FICHAM. -ANTUNES, Ricardo - Os Sentidos Do Trabalho

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FICHAM. - ANTUNES, Ricardo - Os sentidos do TrabalhoA crise do taylorismo e do fordismo como expresso fenomnica da crise estrutural Aps um longo periodo de acumulao de capitais, que ocorreu durante o apogeu do fordi smo e da fase keynesiana, o capitalismo, a partir do inicio dos anos 70, comeou a dar sinais de um quadro critico, cujOS traos mais evidentes foram: 1) queda da taxa de lucro, dada, dentre outros elementos causais, pelo aumento d o preo da fora de trabalho, conquistado durante o periodo ps-45 e pela intensificao d as lutas sociais dos anos 60, que objetivavam o controle social da produo. A conju gao desses elementos levou a uma reduo dos niveis de produtividade do capital, acent uando a tendncia decrescente da taxa de lucro; 2) o esgotamento do padro de acumulao tayloristajfordista de produo (que em verdade e ra a expresso mais fenomnica da crise estrutural do capital), 3) hipertrofia da esfera financeira, que ganhava relativa autonomia frente aos c apitais produtivos. 4) a maior concentrao de capitais graas s fuses entre as empresas monopolistas e olig opolistas: 5) a crise do welfare state ou do "Estado do bem-estar social". 6) incremento acentuado das privatizaes, tendncia generalizada s desregulamentaes e f exibilizao do processo produtivo, dos mercados e da fora de trabalho Como resposta sua prpria crise, iniciou-se um processo de reorganizao do capital e de seu sistema ideolgico e poltico de dominao, cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo, com a privatizao do Estado, a desregulamentao dos direi tos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal [...] a isso se seguiu tambm um intenso processo de reestruturao da produo e do trabalho, com vistas a dotar o capital do instrumental necessrio para tentar r epor os patamares de expanso anteriores Esse perodo caracterizou-se tambm e isso decisivo por uma ofensiva generalizada do capital e do Estado contra a classe trabalhadora e contra as condies vigentes dur ante a fase de apogeu do fordismo. A partir dos anos 90, com a recuperao dos patamares produtivos e a expanso dos EUA, essa crise, dado o carter mundializado do capital, passou tambm a atingir intensa mente o Japo e os pases asiticos, que vivenciaram, na segunda metade dos anos 90, e norme dimenso crtica. E quanto mais se avana na competitio intercapitalista, quanto mais se desenvolve a tecnologia concorrencial em uma dada regio ou conjunto de pases, quanto mais se ex pandem os capitais financeiros dos pases imperialistas, maior a desmontagem e a d esestruturao daqueles que esto subordinados ou mesmo excludos desse processo, ou ain da que no conseguem acompanh-lo, quer pela ausncia de base interna slida, como a mai oria dos pequenos pases asiticos, quer porque no conseguem acompanhar a intensidade do ritmo tecnolgico hoje vivenciado, que tambm controlado pelos pases da trade. So c rescentes os exemplos de pases excludos desse movimento de reposio dos capitais prod utivos e financeiros e do padro tecnolgico necessrio, o que acarreta repercusses profundas no interior desses pases, particularmente no que di z respeito ao desemprego e precarizao da fora humana de trabalho. Pela prpria lgica que conduz essas tendncias (que, em verdade, so respostas do capit al sua crise estrutural), acentuam-se os elementos destrutivos. Quanto mais aume ntam a competitividade e a concorrncia intercapitais, mais nefastas so suas consequncias, das quais duas so particularment e graves: a destruio e/ou precarizao, sem paralelos em toda a era moderna, da fora hu mana que trabalha e a degradao crescente do meio ambiente, na relao metablica entre h omem, tecnologia e natureza, conduzida pela lgica societal voltada prioritariamente para a produo de mercadorias e para o processo de valorizao do capi tal. Como tem sido enfatizado insistentemente por diversos