92
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA IZABELA GUTIERREZ DE ARRUDA FILMES AUTOMONTADOS CONTENDO NANOPARTÍCULAS DE SiO 2 : APLICAÇÃO EM SENSORES E BIOSSENSORES DE EFEITO DE CAMPO CUIABÁ-MT 2011

FILMES AUTOMONTADOS CONTENDO ......Te amo. AGRADECIMENTOS Primeiramente, à Deus que guia os meus passos a cada novo amanhecer, me dando a vida, o alimento, a força, a sabedoria,

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

    INSTITUTO DE FÍSICA

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

    IZABELA GUTIERREZ DE ARRUDA

    FILMES AUTOMONTADOS CONTENDO

    NANOPARTÍCULAS DE SiO2: APLICAÇÃO EM SENSORES E

    BIOSSENSORES DE EFEITO DE CAMPO

    CUIABÁ-MT

    2011

  • IZABELA GUTIERREZ DE ARRUDA

    FILMES AUTOMONTADOS CONTENDO

    NANOPARTÍCULAS DE SiO2: APLICAÇÃO EM SENSORES E

    BIOSSENSORES DE EFEITO DE CAMPO

    Dissertação submetida ao Programa de Pós-

    Graduação em Física da Universidade Federal de

    Mato Grosso como parte dos requisitos para

    obtenção do Titulo de Mestre em Física.

    Área de concentração: Física

    Orientador: Prof. Dr. Romildo Jeronimo Ramos

    Co-orientador: Prof. Dr. Nirton Cristi Silva Vieira

    CUIABÁ-MT

    2011

  • FICHA CATALOGRÁFICA

    A778f Arruda, Izabela Gutierrez de.

    Filmes automontados contendo nanopartículas de SiO2: aplicação em sensores e

    biossensores de efeito de campo / Izabela Gutierrez de Arruda. – 2011.

    91 f. : il. color.

    Orientador: Prof. Dr. Romildo Jerônimo Ramos.

    Co-Orientador: Prof. Dr. Nirton Cristi Silva Vieira.

    Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de

    Física, Pós-Graduação em Física, Área de Concentração: Física, 2011.

    Bibliografia: f. 85-91.

    1. Física da matéria condensada. 2. Física – Química – Engenharia de materiais.

    3. Filmes automontados (Física). 4. Filmes – Nanopartículas (Física). 5.

    Sensores – Efeitos de campo. 6. Biossensores – Efeito de campo. 7. Pesticida. I.

    Título.

    CDU –538.9

    Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931

  • DEDICATÓRIA

    Ao meu esposo Sidney Gomes de Arruda.

    Obrigada por todo amor, cuidado, respeito e

    carinho durante esse tempo. Te amo.

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, à Deus que guia os meus passos a cada novo amanhecer, me

    dando a vida, o alimento, a força, a sabedoria, a paz e a alegria.

    À minha família querida, que sempre está ao meu lado. Obrigada pela torcida.

    Essa vitória também é de vocês.

    Ao meu orientador prof. Dr. Romildo Jeronimo Ramos, pela disponibilidade,

    dedicação, paciência, contribuição imprescindível com que desempenhou o seu papel de

    orientador zeloso. Jamais me esquecerei de seu ensinamento de que “o sucesso só vem na

    frente do trabalho no dicionário”. Que Deus lhe abençoe e muito obrigada por ter acreditado

    em mim para realizar este trabalho.

    Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Física da UFMT que com

    determinação me ensinaram o caminho do ensino e da pesquisa.

    Ao meu co-orientador e amigo Dr. Nirton Cristi Silva Vieira (IFSC/USP) que não

    mediu esforços e apoio para a realização deste trabalho, que diz, “é tão bom quando alguém

    gosta da gente sem interesse”. Na Bíblia está escrito que: “mas há amigo mais chegado do que

    um irmão” (Provérbios 18:24b). Você não é apenas um amigo e sim um irmão, muito obrigada

    por tudo e que Deus lhe abençoe com todas as ricas sortes de bênçãos, contidas na Sua

    Palavra.

    Aos professores: Prof. Dr. Francisco E. G. Guimarães (IFSC/USP), Prof. Dr.

    Edson Ferreira Chagas (IF/UFMT) e Prof. Dr. Rogério Junqueira Prado (IF/UFMT) pelo

    apoio na aquisição de materiais para a realização do trabalho.

    Ao Prof. Dr. Ailton José Terezo (DQ/UFMT) pelas discussões e empréstimo do

    Laboratório Físico-Química, durante a realização do trabalho.

    A Profª. Drª. Marilza Castilho pelo empréstimo do Laboratório.

    Ao Prof. Dr. Wanderlei Pignati do Instituto de Saúde Coletiva (UFMT) pelo

    material de pesquisa disponibilizado.

    A todos do grupo GENMAT/DQ/UFMT (Laboratório Físico-Química), aprendi

    muito com a amizade de vocês.

    Aos amigos de perto e de longe.

    Aos amigos de turma do mestrado, Adriana, Ana Paula, Alessandro, Ariel, José,

    João, Lucas, Rodrigo (“o químico”) e Thiago que contribuíram para que eu chegasse até aqui.

  • Aos colegas de todo mestrado e da graduação da física que também participaram e

    colaboraram para a minha aprendizagem.

    A minha amiga Andréia pelas horas dedicadas e pelo auxílio no laboratório,

    também pelo carinho, que Deus levante sempre pessoas para te ajudar em sua caminhada.

    Aos professores, coordenadores, técnicos, funcionários e a Diretora Prof. Vilce

    Teixeira de Oliveira da Escola Estadual Profª. Vanil Stabilito (VG) pelo apoio, compreensão,

    carinho e respeito.

    A Pastora Mara Rubia, pelo apoio em orações nos momentos mais difíceis, pela

    confiança depositada e fé compartilhada.

    A minha avó amada, “Dona Izabel” por ser um alicerce em minha vida e um

    exemplo de superação e amor.

    Ao meu esposo Sidney, que é parte de mim e me faz sentir como águia, pois

    permite que eu voe sempre mais alto, acreditando e apostando em meus sonhos.

    A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

  • “Uma vida produtiva não é obra do acaso!”

    “Sua sabedoria determina sua força,

    Sua força determina sua resistência,

    Sua resistência determina seu sucesso."

    Mike Murdock

    “Eu sei que se eu te obedecer

    E se Tua voz eu ouvir,

    E seus mandamentos guardar, serei

    Bendito por onde eu passar

    As suas bênçãos vou receber

    O Teu favor vai me alcançar”.

    Regis Danese

    “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil

    para o ensino, para a repreensão, para a

    correção, para a educação na justiça, a fim de

    que o homem de Deus seja perfeito e

    perfeitamente habilitado para toda boa obra.”

    II Timóteo 3:16-17

  • RESUMO

    Neste trabalho foi estudado um sistema híbrido constituído de um eletrodo de

    vidro recoberto com ouro (Au), convenientemente modificado com nanopartículas de dióxido

    de silício (SiO2-Np). Filmes contendo SiO2-Np foram fabricados pela técnica de

    automontagem camada por camada (LbL) utilizando o polímero polialilamina hidroclorada

    (PAH) como contra íon. O crescimento das multicamadas de PAH/SiO2-Np foi monitorado

    por espectroscopia de absorção ultravioleta-visível (UV-Vis) e a morfologia dos filmes foi

    analisada por microscopia de força atômica (AFM). A plataforma PAH/SiO2-Np foi aplicada

    como sensor de pH baseado no conceito de efeito de campo e como suporte para a

    imobilização da enzima acetilcolinesterase (AChE) visando à detecção potenciométrica do

    neurotransmissor acetilcolina (ACh) e do pesticida organofosforado metamidofós. Avaliados

    através de medidas de voltagem de saída de um dispositivo de efeito de campo, os sensores se

    mostraram eficazes para a detecção de pH, apresentando sensibilidade próxima a valores

    comumente encontrados para o Si em bulk (~40 mV/pH). Modificados com a enzima AChE o

    sistema também se mostrou promissor para a detecção e quantificação potenciométrica da

    acetilcolina e do metamidofós. A AChE atua na degradação da ACh alterando o potencial

    elétrico do meio devido à presença de íons H+. Como a enzima tem sua ação inibida na

    presença do metamidofós, foi possível então a detecção de pequenas concentrações desse

    pesticida, medindo-se o percentual de inibição enzimática da plataforma modificada

    enzimaticamente. Como vantagens potenciais, destacam-se a simplicidade na confecção do

    eletrodo, a possibilidade de construção em escala industrial e não necessidade de recursos

    humanos qualificados para operação do dispositivo bem como o seu baixo custo de

    processamento.

    Palavras-chave: Nanopartículas. Efeito de campo. Sensor de pH. Biossensor.

    Acetilcolinesterase. Pesticidas

  • ABSTRACT

    In this work, we study a hybrid system consisting of a glass electrode coated with gold (Au),

    suitably modified with nanoparticles of silicon dioxide (SiO2-Np). SiO2-Np containing films

    fabricated by the self-assembly technique, layer by layer (LBL), using polyallylamine

    hydrochloride (PAH) as counter ion. The growth of multilayer PAH/SiO2-Np was monitored

    by absorption spectroscopy, ultraviolet-visible (UV-Vis) and morphology of the films was

    analyzed by atomic force microscopy (AFM). The platform PAH/SiO2-Np was applied as

    a pH sensor based on the concept of field effect and as support for the immobilization of the

    enzyme acetylcholinesterase (AChE) seeking the potentiometric detection of the

    neurotransmitter acetylcholine (ACh) and the organophosphate pesticide methamidophos.

    Evaluated by measurements of output voltage of a field effect device, the sensors have been

    proven effective for the detection of pH, showing sensitivity to values close to

    those commonly found in bulk Si (~ 40 mV/pH). AChE modified with the enzyme

    system also showed promise for the potentiometric detection and quantification of

    acetylcholine and methamidophos. AChE acts in the degradation of ACh by altering the

    electrical potential of the medium due to the presence of ions H+. As the enzyme has its

    action inhibited in the presence of methamidophos was then possible to detect small

    concentrations of this pesticide by measuring the percentage of enzyme inhibition

    of enzymatically modified platform. As potential advantages include the simplicity in making

    the electrode, the possibility of building on an industrial scale and no need for qualified

    human resources for the device operation and its low cost processing.

