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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA ALINE MARQUES COLARES CAMURÇA FISIOLOGIA DAS EMOÇÕES: OS TORCEDORES FANÁTICOS DE FUTEBOL CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

ALINE MARQUES COLARES CAMURÇA

FISIOLOGIA DAS EMOÇÕES: OS TORCEDORES FANÁTICOS DE FUTEBOL

CAMPINAS

2019

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ALINE MARQUES COLARES CAMURÇA

FISIOLOGIA DAS EMOÇÕES: OS TORCEDORES FANÁTICOS DE

FUTEBOL

Tese apresentada à faculdade de Educação Física da

Universidade Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para a obtenção do título de doutora

em Educação Física, na área de Educação Física e

Sociedade.

Orientadora: Profª. Drª. HELOISA HELENA BALDY DOS REIS

ESTE TRABALHO CORRESPONDE A

VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA

PELA ALUNA ALINE M. COLARES

CAMURÇA E ORIENTADA PELA PROFª.

DRª. HELOISA HELENA BALDY DOS REIS

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Educação Física

Dulce Inês Leocádio - CRB 8/4991

Colares-Camurça, Aline Marques, 1983-

C67f ColFisiologia das emoções : os torcedores fanáticos de futebol / Aline Marques

Colares Camurça. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

ColOrientador: Heloisa Helena Baldy dos Reis.

ColTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de

Educação Física.

Col1. Fisiologia. 2. Emoções. 3. Futebol-Torcedores. I. Reis, Heloisa Helena

Baldy dos. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação

Física. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Physiology emotions : the fanatic fans of football Palavras-

chave em inglês:

Physiology

Emotions

Football-Fans

Área de concentração: Educação Física e Sociedade

Titulação: Doutora em Educação Física Banca

examinadora:

Heloisa Helena Baldy dos Reis [Orientador]

Carlos José Martins

Jose Irineu Gorla

Mariana Zuaneti Martins

Ricardo de Figueiredo Lucena

Data de defesa: 03-07-2019

Programa de Pós-Graduação: Educação Física

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-9825-1307 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/1488826961133851

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COMISSÃO EXAMINADORA

Profa. Dra. Heloisa Helena Baldy dos Reis

Orientadora

Prof. Dr. Carlos José Martins

Prof. Dr. Jose Irineu Gorla

Profa. Dra. Mariana Zuaneti Martins

Prof. Dr. Ricardo de Figueiredo Lucena

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade

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Dedico este trabalho às entidades de luz

guardiãs do mundo e àquelas que me guardam

e me regem, sem elas nada disso seria possível.

Dedico também à professora Heloisa Reis.

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AGRADECIMENTOS

No meu primeiro dia de aula no doutorado da Unicamp, eu conheci um indivíduo, também

estudante de doutorado da Educação Física, filho de militar que me disse o seguinte: “Os

estudantes de humanas estudam o sexo dos anjos, eu gostaria de transferir o meu cérebro para

um chip e viver eternamente como máquina, os homens de ‘barbona’ e as mulheres de ‘saiona’

não fazem “ciência.” Eu estava de ‘saiona’. Naquele momento eu não acreditei que tinha saído

da minha terra natal, viajado mais de 3 mil km e transformado minha vida para produzir

conhecimento com este tipo de vertente. Semanas depois, em minha primeira reunião discente

eu ouvi o então representante discente defender a exclusão da área de humanas do programa de

pós-graduação da Educação Física da Unicamp. Mais uma vez eu fiquei perplexa. Até que, ao

trabalhar com a seleção brasileira de basquetebol feminino eu ouvi: “Se você quer ganhar

olimpíadas, esqueça que são humanas.” Tudo isso foi se juntando dentro de mim como uma

bomba propulsora para me afastar desse lugar. Eu não faço ciência para máquinas, eu não trato

estudantes como clientes, tampouco quero integrar o universo da ciência que tem como

prioridade o artigo científico e a unificação massificada dos pensamentos. Porém, eu só tenho

a agradecer a essas pessoas e a essas situações. Sem elas eu não estaria onde estou agora, não

voaria para Bélgica para apresentar este tema de forma inédita. Não teria a consciência da

resistência ativa que é necessária dentro do meio acadêmico. Não teria encontrado e sido

acolhida pela professora Drª. Heloisa Reis. De longe, a melhor orientadora que já conheci. A

mais humana, a mais excluída, a mais resistente. Professora, a você eu agradeço imensamente.

É uma grande honra apresentar este trabalho com você como suporte.

Agradeço a minha esposa, Aline Marques, por cada gota de amor que você me ensina a

experienciar, pelos aprendizados em conjunto, pela jovem família que iniciamos, pela

esperança de tempos melhores que compartilhamos a cada troca afetiva de olhares, pelo mundo

que vamos descobrir juntas. Você é meu quartzo rosa do reino animal.

Agradeço a minha mãe de sangue, Maria Paz Colares, por todo apoio e ensinamentos nem

sempre fáceis, assim como por todas as batalhas compartilhadas.

Agradeço ao meu pai, André Camurça, pela nossa trajetória.

Aos meus irmãos de sangue, Arturo Emanuel, Alessandra Russo, Audrey Miranda e André

Camurça Filho, por existirem.

Agradeço a minha mãe de santo, Tatiana Rocha, por todas as conversas, pelo amor gratuito,

pela firmeza e caridade.

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Agradeço a amiga e madrinha de casamento, Elaine Bezerra, por ter me mostrado o lado bom

da Unicamp e por todo o mais que nós vivemos.

Agradeço à Luciana Bittencourt, ao Fernando Rosch e ao Ivan Bonfante pela simpatia, atenção

e disponibilidade. Ciência não se faz sozinha.

Agradeço a professora Claudia Cavaglieri por sempre me receber de forma harmônica e pela

grande contribuição na qualificação deste projeto.

Ao professor José Irineu Gorla e a professora Mariana Zuaneti Martins pelo apoio e pelas

intervenções sempre engrandecedoras.

Agradeço a Simone Malfatti pela disponibilidade de sempre.

Agradeço a cada um dos fanáticos torcedores do Corinthians voluntários dessa pesquisa.

Agradeço a Karime Ribeiro e a Barbara Germano pela ajuda fraternal.

Agradeço aos meus afetos e desafetos, todas (os) essenciais ao meu desenvolvimento pessoal e

científico.

Agradeço ao Terreiro de Umbanda Mãe de Deus e cada um (a) dos seus/suas componentes por

ser minha segunda casa, segunda família e por me ensinar muito mais do que posso explicar.

Principalmente agradeço a todas as divindades que se empenham em emanar luz para as nossas

mentes ainda tão jovens e errantes.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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“Emancipe-se da escravidão mental. Ninguém

além de nós mesmos pode fazer isso.”

Robert Nesta Marley

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RESUMO

O futebol foi aceito e transformado em paixão mundial parte por ações estratégicas, parte pelo

seu perfil de dinâmica de tensões capaz de cativar a quem assiste. O torcedor fanático de futebol

vive esta experiencia identitária de uma forma muito mais explicita. Ele se entrega a esta

emoção! A experiência emocional pode significar uma representação cognitiva de estados

globais do organismo, compostos por cadeias de sinalização central e periférica, específicas

para cada tipo e grau de emoção (Ledoux, 2012). Assim, Nossa pesquisa se propôs a iniciar os

estudos sobre a fisiologia das emoções no esporte. Convidamos 6 fanáticos pelo Corinthians,

com idade média de 30 anos (± 7,8) a assistir, pela televisão, ao jogo da final do campeonato

Paulista de futebol 2018 disputado em 8 de abril de 2018 (n=3) e a 24ª rodada (segundo turno)

do brasileirão 2018, disputado em 9 de setembro de 2018 (n=3); ambos aos domingos às 16h,

contra a Sociedade Esportiva Palmeiras. Os jogos foram assistidos em uma sala exclusivamente

preparada para este fim, com temperatura controlada entre 22 e 25ºC, sem ingestão de alimentos

durante o período da partida e com ingestão a vontade de água. Houve coleta de cortisol salivar,

Glicose e PA em cinco momentos do dia do jogo (CF) e de um dia rotineiro (CR). Além disso,

quarenta e cinco minutos antes do início do certame, os voluntários foram convidados a

responder dois inventários (BECK, 1988) sobre presença/ níveis/ ausência de ansiedade e

depressão. Trinta minutos antes da partida foram equipados com o medidor de frequência

cardíaca firstbeat SPORTS team 4.6 performance monitoring system® (Firstbeat techinologies).

A única emoção auto relatada de forma unânime foi a felicidade ao ganhar uma partida.

Relacionados a esta emoção (final do paulistão) foram encontrados, um pico de FC que atingiu

68%, 72% e 86% da frequência cardíaca máxima individual e uma elevação média da

concentração de cortisol salivar para 4.47 ng/mL ao término do jogo. As emoções associadas a

perder um jogo (24ª rodada brasileirão), foram: tristeza, ficar bravo, piorar o dia e o humor.

Nesta experiência emocional, a FC dos voluntários não alcançou 50% da máxima em nenhum

momento e a concentração de cortisol salivar no final do jogo foi de 1 ng/mL. O comportamento

da FC se apresentou muito peculiar entre os jogos, assim como nas ações de cada jogo. Mesmo

quando o tipo de emoção auto relatada se deu de forma análoga, como a felicidade de ganhar

uma partida e a felicidade de ver um gol do Corinthians, o controle da FC diferiu enormemente

em cada situação (média de 75% e 66% da frequência cardíaca máxima, respectivamente).

Desta maneira, este estudo ratifica a hipótese de que, embora seja relatado o mesmo significado

cognitivo para uma emoção, ela se expressa fisiologicamente em dimensões de ativação e

controle distintas. Além disso, sugere que vitórias, derrotas e o contexto específico de cada

jogo, regulam o comportamento fisiológico dos marcadores periféricos avaliados de maneira

particular. Corroborando, assim com a hipótese de Elias e Dunning (1992).

Palavras-chaves: Fisiologia; Emoções; Futebol; Torcedores; Fanáticos.

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ABSTRACT

Football has been accepted and converted into world passion, some by strategic actions some

by the attractive tension dynamics. The fanatics fans live this identity experience in a much

more explicitly way, he hands in to this emotion! The emotional experience can mean a

cognitive representation of global organic states, build by specifics central and peripherical

signalizing pathways according to the emotional type and degree (LEDOUX, 2012). Thus, our

search is to start the study in sport´s emotion physiology. We invited 6 Corinthians fanatics fans

to watch, on TV, the final of 2018 Paulista championship, which happened on April 8 and a

Brazilian championship 24º round, which happened on September 9 of the same year. The

games were seen in a specific room, with controlled temperature between 22ºc and 25ºc, without

eating during the game time and water ad libitum. There was salivary cortisol, glucose and

arterial pressure data collect at five time points at a game day and a routine day. Furthermore,

forty-five minutes before the game starts, the volunteers answered a depression and anxiety

inventory (BECK, 1988). Thirty minutes before the game starts, they were equipped with a

heart rate monitor first beat sports team 4.6 performance monitoring system® (first beat

technologies). The only unanimous self-reported emotion was winning a game happiness (the

final of 2018 Paulista championship). Related to this emotion we found a HR individual pick

of 68%, 72% e 86% of maximum heart rate and a cortisol media levels increase to 4.47 ng/ml

at the end of the match. Associated emotions to a lost game (Brazilian championship 24º round)

were sadness, being angry and get worse the day and humor. In this emotional experience, heart

rate didn’t reach 50%HRmax and salivary cortisol concentration was 1 ng/mL. Heart rate

behavior was very singular at all time points including game actions and collect data day. Even

when same emotion was described, as the happiness of winning a game and the happiness of

seeing Corinthians score a goal, heart rate behavior was extremely different between those

situations (75% and 66% respectively HR mean). this research emphasizes the hypotheses that

even the same emotion´s cognitive significance was reported; the organic global state expressed

its different in levels of activation and regulation. Furthermore, we suggest that winnings,

losings and the specific game context regulate the peripherical markers of physiological

behavior analyzed in this research in a particular way as it was said by Elias and Dunning

(1992).

