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Título Filosofia: Origem, conceito e objeto Número de aulas por semana 1 Número de semana de aula 1 Tema O que é Filosofia? Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de: Compreender o Plano de Ensino da Disciplina Filosofia Geral e Jurídica, que lhe será ministrada durante o semestre letivo; Conhecer como funciona a metodologia de ensino centrada no estudo de casos, adotada no curso de Direito, na disciplina Filosofia Geral e Jurídica; Compreender a origem etimológica do termo Filosofia; Conhecer e compreender o conceito de Filosofia e os seus objetos de investigação; Compreender a Filosofia como a possibilidade de uma leitura crítica da realidade. Estrutura de conteúdo Unidade 1 – Filosofia: Origem, conceito e objeto 1.1. O que é Filosofia? 1.2. Objetos de estudo da Filosofia. A disciplina Filosofia Geral e Jurídica visa ressaltar a importância do saber filosófico como a base de todo o conhecimento, bem como estimular o desenvolvimento de um pensamento reflexivo significativo para o desenvolvimento pleno do Ser. É importante, na primeira semana, que o aluno compreenda a Filosofia como o momento do florescimento do pensamento racional e seja capaz de reconhecer as contribuições para o desenvolvimento do conhecimento científico, em especial para o conhecimento e debate acerca dos fundamentos das doutrinas jurídicas. Importa neste primeiro momento definir o conceito de Filosofia, apresentar os assuntos de seu interesse; sua utilidade e, em síntese, seu caminhar na história do pensamento. Por fim, deve-se ressaltar a sua relação com os demais campos do conhecimento humano. Todavia é relevante observar que não basta compreender sua definição para iniciar-se no filosofar. O termo Filosofia é constituído por duas palavras gregas

Filosofia Geral e Juridica

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Título Filosofia: Origem, conceito e objetoNúmero de aulas por semana

Número de semana de aula

Tema O que é Filosofia?   Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

Compreender o Plano de Ensino da Disciplina Filosofia Geral e Jurídica, que lhe será ministrada durante o semestre letivo;

Conhecer como funciona a metodologia de ensino centrada no estudo de casos, adotada no curso de Direito, na disciplina Filosofia Geral e Jurídica;

Compreender a origem etimológica do termo Filosofia;

Conhecer e compreender o conceito de Filosofia e os seus objetos de investigação;

Compreender a Filosofia como a possibilidade de uma leitura crítica da realidade.

Estrutura de conteúdo Unidade 1 – Filosofia: Origem, conceito e objeto1.1. O que é Filosofia?1.2. Objetos de estudo da Filosofia. A disciplina Filosofia Geral e Jurídica visa ressaltar a importância do saber filosófico como a base de todo o conhecimento, bem como estimular o desenvolvimento de um pensamento reflexivo significativo para o desenvolvimento pleno do Ser. É importante, na primeira semana, que o aluno compreenda a Filosofia como o momento do florescimento do pensamento racional e seja capaz de reconhecer as contribuições para o desenvolvimento do conhecimento científico, em especial para o conhecimento e debate acerca dos fundamentos das doutrinas jurídicas. Importa neste primeiro momento definir o conceito de Filosofia, apresentar os assuntos de seu interesse; sua utilidade e, em síntese, seu caminhar na história do pensamento. Por fim, deve-se ressaltar a sua relação com os demais campos do conhecimento humano. Todavia é relevante observar que não basta compreender sua definição para iniciar-se no filosofar. O termo Filosofia é constituído por duas palavras gregas philos e sophia e que o filósofo não adquire o saber como uma aquisição contínua, mas é aquele que busca a sabedoria, por meio de um espírito indagador. Deve-se pontuar que a filosofia configura um conhecimento específico que a torna diferente das outras áreas de saber e que também se afasta do mito, considerado como primeira manifestação de cultura. Conforme ensina Severo Hryniewicz (2008, p. 19), a filosofia é “uma proposta de meditação e leitura crítica da realidade. Uma tentativa de obtenção de um conhecimento global e totalizante do homem no mundo, dentro de uma fundamentação racional.” Nesse sentido, A filosofia apresenta áreas específicas de estudo, dentre as quais destacamos: Metafísica (estudo do Ser), Lógica (estudo das regras do raciocínio), Teoria do Conhecimento (estuda o conhecimento em geral), Filosofia

Prática( estudos sobre a vida moral, sobre os fundamentos do direito e legitimidade do poder) e Estética ( estudo do belo e da arte). Para abordar as características da filosofia como um saber coerente, profundo e abrangente, sugere-se a leitura crítica das quatro histórias apresentadas no livro didático (HRYNIEWICZ, 2008, p. 27-33).

Recursos físicos Uso de PowerPoint e Vídeos.Aplicação prática e teórica

Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando: • Evidenciam a importância da reflexão filosófica no processo de compreensão da realidade social, ajudando o aluno a refletir, a partir dos conceitos filosóficos, a realidade que o cerca; • Colaboram na compreensão dos fundamentos do conhecimento e, em especial do Direito, como fenômeno cultural. O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder aos seguintes casos concretos:   Caso 1 - O cidadão moderno quer mais do que explicações de como tudo acontece e sai em busca do porquê dos fatos do dia-a-dia O estudante Rafael Rogara, 17, a dona de brechó Denise Pini, 50, e o médico pernambucano Mozart Cabral, 42, vivem em mundos completamente diferentes. Mas os três reservam pelo menos uma noite por mês para tentar entender o que está por trás de sentimentos tão díspares quanto coragem, desejo e medo da morte. Com a ajuda de filósofos e historiadores, buscam decifrar o sentido dos acontecimentos cotidianos para viver melhor. [...] Abertos a pessoas de todas as idades que não precisam ter formação filosófica, os cerca de 230 cafés espalhados pelo mundo (mais da metade deles na França) viraram um espaço para debater questões cotidianas à luz da filosofia, como faziam os gregos há mais de 2.000 anos. “As reuniões nos cafés são exercícios da cidadania. A reflexão filosófica sobre o que está por trás de acontecimentos diários que parecem banais desestabiliza preconceitos e aumenta a capacidade dos participantes de avaliar adequadamente os acontecimentos”, diz a professora de filosofia da USP Olgária Matos. Viver melhor A filosofia ajuda a se viver melhor porque desperta a interrogação, aprofunda a reflexão, pesquisa os motivos ocultos e reinterpreta os fatos, ridicularizando justificativas aparentes ou falsas. “Diante de afirmações dogmáticas, a filosofia introduz a dúvida. Ela é um exercício de vigilância crítica”, diz o filósofo Israel Alexandria, um dos mentores do Café filosófico, versão soteropolitana do Café des Phares — o “pai” dos cafés filôs. Além de reunir pessoas de várias profissões, os cafés filosóficos brasileiros conseguiram atrair adolescentes, profissionais que poderiam ser seus pais e aposentados que poderiam ser

avós. Aos 17 anos, Rafael Rogara é um dos mais jovens freqüentadores do Filosofia no Cotidiano. O mais velho tem 84. “Achávamos que a maioria do público ficaria na faixa dos 40, 50 anos. O grande número de adolescentes e jovens adultos foi uma agradável surpresa”, conta Tovani. Na primeira edição do café de Santo André, 65% do público tinha menos de 40 anos. O interesse dos jovens pela filosofia pode surpreender hoje, mas era propagado desde a Grécia Antiga. No século 4 a.C., o filósofo grego Epicuro já dizia que “ninguém é pouco nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma”. Segundo ele, “quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz”. A falta de tempo livre, imposta pela correria do mundo moderno, tampouco deve se tornar motivo que impeça a reflexão. “A falta de tempo não é uma armadilha à prática da filosofia. Ao contrário, por viverem correndo, as pessoas querem fazer algo relevante com o pouco tempo livre que lhes resta”, diz Cortella. (Fonte: Atitude filosófica dá qualidade de vida. FALCÃO, Daniela. Editora Equilíbrio. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2106200113.htm>. Acesso em: 22 jun. 2010.) Pergunta-se: 1. Que é Filosofia?2. Qual é o significado etimológico do termo Filosofia?3. O que se entende por reflexão crítica da realidade?  Caso 2 - Azeitonas de Atenas Até os deuses precisam ser criativos quando disputam o “eleitorado”: a explicação mitológica grega para o surgimento das oliveiras assemelha-se a uma boa estratégia de marketing. Uma importante cidade necessitava de um patrono. Poseidon, senhor dos mares, e Atena, a deusa da sabedoria, estavam no páreo. Assessorados por outros deuses, eles sabiam que o vencedor seria aquele que tivesse o melhor desempenho diante da população. Para resolver a contenda, reuniram-se com os mortais no local onde, até hoje, ergue-se a Acrópole. Poseidon bateu seu tridente em uma rocha e um jato de água marinha subiu aos céus. Nascida da cabeça de Zeus-deus, supremo para os antigos gregos, Atena não se fez de rogada: do chão, fez brotar a primeira oliveira e as primeiras azeitonas, que logo se tornariam o principal produto agrícola da Grécia. A deusa foi então escolhida como patrona da cidade, batizada de Atenas em sua homenagem. (Fonte: Folha de São Paulo, 13 de setembro de 2001.) Pergunta-se: 1. O que é o mito? 2. Por que os gregos buscavam fundamento na narrativa mitológica para explicar a realidade? 

3. Distinga Mito de Filosofia. Propõe-se, ainda, que se assista ao filme Matrix, para debate com seus colegas, na próxima aula. Os temas para debate sugeridos por Severo Hryniewicz ( 2008, p. 37), disponível em seu material didático são: 1. A possibilidade de uma atitude crítica, apesar dos diversos tipos de condicionamentos; 2. A questão da busca de sentido da existência hoje.

Título Filosofia: Origem, conceito e objeto    Número de aulas por semana 1Número de semana de aula  2Tema Objetos de estudo da Filosofia Jurídica.    Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer o conceito de Filosofia jurídica;· Estudar os objetos de investigação da  Filosofia

Jurídica;· Compreender  o valor da Filosofia para uma

leitura crítica das doutrinas jurídicas.Estrutura de conteúdo Unidade 1 – Filosofia: Origem, conceito e objeto

1.3. Objetos de estudo da Filosofia Jurídica.

 A problemática inicial da aula deve partir da conceituação do que seja uma Filosofia Jurídica. Que significa incluí-la no curso de Direito?  Que conexão existe entre Filosofia e Direito?  Tomando como ponto de partida a conceituação de Filosofia estudada na aula anterior, o professor deve iniciar a problematização. Sugere-se que inicie pontuando que os filósofos mencionam que de cada ciência é interessante conhecer a sua história. Mas o valor de tal conhecimento é muito maior quando se tratam das disciplinas filosóficas: pois revelam que  o presente sem o passado, perde sentido. Os problemas filosóficos que hoje discutimos são fundamentalmente os mesmos que os filósofos antigos estudaram, ainda que de modo rudimentar ou ingênuo sob alguns aspectos.  Ao buscarmos a filosofia como uma reflexão crítica da experiência jurídica, aprendemos a perceber a que conclusões podemos chegar quando escolhemos certas premissas e, nesse  aspecto, nos aproximamos de um olhar maduro diante da experiência jurídica.

Cretella Jr.( 2006, p. 4) afirma que  Gustavo Hugo, um dos fundadores da Escola Histórica, teria usado a expressão “filosofia do direito” pela primeira vez, quando elaborou a obra editada em 1797, denominada de Tratado do direito natural ou Filosofia do direito positivo. Observa, ainda, que

O estudo do direito, em qualquer dos aspectos em que se desdobra, não pode desvincular-se do estudo da filosofia, a não ser que se pretenda ter do mundo jurídico apenas uma visão técnica e prática, imediatista e utilitária. Na realidade pode-se advogar mediocremente (e até razoavelmente) sem conhecer filosofia do direito, mas não  pode haver jamais um expoente, na arte de

advogar, que não conheça lógica, filosofia e filosofia do direito, porque é impossível versar  grandes questões de direito com o emprego tão-só da técnica de advogar.

No caso particular da Filosofia Jurídica, percebemos  que em todas as épocas se meditou sobre o problema dos fundamentos do Direito e da Justiça. Assim, podemos dizer que a Filosofia Jurídica (BITTAR e ALMEIDA, 2004, p. 50-54):

•       É um saber crítico a respeito das construções jurídicas e práticas do Direito;

•       Apresenta como tarefa buscar os fundamentos do Direito;

•       É uma reflexão atenta às modificações no mundo jurídico e seus institutos;

•       Oferece suporte reflexivo ao legislador;

•       Desvela as ideologias que fundam certas práticas jurídicas.

Considerando tais afirmações podemos dizer que uma filosofia jurídica é o campo de investigação da Filosofia  que tem por objeto o Direito. Esta área de saber pode ser estudada do ponto de vista filosófico, por filósofos de formação ou por juristas, focalizando temas como Justiça, Propriedade, Liberdade, Igualdade, o conceito de Direito,Legitimidade das normas e o papel do Direito nas sociedades. Se buscarmos uma  história da Filosofia Jurídica teremos que percorrer um caminho que parte da investigação filosófica sobre  temas considerados jurídicos. Quando tais temas são os objetos de investigação filosófica, estamos no âmbito de uma Filosofia Jurídica, parte da Filosofia.

Outra definição relevante que precisamos considerar é a oferecida por Paulo Nader ( 2003, p. 11) segundo a qual “a Filosofia Jurídica consiste na pesquisa conceitual do Direito e implicações lógicas, por seus princípios e razões mais elevados, e na reflexão crítico-valorativa das instiuições jurídicas.” É importante observar, ainda, a advertência que o autor (NADER, 2003, p. 3)  faz, a saber: “ Se é verdade que a condição de filósofo não se adquire por título universitário, senão pela constância do pensamento dialético, também é certo que somente atinge a situação de  jurisfilósofo o jurista que exercita, como  hábito, a atitude filosófica”. É nesse sentido, que é relevante frisar que  a Filosofia jurídica  provém de filósofos, juristas e jurisfilósofos e que é um exercício contínuo do pensamento crítico. Deve-se destacar nesta aula a figura do jurisfilósofo. Trata-se daquele que conhece as correntes

filosóficas, bem como as categorias lógicas do Direito, com o objetivo de avaliar o rigor lógico dos conceitos jurídicos e a adequação do Direito Positivo às necessidades sociais atuais.

Nas reflexões de Miguel Reale (1998, p. 9),  a Filosofia Jurídica é a própria Filosofia voltada para a realidade jurídica, porque o Direito é um fenômenos universal que decorre da existência humana e o jurisfilósofo problematiza o que para o operador do Direito se configura como seguro. E nos sugere algumas indagações típicas dos jurisfilósofos: “ Por que o Juiz deve apoiar-se na lei? Quais as razões lógicas e morais que levam o juiz a não se revoltar contra a lei, e a não criar solução sua para o caso que está apreciando, uma vez convencido da inutilidade, da inadequação ou da injustiça da lei vigente? Por que a lei obriga? Como obriga? Quais os limites lógicos da obrigatoriedade legal?” (p. 10).

A  Filosofia Jurídica é um estudo reflexivo sobre o Direito e  se divide em dois planos de reflexão: o plano da reflexãoepistemológica em que  se observa o conceito de direito. Entendendo epistemologia como  uma teoria da ciência, logo um estudo da ciência do Direito e, por outro,  um plano axiológico que promove uma reflexão valorativa. Sendo o termo axiológico entendido como estudos dos valores.

Indagar “O que é o Direito?” é uma preocupação do jurisfilósofo e provoca outras pesquisas importantes sobre norma jurídica como expressão do Estado; sobre coação como essência do Direito; se o Direito é justo e se sua efetividade é essencial à validade( NADER, 2003).  É uma investigação norteada pelos princípios éticos, mormente pelo valor Justiça. Um bom exemplo está nos debates contemporâneos sobre eutanásia, aborto de anencéfalos, tortura etc que extrapolam os limites da ciência jurídica em direção aos postulados éticos.  Por conseguinte, enquanto na esfera epistemológica o debate se limita ao âmbito do Direito  sob o ponto de vista conceitual, na esfera axiológica, se pretende uma reflexão valorativa que se preocupa com os fundamentos do agir correto. Com Radbruch (1997, p. 45) precisamos considerar o Direito mergulhado no mundo dos valores, porque  Filosofia Jurídica considera o Direito como um valor de cultura. É pertinente relembrar o conceito de cultura para que se compreenda a concepção do Direito como fenômenos cultural e a importância que a Filosofia assume nesse contexto.

Lançando mão do método de análise conceitual, é preciso que nesta aula o aluno reconheça a importância de se trabalhar com definições rigorosas, compreendendo o conceito de Filosofia estudado na aula anterior associado ao termo “jurídica”. E mais. Compreender o sentido de cultura,

do que seja buscar os fundamentos de uma ciência,  o sentido de fenômeno cultural e  do termo  valores.

Recursos físicos Quadro, retroprojetor, datashowAplicação prática e teórica Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram

sua aplicabilidade prática e teórica quando:·    Colaboram na compreensão dos fundamentos do conhecimento e, em especial do Direito, como fenômeno cultural.·    Compreender os objetos de estudo da Filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder  ao seguinte caso concreto: Caso 1 – A filosofia jurídica e a busca pelo fundamento de legitimação da norma jurídica

A belíssima versão clássica do mito sobre a Antígona é descrita na obra “Antígona” do dramaturgo grego Sófocles, sendo até hoje considerada um dos mais importantes textos da literatura ocidental. Nela, Sófocles retrata em toda a sua verticalidade alguns dos mais caros valores  humanos como amor, lealdade e dignidade. Além disso, essa obra é um verdadeiro marco para a filosofia do direito ao enfocar, já no Séc. V a.C. alguns de seus problemas mais fundamentais: o conflito entre tradição e lei, entre lei natural lei dos homens, além de tratar das relações entre o poder e o direito, o poder e a família, o direito positivo e as leis positivas. A peça inicia com Antígona discutindo com a irmã, Ismênia, o édito baixado pelo tio Creonte, rei de Tebas. No referido diploma legal proibia-se a celebração fúnebre em honra de Polinicies. Isto porque este e o outro irmão de Antígona, Etéocles,  haviam morrido  em combate. Etéocles na defesa de Tebas, e Polinicies, por Argos, contra Tebas. Creonte, tio de Antígona, que, com a morte dos irmãos assume o poder em Tebas, promulga uma lei impedindo que os mortos que atentaram contra a lei da cidade (entre eles, Polinicies) fossem enterrados. Tal decisão acabava por caracterizar uma grande ofensa para o morto e sua família, pois se entendia que nestas circunstâncias a alma do morto não poderia fazer a transição adequada ao mundo dos mortos. Fiel aos laços de família, Antígona que acompanhara o pai, Édipo, até a morte, infringe o decreto de Creonte apresentando como alegação o fato de haver  uma lei divina, universal, que transcende o poder de um soberano. Por isto, oferece ela ao irmão morto as cerimônias fúnebres tradicionais com impressionante destemor. A peça segue seu curso mostrando relações familiares passionais. A casa de Antígona ascende aos primórdios míticos da formação da Ática. Como conseqüência ao ato de desrespeito à ordem do déspota Creonte, Antígona é presa e conduzida a uma caverna, que lhe servirá também

de túmulo ainda em vida. Sem conseguir dissuadir o pai, Hêmon, namorado de Antígona e filho de Creonte, acaba por se matar, quando o rei já estava disposto a abrir mão da lei editada para salvar a vida de Antígona.

Diante da síntese acima apresentada, responda as perguntas abaixo:

1.     Podemos considerar  que o caso concreto apresenta a célebre discussão acerca da legitimidade das normas? Justifique.

2.     Por  que o acaso narrado revela uma das preocupações da filosofia Jurídica?

 Propõe-se, ainda,  que se leia o Livro Antígona. O aluno deve investigar  o sentido de justiça no caso: a lei ditado pelo governante (Creonte), ou o cumprimento de um direito natural? (Antígona) Caso 2 – Sobre os fundamentos da JustiçaO que funda a justiça? Seus fundamentos estariam na razão, na linguagem, na transcendência divina, ou na consciência? Eis algumas das linhas de discussão que envolvem a questão dos fundamentos da justiça da qual nos ocuparemos agora. Antes de tudo, chamemos a atenção para o fato de que o senso comum tende sempre a confundir justiça com o Poder Judiciário. O termo “acesso à justiça”, tão propalado nos nossos dias, não diz nada além da possibilidade de acesso ao Poder Judiciário, no sentido do rompimento das barreiras que separam o cidadão da instituição destinada a proteger os seus interesses. Não diz do acesso á justiça mas do alcance do órgão estatal que, por definição, é o lugar das lamentações em torno dos conflitos humanos gerados a partir da obrigatoriedade da coexistência a que todos estamos condenados por sentença dos deuses, desde as nossas obscuras origens. Portanto, deixamos claro que os fundamentos da justiça que buscamos jamais se comprometeram com as instituições destinadas à efetivação da sua eficácia, ressalvada a configuração aproximativa do ideal de justiça. A pergunta pelos fundamentos da justiça vai muito além da crença na sua realizabilidade institucional, uma vez que esta se mostra apenas na órbita dos possíveis e não na esfera fundante disso que nominamos justiça na milenar trajetória da vida do espírito. (...) Começar a entender os fundamentos da justiça implica entender esse fluir da vivência na sua mais primitiva manifestação, pois é nesse campo primitivo, do a-temático, da ausência de quaisquer categorias que se instaura o apelo à justiça. Mas o que é a justiça? De onde vem e quais são os seus indicadores? Eis a questão! (GUIMARÃES, Aquiles Côrtes. Pequena introdução à filosofia política. A questão dos fundamentos. 2.  ed. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2007. p. 87-90.) Diante do texto  apresentado, responda as perguntas abaixo:

1 – É possível dizer que o texto apresenta uma reflexão filosófica sobre o Direito?

2 – Destaque uma parte do texto que justifica sua resposta anterior.

Título Fundamentos para uma Filosofia Jurídica   

Número de aulas por semana

1

Número de semana de aula

3

Tema Platão: justiça e a fundação do Estado.    

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância de Platão para tradição Filosófica;

· Estudar a  dualidade na Alegoria da Caverna ;· Compreender o papel do filósofo na República  e a

relação entre justiça e lei;· Compreender a  idéia de justiça retributiva apresentada no mito de Er.

