16
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR MILTON SANTOS (IHAC) PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ARTES - PROF-ARTES COMPONENTE: A EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA E A PRÁTICA DE ARTE NA ESCOLA MARISE BERTA DE SOUZA FICHAMENTO DO LIVRO: A IDENTIDADE CULTURALNA PÓS-MODERNIDADE Autor: Stuart Hall Texto: Capítulo 1 – A Identidade Em Questão - Págs. 07 a 22 Jaildon Jorge Amorim Góes

Fichamento a Identidade Culturalna Pós-modernidade

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA)INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CINCIAS PROFESSOR MILTON SANTOS (IHAC)PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ARTES - PROF-ARTES COMPONENTE: A EXPERINCIA ARTSTICA E A PRTICA DE ARTE NA ESCOLA

MARISE BERTA DE SOUZA

FICHAMENTO DO LIVRO: A IDENTIDADE CULTURALNA PS-MODERNIDADEAutor: Stuart HallTexto: Captulo 1 A Identidade Em Questo - Pgs. 07 a 22

Jaildon Jorge Amorim Ges

SALVADOR2014Fichamento de Leitura do Livro A Identidade Cultural na Ps-Modernidade

Texto: Captulo 1 A Identidade Em Questo - Pgs. 07 a 22Autor: Stuart Hall / Traduo: Tomaz Tadeu da Silva / Guacira Lopes LouroData de publicao: 2011Edio; 11edioEditora: DP&A

Assunto principal do livro

Temas

Este livro explora e analisa em seus estudos culturais, a crise de identidade na ps-modernidade ou na modernidade tardia em que consiste essa crise, em que direo ela est indo e como afeta as sociedades contemporneas, tomando como tema central, as mudanas estruturais que fragmentam e descontroem as identidades culturais de classe, raa, etnia, sexo, gnero, nacionalidade, etc.

Tais transformaes influenciam a formao cultural dos sujeitos, que acabam ficando divididos entre padres tradicionais e novos padres descentralizados e entre diversas classes que surgem na metade do sculo XX.Cultura. Identidade. Globalizao. Modernidade. Ps-Modernidade. Mediao Cultural. Hibridismo.

Resumo das ideias/conceitos

O indivduo antes centrado e unificado passaria a ser fragmentado, descentrado e composto por vrias identidades que so transitrias e mutveis. a partir desse processo que para Hall, nasce o sujeito ps-moderno, desprovido de uma identidade fixa, a qual seria continuamente formada e transformada em diferentes perodos histricos.

A descentralizao do indivduo tanto no aspecto pessoal, quanto social e cultural, constitui uma crise de identidade e esta proposio tomadas no conjunto, representam um processo de transformao.

Todas essas transformaes acontecem principalmente em decorrncia da quebra do pensamento de teorias clssicas, como o iluminismo, acerca da identidade cultural ligada ao sujeito, como sendo a essncia deste. O pensamento iluminista, que agregava vises racionalistas, individualistas e humanistas, deu suporte ideia de que o prprio sujeito seria o responsvel pelo seu reconhecimento cultural, visto que a identidade algo intrnseco e essencial, a qual se desenvolve com o crescimento e vida do sujeito.

No fosse somente por tais acontecimentos que ensejassem a crise da identidade, atualmente existe uma rpida difuso de ideias e interacionismo entre naes atravs da chamada compresso do espao-tempo, oriunda do fenmeno da globalizao, que vem a fortalecer a tese de fragilidade da identidade, visto que as identidades nacionais esto em declnio, dando lugar a identidades hbridas.

Hall aponta que a interdependncia global est levando ao colapso de todas as identidades culturais fortes, atravs do bombardeamento da infiltrao cultural e que est havendo a homogeneizao das identidades nacionais.

Essa homogeneizao se d de forma desigual, atravs de uma geometria de poder, na qual a ocidentalizao tem se alastrado sobre os pases perifricos, de forma que os pases centrais engendram pouco da culturas do resto.

Assim, pode existir um fortalecimento de identidades locais (como reao defensiva dos grupos tnicos dominantes) ou a produo de novas identidades (o que comumente tem se verificado).

