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Beijo da rua - setembro 2011 Setembro de 2011 – Uma publicação . . . . . . . . o teatro é da vida . . . . . . . . . . O Grito de Belém: Prostituição não é doença FILHA MÃE AVÓ E PUTA

FILHA MÃE AVÓ E PUTA - fundodireitoshumanos.org.br · Gabi: Minha vida no teatro P. 12 ... Homenagem a Lourdes e Gabriela, com Lourival Marsola e Leila Barreto. Foto Carlos Boução

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Beijo da rua - setembro 2011

Setembro de 2011 – Uma publicação

. . . . . . . . . . o t e a t r o é d a v i d a . . . . . . . . . .

O Grito de Belém:

Prostituição não é doença

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Esta edição destaca o Encontro deBelém, aberto com a leitura da Carta dePrincípios da Rede Brasileira de Prostitutas,dando o rumo para debates e deliberaçõeshistóricas. A mesma Carta foi adotada porprostitutas moçambicanas que decidiram seorganizar, como contamos na página 8. Elafoi publicada na íntegra na edição de agos-to, disponível no linkwww.beijodarua.com.br/agosto2011.pdf.Este número também está na internet, emwww.beijodarua.com.br/setembro2011.pdf.A cada edição, basta trocar o mês para teracesso ao jornal. Outra reportagem trata da CPI do Tráficode Pessoas, que promoveu audiênciapública no Rio. Entre confusões deconceitos e pânico moral, como costumaacontecer com esse tema, a sessão teve ummomento de alta tensão. Foi quando umdelegado da Polícia Federal relatouoperação que impediu a viagem de 13brasileiras ao exterior, por “suspeita” de queseriam “exploradas sexualmente”. Outrasuspeita surgiu então: a de que a PF haviaviolado o direito de ir e vir dessasmulheres. O que aconteceu depois está naspáginas 10 e 11. Este número, excepcionalmente, nãopublica as colunas No Ponto e Boa deComer. Isso se deve às cinco merecidaspáginas dedicadas ao Encontro de Belém.Em compensação, a coluna Quem viu,curtiu, que não viu... foi produzida poucoantes do jornal entrar nas rotativas, numbelo esforço de reportagem. É uma coluna que se associa com a daGabi, já que ambas tratam da peça “Filha,mãe, avó e puta”, adaptação do livro demesmo nome de autoria de Gabriela Leite.A diferença é que ela escreveu antes da pré-estreia, sobre as expectativas de se tornaruma personagem no teatro. E Quem viucobre justamente a noite em que issoaconteceu. Bom proveito. E escreva pra nós. Críticase sugestões: [email protected].

FundadoraGABRIELA LEITE

EditorFLAVIO LENZ

(RP MTB 13.193)

ArteSYLVIO DE OLIVEIRA

Uma publicaçãoDavida – Prostituição, Direitos

Civis, SaúdeCartas, sugestões, críticas:

[email protected]

ApoioFundo Brasil de

Direitos Humanos

Distribuição gratuita

Dicas de viagem eprostitutas deMoçambique P. 8P. 8P. 8P. 8P. 8

CPI do Tráfico dePessoas convocadelegado federal P. 10P. 10P. 10P. 10P. 10

Gabi: Minha vida noteatro P. 12P. 12P. 12P. 12P. 12

Prostituição não édoença P. 3P. 3P. 3P. 3P. 32

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Prostitutas e aliados das cinco regiões, clientes, artistas, membros dos Executivos federal e da Região Norte, daAssembleia Legislativa do Pará, da Ordem dos Advogados do Brasil, empresários da noite,ativistas LGBT e de combate à Aids. Mais de cem pessoas participaram do EncontroRegional DST/HIV/Aids e Hepatites Virais na Prostituição: Desafios na Amazônia Le-gal, promovido pelo Grupo de Mulheres Prostitutas do Pará (Gempac), em Belém, de4 a 6 de agosto. Na abertura, um cabaré emoldurou discursos políticos, históricos, poéticos, da modae da visibilidade, no Teatro Estação Gasômetro. Nos dois dias seguintes, no auditó-rio da OAB, no hotel e no Coceira de Macaco, debates consolidaram deliberações.Ato público na Praça da República, centralizado no Bar do Parque, denunciou oabandono e lançou o desafio da reconquista de espaços onde a boemia se fazcultura e política de vida. Nestas páginas, textos e imagens mergulham nos sentidos produzidos emBelém, da abertura às deliberações finais, incluindo a histórica decisão derecusar a associação de prostituição com doença, num movimento de cons-trução de identidade profissional e de políticas públicas que contemplemas diversas questões da categoria. O texto é de Leila Barreto, do Gempac, ea edição de Flavio Lenz.

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Prostitutas rejeitam associação com doenças paraconstruir identidade profissional e políticas públicas

Grito de independênciaGrito de independênciaGrito de independênciaGrito de independênciaGrito de independência

No princípio é a CartaNo princípio é a CartaNo princípio é a CartaNo princípio é a CartaNo princípio é a Carta No escurinho do teatro, sob um foco de luz, surge em movimento amulher-atriz Mariléia Aguiar, de vermelho e preto, lendo a Carta dePrincípios da Rede Brasileira de Prostitutas. O que combate e defende, e como atua oMovimento de Prostitutas no Brasil, este é o começo, o alicerce de onde sobe a casa das putas.

Ilumina-se então o palco em formato de cabaré,acolhendo artistas, doutos e leigos, célebres edesconhecidos, autoridades e autorizados, diante da plateiaem formato de sociedade. Na mesa de abertura, poderes locais e nacionais fazemsaudações e lembram o que o Movimento de Prostitutas noPará vem construindo em mais de 20 anos. Assim,Legislativo, Executivo e Sociedade Civil abrem oficialmenteo Encontro, de forma aliada e festiva, como os donos que

Foto: Carlos Boução

José Augusto de Melo (Coordenação deAids-Pará), Lourdes Barreto (Gempac),Lucia Paz (NEP), deputado estadualEdmilson Rodrigues, Amujaci Brilhante(Gempac). Foto Carlos Boução

Gabi e Lourdes. Foto Carlos Boução

abrem a Casa aos prazeres prometidos para a noite. As amigas Lourdes Barreto e Gabriela Leite, liderançasconvidadas a fazer o Painel de Memória da Rede Brasileira,recontam os Princípios e também a História. Histórias suasque fizeram um movimento. Falam de política, que bemsabem fazer, de parcerias que é preciso rever, mesmosconsiderando a importância de constituí-las. Em plena emoção de uma luta não maior que estasmulheres, lembram que muitas vezes nem imaginaram serpossível o que é, e que ainda têm desafios; o maior deles, afalta de identidades das prostitutas. Lágrimas rolam suavesem Gabi e teimam em Lourdes. Juntas, recebem oagradecimento da sociedade ali representada. Háparticipantes e convidados dos estados do Pará, Amapá,Amazonas, Roraima, Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul,Brasília, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

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Em um painel por trás dessas grandes mulheres éapresentado o clipe “Vinte anos do Gempac: dasesquinas do Centro antigo de Belém aos Garimposda Amazônia Legal”. Nele, o eterno aprendiz, emsua composição “Eu apenas queria que vocêsoubesse”, canta e conta nas imagens desta históriaa poesia em que Gonzaguinha consagra oscaminhos de um grande movimento.

