Filha Da Tempestade

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  • 7/22/2019 Filha Da Tempestade

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    Fernard Cornwell

    Filha da Tempestade

    CAPTULO UM

    O MAR chorava. Era um mar cinzento a que um vento sbito deravida um mar a!itado desencontradamente" sa#$icado de branco. %est

    condi&'es" os $escadores diziam que o mar chorava e !arantiam que era um $renncio de cat(stro)e.* +sto n,o vai durar * disse a minha mu#her" -oanna" )a#ando da

    sbita do mar.Est(vamos os dois no cais do nosso esta#eiro o#hando $ara as

    nuvens ne!ras que subiam o cana# da Mancha. Era e/ta*0eira anta" a)im da tarde" mas" $e#a tem$eratura do ar" mais $arecia %ovembro" e o mcinzento e a!itado $arecia o de -aneiro. O vento atraira os $raticantes de1indsur)" c#aro" e as suas ve#as de cores vivas des#izavam no mar sombrressa#tando $eri!osamente na rebenta&,o da barra do estu(rio.

    * %,o vai durar * insistiu -oanna" como se $udesse atrair o bomtem$o da P(scoa com a )or&a da sua convic&,o.

    * O $ior ainda est( $ara vir * comentei eu com $essimismo.

    * Est( bem" n,o $odemos #ar!ar ho2e" mas de certeza que $odemosair amanh, de madru!ada * conc#uiu e#a mais rea#isticamente.

    0ora nossa inten&,o )azer uma $assa!em nocturna at3 4 i#ha de5uernse6" onde morava a irm, de -oanna e onde a )ami#ia de#a costumavreunir*se" de$ois da missa" $ara o a#mo&o $asca# de cabrito assad batatinhas novas. Esta reuni,o de )ami#ia na P(scoa era 2( uma tradi&,o" -oanna e eu encar(vamo*#a com um $razer muito es$ecia#" a!ora qut7nhamos recu$erado das tra!3dias da morte do nosso )i#ho e ddesa$arecimento da nossa )i#ha. O tem$o ta#vez n,o tivesse saradocom$#etamente essas duas )eridas !3meas" mas $e#o menos tinha*as cobe

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    de v(rias camadas de tecido cicatricia#. Em suma" a vida vo#tava ao norme com a norma#idade vo#tavam todos os $equenos $rob#emas quotidianos

    Para 2(" o nosso maior $rob#ema era um 6a1# de quatro tone#adasmeia que estava $ronto $ara ser #an&ado 4 (!ua quando o condutor da !ru

    o aba#roou com a #an&a da m(quina. Os estra!os eram su$er)iciais" mas $ro$riet(rio vinha ao esta#eiro no dia se!uinte" 4 hora do a#mo&o" e contencontrar o seu barco na (!ua" a$are#hado e $ronto $ara #ar!ar. 8i##6"nosso ca$ataz" rec3m*casado" o)erecera*se $ara )icar e re$arar os estra!omas e#e 2( me ia substituir no )im*de*semana da P(scoa" $or isso mande $ara casa" $ara 2unto da mu#her" e reboquei eu $r9$rio o !rande 6a1# at3 barrac,o. Enquanto ras$ava a zona dani)icada 4 #uz dos ho#o)otes" eu $#aneando a via!em do dia se!uinte. e as $revis'es meteoro#9!icasestivessem certas e este tem$ora# sbito aca#masse" $od7amos sair do riorom$er do dia e che!ar a 5uernse6 4 hora do 2antar.

    Pe#o cair da noite" $arecia im$rov(ve# que o tem$o me#horasse ade madru!ada. O vento uivava com tanta )or&a que a#!uns dos s9cios dC#ube %ava# nos $ediram a #ancha em$restada $ara irem buscar uma )i#a barcos 4 ve#a do c#ube 4s amarra&'es" situadas a meio rio" e os trazer $ara o abri!o dos nossos $ont'es. -oanna a2udou*os" de$ois $assou duahoras a $:r em dia a contabi#idade do esta#eiro antes de se aventurar a sair rua $ara com$rar duas doses de baca#hau com batatas )ritas na rua $rinci$ada terra. Enquanto e#a estava )ora" te#e)onou ;arr6 Carstairs.

    Carstairs era um vendedor de iates que traba#hava num !abinetecom ar condicionado em Londres" no bairro chique de Ma6)air. Os c#ientde#e n,o eram os ve#e2adores modestos que me davam a !anhar o $,o dcada dia" mas sim os su$er*ricos" que $odiam dar*se ao #u/o de manter u#u!ar $ermanente na marina de Monte Car#o. O movimento do nossesta#eiro n,o estava 4 a#tura dos ne!9cios de a#to coturno de Carstairs" mnesse ano -oanna e eu" $or acaso" t7nhamos 4 venda um !rande s#oo$ dcasco de a&o. O tornchi#d" cotado em >>> #ibras" estava no to$!ama do nosso stoc?" mas ma# atin!ia a !ama in)erior dos barcos que ;arr6vendia.

    * Tenho um c#iente em $ers$ectiva $ara o @monstro@disse*me e#e com a sua $ronncia de cham$anhe e caviar. * Amanh, d(*# 2eito

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    ;esitei antes de res$onder. U#timamente" -oanna e eu t7nhamos)a#ado em )icar com o tormchi#d $ara n9s. onh(vamos em vender a noscasa" arran2ar um !erente $ara tomar conta do esta#eiro e de$ois zar$ar $a $ara!ens e/9ticas. O $rob#ema 3 que era s9 um sonho" e eu sabia que n,oest(vamos $rontos $ara essa mudan&a" como sabia que n,o $odia i!norauma boa $ro$osta de com$ra do !rande barco de a&o.

    * O tormchi#d ainda c( est( * res$ondi re#utantemente Carstairs. * E o esta#eiro est( aberto das nove 4s seis" $or isso $ode virvontade. Pe&a a chave do tormchi#d ao meu ca$ataz.

    * O c#iente est( a7 ao meio*dia * disse ;arrrrv. * Bai tenta)azer bai/ar o $re&o $ara as cento e dez mi# #ibras" mas eu 2( #he disse

    voc n,o descia abai/o das cento e trinta mi#.* Es$ere #(D * $rotestei indi!nadamente. %,o era o $re&su!erido que me irritava" mas sim a certeza da $arte de ;arrv de que euestaria dis$on7ve# $ara mostrar o tormchi#d ao c#iente de#e. * Por a#tura" vou eu a meio caminho de 5uernse6. Porque 3 que n,o #he mostrvoc o barco

    * Porque vou estar em Maiorca a im$in!ir um $a#(cio)#utuante a um /eque das Ar(bias * disse ;arr6. e$ois de uma $ausa"acrescentouF * Est( bem" Tim" se n,o quer vender o seu barco" di!a*me se sabe o que 3 )eito daque#e 6a1# a#em,o que estava no cais do CobbAinda continua 4 venda

    * B( $ara o diabo * resmun!uei" $rovocando uma!ar!a#hadinha c7nica de ;arr6" que sabia que -oanna e eu nunca dev7amoter aceitado o tormchi#d na nossa #ista de vendas.

    O !rande iate estava $ara a#3m das nossas $ossibi#idades" mas ia sevendido $or morte do $ro$riet(rio a viva era uma ve#ha ami!a da )am7#in,o t7nhamos tido cora!em de recusar o $edido de#a $ara que nosencarre!(ssemos da venda. Por sentimenta#ismo" t7nhamos" inc#usivrenunciado 4 nossa comiss,o de intermedi(rios" mas nem assimconse!u7ramos vender o ve#ho barco" e $ortanto o casco de quinze metrdo tormchi#d ocu$ava h( um ano um es$a&o $recioso no nosso esta#ei;arr6 Carstairs sabia que eu estava deses$erado e era $or isso que tinhatanta certeza de que eu ia a#terar os meus $#anos $ara a P(scoa.

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    * OG" ;arrv * res$ondi" resi!nando*me ao inevit(ve#. * Eu)ico.

    * Muito bem" Tim. O nome do c#iente 3 -ohn Mi#+er. H uadvo!ado ainda mais insu$ort(ve# do que o costume" mas 3 rico" c#aro"

    $or isso !aranto*#he que n,o vai $erder o seu tem$o.Pousei o auscu#tador e sa7 $ara debai/o da chuva torrencia# $ara vese -oanna 2( tinha vo#tado. Os re)#e/os da #uz dos candeeiros da rudan&avam na (!ua escura" na outra mar!em do rio" e $areceu*me ver umsombra em movimento recortada num dos )ei/es de #uz. O movimento $arecia vir do nosso barco" um Contessa IJ chamado #i$* #ider" e acque -oanna tinha #evado o 2antar $ara o nosso camarote aco#hedor.

    -oD !ritei.O $ort,o do esta#eiro bateu $or detr(s de mim.* Estou aquiD * -oanna correu debai/o da chuva $ara se

    abri!ar no escrit9rio. * Anda comer enquanto est( quenteDAcendi as #uzes de se!uran&a do esta#eiro. A chuva cortava os )ei/e

    de #uz amare#os" mas n,o vi nada a me/er nos $ont'es )#utuantes que

    ba#an&avam com as ondas e decidi que a sombra no #i$* uder )ima!ina&,o minha.* O que )oi * $er!untou -oanna da $orta do escrit9rio.* %ada.A$a!uei as #uzes" mas continuei a o#har $ara o rio" marte#ado $e

    chuva" $arecendo*me ver um !rande iate escuro nas amarra&'es do meio d

    rio" mas o bri#ho das #uzes de se!uran&a diminuira*me a vis,o nocturna en,o $ercebia se aqui#o que via corres$ondia 4 rea#idade.0ui at3 ao escrit9rio e )a#ei a -oanna do $otencia# c#iente de ;arr6"

    concord(mos ambos em que uma o$ortunidade de vender o !rande iate n,ose $odia deitar a $erder. -oanna o)ereceu*se $ara )icar comi!o" mas eu sabique e#a estava cheia de vontade de $assar o )im*de*semana com a )am7#i $ortanto insisti $ara que )osse sozinha $ara 5uernse6.

    * Ta#vez consi!as a$anhar o avi,o * su!eriu e#a" mas sem!rande convic&,o" $ois sabia que as $robabi#idades de se arran2ar um #uno avi,o $ara as i#has do Cana# no s(bado de A#e#uia eram muito remotas

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    Mas $odes ver as coisas $e#o #ado bom * continuou ma#iciosamenteA!ora n,o tens descu#$a $ara n,o ir ouvir a homi#ia $asca# do teu irm,o.

    * 8o#as" n,o me tinha #embrado disso.O meu irm,o" avid" era o $astor da nossa i!re2a #oca# e

    quei/ava*se muitas vezes de que eu raramente o visitava no seu #oca# dtraba#ho" se bem que e#e viesse muito ao meu. O cristianismo muscu#adoavid n,o me a!radava muito" mas desta vez $arecia que n,o tinha outro

    rem3dio sen,o a!uentar de cara a#e!re a minha dose de homi#ia.e$ois de termos comido o $ei/e com batatas )ritas" dei/ei -oanna a

    )azer as contas e )ui acabar a re$ara&,o do iate. Kuando atravessei oesta#eiro a corr3r" re$arei que as amarra&'es do meio do rio estavam vaziao que si!ni)icava que o barco que eu $ensara ter visto #( )ora era s9ima!ina&,o nin!u3m no seu $er)eito 2u7zo teria sa7do $ara o mar com utem$ora# daque#es.

    KUA% O acordei com o des$ertador" antes do raiar do dia" ovento $erdera a sua )ria do dia anterior.

    * Eu bem te disse * dec#arou -oanna" ainda ensonada. Acabaste o 6a1#Acenei a)irmativamente.* %em se $ercebe que )oi dani)icado.-oanna abriu a 2ane#a do quarto e )are2ou o vento.* A travessia vai ser r($ida * disse" contente.-oanna crescera em 5uernse6" onde a$rendera a ve#e2ar t,o

    natura#mente como outras crian&as a$rendem a andar de bicic#eta. 5ostade ventos )ortes e de um mar revo#to e estava ansiosa $or se $:r a caminho

    Pre$arei*#he o $equeno*a#mo&o e de$ois #evei*a de autom9ve# ario. E#a vestia um )ato im$erme(ve#" e o cabe#o #ouro*arruivado" orva# $or um a!uaceiro" sa7a em desordem das bordas do barrete de #, amare#

    e re$ente" tinha um ar t,o 2ovem que" $or instantes" a sua cara cheia dvivacidade me recordou crue#mente a nossa )i#ha" %ico#e.* Mas que ar t,o in)e#iz * disse -oanna do $o&o" vendo a minh

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    e/$ress,o. %,o ia )a#ar da %ico#e" $or isso inventei outra descu#$a.* Kuem me dera ir conti!o.* Eu tamb3m !ostava * disse e#a com os seus modos $r(ticos

    aceitando que n,o $od7amos )azer nada $ara mudar as coisas. * Mas im$oss7ve#. Por isso" )azes )avor de tratar bem o advo!ado de Londres.

    * C#aro que vou trat(*#o bem * disse eu" irritado.* C#aro" $orqu 5era#mente" rosnas aos c#ientes de quem n

    !ostas e ainda est( $ara nascer o $rimeiro advo!ado que te a!rademinimamente.

    -oanna riu*se e de$ois atirou*me um bei2o.* Bou trat(*#o bem * $rometi. o#tei o cabo da $roa d

    #i$* uder e em$urrei o barco $ara #on!e do $ont,o. * Te#e)ona*me quanche!aresD

    * Est( bemD * -oanna so#tara o cabo da r3 e $usera o motortraba#har. * 8ei2osD

    * 8ei2osD * re$#iquei.Com um #timo aceno" -oanna virou $ara 2usante" $ara onde a

    ondas da Mancha rebentavam em es$uma branca na barra do estu(rio.0iquei a v *#a i&ar as ve#as" mas uma cortina cinzenta de chuva )ortre$entina escondeu o #i$* #ider e obri!ou*me a correr $ara o carro $ame abri!ar.