Com o processo de globalizao, as identidades nacionais (mesmo sendo alvo de dvidas quanto a ideia disseminada de rgida unificao das identidades culturais) esto se tornando cada vez mais deslocadas e essa uma preocupao para o autor, posto que, para ele, a identidade nacional, mesmo que precariamente, unifica um povo, que passa a se identificar na comunidade em que vive, que d alguma consistncia a essa identidade.

Stuart Hall alude que, no obstante, para alguns autores, o hibridismo representa um aspecto positivo, pois produzem novas formas de cultura, mais apropriadas modernidade tardia. Entretanto, o autor deixa claro que nem sempre a tentativa de sincretismo traz resultados pacficos, citando alguns exemplos histricos.

Na educao, a noo de hbridos culturais contribui para que todos os educandos se envolvam com seus aspectos culturais embrincados com as outras culturas e que se tornem mais abertos e flexveis numa perspectiva de que identidades pluralizantes altera de forma positiva as identidades que se dizem fixas, tornando-as menos fixas, plurais e mais polticas e diversas.

Trechos interessantes a serem selecionados para fichamento

Pginas correspondentes

A identidade em questo

... as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, esto em declino, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivduo moderno, at aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada "crise de identidade" vista como parte de um processo mais amplo de mudana, que est deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referncia que davam aos indivduos uma ancoragem estvel no mundo social.

... as identidades modernas esto sendo "descentradas", isto , deslocadas ou fragmentadas...

...O prprio conceito com o qual estamos lidando, "identidade", demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na cincia social contempornea para ser definitivamente posto prova...

... Um tipo diferente de mudana estrutural est transformando as sociedades modernas no final do sculo XX. Isso est fragmentando as paisagens culturais de classe, gnero, sexualidade, etnia, raa e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido slidas localizaes como indivduos sociais. Estas transformaes esto tambm mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que ternos de ns prprios como sujeitos integrados. Esta perda de um "sentido de si" estvel chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentrao do sujeito. Esse duplo deslocamento-descentrao dos indivduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos constitui uma "crise de identidade" para o indivduo...

Trs concepes de identidade

O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepo da pessoa humana como um indivduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razo, de conscincia e de ao, cujo "centro" consistia num ncleo interior, que pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo - continuo ou "idntico" a ele ao longo da existncia do indivduo... pode-se ver que essa era uma concepo muito "individualista" do sujeito e de sua identidade (na verdade, a identidade dele: j que o sujeito do Iluminismo era usualmente descrito como masculino).

A noo de sujeito sociolgico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a conscincia de que este ncleo interior do sujeito no era autnomo e autossuficiente, mas era formado na relao com "outras pessoas importantes para ele", que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e smbolos - a cultura - dos mundos que ele/ela habitava...

...De acordo com essa viso, que se tornou a concepo sociolgica clssica da questo, a identidade formada na "interao" entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um ncleo ou essncia interior que o "eu real", mas este formado e modificado num dilogo contnuo com os mundos culturais "exteriores" e as identidades que esses mundos oferecem.

...O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estvel, est se tornando fragmentado; composto no de uma nica, mas de vrias identidades, algumas vezes contraditrias ou no- resolvidas.

... O prprio processo de identificao, atravs do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisrio, varivel e problemtico.

Esse processo produz o sujeito ps-moderno, conceptualizado como no tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebrao mvel": formada transformada continuamente em relao s formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987).

...O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que no so unificadas ao redor de um "eu" coerente. Dentro de ns h identidades contraditrias, empurrando em diferentes direes, de tal modo que nossas identificaes esto sendo continuamente deslocadas...

... Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento at a morte apenas porque construmos uma cmoda estria sobre ns mesmos ou uma confortadora "narrativa do eu" (veja Hall, 1990).

...A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente uma fantasia. Ao invs disso, medida em que os sistemas de significao e representao cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possveis, com cada unia das quais poderamos nos identificar ao menos temporariamente.

