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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: O DIÁLOGO ENTRE A POESIA AFRICANA NEGRA E A POESIA BRASILEIRA NEGRA
Autor GILDA MARIANO
Escola de Atuação Escola Estadual Tomaz Edison de Andrade Vieira
Município da escola MARINGÁ
Núcleo Regional de Educação MARINGÁ
Orientador Professora Dra. Evely Vânia Libanori
Instituição de Ensino Superior UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
Disciplina/Área (entrada no PDE) LÍNGUA PORTUGUESA
Produção Didático-pedagógica O DIÁLOGO ENTRE A POESIA AFRICANA NEGRA E A POESIA BRASILEIRA NEGRA
Relação Interdisciplinar
(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
PORTUGUÊS - LITERATURA
Público Alvo
(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
ALUNOS
Localização
(identificar nome e endereço da escola de implementação)
ESCOLA ESTADUAL TOMAZ EDISON DE ANDRADE VIEIRA / RUA DAS TIPUANAS, Nº 621 CONJUNTO BORBA GATO
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Apresentação:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
Dadas as dificuldades e desafios decidimos trabalhar com a literatura no Ensino Médio noturno com textos poéticos que por serem curtos são mais aceitos pelos alunos. E nossa escolha foi trabalhar com a Estética da Recepção por aproximar texto, autor, leitor em constante diálogo. Optamos pela Estética da Recepção,por ser uma teoria já proposta pelas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio 2008. Seguindo o método recepcional Trabalharemos com textos que atendam as expectativas de nossos alunos e gradualmente iremos ampliando seus horizontes de expectativas. Como referencial teórico o professor lançará mão do da definição das Etapas do Método Recepcional linha de pesquisas de Bordine& Aguiar. Ao trabalharmos a Sequência Didática proposta.
Tínhamos em mente trabalhar com textos poéticos que atendessem as expectativas dos alunos do período noturno da segunda série por já possuírem experiências com a poesia quanto a sua forma. No entanto não nos limitaremos a uma simples leitura ou análise, é preciso que o aluno dialogue com o texto que se encontre ou não, que se perceba ou não e a partir daí faça suas reflexões.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Poesia – Negra – África – Brasil - Identidade
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A LEITURA NA SALA DE AULA
O trabalho com a Literatura no Ensino Médio sempre foi algo de
preocupação para os professores, uma vez que nem sempre o aluno possui um histórico
de vida com a presença da leitura e da Literatura em sua casa. Geralmente o período
noturno apresenta mais dificuldades quanto às atividades de leitura, pois,
frequentemente são alunos que pararam de estudar há muito tempo e resolvem voltar ou
são repetentes duas ou mais vezes da mesma série. Assim os professores têm que lidar
com baixa auto-estima e baixa escolarização também. E não raro nos deparamos com
alunos que não têm em casa livros, revistas etc que o incentivem a ler, não há no bairro
nenhuma biblioteca que esses alunos e a comunidade possam frequentar. Assim, a
escola, apesar de suas deficiências, é o único local a oferecer uma literatura de
qualidade ao aluno.
Pensando e refletindo sobre esta realidade nos propusemos a fazer este
trabalho que pretende abordar de forma prazerosa a leitura de textos literários, de modo
a mostrar para o aluno o momento em que a linguagem se transforma em arte. O gênero
literário escolhido foi o poético.
O trabalho com o gênero literário em questão: Poesia na sala de aula
oportuniza o trabalho e a aprendizagem da leitura e da escrita de diversos textos. Ao
professor caberá não só o trabalho com aspectos formais do texto como rima, ritmo,
sonoridade etc, mas sim proporcionar a interação do aluno com o texto, propiciando-lhe
condições e oportunidades para se desenvolver enquanto cidadão do mundo
ultrapassando as fronteiras das práticas escolares.
