) Como é construído o discurso do poema? Quais os recursos estilísticos que o

autor utilizou? 3) Do ponto de vista do eu-lírico, como ele vê algumas pessoas da sociedade da

época?

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4) Encontre e destaque os versos em que o eu-lírico critica a compra de negros pelos brancos.

5) Na atualidade, como o negro é tratado? Vamos refletir sobre os discursos velados

e sobre o que está por trás de algumas falas. 6) O tema diversidade é assunto tratado com muita seriedade em todos os espaços

e vários segmentos da sociedade. E você, o que sabe sobre este tema? 7) O poema Bodarrada foi escrito em um momento histórico em que o negro ainda

era escravizado pelo branco. Luis Gama era um negro consciente de seu papel na sociedade e usava a escrita para defender seus direitos e o de seus pares. Quais os valores éticos que podemos observar nesse poema?

8) Apesar de Luís Gama ter vivido em outro momento histórico, é possível verificar semelhanças entre o discurso empregado no seu poema “Bodarrada” e os dois raps lidos? Trace um paralelo apontando semelhanças e diferenças entre os textos.

No site http://poetasdobrasil.arteblog.com.br/221240/O-navio-negreiro-Castro-Alves-por-Caetano-Veloso/ você vai poder ouvir o cantor Caetano Veloso cantando em forma de rap o poema de Castro Alves, “O navio negreiro”. Contemporâneo de Luiz Gama, e apesar de ter “sangue negro”, o poeta Castro Alves nunca se inscreve em 1ª pessoa em seus poemas abolicionistas.

PRODUZINDO UM RAP Agora que você conheceu o poema “Bodarrada”, vamos musicá-lo em forma de rap. Forme grupos, escolha alguns versos, crie um refrão e coloque uma melodia. Você acabou de conhecer um poema de um momento histórico em que o negro, em sua grande maioria, vivia escravizado. Voltemos para a atualidade para que vocês conheçam um poema que denuncia os maus tratos de negros por seus pares que ocupam cargos que lhes permitem humilhar seu irmão.

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O vídeo e a letra da música na íntegra encontram-se disponíveis em http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44730/, acessado em 19/07/2011. HAITI - Caetano Veloso e Gilberto Gil, letra de Caetano Veloso Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos Dando porrada na nuca de malandros pretos De ladrões mulatos E outros quase brancos Tratados como pretos Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos) E aos quase brancos pobres como pretos Como é que pretos, pobres e mulatos E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados [...] E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina 111 presos indefesos Mas presos são quase todos pretos Ou quase pretos Ou quase brancos quase pretos de tão pobres E pobres são como podres E todos sabem como se tratam os pretos [...] Pense no Haiti Reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui *Adro= pátio

INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O POEMA

1) Na canção “Haiti”, podemos observar que é retratada uma situação observada pelo eu lírico: “o soldado negro dando porrada no negro malandro”: em que se fundamenta a crítica do eu lírico? 2) Com quem o eu lírico do texto está dialogando? 3) A qual episódio triste da história brasileira o autor está se referindo nos versos: “E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina/ 111 presos indefesos”? 4) Para saber mais sobre o Haiti pesquise sua história. Qual foi a intenção do autor ao escolher para título da canção o nome desse país?

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5) Leia o seguinte trecho da canção com atenção e responda: “Mas presos são quase todos pretos Ou quase pretos Ou quase brancos quase pretos de tão pobres” De acordo com os versos acima: a) Existe no Brasil um racismo declarado que separa as pessoas pela cor da pele? b) Comparando essa canção com os raps estudados e a música “Classe média”, o que realmente divide o povo brasileiro em pobres, classe média e ricos? 6) Pode-se dizer que a canção “Haiti”, ao mostrar as injustiças sociais está engajada e comprometida em fazer uma denúncia social? Justifique com elementos do texto. 7) Que marcas da oralidade estão presentes na canção “Haiti”, e qual a intenção do autor ao empregá-las? 8) Ouça a canção “Haiti” e responda:

a) Qual ritmo musical foi utilizado pelo autor?

b) Na sua opinião, por que o autor escolheu este ritmo? MAMA ÁFRICA - Chico Cesar Mama África A minha mãe É mãe solteira E tem que Fazer mamadeira Todo dia Além de trabalhar Como empacotadeira Nas Casas Bahia...(2x) [...] Mama tem calo nos pés Mama precisa de paz... Mama não quer brincar mais Filhinho dá um tempo É tanto contratempo No ritmo de vida de mama... [...] O vídeo e a letra da música na íntegra encontram-se disponíveis em http://letras.terra.com.br/chico-cesar/45197/, acessado em 27/07/2011.

