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FACULDADE GLOBAL DE UMUARAMA CURSO DE PEDAGOGIA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO I PLANO DE ENSINO FGU – FACULDADE GLOBAL DE UMUARAMA DEPARTAMENTO: PEDAGOGIA DISCIPLINA: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO I CARGA HORÁRIA: 80h/a ANO LETIVO: 2012 1. EMENTA A reflexão filosófica e a condição humana. O conhecimento e o método filosófico. A filosofia, a política e a ideologia. Áreas da filosofia: axiologia, lógica, epistemologia e ética. Bases filosóficas para a interpretação da realidade educacional. Bases epistemológicas para a interpretação da realidade educacional. Tendências, teorias e correntes educacionais no Brasil. 2. OBJETIVOS EDUCACIONAIS Analisar a educação a partir da ótica filosófica, levando em conta os autores e críticos da educação ao longo da tradição filosófica. Correlacionar o processo educativo como processo de construção crítica, sublinhando a filosofia como base de conhecimento e instrumental de análise da realidade. Debater as bases epistemológicas para a interpretação da realidade educacional. 4. PROCEDIMENTOS – RECURSOS – AVALIAÇÃO 4.1 Procedimentos Didáticos: Aulas ministradas de maneira expositiva, fomentando a discussão e a participação, visando a construção dos conceitos a partir de problematizações, tendo como respaldo a tradição filosófica. 4.2 Recursos:

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FACULDADE GLOBAL DE UMUARAMA

CURSO DE PEDAGOGIAFILOSOFIA DA EDUCAÇÃO I

PLANO DE ENSINO

FGU – FACULDADE GLOBAL DE UMUARAMADEPARTAMENTO: PEDAGOGIADISCIPLINA: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO ICARGA HORÁRIA: 80h/a ANO LETIVO: 2012

1. EMENTAA reflexão filosófica e a condição humana. O conhecimento e o método filosófico. A filosofia, a política e a ideologia. Áreas da filosofia: axiologia, lógica, epistemologia e ética. Bases filosóficas para a interpretação da realidade educacional. Bases epistemológicas para a interpretação da realidade educacional. Tendências, teorias e correntes educacionais no Brasil.

2. OBJETIVOS EDUCACIONAIS Analisar a educação a partir da ótica filosófica, levando em conta os autores e críticos da

educação ao longo da tradição filosófica. Correlacionar o processo educativo como processo de construção crítica, sublinhando a

filosofia como base de conhecimento e instrumental de análise da realidade. Debater as bases epistemológicas para a interpretação da realidade educacional.

4. PROCEDIMENTOS – RECURSOS – AVALIAÇÃO4.1 Procedimentos Didáticos:Aulas ministradas de maneira expositiva, fomentando a discussão e a participação, visando a construção dos conceitos a partir de problematizações, tendo como respaldo a tradição filosófica.4.2 Recursos:Bibliografia básica e complementar, textos selecionados para as aulas, exposição oral, uso de multimídia e lousa, trabalhos em grupos, etc.4.3 Avaliação:

Avaliação bimestral (6,0) Trabalhos (4,0)

5. BIBLIOGRAFIA5.1 Bibliografia Básica:ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 2002.ECO, Umberto & BONAZZI, Marisa. Mentiras que parecem verdades. São Paulo: Summus, 1980.GILES, Thomas Ranson. Filosofia da Educação. São Paulo: EPU, 1985.

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5.2 Bibliografia ComplementarARENDT, Hannah. A condição humana. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1995.BOSI, Alfredo et Al. Filosofia da Educação Brasileira. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988.CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1984.DEMO, Paulo. Desafios modernos da educação. Petrópolis: Vozes, 1993.FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.FREITAG, Bárbara. O individuo em formação. São Paulo: Cortez, 1994.GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. São Paulo: Cortez, 1983.GADOTTI, Moacir. Educação e poder: introdução à pedagogia do conflito. São Paulo: Cortez, 1980.GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986.LEFEVRE, Henri. Lógica formal, lógica dialética. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1983.LUCKESI, Cipriano C. Introdução à Filosofia: aprendendo a pensar. São Paulo. Cortez, 2000. 3ª edição.LUCKESI, Cipriano C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 6ª Ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1987.MENDES, Durmeval (coord). Filosofia da educação brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.NETTO, José Paulo & FALCÃO, Maria do Carmo. Cotidiano: conhecimento e crítica. São Paulo: Cortez, 1987.RIOS, Teresinha Azeredo. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 1993.SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo:Cortez, 1980.SEVERINO, Antonio J. Educação, Ideologia e Contra-ideologia. São Paulo: E.P.U., 2000.VICENTINI, José W. A nova ordem mundial. São Paulo: Ática, 1997.

PROFESSOR RESPONSÁVEL: José André de Azevedo

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PARTE I

FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA

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1. FILOSOFIA: CONSTRUINDO SUA NOÇÃO

1.1 FILOSOFIA: O QUE É? PARA QUE É?

1.1.1 Filosofia: “amor à sabedoria” e a busca do saber

Podemos, numa primeira vista, definir Filosofia como: pensar, questionar a realidade que está

ao nosso redor.

Filosofia é um esforço radical por recriar, na idade da razão, as mesmas interrogantes primeiras, primigênias, que a criança formula perante os enigmas da existência. (TRIAS, 1984, p. 17)

Viver sem filosofar é como ter os olhos fechados sem jamais fazer um esforço por abri-los; e o prazer de ver todas as coisas que nossa vista descobre não é comparável à satisfação que dá o conhecimento daquelas que se encontram pela filosofia. (DESCARTES, R. Carta prefácio aos “Princípios”)

Essa atitude de espanto, de impulso para compreender melhor, de perguntar, de questionar fundamentalmente, nos conduz ao exercício de filosofar. Isto é filosofar: perguntar, questionar, não parar diante do evidente e do simplesmente óbvio. Ir além, ir além da aparência fenomênica dos fatos. Ir além com a certeza de encontrar a verdade, a essência das coisas, o ser... A filosofia não teria espaço num mundo onde todas as coisas nos parecessem evidentes, onde nada nos causasse espanto, onde tudo fosse “muito natural”. Provavelmente não sofreríamos a angústia do desconhecido, mas também não sentiríamos o prazer de desbravar. Se o mistério nos assusta, nos amedronta, nos intimida muitas vezes, nos deixa ansiosos justamente pelo desconhecido de que está carregado, é ele também quem nos atrai, nos convida a ir além, nos estimula a descobrir, a desvendar, a conhecer. (RHEIN SHIRATO, 1987, p. 24)

1.1.2 Filosofia: consciência crítica

A Filosofia nos proporciona os seguintes hábitos:

Desconfiar do óbvio. Ter mais consciência das nossas palavras e ações. Colocar razões para o que pensamos, dizemos e fazemos. Discernir, julgar e avaliar os acontecimentos, as coisas e as idéias. Ter pensamento próprio, posições seguras sobre assuntos e acontecimentos. Buscar impreterivelmente a verdade.

O homem é, por natureza, curioso. Sente a necessidade de saber. Conhecer, simplesmente, causa-lhe uma satisfação, um prazer natural. Passeia, viaja, para ver; observa, interroga, para saber; informa-se dos homens e das coisas, ouve contar de bom grado História e histórias. Mas não se contenta em consignar os fatos, pede explicações deles. Tem o dom de admirar-se perante o imprevisto e em face do que não se coaduna com suas concepções. Nenhuma palavra lhe é mais familiar que a palavra “por quê?”. O menor acontecimento pode-se-lhe transformar-se num problema. Deve existir, na sua opinião, uma razão para todo ser, todo ato, toda situação, como também para o conjunto do universo. O homem se preocupa com a verdade. “Errar é humano”, bem o sabe. Mas pensa ser possível escapar ao erro. Cumpre proceder com prudência e discrição; não é racional, por exemplo, afirmar temerariamente; não devemos ser crédulos e confiar nas aparências; devemos desconfiar da primeira impressão e evitar deixarmo-nos cegar pelo interesse ou pela paixão. Somos capazes de um exame consciencioso e de uma apreciação imparcial. O “homo sapiens” sabe dar prova de espírito crítico. (RAEYMAEKER, 1973, p. 16)

Uma primeira resposta à pergunta “O que é a Filosofia?” poderia ser: a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceita-los sem antes havê-los investigado e compreendido.Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às cosias, sem maiores considerações”.

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A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às idéias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido.A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica.A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico. (CHAUÍ, 1995, p. 12)

1.1.3 Filosofia: preocupação pelas questões humanas mais fundamentais

Todos nós temos filosofado alguma vez. Fazíamos já desde pequenos. A filosofia não é, no fundo, nada de novo. Começa com algumas perguntas que se apresenta quando o mundo, que nos é familiar e cotidiano, de repente perde seu caráter de evidência e se nos converte em um problema. Normalmente nós vivemos em nosso mundo como em uma casa bem disposta e ordenada que conhecemos sem nenhuma dificuldade. Porém, quando essa familiaridade se nos apresenta problemática, encontramo-nos de improviso com a intempérie... Tudo, então, nos resulta problemático. Mencionemos algumas das perguntas desta índole; perguntas como as que se podem fazer as crianças, porém, que são familiares a cada um, porque cada um já as têm formulado: Por que existem as coisas? Que sentido tem o universo? Por que eu sou eu e não qualquer outro? Que há depois da morte? Sou eu livre e responsável do que faço e tenho que fazer assim? O que é a justiça? Em perguntas desse tipo tem lugar a origem de uma filosofia. (ANZENBACHER, 1984, p. 15-16)

Nasce aí o saber filosófico, dessa “admiração”, desse “assombro”, dessa experiência metafísica que engloba as demais. A “surpresa do ser” é que põe para toda e qualquer pessoa, um dia ou outro, perguntas como: Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? Que é tudo isso que nos cerca no mundo? Qual o meu lugar no universo? O que me distingue de tudo o mais, se há tanta coisa que me identifica com os outros seres? A existência humana é absurda ou tem sentido? Por que vivo? Por que morro? Por que estou aqui e não em outro planeta? Por que viver esta vida que não pedi para viver? Qual o fim desta minha viagem?Essa necessidade de vasculhar justificativa racional para as coisas e acontecimentos leva o ser humano ao ato de ponderar e pensar ou “pesar” idéias, todas as que lhe brotam na mente, bem aquilo que o verbo “pensar” significava originariamente: “pendurar” algo para lhe tomar o peso real.Passa-se, dessa maneira, da consciência ingênua para a consciência refletida, sobre o problema fundamental do Ser. É o saber filosófico repontando. É a vontade de ir ao fundo, de perscrutar tudo. Porque filosofar é interrogar sempre. Penosamente. Gratuitamente. Na procura de tudo e do tudo. (VANUCCHI, 2004, p. 27-28)

A Filosofia, assim, ocupa-se das perguntas “de fundo” da humanidade (vida e morte, homem

e universo, bem e mal, liberdade, justiça, etc.). Essas questões são essenciais e fundantes e

perpassam toda a história do pensamento e da vida humana; na realidade, as questões vitais do ser

humano são sempre as mesmas, mas elas se renovam e reaparecem em novas situações. Dessa

maneira, podemos afirmar que a Filosofia é sempre a mesma e, ao mesmo tempo, sempre nova.

Não espere da filosofia que resolva sua situação de “incômodo”. O que ela pode fazer é deixar você ainda mais inconformado. Mas ajudará você a perceber que o incômodo não é ruim, ao contrário, é o inconformismo que move o mundo, permite que cada um construa sua vida buscando seus próprios caminhos. (GALLO, 1997, p. 12)

Uma grande filosofia não é aquela que pronuncia juízos definitivos, que coloca uma verdade definitiva, mas aquela que produz uma inquietação, que dá lugar a um “abalo” na consciência. (Charles Péguy)

Em seu pequeno e brilhante livro “Introdução à Filosofia”, Jaspers insiste na idéia de que a essência da filosofia é a procura do saber e não sua posse. Todavia, ela “se trai a si mesma quando degenera em dogmatismo”, isto é, num saber posto em fórmula, definitivo, completo. Fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta (por exemplo: o que distingue o homem dos animais? Resposta: a alma espiritual. Nova pergunta: e o que é a alma?). Há, então, na pesquisa filosófica uma humildade autêntica que se opõe ao orgulhoso dogmatismo do fanático: o fanático está certo de possuir a

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verdade. Assim sendo,ele não tem mais necessidade de pesquisar e sucumbe à tentação de impor sua verdade a outrem. Acreditando estar com a verdade, ele não tem mais o cuidado de se tornar verdadeiro; a verdade é seu bem, sua propriedade, enquanto para o filósofo é uma exigência. No caso do fanático, a busca da verdade degradou-se na ilusão da posse de uma certeza. Ele se acredita o proprietário da certeza, ao passo que o filósofo esforça-se por ser peregrino da verdade. A humildade filosófica consiste em dizer que a verdade não pertence mais a mim que a ti, mas que ela está diante de nós. A consciência filosófica (...) é uma consciência inquieta, insatisfeita com o que possui, mas à procura de uma verdade para a qual se sente talhada. (HUISMAN, 1983, p. 24)

A Filosofia, assim, é antes esclarecimento e tomada de consciência das questões

fundamentais da humanidade do que um depósito de respostas e soluções definidas. É ela, a

Filosofia, a busca incessante da verdade, que sempre se renova.