Não se trata, portanto, de que a escola assuma responsabilidade de fazer poetas, mas de desenvolver no aluno (leitor) sua habilidade para sentir a poesia, apreciar o texto literário, sensibilizar-se para a comunicação através do poético e usufruir da poesia como uma forma de comunicação com o mundo. (Averburck, 1986, p. 67)
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A Literatura no Ensino Médio é um desafio ao professor de Língua
Portuguesa, que deve lançar mão de várias técnicas e metodologias para atrair a atenção
dos alunos. Formar leitores não é, pois, uma tarefa fácil para o professor, tendo em vista
que o aluno deverá ser leitor pela vida afora e que seu contato e sucesso com a leitura
do mundo dependem de sua habilidade e eficácia enquanto leitor.
Para Marisa Lajolo ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o
sentido de um texto. E a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir
relacioná-la a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo
de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura,
ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista.
“Creio não trair a autora citada se disser que a leitura é um processo de
interlocução entre o leitor/autor mediado pelo texto. Encontro com o autor, ausente, que
se dá pela sua palavra escrita”. (Geraldi, 2008, p.91)
Dadas as dificuldades e desafios em trabalhar com a Literatura no Ensino
Médio noturno, propusemo-nos a enfatizar os textos poéticos, que são textos que
oferecem algumas dificuldades, mas que encanta os alunos com seus ritmos,
sonoridades e o jogo das palavras. E nossa escolha foi trabalharmos o texto poético com
um referencial teórico que aproximasse texto, autor, leitor. Enfim, que entendesse o
texto com estando em constante diálogo entre esses três polos. Optamos pela Estética
de Recepção, teoria já proposta pelas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para
os Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio 2008.
A leitura, por sua vez, é entendida como um processo de interlocução entre leitor/texto/autor. O aluno-leitor não é passivo, mas o agente que busca significados. (Fonseca e Geraldi, p.107)
Trabalharemos inicialmente com as expectativas que nosso aluno tem antes
de efetuar a leitura de um texto, o que é denominado de horizonte de expectativa na
Estética da Recepção. Essas expectativas podem ou não se confirmar perante o texto
apresentado ao aluno.
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Seguindo o método recepcional apresentaremos textos que atendam as
aspirações e expectativas de nossos alunos. E gradualmente iremos trabalhando textos
que ampliem seus horizontes, e vão graduando os níveis de dificuldades que exijam
mais a atenção, participação e interação dos alunos.
Uma vez definido como trabalhar com o Método Recepcional, conhecer o
horizonte de expectativas da série escolhida; o segundo ano do Ensino Médio noturno
por já possuírem pelo menos por hipótese noções de poesia quanto sua forma.
Apresentaremos aos alunos um questionário com perguntas sobre: o que eles entendem
por poesia, poema, rimas, estrofes, ritmos, sonoridade, verso etc. Quais autores eles já
conhecem, se gostam de ler, declamar, encenar, se tem algum autor preferido se gostam
de escrever textos poéticos.
Diante da análise do horizonte de expectativas levantado pelo questionário
da classe apresentaremos aos alunos textos que atendam essas expectativas ou que se
aproximam delas. Com o resultado do trabalho proposto pelos textos iremos fazer a
ruptura, ou seja, introduzir os textos poéticos que serão o objeto dessa Sequência
Didática, porém, sem perder de vista os pontos em comum com o horizonte de
expectativas levantado pelos alunos. É preciso que o professor auxilie os alunos para
que ampliem seus conhecimentos sem desestimulá-los ou deixá-los perder o interesse
pelos textos apresentados.
Os textos orais apresentados questionarão o horizonte de expectativas,
comparados com os textos trabalhados anteriormente no que eles divergem, o que
trazem de novo, como irão sanar as dificuldades, que habilidades terão que
desenvolver, para que os alunos aumentem assim seus horizontes de expectativas.
