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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA
TURMA - PDE/2012
Título: O Ensino de História Local e o “Mito do Vazio Demográfico”: Uma Leitura Crítica
Autor Maria Elizabete Barusso
Disciplina/Área Históri A História Ambiental
Escola de Implementação do
Projeto e sua localização
Colégio Estadual “Olavo Bilac”, Ensino Fundamental, Médio,
Normal e Profissionalizante.
Av. Inglaterra, 596 – centro
Município da escola Cambé
Núcleo Regional de Educação Londrina
Professor Orientador Prof. Dr. Wander de Lara Proença
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina – UEL
Relação Interdisciplinar
Resumo
Essa produção didático pedagógica foi construida no sentido
de contribuir para que os professores de História lancem
novos olhares sobre o passado e procurem em seu cotidiano
escolar revisar o “mito do vazio demográfico” no ensino de
história local e incorporar novos conhecimentos e a inserção
de novos personagens na história das cidades da região norte
paranaense. Para isso estaremos propiciando um ciclo de
estudos, onde, através de leituras atualizadas e das palestras,
os participantes poderão obter um maior aprofundamento dos
conceitos, confrontar ideias e trocar experiências. Tendo em
vista os pressupostos apresentados, entedemos que a
proposição desse Caderno Temático encontra respaldo na
construção de uma concepção crítica de História, que
privilegia o homem como sujeito histórico, e traz novas
perspectivas para o ensino de História, pela discussão acerca
dos conteúdos que possam fornecer subsídios para
desenvolver nos professores, como mediadores do processo
de construção da aprendizagem, atitudes de reflexão quanto
ao mito do vazio demográfico, considerando as múltiplas
facetas do conhecimento histórico.
Palavras-chave mito, vazio demográfico, colonização, inserção, personagens.
Formato do Material Didático Caderno Temático
Público Alvo Professores do Ensino Fundamental, Médio e Normal.
APRESENTAÇÃO
Este material será apresentado à SEED (Secretaria de Estado da
Educação), como material didático pedagógico resultante do PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional) em História Ambiental, através da IES (Instituição de
Ensino Superior), UEL (Universidade Estadual de Londrina), sob a orientação do
Professor Drº Wander de Lara Proença. Está direcionado aos professores do Ensino
Fundamental, Médio, Normal e Profissionalizante e pedagogos do Colégio Estadual
“Olavo Bilac” de Cambé, e também a professores e pedagogos de outras escolas
públicas que queiram participar.
O PDE é um programa de Formação Continuada diferenciado, cujo
objetivo é a articulação entre teoria e prática, no contexto específico da escola da
Rede Pública Estadual do Paraná. Neste programa temos a oportunidade de
vivenciar diferentes espaços formativos que favorecem reflexões, discussões, trocas
de experiências e a qualificação dos estudos teóricos, com vistas a propiciar
subsídios aos professores como contributo para a melhoria da educação.
Assim, esta produção didático pedagógica em forma de Caderno
Temático, é uma proposta incorporada a este contexto, com objetivos que atendem
à práxis, ou seja, à relação indissociável entre teoria e prática, que materializa o
saber pedagógico e consolida a relação entre o fazer e o pensar no âmbito
educacional.
Também pretende enfatizar a necessidade de estudos e formação
continuada por meio de um processo de apropriação de revisão bibliográfica, leituras
complementares, textos científicos atuais e retomada aos estudos pelos
profissionais da educação. Será formado por cinco capítulos que abordarão os
seguintes temas: A Construção do Mito do Vazio Demográfico, Novos Enfoques
Historiográficos sobre a (Re) ocupação do Norte do Paraná, Livros Didáticos X
Heroísmo do “Pioneiro Colonizador”, Desenvolvimento da Produção Didático-
Pedagógica, e Sugestões de Atividades.
A proposta será desenvolvida por meio de um Evento de Extensão –
Grupo de Estudo, onde serão incluídas leituras, reflexões discussões e palestras,
para que se possa revisar o “mito do vazio demográfico” no ensino de história local e
incorporar novos conhecimentos e a inserção de novos personagens na história das
cidades da região norte do Paraná. Com isso estaremos contribuindo para a
aquisição de novos conhecimentos por parte dos participantes, a fim de que os
mesmos possam depois, utilizá-los em suas aulas.
Tendo em vista os pressupostos apresentados, entendemos que a
elaboração desse Caderno Temático encontra respaldo na construção de uma
concepção crítica da História, que privilegia o homem como sujeito histórico.
Reitera-se assim, a proposta contida nas DCE (PARANÁ, 2008, p.
29), quando se constata que o conhecimento histórico possui diferentes formas de
explicar o seu objeto de investigação, constituídas nas experiências dos sujeitos.
Sendo assim, “[...] o ensino de História contribui para a formação de uma
consciência histórico crítica dos alunos, uma vez que o estudo das experiências do
passado permite formar pontos de vista históricos por negação aos tipos tradicional
e exemplar de consciência histórica”.
CAPÍTULO 1
A CONSTRUÇÃO DO MITO DO VAZIO DEMOGRÁFICO
1.1 COMO TUDO COMEÇOU
Ao observarmos os mapas do Paraná, desde o final do século XIX
até a década de 50 do século XX, a região norte ou boa parte dela é representada
como um grande “vazio demográfico”. Exemplo disso é o mapa de 1912,
apresentado abaixo, que traz o reconhecimento apenas das seguintes cidades no
período: Paranaguá, Antonina, Morretes, Guaratuba, Lapa, Castro, Guarapuava e
Curitiba:
Figura 1 – Mapa do Estado do Paraná
Fonte: Instituto de Terras, Cartografia e Geociências.
Mas o que seria um vazio demográfico? Mota (1994 apud
GONÇALVES, 1997, p. 24) assim o definiu: “Algo que se traduziria, em última
análise, como forma de escamoteamento de um efetivo “vazio”, aquele criado pela
expulsão ou eliminação das populações indígenas que, deste modo, são colocadas
à margem da história”.