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INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O POEMA 1) Qual problema social é tratado na música? 2) A qual classe social ela pertence? Justifique a sua resposta. 3) Você conhece alguma família que é composta por mãe é filhos? Como é a

convivência entre eles? 4) Na sua opinião, a vida é fácil para estas famílias? Justifique sua resposta com

elementos do texto. 5) A análise do poema permite inferir que a família brasileira: a) Tem várias estruturas ( ) b) Possui uma padronização ( ) 6) Leia o trecho abaixo:

“Mama tem calo nos pés Mama precisa de paz... Mama não quer brincar mais

Filhinho dá um tempo É tanto contratempo No ritmo de vida de mama...” a) Qual é o estado da mama? b) Do que a mama está necessitando? 7) Quais são os tipos de trabalhos feitos pela mama? Quais versos do poema

possibilitaram a você conhecer esses detalhes sobre a mama? 8) Qual a variedade linguística que predomina na canção?

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GÊNERO: CRÔNICA

“A ÚLTIMA CRÔNICA” - Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico,torno-me simples espectador e perco a noção do essencial.Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim. São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa.

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A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura -- ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido -- vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso. Disponível em: http://www.lainsignia.org/2004/octubre/cul_025.htm acesso em 14/06/2011.

INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O TEXTO

1) No inicio da crônica, o cronista para em um bar para tomar um café, adiando o

momento de escrever por falta de assunto. De repente ele vê uma cena que passa o observar com atenção. Qual é esta cena?

2) Ao analisarmos a cena, podemos perceber que trata-se de uma família humilde,

mas com bastante dignidade. Retire do texto elementos que comprovam esse argumento.

3) A ternura com que a mãe ajeita a fita e a satisfação do pai nos revela que o

objetivo da reunião foi alcançado? Justifique.

4) Na sua opinião, porque o pai ficou constrangido ao perceber que estava sendo observado?

5) Toda crônica é um recorte de pequenos acontecimentos do cotidiano. A crônica

lida, apesar de também descrever uma cena comum, possibilita a reflexão de vários aspectos da situação do negro em nosso país. Pelo comportamento da família na comemoração, o que é possível inferir?

6) Explique a última frase: “Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura

como esse sorriso”.

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CABEÇA DE PORCO, CABEÇA DINOSSAURO E OUTRAS CABEÇAD AS - Marciano Lopes