Keywords: Physiology; Emotions; Football; Fans; Fanatics.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Popularidade do futebol ......................................................................................... 24

Figura 2 - 1ª Transmissão ao vivo pela TV ............................................................................. 41

Figura 3A - Identidade clubística ........................................................................................... 45

Figura 3B - “Nosso grupo, grupo deles.” ................................................................................ 45

Figura 4 - A excitação do torcer .............................................................................................. 47

Figura 5 - Caracterização dos torcedores ................................................................................ 50

Figura 6 - Torcedores fanáticos .............................................................................................. 50

Figura 7 - Teoria dos sistemas emocionais organizados em rede ........................................... 55

Figura 8 - Anatomia do sistema límbico ................................................................................. 57

Figura 9 - Via de sinalização da Síndrome de Adaptação Geral – SAG ................................ 59

Figura 10 - Representação do Sistema Nervoso Autônomo em suas vias efetoras simpáticas e

parassimpáticas ....................................................................................................................... 60

Figura 11 – Circuitos de sobrevivência ................................................................................... 63

Figura 12 - Estados globais do organismo .............................................................................. 64

Figura 13 - Gráfico representativo do comportamento da Pressão Arterial ........................... 84

Figura 14 - Comportamento da glicose sérica ........................................................................ 86

Figura 15 A – Análise do cortisol na final do campeonato paulista ....................................... 87

Figura 15 B – Análise do cortisol na 24ª rodada do campeonato brasileiro ........................... 88

Figura 15 C - Cortisol e a comparação entre os dois jogos ..................................................... 89

Figura 16 - Comportamento da frequência cardíaca média durante a vitória ......................... 90

Figura 17 - Comportamento da frequência cardíaca média durante a derrota ........................ 91

Figura 18 - Comparação da média da frequência cardíaca entre vitória e derrota .................. 91

Figura 19 A - Frequência cardíaca de repouso CF (final do campeonato paulista) ................ 92

Figura 19 B - Frequência cardíaca de repouso CR (final do campeonato paulista) ................ 92

Figura 20 A - Frequência cardíaca de repouso CF (24ª rodada do campeonato brasileiro) ... 93

Figura 20 B - Frequência cardíaca de repouso CR (24ª rodada do campeonato brasileiro) ... 93

Figura 21 A - FC durante o gol do Corinthians (tempo regulamentar) ................................... 94

Figura 21 B - FC controle gol do Corinthians (tempo regulamentar) ..................................... 95

Figura 22 A - FC oportunidade de gol perdida (1ª) ................................................................ 96

Figura 22 B - FC controle oportunidade de gol perdida (1ª) .................................................. 96

Figura 23 A - FC oportunidade de gol perdida (2ª) ................................................................ 97

Figura 23 B - FC controle oportunidade de gol perdida (2ª) .................................................. 97

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Figura 24 A - FC oportunidade de gol perdida (3ª) ................................................................ 98

Figura 24 B - FC controle oportunidade de gol perdida (3ª) .................................................. 98

Figura 25 A - Comportamento da FC primeiro pênalti ......................................................... 100

Figura 25 B - FC controle primeiro pênalti ........................................................................... 100

Figura 26 A - Comportamento da FC quinto pênalti ............................................................ 101

Figura 26 B - FC controle quinto pênalti .............................................................................. 101

Figura 27 A - Comportamento FC sexto pênalti ................................................................... 102

Figura 27 B - FC controle sexto pênalti ................................................................................ 102

Figura 28 A - Comportamento FC oitavo pênalti ................................................................. 103

Figura 28 B - FC controle oitavo pênalti .............................................................................. 103

Figura 29 A - Comportamento FC no último pênalti e vitória corintiana ............................. 104

Figura 29 B - FC controle no último pênalti e vitória corintiana .......................................... 104

Figura 30 A - Comportamento FC frente ao gol sofrido pelo Corinthians ........................... 105

Figura 30 B - FC controle frente ao gol sofrido pelo Corinthians ........................................ 106

Figura 31 A - Comemoração da vitória pelos voluntários da final do paulistão .................. 106

Figura 31 B - Final do jogo da 24ª rodada do brasileirão ..................................................... 106

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resumo do delineamento experimental ................................................................. 71

Tabela 2 - Depoimento dos voluntários acerca das suas percepções cognitivas de um estado

orgânico. Emoção autodeclarada ............................................................................................ 79

Tabela 3 - Comportamento da pressão arterial ao longo de cada dia de coleta ...................... 83

Tabela 4 - Níveis séricos de glicose ao longo de ambos os dias de coleta ............................. 85

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACTH Hormônio Adrenocorticotrófico

ANATORG Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil

ANOVA Análise de Variância

BAI Inventário de Ansiedade de Beck

BDI Inventário de Depressão de Beck

CBF Confederação Brasileira de Futebol

CF Coleta Futebol

CND Conselho Nacional de Desporto

CR Coleta Rotineira

CRH Hormônio Liberador de Corticotrofina

ELISA Ensaio de Imunoabsorção Enzimática

FA Football Association

FC Frequência Cardíaca

FCmáx. Frequência Cardíaca máxima

FIFA Federação Internacional de Futebol

HHA Hipotálamo - Hipófise - Adrenal

PA Pressão Arterial

SAG Síndrome de Adaptação Geral

SCCP Sport Clube Corinthians Paulista

SN Sistema Nervoso

SNA Sistema Nervoso Autônomo

SNC Sistema Nervoso Central

SNS Sistema Nervoso Simpático

TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido

TO Torcida Organizada

USB Universal Serial Bus

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 17

CAPÍTULO I - Futebol, os contextos sociais, e os vínculos clubísticos ................................. 23

Enquanto isso no Brasil... ..................................................................................................... 30

O SCPP e a ascensão do futebol em São Paulo .....................................................................37

CAPÍTULO II - Os torcedores fanáticos de futebol e a fisiologia das emoções no futebol ... 46

Mas afinal, o que é emoção? E como é sua fisiologia na literatura? ................................... 51

CAPÍTULO III - Método da pesquisa de campo, análise dos dados, resultados e discussão . 67

População da Pesquisa ......................................................................................................... 70

Instrumentos para coleta de dados ....................................................................................... 71

Questionário para caracterização socioeconômico e do significado de torcer... .................. 71

Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) .............................................................................. 72

Inventário de Depressão de Beck (BDI-I) ............................................................................ 72

Aferição da Pressão Arterial (PA) ........................................................................................ 73

Coleta de Glicose e Cortisol Salivar ..................................................................................... 73

Aferição da Frequência Cardíaca (FC) ................................................................................. 74

Relação da FC com as ações dos jogos ................................................................................. 74

Análise de Dados .................................................................................................................. 75

Resultado e Discussão ........................................................................................................... 75

Caracterização Socioeconômica da População da Pesquisa e Significado de Torcer .......... 75

Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e Inventário de Depressão de Beck (BDI-I) ......... 80

Análise do Comportamento de Marcadores Bioquímicos Periféricos .................................. 82

Pressão Arterial ..................................................................................................................... 83

Glicose Sérica ....................................................................................................................... 85

Cortisol Salivar .................................................................................................................... 86

Frequência Cardíaca ............................................................................................................. 89

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 108

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 110

ANEXOS ............................................................................................................................... 118

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17

INTRODUÇÃO

A copa do mundo de futebol que aconteceu em junho e julho de 2018 transformou

aproximadamente 3 milhões de pessoas ao redor do mundo em espectadores de futebol (Os

números por trás da Copa do Mundo FIFA 2018. Disponível em:

<https://forbes.uol.com.br/negocios/2018/06/os-numeros-por-tras-da-copa-do-mundo-fifa-

2018/>. Acesso em: 11 ago. 2018.) que se deslocaram de suas casas para os 12 estádios,

reformados ou recém construídos, em regiões da Rússia Europeia e Asiática, durante todo o

torneio que durou 31 dias. No Brasil, a média de público pagante nos estádios durante o

campeonato brasileiro do mesmo ano foi de aproximadamente 18 mil espectadores por jogo, a

maior desde 1987. Um dos maiores clubes de futebol brasileiro, o Sport Club Corinthians

Paulista, apenas em 2018, teve a média de 31,5 mil pagantes em seus jogos; Arrecadou em

torno de R$ 59,3 milhões em vendas de ingressos, ficando atrás apenas do seu “arquirrival”

Palmeiras, também de São Paulo, que arrecadou cerca de R$ 79 milhões de reais, com a média

de ingresso mais caro do campeonato - R$ 67,00. Em 2017 no Brasil, havia cerca de 662 times

de futebol profissional filiados às federações de seus estados e à CBF, porém apenas 128 podem

fazer parte do ranking oficial brasileiro e participam de campeonatos anuais, com certa

visibilidade. Além disso, o futebol brasileiro conta com mais de 100 torcidas organizadas

associadas à Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil – ANATORG (Ação no

Congresso Nacional. Disponível em: <https://anatorg.com.br/x/acao-no-congresso-nacional/>.

Acesso em: 05 set. 2018).

Esse impressionante demonstrativo numérico relacionado a torcedores, jogos e

campeonatos futebolísticos em âmbitos nacional e internacional, exemplifica como o futebol é

hoje o esporte mais consumido em todo o mundo. Jornais, revistas, redes sociais, indivíduos

em conversas presenciais informais favorecem e amplificam a comunicação que envolve esta

modalidade esportiva, denominada por Eco (1984) como falação esportiva. A rede de

comunicação televisiva, que utiliza o processo simbólico existente no futebol e sua crescente

transformação em mercadoria1 para contribuir com uma visão fragmentada dos aspectos

constituintes do futebol e, ultimamente a rede mundial de computadores (internet), detém

grande parte das transmissões futebolísticas gerando em si um universo mercadológico quase

autônomo em torno da bola, das quatro linhas e de quem assiste ao futebol espetáculo

contemporâneo.

1Sobre a Mercadorização do futebol ver Martins (2017).

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18

O futebol sistematizado e regulamentado surgiu oficialmente na Inglaterra no século

XIX como prática característica das escolas públicas inglesas no plano de formação de

cavalheiros cristãos aptos a cumprir o seu papel na administração e expansão do império

britânico. Este esporte foi exportado para diversos países e aportou no Brasil oficialmente por

volta de 1878 com um jovem descendente de ingleses chamado Charles Miller. A partir de

então a incorporação da sua prática na cultura nacional quase o afirma como propriedade

brasileira. O século XX no país foi o século do futebol e para além de uma paixão, o futebol é

um elemento indissociável da história brasileira recente. Sua prática exacerbada indica acima

de tudo que o povo brasileiro foi moldado para o futebol e que não só o futebol nacional é o

maior e melhor do mundo, como a população brasileira é a que mais entende deste esporte.

Afinal o Brasil é “A pátria de chuteiras”.

Perante a Educação Física, parece que passa despercebido que o marco temporal da

modernidade alterou estruturas de organização social responsáveis por determinar não só as

práticas corporais contemporâneas, mas em sobremaneira as experiências emocionais

vivenciadas pelos seres humanos. Segundo Elias (2011), o ser humano ocidental nem sempre

se portou como se observa na contemporaneidade. A civilização em que vivemos e que

aparentemente nos foi dada irretocavelmente acabada, chega a nós sem que perguntemos como

ela passou a ser nossa posse, nosso costume diário, nossa norma social.

Através de uma viajem no tempo, Elias (2011) nos convida a observar uma série de

figurações desenvolvidas a longo prazo, sem necessariamente uma direção definida, que indica

uma transição do período medieval para a modernidade, responsáveis por estabelecer a estrutura

social que conhecemos hoje em dia e que nos parece tão familiar. Neste contexto, o padrão de

comportamento humano, em atividades elementares, mudou lentamente a forma como os

indivíduos comportam-se e sentem.

A teoria do processo civilizatório tem como diretrizes dois aspectos distintos,

interligados e interdependentes entre si. O primeiro engloba o refinamento das boas maneiras e

dos comportamentos exigidos, assim como o autocontrole emocional no ambiente público em

favor das auto restrições, em prol de um convívio social ‘adequado’. O segundo, evidencia o

aumento das cadeias de interdependência, além de uma pacificação gradual mediada pela

construção e estabilização dos Estados, que tem como forma de governo a tributação e o

monopólio da violência (ELIAS, 2011).

O pensamento de Elias (2011) expõe que imposições externas para o controle social e

individual de atos violentos, assim como a assimilação destas normas sociais por cada pessoa,

são imprescindíveis para o processo histórico de complexificação das sociedades. Existe, neste

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roteiro, um papel fundamental dos sentimentos de vergonha, delicadeza e culpa, do modo como

a sociedade exige e proíbe. Dos padrões de desagrado e medo socialmente instilados. Neste

sentido, Dunnig (2014), explica que a teoria do processo civilizatório nega o paradigma no qual

os humanos são seres racionais acima da natureza e solitários em relação uns aos outros. Em

contrapartida propõe o entendimento de que os seres humanos são uma espécie animal criadora

de símbolos, dependentes da linguagem, que, comparados a outras espécies, dependem menos

de instintos e mais da transmissão intergeracional de experiências aprendidas. Além disso, os

indivíduos são interligados de forma interdependente, concretizando assim figurações

dinâmicas entre si, constituintes do fato biossocial da vida.

Essas figurações não são apenas amontoados de átomos individuais. As ações de uma

pluralidade de pessoas interdependentes formam propriedades tais como as relações de força,

tensão, sistemas de classe, estratificação, guerras e os esportes (ELIAS, DUNNING, 1992).

No decorrer do século XVIII o conceito de esporte associou-se ao divertimento da

aristocracia e da pequena nobreza bretã, realizado durante o tempo livre. Já no século XIX,

representantes ingleses das classes médias industriais, empresariais e profissionais em

ascensão, passaram a reivindicar a possibilidade de executar este tipo de divertimento e

implementaram as formas mais reguladas da competição atlética (DUNNING, 2014). Assim, o

esporte em qualquer modalidade, refere-se a uma atividade de grupo organizada baseada no

confronto entre duas ou mais partes, que se encontram entrelaçadas de maneira sutil, com

formas de interdependência e cooperação, com regras conhecidas que definem o nível de

violência permitida, capazes de promover o sentimento de “nosso grupo e grupo deles (as)”.

