217

FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

  • Upload
    dothu

  • View
    229

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas
Page 2: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas
Page 3: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

FICHA TÉCNICA

ARKEOS – perspectivas em diálogo, nº 16

Propriedade: CEIPHAR – Centro Europeu de Investigaçãoda Pré-História do Alto Ribatejo

Direcção: a Direcção do CEIPHAR

Coordenação deste volume:Ana R. Cruz e L. Oosterbeek© 2005, CEIPHAR e autores

Composição: CEIPHAR

Concepção gráficada colecção ARKEOS:Cristina Lamego e Susana Carneiro

Fotorreprodução, fotomontagem,CANDEIAS ARTES GRÁFICASimpressão e acabamento:Rua Conselheiro Lobato, 179

4705-089 BRAGA

Conselho de Leitores (referees):Abdulaye Camara (Senegal)Carlo Peretto (Italy)Fábio Vergara Cerqueira (Brazil)Luís Raposo (Portugal)Marcel Otte (Belgium)Maria de Jesus Sanches (Portugal)Maurizio Quagliuolo (Italy)Nuno Bicho (Portugal)Pablo Arias (Spain)Rustam Suleymanov (Uzbekistan)Saúl Milder (Brazil)Susana Oliveira Jorge (Portugal)Vítor Oliveira Jorge (Portugal)

Tiragem: 500 exemplares

Depósito legal: 108 463 / 97

ISSN: 0873-593X

Tomar, Janeiro de 2006

ARKEOS é uma série monográfica, editada pelo Centro Europeude Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, que visa adivulgação de trabalhos de investigação em curso ou finalizados,em Pré-História, Arqueologia e Gestão do Património.

Solicitamos permutaOn prie l’échangeExchange wantedTauschverkehr erwunschtSollicitiamo scambio

Contactar: CEIPHARCentro de Pré-História do Instituto Politécnico de TomarEstrada da Serra, 2300 TOMAR, Portugal

Page 4: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

ARTRISK – ARTSIGNS IResearch, Rescue and Management of

Prehistoric and Rock Art SitesInvestigação, Salvaguarda e Gestão de Sítios

Pré-históricos e de Arte Rupestre

Textos de:

C H R I S S C A R R EC I D Á L I A D E L G A D O

D O R E L P A R A S C H I VF. G O B

F. P E T I TG E O R G E D I M I T R I A D I S

H A R U F S A L M E N E S P I N D O L AJ . - P. B R A V A R D

L U I Z O O S T E R B E E KM A T I L D E G O N Z A L E Z M E N D E Z

M I H A E L A I A C O BR O S S A N O L O P E S B A S T O S

R O U H O L L A H A M A N I M E H RV Í T O R O L I V E I R A J O R G E

CEIPHAR

Edição apoiada pela Comissão EuropeiaPrograma Cultura 2000 – Projecto ArtSigns

Tomar2006

Page 5: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

4

OS AUTORES

Chris ScarreDep. of Archaeology, University of Durham, South Road, Durham DH13LE, UK [email protected]

Cidália DelgadoCentro de Interpretação de Arqueologia do Alto RibatejoLg. do Chafariz, P- 2260 VILA NOVA DA BARQUINHA, [email protected]

Dorel ParaschivInstitutul de Cercetari Eco-Muzealestr. 14 Noiembrie, nr. 5, cod postal: 820009, Tulcea, [email protected]

F. GobUniversité de Liège, Géomorphologie fluviatile et hydrographieAllée du 6 août, Sart Tilman, 4000 Liège, [email protected]

F. PetitUniversité de Liège, Géomorphologie fluviatile et hydrographieAllée du 6 août, Sart Tilman, 4000 Liège, Belgique

George DimitriadisHellenic Rock Art Centre (HERAC)Philippi, GR 640 03 Krinides, [email protected]

Haruf Salmen EspindolaNúcleo de História Regional – NHRUniversidade Vale do Rio Doce – [email protected]

J.-P. BravardUniversité Lumière, UMR 560069676 Bron Cedex, France

Page 6: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

5

Luiz OosterbeekInstituto Politécnico de Tomar2300 TOMAR, [email protected]

Matilde González MéndezArqueóloga. Especialista en gestión y puesta en valor del patrimonio.Oleiros, A Coruña, Españ[email protected]

Mihaela IacobInstitutul de Cercetari Eco-Muzealestr. 14 Noiembrie, nr. 5, cod postal: 820009, Tulcea, [email protected]

Rossano Lopes BastosArqueólogo do Iphan/ConsultorRua Conselheiro Mafra,141 2º andarCentro cep; 88 010 100, Florianópolis, Santa Catarina – [email protected]

Rouhollah AmanimehrPiso 8 – Nº 12 – 13th eastern alley – Ajudanieh – Aghdasieh1956817111 – Tehran – IranAvenida de BellaVista – Calle Torres Farfan – Nº 4 – Bajo B41014 – Sevilla – Españ[email protected]

Vítor Oliveira JorgeDCTP – FLUP, Universidade do PortoVia Panorâmica, s/n – 4150-564 [email protected]

Page 7: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

6

Page 8: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

7

ÍNDICE

ArtRisk e ArtSigns – contributos para a investigação. . . . . . . . . . . . . . . 9

Consolidation, reconstruction and the interpretation of megalithicmonuments, por Chris Scarre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Assessing natural and human hazards on Greek rock art,por George Dimitriadis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

L’impact des facteurs naturels sur les sites archéologiquesdu Nord de la Dobroudja, por Dorel Paraschiv e Mihaela Iacob. . . . . . 63

Incêndios 2003: estratégias e resultados, por Cidália Delgado,Luiz Oosterbeek e Ana Cruz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Bam Citadel (ARG-E-BAM) and Experiences of Earthquake,por Rouhollah Amanimehr. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

Arqueologia Pública e Gestão do Patrimônio CulturalArqueológico Brasileiro, por Rossano Lopes Bastos. . . . . . . . . . . . . . . . 111

La gestión del patrimonio arqueológico en España.De la realidad a la calidad, por Matilde González Méndez. . . . . . . . . . 127

La lichénométrie, por F. Gob, F. Petit e J.-P. Bravard. . . . . . . . . . . . . . . 143

Populações Nativas do Rio Doce, por Haruf Salmen Espindola. . . . . . . 153

Desigualdade social e agro-pastoralismo. Uma perspectivaAtlântica da alienação social, por Luiz Oosterbeek. . . . . . . . . . . . . . . . . 171

Quatro décadas depois. Alguns percursos, encruzilhadas, perspectivase contributos no âmbito da arqueologia portuguesa – breve exercíciode auto-reflexão retrospectiva, por Vítor Oliveira Jorge. . . . . . . . . . . . . 181

XV world congress…. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219

Page 9: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

8

Page 10: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

9

ARTRISK E ARTSIGNS– CONTRIBUTOS PARA AINVESTIGAÇÃO

L U I Z O O S T E R B E E KA N A C R U Z

Entre 2005 e 2006, a Comissão Europeia, através do programaCultura 2000, apoiou dois projectos no domínio da arqueologia e da arterupestre, coordenados pelo Museu de Arte Pré-Histórica de Mação.

O primeiro desses projectos, ArtRisk, visava compulsar estratégiasde monitorização e controle de riscos naturais que afectam o patrimóniorupestre e arqueológico, em especial em contextos relacionados comcatástrofes naturais. O projecto nasceu da intervenção que o CEIPHARe diversas entidades que integram o Parque Arqueológico e Ambientaldo Médio Tejo tiveram de desenvolver, em 2003, face à conjugação dosintensos incêndios, que devastaram um terço da região, com a completaparalisia dos organismos estatais, cuja impotência face a esse cenário setornou clara. O projecto envolveu um amplo partenariado, em que seseleccionaram regiões e temáticas, com destaque para os incêndios(Portugal), as inundações (Espanha), os sismos (Itália).

No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, quearticula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas decomunicação sobre a arte rupestre, enquanto objecto estético e comuni-cacional.

Os dois projectos, que no essencial estruturam o presente volume,correspondem a um programa único, de investigação, salvaguarda egestão integrada de sítios pré-históricos e de arte rupestre, decorrente da

Page 11: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

10

perspectiva, perfilhada pelo CEIPHAR, de que a investigação em pré--história tem uma dimensão de responsabilidade social, que não lhepermite alhear-se das dimensões de preservação, acessibilidade e usu-fruto publico dos bens culturais. Se a dimensão da salvaguarda e daintegração social são mais facilmente identificáveis, nem sempre sereconhece a relevância de projectos desta natureza no estrito quadro dainvestigação. No entanto, em ambos projectos, o envolvimento de ou-tros especialistas, não arqueólogos de formação, na construção do “sa-ber arqueológico” (do cadastro de sítios à releitura da arte rupestre),constitui, no nosso entender, decorrência normal de uma abordagemtransdisciplinar, que reconhece a necessidade de abordagens cruzadasno processo de construção, ou objectivação, da pré-história.

O volume 16 da série ARKEOS é publicado, assim, no quadro doprojecto ArtSigns, exprimindo a sua dinâmica. E vê a luz num contextode crescente preocupação, em Portugal e no contexto europeu comunitá-rio, face ao divórcio entre as vertentes da investigação e conservação, porum lado, e de valorização e usufruto social, por outro. Tal divórcio, maugrado o pano de fundo da legislação ambiental que impõe mínimos regis-tos do que se vai destruindo, tem conduzido a uma incapacidade de cres-cimento qualitativo na capacidade operacional do País em áreas críticasanteriormente identificadas e há muito destacadas (por exemplo a arqueo-logia rupestre, a arqueologia sub-aquática ou os estudos prévios deimpacte), face a um desinvestimento crescente do Estado na esfera cul-tural, e pese embora os progressos quantitativos registados (designadamenteo assinalável aumento de profissionais em exercício). Uma realidade quenão é apenas nacional, e que se verifica no espaço Europeu e tenderá aagravar-se no próximo ciclo orçamental da União Europeia.

Acreditamos que só no plano da construção de redes supra-nacio-nais sólidas, em que a componente de investigação se articula com aspreocupações globais de gestão patrimonial, se poderá combater asperigosas tendências actuais. Neste domínio, a atenção sobre experiên-cias bem sucedidas noutras latitudes, como no Brasil, poderá ajudar àreflexão endógena no espaço europeu.

Page 12: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

11

O congresso mundial da U.I.S.P.P., em Setembro de 2006, consti-tui neste sentido uma oportunidade estratégica para a arqueologia pré--histórica portuguesa e europeia, que o CEIPHAR apoia e que, espera-mos, poderá contribuir para o reforço das mencionadas redes.

Os seis primeiros capítulos do presente volume reflectem sobretemáticas de interpretação de contextos pré-históricos na sua relação comprocessos naturais. Chris Scarre sublinha a relevância da conservação ereconstrução de monumentos megalíticos para a sua interpretação contextual.George Dimitriadis apresenta condicionantes naturais e antrópicas da arterupestre na Grécia, seguindo uma abordagem que converge com as preo-cupações dos dois capítulos seguintes, sobre as regiões da Dobroudja (porDorel Paraschiv e Mihaela Iacob) e do Médio Tejo (por Cidália Delgado,Luiz Oosterbeek e Ana Cruz). O capítulo sobre o desastre de Bam, deRouhollah Amanimehr, é particularmente claro no que respeita à estreitaintegração entre as questões patrimoniais e da sociedade em geral, numcontexto de catástrofe. O capítulo sobre a gestão do património em Espanha,de Matilde González Mendez, completa esta série de reflexões, que emcomum evidenciam como a gestão de processos de conservação (pressio-nados por agentes naturais ou antrópicos) condicionam não apenas a fruiçãomas também a compreensão dos contextos.

O presente volume inclui ainda alguns artigos que, no contexto geralda temática deste volume, se debruçam sobre aspectos particulares. A.Gob et al. apresentam um método específico, a liquenometria, cuja aplica-bilidade em contextos arqueológicos, e designadamente rupestres, em Por-tugal, deverá ser considerada. Haruf S. Espindola e L. Oosterbeek apre-sentam temáticas de abordagem histórico-social. Finalmente, Vítor Oli-veira Jorge oferece um exercício de auto-biografia científica, cujo interes-se para a compreensão da história da arqueologia portuguea é inques-tionável, e cujo exemplo esperamos que seja seguido por outros colegas.

A investigação, a salvaguarda e a gestão global dos vestígios dopassado são, de facto, indissociáveis. É para a reflexão sobre essa dinâ-mica que o presente volume visa contribuir, assumindo-se, como sem-pre nesta série, como um “relatório de progresso” e um convite à crítica.

Page 13: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

13

CONSOLIDATION,RECONSTRUCTION ANDTHE INTERPRETATIONOF MEGALITHIC MONUMENTS

C H R I S S C A R R E

Megalithic monuments are visible and enduring marks upon thelandscape. From this it follows that the archaeologist who excavatesone cannot simply close the project by backfilling the trenches andreturning the site to arable or pasture: the preservation and consolida-tion of the monument itself must be addressed. This obligation raisesmajor ethical and practical issues, above all as to what form the preser-vation should take, and how far archaeologists or others are justified inintervening and modifying the extant remains. Then there is the furtherissue of visitor access. It is generally recognised that archaeologistshave a responsibility to convey the results of their researches to thewider audience. It is, after all, on behalf of the public that most of theirwork is undertaken, and much of it is funded by national or local gover-nment institutions. For many kinds of site, archaeologists may dischargetheir public obligation by explaining (in print or in person) the impor-tance and significance of the work that they have done. Where a visibleand enduring monument is concerned, however, the responsibility ex-tends much further, and includes arrangements for public presentationand visitor access.

Presenting a site for the public might sometimes involve no morethan its consolidation: making it safe for visitors, and ensuring at thesame time that it is capable of withstanding the attention of adults,

Page 14: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

14

adolescents and young children. Megalithic monuments that incorporatecarved or painted stones are especially vulnerable to the degradationthat is often the inevitable consequence of allowing public access, andsuch decorated stones are sometimes removed to a museum, leavingperhaps a replica in the place of the original. Yet frequently the desireto accommodate visitor access goes much further than mere consolida-tion, and involves partial (or more radical) reconstruction of the monu-ment. In this process the megalithic monument becomes an educationaldevice and an advertisement for archaeology as a subject. The presen-tation of the structures becomes a way of engaging the interest of visi-tors by making them aware of how these monuments would have lookedwhen first they were built. This objective is frequently combined withthe demands of preservation, since preservation can sometimes best beachieved by rebuilding a monument, in particular (in the case of mega-lithic tombs) by reconstructing the covering mound or cairn.

The aim is a very laudable one, but the process itself is fraughtwith difficulty. In the first place, to what degree is it ethically correctto reconstruct prehistoric monuments? And secondly, in those instanceswhere reconstruction is decided upon, to what extent can we be surehow a monument did in fact originally appear?

Establishing the original appearance of a prehistoric structure be-comes particularly problematic in the case of the mounds that coveredNeolithic chambered tombs. Chambered tombs today frequently takethe form of bare megalithic skeletons, long since robbed of the moundsor cairns that originally covered them. Where such mounds survive,they are inevitably the most prominent feature, all the more so since thechambers are enclosed and concealed by them. In the majority of cases,however, the covering mounds have been lost, through a mixture ofnatural erosion and the robbing of material to build field walls or houses,or to repair roads. The romanticised image of a megalithic tomb is ofthe chamber itself standing bare and isolated. In the 19th century, therewas fierce debate as to whether such megalithic structures had everbeen covered (Fergusson 1872; Lukis 1864). The striking appearance of

Page 15: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

15

the typical megalithic chamber suggested to some early writers thatthese structures must have been meant to be visible, not hidden awaywithin a cairn. Why else, it was argued, would the builders have chosento employ such massive and impressive slabs of stone? Others arguedthat the isolated megalithic chamber is merely the inner core of amonument which has in effect largely vanished with the loss of itscovering mound. It is the latter view which prevails today, supported bythe growing emphasis in 20th century excavations on the structure ofthese cairns or mounds. Today, it has become standard practice to de-vote considerable time and effort to investigating the mounds, wherethey survive, and as a result we know much more about them thanformerly we did; but is that sufficient to enable us to reconstruct themwith accuracy and confidence?

PENTRE IFAN

The problem can be highlighted by considering one particular typeof megalithic tomb where (despite the prevailing orthodoxy) the natureof the covering mound or cairn is still disputed: the portal dolmens ofsouthwest Britain. The famous Pentre Ifan overlooking Cardigan Bay inPembrokeshire is an excellent example of this type. The surviving struc-ture consists of a rectangular megalithic chamber formed of a massivecapstone resting on three uprights, with a further slab set verticallybetween the twin pillars of the ‘portal’ and remains of a curving façadeof orthostats to either side (Fig. 2). The romantic setting and the strikingappearance of Pentre Ifan have long attracted the attention of visitors.It was the subject of one of the earliest surviving descriptions of aWelsh megalithic monument in George Owen’s “Description ofPenbrookshire in Generall” of 1603. A famous lithograph of 1865 showsmounted horsemen sheltering beneath the great capstone.

The impressive character and appearance of the monument ledsome 19th century antiquaries to argue that Pentre Ifan could never have

Page 16: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

16

been covered by a cairn. A key proponent of that view was JamesFergusson, who in 1872 maintained that “men do not raise such massesand poise them on their points for the sake of hiding them again… theysought to give dignity and expression by using the largest blocks theycould transport or raise – and they were right; for, in spite of theirrudeness, they impress us now; but had they buried them in mounds,they neither would have impressed us nor their contemporaries”(Fergusson 1872, 169). Fergusson also observed that the moorland set-ting of many of these monuments provided further argument against thepresence of a cairn; the disappearance of the cairn could not be ac-counted for in these locations by the destructive effects of agriculturalencroachment.

Taking the opposite side in this debate was Longueville Jones,who in the brief account that accompanied the 1865 lithograph of PentreIfan noted that some trace of the original cairn might still survive:“Although the covering tumulus has disappeared, and though from theheight of the cap-stone above the soil it may be supposed that the veryfoundations are laid bare, yet it might lead to the discovery of remains,if the soil all around were carefully proved and examined” (LonguevilleJones 1865, 285). This view was supported by E.L. Barnwell, who inseveral articles argued that all the megalithic burial chambers of southWales, including Pentre Ifan, had originally been enclosed within moundsor cairns (Barnwell 1872, 1874, 1884). The issue had, however, to waituntil the 1930s for further clarification. In 1936, Grimes noted thattraces of the south-western tip of a cairn were discernable at PentreIfan, forming a projecting horn 6 metres (20 feet) long though nowheremore than 15 cms (6 inches) high (Grimes 1948, 5). His excavations of1936-37 revealed further patches of cairn material behind the chamber,notably on the western side, suggesting that it had an overall length of39m and was fronted by a deep semicircular forecourt (Grimes 1948,16). The edge of this cairn (including the horns) had been marked outby a series of small upright stones, represented mainly by their emptysockets, though these extended for only 17 metres along the eastern and

Page 17: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

17

western sides of the cairn and did not appear to enclose the whole of thestructure (Grimes 1948, 15).

At the end of his excavations Grimes wrote to the Ministry ofWorks proposing that the cairn of Pentre Ifan be ‘partly restored’: “Alow mound could mark the actual limit [of the cairn], with a steeper risea few feet from the capstone” (quoted in Turner 1992, 107). The replyfrom the Inspector of Ancient Monuments for Wales, B.H.St.J. O’Neil,was cautious: “whether or not I should like to replace any of the moundI have not yet decided. We know that there was one, of course, but Ithink that we should also remember that Pentre Ifan is the most impres-sive of its kind in Wales and one of the finest in Britain. Are we thenjustified in the cause of pure science in detracting from its outwardimpressiveness?” (quoted in Turner 1992, 108).

This brief exchange highlights the problem of authenticity in re-construction: should one rebuild the structures that excavation brings tolight, either to consolidate the remains or to aid public understanding ofa monument’s original form? What, indeed, was the original form of thePentre Ifan cairn? On the evidence of Grimes’ excavations it may beaccepted that there had once been such a structure. What is far lesscertain is that it could ever have entirely covered the megalithic cham-ber. One possibility, illustrated in a published reconstruction, is that thecairn rose only to the height of the base of the capstone, leaving visiblethe capstone itself (Fig. 2). An alternative interpretation is that the ‘cairn’was simply a low platform around the foot of the megalithic chamber(Kinnes 1975, 25; Cummings & Whittle 2004, 74). This proposal isbased on the observation that portal dolmens never show remains of asubstantial cairn, and that the absence of a substantial cairn cannot beexplained away as the result of stone-robbing over the centuries. Thisis essentially the same argument as that put forward by Fergusson in1872. If the cairn did not cover the chamber, then the builders musthave meant the megalithic chamber, and in particular the massive cap-stone, to be visible. Only if the capstone had been exposed could therecent suggestion be seriously entertained, that the shape and slope of

Page 18: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

18

the Pentre Ifan capstone was intended to echo the profile of Carn Ingli,a prominent mountain some 4 kms to the west (Tilley 1994, 105).Whether or not we accept such a theory, it would only work if thecapstone had been visible.

The ‘problem’ of Pentre Ifan and the portal dolmens of south-westBritain exists only on paper; there is no current proposal to rebuildthese cairns, and so the debate over the form that they took can be leftto scholarly conferences and publications. The case becomes less straight-forward, however, where such a monument is in danger of decay orcollapse. That was what Grimes believed of Pentre Ifan. His argumentthat the cairn should be rebuilt arose from his concern that the uprightssupporting the massive capstone were unstable and required consolida-tion if the structure were to survive. In the event, such a drastic remedydid not prove necessary, but frequently it is the need to consolidate andpreserve that drives the agenda. It leads to reconstruction projects whichare undertaken with the best intentions, but which require decisionsabout the original appearance of mounds and chambers that take us farbeyond the evidence of the surviving remains.

Two examples from western France illustrate the kind of dilemmasthat can arise when seeking to find a compromise between, on the onehand, the needs of preservation and public presentation, and on theother, the obligation to remain as faithful as possible to the survivingremains.

BOUGON

The megalithic cemetery of Bougon is a cluster of five Neolithicburial mounds located some 35 kms southwest of Poitiers in westernFrance. These mounds were large structures, one of them 80m in length,another of them 60m in diameter, and not surprisingly they attracted theattention of local 19th century antiquarians. A series of excavations werecarried out in the 1840s, and the site was subsequently purchased by the

Page 19: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

19

département of Deux-Sèvres in a number of stages between 1874 and1879 (Mohen & Scarre 2002, 12). The aim of the purchase was both tosecure the preservation of the monuments and to open them to visitors,and a custodian was appointed at the very outset. Measures were alsotaken to consolidate the structures – and especially the entrances to theburial chambers – in order to make them safe for visitors. This workwas resumed in the 1970s when new excavations were begun by Jean-Pierre Mohen (1972-1986); these latest excavations were the prelude toa more extensive phase of consolidation which included substantialelements of reconstruction.

Tumulus F provides a good example of the kind of work that wasundertaken (Mohen & Scarre 2002, 225-231). Visitors in the early 19thcentury remarked the exposed capstone that was visible at the northernend of the mound (Chamber F2) and in 1840 three local antiquariansundertook excavations beneath one edge of the slab. They uncoveredthree of the orthostats of the chamber beneath, and recovered a smallquantity of archaeological material. The following year (1841) the locallandowner decided he would search for the “treasure” within the cham-ber himself, but in digging around the bases of the orthostats he causedthe massive 32-tonne capstone to collapse. There it remained through-out the rest of the 19th century and into the 20th century. One of thefirst objectives of the consolidation work of the 1970s was to restoreChamber F2, lifting off the capstone, straightening the orthostats, pro-viding new ones for those that were irreparably crushed, and finallyreplacing the capstone and building up the whole of this end of themound, to recreate what was thought to have been its original appear-ance (Fig. 3). Thus a large part of the present structure, including threewhole orthostats on the northern side of the chamber interior, is a 20thcentury rebuild.

The excavations of the 1970s also explored the long mound stretch-ing southwards behind chamber F2, and revealed the presence of aseries of longitudinal internal walls (Mohen & Scarre 2002, 32-34).These were eventually reconstructed to give a stepped profile to the

Page 20: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

20

mound, although there is no conclusive evidence to demonstrate that theinternal walls were originally intended to be visible. The stepped inter-pretation stems primarily from the excavations conducted by Pierre-Roland Giot at Barnenez and Ile Guennoc in the 1950s and 1960s(L’Helgouach 1965; Giot 1987). When Giot began work at Barnenez hewas struck by the fact that the inner walls were visible high up thecairn, standing to a greater height than the outer kerb of the monument.As he himself explains, “Such structural features had hitherto beenconsidered part of the internal arrangements hidden within the cairns,evidence of phases and techniques of construction, and playing the roleof retaining or supporting walls.” The visibility of the inner walls atBarnenez led him instead to propose that it had been a stepped struc-ture, and thus was it reconstructed at the end of his excavations (Giot1987, 31-32). The model that Giot proposed for Barnenez has sincebeen adopted at a number of other sites, and was the inspiration behindthe stepped reconstruction of Tumulus F at Bougon.

The excavation of Tumulus F not only revealed the internal struc-tures of the cairn but also led to discovery of a small circular chamberof dry-stone construction at its southern terminal. This chamber (Cham-ber F0) was badly degraded and had no trace of a capstone. It wasconcluded that it had been covered by a corbelled vault. Corbelled vaultsare a common feature of Neolithic chambered tombs in Normandy,Brittany and Poitou-Charentes, and there is nothing inherently improb-able in that conclusion. Once the excavation of Chamber F0 was com-pleted, reconstruction of the monument was undertaken, and a coveringcairn was added. The published excavation diagrams show that thechamber walls were preserved in their original state to a height of onlyaround 1 metre, which means that the greater part of the structure vis-ible today dates from the 20th century AD rather than the 5th millenniumBC (Fig. 4). Yet although much of Tumulus F is now effectively mod-ern, the work undertaken at this and other of the Bougon mounds servesto highlight the substantial dimensions and impressive appearance ofthese Neolithic monuments. Equipped with information boards and an

Page 21: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

21

elaborate site museum, the Bougon cemetery has become an effectiveeducational device.

PRISSÉ-LA-CHARRIÈRE

My second French example is a site that is still under excavation:the Neolithic long mound of Prissé-la-Charrière, situated to the west ofBougon but in the same region of Poitou-Charentes. It is one of anumber of large Neolithic long mounds south of the Loire which arecomparable in their dimensions to the Carnac mounds of southern Brit-tany. Prissé-la-Charrière was specifically selected for a major researchexcavation on the grounds that it had survived substantially intact, thoughit had not escaped the general processes of decay and had at one stage(probably in the Gallo-Roman period) been quarried for stone to feed alimekiln.

In its final form the long mound of Prissé-la-Charrière measured100m in length and almost 4m high. It has been dated to the late 5th

millennium BC (Laporte et al. 2002; Scarre et al. 2003). The internalstructure of the mound consists principally of dry-stone walling withearth and rubble infill, arranged in a pattern of constructional cells.There are also remains of external walls that belong to various phasesof the monument, and three collective tombs within it that are builtpartly or wholly of megalithic slabs.

The same dilemmas of preservation and presentation apply here asat Bougon or Pentre Ifan. As soon as excavations began it became clearthat they themselves were provoking decay. Over the period of 6000years since its abandonment, the long mound of Prissé-la-Charrière hadachieved a high degree of stability. It was covered by a protective layerof surface rubble capped by earth and trees. Once this protective layerwas removed in order to explore the in situ structures beneath, a newcycle of decay was initiated. One long-term solution to arrest this de-terioration would be to bury the monument once again and cover it with

Page 22: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

22

turf. That, however, would mean concealing the structures that havebeen exposed. Although those structures could eventually be re-exca-vated, they would for the moment be accessible only through the recordsand publications of the excavation. In the event, another solution waschosen in an effort to reconcile the conflicting demands of preventingfurther immediate decay yet allowing the excavated structures to remainvisible: the upper courses of some of the walls were rebuilt, so that newstonework covers and protects the old. The division between originaland rebuilt stonework is marked by a layer of synthetic membrane.

This provides only a temporary solution to the problem of consoli-dating the long mound of Prissé-la-Charrière. If one moves on to con-sider the options for a permanent solution a number of additional issuesarise. First and foremost we must ask whether indeed there is any clearlydefined Neolithic ‘original’ to which we might seek to return. One ofthe most significant results of the excavations at Prissé-la-Charrière hasbeen the detailed demonstration of the multi-phase nature of the struc-ture. These results show that the monument began as a modest dry-stonerotunda at the western end, though even that had been remodelled atleast once (Scarre et al. 2003). The rotunda was later enclosed withina ‘short’ long mound encircled by a continuous rock-cut ditch. That inturn was buried beneath one end of the eventual 100-metre long mound.Excavations at the western end have removed most of the later struc-tures to reveal the outer wall and ditch of the ‘short’ long mound, andthe rotunda. These are the structures that have been consolidated. Thusthe visitor to Prissé-la-Charrière today sees a composite monument whichis essentially a selective amalgam of earlier elements and later ele-ments. Among the later elements is a Gallo-Roman limekiln, which hasbeen left in place. What to leave and what to remove, what to consoli-date and what to cover up, are choices that must inevitably be madewhen deciding to consolidate and preserve an excavated structure.

Page 23: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

23

CONSOLIDATION, RECONSTRUCTIONAND RADICAL RECONSTRUCTION

The examples of Bougon and Prissé-la-Charrière exemplify differ-ent approaches to the conservation of excavated megalithic monuments.Excavation tends both to destabilise the existing structures and to pro-vide fuller evidence of the original shape and size of the covering mound.Faced with the question of what to preserve and how best to do so, theresponses of archaeologists, heritage managers and engineers range fromsimple stabilisation to wholesale reconstruction. Megalithic monumentsthroughout western Europe illustrate these differing degrees of interven-tion in the way they have been preserved and presented. In some cases,the work may have been subtle and sensitive, leaving few obvious tracesfor the visitor but presenting the monument as a consolidated ruin. Atthe other extreme are wholesale reconstructions which seek to presentthe monument just as it originally appeared. To explore these alterna-tives in more detail, three well-known examples will be taken: the cham-bered cairns of Belas Knap in southern Britain, La Table des Marchandin Brittany and Newgrange in Ireland. In all three cases, the aims wereboth to stabilise the monument and to allow visitor access. Where theydiffer is in the extent to which they involved the rebuilding of themonument. These differing degrees of intervention may be labelled‘consolidation’, ‘reconstruction’, and ‘radical reconstruction’, though inthe example chosen here, even the ‘consolidation’ in fact involved asignificant element of reconstruction.

1. Consolidation: Belas Knap

Belas Knap in southwest England is a trapezoidal Neolithic longmound of ‘Cotswold-Severn’ type. Monuments of this kind were builtwithin the period 3800-3400 BC and may be divided into two principalvariants according to the arrangement of the burial chambers: those

Page 24: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

24

with an axial chamber opening from the middle of the broader end; andthose with lateral chambers placed usually symmetrically along the longsides of the mound (Darvill 2004). Belas Knap is an example of thelateral chambered type, but has a ‘false door’ arrangement between thehorns at the wider end.

The Belas Knap that the visitor encounters today is a neat grass-covered dome edged by tidy dry-stone walling (Fig. 5). The walling ofthe mound is in fact very similar to the field wall that was built aroundthe site in the 1860s. The setting is emphatically rural, not to say bu-colic, with woodland and ploughed fields, and the nearest road over halfa mile away. The visitor might very easily get the impression that BelasKnap is effectively an intact monument, and that this is how it mustoriginally have looked in the 4th millennium BC.

In reality, the Belas Knap one sees today is essentially a creationof the early 1930s, when extensive consolidation work was undertaken(Berry 1929, 1930). Excavations in the 1860s had left a massive gashacross the centre of the mound, between the two principal chambers,and another at right angles extending up to the false portal. The scaleof the damage is shown both in 19th century lithographs and in early 20th

century photographs. To repair this, and to stabilise the mound, in theearly 1930s the government Office of Works back-filled the earlytrenches. They also consolidated the chambers, replacing the megalithicuprights in their supposed original positions. The passages leading tothem were rebuilt in dry-stonework backed by cement, and the cham-bers themselves were provided with concrete roofs.

This work made it possible to give the restored mound the regulargrass-covered form it has today. But that is entirely the result of the20th century restoration, and bears little relationship to its originalNeolithic appearance. We know as much from the record of the exca-vations that were undertaken in 1929 and 1930, immediately before theconsolidation work was begun. Resting against the outer face of thedry-stone wall around the mound was a deposit of flat stone slabs, eachof them around 2-3cms thick. At first, the excavators thought that these

Page 25: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

25

had been placed against the outer wall as a kind of revetment, but closerobservation led to an entirely different conclusion. The excavators no-ticed that the slabs had a bevelled and water-worn edge on one or two,or occasionally on three sides; and furthermore that many of them hada white watermark about 3cms from the actual edge, as if they had beenlaid in overlapping fashion one upon the other. It became obvious thatthese had been the roofing or covering of the mound (Berry 1930, 129-131). The precise morphology of the roof remains somewhat conjec-tural, though a ridged form, resembling that of a house, has been pro-posed for Cotswold-Severn cairns of this type (Corcoran 1969, 78).Such a roof would have given Belas Knap a similar appearance to thatrecently reconstructed on paper for the neighbouring Cotswold-Severnmound of Hazleton North (Saville 1990; Fig. 5).

The visitor-experience of Belas Knap with a stone slab roof wouldbe entirely different from that of the present turf-covered dome. It wouldblend less readily with the surrounding countryside, and appear morebrutal and less venerable. Yet that is most likely how it originally looked.To assert this is not to criticise what was done. The turf covering estab-lished in the 1930s was clearly intended to consolidate the mound ratherthan to reconstruct its original form, and in that respect it may be judgedto have been successful. The outcome is nonetheless misleading forvisitors who are unaware of the evidence provided by the excavations.

2. Reconstruction: La Table des Marchand

Belas Knap is an example of the ‘first degree’, where the primaryaim is consolidation. The ‘second degree’ goes beyond this to engage ina much more overt process of reconstruction. Here the passage grave ofLa Table des Marchand at Locmariaquer in southern Brittany provides agood example. The contrast between the condition of the monument il-lustrated in early 19th century engravings and at the present day is par-ticularly striking (Fig. 6). Today the megalithic chamber is enclosed within

Page 26: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

26

a neatly-built dry-stone cairn with a gently domed summit. The early illus-trations show that by the early 19th century, little trace remained of theoriginal cairn, nor was it remarked upon in the majority of the early de-scriptions of the site (e.g. Mahé 1825; Fréminville 1834; Bathurst Deane1834). Indeed, in the first decades of the 19th century many believed thesemonuments to be altars built by the Druids and one early account, perhapswith this in mind, describes the capstones of chamber and passage as form-ing a platform (Fréminville 1834, 24). The most conspicuous feature of LaTable des Marchand was the massive chamber capstone, which had a clearbreak at one end and appeared to be precariously balanced on its threesupports. A second focus of interest was the carvings on the inner face ofthe backstone and on the underside of the capstone.

Prosper Mérimée, who had been appointed Inspecteur général desmonuments historiques in 1834, visited La Table des Marchand duringhis tour of inspection the following year. He remarked on evidencesuggesting that the passage and chamber had originally stood within anenclosure, though he did not relate this specifically to a cairn: “Autourdu dolmen, on distingue une espèce d’enceinte circulaire, assezrégulièrement tracée, de pierres entassées, s’élevant à un ou deux piedsdu sol. Ont-elles été portées là seulement pour débarrasser les champsvoisins? Ou bien sont-ce les substructions d’un mur, élevé à dessein,pour enclore le dolmen?” (Mérimée 1836 (1989), 124). Blair and Ronaldsin 1834 had noted that the chamber orthostats were partially sunken,though they too did not infer a mound (Blair & Ronalds 1836). By theend of the 19th century, however, the original character of the monumentas a megalithic tomb covered by a cairn had come to be generallyrecognised. The report of the visit by the Cambrian ArchaeologicalAssociation in 1889 describes it as “partially buried in the mound, whichmust originally have covered it entirely. The capstones and tops of thesupports are to be seen above the ground in consequence of the upperpart of the mound having been removed” (anon. 1890, 59).

The first attempt to restore La Table des Marchand was undertakenin 1883, shortly after its purchase by the French government. The restor-

Page 27: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

27

ers initially sought only to block the gaps in the chamber walls: severalof the original orthostats on the eastern side of the chamber had disap-peared, and the gap was closed by dry-stone walling. This walling col-lapsed in 1892 and was rebuilt on a slightly different line (Closmadeuc1892). No attempt was made at this stage to reconstruct the coveringmound. Half a century later, however, a bolder agenda was set in train.In 1937, under the direction of Zacharie Le Rouzic, a partial reconstruc-tion of the cairn of La Table des Marchand was undertaken along withfurther consolidation of the passage and chamber. The reconstruction ofthe cairn raised strong protests from the Société Polymathique duMorbihan, who objected that “Le caractère du monument tel que lessiècles l’avaient façonné a été altéré: une grande partie de sa valuerdocumentaire a été annihilée” (Bouix 1937). In reply, Le Rouzic explainedthat the restoration work had not been undertaken for artistic reasons butin order to ensure the “conservation du monument et de ses gravures”.He also addressed explicitly the criticism that the reconstruction workhad entirely destroyed the appearance of the tumulus. The reconstructionof the cairn, he explained, had been based on the evidence of the circleof material around the chamber. This material represented the remains ofthe cairn rather than the debris of earlier diggings, as some had main-tained. The appearance of the cairn had hence not been damaged by thereconstruction; it had been improved (Le Rouzic 1938).

It was only in 1986-1989 that systematic excavation of the cairnaround La Table des Marchand was undertaken (L’Helgouach 1994,1997). The resulting plan shows the cairn to have been a roughly cir-cular two-part structure with a central core 9m in diameter surroundedby an outer cairn on its northern, eastern and western sides. Despiteearlier depradations, the wall around the inner core was preservedthroughout the greater part of its circumference and stood in places toa height of 2 metres. The outer wall by contrast was much less carefullyconstructed, and had clearly been built up against the inner core(L’Helgouach 1995). On the basis of the distinction between outer andinner elements, the cairn has now been reconstructed, following the

Page 28: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

28

excavations, as a stepped structure, with the central dome rising abovethe outer skirt.

This latest reconstruction both protects the megalithic chamberand gives an idea of the original appearance of the monument (Fig. 6).Whether it has enhanced the visitor-experience of La Table des Marchanddepends perhaps on those visitors’ expectations. A recent survey re-vealed that some people regret the conversion of what was a romanticruin into the present neat and tidy cairn. The reconstruction of the cairnhas also masked key features of the monument that were formerly moreeasily visible, including the fact that the capstone was a fragment of alarger menhir that had been broken and dragged here for re-use. It hasalso made it impossible to see the carvings on the rear face of thebackstone of the chamber. These, first discovered in 1922, demonstratethat this stone was originally a free-standing decorated menhir since itwas decorated not only on its front, facing into the chamber, but also onits back, which would have been hidden once the enclosing cairn wasbuilt (Péquart et al. 1927, 122; Breuil et al. 1938, 19-20. It is possible,indeed, that the chamber was constructed around this pre-existing stand-ing stone (L’Helgouach 1983, 65; Le Roux 1984, 242). Thus one inevi-table consequence of the reconstruction work undertaken at La Tabledes Marchand has been to obscure the earlier phases in the developmentof the monument. The structure is reconstructed as it would have ap-peared in its final state. Yet it is unwise to be too critical, and this lossis perhaps a small price to pay for the better preservation of the cham-ber, enclosed within its new protective mound. It reminds us once again,however, that reconstruction is never a neutral process.