autores, o capital, n o uso crescente do incremento tecnolgico, como modalidade para aumentar a produtividade, tambm necessariamente implica crises, explorao, pobreza, desemprego, destruio do meio ambiente e da natureza , entre tantas formas destrutivas (Carcheti, 1997: 73).12 Desemprego em dimenso estrutural, precarizao do trabalho de modo ampliado e destruio da natureza em escala globalizada tornaram-se traos constitutivos dessa fa se da reestruturao produtiva do capital. Captulo III AS RESPOSTAS DO CAPITAL SUA CRISE ESTRUTURAL A reestruturao produtiva e suas repercusses no processo de trabalhoOs limites do taylorismo/fordismo e do compromisso social-democrtico De maneira s inttica, podemos indicar que o binmio taylorismo/fordismo, expresso dominante do si stema produtivo e de seu respectivo processo de trabalho, que vigorou na grande indstria, ao longo praticamente de todo sculo XX, sobretudo a partir da segunda dca da, baseava-se na produo em massa de mercadorias, que se estruturava a partir de u ma produo mais homogeneizada e enormemente verticalizada. A introduo da organizao cientfica taylorista do trabalho na indstria automobilstica e ua fuso com o fordismo acabaram por representar a forma mais avanada da racionaliz ao capitalista do processo de trabalho ao longo de vrias dcadas do sculo XX, sendo so mente entre o final dos anos 60 e incio dos anos 70 que esse padro produtivo, estruturalmente comprometido, comeou a dar sinais de esgotamento.Pode-se dizer que junto com o processo de trabalho taylorista/fordista erigiu-se , particularmente durante o ps-guerra, um sistema de compromisso e de regulao que, lim tado a uma parcela dos pases capitalistas avanados, ofereceu a iluso de que o siste ma de metabolismo social do capital pudesse ser efetiva, duradoura e definitivam ente controlado, regulado e fundado num compromisso entre capital e trabalho med iado pelo Estado. Na verdade, esse compromisso era resultado de vrios elementos imediatamente posteri ores crise de 30 e da gestao da poltica keynesiana que sucedeu. Resultado, por um l ado, da prpria lgica do desenvolvimento anterior do capitalismo e, por outro, do equil io relativo na relao de fora entre burguesia e proletariado, que se instaurou ao fi m de decnios de lutas . Mas esse compromisso era dotado de um sentido tambm ilusrio, visto que se por um lado sancionava uma fase da relao de foras entre capital e trab alho, por outro ele no foi a consequncia de discusses em torno de uma pauta clarame nte estabelecida. Essas discusses ocorreram posteriormente, para ocupar o espao abert o pelo compromisso, para gerir suas consequncias e estabelecer seus detalhamentos (Bihr, 1991: 39-0). E tinham como elementos firmad ores ou de intermediao os sindicatos e partidos polticos, como mediadores organizac ionais e institucionais que se colocavam como representantes oficiais dos trabal hadores e do patronato, sendo o Estado elemento aparentemente arbitral , mas que de fato zelava pelos interesses gerais do capital, cuidando da sua implementao e ace itao pelas entidades representantes do capital e do trabalho. Sob a alternncia partidria, ora com a social-democracia ora com os partidos direta mente burgueses, esse compromisso procurava delimitar o campo da luta de classes, onde se buscava a obteno dos elementos constitutivos do Welfare State em troca do abandono, pelos trabalhadores, do seu projeto histrico-societal (idem: 40-1). Uma forma de sociabilidade fundada no compromisso que implementava ganhos sociais e s eguridade social para os trabalhadores dos pases centrais, desde que a temtica do socialismo fosse relegada a um futuro a perder de vista. Alm disso, esse compromis so tinha como sustentao a enorme explorao do trabalho realizada nos pases do chamado T erceiro Mundo, que estavam totalmente excludos desse compromisso social-democrata.um acrscimo da dependncia tanto prtica quanto ideolgica,em relao ao Estado, sob a form