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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Sebastião dos Santos Filho CONDIÇÕES DE TRABALHO E AGRAVOS À SAÚDE NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA NO BRASIL: SUBSÍDIOS À GESTÃO DA SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO São Paulo 2006

Filho.condicoes de Agravos

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Page 1: Filho.condicoes de Agravos

CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Sebastião dos Santos Filho

CONDIÇÕES DE TRABALHO E AGRAVOS À SAÚDE NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA NO BRASIL: SUBSÍDIOS À GESTÃO DA SAÚDE E SEGURANÇA

NO TRABALHO

São Paulo 2006

Page 2: Filho.condicoes de Agravos

SEBASTIÃO DOS SANTOS FILHO

CONDIÇÕES DE TRABALHO E AGRAVOS À SAÚDE NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA NO BRASIL: SUBSÍDIOS À GESTÃO DA SAÚDE E SEGURANÇA

NO TRABALHO

Dissertação de mestrado apresentada ao Centro

Universitário Senac como exigência parcial para

obtenção do grau de Mestre em Gestão

Integrada em Saúde do Trabalho e Meio

Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Celso Amorim Salim

São Paulo 2006

Page 3: Filho.condicoes de Agravos

Filho, Sebastião dos Santos

Condições de trabalho e agravos à saúde nas micro e pequenas

empresas da indústria moveleira no Brasil: subsídios à gestão da

saúde e segurança no trabalho / Sebastião dos Santos Filho – São

Paulo, 2006.

174 f.

Orientador: Prof. Dr. Celso Amorim Salim

Dissertação (Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho

e Meio Ambiente) – Centro Universitário SENAC, Campus Santo

Amaro.

1. Micro e Pequenas empresas. 2. Ramo Moveleiro. 3. Acidentes do

Trabalho. 4. Gestão integrada. I. Título.

Page 4: Filho.condicoes de Agravos

FOLHA DE APROVAÇÃO

Page 5: Filho.condicoes de Agravos

DEDICATÓRIA

Ao meu pai, Sebastião dos Santos (in memoriam), que sempre procurou nos

mostrar o caminho do saber.

À minha mãe, Maria Alves dos Santos, amiga e conselheira.

À minha esposa, Simone Cândida Hito, pelo companheirismo.

Ao meu filho, Gabriel Hito dos Santos, que aos dois anos de idade mostrou ser

amigo e companheiro.

Aos meus irmãos, ao meu sogro, à minha sogra, aos meus cunhados e sobrinhos,

que souberam compreender minha ausência nas reuniões familiares.

Page 6: Filho.condicoes de Agravos

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Celso Amorim Salim, exemplo de dedicação.

Ao Dr. Vitor Gomes Pinto, do Departamento Nacional do SESI, pela importante

colaboração.

Ao Departamento Regional do SESI/Paraná, pela acolhida a este projeto.

À Gerência Regional de Campos Gerais, pelo interesse demonstrado neste

trabalho.

Aos gerentes, supervisores e funcionários das Agências da Previdência Social.

À Luiza, gerente da Agência da Previdência Social de Ponta Grossa, que soube

entender a importância do nosso trabalho.

Ao Elias, ao Luis, à Cinthia e à Daniela, pela colaboração na coleta e tabulação

dos dados.

À Célia, pelo excelente trabalho de revisão.

À Heloisa, minha sogra, pela ajuda nas viagens, ao cuidar de nosso filho.

Aos proprietários e funcionários do Posto de Gasolina Rio Branco, pelo estímulo.

À Paula, secretária da pós-graduação, pela sua dedicação e presteza.

Ao Gustavo, pelo excelente trabalho estatístico.

Page 7: Filho.condicoes de Agravos

Se dois homens vêm andando por uma estrada,

cada um carregando um pão, e, ao se encontrarem,

eles trocam os pães, cada homem vai embora com um;

porém, se dois homens vêm andando por uma estrada,

cada um carregando uma idéia, e, ao se encontrarem,

eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas.

(Provérbio Chinês)

Page 8: Filho.condicoes de Agravos

RESUMO

Este trabalho foi desencadeado pela constatação da enorme importância social e

econômica dos acidentes de trabalho graves e mutilantes provocados por

máquinas, provavelmente obsoletas e inseguras, e responsáveis por 25% dos

acidentes graves e incapacitantes registrados no País, tendo como objeto de

pesquisa o setor moveleiro – formado em sua maioria por pequenas e

microempresas, que, se constituindo em importante segmento de inclusão

econômica e social como geradoras de renda e absorvedoras de mão-de-obra, no

mundo e principalmente no Brasil, têm peso relativo de participação nesses

acidentes.

Os acidentes de trabalho da indústria moveleira constituem, em razão do

desconhecimento de informações relacionadas à sua própria realidade, um

desafio para a melhoria de seus mecanismos de gestão da saúde ocupacional e,

mais amplamente, para a proposição de um sistema de gestão integrada em

saúde do trabalho e meio ambiente adequado às suas peculiaridades, que lhe

possibilite um desenvolvimento sustentável e socialmente responsável. Assim,

esta pesquisa pretende identificar os prováveis agentes envolvidos na gênese e

na conformação dos acidentes de trabalho no ramo moveleiro, e com isso, testar

uma metodologia para identificar e mensurar todo e qualquer acidente de trabalho

através de registros administrativos já existentes, que contemple a participação

das unidades básicas de saúde descentralizadas e de todos os profissionais

envolvidos direta ou indiretamente com a área de saúde coletiva.

O presente estudo limitou-se às micro e pequenas empresas do ramo moveleiro

localizadas nos pólos de Ubá/MG, Maringá e Arapongas/PR, São Bento do Sul e

Bento Gonçalves/RS, apoiado na pesquisa “Acidentes do trabalho em pequenas e

micro empresas industriais nos ramos moveleiro, calçadista e de confecções”,

resultante de ação cooperativa entre a FUNDACENTRO e o SESI, e subsidiada

com recursos financeiros da FUNDACENTRO e do SEBRAE.

Palavras-chaves: micro e pequenas empresas, ramo moveleiro, acidentes do

trabalho, gestão integrada.

Page 9: Filho.condicoes de Agravos

ABSTRACT

This work has been unchained for the ascertaining of the huge social and

economical importance of severe injuries and work accidents caused by

machines, probably unsafe and obsolete, and responsible for 25% of severe

injuries and disabilities registered in the country, having the furniture sector as the

object of the research that is formed by micro and small companies that have a

relative degree of participation in these accidents, once they constitute an

important segment of social and economical inclusion as profit generators as well

as of hand labor absorbers.

Work related accidents of furniture sector constitute, as a result of lack of

information related to its own reality, a challenge for the improvement of their

mechanisms of occupational health management and, widely, for the proposition

of an occupational health and environmental integrated management system

adequate to their peculiarities that enables a sustainable and socially responsible

development. So this research aims to identify possible agents involved in work

accidents genesis and configuration in the furniture sector and, with this, to test a

methodology for the identification and evaluation of all of every work accident

through administrative registers already existent that contemplate the participation

of decentralized basic health units as well as of all professionals directly or

indirectly involved with public health area.

The present study is limited to micro and small organizations of furniture sector

located in Ubá/MG, Maringá and Arapongas/PR, São Bento do Sul and Bento

Gonçalves/RS, supported by the research “Work accidents in small and micro

enterprises of furniture, shoes and clothes manufacturing sectors” resulting from

the cooperation between FUNDACENTRO and SESI and supported by financial

resources from FUNDACENTRO and SEBRAE.

Keywords: micro and small organizations, furniture sector, work accidents,

integrated management.

Page 10: Filho.condicoes de Agravos

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1

Ciclo PDCA............................................................................

93

GRÁFICO 1 Quantidade total de acidentes de trabalho registrados

em 2000-2003.......................................................................

44

GRÁFICO 2 Quantidade total de acidentes de trabalho

registrados segundo o motivo – 2000-2003.......................

45

GRÁFICO 3 Participação % relativa da quantidade de

acidentes registrados na média de vínculos

de empregados, segundo os grupos de idade e tipos de

acidentes – 2003...................................................................

46

GRÁFICO 4 Distribuição espacial das empresas da indústria de

móveis (mercado formal) – 2003...........................................

68

GRÁFICO 5 Distribuição espacial das empresas da indústria de

móveis (mercado formal) – 2002 ..................................................

76

GRÁFICO 6 Representação gráfica da participação de acidentes

do trabalho por CNAE, nos pólos moveleiros, de 2002

a 2004....................................................................................

113

GRÁFICO 7 Representação gráfica da participação de acidentes

de trabalho por UF total.........................................................

114

GRÁFICO 8 Representação gráfica da participação de acidentes

do trabalho por UF por ano...................................................

114

GRÁFICO 9 Representação gráfica da participação de acidentes

do trabalho por local (UF) onde o mesmo foi registrado.......

115

GRÁFICO 10 Representação gráfica da participação de acidentes

de trabalho por local (localidade específica)

onde aconteceu o acidente...................................................

116

Page 11: Filho.condicoes de Agravos

GRÁFICO 11

Representação gráfica da participação das proporções

(porcentagem e numéricas) de acidentes do trabalho

onde o trabalhador e a empresa se situam na

mesma localidade ou em localidades diferentes...................

117

GRÁFICO 12 Representação gráfica da participação dos tipos

de acidentes de trabalho por registros efetuados por ano....

119

GRÁFICO 13 Representação gráfica da participação dos tipos

de acidentes de trabalho nos registros efetuados

por pólo..................................................................................

120

GRÁFICO 14 Representação gráfica do registro de ocorrência dos

tipos de acidentes de trabalho no mesmo município

da empresa empregadora ou em

municípios diferentes.............................................................

121

GRÁFICO 15 Representação gráfica do local do acidente de trabalho...... 122

GRÁFICO 16 Representação gráfica do agente causador do acidente

em cada pólo moveleiro........................................................

124

GRÁFICO 17 Representação gráfica do agente causador máquina

total (aberto especificamente por máquinas) em cada

pólo moveleiro.......................................................................

125

GRÁFICO 18 Representação gráfica da evolução dos acidentes

de trabalho de 2002 para 2004.............................................

127

GRÁFICO 19 Representação gráfica da participação das faixas

etárias nos acidentes de trabalho registrados......................

132

GRÁFICO 20 Representação gráfica da participação das faixas

etárias até 18 anos nos acidentes de trabalho

registrados por ano................................................................

134

GRÁFICO 21 Representação gráfica da participação dos sexos

nos acidentes de trabalho registrados por ano.....................

135

Page 12: Filho.condicoes de Agravos

GRÁFICO 22

Representação gráfica da proporção de acidentes

masculinos para cada acidente feminino..............................

136

GRÁFICO 23 Representação gráfica da participação dos sexos por faixa

por faixa etária......................................................................

137

GRÁFICO 24 Representação gráfica das partes do corpo atingidas,

por pólo moveleiro. Totais da pesquisa.................................

139

GRÁFICO 25 Representação gráfica da participação dos meios

de transporte nos acidentes de trabalho...............................

140

GRÁFICO 26 Representação gráfica da taxa de incidência acumulada,

mortalidade e letalidade geral em relação aos

indicadores médios dos CNAE 3611 e

3612 de 2002 e 2003.............................................................

141

GRÁFICO 27 Representação gráfica da taxa de incidência acumulada,

mortalidade e letalidade geral em relação aos indicadores

médios dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003..................

171

GRÁFICO 28 Representação gráfica da taxa de incidência acumulada,

mortalidade e letalidade no pólo moveleiro de Ubá

em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611

e 3612 de 2002 e 2003........................................................

172

GRÁFICO 29 Representação gráfica da taxa de incidência acumulada,

mortalidade e letalidade no pólo moveleiro de Arapongas

em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e

3612 de 2002 e 2003.............................................................

173

GRÁFICO 30 Representação gráfica da taxa de incidência acumulada,

mortalidade e letalidade no pólo moveleiro de Maringá

em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e

3612 de 2002 e 2003............................................................

174

Page 13: Filho.condicoes de Agravos

GRÁFICO 31

Representação gráfica da taxa de incidência acumulada,

mortalidade e letalidade no pólo moveleiro de São

Bento do Sul em relação aos indicadores médios

dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003...............................

175

GRAFICO 32 Representação gráfica da taxa de incidência acumulada,

mortalidade e letalidade no pólo moveleiro de

Bento Gonçalves em relação aos indicadores médios

dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003...............................

176

GRÁFICO 33 Representação gráfica dos afastamentos por tempo,

por pólo moveleiro. Dados extraídos da pesquisa pelo

DCB – DIB.............................................................................

143

GRÁFICO 34 Representação gráfica do tipo de CAT por pólo

moveleiro...............................................................................

144

GRÁFICO 35 Representação gráfica da área de abrangência

da ocorrência do acidente por pólo moveleiro......................

145

QUADRO 1 Pólos moveleiros consolidados e potenciais no Brasil.......... 69

Page 14: Filho.condicoes de Agravos

LISTA DE TABELAS

TABELA 1

Distribuição dos trabalhadores e situação no mercado de

trabalho – Brasil, 2002...........................................................

34

TABELA 2 Quantidade total de acidentes do trabalho registrados

segundo os grupos de idade e o motivo – 2003.....................

46

TABELA 3 Quantidade de acidentes do trabalho registrados por tipo

de ferimento e lesões ligadas ao punho e mão, segundo

o CID-10 – 2003......................................................................

47

TABELA 4 Freqüências absolutas e relativas dos óbitos por acidente de

trabalho, confrontados com todos os óbitos, com as causas

externas e com os óbitos notificados pelas CAT* - Brasil,

1979 – 1988............................................................................

57

TABELA 5 Faturamento do setor 2000/2005............................................ 67

TABELA 6 Número de empresas e empregados no setor moveleiro por

estado.....................................................................................

70

TABELA 7 Pólos moveleiros por estado: empresas, número

de empregados e principais mercados...................................

71

TABELA 8 Porte, número de empresas e emprego na indústria de

móveis (marcado formal) – 1998/2002....................................

75

TABELA 9 Indicadores de acidentes do trabalho – CNAE – 2002........... 77

TABELA 10 Indicadores de acidentes do trabalho – CNAE – 2003........... 77

TABELA 11 Total de CAT coletadas por pólo moveleiro............................ 110

TABELA 12 Participação: acidentes por CNAE total e abertos por ano..... 165

TABELA 13 Registro de emitentes de CAT por pólo moveleiro.................. 118

TABELA 14 Distribuição por ano dos acidentes de trabalho pela situação

geradora..................................................................................

123

TABELA 15 Participação dos tipos de acidentes sobre o total

registrado...............................................................................

126

Page 15: Filho.condicoes de Agravos

TABELA 16 Variação dos tipos de acidente de ano para ano.................... 167

TABELA 17 Variação nos tipos de acidentes por ano, por registro............ 128

TABELA 18 Acidentes por agente causador, por pólo moveleiro............... 168

TABELA 19 Acidentes pelo agente causador máquina –

participações %.......................................................................

169

TABELA 20 Percentual de causas de acidentes por agente causador

aberto por pólo moveleiro........................................................

130

TABELA 21 Registro de acidentes por ano, por faixa etária específica..... 133

TABELA 22 Registro de acidentes por faixa etária e por pólo moveleiro... 137

TABELA 23 Registro de acidentes de trabalho por partes do corpo

atingidas, por pólo moveleiro..................................................

137

Page 16: Filho.condicoes de Agravos

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIMÓVEL Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário

AISS Agência Internacional de Seguridade Social

CAT/SUB Comunicação de Acidente de Trabalho/

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas

DIB-DCB Data de Início do Benefício – Data de Cessação do Benefício

FACTS Agência Européia para a Saúde e Segurança do Trabalho

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

ISO Organização Internacional para a Padronização

MPE Micro e Pequena Empresa

NOB. SUS Norma Operacional Básica. Sistema Único de Saúde

NOST Norma Operacional de Saúde do Trabalhador

NR Norma Regulamentadora

OIT Organização Internacional do Trabalho

PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PDCA Planejar. Desenvolver. Checar. Ação Corretiva

PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

RGPS Regime Geral de Previdência Social

SAI Sociedade Internacional de Responsabilidade Social

SESI Serviço Social da Indústria

SIM Sistema de Informações de Mortalidade

SST Saúde e Segurança no Trabalho

SUS Sistema Único de Saúde

Page 17: Filho.condicoes de Agravos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................. 20

1.1 Apresentação da problemática......................................................... 20

1.2 Origem do trabalho........................................................................... 22

1.3 Relevância do estudo....................................................................... 23

1.4 Questões de pesquisa...................................................................... 26

1.5 Hipóteses ........................................................................................ 26

1.5.1 Hipótese geral.................................................................................. 26

1.5.2 Hipótese de trabalho........................................................................ 27

1.6 Objetivos.......................................................................................... 27

1.6.1 Objetivo geral................................................................................... 27

1.6.2 Objetivos específicos....................................................................... 27

1.7 Procedimentos metodológicos......................................................... 28

1.8 Delimitação da pesquisa.................................................................. 28

1.9 Descrição e organização dos capítulos............................................ 28

2 A SAÚDE DO TRABALHO NO BRASIL........................................... 30

2.1 A política nacional de saúde e segurança do trabalhador............... 32

2.2 A saúde do trabalhador.................................................................... 36

2.3 Os acidentes de trabalho................................................................. 42

2.4 A violência urbana e os acidentes de trabalho................................. 53

2.5 Os acidentes de trabalho e as fontes de informação....................... 55

2.6 Os acidentes de trabalho e a previdência social.............................. 58

2.6.1 O fator acidentário previdenciário e a comunicação de acidente

do trabalho.......................................................................................

61

2.7 A previdência social, o acidente de trabalho e a

reabilitação profissional ..................................................................

63

Page 18: Filho.condicoes de Agravos

3 A INDÚSTRIA MOVELEIRA NO BRASIL........................................ 66

3.1 Os arranjos produtivos locais........................................................... 72

3.1.1 Centros de tecnologia da madeira................................................... 74

3.2 A importância socioeconômica da indústria de móveis no Brasil..... 74

3.3 A indústria moveleira, o meio ambiente e o

desenvolvimento sustentável...........................................................

78

3.4 A gestão dos resíduos da indústria moveleira................................. 81

3.5 A gestão de saúde e segurança do trabalho nas

MPE moveleiras...............................................................................

85

4 MATERIAL E MÉTODO................................................................... 96

4.1 Delineamento do estudo.................................................................. 96

4.2 Estratégias da pesquisa................................................................... 98

4.2.1 Conceituação das MPE.................................................................... 98

4.2.2 Ramo de atividade........................................................................... 100

4.2.3 Universo de estudo e abrangência geográfica................................. 100

4.2.4 Período de referência....................................................................... 101

4.2.5 Fonte e coleta dos dados................................................................. 102

4.2.5.1 Principal fonte de informações......................................................... 102

4.2.5.2 Outras fontes de dados utilizadas.................................................... 102

4.2.5.3 Coleta de dados............................................................................... 103

4.2.5.4 Configuração do banco de dados da Fundacentro.......................... 104

4.2.6 Análise dos dados............................................................................ 107

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................................ 113

5.1 Consolidação do banco de dados.................................................... 113

5.2 Descrição das variáveis................................................................... 125

5.2.1 Distribuição dos registros de acidentes do trabalho por tipo

de acidente e por pólo moveleiro.....................................................

125

Page 19: Filho.condicoes de Agravos

5.2.2 Distribuição dos registros de acidentes do trabalho segundo

as causas do acidente e por pólo moveleiro....................................

128

5.2.3 Distribuição dos registros de acidentes do trabalho por

faixa etária........................................................................................

131

5.2.4 Distribuição dos registros de acidentes por sexo............................. 135

5.2.5 Distribuição dos registros de acidentes do trabalho segundo

as partes do corpo atingidas............................................................

138

5.2.6 Distribuição dos registros de acidentes do trabalho,

modalidade acidente de trajeto, segundo o meio de

transporte utilizado...........................................................................

139

5.3 Estimativa das taxas de incidência acumulada, mortalidade

e letalidade......................................................................................

140

5.4 Estimativa das taxas de incidência de acidentes do trabalho,

taxa de incidência específica para acidentes do trabalho

típicos, taxas de acidentalidade proporcional específica

para a faixa etária de 16 a 34 anos.................................................

141

5.5 Afastamento pela DIB-DCB, por pólo moveleiro ............................. 142

5.6 Classificação das CAT por pólo moveleiro....................................... 144

5.7 Acidentes por pólo por área de abrangência................................... 145

5.8 Considerações finais 145

6 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES.......................................... 148

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................. 151

ANEXOS.......................................................................................... 161

APÊNDICES.................................................................................... 170

Page 20: Filho.condicoes de Agravos

20

1. INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação da problemática

No curso da História, sob vários sistemas produtivos e formas de organização do

trabalho, os acidentes e os agravos à saúde fazem parte do cotidiano dos

trabalhadores – fato que, no entanto, ganha visibilidade a partir do século XIX,

com o avanço do processo de industrialização e das lutas operárias dele

decorrentes (MACHADO, 1991). Vale dizer, enquanto fenômeno que rompe com

a lógica do trabalho, a sinistralidade no ambiente de trabalho, expressa em

acidentes e doenças, sempre existiu. Mais do que isso, pode-se afirmar que,

ligados à dinâmica da sociedade, que está sempre em movimento, os acidentes

sempre farão farte do cenário social que conforma o mundo do trabalho

(FREITAS, 1996).

Com a Revolução Industrial, através do desenvolvimento científico e tecnológico,

que veio provocar profundas transformações na sociedade e na natureza, o

homem passa a ser o responsável pela geração e remediação de seus males. A

concepção anterior de acidente torna-se insuficiente porque, assim como não

existe trabalho em geral, não existe acidente em geral (OLIVEIRA, 1999), ou seja,

faz-se necessário contextualizar o acidente historicamente. A simples descrição

do evento não mais responde à lógica, e com isso as situações de trabalho

modificam-se em curto espaço de tempo.

A crescente automação dos processos produtivos em larga escala e a

conseqüente redução dos postos de trabalho nas indústrias consideradas

tradicionais têm enfatizado o papel das micro e pequenas empresas como

geradoras de renda e absorvedoras de mão-de-obra. Nesse sentido, diversos

organismos têm voltado sua atenção para programas de apoio às pequenas e

micro empresas já constituídas e para o desenvolvimento da capacidade

empreendedora, visando à constituição de novos empreendimentos em bases

sólidas e sustentáveis.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e o SEBRAE (Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) classificam as pequenas e

Page 21: Filho.condicoes de Agravos

21

microempresas, doravante globalmente referidas como PME, pela quantidade de

pessoas nelas ocupadas – microempresa, aquela com até 19 empregados;

pequena empresa, aquela com o número de pessoas ocupadas no intervalo de 20

e 99 empregados.

Estudos desenvolvidos pelo IBGE (2003) e SEBRAE (2004) constataram a

existência de cerca de 3,5 milhões de empresas; desse total cerca de 98%

poderiam ser classificadas no segmento das PME.

Na realidade, as PME constituem hoje, em todo o mundo e muito fortemente no

Brasil, um segmento importante de inclusão econômica e social. O setor tem

destacada participação no acesso às oportunidades de emprego e no

desenvolvimento econômico do País. Por gerarem grande parte dos postos de

trabalho e oportunidades de geração de renda, as micro e pequenas empresas

tornam-se o principal sustentáculo da livre iniciativa e da democracia no Brasil – o

segmento representa nada menos que 99% do total de empreendimentos do

País, 60% dos empregos existentes e contribui com 20% do PIB. Além disso, os

pequenos negócios são responsáveis por 95% dos novos empregos líquidos

gerados a cada ano (SEBRAE, 2005).

Os conhecimentos gerados pela Engenharia de Segurança clássica, cuja teoria é

a de que os acidentes são produzidos por condições inseguras, e pela Psicologia

clássica, de que os acidentes decorrem de atos falhos, mostram-se insuficientes,

uma vez que a noção moderna de acidente de trabalho prioriza o contexto

histórico deste.

Os acidentes de trabalho, por outro lado, não estão mais associados apenas às

atividades restritas ao ambiente das empresas ou local de trabalho, assim como

os acidentes predominantes não correspondem mais àqueles relacionados

diretamente com os processos intrínsecos ao trabalho. Os riscos mais gerais aos

quais está submetida toda a população, principalmente as diversas formas de

violência crescentes nas áreas urbanas, atingem de forma indiscriminada os

trabalhadores, que tiveram seu local de trabalho ampliado para o espaço público,

acrescentando-se esses riscos àqueles inerentes aos processos produtivos

(WALDVOGEL, 2002).

Page 22: Filho.condicoes de Agravos

22

Nesse contexto, destaca-se, dentre outros, o problema das máquinas e

equipamentos obsoletos e sem segurança, os quais são responsáveis por cerca

de 25% dos acidentes de trabalho graves e incapacitantes registrados no País,

conforme Mendes et al. (2001). Aqui o peso relativo da participação das PME

nesses acidentes, embora ainda desconhecido como um todo, não pode ser

olvidado.

No período de 1999 a 2003, a Previdência Social registrou 1.875.190 acidentes

de trabalho, sendo 15.293 com óbitos e 72.020 com incapacidade permanente, e

uma média de 3.059 óbitos/ano, entre os trabalhadores formais (cerca de 22,9

milhões em 2002). O coeficiente médio de mortalidade, no período considerado,

foi de 14,84 por 100.000 trabalhadores (MPS, 2003). A comparação desse

coeficiente com o de outros países – tais como Finlândia: 2,1 (2001); França: 4,4

(2000); Canadá: 7,2 (2002) e Espanha: 8,3 (2003) (TAKALA, 1999) – demonstra

que o risco de morrer por acidente de trabalho no Brasil é cerca de duas a cinco

vezes maior.

No Brasil, exemplarmente, apesar dos números gerais sobre os acidentes de

trabalho – i.é, englobando todos os setores, ramos de atividade e segmentos

empresariais – não refletirem a real situação da sinistralidade nos ambientes de

trabalho em função das sub-notificações e dificuldades de ajustamento dos

bancos de dados dos Ministérios da Previdência Assistência Social, do Trabalho e

Emprego e da Saúde, sabe-se, concretamente, sobretudo através de estudos

tópicos, que as micro e pequenas empresas são responsáveis pela grande

maioria dos acidentes de trabalho, seja pela sua maior concentração, seja pela

sua falta de investimentos em saúde e segurança do trabalho. No entanto, os

dados oficiais não explicitam esse quadro inteiramente.

1.2 Origem do trabalho

Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), quatro pessoas

morrem a cada minuto no mundo por causa de acidentes de trabalho, e na visão

dessa entidade, pelo menos, três dessas mortes poderiam ser evitadas se fossem

adotadas medidas para prevenir os acidentes de trabalho e as doenças

ocupacionais. A estimativa da OIT, para o número de trabalhadores que perderam

Page 23: Filho.condicoes de Agravos

23

a vida durante o ano de 2002, é de 2 milhões de vítimas. E, conforme

levantamento nos países industrializados, houve uma queda nas lesões graves,

enquanto, nos países subdesenvolvidos, ainda continuam ocorrendo os maiores

índices de mortes e acidentes, cujo ápice está nos setores da agricultura, da

exploração florestal e da pesca, destacados como os setores de maior risco.

Quanto aos dados apresentados de acidentes de trabalho, estes demandam uma

reflexão séria, pois podem estar revelando uma mudança de tendência – apesar

de todas as normas de saúde e segurança em vigor –, causas estas que podem

estar relacionadas com alterações e agravamentos das condições de trabalho, e

que muito provavelmente implicam mudanças de prioridades estratégicas e até

mesmo um aumento do efetivo de fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego.

Todavia, mister se faz passar o controle dessas ações para os atores sociais

interessados, ou seja, os trabalhadores, através de seus sindicatos constituídos.

Consoante considerações anteriores, este trabalho foi desencadeado pela

constatação da enorme importância social e econômica dos acidentes de trabalho

graves e mutilantes provocados por máquinas, provavelmente obsoletas e

inseguras, visto que estudos estatísticos têm demonstrado a gravidade desse

problema, seja pela incidência de tais acidentes, seja pela idade dos acidentados,

seja pelas suas conseqüências – estas últimas medidas pela incapacidade

permanente produzida, geradora dos benefícios previdenciários correspondentes

– além dos graves problemas sociais decorrentes desses acidentes, para os quais

não há parâmetros de medição.

1.3 Relevância do estudo

Arranjos produtivos são aglomerações de empresas localizadas em um mesmo

território, que apresentam especialização produtiva e mantêm algum vínculo de

articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores

locais, tais como governo; associações empresariais; instituições de crédito,

ensino e pesquisa.

Um Arranjo Produtivo Local – APL – é caracterizado pela existência da

aglomeração de um número significativo de empresas que atuam em torno de

uma atividade produtiva principal. Para isso, é preciso considerar a dinâmica do

Page 24: Filho.condicoes de Agravos

24

território em que essas empresas estão inseridas, tendo em vista o número de

postos de trabalho, o faturamento, o mercado, o potencial de crescimento, a

diversificação, entre outros aspectos (FAIRBANKS, 2001).

Por isso, a noção de território é fundamental para a atuação em arranjos

produtivos locais. No entanto, a idéia de território não se resume apenas à sua

dimensão material ou concreta. Território é um campo de forças, uma teia ou rede

de relações sociais que se projetam em um determinado espaço (FAIRBANKS,

2001). Nesse sentido, o APL também é um território onde a dimensão constitutiva

é econômica por definição, embora não se restrinja a ela.

Portanto, o Arranjo Produtivo Local compreende um recorte do espaço geográfico

(parte de um município, conjunto de municípios, bacias hidrográficas, vales,

serras, etc.) que possua sinais de identidade coletiva – sociais, culturais,

econômicos, políticos, ambientais ou históricos – e mantenha ou tenha a

capacidade de promover uma convergência em termos de expectativas de

desenvolvimento, de estabelecer parcerias e compromissos para manter e

especializar os investimentos de cada um dos atores no próprio território, assim

como de promover ou ser passível de uma integração econômica e social no

âmbito local (FAIRBANKS, 2001).

Como exemplo, tem-se a cidade mineira de Ubá, primeiro pólo moveleiro de

Minas Gerais, cujas 310 indústrias, na maioria, micro e pequenas empresas –

censo feito pelo SEBRAE (2003), sobre o perfil da região, aponta que as

pequenas empresas representam 30% do setor e as micro 65% – empregam

aproximadamente 7.000 pessoas. As principais cidades envolvidas no pólo

moveleiro são: Guidoval, Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Tocantins,

Ubá e Visconde do Rio Branco.

A indústria brasileira de móveis está localizada, basicamente, no sul e no sudeste

do País. As unidades da federação compostas por Rio Grande do Sul, Santa

Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo

concentram 75% das empresas da indústria fabricante de móveis e estão

localizadas em torno de pólos regionais (FÓRUM DE COMPETITIVIDADE DA

INDÚSTRIA DE MADEIRA E MÓVEIS, 2001). De acordo com a mesma fonte, o

Page 25: Filho.condicoes de Agravos

25

estado de Santa Catarina é o terceiro maior produtor de móveis do Brasil e o

maior exportador – São Bento do Sul, o principal pólo moveleiro do estado, é

também o maior centro exportador do País, com quase 40% do total das

exportações nacionais.

