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Informativo do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz Fundação sedia debate sobre uso de antirretrovirais como estratégia de prevenção do HIV Pesquisadora comenta parceria com fundação francesa no combate à leishmaniose no Brasil PÁG. 3 Rebert Lima - Cris Ensp/Fiocruz, em parceria com o Ministério de Saúde Públi- ca e da População do Haiti (MSPP) e a Brigada Médica Cubana (BMC), vai realizar um curso de manutenção hospitalar no Haiti. A estrutura do curso é com base em Edu- cação à Distância (EAD), com três en- contros presenciais entre professores e alunos, e o restante será via internet, dividido por módulos, com duração to- tal de um ano. Ele está programado para começar no mês de julho para 15 participantes selecionados pelo Minis- tério da Saúde do Haiti. Fiocruz leva expertise em manutenção hospitalar para o Haiti junho 2013 8 A A plataforma de acesso a medicamentos para doenças negligenciadas WIPO Re:Search terá maior participação da Fiocruz Foto pesquisadora A Gestão de Recursos Físicos e Tec- nológicos na área da Saúde (REFIT) foi desenvolvida por pesquisadores da Fio- cruz, e esse modelo é utilizado desde 2006 pelo Ministério da Saúde do Brasil para formar especialistas em manuten- ção hospitalar no país. O curso é em for- mato Educação à Distância (EAD). A coordenadora do REFIT, Luisa Pessôa, ex- plica que os alunos terão possibilidade de gerir o Parque Tecnológico que o Bra- sil está construindo no Haiti, envolvendo três Hospitais Comunitários de Referên- cia, dois laboratórios de saúde pública, 30 Unidades para a Rede de Frio (arma- zenamento de vacinas e insumos), assim como as unidades de saúde já existentes no país. “A questão da manutenção de equipamentos é muito importante, e para esta finalidade estamos contando com a parceria dos engenheiros e técnicos cu- banos”, reforça Luisa Pessôa. Carlos Linger, coordenador do projeto tripartite na Fiocruz, ressalta que esta atividade se orienta sob os princí- pios da cooperação Sul-Sul, entre paí- ses em desenvolvimento. “A presente iniciativa faz parte da estratégia de co- operação internacional estruturante, modelo defendido e adotado pela Fio- cruz, e fortalece o processo de implan- tação de políticas de Gestão Tecnológica em Saúde” destaca Linger. A Brigada Médica Cubana atua no Haiti desde 1998. Atualmente, cerca de 1200 mé- dicos estão operando em todo o país, rasgado por terremoto, furacões, cóle- ra e outras doenças. A coordenadora do REFIT escla- rece ainda que um bom gestor de uni- dades de saúde deve saber planejar e gerenciar os recursos físicos e tecnoló- gicos em saúde e também levar em con- ta os aspectos sociais, econômicos e políticos a fim de atender às necessi- dades de seu país. “É preciso ter capa- cidade para interagir com as equipes de saúde locais, regionais e nacionais, assessorar na organização de investi- mentos, apoiar a definição de necessi- dades e prioridades, planejar e programar os recursos físicos em saúde e gerenciar as suas execuções e a sua manutenção”, completa Luisa Pessôa. O Cris/Fiocruz convocou profissionais da Cooperação Brasil-Cuba-Haiti para que a proposta do curso seja revisada, adap- tada e aperfeiçoada por representan- tes dos três países cooperantes de maneira horizontal e participativa. PÁG. 18 O Cris/Fiocruz presta apoio à parceria entre os Ministérios da Saúde dos três países da Cooperação Brasil-Cuba-Haiti O hospital que a Cooperação Tripartite Brasil-Cuba-Haiti está construindo no departamento de Bon Repôs, que será entregue no final de julho. Foto Cris/Fiocruz PÁG. 5

Fiocruz leva expertise em manutenção hospitalar para o Haiti · manutenção hospitalar para o Haiti junho 2013 Nº 8 A A plataforma de acesso a medicamentos para doenças negligenciadas

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CRIS INFORMA | 1

Informativo do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz

Fundação sedia debatesobre uso de antirretroviraiscomo estratégia deprevenção do HIV

Pesquisadora comentaparceria com fundaçãofrancesa no combate àleishmaniose no Brasil

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Rebert Lima - Cris

Ensp/Fiocruz, em parceria como Ministério de Saúde Públi-ca e da População do Haiti(MSPP) e a Brigada Médica

Cubana (BMC), vai realizar um cursode manutenção hospitalar no Haiti. Aestrutura do curso é com base em Edu-cação à Distância (EAD), com três en-contros presenciais entre professores ealunos, e o restante será via internet,dividido por módulos, com duração to-tal de um ano. Ele está programadopara começar no mês de julho para 15participantes selecionados pelo Minis-tério da Saúde do Haiti.

Fiocruz leva expertise emmanutenção hospitalar para o Haiti

junho2013

Nº8

A

A plataforma de acesso amedicamentos para doençasnegligenciadas WIPO Re:Searchterá maior participação da Fiocruz

Foto pesquisadora

A Gestão de Recursos Físicos e Tec-nológicos na área da Saúde (REFIT) foidesenvolvida por pesquisadores da Fio-cruz, e esse modelo é utilizado desde2006 pelo Ministério da Saúde do Brasilpara formar especialistas em manuten-ção hospitalar no país. O curso é em for-mato Educação à Distância (EAD). Acoordenadora do REFIT, Luisa Pessôa, ex-plica que os alunos terão possibilidadede gerir o Parque Tecnológico que o Bra-sil está construindo no Haiti, envolvendotrês Hospitais Comunitários de Referên-cia, dois laboratórios de saúde pública,30 Unidades para a Rede de Frio (arma-zenamento de vacinas e insumos), assimcomo as unidades de saúde já existentesno país. “A questão da manutenção deequipamentos é muito importante, e paraesta finalidade estamos contando com aparceria dos engenheiros e técnicos cu-banos”, reforça Luisa Pessôa.

Carlos Linger, coordenador do

projeto tripartite na Fiocruz, ressalta queesta atividade se orienta sob os princí-pios da cooperação Sul-Sul, entre paí-ses em desenvolvimento. “A presenteiniciativa faz parte da estratégia de co-operação internacional estruturante,modelo defendido e adotado pela Fio-cruz, e fortalece o processo de implan-tação de políticas de Gestão Tecnológicaem Saúde” destaca Linger. A BrigadaMédica Cubana atua no Haiti desde1998. Atualmente, cerca de 1200 mé-dicos estão operando em todo o país,rasgado por terremoto, furacões, cóle-ra e outras doenças.

A coordenadora do REFIT escla-rece ainda que um bom gestor de uni-dades de saúde deve saber planejar egerenciar os recursos físicos e tecnoló-gicos em saúde e também levar em con-ta os aspectos sociais, econômicos epolíticos a fim de atender às necessi-dades de seu país. “É preciso ter capa-cidade para interagir com as equipesde saúde locais, regionais e nacionais,assessorar na organização de investi-mentos, apoiar a definição de necessi-dades e prioridades, planejar eprogramar os recursos físicos em saúdee gerenciar as suas execuções e a suamanutenção”, completa Luisa Pessôa.O Cris/Fiocruz convocou profissionais daCooperação Brasil-Cuba-Haiti para quea proposta do curso seja revisada, adap-tada e aperfeiçoada por representan-tes dos três países cooperantes demaneira horizontal e participativa.

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O Cris/Fiocruz presta apoioà parceria entre os Ministériosda Saúde dos três países daCooperação Brasil-Cuba-Haiti

O hospital que a Cooperação Tripartite Brasil-Cuba-Haiti está construindo nodepartamento de Bon Repôs, que será entregue no final de julho. Foto Cris/Fiocruz

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destaques

CRIS INFORMA #8 | JUNHO DE 2013 - ExpedienteCoordenadoria de Comunicação Social (CCS) | Edição e redação: Danielle Monteiro com colaboração deThiago Oliveira | Projeto gráfico e edição de arte: Guto Mesquita e Rodrigo Carvalho | Fotografia: Peter Iliccieve Arquivo CCS | Contato: Danielle Monteiro - Tel: (21) 3885-1065 - E-mail: [email protected]

Isabela Schincariol - Ensp

Rede de Escolas de Saúde Pú-blica da América do Sul (Resp/Unasul), que tem apoio do Cris/Fiocruz, iniciará uma grande

pesquisa para conhecer a capacidade deformação de recursos humanos na áreada saúde e o contexto político, social ecultural de seus países-membro: Argen-tina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Surina-me, Uruguai e Venezuela. O estudoMapeamento dos programas de forma-ção em saúde pública na América do Sulconta com a participação dos pesquisa-dores José Inácio Jardim Motta e SandraSiqueira, da Ensp/Fiocruz, que é a secre-tária executiva da Rede. O projeto do ma-peamento passou por diversas etapas. Aprimeira delas foi a construção de umtermo de referência norteador do proces-so. Além de José Inácio e Sandra, partici-param da redação do documento osecretário executivo da Resp e ex-diretorda Ensp/Fiocruz, Antônio Ivo de Carva-lho; Érica Kastrup e Ana Laura Brandão,integrantes da secretaria executiva daResp e da Assessoria de Cooperação In-ternacional da Escola.

Finalizado o documento, o gruporesponsável iniciou a fase de validaçãodos eixos e subeixos propostos no termoe o desenvolvimento da estratégia de

aplicação da pesquisa. Para tanto, foramrealizadas reuniões e oficinas das quaisparticiparam integrantes do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Isa-gs-Unasul), da Rede de Escolas Técnicasde Saúde (Rets) e do Grupo Técnico deRecursos Humanos da Unasul. O consul-tor técnico de políticas e sistemas de saúdedo Isags, Oscar Feo, o assessor do Minis-tério da Saúde, Alexandro Dias, a inte-grante do Observatório Regional deRecursos Humanos en Saúde do Peru, Do-natila Ávila também foram responsáveispela validação do termo de referência.Segundo Érica Kastrup, a experiência jáadquirida pela Rets nesse tipo de pesqui-sa pode ajudar muito o desenvolvimentodo mapeamento da Resp/Unasul.

Para Érica, o trabalho a ser reali-zado vai além de um mero levantamentode cursos. Seu objetivo inicial é o co-nhecimento das capacidades e do po-tencial dos países, e isso será,principalmente, um grande esforço deconstrução de articulação entre as es-colas. De acordo com o secretário exe-cutivo da Resp, Antônio Ivo de Carvalho,a América do Sul conta com quase 170instituições públicas de ensino que ofe-recem formação na esfera de especiali-zação, mestrado e doutorado. “É precisomotivar e mobilizar essas instituiçõespara que se integrem de fato à Rede.Queremos fomentar o sentimento de per-

tencimento em cada um dos integran-tes da Resp/Unasul. Para tanto, precisa-mos saber quem somos, o que fazemos,aonde queremos chegar e como pode-mos responder às demandas desses 12países”, justificou Antônio Ivo.

O documento é composto dequatro principais eixos: Saúde pública;Escola e os processos de ensino; A con-cepção de rede; e Particularidades loco-regionais. O primeiro eixo se refere àcaracterização dos diferentes contextosem que se inserem as escolas e seusatores. O segundo eixo diz respeito aosconceitos político-pedagógicos, assimcomo a sua relação com a política pú-blica e a governança em saúde e sobreas características gerais dos processosde formação, a capacidade da escola/ator-rede em formular estratégias pe-dagógicas e processos de formação querespondam a demandas apontadas porpolíticas públicas, aumentando a gover-nança em saúde.

O terceiro eixo trata da compreen-são dos diferentes conceitos de rede e suacapacidade de articulação. Ele englobatambém a sua capacidade para explicaras boas práticas da formação em saúde eas necessidades de articulações bilateraise multilaterais relativas aos diferentes con-textos nacionais. Por sua vez, o últimoeixo, que se refere às particularidades loco-regionais, visa compreender as dimensõespolíticas, sociais, culturais, demográficase territoriais que constituem as necessida-des sociais de saúde no contexto da Amé-rica do Sul, suas interfaces e possibilidadespara cooperações bilaterais e multilateraisnos processos formativos da Rede de Es-colas de Saúde Pública.

A próxima etapa prevista nomapeamento, marcada para iniciar emjulho, será a construção do instrumen-to de pesquisa, baseado no documen-to orientador do projeto. A metodologiaa ser utilizada ainda não foi definida,mas provavelmente serão utilizadosquestionários e a técnica de grupos fo-cais com as instituições e países inte-grantes da Resp. O grupo aindapretende realizar um projeto-piloto comcerca de três escolas para validar ametodologia escolhida.

Resp pesquisará escolas degoverno na América do Sul

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Os participantes da oficina para mapeamento dos programas deformação em saúde pública na América do Sul. Foto Isags

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Alexandre Matos - Farmanguinhos

laboratório americano Pfizer eFarmanguinhos/Fiocruz assina-ram, no dia 13 de junho, Par-ceria de Desenvolvimento

Produtivo para transferência de tecno-logia de desenvolvimento e produçãoda Atorvastatina Cálcica, usada nocontrole do colesterol. O medicamen-to será fabricado pela unidade nasconcentrações de 10 e 20mg. A par-ceria terá a participação ainda da Nor-tec Química S/A, que será responsávelpela produção do Insumo Farmacêuti-co Ativo (IFA) para a fabricação do me-dicamento. A Atorvastatina é oprincípio ativo do Citalor, produzidopela Pfizer. O medicamento faz parteda lista de produtos estratégicos parao SUS, cujos domínios tecnológico ede produção são essenciais para o de-senvolvimento do Complexo Econômi-co e Industrial da Saúde (Ceis).Busca-se, com o acordo, não apenaso domínio da produção, como tam-

Transferência de tecnologia permiteprodução de remédio que controla colesterol

Obém o incentivo da indústria farmo-química nacional, com a fabricação doIFA em solo brasileiro. O diretor da uni-dade, Hayne Felipe da Silva, destacoua relevância do acordo. “Além de fa-zer uma atualização do nosso portfó-lio com este medicamento estratégico,a parceria segue também a linha dapolítica industrial de produzir IFAs emnosso país”, ressaltou. Farmanguinhosjá produz quatro outros medicamen-tos contra doenças cardíacas, os anti-hipertensivos Captopril, Enalapril,Metildopa e o Cloridrato depropranolol.O medicamento é um dosmais importantes do mundo no con-trole do colesterol elevado, uma do-ença de alto impacto para a saúde.Problemas cardiovasculares são a pri-meira causa de morte por doença dapopulação brasileira. “Essa iniciativacontribuirá com a saúde de mais pes-soas em todo o país e poderá ampliaro acesso à Atorvastatina no SUS”, en-fatizou o presidente da Pfizer Brasil,Victor Mezei. Atualmente o fármaco

é financiado pelas Secretarias de Es-tado da Saúde, ou seja, a distribuiçãonão é centralizada pelo Ministério daSaúde. Com isso, a parceria permitiráa redução de custo do medicamentoe Farmanguinhos poderá oferecer umproduto mais barato para as secretari-as de saúde.A demanda prevista paraatender a rede do SUS é de 175 mi-lhões de unidades farmacêuticas nospróximos cinco anos, sendo 35 milhõesanualmente. A previsão é de que em2017 sejam produzidos os primeiros lo-tes do IFA nacional. A transferência detecnologia envolve um complexo pro-cesso, que passa por transmissão deconhecimento, tecnologia, equipamen-tos, treinamento de pessoal e asses-soramento técnico. No desenhoproposto por este acordo, entre o 4º e5º anos da parceria, respectivamente2016 e 2017, Farmanguinhos produzi-rá 25% desta demanda e a Pfizer osoutros 75%. A partir do 6º ano (2018),o Instituto terá capacidade para aten-der 100% da demanda nacional.