1.1.4 Filosofia: busca dos sentidos e valores

Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia. (Albert Camus)

Todo esforço da consciência filosófica na busca do sentido das coisas tem, na verdade, a finalidade de compreender de maneira integrada o próprio sentido da existência do homem. Temos, então, de fato, uma nova pragmaticidade: o homem não consegue viver e existir apenas como um fato bruto; ele sente a necessidade inevitável de compreender sua própria existência. Portanto, o esforço despendido pela consciência no seu refletir filosófica não é só mero diletantismo intelectual, nem puro desvario ideológico... É antes a busca insistente do significado mais profundo da sua existência, sem dúvida alguma para torná-la mais adequada a si mesmo. (SEVERINO, 1992, p. 24-25)

A filosofia tem por objeto de reflexão os sentidos, os significados e os valores que dimensionam a norteiam a vida e a prática histórica humana. Nenhum indivíduo, nenhum povo, nenhum momento histórico vive e sobrevive sem um conjunto de valores que significam a sua forma de existência e sua ação. Não há como viver sem se perguntar pelo seu sentido; assim como não há como praticar qualquer ação sem que se tenha que perguntar pelo seu sentido próprio, pela sua finalidade. É claro que alguém poderá viver pelo senso comum, entranhado em seu inconsciente, sem se perguntar conscientemente pelo seu efetivo significado. Já falamos nisso, porém essa não é uma conduta filosófica, como já temos reiterado anteriormente. A filosofia e o exercício de filosofar implicam uma pergunta explícita e consciente pelo sentido e significado das coisas, da vida e da prática humana. (LUCKESI & SILVA, 1995, p. 87)

Em sua vida, o homem é aquele que é capaz de interpretar as coisas e acontecimentos e dar-

lhes sentido; e todo sentido dado torna-se, necessariamente, um valor para o homem, os quais

servem de orientação e direcionamento para a existência. Dessa maneira, constata-se que a filosofia

possui uma importância não somente teórica, mas também prática, visto ser ela geradora de sentido

e valores, tanto para as pessoas como para as sociedades.

A partir disso, constatamos que a filosofia nasce da vida real e sempre a ela se refere.

O estudo da filosofia é mais necessário para regular nossos costumes e nos conduzir na vida que o uso de nossos olhos para guiar nossos passos. (René Descartes)

O objetivo imediato e urgente da filosofia é precisamente traduzir os resultados da ciência em vida espiritual, em verdade para mim, que realize a idéia que tenho de mim e da minha existência no mundo e assim justifique minha vida agora e em toda hora. (Sören Kierkegaard)

1.1.5 Filosofia: o mundo precisa dela?

Mas como se põe o mundo em relação com a filosofia? Há cátedras de filosofia nas universidades. Atualmente, representam uma posição embaraçosa. Por força de tradição, a filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, objeto de desprezo. A opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a

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dizer e carece de qualquer utilidade prática. É nomeada em público, mas – existirá realmente? Sua existência se prova, quando menos, pelas medidas de defesa a que dá lugar.A oposição se traduz em fórmulas como: a filosofia é demasiado complexa; não a compreendo; está além de meu alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equivale a dizer: é inútil o interesse pelas questões fundamentais da vida; cabe abster-se de pensar no plano geral para mergulhar, através do trabalho consciencioso, num capítulo qualquer de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará ter “opiniões” e contentar-se com elas.A polêmica torna-se encarniçada. Um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente.Muitos políticos vêem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desaparecessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensinem, menos estarão os homens arriscados a se deixar pela luz da filosofia.Assim, a filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição. A auto-complacência burguesa, os convencionalismos, o hábito de considerar o bem-estar material como razão suficiente para a vida, o hábito de só apreciar a ciência em função de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de poder, a binomia dos políticos, o fanatismo das ideologias, a aspiração a um nome literário – tudo isso proclama a anti-filosofia. E os homens não percebem porque não se dão conta do que estão fazendo. E permanecem inconscientes de que a anti-filosofia é uma filosofia, embora pervertida, que se aprofundada, engendraria sua própria aniquilação. (JASPERS, 1965, p. 138)

Redija um texto tendo como parâmetro o texto de Jaspers e as questões abaixo: A filosofia é sempre amada? Quais são as razões que se colocam contra a filosofia? Por que o autor considera a filosofia “perigosa” para os indivíduos? Quem são os principais inimigos da filosofia? Por que motivo? Em que consiste a anti-filosofia?

A sociedade consumista, pragmática e tecnocrata atual criou escola tecnicista e autoritária. A Filosofia foi banida dos currículos, expurgada da escola. A ordem era produzir uma massa passiva, homens sem consciência, mão-de-obra dócil à implantação do concomitante capitalismo monopolista internacional. (NUNES, 1993, p. 17)

Aos menos avisados, aos alheios ao mundo e a si mesmo, à pergunta inicial “para que serve a filosofia?”, a resposta é simples: PARA NADA. Se para nós servir significa ter utilidade prática e imediata, propiciar meios lucrativos de desempenho social, facilitar a submissão e o poder, inibir a multiplicidade de respostas, investir no modelo de “homem bem sucedido”... então a filosofia felizmente não serve para nada.Lamentavelmente, num mundo pragmatista como o nosso, onde sucesso – dinheiro – destaque social, teimosamente são considerados como fatores de felicidade, como meios indispensáveis para a própria realização pessoal, servir significa cooperar o mais possível para a manutenção do sistema, para a reprodução dos velhos e “eficientes” esquemas.Entretanto, se tomarmos a palavra “servir” em seu sentido original, veremos que servir é estar a serviço. É preciso estar a serviço da felicidade do homem, do conhecimento de seus mais profundos anseios, dos elementos indispensáveis para a sua sobrevivência com dignidade e auto-estima. É preciso estar a serviço da harmonia do homem com o seu meio, harmonia que se consegue como produto de luta, de adaptação, de esforço, de transformação, de investimento no próprio homem. É preciso estar a serviço da cultura, do conhecimento, da liberdade de pensamento – expressão – ação. É preciso estar a serviço da verdade.,Então a filosofia serve: está a serviço, tem espaço garantido não pela escolha deliberada de quem a conhece, mas por ser indispensável, imprescindível, necessária para a humanização do homem. (RHEIM SHIRATO, 1987, p. 77)

1.1.6 Filosofia da experiência vital (senso comum) e Filosofia como ciência

Consciente ou inconscientemente, explícita ou implicitamente, quem vive possui uma filosofia, uma concepção de mundo. Esta concepção pode não ser manifesta. Geralmente, ela se aninha nas estruturas inconscientes da mente. De lá, ela comanda a vida, dirige-lhe os passos, norteia a vida. A vida concreta de todo homem é, assim, filosofia. O campônio, o operário, o técnico, o artista, o jovem, o velho, vivem todos de uma concepção de mundo. Agem e se comportam de acordo com uma

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significação inconsciente que emprestam à vida. Neste sentido, pois, pode-se dizer que todo homem é filósofo. Não podemos, porém, dizer que todo homem é filósofo no sentido usual da expressão. (LUCKESI & SILVA, 1995, p. 84)

Conforme o filósofo Chaim Perelman (1912-1984), podemos dizer: o senso comum consiste em uma série de crenças admitidas por um determinado grupo social e que seus membros acreditam serem compartilhadas por todos os homens.Muitas das concepções do senso comum de um povo ou de uma classe social transformaram-se em frases feitas ou em ditados populares, como, por exemplo: “Homem que é homem não chora”; “Lugar de mulher é na cozinha”; “Deus ajuda quem cedo madruga”; “Querer é poder”; “Filho de peixe, peixinho é”. Repetidas irrefletidamente no cotidiano, algumas dessas noções escondem idéias falsas, parciais ou preconceituosas. Outras, por outro lado, podem revelar uma profunda visão da vida, ao que chamamos “sabedoria popular”.Mas o que caracteriza basicamente as noções pertencentes ao senso comum não é a sua verdade ou falsidade. É uma falta de “fundamentação”. Isto é, as pessoas não sabem explica-la. Trata-se, portanto, de um conhecimento adquirido sem uma base crítica, precisa, coerente e sistemática (COTRIM, 1993, p. 48)

A intenção desse subcapítulo é apontar as diferenças entre “filosofia de vida” (senso comum)

e Filosofia (Filosofia vista como ciência). Antecipamos, assim, que filosofia da “experiência vital” é a

“filosofia de vida”, a filosofia comum de todo homem, pelo fato de ele ser racional e, por isso, possui

uma determinada visão da vida e do mundo. A fonte dessa filosofia é o ambiente social, a tradição, a

religião e outros fatores. No fundo, essa “filosofia” é pouco consciente, desorganizada e irrreflexa, o

que não quer dizer que seja irracional.O homem, diz-se, é naturalmente filósofo, “amigo da sabedoria”. E é verdade. Ávido de saber, não se contenta em viver o momento presente e aceitar passivamente as informações fornecidas pela experiência imediata, como fazem os animais. Seu olhar inquisidor quer conhecer o porquê das coisas, principalmente o porquê da própria vida.Mas, enquanto o homem comum, o homem da rua, levanta essas perguntas e enfrenta esses problemas de quando em quando, sem método e sem ordem, há pessoas que dedicam a essas investigações todo o seu tempo e todas suas energias e se propõem a obter uma solução conclusiva para todos os graves problemas que acicatam a mente humana, por meio de uma análise profunda e sistemática. A estas pessoas é que costumamos chamar de “filósofos”.Então, o que é propriamente a filosofia? É um conhecimento, uma forma de saber. Possui, como tal, uma esfera particular de competência sobre a qual busca adquirir informações válidas, rigorosas e ordenadas. (MONDIN, 1980, p. 5)

2. FILOSOFIA: DELIMITANDO SUA NOÇÃO

2.1 FILOSOFIA: ESCLARECENDO A ETIMOLOGIA

2.1.1 Filosofia: “amor pela sabedoria”

O nome de sábio, Fedro, me parece demasiado grande e só aplicável à divindade. Mais adequado seria a de “amigo da sabedoria”. (Sócrates)

A palavra “filosofia” procede do grego: o verbo “philein” significa “amar”; “sophia” designa antes de tudo qualquer tipo de capacidade ou habilidade, porém passa logo a especificar o saber, o conhecimento e de modo muito particular aquele saber superior que compreende a virtude e a arte de viver. Um “sophos” é, antes de tudo, aquele que é hábil em sua profissão e em sua vida, porém muito especificamente o “sábio”. Por tudo isto, é sólido traduzir-se como “amor à sabedoria” (ANZENBACHER, 1984, p. 16)

2.1.2 Sabedoria nas antigas culturas orientais

Nas culturas orientais e, portanto, anteriores à grega, sabedoria podia designar:

Arte de viver: conjunto de regras morais e sociais, com função didático-pedagógica.8

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Sábio: mestre educador das cortes. Gênero sapiencial: sentenças, provérbios, máximas, comparações. Sabedoria: uma “filosofia” popular, de conotação religiosa.

2.1.3 Sabedoria na cultura grega

Para os gregos, a ciência é a explicação de todas as coisas pelas suas causas. O mundo real é um “cosmos”, um todo ordenado; esta ordem é racional e pode ser compreendida pela inteligência humana; é uma ordem de causalidade, tão ajustada que a explicação de todo o acontecimento se encontra nas suas causas. Estes três princípios regem a ciência grega (RAEYMAEKER, 1973, p. 20)

Do outro lado do Mediterrâneo, na Grécia, surgia de um pequeno agrupamento humano uma outra importante cultura e que também elaborara todo um sistema teórico de interpretação do real e da existência do homem... O universo se explicava por um princípio puramente racional, por um “logos”; os homens, naquilo que lhes é específico, são assim por “participarem desse logos”. Cada homem responde individualmente por seu destino e por seu agir nesta terra, devendo, pois, adequar-se o mais possível às exigências do “logos”; agindo assim sempre racionalmente. (SEVERINO, 1992, p. 48)

A ânsia de entender racionalmente as coisas criou a um só tempo a Filosofia e a Ciência. “É necessário”, dizia Platão, “ir até onde nos leva a razão e o espírito” (A República, Livro III, 394). A razão levou os gregos a ver uma ordem, uma unidade, uma harmonia por detrás da multiplicidade caótica das coisas e dos acontecimentos.A realidade não era o que estava à nossa frente, mas, sim, o que a razão iria encontrar a dizer. Daí a busca das causas e dos princípios. Há uma citação de Eurípides, repetida por Vergílio, que reflete esta motivação intelectual dos helênicos: “feliz aquele que aprendeu a pesquisar as coisas”. (XAVIER TELES, 1985, p. 22)

Aqui, então, diferenciamos, segundo os gregos, os seguintes termos:

Ciência: racionalidade; é compreender o mundo pela razão, pela inteligência (e isso em oposição à explicação mitológica da realidade)

Logos do mundo: o mundo possui uma “razão” dentro de si; as causas das coisas estão nas próprias coisas e não no determinismo que os mitos e a religião grega apresentavam.

Logos do homem: é o instrumento para captar e compreender o “logos do mundo”.

Dessa maneira, ressaltamos que os gregos desenvolveram uma ciência (no sentido mais

etimológico da palavra: conhecimento) dos fatos (medicina, astronomia, matemática, etc.), mas,

sobretudo, uma ciência da profundidade e da análise da realidade (filosofia).

2.2 FILOSOFIA: UMA TENTATIVA DE DEFINIÇÃO

Após pesquisa prévia, redija um texto que contemple uma definição de Filosofia.

2.3 FILOSOFIA: FIXANDO SUA NOÇÃO

2.3.1 Filosofia é ciência

Afirma-se que Filosofia é ciência (mais uma vez devemos entender o conceito no seu sentido

etimológico e não no sentido positivista) porque apresenta três características: racionalidade e

criticidade, procedimentos metódicos, sistematicidade.

