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31 C1 • H1 10 Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignora- mos. A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e opi- niões parecem não dar conta da realidade, que há falhas na- quilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006. A diferença entre ignorância e incerteza, para Marilena Chauí, é que na incerteza recorremos: a) à estimação. b) ao determinismo. c) ao fatalismo. d) à dúvida. e) à verdade. C3 • H12 11 Em Filosofia, a falseabilidade é definida como a possibilidade de que uma proposição se demonstre falsa por uma observa- ção ou experimento que a contradiga. É um critério a partir do qual se verifica a possibilidade de refutar um raciocínio, con- quanto não estabeleça necessariamente que esta proposição seja falsa (ou correta) – é preciso uma observação contrária para refutá-la, observação que deve estar no horizonte do possível. Segundo o pensador austríaco Karl Popper, a falsea- bilidade é o critério necessário a partir do qual se poderia distinguir a ciência do dogmatismo (que despreza a possibili- dade de encontrar uma observação contrária). Das sentenças a seguir, aquela que não é passível de falseabilida- de, ou seja, que não permite refutação, é: a) O homem é um ser cujo tempo de vida é finito. b) Todos os búfalos são animais de cor escura. c) O Sistema Solar é composto de nove planetas. d) O ATP é o mecanismo de transporte de energia no organismo dos animais. e) A realidade está apenas na mente do ser humano. X X 10. A questão visa avaliar a compreensão do trecho no qual a filósofa faz distinção entre estados de ignorância e incerteza – esta última caracterizada por colocar em dúvida as crenças e opiniões. O aluno deverá associar corretamente a suspensão dos juízos à dúvida, alternativa d. 11. A sentença “A realidade está apenas na mente do ser humano” (e), em chave solipsista, jamais poderá ser alvo de uma verificação empírica, como as demais; pois se é possível (embora pouco provável) encontrar um homem que viva infinitamente, um búfalo branco, um novo planeta (ou a retificação de um antigo planeta em corpo estelar de outra categoria, como veio a acontecer com Plutão), ou um outro composto bioquímico que transporte energia nos animais, é impossível, se assumirmos este tipo de solipsismo, qualquer argumento para além do mundo ideal (“a mente do ser humano”). A sentença é, portanto, impossível de ser falseada. A maior dificuldade que esta questão apresenta é na avaliação da primeira sentença (a), mas o próprio enunciado da questão já esclarece que uma proposição falseável não é necessariamente falsa – conquanto seja costume observarmos que os homens vivem de maneira finita, nada em princípio impede que amanhã apareça um homem de vida infinita.

FILOSOFAR - CADERNO DE COMPETÊNCIAS

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  C1 • H1 

10 Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignora-mos. A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e opi-niões parecem não dar conta da realidade, que há falhas na-quilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia.São Paulo: Ática, 2006.

A diferença entre ignorância e incerteza, para Marilena Chauí, é que na incerteza recorremos:

a) à estimação.

b) ao determinismo.

c) ao fatalismo.

d) à dúvida.

e) à verdade.

  C3 • H12 

11 Em Filosofia, a falseabilidade é definida como a possibilidade de que uma proposição se demonstre falsa por uma observa-ção ou experimento que a contradiga. É um critério a partir do qual se verifica a possibilidade de refutar um raciocínio, con-quanto não estabeleça necessariamente que esta proposição seja falsa (ou correta) – é preciso uma observação contrária para refutá-la, observação que deve estar no horizonte do possível. Segundo o pensador austríaco Karl Popper, a falsea-bilidade é o critério necessário a partir do qual se poderia distinguir a ciência do dogmatismo (que despreza a possibili-dade de encontrar uma observação contrária).Das sentenças a seguir, aquela que não é passível de falseabilida-de, ou seja, que não permite refutação, é:

a) O homem é um ser cujo tempo de vida é finito.

b) Todos os búfalos são animais de cor escura.

c) O Sistema Solar é composto de nove planetas.

d) O ATP é o mecanismo de transporte de energia no organismo dos animais.

e) A realidade está apenas na mente do ser humano.

X

X

10. A questão visa avaliar a compreensão do trecho no qual a filósofa faz distinção entre estados de ignorância e incerteza – esta última caracterizada por colocar em dúvida as crenças e opiniões. O aluno deverá associar corretamente a suspensão dos juízos à dúvida, alternativa d.