Estrutura de conteúdo Unidade 2 – Fundamentos para uma Filosofia Jurídica

 2.1. Platão: justiça e a fundação do Estado.

Nesta parte da matéria coneceremos os filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. Deve-se compreender, em linhas gerais, que Platão nasceu em 427 a.C. e faleceu na mesma cidade, Atenas, em 347 a.C. Filho de uma família da aristocracia ateniense dedicada à política, foi discípulo de Crátilo (séc. V a.C.) que por sua vez foi seguidor de Heráclito de Éfeso; posteriormente, Platão tornou-se discípulo de Sócrates. Fundou sua Academia em 387 a.C., nos arredores de Atenas, em cujo pórtico figurava o lema: “Não passe destes portões quem não tiver estudado geometria”. Em seu pensamento encontramos a primeira formulação clássica da Filosofia, ou seja, a problemática do conhecimento como possibilidade de tomada da realidade. Para isso, apresentou uma preocupação direta sobre ométodo, indagando se é possível o conhecimento; numa verificação se o conhecimento passa pelos sentidos ou pela razão; os mundos sensível e inteligível como objetos de conhecimento. Platão reproduziu em suas obras o jogo dialógico de Sócrates convidando o leitor a uma verdadeira investigação filosófica, inserindo-o na tarefa maiêutica de buscar a verdade pelo procedimento dialético.  A partir dessa perspectiva, em que constrói o seu pensamento filosófico, ancorado na crítica do conhecimento verdadeiro, Platão toma a Filosofia como um conjunto de princípios cuja função é pensar os fundamentos de sua cultura no intuito de reformá-la. A realidade política de Atenas estava marcada pela injustiça e pela corrupção, fazendo com que Platão desistisse de ingressar na vida pública, o que fez, pois percebeu que a corrupção era um fenômeno desintegrador da cidade, mas que caberia à Filosofia resgatar a ordem e a justiça nas relações sociais. O seu programa pedagógico visava instaurar uma política fundamentada no saber cujo fim primeiro era norteado pelo princípio de justiça. A obra aRepública contempla a idéia de uma comunidade alternativa àquelas existentes, daí a relevância da educação no seu pensamento como marca singular de sua filosofia, que buscava edificar uma sociedade a partir de novos laços integrativos, implicando, logicamente, a criação de uma identidade cultural cujo sentido passasse por uma unidade comunitária. Nessa perspectiva, Platão é o primeiro pensador a defender o caráter público da educação, entregando ao poder comunitário a responsabilidade não só de sua execução como também sua formulação teórica. Portanto, como o fundamento da educação é comunitário,

e a política visa por meio daquela estabelecer laços integrativos, no interior da polis, a razão é a medida de tudo que possa ser perceptível pela inteligência e, nesse contexto, a justiça afigura-se como a virtude suprema do cidadão, o fundamento da polis, pois, se para Platão sua carência propicia a degeneração dos regimes políticos, a obediência às leis configura um quanto de harmonia como cópia da ordem cósmica. Partindo dessa premissa temos que compreender o paralelo que o autor do Banquete estabeleceu entre a tripartição da alma e sua teoria sobre a polis. Na República, livro IV, Platão concebe a alma como tripartite, ou seja, a mesma se divide em uma parte racional, e outra irracional que, ao seu turno se subdivide em irascível (impulsos e afetos) e concupiscente (necessidades elementares). A parte racional é regida pela sabedoria ou prudência, capaz de estabelecer o que convém a cada um. A parte irascível corresponde à fortaleza e coragem que permite seguir os imperativos da razão. Já a parte da concupiscência está relacionada ao sentido das necessidades elementares. As duas dimensões da parte irracional da alma devem se submeter à parte racional através da virtude da temperança ou moderação. Com tais virtudes surge a virtude da justiça que estabelece o equilíbrio de cada uma das faculdades em seu âmbito próprio e função específica. Estabelecendo uma analogia da alma com a cidade, Platão apresenta o que podemos chamar de concepção organicista de sociedade, na qual a Cidade constaria de três classes diferenciadas por suas funções próprias. A primeira seria a dos magistrados (filósofos) ou governantes, guiados pela sabedoria; a segunda dos guerreiros que defenderiam a polis interna e externamente, cultivando a fortaleza; a terceira seria constituída pelos artesãos (artífices), comerciantes, agricultores e aqueles que formavam a base econômica da cidade. As classes dos guerreiros e dos artífices aceitam o domínio dos governantes pela ação da temperança ou moderação. Assim como na alma, a justiça, na cidade, apresenta-se primordialmente para garantia do funcionamento do todo e da manutenção da hierarquia baseada nas tarefas específicas de cada classe. O pensamento político de Platão inspirou-se no postulado segundo o qual a parte se subordina ao todo, o que significa dizer que as classes se subordinariam ao bem comum da cidade, dado pela razão divina, que por sua vez é contemplada pela dialética ascendente, o que leva Platão a operar uma inversão na concepção individualista da sofística quanto à relatividade das coisas, buscando a universalidade pela superação da individualidade absoluta. Nesse modo de ver, o indivíduo se situa no plano coletivo e não em uma autonomia absoluta perante a  polis, que por sua vez existe para tornar possível a vida humana. Destarte, o horizonte do indivíduo seria o horizonte do cidadão. Ressalte-se que as classes da República não se baseiam em uma ordem

hereditária, já que o ponto fulcral repousa sobre as aptidões pessoais dos membros da polis, desenvolvidas pela cidade através do processo educacional.A aristocracia de Platão, diferentemente daquela calcada na propriedade fundiária ou na riqueza advinda do comércio, é uma aristocracia do espírito cujo saber legitima o poder, porque só pode governar a cidade aquele que é justo por conhecer as implicações e mecanismos das ações justas, fornecidas, obviamente, pelo conhecimento filosófico. Ademais, Platão, preocupado com as bases integrativas de sua sociedade, não admitia que o poder estivesse nas mãos daqueles que manipulavam a vida econômica ou a estrutura bélica, pois a cidade se constituiria em uma verdadeira tirania, ao passo que uma sociedade comandada por filósofos estaria ordenada sob princípios universais dados pela razão. É bom lembrar que os governantes, submetidos a esse conjunto de princípios, deveriam ter por escopo, através do seu projeto político-pedagógico, suprimir a instituição família como também a propriedade privada para as duas classes superiores dos magistrados e dos guerreiros, isso a fim de afastar interesses particulares que pudessem conduzir à corrupção. Somente as duas classes superiores teriam participação na vida pública, enquanto que o complexo dos artífices estaria limitado à vida na esfera privada. Na cidade platônica, governada pelo sentido da filosofia, não seria necessário o direito positivo, pois os magistrados (filósofos) deveriam decidir, em cada caso particular, o que a justiça exigiria segundo as circunstâncias. Esse pensamento não perdura nos diálogos considerados tardios, O Político e As leis, em que Platão, mais velho e desiludido com as experiências na Sicília, admite a necessidade de fixar princípios de governo em leis positivas. Reconhece ainda a importância da família e da propriedade privada, evitando-se o excesso de riqueza e de pobreza, pois, no seu entender, seria essa relação de contradição a causa de toda a discórdia civil.Assim, a cidade descrita na obra As Leis se afigura como uma teocracia em que os magistrados (filósofos) assumem a dignidade de intérpretes da vontade divina. No diálogo Político, apresenta a necessidade de uma legalidade como ordem estável da cidade, muito embora confirme a aristocracia como sistema ideal na administração da coisa pública.

 Platão nos oferece duas classificações distintas das formas de governo, uma na República, livros VIII e IX e outra noPolítico. Na República descreve cinco formas. Entretanto, somente uma assume o caráter de justa e legítima: aaristocracia do espírito ou governo dos sábios. Todas as restantes são formas corruptas que não permitem a realização da justiça. Se os guerreiros tomarem o poder, teremos uma timocracia ou timarquia que significa governo da honra, caracterizado pela ambição do espírito belicoso. Esta forma poderia conduzir a uma oligarquia que liga o poder à fortuna. Todavia, o enriquecimento de poucos e a extrema pobreza de muitos

poderá gerar a democracia, o governo da multidão, que aspira à igualdade absoluta, desrespeitando hierarquias naturais e legítimas. Dessa forma, a democracia, desemboca na desordem, que acaba por ser aproveitada por algum indivíduo ambicioso e audacioso, capaz de instaurar uma tirania que desvelaria um caráter violento e desenfreado. Os seus excessos provocariam a reação dos mais decididos e com seu derrube encerra-se o ciclo constitucional, ou seja, a dinâmica política. No Político apresenta dois critérios de formas de governo: o número dos que participam do governo e a legalidade ou ilegalidade dos mesmos. Encontramos três formas legais e três ilegais de governo. As legais são a monarquia ou realeza, a aristocracia e a democracia. As formas corruptas das formas legais, respectivamente, são: a tirania, a oligarquia e a democracia (demagogia). Na verdade, Platão confere maior rigor sistemático às teorias de Heródoto e Eurípides. Nas Leis, acrescenta um novo termo: uma forma mista de governo, ou seja, uma mistura de monarquia e democracia que se apresenta como a única capaz de assegurar a paz social. Esta concepção assimilada por Aristóteles influenciará seu pensamento político.

 A idéia socrática de que a Cidade (o poder político), na qual a família e o indivíduo formavam um todo harmônico, permanece na obra República e se torna o fundamento da idéia de justiça como virtude, que significa a observância permanente da lei e, ao mesmo tempo, como idéia da razão. O sentido de ordem política ideal é o de justiça que correlaciona intrinsecamente lei e justiça. As leis são justas porque são editadas por quem pratica a virtude da justiça e a conhece em sua estrutura para além do plano das aparências, isto é, numa imagem divina. Nesse sentido, encontramos a ligação entre as duas perspectivas do conceito de justiça em Platão: justiça como idéia (forma pura) e justiça como virtude, ação do homem virtuoso. Segundo Joaquim Carlos Salgado (1995, p. 24-29), o pensamento platônico sobre a justiça é o ponto de partida para uma reflexão sobre a idéia de justiça como igualdade. Platão apresenta duas perspectivas de sua concepção de justiça na obra República, a saber: a justiça como idéia e a justiça como virtude ou prática individual. Nas primeiras obras, Platão apresenta o conceito de justiça comprometido com a idéia de virtude do cidadão ou do filósofo. Ao relacionar o célebre livro VII, da República, que narra a Alegoria da Caverna em conjunto com sua teoria da reminiscência, compreendemos com maior clareza o que o fundador da Academia assinala na Carta VII, isto é, “só conhece a justiça àquele que é justo”, ou seja, só conhece a justiça aquele que a compreende na perspectiva divina, pelo conhecimento da alma e não dos sentidos, o conhecimento verdadeiro dado pela matriz dialética e desenvolvido pela educação.

 

(O professor poderá fazer a leitura da Alegoria da Caverna  no material didático - HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 265-268.)

 Platão enfatiza o agir justo na medida em que considera o outro como portador dos mesmos direitos para a superação da ótica individualista dos sofistas, assinalando para a alteridade como descoberta de si numa dimensão exterior ao comprometimento do homem com a sua polis. Tanto na República quanto no Górgias, Platão enfatiza através de seu personagem, Sócrates, que fazer a justiça é melhor que recebê-la, e sofrer a injustiça é melhor que praticá-la. Na República, exprime que o melhor modo de viver é o viver praticando a justiça, correlacionando, desse modo, os atos justos com  uma alma sadia. A justiça é uma virtude que fundamenta e fortifica a alma. Embora no Críton, a concepção de justiça se apresente como a conformidade das ações com a lei, a essência da idéia de justiça platônica não se limita somente a esse entendimento.

 Na República, livro I, Platão expressa a difusa idéia de justiça em um conceito preciso a partir do entendimento do poeta Simônides, (PLATÃO, República, 322c, 433a e 433e)  que afirmava a idéia de justiça como dar a cada um o que lhe é devido. Platão amplia essa idéia para além da simples relação entre particulares e a relaciona diretamente com a estrutura de sua cidade. No dizer de Salgado: “O que é devido a cada um, o que lhe pertence por natureza é o posto que corresponde às suas aptidões e a função que cada um, por força dessas mesmas aptidões, pode desempenhar no Estado”( PLATÃO, República, 433a; SALGADO, 1995, p. 27).

 Platão concebe a justiça como uma preocupação política que repousa na idéia de igualdade; uma igualdade geométrica, na medida em que garante a cada um o que lhe é devido, segundo suas aptidões. O seu conceito de justiça assume também o caráter de universalidade enquanto se vincula à idéia de representação da harmonia do cosmos. A justiça é um compromisso do cidadão com a Cidade, na dedicação ao bom funcionamento da vida coletiva a partir das aptidões naturais de cada um. Sendo assim, Platão elabora duas vertentes do conceito de justiça: a justiça como idéia norteadora do direito e da lei, e a justiça como virtude norteada e determinada pela lei. Ou, dizendo de outro modo, a idéia de justiça como hábito de cumprir o direito. Por fim, Platão desenvolve um conceito de justiça retributiva e transcendente. Vejamos. Na República, livro X, encontra-se o mito de Er que consagra o sentido de justiça retributiva e transcendente. O mito narra a história de um guerreiro chamado Er que vivencia a experiência da justiça como recompensa no além-túmulo.

 Sugere-se que o professor leia trechos dessa narrativa de Platão em aula, cujo resumo segue abaixo: Er, natural da Panfília, na Ásia Menor, bravo soldado que morreu em combate, estendido na pira funerária dez dias após sua morte. Subitamente, volta à vida e narra o que viu no mundo além-túmulo. Disse que, depois de morto, viajou até uma terra estranha onde o solo era rasgado por dois grandes abismos. Por cima, havia dois buracos correspondentes no Céu. Entre os abismos estavam sentados os juízes que julgavam todas as almas e as marcavam com um sinal: os justos entravam pelo abismo da direita, para o Céu; os injustos entravam pelo abismo da esquerda, que conduzia ao mundo subterrâneo. Er não foi autorizado a entrar em qualquer um dos dois buracos, mas foi escolhido para levar uma mensagem aos mortais. Observou que as almas dos injustos passavam por uma longa experiência vivenciando dez vezes mais todo o mal que causaram. Este é o sentido retributivo da justiça em Platão. As almas dos justos falavam em felicidade e alegria, recompensas de uma vida virtuosa. As almas vindas dos subterrâneos, após expiarem todo o mal que praticaram, vivenciam as dores do arrependimento, eram encaminhadas ao trono das Parcas: Láquesis, Átropo e Cloto para receberem novas vidas como mortais. Cada alma poderia escolher a vida que desejasse, algumas eram sensatas outras tolas. Todas as almas, após suas escolhas, bebiam a água do rio do esquecimento, de modo que perdessem todas as recordações da vida passada, para renascer em novas vidas. Muitas praticavam os mesmos erros. Assim, podemos concluir que a justiça para Platão não é deste mundo, mas se configura como a recompensa para aquele que escolhe a vida moral e conforme ao direito. Considerando o mito acima descrito, pode-se compreender o sentido das palavras que Platão, colocadas por Sócrates no final da  Apologia, onde este  após beber cicuta  se dirige  aos  que estavam presentes e assevera: “Mas, está na  hora de irmos: eu, para morrer;  vós para viverdes. A quem tocou a melhor sorte, é o que nenhum de nós pode saber, exceto a divindade” 

– Período Socrático: Platão – p. 256 a 268  da obra HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

Recursos físicos Quadro, retroprojetorojetor, datashow

Aplicação prática e teóricaOs conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica.

 O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: 

Caso 1 - O papel do filósofo na República

A discussão acerca dos melhores critérios para escolha daquele que deve governar uma determinada sociedade sempre foi tema de longos debates no decorrer da história. Tomando como exemplo as eleições americanas do ano passado, o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, surpreendeu jornalistas e eleitores quando anunciou sua escolha para vice-presidente: a governadora do Alasca Sarah Palin. Ela não estava entre os nomes mais citados nas apostas americanas, mas por ser uma figura feminina proeminente, Palin poderia trazer também uma boa parcela das eleitoras da ex-pré-candidata democrata Hillary Clinton. Durante a campanha, em razão da avançada idade de John McCain, muito se discutiu acerca da capacidade intelectual de Palin para administrar a mais poderosa nação do mundo.

Diante da situação acima apresentada, responda:

1- Que critério entendia Platão como o correto para a escolha daqueles que deveriam exercer os poderes da pólis? Fundamente sua resposta.                                                                                 

2 - Pelo que você leu no texto acima e pelos seus conhecimentos acerca do processo eleitoral americano, a atual candidata a vice-presidência americana, muito popular entre certa camada social daquele país, cumpre os requisitos exigidos para exercer o poder, segundo aqueles que entendem como correta a visão platônica?

 

Caso 2  - A relação entre justiça e leiLeia o texto abaixo, retirado do endereço eletrônico http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u422800.shtml, respondendo, a seguir, as questões que seguem:

Governo argentino e ruralistas retomam disputa com protestos da BBC Brasil, em Buenos Aires

Com duas manifestações que reuniram multidões em dois pontos diferentes da capital argentina nesta terça-feira, o governo da presidente Cristina Kirchner e os ruralistas retomaram a disputa após um período de trégua. Os protestos em Buenos Aires ocorreram um dia antes da votação no Senado da proposta do governo que prevê o aumento dos impostos sobre as exportações do setor agropecuário. (...) Em um discurso de quase 30 minutos, o ex-presidente Kirchner fez fortes críticas aos ruralistas: "Quiseram destituir o governo nacional e popular (de Cristina)", disse o ex-presidente. "Damos a outra face, porque estamos em defesa do povo." Já o Presidente da

Sociedade Rural, Luciano Miguens disse: "Essa medida não pode ir adiante", disse "É injusta, confiscatória e inconstitucional." (grifo nosso)

1. A possibilidade de uma lei ser injusta é largamente discutida nos dias de hoje. A partir de uma perspectiva platônica de Estado, expressa na obra República, é natural que o filósofo-rei elabore regras concretas injustas? Justifique. 2. Tomando o caso argentino acima como referência, Platão consideraria possível que uma regra injusta pudesse ser emanada por um governo popular? Por quê?

Título Fundamentos para uma Filosofia Jurídica   

Número de aulas por semana

1

Número de semana de aula

4

Tema Aristóteles e o sentido polissêmico de justiça: legalidade, justa-medida, equidade e proporcionalidade. 

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância de Aristóteles para tradição Filosófica;

· Estudar os conceitos de igualdade, proporcionalidade, equidade, justiça distributiva e comutativa;

· Compreender a relação entre Ética e Direito;

Estrutura de conteúdo Unidade 2 – Fundamentos para uma Filosofia Jurídica

2.2. Aristóteles: o sentido polissêmico de justiça (legalidade e equidade).

 Nesta aula estudaremos um dos filósofos mais importantes para a Ciência,  a partir de uma breve apresentação de sua contribuição para o pensamento científico, compreenderemos  a relação com o seu antecessor, Platão. Em seguida, vericaremos que Aristóteles elaborou duas obras fundamentais ao Direito: Ética a Nicômaco e Política. Recomenda-se, ainda, que se observe que este pensador trabalhou temas diretamente ligados à Filosofia Jurídica (Igualdade, proporcionalidade, equidade, justiça distributiva e comutativa etc). E foi considerado pelos estudiosos da História das idéias como sistematizador do pensamento ocidental, tendo contribuído, ainda, no campo das Ciências Naturais, História da Filosofia, Psicologia, as leis da argumentação e da Lógica.  Ao contrário de Platão, não define o direito a partir da idéia de justiça, mas define a justiça em função do direito, sendo possível no interior da polis (definir este conceito. Polis ou cidade-estado: nova forma de convivência centrada na ágora (praça pública) para o debate sobre interesses comuns. Neste contexto, surge a figura do cidadão, aquele que fazendo uso público de sua razão, delibera conjuntamente aos seus pares os destinos da cidade). Segundo o entendimento de Aristóteles, a política é ciência da felicidade humana, uma ciência prática que busca o conhecimento como meio para a ação e que se divide em ética e política. A felicidade, em seu modo de ver, significa certa maneira de viver específica do homem, ser social por natureza, destinado a desenvolver suas potencialidades na vida em sociedade. Segundo Paulo Nader (2003, p. 110) “Diferentemente de seu mestre, que situava as questões filosóficas em um plano de profunda abstração, Aristóteles

procurava ligar-se mais aos fatos empíricos”. É importante apresentar em linhas gerais o conteúdo do livro Política como o estudo das constituições das poleis. A obra está dividida em três partes, a saber: os livros I, II e III, que tratam da teoria do Estado em geral e da classificação das várias espécies de constituições; os livros IV, V e VI, em que se analisa a política prática, ou seja, estuda a natureza das constituições existentes e dos princípios para seu bom funcionamento; e os livros VII e VIII, em que se examina a política ideal. Na obra Ética a Nicômaco [A Ética a Nicômaco ou Nicomaquéia foi assim chamada por ter sido, provavelmente editada por Nicômaco, filho de Aristóteles. Ética a Eudemo, por ter sido editada ou redigida pelo seu discípulo deste nome, uma refundição da anterior. A Grande Ética ou Ética Maior,  um resumo posterior. (TRUYOL Y SERRA, p.132)] aprofunda os ensinamentos que retira de Platão (República), elabora sua teoria ética a partir das estruturas morais vigentes na comunidade grega do séc. V a.C. De um modo geral, podemos dizer que a sua teoria apresenta o procedimento do homem prudente como um valor, cuja opinião da experiência da vida e os costumes da cidade são condições objetivas para se filosofar politicamente.Diferentemente de Platão, Aristóteles humanizou o fim último na medida em que o tornou terreno, por isso, o ético em Aristóteles é entendido a partir do ethos (do costume), da maneira concreta de viver vigente na sociedade. Neste aspecto, interessa mencionar que a sua ética compreende duas categorias de virtudes: as virtudes morais, fundamentadas na vontade, e as virtudes intelectuais, baseadas na razão. Como exemplo de virtudes morais: a coragem, a generosidade, a magnificência, a doçura, a amizade e a justiça.  As virtudes intelectuais ou dianoéticas [Diánoia: entendimento. Em Aristóteles é usada como um termo geral para atividade intelectual. Noético (gr) relativo ao pensamento; noetikos – inteligente.] são: a sabedoria, a temperança, a inteligência e a verdade.  Para este pensador, uma ação pode ser considerada como justa quando realiza o equilíbrio das virtudes morais e quando alcança as virtudes intelectuais. O objetivo da ação moral é a justiça, assim como, a verdade é o objetivo da ação intelectual. Em sentido lato, a justiça [livro V da Ética a Nicômaco.] configura o exercício de todas as virtudes, observando-se a instância da alteridade, ao passo que em sentido estrito, encontra-se como uma virtude ética que implica o princípio da igualdade. Assim a justiça aparece como um valor ético que se desvela em nossos atos, logo“toda virtude e toda técnica nascem e se desenvolvem pelo exercício” (SALGADO, 1995, p. 33).Na Ética a Nicômaco, Aristóteles enumera três condições para que um ato seja virtuoso, a saber: primeiro, o homem deve ter consciência da justiça de seu ato; segundo, a vontade deve agir motivada pela própria ação; terceiro, deve-se agir com inabalável certeza da justiça do ato. É relevante  trabalhar o conceito de virtude, apresentando

que virtude poderá apresentar algumas acepções, a saber: qualidade daquilo que está de acordo com o que é considerado correto e desejável do ponto de vista da moral; qualidades morais como a temperança, a modéstia, a generosidade e a justiça;  aquilo que está de acordo com os princípios do bem. A virtude para este autor,  será uma espécie de meio termo, termo médio entre os extremos, evitando, assim por dizer, o excesso e a deficiência, uma vez que a justiça é uma virtude que só pode ser praticada em relação ao outro e de modo consciente. O objeto da justiça é realizar a felicidade na polis, o seu oposto, a injustiça, poderá ocorrer por falta ou por excesso. Depois de uma análise cuidadosa do termo virtude, é interessante observar como Aristóteles distinguiu duas classes de justiça: a universal e a particular. A justiça universal significa a justiça em sentido amplo que pode ser definida como conformidade ao nomos (norma jurídica, costume, convenção social, tradição). Esta norma constituinte donomos é dirigida a todos, e assim sendo toda ação deve corresponder a um tipo de justo que é o justo legal. O membro da polis se relaciona com todos os demais, ainda que virtualmente, e compartilha com todos os efeitos de sua atitude ou omissão. A justiça universal ressalta a importância da legalidade como um dos aspectos que fundamenta a coesão social. Logo a comunidade existe virtualmente na pessoa de cada membro, e o homem virtuoso é aquele cujo agir necessariamente observa o princípio neminem laedere (não prejudique a ninguém). A justiça particular significa em sentido estrito o hábito de realizar a igualdade como uma relação direta entre as partes, típica da experiência citadina. Esse tipo de justiça vincula-se com a justiça universal, pois o transgressor da justiça particular se compromete também diante do nomos. O justo particular apresenta-se em duas formas distintas: o justo particular distributivo que assinala a justiça distributiva e o justo particular corretivo que apresenta a justiça corretiva. A idéia de justiça distributiva surge no sentido de igualdade na devida proporção. Essa modalidade de justiça regula as ações da sociedade política com seus membros e tem por objeto a justa distribuição dos bens públicos: honras, riquezas, encargos sociais e obrigações. Essa prática também se fundamenta na igualdade que não se confunde com uma igualdade matemática e rígida, mas proporcional na medida em que observa o dever de dar a cada um o que lhe é devido; observa os dotes naturais do cidadão, sua dignidade, o nível de suas funções, sua formação e posição na hierarquia organizacional da polis. O princípio de igualdade que figura neste tipo de justiça exige uma desigualdade de tratamento, pois sendo diferentes segundo o mérito, os benefícios a serem atribuídos também devem ser diferentes. A outra modalidade de justiça particular é a justiça corretiva ou sinalagmática, que se divide em comutativa e judicial. Trata-se de um tipo de justiça

que regula as relações entre cidadãos e utiliza o critério do justo meio aritmético ou igualdade. Observa-se que este tipo não focaliza em primeiro plano as pessoas, mas sim as coisas. Medem-se os benefícios ou prejuízos que as pessoas podem experimentar, ou seja, as coisas e os atos no seu valor efetivo. Nos casos de ações que geram constrangimento para uma das partes, caberá ao juiz restabelecer a igualdade rompida através de uma sentença. Quando há a vontade dos interessados como elemento principal, chama-se justocomutativo (sinalagma) e, quando por decisão do juiz a vontade de um deles é contrariada, como o caso dos crimes, chama-se justo judicial ou justo reparativo. Neste último caso, o sujeito de uma injustiça é sancionado a reparar o dano provocado indevidamente a outrem. Pode-se perceber que o princípio de igualdade que figura em seu pensamento recorda as especulações pitagóricas acerca da justiça.