    Keywords: Nanoparticles. Field Effect. pH Sensor. Biosensor. Acetylcholinesterase.

    Pesticides.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 – Diagrama com as características da estrutura física de um transistor de efeito de

    campo metal-óxido-semicondutor (MOSFET).14

    ..................................................................... 26

    Figura 2.2 – Representação simplificada do MOSFET em um circuito elétrico.14

    .................. 27

    Figura 2.3 – Operação básica e características do dispositivo MOSFET com tensão VGS e VDS aplicada.

    15 ................................................................................................................................. 29

    Figura 2.4 – Curvas características IDS x VDS de um MOSFET tipo n. .................................... 30

    Figura 2.5 – Diagrama do transistor de efeito de campo seletivo a íons (ISFET). ................... 31

    Figura 2.6 – Curvas características IDS x VDS de um ISFET. .................................................. 32

    Figura 2.7 – Representação do sistema de medida de um SEGFET. (a) Usando um MOSFET

    comercial, (b) Usando um amplificador operacional. .............................................................. 33

    Figura 2.8 – Esquema representando a superfície da membrana do SiO2 em contanto com uma

    solução eletrolítica. ................................................................................................................... 35

    Figura 2.9 – Elementos básicos que compõem um biossensor................................................. 37

    Figura 2.10 – Detecção de pesticida. ........................................................................................ 40

    Figura 3.1 – Esboço esquemático do processo de produção de filmes nanoestruturados pela

    técnica LbL, adaptado51

    ............................................................................................................ 43

    Figura 3.2 – Fórmula estrutural do polímero PAH. .................................................................. 47

    Figura 4.1 – Estrutura química geral dos pesticidas: (a) organofosforado e (b) carbamato. .... 50

    Figura 4.2 – Fórmula estrutural do metamidofós. .................................................................... 52

    Figura 4.3 – Esquema do sistema nervoso central, enzima AChE, neurotransmissor ACh e

    pesticidas OF e CARB. ............................................................................................................. 54

    Figura 5.1 – Célula eletrolítica utilizada nos experimentos com o eletrodo de referência e o

    eletrodo de trabalho. ................................................................................................................. 57

    Figura 5.2 – Esquema representativo de construção do eletrodo modificado PAH/SiO2-Np via

    automontagem (a) e imobilização da enzima no mesmo (b). ................................................... 60

    Figura 5.3 – Esquema do sistema de medidas do SEGFET mostrando o diagrama de conexão

    do amplificador operacional LF356. ........................................................................................ 61

    Figura 5.4 – Esquema do sistema utilizado na detecção do neurotransmissor acetilcolina e do

    pesticida metamidofós. ............................................................................................................. 62

  • Figura 5.5 – Espectrofotômetro UV-Visível ............................................................................ 63

    Figura 6.1 – Espectro de absorbância da solução de PAH. ...................................................... 66

    Figura 6.2 – Espectro de absorbância da dispersão das nanopartículas de SiO2. ..................... 66

    Figura 6.3 – Espectro de absorbância das bicamadas de PAH/SiO2-Np. Condições

    experimentais: substrato imerso 10 min no PAH, 10 min nas nanopartículas e para ambos o

    processo de lavagem foi de 1 min. ........................................................................................... 67

    Figura 6.4 – Absorbância a 350 nm em função do número de bicamadas depositadas dos

    filmes PAH/SiO2-Np. ............................................................................................................... 68

    Figura 6.5 – Micrografias AFM de filmes LbL de PAH/SiO2-Np (1 bicamada): 2D (a) e 3D

    (b). ............................................................................................................................................ 69

    Figura 6.6 – Micrografias AFM de filmes LbL de PAH/SiO2-Np (3 bicamadas): 2D (a) e

    3D(b). ........................................................................................................................................ 70

    Figura 6.7 – Micrografias AFM de filmes LbL de PAH/SiO2-Np (5 bicamadas): 2D (a) e

    3D(b). ........................................................................................................................................ 70

    Figura 6.8 – Resposta ao pH apenas do substrato de vidro recoberto com Au ........................ 71

    Figura 6.9 – Sensibilidade ao pH apenas do substrato de vidro recoberto com Au. ................ 72

    Figura 6.10 – Resposta ao pH do filme de 1 bicamada de PAH/SiO2-Np em Au. ................... 73

    Figura 6.11 – Resposta ao pH do filme de 3 bicamadas de PAH/SiO2-Np em Au. ................. 73

    Figura 6.12 – Resposta ao pH do filme de 5 bicamadas de PAH/SiO2-Np em Au. ................. 74

    Figura 6.13 – Sensibilidade ao pH dos filmes de 1, 3 e 5 bicamadas de PAH/SiO2-Np em Au

    .................................................................................................................................................. 75

    Figura 6.14 – Sinal do biossensor PAH/SiO2-Np – AChE para detectar 1,0 mM de acetilcolina

    .................................................................................................................................................. 76

    Figura 6.15 – Sensibilidade à acetilcolina de filmes do biossensor PAH/SIO2-Np – AChE.

    Condições de medida: pH 7.4, 5 mM. ...................................................................................... 77

    Figura 6.16 – Curva de calibração do biossensor PAH/SIO2-Np – AChE. Condições de

    medida: pH 7.4, 5 mM. ............................................................................................................. 77

    Figura 6.17 – Sinal característico do sistema biossensor para determinação de uma

    concentração conhecida de acetilcolina (linha em preto) e o sinal medido para a mesma

    concentração de acetilcolina após incubação do eletrodo em solução contendo uma

    concentração conhecida do pesticida metamidofós (linha em azul)......................................... 79

    Figura 6.18 – Curva analítica para determinação do pesticida metamidofós expressa em

    porcentagem de inibição enzimática. (● Dose letal (DL50) oral do produto formulado em

    ratos). ........................................................................................................................................ 80

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Média anual de uso de agrotóxicos em litros, com maior utilização entre 2005 a

    2010 por tipo de uso e classe toxicológica no estado de Mato Grosso. ................................... 51

    Tabela 2 - Resultado das micrografias AFM de filmes LbL de PAH/SiO2. ............................. 69

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

    ABS – Absorbância

    ACh – Acetilcolina

    AChE – Acetilcolinesterase

    AFM – Microscopia de Força Atômica

    Ag/AgCl – Prata/Cloreto de Prata

    Al2O3 – Óxido de Alumínio

    ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

    AO – Amplificador Operacional

    Au – Ouro

    B – Corpo

    CARB – Carbamato

    D – Dreno

    DA – Neurotransmissor Dopamina

    DL50 – Dose Letal

    DQ – Departamento de Química

    E – Enzima

    EGFET – Transistor de Efeito de Campo de Porta Estendida

    EI – Complexo Inativo

    EIS – Eletrólito-Isolante-Semicondutor

    E-LbL – Eletrostatic Layer-by-Layer

    ENFET – Transistor de Efeito de Campo Enzimático

    Eref – Eletrodo de Referência

    ES – Complexo Enzima-Substrato

    FED – Dispositivo de Efeito de Campo

    FET – Transistor de Efeito de Campo

    FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz

    G – Porta

    GA – Glicose Amilase

    GENMAT – Grupo de Eletroquímica e Novos Materiais

    GOx – Glicose Oxidase

    H+ – Íons de Hidrogênio

  • H2O2 – Peróxido de Hidrogênio

    HCl – Ácido Clorídrico

    I – Inibidor

    iD – Corrente do Dreno

    IDS – Corrente Dreno/Fonte

    IF – Instituto de Física

    IFSC – Instituto de Física de São Carlos

    iG – Corrente da Porta

    In2O3 – Óxido de Índio

    INDEA-MT – Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso

    iS – Corrente da Fonte

    ISC – Instituto de Saúde Coletiva

    ISFET – Transistor de Efeito de Campo Sensível a Íons

    ITO – Óxido de Índio e Estanho

    IUPAC – International Union of Pure and Applied Chemistry

    JFET – Transistor de Efeito de Campo de Junção

    k – Constante de Boltzmann

    k1 – Constante da Velocidade para Formação do Complexo ES

    k2 – Constante da Velocidade para Dissociação do Complexo ES

    KCl – Cloreto de Potássio

    ki – Constante de Equilíbrio para Ligação do Inibidor com a Enzima

    KMnO4 – Permanganato de Potássio

    L – Comprimento do Canal

    LbL – Camada-por-Camada ou Layer-by-Layer

    LC50 – Concentração Letal

    [Metamidofós] – Concentração de Metamidofós

    MOSFET – Transistor de Efeito de Campo Metal-Óxido-Semicondutor

    MT – Mato Grosso

    MW – Peso Molecular

    MWNTs – Nanotubos de Carbono de Paredes Múltiplas

    n – Elétrons

    N2 – Gás Nitrogênio

    NaOH – Hidróxido de Sódio

    NH3+ – Íon Amônia

  • NiTsPc – Ftalocianina Tetrasulfonada de Níquel

    OF – Organofosforado

    OH- – Hidroxila

    p – Lacunas

    P – Produto

    PAH – Polialilamina Hidroclorada

    PAMAM – Poli (amidoamina)

    PANI – Polianilina

    pH – Potencial Hidrogeniônico

    pHpzc – Valor do pH do Ponto de Carga Zero

    PPDA – Poli (dialildimetilamônio)

    PPID – Poli (propileno imina)

    PSS – Poli (estireno sulfonado)

    q – Carga Elementar

    S – Fonte

    (S) – Substrato

    SEG – Porta Estendida e Separada

    SEGFET – Transistor de Efeito de Campo de Porta Estendida e Separada

    Si – Silício

    Si3N4 – Nitreto de Silício

    SiO2 – Dióxido de Silício

    SiO2-Np – Nanopartículas de Dióxido de Silício

    SnO2 – Óxido de Estanho

    SWCNTs – Nanotubos de Carbono de Parede Única

    Τ – Temperatura Absoluta

    Ta2O5 – Óxido de Tântalo

    UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

    USP – Universidade de São Paulo

    UV-Vis – Espectroscopia de Absorção na Região do Ultravioleta-Visível

    VDS – Tensão Dreno/Fonte

    VG – Várzea Grande

    VGS – Tensão Porta/Fonte

    VT – Tensão Limiar

    ZnO – Óxido de Zinco

  • β – Parâmetro que Reflete a Sensibilidade do Material da Porta

    ψ – Potencial de Superfície do Óxido

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO .............................................................................. 21