    0ui at3 um ca)3 de camionistas no acesso 4 auto*estrada" ondserviam um $equeno*a#mo&o como deve serF ovos estre#ados com bacsa#sichas" rins" co!ume#os e tomate" $,o com mantei!a $ara ra$ar o mo#houm ch( t,o )orte que $odia servir como deca$ante.

    Kuando abri o esta#eiro" a chuva abrandara e um so# $(#ido bri#hano rio.

    O advo!ado de Londres a$areceu com uma hora de atraso $ara onosso encontro. Era um homem novo" n,o tinha mais de trinta anos" mavia*se que !anhava bem a vida" $ois a$areceu num !rande 8M e" antes desair do carro" serviu*se ostensivamente do te#e)one do autom9ve# $ara q

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    n9s" os $aro#os" $erceb ssemos que e#e tinha um. Mas era mais $rov(ve# $aro#os re$ararem na ra$ari!a que o acom$anhava" que era a#ta e esbe#ti$o mode#o" com umas $ernas que nunca mais acabavam de sair do carrO advo!ado" que vestia um anora? de marca" daque#es que t m um )orque se enche de ar quando se $u/a o cord,o e um arn s de se!uran&a"estendeu*me a m,o.

    * Tim 8#ac?burn $er!untou.* ou eu * con)irmei.* -ohn Mi##er. E esta 3 a Mand6.Mand6 estendeu*me )rou/amente a m,o.

    * Boc 3 muito )amoso" n,o 3 * )oi o cum$rimento de#a.* ou* 0oi o que o meu $ai disse. isse que voc tinha !anho

    muitas re!atas.* +sso 2( )oi h( muito tem$o * res$ondi modestamente.0ora um dos #timos in!#eses a !anhar a re!ata transat# ntica em

    so#it(rio antes de os ve#ozes barcos )ranceses a terem trans)ormado numreserva !au#esa de$ois" durante um breve $er7odo" detivera o recordevo#ta ao Mundo em so#it(rio e sem esca#as. Essas $roezas n,o me tinhadado o estatuto de uma estre#a de roc?" mas o meu nome ainda errecordado $e#os ve#e2adores.

    O advo!ado #evantou os o#hos $ara o tormchi#d" com a sua qui#a#ta encai/ada num ber&o met(#ico maci&o" e de$ois observou ris$idameque $ensara encontrar o barco na (!ua.

    * %esta a#tura do ano" n,o era $rov(ve#. * Lembrei*me dinstru&'es de -oanna" recomendando*me $ara tratar bem este $u#ha"mantive uma voz ca#ma e $aciente. * A Primavera ainda ma# che!ou nin!u3m $'e um barco na (!ua a n,o ser quando $recisa de#e. A#3m disso *continuei desembara&adamente *" achei que !ostaria de veri)icar o estado casco.

    * im" 3 verdade * res$ondeu e#e" re#utante.Mas duvido que e#e tivesse re$arado" mesmo que o casco )osse um

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    #abirinto de buracos en)erru2ados cheio de ratazanas. Era 9bvio que -ohMi#+er n,o $ercebia nada de barcos e que essa i!nor ncia o tornavc#aramente im$aciente com a minha enumera&,o da #on!a #ista de virtuddo tormchi#d. O barco )ora constru7do $or encomenda $ara um $ro$riet(rio e/i!ente" que queria um barco su)icientemente robusto $araa!uentar os $iores mares" mas tamb3m su)icientemente con)ort(ve# $arviver a bordo durante meses se!uidos. O resu#tado era uma embarca&,maci&a e $esada" t,o se!ura como qua#quer iate de cruzeiro" com u $otente motor diese# turbo enterrado no bo2o. Mas o tormchi#d tambera um barco bonito" de #inhas e#e!antes" a$are#ho !racioso e convrevestido de be#as $ranchas de teca da me#hor qua#idade.

    * E 3 $or isso que a!radecia que se desca#&asse antes de suba bordo * conc#u7 bruscamente.

    Mi##er )ez m( cara ao meu $edido" mas tirou os sa$atos caros.Mand6 tamb3m desca#&ou os sa$atos de sa#to de a!u#ha antes

    subir em bicos de $3s as escadas de embarque" de madeira.* H t,o bonito * disse de#icadamente.Mas o advo!ado i!norou*a. Estava a es$reitar $ara o $aine# de

    instrumentos do $o&o" )in!indo que $ercebia o que via.* Aceita cem mi# * atirou de re$ente.* %,o brinque comi!o * retorqui bruscamente.0iquei tanto mais )urioso quanto sabia que" mesmo $or cento e

    cinquenta mi# #ibras" o tormchi#d ainda era muito barato. Mu#er $are)icar irritado com o meu acesso de )ria" mas contro#ou*se" ta#vez $orqeu tinha $e#o menos mais trinta cent7metros de a#tura do que e#e.

    * Est(vamos a $ensar em #ev(*#o $ara o Mediterr neo. Mi#+deu umas $ancadinhas na bsso#a como se )osse um bar9metro. * Acha qu $ode entre!ar #( o barco

    * Ta#vez se2a $oss7ve# * res$ondi. Mas o meu tom de vim$#icava que essa entre!a seria di)7ci#" $ois" a$esar de estar ansioso $

    vender o tormchi#d" n,o estava muito certo de que o destino mais indicad $ara o barco )osse servir de brinquedo caro $ara des#umbrar os ami!os e oc#ientes de Mi#+er. * e o que quer 3 um barco de recreio $ara c#im

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    quentes" ta#vez )osse $re)er7ve# $rocurar um casco de )ibra de vidro * sudi$#omaticamente. E/i!em muito menos manuten&,o.

    * %o Mediterr neo" h( muitos $ac9vios desem$re!adosdis$ostos a )azer traba#hos de manuten&,o * disse o advo!ado num tom d

    voz desa!rad(ve#.Reca#cando a minha vontade de torcer o $esco&o a Mi##er" #eve $ara bai/o $ara e/ibir o im$ressionante $aine# de instrumentos montado $orcima da mesa de nave!a&,o do tormchi#d. Mi#+er nem ouviu a mindescri&,o do at%av" do ecca" do radar e do 1eather)a/" dec#arando quo seu arrais se encarre!aria desses $ormenores. O $r9$rio Mi##er estavmais interessado na comodidade do barco" e a$esar de n,o estar tudo

    novinho em )o#ha" esse as$ecto mereceu a sua a$rova&,o re#utante. O qmais #he a!radou )oi o camarote da $o$a" onde Mand6 estendera o cor$com$rido e sinuoso ao atravessado no enorme co#ch,o do be#iche du$#o.

    * O#(" marinheiro * disse e#a a Mi##er.* Ah" 9$timo * disse Mi##er. Bia*se que estava a ima!inar

    e)eito que a be#eza !r(ci# de Mand6 $roduziria nos seus c#ientes. * Aceicento e dez mi# * $er!untou*me re$entinamente.

    Eu sentia uma !rande tristeza" $orque sabia que" de$ois de terservido de isco $ara concretizar a#!uns ne!9cios" o barco iria a$odrecenum canto qua#quer.

    * Ou&a" $orque 3 que n,o vai dar uma vista de o#hos aooutros camarotes * $er!untei com toda a $aci ncia que conse!ui arran2ar

    e$ois" $odemos discutir o $re&o no meu escrit9rio. Bou )azer ca)3.

    ei/ei*os a ver o barco" e quando atravessava o esta#eiro" 8i##6" qacabara de a$are#har o 6a1# re$arado" saiu*me ao caminho.* Re$arou no anora? daque#e idiota* 4s vezes" )az muito mau tem$o no #a!o de ;6de Par? *

    res$ondi num tom de voz re$reensivo" mas de$ois a)astei*me" $orquacabava de entrar um autom9ve# no esta#eiro. Era o ve#ho Ri#e6 do mirm,o.

    A minha $rimeira ideia )oi que avid tinha vindo ao esta#eiro $arasair no seu din!h6 de re!atas da c#asse =>=. O meu reverendo irm,o mais

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    ve#ho era um advers(rio $eri!oso e" ta# como muitos outros ve#e2adorhabituados ao descon)orto e 4s mo#has dos )r(!eis barcos de re!ata" diziades$rezar as comodidades sibar7ticas dos marinheiros de #on!a dist nccomo eu.

    * %,o vais sair $ara o mar com a tua casca de noz com estevento" $ois n,o * )oram as $a#avras com que aco#hi avid quando e#e aba $orta do Ri#e6.

    Mas de$ois vi que vinha de sotaina e cabe&,o e que a e/centricidadede avid n,o ia ao $onto de ve#e2ar com o seu tra2e de homem de eus. Aoutra $orta da )rente do Ri#e6 abriu*se e saiu mais um homem.

    H a $artir do momento em que 8rian Ca7#endar saiu do carro david que a recorda&,o desse )im*de*semana da P(scoa se desenro#a nminha cabe&a como um )i#me sombrio e sinistro que se re$et

    interminave#mente.8rian Ca7#endar avan&a na minha direc&,o. H um ve#ho conheci

    mas 3 sar!ento da Po#7cia #oca# e qua#quer coisa na cara de#e e na de adiz*me que os dois homens n,o vieram ao esta#eiro $or coisa boa" nem $ae#es nem $ara mim.

    * Tim * diz Ca7#endar" numa voz )or&ada. Continuo a sormas $ercebo $e#o tom de voz do a!ente que n,o vou ter vontade de rirdurante muito tem$o. * Tim * re$ete Ca7#endar.

    5ostava que o )i#me $arasse. 5ostava tanto que o )i#me $arassemas n,o $(ra.

    AB+ $e!ou*me no bra&o e #evou*me $ara o $ont,o" )icando meu #ado enquanto Ca7#endar me dizia que tinha e/$#odido um iate a medo cana# da Mancha. Tinham encontrado a#!uns destro&os" entre e#es u b9ia com o nome #i$* #ider $intado em #etras $retas.

    0iquei a o#har $ara e#e.* %,o * disse. %,o )ui ca$az de dizer mais nada. * %,o.* Um car!ueiro ho#and s assistiu" Mr. 8#ac?burn. * Ca##end

    como conv3m a um $ortador de m(s not7cias" $assara a um tom mai

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    )orma#. * isseram que a e/$#os,o )oi muito )orte.* %,o.A $a#avra era mais do que uma ne!a&,o" era um $rotesto. avid

    continuava a a!arrar*me no bra&o. %a cidade" os sinos re$icavaruidosamente" anunciando os casamentos $ascais.

    Ca7#endar ca#ou*se $or instantes $ara acender um ci!arro.* %,o h( sobreviventes" Mr. 8#ac?burn * disse )ina#mente. *

    barco ho#and s andou 4 $rocura e a Marinha mandou um he#ic9$tero" ms9 encontraram destro&os.

    * %,o. * Eu o#hava $ara o rio" mas sem ver nada.

    * Era a -oanna * avid $arecia embara&ado" como #hacontecia sem$re que emo&'es )ortes $erturbavam a su$er)7cie ca#ma dvida" mas via*se que estava deso#ado" $ois sabia e/actamente quem 3 queno #i$* 7ider. %o entanto" a $er!unta tinha de ser )eita. * A -oanna ia bordo

    Assenti com um aceno de cabe&a. Tinha um n9 na !ar!anta. Aminha vontade era vo#tar*#hes as costas e ir*me embora" como se nuntiv3ssemos tido aque#a conversa.

    * +a mais a#!u3m a bordo" Mr. 8#ac?burn * $er!untoCa##endar.

    Abanei a cabe&a.* 9 a -oanna. * Tremia. Tudo aqui#o me $arecia irrea#. O

    Mundo estava vo#tado de $ernas ao ar. * Meu eus. Kuando 3 que )oi %,o que isso interessasse" mas a nica coisa que eu $odia )azer

    a!ora eram $er!untas $ara tentar dar sentido 4 tra!3dia.* Esta manh," $ouco de$ois das nove * disse Ca7#endar.Mas nada )azia sentido" nada" a n,o ser a #enta consciencia#iza&,o

    que a minha -oanna estava morta comecei a chorar.

    A $artir desta a#tura" o )i#me est( muito riscado" riscado e $artidLembro*me de ter mandado $assear o advo!ado de Londres e a namoradaLembro*me de avid me ter )eito beber um conhaque e de$ois me #eva $ara casa de#e" e de 8ett6" a sua mu#her" ter come&ado a chorar. avid t

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    de sair $ara ce#ebrar tr s casamentos na i!re2a" $or isso 8ett6 e eu )ic(moem casa" deso#ados" enquanto os sinos re$icavam a sua mensa!em da#e!ria no dia ventoso.

    Kuando avid vo#tou dos casamentos" um !ru$o de 2orna#ista

    encurra#ou*o 4 $orta da resid ncia $aroquia#" mas e#e mandou*os $ain)erno.Por mim" 2( me sentia no in)erno. avid" que estava sem$re mais

    vontade a a!ir do que a dar #ar!as 4s suas emo&'es" tentou descobrir umcausa mec nica que $udesse e/$#icar a morte de -oanna. Per!untou se n,o $oderia ter havido uma )u!a de !(s de cozinha a bordo do #i$* #ider" meu abanei a cabe&a.

    * T7nhamos insta#ado um a#arme de !(s.* Os a#armes nem sem$re )uncionam * disse avid.* O que 3 que isso interessa * $er!untei.

