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 2 PROVA DE FILOSOFIA      2 0 0 2 QUESTÃO 01 Em Sobre a brevidade da vida , Sêneca parte da opinião comum de que “a vida é breve”, e discorda dela. Para demonstrar sua tese, ele propõe uma reflexão sobre a ocupação e o ócio: É muito breve a vida dos ocupados [...] A vida divide-se em três per íodos: o que foi, o que é e o que há de ser. Destes, o que vivemos é breve; o que havemos de viver, duvidoso; o que já vivemos, certo. [...] Eis o que escapa aos ocupados, pois eles não têm tempo de reconsiderar o passado e, mesmo se tivessem, ser-lhes-ia desagradável a recordação de uma coisa da qual se arrependem. [...] É próprio de uma mente segura de si e sossegada poder percorrer todas as épocas de sua vida; mas o espírito dos ocupados, tal como se estivesse subjugado, não pode se voltar sobre si mesmo e se examinar. Portanto sua vida se precipita num abismo [...]. É extre mamente breve a vida dos que esquecem o passado, negligenciam o presente e receiam o futuro; quando chegam ao termo de suas existências compreendem tardiame nte que estiveram ocupados em nada fazer. ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... Portanto anseiam por uma ocupação qualquer, e todo intervalo de tempo entre duas ocupações lhes é um fardo. [...] A espera de qualquer coisa por que anseiam lhes é penosa, mas aquele instante que l hes é grato corre breve e rápido e torna-se muito mais breve por sua própria culpa, pois passam de um prazer a outro e não podem permanecer fixos num só desejo[...]. Perdem o dia na espera da noite, a noite , de medo da aurora . [...] Em meio a grandes labutas, conseguem o que desejam e ansiosos conservam o que conseguiram; entretanto não têm consciência de que o tempo nunca mais há de voltar . Novas ocupações seguem-se às antigas, a esperança susc ita esperança; a ambição, ambiçã o. Não procuram um fim às misérias, mas muda m seu assunto. .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... T endo aquele obtido os cargos com que tanto sonhava, deseja abandoná-los e repete incessante mente: “Quando este ano passará?”. ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... Dentre todos os homens, somente são ociosos os que est ão disponíveis para a sabedoria ...  SÊNECA. Sobre a brevidade da vida . São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

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QUESTÃO 01

Em Sobre a brevidade da vida , Sêneca parte da opinião comum de que “a vida é breve”, e discorda dela.Para demonstrar sua tese, ele propõe uma reflexão sobre a ocupação e o ócio:

É muito breve a vida dos ocupados [...] A vida divide-se em três períodos: o que foi, o que é e o que há de ser.Destes, o que vivemos é breve; o que havemos de viver, duvidoso; o que já vivemos, certo. [...] Eis o que escapa aosocupados, pois eles não têm tempo de reconsiderar o passado e, mesmo se tivessem, ser-lhes-ia desagradável arecordação de uma coisa da qual se arrependem. [...] É próprio de uma mente segura de si e sossegada poderpercorrer todas as épocas de sua vida; mas o espírito dos ocupados, tal como se estivesse subjugado, não pode sevoltar sobre si mesmo e se examinar. Portanto sua vida se precipita num abismo [...]. É extremamente breve a vida dosque esquecem o passado, negligenciam o presente e receiam o futuro; quando chegam ao termo de suas existênciascompreendem tardiamente que estiveram ocupados em nada fazer..........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Portanto anseiam por uma ocupação qualquer, e todo intervalo de tempo entre duas ocupações lhes é um fardo.[...] A espera de qualquer coisa por que anseiam lhes é penosa, mas aquele instante que lhes é grato corre breve erápido e torna-se muito mais breve por sua própria culpa, pois passam de um prazer a outro e não podem permanecerfixos num só desejo[...]. Perdem o dia na espera da noite, a noite, de medo da aurora . [...] Em meio a grandes labutas,conseguem o que desejam e ansiosos conservam o que conseguiram; entretanto não têm consciência de que o temponunca mais há de voltar. Novas ocupações seguem-se às antigas, a esperança suscita esperança; a ambição, ambição.Não procuram um fim às misérias, mas mudam seu assunto...........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Tendo aquele obtido os cargos com que tanto sonhava, deseja abandoná-los e repete incessantemente: “Quandoeste ano passará?”............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Dentre todos os homens, somente são ociosos os que estão disponíveis para a sabedoria ...

  SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

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Com base na leitura desses trechos e em outros conhecimentos presentes nessa obra de Sêneca,

1- EXPLIQUE por que, segundo o autor, manter-se ocupado é, na verdade, uma perda de tempo.

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2- JUSTIFIQUE por que, segundo o autor, a filosofia representa a verdadeira maneira de viver.