Podemos afirmar que a Filosofia é uma ciência especial, com características muito próprias, cujo caráter eminentemente especulativo, dá a ela um sentido de ver diferente das demais ciências, mas profundamente ligada a todas elas. (RHEIN SHIRATO, 1987, p. 31-32)

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A Filosofia, então, não é poesia nem uma simples meditação e muito menos um livre discurso.

Trata-se de um saber rigoroso, fundamentado, organizado, ou seja, é ciência.

2.3.1.1 Filosofia é ciência pela sua racionalidade e criticidade

A filosofia tem a pretensão de que todas as suas afirmações são racionais e que, por isso mesmo, podem entendê-las qualquer ser racional (qualquer homem) e ver o como e o porquê da lógica contundente que pretendem tais afirmações. (ANZENBACHER, 1984, p. 39)

O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de idéias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente. (CHAUÍ, 1995, p. 15)

Assim, a Filosofia utiliza-se da razão (como instrumento de compreensão da realidade) e de

procedimentos racionais (raciocínio lógico, argumentação, demonstração, etc.). Ela prescinde da

emoção e da fé para a leitura do real e, por isso, distingue-se da Arte e da Religião.

2.3.1.2 Filosofia é ciência pelos seus procedimentos metódicos

A Filosofia possui método próprio (pesquisar os métodos filosóficos) e os conhecimentos são

adquiridos segundo um plano consciente, seguem um “caminho previsto” (método).

2.3.1.3 A Filosofia é ciência pela sua sistematicidade

As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático. Que significa isso? Significa que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. (CHAUÍ, 1995, p. 15)

Ciência é, então, simplesmente um conjunto de conhecimentos que estão em relação mútua. Esse conjunto se apresenta como um todo, como um sistema. Assim, pois, na filosofia se trata de uma união sistemática de conhecimentos ou afirmações. (ANZENBACHER, 1984, p. 38)

Disso, concluímos que a Filosofia tende ao sistema (por sistema devemos entender a

ramificação interrelacionada e interdependente de conhecimentos e verdades), pois os

conhecimentos são organizados num conjunto unitário.

2.3.2 Filosofia é uma ciência da fundamentação

Como já foi afirmado, a Filosofia não é ciência no sentido positivista do termo, não é uma

ciência dos fatos (o que pertence às ciências experimentais), mas ciência dos fundamentos e da

fundamentação.

Ela é ciência dos fundamentos porque busca a razão última, os primeiros princípios das

coisas; porque tem por temática as questões fundamentais da humanidade, e porque se situa além

das ciências experimentais.

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2.3.2.1 Filosofia é ciência da fundamentação porque busca a razão última, os primeiros princípios das coisas

O objetivo da filosofia consiste em alcançar uma explicação fundamental da realidade, explicação que, então, será realmente fundamental, quando logra pôr em descoberto as motivações, razões ou causas últimas do real. Vista assim, a filosofia se manifesta como a “ciência dos fundamentos” (MANDRIONI, 1964, p. 225)

A filosofia é uma ciência fundamental porque investiga os fundamentos últimos, os fundamentos não empíricos...a ocupação filosófica do Ocidente começou com a questão da “arché” (palavra grega que significa “fundamento, princípio”). De modo definitivo, a filosofia sempre girou em torno desta questão. A filosofia é a ciência dos últimos fundamentos, condições e supostos. (ANZENBACHER, 1984, p. 38-39)

A Filosofia, com efeito, procura sempre resposta a perguntas sucessivas; objetivando atingir, por vias diversas, certas verdades que põem a necessidade de outras: daí o impulso inelutável e nunca plenamente satisfeito de penetrar, de camada em camada, na órbita da realidade, numa busca incessante de totalidade de sentido, na qual se situam o homem e o cosmos. Ora, quando atingimos uma verdade que os dá a razão de ser de todo um sistema particular de conhecimento e verificamos a impossibilidade de reduzir tal verdade a outras verdades mais simples e subordinantes, segundo certa perspectiva, dizemos que atingimos um princípio ou um pressuposto. (REALE, 1989, p. 4)

Assim, a Filosofia não para enquanto é possível ainda colocar questões e ela somente se

contenta com a evidência, isto é, com a última clareza racional.

2.3.2.2 Filosofia é ciência da fundamentação porque tem por temática as questões fundamentais da humanidade

Os assuntos da Filosofia são as questões “de fundo” do homem e da humanidade; problemas

“existenciais” que tocam o sentido da vida e de toda a realidade.

2.3.2.3 Filosofia é ciência da fundamentação porque se situa além das ciências experimentais-positivas

A Filosofia é aquele conhecimento especulativo ou analítico sobre a realidade como um todo ou a respeito de certos problemas que não caem sob a alçada das ciências, principalmente os do conhecimento e da ação. (XAVIER TELES, 1985, p. 53)

Se todos os problemas científicos estivessem resolvidos, as questões realmente humanas não seriam sequer tocadas. (Ludwig Wittgenstein)

O objeto das ciências experimentais são os fatos e os fenômenos; elas buscam descobrir as

relações constantes entre os fenômenos (leis) e têm por objetivo a aplicação (ciência = técnica).

Já a Filosofia trata de questões que não são tratadas pelas ciências, porque ultrapassam os

fatos e a experimentabilidade; ela busca o sentido total e último das coisas.

2.3.3 A Filosofia é uma ciência da universalidade

A Filosofia é a ciência da universalidade porque é um conhecimento totalizante, globalizante;

busca a totalidade e a unidade do saber; busca uma síntese intelectual. Ela é totalizante porque seu

campo é universal e porque busca a integração e a unidade dos conhecimentos.

2.3.3.1 Filosofia é ciência da universalidade porque seu campo é universal11

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A Filosofia pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode pensar a arte; pode pensar o próprio homem em sua vida cotidiana. Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica. A Filosofia incomoda porque questiona o modo de ser das pessoas, do mundo. Questiona as práticas política, científica, técnica, ética, econômica, cultural, artística. Nada há onde ela não se meta, não indague, não perturbe. (ARRUDA ARANHA & PIRES MARTINS, 1985, p. 69)

A filosofia é uma crítica universal que submete todas as opiniões, todas as imagens do mundo e qualquer exigência de sentido ao seu juízo como ciência racional. É uma crítica das ideologias, da religião, da ciência, da tecnologia e da sociedade. Combate todo dogmatismo acrítico, com o que adota uma função clarificadora na sociedade. (ANZENBACHER, 1984, p. 40)

As ciências experimentais têm uma limitação de campo e de objeto; já a Filosofia, possui um

campo ilimitado e pode tratar de qualquer assunto que envolva um questionamento racional.

2.3.3.2 Filosofia é ciência da universalidade porque busca a integração e a unidade dos conhecimentos

A Filosofia busca formar uma visão total, coerente e ordenada do homem, do mundo e de

toda realidade. Já as ciências experimentais são uma visão dos fatos num campo limitado. A

Filosofia busca uma “cosmovisão” e uma “globalização” das ciências.

Quando se afirma que a Filosofia é a ciência dos primeiros princípios, o que se quer dizer é que a Filosofia pretende elaborar uma redução conceitual progressiva, até atingir juízos com os quais se possa legitimar uma série de outros juízos integrados em um sistema de compreensão total. Assim, o sentido de universalidade revela-se inseparável da Filosofia. (REALE, 1989, p. 4)

3. FILOSOFIA: SUA ORIGEM HISTÓRICA

3.1 GRÉCIA: O BERÇO DA FILOSOFIA

A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego. (CHAUÍ, 1995, p. 20)

No tocante à origem “geográfica” da Filosofia, podemos assinalar os seguintes aspectos:

A cultura grega gerou a Filosofia propriamente dita, isto é, a ciência filosófica. Os filósofos chamados “pré-socráticos” (século VI a.C.) sãos os primeiros a pensar de

maneira sistemática a Filosofia. Nas culturas anteriores à civilização grega (chinesa, hindu, egípcia, etc.) houve elementos

filosóficos, mas estavam esses elementos em outros contextos (geralmente o contexto religioso)

A sabedoria cultivada em Israel (livros sapienciais), no Egito e em outras culturas antigas constituem uma sabedoria popular: experiência humana acumulada e transmitida através das gerações.

3.2 FILOSOFIA GREGA: CONTEXTO HISTÓRICO DE SEU NASCIMENTO

A civilização grega foi propícia para o surgimento da reflexão filosófica pelos seguintes

motivos:

3.2.1 A ausência de escritos religiosos

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Os povos das antigas civilizações orientais possuíam codificações de normas religiosas. A religião fornecia-lhes as explicações sobre os acontecimentos (nascimento, morte, família,

sofrimentos, etc.) e princípios e normas de vida. Os gregos não possuíam livros religiosos e a própria religião ocupava um lugar secundário na

cultura grega. Consequentemente, os gregos tinham de buscar explicações racionais para os

acontecimentos e usar da razão na procura de solução dos problemas humanas.

3.2.2 A sociedade democrática

As antigas culturas orientais eram, de modo geral, teocráticas: a vida social e individual era pré-determinada pela religião e pelas leis religiosas. Ainda havia a questão da classe sacerdotal, a qual representava o poder divino e revelado, portanto, sem questionamento.

A sociedade grega foi, no geral, democrática: o poder provinha do povo (não possuíam classe sacerdotal organizada). Consequentemente, a própria sociedade devia buscar soluções para seus problemas, criar normas e leis; tais soluções se travavam nas praças públicas (agorás), o que fez os gregos desenvolverem o discurso racional para as problemáticas da existência.

3.3 O MITO E A FILOSOFIA

A Filosofia originou-se do mito. (Aristóteles)

Do que as pesquisas antropológicas nos revelam, podemos saber que a forma mais ancestral de os homens buscarem com alguma sistematicidade a explicação, o sentido das coisas, foi o mito. O mito não é algo absurdo, irracional, pré-lógico, como se diz muitas vezes. Ao contrário, ele é a expressão de uma primeira tentativa da consciência humana – querendo se libertar cada vez mais das incumbências quase que instintivas de manutenção de vida – para “colocar ordem no mundo”. Afinal, o mundo lhe parecia um tanto quanto caótico, sufocando o homem com sua magnitude, com sua bruta objetividade. Era preciso que tanta heterogeneidade, tanta multiplicidade, tanta “desordem” tivessem alguma ordenação. O mito é a primeira construção teórico-subjetiva do homem para pôr ordem nessa situação de aparente desordem.O mito assume a forma de uma narrativa imaginária pela qual as várias culturas procuraram explicar a origem do universo, seu funcionamento, a origem dos homens, o fundamento de seus costumes, apelando para entidades sobrenaturais, superiores aos homens, a forças e poderes misteriosos que definiram o seu destino.Hoje, para nós, os mitos dos povos arcaicos nos parecem à primeira vista estórias lendárias e fantasiosas, sem muito nexo. Mas, na verdade, para aqueles povos, eles representavam uma explicação valiosa e satisfatória; satisfaziam a exigência que começavam a ter de compreender o sentido de sua própria existência. (SEVERINO, 1992, p. 68)

Assim, podemos afirmar que o mito é uma narrativa fantasiosa que contém um núcleo com

pretensão “explicativa” de uma realidade. E eles são divididos em:

Mitos teogônicos: aqueles que tratam dos princípios e das origens dos deuses e/ou forças misteriosas.

Mitos cosmogônicos: tratam da origem do mundo e das coisas. Mitos antropológicos: explicação da condição humana.

3.3.1 Passagem do mito à Filosofia

O mito possui um “embrião filosófico”: a sua busca por explicações da realidade; a essa busca

pelas explicações chamamos de “núcleo explicativo”. Entretanto, com os gregos, essa explicação

busca outras causas e haverá uma substituição dos “agentes fantasiosos” (deuses, heróis,

teogonias, cosmogonias, etc.) por causas racionais. Em outras palavras: há a mudança do

instrumento de questionamento: a imaginação cede lugar à razão.

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Na tentativa de explicar o natural, o terreno, a própria tragédia da vida humana com seus conflitos, surge a mitologia como aquela que entre ídolos, heróis, deuses e semi-deuses, reflete em mitos e alegorias o próprio trágico da vida humana. Seus personagens desempenham papéis que no pano de fundo nada mais são do que as intrincadas emoções humanas, o conflito entre a autodeterminação, a possibilidade de escolha e a idéia de um destino que previamente tudo marcou, tudo decidiu. A fatalidade, o trágico da mitologia nada mais são do que o código encontrado pelo grego para expressar a nossa própria condição de ser humano. O sobrenatural é apenas o reflexo do natural. Os deuses, semi-deuses e heróis do Olimpo representam a força e ao mesmo tempo a impotência do homem na terra, quando, apesar de livres para decidir, são enredados pelo destino, se transformam em objetos da fatalidade.Do pensamento mítico (mitológico) para o filosófico foi, para o grego, um passo relativamente pequeno. A mola propulsora é a mesma: perguntar, tentar entender, explicar o grande mistério que é o universo, o cosmos (macro e micro). Apenas a resposta que mudou de plano: saiu do Olimpo e veio para a terra. A mitologia também foi tentativa de explicação do universo, também demonstra “atitude de espanto do homem”, só que ainda carece de espírito filosófico, pois desloca o homem de seu próprio eixo no momento em que busca respostas fora do espaço humano. Mas foi um início que, tendo continuidade, deflagrou-se no aparecimento da filosofia enquanto tal. (RHEIN SHIRATO, 1987, p. 54-55)

3.4 OS ALVORES DA FILOSOFIA

A partir do século VI a.C., os principais centros da cultura helênica eram, além da própria Grécia, as ilhas do mar Egeu, a Ásia Menor, a Sicília e a Itália Meridional. É nesta época que se inicia o pensamento filosófico propriamente dito, é quando surgem os primeiros filósofos que procurarão apresentar sistemas coerentes e completos para a explicação do universo. É quando o mito deixa de ser importante. (NIELSEN NETO, 1985, p. 102)

A história da filosofia grega é geralmente dividida, tomando-se a figura de Sócrates como ponto de referência, em três períodos ou épocas. O primeiro, pré-socrático, também chamado cosmológico, é o período de formação. O segundo, socrático ou antropológico, que coincide com o apogeu do poderio econômico e militar de Atenas, é o período da maturidade e do esplendor. O terceiro, finalmente, que corresponde à decadência da polis e à desintegração do império macedônico, é o de declínio, ao longo do qual o pensamento grego é incorporado à cultura romana e à apologética cristã. (COUBISIER, 1983, p. 43)

Abaixo temos um brevíssimo resumo, em forma de tópicos, da estruturação da Filosofia:

A primeira filosofia grega (pré-socráticos) é cosmológica, ou seja, busca os fundamentos do mundo, do qual todas as coisas são compostas.