Como referencial teórico o professor lançará mão da definição das Etapas
do Método Recepcional seguindo a linha de pesquisa de Bordine & Aguiar:
1 – Determinação do horizonte de expectativas;
2 – Atendimento dos horizontes de expectativas;
3 – Ruptura do horizonte de expectativas;
4 – Questionamento do horizonte de expectativas;
5 – Ampliação do horizonte de expectativas;
Ao pensarmos em realizar o trabalho com essa sequência didática, tínhamos
em mente trabalhar a poesia de uma forma que atendesse e ampliasse o horizonte de
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expectativas de nosso aluno do período noturno alicerçada na Estética da Recepção,
com os alunos do segundo ano do Ensino Médio. Uma vez que os alunos podem ou não
apresentar algum interesse por Literatura, em geral não leem, não frequentam
bibliotecas e a família também não possui o hábito de ler. Alguns possuem
computadores e acessam a internet, outros através do Laboratório de Informática da
Escola. Assim a leitura que apresentam é a da Internet, não gostam de ler textos longos
e procuram ler rápido e de forma superficial. Dada esta realidade dos alunos buscamos
trabalhar com a poesia em são textos curtos o que atende de imediato nossos alunos.
O gênero poético encanta mais aos nossos alunos, pois a maioria é
adolescente está na fase da emoção à flor da pele. E o texto poético sempre encanta,
sempre tem algo novo a dizer, sempre fica um quê de eterno, nas palavras. Por isso
pode prender a atenção de jovens, adultos ou velhos.
No entanto, não nos limitamos a uma simples leitura ou análise, é preciso
que nosso aluno dialogue com esse texto que se encontre ou não, que se perceba ou não
e a partir daí faça suas reflexões. É trabalho que pode privilegiar a oralidade,
compreensão, interpretação, enfim leitura e escrita de forma eficaz.
O autor, instância discursiva de que emana o texto, se mostra e se dilui nas leituras de seu texto: deu-lhe uma significação, imaginou seus interlocutores, mas não domina sozinho o processo de leitura de seu leitor, pois este, por sua vez, reconstrói o texto na sua leitura, atribuindo-lhe na sua (do leitor) significação (GIRALDI, 2008, p.91)
Escolheremos o método recepcional porque nos identificamos com ele, é a
metodologia que oferece ao aluno a emoção, prazer e o trabalho com sua percepção e
sensibilidade ao tecer leitura e a escrita com os textos poéticos. O aluno através do
prazer se apropria de novos conceitos, se posiciona de maneira inovadora frente os
desafios apresentados pelos textos poéticos, e assim há uma comunhão entre a postura
compromissada do professor e a recepção do aluno, com a tarefa de trabalhar literatura
de forma prazerosa.
Atividades Propostas:
1. Determinação do horizonte de expectativas (uma aula):
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Nesta primeira aula levantaremos dados através de um questionário para
sondarmos quais são os conhecimentos prévios que os alunos possuem em relação à
Literatura e Poesia.
1- Você costuma ler o que? Recorda-se de algum livro que leu e que tenha marcado
algo em sua vida?
2 – Durante sua vida escolar de 5ª a 8ª série de que maneira foi feita o trabalho com a
Literatura?
3 - Você frequenta bibliotecas? Com que frequência?
4 – O que você costuma ler fora da escola? O que você gosta de ler? Por quê?
5 – Gosta de ler poesias? Por quê?
6 – Lembra-se de ter lido alguma poesia de autor negro africano? Qual?
7 – Já participou de algum trabalho com declamação de Poesia? Gostou da experiência?
8 – Durante sua vida escolar você leu poesias com frequência? Os professores
costumam trabalhar com poesias em suas aulas?
9 – Para você a leitura de poesias é algo que não suporta? Por quê?
10 – Segundo sua opinião a leitura na escola é diferente daquela que você faz em casa?
Por quê?
11 – Que assunto você gostaria que aparecesse nos poemas? Por quê?