    9 tinha vontade de chorar. Primeiro tinha morrido o meu )i#hode$ois %ico#e desa$arecera e a!ora era -oanna. %,o queria acreditar quee#a tivesse morrido. %os dias se!uintes" a!arrei*me )erozmente 4 convic&

    de que e#a tinha sido $ro2ectada $ara )ora do barco $e#a e/$#os,o e qucontinuava a nadar na Mancha. Mesmo quando encontraram os seus restomortais" tentei convencer*me de que n,o era e#a.

    Mas c#aro que era" e de$ois de os $ato#o!istas terem acabado o setraba#ho no que restava da minha mu#her" avid enterrou*a no cemit3rio"a#to do monte onde e#a e eu costum(vamos sentar*nos a o#har $ara o canda Mancha. -oanna )oi enterrada na mesma cam$a onde 2azia o nosso )i#h

    ic?ie" que tamb3m morrera numa e/$#os,o quando um outro anodesabrochava de vida.Lembro*me de )icar a o#har" boquiaberto" $ara o sar!ento 8rian

    Ca7#endar quando e#e me )oi visitar $ara dizer que os es$ecia#istas )orenque haviam e/aminado os destro&os do #i$* #ider tinham che!ado conc#us,o de que -oanna morrera devido a uma bomba. Tentei novamentene!ar o ine!(ve#.

    * %,o" n,o $ode ser.* Lamento" Tim" mas 3 verdade.

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    Restavam $oucos destro&os )7sicos $ara os es$ecia#istae/aminarem" mas e#es haviam conse!uido e/trair conc#us'es muito $ormenorizadas acerca da bomba. abiam qua# o e/$#osivo que )ora usade como 3 que tinha sido detonado. At3 sabiam dizer em que $arte do barca bomba )ora co#ocada. e!undo e#es" a e/$#os,o devia ter aberto um!rande rombo no )undo do #i$* #ider" e no mesmo instante terr7ve# deter criado na cabina uma $ress,o into#er(ve# que )izera sa#tar o conv3se$arando*o do casco. O barco devia ter*se a)undado em $oucos se!undoe -oanna n,o dera $or nada" !arantiu*me 8rian Ca7#endar. Ca7#endar veat3 a minha casa $ara me e/$#icar os $ormenores horr7veis.

    * +sto si!ni)ica que v,o mandar c( os dur'es de Londres *disse. 0ez uma $ausa e de$ois acrescentouF * E quer dizer que voc vai ssarrazinado $e#o $essoa# da im$rensa.

    Os 2orna#istas 2( tinham come&ado a $erse!uir*me. Eu $rote!ia*meme#hor $oss7ve#" tirando o auscu#tador do te#e)one do descanso barricando*me em casa" onde me a#imentava de 1his?6 e de sandu7ches q

    avid me trazia. Ta# como a Po#7cia" os 2orna#istas queriam saber quco#ocara a bomba. urante a#!um tem$o" a Po#7cia sus$eitou de mim" mquando os dur'es de Londres revistaram o esta#eiro e a casa n,oencontraram nada que me incriminasse e nada que su!erisse que a nossavida de casados n,o era )e#iz.

    Tamb3m n,o tinha motivos $ara destruir o #i$* #ider. Mas havioutros homens que $odiam ter tido motivos $ara co#ocar uma bomba bordo do meu barco os mesmos homens que tinham armadi#hado a bomque matara o meu )i#ho.

    * Mas essa bomba era uma bomba Mar? One Provo do +RAProvis9rio detonada $or comando 4 dist ncia e recheada de semte/ * disso ins$ector 0#etcher o mais duro dos dur'es desi!nados $ara reso#ver ocaso. * Kuer recordar*me onde 3 que isso se $assou

    * Em 0reedu)).0reedu))" no condado de Arma!h" onde o tenente Richard

    8#ac?burn" comandando a sua $rimeira $atru#ha" )ora )eito em $eda&os.* Entre Crossma!#en e Cu##6hanna * disse 0#etcher.Lancei*#he um #on!o o#har meditabundo. O ins$ector 5od)re

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    0#etcher n,o era um $o#7cia qua#quer" mas sim um bandido #e!a# que vno mundo sombrio do contra terrorismo e do crime $o#7tico.

    * Mas a bomba que matou a sua mu#her n,o era uma Mar?One Provo" $ois n,o

    ;aviam $assado duas semanas sobre o )unera# de -oanna" e 0#etcherviera a minha casa $ara me in)ormar muito re#utantemente de que 2( n,sus$eitavam de mim no caso do assass7nio da minha mu#her. Mas $arecque e#e tamb3m n,o achava que o res$ons(ve# )osse o +RA.

    0ora a im$rensa que" 4 )a#ta de outros cu#$ados" come&araes$ecu#ar que o +RA Provis9rio co#ocara a bomba $ara destruir

    #i$* #ider. %,o era $ura )antasia" $orque n9s em$rest(vamos co)requ ncia o Contessa IJ a tri$u#a&'es do E/3rcito 8rit nico" e a#!un 2ornais su!eriram que o +RA $odia ter $ensado que o #i$ #ider #evav bordo uma tri$u#a&,o do E/3rcito nesse )im*de*semana da P(scoa.

    * %,o" n,o era uma bomba vu#!ar do +RA * continuou0#etcher. * A#3m disso" se tivessem sido e#es 2( teriam reivindicadoatentado. Para que 3 que serviria 4 causa de uma nova +r#anda imo#ar ummu#her inocente se n,o se anunciasse ao Mundo essa !rande $roeza

    Estava de $3 4 $orta da cozinha" o#hando $ara as (!uas revo#tas dMancha" $ara #( do va#e. -oanna com$rara a casa devido 4que#a $aisa!eat3 ao mar.

    * %,o * continuou 0#etcher" sem se vo#tar $ara tr(s. * %,o m $arece que a sua mu#her tenha morrido $or uma nova +r#anda. Kuem s,o seus inimi!os" Mr. 8#ac?burn

    aiu de ao $3 da $orta e )itou*me nos o#hos.* %,o tenho inimi!os * re$#iquei.* Kuem 3 que sabia da vossa reuni,o )ami#iar da P(scoa *

    0icou 4 es$era" mas n,o obteve res$osta. * A#!u3m $ode ter $ensado quiam ambos no barco * Os o#hos de#e tinham a e/$ress,o crue# de u)a#c,o. * Kuem 3 que )ica com a massa se o senhor morrer" Mr. 8#ac?burn

    * %,o se2a rid7cu#o * res$ondi bruscamente.* evem ter bastante dinheiro na sua )am7#ia. * A voz d

    ;etcher era t,o azeda como (!ua de $or,o. * O seu $ai era um cirur!i,o da

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    ;ar#e6 treet muito conhecido" n,o 3 verdade os me#hores. Kuantodinheiro 3 que #hes dei/ou" a si e ao seu irm,o Meio mi#h,o a cada um

    * +sso n,o 3 da sua conta * res$ondi" irritado.* Por acaso" at3 3. * +nc#inou*se $ara a )rente. * H tudo

    minha conta at3 eu a$anhar o sa)ado que matou a sua mu#her.Retribui*#he o o#har im$#ac(ve#" mas n,o disse nada.* abe que )oi e#a" n,o sabe * insistiu 0#etcher.* %,oD %,oD * E essa sim$#es $a#avra era mais uma vez

    $rotesto" a#3m de uma ne!a&,o. * %,oD %,oD %,oD0#etcher estava a su!erir que a minha )i#ha" %ico#e" tinha matado

    m,e. 0#etcher estava doido. %,o tinha sido a minha )i#ha. %,o tinha sido a %ico#e.

    R+C;AR e %ico#e eram !3meos. %ico#e )ora sem$re a che)e" mais cora2osa" a insti!adora da desobedi ncia e da ousadia" se bem quRichard nunca )icasse muito atr(s da maria*ra$az da irma. Kuando tinham

    treze anos" durante uma trovoada re$entina de Primavera" o $equeno barconde ve#e2avam teve de ser socorrido dos reci)es $e#o sa#va*vidas #oca $atr,o do sa#va*vidas" que era boa $essoa" $rimeiro sa#vou*os e de$deu*#hes uma boa descom$ostura. %ico#e )icou )uriosa" n,o $or o $atr,o dsa#va*vidas ra#har com e#a" mas sim consi!o mesma $or ter enca#hado.

    * E#a 3 muito brava * disse*me o $atr,o do sa#va*vidas no dse!uinte. * Birou*se a mim como um !ato assanhado.

    %ico#e $erdia a cabe&a quando a contrariavam. Mas )requentemenera e#a $r9$ria a causa das suas contrariedades" quando )a#hava em qua#qcoisa que ambicionava )azer a$esar de raramente )a#har" $orque era umra$ari!a dotada e e/tremamente $ersistente. O irm,o recorria ao humor $ara u#tra$assar os momentos di)7ceis" mas %ico#e cu#tivava a durezavezes" essa dureza $reocu$ava*nos" a -oanna e a mim" $orque tra7a umcerta )a#ta de com$ai/,o da $arte da nossa )i#ha" mas tamb3m t7nhamo

    muito $or que estar a!radecidos. %ico#e" ta# como o irm,o" era umado#escente bonita" de cabe#o #iso cor de $a#ha e o#hos azuis como o maOs !3meos tinham a be#eza da sade e da )or&a )7sica" mas

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    car(cter de %ico#e continuava a ser de !e#o. Richard era imensament!eneroso e com$reensivo" mas %ico#e mostrava*se into#erante $ara com)raquezas" tanto as suas como as dos outros. %ico#e tinha de ser sem$reme#hor em tudo" com uma nica e/ce$&,o. 9 o seu irm,o !3meo" Richard $odia ser i!ua# a e#a ou mesmo me#hor. Eram inse$ar(veis" amic7ssim %ico#e sentia as vit9rias de Richard como suas e as derrotas do irm,o como)ensas $essoais.

    Com a idade" %ico#e aca#mou. %os #timos anos da ado#esc nera ca$az de contro#ar o seu !3nio" e quando entrou na universidade" quase conse!uia @)azer uma imita&,o razo(ve# de uma $essoa norma#como dizia o irm,o a#e!remente. Richard 2( sa7ra de casa e" $ara minh!rande satis)a&,o" a#istara*se no meu anti!o re!imento. %ico#e" quatravessava uma )ase $assa!eira de antimi#itarismo" n,o a$rovava a carreiresco#hida $e#o irm,o. 0requentava uma universidade do %orte do $a7s onestudava 5eo#o!ia" mani)estando dotes acad3micos que nos sur$reendiamMas a ve#ha %ico#e revo#tada n,o desa$arecera com$#etamente. Lan&oude cor$o e a#ma nas #utas $o#7ticas universit(rias" e uma vez at3 )oi $r $or ter atirado ovos ao $rimeiro*ministro numa mani)esta&,o contra aemiss'es t9/icas das centrais nuc#eares. %o entanto" a$esar da sua

    into#er ncia a$ai/onada em re#a&,o a todas as ideias que n,o )ossem asuas" %ico#e $arecia )e#iz e rea#izada" e -oanna e eu come&(vamos a $eque se a$ro/imava o dia em que $oder7amos concretizar um sonho muitoanti!oF vender a casa e com$rar um barco su)icientemente !rande $aravivermos $ermanentemente a bordo.

    0oi ent,o que Richard morreu num dia de Primavera na +r#andaquando as )#ores nas sebes do condado de Arma!h $areciam uma e/$#os,o

    de branco. E" com a morte do !3meo" qua#quer coisa morreu tamb3m e %ico#e. esistiu de estudar e vo#tou $ara casa" revo#tada com a in2usti&destino. -oanna e eu )omos aconse#hados a dar tem$o ao tem$o" $ois des!osto de %ico#e acabaria $or desa$arecer $or si" como um esti#ha&ometra#ha e/$u#so $e#o or!anismo. Pareceu enterrar*se cada vez mais )undna amar!ura" tornando*se azeda numa revo#ta soturna e deses$erada %ico#e estava cada vez mais ma!ra" $(#ida e irritadi&a" e durante a#!tem$o $assou a vida metida nas i!re2as" che!ando mesmo ao $onto deanunciar a sua inten&,o de entrar $ara um convento de carme#itas desca#&na Proven&a. O tio avid disse*#he $ara se dei/ar de dis$arates" e )oi o qe#a )ez" s9 que dis$aratou no sentido o$osto. Primeiro" )oi $resa $

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    embria!uez e $erturba&,o da ordem $b#ica e" tr s semanas de$ois" $ $osse de mari2uana. -oanna e eu $a!(mos as mu#tas" mas de$ois diss %ico#e mer!u#hou numa crise de de$ress,o e revo#ta ainda maiinsu$ort(ve# do que os e/tremos de re#i!iosidade e hedonismo anteriores.

    0oi nesse mesmo Ber,o que %ico#e conheceu Cas$ar von Re##stebConheceu*o no esta#eiro" onde e#e atracou $ara re$arar o estai rea# do catamar,. 0oi num s(bado" e -oanna e eu est(vamos a tentar dar um 2eito no 2ardim" que se tornara um mata!a#" quando %ico#e a$areceu em casa ao da tarde e dec#arou que se ia embora $ara viver com um homem chamadCas$ar.

    * Bou a!ora mesmo * acrescentou.

    * A!ora Cas$ar Cas$ar qu * $er!untou -oannaassombrada.* 9 Cas$ar. * Ou %ico#e n,o sabia o nome de#e" ou n,

    queria que n9s o soub3ssemos. * H um eco#o!ista. Tamb3m vive sem$re bordo" como o $ai e a m,e querem )azer * disse*nos ca#mamente. * E v#ar!ar com a mar3 #o!o 4 noite.