    2 SENSORES DE EFEITO DE CAMPO ....................................... 25

    2.1 Transistor de Efeito de Campo ....................................................................................... 25

    2.2 MOSFET ......................................................................................................................... 26

    2.2.1 Princípio de Funcionamento do MOSFET ........................................................................... 27

    2.3 ISFET .............................................................................................................................. 30

    2.4 SEGFET .......................................................................................................................... 33

    2.5 Sensibilidade SiO2/Solução Eletrolítica .......................................................................... 34

    2.6 ISFETs como Biossensores de Pesticidas ....................................................................... 36

    3 FILMES AUTOMONTADOS CAMADA POR CAMADA

    (LbL) ................................................................................................... 41

    3.1 Filmes LbL Contendo Materiais Nanoestruturados ........................................................ 41

    3.2 Sensores de Efeito de Campo Baseados em Filmes LbL ................................................ 44

    3.3 Biossensores de Efeito de Campo Baseados em Filmes LbL ......................................... 45

    3.4 PAH/SiO2 em Filmes LbL .............................................................................................. 47

    4 PESTICIDAS, ACETILCOLINESTERASE E ACETIL-

    COLINA ............................................................................................. 49

    4.1 Pesticidas Organofosforados e Carbamatos .................................................................... 49

    4.2 Acetilcolinesterase e Acetilcolina ................................................................................... 53

    5 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................... 57

    5.1 Materiais Utilizados ........................................................................................................ 57

    5.2 Limpeza das vidrarias e substratos ................................................................................. 58

    5.3 Preparação dos filmes PAH/SiO2 ................................................................................... 58

    5.4 Configuração Experimental do Dispositivo SEGFET .................................................... 60

    5.5 Configuração Experimental dos Biossensores de Acetilcolina e Pesticida .................... 61

    5.6 Técnicas de Caracterização ............................................................................................. 62

    6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................... 65

    6.1 Crescimento e Caracterização dos Filmes ...................................................................... 65

  • 6.1.1 Espectroscopia na Região do UV-Vis .................................................................................. 65

    6.1.2 Microscopia de Força Atômica (AFM) ................................................................................ 68

    6.2 PAH/SiO2-Np: Sensor de pH .......................................................................................... 70

    6.3 – PAH/SiO2: Biossensor de Acetilcolina ........................................................................ 75

    6.4 PAH/SiO2: Biossensor de Pesticidas .............................................................................. 78

    7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 83

    7.1 Conclusões ...................................................................................................................... 83

    7.2 Perspectivas Futuras ....................................................................................................... 84

    REFERÊNCIAS ................................................................................ 85

  • 21

    1 INTRODUÇÃO

    Este trabalho tem como objetivos construir uma plataforma automontada

    contendo nanopartículas de SiO2, desenvolver dispositivos de efeito de campo a baixo custo,

    com boa sensibilidade e capacidade de detectar de forma rápida e eficaz íons H+, e também

    produzir sensores e biossensores para a determinação de pH, de acetilcolina e do pesticida

    metamidofós.

    A motivação em realizar o trabalho surgiu do potencial agrícola no estado de

    Mato Grosso (MT), pelo fato do estado ser um dos maiores produtores de grãos do Brasil o

    que leva consequentemente, ao uso de uma grande quantidade de agrotóxicos para inibir as

    pragas nessas lavouras. Assim, a construção de um biossensor para a detecção de pesticidas,

    sobretudo o metamidofós, que é altamente tóxico e o mais utilizado em MT é interessante

    tanto do ponto de vista acadêmico, quanto comercial. O SiO2, por ser um material sensível ao

    pH foi empregado juntamente com a técnica de automontagem camada por camada, uma

    técnica que não necessita de equipamentos sofisticados e caros, juntamente a dispositivos de

    efeito de campo como transdutores de sinal.

    Segundo a IUPAC1 (International Union of Pure and Applied Chemistry), um

    sensor químico “é um dispositivo que transforma a informação química, referente à

    concentração de um componente específico de uma amostra, para análise de sua composição

    total, em um sinal analiticamente utilizável. Essas informações químicas podem ser

    provenientes de uma reação química do analito ou de uma propriedade física do sistema

    investigado”. Porém, quando estes dispositivos são projetados para fornecer informação

    analítica específica quantitativa, ou semi-quantitativa, de análise seletiva usando um elemento

    de reconhecimento biológico2 em contato direto com um transdutor que apresenta a

    propriedade de transformar uma informação química em um sinal elétrico mensurável, eles

    são chamados de biossensores1 e podem ser usados em diversas aplicações ambientais, tais

    como detecções de pesticidas.3

    Existem diversos tipos de sensores que podem ser classificados de acordo com os

    princípios físicos e químicos sobre os quais eles estão fundamentados (temperatura, luz, som,

    calor, radiação, tensão elétrica, pressão, eletroquímica, entre outros).4 Para tal, o elemento de

    reconhecimento químico ou biológico é convenientemente imobilizado em um suporte (filme)

    apropriado.5

  • 22

    Diversas técnicas têm sido utilizadas para a construção de filmes finos aplicáveis

    como eletrodos em diversos tipos de sensores e biossensores.6,7

    Entre elas, a técnica de

    automontagem (LbL, do inglês layer by layer) se destaca para tal finalidade, pois possibilita

    criar filmes multicamadas de diferentes materiais em escala nanométrica de maneira simples e

    barata. Esses filmes podem ser utilizados como plataformas de detecção.8

    Dentre os diversos tipos de sensores, destacam-se aqueles baseados em

    dispositivos de efeito de campo (FED, do inglês Field Effect Device), sendo os mais

    estudados e caracterizados os sensores de pH, com destaque para o ISFET (transistor de efeito

    de campo sensível a íons).9 A determinação do pH é muito importante, pois diversos

    processos bioquímicos são dependentes do seu valor.10

    Neste sentido, estudos envolvendo

    sensores e biossensores de efeito de campo utilizando uma plataforma automontada de

    nanopartículas de dióxido de silício (SiO2-Np) foram construídos e aplicados para a

    determinação de pH, do neurotransmissor acetilcolina e do pesticida metamidofós.

    No desenvolvimento dessa pesquisa descobrimos que o estudo e processamento

    de filmes através da técnica LbL baseados no polímero PAH e nas nanopartículas de SiO2 é

    importante na aplicação em sensores e biossensores. Da mesma maneira, o eletrodo

    modificado PAH/SiO2-Np-(AChE) encontra aplicabilidade como membrana quimicamente

    sensível em dispositivos de efeito de campo com aplicação específica em sensores de pH,

    biossensores de acetilcolina e ainda como biossensor com capacidade de detectar de forma

    rápida e eficaz pequenas quantidades do pesticida metamidofós, podendo ser utilizado em

    lavouras, indústria alimentícia ou onde quer que seja requerido um controle desse pesticida.

    Dentre os diversos tipos de sensores que operam com o conceito de efeito de

    campo, é apresentado no capítulo 2 uma breve revisão sobre os transistores de efeito de

    campo (FETs), passando pela definição do funcionamento do transistor de efeito de campo

    metal óxido semicondutor (MOSFET) e do ISFET, que já vem sendo utilizado como sensor

    de pH com uma multiplicidade de membranas. O funcionamento de um dispositivo

    alternativo ao ISFET, com o eletrodo de porta estendido e separado da parte de efeito de

    campo (SEGFET) como opção para fabricação dos sensores a partir do efeito de campo e o

    uso de SiO2 com sua aplicação como membrana quimicamente sensível em dispositivos de

    FETs, destacando a interface SiO2/solução eletrolítica e o ISFET usado para detectar a

    presença de pesticidas é discutido.

    O capítulo 3 apresenta a técnica LbL, os materiais utilizados como membranas

    sensíveis, o sistema de medida com dois eletrodos (eletrodo modificado e eletrodo de

    referência), o esquema do circuito utilizado nas medidas, o desenvolvimento de sensores e

  • 23

    biossensores de efeito de campo baseado nessa técnica e também o uso de PAH/SiO2 em

    filmes LbL.

    No capítulo 4 é feito um resumo dos pesticidas organofosforados e carbamatos, da

    enzima acetilcolinesterase e da acetilcolina, um importante neurotransmissor. No capítulo 5

    são apresentados os materiais, equipamentos e métodos usados na preparação dos filmes. A

    configuração experimental do dispositivo SEGFET, o uso desse dispositivo para produção de

    biossensores de acetilcolina e de pesticidas e as técnicas de caracterização utilizadas (UV-Vis

    e AFM) também são abordados.

    No capítulo 6, são apresentados os resultados experimentais dos filmes LbL

    PAH/SiO2-Np, utilizados como sensores de pH e biossensores da ACh e do pesticida

    metamidofós.

  • 24

  • 25

    2 SENSORES DE EFEITO DE CAMPO

    Neste capítulo foram revisados os princípios físicos que descrevem dispositivos

    baseados em transistores de efeito de campo (FETs), sua estrutura, operação, comportamento

    como sensor sensível a íons, bem como seus aspectos práticos e teóricos baseando-se nas

    características de corrente-tensão.

    Entre os vários dispositivos de efeito de campo, três que se destacam como

    sensores são apresentados: o MOSFET, o ISFET e o transistor de efeito de campo de porta

    estendida e separada (SEGFET). O SiO2 foi o primeiro material utilizado como camada

    sensível em ISFETs,9,11

    portanto, a fundamentação da sensibilidade do mesmo, como camada

    sensível usada em dispositivos de efeito de campo que fornecerão a fundamentação geral para

    esse trabalho, também é descrita.