3. Radical reconstruction: Newgrange

My third example makes no pretence to be neutral in tone: fewwill disagree that the famous rebuilding of Newgrange in Ireland meritsthe description of ‘radical reconstruction’. The rounded grass-covered

Page 29: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

29

mound visible up to the 1960s (when excavations began) has been trans-formed into a white-fronted vertical-sided drum (O’Kelly 1982; Eriksen2004) (Fig. 7). This reconstruction has been controversial from the veryoutset. One early critic lamented how “Only a few years ago NewGrange was scientifically dug into, many of its interior and other stoneswere disturbed, and the reconstructed model, now curiously faced witha layer of ornamental pebble-dash of quartz and boulders to representsomeone’s theory of how it originally looked, lets in rain through theroof for the first time in history.” (Michell 1982, 149).

The chamber of Newgrange was first entered in modern times in1699, but despite a succession of subsequent visitors it was only in the1870s that the kerbstones around its foot were discovered. A trench wasdug to reveal them, and more systematic exploration followed in 1928when 54 of the kerbstones were exposed (O’Kelly 1982, 41). By the1950s, however, it had become clear that a major campaign of consoli-dation was needed. Visitor numbers were rising, and people were brush-ing against the decorated stones and clambering over the eroding mound.Accordingly in 1962 Michael O’Kelly was entrusted with new excava-tions designed to determine the original appearance of the mound andto be followed by consolidation and reconstruction (O’Kelly 1982, 10).The excavations discovered a layer around the foot of the mound com-posed of small angular pieces of quartz and less numerous water- orglacially rounded cobbles of granite and granodiorite. This layer wastraced along the southern side of the mound to either side of the passageentrance for a distance of 142 metres, extending 6-7 metres outwardsfrom the kerbstones. The white coloured quartz that it contained madea striking contrast with the black granite and granodiorite inclusions.O’Kelly concluded that the layer was in fact the fallen remains of anear-vertical revetment wall that had stood on top of the kerbstonesaround this edge of the mound. This conclusion led to the abandonmentof the earlier intention that “the original natural sloping face of themound be restored” (O’Kelly 1982, 72). The decision was taken insteadto follow through O’Kelly’s interpretation by reconstructing the sup-

Page 30: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

30

posed near-vertical black and white façade, backed by concrete to retainthe mound behind it in place.

Few archaeologists today would support the concept of such aradical reconstruction. Its aim goes significantly beyond the desire topreserve the site; instead, it is designed to impose a particular interpre-tation on the visitor. Furthermore, that interpretation has itself beencalled into question. Any vertical façade of this kind would have beenstructurally unsound and entirely incapable of resisting the pressure ofthe mound behind; O’Kelly himself recognised that it would have beenthe first element of Newgrange to collapse. Whether that instability initself makes the reconstruction unconvincing is perhaps open to ques-tion (Bradley 1998, 104); we must not assume that the builders of thesemonuments were intending to create enduring structures. Parallel fea-tures at other Irish sites have however been interpreted rather differ-ently. Layers of white quartz have been found outside the kerb of someof the Loughcrew passage tombs, but they are thought to have been laidas a covering surface or collar around the cairns inside the kerbstones.At Knowth, close to Newgrange, spreads of quartz and other stonesoutside the entrances to the two passage graves may have been ritualpavements (Eriksen 2004, 74). We must conclude that the Newgrangereconstruction proposed by O’Kelly is not the only one possible. It hasthe merit of reminding us that these monuments in their original con-dition did not resemble the romantic or venerable megalithic ruins orgrassy knolls that we so often see today. Yet the very audacity of theNewgrange reconstruction is itself a source of criticism. It is not therestoration of the old, but a rebuilding in a modern idiom with the helpof modern materials such as concrete.

CONCLUSION

The foregoing discussion has focused on chambered tombs, but manyof the same issues apply equally to other kinds of prehistoric monument,

Page 31: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

31

including stone circles. Stonehenge provides an obvious example. It isinsufficiently recognised how much this famous structure is in its presentform a product of 20th century restoration. In the course of that century,of the 36 sarsen uprights apparently in situ, six have been re-erected, tworemoved and replaced, and 15 straightened; while at the same time 6 ofthe 19 bluestones standing today have been removed and replaced (Lawsonin Cleal et al. 1995, 345-6). Yet even this degree of modification isrelatively modest compared with the treatment meted out to certain otherstone circles. The Balbirnie stone circle in Scotland was excavated anddismantled to make way for a road-widening scheme, and then re-erectedon an entirely new site. Not surprisingly, archaeoastronomists are horri-fied by this kind of practice. As Alexander Thom (inventor of the ‘mega-lithic yard’) put it: “To see how completely useless such a procedure is,one only has to picture what will happen when all record of the re-erection is lost and investigators take the re-erected circle as genuine.”(Ritchie 2004; Thom & Thom 1978, 176)

We need not be quite so severe as this in our appraisal of recons-tructed monuments. It could be argued, indeed, that the reconstructedBalbirnie gives a ‘safer’ and more reliable impression of the originalappearance of the monument than the radical solution followed atNewgrange; even though Balbirnie has been entirely relocated andNewgrange remains in situ. Yet this leads us to question what exactlyit is that we are seeking to achieve when we restore or reconstruct thesemonuments. The primary aim is some form of conservation: to protectthe monument for the benefit of future generations. Many would arguethat that is as far as any intervention should go. To quote one recentChief Inspector of Ancient Monuments for England: “All forms of in-tervention to delay the process of decay do, in themselves, alter themonument. It is the duty of the heritage manager to ensure that suchintervention is kept to a minimum and is well documented” (Saunders1989, quoted in Evans 2004, 415).

Alongside this plea for restraint, however, it is crucial to recognisethat much of the value of the archaeological heritage lies in its appeal

Page 32: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

32

to a wider audience. That immediately leads to two further considera-tions: visitor access and visitor interpretation. The issue of visitor ac-cess may involve both the provision of physical means of access (path-ways, stairs, lighting) and the consolidation of the monument so that itis not damaged by the regular passage of visitors. Most archaeologistswould agree that this, too, is a necessary procedure, though there maybe disagreement over the kinds of access arrangements that are put inplace. They should aim to be as elegant and discreet as possible. Whatis much more contentious is the question of visitor interpretation. Wehave seen above some examples of reconstructions with which noteveryone will be happy. The attempt to enlighten visitors all too oftenrisks misleading them; making it difficult to distinguish what is originalfrom what is restored or rebuilt; and imposing reconstructions that areeither speculative or that quickly come to be thought incorrect or un-likely.

Finally two more general issues cannot be ignored. As alreadynoted, some recent visitors to La Table des Marchand regretted thetransformation and disappearance of the romantic ruin that it once was.In tidying-up and consolidating these monuments we may be damagingthe sense of place that many people consider to be an important part ofthe message they convey. And lastly there is the issue of change. Inconsolidating these monuments, using modern materials and techniques,the aim is to freeze them in time, to prevent further decay and deterio-ration. In seeking to do this, however, we must recognize that we arenot freezing these monuments in some remote Neolithic age, but in the20th or 21st century.

ACKNOWLEDGEMENTS

I am grateful to to CADW for permission to reproduce the reconstructiondrawing of Pentre Ifan (Fig. 2); to Alan Saville for permission to reproduce thereconstruction drawing of the Hazleton North chambered cairn (Fig. 5); and tothe Commissioners of Public Works (Ireland) for use of the photograph of

Page 33: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

33

Newgrange before excavations began (Fig. 7). I wish also to thank LuizOosterbeek for his invitation to the conference at which an earlier version ofthis paper was delivered.

REFERENCES

ANON (1890). Report of the forty-fourth meeting of the Cambrian Archaeo-logical Association 1889. Archaeologia Cambrensis 7, 43-80.

BARNWELL, E. L. (1872). Notes on some South Wales cromlechs. Archaeo-logia Cambrensis 3, 81-143.

BARNWELL, E. L. (1874). South Wales cromlechs. Archaeologia Cambrensis5, 59-73.

BARNWELL, E. L. (1884). On some South Wales cromlechs. ArchaeologiaCambrensis 1, 129-144.

BATHURST DEANE, J. (1834). Remarks on certain Celtic monuments atLocmariaker, in Brittany. Archaeologia 25, 230-234.

BERRY, J. (1929). Belas Knap long barrow, Gloucestershire: report of theexcavations of 1929. Transactions of the Bristol and Gloucestershire Ar-chaeological Society 51, 273-303.

BERRY, J. (1930). Belas Knap long barrow, Gloucestershire. Second report:the excavations of 1930. Transactions of the Bristol and GloucestershireArchaeological Society 52, 123-150.

BLAIR, A. & RONALDS, F. (1836). Sketches at Carnac, Brittany, in 1834; orNotes concerning the present state of some reputed Celtic antiquities inthat and the adjoining communes. London: Richard Taylor.

BOUIX, P. (1938). L’assemblée générale de la Société d’Histoire et d’Ar-chéologie de Bretagne (15 septembre 1938). Bulletin de la SociétéPolymathique du Morbihan 77, 26-27.

BRADLEY, R. (1998). The Significance of Monuments. On the shaping of hu-man experience in Neolithic and Bronze Age Europe. London: Routledge.

BREUIL, H.; LE ROUZIC, Z. & BOYLE, M. E. (1938). La figure humainedans la decoration des allées couvertes du Morbihan. Préhistoire 6, 7-48.

CLEAL, R. M. J.; WALKER, K. E. & MONTAGUE, R. (1995). Stonehenge inits Landscape. London: English Heritage.

Page 34: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

34

CLOSMADEUC, G. DE (1892). Le dolmen dit des Marchands ou Table deCésar (Locmariaker). Découvertes récentes. Bulletin de la SociétéPolymathique du Morbihan 1892, 5-14.

CORCORAN, J. X. W. P. (1969). The Cotswold-Severn group, 2. Discussion,in Megalithic Enquiries in the West of Britain. Liverpool: Liverpool Uni-versity Press, 73-104.

CUMMINGS, V. & WHITTLE, A. (2004). Places of Special Virtue. Megalithsin the Neolithic landscapes of Wales. Oxford: Oxbow.

DARVILL, T. (2004). Long Barrows of the Cotswolds and surrounding areas.Stroud: Tempus.

ERIKSEN, P. (2004). Newgrange og den hvide mur. Kuml 2004, 45-77.

EVANS, D. M. (2004). Et in Arcadia? The problems with ruins. AntiquariesJournal 84, 411-422.

FERGUSSON, J. (1872). Rude Stone Monuments in All Countries; their agesand uses. London: John Murray.

FRÉMINVILLE, C-P. DE (1834). Antiquités de la Bretagne. Monumens duMorbihan. (2nd ed.) Brest: Lefournier.

GIOT, P-R. (1987). Barnenez, Carn, Guennoc. Rennes: Travaux du Laboratoired’Anthropologie, Préhistoire, Protohistoire et Quaternaire Armoricains.

GRIMES, W. F. (1948). Pentre-Ifan burial chamber, Pembrokeshire. Archaeo-logia Cambrensis 100, 3-23.

KINNES, I. (1975). Monumental function in British Neolithic burial practice.World Archaeology 7, 16-29.

LAPORTE, L.; JOUSSAUME, R. & SCARRE, C. (2002). Le tumulus C dePéré à Prissé-la-Charrière (79). Etat des recherches après 6 annéesd’intervention. Gallia Préhistoire 44 167-214.

LE ROUX, C-T. (1984). A propos des fouilles de Gavrinis (Morbihan): nouvellesdonnées sur l’art mégalithique armoricain. Bulletin de la SociétéPréhistorique Française 81, 240-45.

LE ROUZIC, Z. (1938). A propos de la “Table des Marchands”. Bulletin de laSociété Polymathique du Morbihan 77, 30-31.

L’HELGOUACH, J. (1983). Les idoles qu’on abat… (ou les vicissitudes desgrandes stèles de Locmariaquer). Bulletin de la Société Polymatique duMorbihan 110, 57-68.

Page 35: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

35

L’HELGOUACH, J. (1994). Locmariaquer. Paris: Gisserot.

L’HELGOUACH, J. (1995). Locmariaquer, la Table des Marchands et le Grand-Menhir (Morbihan), in Masset, C., & Soulier, P., (eds.) Allées couverteset autres monuments funéraires du Néolithique dans la France du Nord-Ouest. Paris: Errance, 177-180.

L’HELGOUACH, J. (1997). De la lumière au ténèbres, in L’Helgouach, J., LeRoux, C-T. & Lecornec. J., (eds.) Art et Symboles du Mégalithisme Européen.Actes du 2ème Colloque International sur l’Art Mégalithique, Nantes 1995.Revue Archéologique de l’Ouest, supplément n.º 8, 107-123.

LONGUEVILLE JONES, H. (1865). Pembrokeshire antiquities. Cromlechs –Newton, Manorbier, St. David’s Head, Pentre Ifan. Archaeologia Cam-brensis 11, 281-285.

LUKIS, W. C. (1864). On cromlechs. Journal of the British ArchaeologicalAssociation 1864, 228-237.

MAHÉ, J. (1825). Essai sur les Antiquités de Département du Morbihan. Vannes: Ainé.

MÉRIMÉE, P. (1836). Notes d’un Voyage dans l’Ouest de la France. Paris:Librairie du Fournier.

MICHELL, J. (1982). Megalithomania. Artists, antiquarians and archaeolo-gists at the old stone monuments. London: Thames & Hudson.

MOHEN, J-P. & SCARRE, C. (2002). Les Tumulus de Bougon (Deux-Sèvres):complexe mégalithique du Ve et IVe millénaire. Paris: Errance.

O’KELLY, M. J. (1982). Newgrange. Archaeology, art and legend. London:Thames & Hudson.

PÉQUART, M., PÉQUART, S-J. & LE ROUZIC, Z. (1927). Corpus des SignesGravés des Monuments Mégalithiques du Morbihan. Paris: Picard.

RITCHIE, J. N. G. (2004). Destructions, re-erections and re-creations, in Gibson,A., & Sheridan, A., (eds) From Sickles to Circles. Britain and Ireland atthe time of Stonehenge. Stroud: Tempus, 40-63.

SAUNDERS, A. D. (1989). Heritage management and training in England, inCleere, H., (ed.) Archaeological Heritage Management in the ModernWorld. London: Unwin Hyman, 152-163.

SAVILLE, A. (1990). Hazleton North: the excavation of a Neolithic long cairnof the Cotswold-Severn group. London: Historic Buildings and Monu-ments Commission for England.

Page 36: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

36

SCARRE, C., LAPORTE, L. & JOUSSAUME, R. (2003). Long mounds andmegalithic origins in western France: recent excavations at Prissé-la-Charrière. Proceedings of the Prehistoric Society 67, 235-251.

THOM, A. & THOM, A. S. (1978). Megalithic Remains in Britain and Brit-tany. Oxford: Clarendon Press.

TILLEY, C. (1994). A Phenomenology of Landscape. Oxford: Berg.

TURNER, R. C. (1992). Pentre Ifan burial chamber, Pembrokeshire. The storyof the first ancient monument in Wales. Transactions of the Ancient Monu-ments Society 36, 99-118.

Page 37: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

37FIG. 1. Location of sites mentioned in the text.

Page 38: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

38FIG. 2. Pentre Ifan: (above) photo of site at present day (photo: ChrisScarre); (below) reconstruction drawing (by Jane Durrant) showing the

monument with a hypothetical covering cairn reaching up to thelevel of the capstone (Cadw: Crown Copyright).

Page 39: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

39

FIG. 3. Bougon: the reconstruction of Chamber F2: plan and internal elevationsof chamber showing (black) the surviving orthostats; (broken outline) theirmissing upper portions; and (white) the replacement orthostats added during

the consolidation and reconstruction work of the 1970s(after Mohen & Scarre 2002).

Page 40: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

40FIG. 4. Bougon: the reconstruction of Chamber F0: (above) photo of the

reconstructed monument (photo: Chris Scarre); (below) plan andcross-section showing the surviving extent of the original strucutres

(after Mohen & Scarre 2002).

Page 41: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

41

FIG. 5. Belas Knap: (above) plan of the monument showing thelateral chambers and the niche with ‘false door’ at the broader eastern

end; (middle) photo of the monument at present day, followingconsolidation work undertaken during the 1930s; (below)

reconstruction drawing (by Jon Hoyle) of Hazleton North, giving animpression of the likely original appearance of Belas Knap

(by kind permission of Alan Saville).

Page 42: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

42

FIG. 6. La Table des Marchand: (above) engraving from a drawingof 1823 by J.B.J. Jorand; (below) photo of the reconstructed

cairn in 2004 (photo: Chris Scarre).

Page 43: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

43

FIG. 7. Newgrange: (above) photo of site before excavation began in 1962 (withkind permission of the Office of Public Works, Ireland); (below) the mound as

reconstructed at the close of the excavations (photo: Chris Scarre).

Page 44: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

45

ASSESSING NATURAL ANDHUMAN HAZARDS ON GREEKROCK ART

G E O R G E D I M I T R I A D I S

Abstract: In Greece rock art studies are a young discipline carried out by HERAC(Hellenic Rock Art Centre), based at Philippi. In the last years the international scientificcommunity focus it’s attention to assess natural and human hazards effects on rock art.In fact Greek rock art heritage is exposed in natural and human hazards: so, one of themain activities of the institute is the documentation, protection and promotion of therock art sites. In the present paper we focus our attention in the area of Philippi, wherea good concentration of rock surfaces are engraved. From the moment that is a preliminarystudy (there is no risk study concerning Hellenic rock art all the assumptions proposednow must be considered temporary. In the specific, as coming out, the impact of naturalhazards in the area is minimum. In the same time the human activity, intending asindustry pressing is quite inexistence because Philippi’s plain sustainable by agriculture.If any kind of pollution exists, that’s attesting from the use of chemical product in thecultivations. The real risk is probably coming out from the ignorance of rock art presentin the area (where a small number of the indigenous are shepherds and the engravedrocks are into the pastures lands) and the “gold fever” common obsession of inhabitantsfrom ancient Hellenic period is still alive (they believe that the engraved figures canindicate the place here a treasure is head. HERAC, it’s start promoting a sensibilitycampaign near the local rural society, which starts recognise rock art as a communitygood worthy to be preserved and protected. In the mean time HERAC is planning tosubmit an environmental policy project near municipality and regional authorities inconclusion of the present study.

Key-words: Environmental Policy; Greek Rock Art; Hazards.

Ground

The Hellenic rock art as coming out the last years from an accuratedocumentation by Hellenic Rock Art Centre (cf. Dimitriadis 1997; 1999a,

Page 45: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

46

b, d; 2002f; 2004m) necessity to be immediately protected and monitoredbecause frequently subject of natural and in particular way human hazardsrisks.

Indeed, until the last five year the rock art was not considering asan archaeological manifestation by the Greek archaeologists. The reasonscan be detected in the absent of a specific specialization, as most ofthem are attractive by classic archaeology. It’s comprehensive! But, inGreece long archaeological time frames aren’t well document. In fact,we have no good burial/settlement evidences regarding EBA period,because no excavations were stimulated in the past. Exception the lastwork of Γραµµε′ νος (1997)1 where the well know Neolithic site ofDemetra can be reconsidered as rethinking of the past theoretical andfield excavation reports (also cf. Παπαδο′ πουλος 2002)2.

Mythologic and Historical remarks

If it is true, that we cannot said to be profoundly known acivilization if we are not aware of its historical route including all theprobable relations, then we can assert that in the Greek history somethingis missing: the creative expression of the Greek periphery. At the marginof the Greek territory roams also the Edoni Thracians, a cluster ofwarlike tribe, who were occupying the lands that strecthing betweenStrymon and Nestos rivers and from the cape of Paggeo Mount to themountain chain of Rodopi towards North-Est.

The straight relationship with the Greeks was probably alreadyknow from the XIV sec. a.C., lending faith to the transcription thre-ke-vi/ja that in the Linear B scripture it means Thrace. Many Greek words inthe Linear B texts are also attested in the territory of Thrace. Many

1 Γραµµε′ νος Β. ∆., Νεολιθικη′ Μακεδονι′α, ΤΑΠΑ , Αθη′ να , 1997.2 Παπαδο′ πουλος Σ., Η µετα′βαση απο την Νεολιθικη′ εποχη′ στην εποχη′ του

Χαλκου′ στην Ανατολικη ′ Μακεδονι′α, ΤΑΠΑ, Αθη′ να, 2002.

Page 46: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

47

proper names and place names known in Thrace, such as Agrianes,Dyme, Nestos, river Skaios, exist in southern Greece too, has not onlylimited to introduce the figure of Dionysos into the pantheon of Olympusand the use of the Greek words from the Edoni, but it has been cristallizedin the myth and tail of

Thrace-Horsemen whose became the guardian of the border, Akritas,in Byzantine time. On the rocks that are found 2 km., to Levant, nearthe historical city of Philippi, where the destiny of Roman Empire,changed in the battle of the 42 a.C., we follow the birth and the militarylife of the Thracian Heroe-knight that in passing of the time, is mixedwith Christian and Muslim elements in a dynamic process of magical--religious transformation.

In Greek mythology Thrace was the daughter of Oceanus andParthenope, sister of Europe. She was also stepsister of Asia and Libya,from Oceanus’s union with Pompholyge. To Zeus she bore Bithy, toKronos she bore Dolongos, to Obriareos she bore Trieres and to Aresshe bore Ismaros. Thus the Bythinians, the Dolongi and the Triereswere of Thracian origin. The Thracians to were an Indo-European peopleand to were related to the Greeks. The Getic tribes, who dwelt betweenHaimos and Carpathians, linked them with the Germanic-Scandinavianpeoples. There to are frequent allusions through people and myths to theclose relations between Greeks and Thracians. Many common elementscontributed to the formation of the religion, theology and poetry of theancient Greeks. It is impossible to estimate the Thracians’ contributionto the shaping of ancient Greek mythology and religion, since they hadnot script and didn’t leave texts. On the other hand, the Greeks alwaysplaced the appearance of gods, cults and mythical persons in making-off regions and mysterious lands of the North and the East. Thus it ismore than plausible that the Greeks beliefs and myths were adopted bythe Thracians and that the whole cosmos of Greek mythology referringto it is to purely Greek creation. Indeed, after the reading in theMycenaean, Linear B, tablets of the name Dionysos, a god consideredto be of Thracian or Asia Minor origin, this viewpoint is bolstered

Page 47: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

48

further. Some deities at first unknown to the Greeks, later took theirplaces in the Hellenic pantheon. Thracians worshipped Zeus, Hera,Apollo, Artemis, Hermes, Ares, Dionysos, Asklepios, Cybele, Sabazios,Bendis, Herakles, the Nymphs and other divinities. Herodotus mentionsthat the Thracians revered the gods Ares, Dionysos and Artemis and thattheir kings venerated Hermes above all others, swearing oaths only inhis name and claiming descent from him. The god of war was Ares:from the first Iron age was represented under the shape of an verticalsword or as a young knight hunting. Next to him, are often rappresenteddogs, game or snakes. These are the iconographic symbol of kyrios,Lord, soter, Saviour, iatros, Healer. At the same time the cult of the sunin opened places was practised, above all near coves and sources.

In Roman times, was the worship of the Thracian Horseman-Herowidespread in Thrace and his name is mentioned in votive inscriptions.Indeed, around this figure of the Horsemen Thrace we can search theorigin of the Thracian nations who thought the horse as incarnation ofthe divine power. He is usually invoked as Hero or Lord and is frequentlyand variously identified with Apollo, Zeus, Asklepios, Dionysos andAres. Many Thracian epithets of the deity are known, indicative ofplaces of worship and of other attributes, such as Auloneites, Zindou-menos, Karabasmos, Saldenos and others. Illustrated on reliefs as ahorseman in hunting scenes, he symbolizes the rebirth of Nature, yet itis also connected with the Underworld. The presence of altars, trees,snakes, boars and dogs in representations of the god, as well as commonqualities, has led to the suggestion that he is the Thracian king Rhesos,who was made a hero after his death at Troy and subsequently deifiedand worshipped on the peaks of Rhodopi. Philostratus mentions thatwild animals, boar and deer, made their way to his altar of their ownaccord, in order to be sacrificed. Sanctuaries of the Horseman-Herohave been also located on the summits of Ismaro and Rhodopi, andvotive offerings of the faithful, such as bronze figurines of the god,embossed plaques and numerous pointed-bottom amphoras have beenfound, presumably associated with ritual observances in his honour.

Page 48: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

49

Another deity to respect was Bendis, the lunar goddess who carries lightand she was represented riding carrying bow and arrows, later becomeArtemis, put in relationship with the Nymphs and Asclepio.

Dionysus, son of Zeus, was associated orgy and oracle rituals. Theworship of Dionysus is held a special place in the Thracian pantheon.The god’s close relationship with Thrace is revealed in the Homericmyth concerning the King of the Hedones, Lykourgos, who was hisenemy, and in the punishment of Orpheus who preferred Apollo toDionysus. There was a sanctuary of Dionysus in the land of the Satreswhere, according to Herodotus, the Bessi were prophets: the Bessi, clanof the Satrae, are the prophets of the Shrine. Alexander the Great visitedthis sanctuary. Among its priests was Boulogaises, who led the Bessi inrebellion in 13 b.C. The worship of Dionysus was also identified withthe worship of Sabazios, a Phrygian god who symbolized the death andresurrection of Nature. Sabazios had also been identified with the godof the Underworld, Pluto, while his daughter Bendis was identified withPersephone.

Location – Geomorphology

The rock art site of Seliani, Mynicipality of Philippi, is situated atthe Province of Kavala, explored, found and catalogued in 1998. Thesite is a hill, in a dominant position, overlooking the valley from analtitude of 200 meters and control the landscape from East and South.The exact geographic coordinates are 40°19' N and 23°29' W. The geo-morphological analysis of the territory, dates back to the Pleistoceneand Holocene is characterized by alluvial younger fills. Substantially,the climate in Greece remains almost unalterable after the 7000 B.C.without enormous fluctuations. The mountain is composed mainly ofgood quality marble.

Page 49: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

50

Population – Prehistoric roots of communication – Settlements

Homer, frequently mentions Thrace territory like the horse-rearingThrace, mother of sheeps and the Thracians who wear the long hair atthe top like the snow-capped mountains of the Thracians. The nativeland of Borea, the wind of the north, flood of contrasts, rich of game,gold mines and silver was the territory of the warlike tribe of the Hedones.Euripides describes them as dysmachotatoi, extremely hard to fight.Some tribes had the reputation of being brigands, such as the Bessi wholived in the Haimos Mountains. Thucydides (VII, xxix, 4) writes about:For the Thracian race like the worst barbarians, is most bloodthirstywhen it has nothing to fear.

However, there were Thracians who abstained from drink and werepeaceable, frugal and just, indeed some lived a celibate life and ate nomeat, only milk, cheese, honey and plants. Homer describes them asnoble or virtuous, milk-eaters, poor and righteous. Menander mentionsthat polygamy was practised in Thrace. Most men had more than tenwives, in order to father many children. He who had fewer wives wasconsidered unfortunate in the eyes of his peers, as if he had not marriedat all. The father had the right to sell his children or to barter them forvarious goods. There were no sexual restrictions on unmarried womenbut after wedlock they were kept under strict control. The commercialsale men and children explain the abundance of Thracian slaves, servantsand concubines, not only in Athens but also in other parts of Greece.The Trace populations were considered excellent archers and used thereflected arch. Their weapons were the javelin, small shield, pelte, anddagger. They also used two javelins hurled in sequence, recoverable, inthe case of missed targets, thanks to the long ropes of leather attachedto the javelins. This technical is known from Il sec. a.C. They used wideMycenae swords and from the III sec. a.C. were replaced from theCeltic ones. The Hedones carried long hats and their everyday clotheswere coarse and heavy, sewn from animal hides or thick fabrics. Manytextiles were woven from hemp and resembled linen. Herodotus describes

Page 50: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

51

the armour of the Thracians, which consisted of a fox-skin helmet, atunic, a long coat, zeiras, and doeskin sandals fastened high up theankles. An Attic vase from Gela (450 b.C.), depicting Orpheus withfour Thracians, gives idea of the Thracian custom. The fox-skin cap andhigh sandals were mainly worn in winter and on military campaigns.Still today this custom persists, during some religious recurrences, along black goat is worn, with which cover is conically shaped. Tattooingwas a usual phenomenon, being a sign of noble birth.

Excavations (Romiopoulou, 1961) have carried to the light piecesof pottery, supporting the theory of a connection between the islands ofnorthern Aegean with Yugoslavia and north Europe crossing Thrace,through the prehistoric settlement Adissara (Αντισρα ) to Philippi. Amongthe other EHA monuments known, especially in the mountainous regions,are open-air sanctuaries, the rock carvings, the rock-cut tombs and therocks with hewn niches, hollows, cavities and altars. The rock carvings,of human figures and other symbols at Roussa (Ρου′ σσα) and animalsat Kirki (Κυ′ ρκη ) probably had magical or apotropaic significance (Fig.1). The engraves forms various shapes, reminiscent of constellations inthe sky, including the Great Bear. The summits of rocky crags wherethere is a concentration of rock-hewn structures – niches, basins, altars,discs etc. – have been characterized as open-air sanctuaries.

Philippi environment

The plain of Philippi (FIG.2) is delimited north-eastwards by thefringes of Λεκα′ νη (Lekani) range Mountains (altitude 1296m), westwardsby Φαλακρο′ ′Ορος (Falakro Mountain, alt. 2232m) and southwards byΠαγγαι′ο ′Ορος (Paggaeo Mountain alt. 1956m) and Συ′ µβολο ′Ορος(Symvolo Mountain, alt. 694m). Symvolo mountain comes in betweenΤενα′ γµ (Shoals) and Aegean Sea. The only natural water escape towardsthe sea is northwest between Paggaeo and Falakro in Συµβολη′ (Symvoli)site where Αγγι′της (Aggitis) the Ετρυµο′ υας (Strymon’s) tributary

Page 51: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

52

discharges itself. The fertile soil of the plain [known since the ancientyears by the name ∆α′ το (Dato)] consists of Holocene deposits, redlands, humid or peaty soils of low areas as well as loamy, sandy andgravel soils (acid with brown red horizon) and various igneous rocks(granite, siderite, diorite etc.). In the area there is also plenty marblebeen used in ancient years for the erection of Philippi town walls andbuildings. The location Σκαπτη′ ′Υλη (Skapti Ili) nearby Philippi wasalso known during the archaic and classic era because of the gold, silverand iron deposits.

According to Theophrastus (4.14.12, 16.2-3, 8.8.7, 6.6.4) whitewillows, platens, hundred leaves roses, oaks were throve in the area andfirs at the highlands. As it regards the fauna, it was composed of dears,wart hogs, wolves, hares, wild gooses, storks, wild pigeons and hawksas the rock engraves show.

Rock art of Philippi

Analysis of figurative and possible interpretations

SPh/R1: I record two knights of contrasting different styles.Cavalier of foglio1 is deeply of large dimensions. Knight, of foglio2 issmallest, but his equipment is full of weapons. Artistic comparisons ofthe figure indicate affinity with the Skythian and Celtic world. Bothsurfaces include small animal figures. Here we have in synthesis thestory of the entire site: a bow traced on the body of an ox in relationto an anthropomorphic from which head come out a flux of energy. Thescene is completed from a cuckold snake, chthonic symbol, of immortalityand fertility. Uniforms from fractures two bow, are pin from cup-markscomplex, having opposite direction (rare representation). The Pc/foglio2introduces a horse encircled from small cup-marks and an arch likethose on foglio 1 and two axes, one small and one large, been born fromthe same grip but in opposite direction. It’s clearly that R1 is the sacred

Page 52: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

53

altar, (in mythology the heroes in order to acquire the immortality mustdie) after the vision of the cliffs R3 and R2, to the Cavalier-Hero-God--Thrace.

SPh/R2: In this cliff finds one exemplary variety of animals likecuckold birds, foxes, also cuckold, dogs, the complete head of a wildboar, a deer and horses engraved with both techniques. The centralscene represents a ghost with wings feeding a long harpoon.

SPh/R3: I have divided the rock in three panels A, B and C (Fig.3). Starting, from the field A, the look focus to the anthropomorphic axeand bow-arrow which are pointers of his identity, which it observes thetrajectory of a body towards the armed ghost of launch bound togetherwith erected axe-sword of forehead to it. At the extreme left of thescene another bow-arrow, recorded smooth, tip towards the adjacentcavity from which it is emanated a cascade swarm of energy. In sectionB the thematic interest it is grouped in three scenes: 1) animals (horses)bound together with bow-arrow; 2) natural groove cross made on fivecup-marks finishes to bow-arrow bound together to an stylized bird; inproximity cup marks complex indicates the time of the events; 3)ghost-knight in motion towards a solar symbol (disk with external rays,like a rayed sun); an anthropomorphic snake, Echnida, it rides onelaunch; a ghost that finishes in an bow-arrow bound together with axeand cup-mark.

Statistical analysis

In the area of Prophet Helia in spite of a short number of rocks wehave a relative significative concentration of engravings, about 300motifs. In percent we can say that the most engraved figure areimplements and schematic anthropomorphic figures (50%), animals(45%) and lastly the Horsemen (5%).

Page 53: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

54

Method of recording and Rock art

The fieldwork was carried out in several phases:

1) Exploration and photography of the site in order to pick upuseful data to reconstruct the environment and the humanactivity. The greater part of the territory is full of galleries forthe exportation of iron minerals in function until the past centuryand the surfacing of darkish vessel attesting the rural activitypresence from Hellenistic to Roman time.

2) Cleaning of the surface has been made according neutral method.

3) Photography of the rocks, in order to define the state ofconservation/deterioration.

4) application of two recording methods: frottage technique andtracing on polyethylene. The analysis of engraving techniquesreveals: a hard pecking and another fine one.

In the area of Philippi we have concentred two different rock artsites. The first site (the only one inclined cliff), called Μα′ να (Mana)3,is collocated in the North of the Philippi parish4, nearby a water spring.The rock engravings are collocated in the upper part of the rock surface.In this case the water level, even if the water flux becomes abundant,remains under the latest engrave motive. The most prominent figure isa horse rider wearing reticulate pattern armour (Fig. 4). Nearby someArabic influence pattern swords appears which permits us to estimateprobably from the Byzantine period. The second one is collocated in anatural amphitheatre where three cliffs are well exposit in the sun. Thetotal number of the engraved figures amount over 300 single petroglyphs.The site is called Prophet Helias, cause an small rural chapel, in the top

3 In the local Turkish idiomatic vocabulary means “spring”.4 The estimation of inhabitants in Philippi parish (2001) was 896 families.

Page 54: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

55

of the hill, dedicated to that holly men. Is interesting also, notice, thatin the same site a Muslim religious group, named Bektasides, found itscult in east Medieval time. Most of the figures are engraves by peckingthe marble surface and the rest are filiformi . In this small rocky groupthe dominant image is the figure of horsemen, that alludes to the deityof culture Thracian horsemen hero.

Natural and Human hazards on Greek rock art

To detect better and in detail the impact of natural and humanhazards in the rock art of Prophet Elias site where a good concentrationof engraved rocks are presented I proceed in the analysis of the seismic,temperature, rainfall and fires data5 as follow (Fig. 5):

Seismic data

The seismic activity in the region of Kavala, is very low. The areais registries as II risk zone (cf. Table I).

Temperature data

The medium temperature (med.) as can be controlled oscillatesbetween min. 4.3°C. in Genuary (IA) and max. 25.2°C. in Juny (IN) // July (IΛ).

5 Note that there is no official data and documents regarding rock art risk in Greece,so the present paper is fully pioneer. Any mistakes and wrong considerations must betaken with the possibility of reviewing as our research become more accurate.

Page 55: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

56

Fire Data

From the air photography/maps of the Philippi’s rock art ecomu-seum6 we can observe the now day’s vegetation and plant low distribution.In fact, the absent of wood and the arid zone where the cliffs with rockart are insert allowed us to the conclusion that there is no fire risk inthe area.

Pluviometric and wind data

In 1990 statistics the rainfall data oscillates between 5.9 mm inAugust and 73.2 mm in December. In 1960 in the same period therainfall statistic data report 8.9 mm (August) and 110.3 mm (December).That means minus 3.00 mm in summer time and 27.1 mm in winter. Thewinds activity intensity oscillates between 6-8 Beaufort and consequentlythe disaster are inexistent.

Air/Water Industry Pollution

The absent of heavy or light industry activity in the area reducethe air pollution into the follow categories: 1) animals and human sewagesand 2) agriculture pesticides.

Conclusions

The investigation and study of the Early Iron Age monumentsfindings are particularly important for the territory of Eastern Macedonian

6 My warm acknowledgements are directed to the staff of the Technical chamberof Philippi’s municipality for the assistant held.

Page 56: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

57

and Thrace because continually expands our knowledge of the periodwhich, lacking of written sources, is essentially prehistoric. The move-ment, the dispersal, the fusion, the fission and the installation of theThracian tribes, the formation of their religion and mythology, theireconomic and cultural development, as well as their level of civilizationare all issues which have absorbed scholarship for many years, since thefragmentary information in the ancient authors cannot fill the great gaps.From the exposition is evident that Philippi’s site is an open air sanctuaryof Hedones Thracians where Heroe-Knight is celebrated (cultures heroes).The morphology of the site, that acts as a “mental camera”, in relationshipwith the described reading, enable us to make the ipothesis of an orga-nized group in transition between the final Bronze Age and the initialIron Age.

Although new sites are discovered contisnuously, just as manymore are constantly endangered or destroyed (Bertilsson 2003). As theCapter above demonstrate there is no pollution allarm regarding therock art sites of Philippi. Of course that’s no allowed us no monitorateand no apply a pollution project for every evenient.

ESSENTIAL REFERENCES

(1997) Γραµµε′ νος Β. ∆., Νεολιθικη′ Μακεδονι′α, ΤΑΠΑ , Αθη′ να .

(1997) Dimitriadis G., L’arte rupestre ellenica: nuove prospettive, ValcamonicaSymposium, Iseo, Italy.

(1999a) Dimitriadis G., L’arte rupestre ellenica: nuove prospettive, BCSP, 31-32.

(1999b)Dimitriadis G., Alla periferia della grecità: l’arte rupestre degli EdoniTraci, Valcamonica Symposium, Darfo-Boario Terme, Italy.

(1999d)Dimitriadis G., Rock Art in “Seliani-Mesorema, Philippi. A Century”,editor Philippi’s Culture Association.

(2002) Hellenic Seismic Planning.

(2002f) Dimitriadis G., Ecomuseum of Philippi. The Holy Sanctuary of HedonesThracians (poster), 8th EAA Congress, Thessaloniki, Greece.

Page 57: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

58

(2002) Παπαδο′ πουλος Σ., Η µετα′βαση απο την Νεολιθικη′ εποχη′ στηνεποχη′ του Χαλκου′ στην Ανατολικη ′ Μακεδονι′α, ΤΑΠΑ, Αθη′ να .

(2003) Bertilsson Ulf, Rock Art at Risk, CAR-ICOMOS.

(2004m)Dimitriadis G., Arte Rupestre Ellenica: Novità e Confronti. Approfon-dimenti nel Centro e NordEst dell’Egeo attraverso l’archeologiacognitiva, XXVII Valcamonica Symposium, Darfo-Boario Terme, Italy.

Page 58: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

59

FIG. 1

FIG. 2

Page 59: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

60

FIG. 3

FIG. 4

Page 60: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

61

FIG. 5

Page 61: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

63

L’IMPACT DES FACTEURSNATURELS SUR LES SITESARCHÉOLOGIQUES DU NORDDE LA DOBROUDJA

D O R E L P A R A S C H I VM I H A E L A I A C O B

Notre présentation s’occupe de l’impact des facteurs naturels surles sites archéologiques de l’époque grecque, romaine et romaine tardivesitués au nord de la Dobroudja, c’est-à-dire dans le département deTulcea (Fig. 1).