    * Lar!ar $ara onde * $er!untou -oanna.* %,o sei. Bai #ar!ar. %ico#e entrou em casa e come&ou a cantar enquanto $rocurava

    )ato de o#eado e as botas de borracha. Primeiro" -oanna e eu )ic(mos a o#hum $ara o outro" mas de$ois ach(mos que a )e#icidade sbita da nossa )i#ta#vez )osse uma b n&,o e que )u!ir de casa com Cas$ar" o marinheirmisterioso" $odia acabar $or ser me#hor do que des$erdi&ar a 2uventuainda $or cima desca#&a" num convento )ranc s ou andar a embebedarat3 4 inconsci ncia nos bares da cidade.

    %ico#e arrumou ra$idamente as suas coisas na mochi#a e de$otentou dissuadir*nos de irmos des$edir*nos de#a" mas como n,o conse!uim$edir*nos" #ev(mo*#a de autom9ve# at3 ao rio" onde veri)ic(mos qu barco de Cas$ar era um !rande catamar, de madeira chamado Erebus" umaembarca&,o dese#e!ante" de quase quinze metros de com$rimento" com uas$ecto $esad,o. %,o havia nenhuma indica&,o do $orto de ori!em do barco" n,o tinha $intado 4 $o$a o nome de nenhuma cidade e a bandeira erum tra$o verde desbotado e an9nimo.

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    O !rande catamar( estava atracado ao nosso $ont,o de visitantes.Tinha $e&as de vestu(rio e $anos de cozinha $endurados a secar n ba#austrada" mas n,o havia outros sinais de vida a bordo" at3 que sa7ram re$ente da cabina quatro crian&as muito $equenas" muito #ouras com$#etamente nuas" que come&aram a correr umas atr(s das outras ntecto da cabina aos !ritos.

    * ,o )i#hos de Cas$ar * $er!untou -oanna com uma $aci ncia que me $areceu her9ica.

    * ,o * res$ondeu %ico#e" como se )osse a coisa mais normdo Mundo uma ra$ari!a sair de casa $ara )azer $arte de uma )am7#icom$#eta que s9 conhecera h( duas ou tr s horas.

    * Ent,o" e#e 3 casado * $er!untei eu.* %,o se2a antiquado" $ai. * %ico#e $:s a mochi#a ao ombro

    avan&ou $e#o $ont,o.As crian&as nuas" que estavam a!ora na $roa do catamar,"

    !uinchavam" e/citadas. %essa a#tura" a$areceu re$entinamente no $o&o Erebus um homem a#to e esque#3tico com um #en&o verde*c#aro atad $esco&o.

    * Ca#adosD * 0a#ava a#em,o" uma #7n!ua que eu a$renderaanos e que ainda com$reendia mais ou menos.

    As quatro crian&as ca#aram*se e imobi#izaram*se imediatamente.* Ba#ha*me eus * murmurou -oanna" $ois" $ara a#3m d

    #en&o verde" o homem estava com$#etamente nu.

    Tinha a $e#e castanha" tisnada do so#" contrastando com acom$ridas )arri$as da sua cabe#eira branca e com a barba des!renhadatamb3m branca. 0itou as crian&as amedrontadas durante se!undos com umo#har )eroz e de$ois vo#tou*se quando ouviu os $assos de %ico#e no $on

    orriu e estendeu*#he a m,o $ara a2ud(*#a a entrar a bordo.* Est( na a#tura de im$or a minha autoridade $aterna# * disse e

    decididamente" e avancei $e#o $ont,o" sa#tando $ara o $o&o do Erebus.

    %ico#e e o homem da barba tinham desa$arecido no interiorMer!u#hei $e#o a#b9i" desembocando no !rande sa#,o" onde a min $rimeira im$ress,o )oi a de uma con)us,o de !ente nua. O#hando me#hor" v

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    que" a#3m de %ico#e e do homem da barba" que devia ser o sedutor Cas$estavam tamb3m no camarote mais duas ra$ari!as. As duas ra$ari!as erammais ou menos da idade de %ico#e e estavam ambas nuas. Uma de#a $arecia estar a a2udar %ico#e a des$ir*se.

    * Kue raio 3 isto * $er!untei severamente.* Este 3 o meu $ai * e/$#icou*#hes #aconicamente %ico#e.As duas ra$ari!as $e!aram 4 $ressa em rou$a $ara esconderem a

    sua nudez" e o homem vo#tou*se #entamente $ara mim. %,o disse nad#imitando*se a )itar*me.

    * Kue raio 3 isto * $er!untei novamente. * %ico#eD BamemboraD

    * Por amor de eus" $ai" dei/e*me * disse %ico#e" como se estivesse a aborrec *#a.

    Cas$ar $e!ou nuns ca#&'es de caqui desbotados e en)iou*os de$oi)ez*me sina# $ara vo#tarmos $ara o $o&o.

    * 5ostava de )a#ar consi!o * disse com modos t,o de#icadosque n,o )ui ca$az de recusar o seu $edido. * Est( $reocu$ado * $er!untouquando est(vamos outra vez c( )ora. 0a#ava in!# s com um sotaque a#em,muito $ronunciado e num tom de voz simu#taneamente es$antado ma!oado. * Tem medo que aconte&a a#!uma coisa 4 sua )i#ha" 3 Pedescu#$a. H s9 que" no barco" andamos assim 4 vontade.

    Eu estava de cabe&a $erdida.* +sto aqui 3 um borde#D * !ritei.

    -oanna" do $ont,o" tentou aca#mar*me. Cas$ar )ez*#he uma #i!eiv3nia.

    * Chamo*me Cas$ar von Re##steb * a$resentou*se. 8em*vindos a bordo do Erebus. A vossa )i#ha quer 2untar*se ao nos $equeno !ru$o e eu estou encantado" $or e#a e $or n9s. * Abanou uma m,ma!ra" a$ontando $ara o barco" e acrescentou misteriosamenteF * ;( muitotraba#ho a )azer.

    * Traba#ho * $er!untou -oanna.* %,o andamos no mar $or !osto * disse $ortentosamente

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    Cas$ar von Re##steb. * Mas sim $ara ava#iarmos os estra!os que o nos $#aneta est( a so)rer.

    e re$ente" a voz de#e endureceu e $ercebi que" a$esar da suama!reza" n,o era )raco. Pareceu*me que devia ser da minha idade" un

    quarenta e ta# anos" a$esar de $arecer mais ve#ho $or causa do cabe branco.* A %ico#e disse*nos que o senhor era eco#o!ista * observo

    -oanna" )azendo conversa.* um r9tu#o c9modo" sim" mas $re)iro $ensar que sou um vi!i#an

    do $#aneta. A minha tare)a actua# 3 ava#iar a e/tens,o da $o#ui&,o e e/tin&,o das es$3cies.

    * Eco#o!ista" uma ova * disse eu em tom de des$rezo. * E#tem mas 3 um har3m $articu#ar. * Em$urrei o homem a#to e !ritei $araescuro" #( $ara dentroF * %ico#eD

    * A %ico#e 3 adu#ta" Mr. 8#ac?burn * e/$#icou*me e#e num tde su$erioridade. * Pode )azer o que quiser da vida de#a. Bo#tou*me costas. * %ico#eD Kueres dei/ar o Erebus e vo#tar $ara casa dos teus $ais

    * Kuero )icar. %ico#e )a#ou com uma timidez inusitada" como se receass

    desa!radar ao homem" e -oanna e eu )ic(mos assombrados com aque#amansid,o desusada.

    * Ent,o" $odes )icar * dec#arou Re##steb ma!nanimamente.Mas $rimeiro tens de te des$edir do teu $ai e da tua m,e. AndaD

    ei/ou*nos sozinhos com %ico#e" que vestia a!ora uma camisa eumas ca#&as verde*c#aras" a$arentemente a cor dos uni)ormes do Erebus.* Lamento * disse embara&ada *" mas tenho de )azer isto.* %,o sabes nada acerca deste homemD * e/c#amei" num

    #tima tentativa de dissuas,o.* Cas$ar 3 bom marinheiro e quer )azer qua#quer coisa $e#

    nosso mundo $o#u7do. * %ico#e recu$erara uma $arte da sua teimohabitua#. * Kuero trans)ormar o Mundo num #u!ar me#hor. H assim tmau

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    @Meu eus@" $ensei" mas n,o se $ode )azer nada $ara dissuadir 2ovens quando $ensam que $odem sa#var o Mundo.

    * 5osto muito de ti * disse eu timidamente.Tentei dar*#he todo o dinheiro que trazia na carteira" mas %ico#e n

    quis aceitar. 8ei2ou*me" bei2ou a m,e e de$ois" #im$ando as #(!rimas que mo#havam as )aces" acom$anhou*nos at3 desembarcarmos.-oanna e eu )omos at3 ao carro e de$ois se!uimos $ara o Cross and

    Anchor" um $ub de onde se via o mar. -oanna mandou vir um !in t9nico eeu $edi uma cerve2a. Ao )im de meia hora" vimos o Erebus sair a barra motor. As tr s ra$ari!as estavam na coberta" todas vestidas de verde*c#aro

    * A %ico#e $arece )e#iz * disse -oanna $ensativamente. Tinhido buscar um bin9cu#o ao autom9ve# e $assou*mo $ara as m,os. * Ta#ve#a $recisasse de )azer isto $ara u#tra$assar esta )ase.

    * O que me $reocu$a 3 o que aque#e hi$$ie retardado #he vameter na cabe&a * disse eu )erozmente quando o hi$$ie em causa a$arecena coberta" vestindo os mesmos ca#&'es e com o cabe#o atado nurabo*de*cava#o.

    Parecia um bode" $ensei" sentindo*me $erturbado com o )acto de ara$ari!as estarem vestidas de i!ua#" $ois $arecia que se humi#havam dianda autoridade do homem.

    * H um homem muito carism(tico * disse tristemente -oanna.* Kue dis$arateD* eu*te a vo#ta. * -oanna acariciou*me a m,o enquanto o

    $esado catamar( $assava 4 nossa )rente" diri!indo*se $ara o mar.0oquei o bin9cu#o e vi que %ico#e" que e)ectivamente tinha um

    )e#iz" $e!ara no #eme do catamar( enquanto Cas$ar von Re##steb i&avve#a !rande" que tamb3m era verde.

    * E#a a#istou*se ao servi&o de uma boa causa" Tim * di-oanna" o#hando $ara o barco que #he #evava a )i#ha $ara #on!e. * Adisso" %ico#e sem$re )oi eco#o!ista. Kue ma# 3 que isso tem

    * %enhum * disse eu. * 9 que n,o me $arece que aque#sa)ado se2a um verdadeiro eco#o!ista. E mas 3 um o$ortunista. abe que

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    2ovens anseiam $or uma boa causa e $or isso atrai*as com toda essconversa )iada $ara as recrutar $ara o seu har3m.

    * %,o tens a certeza disso * retorquiu $acientemente -oanna.* e e#e 3 um eco#o!ista assim t,o convicto" $orque 3 que tem

    os motores t,o su2os * $er!untei. Rea#mente" os esca$es do Erebudei/avam atr(s de si duas nuvens de )umo ne!ro que )#utuavam sobre o rio* %,o devia t *#a dei/ado ir.

    * %,o $odias )azer nada $ara a im$edir * disse -oanna" deo#hos )itos no catamara que se a)astava. 0ez uma #on!a $ausa e de$oio#hou*me com tristeza. * %unca te disse isto" Tim" $orque 3 uma estu$ie uma in2usti&a" mas a %ico#e acha que tu )oste o cu#$ado da morte

    ic?ie.* Eu D * 0iquei a o#har $ara -oanna" embasbacado. * E#a a

    que eu )ui o cu#$ado* Porque encora2aste o ic?ie a ir $ara a tro$a.

    ei um sus$iro e/as$erado.* Porque 3 que e#a nunca me )a#ou nisso* 9 eus sabe. %,o $ercebo esta !ente nova. Tenho a

    certeza de que e#a sabe que n,o tiveste cu#$a nenhuma" mas ... * -oannenco#heu os ombros" a)astando esse $ensamento. * Bais ver que e#a vo#Tim.

    Mas eu estava inconso#(ve#. Bia a minha )i#ha" que me cu#$ava $emorte do meu )i#ho" $artir de barco rumo ao desconhecido" e $erdera*a

    )avor de um homem que detestara instintivamente 4 $rimeira vista.* A %ico#e 3 )orte. * -oanna tentava descobrir raz'es $ara se

    sentir mais sosse!ada enquanto o#h(vamos $ara a nossa )i#ha timonandhabi#mente o catamar(. * Bai a$roveitar*se de#e e das suas ideias $aconse!uir o que quer. E#e 3 um homem atraente" mas duvido que se2su)icientemente es$erto $ara a n,o $erder vais ver se n,o tenho raz,o. E#est( de vo#ta antes do %ata#.

    Mas %ico#e n,o vo#tou nesse %ata#" nem no outro" nem no outrose!uir. %,o nos escreveu nem nos te#e)onou. A nossa )i#ha tinhadesa$arecido" n,o sab7amos $ara onde" com um homem que n,o $od7amo

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    #oca#izar. %unca vo#tou a casa" a$esar de 0#etcher" o $o#7cia anti$(insistir que %ico#e vo#tara no meio da noite" como um #adr,o" $ara co#oc bomba que matara a m,e e que devia tamb3m ter matado o $ai.

    * %,o. * %e!uei com des$rezo a a)irma&,o de 0#etcher.

    Mas o sorriso sabido de#e tro&ava da minha ne!ativa.* E#a ainda )i!ura no seu testamento * $er!untou. %,o #he de

    res$osta" $e#o que e#e $resumiu correctamente que sim. * A#tere o testamento. * 0#etcher i!norou a minha indi!na&,o. * E/c#ua*a. Assim" s $r9/ima bomba o matar a si" $e#o menos e#a n,o #ucra com isso. %,queremos que os maus se2am recom$ensados" $ois n,o" Mr. 8#ac?burn

    * %,o se2a t,o o)ensivo * res$ondi*#he bruscamente" mas res$osta $areceu*me ociosa e" $e#a $rimeira vez na vida" senti*mcom$#etamente sozinho.