Esta figuração de indivíduos não só facilita as tensões, como também as restringe, o que

gera “grupos de tensão controlada”. A excitação proporcionada pelas atividades esportivas é

dinamizada por meio de criação de tensões que imitam situações de vida cotidiana, porém sem

a presença de um perigo real. Sua manifestação pode ser mais agradável quando compartilhada

com outras pessoas, tendo em vista que os seres humanos têm menos oportunidades de

manifestarem sentimentos intensos em coletividade principalmente nas sociedades mais

desenvolvidas. Ademais, a excitação agradável ativada pela ocupação do tempo livre com

atividades esportivas e a expressão emocional vivenciada nestes espaços, podem ser

consideradas como uma maneira de libertação das tensões cotidianas, preconizando o

enfrentamento com êxito da rotina maçante das sociedades industrializadas e como um

ambiente de produção de tensões específicas que carecem de investigação (ELIAS, DUNNING,

1992).

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Até os dias de hoje o quadro fisiológico da excitação central e periférica foi estudado

quase inteiramente a propósito da fome, do medo, da raiva e, em geral, como uma reação

específica ao perigo súbito. Porém, o que realmente sabemos sobre a síndrome da excitação

associada ao prazer esportivo? Sobre a excitação espontânea e elementar que provavelmente

tem sido inimiga da vida ordeira ao longo da história humana, o tempero de todas as satisfações

próprias dos divertimentos (ELIAS, DUNNIG 1992).

Para realização desta investigação nos “apropriamos” de uma parte bem definida das

obras de Norbert Elias e Eric Dunnig: O processo civilizador (ELIAS, 2011), Sociologia dos

esportes e os processos civilizatórios (DUNNING, 2014) e A busca pela excitação (ELIAS,

DUNNIG, 1992). Assim como uma gama de estudos fisiológicos acerca das emoções

(CANNON, 1927; PAPEZ, 1937; SELYE, 1950; LeDOUX, 2012). Essa escolha nos

proporcionou uma apreciação teórica sobre o processo civilizatório no ocidente, como este

processo interfere na necessidade de lazer e as formas de concretiza-lo, além de ter nos

fornecido o conhecimento de como os estímulos excitatórios desencadeiam respostas orgânicas

especificas, afim de associar uma emoção percebida e auto relatada, a um estado orgânico

representado por marcadores fisiológicos periféricos.

O complexo contexto esportivo quando utilizado como ambiente de coleta de dados na

exploração das relações sociais, tais como competição, conflitos, pertencimento e harmonia,

nos induz a enxergar uma pluralidade de conhecimentos indissociáveis presentes na

constituição humana orgânica-social. A teoria multidisciplinar das emoções a que Elias e

Dunning (1992) se referem, nos incita a identificar o significado do esporte em suas esferas

sociais, psicológicas e fisiológicas, no que diz respeito a busca pelo prazer para a quebra da

rotina, através de um conflito simulado chamado futebol.

O inquérito sobre a estrutura dos fatos que desencadeiam satisfação máxima e mínima,

em associação à dinâmica individual que conduz a um maior ou um menor prazer na

participação dos indivíduos como espectadores futebolísticos, fornece o critério para encontrar

quais e de quais modos os aspectos fisiológicos de prazer e excitação são diferentes perante

jogos de nível ótimo e aqueles que estão no limite oposto da escala (ELIAS, DUNNING, 1992).

“Existem poucos lugares onde o ser humano pode alcançar um estado de excitação

emocional com a própria química do corpo, obtendo as misturas de adrenalina,

endorfinas e catecolaminas.” (BREIVIK,2010 p. 1)

Ao perceber, conscientemente ou não, um estímulo excitatório, também chamado de

estímulo estressor, o ser humano avalia o significado e a relevância deste fenômeno de acordo

com seu contexto, experiencias passadas e cadeias de sinalização especificamente ativadas,

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promovendo assim um significado cognitivo a este estado global do organismo, sendo então

capaz de auto relatar uma emoção associada (DEAK, 2011; LeDOUX, 2012b).

Um estímulo considerado estressor é usualmente definido como um estado real ou

percebido de ameaça a homeostase, ou seja, aquele capaz de desencadear um conjunto de

repostas, mentais, psicológicas e/ou comportamentais, relacionadas com mudanças fisiológicas,

que acabam resultando em hiperfunção da glândula adrenal e do sistema nervoso autônomo

simpático. Esta vasta associação de respostas é conhecida como resposta ao estresse. Neste

mecanismo, o fator liberador de corticotrofina desempenha papel crucial, atuando na regulação

do eixo Hipotálamo – Hipófise – Adrenal (HHA) o que desencadeia uma cascata regulatória

que culmina na liberação de glicocorticoides do córtex adrenal. O Cortisol é um dos

glicocorticoides humano mais importantes já evidenciado pela ciência (SMITH, 2006), de fácil

coleta, transporte e armazenamento e com relativo baixo custo para análise.

A complexa interação dos eixos Hipotálamo – Hipófise – Adrenal e simpático-adrenal,

recrutada pelo organismo frente a uma situação desafiadora, age conjuntamente para provocar

alterações metabólicas fundamentais na mobilização de substratos energéticos para o sistema

nervoso central (SNC) e tecidos musculares. Induz a glicogenólise, lipólise e proteólise, além

de reduzir a captação de glicose por tecidos não essenciais frente a exposição ao estímulo

estressor com a finalidade de preparar o organismo para uma reação. Diante deste contexto,

ocorre também a modulação do sistema cardiovascular, por meio do aumento da frequência

cardíaca e pressão arterial, além da regulação para vasodilatação e vasoconstrição de acordo

com a necessidade de distribuição sanguínea (SELYE,1950; TANNO, 2002).

As várias ciências permitiram que adquiríssemos incontáveis certezas ao longo da

evolução nos métodos de coleta, organização e análise de dados, porém, igualmente nos

presentearam com inúmeras zonas de incertezas. A desagregação do conhecimento por meio

das disciplinas e especialidades interferiu negativamente na compreensão do que significa ser

humano em nossa individualidade, coletividade, subjetividade, simbolismos, situações

dolorosas e prazerosas. A reunião de conhecimentos dispersos nas ciências naturais, humanas

e filosóficas, evidenciará a identidade complexa e comum de tudo que envolve o que é ser

humano (MORIN, 2011).

Assim, diante da observação das características de tensão-excitação dos jogos de futebol

televisionados e assistidos pelos voluntários, bem como do auto relato acerca das emoções

conscientemente percebidas para situações especificas das partidas e da coleta acerca do

comportamento de marcadores fisiológicos periféricos classicamente associados a fisiologia

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das emoções, desenvolvemos este estudo no intuito de compreender os aspectos

interdependentes da fisiologia das emoções dos torcedores fanáticos de futebol.

O objetivo geral deste trabalho foi iniciar uma nova linha de pesquisa na área da

Educação Física: A fisiologia das emoções nos esportes. Traçamos como objetivo específico

relatar o significado do torcer e o nível de ansiedade momentâneo dos torcedores fanáticos do

Sport Club Corinthians Paulista, por meio de inventários específicos e medição de marcadores

fisiológicos periféricos, tais como: Pressão arterial, Glicose sérica, Cortisol salivar e Frequência

cardíaca. Para tal, o comportamento destes marcadores relacionados à fisiologia das emoções

foi descrito e a elevação da FC acima de 50% da máxima calculada para cada indivíduo, foi

correlacionada a momentos do jogo, em dois clássicos entre Corinthians e a Sociedade

Esportiva Palmeiras, principal arquirrival dos corintianos, disputados no ano de 2018,

respectivamente nos meses de abril e setembro.

A tese está organizada em Capítulo I denominado de “Futebol, os contextos sociais e os

vínculos clubísticos”, que trata sobre o desenvolvimento da modalidade esportiva futebol no

mundo e sua chegada ao Brasil. A apropriação cultural desta prática no nosso país, a expansão

dessa experiência esportiva, seus significados e associações com a sociedade de indivíduos,

além de relatar um pouco sobre o nascimento do Sport Club Corinthians Paulista e sua história.

Ainda, descreve sobre as relações interpessoais desenvolvidas pelo viés do futebol, os

simbolismos exacerbados pela prática futebolística e as figurações identitárias atreladas a um

clube de futebol.

O capítulo II - “Os torcedores fanáticos de futebol e a fisiologia das emoções no

esporte”, trata sobre a classe de indivíduos denominada torcedores de futebol no Brasil, a

diferença entre os fanáticos e os não fanáticos, culminando nas teorias acerca da fisiologia das

emoções. Neste sentido, o capítulo II apresenta uma revisão bibliográfica sobre esta teoria,

destaca aspectos importantes sobre a resposta a um estímulo excitatório, utiliza o mecanismo

de resposta ao estresse como base teórica para a fisiologia das emoções nos esportes e destaca

os marcadores fisiológicos utilizados na coleta de dados.

O capitulo III – “Método da pesquisa de campo, análise dos dados, resultado e

discussão” apresenta a metodologia utilizada para a coleta dos dados e disserta sobre os achados

da pesquisa relacionando-os com as teorias sociológicas de Elias e Dunning assim como as

teorias fisiológicas que fundamentam este trabalho.

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CAPÍTULO I

FUTEBOL, OS CONTEXTOS SOCIAIS, E OS VÍNCULOS CLUBÍSTICOS

Sou cearense, torcedora do Fortaleza Esporte Clube desde a adolescência. Fato este

contrário a vontade do meu pai, torcedor do Ceará Sporting Club, mas muito relacionado a

paixão juvenil que senti por um colega de escola, membro da Torcida Uniformizada do

Fortaleza. Ocasionalmente frequento estádios, para assistir não só aos jogos do ‘meu’ time,

afinal gosto da dinâmica de tensões que envolve o confronto esportivo. Em agosto de 2017

encontrei em um templo religioso de Campinas - SP uma soteropolitana de criação, que nasceu

no Rio de Janeiro e passou a residir com toda sua família em salvador aos 3 anos de idade e,

um baiano de nascimento, residente em Juazeiro do Norte, interior da Bahia. Pertencentes a

gerações distintas, nunca haviam se encontrado. Deu-se então o início de uma conversa

introdutória, digna dos começos das relações sociais. Em meio a apresentação das afinidades,

ouvi por alto:

Ah! Você torce para o Bahia?!”

“Claro que sim!”

De forma uníssona, seguiu-se:

“Somos da turma tricolor!

Somos da voz do campeão!

Somos do povo o calor.

Ninguém nos vence em vibração.

Vamos, avante esquadrão.

Vamos, serás o vencedor.

Vamos conquistar mais um tento.

BAHIA! BAHIA! BAHIA!

Ouve esta voz que é teu alento.

BAHIA BAHIA BAHIA!”

(Gargalhadas.)”

Ou seja, declamaram o hino do Bahia, demonstrando a dimensão alcançada pelo futebol.

Nos inimagináveis espaços de convivência interpessoal, a possibilidade da modalidade

esportiva denominada futebol ser trazida como um assunto em algum momento, existe e não é

pequena. O livro clássico de Norbert Elias e Eric Dunning, A busca pela excitação (1992), nos

lembra a afirmação de Laurence Kichin, a qual sustenta a máxima de que o único idioma comum

para além da ciência, é o futebol. À medida que o assunto futebol é estabelecido em alguma das

múltiplas situações sociais, é fácil observar a comoção causada. Alguns defendem a posição de

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reafirmar o valor desta modalidade esportiva em seus diversos níveis, outras pessoas

argumentam que a vivência que envolve este espetáculo contemporâneo não é tão positiva a

ponto de ser exacerbada. Outros ainda, serão enfáticos em se ausentarem das discussões, que

para tantos são demasiado exaustivas. O fato é: O futebol é um dos, senão o esporte mais

popular do mundo (figura 1) (ELIAS, DUNNING, 1992; MURPHY et al, 1994; MACHADO,

2005; LOPES e REIS, 2014).

Figura 1 - Popularidade do Futebol

Figura 1. Representação da popularidade mundial do futebol moderno. Fonte: Instagram

@Imagens.História.

A Grã-Bretanha, e em parte a Inglaterra, são os países de onde se originaram a maioria

dos esportes modernos. De fato, a origem do próprio termo sport em suas diversas pronuncias

e composições gráficas, pode ser atribuída também a este território, ao passo que o termo sport

se tornou tão intraduzível em outras línguas, quanto outras expressões particulares da língua

inglesa, tais como o termo gentleman. Além disso, por volta do século XIX houve a tentativa

de banir esta expressão na língua francesa, a fim de manter a integridade linguística desta parte

da Europa. Eric Dunning em Sociologia dos esportes e os processos civilizatórios (2014)

apresenta uma elegante discussão sobre a evolução da palavra esporte, suas especificidades e

ao que se relaciona à sua prática, tendo sempre como trama teórica fundamental a sociologia

figuracional de Norbert Elias (2011).