Aqui não tem terremoto. Aqui não tem revolução. É um país abençoado onde todo mundo mete a mão. ("Bem Brasil", Premeditando o Breque – 1985) Pois é, passados mais de dez anos, parece que a música do Premê (como é conhecida a banda) continua atual, mas com uma ressalva: já não dá mais pra dar aquela gargalhada de antes. Continuamos sem terremoto (salvo alguns leves tremores) e sem revolução, mas estamos chegando lá, logo seremos primeiro mundo, afinal, pelo menos agora já temos terrorismo. Só não vê quem não quer. A guerra civil, antes mais restrita às favelas de Rio e São Paulo, por um lado, e à luta no campo, por outro, começa a tomar foros nacionais... Os ataques coordenados pelo PCC hoje extrapolam o espaço da grande São Paulo e até mesmo do estado de São Paulo. E a tática é evidentemente terrorista, mas com uma pequena desvantagem com relação a outras ações do mesmo gênero espalhadas pelo nosso azulado planeta: a ação não tem nenhum programa político, nenhuma plataforma ou proposta concreta que aponte para uma possível saída do buraco. É apenas uma truculenta reação à truculência do Estado e aos séculos de opressão, exclusão e miséria. E as cabeças de dinossauro com suas panças de mamute – que mandam, desmandam e sugam este país – parecem não querer ver que o barco tá tá tá descendo a corredeira... Mas por que fazer algo pra mudar a aviltante realidade brasileira se do jeito que tá tá tão bom e tá tá dando tanto lucro... Segundo o ponto de vista – polemicamente cristão – do antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares, ex-Subsecretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro e ex-Secretario Nacional de Segurança Pública, a violência e a estupidez dos excluídos não é aceitável, mas deve ser perdoada, pois expressa a revolta de quem nunca teve uma chance efetiva de ter sua identidade, cidadania e dignidade respeitadas. Diversamente, a violência das elites – que lucram com a corrupção, a desigualdade e a ignorância – é inaceitável, pois nada a justifica. Em Araraquara, preso é içado pelo teto, em um pavilhão onde 1.600 homens se aglomeram num espaço para 160. (Pequena nota escondida próxima ao canto da página C7 do jornal Folha de São Paulo, 13 de julho de 2006). Sem dúvida, não é fácil encontrar caminhos, mas ao menos é necessário ter vontade de mudar. Para isso, o primeiro passo é reconhecer as razões do Outro, a condição indigna em que os marginalizados estão mergulhados, ou, no mínimo, abrir os olhos para a revolta e o ódio que crescem vertiginosamente, se espalhando por todo o país. A cultura da favela e dos morros cariocas hoje é patrimônio nacional – ou ao menos está se encaminhando rapidamente para esta condição. Quem não acredita, que leia os relatos feitos por Luiz Eduardo Soares, MV Bill e Celso Athayde em Cabeça de Porco (Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2005), título cuja expressão significa “situação confusa e sem saída” na gíria das favelas cariocas. A seguinte passagem, em que Celso Athayde relata a visita a uma favela de Joinville, em Santa Catarina, é bastante exemplar disso: Ele usava (referindo-se ao dono do morro) uma espada muito parecida com aquela que a imprensa mostrou, muitas vezes, como sendo a que matou Tim Lopes – se era mesmo, ninguém sabe. No início, achei que fosse coincidência, mas quando

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começamos a filmar. Percebi que eles usavam as mesmas expressões do Rio de Janeiro. Chamavam os inimigos de “alemão”, diziam-se do “Comando Vermelho”; seus inimigos eram nomeados “Terceiro Comando”, e muitas outras gírias totalmente cariocas eram empregadas. Eles reproduziam com precisão o dialeto das favelas cariocas. Era a primeira vez que tínhamos visto um caso como esse, parecia que os comandos do Rio de Janeiro tinham franchaises espalhadas por lá (Cabeça de Porco, p. 55). Aliás, não é preciso ler este e outros livros do gênero para tomar consciência desta realidade, basta ler criticamente os jornais. Entretanto, é inegável que livros e documentários com Carandiru o Cabeça de Porco, O abusado, Falcão - meninos do tráfico, Cidade de Deus (os dois últimos levados ao cinema) podem contribuir em muito para que a classe média e as elites possam ver a cara deste Outro Brasil sem os estereótipos da imprensa e do poder estatal. Estereótipos que reduzem os excluídos à condição de bandidos e monstros (engraçado, quando se trata de criminosos do colarinho branco, que roubam milhões e também matam, digo, mandam matar, tais palavras não são usadas...) e assim promovem a elevação do muro que separa estes brasis e garante a ilusória tranquilidade do cidadão, conforme argumenta Luiz Eduardo Soares. Em sua opinião, aquele, juntamente com o Estado, fica desresponsabilizado pelo agravamento da barbárie. Afinal, malandro sem-vergonha, ladrão, viciado e assassino são apenas os outros... Quando algum fato similar ocorre em nosso meio, trata-se de uma aberração, algo inexplicável, algum desvio genético ou trauma de infância... O MAL se encontra apenas no Outro... A apologia – feita via mídia – do poder, do sexo, do luxo, do jeitinho brasileiro, do consumo desenfreado como fórmula de felicidade estranhamente não diz respeito ao cidadão, mas somente ao Outro... Não queremos olhar a nossa face obscura, e assim muitos de nós arrancamos nossos olhos como se fôssemos um Édipo às avessas. Como esperar que as pessoas que não têm nada a perder, que não participam nem nunca foram convidadas a participar do pacto social compartilhem do mesmo?! Como esperar que estas pessoas respeitem as leis e a alteridade se nunca tiveram a chance de saber o que é isso e, pior, se vêem todos os dias aqueles que não precisariam agir desta forma fazerem tais barbaridades? Quando muitos “bandidos” vão incendiar um ônibus, mandam que seus passageiros saiam, pois o alvo não são eles. Mas quando a polícia entra na favela, muitas vezes entra atirando para perguntar depois. (...) em São Paulo, em 2003, houve 1.191 mortes provocadas por ações policiais, mais de 65% delas com características de execução. Em 2004, houve 984; em 2005, foram 807 mortes (“Estes criminosos não

