FILME Janea Da Alma

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  • 7/23/2019 FILME Janea Da Alma

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    FILME: JANELA DA ALMA (2001)

    Sinopse:Filme brasileiro premiado, Janela da Alma (2001) um documentrio de

    Joo Jardim e Walter ar!al"o# $ !o% e !e% a de%eno!e pessoas com de&ici'ncias

    !isuais di!ersas, desde a miopia discreta at a ceueira total# las apresentam sua

    !iso de si mesmas, suas obser!a*+es acerca dos outros e de suas percep*+es do

    mundo# Fa%em re!ela*+es pessoais e inesperadas sobre !rios aspectos relati!os !iso# - documentrio resulta em uma re&le.o emocionada sobre o ato de !er, ou no,

    o mundo e como isso &eito# ntre essas pessoas, um dos mais interessantes

    depoimentos o do escritor portuu's Jos /aramao, celebridade con!idada por ter,

    em 1, publicado o romance nsaio sobre a eueira# - autor conuistou o

    3r'mio 4obel de 5iteratura tr's anos depois#

    Temas abordados:subjetividade, relativismo, incluso

    Comentrio sobre o filme Janela da alma:

    So muitas as reflexes que o filme nos permite, at porque a viso um dos sentidos

    mais importantes se no for o mais importante. Ento, o filme nos provoca o tempo todo

    a pensar a dicotomia entre o fisiolgico e o simblico, ou seja, olar o mesmo que

    ver! "ual o significado do olar! #emos exclusivamente com os olos! #ou tentar, ao

    longo do texto, levantar algumas possibilidades de resposta para essas questes.

    Sem d$vida alguma, a fun%o fisiolgica da viso deve ser entendida atravs dos filtros

    existentes entre a realidade e a representa%o dessa realidade. Esses filtros podem ser

    perceptivos, porque no podemos conecer o que no conseguimos perceber pelos

    rgos sensoriais &e eles so cinco', tambm podem ser emocionais j( que a emo%o

    um processo b(sico do ser umano e atencional, uma ve) que precisamos processar o

    que vemos e vivemos.

    *as todas essas explica%es tcnicas de como operamos enquanto umanos nos

    remetem a uma questo filosfica que surgiu com o omem e que at oje no

    objetivamos: afinal de contas o que a realidade! Essa questo tra)ida no filme pelo

    escritor filsofo +os Saramago de extrema relevncia na medida que pretendemos

    compreender o significado de tudo isso. Saramago resgata um outro grande filsofo

    camado -lato, o qual escreveu uma obra intituladaA rep6blica em que narra um mito

    que at oje serve como met(fora para pensarmos a respeito do significado do que

    vemos e do que profundamente a realidade. objetivo de toda a filosofia encontraras verdades, cegar / ess0ncia das coisas, no se contentar com as apar0ncias e esse

    movimento extrapola qualquer experi0ncia sensorial porque uma experi0ncia tambm

    racional, intelectual e intelig1vel.

    -ara quem no conece o mito da caverna de -lato, gostaria de apresentar um treco:

    7maina "omens em morada subterr8nea, em &orma de ca!erna, ue ten"a em toda a

    larura uma entrada aberta para a lu%9 estes "omens a: se encontram desde a in&8ncia,

    com as penas e os pesco*os acorrentados, de sorte ue no podem me.er;se nem !er

    al"ures e.ceto diante deles, pois a corrente os impede de !irar a cabe*a9 a lu% l"e !em

    de um &oo aceso sobre uma emin'ncia, ao lone atrs deles, imaina ue, ao lono

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    desse camin"o, erue;se um peueno muro, semel"ante aos tabiues ue os e.ibidores

    de &antoc"es eriem &rente deles e por cima dos uais e.ibem as suas mara!il"as#

    s prisioneiros s enxergam as sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da caverna.

    2maginemos que um prisioneiro se liberta e finalmente enxerga os objetos reais, no

    ficaria ele confuso se a realidade so os objetos que agora est( vendo ou as sombras quevira at ento! Ser( obrigado a decidir onde se encontra a realidade no que v0 agora ou

    nas sombras em que sempre viveu! Esse sujeito vive ferido pela lu), uma ve) que seus

    olos no se acostumam facilmente com a nitide) das coisas iluminadas. 3al

    aprendi)ado doloroso e gera medo na medida que o mais confort(vel seria retornar /

    caverna.

    que a caverna para o -lato! mundo das apar0ncias em que vivemos. "ue so as

    sombras projetadas no fundo! 4s coisas que percebemos. que so as correntes!