Na teoria apresentada em O processo civilizatório2, Elias (2011) nos convidou, por meio

de uma viagem no tempo, a observar hábitos cotidianos dos indivíduos nas sociedades

ocidentais da idade média e da época moderna (séculos XII ao XVIII). Comparando aspectos

2Para uma compreensão adequada da teoria de Norbert Elias (2011) a tradução para o português de civilizing e

civilizing process deve ser para civilizatório e processo civilizatório (DUNNING, 2014)

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alimentares, reprodutivos, de higiene e de divertimento, o autor defendeu que os ingredientes

contidos no processo civilizatório valorizam o desenvolvimento da racionalidade em oposição

ao corpo e a emoção. Com uma descrição detalhada, Elias (2011) ilustra a transformação do

alimentar-se, do excretar e do reproduzir-se; o incremento da gentileza, da cortesia e da

urbanidade, como comportamentos exigidos por grupos sociais vistos como mais nobres. Além

de evidenciar o aumento das cadeias de interdependência e de uma gradual pacificação mediada

pela construção, estabilização e monopolização da violência pelos Estados.

O período de transição dos Estados feudais para os Estados dinásticos e para os Estados

Nação urbano industriais, foi vivenciado de maneira conflituosa, a disputa entre a realeza e a

burguesia pelo poder de decisão e controle social se manifestava na política e por meio de.

Durante o conturbado séc. XVII a monarquia Britânica buscava se impor à burguesia sobretudo

no que diz respeito à soberania católica, a reivindicação monarca ao poder absoluto e ao

recolhimento de tributos sem a anuência do parlamento, o que configurou um sério desafio a

autoridade do Estado e deflagrou um ciclo intenso de violência revolucionária e contra

revolucionária (DUNNING, 2014).

No decorrer de dois séculos contudo, o monopólio estatal inglês foi reestruturado sob

condições específicas e a burguesia passou a ter condições de adquirir títulos de nobreza e

desfrutar de uma autonomia sem precedentes. Membros das altas castas da Europa ocidental,

principalmente da Alemanha, França e Inglaterra, se viram pressionados a exercitar o

autocontrole emocional inclusive no embate político. Reis, rainhas, príncipes, duques e os

nobres emergentes espelhavam nas suas relações, os códigos de cortesia, civilidade e civilização

que deveriam ser seguidos e praticados por todos, para que fosse concretizado o que era

outorgado como um bom comportamento pessoal (DUNNING, 2014).

O fato de os seres humanos terem incorporado um padrão de moral e costumes restrito,

considerado adequado aos tempos que se estruturavam e que deveria ser seguido pelos sujeitos

que desejassem se integrar a esta nova forma de se relacionar, principalmente no tocante ao

autocontrole emocional no ambiente público e, as auto restrições em prol de um convívio social

‘adequado’, foi imprescindível para o processo histórico de complexificação de todas as

sociedades ocidentais. Estes aspectos moldaram uma linha curva, sem necessariamente uma

direção previamente definida, que nos trouxeram ao contexto socioeconômico cultural que

vivemos agora (ELIAS, 2011).

Entretanto, esta almejada moralidade não parece ter sido adquirida por outra maneira

senão pelo sacrifício da repressão orgânica, como a adoção de uma postura ereta, a substituição

do sentido do olfato pela visão, ou ainda, transmitida pela noção de punibilidade e do

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sentimento de culpa, repetida exaustivamente a cada geração que nasce, até que se constituísse

em uma memória coletiva, capaz de marcar cada indivíduo como um programa de atuação,

governando suas ações ao custo da dor de um efetivo domínio das emoções. Toda criança, até

os dias de hoje, passa por este processo de transformação, até que se torne gradualmente

internalizado por um agente mental especial, regulador das suas ações - o superego.

Exclusivamente por esse meio, este novo ser humano se torna um ser moral e social, veículo da

civilização. De fato, também pode ser entendido por civilização, a relação entre o conhecimento

adquirido pelo ser humano de extrair riquezas da natureza a fim de satisfazer seus desejos e

necessidades, bem como a criação de regulamentos para ajustar a distribuição e a manutenção

dessas riquezas. (CARVALHO, 2013; ELIAS, 2011; FREUD, 1969).

Ademais, pode-se entender deste contexto, que a maioria das pessoas teve que se

restringir em suas pulsões primárias para a consolidação desta civilização, que aparentemente

foi imposta a uma maioria resistente, por uma minoria que entendeu como obter a posse dos

meios de coerção. Assim, a civilização, seus regulamentos, instituições e ordens investem

contra a satisfação dos impulsos humanos (FREUD, 1969).

Estas repressões emocionais e expressivas são representantes de uma estrutura particular

de relações humanas que é geradora e gerada por um alicerce social peculiar, onde os

comportamentos são condicionados pelo desejo orgânico de diferenciação e pertencimento a

alguma tradição, além de serem exercitados por uma sociedade de indivíduos que reforça uma

autoimagem específica em suas múltiplas escalas. Neste sentido, na Inglaterra dos sec. XVII e

XVIII integrantes das classes superiores manifestavam seu desejo consciente de superioridade

social por meio de um processo sutil de distinção, impondo ações que almejavam o controle

social e individual de atos violentos, assim como a recomendação de maneiras específicas para

se comportar em público ou não.

À medida que a expressão pública e livre das emoções foi taxada como imprópria, houve

o fortalecimento do uso da argumentação para o embate político e os confrontos físicos para

resolução de conflitos pessoais, assim como as formas de divertimento da elite, passaram a ser

menos impulsivas e mais regradas. Aos grupos sociais em Ascenção, tal qual já era à realeza,

foi permitida a liberdade de associação, o que possibilitou a formação de partidos políticos,

clubes e associações independentes, com grandes reuniões e assembleias, algumas de finalidade

esportivas. Estas atividades se baseavam em regras escritas e procedimentos efetivos de

controle coletivo e individual, principalmente no que se referia a contenção de casos explícitos

de violência, a uma tentativa de equiparação das possibilidades de vitória para cada praticante

ou grupo de participantes e, fundamentalmente, no caso de associações esportivas, a busca pela

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regulação das apostas vinculadas ao boxe. A ‘esportivização’ dos passatempos ingleses comuns

no século XVIII e o significado deste processo correspondeu a uma importante mudança da

estrutura social Inglesa, correlata a parlamentarização dos conflitos políticos e ao aparecimento

de alternativas menos violentas para os impasses individuais e coletivos (DUNNING, 2014).

De acordo com Dunning (2014), a palavra sport, oficialmente começou a ser utilizada

como característica expressiva e distintiva da aristocracia e da pequena nobreza britânica

(proprietários de terra sem título nobre), nos séculos XVII e XVIII, ao se referirem a quatro

modalidades de divertimento específicas: corridas de cavalo, críquete, boxe e caça à raposa.

Derivada de uma expressão anglo-francesa, o desporter significava distrair-se, deixar-se levar

pelo deleite prazeroso. Durante o século XVIII, caçadores praticantes da caça à raposa passaram

a utilizar a expressão ‘A raposa nos proporcionou um bom esporte esta manhã’ (DUNNING,

2014. p. 171). O significado da palavra esporte passou a definir uma espécie de jogo, um tipo

de divertimento no qual os elementos violentos necessitavam de maior controle. Um hábito

saudável, divertido e socialmente valioso, com função social primordial de produzir, prolongar

e finalmente consumar o prazeroso par: tensão – excitação (DUNNING, 2014).

Desta maneira, esportes são confrontos que envolvem capacidades biomotoras bem

desenvolvidas ou proezas físicas e estratégias do tipo não militar, que incitam nos praticantes

ou naqueles e naquelas que os assistem, a adoção de um tipo de comportamento característico

do ambiente esportivo e ainda a vivência e a expressão intensa, muitas vezes coletiva, das

próprias emoções (situação cada vez mais escassa na civilização moderna ocidental). Além

disso, vários tipos de esportes têm em sua constituição o elemento da competição, marca

característica da sociedade moderna. (DUNNING, 2014).

A título de familiaridade e no intuito de favorecer a aceitação de algo em maior grau,

nós seres humanos, temos a tendência de buscar associações com fatos anteriores. Sendo assim,

é possível facilmente associar a estrutura moderna do futebol a alguns tipos de jogos medievais

conhecidos por inúmeros nomes incluindo uma pronúncia parecida com football. Nestes jogos,

o implemento central do confronto físico coletivo, a ‘bola’, podia ser transportado de diversas

maneiras inclusive pelo chute. Não havia equiparação de participantes, as orientações que

delimitavam a prática eram transmitidas oralmente e acordadas entre os participantes do evento

naquele momento e lugar. Esses ritos eram também uma oportunidade para ingestão demasiada

de bebidas alcoólicas e muitos dos participantes “estavam ostensivamente em busca de

oportunidades de se envolver em brigas” (DUNNING, 2014. p. 189).

Com o passar do tempo, estas formas antigas de passatempos foram se tornando cada

vez mais esporádicas e menos praticadas ao ponto que as formas mais modernas de futebol,

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mais regradas, foram sendo desenvolvidas e disseminadas principalmente durante o início das

escolas públicas de período integral inglesas – justamente porque o princípio central das

atividades físicas civilizadas foi a diminuição da violência utilizada pelos praticantes.

Estabelecidas inicialmente como instituições de caridade para educação de jovens pobres e

carentes, as escolas públicas inglesas logo se transformaram em ambiente educativo para

estudantes oriundos de famílias abastadas. Deste modo a diferença de classe social entre

professores, pertencentes a classe média, e de seus pupilos, pertencentes às classes ricas,

interferia diretamente na capacidade de controle dos docentes para com seus estudantes. Os

jovens nobres dispunham de um elevado grau de independência estrutural, culminando em uma

intensa falta de disciplina e uma disputa crônica de poder entre docentes e discentes, sem efetiva

supremacia de nenhuma das partes (DUNNING, 2014).

Diante deste contexto, deu-se então uma forma de controle dividido. No intuito de

estabilizar a autoridade docente e certificar um certo poder discente, estabeleceu-se um tipo de

hierarquia entre os estudantes, que era posta prioritariamente pelas diferenças de idade e de

força física. Os estudantes mais velhos passaram a ter certo nível de legitimidade em sala de

aula em troca de reconhecimento do seu direito de “monitor”. Este sistema de ‘sujeição ao

monitor’ teve papel crucial no desenvolvimento inicial do futebol moderno nas escolas públicas

inglesas (DUNNING, 2014).

O confronto esportivo era uma das maneiras pelas quais os estudantes mais velhos

(veteranos) impunham seu domínio sobre os colegas mais jovens (calouros) ou mais

desprovidos de habilidades físicas. Posto que neste estágio todas as formas registradas de

futebol eram brutais, o futebol das public schools ainda era regido por regras orais, muitas vezes

sem consonância no número de participantes, outras vezes com estudantes mais fracos restritos

a atividades de proteção ao gol.

Ainda no século XVIII, as organizações corporativas artesanais e comerciais foram

gradativamente sendo substituídas por novas forças sociais e econômicas: os industriais, uma

classe média e o operariado urbano. O avanço do capitalismo industrial como modo de

produção dominante foi desestruturando tanto os fundamentos da vida material, como as

crenças e princípios religiosos, morais, políticos, jurídicos e filosóficos em que se sustentava o

antigo sistema. A presença de uma nova sensibilidade, atitudes, comportamentos e valores,

provocou intenso êxodo de famílias rurais para as cidades, em busca de trabalho. A área urbana

acenava uma possibilidade de liberdade, proteção e melhores ganhos, embora esta realidade

não fosse para todos. As cidades receptoras desse fluxo contínuo de pessoas foram crescendo

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acelerada e desordenadamente e, a fábrica moderna criara a cidade industrial (LOPES, 2008;

QUINTANEIRO, 2009).

Houve então, durante o séc. XIX, o segundo momento da apropriação do processo de

surgimento do sport moderno. Os representantes das classes médias industriais, empresariais e

profissionais em ascensão, passaram a disputar o acesso ao esporte com as classes de

proprietários rurais na vanguarda de sua prática. Como no trabalho industrial, no esporte

surgiram as formas mais reguladas de competição atlética. As medições e registros minuciosos

de espaço/ tempo no desempenho esportivo também se tornaram cada vez mais importantes e

as ferramentas desenvolvidas pela ciência moderna na busca pelo conhecimento, se aliaram ao

controle da prática esportiva. Além disso, houve o desenvolvimento inicial dos jogos de bola

tais como rúgbi, hóquei, tênis e futebol.

Aproximadamente entre 1830 a 1860, as classes urbanas industriais passaram a ter mais

poder do que as classes rurais, neste contexto agravaram-se as pressões para a reforma da

educação pública, que viu no sistema de sujeição ao monitor uma ferramenta eficiente na

execução do plano de produzir cavalheiros cristãos aptos a administrar e manter o império

britânico em expansão. Parte da tática era convencer os estudantes mais destacados que o sport

teria propriedades na formação do caráter individual, por tanto, a maneira violenta com a qual

se dava a sua prática, se tornaria inviável diante da nova sociedade que se formava. A

transformação deste esporte para adequação à estratégia da reforma disciplinar no momento

outorgada, contou primeiramente com a criação das regras escritas do futebol em 1845 – por

ex-estudantes das public schools, a mais antiga série de regras sobrevivente ao tempo que se

tem conhecimento (DUNNING, 2014).