Em seguida (com Heráclito e Parmênides) a filosofia se torna metafísica: discussão sobre o uno e o múltiplo, sobre o ser e o devir.

Com Sócrates, a filosofia se volta para o reto viver (Conhece-te a ti mesmo). Com Platão e Aristóteles a filosofia atinge o seu apogeu e se torna universalista.

Já no século IV a.C. a filosofia grega, com Platão e Aristóteles, elabora as formas superiores da racionalidade, matrizes de todo o pensamento posterior. A partir dos gregos, a filosofia ocidental é um processo progressivo, que se prolonga, através de Roma e do Cristianismo, até o mundo moderno e contemporâneo. Heráclito, por exemplo, não é um pensador perdido no passado remoto, cujos aforismos teriam um interesse puramente histórico ou arqueológico. Na condição de precursor da dialética, está presente na filosofia moderna e Hegel nos diz que não há um só de seus aforismas que ele não tenha recuperado na “Ciência da Lógica”. E, assim como está presente na obra de Hegel, assim também está presente na obra de Marx, que nos diz não ter feito outra coisa senão prosseguir numa tarefa começada por Heráclito e Aristóteles. (CORBESIER, 1983, p. 34)

Resumimos, então, essa problemática com as seguintes ponderações:

A filosofia é a contribuição mais importante da cultura grega para a história da humanidade. Seus elementos exerceram influência muito grande nos séculos afora.

A filosofia grega exerceu influência direta no pensamento filosófico e teológico cristão da Idade Média; visão cristã do mundo “encarnada” na filosofia grega; primeiro o platonismo, depois (a partir do século XII) o aristotelismo.

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Os temas e elementos da filosofia grega continuam presentes na Idade Moderna e Contemporânea.

4. EXERCÍCIOS

QUESTÃO 01 (UFMG 2005)Leia este trecho:

... a filosofia não é a revelação feita ao ignorante por quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais que se fazem cúmplices em sua mútua submissão à força da razão e não à razão da força. (SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. Tradução de Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p.2)

A partir da leitura desse trecho e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto destacando duas características da atitude filosófica.

QUESTÃO 02:Leia o texto abaixo e responda:

Eu etiqueta (Carlos Drummond de Andrade)

Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório. Um nome...estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nessa vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos que nunca experimentei, mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim mesmo, ser pensante sentinte e solitário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio. Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente). E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares, festas, praias, pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais. Tão minhas que no rosto se espelhavam. E cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante, mas objeto, que se oferece como signo dos outros. Objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.

a) Qual a crítica feita pelo autor?b) Que aspectos filosóficos o texto levanta? Explicar cada um dos aspectos levantados. (07)

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QUESTÃO 03 (UEM 2009) Dizer que as indagações filosóficas são sistemáticas significa dizer que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2008, p. 21). Assinale o que for correto.

01) A concepção de mundo de um povo, de uma cultura, de uma civilização com seu conjunto de ideias, de valores e de práticas pelas quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma deve ser considerada como filosofia.02) Pela fé, a religião aceita princípios indemonstráveis e até mesmo aqueles que podem ser considerados irracionais pelo pensamento, enquanto a filosofia não admite indemonstrabilidade e irracionalidade de coisa alguma. Pelo contrário, o pensamento filosófico procura explicar e compreender mesmo o que parece ser irracional e inquestionável.04) Como fundamento teórico e crítico, a filosofia ocupa-se com os princípios, as causas e as condições do conhecimento que pretende ser racional e verdadeiro, com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, religiosos, artísticos e culturais.08) A filosofia é útil, pois permite superar, pela análise e pela reflexão crítica, a ingenuidade e os preconceitos do senso comum e oferece a possibilidade de libertar o homem das ideias despóticas que o subjugam a um poder dominante e ilegítimo.16) A filosofia é exclusivamente teórica, isto é, contemplativa, por ser incapaz de incorporar, nos seus procedimentos metodológicos, a observação e a experimentação.

Total: _________

QUESTÃO 04 (UEM 2009) O valor e a utilidade da filosofia têm sido, não raras vezes, postos sob suspeita. Uma visão acerca do filósofo é que ele divaga e perde-se em reflexões sobre questões abstratas que nada têm a ver com o cotidiano das pessoas. Em relação à natureza e à finalidade da filosofia, assinale o que for correto.

01) A filosofia é, em termos gerais, um esforço intelectual para se interpretar o mundo e os eventos que nele se passam, compreender o próprio homem e iluminar o agir que do homem se espera.02) O termo filosofia foi utilizado durante vários séculos como nome geral para diferentes ramos do saber, como matemática, geometria, astronomia; isso muda a partir do século XVII com a revolução metodológica iniciada por Galileu e com o estabelecimento das ciências particulares pela delimitação de campos específicos de pesquisa.04) Refletir sobre os valores, sobre os conceitos como liberdade e virtude faz parte da atividade do filósofo. Nessa medida, a filosofia apresenta-se como uma sabedoria prática que auxilia na orientação da vida moral e política, proporcionando o bem viver.08) É consenso entre os cientistas que, porque na investigação filosófica o filósofo não verifica suas hipóteses, baseando-se na observação empírica, a filosofia não contribui para o progresso do conhecimento.16) A história da filosofia constitui-se de teorias que se contradizem. Os filósofos discordam de tudo e uns dos outros, de modo que o pensamento crítico próprio da filosofia consiste em pôr em dúvida toda afirmação, jamais chegando a conclusões.

Total: _________QUESTÃO 05 (UEM 2009) Na Grécia arcaica, a geração da ordem do mundo é apresentada por mitos que narram a genealogia e a ação de seres sobrenaturais. A filosofia, com a escola jônica, caracteriza-se por explicar a origem do cosmos, recorrendo a elementos ou a processos encontrados na natureza. Assinale o que for correto.

01) O mito é incapaz de instituir uma realidade social, pois seu caráter fantasioso não possui credibilidade alguma para seus ouvintes.

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02) A transformação de uma representação dominantemente mítica do mundo para uma concepção filosófica expressa, entre os séculos VIII e VI a. C., na antiga Grécia, uma mudança estrutural da sociedade.04) Os filósofos da escola jônica realizaram uma ruptura definitiva entre a mitologia e a filosofia; depois deles, não é possível encontrar, no pensamento filosófico, presença alguma de mitos.08) O mito de Édipo, encontrado na tragédia de Sófocles, será aproveitado por Sigmund Freud para explicar o complexo de Édipo como causa de determinadas neuroses.16) Homero foi o primeiro historiador grego. Na Ilíada e na Odisseia, descreve o comportamento de homens heroicos cujas ações não possuem mais componente mitológico algum.

Total: ______

PARTE II

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FILOSOFIA E CULTURA

O ser humano, agindo sobre o seu meio, transformando a natureza, cria um mundo próprio e

exclusivo: o mundo da cultura, pois o homem é, essencialmente, um ser cultural.

Por cultura entendemos, de modo geral, a produção do espírito humano em qualquer

dimensão (intelectual, emocional, prático, etc.). Os ramos da cultura humana são: Ciência, Arte,

Religião e Filosofia.

Nessa parte II, então, queremos estabelecer as relações existentes entre Filosofia e Ciência,

Filosofia e Religião e Filosofia e Arte.

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01. FILOSOFIA E CIÊNCIA

1.1 ERA MODERNA: A ERA DAS CIÊNCIAS

Para compreendermos a ciência em si, devemos entendê-la a partir de uma perspectiva

histórica: a era Moderna. Vejamos algumas considerações:

A ciência teve origem no início da Era Moderna (século XVI). Os fundadores da ciência moderna são: Bacon, Copérnico, Galileu e Newton. Eles fazem parte do movimento “Revolução Científica”.

Na Antiguidade houve pesquisas científicas ou elementos de ciências, mas eles surgiam esporadicamente, mais como resultado da ação prática do homem sobre a natureza.

No tocante ao desenvolvimento científico na Antiguidade, merecem destaques as culturas egípcia e grega.

Os gregos desenvolveram estudos científicos em várias áreas: Matemática (Pitágoras, Euclides, etc.), Astronomia (Ptolomeu), Física (Arquimedes), Medicina (Hipócrates). Mas os gregos privilegiaram a Filosofia.

A Idade Média representa uma interrupção no desenvolvimento científico; praticamente nada foi criado no que se refere à pesquisa da natureza. Para os medievais, as duas grandes ciências eram a Teologia e a Filosofia (Philosophia ancilla Theologiae). A isso se somavam as artes, a música e a poesia.

No início da Idade Moderna (Renascimento – século XVI) ocorre uma série de transformações, que favorecem a retomada do desenvolvimento científico. O principal fator foi a redescoberta da cultura grega. A mudança cultural ocorre no sentido do retorno à razão e no retorno à natureza: a razão aplicada à natureza.

O progresso cada vez mais acelerado das ciências deveu-se, sobretudo, ao desenvolvimento do método cientifico ou método experimental (Bacon, Galileu, Newton).

A metodologia moderna apóia-se, sobretudo, em dois pilares: Matemática e experimentação. A matemática é a linguagem da ciência moderna, a linguagem de suas representações e seus

conceitos; a ciência moderna perfez a “redução quantitativa da realidade”. A matemática é a linguagem de precisão, instrumento principal da ciência.

A ciência está escrita neste imenso livro que continuamente está aberto diante de nossos olhos (estou falando do universo), mas que não se pode entender os caracteres em que está escrito. Ele está escrito em linguagem matemática e seus caracteres são círculos, triângulos e outras figuras geométricas, meios sem os quais é impossível entender humanamente suas palavras: sem tais meios, vagamos inutilmente por um escuro labirinto. (Galileu Galilei)

O real da ciência é o que se pode medir. (Max Planck)

O outro pilar da ciência moderna é a experimentação. Experimentação é a reprodução de um fenômeno para constatar a sua regularidade. A experimentação torna-se para a ciência moderna o único critério de verdade e certeza objetiva.

Foi preciso fazer uma seleção entre as representações possíveis do mundo para considerar apenas as representações matematizáveis. Surge, então, a Matemática como linguagem das representações científicas, como a forma de linguagem poética, onde cada expressão possui ao mesmo tempo múltiplos sentidos. A linguagem matemática, como sabemos, é a linguagem das relações quantificáveis entre grandezas, e cada uma das suas expressões possui um, e apenas um sentido. Para traduzir o mundo em linguagem matemática, o meio mais adequado é através de medidas. E só se pode medir aqueles aspectos da realidade que são quantificáveis, como, por exemplo, comprimento, largura, peso, etc. Aqueles outros aspectos, chamados qualitativos, como cores, cheiros, gosto, sensações em geral, por pertencerem à esfera privada de cada indivíduo, muito dificilmente podem ser atribuídos univocamente à realidade do mundo exterior. Os aspectos quantitativos, ao contrário, podem ser medidos, isto é, comparados com um padrão publicamente convencionado, por exemplo, um metro, um quilograma, etc. Nesse caso, torna-se necessária uma experiência corpórea com os objetos, para poder medi-los, descrevendo-os matematicamente. (CUNHA, 1992, p. 90)

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Os pioneiros da Física Moderna (séculos XVI e XVII) foram: Copérnico, Galileu, Kepler (na área de Astronomia) e Galileu e Newton (na área da Física Mecânica).

No século XVII desenvolveu-se a Química (Boyle e Lavoisier foram seus principais propulsores).

Na passagem do século XVII ao século XIX afirmaram as ciências biológicas (Bichat, Gall, Lineu, Bernard, Darwin).

No século XIX aparecem as chamadas “ciências humanas” (Psicologia, Sociologia, Pedagogia). São ciências que têm por objeto algum aspecto determinado da realidade humana.

1.2 O CONHECIMENTO CIENTÍFICO

1.2.1 Conhecimento pré-científico (senso comum)

O modo de conhecer e agir sobre o meio de forma espontânea e irreflexa chamamos de

“senso comum” ou conhecimento pré-científico. O senso comum é o conjunto de conhecimentos

espontâneos, surgidos pela interação com o meio, adquiridos pela experiência de vida.