Agora são servidosdrinques por gogo girlse gogo boys, fazendo aintegração e o conviteentre os espaços. Nocenário estão imagensde diversos cabarés denosso país; suacomposição é derecortes e lembranças,flores em mar vermelho,

espelhos, poltronas, imagens santas e depropaganda de tudo que acontece na vida. Aocentro, clama o estandarte: “As mulheres são iguaisem todas as profissões”.

Daspu é uma puta paradaDaspu é uma puta paradaDaspu é uma puta paradaDaspu é uma puta paradaDaspu é uma puta parada Em súbito e bom som, um Funk se faz presenteem sua batida de entrada, e muito esperada nestanoite: Daspu é uma puta parada, Daspu é umaparada de puta. Nos bastidores, modelos estreantes

Regional com cara deNacional, em suarepresentatividade doBrasil recepcionado peloPará, quis sair do óbviode mais um evento: asvulnerabilidades ainfecções como as DST,Aids e hepatites viraisestão diretamente ligadas ànão efetividade de políticasque fortaleçam as pessoas,as dignifiquem e lhesgarantam cidadania. Assim,o Encontro precisaráganhar as ruas, pensadocomo um grito, exigênciade visibilidade, daquelasque estão, incrível quepareça, muitas vezes nainvisibilidade. Encadeando uma noiteespecial, um neto de puta,nesta noite modeloDaspu, declama “Flor doCatolé” para homenagearas grandes líderesGabriela e Lourdes, querecebem flores comoforma pública dereconhecer vidasdedicadas à política destemovimento e seu papelhistórico na sociedadebrasileira. Servem-se coquetéis,visitam-se estandes,fazem-se compras,integram-se e espalham-se os personagens. Fecha-se o cabaré, saciadospartem, e abrem-se osdebates.

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e veteranas, prostitutas sobre o salto eno poder de sua grife, ao lado deimportantes aliados, preparam seubrilho de estrelas nesta grande noite.Suavemente, contrapondo-se à batidado funk, a trilha muda para o passadoe o Teatro Gasômetro mergulha comos personagens ali presentes nouniverso da Vida: bregas, saudade,merengues, boleros, tecno, batidasmelódicas e marcantes do passado epresente acompanham os passos dadiversidade de modelos na modaDaspu de ser, cada um em seu showparticular, mas compondo produçãolocal caprichada e competente. O desfile Daspu, que tanto mobilizoua cidade de Belém, é ovacionado a cadamodelito, perna, carão e boca napassarela-passeata (como criou muitobem Elaine Bortolanza, modelo Daspue militante desta Rede). A moda semvergonha, feita pra mudar, tem umadas maiores coberturas locais de mídiajá recebidas. Mas a noite não para aí. O Encontro

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Ju Ribeiro, a noiva Alanna Pingray, daprodução, e o cantor e produtor EloyIglesias. Foto Carlos Boução

Thiago Barreto, filho eneto. Foto Carlos Boução

Ju, filha e neta.

Geovani Lima, prostituta eatriz. Foto Carlos Boução

Homenagem a Lourdes e Gabriela, com LourivalMarsola e Leila Barreto. Foto Carlos Boução

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Não ao gueto da Aids. Sim a todos os direitosNão ao gueto da Aids. Sim a todos os direitosNão ao gueto da Aids. Sim a todos os direitosNão ao gueto da Aids. Sim a todos os direitosNão ao gueto da Aids. Sim a todos os direitos É hora de meter a mão na cumbuca DST/Aids e hepatitesvirais. Prostitutas brasileiras, cidadãs desta nação, dialogamcom o governo e elaboram agenda que corresponda a suasespecificidades: não mais vistas como “disseminadoras dedoenças” ou de camisinhas, mas protagonistas de políticasjunto aos órgãos públicos e atores sociais, consolidando otrabalho em rede protagonizado no Brasil. Prostitutas dialogam há anos com o governo sobre aspolíticas de Aids e protagonizaram a bem-sucedida respostabrasileira. “É através do movimento que conseguimoschegar lá na zona”, confirma Claudiana Cordeiro, daCoordenação de Aids do Maranhão. Agora dialogam emoutro tom, reconhecendo o que compartilham, masressalvando o claro entendimento dos papéis, como destacaLúcia Paz, do NEP: “A Rede se modernizou e asorganizações e governos têm que perceber este novomomento, e urgente”. Então, desfilam nas falas das prostitutas palavras e frasescomo: “preservativos”, “parceria com o governo”, “vão àzona fazer o trabalho de prevenção”, “não temoscompreensão da política que integra Aids e hepatites virais,e esta não chegou às prostitutas”, “a sustentabilidade dotrabalho é pequena ou limitada à abrangência da intervençãodo movimento”, “sabemos dialogar com o governo”, “nosgarimpos e fronteiras é diferenciado”, “levamos a política daRede Brasileira de Prostitutas em nossas atuações”.Enquanto diz o governo: “nós dialogamos e trabalhamos comas prostitutas”, “o que nos solicitam atendemos”, “sãofundamentais nesta política”.

Sem camisinhaSem camisinhaSem camisinhaSem camisinhaSem camisinha Na Região Sul, decidiram não levar preservativos nasvisitas às colegas. Vão às zonas e boates só para falar da auto-organização, direitos trabalhistas e humanos das prostitutas.A aceitação foi muito difícil no início, relata Lúcia, porqueas prostitutas estão esperando camisinhas. Esse exercícioestá sendo compensador, com muitas mulheres seinscrevendo no INSS e garantindo direitos pela CBO. Algo realizado em todos os estados, mas sempre levandojunto o preservativo. “O que antes era tido como estratégia,hoje se apresenta como faca de dois gumes”. O contexto daprostituição tem outras questões tão ou mais relevantes doque a prevenção. Hoje ocorre como no passado: oconfinamento das prostitutas a programas relacionadas àAids, as mulheres da vida representadas como foco dedoenças sexualmente transmissíveis. A diferença é que hojealgumas delas são “profissionais do governo”, repassadorasde camisinhas.