Os documentos oficiais, ou não, produzidos a partir da década de
1920, até os anos 70 do século XX, sobre como se deu a construção da região
chamada “norte do Paraná”, excluem as populações que já a haviam habitado,
criando assim a ideia de “vazio demográfico”.
Mas que populações seriam essas? Mota e Noelli (1999a, p. 15-16)
assim nos colocam:
Embora não existam ainda datas mais antigas que as dos Guaranis, é provável que os Kaingangs e os Xokleng tenham chegado primeiro ao Paraná, pois em quase todo o Estado os sítios Guaranis estão próximos ou sobre os sítios arqueológicos dos Kaingangs e Xokleng. Com a chegada dos Guaranis, e na medida em que estes iam conquistando os vales dos rios, os Kaingags foram sendo empurrados para o centro sul do Estado e/ou sendo confinados nos territórios interfluviais e os Xokleng foram sendo impelidos para os contrafortes da serra Geral, próximos do litoral. A partir do final do século XVII, enquanto as populações Guarani tiveram uma drástica redução, os Kaingags voltaram a se expandir por todo o centro do Paraná. [...] E, quando da ocupação da região de Londrina e Maringá, nos anos 30 a 50 deste século, os Kaingangs, que já estavam aldeados em São Jerônimo da Serra e nas margens do rio Tibagi, circulavam em extensas trilhas pelas matas e campos aqui existentes, caçando, coletando e pescando nos rios Pirapó, Ivaí e seus afluentes.
Muitos foram os agentes responsáveis por essa construção: a
história oficial das companhias colonizadoras; os discursos governamentais; os
escritos que fazem a apologia da colonização; os geógrafos que escreveram sobre a
ocupação nas décadas de 30 a 50 do século XX; a historiografia paranaense
produzida nas academias e, por fim, os livros didáticos que se utilizaram dessas
fontes para reproduzirem a milhares de estudantes a ideia de que as terras
indígenas do terceiro planalto do Paraná constituíam um imenso “vazio
demográfico”.
Essa história foi construida de forma tal que apenas o meio
geográfico foi pontuado. Desconsiderou-se as civilizações que aqui já existiam como
citamos, e também os achados arqueológicos datados de há mais de 2.000, 3.000
anos atrás, e que ainda continuam sendo descobertos e são prova viva dessa
existência. As próprias narrativas históricas salientam que a ocupação do Norte do
Paraná apenas teve seu início no começo do século XX, mais precisamente 1908,
por comunidades de posseiros, caboclos e grileiros, que entraram em choque com
os índios Kaingangs que ocupavam a região (TOMAZI, 1999).
Nessa História que saiu das academias, dos museus históricos, dos
centros de História e se perpetuou nos livros didáticos só aparecem as figuras dos
desbravadores que com sua coragem entraram pela floresta e foram conquistando-a
palmo a palmo nas suas adversidades.
Somente a partir da década de 80 do século XX, com novos
pesquisadores como Lúcio Tadeu Mota, Nelson Dacio Tomazi, Kimiye Tommasino,
Francisco Silva Noelli, Reginaldo Benedito Dias e José Henrique Rollo Gonçalves
essa visão etnocêntrica da historiografia paranaense começa a ser repensada. Com
esses autores passamos a ter uma nova abordagem sobre as terras do Norte do
Paraná e sobre a inexistência deste tão propalado “vazio demográfico”, assim como
também se construiu um novo discurso sobre a figura do “pioneiro colonizador”.
Mas, ainda assim, percebemos a necessidade da produção de
novos conhecimentos a respeito do assunto e a inserção de novos personagens na
história das cidades e nos currículos escolares para que possam ser reconhecidos
como sujeitos históricos.
Procurando contribuir com essa discussão, este Caderno Temático
tem como referência fazer com que os professores de história lancem novos olhares
sobre o passado e repensem suas práxis no ensino de História, pois, estando em
contato direto com os conhecimentos ensinados pela disciplina, poderão desafiar os
alunos como mediadores das discussões, em suas potencialidades no pensar,
dimensionar, compreender e interpretar os fatos históricos.
1.2 A GUERRA PELA CONQUISTA DA REGIÃO CHAMADA “NORTE DO PARANÁ”
A guerra pela conquista iniciou-se nas primeiras décadas do século
XVI com as expedições portuguesas e espanholas que cruzaram a região em busca
de metais, escravos, e de uma rota para o Paraguai e Peru.
Acentuou-se no seiscentos com a implantação das reduções
jesuíticas no Guairá e com as bandeiras paulistas que invadiram a região
capturando índios. Prosseguiu-se no século XVII com a descoberta de ouro e
diamantes no Rio Tibagi e com as expedições militares que construíram fortificações
e transitavam pelo território rumo ao Mato Grosso. Recrudesceu no oitocentos com a
ocupação das terras da bacia do norte do rio Tibagi e a partir da segunda metade do
século XIX, com a invasão dos campos do cacique Kaingang Inhoó pelos grandes
fazendeiros dos Campos Gerais paranaenses na expansão de seus domínios. No
século XX, a guerra de conquista continuou sob o manto da “colonização pacífica e
harmoniosa” levada adiante pelas companhias de terras que ocuparam, lotearam e
venderam os antigos territórios indígenas com o aval institucional do Estado do
Paraná (MOTA; NOELLI, 1999b).
Porem, na interpretação da historiografia oficial, todos esses
territórios pertencentes às comunidades indígenas Kaingang, Xokleng, Xetá,
Guarani – Kayová e Guarani - Ñandeva, existem apenas a partir da ação exterior
dos conquistadores, e a história que daí surge ignora importantes acontecimentos,
tais como as invasões, a conquista, a exploração, os conflitos, e a presença dos
índios como sujeitos de sua história e que lutaram pela manutenção desses espaços
e de seu modo de vida. Essa historiografia não revela os significados construídos
pelos sujeitos da época; ela aceita a interpretação de que tais territórios eram
espaços “vazios” prontos para serem ocupados.