Conhecimento vulgar é o conhecimento que nos fornece a maior parte das noções de que nos valemos em nossa existência cotidiana. O conhecimento científico ocupa campo muito menos de nosso viver comum. Grande parte de nossa vida se realiza somente graças ao conhecimento comum. Conhecimento vulgar não significa conhecimento errado ou errôneo, pois pode ser conhecimento autêntico; significa apenas conhecimento não verificado, não dotado de certeza. Que caracteriza o conhecimento vulgar? É um conhecimento que vamos adquirindo à medida que as circunstâncias o vão ditando, nos limites dos casos isolados... É um conhecimento fortuito de fatos, sem procura deliberada dos nexos essenciais que ligam a experiência...; é um conhecimento que se processa sem estabelecer nexos de semelhança ou de constância entre os fatos, para abrangê-los em uma explicação unitária, em suas relações necessárias. (REALE, 1989, p. 42)

1.2.2 Conhecimento científico

Quando um conhecimento se torna mais cuidadoso, mais reflexo, ele se torna científico. A

ciência seria, então, o aperfeiçoamento do conhecimento comum. Acrescentar uma dose maior de

inteligência no lugar da fantasia. Maior cuidado na observação, ceticismo diante das aparências,

maior criatividade na procura das explicações: eis alguns procedimentos que transformaram o

conhecimento comum em conhecimento científico.

Como é que se processa o trabalho científico? O trabalho científico é sempre de cunho ordenatório, realizando uma ordem ou uma classificação e, necessária e concomitantemente, uma síntese, buscando os nexos ou laços que unem os fatos. O conhecimento científico, portanto, não conhecimento do particular em si, destacado, como algo que se não situe numa ordem de realidades ou de atos, mas conhecimento do geral, ou do particular em seu sentido de generalidade, ou em sua essencialidade categorial. Não é conhecimento fortuito, casual, mas, ao contrário, é um conhecimento metódico. É o método que faz a ciência. Conhecimento científico é aquele que obedece a um processo ordenatório da razão, garantindo-nos certa margem de segurança quanto aos resultados, a coerência unitária de seus juízos e a sua adequação ao real.O conhecimento vulgar pode ser certo – e muitas vezes o é – mas não possui a certeza da certeza, por não subordinar a verificação racional, ordenada, metódica.O conhecimento científico, ao contrário, é aquele que verifica os próprios resultados, pela ordenação crítica de seu processo. Não vamos, por hora, discorrer sobre os métodos, nem tratar dos diferentes processos do conhecimento científico, limitando-nos a notar que este não pode prescindir da exigência metódica.O conhecimento vulgar é conhecimento casual, de casos; o conhecimento científico é conhecimento metódico e, em outro sentido, conhecimento casual. (REALE, 1989, p. 43)

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1.2.3 Ciência do ponto de vista formal

A ciência é um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos e sistematicamente organizados.

Ao analisarmos a ciência a partir de sua perspectiva formal, devemos elencar os seguintes

pontos:

Método: palavra de origem grega (metá = com; hodós = caminho), designa um conjuntos de procedimentos em sucessão (etapas), previamente planejados, em vista de um fim previsto.

Sistema: é a ordenação dos conhecimentos num todo integrado e unitário.

Fazemos a ciência com fatos, assim como fazemos uma casa com pedras; mas a acumulação de fatos não é ciência, assim como um monte de pedras não é uma casa. (H. Poincaré)

1.2.4 Método experimental

O método científico é uma técnica ou modo de proceder pelo qual o cientista adquire, de maneira segura, certos tipos de conhecimento. É uma sucessão de passos ou operações que vão desde a formulação de um problema (hipótese) até a incorporação, no patrimônio científico, do novo conhecimento. Estes passos ou operações podem ser escalonados da seguinte maneira:1. Observação rigorosa.2. Hipótese ou formulação do problema.3. Tentativa de obtenção de um modelo.4. Planejamento da verificação.5. Submissão do modelo ou da hipótese a testes críticos – experimentação.6. Comprovação dos resultados obtidos.7. Comunicação dos resultados obtidos (dá-se a passagem da atividade para uma linguagem).(XAVIER TELES, 1985, p. 63)

É importante ressaltar que a comunicação de resultados geralmente se dá sob a forma de

leis, teorias ou hipóteses.

1.2.5 Classificação das ciências

As ciências são classificadas hoje da seguinte forma:Ciências formais: ciências matemáticas ou lógico-matemáticas (aritmética, geometria, álgebra, trigonometria, lógica, física pura, astronomia pura, etc.).Ciências naturais: física, biologia, geologia, astronomia, geografia, física, paleontologia, etc.Ciências humanas ou sociais: psicologia, sociologia, geografia humana, economia, lingüística, arqueologia, história, etc.Ciências aplicadas: todas as ciências que conduzem à invenção da tecnologias para intervir na natureza, na vida humana e nas sociedades, como, por exemplo, direito, engenharia, medicina, arquitetura, informática, etc.Cada uma das ciências subdivide-se em ramos específicos, com nova delimitação do objeto e do método de investigação. Assim, por exemplo, a física subdivide-se em mecânica, acústica, óptica, etc.; a biologia em botânica, zoologia, fisiologia, genética, etc.; a psicologia subdivide-se em psicologia do comportamento, do desenvolvimento, psicologia clínica, psicologia social, etc. E assim sucessivamente, para cada uma das ciências. Por sua vez, os próprios ramos de cada ciência subdividem-se em disciplinas cada vez mais específicas, à medida que seus objetos conduzem a pesquisas cada vez mais detalhadas e especializadas. (CHAUÍ, 1995, p. 260-261)

1.3 FILOSOFIA E CIÊNCIA: DISTINÇÃO

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1.4 RELAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E CIÊNCIA

De modo geral, há três modos de se fazer Filosofia e, ao mesmo tempo, três modos de

entender a relação entre Filosofia e Ciências: a Filosofia desconsidera as ciências, a Filosofia se

identifica com as ciências e Filosofia e ciências devem estar em mútua referência. Vejamos uma a

uma:

1.4.1 A Filosofia desconsidera as ciências

É uma atitude de isolamento; a Filosofia se isola das ciências, não levando em conta a

problemática científica. A Filosofia seria, aqui, a “ciência do espírito”, enquanto as ciências seriam

“ciências da natureza”.

1.4.2 A Filosofia se identifica com as ciências

É uma posição que considera que a Filosofia não tem conteúdo próprio e que todo o seu

verdadeiro conteúdo está nas ciências. Tal posição é típica de alguns círculos ligados ao Positivismo

(século XIX) e Neopositivismo (século XX). Essa posição, na realidade, propõe uma identificação

total da Filosofia com as ciências (Filosofia = Ciência).

O fundamento dessa posição positivista está na afirmação de que o conhecimento científico é

o único válido e legítimo e que todo assunto ou pesquisa fora dessa alçada, é falso e vazio.

Segundo Comte, a tarefa da filosofia é classificar as ciências, determinar os seus limites, julgar os progressos. A função da filosofia não é conhecer este ou aquele objeto particular (não é uma função cognitiva), mas dirigir as ciências em suas pesquisas. A sua função é normativa. (MONDIN, 1987c, p. 116)

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Ciência Filosofia ____________ Campo realidade empírica realidade meta-empírica Objeto fenômenos, fatos sentidos e valores____ Método experimental crítico-reflexivo______ Critério de Verdade experimentação evidência da razão___ Apoio matemática lógica______________ Termo leis, teorias cosmovisão, sistema__ Abrangência particularidade universalidade______ Caráter utilitário vivencial

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Para o neopositivismo contemporâneo, para o chamado Círculo de Viena, assim como para a Escola Analítica de Cambridge e todas as suas derivações, a Filosofia não é senão uma teoria metodológico-linguística das ciências, uma análise rigorosa da significação dos enunciados das ciências e de sua verificabilidade, visando, segundo alguns, purifica-las de “pseudo-problemas” (REALE, 1989, p. 12)

1.4.3 Filosofia e Ciências devem estar em mútua referência

A Filosofia não se identifica com ciências: ela tem assuntos próprios que não são da

competência das ciências. No entanto, a Filosofia deve estar em estreita interrelação (ou diálogo)

com as ciências (oposição ao primeiro posicionamento).

Existem na época contemporânea – época de extraordinário desenvolvimento científico –

entrecruzamentos, interferências e implicações recíprocas entre a ciência e a Filosofia. Tanto as

ciências não podem substituir a Filosofia, como a Filosofia não pode dispensar as ciências. As

ciências geram questões filosóficas e a Filosofia deve estar em referência contínua às ciências.

Assim, uma cosmovisão – exigência dos momentos hodiernos – deve ser, ao mesmo tempo,

científica e filosófica. A ciência gera questionamentos que não são científicos e que ela mesma não

pode resolver.

Dessa maneira, o saber científico é um saber operativo e utilitário. As ciências e a tecnologia

são um meio para fins da humanidade. Mas estes fins a ciência não está capacitada a propor (e aqui

entra em cena a Filosofia).

Mesmo se todos os problemas científicos estivessem solucionados, as questões verdadeiramente humanas não seriam sequer tocadas. (L. Wittgenstein)

A Filosofia, então, tem uma função fundamentadora e crítica com relação às ciências, como

bem salienta o texto A função da Filosofia:

Uma das funções da filosofia é analisar os fundamentos da ciência. O próprio cientista já está, na verdade, colocando questões propriamente filosóficas quando se pergunta em que consiste o conhecimento científico, qual o seu alcance, qual a validade do método que utiliza e qual é sua responsabilidade no que se refere às consequências das descobertas. Por isso, é importante que o cientista se disponha a filosofar, a fim de investigar os pressupostos e as implicações do seu saber.Além disso, a filosofia busca recuperar a visão da totalidade, perdida diante da multiplicação das ciências particulares e da valorização do mundo dos “especialistas”. É a filosofia que, diante do saber e do poder, avalia se estes estão a serviço do homem ou contra ele, isto é, se servem para seu crescimento espiritual ou se o degradam, se contribuem para a liberdade ou para a dominação.Assim, é preciso questionar a ideologia do progresso que justifica as ilusões e preconceitos do homem “civilizado” por este se julgar superior a qualquer outro. Não é em nome do progresso que as tribos indígenas têm sido sistematicamente expulsas dos seus territórios? E não seria o caso de perguntar quais são os valores do homem “urbano e civilizado” que é individualista, sofre de solidão e tem sido vítima dos descontroles do progresso, como a poluição ambiental?Diante de tais questões, não há como sustentar a neutralidade da ciência. A bomba atômica não pode ser considerada apenas como resultado do sabe sobre a energia atômica, nem como simples técnica de produzir explosão. Trata-se de um saber e de uma técnica que dizem respeito à vida e à morte de seres humanos.Como tal, cabe ao cientista a responsabilidade social de indagar a respeito dos fins a que se destinam suas descobertas. E não é possível alegar isenção, uma vez que a produção científica não se realiza fora de um determinado contexto social e político, cujos objetivos a serem alcançados estão claramente definidos. As altas cifras necessárias ao encaminhamento das pesquisas supõem o apoio

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financeiro das instituições públicas e privadas, que evidentemente subvencionam os trabalhos que mais lhes interessam. Pode-se falar que, por muito tempo, houve uma “indústria da guerra”, alimentando a “corrida armamentista” e exigindo o constante desenvolvimento da ciência e tecnologia no campo militar.O papel da filosofia consiste, portanto, em analisar as condições em que se realizam as pesquisas científicas, investigar os fins e as prioridades a que a ciência se propõe, bem como avaliar as consequências das técnicas utilizadas.Resta lembrar que, no desempenho desse papel, o filósofo não tem respostas prontas, nem um saber acabado. Não caberia ao filósofo nortear, de forma onipotente, os rumos da ciência. A filosofia deve caminhar ao lado dos cientistas e técnicos a fim de que a abordagem específica que ela é capaz de fazer os auxilie a não perder de vista que a ciência e a técnica são apenas meios e devem estar a serviço da humanidade. (ARRUDA ARANHA, & PIRES MARTINS, 1992, p. 101-102)

2. FILOSOFIA E RELIGIÃO

2.1 O QUE É RELIGIÃO? O FENÔMENO RELIGIOSO

Religião é a vinculação existencial do homem a um supremo sentido-fundamento (Deus, Absoluto, Santo). (Karl Rahner)

Religião é a relação pessoal com o Mistério (Transcendente, Sobrenatural, Absoluto, Deus)

que se revela.

A religião é o ópio do povo. (Karl Marx)

De modo geral, a religião inclui três elementos:

2.1.1 RevelaçãoToda religião fundamenta-se numa Revelação, a qual significa a “abertura de si mesmo” do

Transcendente.

2.1.2 FéA fé é a atitude religiosa propriamente dita: o reconhecimento e a aceitação da Revelação ou

do Sagrado que se revela e se entrega.

2.1.3 Doutrina ReligiosaTambém poderíamos chamar de “estrutura religiosa”. Trata-se do conteúdo objetivo da fé; é o

elemento conceitual ligado à fé; é aquilo que se diz naquilo que se crê.

A doutrina religiosa envolve elementos teóricos (concepções de Deus, do mundo, do homem,

da história; é o “dogma” no qual um indivíduo é iniciado na fé) e elementos práticos (culto e moral).

Subjetivamente, a religião é a atitude pela qual a criatura humana se orienta para o Outro divino; objetivamente, o conjunto de noções, normas e ritos pelos quais nos ligamos a esse Outro. (VANUCCHI, 2004, p. 32)

2.2 A FUNÇÃO DA RELIGIÃO

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A passagem do sagrado à religião determina as finalidades principais da experiência religiosa e da instituição social religiosa. Dentre essas finalidades, destacamos:

Proteger os seres humanos contra o medo da Natureza, nela encontrando forças benéficas, contrapostas às maléficas e destruidoras.