O SUS é nosso, o confinamento, nãoO SUS é nosso, o confinamento, nãoO SUS é nosso, o confinamento, nãoO SUS é nosso, o confinamento, nãoO SUS é nosso, o confinamento, não As prostitutas querem mais do que isso, principalmente sequerem como cidadãs, parte da sociedade. Com suasespecificidades, ou, como escreveu Flavio Lenz, assessor ealiado da Rede: “O especifico é um determinado setor da

sociedade, com suas respectivasespecificidades – e não apenas uma, comoas DST//Aids, no caso das prostitutas.Políticas públicas de fato devem sevoltar para as diversas questões de umgrupo social”. É necessária, assim, uma revisão daparceria. Nos debates é destacado que asprostitutas têm que pensar o acesso aoSUS e não esperar que as organizaçõeslevem a elas insumos; que devem ir aospostos e exigir seus preservativos,consultas e acesso à qualidade de vida,pois o SUS é da população brasileira enão do governo ou dos programas deAids, reforçam Gabriela Leite e LourdesBarreto. Não podemos continuar fazendo umtrabalho confinado às políticas de Aids, areforçar o estigma, a vitimização e ocontrole sanitário das prostitutas, o quese contrapõe aos princípios desta Rede, deautonomia, acesso integral eprincipalmente de identidade. Z

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Feminização avança e enfrentamentoFeminização avança e enfrentamentoFeminização avança e enfrentamentoFeminização avança e enfrentamentoFeminização avança e enfrentamentomarcha pra trásmarcha pra trásmarcha pra trásmarcha pra trásmarcha pra trás

O que se apresenta nesta mesa pode serencontrado nos sites públicos que tratam do tema.Na vida real, há descontinuidade e ações nãointegradas. A cada novo gestor o Plano Integradode Enfrentamento da Feminização da Aids e outrasDSTs avança ou não. Pelo olhar da sociedade civil,este Plano exigiria maior participação dasprostitutas. Para isso, é necessário oreconhecimento de sua identidade como mulher ecidadã. A identidade profissional não reconhecidainviabiliza a visibilidade, identidade de mulher, eaumenta assim a vulnerabilidade à infecção. Em Barcarena, um projeto de pesquisa sobre afeminização, desenvolvido pela UniversidadeFederal do Pará e coordenado pela professoraEunice Guedes, demonstra o impacto de umasorologia positiva, do acolhimento inicial aotratamento: abalo social na família, pouco acessoaos serviços, da atenção básica aos maisespecializados. Na Região Amazônica o Plano não saiu do papel,por responsabilidade de governos e sociedade civil.Parte deste processo está nas mãos de uma categoriaque “precisa sair de um gueto, que reforça estigmase vitimizações”. As prostitutas precisam intervir naspolíticas e planos como parte da sociedade, e semidentidade isso é quase impossível.

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Discutindo a relaçãoDiscutindo a relaçãoDiscutindo a relaçãoDiscutindo a relaçãoDiscutindo a relação Ao se tratar danova estruturaorganizacional ecompetências doDepartamentoNacional de DST/Aids e HepatitesVirais, há diálogospolêmicos entre

atores que se tratam como parceiros. A presençadeste Departamento em nossos eventos faz parte doprocesso. Precisamos dialogar com nossos aliados edescobrimos que precisamos também rever relações.Não confundir nossos papéis. Estar juntos nãosignifica ser iguais: governo é governo, movimento émovimento. Essas estruturas podem realizarrevoluções, mas com clareza em seus papéis. Neste painel, como no anterior, poderíamos acessarum site e conhecer certas informações. Importa que anova estrutura ficou menor e que ainda estáarrumando a casa. Algumas perguntas nãorespondidas, principalmente em relação à integraçãoAids e hepatites e à sustentabilidade desse processo.Mudanças constantes de gestores acarretamdescontinuidade de ações que precisam serconsolidadas em uma Região com contextosgeográficos diferentes, que apontam medidasestratégicas e efetivas. Lembra a descentralização, até hoje mal elaboradaem estados e municípios, como o própriomonitoramento das ações.

Pois o governo passa a ideia de que o trabalho é só deprevenção. Nada contra a prevenção, daí os resultadosdessa política no que se refere ao acesso a insumos eaceitação positiva a eles. Mas estamos pensando, querendo efazendo muito mais. E o SUS e as prostitutas? Nossa prática reforça que asmulheres não se apropriem da acessibilidade. Políticapública e controle social. Precisamos voltar às ruas. Como o movimento, com tão grande capacidade política,vivencia alto desgaste de suas lideranças para manter açõesbásicas que nem lhe cabem, como distribuir preservativos? Ogoverno repassa a camisinha, a ONG busca e leva até áreasde prostituição. Isso inclui recursos financeiros, humanos emesmo técnicos. Temos responsabilidade nesse processo. Viramosprofissionais no repasse de preservativos, acompanhado dequalificada informação. Prostitutas vinculadas a projetosagem como contratadas para tal, e se diferenciam dascolegas. Gabriela diz que “estamos muito lineares, mas o serhumano não é linear, é complexo”. A conjuntura tembuscado este aspecto linear, irreal. O movimento social, porter parceria e interlocução com o governo, não briga mais.Caso isto ocorra, o governo acha que o parceiro não estásendo parceiro. Sustentabilidade demanda recursos, comportamentos,intervenção nas realidades, nas culturas, na sociedade,responsabilidades. Clareza dos papéis de seus protagonistas.Autonomia e muito respeito.

Coceira de macaco alivia mas não passaCoceira de macaco alivia mas não passaCoceira de macaco alivia mas não passaCoceira de macaco alivia mas não passaCoceira de macaco alivia mas não passa Num encontro itinerante que ocupou vários espaços nacidade, agora é hora e vez do Bar Coceira de Macaco(alivia mas não passa). A chuva fininha não assustaninguém, novas colegas chegam e a categoria fala de si etraça pautas. Os dois pontos mais enfocados: relação com o governo esustentabilidade do movimento. Questões como:“precisamos delimitar quem somos”, não queremosmentiras faladas”, “não somos repassadoras decamisinhas”, “deixar claro que nossa política de Rede nãoé a política do Departamento”, “alternância derepresentações”, “fim de programas que não respondam anossas questões”, “parcerias com Daspu”. “Queremos serfelizes”. Mais de 30 prostitutas, amigos presentes. Ânimosexaltados como num sindicato. Posições declaradas, semdisfarces, deixando o politicamente linear. Debate de altonível de representatividade e legitimidade. Há consenso no que se refere ao governo, com a decisãode elaborar documento sobre a revisão de estratégias.Quanto à parceria com Daspu, representações do Piauí ede Mato Grosso do Sul preferem marca própria. Nacompreensão da maioria, Daspu é marca nacional einternacional já reconhecida e respeitada, fortalecê-laserá importante para a sustentabilidade do movimento. Oque não inviabiliza projetos locais.