12 – Conhece poesias de autores negros brasileiros? Gosta dos temas abordados por
eles? Por quê?
2 – Atendimentos do horizonte de expectativas (cerca de quatro aulas):
Analisando os questionários sobre os horizontes de expectativas saberemos
o que os alunos conhecem quanto ao gênero poético, que carga de conhecimentos e
experiências de leitura possui. Certamente, os alunos pouco conhecerão de texto
poético de origem africana e a pretensão será a de que o estranhamento produzido pelo
desconhecido suscite curiosidade em conhecer esse novo olhar poético.
Antes de apresentarmos o texto poético, projetaremos algumas imagens que
retratam algumas cidades da África do Sul para que os alunos identifiquem onde ficam
aquelas cidades que nada se parecem com as do Continente africano, as planícies,
desertos, faremos uma breve exposição sobre as contradições do Continente Africano
que não é só pobreza, mas que existe progresso também.
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Só então apresentaremos o texto poético a ser trabalhado.
Estou só
Estou só na planície E na noite Com as arvores retorcidas de frio,Que, de cotovelos pelo corpo, se estreitam umas Contra as outras.
Estou só na planície E na noite,Com os gestos de patético desespero das árvores,Que as folhas abandonaram em busca das ilhas de eleição.
Estou só na planície E na noite.Sou a solidão dos postes telegráficos Ao longo dos caminhos Desertos.(Senghor, 1969 p.150)
Questões para interpretação oral do texto:
1 – Ao ler o poema que sensações ele provocou em você? Por quê?
2 – Na primeira estrofe o eu-lírico apresenta-se como? Que relações ele faz de seus
sentimentos com a natureza?
3 – Há, na linguagem literária, sobretudo, a exploração da repetição que, no caso, não
consiste em simples repetição, mas num expediente usado com funcionalidade para se
obter algum efeito expressivo. Tomando como referência o texto em questão, as
repetições que ocorrem servem para que no poema? Por quê?
4 – Observe nas repetições Estou só na planície/ E na noite. O verbo Estar imprime ao
verso um estado circunstancial que efeito expressivo provoca? Por quê?
5 – No 12º verso o eu-lírico afirma sou a solidão dos postes telegráficos. O uso do
verbo ser no verso imprime um estado permanente, o que você pode inferir disto? Por
quê?
6 – Como se organiza o poema quanto à forma, há rimas? Quais?
7 – Quantas sílabas poéticas há no poema?
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Posteriormente apresentaremos o poema que revela toda uma poética negra,
um novo olhar para emoções e sentimento vindos da África. Sob o som de um ritmo de
tambores africanos Les Tambours du Burundi - Burundi Black apresentaremos o
poema, que será Máscara Negra a Pablo Picasso, de Senghor.
Poema
Máscara negra A Pablo Picasso
Ela dorme e repousa sobre a candura da areia.Dorme Koumba Tam. Verde Palma vela a febre dos cabelos, acobreia a curva fronte.As pálpebras cerradas, dupla raça e fontes seladas.Esse fino crescente, esse lábio mais negro e quase pesado – ou o sorriso da mulher cúmplice?As patenas das faces, o desenho do queixo cantam o mudo acorde.Rosto de máscara cerrado ao efêmero, sem olhos sem matériaPerfeita cabeça de bronze, com sua pátina de tempoSem vestígio de pintura, nem rubor nem rugas, nem de lágrimas nem de beijos.O rosto qual Deus te criou antes mesmo da memória das idades.Para me comover a carne.Adoro-te, ó beleza, com meu olhar monocórdio!
Atividades Práticas: 1º Momento
1- O título do poema sugere o que a você? É uma homenagem? Por quê?
2- O autor faz uma referencia no título a Pablo Picasso. Quem é ele?
3- Nas três primeiras linhas que sensações visuais e sensoriais revelam o poema?
Por quê?