11. A sentença “A realidade está apenas na mente do ser humano” (e), em chave solipsista, jamais poderá ser alvo de uma verificação empírica, como as demais; pois se é possível (embora pouco provável) encontrar um homem que viva infinitamente, um búfalo branco, um novo planeta (ou a retificação de um antigo planeta em corpo estelar de outra categoria, como veio a acontecer com Plutão), ou um outro composto bioquímico que transporte energia nos animais, é impossível, se assumirmos este tipo de solipsismo, qualquer argumento para além do mundo ideal (“a mente do ser humano”). A sentença é, portanto, impossível de ser falseada. A maior dificuldade que esta questão apresenta é na avaliação da primeira sentença (a), mas o próprio enunciado da questão já esclarece que uma proposição falseável não é necessariamente falsa – conquanto seja costume observarmos que os homens vivem de maneira finita, nada em princípio impede que amanhã apareça um homem de vida infinita.

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  C1 • H1 

 12    Sócrates: E estaremos nós, meu amigo, ainda em estado de gra-videz e dores de parto, no que concerne ao conhecimento, ou já se deu à luz a tudo?

Teeteto: Sim, ainda estamos, e por Zeus, Sócrates, por sua ajuda eu disse mais coisas do que havia em mim.

PLATÃO. Teeteto e Crátilo. 3. ed. rev. Belém: EDUFPA, 2001.

O espanto do jovem Teeteto advém do emprego que Sócrates faz da maiêutica, seu método filosófico por excelência. Esse método consiste basicamente em:

a) enunciar listas de atributos de objetos, que devem ser memo-rizadas pelo discípulo.

b) estabelecer, por meio de perguntas e respostas, juízos mais completos sobre coisas e conceitos.

c) negar todo o conhecimento que advém da especulação filosófica.

d) praticar a chamada regressão, que consistiria em retomar as primeiras percepções do mundo, logo após o nascimento, como fonte da verdade.

e) fiar-se apenas nas sensações imediatas acerca dos objetos e fenômenos.

  C1 • H2 

13 Arjuna: Ó Krishna, quem é o Ser Eterno ou o Espírito? Qual a natureza do Ser Eterno? O que é karma? O que são os seres imortais? E quem são os Seres Divinos? Quem é o Ser Supremo, e de que modo Ele reside no corpo? Como pode Você, o Ser Supremo, ser lembrado na ocasião da morte, por aqueles que possuem o controle sobre suas mentes, ó Krishna?

Krishna: O eterno e imutável Espírito do Ser Supremo é chamado de Ser Supremo ou o Espírito. O poder inerente da cognição, e desejo do Ser Eterno, é chamado de natureza ou Ser Eterno. O poder criativo do Ser Eterno que causa a mani-festação das entidades vivas é chamado de karma.

Bhagavad Gita, cap. 8. In: The Mahabharata of krishma – duvaipayana vyosa

O Bhagavad Gita é um trecho do longo poema hindu Mahabharata (que foi escrito entre o terceiro e o oitavo século antes de Cristo). Estabelece-se como um diálogo entre o guerreiro brâmane Arjuna e o deus Krishna. Em relação aos diálogos filosóficos da Grécia Antiga, que estabeleceram as bases da Filosofia ocidental, uma diferença que pode ser notada nesse excerto é:

X

12. A questão retoma o trecho final do diálogo escrito por Platão, no qual Sócrates vai continuamente questionando o jovem Teeteto acerca de noções simples, de modo a lhe demonstrar a via do conhecimento filosófico. Essa via é o diálogo, a maiêutica, que consiste em inquirir o discípulo, duvidando de suas premissas, até que ele construa juízos mais completos e complexos. A alternativa que apresenta esta definição mínima da maiêutica é b. (O procedimento em a seria mais corretamente descrito como mnemônico, enquanto que em c resume-se o ceticismo e em e, o sensualismo.)

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a) a ausência de questões metafísicas, no Bhagavad Gita.

b) o método de perguntas e respostas, que não se faz presente nos diálogos gregos.

c) a presença marcante de elementos sagrados na filosofia hindu.

d) a hierarquia entre castas ou classes, ausente na vida e filosofia gregas.

e) a preocupação com possibilidades e modos do conhecer, exclusiva dos gregos.

  C1 • H1 

14 Na Grécia Antiga, o diálogo não era o método privilegiado do dis-curso filosófico. Ele estava presente também em outras manifes-tações culturais, como o teatro. O trecho seguinte é extraído da peça As nuvens, de Aristófanes, que traz como personagem o fi-lósofo Sócrates:

Estrepsíades: Então venha, Sócrates, desça aqui para ensi-nar-me aquilo que vim procurar...