O agravante é que a representante doDepartamento, Noêmia Lima, confundeuma federação do Nordeste com a RedeBrasileira de Prostitutas, ao relatar umaparceria com aquela entidade. Mastemos uma longa trajetória com oMinistério da Saúde, que sabe muitobem que a política da Rede nãocorresponde à desenvolvida pela talfederação, na qual cafetinas emovimentos que atuam na prevençãoestão intervindo. A política da RedeBrasileira de Prostitutas nãocorresponde à política atual doDepartamento.

A insustentável confusão deA insustentável confusão deA insustentável confusão deA insustentável confusão deA insustentável confusão depapéispapéispapéispapéispapéis O governo espera que tenhamossustentabilidade e nós esperamos que ogoverno a garanta. Nova confusão depapéis. Os governos estão fazendo otrabalho do movimento. E nós, o deles.E nessa relação perde o movimento.

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7Um abreijo no ParqueUm abreijo no ParqueUm abreijo no ParqueUm abreijo no ParqueUm abreijo no Parque Uma caravana de putas e aliados sobe a Presidente Vargasrumo ao Bar do Parque, na Praça da República. Cada umleva o jornal ‘Beijo da rua’, onde se lê em destaque: “Pecadonão é crime”. Vamos pelas calçadas, sem fechar o trânsito,chamando a atenção para nosso movimento e aquelamanchete. ‘Beijos’ são entregues no percurso. Lourdes sobe ao elevado do Bar do Parque e fala de suaimportância, da cultura ali depredada, em abandono. Esteato-protesto une-se à luta das por respeito. Todos dão um grande abraço no Bar do Parque. Um abraçocom ‘Beijo’. Pois só quem faz a política do afeto sabe dar umabreijo. Temos o apoio dos que passam, clientes do botequimgritam com as prostitutas e seus amigos: “O Bar do Parquenão pode morrer”.

DeliberaçõesDeliberaçõesDeliberaçõesDeliberaçõesDeliberações 1. Elaboração de cartaElaboração de cartaElaboração de cartaElaboração de cartaElaboração de carta ao governo brasileiro com aspautas prioritárias do movimento e sua agenda politica, bemcomo medidas legislativas que garantam às prostitutas amesma proteção, recurso legal e apoio social que se dá aqualquer homem ou mulher em caso de violação de direitoshumanos, além de garantir direitos migratórios e sexuais.Pautas elencadas: direitos sexuais, direitos humanos, tráficode pessoas, drogas, legalização do aborto, fronteiras etrabalho sexual, SUS, feminização da Aids. Pautasprioritárias: direitos sexuais, migratórios e turismo sexual. 2. Não participar nacionalmente de editaisNão participar nacionalmente de editaisNão participar nacionalmente de editaisNão participar nacionalmente de editaisNão participar nacionalmente de editais relacionados àAids, considerando que a política de Rede não é a do Departa-mento Nacional de DST/Aids. Isso não nos desabilita ao diálo-go e a ocupar espaços de interlocução política. Reforçamos queos movimentos que compõem a Rede analisem crítica e politi-camente participação em editais que: comprometam os Prin-cípios da Rede e não atendam a suas questões; reforcem as pros-titutas como repassadoras de doenças e de preservativos; não

garantam sustentabilidade de ações,inviabilizando execução. Precisamos esta-belecer novo diálogo com o governo, ematenção ao que é reconhecido oficialmen-te: o papel fundamental do movimento so-cial na resposta brasileira na luta contra aAids. 3. Não se aliar a programasNão se aliar a programasNão se aliar a programasNão se aliar a programasNão se aliar a programas, projetos eações que não respondam às nossas ques-tões e pautas prioritárias ou que compro-metam ou não respeitem os princípios daRede. 4. Moção de apoio ao juiz Moção de apoio ao juiz Moção de apoio ao juiz Moção de apoio ao juiz Moção de apoio ao juiz André LuizNicolitt, de São Gonçalo (RJ), que autori-zou funcionamento de casa de prostituição,distinguindo direito e moral, crime de con-dutas socialmente aceitas, garantindo“princípios fundamentais da República,como a livre iniciativa e os valores sociaisdo trabalho (art. 1º da Constituição/1988)”. 5. Assumir espaços de boemiaAssumir espaços de boemiaAssumir espaços de boemiaAssumir espaços de boemiaAssumir espaços de boemia e da cultu-ra das cidades, a fim de a prostituta assumirseu papel e importância nesses espaços e debuscar sustentabilidade para o movimento. 6. Manutenção do formato atual Manutenção do formato atual Manutenção do formato atual Manutenção do formato atual Manutenção do formato atual da Exe-cutiva da Rede, em colegiado. 7. Realizar ações em massaRealizar ações em massaRealizar ações em massaRealizar ações em massaRealizar ações em massa e de prefe-rência integradas e/ou simultâneas, em estados e municí-pios, sobre eventos internacionais e a respeito da CBO. 8. Acompanhar a integração Aids eAcompanhar a integração Aids eAcompanhar a integração Aids eAcompanhar a integração Aids eAcompanhar a integração Aids e hepatites viraishepatites viraishepatites viraishepatites viraishepatites virais eefetivar nova relação e parcerias que estabeleçam efetivasustentabilidade nessa nova conjuntura política. 9. Formalizar documento sobre o estudoFormalizar documento sobre o estudoFormalizar documento sobre o estudoFormalizar documento sobre o estudoFormalizar documento sobre o estudo “Taxas deprevalência de HIV e sífilis e conhecimento, atitudes epráticas de risco relacionadas às infecções sexualmentetransmissíveis no grupo das mulheres profissionais dosexo”, a respeito de coleta e análise de dados. 10. Articular com parlamentaresArticular com parlamentaresArticular com parlamentaresArticular com parlamentaresArticular com parlamentares nos estados odesarquivamento do projeto de lei 98/2003, de FernandoGabeira. 11. Estabelecer parcerias com DaspuEstabelecer parcerias com DaspuEstabelecer parcerias com DaspuEstabelecer parcerias com DaspuEstabelecer parcerias com Daspu nos estados quedesejarem. Gempac buscará apoio para projeto nacional.Recomenda-se promoção de desfiles com produções lo-cais, para fortalecer a luta e gerar recursos. Reconheci-mento e valorização de nossa mídia impressa e on-lineBeijo da ruaBeijo da ruaBeijo da ruaBeijo da ruaBeijo da rua, para que nossas significações circulem pelasociedade. 12. De 2 a 4 de junho de 2012, GempacDe 2 a 4 de junho de 2012, GempacDe 2 a 4 de junho de 2012, GempacDe 2 a 4 de junho de 2012, GempacDe 2 a 4 de junho de 2012, Gempac sediará o VIEncontro da Rede Brasileira de Prostitutas. A programa-ção serão os itens da Carta de Princípios da Rede. O 2 deJunho, Dia Internacional da Prostituta, poderá contar comações integradas nos estados. Na abertura, Daspu lançarácoleção ligada à Amazônia, em parceria com Gempac, Artepela Vida, Caixa de Criadores e Universidade da Amazô-nia. Os estados custearão suas delegações e o Gempac,produção local, palestrantes e sua delegação nos municí-pios. Será deliberado o estado que sediará o VII Encontroe a nova composição do colegiado.