À direita, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, o diretor de Farmanguinhos/Fiocruz, Hayne Felipe, e o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Jorge Bermudez, com representantes do laboratório americano Pfizer.Foto Edson Silva/Farmanguinhos/Fiocruz

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destaques

Danielle Monteiro - CCSe Priscila Sarmento - Ipec

m dos principais pesquisadoresna área da transmissão e pre-venção do HIV, o professor ame-ricano Myron Cohen ministrou

palestra na Fiocruz, no último dia 11,sobre o uso de antirretrovirais comoestratégia de prevenção do HIV. Antesda conferência, organizada com apoiodo Cris/Fiocruz, o professor se reuniucom pesquisadores da Fundação quefazem estudos sobre Aids para apre-sentar algumas das inciativas em bus-ca da prevenção e cura da doençaconduzidas pela Rede de Estudos de Pre-venção do HIV (HIV Prevention TrialsNetwork – HPTN) dos Institutos Nacio-nais de Saúde (National Institutes ofHealth – NIH) dos Estados Unidos e deoutras instituições do mundo. Copes-quisador principal da rede, Cohen temcomo linha central de pesquisa a trans-missão e prevenção do HIV.

Fundação sedia palestra sobreuso de antirretrovirais como estratégiade prevenção do HIV

Autor de mais de 500 artigossobre o tema, Cohen destacou o papeldesempenhado pela Fiocruz, por meiodo Ipec/Fiocruz, no estudo HPTN 052,no qual o professor atuou como inves-tigador principal. Trata-se de um ensaioclínico que apontou que, quando o so-ropositivo adere a um esquema eficazde terapia antirretroviral, o risco detransmissão para seu parceiro sexualnão infectado pelo HIV pode ser redu-zido em até 96%. “A Fiocruz exerceuum papel crítico e muito importante nosensaios clínicos e participou do projetode diferentes formas, mostrando umgrande potencial na condução de futu-ros estudos. Sem a Fundação o projetonão teria sido possível”, disse. A pes-quisa HPTN 052 foi eleita a maior ino-vação científica do mundo no ano de2011 pela revista americana Science,considerada uma das melhores publi-cações científicas do mundo.

Um dos estudos destacadospelo professor, e que também teve par-

ticipação do Ipec/Fiocruz, foi o iPrEX(sigla para Iniciativa Profilaxia Pré-Ex-posição – PrEP), que testou a eficiên-cia do uso do antirretroviral Truvada,uma combinação de dois medicamen-tos (Emtricitabine e Tenofovir), na re-dução do risco de transmissão do HIV.Também entre as iniciativas aborda-das está o HPTN 068 – que analisouse a ajuda financeira, bem como a fre-quência escolar, podem ser fatores deredução da disseminação de HIV emjovens mulheres na África do Sul – e oHPTN 069, que avalia a segurança etolerância de quatro regimes com an-tirretrovirais na prevenção do HIV emhomens homossexuais.

Outra ação destacada foi o estu-do HPTN 071, que investiga se o acon-selhamento e fornecimento de testes,junto com a oferta imediata de trata-mento antirretroviral, pode ajudar naredução da incidência de HIV no sul daÁfrica; e ainda o HPTN 073, que vaiatestar a iniciação, aceitabilidade, se-

U

Durante encontro compesquisadores da Fundação,o professor Myron Cohenapresentou importantesiniciativas da Rede deEstudos de Prevenção do HIVna busca da prevenção e curada Aids. Foto Peter Ilicciev/CCS/Fiocruz

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gurança e viabilidade da Profilaxia Pré-exposição para homens homossexuaisnegros, em três cidades dos EUA. Já oHPTN 075 consiste na detecção de indi-víduos soropositivos que não estão emtratamento e não têm acesso aos servi-ços de saúde nos EUA. Segundo Cohen,há milhões de pessoas infectadas na-quele país, mas somente 800 mil sabemque são soropositivas. Deste total, 500mil buscam por tratamento e 300 mil setratam da forma correta. “Muitos nãotomam o coquetel ou porque estãomuito estressados com seu trabalho oupor outro motivo, a ponto de não se darconta do problema que têm, já que sesentem saudáveis”, explicou.

Cohen ainda fez um breve his-tórico das tentativas não acertadas fei-tas mundo afora na busca por umavacina contra o HIV. Segundo ele, umadas grandes dificuldades na criação deuma vacina contra a doença é que oorganismo geralmente começa a pro-duzir os anticorpos contra o HIV somen-te de oito a dez anos após receber adose. Ele contou que uma das pesqui-sas internacionais em busca da imuni-zação contra o HIV acompanhou 300mil pessoas no Malaui e na África doSul e conseguiu detectar todos os indi-víduos a partir do dia em que foraminfectados. Destas pessoas, 16 produ-ziram anticorpos neutralizantes já nosprimeiros meses de infecção, ao con-trário do que comumente ocorre. Alémde se conectar ao vírus e alertar ao sis-tema imune que destrua aquele corpoestranho, os anticorpos neutralizantespodem evitar que o vírus complete ainfecção. “A esperança é que a vacinacontra o HIV contenha esses anticorpos.Para isso, precisamos entender comofazer uma vacina que convença as cé-lulas B (tipo de linfócito que constitui osistema imune que tem como principalfunção produzir anticorpos contra antí-genos) a produzir os anticorpos em pou-cas semanas. E mais: precisamosconvencer as células B a continuar afabricar os anticorpos de uma formaconcentrada para que possam preveniro HIV por muitos anos”, disse.

Pesquisadora da Fiocruz e coor-denadora do estudo HPTN 052 no Bra-sil, Beatriz Grinsztejn disse que a visitade Cohen abre caminho para o esta-belecimento de novas parcerias com aRede de Estudos de Prevenção do HIV

no campo de prevenção e tratamentodo HIV. “Cohen é hoje uma das pesso-as mais importantes no mundo na área.Esta é uma grande oportunidade paraa Fiocruz mostrar seu potencial na con-dução de estudos no campo da preven-ção e tratamento da Aids e assim noscolocarmos disponíveis para novos de-safios”, declarou. Ela também falousobre o papel da Fundação no estudoHPTN 052. “A iniciativa nos exigiu umainteração grande com vários centros detestagem anônima. Tivemos que desen-volver uma série de estratégias paraidentificar indivíduos soropositivos quetivessem parceiros HIV negativos e ti-vessem uma alta contagem de CD4(células do sistema imune que protegeindivíduos contra infecções). Para isso,aumentamos a testagem, fizemos en-trevistas no local e tomamos uma sériede outras medidas”, contou.

Pesquisa brasileiraé pioneira

Realizada pelo Grupo HospitalarConceição (GHC), em Porto Alegre, ecoordenada pelo Ipec/Fiocruz, no Rio deJaneiro, a pesquisa brasileira HPTN 052é considerada um ensaio clínico pionei-ro da Rede de Testes para Prevenção deHIV que demonstrou que, se indivíduosHIV positivos aderem a um esquemaeficaz de terapia antirretroviral, o riscoda transmissão do vírus ao parceiro se-xual sem infecção pode ser reduzido ematé 96%. Durante palestra que minis-trou na Fundação, Myron Cohen comen-tou os resultados do estudo e suasatisfação com os resultados: “o estudo052, para mim, tem duas coisas muitoimportantes: a possibilidade de ter achance de falar com os pesquisadores,ter encontrado com os casais da pesqui-sa e perceber que ajudamos, contribuí-mos e, o mais gratificante, ver os bebêsnascendo”. O estudo mostrou que o tra-tamento com antirretrovirais tambémpode diminuir a transmissão do vírus,servindo como um método para a pre-venção da doença. Os antirretroviraissão medicamentos que controlam aação do vírus HIV no organismo. O estu-do 052 foi iniciado em 2005 e envolveu1.763 casais sorodiscordantes, sendo97% heterossexuais, em 13 centros desaúde que fazem parte da Rede de Tes-

tes em três continentes (Ásia, Américase África).

A HPTN é uma rede colaborati-va criada em 2000 e formada por insti-tuições de diversos países quedesenvolve ensaios clínicos focados noestudo da transmissão do vírus HIV/AIDS. Seu objetivo é desenvolver e im-plementar estratégias de prevenção quecontribuam para uma redução signifi-cativa e mensurável da incidência deHIV em populações do mundo inteiro.

Como foi feitaa pesquisa

Para participar do estudo, foram890 homens e 873 mulheres que deve-riam ter de 350 a 550 células de defe-sa por milímetro cúbico. Esse númeroindica a saúde do sistema imunológicodos soropositivos. Já os parceiros, to-dos inicialmente não afetados pelo HIV,fizeram testes para verificar se estavamlivres do vírus 14 dias após aceitaremparticipar da pesquisa. Os investigado-res separaram os casais em dois gru-pos. No primeiro, os portadores do víruscomeçaram a tomar remédios 60 diasdepois do início do estudo. Já no se-gundo, os soropositivos começaram aterapia tardiamente, somente depois dacontagem de células de defesa ficarabaixo de 250 por milímetro cúbico nosangue ou quando uma doença os afe-tava, como no caso da pneumoniapneumocística – doença causada pelomicro-organismo.

Ao todo, foram usados 11 me-dicamentos, em diversas combinações.Do total de casais, apenas 39 parceirosforam infectados. A transmissão entreos membros do casal ficou provada em28 casos. Sete pessoas adquiriram ovírus de outra forma e quatro casos ain-da aguardam análise. No caso das 28transmissões do portador para o parcei-ro inicialmente não infectado, 27 ocor-reram no grupo que começou a receberantirretrovirais tardiamente. Houve ape-nas um caso de contaminação do par-ceiro por um soropositivo que recebeuremédios desde o início do estudo.Durante o estudo, os participantes re-ceberam orientações sobre como seproteger contra doenças venéreas, acon-selhamentos e camisinhas grátis. Hou-ve 23 mortes durante a pesquisa.

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Carolina Landi - Ipec

egundo dados da iniciativa Me-dicamentos para Doenças Negli-genciadas (DNDi, na sigla eminglês), a doença de Chagas,

sozinha, é responsável por cerca de 12mil mortes por ano na região da Améri-ca Latina e representa um custo globalde US$ 7,2 bilhões por ano. O Brasil estáno topo do ranking em perdas de pro-dutividade com um custo de US$ 129milhões para a saúde pública anualmen-te. Foi nesse contexto que representan-tes dos Ministérios da Saúde do Brasil eArgentina, Médicos Sem Fronteiras(MSF), DNDi, pesquisadores da Fiocruze membros do Cris/Fiocruz estiveramreunidos para discutir as lacunas e osdesafios da doença no Brasil e AméricaLatina durante a décima edição do En-contro do Programa Integrado de Doen-ça de Chagas (PIDC). O evento, que foirealizado entre os dias 11 e 13 de junhono Palácio Itaboraí, também teve comointuito lançar bases para o macroproje-to que está sendo preparado pelo gru-po, que inclui pesquisadores de váriasunidades da Fiocruz.

A abertura do encontro contoucom a presença da então vice-presiden-te de Pesquisa e Laboratórios de Refe-rência (VPPLR/Fiocruz), a pesquisadoraClaude Pirmez (que deixou o cargo em12 de junho), do diretor do Ipec/Fiocruz,Alejandro Hasslocher, do diretor do IOC/Fiocruz, Wilson Savino, e o coordenadordo Programa de Desenvolvimento Tec-nológico de Insumos para a Saúde – PD-TIS, Win Degrave. Pirmez falou sobre o

objetivo do encontro, de produzir o ma-croprojeto: “É preciso agregar ideias paramudar o quadro atual da doença de Cha-gas. A Fiocruz tem uma bagagem na áreae é preciso dar um salto qualitativo e pen-sar transdisciplinarmente para dar contadas lacunas da doença atualmente”. Es-tima-se que, atualmente, mais de 10 mi-lhões de pessoas no mundo estejaminfectadas com a doença. Alejandro Has-slocher e Wilson Savino reforçaram oapoio institucional para suas respectivasunidades na participação do Programa.

Avanços e desafiosA abordagem integral da doen-

ça de Chagas deu o tom ao encontronos dias destinados às apresentações ediscussões. Foram apresentados os re-sultados de pesquisas desenvolvidas pelaFundação, como o kit em tempo realpara o diagnóstico molecular e avalia-ção da carga parasitária em pacientesportadores da Doença de Chagas, osdados e as estratégias para a vigilânciaepidemiológica da doença no Pará (noBrasil, cerca de 98% dos casos agudosocorrem nesse estado) e Amazônia.

Entre os desafios atuais, estão asubnotificação de casos e o controle dequalidade dos alimentos que podemtransmitir a doença via contaminação,como o açaí, que é o alimento mais as-sociado na transmissão pela via oral eque possui grande impacto nutricional eeconômicos no Pará e Amapá. “É umproblema principalmente de vigilânciasanitária, que tem sido falha e fraca. Acomercialização do açaí envolve a ge-

Encontro discute lacunas e desafiospara a doença de Chagas na atualidade

ração de renda do local e põe em riscoo emprego de muitas pessoas. Mas avigilância precisa atuar sem interferên-cias e chantagens por parte do capital edos políticos”, afirmou o pesquisador doInstituto Evandro Chagas (IEC/Pará) Se-bastião Aldo da Silva Valente.

O encontro ainda chamou aten-ção para a demora no fechamento dodiagnóstico para a doença de Chagas ea dificuldade de notificação de casos emcidades com pouca estrutura. “O Minis-tério da Saúde só tem notificado os ca-sos agudos. É preciso estabelecer umapolítica para os casos crônicos da doen-ça, e capacitar os profissionais de saúdeque atuam nessa área”, complementoua pesquisadora Vera Valente, do IEC/Pará.

Experiências de iniciativas comoMSF e DNDi também foram apresenta-das. Com quase 93 mil diagnósticos e 7mil tratamentos realizados desde o iníciodo seu projeto em doença de Chagas,em 1999, o MSF, representado pela Dra.Lucia Brum, apontou para a necessidadede melhorias para os testes de diagnósti-co, com provas rápidas de melhor sensi-bilidade e especificidade para uso emcondições de campo, e a formulação demedicamentos menos tóxicos e commaior eficácia na fase crônica.

A DNDi, que trabalha a partir deParcerias para o Desenvolvimento de Pro-dutos, mostrou a Plataforma de PesquisaClínica em Doença de Chagas, que agre-ga investigadores, grupos de especialis-tas em Chagas, instituições de pesquisa,organismos governamentais e não gover-namentais nacionais e internacionais,associações de pacientes e outros parcei-

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O Encontro do Programa Integradode Doença de Chagas discutiu aslacunas e desafios da doença noBrasil e América Latina. FotoGutemberg Brito/IOC/Fiocruz

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ros em uma rede colaborativa. “A ideiaé reforçar as capacidades institucionaisde pesquisa e desenvolver uma massacrítica de expertise”, informou MarianaAli-Saab, coordenadora da Plataforma.