do famoso Estado-providncia . Dentro da moldura do fordismo, com efeito, esse Estad o representa, para o proletariado, a garantia de seguridade social , com sua qualidade de gestor geral da relao salarial: o Estado que fixa o estatuto mnimo dos assal ariados (...); ele que impulsiona a concluso e garante o respeito das convenes cole tivas; ele que gera direta ou indiretamente o salrio indireto (idem: 59). Tudo isso fez com que se desenvolvesse um fetichismo de Estado, bem como de seus ideais dem ocrticos (inclusive no que eles tm de ilusrio), aos quais o Estado-providncia deu cont edo concreto (ao garantir de algum modo o direito ao trabalho, moradia, sade, educ ao e formao profissional, ao lazer etc. (idem: 59-60). O ciclo de expanso e vigncia Welfare State, entretanto, deu sinais de crise. Alm das vrias manifestaes de esgotam ento da sua fase de regulao keynesiana, s quais nos referimos anteriormente, houve a ocorrncia de outro elemento decisivo para a crise do fordismo: o ressurgimento de aes ofensivas do mundo do trabalho e o consequente transbordamento da luta de cla sses. A ecloso das revoltas do operrio-massa e a crise do Welfare State: J no final dos a nos 60 e incio dos anos 70, deu-se a exploso do operrio-massa, parcela hegemnica do proletariado da era taylorista/fordista que atuava no universo concentrado no es pao produtivo. No final dos anos 60 as aes dos trabalhadores atingiram seu ponto de ebulio, questio nando os pilares constitutivos da sociabilidade do capital, particularmente no q ue concerne ao controle social da produo. O taylorismo/fordismo realizava uma expropriao intensificada do operrio-massa, dest ituindo-o de qualquer participao na organizao do processo de trabalho, que se resumia a uma atividade repe titiva e desprovida de sentido. Ao mesmo tempo, o operrio-massa era frequentement e chamado a corrigir as deformaes e enganos cometidos pela gerncia cientfica e pelos q uadros administrativos. Essa contradio entre autonomia e heteronomia, prpria do pro cesso de trabalho fordista, acrescida da contradio entre produo (dada pela existncia de um despotismo fabril e pela vigncia de tcnicas de disciplinamento prprias da exp lorao intensiva de fora de trabalho) e consumo (que exaltava o lado individualista e r ealizador ), intensificava os pontos de saturao do compromisso fordista. Acrescido, do aumento da contradio essen cial existente no processo de criao de valores, que subordina estruturalmente o tr abalho ao capital, de algum modo esse processo pode ser suportvel pela primeira ge rao do operrio-massa, para quem as vantagens do fordismo compensavam o preo a pagar pe lo seu acesso. Mas certamente esse no foi o caso da segunda gerao. Formada nos marc os do prprio fordismo, ela no se encontrava disposta a perder sua vida para ganh-la : a trocar o trabalho e uma existncia desprovida de sentido pelo simples crescimento de seu poder de compra , pr ivando-se de ser por um excedente de ter. Em suma, a satisfazer-se com os termos do compromisso fordista, assumido pela gerao anteriorRealizava-se, ento, uma interao entre elementos constitutivos da crise capitalista, que impossibilitavam a permanncia do ciclo expansionista do capital, vigente des de o ps-guerra: alm do esgotamento econmico do ciclo de acumulao (manifestao contingen e da crise estrutural do capital), as lutas de classes ocorridas ao final dos an os 60 e incio dos 70 solapavam pela base o domnio do capital e afloravam as possib ilidades de uma hegemonia (ou uma contra-hegemonia) oriunda do mundo do trabalho . A confluncia e as mltiplas determinaes de reciprocidade entre esses dois elementos centrais (o estancamento econmico e a intensificao das lutas de classes) tiveram, portanto, papel central na crise dos fins dos anos 60 e incios dos 70. Particularmente com relao s lutas dos trabalhadores, elas tambm exprimiam descontent amento em relao ao caminho social-democrata do movimento operrio, predominante