4- As descrições feitas durante o poema descrevem uma mulher. Como ela se
apresenta? Que imagem o eu-lírico nos sugere? Por quê?
5- No verso “As patenas das faces, o desenho do queixo cantam o mudo acorde”,
que figura de linguagem o verso nos apresenta e o que você pode inferir dele?
Por quê?
6- Que relação você faz do título com o verso “Rosto de máscara cerrado ao
efêmero, sem olhos sem matéria”. Justifique.
7- As máscaras são temas constantes de textos poéticos africanos e também fazem
parte de sua cultura. Vocês em algum momento percebem que esse poema se
assemelha a uma pintura de paisagens africanas negra? Por quê?
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2º Momento
- Ler silenciosamente;
- Identificar temática do poema;
- Fazer reflexões sobre o poema de acordo comas imagens e idéias que ele nos sugere;
- Relacionar o poema lido com suas experiências pessoais;
- Reconhecer recursos formais presentes ou não no poema.
- Participar e debates oralmente sobre as questões levantadas sobre o poema pelo
professor;
3º Momento
- Leitura oral e declamação do Poema;
4º Momento
Produzir um texto poético sobre um lugar que vocês já visitaram ou
planejam um dia visitar.
Como o Deserto do Saara ou as planícies do Continente Africano? Sonho?
Como gostaria que esse lugar fosse?
3. Ruptura do horizonte de expectativas (aproximadamente seis aulas):
Nesta etapa do método recepcional, apresentar ainda um texto do poeta
Senghor, cujo título é Mulher Negra que segue a mesma temática da mulher negra
africana, descreve a beleza da mulher, sua cor negra temática que dificilmente se
encontra na poesia de autores não negros. Assim como Vinícius de Moraes conta a
mulher branca que passa Senghor desvela a mulher negra.
Mulher Negra
Mulher nua, mulher negraVestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!Á tua sombra cresci; a doçura de tuas mãos me cobria os olhos.E eis no coração do Estio e do Meio-Dia eu te descubro, Terra prometida, do alto de uma garganta calcinada.E tua beleza me fulmina em pleno coração, como o clarão de uma águia.Mulher nua, mulher obscura Sazonado fruto de carne firme, sombrios êxtases de negro vinho, boca que liriza os meus lábios, Savana de puros horizontes, savana que estremeces às férvidas carícias do Vento Leste.
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Tam-tam esculpido, tenso tam-tam que protestas sob os dedos do vencedor.Tua voz grave de contralto é o cântico espiritual da Amada.Mulher nua, mulher obscuraÓleo que vento algum crispa, plácido óleo nos flancos do Atleta, flancos dos príncipes de Mali.Gazela de juntas delicadas, as pérolas são estrelas sobre a noite de tua pele.Delícias espirituais, os reflexos do ouro sobre a tua pele que se aclamado teia.Á sombra de tua cabeleira ilumina-se a minha angústia com os sóis de teus olhos, reluzindo pertinho. (Texto extraído do livro Poemas. Leopold Sedar Senghor, Grifos Edições – Rio de Janeiro, 1969, p.24)
1º Momento
Ao introduzir este texto de Senghor, proporemos aos alunos que pesquise
na Internet a vida e obra do autor, situando-o na época em que escreveu seu estilo,
características. Que todos façam uma leitura do poema individual e em grupo.
2º Momento
Debater as principais idéias, características e a temática do poema.
Questão apresentadas para interpretação do poema:
1 – Nos dois primeiros versos o eu-lírico apresenta a mulher de que forma?
2- No verso E eis que no coração do Estio e do Meio-Dia eu te descubro, Terra
prometida, do alto de uma garganta calcinada. Como se chama o recurso retórico dos
trechos sublinhados?
3 – No poema há várias passagens indicadoras de que o ser poético se refere a um
cenário africano. Mencione algumas delas.
