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 A sociedade do telemóvel! Os desenvolvimentos tecnológicos têm consequências, muitas vezes imprevistas, sobre a estrutura social das sociedades. Poderemos falar na emergência de uma sociedade do telemóvel? Segundo Anthony Giddens o termo modernidade refere-se aos modos de vida e de organização social que emergiram na Europa por volta do século XVII. Para o autor "a modernidade altera radicalmente a natureza da vida social quotidiana e afeta os aspetos mais pessoais da nossa experiência. (...) A vida social moderna caracteriza-se por processos profundos da reorganização do tempo e do espaço, aliados à expansão de mecanismos de descontextualização  mecanismos conducentes à abstracção das relações sociais de localizações específicas, recombinando-se através de vastas distâncias de espaço-tempo". O telemóvel altera radicalmente estas distâncias.  O objeto que mais mudou os nossos hábitos sociais não é o computador, nem a Internet, nem o cabo, é o telemóvel. (...) É o caso do relógio que saiu do laboratório das excentricidades, um pouco como precursor de um Lego moderno, ou de um jogo de habilidade mecânica, ou de um objeto de luxo tão curioso como inútil, para se transformar numa necessidade tão vital que biliões de homens o trazem no pulso. Se excetuarmos o uso dos relógios nos navios para calcular a longitude, os relógios não serviam para nada quando a esmagadora Unidade de Competência 5: Identificar, compreender e intervir em situações onde as TIC sejam importantes no apoio à gestão do quotidiano, na facilidade de transmissão e obtenção de informação e de difusão a grande escala de informação socialmente controlada, reconhecendo que a relevância das TIC tem consequências na globalização das relações.  Núcleo Gerador: Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) Domínio Tema Competência Critérios de evidência DR1 Comunicações Rádio Entender a utilização das comunicações rádio em diversos contextos familiares e sociais Sociedade: Atuar no quadro das predisposições para os usos e exploração de novas funcionalidades em objetos tecnologicamente avançados que fazem recurso às comunicações rádio, relacionando-os com os perfis sociais dos indivíduos. Tecnologia: Atuar em situações da vida doméstica na resolução de problemas relacionados com as comunicações a distância (rádio, televisão, telemóvel, telefone fixo, etc.). Ciência: Atuar na utilização das TIC na vida privada com conhecimento dos elementos básicos científicos nas comunicações rádio: ondas electromagnéticas, electrónica, etc.

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A sociedade do telemóvel!

Os desenvolvimentos tecnológicos têm consequências, muitas

vezes imprevistas, sobre a estrutura social das sociedades.

Poderemos falar na emergência de uma sociedade do telemóvel?

Segundo Anthony Giddens o termo modernidade refere-se aos modos de vida e de organização social que

emergiram na Europa por volta do século XVII. Para o autor "a modernidade altera radicalmente a natureza da

vida social quotidiana e afeta os aspetos mais pessoais da nossa experiência. (...) A vida social moderna

caracteriza-se por processos profundos da reorganização do tempo e do espaço, aliados à expansão de

mecanismos de descontextualização  – mecanismos conducentes à abstracção das relações sociais de

localizações específicas, recombinando-se através de vastas distâncias de espaço-tempo". O telemóvel altera

radicalmente estas distâncias.

  O objeto que mais mudou os nossos hábitos sociais não é o computador, nem a Internet, nem o

cabo, é o telemóvel. (...)

É o caso do relógio que saiu do laboratório das excentricidades, um pouco como precursor de um Legomoderno, ou de um jogo de habilidade mecânica, ou de um objeto de luxo tão curioso como inútil, para se

transformar numa necessidade tão vital que biliões de homens o trazem no pulso. Se excetuarmos o uso dos

relógios nos navios para calcular a longitude, os relógios não serviam para nada quando a esmagadora

Unidade de Competência 5: Identificar, compreender e intervir em situações onde as TIC sejam importantes no apoio à

gestão do quotidiano, na facilidade de transmissão e obtenção de informação e de difusão a grande escala de informação

socialmente controlada, reconhecendo que a relevância das TIC tem consequências na globalização das relações.  

Núcleo Gerador: Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)

Domínio Tema Competência Critérios de evidência

DR1Comunicações

Rádio

Entender a

utilização das

comunicações

rádio em

diversos

contextos

familiares e

sociais

Sociedade: Atuar no quadro das predisposições para os usos e exploração de

novas funcionalidades em objetos tecnologicamente avançados que fazem

recurso às comunicações rádio, relacionando-os com os perfis sociais dos

indivíduos.

Tecnologia:  Atuar em situações da vida doméstica na resolução de problemas

relacionados com as comunicações a distância (rádio, televisão, telemóvel,

telefone fixo, etc.).

Ciência: Atuar na utilização das TIC na vida privada com conhecimento dos

elementos básicos científicos nas comunicações rádio: ondas electromagnéticas,

electrónica, etc.