No estado do Paraná encontra-se o pólo moveleiro de Arapongas, voltado para a

produção de móveis populares. Entretanto, o estado possui também algumas

médias e grandes empresas de alta tecnologia, que exportam parte de sua

produção e são responsáveis por, aproximadamente, 7% das vendas externas de

móveis do País (FÓRUM DE COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DE MADEIRA

E MÓVEIS, 2001).

O Brasil ocupa o 9º lugar no ranking mundial dos maiores produtores de móveis.

Com um crescimento anual médio de 4,3% no faturamento das empresas, o Rio

Grande do Sul, segundo maior exportador de móveis do País, apresenta forte

potencial empreendedor para ser transformado em um dos maiores centros

produtores de móveis da América Latina. A indústria gaúcha tem investido

especialmente no desenvolvimento tecnológico e de infra-estrutura, o que garante

a destinação de mais de 60% de sua produção para países como Estados

Unidos, França e Reino Unido. Em 2003, o Rio Grande do Sul contava com 268

empresas exportadoras e participou com 30% do faturamento da indústria de

móveis no Brasil, enquanto, em 1996, esse percentual foi de 19,2% (SEBRAE,

2003). Considerando-se toda a cadeia produtiva do beneficiamento da madeira

até a manufatura de móveis, no ano de 2003, a participação gaúcha no Brasil foi

de 15,1% sobre o número total de estabelecimentos e de 7,7% sobre o conjunto

de empregados nesses dois ramos de atividade. Vale registrar que um total de

87% do número de estabelecimentos dedica-se à fabricação de móveis de

madeira (SEBRAE, 2003).

Entre 1996 e 2003, a média anual de crescimento das exportações foi de 8,7%

(SEBRAE, 2003), gerando, desta forma, novos empregos e proporcionando um

crescimento/uma expansão cada vez maior dos pólos moveleiros.

Conforme dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o emprego

formal gerado pela cadeia produtiva de móveis no ano de 2000 foi de 185.798 mil

Page 26: Filho.condicoes de Agravos

26

empregos; em 2001, de 188.721 mil empregos; em 2002, de 193.078 mil

empregos. Vale dizer: um crescimento da ordem de 2,3% no período entre 2000-

2002, o que comprova a importância socioeconômica da indústria de móveis na

geração de novos postos de trabalho.

1.4 Questões de pesquisa

Em vista da contextualização descrita, esta dissertação procura aprofundar o

estudo das seguintes questões de pesquisa:

• Quais características dos acidentes de trabalho da indústria moveleira

ocasionaram lesões aos trabalhadores?

• Há condições de minimizar os danos causados aos trabalhadores da

indústria moveleira?

• É possível contribuir com subsídios para ações preventivas mais efetivas a

partir da análise objetiva dos elementos desencadeadores dos acidentes

de trabalho no universo pesquisado?

• É possível contribuir com subsídios para ações mais efetivas a partir da

análise objetiva da dificuldade de obtenção dos dados e, desta forma,

tornar mais efetiva a informação sobre os acidentes de trabalho?

1.5 Hipóteses

1.5.1 Hipótese geral

Os acidentes de trabalho da indústria moveleira constituem, face ao óbice da falta

de conhecimento e de informações atinentes à sua realidade, um desafio para a

melhoria específica de seus mecanismos de gestão da saúde ocupacional e, mais

amplamente, para a proposição de um sistema de gestão integrada em saúde do

trabalho e meio ambiente afeito às suas peculiaridades, que possibilite ao setor

um desenvolvimento sustentável e socialmente responsável.

Page 27: Filho.condicoes de Agravos

27

1.5.2 Hipótese de trabalho

A análise dos acidentes de trabalho nos conglomerados industriais do setor

moveleiro, caracterizado pelo predomínio das PME, gera subsídios fundamentais

para a criação e implementação de políticas específicas capazes de potencializar

o desenvolvimento sustentável do setor como um todo.

1.6 Objetivos

1.6.1 Objetivo geral

Identificar os prováveis agentes envolvidos na gênese e na conformação dos

acidentes de trabalho no ramo moveleiro e propor, com base nos resultados

obtidos, mecanismos de intervenção que possam diminuir tais acidentes nos

diversos pólos moveleiros, ou seja, gerar subsídios às recomendações de ações

pontuais preventivas de acidentes de trabalho consoante as condições

organizacionais do trabalho na indústria moveleira.

1.6.2 Objetivos específicos

• Caracterizar sociodemograficamente os acidentes de trabalho na indústria

moveleira do Brasil.

• Identificar os pólos moveleiros com maior prevalência de acidentes de

trabalho.

• Identificar os fatores de riscos presentes na indústria moveleira

responsáveis pelos acidentes de trabalho.

• Identificar e quantificar os acidentes de trabalho e comparar os dados dos

diversos pólos moveleiros estudados.

• Dimensionar o peso relativo da violência urbana como fator gerador de

acidentes de trabalho.

Page 28: Filho.condicoes de Agravos

28

1.7 Procedimentos metodológicos

• Pesquisa bibliográfica: primeiramente foi realizado um estudo bibliográfico

exploratório englobando fontes primárias e secundárias, de forma a

possibilitar o aprofundamento do tema.

• Pesquisa de campo, via levantamento de informações de arquivos sobre

acidentes de trabalho do INSS, correspondendo a uma pesquisa

quantitativa exploratória de natureza ex-post-facto e com delineamento nos

moldes do estudo de caso.

1.8 Delimitação da pesquisa

A pesquisa limitou-se às micro e pequenas empresas do ramo moveleiro

localizadas nos pólos de Ubá, Maringá, Arapongas, São Bento do Sul e Bento

Gonçalves. Por conseguinte, não analisará comparativamente as informações do

ramo moveleiro com outros conglomerados industriais nos quais predominam as

PME, como os ramos calçadista, de confecções, de bebidas, de alimentos, etc.

Como se trata de pesquisa que envolve levantamento de informações de arquivos

e o seu tratamento em termos quantitativos, um aprofundamento da mesma seria

possível apenas com ulteriores estudos de natureza mais qualitativa – como, por

exemplo, através de um estudo de campo –, quando então se poderia aprofundar

particularidades da problemática através de recortes analíticos mais específicos,

porém relevantes, tais como: causas dos acidentes em maquinários específicos,

análise ergonômica do trabalho, etc. De qualquer forma, isso seria possível

apenas a partir de conhecimentos prévios sistemáticos, conforme aqui se propõe.

1.9 Descrição e organização dos capítulos

O capítulo 1 contém a introdução, com a finalidade de elucidar o assunto a ser

desenvolvido, delimitando-o, justificando sua importância e explicitando os

objetivos e questões da pesquisa.

O capítulo 2 fará uma exposição da saúde do trabalho no Brasil, relacionando-a

com os acidentes de trabalho, suas teorias e leis, e com o setor previdenciário,

passando pelos benefícios sociais, pela reabilitação profissional e pela reinserção

Page 29: Filho.condicoes de Agravos

29

no mercado de trabalho. E mais, contextualizará também a violência urbana como

um dos fatores preponderantes nos acidentes de trabalho e faz um paralelo entre

os acidentes de trabalho, fiscalização do Governo e cobranças do Ministério

Público do Trabalho.

O capítulo 3 abordará a indústria moveleira no Brasil, os cuidados com o meio

ambiente, sua importância socioeconômica, bem como propiciará uma visão das

micro e pequenas empresas na área moveleira e sua disposição em arranjos

produtivos locais. E ainda descreverá os modelos de gestão de saúde do trabalho

e meio ambiente vigentes, não teóricos, assim como a problemática dos acidentes

de trabalho na indústria moveleira mediante estatísticas oriundas do Ministério da

Previdência e Assistência Social e do Ministério do Trabalho e Emprego. Este

capítulo analisará também a importância do tema no modelo produtivo atual,

correlacionando-o com a situação socioeconômica vigente, e confrontará algumas

teorias sobre acidentes de trabalho.

O capítulo 4 descreverá em detalhes a metodologia utilizada na pesquisa, o que é

imprescindível à consecução dos resultados requeridos.

O capítulo 5 descreverá e analisará, do ponto de vista estatístico e

epidemiológico, os resultados obtidos, incluindo a interpretação e a discussão

global dos mesmos.

Já o capítulo 6 apresentará a conclusão do trabalho e recomendações tanto para

melhorias no sistema de gestão de saúde do trabalho e meio ambiente nas micro

e pequenas empresas do ramo moveleiro quanto para trabalhos futuros.

Page 30: Filho.condicoes de Agravos

30

2. A SAÚDE DO TRABALHO NO BRASIL

Nas últimas décadas, a industrialização acelerada da produção – sustentada pela

transformação do conhecimento científico em tecnologia e pela revolução da

microinformática – determinou mudanças radicais no mundo do trabalho,

associadas a outros aspectos como crescimento demográfico, urbanização

crescente, expansão dos meios de comunicação, que decisivamente modificaram

o viver dos homens individual e coletivamente (DIAS, 1994). Assim é que se torna

cada vez mais difícil falar em mundo do trabalho, como se houvesse outro fora

das fábricas. O mundo é um só e os trabalhadores nele atuam, transformando e

sendo transformados com um modo de viver historicamente determinado e

diferenciado em classes sociais (TAMBELLINI, 1985). O processo de trabalho,

visto como uma forma de interação entre o homem e a natureza, é composto por

uma base técnica e uma base social, objetivadas na tecnologia, na organização

do trabalho e no tipo de acumulação, que corporificam a dinâmica e a qualidade

da relação do homem com o ambiente e o processo de trabalho (MACHADO,

1995).

Berlinger (1993) relata que o processo central que influi na vida e na morte dos

seres humanos e no trabalho é, portanto, entender o significado do processo de

trabalho em geral e a forma especifica que esse processo assume na produção

capitalista, condição importante para que se possa entender a relação capital X

trabalho.

O modo de trabalho e o modo de adoecer das comunidades trabalhadoras

mostram a importância de uma interface com vários segmentos da vida social,

posto que há necessidade de uma integração entre saberes distintos.

Compreender o ambiente de trabalho e como os trabalhadores adoecem exige

que as várias teorias sejam desafiadas pela vida prática no dia-a dia. Por

conseguinte, como há inúmeras dificuldades de se modelar uma ação preventiva,

a inexistência de uma cultura preventiva é a expressão da demanda social

relacionada com as dificuldades encontradas no estudo da saúde do trabalho –

situação particularmente instigante em se tratando das condições objetivas dos

diversos ambientes de trabalho que caracterizam a realidade brasileira. Isso

Page 31: Filho.condicoes de Agravos

31

porque a saúde do trabalho é oriunda de modos diferentes de trabalhar em modos

específicos de produção que perpassam pelos diferentes setores da atividade

econômica. Saúde e doença é uma dicotomia de condições concretas oriundas da

condição humana e atribuição de significados através de modificações no meio

ambiente.

Os determinismos sociais não agem diretamente sobre a ordem biológica, mas,

sim, sobre as modificações ambientais que determinam as mudanças na saúde

do trabalho.

A atividade humana de trabalho e a condição saúde-doença são componentes de

uma mesma trajetória histórica, e não podem ser dissociadas de seus eixos

balizadores, se o que se pretende é visualizar propostas preventivas na

concretude de suas diversas possibilidades.

O Brasil é um país com uma das maiores concentrações de renda do mundo e

com uma gama incomensurável de ineqüidades no campo do trabalho – dentre

elas, a alimentação precária do trabalhador, a educação deficiente, a saúde e a

segurança do trabalho apenas com uma visão legalista – a mostrarem que ainda

há muito por fazer para se alcançar uma excelência em prevenção em saúde do

trabalho.

A atual estrutura econômica do Brasil acentua cada vez mais os infortúnios do

trabalho através do fenômeno do desemprego, da flexibilização do trabalho, da

redução salarial, das terceirizações do trabalho perigoso e principalmente através

das subnotificações dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais,

levando o trabalhador brasileiro a uma verdadeira via crucis em busca da

manutenção do emprego e, conseqüentemente, a passar por cima de quaisquer

situações que porventura venham a ameaçar-lhe o emprego – o que é uma das

maiores formas de agressão e violência contra o trabalhador brasileiro.

Em particular, a aquisição de tecnologias sucateadas e totalmente ultrapassadas

do ponto de vista de produtividade e competitividade, assim como problemas

quanto à proteção social aos trabalhadores constituem características indeléveis

para a grande maioria das micro e pequenas empresas do ramo moveleiro no

Brasil. Sem dúvida, em nível mais amplo, esse também tem sido o cenário

Page 32: Filho.condicoes de Agravos

32

estruturante do segmento das empresas que mais empregam mão-de-obra no

Brasil, ou seja, onde se encontram as piores condições de trabalho,

caracterizando o que foi denominado por Wisner (1994) como modo degradado

de produção.

2.1 A política nacional de saúde e segurança do trabalhador

A partir de 1980, o movimento sindical, por meio de uma série de denúncias

quanto ao ambiente de trabalho nocivo aos trabalhadores, organiza-se na

formação de propostas de transformações das condições de trabalho de uma

maneira ainda um tanto quanto desorganizada, em virtude da presença justaposta

de sindicatos mais fortes ao lado de sindicatos de pouca ou nenhuma

representatividade, tornando, dessa forma, maiores as dificuldades de

enfrentamento das ineqüidades do trabalho no Brasil.

Portanto, a saúde do trabalhador deve organizar-se em torno de perspectivas de

uma redefinição do setor público de saúde, com a participação de trabalhadores,

empresários, organizações não-governamentais, universidades e dos próprios

sindicatos, e deve desenvolver-se de modo articulado e cooperativo pelos

Ministérios do Trabalho e Emprego, da Previdência Social, da Saúde, da

Educação, da Justiça e do Meio Ambiente (3 CNST, 2005), com vistas a garantir

que o trabalho – base da organização social e do direito humano fundamental –

seja realizado em condições que contribuam para a melhoria da qualidade de

vida, para a realização pessoal e social dos trabalhadores, sem prejuízo para a

sua saúde e integridade física e mental (3 CNST, 2005).

É necessário que o Estado cumpra seu papel na garantia dos direitos básicos dos

trabalhadores através da formulação e implementação de políticas e ações que

sejam norteadas por abordagens transversais e intersetoriais. Nessa perspectiva,

as ações de segurança e saúde do trabalhador exigem uma atuação

multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial capaz de contemplar a

complexidade das relações capital X trabalho.

Mais recentemente, considerando os preceitos institucionais do direito à saúde, à

previdência social e ao trabalho decente, o Governo constituiu um grupo de

trabalho interministerial – Ministério da Previdência e Assistência Social/Ministério

Page 33: Filho.condicoes de Agravos

33

da Saúde/Ministério do Trabalho e Emprego – com as atribuições de analisar

medidas e propor ações integradas e sinérgicas que contribuam para aprimorar

as ações voltadas para a segurança e a saúde do trabalhador; de elaborar

proposta de política nacional de segurança e saúde do trabalhador, observando

as interfaces existentes e as ações comuns entre os diversos setores do Governo;

de analisar e propor ações de caráter intersetorial referentes ao exercício da

garantia do direito à segurança e à saúde no trabalho, assim como de ações

específicas da área que necessitem de implementação imediata pelos respectivos

ministérios individual ou conjuntamente, e de compartilhar os sistemas de

informações referentes à segurança e saúde dos trabalhadores existentes em

cada ministério (I PNSST, 2004).

A abordagem integrada das inter-relações entre as questões de saúde e

segurança do trabalhador, meio ambiente e desenvolvimento sustentável

representa, na atualidade, um grande desafio para o Estado brasileiro. Assim, é

fundamental o estabelecimento de uma política nacional de saúde e segurança do

trabalhador que articule as competências e normas no âmbito dos Ministérios do

Trabalho, Previdência Social e da Saúde – às quais se juntaram, mais

recentemente, as ações do Ministério de Meio Ambiente –, e que seja ampliada

para todos os setores e esferas do Governo. Enfim, pela primeira vez, busca-se

uma ação articulada para o enfrentamento das iniqüidades relacionadas ao

ambiente de trabalho, através da estruturação de uma política ampla e afeita às

diversidades de um país de dimensão continental.

De fato, a população economicamente ativa (PEA) no Brasil, segundo estimativa

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (PNAD 2002), já era de

82.902.480 pessoas, das quais 75.471.556 consideradas ocupadas. Destes,

41.755.449 eram empregados (22.903.311 com carteira assinada; 4.991.101

militares e estatutários e 13.861.037 sem carteira assinada ou sem declaração);

5.833.448 eram empregados domésticos (1.556.369 com carteira assinada;

4.275.881 sem carteira assinada e 1.198 sem declaração); 17.224.328 eram

trabalhadores por conta própria; 3.317.084 eram empregadores; 3.006.860 eram

trabalhadores na produção para próprio consumo e construção para próprio uso,

e 4.334.387 eram trabalhadores não remunerados. Portanto, entre os 75.471.556

trabalhadores ocupados em 2002, afora os militares e estatutários, apenas

Page 34: Filho.condicoes de Agravos

34

22.903.311 (com carteira assinada), ou seja, menos de 1/3 (30,35%) possuíam

cobertura da legislação trabalhista e do SAT – Seguro de Acidente do Trabalho,

conforme Tabela 1, abaixo, gerada a partir de dados da PNAD 2002 e extraída do

documento preliminar relativo ao I PNSST (2004). Em contrapartida, para fins

comparativos, se excluído do total do pessoal ocupado o número absoluto de

empregadores (3.317.084) e considerada apenas a soma dos trabalhadores sob

condições formais de trabalho (empregados com carteira assinada, militares,

estatutários e trabalhadores domésticos com carteira assinada), ter-se-ia, por

exclusão, quase 2/3, ou seja, 59,18% da população trabalhadora alocada no setor

informal e, por conseguinte, sem proteção social e sob condições precárias de

trabalho.

Tabela 1

Distribuição dos trabalhadores e situação no mercado de

trabalho – Brasil, 2002

Ademais, observam-se grande diversidade da natureza dos vínculos e das

relações de trabalho e o crescimento do setor informal e do trabalho precário, o

Page 35: Filho.condicoes de Agravos

35

que acarreta baixa cobertura dos direitos previdenciários e trabalhistas para os

trabalhadores (I PNSST, 2004).

Isso sem desconsiderar que a saúde dos trabalhadores é condicionada por

fatores sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais relacionados ao perfil

de produção e de consumo, bem como por fatores de risco de natureza física,

química, biológica, mecânica e ergonômica presentes nos processos de trabalho

particulares.

De acordo com a classificação internacional de Schilling (MENDES, 2003; I

PNSST, 2004), de modo esquemático, pode-se dizer que o perfil de

morbimortalidade dos trabalhadores no Brasil, na atualidade, caracteriza-se pela

coexistência de:

Agravos que têm relação com condições de trabalho específicas, como os

acidentes de trabalho típicos e as doenças profissionais.

Doenças que têm sua freqüência, surgimento ou gravidade modificados

pelo trabalho – as denominadas doenças relacionados ao trabalho.

Doenças comuns ao conjunto da população, que não guardam relação de

causa com o trabalho, mas condicionam a saúde dos trabalhadores.

A dificuldade de obtenção de informações consistentes sobre a saúde dos

trabalhadores, em vista da disparidade de informações dos vários órgãos

envolvidos, torna difícil a execução de políticas públicas no campo da prevenção,

do planejamento e da implementação de ações com vistas à saúde no trabalho –

situação que priva a sociedade de instrumentos que visam a melhoria das

condições de vida e de trabalho.

As informações disponíveis referem-se, de modo geral, apenas aos trabalhadores

empregados e cobertos pelo Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) da

Previdência Social, que representam cerca de 1/3 da PEA, deixando de fora

outros 2/3 da população em condições de informalidade. Portanto, as políticas

públicas para o setor são de certa forma incoerentes e incompletas, uma vez que

atingem menos da metade da classe trabalhadora, aumentando ainda mais as

ineqüidades no campo do trabalho.

Page 36: Filho.condicoes de Agravos

36

Segundo Pastore (1998), para cada real gasto com o pagamento de benefícios

previdenciários, a sociedade paga R$ 4,00, incluindo gastos com saúde, horas de

trabalho perdidas, reabilitação profissional, custos administrativos – cálculo que

eleva um custo total para o País de, aproximadamente, 33 bilhões de reais por

ano.

O número de dias de trabalho perdidos em razão dos acidentes aumenta o

custeio da mão-de-obra no Brasil, encarecendo a produção e reduzindo a

competitividade do País no mercado externo. Estima-se que o tempo de trabalho

perdido anualmente devido aos acidentes de trabalho seja de 106 milhões de

dias, apenas no mercado formal, considerando-se os períodos de afastamento de

cada trabalhador.

Dessas experiências surgiram, de um lado, a legitimação da doença profissional e

do acidente de trabalho; de outro lado, a construção de algumas competências

profissionais para ações diagnósticas e preventivas em saúde do trabalho

(ANAMT, 2004).

2.2 A saúde do trabalhador

A Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, levou o trabalhador a se submeter

a precárias condições de trabalho, a jornadas extensas, a acidentes de trabalho,

ao trabalho insalubre e perigoso, a baixos salários, a precárias condições de

higiene no trabalho. Nesse contexto, a presença da figura do médico no interior

da fábrica se apresentava como um meio principalmente de possibilitar a

recuperação do trabalhador o mais rápido possível para o retorno ao trabalho,

num momento em que a força de trabalho era necessária à industrialização.

Dessa forma, a Medicina do Trabalho, centrada na atuação médica, mantém-se,

até os dias atuais, dentro de um enfoque biologicista e individual, buscando a

causa das doenças e dos acidentes de trabalho por meio de uma abordagem

unicausal (OLIVEIRA, 2001) ao invés de uma avaliação da organização do

trabalho.

Nessa direção, a Saúde Ocupacional começa a se delinear a partir do contexto

econômico e político da II Guerra e do pós-guerra, quando o custo provocado pela

perda de vidas abruptamente por acidentes de trabalho ou por doenças do

Page 37: Filho.condicoes de Agravos

37

trabalho começou a ser sentido tanto por empregadores como pelas companhias

de seguro, devido às pesadas indenizações. Nessa abordagem desloca-se a

intervenção antes centrada no indivíduo para a questão dos riscos existentes no

ambiente de trabalho (OLIVEIRA, 2001). Por conseguinte, a Saúde Ocupacional

passa a utilizar o enfoque da Higiene Industrial, buscando através da atuação

multiprofissional intervir nos locais de trabalho com a finalidade de controlar os

riscos ambientais, refletindo, assim, a influência das Escolas de Saúde Pública

principalmente dos Estados Unidos (MENDES e DIAS, 1991).

Laurell e Noriega (1989) enxergam as questões inerentes às relações

trabalho/saúde/doença de uma forma diferente, conceituando o trabalho a partir

da concepção de processo de trabalho, inscrito nas relações sociais de produção.

Portanto, além dos agentes nocivos ao ambiente de trabalho já conhecidos,

procuram entender as agressões biopsíquicas sobre o trabalhador nas linhas de

produção da indústria.

A Saúde do Trabalhador tem suas origens na Medicina Social latino-americana e

na Saúde Coletiva, e procura compreender o processo de adoecimento dos

trabalhadores através dos processos produtivos e da organização do trabalho,

dessa forma, articulando as questões sociopolíticas e econômicas de forma a

estabelecer o nexo biopsíquico das coletividades nas sociedades capitalistas

industriais (LAURELL e NORIEGA, 1989).

A Saúde do Trabalhador, campo em construção na Saúde Pública, enquanto

área, começa a constituir-se no Brasil na década de 80, visando uma ruptura com

as formas até então existentes de tratar as doenças e os acidentes do trabalho

adotadas principalmente pela Medicina do Trabalho e pela Saúde Ocupacional

(OLIVEIRA, 2001). Mendes e Dias (1991) relatam que o objeto da saúde do

trabalhador pode ser definido como o processo saúde e doença dos grupos

humanos em sua relação com o trabalho, e refere-se a um campo do saber que

busca compreender a relação do processo de saúde/doença no trabalho,

entendendo a saúde e a doença, articuladas, como o modo de produção e de

desenvolvimento da sociedade num determinado contexto histórico. E mais, parte

do princípio de que a forma de inserção dos homens no trabalho contribui

efetivamente para sua forma de adoecer e morrer (LAURELL e NORIEGA, 1989).

Page 38: Filho.condicoes de Agravos

38

Nessa perspectiva, os trabalhadores são sujeitos ativos dos processos de estudos

e modificações dos ambientes de trabalho, capazes de construir sua própria

história (OLIVEIRA, 2001). Mendes e Dias (1991) relatam que os trabalhadores

buscam ser reconhecidos no seu saber, questionam as alterações no processo de

trabalho – particularmente a adoção de novas tecnologias – e exercitam o direito

à informação e à recusa ao trabalho perigoso ou arriscado para a saúde.

Em particular, a evolução histórica das políticas de saúde está relacionada

diretamente com a evolução político-social e econômica da sociedade brasileira,

não sendo possível fazer sua dissociação. A lógica do processo evolutivo sempre

obedeceu à ótica do avanço do capitalismo na sociedade, sofrendo forte

determinação do capitalismo em nível internacional e com ele dividindo espaço na

globalização.

Contudo, a saúde nunca ocupou lugar de destaque na política do Estado

brasileiro, sendo sempre deixada na periferia do sistema, como se fosse uma

moeda de troca eleitoreira, tanto no que diz respeito às soluções dos grandes

problemas de saúde – dentre eles, a saúde do trabalho – que afligem a população

e os próprios trabalhadores – quanto na destinação de recursos direcionados ao

setor de saúde, desviados para os mais variados fins com o carimbo de verba

específica para o setor de saúde. Essa verba tem servido para as mais variadas

finalidades, menos para produzir melhorias na saúde pública brasileira, haja vista

o verdadeiro caos que se encontra o SUS (Sistema Único de Saúde). O

trabalhador brasileiro é o grande prejudicado, pois não encontra resolutividade

para seus problemas de ordem ocupacional e muito menos os de saúde fora do

contexto ocupacional, tornando-se, assim, um custo a mais para a Previdência

Social, que acaba tendo no seu rol de beneficiários trabalhadores que aguardam

exames complementares, consultas especializadas, cirurgias e até mesmo

consultas de acompanhamento de tratamento, há mais de dois anos – situação

que encarece cada vez mais a Previdência Social e colabora para o déficit

crescente da instituição.

Somente nos momentos em que determinadas endemias ou epidemias se

apresentam como importantes em termos de repercussão econômica ou social

dentro do modelo capitalista proposto – e o acidente de trabalho é um deles – é

Page 39: Filho.condicoes de Agravos

39

que estas passam a ser alvo de uma maior atenção por parte do Governo,

transformando-se pelo menos em discurso institucional até serem destinadas a

um plano secundário, quando deixam de ter importância, sem contar que, via de

regra, com proeminência das ações corretivas sobre as ações preventivas.

As ações de saúde propostas pelo Governo sempre procuram incorporar os

problemas de saúde que atingem grupos sociais importantes de regiões

socioeconômicas igualmente importantes dentro da estrutura social vigente. Vale

dizer, as políticas de saúde, de forma recorrente, têm sido direcionadas para os

grupos organizados e aglomerados urbanos em detrimento de grupos sociais

dispersos e sem uma efetiva organização. A propósito, por ora, registrem-se as

particularidades inerentes à precária situação de saúde e segurança do trabalho

das micro e pequenas empresas em geral e do setor moveleiro em particular.

Para Fleury (1992), o debate sobre a reforma sanitária não chegou a configurar

um novo paradigma, mas serviu para questionar a concepção de saúde restrita à

dimensão biológica e individual, além de apontar diversas relações entre a

organização dos serviços de saúde e a estrutura social vigente. Apesar disso, não

se podem olvidar as questões que dissociam leis e decretos de suas respectivas

regulamentações para fins operacionais.

A Constituição de 1988, no capítulo VIII – Da Ordem Social – e na Secção II,

referente à saúde, define no artigo 196 que “a saúde é direito de todos e dever do

Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução

do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às

ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

O SUS é definido pelo artigo 198 da Constituição como:

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: descentralização, com direção única em cada esfera de governo, atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, participação da comunidade, com controle social.

Parágrafo único: o sistema único de saúde será financiado com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (Lei 8080/90).

Page 40: Filho.condicoes de Agravos

40

O texto constitucional demonstra claramente que a concepção do SUS baseava-

se na formulação de um modelo de saúde voltado para as necessidades da

população, procurando resgatar o compromisso do Estado para com o bem-estar

social, especialmente no que refere à saúde coletiva, consolidando-o como um

dos direitos da cidadania. Tal visão refletia o momento político por que passava a

sociedade brasileira, recém-saída de uma ditadura militar, onde a cidadania

nunca foi um princípio de governo. Embalada pelo movimento das Diretas Já, a

sociedade procurava garantir na nova Constituição os direitos e os valores da

democracia e da cidadania.

Dessa forma, a saúde passa a ser definida de uma forma mais abrangente e

tendo como fatores determinantes e condicionantes – entre outros – a

alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a

renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços

essenciais. Os níveis de envolvimento do Governo em saúde do trabalho

expressam a organização social, econômica e política do País.

Pela abrangência dos objetivos propostos e pela existência de desequilíbrios

socioeconômicos regionais, a implantação do SUS e, por conseguinte, da saúde

do trabalhador, não tem sido uniforme em todos os estados e municípios

brasileiros, pois, para que isso ocorra, é necessário dispor de grandes recursos

financeiros, de pessoal qualificado e de uma efetiva política em nível federal,

estadual e municipal para viabilizar o sistema.

Portanto, o surgimento da Saúde do Trabalhador no Brasil está associado a

mudanças importantes que aconteceram na década de 80, no contexto da

transição democrática. A própria Constituição de 1988 configurou-se como um

avanço em termos de legislação para a área de saúde do trabalhador.

Posteriormente, na Lei Orgânica da Saúde – Lei 8.080/90, em seu artigo VI

(Brasil, 1990) – essa área foi conceituada como:

Um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho abrangendo: • Assistência ao trabalhador vítima do acidente de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho.

Page 41: Filho.condicoes de Agravos

41

• Participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde, em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho.

• Participação, no âmbito do Sistema Único de Saúde, da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador.

• Avaliação do impacto que as novas tecnologias e novas formas de trabalho provocam à saúde.

• Informação ao trabalhador e a sua respectiva entidade sindical e a empresas, sobre os riscos de acidente de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados das fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional.

• Participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas.

• Revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais.

• Garantir ao sindicato dos trabalhadores a condição de requerer ao órgão competente a interdição de máquina, setor de serviço ou de todo o ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou a saúde dos trabalhadores.

Essa lei foi elaborada após a VIII Conferência Nacional de Saúde (VIII CNS),

realizada em 1986, que significou um momento de intensa mobilização popular

pela saúde no Brasil. A promulgação da Lei Orgânica da Saúde, em 19 de

setembro de 1990, atribuiu ao SUS ações de vigilância epidemiológica e sanitária

em saúde do trabalhador, possibilitando aos serviços de saúde uma ampliação da

concepção de saúde, incorporando nas suas práticas a prevenção e o controle

das doenças e dos acidentes de trabalho.