Sendo assim podemos reificar que a conquista desses territórios
indígenas foi feita palmo a palmo, com o uso da cruz, da espada e do machado,
assim como também de doenças e de acordos marcados a ferro, fogo, sangue e
lágrimas Tratados foram estabelecidos e descumpridos, porem a história provincial
paranaense, por motivos e interesses das elites dominantes preferiu não contar.
CAPÍTULO 2
NOVOS ENFOQUES HISTÓRIOGRÁFICOS SOBRE A (RE)OCUPAÇÃO DO
NORTE DO PARANÁ
2.1 A CLIVAGEM NORTE E SUL1
Desde 1920 autores da academia, bem como vários segmentos da
sociedade procuram afirmar a existência de um sul e um norte que possuem
identidades diferentes. Tomazi (1999, p. 60) nos diz que:
Apesar de haver muitas indicações discursivas a respeito de uma diferenciação e de uma clivagem entre norte e o sul do Paraná, o que se encontra no plano das ações concretas é que os interesses do capital não se conformam dessa forma. Defendo que essa clivagem só tem sentido se for vista na ótica da definição de “territórios de poder”, para alguns setores das classes dominantes, instalados nesse ou naquele polo.
Todo esse discurso, ao longo dos anos se consubstanciou em várias
propostas de desmembramento, para se criar um estado à parte na região norte do
Paraná. Conforme Tomazi (1999, p, 60-61):
[...] Essa tentativas aparecem desde a Constituinte de 1934, mas internamente em 1939 quando houve a aprovação de uma moção pela Associação Comercial de Londrina, encaminhando ao presidente da República, solicitando a criação do estado do Norte do Paraná. Na década seguinte, em 1949, e depois em 1956, aparecem outras propostas. [...] Em 1979, novamente vem à tona a mesma proposta, tendo como autor Dalton Paranaguá, ex-prefeito de Londrina e ex-secretário da Saúde do estado do Paraná. Enfim, a fundamentação sempre foi a mesma: o governo instalado na capital, Curitiba, não dedicava a devida atenção ao “norte”, pois assim o território teria “donos” da própria região.
Juntamente com a construção da clivagem norte/sul, houve também
a construção da identidade do norte paranaense. Tomazi (1999, p. 64) afirma que
não existe nenhuma especificidade no processo de (re)ocupação da região norte
paranaense para que venha constituir uma identidade específica de seus habitantes.
Pelo contrário, afirma que o caso em questão foi igual a outras (re)ocupações
1 Essa nomenclatura encontra-se em Tomazi (1999).
ocorridas no Brasil, realizadas através da violência e da exclusão. Inclusive, essa
questão de ocupação que o autor chama de “(re)ocupação” é muito bem explicada
por ele, quando nos diz que:
[...] o que se pretende mostrar com essa fantasmagoria é que há uma especificidade no processo de (re)ocupação, que é falado como “ocupação”. Essa especificidade foi designada inicialmente tendo como base a “floresta Exuberante” e a fertilidade da terra , bem como a presença da terra roxa, sendo designada como a “Terra da Promissão”, o “Novo Eldorado”, a “Nova Canaã”, expressões que estarão presentes nas diversas narrativas desde o início do século até os dias de hoje (TOMAZI, 1999, p. 64).
Em face desses pressupostos devemos nos questionar quem são os
“primeiros norte paranaenses”? São os índios, os posseiros, os caboclos, ou são os
colonizadores (ingleses, poloneses, paulistas) que representam a elite dominante.
Se considerarmos os últimos, estaremos definitivamente silenciando e apagando a
presença dos índios e posseiros da região.
2.2 A COMPANHIA DE TERRAS NORTE DO PARANÁ
Ao alisarmos o processo de construção da região chamada “Norte
do Paraná”, que em tempos passados também foi chamada de “Nova Canaã” e
“Terra da Promissão”, onde corria “leite e mel”, vamos perceber que até hoje,
existem muitas divergências entre os estudiosos que tratam da questão.
Nosso objetivo neste trabalho não é levantar mais polêmicas sobre a
ação colonizadora realizada pela CTNP, nem questionar seus métodos, porém, é de
basilar importância percebermos que, na leitura dos documentos que se reportam à
mesma, eles apontam a Companhia como a grande desbravadora dessas “terras
abandonadas”, desconsiderando toda a ocupação que havia ocorrido anteriormente.
Para que haja um melhor entendimento vamos apresentar alguns
dados constantes dessas narrativas que nos ajudarão entender melhor esse
processo, no sentido de nos auxiliar na proposta que pretendemos desenvolver em
nosso ciclo de estudos.
a) O ano: 1923.
b) Como ficou conhecida a caravana: Missão Montagu
c) Integrantes: técnicos, financistas e representantes de
banqueiros ingleses.
d) Objetivos: Aplicação de capitais ingleses na região, para
obtenção de algodão que seria usado na crescente indústria têxtil
inglesa.
Lord Lovat, um dos integrantes da missão, era perito em agricultura
e reflorestamento. Naquela ocasião, ele visitou a região norte paranaense a convite
dos fazendeiros que queriam apresentá-lo à cultura do café e que também estavam
interessados em recursos para terminar a construção da Estrada de Ferro São
Paulo-Paraná. A mesma estava interrompida e os fazendeiros viram no inglês a
salvação para seus problemas, pois, estavam interessados em empréstimos. Porém,
Lovat interessou-se mesmo, pela fertilidade da terra para o cultivo de algodão. Na
mesma época, O Governo do Paraná estava oferecendo terras do norte do estado a
preços muito baixos. A alegação oficial era a de que não existiam muitos acessos
para a região, como estradas de ferro e de rodagem, somente existindo velhos
caminhos e trilhas utilizadas pelos indígenas que andavam pela região desde
tempos remotos.