Orgame/Argamum – cité grecque, romaine et romaine tardive, près duvillage Jurilovca.

Orgamé est la première ville (polis) connue sur le territoire de laRoumanie, mentionnée dans une source antique, par Hecataios de Millet,à la fin du VIème siècle av. J.-C., information perpétuée jusqu’à nos joursgrâce à Etienne de Byzance, lexicographe du XIème siècle. Mais lesdécouvertes archéologiques permettent de conclure que l’installation desGrecs à Orgame a eu lieu un siècle et demie avant cette information(MANUCU-ADAME TEANU, 1992). La proximité géographique, demême que la similitude des matériels archéologiques – les plus vieuxcomme âge – d’Orgamé et d’Istros ont conduit à la conclusion que lacité d’Orgamé, localisée à Cap Dolojman par Vasile Pârvan, a été fondéepar les Milésiens. À l’époque romaine et romaine tardive le toponyme

Page 62: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

64

est conservé dans les formes Argamum – dans l’Horothèsie de LaberiusMaximus – datée en 100ème année ap. J.-C., et Ergamia dans les textesde Procopius de Caesarea, pendant la période de l’empereur Justinianus.

La forteresse a été bâtie sur un promontoire en calcaire avec unealtitude (hauteur) maximale de 55 m, au bord du lac Razelm, (en antiquitégolf de la Mer Noire), à 7 km est du village de Jurilovca. Le plan dela cité de l’époque justinienne conservée jusqu’à nos jours est triangulaire,adaptée à la forme de la péninsule (Fig. 2/A).; les dimensions et laforme de la cité grecque et de celle romaine restent encore inconnues.Le côté de l’est de la cité, vers le lac, a été fortement affectée, au longdu temps, par les facteurs de médium: la pluie, le vent, le gel ou parquelques cataclysmes: tremblement de terre ou glissement de terre. À lasuite d’un tel cataclysme – très probablement de grandes dimensions, àl’époque romaine tardive, plus précisément en VIème siècle ap. J.-C. – lafalaise s’est écroulée et, de même, une partie de l’enceinte. Enconséquence, sur le côté de l’est, l’enceinte a été reconstruite à unedistance de la falaise, vers l’intérieur de la cité qui se réduit commedimensions. Ainsi la forteresse prend la forme triangulaire connue;quelques édifices restent en dehors de l’enceinte (Fig. 2/B, C).

Ce phénomène est observable encore dans le cas de la IIème Basilique– la plus grande de la cité. La basilique a deux phases de construction:dans la première – datée au Vème siècle – l’édifice a eu une positioncentrale et de grandes dimensions; après le cataclysme du VIème siècle,l’édifice est reconstruit sur les anciennes traces, mais il a une longueurréduite à 3 mètres et une autre abside; en même temps la nouvelleenceinte enfourche les vestiges de l’abside du Vème siècle (MARGI-NEANU CARSTOIU, MANUCU-ADAME TEANU, 1998).

Nous trouvons la même situation dans le cas de la Basilique I:dans une première phase l’édifice se trouvait à une distance de l’enceinte;après la réfection de l’époque de Justinien le mur de l’enceinte esttangent à l’abside de la basilique.

Certainement, au VIème siècle la falaise descendait en pente douce– fait qui offre une justification pour la construction de l’enceinte sur

Page 63: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

65

le côté de l’est – différemment d’aujourd’hui quand celle-ci estextrêmement escarpée. En plus, aujourd’hui on peut voir au côté d’estseulement un fragment de l’enceinte – dans la proximité de la IIème

Basilique (Fig. 2/D) – et un tour au secteur Falaise d’Est, car du VIème

siècle jusqu’à présent la falaise a connu une dégradation continue. Trèsprobablement les tremblements de terre ont provoqué les grandesdestructions – notamment l’effondrement de la falaise et du mur del’enceinte.

Ce sont ensuite les flots et le vent qui ont produit – pendant lesderniers 14 siècles – l’érosion de la falaise (Fig. 2/F). Chaque année,sous l’action du gel, on peut voir des fragments plus ou moins grandsde la roche en se détachant et en tombant dans le lac. Pour diminuerl’effet des vagues et, implicitement, de sauver le côté d’est de la citadelles’impose l’emplacement des grandes pierres contre les vagues dans leseaux du lac Razelm.

Une autre zone – extra muros – situé au sud de la cité a étégravement affectée par l’agrandissement du niveau de l’eau de la mer– avec 3 – 4 mètres de l’antiquité à nos jours, fait qui a provoqué uneinondation de ce territoire. Ainsi, dans les années ’60 du dernier siècle,on pouvait voir des vestiges dans cette zone, bien sûr couvertes deseaux, en présent toute la zone est transformée dans un marais, avec lavégétation spécifique.

Noviodunum – cité romaine et médiévale, près de la ville d’Isaccea.

Le toponyme Noviodunum est d’origine celtique, ce qui démontrel’existence d’un établissement (agglomération humaine) avant l’époqueromaine (BARNEA, I. 2000). La cité est mentionnée dans plusieurssources antiques en commencent de Ptolemaios (l’époque du Principat)jusqu’à Constantine Porphyrogénète (Xème siècle ap. J.-C.).

Donc, les sources historiques et les découvertes épigraphiques etarchéologiques nous permetent de connaître en bref l’histoire d’une cité

Page 64: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

66

qui a joué un rôle extrêmement important dans la défense du limesdanubien. Dès le temps de l’empereur romain Vespasianus, à Noviodunums’est établi le siège de la flotte romaine – Classis Flavia Moesica et dequelques détachements de la Legio I Italica et de la Legio V Macedonica.Un siècle plus tard – sous l’empereur Marcus Aurelius – la ville estdevenue municipium; dans la période de Dominat c’est la Legio I Scythicaqui a le siège à Noviodunum.

La cité antique a été localisée encore au XIXème siècle sur la rivedroite du Danube, sur un promontoire avec une hauteur de 20 mètres(Fig. 3/A, B), à proximité d’un des plus importants gués du fleuve, ladernière avant le commencement du Delta.

Le côté de nord-est de la forteresse, vers le Danube, qui s’étendsur une distance de 500 mètres dans une zone où le promontoire a unehauteur (altitude) de 4-5 mètres, a été continuellement affecté par leseaux du fleuve. Au printemps et dans les années avec beaucoup deprécipitations les eaux montent à une cote élevée sur la pente dupromontoire, fait qui a produit, en temps, une très forte destruction del’enceinte et des bâtiments situés sur ce côté. Au présent l’enceinte etquelques édifices – une basilique, les thermae, quelques logements – setrouvent sous les eaux; seulement dans les périodes de sécheresse onpeut les voir. Les fouilles de sauvegarde, déroulées encore des années50 du dernier siècle, ont permis de récupérer l’information historique et,en plus, ont démontré que le problème de l’inondation de ce côté de lacité est l’une des plus veilles; ainsi, aux II – IIIème siècles ap. J.-C. l’ailedu nord de la cité romaine a été affectée par les inondations et, enconséquence, dans la période de Dominat sur cette aile on a édifié unnouveau tronçon de murailles avec 7 tours semi-circulaires et une portevers l’installation portuaire (BARNEA, I., MITREA 1959: 461-468;BARNEA, I. 1974 (1977); BARNEA, I., BARNEA, Al. 1984). Le côtédu nord de l’enceinte s’est retrait vers le sud – en diminuant l’espaceintérieur de la cité, et quelques édifices sont restés en dehors de celui-ci (Fig. 3/C, D). Comme nous avons vu, ces vestiges encore – lesmurailles de l’enceinte de la période de Dominat, la basilique, les thermae

Page 65: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

67

et les autres bâtiments, sont très affectées par les eaux du fleuve; auprésent leur élévation à une cote très basse. De même, le fleuve sape enpermanence dans le promontoire ainsi qu’au parcours des 15 années –entre 1956 et 1971 – celui-ci s’est “rétréci” avec 5 mètres (BARNEA,I., BARNEA, Al. 1984: pl. I/1).

La construction d’une digue devant cette zone c’est la seule solutiond’empêcher la permanente destruction des vestiges de la cité.

Ibida , cité romaine au village de Slava Rusa, comm. de Slava Cercheza(Fig. 4/A).

La ville (polis) a été mentionnée dans les sources antiques – parProcopius de Caesarea et Theophilact Simocata avec le nom Ibida ouLibidina et identifiée avec les vestiges antiques de Slava Rusa par legrand historien du monde antique Vasile Pârvan (IACOB et alii, 2002:291, 293).

Les recherches archéologiques ont débuté dès 1885, mais les fouillesseront sporadiques jusqu’à nos jours. À peine à partir de l’année 2001à Ibida on déroule des recherches archéologiques systématiques.

À la fin du XIXème siècle le topographe P. Polonic a réalisé unepremière esquisse de la cité après les observations en terrain. “La citéavec les murailles et les tours colossales” comme la décrit Polonic a,selon son plan, 30 tours et trois portes. En corroborant ce plan avec lesrésultats de l’aérophotogrametrie et les observations en terrain Al. S.Simion a réalisé, en 1977, une autre esquisse de la cité, la plus prochede la situation réelle. Ainsi on peut parler d’un complexe de défense quicomprend une cité fortifiée sur la vallée de la rivière Slava, d’une trèsgrande superficie – 24 hectares – la plus grande de la Dobroudja romaine,une forteresse située sur la colline Harada (138 mètres l’altitudemaximale), dont le côté de nord est commun avec la cité, et un fortédifié sur le sommet de la colline, à une hauteur de 158 mètres, donc,une très grande cité qui permet une concentration de forces militaires

Page 66: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

68

entre ses murailles, un lieu de refuge et un point de surveillance pourtoute la zone.

En dehors des fortifications romaines, sur le plateau situé à l’ouest,nous trouvons les restes d’habitations des différentes époques historiques:paléolithique, énéolithique, la première et la deuxième âge du fer; maisles plus abondantes restent les vestiges romains: habitations extra mu-ros, la nécropole romaine tardive, la nécropole romaine, un caveau mo-numental romain tardif et un monastère paléochrétien.

En plus, le fait que la cité soit traversée par une rivière pose desproblèmes spéciaux: la régularisation et le contrôle du cours, la cons-truction des ponts. Les recherches archéologiques développées, à partirde l’an 2001, dans le secteur Porte d’Ouest (Fig. 4/B). ont mis au jourquelques éléments d’urbanisme antique relatif à cet aspect; ainsi la rivièreentre dans le cité parmi le tour 2 et le tour 3; le cours a été régularisé,en spécial à l’époque justinienne, quand d’un côté et d’autre de la rivièreont été aménagés des routes; devant l’enceinte, qui descendait en pentevers le cours, nous avons trouvé une construction spéciale, unique pourl’époque romaine dans notre pays – un pont avec six pillae, bâtis enpierre avec la superstructure en brique – qui joue le rôle du chemin deronde (IACOB et alii, 2002: 292-293; IACOB et alii, 2003: 296-297;IACOB et alii, 2004: 312-313). Mais, de l’antiquité jusqu’au présent lecours a subi une déviation vers le tour no 3, ainsi qu’aujourd’hui ilcoule par intérieur du tour no 3; en plus le débit est variable – quelquefois, en été, sèche, autre fois, pendant des pluies abondantes, il inondeune demie de la cité (Fig. 4/C, D).

Donc, pour le sauvetage de ce monument il faut, en première,régulariser le cours de la rivière et dévier celle-ci par le chemin antique.

D’autres problèmes pose la nécropole de la cité qui se trouve surle promontoire situé à l’ouest de la cité: les pluies torrentielles laventle promontoire et produisent des destructions significatives aux monu-ments sépulcraux: ce sont les précipitations de l’été de l’an 2002 qui ontmis au jour les squelettes et ont permis la découverte de la nécropole(Fig. 4/E, F). Pour le sauvetage de l’information historique en ce cas,

Page 67: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

69

les fouilles archéologiques avec des équipes complexes de spécialistes(archéologue, anthropologue, géologue) représentent la solution adoptéepar le collective archéologique d’Ibida.

La forteresse qui se trouve sur la colline Harada a subi quelquesdestructions provoquées par l’érosion du promontoire, et, plus grave,des destructions anthropiques.

Beroe – cité romaine et médiévale, point Piatra Frecaei, comm. d’Ostrov

La fortification, dont parlent plusieurs sources antiques, a étéidentifiée à la fin du XlXème siècle avec les ruines du point Piatra Frecaeiselon les distances mentionnées dans les itinéraires et d’une survivancedu nom – Baroi – donné aujourd’hui à un bras du Danube. La citéoccupe une position élevée au bord du Danube, sur une roche couvertede lœss (Fig. 5/A, B, E). A la fin du XIXème siècle P. Polonic, letopographe qui a réalisé la première documentation pour les vestigesromains de la Dobroudja, disait que la cité a une forme trapézoïde etque les murailles de l’enceinte étaient visibles (PARASCHIV, 1999-2001: 149).

Les fouilles archéologiques ont mis à la lumière une très vastenécropole – dont ont été excavées plus d’une mille de sépulcres –, unebasilique paléochrétienne et quelque vestiges de l’époque du bronze, dufer, de la période romaine ou médiévale.

Les recherches systématiques commencées en 1998 ont eu commebut la découverte de la cité romaine et une mise au point des informationshistoriques fournies par les découvertes dans la nécropole à celles de lacité proprement-dite. A la fin de quatre campagnes des fouilles on aconclu que sur le côté du sud, vers le fleuve, la couche archéologiqueest détruite en entière par l’érosion ou par les glissements de la terre(Fig. 5/D) (BARNEA, Al. et alii, 2000). Dans l’aile du nord nous avonsdécouvert quatre niveaux romains et médiévaux, mais pas d’enceinte(BARNEA, Al. et alii, 2001). Par deux sondages sur la pente du

Page 68: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

70

promontoire à une cote plus basse, nous avons eu la chance de surprendreles restes d’un mur d’enceinte tombé (glissé) sur lequel nous avonstrouvé des complexes d’habitation de l’époque médiévale. C’est-à-direque les murailles d’enceinte se sont écroulées dans l’antiquité (Fig. 5/E).,à un moment situé chronologiquement entre l’abandon de la cité – audebout du VIIème siècle – et l’établissement là des communautés mé-diévales – à la fin du Xème siècle (BARNEA, Al. et alii, 2002).

Ce sont seulement quatre situations de l’impact des facteurs naturelssur les monuments archéologiques, mais nous avons encore d’autressites archéologiques affectés par les destructions naturelles – Arrubium ,Salsovia, Aegyssus, mais malheureusement beaucoup d’autres gravementaffectées par le facteur anthropique. Ce sont des cas dont nous avonstrouvé des solutions, mais encore d’autres dans lesquelles l’impactdestructif a été définitif.

BIBLIOGRAPHIE

BARNEA, AL. et alii (2000). Ostrov, com. Ostrov, jud. Tulcea [Beroe], EN:CCA. Campania 1999, Bucharest, p. 72-73, 146.

BARNEA, AL. et alii (2001). Ostrov, com. Ostrov, jud. Tulcea, [Beroe], EN:CCA. Campania 2000, Bucharest, 173-174.

BARNEA, AL. et alii (2002). Ostrov, com. Ostrov, jud. Tulcea, [Beroe], EN:CCA. Campania 2001, p. 225-226, 432.

BARNEA, I. (1974). Noi descoperiri la Noviodunum, Tulcea, Peuce 6, (1977),p. 103-121.

BARNEA, I. (1994). s.v. Argamum, EN: E.A.I.V.R. I (A-C), p. 90-91.

BARNEA, I. (2000). s.v. Noviodunum, EN: E.A.I.V.R. III (M-Q), p. 204-206.

BARNEA, I. & BARNEA, AL. (1984). Sapaturile de salvare de la Noviodunum,Tulcea, Peuce 9, p. 97-105, 503-518.

BARNEA, I., MITREA, B. (1959). Sapaturile de salvare de la Noviodunum(Isaccea) (r. Tulcea, reg. Constana, EN: MCA 5, p. 461-463.

IACOB, M. et alii (2002). Slava Rusˇa, com. Slava Cerchezˇa, jud. Tulcea [Ibida],

Page 69: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

71

EN: CCA. Campania 2001, Bucharest, 291-293, 456-457.

IACOB, M. et alii (2003). Slava Rusˇa, com. Slava Cerchezˇa, jud. Tulcea [Ibida],EN: CCA. Campania 2002, 295-300, 469, 497.

IACOB, M. et alii (2004). Slava Rusˇa, com. Slava Cerchezˇa, jud. Tulcea [Ibida],EN: CCA. Campania 2003, p. 312-314, 455.

MANUCU-ADAME TEANU, M. (1992). … Orgamé polis…, Constana,Pontica 25, p. 55-67.

MARGINEANU CÂRSTOIU, M., MANUCU-ADAME TEANU, M., (1998).Zidul de incinta romano-bizantin de la Argamum: un tronson din curtinade est, SCIVA 49, 3-4, p. 233-258.

PARASCHIV, D. (1999-2001). Amfore romano-bizantine descoperite la PiatraFreca ei – Beroe, Iassy, Cercetˇari Istorice S. N. 18-20, p. 149-156.

ABRÉVIATIONS

CCA – Cronica Cercetˇarilor Arheologice, Bucharest.

Cercetari Istorice – Cercetˇari Istorice. Muzeul de Istorie a Moldovei, Iassy.

E.A.I.V.R. – Preda, C. (ed.), Enciclopedia Arheologiei i Istoriei Vechi aRomâniei, Bucharest

Peuce. Studii i comunicari de istorie veche, arheologie i numismatica, Tulcea.

MCA – Materiale i Cercetari Arheologice, Bucharest.

Peuce – Peuce. Studii i comunicari de istorie veche, arheologie i numismatica,Tulcea.

Pontica – Pontica. Muzeul de Istorie Naionala i Arheologie, Constana.

SCIVA – Studii i Cercetari de Istorie Veche i Arheologie, Bucharest.

Page 70: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

72

FIG. 1 – Les principaux sites archéologiques d’époque greeque,romaine et médiévale.

Les sites en discussion

Page 71: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

73

FIG. 2 – Orgame/Argamum – cité grecque, romaine et romaine tardive.A. Le promontoire en calcaire (au bord du lac Razelm) avec la forteresse;

B-C. La vue de la falaise avec les vestiges du côte du lac;D-E. Quelque édifices restés en dehors l’enceinte bâtie au VIe siècle;

F. La falaise – les effects de l’érosion.

Page 72: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

74FIG. 3 – Noviodunum – cité romaine et médiévale.

A-B. La vue générale le côte de sud (A); du côté du fleuve (B);C-D. La falaise – les fouille de sauvegarde des années 1956 et 1971.

Page 73: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

75

FIG. 4 – Ibida – cité romaine. A. La vue du côté de nord-ouest; B. avec le secteurPorte de l’Ouest; C. les fouille le l’été de l’an 2001 – la rivière séchée;

D. et après la pluie; E-F. Le plateau avec la nécropoleromaine tardive, les effects de l’érosion.

Page 74: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

76FIG. 5 – Beroe – cité romaine et médiévale.

A-B-C . Les promontoires avec la cité et l’établissement civil, la nécropole;C-D. L’effet de l’érosion; E. L’enceinte tombée sur la pente.

Page 75: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

77

INCÊNDIOS 2003:ESTRATÉGIAS E RESULTADOS

C I D Á L I A D E L G A D OL U I Z O O S T E R B E E KA N A C R U Z

Resumo: Após os incêndios de 2003 sentiu-se necessidade de realizar um inventário detodo o Património, nas áreas ardidas. Constituíram-se equipas que prospectaram siste-maticamente o terreno, tendo as operações de campo resultado de um trabalho articu-lado de todas as entidades que integram o Parque Arqueológico e Ambiental do MédioTejo.

Palavras-chave: Art Risk; Incêndios; Portugal; PAAMT.

Apresentação

O Parque Arqueológico e Ambiental do Médio Tejo foi criado, emAbril de 2003, por um conjunto de autarquias e outras entidades, públi-cas e privadas, empenhadas na articulação de esforços para o inventário,conservação, estudo e valorização do Património do Médio Tejo e temsede no Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo, emVila Nova da Barquinha.

O Parque é uma entidade inter-institucional, de configuração fle-xível, cujo âmbito geográfico de actuação não se limita aos municípiosaderentes, preocupando-se com todo o território de confluência entre oRibatejo Norte, as Beiras e a Estremadura; integra o Instituto Politécnicode Tomar, os Municípios de Abrantes, Constância, Ferreira do Zêzere,Golegã, Mação, Sardoal, Vila de Rei e Vila Nova da Barquinha, o Centrode Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo, o Centro Europeu de

Page 76: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

78

Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, o Centro de EstudosTurismo e Cultura, o Centro de Pré-História, a Arqueojovem, o CentroPortuguês de Geo-História e Pré-História, a Tagus, a Cistus, o MuseuAgrícola de Riachos e o Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado doVale do Tejo (Fig. 1).

A rede está aberta a todas as instituições de vocação cultural epaisagística, com intervenção sobre o património, incluindo museus,centros de investigação e ensino, gabinetes municipais de património,associações ou outros (Fig. 2).

CONTEXTUALIZAÇÃO

No ano de 2003, a onda de calor que se fez sentir no inicio do mêsde Agosto, com temperaturas acima dos 40º, humidade relativa abaixodos 10%, associado a ventos fortes e inconstantes, provocou a maiorárea ardida dos últimos anos. A destruição paisagística, que correspondea cerca de 130.000 dos 450.000 hectares da área considerada, provocouum impacte moral, económico e social. Após os incêndios (Fig. 3), aspopulações afectadas ficaram severamente abaladas a nível económicoe psicológico. As pessoas perderam casas, empregos, etc. Perderam acimade tudo o território com que se identificavam!

Na imediata sequência dos incêndios que assolaram o Médio Tejo,em particular a partir do início de Agosto de 2003, o Parque Arqueoló-gico e Ambiental procurou monitorizar o respectivo impacte patrimonial.Manifestou-se assim urgência numa intervenção do Parque uma vez queo conhecimento do terreno fazia prever uma acelerada degradação desítios, agravada pela descoberta de novos locais, e sublinhava que ohorizonte temporal de meados de Outubro era essencial dado que todoeste trabalho teria de se concretizar antes do abate de árvores edesmatação (actividade que, por outro lado, seria impossível travar, emfunção da situação de catástrofe em que se encontra o território). Estaurgência particularizou-se no que dizia respeito às estruturas que se

Page 77: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

79

encontravam expostas ao vento e chuvas. Houve assim necessidade dese impor uma meta até finais de Outubro, antes de começar a chover.

OBJECTIVOS

Os principais objectivos numa primeira fase consistiram em iden-tificar o impacte dos incêndios no Alto Ribatejo e elaborar um inven-tário do Património das áreas ardidas tendo-se optado por realizar ac-ções de prospecção localizada nessas áreas tentando realizar uma inter-venção estrategicamente integrada, para fazer face à situação.

O impacte dos incêndios é ambiental, mas igualmente cultural,económico, social e moral. A memória material do território, consubstan-ciada em inúmeras estruturas (antigos povoados, necrópoles, sistemasde irrigação e de cultivo da terra, desenvolvidos ao longo de milénios),foi igualmente atacada pelo fogo e encontrava-se, directamente ameaçadapelos previsíveis, e desejáveis, trabalhos de reflorestação. Neste quadro,não só o património arqueológico mas também o etnográfico foramespecialmente afectados (Fig. 4). Este cenário, de desolação de partesignificativa do território, coloca dificuldades num sector estruturantedo crescimento económico da região, que é o do turismo.

Toda esta envolvência gera perigos de acelerada desertificaçãohumana, especialmente no que se refere ao êxodo da população maisjovem. Na hora da reconstrução, perante a qual o ânimo das populaçõese das autarquias é exemplar, é essencial firmar “âncoras” que assegurema continuidade da identidade territorial, sendo que o património culturalassume aqui um papel relevante.

METODOLOGIA

Do inventário arqueológico da região constam algumas centenasde sítios arqueológicos, mas importa sublinhar que as áreas sistematica-mente prospectadas não excederam os 20% do território (Fig. 5).

Page 78: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

80

Até ao dia 7 de Setembro, as áreas afectadas foram genericamentevisitadas por equipas do PAAMT, tendo sido identificados os sítiosdirectamente afectados. Nesse levantamento, verificou-se no entanto queamplas áreas ardidas não possuíam nenhum sítio previamente identifi-cado, devido à referida inexistência de trabalhos de prospecção. Poressa razão, a monitorização global da área ardida tornou-se essencial eexigiu a definição de um plano estratégico inovador, para aplicar nosdois meses seguintes.

Por amostragem, foi possível confirmar que os impactes se situa-vam em três níveis, manifestamente urgentes:

a) Sítios que careciam de intervenção imediata, por já se encon-trarem em degradação;

b) Sítios que corriam o risco de se degradarem rapidamente, comoera o caso dos locais arqueológicos e etnográficos com estruturascuja estabilidade dependia da vegetação que entretanto ardeu;

c) Monitorização da totalidade da área ardida, tomando em consi-deração que não existia um inventário aceitável da região e quea reflorestação iria, com as modernas tecnologias, destruir oessencial dos vestígios e estruturas existentes.

Definiu-se assim um sistema de amostragem, por não ser, obvia-mente, possível prospectar de forma sistemática a totalidade da área ar-dida. Considerou-se que a constituição de cinco equipas de dois elemen-tos cada, todas integradas por elementos com experiência na área deprospecção e profundo conhecimento do território, permitiria realizar taltrabalho, durante cerca de 30 dias de trabalho efectivo, em 10% da área.

O Plano de emergência que foi implementado integrava quatromomentos:

1. Diagnóstico preliminar (até final de Agosto);

2. Definição de um plano de intervenção hierarquizado (início deSetembro);

Page 79: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

81

3. Implementação desse plano (a partir de Setembro);

4. Relatório final até meados de Outubro.

Trabalho de campo

As operações de campo resultaram de um trabalho articulado detodas as entidades que integram o PAAMT. As equipas de prospecçãoutilizaram veículos todo-o-terreno, inspeccionando sistematicamentetodos os taludes, bases de declives, formações coluvionares, pontosestratégicos de domínio espacial e estruturas aéreas visíveis. Constituí-ram-se 4 equipas, sob a coordenação geral de L.Oosterbeek e Ana Cruz(Centro de Pré-História do Instituto Politécnico de Tomar):

– Mação – constituída por Sara Cura, Anabela Borralheiro e Isa-bel Afonso;

– Chamusca, Constância e Vila Nova da Barquinha – constituídapor José Gomes e Ana Graça;

– Abrantes – constituída por Ana Cruz, Álvaro Batista e FilomenaGaspar;

– Vila de Rei e Tomar – constituída por Laurent Caron e TiagoTomé.

Não foi conseguida a quinta equipa que seria da responsabilidadedo IPA, uma vez que não houve resposta por parte da mesma entidadea um pedido de ajuda feito por parte do Parque.

Foram registados, em fotografia e com localização cartográfica,todos os vestígios patrimoniais arqueológicos, etnográficos e arquitectó-nicos. Para cada vestígio encontrado procedeu-se ao preenchimento deuma ficha sumária com anotação de eventual recomendação de traba-lhos futuros (topografia, trabalhos de conservação, escavação, transla-dação ou outros).

Page 80: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

82

Numa primeira fase, em Agosto, foi realizada a estimativa doimpacte sobre sítios conhecidos. Daí resultou uma primeira listagem de75 sítios, e uma estimativa de 300.

O total de área prospectada foi superior à que se previa possívelcom os meios disponíveis, mas ainda assim bem aquém do que seriadesejável. Deve sublinhar-se que, apesar das limitações graves em quedecorreu, este esforço duplicou o inventário de sítios nos municípiosprospectados (duplicando o registo nas áreas ardidas).

Não tendo sido possível obter os apoios financeiros solicitados, enão tendo o IPA acompanhado os trabalhos de campo ou estado presentena reunião para que foi convidado, foi no entanto possível constituir 4equipas, que desenvolveram o trabalho durante um total de 39 dias úteis(contra um total inicialmente considerado desejável de 100 dias). Estasequipas identificaram 404 novos sítios, nos concelhos de Mação,Abrantes, Constância, Vila de Rei, Sardoal, Chamusca, Tomar e VilaNova da Barquinha. Não foi possível visitar os concelhos de TorresNovas, Ferreira do Zêzere e Gavião.

Concelho Área ardidaÁrea Dias de Sítios

prospectada prospecção identificados

Mação 225 50 12184

(11 conhecidos)

Abrantes 363 60 10 21

Chamusca 220 50 5 98

Vila de Rei 170 17 7101

(5 conhecidos)

Sardoal 5 3 1 1 (conhecido)

Tomar 1 1 1 3

Barquinha 0,15 0,15 1 3

Constância 19 15 2 10

TOTAL 1003,15 196,15 39 404

Page 81: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

83

Alguns dos locais considerados urgentes foram:

– Cobragança: Zona de Pinhal onde os afloramentos rochosos re-velaram gravuras rupestres, maioritariamente da Idade do Bron-ze. O Fogo provocou processos de termoclastia que afectoudirectamente as gravuras. Houve necessidade de intervir comurgência sendo aplicado um consolidante nas gravuras nos casosem que era necessário (Fig. 6).

– Pinturas do Pego da Rainha, Castro de São Miguel da Amêndoa,Castelo Velho do Caratão, Capela de Nossa Sr.a do Pranto, emMação.

– em Abrantes duas mamoas em Soalheira e uma conheira comestrutura habitacional, provavelmente visigótica, em Casalinho– Água das Casas.

– em Vila de Rei dois abrigos em Vale Feito – Poio, um abrigo emPiçarrão – Seada e dois sítios em Lavadoura com vestígios deMineração.

Considerações finais

Seria seguramente necessário que o Ministério da Cultura disponi-bilizasse verbas para fazer face a esta emergência, sendo evidente queas autarquias não têm meios de reforçar investimentos neste domínio.Seria necessário reforçar os recursos humanos, de forma articulada comos já existentes e custear a logística da operação.

Não tivemos esse apoio, contudo continuou-se o trabalho de emer-gência, não intervindo em 3 concelhos: Gavião, Torres Novas e Ferreirado Zêzere. Estima-se que se esses recursos tivessem sido obtidos, coma prospecção poderiam ser identificados entre 1500 a 2000 novos sítios.

Findo o trabalho de prospecção todas as fichas devidamente pre-enchidas foram reunidas na sede do Parque, no Centro de Interpretação

Page 82: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

84

de Arqueologia do Alto Ribatejo e a partir daí foi realizado um trabalhoem Arcview 3.2 que se iniciou com a delimitação, concelho a concelhode cada uma das áreas ardidas. O passo seguinte foi a inserção de dadosobtidos na prospecção (novos sítios), obtendo no final mapas com todosos novos sítios geo-referenciados (Fig. 7). Os resultados estão disponí-veis para consulta em www.paamt.ipt.pt.

Page 83: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

85

FIG. 1 – Localização no mapa da região onde se integra oParque Arqueológico e Ambiental do Médio Tejo.

FIG. 2 – Assinatura de acordos no âmbito do Parque.

Page 84: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

86

FIG. 3 – Área florestal ardida.

FIG. 4 – Capela rodeada por área ardida.

Page 85: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

87

FIG. 5 – Panorâmica da área ardida.

FIG. 6 – Consolidação d egravuras em Cobragança.

Page 86: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

88

FIG. 7 – Representação em SIG dos sítios identificados.

Page 87: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

89

BAM CITADEL (ARG-E-BAM) ANDEXPERIENCES OF EARTHQUAKE

R O U H O L L A H A M A N I M E H R

Four seasons Iran

Iran is the land of diversity, from rainy north to warm waters ofPersian Golf in south, and from dry and dessert east to mountain landsof west, we can see a great country with different climate and nature aswell as different cultural heritages (Fig. 1).

In this country there are many attractive historic archaeologicalregions. Among them, some are more famous: City of Isfahan, City ofKashan, Perspolis and ARG-E-BAM (Bam citadel).

I want to talk about Arg-e-Bam; a clay architectural complex, 2000years old, known as the most great earthen architectural monument inall over the world.

City of Bam

Arg-e-Bam is beside the city named Bam. Bam is a city in theSouth East Center of Iran, 1100 km far from Tehran (Capital of Iran),near one of two great deserts of this country.

According to the archaeological studies, the above date ofinstallation of civilization in this area backs 2 to 4 millennia B.C.therefore; people had started to live here for at least 6000 years. Thecity of Bam used to have strategic importance, because it was situatedin the path of an important international trade rout which connected

Page 88: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

90

civilizations of Mesopotamia and west to civilizations of Sistan andSihnd valley in India (Fig. 2, Fig. 3).

Arg-e-Bam

The term Arg means a very strong citadel. the citadel was locatedin the north East corner of the old city of Bam (Fig. 4, Fig. 5).

This monuments complex that is one of the most important historicalplace of Iran, with 200.000 square meters, distinctly divided into twoparts: the ruler quarter and the public quarter. The ruler quarter isconstructed on the highest hilltop in the area (Fig. 6). The public quarteror residential part of the Arg is situated at the south and west side if thehill where some of the people of Bam used to live and work until 180years ago (Fig. 7).

Among particular features of Arg, One can mention four citadels,one inside the other, to create such gigantic architectural complex. Theruler quarter is thus protected by four walls in its south side (Fig. 8).

The first wall, which is the main wall as well, is the largest urbanelement round the public section of Arg. In some parts, the wall is upto 18 meters high and over 6 meters wide. Every 30-40 meters distance,there are guard towers. There is a trench all around the outer wall of thecitadel. The trench would be full of water in time of war to defend theinvaders. There is only one entrance gate to whole Arg through theouter wall of the south side.

Public residence

This part of the citadel was for living of ordinary people. one cansee all main parts of an Iranian city in this part of citadel: Bazaar(localmarket), Square, Congregational Mosque, Religious School, Caravanse-rai, Ice House, Public Bath, Traditional Gymnasium,…

Page 89: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

91

At the north side of residential quarter, there is only gate to theruler residence. The ruler residence is surrounded by three walls, Oneinside the other. The lowest wall is located at the southern side of thehill, where there are military stable and guards facilities.

In the north side of the stable and on the slope of the hill, anotherwall embodies the barrack, house of military commander in addition toother military facilities. On top of the highest hill, there is a citadelsurrounded by high walls that is section of ruler: ruler’s house, privatebath,…

This citadel maybe the oldest part of the Arg and would be theforming core of the Arg-e-Bam. Arg-e-Bam had been subscribed in thelist of Iran’s National Heritages under number 519 (Fig. 9). It had beenunder restoration and conservation from 30 years ago.

Earthquake 2003

In the last days of the year 2003, The most great disaster of thatyear happened in Bam. An strong Earthquake destroys about all the cityof Bam, killed more than 41.000 people of this city and deteriorated allmain parts of Arg-e-Bam.

There was not any evidence of earthquake affected in Arg-e-Bamfor 200 years of being of this citadel. Maybe no one even thinks aboutpossibility and danger of earthquake in this region. So, maybe therewere no any conservation methods to protect the citadel againstearthquake in these so many years of conservation of this monument.However, Earthquake came and in some seconds damaged all attemptsof conservators.

Now let’s go to see what happened in details. (Fig. 10, Fig. 11).

Page 90: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

92

Entrance of citadel

Nothing remains from gate towers and its decorations. If we hada harder structures, at least now we would have main lines of architectureof this part (Fig. 12, Fig. 13, Fig. 14, Fig. 15).

Ice House

This place was for store of water and Ice in ancient times. Inrecent years it has been revitalization to become an amphitheatre forcongress of Iranian Architecture (Fig. 16, Fig. 17, Fig. 18).

What I want to say is that as one can see, earthen architecture doesnot fix any part of elements and structures. We make a building fromsoil and when it damaged, every things back to soil again. This is themain difference between earthen architecture and construction with othersubstances like stone and wood (see following Figs.).

Place of worm

This place is a monumental of a myth about origins of citadel. Thismyth says that origins of this citadel belongs to ancient times when aworm helped a poor girl to be successful in her textile making. herfamily were very rich and builded this place to respect that worm! (Fig.26, Fig. 27).

Ruler house

In surveying Fig. 28 and Fig. 29, one fact seems in my mind thatearthen architecture has a unique behavior against earthquake. In caseof wooden buildings or stone structural monuments, when earthquake

Page 91: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

93

happened, elements and different parts of structure maybe move, changeforms or break into little parts.

In this moment, some methods like Anastilosy can be bring partsto their original positions. some other conservation policies like repairor restoration can use undamaged details to reform the whole structureagain and through these methods we finally can rebuild our historicalheritages.

But in case of terra cotta, when earthquake happened, there aretwo options:

1. the structure doesn’t break (Fig. 30).2. the structure break into millions little parts (Fig. 31).

How can we paste these millions parts together? In this disaster,we have not even details of our architecture to run anastilosy. Whatremains for us is just rough substance: Soil.

What should we do

What should we do related to conserve and protect our earthenarchitectural monuments? I suggest some ways that during my surveyof earthquake seems that maybe useful.

1. First of all it is absolutely essential to have very accuratedocumentation of both architectural and structural aspects of monument.Without this documentation and without having complete maps anddrawings of all parts of earthen architectural monument, we shouldforget our building when earthquake come.

2. it’s a fact that to prevent damages of earthquake in historicearthen architectural monuments, we should reinforce main parts ofstructures with other strong new materials.

Conserving main lines of structure of these kind of monumentswill be great help in case of earthquakes. If we protect our structure, atmost we loose a shelf of architecture despite of everything’s.

Page 92: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

94

Earthen Architectural monument of Arg-e-Bam was the most greatone in all over the world, As earthquake of 2003 was great enough.Let’s learn more and more from this experience, maybe it would be thegreatest experience about conservation of earthen architectural heritagesfor all over the history of Historic Conservation.

Page 93: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

95

FIG. 1

FIG. 2

Page 94: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

96

FIG. 3

FIG. 4

Page 95: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

97FIG. 6

FIG. 5

Page 96: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

98

FIG. 7

FIG. 8

Page 97: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

99

FIG. 9

FIG. 10

Page 98: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

100

FIG. 11

FIG. 12

Page 99: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

101

FIG. 13

FIG. 14

Page 100: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

102

FIG. 15

FIG. 16

Page 101: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

103

FIG. 17

FIG. 18

Page 102: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

104

FIG. 19

FIG. 20

Page 103: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

105

FIG. 21

FIG. 22

Page 104: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

106

FIG. 23

FIG. 24

Page 105: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

107

FIG. 25

FIG. 26

Page 106: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

108FIG. 28

FIG. 27

Page 107: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

109FIG. 30

FIG. 29

Page 108: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

110

FIG. 31

Page 109: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

111

ARQUEOLOGIA PÚBLICAE GESTÃO DO PATRIMÔNIOCULTURAL ARQUEOLÓGICOBRASILEIRO

ROSSANO LOPES BASTOS

A idéia principal desta contribuição é somar aos meus colegasarqueólogos uma abordagem das perspectivas da arqueologia pública noBrasil. Para tal desafio, seria necessário entender e localizar o PatrimônioCultural Arqueológico nas instituições públicas do país; entretanto,acredito que outras contribuições deverão ser somadas a esta, ocupadaem decodificar a política pública para a proteção e preservação dopatrimônio cultural arqueológico. Sendo assim, nossa abordagem privi-legia a análise das recentes ações do Instituto do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional (IPHAN), em prol da questão arqueológica.

O neoliberalismo em gestação há algumas décadas no mundo, chegade forma periférica e perversa aos países de terceiro mundo. O Brasil,país de dimensões continentais, de diferenças gigantescas entre a pobre-za atroz e a riqueza acintosa, se esforça, ainda que minimamente, porvalorizar seu patrimônio como forma de assegurar ao seu povo coloni-zado a cidadania cultural centrada na alteridade. Com esta preocupaçãoé que o IPHAN deu um passo significativo, na tentativa de garantir ummínimo de utilização e apropriação do conhecimento arqueológico pro-duzido no território nacional.