Nesse processo de construção da área de saúde do trabalhador no SUS, a

Norma Operacional de Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Saúde-NOST-

SUS (BRASIL, 1998), complementar à Norma Operacional Básica do Sistema

Único de Saúde (NOB-SUS) N° 01/96, expressa-se como uma direção para a

área, objetivando orientar e instrumentalizar a efetivação das ações de saúde do

trabalhador através dos seguintes pressupostos: universalização e eqüidade;

integralidade das ações; direito à informação sobre a saúde; participação e

controle social; regionalização e hierarquização das ações de saúde do

trabalhador; utilização do critério epidemiológico e de avaliação de riscos para o

desenvolvimento das ações e a configuração da saúde do trabalhador como um

conjunto de ações de vigilância e assistência, visando a saúde dos trabalhadores

submetidos a riscos e agravos advindos do processo de trabalho.

Page 42: Filho.condicoes de Agravos

42

Portanto, todo esse processo social gestado através das reivindicações de

diferentes segmentos sociais, que conformou legislações voltadas para um novo

modelo de saúde, no qual a saúde do trabalhador tem um importante papel, foi

essencial para a consolidação da atenção à saúde do trabalhador no SUS através

da criação e implementação de programas e centros de referência em saúde do

trabalhador.

Mais recentemente, a Previdência Social instituiu o Perfil Profissiográfico

Previdenciário (PPP) através da Medida Provisória N° 1.523, de 11 de outubro de

1996, efetivamente implementado a partir de janeiro de 2004, que é um

documento que contém o histórico laboral do trabalhador e dá informações

referentes a registros ambientais, a resultados de monitoração biológica e a

dados administrativos (GONZAGA, 2002).

Com o PPP dá-se um importante passo na obtenção de informações fidedignas

sobre os ambientes de trabalho. O objetivo é conjugar, em um único documento,

informações que estão dispersas na empresa em diversos setores, sem qualquer

rastreabilidade, e transmiti-las para um grande banco de dados, de forma a

propiciar um adequado gerenciamento e monitoramento das condições

ambientais de trabalho (GONZAGA, 2002).

2.3 Os acidentes de trabalho

Conceitua-se o acidente de trabalho como aquele que ocorre durante o exercício

do trabalho, que provoca lesão corporal ou perturbação funcional que cause

morte, perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o

trabalho. Consideram-se igualmente os casos ocorridos no percurso da residência

e do local de refeição para o trabalho ou deste para aquele (BRASIL, 1991).

Estende-se, portanto, o conceito para as ocorrências nos intervalos das refeições

e delineiam-se com clareza os acidentes de trajeto. Nessa definição, a referência

é relativa apenas ao efeito provocado, sem qualquer alusão à possível causa.

Em 1992 inclui-se no regulamento de Benefícios da Previdência Social um maior

detalhamento das circunstâncias que caracterizam o acidente de trabalho:

Page 43: Filho.condicoes de Agravos

43

• Acidente ligado ao trabalho, o qual, mesmo não provocado por causa

única, tenha contribuído diretamente para a morte, perda ou redução de

capacidade, ou que tenha produzido lesão que exija atendimento médico.

• Acidente sofrido no local e no horário de trabalho em conseqüência de: ato

de agressão, sabotagem ou terrorismo; ofensa física intencional; ato de

imprudência, de descuido ou de imperícia de terceiro, ou de colega de

trabalho; ato de pessoa privada de razão; desabamento, inundação,

incêndio, entre outros.

• Acidente sofrido ainda que fora do local de trabalho: na execução de ordem

ou realização de serviço para a empresa; na prestação espontânea de

qualquer serviço à empresa; em viagem a serviço da empresa; no percurso

da residência para o trabalho ou deste para aquele; em períodos

destinados a descanso ou refeição e no agravamento ou complicação do

quadro de saúde no período de reabilitação profissional.

Em 2003 foram registrados 390.180 acidentes de trabalho no Brasil, significando

que, de cada 1.000 trabalhadores segurados, 17,17 sofreram algum acidente de

trabalho. A quantidade de acidentes em 2003 representa um contingente 0,74%

inferior ao verificado em 2002 (393.071 acidentes), 14,67% superior ao

constatado em 2001 (340.251 acidentes) e 7,23% maior em relação a 2000

(363.868 acidentes), conforme o Gráfico 1 a seguir.

Page 44: Filho.condicoes de Agravos

44

Gráfico 1: Quantidade total de acidentes de trabalho registrados em 2000-2003

De acordo com o Gráfico 2, a seguir, dentre os 390.180 acidentes registrados em

2003, 82,0% (319.903) correspondem a acidentes típicos, ou seja, decorrentes do

exercício do trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que

cause a morte, perda ou redução da capacidade laborativa. Além dos acidentes

típicos, 12,6% (49.069) referem-se a acidentes de trajeto e 5,4% a acidentes

provenientes de doença do trabalho.

Page 45: Filho.condicoes de Agravos

45

Gráfico 2: Quantidade total de acidentes de trabalho registrados segundo o motivo

– 2000-2003

A concentração de acidentes na categoria “típicos” mostra que a maioria dos

acidentes no Brasil ocorre dentro da própria empresa, no desenvolvimento

rotineiro da atividade laborativa, e acomete principalmente trabalhadores jovens

com idade entre 20 e 29 anos (como pode ser visto no Gráfico 3 – freqüência

ponderada pela quantidade de trabalhadores em cada faixa etária – e na Tabela 2

– quantidade absoluta, ambos a seguir). Distribuídos em escala, os dados deste

gráfico indicam a necessidade de políticas orientadas fundamentalmente para o

ambiente de trabalho, ou seja, para o local onde a atividade profissional é

desenvolvida, com especial ênfase nos trabalhadores com menos experiência.1

1 Disponível em: <http://www.previdenciasocial.gov.br

Page 46: Filho.condicoes de Agravos

46

Gráfico 3: Participação % relativa da quantidade de acidentes registrados na

média de vínculos de empregados, segundo os grupos de idade e

tipos de acidentes – 2003

Tabela 2

Quantidade total de acidentes do trabalho registrados

segundo os grupos de idade e o motivo – 2003

Deve-se destacar também a região do corpo atingida pelos acidentes de trabalho.

Segundo os últimos dados disponíveis (AEPS/2003), as lesões com maior

incidência foram o ferimento do punho e da mão, representando 17,73% do total

Page 47: Filho.condicoes de Agravos

47

de acidentes; fratura do punho e da mão, 7,30%; traumatismo superficial do

punho e da mão, 5,02%; sinovite e tenossinovite, 2,76%, conforme pode ser

visualizado na Tabela 3.

Tabela 3

Quantidade de acidentes do trabalho registrados por tipo de ferimento e lesões

ligadas ao punho e mão, segundo o CID-10 – 2003

Fonte: Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho (AEAT), 2003.

Duas teorias tentam explicar o acidente de trabalho – a do risco social e a do risco

profissional – ambas implícitas na legislação e na ação de órgãos oficiais

responsáveis pela prevenção e vigilância dos acidentes. A teoria do risco social

baseia-se no princípio de que os bens são produzidos para consumo da

sociedade e, portanto, é a própria sociedade quem deve arcar com alguns dos

ônus da produção (MACHADO e MINAYO GOMEZ, 1995).

De acordo com a teoria do risco profissional, desenvolvida na Alemanha na

segunda metade do século XIX, cabe ao empregador indenizar o trabalhador

acidentado. Baseada no fato de que o acidente é visto como conseqüência do

trabalho e como parte integrante do negócio, ou seja, o lucro do empresário está

ligado ao risco de ocorrência de acidentes (MACHADO e MINAYO GÓMEZ,

1995), e que, em razão disso, é função da empresa indenizar o acidentado, essa

teoria, ao identificar os riscos e suas repercussões sanitárias específicas, obriga o

capital a aceitar sua imperfeição e abre a possibilidade de alterações nos

processos de trabalho, sob os critérios de saúde, o que é potencialmente

transformador se consolidados os mecanismos de controle social.

Page 48: Filho.condicoes de Agravos

48

Ambas as teorias têm como principal preocupação a identificação de um culpado

para o acidente – teoria da culpa – tendo em vista as implicações jurídicas da

responsabilidade civil. Desde a sua formulação, a teoria da culpa direciona a

análise dos acidentes no sentido de atribuir-lhes uma dentre duas causas

possíveis: uma ação dolosa do empregado (ato inseguro) ou uma ação dolosa do

empresário (condição insegura, criada por imprudência, negligência ou falta de

diligência) – uma metodologia de análise que ainda hoje é profusamente utilizada,

ainda que com uma pequena modificação ao admitir a possibilidade de

concomitância das duas causas (RODRIGUES, 1986).

A discussão das teorias que embasam a compreensão dos acidentes de trabalho

encontra um solo fértil para polêmicas tecnicistas, provocando um dualismo

superficial. Como exemplo, o caso da distinção entre acidente no trabalho e do

trabalho. O primeiro conceito assume o ambiente como potencializador de

acidentes; o segundo considera o acidente parte da atividade laboral, do trabalho

em si, cabendo aqui margem para os acidentes ditos de trajeto, ou seja, aqueles

que ocorrem fora do ambiente de trabalho, mas no trajeto entre a residência e o

local de trabalho propriamente dito – o ambiente de trabalho localizado é

transportado para espaços extramuros e concorrentes com toda a situação de

violência urbana existentes nos dias de hoje. Os que defendem a teoria do risco

social tendem a usar a definição de acidente no trabalho por ser mais abrangente.

Os adeptos da teoria do risco profissional adotam o conceito de acidente do

trabalho por ser mais específico e apresentar maior visibilidade. Ambiguamente

recorre-se ao conceito restritivo para amortecer gastos com o seguro social e ao

mais abrangente para dissolver responsabilidades jurídicas e financeiras. Em

conseqüência, depara-se com modelos fragmentados e ineficazes de abordagem

do acidente de trabalho que tendem a culpar especificamente o trabalhador e não

a organização do trabalho (PEPE, 2002).

Segundo Machado e Minayo Gómez (1995), as políticas especificas que

influenciam o modelo de gestão brasileiro para a saúde do trabalho têm como

base o risco social por conta do Ministério da Previdência Social, ao contratar

serviços por meio de convênios especiais para assistência aos acidentados e

apoiar políticas de controle de acidentes por parte das próprias empresas,

Page 49: Filho.condicoes de Agravos

49

enquanto o Ministério do Trabalho e Emprego, por sua vez, tem como base o

risco profissional, o qual fica claro através das normatizações estabelecidas pela

Portaria 3214/78, um tanto quanto técnica, porém distante do trabalhador.

Embora os estudos por ramos de atividade econômica sejam importantes para

identificar as bases tecnológicas envolvidas nos acidentes, para localizá-los e

avaliar as políticas de prevenção, nenhum órgão no Brasil dispõe de uma

sistematização periódica dessa informação. Entretanto, alguns estudos tentam

categorizá-los (MENDES, 1988a, 1988b; TEIXEIRA, 1982; OLIVAN FILHO et al.,

1984; FARIA e SILVA, 1986; NEGRÃO, 1988; MACHADO, 1991; SALIM, 2005).

Em relação à freqüência de casos de acidentes de trabalho, a construção civil é

apontada, na maior parte desses estudos, como a atividade mais crítica.

Entretanto, essa situação é relativizada em análises da incidência (NEGRÃO,

1988), da mortalidade (MACHADO, 1991), ou por ambas, segundo o porte dos

estabelecimentos (SALIM, 2005).

No Brasil, as estatísticas sobre o quadro de saúde e segurança no trabalho não

revelam a situação completa, mas uma situação parcial, que não pode ser

considerada representativa dos índices de acidentes de trabalho e doenças

ocupacionais – situação basicamente explicada por deficiências no grau de

cobertura e na qualidade intrínseca dos dados oficiais (SALIM, 2003b; 2004).

Ademais, os dados obtidos ainda não são devidamente explorados quanto às

suas possibilidades de exploração técnica e de sua disseminação para fins de

gerenciamento de ações em diversos níveis da estrutura produtiva nacional ou

ainda para fins de informação aos diversos segmentos da sociedade.

Basicamente, o País vem contando com os registros administrativos federais no

âmbito dos Ministérios da Previdência, da Saúde e do Trabalho e Emprego, como

meio para dimensionar a realidade dos acidentes de trabalho e doenças

ocupacionais que compõem a sua área de abrangência territorial. Porém, cada

um dos Ministérios apresenta peculiaridades administrativas de coleta e

armazenamento de dados, dificultando sobremaneira a compilação e a

interpretação dos dados estatísticos. E mais: esses registros, à exceção do

Sistema CAT/SUB da Previdência Social, não são inteiramente direcionados ao

tema. Na verdade, se tomadas como base as informações oficiais

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50

disponibilizadas, não se poderão detectar os perfis ou padrões efetivos

diferenciados dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais no Brasil.

Aliás, as doenças do trabalho propriamente ditas (Classificação Internacional de

Schilling I) ficam um pouco à margem desse processo (SALIM, 2003a). Dá-se

mais importância aos acidentes de trabalho típicos, seja por descuido ou por

desconhecimento de uma anamnese ocupacional bem feita. Ramazzini (1700

apud MENDES, 2002) já relatava, em seu livro De Morbis Artificum Diatriba, que

os médicos poderiam diagnosticar mais doenças ocupacionais se, pelo menos,

perguntassem a seus clientes: “Qual a sua profissão?”. De outro modo, a

quantificação das doenças acaba relegada a um segundo plano, visto que a

formação médica não está voltada para a área ocupacional e, na grande maioria

das vezes, as doenças ocupacionais não serão diagnosticadas num curto espaço

de tempo, deixando uma lacuna enorme nos meios estatísticos, traduzindo-se,

assim, num grande desafio para a construção de indicadores que possam

relacionar a saúde e segurança do trabalho com outras áreas de atuação – entre

elas o meio ambiente. Se olhado para o campo da informalidade, ficará cada vez

mais difícil identificar esses indicadores.

Nas micro e pequenas empresas, a situação não é diferente. Pode-se observar

que a própria estruturação da produção leva algumas empresas para a

informalidade, e a ausência de informações na área de saúde e segurança gera

grandes dificuldades para trabalhar os temas sob o ângulo da gestão integrada.

Portanto urge melhorar a informação desses dados, através do diálogo com os

empresários e de técnicas capazes de melhorar a quantificação da condição de

saúde e segurança no trabalho nas micro e pequenas empresas, de acordo com

os ramos de atividade econômica e com a cobertura previdenciária, de forma que

possam ser criadas estratégias em nível nacional para as chamadas ações

preventivas de saúde e segurança no trabalho, não se esquecendo de incluir o

meio ambiente como um todo, a fim de que as gerações futuras possam usufruir

do planeta de um modo totalmente responsável e sustentável.

A partir do final de 1994, a legislação brasileira que trata da segurança e da saúde

no trabalho passou a adotar um novo enfoque ao estabelecer a obrigatoriedade

das empresas de elaborar e implementar dois programas: um ambiental, com o

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51

nome de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), e outro médico,

denominado Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

Adotando como paradigma a Convenção 161/85 da Organização Internacional do

Trabalho (OIT), a legislação brasileira específica passou a considerar as questões

incidentes não somente sobre o indivíduo, mas também sobre a coletividade de

trabalhadores, promovendo, assim, uma ampliação do conceito restrito de

Medicina do Trabalho.

Freqüentemente, o aumento da produtividade é conseguido por uma combinação

do aumento do ritmo de trabalho com a diminuição das pausas e com o aumento

da carga de responsabilidade dos trabalhadores. No que concerne ao impacto

sobre a saúde e a segurança dos trabalhadores, isso tem se traduzido em

verdadeiras epidemias na saúde do trabalhador – dentre elas podem-se citar os

acidentes de trabalho típicos, as doenças osteomusculares relacionadas com o

trabalho, as lombalgias e mais recentemente as doenças relacionadas com o

estado psíquico do trabalhador (OLIVEIRA, 2005).

Enquanto os antigos processos produtivos continham seus fatores de stress na

monotonia, em tarefas repetitivas – eliminando a capacidade de inovação e

criação dos trabalhadores –, os novos modos de produção trazem outros

incentivos, pois agora o fator estressante está centrado na insegurança da

garantia do trabalho e na competição pelo mesmo posto de trabalho. Tornam-se,

portanto, necessários estudos mais aprofundados, abrangentes e

interdisciplinares que expliquem a complexidade desses processos e suas

conseqüências para a saúde no trabalho.

Segundo Pastore (2001), os danos causados pelos acidentes de trabalho para as

famílias implicam redução da renda familiar, interrupção do emprego de

familiares, gastos com a acomodação do doente e, o mais importante, a dor e o

estigma de acidentado ou doente.

Enfim, os agravos à saúde dos trabalhadores englobam, além dos acidentes de

trabalho, as doenças profissionais – aquelas que apresentam relação de causa e

efeito com o trabalho, e são inerentes aos indivíduos cuja atividade produtiva é a

causa inequívoca da doença – e as doenças relacionadas ao trabalho, aquelas

Page 52: Filho.condicoes de Agravos

52

em que não existe o pressuposto de causa e efeito, sendo o trabalho relacionado

como co-fator na etiologia da doença (WÜNSCH FILHO, 1995).

A forma de atuação dos técnicos de saúde e segurança nas empresas reflete

também nas estatísticas. Ao ser identificada uma área de risco ambiental, de

operação crítica, ou uma situação potencialmente perigosa, detectada pela

Delegacia Regional do Trabalho (DRT), pelo SESMT, pela Comissão Interna de

Prevenção de Acidentes (CIPA) ou até pelos movimentos de trabalhadores e

programas de saúde pública, a empresa pode adotar as seguintes medidas: a)

introduzir modificações no processo de trabalho, com vistas à eliminação do risco;

b) terceirizar tarefas ditas perigosas através de contratação de empreiteiras ou

subempreiteiras, como forma virtual de supressão do risco relacionado

diretamente aos seus empregados e de aumento da rotatividade através de

contratos de trabalho com duração de 90 dias; c) implementar treinamentos

especiais, supervisão freqüente das tarefas e intensificação da manutenção

preventiva, de forma a diminuir o risco da operação. Nas três condutas, o acidente

diminui. Na primeira tende a desaparecer; na segunda não é registrado ou é sub-

registrado, devido ao nível de formalização das relações de trabalho, que

dificultam o exercício dos direitos previdenciários e de cidadania; na terceira há

uma diminuição da freqüência, permanecendo a possibilidade de ocorrência do

acidente (OLIVEIRA, 2005).

Um segundo grupo de causas reais da diminuição está relacionado a mudanças

tecnológicas, com a gradativa substituição das máquinas-ferramentas por

processos automatizados ou semi-automatizados. Porém, a manutenção desse

parque tecnológico muitas vezes e atribuído a empresas terceirizadas, as quais,

na maioria das vezes, trabalham com profissionais menos qualificados, seja para

redução do custo, seja pela falta de mão-de-obra especializada – a título de

exemplo, no pólo moveleiro de São Bento do Sul, foram encontradas empresas

cadastradas como ligadas a atividades de escritório administrativo, que forneciam

mão-de-obra para a indústria moveleira. Observou-se, nesse contexto, que

grande número de acidentes de trabalho era registrado em nome das empresas

terceirizadas, e não das tomadoras do serviço – prática, aliás, freqüente no meio

Page 53: Filho.condicoes de Agravos

53

empresarial e altamente lesiva tanto ao trabalhador quanto aos cofres públicos,

visto que o Governo deixa de arrecadar devido a vários fatores:

A CAT está emitida em nome da empresa que alocou o trabalhador na

tomadora/fábrica.

A GFIP é recolhida em desacordo com o Decreto 3048 – art. 202,

parágrafos 1 a 5.

As empresas, estando inscritas indevidamente como optantes pelo

SIMPLES, passam a não contribuir com a cota patronal e com o RAT.

O FAP (Fator Acidentário Previdenciário) deveria ser creditado na conta

da empresa tomadora do serviço e não na empresa prestadora de

serviço.

Com relação ao trabalhador, este sofre de todos os lados pela falta de

fiscalização nas empresas, seja pela Previdência Social, seja pelo Ministério do

Trabalho. Muitas vezes, ao procurar auxílio acidentário, o trabalhador não o

consegue, pois a empresa não vinha recolhendo as contribuições necessárias;

por outro lado, ao fazer uma reclamatória trabalhista, ele se vê desamparado, pois

a empresa já fora extinta.

2.4 A violência urbana e os acidentes de trabalho

Em aparente contraste com os dados internacionais, as estatísticas brasileiras

mostram que os acidentes resultantes de atividades externas às empresas, em

particular os de trânsito, são as maiores causas de morte no trabalho. O

entendimento do acidente como uma forma de violência impõe à área de saúde

do trabalhador novas relações no interior da Saúde Pública, bem como interfaces

disciplinares e setoriais. Sob essa perspectiva, a mortalidade por acidente de

trabalho torna-se socialmente visível. Na pesquisa realizada fica evidente a

importância deste tema na construção dos indicadores de acidente de trabalho,

na qualidade de acidentes de trajeto.

Alguns estudos vêm enfatizando o deslocamento dos acidentes do interior das

empresas para o espaço da rua (MACHADO, 1991; MACHADO e MINAYO

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54

GÓMEZ, 1995; WALDVOGEL, 1999a). Segundo esses autores, os dados de

mortalidade por acidentes de trabalho, obtidos através das CAT e dos atestados

de óbito, revelam um número considerável de acidentes na rua em conseqüência

do processo de urbanização adotado e do crescimento da violência urbana. Essa

relação entre acidentes de trabalho e violência foi constatada por Machado e

Minayo Gómez (1995), ao identificarem, nas declarações de óbito entre 1979 e

1991, os acidentes de trânsito (35% em média no período) como predominantes

dentre as causas de óbito por acidente de trabalho em sete grandes capitais

brasileiras.

A análise das estatísticas das causas externas possibilita perceber os acidentes

acontecidos fora dos muros dos locais de trabalho, bem como visualizar a rua e

outros espaços como materializadores de diferentes processos de trabalho e de

exposição à violência em suas diversas manifestações. Segundo Machado

(1991), a compreensão dos processos de trabalho como espaços de relações

socialmente construídas evita atribuir ao mero acaso o local de ocorrência do

acidente. Como observam Machado e Minayo Gómez (1995), compreender o

acidente como uma forma de violência transforma esse objeto aparentemente

indefinido e amorfo em algo palpável, visível e inaceitável, implicando mudanças

profundas das relações técnicas e sociais. Os estudos epidemiológicos e dos

processos de trabalho onde eles ocorrem podem mostrar a verdadeira face e

dimensão dos acidentes de trabalho.

Ferreira e Mendes (1981) realizaram um estudo epidemiológico de 341 acidentes

de trabalho fatais ocorridos em Campinas, no período do 1972 a 1978, a partir

dos arquivos do Instituto Nacional de Previdência Social. Identificaram que 68,3%

das vitimas tinham menos de 40 anos e 95,6% pertenciam ao sexo masculino. Os

acidentes mais freqüentes foram os de trânsito, com veículos a motor (50,1%), e

as quedas (12,6%). Os traumatismos cranianos apresentaram-se como a principal

lesão.

Teixeira (1982) analisou os acidentes fatais registrados nas CAT em Santa

Catarina, no ano de 1981. Das 206 mortes decorrentes de acidentes de trabalho,

37,7% aconteceram em rodovias ou vias públicas. Homens, adultos, com idade

até 40 anos, configuravam o perfil do acidentado. Nesse contexto, as serrarias e

Page 55: Filho.condicoes de Agravos

55

madeireiras apresentaram um alto índice de mortes. No conjunto dos acidentes,

predominaram os de trânsito e as quedas. Os traumatismos cranioencefálicos

foram os mais freqüentes, correspondendo a 50% dos diagnósticos de causa

mortis.

Silvany Neto et al. (1988), descrevendo as características dos acidentes fatais

ocorridos na Região Metropolitana de Salvador, entre 1978 e 1986, observaram

um maior número de acidentes após transcorridas três horas da jornada de

trabalho e um aumento dos acidentes de trajeto no período estudado. A média de

idade era de 34 anos, com maior proporção entre os 20 e os 29 anos, e apenas

4,8% dos óbitos ocorreram no sexo feminino. As principais causas foram:

traumatismo cranioencefálico, choque elétrico e lesões por arma de fogo.

2.5 Os acidentes de trabalho e as fontes de informação

Nos estudos sobre acidentes de trabalho fatais, depara-se com as deficiências

das fontes de informação oficiais, em que ao sub-registro alia-se a própria

limitação do universo que abrangem (ALVES e LUCHESI, 1992; BERALDO et al.,

1993; LUCCA e MENDES, 1993; RIBEIRO e LACAZ, 1984; SALIM, 2000, 2003b)

– deficiência que não constitui um problema exclusivamente brasileiro. Estudos

internacionais apontam dificuldades da mesma natureza, inclusive em países

como Canadá e Estados Unidos. Rossignol (1994), Hayden (1995) e Murply et al.

(1996) são enfáticos ao afirmar que as fontes de informação americanas têm

limitações quando se trata de identificar os riscos do trabalho. Hayden (1995)

levantou a questão ao analisar as mortes por acidentes de trabalho na agricultura,

no estado de Minnesota. Lerer e Myers (1994) avaliaram que a subnotificação dos

acidentes fatais na Cidade do Cabo, nos certificados de óbito, correspondia a

cerca de 28%. Rossignol (1994), em um estudo em Quebec, no Canadá, concluiu

que somente uma integração entre as fontes de informação pode permitir uma

análise mais abrangente dos acidentes de trabalho fatais.

No Brasil, os estudos acerca dessa temática recorrem ao INSS como fonte de

informação principal, mas que apresenta grandes limitações.

Alguns autores recorrem a fontes complementares e em alguns casos

estabelecem comparações entre as mesmas. Lucca e Mendes (1993)

Page 56: Filho.condicoes de Agravos

56

investigaram no INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social, entre 1979 e

1989, 476 prontuários de acidentes fatais arquivados na Agência de Campinas-

SP, assim como as informações contidas nas CAT, nos boletins de ocorrência

(BO) e nas declarações de óbito (DO). Waldvogel (1999) vincula as declarações

de óbito e os processos de acidentes do trabalho.

Beraldo et al. (1993) demonstraram grandes diferenças na comparação dos

dados do Sistema de Informações de Mortalidade – SIM – e da Previdência

Social. Analisaram 7.769.138 óbitos notificados em dez anos (1979-1988) no SIM,

onde computaram 813.558 classificados como provocados por causas externas, o

que corresponde a 3,3% do total de óbitos notificados. Dentre estes, 26.612 foram

enquadrados como acidentes de trabalho, que representam 3,3% do número total

(Tabela 4). No mesmo período, na Previdência Social constam 46.839 óbitos por

acidentes de trabalho. A notificação do sistema de saúde mostrou-se, portanto,

menos fidedigna, abrangendo apenas 56,8% dos casos notificados na

Previdência Social.

Page 57: Filho.condicoes de Agravos

57

Tabela 4

Freqüências absolutas e relativas dos óbitos por acidente de trabalho,

confrontados com todos os óbitos, com as causas externas e com os óbitos

notificados pelas CAT* - Brasil, 1979 – 1988

Acidente de Trabalho Total de DOs** Causas Externas CAT

N % N % N % N %

1979 2732 10.3 711742 0.4 65253 4.2 4673 58.5

1980 2758 10.4 750727 0.4 70212 3.9 4824 57.7

1981 2565 9.6 750276 0.3 71833 3.6 4808 53.3

1982 2425 9.1 741614 0.3 73460 3.3 4496 53.9

1983 2119 8.0 771203 0.3 78008 2.7 4214 50.3

1984 2218 8.3 809825 0.3 82386 2.7 4508 49.2

1985 2681 10.1 788231 0.3 85845 3.1 4384 61.2

1986 3004 11.3 811565 0.4 95968 3.1 4578 65.6

1987 3260 12.3 799621 0.4 94421 3.5 5738 56.8

1988 2850 10.7 834334 0.3 96172 3.0 4616 61.7

Total 26612 100.0 7769138 0.3 813558 3.3 46839 56.8[

Fonte: Beraldo et al, 1993.

Waldvogel (1999a), ao analisar a mortalidade por acidentes de trabalho no Estado

de São Paulo, também compara as potencialidades das fontes de informação de

traduzir a real situação dos trabalhadores, tendo recorrido para isso aos registros

do INSS e às declarações de óbito dos SIM nacional e estadual. A autora se

propõe a vincular as duas fontes no sentido de aprimorar a forma de identificação

desses acidentes, tornando possível quantificá-los e caracterizá-los demográfica e

epidemiologicamente, assim como mensurar a correspondente mortalidade. Os

acidentes de trânsito são o tipo de morte com maior ocorrência. Em relação à

capital, as ocupações mais atingidas são ligadas ao comércio e à construção civil,

enquanto no interior são ligadas ao setor de transportes. Os acidentes de trânsito

são o primeiro tipo de morte na capital, enquanto no interior os choques e as

explosões. Waldvogel (1999a) aponta que uma constatação relevante detectada

nesse estudo é a de que os acidentes de trabalho fatais típicos não estão mais

associados apenas às atividades realizadas dentro do ambiente de trabalho,

assim como os tipos de morte mais freqüentes não são mais aqueles

relacionados diretamente com os processos intrínsecos ao trabalho

(WALDVOGEL, 1999a).

Page 58: Filho.condicoes de Agravos

58

2.6 Os acidentes de trabalho e a previdência social

Em que pesem as previsões positivas quanto ao desempenho da economia

brasileira, que apontam para uma recuperação no nível da atividade econômica,

debates ocorridos no final dos anos 90 e início dos anos 2000 externaram a

preocupação de que o crescimento do produto não seria acompanhado de uma

geração proporcional de empregos no mercado de trabalho formal, cuja massa

salarial constitui a principal base de sustentação do regime Geral de Previdência

Social (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2002).

Durante a década de 90, duas teses sobre o mercado brasileiro tornaram-se

predominantes: a) o crescimento econômico significaria cada vez menos

empregos (FIGUEIREDO e LAMOUNIER, 2002); b) o avanço da informalidade no

mercado de trabalho brasileiro (FLIGENSPAN, 2003).

No Brasil, o modelo de Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) é público e tem no

Regime Geral de Previdência Social (RGPS) os mecanismos de cobertura e

financiamento dos benefícios relacionados a acidentes de trabalho/doenças

ocupacionais. Um dos maiores desafios é premiar as empresas que investem em

saúde do trabalhador e punir as empresas que não investem em saúde do

trabalho (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

Há consenso em relação à necessidade de estimular os empregadores a

promover a prevenção em saúde do trabalho como vantagem competitiva

(MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004), que pode ser associada a

ganhos de imagem de sustentabilidade do negócio quanto à saúde e segurança

dos trabalhadores, incluindo a responsabilidade social da empresa como um fator

da maior importância.