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    CAPTULO O+

    O +%TERE E do $b#ico $e#a morte de -oanna )oi*se atenuandmedida que o tem$o $assava e n,o eram )eitas $ris'es. Para meu !randees$anto" Mi##er" o advo!ado #ondrino" ou se2a e#e e os s9cios" com$rtormchi#d. A )irma $a!ou um $re&o razo(ve# e de$ois o)ereceu madinheiro ao meu esta#eiro $ara a$are#harmos o barco e o $ormos na (!uaMi##er e um !ru$o de ami!os baru#hentos vieram de Londres $ara estrear

    torNnchi#d. %em sequer i&aram as ve#as #imitaram*se a sair a barra a ancorando #( )ora e bebendo cham$anhe nesse dia soa#heiro de Ber,o" antede trazerem o be#o barco de vo#ta $ara o esta#eiro.

    * %,o se im$orta de o !uardar aqui at3 vir uma tri$u#a&,o busc(*#o * $er!untou*me Mi##er. * Bou mandar o barco $ara Antibes.Acedi em !uardar o tormchi#d durante um m s numa das

    amarra&'es do esta#eiro" mas ao )im desse tem$o n,o a$areceu nenhumtri$u#a&,o. Passou mais um m s" e o barco continuava a ba#oi&aramarra&,o. As chamadas $ara o escrit9rio de Mi#+er n,o adiantaram nad $or isso mandei*#he a conta do a#u!uer da amarra&,o" mas a conta" ta# coo barco" )oi i!norada.

    %,o 3 que eu me ra#asse muito com isso" $orque desde a morte d-oanna ca7ra num estado de deses$ero e a$atia. A casa de!radava*se" 2ardim era um mata!a# e o esta#eiro s9 continuava a )uncionar $orque $essoa# tratava disso sozinho. Eu n,o )azia nada sen,o sentir $ena de mim $r9$rio. Tinha $erdido a minha mu#her e o meu )i#ho" a minha )i#desa$arecera e eu a)undei*me no deses$ero. urante semanas" $assei anoites a chorar" e as minhas #(!rimas eram a#imentadas a 1his?6. Os meuami!os tentavam a2udar*me" mas o que me )a#tava era a com$anhia dminha mu#her. avid es)or&ava*se $or me conso#ar" mas $ara isso senecess(ria uma sensibi#idade que avid n,o tinha ou n,o queria ter.

    * 8om" $e#o menos $odias cortar o cabe#o * disse*m)ina#mente. * Pareces um hi$$ie.

    A re)er ncia a hi$$ie #embrou*me Cas$ar von Re##steb" e )a#ei $mi#3sima vez em %ico#e e no seu $aradeiro e em como 3 que $odermandar*#he a not7cia da morte da m,e.

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    * e e#a soubesse que a m,e morreu" vo#tava $ara casa insisti" vo#tando*me $ara avid. * Tenho a certeza.

    avid resmun!ou qua#quer coisa no sentido de que o que n,o temrem3dio remediado est(. Kueria que eu esquecesse %ico#e" n,o $orque n,

    !ostasse de#a" mas a$enas $orque duvidava de que e#a vo#tasse $ara caAchava que e#a ta#vez tivesse morrido. O meu irm,o tinha uma atitudmuito vi!orosa $erante a vida e $or isso achava que eu devia esquecer o $assado e recome&ar.

    Parado/a#mente" )oi avid quem acabou $or me dar not7cias de#a0oi num domin!o" quando eu estava a abrir uma #ata de so$a $ara o mea#mo&o. avid a$areceu 4 $orta das traseiras de sotaina.

    * ou eu * disse desnecessariamente. e$ois" atirou $ara cimda mesa" $ara 2unto da minha so$a de tomate" o su$#emento a cores de u 2orna# de domin!o. * 0oi Mrs. hitta?er quem mo deu de$ois das matinas e/$#icou" a$ontando $ara o 2orna#. * Porque reconheceu ... bom" $odes $or ti. %a $(!ina quarenta.

    Com o cora&,o a bater descom$assadamente" $rocurei a $(!ina >abia que era %ico#e. avid n,o $recisava de dizer nada os modos de

    indicavam*me que a minha )i#ha tinha )ina#mente rea$arecido.Era %ico#e numa )oto!ra)ia que mostrava um !ru$o de eco#o!istas

    mi#itantes $erse!uindo um vaso de !uerra 2unto de umas insta#a&'e)rancesas de testes de armamento nuc#ear no Pac7)ico u#. As )oto!ra)ii#ustravam um #on!o arti!o sobre a mi#it ncia crescente dos movimenteco#o!istas" e a#i estava %ico#e" mesmo ao centro da )oto!ra)ia. enti ua#e!ria sbitaF os dezoito meses de deses$ero e tristeza desde a morte d-oanna i#uminaram*se de re$ente. %ico#e estava viva. A)ina#" eu n,o estasozinho.

    A )oto!ra)ia" a $reto e branco" mostrava um catamar( decoradocom bandeiro#as com s#o!ans antinuc#eares. %ico#e era um dos smani)estantes de $3 no $o&o do barco. Tinha a cara" ma!ra e duradistorcida $e#a c9#era.

    * 53nesis * disse avid.* 53nesis * $er!untei" $ensando que devia ter*me esca$adoa#!uma a#us,o b7b#ica.

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    * B $or bai/o da )oto!ra)ia" na cai/aDO tom de avid su!eria c#aramente que esta recorda&,o de que

    %ico#e continuava viva n,o a!oirava nada de bom $ara a minha vida. %o )undo da $(!ina" o 2orna# enumerava as v(rias or!aniza&'es

    mi#itantes que recorriam 4 sabota!em" a que chamavam ecota!em" $arobri!ar os !overnos de todo o Mundo a darem mais aten&,o ao ambienteUm desses !ru$os chamava*se a Comunidade 53nesis" $rovave#mentese!undo o deduzia o autor do arti!o" $orque os seus membros queriam queo Mundo re!ressasse ao seu estado $rimitivo. abia*se $ouco sobre a53nesis" $ara a#3m de que era che)iada $or um homem chamado Cas$avon Re##steb e que o !ru$o era es$ecia#izado nas actividades mar7tim

    %esse momento" estavam no Pac7)ico" onde desenvo#viam es)or&vi!orosos" mas v,os" $ara im$edir os testes nuc#eares )ranceses.* %,o diz onde 3 a base de o$era&'es de#esD * $rotestei.Mas de$ois o#hei outra vez $ara a )oto!ra)ia" como se aque#

    ima!em !ranu#ada me $udesse )ornecer a#!uma $ista sobre o $aradeiro daminha )i#ha. Reconheci o catamar," o Erebus" que h( quatro anos #evar %ico#e $ara )ora da minha vida. %,o se via Cas$ar von Re##steb )oto!ra)ia se a#!um dos mani)estantes $arecia dominar a cena" era %ico#e

    avid chu$ou no cachimbo" enviando $ara o ar uma cortina de)umo.

    * e #eres o resto do arti!o" ver(s que o !ru$o dinamitounavios ba#eeiros 2a$oneses * disse.

    0ez*se si# ncio durante uns se!undos" mas de$ois e/$#odi dindi!na&,o $erante o que e#e estava a insinuar.

    * %,o se2as rid7cu#o" avidD* %,o estou a ser rid7cu#o * observou. * Estou a$enas a cham

    a tua aten&,o $ara a#!o em que a Po#7cia tamb3m vai re$arar.* A Po#7cia 2( se desinteressou do caso * retorqui.* Pois" tens raz,o. * avid n,o $retendera desencadear a minha ira e

    a!ora tentava a$#ac(*#a mudando de assunto. Pe!ou na #ata de so$a dtomate. * H o teu a#mo&o

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    * H.* H me#hor vires at3 #( a casa. A 8ett6 )ez #ombo de $orc

    assado com mo#ho de ma&,.Por isso" nesse domin!o )ui a#mo&ar ao $resbit3rio e n9s tr

    discutimos o arti!o" e/amin(mos a )oto!ra)ia e che!(mos 4 conc#us,o deque %ico#e estava com bom as$ecto. Eu )iquei e/citad7ssimo" o qu $reocu$ou avid e 8ett6" que receavam ambos que a minha es$eran&a drever %ico#e )osse $rematura.

    * Bou descobri*#a * disse eu a avid. * E dizer*#he que a mmorreu.

    * Bai ser di)7ci# * avisou avid. * O arti!o n,o d( muitasin)orma&'es sobre o $aradeiro da 53nesis.

    Mas o nome 2( era indica&,o su)iciente" e na manh, se!uinte" aindentusiasmado" $arti $ara Londres $ara descobrir mais coisas.

    MAT ;E ALLE%8 era secret(rio" )undador" $residente"ins$irador e $au*$ara*toda*a*obra de um dos maiores e mais activos !ru$de $ress,o eco#o!istas da 5r,*8retanha. Era tamb3m um homem muitomodesto e bondoso. Eu conhecia*o ma#" mas tinhamo*nos encontraa#!umas vezes em con)er ncias onde eu era o $orta*voz da indstria navcontra os mani)estantes que se quei/avam de que as nossas marinas $o#uiamas (!uas costeiras. A!ora" a$esar de n,o nos vermos h( dois anos"cum$rimentou*me ca#orosamente e" de$ois de termos )eito conversdurante a#!um tem$o" $er!untou*me $orque 3 que eu insistira tanto numencontro ur!ente.

    A minha res$osta )oi em$urrar o su$#emento a cores do 2orna# $aa )rente de#e sobre a secret(ria. Tinha desenhado um c7rcu#o em vo#ta cara de %ico#e.

    * Essa 3 a minha )i#ha e quero encontr(*#a.* Ah" a 5u3nesisD * disse Matthe1 A##enb6.

    Pronunciou a $a#avra com um 5 !utura# e em tom de re$rova&,o.* 5u3nesis * $er!untei" re)erindo*me 4 $ronncia do 5.

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    * H a $ronncia a#em, * e/$#icou. * -u#!o que o diri!ente do!ru$o nasceu na A#emanha.

    * Eu conhe&o*o.* Ai sim * A##enb6 $arecia interessado. * Eu n,o conhe&o B

    Re##steb. Pouca !ente conhece.escrevi*#he as circunst ncias do meu encontro com o har3m d

    !ente nua no catamar, de Bon Re##steb. A##enb6 $areceu achar $iada hist9ria. Bia*se que $recisava muito de achar !ra&a a qua#quer cois $orque o seu escrit9rio estava )orrado de cartazes mostrando os cad(vereensan!uentados e esquarte2ados de )ocas" !o#)inhos" ba#eias e tartaru!aassim como )oto!ra)ias de $aisa!ens $o#u7das" rios su2os e c3us carre!adode nuvens t9/icas.

    * O que eu queria saber 3 o que 3 a 53nesis e onde 3 que $osso encontr(*#os * rematei.

    * A 53nesis 3 uma comunidade de eco#o!istas mi#itantes. *A##enb6 )a#ava sem des$e!ar os o#hos da )oto!ra)ia de %ico#e. * tamb3m muito secretivos e" como resu#tado disso" )amosos.

    * 0amosos %unca tinha ouvido )a#ar de#es at3 ontemDA##enb6 em$urrou o su$#emento a cores na minha direc&,o.* +sso 3 $orque e#es t m restrin!ido as suas actividades a

    Pac7)ico" mas $ode crer que s,o )amosos no seio do nosso movimento.* Boc est( a )a#ar num tom de re$rova&,o * observei.* H $orque n,o a$rovo o que e#es )azem. A 53nesis acha que

    a $ersuas,o e a ne!ocia&,o s,o m3todos u#tra$assados e que os inimi!os doambiente s9 entendem uma coisaF a )or&a. * Me/eu*se na cadeirembara&ado. * Mas o $rob#ema da ecota!em" Mr. 8#ac?burn" 3 que trans)orma )aci#mente em ecoterrorismo.

    * Tem morrido !ente em resu#tado da ecota!em da 53nesis * $er!untei.

    * Kue eu saiba" n,o * res$ondeu A##enb6" $ara meu !randa#7vio.* iziam no 2orna# que a 53nesis usou dinamite na#!uns

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    atentados * observei" na es$eran&a de que A##enb6 ne!asse essa acusa&,o* +sso s,o boatos * res$ondeu*me em voz neutra.* 9 boatos * insisti.0ez uma $ausa" como se estivesse a $esar se seria $rudente re$etir

    meros boatos" mas de$ois enco#heu os ombrosF* %o ano $assado" quando dois navios ba#eeiros 2a$onese

    estavam a )azer esca#a na Coreia do u#" os mecanismos das com$ortas doca )oram destruidos $or uma bomba. Os dois navios )icaram )echados ndoca seca. A ecota!em )oi reivindicada $or uma dzia de or!aniza&'esverdes" mas h( $rovas s9#idas que a$ontam $ara a 53nesis.

    Tentei ima!inar %ico#e na $e#e de um comando dos BerdesArriscar*se*ia a ir $arar a uma $ris,o coreana" co#ocando uma bomba E assim )osse" arriscar*se*ia a ir $arar a uma $ris,o in!#esa $or um crimseme#hante A sus$eita de que a minha )i#ha era bombista" incutiinicia#mente $or 0#etcher e a#imentada de$ois $e#o arti!o do 2orna#" morria em mim.

    * -( ouviu )a#ar de actividades da 53nesis no At# ntico

    $er!untei.* %,o" mas n,o quer dizer que nunca tenham actuado a7. ,o

    es$ecia#istas em ataques re# m$a!os e $odem ter entrado e sa7do dAt# ntico sem nin!u3m dar $or nada.

    Pensei de mim $ara comi!o que a travessia do At# ntico era uma $roeza mais com$#icada do que A##enb6 $ensava.