Importante aqui relatar a recente incorporação pela inteligentsiaarqueológica brasileira de outras matrizes do pensamento arqueológico,já há muito desenvolvido em outros países. Só para citar algumas recen-

Page 110: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

112

tes abordagens, elencamos os estudos arqueológicos preocupados combens históricos edificados ou não, caminhos, estruturas viárias, quilombose, mais recentemente, bens arqueológicos submersos e embarcaçõessossobradas. Na questão arqueológica submersa, encontramos dificulda-des legais ainda não ultrapassadas que merecerão oportunamente me-lhor dedicação e serão objetos de melhor reflexão, uma vez que este nãoé o espaço privilegiado para discutir tal assunto.

Não foi outro o espírito da formulação da Portaria IPHAN nº 230de 17 de dezembro de 2002. A nova normalização arqueológica trouxeum instrumento de trabalho, que garantiu à classe arqueológica umparâmetro de inserção no mercado de trabalho pela porta da frente dodito mercado de consultoria e assessoria ambientais. Desta forma, aportaria identificou e demarcou o tempo dos estudos arqueológicos aserem realizados para a obtenção de licenças ambientais, em urgênciaou não, para a implantação de empreendimentos potencialmente causa-dores de danos à base finita do patrimônio cultural arqueológico.

Tal medida vem com certo atraso, mas com igual importância,pois, os argumentos que concernem à falta de balizamento para a rea-lização dos referidos estudos arqueológicos não encontram mais eco emembates de qualquer natureza. Seria bom lembrar que as pesquisas ar-queológicas desenvolvidas hoje, no Brasil, em sua maioria, são de cu-nho eminentemente preventivo, ou seja, uma arqueologia voltada paraa interface ambiental, visando licenciar ou não empreendimentos depotencial impacto sobre o ambiente, inclusive sócio-econômico, o am-biente cultural arqueológico.

Hoje, o processo de salvamento arqueológico compreende uma gamade atividades e operações que, no passado, na maioria das vezes, ficavapelo caminho, com sérias dificuldades de finalização e com uma extrover-são pública absolutamente comprometida. Se ainda hoje temos uma gran-de dificuldade de publicização de dados arqueológicos por pesquisadoresno Brasil, imaginemos esta situação, sem o devido balizamento.

O processo de salvamento atual, com responsabilidades comparti-lhadas, efetua-se da seguinte forma:

Page 111: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

113

1) diagnóstico arqueológico: superficial e aprofundado (prospectivo)

O diagnóstico é a primeira ação sistemática de reconhecimento depotencial arqueológico de uma área ou região. Este procedimento en-globa desde o levantamento sistemático de dados secundários, trabalhosde reconhecimento de campo, incluindo estratégias oportunísticas, cami-nhamentos, análise de taludes, voçorocas e prospecções em subsuperfície.Nestes procedimentos de levantamentos, sempre que possível, recomen-da-se à incorporação de ações de educação patrimonial. Esta, dentro dacategoria de trabalhos para avaliação de potencial arqueológico, visan-do elaboração, quando for o caso, de “scoping” preventivo. Estes estu-dos estão contemplados dentro do licenciamento ambiental nos estudosde impactos ambientais (EIA) e outros instrumentos assemelhados, deacordo com a demanda do empreendimento (RAS, RAP, PCA, RCA,entre outros)1. Sua fase corresponde à da licença ambiental prévia (LP)dos empreendimentos. (Fig. 1)

2) prospecção arqueológica/identificação precisa dos sítios

Nesta fase, é preciso aprofundar o diagnóstico, realizando pros-pecções sistemáticas, identificando os sítios arqueológicos, sua nature-za, sua complexidade, seu tamanho, e elegendo prioridades de relevân-cia e significância, que orientarão a fase seguinte: a de resgate arqueo-lógico. Esta etapa reveste-se de fundamental importância, pois, nelaserão tomadas às decisões quanto aos elementos que deverão ser incor-porados à memória nacional, através do procedimento do resgate, eàqueles que deverão ser objeto de conservação. Eventualmente, quandofor extremamente imprescindível, serão eleitos aqueles que poderão ser

1 RAS – Relatório Ambiental Simplificado, RAP – Relatório Ambiental Preliminar,PCA – Plano de Controle Ambiental, RCA – Relatório de Controle Ambiental e outrosinstrumentos de avaliação ambiental de mesma complexidade.

Page 112: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

114

suprimidos, em função do interesse público. Recomenda-se nesta fase aincorporação de ações de educação patrimonial. Esta fase correspondeno licenciamento ambiental àquela que deverá ser cumprida para a so-licitação e a obtenção da licença ambiental de instalação (LI). (Fig. 2)

3) resgate arqueológico/a escolha da significância

Nesta fase é que se encontram as escavações dos sítios escolhidosna fase anterior, onde deverão estar documentados todos os processosde pesquisa, bem como deverá estar assegurada a participação da comu-nidade, guardadas as prerrogativas de segurança dos vestígios arqueo-lógicos. Esta etapa é de natureza complexa, pois envolve muitas variá-veis, inclusive climáticas e de segurança, dependendo dos locais a se-rem pesquisados. A finalização desta etapa requer do empreendedorsolicitar, sob condições, a licença ambiental de operação (LO) para ofuncionamento do empreendimento. (Fig. 3)

4) análise de material/análises laboratoriais

Esta etapa, sem muita visibilidade pública, é tão importante quantoas demais e deve estar sempre amparada em contratos claros e responsá-veis junto ao empreendedor, que deverá garantir os estudos laboratoriais,as análises necessárias ao bom entendimento científico dos problemasarqueológicos. Deve-se atentar para cronogramas factíveis que garantama segurança e a qualidade dos estudos a serem realizados. (Fig. 4)

5) educação patrimonial/ formal (escolas) e não formal(comunidade em geral)

Segundo BRUHNS (2004), a Educação Patrimonial é etapa impor-tantíssima no processo de salvamento arqueológico, devendo acompa-

Page 113: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

115

nhar os trabalhos de campo, objetivando perceber a melhor forma delevar o conhecimento adquirido às comunidades afetadas pelas pesqui-sas. A integração na comunidade do conhecimento gerado pela pesqui-sa, muitas vezes só acontece a partir da intervenção da educação noprocesso.

“Ao trabalharmos o acervo arqueológico através da EducaçãoPatrimonial estaremos interagindo com a memória local e, talvez, inter-ferindo em lugares de memória – referências espaciais de memóriascoletivas, espaços de valorização histórica comum, onde a comunidade sereconhece, memoriza, imagens concretas, apreensões visuais”2. (Fig. 5)

Para a autora, a Educação Patrimonial pautada nesta responsabili-dade deve ser um instrumento de educação no processo do ensino for-mal e não formal, bem como um instrumento de “alfabetização cultu-ral”, aqui entendida como uma “pedagogia que propõe a descolonizaçãoda memória e do imaginário do ser humano através de diálogo culturalcom outros, por meio de processos de sensibilização, autoleitura, auto-conscientização e transformação coletiva. (…) descoloniza a incons-ciência política e a memória corporal para intervir na reprodução dopassado; uma pedagogia que cultiva a sensibilidade intercultural e aconsciência performativa necessárias à formação de novas comunidadessolidárias e cooperativas, e novas políticas democráticas de libertação.”3

Através da Educação Patrimonial o cidadão pode vir a compreen-der sua importância no processo sócio-cultural no qual está inserido,almejando uma transformação positiva no seu relacionamento com opatrimônio cultural. Este processo pode interagir tanto com o ensinoformal (escolas – que dependem enormemente da disponibilidade dosseus diretores e do seu cronograma anual), quanto com o não formal

2 BRUHNS, Katianne. Projeto Teórico-metodológico de Educação Patrimonial.Estudo do Patrimônio Arqueológico, Arquitetônico e Paisagístico da área de influênciada LT 500 Kv - Bateias-Ibiúna/ PR-SP. MAE/USP, 2004.

3 BARON, Dan. Alfabetização Cultural. A luta por uma nova humanidade. SP:Alfarrábio, 2004. P 419.

Page 114: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

116

(comunidade do entorno da pesquisa, associações de bairro, etc), deven-do sempre direcionar os trabalhos às necessidades das mesmas, relacio-nando-as ao conhecimento gerado na pesquisa.

6) extroversão arqueológica/publicação

O conceito de extroversão arqueológica tem sido buscado com oobjetivo de tornar o patrimônio arqueológico menos violento, de torná-lomais palatável que o conhecimento adquirido pelos arqueólogos e pelosdemais cientistas ocupados com a arqueologia para que seja um conhe-cimento mais acessível a todos aqueles que dele quiserem se apropriar.Para isso, é necessário não só criar uma linguagem acessível à imensamaioria da população, mas, igualmente, criar mecanismos de publicização,que atinjam as camadas mais despossuídas da população. (Fig. 6)

7) musealização/exposições(permanente/temporária)

A musealização de sítios arqueológicos tem sido utilizada comsucesso em alguns sítios arqueológicos no Brasil. O exemplo maisimportante nesta área concerne aos sítios arqueológicos inseridos noParque Nacional da Serra da Capivara, no sertão do Piauí, estado nor-destino que se tornou Patrimônio da Humanidade com característicassingulares. Algumas outras iniciativas devem ser aqui destacadas, comoa musealização dos sítios arqueológicos litorâneos de gravuras rupestresnas praias do Santinho e Ingleses no norte da Ilha de Santa Catarina,realizada pela 11ª superintendência regional do IPHAN. (Fig. 7)

8) devolução pública e inclusão social

Com as pesquisas de qualquer natureza que tenham como fulcro,

Page 115: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

117

o patrimônio deverá ser objeto sempre de devolução do conhecimentoadquirido à análise das sociedades e populações pretéritas. O patrimôniocultural arqueológico só terá cumprido sua função social, quando forefetivamente compreendido como bem de alcance social, de uso e usu-fruto comum do povo brasileiro. Portanto, é urgente que doravante osnossos pesquisadores tenham uma nova postura perante a sociedadebrasileira, e tragam o patrimônio cultural arqueológico para junto dapopulação, como forma legítima de preservação baseada na cidadania.(Fig. 8)

9) conservação arqueológica (in situ e ex situ)

A perspectiva do salvamento arqueológico deve considerar, emprimeiro lugar, as condições de preservação do patrimônio arqueológico“in situ”, ou seja, a possibilidade de manter o sítio arqueológico no seuexato local onde foi produzido pelas populações pretéritas. Esta idéiadeve estar associada não só ao sítio e aos objetos nele incorporados,mas também à ambiência que possibilitou a instalação e o aproveita-mento do espaço utilizado. No caso de sítios que serão objeto de resgatearqueológico, deve-se atentar para dois padrões de conservação:

1) a conservação do material arqueológico oriundo da pesquisa decampo, a qual deverá estar sempre em condições de receberqualquer estudo complementar, e/ou aberto a outros pesquisa-dores. Uma parte do material sempre que possível deverá cons-tituir coleções abertas ao público, em condições de segurança;

2) conforme está previsto na lei federal nº 3924/61, deverá serdeixado nas pesquisas que optaram pelo resgate arqueológico,um bloco testemunho que representará a conservação do rema-nescente do sítio para as gerações futuras. (Fig. 9)

Page 116: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

118

10) Patrimônio arqueológico: instrumento de desenvolvimentoturístico

O Patrimônio Cultural Arqueológico será instrumento de desenvol-vimento turístico somente após ter sido instrumento de EducaçãoPatrimonial e de Inclusão Social. Não há como transformar verdadeira-mente o Patrimônio Cultural Arqueológico em veículo de desenvolvi-mento turístico “sustentado”, sem antes garantir a ele os atributos ne-cessários da apropriação pública, uma vez que os bens arqueológicos,por definição, são bens de alcance social. Sendo assim, falar de Patri-mônio Cultural Arqueológico como vetor de desenvolvimento turísticonos remete a questões ligadas essencialmente à publicização, socializa-ção e inclusão destes bens na construção da cidadania. Em primeirolugar é preciso garantir que a cidadania cultural esteja contemplada noprocesso de desenvolvimento turístico, para que este seja efetivo.

Um dos elementos do Vetor do Desenvolvimento Turístico quedeverá dialogar com o Patrimônio Cultural Arqueológico é o PatrimônioNatural, as belezas naturais, as paisagens históricas, ou seja, é necessá-rio aplicar o conhecimento interdisciplinar, transdisciplinar, colocá-los aserviço da sociedade e avançar na construção de novas categorias, criandovasos comunicantes que permitam a utilização de valores agregados aosatrativos turísticos locais. O Patrimônio Cultural Arqueológico será sem-pre um bem de valor social, simbólico, afetivo e político, que se cons-titui em instrumento de cidadania e desenvolvimento. (Fig. 10)

CONCLUSÕES

Do ponto de vista da normalização, é necessário um avanço nasquestões relacionadas à proteção do patrimônio arqueológico histórico,incluindo o patrimônio arqueológico subaquático. Por outro lado, é ur-gente uma aglutinação das forças mais progressistas do pensamentoarqueológico brasileiro, no sentido de se produzir uma práxis efetiva-

Page 117: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

119

mente comprometida com o fazer arqueológico inclusivo. De nada vaiadiantar um avanço sistemático, mesmo que paulatino das normas le-gais de proteção, se não acontecer um engajamento por parte significa-tiva dos agentes, dos profissionais que se ocupam da arqueologia noBrasil. Desta forma, tornou-se necessário romper com o pensamentopragmático e conservador que vem dominando a arqueologia nacional,incluindo-se as agências de fomento científico nas áreas das ciênciasarqueológicas, históricas e antropológicas, e os cargos departamen-talizados das Universidades e Instituições de pesquisa. Não devemosperder de vista que as Instituições se locupletaram nos períodos deditadura e que ainda hoje exercem forte influência sobre novos profis-sionais, ocupados em reproduzir um pensamento excludente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASTOS, R.L. (2002). Patrimônio Arqueológico, Preservação e Representa-ções Sociais: Uma proposta para o País através da análise da situaçãodo Litoral Sul de Santa Catarina. Tese de Doutorado. Universidade deSão Paulo. Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo.

BRUHNS, KATIANNE (2004). Projeto Teórico-metodológico de EducaçãoPatrimonial. In: Estudo do Patrimônio Arqueológico, Arquitetônico ePaisagístico da área de influência da LT 500 Kv – Bateias-Ibiúna/PR-SP,MAE/USP.

Page 118: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

120

FIG. 1 – Arqueólogo faz observação de superfície, buscando porvestígios que possam caracterizar a área arqueológicamente.

FIG. 2 – Prospecção.

Page 119: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

121

FIG. 3 – Resgate arqueológico no Sítio Topo do Guararemano estado de São Paulo.

FIG. 4 – Análise de material lítico no laboratório da UniversidadeRegional Integrada do Alto Uruguai e Missões – Campus

Erechim/RS, durante aula no curso de Pós-graduação em Arqueologia.

Page 120: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

122

FIG. 5 – Aula de Educação Patrimonial em escola da rede municipalde ensino, localizada na Costa da Lagoa – Ilha de Santa Catarina.

FIG. 6 – Crianças fazem réplicas de artefatos arqueológicos no dia de Açãovoltada a Cultura no Sambaqui Ponta das Almas – Ilha de Santa Catarina.

Page 121: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

123

FIG. 7 – Parte da área musealizada no Sítio Arqueológico do tipo OficinasLíticas localizado na Praia de Ingleses, norte da Ilha de Santa Catarina.

Page 122: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

124

FIG. 8 – Apresentação de grupo circense que trataou de questões voltadas apreservação do Meio Ambiente e Patrimônio Arqueológico, na Ação Cultural

realizada no mês de abril de 2005 na área do Sambaqui Ponta das Almas,Lagoa da Conceição – Ilha de Santa Catarina.

Page 123: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

125FIG. 10 – Painel com Arte Rupestre representando uma Arara que

pertence ao Parque da Serra da Capivara no estado do Piauí.

FIG. 9 – Vista aérea do Sambaqui Ponta da Garopaba do Sul– Jaguaruna/SC, atualmente cercado. Até 2 anos trás este Sambaqui

foi utilizado para prática de motocross e jipecross.

Page 124: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

127

LA GESTIÓN DEL PATRIMONIOARQUEOLÓGICO EN ESPAÑA.DE LA REALIDAD A LA CALIDAD

M A T I L D E G O N Z Á L E Z M É N D E Z

En este trabajo se tratará de dar una visión general de la gestióndel Patrimonio Arqueológico (en adelante PA) español en las últimasdécadas haciendo referencias concretas a la comunidad gallega. El tra-bajo se desarrolla a partir un breve repaso histórico por la arqueologíadel último cuarto de siglo (apdo 1) para, posteriormente, tratar algunasinsuficiencias actuales (apdo 2) junto con algunas vías de desarrollo enGalicia (apdo 3).

1. INTRODUCCIÓN: LA ARQUEOLOGÍA ESPAÑOLADE LOS ÚLTIMOS AÑOS

Entre el año 1979 y 1985 podemos apuntar el final de una etapade la arqueología española, en la que la docencia e investigación eranprácticamente sus únicos ámbitos de acción, y el inicio de una nuevacaracterizada, sobre todo, por el nacimiento y enorme desarrollo delámbito de la gestión. Este cambio comienza con la restauración de lademocracia, después de la muerte de Franco, y sigue con la aprobaciónde una nueva constitución en 1978.

La Constitución tiene tres implicaciones fundamentales para lagestión del patrimonio cultural en general, y arqueológico en particular:(1) La consideración del España como un Estado Social de Derecho en

Page 125: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

128

el que el PA se entiende como bien de interés público, aunque sea depropiedad privada, (2) la conservación y enriquecimiento del patrimoniocultural como una obligación de las instituciones públicas y (3) ladescentralización territorial.

Efectivamente el Estado Español, entre 1979 y 1986, fue divido en17 comunidades autónomas a las que le fueron transferidas las compe-tencias en materia de patrimonio histórico1. Además, en 1985 se apruebauna nueva ley estatal de patrimonio histórico, la Ley 16/85 de PatrimonioHistórico Español. A partir de aquí, las diferentes autonomías redactaránlegislaciones propias.

Aunque derivadas de una legislación común como es la estatal, laslegislaciones autonómicas serán distintas, pues tratarán de legislar aten-diendo a las circunstancias del patrimonio que administran y a los pro-blemas concretos de cada comunidad2. No obstante, todas tienen comorasgo común que están pensadas para una arqueología de investigacióny no se reconocen algunos aspectos que pueden ser considerados bási-cos en la gestión. Así lo muestra, por ejemplo, la inexistencia de me-didas para la conservación de los yacimientos excavados, o el que ladifusión de los resultados se plantee, generalmente, dirigida a profesio-nales y público especializado.

Cuando en la primera mitad de los 80 se traspasan las competenciasen materia de PA, las comunidades autónomas las asumen con muchoentusiasmo pero con muy poco o ningún sistema de trabajo, lo que hallevado a que cada autonomía tuviese que organizar el suyo (Martínezy Querol 2004). Así habrá, desde comunidades en las que la arqueología

1 En el Estado Español la legislación arqueológica no tiene una formulación legalindependiente, sino que se halla incluida en una ley que abarca al conjunto del patrimoniohistórico y cultural. Por eso cuando hablamos de patrimonio histórico o cultural seentiende que el arqueológico es una parte del mismo que participa de sus mismascircunstancias.

2 Una muestra de ello es, por ejemplo, la especial referencia a las excavacionessubacuáticas en Galicia y Asturias o, a las excavaciones paleontológicas en Castilla-León, Aragón y País Vasco.

Page 126: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

129

no tenga un tratamiento diferenciado respecto a los demás tipos depatrimonio cultural a otras, como la gallega, en las que se gestionadesde un servicio específico.

Resultado de legislaciones, organigramas de trabajo y políticasdiferenciadas, los programas de actuación sobre el PA de cada autonomíaserán diferentes, pero todas hicieron de la protección y conservación delos bienes arqueológicos su primera prioridad (Martínez 2002). Además,se pueden apuntar una serie de transformaciones comunes a todas que,en su conjunto, permitirán dar un nuevo cariz a la arqueología española.Estas transformaciones son:

– Una mayor sensibilidad que el anterior gobierno centralista haciael patrimonio cultural, comenzando pronto a crear equipos detrabajo compuestos de diferentes técnicos (arquitectos, arqueó-logos, restauradores…) que permitieron pasar de una leve laborde tutela sobre el PA a una gestión más o menos conveniente-mente abordada.

– Una ampliación y diversificación del trabajo arqueológico, tra-dicionalmente concentrado en la excavación como forma deinvestigación. Así actividades como catalogación, restauración,excavaciones preventivas o de rescate, divulgación… serán cadavez más habituales (Martínez 2002).

– Incremento de los profesionales en el seno de AdministraciónPública del PA y surgimiento de una nueva especie profesionalde arqueólogos dedicados a la arqueología comercial.

– La disposición de un inventario de bienes arqueológicos, comoherramienta básica de organización del conjunto de bienes, seráuna prioridad.

– La instauración de una fórmula de trabajo caracterizada, másque por la planificación y organización, por la atención a losproblemas puntuales que van surgiendo.

Page 127: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

130

Pero esta evolución en la gestión del PA a lo largo del últimocuarto del pasado siglo deriva, no sólo de cambios políticos o legislativos,sino también económicos y sociológicos. Por ejemplo:

Es en los 80 y 90 cuando se aborda una etapa de grandes obraspúblicas (gasoductos, autovías, etc.), que en muchos otros países europeosse habían construido décadas atrás. Financiados en parte por la UE, lostrabajos y estudios de impacto ambiental de estas obras demandarán eloportuno personal técnico capaz de abordarlos. Así, con independenciadel resultado, que en unas ocasiones fue más exitoso que en otras, estasgrandes obras permitieron el desarrollo de equipos de trabajo, de em-presas privadas y universidades, para satisfacer las necesidades de gestióndel PA.

Es también en la década de los 80 y 90 cuando crece de formaexponencial la conciencia ecológica y preservacionista de la sociedadespañola y en este contexto el público demanda un mayor control en laconservación de bienes arqueológicos y un mayor acceso público a losmismos. El resultado final es un cambio de tal magnitud que algunasinvestigadoras (Martínez y Querol 2004) lo han calificado de revolución.Resultado de tales modificaciones, la arqueología comenzó a hacerseevidente para organismos e instituciones que no eran ya los de cultura,para promotores y empresas e incluso para los ciudadanos, que empezarona percibir que había arqueología bastante más acá de Egipto, aunque losvestigios fuesen bastante menos seductores y grandiosos que momias opirámides.

Y si en principio la evidencia de un patrimonio arqueológico quegestionar fue para todos (profesionales, promotores y ciudadanos) enforma de problema, pues inicialmente se atendía a las urgencias queaparecían sin previsión, a medida que se iban diseñando cauces admi-nistrativos de actuación, a medida que se fue contando con un inventariode yacimientos con el que predecir el impacto de las obras sobre el PA,en suma, a medida que se acumula la experiencia, la gestión inicia suconsolidación y, como consecuencia, cambia el panorama de la arqueo-logía en todo el país (González 2000).

Page 128: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

131

En diversas autonomías surgen lo que se llamó modelos de gestióndel patrimonio arqueológico, que responden al intento de organizar laadministración de la actividad arqueológica a partir de unos objetivospreviamente concretados y de un método y organización del trabajodefinidos. Entre ellos el modelo andaluz y el modelo madrileño seránlos más célebres. No vamos a sintetizar aquí lo mucho que se ha escritosobre ellos3 sino que, simplemente, destacaremos tres de sus insuficien-cias, pues permiten ejemplificar las del conjunto de las autonomías delEstado. Estas carencias son: (1) La falta de un entendimiento integral dela gestión del patrimonio, (2) la falta de un auténtico programa detrabajo y (3) la falta de una auténtica política en materia arqueológica.

2. LIMITACIONES EN LA GESTIÓN DELPATRIMONIO ARQUEOLÓGICO

Entender la gestión como algunos lo hacían (Cleere 1993) lo hace,como la labor de identificación, protección, preservación y presentación alpúblico de los restos materiales del pasado, hoy goza de general aceptación,pero hasta hace poco tiempo la gestión de la arqueología en España teníaun sentido mucho más restrictivo , comprendiendo fundamentalmente lasactividades de identificación y salvamento y obviando, o reduciendo enextremo, las demás actividades. Así, por ejemplo, el modelo Madrid degestión del PA se centra fundamentalmente en la protección mientras queel andaluz en la investigación. Con ello se minimizan o ignoran otrosámbitos de la gestión como puede ser la conservación, mantenimiento ydivulgación del legado arqueológico. Es por eso que sólo comenzará arealizarse una auténtica gestión del PA cuando se ordenen y administrentodos los aspectos que esta gestión involucra.

3 Para el modelo Madrid puede consultarse Velasco (1992); Antona (1993); Vázquez(1996) y para el modelo andaluz Salvatierra (1994); y Rodríguez Temiño y Rodríguezde Guzmán (1997). En Rodríguez Temiño (2004) se tratan ambos modelos.

Page 129: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

132

En relación con la carencia de un programa de trabajo sepueden apuntar varias incompetencias que empiezan con el hecho deque sin una concepción integral del trabajo (tal y como hemos vistoen el punto anterior), no se puede realizar una programación sistemá-tica del mismo. Por otro lado, el entendimiento limitado de lo que esun programa de trabajo (como poco más que una exposición deobjetivos y tareas que los permitan cumplir), sin recursos teóricos,materiales y humanos que permitan el cumplimiento de tales objetivos(Criado 2001) tampoco permite el desarrollo de los mismos. Y en laarqueología española, en general existe una comprensión muy restric-tiva de lo que son los programas de trabajo, derivada, sobre todo, delescaso apoyo político a los programas que deben diseñar las institu-ciones públicas responsables.

Este escaso apoyo político a los programas de trabajo, e inclusola falta de directrices para diseñarlos, deriva de la inexistencia deuna auténtica política en materia de patrimonio cultural. En efecto,la política de patrimonio cultural (entendida ésta como el compendiode objetivos globales y las estrategias generales para alcanzarlos)que se diseñan desde la Administración del Estado, no tuvo una pre-sencia efectiva que permitiese fundamentar y dirigir un programa detrabajo.

Tal y como apunta Rodríguez (2004) para el caso de la arqueologíahay una falta de política arqueológica entendida como conjunto de cri-terios y programas para la gestión de este patrimonio.

En efecto, en lugar de definir los objetivos para la administraciónde los bienes arqueológicos, los criterios con que administrarlos y losrecursos para atenderlos, la acción sobre los bienes arqueológicos se hadesarrollado en función de la política del suelo y la ordenación delterritorio (Criado 2001). Al tiempo que se multiplican las afeccionessobre los restos, se trata de paliar, conservar, proteger y divulgar, perono existe una idea previa de lo que queremos proteger conservar ydivulgar, y por lo tanto no puede existir un programa de trabajo orien-tado a tales cometidos.

Page 130: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

133

Las insuficiencias que acabamos de apuntar siguen aún presentesen buena medida y son ellas, junto con la falta de una integración detodos los sectores de actividad (academia, administración, sector priva-do) las que coartan el desarrollo de una auténtica gestión del PA.

Esto no quiere decir que no se gestione el PA, sino que se gestionadesde la atención a las necesidades más perentorias y puntuales y conun grado de proyección y programación mucho más bajo del que seríadeseable. Así, más que una gestión del PA orientada a la consecución deunos objetivos definidos en el contexto de una política de acción enmateria de patrimonio cultural, tenemos una gestión orientada a laresolución de los problemas arqueológicos que se presentan en el ámbitode la actividad constructiva.

3. BASES PARA UNA GESTIÓN DE CALIDAD

Después de esta visión sintética del panorama arqueológico españoly los problemas fundamentales que debe afrontar, toca ahora detenernosen alguna de las herramientas que podemos utilizar para resolverlos.Esto es lo que haremos ahora haciendo especial referencia a la comunidadgallega, que es la que nos resulta más próxima. Tres herramientas bá-sicas para administrar y gestionar el patrimonio arqueológico son:

– La legislación, como base para tratar y actuar sobre él.

– Los inventarios como base para conocer cantidad, variedad, es-tado de conservación… de los bienes a gestionar.

– Los planes de trabajo como base para actuar de acuerdo con laley, los datos del inventario y los recursos de que disponemos.

Page 131: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

134

Legislación ajustada

La ley es la base de acción sobre el PA porque ofrece los meca-nismos y procedimientos para la actuación. En relación con la leytenemos:

Una legislación para el conjunto del Estado Ley 16/85 de Patrimoniohistórico Español y derivada de ella, leyes autonómicas. En Galicia laLey 8/1995 de Patrimonio Cultural de Galicia.

Otras legislaciones aplicables en materia de patrimonio históricocomo pueden ser: la ley de Protección medioambiental, la de concen-tración parcelaria, la de ordenación urbanística y protección del mediorural de Galicia…

No se trata aquí de apuntar todas ni de pormenorizar en cada unade ellas, pero sí de apuntar una valoración general como es que la sumade leyes nacionales y autonómicas, junto con las regulaciones que dancobertura a la protección del patrimonio histórico español, llenan unmontón de páginas. Sin embargo, una legislación tan amplia no es enabsoluto garantía de una adecuada protección. De hecho, ya desde haceaños se sostiene que la protección del patrimonio se aborda mejor desdelegislaciones sectoriales distintas a la de patrimonio histórico (Tallón1993), y concretamente con una buena ley del suelo, esto es, de orde-nación territorial (Gerrard 1995: 70-1).

Y esto es así porque, tal y como apuntamos más arriba, el ejercicioarqueológico depende en buena medida de la política del suelo y, enEspaña, sigue aún pendiente una auténtica política de ordenación delsuelo que concilie los diferentes intereses, públicos y privados, queconcurren en él (Criado 1996). Y dado que la existencia de bienes his-tóricos impone restricciones al libre uso del suelo “no parece factibleque exista una auténtica política arqueológica mientras no se garanticela plena ordenación del medio” (ibidem: 24).

De hecho, en España hemos asistido, en la década de los 80, a unfuerte incremento de la actividad constructiva, favorecida por la refor-ma de las leyes urbanísticas que liberalizaron en gran medida el merca-

Page 132: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

135

do y uso del suelo, a costa de la conservación histórica y medioambiental.Y los criterios de protección arqueológica ante el crecimiento exponencialde las obras son, fundamentalmente (Rodríguez 2004): (1) excavacionesprevias a obras de nueva planta y (2) conservación de ciertos restosvalorados como interesantes o que no presentaban especiales dificul-tades a la obra. Esto genera demasiadas excavaciones con muy pocosestudios posteriores de sus restos, dada la inexistencia de recursos paraello. Se origina así un problema común a muchos otros países europeos:el ingente volumen de datos y restos que no se pueden gestionar por lafalta de recursos.

Pero la plena ordenación del territorio no es problema fácilmentesolventable, pues es necesario, en primer lugar, ir más allá del enten-dimiento capitalista del suelo como espacio de la producción paraentenderlo también como espacio cultural y de desarrollo social. Poreso, cambiar la situación de desenfreno de excavaciones pasa, tal ycomo apunta Rodríguez (2004) y concuerdan otros (Martínez y Querol2004), por invertir los términos en la gestión del suelo: en lugar degestionar la oferta de suelo construible, excavando todo lo que en él seencuentre, se trata de gestionar la demanda, decidiendo de antemanoqué zonas urbanizables deben ser áreas de reserva arqueológica. Y esque, dando una vuelta una vez más sobre lo mismo, se necesita diseñaruna política arqueológica y no de hacer arqueología en la política delsuelo.

Inventario de bienes a gestionar

El segundo instrumento para una gestión de calidad es el inventario.Localizar y documentar los restos arqueológicos es la primera condiciónnecesaria para decidir sobre su futuro.

La necesidad de un inventario aparece reconocida en la legislaciónespañola desde 1911. En la ley sobre excavaciones arqueológicas yconservación de ruinas se estableció que el ministerio correspondiente

Page 133: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

136

haría un inventario de ruinas de España, lo mismo en la ley de 1933 yen la de 1985, pero cuando se transfieren las competencias en materiade PA a las autonomías no hay un inventario. Por eso cada comunidadiniciará la realización del suyo. En Galicia, el Servicio de Arqueoloxíade la Dirección Xeral do Patrimonio Histórico e Documental de laXunta de Galicia comienza el inventario de ámbito gallego en 1986.Este inventario se nutre con (Tallón e Infante 1995):

1. Los trabajos encaminados específicamente a la catalogación deyacimientos financiados por la Consellería de Cultura.

2. La información aportada por trabajos de carácter puntualenfocados a otras actuaciones específicas4.

3. Los datos generados en prospecciones encaminadas a unainvestigación concreta.

En el año 1996 estaban inventariados el 85% de los ayuntamientosgallegos desde una perspectiva de trabajo dirigida, fundamentalmente, ala localización de yacimientos conocidos en la bibliografía y/o visibles enel paisaje (Tallón e Infante 1995: 15). En el 2004 este inventario contabacon cerca de 15000 yacimientos arqueológicos (Tallón et alli 2004).

Pero una gestión de calidad, que garantice la conservación de losbienes, al menos de los más relevantes, necesita contar con algo más queun inventario que recoja el conjunto de los elementos patrimoniales, suscaracterísticas y estado de conservación, necesita contar con un inventariovalorado en el que cada elemento incorpore una evaluación del interéscientífico y social de cada uno de los bienes5. Esta evaluación del interéspatrimonial de los bienes permitirá decidir aún antes de cualquier obra

4 Estos pueden ser financiados por la Administración o por las empresas promoto-ras de los trabajos en los que se encuentra implicado el inventario.

5 Un sistema de evaluación patrimonial de yacimientos arqueológicos aplicable encualquier contexto puede verse en González (1999 y 2000), basado, fundamentalmente,en trabajos anteriores de Darvill et alli (1987) y Darvill (1992).

Page 134: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

137

que los pueda afectar, cuáles se deberán conservarse por encima de todo,cuáles se pueden preservar en determinadas circunstancias y cuáles puedenser objeto de una conservación negativa (excavación).

De hecho, en Galicia el inventario valorado es una disposiciónlegal, pues la ley gallega contempla, tanto para bienes muebles comoinmuebles e inmateriales, tres categorías de protección. Ambas se hayanrecogidas en el Inventario Xeral do patrimonio cultural de Galicia (art.22.1) y son las siguientes:

– Una categoría de bienes que poseen la máxima protección, losdeclarados Bien de Interés Cultural (BIC).

– Una segunda que se corresponde con los bienes catalogados,los que sin estar declarados posean una especial singularidad(art. 17.1). Estos se inscriben en el Catálogo del patrimoniocultural de Galicia (art. 24.2.b).

– Y una tercera que se corresponde con los bienes inventariadosque, sin estar incluidos en las categorías anteriores, merezcan serconservados, y se incluyan en el Inventario General (art. 24.2.c)6.

Del procedimiento para incluir a los bienes en una u otra categoría,las referencias en la ley son tan exiguas como que tales categorías seestablecerán en función de la incidencia que cada bien tuvo en elpatrimonio de Galicia (preámbulo de la ley), o citas tales como queserán declarados de interés cultural “los bienes más destacados” del

6 C. Barrero, en un trabajo en el que reflexiona sobre la organización administra-tiva del patrimonio histórico en el conjunto del Estado (Barrero 1997), observa que,ante las diferentes categorías de protección que se establecen en las distintas CCAA,sería preciso buscar categorías comunes puesto que se puede dar el caso de que, dosbienes de similares características situados en dos CCAA distintas, posean diferentescategorías de protección, problema ya notado anteriormente por Querol y Martínez(1996: 172).

7 Conocemos como declarados BICs en Galicia 1 yacimiento paleolítico, 3yacimientos megalíticos, 201 grabados rupestres, 2 castros y 5 yacimientos romanos.

Page 135: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

138

patrimonio cultural de Galicia (art. 8.1)7 y que serán catalogados los que“sin llegar a ser declarados posean especial singularidad” (art. 17.1).Estas referencias son entendidas por algunos técnicos como que lascategorías atienden a la mayor o menor presencia en los bienes devalores históricos, artísticos, etc. (Pérez 1997: 19), pero tampoco sellega a decir cómo se discierne esta mayor o menor abundancia devalores en un bien.

Aunque el procedimiento puede establecerse en posteriores desar-rollos reglamentarios de la ley, lo cierto es que, 10 años después de supromulgación, no se conoce avance alguno en este sentido. En cualquiercaso, para incluir en una u otra categoría a los bienes, para decidircuáles tienen un mayor o menor valor histórico tendrá que abordarseuna evaluación del actual inventario.Esta carencia constituye un buen ejemplo de la falta de una auténticapolítica arqueológica, pues mientras que se redacta un texto legal quepromueve la consecución de un inventario de bienes diferenciado segúnsu valor, no existe una política que recoja y solvente esta necesidad.

Planes de trabajo

Desde un entendimiento del programa de trabajo tan global comohemos apuntado en el epígrafe anterior apenas existen programas detrabajo en la gestión del PA. No obstante el trabajo trata de proyectarseen la medida de las posibilidades y recursos de que se dispone.

Así por ejemplo, la administración de patrimonio en Galicia tiene,fundamentalmente, los siguientes objetivos de trabajo:

1. Controlar cada proyecto de obras sobre el territorio (canteras,oleoductos, carreteras, reforestaciones…) informando y aproban-do la actividad que generan tales proyectos.

2. Promover líneas de acción para la documentación, investigación,conservación y presentación al público de los bienes arqueológicos.

Page 136: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

139

Estas actividades están organizadas en planes de trabajo. Así laAdministración de patrimonio en 2004 contaba con los siguientes (Tallónet alli 2004): (1) arqueología preventiva (2) evaluación y corrección deimpacto arqueológico y (3) presentación pública de yacimientos.

Arqueología preventiva: basada en ofrecer mecanismos de protec-ción a aquellos elementos necesitados de ella. La herramienta funda-mental para ello es el inventario comentado en el epígrafe anterior.

La segunda línea esta relacionada con la evaluación y correcciónde impacto arqueológico. Basada en la necesidad de corregir y mini-mizar el impacto que las obras públicas o privadas pueden generar sobrelos bienes arqueológicos. Esta línea de actividad fue iniciada a principiosde los 80 con intervenciones en áreas urbanas, pero su gran desarrollofue en los 90 con las construcción de grandes obras públicas, pues sehicieron necesarias nuevas metodologías y estrategias de trabajo parasolventar los desafíos que estas grandes obras imponían. En la actualidadtodos los proyectos de obras sobre el medio, ya sea rural o urbano, soninformados por el Servicio de Arqueoloxía, Dirección Xeral doPatrimonio Histórico e Documental de la Xunta de Galicia que dicta lasmedidas oportunas para la protección del PA que se pueda ver afectadopor alguna de estas obras.

Siendo estas medidas favorables a la conservación del PA, a medioy largo plazo debería tenderse a la definición de áreas de reserva arqueo-lógica que eviten la inclusión del área que ocupan en cualquier proyectode obra.

La tercera línea de acción es la difusión.Puestos en marcha los programas de inventario y corrección de

impacto, en 2001 se inicia el de Programa de puesta en valor de yacimi-entos arqueológicos denominado Rede galega do patrimonio arqueo-lóxico. Con origen en experiencias anteriores de conservación y dispo-sición al público de yacimientos y en la necesidad de dar adecuadasolución a yacimientos excavados y estudiados años atrás, la Rede ga-lega pretende ser una estructura que integre y organice todas las inicia-tivas en la conservación, difusión y presentación al público del patrimonio

Page 137: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

140

arqueológico en Galicia. La red esta formada por:

– Un servicio central que promueve las acciones de desarrollo dela red, ofrecería servicios comunes de apoyo y cooperación asus integrantes.