têm ideologia” – entrevista de Luiz Eduardo Soares concedida a Pedro Souza Tavares, Diário de Notícias, 21/6/2006, p. 18). A manchete da Folha de São Paulo do dia 13 de julho estampava em letras garrafais: “NOVOS ATAQUES DO PCC MATAM 7”. Número desprezível quando pensamos no número de favelados – muitos dos quais não são soldados do tráfico – que foram mortos sumariamente pela resposta das polícias aos ataques feitos há dois meses atrás. Faz lembrar o discurso dos governos norte-americano e de Israel. O primeiro, em poucos anos de ocupação do Iraque, não perdeu muito mais que umas centenas de soldados – fato que é alardeado como um horror que justifica o assassinato de milhares de civis do país

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que tem a sua autonomia e dignidade diariamente ofendidas pelo mesmo. Com respeito a Israel não é diferente. Porque dois soldados foram seqüestrados por terroristas do Hizbollah, o governo israelense julga-se no direito de bombardear alvos civis matando inúmeras pessoas no Líbano... – e isto não é barbárie?! Muito estranha esta lógica. Talvez sejamos muito burros e cabeçudos, mas também gentis homens como Zinedini Zidane dão as suas cabeçadas – e, no caso dele, com razão, provavelmente. Afinal de contas, ele não tem sangue de “cucaracha”, né? Enquanto isso, o governador Cláudio Lembo insiste em dizer que tá “tudo dominado” (opa, foi mal!), quero dizer: “tudo sob controle”... He he he, como diz o Macaco Simão, “a genti sofri mais goza”!

A crônica “Cabeça de porco, cabeça dinossauro e outras cabeçadas” está disponível em: http://marcianolopes.blogspot.com/2011/01/apesar-dos-fogos-ainda-atual.html acessado em 22/07/2011.

INTERTEXTUALIDADE Para ampliar seu conhecimento, vamos pesquisar no site http://www.comunidadesegura.org/pt-br/node/10031, onde você encontrará mais informações sobre o livro “Cabeça de porco”, de MV Bill, Celso Athayde e Luis Eduardo Soares. Também no site http://letras.terra.com.br/premeditando-breque-preme/381586/, você poderá conhecer a letra da música “Bem Brasil”, do Premê, na integra e também ver o vídeo. EM http://www.youtube.com/watch?v=mjkpRQJFcmQfeature=related, você assistirá a um vídeo que conta a história do CD dos Titãs, “Cabeça dinossauro”.

INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O TEXTO 1) Qual é a finalidade da crônica “Cabeça de porco, cabeça dinossauro e outras

cabeçadas” ?

2) Qual é o autor do texto? Analisando o discurso do narrador, é possível identificar o posicionamento do mesmo?

3) Assim como o tema dos raps “Contraste social” e “Tempos difíceis”, na crônica “Cabeça de porco, cabeça dinossauro e outras cabeçadas” podemos perceber a diferença entre dois “brasis”. Aponte essas diferenças.

4) A crônica “Cabeça de porco, cabeça dinossauro e outras cabeçadas” faz uma reflexão de problemas sociais que ocorrem em nosso país. Apesar da seriedade do assunto, o autor emprega uma linguagem leve, praticamente dialoga com o leitor. Um dos recursos estilístico que emprega é a ironia. Identifique ironias que provocam efeitos de humor na crônica.

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5) Veja que o autor do texto utiliza duas formas diferentes de linguagens para compor o texto. De que tipo são essas variações linguísticas?

6) Segundo a crônica, os grupos dominantes sugam o país e lucram com a miséria.

Por outro lado, o PCC “é uma reação á truculência do Estado e aos séculos de opressão, exclusão e miséria”. Você concorda? Dê sua opinião.

7) A crônica “Cabeça de porco, cabeça dinossauro e outras cabeçadas” foi publica na extinta coluna Literatura e Sociedade (do antigo site da Teracom) no dia 23 de julho de 2006. Observando a data em que a 1ª versão da crônica foi publicada, responda: Na sua opinião, alguma coisa mudou desde a data da 1ª publicação até a publicação da 2ª versão?