    * Como 3 que $osso encontrar a 53nesis * $er!untei" em vezde a$ro)undar a hi$9tese da cu#$abi#idade de %ico#e.* %,o )a&o a menor ideia. * Matthe1 A##enb6 estendeu as su

    m,os brancas e com$ridas num !esto que e/$rimia im$ot ncia.urante a#!um tem$o" a base de#es era na Co#mbia 8rit nica. C#a

    que" como Bon Re##steb )oi #( criado

    * E#e 3 canadiano * $er!untei" admirado" $orque $ensava quera a#em,o.* %asceu na A#emanha" mas )oi criado nos arredores d

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    Bancouver. Mas a!ora n,o va#e a $ena $rocurar a 53nesis no Canad( *advertiu A##enb6. * Tinham um acam$amento numa i#ha ao #ar!o da coda Co#mbia 8rit nica" mas )oram*se embora h( quatro ou cinco anos nin!u3m sabe $ara onde. * A##enb6 $assava revista a um monte de cart'eque tinha em cima da secret(ria. * e a#!u3m o $ode a2udar" s,o esta $essoas * disse.

    Estendeu*me um cart,o com o nome Mo##6 Tetterman e umamorada de Ga#amazoo" no Michi!an" EUA. Por bai/o do nome havia um#e!enda dizendoF Presidente do 5ru$o de A$oio aos Pais 53nes is.

    * A )i#ha de Mrs. Tetterman" ta# como a sua" a#istou*se 53nesis e nunca mais )oi vista * e/$#icou A##enb6. * Mrs. Tetterma

    escreveu*me a $edir a2uda" mas in)e#izmente n,o #he $ude dar main)orma&'es do que a si.* A2udou*me muit7ssimo * res$ondi de#icadamente. Pe!uei

    su$#emento a cores e a$ontei $ara o nome do 2orna#ista que escreveraarti!o. * er( que e#e $ode a2udar*me mais

    * uvido * res$ondeu A##enb6 com um sorriso. * 0ui eu qu#he dei a maior $arte dessas in)orma&'es. E se )or )a#ar com um 2orna#ise#e vai querer saber $orque 3 que est( t,o interessado na 53nesis e" mesmoque n,o se2a muito es$erto" re#aciona a sua $er!unta sobre atentado bombistas contra navios ba#eeiros na Coreia com uma bomba misteriosa que/$#odiu no cana# da Mancha. Estou certo de que n,o h( nenhuma re#a&,mas o 2orna#ismo vive dessas su$osi&'es * acrescentou de#icadamente.

    Percebi que A##enb6 era muito astuto e tamb3m muito bondoso $orque acabava de me sa#var de $ub#icidade indese2(ve#.

    * Porque 3 que n,o me dei/a )a#ar com o 2orna#ista *o)ereceu*se A##enb6 * sem re)erir o seu nome 0a#o tamb3m com a#!unsmeus co#e!as americanos e canadianos" e se descobrir a#!uma coisadi!o*#he.

    A!radeci*#he e sa7" mas" a$esar dos bons conse#hos de A##enb6"resisti 4 tenta&,o de tentar descobrir mais coisas sobre a 53nesis sozinho

    Escrevi $ara Ga#amazoo" $ara Mo##6 Tetterman" mas a res$osta que rec)oi um )o#heto dacti#o!ra)ado sobre o seu 5ru$o de A$oio aos Pais 53nesique n,o acrescentava nada ao que eu 2( sabia. e$ois" escrevi $ara a

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    Armada 0rancesa $er!untando de#icadamente se estava na $osse dea#!umas in)orma&'es sobre os activistas que tinham tentado im$edir otestes nuc#eares )ranceses no Pac7)ico" mas a nica res$osta que recebi )um desmentido o)icia# de que essas tentativas tivessem acontecido. Asemanas )oram $assando e $arecia que Bon Re##steb tinha desa$arecido d)ace da nossa terra $o#uida.

    Mas de$ois Matthe1s A##enb6 )ez uma descoberta sensaciona#.* A verdade 3 que n,o )iz nada * disse modestamente quando

    me te#e)onou a dar a not7cia. * 0oi um dos nossos !ru$os americanos quedescobriu.

    * Onde * $er!untei ansiosamente.* -( ouviu )a#ar da Con)er ncia Qavatoni * $er!untou

    A##enb6.* %,o.* H uma reuni,o biena#" uma o$ortunidade $ara os eco#o!ista

    e os $o#7ticos se encontrarem" e vai rea#izar*se dentro de duas semanas Ge6 est" na 0#orida. Os or!anizadores mandaram um convite a Bon

    Re##steb* abiam $ara onde 3 que #he haviam de escrever *

    interrom$i*o" irritado" #embrando*me dos meus es)or&os v,os $ara descoo $aradeiro da 53nesis.

    * C#aro que n,o * res$ondeu A##enb6" tentando a$#acar*mePub#icaram anncios em todos os 2ornais de eco#o!istas da Costa Oeste sur$reendentemente" e#e aceitou o convite. Concordou em )azer discurso*chave.

    * E como 3 que eu $osso assistir 4 con)er ncia * $er!untei.* e voc tratar da via!em e do a#o2amento" $osso dizer que

    um dos meus de#e!ados * su!eriu A##enb6. * Mas sei que n,o h( quartova!os no hote# onde vai rea#izar*se a con)er ncia.

    * Estou*me nas tintas. At3 durmo na rua" se )or $recisoD* %,o tenha muitas es$eran&asD * avisou A##enb6. * B

    Re##steb $ode n,o a$arecer. A#i(s" eu diria que h( menos de cinquenta $o

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    cento de hi$9teses de e#e a$arecer.* Essa $robabi#idade 2( me che!aD

    POR +sso" com$rei um bi#hete de avi,o $ara Miami. avid achouque eu estava doido" uma o$ini,o que re$etiu v(rias vezes quando me )o#evar ao Aero$orto de ;eathro1 no seu ve#ho Ri#e6.

    * A %ico#e n,o vai estar em Ge6 estD Percebes isso" n,o 3verdade

    * %,o acreditas em mi#a!res * $er!untei" $ara o arre#iar.* C#aro que acreditoD * $rotestou veementemente. * M

    tamb3m sei o que s,o es$eran&as v(s e tem$o $erdido.* A minha ideia 3 s9 encontrar a %ico#e e dizer*#he que a m

    morreu * e/$#iquei ca#mamente. * Mais nada. * %,o era bem verdadTamb3m queria e $recisava que %ico#e me dissesse que 2( n,o mconsiderava res$ons(ve# $e#a morte do irm,o. * E $ara encontrar %ico#estou dis$osto a deitar muito dinheiro $e#a 2ane#a * continuei. * H assimmau

    avid )un!ou e de$ois )icou a meditar na minha teimosia.* L( os t(/is s,o cor*de*rosa" sabias * $er!untou*me

    )ina#mente quando entr(mos no aero$orto.* T(/is cor*de*rosa* Em Ge6 est * dec#arou e#e" como se a e/ist ncia de t(/is

    cor*de*rosa )osse o #timo ar!umento que $oderia evitar a minha $artida.* eve ser en!ra&ado * res$ondi" e sa7 do carro $ara ir

    $rocura da minha )i#ha.

    AB+ tinha raz,o. ;avia t(/is cor*de*rosa*vivo em Ge6 est. Ede re$ente senti*me satis)eito $or ter vindo" $orque a cidade era incr7ve

    com$#etamente dis$aratadaF uma cidade de conto de )adas" de casas dmadeira em esti#o vitoriano constru7das num reci)e de cora# inundado de sao )im de cento e sessenta qui#9metros de estrada que se estendia sobre umviaduto atrav3s de um mar e/traordinariamente azu#. entia*me

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    re$entinamente trans$ortado $ara um mundo muito co#orido" qucontrastava crue#mente com a monotonia triste da minha vida a se!uir 4morte de -oanna. Comecei a )icar mais bem*dis$osto 4 medida que o t(/icor*de*rosa me trans$ortava do minscu#o Aero$orto de Ge6 est at3 aemaranhado de ruas estreitas da cidade ve#ha. iri!ia*me $ara uma casa dh9s$edes $articu#ar que o meu a!ente de via!ens tinha descobertomi#a!rosamente e que )icava numa rua cheia de (rvores" $erto do centro dcidade.

    O !erente era um homem chamado Char#es de Char#us" que" quandeu che!uei" estava deitado de costas no ch,o" $or debai/o de um ve#hoAustin ;ea#e6 I>>> #evantado $or um macaco. Torceu*se $ara sair debai/odo carro e #evantou*se $ara me cum$rimentar. Era um homem a#to e tinhacara su2a de 9#eo.

    * O nosso visitante de +n!#aterraD Muito $razer. * e Char##im$ou as m,os a um tra$o e conduziu*me at3 4 entrada da casa#u/uosamente mobi#ada em esti#o vitoriano" onde tirou da !aveta de umsecret(ria a chave de um quarto. * Bou dar*#he um quarto com 2ane#a $ar $(tio. Temos um !in(sio" se quiser )azer e/erc7cio. 0#ectiu o bra&o direitoim$ressionantemente muscu#oso. * E uma $raia e#3ctrica.

    * Uma $raia e#3ctrica* Uma sa#a de bronzeamento e#3ctrico. Para os dias

    encobertos.* %,o me $arece que v( ter tem$o $ara descansar * disse*#he

    Bim $ara a Con)er ncia Qavatoni.

    * Ah" 3 dos BerdesD * Char#es #evou*me $ara cima" $araquarto maravi#hosamente c9modo. * Bai descu#$ar*me se n,o entrar $a#he mostrar onde 3 que est,o as coisas ... * A #aia de e/$#ica&,o" #evantoum,os" que ainda estavam su2as de 9#eo do autom9ve#" e de$ois atirouchave do quarto $ara cima da cama. * A sua casa de banho 3 na $orta azu

    ivirta*seDei/ou*me no )resco do ar condicionado.

    entei*me na cama e $rocurei o cart,o que Matthe1 A##enb6 metinha dado. Marquei o nmero de Mo##6 Tetterman" em Ga#amazoo" Michi!an" e )ui atendido $or um !ravador de chamadas. ei/ei um recado a

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    dizer que tinha vindo 4 Am3rica $orque Cas$ar von Re##steb devia )azer udiscurso na Con)er ncia Qavatoni" em Ge6 est" e que" caso o 5ru$o dA$oio tivesse mandado observadores 4 con)er ncia" !ostaria de mencontrar com e#es. itei o nmero da casa de h9s$edes ao !ravador dechamadas de Mo##6 Tetterman e de$ois" vencido $e#o cansa&o" deitei*mcima da co#cha de reta#hos da cama e adormeci.

    %A MA%; se!uinte" se!unda*)eira" era a abertura da Con)er nciaQavatoni. iri!i*me a $3 $ara o hote# e descobri que Matthe1 A##enb6 tincum$rido a sua $a#avra" dando o meu nome aos servi&os de rece$&,o dcon!ressistas" insta#ados no (trio. escobri tamb3m que era um de v(riascentenas de de#e!ados" o que me sur$reendeu" $ois estava convencido dque se tratava de uma $equena reuni,o. Esquecera*me do entusiasmo comque os Americanos se dedicam a todas as actividades. O tom )oi dado #o!que disse o meu nome na rece$&,o e me $resentearam com um crach(verde com a se!uinte inscri&,oF @O#(" chamo*me TimD E $reocu$o*meD

    * H de $#(stico recic#ado * tranqui#izou*me um )uncion(rsim$(tico" que me indicou de$ois um !rande quadro onde estavamenumeradas todas as atrac&'es desse dia.

    A maior $arte de#as corres$ondiam ao que seria de es$erarF $odiver um )i#me sobre o traba#ho do 5reen$eace" assistir a uma con)er ncsobre as de$reda&'es da indstria madeireira da Ma#(sia ou a$anhar umautocarro $ara ir ver os !amos de 8i! Pine Ge6" uma es$3cie em vias dee/tin&,o.

    Kuando me a)astei do quadro" avistei Matthe1 A##enb6. Estava d $3 2unto da $orta aberta de uma sa#a cheia de !ente" ouvindo um

    con)erencista que dec#arava a$ai/onadamente que o mar/ismo erarea#mente a nica so#u&,o vi(ve# $ara o $rob#ema da $o#ui&,o !#oMatthe1" reconhecendo*me" sorriu resi!nadamente e de$ois #evou*me $a)ora da#i.

    * Tenho remorsos de #he ter )a#ado desta con)er ncia disse*me" de vo#ta ao (trio. * escon)io que o )iz $erder o seu tem$o bastante dinheiro. %,o h( sinais de Bon Re##steb e disseram*me que 2(

    costume e#e dizer que vem e de$ois n,o a$arecer.* A cu#$a n,o 3 sua * comentei. * E um $ai n,o ia dei/ar

    esca$ar a o$ortunidade de encontrar a )i#ha" n,o acha

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    * C#aro * concordou Matthe1" mas $arecia duvidoso.T7nhamo*nos a$ro/imado da $orta $rinci$a# do hote#" em )rente

    qua# um bando de mani)estantes a$u$ava iradamente os de#e!ados quche!avam de carro" contribuindo assim $ara o aquecimento !#oba# com o

    !ases do esca$e.* ,o do A ; * disse Matthe1" a$ontando $ara osmani)estantes )uriosos.

    * ash * Achei que era uma re!i,o cu2o nome nunca tinhaouvido.