 Segundo o pensamento político-jurídico de Aristóteles, a idéia de justiça política se refere aquela que organiza a vida comunitária e que, em particular, deve observar o processo deliberativo social. Nesse sentido, o justo políticoabrange duas outras formas de justiça: o justo natural e o justo legal. O justo natural significa o que será sempre o mesmo em toda parte, independe da vontade humana, ou melhor, para existir não precisa de qualquer decisão ou ato de positividade. O justo legal, que em princípio poderia ser cumprido de maneiras diferentes, passa a ser obrigatório por ser assumido pelo nomos vigente em uma polis. Esse tipo de justo decorre do ato legislativo e configura-se no conjunto de disposições vigentes na polis. Tanto o justo natural como o justo legal constituem a ordem normativa da cidade. O justo natural é constituído por noções e princípios comuns que encontram fundamento na própria natureza racional do homem. Há uma lei natural ou direito natural que desvela a natureza da comunidade política. O ponto de partida é o princípio da naturalidade da sociedade política; o homem, animal político é chamado a viver na polis por força de sua própria essência, e dessa forma sendo a cidade-estado uma realidade natural, exige-se, logicamente, que toda relação política esteja vinculada aos preceitos da razão, da legalidade e da igualdade. 

Temos que observar que o justo legal encontra sua origem no justo natural. Essa relação se esclarece quando se percebe que se caminha do geral para o particular, ou seja, um princípio geral pode acarretar uma lei específica. O princípio neminem laedere que significa que não devemos prejudicar as pessoas, um preceito da justiça natural, pode ser positivado em norma que prevê uma punição para atos como o homicídio, a injúria e etc. Os conflitos entre preceitos jurídicos legais e jurídicos naturais, segundo Aristóteles, não deveriam invalidar a ordem jurídica da polis, exceto em um sistema corrompido. Por isso que a eventual tensão entre a generalidade abstrata da lei e a singularidade concreta dos casos reais era mediada pela equidade (epieikéia), em atenção à justiça natural. A equidade é pensada como forma

corretiva da justiça legal quando esta engendra certa injustiça pela própria generalidade de seus preceitos normativos. Conforme esse princípio, o julgador coloca-se como legislador, e opera a adaptação da lei ao caso concreto, portanto, o julgador assumindo a postura do legislador torna-se um homem preocupado com a correção ética da justiça, um homem équo, definido como aquele que não é rigoroso na aplicação da justiça, quando esta se configura como a pior solução, mas que fundamenta seus juízos nos preceitos de uma ação justa racional. Para Aristóteles, “a ordem é a lei e o governo da lei é preferível ao de qualquer cidadão, porque a lei é a razão sem apetites”, (ARISTÓTELES, 1997) pondera Aristóteles na Política. Se o objetivo da atividade humana é a vida na polis, esta deve ser anterior ao indivíduo. Aristóteles assevera que há no homem um impulso social que se desvela primeiramente na família, em seguida na aldeia, até alcançar a estrutura equivalente a uma polis. A cidade é por sua natureza uma unidade na diversidade, cuja lei escrita ou não escrita, o nomos, surge da experiência citadina e, portanto, é intrinsecamente superior a qualquer decisão individual por mais sábia que seja. Por ser o nomos, a razão desprovida de paixão, deve ser a suprema autoridade da sociedade política, e no Direito da polis há elementos naturais e permanentes, convencionais e mutáveis, pois sendo a razão comum a todos os homens, todos serão iguais, até porque o nomos é razão que realiza a igualdade jurídica formal. Destarte a lei comum seria uma lei natural-original, tendo validade geral, independente da opinião dos homens. Recomenda-se que o professor destaque que, em Aristóteles, a conformidade com a lei apresenta a relação que o sentido de justiça particular mantém com a idéia de equidade [indagar sobre o conceito de equidade: reconhecimento de que os direitos são iguais para todos, expresso em julgamento, ação, atitude etc.; característica de quem ou do que revela senso de justiça, imparcialidade; lisura, correção no modo de agir ou opinar;], que em si aponta para o fato de que o justo ultrapassa a simples dimensão da lei escrita, ou seja, vai além da razão de ser da lei escrita e se liga diretamente ao sentido de lei natural na medida em que pode ser compreendido como um critério de ajuizamento da igualdade ditada pela razão conforme a lei natural. Observa-se que a razão significa uma forma superior da natureza humana em que a equidade surge para corrigir os lapsos da lei convencional, sobretudo quando a lei, aplicada mecanicamente, não corresponde à essência da justiça. As circunstâncias particulares exigem a aplicação da equidade para dirimir um caso concreto, buscando uma igualdade entre as partes. Enfim, o sentido de equidade em Aristóteles passa pelo aspecto da igualdade, pelo espírito da alteridade, que em última instância marca sua visão de justiça: mecanismos políticos que vislumbrem o bem comum. 

Assim, recomenda-se a leitura de trechos do material didático selecionado: Parte II – História da Filosofia – Período Socrático: Aristóteles – p. 268 a 281  da obra HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

 

Recursos físicos Sugere-se a utilização de Power point para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos indicados.

Aplicação prática e teórica

s conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: 

Caso 1 – O justo como meio termo 

A idéia de virtude como justo meio entre extremos traz a possibilidade de que busquemos o agir correto em um modelo de proporção. O agir correto liga-se então a essa idéia de proporcionalidade.“Revisão do decreto de crimes ambientais deve chegar à Casa Civil nesta sexta

Claudia AndradeUOL Notícias Em 09/10/2008 - 20h20

A proposta de revisão do Decreto 6.514, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais, deverá ser entregue à Casa Civil nesta sexta-feira. O texto foi elaborado em conjunto pelos ministérios do Meio Ambiente, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Justiça. (...) Os representantes do agronegócio, contudo, querem mais mudanças no decreto. (...) O deputado Valdir Colatto, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária reclama, por exemplo, das multas definidas para diferentes infrações ambientais. "As multas são exorbitantes, são confiscatórias. A lei diz que a multa tem que ser proporcional ao patrimônio, o que não ocorre no decreto", argumenta, referindo-se à Lei 9.605, de fevereiro de 1998, a Lei de Crimes Ambientais.”

(ANDRADE, C. In: UOL notícias. Disponível em: : http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/2008/10/09/ult4477u1032.jhtm.)   

 

Como podemos observar, a idéia de proporcionalidade é utilizada como referência de medida justa. Nesse sentido

pergunta-se:

1. É possível, em Aristóteles,  relacionar a idéia de justo meio à idéia de proporcionalidade no direito? Justifique sua resposta.

2. No caso acima, constatada que a lei não respeita a proporcionalidade entre o valor da multa, seria esta justa na concepção aristotélica?

3 – A idéia aristotélica de justo meio foi recepcionada, de alguma forma, no sistema jurídico brasileiro hodierno?

 

Caso 2 - EquidadeAristóteles, ao desenvolver sua teoria de justiça, acabou por nos  proporcionar um mecanismo de adequação do justo, muito importante mesmo nos dias de hoje: a equidade. Leia a reportagem abaixo, extraída do endereço virtualhttp://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u419353.shtml e, após, responda as questões que se seguem:

Tarso descarta mudança na lei seca para motoristas  -RENATA GIRALDI da Folha Online, em Brasília

O ministro Tarso Genro (Justiça) descartou nesta sexta-feira qualquer possibilidade de modificação na lei denominada tolerância zero que proíbe a ingestão de álcool por motoristas. Tarso disse que a "lei é boa" e sua aplicabilidade depende do "bom senso" dos policiais. Para o ministro, o erro está em aplicar a lei de forma mecânica. Ele defendeu sua continuidade alegando que "está dando certo". (...)

"[O ideal é que] não seja aplicada mecanicamente. Tem que ter uma tolerância, dependendo do caso concreto até 0,2, o que ressalva o bombom, o sagu [doce preparado com vinho] e o anti-séptico", brincou o ministro.

Em seguida, Tarso brincou com o caso de um padre que venha a tomar um cálice de vinho ao celebrar a missa. "O padre sai da missa, tomou um cálice de vinho, poderia ter tomado um suco de uva, aí ele [padre] chega diante da autoridade que pede sua carteira [de motorista]. O policial que está ali vai registrar e certamente vai acolher [as explicações do padre]", disse o ministro.

1.  O que é equidade em Aristóteles?

2. No caso apresentado pelo Ministro Tarso Genro, um possível acolhimento aos argumentos do padre pelo policial, poderia ter como fundamento a utilização do conceito aristotélico de equidade? Fundamente.

Título O Estoicismo e o direito natural.   

Número de aulas por semana

Número de semana de aula 5 

Tema  O Estoicismo e o direito natural.

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento estóico para a teoria do direito natural;

· Estudar os conceitos de natureza, ordem, justiça, liberdade, igualdade e direito natural;

· Compreender a relação entre justiça e direito natural segundo os estoicos;

Compreender a influência do estoicismo na doutrina do direito natural de Cícero;

Estrutura de conteúdo Unidade 2 – Fundamentos para uma Filosofia Jurídica

2.3. O Estoicismo e o direito natural.

É costume distinguir na escola estóica três fases: a antiga, a média e o estoicismo novo. Sugerimos que o professor não focalize com tantos detalhes essa divisão, mas procure trabalhar em linhas gerais os conceitos mais importantes como, por exemplo, a ideia de um universalismo político na concepção de universo como civitas maxima (cosmopolitismo) comum aos homens, o que possibilita uma compreensão mais clara do sentido de igualdade construído por essa corrente de pensamento. Conforme esclarece Truyol  Y Serra (1982, p. 150) a consequência mais importante do princípio da igualdade formulado pelos estóicos a partir da concepção da racionalidade como patrimônio comum é a teoria do direito natural, porque há um conjunto de princípios que dimanam da natureza que na concepção desses pensadores,  se configura numa grande Razão que rege o universo. E, neste aspecto, governa a todos os homens enquanto racionais. Recomenda-se, ainda, que observe que este tema está diretamente ligado à Filosofia Jurídica com seus debates sobre a concepção de justo e sobre o significado e valor dos direitos naturais e da Liberdade como um constructo muito importante para o pensamento moderno.Observa-se que o estoicismo grego propôs uma imagem do universo segundo a qual tudo seria semelhante a um ser vivo. Neste olhar, o universo seria provido de uma alma identificada por Zenão (334-264 a.C.) à razão. Isto significa dizer que para os estóicos o mundo é inteiramente racional, um Logos (Razão Universal) que atua tanto na natureza quanto na conduta humana, excluindo o acaso ou a desordem. Neste ponto, recomendamos observar a tentativa de se construir uma concepção de unidade do mundo humano a partir da concepção de unidade do universo tomado em seu conjunto, reconciliando o sentido do homem bom com o bom cidadão anteriormente apontado por Aristóteles e Platão, todavia figurando em outro contexto político que ultrapassa as dimensões da pólis e vai em direção ao sentido de humanidade. É importante  compreender o conceito de racionalidade trabalhado por essa corrente de pensamento para que se possa observar sua relação com a ideia de ordem e, por fim, a concepção de justiça subjacente. Depois de uma análise cuidadosa do termo racionalidade, é interessante observar o sentido de igualdade e liberdade para os estoicos. Sugere-se, ademais, perceber que o mundo grego antigo desenvolveu uma concepção de direito natural cosmológica, isso porque se buscava na natureza inspiração permanente ao sentido de universal, concebendo que na natureza havia o que mais tarde se compreenderia por lei: a permanência, o equilíbrio, o que faltava à ordem política, numa palavra: estabilidade. A

razão e a lei operavam em toda a natureza (MORRISON, 2006, p. 61) O direito natural presente nos pensamentos de Platão e de Aristóteles, posteriormente retomado pelos estoicos, compreendia a Natureza como se fosse governada por uma lei universal, racional e imanente. Essa concepção mais tarde apresentada em Roma por Túlio Cícero (106-43 a.C.), em versão racionalista, exerceu grande influência no pensamento cristão dos primeiros séculos. Na obra De Republica, Cícero  defendeu a existência de uma lei verdadeira, conforme a razão, imutável e eterna, que não muda com as nações e com os tempos e que o homem não pode violar sem renegar a sua  própria natureza humana. Os padres da igreja, ao acolherem as idéias de Cícero, se viram diante de uma grande tarefa: a de conciliar esse direito natural com a idéia de lei revelada. Mais tarde, os juristas romanos, como por exemplo, Domitiu Ulpianus (170-228), também buscaram no estoicismo a idéia de um direito natural, definindo-o como aquilo que a natureza havia ensinado a todos os seres animados. Essa idéia acabou por reduzir o direito natural ao mero instinto, uma vez que incluía também como seres animados os seres irracionais. Tal concepção, que se configura em uma versão naturalista, oposta à de Cícero, foi adotada por muitos escritores medievais. Têm-se, portanto, duas versões do direito natural: a versão naturalista de Ulpianus e a versão racionalista de Cícero. Segundo Kaufmann (2002) Cícero conferiu ao direito natural dos estoicos sua  expressão mais eloquente. Po fim, é relevante  estudar a tese do Republicanismo Clássico de Cícero, ressaltando a importância da lei natural para a segurança da civita, para felicidade humana e sua relação com o direito positivo (MORRISON,  2006).Para tanto, recomenda-se  a leitura de trechos do material didático selecionado: HRYNIEWICZ, Severo.Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 288-289.

Recursos físicos O professor deve partir de uma breve apresentação da corrente do estoicismo, destacando o contexto histórico (a filosofia adquire um caráter prático – pontuar rapidamente que as condições históricas do período helenístico foram favoráveis ao florescimento de ideias caras ao pensamento moderno) e seu principal pensador: Zenão. Vale lembrar, neste ponto, o valor da ética que, diga-se de passagem, é o tema central da fase helênica com a sua preocupação com as bases de um sistema de regras de vida. Em seguida, sugere-se que pontue a importância dessa corrente de pensamento para uma compreensão reflexiva da teoria do direito natural moderna, a partir da relação entre Direito e

Política.

 Sugere-se a utilização de PowerPoint para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos indicados.

Aplicação prática e teórica Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: 

Caso 1 – A justiça e o direito natural 

O estoicismo grego propôs uma imagem do universo segundo a qual tudo é semelhante a um ser vivo. Assim o universo seria provido de uma alma identificada por Zenão de Cício (334-264 a.C.) à razão. Isto significa dizer que para os estóicos o mundo é inteiramente racional, um Logos (Razão Universal) que atua tanto na natureza quanto na conduta humana, excluindo o acaso ou a desordem. Diante de tais considerações, leia atentamente a citação do filósofo contemporâneo Luc Ferry quando cita o estóico Marco Aurélio e responda as questões que seguem.

Para os estóicos, de fato, a estrutura do mundo, ou, se você preferir, a ordem cósmica, não é apenas uma organização magnífica, mas também uma ordem análoga à de um ser vivo. (...) É essa ordem, esse cosmos como tal, essa estrutura ordenada do universo todo que os gregos chamam de “divino” (theion), e não, como para os judeus ou os cristãos, um Ser exterior ao Universo, que existiria antes dele e que o teria criado.(...) Pode-se portanto dizer que a estrutura do universo não é apenas “divina”, perfeita, mas também “racional”, de  acordo com o que os gregos chamam de logos (termo que dará a palavra lógica) e que designa justamente essa ordenação admirável das coisas.

Assim, o famoso imperativo segundo o qual é preciso imitá-la em tudo vai poder se aplicar não apenas ao plano estético, da arte, mas também ao da moral e o da política. (...) Marco Aurélio pensa

que a natureza, pelo menos em seu funcionamento normal, excetuando-se os acidentes ou catástrofes que às vezes nos submergem, faz justiça a cada um, tendo em vista que ela nos dota, quanto ao essencial, daquilo de que precisamos (...). De modo que, nessa grande partilha cósmica, cada um recebe o que lhe é devido.

Essa teoria do justo anuncia uma fórmula que servirá de princípio a todo o direito romano: “dar a cada um o que é seu”, colocar cada um no seu lugar( FERRY, Luc. Aprender a viver. Filosofia para os novos tempos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, pp.41-42, grifo do autor).

 

1. Por que os filósofos do estoicismo buscaram fundamento na natureza para ordenar a vida humana?

2. No texto acima é possível identificar o sentido dos direitos naturais na sua versão greco-latina?

 

Caso 2 – Republicanismo no estoicismo

Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), senador e figura importante na política romana, desvelou grande valor para a história do pensamento filosófico e jurídico. Embora não tenha apresentado um pensamento original, reuniu diferentes teorias filosóficas gregas e inaugurou o vocabulário filosófico latino. Observe a citação abaixo e responda as questões que seguem.

Se Roma existe, é por seus homens e seus hábitos. A brevidade e a verdade desse verso fazem com que seja, para mim, um verdadeiro oráculo. Com efeito: sem nossas instituições antigas, sem nossas tradições venerandas, sem nossos singulares heróis, teria sido impossível aos mais ilustres cidadãos fundar e manter, durante tão longo tempo, o império de nossa República. (...) Em suma, não há felicidade sem uma boa constituição política; não há paz,  não há felicidade possível, sem uma sábia e bem organizada República (CÍCERO, M. T. Da República. In: Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1988, p.

175-176.).

 

1. É possível identificar na fala de Cícero a tese republicana? Justifique sua resposta.

2. Destaque no texto acima a passagem que exemplifica seus argumentos na questão anterior.

 Saiba mais...Sugestão de vídeos:

Estoicismo - http://www.youtube.com/watch?v=M_rAU8FoC74&feature=related

Sobre o Helenismo - http://www.youtube.com/watch?v=igTE7GEF_aI&feature=related

Título Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica.   

Número de aulas por semana

Número de semana de aula

Tema  Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica.

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento de Thomas Hobbes;

· Estudar os conceitos de estado de natureza, concepção de homem, poder e racionalidade prática;

· Compreender a relação entre violência e poder soberano para uma teoria política baseada numa racionalidade instrumental;

Compreender o bem como relacionado com os fins do Estado; a justiça e a segurança.

Estrutura de conteúdo Unidade 3 – Fundamentos modernos para uma Filosofia Jurídica

 3.1. Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica.

 Nesta aula estudaremos as especificidades do contexto histórico do renascimento e início do período moderno, esclarecendo que se configura o rompimento com o pensamento antigo-medieval e o destaque de reflexões acerca do papel do Estado. Trata-se do florescimento de uma filosofia política moderna.Thomas Hobbes foi um importante pensador político na criação de um Estado concentrador de poder em que se configura o uso da força para combater a violência própria de um estado de natureza. Vale ressaltar que definiu o estado de natureza e legitimou o uso da força. No estado de natureza de Hobbes, “todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros” (Leviatã, Parte I, Cap. XIV, p.82). Mais adiante assevera que Toda a humanidade tem “uma inclinação geral” que ele caracteriza como “um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que somente cessa com a morte” (Leviatã, Parte I, Cap. XI, p. 64). Assim, para cada um, o outro é um concorrente, ávido de poder. O pensador coloca o homem a partir do olhar de uma antropologia pessimista, apresentando o fato da violência no estado pré-jurídico. Há que se mencionar que todo o seu pensamento político está calcado na busca de uma suposta estabilidade para a vida dos indivíduos em sociedade, garantindo, assim, a manutenção dos bens.Nas lições de Norberto Bobbio, podemos compreender por contratualismo aquela teoria política cuja origem da sociedade e o fundamento do poder político repousa na figura jurídica do contrato, ou seja, um acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos que assinalaria o

fim do estado natural e o início do Estado político. Em sentido restrito, representa uma escola que floresceu na Europa entre os começos do séc. XVII e fins do séc. XVIII, que teve os seguintes expoentes: J. Althusius (1557-1638); T. Hobbes (1588-1679); J. Spinoza (1632-1677); S. Pufendorf (1632-1694); J. Locke (1632-1704); J-J. Rousseau e I. Kant. Tais autores apresentaram o uso comum de uma mesma sintaxe ou estrutura conceitual para racionalizar a força e alicerçar o poder no consenso. Dessa forma, podemos observar dois níveis distintos, a saber: 1 - Os que sustentavam a passagem do estado de natureza ao de sociedade como um fato histórico realmente ocorrido para dar conta do problema antropológico da origem do homem civilizado; 2 - O estado de natureza como mera hipótese lógica a fim de ressaltar a idéia racional ou jurídica do Estado pensado. Nesta concepção, o fundamento da obrigação política repousa no consenso expresso ou tácito que legitima uma autoridade que os represente. Encontra-se, assim, a idéia do direito como a única fonte de racionalização das relações sociais. Três fatores explicam essa idéia: a influência da escola do direito natural com a qual o contratualismo está relacionado; a necessidade de legitimar o Estado, as leis criadas pelo soberano que tenderiam a substituir o direito consuetudinário; construir um sistema político que evidencie a autonomia dos sujeitos de contrato, tendo como base jurídica o pacta sunt servanda.Recomenda-se a seguinte leitura: HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 376 – 379.

Recursos físicos Sugere-se a utilização de PowerPoint para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados. 

Aplicação prática e teórica

Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: 

Caso 1 - O fato da violência no estado pré-jurídico e pós-jurídico

A polêmica se a lei injusta deve ser cumprida, ou não, sempre foi objeto de grandes debates no âmbito da filosofia do direito. Leia a reportagem abaixo e responda tendo como referência a visão hobbesiana.

Ou a coesão ou a barbárie CLÓVIS ROSSI

Com 31 anos de polícia, José Manoel Martins, delegado

adjunto do 77º Distrito Policial de São Paulo, ainda conseguiu espantar-se com o caso que lhe chegou às mãos faz dias: um rapaz se apresentou no distrito com a boca sangrando por um soco. Banal, certo? (...). Por que a trivialidade do soco na boca impressionou um policial veterano? Pelos envolvidos. Quem apanhou era o rapaz que, a pedido de um benemérito anônimo, distribuía café com leite e pão com manteiga para os moradores de rua da área. Quem bateu foi o dono de uma padaria próxima, incomodado com a, digamos, concorrência desleal do pão, leite e café de graça. Essa historinha diz muito sobre o verdadeiro pano de fundo da tragédia brasileira, feita de violência animalizada e insegurança coletiva: o rompimento absoluto da coesão social, se é que houve alguma coesão algum dia. Pelo menos nas grandes cidades, implantou-se a lei da selva, pela qual sobrevive/prospera não necessariamente quem é mais apto, mas quem é mais forte. Da desumanização decorrente, nascem crimes como o do menino João Hélio, o incêndio de um ônibus lotado no Rio e o de um carro com uma família presa dentro em São Paulo, para não mencionar os 41 mil homicídios, os 942 mil assaltos, os 2,1 milhões de furtos e os 650 seqüestros do ano retrasado. A estrutura social injusta, até obscena, não pode servir de habeas corpus para o crime. Se todos os "famélicos do mundo" (para citar a Internacional) resolvessem matar crianças, já não haveria adultos para contar a história. Mas é preciso deixar claro que, ou o Brasil começa já a construir um pacto social de fato, ou o teor de barbárie só fará aumentar. Alguém aí enxerga estadistas com dimensão para a tarefa?

1. Em que situação, segundo Hobbes, há possibilidade de rompimento do contrato?

2. O retorno ao estado de natureza inviabiliza a existência de uma ordem jurídica?

3. O caso narrado caracteriza a incapacidade do Estado em manter a coesão e a ordem social? Se não, por quê? Se sim, que conseqüência prevê  Hobbes para esta situação?

 

Caso 2 –  Notícias STF

Programa Fórum, da TV Justiça, debate segurança pública e violência urbana no Brasil

O  programa Fórum, da TV Justiça, dedica a edição desta semana à discussão dos problemas da segurança  pública  e  da  violência  urbana. O tema é tratado pela secretária executiva do Conselho Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Mike, e pelo professor Arthur Trindade, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança da Universidade de Brasília (UnB).

Pesquisadores apontam que o crescimento da violência nas duas últimas décadas tem sido um dos maiores entraves  ao desenvolvimento da América Latina,  na medida em que inibe os investimentos na região. No Brasil, no mesmo período, o número de assassinatos cresceu 237%. Pesquisa

recente da Organização das Nações Unidas (ONU) indica que, todos os anos, 40 mil pessoas perdem a vida no país vítimas da violência.