Foto: Friederike Strack

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Dicas de viagemDicas de viagemDicas de viagemDicas de viagemDicas de viagemQuem quer ir à Europa para trabalhar naprostituição pode consultar a internet paraconhecer leis sobre prostituição, migração,acesso à saúde, e onde obter informaçõese apoio em 25 países. A página foidesenvolvida pelo Tampep, uma redeeuro-peia de 26 organi-zações quetrabalham com e para prostitutas na batalha por seusdireitos. Tem versões em espanhol, inglês, francês e russo.

Com serviçosCom serviçosCom serviçosCom serviçosCom serviçosSão listados 369 serviços com endereços ehorários na Alemanha, Áustria, Bélgica,Bulgária, Dinamarca, Eslovênia, Espanha,Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda,Hungria, Itália, Letônia, Lituânia,Luxemburgo, Noruega, Polônia, Portugal,Reino Unido, República Tcheca, RepúblicaEslovaca, Romênia, Suíça.

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Dúvidas na RomêniaDúvidas na RomêniaDúvidas na RomêniaDúvidas na RomêniaDúvidas na Romênia

O ministro do Trabalho da Romênia foi àTV dizer que mais de metade dapopulação adulta do país é favorável àlegalização da prostituição, segundopesquisas dos últimos três anos. Já oParlamento rejeitou projeto que permiteacesso das prostitutas à seguridade social,saúde e aposentadoria, e a igrejaortodoxa queixou-se que a propostarepresenta “ruptura entre lei e moral”,apesar de prostituição não ser proibida nonovo Código Penal. O problema do projetoera outro: só valia para mulheres, maioresde 16 (foto no alto), que atendem homens.

É proibido anunciarÉ proibido anunciarÉ proibido anunciarÉ proibido anunciarÉ proibido anunciarUm decreto presidencial proíbe desde ju-lho anúncios de serviços sexuais na mídiaargentina. Christina Kirchner se curva aomovimento feminista, que afirma defendera redução da violência contra a mulher, in-cluindo o tráfico de pessoas. Ammar se pro-nunciou contra porque a lei “criminaliza aatividade”.

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BBBBBatalha no trânsitoatalha no trânsitoatalha no trânsitoatalha no trânsitoatalha no trânsitoProstitutas de Els Alamus, na Catalunha,têm que usar uma roupa especial de tra-balho para se proteger de acidentes detrânsito: um colete amarelo que reflete aluz dos faróis. Na região, muitas mulhe-res batalham nas estradas. O prefeitomandou os policiais multarem as prosti-

tutas “despidas” em 90 reais.

Desconto ecológicoDesconto ecológicoDesconto ecológicoDesconto ecológicoDesconto ecológicoQuem vem de bicicleta ou mostra sua passagem de trans-porte público ganha desconto de 10% num programano bordel Maison d’Envie, em Berlim. Diariamente, trêsa cinco clientes ajudam na redução do gás carbônico dacasa, onde 30 minutos de prazer custam 120 reais.

Moçambicanas criam associação e adotamMoçambicanas criam associação e adotamMoçambicanas criam associação e adotamMoçambicanas criam associação e adotamMoçambicanas criam associação e adotamCarta de Princípios da RedeCarta de Princípios da RedeCarta de Princípios da RedeCarta de Princípios da RedeCarta de Princípios da Rede

Um grupo de prostitutas de Maputo, capital de Moçam-bique, está se preparando para criar uma associação, a pri-meira no país a se organizar em prol dos direitos huma-nos da categoria. A Tiyane Vavasate, que em portuguêssignifica Mulheres, Fortaleçam-se, pretende iniciar embreve suas ações por melhores condições de vida, de saú-de, de trabalho e de segurança para todas as prostitutas deMoçambique, atuando em parceria com o governo, a so-ciedade civil e organismos internacionais. Em agosto, com apoio da Pathfinder International, o gru-po participou de uma oficina onde foi desenhado um pla-no de ação de advocacy, com o qual pretende chamar aatenção do Ministério da Saúde para a necessidade de in-cluir interesses específicos da classe nos programas nacio-nais de saúde sexual e reprodutiva, HIV e Aids, atenção àsvítimas de violência sexual e humanização em saúde. Durante o encontro, a Tiyane Vavasate decidiu adotartambém como sua a Carta de Princípios da Rede Brasilei-ra de Prostitutas.

Colaboração de Carlos Laudari, da PathfinderInternational, desde Maputo

Foto: Carlos Laudari

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Filha, mãe, avó e puta estreia com ‘catigoria’ e emoçãoFilha, mãe, avó e puta estreia com ‘catigoria’ e emoçãoFilha, mãe, avó e puta estreia com ‘catigoria’ e emoçãoFilha, mãe, avó e puta estreia com ‘catigoria’ e emoçãoFilha, mãe, avó e puta estreia com ‘catigoria’ e emoção Estreia e pré-estreia da peça “Filha, mãe,avó e puta – uma entrevista”, no CCBB doRio, 13 e 14 deste mês, tiveram plateia ca-lorosa e estrelada. Alexia DechampsAlexia DechampsAlexia DechampsAlexia DechampsAlexia Dechamps comoGabriela LeiteGabriela LeiteGabriela LeiteGabriela LeiteGabriela Leite, autora do livro adaptado aoteatro, superou nervosismo e longa ausên-cia do palco, brilhando como estrela maior.Juntas no fim da peça, comoveram o públi-