Dar aos humanos um acesso à verdade do mundo, encontrando explicações para a origem, a forma, a vida e a morte de todos os seres e dos próprios humanos.

Oferecer aos humanos a esperança de vida após a morte, seja sob a forma de reencarnação perene, seja sob a forma de reencarnação purificadora, seja sob a forma de imortalidade individual, que permite o retorno do homem ao convívio direto com a divindade, seja sob a forma de fusão do espírito do morto no seio da divindade. As religiões da salvação, tanto as de tipo judaico-cristão quanto as de tipo oriental, prometem aos seres humanos liberta-los da pena e da dor da existência terrena.

Oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para a dor, seja ela física ou psíquica.

Garantir o respeito às normas, às regras e aos valores da moralidade estabelecida pela sociedade.

Em geral, os valores morais são estabelecidos pela própria religião, sob a forma de mandamentos divinos, isto é, a religião reelabora as relações sociais existentes como regras e normas, expressões da vontade dos deuses ou de Deus, garantindo a obrigatoriedade do obedecer a elas sob a pena de sanções sobrenaturais. (CHAUÍ, 1995, p. 308)

2.3 FILOSOFIA E RELIGIÃO: DISTINÇÃO

Apontamos as seguintes distinções:

O fundamento da Filosofia é só e unicamente a razão. O fundamento da Religião é a fé na Revelação. A verdade religiosa é verdade porque revelada por Deus. A verdade filosófica é uma conclusão da inteligência humana. Na religião tem fundamental importância a autoridade (no caso, a divina). A Filosofia prescinde de toda a autoridade: a única autoridade na filosofia é evidência da

razão.

2.4 FILOSOFIA E RELIGIÃO: RELAÇÃO

Existe uma proximidade entre Filosofia e Religião: ambas se referem às questões do

absoluto; ambas se referem ao fundamento da realidade, à causa última do ser, ao significado da

vida do homem, seu fim e destino e ambas pretendem estabelecer normas ao agir humano. Nessa

semelhança, os princípios são, no entanto, diferentes: a razão e a fé, respectivamente.

O relacionamento entre Filosofia e Religião, no decorrer da história, foi muito complexo.

Dessa complexidade de relacionamento resultaram diversas posições quanto ao assunto, entre elas:

a Filosofia nega a Religião (ateísmo); a Filosofia reduz a Religião (deísmo); a Religião nega a

Filosofia (fideísmo); a Filosofia se harmoniza com a Religião (teísmo).

2.4.1 A Filosofia nega a Religião (ateísmo)Esta posição nega por completo o valor da Religião e até a vê negativamente. Aqui citamos:

positivismo, Feuerbach, marxismo, Freud, etc.

2.4.2 A Filosofia reduz a Religião (deísmo)

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Esta posição admite um valor à religião, mas apenas a uma “religião racional” ou “natural”. Ela

nega o valor do dogma, do culto, do revelado e adere somente o que “cabe na razão”, como, por

exemplo, as idéias da existência de Deus, a imortalidade da alma, uma vida moral correta, etc. São

representantes do deísmo: Giordano Bruno, Voltaire, Kant e outros.

2.4.3 A Religião nega a Filosofia (fideísmo)Trata-se de uma atitude oposta às anteriores e atribui valor exclusivo à fé, negando,

consequentemente, a razão. A razão humana é incapaz da verdade e do bem e a Filosofia é inútil.

São representantes dessa corrente: tradicionalismo, Kierkegaard, etc.

2.4.4 A Filosofia se harmoniza com a Religião (teísmo)Essa posição concilia fé e razão. A razão é a mais alta capacidade humana, porém, pela

Revelação ao homem é expresso o mais pleno significado da vida e do mundo. A fé não rebaixa a

razão, mas, ao contrário, a ilumina e lhe confere novas dimensões. Destacamos: Tomás de Aquino e

Maurice Blondel.

2.5 CONCLUSÃO

Na realidade, não existe conflito real entre razão e fé; Filosofia e Religião podem e devem

coexistir pacificamente. De um lado, a razão e a Filosofia têm consciência de seus limites. A

Filosofia busca respostas últimas, mas não as tem. O ser, a realidade, é, no fundo, um mistério.

Abre-se, então, o espaço para a nossa fé e a Revelação. A fé e a experiência religiosa, para a

autêntica Filosofia, se tornam justamente o mistério que se revela para além das capacidades e

possibilidades humanas.

A Filosofia, por definição, é um sistema totalitário: busca as razões últimas das coisas. A filosofia é totalitária, mas na ordem natural. Ela engloba, pois, o estudo da regra suprema da atividade humana natural. As razões que ela busca são, nesse domínio, últimas e absolutas. As conclusões certas da filosofia conservam sempre o seu valor, mesmo na hipótese da elevação do homem à vida da graça, precisamente por não destruir a graça e a natureza. Essas conclusões não são de maneira nenhuma provisórias: são verdadeiras e de uma verdade absoluta.Mas a atividade humana tem os seus limites. A filosofia não resolve todos os problemas; nem mesmo chega a formulá-los todos. Pode tomar consciência das suas fronteiras: embora atingindo de certo modo as razões supremas, pode procurar delimitar regiões misteriosas que escapam ao nosso conhecimento; e mesmo mais, que devem escapar-lhes por ser a natureza radicalmente incapaz de alcançá-las...A filosofia, traçando os seus próprios limites, deixa lugar aberto a uma revelação superior. (RAEYMAEKER, 1973, p. 34-35)

Por outro lado, a verdadeira fé não exige a negação da razão. A Religião entende a razão

como a capacidade superior conferida por Deus ao ser humano e que nesta capacidade consiste

primariamente a sua dignidade.

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Longe de nós pensar que Deus tenha ódio à faculdade da razão, em virtude pela qual nos criou superiores a todos os outros seres animados. Longe de nós crer que a fé nos impede de encontrar ou procurar a explicação racional daquilo que cremos, visto que não poderíamos nem ao menos crer se não tivéssemos uma alma racional. (Santo Agostinho, carta 120.1)

A Filosofia pode coexistir e cooperar com a fé porque esta última, na sua diversidade radical, não se apresenta como irracional, mas supra-racional. (SAVAGNONE, G. Theoria. p. 263)

A fé supõe, então, a pessoa humana com o pleno exercício de suas capacidades e

potencialidades.

É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e radicalidade do ser.À luz disso, creio justificado o meu apelo veemente e incisivo para que a fé e a filosofia recuperem aquela unidade profunda que as torna capazes de serem coerentes com a sua natureza, no respeito da recíproca autonomia. Ao desassombro (parresia) da fé deve corresponder a audácia da razão. (JOÃO PAULO II. Encíclica Fides et Ratio. p. 68)

3. FILOSOFIA E ARTE

Na sua situação vital no mundo, o homem não somente conhece as coisas, as realidades,

mas as contempla. As coisas, os seres não são apenas objetos de seu conhecimento e de sua

manipulação, mas também atingem a sua emoção, despertam sentimentos de admiração, encanto,

amor, beleza, harmonia, etc.

O homem expressa as suas emoções e sentimentos através de diversos meios. Esses meios

podem ser palavras (poesia, literatura), sons (música), gestos (dança), cores e objeto (pintura,

escultura). É a criação artística, a Arte, que é uma das dimensões culturais da humanidade desde

sempre.A função primordial da arte é objetivar o sentimento de modo que possamos contemplá-lo e entende-lo. É a formulação da chamada “experiência interior” da “vida interior” que é impossível atingir pelo pensamento discursivo. (LANGER, 1971, p. 82)

3.1 FILOSOFIA E ARTE: DIFERENCIAÇÃO

Façamos uma comparação entre Filosofia e Arte:

A Filosofia é obra da inteligência humana. A arte é obra da emoção humana. Na Filosofia se trata de raciocinar, pensar e conhecer. Na Arte se trata de perceber, sentir e

criar. O objeto próprio da Filosofia é a verdade; da arte é o belo.

A filosofia e a arte se diferem essencialmente pelo tipo de leitura que ambas fazem do universo. É evidente que ambas têm o mesmo objeto, se assim se pode dizer, em cima do qual produzem: a relação homem-mundo. O universo é, portanto, o mesmo. Entretanto, a forma de abordar este universo é diferente. Esta diferença se dá, portanto, no nível do sujeito e não do objeto.Vejamos: tanto o filósofo quanto o artista são os sujeitos agentes na forma de abordar o objeto, na leitura que dele fazem. É na expressão da palavra, o ato de invasão do sujeito na esfera do objeto que determina tanto a arte como a filosofia. Apenas a forma como esta invasão é feita (e daí a

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decorrente interpretação do objeto) que é diferente. O filósofo se atém ao objeto naquilo que ele tem de essencial, àquilo que ele tem de propriamente objetivo, que é a sua própria natureza. Utiliza para tanto a sua razão como meio de conhecimento e, da própria determinação do objeto mais a leitura que sua razão faz deste objeto, o filósofo procura entender e interpretar a realidade. Seu objetivo é, pois, a realidade objetiva. Seu trabalho é captar essa realidade, percebe-la como problemática e tentar explica-la. Ao tentar explicar esta realidade, o filósofo busca possíveis caminhos de solução e resposta para as questões que daí surgem. É o próprio trabalho de desvelamento, na linguagem de Heidegger. Seu esforço vai, portanto, na direção de decodificar o mais possível este complexo de objetos e símbolos que é a realidade.Para realizar este trabalho, o filósofo utiliza sua razão. Na medida em que o filósofo se percebe diante da determinação da natureza do objeto e de seu próprio objetivo de explicar esse objeto, de percebê-lo como problema,o percurso que ele fará é essencialmente racional, objetivo (no sentido de estar abordando a objetividade do real e pensando sobre ela). O instrumento de trabalho do filósofo é a razão, a vida pela qual ele chega à objetividade do universo. Seu plano de abordagem é a realidade tal como ela é por sua própria natureza.Com o artista as coisas não são bem assim. O percurso que ele traça é o inverso ao do filósofo, embora o ponto de partida e o objetivo sejam quase os mesmos. O ponto de partida tal como para o filósofo é abordar a realidade, invadi-la. O objetivo é o mesmo: explica-lo. Como podem, então, ser diferentes? A diferença está exatamente na forma com que isto acontece. O artista vai utilizar nesta abordagem do real a sua sensibilidade. Ou seja, o que ele sente diante do objeto. É a sua emoção que fala, é a percepção não como via para a razão, mas para a sensibilidade. O seu percurso é o inverso no momento em que sua sensibilidade ao se deparar diante do objeto real, ao invés de decodificá-lo como faz o filósofo, na tentativa de explicá-lo, ele o codifica segundo a intensidade de sua sensibilidade. Ou seja, o artista codifica a realidade através de sua própria sensibilidade, passando a ter, a partir daí, uma visão só sua, apenas sua, subjetiva do objeto. Cria, então, sobre a realidade a supra-realidade, que é a realidade subjetivada pela sua sensibilidade. De forma que, explicar a realidade para o artista, significa percebe-la e senti-la (não mais pensa-la) segundo seus (do artista) próprios códigos e símbolos. A problematicidade do real aparece para o artista como a via pela qual ele desperta a própria sensibilidade e cria em cima do real uma realidade maior, sua, apenas sua. (RHEIN SCHIRATO, 1987, p. 37-39)

3.2 FILOSOFIA E ARTE: RELAÇÃO

Filosofia e Arte, às vezes, se aproximam extraordinariamente. Isto porque ambas são

expressões do espírito humano no sentido mais profundo e também porque a razão e as emoções

muitas vezes estão bem próximas e se entrelaçam.

Em alguns momentos muito especiais, a filosofia e a arte se confundem, ou melhor, se fundem numa só obra (artística e filosófica). Esta fusão não se dá no nível do objeto, mas no nível da leitura que ambas fazem do objeto. São produções riquíssimas em reflexão e sensibilidade, que comprovam uma comunhão profunda de arte e de filosofia. São momentos em que o filósofo se expressa pela arte, exterioriza sua filosofia, sua leitura da realidade e a reflexão que sobre ela, através dos canais que a arte lhe proporciona: música, poesia, romances, etc. E momentos em que o artista, na expressão de sua sensibilidade, na abrangência de sua leitura do real, não simplesmente codifica a realidade segundo seu próprio caráter artístico, mas faz desta produção de arte também uma produção filosófica, ou seja, expressa pela sua sensibilidade questões objetivas, que podem ser avaliadas sob o ponto de vista filosófico, que servem de reflexão, de crítica ao social. Quando esta comunhão é profunda, fica difícil de se saber se é uma obra de arte filosófica ou uma filosofia artística. (RHEIN SHIRATO, 1987, p. 41)

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PARTE III

EDUCAÇÃO COMO PROBLEMA FILOSÓFICO

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A educação, como todos sabemos, trata-se de um dado humano, ou seja, é resultado de uma construção cultural. É um fato que o ser humano não nasce “feito”, “pronto”; ele deve se formar, passar por uma longa fase de aprendizagem (a mais longa de todos os animais), precisa adquirir conhecimentos, habilidades e outros elementos para sobreviver, integrar-se no grupo social e, enfim, ter uma vida realmente digna e humana. É um fato que as gerações mais velhas “educam” as gerações mais novas (mesmo nas culturas mais primitivas), moldam o indivíduo de acordo com certos valores.

O meio primordial da educação é o grupo familiar. Mas a educação continua depois no meio social mais amplo, através de suas instituições típicas, como a escola, a Igreja, o Estado, etc.