Carta de PetrópolisAo final do evento, os pesquisa-

dores que compõem o Programa formu-laram a Carta de Petrópolis, um conjuntode propostas que visam o fortalecimen-to do grupo e de suas ações entre a Fio-cruz, governo e sociedade civil. “O quevi nessa reunião foi um grupo de pesso-as se unindo para formular uma estraté-gia de ação. Esses cientistas, técnicos esonhadores que estão aqui, diante deuma doença negligenciada, estão pen-sando em como fazer a sociedade usaro seu papel, o seu prestígio e seu co-nhecimento para formular uma deman-da que cheguem realmente às elites queestão administrando esse país”, disse opesquisador emérito da Fiocruz JoãoCarlos Pinto Dias.

Para o coordenador da UnidadeTécnica de Vigilância de Doenças Trans-mitidas por Vetores da Secretaria de Vigi-lância em Saúde/Ministério da Saúde,Renato Vieira Alves, o PIDC representauma iniciativa importante para pensar, deforma sistematizada, a contribuição quea pesquisa pode proporcionar para o ser-viço: “A organização do Programa paraoferecer respostas para o serviço é funda-mental e pode ser um marco para o Pro-grama de Doença de Chagas do Ministérioda Saúde”. O Programa Integrado deDoença de Chagas (PIDC) tem a coorde-nação de Luciana Ribeiro Garzoni, Maria-na Caldas Waghabi, ambas do IOC/Fiocruz, e Roberto Saraiva, do Ipec/Fiocruz.

Sobre o PIDCLançado oficialmente em 2006, o

Programa Integrado de Doença de Cha-gas (PIDC) visa articular a cooperação entrepesquisadores em redes temáticas, visan-do aumentar a eficiência da pesquisa na-cional e fortalecer a captação de recursosfinanceiros para o desenvolvimento depesquisas relevantes para a sociedade. Asredes temáticas do Programa são: Rede1- Medicamentos, terapêutica e ensaiosclínicos; Rede 2- Taxonomia de vetores eecologia de ciclos de transmissão do Trypa-nosoma cruzi; Rede 3- Diagnóstico; Rede4- Fisiopatogenia; Rede 5- Educação; Rede6 – Pesquisa Clínica.

Saiba mais sobre o programaaqui: www.fiocruz.br/pidc

Danielle Monteiro - CCS

lunos da Universidade de Ru-tgers, dos Estados Unidos, visi-taram a Fiocruz, em 28 demaio, para conhecer o trabalho

da Fundação no campo de saúde públi-ca, assim como seus programas de ensi-no e ações na área de cooperaçãointernacional. O encontro é fruto da visi-ta do reitor da instituição Wendell Prichettà Fundação, ocorrida em maio passadopara a análise de possi-bilidades de intercâmbioe programas de EAD.

Segundo a pro-fessora da universidade,Susan Norris, o encon-tro será muito importan-te para a formação dosestudantes, pois vai con-ceder a eles uma visãodo que outro país faz naárea de saúde públicaalém de contribuir paraque adquiram experiên-cias fora dos hospitais.“Nos Estados Unidos,estamos trabalhando para incluir o cam-po da saúde pública na enfermagem,pois percebemos que esse é o caminhoque essa área deve seguir. Essa é umaoportunidade para dar início a essa novaorientação e estimular o desenvolvimen-to da enfermagem em nosso país”, jus-tificou. Norris também elogiou as açõesdesenvolvidas pela Fundação dentro efora do país e disse que o encontro abrepossibilidades para futuros intercâmbiosentre pesquisadores das duas instituições.“Já temos parceria com outras institui-ções brasileiras que prevê o intercâm-bio entre alunos. Estaríamos muitointeressados em estabelecer esse tipode acordo com a Fundação”, afirmou.

Com interesse em conhecer os di-ferentes sistemas nacionais de saúde, ahaitiana Ariel Delane, aluna do quartoano da Escola de Enfermagem da uni-versidade, comentou que ficou impressi-onada com o trabalho da Fundação emdiferentes áreas. Ela destacou que o co-nhecimento sobre as ações da Fundaçãoem outros países e o aprendizado sobresaúde global adquiridos foram os princi-pais ganhos desta visita. “Eu não sabiaque o Brasil tinha um renome internacio-nal no campo da saúde, isso é muito ins-pirador. Esse encontro me fez conhecer

o alcance internacional de um país emdesenvolvimento e também me mostrouque o trabalho de poucas pessoas emoutros países faz muita diferença”, dis-se. “Seria maravilhoso poder participardos programas de ensino da Fiocruz etrabalhar em um projeto em conjunto.Isso me traria maior conhecimento sobrepolíticas públicas no campo de enferma-gem, o que seria fascinante para mim”,acrescentou.

Para Christopher Berg, graduado

em ciências da enfermagem, a visita àFundação vai agregar a sua bagagemcultural um maior conhecimento sobrepolíticas públicas no sistema de saúde,principalmente no que diz respeito aoacesso ao cuidado. “Vi que a Fiocruz tema preocupação de prover o cuidado àsaúde a comunidades carentes além deprestar apoio a sistemas de saúde de pa-íses que precisam de ajuda nisso, comoos africanos e alguns sul-americanos. Es-ses princípios me incentivam a estar maisenvolvido com essas temáticas”, afirmou.

Segundo o assessor do Cris/Fio-cruz, Luiz Eduardo Fonseca, a vinda deestudantes estrangeiros à Fundação podeampliar o papel da instituição no cená-rio internacional em saúde, além de aju-dar a reforçar a comunidade científica.“Ultimamente tem sido cada vez maioro interesse de instituições de ensino es-trangeiras nas suas congêneres brasilei-ras por razões variadas que vão desde apossibilidade de acesso ao financiamentopara o Ciências sem Fronteiras quantoas chances de ampliação da participa-ção brasileira em projetos de pesquisa.A Fiocruz tem se mostrado sensível aisso e recebido todas as instituições in-ternacionais que demonstram interesseem nos conhecer”, finalizou.

Estudantes de universidade norte-americana visitam a Fundação

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Os alunos da Universidade de Rutgers, dos EstadosUnidos, em visita à Fiocruz. Foto CCS/Fiocruz

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Danielle Monteiro - CCS

ministro da Saúde da Alema-nha, Daniel Bahr, esteve em vi-sita à Fiocruz no dia 24 de maiopara debater com gestores das

instituições a renovação de algumasparcerias além de possibilidades dedesenvolvimento de novas coopera-ções. Acompanhado por representan-tes do parlamento federal e do mercadoda saúde alemão, Bahr afirmou que acooperação vai contribuir para o com-bate a doenças infectocontagiosas nosdois países, um problema que, segun-do ele, tem sido vivenciado mais inten-samente por todo o mundo, devido aoprocesso de globalização. “A Fiocruz éuma instituição de renome na Alema-nha e nosso interesse com a Fundaçãoseria o trabalho em conjunto entre pes-quisadores brasileiros e alemães nasmesmas questões. Além disso, gostarí-amos de oferecer bolsas pra pesquisa-dores alemães no Brasil ou vice versa,

facilitando assim o trabalho entre a Fi-ocruz e instituições alemãs”, afirmou.

O presidente da Fiocruz, PauloGadelha, que na ocasião fez uma bre-ve apresentação sobre as atividadesdesenvolvidas pela Fundação e as di-retrizes seguidas pela instituição nocampo de cooperação internacional,sugeriu a ampliação de parcerias noâmbito do programa Ciência Sem Fron-teiras e no setor industrial e de inova-ção, e de assistência farmacêutica.“Uma ideia seria analisarmos juntoscomo essas redes farmacêuticas sãoestabelecidas no Brasil e na Alema-nha para propormos novas ideias esoluções na área”, disse Gadelha.

Bahr também anunciou que acooperação da Sociedade para a Coo-peração Internacional (GIZ, na sigla emalemão) no projeto de combate à Aidsna América Latina e Caribe já foi con-cluído e propôs a extensão dessa par-ceria com a Fundação. “O Brasilexerceu um papel fundamental neste

Ministro da Saúde da Alemanha propõenovas parcerias com a Fundação

projeto e muitos problemas referentesa esta doença foram resolvidos, porém,outros países ainda precisam de apoionisso, e uma cooperação entre nós e aFiocruz poderia ajudá-los nesta ques-tão”, argumentou.

O coordenador do Cris/Fiocruz,Paulo Buss, sugeriu a ampliação dasrelações entre a Fundação e institutosde saúde alemães, por meio da elabo-ração de projetos conjuntos de pesqui-sa e da concessão de bolsas de estudode pós-doutorado a pesquisadores dosdois países. “Falamos muito em formaresse tipo de parceria, mas ainda faze-mos pouco para concretizar isso”, dis-se. Ele também propôs a participaçãoda Alemanha na Rede de InstitutosNacionais de Saúde (RINS), que tem aFiocruz entre seus participantes e en-volve institutos dos países membros daUnasur (União de Nações Sul-America-nas) e da CPLP (Comunidade dos Paí-ses de Língua Portuguesa). “Até omomento, além de países da América

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O encontro com o ministro da Saúde da Alemanha reuniu gestores da Fundação para a identificação de novasparcerias com o país europeu. Foto: Peter Ilicciev/CCS/Fiocruz

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Latina e da CPLP, só participam da redepaíses americanos. A entrada da Ale-manha nessa rede seria marcante paranós, o ministério da saúde alemão po-deria estar presente já na próxima reu-nião da RINS, isso seria muitoimportante”, sugeriu. Para Bahr, a pos-sibilidade de cooperar na RINS tambémé bem vista pela Alemanha. “Temosmuito interesse em participar dessacooperação sul-sul com financiamentodo Ministério da Cooperação e Desen-volvimento”, afirmou.

Outra possível cooperação suge-rida foi no campo de zoologia (doen-ças transmitidas por animaisdomésticos). “O Brasil é um grande pro-dutor de gado e isso, associado a obrascom desvio de rios entre outras ques-tões, tem tido forte impacto no meioambiente, aumentando as chances desurgimento de doenças transmitidas poranimais. Acho que esse campo deve-ria ser um dos pontos focais de futurascooperações com a Alemanha”, suge-riu a então vice-presidente de Pesqui-sas e Laboratórios de Referência daFiocruz, Claude Pirmez. Além do cam-po de doenças transmissíveis, de acor-do com Bahr, outras áreas querequerem parcerias e são preocupan-tes na Alemanha são os campos de de-senvolvimento de antibióticos e higienehospitalar. Possibilidades de parceriasna área de marcos regulatórios, juntoà Anvisa, para o aprimoramento do se-tor no Brasil, também foram discutidas.

Para Buss, a visita do ministro àFundação revelou oportunidades decooperação que têm grandes chancesde serem materializadas. “O ministromostrou que percebe como é importan-te cooperar com o Brasil, que tem aFiocruz como instituição de enormeexperiência nessas áreas debatidas noencontro. Identificamos nessa reuniãotanto parcerias já existentes quantooutras áreas de cooperação que, emoutros tempos, seriam impensáveis,como o campo de doenças transmissí-veis”, concluiu. Mais adiante, a Fiocruze o Ministério da Saúde alemão vãodefinir quem serão membros de cadapaís responsáveis em dar os próximospassos para a concretização das ideiaspropostas no encontro.

Daniel Bahr é economista e temMBA em Gerenciamento Internacional deHospitais e Cuidados com a Saúde. Atuouno setor financeiro e, em 2002, foi eleitopara o parlamento alemão. Exerce o car-go de Ministro Federal da Saúde da Ale-manha desde maio de 2011.

CooperaçãoFiocruz –Alemanha

Há décadas a Fiocruzdesenvolve ações de coope-ração com a Alemanha. Umadas mais recentes parceriascom o país europeu foi firma-da em 2011, no caso, com oBernhard Nocht Instituto deMedicina Tropical (BNTIM),uma fundação pública - fi-nanciada conjuntamentepelo Governo da RepúblicaFederal da Alemanha, o Go-verno da Cidade Livre e Han-seática de Hamburgo eoutros governos estaduaisalemães - dedicado à inves-tigação, formação e serviçospara o controle de doençastropicais e infecções emer-gentes. O memorando deentendimento prevê a trocade material acadêmico, co-laboração em pesquisa e pu-blicações, organizaçãoconjunta de conferências, se-minários e outros encontrosacadêmicos, desenvolvimen-to de cursos e programas acadêmicose intercâmbio de estudantes e pesqui-sadores pertencentes aos quadros ins-titucionais.

A Fundação também tem coo-peração tripartite com o país europeuem conjunto com o Uruguai com vis-tas ao fortalecimento do Sistema Na-cional Integrado de Saúde do paíssul-americano em localidades com me-nos de 5 mil habitantes. Para alcançaresse objetivo, a parceria é baseada emquatro eixos estratégicos: fortalecer acriação da Escola de Governo em Saú-de uruguaia, aprimorar a formaçãodos integrantes da equipe de vigilân-cia sanitária do país e fortalecer seusserviços de saúde rurais, por meio daformação dos profissionais de saúde edos técnicos de saúde em gestão daatenção básica.

Em abril, uma comissão cientí-fica liderada por representantes do Ser-viço Alemão de IntercâmbioAcadêmico (DAAD, na sigla original)visitou o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) para identificar ao longo dospróximos meses oportunidades de par-cerias no âmbito do programa Ciên-cia Sem Fronteiras. O DAAD é o

Em encontro com gestores daFiocruz, o ministro da Saúde daAlemanha, Daniel Bahr, propôsa ampliação de parcerias coma instituição além de novaslinhas de cooperação. FotoPeter Ilicciev/CCS/Fiocruz

parceiro alemão do programa CiênciaSem Fronteiras e, até 2015, pretendeenviar 10 mil brasileiros à Alemanhacom o auxílio de bolsas de graduação,doutorado e pós-doutorado.

A Fundação ainda tem parceriacom a Alemanha no campo de produ-ção de medicamentos. Por meio detransferência de tecnologia feita pelacompanhia farmacêutica BoehringerIngelheim, o Instituto de Tecnologia emFármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) vaiiniciar a distribuição do dicloridrato depramipexol genérico, medicamentousado no tratamento da doença deParkinson. A iniciativa vai beneficiarcerca de 20 mil pessoas que sofrem coma doença e permitirá uma economiade R$ 90 milhões aos cofres públicosdurante os cinco anos do acordo detransferência tecnológica.

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Marina Lemle – VPAAPS, IsabelaSchincariol – Ensp e Luciene Paes - Ensp

papel dos hospitais de alta com-plexidade no Sistema Nacionalde Saúde e o desafio da cria-ção de dois institutos nacionais

vinculados à Fiocruz - o Instituto Nacio-nal de Saúde da Mulher, da Criança edo Adolescente Fernandes Figueira (IFF)e o Instituto Nacional de InfectologiaEvandro Chagas (Ipec) - estiveram emdiscussão no 1º Colóquio Franco-Brasi-leiro de Política Hospitalar: o desafioda gestão dos centros hospitalares dealta complexidade, que ocorreu de 15a 17 de maio no Hotel Everest, no Riode Janeiro. O colóquio é fruto de coo-peração técnica entre a Ensp/Fiocruz ea Escola de Altos Estudos em SaúdePública da França (EHESP) – parceriaapoiada pelo Cris/Fiocruz - e teve apoioda Vice-Presidência de Ambiente,Atenção e Promoção da Saúde (VPA-APS/Fiocruz). O encontro teve o objeti-vo de propiciar a troca de experiênciasentre profissionais brasileiros e france-

processos, mas também num sentidomais amplo e pleno, dialogando com oscontextos em que os hospitais estão in-seridos”, disse.