    * or#d A++ance to ave ;umanit6 SA#ian&a Mundia# $araa#va&,o da ;umanidade * e/$#icou Matthe1. e$ois" )ez uma careta. urante a#!um tem$o" acam$aram 4 $orta do meu escrit9rio" $orqu

    achavam que a minha or!aniza&,o ia a$oiar o seu a$e#o 4 abo#i&,o de todos autom9veis $articu#ares. * Matthe1 sus$irou. * O movimento dos Berdest( cheio de !ente assim" com atitudes radicais. E contra$roducentes"c#aro. e coo$er(ssemos e che!(ssemos a acordo sobre a#!uns ob2ectivoes$ec7)icos" $od7amos )azer $ro!ressos. Pod7amos $roibir as redes arrasto no Pac7)ico. Provave#mente" $od7amos acabar com o uso de C0nos )ri!or7)icos e nos aeross9is e at3 ta#vez conse!u7ssemos sa#var o qresta das )#orestas tro$icais. Mas o que n,o $odemos )azer 3 e/$u#sar todoos autom9veis da estrada" e n,o 3 vanta2oso $ara a nossa causa dizermoque isso 3 $oss7ve#. As $essoas vu#!ares n,o querem )icar sem o seautom9ve#. O $rob#ema do nosso movimento" Mr. 8#ac?burn" 3 qestamos sem$re a querer $roibir coisas sem o)erecer a#ternativas. A $essoas escutavam*nos se #hes d3ssemos es$eran&as e at3 estaria

    dis$ostas a $a!ar mais uns tost'es se $ensassem que esse dinheiro a2udavao $#aneta. Mas se s9 #hes )a#armos de des!ra&as" habituam*se 4 ide $ensam que 2( a!ora 3 $re)er7ve# ir tirando $artido das coisas enquanto is3 $oss7ve#. H a s7ndroma do caminho mais )(ci#F $ara que 3 que nos havede sacri)icar" se de qua#quer maneira caminhamos $ara o in)erno

    E#e sorriu.* Eu acho que voc 3 que devia )azer o discurso*chave da

    con)er ncia.* Pediram*me $ara o )azer" mas s9 no caso de Bon Re##ste

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    n,o a$arecer na quarta*)eira 4 noite. C#aro que o meu discurso n,o vaa!radar tanto" $orque o bom*senso nunca 3 t,o interessante como o)anatismo. e Bon Re##steb a$arecer e come&ar a aren!ar que a $o#ui&deve ser combatida $e#a )or&a" a not7cia vai ser $ub#icada em todos 2ornais do mundo #ivre. O meu rea#ismo vai ocu$ar menos de uma co#unum 2orna# #oca#.

    O interesse da im$rensa e da te#evis,o $e#a con)er ncia era bemvis7ve#. Os 2orna#istas n,o eram obri!ados a usar o crach( verde dode#e!ados" mas tinham cart'es de identi)ica&,o o)iciais de cor verme#haonde constava" a#3m do nome" o do 2orna# ou revista onde traba#havKuando Matthe1 e eu est(vamos 2unto da entrada" che!ou um desses 2orna#istas" que tinha incorrido na ira do A ;. Era uma ra$ari!a" $(#ida desorientada e com uma e/$ress,o t,o receosa que tive imediatamentevontade de a $rote!er. Bestia uma saia rodada amare#a que #he dava um a)resco e $rimaveri#. evia ter che!ado de carro" $orque os mani)estantes d

    A ; estavam a )az *#a $assar um mau bocado.* Como v " o )anatismo de!enera )aci#mente em terrorismo

    disse Matthe1 em voz bai/a.

    A 2orna#ista )r(!i#" de cabe#o #ouro des!renhado" conse!ure)u!iar*se no hote#" visive#mente a#iviada" dei/ando cair no ch,o ummontanha de $a$3is. Um dos em$re!ados do hote# $reci$itou*se $ara2ud(*#a a a$anh(*#os.

    * Kuarta*)eira 4 noite" Mr. 8#ac?burn * recordou Matthe1. e Bon Re##steb a$arecer" vai v *#o na quarta*)eira 4 noite. At3 #( n,o v

    $ena ma&ar*se com o que se $assa aqui.

    A 2orna#ista ansiosa" de$ois de ter sa#vo os seus $a$3is" sumira $or entre a mu#tid,o" mas a cara de#a tinha qua#quer coisa que )ez que n,o conse!uisse esquec *#a. Ta#vez )osse a sua vu#nerabi#idade quetornava atraente ou ent,o o seu o#har verde" inocente e $reocu$ado" $oin,o era es$ecia#mente bonita.

    %o dia se!uinte" )iando*me na intui&,o de Matthe1 A##enb6 de qun,o $recisava de me $reocu$ar com a con)er ncia at3 quarta*)eira" e/$#oras bonitas ruas arborizadas de Ge6 est" $ensando que -oanna teria!ostado muito da zona anti!a. As casas" com as suas )achadas de madeiraricamente ta#hada" tinham sido constru7das no s3cu#o + $or car$intei

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    navais" que a$#icaram nessa constru&,o as t3cnicas que $ermitiam que madeiramentos dos barcos )#ectissem com a ondu#a&,o" tornando*as assresistentes aos terr7veis )urac'es da re!i,o.

    Char#es" o dono da casa de h9s$edes onde me a#o2ara" e/$#icou qu

    durante anos" a cidade )ora t,o $obre que n,o havia dinheiro $ara )azernovas casas" sendo obri!ada a manter as ve#has" $e#o que a!ora essacasinhas eram consideradas como um dos tesouros art7sticos da Am3rica.

    %essa tarde" suei as esto$inhas a #evantar o b#oco do motor dAustin ;ea#e6 de Char#es. Este descobrira que eu tivera em tem$os umcarro i!ua# e que $ercebia a#!uma coisa de motores" $or isso recrutara*m $ara o a2udar a montar uma nova embraia!em. Enquanto traba#h(vamos

    sacou*me toda a hist9ria da minha via!emF a hist9ria de -oanna e %ico#e eda Comunidade 53nesis de Bon Re##steb.* E o que 3 que vai )azer se Bon Re##steb a$arecer amanh, 4

    noite * $er!untou*me.* eito a m,o ao estu$or e $e&o*#he $ara dar um recado 4

    %ico#e.O $#ano n,o era #( !rande coisa" mas de momento n,o me ocorria

    nada me#hor.* O me#hor era eu ir tamb3m $ara #he dar uma a2uda

    o)ereceu*se Char#es" )#ectindo os mscu#os do bra&o.A$esar de ter dvidas de que )osse necess(rio recorrer 4 )or&a )7sic

    a ideia de que Char#es me )aria com$anhia era de certo modo recon)ortante %o dia se!uinte" te#e)onei aos or!anizadores da con)er ncia" ma

    nin!u3m me soube dizer se Bon Re##steb tinha ou n,o che!ado" e quandoChar#es e eu nos metemos no Austin ;ea#e6 re$arado $ara ir at3 ao hote#ainda n,o sab7amos se o convidado de honra se tinha di!nado a$arecer.

    Kuando nos diri!7amos $ara a sa#a de banquetes" encontrei MattheA##enb6" que revia 4 $ressa o seu discurso moderado" $revendo que teriasubstituir Bon Re##steb.

    * Lamento * disse*me.* %,o )az ma# * res$ondi" tranqui#izando*o.

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    * Pode ser que ainda a$are&a * disse Matthe1. %essa es$eran&a" Char#es e eu $ost(mo*nos de $3 2unto da $o

    $rinci$a# do sa#,o de )estas. O nosso novo $#ano de ataque" $ro$osentusiasticamente $or Char#es" era deitar m,o a Bon Re##steb assim que e

    entrasse. Eu tinha $assado a tarde a $ensar e a escrever uma carta a %ico#que trazia na a#!ibeira do casaco. Char#es raciocinara que Bon Re##stea$anhado de sur$resa 4 entrada" concordaria em aceitar a carta s9 $ara sver #ivre de n9s" mas" 4 medida que o banquete $rosse!uia sem sinais dconvidado de honra" a minha carta e o entusiasmo de Char#es $areciam*minteis.

    Come&aram os discursos. O $residente da con)er ncia )ez um

    breve introdu&,o" de$ois os $o#7ticos )oram a$resentados e a$#audidos.a$resenta&'es )oram muito demoradas e" 4 )a#ta de me#hor entretenimenre#anceei o o#har $e#a sa#a de banquetes" $rocurando a 2orna#ista da amare#a" mas n,o a vi. Re$arei que estavam $resentes muitos 2orna#istaatraidos obviamente $e#a o$ortunidade de ver o misterioso de)ensor decota!em" mas Bon Re##steb n,o a$areceu e" )ina#mente" o $residen#evantou*se e anunciou" desanimado" que in)e#izmente a aus ncia do oraconvidado im$unha uma a#tera&,o dos $#anos e que a con)er ncia tinha $razer de contar com a $resen&a de Matthe1 A##enb6" que acederasubstituir Cas$ar von Re##steb na aus ncia deste.

    Matthe1 )ez o seu discurso sensato e raciona#. Era bom orador" maeu re$arei que a#!uns dos de#e!ados mais e/tremistas come&aram a!itar*se" descontentes" quando e#e )a#ou de consenso e de coo$era&,o. )im dos $rimeiros cinco minutos do seu discurso" uma mesa de activistaescandinavos come&ou a $rotestar. Matthe1 e#evou a voz" ca#andtem$orariamente os seus cr7ticos" e )a#ou da im$ort ncia de n,o a#ienahomem e a mu#her comuns" que queriam contribuir $ara re$arar os estra!oin)#i!idos 4 Terra. Um homem mani)estou o seu desacordo batendo com cabo da )aca no co$o de (!ua vazio. e$ois" outras $essoas aderiram 4mani)esta&,o e" de re$ente" os c#amores de $rotesto ressoaramruidosamente na sa#a. Estava $restes a come&ar a $rotestar contra oc#amores quando as #uzes do !rande sa#,o se a$a!aram de re$ente" o c3u"

    ocidente" se i#uminou de verme#ho e os $rimeiros convidados !ritaram dterror. 0ina#mente" a 53nesis che!ara.A#!u3m abriu a $onta$3 as $ortas atr(s de mim e de Char#es

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    Bo#tei*me e vi as si#huetas de tr s homens barbudos recortadas de encon4 #uz )orte do corredor. Os homens avan&aram at3 meio das $ortas do sa#de banquetes e de$ois atiraram com )or&a $ara dentro da sa#a uns $ro23ctque dei/avam um rasto de )umo. @Meu eus" s,o !ranadas@" $ensA!achei*me instintivamente quando o $rimeiro $ro23cti# rebentoues$a#hando um cheiro $esti#ento a $rodutos qu7micos. A)ina#" eram bomde mau*cheiro.

    * Bamos" TimD BamosDChar#es recu$erara mais de$ressa do que eu e 2( corria atr(s dos

    bombistas em )u!a. e!ui*o" mas )ui atro$e#ado $or uma re$entina mu#tidde de#e!ados" into/icados e aos !ritos" que )u!iam $ara o ar mais $uro do

    corredor. Um a#arme de inc ndio come&ara a uivar ruidosamente e em$urcom )or&a a massa de )u!itivos $ara abrir caminho $e#o meio do seu c#am* Por aqui" TimDChar#es corria $ara os 2ardins do hote#. Os atacantes )u!iam $e#

    2ardim at3 ao mar" #ar!ando $an)#etos $e#o caminho. Eu via as tr s somba correr 4 #uz )antasma!9rica das chamas que i#uminavam o 2ardim.

    Preci$itei*me atr(s de Char#es. Estavam a arder umas $a#meiras nor#a da $raia e $ercebi que era esse )o!o que tin!ia o c3u de encarnado. Ote#hado de co#mo de um bar da $raia tamb3m $e!ara )o!o e cus$ia)uriosamente )a#has $ara o vento nocturno.

    0iquei entusiasmado quando me a$ercebi de que os tr s homensvestiam )atos*macaco do mesmo verde*$(#ido da rou$a de %ico#e quan $artira no Erebus. Um dos )u!itivos" mais #ento que os seus com$anheiro

    corria aos zi!ueza!ues $or entre as cadeiras de re$ouso da borda da $iscina" e Char#es sa#tou $ara as costas do homem com uma $#aca!em q)aria inve2a a um internaciona# de r !uebi. Ouviu*se um estrondo quando dois homens ca7ram no meio dos m9veis de madeira e o )u!itivo da 53nesideu um !rito de dor.

    Os outros dois homens vo#taram atr(s $ara a2udar o com$anheiroPassei a correr $or Char#es e $e#o seu $risioneiro" que se debatia" e dei u

    $ancada )orte com o ombro no homem mais $r9/imo" que caiu de costas n $iscina. O se!undo homem tentou tornear*me" mas a!arrei*#he num bra&virei*o $ara mim e atin!i*o com um murro na barri!a. e$ois desse !o#$e

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    tentei esmurrar*#he a cara" mas )a#hei" e o homem recu$erou o equi#7brconse!uiu so#tar*se. Abandonando os seus dois com$anheiros" )u!iu $ara $raia. O homem que eu em$urrara $ara dentro da $iscina 2( estava a sair d(!ua" do outro #ado" e vi que o seu )ato*macaco $erdera a cor e estavraiado de $reto. +sso e o cheiro $esti#ento que em$estava o ar nocturn)izeram*me com$reender de re$ente que a#!u3m su2ara de#iberadamente $iscina com muitas dezenas de #itros de 9#eo. Char#es !runhire$entinamente atr(s de mim" e quando me virei " vi que o seu $risioneircontinuava a debater*se. Corri $ara 2unto de#es e dei um $onta$3 com )orno est:ma!o do homem.

    * Pu/e*o $ara os arbustosD * disse eu.

    Os de#e!ados da con)er ncia invadiam os 2ardins. Eu n,o queria $arti#har com nin!u3m o meu $risioneiro" $orque $retendia arrancar*#a#!umas in)orma&'es. Char#es arrastou a )i!ura barbuda $ara a escurid,o $ara tr(s da $equena cabana onde !uardavam as toa#has de banho do hote#O $risioneiro )ez uma #tima tentativa deses$erada $ara se so#tar" mas a!arrei*#he na barba e bati com )or&a com a cabe&a de#e na $arede cabana.