Historicamente, o foco do Seguro de Acidente do Trabalho (SAT), bem como da

política de saúde e segurança do trabalhador e da aposentadoria por invalidez

tem sido muito pouco voltado para a prevenção e reabilitação, e bastante

centrado na reparação do dano à conta da Previdência Social. Em função disso, o

custo humano, financeiro e social da passividade da Previdência Social nessa

área tem sido enorme (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

Page 59: Filho.condicoes de Agravos

59

Nesse sentido, o artigo 10 da Lei n. 10.666, de 08 de maio de 2003, possibilitou

ao Instituto Nacional de Seguridade Social flexibilizar a contribuição destinada ao

financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de

incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, mais

conhecido como Seguro contra Acidentes do Trabalho (SAT). O dispositivo prevê

que as atuais alíquotas de 1%, 2% ou 3%, estabelecidas para o financiamento

dos benefícios concedidos em decorrência dos acidentes de trabalho, poderão ser

reduzidas à metade ou duplicadas, em razão do desempenho da empresa em

relação às demais pertencentes à mesma atividade econômica (MINISTÉRIO DA

PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

Em cumprimento à Lei n. 10.666, o Conselho Nacional de Previdência Social

(CNPS) aprovou, mediante a Resolução N° 1236, de 28 de abril de 2004, a

metodologia de cálculo que visa permitir a flexibilização das alíquotas de 1%, 2%

ou 3% pagas pelas empresas para o financiamento dos benefícios acidentários

decorrentes dos riscos presentes nos ambientes de trabalho. Isso pode

representar um avanço significativo no aperfeiçoamento das políticas de proteção

social e estimular o desenvolvimento econômico do País por meio da redução de

custos e incentivo ao trabalho saudável em ambientes saudáveis (MINISTÉRIO

DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

A flexibilização das alíquotas de financiamento dos benefícios acidentários faz

parte de uma política mais ampla em saúde do trabalhador, cujo objetivo é

construir um novo sistema de saúde e segurança do trabalho na tentativa de

reduzir as estatísticas alarmantes de mortes e acidentes no trabalho. Além disso,

a constituição do nexo epidemiológico a partir do Código Internacional de

Doenças (CID) e da Classificação Nacional da Atividade Econômica (CNAE), com

a conseqüente extinção do nexo causal individual, também contribui para os

objetivos da Previdência Social. Por fim, a inversão do ônus da prova do nexo

acidentário fecha o círculo das alterações propostas pela Previdência Social.

Os acidentes de trabalho afetam a produtividade econômica, são responsáveis

por um impacto substancial sobre o sistema de proteção social e influenciam o

nível de satisfação do trabalhador e o bem-estar geral da sociedade. No Brasil, os

registros da Previdência Social indicam que ocorrem três mortes a cada duas

Page 60: Filho.condicoes de Agravos

60

horas de trabalho e três acidentes a cada minuto de trabalho entre os

trabalhadores do mercado formal, considerando-se o número reconhecidamente

subestimado de casos para os quais houve notificação de acidente de trabalho

por intermédio da Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT (MINISTÉRIO DA

PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

A ausência de saúde e segurança nos ambientes de trabalho no Brasil gera

despesas com benefícios acidentários, aposentadorias especiais, assistência à

saúde do acidentado e à sua família, reabilitação profissional, re-inserção no

mercado de trabalho, indenizações trabalhistas, horas de trabalho perdidas e re-

treinamento de novos funcionários. O custo saúde do trabalho afeta

negativamente a competitividade e a sustentabilidade das organizações,

aumentando o preço da mão-de-obra e conseqüentemente refletindo no preço

dos produtos. Por outro lado, o aumento das despesas públicas com previdência,

reabilitação profissional e saúde reduz a disponibilidade dos recursos

orçamentários para outras áreas e induz ao aumento da carga tributária sobre a

sociedade como um todo (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

Por sua vez, a grande maioria das empresas afasta seus trabalhadores apenas

quando o período de afastamento é maior que 15 (quinze) dias. E, quando o

trabalhador retorna às suas atividades, ele é demitido, tornando-se, assim,

portador de lesão crônica originada no trabalho, o que dificulta a sua reinserção

no mercado de trabalho. Em vista dessa dificuldade, obrigado a manter a própria

vida e dos seus dependentes, o trabalhador procura o benefício previdenciário,

nascendo, dessa forma, um novo mercado: o da informalidade – o que resulta

numa legião de trabalhadores em gozo de benefício previdenciário e em exercício

de trabalhos informais, constituindo, assim, um enorme custo financeiro para a

Previdência Social, seja pelo pagamento do beneficio, seja pelo não recolhimento

à Previdência Social dos valores devidos em função do trabalho informal. Isso

constitui para o trabalhador dupla renda e faz com que ele dificulte ao máximo a

sua recuperação e o seu retorno ao trabalho formal.

Page 61: Filho.condicoes de Agravos

61

2.6.1 O fator acidentário previdenciário e a comunicação de acidente do trabalho

O fator acidentário previdenciário (FAP) é um multiplicador sobre as alíquotas de

1%, 2% ou 3% correspondentes ao enquadramento da empresa na classe do

Código Nacional da Atividade Econômica (CNAE). Esse multiplicador deve flutuar

em um intervalo fechado contínuo de 0,5 a 2,0, considerando gravidade,

freqüência e custo, conforme previsto na Lei n.10.666/03, e a sua estimativa é

uma importante tarefa que se propõe definir, bem como os parâmetros

correspondentes (PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

Busca-se, com base na freqüência, na gravidade e no custo um elemento primário

que seja tipicamente imune à sonegação, não declaratório, que independa do

desejo/poder do empregador sobre a informação e seja intrinsecamente

relacionado à incapacidade laboral, à doença ou à entidade mórbida ou registro.

Deve ser algo cuja responsabilidade médica seja pessoal, oferecendo o menor

grau de manipulabilidade e, conseqüentemente, uma maior segurança para o

gestor e a justiça (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

Para exemplificar o descrito na Lei 10.666/03, foi observado que os acidentes de

trabalho ocorridos e registrados no Município de São Bento do Sul, no setor

moveleiro, eram em grande parte registrados em nome de empresas de

recrutamento de pessoal administrativo, embora seus trabalhadores executassem

suas funções nas várias fábricas de móveis na região. Feito o cruzamento de

informações da Comunicação de Acidente do Trabalho com a Guia de Informação

Fiscal da Previdência Social (GEFIP), encontraram-se várias irregularidades:

Empresas registradas no sistema SIMPLES (Sistema Integrado de

Pagamento de Impostos e Contribuições de Microempresas e das

Empresas de Pequeno Porte) do governo federal.

Ausência de recolhimento de Seguro de Acidente do Trabalho (SAT).

Ausência de recolhimento dos valores devidos à Previdência Social.

Por conseguinte, o causador do acidente de trabalho ficará com o FAP menor,

embora seja o grande causador das lesões aos trabalhadores, e devendo a

Page 62: Filho.condicoes de Agravos

62

alíquota suplementar do SAT, que não é recolhida, causando assim enormes

prejuízos à Previdência Social, porquanto a empresa que terceiriza mão-de-obra

não recolhe alíquota suplementar do SAT, mas recebe o trabalhador lesado na

indústria moveleira e o remete para a Previdência Social a fim de que esta

assuma todo o custo saúde do trabalho.

Diante disso, descartaram-se, de imediato, como elemento primário, os registros

dos acidentes de trabalho informados por intermédio das CAT, os quais, como já

foi afirmado, são subnotificados. E como tal, caso fossem utilizados, beneficiariam

sonegadores em detrimento das empresas que têm desenvolvido ações efetivas

de proteção ao trabalhador. Embora não se tenham estimativas globais quanto

aos acidentes não notificados, diversos estudos apontam para a subnotificação

dos acidentes, notadamente Waldvogel (2001), Santana et al. (2003) e Conceição

et al.(2003).

A questão da sonegação da CAT é assunto complexo e demarcado por aspectos

políticos, econômicos e sociais, para o qual nenhuma explicação é suficiente.

Dentre as principais explicações encontram-se as seguintes (MINISTÉRIO DA

PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004):

a) como o acidente/doença do trabalho é considerado socialmente

derrogatório, evita-se que o dado apareça nas estatísticas oficiais.

Exemplo: em Bento Gonçalves verificou-se, no registro das

Comunicações de Acidente do Trabalho, apenas que havia sido

concedido benefício previdenciário. Não se observou registro de

comunicações que não geraram benefício previdenciário;

b) para não reconhecer a estabilidade no emprego, de um ano de

duração, a partir do retorno do trabalhador às suas atividades;

c) para demitir o funcionário tão logo ele retorne ao trabalho;

d) )para não depositar a contribuição devida de 8% do salário, em conta

do FGTS, correspondente ao período de afastamento;

e) para não reconhecer a presença de agente nocivo causador de doença

do trabalho ou profissional e não recolher a contribuição específica

Page 63: Filho.condicoes de Agravos

63

correspondente ao custeio da aposentadoria especial aos trabalhadores

expostos aos mesmos agentes.

2.7 A previdência social, o acidente de trabalho e a reabilitação profissional

A previdência social brasileira é parte integrante de um conjunto integrado de

política e de ações, consolidado na Constituição Federal de 1988 como

seguridade social (art.194), do qual fazem parte ainda as ações relacionadas à

assistência social e à saúde. As ações relativas à assistência social possuem

varias interfaces com o sistema previdenciário. Acompanhando uma tendência

mundial em termos conceituais, a Constituição de 1988 definiu o sistema de

seguridade social brasileiro como constituído por um conjunto integrado de ações

que tem por objetivo proteger e amparar a sociedade contra uma diversa gama de

riscos sociais, quais sejam:

Assegurar a renda dos trabalhadores para os casos de perda da sua

capacidade de trabalho (previdência social).

Prover condições mínimas de subsistência para os segmentos da

sociedade mais necessitados (assistência social).

Prestar serviços de assistência à saúde para toda a sociedade.

Com efeito, essa integração de funções é tida como um grande avanço por alguns

segmentos da sociedade brasileira, sendo ardorosamente defendida na arena

política. Na realidade, em termos práticos, essa integração conceitual pouco ou

nada mudou na condução das políticas públicas e no cotidiano do cidadão.

A Constituição de 1988 criou o orçamento da seguridade social, onde se unificam

todas as fontes de recursos oriundas das contribuições da seguridade social

destinadas ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), ao Sistema Único de

Saúde (SUS) e aos programas de prestação de benefícios assistenciais

estabelecidos pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). A previdência

social é o único programa integrante do sistema de seguridade social brasileiro

que requer um vínculo contributivo e pode ser entendida como um seguro

obrigatório feito pelos trabalhadores para que possam, quando alcançarem a

inatividade – definitiva ou temporária – manter seu padrão de rendimentos ou pelo

Page 64: Filho.condicoes de Agravos

64

menos parte dele. Ou seja, pressupõe um vínculo entre as contribuições e o

benefício a ser auferido.

Os acidentes de trabalho e as doenças profissionais caracterizam um dos

potenciais riscos não programáveis aos quais o trabalhador está exposto ao longo

de sua vida ativa e a principal especificidade do acidente de trabalho e a relação

direta com as condições de trabalho às quais está submetido o trabalhador, o que

implica explícita responsabilidade do empregador, que pode e deve tomar

medidas no sentido de prevenir o acidente.

O atual seguro de acidentes do trabalho, da forma como está estruturado,

apresenta enfoque na reparação dos danos sofridos pelo empregado e representa

um baixíssimo incentivo à prevenção desses acidentes. As alíquotas pagas pelas

empresas são estabelecidas de acordo com o risco médio do setor em que

atuam, pouco tendo a ver com a sinistralidade específica de cada empresa.

As contingências sociais decorrentes do ambiente de trabalho são, pois,

responsáveis por um impacto substancial sobre o sistema de previdência social.

Os registros oficiais do Ministério da Previdência Social apontam, apenas entre os

trabalhadores do mercado formal, no ano de 2003, um custo de R$ 8,2 bilhões,

correspondentes a gastos com benefícios acidentários e aposentadorias

especiais, equivalentes a cerca de 30% da necessidade de financiamento do

Regime Geral de Previdência Social verificada naquele ano (MINISTÉRIO DA

PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2004).

Isso sem levar em consideração o subdimensionamento na apuração das contas

da Previdência Social, que desembolsa e contabiliza como despesas não

acidentarias os benefícios por incapacidade, cujas Comunicações de Acidentes

do Trabalho não foram emitidas seja por falta de reconhecimento por parte da

empresa do acidente de trabalho, seja por falta ética do profissional médico do

trabalho, que não registra o acidente de trabalho para que suas estatísticas

estejam dentro de um patamar aceitável. Para tentar diminuir tal agressão ao

trabalhador, a Previdência Social, através de memorando (48 INSS/DIRBEN),

estabelece que a CAT preenchida e comunicada pelas pessoas contidas no

parágrafo 2, do art.22, da Lei 8213/91, seja via internet ou na agência da

Page 65: Filho.condicoes de Agravos

65

Previdência Social, não pode ser recusada, pois tem o mesmo valor probatório

daquela providenciada pela empresa. Nada de mais faz a Previdência Social a

não ser cumprir a legislação previdenciária contida na Lei 8213/91.

Page 66: Filho.condicoes de Agravos

66

3. A INDÚSTRIA MOVELEIRA NO BRASIL

A produção mundial de móveis está estimada no patamar de US$ 200 bilhões.

Nos países desenvolvidos, a produção representa 79% do total mundial, sendo

64% a parcela das sete maiores economias industriais: Estados Unidos, Itália,

Japão, Alemanha, Canadá, Franca e Reino Unido (BNDES, 2002).

A fatia restante de 21% corresponde à produção de móveis em países

emergentes, sendo que três deles (China, México e Polônia) vêm apresentando

rápido aumento na atividade moveleira, graças a investimentos recentes em

novas plantas, especialmente projetadas e construídas para exportações

(BNDES, 2002). O Brasil produz móveis de todos os tipos e materiais e emprega

cerca de 300.000 trabalhadores diretamente na produção, gerando 1.500.000

empregos diretos e indiretos em empresas que possuem entre 01 e 99

trabalhadores (SEBRAE, 2003).

Essas empresas, em sua grande maioria, são familiares, tradicionais e de capital

nacional, caracterizando-se principalmente por quatro aspectos comuns:

Pouca ou nenhuma infra-estrutura

Grande rotatividade de mão-de-obra

Falta de qualificação profissional

Tecnologia obsoleta

No Brasil, a falta de um design industrial específico para o setor de móveis e a

baixa qualidade tecnológica fazem com que esse ramo da indústria seja

suscetível às dificuldades geradas pela globalização.

No geral, o comércio mundial de móveis envolve cerca de 50 países, tendo

registrado cerca de US$ 55 bilhões em transações no ano de 2000 (BNDES,

2002). Os maiores importadores são Estados Unidos, Alemanha, França, Reino

Unido, Japão e Canadá, enquanto os maiores exportadores são Itália, Canadá,

Alemanha, China, Estados Unidos, Polônia e França.

Page 67: Filho.condicoes de Agravos

67

Ultimamente, com o aumento nas exportações, a indústria brasileira tem

aprimorado sua capacidade produtiva e melhorado a qualidade de seus produtos

em função de um trabalho maior dos Centros de Tecnologia da Madeira, ligados

ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). A indústria está

investindo mais na modernização da tecnologia, em maquinário, na organização

da produção e no design, visando atender consumidores internos e externos cada

vez mais exigentes. As exportações brasileiras de móveis estão demonstradas no

Tabela 5.

Tabela 5

Faturamento do setor – 2000/2005

Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Produção/Faturamento milhões de R$

7.599 8.631 10.095 10.756 12.543 12.051*

Consumo milhões de R$

6.918 7.738 8.767 8.934 10.060 9.901*

Exportação milhões de US$

485 479 533 662 941 991

Importação milhões de US$

113 99 78 70 92 108

Balança comercial milhões de US$

372 380 455 592 849 883

Exportação /Produção (%) 10,1 11,6 15,4 17,2 22,0 18,3*

Importação/Consumo (%) 2,5 2,6 2,6 2,3 2,6 2,3*

Fonte: ABIMOVEL 2006.

A indústria brasileira de móveis está localizada, basicamente, no sul e no sudeste

do País. Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais,

Rio de Janeiro e Espírito Santo concentram 75% das empresas da indústria de

móveis.

Page 68: Filho.condicoes de Agravos

68

Gráfico 4: Distribuição espacial das empresas da indústria de móveis

(mercado formal) – 2003

Fonte: RAIS 2003 – MTE.

Os fabricantes de móveis estão localizados em torno de pólos regionais, e além

dos pólos tradicionais existem outros aglomerados próximos sem que sejam

caracterizados formalmente como pólos moveleiros. O Quadro 1, a seguir, mostra

a distribuição dos pólos moveleiros por estado e as regiões onde existem

concentrações de empresas produtoras de móveis.

Page 69: Filho.condicoes de Agravos

69

1: Pólos moveleiros consolidados e potenciais no Brasil

Embora os dados sejam antigos, visto que datam do último censo industrial do

IBGE, realizado há 16 anos, ainda se afirma que a indústria brasileira de móveis é

constituída por aproximadamente 13.500 micro, pequenas e médias empresas,

que empregam cerca de 185 mil pessoas (BNDES, 2002). De acordo com a RAIS

(2003), a indústria brasileira de móveis é formada por mais de 16.112 micro,

pequenas e médias empresas de capital nacional em sua maioria, que geram

mais de 189.372 empregos. A Tabela 6, a seguir, mostra o número de empresas

e pessoas empregadas no setor moveleiro por estado, o que demonstra, por si só,

a enorme capilaridade desse ramo industrial.

Page 70: Filho.condicoes de Agravos

70

Tabela 6

Número de empresas e empregados no setor moveleiro por estado

UNIDADE DA FEDERAÇÃO Nº ESTAB N.º TRAB Rondônia 123 673

Acre 34 180

Amazonas 36 445

Roraima 8 65

Para 127 1.682

Amapá 18 71

Tocantins 39 207

Maranhão 75 1.267

Piauí 64 950

Ceara 336 3.968

Rio Grande do Norte 119 881

Paraíba 82 609

Pernambuco 302 2.672

Alagoas 57 686

Sergipe 80 552

Bahia 340 3.775

Minas Gerais 2.118 22.457

Espírito Santo 297 4.817

Rio de Janeiro 632 5.392

São Paulo 3.821 46.717

Paraná 2.103 28.217

Santa Catarina 1.961 25.566

Rio Grande do Sul 2.467 30.970

Mato Grosso do Sul 135 713

Mato Grosso 223 1.547

Goiás 405 3.483

Distrito Federal 110 810

Total 16.112 189.372

Fonte: RAIS/2003 - Decreto 76.900/75. Elaboração: CGET/DES/SPPE/MTE.

Page 71: Filho.condicoes de Agravos

71

A Tabela 7, por sua vez, mostra, por estado, a realidade dos pólos moveleiros, o

número de empregados e os principais mercados.

Tabela 7

Pólos moveleiros por estado: empresas, número de empregados e principais

mercados

Pólo moveleiro

Estado

Empresas

Empregados

Principais Mercados

Ubá MG 310 3.150 MG, SP, RJ, BA e exportação

Bom Despacho MG 117 2.000 MG

Linhares e Colatina ES 130 3.000 SP, ES, BA e exportação

Arapongas PR 145 5.500 Todos os estados e exportação

Votuporanga SP 85 7.400 Todos os estados

Mirassol SP 210 8.500 PR, SC, SP e exportação

Tupã SP 54 700 SP

São Bento do Sul SC 210 8.500 PR, SC, SP e exportação

Bento Gonçalves RS 370 10.500 Todos os estados e exportação

Lagoa Vermelha RS 60 1.800 RS, SP, PR, SC e exportação

Fonte: ABIMOVEL 2005.

No entanto, a Associação Brasileira da Indústria de Móveis (ABIMOVEL) estima

que, entre formais e informais, existam atualmente no País mais de 50 mil

unidades produtoras de móveis. São empresas familiares tradicionais e, na

grande maioria, de capital inteiramente nacional. Recentemente, em alguns

Page 72: Filho.condicoes de Agravos

72

segmentos específicos, como o de móveis para escritório, ocorreu a entrada de

empresas estrangeiras.

Em 1999, a política cambial vigente levou à contração a produção de móveis. Em

2000, com uma taxa de câmbio mais estável e uma recuperação econômica geral,

o setor voltou a apresentar um bom crescimento (BNDES, 2002).

O Estado de São Paulo detém cerca de 40% do faturamento do setor e concentra

80% da produção nacional de móveis de escritório, enquanto o Rio Grande do

Sul, o segundo maior produtor nacional de móveis, contribui com 20% da

produção (GORINI, 1988).

O Brasil ocupa o 9º lugar no ranking mundial dos maiores produtores de móveis.

Com um crescimento anual médio de 4,3% no faturamento das empresas, o Rio

Grande do Sul, segundo maior exportador de móveis do País, apresenta forte

potencial empreendedor para ser transformado em um dos maiores centros

produtores de móveis da América Latina (SEBRAE, 2003). A indústria gaúcha tem

investido especialmente no desenvolvimento tecnológico e de infra-estrutura, o

que garante a destinação de mais de 60% de sua produção para países como

Estados Unidos, França e Reino Unido. Em 2003, o Rio Grande do Sul contava

com 268 empresas exportadoras. Entre 1996 e 2003, a média anual de

crescimento das exportações foi de 8,7% (SEBRAE, 2003).

3.1 Os arranjos produtivos locais

O paradigma da globalização dos mercados, da concorrência por novos mercados

extremamente distantes e a defesa do mercado interno por políticas

protecionistas por parte do Governo, obrigaram as micro e pequenas empresas

(MPE) a buscar uma solução para a questão da competitividade e da

sustentabilidade do negócio (CROCCO et. al, 2001). E a forma encontrada por

essas empresas foi a associação em arranjos produtivos locais, que as

diferenciam e a seus produtos, tornando-as competitivas frente às demais

concorrentes de mercado.

O conceito de cluster surge como sendo geograficamente localizado e, apesar de

não ser independente do contexto macroeconômico em que está inserido, realça

Page 73: Filho.condicoes de Agravos

73

muito mais a relevância dos aspectos microeconômicos dos agentes econômicos

e suas relações (FAIRBANKS, 2001).

Os clusters podem ser definidos como concentrações geográficas de empresas

de um mesmo setor. Estes podem abranger uma rede de indústrias altamente

concentradas, em sua maioria, de pequenas firmas, com tecnologias de produção

flexíveis, sendo até mesmo capazes de responder rapidamente às mudanças nas

condições de mercado. A produção local tende a ocorrer de forma verticalmente

desintegrada, dificultando as relações entre as empresas, devido ao reduzido

contato direto e aos fluxos de informações (IEL, 2001).

Para poderem enfrentar o ambiente globalizado e bastante competitivo, as MPE

têm de se adequar aos padrões de qualidade, de flexibilização da produção, além

de construir formas de cooperação tanto vertical quanto horizontal. A proximidade

física das MPE propicia condições para interação corporativa, na tentativa de

superação de problemas comuns.

A indústria de móveis caracteriza-se pela reunião de diversos processos de

produção, envolvendo diferentes matérias-primas e uma diversidade de produtos

finais, e pode ser segmentada em função dos materiais com que os móveis são

confeccionados e de acordo com o seu uso final.

A realidade da indústria de móveis no Brasil vem mudando lentamente, mas ainda

contrasta com o padrão internacional, principalmente no que diz respeito à

incipiente difusão de tecnologia de ponta e à grande verticalização da produção

nacional (BNDES, 2002).

Cabe destacar ainda a grande informalidade existente no País, especialmente no

setor moveleiro, onde ela é marcante, na medida em que são fracas as barreiras

à sua entrada, seja pelo lado da tecnologia, seja pelo lado do investimento em

alguns segmentos dessa indústria. A informalidade gera ineficiências em toda a

cadeia industrial, dificultando, por exemplo, a introdução de normas técnicas que

atuariam na padronização dos móveis, assim como das suas partes e

componentes intermediários (BNDES, 2002).

Page 74: Filho.condicoes de Agravos

74

3.1.1 Centros de tecnologia da madeira

O Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI) possui centros

tecnológicos destinados à formação de mão-de-obra e ao desenvolvimento

tecnológico da indústria moveleira no Brasil, localizados nos principais pólos

moveleiros, dentre os quais se destacam:

A Fundação de Ensino, Tecnologia e Pesquisa (FETEP), em São Bento do

Sul, Santa Catarina.

O Centro Tecnológico do Mobiliário (CETEMO), de Bento Gonçalves, no

Rio Grande do Sul.

O Centro Tecnológico da Madeira e do Mobiliário (CETMAM), de São José

dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, no Paraná.

O Centro Tecnológico da Madeira e do Mobiliário (CETMAM), em

Arapongas, no Paraná.

3.2 A importância socioeconômica da indústria de móveis no Brasil

Conforme dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o número de

empregos formais gerado pela cadeia produtiva de móveis no ano de 2000 foi de

185.798; em 2001, 188.721 e, no ano de 2002, 193.078, um crescimento da

ordem de 2,3% no período, comprovando a importância socioeconômica da

indústria de móveis na geração de novos postos de trabalho.

Na Tabela 8, a seguir, pode-se observar que as pequenas e médias empresas do

ramo de móveis no Brasil responderam por 88,3% das empresas no ano de 1998

e com 98,2% em 2002. Todavia, se observada a geração de empregos, houve

uma queda de 69,4% em 1998 para 66,7% em 2002.

A redução dos postos de trabalho provavelmente é resultante de políticas

econômicas desencontradas, da falta de preparo dos empreendedores na

condução de suas empresas e de políticas de juros altos. Conforme dados do

SEBRAE (2004), 49,9% das empresas encerram as atividades com até 02 anos

de existência, 56,4% com até 03 anos e 59,9% com até 04 anos.

Page 75: Filho.condicoes de Agravos

75

Tabela 8

O setor moveleiro contribuiu sobremaneira para o desempenho da balança

comercial brasileira em 2004, especialmente da região Sul, que respondeu por

mais de 80% do total de móveis exportados pelo País. Os números comprovam a

importância da indústria moveleira no cenário nacional: as vendas externas

consolidadas foram de US$ 940,6 milhões, 42% a mais do que no ano anterior.

Somados os três estados do Sul, alcançaram-se US$ 795,5 milhões e um

aumento de 39% sobre o ano anterior (2003), que já havia registrado um

incremento de 20,7% sobre 2002, segundo dados da Associação Brasileira da

Indústria do Mobiliário (ABIMÓVEL). Portanto, os três estados do Sul respondem

por 2/3 das exportações brasileiras no setor (Gráfico 5 a seguir).

Page 76: Filho.condicoes de Agravos

76

Gráfico 5: Distribuição espacial das empresas da indústria de móveis

(mercado formal) – 2002

Fonte: Rais/2002 – MTb.

Os indicadores de acidentes de trabalho mostrados nas Tabelas 9 e 10, a seguir,

possibilitam uma comparação com outros ramos de atividade industrial que

igualmente possuem altos índices de acidentes de trabalho, conforme o AET 2003

(Ministério da Previdência Social), para os anos de 2002/2003, e demonstram por

si só a importância socioeconômica desta pesquisa.

Page 77: Filho.condicoes de Agravos

77

Tabela 9

INDICADORES DE ACIDENTES DO TRABALHO – CNAE - 2002

INDICADORES

CNAE

Incidência

Incidência Doença

Incidência

Acidente de Trabalho

Incidência

de Incapacidade

Taxa de

Mortalidade

Taxa de

Letalidade

Tx.Ac16

a 34

3611-fab. móveis de madeira

33,34

1,48

29,72

32,41

9,61

2,88

66,24

3612-fab. móveis de metal

27,64

1,77

23,41

25,97

4,92

1,78

67,79

3612-fab. móveis de metal

22,10

2,05

17,85

20,18

0,00

0,00

61,92

3614-fab. de colchões

21,39

1,32

18,57

20,86

0,00

0,00

74,49

Fonte: Ministério da Previdência Social.

Tabela 10

INDICADORES DE ACIDENTES DO TRABALHO – CNAE – 2003

INDICADORES

CNAE

Incidência

Incidência Doença

Incidência Acidente de Trabalho

Incidência

de Incapacidade

Taxa de

Mortalidade

Taxa de

Letalidade

Tx.Ac.16

a 34

3611-fab. móveis de madeira

26,55

1,33

23,30

25,67

8,37

3,15

64,50

3612-fab. móveis de metal

22,13

1,52

18,69

20,27

11,26

5,09

60,05

3612-fab. móveis de metal

19,75

1,23

16,34

17,30

27,24

13,79

68,28

3614-fab. de colchões

18,81

1,26

15,39

18,81

9,00

4,78

72,73

Fonte: Ministério da Previdência Social.

Page 78: Filho.condicoes de Agravos

78

3.3 A indústria moveleira, o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável

Concentrando não somente a maior parcela da floresta amazônica e o mais

extensivo remanescente de bioma florestal tropical, o Brasil é, simultaneamente, o

maior produtor e consumidor mundial de madeira tropical. Estima-se que 86% dos

26,5 milhões de m3 de diversas madeiras extraídas anualmente da região

amazônica são consumidas internamente (SMERALDI & VERISSIMO, 1999).

A maior parte da demanda por madeira está no setor da construção, que, apesar

de consumidor do produto, coloca pouca ênfase na qualidade ou no fornecimento

ambientalmente correto.

A floresta amazônica é uma plataforma para inovações na gestão comunitária dos

recursos naturais e da proteção florestal pública, mas a extração ilegal de madeira

em grande volume atua como um impedimento significativo na adoção de práticas

apropriadas de corte, deflacionando, ainda mais, os preços e a qualidade. Grande

parte da madeira tropical brasileira é proveniente de desmatamentos: cerca de 2,3

milhões de hectares de florestas são anualmente cortados para expansão da

agricultura e outros fins (FAO, 2000).

Ao mesmo tempo, o Brasil possui um dos principais parques industriais, baseado

em plantações florestais – com cinco milhões de hectares de floresta plantados,

dos quais 95% de espécies exóticas, principalmente eucaliptos e pinhos (FAO,

2000). Atuando durante muito tempo como um dos principais atores no mercado

global de celulose de fibra curta, o Brasil especializou-se no plantio de árvores de

alta produtividade desenvolvidas em viveiros de clonagem (FAO, 2000). A maior

parte da floresta plantada é encontrada próximo à costa do Atlântico, nos Estados

da Bahia, do Espírito Santo, de Minas Gerais, São Paulo e do Paraná.

As exigências de que os produtos e serviços florestais sejam produzidos de

maneira sustentável refletem a preocupação mundial com a proteção da

biodiversidade e o combate às mudanças climáticas, internalizados nos mercados

através da adoção voluntária da certificação do manejo florestal e da cadeia de

custódia para os produtos florestais. No Brasil, cada vez mais empresas estão se

Page 79: Filho.condicoes de Agravos

79

voltando para o uso da madeira certificada como forma de sustentabilidade do

negócio.

Gorini (2000) relata que a introdução de novas tecnologias para utilização de

madeiras mais simples permitiu a utilização de madeira de reflorestamento, tal

como o pinus, o eucalipto e a seringueira. No Brasil utiliza-se em grande escala o

pinus e ainda é um tanto quanto pragmática a utilização do eucalipto, embora a

norma ISO-4000 estimule o uso de madeira de reflorestamento. O autor afirma

ainda que outra tendência verificada mundialmente é o crescimento do uso do

médium-density fiberboard (MDF) na confecção de móveis, o que barateia o

produto final.

Essas transformações influenciaram o consumo, tendo sido criados móveis mais

populares fabricados a partir de painéis de madeira, conforme relata Gorini

(2000).

O movimento em favor da certificação florestal começou no final dos anos 80 com

o boicote dos consumidores do Norte contra madeiras tropicais oriundas do

desmatamento. Os usuários de madeira tropical, europeus e americanos,

preocupados com as perspectivas de seus negócios em longo prazo, formaram a

Woodworker’s Alliance for Rainforest Protection (WARP) e publicaram uma “Lista

de Madeiras Boas” para proteger os fornecedores de madeira oriundos do bom

manejo. Em 1993, os representantes de organizações não-governamentais, de

fornecedores e compradores de madeira se reuniram em Toronto, iniciando o

processo que levou à criação do Forest Stewardship Council (FSC). Em resposta

à falta de critérios para definição do que, na verdade, constituía a boa prática no

manejo florestal, três conselhos internacionais, representando as preocupações

em nível comercial, social e ambiental, instituíram dez princípios e um rigoroso

conjunto de normas subsidiárias (AZEVEDO, 2002).