Para a  Regina Mike, mesmo com o registro de altos índices de violência urbana,  houve avanços no combate ao problema no Brasil. “O governo foi proativo na questão e a trouxe para ser debatida com a sociedade, estados e municípios. Isso tem trazido benefícios na queda da mortalidade e dos números de homicídios em várias regiões tradicionalmente violentas”,  afirmou.

De acordo com o professor Arthur Trindade, a taxa de homicídios que o Brasil registra está entre as mais altas do mundo. Para ele, a solução do problema não passa apenas por recursos governamentais, mas por integração política entre os órgãos do governo. “Quase todas as capitais brasileiras apresentam taxas de homicídio muito superiores às capitais europeias. A solução do problema não passa apenas pela polícia, mas depende fundamentalmente de ações articuladas com os governos”, explicou. (Fonte: TV Justiça. Disponível em:http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=152890. Acesso em: 26 maio 2010.

Considerando o fato da violência urbana observada na notícia acima e a tese de Thomas Hobbes, responda:

1. O texto confirma as idéia de Hobbes sobre o homem no estado de natureza? Justifique.

2 . A solução hobbesiana poderia ser invoca nos dias de hoje?

Saiba mais...Sugestão de vídeos:

Thomas Hobbes: vida e obra - http://www.youtube.com/watch?v=hl7ZTOycrmU&feature=fvsr

Sugestão de Filmes:

Tropa de Elite (2007), apresenta  como tema o fato da violência urbana na cidade do Rio de Janeiro e as ações do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

 

Notícias de uma Guerra Particular é um documentário de 1999, produzido pelo cineasta João Moreira Salles e pela produtora Kátia Lund. O documentário tem como principais personagens os policiais, traficantes de drogas e os moradores das favelas. É mostrada, também, a vida no Morro Dona Marta, em Botafogo, na zona sul da cidade.

Justiça é um documentário de 2004, direção de Maria Augusta Ramos. O documentário aborda o  cotidiano de um Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, incluindo as pessoas que ali trabalham diariamente, como promotores,

defensores públicos e juízes, e ainda pessoas que estão apenas de passagem, como os réus.

Título Locke: a garantia da propriedade como conceito substantivo para a prosperidade e liberdade.   

Número de aulas por semana

Número de semana de aula

Tema  Locke: a garantia da propriedade como conceito substantivo para a prosperidade e liberdade.

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento de John Locke;

· Estudar os conceitos de estado de natureza, concepção de homem e liberdade;

· Compreender a relação entre liberdade, lei e propriedade;

· Compreender os elementos caracterizadores que compõem a Sociedade Civil (Estado) em Locke.

Estrutura de conteúdo Unidade 3 – Fundamentos modernos para uma Filosofia Jurídica

3.2. Locke: a garantia da propriedade como conceito substantivo para a prosperidade e liberdade.

 No contexto histórico do pensamento político de Locke, percebemos a formação do sentido de indivíduo. E, nesse sentido, autor configurou elemento substantivo do Bill of Right e da Revolução Gloriosa.Como  filósofo, John Locke assumiu uma importância no contexto da filosofia política e trabalhou os conceitos de estado de natureza, concepção de homem, liberdade lei e propriedade. Nesse sentido, é pertinente ressaltar o seu pensamento político, situando-o na tradição filosófica como um pensador preocupado em refletir, a partir das relações sociais, bem como  o sentido de legalidade como premissa fundamental e necessária na defesa do direito de propriedade.

 Deve-se ainda observar que este pensador compreendeu o direito natural como um direito descoberto pela razão. Neste ponto a razão assume o sentido  de uma  capacidade de compreensão existente em todos os  homens. Tais direitos não seriam, por conseguinte uma dádiva do Estado ou da lei, mas um ditame da recta ratio que mostraria aos homens os limites daquilo que convém em uma sociedade civil, ou seja, direitos naturais - racionais.

 

O jusnaturalismo de Locke pressupõe, portanto uma ordem universal em que Deus criou os homens para o propósito segundo o qual, todos pelo trabalho, pudessem construir

sua prosperidade. Nesse aspecto, a prosperidade está diretamente relacionada ao sentido de propriedade, que, pode ser sintetizada em vida (bem-estar), posses e liberdade, assinalando que todo homem tem direito ao fruto do seu trabalho, logo a propriedade assume o status de categoria político-epistemológica, levando em conta o fato de que promove a compreensão da propriedade como chave interpretativa dos movimentos políticos que determinam as formas de pensar a organização coletiva, visando com isso um modo específico de produção social de bens.

 

Outrossim, a propriedade não é uma determinação jurídica mas uma determinação racional, pois é anterior ao  próprio Estado, que por fim, a protege legalmente. A saída do estado de natureza para fundar uma sociedade civil, representa a troca a de uma irrestrita liberdade que desfrutava por uma condição jurídica de mais segurança, já que a propriedade é intrínseca ao indivíduo. Nesse sentido, a sociedade civil não tem outro fim senão defender tal valor, tal princípio, tal necessidade existencial.

 

Na visão de Locke, funda-se uma organização política capaz de promover a justiça sob o primado da lei, o espírito de legalidade como princípio elaborado a partir da maturidade burguesa, classe em ascensão que não privilegia a palavra dita como forma de acordo, mas o contrato a termo que fixa, obriga e clareia expectativas desejadas.

 

Locke, diferentemente de Hobbes, não concebe uma sociedade civil vivendo sob o arbítrio do poder absoluto, capaz de resolver tudo pela onisciência. O poder absoluto não visa ao bem-comum pelo simples fato do seu julgamento sempre ser parcial (voltado para si), uma espécie de ação por reflexo, onde o poder total está a sua volta para inteira satisfação de si. No sistema absoluto, o imperioso é a vontade particular, contrária aos interesses de todos, pois ameaça à propriedade e o resultado do trabalho quotidiano dos indivíduos. Nos dizeres de Locke (1974, p. 94)

 

O poder absoluto arbitrário ou o governo sem leis fixas e estabelecidas não se podem harmonizar com os fins da sociedade e do governo pelo qual os homens abandonassem a liberdade do estado de natureza para sob ele viverem, se não fosse para preservar-lhes a vida, a liberdade e a propriedade, e para garantir-lhes, por meio de regras estabelecidas de direito e de propriedade, a paz e tranqüilidade.

 

O poder deve ser uma relação entre homens, uma renúncia coletiva capaz de estabelecer padrões possíveis de conduta; por isso a lei será o novo referencial, a ordenação precisa dessa mesma conduta. Nesse ponto Locke afirma que “ninguém pode na sociedade civil isentar-se das leis que a regem” (LOCKE, 1973, p. 76).

 

As garantias devem ser iguais para todos no corpo político em razão do direito natural considerar todos como iguais, e a sociedade civil enquanto instância legal desse princípio. Sendo a sociedade civil uma construção pelo consentimento, observa-se, imediatamente, a razão como instrumento dessas vontades particulares consentidas,

 A função do direito civil é elaborar sistemas com ferramentas que possam proporcionar a fruição deles. Essa á finalidade do estado construir elementos para preservá-los. Preservar a propriedade que é a preservação da trilogia liberdade/bem-estar/posses.Sugere-se para uma melhor compreensão a seguinte leitura: HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 379-384.

Bibliografia:

HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 379 – 384.

 Bibliografia complementar:

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da Filosofia. 7. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. p. 196-201.

LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. In: Os pensadores. São Paulo: Abril, 1973.

MICHAUD, Ives. Locke. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. p. 18 – 71.

NADER,  Paulo.  Filosofia do Direito. 13. ed. Rio de Janeiro, Forense, 2003. P. 135-136.

OLIVEIRA, Clara M. C. B.; TROTTA, Wellington. Locke e Rousseau: a questão dos direitos civis como extensão dos direitos naturais. Achegas.net. n. 41, jan/jul 2009. Disponível em:<http://www.achegas.net/anteriores.html>. Acesso em: 22 jun. 2010.

Indicação de sites:

WIKIPÉDIA. John Locke. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke>. Acesso em: 22 jun. 2010.

Recursos físicos Sugere-se a utilização de Power Point para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados.

Aplicação prática e teórica

Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: 

Caso 1 - O fato da violência no estado pré-jurídico e pós-jurídico

A polêmica se a lei injusta deve ser cumprida, ou não, sempre foi objeto de grandes debates no âmbito da filosofia do direito. Leia a reportagem abaixo e responda tendo como referência a visão hobbesiana.

Ou a coesão ou a barbárie CLÓVIS ROSSI

Com 31 anos de polícia, José Manoel Martins, delegado adjunto do 77º Distrito Policial de São Paulo, ainda conseguiu espantar-se com o caso que lhe chegou às mãos faz dias: um rapaz se apresentou no distrito com a boca sangrando por um soco. Banal, certo? (...). Por que a trivialidade do soco na boca impressionou um policial veterano? Pelos envolvidos. Quem apanhou era o rapaz que, a pedido de um benemérito anônimo, distribuía café com leite e pão com manteiga para os moradores de rua da área. Quem bateu foi o dono de uma padaria próxima, incomodado com a, digamos, concorrência desleal do pão, leite e café de graça. Essa historinha diz muito sobre o verdadeiro pano de fundo da tragédia brasileira, feita de violência animalizada e insegurança coletiva: o rompimento absoluto da coesão social, se é que houve alguma coesão algum dia. Pelo menos nas grandes cidades, implantou-se a lei da selva, pela qual sobrevive/prospera não necessariamente quem é mais apto, mas quem é mais forte. Da desumanização decorrente, nascem crimes como o do menino João Hélio, o incêndio de um ônibus lotado no Rio e o de um carro com uma família presa dentro em São Paulo, para não mencionar os 41 mil homicídios, os 942 mil assaltos, os 2,1 milhões de furtos e os 650 seqüestros do ano retrasado. A estrutura social injusta, até obscena, não pode servir de habeas corpus para o crime. Se todos os "famélicos do mundo" (para citar a Internacional) resolvessem matar crianças, já não haveria adultos para contar a história. Mas é preciso deixar claro que, ou o Brasil começa já a construir um pacto social de fato, ou o teor de barbárie só fará aumentar. Alguém aí enxerga estadistas com dimensão para a tarefa?

1. Em que situação, segundo Hobbes, há possibilidade de

rompimento do contrato?

2. O retorno ao estado de natureza inviabiliza a existência de uma ordem jurídica?

3. O caso narrado caracteriza a incapacidade do Estado em manter a coesão e a ordem social? Se não, por quê? Se sim, que conseqüência prevê  Hobbes para esta situação?

 

Caso 2 –  Notícias STF

Programa Fórum, da TV Justiça, debate segurança pública e violência urbana no Brasil

O  programa Fórum, da TV Justiça, dedica a edição desta semana à discussão dos problemas da segurança  pública  e  da  violência  urbana. O tema é tratado pela secretária executiva do Conselho Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Mike, e pelo professor Arthur Trindade, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança da Universidade de Brasília (UnB).

Pesquisadores apontam que o crescimento da violência nas duas últimas décadas tem sido um dos maiores entraves  ao desenvolvimento da América Latina,  na medida em que inibe os investimentos na região. No Brasil, no mesmo período, o número de assassinatos cresceu 237%. Pesquisa recente da Organização das Nações Unidas (ONU) indica que, todos os anos, 40 mil pessoas perdem a vida no país vítimas da violência.

Para a  Regina Mike, mesmo com o registro de altos índices de violência urbana,  houve avanços no combate ao problema no Brasil. “O governo foi proativo na questão e a trouxe para ser debatida com a sociedade, estados e municípios. Isso tem trazido benefícios na queda da mortalidade e dos números de homicídios em várias regiões tradicionalmente violentas”,  afirmou.

De acordo com o professor Arthur Trindade, a taxa de homicídios que o Brasil registra está entre as mais altas do mundo. Para ele, a solução do problema não passa apenas por recursos governamentais, mas por integração política entre os órgãos do governo. “Quase todas as capitais brasileiras apresentam taxas de homicídio muito superiores às capitais europeias. A solução do problema não passa apenas pela polícia, mas depende fundamentalmente de ações articuladas com os governos”, explicou. (Fonte: TV Justiça. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=152890. Acesso em: 26 maio 2010.

Considerando o fato da violência urbana observada na notícia acima e a tese de Thomas Hobbes, responda:

1. O texto confirma as idéia de Hobbes sobre o homem no estado de natureza? Justifique.

2. A solução hobbesiana poderia ser invoca nos dias de hoje?

 

 Saiba mais...Sugestão de vídeos:

Thomas Hobbes: vida e obra - http://www.youtube.com/watch?v=hl7ZTOycrmU&feature=fvsr

Sugestão de Filmes:

Tropa de Elite (2007), apresenta  como tema o fato da violência urbana na cidade do Rio de Janeiro e as ações do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

 

Notícias de uma Guerra Particular é um documentário de 1999, produzido pelo cineasta João Moreira Salles e pela produtora Kátia Lund. O documentário tem como principais personagens os policiais, traficantes de drogas e os moradores das favelas. É mostrada, também, a vida no Morro Dona Marta, em Botafogo, na zona sul da cidade.

Justiça é um documentário de 2004, direção de Maria Augusta Ramos. O documentário aborda o  cotidiano de um Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, incluindo as pessoas que ali trabalham diariamente, como promotores, defensores públicos e juízes, e ainda pessoas que estão apenas de passagem, como os réus.

Título Rousseau: o Contrato Social como sentido de conservação e prosperidade dos membros da associação política.    

Número de aulas por semana

Número de semana de aula

Tema  Rousseau: o Contrato Social como sentido de conservação e prosperidade dos membros da associação política.

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento de Rousseau;

· Estudar os conceitos de estado de natureza, concepção de homem, liberdade e igualdade;

· Estudar o sentido da vontade geral como fundamento da soberania;

· Compreender a lei como resultado da soberania.

Estrutura de conteúdo Unidade 3 – Fundamentos modernos para uma Filosofia Jurídica

3.3. Rousseau: o Contrato Social como sentido de conservação e prosperidade dos membros da associação política.

Segundo  Rousseau, “O homem nasce livre e por toda a parte encontra-se a ferros”, acorrentado por cadeia de elos convencionados por diversos interesses. Assim, inicia  O contrato social, com uma observação pertinente: a liberdade não é uma convenção ou uma prerrogativa legal, mas uma condição natural intrínseca à condição humana, visto ser a liberdade anterior à determinação legal. É a liberdade a única condição legítima de organização política, em que repousa toda autoridade subordinada à vontade de uma idéia coletiva. A liberdade é a própria qualidade humana, ao passo que a escravidão, como antítese, é a plena renúncia dessa humanidade sustentada por convenção e interesse mesquinhos. Foi para garantir a liberdade e os bens que o homem superou as inconveniências do estado de natureza e instituiu a sociedade civil.

Tal passagem supõe que ocorreu nas condições em que os homens tinham pela frente, obstáculos prejudiciais à sua conservação e limite de forças que cada um dispunha; o estágio primitivo já não podia subsistir e o gênero humano, se não mudasse de modo de vida, pereceria. Portanto, os homens trocaram sua liberdade irrestrita pela liberdade civil, “sendo, porém, a força e a liberdade de cada indivíduo os instrumentos primordiais de sua conservação” (ROUSSEAU, 1991, p. 32).

É bem verdade que a sociedade civil, para Rousseau, tem um caráter contraditório, ao mesmo tempo em que assegura com mais eficiência a liberdade civil à natural

pela proteção do Estado-juiz, também traz consigo a pecha de perverter o homem originário, atribuindo à propriedade os males sociais até hoje existentes, corrompendo os homens e os atirando ao atoleiro em que se encontra, muito embora também essa mesma sociedade deva ser capaz de encontrar as saídas necessárias ao bem-comum. Mas quais as vantagens da sociedade política sobre a vida no estado de natureza, uma vez que esse estado, mesmo imaginado para conceber os pressupostos políticos dos jusnaturalistas, não tenha existido? Nessa perspectiva pergunta Rousseau: “qual é o fim da associação política? A conservação e a prosperidade de seus membros” (ROUSSEAU, 1991, p. 98), responde o autor de Emílio, convencendo-nos de que O contrato social tem como escopo refletir sobre uma associação política capaz de guardar a pessoa e os seus bens, em que todos, unidos pelo mesmo objetivo, cada um obedeça a si mesmo procurando manter-se tão livre quanto livre fora no estado de natureza. E, nesse caso, a liberdade assume valor ímpar, subordinando-se somente à igualdade cuja condição absoluta torna todos realmente livres. Importa salientar que a igualdade civil é uma decorrência da igualdade natural entre os homens, logo o plano social deve ser uma extensão racional do natural.

Segundo o pensador, o poder legislativo não existe fora do soberano, isso porque não se podem representar vontades. O povo não pode prescindir do seu direito-dever de participar da vida política do seu Estado, abrir mão dessa condição é arruinar todo o corpo político, colocando sob perigo toda organização estatal constituída. O povo é quem elabora e ratifica a lei, isso porque é nula toda lei que não leva sua chancela, porque a diminuição do “amor à pátria, a ação do interesse particular, a imensidão dos Estados, as conquistas, os abusos do governo fizeram com que se imaginassem o recurso dos deputados ou representantes do povo nas assembléias da nação”. Dessa forma, a liberdade só existe quando a justiça e a igualdade são anunciadas como pressupostos.

Recursos físicos Sugere-se a utilização de PowerPoint para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados.

Aplicação prática e teórica

Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: Caso 1 - Caso 2 – J.J Rousseau: soberania popular e a vontade geral

Jean-Jacques Rousseau foi um dos mais polêmicos e e importantes pensadores do Séc. XVIII. Escritor, teórico político, compositor musical autodidata, foi uma das figuras marcantes do Iluminismo francês, sendo um dos principais inspiradores teóricos da segunda fase da Revolução Francesa. Politicamente, expõe suas idéias em Do Contrato Social, obra na qual procura refletir  sobre um Estado social legítimo, próximo da vontade geral e distante da corrupção. Tendo presente a idéia de que Rousseau foi um democrata radical, analise o texto abaixo (extraído de  http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/10/05/ult1766u23968.jhtm) e responda as questões formuladas:

Papa diz que só a "lei de Deus" pode garantir direitos do homem

Cidade do Vaticano, 5 out (EFE).- O Papa Bento XVI afirmou hoje no Vaticano, no último dia da sessão plenária da Comissão Teológica Internacional, que só a lei de Deus pode garantir os direitos fundamentais do homem, fazendo uma referência à História, que segundo ele mostra que "as maiorias podem se equivocar". (...)

1.  Na visão contratualista de Rousseau, em que bases se alicerça a legitimidade do poder estatal? E do direito? Fundamente sua resposta.

2.  Analisando o texto acima, é possível afirmar que a visão do Papa converge com a visão de Rousseau no que se refere à vontade das maiorias como possível fonte de decisões? Justifique sua resposta.

 

 Caso 2 – VOTOS NULOS E BRANCOS ASSUSTAM JUSTIÇA ELEITORAL ( 29/06/2006 – Globo Notícias)

A idéia de usar o voto branco ou nulo como protesto contagiou jovens, apesar da intensa tentativa dos políticos em conquistar o eleitor. Quem tem o poder de escolha reclama. "Vou votar tudo nulo. Hoje em dia, não acredito em nenhum deputado. Eles falam uma coisa e fazem outra", diz o promotor de vendas Adriano dos Santos. O morador de Brazlândia Clayton Rodrigues, 20 anos, concorda. "É uma forma de expressar a nossa indignação com os políticos. É por isso que nós vamos votar nulo", justifica o estudante.

Em sala de aula, o professor de Filosofia Ciro Carvalho Fernandes orienta sobre a importância da participação do eleitor. Fala sobre votar de forma consciente e lembra que é preciso acompanhar e cobrar depois as promessas dos políticos. Só assim é possível driblar as decepções.

A maioria dos alunos já entendeu a lição: o dever de votar é principalmente um direito do brasileiro. "É uma experiência nova e eu sei que vou contribuir para o desenvolvimento do meu país. Tem gente que vai anular o voto. Eu não! Eu sou a favor de votar!", afirma Monique

Evans da Costa Barbosa, 16. "Acho que a gente tem que tentar. Mesmo que o candidato não seja eleito. Pelo menos nós demos o nosso voto de confiança", reforça Daisy Luana, também de 16 anos.

Uma cartilha publicada pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) dá algumas dicas, e a primeira vem direto da Constituição: "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos". A juíza Maria de Lourdes Porto Vieira aconselha a análise das opções de candidatos para verificar qual atende melhor aos interesses do eleitor. "Não anule o seu protesto. Vote certo!"

Além dos especialistas e estudiosos, o eleitor que tem como experiência outras eleições também tem opinião formada. "Não pode desistir. Tem que ser brasileiro e votar!", afirma o corretor Luis Carlos de Oliveira. "Tem que ir lá e votar. É um direito nosso como cidadão brasileiro. Depois é torcer para que tudo dê certo!", acrescenta o ambulante Davi Moreira.

(Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Politica. Acesso: 22 jun. 2010.)

Considerando a notícia acima, responda:

1 – A manchete acima se relaciona com o sentido de vontade geral em Rousseau? Justifique.

 Saiba mais...Sugestão de vídeos:

Rousseau – Vida e obra - http://www.youtube.com/watch?v=pJ46xmN6Lc4

Título Aula de Revisão.

Número de aulas por semana

Número de semana de aula

Tema  Aula de Revisão.

Objetivos Revisar os conteúdos mais significativos estudados ao longo do semestre para ao final do curso o aluno possa: 

Identificar o conceito de Filosofia e seus objetos;

Avaliar a importância da Filosofia para a reflexão jurídica;

Compreender os objetos de estudo da Filosofia jurídica;

Conhecer e aplicar os conceitos filosóficos à experiência jurídica;

Analisar as diferentes concepções de justiça; 

Compreender a importância dos filósofos antigos e modernos para o pensamento filosófico contemporâneo.

Estrutura de conteúdo   O que é Filosofia?

 Objetos de estudo da Filosofia.

Objetos de estudo da Filosofia Jurídica.

Platão: justiça e a fundação do Estado.

Aristóteles: o sentido polissêmico (legalidade e equidade).

O Estoicismo e o direito natural.

 Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica.

Locke: a garantia da propriedade como conceito substantivo para a prosperidade e liberdade.

 Rousseau: o Contrato Social como sentido de conservação e prosperidade dos membros da associação política.

Recursos físicos O professor deve sugerir a leitura de trechos do material didático trabalhados ao longo do semestre. Poderá trabalhar com os vídeos e filmes propostos nas aulas anteriores, bem como trabalhar com manchetes de jornais e revistas contendo caso que podem ser analisados à luz dos pensadores estudados.

Aplicação prática e teórica Exercício de revisão  1 – A filosofia e a reflexão crítica da

realidadeEm uma interessante reportagem publicada na Folha de São Paulo intitulada “Atitude filosófica dá qualidade de vida” disponível no endereço http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2106200113.htm, a editora da reportagem, Daniela Falcão, expôs acerca de uma tendência no mundo moderno: o debate de questões cotidianas à luz da filosofia. Segundo Daniela, cerca de 230 cafés espalhados pelo mundo viraram espaço para que pessoas de todas as idades possam debater filosoficamente questões cotidianas, nos moldes do que já faziam os gregos na Antiguidade. Na reportagem, o filósofo Israel Alexandria, um dos mentores do Café Filosófico, versão soteropolitana do Café des Phares - o "pai" dos cafés filôs -, explica que a filosofia um exercício de vigilância crítica. Neste mesmo sentido, e corroborando com essa idéia, Olgária Matos,  professora de filosofia da USP, afirma que  a reflexão filosófica sobre o que está por trás de acontecimentos diários aparentemente banais desestabiliza preconceitos e potencializa a capacidade dos participantes de avaliar adequadamente os acontecimentos. Por isso, conclui a editora da matéria, a filosofia ajuda a viver melhor porque desperta a interrogação, aprofunda a reflexão, pesquisa sobre os motivos ocultos,  reinterpreta os fatos e, por via de conseqüência, ridiculariza justificativas aparentes ou falsas.

O texto mostra que o conhecimento do mundo e o autoconhecimento continua a ser uma busca do ser humano. Nessa direção, tendo como referência a bibliografia indicada e o texto acima, responda as perguntas que se seguem. 