    2.1 Transistor de Efeito de Campo

    Segundo Macedo12

    , um transistor é um componente eletrônico constituído por

    semicondutores, capaz de exercer a maioria das funções das válvulas eletrônicas nos circuitos

    elétricos. O transistor possui a propriedade de amplificação de um sinal elétrico e a função de

    transdutor que converte uma grandeza física ou química em um sinal mensurável. Existem

    dois tipos de transistores, classificados de acordo com o tipo de portador de carga, os

    bipolares (elétrons e lacunas) e os unipolares (elétrons ou lacunas).13

    O transistor de efeito de campo (FET do inglês Field Effect Transistor) é um

    pequeno dispositivo semicondutor de três terminais, no qual a tensão entre dois terminais

    controla a corrente que circula no terceiro terminal. Existem dois tipos principais de FET: o

    JFET (transistores de efeito de campo de junção) e o MOSFET (transistores de efeito de

    campo metal-óxido-semicondutor).14

    A denominação FET advém da propriedade física do

    dispositivo, sendo que a base de seu funcionamento está no campo elétrico criado pela tensão

    aplicada no eletrodo de porta para controlar a corrente do dispositivo. O FET pode ser de

  • 26

    canal do tipo n (elétrons) ou canal p (lacunas), dependendo dos portadores n ou p que darão

    origem à corrente elétrica. Logo, o FET compõe uma fonte de corrente controlada por

    tensão.13

    É um dispositivo confiável e de fácil fabricação, pode ter tamanho bem reduzido, é

    resistente, produz pouco calor e ainda consome pouca energia.9

    2.2 MOSFET

    O MOSFET é um dispositivo semicondutor de estado sólido largamente utilizado

    em circuitos eletrônicos, através da produção de sinais como chave para controlar correntes

    nesses circuitos.13,14

    A Figura 2.1 ilustra um diagrama com as características da estrutura

    física de um MOSFET de canal n. Esse dispositivo é fabricado sobre um substrato ou corpo

    (B) de silício do tipo p que é a sua base física, possuindo duas regiões isoladas e densamente

    dopadas com portadores contrários aos do substrato, ou seja, portadores do tipo n. Essas

    regiões são denominadas eletrodos fonte (S) e dreno (D), e são recobertas por uma fina

    camada de dióxido de silício (cerca de 0,1 µm)2, que funciona como isolante elétrico.

    Figura 2.1 – Diagrama com as características da estrutura física de um transistor de efeito de campo metal-óxido-

    semicondutor (MOSFET).14

    Porta (G) Fonte (S) Dreno (D)

    Metal SiO2

    (Isolante) Canal

    n n

    Substrato tipo p

    Corpo (B)

    L

  • 27

    Um contato de metal atravessa essa camada isolante, sobre as duas regiões (D) e

    (S) que constituem o contato elétrico. A região entre a fonte e o dreno é denominada de canal

    e tem comprimento L (cerca de 1 a 10 µm). Também um contato metálico é colocado sobre a

    camada de óxido (SiO2) para formar o eletrodo porta (G) do dispositivo. O MOSFET possui

    quatro contatos ou terminais de metal situados no dreno, na fonte, no substrato e na porta.

    A camada isolante de SiO2 é responsável pela elevada impedância do MOSFET.

    A elevada impedância de entrada é importante para que seja possível controlar a corrente no

    canal n, ou seja, para que a corrente de porta (iG) seja zero ampère para qualquer polarização,

    garantindo que não haja conexão elétrica direta entre o terminal da porta e o canal.15

    Quando

    um potencial elétrico é aplicado entre a porta e a fonte (VGS), a condutividade elétrica do

    canal é ativada e o valor deste potencial aplicado é que define a intensidade da corrente

    elétrica entre os eletrodos dreno e fonte.

    O nome de dispositivo MOSFET é proveniente da sua estrutura física. A

    arquitetura do dispositivo MOSFET é simétrica e, portanto, os contatos da fonte e do dreno

    podem ser trocados sem modificar suas características. A Figura 2.2 é a representação do

    MOSFET em um circuito elétrico.

    Figura 2.2 – Representação simplificada do MOSFET em um circuito elétrico.14

    2.2.1 Princípio de Funcionamento do MOSFET

    Para ativar a circulação de corrente elétrica no canal, a fonte e o dreno devem

    estar aterrados e uma tensão positiva ou negativa ser aplicada na porta. Deixando aterrada a

    fonte, a tensão na porta surge em efeito entre a porta e a fonte que é representada por VGS

    Porta (G)

    Dreno (D)

    Fonte (S)

  • 28

    (tensão porta/fonte). Dependendo da grandeza e da polaridade do potencial elétrico aplicado

    entre a porta e a fonte, a condutividade elétrica do canal é ativada.

    Na Figura 2.3 é apresentado o esquema de um MOSFET canal n quando uma

    tensão positiva é aplicada na porta. Um canal n é criado sobre o substrato do tipo p abaixo da

    camada isolante SiO2. Devido à tensão positiva aplicada na porta, as lacunas livres são

    repelidas da região do substrato abaixo da porta (região do canal). Esta tensão (VGS) atrai

    elétrons das regiões da fonte e do dreno para o canal e quando houver um número satisfatório

    de elétrons perto da superfície do substrato sob a porta, uma região n é criada, ligando as

    regiões da fonte e do dreno.

    Na sequência, se uma tensão for aplicada entre o dreno e a fonte (VDS), uma

    corrente passa a circular pela região n. A tensão aplicada na porta, controla o fluxo de

    corrente elétrica entre a fonte e o dreno que circulará do dreno para a fonte na região do canal

    n. Após ter induzido um canal n, aplica-se uma pequena tensão positiva VDS entre o dreno e a

    fonte, essa tensão faz com que a corrente do dreno (iD) circule pelo canal n. A corrente se

    forma pelo movimento dos elétrons livres da fonte para o dreno e a intensidade da corrente iD

    esta sujeito a densidade de elétrons no canal e ao valor da tensão VGS aplicada. Para que a

    condução de corrente no MOSFET ocorra, a corrente da porta (iG) deve ser zero e a corrente

    que deixa o contato da fonte (iS) igual a corrente que entra no dreno (iD), ou seja iS=iD.

  • 29

    Figura 2.3 – Operação básica e características do dispositivo MOSFET com tensão VGS e VDS aplicada.15

    Portanto, a tensão VGS modula a quantidade de portadores no canal e VDS é

    responsável pela operação do MOSFET. A Figura 2.4 ilustra as curvas características IDS x

    VDS de um MOSFET tipo n, para VGS > VT, onde VT (Tensão limiar) é o valor de VGS para o

    qual um número suficiente de portadores se unem para formar um canal de condução.

    Elétrons atraídos para a porta com

    potencial positivo (canal n induzido)

    Região de

    depleção

    Buracos

    repelidos

    pela porta

    de potencial

    positivo.

    SiO2

    G S D

    e e e e e e e e e e e e e n n

    p

    + + + + + + + + +

    + + + + + +

    B +

    VDS

    -

    iG = 0 iD iS = iD

    +

    VGS

    -

  • 30

    VGS

    4

    VGS

    3

    VGS

    2

    VGS

    1I D

    S /

    A

    VDS

    / V

    Figura 2.4 – Curvas características IDS x VDS de um MOSFET tipo n.

    2.3 ISFET

    Opondo-se aos métodos convencionais de detecção de pH (reagentes indicadores,

    tiras de teste de pH, métodos de eletrodo metal e de vidro),10

    Piet Bergveld introduziu o

    conceito de efeito de campo para a medição das atividades de íons em ambiente químico

    apresentando o ISFET à comunidade científica em 1970.11,16

    O transistor de efeito de campo

    seletivo a íons (ISFET) é muito semelhante em estrutura e funcionamento ao MOSFET.17

    A

    diferença básica entre esses dispositivos se refere a não existência do eletrodo metálico de

    porta no ISFET, sendo este substituído por um eletrodo de referência e uma solução analítica,

    contendo íons que estão em contato com a camada isolante (óxido) na região de porta,

    conforme ilustrado na Figura 2.5.

    O eletrodo de referência (Eref) usado no ISFET possui um potencial conhecido,

    independente da solução analítica, e se mantém invariável em temperatura constante, contudo,

    são as alterações na concentração dos íons da solução analítica que fornecem o potencial

    variável na porta, que controla a condutividade do canal e o sinal de saída.4,9,17

    Com exceção

    da camada isolante, o ISFET é recoberto com um encapsulante que serve para isolar as

    conexões elétricas da solução.17

  • 31

    Figura 2.5 – Diagrama do transistor de efeito de campo seletivo a íons (ISFET).

    No dispositivo ISFET a escolha do óxido da camada isolante é a etapa mais

    importante, pois a camada isolante do ISFET pode ser controlada através do uso de diferentes

    materiais, dependendo da aplicação do dispositivo, sua sensibilidade varia de acordo com esse

    material e a solução em que estiver sido imerso. Entre os materiais mais empregados como

    membrana sensível ao pH em dispositivos ISFETs estão SiO2, Al2O3, Ta2O5, SnO2 e

    Si3N4.18,19

    Os íons contidos na solução analítica são absorvidos pela camada isolante e toda

    mudança na concentração dos íons na solução provoca uma alteração na concentração dos

    mesmos ao serem absorvidos. Logo, a alteração na concentração dos íons absorvidos produz

    uma transformação no potencial entre a porta e a fonte, alterando a condutividade do canal,4 e

    o sinal elétrico do canal é proporcional ao logaritmo da atividade dos íons na solução. Com

    base na operação do MOSFET, a Figura 2.6 ilustra as curvas características IDS x VDS do

    ISFET, sendo dependente do potencial hidrogeniônico (pH).

    SiO2

    Isolante

    Encapsulante Solução

    Analítica

    Eletrodo de

    referência (Eref)

    Fonte (S) Dreno (D)

    (B)

    Substrato tipo p

    n n

  • 32

    pH 2

    pH 4

    pH 6

    pH 8

    I DS /

    A

    VDS

    / V

    Figura 2.6 – Curvas características IDS x VDS de um ISFET.