Aproximadamente por volta de 1859, os jogos embrionários do futebol começaram a

extrapolar os muros das escolas e das universidades passando a se embrenhar no cotidiano

social britânico. ‘O culto aos jogos da escola pública’ (DUNNING, 2014 p.195) possibilitou a

difusão do futebol no âmbito nacional. Diante desta expansão, tornou-se notória a necessidade

de uma regulamentação única, clara e amplamente divulgada das regras que passaram a reger a

prática esportiva desta modalidade. Em decorrência disto, foi sugerido a criação do ‘parlamento

do futebol’ em 1863 e um conjunto de regras que proibiam carregar a bola ou interceptar o

adversário com as mãos, foi esboçado pelo comitê de estudantes que jogavam futebol na

Universidade de Cambridge. A posteriori, deram-se início aos primeiros encontros da Football

Association (FA), nos quais o argumento do jogo se tornar mais ‘civilizado’, a fim de agradar

os adultos das classes altas ganhou voz, e as regras a priori descritas em Cambridge se tornaram

mais populares.

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A codificação das regras do futebol, como boa parte de sua história, simboliza um

pensamento único emergente em conjunto com ações que almejavam fortalecer, expandir,

impor e dominar os aspectos do proposto conceito. Segundo Damo (2007), entre os motivos

que levaram a codificação das regras do futebol estavam a necessidade de diferenciação da

prática esportiva dos jovens londrinos, para com as outras práticas no restante do país e, a

também necessidade dos integrantes ou egressos das escolas públicas inglesas se tornarem

referência nesta nova forma de cultura (DUNNING, 2014).

Uma vez regradas e codificadas, as várias maneiras de se praticar esportes transpuseram

características locais e conquistaram adeptos das mais diversas particularidades. A partir desta

incorporação do esporte pela amplitude do território do Reino Unido, houve uma incorporação

da sua prática pelo mundo todo e a partir do final do século XIX e início do século XX algumas

ações foram implementadas a fim de aperfeiçoar as organizações internacionais de futebol. A

Fédération Internationale de Football Association (FIFA) foi formada em Paris no ano de 1904

sem representantes britânicos, que apenas se envolveram com o projeto de internacionalização

do futebol dois anos mais tarde, dando início a uma novela de filiação e desfiliação, que durou

até 1945, quando finalmente a Inglaterra filiou-se permanentemente.

Enquanto isso no Brasil...

Durante o século XIX, houve etapas distintas do processo civilizatório no Brasil. O país

se encontrava em um nível de desenvolvimento social diferente das sociedades do continente

europeu e se caracterizava pela existência de grupos oligárquicos possuidores de grandes

quantidades de terra, de diferentes gêneros agrícolas, com diferentes interesses políticos,

econômicos e sociais, o que formava uma estrutura econômica predominantemente agraria, com

grande parte da população sem participação na política nacional, por serem escravos ou servos

(SAES, 1982).

Em meados deste mesmo século, em meio a abolição da escravatura (1888) e a

proclamação da república (15 de novembro de 1889), houve um longo período de crescimento

das importações do café em detrimento a produção de subsistência do produto, fato que

contribuiu para a diminuição das atividades de economia rural, agrícolas ou manufatureiras.

Por decorrência deste desenvolvimento industrial e do crescimento do transporte ferroviário no

estado de São Paulo, uma nova cidade se moldou. A substituição do trabalho escravo pelo

trabalho ‘livre’, principalmente o do imigrante, a crise do comercio exterior, a diminuição da

capacidade de importação e as tarifas alfandegarias impostas aos produtos importados,

proporcionaram amplo surgimento de fábricas nacionais empenhadas em se apropriar, em parte,

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da demanda preexistente para consumo de bens industriais, fornecendo a substituição de

produtos advindos das importações, por produtos da nova indústria nacional (SAES, 1982;

LOPES, 2008).

Com isso, houve uma reorganização geográfica e de estratificação social no Brasil,

surgindo as classes médias e populares, situadas em áreas urbanas, relativamente vinculadas às

condições sociais, econômicas e políticas que antecederam às suas consolidações. A população

cresceu exponencialmente, devido principalmente a imigração europeia, no intuito de

embranquecimento da população nacional. Os imigrantes partilhavam das mesmas

circunstâncias do operariado local, com condições rudimentares de desenvolver suas tarefas,

horas de desempenho profissional abusivas e remuneração aquém do necessário para uma

existência saudável. Na moradia, havia, para consolidar uma segregação econômica, uma

separação geográfica entre as residências do operariado e da elite. Os espaços urbanos estavam

sendo hierarquizados e claramente demarcados de acordo com a classe econômico-social a qual

se pertencia. Principalmente a sociedade do sudeste brasileiro estava crescida e vivenciava o

surgimento de novos setores e atores/atrizes sociais (SAES, 1982; LOPES, 2008).

No período entre 1890 e 1900, a política de desenvolvimento industrial facilitou a

implementação de fábricas em diversos locais no país, além de reforçar o rápido aumento da

população urbana em detrimento às oportunidades de trabalho profissional. Existiu então uma

composição de mercados internos nos centros urbanos emergentes, onde localizavam-se as

atividades culturais (SAES, 1982; LOPES, 2008).

O trabalho profissional moderno, afazer remunerado, cotidiano e regrado, se fortaleceu

como vital para a existência na sociedade urbana, não apenas pela necessidade de algum nível

de participação nos meios de produções destinados a manutenção da própria vida na cidade,

mas sobretudo pela vontade de ascensão socioeconômica e de pertencimento a classe dos

‘merecedores’. Nesta perspectiva, o trabalho foi instituído como um dever moral que nas

sociedades industrializadas, se refere a uma forma específica de ganhar a vida: remunerada,

altamente especializada, com o tempo de execução rigorosamente regulado, que conduz

consigo um juízo de valor muito caro, exaltado e pessoalmente incorporado como uma medida

pela qual as pessoas são predestinadas a salvação (GOMES, 2015, WEBER, 2009).

Desta maneira, a execução do trabalho profissional moderno se interlaçou com a forma

de existir dos indivíduos em sociedade, sendo estrutura fundamental no sistema produtivo, nas

relações interpessoais e nos múltiplos meios de organização dos fluxos e jeitos de vida no

transcorrer do cotidiano. Porém, a esfera do trabalho é apenas uma das dimensões que

reivindicam a subordinação ordenada e equilibrada dos sentimentos pessoais. A rotina global,

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com suas respectivas restrições, promoveu condições de ordem e segurança socioeconômicas,

seguramente capazes de causar uma pobreza de emoções (SANTOS, 2013; GOMES, 2015;

ELIAS, DUNNING, 1992; WEBER, 2009).

Assim como o manual de comportamento elaborado por Rotterdam na Europa do séc.

XVI (Da civilidade em crianças), o Brasil também desenvolveu seus modelos escritos de boas

maneiras, os quais expandiram suas orientações para além do comportamento social humano e

englobaram também o desenvolvimento físico dos jovens brasileiros. O Compêndio de

Pedologia de autoria do Mons. Pedro Anísio (1937) traça consideráveis diretrizes para a

solidificação da civilidade dos púberes na paraíba do século XX. O termo faz extenso uso do

conhecimento acerca da juventude em suas esferas fisiológicas, higiênicas e comportamentais,

no que diz respeito ao papel de educador dos adultos nas escolas ou no contexto familiar. No

plano de pedagogia integral proposto por Anísio (1937) a formação dos jovens perpassa

indiscutivelmente pela atividade física e pela corporeidade. De forma restritiva e controladora,

o jovem brasileiro ia sendo transformado em agente da civilização por meio da contenção não

só das emoções e dos costumes, mas também e principalmente, da ação motora decorrente dos

estados emocionais. O gesto calculadamente executado passou a ser requerido para aceitação

social do indivíduo (LUCENA, 2016).

O crescimento das economias industrializadas, a criação dos sistemas políticos

modernos e a supervalorização do pensamento científico, assim como da produção tecnológica,

fizeram-se fundamental nas estruturas sociais que hoje desempenhamos (SAES, 1982; LOPES,

2008; SANTOS, 2008). Neste sentido, as exigências da vida moderna acabaram por sujeitar

homens e mulheres à uma frequente situação de conflito, ansiedade e desequilíbrio emocional.

(ARALDI-FAVASSA, 2005).

Diante de uma comunidade social cada vez mais industrializada, modelada pelos hábitos

modernos, pelo monopólio da força detida pelo Estado, com regras explicitas para viver o

cotidiano e pelo autocontrole assimilado tendendo sempre a auto restrição, as transformações

das dinâmicas de tensão se tornaram relativamente paulatinas. Porém, até onde se pode

mensurar, grande parte das sociedades humanas produz algum tipo de medida destinada a

amenizar as pressões geradas por elas próprias, as quais permitem, de maneira geral, a fluência

dos sentimentos de qualidade animadora em diversos níveis. Ou seja, autorizam a excitação

agradável (ARALDI-FAVASSA, 2005; CARVALHO, et al 2013 ELIAS, DUNNING, 1992;

ELIAS, 2011).

Neste sentido, alguns brasileiros entraram em contato com as práticas de lazer trazidas

pelos imigrantes europeus e o uso prazeroso e não obrigatório do tempo livre passou a fazer

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parte da rotina do trabalhador industrial moderno, possivelmente como uma das formas de

ruptura saudável da rotina (ELIAS, DUNNING, 1992; GOMES, 2015; NEGREIROS, 1992).

Dentro desses modos de aproveitar o tempo livre, a dinâmica de tensão – excitação,

baseada em confronto físico, concebida para a competição – marca da metrópole moderna –

regulamentada para a finalidade de conter a violência e equiparar as possibilidades de vitórias

entre os participantes, que os ingleses denominaram de sport, fez muito sucesso entre os locais.

A priori, revestidos de curiosidade, os cidadãos observavam e praticavam diversas modalidades

esportivas. Posteriormente, caso a atividade produzisse mimeticamente dinâmicas dos níveis

entre tensão e excitação agradáveis o suficiente para determinado grupo de pessoas, poderia se

transformar em moda, atraindo cada vez mais praticantes e espectadores. Por fim, caso

persistisse a prática após algum tempo, poderia se consolidar como atividade de lazer esportivo

(ELIAS, DUNNING, 1992; NEGREIROS, 1992).

Nos periódicos da época, diferentes tipos de discurso defendiam e incentivavam a

prática esportiva como formadora do ‘homem’ em seu mais amplo sentido. Por vezes era

salientado o nível de desenvolvimento dos esportes nos países mais industrializados e mais

civilizados, a fim de servir como exemplo a ser seguido pela população brasileira, paulistana.

Além disso, era amplamente incentivado pelos cronistas e dirigentes esportivos, o intercâmbio

com países que praticavam os esportes a mais tempo. Os brasileiros mais capitalizados, em

visitas ao exterior, se deparavam com centros esportivos bem organizados. Os estrangeiros eram

recebidos com o anseio por aprendizado. A cada nova prática inaugurada, havia o gosto para

explicar detalhadamente os passos necessários para execução do novo jogo através dos meios

de comunicação da época. Contudo, o termo esporte só foi redigido oficialmente em algum

texto de conformidade legal no intuito de fortalecer o Estado Novo, em abril de 1939 na criação

da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (RJ) (LUCENA, 2003; NEGREIROS,

1992).

A excitação proporcionada pelas atividades de lazer possui um caráter singular. Em

alguns aspectos mantem semelhança com a excitação causada por situações críticas sérias,

contudo nutrem qualidades específicas como a certeza de que nenhum mal real poderá de fato

acontecer. Além disso, a excitação agradável ativada pela ocupação do tempo livre com

atividades miméticas de lazer, pode ser considerada como uma maneira de criação e libertação

das tensões, preconizando o enfrentamento com êxito da rotina maçante das sociedades

industrializadas (ELIAS, DUNNING, 1992).

A grande variedade de atividades de lazer, em particular os esportes, permite às pessoas

uma diversidade de escolhas de acordo com as necessidades afetivas e emocionais, as quais

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proporcionam distintos graus de prazer e satisfação. Nesse contexto, as atividades de lazer

constituem a chave para o desencadear, aprovado no quadro social, do comportamento

moderadamente excitado em público em espaços determinados, como os estádios por exemplo.

Isto significa que o esporte pode ser estabelecido como um tipo de antídoto ao excesso de

controle e tensão dos indivíduos, fazendo-os liberar suas emoções de maneira aceitável pela

sociedade (CANALE, 2012; ELIAS, DUNNING, 1992).

No mundo do jogo, as leis e convenções da vida cotidiana perdem a validade. Nele, as

pessoas podem desempenhar papeis diferentes e realizarem coisas grandiosas. O jogo é uma

mutação do sentido da realidade. Nele, as coisas se tornam outras, os comportamentos, apesar

de semelhantes a vida cotidiana, adquirem uma significação específica. Ao deixar-se hipnotizar

pelo jogo, o indivíduo se entrega, exterioriza corporalmente sua subjetividade, podendo, assim,

transparecer também atitudes carregadas de construções individuais e sociais, permeadas pela

moralidade institucionalizada. No jogo podemos levar nossas vontades, podemos traduzir em

atos / ações o que está guardado e desta maneira, o lúdico permite que haja uma liberdade de

expressão, que possamos ser espontâneos, verdadeiros (PIAGET, 1977; FREIRE, 2005;

PRODÓCIMO, 2007).