Sócrates: Mas a que veio você?

Estrepsíades: Porque desejo aprender a falar. Com efeito, estou sendo saqueado, pilhado e penhorado nos meus bens, por credores e juros muito cacetes...

Sócrates: E como você não percebeu que se endividava?

Estrepsíades: Foi uma doença de cavalos que me arruinou, terrível, devoradora... Mas ensine-me o outro dos seus dois raciocínios, aquele que não devolve nada. Pelos deuses, juro pagar-lhe qualquer salário que você cobrar! […]

Estrepsíades: O que é que ganho eu com isso?

Sócrates: Tornar-se-á escovado na fala, charlatão, uma flor de farinha!

ARISTÓFANES. As nuvens. Pequena Biblioteca Difel, textos greco-latinos III. Trad. Gilda Maria Real. São Paulo: Difel, 1967.

Diferentemente do que acontece nos diálogos platônicos, aparece uma crítica implícita a Sócrates nesse trecho, a saber:

a) o culto que Sócrates promovia a deuses, parte oculta de sua filosofia.

b) a posição de Sócrates como filósofo e comerciante, tida por incompatível por Aristófanes.

c) o método da maiêutica, que seria para Aristófanes uma retórica vazia e usada de maneira sofista.

d) a ausência, na filosofia de Sócrates, das considerações de ordens econômica e política.

e) o tom fortemente aristocrático da filosofia de Sócrates.

X

X

13. Embora a tradição filosófica ocidental tenha feito do diálogo filosófico um instrumento intramundano de conhecimento, com os escritos de Platão e seus sucessores, marcando questões essencialmente humanas, é possível fazer um paralelo com a filosofia hindu antiga, que se estabelece sempre como o diálogo entre deuses e humanos. A alternativa c aponta para essaconfluência. As alternativas a e e reproduzem juízos precipitados sobre a ontologia e a epistemologia hindu, em franca contradição com o trecho. A alternativa b é igualmente contraditória com o próprio fragmento. Finalmente, a alternativa d omite o aspecto profundamente aristocrático da filosofia grega, que permitiu, por exemplo, a Aristóteles conceituar a escravidão como natural aos povos bárbaros – do mesmo modo que na Índia os brâmanes têm, mesmo nos escritos filosóficos, prerrogativas especiais.

14. A peça As nuvens, de Aristófanes, faz grande escárnio da filosofia socrática. Na peça, Sócrates aparece como um fantasista, pronto a ensinar truques verbais e práticas sem ética para seus discípulos. No trecho selecionado, primeiro encontro de Estrepsíades com Sócrates, o primeiro já pede a Sócrates para lhe ensinar “a falar”; Sócrates promete torná-lo “escovado na fala”, um charlatão. A alternativa que apresenta a correta interpretação do trecho é, portanto, c. As demais alternativas não aparecem no trecho.

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  C1 • H2 

15 De nada adiantará perguntar ao nativo uma questão com-plexa como ‘Qual é a punição para um crime?’, até porque as palavras podem não existir em sua linguagem para ex-pressar estes conceitos. Basta, no entanto, trazer um caso real ou mesmo imaginário para estimular o nativo a expres-sar sua opinião e fornecer uma grande quantidade de infor-mações. Um caso real, de fato, vai conduzir os nativos a uma onda de discussão, evocando expressões de indignação, fa-zendo com que tomem partido – toda essa conversa prova-velmente vai conter uma riqueza de visões definidas, censu-ras morais, como também vai revelar mecanismos sociais movidos pelo crime.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do pacífico ocidental: Um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova

Guiné melanésia. São Paulo: Abril Cultural, 1976.

O inglês Bronislaw Malinowski (1884-1942) é considerado um dos pais da Antropologia moderna, o estudo da diversidade cultural ao redor do globo. Nesse trecho, está descrevendo as técnicas de pesquisa que utilizou para entender um povo da Oceania, os trobriandeses (habitantes das ilhas Trobriand). A despeito de suas contribuições fundamentais para a Antropo-logia, é possível criticar um posicionamento preconceituoso no trecho, a saber:

a) a suposta incapacidade dos nativos em discutir conceitos abs-tratos.

b) a opinião de que os nativos não distinguem entre casos reais e imaginários.

c) a atribuição aos nativos de um desconhecimento da língua inglesa, que dificulta a comunicação.

d) a ausência de punição para atitudes criminosas, entre os nativos.

e) a percepção dos nativos como perversos e propensos ao crime.