nos organismos de representao do (ou sobre o) mundo do trabalho. Por um lado, esse cam inho adaptava-se ao proletariado da fase taylorista/fordista, particularmente pela sua atomizao, razo pela qual as organizaes mostravam-se como mom entos de uma ressocializao. Por outro lado, ao adotarem a via negocial e instituci onal, contratualista, dentro dos marcos do compromisso , esses organismos mostravam-se incapazes de incorporar efetivamente o movimento das bases sociais de trabal hadores, dado que essas organizaes, em seu sentido mais genrico, eram respaldadoras do capital, colocando-se, frequentemente, contra os movimentos sociais de base operria. Todavia, Como diz Alain Bihr (1991: 69-70), a contestao do poder do capital sobre o trabalho no se estendeu ao poder fora do trabalho , no conseguindo articular-se com os chamados novos movime ntos sociais ento emergentes, como os movimentos ecolgicos, urbanos, antinucleares, feministas, dos homossexuais, entre tantos outros. Do mesmo modo, a conflituali dade proletria emergente no conseguiu consolidar formas de organizao alternativas, capazes de se contrapor aos sindicatos e aos partidos tradicionais . As prticas auto-organizativas acabaram por se limitar ao plano microcsmico da em presa ou dos locais de trabalho, e no conseguiram criar mecanismos capazes de lhe s dar longevidade. Sua capacidade de auto-organizao, entretanto, perturbou seriamente o funcionamento do capitalismo , constituindo-se num dos elementos causais da ecloso da crise dos a nos 70 (Bernardo, 1996:19). O enorme salto tecnolgico, que ento se iniciava, constituiu-se j numa primeira resposta do capital confrontao aberta do mundo do trabalho, que aflorava nas lutas sociais dotadas de maior radicalidade no interior do espao fabril. E respondia, por outro lado, s necessidades da prpria concorrncia intercapitalista na fase monoplica. Foi nesse contexto que as foras do capital conseguiram reorganizar-se, introduzin do novos problemas e desafios para o mundo do trabalho, que se viu a partir de e nto em condies bastante desfavorveis. A reorganizao capitalista que se seguiu, com nov os processos de trabalho, recuperou temticas que haviam sido propostas pela class e trabalhadora.(...) Os trabalhadores tinham se mostrado capazes de controlar di retamente no s o movimento reivindicatrio mas o prprio funcionamento das empresas. E les demostraram, em suma, que no possuem apenas uma fora bruta, sendo dotados tambm de inteligncia, iniciativa e capacidade organizacional. Os capitalistas compreen deram ento que, em vez de se limitar a explorar a fora de trabalho muscular dos tr abalhadores, privando-os de qualquer iniciativa e mantendo-os enclausurados nas compartimentaes estritas do taylorismo e do fordismo, podiam multiplicar seu lucro explorando-lhes a imaginao, os dotes organizativos, a capacidade de cooperao, todas as virtualidades da inteligncia. Foi com esse fim que desenvolveram a tecnologia eletrnica e os computadores e que remodelaram os sistemas de adminis trao de empresa, implantando o toyotismo, a qualidade total e outras tcnicas de ges to. A recuperao da capacidade de auto-organizao manifestada pelos trabalhadores permi tiu aos capitalistas superar esse impasse. [...] Um trabalhador que raciocina no ato de trabalho e conhece mais dos processos tecnolgicos e econmicos do que os aspectos estritos do seu mbito imediato um trabalhador que pode ser tor nado polivalente. Captulo IV O TOYOTISMO E AS NOVAS FORMAS DE ACUMULAO DE CAPITAL Neste contexto emergem o toyotismo e a era da acumulao flexvel emergiram no Ocident e. [...] O quadro crtico, a partir dos anos 70, expresso de modo contingente como crise do padro de acumulao taylorista/fordista, j era expresso de uma crise estrutur al do capital que se estendeu at os dias atuais e fez com que, entre tantas outra s consequncias, o capital implementasse um vastssimo processo de reestruturao, visan do recuperar do