4 – As referências que o ser poético faz à mulher enaltecendo suas qualidades são as
mesmas que você costuma ler em outros textos poéticos não africanos? Por quê?
5 – Na última estrofe O eu-lírico Mulher nua, mulher negra / Eu conto a tua beleza que
passa forma que gravo no Eterno Antes que o Destino cioso te reduza a cinzas para
alimentar as raízes da vida. A que destino se refere o poeta? Explique a imagem aí
sugerida.
6 – Quanto à forma do poema: ele possui rimas ou são versos livres? Exemplifique.
7 – Quanto ao ritmo do poema como ele se apresenta?
8 – A leitura global do texto permite a você fazer quais reflexões? Por quê?
Trabalhamos com os textos de Senghor que nos deu essa visão esse olhar do
poeta africano negro ao fazer poético, para que o aluno aos poucos vá tirando da
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invisibilidade os poetas negros brasileiros também. Vamos nos valendo de mais uma
etapa do Método Recepcional. O poema escolhido para esse trabalho é o do poeta Luiz
Gama, negro, brasileiro não tanto trabalhado pelas academias, mas é um poeta de
grande valor poético. E aos poucos o aluno está se apropriando de uma literatura que
faz parte de sua história cultural e irá avançando no conhecimento de novos textos. Um
trabalho é relevante para aproximar o aluno da Literatura. Este trabalho levará no
mínimo quatro aulas.
Poema.
QUEM SOU EU?
Quem sou eu?Quem sou eu? Que importa quem?Sou um trovador proscrito,Que trago na fronte escritoEsta palavra – ninguém! ( A.E.Zalmar – Dores e flores)
Amo o pobre, deixo o rico,Vivo como o Tico-tico;Não me envolvo em torvelinho,Vivo só no meu cantinho;Da grandeza sempre longeComo vive o pobre monge.Tenho mui poucos amigos,Porém bons, que são antigos,Fujo sempre à hipocrisia,À sandice, à fidalguia;Das manadas de Barões?Anjo Bento, antes trovões.Faço versos, não sou vate,Digo muito disparate,Mas só rendo obediênciaÀ virtude, à inteligência:Eis aqui o GetulinoQue no plectro anda mofino.Sei que é louco e que é patetaQuem se mete a ser poeta;Que no século das luzes,Os birbantes mais lapuzes,Compram negros e comendas,Têm brasões, não – das Kalendas;E com tretas e com furtosVão subindo a passos curtos;Fazem grossa pepineira,Só pela arte do Vieira,
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E com jeito e proteções.Galgam altas posições!Mas eu sempre vigiandoNessa súcia vou malhandoDe tratante, bem ou mal,Com semblante festivalDou de rijo no pedanteDe pílulas fabricanteQue blasona arte divinaCom sulfatos de quininaTrabusanas, xaropadas,E mil outras patacoadas.Que, sem pingo de ruborDiz a todos que é DOUTOR!Não tolero o magistrado,Que do brio descuidado,Vende a lei, trai a justiça- Faz a todos injustiça -Com rigor deprime o pobrePresta abrigo ao rico, ao nobre,E só acha horrendo crimeNo mendigo, que deprime.- neste dou com dupla força,Té que a manha perca ou torça.Fujo às léguas do lojista,Do beato e do sacrista -Crocodilos disfarçados,Que se fazem muito honradosMas que, tendo ocasião,São mais feros que o LeãoFujo ao cego lisonjeiro,Que, qual ramo de salgueiro,Maleável, sem firmezaVive à lei da naturezaQue, conforme sopra o vento,Dá mil voltas, num momentoO que sou, e como penso,Aqui vai com todo o senso,Posto que já veja iradosMuitos lorpas enfurnadosVomitando maldições,Contra as minhas reflexões.Eu bem sei que sou qual Grilo,De maçante e mau estilo;E que os homens poderososDesta arenga receososHão de chamar-me TareloBode, negro, Mongibelo;Porém eu que não me abalo