Gadelha observou que os desafi-os do SUS ainda se apresentam devidoà sua grande abrangência - o Brasil é oúnico país do mundo com mais de 100milhões de habitantes que se propõe adar cobertura universal de saúde. O pre-sidente acrescentou que a Fiocruz estáconstruindo uma rede de atenção quereúne hospitais e institutos para estimu-lar a troca de experiências técnicas degestão, a análise dos perfis epidemioló-gicos e a reflexão sobre como os hospi-tais e institutos da Fundação se inseremno contexto maior do SUS.

Entusiasta da cooperação entreBrasil e França, o vice-presidente daVPAAPS/Fiocruz, Valcler Rangel Fernan-des, mediou a mesa sobre as políticashospitalares atuais nos dois países. Eleapontou os desafios brasileiros de es-cala e escopo na inserção dos hospitaisnum sistema de saúde com singulari-dades pelo seu tamanho, o quadro epi-

Brasil e França discutem gestãohospitalar de alta complexidade

Oses em políticas e gestão da atençãohospitalar. Também estiveram na pau-ta do evento novas tendências em ges-tão da atenção hospitalar, arranjosorganizacionais, sistemas de governan-ça e o funcionamento de redes inte-gradas nos sistemas de saúde.

Presente à mesa de abertura, opresidente da Fiocruz, Paulo Gadelha,lembrou que os laços de cooperação doMinistério da Saúde com a França sãoantigos e estão sendo fortalecidos pelacooperação com a Fiocruz. Gadelhaabordou as mudanças no IFF e no Ipec,que surgiram com foco na atenção àsaúde nas suas respectivas áreas, incor-poraram a pesquisa acadêmica e o en-sino de pós-graduação e, agora,transformam-se em institutos nacionais.“Estamos buscando definir com maiorclareza a missão dos institutos nacionais,levando em conta os componentes cen-trais da atenção, mas incorporando tam-bém as dimensões de pesquisa e ensinoe da formulação de políticas de estadode atenção à saúde. Precisamos pensara gestão não só nas tecnicalidades dos

O diretor de ensino da EHESP, Phillip Marin.Foto Virginia Damas/Ensp/Fiocruz

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demiológico com diversas doenças,como as cardiovasculares, o câncer etraumas por violência, e a necessidadede atenção especializada. Além disso,Rangel destacou que a população estácada vez mais exigente em relação àqualidade dos serviços.

”A população necessita e exigequalidade, segurança e relações pes-soais cultivadas no momento do cuida-do da atenção à saúde. Essa é umaquestão fundamental para dirigenteshospitalares”, disse. Rangel acrescen-tou que profissionais de saúde tambémtêm um grau de exigência e engaja-mento e colocam questões para a ges-tão, como as de logística e de modelosde financiamento. Ele citou ainda odesafio do conhecimento, no qual épreciso encontrar soluções com criati-vidade e inovação.

Sobre os institutos nacionais daFiocruz, cujo processo de implantaçãoestá sob responsabilidade da VPAAPS,Rangel disse ser necessário discutirquais características diferenciadas de-vem ter em relação aos institutos quejá existem e como formar pessoas efazer pesquisas para atender a essasnecessidades. “Estamos construindonovos hospitais que já existem, elesestão em metamorfose. Nosso entusi-asmo é gerado por esses desafios. Se-rão três dias de troca, e este é apenaso primeiro colóquio”, concluiu.

A diretora do Departamento deAtenção Especializada da Secretaria deAtenção à Saúde do Ministério da Saú-de (DAE/SAS/MS), Maria do Carmo,apresentou a situação hospitalar no Bra-sil: são, ao todo, 7.219 hospitais, sen-do 4.266 (59%) privados e 2.953 (41%)públicos. A maioria dos hospitais públi-cos é municipal (76%).

Segundo o levantamento doMS, 97% dos leitos públicos estão vin-culados ao SUS e 70% dos leitos doshospitais privados. Do total de 417 milleitos, 350 mil são vinculados ao SUS(85%). A maioria dos hospitais (58%)possui menos de 50 leitos, e a maiorconcentração deles está no Nordeste.A maioria dos hospitais de pequenoporte (menos de 30 leitos) é públicomunicipal (91,7%). A maior parte doshospitais de grande porte (acima de500 leitos) está na região Sudeste(48,9%). A maioria dos leitos de UTIestá localizada em hospitais acima de100 leitos (88,8%) e em hospitais pú-blicos estaduais (61,3%).

Maria do Carmo disse que aatenção à saúde hoje no país segue um

modelo médico-hegemônico, centradoem procedimentos, voltado para aten-ção aos quadros agudos, organizado pordemanda espontânea, é fragmentadoe desarticulado. O novo modelo para aatenção hospitalar, de acordo comMaria do Carmo, deve buscar humani-zação, qualidade, eficiência e atuaçãoem rede. “A atenção básica e de altacomplexidade devem ser complemen-tares na integralidade do cuidado, den-tro do mosaico epidemiológico queexiste no país”, afirmou.

Redes de atenção:Brasil devereestruturar gestão

Entre os principais temas deba-tidos no segundo dia do encontro, des-tacaram-se a reforma hospitalar noBrasil; a evolução desse sistema naFrança; a organização das redes deatenção e a assistência hospitalar dealta complexidade; a estratégia de con-tratualização na política hospitalar bra-sileira; e os novos arranjos para aorganização interna dos hospitais. Parao pesquisador da Ensp/Fiocruz, VictorGrabois, que esteve presente nos de-bates, é urgente pensar na governan-ça em rede e na tentativa de superar ogrande nível de fragmentação dos sis-temas de saúde brasileiros.

Phillip Marin, diretor de ensinoda Ecole des Hautes Etudes en SantéPublique (EHESP), da França, apontouque, após muitas transformações e odesenvolvimento de algumas leis, oshospitais franceses passaram a ser ope-radores complementares da rede deatenção. Assim, tornaram-se um doselos que trabalha e colabora com osoutros equipamentos de saúde. A rela-tora-geral do Pacto de Confiança eAssistência Social, Claire Scotton, fa-lou sobre a reestruturação das relaçõesleais entre Estado, hospitais e gestores.Segundo ela, esse pacto também temfoco no estabelecimento da confiançaentre os profissionais de saúde.

Sobre as tendências na organi-zação e no funcionamento da atençãohospitalar, Claire comentou que fusõese reagrupamentos não podem ser vistoscomo mágica ou milagre para a gestão.Devem ser realizados com bastante cons-ciência, pois as características e distân-cias geográficas podem ser fatoreslimitantes da reestruturação. No quetange à cooperação e ao reagrupamen-to hospitalar, o diretor de gabinete da

Federação Hospitalar Francesa (FHF),Cedric Arcos, disse que toda contribui-ção visa à melhoria da qualidade docuidado medido. Para tanto, a FHF as-sume o papel de protagonista, com oobjetivo de ser uma força que articula osistema nacional de saúde e as açõesentre operadores nacionais de saúde.

Para o pesquisador da ENSP Vic-tor Grabois, integrante dessa mesa dediscussão, é preciso pensar se haveriaalgum futuro para os hospitais fora dalógica de rede. “Ainda que tenhamosde melhorar as políticas, é necessárioanalisar como elas se relacionam comoutras políticas públicas existentes.Hoje, temos um sistema de saúde bas-tante fragmentado e com baixa resolu-tividade na atenção primária, ainda quetenhamos implementado uma série deestratégias para suprir esse gap. Por-tanto, as definições de escopo e perfildevem ser desenvolvidas e tomadascoletivamente, envolvendo não apenasos hospitais, mas todos os outros equi-pamentos nos demais níveis de com-plexidade”, disse ele.

“Muito se avançou com o passardos anos. Porém, ainda não temos umapolítica que direcione a atenção hospi-talar”, disse Ana Paula Silva Cavalcan-te, coordenadora-geral de AtençãoHospitalar, do Ministério da Saúde, nodebate sobre a contratualização na po-lítica hospitalar brasileira. Segundo ela,o Brasil possui, ao todo, 4.266 hospitaisprivados e 2.953 públicos, dos quaisquase 80% são municipais. Apenas0,8% dos hospitais brasileiros, revelouela, são de grande porte, ou seja, pos-suem mais de 500 leitos, e o número deunidades acreditadas é insignificante.

A pesquisadora da Ensp/Fiocruz,Sheila Lemos, explicou que o objetivoda utilização dos arranjos contratuaisna saúde visa possibilitar um melhordesempenho desses prestadores e in-crementar a prestação das contas so-bre os resultados para usuários,financiadores e governo. Para ela, existeum incentivo inadequado para tais pres-tadores, e o grande questionamentoestá relacionado à estruturação de umsistema de incentivos para induzir oprestador a agir de acordo com o dese-jado pelo contratante. A pedido do Mi-nistério da Saúde, desenvolveu-se umapesquisa para avaliar o processo de im-plementação da contratualização doshospitais de ensino e filantrópicos, daqual Sheila Lemos participa.

As considerações finais da pes-quisa indicam a necessidade de revi-

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são do processo, a elaboração e moni-toramento dos contratos, que contem-plem outras dimensões com maior focopara a qualidade assistencial, ensino epesquisa; a revisão da metodologia deestimativa do financiamento; práticase mecanismos de monitoramento incre-mentados com a incorporação de visi-tas regulares nos hospitais; estruturaçãode sistemas de informação, entre ou-tros. “Não há, ainda, o monitoramen-to contínuo do conjunto de experiênciascontratuais em cursos no Brasil. Esse éum processo complexo, e o conheci-mento de riscos e benefícios ainda estásendo acumulado”, finalizou.

Encerrando o segundo dia doevento franco-brasileiro, a quarta mesade discussão abordou os novos arranjospara a organização interna dos hospi-tais. A professora Laetitia Laude, do Ins-tituto de Gestão da EHESP, comentouque a organização em polos é um rea-grupamento de unidades. Segundo ela,quanto mais os médicos estiverem en-volvidos na reforma dos hospitais, nessemodelo de organização, melhor será asua administração, pois eles são os pro-fissionais mais preparados para inovarno percurso do cuidado por estarem di-retamente envolvidos no processo.

Sobre a organização do hospitalem linhas de cuidado, o professor daUniversidade Federal Fluminense (UFF)Túlio Franco afirmou que o cuidado seproduz por meio do trabalho multipro-fissional, em que a ação de cada umse combina e é parte do processo tera-pêutico como um todo. “Os profissio-nais já exercem suas funçõesdividindo-as em linhas, isto é, impera-tivo ao trabalho do ser humano. A or-ganização dos hospitais nesse modeloé apenas uma forma de institucionali-zar o que é empírico”, concluiu.

Mudançasorganizacionais emcentros hospitalares

No último dia do colóquio ocor-reram três mesas de apresentação edebate. Em pauta, temas como mudan-ças organizacionais em centros hospi-talares de alta complexidade; comodeve ser um hospital do futuro; e a cons-trução de hospitais eficientes.

A primeira mesa teve como temaOs processos de mudança organizacionalem centros hospitalares de alta comple-xidade. O ortopedista do Instituto de Trau-

matologia e Ortopedia (Into/Ministério daSaúde), Tito Henrique de Noronha Ro-cha, apresentou a experiência desse hos-pital, que tinha 20.860 pessoas à esperade uma cirurgia em 2005. A nova sede,inaugurada em 2011, tem aproximada-mente 70 mil metros quadrados de área,e a anterior contava apenas com 14 mil.Houve acréscimo de mais de 177 leitos,além do aumento de salas cirúrgicas econsultórios. Tito destacou que a transfe-rência de pacientes, inclusive de Unida-de de Terapia Intensiva, foi realizada semnenhuma intercorrência, além do iníciodas atividades na nova sede ocorreremsem eventos adversos. Acreditado inter-nacionalmente pela JCI/Consórcio Brasi-leiro de Acreditação (CBA) e integranteda Rede Sentinela e da Rede de Hospi-tais Sustentáveis, o Into inaugurou, aolongo de 2011, ambulatório, reabilitaçãoe centro cirúrgico.

A experiência do Centro Hospi-talar Universitário (CHU) da Ilha de Nan-tes, França, foi apresentada porChristiane Coudrier e Gilles Potel, am-bos do CHU. Composto de sete hospi-tais, localizados em Nantes e arredores,o centro hospitalar era caracterizado poruma dispersão geográfica das ativida-des como hospital, escola e laboratóriosde pesquisa, e três grandes hospitais sa-turados, além de forte concorrência pri-vada. “O CHU dificilmente podiadesenvolver atividades atraentes e bempagas. Seus edifícios são obsoletos, demanutenção cara, porque foram proje-tados como hospitais no período de 1960a 1980”, disse Christiane.

O novo Plano Diretor que previua reestruturação do espaço teve comoobjetivos acompanhar um projeto mé-dico inovador com a consolidação dos

serviços em cinco unidades de saúdeclínica; promover ligações entre o gru-po de atendimento e cuidado ao paci-ente, ensino e pesquisa; procurar umlocal coerente com a intensidade dasrelações entre os polos de emergência,já que são 100 mil entradas de emer-gência anuais; usar plataformas técni-cas; atentar para o fluxo de pacientesespecializados com atendimento progra-mático e marcado; reforçar a atraçãopara o CHU em termos ambulatorial;ofertar serviços urbanos como hotéis,entre outros. Segundo Christiane, foramdez anos de estudo de cenários e viabi-lidade de investimento, custo e questõesoperacionais, e dois anos para valida-ção do projeto, atividades, localização,dimensão e custo.

A mesa também teve a presen-ça do professor da Universidade de Cam-pinas, Gastão Wagner, que falou sobreos desafios da mudança nos hospitaispúblicos brasileiros. Para ele, a base damudança está no sujeito. “O hospitalpúblico não é negócio, sua gestão é maiscomplicada e precisa ser pensada emrede, aliada à política nacional do Siste-ma Único de Saúde”, completou.

A segunda mesa - a profissiona-lização da gestão e a formação dos diri-gentes como estratégia fundamental noprocesso de mudança organizacional -trouxe o diretor-geral da Federação In-ternacional de Hospitais (FIH), Eric Ro-ondenbeke. Segundo ele, os objetivosda FIH são profissionalizar a gestão dosserviços de saúde; aumentar as compe-tências de gestão e de direção dos ser-viços de saúde e apoiar os quadrosexistentes e tentar melhorá-los; desen-volver um quadro internacional de iden-tificação das competências universais de

A pesquisadora da Ensp, Creuza da Silva Azevedo, falou sobre a formaçãodos dirigentes hospitalares do SUS. Foto Virginia Damas/Ensp/Fiocruz

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gestão e liderança; utilizar esse quadropara reforçar a formação, emprego epromoção dos gestores que trabalhamna área da saúde; incentivar os formu-ladores de políticas de saúde para de-senvolver uma verdadeira carreira nagestão da saúde; e promover o papeldas associações de gestores de saúde.