O carter da mudana na modernidade tardia

Um outro aspecto desta questo da identidade est relacionado ao carter da mudana na modernidade tardia; em particular, ao processo de mudana conhecido como "globalizao" e seu impacto sobre a identidade cultural.As sociedades modernas so, portanto, por definio, sociedades de mudana constante, rpida e permanente. Esta a principal distino entre as sociedades "tradicionais" e as "modernas".

A modernidade, em contraste, no definida apenas como a experincia de convivncia com a mudana rpida, abrangente e contnua, mas uma forma altamente reflexiva de vida.

... o ritmo e o alcance da mudana " medida em que reas diferentes do globo so postas em interconexo umas com as outras, ondas de transformao social atingem virtualmente toda a superfcie da terra" e a natureza das instituies modernas (Giddens, 1990, p. 6).

...Ernest Laclau (1990) usa o conceito de "deslocamento". Uma estrutura deslocada aquela cujo centro deslocado, no sendo substitudo por outro, mas por "uma pluralidade de centros de poder". As sociedades modernas, argumenta Laclau, no tm nenhum centro, nenhum princpio articulador ou organizador nico e no se desenvolvem de acordo com o desdobramento de uma nica "causa" ou "lei".

A sociedade no , como os socilogos pensaram muitas vezes, um todo unificado e bem delimitado, uma totalidade, produzindo-se atravs de mudanas evolucionrias a partir de si mesma, como o desenvolvimento de uma flor a partir de seu bulbo. Ela est constantemente sendo "descentrada" ou deslocada por foras fora de si mesma.

As sociedades da modernidade tardia, argumenta ele so caracterizadas pela "diferena"; elas so atravessadas por diferentes divises e antagonismos sociais que produzem urna variedade de diferentes "posies de sujeito" isto , identidades para os indivduos.

...Se tais sociedades no se desintegram totalmente no porque elas so unificadas, mas porque seus diferentes elementos e identidades podem, sob certas circunstncias, ser conjuntamente articulados. Mas essa articulao sempre parcial: a estrutura da identidade permanece aberta. Sem isso, argumenta Laclau, no haveria nenhuma histria.

... o deslocamento tem caractersticas positivas. Ele desarticula as identidades estveis do passado, mas tambm abre a possibilidade de novas articulaes: a criao de novas identidades, a produo de novos sujeitos e o que ele chama de "recomposio da estrutura em torno de pontos nodais particulares de articulao" (Laclau, 1990, p. 40).

O que est em jogo na questo das identidades?Nenhuma identidade singular por exemplo, de classe social podia alinhar todas as diferentes identidades com uma "identidade mestra" nica, abrangente, na qual se pudesse, de forma segura, basear uma poltica. As pessoas no identificam mais seus interesses sociais exclusivamente em termos de classe; a classe no pode servir como um dispositivo discursivo ou uma categoria mobilizadora atravs da qual todos os variados interesses e todas as variadas identidades das pessoas possam ser reconciliadas e representadas.Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito interpelado ou representado, a identificao no automtica, mas pode ser ganhada ou perdida. Ela tornou-se politizada. Esse processo , s vezes, descrito como constituindo uma mudana de urna poltica de identidade (de classe) para urna poltica de diferena.

Pag. 07

Pag. 08

Pag. 08

Pag. 09

Pag. 10/11

Pag. 11

Pag. 11/12

Pag. 12

Pag. 12

Pag.13

Pag.13

Pag. 13

Pag. 13

Pag. 14

Pag. 15

Pag. 15

Pag. 16

Pag. 17

Pag. 17

Pag. 17/18

Pag.18

Pag. 18

Pag.21

Pag.22

Nascimento e morte do sujeito moderno

...As transformaes associadas modernidade libertaram o indivduo de seus apoios estveis nas tradies e nas estruturas. Antes se acreditava que essas eram divinamente estabelecidas; no estavam sujeitas, portanto, a mudanas fundamentais...

... Muitos movimentos importantes no pensamento e na cultura ocidentais contriburam para a emergncia dessa nova concepo: a Reforma e o Protestantismo, que libertaram a conscincia individual das instituies religiosas da Igreja e a expuseram diretamente aos olhos de Deus; o Humanismo Renascentista, que colocou o Homem (sic) no centro do universo; as revolues cientificas, que conferiram ao Homem a faculdade e as capacidades para inquirir, investigar e decifrar os mistrios da Natureza; e o Iluminismo, centrado na imagem do Homem racional, cientfico, libertado do dogma e da intolerncia, e diante do qual se estendia a totalidade da histria humana, para ser compreendida e dominada...