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QUESTÃO 02

Leia estes trechos:

TRECHO 1

Considero paradigmas as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo,forneceram problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência...........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados estão comprometidos com as mesmasregras e padrões para a prática científica. Esse comprometimento e o consenso aparente que produz são pré-requisitospara a ciência normal, isto é, para a gênese e continuação de uma tradição de pesquisa determinada.

  KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas . São Paulo: Perspectiva, 1975. p. 13 e 30.

TRECHO 2

De tempos em tempos, teorias aparentemente sólidas e brilhantes como diamantes são destruídas por outrasteorias emergentes, que mostram as falhas da anterior e apontam novos caminhos. A situação é absolutamente natural.Os problemas começam quando uma velha lei da ciência é derrubada e não se sabe o que colocar no lugar.

  Pesquisa FAPESP, nov. 2000. p. 38.

A partir das idéias contidas nesses trechos,

1- COMENTE a noção de paradigma neles presente.

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2- DÊ dois exemplos dessa mesma noção retirados da história da ciência.

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QUESTÃO 03

Leia este trecho:

O homem é, antes de mais nada, um projeto que se vive subjetivamente, em vez de ser um creme, qualquer coisapodre ou uma couve-flor; nada existe anteriomente a este projeto; nada há no céu inteligível, e o homem será antes demais o que tiver projetado ser. Não o que ele quiser ser. Porque o que entendemos vulgarmente por querer é umadecisão consciente e que, para a maior parte de nós, é posterior àquilo que ele próprio se fez. Posso querer aderir a umpartido, escrever um livro, casar-me; tudo isso não é mais do que a manifestação duma escolha mais original, maisespontânea do que o que se chama de vontade. Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem éresponsável por aquilo que é.……………………………………………………………………….....................................................................................................................................................................................................................………………………

Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma naturezadada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade.……………………………………………………………………...................................................................................................................................................................................................................…………………………

…o homem, sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a cada instante a inventar o homem.  SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo . São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 6, 9 e 10.

Com base na leitura desse trecho e em outros conhecimentos presentes nessa obra de Sartre,

1. EXPLIQUE com as suas próprias palavras o que o autor quer dizer ao afirmar que a existência “a existênciaprecede a essência.

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2. ARGUMENTE a favor de ou contra a idéia do autor de que o “o homem está condenado a ser livre”.

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QUESTÃO 04

Leia estes trechos:

TRECHO 1

Não tento, Senhor, penetrar na tua profundeza, porque de modo algum comparo a ela minha inteligência, masdesejo, ao menos, compreender tua verdade, em que meu coração crê e ama. Com efeito, não procuro compreenderpara crer, mas creio para compreender.

  SANTO ANSELMO. Proslógion, cap. I.

TRECHO 2

Há, com efeito, duas ordens de verdades que afirmamos de Deus. Algumas são verdades referentes a Deus eque excedem toda capacidade da razão humana, como, por exemplo, Deus ser trino e uno. Outras são aquelas as

quais a razão pode admitir, como, por exemplo, Deus ser, Deus ser uno, e outras semelhantes. Estas os filósofos,conduzidos pela luz da razão natural, provaram, por via demonstrativa, poderem ser realmente atribuídas a Deus.

................................................................................................................................................................................

Embora a supracitada verdade da fé cristã exceda a capacidade da razão humana, os princípios que a razão têmpostos em si pela natureza não podem ser contrários àquela verdade.

SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma contra os gentios L. I, c. III, 2 e L. I, c. VII, 1. Porto Alegre: Sulina,1990.

A partir das idéias contidas nesses trechos,

1. IDENTIFIQUE as duas formas de conhecimento neles referidas.

A. __________________________________________________________________________________ 

B. __________________________________________________________________________________ 

2. EXPLIQUE que tipo de relação os autores medievais citados estabelecem entre essas duas formas deconhecimento.

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QUESTÃO 05

Leia este trecho:

Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas rústicas, enquanto se limitaram a costurar com espinhos

ou com cerdas suas roupas de peles [...] – em uma palavra: enquanto só se dedicaram a obras que um único homempodia realizar, e a artes que não solicitavam o concurso de várias mãos, viveram tão livres, sadios, bons e felizes quantoo poderiam ser por sua natureza, e continuaram a gozar entre si das doçuras de um comércio independente; mas,desde o instante em que um homem sentiu necessidade da ajuda de outro, desde que se percebeu ser útil a um sócontar com provisões para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessárioe as vastas florestas transformaram-se em campos aprazíveis que se impôs regar com o suor dos homens e nos quaislogo se viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem com as colheitas.

ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.  São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 264-265.

A partir das idéias contidas nesse trecho e em outros conhecimentos presentes nessa obra de ROSSEAU,

COMENTE a relação estabelecida pelo autor entre progresso e desigualdade.

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QUESTÃO 06

Leia esta afirmação:

“Os homens normais não sabem que tudo é possível.”

David Rousset, citado por Arendt, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 337.

Observe esta fotografia:

REDIJA um texto estabelecendo uma correlação entre a fotografia e a citação.

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