A formação dos dirigentes hos-pitalares do SUS foi a questão debati-da pelos pesquisadores da Ensp/Fiocruz,Creuza da Silva Azevedo e WalterMendes. De acordo com a pesquisa-dora, não há desenvolvimento demo-crático sem administração profissional.Para obtenção de uma massa crítica dedirigentes, é preciso, segundo ela, ado-tar programas de desenvolvimento di-retivo combinando recrutamento,remuneração, carreira e formação. Eladisse que a função diretiva é um lugarde interface entre gestão do espaçopolítico, gestão estratégica e gestãooperacional.

Ela citou a experiência exitosada Ensp/Fiocruz, que oferece formaçãopara gestores. São cursos de aperfei-çoamento em Gestão em Saúde a dis-tância; aperfeiçoamento em GestãoHospitalar; especialização em GestãoHospitalar; e pós-graduação em SaúdeColetiva – mestrado e doutorado. Con-forme informou Walter, o SUS abarca5.183 hospitais e 139 deles são unida-des com mais de 300 leitos: “O desafioatual é definir um modelo hospitalarpúblico brasileiro”.

Roland Ollivier, da EHESP daFrança, expôs dados sobre uma pesqui-sa realizada em 2011 com líderes egestores de hospitais. Segundo ele, ashabilidades para formação desses pro-fissionais devem considerar a amplitu-de da mudança da área geográfica dohospital, os ciclos de transformação nasorganizações cada vez mais curtos, aeficiência da investigação em curso eo aumento da responsabilidade social.Ele citou três grandes competências aserem desenvolvidas: gerenciar e con-trolar a conduta de mudança, garantira mobilização dos atores e organizar acooperação entre os atores. Outra per-cepção importante da pesquisa é que75% dos entrevistados consideraramcomo atitudes e valores primordiais dosdirigentes de hospitais a capacidade delidar com a equipe.

O diretor de Ensino da EHESP,Phillipe Marin, descreveu os princípiosda Escola, cujo recrutamento se dá porconcurso com quatro provas escritas etrês provas orais. A formação desses pro-

fissionais tem três dimensões na forma-ção: cultural, humana e profissional. Sãotrês métodos de implantação de forma-ção: dimensão acadêmica e profissio-nal, aprendizagem e desenvolvimentoda lógica de habilidades gerenciais indi-viduais, e papel de tutoria e treinamen-to. A perspectiva é fortalecer a formaçãoconjunta com outras partes interessadasnas decisões em instituições entre presi-dentes de polos líderes, diretores e ge-rentes seniores de atendimento.

O Hospitaldo Futuro

A última mesa do evento, inti-tulada O Hospital do Futuro, iniciou como diretor-geral da Federação Internacio-nal de Hospitais, Eric de Roodenbeke,que, dessa vez, falou sobre a constru-ção de hospitais eficientes. Ele apre-sentou 12 fatores-chave a respeito dasituação de saúde dos países que pes-quisou. São eles: aumento do envelhe-cimento da população, melhorias decondições de vida e de habitação, fu-turo aumento do número de migrantesde diferentes culturas, hospitais maisabertos à vida social da cidade, preo-cupações ambientais e aumento doscustos dos serviços de utilidade públi-ca, mudanças de tecnologia da infor-mação remodelando as organizaçõesde saúde, medidas de segurança dopaciente, entre outros.

O projeto arquitetônico do Com-

plexo dos Institutos Nacionais de Saúdeda Mulher, da Criança e do Adolescen-te e de Infectologia (CIN) da Fiocruz foiexposto pelo assessor da presidência ecoordenador técnico do projeto. Leonar-do Lacerda explicou que essa ideia sur-giu da necessidade de adequar aestrutura dos institutos, não havendocondições de manter onde estavamcada uma das unidades. Serão ocupa-dos 38 mil metros quadrados da área(35% do terreno), localizado em SãoCristóvão, RJ. “O projeto arquitetônicovai adaptar-se à topografia do lugar”,esclareceu. Além disso, várias interven-ções urbanas vão ocorrer na região porcausa dos eventos das Olimpíadas eCopas das Confederações e do Mundo.Estão previstas estratégias de eficiênciaenergética e sustentabilidade. O prédiocontemplará áreas de assistência, pes-quisa, ensino, gestão, alojamento, cre-che, almoxarifado, estacionamento ecentral de utilidades. O custo do projetoestá previsto para cerca de R$140 mi-lhões. As obras devem ser iniciadas emmeados de 2014.

Ao fim do evento, formou-seuma mesa de perspectivas de coope-ração 2013-2014 com representantesdo Ministério da Saúde do Brasil, Ensp/Fiocruz, instituições francesas e Embai-xada e Consulado da França no Brasil.De acordo com a declaração de inten-ções entre Ministérios da França e doBrasil, será assinado um acordo pre-vendo vários temas de cooperação naárea de saúde.

Membros da Ensp e da EHESP, que participaram do 1º Colóquio Franco-Brasileiro de Política Hospitalar. Foto Virginia Damas/Ensp/Fiocruz

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om o intuito de discutir possí-veis ações para o combate à tu-berculose, a Fiocruz promoveu,nos dias 13 e 14 de maio, um

encontro entre a Secretaria de Ciên-cia, Tecnologia e Insumos Estratégicos(SCTIE) do Ministério da Saúde, a dire-ção da Aliança Global de Desenvolvi-mento de Drogas para Tuberculose –Aliança TB (Global Alliance for TB DrugDevelopment – TB Alliance, em inglês)e pesquisadores de várias instituiçõesbrasileiras que atuam em ensaios clíni-cos de novas drogas e regimes terapêu-ticos contra a doença. A TB Alliance,que tem como presidente de seu Con-selho de Diretores o diretor do CDTS/

Fiocruz, Carlos Morel, é uma organi-zação internacional sem fins lucrativosque busca curas mais eficientes, rápi-das e acessíveis para a doença.

Na abertura do encontro, o pre-sidente e diretor executivo da TB Alli-ance, Melvin Spigelman, fez umaapresentação sobre a história e açõesda organização e traçou um panora-ma da tuberculose. Os dados apresen-tados sobre a incidência da doença nomundo são preocupantes: dois bilhõesde pessoas estão infectadas pela tu-berculose multirresistente, são registra-dos nove milhões de casos detuberculose ativa por ano, 1,5 milhãomorrem por conta da doença anual-mente, 12 milhões apresentam co-in-fecção HIV-tuberculose, e a

TB Alliance e Fiocruz promovemdiálogo em busca de novassoluções no combate à tuberculose

enfermidade é a doença infecciosa quemais mata soropositivos e mulheres emidade fértil.

A baixa eficácia, a longa dura-ção e a interação com medicamentospara HIV em pacientes co-infectados,contou Spigelman, agravam esse qua-dro: “O tratamento para tuberculosesensível inclui quatro comprimidos edura 26 meses, para tuberculose resis-tente há poucos medicamentos efica-zes, alguns são injetáveis e apresentamalta toxicidade, e para as crianças sãogeralmente usadas fórmulas inapropri-adas”. Foi essa realidade que, segun-do ele, motivou a criação da TBAlliance. A organização tem como prin-cipal missão encontrar e desenvolvernovos e mais eficazes medicamentos

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O vice- presidente de desenvolvimento e pesquisa da TB Alliance, Carl Mendel, apresentou as principais iniciativas daorganização no combate à tuberculose e chamou atenção para o que, segundo ele, é o principal desafio na luta contraa doença: a falta de incentivo comercial. Foto Peter Ilicciev/CCS/Fiocruz

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para a tuberculose, além de garantirque novos tratamentos sejam adotados,tenham amplo acesso e cheguem aomercado com preços acessíveis. “Per-cebemos que são necessárias novasdrogas para todos os tipos de casos dadoença”, justificou.

Spigelman revelou que a orga-nização tem desenvolvido novos trata-mentos mais eficazes e de menorduração (de dois a quatro meses). Otratamento para a doença disponível nomercado dura de 6 a 30 meses e a di-ficuldade de aderência dos pacientesao complexo regime de medicamen-tos tem provocado o desenvolvimentode cepas cada vez mais resistentes emortais. “Nosso objetivo é conseguirdesenvolver um regime de tratamentoque inclua o menor número de compri-midos possível e leve somente de setea dez dias. Para obtermos sucesso, sãonecessárias novas e variadas combina-ções de medicamentos”, disse.

Novos e melhorestratamentosem vista

Para alcançar seu objetivo, a TBAlliance realiza uma série de experimen-tos com uma gama diversificada de subs-tâncias que, transformadas em um únicocomponente, podem dar origem a no-vos e potenciais regimes de medicamen-tos. “Acreditamos que os medicamentosque desenvolvemos são mais eficientese rápidos que os atuais. Até agora con-seguimos atingir a duração de tratamen-to de seis semanas em animais e vamoscomeçar a testar esse experimento emhumanos para ver se a duração é a mes-ma, o que deve acontecer no ano quevem, dependendo de quanto tempo oprocesso regulatório levar”, adiantou ovice- presidente de desenvolvimento epesquisa da organização, Carl Mendel.Ele acredita que a não aderência ao tra-tamento deve ser atribuída aos própriosmedicamentos. “Em alguns locais, ospacientes são culpados por provocar aresistência à doença, pois alguns nãoaderem ao tratamento ou não seguemas orientações médicas. Mas esse pro-blema não deve ser atribuído a eles, massim aos medicamentos, que ainda nãosão bons o suficiente”, defendeu.

O primeiro teste de regime demedicamentos conduzido pela organi-zação, denominado NC-001, mostrouque o regime experimental com PaMZ -que inclui os compostos PA-824 moxilo-

xacin e pyrazinamide - mata mais bac-térias do que o atual tratamento paratuberculose durante as primeiras duassemanas de uso. Os resultados forampublicados na revista The Lancet em2012. A descoberta pode vir a tratar in-clusive os infectados com tuberculosemultirresistente, eliminar a necessidadede uso de drogas injetáveis e, com isso,reduzir em 90% o custo do tratamentopara esse tipo de pacientes. Mendelcontou que, nos experimentos com com-binações de drogas indicadas para o tra-tamento de pacientes infectados pelatuberculose causada pela mycobacte-rium tuberculosis, somente pacientessensíveis às drogas participam dos tes-tes clínicos. “Os pacientes devem sertratados com base em sua sensibilida-de, e não em sua resistência”, disse.

No dia mundial de combate àtuberculose, no ano passado, a TB Alli-ance deu início ao experimento comoutro regime de medicamentos, deno-minado NC-002, a fim de testar o PaMZpor dois meses em pacientes com tu-berculose e tuberculose multirresisten-te. O experimento, o primeiro a testar acapacidade de um único regime paratratar ambos os casos, tem atualmentea participação de pacientes de váriasregiões. Os resultados, se promissores,vão levar à fase III do estudo, que en-volve ensaios de registro do regime comPaMZ. No mesmo ano a organizaçãotambém iniciou experimentos com umaterceira combinação de medicamentosque envolve quatro regimes de segun-da geração com o potencial de reduzirpara duas semanas o tratamento paratuberculose e sua forma resistente. “Esseano também começamos a traçar pla-

nos para garantir que regimes de medi-camentos novos e já existentes cheguema crianças com tuberculose o mais rápi-do possível”, adiantou Mendel.

Para ele, o grande desafio na lutacontra a doença é a falta de incentivocomercial. “A maioria dos medicamen-tos testados falham ou porque não fun-cionam ou por questões de segurança.O grande problema é que não há dro-gas suficientes, porque não há empre-sas suficientes para fabricá-las, devido àinsuficiência de incentivos comerciais”,explicou. Segundo Mendel, o impactode estudos como esses será enorme parao Brasil e outros países em desenvolvi-mento, regiões que de fato são acome-tidas pela doença. “Esperamos que, como desenvolvimento de um regime maiseficaz, mais fácil e menos caro, tenha-mos como resultado a erradicação datuberculose e a ausência de resistênciaaos medicamentos”, finalizou.

Ao final do encontro, que tambémcontou com apresentação das atividadesdesenvolvidas no campo da tuberculosepor cada uma das instituições participan-tes, foi recomendado o estabelecimentode uma parceria formal entre a SCTIE ea TB Alliance, com o apoio do CDTS/Fiocruz e o Instituto Nacional de Ciên-cia e Tecnologia de Inovação em Do-enças Negligenciadas (INCT-IDN). “Aideia é constituir um plano estratégicocom ações prioritárias para o fortaleci-mento da capacidade nacional nestesensaios clínicos com vistas ao desen-volvimento dos novos fármacos e regi-mes terapêuticos tão necessários à lutacontra esta enfermidade ainda tão pre-valente em nosso país”, afirmou o di-retor do CDTS/Fiocruz, Carlos Morel.

O CDTS/Fiocruz vai apoiar a parceria entre a TB Alliance e a Secretaria deCiência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. O acordo terá como foco odesenvolvimento de novos fármacos e regimes terapêuticos contra atuberculose. Foto Peter Ilicciev/CCS/Fiocruz

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presidente da universidade fran-cesa Pierre et Marie Curie(UPMC), Jean Chambaz, , sereuniu em 10 de maio com ges-

tores e pesquisadores da Fiocruz para dis-cutir a elaboração dos cursos depós-graduação em bioterapia e de ma-temática aplicada à biologia que as duasinstituições pretendem desenvolver emconjunto ainda esse ano. Segundo Cham-baz, a elaboração dos cursos de pós-gra-duação nessas áreas será muito benéficatanto para o Brasil quanto para a Fran-ça. “A biologia está mudando rapida-mente. Estamos coletando dados novosnesta área e agora precisamos urgente-mente da contribuição de matemáticose de pessoas da ciência da computaçãopara interpretá-los para que, com isso,possamos construir a biologia do futuro.Isso é muito desafiador para ambos ospaíses”, argumentou.

Para o diretor do IOC/Fiocruz ecoordenador do Laboratório Internacio-nal Associado (LIA) Fiocruz/UPMC/In-serm, Wilson Savino, a elaboração doscursos de pós-graduação em comum,principalmente na área de terapia ce-lular, vai permitir um esforço conjuntoem uma área científica contemporâneae muito importante para a medicinainvestigativa e medicina clínica do fu-turo. Ele destacou que estudos no cam-po de terapia celular são atualmenteuma das prioridades do Ministério daSaúde e também da Fundação, que selança cada vez mais para temas rele-vantes de medicina investigativa. “Aterapia celular está sendo cada vezmais usada como alternativa a deter-minadas doenças neurodegenerativas,sejam elas crônicas ou agudas, e tam-bém doenças do músculo cardíaco,como enfarte, ou degenerativas domúsculo, como as distrofias muscula-res. Daí a importância da formação ede estudos nesse campo”, justificou.

O presidente da Fiocruz, PauloGadelha, lembrou da forte tradição decooperação entre as duas instituições, aqual já rendeu diversos frutos, entre eles,o Laboratório Internacional Associado de

Imunoterapia e TerapiaCelular, criado em 2011em parceria com o princi-pal centro francês de pes-quisa biomédica, o InstitutoNacional Científico e dePesquisa Médica (Inserm,na sigla em francês). Tra-ta-se de um laboratório“sem paredes” que coma união das experiênciasbrasileira e francesa reali-za projetos científicos co-muns em imunologia,biologia de músculo esque-lético e distrofias muscu-lares. “Estamos ampliandonossa parceria agora pormeio de um componentemuito importante na áreade ensino, a pós-gradua-ção, a qual tem um potencial enormeque vai além da própria formação, dan-do estímulo à pesquisa e à renovaçãode liderança”, disse.