Regressando a Londres, Lovat e seus sócios da Suddan Cotton
Syndicate fundaram, em 1924, a Brazil Plantations Syndicate, transformada em
Paraná Plantations Syndicate, no ano seguinte, e sua subsidiária brasileira, a
Companhia de Terras Norte do Paraná (ARIAS NETO, 2008).
Para dar início à colonização, a Companhia adquiriu do governo do
Estado 515 mil alqueires paulistas e criou um tipo de empreendimento pautado em
“pequenos lotes” de terras.
É salutar ressaltar que antes dos ingleses serem atraídos pela terra
roxa, e verem aí grandes possibilidades de lucro, principalmente com a cultura do
café, eles se ocuparam até 1928 do século XX com a produção de algodão. Era a
linguagem do capital se pronunciando. Um exemplo disso é um escrito da própria
CTNP/CMNP feito em 1965, citado por Tomazi (1999, p. 79):
Evidentemente, as terras no Norte do Paraná são de excepcional qualidade e a cultura do café proporciona renda apreciável. Mas é preciso reconhecer que esse exemplo de colonização racional, que tão bons resultados proporcionaram ao Paraná e ao Brasil é fruto
exclusivo da iniciativa privada. Ao empreendimento sempre faltou o apoio oficial, mas assim mesmo conseguiu-se demonstrar o que deveriam fazer os poderes públicos para tornar produtivas tantas áreas abandonadas do nosso imenso território.
Além disso, o mito de terras abandonadas foi muito bem aproveitado
pelos representantes da Companhia de Terras Norte do Paraná para se colocarem
como grandes desbravadores e vangloriarem-se de seus feitos.
Tomazi (1999, p. 77) comenta:
Esses senhores, apologistas por Excelência da CTNP e muitas vezes financiados por ela para manter seus escritos recolocam de maneira clara como a região era vista, ainda no final da década de 1950, como uma terra onde viviam “selvagens”, abandonada, e que foi despertada pelos ingleses de Lord Lovat, como se esse fora o príncipe encantado que viera acordá-la para o “Novo Mundo”.
A historiografia ao longo dos anos continuou ressaltando os feitos
dos colonizadores e corroborando para o mito de região abandonada. Branco e
Mioni (1959 apud TOMAZI, 1999, p. 77), analisando a história da região em estudo
assim descrevem:
[...] A região Norte do Paraná foi varrida mais algumas vezes por bandeiras escravagistas e depois tudo novamente caiu em calma no grande sertão de terras roxas, tão preferidas pelos selvagens! A vegetação cobriu as clareiras, os roçados voltaram a ser florestas. Trezentos anos foram passados. Os bandeirantes asseguraram as fronteiras da Pátria. Expulsaram os Espanhóis, A história se escreveu com sangue. Não fora o bandeirante, isso tudo seria Paraguai. Mas, continuemos. O “Norte dormiu o sono do silencio e do abandono” durante 3 séculos e só foi despertado em 1929 com a colonização inglesa de Lord Lovat.
Também não houve preocupação com a proteção da mata que estava sendo
devastada, pois, apesar de todos esses relatos, poucos documentos foram
produzidos no sentido de protegê-la. As leis do Código Florestal brasileiro de 1934,
que obrigava os proprietários e administradores rurais a conservarem pelo menos
25% das matas originais e implementação de práticas de reflorestamento não foram
cumpridos. Assim, aos pouco, os solos da região norte paranaense foram sendo
desgastados em grandes proporções.
Independente da eventual ação colonizadora planejada é claro que sempre se desconsideraram os problemas referentes ao impacto ambiental imensamente ecocida. Por exemplo: a velocidade com que a floresta pluvial foi dizimada, o tremendo assoreamento dos cursos d’água e a forte agrointoxicação do solo. O desenho mesmo dos assentamentos, com a produção agrícola sendo realizada nas partes elevadas dos terrenos – de modo a minimizar o impacto das geadas – e as pessoas e animais habitando as partes mais baixas, limitadas pelos rios e riachos, implicou uma descarga permanente de dejetos e outros materiais nos cursos d’água (GONÇALVES, 1999, p. 114).
Assim sendo a ideologia dominante foi a grande responsável pela
construção da ideia de “vazio demográfico” encontrada na leitura da história do norte
paranaense, inclusive, financiando essa ideia, para que permanecessem os seus
discursos.
CAPITULO 3
LIVROS DIDÁTICOS X O HEROISMO DO “PIONEIRO COLONIZADOR”
3.1 OS LIVROS DIDÁTICOS
Alem de contribuir para a ideia de “vazio demográfico” e pela
perpetuação dos pioneiros, os livros didáticos muito contribuíram para a propagação
da ideologia dominante, uma vez que sempre evidenciaram em suas narrativas a
história dos vencedores. Segundo Mota (1994, p. 45), os livros didáticos abordam a
ocupação do norte do Paraná por meio da ideia do desenvolvimento causado pelo
plantio do café nas terras roxas da região. Esse seria o fator primordial contido
nesse tipo de literatura. Para ratificar esse pensamento, o autor nos dá como
exemplo o livro Pequena História do Paraná, editado em 1953, onde a autora Maria
Cecília Westpthalen reafirma a ideia de terra abandonada e devoluta fazendo as
seguintes considerações:
No começo do século, remotamente se cogitava da exploração e aproveitamento econômico da imensa e fértil região norte do Paraná. Ela estava como que abandonada e esquecida pela nossa gente. Foi revelada ao Paraná quando chegou a cultura do café e a cada safra cresceu o Norte do Estado. Primeiro, ao norte Velho, chegaram mineiros e surgiram cidades, Jacarezinho Ribeirão Claro, Santo Antonio da Platina. Depois vieram os homens da Companhia de Terras Colonizadora do Norte do Paraná que, em acordo com o governo de Caetano Munhoz da Rocha, realizaram o desbravamento do verdadeiro sertão, levando consigo o povoamento efetivo. O sertão foi recuando e apareceram novas plantações, fazendas e vilas. Vilas que depressa cresciam e eram cidades. Cidades de intenso movimento, logo por outras suplantadas. É o desenvolver vertiginoso do chamado Norte novo (MOTA, 1994, p. 45).