A educação levanta algumas interrogações ou questões de fundo sobre essa realidade:

O que é mesmo a educação? Em que ela consiste? Que significa educar? Educar é moldar um indivíduo ou desenvolver suas potencialidades?

Quais são os parâmetros da educação? Educar a partir de quê? De que idéias, modelos ou princípios?

Quais são as dimensões da educação ou que aspectos da realidade humana a educação deve abranger?

Quais são os valores envolvidos na educação? Quais são as finalidades da educação? A quem compete educar? Como fica a questão da família diante da educação? O Estado tem

o direito de educar? Quais os compromissos e os limites do educador? Quais são as finalidades das instituições educacionais? O papel da família, Estado, Igreja

quanto à educação?

1.1Os ideais gregos da educação

Podemos destacar os seguintes elementos da educação grega:

A educação fundamenta-se sobre o conceito do homem como sendo primariamente racional. A educação como desenvolvimento intelectual da personalidade, o que acarreta não só a

aquisição da ciência, mas envolve também o aspecto moral (viver segundo a razão; identificação socrática do sábio com o bom).

Educação para o exercício da cidadania. O homem educado é o cidadão e vice-versa. Aspecto estético da educação. O direito fundamental da educação pertence ao Estado (para Platão, trata-se de um direito

exclusivo o fato de os filhos serem entregues ao Estado para serem educados; já os romanos transferem esse direito à família: patria potestas).

1.1 Educação Medieval

Citamos como características da educação do Medievo:

Fundamenta-se sobre os princípios cristãos. Ênfase no ascetismo como controle da vontade. Influência do ideal grego: intelectualismo e dualismo platônico. Mesmo influenciado pelo intelectualismo grego, dá-se ênfase preponderante ao aspecto

moral.

1.3 Educação nos tempos modernos

a) Rousseau: a educação moral

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1. AS TEORIAS DA EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA

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Jean-Jacques Rousseau é o primeiro filósofo a tratar especificamente da educação, de modo particular na obra “Emílio”. Para o pensador francês, o homem é bom por natureza e a sociedade o corrompe (bom selvagem). Diante dessa concepção antropológica, a educação trata-se do desenvolvimento das capacidades naturais do indivíduo; é ela um processo e deve acompanhar o desenvolvimento natural do indivíduo, sem forçar etapas.

Os primeiros movimentos da natureza são sempre honestos e não há perversidade original no coração humano. (ROUSSEAU. Emílio)

A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. A infância tem certos modos de ver, de pensar e de sentir inteiramente especiais: nada é mais tolo do que querer substituí-los pelos nossos. (ROUSSEAU. Emílio)

b) Pestalozzi, Herbart, Froebel: teóricos da educação no século XIX

Os teóricos citados acima se restringem a comentários sobre a educação escolar.

Pestalozzi: respeito à individualidade do educando; educação centrada não no conteúdo, mas no desenvolvimento intelectual; saber corresponde a poder (conquista de técnicas), importância da relação pessoal professor-educando.

Herbart: educação voltada para a modificação de conduta do educando. Froebel: educação pela atividade.

c) Educação no século XX: Dewey, Killpatrick, Montessori, Freinet, Piaget, Makarenko

No século XX surge uma “multidão” de autores que tratam da questão educacional e concorrem para a renovação pedagógica e metodológica. Seus princípios filosóficos são diversos: pragmatismo, personalismo, marxismo, etc.

No fundo, o princípio educacional é comum a todos os pensadores: o aluno como sujeito da própria educação, liberdade, métodos autoavaliativos, métodos, socioativos, etc.

2.1 Filosofia da Educação: conceituação

A Filosofia Educacional procura compreender a educação em sua integridade, interpretando-a por meio dos conceitos gerais que guiem a nossa escolha de objetivos e diretrizes educacionais. (KNELLER, 1964, p. 12)

A filosofia educacional depende da filosofia geral ou formal na medida em que os problemas da educação são de caráter filosófico geral. Não podemos criticar a política educacional vigente ou sugerir novas diretrizes sem tomar em consideração problemas filosóficos gerais como: a) a natureza da vida boa, que é um alvo primordial da educação; b) a natureza do próprio homem, que é o homem que estamos educando; c) a natureza da sociedade, pois a educação é um processo social; d) a natureza da realidade suprema, que todo o conhecimento procura penetrar. Portanto, a filosofia educacional envolve, entre outras coisas, a aplicação da filosofia formal ao campo da educação. (KNELLER, 1964, p. 13)

São tarefas da Filosofia da Educação: 1. analisar a linguagem educacional; 2. fazer a hermenêutica geral do processo educativo; 3. analisar a estrutura constante do educacional; 4. divisar a teleologia da tarefa educativa. (FULLAT, 1995, p. 86)

2.2 Filosofia da Educação e Pedagogia

A Pedagogia é a ciência da educação. Alimenta-se ela dos seguintes ramos do conhecimento:

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2. FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

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de outras ciências humanas (biologia, psicologia, sociologia, etc.) para o conhecimento da realidade educacional;

da Filosofia para estabelecer fundamentos e princípios teóricos da educação.

A Filosofia da Educação é a reflexão e a análise filosófica da realidade educacional. São, pois, diferentes, mas, ao mesmo tempo, correlativas: a Filosofia da Educação oferece a fundamentação e princípios à Pedagogia e esta oferece dados de reflexão e análise àquela.

2.3 Filosofia da Educação: conteúdos

2.3.1 Educação: conceituação

A palavra “educação” possui duas raízes semânticas:

Educere: tirar, extrair, desenvolver as potencialidades. Educare: conduzir, guiar.

Educação é a prática dos meios aptos para o desenvolvimento das possibilidades humanas do sujeito da educação. (FULLAT, 1995, p. 25)

Educação é o processo que visa a levar o indivíduo, simultaneamente, a explicitar as suas virtualidades e a encontrar-se com a realidade para nela atuar de maneira consciente, eficiente e responsável, tendo em vista a continuidade e o desenvolvimento social, para serem atendidas as necessidades e as aspirações individuais e coletivas. (NERICI, I. O homem e a educação. p. 16)

2.3.2 Os princípios da educação

A Filosofia da Educação possui a tarefa de questionar a própria educação sobre os princípios basilares de sua tarefa; quais são, afinal, os modelos e parâmetros a serem seguidos na tarefa educativa? Que tipo de ser humano queremos formar?

No fundo, os princípios da educação baseiam-se e fundamentam-se numa filosofia antropológica, isto é, o modelo de educação que possuímos nasce de nosso modelo antropológico.

2.3.3 As dimensões da educação

Diz-se que a educação deve ser “integral”; mas quais são os aspectos do ser humano que devem ser educados?

Dimensão física e psicomotora. Dimensão intelectual. Dimensão psicológica. Dimensão social. Dimensão moral. Dimensão religiosa. Dimensão prático-operativa.

2.3.4 O sujeito da educação

A Filosofia da Educação se questiona sobre quem é, realmente, o sujeito ou quais são os sujeitos do ato educativo; aqui temos, então, os elementos proporcionados pelas ciências biológicas, psicológicas e sociais para o conhecimento da realidade biopsíquica do educando.

2.3.5 Os agentes da educação

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Destacam-se como agentes da educação as seguintes instituições: família, escola, Estado, Igreja, etc. Mas, afinal, qual o papel de cada uma dessas instituições?

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PARTE IV

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

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1.1 Consideração inicial Por que o professor precisa estudar? O estudo, mais do que um conjunto de práticas, confere

ao educador uma postura acadêmica: a de criar seu próprio caminho.

1.2 Pedagogia e Senso Comum O ato de educar é uma práxis e, como tal, exige uma fundamentação teórica. A Pedagogia é o esforço da passagem – referente ao educar – do senso comum à

sistematização conceitual.

1.3 Pedagogia e Metafísica De início – historicamente falando – Pedagogia e Filosofia se confundiam (cf. sofistas,

Sócrates). Se Pedagogia e Filosofia se confundiam, a educação era, então, o esforço por se desenvolver

todas as possibilidades da natureza humana. Suchodolski chama esta concepção – que ganhou terreno na tradição ocidental – de

essencialista. Os limites desta abordagem se encontram na visão parcial dos procedimentos educacionais,

excessivamente centrados no individuo e nos modelos ideias que determinam, a priori, o que é o homem universal e como deve ser a educação.

1.4 Ciências e Pedagogia O século XVII se destacou pela busca do rigor e da sistematização do conhecimento; também

a Pedagogia aqui se encaixa. No século XIX recebe ela apoio das ciências humanas.1.4.1 Psicologia

A Psicologia, aplicada à Pedagogia, auxilia-nos a conhecer realmente nosso educando. Contribui ela para avaliar questões como nível de dificuldade, ritmo de aquisição de

conhecimentos, controle e distúrbio de aprendizagem.1.4.2 Sociologia

O desenvolvimento da Sociologia amplia a compreensão da escola como grupo social complexo e da educação como processo de perpetuação e desenvolvimento da sociedade.

A Sociologia descreverá elementos reais e também as instituições sociais.1.4.3 Outras Ciências

O processo educativo também se apóia em outras ciências para realizar sua tarefa, tais como: economia, história, história da educação, antropologia, geografia humana, linguística, etc.

1.5 A teoria geral da Educação Talvez um dos grandes problemas pedagógicos atuais seja o próprio conceito de pedagogia

(visto que vivemos, segundo Luiz Lacerda Orlandi, um momento de “flutuações da consciência pedagógica”): ela – a pedagogia – não pode se confundir com as ciências, mas também não pode prescindir das mesmas. O ponto de partida da Pedagogia será sempre a realidade educacional; iluminada pelas ciências, encontrará seu ponto de chegada: a realidade educacional.

Assim, a Pedagogia pode ser definida como a teoria geral da educação.

1.6 A importância da Pedagogia As concepções pedagógicas não são “inocentes”; elas nascem das concepções

antropológicas e sociais. Ao educar, respondemos às seguintes questões: Que tipo de homem se quer formar? Para que tipo de sociedade? Tendo claro as respostas, passamos aos conteúdos: Que conteúdos usaremos para formar este homem e esta sociedade? Tendo

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1. PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO

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as respostas a esta questão, passamos às últimas considerações: Como ensinar? Que metodologia usar?

Há, então, um itinerário a ser seguido pelo educador:

A importância da Pedagogia, por conseguinte, é perceber a intencionalidade do processo educativo.

1.7 Educar o educador O que é preciso para ser um educador?

1.8 A formação do professor A revalorização do magistério se inicia com os cuidados na formação dos professores. Três aspectos são importantes na formação dos professores: a) Qualificação: o professor deve adquirir os conhecimentos científicos indispensáveis para o

ensino.b) Formação pedagógica: não basta carisma para ensinar, mas processo sistematizado.c) Formação ética e política: todo professor é professor de valores e possui posturas políticas

(mesmo quando se diz apolítico).

1.9 A profissionalização do educador O que significa a palavra “profissão”? O que você pensa dos termos “tia” e “sacerdócio” aplicados à tarefa de educar?

2.1 Origem da Escola Tradicional Qual o nosso conceito primário de Escola Tradicional? O conceito Escola Tradicional é de difícil delimitação, visto que sob esta denominação

articulam-se as mais diversas tendências pedagógicas ao longo de, pelo menos, quatro ou cinco séculos (século XV ao século XX).

O termo Escola Tradicional é devido às críticas que a Escola Nova fez ao estilo de ensino adotado nos séculos citados acima.

A Escola Nova, ao criticar a Escola Tradicional, apresentou-a de forma negativa e caricaturada. Se nos apoiarmos apenas na crítica novista, corremos o perigo de estabelecermos visões simplistas sobre a Escola Tradicional.

A Escola é uma criação moderna e, como tal, deve responder aos anseios modernos e, por isso, a exigência do confinamento do educando, a separação por idades, a graduação em série, a organização de currículos e o recurso de manuais didáticos.

Num primeiro momento, a Escola que surge na modernidade se opõe à escola medieval e esta escola deve responder às aspirações burguesas (por isso a exigência de uma disciplina severa, a busca de uma estado não-natural da criança, a perspectiva de uma educação voltada ao mercado de trabalho, etc.).

Com a Revolução Industrial, os operários necessitam de instrução e o Estado intensifica sua tarefa de promover educação para todos.

Com o advento das chamadas Ciências Humanas, muito se teoriza sobre o processo educacional.

2.2 Características gerais da Escola Tradicional Relação professor/aluno: A Escola Tradicional é magistrocêntrica. Disposição: a Escola Tradicional é hierárquica e gera uma relação de passividade. Conteúdos: dá-se ênfase na aquisição de conceitos, de esforço intelectual por assimilar

conhecimentos; assim, a valorização do passado é fundamental.

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CONCEPÇÕES ANTROPOLÓGICAS CONTEÚDOS MÉTODOS

2. ESCOLA TRADICIONAL

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Metodologia: é valorizada a exposição oral e os exercícios de fixação. Absorção do conhecimento: de maneira empirista, sem maior esforço pela compreensão. Avaliação: valoriza os aspectos cognitivos e, por isso, as provas têm aspecto central. É

normal, então, o espírito de competição entre os alunos e não de cooperação. Disciplina: intensa e hierárquica e garantida por meio de punições. Exemplo: “Quem poupa a

vara odeia a criança” (sinete de uma escola inglesa do século XVI).

2.3 Períodos da Escola Tradicional2.3.1 Renascimento e Idade Moderna

Num primeiro momento (séculos XVI e XVII) as instituições de ensino estavam nas mãos de congregações religiosas, de modo especial os jesuítas. Dessa maneira, a educação era profundamente classicista, embasada na filosofia tomista e disciplinarmente rigorosa.