  C3 • H12 

16 O chamado teste de Turing foi proposto pelo matemático in-glês Alan Turing, na década de 1950, com o fim de testar a possibilidade de uma máquina demonstrar inteligência. O tes-te consiste em estabelecer uma conversa através de um ante-paro, entre um ser humano de um lado (C), e de outro uma máquina programada para agir imitando um ser humano (A), e outro ser humano (B). A conversa deve se dar apenas por cartões de texto. Se o primeiro indivíduo não conseguir esta-belecer pela conversa quem é o outro homem e quem é a máquina, considera-se que a máquina passou no primeiro cri-tério para o estabelecimento de inteligência.

X

15. É possível notar um ranço etnocêntrico no pensamento de Malinowski, especialmente em trechos como esse, nos quais ele associa os nativos a culturas “simples” e incapazes de pensamento sofisticado. Seria preciso a chegada de um Lévi-Strauss (e ainda assim, com sérias ponderações) para atribuir aos “selvagens” a capacidade de pensar científica ou filosoficamente. Espera-se que a questão trabalhe, simultaneamente, a percepção do diálogo como caminho para o conhecimento, mas desde que amparado em uma atitude não preconceituosa.

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B

C

A

?

O teste associa inteligência:

a) à capacidade criativa.

b) à consciência.

c) à intencionalidade.

d) ao diálogo.

e) à capacidade de operações matemáticas.

  C1 • H2 

17 Há um conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria.

DURKHEIM, E. As regras do método sociológico.São Paulo: Martin Claret, 2001.

Émile Durkheim, pensador francês do final do século XIX, associa o comportamento individual a uma série de padrões extra indivi-duais, normas e visões de mundo a que deu o nome de:

a) ética social.

b) consciência coletiva.

c) socialização primária.

d) fisiologia social.

e) aparelho ideológico.

X

X

17. Fundador da Sociologia, Durkheim estabeleceu uma série de critérios importantes na análise social e política contemporânea, entre eles o de consciência coletiva (alternativa b). A questão problematiza este ponto, confrontando o conceito durkheimiano com outros similares, mas que não dizem respeito a Durkheim: o de ideologia, que remete mais ao marxismo tradicional (alternativa e), ou de socialização primária, usual em psicologia para descrever a socialização ainda na família (alternativa c).

16. O teste de Turing ganhou popularidade entre os pesquisadores da chamada “Inteligência Artificial”, conquanto represente apenas um esforço primário para estabelecer padrões pelos quais se pode julgar a pertinência em falar de inteligências não humanas. O aluno deve, a partir do enunciado, confrontar conceitos vistos ao longo das discussões em Filosofia, como o diálogo, a consciência e a intencionalidade; do confronto, fica claro que o teste associa inteligência a uma capacidade da máquina de estabelecer diálogo com o ser humano, alternativa d. De modo algum o teste estabelece capacidade criativa, pois é pré-programado; também não se pode avaliar a consciência, muito menos a intencionalidade. O teste tampouco visa aferir a capacidade matemática, pois ficaria evidente que a máquina não se comporta como ser humano.

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  C1 • H2 

18 A mentalidade de nossos antepassados até o século XVII, e mesmo até o final do século XVIII, é atormentada pela questão de saber se a alma individual é uma substância ou se é sustentada por uma substância — se é a natureza do homem ou se é apenas uma das duas naturezas do homem; se é una e indivisível ou divisível e separável; se é livre, fonte absoluta de ações ou se é determinada e está encade-ada por outros destinos, por uma predestinação. De resto, quando se fala das funções precisas da alma, é ao pensa-mento discursivo, claro, dedutivo, que o Renascimento e Descartes se dirigem para compreender sua natureza.

MAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

Nesse excerto do antropólogo francês Marcel Mauss, estão pre-sentes as várias questões filosóficas; a respeito da consciência, ele afirma:

a) o predomínio da racionalidade na caracterização da pessoa.

b) o determinismo social na conduta individual.

c) a rígida separação entre mente e corpo na definição da pessoa.

d) a existência de uma natureza universal nos indivíduos.

e) o livre-arbítrio como característica fundamental do viver humano.