1.    O que é a Filosofia? Para que serve?

 

1 - Sugestão de encaminhamento da resposta:  O professor pode aproveitar o momento para desenvolver com os alunos uma reflexão acerca da última parte do texto acima, quando se afirma que a filosofia tem por objetivo despertar a interrogação, aprofundar a reflexão, pesquisar os motivos ocultos,  reinterpretar os fatos e afastar justificativas aparentes ou falsas. Pode ser discutido alguns papéis fundamentais da filosofia, tais como negar “pré-conceitos” e “pré-juízos” bem como interrogar o porquê das coisas. O papel crítico se exerce no ato de  julgar e  discernir  de forma correta, examinar racionalmente, sem preconceitos, além de examinar idéias,  valores, costumes e comportamento.

 

Exercício de revisão 2 - Universidade de Brasília (UnB) muda sistema de cotas para próximo vestibular

 

A Universidade de Brasília (UnB) mudou as regras do sistema de cotas para o vestibular. Já no próximo vestibular, em janeiro, os candidatos às vagas especiais terão a cor da pele

avaliada por uma banca examinadora depois das provas. O critério da seleção para o sistema de cotas da Universidade de Brasília foi questionado em maio último, quando dois irmãos gêmeos se candidataram ao sistema e apenas um deles foi considerado negro. Alex e Alan (foto), filhos de pai negro e mãe branca, candidataram-se ao sistema de cotas. Apenas Alan foi considerado negro pela universidade. Alex entrou com um recurso e também pôde concorrer pelas cotas. Para se inscrever no sistema, a UnB pedia uma foto. Depois, uma banca decidia quem era ou não negro. Agora, a partir de janeiro, acabam as fotos. Os candidatos serão entrevistados por examinadores. Ao todo, 20% das vagas oferecidas pela Universidade de Brasília são reservadas para os candidatos negros ou pardos. (Fonte: Globo, 01/10/2007.)

                   

1. Em que sistema de justiça aristotélica se alicerçaria o sistema de cotas? Fundamente sua resposta.

2. Por que, no caso concreto relatado, segundo Aristóteles, a UnB não teria aplicado, de forma correta, o tipo de justiça que se propunha a aplicar?

 

 

Exercício de revisão  3 - Leia a reportagem a seguir e, depois, responda as perguntas.

 

Relatório aponta “ameaças à liberdade de expressão” no governo Lula

 

A influente organização de direitos humanos Human Rights Watch denuncia, em relatório divulgado nesta quinta-feira, “novas ameaças à liberdade de expressão no Brasil”. [...] “Um correspondente estrangeiro quase foi expulso do Brasil por causa de um artigo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou ofensivo”, diz a Human Rights Watch, “e o governo adotou iniciativas para criar órgãos regulatórios para a mídia e os filmes do país”. [...] (Fonte: BBC, Londres, 13/01/2005.)

 

1 -  Os direitos naturais estabelecidos pelo pensador inglês foram incorporados pelo sistema jurídico brasileiro, mais precisamente no art. 5o, da Constituição de 1988. Exemplifique, transcrevendo o(s) dispositivo(s) do citado artigo que configuram heranças do pensamento lockeano.

 

2 - Pelo texto jornalístico transcrito, é possível que possamos afirmar que, no campo fático, as idéias de Locke são completamente adotadas no Brasil? Justifique sua resposta.

Questões objetivas

1 - Como se sabe, a  filosofia nasce a partir da transformação dos mitos gregos. Essa palavra, nos dias de hoje, têm significação semântica múltipla, mas para a filosofia ela tem um significado mais preciso. Neste sentido, após ler a s assertivas abaixo, assinale aquela que traduz uma visão  INCORRETA acerca do mito:

a) O mito é um “relato das origens” e que, enquanto tal, tem uma função de instauração: só há mito se o acontecimento fundador não tem lugar na história, mas num tempo antes da história.

b) O mito diz sempre como nasceram as coisas, as instituições, as regras etc.

c) O mito exige sempre que a explicação seja coerente, lógica e racional.

d) O mito não se preocupa com as contradições, como o fabuloso e o incompreensível.

2 - Analise o texto abaixo enunciado, Revista Veja, Edição 1894, ano 38 – nº9, 2 de março de 2005 – Editora Abril, p.71, compare-o com a concepção platônica de poder e aponte para a questão correta.

“Meritocracia -  Enquanto isso, na Palestina...diferentemente de certos países, o mérito definiu a escolha dos novos ministros”.

“Os palestinos têm apenas um Estado em gestação, mas a qualidade de seu Ministério dá banho em países grandes e bem estabelecidos. Os ministros que tomaram posse na semana passada forma escolhidos com foco no  mérito e na qualificação profissional. Cada um é especialista na área em que vai atuar e quase a metade possui doutorado.”

a) Platão, por  apoiar a meritocracia e também a forma democrática de poder, aproximaria-se da solução palestina.

b) Platão, como democrata, rejeitava a idéia de exercício de poder pelos mais preparados, o que o afastaria da solução palestina

c) Platão, com sua perspectiva aristocrática de poder, entendia que este deveria ser exercido pelos mais preparados intelectualmente, o que o aproxima da posição defendida pelos palestinos.

d) Platão, seguidor da Escola Sofista de pensamento, rejeitava qualquer decisão que não se baseasse na escolha popular. Por isso, não apoiaria a solução proposta pelos palestinos.

 3 - Aristóteles é considerado o patriarca das Ciências Naturais, escreveu sobre variados assuntos, dentre os quais: educação, observações científicas, ética, política e lógica.  Fundou o seu Liceu e ensinou que os verdadeiros prazeres do

homem são as ações conforme a virtude. Provavelmente o seu aluno mais famoso, Alexandre, o Grande, certa vez mencionou: “Se a meu pai devo a minha existência a meu preceptor devo  arte de me saber conduzir. Se governo com alguma glória, a ele [Aristóteles] sou devedor”. Sobre este pensador podemos afirmar, EXCETO:

a) a prática da virtude não se confunde com um mero saber técnico, mas exige a consciência de sempre realizar o melhor de si;

b) o objeto da justiça é realizar a felicidade na pólis, porque toda virtude nasce e se desenvolve pelo exercício;

c) a justiça é uma virtude supra-sensível, realizável no além túmulo;

d) o homem virtuoso é aquele que em seu agir desvela a observância do princípio neminem laedere.

 

4. Segundo o pensamento de Aristóteles a única opção correta é:I – A norma jurídica, mesmo quando o resultado traz um resultado injusto, deve ser aplicada sem atenuações.II – A justiça é uma virtude que se encontra no meio termo entre extremos de injustiça.III – A aplicação da justiça no caso concreto deve respeitar a idéia de proporcionalidade. IV -  A justiça é estática, devendo-se sempre cumprir a regra nos estritos termos por ela dispostos

a)      I e IIb)      II e IIIc)      III e IVd)      I e IV

  

5. Analise as afirmativas abaixo e assinale a alternativa  CORRETA:

I – O justo particular distributivo realiza-se no momento em que se faz uma repartição igualitária dos bens para toda a comunidade;

II –  A ética se configura na relação com o outro.

    III- O  bem comum é o bem individual dos cidadãos de uma pólis.

IV – O homem é um ser gregário por natureza e que, portanto, só pode haver realização humana em sociedade.

a) Apenas II está correta.

b) Apenas III está correta.

c) Apenas II e IV estão corretas.

d) I, II, III e IV estão corretas.

 

6 - Analise as afirmativas abaixo e, após, assinale a alternativa que apresenta as assertivas CORRETAS:

São características do pensamento estóico, as seguintes:

I – a preocupação com o prazer e a  felicidade

II – o reconhecimento da lei natural como inata ao homem

III – a  busca pelo prazer e a completa rejeição aos males e agruras da vida

IV – o dever de viver segundo a natureza

a)      Assertivas I e III

b)      Assertivas II e IV

c)      Assertivas III e IV

d)      Assertivas II e III

Título Kant: liberdade e coercitividade - moral e direito Número de aulas por semana

Número de semana de aula 10 Tema  Kant: liberdade e coercitividade - moral e direito Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento de Immanuel Kant;

· Estudar os conceitos de  Liberdade, Imperativo categórico e hipotético

· Estudar o sentido da legalidade e moralidade;· Compreender  o conceito de direito e o princípio universal do direito em Kant.

Estrutura de conteúdo Unidade 3 – Fundamentos modernos para uma Filosofia Jurídica

3.4. Kant: liberdade e coercitividade – moral e direito.

Nesta aula deve-se partir de uma breve observação sobre o contexto histórico do Iluminismo, esclarecendo aos alunos as características desta fase e o pensamento de Kant (1724-1804) como herdeiro dos pensadores estudados nas aulas anteriores. Importa observar que o pensamento liberal do século XIX encontrou em Kant o seu representante mais expressivo no que concerne à liberdade como valor essencial. Kant, o último grande pensador jusnaturalista, do porto de Jean-Jacques Rousseau (1712-1776), John Locke (1732-1804) e Thomas Hobbes (1588-1979), compreendia a necessidade de lançar novas bases a um pensamento político que deveria, a princípio, contemplar o indivíduo como valor máximo, sem excluir, contudo, o sentido de sociedade como valor necessitante, ou melhor, indivíduo e sociedade não são constituições antagônicas ente si, mas que revelam nessa associação o plano social como pano de fundo de realização do indivíduo, obviamente orientado pelo dever como um valor a ser perseguido no combate ao atomismo individualista. Nesse sentido, deve-se estudar os significados de liberdade, direito e coercitividade. Pode–se assim recorrer a um breve histórico sobre a vida e obra de Immanuel Kant (nasceu em 1724, em uma cidade da Prússia Oriental denominada Königsberg. Filho de uma modesta e numerosa família de artesãos recebeu de sua mãe educação segundo os princípios do pietismo, corrente radical do protestantismo prussiano, etc.). Cumpre dizer que o autor situou-se dentro da atmosfera intelectual que caracterizou o iluminismo alemão. Assim, o  seu criticismo estabeleceu limites à razão humana quando afirmou que só podemos conhecer aquilo que nós mesmos criamos, constituindo, com esta afirmativa, uma nova forma de filosofar que nasceu no interior das mudanças estruturais que tipificaram a própria modernidade.

Essa nova maneira de filosofar reivindica como pressuposto fundamental a liberdade, uma liberdade de

fazer uso público da razão em todas as questões sem a direção de outrem. Esse uso público da razão significava segundo o autor, a liberdade para pensar enquanto intelectual e a possibilidade de expressar suas idéias ao público leitor (KANT, 1974).

O conceito de liberdade deve ser estudado com muito cuidado pelo seu valor em nossa tradição jurídica. Aqui sugerimos a contextualização em exemplos contemporâneos que desvelem o sentido desse conceito para, então, abordar que para o filósofo, o homem está submetido às leis da natureza (determinismo) e, ao mesmo tempo, às leis da liberdade (moral). Isto significa dizer que o homem é um ser fadado ao determinismo da natureza e ao mesmo tempo livre enquanto ser pensante; livre para criar suas próprias regras.  Assim, o homem é capaz de perceber que ele próprio é a causa dos fenômenos que existem no mundo, ou seja, compreende que a razão humana é livre e determinante e, portanto, possui algo que o difere dos animais, denominada de liberdade transcendental. Importa esclarecer o sentido do termo transcendental como uma categoria kantiana que pode ser tomado por duas condições: a primeira diz respeito o que antecede a experiência; a segunda, ao que concerne o que é independente da experiência ou de princípios empíricos.

É justamente no âmbito da vontade [Faculdade de representar mentalmente um ato que pode ou não ser praticado em obediência a um impulso ou a motivos ditados pela razão], ou da razão [Faculdade que tem o ser humano de avaliar, julgar, ponderar idéias universais; raciocínio, juízo]que podemos perceber a liberdade, ou seja,a liberdade prática ou independência da vontade pode ser demonstrada quando a razão nos fornece a “regra de conduta”(KANT, 1994, A803 / B831) quando entra em jogo o que devemos ou não fazer. Então, a liberdade prática que significa liberdade da vontade, é uma variante da liberdade transcendental. Nesse ponto, importa observar que Kant se filiou a uma tradição filosófica que estabeleceu a separação entre a razão e as inclinações. Sendo assim, a independência da vontade de motivos empíricos está estritamente relacionada com a fundamentação da moralidade kantiana, isso porque a moralidade implica o conceito de autonomia, que é conseqüência da existência de uma vontade livre de motivos sensíveis ou direções estranhas.  E, assim, associada à idéia de liberdade está a de autonomiaNo que tange à sua teoria moral, precisa-se destacar que, segundo este autor, a busca pelo Bem não pode fazer parte da moralidade, mas o cumprimento da lei pela lei (KANT, 1994, A111-115), enfatizando, com isso, que a ética significa a obediência à lei moral, lei esta que está em mim e que se identifica com a minha consciência. A ética não poderia mais buscar o seu fundamento em certas concepções de bem, ou seja, visões de mundo particulares, mas em algo capaz de fazer sentido de modo universal, independente de credos, tradições etc. Trata-se da absoluta prioridade do justo sobre as questões do bem viver e, é importante observar a mudança de paradigma que este autor opera

com sua teoria moral para uma compreensão mais clara do pensamento de Habermas e John Rawls, mais adiante. Destarte, filósofos contemporâneos como Habermas, por exemplo, apontam a teoria moral kantiana a partir de três características fundamentais: 1 - o aspecto cognitivista, ou seja, a crença na possibilidade de decidir as questões prático-morais com base em razões, o que implica dizer que os juízos morais são passíveis de serem fundamentados; 2 - o sentido formalista, pois elabora um princípio moral (imperativo categórico) limitado às questões referentes à justiça e não ao “bem viver”; 3 - por fim, o caráter universalista, uma vez que os juízos morais devem erguer uma pretensão de validade universal. Com isso, Kant afastou o sentido do “eu quero” em favor do “eu devo” (BRITO, 1988, p. 544). A ação adquire um valor moral, pois o sujeito supere seus próprios obstáculos quando age por dever, independente das inclinações sensíveis.

É fundamental estudar  princípio moral de Kant, denominado imperativo categórico, formulado pela primeira vez na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785) que, em uma de suas formulações determina: “Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa  como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.”(KANT, 1973, p. 209). Tal princípio funcionaria como um teste a ser realizado pela  nossa  própria consciência a fim de identificar se as intenções que fundamentam uma determinada ação são moralmente boas. O imperativo categórico, segundo o próprio autor nos adverte,  não é algo inédito, mas uma variação da regra de ouro. No contexto do Iluminismo, o imperativo  configurou um exercício típico do pensar esclarecido (Aufklärung); um modo de ser que não aceita ser guiado por outrem, mas que se coloca virtualmente na perspectiva de todos os outros seres racionais, na medida em que abstrairia da sensibilidade e buscaria “um ponto de vista universal” (KANT, 1995, p. 159). O imperativo categórico representa uma interrogação estruturada numa indispensável compreensão das exigências de reciprocidade, numa comunidade ética idealmente antecipada. Logo esse ou princípio moral serviria ao propósito de fornecer as condições de possibilidade para o desenvolvimento de certo discernimento moral. Nesse horizonte, a validade de uma máxima subjetiva somente poderia ser reconhecida pela razão como moralmente correta se apresentasse uma obrigação moral que qualquer um pudesse desejá-la, por reconhecê-la como válida, independente de suas visões de mundo particulares. Aqui está então o sentido da prioridade do justo sobre o bem e da dignidade da pessoa humana presente na concepção do homem com fim em si mesmo. É extremamente importante observar a fundamentação filosófica desse princípio tão significativo para o Direito. Há vários artigos em meios eletrônicos que observam a importância de Kant na construção do princípio da dignidade da pessoa humana [QUEIROZ, Victor Santos. A dignidade da pessoa

humana no pensamento de Kant. Da fundamentação da metafísica dos costumes à doutrina do direito. Uma reflexão crítica para os dias atuais. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 757, 31 jul. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7069>. Acesso em: 26 jul. 2010.]Material didático selecionado: HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 396 -405.

Observa-se que na biblioteca virtual da Estácio há a obra: WOOD, W. Allen. Kant. Porto Alegre: Artmed, 2008. Disponível em: http://estacio.bvirtual.com.br/editions/681-kant.dp?search_id=1132182&search_results_type=Edition. Acesso 26 jul. 2010. p. 158-181. Recomenda-se que o professor indique como leitura complementar.

Indicação de sites:

WIKIPÉDIA. Immanuel Kant. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant >. Acesso em: 22 jun. 2010.

MUNDO DOS FILÓSOFOS. Immanuel Kant. Disponível em:< Disponível em:<http://www.achegas.net/anteriores.html>. Acesso em: 22 jun. 2010. >. Acesso em: 22 jun. 2010.

Bibliografia:

HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 395 – 396.

 KANT, I. Crítica da Razão Pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian , 1994a. ______. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. In: Os pensadores. São Paulo: Abril, 1973.

 

______. Crítica da Faculdade do Juízo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.

 

______. La Metafísica de las Costumbres. Madrid: Editorial Tecnos, 1994b.

 

______. A Metafísica dos Costumes. São Paulo: EDIPRO, 2003.

 

 

WOOD, W. Allen. Kant. Porto Alegre: Artmed, 2008. Disponível em:

http://estacio.bvirtual.com.br/editions/681-kant.dp?search_id=1132182&search_results_type=Edition. Acesso 26 jul. 2010. p. 158-181. ( Biblioteca virtual da Estácio)

 Bibliografia complementar:

BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant. 4. ed. Brasília: UnB, 1999. p. 53-66.

BRITO, A. J. Observações críticas à Crítica da Razão Prática. In: Revista Portuguesa de Filosofia. Vol. XLIV, 1988, p. 544.

OLIVEIRA, Clara M. C. B.; TROTTA, Wellington. A liberdade como fundamento do pensamento político-jurídico kantiano. Achegas.net. n. 36, jul/ago 2009. Disponível em:< http://www.achegas.net/anteriores.html>. Acesso em: 22 jun. 2010.

 

 

Recursos físicos Sugere-se a utilização de PowerPoint para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados.

Aplicação prática e teórica Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: Caso 1 – O imperativo categórico

Uma das questões fundamentais na filosofia jurídica kantiana é a separação entre o âmbito da moralidade e o âmbito da legalidade. Leia o texto abaixo, atentando para a parte sublinhada, e, após, responda as perguntas.

Em reportagem intitulada “Para ex-dirigente da Comissão de Ética, legislação precisa mudar”disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1004200816.htm, é possível localizar um possível confronto entre moralidade e legalidade. Isto porque, na referida reportagem, o embaixador Marcílio Marques Moreira, que foi presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, afirmou que episódios como o da licença obtida por ex-secretário-executivo da presidência do BNDES para ir trabalhar na empresa Vale mostram que há uma "omissão da legislação" que precisa ser revista. Na oportunidade o ex-secretário-executivo foi acusado por colega de banco, em correspondência interna da instituição, de quebra de ética ao se transferir para uma diretoria da Vale menos

de uma semana depois do BNDES liberar uma linha de crédito de R$ 7,3 bi para a mineradora. (...)  Marcílio Marques Moreira alerta que o artigo 16 do decreto nº 6.029 abre uma janela para que as comissões de ética das empresas estatais atuem nesses casos  Segundo este artigo, as comissões "não poderão escusar-se de proferir decisão sobre matéria de sua competência alegando omissão do Código de Conduta da Alta Administração Federal, do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal ou do Código de Ética do órgão ou entidade, que, se existente, será suprida pela analogia e invocação aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência"

1. Kant  estabeleceu critérios de distinção entre moralidade e  legalidade que até hoje são usados para separar estas duas esferas.  Um dos mais importantes critérios distintivos entre moralidade e legalidade diz respeito à distinção entre duas formas de  imperativo, o categórico e  o hipotético. O que significa cada um deles e em que âmbito (moralidade e legalidade)  se encontra cada um deles?

 

2. É possível, no caso acima, identificar uma separação entre a moralidade do ato e sua legalidade? A decisão do ex-secretário-executivo baseou-se em um imperativo categórico? Fundamente.

 

Caso 2 Você foi convidado(a) para participar de um caloroso debate sobre Direitos Humanos. O referido encontro focaliza o relatório elaborado pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA) que denunciou torturas de menores no país. Nesse sentido, leia atentamente a manchete abaixo e elabore considerações em defesa dos Direitos Humanos usando como fundamento o princípio moral elaborado por Immanuel Kant em sua teoria ética.

 

Relatório denuncia tortura de menores

Documento reúne 5 casos individuais e 2 acusações coletivas contra agentes de disciplina.

Um adolescente de 16 anos denunciou que foi espancado três vezes ao dia durante os dez dias em que esteve no Instituto Padre Severino, na Ilha do Governador, há três meses. Nem na hora das refeições, o adolescente escapava das surras. Nas sessões de agressão, os agentes de disciplina usavam um pedaço de madeira que apelidaram de Kelly Key. Esta é uma das denúncias de tortura contra adolescentes internados em unidades para menores infratores no Rio que foram entregues ontem à Secretaria Estadual da infância e da

Juventude. O relatório feito pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA) relata cinco casos individuais e faz duas denúncias coletivas de maus-tratos, além de precariedade nas instalações. Quase todas as denúncias se referem a agressões ocorridas no Instituto Padre Severino, porta de entrada do sistema que atende a menores infratores. Uma delas alerta para o fato de que alguns agentes andam com armas de fogo e outros com facas na cintura. Apenas um dos casos não ocorreu no Instituto Padre Severino. A denúncia se refere ao Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Menor (CRIAM) de Campos. Os adolescentes internados naquela instituição relatam aos conselheiros do CEDCA que um agente de disciplina anda armado no local e usa um taco de beisebol para espancar os internos cotidianamente. O coordenador da Comissão de Monitoramento do sistema Sócio-Educativo do CEDCA, Carlos Nicodemos, espera que os culpados pelos maus-tratos sejam afastados e isto evite novos casos. O relatório do CEDCA foi entregue à tarde ao subsecretário estadual da Infância e da Juventude, Evandro Steele. Ele prometeu analisar as denúncias e encaminhá-las hoje ao secretário Altineu Cortes juntamente com algumas sugestões de medidas a serem tomadas. Serão abertos inquéritos administrativos para apurar todos os fatos e o subsecretário pediu aos conselheiros que ajudem nas investigações. Uma cópia do relatório também foi entregue à Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DECAV). Foi pedida a instauração de um inquérito. O CEDCA põe à disposição, a partir de hoje, um Disque-Denúncia para casos de maus-tratos contra os adolescentes internados nas instituições para menores infratores. Segundo os conselheiros, muitas mães temem levar as denúncias à frente porque seus filhos acabam sendo ainda mais punidos nas unidades. (O Globo – 21/10/2004)

Título Normativismo-lógico de Hans Kelsen   

Número de aulas por semana

Número de semana de aula

11 

Tema  

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento de Hans Kelsen;

· Estudar os conceitos de  positivismo jurídico;· Estudar o sentido do princípio da pureza, norma

jurídica e proposição jurídica;· Compreender  princípio metodológico fundamental e o

sentido de justiça.· Identificar a importância do conceito de validade e eficácia no pensamento de Kelsen.

Estrutura de conteúdo Unidade 4 – Filosofia Jurídica

4.1. Normativismo-lógico de Hans Kelsen.

Hans Kelsen foi magistrado da Corte Constitucional da Áustria entre os anos de 1921 e 1930, considerado iniciador do que se denomina de lógica jurídica e autor intelectual da Constituição Republicana Austríaca. Sua obra mais conhecida é a Teoria Pura do Direito. Segundo Miguel Reale, Kelsen nunca foi adepto da Escola de Viena [Kelsen foi influenciado pela escola do Círculo de Viena, constituída por um grupo de professores antimetafísicos da Universidade de Viena, que contribuíram para o surgimento do neopositivismo vienense. A cidade de Viena era propícia ao surgimento do neopositivismo porque nessa região se desenvolveu durante a segunda metade do séc. XIX, o liberalismo originado do Iluminismo, do empirismo e do utilitarismo. A Universidade de Viena se mantivera sob a influência católica e, portanto, ficou imune ao idealismo. Foi, portanto, a mentalidade escolástica que preparou a abordagem lógica das questões filosóficas. O círculo de Viena era formado por jovens doutores em Filosofia da ciência que organizavam colóquios semanais, dentre eles destacam-se: Hans Hahn, Otto Neurath, Olga Neurath, Félix Kaufmann e Carnap, que defendiam afastar a metafísica, a ética e a religião do âmbito científico]. Esta escola reunii intelectuais como Carnap, Wittgenstein entre outros. Conforme assinala este pensador brasileiro, Kelsen esteve ligado à outra Escola de Viena, esta no domínio do Direito (REALE, 1990, p. 458). Acrescenta-se, ainda, que a obra do teórico austríaco é de suma importância para o pensamento jurídico do séc. XX.