Paralelamente, surge a chamada tendência realista, que visa resgatar o contato com o vivido, com o real. Temos, então, as figuras de Lutero, dos oratorianos, Erasmo de Roterdã, Montaigne, Comenius e a discussão racionalistas X empiristas.

2.3.2 O Iluminismo e a Educação Aqui encontramos uma nova visão da realidade, uma visão “esclarecida e iluminada” pela

razão natural. Destacam-se Rousseau e Kant.

2.3.4 A Escola Tradicional no século XIX As transformações do século XIX (Revolução Industrial e a “pequena revolução científica”)

levam a Escola a repensar suas atuações. Temos os ideais propostos por Comte e os positivistas e as propostas pedagógicas de

Herbart. É partir desse anacronismo da Escola Tradicional que muitos pensadores proporão um novo

modo de educar, que será chamado de Escola Nova.

3.1 Aprender a aprender A Escola Tradicional nasceu em um mundo “estável”, no qual a educação se fazia em base

de modelos ideais. Assim, era importante a transmissão de uma cultura clássica, privilegiando o ensino intelectualista e livresco.

As críticas a este modelo de educação surgem diante das transformações que passa o mundo a partir do século XIX e a educação não acompanha este processo.

O mundo é “mutante” e a educação deve preparar o humano para uma sociedade em constante mudança, em constante dinâmica.

A “Escola Nova” quer se contrapor ao modelo de educação essencialista e propor uma educação existencialista. Para tanto, a criança será o sujeito da educação (pedocentrismo).

3.2 Antecedentes da tendência escolanovista Liberalismo. Revolução Industrial. Rousseau e sua “revolução copernicana”. Kierkegaard. Nietzsche. Pragmatismo.

3.3 Características gerais da Escola NovaAluno/Professor

O aluno é o centro do processo educativo. Há preocupações com a natureza psicológica da criança. O professor é uma espécie de “facilitador” do processo.

Metodologia

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3. ESCOLA NOVA

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Aprender fazendo. O objeto da educação é o homem integral (razão, sentimentos, emoções e ações). Aprendizagem mediante pesquisa e projetos.

Disciplina O foco não está na disciplina, mas na capacidade de adaptação ao meio (visto a sociedade

estar em constante mudanças).

4.1 Contextualizando Com o anacronismo da Escola Tradicional, novas propostas surgem; entre elas, citamos a

tendência tecnicista da educação. A partir da década de 60 do século XX, um modelo empresarial torna-se referência de

produção: o taylorismo (baseia-se na especialização de funções, onde há a separação do setor de planejamento e o setor de execução do trabalho).

Esta mentalidade empresarial ganha terreno no campo educacional (iniciado pelos EUA).

4.2 Características gerais da tendência tecnicista Objetivo: adequar a educação às exigências impostas pelo mercado (exigências técnicas e

tecnológicas). Conteúdo: informações objetivas para a adaptação do indivíduo ao mercado de trabalho. Método: inspirado no taylorismo, ou seja, divisão de tarefas com especializações. Avaliação: verificação dos objetivos propostos. Meios didáticos: valorizam-se os meios tecnológicos. Professor: um técnico que, por meio de recursos técnicos, transmite as operações técnicas.

4.3 Pressupostos filosóficos Empirismo: o conhecimento é objetivo. Positivismo: o conhecimento se restringe ao científico. Behaviorismo: controle do comportamento.

4.4 Críticas A crítica à tendência tecnicista da educação se insere num contexto maior: a crise da razão

contemporânea (Habermas) Segundo Habermas, a razão instrumental submete e coloniza a razão comunicativa.

4.5 A implantação do tecnicismo no Brasil O movimento de industrialização do Brasil (a partir de 1950). O golpe militar (1964).

5.1 Contextualizando Uma das mais radicais críticas feitas à Escola Tradicional foi a denúncia de seu caráter

autoritário. Muitos teóricos – deixando de lado a busca de outros métodos e processos – enfatizam a

recusa do exercício do poder: a educação deve ser realizada para e em liberdade. Aqui temos várias tendências: liberais, marxistas, anarquistas, etc. Uma das grandes influências foi a psicanálise de Freud: id, ego e superego.

5.2 Características gerais Relação professor/aluno: a visão do aluno como centro é levada à radicalidade; o professor

não dirige, mas cria as condições de atuação da criança (facilitador).

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4. TENDÊNCIA TECNICISTA

5. TEORIAS ANTIAUTORITÁRIAS

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Conteúdo: não pode ser dogmático e nem resultar de exposição magistral, mas precisa ter ressonância nos interesses dos alunos (ligado à experiência de vida).

Metodologia: baseia-se na autogestão; o professor não “prepara” aula, mas direciona a aula. Aqui temos as “comunidades de aprendizagem”.

Avaliação: desprezam-se os instrumentos clássicos da avaliação e visa-se uma autoavaliação.

Disciplina: resulta da autonomia e nunca é imposta.

5.3 Principais linhas pedagógicas Pedagogias não-diretivas: baseada em Carl Roger (1902-1987), o homem é capaz de

resolver por si mesmo seus problemas, bastando que tenha autocompreensão ou percepção do eu. O educador, então, deve propiciar condições para que o sujeito assuma sua existência.

Escola libertária: Ferrer (1859-1909) defendia que a atuação do professor fosse mais efetiva no início para, depois, tornar-se menos diretiva. Foi influenciado pelo anarquismo e racionalismo iluminista.

5.4 Pedagogias institucionais Os principais representantes são: Michel Lobrot, Fernand Oury e Aída Vasquez. A proposta é uma pedagogia da liberdade – negando a autoridade – por meio do aspecto

sociológico (por isso o termo “institucional”).

6.1 Contextualizando A partir da década de 60 do século XX, diversos teóricos franceses chegaram à conclusão de

que a escola não consegue equalizar as relações sociais, tornando-se, assim, reprodutora de um sistema de exclusão.

Desta maneira, uma pedagogia baseada na crítica à reprodução do status quo era o que pretendiam tais teóricos.

6.2 Bordieu e Passeron: a teoria da violência simbólica Bordieu e Passeron desenvolveram uma ampla pesquisa sobre a instituição escolar e

chegaram à conclusão que na escola (universo micro) havia uma reprodução da sociedade (universo macro).

Para eles, a escola não é uma ilha separada de um contexto social, mas o sistema social marca fortemente os rumos da instituição escolar.

Para os franceses, o fato de “obrigar” a reprodução dos sistemas sociais cria uma cultura de “violência simbólica”: aquela exercida pelo poder de imposição das ideias transmitidas por meio da comunicação cultural, da doutrinação política e religiosa, etc.

A escola constitui um instrumento de violência simbólica porque reproduz os privilégios existentes na sociedade. A escola, no fundo, perpetua um estilo de vida burguês (e aquelas crianças que provêm de famílias burguesas terão muito mais facilidade de adaptação; com isso, o índice de evasão escolar das classes menos favorecidas é explicado).

Qual a saída? Uma proposta pedagógica que não seja reprodutora, mas transformadora.

6.3 Althusser: a teoria da escola como aparelho ideológico do Estado Althusser considera que a função da escola deve ser compreendida não de forma isolada,

mas contextualizada: ela está inserida numa sociedade capitalista e esta necessita de aparelhos ideológicos para a reprodução de seu sistema.

Suas ideias são fortemente marcadas pela análise marxista. A função da ideologia, então, é a reprodução da sociedade. Os aparelhos ideológicos do Estado podem se apresentar de duas maneiras: repressivo

(sistema de coerção) e ideológico (religião, escola, família, sistemas jurídicos e políticos, meios de comunicação, meios culturais, etc.).

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6. TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS

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6.4 Baudelot e Establet: a teoria da escola dualista Para Establet e Baudelot, se vivemos em uma sociedade dividida em classes, não podemos

falar de uma “única escola”. Existem, na realidade, duas escolas radicalmente diferentes quanto ao número de anos de escolaridade, aos itinerários, aos fins da educação.

Em outros termos: existe uma escola dos “ricos” e uma escola dos “pobres” e, assim, desde o começo os filhos dos proletários estão destinados a não atingir níveis superiores.

7.1 Contextualizando A década de 70 do século XX foi fértil em críticas à escola e propostas para alterar a sua

situação. Inserido neste contexto, Ivan Illich apresenta uma proposta radical: a desescolarização da sociedade.

Para ele, a solução para a educação não seria uma reforma nos métodos ou currículos, mas no questionamento sério se realmente a escola é o único e o melhor meio de educação.

Em um mito marcado pelo controle das instituições, a escola escraviza mais que a família, devido à estrutura sistemática e organizada, à hierarquia, aos rituais das provas e ao mito do diploma. Uma sociedade assim estruturada desconsidera o aprendizado real, encarando com desconfiança aquele que aprende sem estar na escola.

Para Illich, a escola apenas instrui, mas não educa.

7.2 Sociedade sem escolas Illich afirma que o vertiginoso progresso científico levou o homem à alienação e que é

importante desmistificar o ideal de progresso e de consumo insaciável (complexo de Prometeu), onde a escola apenas aumenta esta sede insaciável de estabilidade econômica.

A saída seria um novo estilo de vida, onde as “redes de comunicações culturais” se encarregassem de educar o humano (e não apenas instruí-lo tecnicamente).

No fundo, a crítica que Illich faz à escola é: será que, realmente, este modelo educacional que possuímos é eficaz?

8.1 Contextualizando As teorias construtivistas propõem, de modo geral, a interação entre a história individual com

a história social, ou seja, leva em consideração a construção da pessoa por meio de suas situações individuais e suas situações circunstanciais (“Eu sou eu e minhas circunstâncias” – Ortega y Gasset).

A intenção do construtivismo é visualizar o processo educativo como uma complexidade e dar conta de tal por meio de estudos de psicologia e medicina.

Do ponto de vista antropológico, os construtivistas superam a visão metafísica e naturalista do ser humano. A abordagem antropológica é vista sob o prisma histórico-social, isto é, por meio de suas relações interpessoais e pela sua ação sobre o mundo.

Do ponto de vista epistemológico,os construtivistas superam o inatismo e o empirismo e propõe uma concepção de conhecimento interacionista ou construtivista; para eles, o conhecimento não é inato e nem apenas adquirido: é dado pela interação entre sujeito e objeto mediante uma realidade histórica. O conhecimento se constrói a partir de etapas, nos quais a criança organiza o pensamento e a afetividade.

8.2 A epistemologia genética Jean Piaget (1896-1980) analisou o processo educacional a partir da epistemologia genética. Elaborou a ideia da psicologia genética, que investiga o desenvolvimento cognitivo, dividido

em 04 estágios: sensório-motor (0-2 anos), intuitivo ou simbólico (02-07 anos), operações concretas (07-14 anos) e operações formais (14 anos em diante).

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7. DESESCOLARIZAÇÃO DA SOCIEDADE

8. AS TEORIAS CONSTRUTIVISTAS

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A passagem de um estágio para outro somente se efetua mediante mecanismos de organização e adaptação.

8.3 A psicogênese da escrita Emília Ferreiro, aluna de Piaget, abordou a teoria de seu mestre no processo de aprendizado:

como a criança realiza a construção da linguagem escrita? Qual a natureza da relação entre o real e sua representação?

Ao realizar a psicogênese da escrita, Ferreiro descobre que a criança “reinventa” a escrita e, por isso, o professor precisa estar atento ao mundo semântico da criança.

Percebe-se, aqui, o caráter não empirista da teoria, que acentua a participação ativa do sujeito no processo de alfabetização.

8.4 Pensamento e linguagem Vygotsky (1897-1934) analisa a psicogênese na construção do pensamento e da linguagem.

Nele foi marcante o pensamento marxista e o método dialético. A preocupação com o desenvolvimento do comportamento resulta da constatação de que

todos os fenômenos psíquicos são processos em movimento, possuem uma história e que o mecanismo de mudança individual tem sua raiz na sociedade e na cultura.

O que caracteriza, realmente, a psicogênese humana é a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas.

Ao analisar as operações superiores, Vygotsky utiliza o conceito de mediação, segundo o qual a relação do homem com o mundo não é direta, mas mediada pelos sistemas simbólicos.

9.1 Contextualizando Diante da novidade e dos fracassos experienciais da Escola Nova, buscou-se um novo

caminho: as teorias progressistas (termo retirado de um livro de Georges Snyders). As teorias progressistas, no fundo, buscam fugir do “lado inocente” da educação, ou seja,

toda educação é intencional.

9.2 Características gerais Relação entre educação e transformação social: descoberto o caráter político da

educação, cumpre construir uma pedagogia social e crítica. Escola: elemento de continuidade, mas, também, de ruptura. Ela deve ser um local de

socialização do conhecimento elaborado. Função da escola: durante muito tempo a escola foi o elemento de ruptura entre o trabalho

intelectual e o trabalho manual, entre a teoria e a prática. A educação progressista quer formar o homem pelo e para o trabalho.

O conceito de trabalho: integrar o trabalho à escola como atividade existencial humana fundamental e não como passatempo acessório ou simples aprendizagem técnica.

Professores: formados para a prática transformadora, que tenha a competência técnica, mas, também, um compromisso político e social.

9.3 Uma extensa lista Aqui se encaixam vários teóricos: Makarenko, Pistrak, Gramsci, Freinet, Lobrot, Ferrer,

Arroyo, Vygotsky, Charlot, Suchodolsky Paulo Freire.

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9. TEORIAS PROGRESSISTAS

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