Esses textos didáticos assinalam alguns pontos diluidores das
contradições do fazer-se do norte do Paraná. O conceito que aparece em quase
todos eles é o de “desenvolvimento”. A ocupação nos anos 30/40 é retratada nos
manuais de 50/60 como a grande epopeia pioneira de desbravamento do sertão
rumo a um futuro grandioso. O desenvolvimentismo dos anos 50 se faz presente nas
brochuras dos anos 70/80 (MOTA, 2009, p. 58).
Podemos analisar, então, que dentro desse paradigma, esse tipo de
conhecimento construído a partir do consumo generalizado dos livros didáticos,
como já nos referimos várias vezes, primou pela manutenção da figura do herói e
privilegiou a história das minorias, dos vencedores, excluindo as massas (índios,
posseiros, grileiros, caboclos...), reforçadora dos laços de dominação. Temos ciência
que ainda hoje são apresentados aos alunos conteúdos cristalizados no ensino de
História, muito distante da sua realidade e que já estão prontos. Não desperta neles
o interesse e a crítica, pois é uma História verdadeira que, portanto, nem merece ser
repensada, basta apenas aceitá-la e digeri-la.
Na esteira da mudança do paradigma imposto pelos livros didáticos,
nossa proposta pretende trazer novas perspectivas para o ensino de História, pela
discussão acerca de conteúdos que possam fornecer subsídios para desenvolver
nos professores – como mediadores do processo de construção da aprendizagem –
atitudes de reflexão quanto ao mito do vazio demográfico na região norte do Paraná,
por meio de uma concepção crítica que considere as múltiplas facetas do
conhecimento histórico.
3.2 A FIGURA DO PIONEIRO COLONIZADOR
Em praticamente todas as cidades do norte do Paraná, encontramos
alguma homenagem que nos remete à figura do pioneiro. São nomes de ruas,
avenidas, praças, estações rodoviárias, memoriais, totens, etc. Quando visitamos os
museus destas cidades também percebemos que o espaço reservado a esse
personagem, ou a algumas famílias que se destacaram no “processo de
colonização”, é muito maior do que ao que se destina aos indígenas, por exemplo.
Que carisma possui a figura do pioneiro para que ele possa ser tão exaltado? Por
que, mesmo depois de tanto tempo continua tão vivo na história das cidades?
Temos conhecimento das lutas, dos conflitos, do uso de armas, da presença de
jagunços que protegiam alguns desses personagens, porém mesmo assim eles
continuam sendo venerados. Continuam sagrados como a figura destemida que
adentrou aos sertões e desbravou a mata e conquistou-a com a força de machados.
As respostas para estas perguntas estão presentes nas próprias
narrativas históricas que continuam exaltando-os e não os deixa cair no
esquecimento, mantendo-os vivos no imaginário popular. Com isso, muitas pessoas
comuns que foram os alicerces na construção da sociedade norte paranaense foram
desconsideradas.
Segundo Tomazi (1999, p. 74) a definição mais clara e precisa dada
a esse personagem foi formulada por um dos mais conhecidos “pioneiros” de
Londrina, o Sr. Álvaro L. de Godoy:
Pioneiros são os homens que veem na frente, descobrindo e destruindo os obstáculos, e preparando o caminho para a implantação da civilização. A chegada dos pioneiros nos sertões ínvios representa o inicio do progresso. O pioneiro vem para ficar quando se desloca, já traz a família e os haveres, quando os possui. Costumam também chamar de bandeirantes, porém, existe muita diferença. O bandeirante é nômade, viajam só homens e quando se detém é porque encontram algum obstáculo, e logo que transposto continuam a marcha, atrás de tesouros, ou seja, fortunas rápidas. O pioneiro vem à procura de terra fértil, encontrando-a, planta sabendo que seu destino será chumbado àquela gleba, que com o passar dos dias se transforma em lugar sagrado para ele e sua família. Quanto mais ele sofre na sua gleba, mais amor ele lhe dedica,chegando ao ponto de ter ciúmes de seu rebanho, de sua rocinha e até das caças que povoam sua terra, e não raro, só a morte o arranca da gleba por ele desbravada.
Enfim, podemos então inferir que o “vazio demográfico” tão falado e
tão presente em nossa historiografia não passa de mito. Na realidade, como já
falamos, trata-se de um constructo para atender aos anseios da elite dominante e
enaltecer a figura dos “pioneiros”.
CAPÍTULO 4
DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Construir uma produção didático pedagógica direcionada para
trabalhar com professores caracteriza uma enorme responsabilidade. Isso porque se
deve levar em consideração os conhecimentos apreendidos por eles na academia, e
ao longo de cursos de formação continuada, aliado às suas práticas em sala de
aula. Pensando nisso, optamos pela produção desse Caderno Temático, onde
esperamos estar contribuindo, com nossas experiências abarcadas pelas
discussões teóricas realizadas, para o seu crescimento quanto profissional da
educação.
Assim sendo, neste capítulo estaremos apresentando como
trabalharemos esta Produção Pedagógica na escola.
Promoveremos um ciclo de palestras de 40 horas, onde serão
tratados questões e temas pertinentes ao ensino de história local e o “mito do vazio
demográfico”, à luz de referenciais teóricos que proporcionem uma leitura crítica
sobre o assunto.