seu ciclo reprodutivo e, ao mesmo tempo, repor seu projeto de do minao societal, abalado pela confrontao e conflitualidade do trabalho, que, como vimos, questionaram alguns dos pilares da sociabilidade do capital e de seus mecanismos de controle social. O capital deflagrou, ento, vrias transformaes no prprio processo produtivo, por meioda constituio das formas de acumulao flexvel, do downsizing, das formas de gesto organ izacional, do avano tecnolgico, dos modelos alternativos ao binmio taylorismo/fordi smo, em que se destaca especialmente o toyotismo ou o modelo japons. Essas transformaes, decorrentes da prpria concorrncia intercapitalista (num momento de crises e disputas intensificadas entre os grandes grupos transnacionais e mon opolistas) e, por outro lado, da prpria necessidade de controlar as lutas sociais oriundas do trabalho, acabaram por suscitar a resposta do capital sua crise est rutural. Opondo-se ao contrapoder que emergia das lutas sociais, o capital iniciou um pro cesso de reorganizao das suas formas de dominao societal, no s procurando reorganizar em termos capitalistas o processo produtivo, mas procurando gestar um projeto de recuperao da hegemonia nas mais diversas esferas da sociabilidade. Fez isso, por exemplo, no plano ideolgico, por meio do culto de um subjetivismo e de um iderio f ragmentador que faz apologia ao individualismo exacerbado contra as formas de so lidariedade e de atuao coletiva e social. Segundo Ellen Wood, trata-se da fase em que transformaes econmicas, as mudanas na produo e nos mercados, as mudanas culturais, geralmente associadas ao termo ps-modernismo , estar iam, em verdade, conformando um momento de maturao e universalizao do capitalismo, m uito mais do que um trnsito da modernidade para a ps--modernidade A falcia da qualidade total sob a vigncia da taxa de utilizao decrescente do valor de uso das mercadorias: a contradio entre a "qualidade total" do produto e sua impera tiva menor durabilidade temporal.A liofilizao organizacional e do trabalho na fbrica toyotizada: as novas formas de intensificao do trabalho Tentando reter seus traos constitutivos mais gerais, possvel dizer que o padro de a cumulao flexvel articula um conjunto de elementos de continuidade e de descontinuid ade que acabam por conformar algo relativamente distinto do padro taylorista/ford ista de acumulao. Ele se fundamenta num padro produtivo organizacional e tecnologic amente avanado, resultado da introduo de tcnicas de gesto da fora de trabalho prprias a fase informacional, bem como da introduo ampliada dos computadores no processo p rodutivo e de servios. Desenvolve-se em uma estrutura produtiva mais flexvel, reco rrendo frequentemente desconcentrao produtiva, s empresas terceirizadas etc. Utiliz a-se de novas tcnicas de gesto da fora de trabalho, do trabalho em equipe, das clulas de produo , dos times de trabalho , dos grupos semiautnomos , alm de requerer, ao meno plano discursivo, o envolvimento participativo dos trabalhadores, em verdade uma p articipao manipuladora e que preserva, na essncia, as condies do trabalho alienado e estranhado.18 O trabalho polivalente , multifuncional , qualificado , combinado com uma e strutura mais horizontalizada e integrada entre diversas empresas, inclusive nas empresas terceirizadas, tem como finalidade a reduo do tempo de trabalho.De fato, trata-se de um processo de organizao do trabalho cuja finalidade essencia l, real, a intensificao das condies de explorao da fora de trabalho, reduzindo muito eliminando tanto o trabalho improdutivo, que no cria valor, quanto suas formas a ssemelhadas, especialmente nas atividades de manuteno, acompanhamento, e inspeo de qualidade, funes que passaram a ser diretamente incorporadas ao trabalha dor produtivo. Reengenharia, lean production, team work, eliminao de postos de tra balho, aumento da produtividade, qualidade total, fazem parte do iderio (e da prti ca) cotidiana da fbrica