Reis (2006) afirmou que o futebol, dentre todas as modalidades esportivas, teve uma

aceitação tão grande entre os povos do mundo possivelmente porque produz momentos de

cooperação e competição capazes de gerar o sentimento do ‘meu’ e do ‘seu’ grupo; estimula

uma excitação específica desencadeada pela incerteza do alcance do tento, além disso, na sua

forma de conflito, faz uso de uma grande arena a céu aberto que permite uma livre excitação e

expressão emocional. Segundo Damo (2007) o gosto pelo futebol é uma construção social

historicamente datada e culturalmente legitimada. Assim como outros arbitrários culturais, o

futebol poderia ser definido como um consenso de época, legitimado por determinados

públicos, tal qual a gladiadura romana e a tourada aldaluza. Para Brohm (1993), o esporte

enquanto instituição é fruto de uma ruptura histórica marcada pelo modo de produção industrial.

É uma prática de classes, não homogênea, integrado e reprodutor de diretrizes imperialistas que

passou a ser mercantil, no qual o produto a ser vendido é o ser humano.

Jogos similares ao futebol no Brasil foram registrados oficialmente durante o século

XVIII e foram proibidos em 1746 em São Paulo, por uma lei da Câmara Municipal, na qual o

definia como causadores de desordem e agrupamento de vadios. Há ainda relatos de que, o

futebol no Brasil desembarcou com os marinheiros ingleses e holandeses, que praticavam

futebol com a população das cidades portuárias situadas a nordeste do Brasil, por volta de 1878.

Contudo, tornou-se convencional atribuir a Charles Miller, brasileiro, descendente de ingleses,

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educado na Inglaterra, a importação do futebol para o Brasil em 1894 (SOBRINHO, 2008;

VOSER, 2010).

A partir deste parcial consenso, diversos são os registros que marcaram a presença do

futebol moderno no Brasil. Pode-se propor que o primeiro círculo de rapazes que

registradamente praticaram o futebol trazido por Charles Miller, foram os jogadores do São

Paulo Athletic Club, ao qual Miller se associara após o seu retorno. Fundado inicialmente para

a prática do críquete, o clube reunia altos funcionários ingleses que tiveram o primeiro contato

com os implementos básicos do futebol. Propõe-se também que a primeira partida disputada

em solos tupiniquins, teria ocorrido no mesmo ano da chegada dessa modalidade esportiva,

entre os operários da companhia de gás e os ferroviários da São Paulo Railway, empresa a qual

compartilhava associados com o São Paulo Athletic Club (MARQUES, 2013; TOLEDO 1996).

Impreterivelmente, o futebol no Brasil aportou com o intuito de ser um esporte praticado

pelas elites. O alto custo dos uniformes, herança dos arquétipos franceses, e dos equipamentos

importados, restringira a prática do futebol às classes mais abastadas que tinham pouco tempo

para a sua prática devido as responsabilidades de negócios e /ou estudos. Os pioneiros do

futebol, o jogavam com todas as exigências do padrão europeu, chutões e finalizações de longa

distância, além da utilização de termos incorporados do inglês. Portanto, até mesmo por

desconhecimento dos praticantes, as regras oficiais nem sempre eram seguidas ao pé da letra

(DUNNING, 2014).

O Football Association é o nome dado ao conjunto de regras descrito por um grupo de

londrinos em meados de 1863 e que com poucas variações ainda hoje é disputado em âmbito

mundial em esferas profissionais. No sentido de divulgar e informar a população letrada

nacional, manuais que continham as regras do recém-chegado esporte, assim como a

instrumentalização necessária para a sua prática, eram distribuídos principalmente nos Estados

de São Paulo e no Rio de Janeiro. Porém, em seu percurso territorial e temporal, o futebol, ou

como diria Damo (2007), os futebóis, ainda podem ser jogos improvisados. Ter acordos

específicos e regras adaptadas. Boa parte delas, ansiando a contenção dos níveis de violência e

contando com o reforço da contemporaneidade, a inclusão do maior número de adeptos.

As partidas de futebol se tornaram detentoras de um bem simbólico altamente apreciado

e valorizado. As competições e rivalidades entre os coletivos foram se acentuando à medida

que as partidas eram crescentemente mais frequentadas. A sensação de pertencimento a um

determinado clube de futebol se tornou uma atitude afetiva, um tipo de investimento emocional,

que se tornou hereditária, principalmente no tocante as masculinidades (DAMO, 2007;

FARIAS, 2009; CANALE, 2012).

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O período entre as décadas de 1900 e 1910, devido ao fluente intercâmbio cultural

existente entre as elites brasileiras e as produções e novidades europeias, foi palco de um

extraordinário aumento nas fundações de clubes de futebol no Brasil. Entretanto, têm-se

registro, em 1897, de um time de futebol chamado Nobiling Team, que foi fundado pelo

imigrante alemão Hans Nobiling em Porto Alegre – RS e que provavelmente foi a prática

futebolística organizada que deu início a formação do Sport Club Internacional em 1899. Neste

período, o Remo era o grande evento esportivo social que proporcionava aglomerações de

pessoas nos locais de competição. Porém, clubes com determinada estabilidade financeira

passaram a financiar equipes de futebol no cenário esportivo nacional. A Associação Atlética

Makenzie College, de São Paulo, passou a incorporar o futebol nas suas práticas esportivas,

assim como outros clubes que não se iniciaram pelo futebol, mas passaram a se dedicar quase

que com exclusividade a ele, tais como o Sport Clube Savoia de Sorocaba, a Associação

Atlética Ponte Preta de Campinas, o Clube Atlético Paulistano de São Paulo, o Clube de Regatas

Flamengo, o Clube de Regatas Vasco da Gama e o Vitória da Bahia (SOBRINHO, 2008;

VOSER, 2010; CANALE, 2012).

Em 1902 tem-se registro do primeiro campeonato paulista de futebol, contando com a

participação de pelo menos cinco times. No Ceará o primeiro registro de uma partida de futebol

se deu em 1904, após o jovem estudante suíço, José Silveira, retornar ao país com uma bola e

um livro de regras oficiais. O jogo aconteceu entre integrantes da ‘boa sociedade’ cearense com

ingleses residentes na capital do Estado, em companhia dos ingleses viajantes de um navio

ancorado. Neste mesmo ano, Vitor Serpa fundou o Sport Club em Minas Gerais e em 1905 há

registros da difusão do futebol no Estado de Pernambuco, assim como o primeiro campeonato

carioca (FARIAS, 2009).

Mesmo com a necessidade de investimento financeiro para um desempenho menos

informal e principalmente para a fundação de um clube de futebol, as cidades industriais e os

bairros de operários em particular, passaram a reunir esforços no intuito de estruturar sua prática

futebolística. A partir da iniciativa de pequenos comerciantes e artesãos, equipes e clubes de

classes emergentes, representantes de algumas fábricas e entidades de bairro, foram se

formando. Essa classe social encontrou nos clubes recém fundados, uma nova forma de

sociabilidade e pertencimento. Havia com isso a aproximação dos pares e o enaltecimento das

diferenças e rivalidades. Moradia, origem, especialidade do desempenho profissional, tudo isso

podia ser motivo para exacerbar o estabelecimento no ‘meu’ grupo e do ‘seu’ grupo

(NEGREIROS, 1992).

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Desta maneira, o vínculo identitário com o clube pelo qual se torce faz parte

indissociável das emoções desencadeadas pelo ato de torcer.

O SCPP e a ascensão do futebol em São Paulo

A excursão realizada por uma equipe britânica de nome Corinthians Football Club,

despertou grande entusiasmo nos cafés e teatros da capital paulistana pela forma como jogavam.

Com a cidade ainda em estado de euforia em função da excitante visita do clube inglês, ao mês

de setembro de 1910, foi fundado em São Paulo um clube dedicado mais especificamente as

práticas do jogo de futebol, o Sport Club Corinthians Paulista, SCCP. À primeira vista, um

episódio corriqueiro quando observamos que àquele período, quase todos os dias, era informado

o nascimento de um novo clube na capital paulista ou no interior do Estado. Porém, há um tom

de romance em sua fundação, uma preocupação em mostrar a origem humilde do novo clube,

por meio da qual inegavelmente o tornou um clube aspirante a merecedor de conquistas em

meio a muitas dificuldades e sacrifícios. Na mesma época que eram fundados, em luxuosos

salões os principais clubes de São Paulo, estava o SCCP sendo organizado debaixo de um

lampião de rua, formado principalmente por trabalhadores, inclusive braçais, que também

desejavam praticar o esporte bretão de forma organizada, dignos de serem representantes do

povo perante as elites (NEGREIROS, 1992).

No site oficial do Sport Club Corinthians Paulista (Timão) aparece a descrição de sua

fundação.

“Às 20h30 do dia 1º de setembro (1910), à luz de um lampião, na esquina das ruas

José Paulino e Cônego Martins, no bairro do Bom Retiro, o grupo de operários

formado por Anselmo Corrêa, Antônio Pereira, Carlos Silva, Joaquim Ambrósio e

Raphael Perrone fundaram o Sport Club Corinthians Paulista. Com mais oito rapazes,

foi formada a reunião dos primeiros integrantes e sócio-fundadores do Timão, que

teve seu nome inspirado na equipe inglesa Corinthian-Casuals Football Club, que

fazia excursão pelo Brasil. O presidente escolhido por eles foi o alfaiate Miguel

Battaglia, que, já no primeiro momento, afirmou: “O Corinthians vai ser o time do

povo e o povo é quem vai fazer o time”. Um terreno alugado na Rua José Paulino foi

aplainado, virou campo e foi lá que, já no dia 14 de setembro, o primeiro treino foi

realizado diante de uma plateia entusiasmada, que garantiu: ‘Este veio para ficar!’”.

(Clube – História Conheça a história do SCCP. Corinthians. Disponível em:

<https://www.corinthians.com.br/clube/historia>. Acesso em: 30 ago. 2018.)

Ainda na década de 1910, apesar do futebol em São Paulo apresentar fortes estruturas

informais, cada clube que fomentava sua prática e participava dos jogos e campeonato oficiais,

possuía sede esportiva e social localizada no centro da cidade. Além disso, disputavam partidas

exclusivamente em campos oficiais estabelecidos no Velódromo, no Parque Antártica e na

Chácara da Floresta. A incorporação das festas esportivas, eventos comemorativos nos quais

obrigatoriamente havia uma partida de futebol que fechava o evento, ajudou na popularização

e formalização da modalidade. Nestas festas era comum a presença de atletas campeões de

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outras nacionalidades, além de outros esportes no decorrer do dia. Neste período, deu-se início

a tradição da visita de representantes públicos importantes aos campos esportivos

(NEGREIROS, 1992).

Durante este período foi possível se perceber a febre esportiva que a capital paulista

viveu. O futebol tornou-se uma significativa forma de lazer, marcada por fortes sinais de paixão

e emoção. Com o desenvolvimento desta modalidade esportiva surgiram também os

aficionados pelo esporte, que mesmo sem pratica-lo, acompanhavam o que circundava e o que

compunha o futebol. Essa figura passou a ser chamada, pela imprensa da época, de torcedor. Já

no início do século XX era possível encontrar o torcedor, um indivíduo apaixonado por

determinado clube, um esportista que defende as cores de ‘seu’ clube, assistindo aos seus jogos,

inclusive quando estes se realizavam em outras cidades (NEGREIROS, 1992).

À medida que se popularizava o futebol, urgia o desejo de manter elitizado o esporte e

assim, evidenciara-se conflitos internos e externos entre as pessoas que formavam as entidades

gerenciadoras dos campeonatos. O anseio pelo comando da gestão futebolística paulistana foi

ocasionando divergências e modificações nas estruturas de competição do futebol, assim como

foi dando origem a outras instituições organizadoras do futebol oficial.

Muitas ações causadoras dessas divergências eram executadas para permitir ou negar às

associações esportivas de menor grandeza, o ingresso no futebol oficial. O SCCP trabalhou no

sentido de se tornar o primeiro clube de bairro a ingressar nesses moldes, renegou suas raízes

ao estruturar sua sede no centro da cidade, se comportou como as exigências do futebol elitizado

demandavam. Procurou apoio de políticos locais e fez concessões suficientes para assegurar

seu ingresso na Liga Paulista de Futebol, o que aconteceu em março de 1913. A partir da sua

própria modificação, transformou algumas estruturas do futebol em São Paulo. Pela primeira

vez, um clube da classe trabalhadora participava do futebol oficial e seus campeonatos

(NEGREIROS, 1992).

Em 1914 o SCCP se tornou campeão da Liga Paulista de Futebol, tornando-se um dos

times mais citados nos periódicos esportivos. No intuito de amenizar uma crise financeira que

assolava o clube devido a questões administrativas dos campeonatos, o SCPP em 1915 passou

a excursionar pelo interior paulista e causou grande euforia na população das cidades

percorridas, por ser um time da capital e campeão da Liga. Em 1916 consagrou-se mais uma

vez campeão da Liga Paulista de Futebol. No final dos anos de 1920 o Parque São Jorge se

tornou sede do Sport Club Corinthians Paulista. Já bastante modificado no seu processo de

evolução, o clube visava a formação de uma equipe de futebol competitiva, forte concorrente a

ser a melhor nos campeonatos, conquistar as vitórias que levariam aos troféus e medalhas. Em

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ascensão, o time de futebol do Corinthians chamava a atenção dos esportistas que não tinham

acesso aos times de elite por causa dos preconceitos estabelecidos. Desta forma, contava não

apenas com jogadores que participaram do seu início bairrista, mas também com aqueles recém

agregados que não apresentavam poder de interferência nas decisões da instituição. “O

Corinthians se tornou imbatível” (NEGREIROS, 1992).