1ª Etapa:
A proposta será apresentada aos professores na semana
pedagógica do início do ano letivo de 2013, onde serão convidados para
participarem do Ciclo de Estudos. O convite será também estendido para os
professores de outras escolas da rede pública.
1°encontro: Com os professores já devidamente inscritos, serão fornecidas maiores
explicações sobre o curso, assim como será aplicada uma diagnose, no intuito de
confrontar os saberes docentes já existentes aos resultados do ciclo de palestras.
As questões que compõem a diagnose são as seguintes:
a) Em suas aulas você faz uso de práticas pedagógicas mais significativas para
trabalhar os conteúdos históricos?
b) Quanto professor de História, o que você promove para que seus educandos
passem a gostar mais da disciplina?
c) Os conteúdos de História do Paraná estão inseridos no seu Planejamento Anual e
em sua práxis cotidiana?
d) Você já ouviu a expressão “vazio demográfico”, constante em alguns conteúdos
de História do Paraná? Sabe o porquê dessa expressão?
e) No seu cotidiano escolar tem acesso a documentos que analisam, fazem
referências, ou mesmo que fundamentam o mito do “vazio demográfico”?
f) Já teve contato com algum texto, livro ou artigo dos autores que foram usados
como aporte teórico para a construção deste Caderno Temático? (Lúcio Tadeu
Mota, Nelson Dacio Tomazi, Kimiye Tommasino, Francisco Silva Noelli, Reginaldo
Benedito Dias e José Henrique Rollo Gonçalves).
g) Estamos nos comportando como professores mediadores entre os saberes
produzidos nas academias e a democratização dos mesmos, dando aos nossos
alunos a oportunidade para que eles se sintam sujeitos construtores de sua
própria história, ou apenas estamos reproduzindo o conhecimento histórico?
Explique.
Depois de concluídas as respostas, será elaborado um texto-síntese e
apresentado em plenário.
2° Etapa:
O ciclo de palestras abordará os seguintes temas:
2º encontro: “A Construção Do Mito Do Vazio Demográfico No Norte Do Paraná.”
3° encontro: “A Colonização Norte Paranaense: Uma Abordagem Crítica.”
4° encontro: “Novos Enfoques Historiográficos Sobre A (Re)Ocupação Do Norte Do
Paraná: Fontes, Metodologias E Perspectivas No Ensino De História.”
5° encontro: “Fontes Históricas.”
6° encontro: “Ensino De História, A Formação De Professores E Alternativas Para
Práticas Em Sala De Aula.”
7° encontro: “Museu E Patrimônio.”
8° encontro: “Olhares Sobre A Comunidade Kaingang”
9 °encontro: “Missões Jesuíticas Do Guairá.”
Antes de cada encontro, serão disponibilizados, aos professores
cursistas, textos para que eles possam ser informados a respeito dos assuntos que
serão tratados nas palestras.
Após a implementação do projeto de intervenção e da produção
didático-pedagógica promoveremos a realização de uma avaliação descritiva
(síntese conclusiva) pelos participantes do grupo de estudos, onde poderão apontar
suas dificuldades e suas expectativas, quanto às palestras que foram realizadas,
quanto às leituras que foram feitas e tambem quanto à organização e
desenvolvimento desse evento.
Este ciclo de estudos tem a “pretensão” de tentar trazer à luz
personagens que permanecem nos bastidores da história, que são tratados como se
não tivessem nem passado e nem presente, mas que “convenientemente” são
lembrados em datas comemorativas, ou pelo fato de algumas palavras do nosso
vocabulário terem se originado a partir de seus dialetos, mais ainda, dos costumes,
como o de tomar banho, por exemplo, largamente difundidos pelos livros didáticos e
pela historiografia oficial.
Mota (1994, p. 59) se utiliza da introdução que Sergio Buarque de
Holanda, fez ao livro de Thomaz Davatz, Memórias de um Colono no Brasil:
Existe uma lenda polonesa, anterior a primeira grande guerra mundial, muito conhecida em alguns distritos da Polônia na época da grande onda migratória para o Brasil, de que o Paraná estava envolvido num imenso nevoeiro durante séculos e que, graças à Virgem Maria compadecida com o destino dos camponeses pobres da Polônia, o Paraná tinha se livrado da fumaça que o encobria e a Virgem indicava aos poloneses que viessem povoá-lo.
Sobre a lenda Mota, (1994, p. 59) faz o seguinte comentário:
Parece que o nevoeiro que encobria o Paraná tornando-o invisível diante dos poloneses transferiu-se para sua história encobrindo as comunidades indígenas aqui existentes. Se no caso da lenda são os poderes da Virgem que livram o Paraná do ocultamento, na tragédia dos indígenas é o etnocentrismo daqueles que escrevem a história do Paraná que transferem o nevoeiro para cima dos índios, ocultando sua presença e participação como sujeitos da história paranaense, ao resistirem à ocupação de suas terras e à destruição de sua cultura e de suas vidas.
CAPÍTULO 5
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Neste, capítulo estaremos sugerindo algumas atividades que os
professores poderão trabalhar em sala, ou adequa-las de acordo com suas
realidades ou necessidades.
ETAPA 1 – A CONSTRUÇÃO DO MITO DO VAZIO DEMOGRÁFICO
Objetivo: identificar e analisar as referências que fundamentam o mito do vazio
demográfico.
Procedimento 1: Elaborar uma coletânea ou antologia de textos/fontes para uso
didático em que constem referências sobre o vazio demográfico no norte do Paraná.
a) Textos de geógrafos que escreveram sobre a ocupação nas décadas de 1930 a
1950 do século XX.
Encontrados em: Revista Brasileira de Geografia, n. 4, p. 57-74, out./dez. 1950.
Disponíveis em:
<www.biblioteca.ibge.gov.br/coleção_digital_publicacoes_multiplo.php?link=RGB&tit
ulo=RevistaBrasileiradeGeografia-RGB>
b) Estudo de mapas da região norte do Paraná.