É importante pontuar que o objetivo da Teoria pura do direito foi propor os princípios metodológicos da ciência jurídica, reflexo dos debates filosóficos que ocuparam os intelectuais do séc. XIX. Kelsen vivenciava uma época marcada entre o positivismo jurídico em suas diversas tendências e os teóricos da livre interpretação do direito. Esse momento colocava em relevo a própria autonomia do direito enquanto ciência autônoma. Nesse sentido, alguns entendiam a metodologia correta como aquela que aproximava o direito das demais ciências humanas, outros, por sua vez, compreendiam a ciência jurídica como esfera autônoma e livre de qualquer juízo valorativo.  Kelsen, colocando-se ao lado desta última corrente, procurou estabelecer para o direito um fundamento epistemológico objetivo e desvinculado de qualquer influência ideológica.

Nesse entrecruzamento de correntes, o pensamento de Kelsen se comprometeu com a busca de um método e objeto próprios capazes de superar as confusões metodológicas e dar mais autonomia científica ao jurista. Com esse objetivo, Kelsen propôs o princípio da pureza, critério segundo o qual o método e o objeto específicos da ciência jurídica deveriam ter o enfoque normativo, isto quer dizer que, o direito deveria ser visto como norma e não como fato social ou valor transcendente. Essa proposta causou tanta polêmica, que Kelsen foi acusado de reduzir o direito à norma, ou seja, abandonar a dimensão sócio-valorativa, despindo o direito

de caracteres humanos. Todavia, a reflexão kelseniana aponta para o dado de que o direito, sendo um fenômeno complexo, só poderia ser estudado autonomamente, isso com o fim de evitar que os juristas incorressem em debates infindáveis.

Entretanto, o que se pode entender por norma senão uma regra de conduta que poderá ser moral, religiosa ou jurídica. As normas morais e religiosas fundam sua obrigatoriedade na consciência pessoal; as jurídicas são protegidas por uma eventual força coercitiva externa. Isto posto podemos focalizar o conceito de norma em Kelsen. Para este autor, normas são prescrições de dever-ser que conferem ao comportamento humano um sentido prescritivo e, portanto, trata-se de um comando, produto da vontade humana que proíbe, obriga ou permite determinado comportamento. Tércio Sampaio Ferraz Jr. em seu livro A ciência do direito, apresenta o seguinte exemplo: existe a categoria de ser e a do dever-ser; as prescrições são prescrições de dever-ser, ou seja, o ato de levantar o braço em uma palestra poderá ter dois sentidos, um descritivo em que interessa apenas observar que alguém levantou o braço e um sentido prescritivo de acordo com o qual deve ser entendido como voto a favor de uma proposta.

Nesse sentido, toda norma jurídica ao adquirir existência independente de seu autor tem em si o conteúdo da validade. Por isso Kelsen compreendeu a ciência jurídica como uma ciência pura de normas e as investigou no seu encadeamento hierárquico, assim a validade de uma norma está ligada a normas superiores que culminam numa norma fundamental, ou seja, “a norma fundamental é a fonte comum da validade de todas as normas pertencentes a uma e mesma ordem normativa, o seu fundamento de validade comum” (KELSEN, 1987, p. 207). [“A norma fundamental é apenas uma pressuposição de qualquer interpretação positivista do material jurídico” (KELSEN, 1993, p. 170).]Essa concepção teórica defende a tese que a norma somente será considerada jurídica e legítima se, e somente se, for estabelecida em conformidade com as prescrições contidas na norma fundamental, valorativamente neutra. Disto decorre que todo o ordenamento jurídico vale e é legítimo em função desta norma fundamental. Ainda que haja uma norma injusta, será válida e legítima desde que decorra de uma norma fundamental legítima.

Kelsen foi grande defensor da neutralidade científica aplicada à ciência jurídica, compreendendo a necessidade do direito se afigurar como uma esfera autônoma em relação à moral e a política.  Segundo ele, Direito e Estado se confundem porque o Estado se configura num conjunto de normas estabelecidas, prescrevendo uma sanção para determinados comportamentos. Sem essa ordem normativa o Estado deixaria de existir no sentido jurídico, tornando-se uma ficção especulativa. Nesse caso o Estado é elevado à condição de supra racionalidade cujo fim é impedir que os homens busquem fora do seu âmbito soluções arbitrárias e necessariamente iníquas. Segundo Kelsen, Estado e norma

constituem o mesmo sentido porque um é corolário do outro, princípio que garante a unidade do direito sob a ótica lógico-normativa.

Segundo o jurista alemão Karl Larenz (1903-1993), “a ‘teoria pura do direito’ é considerada em concreto por Kelsen como uma ‘teoria do Direito positivo’ e, nesta medida, uma teoria geral do Direito”(LARENZ, 1989, p. 83), isso quer dizer que Kelsen, ainda segundo o mesmo autor, compreende que “a fundamentação da autonomia metodológica da ciência do Direito é a distinção entre juízos de ser e juízos de dever ser”(p. 82).  Nesse particular reside a importância de Kelsen como aquele que trouxe para si a tarefa de sistematizar as bases metodológicas do Direito como um corpo científico; mas como? A teoria pura do direito finca suas linhas sistemáticas na compreensão de que o direito não se preocupa com o conteúdo, mas com a estrutura lógica das normas jurídicas, estabelecendo os limites do conhecimento jurídico-científico (p. 83) no sentido de se distinguir dos outros ramos da ciência guiados por seus respectivos objetos de pesquisa. Essa construção teórica Kelsen chamou de “princípio metodológico fundamental.”

O princípio metodológico fundamental significa a condição primeira para que a doutrina do direito se torne ciência do direito. O cientista do direito deve abster-se de valores estranhos ao objeto da ciência jurídica, porque nesse caso o conhecimento para ser científico deve ser neutro em relação aos valores. Não é da competência da ciência jurídica discutir os fins políticos desta ou daquela norma jurídica, mas sim ressaltar uma preocupação eminentemente jurídico-científica. Segundo Karl Larenz (1989, p. 85): 

À teoria pura do Direito o que interessa é a especificidade lógica e a autonomia metódica do Direito. O que ela quer é libertar a ciência do Direito de todos os elementos que lhe são estranhos. Daí que, por um lado, se oponha à confusão entre observação jurídica e observação sociológica. O jurista, entende Kelsen, pode, sem dúvida fazer reflexões de natureza psicológica e sociológica, mas não deve nunca ‘servir-se dos resultados da sua consideração explicativa na construção conceptual normativa. 

Portanto, sendo esse o limite apresentado pelo princípio metodológico fundamental, o objeto da ciência do direito é a norma posta por autoridade competente, e nesse sentido, o que o princípio metodológico fundamental exige é a exclusão do âmbito de interesse do jurídico os fatores especificamente sociais, econômicos, culturais, morais ou políticos interferentes na produção da norma e também os valores prestigiados em sua edição. A utilização do princípio metodológico fundamental implica

uma hermenêutica jurídica que se abstém da idéia de um único sentido correto para a norma jurídica, mas busca uma pluralidade de significações cientificamente pertinentes a esse limite.

A distinção entre norma jurídica e proposição jurídica marca importante construção teórica dentro do pensamento kelseniano. Com essa distinção entre norma jurídica e proposição jurídica, Kelsen pretendia acentuar ainda mais as diferenças entre as atividades do aplicador do direito e o papel exercido pelo cientista jurídico. Segundo Kelsen, a norma jurídica  que prescreve a sanção que se deve aplicar no caso de ações ilícitas – tem caráter prescritivo, resulta do ato de vontade; em outro sentido a proposição jurídica sendo um juízo hipotético ou condicional, afirma que uma determinada conduta típica implica certa sanção – tem caráter descritivo, resulta do ato de conhecimento. 

Pode-se dizer que as proposições jurídicas são reflexões, juízos sobre as normas jurídicas. Como acentua Kelsen, na sua Teoria Pura do Direito, proposições jurídicas são, por exemplo, as seguintes: se alguém comete um crime, deve ser-lhe aplicada uma pena; se alguém não paga uma dívida, deve proceder-se a uma execução forçada de seu patrimônio; se alguém é atacado de doença contagiosa, deve ser internado num estabelecimento adequado. Procurando uma fórmula geral, temos: sob determinados pressupostos fixados pela ordem jurídica, deve efetivar-se um ato de coação, pela mesma ordem jurídica estabelecida. É esta a forma fundamental da proposição jurídica. Percebemos que a proposição liga dois elementos, a saber: 1. Antecedente: dados determinados pressupostos, 2. Conseqüente: decorre a efetuação de um ato de coerção, sempre na forma estabelecida pela ordem jurídica.

As normas jurídicas recebem o qualificativo de válidas ou inválidas e as proposições podem ser consideradas como verdadeiras ou falsas. Ou dizendo de outro modo, uma lei poderá ser válida ou não conforme a sua existência no mundo jurídico. Uma proposição acerca de uma lei poderá ser ou não verdadeira; poderá ocorrer que um jurista qualquer tenha formulado um juízo equivocado acerca da tal lei, nessa hipótese sua proposição será falsa.

Sabemos que o direito se distingue de outras ordens sociais por meio do uso da coaçãoprescrita em suas normas. As proposições jurídicas se referem a enunciados deontológicos, ou seja, enunciados que prescrevem alguma conduta através do verbo dever-ser. Ligam uma determinada previsão com atos de coação: se fulano cometeu homicídio deverá ser punido com reclusão de seis a vinte anos. Dessa estrutura básica podemos inferir duas possibilidades de conexão, a saber: ou temos uma ligação deôntica entre uma ação-omissão e uma sanção, ou entre diversas condutas humanas com diversos atos coativos na qualidade de sanção. O primeiro tipo aplica-se para a generalidade dos casos e o segundo em situações específicas. Kelsen se mantém nos limites da primeira alternativa: a estrutura da norma jurídica é descrita pela proposição jurídica como a ligação deôntica

entre a referência a certo comportamento e a sanção correspondente. Nesse sentido, afirma Fábio Ulhoa Coelho que “as normas jurídicas, assim, têm a estrutura de uma proibição, por descreverem a conduta tida por ilícita como antecedente e a punição como conseqüente” (COELHO, 1999, p. 36). 

O fato de Kelsen ter reduzido as normas jurídicas a uma estrutura de proibição gerou algumas objeções: a primeira delas relativa às normas que não proíbem, mas que obrigam determinados atos ou omissões; a segunda, em relação às normas permissivas; em terceiro lugar, com relação às normas revogatórias e conceituais. O argumento de Kelsen se baseia em duas observações. A primeira refere-se ao fato de que existe a possibilidade de interdefinir, ou relacionar intrinsecamente as normas proibitivas e obrigatórias, uma vez que qualquer proibição pode ser traduzida por uma obrigatoriedade e vice-versa. Proibir certa conduta equivale a obrigar a omissão da mesma conduta. O argumento usado em favor das normas permissivas baseia-se na possibilidade de distinguir a permissão em negativa (o que não é proibido é permitido) e positiva (dependente das normas proibitórias). Nesse caso, encontra-se na permissão negativa a inexistência de proibição, mas na permissão positiva a manifestação de uma proibição à qual se liga.

Como exemplo desse tipo de normas permissivas positivas, Coelho menciona as hipóteses de exclusão de ilicitude previstas no art. 23, II do CP: “Não há crime quando o agente pratica o fato: I- em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”. Tais hipóteses configuram o sentido de normas permissivas positivas (a atitude em si poderia configurar um ilícito penal). Para Kelsen certas normas não possuem autonomia, mas encontram em outras normas proibitivas o complemento para seu sentido no mundo jurídico; normas não autônomas precisam de normas sancionadoras. Kelsen denominou tais normas não autônomas de secundárias e as sancionadoras de primárias.

No entendimento de Kelsen a validade da norma jurídica vincula-se inicialmente à sua relação com a norma fundamental, sobretudo no que concerne ao problema da manifestação de vontade de uma autoridade competente: “A norma jurídica é válida se emanada de autoridade com competência para editá-la, ainda que o respectivo comando não se compatibilize com disposição contida em normas de hierarquia superior”(COELHO, 1999, p. 41).

Como um legítimo representante do pensamento jurídico-positivista, Kelsen relaciona validade e eficácia a partir da dicotomia entre a norma singularmente considerada e a ordem positiva como um todo. A validade exige também a eficácia da norma jurídica e, nesse ponto, nosso autor rejeita duas idéias: a de que a validade não depende da eficácia, como também, a de que validade e eficácia se identifiquem. No entanto qual é a posição de Kelsen? Observando as duas instâncias: a da norma singularmente considerada e a da ordem positiva, este autor sustenta que as normas deixam de ser válidas se

perderem a eficácia. Validade e eficácia não são termos sinônimos, mas guardam forte relação entre si. Segundo Kelsen, a eficácia se revela como condição de validade em ambas as instâncias e nesse sentido qualquer norma jurídica totalmente ineficaz é inválida.

A eficácia necessária à vigência da ordem jurídica é medida em termos globais, ou seja, a legislação de um país vigora, ainda que alguns dos seus artigos sejam totalmente ineficazes e conseqüentemente inválidos. A validade da ordem jurídica não depende da eficácia de todas as normas que a constituem. Todavia, o inverso é possível, isto é, a norma singularmente considerada perde eficácia se houver ineficácia global da ordem jurídica. São três os pressupostos que condicionam a validade da norma jurídica, a saber: 1 - A competência da autoridade que a editou, com base na norma hipotética fundamental; 2 - O mínimo de eficácia que desconsidera a inobservância episódica ou temporária; 3 - A eficácia global da ordem jurídica.

O objeto da ciência jurídica compreende as normas e, os cientistas do direito operam de forma diferente dos cientistas sociais, pois não estabelecem relações de causalidade, mas relações de imputação. Isto quer dizer que, entre dois fatos como, por exemplo, um homicídio e a punição correspondente há uma ligação de outra ordem e esta ligação é a imputação. A sanção referente ao homicídio não foi causada pela conduta em si mesma, mas exige a prova de seu acontecimento. O direito pertence a uma ciência normativa que não visa prescrever condutas, mas tão somente examinar as normas e estruturar seus enunciados a partir do princípio da imputação. Imputar significa atribuir coisa desonrosa ou criminosa a uma pessoa; creditar algo que não seja evidente ou decorra analiticamente. Causalidade significa uma relação necessária e universal entre dois termos no caso das ciências naturais, ou uma ligação de causa e efeito também utilizada pelas ciências sociais como, por exemplo, a sociologia, que vincula por causalidade a taxa de desemprego e o índice de violência.

Importa destacar duas distinções relevantes entre causalidade e imputação, a saber: 1 - A imputação depende da vontade humana; a causalidade independe dessa interferência. Há o ponto inicial e o terminal, claramente definidos na proposição jurídica.  2 - A imputação não deriva de nenhum outro conseqüente imputado, não há uma cadeia de sucessões; a causalidade implica em infinitude, ou seja, uma cadeia de sucessões.

Uma observação final é que para Kelsen, a justiça possui valor inconstante, relativo, dissolúvel e mutável. Trata-se de um julgamento de valor que possui caráter subjetivo. A multiplicidade de valores sobre o justo reafirma a possibilidade de o direito positivo se chocar pelo menos com algum sentido de justiça. Como doutrinas morais não fazem parte do conhecimento dos juristas, pois estes estão preocupados com as normas jurídicas, o direito positivo desvincula-se de questões de justiça.

Material didático selecionado:

 

ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria geral do estado. 3. ed. São Paulo: Manole, 2010. p. 108-110.

Observa-se que na biblioteca virtual da Estácio há a obra citada na íntegra.

 

Sugestão de vídeos:

Ministro Eros Grau fala sobre a interpretação do Direito (Kelsen):

1 – http://www.youtube.com/watch?v=sN8yeFURLBE&feature=related

2 - http://www.youtube.com/watch?v=h5DEO3l59js&feature=related

3 - http://www.youtube.com/watch?v=gzDT6K8Qgfg&feature=related

Bibliografia:

HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 395 – 396.

 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1987. KELSEN, Hans. Teoria geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 1993.Bibliografia complementar:

REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1990.

LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1989.

COELHO, Fábio U. Para entender Kelsen. São Paulo: Max Limonad, 1999.

Indicação de sites:

WIKIPÉDIA. Hans Kelsen. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Kelsen>. Acesso em: 22 jun. 2010.

Recursos físicos Sugere-se a utilização de PowePoint para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados. Observa-se que na biblioteca virtual da Estácio há a obra citada na íntegra.

Aplicação prática e teórica

Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que

ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: Caso 1 –A validade jurídica em Hans Kelsen

Leia a reportagem abaixo extraída de http://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2008/10/15/ult4469u31947.jhtm e,  após, responda as perguntas que seguem.

Filho de embaixador bebe, bate o carro e sai impune no DF

Em Brasília

Um acidente banal de trânsito, sem vítimas, está causando polêmica em Brasília e embaraços ao embaixador do Paraguai, Luiz Gonzáles Arias. Tudo porque seu filho, o estudante de medicina Sebastian González Ayala, de 19 anos, dirigindo sem habilitação e com visíveis sinais de embriaguez, bateu em dois outros veículos e, após se recusar a fazer teste de bafômetro, saiu impune do local, sob escolta de uma viatura do Batalhão Rio Branco, da Polícia Militar.

O acidente ocorreu na terça-feira (14), no setor central de Brasília. Com dificuldade para se expressar, Sebastian assumiu a culpa e admitiu ter bebido antes de pegar no volante. Mas, pela Convenção de Viena, da qual o Brasil é signatário desde 1965, ele não responderá a processo e não perderá a permissão de dirigir, como determina o Código de Trânsito Brasileiro. Nem mesmo terá de pagar a multa de R$ 957 por dirigir alcoolizado. Ele nem sequer foi levado para a delegacia para prestar depoimento.

A inviolabilidade, segundo o comandante do Batalhão Rio Branco, tenente coronel Alair Garcia Júnior, é extensiva aos familiares dos diplomatas e alcança as esferas penal, civil e administrativa. "Uma das nossas atribuições é garantir que as imunidades sejam respeitadas porque, do contrário, o Brasil estaria desrespeitando norma de direito internacional", explicou. "É difícil de aceitar, mas é a lei: mesmo que fosse um crime mais grave, não poderíamos algemá-lo ou sequer detê-lo", acrescentou o comandante.

O caso é recorrente na capital do país, onde circulam mais de 2.000 veículos diplomáticos, mas a reação indignada cada vez que isso ocorre está levando o Itamaraty, a exemplo de outros países, a adotar medidas para conter abusos praticados por pessoas beneficiadas por imunidade.

1. Deve o jurista, segundo Kelsen, preocupar-se com aspectos valorativos no que se refere ao reconhecimento da validade jurídica? Fundamente.

2.  A “reação indignada” de parte da sociedade contra a regra que protegeu o filho do Embaixador paraguaio seria,

segundo a teoria normativista elaborada por Hans Kelsen,  fator determinante para o reconhecimento da invalidade da norma jurídica? Fundamente sua resposta.

3.  No caso acima, segundo Kelsen, a justiciabilidade do conteúdo normativo deveria ser levada em conta no processo de reconhecimento da validade da norma?

 

Caso 2  - Leia a citação abaixo  do próprio Hans Kelsen na obra Teoria Pura do Direito ( p. 61) e responda à pergunta: como podemos compreender o sentido de justiça segundo este autor?

Quando a Teoria Pura do Direito delimita a natureza, ela procura os limites que separam a natureza do espírito. A ciência do direito é ciência espiritual e não ciência natural. (...) Quando o Direito se apresenta como elemento da moral, isso se torna obscuro, se significar uma exigência natural para que o direito seja apresentado como moral, ou, se isso significar que o direito, como parte integrante da moral, possui um caráter efetivamente moral, tenta-se atribuir um valor absoluto ao direito, levando-se em conta a moral. Como categoria moral, direito significa o mesmo que justiça. Essa é a expressão para a verdadeira ordem social, ordem essa que alcança plenamente seu objetivo ao satisfazer a todos. A aspiração da justiça é – encarada psicologicamente – a eterna aspiração da felicidade, que o homem não pode encontrar sozinho e, para tanto, procura-se na sociedade. A felicidade social é denominada justiça. (...) Justiça é um ideal irracional. Seu poder é imprescindível para a vontade e o comportamento humano, mas não o é para o conhecimento. A este só oferece o direito positivo, ou melhor, encarrega-se dele (KELSEN, H. Teoria pura do direito. São Paulo: RT, 2007. p. 60-62.)

Título Culturalismo-axiológico de Miguel Reale Número de aulas por semana

Número de semana de aula

12 

Tema  Culturalismo-axiológico de Miguel Reale Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento de  Miguel Reale;

· Estudar o conceito de  culturologia jurídica;· Estudar o sentido da teoria tridimensional dialética;

· Compreender  a crítica de Miguel Reale à teoria de  Hans Kelsen.

Estrutura de conteúdo Unidade 4 – Filosofia Jurídica

 4.2. Culturalismo-axiológico de Miguel Reale.

Miguel Reale, emérito professor da Universidade de São Paulo desde 1941, teve o seu ingresso aprovado naquele ano mediante a apresentação de sua tese Fundamentos do Direito,obra em que esboçou sua concepção culturalista do Direito, em que defende a tese segundo a qual o estudo do fenômeno jurídico só pode ser possível levando em consideração um olhar panorâmico e completo dos elementos do Direito, em detrimento de uma postura unilateral baseada apenas no fato jurídico. Reale ressaltou a insuficiência daqueles que defendiam “um verdadeiro dualismo ou uma justaposição de perspectivas, como se houvesse um direito para o jurista e um outro para o filósofo, cada um deles isolado em seu domínio, sem que a tarefa de um repercutisse, de maneira direta e permanente, na tarefa do outro”(REALE, 1994, p. 3).

 

Segundo exprime Cretella Júnior(1989, p. 288), Miguel Reale tentou uma “síntese entre o sujeito ético do kantismo e o espírito histórico do hegelianismo”, formulando uma teoria tridimensional do direito com caráter dialético, relacionando três termos, de modo diferente das diversas teorias tridimensionais que correlacionaram fato, valor e norma, ou seja, o aspecto fático, axiológico e prescritivo do Direito, num sentido estático. Destarte, assinala o próprio Reale (1994, p. 11) concordando com Cretella Júnior:

Quem assume, porém, uma posição tridimensionalista, já está a meio caminho andado da compreensão do direito em termos de - experiência concreta -, pois, até mesmo quando o estudioso se contenta com a articulação final dos pontos de vista do filósofo, do sociólogo e do jurista, já está revelando salutar repúdio a quaisquer imagens parciais ou setorizadas, com o reconhecimento

da insuficiência das perspectivas resultantes da consideração isolada do que há de fático, de axiológico ou ideal, ou de normativo na vida do direito.

 

Segundo Reale, a ciência jurídica encontra problemas de natureza valorativa, social e histórica, por isso a Filosofia do Direito, no seu entender, divide-se em três partes distintas e ligadas entre si: a ontognoseologia jurídica que indaga as estruturas objetivas e como são pensadas em conceitos, isto é, o direito em sua estrutura ôntica e em sua estrutura racional; aepistemologia jurídica que estuda os objetos das diversas ciências jurídicas, observando sua natureza e implicações; a deontologia jurídica que indaga o fundamento da ordem jurídica e a razão da obrigatoriedade das normas de Direito, da legitimidade da obediência às leis; aculturologia jurídica que estuda o Direito como cultura, como esforço humano de conquista e preservação daquilo que se concebeu como válido.

Para os culturalistas, o mundo das normas faz parte da cultura, nesse sentido direito não é um objeto natural, ideal ou simplesmente valorativo, mas um objeto cultural que supera o dualismo de ser e dever ser. Esta última posição é a da teoria tridimensional do direito sustentada vigorosamente por Miguel Reale, na qual o direito se considera em seus três elementos indispensáveis: fato, valor e norma. Assim sendo, o jurista precisa interpretar o problema da justiça, não se contentando apenas com o estudo dogmático do direito, a partir de estudos sociológicos e filosóficos, embora consciente de que cada uma destas matérias tem seus métodos próprios.