Descartes postulou duas substncias distintas a substncia espacial (matria) e a substncia pensante (mente). Ele refocalizou, assim, aquele grande dualismo entre a "mente" e a "matria" que tem afligido a Filosofa desde ento. (...) No centro da "mente" ele colocou o sujeito individual, constitudo por sua capacidade para raciocinar e pensar. Cogito, ergo sum era a palavra de ordem de Descartes: Penso, logo existo (nfase minha). Desde ento, esta concepo cio sujeito racional, pensante e consciente, situado no centro do conhecimento, tem sido conhecida como o sujeito cartesiano.

Outra contribuio crtica foi feita por John Locke, o qual, em seu Ensaio sobre a compreenso humana, definia o indivduo em termos da mesmidade (sameness) de um ser racional isto , uma identidade que permanecia a mesma e que era contnua com seu sujeito: a identidade da pessoa alcana a exata extenso em que sua conscincia pode ir para trs, para qualquer ao ou pensamento passado (Locke, 1967, pp. 212213). Esta figura (ou dispositivo conceitual) o indivduo soberano est inscrita em cada um dos processos e prticas centrais que fizeram o mundo moderno. Ele (sic) era o sujeito da modernidade em dois sentidos: a origem ou sujeito da razo, do conhecimento e da prtica; e aquele que sofria as consequncias dessas prticas - aquele que estava "sujeitado" a elas (veja Foucault, 1986 e tambm Penguin Dictionary of Sociology: verbete subject).

Ainda era possvel, no sculo XVIII, imaginar os grandes processos da vida moderna como estando centrados no indivduo sujeito-da-razo. Mas medida em que as sociedades modernas se tornavam mais complexas, elas adquiriam uma forma mais coletiva e social. As teorias clssicas liberais de governo, baseadas nos direitos e consentimento individuais, foram obrigadas a dar conta das estruturas do estado- nao e das grandes massas que fazem uma democracia moderna. As leis clssicas da economia poltica, da propriedade, do contrato e da troca tinham de atuar, depois da industrializao, entre as grandes formaes de classe do capitalismo moderno. O empreendedor individual da Riqueza das Naes de Adam Smith ou mesmo d'O capital de Marx foi transformado nos conglomerados empresariais da economia moderna. O cidado individual tornou- se enredado nas maquinarias burocrticas e administrativas do estado moderno.

Emergiu, ento, uma concepo mais social do sujeito. O indivduo passou a ser visto como mais localizado e definido no interior dessas grandes estruturas e formaes sustentadoras da sociedade moderna. Dois importantes eventos contriburam para articular um conjunto mais amplo de fundamentos conceptuais para o sujeito moderno.

O primeiro foi a biologia darwiniana. O sujeito humano foi biologizado - a razo tinha uma base na Natureza e a mente uni "fundamento" no desenvolvimento fsico do crebro humano. O segundo evento foi o surgimento das novas cincias sociais.

Este modelo sociolgico interativo, com sua reciprocidade estvel entre interior e exterior, , em grande parte, um produto da primeira metade do sculo XX, quando as cincias sociais assumem sua forma disciplinar atual. Entretanto, exatamente no mesmo perodo, um quadro mais perturbado e perturbador do sujeito e da identidade estava comeando a emergir dos movimentos estticos e intelectuais associado com o surgimento do Modernismo.

Descentrando o sujeito

A primeira descentrao importante refere- se s tradies do pensamento marxista. Os escritos de Marx pertencem, naturalmente, ao sculo XIX e no ao sculo XX. Mas um dos modos pelos quais seu trabalho foi redescoberto e reinterpretado na dcada de sessenta foi luz da sua afirmao de que os "homens (sic) fazem a histria, mas apenas sob as condies que lhes so dadas". Seus novos intrpretes leram isso no sentido de que os indivduos no poderiam de nenhuma forma ser os "autores" ou os agentes da histria, uma vez que eles podiam agir apenas com base em condies histricas criadas por outros e sob as quais eles nasceram, utilizando os recursos materiais e de cultura que lhes foram fornecidos por geraes anteriores.