– Un grupo de centros arqueológicos: parques arqueológicos yyacimientos visitables.

Los parques arqueológicos son yacimientos que, además de expo-nerse y disponerse al público, están pensados como centros de docu-mentación, investigación y difusión pública de los cuatro períodos másimportantes del registro arqueológico gallego y se instalarían uno encada una de las cuatro provincias, en espacios públicos declarados Biende Interés Cultural

Los lugares visitables serán áreas con bienes arqueológicos enbuenas condiciones para la visita pública: adecuado mantenimiento delbien, información al público, servicios para la visita…

En la actualidad están se encuentran más adelantados el parquearqueológico de la cultura castreña (Ourense) (Infante et alli 2004) y Elparque arqueológico de Arte Rupestre (Pontevedra) (García et alli 2004)con la disposición de los terrenos, estudios previos, excavaciones,proyecto de infraestructuras de investigación y divulgación (edificios)….Con todo, estamos esperando conocer el futuro de este programa pueslas elecciones autonómicas del pasado junio han diseñado un gobiernode distinto signo político y, dado que este programa de Rede galega dopatrimonio arqueolóxico es de iniciativa pública, deberá ser asumidopor las nuevas instancias de gobierno. Tenemos así otro ejemplo más delo fundamental que resulta la política en arqueología.

BIBLIOGRAFÍA

ANTONA ANTONA DEL VAL, V. (1993). “Inventario y protección delpatrimonio en la Comunidad de Madrid”. En A Jimeno Martínez, J. M.

Page 138: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

141

Val (del) Recio y J. J. Fernández Moreno (eds.). Inventarios y CartasArqueológicas. Homenaje a Blas Taracena. pp. 239-245. Valladolid: Jun-ta de Castilla y León.

BARRERO, C. (1997). “La organización administrativa de las Bellas Artes. Unasreflexiones de futuro”. Patrimonio Cultural y Derecho, 1: 75-99. Madrid.

CLEERE, H. (1993). “Managing the archaeological heritage”. Antiquity, 67:400-5. Gloucester.

CRIADO BOADO, F. (1996). “El futuro de la arqueología ¿la arqueología delfuturo?”. Trabajos de Prehistoria, 53 (1): 15-35. Madrid.

DARVILL, T. (1992). Monuments Protección programme, Monument evaluationmanual. Part I & II. Londres: Englihs Heritage.

DARVILL, T. SAUNDERS, A. Y STARTIN, B. (1987). “A question of nationalimportance: approaches to the evaluation of ancient monuments for theMonuments Protection Programme in England”. Antiquity, 61: 393-408.Gloucester.

GERRARD, C. (1995). Arqueología en gran Bretaña. En Actas de la I Reunióninternacional sobre el Patrimonio Arqueológico: Modelos de Gestión(Valencia, diciembre de 1993), 17-29 y 70-1. Valencia.

GONZÁLEZ MÉNDEZ, M. (1999). Investigación y puesta en valor delPatrimonio Histórico: Planteamientos y propuestas desde la Arqueologíadel Paisaje. Santiago de Compostela: Unversidad de Santiago deCompostela. (publicación en CD).

— (2000). “Sistemas de evaluación del interés patrimonial de los yacimientosarqueológicos” En Bóveda López (coord.): Gestión patrimonial ydesarrollo social. Santiago de Compostela. Pp. 19-34.

INFANTE ROURA, F.; REY GARCÍA, J.M.; RODRÍGUEZ PUENTES, E. YTALLÓN NIETO, M. J. (2004). El parque arqueológico de la culturacastreña. Bases para su formalización. Santiago de Compostela:Consellería de Cultura, Comunicación Social e Turismo, Xunta de Galicia.

MARTÍNEZ DÍAZ, B. Y QUEROL, M. A. (2004). La gestión del patrimonioarqueológico en las comunidades autónomas: Balance y situaciónactual.Boletín del Instituto Andaluz del Patrimonio Histórico, 48: 101-9.

MARTÍNEZ NAVARRETE, M. I. (2002). “Archaeological thought and practicein Spain”. In P. F. Biehl, A. Gramsch & A. Marciniak (eds.): ArchäologienEuropas. pp. 361-401. Waxmann ed.

Page 139: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

142

PÉREZ OUTEIRIÑO, B. (1997). A lei do patrimonio cultural de Galicia. EnC. Fontenla (Coord): As actuacións no patrimonio construído: un diálogointerdisciplinar. pp. 11-22. Santiago: Xunta de Galicia.

QUEROL FERNÁNDEZ M. A. y MARTÍNEZ DÍAZ B. (1996). La gestión delpatrimonio arqueológico en España. Madrid: Alianza.

REY GARCÍA, J. M.; INFANTE ROURA, F.; RODRÍGUEZ PUENTES, E. yTALLÓN NIETO, M.ª J. (2004). O parque arqueolóxico de arte rupestre.Ideas, estratexias y accións para unha xestión integral dos petroglifosgalegos. Santiago de Compostela: Consellería de Cultura, ComunicaciónSocial e Turismo, Xunta de Galicia.

RODRÍGUEZ TEMIÑO, I. y RODRIGUEZ DE GUZMÁN SANCHEZ, S.(1997). “Excavaciones arqueológicas en Andalucía: (1984-1995)”. Trabajosde Prehistoria, 54 (1): 57-70. Madrid.

RODRÍGUEZ TEMIÑO, I. (2004). Arqueología urbana en España. Barcelona:Ariel.

SALVATIERRA CUENCA, V. (1994). “Historia y desarrollo del modelo andaluzde arqueología”. Trabajos de Prehistoria, 51 (1): 1-13. Madrid.

TALLÓN NIETO, M. (1993). Control del impacto arqueológico de las obrasde inciativa pública en Galicia. En A. Jimeno Martínez, J. M. Val (del)Recio y J. J. Fernández Moreno (eds). Inventarios y Cartas Arqueológi-cas. Homenaje a Blas Taracena. pp. 125-33. Valladolid: Junta de Castillay León.

TALLÓN NIETO M. J. y INFANTE ROURA, F. (1995). La administración delPatrimonio Arqueológico en Galicia. Santiago: Xunta de Galicia.

TALLÓN NIETO, M. J.; RODRÍGUEZ PUENTES, E.; INFANTE ROURA, F.y REY GARCÍA, J. M. (2004). A rede galega do patrimonio arqueolóxico.Santiago de Compostela: Consellería de Cultura, Comunicación Social eTurismo, Xunta de Galicia.

VÁZQUEZ LEÓN, L. (1996). “El “Modelo Madrid” de arqueología de gestiónpatrimonial”. Estudios del hombre, 3: 205-225.

VELASCO STEIGRAD, F. (1992). “Un modelo de intervención a partir de ladeclaración de zonas arqueológicas amplias. El caso de Madrid”. En Actasde las Jornadas Internacionales de Arqueología de Intervención (S.Sebastián, diciembre de 1991), 75-83. Victoria: Centro de Patrimoniocultural Vasco.

Page 140: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

143

LA LICHÉNOMÉTRIE

F . G O BF . P E T I TJ . - P . B R AVA R D

INTRODUCTION

La lichénométrie a été développée par les géomorphologues pourdater des dépôts ou des surfaces rocheuses et déterminer l’état de stabilitéd’éléments appartenant à des moraines, des éboulis ou à la charge defond des rivières à blocs. Comme son nom l’indique, elle fait appelà l’âge des lichens, association symbiotique entre une algue et unchampignon, présents sur les “dépôts”. Cette technique se fonde surl’hypothèse que le plus grand lichen présent sur un substrat est le plusvieux et que, si le taux de croissance des lichens d’une espèce donnéeest connu, l’âge du lichen le plus grand donnera l’âge minimum dusubstrat (Grove, 1988). En effet, lorsqu’une surface rocheuse est miseau jour, naturellement ou artificiellement, elle est vierge de végétationet elle peut être colonisée par une végétation pionnière de lichens. Uneanalyse détaillée de la population de lichens présente sur une surfacepermet donc, à partir de la courbe de croissance, de déterminer l’âgeminimum de la mise au jour de la surface.

Développée durant les années 1950 en géomorphologie glaciaire,la lichénométrie a trouvé depuis de nombreuses autres applications. Ellea été utilisée pour dater des lignes de rivage (Worsley, 1990), desglissements de terrain ou l’avancée de glaciers rocheux (André, 1994).Elle a également permis de suivre la rétraction de névés (Iwafune, 1997),de dater les mouvements de failles (Nikonov et Shebalina, 1979; Bull,

Page 141: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

144

2003), de mettre en évidence les séquences d’érosion et d’exhaussementde rivières (Harvey et al., 1984; Macklin et al., 1992; Gob et al., 2003)et de déterminer la compétence de rivières de montagne (Gob et al.,2003). De plus, elle a été utilisée par une équipe regroupant desarchéologues et des biologistes pour dater des monuments préhistoriquesen Israël (Lev-Yadun et al., 1996).

Il existe des milliers d’espèces de lichens mais seules quelques-unes peuvent être utilisées en lichénométrie, elles ont généralement unecroissance lente et leur détermination est assez simple. L’espèce la pluscouramment utilisée est Rhirzocarpon geographicum que l’on trouvesous toutes les latitudes et dont la couleur jaune vert est caractéristique.La croissance des lichens est variable selon l’espèce considérée et lemilieu dans lequel ils évoluent. Les facteurs les plus influents sont: lesubstrat (lithologie, morphologie, stabilité), l’humidité et la températurede l’air, l’exposition au vent, l’intensité lumineuse, l’exposition àl’abrasion, la couverture neigeuse, la pollution, la végétation avoisinante(concurrence, ombre, etc.) et la richesse en nutriments. La croissancevarie en fonction de ces paramètres et, en vue d’obtenir une datation,elle devra être déterminée pour chaque espèce utilisée et pour chaquerégion étudiée.

La lichénométrie est une technique qui, à mainte reprises, a montréson efficacité pour la datation de phénomènes survenus lors des quelquesderniers siècles. Elle est d’ailleurs particulièrement utilisée pour l’étudedes phénomènes géomorphologiques qui se sont déroulés durant le PetitAge Glaciaire. Mais cette technique a également apporté de bons résultatspour des datations beaucoup plus anciennes, notamment la mise en placede dépôts morainiques vieux de plus de 3000 ans. L’utilisation de lalichénométrie est optimale pour la période historique mais, dans lesmilieux où la vitesse de croissance est très lente, des datations de 3 à4000 ans sont possibles.

Page 142: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

145

LA COURBE DE CROISSANCE OU COURBE D’ÉTALONNAGE

La croissance des lichens crustacés est en relation directe avec leursurface. Leur âge peut donc être déterminé de façon simple, en mesurantleur diamètre et en le comparant à la courbe de croissance de l’espèceconsidérée, préalablement établie. L’élaboration de cette courbe d’éta-lonnage est une des principales contraintes et une des étapes importan-tes de la lichénométrie. Cette courbe confronte, en abscisse, l’âge deslichens et, en ordonnée, leur taille (généralement le plus grand diamètre).Il existe deux techniques pour réaliser cette courbe (Innes, 1985): l’une,peu employée, basée sur la mesure directe (un même lichen est mesurérégulièrement et à intervalles réguliers dans le temps) et l’autre baséesur la mesure indirecte (différents lichens représentant différents stadesde la croissance sont mesurés, leur âge est connu grâce à leur supportqui a pu être daté). Etant donné le caractère non linéaire et l’extrêmelenteur de la croissance des espèces de lichens utilisées en lichénométrie,la technique la plus fiable est la mesure indirecte.

Les surfaces datées de référence utilisées pour établir la courbe decroissance peuvent être de nature diverse. Elles sont généralementd’origine anthropique et les plus couramment utilisées sont les pierrestombales. Les monuments funéraires sont généralement vierges devégétation lorsqu’ils sont érigés. Les lichens présents sur ceux-ci sesont dès lors installés après la mise en place de la tombe et l’âge du plusgrand thalle correspond donc théoriquement à l’âge de cette dernière.D’autres types de surfaces de référence ont également été utilisés: desdéblais de mine, des habitations abandonnées, des murets et des tumulide pierre, des ponts, des tunnels, des monuments,… (Innes, 1985; Jacob,2002). La datation du substrat de référence doit être envisagée avecbeaucoup de précaution. Les tombes, par exemple, peuvent avoir éténettoyées depuis leur mise en place et il n’est pas rare qu’elles soientédifiées plusieurs années avant la première inhumation. Dans le casd’une habitation, c’est le moment de l’abandon qui doit être pris encompte et les lichens doivent être mesurés sur les murs intérieurs. Afin

Page 143: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

146

d’éviter une surestimation de l’âge des lichens, les caractéristiquesarchitecturales, les éléments rajoutés et toutes les inscriptions doiventêtre considérées avec la plus grande attention. (Fig. 1)

Les pierres tombales, les ponts, etc. ne permettent des datationsque pour les 200 à 350 dernières années. Malheureusement, la croissancedes lichens n’est pas régulière et il est vraiment difficile de trouver despoints de calibration beaucoup plus anciens. Certains chercheurs ontmalgré tout pu établir des courbes de croissance valables pour plusieurscentaines voire milliers d’années grâce à la datation 14C de moraines etde dépôts de crue ou encore grâce à la dendrochronologie (Innes, 1985).En Corse, Jacob et al. (2002) proposent une courbe de croissance quipermet des datations jusqu’à plus de 2500 ans. Pour cette courbe, lespoints de calibration les plus anciens correspondent à des mégalithespréhistoriques et à un château médiéval dont la datation a pu êtredéterminée grâce à une étude historique des sites (Gob et al., 2003). Laprécision de ces courbes de croissance décroît avec l’âge des lichens,d’une part, parce que la vitesse de croissance diminue (elle est trèsrapide au départ et devient ensuite plus lente lorsque le lichen dépasse150 à 200 ans) et d’autre part, puisque le nombre de points permettantla construction de la courbe est beaucoup moins important après 2 à 300ans.

Bien que certains auteurs (Haworth et al., 1986; Macklin et al.,1992) préfèrent la droite de régression, la majorité des chercheurs optepour la courbe enveloppe (Gregory, 1976; Lock et al., 1979; Harveyetal., 1984; Innes, 1985). Ainsi, en prenant en compte la courbe-enveloppesupérieure, seuls les points correspondant aux lichens qui ont le plusgrand diamètre pour un âge donné sont retenus. On élimine ainsi lesfacteurs qui pourraient avoir affecté la croissance des lichens, ainsi quetous les lichens qui se seraient installés bien après la mise en place dusupport. La recherche de supports datés portant les lichens de l’espècead hoc est une étape très importante mais fastidieuse de la méthodelichénométrique. En effet, au vu des conditions énoncées, les élémentsdatés utilisables pour l’étalonnage de la courbe sont assez rares et les

Page 144: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

147

courbes sont généralement élaborées avec un nombre de points souventrestreint. Aussi, la courbe obtenue à partir de la courbe-enveloppe repré-sente plus une approximation qu’un maximum du taux de croissance(Innes, 1985).

PRINCIPES DE MESURE

L’âge des lichens, et donc de la surface qui doit être datée, estdéterminé par la simple mesure du diamètre du plus grand thalle présentsur cette surface. Il est malheureusement assez fréquent que la mesuresoit difficile car des paramètres extérieurs, comme les aspérités du supportou la concurrence d’autres végétaux (souvent lichens de la même espèce),contraignent le thalle à perdre sa forme strictement circulaire. Il n’estpas rare non plus de voir se rejoindre des thalles croissant côte à côte,formant ainsi des coalescences dans lesquelles il est très difficile dedistinguer les limites des différents individus. Il convient d’être trèsprudent car si l’une de ces coalescences est considérée en lieu et placed’un seul lichen, l’âge est surestimé. Pour éviter ce genre d’erreur, il estrecommandé de mesurer les thalles les plus circulaires possibles et deconsidérer la moyenne des cinq plus grands lichens présents sur le supportdont on veut connaître l’âge. Les lichens anormalement grands doiventégalement être écartés (Innes, 1985)

La lichénométrie est une technique dont le raisonnement métho-dologique est basé sur des théories à la fois éco-biologiques et géo-morphologiques. Récemment, différents auteurs (Bull et Brandon, 1998;Winchester et Chaudar, 2002) ont proposé des développements métho-dologiques pour introduire un fondement statistique à la méthode etpour pallier le problème posé par la présence des coalescences. Cesnouveaux développements présentent de réels avantages et se révèlentêtre de bons compléments à la technique originelle, mais ne l’ont toutefoispas fondamentalement remise en cause. Cette dernière a d’ailleurs étévalidée par de nombreuses études qui ont apporté d’excellents résultats

Page 145: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

148

et ont parfois permis de vérifier les datations lichénométriques en lesconfrontant à d’autres datations issues de techniques traditionnelles.

CONCLUSIONS

Malgré quelques contraintes, la lichénométrie a fourni de nom-breuses datations plus ou moins précises et s’est révélée particulièrementintéressante là où les techniques traditionnelles étaient difficilementapplicables. Sa facilité de mise en œuvre et son faible coût ont contri-bué à ce qu’elle soit employée dans un large éventail de domaines derecherche et sous toutes les latitudes. Si ce n’est lors de l’élaboration dela courbe d’étalonnage, les historiens et archéologues n’ont jusqu’àprésent que rarement été impliqués dans sa mise en œuvre alors qu’ellepourrait leur rendre de nombreux services. Le rapprochement que l’onobserve de plus en plus entre la géographie et l’archéologie, notammentpar l’intermédiaire de géo-archéologues, laisse entrevoir pour la liché-nométrie un certain avenir dans cette discipline.

BIBLIOGRAPHIE

ANDRÉ, M-F. (1994). Rock glaciers in Svalbard (tentative dating and inferredlong-term velocities). Geografiska Annaler, 76A, 4, p. 235-245.

BULL, W. B. (2003). Lichenometry dating of coseismic changes to a NewZealand landslide complex. Annals of Geophysics, 46 (5), p. 1155-1167.

BULL, W. B. & BRANDON, M. T. (1998). Lichen dating of earthquake-gene-rated regional rockfall events, Southern Alps, New Zealand. Geologicalsociety of America Bulletin, 110 (1), p. 60-84.

GREGORY, K. J. (1976). Lichens and the determination of river channelcapacity. Earth Surface Processes, 1, p. 273-285.

GOB, F.; PETIT, F.; BRAVARD, J-P.; OZER, A. & GOB, A. (2003). Licheno-metric application to historical and subrecent dynamics and sedimenttransport of a Corsican stream (Figarella River-France). QuaternaryScience Reviews, 22, p. 2111-2124.

Page 146: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

149

GROVE, J. M. (1988). The Little Ice Age, Methuen, Londres et New York, p. 498.

HARVEY, A. M.; ALEXANDER, R. W.; JAMES, P. A. (1984). Lichens, soildevelopment and the age of Holocene valley floor landforms: HowgillFells, Cumbria. Geografiska Annaler, 66A, 4, p. 353-366.

HAWORTH, L. A.; CALKIN, P. E.; ELLIS, J. M. (1986). Direct measurementof lichen growth in the Central Brooks Range, Alaska, U.S.A., and itsapplication to lichenometric dating. Arctic and Alpine Research, 18 (3),p. 289-296.

INNES, J. L. (1985). Lichenometry, Progress in Physical Geography, 9, p.187-254.

IWAFUNE, M. (1997). Application of lichenometry to the changing snow patchextent during the last several decades at Karasawa Cirque in Mt.Hotakadake, the Northern Japanese Alps. The Science Reports of TheTohoku University, the 7th series (geography), p. 17-33.

JACOB, N.; GOB, F.; PETIT, F.; BRAVARD, J-P. (2002). Croissance du lichenRhizocarpon geographicum l.s. sur le pourtour nord-occidental de laMéditerranée, Cévennes, Corses et Pyrénées orientales: observation envue d’une application à l’étude des lits rocheux et caillouteux. Géomor-phologie, 4, p. 283-296.

LEV-YADUN, S.; MIZRACHI, Y.; KOCHAVI, M. (1996). Lichenometric studiesof cultural formation processes at Rogem Hiri, Israel exploration Journal,46, 3-4, p. 196-207.

LOCK, W. W.; ANDREWS, J. T.; WEBER, P. J. (1979). A manual forlichenometry, British Geomorphological Research Group TechnicalBulletin 26, p. 47.

MACKLING, M. G.; RUMSBY, B. T.; HEAP, T. (1992). Flood alluviation andentrenchment: Holocene valley-floor development and transformation inthe British uplands. Geological Society of American Bulletin, 104, p.631-643.

NIKONOV, A. A.; SHEBALINA, T. YU. (1979). Lichenometry and earthquakeage determination in Central Asia. Nature, 280, p. 675-677.

WINCHESTER, V.; CHAUDAR, R. K. (2002). Lichenometric dating of slopemovements, Nant Ffrancon, North Wales. Geomorphology, 47, p. 61-74.

WORSLEY P. (1990). Lichenometry. Geomorphological Techniques (2nd

Edition), ed.: Goudie, A., p. 422-428.

Page 147: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

150

FIG. 1. Mortehan (Belgique), tombe du 19e siècle coloniséepar Rhizocarpon geographicum.

Page 148: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

151FIG. 2. Croissance de Rhizocarpon à thalle jaune sous différents climats

et pour des substrats variés (Grove, 1988; Jacob et al., 2002).

Page 149: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

153

POPULAÇÕES NATIVASDO RIO DOCE

H A R U F S A L M E N E S P I N D O L A

Na primeira metade do século XIX, iniciou-se a efetiva ocupaçãodas terras de Floresta Atlântica, em Minas Gerais. Entre 1808 e 1810,a área foi dividida em sete circunscrições militares, e cada uma foientregue a uma Divisão Militar do Rio Doce – DMRD, cuja missão eraconquistar o território indígena e garantir a ocupação. A guerra ofensivade extermínio foi declarada em 1808, porém a falta de eficácia emevitar a contra-ofensiva indígena provocou a mudança na estratégia dedomínio. Em 1822, o índio passou a ser visto como elemento decisivopara o sucesso da ocupação. Para alcançar o objetivo, foi colocada emprática uma política de civilização e catequese cujo resultado foi acolonização da alma indígena.

As forças divisionárias possibilitaram, a princípio de modo tímido,mas progressivo, o avanço da colonização das terras que antes serviamde espaço vital para as comunidades indígenas. Em 1825, o comandantegeral das divisões militares do Rio Doce, o francês Guido ThomazMarlière, informava que as margens do Rio Doce estavam sendo ocu-padas por poaieiros1 desarmados, “que tiram das matas colheitas

1 Poaieiros são os indivíduos que colhiam a ipecacuanha (Cephaelis Ipecacuanha Brot.).Este vegetal é da família das Rubiaceae. Possui diversos nomes populares, tais como Ipecae Poaia, sendo este último o mais conhecido na região do Rio Doce. Tem múltipla terapêu-tica: modificador das secreções, emética, expectorante, anti-disentérica, sedativa, diaforética,hemostática, anti-hemorrágica, anti-parasitária; tratamento da difteria, envenenamento, có-lica, inflamação da mucosas da via respiratória, infeção intestinal, disenteria amebiana, entremuitas outras. Foi um item importante na pauta de exportações do Brasil, durante o séculoXIX, especialmente para os laboratórios farmacêuticos da Alemanha.

Page 150: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

154

abundantes do rico ramo de negócio da ipecacuanha: o que prova queninguém mais se receia dos outrora terríveis botocudos”.2 A provínciamineira obtinha ganhos expressivos com o comércio das drogas do sertão,principalmente com a poaia.3 Cabia às divisões militares fazerem a me-diação entre o colonizador e as populações indígenas, porém sempre naperspectiva de facilitar a penetração, como demonstra uma ordem dada aocomandante da 6ª Divisão Militar do Rio Doce, determinando todo apoioao capitão Francisco Joaquim da Silva, fazendeiro que foi estabelecer-sepróximo ao Quartel de Lorena, atual município de Aimorés.4

O processo foi mais lento no território do médio Rio Doce, possibi-litando a sobrevivência de diversas tribos botocuda, até a década de 1920.

Os botocudos

A população indígena dos territórios de florestas pluvial atlânticados estados da Bahia, de Minas Gerais e do Espírito Santo, estavamdistribuídas entre o vale do Salitre (sul da Bahia), os vales dos riosJequitinhonha, Mucuri, São Mateus, Doce (Minas Gerais) e Itapemirim(Espírito Santo). Ela pode ser classificada como pertencente às seguin-tes famílias lingüísticas: Botocudo, Maxacali, Puri, Malali e Pataxó.5

Estas famílias lingüísticas pertencem ao tronco Macro-jê. Os botocudosformavam as nações dominantes. No final do século XVIII, o povoGuerén foi a primeira nação de língua botocudo a ser individualizada

2 Cf. Relatório ao tenente general governador das Armas, de 6 de abril de 1825, In.:Revista do Arquivo Público Mineiro (RAPM), Ano X., p. 595.

3 Cf. Relatório a Sua Alteza Real, de 24 de abril de 1822, In.: Ibdem., p. 424.4 Cf. Ofício de Marlière, de 25 de setembro de 1827, In.: RAPM, Ano XI, 1906,

p. 223. A cidade de Aimorés está localizada às margens do Rio Doce, nos limites entreos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. A região possui um importante sítioarqueológico, com formações líticas, lítico-cerâmica, abrigo com pintura e sem pinturarupestre e formações de pilão (únicas no Sudeste).

5 Esta classificação é feita com base no mapa Etno-Histórico do Brasil e RegiõesAdjacentes de Curt Nimuendajú. Museu Nacional, Rio de Janeiro, 1944.

Page 151: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

155

pelos colonizadores, quando da ocupação dos seus territórios no sul daBahia. O nome das vilas e cidades guarda a memória da violência daocupação: Batalha, Conquista, Vitória da Conquista, Sucesso, entreoutros.

Os relatórios das Divisões Militares do Rio Doce indicam que asduas principais “colônias” de botocudos viviam nas florestas da partemédia dos rios Jequitinhonha e Doce.6 Na parte meridional do Rio Docehabitavam os Graknun (algumas vezes também designados Kraknun),Nakarene (Nakrehé), Pejaurun (Kejaurin) e os Etwét. Na parte setentrio-nal, em sentido Sul-Norte, até além do rio Jequitinhonha, ficavam osterritórios de caça e coleta dos Naknenuck, Jiporok, Kumakã, entreoutros. No sul da Bahia, nos vales do Salitre e do Pardo viviam osGuerén. Cada nação ocupava territórios delimitados, com espaços va-zios de separação entre eles, nos quais outras tribos se estabeleciam,principalmente os de língua Maxacali. As nações mais numerosas e comterritórios mais extensos eram as Naknenuck, Jiporok e Nakrehé. Esteúltimo dominava a margem sul do rio Doce, locomovendo no sentidoLeste-Oeste.7

O nome “botocudo” foi dado pelos portugueses em virtude dessesíndios usarem no lábio e nas orelhas uma grande rodela de madeira(feita da madeira da árvore barriguda – Chorisia glaziovii). Os índios datribo dos Malali, aldeados próximo ao quartel de Peçanha (5ª DMRD),ao se referirem a eles, utilizavam o nome de “epcoseck”, isto é, grande--orelha.8 O nome que os botocudos utilizavam para o botoque era“imató”. Os diversos grupos estavam divididos em tribos de cerca de 50a 60 arcos, que era o modo de os brancos os contar, isto é, homens

6 Cf. RAPM, Ano XII, 1907, p. 525-532.7 O estudo sobre as populações nativas do vale do Rio Doce encontra-se em Haruf

Salmen Espindola. Sertão do Rio Doce. Navegação fluvial, acesso ao mercado mundial,guerra aos povos nativos e incorporação do território de floresta tropical por MinasGerais. 1800-1845. São Paulo, 2000, 348 p. Tese (Doutorado) – Or. Prof. Dr. JoséEduardo Marques Mauro.

8 Cf. Maximiliano, Príncipe de Wied Neuwied. Viagem ao Brasil. Rio de Janeiro,Nacional, 1940, p. 277.

Page 152: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

156

adultos em condição de combate. Eles acampavam em vales, à margemde rio, ribeirão ou córrego, sempre erguendo habitações provisórias eextremamente rústicas. O fato de não usarem habitações mais estáveis,apenas abrigos improvisados, indicava o quanto era provisório o localde pouso. Essa provisoriedade era resultado da intensa mobilidade ecaracterizava uma estratégia de sobrevivência baseada no ocultamentono interior da floresta.

Cada tribo se identificava por um nome próprio e tendia a sesubdividir em razão do número de famílias ou de conflitos internos. Aquantidade pequena de membros acabava ajudando-os a manterem-seocultos. As várias tribos de uma nação somente se uniam diante de umaameaça externa aos seus territórios de caça e coleta ou em certas oca-siões festivas. Os conflitos intertribais envolviam nações que dividiamfronteiras confusas e imprecisas, submetidas à pressão externa decor-rente do avanço da colonização luso-brasileira.

A imagem amplamente difundida de que os botocudos eram antro-pófagos e propensos a cometerem todo tipo de atrocidades não temconfirmação nos documentos das divisões militares. Marlière relata umavisita ocorrida na 6ª DMRD, por parte de um grande contingente debotocudo, vindo do norte, provavelmente do vale do Rio São Mateus.Diferente de tudo que havia sido dito sobre os “terríveis botocudos”,eles se comportaram com extrema amabilidade e pacifismo, fazendoamizade com os índios do sul, ali aldeados, e com os soldados. Marlièreatribuiu esse comportamento tão amistoso ao fato de eles nunca teremvisto portugueses.9 Não encontramos qualquer base documental quecomprove que eles praticavam a antropofagia.10

9 Os membros do grupo não conheciam os alimentos cultivados nas roças feitaspelos soldados nem os animais domésticos, fugiram apavorados dos bois, recusaramtoucinho, que não sabiam o que era, e comeram abóboras cruas. Cf. RAPM, Ano X,1905, p. 663.

10 Nenhum testemunho:, cronista, militar, missionário, diretor de índios, viajanteestrangeiro, comandante divisionário, comandante de quartel ou soldado divisionáriorelatou prática de antropofagia.

Page 153: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

157

Os botocudos eram de compleição física robusta, com muita forçamuscular e temperamento valente. A floresta era parte essencial de suasvidas e eles não se adaptavam aos terrenos desflorestados nem gosta-vam de se expor diretamente aos raios de sol. Segundo sua crença, osmortos que deviam pagar alguma pena eram enviados para camposabertos, onde não existia água abundante, nem comida, só o calor dosol. Da mata os índios tiravam a parte substancial de seu sustento, pormeio da caça, pesca e da coleta de frutos e raízes. Tinham especialpreferência pelo fruto do gravatá, e mesmo aqueles já aldeadosretornavam à vida nômade na época de coletá-lo. Praticavam uma agri-cultura rudimentar, acessória e em pequena escala, utilizando instru-mentos de trabalho feitos de pedra. Desse material também eram feitossuas facas e machados.

A habitação tinha a característica provisória, restringindo a umacobertura rústica de paus enterrados no chão de forma oblíqua ou for-mando arcada, cobertos de folhagem. Quando eles permaneciam maistempo no determinado lugar, ficavam estacas em forma de círculo, comum mastro central, cobrindo com folhas e galhos. Nestes acampamen-tos, a distribuição das construções seguia a hierarquia social do grupo:primeiro as cabanas dos mais idosos e do líder do grupo, depois dosseus filhos e assim por diante. Estes abrigos simples não tinham signi-ficado maior, pois era a fogueira acessa que definia o lugar de abrigona noite: ir a até a “casa” do outro era ir até o seu fago.

Os objetos de uso eram simples e reduzidos, transportados emgestos e sacos tecidos de palha. O homem levava consigo os apetrechosde caça e combate. As rodelas de madeira usadas no lábio inferior e/ouorelhas eram confeccionadas pelos homens e somente por eles implan-tadas durante a cerimônia de furação, depois da criança ter atingido seteou oito anos. Os botoques iam aumentando gradativamente de tamanhocom o passar da idade.

A existência de ritos de passagem é pouco conhecida ou eles nãotinham papel significativo na vida da comunidade. O casamento reali-zava quando a moça atingia a puberdade e não existia restrição às re-

Page 154: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

158

lações sexuais antes do casamento.11

Os diversos grupos tinham a crença numa vida depois da morte eno diabo, o Nantshone, que teria direito sobre a alma dos mortos quenão fossem sepultados rapidamente. Nos combates com as divisões,quando alguns dos seus caíam mortos, faziam todo esforço para reaveros cadáveres, pois somente debaixo da terra estariam seguros. Os bonsguerreiros, caçadores hábeis e amantes das suas mulheres e filhos re-ceberiam a recompensa depois da morte. Esses seriam enviados a umaterra cheia de mata virgem, abundante de frutas, caça e belos rios fartosde peixes. As pessoas covardes e preguiçosas, porém, seriam enviadaspara uma terra árida, sem matas, sem frutos e sem caça, com rios sujose sem peixes, e um sol abrasador. Eles possuíam um “herói civilizador”denominado Marét-Khamakinan, que vivia no céu e nunca desciam aterra. Eram altos, com cabelos ruivos, cabeça branca e pênis colossal,que podia copular as mulheres na terra. Estas entidades benevolentesatendiam os pedidos da comunidade e teria ensinado todo o conheci-mento detido pelos botocudos.

Os botocudos amortalhavam o defunto com as fortes fibras deembira, com uma carapuça cobriam-lhe a cabeça e penduravam-lhe afaca ao pescoço por tiras. O morto ficava preso a um tronco de árvorepor cordas e sob a guarda dos mais valentes guerreiros, para evitar queNantshone viesse apanhá-lo, enquanto estava sendo aberta a sepultura.Preparavam na cova uma cama de cinzas, cobrindo-a de peles ou cascade Jequitibá. Colocavam o morto junto com suas armas, ferramentas e,para ele se alimentar na jornada, alimentos e canudos de mel e água. Sefosse mulher iam apenas panelas e água. Se o morto possuísse cães,estes também eram sacrificados e sepultados com ele, colocando-sepedaços de carne na cova para eles comerem durante a viagem.

11 Cf. PARAÍSO, Maria Hilda B. Os Botocudos e sua trajetória histórica. In. CU-NHA, Manuela Carneiro da. História dos índios do Brasil. 2ed. São Paulo: Companhiadas Letras, 1992, p. 424..

Page 155: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

159

O local da sepultura era coberto com uma cabana construída deforma a ser o mais durável possível, diferenciando-se radicalmente dashabitações que faziam para si mesmos, as quais eram provisórias efrágeis. Eles procuravam conservar a cabana sempre em bom estado.Junto ao local da sepultura eram colocados alimentos como mel, frutasverdes e secas e água, que eram periodicamente renovados. Em redor,limpavam o terreno e faziam roça de milho, mandioca e abóbora, tam-bém para subsistência, pois acreditavam que o morto aparecia na formade uma onça magra. Essa não podia ser morta porque as flechas nãopenetravam nela, por mais que se atirasse. O contato com as divisõesmilitares provocou mudanças no tipo de cobertura utilizada e no ali-mento depositado. Em busca de maior durabilidade, eles adotaram apedra, cal e cobertura de telha; como alimento também passaram adeixar farinha.

Acendiam duas fogueiras de lenha grossa para esquentar o morto,uma de cada lado da sepultura, e as renovavam enquanto permaneces-sem no local. Antes de o grupo partir, para não deixar o morto semaquecimento, abriam uma clareira no rumo do nascente, por onde pene-trariam os raios de sol. O luto consistia em afastarem-se tristemente dolugar da sepultura e, no caso dos botocudos da margem sul, saírem paracaçar os Puri, a quem chamavam de Masvon. A palavra para expressaro luto era éré-ré, que significa também raiva e ódio.

Os botocudos acreditavam que Tupã e Nantshone eram seres visí-veis, e o primeiro apresentava-se formoso, vestido de roupas alvas ebonitas. Tupã era fazedor do bem e eles o honravam com danças ecânticos. Nantshone se apresentava com trajes feios, causava pavor eera fazedor de muito mal. Eles lhe devotavam apenas o medo. Marlièreos considerava supersticiosos ao extremo, pois atribuíam tudo a feiticei-ros, não vendo causa natural no que lhes acontecia. A chuva caía porqueera chamada; certos ramos enxotavam a trovoada e afastavam-na paralonge, entre outros efeitos. O caçador não comia da sua caça, trocan-do-a com um companheiro, porque acreditava que se assim fizesse nuncamais acertaria o alvo com as suas flechas.

Page 156: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

160

Os botocudos eram polígamos e extremamente cuidadosos paracom suas mulheres, de quem não suportavam traição. Mesmo os índiosaculturados não abriam mão da poligamia, como ocorreu com o lídertribal Pocrane, que continuou a manter várias esposas, apesar de ter setornado um dos principais agentes do comandante das Divisões Milita-res e de ter adotado o modo de vestir e morar dos brancos. O casamentoera resultado do ajuste entre os pais se os filhos estavam ainda sob suaguarda. Feito o ajuste, levavam os noivos e os entregavam um ao outro,acendiam o fogo e arrumavam a cama nupcial, retirando-se em seguida,para que os noivos ficassem a sós. Em outros casos, como os das viú-vas, solteiros órfãos e adultos independentes, o casamento podia acon-tecer do modo que quisessem e quando bem resolvessem. Bastava queo pretendente fosse à noite deitar-se às costas da pessoa que lhe inte-ressasse; se esta aceitasse o assédio estavam contraídos os laços matri-moniais. Ocorrendo o contrário, ele se retirava sem maior insistência.Isso não significa que ele não pudesse voltar a insistir na noite seguinte,como provam os versos cantados por uma índia, anotados por Marlièreem seu diário, durante uma celebração de música, dança e improvisaçãono aldeamento de Cuieté: “Tu que dizes que sou feia, porque vens denoite, depois de meu fogo aceso, deitar-te devagar nas minhas costas?”.O adultério ocorria, apesar de ser uma prática arriscada para a mulher,pois se descoberta, ela levaria uma surra ou mesmo seria ferida comflechadas por seu marido.

Nos deslocamento pelo interior da floresta, cabia às mulheres le-varem todos os pertences da família em sacos e balaio que carregavamàs costas, levando junto, por cima desse, o filho menor; o segundo ia aocolo, ou ia andando agarrado às suas tralhas, se pudesse caminhar; ouiam três filhos, um em cada posição. O homem sempre seguia livre,caminhando à frente da mulher, carregando seus apetrechos de caça eguerra. Nos sítios em que acampavam, usavam o tempo livre para na-dar, lutar, dançar, tocar flauta e cantar seus versos. As danças, semprefeitas com os participantes em círculo, podiam ser por motivo religiosorelacionado a Tupã e Nantshone, ou eram dedicadas ao sol, à lua, às

Page 157: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

161

estrelas, aos antepassados, benfeitores e aos amores. Na roda os parti-cipantes movimentavam-se em cadência ritmada, marcadas com o pédireito, revezando-se na entoação de versos cantados. Depois que esteseram ditos, todos ovacionavam e cantavam o estribilho “ere-he”, ouseja, muito bom, muito bonito. A sensualidade e insinuação sexual es-tavam presentes nos versos, como no da mulher do capitão índio Nho-ene, do aldeamento do Cuieté, anotado por Marlière: “Não posso maisdançar, vou-me sentando; kejóh está em suor, já esta chorando”. Ocalor, suor e desejo tomam conta da vulva, que assim chora.12

As febres endêmicas e intermitentes faziam parte do cotidiano dospraças e delas não escapou o próprio Marlière, mas eram os índios osmais atingidos. Nas três primeiras décadas do século XIX, doençascomo o sarampo e a varíola dizimaram os índios Maconi, Malali,Panhame, aliados das Divisões Militares na luta contra os botocudos.13

Marlière relatou a morte de Há-gemn e sua mulher Gemetáne,filha do capitão botocudo que mais admirava, Paquejú Orotinón. Osdois, atacados de muita febre, receberam um emético, porém forambanhar-se no Rio Santo Antônio, logo em seguida, onde passaram male morreram. Ao hábito de entrar sempre na água para se refrescarem,especialmente ao menor sinal de febre, se atribuiu a culpa do grandenúmero de mortes entre eles. Quando esteve na sepultura dos “doisamantes índios”, colocados lado a lado, encontrou as taquaras de mel,cabaças d’água, as plantações circulares de milho e abóboras e a clarei-ra aberta a machado, para que entrasse o sol.14

12 Na palavra não traduzida, se esconde a censura do comandante, porém encontra-mos seu significado num vocabulário da língua dos botocudos, presente em outrodocumento.Cf. RAPM, Ano X, 1905, p. 650-652; o significado do termo pode ser vistono vocabulário da língua dos botocudos, Idem., p. 548.