A previsão é de que a pós-gradu-ação em bioterapia celular seja iniciadaem setembro desse ano e o mestrado debiomatemática em 2014. “A ideia é quea parceria envolva instituições de finan-ciamento, como a Capes, além de ou-tros renomados institutos do Rio deJaneiro, ainda a definir”, adiantou o as-sessor do Cris/Fiocruz, Vincent Brignol. Pes-quisadores das duas instituições vão seencontrar mais adiante para definir osdetalhes e pontos focais dos dois cursos.

CooperaçãoFiocruz – UPMC

Parceiras há oito anos, a Fiocruze a UPMC tem procurado cada vez maisestreitar suas relações de cooperação.Durante visita do presidente da univer-sidade francesa em dezembro do anopassado, as duas instituições acordaramem, juntamente com o Inserm, renovaro convênio do Laboratório InternacionalAssociado (LIA) de Imunoterapia e Te-rapia Celular para os próximos quatroanos. A renovação do projeto vai per-mitir a realização de novos estudos so-

bre a distrofia muscular de Duchenneque visam à melhoria da qualidade devida das pessoas que sofrem com o mal.A doença provoca degeneração muscu-lar e afeta somente meninos. O diretordo IOC/Fiocruz e coordenador da inicia-tiva no Brasil, Wilson Savino, conta que,em 2014, será iniciado um ensaio clíni-co da doença com o uso de um inibidorda molécula VLA4, visando à inibiçãoda inflamação muscular que acelera oagravamento da enfermidade.

A Fiocruz e a UPMC tambémpretendem atuar em conjunto na áreade neurociências. Para isso, foi feito nocomeço desse ano um levantamentode interesses específicos com pesqui-sadores da Fundação no campo. Osresultados foram apresentados em ju-nho na França. Será realizada, no se-gundo semestre desse ano, uma oficinacom pesquisadores franceses na Fun-dação para a elaboração de um planode trabalho para uma cooperação ci-entífica no campo.

Universidade Pierre et Marie Curie e Fiocruzvão elaborar cursos de pós-graduação parapesquisadores brasileiros e franceses

Uma das universidades maisantigas da França, a UPMCpretender estreitar relaçõescom Fundação, por meio daelaboração conjunta de novoscursos de pós-graduação eparcerias no campo deneurociências. Foto UPMC

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Danielle Monteiro - CCS

epresentantes do ICC/FiocruzParaná e da Universidade deGlasgow, da Escócia, selaramum acordo com vistas ao inter-

câmbio de informações, pesquisadorese estudantes de pós-graduação; elabo-ração de projetos de pesquisa; e organi-zação de simpósios e seminários na áreade parasitologia molecular e outros cam-pos de interesse mútuo. A parceria, fir-mada em 9 de maio, foi motivada pelaatuação de pesquisadores da Fundaçãona área de parasitologia molecular dauniversidade nos últimos meses.

“A universidade é um centro deexcelência, que tem uma infraestruturamuito boa para o trabalho neste campo,e a Fundação tem várias equipes que tra-balham nessa área. Eles são muito bonsno que diz respeito ao desenvolvimentode ferramentas genéticas para o traba-lho com parasitas”, justificou o diretor doICC/Fiocruz Paraná, Samuel Goldenberg.Segundo ele, a parceria será de grandevalia para o Brasil, já que o país é aco-metido por várias doenças provocadas porparasitas, como mal de Chagas, malári-as e outras doenças negligenciadas. “Pormeio do conhecimento de processos bio-lógicos básicos, poderemos identificarnovos alvos terapêuticos, como medica-mentos e vacinas, para o combate a es-tas enfermidades no país”, explicou.

Segundo o professor do InstitutoWellcome Trust do Departamento de Pa-rasitologia Molecular e Doenças Negli-genciadas da Universidade de Glasgow,Jeremy Montram, a proposta é estabe-lecer uma cooperação em diversas áre-as da parasitologia molecular. “Nossaintenção é cooperar nos campos de in-fecção e imunologia, virologia molecu-lar e clínica e bacteriologia. Além disso,dispomos de certos tipos de tecnologiaque poderiam ser usados em qualquerárea da biologia, o que contribuiria como desenvolvimento de mecanismos paraa produção de novos medicamentos etecnologia de imagem no Brasil”, disse.

O vice-presidente de Produção eInovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Jor-ge Bermudez, propôs que as instituiçõestambém desenvolvam ações conjuntas naárea de doenças crônicas não transmissí-veis, como o câncer, uma vez que o ob-jetivo da Fundação é ampliar suas ações

para além do campo de doenças infecci-osas. “A Fiocruz já tem extensa parceriacom o Instituto Nacional do Câncer (Inca)e seria interessante trabalharmos nessecampo também com a universidade”. Eleainda destacou que colaborações na áreade nanotecnologia e sua aplicação no de-senvolvimento de kits diagnósticos, me-dicamentos e vacinas também seriaválido. “Todo o ciclo de inovação na Fio-cruz se enriquece muito na cooperaçãocom esta universidade e isto terá rele-vante impacto no sistema de saúde bra-sileiro, pois tudo que fazemos naFundação é para o SUS”, acrescentou.

Também presente no encontro, odiretor do CDTS/Fiocruz, Carlos Morel,sugeriu que a cooperação entre as duasinstituições também seja voltada a estu-dos sobre dengue. “Como não há casosdessa doença lá, essa parceria daria aeles uma oportunidade de fazer um tra-balho de campo no Brasil, utilizando aFiocruz como um bom campo de traba-lho em conjunto”, disse. Ele tambémsalientou que a parceria pode contribuirpara reduzir a lacuna entre produção deconhecimento e inovação. “A produçãoem pesquisa fica restrita à publicação deteses e artigos, são raros os casos em queesse conhecimento é aproveitado e co-locado em prática. Não podemos focarsomente na produção de pesquisa e épreciso que eles explorem ao máximotodo o potencial que uma instituição tãoséria como a Fiocruz tem”, propôs.

Segundo a vice-presidente de En-sino, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Nísia Lima, a cooperação seráuma oportunidade de a Fundação organi-zar melhor sua participação no programaCiência Sem Fronteiras. “Temos que nosorganizar para termos uma participaçãomenos individualizada e mais institucio-nal, é importante que a ida dos estudan-tes da Fundação à Glasgow estejaassociada a um projeto de pesquisa”, dis-se. Em abril do ano que vem a Fiocruz e auniversidade vão promover um workshopcom pesquisadores de ambas instituiçõespara definir suas linhas de cooperação e opasso a passo da parceria.

“Esta convergência científica daUniversidade de Glasgow com a Fiocruzno campo da medicina molecular é im-portante para que possamos desenvol-ver parcerias produtivas para nossospesquisadores e estudantes e também ino-vadoras para o Brasil, principalmente notocante às doenças infeciosas e negligen-ciadas”, finalizou o coordenador técnicodo Cris/Fiocruz, José Roberto Ferreira.

O professor do Instituto Wellco-me Trust do Departamento deParasitologia Molecular e Doen-ças Negligenciadas da Universi-dade de Glasgow, Jeremy Mon-tram, em apresentação sobre auniversidade na Fundação. FotoPeter Ilicciev/CCS/Fiocruz

Fiocruz sela parceria com Universidade deGlasgow para a elaboração de projetos

RUniversidade de Glasgow

Fundada em 1451, a Univer-sidade de Glasgow é a quarta insti-tuição universitária mais antiga entrepaíses de língua inglesa no mundo.A universidade, que tem ampla atu-ação no desenvolvimento de pesqui-sas em diversas áreas,principalmente no campo de parasi-tologia molecular, oferece mais de900 cursos de graduação e acima de300 programas de pós-graduação emvariadas disciplinas. Seu Instituto deInfecção, Imunidade e Inflamaçãoconta com quatro centros de pesqui-sa que desenvolvem atividades nasáreas de imunologia e inflamação,parasitologia, bacteriologia e virolo-gia. Um de seus centros de pesquisamais conhecidos é o Wellcome TrustCentre for Molecular Parasitology(WTCMP), que estuda os processosbásicos (biologia e interações entrehospedeiro e vetor), as diferenças epropriedades dos parasitas causado-res da malária, tripanosoma, toxo-plasma e leishmaniose visando ocombate das doenças por eles cau-sadas, as quais acometem principal-mente países em desenvolvimento.

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Fiocruz vai ampliarparcerias emplataforma de acessoa medicamentos paradoenças negligenciadas

Danielle Monteiro - CCS

A Fiocruz é uma das integrantesdo consórcio mundial WIPO Re:Search,criado em 2011 pela Organização Mun-dial de Propriedade Intelectual (Ompi)para assegurar e ampliar o acesso emescala global a medicamentos para do-enças negligenciadas. A fim de identifi-car potenciais áreas de interesse mútuoe ações conjuntas no âmbito do consór-cio, o vice-presidente de Produção e Ino-vação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), JorgeBermudez, e membros do Cris/Fiocruz ede outras unidades da Fundação se reu-niram, no dia 14 de junho, com a diplo-mata da África do Sul e diretora deConhecimentos Tradicionais e Saúde Glo-bal da WIPO Re:Search, Konji Sebati. AVPPIS/Fiocruz é o ponto focal da rela-ção da Fundação com o consórcio.

O escopo do trabalho da WIPORe:Search está restrito a 17 doenças ne-gligenciadas - com inclusão de maláriae tuberculose - classificadas pela Organi-zação Mundial da Saúde (OMS). Duran-te a reunião a Fiocruz acordou em reverseu portfólio de inovação para averiguarquais produtos dispõe no campo dessasdoenças visando sua ampliação a outrospaíses; em verificar e ampliar as coope-rações que tem sido feitas no campo deprodução de vacinas; e em analisar pos-síveis parcerias que podem ser feitas noâmbito do programa Ciência sem Fron-teiras. Outra proposta é, juntamente coma TB Alliance – organização internacio-nal sem fins lucrativos que busca curas

perações com a Fundação nas áreas dee-health (práticas de cuidado em saú-de apoiadas pela comunicação e pro-cessos eletrônicos) em regiõesamazônicas; governança em saúde;prevenção e educação em saúde; pro-dução de vacinas; e no âmbito do pro-grama Ciência sem Fronteiras. “Vimosa importância crescente do Brasil emáreas diferentes inclusive na saúde. Sa-bemos que a Fiocruz tem uma qualida-de muito alta em pesquisa e nós temospesquisa médica de alta qualidade,além de um bom sistema de cuidado egovernança em saúde. A ideia é queambas as partes se beneficiem dessacooperação”, comentou Tina Vihma-Purovaara, do Ministério da Educaçãoe Cultura do país nórdico. “O objetivoda Fundação vai em direção aos nos-sos valores de sistema público de saú-de, que são a igualdade e a equidade”,acrescentou.

Tina comunicou que esse anoserá realizada uma reunião dos altosescalões dos Ministérios da Educaçãoe das Relações Exteriores na Finlândiapara a definição das linhas gerais ebases para futuras cooperações bilate-rais. Esse encontro poderá favorecer oestabelecimento de pontes com o Bra-sil, através da Fiocruz, atualmente res-tritas ao setor de governança em saúdeno âmbito do projeto EU – LAC Heal-th. Será ainda elaborado um relatóriocom as áreas e projetos de interessedo país nórdico que possam estar den-tro das potencialidades da Fiocruz. Apartir do documento, será programadoum workshop, que deve ser realizadoem outubro, já com as áreas e respon-sáveis definidos para aprofundar os pro-jetos de cooperação mútua.

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mais eficientes, rápidas e acessíveis paraa tuberculose - checar os medicamentospediátricos e de curto regime que têmsido desenvolvidos em conjunto voltadosà forma resistente da doença.

Além disso, a Fundação, por meiodo Cris/Fiocruz, se comprometeu emidentificar todas as cooperações que temcom países africanos, a fim de verificaras ações que podem ser ampliadas aoconsórcio, e ainda estreitar a relação coma Rede Africana para Inovação em Diag-nósticos e Medicamentos (Andi, na siglaem inglês), também integrante da plata-forma. Outra ideia seria verificar quais dos23 acordos estabelecidos entre institui-ções participantes da WIPO Re:Searchpoderiam contar com a participação daFiocruz como usuária da tecnologia deforma a ampliá-la não somente ao Brasilmas também a toda a América Latina.

A WIPO Re:Search pode eliminarpatentes ou outras formas de proteçãode medicamentos usados no combatea doenças negligenciadas e, com isso,facilitar o acesso ao tratamento paradoenças como tuberculose e malária.Única instituição brasileira convidadapela OMPI para integrar o consorcio, aFiocruz integra a iniciativa nas três cate-gorias: como provedor, usuário e apoia-dor, podendo assim conceder e utilizara tecnologia disponibilizada na platafor-ma. Segundo Bermudez, uma das gran-des contribuições prestadas pelaFundação no âmbito do consórcio foi aproposta de inclusão da tuberculose emalária no escopo de trabalho da plata-forma e a sugestão da participação nãosomente de países de baixa renda mastambém de média renda no consorcio.

Possibilidades decooperação cominstitutos de saúdee universidadesfinlandesas

Danielle Monteiro - CCS

Em encontro com membros doCris e de Bio-Manguinhos em 20 demaio, um grupo de representantes doMinistério da Educação e de institutosde ensino superior da Finlândia mos-traram interesse em desenvolver coo-

A representante do Ministério da Educa-ção e Cultura da Finlândia, Tina Vihma-Purovaara, e o diretor do Centro de Mobi-lidade Internacional, Samu Seitsalo, emencontro no Cris/Fiocruz. Foto Cris/Fiocruz

A diretora de Conhecimentos Tradicionais eSaúde Global da WIPO Re:Search, Konji Sebati,e o vice-presidente de Produção e Inovaçãoem Saúde, Jorge Bermudez. Foto Cris/Fiocruz

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Membros deuniversidadecolombiana sereúnem no Cris

Thiago Oliveira - Cris

O reitor José María Mejía e ocoordenador de Relações Internacionais,Juan Arroyale, da Universidade CES, daColômbia, visitaram a Fiocruz no dia24 de maio. Os visitantes foram recebi-dos no Cris pela coordenadora de pós-graduação da Vice Presidência deEnsino, Informação e Comunicação(VPEIC/Fiocruz), Cristina Guilam, coma presença de representantes do IOC/Fiocruz, a fim de estabelecer futurasparcerias na área de medicina tropicale epidemiologia, assim como intercâm-bio de estudantes.

Ambas as partes demonstraraminteresse em fortalecer o acordo já exis-tente entre as duas instituições. “A Fio-cruz é uma instituição de peso, commuito a agregar. Acredito que uma par-ceria com nossa universidade possa ge-rar benefícios para uma grande parcelada população”, garantiu Mejía. Além dointercâmbio, outras propostas sugeridaspelos participantes foram a promoção deuma oficina de trabalho para troca deconhecimento entre os pesquisadores euma linha de pesquisa sobre malária nafronteira entre Brasil e Colômbia.

A Universidade CES é uma or-ganização privada, sem fins lucrativos,que oferece cursos de graduação a ní-vel tecnológico e profissional em todasas áreas do conhecimento. Possui di-versos acordos com universidades dosEstados Unidos, Europa e América La-tina, oferecendo a estudantes e pes-quisadores oportunidades de programasde intercâmbio.