O segundo dos grandes descentramentos no pensamento ocidental do sculo XX vem da descoberta do inconsciente por Freud. A teoria de Freud de que nossas identidades, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos so formadas com base em processos psquicos e simblicos do inconsciente, que funciona de acordo com uma lgica muito diferente daquela da Razo, arrasa com o conceito do sujeito cognoscente e racional provido de uma identidade fixa e unificada o penso, logo existo, do sujeito de Descartes.

O terceiro descentramento que examinarei est associado com o trabalho do linguista estrutural, Ferdinand de Saussure. Saussure argumentava que ns no somos, em nenhum sentido, os autores das afirmaes que fazemos ou dos significados que expressamos na lngua. Ns podemos utilizar a lngua para produzir significados apenas nos posicionando no interior das regras da lngua e dos sistemas de significado de nossa cultura. A lngua um sistema social e no um sistema individual. Ela preexiste a ns. No podemos, em qualquer sentido simples, ser seus autores. Falar uma lngua no significa apenas expressar nossos pensamentos mais interiores e originais; significa tambm ativar a imensa gama de significados que j esto embutidos em nossa lngua e em nossos sistemas culturais.

O quarto descentramento principal da identidade e do sujeito ocorre no trabalho do filsofo e historiador francs Michel Foucault. Numa srie de estudos, Foucault produziu uma espcie de genealogia do sujeito moderno. Foucault destaca um novo tipo de poder, que ele chama de poder disciplinar, que se desdobra ao longo do sculo XIX, chegando ao seu desenvolvimento mximo no incio do presente sculo. O poder disciplinar est preocupado, em primeiro lugar, com a regulao, a vigilncia o governo da espcie humana ou de populaes inteiras e, em segundo lugar, do indivduo e do corpo. Seus locais so aquelas novas instituies que se desenvolveram ao longo do sculo XIX e que policiam e disciplinam as populaes modernas oficinas, quartis, escolas, prises, hospitais, clnicas e assim por diante...

O quinto descentramento que os proponentes dessa posio citam o impacto do feminismo, tanto como uma crtica terica quanto como um movimento social. O feminismo faz parte daquele grupo de novos movimentos sociais, que emergiram durante os anos sessenta (o grande marco da modernidade tardia), juntamente com as revoltas estudantis, os movimentos juvenis contraculturas e antibelicistas, as lutas pelos direitos civis, os movimentos revolucionrios do Terceiro Mundo, os movimentos pela paz e tudo aquilo que est associado com 1968.

Pag. 25

Pag. 25/26

Pag. 27

Pag. 27/28

Pag. 29

Pag. 30

Pag. 30

Pag. 32

Pag. 34

Pag. 36

Pag. 40

Pag. 41/42

Pag. 43/44

As culturas nacionais como comunidades imaginadas

No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem em unia das principais fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses ou galeses ou indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de forma metafrica. Essas identidades no esto literalmente impressas em nossos genes. Entretanto, ns efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial.

As culturas nacionais so uma forma distintivamente moderna. A lealdade e a identificao que, numa era pr-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas tribo, ao povo, religio e regio, foram transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, cultura nacional. As diferenas regionais e tnicas foram gradualmente sendo colocadas, de forma subordinada, sob aquilo que Gellner chama de teto poltico do estado-nao, que se tornou, assim, uma fonte poderosa de significados para as identidades culturais modernas.

As culturas nacionais so compostas no apenas de instituies culturais, mas tambm de smbolos e representaes. Uma cultura nacional um discurso um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas aes quanto a concepo que temos de ns mesmos...

Narrando uma nao: Uma comunidade imaginada

As culturas nacionais so compostas no apenas de instituies culturais, mas tambm de smbolos e representaes. Uma cultura nacional um discurso um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas aes quanto as percepes que temos de ns mesmos...As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nao, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Estes sentidos esto contidos nas histrias que so contadas sobre a nao, memrias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela so construdas. Como argumentou Benedict Anderson (1983), a identidade nacional uma cominidade imaginada.