co. A alegria foi ao botequim, na pré-estreia, e a coquetelno CCBB, na estreia. Outro fator em comum é incentivar o combate ao estig-ma, à hipocrisia, o apoio à regulamentação da prostitui-ção. “A peça provoca interesse pela causa. Cresce na se-gunda parte, da postura politica, quando ela assume a pro-fissão e mostra a cara. Abre a história, a peça, abre a vidadela e você vê a dimensão de uma atitude política, públi-ca, transformadora”, segundo a atriz Leona CavalliLeona CavalliLeona CavalliLeona CavalliLeona Cavalli. Françoise FourtonFrançoise FourtonFrançoise FourtonFrançoise FourtonFrançoise Fourton, também atriz, apoia a opinião deLeona e mergulha no feminino: “Toda mulher tece sua fan-tasia ou compartilha com o companheiro. Fui arrebatada equero saber qual o próximo movimento”, diz. “Um traba-lho muito importante, num mundo cada vez mais careta,de hipocrisia. A reação da plateia é maravilhosa, adoro adireção do Guilherme LemeGuilherme LemeGuilherme LemeGuilherme LemeGuilherme Leme e o trabalho de Alexia. Umareverência às mulheres”. A cineasta Eunice GutmanEunice GutmanEunice GutmanEunice GutmanEunice Gutman, do premiado curta “Amoresde rua”, também elogia direção e atriz. “Guilherme conse-guiu coisa difícil: a naturalidade da atriz sendo entrevista-da. Isso é talento do diretor. E Alexia estudou mesmo ges-tos, colocações”. Já Herson CapriHerson CapriHerson CapriHerson CapriHerson Capri gostou “de tudo: texto, trajetória, his-tória”. E compartilha uma bela sacada: “A prostituição jáera globalizada muito antes da globalização”. Outro artista a falar ao ‘Beijo’ é Leopoldo PachecoLeopoldo PachecoLeopoldo PachecoLeopoldo PachecoLeopoldo Pacheco, au-tor da caracterização de Alexia. Último a saber, o repórterpediu que ele comentasse o próprio trabalho. “Fiquei ten-so, achei que não ia dar tempo. Sou muito crítico, mas achoque ficou bom o visagismo”, diz Leo, sem falsa modéstia. Olhar antropológico vem da amiga Soraya SimõesSoraya SimõesSoraya SimõesSoraya SimõesSoraya Simões, quefez mestrado sobre prostituição. “Há um belo trabalho deencontrar o tom de Gabriela. Acompanha muito bem umatrajetória mais combativa que se desloca para a fina ironia”. A cantora Marília BessyMarília BessyMarília BessyMarília BessyMarília Bessy associa a peça à obra literária.“Muita coisa do livro veio na minha cabeça. Dava umastrês horas de peça a mais”. E a editora do livro publicadopela Objetiva, Isa PessoaIsa PessoaIsa PessoaIsa PessoaIsa Pessoa, o que diz? Assim: “As históriascomovem a gente”. Tem também Maria NilceMaria NilceMaria NilceMaria NilceMaria Nilce, decana Daspu: “Fiquei emo-cionada, do começo ao fim”. Já Gabriela achou “o máximo a reação das pessoas, oaplauso, a emoção”. E conta um segredo: “Guilherme meconvidou para ir a uma sessão por semana. Talvez porquequando Alexia me chamou lá na frente, no fim da peça,deu um auê. Sei lá. Pode ser”.

Duas de uma, no encontroGabi-Alexia. Foto João Mário Nunes

Alexia em momento maior.Foto Reginaldo Pimenta

Rafael Cesar, o quase-filho,Kaká Verdade, Angela Donini e o

editor, com Gabriela

Leona CavalliFoto Flavio Lenz

Gabriela e Isa Pessoa.Foto Reginaldo Pimenta

Guilhermina Guinle e LeopoldoPacheco. Foto Flavio Lenz

Guilherme Leme, o 'antagonista'Louri Santos, Gabeira, Gabriela eAlexia. Foto Reginaldo Pimenta

A equipe da produção teatral. Foto João Mário Nunes

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A senadora Marinor Brito (PSOL-PA), relatora da CPI do TráficoInterno e Internacional de Pesso-as, convocou o delegado federalAndré Santana a dar explicaçõessobre operação da Polícia Federalem 2007 que impediu o embarquede 13 brasileiras para a Turquia.O relato de Santana e a interpela-ção de Marinor Brito ocorreramdurante a audiência pública da CPIna Assembleia Legislativa do Rio,no fim de agosto. O delegado contou à CPI que aPF recebeu “denúncia anônima”de que um grupo de mulheres em-barcaria do Rio para Istambul,onde “iriam ser exploradas sexu-almente”. No Galeão, os policiaisretiraram 13 mulheres do embar-que para serem ouvidas, o que as

Sem comprovaçãoSem comprovaçãoSem comprovaçãoSem comprovaçãoSem comprovação Depois da audiência, o delegadoSantana deu mais detalhes da operaçãoao ‘Beijo da rua’. Segundo ele, a denún-cia era de que as mulheres seriam “bai-larinas” que iriam para Istambul sob “opretexto de apresentar danças típicas”. APF do aeroporto “identificou” então umgrupo de 13 mulheres e as convocou a“prestar esclarecimentos”. Elas apresen-taram um “contrato escrito”, que foi exa-minado pelos policiais. Durante a conversa, ainda segundo odelegado, as mulheres “desconfiaram” docontrato e, “receosas, desistiram de em-barcar”. Com o grupo estaria também umhomem, que não foi identificado. “O tur-co passou”, disse Santana. Na investiga-ção que se seguiu, “não foi comprovadoaliciamento”, segundo o policial. O antropólogo Thaddeus Blanchett,que acompanhou a entrevista do ‘Bei-jo’, considera que “a Polícia Federal sesente completamente autorizada a in-terferir no direito de ir e vir de deter-minadas brasileiras, desde que sejamdenunciadas como prostitutas”. Paraele, “muito provavelmente, a políciaestá operando com filtro de raça, cor eclasse, ou seja, só vai interferir combrasileiras que não conhecem seus di-reitos e que são fáceis de intimidar comameaças vagas de criminalidade: putaspobres”. Opinião semelhante tem Gabriela Lei-te: “A operação feriu o direito de ir e vir,o que certamente não seria feito commulheres de classe média embarcandopara Miami”.