O segmento de florestas certificadas no Brasil emergiu no final dos anos 90.

Primeiro, a preocupação do consumidor em relação aos impactos ambientais da

produção de celulose e papel estimulou as mudanças técnicas na indústria global

(IIED, 1996). Em segundo lugar, as grandes corporações deveriam responder aos

questionamentos da sociedade quanto ao desenvolvimento sustentável do

Page 80: Filho.condicoes de Agravos

80

planeta – o que as levaria a aumentar sua percepção de que este representa uma

convenção de mercado, influenciando os parâmetros da competição num

mercado globalizado. Para ter uma participação efetiva no mercado nesse

contexto globalizado, as indústrias deveriam buscar opções tecnológicas mais

amenas, assim como procurar meios para reforçar relações de benefício mútuo

com as comunidades vizinhas (VINHA, 2000).

Finalmente, o setor de produtos madeireiros admite, agora, que deve se esforçar

para que sua imagem de sustentabilidade seja refletida em mudanças tangíveis

da tecnologia de produção e, particularmente, do manejo florestal sustentável, e

que o único caminho para divulgar tal mudança, promovendo a confiança do

consumidor, é através de auditorias e certificações externas e independentes.

Inicialmente, as corporações adotaram as normas de gestão ambiental ISO 14000

e, mais tarde, os padrões de certificação de manejo de plantações florestais e

cadeias de custódia do Forest Stewardship Council (FSC).

O processo de conversão para o manejo florestal sustentável pode gerar

benefícios extras a empresas que adotam a conversão, mesmo com o aumento

inicial dos custos a ela associados. Estudos comparativos recentes das práticas

de exploração por meio de técnicas convencionais e do manejo sustentável,

resumidos por May e Veiga (2000), mostram evidências nessa direção.

Além dos retornos positivos financeiros obtidos com o manejo sustentável da

floresta, a certificação, conforme as normas do FSC, requer o cumprimento às

exigências legais e esforços para garantir às comunidades afetadas os benefícios

por hospedar o empreendimento. Embora o cumprimento dessas normas implique

aumento de custos e possa exigir uma mudança na cultura corporativa e nas

relações comunitárias, essas normas são de igual peso no processo de

certificação quanto são aquelas relativas às práticas de manejo.

Não obstante, os resíduos sólidos gerados na indústria moveleira têm uma

importância estratégica na geração de energia termoelétrica através da queima

desses resíduos.

Page 81: Filho.condicoes de Agravos

81

3.4 A gestão dos resíduos da indústria moveleira

As indústrias de base florestal geram grandes quantidades de resíduos no

processo produtivo. Porém, o aumento progressivo da quantidade de madeira

desdobrada tem revelado o problema da disponibilização de quantidades ainda

maiores de resíduos, que muitas vezes não têm utilização na indústria onde foram

gerados. Além disso, as micro e pequenas empresas muitas vezes estão

localizadas em regiões longínquas, com pouca infra-estrutura (energia, estrada),

seus trabalhadores têm baixa qualificação profissional e elas não possuem

recursos tecnológicos de produção capazes de reduzir os altos índices de

desperdício observados nesse setor.

Estimativas grosseiras da quantidade de resíduos disponíveis podem ser feitas

através das áreas florestais produtivas, da sua produção primária e do grau de

rendimento. Nos resíduos das diferentes indústrias madeireiras, a disponibilidade

pode ser determinada diretamente das estatísticas disponíveis ou da relação input

matéria-prima output produtos (PATZAK, 1977).

As indústrias primárias transformam as toras em tábuas, lâminas, caibros, vigas,

etc. As indústrias secundárias incluem empresas que manufaturam produtos

acabados de tábuas ou lâminas produzidas pela indústria primária. Como

exemplo, podem-se citar móveis; divisórias de escritórios; produtos

manufaturados para o comércio, como janelas, portas, armários, pisos, cercas;

pallets; produtos para construção, etc. Essas empresas podem dar acabamento

ao produto final, como também serrar ou redimensionar a madeira serrada. A

quantidade de resíduos de madeira produzida varia muito com o tipo de atividade,

os quais podem ser pequenos ou grandes, incluindo partículas, serragem, refilos,

destopos e uma combinação destes.

Na cadeia produtiva da madeira há dificuldade de obter informações que

permitam uma análise e considerações sobre a problemática da reciclagem de

resíduos sólidos oriundos das empresas que processam a madeira para a

produção de bens de consumo e/ou insumos industriais, em parte devido à

grande dispersão da indústria da madeira por todo o território nacional, em parte

Page 82: Filho.condicoes de Agravos

82

pela forma amadorística de gerenciamento, baseado exclusivamente no ambiente

familiar.

As empresas que atuam na cadeia da madeira em geral são grandes geradoras

de resíduos sólidos de madeira (serragem, cavaco, cascas, aparas, etc.). São em

grande número micro e pequenas empresas, possuem administração familiar,

utilizam muita mão-de-obra com baixa qualificação, possuem tecnologias de

produção obsoletas, apresentam elevados índices de acidentes de trabalho e

normalmente têm origem na cultura extrativista em relação à matéria-prima que

processam.

Os resíduos sólidos são passivos ambientais que podem inviabilizar a

continuidade e a evolução das indústrias do setor. O desafio que está sendo

considerado como problema neste estudo é a falta de gerenciamento dos

resíduos sólidos gerados na cadeia produtiva da madeira e a má destinação ou

aproveitamento desses resíduos. Atualmente recorre-se ao descarte desse

material em lixões, o que leva à produção de gases tóxicos e altamente

explosivos e à diminuição da capacidade de armazenamento desses locais.

Como exemplo pode-se citar o caso da indústria de painéis sarrafeados. Ecker et

al. (2003) encontraram 43,75% de rendimento no processo produtivo, partindo de

sarrafos verdes até o painel acabado. Assim, fica clara a necessidade da

caracterização do processo produtivo para o melhor aproveitamento da matéria-

prima e a produção de produtos de melhor qualidade.

Apesar disso, o setor vem absorvendo tecnologias. Santa Rita (2003), ao analisar

as características estruturais do complexo industrial, ressalta que, de forma

similar a outras indústrias, a cadeia produtiva da madeira tem passado por

transformações em seus processos produtivos, refletidos em suas técnicas de

organização industrial e em equipamentos microeletrônicos. Utilizando como

matéria-prima principal em seus produtos a madeira maciça ou chapas de

madeira reconstituída, a indústria moveleira depara-se, em seus processos

produtivos, com volumes cumulativos de resíduos que causam impactos

ambientais significativos.

Page 83: Filho.condicoes de Agravos

83

Para o melhor entendimento da geração de resíduos na cadeia produtiva da

madeira, é necessário compreender sinteticamente as fases do processo

produtivo da madeira.

Na indústria primária, o processamento da madeira caracteriza-se pela utilização

da madeira bruta (toras) e pela aplicação de processos mecânicos para o seu

desdobramento.

Na primeira fase do desdobramento mecânico da madeira, as laminadoras

transformam a madeira bruta em lâminas de madeira torneadas ou faqueadas,

que serão usadas na fabricação de painéis compensados ou de painéis

reconstituídos, como os painéis de aglomerado e MDF. Ainda nesse estágio de

processamento, as serrarias têm como produtos mais característicos: semiblocos,

blocos, pranchões, vigas, vigotes, caibros, tábuas, sarrafos e ripas.

Numa segunda fase do processamento mecânico da madeira destaca-se a

transformação das peças obtidas na serraria em peças de dimensões menores. O

compensado, um dos principais produtos obtidos nessa fase da industrialização, é

um painel fabricado através de lâminas coladas transversalmente em número

ímpar de camadas, classificadas de acordo com as suas características de

fabricação e utilização e o tipo de adesivo empregado. Outro tipo de painel é

aquele denominado painel reconstituído, em que a madeira bruta é triturada,

transformando-se em cavacos, que, impregnados de resinas sintéticas, formam o

aglomerado, o MDF e o OSB.

A geração de resíduos é conseqüência direta da transformação da madeira

maciça ou painéis de madeira reconstituída. De acordo com suas características

morfológicas podem-se classificar os resíduos como cavacos (partículas com

dimensões máximas de 50 X 20 mm, em geral provenientes do uso de picadores),

maravalha (resíduo com mais de 2,5 mm), serragem (partículas de madeira

provenientes do uso de serras, com dimensões entre 0,5 a 2,5 mm) e, por fim, o

pó (resíduos menores que 0,5 mm). Considerando-se as três principais etapas de

processamento mecânico da madeira, são gerados subprodutos com variadas

aplicações comerciais (IBQP, 2002).

Page 84: Filho.condicoes de Agravos

84

Os resíduos de madeira podem ser utilizados tanto na confecção de material

combustível, na agricultura, na geração de energia elétrica em termoelétricas, e

principalmente na indústria de painéis reconstituídos (IBQP, 2002).

A indústria moveleira brasileira é geradora de grandes volumes de subprodutos

de madeira e nesse sentido vende resíduos de madeira, pratica algum sistema de

classificação de resíduos (serragem, cavacos e maravalha), estima a quantidade

de resíduos gerados e usa vários tipos de armazenamento (cavaco e serragem

verde/pátio, maravalha e serragem seco/silos). O destino final dos resíduos é

duplo: a) biomassa interna/vapor; b) vendidos para empresas de painéis

reconstituídos para serem usados como biomassa, para a produção de

aglomerado e MDF. O custo de transporte dos resíduos de madeira para sua

disposição final é elevado, caso seja usado para a geração de energia térmica, e

baixo quando utilizado como matéria-prima (IBQP, 2002).

Ao analisar a cadeia produtiva da madeira e o aproveitamento de resíduos,

Huebin (2000) conclui que somente a região Sul gerou, no ano de 1990, cerca de

2,1 milhões de m3, enquanto a produção de produtos sólidos de madeira foi de 4,6

milhões de m3. As perdas e a geração de resíduos são de quase 50% do total da

cadeia produtiva da madeira, causadas tanto pela baixa qualidade da matéria

quanto pela falta de conhecimento básico das propriedades físicas, mecânicas e

organolépticas da madeira, e também pela aplicação de tecnologias inadequadas

para o seu processamento.

Uma das maneiras de reduzir o impacto ambiental provocado pelos resíduos de

madeira é o empresário identificar uma aplicação para esse resíduo na forma de

matéria-prima para a indústria de reaproveitamento.

Segundo Cline (1992), cada tipo de resíduo de madeira poderá ser reutilizado

pela indústria do reaproveitamento de forma especifica. Os resíduos de madeira

podem ter diversas aplicações desde que sejam observadas suas características

e a viabilidade econômica e socioambiental do destino adotado.

Para melhor análise das alternativas possíveis de destinação dos resíduos de

madeira, deve ser feita preliminarmente a caracterização dos resíduos, mediante

a quantificação e considerações sobre o armazenamento e destino dos resíduos.

Page 85: Filho.condicoes de Agravos

85

As alternativas possíveis para a destinação dos resíduos de madeira são: a

compostagem; o uso como resíduo estruturante; a produção de energia; o uso

como lenha e carvão vegetal; a produção de materiais diversos e a produção de

painéis (aglomerados, MDF, OSB e outros), ou ainda a produção de briquetes.

3.5 A gestão de saúde e segurança do trabalho nas MPE moveleiras

O princípio básico de um sistema de gestão, sob aspectos normativos, envolve a

necessidade de determinados parâmetros de avaliação que incorporam não só os

aspectos operacionais, mas também a política, o gerenciamento e o

comprometimento da alta administração com o processo de mudança e melhoria

contínua das condições de saúde e segurança no ambiente de trabalho

(AGÊNCIA EUROPÉIA PARA A SEGURANÇA E A SAÚDE NO TRABALHO:

FACTS 42, 2004). Esse aspecto é de fundamental importância, pois, na maioria

das vezes, essas melhorias exigem, além do comprometimento corporativo, altos

investimentos que necessitam planejamento no curto, médio e longo prazo para a

sua execução.

Poder-se-ia chamar tal atitude de Responsabilidade Social da Empresa, tirando o

peso da responsabilidade de cima dos Serviços Especializados em Engenharia de

Segurança e em Medicina do Trabalho e distribuindo-o por toda a administração

da empresa. Cabe à administração identificar os riscos e orientar os

trabalhadores, assim como atitudes pró-ativas devem ser tomadas no sentido de

se dar o exemplo a ser seguido dentro da organização.

Acompanhar o desempenho das ações estabelecidas pelos programas de saúde

e segurança constitui um dos aspectos mais importantes do ponto de vista

administrativo.

Um sistema de gestão de saúde e segurança deve permitir o uso de ferramentas

de segurança capazes de interagir com o meio ambiente, recebendo parâmetros

de entrada e devolvendo saídas como resposta à empresa (FACTS 42, 2004).

Segundo Chiavenato (1999), sistema pode ser conceituado como um conjunto de

elementos interligados para formar um todo com características próprias que não

são encontradas em nenhum dos elementos isolados. Segundo Motta (1995), um

Page 86: Filho.condicoes de Agravos

86

sistema aberto é um conjunto de elementos que troca informações com o meio

ambiente, recebendo parâmetros de entrada, promovendo o processamento

desses parâmetros e devolvendo ao ambiente o resultado de saída.

Os riscos físicos, químicos e biológicos podem ser identificados pela inspeção

sistemática e metódica do ambiente de trabalho.

É difícil executar uma única inspeção em uma empresa onde a produção

normalmente se encontra dividida em muitas áreas ou departamentos e com

funcionários realizando diversas tarefas no decorrer do período laboral, seja por

falta de mão-de-obra, seja como forma de conter custos num primeiro momento.

No entanto, o que se encontra, na realidade, são trabalhadores sem nenhuma

experiência colocados na linha de produção com todos os riscos inerentes a ela e

sem nenhum treinamento em especial. Independentemente do tamanho da

empresa, é difícil se lembrar de todos os detalhes a serem observados, e aí

ocorre a falha da inspeção ao local de trabalho para levantamento dos riscos

ambientais, que é uma atividade dinâmica e não estática como muitos acreditam

ser.

Para o acompanhamento do programa de segurança é necessário definir os

indicadores e a forma de acompanhar a evolução de cada um deles, assim como

divulgar para todos os colaboradores da empresa não só a metodologia de

acompanhamento, mas também os resultados alcançados.

O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais deve estar articulado com todos

as Normas Regulamentadoras (Portaria 3214/78) e principalmente com o

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (NR-7), com o Programa de

Ergonomia (NR-17), com a CIPA (NR-5), com o Programa de Prevenção de Perda

Auditiva (NR-7) e com o Programa de Prevenção de Perdas Respiratórias (NR-7).

Em Recomendações para a Organização da Segurança no Trabalho, da Industry

Cooperation on Standards and Conformity (ICSCA), preservar a saúde e a

segurança no local de trabalho é um dever fundamental de todas as organizações

e de seus funcionários – objetivo comum que é atingido mais facilmente se as

organizações estabelecerem critérios de enfoque para a identificação de perigos e

para avaliação e controle de riscos relativos ao trabalho. O enfoque mais eficaz é

Page 87: Filho.condicoes de Agravos

87

aquele em que a organização atribui à obtenção de padrões elevados de gestão

de saúde e segurança no trabalho a mesma importância dada a outros aspectos

chaves do seu ramo de atividade. Muitas características de uma gestão eficiente

de saúde e segurança no trabalho são idênticas às práticas utilizadas para obter

qualidade e excelência empresarial. A incorporação desses aspectos no sistema

de gestão global é fundamental para: minimizar os riscos para funcionários e

outros; melhorar o desempenho empresarial e ajudar a estabelecer no mercado a

imagem de organização responsável.

Os elementos de enfoque na área de liderança e comprometimento claro da alta

gerência, feitos de forma ativa, visível, direta e consistente, são fundamentais

para o êxito da gestão de saúde e segurança no trabalho. Algumas das funções

da alta gerência são a definição da política, a aprovação de objetivos, o

fornecimento de recursos e a avaliação periódica de desempenho. É de particular

importância a revisão gerencial para avaliar regularmente o desempenho da

saúde e segurança, a adequação e eficácia das medidas na gestão de saúde e

segurança e para identificar possibilidades de melhorias. A alta gerência é

diretamente responsável pelo estabelecimento de um local de trabalho seguro e

por incentivar a preocupação com a segurança. Ela deve estabelecer ainda uma

política em que estejam presentes o comprometimento com a prevenção e a

redução de lesões e danos à saúde no trabalho, a adequação aos requisitos

legais, o reconhecimento da saúde e segurança como parte do desempenho das

atividades e a melhoria de desempenho constante. Essa política deve ser

comunicada a todos os empregados e ser implementada através de medidas

adequadas (OLIVEIRA, 2005).

As responsabilidades, autoridades e atribuições para a implementação das

medidas de gestão de saúde e segurança devem ser claramente definidas,

documentadas e comunicadas a todos os membros da organização. Embora as

funções de saúde e segurança possam e devam ser delegadas, a alta gerência é

a principal responsável pela saúde e segurança. É necessário definir as

responsabilidades dos funcionários em relação à sua própria segurança e à dos

companheiros de trabalho, em um contexto de medidas em que os funcionários

tenham recursos, ferramentas, treinamento, capacidade e oportunidade para

trabalhar de forma segura.

Page 88: Filho.condicoes de Agravos

88

A organização deve tomar medidas eficientes para permitir a comunicação entre

todos os níveis e funções, em relação à saúde e segurança no trabalho, e

também permitir, quando necessário, o envolvimento dos funcionários e a

consulta aos mesmos. Os funcionários devem ter papéis adequados na

concepção e implementação dos programas de saúde e segurança, pois são eles

os atores diretamente ligados ao processo produtivo (OLIVEIRA, 2005).

Na área do planejamento, a organização deve implementar um procedimento para

análise de riscos que permita identificar os perigos relacionados ao processo ou

ao local de trabalho, que representem riscos potenciais ou reais de lesões ou

danos à saúde, lembrando sempre que os riscos extrapolam o ambiente de

trabalho e alcançam o meio extramuros (WALDVOGEL, 2002). Os perigos e

riscos devem ser priorizados para que possam ser gerenciados e controlados de

forma planejada. Na avaliação devem ser incluídos os riscos aos visitantes e ao

público, as emergências e o impacto do trabalho de subcontratadas, embora

estas devam ser responsáveis pela segurança de seus próprios funcionários;

porém existe a responsabilidade solidária entre contratante e contratada. Também

devem ser tomadas medidas no sentido de obter recomendações e serviços de

especialistas que sejam relevantes ao ramo de atividade da organização. O

primeiro objetivo no controle dos perigos/riscos identificados nas avaliações deve

ser a eliminação dos mesmos já na fase de planejamento (NR-7 e NR-9). A

utilização da hierarquia de controles na fase de planejamento resultará em

redução do risco no local de trabalho. O objetivo é que seja evitada a introdução

de novos perigos no ambiente de trabalho a partir da definição de requisitos e do

trabalho coordenado com fornecedores. Treinamentos, avisos e equipamentos de

proteção são a primeira opção e devem servir para controlar o risco ambiental

como um todo (NR-09). A organização deve tomar medidas eficazes para garantir

a identificação e utilização dos atuais requisitos legais, contratuais e outros,

relativos à saúde e segurança no trabalho (OLIVEIRA, 2005). Os requisitos

devem ser transformados em instruções práticas, permitindo que o pessoal

envolvido possa avaliar a importância do cumprimento das mesmas (OLIVEIRA,

2005). Devem ainda ser estabelecidas metas de saúde e segurança no trabalho

que possam ser quantificadas de forma a permitir o controle, a redução e, se

possível, a eliminação dos perigos e riscos no local de trabalho. É necessário

Page 89: Filho.condicoes de Agravos

89

identificar e monitorar os indicadores-chaves de desempenho para cada objetivo.

Os objetivos devem servir para implementar os comprometimentos da política da

empresa, devem ser factíveis e levar em consideração outros objetivos

empresariais.

De acordo com as NR-07 e NR-09, para a implementação dos programas de

saúde e segurança, a organização deve desenvolver e implementar programas

que descrevam como, quando e por quem devem ser atingidos os objetivos.

Devem ser incluídos programas adequados para controlar e eliminar os riscos no

local de trabalho. Uma liderança pró-ativa irá promover uma cultura de saúde e

segurança eficiente. As mudanças no ambiente de trabalho devem ser projetadas

e implementadas para reduzir ou eliminar os perigos existentes e evitar o

aparecimento de novos perigos no local de trabalho.

A empresa deve avaliar as subcontratadas em relação ao desempenho, ao

treinamento e à competência nas áreas de saúde e segurança. Sempre que

possível, devem ser tomadas medidas em relação à coordenação dos locais de

trabalho compartilhados com empresas subcontratadas (OLIVEIRA, 2005). A

implementação dessas medidas não deve alterar a relação legal entre a

organização e as subcontratadas, que devem tentar criar e implementar medidas

consistentes com essas diretrizes, voltadas à saúde e segurança de seus

funcionários e daqueles que com eles convivem no local de trabalho. Os

requisitos de saúde e segurança devem ser incorporados aos procedimentos para

aquisição de bens e serviços, visando controlar a introdução de novos perigos no

local de trabalho, e ainda devem ser incluídos nos contratos relativos a máquinas,

equipamentos, instalações e subcontratadas (OLIVEIRA, 2005). A implementação

de procedimentos para identificar casos de emergência e responder aos mesmos

deve ser pensada. A eficácia dos procedimentos deve ser testada e avaliada

periodicamente.

As instruções de trabalho devem ser claras o suficiente para identificar os perigos

associados a operações, atividades e serviços do local de trabalho. Devem-se

implementar medidas para controlar as atividades identificadas na avaliação de

riscos e perigos, de forma a atingir os objetivos da organização e evitar lesões e

Page 90: Filho.condicoes de Agravos

90

danos à saúde. É preferível que as medidas sejam incorporadas em outros

procedimentos, instruções de trabalho e protocolos de ação (OLIVEIRA, 2005).

Todos os funcionários devem ser competentes, treinados e equipados para

realizar as ações sob sua responsabilidade e para implementar as políticas e os

procedimentos relativos à saúde e à segurança no trabalho. O treinamento

mínimo é aquele exigido por lei e não deve ser ministrado apenas por esse

motivo. Deve, sim, ser criada uma cultura de treinamento regular que envolva

todos os níveis da organização e que traga práticas bem-sucedidas de prevenção

em saúde no trabalho. Todos os funcionários devem receber informações

adequadas em relação aos respectivos ambientes de trabalho e ser regularmente

conscientizados dos perigos associados à sua atividade. Também devem receber

instruções, principalmente antes do início do trabalho, sobre como realizar as

tarefas com segurança, dentro dos limites legais, como prevenir e evitar acidentes

e como reagir em casos de emergência. Nesse contexto estão incluídos

empregados de todos os níveis, inclusive supervisores e gerentes.

A verificação de melhoria contínua deve ser feita com indicadores objetivos para

medir regularmente o desempenho da saúde e segurança em relação aos

objetivos (OLIVEIRA, 2005). Quando forem observadas não-conformidades,

devem ser adotadas ações corretivas para reduzir as conseqüências das mesmas

e a possibilidade de que voltem a ocorrer. Sempre que possível devem ser feitas

análises para determinar as causas da não-conformidade. Devem ser feitas

previsões para a melhoria contínua das medidas de saúde e segurança com base

em lições aprendidas, no benchmarking e em novas tecnologias (OLIVEIRA,

2005). A investigação de lesões, doenças e situações de quase perda deve ser

feita por uma equipe multidisciplinar competente, assim como deve guiar a futura

redução de riscos e servir de base para a melhoria contínua da saúde e da

segurança.

A organização deve criar e manter registros para demonstrar que foram

implementadas as medidas para a gestão da saúde e da segurança no trabalho,

inclusive com documentação de desempenho. É necessário criar e manter

registros para fins legais (PORTARIA 3214/78).

Page 91: Filho.condicoes de Agravos

91

Segundo Sherique (2002), os esforços de prevenção de acidentes e doenças

ocupacionais no Brasil têm evoluído de forma significativa, movidos em parte por

fatores endógenos fundados no fortalecimento das instituições nacionais, da

regulamentação e das práticas de gerência e de diálogo social, mas movidos

também por tendências e fatores externos que merecem aqui uma breve reflexão.

O panorama mundial de segurança e saúde no trabalho (SST) é chocante. Em

1999, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou cifras anuais de

mais de 250 milhões de acidentes de trabalho, 350 mil acidentes fatais e 1,1

milhões de mortes por acidentes e doenças ocupacionais. Cerca de 1000

pessoas, por dia, não voltavam vivas do trabalho. A OIT estimou ainda entre 10 e

100 incidentes por cada acidente de trabalho e 750 a 1000 acidentes por cada

fatalidade.

Esse quadro mundial cobre, porém, uma enorme disparidade entre os países.

Coeficientes nacionais de morte ocupacional em alguns países em

desenvolvimento são 20, 30 vezes maiores do que em alguns países

industrializados. Essa disparidade é incompatível com as expectativas da

globalização, em particular, com o aumento recente da mobilidade internacional

das empresas e de consórcios entre empresas de países industrializados e em

desenvolvimento, que transferem para os países em desenvolvimento a sua

produção suja, ou seja, a parte ruim da operação industrial, confiantes em que as

legislações locais não são tão eficientes para a fiscalização dos ambientes de

trabalho. Nos países de origem ficam apenas as produções mais limpas, menos

agressivas ao ser humano e ao meio ambiente.

Contudo, diversas iniciativas internacionais, nacionais, regionais e empresariais

vêm surgindo para melhorar o quadro de segurança e saúde ocupacional no

mundo e reduzir a disparidade entre países.

A OIT, por sua única estrutura tripartite e seu singular papel normativo, tem feito

esforços importantes através de convenções e recomendações, de códigos de

práticas e sistemas de informações apoiadas numa rede de entidades nacionais,

de muitas publicações e da cooperação técnica envolvendo diversas entidades

nacionais e algumas internacionais, em particular, a Agência Internacional de

Page 92: Filho.condicoes de Agravos

92

Seguridade Social (AISS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). O repertório

de diretrizes de Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SG-SST

2001) oferece uma base flexível para iniciativas de caráter tripartite em nível

nacional. Os instrumentos normativos e de cooperação técnica da OIT estão

sendo, todavia, suplementados e fortalecidos pela atuação importante de outras

instituições internacionais, tais como a Organização Internacional para a

Padronização (ISO) e a Social Accountability Internacional (SAI).

Em 29 de dezembro de 1994, o Ministério do Trabalho aprovou o novo texto da

NR-9. E, em 15 de fevereiro de 1995, o texto legal foi publicado no Diário Oficial

da União, estabelecendo a obrigatoriedade de elaboração e implementação do

Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA – por parte de todos os

empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados.

O PPRA do estabelecimento deve estar descrito em um documento base,

contendo os aspectos estruturais do programa, a estratégia e a metodologia de

ação, a forma de registro, a manutenção e a divulgação dos dados, a

periodicidade e a forma de avaliação do desenvolvimento do programa, bem

como o planejamento anual com o estabelecimento das metas a serem cumpridas

e com os prazos para sua implantação conforme cronograma preestabelecido

(NR-09).

O estudo, o conhecimento e a aplicação desses programas estão diretamente

relacionados aos sistemas de gestão que ora estão se tornando freqüentes nas

empresas modernas de todo o País. No entanto, o grande problema dos

acidentes de trabalho encontra-se nas micro e pequenas empresas, que, sem

condições de financiar a produção, de comprar máquinas melhores e de investir

na saúde do trabalho, vão se tornando ao longo do tempo deficitárias, acumulam

enorme passivo trabalhista, deixando para trás um rastro de agressões e

violências sobre o trabalhador, que, em última instância, acaba se aportando na

Previdência Social, que, sem uma estrutura apta para receber esses lesionados,

os mantêm por longos períodos sem nenhuma esperança de reabilitação ou

readaptação profissional, recebendo auxílio doença na maioria da vezes, pois as

empresas ou não reconhecem o acidente de trabalho ou simplesmente o ignoram,

apostando na impunidade reinante no País. Muitas vezes, este trabalhador

Page 93: Filho.condicoes de Agravos

93

vitimado por acidente de trabalho se vê obrigado a processar a empresa e

aguardar a boa vontade da Justiça do Trabalho por longo tempo. Nesse intervalo,

porém, acaba falecendo, e somente após anos de luta é que a família consegue

algum amparo via judicial.

O modelo atual de PPRA define como foco central das atenções dos profissionais

que o realizam os riscos ambientais existentes ou que venham a existir no

ambiente de trabalho. Essa mudança na forma de avaliação e de modelo de

prevenção dos riscos é que possibilitará às empresas a implantação de um

sistema de gestão voltado para a segurança e saúde do trabalhador, já que esses

sistemas utilizam programas e ferramentas de prevenção para a busca da

melhoria contínua dos ambientes de trabalho. Segundo Oliveira (1999), a

aplicação do ciclo PDCA, em todas as suas fases, e o conseqüente realinhamento

das atividades de segurança e saúde do trabalhador necessitam das premissas

de que gerenciar é um procedimento complexo, afeto à mente, distante do ato de

“fazer”, e o conhecimento aprofundado do processo é o ponto de partida para

qualquer incursão no terreno gerencial. Não é fácil substituir o comportamento de

um adulto que vinha executando uma tarefa da mesma forma há anos e anos por

um outro considerado mais técnico e científico. Por outro lado, a participação dos

trabalhadores, seja na identificação de riscos, seja na discussão de medidas de

controle, é decisiva na aplicação do método PDCA (Planejar, Desenvolver,

Checar, Auditar).

Page 94: Filho.condicoes de Agravos

94

P

DC

A

Definir novas metas

Definir ação corretiva

Analisar os desvios

Comparar resultados com as

metas

Executar conforme planejado

Comunicar/Treinar os envolvidos

Definir Metas e Meios

Qual é o objetivo ?

Figura 1: Ciclo PDCA Fonte: Hortensius et al, 2004.

O trabalhador poderá não saber, com precisão, as causas fundamentais de um

problema de segurança relacionado ao seu trabalho, mas é ele quem sofre os

efeitos deletérios do mesmo. Daí a necessidade de ouvi-lo. Ouvi-lo e não

responsabilizá-lo pelo que há de errado na organização e nos métodos de

trabalho. Isso é tarefa do empregador e/ou de seus prepostos.

Ainda segundo Oliveira (1999), as Razões que contribuem para a Criação e

Manutenção de um Problema-Risco são várias. Entre elas podem ser citadas: as

pessoas envolvidas com o risco não tinham a real percepção da existência do

mesmo. Não sabiam que aquela situação presente constituía risco potencial à

integridade física e/ou mental dos trabalhadores ou ainda ao patrimônio da

empresa. A evolução e a maturidade de um programa de segurança do trabalho

numa empresa percorrem quatro estágios distintos, a saber, conforme Oliveira

(2005):

Page 95: Filho.condicoes de Agravos

95

Quando a empresa atua nas conseqüências. Apareceu um problema, corrige;

apareceu outro, corrige; porém não se preocupa com o aspecto preventivo

(administração por crise).