    * Kuer que eu o entre!ue 4 Po#7cia * $er!untei*#he. O homen,o res$ondeu."* abe )a#ar in!# s * $er!untei novamente.Continuou ca#ado. enti Char#es a me/er*se ao meu #ado e

    $risioneiro de re$ente )ez um !emido de dor.* 0a#o in!# s * disse $reci$itadamente o homem" com sotaqu

    americano.

    * Pertence 4 53nesis * $er!untei.* im * res$ondeu com di)icu#dade" $orque eu estava a$ertar*#he o $esco&o.

    * Ou&a * disse eu" a)rou/ando #i!eiramente a $ress,o dosdedos. * Chamo*me Tim 8#ac?burn. Tenho uma )i#ha chamada %ico8#ac?burn. Conhece*a

    E#e acenou )reneticamente com a cabe&a.* A %ico#e est( aqui esta noite * $er!untei insistentemente

    E#e !emeu qua#quer coisa que eu n,o $ercebi. * Est( * re$eti.

  • 7/22/2019 Filha Da Tempestade

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    * %,oD %,oD* Ent,o" onde 3 que e#a est( * insisti.* %,o seiD* Mas $ertence 4 53nesis* imD * disse o homem.* Onde 3 que est( a 53nesis * sibi#ei. * Onde 3 que 3 a voss

    base de o$era&'es * E#e n,o res$ondeu. * Onde raio est( a minha )i#ha!ritei" $ois de re$ente 2( nem me im$ortava se me ouvissem. * Onde

    * es$ache*seD * incitou Char#es.

    Os raios de #uz das #anternas incidiam nos arbustos 2( muito $erto dn9s e dentro de $oucos se!undos ser7amos descobertos.* Bon Re##steb esteve aqui esta noite * $er!untei ao noss

    $risioneiro.* Esteve.* Kuero )a#ar com e#e. i!a*#he isso. i!a*#he que tenho um

    not7cia im$ortante $ara dar 4 %ico#e e $e&a*#he $ara #he dar esta carTirei a carta do bo#so do casaco e escrevi o nmero de te#e)one da casa dh9s$edes nas costas do enve#o$e. * i!a a Bon Re##steb $ara me te#e)on $ara o nmero que est( no enve#o$e. Percebe

    O homem !emeu que sim. Por detr(s de n9s" o )ei/e #uminoso deuma #anterna $er$assou $e#os arbustos e uma )o#ha de $a#meira a ardvoou $or cima das nossas cabe&as. L( ao #on!e" na noite" ouvi o a$ito

    sirenes que se a$ro/imavam. Em$urrei o homem da 53nesis $ara #on!e demim e disse*#heF* esa$are&aDO homem en)iou a carta na a#!ibeira e correu )reneticamente $ara o

    mar. A!ora" era um mensa!eiro que eu enviava 4 minha )i#ha e incitei*si#enciosamente a esca$ar aos con)erencistas irados" que" vendo*o sair darbustos" tinham come&ado a $erse!ui*#o. O homem sa#tou do $ared,o $a $raia e achei que ia )icar submerso na onda de !ente que sa#tou atr(s de#mas quando Char#es e eu che!(mos 4 $raia" vimos um !rande bote de borracha a a#!uns metros de terra com $essoas #( dentro que !ritavam

  • 7/22/2019 Filha Da Tempestade

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    incitando o nosso homem quando este entrou na (!ua.A mu#tid,o de de#e!ados )uriosos correu $ara o mar atr(s do

    )u!itivo" que entretanto come&ara a nadar. e$ois" a$areceram m,oestendidas que $u/aram o homem $or cima da borda do barco de borracha

    o motor )ora de borda roncou e o bote a)astou*se ruidosamente emdirec&,o ao #ar!o.* Acho que me deve uma bebida * !race2ou Char#es. * a

    !randes. Estra!uei um $ar de ca#&as 9$timas $or sua causa.Tinha ras!ado as ca#&as de a#!od,o" $rovave#mente durante a #u

    com o nosso $risioneiro.e re$ente" a $raia )icou cheia de $o#7cias no desem$enho das sua

    )un&'es" e $or isso )omo*nos embora antes que nos )izessem $er!untasO)ereci a Char#es um 1his?6 bem )orte num dos muitos bares que $retendiam ter sido a $(tria es$iritua# de Ernest ;emin!1a6. Mandei vir um1his?6 ir#and s $ara mim e de$ois desdobrei e comecei a #er um do $an)#etos es$a#hados $e#os activistas da 53nesis.

    @Aos Traidores do Ambiente@" era o sim$(tico come&o. @BAbateram e Kueimaram as 0#orestas Tro$icais do Mundo" $or isso BamoAbater e Kueimar as Bossas Vrvores Ornamentais. Boc s u2aram oCursos de V!ua do Mundo com W#eo" $or isso Bamos Tirar*vos a BosPiscina de 8rincar. Boc s Po#u7ram os C3us do Mundo com 0umoT9/icos" $or isso Bamos Obri!ar*Bos a Res$irar o Mesmo CheiroPesti#ento. Boc s A#iaram*se ao +nimi!o" os Po#7ticos" $or isso %,o PoEs$erar que Um Berdadeiro 5uerreiro do Ecossistema iscurse na BossaCon)er ncia de TraidoresD@

    O $an)#eto continuava neste esti#o" acabando com uma amea&aF@ omos a 53nesis. Lim$amos" estruindo os Po#uidores.@* Parece muito in)anti# * disse Char#es" de$ois de )o#hear

    $an)#eto ma# escrito.E era mesmo. 9#eo e bombas de mau*cheiro eram armas de crian&

    traquinas" e n,o de eco!uerreiros como a Comunidade 53nesis $retendiaser. Pe#o menos n,o tinham usado dinamite" $ensei $ara me conso#ar.

    * Lamento que as suas ca#&as se tenham estra!ado * disse

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    Char#es" e $a!uei*#he mais uma bebida" $er!untando a mim mesmo seminha carta iria $arar 4s m,os de Bon Re##steb.

    %+%5UHM me te#e)onou na quinta*)eira" e 4 noite comeceidescon)iar que n,o seria contactado. Ao )im e ao cabo" $orque 3 que BonRe##steb havia de me te#e)onar Tivera imenso traba#ho $ara se escondermundo" e#e e os seus sequazes" e n,o havia raz'es $ara se arriscar a sedescoberto res$ondendo ao a$e#o do $ai deses$erado de um dos seumi#itantes. A#3m disso" a carta $rovave#mente )ora destru7da $e#a (!uamar.

    Mas no s(bado de manh," quando eu 2( tinha $erdido todas ases$eran&as" o diri!ente da 53nesis te#e)onou*me )ina#mente.

    Eu tinha saido da casa de h9s$edes $ara ir com$rar umas#embran&as $ara avid e $ara o $essoa# do esta#eiro. Char#es tamb3m sa $or isso )oi um dos criados de cozinha quem recebeu o recado" que dizia$enas que" se eu quisesse ter o encontro que tinha so#icitado" devia estarmeia*noite no )im da estrada $rinci$a# de terra de un Giss Ge6. A $essoque te#e)onou sub#inhou que eu devia ir sozinho.

    8ati com o $unho )echado na $a#ma da m,o" numa mani)esta&,o deentusiasmo que Char#es" mais caute#oso" n,o $arti#hou.

    * %,o $ode ir sozinhoD * insistiu.* C#aro que vou sozinhoD %,o $odia arriscar*me a $erder not7cias de %ico#e $or desobedec

    4que#as ordens misteriosas.* E se )or uma armadi#ha * $er!untou Char#es.Porque raio 3 que havia de ser uma armadi#ha * retorqui.* Porque 3 tudo muito esquisito * disse Char#es com um a

    in)e#iz. * Estradas de terra 4 meia*noite e sozinho. %,o me a!radadescon)io disso.

    E/$#icou*me que un Giss Ge6 era o nome de um $ro2ectoimobi#i(rio #oca#izado a cerca de trinta e cinco qui#9metros de Ge6 esMas" $or enquanto" as casas ainda n,o tinham sido constru7das e #imitava*

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    a haver uns canais" escavados recentemente $ara os barcos" e uma rede destradas de terra. 4 noite" era um #u!ar ermo.

    * E se eu )osse a7 uns cem metros atr(s de si * su!eriuChar#es. * Ta#vez e#es n,o re$arassem.

    * %,oD * insisti.* Ent,o" #eve isto. * Abriu a !aveta de uma secret(ria e tirou

    de #( um rev9#ver en)iado num co#dre. * Est( re!istadoD * acrescentcomo se isso )osse o su)iciente $ara #e!itimar a $osse da arma.

    Pe!uei*#he caute#osamente. Era um Ru!er de cano com$rido" dca#ibre .JJ a$enas" mas mesmo assim $arecia ser mort7)ero.

    * -( a#!uma vez dis$arou um rev9#ver * $er!untou*meChar#es.Assenti com um aceno de cabe&a" mas a #tima vez tinha sido h

    vinte anos" na tro$a.* Tenho a certeza de que n,o vou $recisar de#e * disse.* e n,o $recisar de#e" n,o o mostre.

    Char#es tirou*me o rev9#ver da m,o e carre!ou as ba#as no tambor.* %atura#mente" tamb3m quer #evar o carro* Pode ser * $er!untei.* Pode * dec#arou ma!nanimamente. * C#aro que $ode. Ma

    devo#va*mo inteiro. Boc $ode ser substituido" mas os Austin ;ea#e6s s,muito raros.

    Passei a tarde a escrever outra carta a %ico#e" $ara o caso de $rimeira estar i#e!7ve#. Era muito seme#hante. Eu dizia 4 minha )i#ha !ostava muito de#a e que queria vo#tar a v *#a. izia*#he que eu n,o mato irm,o. e$ois" )iquei 4 es$era" es$eran&ado e a$reensivo.

    A PREB+ O meteoro#9!ica anunciava a $ossibi#idade de umtem$ora# nas Ge6s" $or isso $edi em$restada a Char#es uma !abardina $rede n6#on" que vesti $or cima de umas ca#&as $retas e de uma camiazu#*escura" ca#&ando uns sa$atos tamb3m $retos.

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    * Por amor de eus" n,o u#tra$asse o #imite de ve#ocidade nestrada * avisou*me Char#es antes de eu sair. * e a Po#7cia o descobre cessa arma" vamos meter*nos ambos em !randes sari#hos.

    Por isso" res$eitei o #imite de ve#ocidade na auto*estrada constru7

    sobre $i#ares que #i!ava as i#has" $assando $or cima dos canais. a)ra Ge6 est 4s X horas" $ois queria che!ar cedo a un Giss Ge6 $aradescobrir o $onto de encontro. 4 minha )rente" o c3u" a norte" estava ta$a $or nuvens ne!ras de chumbo" como um $ress(!io sombrio" mas as estre#a)ormavam $ontinhos bri#hantes sobre a minha cabe&a.

    escobri a estrada de terra que sa7a da estrada $rinci$a#. Kuandoabrandei $ara virar" os )ar9is do carro i#uminaram um !rande ta$ume qu

    anunciavaF U% G+ GE " A UA CA A AO OLD LOTE8E+RA*MAR A PART+R E Y>>>D Por detr(s do ta$ume" a estradterra era uma )ita c#ara que se estendia $e#o meio do mato. 4 minhesquerda" havia uns $i#ares enterrados num #ote de terra desbravada" masobras deviam ter $arado" $orque os $i#ares s9 serviam de su$orte a unninhos es)arra$ados de (!uias*$esqueiras. A (!ua dos canais escavadosrecentemente estava ne!ra e im9ve#.

    O#hei $ara o retrovisor. %in!u3m me se!uia. Estacionei o Austin;ea#e6 no )im da estrada" numa mancha de sombra ne!ra como breu.Kuando des#i!uei o motor" a noite $areceu*me muito si#enciosa" mas de$os meus ouvidos sintonizaram o zumbido de mir7ades de insectos e o roncsurdo do tr()e!o na estrada #( atr(s.

    a7 do carro e )ui at3 4 beira da (!ua" veri)icando que era um canaor#ado de man!ues que comunicava com o mar. Uma cortina de re# m$a!o

    )aiscou si#enciosamente a norte. @A#!u3m est( a a$anhar uma barri!ada mau tem$o@" $ensei. A ideia de tem$ora# suscitou*me uma ima!em chuva intensa )usti!ando o marF a ima!em da (!ua )ria e trans$arente aa&oitar as ve#as de um barco e a matr4quear no tecto da cabina" e dcomi!o a $ensar que havia muito tem$o que n,o ve#e2ava como deve ser.

    Muito tem$o" demasiado tem$o. e re$ente" no ar hmido de unGiss Ge6" tive saudades do oceano. Prometi a mim mesmo que" assim qu

    che!asse a casa" a$are#hava um barco" um barco qua#quer" atravessavaMancha e dobrava a i#ha de Ouessant" onde as va!as a#terosas do !o#)o d8iscaia rebentariam de encontro 4 $roa do meu barco.

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    orri com a ideia e de$ois o#hei $ara o re#9!io. Ainda tinha dees$erar duas horas. Tinha sido uma estu$idez vir t,o cedo.

    * 8oa noite" Mr. 8#ac?burn.ei um $u#o" vo#tando*me na direc&,o daque#a voz ines$erad

    Reconhecera imediatamente o sotaque a#em,o de Bon Re##steb. Como que conse!uira a$ro/imar*se tanto sem que eu o ouvisseA!ora 2( o viaF uma sombra escura a quinze metros. Teria vindo de

    barco Estaria sozinho* Estou com$#etamente sozinh