A prática do esporte por “clubes de várzea” tinha suas partidas disputadas com materiais

improvisados, em terrenos desocupados e criminalizadas pelas autoridades. Apesar de

reconhecer uma razoável organização nessas partidas, tais como a do Carmo, uma das mais

estruturadas práticas futebolísticas informais da época e da região, os relatos dos periódicos

eram sempre pejorativos: “dois ‘times ‘anônimos de menores desocupados se empenharam

ontem às três e meia horas da tarde num ‘match’ de ‘futebol’, com entusiasmo belicoso de dois

cães na disputa de um osso” (NEGREIROS, 1992 p.52). Faz-se mister ressaltar que atletas dos

clubes de elite, que treinavam nos dias úteis, no meio da tarde, nunca foram denominados assim

(NEGREIROS, 1992).

Nesses jogos não faltavam palavrões, vaias, agressões físicas e a presença repressiva da

polícia. Uma paixão incontrolável, exatamente o contrário do que deveria ocorrer, ao menos no

entender das elites paulistanas. Não é à toa que no Velódromo, junto à arquibancada, existia um

cartaz com os seguintes dizeres: “É proibido vaiar.” Além disso, neste mesmo estádio, havia a

divisão de lugares entre a elite, que era direcionada a assistir aos jogos na arquibancada e o

proletariado, que era conduzido para a geral. A rivalidade e a disputa, para elite eram

reconhecidas como importantes valores, mas sempre limitadas e controladas, dentro de um nível

de aceitação social ao expressar as emoções.

Os torcedores das classes populares, pessoas que gritam, que escondem seus rostos com

medo que o time adversário possa fazer um gol, que verdadeiramente se emocionam e

expressam sua emoção com os jogos, que sofrem nas derrotas e deleitam-se nas vitórias,

levaram para o campo de disputa outras formas de manifestação, nem sempre caracterizadas

pela educação formal que as elites vivenciavam (NEGREIROS, 1992).

O elenco dos jogos de futebol no período que compreendeu as décadas de 1894 e 1932

era composto prioritariamente por funcionários de níveis elevados das empresas inglesas e uma

elite econômica que se interessava pela modalidade esportiva. Estes certames ficaram marcados

pela ação estritamente voluntária dos participantes em praticar o jogo, além da paixão que

envolvia a disputa. Conhecida como fase do amadorismo, a característica da prática voluntária

e não remunerada, indiretamente limitava a participação da classe trabalhadora pela rotina

operária abusiva que se desenvolvia (HELAL, 2002; LUZ, 2015).

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Ao passo que em alguns momentos o número de jogadores exclusivamente pertencentes

a elite era insuficiente para as contendas, o alto escalão futebolístico do The Bangu Atletic Cub

se viu obrigado a absorver os praticantes do futebol da periferia. De forma expressiva, todos os

relatos apresentados sobre o futebol jogado fora das entidades oficiais têm a massiva

participação da classe trabalhadora, envolvendo profissionais pouco considerados socialmente.

Desta forma, os técnicos britânicos de uma tecelagem do subúrbio carioca passaram a convocar

os operários da empresa para os jogos, baseando-se no comportamento pessoal, desempenho

profissional e tempo de serviço na companhia. Os operários viram nesta transformação uma

oportunidade de expressão e ascensão política, social e econômica (MURRAY, 2000; VOSER,

2010).

Na década de 1920 o futebol brasileiro alcançou a excelência técnica já apresentada por

países como Argentina e Uruguai. Em 1921 houve a proibição de jogadores negros no

campeonato sul-americano realizado na Argentina. Embora a tristeza desse fato, um dos

primeiros heróis do futebol brasileiro foi um mulato – Arthur Friedenreich (El tigre). Filho de

pai alemão e mãe de etnia não identificada, mas com a pele negra, foi aceito pela elite devido a

sua educação europeia e sua vontade de ser considerado europeu. O fluminense, ao convocar

um mulato para titular do seu time, o expôs a um alto grau de preconceito, levando o atleta a

disfarçar a cor da sua pele com pó de arroz quando entrava em campo diante da torcida.

Contudo, um estado de conflito exagerado surgiu em 1923 quando o clube Vasco da Gama

venceu o campeonato carioca com muitos jogadores negros e que não tinham ocupação

empregatícia comprovada. A vitória do Vasco da Gama foi extremamente malvista pela ‘boa’

sociedade que entendia que aquele exemplo não podia ser bom para a mocidade. ‘Desocupados

pretos, campeões? Não!’ Expulsos das competições oficiais, o clube construiu o estádio de São

Januário com capacidade para mais de 30 mil espectadores, o maior estádio do Brasil na época,

glorificando assim seu retorno a liga (MURRAY, 2000; HELAL, 2002; DAMO, 2007).

Em 1925 o então presidente Arthur Bernardes congratulou explicitamente o dedicado

desempenho do Paulistano por sua temporada de jogos na Europa. Em 1927 o presidente

Washington Luiz tentou dissuadir o capitão do time da seleção paulista que havia abandonado

o campo em protesto a uma decisão errada do árbitro, a dar continuidade a partida, mas não foi

atendido. Este capitão era negro. Na década de 1930, o Flamengo, o Bonsucesso, o Vasco e o

América tinham em suas escalações um grande percentual de jogadores de pele negra. Em

meados de 1930, Getúlio Vargas se utilizou da massificação e do desempenho no futebol

nacional como propaganda governamental e almejou a exposição brasileira em âmbito

internacional através do esporte (MURRAY, 2000; MARQUES, 2013).

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Com a consolidação de um público para o futebol e o clubismo cada vez mais

consistente, em 1930 os clubes passaram a arrecadar dinheiro com as mensalidades cobradas

dos associados. Além disso, deu-se início a cobrança de entrada para assistir as partidas. Assim,

o futebol estava se tornando um esporte suficientemente rentável para financiar um tipo de

recompensa para os jogadores que se destacassem. Este aumento gradativo de dinheiro

introduzido nos clubes tornou possível a aquisição de patrimônio e o investimento no

recrutamento de jogadores. Aqui se dava início a um outro mercado laboral: as pessoas que

praticavam o esporte como profissão ofereceram sua força de trabalho, enquanto os clubes

profissionais vendiam os jogos e campeonatos, o produto de entretenimento.

Em 1933, com o profissionalismo do futebol, a imprensa ampliou os espaços dedicados

a modalidade esportiva, o rádio surgiu como novo meio de comunicação do futebol. Ao

contrário do que se podia pensar, o rádio de forma alguma tirou as pessoas dos estádios,

inversamente, multiplicou o número de espectadores das partidas pois atendia principalmente

àquelas pessoas que não podiam se deslocar até o estádio. Já em 1937 houve a primeira partida

de futebol transmitida ao vivo pela televisão (Figura. 2).

Figura 2 - 1ª Transmissão ao vivo pela TV

Figura 2. Primeiro jogo de futebol televisionado ao vivo, entre o Arsenal e o Arsenal reservas, Londres,

1937. Fonte: @Imagens.História.

O futebol foi causando afeição aos espectadores de todas as classes sociais, o que

aparentemente desagradava os praticantes e admiradores mais nobres e ricos do esporte. Porém,

os indivíduos ‘donos’ da prática futebolística paulistana se deparavam com uma nova situação:

a paixão de uma sociedade hierarquizada, interligada e interdependente pelo esporte.

No final da década de 1940, os abusos de dirigentes para com jogadores de futebol

geravam desconfortos e conflitos no âmbito desta prática. Eram negados os direitos básicos de

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reivindicação sindical, o que gerou uma greve da classe futebolística internacional. Em 1941

foi criado o Conselho Nacional de Desportos (CND), com o objetivo de fiscalizar e incentivar

a prática esportiva nacional. Em 1942 os clubes de futebol brasileiros passaram a ser vinculados

ao Governo Federal até 1988, quando o CND foi extinto e a estrutura organizacional do futebol

brasileiro passou a ser supervisionada e regida pela Confederação Brasileira de Desportos,

posteriormente chamada de Confederação Brasileira de Futebol (CBF) (HELAL, 2002).

De 1930 a 1950 o futebol brasileiro caminhou a passos largos na sua trajetória de

popularização e ascensão fenomenológica. Isso se deu em grande parte por causa da

profissionalização dos futebolistas, da atuação das camadas intelectualizadas da sociedade,

assim como dos setores da imprensa, que passaram a compor a área do jornalismo esportivo e,

por meio desta transformar a prática futebolística em um espetáculo de massa, artefato da

cultura popular. Por este meio, o jornalista Mario Filho fomentou incessantemente eventos

públicos em torno do futebol, passou a descrever, em suas crônicas esportivas, as disputas

futebolísticas como eventos épicos, símbolos dos pleitos acerca dos valores humanos e não

apenas do futebol. Obstinado defensor da profissionalização, advogava a respeito da ascensão

social por meio do futebol, acreditava na emancipação dos negros por meio desta modalidade

esportiva e entendia que a miscigenação no futebol podia ser vista como um mecanismo de

democratização das relações sociais. Em 24 de junho de 1950 houve o primeiro jogo oficial no

estádio do Maracanã. O estádio com capacidade para 200 mil torcedores, construído

excepcionalmente para a copa do mundo de futebol no Brasil, capaz de simbolizar e exaltar o

amor do brasileiro pelo futebol, foi palco da vitória da seleção brasileira sobre a seleção do

México por 4 x 0 (MURRAY, 2000; HELAL, 2002; RODRIGUES, 2004).

Na década de 1970, sob a ação da ditadura civil-militar (1964-1984), o Brasil caminhava

em busca do desenvolvimento econômico, descompromissado com as camadas sociais menos

favorecidas. Neste período vários estádios de futebol, tais como o Morumbi em São Paulo, o

Rei Pelé em Maceió e o Castelão no Ceará, foram construídos. Com capacidade entre 70 e 100

mil pessoas, essas construções podiam representar o otimismo econômico que regia os ideais

da época. Os militares, ao induzir o futebol à “paixão nacional”, se aproveitaram do triunfo

brasileiro na copa do mundo do México e asseguraram um instrumento de amortecimento ao

subjugo em que viviam os compatriotas neste período. Providenciaram uma estrutura cultural

e política em torno de uma bola, quatro linhas, praticantes e espectadores. A Copa do Mundo

de Futebol tornou-se um momento de “patriotismo” supremo. Desta maneira a transformação

do futebol em esporte nacional foi produto de um processo histórico, cultural, político,

econômico e esportivo, no qual seus alicerces foram construídos a partir de uma forte

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intervenção do Estado brasileiro e do avanço de ideias nacionalistas (HELAL, 2002;

MARQUES, 2013).

A partir da década de 1990, período que as políticas neoliberais mercantis de incentivo

a privatização se fortaleceram no contexto político nacional, os governos brasileiros e as

administrações de estádios investiram em uma série de medidas para a (re)elitização e

financiamento da indústria futebolística, dentre estas a diminuição da capacidade de público

nos estádios, extinção de setores populares das arquibancadas e aumento do valor dos ingressos

(MERCADANTE, 1998). Diante desta conjuntura, se fez presente o objetivo da seleção de

torcedores desejáveis, representados por um público potencialmente consumidor, capaz de

financiar a indústria futebolística.

“Para nós, não interessa o torcedor que junta centavos para ir a um jogo de futebol,

pois este não tem condições de consumir no interior do estádio. Nós queremos aquele

que tem condições de ir a todos os jogos e consumir” (membro da diretoria do Clube

Atlético Paranaense apud HANSEN, 2007, p.75).

“Sei que é politicamente e absolutamente incorreto o que eu vou dizer, mas uma das

soluções que eu vejo imediata é proibir, terminantemente, o futebol com portões

abertos; futebol de massa nem pensar, porque é a senha para bandidos tomarem conta

do estádio. Cobrar o ingresso e cobrar caro, cada vez mais caro, com cadeiras em

todos os setores do estádio. Tornar o futebol um esporte para a elite, vão lá 40 mil

abençoados por Deus, da alta classe média desse País” (KFOURI apud PIMENTA,

1997, p. 109-110).

Porém, o consumo que é almejado pelos empresários do futebol é um consumo

sustentado por toda uma carga emocional que envolve torcedores e time. A compra de

mercadorias é apenas um dos múltiplos estágios que engloba a experiência de consumo em sua

totalidade. Esta complexa vivência de consumo futebolístico tem sua fundação na busca pelo

prazer, pela satisfação, pelas sensações aprazíveis ocasionadas pelas dinâmicas de tensão –

excitação geradas pelas figurações de competição e cooperação que o futebol deixa tão claras.

“Os seus sócios são pessoas normais que gostam de futebol, do “barato” promovido

pelas “organizadas” e vão aos estádios de futebol atraídos pela diversão, pela viagem,

pela bebida, pela excitação do “jogo” e, até, pelo prazer de atos de violência”

(PIMENTA, 2003).