13 Sobre as epidemias de febres, varíola, sarampo são diversos documentos; cf.RAPM, Ano X, 1905, p. 436; 499; 503; 533; 540; 541; 557; 569; 630; 645; Ano XI,1906, p. 64; 81-88; 104; 110; 147; Ano XII, 1907, p. 415; 425; 461; 462; 464; 467; 471;473; 474; 485; 488; 497; 518; 571; 581; 582; 583; 588; 600.

14 Cf. RAPM, Ano X, 1905, 641-642.

Page 158: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

162

Ocupando espaços vitais: o outro deve desaparecer

Em 1808, quando se declarou a guerra ofensiva aos botocudos, foidesencadeado um processo de genocídio, pois a população indígena eraimpotente diante do invasor. Não existe guerra entre forte e fraco, apenasa opressão do primeiro sobre o segundo. O contato produziu epidemias,fome, prostituição, degeneração e desaparecimento étnico. Eles forameliminados não pela guerra ofensiva, mas pela integração na sociedadeluso-brasileira. Os índios, frente ao invasor, nada podiam fazer, atraídosque ficavam pelos instrumentos de ferro e pela farinha. O avanço dopovoamento sobre os territórios indígenas reduziu o acesso aos meios desubsistência, criando um povo necessitado, faminto, cheio de penúria emiséria. A sociedade luso-brasileira tratou o índio com desprezo.15

As divisões militares do Rio Doce atuaram como força policial--militar de ocupação do espaço vital das populações nativas e comoordenadoras desse espaço, transformando-o em território nacional. Oavanço da colonização era acompanhado pela disseminação de bactériase vírus letais, pelo aumento das tensões sociais e pela multiplicação dosfocos de conflito entre colonizadores e populações nativas. Acuados ecom o espaço vital reduzindo-se rapidamente, grupos indígenas maisfracos e sem condição de resistir eram empurrados contra a linha deavanço da colonização e, para sobreviver, atacavam fazendas em buscade alimentos. Isso reforçava o clichê que exagerava a ferocidade doíndio e lhe atribuía a prática da antropofagia que, apesar da ausência deprovas, legitimava as ações de represálias.

A sociedade brasileira herdara dos tupis o sentimento de rejeiçãoe a vontade de extermínio em relação aos grupos não tupis que estesdenominavam por estes de tapuias (bárbaros). Essa herança esteve pre-sente durante todo o processo de ocupação do sertão do Rio Doce,legitimando a violência contra os botocudos. A política de colonização

15 Cf. Haruf Salmen Espindola. A Colonização das Almas. Pós-História, Assis, v.11, 2001, p. 121.

Page 159: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

163

não considerou a possibilidade de as populações indígenas continuaremexistindo culturalmente e nem como trabalhadores.

Na verdade, o duplo processo militar e catequético, envolvido nacolonização do território do Rio Doce, expressava uma política de ex-termínio cultural das populações indígenas e a sua diluição genética noconjunto da população nacional. A primeira etapa desta política era oprocesso de aculturação que, num determinado momento, levava o pró-prio nativo a não se considerar como índio, passando a devotar o mes-mo desprezo do branco para com o botocudo. Uma parcela não se ajus-tava, tornando-se vítima do alcoolismo crônico. O termo botocudo, quesignificava ferocidade, força, poder, antropofagia, ou seja, aquele quedevora o inimigo, sofre uma transformação radical. Primeiro tornou-sesinônimo de algo repulsivo e degradante, e a primeira atitude do deixarde ser botocudo foi abandonar o imató.

O Estado integrou as populações nativas e seus espaços vitais aoterritório nacional. Do ponto de vista das populações nativas pode-se falarnum processo de invasão. Mas a razão estatal não concebeu desta forma,pois sempre viu no elemento indígena um contribuinte genético para aconstituição da população luso-portuguesa. O desaparecimento da identi-dade cultural/lingüística e a destruição da organização tribal podem sercaracterizados como genocídio. Os instrumentos principais foram o casa-mento misto e a transferência de crianças para famílias nacionais. Emterritórios tão vastos e de riqueza potencial, era preciso conceber formasde aumentar o número de habitantes. O Estado promoveu o casamentointerétnico, concedeu privilégios aos que se casassem, considerou iguais,juridicamente, índios e luso-brasileiros e reconheceu os filhos naturaiscomo súditos do reino e hábeis para ofícios e honras. Os filhos indígenasforam retirados dos pais para serem educados por famílias de soldados,posseiros e fazendeiros. Foram criados internatos e, com a introdução dosfreis capuchinhos italianos, em 1861, estes assumiram a responsabilidadepela educação das crianças e pela promoção do casamento interétnico.16

16 Cf. Idem., p. 125.

Page 160: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

164

No processo de povoamento, ocorreram trocas genéticas e culturais,porém exigia-se, em última instância, a extinção da sociedade indígena.O sucesso desse empreendimento dependia da capacidade de colonizaralma do nativo. No prazo de vida de um único indivíduo, produzia-se apassagem da condição de índio bravo (vive na sociedade tribal afastadado mundo branco) para a de índio manso (vive em aldeamentos dirigidospelo branco e aceita progressivamente o mundo deste) e, finalmente, denão índio (rompe-se a vida gregária tribal, perde a identidade lingüísticae passa a rejeitar o seu mundo de origem). No final dessa trajetória,ocorre a diluição genética no conjunto da população nacional.

No final do século XIX, o botocudo transmuta-se em elementoexótico para a curiosidade popular e objeto do cientificismo em voga,caracterizado pela medição de crânios. Foi emblemática a matéria saídano jornal O Globo, em 1882, sobre a presença de seis índios botocudos,levados do Rio Doce, para serem exibidos na Exposição Antropológicade 1883. O assédio do público foi tanto que obrigou as autoridades atirarem os índios do centro da cidade.

Essa inversão, que faz dos antigos terríveis antropófagos objeto daantropofagia do branco, tem forte conteúdo simbólico. Anunciando aatração que o exótico exerceria na sociedade urbana, antes mesmo deserem expostos à visitação pública, os botocudos do Rio Doce já esta-vam sendo devorados pelos olhares curiosos da multidão. Para resolvera questão e aproveitar o interesse popular, foram organizadas exibiçõesde dança e música que poderiam ser vistas mediante pagamento de umingresso. Elas foram organizadas no quartel do corpo de bombeiros,para onde haviam sido transferidos os índios. O Globo conclui dizendoque a população da cidade saberia se comportar bem para com os “hós-pedes inofensivos”, até eles serem levados para a Exposição, onde apre-sentariam seus talentos para “maior regozijo dos visitantes”.17

Em 1904 e 1905, ainda ocorreram ataques de índios botocudos,mas eram os últimos remanescentes vivendo com sua cultura própria.

17 Cf. O Globo, de 20 de julho de 1882. In.: Arquivo Nacional, AP-5, Cx. 1, pacote 2.

Page 161: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

165

Estes ataques foram feitos pelos Gutkrak aos trabalhadores que cons-truíam a Estrada de Ferro Vitória-Diamantina, à montante de Colatina(Espírito Santo), e pelos Jiporok aos colonos no vale do rio Mucuri. Aúltima notícia de ataques de botocudos foi registrada pelos capuchinhos,em 1909, quando eles já julgavam extinta a tribo dos Potichás

Os krenak

O único grupo remanescente dos botocudos é o Krenak, da naçãoGutkrak (montanha do cágado – serra dos Aimorés, região de pontões nonorte do Espírito Santo.). A origem do grupo foi a dissidência do líder deum grupo de família de nome Krenak, que discordou da orientação de outrolíder que era a favor do contato com o posto de atração montado no rioPanca (norte do Espírito Santo) pelo recém criado (1910) Serviço de Proteçãoao Índio (SPI). A construção das estradas de ferro Bahia-Minas (1882) novale do rio Mucuri e da Vitória-Minas (1903) no vale do rio Doce foi omotivo da implantação dos postos de atração pelo SPI, no rio Pepinuque,para os jiporok, no rio Pancas, para os Miñajirum e para os Gutkrak.

A história do povo Krenak começa com a migração do grupo defamílias Gutkrak para as matas de Resplendor, às margens do rio Doce,em Minas Gerais. O “velho Krenak” continuou a resistir ao contatoisolado na aldeia Quijeme Brek, quando seu filho Muhim conduziu amaioria das famílias para o posto de atração, no local negociado por elecom o SPI. Este posto não fazia parte dos planos governamentais nemsua manutenção. Entretanto, todas as vezes que começa os preparativospara transferi-los para o posto do rio Pancas, longe dos trilhos da estra-da de ferro, os índios eram tomados por violentas cólicas intestinais, defazer rolar pelo chão.18 Em 1918, o SPI conseguiu que o governo de

18 Cf. PARAÍSO, Maria Hilda B. Os Botocudos e sua trajetória histórica. In. CU-NHA, Manuela Carneiro da. História dos índios do Brasil. 2ed. São Paulo: Companhiadas Letras, 1992, p. 420.

Page 162: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

166

Minas Gerais demarcasse dois mil hectares de terras para os Krenak.Em 1920, a Assembléia Legislativa ampliou a área para quatro milhectares. Na década de 1920, os poucos remanescentes de Naknanuk,Nakrehé, Etwet, Jiporok, Potixá foram enviados para viverem com osKrenak, pois os outros postos indígenas foram desativados. Em 1221, oSPI iniciou a prática de arrendamento de terras do posto do Eme, coma justificativa de gerar renda para a manutenção dos índios.

A segunda demarcação somente foi efetivada depois do massacrede 1927, quando fazendeiros e colonos emigrantes da “colônia” BuenoBrandão emboscaram os seguidores do velho Krenak na aldeia deKuparak (onça pintada), atingindo também alguns remanescentes deNaknehé que haviam se instalado ali, fugindo do contato com o SPI. Ossobreviventes foram os últimos botocudos livres a serem confinados noposto indígena do Eme (Krenak).

O SPI não se entendia com o governo de Minas Gerais, a quemacusava de invadir o posto indígena, ameaçar os índios e não respeitara administração local. Por sua vez, o governo mineiro acusava o chefedo SPI de desmatar as terras, vender a madeira e não pagar tributos,além de usar o dinheiro apurado para financiar tropas governistas contraos interesses de Minas Gerais e a candidatura de Getúlio Vargas (1930).Em 1931, a justiça deu ganho de causa ao SPI. Isso não impediu quea reserva Krenak continuasse a ser invadida por fazendeiros. Em 1955,com a descoberta de uma importante jazida de mica, na parte central dareserva, a pressão para reverter a doação assumiu proporções jurídicas.

O governo de Minas Gerais anulou a demarcação e transformou areserva em Horto Florestal. O SPI transferiu os Krenak para a reservados Maxacali, na divisa entre Minas Gerais e Bahia. Um pequeno grupoconseguiu fugir e refugiar-se numa ilha do rio Doce. Eles funcionaramcomo referência para o retorno da diáspora Krenak, como ficou conhe-cida a dispersão das famílias indígenas para diversos pontos do país.Uma grande parte dos Krenak foi transferida para o posto indígenaVanuíre, no estado de São Paulo, onde viviam os Kaingang, também delíngua botocudo; outros foram levados para a ilha do Bananal, entre os

Page 163: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

167

estados de Goiás e Mato Grosso. Houve aqueles que passaram a viverem cidades próximas a suas terras, tanto em Minas Gerais como noEspírito Santo. Os Maxakali eram inimigos seculares dos botocudos e,conseqüentemente, os Krenak enfrentaram um quadro adverso, marcadopor penúria, fome, frio, mortes e relações tensas. Em 1959, iniciaram ajornada de volta, percorrendo a pé mais de 400 km, até GovernadorValadares, de onde tomaram o trem-de-ferro até a estação Krenak.

O governo militar (1964) transformou o posto indígena Krenak noReformatório Agrícola Indígena, para onde transferiu índios de dezenasde tribos brasileiras. Em 1971, a Fundação Nacional do Índio – FUNAI(antigo SPI, reformado pelo governo militar) ganhou a reintegração deposse do posto Krenak, que havia sido transformado no Horto Flores-tal.19 Entretanto, negociou com o governo mineiro a transferência dosKrenak para uma fazenda pertencente ao governo estadual (fazendaGuarani), doada à FUNAI. A revolta foi generalizada, pois a transferên-cia foi compulsória e violenta e a região era adversa: terras altas, frias,com solos gastos e sem rio de grande porte.

Em 1980, apoiado na sociedade civil e no contexto da redemo-cratização, vinte e seis Krenak retornaram a sua terra, instalando-se em68 hectares que havia sido abandonado pelo organização religiosa deSão Vicente de Paula. Nos anos seguintes, lentamente, alguns Krenakretornam dos vários pontos por onde estavam espalhados, principalmen-te de Vanuíre (São Paulo). Em 1983, a FUNAI entra com ação deanulação de títulos, pois as terras tinham sido tituladas para 54 fazen-deiros, nos anos 1970. Em 2001, o Supremo Tribunal Federal (STF)declarou nulos todos esses títulos, não reconhecendo sequer aos fazen-deiros o direito de permanecerem na área enquanto discutem o direitoà indenização por supostas benfeitorias. Com a garantia aos Krenak doretorno imediato ao seu território, o STF colocou o direito indígenaacima de qualquer interesse. O Decreto Federal de 19 de abril de 2001,homologou a demarcação administrativa, realizada pela FUNAI, com

19 Cf. Idem, p. 422.

Page 164: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

168

superfície de 4.039 hectares. Desde a posse definitiva, liderados porWaldemar Krenak, a população de 200 indivíduos esforça-se para res-gatar e afirmar a identidade étnica do grupo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, SYLVIO FRÓES DE (1926). Os índios crenaques (Botocudos do RioDoce). Em 1926. Revista do Museu Paulista, São Paulo, v. 16, p. 569--601.

ALMEIDA, CECILIANO ABEL DE (1978). O desbravamento das selvas doRio Doce. 2ed. Rio de Janeiro: J. Olímpio.

AMADO, JONAÍNA (1995). “Região, sertão, nação”. Estudos Históricos. Rio deJaneiro: 8(15): 147 e 148, apud. Ivone Cordeiro Barbosa. Op. cit., p. 30.

CAMBRAIA, RICARDO DE BASTOS (1780-1836). A colonização dos ser-tões do leste mineiro: políticas de ocupação territorial num regimeescravista. In: Revista do Departamento de História, Belo Horizonte: v.6, p. 137-150, jul., 1988.

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO ELOY FERREIRA DA SILVA (1987). Aluta dos índios pela terra; contribuição à história indígena de Minas Gerais.Contagem: CEDEFES.

CORRÊA, DORA SHELLARD (1997). Paisagens sobrepostas. Índios, possei-ros e fazendeiros nas Matas de Itapeva (1723-1930). São Paulo. Tese(Doutorado), Orient. Dra. Maria Thereza Schorer Petrone, Universidadede São Paulo.

CUNHA, MANUELA C. DA. (org.) (1992). Legislação indigenista no séculoXIX. São Paulo, EDUSP; Comissão Pró-Índio de São Paulo.

DEAN, WARREN (1996). A ferro e fogo. História e a devastação da MataAtlântica brasileira. São Paulo, Cia das Letras.

DEMONER, SONIA MARIA (1981). Presença de missionários capuchinhosno Espírito Santo: século XIX. São Paulo. Tese (mestrado), Universidadede São Paulo.

DURÇO, JONATHAS GERRY DE OLIVEIRA (1989). Pokrane. Da saga dosbotocudos ao nascimento de um arraial. Notas históricas. Belo Horizon-te, Imprensa Oficial.

Page 165: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

169

ESPINDOLA, HARUF SALMEN (2000). Sertão do Rio Doce. Navegaçãofluvial, acesso ao mercado mundial, guerra aos povos nativos e incorpo-ração do território de floresta tropical por Minas Gerais. 1800-1845.São Paulo, p. 348 Tese (Doutorado) – Or. Prof. Dr. José Eduardo Mar-ques Mauro.

— (s.d.). A história de uma formação sócio-econômica urbana: GovernadorValadares. Varia História. Belo Horizonte (19): 148-63.

FRANCO, AFRÂNIO DE MELLO (1914). Guido Thomas Marlière; o apósto-lo das selvas mineiras. Belo Horizonte, Imprensa Oficial.

HOLANDA, SERGIO BUARQUE DE (1994). Caminhos e Fronteiras. 3. Ed.,São Paulo, Companhia das Letras.

IGLÉSIAS, FRANCISCO (1958). Política Econômica do Governo ProvincialMineiro (1835-1889). Rio de Janeiro: INL.

IPECACUANHA. [online] Disponível na Internet via WWW. URL:http:www.ciagri.usp.br/planmedi/pm0395.htm.

IHERING, HERMANN VON (1909). Os botocudos do Rio Doce. Revista doMuseu Paulista, São Paulo: v. 8, p. 37-51.

JOSÉ, OILIAN (1958). Marlière, o civilizador. Esboço biográfico. Belo Hori-zonte: Itatiaia.

— (1965). Indígenas de Minas Gerais. Aspectos sociais, políticos e etnoló-gicos. Belo Horizonte: s/ed.

MALDI, DENISE (1998). A questão da territorialidade na etnologia brasileira.Belo Horizonte: Sociedade e Cultura. Goiânia, v. 1, n. 1, p. 1-17, jan./jun..

MARCATO, SONIA DE ALMEIDA (1979). A repressão contra os botocudosem Minas Gerais. Rio de Janeiro: Boletim do Museu do Índio. (1): 3-59.

MAXIMILIANO (1940). Príncipe de Wied Neuwied. Viagem ao Brasil. Rio deJaneiro, Nacional.

MONTEIRO, JOHN MANUEL (1994). Negros da terra: índios e bandeirantesnas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras.

NEMBRO, METODIO DA (1958). Storia dell’attività missionaria dei minoricappuccini nel Brasile (1538-1889). Romae: Biblioteca Seraphico-cappuccina, Sectio historica, tomo XVI.

PALLAZOLA, JACINTO DE (1973). Nas selvas do Vale do Mucuri e do RioDoce. Como surgiu a cidade de Itambacury. 3ed. São Paulo: Rev. Nacional.

Page 166: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

170

PARAÍSO, MARIA HILDA B. (1992). Os Botocudos e sua trajetória histórica.In. CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos índios do Brasil. 2ed.São Paulo: Companhia das Letras, p. 413-430.

PIMENTA, DERMEVAL JOSÉ (1966). A mata do Peçanha. Belo Horizonte:s/ed..

PINHEIRO, PAULO (1978). Teófilo Ottoni. Ministro do Povo. 3ed., Belo Ho-rizonte: Ed. Itatiaia; Brasília, INL, p. 160-171.

PRADO JR., CAIO (1995). Formação do Brasil contemporâneo. 23 ed., SãoPaulo: Brasiliense.

RUGENDAS, JOÃO MAURÍCIO (1967). Viagem Pitoresca através do Brasil.São Paulo: Liv. Martins.

SAINT-HILAIRE, AUGUSTE DE (1874). Viagem ao Espírito Santo e RioDoce. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp.

— (1975). Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. BeloHorizonte: Itatiaia/São Paulo: EDUSP.

— (1974). Viagem Pelo Distrito dos diamantes e litoral do Brasil. BeloHorizonte, Itatiaia; São Paulo, EDUSP.

SOARES, GERALDA CHAVES (1992). Os Borun do Watu: Os índios do RioDoce. Contagem: CEDEFES.

SOUZA, LAURA DE MELLO E (1990). Desclassificados do Ouro. A pobrezamineira no século XVIII. 3.ed. Rio de Janeiro: Graal.

VASCONCELOS, DIOGO DE (l974). História Média de Minas Gerais. 3ed.Belo Horizonte: Itatiaia; Brasília: INL.

Page 167: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

171

DESIGUALDADE SOCIAL EAGRO-PASTORALISMO.UMA PERSPECTIVA ATLÂNTICADA ALIENAÇÃO SOCIAL

L U I Z O O S T E R B E E K

Resumo: Discute-se algumas evidências sobre a desigualdade social associada à tran-sição para o agro-pastoralismo, no Centro de Portugal: habitats, necrópoles, e outrasmanifestações simbólicas. Sugere-se a existência de uma dinâmica territorial integrada,mas com comunidades evidenciando ritmos e comportamentos diferentes, entre o VI eo III milénios AC. Contra a interpretação isolada de certas manifestações como indica-dores de desigualdade (ritual funerário, certos tipos cerâmicos, etc.), que sempre podemser interpretados em sentidos contraditórios (como evidências ou como falsas aparên-cias) propõe-se uma abordagem que considera a existência de uma única dinâmicasocio-económico-simbólica.

Abstract : Evidences on social inequality, associated to the transition to agro-pastoralismin Central Portugal are discussed: habitats, necropolis, and other symbolic expressions.The existence of am integrated territorial dynamics is suggested, with sommunitiesevidencing different rhythms and behaviour, from the VIth to the IIIrd millennia B.C.Against the interpretation of certain evidences as inequality indicators (burial rituals,ceramic types, etc.), these being subject to contradictory readings (as true or falseappearances), an approach is suggested that considers a single social-economic-symbolicdynamics.

O ponto de partida

Reconhece-se uma divergência nas estratégias de gestão do terri-tório, quando se comparam as cartas de distribuição de sítios e de apro-visionamento de matérias primas do final do Pleistoceno e do IIIº mi-lénio B.C.

Page 168: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

172

Reconhece-se, igualmente, duas fases na mudança de uma realida-de (baseada claramente na caça-recolecção) para a outra (pleno agro-pastoralismo). Numa primeira fase, que se inicia no Magdalenense finale se prolonga no Epipaleolítico, reforça-se a leptolitização, a especia-lização na caça de algumas espécies, a diversificação de matérias--primas utilizadas. Num segundo momento regista-se a introdução denovos tecnocomplexos (pedra polida, cerâmica), a intensificação econó-mica, o eventual crescimento demográfico, a generalização de tumula-ções colectivas (em gruta ou em anta), uma maior interacção económica(trocas).

A bibliografia demonstra que o esforço da pesquisa tem sido cen-trado na compreensão dos processos de transformação global, opondo osistema de caça-recolecção ao sistema agro-pastoril, valorizando a infra-estrutura económica e visando identificar o ponto de ruptura do sistemapredador.

Os modelos difusionistas duais, sistematizados por Jean Guilainee retomados, na Península, por diversos autores (Marti Oliver, JoãoZilhão, e outros), e os seus opositores evolucionistas (Carlos Tavares daSilva, Joaquina Soares, entre outros), têm-se concentrado na localizaçãode tais processos globais, privilegiando ora os indicadores alóctones (asespécies domesticadas, a cerâmica cardial…) ora os indicadores locais(as matérias primas, a debitagem lítica, as continuidades espaciais).

Ambas as abordagens, conquanto legítimas, revelam-se incapazesde propor um esquema de interpretação global que seja compatível coma acumulação de dados (frequentemente contraditando uma, outra, ouambas as perspectivas).

Em todo o caso, reconhece-se que terá ocorrido um processo,porventura longo, de transição entre as duas estratégias. Designamosesse processo por “Neolitização”, termo ao qual associamos as caracte-rísticas de crescente interacção e intensificação económica, crescimentodemográfico, novas expressões simbólicas, etc.

Entendemos que uma abordagem que parta de uma escala temporalcurta, valorizando a perspectiva das comunidades que protagonizaram

Page 169: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

173

os momentos do processo, permitirá romper o ciclo do debate actual.Propomos uma leitura da neolitização como processo de alienação so-cial. Tal abordagem não nega as restantes dimensões (económica, sim-bólica,…), mas procura identificar as dinâmicas de curto prazo queterão condicionado o processo no tempo longo.

Face á interrogação, histórica, sobre as dinâmicas económico-so-ciais, colocamos a interrogação, antropológica, sobre as dinâmicas socio--ideológicas, privilegiando, neste caso, a compreensão dos factores cul-turais da mudança.

O sentido da mudança

O que mudou mais profundamente no processo de neolitização doterritório peninsular terá sido a alteração da percepção do espaço pelascomunidades. Territórios amplos de caça e recolecção, desdobraram-seprogressivamente em unidades mais pequenas, com fronteiras cada vezmais definidas. O espaço encolheu e o ritmo de vida, em função disso,acelerou. O registo arqueológico é eloquente a este respeito, quando deixade permitir a identificação de extensos complexos como ocorria noPaleolítico superior, e os substitui por uma miríade de complexos tecno-morfológicos: asturiense, mirense, epipaleolítico microlaminar, mesolíticotipo Muge/Cocina, etc. Mas trata-se de uma longa “transição”, desde associedades plenamente predadoras-especializadas do epipaleolítico (c.9.000 BC) até ao “triunfo” do pleno agro-pastoralismo (c. 3.000 BC), queserá, finalmente, a expressão material dessa transição.

Nesse longo período alguns caçadores vão-se especializando emcertas espécies, outros vão-se sedentarizando, outros mais tarde incor-poram cerâmicas, e/ou pedra polida, e/ou domesticação de animais (oscereais e legumes surgem mais tarde), etc. Neste processo, a primeiramanifestção arquitectónica importante (se não se considerar a arterupestre, que também é um meio de antropização de monumentos natu-rais), são os concheiros mesolíticos, de que o mais antigo data de c.

Page 170: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

174

8000 BC (Gruta de Aljustrel, em Fátima, Portugal), mas que se gene-ralizam um milénio mais tarde. Estes montes artificiais, com níveis dehabitat e alguns enterramentos, são apenas a expressão de um, ou al-guns, dos grupos que ocuparam o Ocidente peninsular. Interpretadoscomo adaptações estuarinas, o concheiro já referido, situado no topo domaciço calcário, é a evidência de que a acumulação num único local deconchas e outros restos de comida não tinha uma dimensão meramenteeconómica.

Cerca de 5.500 BC, um pouco mais cedo no Levante espanhol,registamos contextos onde ocorrem associações de fauna domesticada,cereais cultivados e artefactos do complexo de cerâmicas impressas.São manifestações costeiras e, no caso da fachada atlântica, sempre emcontextos cuja interpretação é polémica. Mas sugerem que, por estaaltura, estariam já algumas comunidades ibéricas em contacto com ascomunidades de ceramistas do Mediterrâneo.

Cerca de 5.000 BC, os primeiros pastores começam a erguer Pe-dras (menhires) e, logo depois (ao mesmo tempo?), constroem montículosde terra cobrindo antas. Estas antas pouco têm a ver com os concheiros,mas retomam uma ideia ancestral: a de marcar o território construindomontes artificiais, que materializam locus de regeneração (os concheiros,onde se renovam as energias vitais, e as antas, onde se renova a ligaçãoàs origens).

Neste longo processo a diferenciação é mais marcada pela ausên-cia de evidências: poucos enterramentos, individuais ou colectivos, quenão ilustram grande diferenciação entre os inumados mas levantam aquestão: onde estão os outros? Este primeiro Neolítico parece ter comolema: todos iguais, mas uns mais iguais que os outros! As antas podemser lidas como espaços de enterramento de linhagens ou de outro tipode diferenciação, mas exprimem entre si uma competição (na localiza-ção, na complexidade arquitectónica, na dimensão, nos artefactos…).Estas comunidades parecem ir aprofundando a sua diferenciação social,usando os monumentos para os mortos como meio de legitimação depoder e de alienação.

Page 171: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

175

Pouco a pouco a elite consolida-se, e as grandes obras públicas, noIV milénio, já se estendem a monumentos para os vivos (cidadelasfortificadas), ao mesmo tempo que os espaços dos mortos se diferen-ciam (dolmens, grutas artificiais, tholoi de falsa cúpula, grutas natu-rais). Cerca de 3.000 chega-se à consolidação do sistema agro-pastoril,com a generalização de ossuários, a que se sucedem as primeiras sepul-turas individuais, algumas com ricos espólios: nasce o “indivíduo”.

Tudo parece passar-se, com efeito, como se a neolitização fosseum processo de crescente diferenciação social. Mas como contrastaresta hipótese com o registo arqueológico?

Questões de método

As sociedades pré-históricas são sociedades de memória oral. Talfacto implica uma grande constância do corpus básico de conhecimen-tos transmitidos e um domínio da dimensão espacial (compreensãomaterial do território, mais susceptível de se adaptar às suas modifica-ções, quando menores) sobre a dimensão temporal (compreensão gené-tica do território, mais eficiente na previsão de alterações e na adapta-ção a modificações profundas). Por isso, o universo simbólico dos caça-dores-recolectores, que constitui a quase totalidade da história humana,é dominado por representações que designamos por naturalistas masque, no essencial, são emanações do espaço percepcionado.

As modificações ambientais que, na Península Ibérica, se iniciamno tardi-glaciar, fragmentaram a unidade anterior dos territórios (acen-tuando a sua diversidade ecológica) e conduziram seguramente a umadesestruturação profunda dos mecanismos de equilibração cultural dascomunidades. Tal terá ocorrido não tanto à escala das transformaçõesexperimentadas por indivíduos concretos (a esperança média de vida eramuito baixa) mas, sobretudo, ao nível do confronto entre a realidadeespacialmente percepcionada e o mencionado corpus de conhecimentosoralmente transmitidos. Terá sido nessa confrontação que a dimensão

Page 172: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

176

temporal, predictiva, se terá reforçado, colocando em causa os saberesadquiridos e estimulando a dinâmica socio-cultural passível de gerarmecanismos alternativos de integração.

Neste quadro de fragmentação ecológica, o território não era ocu-pado por um “povo”, mas por um conjunto de grupos humanos, parti-lhando o mesmo processo de desestruturação, mantendo talvez relaçõesno quadro de nexus reprodutivos, mas ensaiando diversas soluçõesadaptativas.

Se se admitir um cenário desta natureza, terá de se concluir quenão é provável que o chamado processo de neolitização se possa reduzira um mecanismo unívoco. Bem pelo contrário, é provável que diferen-tes processos adaptativos tenham mesmo partilhado soluções formaisidênticas, que não poderão ser reduzidas a um único sentido.

Não nos parece, assim, aceitável basear modelos interpretativosem sítios únicos, como frequentemente ocorre com os defensores domodelo dual, que interpreta a neolitização como, no essencial, a expan-são de um modo económico alóctone a expensas do modo económicomesolítico. Não existindo um “povo mesolítico”, não se pode reduzir ainterpretação a um confronto de entidades inexistentes.

Esta é, aliás, a dificuldade da arqueologia na abordagem do pro-cesso de neolitização: mais qualificada para os estudos sincrónicos doterritório, a arqueologia tem dificuldade em registar a dinâmica tempo-ral no tempo curto, que é decisivo nas modificações históricas.

Deverá, assim, assumir-se a dimensão do tempo longo, das modi-ficações estruturais, sem cair na tentação de etiquetar os sítios um a um,como se fossem entidades totalmente autónomas.

Entre o Mediterrâneo e o Atlântico: a neolitização no Alto Ribatejo

O Alto Ribatejo, área de confluência da bordadura ocidental doMaciço Antigo com os contrafortes orientais do Maciço CalcáreoEstremenho e com a bacia detrítica do Tejo, oferece a máxima diversida-

Page 173: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

177

de geomorfológica da Península e constitui, por isso, um caso de estudoimportante para a compreensão das dinâmicas adaptativas humanas.

As primeiras abordagens sistemáticas ao processo de Neolitização,no início da década de 1980, suportaram o modelo dual, a partir dainterpretação de um sítio de referência: a Gruta do Caldeirão. Nestacavidade, foram identificados contextos de Neolítico antigo com cerâ-micas impressas cardiais, sucedidos por uma ocupação marcada pelaocorrência de cerâmicas impressas e incisas, sem decoração cardial. Oresponsável dos trabalhos viria a desenvolver um modelo de dissemina-ção do Neolítico por colonização a partir do litoral, centrada num enclaveestremenho rodeado por áreas de prévia opcupoação mesolítica. Nestepanorama, a expansão Neolítica era, objectivamente, à expansão danu-biana, privilegiando territórios não habitados por populações autócto-nes. Opunha-se, assim, às teorias de pedor evolucionista, ensaiadas nou-tros contextos, especialmente no litoral Sul de Portugal.

A interpretação da estratigrafia da gruta do Caldeirão viria a serquestionada por Luiz Oosterbeek, ao mesmo tempo que se colocava, jános anos 90, a hipótese de um modelo multi-linear que, sem pôr emcausa a existência de um input cardial costeiro, duvidava da sua exclu-sividade e, sobretudo, salientava a importância potencial de grupos hu-manos não portadores de cerâmica e não construtores de concheiros, noprocesso de Neolitização.

Os trabalhos desenvolvidos nos últimos dez anos no Alto Ribatejopermitem confirmar a simultaneidade, no VI milénio A.C., de contextoscom cerâmicas impressas cardiais associados a indústria lamelar domi-nante (Grutas do Caldeirão e das Andorinhas), com contextos acerâmicosou de cerâmicas lisas e friáveis associados a pedra polida, escassa in-dústria lamelar em sílex e abundante indústria macrolítica sobre lascaem quartzito (Povoados da Amoreira e do Pedregoso, entre outros).Verificou-se que, nos horizontes inferiores (neolíticos) dos monumentosmegalíticos (Anta 1 de Val da Laje), é esta tradição artefactual, e nãoa “cardial”, que está presente, prosseguindo depois (necrópole da Joga-da), e que é apenas no Calcolítico pleno que as duas tradições se pare-

Page 174: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

178

cem associar (necrópole megalítica de Rego da Murta,em Alvaiázere).A ocorrência de cerâmicas impressas no Tejo está demonstrada (Povoa-do de Santa Margarida da Coutada), mas em aparente subordinação aocontexto macrolítico.

Este dados, reforçados pela escavação de duas dezenas de sítios epela cartografia de achados superficiais em mais de duas centenas delocais, permitem sugerir a exitência, no Alto Ribatejo do VI milénio, deduas tradições: uma de economia provavelmente pastoril, de influêncialitoral e alóctone, marcada por tumulações com forte investimento sim-bólico nas cerâmicas e suas decorações; uma de economia provavel-mente de mais largo espectro, com maior mobilidade, marcada por lo-cais de habitat nos vales do principais rios e seus afluentes, sinal daocupação recorrente de tais locais. Enquanto os habitats da primeiratradição, embora escassos, se possam encontrar de forma inequívoca(como no Tejo), os locais de enterramento da segunda emergem sob aforma de monumentos megalíticos, e vão ser estes os grandes ordenadoresdo território da região.

Neste quadro, afigura-se-nos secundária a discussão sobre o mo-mento exacto do início da Neolitização do Alto Ribatejo e, de umaforma geral, do interior Sul, quando comparada com o litoral Atlântico.Admita-se uma quase simulataneidade (como certas datas absolutassugerem), ou um arranque coevo do “epicardial” do litoral, o que im-porta é destacar que, cerca de 5.000 A.C. (provavelmente antes), ocor-rem, simultanemente, contextos com cerâmicas impressas e indústrialamelar (litoral e Estremadura) geralmente em grutas (mas ocasional-mente em povoados), contextos de cerâmicas lisas e indústria macrolíticaem povoados e antas (vale do Tejo e seus afluentes) e concheiros meso-líticos (estuário do Tejo e Sorraia). Correspondendo a estratégias adap-tativas diversas, estes sítios não devem ser lidos como concorrentes,mas sim como elementos de um mesmo sistema económico extrema-mente complexo e dinâmico.

Ainda que reconhecendo uma provável integração socio-económi-ca, não deveremos dissolver as diferenças culturais evidenciadas pela

Page 175: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

179

cultura material, e neste domínio propõe-se a interpretação dos contex-tos macrolíticos do interior (que estão na origem do megalitismo) comoum sub-sistema mais dinâmico e expansivo que, a prazo, irá absorver atradição costeira das cerâmicas impressas. Também a arte rupestre, comtímidas marcas no início do processo e uma plena afirmação noCalcolítico (momento de plena osmose das duas tradições) sugere nãoapenas os eixos físicos da expansão macrolítica (grosso modo entre asportas do Ródão e o vale do Ocreza) mas, sobretudo, os principaisciclos de tal expansão.

Uma nova dinâmica social

A Península Ibérica, cerca de 5.000 A.C., seria assim um mosaicode comunidades, mantendo uma rede de relações entre si, partilhandoum processo de apropriação de territórios necessariamente mais restri-tos do que os que eram explorados anteriormente, mas ensaiando adap-tações locais. Concheiros de recolectores marisqueiros, acampamentosde caçadores, grupos pescadores, pastores da Meseta e proto-agriculto-res, partilhariam um território cuja unidade se perdera, e que careceriade ser reconstruída por outros meios.

Desfeita a unidade territorial, será a dinâmica social a condicionaro processo. Esta nova responsabilidade da dinâmica social será acom-panhada da geração de um novo corpus de memórias orais, menosdependente do espaço e mais aberta à fluidez temporal, um corpus maisesquemático e menos naturalista, que vai ser complementado com ma-nifestações várias de apropriação do território por grupos específicos.Esta demarcação fronteiriça, expressa pela arte rupestre e pelo megali-tismo, sobretudo, mas também pelos diferentes sistemas de tumulaçãoe tipologias de artefactos simbólicos que os acompanham, exprime umanova postura das comunidades humanas: não a mera adapatção ao ter-ritório (dimensão espacial), mas a vontade de o condicionar, de o trans-formar (dimensão predictiva, temporal). É este salto epistemológico que

Page 176: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

180

possibilitará o triunfo da Neolitização, ao construir uma nova aborda-gem perceptiva da realidade: a da domesticação do meio (animais, cerais,terra) e da alienação de uma parte da sociedade em relação aos meiosde controlo da mesma.

BIBLIOGRAFIA

ARNAUD, J. M. (1990). Le substrat mésolithique et le processus de néoli-thisation dans le sud du Portugal. In CAHEN, D.; OTTE, M., eds.

Rubané et Cardial. Liège: Université de Liège. p. 437-446. (Etudes et RecherchesArchéologiques de l’Université de Liège; 39).

CERRILLO CUENCA, E.; A.GONZALEZ CORDERO (pol. 2005). El NeoliticoAntiguo en la cuenca media del Tajo: estado actual de los conocimientos, 15 p.

COLLADO GIRALDO, H.; M. GIRÓN ABUMALHAM & M. FERNÁNDEZALGABA (2002). “Paleolithic Rock Art in Manzanez Mill Area (Alconchel– Cheles, Badajoz)”, Arkeos, 12: 29-64.

OOSTERBEEK, L. (1994). Echoes from the East: the western network. Aninsight to unequal and combined development, 7000-2000 BC. Londres,University of London, PhD. Dissertation (2 vols.).

OOSTERBEEK, L. (1999). The Neolithisation of North Ribatejo (Portugal),IN: Journal of Iberian Archaeology, vol. 1.