moderna . Se no apogeu do taylorismo/fordismo a pujana de uma empresa mensurava-se pelo nmero de operrios que nela exerciam sua atividade de tr abalho, pode-se dizer que na era da acumulao flexvel e da empresa enxuta merecem dest aque, e so citadas como exemplos a ser seguidos, aquelas empresas que dispem de me nor contingente de fora de trabalho e que apesar disso tm maiores ndices de produtividade. Algumas das repercusses dessas mutaes no processo produtivo tm resultados imediatos no mundo do trabalho: desregulamentao enorme dos direitos do trabalho, que so eliminados cotidianamente em quase todas as partes do mundo onde h produo industrial e d e servios; aumento da fragmentao no interior da classe trabalhadora; precarizao e terceirizao da fora humana que trabalha; destruio do sindicalismo de clas e e sua converso num sindicalismo dcil, de parceria (partnership), ou mesmo em um s indicalismo de empresa A seguir, Antunes trata do Toyotismo. Pontos principais: enxugamento (downsizing ou lean production), acumulao flexvel, flexibilizao do empre go, combate organizao sindical O toyotismo, como via japonesa de expanso e consolidao do capitalismo monopolista i ndustrial, uma forma de organizao do trabalho que nasce na Toyota, no Japo ps-45, e que, muito rapidamente, se propaga para as grandes companhias daquele pas. Ele se diferencia do fordismo basicamente nos seguintes traos: 1) uma produo muito vinculada demanda, visando atender s exigncias mais individualiz adas do mercado consumidor, diferenciando-se da produo em srie e de massa do taylor ismo/fordismo. Por isso sua produo variada e bastante heterognea, ao contrrio da hom ogeneidade fordista; 2) fundamenta-se no trabalho operrio em equipe, com multivar iedade de funes, rompendo com o carter parcelar tpico do fordismo; 3) a produo se estrutura num processo produtivo flexvel, que possibilita ao operrio operar simultaneamente vrias mquinas (na Toyota, em mdia at 5 mquinas), alterando-se a relao homem/mquina na qual se baseava o taylorismo/fordismo; 4) tem como princpio o just in time, o melhor aproveitamento possvel do tempo de produo, e o estoque mnim o. 5) estrutura organizacional horizontalizada, produzindo internamente apenas o qu e central em sua especialidade no processo produtivo (a chamada teoria do foco ) e terceirizando o resto. 6) organiza os Crculos de Controle de Qualidade (CCQs), constituindo grupos de tr abalhadores que so instigados pelo capital a discutir seu trabalho e desempenho, com vistas a melhorar a produtividade das empresas, convertendo-se num important e instrumento para o capital apropriar-se do savoir-faire intelectual e cognitiv o do trabalho, que o fordismo desprezava >>> "captura" da subjetividade do traba lhador Assiste-se hoje dupla transformao do trabalho, tanto quanto ao contedo da atividade , tanto quanto s formas de emprego, transformao aparentemente paradoxal, pois esse duplo processo ocorre em sentidos opostos. De um lado, h a exigncia de estabilizao, de implicao do sujeito no processo de trabalho, por intermdio de atividades que req uerem autonomia, iniciativa, responsabilidade, comunicao ou intercomprcenso. Por ou tro lado, verifica-se um processo de instabilizao, precarizao dos laos empregatcios, a umento do desemprego prolongado e flexibilidade no uso da fora de trabalho.Portanto, necessrio no incorrer em erro quando se analisa o processo de mundializao do capital e seus efeitos sobre o trabalho. Por trs de uma aparente hegemonia ou universalidade de situaes, h diferenas entre pases ricos e pobres, centrais e subordi nados, e tambm no interior dos mesmos, sem contar aquelas referentes aos vrios set ores da economia com inmeras particularidades. Por outro lado, as diferenas de gner o, entre homens e mulheres que trabalham, acrescidos da diversidade tnica, geraci onal e etria, tornam-se tambm imprescindveis compreenso da situao de classe dos traba hadores. liofilizao organizacional