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maioria das pessoas trabalhava de sol a sol, ou ao ciclo das estações, e estas dependiam de um calendário

que estava escrito nos astros. Calendários eram precisos, relógios não eram precisos, até ao momento em

que a Revolução Industrial apareceu e mudou quase tudo por onde passou. Milhões de pessoas vieram dos

campos para as cidades, para as fábricas e para as minas, e precisavam de horas. O relógio subiu primeiro

para as torres ou para o centro da fachada neoclássica das fábricas e lá continuou, passando depois para

dentro, e depois para o bolso dos ricos e por fim para o pulso de todos. Hoje o relógio ordena o nosso tempo

com um rigor muito para além do biológico e manda no nosso corpo, como nenhum objeto do passado. É tãopresente que parece invisível, nem damos por ela que está lá, é parte do nosso corpo, mais do que objeto

estranho. Um figurante do Ben Hur esqueceu-se dele, e nos filmes há quem vá para a cama sem ser para

dormir, só vestido no pulso. (...)

(...) Luta-se por um telemóvel, porque num telemóvel de um adolescente está muito do seu mundo: telefones

dos amigos, telefone dos namorados, passwords , fotografias, mensagens, vídeos, o equivalente a um diário

pessoal, em muitos casos mais íntimo que um diário à antiga, com a sua chavinha de brincar que dava a

ilusão de que ninguém o lia. À medida que se caminha pela idade acima o conteúdo do telemóvel muda, mas

continua pessoal e intransmissível, com os SMS comprometedores que arruínam muitos casamentos, até setornar quase um telefone de emergência que os filhos dão aos pais com os números deles já gravados e os

das emergências: "é só carregar aqui e eu atendo, se houver qualquer problema, assim não se sente

sozinho. (...)” 

(...) o magnífico instrumento de controlo que é o telemóvel, pessoa a pessoa, numa rede que prende os

indivíduos numa impossível fuga àquilo que é o objeto sempre presente, sempre ligado (os telemóveis

desligados são de desconfiar), no qual a primeira pergunta é sempre "onde tu estás?", uma pergunta sem

sentido no telefone fixo, esse anacronismo. Adolescentes jovens ou tardios, casais, maridos, mulheres,

amantes, namorados, patrões e empregados, jogam todos os dias esse jogo do controlo muito maisimportante do que a necessidade de falar ao telemóvel. Na verdade a esmagadora maioria das chamadas de

telemóvel não tem qualquer objeto ou necessidade de ser feita, ninguém as faria num mundo de telefones

fixos, que não seja pelo controlo, pela presentificação do indivíduo no seu jogo de inseguranças, solidões,

afetos, e medos, através da caixa electrónica que se segura numa mão.

Não é a necessidade que justifica a presença quase universal dos telemóveis desde as crianças de seis

anos até aos velhos, os milhões de chamadas a qualquer hora do dia, em qualquer sítio, da missa à sala de

aulas, do carro à cama, é o complexo jogo de interações sociais que ele permite, sem as quais já não

sabemos viver. Viver num mundo muito diferente e cada vez mais diferente.José Pacheco Pereira  – PÚBLICO, 12/ABRIL/2008

  A cultura e a dependência da imagem que caracterizam os jovens de hoje exigem novas abordagens.  

E assim chegamos ao telemóvel, afinal o protagonista desta triste história. Um pequeno telefone é um herói

para o seu jovem dono, espécie de prolongamento do seu corpo e definidor dos seus relacionamentos: com

ele se namora, se evita a solidão, se copia nos testes, se recebem ralhos ou mimos dos pais, se goza com

os políticos ou os professores. As mensagens escritas, gratuitas em muitos casos por jogada bem calculada

das operadoras, são os "papelinhos" trocados à socapa dos velhos tempos. Mais do que isso: com as

câmaras de filmar dos telemóveis, registam-se cenas sexuais depois exibidas sem pudor ou, na terrível

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moda do "happy slapping", um adolescente agride outro desprevenido, para riso de um grupo que filma a

cena.

Daniel Sampaio - PÚBLICO, 30/MARÇO/2008

  Onde é que já se viu hoje em dia não ter telemóvel, deixar de jogar playstation ou counterstrike em rede, ir

para o hi5 , deixar de mandar mails , chats  e MSN , sacar filmes e umas músicas, ou para aqueles mais

rebarbados sacar uns filmes para ver à noite?Pois, há 10-15 anos atrás, não havia.

Atividade para refletir… 

1. Considera excessiva a expressão "sociedade do telemóvel"? Justifique.

2. Será que o telemóvel promove o anulamento do diálogo directo, já que é mais fácil mandar uma

mensagem ou falar via telemóvel?

Discuta contextos diversificados.

3. Estamos a assistir à construção de uma sociedade mais aberta os mais fechada? Justifique.

4. Como encara o uso que alguns adolescentes fazem dos telemóveis, nomeadamente, filmar cenas de

violência física e/ou verbal e expô-las no Youtube?

(Exemplo: cenas de violência ocorridas na escola secundária Carolina Michaelis

http://www.youtube.com/watch?v=2ggV1uz_h-A)

5. Visualize o pequeno vídeo acedendo através do link

http://br.youtube.com/watch?v=2ZO8rrDkDKc 

Comente os valores de Sónia no modo como efectuou o carregamento do telemóvel.

Bom Trabalho!