Relatora quer clarear conceitosRelatora quer clarear conceitosRelatora quer clarear conceitosRelatora quer clarear conceitosRelatora quer clarear conceitos “Clarear os conceitos relativos ao trá-fico de pessoas” é uma das contribuiçõesque a CPI do Senado deve dar ao Estado,de acordo com a relatora, Marinor Brito.“A CPI não pretende aumentar a repres-são, é um movimento de mão dupla. Odireito de migrar e de exercer a prosti-tuição deve ser diferenciado do tráficohumano. É necessário aprofundar a dis-cussão, criando fóruns com a participa-

ção da sociedade, e adequar a legislação,já que o Código Penal só pune o tráficode pessoas se for para fins de exploraçãosexual”, disse ao ‘Beijo da rua’, pouco an-tes da audiência pública. A senadora tam-bém quer novas pesquisas para mapear otráfico, já que a última é de 2000. Para Gabriela Leite, “a posição darelatora é um avanço para os direitos dasprostitutas”. Na audiência, a fundadora deDavida e Daspu repetiu o que o movimen-to vem afirmando faz vários anos: “Háconfusão de conceitos e de temas. Mistu-ra-se turismo sexual com exploração se-xual de crianças e adolescentes, tráfico depessoas com migração para o trabalho naprostituição. É muito chique ir para Parisestudar na Sorbonne, mas não se conside-ra o direito de uma prostituta ir batalharna Europa”.

Número mágicoNúmero mágicoNúmero mágicoNúmero mágicoNúmero mágico Gabriela lembrou que ativistas anti-tráfico tem feito circular estimativas“fora da realidade” nas vésperas deeventos internacionais, como os quehaverá no Brasil nos próximos anos.“Nas copas da Alemanha e África doSul, repetiam o número mágico de 40mil mulheres e crianças que seriam es-cravizadas para atender os torcedores,o que jamais foi comprovado”. Daplateia, Thaddeus Blanchette detalhouque uma super-mobilização da políciaalemã identificou oito (8) casos de trá-fico humano e que os bordéis do país,onde a prostituição é legal, relataramqueda no número de clientes. Os nú-meros na África do Sul foram seme-lhantes, disse.

Senadora exige explicações da PF sobre operaçãoSenadora exige explicações da PF sobre operaçãoSenadora exige explicações da PF sobre operaçãoSenadora exige explicações da PF sobre operaçãoSenadora exige explicações da PF sobre operaçãoque impediu brasileiras de embarcar para o exteriorque impediu brasileiras de embarcar para o exteriorque impediu brasileiras de embarcar para o exteriorque impediu brasileiras de embarcar para o exteriorque impediu brasileiras de embarcar para o exterior

impediu de viajar. A primeira reaçãoao relato do policialfoi de Gabriela Leite,da Rede Brasileira deProstitutas, que tam-bém estava na mesada CPI e trocou pala-vras com Marinor.Da plateia, o deputa-do federal JeanWyllys (PSOL-RJ)disse que a descriçãoda operação indicava“pânico moral e dis-tinção por classe ecor”. A relatora daCPI convocou entãoo delegado a deporsobre a operação. “Gostaria de ouvi-lo reservadamente,em Brasília, sobre ocaso específico, con-siderando o direitode ir e vir”, disseMarinor ao delegado,diante do público quelotava o auditórioNelson Carneiro.

Flavio Lenz

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Direitos humanos devem orientarDireitos humanos devem orientarDireitos humanos devem orientarDireitos humanos devem orientarDireitos humanos devem orientarcombate ao tráficocombate ao tráficocombate ao tráficocombate ao tráficocombate ao tráfico Sair do marco da criminalização parao dos Direitos Humanos, transformarpolítica de governo em política de Esta-do e incentivar o protagonismo de quemse pretende proteger foram as propostasde Carlos Nicodemus, representante doConsórcio Trama na audiênciafluminense. “Ao invés de quantos pren-demos, quantos condenamos e quantosanos de pena foram aplicados, precisa-mos nos guiar por quantos protegemos equantos tiveram alternativas”, afirmou. Já Claudio Secchin, do Ministério doTrabalho, contou que o órgão vem iden-tificando trabalho escravo no setores decana, café e construção civil, os dois úl-timos transportando pessoas de outros es-tados para o Rio. Disse que a fiscalizaçãoé limitada por restrição de verbas paradiligências e de pessoal da PF para acom-panhar os fiscais. “O Grande Rio tornou-se um canteiro de obras e só temos 45fiscais. Há construtoras que trazem pes-soas de outros estados e as instalam emlocais ruins e ainda cobram a passagem.Antes de se deslocar, o trabalhador pre-cisa saber qual é a empresa, onde ficará,qual o valor do salário e ter a carteiraassinada”.

Conjunção de políticasConjunção de políticasConjunção de políticasConjunção de políticasConjunção de políticas Consultora da ONU para o II PlanoNacional do Enfrentamento ao Tráfico dePessoas, Ofélia Ferreira disse que o ob-jetivo é aperfeiçoar o primeiro plano, pormeio de plenárias livres e consultas vir-tuais, especialmente com as “pessoas maisafetadas”, e de diálogos com especialis-tas. A ênfase será em prevenção, repres-são e responsabilização e em atenção àsvítimas. O II Plano, coordenado pela Se-cretaria Nacional de Justiça, pretende ser“uma conjunção de politicas de Estado”e estará pronto em dezembro.

A audiência também contou, entre ou-tros, com Andreia Sepúlveda, da Secre-taria de Assistência Social e DireitosHumanos do Estado do Rio, com repre-sentante da Arquidiocese e com o depu-tado estadual Marcelo Freixo, do PSOL,que lembrou que o Rio foi campeão decasos de trabalho escravo em 2009. Oconfuso cerimonial da Casa se esqueceuda procuradora regional da RepúblicaGisele Porto, que falou rapidamente depé, e convocou Gabriela Leite para duasmesas, a primeira só para “autoridades”.

Ativista defende legalizaçãoAtivista defende legalizaçãoAtivista defende legalizaçãoAtivista defende legalizaçãoAtivista defende legalização A CPI do Senado foi instalada em abril ejá fez diligências em Manaus, Salvador eBelém. Nesta capital, contou com LourdesBarreto, do Gempac e da Rede Brasileirade Prostitutas. Ela destacou a posição dasmeretrizes “contra qualquer forma de ex-ploração do ser humano” e reafirmou quea legalização da prostituição contribuirápara “combater com mais eficácia esses ca-sos”. Ainda devem ser visitadas as cidadesde Macapá, Campo Grande, Goiânia, SãoPaulo, Recife, Fortaleza e Natal.