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Vou tangendo o meu badaloCom repique impertinente,Pondo a trote muita gente.Se negro sou, ou sou bodePouco importa. O que isto pode?Bodes há de toda castaPois que a espécie é muito vasta…Há cinzentos, há rajados,Baios, pampas e malhados,Bodes negros, bodes brancos,E, sejamos todos francos,Uns plebeus e outros nobres.Bodes ricos, bodes pobres,Bodes sábios importantes,E também alguns tratantes…Aqui, nesta boa terra,Marram todos, tudo berra;Nobres, Condes e Duquesas,Ricas Damas e MarquesasDeputados, senadores,Gentis-homens, vereadores;Belas damas emproadasDe nobreza empantufadas;Repimpados principotes,Orgulhosos fidalgotes,Frades, Bispos, Cardeais,Fanfarrões imperiais,Gentes pobres, nobres gentesEm todos há meus parentes.Entre a brava militançaFulge e brilha alta bodança;Guardas, Cabos, FurriéisBrigadeiros, CoronéisDestemidos Marechais,Rutilantes Generais,Capitães de mar-e-guerra- Tudo marra, tudo berra -Na suprema eternidade,Onde habita a Divindade,Bodes há santificados,Que por nós são adorados.Entre o coro dos AnjinhosTambém há muitos bodinhos.O amante de SyringaTinha pêlo e má catinga;O deus Mendes, pelas costas,Na cabeça tinha pontas;Jove, quando foi menino,Chupitou leite caprino;
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E segundo o antigo mitoTambém Fauno foi cabrito.Nos domínios de Plutão,Guarda um bode o Alcorão;Nos lundus e nas modinhasSão cantadas as bodinhas:Pois se todos têm rabicho,Para que tanto capricho?Haja paz, haja alegria,Folgue e brinque a bodaria;Cesse pois a matinada,Porque tudo é bodarrada!(Gama, 2000 p.113 a 118).
1º Momento
Iniciaremos o trabalho com o poema Quem sou eu? de Luiz Gonzaga Pinto
da Gama, proporemos uma pesquisa na Internet para levantaremos a vida e obra do
autor. Explicaremos a importância do poeta para a literatura negra no Brasil, sua luta
para firmar-se como poeta uma sociedade escravagista da época. Após distribuiremos o
poema aos alunos para uma leitura individual e depois em grupos.
2º Momento
Após a leitura os alunos farão uma análise do poema em grupos.
Questões que serão abordadas no poema:
1 – O texto a ser analisado é de 1859, e o vocabulário pode oferecer algumas
dificuldades. Quais são os vocabulários que apresentam dificuldades? Vocês não sobem
o que significam? Busque no dicionário termos que melhor correspondam a elas no
texto.
2 – Por que o poema traz em seu título uma pergunta o que ele sugere? Por quê?
3 – Na primeira estrofe o eu-lírico já se apresenta como? Que imagem ele deixa
transparecer? Por quê?
4 – Qual é a temática do poema?
5- No poema o eu-lírico vai discorrendo sobre o estigma de serem chamados de bodes
os poetas negros. E o que ele diz nos versos: Se negro sou, ou sou bode, pouco
importa. Você concorda com o poeta? Por quê?
6 – Durante todo o poema o eu-lírico vai desconstruindo a imagem preconceituosa de
bode dirigida aos poetas negros. De que maneira essa desconstrução ocorre?
7 – Nos últimos cinco versos como Luiz Gama termina o poema?
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8 – A maneira como o eu-lírico enfrentou o preconceito, em sua opinião foi a forma
mais acertada? Por quê?
9 – Em sua opinião para um negro firmar-se como o poeta era tarefa fácil no Brasil
colonial? E hoje? Por quê?
10 – O estilo de Luiz Gama o impressionou enquanto poeta? Por quê?
11 – Quanto à forma, como se apresenta o poema de Luiz Gama? Há rimas quais?