Segundo Miguel Reale, no campo das ciências sociais encontramos palavras que apresentam uma multiplicidade de acepções ao longo do devir histórico. Nesse sentido, a palavra direito assumiu sentidos diferentes conforme interesses e preferências que em cada momento histórico recebeu certo destaque. Inicialmente o homem vivenciava o direito como um fato, depois essa idéia cedeu lugar para a intuição do direito como sentimento do justo e conseqüentemente ao sentido de obrigação jurídica, que hoje se nos apresenta como algo intuitivo e evidente. A importância do Direito Romano se afigura na ciência que denominavam de jurisprudência (senso prudente de medida) que focalizava o Direito como norma. No dizer de Reale (1998, p. 509):

Eis aí, portanto, através de um estudo sumário da experiência das estimativas históricas, como os significados da palavra Direito se delinearam segundo três elementos fundamentais: o elemento valor, como intuição primordial; o elemento norma, como medida de concreção do valioso no plano da conduta social: e, finalmente, o

elemento fato, como condição da conduta, base empírica da ligação intersubjetiva, coincidindo a análise histórica com a da realidade jurídica fenomenologicamente observada

 

Miguel Reale observa que os três elementos fato, valor e norma, constituintes da experiência jurídica, é o triplo enfoque do Direito, observando que o valor é estudado pela Filosofia do Direito na parte denominada de Deontologia Jurídica; enquanto o elemento norma, ordenadora da conduta, é objeto de estudo da Ciência do Direito (Jurisprudência) e da Filosofia do Direito na esfera da Epistemologia; por último, também, estuda-se o Direito como fato social e histórico, objeto de investigação da Sociologia do Direito e da Filosofia do Direito na parte denominadaCulturologia Jurídica.

Reale afirma que a teoria tridimensional é fruto da verificação objetiva da consistência fático-axiológica-normativa de qualquer porção ou momento da experiência jurídica. É formada de consciência de todas as implicações do direito – a essência triádica do direito. Uma análise rigorosa desta teoria implica formular questões do tipo: como se garante a unidade a partir desses três fatores? Como se correlacionam? Como se distinguem? Nesse caso, para Reale, fato, valor e norma estão sempre correlacionados não importa o ponto de vista: se filosófico, sociológico ou jurídico. Tal correlação possui natureza dialética, uma mútua implicação entre esses elementos – entre fato e valor que implica em um momento normativo. Segundo exprime nosso autor, o direito“não é puro fato, nem pura norma, mas é o fato social na forma que lhe dá uma norma racionalmente promulgada por uma autoridade competente”.

A novidade da teoria de Reale está na utilização do conceito de dialética, retirado do sentido do termo alemão lebenswelt, que significa mundo da vida, presente na obra Crise das Ciências do filósofo austríaco Edmundo Husserl (1859-1938), que desenvolveu um pensamento crítico do positivismo (em sua pretensão de objetivismo e verdade científica). Para Husserl, toda consciência é intencional, ou seja, não há consciência separada do mundo, não há objeto em si, afastado da consciência que o percebe. Isso significa dizer que não há fatos com objetividade pretendida, pois o mundo que percebo é o mundo para mim. A crise da ciência se desvela na sua tentativa de redução da razão à racionalidade científica. Na verdade, a ciência não teria nada a nos dizer sobre nossa própria liberdade. A ciência do fato exclui o ser humano de suas considerações.

Reale insere o conceito de dialética na relação entre fato, valor e norma, a partir do sentido da expressão “mundo da vida” (lebenswelt) que exprime o complexo de noções, opiniões, regras, valores etc, ou seja, uma vida cultural em constante acontecer, o lugar de nossas originárias formações de sentido. O direito está, portanto, inserido nessa fervilhante experiência do mundo da vida. E

essa tridimensionalidade não se limita somente à esfera jurídica, mas pertence à experiência humana. Portanto, vale a pena assinalar que a função da Filosofia para Reale está, por conseguinte na tarefa de libertar a história da fetichização da ciência e da técnica – da clausura  que nos sufoca para desvelar a verdadeira  humanidade. O mundo da vida é o mundo da criatividade intencional da subjetividade.

Reale entende que a norma jurídica é muito mais do que simples proposição lógica de natureza ideal: é antes uma realidade cultural e não mero instrumento técnico de medida no plano ético da conduta. A sua elaboração não é mera expressão do arbítrio do poder e nem resulta da tensão fático-axiológica, mas um processo em que o poder público é condicionado por um complexo de fatos e valores. O Estado é uma realidade histórica como produto da experiência social, nesse caso a realidade jurídica é experiência histórico-cultural, na qual o valor atua como um dos fatores constitutivos dessa realidade (função ôntica) e, concomitante, como prisma de compreensão da realidade por ele constituída (função gnoseológica) e como razão determinante da conduta (função deontológica). Essa tripla função do valor revela a historicidade do homem e a experiência histórica do direito.

Acreditamos que Reale difere de Kelsen no sentido de que este jurista separou as três esferas na tentativa de preservar a Teoria pura do direito. Queria desacreditar a jurisprudência sociológica ou a teoria da justiça como campos apropriados de indagação de natureza jurídica. Kelsen formulou, segundo Reale, uma tridimensionalidade metodológica negativa, uma vez que só a ciência do direito possuiria caráter jurídico. Na verdade, o direito acontece no seio da vida humana. Trata-se de um processo existencial do indivíduo e da coletividade imersos no mundo da vida. Outra diferença essencial que separa Reale de Kelsen é que este compreende o Direito a partir da dimensão lógico-normativa, isto é, a norma jurídica por ser uma dedução racional em si é capaz de imprimir valores jurídicos à realidade, uma vez que este pensador, filiado ao pensamento kantiano assevera que o fenômeno jurídico não possui nada além de si; em outras palavras: a norma jurídica pronuncia o mundo do valor. Entre fato e valores postos a norma jurídica é a interseção da realidade.

Obviamente, diferente das lições positivistas do autor da Teoria pura do direito, Reale concebe o direito como experiência histórica, pertencente ao mundo da cultura, cuja idealização é decorrente da capacidade humana de intuir os valores percebidos pela razão. Essa intuição não seria a priori, mas sim a posteiori, ou melhor, após a percepção da experiência pela inteligência. Segundo Reale o Direito não prescinde da norma, no entanto, a norma é mais um elemento racional para dar conta da realidade construída pelo ser humano. Entendemos que o centro do pensamento jusfilosófico do autor dos Fundamentos do direito está relacionado à sua teoria do valor, que conforme seu pensamento constitui a base se sua teoria tridimensional do direito. O que isso quer dizer? Muito. Todo fato é um acontecimento desprovido de

qualquer conteúdo. Para uma determinada cultura, o crucifixo em si mesmo não representa coisa alguma, ao passo que para uma cultura cristã significa algo sagrado. Pois bem. Para Reale, o fato tem sua dimensão posta pelo valor que é uma racionalização da experiência humana no processo histórico, o que, segundo o autor, determina não só a natureza do fato como impõe as condições das regras coativas necessárias ao conjunto da vida coletiva e individual.

Bibliografia:

REALE, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. São Paulo: Saraiva, 1994. 

______. Filosofia do Direito. São Paulo: Saraiva, 1998.

Bibliografia complementar:

CRETELLA JUNIOR, José. Novíssima história da filosofia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989. 

Indicação de sites:

WIKIPÉDIA. Miguel Reale. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Reale>. Acesso em: 22 jun. 2010.

WIKIPÉDIA. Teoria tridimensional do direito. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_Tridimensional_do_Direito>. Acesso em: 22 jun. 2010.

Recursos físicos Sugere-se a utilização de PowerPoint para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados.

Aplicação prática e teórica

Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: Caso 1 –  A validade jurídica no Tridimensionalismo Jurídico

A questão sobre se os valores devem ou não influenciar na formação de um juízo de validade de uma norma jurídica foram de imensa importância no pós-Guerra. O positivismo normativista kelseniano e a tridimensionalismo do Direito de Miguel Reale parecem assumir posições antagônicas quanto ao tema.  Leia a reportagem extraída dehttp://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2008/09/02/ult4469u30334.jhtm, e responda as questões que seguem, sob a perspectiva realiana.

STJ abre caminho para validar união de homossexuais

Brasília - O Superior Tribunal de Justiça (STJ) abriu caminho para o reconhecimento de união de pessoas do mesmo sexo ao determinar à Justiça do Rio de Janeiro que decida se um casal homossexual vive ou não uma união estável, formando uma família. O juiz da Vara da Família de São Gonçalo e, posteriormente, o Tribunal de Justiça (TJ) do Rio tinham se recusado a analisar a ação proposta por um agrônomo brasileiro e um professor canadense que se relacionam há 20 anos e são casados oficialmente no Canadá.

Para arquivar o processo, a Justiça tinha argumentado que o pedido era impossível porque no Brasil somente é reconhecida a união estável de casais formados por homem e mulher, e não por pessoas do mesmo sexo. A ala majoritária do STJ não chegou a concluir expressamente que o casal vive uma união estável. Mas, ao mandar a Justiça do Rio analisar o processo, os ministros sinalizaram que no futuro pode ser reconhecida a validade de uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo. A decisão foi tomada na 4ª Turma do STJ por três votos a dois”.

Ao analisarmos a notícia acima, podemos observar como os direitos dos homossexuais vêm sendo cada vez mais observados pelo mundo jurídico, e pela sociedade, em geral.

 

1. Na Teoria Tridimensional do Direito, o respeito aos valores de uma determinada sociedade são relevantes para o reconhecimento da juridicidade da norma?

 

2. Segundo o texto acima, é possível vislumbrar  a possibilidade de mudança de posicionamento na jurisprudência brasileira, no que se refere ao reconhecimento da união estável de pessoas do mesmo sexo?

 

Caso 2 - Miguel Reale, filósofo e jurista, opondo-se ao pensamento de Hans Kelsen, inseriu o Direito numa integração normativa de fatos segundo valores. Pergunta-se: a manchete abaixo exprime a tese fundamental de Reale segundo a qual Direito é fenômeno cultural?

Carta psicografada ajuda a inocentar ré por homicídio no RS - Folha Online, 30/05/2006

         Duas cartas psicografadas foram usadas como argumento de defesa no julgamento em que Iara Marques Barcelos, 63, foi inocentada, por 5 votos a 2, da acusação de mandante de homicídio. Os textos são atribuídos à vítima do crime, ocorrido em Viamão (região metropolitana de Porto Alegre).

         O advogado Lúcio de Constantino leu os documentos no tribunal, na última sexta, para absolver a cliente da acusação de ordenar o assassinato do tabelião Ercy da

Silva Cardoso.

         Polêmica no meio jurídico, a carta psicografada já foi aceita em julgamentos e ajudaram a absolver réus por homicídio.

         “O que mais me pesa no coração é ver a Iara acusada desse jeito, por mentes ardilosas como as dos meus algozes (...). Um abraço fraterno do Ercy”, leu o advogado, ouvido atentamente pelos sete jurados.

         O tabelião, 71 anos na época, morreu com dois tiros na cabeça em casa, em julho de 2003. A acusação recaiu sobre Iara Barcelos porque o caseiro do tabelião, Leandro Rocha Almeida, 29, disse ter sido contratado por ela para dar um susto no patrão, que, segundo ele, mantinha um relacionamento afetivo com a ré. Em julho, Almeida foi condenado a 15 anos e seis meses de reclusão, apesar de ter voltado atrás em relação ao depoimento e negado a execução do crime e a encomenda.

         ..................................................

         A adoção de cartas psicografadas como provas em processos judiciais gera polêmica entre os criminalistas. A Folha ouviu dois dos mais importantes advogados especializados em direito penal no Rio Grande do Sul. Um é contra esse tipo de prova. O outro a aceita.

         De acordo com Antônio Dionísio Lopes, “o processo crime é uma coisa séria, é regido por uma ciência, que é o direito penal. Quando se fala em prova judicializada, o resto é fantasia, mística, alquimia. Os critérios têm de ser rígidos para a busca da prova e da verdade real”.

         “O Tribunal do Júri se presta a essas coisas fantásticas. O jurado pode julgar segundo sua convicção íntima, eles não têm obrigação de julgar de acordo com a prova. A carta só foi juntada aos autos porque era um tribunal popular. Isso é o mesmo que documento apócrifo.”

         Para Nereu Lima, “qualquer prova lícita ou obtida por meios lícitos é válida. Só não é válida a ilícita ou obtida de forma ilícita, como a violação de sigilo telefônico. Quanto à idoneidade da prova, ela será sopesada segundo a valoração feita por quem for julgar. Ela não é analisada isoladamente, mas em um conjunto de informações. Os jurados decidem de acordo com sua consciência”.

Título Habermas: o agir comunicativo como busca da razoabilidade.   

Número de aulas por semana

Número de semana de aula

13 

Tema  Habermas: o agir comunicativo como busca da razoabilidade.   

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do

pensamento de  Jurgen Habermas;· Compreender o conceito de  ética do discurso;· Compreender o sentido do agir comunicativo;

Estrutura de conteúdo Unidade 4 – Filosofia Jurídica

4.3. Habermas: o agir comunicativo como busca da razoabilidade.

Nesta aula, deve-se observar em Habermas  a teoria do agir comunicativo. Este autor construiu o conceito de razão ético-comunicativa que integra o mundo objetivo, a intersubjetividade dos sujeitos, organizando os conteúdos do mundo vivido para a possibilidade de uma fundamentação última dos princípios universais. Para tanto, nos propõe a superação do paradigma da relação sujeito-objeto na direção do paradigma da relação comunicativa que toma como ponto de partida as interações entre os sujeitos, linguísticamente mediatizados, frequentes na comunicação cotidiana. Com essa teoria Habermas propõe uma nova caracterização da racionalidade – uma racionalidade  ético-comunicativa. A linguagem ocupa o lugar de mediadora, porque através dela os sujeitos se entendem sobre o mundo e podem alcançar o consenso intersubjetivo sobre princípios verdadeiros, válidos para todos. É importante pontuar a crítica de Habermas ao modelo técnico-científico do pensamento ocidental e de uma racionalidade instrumental que determinou o saber voltado para técnica e a dominação da natureza e dos homens. Cabe lembrar, que o ponto de partida para fundamentação da ética do discurso de Habermas, encontra-se na escola de Frankfurt e na Teoria Crítica que oferecem, dentre outras possibilidades, o referencial teórico e a metodologia reconstrutivista. Assim, buscou uma racionalidade que parte de uma contextualização do cotidiano em que o sujeito está situado linguísticamente e intersubjetivamente num locus em que deve se configurar um equilíbrio entre a moralidade pessoal e a ética pública.   A ética do discurso visa redimensionar a discussão em torno da ética da interação e da responsabilidade conduzindo à argumentação moral, a previsão das conseqüências e a efetiva interação de todos. Cabe ressaltar que para Habermas a razão instrumental se tornou repressiva na medida em que sustentou e sustenta a crença segundo a qual o avanço da ciência e da tecnologia resolve todas as dificuldades do mundo da vida. Partindo das contribuições da Teoria Crítica, mormente da sua crítica à moralidade iluminista, Habermas repensa o conceito de racionalidade. Essa razão iluminista desumaniza o homem e o afasta da concepção de sujeito integrado no mundo objetivo a partir de sua subjetividade.A tese deste pensador contemporâneo pode ser expressa da seguinte maneira: como reabilitar a razão de maneira que possa manter a unidade na multiplicidade de suas vozes, garantindo um comportamento livre de um saber com respeito a fins. O que podemos destacar é que a racionalidade ético-comunicativa vai além da filosofia da consciência porque pretende reunir sujeitos solidários.

Neste ponto o professor pode explorar os debates sobre questões controvertidas no direito, tais como: eutanásia, aborto, etc. E apresentar a possibilidade de consenso construída a partir de sujeitos comunicativos em busca de princípios válidos para todos. Nesse novo modelo de razão os sujeitos assumem um processo de comunicação lingüístico. O acordo comunicativo que pretende não nega a existência de uma racionalidade instrumental, mas propõe uma fundamentação última que transcende a projeção baseada apenas na auto-realização do indivíduo em-si. O termo consenso assume os sentidos de acordo, acordo intersubjetivo, entendimento ou entendimento mútuo.A ética do discurso, portanto, configura a tentativa de estruturar uma teoria da racionalidade amparada na razão comunicativa. Para tanto, desenvolve os conceitos de  sujeito comunicativo. Esse novo conceito de racionalidade pode ser definido da seguinte maneira: são racionais as proposições que foram validadas num processo argumentativo em que o consenso foi alcançado efetivamente, sem violência, sem falsa consciência, mas a partir da força do melhor argumento. Nesta aula, vale comparar Kant e Habermas quando Kant entende o mundo ético regido pela razão, pois parte da existência de normas válidas universalmente. E Habermas, de outro modo,  introduz uma dinâmica que ultrapassa a lógica da consciência e viabiliza o entendimento mútuo, sem negar o mundo vivido com suas sensações, paixões, historicidade e subjetividade. O mundo vivido é o pano de fundo da teoria do agir comunicativo. 

Material didático selecionado: HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 513-514.

Bibliografia:

HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar Hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 513-514.

Bibliografia complementar:

MORRISON, Wayne. Filosofia do Direito. Dos gregos ao pós-modernismo. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p.486-493

PEGORARO, O. Ética dos maiores mestres através da história. Petrópolis: Vozes, 2006.

PIZZI, Jovino. Ética do discurso: a racionalidade ético-comunicativa. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994.

Recursos físicos Sugere-se a utilização de PowerPoint para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados. Observa-se que na biblioteca virtual da Estácio há a obra citada na íntegra.Indicação de sites:

WIKIPÉDIA. Jurgen Habermas. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BCrgen_Habermas>.

Acesso em: 22 jun. 2010.

Entrevista com Habermas (18/jun/2009) - http://www.youtube.com/watch?v=AfmlYOkOuIo

Interessante vídeo sobre as ideias de Habermas - http://www.youtube.com/watch?v=ttzWH-_oDEs&feature=related

Aplicação prática e teórica

Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: Caso 1 – Autonomia pública: a solidariedade e o bem comum

O assunto de que trata a notícia abaixo é considerado um dos mais polêmicos da contemporaneidade. Independentemente da sua controvérsia específica outra questão por ele suscitada é sobre a possibilidade de que alguns direitos venha a ter reconhecida sua universalidade ou, ao contrário, se a definição de direitos, mesmo aqueles considerados humanos, devam ter sua fundamentalidade aferida   a partir das especificidades culturais de cada sociedade. Leia o texto  disponível emhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1604200704.htm, e responda as questões formuladas.

Direitos humanos dividem islâmicos

Em conferência de intelectuais, universalidade do conceito provoca cisão; para alguns, defesa do tema encobre intervenção ocidental . Pensadores questionam uso de critérios díspares sobre o que é respeitar direitos; relativização do conceito não é encampada por todos .  UIRÁ MACHADO ENVIADO ESPECIAL A AMÃ

A idéia de universalidade dos direitos humanos é a premissa da 15ª Conferência da Academia da Latinidade, que está sendo realizada em Amã (Jordânia) entre os dias 14 e 17 deste mês. A proposta era debater, a partir dessa noção universal, as possibilidades de diálogo entre o Ocidente e o islã. Porém é a premissa do evento que acabou sendo debatida. Os 31 intelectuais reunidos ainda não chegaram a um consenso -nem parece que chegarão. As divergências são complexas. Vão da existência de valores universais à manipulação desses valores para fins de colonização, passando pela incompatibilidade do islã com os direitos humanos universais.”

No debate, Alain Touraine, filósofo e sociólogo francês, usa uma analogia: assim como a matemática e astronomia foram desenvolvidas em um momento histórico específico, também os direitos humanos o foram -mas não devem por isso ser vistos como imposição de uma cultura. O que Touraine propõe é que os direitos humanos sejam

considerados dentro de um processo histórico da humanidade. (...)

Em contraste, o filósofo italiano Gianni Vattimo, professor da Universidade de Turim, afirma não acreditar nessa universalidade justamente pelo modo como tem sido utilizada. "Não se trata de uma questão filosófica, teórica." Vattimo diz que não se deve nem mesmo justificar os valores universais como um conceito abstrato. "Os conceitos são úteis, concordo. Mas para quem?"

1.A partir da leitura acima, como Habermas sugere uma possibilidade de consenso? Justifique sua resposta.2. Com base em que argumentos este pensador reconstrói o sentido de racionalidade para dar conta  do problema da universalidade? Justifique sua resposta. 

 

Caso 2 – Habermas: ética discursiva

Leia a citação abaixo de Olinto Pegoraro sobre Habermas e responda à pergunta: como podemos caracterizar a ética discursiva de Jürgen Habermas?

Habermas opõe uma teoria deontológica universal e pós-metafísica; considera que a metafísica clássica abstrata, apriorista e longe do mundo da vida não dá conta da dinâmica da história atual e da gama de novos costumes dela decorrentes. Ademais defende vigorosamente a prioridade das questões de justiça e do direito sobre as questões da ética da vida boa e da solidariedade aos outros.

Habermas sustenta a posição de que as teorias do bem e da justiça legal não são doutrinas opostas e nem concorrentes entre si. Cada um exerce seu papel na vida social. Por um lado, o bem que permeia a cultura social e a vida pessoal deve, evidentemente, estar presente nas práticas discursivas sobre a validade das normas, sendo elas mesmas uma extração do mundo da vida das pessoas e da sociedade (PEGORARO, O. Ética dos maiores mestres através da história. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 137.)

Título John Rawls: concepção de sociedade justa   Número de aulas por semana

Número de semana de aula 14 Tema  John Rawls: concepção de sociedade justa   Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento de John Rawls;

· Estudar os conceito de  posição original e justiça como equidade;

· Estudar o sentido da sua Teoria da Justiça;Estrutura de conteúdo Unidade 4 – Filosofia Jurídica

4.4. John Rawls: concepção de sociedade justa John Rawls foi importante pensador político contemporâneo, em especial em sua teoria da justiça. Deve-se observar como o autor preocupou-se com a questão do igualitarismo e o desafio de resolver as crescentes desigualdades sociais no seio do capitalismo tardio. Rawls parte de uma análise deontológica da sociedade, ou seja,  a de como a sociedade deveria ser para caracterizar-se como sociedade justa. Por isso deve buscar esclarecer os conceitos de “posição original”, “Sociedade bem-ordenada”, a exeqüibilidade da “justiça como equidade” no sentido de a cultura política, os movimentos sociais e a reformas constitucionais viabilizarem pelo “equilíbrio reflexivo”, uma aproximação dos  ideais de justiça e igualdade. Rawls se afasta do positivismo jurídico e se aproxima do pensamento  prático de Immanuel Kant ( ver o parágrafo 40 em que o autor trata A interpretação kantiana da justiça como equidade). Interessante pontuar que a sua concepção de justiça como equidade objetiva mostrar as ideias básicas de liberdade e igualdade presentes no senso comum.Deve-se explorar a posição original de Rawls ( sugerimos que o professor trabalhe este conceito criando uma dinâmica em sala com o livro O caso dos exploradores de caverna), que é uma situação hipotética na qual as partes contratantes – pessoas racionais e morais, isto é, livres e iguais – escolhem, sob um “véu de ignorância”, os princípios de justiça que devem governar a estrutura básica da sociedade. Esse seria o modelo para atribuir deveres e direitos aos cidadãos.Segundo Rawls, a sociedade bem ordenada é aquela que é efetivamente regulada por uma concepção política e pública de justiça, na qual cada indivíduo aceita – e sabe que todos os seus concidadãos também aceitam os mesmos princípios de justiça, o que significa dizer que todos reconhecem como princípios justos. Aqui o autor recorre ao seu conceito de equilíbrio reflexivo segundo o qual se pode equilibrar a cultura política, o ethos social e o modus vivendi de uma sociedade concreta com esse ideal normativo que

apresenta um conceito específico de pessoa moral. Então é um método adaptado pelo autor para a argumentação moral (cabe, neste ponto, comparar Habermas e Rawls) com a finalidade de estabelecer uma coerência entre os juízos ponderados sobre casos particulares e o conjunto de princípios éticos. É um princípio pragmático porquanto evita questões metaéticas da teoria moral. A posição original é o ponto de partida da sua ideia de justiça como equidade. Deve-se trabalhar ainda os princípios da justiça,  a sua defesa de uma democracia constitucional, logo trabalhar a sua ideia de liberalismo político, sua crítica ao utilitarismo, o conceito de autonomia de Rawls que difere do conceito kantiano e sua ideia de razão pública. Se possível, apresentar algumas questões do debate entre Rawls e Habermas.Material didático selecionado: TEIXEIRA, A. V.; OLIVEIRA, Elton S. de (Org.).  Correntes contemporâneas do pensamento jurídico. São Paulo: Manole, 2009. p. 230-253. (Capítulo 10 – John Rawls: uma concepção política da justiça) Observa-se que na biblioteca virtual da Estácio há a obra citada na íntegra. Bibliografia:

RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Lisboa: Editorial Presença, 1993.