    Estes sensores de efeito de campo sensíveis a íons são classificados como

    sensores potenciométricos,20

    visto que o potencial na superfície da porta do transistor é

    medido em relação a um eletrodo de referência como, por exemplo, Ag/AgCl (prata/cloreto de

    prata). O tamanho reduzido, o uso da microeletrônica na sua produção, a confecção em larga

    escala, a resposta rápida, a alta impedância elétrica e ser inerte em ambientes agressivos,

    demonstram características que qualifica o ISFET como um dispositivo para diversas

    aplicações (experimentos eletrofisiológicos, sensores de temperatura e oxigênio, entre outras),

    sendo a principal como sensor de pH de uma solução eletrolítica, por apresentar sensibilidade

    a íons H+.9, 21

    Apesar das muitas vantagens e dos grandes avanços nas últimas décadas na

    utilização do ISFET, há uma corrida em busca de desenvolvimento de novas pesquisas e

    tecnologias sobre os aspectos fundamentais e tecnológicos que melhorariam o funcionamento

    desse tipo de sensor,22

    sobretudo no encapsulamento dos dispositivos de modo que origine um

    produto que não trouxesse instabilidade na resposta.23,24

    As principais desvantagens em dispositivos ISFET são a imobilização de

    biomoléculas em um suporte de dimensões reduzidas e o isolamento do FET do meio

    reacional (solução eletrolítica). Por esta razão muitos pesquisadores buscam aperfeiçoar esses

    dispositivos, o que já vêm sendo realizado através do desenvolvimento do transistor de efeito

    de campo de porta estendida e separada (SEGFET).11,25

  • 33

    2.4 SEGFET

    Os dispositivos SEGFETs operam com grande precisão e apresentam as mesmas

    características operacionais de um ISFET.11

    Contudo, esses dispositivos proporcionam a

    vantagem de reutilizarem a parte FET em novas medições, e esta melhoria em relação à

    prática existente, proporciona outras oportunidades de testar novos materiais ou técnicas para

    a construção de membranas de detecção de forma simples e rápida.

    Conforme ilustra a Figura 2.7, o SEGFET dispõe de uma membrana

    quimicamente sensível que está ligada a um dispositivo de alta impedância de entrada.

    Dependendo de sua configuração, os dispositivos SEGFETs, podem ser fabricados de dois

    tipos: (a) Conectando a membrana de detecção no terminal da porta de um MOSFET

    comercial (Figura 2.7a),11,26

    ou (b) conectando a membrana de detecção no terminal de

    entrada de um amplificador operacional (Figura 2.7b).27

    O SEGFET é um dispositivo

    comercial que pode ser reutilizável, apresentando simplicidade para a aplicação em

    biossensores, visto que é mais estável por não necessitar mergulhar o MOSFET na solução de

    medida.11

    Figura 2.7 – Representação do sistema de medida de um SEGFET. (a) Usando um MOSFET comercial, (b)

    Usando um amplificador operacional.

    (a) (b)

    Solução

    Ref

    Filme

    -

    +

    6

    - +

    5

    1

    2

    3

    4

    7

    8

    LF 356

    1 – Offset Null 1

    2 – Inverting input

    3 – Non-inverting input 4 – Vcc-

    5 – Offset Null 2

    6 – Output

    7 – Vcc+ 8 – N.C.

    Solução

    Membrana

    sensível

    Ref

    MOSFET iD

    S

    D

    G

    VDS

    Eletrômetro

    VGS

  • 34

    Por apresentar diversas vantagens comparativamente ao ISFET, o SEGFET tem se

    mostrado promissor em pesquisas de uma variedade de sensores e biossensores, porque

    através desse sistema de medida, diversas espécies químicas podem ser detectadas de uma

    maneira mais simples e pouco custosa. Portanto, destaca-se a busca por um processo de

    produção da membrana de maneira simples e barata, onde tem se destacado as pesquisas de

    novas membranas sensíveis para sensores de pH que apresentem comportamentos anfotéricos

    (pode-se comportar como um ácido ou como uma base) e respondam em uma ampla faixa de

    pH. Nos SEGFETs a escolha do material da membrana sensível (filme) é muito importante,

    uma vez que a mesma deve apresentar estabilidade química ao entrar em contanto com a

    solução que irá ser medida, ou seja, o pH da solução.

    2.5 Sensibilidade SiO2/Solução Eletrolítica

    O primeiro material utilizado como camada sensível de um ISFET foi o dióxido

    de silício (SiO2) introduzido por Bergveld.16,17

    Além do seu emprego isoladamente, é possível

    também usá-lo em sanduíches com outros materiais. Como por exemplo, no trabalho de

    Matsuo28

    onde um sanduíche de dióxido de silício e nitreto de silício foi utilizado como

    camada sensível em um ISFET. As superfícies de óxidos ou nitretos metálicos são

    consideradas anfóteras, o que significa que a superfície do material pode conter sítios neutros,

    protonizados ou desprotonizados, dependendo do pH da solução.9

    Como dito anteriormente, os óxidos metálicos hidratados apresentam

    sensibilidade ao pH devido às características anfotéricas. De acordo com o modelo de sítio de

    ligação, a superfície do óxido contém sítios em três formas: SiOH (neutras), SiO- (negativas) e

    SiOH2+

    (positivas) onde o potencial de superfície é dependente do material da membrana e do

    valor do pH da solução eletrolítica29

    , ilustrado na Figura 2.8. Portanto, ocorrem na superfície

    do óxido (membrana sensível SiO2) as seguintes reações de ligação:

    + +

    2SiOH SiOH + H (2. 1)

    +SiOH SiO + H

    (2. 2)

  • 35

    Figura 2.8 – Esquema representando a superfície da membrana do SiO2 em contanto com uma solução

    eletrolítica.

    A concentração de íons H+ contidos na solução altera o potencial de superfície do

    óxido (ψ), modulando a corrente entre os eletrodos fonte-dreno do ISFET de acordo com o

    modelo de sítio de ligação (site-binding),30, 31

    de acordo com a equação:9

    pzc

    2,3kT βψ = (pH - pH)

    q β+1

    (2. 3)

    onde pHpzc é o valor do pH do ponto de carga zero, q é a carga elementar, k a constante de

    Boltzmann, T a temperatura absoluta, β um parâmetro que reflete a sensibilidade química do

    material da porta, sendo dependente da densidade superficial de grupos hidroxilas (OH) e da

    reatividade de superfície.30

    Esse modelo representa o equilíbrio entre os sítios anfotéros da

    superfície do óxido e os íons H+ em solução, ou seja, é a estrutura responsável pelo

    surgimento do potencial de superfície na membrana sensível devido à variação do pH na

    solução eletrolítica.

    Muitos trabalhos tem usado óxidos metálicos em membranas de detecção de pH,

    pois a determinação do pH é um pré-requisito para muitos processos físicos, químicos e

    biológicos, sendo a sensibilidade do sensor de pH um dos parâmetros mais importantes.

    OH-

    H+

    H+

    OH-

    OH-

    OH-

    H+

    OH-

    H+

    H+

    OH-

    H+

    Superfície

    Membrana SiO2 Solução

    OH

    O-

    OH2+

    O

    Si

    O

    Si

    O

    Si

    H+

    OH-

    H+

    OH-

  • 36

    Como exemplo, o estudo de óxido de estanho como membrana de sensoriamento sobre o

    transistor de efeito de campo de porta estendida (EGFET) desenvolvido por Chi et al.11, onde

    os dados experimentais mostraram que a estrutura teve uma resposta linear com sensibilidade

    de 56-58 mV/pH em intervalo de pH 2-12. Pan et al.32

    desenvolveram um eletrodo de pH com

    óxido de estanho e o resultado experimental mostrou a sensibilidade do pH próximo de 59,2

    mV/pH. Entretanto, Batista e Mulato33

    investigaram o uso de flúor dopado com filmes de

    óxido de estanho para ser aplicado como membrana sensível em EGFET e quantificaram uma

    sensibilidade linear de 50 mV/pH.

    Para criarem dispositivos com sensores de pH, Futati et al.34

    usaram nanotubos e

    nanobastões de óxido de zinco (ZnO), cuja sensibilidade dos eletrodos de nanotubos e

    nanobastões de ZnO ficaram próximos de 45,9 mV/pH e 28,4 mV/pH, respectivamente, em

    pH 4-12. Todavia, Guerra e Mulato19

    investigaram o óxido de vanádio/hexadecylamine e sua

    aplicação como sensor de pH em EGFET na faixa de pH 2-12, o qual apresentou sensibilidade

    de 38,1 mV/pH e assim, sugeriram que o óxido de vanádio poderia ser um componente ideal

    em diversos dispositivos. Também, Lin et al.35

    realizaram um estudo com o óxido de alumínio

    como sensor de pH em EGFET, os quais apresentaram sensibilidade linear de

    aproximadamente 56 mV/pH em pH 4-10. Da equação de Nernst espera-se que esses tipos de

    dispositivos tenham sensibilidade máxima próxima de 59,2 mV/pH a 25 oC.

    19,34 Diversos

    materiais apresentam tal sensibilidade, como o óxido de tântalo (Ta2O5) e o dióxido de

    estanho (SnO2).36,37

    2.6 ISFETs como Biossensores de Pesticidas

    A detecção de pesticidas tornou-se importante uma vez que altas doses dessas

    substâncias podem causar danos irreversíveis aos seres humanos. Geralmente, a detecção

    clássica de pesticidas é realizada por cromatografia e/ou espectroscopia.38

    Esses métodos,

    apesar de eficazes, requerem o treinamento de pessoal bem como o uso de equipamentos de

    grande porte, complexos, de custo elevado e de resposta demorada, problema que pode ser

    facilmente contornado com a utilização de biossensores, por serem dispositivos compactos,

    práticos, e que dão respostas bem mais rápidas que os métodos convencionais. Nesses

    dispositivos, os pesticidas podem ser quantificados diretamente,39

    ou indiretamente.40

  • 37

    Os primeiros a desenvolver um biossensor, também conhecido por eletrodo

    enzimático foram Clark e Lions em 1968,41

    e a partir desse biossensor, muitos outros tipos

    foram desenvolvidos para diferentes análises. Os biossensores eletroquímicos constituem-se

    como a classe de biossensores mais antiga e utilizada por oferecerem alta especificidade,

    baixo custo e limites de detecção.2 Dentre as classes de biossensores eletroquímicos

    (amperométrica, potenciométrica, condutométrica ou impedanciométrica), destaca-se a

    subclasse dos biossensores potenciométricos, onde uma alteração do potencial elétrico do

    meio reacional modula o sinal de saída do dispositivo.2 Esse conceito de biossensor pode ser

    aplicado para a determinação de diversas substâncias, inclusive pesticidas.42

    As propriedades mais importantes para o funcionamento de um biossensor são

    especificidade e a interação com o analito. Essa interação provoca alterações físico-químicas,

    tais como geração de íons, elétrons, calor, entre outros, que são detectadas e medidas no

    próprio transdutor. O componente biológico imobilizado deve reagir seletivamente com o

    analito a ser determinado, e o transdutor deverá detectar apenas um reagente específico.43

    A

    Figura 2.9 apresenta os componentes básicos de um biossensor, onde a amostra contendo o

    analito de interesse entra em contato com o biocatalisador que identifica o analito e interage

    com ele, produzindo reações bioquímicas. Essa reação no biocatalizador produz um sinal que

    pode ser eletroquímico e o transdutor conectado ao biocatalizador detecta e transforma esse

    sinal biológico em um sinal elétrico que em seguida será amplificado, sendo por fim

    processado.