12 – Quanto ao número de versos quantas sílabas poéticas há nos mesmos?
4. Questionamento do horizonte de expectativas (Uma aula):
Concluído o trabalho com os três poemas, durante uma aula,
questionaremos os alunos sobre o que levantava em seus horizontes de expectativas,
faremos com que reflitam oralmente sobre esses pontos: A idéia que faziam a respeito
da poesia realmente se concretizou? O que compreenderam a respeito da temática
abordada nos textos estudados? Por quê? A maneira com a qual cada texto foi
trabalhado agradou? Por quê?
1º Momento
Proporemos uma análise comparativa entre os textos iniciais e os mais
recentes estudados, levando-os a observar nas mudanças que ocorreram e o por quê.
Como cada poema foi construído poeticamente e que uso foi feito da linguagem
empregada, dos recursos formais, o que há de semelhante entre os poemas? Em quais
aspectos? Por quê? A sonoridade fez parte de todos os poemas? Por quê? Quanto ao
vocabulário e ritmo como se organizaram no poema? Houve a compreensão sobre o que
seja poema e poesia? Sim ou não e por quê?
5. Ampliação do horizonte de expectativas (aproximadamente seis
aulas).
A ampliação do horizonte de expectativas dos alunos se dará quando os
alunos já tiverem dominado o conteúdo e só então farão a ruptura e o posterior
questionamento desses mesmos horizontes de expectativas. Para que ocorra a
ampliação é preciso ter muito claro esta intenção e a nos professores caberá o papel de
estimular os alunos o suficiente para que tenha ações concretas e se apropriem desse
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saber. A duração deste trabalho será a de produção de comentários a respeito dos
textos, declamação de poesias, e a construção de um mural para os textos trabalhados e
produzidos pela turma com a temática poesia negra africana e brasileira. Os textos
serão dos dois poetas analisados pela turma. Duração aproximadamente seis aulas.
1º Momento
Solicitaremos aos alunos que pesquisem em casa, na Internet, livros,
revistas, jornais, outros poetas negros brasileiros que abordem a mesma temática
estudada: Poesia negra. Deverão trazer para a sala de aula e apresentar para a classe
lendo ou declamando.
2º Momento
Os alunos farão a seleção dos melhores textos poéticos que serão
declamados e farão parte de um mural para a comunidade escolar, o mural será
construído com as cores dos países africanos negros e Brasil. Objetos das duas culturas
ilustrarão os trabalhos escritos com a temática abordada.
Recursos:
. Pen drive com sons tribais africanos;
. Laboratório de Informática – Internet;
. Dicionário;
. Jornais;
. Revistas;
. Lápis, retalhos de tecido;
. Tintas coloridas;
. Livro de Poesia: Primeiras Trovas Burlescas Luiz Gama;
. Livro – Poemas de Léoplod Sédar Senghor;
. Textos impressos com os poemas trabalhados;
. Mural;
Avaliação
Será efetuada mediante a realização de todas as atividades desde o início do
projeto pelos alunos: leitura, produção e apresentação do trabalho. O professor deverá
frequentemente observar o interesse, a participação e principalmente a interação dos
alunos durante todo o processo de leitura e produção.
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Referências
AGUIAR, Vera Teixeira de e Bordini, Maria da Glória.Literatura e Formação do Leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhin. São Paulo: Ática, 2008.
FIORIN, José Luiz e Savioli, Francisco Platão. Para entender o texto. São Paulo, Ed. Ática. 7º edição
GAMA, Luiz.Primeiras trovas burlescas e outros poemas. São Paulo: Martins Fontes, 2000
GERALDI, João Wanderley.O texto na sala de aula. 4.ed.São Paulo: Ática, 2006.
LAJOTO, Marisa, e Outros. Leitura em crise na Escola: As alternativas do professor. Porto Alegre Mercado Aberto, 1986
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