TEIXEIRA, A. V.; OLIVEIRA, Elton S. de (Org.).  Correntes contemporâneas do pensamento jurídico. São Paulo: Manole, 2009. p. 230-253. (Capítulo 10 – John Rawls: uma concepção política da justiça) Observa-se que na biblioteca virtual da Estácio há a obra citada na íntegra.Bibliografia complementar:

MORRISON, Wayne. Filosofia do Direito. Dos gregos ao pós-modernismo. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 468-473.

PEGORARO, O. Ética dos maiores mestres através da história. Petrópolis: Vozes, 2006.

OLIVEIRA, Clara Maria C. Brum de . Considerações sobre a posição original de J. Rawls. In: Trama– revista dos pós-granduando em Filosofia pela UERJ. N.7, 1996, p. 89-103.

OLIVEIRA, Nythamar. Rawls. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

Recursos físicos Sugere-se  a utilização de Power point para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados.

Aplicação prática e teórica Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de

responder ao seguinte caso concreto: Caso 1 – Imparcialidade e o “véu de ignorância”

John Rawls, um dos mais importantes pensadores políticos do Século XX, falecido aos 81 anos (em 2002), é tido como o principal teórico da democracia liberal dos dias de hoje. Em seu grande tratado jurídico-político “Uma Teoria da Justiça”, de 1971, procura estabelecer princípios básicos de justiça que possibilitem uma concepção de sociedade justa, como alternativa à uma concepção utilitarista. Para tanto, é necessário saber como chegar a tais princípios. Rawls tratou do tema. Leia o texto abaixo, retirado de reportagem veiculada no endereço  http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u436908.shtml,  e responda as questões abaixo formuladas. 

23/08/2008 - 08h15

Relator da ONU diz que relatório sobre Raposa/Serra do Sol será imparcial

KÁTIA BRASIL em

O relator especial da ONU para os direitos dos povos indígenas, James Anaya, disse na sexta-feira (22), em reunião com o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), que o relatório sobre a questão da terra Raposa/Serra do Sol a ser apresentado na próxima sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU será imparcial, apesar de não ter ouvido o grupo contrário à retirada dos arrozeiros da terra indígena.

Anaya, 49, chegou a Roraima na terça (19) e ontem partiu para Mato Grosso do Sul. Ele reafirmou que, devido a "limitações de tempo", reuniu-se apenas com lideranças indígenas favoráveis à retirada dos arrozeiros. "Quero ser justo e minha intenção não é ser parcial. Farei o relatório com base nas situações que se apresentam e critérios de direitos humanos aplicáveis", disse Anaya.

No encontro no palácio do governo, José de Anchieta Júnior disse a Anaya que a discussão sobre a Raposa/Serra do Sol já chegou a exaustão e que agora só resta aguardar a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que no dia 27 deve se manifestar sobre a homologação da terra indígena de forma contínua (sem "ilhas" habitadas por não-índios).

A ação que será julgada questiona a demarcação contínua sob o argumento de que ela inviabiliza o desenvolvimento do Estado. "Acredito que a visita do relator é isenta de interesses. Ele veio apenas analisar as parte antagônicas e as controvérsias com relação a essa questão", disse o governador. (...)

 

1 -  Na busca pela imparcialidade para se obter

“princípios de justiça” John Rawls utilizou-se metodologicamente do chamado “véu de ignorância”. O que é o “véu de ignorância” e como ele, segundo Rawls, pode garantir a imparcialidade?

  

2 – Considerando o caso acima, é possível afirmar, que o relator especial da ONU para direitos dos povos indígenas, James Anaya, ao buscar imparcialidade,  utilizou-se de um procedimento imparcial para realizar seu relatório acerca da questão de Raposa/Serra do Sol? Justifique sua resposta.

 

Caso 2 – Princípios de Justiça 

 

 Leia a reportagem abaixo, disponível em (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0307200804.htm), e responda as questões abaixo formuladas. Para maior apoio, sugerimos  a leitura constante no sitehttp://criticanarede.com/pol_justica.html

 

Reserva de vagas em universidades é alvo de polêmica

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ministro da Educação no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) apoiou a proposta da reserva de vagas em instituições federais de ensino superior e educação profissional e tecnológica. Ele é o presidente da Comissão de Educação do Senado. "Precisamos prestigiar a escola pública. Também sou favorável às cotas para negros. Isso não é questão só de educação. O Brasil tem uma dívida histórica com os negros", disse Cristovam. Já o deputado federal Paulo Renato Souza (PSDB-SP), ministro da Educação durante o governo Fernando Henrique Cardoso, defende cotas sociais, mas é contra reserva de vagas para negros. "A cota racial dá um privilégio extra para aqueles que, dentro do segmento racial, têm maior renda", diz. Ele afirma que irá propor uma emenda ao projeto do governo que prevê cotas para negros dentro de outra cota de 50% para alunos de escolas públicas. Paulo Renato defende que metade desse percentual seja ocupado por alunos com renda familiar de até três salários mínimos."Temos hoje 90% dos estudantes na escola pública, então o percentual de 50% não é excessivo", afirmou. Para ele, a regra fará com que os alunos da rede pública pressionem por melhor qualidade da escola, já que terão maior chance de entrar em uma universidade pública. Integrante da Comissão da Educação, o senador Inácio Arruda (PC do B-CE) votou a favor da proposta. "Temos de reverter a reserva de vagas que,

na prática, existe para os estudantes de escolas privadas", disse. "Hoje as escolas da rede privada trabalham com o objetivo de colocar seus alunos no ensino superior público. Isso tem de mudar", afirmou.

1 -  Como afirmamos acima, John Rawls procurou estabelecer princípios de justiça, a partir de algumas premissas. Denominou um desses princípios  como “princípio da diferença” (maximin).  O que significa este princípio da visão de Rawls?

2 -  É possível afirmar que o sistema de cotas baseia-se no princípio da igualdade de oportunidades, pensado por J. Rawls? Segundo o artigo acima, qual o objetivo a que visa o sistema de cotas, tema do debate?

Título Ronald Dworkin: a questão dos princípios.   

Número de aulas por semana 1 

Número de semana de aula 15

Tema  Ronald Dworkin: a questão dos princípios.

Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:

· Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento de Ronald Dworkin;

· Estudar os conceito de  princípios e regras;· Estudar a diferença entre princípios e política;

Estrutura de conteúdo Unidade 4 – Filosofia Jurídica

4.5. Dworkin: a questão dos princípios.

Deve-se observar que Dworkin com sua interpretação dos princípios e direitos fundamentais configura a tentativa de construir uma teoria geral do direito de orientação construtivista e sua crítica aos fundamentos do positivismo jurídico. Importante definir como este autor compreendeu o direito:

Vivemos na lei e segundo o Direito. Ele faz de nós o que somos: cidadãos, empregados, médicos, cônjuges e proprietários. É espada, escudo e ameaça. Lutamos por nosso salário, recusamo-nos a pagar o aluguel, somos obrigados a pagar nossas multas ou mandados para a cadeia, tudo em nome do que foi estabelecido por nosso soberano abstrato e etéreo, o Direito (...) Somos súditos do império do Direito, vassalos de seus métodos e ideais, subjugados em espírito enquanto discutimos o que devemos portanto fazer (DWORKIN, 1999, p.XI).

 

 

Deve-se ressalta que para Dworkin, os operadores do Direito utilizam-se da versão do Direito como questão de fato, no momento em que são solicitados a emitir sua juízos sobre o que é o Direito. Mas, intimamente, “dirão que direito é instinto, que não vem explicitado em uma doutrina, que só pode ser identificado por meio de técnicas

especiais cuja descrição ideal é impressionista, quando não misteriosa” (DWORKIN, 1999, p. 14). Segundo este autor, o interesse pelo Direito advém de sua utilização como instrumento para a consecução dos propósitos individuais e por ser ele a instituição social mais estruturada e reveladora. Conseqüentemente, o Direito é entendido como um fenômeno social cuja prática é argumentativa (DMITRUK, 2004).

 

Dworkin apresentará os princípios jurídicos como espécie do gênero norma. E, nesse sentido, sustentou que a diferença entre princípios e regras tem natureza lógico argumentativa, de modo que tais conjuntos de padrões apontam para decisões particulares acerca da obrigação jurídica em questões  específicas, mas divergem quanto à natureza da orientação que disponibilizam. O autor também observa a distinção entre princípios e políticas, que parece ter sido esquecida no pensamento de alguns autores contemporâneos, tais como: Robert Alexy. Para ele,  o princípio é o padrão que integra uma exigência de justiça, eqüidade, devido processo legal ou qualquer outra dimensão de moralidade.

 

Por isso, diferente dos princípios que seguem o sentido de universalidade a partir de acordos intersubjetivos, que legitima a exigibilidade destes a todos os membros da sociedade, as políticas apresentam uma relação a objetivos específicos e, portanto, obedecem a uma lógica teleológica. Tais distinções são importantes para a resolução de do problema observado pelo convencionalismo e pragmatismo que Dworkin procura superar.

 

Material didático selecionado: TEIXEIRA, A. V.; OLIVEIRA, Elton S. de (Org.).  Correntes contemporâneas do pensamento jurídico. São Paulo: Manole, 2009. p. 230-253. (Capítulo 10 – John Rawls: uma concepção política da justiça) Observa-se que na biblioteca virtual da Estácio há a obra citada na íntegra.

 

Poderá ainda sugerir uma dinâmica de grupo para trabalhar o livro O caso dos exploradores de caverna  para estudo da posição original de Rawls.

 

Indicação de sites:

WIKIPÉDIA. Ronald Dworkin. Disponível em: <

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ronald_Dworkin>. Acesso em: 22 jun. 2010.

RIBEIRO, Ana Paula B. Resenha da Obra: Uma Questão de Princípio (Ronald Dworkin). Disponível em:

<http://www.investidura.com.br/biblioteca-juridica/resenhas/filosofiadodireito/1345-resenha-da-obra-uma-questao-de-principio-ronald-dworkin.html>. Acesso em: 22 jun. 2010.

Bibliografia:

DWORKIN, R. Uma questão de princípios. 2. ed. São Paulo: Martins, 2005.

______.  O império do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

 

TEIXEIRA, A. V.; OLIVEIRA, Elton S. de (Org.).  Correntes contemporâneas do pensamento jurídico. São Paulo: Manole, 2009. p.. (Capítulo  – ) Observa-se que na biblioteca virtual da Estácio há a obra citada na íntegra.

Bibliografia complementar:

MORRISON, Wayne. Filosofia do Direito. Dos gregos ao pós-modernismo. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 495-534.

DMITRUK,  E. J. O que é Direito. Uma análise a partir de Hart e Dworkin. In: Revista Jurídica da UniFil,  ano 1, n. 1, 2004, p.71-88.

Recursos físicos Sugere-se  a utilização de Power point para apresentação dos pontos da aula, bem como a exibição dos vídeos/filmes indicados.

Aplicação prática e teórica Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando:

·    Colaboram na compreensão dos filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia Jurídica. 

O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: Caso 1 – Os princípios

Leia a citação abaixo e,  após, responda a pergunta que segue.

“Dworkin inicia sua obra partindo de uma questão que há muito se discutiram a respeito e muito já se perguntaram, mas, sobre a qual nunca

obtiveram uma resposta precisa: o que é o Direito? Esta é uma indagação que permeia os pensamentos dos mais célebres pensadores.  Esta falta de resposta ou, como queira alguns, a pluralidade de respostas que se encontra para o termo, deve-se justamente ao fato de sua complexidade.  O autor, nessa obra, propõe um conceito para o termo que, aparentemente simplista em sua semântica, possui tamanha complexidade que somente se faz possível entendê-lo por meio dos casos concretos. Para o referido autor, Direito é princípio.  Partindo deste conceito, que somente é obtido a partir da leitura de sua obra como um todo, faz-se mister estabelecer uma diferenciação entre dois termos que se encontram presentes em toda a sua obra, quais sejam: princípio e política” (RIBEIRO, Ana Paula B. Resenha da Obra: Uma Questão de Princípio (Ronald Dworkin). Disponível em:

<http://www.investidura.com.br/biblioteca-juridica/resenhas/filosofiadodireito/1345-resenha-da-obra-uma-questao-de-principio-ronald-dworkin.html>. Acesso em: 22 jun. 2010.)

 

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1 – Como Ronald Dworkin propõe uma distinção entre princípios e política?

 

Caso 2 - Aborto de fetos anecéfalos: relator quer ir ao STFem junho

Extraído de: OAB - Rio de Janeiro  -  19 de Abril de 2009.

O relator do caso no STF, Marco Aurélio Mello quer levar ao plenário, em junho, seu voto sobre a legalização do aborto de fetos anencéfalos. Já de posse do sinal verde da AGU, o ministro aguarda só o parecer da Procuradoria-Geral da União. No debate público do assunto, o subprocurador Mario Gisi deixou no ar a impressão de que o órgão defenderá o direito da mulher de decidir se segue ou não com a gravidez de um bebê sem cérebro.

Com base nas ideias  de Ronald Dworkin, elabore uma pesquisa sobre o caso  acima mencionado e a decisão do STF a respeito, argumentando a partir da lógica do autor mencionado.

Título Aula de Revisão   

Número de aulas por semana

Número de semana de aula

16 

Tema  

Objetivos Revisar os conteúdos mais significativos estudados ao longo do semestre.

Estrutura de conteúdo Kant: liberdade e coercitividade – moral e direito.

Normativismo-lógico de Hans Kelsen.

Culturalismo-axiológico de Miguel Reale.

Habermas: o agir comunicativo como busca da razoabilidade.

 John Rawls: concepção de sociedade justa.

Dworkin: a questão dos princípios.

Recursos físicos O professor deve sugerir a leitura de trechos do material didático trabalhados ao longo do semestre. Poderá trabalhar com os vídeos e filmes propostos nas aulas anteriores.

Aplicação prática e teórica

Exercício de revisão  1 - No âmbito da filosofia prática de Kant, encontramos uma ética deontológica e uma doutrina do direito que enfatizam a absoluta prioridade do justo sobre o bem, ou seja, os juízos devem erguer uma pretensão universal excluindo da análise questões contingentes e subjetivas que expressam visões de mundo particulares. A partir da característica universalista presente em seu imperativo categórico  e do conceito de dignidade da pessoa humana, analise a manchete abaixo.

Mulher afegã morre apedrejada por adultério

Uma mulher afegã morreu depois de ter sido apedrejada por adultério no Afeganistão, no primeiro episódio do tipo no país desde que os talibãs foram derrubados do poder. Amina, uma mulher casada de 29 anos, foi apedrejada em público depois de uma decisão judicial na quinta-feira no distrito de Argo, a oeste de Faizabad, capital da província de Badajshan. "Ela foi apedrejada até a morte", disse o chefe policial da província, general Shah Jahan Noori, acrescentando que foi até a área para investigar o incidente. Uma testemunha, Mujibur Rahman, disse que Amina foi tirada à força da casa de seus pais pelas autoridades locais e por seu marido, que a apedrejou até a morte, enquanto o amante foi açoitado 100 vezes e em seguida colocado em liberdade. O adultério é proibido no

país muçulmano e, sob a lei islâmica, o castigo pode ir desde a flagelação ou apedrejamento até a morte. Várias mulheres e homens receberam tais castigos em Badajshan, uma província remota no noroeste do país, durante a década de 1990. A prática tornou-se popular com o regime talibã, que controlou o país até o final de 2001 quando foi derrubado por forças dos Estados Unidos. (Agência de Notícias Reuters – 24 de abril de 2005)

 

Exercício de revisão  2 - Tribunal do Estado de Iowa autoriza casamentos homossexuais

 

Washington, 30 ago. 2007 (EFE) — Um tribunal do estado de Iowa (Estados Unidos) determinou hoje que os casais do mesmo sexo podem contrair matrimônio, com base na garantia de tratamento igualitário, consagrada pela Constituição, informou a rede de televisão “CNN”. A decisão obedeceu a uma ação apresentada há mais de um ano por seis casais homossexuais. Após terem sua reivindicação negada pela Justiça, os casais apelaram da decisão, alegando que a decisão transgredia as garantias de proteção estabelecidas na Constituição. O caso passará agora ao Tribunal Supremo de Iowa, que deverá tomar uma decisão definitiva. Atualmente, o casamento homossexual é reconhecido legalmente no estado de Massachusetts, ao tempo que, em Connecticut, são permitidas uniões legais que, embora não sejam definidas como tal, têm as mesmas características de um casamento formal.

 

Ao analisarmos esta notícia, podemos observar como os direitos dos homossexuais vêm sendo cada vez mais observados pelo mundo jurídico e pela sociedade em geral.

 

1 - Deve o jurista, para Kelsen, preocupar-se com os aspectos valorativos, no que se refere ao reconhecimento da validade jurídica? Fundamente.

2 -  Como poderíamos analisar, sob uma perspectiva da Teoria Tridimensional do Direito, o surgimento da norma judicial que concedeu a casais homossexuais casarem-se em Iowa?

3 – se partirmos para sugestão da racionalidade ético-discursiva de Habermas, como se poderia abordar essa questão controvertida?

 

Exercício de revisão  3 - Leia o texto a seguir e responda as questões formuladas.

Negociações da OMC tendem a favorecer países ricos, diz  Amorim Por Jonathan Lynn

 

GENEBRA (Reuters) — A Rodada de Doha de negociações comerciais não pode ter sucesso a menos que países em desenvolvimento consigam um acordo justo que reflita suas necessidades, afirmou o Ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, na quarta-feira. Durante uma coletiva de imprensa, Amorim disse que as conversas ainda têm uma tendência a favorecer os países mais ricos. “Não posso vir a um lugar onde a sensibilidade de todos é levada em consideração enquanto a minha própria sensibilidade não é levada em consideração”, disse o ministro. “Isto não é justo e uma das coisas que exigiremos é imparcialidade.”

(Fonte: texto retirado de reportagem da UOLNews. Disponível em: <http://economia.uol.com.br/ultnot/reuters/2007/10/31/ult29u58411.jhtm>. Acesso em: 31/10/2007.)

 

1 -Na busca pela imparcialidade para se obter “princípios de justiça”, John Rawls utilizou-se metodologicamente do chamado “véu de ignorância”. O que é o “véu de ignorância” e como ele, segundo Rawls, pode garantir a imparcialidade?

 

Exercício de revisão  4 - Mulher que casou com idoso perde pensão

 

A Justiça do Rio Grande do Sul cancelou pensão de R$ 5.252,00, paga a uma viúva que se casou aos 48 anos com um homem doente de câncer, de 91. (Fonte: O Globo, 24/03/2005, 1ª página.)

Independentemente dos argumentos jurídicos, utilizados pelo Tribunal gaúcho, o fato é que a pensão estava sendo paga em conformidade com a lei, já que a viúva possui o direito de receber a pensão de ex-marido. Analisando este caso, observamos que o fundamento que levou ao cancelamento da pensão não foi a lei, já que, em tese, havia fundamento nesta para que se pagasse a pensão. Uma das questões que pode nos ocorrer é se a pensão foi adquirida de forma justa. Então, a partir deste caso, responda, de forma fundamentada:

 

1 -  No caso narrado podemos aplicar  crítica de Ronald Dworkin em relação às decisões judiciais? Justifique.

 

Questões objetivas

 

 

1 - Analise as assertivas abaixo, e responda:

I – Para Hobbes o homem é mau, egoísta e desprovido de racionalidade

II – Segundo Hobbes o homem é mau e egoísta, mas é provido de uma racionalidade instrumental, baseada na vantagem mútua)

III – Para Hobbes o homem é racional, mas não é bom, nem mal

IV – Para Hobbes a necessidade de garantir a ordem e a vida justificam o contrato social firmado entre os indivíduos

Estão corretas:

a)      I e II

b)      III e IV

c)      II e IV

d)      I e III

 

 

2- Rousseau e Locke mesmo compartilhando uma mesma tradição contratualista, divergem bastante em suas concepções de contrato. Analise as assertivas e assinale aquela  que formulada de forma ERRADA:

a) Locke é um dos mais importantes influenciadores de uma doutrina de direitos humanos

b) Rousseau , como democrata radical, desprezou a idéia de democracia participativa defendida por Locke no Séc.XVII

c) Locke considerava o direito à propriedade um direito natural do homem, como extensão do direito à vida

d)Rousseau defendeu os ideais liberais, sendo um grande defensor dos direitos das minorias

 

3 - Analise as assertivas que seguem:

1   Na visão de imparcialidade presente em Kant  podemos identificar a prioridade do justo sobre concepções específicas de bem

2    O imperativo hipotético é um típico comando da moralidade.

3    A aplicação do imperarativo categórico é o modo pelo qual o indivíduo produz sua legislação moral.

4  A idéia de ato moral em Kant é direcionada pelo

interesses pessoal e pela felicidade que pode causar tal ato

 

Segundo avisão kantiana estão ERRADAS as seguintes assertivas:

a) 1 e 2

b) 2 e 3

c) 3 e 4

d) 2 e 4

e) 1 e 3

 

 

4 - Em sua tentativa de estabelecer uma definição do direito, Kant procura estabelecer algumas características elementares deste. Assim, segundo o grande pensador, quais características são elementares do  Direito:

1 - relação de arbítrios; 2 - ausência de coação; 3 – estrutura formal;4 – intersubjetividade.São as seguintes características corretas, segundo o pensador alemão:

A - Todas. B - 1, 3 e 4.C - 1 e 2

D - 2 e 3

E - 3 e 4

 5 - Analise a notícia abaixo:

Internautas não aprovam projeto de anistia de IPVA e de multas – Eduardo Almeida - Globo Online

“Os leitores do Globo Online não aprovaram o projeto do Deputado Paulo Ramos (PDT) de anistiar 90% do valor de todas as dívidas de IPVA e multas de trânsito do Estado.”

A partir da reportagem acima, disponível no Globo Online e  marque a única opção correta:

a) Para Kelsen, a desaprovação pela maior parte da população inviabiliza o projeto de lei.

B) Para Kelsen somente a aprovação da maior parte da sociedade viabiliza o reconhecimento da validade da norma proposta

c) Para Reale, a desaprovação social de uma determinada norma deveria acarretar no  reconhecimento de sua invalidade

d) Para Reale, a desaprovação social não deve influenciar no reconhecimento da validade da norma proposta

 

6 - Para Reale, há três dimensões da validade: fática, valorativa e normativa. O reconhecimento da juridicidade normativa só deve se dar com o reconhecimento das três, simultaneamente.

Leia o texto extraído de http://economia.uol.com.br/ultnot/infomoney/2008/09/01/ult4040u14041.jhtm e marque a assertiva correta.

“Inflação aumenta a pobreza na América Latina, revela relatório da FAO

 PAULO - Nos próximos anos o preço dos alimentos deve baixar e, ainda assim, ficará acima do patamar apresentado na década passada. A conseqüência disso é que, nos próximos anos, mais de 26 milhões de pessoas na América Latina poderão cair abaixo da linha da pobreza.(...)É preocupante observar que enquanto a lista de bilionários aumenta na América Latina, o número de pessoas abaixo da linha de pobreza, conforme informa a reportagem, também aumenta no continente. Rawls foi um filósofo que se preocupou com as desigualdades sociais. Como o pensador americano denominou o princípio que em sua teoria de justiça tratava da questão da distribuição das desigualdades:

a) princípio da diferença

b) princípio da dignidade da pessoa humana

c) princípio da igualdade

c) Princípio da desigualdade

 

7 - As discussões acerca de um possível conflito entre princípio democrático e direitos humanos é tema abordado, com freqüência, por Habermas. Marque a alternativa que melhor se coaduna com  a visão do filósofo alemão:

a) Os direitos fundamentais têm prioridade sobre o princípio democrático, já que para Habermas a autonomia privada tem precedência sobre a autonomia pública.

b) O princípio democrático, cujas raízes são hobbesianas possuem prioridade sobre os direitos fundamentais em razão da prioridade da autonomia pública sobre a autonomia privada.

c) O princípio democrático e os direitos humanos são co-originários, e por esta razão, complementares.

d) O princípio democrático, como fundamento da vontade preponderante das maiorias opõe-se, completamente, aos

direitos fundamentais, direitos que tutelam as minorias contra o arbítrio das maiorias.