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André Guilherme –– Antropologia I - Noturno Fichamento 11ª aula MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas” In Sociologia e antropologia. São Paulo: EDUSP, 1974. “Introdução”, “I” e “Conclusão”,  p. 39 a 48; 49 a 67 e 163 a 184. Em “Ensaio sobre a dádiva” , Marcel Mauss introduz o conceito de fato social total classificando os sistemas de prestações econômicas das sociedades arcaicas como tal, uma vez que eles são a expressão de toda espécie de instituições (religiosa, política, jurídicas, morais, etc.). Dentre tudo que engloba esse sistema de prestações o autor vai se preocupar em estudar o caráter voluntário e ao mesmo tempo obrigatório das trocas para responder a pergunta Qual a regra de direito e de interesse que, nas sociedades de tipo atrasado ou arcaico, faz com que o presente recebido seja obrigatoriamente retribuído? Que força há na coisa dada que faz com que o destinatário a retribua?” (Mauss 1974,42). Mauss pretende responder essa pergunta utilizando o método comparativo, com o qual ele limitou o estudo às áreas como Polinésia, Melanésia e noroeste americano, pois elas tinham um material etnográfico que permitia o acesso à consciência das próprias sociedades e era possível descrever como um todo o sistema de prestações de cada uma. Pela análise das sociedades destas regiões destacadas, o autor conceitua o sistema de prestação total, neste sistema há uma troca não entre indivíduos e sim entre coletividades (clãs, tribos, famílias), seja através dos chefes ou em grupos. Além disso, essas trocas envolvem prestações e contraprestações diversas como, por exemplo, gentilezas, ritos, mulheres, feiras e não só, trocas econômicas. Outra característica é que apesar dessas trocas serem feitas de forma voluntária, seja por presentes ou regalos, elas escondem um caráter obrigatório, que levado às últimas consequências pode levar a guerras. Outra forma desse sistema de prestação total descrito no ensaio é o  potlach, que tem como principal diferença a forma combativa com que é realizado. No  potlcah,  os chefes das tribos se enfrentam para demonstrar superioridade, essa batalha envolve desde a destruição de riqueza para demonstrar grandeza até uma luta que pode levar a morte de um dos dois. Continuando a discussão sobre a obrigatoriedade da retribuição em uma troca, o autor descreve no primeiro capítulo a o sistema de dádivas contratuais na Samoa, onde em caso de não retribuição existe uma ameaça de perda da autoridade e da honra de quem procedeu desta maneira, assim como no potlach. Outra descrição utilizada por Mauss para demonstrar a obrigatoriedade no ato de presentear é a realizada por um informante Maori. Nesta descrição o informante demonstra que a obrigatoriedade de retribuição reside no fato de o objeto doado não é inerte, mesmo após a doação ele ainda pertence ao dono, pois têm o seu hau, ou espríto, por isso qualquer coisa que receba em troca, quando passar o objeto adiante, deve ser devolvida a quem lhe deu.

Fichamento Mauss - Ensaio Sobre a Dádiva

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MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas” In Sociologia e antropologia. São Paulo: EDUSP, 1974. “Introdução”, “I” e “Conclusão”, p. 39 a 48; 49 a 67 e 163 a 184.