    Figura 2.9 – Elementos básicos que compõem um biossensor.

  • 38

    Biossensores para a detecção de pesticidas geralmente são construídos usando a

    enzima Acetilcolinesterase (AChE) como componente biológico, e podem ser utilizados para

    a detecção e quantificação de pesticidas organofosforados e carbamatos, que são largamente

    empregados na agricultura como agrotóxicos (inseticidas, herbicidas, fungicidas, entre

    outros). O uso desses pesticidas representa um grave risco para o homem, pois provoca a

    contaminação de alimentos, rios, solos e a degradação do ambiente. Os pesticidas estão entre

    as substâncias mais tóxicas existentes, porque seu modo de ação envolve principalmente a

    inibição da AChE no sistema nervoso central, impedindo assim a hidrólise do

    neurotransmissor acetilcolina (ACh). A enzima AChE está presente em vertebrados e insetos

    e sua inibição aumenta o nível de acetilcolina nas regiões de comunicação entre os neurônios,

    interrompendo a transmissão e propagação de impulsos nervosos,3,44

    matando assim a praga

    na lavoura de interesse.

    Os ISFETs podem ser usados para desenvolver biossensores uma vez que esta

    estrutura, amplia a área de superfície para imobilizar biomoléculas e aumentar a

    sensibilidade.10,45-46

    De acordo com o modo de transdução eletroquímica, os dispositivos

    ISFETs com a enzima AChE imobilizada, são principalmente biossensores potenciométricos

    Nos ISFETs como transdutores potenciométricos a variação do pH da solução é detectada.47

    Muito do avanço no desenvolvimento de sensores e biossensores usados no monitoramento

    ambiental, deve-se a qualificação da tecnologia ISFET que dependendo de alguns parâmetros,

    tais como concentração e a solução utilizada na análise, oferece tempo de resposta rápida,

    instrumentação de baixo custo, procedimento de operação simples, alta sensibilidade e

    determinações em tempo real.48

    O uso de pesticidas em práticas de agricultura moderna tem

    incitado o desenvolvimento de novas tecnologias. Considerando o tempo de resposta, a

    instrumentação, a sensibilidade e o tempo de vida, o transdutor ISFET como biossensor de

    pesticida é bastante promissor, pois sua aplicação baseado na inibição da acetilcolinesterase é

    sensível e adequado para uso como sensores descartáveis para controle ambiental.

    Os inibidores das enzimas são substâncias que interferem na reação de catálise,

    diminuindo ou interrompendo as reações enzimáticas. Os processos de inibição de enzimas

    estão divididos em duas classes de inibidores: reversíveis e irreversíveis. A inibição reversível

    pode ser competitiva, incompetitiva ou mista. Michaelis e Mentem postularam que a enzima

    (E) se combina reversivelmente com o substrato (S) ou o analito de interesse, em um processo

    rápido e reversível, formando o complexo enzima-substrato (ES), e em seguida esse complexo

    transforma-se no produto (P) da reação, que para o nosso caso são os íons H+ e libera a

    enzima, através da equação 2.4:49

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Neur%C3%B4nio

  • 39

    1

    1

    2

    kk

    k

    E S ES E P

    (2. 4)

    onde a constante da velocidade para a formação e para a dissociação do complexo ES é

    definida como k1 e k2, respectivamente.50

    Os inibidores competitivos concorrem com o

    substrato pelo sítio ativo da enzima, cuja atuação pode ser revertida pelo aumento nas

    quantidades de substratos. Neste caso o inibidor (I) é estruturalmente semelhante ao substrato,

    e uma vez que se liga a enzima, esta não o transforma em produto, mas forma-se um

    complexo inativo (EI), conforme a equação 2.5:40,49

    ik

    E I EI (2. 5)

    onde ki é a constante de equilíbrio para a ligação do inibidor com a enzima. Os inibidores

    incompetitivos se ligam a um sítio diferente do sítio ativo do substrato, porém se ligam ao

    complexo ES. Os inibidores mistos também se ligam a um sítio diferente do sítio ativo do

    substrato, todavia pode se ligar tanto na enzima como no ES. No processo de inibição

    irreversível, o inibidor se combina com um grupo funcional na molécula da enzima,

    destruindo-o ou formando com ele uma ligação covalente bastante estável, como representa a

    equação 2.6. Esses tipos de inibidores são bastante úteis em estudos de mecanismo de

    reação.40,49-50

    E I EI (2. 6)

    Usando a representação dos elementos que compõem um biossensor, a Figura

    2.10 ilustra que em uma amostra que contenha o analito (ACh) e um pesticida (inibidor),

    ambos competem pelo biocatalizador (AChE), o pesticida liga-se ao sítio ativo da enzima de

    maneira irreversível, geralmente por ligações covalentes, podendo combinar ou destruir um

    grupo funcional da enzima, e desta forma impedindo ou diminuindo o sinal eletroquímico

    gerado pelo biocatalizador. Assim, a concentração de determinado pesticida é medida

    indiretamente pela porcentagem de inibição enzimática.42, 47

  • 40

    Figura 2.10 – Detecção de pesticida.

  • 41

    3 FILMES AUTOMONTADOS CAMADA POR CAMADA

    (LbL)

    Neste capítulo, será apresentado o método de fabricação de filmes

    nanoestruturados pela técnica de automontagem, do inglês Layer-by-layer (LbL), que está

    entre as principais técnicas desenvolvidas e apropriadas para produzirem filmes ultrafinos

    para serem aplicados como sensores e biossensores. A técnica é descrita em detalhes,

    incluindo o uso de PAH/SiO2, expondo seus aspectos teóricos e experimentais, desde o seu

    surgimento até os avanços atuais.

    3.1 Filmes LbL Contendo Materiais Nanoestruturados

    Com o surgimento da nanotecnologia que compreende materiais entre 0,1 e 100

    nm, começaram a surgir novos materiais, como, por exemplo, as nanopartículas, os nanotubos

    de carbono e as nanofibras, os quais podem ser modificados em nível molecular. O

    desenvolvimento desses materiais com propriedades específicas e controláveis têm sido o alvo

    de estudo de numerosos pesquisadores e muitos deles fazem referência a materiais obtidos na

    forma de partículas nanométricas (nanopartículas) ou de camadas de espessuras nanométricas

    (filmes ultrafinos).51,52,53

    Entre as técnicas eficazes empregadas na fabricação de filmes finos

    nanoestruturados de materiais orgânicos, destaca-se a LbL, por caracterizar e permitir a

    produção de filmes em diferentes substratos, com o controle da arquitetura em nível

    molecular, de maneira simples e com baixo custo.54

    A técnica de automontagem teve como ponto de partida, o trabalho precursor

    descrito por Iler,55

    onde diversos filmes foram desenvolvidos pela deposição de camadas

    alternadas de partículas coloidais eletricamente carregadas com cargas opostas. Após

    aproximadamente 20 anos, Sagiv e colaboradores,56,7

    propuseram a viabilidade do processo de

    montagem dos primeiros filmes em multicamadas através de ligação química. Contudo, esse

    método foi considerado limitado devido à necessidade de síntese de moléculas com grupos

    funcionais específicos na constituição das camadas. Para ultrapassar esses limites, Decher e

    colaboradores retomaram a abordagem proposta por Iler, reformulando-a. Um método

    adaptado de obtenção de filmes nanoestruturados por automontagem foi proposto, cuja

  • 42

    fabricação seria em grande parte independente da natureza, tamanho e a topologia do

    substrato. A nova metodologia se baseou em atração eletrostática entre moléculas de cargas

    opostas para a formação de multicamadas,54

    sendo depois denominada de E-LbL, do inglês

    Eletrostatic Layer-by-layer ou simplesmente LbL. O método sugerido consiste em adsorver

    materiais através da imersão alternada em soluções de espécies aniônicas e catiônicas sobre

    substratos sólidos.54

    Esta técnica consiste basicamente na adsorção física, de camadas ultrafinas de

    materiais sobre a superfície de um suporte sólido, a partir de suas soluções, o que permite

    controlar molecularmente as propriedades dos filmes produzidos. Na automontagem, as

    camadas são adsorvidas por atração eletrostática, ligações de hidrogênio e interação

    hidrofóbica.57

    Para que ocorra a adsorção, a superfície do substrato sólido utilizado no

    processo deve ser antecipadamente preparada por um processo denominado hidrofilização

    afim de que a superfície fique completamente limpa e adquira uma carga superficial não

    neutra com o aumento de cargas superficiais.

    A Figura 3.1 esboça o esquema de todo o processo de deposição de filmes via

    LbL com um substrato sólido carregado negativamente. A etapa (1) mostra um substrato

    superficialmente carregado negativamente, sendo mergulhado em uma solução contendo um

    polieletrólito com cargas positivas (policátion), por um determinado período de tempo. Após

    esse tempo, uma camada de material é adsorvida, devido à diferença entre as cargas do

    substrato (negativa) e as cargas da solução (positiva). Com a adsorção da camada, encerra-se

    o processo de atração eletrostática, pois a carga da superfície do substrato passa a ser a mesma

    da solução policátion. A partir desse momento, ocorre a repulsão eletrostática e interrompe-se

    a adsorção, pois é alterado o sinal da carga na superfície do substrato que passa a ter a mesma

    carga que a da solução policátion. Em seguida, na etapa (2), o substrato é mergulhado em uma

    solução aquosa (lavagem) com pH igual à da solução policátion, por um determinado tempo,

    para retirar o excesso de material e moléculas fracamente adsorvidas e, na sequência ele pode

    ser seco com um fluxo suave de ar comprimido (geralmente nitrogênio), e assim completa-se

    a formação de uma camada densamente adsorvida. Na etapa (3), mergulha-se o substrato na

    solução de poliânion promovendo a adsorção de uma nova camada que irá compensar a carga

    da camada subjacente e, portanto, o sinal inicial do substrato é restituído. Em seguida, na

    etapa (4), o substrato é lavado e seco, finalizando a formação de uma bicamada. Pela

    repetição consecutiva das etapas de (1) a (4), diversas multicamadas de espessura controlada,

    podem ser fabricadas sem apresentar qualquer limitação. As deposições de filmes com

  • 43

    multicamadas a partir de soluções de policátion e poliânion podem ser alcançadas

    manualmente ou mecanicamente.58, 59

    Figura 3.1 – Esboço esquemático do processo de produção de filmes nanoestruturados pela técnica LbL,

    adaptado.53

    Essa técnica apresenta as seguintes vantagens: simplicidade dos materiais e

    equipamentos envolvidos (apenas soluções e béqueres), o processo de fabricação pode ser

    simplificado. Nessa técnica utilizam-se diferentes tipos de substratos (vidro, plástico, metal e

    cerâmica) e em diferentes formatos geométricos que servem de suporte sólido para os filmes.