Quando a atribuição de fazer segurança fica a cargo exclusivamente do

Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do

Trabalho da empresa. Nesse estágio, todas as atividades afetas à segurança

e à saúde dos trabalhadores são de total responsabilidade do serviço de

segurança e saúde. Não fazem parte das atividades correntes do negócio, são

tratadas em separado e por um organismo específico.

A terceira fase instala-se quando as questões de segurança e saúde do

trabalhador passam a ser entendidas como parte integrante dos processos e

métodos de trabalho, conseqüentemente incorporadas às atribuições dos

gerentes, aos quais cabe a responsabilidade de conduzir o processo e

responder por ele.

Nas empresas situadas na 4ª fase, tudo o que diz respeito à segurança/saúde

dos trabalhadores passa a ser parte integrante do seu núcleo central de

negócios. Nesse momento não há mais discussões em separado sobre o tema

– que merece a mesma atenção que as demais tarefas e atividades na

organização – elas passam a ser conduzidas por todos que trabalham na

organização, evidentemente que por decisão da alta direção da empresa.

O bom desempenho da saúde e segurança não é casual. As organizações devem

dispensar a mesma importância à obtenção de altos padrões de gerenciamento

de saúde e segurança como o fazem em relação a outros aspectos chaves de

suas atividades empresariais. Isso requer a adoção de uma abordagem

estruturada para a identificação, avaliação e controle dos riscos relacionados com

o trabalho.

O sistema de gerenciamento de saúde e segurança deve ser concebido para

acomodar ou adaptar-se aos fatores internos e externos e, principalmente devem

ser concebidos para as micro e pequenas empresas em especial. O levantamento

periódico da situação também proporciona uma oportunidade de realizar

previsões.

Page 96: Filho.condicoes de Agravos

96

4. MATERIAL E MÉTODO

4.1 Delineamento do estudo

Em relação aos seus objetivos gerais, esta pesquisa poderia ser classificada

como descritiva, na medida em que focaliza as características de um determinado

grupo em termos socioeconômico, demográfico e epidemiológico. Todavia, como

ela vai além da simples análise de relações entre variáveis, buscando determinar

a natureza dessas relações, tem-se aqui um caso particular, no qual a pesquisa

descritiva se aproxima da explicativa, ou seja, na medida em que busca identificar

os “fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos”

(GIL, 1999, p. 42). Ademais, bifurca-se em duas dimensões: uma teórica, outra

prática (VERGARA, 2000). De dimensão teórica porque considera as nuances

interdisciplinares na compreensão dos determinantes dos acidentes de trabalho

nas PME, ou seja, atém-se a especificidades que se remetem a questões de

cunho mais epistemológico. De dimensão aplicada porque busca gerar subsídios

à melhoria dos sistemas de gestão em saúde ocupacional que resultem em ações

preventivas mais efetivas em termos de eficiência e eficácia, concretamente

direcionadas ao setor moveleiro do País.

Quanto ao delineamento da pesquisa, tem-se aqui uma sorte de levantamento

detalhado que seria mais bem caracterizado como estudo de caso – i. é, voltado

para o setor moveleiro –, que inclui elementos do estudo de campo, onde se

busca uma análise exaustiva e aprofundada de um problema concreto, “de

maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado, tarefa praticamente

impossível mediante os outros tipos de delineamentos considerados” (GIL, 1999,

p. 72-73). Ainda segundo o autor, embora apresente problemas e mesmo limites

intrínsecos, o estudo de caso, cada vez mais presente entre os pesquisadores

sociais, se prestaria também a diferentes propósitos, como:

“a) explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos;

b) descrever a situação do contexto em que está sendo feito determinada investigação;

c) explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam utilização de levantamentos e experimentos” (GIL, 1999, p. 73).

Page 97: Filho.condicoes de Agravos

97

Importante é destacar que essa estratégia constitui em importante antídoto ao

risco de se cair na armadilha do inadequado indutivismo, embora se espere que o

presente estudo possa gerar importantes subsídios à compreensão e,

especialmente, às intervenções em situações concretas específicas e imediatas.

Em outras palavras, o presente estudo suporta-se em pesquisa sistemática

quantitativa de âmbito nacional do tipo ex-post-facto, porém envolvendo

levantamentos sistemáticos geograficamente localizados, através de estudos de

campo sobre casos específicos e remetidos a diferentes ramos da atividade

industrial, ou seja, em segmentos produtivos consoante áreas socioespaciais

previamente selecionadas.

A pesquisa de fundo na qual se apóia este estudo denomina-se “Acidentes do

trabalho em pequenas e micro empresas industriais nos ramos moveleiro,

calçadista e de confecções”, que, envolvendo ação cooperativa entre a

FUNDACENTRO e o SESI, e recursos financeiros da própria FUNDACENTRO e

do SEBRAE, tem a sua execução direta coordenada pela FUNDACENTRO,

através de seu Subprograma Nacional de Melhoria das Informações Estatísticas

sobre Doenças e Acidentes do Trabalho (PRODAT). Já tendo encerrado todos os

levantamentos relativos ao ramo moveleiro nos Estados de Minas Gerais, Paraná,

Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a pesquisa ainda se encontra em

andamento, na fase de realização de levantamentos complementares em relação

aos ramos calçadista e de confecções.

Em si, a pesquisa, envolvendo a busca ativa, tem ainda característica de

pesquisa documental, na qual a coleta de dados é feita através da transcrição

padronizada de informações de arquivos para um formulário específico e já

devidamente testado em outros levantamentos de dados pela FUNDACENTRO e

a Fundação SEADE. Por outro lado, na abordagem como estudo de caso, foi

realizada uma pesquisa empírica de caráter qualitativo sobre os acidentes de

trabalho e o seu contexto real – procedimentos que, na busca da explicação do

fenômeno acidente de trabalho via análise de um conjunto de variáveis,

possibilitam, por outro lado, avançar na análise comparativa per si, ao

qualificarem o perfil, as tendências e as variações dos acidentes de trabalho em

diferentes contextos dos ramos de atividades selecionados.

Page 98: Filho.condicoes de Agravos

98

Enfim, essa pesquisa pressupõe a busca ativa de informações como forma de

apreensão dos fatos e das variáveis investigadas, exatamente onde, quando e

como ocorreram. Os dados foram coletados de forma sistematizada, padronizada,

e organizados em banco de dados construídos para esse fim. O tipo de técnica de

coleta de dados utilizado poderia ser igualmente caracterizado como de

observação direta extensiva, realizada por meio do preenchimento de formulários,

o que pressupõe trabalhar com o universo total da população acidentes de

trabalho de acordo com os critérios amostrais selecionados. Com isso, foi

possível a obtenção direta do material sem intermediários. De acordo com Lima

(2004), o formulário é um instrumento de coleta de dados com o qual, sob a

orientação de um roteiro de questões, o pesquisador aborda, questiona e registra

dados obtidos através de contatos diretos.

4.2 Estratégias da pesquisa

Neste estudo utilizou-se como principal fonte de informação parte da base de

dados da pesquisa mais ampla iniciada em 2005, referida anteriormente. Todavia,

este estudo utilizou apenas os dados referentes aos acidentes de trabalho

ocorridos no setor moveleiro.

A metodologia empregada neste trabalho procurou seguir criteriosamente seis

passos:

4.2.1 Conceituação das MPE

O processo de escolha dos municípios que fizeram parte desta pesquisa contou

com a pesquisa exploratória como meio de conhecer e selecionar os casos mais

relevantes em termos de concentração das micro e pequenas empresas do setor

moveleiro nos estados e municípios brasileiros, através de registros da Relação

Anual de Informações Sociais (RAIS, 2003).

De acordo com o SIMPLES e a Lei 9.317/96, microempresa é a pessoa

jurídica/firma individual que possui receita bruta anual igual ou inferior a R$

244.000,00. E, de acordo com o art. 2º da Lei 9.841/99, empresa de pequeno

porte é a pessoa jurídica/firma individual que, não sendo classificada como

microempresa, possui receita bruta anual igual ou inferior a R$ 1.200.000,00.

Page 99: Filho.condicoes de Agravos

99

Contudo, o IBGE e o SEBRAE classificam o porte das empresas pelo número de

pessoas ocupadas ou que trabalham nessas empresas. Desse modo, as

microempresas corresponderiam aos estabelecimentos com até 19 funcionários e

a pequena empresa seria aquela com o número de pessoas ocupadas

compreendido no estrato de 20 e 99 empregados.

Com base na definição acima, foram considerados, para fins deste trabalho, os

estabelecimentos com até 99 empregados, uma vez que o universo da pesquisa

se concentra nas micro e pequenas empresas.

Com base nos relatórios de 2003 da RAIS (Relação Anual de Informações

Sociais), do Ministério do Trabalho e Emprego, foram utilizadas as seguintes

variáveis no estudo exploratório para a identificação das micro e pequenas

empresas:

Geografia

Unidade da federação.

Município de localização do estabelecimento.

Estabelecimento

Faixa de tamanho do estabelecimento (TAMESTAB)

Setor

Grande setor de atividade econômica (IBGE), (GRSET IBGE)

Setor de atividade econômica (IBGE), (SET IBGE)

Subsetor de atividade econômica (IBGE), (SUBS IBGE)

Seção de atividade econômica (CNAE 95)

Grupo de atividade econômica (CNAE 95)

Divisão de atividade econômica (CNAE 95)

Classe de atividade econômica (CNAE 95)

Page 100: Filho.condicoes de Agravos

100

4.2.2 Ramo de atividade

O setor de atividade de interesse – moveleiro – foi selecionado a partir dos

Grupos da Classificação Nacional da Atividade Econômica (95), e não pela

classificação por setor de atividade do IBGE, pois que esta classifica de forma

mais agregada as informações, não possibilitando, assim, uma escolha precisa

dos setores de interesse da pesquisa.

Um resumo das informações obtidas pela Classificação Nacional da Atividade

Econômica (95) pode ser observado a seguir:

Grupo 361 – Fabricação de artigos do mobiliário

3611-0 Fabricação de móveis com predominância de madeira

3612-9 Fabricação de móveis com predominância de metal

3613-7 Fabricação de móveis de outros materiais

3614-5 Fabricação de colchões

Foram selecionados também todos os trabalhadores terceirizados que estavam

trabalhando em empresas do ramo moveleiro, conforme a descrição do local de

trabalho, a descrição do acidente de trabalho, a descrição do local do acidente,

embora a classificação CNAE (95) seja para empresas do tipo serviços.

A seleção dessas empresas teve por base o cadastro nacional de pessoa jurídica

(CNPJ) inscrito na Comunicação de Acidente do Trabalho, no campo referente ao

CNPJ da empresa onde efetivamente ocorreu o acidente de trabalho.

4.2.3 Universo de estudo e abrangência geográfica

Todos os registros de acidentes do trabalho ocorridos nos pólos moveleiros de

Ubá (Minas Gerais), Arapongas e Maringá (Paraná), São Bento do Sul (Santa

Catarina) e Bento Gonçalves (Rio Grande do Sul) foram levantados no projeto de

pesquisa desenvolvido pela parceria FUNDACENTRO/SESI/SEBRAE, nas

Agências da Previdência Social que respondiam pelos atendimentos dos

Page 101: Filho.condicoes de Agravos

101

segurados nas respectivas regiões descritas. A abrangência dessas agências da

não coincide com a abrangência geográfica dos pólos moveleiros.

O universo em estudo compreende os municípios participantes dos pólos

moveleiros nas respectivas regiões, e os acidentes do trabalho levantados foram

os relacionados à área de abrangência das respectivas Agências da Previdência

Social:

• Pólo moveleiro de Ubá (Agencia da Previdência Social de Ubá):

primeiro pólo moveleiro de Minas Gerais. Suas indústrias são, na maioria,

micro e pequenas empresas. Na microrregião de Ubá existem 310

indústrias entre micro, pequenas, médias e grandes empresas do setor,

que empregam aproximadamente 7.000 pessoas. As principais cidades

envolvidas no pólo moveleiro são: Guidoval, Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro,

São Geraldo, Tocantins, Ubá e Visconde do Rio Branco.

• Pólo moveleiro de Arapongas (Agência da Previdência Social de

Arapongas): segundo pólo moveleiro mais importante do Brasil. É

composto pelos municípios: Apucarana, Arapongas, Califórnia, Cambé,

Cambira, Jandáia, Londrina, Manguari, Marialva, Maringá, Rolândia,

Sabaudia e Sarandi.

• Pólo moveleiro de São Bento do Sul (Agência da Previdência Social de São Bento do Sul): composto pelos municípios: São Bento do Sul, Rio

Negrinho, Coronel Freitas, Pinhalzinho e São Lourenço do Oeste.

• Pólo moveleiro de Bento Gonçalves (Agência da Previdência Social de

Bento Gonçalves): composto pelos municípios: Bento Gonçalves, Caxias

do Sul, Restinga Seca, Santa Maria, Erechim, Lagoa Vermelha, Passo

Fundo, Canela, Flores da Cunha, Gramado.

4.2.4 Período de referência

A analise compreendeu o período entre 01 de janeiro de 2002 e 31 de dezembro

de 2004, e a coleta de dados se deu entre agosto de 2005 e dezembro de 2005.

Page 102: Filho.condicoes de Agravos

102

4.2.5 Fonte e coleta dos dados

4.2.5.1 Principal fonte de informações

A principal fonte de informações para a realização deste projeto foi a base de

dados sobre acidentes de trabalho da pesquisa FUNDACENTRO/SESI/SEBRAE,

que contém registros dos acidentes de trabalho ocorridos entre a população

cadastrada na Previdência Social, nos pólos moveleiros de Ubá, Arapongas e

Maringá, São Bento do Sul e Bento Gonçalves.

As informações contidas nessa base de dados foram transcritas principalmente da

Comunicação de Acidente do Trabalho e de outros documentos que pudessem

acompanhar os respectivos processos, como boletim de ocorrência e atestado de

óbito.

Ao se considerarem outros documentos anexados ao processo, não apenas a

CAT, tentou-se assegurar o preenchimento de todos os campos existentes no

formulário de coleta de dados (ANEXO A) e padronizar as informações que, uma

vez obtidas por meio de registros oficiais, costumam não seguir nenhuma

padronização (PEREIRA, 1995).

4.2.5.2 Outras fontes de dados utilizadas

O presente estudo também utilizou outras fontes de informações quantitativas,

como:

Relação Anual de Informações Sociais (RAIS 2003)

Censo Demográfico de 2000, do Banco Multidimensional de Estatística do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Grande setor de atividade econômica (IBGE), (GRSET IBGE)

Setor de atividade econômica (IBGE), (SET IBGE)

Subsetor de atividade econômica (IBGE), (SUBS IBGE)

Classificação Nacional da Atividade Econômica

Page 103: Filho.condicoes de Agravos

103

Seção de atividade econômica (CNAE 95)

Grupo de atividade econômica (CNAE 95)

Divisão de atividade econômica (CNAE 95)

Classe de atividade econômica (CNAE 95)

Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

Sistema de Informações sobre Mortalidade (DATASUS)

Todas essas fontes foram utilizadas com o intuito de caracterizar o painel

sociodemográfico da população em pauta.

4.2.5.3 Coleta de dados

Diante da dificuldade de obterem informações mais detalhadas sobre os

acidentes de trabalho via publicações oficiais, especificamente relacionados à

população trabalhadora nas micro e pequenas empresas, por ramos de atividade

econômica, SESI e FUNDACENTRO realizaram um levantamento, em todas as

agências da Previdência Social e nas Secretarias Municipais de Saúde dos pólos

moveleiros objeto deste estudo, dos acidentes de trabalho e dos óbitos

registrados no período compreendido entre 2002 e 2004, que foram transcritos

para um formulário previamente elaborado (ANEXO A).

Além dos dados existentes nas CAT, foi analisada e transcrita para o formulário

(ANEXO A) toda documentação que pudesse ser anexada aos respectivos

processos – laudos médicos, boletins de ocorrência policial, certidões de óbito,

certidões de casamento, xerox da carteira profissional, carteiras de identidade e

outros – e servisse de fonte de informação. A intenção era coletar o máximo de

informações que pudessem fazer parte do processo na Previdência Social e que

não estavam registrados nas CAT. Enfim, foram preenchidos todos os campos

que porventura estivessem em branco nas CAT ou não existissem.

A transcrição de dados da CAT foi realizada de forma manual por equipes móveis

de coletores previamente selecionados e capacitados para esse fim. A seleção

dos coletores firmou-se em suas experiências profissionais e na formação

Page 104: Filho.condicoes de Agravos

104

escolar, tendo sido priorizados os conhecimentos na área de pesquisa; noções de

arquivo e de organização de documentos; caligrafia boa, legível e clara, de modo

a não perder informações na transcrição da CAT; seriedade e postura ética de

cada um; disponibilidade de viagens; disponibilidade para treinamento; fácil

relacionamento social, etc.

Posteriormente, os candidatos selecionados participaram de um curso específico

de capacitação de 16 horas-aula, que compreendeu noções básicas sobre o

funcionamento da Previdência Social, as leis referentes aos acidentes de

trabalho, as formas de preenchimento da Comunicação de Acidente do Trabalho,

as leis referentes aos atestados de óbito e à declaração de óbito, as formas de

preenchimento desses documentos. Profissionais de pesquisa da Fundação

SEADE ministraram aulas sobre noções básicas de coleta de dados e formação

de questionário de pesquisa. Os candidatos selecionados ficaram cientes da

metodologia desenvolvida por Waldvogel (2003) e participaram da discussão da

reformatação do formulário de coleta de dados da CAT. Todos os participantes

puderam debater exaustivamente a metodologia sugerida por Waldvogel (2003),

ajustada pela equipe coordenadora do projeto através de reavaliações dos dados

dos sistemas de informação da Previdência Social.

4.2.5.4 Configuração do banco de dados da Fundacentro

A busca ativa de cada acidente de trabalho foi efetivada através do Sistema Único

de Benefícios da Previdência Social e comparada com os acidentes de trabalho

que geraram benefícios previdenciários. Feito o cruzamento das informações

contidas no Sistema Prisma da Previdência Social com as informações dos

arquivos, encontraram-se incorreções, que foram prontamente corrigidas. Fez-se

ainda o cruzamento de informações geradas em relatórios próprios do Sistema

Prisma, tais como:

a) relatório contendo todas as CAT emitidas pela Previdência Social no

período de 2002 a 2004 e cruzamento com todos os processos

arquivados de acidente de trabalho;

Page 105: Filho.condicoes de Agravos

105

b) relatório contendo todas as CAT emitidas no período de 2002 a 2004

associadas com o cadastro geral de contribuintes e as datas dos

respectivos acidentes de trabalho;

c) relatório contendo as datas de início e cessação do benefício de todas

as CAT no referido período;

d) relatório contendo todas os benefícios de acidente de trabalho

transformados em aposentadoria por invalidez ou pensão por morte.

Portanto, os ajustes feitos na metodologia proposta por Waldvogel (2001) tiveram

como finalidade fazer o cruzamento de todas as informações referentes aos

acidentes de trabalho contidas nos sistemas informatizados da Previdência Social

e, dessa forma, obter dados com maior abrangência e confiabilidade técnica.

Os óbitos ocorridos em decorrência de acidentes de trabalho foram elencados

com base no Sistema Nacional de Pensão por Morte da Previdência Social

(Sistema Plenus), enquanto as informações relativas a cada Secretaria de Saúde

das áreas em estudo foram cruzadas através do Sistema de Informações de

Mortalidade – SIM.

A metodologia proposta para a construção de um banco de dados relativo aos

casos fatais de acidentes de trabalho – tipo e de trajeto – adota a técnica de

vinculação entre duas fontes de dados, modificada pela equipe de coletores para

a vinculação com cinco fontes de dados: os processos de acidentes do trabalho

do INSS e as declarações de óbito processadas pelos órgãos responsáveis em

cada área considerada, cruzados com as informações contidas no Sistema Único

de Benefícios, no Sistema Prisma e no Sistema Nacional de Pensão por Morte –

parte integrante do Sistema Plenus da Previdência Social – considerando-se os

ajustes referidos na metodologia proposta por Waldvogel (2001, 2002), quando

então se consideraram outros processos. Isso porque se entende que a

vinculação com outras fontes de dados do próprio INSS, com a finalidade de

maximizar a utilização dos dados administrativos por meio de uma busca ativa e

do cruzamento sistemático das informações obtidas, avança na busca do número

real dos acidentes de trabalho, das doenças ocupacionais e dos óbitos.

Page 106: Filho.condicoes de Agravos

106

Segundo Waldvogel (2001, 2002), tal procedimento permite compatibilizar as

informações disponíveis em cada fonte, enriquecendo o detalhamento dos dados

coletados e possibilitando ampliar o universo de casos fatais e também a

identificação daqueles casos que, apesar de notificados pelo médico como

acidente de trabalho na declaração de óbito, não resultaram em um processo

aberto no INSS, ou seja, permite identificar acidentes fatais relativos aos

trabalhadores não cobertos pelo INSS.

Registre-se, aliás, que este pesquisador participou de todas as fases do processo

de pesquisa, desde o treinamento até a coleta de dados, quando coordenou o

grupo de coletores e percorreu todos os pólos moveleiros selecionados.

Paralelamente ao levantamento de dados, uma equipe de profissionais, que

capacitou e supervisionou os codificadores durante todo o processo, encarregou-

se de elaborar listas de codificação para todas as variáveis levantadas. Com base

nessa lista, foram codificados todos os campos do formulário, digitados

posteriormente. Foram criados códigos específicos para cada variável existente:

para a variável ocupação, foram utilizados os códigos existentes na Classificação

Brasileira de Ocupações; para a variável município, utilizaram-se os códigos do

IBGE. Para as variáveis descrição do acidente (variável criada), parte do corpo

atingida, agente causador, descrição da situação geradora, houve registro policial,

houve morte, houve internação, duração provável do tratamento, deverá o

acidentado afastar-se do trabalho durante o tratamento, meios de locomoção

utilizados pelo segurado quando ocorreu o acidente, foram criadas listas

especiais, procurando-se contemplar todo o detalhamento disponível. A variável

diagnóstico provável seguiu o exposto no Código Internacional de Doenças (CID)

em sua 10ª edição.

Por fim, registre-se que o banco de dados resultante deste levantamento

representa um valioso instrumento para dimensionar e caracterizar demográfica,

socioeconômica e epidemiologicamente os casos de acidentes de trabalho

envolvendo trabalhadores consoante o universo da pesquisa: o setor moveleiro.

Como tal, este material representa importante subsídio tanto para se repensarem

modelos de gestão em saúde ocupacional como para a elaboração de políticas

preventivas na área. Ademais, ulteriores análises decorrentes da exploração

Page 107: Filho.condicoes de Agravos

107

destes dados, ou mesmo em novos estudos neles suportados, serão relevantes

para o conhecimento prévio da questão em níveis diferenciados e em outras

áreas selecionadas.

4.2.6 Análise dos dados

Como se viu, as informações coletadas foram remetidas a um banco de dados.

Isso possibilitou a elaboração de um plano tabular preliminar destinado à análise

estatística exploratória dos dados pertinentes aos casos de acidentes de trabalho

ocorridos no período e nas áreas selecionadas. Vale dizer: os valores relativos às

variáveis selecionadas, depois de avaliados criticamente, para fins de tabulação e

análise exploratória, foram transferidos para uma planilha eletrônica, o que, em

uma segunda fase, facilitou a acessibilidade, a organização e, sobretudo, uma

análise estatística definitiva dos mesmos. Em si, a análise estatística envolveu

dois níveis: primeiro, a descrição dos dados; segundo, a avaliação mediada pelo

marco teórico das generalizações obtidas a partir desses dados. Para isso,

também foram referidas as considerações pertinentes do capítulo 2.

Conseqüentemente, como resultado final, foi possível a montagem, em gráficos e

tabelas, das informações que consolidaram o conteúdo empírico da análise

apresentada no capítulo 5.

Em cada caso identificado levantaram-se diversas características do acidentado.

Nessa etapa foram consideradas as seguintes variáveis:

Ano do acidente de trabalho

Data de início do benefício

Data de cessação do benefício

Número do processo

Agência/Posto

Tipo de CAT

Razão Social/Nome

Page 108: Filho.condicoes de Agravos

108

Tipo (CNPJ, CGC, CEI, CPF, NIT)

CNAE

Telefone

Município da empresa e unidade da federação

Nome do acidentado, nome da mãe, data de nascimento, sexo, estado civil

Município do acidentado e unidade da federação

Nome da ocupação e CBO

Filiação à Previdência Social

Aposentado

Área urbana ou rural

Data, local, hora, tipo de acidente

Após quantas horas de trabalho

Especificação do local do acidente, município do acidente e unidade da

federação

Parte do corpo atingida

Agente causador

Descrição da situação geradora do acidente ou da doença

Houve registro policial, morte, internação

Duração provável do tratamento

Deverá o acidentado afastar-se do trabalho durante o tratamento

Diagnóstico provável, CID-10, CID informado

Questionário de responsabilidade do empregador

Page 109: Filho.condicoes de Agravos

109

Acidente ocorrido no trajeto

Meios de locomoção utilizados pelo segurado quando ocorreu o acidente

Observações do pesquisador

Os dados coletados passaram por um processo de crítica e revisão, realizado por

uma equipe de supervisores. Em seguida foram executadas as etapas de

codificação e digitação.

Tanto a codificação como a digitação sofreram varias etapas de consistência.

Depois de codificado, cada campo era revisto por outro codificador, que, na

dúvida, discutia o caso com o responsável pela supervisão. A digitação foi

realizada em duas fases, nas quais os dados eram comparados e checados

diariamente.

Após a etapa de consistência, os casos de acidentes de trabalho digitados foram

organizados em um banco de dados que correspondia aos registros dos

acidentes de trabalho efetuados nas agências da Previdência Social nos pólos

moveleiros selecionados, relativos aos anos de 2002, 2003 e 2004.

Inicialmente foram coletadas 3541 CAT, que passaram por um processo de critica

e revisão. Destas, 99 foram descartadas, por não preencherem os critérios

analisados (Tabela 11 a seguir).

Page 110: Filho.condicoes de Agravos

110

Tabela 11

Total de CAT coletadas por pólo moveleiro

Pólos Acidentes de

Trabalho Doenças

OcupacionaisAcidentes de

Trabalho Total

Arapongas 261 02 34 297

São Bento do Sul 2465 13 122 2600

Bento Gonçalves 248 11 16 275

Ubá 291 51 27 369

TOTAL 3265 (92,2%)

77 (2,17%)

199 (5,61%)

3541 (100%)

Fonte: Pesquisa SESI/SEBRAE/FUNDACENTRO (2005).

Inicialmente foram coletados 3541 acidentes de trabalho. Desses registros, 369

foram de Ubá: 291 acidentes tipo; 27 acidentes de trajeto, 51 doenças

ocupacionais. Em Arapongas, do total de 242 registros, 213 foram: acidentes de

trabalho tipo, 28 acidentes de trajeto e 01 doença ocupacional. Maringá

correspondeu com 55 registros: 48 acidentes típicos, 06 acidentes de trajeto e 01

doença ocupacional. Em São Bento do Sul, os números encontrados foram 2600:

2465 acidentes típicos, 122 acidentes de trajeto e 13 doenças ocupacionais.

Bento Gonçalves contribuiu com 275 registros, dos quais 248 foram acidentes

típicos, 16 acidentes de trajeto e 11 doenças ocupacionais.

A taxa de incidência dos acidentes de trabalho é um indicador da intensidade com

que estes acontecem e expressa a relação entre as condições de trabalho e o

quantitativo médio de trabalhadores a elas expostos. Essa relação constitui a

expressão mais geral e simplificada do risco. Seu coeficiente é definido como a

razão entre o número de novos acidentes de trabalho registrados a cada ano e a

população exposta ao risco de sofrer algum tipo de acidente.

Page 111: Filho.condicoes de Agravos

111

A taxa de incidência específica para acidentes de trabalho típicos considera, em

seu numerador, somente os acidentes típicos, ou seja, aqueles decorrentes das

características da atividade profissional desempenhada pelo acidentado.

A taxa de incidência específica para incapacidade temporária considera, em seu

numerador, os acidentes de trabalho nos quais os segurados ficaram

temporariamente incapacitados para o exercício de sua capacidade laboral.

A taxa de mortalidade mede a relação entre o número total de óbitos decorrentes

dos acidentes de trabalho verificados no ano e a população exposta ao risco de

se acidentar. Essa taxa pode ser calculada pela seguinte fórmula:

Entende-se por taxa de letalidade o maior ou menor poder que tem o acidente de

ter como conseqüência a morte do trabalhador acidentado. É um bom indicador

para medir a gravidade do acidente. O coeficiente é calculado pelo número de

óbitos decorrentes dos acidentes de trabalho e o número total de acidentes,

conforme descrito a seguir.

A taxa de Acidentalidade Proporcional Específica para a Faixa Etária de 16 a 34

anos tem por objetivo revelar o risco específico de acidentes para o subgrupo

populacional de trabalhadores nessa faixa etária de 16 a 34 anos, e pode ser

expressa como a proporção de acidentes ocorrida nessa faixa etária em relação

ao total de acidentes.

Page 112: Filho.condicoes de Agravos

112

Apesar de registrar acidentes mais distribuídos entre as faixas etárias, há uma

concentração relevante de registros entre a população trabalhadora com menos

de 40 anos, chegando a 79,94% em 2002, 81,94% em 2003 e 83,51% em 2004.

Page 113: Filho.condicoes de Agravos

113

5 . ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 Consolidação do banco de dados

No trabalho de crítica dos formulários destinados a suportar a construção da sub-

base moveleira foram excluídos todos os registros de indústrias correlatas ou não,

que não coincidiam com a área de interesse, ou seja, em termos de classificação

CNAE correspondente, ano de ocorrência e classificação segundo as categorias

de micro e pequena empresa adotadas neste estudo. Daí a retenção do universo

relativo à indústria moveleira, o correspondente a 3.442 acidentes ocorridos, e o

fato de não ter ocorrido perda de nenhum dado por falta de informação (ANEXO

B, Tabela 12).

0

500

1000

1500

2000

2500

0 2010-9 2021-4 2029-0 3611-0 3612-9 3613-7 3614-5 7450-0 7499-3 SemResposta

Gráfico 6: Representação gráfica da participação de acidentes do trabalho

por CNAE, nos pólos moveleiros, de 2002 a 2004

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados premilinares).

Verificaram-se registros de acidentes do trabalho em municípios ignorados (80

registros – 2,32% dos dados apurados). Desta feita, no sentido de se buscar

identificar informações que pudessem confirmar o local do acidente, com a

finalidade de não se perder nenhum registro por falta de informação e de

Page 114: Filho.condicoes de Agravos

114

consolidar o banco de dados, dentre outras variáveis, avaliou-se a unidade da

federação (UF) da empresa empregadora (Gráficos 7 e 8).