AGORA VAMOS CONHECER UM POUCO DA LITERATURA AFRICAN A.

Os textos que iremos estudar pertencem à literatura africana e falam de uma época em que alguns países africanos viviam sob o domíno de países europeus e viviam uma situação de opressão e exploração pelas políticas colonialistas. O processo de descolonização foi longo e difícil, com guerra dos movimentos que lutavam pela independência de seus territórios. Muitos autores africanos estiveram ligados diretamente com esses movimentos, e suas obras trazem como tema o sofrimento de viver oprimido pelas práticas colonialistas e também o chamamento de seus irmãos à luta pela independência, e pela liberdade.

AS MÃOS DOS PRETOS - por Luís Bernardo Honwana

Uma história sobre a igualdade dos homens, para além das suas cores. Já não sei a que propósito é que isto vinha, mas o senhor Professor disse um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas apoiadas ao chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o resto do corpo. Lembrei-me disso quando o Senhor padre, depois de dizer na catequese que nós não prestávamos mesmo para nada e que até os pretos eram melhores que nós, voltou a falar nisso de as mãos serem mais claras, dizendo que isso era assim porque eles andavam com elas às escondidas, andavam sempre de mãos postas, a rezar. [...]

A crônica “As mãos dos pretos”, de Luís Bernardo Honwana está disponível na íntegra em http://asombradospalmares.blogspot.com/2003/09/lus -bernardo-honwana-as-mos-dos-pretos.html acessado em 21/07/2011.

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INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O TEXTO

1) Podemos observar, através da leitura do texto, que o autor se utiliza da voz ingênua de uma criança para mostrar, através de uma ironia sutil, os discursos racistas que circulavam no mundo colonialista. a) Qual foi o recurso utilizado pelo autor para narrar o texto? b) O texto que você acabou de ler pertence ao gênero crônica. Quais são as evidências no texto que comprovam essa acertiva? 2) O narrador da crônica é observador ou narrador personagem? 3) O narrador da crônica é branco ou negro? Justifique sua resposta com elementos do texto. 4) Indique os personagens que apresentam uma história fictícia para justificar a cor das mãos dos negros e a qual segmento da sociedade cada um deles pertence?

5) O racismo e a segregação racial aparecem nos discursos de cada um dos personagens, através da chacota e do desdém com que eles se referem às mãos dos negros. Segundo o texto, qual o posicionamento da mãe do menino?

6) O autor estrutura seu texto com base em uma figura de linguagem que representa o todo através da parte, ou seja, neste caso a parte é representada pelas mãos. Qual é o todo, e qual o nome dessa figura? 7) Assim como o autor questiona os discursos racistas das classes dominantes através da voz de uma criança, sabemos que eles foram construídos ao longo dos anos e se perpetuaram por meio de piadas, troças, etc. Na sua opinião, como podemos desconstruir estes discursos?

CONHECENDO O AUTOR

Luís Bernardo Honwana nasceu em Moçambique, na cidade de Maputo, em 1942. Cresceu em Moamba, no interior, e estudou jornalismo. Em 1964, tornou-se militante na Frente de Libertação de Moçambique, foi preso e permaneceu encarcerado por três anos pelas autoridades coloniais. Após a independência de seu país, se tornou alto funcionário do governo e presidente da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique. Publicou o livro “Nós Matamos o Cão Tinhoso” em 1964.

PRODUZINDO UMA CRÔNICA

Agora que você já conhece o gênero crônica, vamos produzir uma. Primeiro você escolhe um fato qualquer colhido no seu dia a dia. Registre todos os fatos, colocando sua visão pessoal. Lembre-se que a crônica é um texto curto em que pode ser explorado o humor ou o lado sério, pode-se usar a ironia, crítica, enfim, faça um texto leve, que traga prazer ao leitor.