Akira Homma recebehomenagem dogoverno do Japão

O presidente do Conselho Políti-co e Estratégico de Bio-Manguinhos/Fi-ocruz, Akira Homma, recebeu, em 7de junho, no Consulado do Japão noRio de Janeiro, uma condecoração doMinistro dos Negócios Estrangeiros doJapão, Fumio Kishida, em “reconheci-mento à sua valiosa contribuição naampla apresentação e divulgação datecnologia médica japonesa ao Brasil,e no fortalecimento da capacitação tec-nológica na produção de vacinas”. AComenda Ordem do Sol Nascente, Rai-os de Ouro com Laço, como é chama-da a condecoração, simboliza ofortalecimento das relações entre os go-vernos brasileiro e japonês, por meiodas parcerias estabelecidas por Bio-Manguinhos e instituições daquele país,que contribuíram significativamente naerradicação da pólio e na redução doscasos de sarampo no Brasil. A cerimô-nia contou com presença do presiden-te da Fiocruz, Paulo Gadelha, o diretore vice-diretores de Bio, além de mem-bros da família Homma e alguns cola-boradores convidados pessoalmentepelo homenageado.

Fonte Bio-Manguinhos

Países da CPLPplanejam novas açõesde cooperação emsaúde

Danielle Monteiro – CCS

O Grupo Técnico em Saúde daComunidade dos Países de Língua Por-tuguesa (CPLP) se reuniu em Lisboa,Portugal, para avaliar a execução doPlano Estratégico de Cooperação emSaúde da CPLP (PECS CPLP). No en-contro, ocorrido em abril, os EstadosMembro acordaram em trabalhar parao fortalecimento da estrutura do PECS;fazer um levantamento de acordos naárea da saúde de cada país participantede forma a evitar sobreposição de ações;desenvolver os Centros Técnicos de Ins-talação e Manutenção de Equipamen-tos (CTIMES) junto aos ministérios dasaúde de Moçambique e Cabo Verdeaté o final desse ano; criar uma rede defaculdades de medicina; e trabalhar naárea de emergências de saúde públicacomo dengue e saúde dos viajantes.

Em palestra que ministrou duran-te a reunião, o coordenador do Cris/Fio-cruz, Paulo Buss, expôs os últimos grandeseventos vinculados aos preparativos dasNações Unidas para a elaboração de di-retrizes e recomendações para o desen-volvimento pós-2015. A partir daexposição, o grupo acordou em fazeruma reunião entre ministros da saúdesobre os Determinantes Sociais da Saú-de e a saúde na agenda do desenvolvi-mento pós-2015 por ocasião daAssembleia Mundial da Saúde que acon-tecerá em Genebra, Suíça. O grupo tam-bém pretende promover um seminárioonline sobre saúde ambiental e desen-volvimento sustentável. O relatório da reu-nião pode ser acessado em https://www.dropbox.com/s/1bzwdurl0irwrpd/NV_558_GSE_CPLP.pdf

Membros do Cris/Fiocruz emencontro com representantes daUniversidade CES. Foto Cris/Fiocruz

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Unicef divulgaseu informeanual

O tradicional informe anual doFundo das Nações Unidas para a Infân-cia (UNICEF) está disponível no site daorganização. Denominado State ofWorld Children 2013 (O estado das cri-anças no mundo), o documento é oprimeiro informe global dedicado a cri-anças com deficiência. O informe, quedefende a igualdade de direitos dessaparcela da população infantil, explicacomo países e sociedades podem pro-mover a inclusão social de crianças comdeficiências de forma que ambos sebeneficiem. O documento traz aindadados recentes no que diz respeito àdemografia, saúde, educação, proteçãoinfantil, HIV e Aids, além de indicado-res de disparidade e progresso.

Fonte: Unicef

Agenda doDesenvolvimentopós-2015

Danielle Monteiro - CCS

A Plenária de Alto Nível da Assem-bleia Geral sobre os Objetivos de Desen-volvimento do Milênio (ODM) preparoudocumento com propostas de objetivosde desenvolvimento sustentável que de-vem constar nos próximos ODM.

O documento será entregue aosecretário geral das Nações Unidas, BanKi-moon, durante a Assembleia Geraldas Nações Unidas, que vai acontecer

em setembro desse ano. O texto dis-corre sobre temáticas como desigual-dades; população; saúde; educação;crescimento econômico e emprego;conflito e fragilidade; governança; es-tabilidade ambiental; seguridade ali-mentar e nutrição.

A Fundação, por meio do Cris/Fiocruz, tem marcado presença em fó-runs internacionais de debate sobre ospróximos Objetivos de Desenvolvimen-to do Milênio. No começo do ano, ocoordenador do Cris/Fiocruz, Paulo Buss,elaborou um documento para subsidi-ar a posição do Brasil no que diz res-peito ao objetivo global que conviverácom (ou substituirá) os atuais três obje-tivos de saúde que constam nos ODM.A proposta foi apresentada em encon-tro ocorrido entre os Estados Membrono mês de março, em Botswana, naÁfrica. O documento pode ser acessa-do em http://www.post2015hlp.org/wp-c o n t e n t / u p l o a d s / 2 0 1 3 / 0 5 /UN-Report.pdf

FundaçãoHumboldtapresentaprogramas depós-doutoradoà Fundação

Thiago Oliveira - Cris

Estiveram reunidos no Cris/Fio-cruz, no dia 16 de maio, o secretáriogeral da Alexander von Humboldt Foun-dation (Fundação Humboldt), Dr. Tho-mas Hesse, e a diretora do Escritóriode Apoio da Fundação e do Centro Ale-

mão de Ciência e Inovação (DWIH, nasigla em alemão) em São Paulo, NoraJacobs. Na ocasião eles apresentaramao Cris , IOC e COC/Fiocruz a institui-ção alemã e mostraram seus progra-mas de bolsas de estudo parapesquisadores e cientistas pós douto-rados em universidades do país euro-peu.

Voltada para o entendimento uni-versal, a Fundação Humboldt, no seunovo formato pós-guerra em 1953, ori-entou seus recursos para um network in-ternacional de cooperação acadêmicacomposto hoje por mais de 25 mil “hum-boldtianos” em todo o mundo, que in-cluem 47 vencedores do Prêmio Nobel.O Brasil está entre os seis países prioritá-rios de atuação da instituição alemã, queconta com um budget anual de 112.5milhões de EUR, trabalhando com maisde 100 universidades na Alemanha. Se-gundo Hesse, a concessão das bolsas étotalmente dirigida para as pessoas e nãopara projetos, seguindo critérios de avali-ação baseados na excelência acadêmi-ca e voltada para todas as áreas doconhecimento humano.

ConferênciaInternacionalsobreComunicaçãoPública da Ciênciae Tecnologia

Com o tema Divulgação da Ci-ência para a inclusão social e o engaja-mento político, a próxima ConferênciaInternacional sobre Comunicação Públi-ca da Ciência e Tecnologia será realiza-da no Brasil. Organizado pela RedeInternacional PCST, o evento, que vaiacontecer em Salvador, Bahia, terácomo anfitriões brasileiros o Museu daVida da COC e o Laboratório de Estu-dos Avançados em Jornalismo, da Uni-versidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp). Interessados em participar daconferência podem enviar até o meio-dia de 1° de setembro de 2013 propos-tas de trabalho em divulgação científicae pesquisa sobre ciência e sociedade,jornalismo científico, museus de ciênciae engajamento público em ciência e tec-nologia. Mais informações em www.pcst-2014.org

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O Brasil está entre os seis paísesprioritários de atuação da instituiçãoalemã. Foto Fundação Humboldt

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Plataformacomum paramelhoria demedicamentos

A Anvisa e agências regulado-ras de todo o mundo se reuniram nestemês em Roma, Itália, para discutir aimplantação de uma plataforma co-mum entre os países para ações na áreade medicamentos. A proposta é me-lhorar os produtos disponíveis para apopulação e abrir novos mercados paraos produtos brasileiros. Segundo o di-retor-presidente da Anvisa, Dirceu Bar-bano, a globalização dos produtos naárea de saúde exige que as agênciasde todo o mundo trabalhem em con-junto para dar conta do crescimentodeste mercado tanto em volume comem complexidade dos produtos.

Fonte: Anvisa

Prêmio PéterMurányi 2014

Estão abertas as inscrições paraconcorrer ao Prêmio Péter Murányi. Ostrabalhos deverão ser indicados por umainstituição ligada à área e que faça par-te do Colégio Indicador. Cada institui-ção poderá indicar até dois trabalhos edeverá levar em conta os critérios doedital e formulário de participação doprêmio e ainda se o trabalho indicado érealmente inovador, tem aplicabilidadeprática e melhora a qualidade de vidadas pessoas situadas abaixo do paralelo20 de latitude norte. O envio dos traba-lhos indicados deve ser feito até 30 desetembro de 2013. A análise pela Co-missão Técnica e Júri será realizada emfevereiro de 2014 e a cerimônia de en-trega em abril do mesmo ano.

Clique aqui para baixar o editale formulário de participação do prêmio.

Fonte: Fundação Peter Murányi

Unasul ganhaespaço noConselhoExecutivo da OMS

A Assembleia Mundial da Saú-de (MAS) elegeu três países-membroda União das Nações Sul-Americanas(Unasul) para compor o Conselho Exe-cutivo da Organização Mundial da Saú-de (OMS). Com isso, Breasil, Argentinae Suriname vão ocupar até 2016 trêsdos seis lugares destinados à Rgeião dasAméricas. O total de 34 países integrao conselho, que tem a função de as-sessorar a AMS e ajudar na viabiliza-ção de suas resoluções. O representantedo Brasil será o secretário de Vigilânciaem Saúde, Jarbas Barbosa, tendo comosubstituto o coordenador da AssessoriaInternacional do Ministério da Saúde,Alberto Kleiman. A duração do man-dato é de três anos.

Fonte: Ministério da Saúde

Acesso aantirretroviraisna pauta deencontrointernacional

Foi realizado entre os dias 10 e12 de junho, em Brasília, um encontrointernacional que debateu os desafiosque os países de renda média enfren-tam para garantir o acesso aos medi-camentos antirretrovirais. Organizadopelo Departamento de DST, Aids eHepatites Virais do Ministério da Saú-de, o Programa Conjunto das NaçõesUnidas sobre HIV/Aids (Unaids), a Or-ganização Mundial da Saúde (OMS), aCentral Internacional de Compra deMedicamentos (Unitaid), a OrganizaçãoPan-Americana da Saúde (Opas) e aOrganização Internacional Pool de Pa-tentes de Medicamentos, a reunião teveo objetivo de compartilhar experiênci-as sobre a provisão de medicamentose discutir alternativas para promover aredução de preços nesses países.

A Consulta Técnica sobre aces-so aos antirretrovirais para países derenda média tem cerca de 90 repre-sentantes, de 20 países, para discutiros desafios da sustentabilidade de pro-gramas nacionais de tratamento da Aidsem todo o mundo. O vice-presidentede Produção e Inovação em Saúde (VP-PIS), Jorge Bermudez, a pesquisadorada vice, Marilena Corrêa, e as pesqui-sadoras no Núcleo de Assistência Far-macêutica (NAF) da Ensp, MariaAuxiliadora Oliveira e Gabriela CostaChaves, estiveram presentes como re-presentantes da Fiocruz.

Fonte: Ensp

Intercâmbiode médicosbrasileirose portugueses

Como parte do conjunto demedidas adotadas para enfrentar odéfice de médicos no Brasil, os gover-nos brasileiro e português estudammecanismos para promover o reconhe-cimento mútuo de diplomas de medi-cina, concedendo autorização para queprofissionais formados na universidadede um país possam atuar no outro. Oassunto foi discutido em reunião entreos ministros da Saúde do Brasil, Ale-xandre Padilha, e de Portugal, PauloMacedo, no dia 10 de junho, em Lis-boa. O Tratado de Amizade, Coopera-ção e Consulta, em vigor desde 2000,já incluía esse mecanismo, porém, nãotinha envolvimento direto dos Ministé-rios da Saúde. A ação foi adotada poroutros países de línguas semelhantespara estimular e facilitar o intercâmbiode profissionais, como Canadá e Esta-dos Unidos e países da União Europeia.

Fonte: Ministério da Saúde

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Curso de Atualizaçãoem Políticas Públicas deCooperaçãoInternacional em Saúde

O Núcleo de Estudos sobre Bio-ética e Diplomacia em Saúde (Nethis/UnB/Opas/Fiocruz) e a Fiocruz MatoGrosso do Sul ministrarão a segundaedição do Curso de Atualização em Po-líticas Públicas de Cooperação Interna-cional em Saúde em PerspectivaBioética. A capacitação será nos dias21, 22, 29 e 30 de outubro, em Cam-po Grande, Mato grosso do Sul. As ins-crições e outros detalhes do curso serãodivulgados em breve. O coordenadordo Cris/Fiocruz, Paulo Buss, dará aulasobre A Agenda Global do Desenvolvi-mento e a Cooperação em Saúde; e ocoordenador do Nethis, José Parana-guá, ministrará disciplina sobre os Pa-radoxos da Cooperação Internacionalcomo Desafios Bioéticos. Seis profes-sores ainda serão definidos pelo Nethise três pela Fiocruz MS.

Fonte: Nethis

Curso internacional nocampo de doençasinfecciosas

O Programa de Pós-GraduaçãoStricto Sensu de Pesquisa Clínica emDoenças Infecciosas (mestrado e dou-torado) do Ipec/Fiocruz está com inscri-ções abertas para o Curso Internacional“Molecular Methodologies for Epidemi-ology and Diagnosis of Systemic Myco-ses”. Realizado no âmbito do programaCiências Sem Fronteiras, o curso vaiacontecer em Campo Grande (MS) de12 a 15 de agosto de 2013. Ele serácoordenado por Wieland Meyer, pro-fessor e pesquisador da Universidadede Sydney, Austrália, na área de mico-logia, chefe do Laboratório de Micolo-gia Molecular e vice-presidente daInternational Society for Human andAnimal Mycology (ISHAM); e tambémpor Bodo Wanke, pesquisador titular edocente permanente do Programa dePós-Graduação Stricto Sensu de Pesqui-sa Clínica em Doenças Infecciosas doIpec/Fiocruz. Inscrições devem ser en-viadas por e-mail com CV Lattes [email protected] com có-pia para [email protected]

Fonte: Ipec/Fiocruz

Bolsas de pós-doutorado eminstitutos de pesquisanorte-americanos

A fim de fomentar projetos depós-doutorado em institutos e centrosnorte-americanos, o programa Ciênciasem Fronteiras e os Institutos Nacionaisde Saúde (NIH, na sigla em inglês) dosEstados Unidos abriram inscrições parainteressados em concorrer a bolsas parao desenvolvimento de pesquisas em bi-ociências e ciências da saúde na mo-dalidade Pós-Doutorado no Exterior(PDE). As propostas devem ser enca-minhadas ao Centro Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq/MCTI) por meio do site da insti-tuição, preenchendo o Formulário dePropostas On-line, disponível na Plata-forma Carlos Chagas. Para mais infor-mações clique aqui.