1272 346 369

2454

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

S/Especificação 43 (RG) 41 (PR) 31 (MG) 42 (SC)

Acidentes

Gráfico 7: Representação gráfica da participação de acidentes de trabalho por

UF total

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

0

500

1000

1500

2000

2500

43 (RG) 41 (PR) 31 (MG) 42 (SC)

Sem Especificação 2002 2003 2004

Gráfico 8: Representação gráfica da participação de acidentes do trabalho

por UF por ano

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 115: Filho.condicoes de Agravos

115

Quanto ao local de registro dos acidentes, aqui referidos aos municípios segundo

as suas respectivas unidades da federação, o pólo moveleiro de São Bento do Sul

foi o que apresentou maior número de acidentes do trabalho, enquanto nos

demais pôde-se observar uma igualdade mediana no registro dos mesmos

(Gráfico 9).

0

500

1000

1500

2000

2500

sem especificação Minas Gerais Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul

0 2002 2003 2004

Gráfico 9: Representação gráfica da participação de acidentes do trabalho por local (UF) onde o mesmo foi registrado

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Considerando-se o local da empresa, verificou-se maior incidência de acidentes

no pólo moveleiro de São Bento do Sul, permanecendo uma igualdade mediana

nos outros pólos objeto desta pesquisa. No entanto, em um número pequeno de

CAT, não foi observada a localização da empresa, nem foi possível identificá-la

através de outras variáveis pesquisadas (Gráfico 10 a seguir).

Page 116: Filho.condicoes de Agravos

116

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

Outros Empregador Prestadora Em via Pública Área Rural

0 2002 2003 2004

Gráfico 10: Representação gráfica da participação de acidentes de trabalho por local (localidade específica) onde aconteceu o acidente

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Mesmo retendo o município de localização da empresa e de moradia do

acidentado, constatou-se uma pequena proporção de CAT não respondidas

nesses campos, assim como não foi possível identificar nas mesmas outras

variáveis que a isso respondessem. Uma informação importante para a

verificação, dentre outras variáveis, é aquela relacionada com o transporte desses

trabalhadores, uma vez que o ambiente de trabalho extramuros tem uma

importante participação na gênese do acidente de trabalho (WALDVOGEL, 2002),

como demonstra o Gráfico 11 a seguir.

Page 117: Filho.condicoes de Agravos

117

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

TOTAL S/Especificação 2002 2003 2004

Mesma Localidade (Empresa e Acidentado) Diferente Localidade (Empresa e Acidentado)

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

TOTAL S/Especificação 2002 2003 2004

Mesma Localidade (Empresa e Acidentado) Diferente Localidade (Empresa e Acidentado)

Gráfico 11: Representação gráfica da participação das proporções (porcentagem e numéricas) de acidentes do trabalho onde o trabalhador e a empresa se situam na mesma localidade ou em localidades diferentes

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 118: Filho.condicoes de Agravos

118

A freqüência de preenchimentos errados ou a falta de preenchimento de

dados relacionados à localidade da empresa e moradia do acidentado foi

assim distribuída: Ubá (0,029%), Arapongas (0,203%), Maringá (0 %), São

Bento do Sul (0,784%) e Bento Gonçalves (0 %). Dentre esses pólos

moveleiros, destaca-se o de São Bento do Sul, com 0,784% (Tabela 13 a

seguir).

Tabela 13

Registro dos Emitentes da CAT por Pólo Moveleiro

PÓLO MOVELEIRO EMITENTE DA

CAT SEM

ESPECIFICAÇÃO

UBÁ MARINGÁ ARAPONGAS SÀO BENTO

DO SUL

BENTO

GONÇALVES

Sem especificação

1 44

Empregador 13 362 56 238 2450 267

Sindicato 1 1 4

Médico 3

Segurado ou Dependente

2

Autoridade Pública

TOTAL 13 366 56 239 2496 271

Sem especificação

0,00% 0,00% 0,00% 0,03% 1,28% 0,00%

Empregador 0,38% 10,52% 1,63% 6,91% 71,18% 7,76%

Sindicato 0,00% 0,03% 0,00% 0,03% 0,00% 0,12%

Médico 0,00% 0,09% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%

Segurado ou Dependente

0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,06% 0,00%

Autoridade Pública

0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%

TOTAL 0,38% 10,64% 1,63% 6,97% 72,52% 7,88%

Fonte de Pesquisa: Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Importante é salientar a necessidade do preenchimento correto dos dados de

localização da empresa, do local do acidente e da moradia do acidentado para

avaliações estatísticas e implantação de políticas públicas específicas e

localizadas. Muitas empresas têm sua sede administrativa em municípios

diferentes do seu local de produção, e muitos trabalhadores dependem de

deslocamento para chegar aos seus locais de trabalho. Dessa forma, o não

Page 119: Filho.condicoes de Agravos

119

preenchimento desses dados implica maiores dificuldades para a criação de

políticas públicas específicas.

De todos os registros, 76,84% foram de acidentes típicos, 77% doenças do

trabalho e 5,58% acidentes de trajeto. Foram registrados 15,34% de acidentes

sem especificação (Gráficos 12 e 13 a seguir).

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

Total sem especificação 2002 2003 2004

Sem Especificação Típico Doença Trajeto

Gráfico 12: Representação gráfica da participação dos tipos de acidentes de trabalho por registros efetuados por ano

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 120: Filho.condicoes de Agravos

120

0

500

1000

1500

2000

2500

semespecificação

Ubá Maringá Arapongas São Bento doSul

BentoGonçalves

0 Típico Doença Trajeto

Gráfico 13: Representação gráfica da participação dos tipos de acidentes de trabalho nos registros efetuados por pólo moveleiro

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Desses registros, 74,03% eram de acidentes típicos cuja empresa situava-se

dentro do município e 5,17% de acidentes de trajeto – estes últimos, nas

empresas localizadas fora do município, corresponderam a 0,41% (Gráfico 14 a

seguir). Esses dados mostram a importância da violência urbana como fonte

geradora de acidentes do trabalho e remete à necessidade de políticas públicas

no controle do trânsito das cidades.

Page 121: Filho.condicoes de Agravos

121

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

Total S/Espec. Típico Doença Trajeto

Empresa e Acidente no mesmo Município Empresa e Acidente em Municípios diferentes

Gráfico 14: Representação gráfica do registro de ocorrência dos tipos de acidentes de trabalho no mesmo município da empresa empregadora ou em municípios diferentes

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Como o local do acidente de trabalho (empresa) não foi preenchido em 6,71% dos

casos (Gráfico 15), optou-se pelo cadastro nacional de pessoa jurídica.

Page 122: Filho.condicoes de Agravos

122

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

S/Espec. Estabelecimentoda Empregadora

Empresa quepresta Serviço

Em Via Pública Em Área Rural Outros

TOTAL Percentual

Gráfico 15: Representação gráfica do local do acidente de trabalho

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Verificou-se que, de todos os registros, 1,54% não continham a especificação do

acidente de forma clara e consistente (Tabela 14 a seguir) Nota-se, na leitura das

CAT, falta de critério ou mesmo desinformação por parte do responsável pelo

preenchimento das informações, pois há confusão explícita entre situação

geradora do acidente, descrição do local do acidente, agente causador e parte do

corpo atingida. Para uniformidade na interpretação desses dados, foi necessário o

agrupamento de dados compatíveis nos campos de preenchimento da CAT

nesses aspectos.

Page 123: Filho.condicoes de Agravos

123

Tabela 14

Distribuição por Ano dos Acidentes de trabalho Distribuídos pela Situação Geradora

SITUAÇÃO GERADORA

ANO DE REGISTRO TOTALIZAÇÕES

SEM ESPEC. 2002 2003 2004 Quantidade %

Máquina 17 508 606 605 1.736 50,44 Organização Trabalho 6 269 237 276 788 22,89 Ergonomia 3 79 87 89 258 7,50 Trajeto 3 68 66 90 227 6,60 Queda Altura 5 67 65 78 215 6,25 Agressão - 1 - - 1 0,03 Desconhecido 2 13 19 19 53 1,54 PAIR - 15 13 15 43 1,25 Acidente Químico - 8 5 12 25 0,73 Impacto contra Objeto - 15 20 35 70 2,03 Assalto - 2 - - 2 0,06 Doença Ocupacional - 1 - - 1 0,03 Eletricidade - 3 2 3 8 0,23 Acidente Trabalho - 1 2 2 5 0,15 Epilepsia - 1 - - 1 0,03 Óbito - 1 - - 1 0,03 Picada Insetos - 1 - 1 2 0,06 Prática Esportes - 2 - - 2 0,06 Explosão - - 1 - 1 0,03 Ingestão Corpo Estranho - 1 - - 1 0,03 Mordida Cão - - 1 - 1 0,03 Queimadura - - - 1 1 0,03

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

O agente causador do acidente de trabalho foi obtido após leitura minuciosa e

interpretativa da descrição das partes do corpo atingidas e da descrição do

acidente (Gráfico 16 a seguir).

Page 124: Filho.condicoes de Agravos

124

0

500

1000

1500

2000

2500

S/Especificação Ubá M aringá Arapongas São Bento do Sul Bento Gonçalves

Máquinas Div. Corpo Estranho Queda DORT Ruído Ocupacional Sem Especif icação

Gráfico 16: Representação gráfica do agente causador do acidente em cada pólo moveleiro

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

O agente causador máquina é o principal motivo de acidentes, com 54,91% dos

casos, fato que reitera uma das conclusões do trabalho de Mendes et al. (2001).

Em seguida, destaca-se o peso do agente corpo estranho, comprovando, boa

medida, que o trabalhador não utilizava os equipamentos de proteção individual

estabelecidos na legislação, o que, por obrigação, deveria estar sendo fiscalizado

pelo SESMT da empresa. Quanto às máquinas, as principais causadoras de

acidentes, conforme o Gráfico 17 a seguir, todos os pólos moveleiros utilizam

fresadeiras, tupias, serras e plainas, as quais se apresentam, portanto, como

importante agente causador de acidentes do trabalho.

Page 125: Filho.condicoes de Agravos

125

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

S/Especificação Ubá Maringá Arapongas São Bento doSul

BentoGonçalves

Máquinas Div. Ferram. e Compon. Prensa Tupia SerrasPlaina Lixadeira Seccionadora Impressora DesempenadeiraFresa Furadeira Filetadeira Desengrossadeira Destopadeira

Gráfico 17: Representação gráfica do agente causador máquina total (aberto especificamente por máquinas) em cada pólo moveleiro

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

O código da doença e o diagnóstico provável apresentaram inconsistência em

2,56% dos casos registrados (dados sem especificação e sem resposta).

Exatamente por isso, para se chegar ao diagnóstico correto, houve necessidade

de avaliação de outras variáveis, tais como a descrição do acidente, do local do

acidente, do tipo de lesão apresentada e do tratamento efetuado.

A descrição do meio de locomoção do trabalhador nos casos de acidente de

trajeto foi obtida em todos os casos, não sendo necessário recorrer a outras

variáveis ou dados do processo para identificá-lo.

5.2 Descrição das variáveis

5.2.1 Distribuição dos registros de acidente do trabalho por tipo de acidente e por pólo moveleiro

Em um universo de 3.442 registros de acidentes do trabalho na indústria

moveleira levantados nas comunicações de acidentes do trabalho, nas agências

Page 126: Filho.condicoes de Agravos

126

da Previdência Social dos pólos moveleiros estudados pela

FUNDACENTRO/SESI/SEBRAE, observaram-se 758 acidentes típicos em 2002,

861 em 2003 e 1.001 em 2004. Dos eventos registrados, com menores

participações encontram-se os acidentes de trajeto, que, em números brutos de

ocorrências/registros, variaram de 52 ocorrências em 2002 para 57 em 2003 e

finalmente para 81 em 2004. Por último, as doenças ocupacionais, as quais

corresponderam aos seguintes números cadentes: em 2002, 31 registros; em

2003, 25 casos; em 2004, 19 casos.

Em nenhum dos anos analisados, o total de registros de doenças ocupacionais

ultrapassou o de acidentes de trajeto, demonstrando duas situações importantes:

a falta de diagnóstico e de reconhecimento associada ao baixo registro para as

doenças de origem ocupacional – na verdade, uma notória subnotificação,

determinada por vários fatores – e a importância do espaço extramuro na gênese

do acidente de trabalho, como, alíás, de forma original, já foi bem destacado por

Waldvogel (2002) como uma mudança qualitativa importante na tendência recente

dos acidentes de trabalho no País (Tabela 15).

Tabela 15

Participação dos Tipos de Acidentes sobre o Total Registrado

TIPO DE ACIDENTE TOTAIS ANO

S/Espec. Típico Doença Trajeto total registros 7 25 2 2 36

s/Espec. sobre total registros 0,20% 0,73% 0,06% 0,06% 1,05% sobre total do ano 1,33% 0,95% 2,60% 1,04% 1,05% total registros 216 758 31 52 1.057

2002 sobre total registros 6,28% 22,02% 0,90% 1,51% 30,71% sobre total do ano 40,91% 28,66% 40,26% 27,08% 30,71% total registros 181 861 25 57 1.124

2003 sobre total registros 5,26% 25,01% 0,73% 1,66% 32,66% sobre total do ano 34,28% 32,55% 32,47% 29,69% 32,66% total registros 124 1.001 19 81 1.225

2004 sobre total registros 3,60% 29,08% 0,55% 2,35% 35,59% sobre total do ano 23,48% 37,84% 24,68% 42,19% 35,59% TOTAL GERAL...........

528 2645 77 192 3442

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 127: Filho.condicoes de Agravos

127

Em outras palavras, inversamente aos dados obtidos de registros de doenças

ocupacionais, observa-se um crescimento dos registros de acidentes de trajeto e

de acidentes do trabalho na indústria moveleira entre os anos de 2002 e 2004

(Gráfico 18 abaixo e ANEXO C, Tabela 16).

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

16,00%

2002 para 2003 2003 para 2004 2002 para 2004

Geral

Gráfico 18: Representação gráfica da evolução dos acidentes de trabalho de 2002 para 2004

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

De fato, a indústria moveleira contabilizou um aumento de 28,22% nesse intervalo

de tempo para acidentes típicos, uma diminuição de 48,0% para doenças

ocupacionais e diminuição também de 50,88% para acidentes de trajeto, sendo

que, de 2002 a 2004, no geral, houve um aumento de 14,95% dos acidentes de

trabalho. Entre estes predominam, com 76,84% dos registros, os acidentes

decorrentes da atividade profissional desempenhada pelo trabalhador, ou seja, os

acidentes tipo. Com proporções menos relevantes, porém não menos

importantes, encontram-se os acidentes de trajeto (5,58%) e as doenças do

trabalho (2,30%), conforme mostraram os Gráficos 12 e 13. Contudo, se

numericamente inferiores e com menor participação no total dos acidentes de

trabalho no período compreendido entre 2002 e 2004, as doenças ocupacionais,

sem dúvida, constituem um grande desafio para o setor de saúde e segurança do

Page 128: Filho.condicoes de Agravos

128

trabalho no que diz respeito tanto ao seu correto diagnostico médico e/ou

reconhecimento pericial quanto – e, por conseguinte – ao seu registro adequado

como acidente de trabalho. Por sua vez, os acidentes de trajeto vêm

apresentando uma trajetória de crescimento nas estatísticas, o que demonstra a

importância do espaço extramuro na geração dos acidentes de trabalho

(WALDVOGEL, 2002). Já os acidentes do trabalho tipo estão em crescimento

contínuo no período avaliado, mostrando a importância de políticas públicas

especificas para a saúde do trabalho no ramo moveleiro (Tabela 17).

Tabela 17

Variação nos Tipos de Acidentes por Ano de Registro

TIPO DE ACIDENTE TOTAIS ANO DE REGISTRO

S/especif. 2002 2003 2004

sem especificação 528 7 216 181 124

Típico 2.645 25 758 861 1.001

Doença 77 2 31 25 19

Trajeto 192 2 52 57 81

TOTAL........................... 3.442 36 1.057 1.124 1.225

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Enfim, se a indústria moveleira também se caracteriza por uma alta proporção de

acidentes tipo, superior a 70% no decorrer dos anos, e por uma grande incidência

de acidentes de trajeto (superior a 4%) e uma pequena – porém irrealista –

proporção de doenças do trabalho, vale observar a pertinência de se reter amiúde

essas tendências e variações (cf. ANEXO B, Tabela 12) como conditio sine qua

non para se pensar em ações preventivas focais mais efetivas e ainda

inexistentes.

5.2.2 Distribuição dos registros de acidentes do trabalho segundo as causas do acidente e por pólo moveleiro

Os registros de acidentes do trabalho observados nessa base de dados mostram

as máquinas (participação de 50,44%) como as principais causadoras de

Page 129: Filho.condicoes de Agravos

129

acidentes do trabalho. Mendes et al. (2001) relatam que as máquinas são

responsáveis por 25% dos acidentes de trabalho no País como um todo.

Mais especificamente, nos pólos moveleiros estudados, as máquinas foram, caso

a caso, as principais responsáveis pelos acidentes de trabalho: Ubá (48,91%),

Arapongas (47,92%), Maringá (60,71%), São Bento do Sul (49,76%) e Bento

Gonçalves (59,04%). Em seguida, aparece – em Ubá, Arapongas, São Bento do

Sul e Bento Gonçalves – a organização do trabalho, com índices de 11,48%,

17,50%, 25,44% e 22,88%, respectivamente. Em Maringá, os acidentes devido a

impactos contra objetos corresponderam a 10,71% dos fatores que concorreram

para os acidentes de trabalho. Ainda com base em Mendes et al (2001), vale

registrar que as máquinas são as maiores causadoras de acidentes do trabalho

nas pequenas, médias e grandes indústrias manufatureiras e da construção civil,

excluindo, porém, as microempresas. Por outro lado, diferentemente de Mendes

et al (2001), que encontraram as prensas mecânicas como as maiores

causadoras de lesão nos trabalhadores, nesta pesquisa as serras apresentaram-

se como as maiores causadoras de lesões nos trabalhadores (19,68% do total).

Em seguida, as furadeiras (7,14%) e as prensas (6,35%). De qualquer modo, as

máquinas em geral, sem distinção de sua finalidade operativa, são as grandes

causadoras de acidentes do trabalho na indústria moveleira (ANEXO D, Tabela

18, e ANEXO E, Tabela 19. Por outro lado, os índices de acidentes de trajeto,

com significativa variabilidade, corresponderam a 6,56% no pólo moveleiro de

Ubá. Em Arapongas e Maringá corresponderam, respectivamente, a 9,17% e

5,36%. Já em São Bento do Sul, 6,69%, e em Bento Gonçalves, 4,06%.

A população economicamente ativa é a grande população exposta ao risco de

morrer por acidentes de trabalho (WALDVOGEL, 2002). Em particular observa-se

nesta pesquisa que, dentro dos acidentes de trabalho ocorridos fora do espaço

das empresas, ou seja, extramuros, a maior parte decorreu do uso de bicicleta,

uma proporção menor pelo uso de veículos motorizados e uma proporção menor

em decorrência de andar a pé. A distância entre as empresas e a moradia dos

trabalhadores provavelmente concorreu para o aumento do número desses

indicadores. Uma dimensão importante dos acidentes de trajeto é a distribuição

por sexo e idade, proporcionando um perfil aproximativo dos mesmos. A

população trabalhadora masculina contribuiu com o maior índice dos acidentes de

Page 130: Filho.condicoes de Agravos

130

trajeto. Alguns estudos vêm enfatizando o deslocamento dos acidentes do interior

das empresas para o espaço da rua (MACHADO, 1991; MACHADO e MINAYO

GÓMEZ, 1995; WALDVOGEL, 1999a). Segundo esses autores, os dados revelam

um número considerável de acidentes de trajeto em conseqüência do processo de

urbanização adotado e do crescimento da violência urbana.

Na observação dos registros para todos os acidentes de trabalho na indústria

moveleira entre 2002 e 2004, nota-se que as máquinas, em todos os casos,

constituem mais de 50% dos registros de acidente do trabalho (Tabela 19). A

organização do trabalho compreende 22,89% dos acidentes de trabalho

registrados e 26,67% correspondem a causas diversas dos acidentes de trabalho

analisados, especificados na Tabela 20.

Tabela 20

Percentual de Causas de Acidente por Agente Causador Aberto por Pólo

Moveleiro

AGENTE CAUSADOR PÓLO MOVELEIRO TOTAIS

s/especif. Ubá Maringá Arapongas São Bento do Sul

Bento Gonçalves

Máquina 46,15% 48,91% 60,71% 47,92% 49,76% 59,04% 50,44% Organização Trabalho 15,38% 11,48% 8,93% 17,50% 25,44% 22,88% 22,89% Ergonomia 7,69% 6,56% 3,57% 9,17% 7,53% 7,75% 7,50% Trajeto 0,00% 6,56% 5,36% 9,17% 6,69% 4,06% 6,60% Queda Altura 0,00% 6,56% 5,36% 9,17% 6,13% 4,80% 6,25% Agressão 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,37% 0,03% Desconhecido 15,38% 5,19% 3,57% 2,92% 0,76% 1,11% 1,51% PAIR 7,69% 11,20% 0,00% 0,00% 0,04% 0,00% 1,25% Acidente Químico 0,00% 1,37% 1,79% 0,00% 0,76% 0,00% 0,73% Impacto contra Objeto 7,69% 1,09% 10,71% 3,33% 2,04% 0,00% 2,03% Assalto 0,00% 0,27% 0,00% 0,42% 0,00% 0,00% 0,06% Doença Ocupacional 0,00% 0,27% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,03% Eletricidade 0,00% 0,55% 0,00% 0,00% 0,24% 0,00% 0,23% Acidente Trabalho 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,20% 0,00% 0,15% Epilepsia 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,04% 0,00% 0,03% Óbito 0,00% 0,00% 0,00% 0,42% 0,04% 0,00% 0,03% Picada Insetos 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,08% 0,00% 0,06% Prática Esportes 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,08% 0,00% 0,06% Explosão 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,04% 0,00% 0,04% Ingestão Corpo Estranho

0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,04% 0,00% 0,04%

Mordida Cão 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,04% 0,00% 0,04% Queimadura 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,04% 0,00% 0,04% TOTAIS........................ 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 131: Filho.condicoes de Agravos

131

Como se pode observar, a Medicina do Trabalho busca a causa das doenças e

dos acidentes de trabalho por meio de uma abordagem unicausal (OLIVEIRA,

2001), ao invés de uma avaliação da organização do trabalho. Nesta pesquisa, a

organização do trabalho constituiu um importante indicador para os acidentes de

trabalho ocorridos na indústria moveleira.

Oliveira (2005) relata que os acidentes do trabalho típicos, as doenças

osteomusculares relacionadas com o trabalho e as lombalgias vêm se traduzindo

em verdadeiras epidemias na saúde do trabalhador. Nesse sentido, verificou-se

neste trabalho que a variável ergonomia tem importante participação na gênese

do acidente de trabalho juntamente com a organização do trabalho e os acidentes

tipo.

As doenças do trabalho (0,03%) encontradas nesta pesquisa compreenderam um

percentual pequeno em relação aos acidentes de trabalho tipo. Interessante é

observar que, a despeito de todo o ruído produzido pelas máquinas na indústria

moveleira, a doença do trabalho PAIR – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído –

contribuiu apenas com 1,25% do total de acidentes do trabalho. Pode-se concluir

que as empresas, e mais concretamente os médicos do trabalho, não estão

atentos ou simplesmente não registram as perdas auditivas originadas de ruído

ocupacional, causando enormes perdas ao trabalhador e a seus familiares, bem

como à Previdência Social. Se se atentar seriamente para esses indicadores, ver-

se-á que, com o advento do FAPI (MINISTERIO DA PREVIDENCIA SOCIAL,

2004), onde será analisado o nexo técnico epidemiológico, as perdas auditivas

ocasionadas pelo aumento da pressão sonora na indústria moveleira ficarão de

fora do processo pelos percentuais apresentados.

Por outro lado, os acidentes com produtos químicos (0,73%) constituem

verdadeiro desafio aos médicos do trabalho e engenheiros de segurança pela sua

gravidade e toxicidade.

5.2.3 Distribuição dos registros de acidentes do trabalho por faixa etária

Numa distribuição por faixa etária, a cada 5 anos, nota-se, para os registros de

acidentes no trabalho na indústria moveleira, nos três anos abrangidos pela

Page 132: Filho.condicoes de Agravos

132

pesquisa, que até 80% dos acidentes de trabalho registrados e liquidados

ocorrem entre a população com menos de 43 anos de idade.

No entanto, mais especificamente, são os jovens de 24 a 28 anos que

apresentam a maior participação nos acidentes registrados – sozinhos

representaram praticamente 25% da população trabalhadora na indústria

moveleira vitimada por alguma forma de acidente do trabalho registrado. Após os

60 anos foi encontrada uma pequena incidência de acidentes do trabalho, ou seja,

inferior a 1,77% de todos os registros de acidentes (Gráfico 19 abaixo), fato que

por si só é elucidativo, no sentido de que nessa faixa etária os trabalhadores já

estão, em grande número, aposentados e ainda trabalhando para poder

suplementar o valor de suas aposentadorias, normalmente situados em níveis

baixos. Nessas condições não fazem abertura de comunicação de acidentes do

trabalho, nem procuram a Previdência Social, uma vez que não podem receber

dois benefícios previdenciários.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

S/especif. 0-18 19-23 24-28 29-33 34-38 39-43 44-48 49-53 54-58 59-63 64-68 69 acima

TOTAL Acidentes

Gráfico 19: Representação gráfica da participação das faixas etárias nos acidentes de trabalho registrados

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 133: Filho.condicoes de Agravos

133

Por outro lado, as doenças ocupacionais atingem a classe trabalhadora na faixa

etária de 24 a 28 anos, nos principais pólos moveleiros: 0,41% em Ubá; 0,09%

em São Bento do Sul e 0,14% em Bento Gonçalves. Os demais pólos não

apresentaram doenças ocupacionais nessa faixa etária. Os acidentes de trajeto,

por sua vez, atingem a classe trabalhadora na faixa etária de 24 a 28 anos – isto

é, 1,36% de todos os trabalhadores da indústria moveleira.

Apesar dos registros de acidentes mais distribuídos entre as faixas etárias, há

uma concentração relevante de registros entre a população trabalhadora com

menos de 40 anos, chegando a 79,94% em 2002, 81,94% em 2003 e 83,51% em

2004. Entre os menores de 23 anos, essa proporção não ultrapassa os 20% nos

três anos analisados. Nota-se que, nas faixas mais velhas, a proporção de

registros de acidentes entre os maiores de 60 anos chega a alcançar 1,60% dos

acidentes registrados na indústria moveleira (Tabela 21).

Tabela 21

Registro de Acidentes por Ano por Faixa Etária Específica

FAIXA ETÁRIA ANO DO ACIDENTE TOTAIS

s/Espec. 2002 2003 2004

40 anos abaixo 75,00% 79,94% 81,94% 83,51% 81,81%

menores de 23 anos 19,44% 16,08% 16,19% 24,49% 19,15%

maiores de 60 anos 2,78% 1,70% 1,87% 1,22% 1,60%

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Com relação aos menores de 18 anos, estes constituem uma pequena parcela

para o total de acidentes do trabalho registrados. O pólo moveleiro de Arapongas

apresentou maior participação proporcional de jovens menores de 18 anos de

idade entre 2002 e 2004 (12 registros de 240 ocorrências no pólo = 5,00%),

embora registrasse 12 acidentes nessa faixa etária em 2003. No entanto, entre os

jovens trabalhadores da indústria moveleira que registraram acidentes de trabalho

entre 2002 e 2003, nota-se uma redução nesse período, que passou de 3,88%

para 1,96%.

Page 134: Filho.condicoes de Agravos

134

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

2002 2003 2004

0 a 18 anos 0 a 15 anos 15 a 18 anos

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

Percentuais

0 a 18 anos 0 a 15 anos 15 a 18 anos

Gráfico 20: Representação gráfica da participação das faixas etárias até 18 anos nos acidentes de trabalho registrados por ano

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Nesta pesquisa observou-se que a indústria moveleira apresenta 97 registros de

acidentes do trabalho com menores de 18 anos entre 2002 e 2004, o que

representou 2,82% do total de registros coletados nesse período. Dos acidentes

registrados e liquidados com menores de 18 anos nessa indústria, 2,47% tinham

menos de 15 anos (Gráfico 20 acima).

Page 135: Filho.condicoes de Agravos

135

5.2.4 Distribuição dos registros de acidentes por sexo

Segundo a distribuição por sexo dos trabalhadores inseridos na indústria

moveleira, nota-se um predomínio numérico e proporcional de trabalhadores do

sexo masculino em todos os anos identificados: 84,20% do sexo masculino e

13,53% do sexo feminino em 2002; 84,43% do sexo masculino e 13,79% do sexo

feminino em 2003; 82,04% do sexo masculino e 16,65% do sexo feminino em

2004 (Gráfico 21).

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

S/especif. 2002 2003 2004 TOTAIS

Não Informado Feminino Masculino

Gráfico 21: Representação gráfica da participação dos sexos nos acidentes de

trabalho registrados por ano

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados premilinares).

As menores proporções do sexo masculino para o feminino são encontradas

no pólo moveleiro de Bento Gonçalves, enquanto no de Maringá são

maiores as proporções (Gráfico 22 a seguir).

Page 136: Filho.condicoes de Agravos

136

44,25

54,00

9,354,89 3,54

0

10

20

30

40

50

60

Ubá Maringá Arapongas São Bento do Sul Bento Gonçalves

Proporção

Gráfico 22: Representação gráfica da proporção de acidentes masculinos para cada acidente feminino

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

A distribuição por idade e sexo fica assim: as faixas etárias mais representativas

são 24 – 28 anos e 29 – 33 anos, tanto para o sexo masculino quanto para o sexo

feminino, com predominância do sexo masculino (Gráfico 23 a seguir).

Page 137: Filho.condicoes de Agravos

137

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

S/especif. 0-18 19-23 24-28 29-33 34-38 39-43 44-48 49-53 54-58 59-63 64-68 69 acima

Não Informado Masculino Feminino

Gráfico 23: Representação gráfica da participação dos sexos por faixa etária Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Por cada pólo moveleiro tem-se a distribuição dos acidentes por idade e sexo,

conforme a Tabela 22.

Tabela 22 Registro de Acidentes por Faixa Etária e por Pólo Moveleiro

Faixa Etária

Pólo Moveleiro Totalização

s/especific. Ubá Maringá Arapongas São Bento Bento Gonç NI M F NI M F NI M F NI M F NI M F NI M F NI M F

S/especif. -

- -

-

7 - 1 - -

-6 1 2 23

4

-

9

2 3 45 7

0-18 - 1

-

-

12 - - - -

-12

-2 52

9

1

7

2 3 84 11

19-23 - 1

-

-

25 1 - 7 -

-24 5 5 377

75

1

33

8 6 467 89

24-28 - 4

-

-

64 1 - 16 1 1 36 3 16 495

147

-

44

8 17

659 160

29-33 - 1

-

-

50 2 - 8 - 1 33 6 9 364

72

1

29

13 11 485 93

34-38 - 1

-

-

58 1 - 10 -

-37 5 3 219

37

1

25

6 4 350 49

39-43 - 2

-

1

53 1 - 4 -

-18 2 6 172

37

-

23

9 7 272 49

44-48 - 1

-

2

42 - - 4 -

-24 1 4 161

19

-

21

6 6 253 26

49-53 - 1

-

1

27 - - 2 -

-11

-3 83

11

-

9

1 4 133 12

54-58 - 1

-

-

9 2 - - -

-6

-- 49

2

-

9

4 - 74 8

59-63 -

- -

-

6 - - 2 -

-3

-- 26

- -

- - - 37

-

64-68 -

- -

-

1 - - - -

-2

-- 8

1

-

- - - 11 1

69 acima -

- -

-

- - - - -

-2

-- 3

1

-

- - - 5 1

TOTAIS. - 13

-

4

354 8 1 53 1 2 214 23 50 2.032

415

4

209

59 61 2.875 506

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 138: Filho.condicoes de Agravos

138

Em suma, nota-se que os acidentes de trabalho atingem mais os trabalhadores do

sexo masculino e na faixa etária de 24 a 28 anos (ver Tabela 21, grafado).