OOSTERBEEK, L. (2002). “Le culte de l’Eau dans le Alto Ribatejo”, Arkeos,12: 227-256

OOSTERBEEK, L. & A. R. CRUZ et al. (2002). “TEMPOAR – Territórios,Mobilidade e Povoamento no Alto Ribatejo (Portugal) – 1998-2001 (sín-tese global dos trabalhos realizados). Arkeos, 12: 261-321.

SOARES, J. (1997). “A transição para as formações sociais neolíticas na costasudoeste portuguesa”. In RODRÍGUEZ CASAL, A. A., ed. – O Neolíticoatlántico e as orixes do megalitismo. Santiago de Compostela: Universi-dade, p. 587-608.

ZILHÃO, J. (1997). “Maritime pioneer colonisation in the early Neolithic ofthe west Mediterranean. Testing the model against the evidence”. Porociloo rziskovanju paleolitika, neolitika in eneolitika v Slovejini. Ljubljana.24, p. 19-42.

Page 177: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

181

QUATRO DÉCADAS DEPOIS.Alguns percursos, encruzilhadas,perspectivas e contributos no âmbitoda arqueologia portuguesa – breveexercício de auto-reflexão retrospectiva

V Í T O R O L I V E I R A J O R G E

A Jean Roche,que durante longos anos de convívio,

e apesar da sua acidez, me ensinou muitas coisas,e me respeitou no essencial da minha individualidade – o melhor que um discípulo pode esperar do seu mestre

“A creative scientist is just as bloody rare as a poet.”Hugh MacDiarmid1

O que neste texto possa haver de mais marcadamente pessoal ouauto-biográfico terá, como é evidente, menos interesse do que aquiloque, nele, eventualmente puder ultrapassar-me, ser útil ao leitor. É esseespírito com que o publico.

Um testemunho pode ser esclarecedor sobre uma actividade e umaépoca, para além daquilo que o próprio autor imagina, ou que a tradi-cional modéstia científica (algo hipócrita, diga-se) habitualmente acon-selha. Nunca me revi nesses falsos actos de contenção ou contrição. Aciência, tal como a arte, são feitos por pessoas e são produtos históricoscomo outros quaisquer.

1 Poeta escocês (1892-1978). Inf. pessoal de Daniela Kato.

Page 178: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

182

Reflectir sobre o essencial da minha vida de arqueólogo, sem es-camotear o carácter eminentemente subjectivo dessa auto-avaliação, eiso meu fito aqui.

Sobretudo sem esquecer a principal ilusão da história – e tambémda história pessoal – que é a de, a todo o custo, dar unidade, pretensacontinuidade e sentido, ao que foi em larga medida vivido comoindecidibilidade, e às vezes, até, como um certo caos. Assim por umgolpe de mágica se transforma em teleologia o que foi em grande parteerrância, ou busca no nevoeiro, por parte dos “personagens” individuaisou colectivos.

Também queria advertir para o facto de que a citação inicial ob-viamente não implica que eu me auto-atribua a elogiosa designação de“cientista criativo”.Está aí apenas para lembrar que há uma imaginação científica, que elaé tão importante como o chamado “método”, e que muitos contributosnão phÅ√isam d[Pchegar a um “fim” (?) para marcarem uma rota, paraabrirem caminhos. Há muito mais em comum entre a “ciência” e a“arte” – sublinho mais uma vez – do que muitas pessoas imaginam2.

Assumindo que ninguém, muito menos em “ciência”, conseguefazer algo de significativo sozinho (a não ser livros de divulgação,normalmente sem o sabor ao “sal vivido da experiência” do próprio), éevidente que alguns caminhos que a minha actividade possa ter contri-buído para abrir se devem a uma grande multiplicidade de factores,onde contam muito os ensinamentos que recebi, as colaborações quetive, e até as múltiplas barreiras que, como todos, encontrei.

O meu percurso foi – e aliás em larga medida continua a ser –,como o de outros arqp}ólobás da miiÄa geração, fundamentalmenteautodidacta.

Nesse sentido, as pessoas que usufruem, hoje, de autêntica “orien-tação” nos seus trabalhos de licenciatura, mestrado, doutoramento, ou

2 V. por exemplo, “The Life of Poetry”, de Muriel Rukeyser, Ashfield, Massachusetts,Paris Press, 1996. Agradeço a D. Kato ter-me revelado este livro.

Page 179: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

183

mesmo de pós-doutoramento, às vezes na sua exigência (compreensi-velmente) persistente para connosco, têm dificuldade em imaginar oque terá sido uma trajectória em que foi preciso praticamente encontrartudo por mim, das pesquisas nas livrarias e bibliotecas aos meios finan-ceiros mínimos (sempre mínimos!), das orientações teóricas às regrasmetodológicas.

Estruturalmente, aliás, essa minha situação até agora não mudou;apenas conto hoje com a ajuda possível de uma equipa de jovens, quetento manter e ampliar. Mas sei que a solidão da minha busca é total.Repito enfaticamente: total. Como de todo aquele que enfrenta a produ-ção de conhecimento, não tentando apenas aduzir curiosidades ou acu-mular observações ou tarefas, por muito bem feitas que sejam. A vidaestá feita de “tarefeiros” – e bem precisamos deles – mas escasseia dequem aponte caminhos e abra veredas.

Quase nunca ninguém me mencionou sequer os principais autoresque me orientam, ou por que procuro estudar, hoje. As pessoas que meensinaram coisas, e foram muitas – ninguém arranca do nada, como disse–, a determinada altura pouco tinham a ver com o meu percurso, que foi– e em larga medida ainda é, acentuo – fundamentalnente solitário.

Esse é, deixemo-nos de mitos, e acentuo de novo, o destino detodo aquele que abre caminho numa floresta densa. A determinada al-tura só pode confiar na força do seu braço e na acutilância do gume comque desmata a confusão à sua frente, e a mais total indiferença e inércia(e por vezes alguma indigência…) predominante ao seu lado. Quandonão violência simbólica, vontade de esmagar todo aquele que incomodae altera o “status quo”, que procura fazer alguma coisa, para além darealização dos seus desejos básicos como pessoa humana.

Creio, porém, que esse não é um fenómeno exclusivamente portu-guês nem do meu tempo. Não se trata de visão benevolente sobre mimpróprio, mas penso que em determinado momento aquele que estiver àespera de mestres para avançar fica peado numa encruzilhada.

Os mestres são bons, e em certa medida alguns (certamente mui-tos…) faltaram-me, para chegar mais depressa e mais seguramente às

Page 180: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

184

tais encruzilhadas, onde a opção é do foro pessoal, do âmbito da ima-ginação, da energia, da determinação e da criatividade de cada um.Lamento sobretudo não ter vivido, aprendido e ensinado num “centro”como Paris ou Londres, onde uma pessoa, mergulhado num autêntico“caldo” de sugestões e oportunidades, se não se dispersar, progride maisnum mês do que em Portugal em muitos anos. Por isso tantos jovensinvestigadores o que mais desejam é sair do país, como se fôssemos umEstado do hemisfério sul.

Mas, seja em que ambiente for, cada pessoa tem de fazer as suasconexões e tecer a rede que lhe importa; e essa rede é um ponto dechegada (nunca de partida) sempre precário, embora as linhas estrutu-rantes se comecem a divisar após algumas décadas de trabalho.

A minha actividade de iniciação e aprendizagem (sobretudo pela mãode Eduardo da Cunha Serrão, economista de formação e arqueólogo “ama-dor”, como eram todos os da altura) decorre praticamente ao mesmo tempoem que entro na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa comoestudante universitário, com a clara intenção de vir a ser arqueólogo dachamada Pré-história (opção já antes tomada no liceu), em 1965/66.

Deixo evidentemente aos hipotéticos estudiosos do futuro, se aca-so o que escrevi e fiz lhes vier a merecer alguma atenção, a tarefa deefectuarem o balanço crítico do trabalho realizado, e ainda em desen-volvimento neste momento. Ninguém é juiz de si próprio; e o tempodirá o que eu e cada um dos meus colegas deixa para a história daarqueologia portuguesa, que espero seja escrita e reescrita muitas vezes.

Temos também, a esse respeito, de ultrapassar falsas modéstias (aspessoas que gostam de se mostrar mais “modestas” e discretas são emregra as mais orgulhosas, quando não aristocráticas, arrogantes ou auto--suficientes), e de projectar em nós uma certa consciência de historicidadeque adquirimos – por muito precário que seja o nosso trabalho, à minhageração coube o papel de trazer para a Universidade o ensino “cientí-fico” da arqueologia. É óbvio que essa história será feita um dia.

Note-se, aliás, que relativamente àquilo que ainda desejaria fazer,o meu trabalho se encontra numa fase, na realidade, muito embrionária.

Page 181: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

185

Por isso gostaria de poder contar ainda com algum tempo para ter oca-sião de produzir um livro (como costumo dizer) com princípio, meio efim (mesmo que decerto fosse escrito às apalpadelas, como toda a ac-tividade criativa). Uma única licença sabática (93/94) em 23 anos deprofessor doutorado não permitiu até agora veleidades!

Reflectir entretanto sobre o que fiz e faço é uma obrigaçãoindeclinável: não se trata de olhar complacentemente para o passado, oude me auto-erigir em “figura” digna de atenção, mas, pelo contrário,sabendo bem o modestíssimo contributo que cada investigador dá, e quenada é nunca o produto de um ser desenraizado – por muito autodidactaque seja – fazer um breve balanço que me ajude a perspectivar ospróximos percursos, talvez seja útil a mim e a outros.

Passados quarenta anos de aprendizagem e prática, dividiria hojeo meu trajecto como investigador (diria melhor, como aprendiz de in-vestigador que continuarei a ser até morrer – por isso falo de váriasfases de formação, intercaladas por outras de reflexão) nas seguintesetapas:

1. formação inicial, que termina em 1972, e se consuma definiti-vamente com a minha ida para Angola em inícios de Fevereiro de 1973(c. de 7 anos), passando-se toda em pleno período pré-democrático;

2. fase de reformulação, procura e primeiro amadurecimento deideias, numa época conturbada que vai até 1978, e que passa pelo 25 deAbril, pela minha transferência para o Porto (por iniciativa própria),pela colaboração que prestei a Jean Roche (prolongada aliás em anosseguintes), pela experiência do pós 25 de Abril e pela reformulação dotema inicial da tese de doutoramento (c. de 5 anos);

3. segunda fase de formação, que se pode considerar que vai de1978 até 1989, e que corresponde à elaboração da minha dissertação dedoutoramento (apresentada em 1982) e às provas de agregação (em1989) (11 anos); este período é marcado pelo estudo do chamado“megalitismo” do Norte de Portugal, que tem o seu “prolongamentoterminal” em escavações na Aboboreira em 1990, e em Castro Laboreiro

Page 182: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

186

entre 1992 e 1994. Corresponde à “adaptação” definitiva ao Norte dopaís, por parte do lisboeta que eu era;

4. segunda fase de reformulação, ampliação de perspectivas eamadurecimento, que vai de 1990 até 1997, em que basicamente con-tinuei na linha de trabalhos anteriores, a par de trabalhos em que sempreparticipei, os correspondentes às pesquisas da minha mulher e colega,Susana Oliveira Jorge, naquilo que dantes se designavam os “povoa-dos”. É marcada por algumas experiências que tiveram grande impactena minha vida e na arqueologia portuguesa em geral;

5. a partir de 1998, arranque (embora quase simbólico, pela peque-na dimensão das pesquisas iniciais, mas muito marcante pela atitude deco-direcção e de envolvimento pessoal) das escavações do sítio monu-mental de Castanheiro do Vento, em Horta do Douro (Vila Nova de FozCôa). Isto é: envolvimento pessoal num novo tema de pesquisa, em quetinha sido sempre apenas um colaborador desinteressado (tal como jáfizera com Jean Roche). Essa terceira fase de formação, em que asexperiências obtidas desde os anos 70 são fundidas sob a égide daproblemática das “arquitecturas” (a consciencialização, fundamental paramim, de que eram as preocupções “espaciais” que sempre me tinhamsubconscientemente orientado em arqueologia, nomeadamente para as“arquitecturas”, desde, pelo menos, 1978) dura até ao momento (7 anos)e espero que venha a corresponder ao resto da minha existência comoinvestigador nestas matérias.

Sou um investigador que não assume, deliberadamente, feição clás-sica (senão nunca escreveria este texto!), mas pós-moderna, neo-barroca,se quiserem: que tenta encontrar ordem na desordem, e vice-versa, poissão dois elementos em interacção constante, como o são a arte e a ciência.

Um arqueólogo que se exprime na poesia, e que tenta aprenderpermanentemente, persistentemente, noutras plataformas, resistindo aosapelos à vida cómoda e mediana a que a sua condição o conduziriainevitavelmente.

Page 183: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

187

Uma pessoa que continua a pensar que, se pode usufruir, hoje, dealgum conforto (nao herdado, conseguido a pulso), o deve pôr ao ser-viço dos outros e do país, e não vivê-lo egoisticamente. Peço desculpaao leitor se caí no auto-elogio, mas por ser verdade insofismável epublicamente reconhecida, não tenho qualquer pudor em a afirmar comoprincípio e meta.

Detesto todas as formas de comodismo burguês, tal como na mi-nha juventude – nesse aspecto, creio que não traí os meus ideais, comovi acontecer com muitos, mais “revolucionários” do que eu, da minhageração. Com incrível facilidade passaram do mais exaltado militantismoà mais cómoda das domesticidades, e consumismos culturais, no melhordos casos.

Pouco alarde, e muito trabalho, sem falsa modéstia, eis os princí-pios que julgo orientarem-me.

Fase 1 – 1965-1972 – O início nebuloso do caminho

A partir de 1969 dá-se na minha actividade uma primeira defini-ção, ou escolha: o começo do estudo do Paleolítico antigo e médio dolitoral português estremenho e alentejano, com a particular intenção decompreender os chamados (então por mim) “complexos industriais deseixos afeiçoados”.

Ao longo desse processo percebi – com a ajuda de F. Bordes, eoutros autores – que a metodologia e a interpretação de G. Zbyszewskie de H. Breuil (as quais continuavam a enformar os trabalhos que osServiços Geológicos regularmente publicavam, e onde Zby – como lhechamávamos familiarmente – trabalhou grande parte da sua vida), ape-sar das suas características inicialmente pioneiras, estavam já então,com o devido respeito à sua memória e obra imensa, totalmente obso-letas. Mas isso sucede com todos, e vai-nos acontecer a nós também.

Com a morte de Breuil, a embrionária “escola portuguesa” (ospoucos que Breuil tinha influenciado, como Zbyszewski, Veiga Ferreira,

Page 184: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

188

Bandeira Ferreira – este último uma pessoa muito culta e inteligenteque conheci de perto) tinha aparentemente ficado desconectada da evo-lução das pesquisas a nível internacional.

Isto é, os conjuntos de seixos talhados – muito difíceis de datar,mas presumivlemnete de diversas épocas da Pré-história – que se con-centravam em certas zonas do país, não eram simples variantes de “in-dústrias” ou “complexos industriais” paleolíticos classicamente defini-dos em França e noutros pontos da Europa, como o “abevilense”, oacheulense, ou o mustierense, e outros.

Já a própria definição destas “entidades” taxonómicas tinha (e aindahoje tem, como se sabe) muito de discutível, e traduzia problemas bas-tante complexos. Mas, mesmo em termos morfológicos, era clara adiferença entre a maior parte das peças líticas, paleolíticas ou posterio-res, que se expunham no Museu dos então Serviços Geológicos dePortugal, em Lisboa, e as que se poderiam observar em qualquer museufrancês onde se tivessem guardado materiais provenientes de “jazidas”tipicamente acheulenses ou mustierenses, por exemplo.

Não que essas “indústrias” ou “complexos industriais” não existis-sem em Portugal; mas o que então era mais abundante nas nossas “ja-zidas”, sobretudo litorais e em produto de recolhas superficiais sobre-tudo – claro que a situação evoluíu muito de então para cá – nada tinhaa ver com isso.

Teriam pois de se analisar mais detalhadamente as condições dejazida dos materiais; realizar estudos estratigráficos pormenorizados, eescavações; tentar encontrar sítios mais bem preservados; estudar esta-tisticamente os artefactos e elaborar novas tipologias, sistemáticas epreparadas para o seu futuro tratamento informático. Uma tarefa imen-sa, e interdisciplinar, que exige profunda formação geológica.

Neste aspecto, e apesar do meu trabalho nunca ter passado de umafase muitíssimo embrionária (vi-me compelido a acabar a tese de licen-ciatura em 1972, e não em 1973, como inicialmente imaginara) fuimuito influenciado pelas ideias de J.-C. Gardin, de G. Laplace, de D.Clarke, no sentido da elaboração de análises descritivas sistemáticas e

Page 185: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

189

da identificação de atributos, cuja combinatória produzia os tipos, e poraí adiante. De facto, estes elementos mínimos, uma vez isolados (in-fluência da linguística e do estruturalismo) articular-se-iam depois unscom os outros de forma virtualmente infinda, mas redutível a umasquantas regras, para chegar um dia a criar uma espécie de “gramáticagenerativa” de todas as formas artefactuais possíveis. É hoje óbvia autopia “modernista”, “racionalista”, de tal projecto.

Mas pensei, na minha inocência, que começando pelos materiaisde pedra, e pelas formas supostamente mais elementares, esse desiderato(que também colhia óbvias influências de Leroi-Gourhan) seria um diapossível. Nesse sentido, a minha dissertação de licenciatura foi (comoaliás dez anos depois a de doutoramento) mais um programa de pesqui-sas do que um “trabalho concluído” (uma das razões para a não publi-cação, em livro, de tais estudos, aos quais foi imposto um término porrazões meramente circunstanciais – apesar do meu mestre Orlando Ribei-ro ter expressado opinião contrária, isto é, em termos elogiosos terlamentado que não tivesse publicado tais obras).

Devo porém dizer, aliás, que as imposições da carreira universitá-ria e dos seus prazos nunca se ajustaram ao meu ritmo de trabalho e aos“ciclos” da minha pesquisa (se posso falar assim), pelo que sempreconsiderei as provas e os concursos apenas como etapas de carreira quese têm de cumprir. Creio que todos os meus colegas nas mesmas cir-cunstâncias sentem isso, mas há ainda muito, em “letras”, a tradição depublicar as teses de doutoramento, por exemplo, o que já não aconteceem “ciências”.

Tratava-se mais, já nos finais dos anos 60, início dos 70, de abrirum campo, do que construir nele algo de muito visível ou sólido; issoseria uma ingenuidade. Era um simples aluno, um principiante. Nãotinha meios, nem tempo, nem formação geológica ou equipas para tal.Percebi sempre que o trabalho solitário ou de pequena escala (salvohonrosas excepções, por certo) não conduz a praticamente nada.

Apesar da existência de um conjunto de pessoas interessadas, emtorno do Grupo para o Estudo do Paleolítico Português (GEPP), que

Page 186: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

190

informalmente liderei em Lisboa, e viria a descobrir a arte do vale doTejo (1971) e a visita a vários investigadores de destaque em Paris(1972), eu estava basicamente só, quando comecei a escrever a minhatese. Do núcleo inicial, Maria Querol foi para Madrid, e os restanteselementos eram ainda alunos, quase todos muito jovens.

Tratava-se de descontruir ideias anteriores, tornadas estéreis pelasua repetitividade, e ao mesmo tempo reivindicar, para as “Letras”, istoé, para a problemática do que se convencionou chamar ciências sociaise humanas, a condição de parceira num campo de estudos demasiada-mente dominado pela tradição postivista das ciências naturais, em par-ticular geológicas – a crença ingénua na evidência do “dado” empírico.

Aliás, ainda hoje os estudos de Paleolítico, que se requintaram enor-memente, carecem cá – como no estrangeiro – de muita preparação emquestões teórico-filosóficas, e de verdadeiras relações interdisciplinares (nãoconfundir com multidisciplinares). As ciências naturais, nem sempre bemassimiladas, pesam muito numa formação histórica que também deu poucapreparação para a interpretação de questões sociais. Os “hunter-gathererstudies” ecoaram pouco cá, até hoje. Vive-se por vezes de efémerosprotagonismos, televisivos ou outros. Enfim, adiante… pois não há dúvidade que há já muito trabalho meritório, pós Breuil/Zbyszewski e pós Roche.

Tratava-se naquela altura de fazer uma arqueologia do discursoarqueológico, onde era evidente a influência do pouco que então pudeler de autores como M. Foucault. Tudo isto, enfatize-se em abono daverdade, apesar do carácter muito embrionário dos meus trabalhos deentão, e da falta de tempo para absorver, e concatenar, tão variadassugestões, leituras, e problemáticas, que iam aparecendo num grupo deamigos muito estimulante, pertencente a várias escolas da Universidadede Lisboa. Os meus colegas de história, e em particular de arqueologia(quase todos voltados para a arqueologia pós pré-histórica) não eramdas pessoas com quem mais me dava em Lisboa.

Esse desbloquemanto do que obstruía o raciocínio novo, e maisclaro e preciso, minha autêntica obsessão de sempre, era indispensávelpara poder fazer o caminho daí para a frente.

Page 187: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

191

Tal caminho não seria, como sempre acontece (tanto ao nível pes-soal, como do conjunto das pesquisas), aquilo que então se poderiaprever, ou desejar. Factores aleatórios, e novos paradigmas, foram-seimpondo.

Por exemplo, nos fins dos anos sessenta e inícios dos setenta, euestava ainda muito preso a uma concepção arbórea, ou hierárquica, dossaberes (influenciada por J. Piaget e pelo seu quadro de classificaçãodas ciências, que já vinha de uma longa tradição), concebendo ainterdisciplinaridade a diversos níveis, e tendo como pano de fundo essadiversidade de escalas, relativamente rígida. Tal ideia tornou-se entre-tanto obsoleta, também ela.

O próprio “processo arqueológico” era por mim convencionalmen-te (acentuo, convencialmente, e sobretudo para fins de exposição metó-dica) concebido como um “caminho” de algum modo “ascendente”, daanálise à síntese, do trabalho de campo e de observação de materiais àinterpretação de conjunto.

Embora eu já estivesse perfeitamente consciente (e aí valeu-me,desde o primeiro ano da Faculdade, a aprendizagem feita com Jorge deMacedo, um pensador notável cuja obra publicada é apenas uma résteacomparada com o seu enormíssimo saber e argúcia) do referido carácterconvencional de tal esquema. O primado da interpretação sobre a obser-vação (ou, se quisermos, a sua coetaneidade absoluta) era um legado,entre outros, da escola dos “Annales”.

Lembro-me perfeitamente da ácida lucidez com que Jorge de Macedome referiu um dia, a título particular, o positivismo que continuava aimperar sobre a Universidade portuguesa. As suas palavras mantêm aliásactualidade. Para muitos, rigor não é mais do que erudição acumulativa,redacção de tratados de verdadeiros anedotários, e perpetuação (explícitaou implícita) de ideologias muito pouco trabalhadas criticamente. Nadatêm a ver com história, ou com ciência, embora por vezes se reclamemdisso, ou possam adquirir notoriedade e/ou popularidade.

Os meios de comunicação social têm, aliás, uma grande responsa-bilidade a esse respeito. E certos hábeis “investigadores” possuem os

Page 188: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

192

seus “jornalistas de serviço” que lhes vão, de vez em quando, fazendoo jeito de ajudar, pela notoriedade mediática, a construir uma imagemque lhes é útil a muitos níveis. Fenómeno geral, que em Portugal adqui-re certo aspecto caricato, dada a pequenez do país.

De facto, em muitos domínios, aquele positivismo (crença ingénuanos “dados”) permanece, por vezes em arqueologia acentuado quaseanedoticamente pela obsessiva “crónica diária” dos achados e descober-tas. Não só em Portugal, como noutros países, como se vê frequente-mente na Internet ou na já referida comunicação social.

Dir-se-ia que para existir os arqueólogos têm de chamar regular-mente a comunicação social, para compensar aí, efemeramente, naspáginas de um jornal que se deita fora no dia a seguir (de facto, emregra, a informação veiculada pelos jornalistas destina-se mais a provo-car efeitos de promoção, do que a ser de natureza científica e informa-tiva) o pouco peso social ou cultural que têm.

Ao contrário de outras ciências, as “descobertas” em arqueologiasão apresentadas como revelações, ou começos, e como obra individual,e não como o término de um longo processo colectivo – e social – deelaboração intelectual e experimental, que de facto são, ou deveriam ser.

Trata-se de um bem conhecido processo de “caricaturização” decertos saberes, que é tolerado para, de certo modo, os manter numlimiar de seriedade menor em relação aos verdadeiros, sérios e úteisconhecimentos, que seriam obtidos por pessoas “em bata branca”. Afacilidade do achado, a contrastar com a dificuldade transcendente daverdadeira “eureka”; mas no fundo duas faces da mesma moeda, damesma mística.

Apesar de ser um trabalho de principiante, de estudante de licen-ciatura, a minha dissertação, apresentada em 1972, em termos de pro-jecto e de problemática que a animava, creio que representou uma rup-tura com os estudos de “paleolítico” feitos em Portugal até então, abrin-do até certo ponto algum caminho a investigadores mais jovens.

O essencial dela foi publicado, espelha-se nos meus primeiros li-vros, e vem sintecticamente expresso nas conclusões da própria tese.

Page 189: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

193

Creio que isso, hoje, será consensual; mas se não for, também nãoimporta. O consenso não é das coisas mais produtivas – embora emcertos momentos seja indispensável, senão em termos práticos tudo ficabloqueado. O que é certo é que na nossa actividade de docentes e deinvestigadores – marcando uma certa “agenda”, como se diz hoje – hámuitas vezes mais “influências” noutros do que estes estão preparadospara admitir, até porque a memória é curta.

Fase 2 – 1973-1977 – Dois despaisamentos

A partida para Angola como assistente da Universidade de Luanda(Sá da Bandeira, actual Lubango) corresponde ao início (na verdade,forçado… porque apesar da África me fascinar, nunca programei ir parauma colónia, regime abominável) de uma elaboração de tese dedoutoramento sobre a pré-história do SW de Angola (sobretudo planaltoda Huíla) que se interromperá devido ao 25 de Abril.

Em Angola, apesar de ser uma colónia em guerra, para onde nuncapensei ir, coimo disse, encontrei pela primeira vez alguma estabilidadeprofissional e algum sossego para trabalhar, com condições logísticasboas, num terreno absolutamente virgem. Num certo sentido, usufrui deum sossego e de condições que nunca mais teria no resto da minha vida.Estava muito isolado – mas “mais vale só do que mal acompanhado”…ao menos tinha-me libertado da “tutela” directa de certas figuras “deLisboa e arredores”.

Num território imenso, com uma superfície catorze vezes maior doque a de Portugal, onde literalmente toda a arqueologia estava (e realmen-te, devido às guerras, continua a estar) por fazer, encontravam-se apenastrês pessoas envolvidas em tal actividade amadorística: Vicente Martinsno NE (Lunda), Carlos Ervedosa (que comungava comigo do interessepela literatura) sediado em Luanda, e eu, neófito recém-chegado, no SW.

Que sensação de abismo imenso, mas também de solidão, para umjovem de 25 anos de idade, que nunca tinha querido ou pensado ir ali

Page 190: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

194

parar! Às vezes do escritório da minha casa olhava as montanhas quenos abraçavam naquele planalto, e perguntava-me que ia eu fazer em talvastidão, quando a minha mulher era ainda uma estudante muito jovem,e não havia mais ninguém com quem dialogar. A própria rádio de Lu-anda se deixava dificilmente fazer ouvir. Era o que se chama estar “inthe middle of nowhere”. A depressão espreitava os meus colegas maisdesenraizados.

Assim, a perfeita adaptação a um mundo fascinante (desde quelibertado do colonialismo e das suas sequelas) onde a arqueologia e ahistória, a etnologia e a pré-história se cruzavam, teria levado certamen-te muitos anos. Tanto mais que, todas as semanas, eu era de algummodo acometido por notícias, informações, “achados”, que em catadupame iam chegando. Fui-me por outro lado apercebendo que, por detrásde uma espécie de aparente “deserto” de pessoas e de informações,havia uma história africana também por entender. O trabalho era assimintenso, incluindo a incumbência de realizar o museu didáctico de ar-queologia dos Cursos de Letras, cujo conteúdo e projecto deixei elabo-rados. As vitrinas encontravam-se a ser feitas quando se deu o 25 deAbril.

A própria cidade de Sá da Bandeira (Lubango) estava assente emterraços fluviais cheios de “indústrias” líticas, e não era raro cruzar-mena rua com nativos que, pela própria condição colonial, subordinada, aque estavam remetidos, eram sem dúvida portadores de formas culturaistotalmente diferentes da minha, mas difíceis de conhecer em tão poucotempo, e sobretudo em tão pouco propício ambiente socio-político. Aspessoas que não eram brancas viviam, em geral, em condição precáriade subistência.

De qualquer modo, se algo de mais essencial posso reter da minhaestadia de um ano e meio em Angola, direi que foi a relativização dequanto tinha aprendido em Portugal, na provinciana e acanhada Lisboadaquele tempo.

Se já até então me interessava por antropologia, esse interesseincrementou-se, mesmo que subconscientemente. Não houve foi tempo

Page 191: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

195

para o desenvolver. Por outro lado, percebi claramente aquilo que eraóbvio: que os métodos, as taxonomias, as problemáticas que tinha apren-dido na Pré-história europeia não tinham qualquer aplicabilidade ali.Compreendi, mesmo que de forma embrionária, que a cultura ocidental,com toda a sua importância, era apenas uma entre muitas, de certomodo tão “exótica” – diria eu hoje, totalmente consciente disso – comoqualquer outra. O mundo imenso que me rodeava e a minha ignorânciasobre ele eram quase sufocantes. Valeram-me (para não enlouquecer) aminha juventude e uma autêntica sofreguidão pelo trabalho. Foi umaprova muitíssimo dura.

A vida parecia (sempre pareceu) empurrar-me para uma pressa quenão era a que eu desejava, obrigando-me a abandonar um projecto quandoeste já estava a entrar nalguma maturação.

O meu maior sonho foi sempre assentar num sítio, numa região,estudar bem um tema, e a partir daí abrir-me ao universo inteiro dosaber, se possível, e até onde fosse capaz – e não a dispersão a que ascircunstâncias me obrigaram. Era já a ideia de interdisciplinaridade que,por intuição, me dominava: saber bem algo, mas com a consciência deque esse “algo”, se for apartado do seu contexto, fica esterilizado e seminteresse. Ao contrário, se for articulado, envolve toda a cultura, e podeescapar às peias da especialização.

Aliás, África tem uma temporalidade estranha, para um europeurecém-chegado. Ali, nada parecia ter prazos, sobretudo numa pequenacidade onde havia apenas uma delegação da Universidade de Luanda.

Um dos meus cuidados – e gostos – foi ultrapassar essa sensaçãode vazio, acelerando o meu ritmo de trabalho, como já referi, até paranão cair na depressão de alguns, que se viam totalmente desancantadosnaquele “deserto cultural”, enquanto que eu estava, de certo modo, nomeio mesmo do meu “laboratório”. Mas, mais uma vez, bastante só,quer dizer, tendo de dialogar comigo próprio quase todo o tempo, e coma minha jovem mulher.

A minha chegada ao Porto (um dos despaisamentos mais fortes daminha vida, talvez ainda maior do que a transição Lisboa-Sá da Bandei-

Page 192: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

196

ra) dá-se no início do ano de 1975. A conselho de Carlos Alberto Ferreirade Almeida, intensifiquei então a colaboração com Jean Roche (inves-tigador do CNRS que havia conhecido antes da minha partida paraAngola), em muitas de cujas escavações participei, no Bombarral, einiciei então o estudo do chamado “megalitismo” do Norte de Portugal.

Lembro-me de que li, e reduzi a fichas, para começar, em 1974, os“Dispersos” de Martins Sarmento. Mas nem sequer tinha alguma ideiada aparência das terras mencionadas na obra (topónimos e micro-topónimos!), terras às quais onde nunca tinha ido!

Após uma fase de adaptação à cidade e ao vasto “terreno” que meservia de referância (desconhecia até então o Norte do país, e nemviatura – de início, nem máquina fotográfica! -possuía), bem como deaquisição de elementos bibliográficos (aqui, Huet Bacelar foi-me útil,na Faculdade de Ciências), senti-me finalmente a “engrenar” num novotema – a intuir que talvez fosse capaz de fazer alguma coisa nesta nova“minha terra”, sobre a questão que me propusera abordar – a partir de1978.

Já então tinha estado umas vezes em França, o que me ajudoumuito, pois encontrei pessoas bastante sabedoras e simples, sobretudona “megalítica” Bretanha, onde sob a égide de Giot se tinha criado umaescola séria. Nunca lhes agradecerei o suficiente – a Briard, Helgouach,e sobretudo Le Roux.

Foi nesta fase que se incrementou o meu interesse pela antropolo-gia e que descobri, por mim, à deriva nas livrarias e bibliotecas, sobre-tudo do Porto e de Lisboa (e em função dos distantes ecos que cáchegavam), autores fundamentais como Sahlins, Service, Binford, comomais tarde Hodder, entre tantos outros. A “nova arqueologia” (ouprocessualismo, como ficou conhecida no Reino Unido) ia praticamenteentrando aqui ao mesmo tempo das primeiras críticas à mesma, oudesilusões em relação a ela. Nova torrente de questões nos invadia,embora muitos “arqueólogos” continuassem tranquilamente a produziros seus trabalhos puramente descritivos, e considerassem as “discussõesteóricas” como pura perda de tempo.

Page 193: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

197

Nunca ninguém antes me havia mencionado sequer nomes comoos dos autores acima citados, depois tornados comuns após, em grandeparte, eu e poucos colegas mais os divulgarmos cá.

Aliás, e como já referi, continua hoje a acontecer-me praticamenteo mesmo, apesar da era da informação, da globalização, da internet – osque escolho como meus “mestres” custam-me horas de procura nasbibliotecas e livrarias.

Solidão total – às vezes é preciso uma certa convicção para aaguentar, enquanto muitos outros, que julgáramos companheiros persis-tentes de pesquisa, se divertem… na sociedade hedonista de hoje é ummilagre conseguir-se investigar seja o que for, sobretudo em Portugalonde os estímulos são mínimos e escassos e a maior parte dos jovens,não sentindo perspectivas profissionais, baixa os braços e estiola, oufoge para o estrangeiro. Às vezes, falta mesmo a paciência para seaturar este país.

Um historiador das religiões, cuja obra li extensamente, foi MirceaEliade, de que me havia falado já no liceu o meu actual colega defilosofia Prof. Álvaro dos Penedos, uma das primeiras pessoas que meestimulou, ainda adolescernte, para a arqueologia.

Entretanto, tive de ir comprando pessoalmente toda a bibliografiainternacional então relevante para o estudo do “megalitismo”, a come-çar pela obra gigante dos Leisner, já que, sobretudo no Porto, não exis-tia praticamente nada. Mas mesmo em Lisboa, apesar da biblioteca doInstituto Arqueológico Alemão, faltavam muitos estudos de fôlego, enão havia praticamente notícia dos trabalhos ingleses e sua problema-tização inovadora, até José Arnaud, vindo de Inglaterra com uma bolsa,ter também começado a divulgar aqui essas problemáticas.

Eu e minha mulher, a quem já atrás fiz referência – Susana Olivei-ra Jorge, nessa altura estudante/monitora e depois licenciada/assistenteda FLUP – encontrámos o Norte do país, em 1975, e no que toca aosestudos de Pré-história, quase como se fosse preciso começar do zero,isto é, como se fosse uma região da Europa do século XIX. Foi aliciantee árduo, como todas as tarefas pioneiras.

Page 194: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

198

Descobríamos quase tudo ao mesmo tempo: pessoas, paisagens,indícios, sítios, bibliografia e seu enquadramento europeu e teórico,etc., numa altura em que a actividade dos “orientadores” de teses era,como sugeri atrás, mais de amizade e protecção, do que de orientaçãocientífica propriamente dita.

Como em Lisboa, como no Lubango, o Porto foi – nos seus inícios– um esforço inaudito, e totalmente incompreensível para as geraçõesde hoje, que já nasceram num estado de direito democrático, num paíseuropeu, numa sociedade de consumo, e num terreno desbravado.

Às vezes as suas exigências (estão sempre a pedir ajuda, não sehabituram a desenvencilhar-se sozinhos, aliás com a péssima colabora-ção proteccionista dos pais) ou surpresas perante as dificuldades, nesterelativo conforto e abundância de informação em que vivemos agora,deixam-nos ainda hoje mesmo atónitos, tal o grau de aceleração quePortugal experimentou, e o fosso que se cavou entre as pessoas dediferentes idades.

Os da minha geração que optaram por ter filhos, e que, em muitoscasos – talvez para compensarem as carências desse tempo – lhes deramtantas benesses, como disse, produziram um género de pessoas que nãoimaginam o que então tivemos de lutar, e coisas tão elementares comoa alegria que sentíamos em encontrar um livro ou um simples artigo quenos abria novas perspectivas.

A vida era feita de pequenas descobertas, de incursões ao estran-geiro onde íamos arejando e abrindo perspectivas, de esforço individualque substituía de algum modo a orientação pessoal (e personalizada)que não tínhamos, e de que eles agora usufruem como coisa natural, dedireito próprio, eterno e universal! É maravilhosa, esta candura.

Fase 3 – 1978-1989 – Em torno da Aboboreira como âncora

Em 1978 o meu trabalho começou, como disse, a engrenar, a en-raizar-me ao terreno, a partir de um pólo de referência que se tornou

Page 195: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

199

para mim, com o decorrer do tempo, quase identitário: a Serra daAboboreira, no distrito do Porto (concelhos de Baião, Amarante e Marcode Canaveses).

Desde o primeiro dia em que a pude visitar, em Janeiro de 1978,que “senti” que estava ali uma paisagem, um território, um espaço, queeu “podia” agrarrar”. Esta identificação do arqueólogo com o terreno éfundamental – há, tem de haver, uma adesão sentimental e quase umsentimento de “apropriação”, isto é, de imaginariamente nos “sentirmosem casa” para conseguirmos ter “poder sobre o que estamos a fazer”,força de vontade para enfrentar dificuldades, para manter o desejo de alirealizar e concluir uma investigação, ao longo de um tempo que umatese (como qualquer investigação consequente) pressupõe.

Essa ligação à terra, numa perspectiva que não é puramente inte-lectual, mas entra mesmo na esfera afectiva (serão elas separáveis umada outra?), é fundamental para um arqueólogo – trata-se de uma cons-trução mental que incute confiança e vontade de prosseguir, pois aarqueologia, sobretudo em Portugal, era (e é) uma actividade muitodifícil de concretizar.

E temos de perceber que, de todas as ciências que actuam noterreno, a arqueologia é das que exige maior permanência nos mesmoslocais, maior enraizamento. Há assim uma espécie de ligação ontológicacom a terra, com um sítio ou conjunto de sítios, com uma paisagem, queé fundamental, sobretudo para uma pessoa que nasceu e sempre viveuem cidades, e para quem o “campo” é realmente um mundo idealizado,ou só conhecido através de filtros literários. Há que vencer uma série depreconceitos para poder lidar com gente totalmente diferente, e porvezes, ainda nos anos 70, com uma boçalidade muito acentuada.

Com a nossa adesão à CEE, depois União Europeia, o nosso paísmudou radicalmente. Em certos locais onde chegávamos, ainda nos anos70, parecia que estávamos na Idade Média. Não havia quase nada, nemonde dormir, nem onde comer. É evidente que a minha geração já nãoconheceu o Portugal que Jorge Dias e seus companheiros nos descre-vem, e que percorreram a pé, com aventuras que infelizmente nunca

Page 196: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

200

foram passadas a escrito, e representam uma perda patrimonial imensa.Em certo sentido, Portugal é hoje um país amnésico.