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Andr Guilherme Antropologia I - NoturnoFichamento 11 aulaMAUSS, Marcel. Ensaio sobre a ddiva. Forma e razo da troca nas sociedades arcaicas In Sociologia e antropologia. So Paulo: EDUSP, 1974. Introduo, I e Concluso, p. 39 a 48; 49 a 67 e 163 a 184.Em Ensaio sobre a ddiva, Marcel Mauss introduz o conceito de fato social total classificando os sistemas de prestaes econmicas das sociedades arcaicas como tal, uma vez que eles so a expresso de toda espcie de instituies (religiosa, poltica, jurdicas, morais, etc.). Dentre tudo que engloba esse sistema de prestaes o autor vai se preocupar em estudar o carter voluntrio e ao mesmo tempo obrigatrio das trocas para responder a pergunta Qual a regra de direito e de interesse que, nas sociedades de tipo atrasado ou arcaico, faz com que o presente recebido seja obrigatoriamente retribudo? Que fora h na coisa dada que faz com que o destinatrio a retribua? (Mauss 1974,42).Mauss pretende responder essa pergunta utilizando o mtodo comparativo, com o qual ele limitou o estudo s reas como Polinsia, Melansia e noroeste americano, pois elas tinham um material etnogrfico que permitia o acesso conscincia das prprias sociedades e era possvel descrever como um todo o sistema de prestaes de cada uma.Pela anlise das sociedades destas regies destacadas, o autor conceitua o sistema de prestao total, neste sistema h uma troca no entre indivduos e sim entre coletividades (cls, tribos, famlias), seja atravs dos chefes ou em grupos. Alm disso, essas trocas envolvem prestaes e contraprestaes diversas como, por exemplo, gentilezas, ritos, mulheres, feiras e no s, trocas econmicas. Outra caracterstica que apesar dessas trocas serem feitas de forma voluntria, seja por presentes ou regalos, elas escondem um carter obrigatrio, que levado s ltimas consequncias pode levar a guerras. Outra forma desse sistema de prestao total descrito no ensaio o potlach, que tem como principal diferena a forma combativa com que realizado. No potlcah, os chefes das tribos se enfrentam para demonstrar superioridade, essa batalha envolve desde a destruio de riqueza para demonstrar grandeza at uma luta que pode levar a morte de um dos dois.Continuando a discusso sobre a obrigatoriedade da retribuio em uma troca, o autor descreve no primeiro captulo a o sistema de ddivas contratuais na Samoa, onde em caso de no retribuio existe uma ameaa de perda da autoridade e da honra de quem procedeu desta maneira, assim como no potlach. Outra descrio utilizada por Mauss para demonstrar a obrigatoriedade no ato de presentear a realizada por um informante Maori. Nesta descrio o informante demonstra que a obrigatoriedade de retribuio reside no fato de o objeto doado no inerte, mesmo aps a doao ele ainda pertence ao dono, pois tm o seu hau, ou esprto, por isso qualquer coisa que receba em troca, quando passar o objeto adiante, deve ser devolvida a quem lhe deu.Ainda no primeiro captulo Mauss, inclui duas outras obrigaes pertencentes ao conceito de prestao total, a obrigao de dar e de receber. Isso fica claro na passagem em que ele afirma que: Recusar-se a dar, deixar de convidar ou recusar-se a receber equivale a declarar guerra, recusar a aliana e a comunho., sendo essas obrigaes justificadas pelo fato de que como h uma mistura de vnculos espirituais entre as coisas e os indivduos ou grupos, tudo vai-e-vem como se houvesse uma troca constante de uma matria espiritual compreendendo coisas e homens, entre os cls e os indivduos, repartidos entre as categorias, sexo e geraes.Ao final do ensaio, o autor demonstra como as observaes realizadas sobre os sistemas de prestao total podem ser estendidas a nossa sociedade no que concerne a moral, e a sociologia econmica e economia poltica.Referente moral dos nossos dias ele afirma que a reciprocidade existente ainda hoje na troca de presentes ou mesmo nas polticas governamentais socialistas carrega a obrigao de retribuio do sistema de prestao total, desenvolvendo nessas prticas um carter social e no apenas utilitarista.Em relao sociologia econmica e economia poltica, Mauss afirma que os interesses das sociedades arcaicas dentro dos sistemas de prestao total, so diferentes dos interesses da nossa sociedade utilitria, enquanto ns temos como objetivo a utilidade material, o lucro e o individualismo, elas procuram o bem e o prazer. O acmulo de riqueza nelas se da com o fim de gastar para obrigar, para ter homens lgios, ou melhor, para manter alianas, enquanto ns nos tornamos quase que um homo economicus visando apenas o til.Por fim, Mauss afirma que este um primeiro trabalho sobre fatos sociais totais, e que deve servir de base para que outros estudos possam ser feitos, sendo importante para a sociologia que os socilogos sigam essas indicaes metodolgicas para observarem os fatos dados e fazerem menos abstraes, podendo assim perceber o grupo inteiro e seu comportamento global. Ao final, enfatiza que atravs de seu estudo pode constatar que as sociedades s avanam e se unem pela aliana, que seus grupos e indivduos puderam se estabilizar quando aprenderam a dar, receber e, enfim, retribuir.