Comparando-se os vários pólos moveleiros estudados, observa-se que essa

relação é maior no pólo moveleiro de Maringá, seguido do pólo moveleiro de São

Bento do Sul.

5.2.5 Distribuição dos registros de acidentes do trabalho segundo as partes do corpo atingidas

No triênio entre 2002 e 2004 nota-se que poucas alterações ocorreram em

relação às partes do corpo atingidas no acidente de trabalho entre os

trabalhadores da indústria moveleira, e que o pólo de São Bento do Sul foi o que

mais se destacou nos números coletados (Tabela 23).

Tabela 23

Registro de Acidentes de Trabalho por Partes do Corpo Atingidas por Pólo

Moveleiro.

Pólo Moveleiro Partes do Corpo Atingidas

Diversas Partes

Membro Superior

Membro Inferior Tronco Cabeça Mãos Especificamente

s/especificação - 1 1 - 2 6

Ubá 14 53 24 14 65 196

Maringá 1 6 5 3 6 38

Arapongas 3 41 30 18 13 135

São Bento do Sul

136 274 348 186 153 1.399

Bento Gonçalves 2 42 32 10 5 180

TOTAIS. 156 417 440 231 244 1.954

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Em 2002, as principais partes do corpo atingidas no acidente tipo da indústria

moveleira foram os membros superiores (66,16%), especialmente no sexo

masculino (57,27%). No sexo feminino, os membros superiores também foram os

mais atingidos, só que em proporções menores (7,46%). Particularmente, as

mãos têm importante destaque em ambos os sexos (53,87%), sobressaindo-se

sobre todas as outras partes do corpo envolvidas (Gráfico 24 a seguir)

Page 139: Filho.condicoes de Agravos

139

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

Diversas partes Membro Superior Membro Inferior Tronco Cabeça MãosEspecificamente

s/especificação Ubá Maringá Arapongas São Bento do Sul Bento Gonçalves

Gráfico 24: Representação gráfica das partes do corpo atingidas, por pólo moveleiro. Totais da pesquisa

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Em relação aos acidentes de trajeto, as partes do corpo mais atingidas

foram: em 2002, membros superiores – inclusive mãos – 10,42%; em 2003,

membros superiores – inclusive mãos – 11,46%; em 2004, membros

inferiores,16,15%.

Entre as doenças do trabalho, os membros superiores foram os mais atingidos,

tanto para o sexo masculino (41,56%) quanto para o sexo feminino (10,39%). Nos

diversos pólos moveleiros a distribuição não apresentou diferenças significativas e

permanece no mesmo patamar.

5.2.6 Distribuição dos acidentes de trabalho, modalidade acidente de trajeto, segundo o meio de transporte utilizado

Como meio de transporte utilizado pelos trabalhadores da indústria moveleira

nesta pesquisa sobressaiu-se a bicicleta. A distribuição geográfica das cidades

contribui para o meio de transporte utilizado. Ubá, Arapongas, Maringá e São

Page 140: Filho.condicoes de Agravos

140

Bento do Sul são cidades planas, e o meio de transporte mais utilizado pelos

trabalhadores é a bicicleta. Já Bento Gonçalves possui morros e elevações,

condição topográfica que favorece o uso de veículos automotores do tipo

motocicleta. Não foram observados acidentes de trajeto envolvendo veículos

automotores do tipo carro de passeio, fato provavelmente relacionado com o

baixo poder aquisitivo da classe trabalhadora na indústria moveleira. O ônibus é

outro meio de transporte bastante utilizado pelos trabalhadores dos pólos

moveleiros, quando não se anda a pé (Gráfico 25).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Bicicleta Ônibus Moto A pé

Acidentes

Gráfico 25: Representação gráfica da participação dos meios de transporte nos acidentes de trabalho

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

5.3 Estimativa das taxas de incidência acumulada, mortalidade e letalidade

Os indicadores de acidentes do trabalho são utilizados para mensurar a exposição

dos trabalhadores aos níveis de risco inerentes à atividade econômica em estudo,

viabilizando o acompanhamento das flutuações e tendências históricas dos

acidentes e seus impactos na indústria moveleira e na vida dos trabalhadores.

Além disso, fornecem subsídios para o aprofundamento de estudos sobre o tema

e permitem o planejamento de ações nas áreas de segurança e saúde do

Page 141: Filho.condicoes de Agravos

141

trabalhador. Os indicadores aqui elencados não têm o propósito de esgotar as

análises que podem ser feitas a partir dos dados de ocorrências de acidentes,

mas são indispensáveis para a determinação de programas de prevenção de

acidentes e a conseqüente melhoria das condições de trabalho no Brasil.

14,92

4,65

32,11

0

5

10

15

20

25

30

35

Taxa de Incidência Acumulada Taxa de Mortalidade Taxa de Letalidade

Indicador Médio 2002 CNAE 3611 e 3612 Indicador Médio 2003 CNAE 3611 e 3612 Total Registros GERAL

Gráfico 26: Representação gráfica da taxa de incidência acumulada, mortalidade e letalidade geral em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

5.4 Estimativa das taxas de incidência de acidentes do trabalho, taxa de incidência específica para acidentes de trabalho típicos, taxas de acidentabilidade proporcional específica

A taxa de incidência de acidentes do trabalho na indústria moveleira é um

indicador da intensidade com que acontecem os acidentes de trabalho nesse

ramo de atividade, assim como expressa a relação entre as condições de trabalho

no setor moveleiro e o quantitativo médio de trabalhadores a elas expostos. Essa

relação constitui a expressão mais geral e simplificada do risco. Seu coeficiente é

definido como a razão entre o número de novos acidentes de trabalho na indústria

Page 142: Filho.condicoes de Agravos

142

moveleira registrados a cada ano e a população de trabalhadores desse ramo de

atividade exposta ao risco de sofrer algum tipo de acidente.

A dificuldade dessa medida reside na escolha de seu denominador. A população

exposta ao risco deve representar o número médio de trabalhadores dentro do

grupo de referência e para o mesmo período de tempo que a cobertura das

estatísticas de acidentes do trabalho. Dessa forma, são considerados no

denominador os trabalhadores com cobertura contra os riscos decorrentes de

acidentes do trabalho. Não estão cobertos os contribuintes individuais

(trabalhadores autônomos e empregados domésticos, entre outros), os militares e

os servidores públicos estatutários.

A taxa de acidentalidade proporcional específica para a faixa etária de 16 a 34

anos tem por objetivo revelar o risco específico de se acidentar para o subgrupo

populacional de trabalhadores na faixa etária de 16 a 34 anos e pode ser

expresso como a proporção de acidentes que ocorreram nessa faixa etária em

relação ao total de acidentes2. Essa faixa etária foi elencada, tendo em vista que

os acidentes de trabalho nos pólos moveleiros avaliados têm aí uma maior

incidência. Nos APÊNDICES A a F (Gráficos 27 a 32) encontram-se as

representações gráficas das taxas de incidência acumulada, mortalidade e

letalidade geral em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e 3612 de

2002 e 2003 para a faixa etária de 16 a 34 anos, nos pólos moveleiros de Ubá,

Arapongas, Maringá, São Bento do Sul e Bento Gonçalves.

5.5 Afastamento pela DIB-DCB3, por pólo moveleiro

Um fator observado nesta pesquisa e não condizente com as estatísticas

previdenciárias (MINISTÉRIO DA PREVIDENCIA SOCIAL, 2004) foi a imensa

proporção de acidentes do trabalho que não tiveram o afastamento do trabalhador

de suas atividades laborais por um período de tempo determinado e superior a 15

dias. A incapacidade laborativa por até 15 dias não gera o afastamento do

trabalhador para a Previdência Social e, por conseguinte, não gera benefícios

previdenciários, ficando o empregador responsável pelo pagamento dos dias

2 Disponível em:< http://www.previdenciasocial.gov.br/pq secundarias/previdencia social 13 07-B.asp 3 DIB-DCB: Data de Início do Benefício – Data de Cessação do Benefício(MPS/1991)

Page 143: Filho.condicoes de Agravos

143

parados. No entanto, nos afastamentos superiores a 15 dias, com incapacidade

laborativa parcial ou definitiva, a Previdência Social assume o pagamento do

trabalhador. Nesta pesquisa pôde ser observado que apenas em Bento

Gonçalves o afastamento do trabalhador com benefício previdenciário se fez

presente numa proporção diferenciada em relação aos outros pólos moveleiros

(Grafico 33 abaixo).

Tanto a incapacidade laborativa temporária como a permanente aparecem num

mesmo patamar, exceto em Bento Gonçalves. De acordo com Lucca e Mendes

(1993), a incapacidade permanente é mais difícil de sofrer subnotificacão do

ponto de vista previdenciário.

0

500

1000

1500

2000

2500

S/Especificação Ubá Maringá Arapongas São Bento do Sul Bento Gonçalves

sem afastamento Negativo 0 - 30 30 -60 60 - 180 180 - 365 acima de 1 ano

Gráfico 33: Representação gráfica dos afastamentos por tempo, por pólo moveleiro. Dados extraídos da pesquisa pelo DCB – DIB

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 144: Filho.condicoes de Agravos

144

5.6 Classificação das CAT por pólo moveleiro

Entre os campos selecionados da CAT transcritos e codificados, encontra-se a

classificação da mesma “em inicial”, “reabertura” ou “óbito” – dados que

constituem informações fundamentais para a realização de intervenções tanto

previdenciárias quanto trabalhistas.

As CAT preenchidas sem especificação da classificação foram em número muito

reduzido. A grande maioria, em todos os pólos moveleiros, foi classificada como

emissão inicial. Os casos de reabertura da Comunicação de Acidente do Trabalho

aconteceram principalmente no pólo moveleiro de São Bento do Sul, em maior

proporção, e em proporções menores nos pólos moveleiros de Ubá e Bento

Gonçalves. Nos pólos moveleiros de Arapongas e Maringá não foi observada

reabertura de CAT (Gráfico 34).

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

Sem Especificação Inicial Reabertura Comunicação de Óbito

Sem Especificação Ubá Maringá Arapongas São Bento do Sul Bento Gonçalves

Gráfico 34: Representação gráfica do tipo de CAT por pólo moveleiro

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 145: Filho.condicoes de Agravos

145

5.7 Acidentes por pólo, por área de abrangência

Os acidentes de trabalho aconteceram na quase totalidade dos casos na zona

urbana e em menores proporções em indústrias localizadas na área rural,

tendência que poderia ser explicada pelo fato de estarem as empresas quase que

totalmente localizadas em distritos industriais na área urbana (Gráfico 35).

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

SemEspecificação

Ubá Maringá Arapongas São Bento doSul

BentoGonçalves

SEM ESPECIFICAÇÃO ÁREA URBANA ÁREA RURAL

Gráfico 35: Representação gráfica da área de abrangência da ocorrência do acidente por pólo moveleiro

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

5.8 Considerações finais

Os acidentes tipo são predominantes dentre os acidentes de trabalho na indústria

moveleira, nos pólos estudados. Não menos importantes são os acidentes de

trajeto e as doenças ocupacionais. Os homens constituem o maior percentual

tanto no que diz respeito a acidentes do trabalho típicos como a acidentes de

trajeto.

Porém, apesar da grande incidência dos acidentes de trabalho tipo, as doenças

ocupacionais aparecem subnotificadas, e a grande maioria dos acidentes não é

Page 146: Filho.condicoes de Agravos

146

notificada. Concretamente, os registros dos acidentes de trabalho de São Bento

do Sul serviram de base para se chegar a essa conclusão e, por conseguinte,

levantar-se a hipótese plausível de que nos outros pólos poderia estar havendo

subnotificação dos acidentes.

Na realidade existe uma grande variação nas notificações dos acidentes de

trabalho nos vários pólos moveleiros. Uns notificam quase todos os acidentes de

trabalho, em outros fica clara a subnotificacão. Nessa dimensão de raciocínio, o

pólo moveleiro de São Bento do Sul aparece como o pólo que mais faz

notificações de acidentes do trabalho sem benefícios previdenciários, porém

apresenta o maior número de reaberturas de casos de acidentes do trabalho. As

causas desse acontecimento podem ser as mais variáveis possíveis, e mister se

faz pensar num diagnóstico inicial equivocado, com tratamentos médicos

insuficientes para a completa recuperação do trabalhador. Pode também estar

havendo alterações produzidas pelo empregador no sentido de não gerar

estabilidade no trabalho em função do acidente de trabalho.

Em todos os pólos moveleiros, os acidentes de trabalho acometem mais os

trabalhadores do sexo masculino e em idades mais jovens, fato que se torna,

dessa forma, uma característica indelével da indústria moveleira. A mutilação de

trabalhadores mais jovens traz à tona um dos grandes problemas da Previdência

Social, ou seja, a reabilitação profissional desses trabalhadores. Os trabalhadores

do sexo feminino contribuem com uma parcela menor provavelmente em função

das atividades nesse tipo de indústria requererem mais força bruta no trabalho.

Não se poderia deixar de mencionar a importância dos acidentes nos espaços

extramuros na indústria moveleira, associados a características geográficas de

cada região e ao piso salarial da categoria, pois os acidentes de trajeto na sua

maioria absoluta ocorrem com bicicletas, meio de transporte mais perceptível nas

camadas mais simples da população. Os acidentes com veículos motorizados

acontecem em menor proporção.

Por sua vez, os acidentes tipo têm uma característica bastante peculiar: a lesão

concentra-se basicamente nos membros superiores. Chamou a atenção do

pesquisador a grande quantidade de acidentes associados a corpos estranhos

Page 147: Filho.condicoes de Agravos

147

que saem das máquinas na forma de pequenos pedaços de madeira e de poeira,

causando lesões nos trabalhadores – fato que, por si só, é de extrema

importância, pois demonstra a falta de utilização de equipamentos de proteção

individual e de proteção coletiva para os trabalhadores.

O tempo de recuperação dos trabalhadores lesionados em acidentes do trabalho

varia de 03 a 12 meses, acarretando um enorme custo para toda a sociedade,

além de um custo incomensurável para o trabalhador e seus familiares.

Atendo-se às particularidades da indústria moveleira, este trabalho apresenta uma

análise concreta que possibilita identificar, a partir dos registros administrativos

previdenciários, uma estatística mais realista e, assim, uma análise sobre suas

tendências e variações no decorrer dos anos selecionados, ou seja, o triênio 2002

– 2004.

Page 148: Filho.condicoes de Agravos

148

6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Em que pesem suas restrições, dentre elas por compreenderem somente os

trabalhadores inseridos no mercado formal, as comunicações de acidentes do

trabalho constituem importante material de análise para o entendimento da

questão acidentária no Brasil. Isso sem desconsiderar que a falta de informações

sistemáticas e mais realistas referentes aos acidentes de trabalho e às doenças

ocupacionais pode também ser traduzida pelos desentendimentos que imperam

entre os Ministérios do Trabalho e Emprego, o Ministério da Saúde e o Ministério

da Previdência Social, especialmente no tratamento das informações sobre os

agravos à saúde do trabalhador e na configuração não convergente de seus

bancos de dados afins (cf SALIM, 2000; WALDVOGEL 2002).

O estudo dos acidentes de trabalho nos pólos moveleiros, realizado com base nos

registros administrativos (CAT), estão longe de representar a totalidade das

ocorrências desses acidentes, embora constituam uma importante amostra e

fonte de informação ainda não exaustivamente explorada.

As deficiências dos sistemas de informação no que diz respeito ao preenchimento

das comunicações de acidentes do trabalho são observadas em vários estudos

realizados. As limitações encontradas dizem respeito particularmente ao

preenchimento incompleto ou até mesmo ao não preenchimento de campos

fundamentais, criando-se, dessa forma, um obstáculo natural para o

conhecimento efetivo da realidade dos acidentes de trabalho em sua multitude de

causas. Embora haja uma legislação específica para o assunto, a CAT é

preenchida sem muita preocupação com a qualidade das informações ali

fornecidas, como se a intenção fosse dificultar o entendimento das informações

tanto quanto possível, evitando, assim, a explicitação da intencionalidade

necessária para qualificar determinados acidentes considerados graves e

mutilantes, assim como os óbitos ocorridos no ambiente de trabalho.

Em função dessa deficiência, urge realizar investimentos públicos para que as

potencialidades das fontes de informação sejam completamente esgotadas, de

Page 149: Filho.condicoes de Agravos

149

modo que se obtenham resultados importantes na compreensão da gênese e das

causas do acidente de trabalho.

A implantação em novas bases ou mesmo a utilização dos sistemas de

informação existentes é essencial para a criação de políticas públicas no vasto

campo que compreende a saúde do trabalho. Afinal, a garantia da boa informação

é essencial para a qualidade de qualquer programa de saúde, principalmente

aquele voltado para a saúde do trabalho.

Com relação à saúde do trabalho, muito há por ser feito, apesar das conquistas

até o presente momento, que resultaram na melhoria da qualidade de vida e da

saúde de alguns segmentos de trabalhadores. Para isso, é necessário olhar esse

fenômeno de forma globalizante, multi e inter disciplinar, por meio de uma

abordagem que extrapole as dimensões econômicas e sociais.

A influência do crescimento da violência urbana nos óbitos por acidente de

trabalho, como sobejamente demonstrado por Waldvogel (2002, 2003),

demonstra que o trabalhador brasileiro encontra-se totalmente desprotegido e no

centro de uma crise social maior. Esse impacto da violência urbana, no entanto,

adquire proporções bem mais elevadas quando segmentos populacionais,

sobretudo os mais jovens, dependem do trânsito caótico das cidades brasileiras

para o exercício de suas atividades laborativas.

Constata-se neste trabalho a importância do crescimento da violência urbana

como fator gerador de acidente do trabalho através dos acidentes de trânsito.

Esse impacto da violência urbana torna-se particularmente importante quando se

observa que as vítimas são, na maioria das vezes, jovens, que, em plena idade

produtiva, se tornam incapacitados parcial ou totalmente para a vida laborativa e,

assim, um enorme peso para toda a sociedade. Isso sem considerar o que é pior:

sua auto-estima atinge os níveis mais baixos possíveis, o que contribui para uma

piora sensível na sua qualidade de vida.

Recomenda-se, com base nos levantamentos realizados, a criação de uma força-

tarefa conjunta dos Ministérios do Trabalho e Emprego, da Saúde, da Previdência

Social e do Ministério Público para uniformizar definitivamente o modo como são

descritos os acidentes nas CAT nos diversos pólos analisados e, além disso,

Page 150: Filho.condicoes de Agravos

150

executar imediatamente a metodologia proposta pela legislação em vigor para os

registros de acidentes do trabalho, uma vez que, sem uniformidade no

preenchimento e na declaração dos acidentes de trabalho, os números

continuarão a apresentar as discrepâncias observadas. Necessário também se

faz aprofundar os estudos ora apresentados com a finalidade de se avançar na

configuração de um quadro mais real dos acidentes de trabalho, por meio do

cruzamento de informações obtidas neste trabalho tanto com as informações dos

sistemas de saúde de cada região de abrangência dos pólos moveleiros quanto

com as informações do sistema RAIS-CAGED para os anos citados. Dessa forma,

através do nexo técnico-epidemiológico, pretende-se chegar a números tão

próximos do real quanto possível para os acidentes de trabalho. E é esse o

trabalho que se pretende, proximamente, realizar numa tese de doutorado.

Com isso, buscar-se-á aprofundar ainda mais os subsídios efetivamente voltados

a uma melhoria de fato dos sistemas de gestão em saúde e segurança no

trabalho destinados à melhoria das condições de trabalho e, por conseguinte, à

eliminação dos agravos à saúde dos trabalhadores no amplo segmento composto

pelas micro e pequenas empresas industriais em geral e no ramo da indústria

moveleira em particular.

Page 151: Filho.condicoes de Agravos

151

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161

ANEXOS

Page 162: Filho.condicoes de Agravos

162

ANEXO A

FORMULÁRIO: PESQUISA DE ACIDENTES DO TRABALHO – 2005 RAMO MOVELEIRO

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163

FORMULÁRIO - FRENTE

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164

FORMULÁRIO – VERSO

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165 ANEXO B

Tabela 12

Participação Acidentes por CNAE Abertos por Ano

Total Acidentes

Por CNAE

% Participação

por CNAE

Qtdade Acidentes/Ano por CNAE

S/Espec. 2002 2003 2004 0 553 16,07% 8 230 205 110

0111-2 1 0,03% - 1 - -

0211-9 2 0,06% - 1 - 1

0212-7 1 0,03% - - 1 -

0213-5 7 0,20% - 1 6 -

1000-6 4 0,12% - - 1 3

1110-0 9 0,26% - 3 1 5

1322-6 1 0,03% - 1 - -

1600-4 1 0,03% - - 1 -

1721-3 1 0,03% - - 1 -

1821-0 1 0,03% - 1 - -

1910-0 5 0,15% - 2 2 1

1929-1 1 0,03% - - 1 -

2010-9 74 2,15% 1 22 35 16

2021-4 117 3,40% 1 3 43 70

2022-2 5 0,15% - 2 2 1

2023-0 8 0,23% - 1 6 1

2029-0 31 0,90% - 13 7 11

2110-5 1 0,03% - - 1 -

2131-8 5 0,15% - - 5 -

2141-5 1 0,03% - - - 1

2310-8 1 0,03% - 1 - -

2330-2 1 0,03% - - 1 -

2519-4 1 0,03% - 1 - -

2611-5 1 0,03% - - 1 -

2649-2 2 0,06% - - 1 1

2843-6 1 0,03% - - - 1

2892-4 2 0,06% - - 2 -

2899-1 4 0,12% - 1 1 2

2940-8 1 0,03% - - 1 -

2969-6 2 0,06% - - 2 -

3111-9 1 0,03% - - - 1

3611-0 2.057 59,76% 23 634 656 744

3612-9 95 2,76% - 37 24 34

3613-7 17 0,49% - 4 5 8

3614-5 22 0,64% - 4 6 12

3697-8 11 0,32% - 8 3 -

3699-4 16 0,46% - 3 5 8

4011-8 6 0,17% - 1 3 2

5010-5 1 0,03% - 1 - -

5149-7 2 0,06% - 1 - 1

5153-5 4 0,12% - 2 1 1

5155-1 1 0,03% - - 1 -

Page 166: Filho.condicoes de Agravos

166

Total Acidentes

Por CNAE

% Participação

por CNAE

Qtdade Acidentes/Ano por CNAE

S/Espec. 2002 2003 2004 5213-2 1 0,03% - - 1 -

5232-9 1 0,03% - 1 - -

5243-4 3 0,09% - 1 1 1

5244-2 6 0,17% - 1 3 2

5249-3 2 0,06% - - 2 -

5521-2 1 0,03% - - 1 -

6026-7 3 0,09% - - 3 -

6311-8 1 0,03% - - - 1

6312-6 1 0,03% - - 1 -

7032-7 1 0,03% - - - 1

7430-6 2 0,06% - - 1 1

7450-0 195 5,67% 1 38 35 121

7499-3 66 1,92% - 8 23 35

9000-0 1 0,03% - - - 1

Sem Resposta 80 2,32% 2 29 22 27

TOTAIS 3.442 36 1.057 1.124 1.225

Percentuais 100,00% 1,05% 30,71% 32,66% 35,59%

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 167: Filho.condicoes de Agravos

167

ANEXO C

Tabela 16

Variação dos Tipos de Acidentes de Ano para Ano

Tipo de Acidente2002 p/ 2003 2003 p/2004 2002 p/2004

Típico 103 140 243 Doença (6) (6) (12) Trajeto 5 24 29 TOTAL.................. 67 101 168 Típico 13,59% 16,26% 32,06%Doença -19,35% -24,00% -38,71%Trajeto 9,62% 42,11% 55,77%TOTAL.................. 6,34% 8,99% 15,89%

Variação dos Anos

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 168: Filho.condicoes de Agravos

168

Acidente pelo Agen o

s/espec. Ubá

Máquinas Diversas 2 Ferramentas/Componentes 2 Prensa 2 Tupia - Serras 1 Plaina - Lixadeira 1 Seccionadora - Impressora - Desempenadeira - Fresa - Furadeira - Filetadeira - Desengrossadeira - Destopadeira - Total Agente Máquinas... 8 Percentual.......................... 0,23% 5

Corpo Estranho 3 Queda - DORT - Ruído Ocupacional - Sem Especificação 2 Total Demais Agentes..... 5 Percentual.......................... 0,15% 4

TOTAIS DE ACIDENTES...... 13 3 PERCENTUAL POR PÓLO... 0,38% 10

Agente Causador

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 200

ANEXO D

Tabela 18

te Causador por Pólo Moveleir

Maringá Arapongas São Bento do Sul

Bento Gonçalves

37 10 24 260 53 386 13 10 16 408 25 474 2 2 9 86 19 120

42 - 4 65 5 116 65 9 28 235 34 372

- 2 - 41 3 46 8 - 1 57 12 79 4 - 3 2 2 11 6 - - 11 1 18 9 2 - 3 - 14 2 1 - 54 3 60 9 - 10 105 11 135 5 - - - - 5 2 - - - - 2

- - 1 50 1 52 204 36 96 1.377 169 1.890 ,93% 1,05% 2,79% 40,01% 4,91% 54,91%

64 16 96 823 56 1.058 29 3 18 188 19 257 16 1 9 43 12 81 33 - - 2 - 35 20 - 21 63 15 121

162 20 144 1.119 102 1.552 ,71% 0,58% 4,18% 32,51% 2,96% 45,09%

66 56 240 2.496 271 3.443 ,64% 1,63% 6,97% 72,52% 7,87% 100,00%

PÓLO MOVELEIROTotais

6 (Dados preliminares).

Page 169: Filho.condicoes de Agravos

169

ANEXO E

Tabela 19

Acidente Pelo Agente Causador Máquina – Participações %

% %

Relativo ao total de acidentes relatados

Relativo aos acidentes específicos

com máquinas

3.442 1.890Ferramentas/Componentes 474 13,77% 25,08%Máquinas Diversas 386 11,21% 20,42%Serras 372 10,81% 19,68%Furadeira 135 3,92% 7,14%Prensa 120 3,49% 6,35%Tupia 116 3,37% 6,14%Lixadeira 79 2,30% 4,18%Fresa 60 1,74% 3,17%Destopadeira 52 1,51% 2,75%Plaina 46 1,34% 2,43%Impressora 18 0,52% 0,95%Desempenadeira 14 0,41% 0,74%Seccionadora 11 0,32% 0,58%Filetadeira 5 0,15% 0,26%Desengrossadeira 2 0,06% 0,11%TOTAIS................................ 54,91% 100,00%

Agente Causador Totais

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

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170

APÊNDICES

Page 171: Filho.condicoes de Agravos

171

APÊNDICE A

ESTIMATIVA DAS TAXAS DE INCIDÊNCIA ACUMULADA, MORTALIDADE E LETALIDADE

33,11

14,72

4,76

0

5

10

15

20

25

30

35

Taxa de Incidência Acumulada Taxa de Mortalidade Taxa de Letalidade

Indicador Médio 2002 CNAE 3611 e 3612 Indicador Médio 2003 CNAE 3611 e 3612total Registros GERAL

Gráfico 27: Representação gráfica da taxa de incidência acumulada, mortalidade e letalidade geral em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 172: Filho.condicoes de Agravos

172

APÊNDICE B

ESTIMATIVA DAS TAXAS DE INCIDÊNCIA ACUMULADA, MORTALIDADE E LETALIDADE NO PÓLO MOVELEIRO DE UBÁ

16,3

4,45

2,73

0

5

10

15

20

25

30

Taxa de Inciência Acum ulada Taxa de Mortalidade Taxa de Letalidade

Indicador Médio 2002 CNAE 3611 e 3612 Indicador Médio 2003 CNAE 3611 e 3612 Pólo de Ubá

Gráfico 28: Representação gráfica da taxa de incidência acumulada, mortalidade e letalidade no pólo moveleiro de Ubá em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 173: Filho.condicoes de Agravos

173

APÊNDICE C

ESTIMATIVA DAS TAXAS DE INCIDÊNCIA ACUMULADA, MORTALIDADE E LETALIDADE NO PÓLO MOVELEIRO DE

ARAPONGAS

8,517,09

8,33

0

5

10

15

20

25

30

Taxa de Incidência Acumulada Taxa de Mortalidade Taxa de Letalidade

Indicador Médio 2002 CNAE 3611 e 3612 Indicador Médio 2003 CNAE 3611 e 3612Pólo de Arapongas

Gráfico 29: Representação gráfica da taxa de incidência acumulada, mortalidade

e letalidade no pólo moveleiro de Arapongas em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).

Page 174: Filho.condicoes de Agravos

174

APÊNDICE D

ESTIMATIVA DAS TAXAS DE INCIDÊNCIA ACUMULADA, MORTALIDADE E LETALIDADE NO PÓLO MOVELEIRO DE MARINGÁ

1,98

0 00

5

10

15

20

25

30

Taxa de Incidência Acumulada Taxa de Mortalidade Taxa de Letalidade

Indicador Médio 2002 CNAE 3611 e 3612 Indicador Médio 2003 CNAE 3611 e 3612 Pólo de Maringá

Gráfico 30: Representação gráfica da taxa de incidência acumulada, mortalidade e letalidade no pólo moveleiro de Maringá em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares

Page 175: Filho.condicoes de Agravos

175

APÊNDICE E

ESTIMATIVA DAS TAXAS DE INCIDÊNCIA ACUMULADA, MORTALIDADE E LETALIDADE NO PÓLO MOVELEIRO DE SÃO BENTO DO SUL

50,85

5,24

97,63

0

20

40

60

80

100

120

Taxa de Inciência Acumulada Taxa de Mortalidade Taxa de Letalidade

Indicador Médio 2002 CNAE 3611 e 3612 Indicador Médio 2003 CNAE 3611 e 3612Pólo de São Bento do Sul

Gráfico 31: Representação gráfica da taxa de incidência acumulada, mortalidade e letalidade no pólo moveleiro de São Bento do Sul em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003.

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi,

Page 176: Filho.condicoes de Agravos

176

APÊNDICE F

ESTIMATIVA DAS TAXAS DE INCIDÊNCIA ACUMULADA, MORTALIDADE E LETALIDADE NO PÓLO MOVELEIRO DE BENTO GONÇALVES

8,75

0 00

5

10

15

20

25

30

Taxa de Incidência Acumulada Taxa de Mortalidade Taxa de Letalidade

Indicador Médio 2002 CNAE 3611 e 3612 Indicador Médio 2003 CNAE 3611 e 3612Pólo de Bento Gonçalves

Gráfico 32: Representação gráfica da taxa de incidência acumulada, mortalidade

e letalidade no pólo moveleiro de Bento Gonçalves em relação aos indicadores médios dos CNAE 3611 e 3612 de 2002 e 2003

Fonte: Pesquisa Fundacentro, Sesi, 2006 (Dados preliminares).