    5ossos preconceitos e opinies, nossa cren%a de que o que estamos percebendo a

    realidade. que a lu) do sol! 4 lu) da verdade. que o mundo iluminado pelo sol

    da verdade! 4 realidade.

    5o filme, Saramago afirma que nunca vivemos tanto na caverna de -lato. 6oje as

    imagens substituem a realidade, imagens essa que existem em superabundncia, como

    nos tra) o diretor 7in 7enders. -or isso, somos incapa)es de prestar aten%o, de nos

    emocionarmos, processos, como falamos, b(sicos do ser umano. tempo todo /s

    imagens querem nos vender algo, mas o que o precisamos que essas imagens

    produ)am um significado. Essa uma das caracter1sticas do que camamos de ps8

    modernidade: o imediatismo, a superficialidade e o car(ter descart(vel da informa%o,

    uma ve) que no temos mais tempo. 9itando 7in 7enders, temos tudo em excesso,

    menos o tempo: tempo para sonar, tempo para pensar, tempo para sentir.

    5o conseguimos mais ver Segundo o neurologista liver Sac;s, somos criaturas

    emocionais. 5o entanto, vivemos em um processo de banali)a%o das emo%es as quais

    ocorrem atravs de todas as nossas sensa%es e experi0ncias que extrapolam a viso. Se

    a viso interior a que a gente desenvolve mais, segundo o poeta, estamos realmente

    nos cegando na medida que o umano no nos sensibili)a mais: conseguimos passar por

    um morador de rua, um pedinte, com toda a naturalidade< conseguimos atropelar um co

    na rua e no parar o carro< segregar as pessoas pela cor, pela classe social ou at mesmo

    por ter algum transtorno mental. olar dos outros provoca uma leso interna, como

    relatou a cineasta *arjut, muitas ve)es irrevers1vel. Sem d$vida, Saramago, nos

    cegamos da sensibilidade, embrutecemos.

    9omo poss1vel a umanidade produ)ir coisas to sujas, mas ao mesmo tempo outras

    to belas como a arte, a m$sica, o afeto e o prprio ser umano. 4queles que no

    enxergam com os olos, o fa)em com tantos outros rgos e so capa)es de ver a si

    prprios e ao mundo com muita lucide). #ivemos em um mundo visual, mas

    aprendemos constantemente com aqueles que no compartilam desse mundo. 9amou8

    me muita a aten%o o relato do vereador de =elo 6ori)onte que disse que no tem

    nenuma dificuldade sexual, porque o toque no escuro sedu) muito mais do que a

    imagem. tato dos nossos sentidos, o que mais transmite afeto e o paradoxo que

    cada ve) nos tornamos mais individuais e nos tocamos menos. -ortanto, creio eu, que

    no vemos exclusivamente com os olos.

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    *as ainda me pergunto se ver e olar significam a mesma coisa! Enquanto a palavra

    ver me reporta a algo mais tcnico e enquadrado, o olar me remete a algo mais

    complexo e amplo que envolve nossas bases culturais e ps1quicas de forma a elaborar

    um significado. social produ) subjetividades e por isso me pergunto se realmente

    olamos ao vivo, como o fa) o fotgrafo cego. 3eno forma%o em antropologia e agora

    me aventuro na forma%o em psicologia e cada ve) mais me dou conta o quanto o olar um treino e saber olar requer sensibilidade, mas tambm requer conecimento. 9ada

    (rea do saber treina o nosso olar para algo. 5o nasci antroploga, aprendi a ser

    antroploga. 3odo o aprendi)ado cria um vis para o nosso olar. Eu posso olar um

    morador de rua e pensar que ele um construto da sociedade de classes, do capitalismo

    que produ) indiv1duos mais e menos umanos, mas tambm posso olar a mesma cena

    e pensar que uma pessoa que no se esfor%ou o suficiente na vida e por isso um

    perdedor, ou ainda pensar que ele fruto de um arranjo familiar que o desorgani)ou

    profundamente. u seja, o entendimento do que a realidade enviesado, no neutro.

    5o ( neutralidade no nosso olar, nosso olar sim pol1tico e produtor de

    discursividades, porque a forma como olamos o mundo fala muito daquilo que somos,

    daquilo que fomos e do desejamos ser.