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HAVEMOS DE VOLTAR - Agostinho Neto Às casa, às nossas lavras às praias,aos nossos campos havemos de voltar Às nossas terras vermelhas do café brancas de algodão verdes dos milharais havemos de voltar Às nossas minas de diamantes ouro, cobre, de petróleo havemos de voltar Aos nossos rios, nossos lagos às montanhas, às florestas havemos de voltar À frescura da mulemba às nossas tradições aos ritmos e às fogueiras havemos de voltar À marimba e ao quissange ao nosso carnaval havemos de voltar À bela pátria angolana nossa terra, nossa mãe havemos de voltar Havemos de voltar À Angola libertada Angola independente Disponível em: http://www.ovimbundu.org/Cronicas/Sociedade/O-Grau-Zero-na-Escrita-Poetica-de-Agostinho-Neto.html - acesso em 14/06/2011. VOCABULÁRIO Lavras- lavouras, extração de minério, fabricação, produção Mulemba- árvore de copa volumosa Marimba- instrumento musical Quissange- instrumento musical

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INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O POEMA

Essa poesia traz uma mensagem de esperança e o desejo de libertação de um povo sofrido. Em “Havemos de voltar”, o eu lírico pede o fim do sistema colonial e sonha com o regresso do homem exilado à sua pátria-mãe. 1) Assim, podemos perceber a certeza da volta à sua terra e da independência da mesma. Retire do texto versos que comprovem essa afirmação. 2) Que elementos de sua pátria o eu lírico exalta? 3) No verso “havemos de voltar”, o verbo em destaque está em que tempo verbal? O que esse modo indica? 4) Crie suposições para a causa do eu lírico estar longe de sua pátria. 5) Se você fosse produzir uma poesia sobre sua terra natal, que elementos você destacaria? CONTRATADOS - Agostinho Neto Longa fila de carregadores domina a estrada com passos rápidos Sobre o dorso levam pesadas cargas Vão Olhares longínquos corações medrosos braços fortes sorrisos profundos como águas profundas Largos meses os separam dos seus e vão cheios de saudades e de receio mas cantam Fatigados esgotados de trabalhos mas cantam Cheios de injustiça caladas no imo das suas almas e cantam Com gritos de protesto

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mergulhados nas lágrimas do coração e cantam Lá vão perdem-se na distância na distância se perdem os seus cantos tristes Ah! eles cantam... Disponível em: http://www.geledes.org.br/agostinho-neto/agostinho-neto-10/05/2009.html - acesso em 14/06/2011.

CONHECENDO O AUTOR

Agostinho Neto nasceu em Catete, Angola, em 1922, e faleceu em 1979. Estudou até o secundário em Angola e foi para Portugal com seus poucos recursos em busca de um sonho que era formar-se em medicina. Licenciou-se pela Universidade de Lisboa. Esteve envolvido na guerra anticolonialista, como outros escritores africanos que também estiveram presos e foi exilado em Cabo Verde. Foi o primeiro presidente da República Popular de Angola. Sua poesia traz como tema a luta pela liberdade e é uma poesia engajada na luta anticolonial.

INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O POEMA

Esse poema faz referência aos trabalhadores, chamados de “contratados”, que eram submetidos a relações servis pelas práticas colonialistas. Podemos perceber que o eu lírico expressa uma certa estupefação diante do fato de que nem o sofrimento não lhes impede de cantar. 1) Na sua opinião, qual o motivo que levam estes trabalhadores a cantar, mesmo sofrendo tanto? 2) Para entender melhor o discurso do poema vamos pesquisar o momento histórico em que ele foi produzido. 3) Observe que a única pontuação do poema são as reticências: a) O que esta ausência de pontuação expressa? b) O que sugere o emprego das reticências no final do poema? 4) Leia atentamente essa estrofe: “Largos meses os separam dos seus e vão cheios de saudades e de receio mas cantam” Classifique e indique o valor semântico da conjunção mas nesse contexto.

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5) Leia os versos e apresente uma interpretação coerente para eles: “Com gritos de protestos mergulhados nas lágrimas do coração e cantam 6) “Ah! Eles cantam...” a) Por que eles cantam? b) O que o eu lírico quer enfatizar com a ação de cantar dos “contratados”? CANTIGA DO NEGRO DO BATELÃO (José Craveirinha) Se me visses morrer Os milhões de vezes que nasci... Se me visses chorar Os milhões de vezes que te riste... Se me visses gritar Os milhões de vezes que me calei Se me visses cantar Os milhões de vezes que morri E sangrei Digo-te, irmão europeu Também tu Havias de nascer Havias de chorar Havias de cantar Havias de gritar Havias de morrer E sangrar... Milhões de vezes como eu VOCABULÁRIO Batelão- tipo de embarcação

Disponível em http://www.educacao.org.br/eja/bibliotecadigital/codigoselinguagens/apoio/Documents/Desenvolvendo%20Habilidades%20-%20EM/Des_Habilidades_CL_EM_H23_Final.pdf acessado em 19/07/2011.