    Apesar da grande variedade de suporte sólidos utilizados, algumas características

    estruturais como, a espessura dos filmes pode ser controlada por números de camadas

    depositadas, tempo de imersão, temperatura, pH, força iônica, tipo e concentração do

    material.57

    Essa variedade de suporte e soluções empregadas possibilita o controle da

    arquitetura molecular do filme, permitindo a fabricação de filmes com arranjos variados e que

    proporcionam diferentes aplicações, tais como: os dispositivos eletrônicos, sensores e

    biossensores.54

    - - - - - - - -

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

    - - - -

    - - - -

    - - - - - - - -

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    - - - - - - - -

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    - - - -

    - - - -

    - - - - - - - -

    + + + + + +

    + + + + + +

    + + + + + +

    + + + +

    - - - - - - - -

    - - - - - - - -

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    Substrato (1) Solução

    Policatiônica (2) Solução

    de lavagem

    Secagem

    Secagem

    (4) Solução

    de lavagem

    (3) Solução

    Aniônica 1 Bicamada

  • 44

    Atualmente, filmes de multicamadas com nanopartículas de SiO2 têm se

    destacado porque a introdução dessas nanopartículas contribuem para proporcionar aos filmes

    características multifuncionais, fato este verificado no trabalho Yang e colaboradores onde os

    autores relatam a preparação e caracterização de filmes automontados camada por camada

    utilizando nanopartículas de SiO2.60

    3.2 Sensores de Efeito de Campo Baseados em Filmes LbL

    Em meio às diversas aplicações muitos pesquisadores têm desenvolvido sistemas

    apropriados para detectar e quantificar de forma rápida e reversível substâncias de interesse

    através da técnica LbL em filmes nanoestruturados, pois eles servem de base para superfícies

    com diversas funções e podem ser empregados no desenvolvimento de sensores químicos e

    biológicos. A importância em usar filmes automontados (LbL) na construção de sensores está

    na maneira de combinar materiais diferentes, em quantidade reduzida, com elevada

    sensibilidade na obtenção da resposta rápida do sensor e no domínio da arquitetura molecular

    do filme. Dessa forma, será apresentada uma breve revisão de filmes baseados na técnica de

    automontagem que vêm sendo empregados como sensores de efeito de campo e suas

    respectivas aplicações.

    Devido aos benefícios em obter filmes nanoestruturados, Liu e Cui61

    demonstraram a fabricação e caracterização de um sensor de pH baseado em ISFET,

    empregando a técnica LbL. Eles produziram filmes em multicamadas de polieletrólito e

    nanopartículas para serem usados como componentes fundamentais de um transistor. O filme

    PSS e óxido de índio (In2O3) foi automontado com a função de canal, em seguida fizeram o

    filme cloreto de poli (dialildimetilamônio) PPDA e nanopartículas de SiO2, que foram

    utilizadas como dielétrico de porta. Os resultados mostraram que a técnica LbL introduz uma

    nova abordagem com baixo custo para a fabricação de sensores de pH, apresentando alta

    sensibilidade e boa reprodutibilidade. Verificou-se também que a corrente de dreno do ISFET

    é mais sensível em solução ácida do que básica, utilizando um modelo de sítio de ligação para

    explicar o comportamento sensível do pH e a dependência da temperatura. Esse tipo de sensor

    com filmes automontados com nanopartículas pode ser empregado em diferentes tipos de

    biossensores.61

  • 45

    Fernandes et al.,26

    descreveram a fabricação de um sensor de pH através da

    técnica LbL, usando o dendrímero de geração 3 - poli (propileno imina) (PPID) e a

    ftalocianina tetrassulfonada de níquel (NiTsPc). Membranas quimicamente sensíveis e

    modificadas foram então desenvolvidas para serem aplicadas como porta estendida em

    SEGFETs. Em um segundo momento, esses mesmos filmes foram utilizados como

    biossensores de glicose por Vieira et al.,62

    o que demonstrou que a técnica LbL tem a

    vantagem de se combinar materiais adequados com funcionalização específica para a

    imobilização de enzimas.

    3.3 Biossensores de Efeito de Campo Baseados em Filmes LbL

    Como vimos anteriormente, o método de fabricação de sensores de efeito de

    campo baseados em filmes LbL pode ser utilizado para desenvolver biossensores descartáveis

    e de alta sensibilidade, visto que, esses dispositivos híbridos são capazes de converter uma

    reação biológica/bioquímica em um sinal apropriado.8

    A automontagem por LbL é uma técnica que permite a imobilização nas

    superfícies de transdutores de vários materiais biológicos, como proteínas, enzimas, bactérias,

    vírus, anticorpos, microorganismos dentre outros. Muitos desses materiais são hidrossolúveis,

    o que permitem ajustar o valor de pH das soluções, para que as mesmas tornem-se carregadas

    e seja minimizada a perda da atividade biológica. Os pioneiros a produzirem trabalhos

    baseados na técnica LbL, envolvendo biossensores na imobilização das enzimas glicose

    oxidase (GOx) e glicose amilase (GA) foram Lvov et al.,5 que demonstraram que as enzimas

    conservavam suas atividades biológicas e que os filmes de multicomponentes de proteína por

    meio de adsorção eletrostática camada por camada são importantíssimos como novos

    materiais biologicamente ativos.

    A técnica de automontagem destaca-se como um instrumento muito versátil na

    construção de biossensores de efeito de campo baseados em filmes LbL, nesse sentido Liu et

    al.,63

    demonstraram o uso de polímeros e nanopartículas baseado em ISFETs, sendo

    fabricados e caracterizados para biossensoriamento de acetilcolina. A automontagem desse

    filme foi fabricada em substrato de silício e plástico flexível, onde filmes de polianilina

    (PANI) foram automontados como material semicondutor do canal e filmes de nanopartículas

    de SiO2 serviram como material dielétrico da porta. Os resultados sugerem um caminho para

  • 46

    fabricação de ISFETs com baixo custo e com alto desempenho para aplicações em

    biossensoriamento.

    Outro exemplo de biossensor de efeito de campo com base em filme LbL foi

    proposto por Xue e Cui,64

    no qual um transistor de filme fino baseado em sensores de

    acetilcolina utilizando nanotubos de carbono e nanopartículas de SiO2 foi desenvolvido. O

    transistor apresentou automontagem de multicamadas de nanotubos de carbono de parede

    única (SWCNTs) como filme semicondutor, nanopartículas de dióxido de silício (SiO2)

    depositadas no substrato como material dielétrico e moléculas da enzima acetilcolinesterase

    (AChE) imobilizadas na superfície como filme, induzindo a reação de hidrólise da acetilcolina

    (ACh) e liberando íons de hidrogênio na solução. O biossensor demonstrou alta sensibilidade

    para detecção de ACh e a complexidade e o custo de fabricação foram bastante reduzidos,

    devido às etapas de produção serem desenvolvidas em soluções na temperatura ambiente.

    Siqueira e colaboradores,65

    produziram filmes nanoestruturados contendo

    nanotubos de carbono para serem aplicados como sensores bio-químicos de efeito de campo

    (amperométricos e potenciométricos). Eles utilizaram a técnica LbL para obterem dois tipos

    de sensores: o primeiro, foi baseado em nanotubos de carbono de paredes múltiplas

    (MWNTs) dispersos em um eletrólito, o dendrímero poli (amidoamina) (PAMAM)

    combinado com NiTsPc para serem utilizados como eletrodos modificados na detecção

    amperométrica do neurotransmissor dopamina (DA). O segundo sensor foi obtido

    automontando camadas de PAMAM e nanotubos de carbono de parede única em óxido de

    tântalo (Ta2O5). Esse sistema foi empregado em sensores potenciométricos de efeito de campo

    utilizando uma estrutura EIS.

    Portanto, a técnica de automontagem LbL é um instrumento versátil na obtenção

    de biossensores, pois possibilitam combinar diferentes materiais que atuam de forma

    específica sobre os elementos de interesse em uma análise, agindo como biorreceptores. A

    motivação em usar um elemento biológico é que ele possui a capacidade de ser específico e

    sensível sobre o analito, o que evita a influência de diversas substâncias na detecção.

  • 47

    3.4 PAH/SiO2 em Filmes LbL

    O polímero PAH ou poli(alilamina) hidroclorada possui uma cadeia polimérica

    com altos grupos funcionais periféricos e ramificações originárias dos grupos NH3+, sua

    fórmula estrutural é ilustrada na Figura 3.2. Como essa estrutura, o PAH parece ser um

    sistema ideal para a imobilização covalente de enzimas, materiais essenciais na confecção de

    biossensores.

    Figura 3.2 – Fórmula estrutural do polímero PAH.

    Nessa dissertação, filmes multicamadas de PAH/SiO2 foram construídos para

    aplicação em sensores e biossensores. Contudo, a aplicação desse sistema não se restringe

    somente a isso. Uma outra aplicação do sistema PAH/SiO2 é no campo de revestimento

    antibacteriano, principalmente no controle de crescimento de microorganismos em

    equipamentos, instrumentos de laboratórios, entre outros. Com essa motivação, um novo

    revestimento de superfície anti-bacteriana composto por filmes nanoestruturados de

    PAH/SiO2 foi proposto por Urrutia et al.,66

    onde a técnica camada por camada (LbL) foi

    utilizada, por ser um método simples que permite um controle na construção de filmes

    multicamadas. Em outro trabalho, Zhao et al.,67

    fizeram a automontagem eletrostática de PAH

    como policátions e nanopartículas de SiO2 como poliânion sobre fibras de algodão, para

    tornar esses tecidos superhidrofóbicos.