  C2 • H7 

19 No chamado modelo estrutural da psique, definido por Sigmund Freud, existem três partes constituintes do aparelho psíquico. A primeira é o equivalente do esforço individual mais elementar em busca do prazer e rejeição da dor e está presente desde o nascimento. A segunda corresponde ao princípio da realidade e forma-se na interação com o mundo. E a terceira tem o papel de controle sobre os impulsos e estabelece normas de conduta ideais. A essas três partes Freud denomina:

a) arquétipo, ego, consciência.

b) libido, consciência, ideologia.

c) id, persona, subpersona.

d) id, ego, superego.

e) arquétipo, consciência individual, consciência coletiva.

  C3 • H12 

 20   [...] O gene, a molécula de DNA, por acaso é a entidade replicadora mais comum em nosso planeta. Poderá haver outras. Se houver, desde que certas condições sejam satisfei-

X

X

19. A questão problematiza o modelo fornecido por Freud para o entendimento da psique. As alternativas incorretas retomam conceitos não freudianos, mas que caberiam igualmente em outros modelos de caracterização da conduta humana – como o marxismo (ideologia), o positivismo sociológico (consciência coletiva) etc. A tripartição correta da psique segundo Freud é indicada na alternativa d.

18. No magistral ensaio antropológico sobre a noção de pessoa, Marcel Mauss faz o percurso lógico e histórico dessa “categoria do espírito humano”, desde a diferenciação mais primitiva e simples (entre os indígenas do noroeste americano) em direção ao individualismo típico do Ocidente. O excerto faz parte do capítulo 7, “A pessoa, ser psicológico” (o texto encontra-se em Sociologia e Antropologia, edição da Cosac Naify, p. 394-5). Aí Mauss volta seu olhar para a caracterização da pessoa na modernidade, na qual surge uma equivalência entre atributos do pensamento e a individuação. Essa associação é indicada na alternativa a. Mauss não afirma, antes coloca em dúvida (como o fazem os modernos) a questão do determinismo (b), e também do monismo/dualismo (c) e o livre-arbítrio (e). Também não afirma nada sobre a natureza universal (d).

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tas, elas inevitavelmente tenderão a se tornar a base de um processo evolutivo. [...] Acho que um novo tipo de replica-dor recentemente surgiu neste próprio planeta. [...] O novo caldo é o caldo da cultura humana. Precisamos de um nome para o novo replicador, um substantivo que transmite a ideia de uma unidade de transmissão cultural, ou uma unidade de imitação. “Mimeme” provêm de uma raiz grega adequada [...]. Espero que [...] me perdoem se eu abreviar mimeme para meme. [...]

Exemplos de memes são melodias, ideias, slogans, modas do vestuário, maneiras de fazer potes ou construir arcos. Da mesma forma como os genes se propagam [...] pulando de corpo para corpo através de espermatozoides ou dos óvulos, da mesma maneira os memes propagam-se [...] pulando de cérebro para cérebro por meio de um processo que pode ser chamado, no sentido amplo, de imitação.

DAWKINS, Richard. O gene egoísta.São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

O biólogo Richard Dawkins propôs o conceito de meme em 1976, para estender à cultura seu modelo de evolução e transmissão genética. A respeito da posição de Dawkins, no trecho, avalie as seguintes proposições:

I. Os memes são mutações de genes, e portanto Dawkins pratica um tipo de reducionismo biológico.

II. Os memes estão presentes em uma esfera distinta dos genes, a da cultura.

III. Os memes propagam-se através de maneira similar aos genes, por imitação ou cópia.

Está correto o que se afirma em:

a) II.

b) II e III.

c) I e II.

d) I e III.

e) I, II e III.

  C1 • H1 

 21    Então Heráclito acha que as coisas que temos ante nós não são nunca, em nenhum momento, aquilo que são no momento anterior e no momento posterior; que as coisas estão mudando constantemente; que quando nós queremos fixar uma coisa e definir sua consistência, dizer em que consiste esta coisa, ela já não consiste no que consistia um momento antes.

Morente, M. García. Fundamentos de Filosofia.São Paulo: Mestre Jou, 1967.

X

20. Richard Dawkins é um polêmico biólogo contemporâneo, que propôs a teoria do gene egoísta: sinteticamente, essa teoria diz que os genes são unidades básicas da evolução e propagação (replicadores). Estendeu suas ideias para o comportamento não biológico, através dos memes, replicadores culturais. Separa claramente genes e memes, os primeiros atuantes na esfera biológica, os segundos, na esfera do comportamento e das ideias. A proposição I, portanto, está incorreta. A proposição II indica corretamente a distinção dessas esferas. Finalmente, a proposição III indica a propriedade comum entre ambos, a capacidade de replicação. A alternativa que indica a correta verificação das proposições é, portanto, b.