CONHECENDO O AUTOR

José Craveirinha (1922-2003), nasceu em Moçambique, em Maputo e foi um dos escritores mais influentes de seu país. Recebeu de Portugal o prêmio Camões em 1991. Ainda muito jovem frequentou a “Associação Africana” e colaborou no “O Brado Africano”. Engajado na defesa da população mais desprotegida, fazia campanha contra o racismo no jornal em que trabalhava e foi o primeiro jornalista sindicalizado. Esteve preso por participar da resistência anticolonial. A sua poesia tem um caráter social e reflete a sua consciência polìtica.

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INTERPRETANDO E COMPREENDENDO O POEMA

1) No poema de José Craveirinha, O eu lírico dirige-se a um interlocutor. a) Quem é o interlocutor? Identifique-o.

b) Agora que você já sabe como foi a luta pela liberdade no período colonialista, por que o eu lírico sofre tanto? 2) No poema podemos observar o ressentimento e a crítica quanto ao modo como se deu a relação entre o branco e o negro. Na sua opinião, por que se deu este ressentimento? 3) Observe no poema as repetições no início das palavras. Que nome se dá a esse recurso estilístico?

4) O emprego das reticências no final dos 2º,4º e 17º o que representam?

5) No verso “Os milhões de vezes que morri”, qual é a figura de linguagem em destaque?

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Para encerrar o nosso projeto, vamos ouvir e interpretar a música “Ninguém = Ninguém”, de Humberto Gessinger. A letra da música e o vídeo estão disponíveis na íntegra em http://letras.terra.com.br/engenheiros-do-hawaii/12894/ e http://letras.terra.com.br/humberto-gessinger/1636574/ acessos em 19/07/2011.

NINGUÉM = NINGUÉM Engenheiros do Hawaii Há tantos quadros na parede Há tantas formas de se ver o mesmo quadro Há tanta gente pelas ruas Há tantas ruas e nenhuma é igual a outra Ninguém = ninguém Me encanta que tanta gente sinta (se é que sente) a mesma indiferença Há tantos quadros na parede Há tantas formas de se ver o mesmo quadro [...] São todos iguais E tão desiguais uns mais iguais que os outros [...]

INTERPRETANDO E COMPREEENDENDO A MÚSICA 1) Leia a estrofe com atenção: “ Há tantos quadros na parede Há tantas formas de se ver o mesmo quadro Há tanta gente pelas ruas Há tantas ruas e nenhuma é igual a outra Ninguém = ninguém” O eu lírico do poema afirma que nada precisa ser igual, no entanto podemos perceber que quando algo ou alguém é diferente sofre com o preconceito e com a discriminação. Na sua opinião, o que realmente é importante em uma pessoa? 2) Explique os versos: “Me encanta que tanta gente sinta/ (se é que sente) a mesma indiferença”. 3) Nos versos: “São tão iguais/E tão desiguais/uns mais iguais que os outros”, percebe-se uma ironia.Qual é esta ironia? 4) Nos versos “Há pouca água e muita sede”,”( a vida seca os olhos úmidos)”, quais as figuras de linguagem que aparecem e qual a relação de sentido que há entre essas palavras?

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5) No 3° verso da 5° estrofe, o eu lírico faz uma r eferência ao romance “Vidas secas” de Graciliano Ramos, e um jogo de palavra entre represa e aparthaid (separação). O que ele quis dizer?

6) As pessoas são indiferentes à quase tudo, como diz Max Gonzaga na canção “Classe média”, que estudamos no início do projeto: “Toda tragédia só me importa/Quando bate em minha porta”. Observe que esta temática também aparece na canção “Ninguém = ninguém”, nos versos: ”Entre duas pessoas/Entre quatro paredes/Tudo fica claro/Ninguém fica indiferente”. Apresente uma interpretação coerente sobre a questão da indiferença dos problemas sociais, relacionando os versos das duas canções.