    Portanto, a técnica de deposição LbL para produção de filmes descrito por

    Decher,54

    que se baseia no desenvolvimento de múltiplas camadas através espécies catiônicas

    e aniônicas, oferece a possibilidade de utilizar como espécie aniônica nanopartículas de SiO2

    e o PAH como polieletrólito catiônico.

  • 48

  • 49

    4 PESTICIDAS, ACETILCOLINESTERASE E ACETIL-

    COLINA

    Neste capítulo é feita uma breve descrição do uso de pesticidas da classe dos

    organofosforados e carbamatos bastante usados na agricultura do estado de Mato Grosso,

    destacando o inseticida mais utilizado no estado, o metamidofós. Também é descrita a atuação

    da enzima acetilcolinesterase que sofre inibição na presença desses pesticidas e do

    neurotransmissor acetilcolina que é degradado por essa enzima.

    4.1 Pesticidas Organofosforados e Carbamatos

    O primeiro modelo para um inseticida organofosforado ativo foi proposto pelo

    químico alemão Gerhard Schrader (1951-1963), durante a Segunda Guerra Mundial.68

    Os

    pesticidas organofosforados (OF) são compostos orgânicos derivados do ácido fosfórico e

    outros ácidos que possuem propriedades químicas semelhantes, porém, suas propriedades

    físicas mostram uma diferença regular (homólogos). Por outro lado, os pesticidas carbamatos

    (CARB) são compostos derivados de ésteres do ácido carbâmico (monoamida do ácido

    carbâmico).68

    O uso desses pesticidas é bastante abundante no combate e na prevenção de

    pragas na agricultura, porém, a consequência desse uso pode ser as intoxicações de

    mamíferos, de aves e também de humanos. Eles são altamente tóxicos, seus efeitos são

    nocivos ao sistema nervoso central de diversos animais e seres humanos, pois agem inibindo a

    ação da enzima acetilcolinesterase (AChE). A intoxicação se dá quando absorvidos pelo

    organismo por via oral, respiratória, cutânea (dérmica) e mucosas. A Figura 4.1 ilustra as

    estruturas gerais dos pesticidas organofosforados e carbamatos.

  • 50

    Figura 4.1 – Estrutura química geral dos pesticidas: (a) organofosforado e (b) carbamato.

    Como esses pesticidas são amplamente empregados na agricultura, há um

    crescente interesse na detecção rápida e confiável dessas substâncias para garantir a proteção

    do meio ambiente e a segurança da humanidade. Com isso, vários biossensores têm sido

    pesquisados e produzidos com o propósito de detecção e determinação desses pesticidas,

    utilizando as enzimas colinesterases.40, 69, 70, 71

    Segundo o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (INDEA-

    MT),72

    o metamidofós pertencente ao grupo químico dos organofosforados é o inseticida mais

    utilizado no estado de Mato Grosso, sendo que a média anual de uso desse inseticida, que é

    extremamente tóxico (classe 1),73

    ultrapassa em seis milhões de litros, como ilustrado na

    Tabela 1.

    (a) ORGANOFOSFORADO (b) CARBAMATO

  • 51

    Tabela 1 - Média anual de uso de agrotóxicos em litros, com maior utilização entre 2005 a

    2010 por tipo de uso e classe toxicológica no estado de Mato Grosso.

    INGREDIENTES ATIVOS Uso Classe Toxicológica Média Anual

    GLIFOSATO Herbicida IV - Pouco Tóxico 19.844.641

    METAMIDOFÓS Inseticida I - Extremamente Tóxico 6.023.458

    ENDOSSULFAM Inseticida I - Extremamente Tóxico 5.058.453

    2,4 D Herbicida I - Extremamente Tóxico 4.363.291

    ÓLEO MINERAL Inseticida IV - Pouco Tóxico 4.025.795

    TEBUCONAZOL Fungicida IV - Pouco Tóxico 4.024.942

    ATRAZINA Herbicida III - Medianamente Tóxico 3.019.684

    METOMIL Inseticida I - Extremamente Tóxico 2.734.160

    PARATIONA METÍLICA Inseticida III - Medianamente Tóxico 1.668.894

    CARBENDAZIM Fungicida III - Medianamente Tóxico 1.497.100

    LACTOFEM Herbicida III - Medianamente Tóxico 1.428.468

    CARBOSULFAN Inseticida II - Altamente Tóxico 1.221.763

    IMAZETAPIR Herbicida III - Medianamente Tóxico 1.134.964

    PYRACLOSTROBIN Fungicida II - Altamente Tóxico 1.064.344

    CLOMAZONA Herbicida III - Medianamente Tóxico 1.041.577

    HALOXIFOPE P METÍLICO Herbicida III - Medianamente Tóxico 1.001.906

    CLORPIRIFÓS (CHLORPYRIFOS) Inseticida II - Altamente Tóxico 994.269

    DIQUAT Herbicida III - Medianamente Tóxico 879.092

    FENAXAPROP-P-ETHYL Herbicida II - Altamente Tóxico 805.041

    FLUTRIAFOL Fungicida III - Medianamente Tóxico 799.580

    AZOXISTROBINA Fungicida III - Medianamente Tóxico 783.747

    DIURON Herbicida III - Medianamente Tóxico 701.609

    PARAQUATE Herbicida I - Extremamente Tóxico 678.634

    FOMESAFEN Herbicida III - Medianamente Tóxico 601.509

    ACEFATO Inseticida III - Medianamente Tóxico 545.824

    TRIFLURALINA Herbicida III - Medianamente Tóxico 512.108

    PERMETRINA Inseticida III - Medianamente Tóxico 498.074

    TRIFLOXISTROBIN Fungicida II - Altamente Tóxico 468.973

    TRIFENIL HIDROXIDO DE ESTANHO Fungicida I - Extremamente Tóxico 437.229

    MONOCROTOFOS* Inseticida I - Extremamente Tóxico 425.876

    S-METACLORO Herbicida III - Medianamente Tóxico 414.116

    PROFENOFOS Inseticida II - Altamente Tóxico 399.386

    CIPERMETRINA Inseticida II - Altamente Tóxico 371.183

    FLUAZIFOP-P-BUTILICO Herbicida III - Medianamente Tóxico 329.643

    ETEFOM Reg Cresc I - Extremamente Tóxico 327.258

    MSMA Herbicida III - Medianamente Tóxico 318.582

    CYCLOSULFAMURON Herbicida III - Medianamente Tóxico 309.100

    TETRACONAZOL Fungicida II - Altamente Tóxico 274.656

    IMIDACLOPRIDO Inseticida III - Medianamente Tóxico 272.181

    ÓLEO VEGETAL Inseticida IV - Pouco Tóxico 267.309

    CARBOXIN + THIRAM Fungicida III - Medianamente Tóxico 256.596

    ETER POLIG. DE NONIFENO (NONIFENOL) Adjuvante IV - Pouco Tóxico 256.036

    ZETA-CIPERMETRINA Inseticida II - Altamente Tóxico 255.526

    TIOFANATO-METÍLICO Fungicida IV - Pouco Tóxico 254.649

    THIODICARB Inseticida II - Altamente Tóxico 229.776

    LUFENURON Inseticida III - Medianamente Tóxico 222.768

    MALATIONA Inseticida III - Medianamente Tóxico 221.111

    DIAFENTIUROM Inseticida III - Medianamente Tóxico 218.398

    CARBOFURANO Inseticida I - Extremamente Tóxico 215.612

    SETHOXYDIM Herbicida III - Medianamente Tóxico 192.472

    THIAMETHOXAM Inseticida III - Medianamente Tóxico 172.777

    OUTROS AGROTÓXICOS 4.166.275

    TOTAL 78.230.412

    Fonte: INDEA-MT 2011, banco eletrônico. Organizado pelo Dr. Pignati, W. ; UFMT/ISC, março 2011.

  • 52

    A Figura 4.2 ilustra a fórmula estrutural do metamidofós ou O,S-

    dimetilfosforamidotioato, comercialmente conhecido como Monitor, Tam, Nitofol, Swipe,

    Nuratron ou Vetaron. Este é utilizado para o controle de insetos e outros animais em culturas

    como algodão, feijão, tomate (rasteiro) apenas para fins industriais, milho, brócolis, couve-

    flor, morango, pêssego, soja, entre outros.73

    Nas sucessivas avaliações a Agência Nacional de

    Vigilância Sanitária (ANVISA), verificou-se que o metamidofós é encontrado na análise de

    resíduos de diversos alimentos para os quais ele não é permitido (tomate de mesa, morango e

    alface), pois esses alimentos são geralmente consumidos crus.74

    Figura 4.2 – Fórmula estrutural do metamidofós.

    Segundo a ANVISA, tal pesticida ataca o sistema nervoso central, através da

    inibição da AChE, causando danos irreversíveis ao homem. Por esse motivo, resolveu-se

    publicar a reavaliação toxicológica do ingrediente ativo metamidofós, através de uma nota

    técnica de 110 páginas elaborada pelos especialistas da Fundação Oswaldo Cruz –

    FIOCRUZ,74

    chegando à seguinte conclusão: “pelo conjunto de efeitos nocivos do

    metamidofós à saúde humana, esse inseticida deve ser proibido na atividade agrícola e em

    outras que possibilite a exposição humana.” O Metamidofós pode provocar cefaléia, tontura,

    distúrbios do sono, dificuldade de concentração, confusão mental, comprometimento da

    memória, ansiedade, agitação, sonolência, convulsões, tremores e até coma. Além dos danos

    citados, as manifestações clínicas da intoxicação aguda por metamidofós podem ser

    respiratórias, cardiovasculares, oculares, podendo até mesmo causar paralisia muscular dos

    músculos respiratórios seguida de morte.

    Embasada nesta nota técnica, foi adotada pela Diretoria Colegiada da Agência

    Nacional de Vigilância Sanitária a sua proibição, publicada no Diário Oficial da União em

    janeiro de 2011.75

    Essa proibição ainda esta em julgamento pela Justiça Brasileira, pois um

  • 53

    dos fabricantes contesta tal decisão. Neste sentido, espera-se com o presente trabalho,

    determinar níveis desse pesticida, in loco, com resultado imediato, de man