Encontrados em: Revista Brasileira de Geografia, n. 4, p. 57-74, out./dez. 1950.
Disponível em:
<www.biblioteca.ibge.gov.br/coleção_digital_publicacoes_multiplo.php?link=RGB&tit
ulo=RevistaBrasileiradeGeografia-RGB> e também em:
<http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/arquivos/Image> ou
Instituto de Terras, Cartografia e Geociências: <http://www.itcp.pr.gov.br>.
c) Fragmentos de livros didáticos e a historiografia que perpetuaram o heroísmo do
“pioneiro colonizador”:
Pequena História do Paraná, de Maria Cecília Westphalen, editado no início
da década de 50 do século XX:
[...] No começo do século, remotamente se cogitava da exploração e aproveitamento econômico da imensa e fértil região norte do Paraná. Ela estava como que abandonada e esquecida pela nossa gente. Foi revelada ao Paraná quando chegou a cultura do café e a cada safra cresceu o Norte do Estado. Primeiro, ao norte Velho, chegaram mineiros e surgiram cidades, Jacarezinho Ribeirão Claro, Santo Antonio da Platina. Depois vieram os homens da Companhia de Terras Colonizadora do Norte do Paraná que, em acordo com o governo de Caetano Munhoz da Rocha, realizaram o desbravamento do verdadeiro sertão, levando consigo o povoamento efetivo. O sertão foi recuando e apareceram novas plantações, fazendas e vilas. Vilas que depressa cresciam e eram cidades. Cidades de intenso movimento, logo por outras suplantadas. É o desenvolver vertiginoso do chamado Norte novo (apud MOTA, 1994, p. 45).
Geografia e História do Paraná, de Luiza P. Dorfmund, editado em 1963:
As “companhias de terras” ajudadas pelo governo, desenvolvendo a planificação de pequenas propriedades, com vias de comunicação, bem como o saneamento, deram nova feição a economia do Estado e ao adensamento populacional da região. Para ali correrem paulistas, mineiros, cariocas, nordestinos, imigrantes estrangeiros, desbravadores e ocupando a zona que, em pouco tempo, chega a atingir 20 a 50 hab. Por Km (apud MOTA, 2009, p. 56).
Estudos Sociais, Estados do Brasil, Paraná, de Sandra H. Terra, editado
em 1980:
As notícias da fertilidade da terra roxa do norte paranaense foram sendo transmitidas pelos tropeiros em suas viagens atraindo muita gente, principalmente paulistas e mineiros. Teve início o plantio do café, que logo despertou o interesse de muitas pessoas. Uma firma inglesa – Companhia de Terras Norte do Paraná – estabeleceu-se no Brasil, lançando os fundamentos da cidade de Londrina. Florestas foram derrubadas, dando lugar às fazendas de café (apud MOTA, 2009, p. 57).
Vivo e Aprendo, de Benedito M. de Carvalho, editado em 1976:
A última penetração deu-se pelo norte do Estado, a partir de 1930, quando os paulistas e mineiros, cultivadores de café, descobriram as férteis terras roxas, tão apropriadas ao cultivo dessa planta. Seguiram-se aos paulistas e mineiros, os nordestinos, os gaúchos e os colonos estrangeiros (apud MOTA, 2009, p. 57).
Maringá Ilustrada, revista editada em agosto de 1957:
Filha de um pioneirismo heroico e síntese de um perfeito trabalho de colonização [...] O Setentrião Paranaense, então quase desabitado, sem qualquer reflexo na vida do país e do
grande Estado sulino, já era credor da confiança de um punhado de homens [...] Esses homens, visionários do futuro, de elevada compreensão e não menos alto espírito de patriotismo, constituíram-se para a grande arrancada [...] Rapidamente, num milagre de colonização, povoou-se o Norte Paranaense. Amanheceram cidades, enquanto tratores e modernos maquinários, derrubando matas e construindo estradas [...] A engenharia penetrava sertão a dentro e um rosário de localidades aparecia. A floresta dava lugar ao homem, cedendo-se na austeridade de suas espécies, aos rogos e acenos da civilização (apud MOTA, 2009, p. 64).
Maringá Ilustrada, editada em 1972:
Mencionar o pioneirismo e a colonização do Norte do Paraná é quase recordar os vaticínios deslumbrantes da própria Gênesis, traçando os épicos caminhos de longa jornada de lutas, sacrifícios e conquistas da humanidade. A princípio, tudo representava um panorama selvático, [...] E cada fração agreste do mundo teve de ser desbravada e civilizada a golpes de audácia e persistência, [...] Germinou, então, o pioneirismo logo seguido da colonização. O seio da terra virginal, recoberto de florestas seculares, abrigava tesouros inestimáveis de fecundação e fertilidade, prontos para fornecerem colheitas dadivosas de frutos destinados à alimentação e preservação da espécie humana (apud MOTA, 2009, p. 64).
Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná, editado em 1975,
pela CTNP, por ocasião da comemoração de seu cinquentenário:
Para o homem imaginativo, há qualquer coisa de irresistível na contemplação de mapas onde aparecem grandes áreas de terras desabitadas, mas com grandes potencialidades. Seu pensamento voa ao encontro de meios e maneiras de acesso, colonização e desenvolvimento, e seus sonhos logo descortinam um futuro no qual o deserto se cobre de flores e da terra brotam imensas riquezas. Tais foram homens como Raleigh e Penn, Cook e Rhodes. E, em tempos mais recentes, o falecido Simon, Lord Lovat. [...] Em 1924, o governo do Brasil convidou a Inglaterra pra conhecer sua situação agrícola e participar de investimentos dessa natureza, evento que, irrelevantes em sua aprência, foi o fator principal da expansão do Paraná. Entre outros benefícios, ele motivou a compra das ações da companhia ferroviária pelos ingleses liderados por Lord Lovat, técnico de agricultura e reflorestamento da Missão Montagu, que aqui chegou no início daquele ano, atendendo o convite brasileiro. Entre as regiões visitadas, a margem esquerda do Paraná impressionou particularmente, embora a penetração não ultrapassasse Cambará. Para a frente só havia densa mata, que confirmava as informações dos mapas de Lovat: trezentos e cinquenta quilômetros de floresta virgem se estendiam até o rio Paraná e os povoados, ao lado de rios caudalosos, eram pouquíssimos (apud MOTA, 2009, p. 67).