Desconstruindo a cultura nacional: identidade e diferena

...no importa quo diferentes seus membros possam ser em termos de classe, gnero ou raa, uma cultura nacional busca unific-los numa identidade cultural, para represent-los todos como pertencendo mesma e grande famlia nacional...

Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveramos pens-las como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferena como unidade ou identidade. Elas so atravessadas por profundas divises e diferenas internas, sendo unificadas apenas atravs do exerccio de diferentes formas de poder cultural. Entretanto como nas fantasias do eu inteiro de que fala a psicanlise lacanianas identidades nacionais continuam a ser representadas como unificadas.

Pag. 47

Pag. 49

Pag. 50

Pag. 51

Pag. 59

Pag. 61/62

Globalizao

O que, ento, est to poderosamente deslocando as identidades culturais nacionais, agora, no fim do sculo XX? A resposta : um complexo de processos e foras de mudana, que, por convenincia, pode ser sintetizado sob o termo globalizao. Como argumenta Anthony Mc Grew (1992), a globalizao se refere queles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizaes em novas combinaes de espao-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experincia, mais interconectado...

Alguns tericos culturais argumentam que a tendncia em direo a uma maior interdependncia global est levando ao colapso de todas as identidades culturais fortes e est produzindo aquela fragmentao de cdigos culturais, aquela multiplicidade de estilos, aquela nfase no efmero, no flutuante, no impermanente e na diferena e no pluralismo cultural descrita por Kenneth Thompson (1992), mas agora numa escala global o que poderamos chamar de ps-moderno global. Os fluxos culturais, entre as naes, e o consumismo global criam possibilidades de "identidades partilhadas" como "consumidores" para os mesmos bens, "clientes" para os mesmos servios, "pblicos" para as mesmas mensagens e imagens entre pessoas que esto bastante distantes umas das outras no espao e no tempo...

O global e o local e o retorno da etnia

...ao lado da tendncia em direo homogeneizao global, h tambm uma fascinao com a diferena e com a mercantilizao da etnia e da alteridade. H, juntamente com o impacto do global, um novo interesse pelo local. A globalizao (na forma da especializao flexvel e da estratgia de criao de "nichos" de mercado), na verdade, explora a diferenciao local. Assim, ao invs de pensar no global como substituindo o local seria mais acurado pensar numa nova articulao entre o global e o local. Este local no deve, naturalmente, ser confundido com velhas identidades, firmemente enraizadas em localidades bem delimitadas. Em vez disso, ele atua no interior da lgica da globalizao. Entretanto, parece improvvel que a globalizao v simplesmente destruir as identidades nacionais. E mais provvel que ela v produzir, simultaneamente, novas identificaes globais e novas identificaes locais.

Como concluso provisria, parece ento que a globalizao tem, sim, o efeito de contestar e deslocar as identidades centradas e fechadas de urna cultura nacional. Ela tem um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posies de identificao, e tornando as identidades mais posicionais, mais polticas, mais plurais e diversas; menos fixas, unificadas ou trans-histricas. Entretanto, seu efeito geral permanece contraditrio. Algumas identidades gravitam ao redor daquilo que Robins chama de Tradio, tentando recuperar sua pureza anterior e recobrir as unidades e certezas que so sentidas como tendo sido perdidas. Outras aceitam que as identidades esto sujeitas ao plano da histria, da poltica, da representao e da diferena e, assim, improvvel que elas sejam outra vez unitrias ou puras; e essas, consequentemente, gravitam ao redor daquilo que Robins (seguindo Homi Bhabha) chama de Traduo. (p. 87)

Pag. 67

Pag. 73/74

Pag. 77/78

Fundamentalismo, dispora e hibridismo

Os deslocamentos ou os desvios da globalizao mostram-se, afinal, mais variados e mais contraditrios do que sugerem seus protagonistas ou seus oponentes. Entretanto, isto tambm sugere que, embora alimentada, sob muitos aspectos, pelo Ocidente, a globalizao pode acabar sendo parte daquele lento e desigual, mas continuado, descentramento do Ocidente.

Pag. 97