Protocolo e Código PenalProtocolo e Código PenalProtocolo e Código PenalProtocolo e Código PenalProtocolo e Código Penal Os artigos 231 e 231-A do Código Pe-nal e o Protocolo de Palermo (2000), ra-tificado pelo Brasil, são o marco legalpara o combate ao tráfico de pessoas nopaís. O segundo é documento adicionalà Convenção das Nações Unidas contrao Crime Organizado Transnacional re-lativo à Prevenção, Repressão e Puniçãodo Tráfico de Pessoas, em especial deMulheres e Crianças. No Protocolo, aexpressão Tráfico de Pessoas significa: “O recrutamento, o transporte, a trans-ferência, o alojamento ou o acolhimentode pessoas, recorrendo à ameaça ou usoda força ou a outras formas de coação,ao rapto, à fraude, ao engano, ao abusode autoridade ou à situação devulnerabilidade ou à entrega ou aceita-ção de pagamentos ou benefícios para ob-ter o consentimento de uma pessoa quetenha autoridade sobre outra para finsde exploração”. O Protocolo define exploração comosendo, no mínimo, “a exploração da pros-tituição de outrem ou outras formas deexploração sexual, o trabalho ou servi-ços forçados, escravatura ou práticas si-milares à escravatura, a servidão ou aremoção de órgãos”.

Já os artigos do Código Penaltratam de tráfico internacional einterno de pessoas. Artigo 231: Tráfico internacio-nal de pessoas Promover, intermediar ou faci-litar a entrada, no território na-cional, de pessoa que venha exer-cer a prostituição ou a saída depessoa para exercê-la no estran-geiro: Pena – reclusão, de 3 (três)a 8 (oito) anos, e multa.§ 1º - Se ocorre qualquer das hi-póteses do § 1º do art. 227:Pena – reclusão, de 4 (quatro) a10 (dez) anos, e multa. § 2º Se háemprego de violência, grave ame-aça ou fraude, a pena é de reclu-são, de 5 (cinco) a 12 (doze) anos,e multa, além da pena correspon-dente à violência. Artigo 231-A: Tráfico internode pessoas Promover, intermediar ou faci-litar, no território nacional, o re-crutamento, o transporte, atransferência, o alojamento ou oacolhimento da pes-soa que venha exercera prostituição: Pena –reclusão, de 3 (três) a8 (oito) anos, e multa.Parágrafo único.Aplica-se ao crimede que trata este ar-tigo o disposto nos§§ 1º e 2º do art. 231deste Decreto-Lei Outras informa-ções em www.mj.gov.br/traficodepessoas.

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COLUNA DA GABI12

É domingo e são 7 horas da manhã. Olho a telado computador para escrever minha coluna do‘Beijo da rua’. Detesto acordar cedo, além do maisno domingo, que é o dia da preguiça. De manhãnão sou ninguém. Se acordo cedo por algumaeventualidade, necessito de litros de café e algunscigarros para coordenar as ideias. Hoje estouacordada desde as 6, virando de um lado prooutro da cama. Angústia e ansiedade são meussentimentos. Faltam só dois dias para a pré-estreia da peça homônima ao meu livro. Não épouca coisa. Ao fim e ao cabo é a minha vida que estará emcartaz e isso dá um baita medo. Me sentarei naplateia e assistirei a mim mesma interpretadapela Alexia Dechamps. Ufa! Meus sentimentosestão tão misturados que até escrever e botar parafora minhas angústias está difícil. Tudo começou há quase dois anos. Fui procura-da pelo agente da Alexia, o Montenegro, que umdia, na fila do cinema, viu meu livro na livraria,comprou e naquela noite terminou de ler convic-to, segundo suas palavras, de que iria levá-lo parao teatro. Logo mais a conheci. Tão diferente demim. Extremamente bonita, alta e longos cabeloslouros. Sei lá, gostei dela logo no início. Contrato fechado, começamos a conversar.Alexia não tem o perfil de gostar de botequim. Sóbebe vinho, artigo raro nos bares que frequento,detesta cerveja e está mais para os restaurantes deIpanema. Todo caso, frequentou os botequins doCatete e da Glória comigo e assim fomos nosconhecendo. No decorrer desse tempo, ouvi inúmeras vezesa frase: “Gabriela, por que a Alexia?” Assim comoa frase era recorrente, minha resposta tambémera. Quem me procurou não foi uma atrizcultuada pelos intelectuais, por ser consideradauma “atriz-cabeça”. Foi ela e não uma hipotéticaatriz. Fui percebendo também que as pessoas têmum certo preconceito da trajetória profissionalde Alexia. Com certeza, temos algo em comum eestou muito feliz por ser ela que estará no palcosendo eu.

Conversando com umapessoa da produção, ouvi queminha vida tinha passagensfortes tipo o estupro que sofrino início da minha vida sexu-

al. Levei um susto. Que estupro, cara-pálida, nuncafui estuprada na vida. Nesse momento tive a certezanua e crua de que cada um lê aquilo que quer lerperante suas convicções. Ela se referia ao dia em quepela primeira vez fiz sexo com um homem. Ora, estáclaro no livro: não fui forçada a ir a casa dele, euqueria ir, eu queria transar, e se ele, com sua imensavaidade, quis ridicularizar a minha pretensa moderni-dade, é outro papo.

Fiquei amedrontada. Imagine eu lá da plateia ouviruma triste história de estupro que não houve em hipó-tese alguma. Chorei muito e tive um sentimento de quenão seria a minha vida que estaria no palco, e sim algomais palatável à ditadura do politicamente correto. Por não querer atrapalhar o processo criativo dequem quer que fosse, resolvi, naquele momento, queaté a estreia não queria encontrar e nem conversar comninguém, incluindo a Alexia. Cheguei ao cúmulo depensar em não ir à estreia. Tudo passou. Faltam doisdias e chegarei ao teatro sem conhecer o roteiro. Estafoi minha decisão. Claro, tenho medo, ansiedade eangústia, mas lá no fundo de mim acredito que vougostar e que será um exercício extremo de entender adiversidade de olhares. Entendi que não haveria pro-cesso criativo se as pessoas repetissem a minha visão demundo igual papagaio. São oito e quarenta da manhã de domingo e estou umpouco mais tranquila depois de escrever estas linhas.Terça-feira estarei no teatro para ver alguém que nãoserá eu inteiramente, mas será sim, com toda certeza, avida de uma filha mais ou menos, de uma péssima mãe,boa avó e puta convicta. Obrigado, minha querida editora, Isa Pessoa, pela ideiade um título polêmico e pela convicção de que deveriapublicar a minha história. Afinal, tudo começou aí.

Minha vida em cartaz.Minha vida em cartaz.Minha vida em cartaz.Minha vida em cartaz.Minha vida em cartaz.

Que medo!Que medo!Que medo!Que medo!Que medo!

Estarei no teatro para ver alguém que nãoserá eu inteiramente, mas a vida de umafilha mais ou menos, de uma péssima mãe,boa avó e puta convicta