Mandaguari, sua História, sua Gente, escrito por José A. F. Silva, e
publicado em 1982 pela Prefeitura Municipal de Mandaguari:
É preciso, sobretudo, estoicismo na tarefa da colonização. Na missão de domar matas virgens, enfrentando o desconhecido sem nenhum trabalho de infraestrutura capaz de debelar, prontamente, os perigos que rondavam os colonizadores. [...] eram os animais selvagens, as aves e os insetos, que superpovoando as matas invadiam as plantações, destruindo, muitas vezes, todo o produto de um plantio feito com dificuldade. [...] a terrível epidemia denominada febre amarela. Alcunhada pelos caboclos de febre dos macacos, grassou a famigerada febre, que deixava os macacos mortos espalhados pelas matas transmitindo o vírus aos colonos, propagando-se a moléstia como uma incontrolável epidemia a ceifar centenas de vidas no Norte do Paraná. [...] as frequentes chuvas, que tornavam as estradas intransitáveis. [...] Nenhum perigo ou dificuldade abalou o ânimo do colonizador. Porem, o espectro negro da geada de 1942, mostrou-se um inimigo insuperável. Esse liquidou com a economia cafeeira local, principal responsável pelo progresso regional (apud MOTA, 2009, p. 70).
d) o uso dos museus como espaços de memória;
Procedimento 2: Elaborar um questionário para análise da coletânea de
textos/fontes para localização/levantamento da ideia de vazio
demográfico/valorização da figura do pioneiro;
Procedimento 3: Elaborar um texto em forma de síntese a partir do questionário
contendo os apontamentos sobre o vazio demográfico.
ETAPA 2 - NOVOS ENFOQUES HISTORIOGRÁFICOS SOBRE A
(RE)OCUPAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ
Objetivo: analisar textos/fontes que revisam o vazio demográfico e apresentam
novas perspectivas e subsídios para o ensino de história sobre o tema.
Para subsidiar os professores que fazem a mediação entre os saberes produzidos
nas academias e a democratização dos mesmos em nível de escolas de primeiro e
segundo graus, poderão serão adotados os seguintes procedimentos:
Procedimento 1: Elaborar uma coletânea ou antologia de textos/fontes para uso
didático pelos professores em que constem revisões sobre o vazio demográfico no
norte do Paraná:
a) Textos:
A Pré-História da Região onde se encontra Maringá, Paraná, de Francisco Silva Noelli e Lúcio Tadeu Mota, p. 5-20. Exploração e Guerra de Conquista dos Territórios Indígenas nos Vales dos Rios Tibagi, Ivaí e Piquiri, de Lucio Tadeu Mota e Francisco Silva Noelli, p. 23/50. Construções e Silêncios sobre a (Re)ocupação da Região Norte do Estado do Paraná, de Nelson Dacio Tomazi, p.51-85. Quando a Imagem Publicitária vira Evidência Factual: Versões e Reversões do Norte (Novo) do Paraná – 1930/1970, de José Henrique Rollo Gonçalves, p.87-121. Como Martim Afonso virou Trineto de Mavutsinim? de José Henrique Rollo Gonçalves, p. 23-34. A Questão Indígena no Livro no Livro Didático “Toda a História”, de Lucio Tadeu Mota e Isabel Cristina Rodrigues, p. 41-59. O Norte do Paraná na Visão dos Ingleses, de José Miguel Arias Neto, p. 3-45.
b) Apresentação de fotografias de achados arqueológicos da Fazenda Santa
Dalmácia, encontradas no Museu Histórico de Cambé.
Procedimento 2: Elaborar um questionário para análise da coletânea de
textos/fontes para a revisão da ideia de vazio demográfico e valorização da figura do
pioneiro.
Procedimento 3: Realização de debates sobre o material estudado e elaboração de
um texto em forma de síntese contendo apontamentos sobre a discussão e
sistematização de argumentos referentes à revisão do mito do vazio demográfico no
norte do Paraná.
ETAPA 3 – ATIVIDADE DE CAMPO PARA OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE
ELEMENTOS HISTÓRICOS SOBRE O MITO DO VAZIO DEMOGRÁFICO
Objetivo: Desenvolver um roteiro didático-metodológico de atividades de campo com
os alunos a fim de se analisar registros de memória ou ausência dela sobre os
ocupantes da região do norte do Paraná.
Procedimento 1: Estabelecer um roteiro dos locais de visitação: Museus históricos
de Cambé e Londrina, Parque Histórico Municipal Danziger Hof, em Cambé, totens
dos pioneiros da Concha Acústica de Londrina, murais do 25º aniversário de
Londrina (na fachada da secretaria Municipal da Cultura em Londrina) e do 50º
aniversário de Londrina (no campus da UEL, em frente à biblioteca central), sítio
arqueológico Fazenda Santa Dalmácia.
Procedimento 2: Elaborar um roteiro de itens a serem observados: ênfase na
manutenção da figura do herói e privilégio da história das minorias e dos
vencedores, exclusão da memória das ,assas (índios, posseiros, grileiros,
caboclos...), imagens exploradas nestes espaços de memória, gravar em vídeo
depoimentos dos alunos sobre as impressões acerca do que observaram nos locais
de visitação.
Procedimento 3: Exposição e análise dos recursos coletados pela observação da
atividade de campo: fotos, imagens, depoimentos dos estudantes e outros.
REFERÊNCIAS
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