Projetos denanobiotecnologiacom o Japão

O CNPq lançou chamada para pro-jetos de nanobiotecnologia em parceriacom a Agência Japonesa de Ciência eTecnologia (JST). Serão oferecidas bolsas,com vigência máxima de 12 meses, nasmodalidades Doutorado Sanduíche noExterior (SWE), Pós-doutorado no Exterior(PDE), Desenvolvimento Tecnológico eInovação no Exterior Júnior (DEJ) e Sênior(DES). As temáticas contempladas são ali-mentação funcional, conversão de biomas-sa, microalgas e desagregação microbiana,biorremediação, biolixiviação, reabilitaçãoambiental e sensores nanobiotecnológicos,Biofármacos, Biomateriais e Biologia sin-tética. Confira aqui.

Fonte: CNPq

Chamadas públicaspara projetos de pesquisana área da saúde

Até o dia 22 de julho estão aber-tas inscrições para projetos de pesqui-sas na área da saúde financiados peloMinistério da Saúde por meio do Fun-do Setorial da Saúde. Quatro chama-das públicas foram lançadas pelo CNPqdestinadas a esses projetos. A Chama-da MCTI/CNPq/MS - SCTIE - Decit Nº07/2013 apoiará o desenvolvimento deprojetos sobre Práticas Integrativas e

Complementares (PICs) no SUS, consi-derando Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura; Homeopatia, Plantas Me-dicinais e Fitoterapia; e TermalismoSocial e Medicina Antroposófica.

A Chamada MCTI/CNPq/MS-SCTIE- Decit Nº 15/2013 selecionarápropostas de pesquisas que visem con-tribuir com a realização de ensaios clí-nicos e a consolidação de produtosestratégicos para o SUS; enquanto aChamada MCTI/CNPq/MS - SCTIE -Decit Nº 08/2013 será voltada a proje-tos de pesquisas científicas, tecnológi-cas e de inovação que ajudem nofortalecimento da capacidade nacionalda pesquisa em educação permanentee aquisição de novas tecnologias paradimensionamento da força de trabalhoem saúde no SUS. Já a Chamada MCTI/CNPq/MS- SCTIE- Decit Nº 06/2013apoiará projetos que visem contribuirpara o fortalecimento da capacidadenacional das pesquisas de avaliação detecnologias em saúde em eixos comoatenção primária; envelhecimento econdições crônicas; e monitoramentode tecnologias em saúde.

Fonte(s): CNPq

Chamada para projetosconjuntos com 12 países

O Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico(CNPq/MCTI) lançou a chamada pú-blica n° 17/2013 Cooperação Interna-cional – Acordos Bilaterais, queobjetiva apoiar projetos conjuntos com12 países da Europa, América do Sule Central e Caribe. Os países incluí-dos estão Alemanha, Argentina, Bél-gica, Colômbia, Costa Rica, Cuba,França, Itália, México, Portugal, Uru-guai e Peru. As propostas devem sercadastradas até o dia 17 de julho, naPlataforma Carlos Chagas, na páginado CNPq. A divulgação dos resultadosocorrerá a partir do mês de outubro eo início do apoio às propostas será apartir de novembro.

As bolsas concedidas terão du-ração máxima de 12 meses nas mo-dalidades doutorado sanduíche(SWE), pós-doutorado (PDE) e desen-volvimento tecnológico e inovaçãojúnior (DEJ) e sênior (DES), somentepara áreas contempladas no progra-ma Ciência sem Fronteiras (CsF).

Fonte: Ministério da Ciência Tec-nologia e Inovação (MCTI)

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OTAMIRES SILVAentrevista

leishmaniose é uma das doenças negligenciadas que mais afeta paísesem desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),são notificados por ano dois milhões de casos novos da enfermidade nomundo. E o Brasil não foge desse contexto: 90% dos casos registrados na

América Latina ocorrem no país, segundo dados do Ministério da Saúde. No Su-deste, a doença tem crescido e quase dobrou de 2000 a 2011; porém, as regiõesmais afetadas ainda são a Norte e Nordeste que, juntas, respondem pela maiorparte dos casos (71%, entre 1992 e 2011). Essa realidade vivenciada pelas regiõesbrasileiras motivou o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz-PE),em parceria com a Fundação Sanofi Espoir, a criar o Programa Multidisciplinar deSaúde, que tem como principal objetivo o combate à doença no país. A iniciativafaz parte do Programa Mundial de Acesso a Medicamentos do Grupo Sanofi.

Iniciado em 2003, o projeto conseguiu reduzir em cerca de 80% os casos deleishmaniose em cinco municípios do estado de Pernambuco. Em breve, a açãoserá levada ao Ceará, inicialmente aos municípios de Baturité e Pacoti, localizadosa cerca de 100 km de Fortaleza. Com a expansão do programa, os participantesesperam repetir o sucesso da iniciativa. A coordenadora e executora do projeto,Otamires Silva, contou ao Crisinforma como ele tem sido conduzido e falou sobresuas expectativas quanto à ampliação do programa a outras regiões brasileiras.

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Danielle Monteiro

Como surgiu a ideia de selar essaparceria com a Fundação Sanofi Espoirvoltada ao combate à leishmaniose?

Otamires: Desenvolvi minhatese de doutorado na Universidade Pier-re et Marie Curie e os trabalhos práticossobre leishmaniose foram desenvolvidosno Laboratório de Parasitologia do Hos-pital Pitié Salpêtrière, em Paris, ondepassei quatro anos. Fui indicada e apre-sentada pelo meu orientador de tese,Mr.Loic Monjour, ao grupo Sanofi paradesenvolver um projeto de pesquisa so-bre leishmanioses no Brasil. O projetode pesquisas inicial foi apresentado aocomitê em Paris, em 2003, sendo apro-vado e financiado por um ano com di-reito a ser renovado por mais outro. Oprojeto foi desenvolvido inicialmente nomunicípio de São Vicente Férrer e de-pois ampliado para mais quatro municí-pios: Macaparana, Goiana, Água Pretae Timbaúba. Todos na zona da mata dePernambuco, com casos humanos deleishmaniose tegumentar. O projeto depesquisas que teria uma duração de maisou menos dois anos teve uma duraçãode nove anos. De acordo com os resul-tados obtidos, me foi sugerido apresen-tar um projeto de pesquisas em outrasáreas, aplicando a mesma metodologia,

o mesmo modelo. E em junho de 2012,o projeto foi julgado entre 17 outros pro-jetos, sendo somente dois aprovados: onosso e outro da Índia.

Quais são os principais obje-tivos do programa?

Otamires: O projeto tem por ob-jetivo reforçar as capacidades locais emelhorar a saúde pública em particularnos domínios seguintes; a formação ereciclagem do pessoal da saúde alvo so-bre o conhecimento das doenças endê-micas da região; a educação sanitária; aavaliação da evolução e das modalida-des de transmissão das leishmanioses nomeio urbano e rural; o acompanhamen-to dos doentes antes, durante e após otratamento, notadamente por registrofotográfico através de testes de laborató-rio e das visitas domiciliares; e ações decontrole dos reservatórios de transmissão(cão doméstico – exames parasitológicodireto e sorológico) e de vetores de trans-missão (flebótomos).

Qual o papel de cada uma daspartes no programa? E por que aSanofi foi escolhida como parceira?

Otamires: A Fiocruz funcionacomo parceira operacional. A Funda-ção Sanofi Espoir é um grupo forte naárea de medicamentos. São eles quefabricam a Glucantime, medicação usa-da para tratamento da leishmaniose.

Cooperação com fundação francesa prometereduzir casos de leishmaniose no Brasil

Por isso a escolha. Além do mais, elesfinanciam nosso projeto de pesquisa.

O programa será estendido aalgumas regiões endêmicas no Ce-ará. Há previsão de ampliar essaação a outros estados do país?

Otamires: Sim, esperamos am-pliá-la. Vamos desenvolver o projeto depesquisas inicialmente em duas áreasendêmicas do Ceará: Baturité e Paco-ti, procurando aplicar o mesmo mode-lo utilizado nos cinco municípios dePernambuco. Durante o desenvolvimen-to do projeto nessas áreas seleciona-das, vamos analisar os resultados compretensão de expandir para outras áre-as já visitadas no Ceará. O importanteé chamar a atenção da população, sen-sibilizar os moradores, garantir o acom-panhamento próximo dos AgentesComunitários de Saúde (ACS) e Agen-tes de Combate às Endemias (ACE) ecriar um núcleo de capacitação de pro-fissionais de saúde para disseminar oconhecimento em outras regiões endê-micas.

Estão incluídas no programaações de combate ao mosquito? Sesim, de que forma isso será feito?

Otamires: Sim. Os flebótomos(vetores responsáveis por transmitir adoença) serão trabalhados nesse pro-grama, e vamos trabalhar em equipe.

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Em Baturité, já existe um laboratórioda antiga FUNASA com pessoal que jávem trabalhando com os vetores, alémde pesquisadores do estado do Cearáque lecionam nas universidades e de-senvolvem pesquisas com seus estudan-tes de mestrado e doutorado.

E que outras ações são con-templadas pelo programa?

Otamires: Como medidas pre-ventivas o programa visa os seguintespilares: melhoria no diagnóstico; capaci-tação de profissionais de saúde; e cam-panhas de alerta e sensibilização dapopulação. Para garantir o diagnóstico nosmunicípios e áreas vizinhas, o programaimplantará um laboratório de diagnósti-co sorológico e parasitológico humano eanimal. Outra iniciativa é o treinamentodos ACS, ACE e de profissionais da saú-de que trabalham nos Programas de Saú-de da Família (PSFs). Nas escolas, vamostrabalhar com os alunos, pois as crian-ças, como boas disseminadoras de infor-mação, também receberão orientações,auxiliadas por material de apoio para re-forçar a conscientização sobre a doença.A integração das autoridades públicas daregião nesse processo garantem incisiva-mente os efeitos do Programa Multidis-ciplinar de Leishmaniose.

Ainda como prevenção, indica-mos o uso de mosquiteiros (de malhafina), repelentes, assim como telas emportas e janelas das residências. E lim-par diariamente o entorno da casa, nãoacumular pedaços de madeira, garra-fas, pedras e restos de alimentos apo-drecidos, além de recolher o lixo emsacos plásticos, enterrar ou incinerar. Aosaber de alguma ocorrência de conta-minação na vizinhança, é preciso solici-tar a presença do ACE para aplicaçãode inseticida (Borrifação) nas áreas in-ternas e externas da casa. É preciso tam-bém acompanhar atentamente a saúdedo animal doméstico (cão), importantesreservatórios considerados membros dafamília. São medidas simples que aju-dam a evitar a proliferação do mosquito(flebótomo) e da contaminação.

Já foi dado início ao programano Ceará? Se sim, quais dessas açõesjá foram implantadas até agora?

Otamires: Sim, o programa já teveinício com o levantamento da estruturado sistema de saúde de cada localidadevisitada, com as prefeituras municipais esecretarias de saúde, conversando comtodo pessoal da área médica que faz par-te do Programa de Saúde da Família (mé-dicos, enfermeiros, Agentes Comunitáriosde Saúde e Agentes de Combate às En-

demias), observando as necessidades dasestruturas e de condições de trabalho noatendimento aos pacientes. Nestas visitas,observamos as necessidades (que, infeliz-mente, são muitas) relacionadas ao co-nhecimento da doença, diagnóstico,prevenção e tratamento. Finalmente, es-colhemos duas localidades para início dasatividades: Baturité e Pacoti.

Em maio deste ano, iniciamos acampanha do programa com a presençade autoridades nacionais e internacionais.Visitamos o Hospital São José, localizadoem Fortaleza e que serve de referênciaaos municípios; visitamos o laboratório daFunasa em Baturité, onde vamos implan-tar o laboratório de diagnóstico humanoe animal, anotando as deficiências de ma-teriais e de equipamentos; visitamos umaUnidade Básica de Saúde acompanhadapelo médico local realizando um dos di-agnósticos – Teste de Montenegro; dis-tribuímos alguns mosquiteiros nasresidências visitadas; e, no auditório lo-cal, reunimos todos os ACS e ACE dasduas localidades para distribuição de sa-colas que usarão durante as visitas domi-ciliares e camisas para uso diário.

A iniciativa conseguiu redu-zir em cerca de 80% os casos dadoença em cinco municípios daZona da Mata Norte em Pernambu-co. A que se deve essa conquista?

Otamires: A leishmaniose éuma doença negligenciada e um pro-blema de saúde pública que não é difí-cil de ser tratado. Priorizamos odiagnóstico específico para o encami-nhamento rápido dos pacientes ao tra-tamento e promovemos a formação dosprofissionais da saúde. A maior dificul-dade dos profissionais da saúde está re-lacionado ao diagnóstico da doença. Elatem cura, mas o tratamento dependedo diagnóstico rápido e específico. Ape-nas medicamento não é suficiente. Ogoverno brasileiro já faz um esforço gran-de de distribuir o medicamento, mas oprograma não envolve apenas um mé-dico ou um medicamento.

Quanto de redução no núme-ro de casos da enfermidade se espe-ra com a implantação do programano Ceará? Qual a previsão de térmi-no do programa no estado e quan-do vocês devem ter os resultados?

Otamires: Vamos tentar o máxi-mo de redução, iniciando nas duas áre-as. O projeto de pesquisa foi aprovadopara três anos. Estamos iniciando as ati-vidades práticas em julho. Ainda é muitocedo pensar em resultados para poder-mos comparar com nosso modelo.

Qual o grande desafio na lutacontra a leishmaniose no Brasil?

Otamires: São realmente mui-tos os desafios. Os principais desafiosestruturais são a formação dos ACS eACE; o transporte dos pacientes; o aces-so às regiões sem nenhuma estruturade intervenção; o seguimento dos paci-entes em tratamento; e o diagnósticoepidemiológico, clínico e laboratorial.

Há previsão de ampliação deparceria entre a Fiocruz Pernambucoe a Fundação Sanofi Espoir com focoem outras doenças negligenciadas?

Otamires: Acredito que sim eisso é importante. Quando realizamosa qualificação dos ACS e ACE chama-mos atenção para outras doenças en-dêmicas como doença de Chagas,dengue, esquistossomose, entre outras.

O que é leishmaniose?A leishmaniose é uma doença

crônica provocada por protozoários dogênero Leishmania. Existem duas for-mas da doença: a leishmaniose tegu-mentar americana e a leishmaniosevisceral. Esta última é caracterizadapor febre de longa duração, perda depeso, anemia, entre outras manifes-tações; e, quando não tratada, podelevar a óbito em mais de 90% doscasos. Anteriormente restrita a zonasrurais, a forma da doença tem se ex-pandido para áreas urbanas nos últi-mos anos, tornando-se um crescenteproblema de saúde pública não so-mente no país, mas também em ou-tros países das Américas. Atransmissão da leishmaniose visceralno Brasil se dá pela picada dos veto-res Lutzomyia longipalpis e Lutzomyiacruzi – espécies de flebotomíneos po-pularmente conhecidos como mosqui-to palha - infectados pela Leishmaniachagasi. Em áreas urbanas, a princi-pal fonte de infecção da forma dadoença é o cão. Já a leishmaniose te-gumentar americana se manifesta pormeio de úlceras na pele e mucosas,sendo transmitida pela picada das fê-meas de flebotomíneos infectadas. NoBrasil, são sete as espécies de leish-manias envolvidas na ocorrência decasos da forma da doença. Assimcomo na leishmaniose visceral, ani-mais domésticos como canídeos, felí-deos e equídeos estão entre oshospedeiros. O país é acometido pe-las duas formas da doença.

Fonte: Ministério da Saúde

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