Qual era então, centrado na Aboboreira, o meu objectivo? Elesituava-se, obviamente, a várias escalas. Mas a ideia geral traduzia umavisão da arqueologia: não estudar monumentos isolados, mas integradosuns nos outros, noutro tipo de sítios (mesmo que de cronologia diversa)e na paisagem envolvente, entendida como uma realidade escolhidapelos “construtores” do passado; não me preocupar excessivamente com“espólios” ou achados de artefactos ou outros elementos informativosde per si, mas procurar articulá-los com a concepção geral dos monu-mentos e as técnicas da sua erecção. Era o embrião de uma arqueologiada paisagem e de uma arqueologia das arquitecturas não pétreas, pré--romanas. Nesse aspecto, uma visita à Aboboreira logo em 1978 deGeorge Eogan (da Universidade de Dublin, e que eu conhecera naBretanha no ano anterior) foi-me muito útil como encorajamento. Elepercebeu que ali se estava a começar, modestamente, uma nova etapados estudos de “megalitismo” em toda a península. Pelo menos decla-rou-me isso directamente.

Pouco a pouco foi-se-me tornando evidente que o que importavaera compreender a geomorfologia da região, como é que os monumen-tos sobreviventes se encaixavam nela, quais as técnicas construtivas eque “significados” poderiam ter tido nas comunidades pretéritas. Hoddercomeçava a temperar os entusiasmos “processualistas”.

Por outro lado, tornou-se-me evidente que a figura do arqueólogoisolado, induzida pelo próprio “espírito” e necessidade do doutoramento,desse grau a ser conseguido individualmente, a nada de substantivoconduzia, dada a escala da tarefa a realizar.

Ora, se fosse conseguida uma certa dinâmica de equipa, e se essaequipa estivesse voltada para a mesma zona de forma continuada, man-tendo o diálogo, os resultados haveriam de começar a aparecer, nãotanto pela “riqueza” informativa de cada situação encontrada, mas pelaprópria lógica comparativa assim criada. E creio que isso foi consegui-do, naquilo que depois se chamou o projecto do Campo Arqueológico

Page 197: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

201

da Serra da Aboboreira (CASA), e que basicamente era o desenvolvi-mento do meu projecto de doutoramento, conjugado com outras desco-bertas que Carlos A. F. de Almeida nos ajudou a fazer, e com os traba-lhos da equipa que eu constituira, com destaque para Susana OliveiraJorge, desde 1976 também assistente da FLUP.

A outra escala, o estudo do “megalitismo” do Norte de Portugal sótinha sentido se fosse integrado numa visão peninsular e europeia. Nãopor se considerar que se tratava de um fenómeno unitário e homogéneo,mas para se conseguirem elementos de comparação, pontes de relacio-namento a todos os níveis possíveis, desde o mais amplamente pro-blemático, até à tipologia de estruturas e técnicas de construção, e aindaà metodologia de descrição, que era preciso serem afinadas, criticamen-te, com os resultados de colegas estrangeiros. Para isso ajudaram-memuito as idas à Bretanha, e a leitura das obras de Colin Renfrew – defacto, um grande inovador na sua fase de maturidade –, entre outros. Aarqueologia era uma ciência social, ou não passava de uma erudiçãoestéril.

Ou seja, pela segunda vez se me tornou evidente (de facto, essaconsciência já existia quando estudei Paleolítico, ou mesmo quandoencetei as interrompidas “investigações africanas”) que ou se pensa asquestões do nosso território de pesquisa a uma escala ampla (no caso deAngola, era toda a África Austral, sobretudo a ocidental, evidentemen-te!), ou se fica cantonado num provincianismo problemático e mentaldeplorável, ou seja, num puro descritivismo de realidades abstractas,descontextualizadas.

Perdendo-se ao mesmo tempo, com essa estreiteza de vistas, todaa possibilidade de diálogo com colegas de outros países, alguns dosquais muito mais competentes do que nós, porque herdeiros de tradiçõesde trabalho incomparavelmente mais antigas e bem firmadas. Emboraaqui não valha a pena mitificar excessivamente, porque a qualidade e afalta dela estão repartidas por toda a parte, só que em escalas diferentes.

Para mim, por exemplo, tem sido uma pena a falta, ou raridade, decolaboração entre colegas peninsulares, nomeadamente das zonas

Page 198: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

202

limítrofes do território do Norte de Portugal, apesar das repetidas decla-rações de intenções. É também lamentável e sintomático, por exemplo,a mútuo desconhecimento das “escolas” britânica e francesa, nomeada-mente em fenómenos que têm semelhanças entre si, mesmo que estassejam puramente formais. A Grã-Bretanha tem uma consciência de “ilha”orgulhosamente só que é absurda, e a França uma tradição imperial eum orgulho (como se resumisse na sua diversidade territorial a Pré--história da Europa toda) que é igualmente castrador. Para leste, fala-sealemão como língua franca, em vez do inglês, o que ainda dificulta maisas coisas. Um indivíduo, na Europa, ou é poliglota ou fica sempre umprovinciano, coisa que não acontece noutros espaços do planeta. É certoque se pode ser “provinciano” a escalas mujito diferentes…

De facto são raras, na prática, as pessoas suficientemente compe-tentes para abarcarem o conjunto da Europa em termos de síntese, es-tabelecendo por comparação e colaboração estreita algo que é importan-te no seio da União, a sua Pré-história, no que eventualmente tenha decomum, e no que certamente possui de bastante diferente, de regiãopara região.

Faz pouco sentido, por exemplo, estudar o chamado “megalitismo”em isolamento, porque ele é apenas a parte mais bem conservada detoda uma gigantesca variedade de acções mais ou menos “monumen-tais” do homem na natureza, utilizando os mais diferentes materiais ecom escalas muito diversas, ao longo do chamado “neolítico” e épocassubsequentes.

As conclusões a que cheguei com o estudo do “megalitismo” con-duziram, de facto, à sua desconstrução, ou, como lhe chamou SusanaOliveira Jorge, “Implosão”. Como já referi, não se trata de um fenómenounitário, mas muito diversificado, quer à escala europeia, quer peninsu-lar. Assim, a sua pesquisa, se continuadamente isolada de outras facetasda arqueologia “neolítica” e “calcolítica”, não tem, acentuo, qualquersentido, ao contrário do que tantos livros “grand public” quiserampropalar, mais com fins comerciais do que científicos. Na sociedade demercado em que vivemos, as editoras comerciais só sobrevivem à custa

Page 199: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

203

de um certo sensacionalismo, que é o oposto do saber científico. Econjugar ciência de qualidade com divulgação de qualidade é obra, nãopara amadores, mas para profissionais de alta estirpe, que, como emtudo, são raros.

No fundo, aqueles monumentos – hoje muito “vendidos” pelo tu-rismo e pelos organismos oficiais de património – são “fósseis” arqueo-lógicos, que se conservaram melhor porque eram pétreos, ou porquetinham uma componente pétrea importante, um volume significativo,localizações que muitas vezes facilitaram a sua permanência, e depoisporque foram inseridos numa contemplação romântica que se liga aosprimórdios da arqueologia, no século XIX.

O seu interesse junto das populações e dos arqueólogos ofuscoudurante um tempo o estudo de algo de muito mais vasto, agora na or-dem do dia (veja-se por exemplo a revista inglesa “Landscapes”, dirigidapor Richard Muir): o de toda a paisagem como uma arquitectura, a qualusou sempre, maioritariamente, muitos materiais perecíveis ou menosmonumentais, como já sugeri, e é do conhecimento geral.

O “megalitismo”, como conceito, dissolveu-se assim na sua pretensaunidade, e as realidades monumentais que sob esse nome se estudavamintegraram-se em fenómenos e contextos variados, a que só sob a desi-gnação genérica de arquitecturas pré-históricas (criação de espaços “ar-tificiais” carregados de sentido) podemos dar alguma homogeneidade.

Nota-se de facto, nos últimos anos (fins do séc. XX, inícios do séc.XXI), um certo deslocamento, nos interesses das pessoas, do tempopara o espaço.

Este, mitificado de formas novas, é um refúgio para o tempo quenão temos, que se nos escapa, ou é vivido como fugacidade, nostalgia,aceleração, sofrimento, ansiedade, vertigem, embriaguês. O tempo, talcomo é hoje vivido, representado, acentuado nos “media” e na publicida-de, frustra: porque cada vez mais preenchido (“aproveite esta ponte parauma escapadelazinha”), numa espécie de “horror ao vazio” que só acen-tua esse mesmo vazio, impedindo a vivência de momentos intensos, quede algum modo permitam ao sujeito escapar à sensação de perda.

Page 200: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

204

A intensidade para que apela a publicidade constantemente é umindício revelador da própria ausência de tal intensidade; e o mercadoprecisa disso, isto é, precisa de renovar periodicamente ou sazonalmen-te a ansiedade de novos produtos, para estimular a compra e lubrificaros circuitos de consumo, tornado espiral vertiginosa e fim em si pró-prio. É a religião e o culto dos tempos modernos, cada vez mais imbuí-da de “cultura” e de “design” – é uma postura, uma atitude, uma super-ficialidade, enfim. Sob ela, ocultam-se mudanças estruturais, que setraduzem em novas formas de conceber o mundo e a vida, muito estu-dadas hoje, e que seria descabido desenvolver aqui.

E a arqueologia, em particular o sub-sector das arquitecturas (queinfelizmente já despertou mais interesse do que agora… embora a criseseja passageira, estou certo), reflecte também isso mesmo.

Proliferam hoje, na verdade, os livros sobre “land art”, sobre ins-talações, sobre arqueologia da paisagem, sobre novas formas de or-denamento do espaço, sobre arquitectura e paisagem, sobre arquitecturade terra e outras formas vernáculas, sobre as relações entre a ordena-ção do espaço e a construção do discurso, sobre a incorporação doespaço, a performance, o teatro, a circulação, a dança, a fenomenologia,etc., etc. É como se as pessoas se agarrassem ao “espaço” como tábuade salvação, como âncora. Ao menos é algo que se vê, que se fotografa,que se parece poder possuir. Tal como o corpo, outro mito contempo-râneo.

Quão longe estamos dos velhos paradigmas estratigráficos em ar-queologia e das narrativas históricas (em que o arqueólogo era supostointegrar-se) certificadoras (naturalizadoras) da continuidade…

Mas não demos mais “saltos no tempo”… até porque muitos ar-queólogos, cá e lá fora, mesmo quando têm tempo para pensar e parafazer uma tese de doutoramento, por exemplo, continuam tranquilamentea trabalhar à velha maneira, numa espécie de arqueologia… arqueoló-gica!

Ou então sentem-se tranquilamente a praticar história, para a quala arqueologia dá “subsídios” fundamentais, palpáveis, mensuráveis, e

Page 201: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

205

pronto. Mas discutem pouco a “teoria” da construção da história a partirda experiência arqueológica…

Fase 4 – 1990 – 1997 – Medição de forças com escalas maisamplas de actuação

Acabada a agregação em 1989, e atingido no ano seguinte o lugarde professor catedrático (o que tem a principal vantagem de se obteruma certa paz de espírito, isto é, o de parar uma espécie de frenesim emque se anda uma vida inteira para assegurar uma posição estável emenos mal remunerada), iniciou-se uma nova etapa.

Procurei mudar de escala (ampliando os âmbitos da minha actua-ção anterior). Mas também houve fenómenos inesperados, que vieramter connosco, como o do Côa, que me abriram os olhos para muitascoisas de que o universitário que sempre fui se encontrava completa-mente arredado. A “vida real” deu-nos, em 94-96, uma grande “estaladana cara”. O que às vezes é útil para acordar… sobretudo se não nosdeixarmos ferir intimamente por esse choque inesperado, e pelas velha-carias que sempre as épocas convulsas trazem consigo.

Como continuei a “escavar megálitos” até 1994 (Castro Laboreiro),como nesse ano assumi as funções de Presidente do Conselho Directivoda minha faculdade (com a incumbência de mudar de instalações dovelho edifício para o novo, aspiração antiga), e logo a seguir houve a“crise do Côa” e suas “sequelas”, e como sempre continuei a trabalharno campo, integrado na equipa da minha mulher e colega em Vila Novade Foz Côa (com excepção dos anos de 95 e 96 em que não tivemoscondições para tal), explica-se que só na fase seguinte tenha abraçadopesquisas de maior vulto, em co-direcção.

A abertura à Espanha, à Península Ibérica (de que Portugal é ape-nas uma parte ocidental, ininteligível como tal para um pré-historiador)– e que continua a ser uma das minhas preocupações – revelou-se (pelomenos a curto prazo) um pouco decepcionante, mau grado, por exem-

Page 202: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

206

plo, o enorme êxito do 1º Congresso de Arqueologia Peninsular, querealizei na Universidade do Porto em 1993, com arqueólogos vindos detoda a península e de diversas partes do mundo. Nesse aspecto, a minhaUniversidade (com a colaboração da SPAE, que se encarregou da orga-nização) teve um momento alto. As aulas, numa Faculdade de milharesde alunos, começaram uma semana mais tarde por causa do congresso,incluindo as poderosas praxes dos estudantes! Houve aliás um envolvi-mento imenso das pessoas em aspectos organizativos, incluindo umnumeroso grupo de alunos no secretariado, sem os quais seria impensávelfazer um congresso daquela envergadura em Portugal.

De facto, o que eu procurava (como ainda hoje) eram diálogos etrocas de informação crítica (não meras parcerias formais), e isso, con-fesso, em substância, não encontrei, se exceptuarmos o enorme apoioque colegas espanhóis deram à causa do património do Côa. Mas foi umfogacho; é difícil estabelecer equipas integradas, fortes, unidas por in-teresses comuns.

Aliás, há em Espanha um peso da geração anterior à nossa que senota ainda em alguns colegas actuais (os que hoje estão na casa doscinquenta, como eu, ou a entrar na seguinte), e que, se foi positivo, nemsempre produziu os melhores resultados. E denota-se também algumfechamento, traduzido por exemplo numa certa e proverbial dificuldadecom as línguas do resto da Europa, sobretudo da anglo-saxónica, ondeseria possível contrabalançar a excessiva influência positivista alemã oumesmo francesa. Escolas que, de resto, fizeram trabalhos fundamentais,mas na generalidade estancaram, por razões epistemológicas, ao nívelinterpretativo.

Por outro lado, muitos estudantes que tirocinaram connosco nãoforam atraídos para trabalhos aqui, ao nível de pós-graduações, sendoabsorvidos, como em todo o lado, pela actividade empresarial, de emer-gência, ou outra de natureza – tal como é praticada hoje – igualmentedispersiva.

A propósito, há pessoas que deformam o meu pensamento a esterespeito, escrevendo que há anos insisto numa dicotomia entre “arqueo-

Page 203: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

207

logia fundamental” e “aplicada”. Aconselho essas pessoas, que creioestarem de boa fé, a ler-me mais atentamente, porque foi sempre contraessa dicotomia (como aliás em relação a outras) que lutei.

Estimulei e estimulo os jovens à pesquisa, e sem ela não há arqueo-logia, há umas actividades remuneradas que a imitam, e que em geralnão preservam, mas escondem, a destruição do património do país – eé preciso não pactuarmos com tal situação. Veja-se o que aconteceu como castelo de Alcácer do Sal – está tudo aí exemplificado – a destruiçãode um dos maiores complexos arqueológicos do nosso país, em favor deuma pousada.

É por outro lado também significativa a desproporção entre o pesoque a arqueologia portuguesa – nomeadamente a universitária – tem emEspanha, e o que a deste país tem em Portugal. Numa atitude de aber-tura, é corrente colegas espanhóis integrarem os nossos júris, ou alunosem grande número frequentarem as nossas escavações (que são escolasgratuitas) já não acontecendo o mesmo com tanta frequência no sentidocontrário.

Uma outra linha de abertura e de mudança (ampliação) de escalaque procurei prosseguir nestes anos 90 foi a da aquisição de certascompetências na área mais vasta das ciências sociais e humanas (e nãosó), através de leituras, frequentação de colóquios, conhecimento daspessoas que trabalham noutros domínios, etc. Não representou grandedificuldade, pois sempre me interessei muito por uma perspectivainterdisciplinar, isto é, sempre percebi que a arqueologia não tem fron-teiras, e que se fosse só arqueólogo… nem arqueólogo seria, para recor-dar uma frase feliz de Abel Salazar.

O que me falta – o que nos falta – é sobretudo tempo para poderler e incorporar com cuidado as obras fundamentais em domínios emque não tive “tarimba” universitária. É muito difícil colmatar deficiên-cias antigas, e ter tempo para a leitura atenta dos “clássicos” de outrasdisciplinas, tendendo-se a escolher obras mais recentes, que são real-mente reelaborações de bases que não possuímos. Ou então a quedarmo--nos em trabalhos de divulgação, que espartilham o saber em fatias, sem

Page 204: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

208

o sabor e a profundidade da leitura “seminal”. Para já não falar da falhafundamental que é a falta de “cultura científica” no sentido estrito (fí-sica, química, matemática, biologia), que sinto como um espinho per-manente. Que campos imensos me abririam, se pudesse aprender algonesses domínios tão fundamentais do conhecimento!

O que perdi, confesso, foi um certo “complexo de inferioridade”que dantes tinha relativamente a muitos de tais “cientistas”, pois tam-bém verifiquei que a partilha de saberes entre as “duas culturas” osafectou igualmente a eles de forma muito grave, quando começam aquerer abordar assuntos na esfera transdisiciplinar. Num domínio tãofundamental como o da apreciação estética, ou das questões filosóficas,por exemplo, ouvem-se por vezes coisas surpreendentes…

Essa tentativa de “abertura” ao vasto mundo dos saberes, de umponto de vista interdisciplinar e problematizante, ficou logo plasmadana mesa-redonda que organizei (e depois publiquei) com Augusto San-tos Silva em 1992, sob a interrogação provocatória “Existe uma culturaportuguesa?”, matriz de outras iniciativas do mesmo género.

Realmente, só o facto de pôr a questão em título no modo interrogativoera já provocador, e abria para uma complexidade de respostas… desa-fiando a tendência dualista e simplista para o “sim” ou o “não”.

Todas essas iniciativas não são actos isolados, mas são concebidassob a mesma égide: a de reflectir em comum sobre o quadro em que sedesenrola a minha vida, como ser humano integrado numa certa socie-dade e num certo quadro histórico em mudança rápida – condição tam-bém para perceber o meu papel específico.

Psicologicamente, temperamentalmente, não aguento o “vazio” dePortugal, a que tantos poetas se referem, e que José Gil tão bem carac-terizou – e é só por isso (e não propriamente para “dar nas vistas”) queestou sempre a tomar iniciativas sem as quais se cai no mais obscuroprovincianismo, no conforto pós-laboral dos lares, das famílias, da te-levisão e dos animais domésticos. Isto é, não se conhece e não se interagecom seres humanos interessantes – em última análise, é esse desejo deinteracção, de partilha, de pertença, de comunicação, de desafio e de

Page 205: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

209

exposição pública, com todo o seu imediatismo e movimentação de“adrenalina”, que mobiliza uma pessoa para a acção.

Se a arqueologia, tal como a aprendi, se esgotou, a arqueologia, talcomo a tentei ensinar nos primeiros tempos da minha carreira, exauriu--se também – isso tornou-se claríssimo. Era aliás inevitável. Mas sair deum casulo que se construíu por si próprio, à custa de um investimento,material e de tempo, imenso, é muito difícil.

Minoritária e inoperante na sociedade (quem “ganhou o Côa” em1995/96 não foi um suposto “lobby” de arqueólogos – quem dera –, masa imprensa e a política) a arqueologia, em geral intelectualmente esotéricae pouco aliciante, só pouco a pouco foi percebendo – e nisso a escolabritânica foi crucial – que era de fora, de outros saberes e práticas, quevinham os conhecimentos que lhe permitiriam progredir.

Isto significa, ampliar-se quer para o lado da “prática”, do conhe-cimento das materialidades e da relação com outros actores sociais (umbom arqueólogo tem de saber de coisas muito concretas, factuais, atélegais, mas cruciais, definitivas), quer para o lado da “teoria”.

E sobretudo tentar unir a mais sofisticada teoria (quer dizer, seruma arqueologia rigorosa, problematizante, imaginativa, desconstrutora,no bom sentido científico de que muitos se esquecem, refugiando-se naciência como se ela fosse uma religião – sobretudo quando não têmconsciência disso, numa candura que faz pena –, e não, matricialmente,o seu contrário) com a mais exigente aprendizagem de como é que sefazem as coisas neste mundo, com as mãos, os instrumentos, os apetre-chos, as máquinas.

Isso implica a recuperação de sabedorias mais ou menos ances-trais, populares, a perda de muita arrogância pseudo-intelectual, e aaquisição de conhecimentos científicos, por mínimos que sejam.

Às vezes um bom livro de divulgação científica para jovens, ilus-trado, ou um manual de “saiba como fazer” seriam bons exemplos aseguir por certos arqueólogos, que nem sabem fazer, nem interpretar,nem dialogar com outros, tudo actividades aparentemente diferentes eaté opostas, mas que afinal são uma e a mesma coisa (e por isso é que

Page 206: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

210

o produto da sua actividade é menos bom – não têm grande qualidade,apesar de às vezes até poderem ocupar postos de responsabilidade, ondeainda poir cima vão reproduzir, se não ampliar, em “discípulos”, osvícios de que enferma a sua auto-suficiência deficiente).

É evidente que o que estou a escrever é esquemático, e que de todaa gente que trabalha há sempre algo de positivo a tirar – a questão éque, chegada uma certa idade, não há mais tempo nem paciência paradesbaratar o bem mais precioso que temos, e todos os dias se escoa,com a mediania (e o tempo crucial que nos rouba), a qual é uma hidrade mil cabeças, e uma feiticeira de mil aparências.

Também não quero com isto que escrevo de algum modo “ofen-der” colegas ou companheiros de trabalho. Não: a arqueologia é apenasum microcosmos do que é Portugal, um microcosmos demasiado peque-no e atabafante. Há sobretudo reprodução do já feito e já dito, poucainovação, e no entanto centenas de jovens a trabalharem no terreno. Oorçamento gasto em trabalhos ditos arqueológicos aumenta, sobretudodevido a empresas e vastas obras públicas, sem que se veja – pelomenos até agora – grande proveito, “versus” as constantes destruiçõesque permanentemente acontecem.

A experiência de contacto com o chamado “poder” – uma outraforma de ampliação – foi para mim, nos meados dos anos 90, escla-recedora.

Trata-se de – passe a metáfora – um ringue de boxe que não é,definitivamente, o meu desporto, quer por falta de capacidades/quali-dades (dinheiro, influências, relações familiares e de cumplicidades domais diverso tipo, esperteza, capacidade física), quer porque entre asideias e a administração há, em Portugal, uma cortina de chumbo. Nãodesenvolvo esse tema porque me incomoda particularmente, na medidaem que sinto que é uma espécie de cancro do nosso país, com metástasesem todo o lado e a todos os níveis.

Não faço porém um balanço intelectualmente negativo destes meusoito anos de vida: pelo contrário, a ilusão e a desilusão, fazendo-noscrescer, amadurecer, é fundamental para atingir outras plataformas da

Page 207: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

211

consciência e da actividade produtiva. Por cada um de nós e pelosoutros, não podemos parar – temos de arriscar, apesar de todas as bar-reiras. Foi isso que tentei fazer e – apesar dos erros inevitáveis – tenhoa consciência mais do que tranquila. Aliás, acho que as “doenças” na-cionais são sobretudo a consequência (que depois se reflecte em todosos planos) das décadas de ditadura e da “modernização” apressada quese lhe seguiu.

Não tenho uma visão pessimista do país, apenas passei a entrevera escala das dificuldades com maior realismo do que antes, e a percebero que é a hipocrisia da política e a inércia corporativa, instalada, daadministração, um monstro praticamente impossível de domar, e quesuga o sangue da nação. O mal não é das pessoas – é do sistema em quetodas circulam e que, mau-grado boas vontades e ilusões iniciais, aca-bam por alimentar.

Fase 5 – 1998 – actualidade – Velocidade de cruzeiro

O início dos trabalhos em Castanheiro do Vento, em 1998, marcasimbolicamente um novo momento da minha vida profissional. Porquê?É uma espécie de “volta às bases” do meu trabalho, em equipa comosempre o desejei e imaginei, e num total espírito de liberdade para cadacolaborador poder, a partir de uma experiência de campo, incorporá-laa seu modo, em agradável e estimulante “concorrência” mútua.

Apesar de todas as dificuldades, penso que a pesquisa solitária,com um director e seus alunos/colaboradores, tem os dias contados. Aspessoas raquitizam. É preciso é desenvolver, estimular – e se necessárioaté perturbando os outros na sua tendência para a acomodação, inércia,rotina – o espírito de luta, de resolução de problemas, de imaginação,de ultrapassagem dos (reais, ou aparentes) bloqueios que toda a activi-dade comporta.

É preciso incorporar um certo “sofrimento” e misturá-lo com oprazer, é preciso fazer da pesquisa uma paixão, uma intenção desmesu-

Page 208: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

212

rada, e não uma “profissão” comum. Um bom investigador, como umartista, não é uma pessoa como outra qualquer. Pelo contrário, se háobsessão nele, é “descolar do pelotão”, segundo os seus próprios recur-sos, sem pisar ninguém.

Como dizia alguém, toda a poesia é, por definição, boa (emborasujeita naturalmente a juízos de gosto que são sempre subjectivos),porque a que não é boa não é poesia, não merece sequer que se percatempo com ela; e no futuro não se falará de muita gente que agoraescreve, publica, e até vende (por exemplo, “romances light”). Eu diriao mesmo das pessoas, de qualquer actividade criativa, e da arqueologiaem particular. Não há tempo na vida para a mediocridade, a não ser quelidimamente gostemos de produtos de baixo nível e que de facto goze-mos com aquilo que enfastia as pessoas que tiveram a sorte e o prazerde se educarem suficientemente para saber e poder escolher. A democra-cia é precisamente o projecto de estender cada vez mais o númerodestas últimas, furtando as pessoas ao império do embrutecimento. Podeparecer um conceito moral e salvífico, mas assumo-o com total convic-ção e seriedade.

Organizado e publicado o 3º Congresso de Arqueologia Peninsular(Vila Real, 1999), em condições particularmente difíceis, criada aADECAP e a revista internacional, em inglês, “Journal of IberianArchaeology” (em 1998), e desenvolvidas anualmente as “mesas-redon-das de primavera” do Porto, interdisciplinares (1997-2005), prossegui,no fundo, certas linhas esboçadas na primeira parte da década, antes do“interregno” de 94-96 (Conselho Directivo da FLUP, Côa e ComissãoInstaladora do IPA).

Mas em bases mais firmes e, sobretudo, com uma segurança quenão me advém do aumento de meios, mas do aumento de experiência.Os meios e a notoriedade fácil estão alocados em Portugal para alguns;já o sei, mas a experiência, “enquanto houver saúde”, como se dizpopularmente, ninguém no-la pode travar, sobretudo se houver controloda força de vontade e uma “cultura” de miscigenação do esforço como prazer.

Page 209: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

213

Um estilo de escrita como o deste texto introduz desde logo umanovidade: a pulsão do sujeito por detrás da monotonia dos modos deescrever académicos e estiolados. Pode-se estar na academia (universi-dade), servi-la com seriedade e dedicação, e não ser um “académico”(em pose “de cátedra”) – tenho feito disso um regime de vida e umaopção fundamental, para contribuir, de modo pessoal e modesto, masque está de acordo com o minha maneira de estar na vida, e com o quejulgo ser uma academia desempoeirada e dinâmica. Com o mínimo deritos e de tiques – e com o máximo de espontaneidade e de inteligência.Muitos ritos castram e crestam qualquer postura de modernização e deabertura. São traumatizantes e com frequência até ridículos.

É saudável estar à vontade sem agredir ninguém, numa postura dediálogo e de aprendizagem, mas também de afirmação e de defesa fron-tal daquilo que julgamos saber. E escrever como se se falasse. Eu seique nem todos têm essa capacidade. A mim também me faltam muitosdotes que gostaria de possuir… Mas se alguém nasceu com um dom queé útil, por que haveria de o conter, de o recalcar, só para obedecer a umpadrão que aliás está ultrapassado?… Seria negar a sua vocação e ocontributo que pode dar para modernizar a universidade e o estilo dosque nela trabalham, investigam, ensinam, e a partir dela comunicam.

A universidade não pode estar voltada para dentro de si, nem a suamodernização pode ser apenas questão de marketing e imagem (ma-quilhagem). Não é sobretudo problema de aspecto e de logotipo. É umaquestão, como sempre, de pesquisa aturada, de estudo sério, e de auto-ridade serena que resulta da qualidade dos produtos resultantes. Não épreciso correr – é melhor parar e pensar bem, antes de fazer, ou deandar atrás de precipitações. Não ignoro, é claro, que estamos nummundo globalizado, mediatizado, e que em muitos casos vamos a rebo-que de imposições exteriores. Mas vejo muitos entusiasmos com circuns-tancialidades, e menos com acções estruturantes, de que se fala constan-temente, mas sobre as quais ninguém se entende. Evidentemente queenunciar princípios é mais fácil do que pôr em prática mudanças reaise processos mais interessantes e eficazes. O que não pode haver é um

Page 210: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

214

fosso entre as actividades “práticas”, supostamente eficazes, tecnológicas,e as actividades de raciocínio, de novas transversalidades, e de desafiosà imaginação, que têm de incluir todos, o maior número possível de“especialidades”.

Umas minhas preocupações tem sido precisamente a publicação delivros reunindo estudos e ensaios em editoras que cheguem ao grandepúblico. Trata-se de outra moldalidade de “ampliação” do meu trabalho.É essencial disputar espaço público em todos os campos para a arqueo-logia, quer ela tenha este nome ou outros (aliás, muitas são as metáforasque utilizam a arqueologia, na cultura contemporânea, o que não temmal nenhum).

A arqueologia tem de se afirmar como ciência, como profissão,como “modo de olhar o mundo”, como “poíèsis” em suma, mas tambéma outros níveis, em diálogo com parceiros sociais os mais diversos,como os especialistas de património, de arquitectura, de meio-ambiente,etc.

O que distingue o arqueólogo do vulgar “literato” (que conhecetudo filtrado através dos livros – naturalmente que isto não passa de um“tipo ideal”, e portanto de uma abstracção, e mesmo de uma caricatura)é precisamente essa qualificação técnica para “o terreno”, para os maisdiferentes terrenos de disputa e de negociação (embora saia a perder amaior parte das vezes, e vá ficando com as sobras de terreno que nin-guém quer, ou com prazos de tempo absurdos para a grandiosidade datarefa que teoricamente lhe estaria cometida).

A minha concepção de arqueologia tem sido exposta em diversoslivros, que, eles próprios, recusam um estatuto preciso: não são ma-nuais, nem tratados, nem teorizações propriamente ditas. Usam tudoisso miscigenadamente; são produtos mistos, próprios da época em quevivemos e da sua fluidez. Da voz de quem enuncia os princípios, bempresente por detrás destes. Da fusão entre estilos, culturas, entre o ra-ciocínio e o diálogo. Da recusa, mais uma vez, do discurso pesado –esse sim, pseudo-intelectual – com forte carga retórica, mas cujo verda-deiro conteúdo é de carácter conservador. Mais do mesmo. Não há

Page 211: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

215

inquietação, problematização, complexidade – mas esquematismo e sim-plificação, que se torna extremamente cansativa, porque nada traz denovo.

Por outro lado, a arqueologia, como tantas outras ciências/activi-dades, conhece hoje dois movimentos opostos e complementares: um,que é de ter de estabelecer artificialmente fronteiras, para se afirmarcomo profissão, como trabalho social útil, conquistando terreno a outros“especialistas”. Será essa a sua faceta “construtiva”. Um segundo as-pecto, complementar do primeiro, é precisamente o oposto, o movimen-to desconstrutivo que nos leva a perceber que há muitas arqueologias,que elas são porosas a outros campos, que se devem disseminar, e quea própria arqueologia, no seu núcleo duro”, nada tem a perder com isso.A disseminação – mesmo que através de metáforas diversas, às vezesaté eventualmente caricaturais – é uma das formas dela se consolidar.Isto é, da arqueologia entrar no quotidiano das pessoas, onde até um“cartoon” pode sintetizar e transmitir novidade, complexidade, frescura.

O campo a que me tenho dedicado nos últimos trinta anos é o dasarquitecturas pré-históricas, como já disse.

A partir de há alguns anos, com o desenvolvimento das pesquisasem Castanheiro do Vento, e o diálogo mantido com as do Castelo Velho(Vila Nova de Foz Côa) – submetido a um processo de investigaçãoexaustiva e de restauro desde 2001, por iniciativa do IPPAR – permiti-ram-me aprender muito sobre o assunto.

Torna-se hoje claro, por razões já expostas em muitos trabalhos, eem contínuo desenvolvimento, que:

– este tipo de sítios não são apenas recintos murados, mas autên-ticas colinas monumentalizadas;

– não importa vê-los como uma sequência de fases de construção//ocupação, mas antes como sistemas plásticos e abertos que es-tiveram em transformação/restauro constantes, sendo a realida-de arqueológica hoje um palimpsesto muito complexo, que exi-ge técnicas de análise muito cuidadas;

Page 212: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

216

– a matéria-prima primordial destes sítios não é, como parece, apedra, que melhor se conservou, em basamentos de muros, de-limitações de estruturas, contrafortes ou taludes. A matéria maisutilizada na construção é aquela que se vê menos arqueologica-mente, mas também está lá: a argila, a terra. Estas construçõespertencem ao mundo circum-mediterrânico das construções emterra pré-romanas. Não são taipa histórica, de tipo muçulmanoou outro, não são adobes, são muros de argila, que tanto podiamser feitos por simples acumulação e secagem, como por taipapropriamente dita (cofragem de madeira e pisoteamento da ar-gila no interior até secar

– estes sítios tinham um efeito social crucial, como locais de reu-nião de pessoas desde o momento da construção, servindo paraformar lideranças e também como cenários microcósmicos,modelos do mundo e da sua ordem. Não se deve pois distinguirentre construção/uso/condenação. Essa trilogia não tem sentido.Estes sítios não são povoados, nem fortalezas, são locaisidentitários, onde se realizavam cerimoniais (performances) queincluíam sequências de deposições dos mais variados produtose objectos.

Através pois destes locais, é todo um novo pensamento sobre ar-quitectura pré-histórica que se está a esboçar, acompanhando outroscolegas europeus na mesma tentativa.

Epílogo

Ao cabo deste “esforço” de auto-compreensão, há sempre a sensa-ção de que o essencial terá ficado por dizer; e de que o que se escreveufoi talvez prolixo, pouco preciso e “enxuto”, como seria para desejarnuma “ascese” auto-biográfica.

Page 213: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

217

Razão tem J. Gil para escrever que “(…) toda a escrita se refere,mais ou menos directa ou longinquamente, às “linguagens” não-ver-bais”3. Por isso a escrita atinge a determinada altura um esgotamentoque só em parte se redime na própria vida, no olhar da imagem, nosilêncio, no apelo misterioso da palavra poética: a palavra que se que-reria inscrever antes da palavra, como se tal fosse possível… por issotalvez quem escreve estas linhas tem a vocação da Pré-história, umtempo que possivelmente só está na sua cabeça. E nao se terá dedicadopor isso a outras actividades mais “palavrosas”, sentindo até por vezesa nostalgia da elegância, da limpidez e “limpeza” do discurso dito “cien-tífico” (outra forma de retórica, naturalmente)..

Cansaço das figuras de estilo que toda a escrita implica. Cansaçomais geral de se ser, de se ter uma voz, de se ter de escrever, de quererfazer sentido. Para quê?… O tempo passa, e o que fazemos (incluindoos balanços que constantemente sobre isso elaboramos) só vale enquan-to nos dá felicidade.

Porto, Outubro de 2005

3 J. Gil, “Sem Título”. Escritos sobre Arte e Artistas”, Lisboa, Relógio d’Água,2005, p. 12.

Page 214: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

219

XV world congress of IUPPS/UISPPLisbon – September 4 th-9th 2006

The International Union for Prehistoric and Protohistoric Sciences (UISPP,member of CIPSH-UNESCO) will have its XV world Congress in Lisbon(Portugal) in September 4th-9th 2006.

The Congress is being organised by the various international scientificCommissions of UISPP, together with a National Commission involving all thearchaeological departments in Portugal and a Secretariat. In some regions ofthe world (Brazil, Canada, Western Africa, Australia, Ireland, Spain), localstructures have also been established for the purpose.

The Congress has the aim of presenting the status of world prehistory in2006, but also of engaging a participation of non European countries strongerthan in past times and to contribute for the collaboration with other internationalorganizations, such as CAA, IFRAO or WAC.

All scholars, students and interested people are invited to apply as membersof the Congress, through the web-site www.uispp.ipt.pt, where most relevantinformation may be found.Over 130 sessions have been organised and papers are welcome. The Congresswill be articulated in seven main sections: “Theory and Methods”, “Archae-sciences”, “Hunter-gatherers”, “First farmers”, “Early metallurgy and complexsocieties”, “Archaeology and Society”.Several sessions will be articulated in two major clusters: “Southern AmericaArchaeology Panorama” and “Global State of the Art” (the later in associationwith IFRAO, the International Federation of Rock Art Organizations).

The Congress secretary will assist any demand of support to help preparingsessions or other events. Count on us, as we count on you.

Archaeological greetings,

Luiz Oosterbeek, Secretary-General for the XV Congress

Page 215: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

220

AimsWith a direct reference to the 9th session of the International Congresson Anthropology and Archaeology, held in Lisbon in September 1880,the XV Congress aims at:

• Hosting a scientifically profitable congress;

• Consolidating Portuguese Prehistoric studies in the internationalscene;

• Reinforcing UISPP activities in non European regions, with aparticular emphasis in Portuguese speaking countries.

ProgrammeThe congress will be organised in three types of sessions: Sections,Workshops and Colloquia.

• Sections follow the activities of the UISPP commissions, andcover all chronological topics. Their aim is to gather togetherseveral experts, to discuss a variety of themes within a globalsubject.

• Colloquia are sessions organised by at least to co-ordinatorsfrom two different countries, aiming at bringing together up-dated perspectives on a major relevant topic, and leading tospecific conclusions.

• Workshops address new research topics, either not consideredby the Commissions or having a limited thematic scope. Theiraim is to promote discussion on these topics, and to suggestguidelines for further work.

Collateral activities• Pre-congress and post-congress excursions;• A fair of products relevant for archaeology;• A series of exhibitions:

– Archaeological,

Page 216: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas

221

– Photography,– Conservation,– Computer applications.

• A book fair.

RegistrationRegistration entitles to be considered a member of the UISPP (exceptfor accompanying people) until the following congress, to participate inthe Congress events and to receive its pre-congress general publications.

• Full membership entitles also to receive the congress mainpublications.

• Accompanying people will not receive pre-congress generalpublications.

• Reduced fee applies to Students under 25 years, membersplaying a co-ordinating role in the Congress (e.g. Session co--ordinators) and members coming from countries listed by theWorld Bank as low or lower to middle-income economies.

For further information

See www.uispp.ipt.pt

Or contact:

Secertary of the XV Congress, U.I.S.P.P.c/ Prof. Luiz Oosterbeek

Instituto Politécnico de Tomar, Estrada da Serra2300 TOMAR – Portugal

Tel. (+351) 249 346 363Fax (+351) 249 346 366E-mail: [email protected]

Page 217: FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 16_livro... · No ano em curso, está a ser desenvolvido o projecto ArtSigns, que articula olhares cruzados de arqueólogos, artistas e especialistas