7) Leia os versos abaixo: “Há pouca água e muita sede Uma represa, um aparthaid (a vida seca, os olhos úmidos) Entre duas pessoas Entre quatro paredes” Escreva um parágrafo de aproximadamente 5 linhas, apresentando uma interpretação para esses versos.

8) Em que estrofe o eu lírico ironiza o comportamento dissimulado do ser humano, em relação ao preconceito e a discriminação?

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CRONOGRAMA DAS AULAS PREVISTAS Aula 1 - Conversa introdutória com os alunos;

Vídeo do rap “Contraste social”; Análise da letra da música; Interpretação e compreensão do texto.

Aula 2 - Vídeo do rap “Tempos difíceis”;

Análise da letra da música, comparando-a com o rap estudado na aula anterior; Interpretação e compreensão do texto.

Aula 3 - Oficina no laboratório de informática:

Pesquisa sobre definições de hip-hop em diferentes sites; Pesquisa sobre a história do hip-hop geral e no Brasil; Produção de um rap com tema relacionado à desigualdade social.

Aula 4 - Vídeo da canção “Classe Média”;

Análise da letra da canção, comparando-a com os dois raps estudados nas aulas anteriores; Debate sobre as diferenças e semelhanças entre as letras; Interpretação e compreensão do texto.

Aula 5 - Leitura do poema “Bodarrada”;

Análise do poema; Leitura do boxe “Conhecendo o autor” e complementação pela professora; Interpretação e compreensão do poema; Ver o vídeo de Caetano Veloso, cantando em forma de rap o poema “O navio negreiro”, de Castro Alves; Ler alguna fragmentos do poema “O navio negreiro”, fazendo uma análise comparativa.

Aula 6 - Produção de um rap com a letra do poema; (grupos);

Vídeo da canção “Haiti”; Análise da letra da canção; Interpretação e compreensão do texto.

Aula 7 - Vídeo da música “Mama África”;

Análise da letra da música; Interpretação e compreensão do texto.

Aula 8 - Visita de rappers da comunidade e entrevista com os mesmos laboratório de informática para criação de um blog.

Aula 9 - Leitura da crônica “A última crônica”;

Debate sobre o tema; Interpretação e compreensão do texto.

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Aula 10 - Leitura da crônica “Cabeça de porco, cabeça dinossauro e outras cabeçadas”; Debate sobre o tema, fazendo uma anlise comparativa com os temas anteriormente estudados; Interpretação e compreensão do texto.

Aula 11 - Boxe “Conhecendo a Literatura africana”; (comentário da professora

sobre o momento histórico em que esses textos foram produzidos); Leitura da crônica “As mãos dos pretos”; Debate sobre o tema; Interpretação e compreensão do texto.

Aula12 - Leitura do boxe “Conhecendo o autor”, e complementação com

comentário da professora; Laboratório de informática; Produção de uma crônica e postagem no blog.

Aula 13 - Leitura do poema “Havemos de voltar”;

Análise do poema; Interpretação e compreensão do poema.

Aula 14 - Leitura do boxe “Conhecendo o autor” e complementação com

comentário da professora; Leitura do poema “Contratados”; Análise do poema; Interpretação e compreensão do poema.

Aula 15 - Leitura do poema “Na cantiga do negro do batelão”;

Análise do poema; Interpretação e compreensão do poema; Leitura do boxe “Conhecendo o autor” e complementação com comentário da professora;

Aula16 - Laboratório de informática;

Produção de um poema; Postagem no blog.

Aula 17 - Vídeo da música “Ninguém = ninguém;

Análise da letra da canção; Interpretação e compreensão do texto.

Aula 18 - Street dance; (ensaio). Aula 19 - Mostra das produções e do blog para a comunidade escolar.

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REFERÊNCIAS AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória, Literatura e formação do leitor: alternativas metodológicas . Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. PARANÁ, Diretrizes Curriculares da Educação Básica, Língua Portuguesa. Curitiba: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO BÁSICA, 2008. OBRAS CONSULTADAS BAKHTIN, Mikhail, Os Gêneros do Discurso. In. Bakthin, Mikhail. Estética da Criação Verbal. Trad. Pereira, Maria Ermantina Galvão Gomes. São Paulo: Martins Fontes, 1992. FARACO, Carlos Alberto. Português língua e cultura. Ed. Base, 1ª edição, Curitiba, 2005. SITES CONSULTADOS

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