O futebol mundialmente foi convertido em um dos maiores fenômenos socioculturais e

econômicos dos últimos séculos. Responsável pela movimentação e reunião de milhões de

pessoas, foi transformado em espetáculo, o que envolve além da prática, o consumo. Sendo

assim, transmutado em um entretenimento grandioso, cheio de efervescência e significado,

envolvendo rivalidades, dramas, encenações, músicas, cerimônias e rituais, a máxima aceitação

do futebol em muitos países, tornou-o o esporte espetáculo mais assistido e o principal exemplo

do telespetáculo esportivo em todo o mundo (ELIAS, DUNNING 1992; REIS, 2006 a e b).

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Apesar das políticas globalizantes, em sobremaneira o clube é um emblema da

comunidade que o cerca, é deste aglomerado social próximo a estrutura clubística que seus

torcedores são formados, nutrem uma certa afeição por seus representantes e se sentem

vinculados socialmente ao grupo. Esse amor clubístico e a identificação com o time de futebol

pode ser expandido pelas relações sociais de afeto, familiares ou não, com um evidente apelo a

um tipo específico de masculinidade, que tem significado na vida dos sujeitos. Ainda, este lugar

de pertencimento honroso pode se consolidar diante do desempenho do time e da entrega dos

jogadores, comissão técnica e gestão administrativa do clube em prol de grandes conquistas.

Apoiar o clube é uma responsabilidade ímpar na identidade do sujeito enquanto torcedor.

De pronto, a prática do futebol aparece como um espaço marcado de sociabilidade e

lazer apto a fazer uma ruptura saudável no cotidiano. Para além de mera forma de

entretenimento é um dispositivo que produz significados, estabelece distinções e gera

categorias de pertencimento e identificação (Figura. 3A). Envolve formas de conflitos que se

encontram entrelaçadas, de maneira sutil, com formas de interdependência, de cooperação e

com a formação do “nosso grupo e do grupo deles” e relações de rivalidade em um grupo

futebolístico (Figura 3B).

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Figura 3A - Identidade Clubística

Figura 3A. Símbolos de identificação e pertencimento clubístico. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 3B - “Nosso grupo, grupo deles.”

Figura 3B. Formação explicita do nosso grupo e do grupo deles. Fonte: Ficheiro: República P

Corinthians.jpg

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CAPÍTULO II

OS TORCEDORES FANÁTICOS DE FUTEBOL E A FISIOLOGIA DAS

EMOÇÕES NO FUTEBOL

No Brasil o hábito de assistir aos jogos de futebol profissional em estádios é crescente

desde o século XX.

“Segundo Dunning (1999), o grande interesse, que os espectadores têm por esse

esporte moderno ainda nos dias de hoje, deve-se à necessidade que povos de todo o

mundo têm em buscar atividades de lazer que lhes propiciem um tipo de excitação

que eles não encontram mais nas sociedades atuais” (REIS, 2003).

Para Reis (1998), existem quatro categorias para o público de futebol: os espectadores,

os torcedores, os torcedores uniformizados e os torcedores organizados. Para esta autora, o

espectador desempenha o papel apenas de assistir ao espetáculo esportivo e se deleitar com o

embate físico apresentado pelas equipes. Já o torcedor é um indivíduo que além de assistir aos

jogos de futebol, tem sua preferência por um time específico, é torcedor dele e manifesta sua

torcida durante as partidas. O torcedor uniformizado é aquele que usa a camisa da sua equipe,

expressando também na vestimenta a sua preferência por um time de futebol. Já o torcedor

organizado é o sujeito que faz parte de uma agremiação torcedora que tem uma estrutura

organizacional burocrática, independente do clube para qual ele torce.

No país, os relatos sobre a organização de torcedores em agremiações de torcidas para

times de futebol, começaram a ser datados a partir de 1940, no Rio de Janeiro (Clube de Regatas

Flamengo) e em São Paulo (São Paulo Futebol Clube). Estes grupos podiam ser caracterizados

por organizar as ações nas arquibancadas, em jogos do seu time, onde quer que fosse o jogo. O

sentimento de pertencimento ao grupo era motivado exclusivamente pelo amor ao time de

futebol pelo qual se escolhia torcer. Havia também os “torcedores ícones”, indivíduos com

grande prestígio midiático que eram o ‘porta voz’ da torcida. Atualmente, as torcidas

organizadas ampliaram um movimento que era restrito aos estádios e o expandiram para a vida

sócio cultural das regiões. A Torcida Organizada (TO) “Gaviões da Fiel” foi fundada em

01/07/1969 com o objetivo de fiscalizar e apontar os erros dos dirigentes do SCCP (PIMENTA,

1997; PIMENTA, 2003; LOPEZ, 2010; MARQUES, 2013).

A palavra torcer (contorcer) indubitavelmente nos remete a uma carga preestabelecida

de dor, a experiências e expressões emocionais geralmente ligadas a comportamentos de

lamentação ou reclamação (MACHADO, 2005). A prerrogativa básica de todo torcedor é que

seu time vai ganhar. A partir deste pressuposto a pessoa torce para que os lances da partida

confirmem sua ânsia, porém, os lances de êxito são muito mais raros. No ato de torcer estão

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presentes as tensões miméticas, que imitam as tensões do dia a dia, com a certeza de que

nenhum perigo real vai acontecer. Pode haver a aflição de perceber a pressão do ataque

adversário à defesa de seu time, a raiva ao ver seu time sofrendo um gol, as diversas reações a

uma falta injustamente marcada, ao erro do ‘seu’ jogador, a bola que passou muito próxima a

trave e a inúmeras outras situações do jogo. Além disso, a determinação das equipes em marcar

o gol decisivo provavelmente incita outro tipo de tensão em quem torce, tanto pela incerteza do

êxito, quanto pela intensificação da sensação mimética de entrega, de luta. Se o jogo for de final

de campeonato ou eliminatório pode-se supor que o grau de tensão deve ser ainda de uma

grandeza muito maior (MACHADO, 2005; ELIAS, DUNNING, 1992).

Neste sentido, parece claro que as pessoas procuram nas suas atividades miméticas de

lazer, um tipo específico de tensão em detrimento à busca em atenuá-las. Este tipo de tensão

conduz a uma excitação crescente e a um clímax de sentimentos de êxtase, muitos graus de

prazer, aspectos de frustração e decepção (Figura. 4). Contudo, um jogo muito excitante pode

ser perdido pela sua equipe, outro jogo muito bom pode terminar em empate, ou ainda, uma

equipe com habilidades conjuntas muito superior a outra pode proporcionar um confronto sem

nuances notáveis na dinâmica tensão-excitação da partida. Nestes casos as pessoas continuarão

a levar para a sua casa o gosto da excitação agradável da disputa, mas sem o jubilo da vitória,

ou seja, sem o gatilho para a liberação da excitação alcançada (ELIAS, DUNNING, 1992).

Figura 4 – A excitação do torcer

Figura 4. Imagens de torcedores expressando emoções durante as partidas de futebol no estádio.

Fonte: Adaptado de Machado (2005).

Com o aparecimento e o fortalecimento da transmissão televisiva do futebol, emissoras

de TV e detentores do poder esportivo passaram a compartilhar interesses. O tempo destinado

as práticas esportivas e aos comentários sobre os eventos futebolísticos na mídia televisiva

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estabelece uma nova relação entre esportistas e torcedores. As chamadas ‘mesas redondas’

acontecem geralmente após as rodadas dos fins de semana e tem o poder de maximizar o jogo

em si, por corroborar com a ‘falação’ esportiva. Nestas discussões reúnem-se as opiniões de

aspecto frio e técnico dos especialistas e profissionais do futebol, que buscam em sobremaneira

estabelecer um grande grau de distância entre os que entendem do assunto e a torcida, confusa

por suas emoções. Os programas são muitas vezes estruturados por imagens televisivas

afastadas ou não, correspondentes em sua totalidade com a realidade ocorrida dentro do estádio

e desenvolvidos artificialmente para manter um certo grau de informalidade e exaltação dos

apresentadores e convidados, meticulosamente organizados para desempenhar papeis onde os

torcedores possam se identificar e, assim, serem cooptados na manutenção da assistência destes

entretenimentos (ESCHER e REIS, 2012).

O hábito de falar sobre o que aconteceu na partida de futebol faz ecoar por mais tempo

a sensação de vivenciar o esporte e a torcida se sente mais perto dos praticantes profissionais.

Entrevistas sobre o dia a dia dos jogadores, produtos associados as personalidades esportivas,

fofocas sobre a vida pessoal dos jogadores, especulações sobre o futuro dos jogadores, tudo

isso cria uma atmosfera autônoma sobre o futebol. Ainda, devido a hipermercantilização do

futebol como um super produto midiático, Reis e Escher (2006b; 2012) acrescentaram ao

escopo de categorias do público de futebol, o telespectador, indivíduo que se relaciona com o

futebol por meio de novas tecnologias e se aproxima do seu clube por meio da tv e/ou da internet

mas ainda mantêm a paixão e a identificação clubística.

A participação mais efetiva dos espectadores/torcedores/telespectadores nos

acontecimentos esportivos pode representar uma interrupção no manto habitual das restrições

rotineiras. O ato de torcer por um time de futebol no Brasil, passou de uma singela atividade

vivenciada aos finais de semana, para atos identitários e competitivos capazes de desencadear

paixões. Os rituais do torcer reforçam valores, rivalidades, comportamentos e autoimagens

coletivas. Reconhecem a honra do passado e almejam a perpetuação dos múltiplos níveis do

patrimônio do seu clube no futuro. Os torcedores anseiam compartilhar os momentos de dor e

alegria do seu time juntos. Esse é o sentimento que os une na vida e no dia do jogo, seja na sede

da agremiação, seja no caminho do estádio, dentro dele ou em frente à televisão (KOCH, 2015).

Para Giullianotti (2012), atualmente existem quatro categorias em que se pode

classificar os torcedores quanto ao tipo de identificação dos sujeitos com os clubes. Sua

proposição é alicerçada em oposições binárias básicas entre os quadrantes quente-frio e

tradicional-consumidor. O eixo tradicional-consumidor mede a base do investimento pessoal

para com o clube escolhido; quanto mais tradicional o torcedor, mais longa será a identificação

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sociocultural com o clube. Em contrapartida, a relação do torcedor consumidor com o clube é

mercadológica, centrada no consumo de produtos do clube. O eixo vertical quente-frio,

representa o nível de centralidade do clube na formação do sujeito. Formas quentes de

interrelação enfatizam tipos intensos de identificação em oposição ao grau frio de torcer. Na

figura 5 é possível encontrar os quatro quadrantes capazes de representar as categorias de tipos-

ideais dos torcedores em consumidor/frio; consumidor/quente; tradicional/frio e

tradicional/quente, o fanático.

Os torcedores tradicionais/quentes, também descritos pelo autor como fanáticos, se

enxergam como membros dos clubes, identificados fortemente como doadores de um

investimento pessoal de longo prazo na relação com determinada associação futebolística.

Organizam seus horários e sua vida em função da sua devoção, participam de rituais próprios

capazes de promover a interrelação entre comunidade e a estrutura clubística, assim como entre

os próprios torcedores. Estão conectados culturalmente com aquele espaço, comprometidos

conscientemente e quase que obrigatoriamente em mostrar solidariedade e apoio, inclusive

financeiro ao clube, sem nunca o abandonar. “o emblema do clube é tatuado... O estádio

fortalece sua solidariedade com outros fanáticos” (GIULIANOTTI, 2012 p. 16).

O torcedor passa a ser fanático quando se autodenomina desta forma sem receio e muitas

vezes, com orgulho de sê-lo. Quando o objeto de sua devoção domina suas atitudes, quando se

recusa a aceitar críticas e vislumbra a possibilidade de violar normas sociais pelo seu grau de

envolvimento com o clube. Os fanáticos são os guardiões do futebol! Apoiar o clube é uma

ocupação identitária importante para o sujeito. Ir aos jogos disputados em casa é um hábito que

organiza seu tempo livre. Conhecer os cânticos e hinos que representam seu clube é

engrandecedor. O clube pode até mudar seus jogadores, mas seu campo será sempre sua “casa”.

O emblema do clube é tido como símbolo de honra e o corpo se torna veículo chave para a

expressão e comunicação das emoções (Figura. 6). Neste sentido, o investimento emocional do

fanático no clube é recompensado por meio do jogo bem jogado, da entrega dos seus jogadores

como participantes de um duelo físico, com regras conhecidas e com um determinado grau de

violência permitida e, em sobremaneira, pela vitória alcançada com glória (ELIAS, DUNNING,

1992 REDDEN e STEINER 2000; GIULIANOTTI, 2012). Assim, os torcedores e claramente

os torcedores fanáticos, estarão dispostos a entregar-se ao desempenho ótimo de seu papel de

‘décimo segundo jogador’ no auxílio à conquista da contenda.

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Figura 5 - Caracterização dos Torcedores

Figura 5. Representação das quatro categorias (tipo-ideais) de torcedores proposta por Giulianotti (2012).

Figura 6 - Torcedores Fanáticos

Figura 6. Representação do envolvimento emocional do torcedor fanático. Fonte: arquivo pessoal.

É sabido que em todas as formas de desporto há a propensão para desencadear emoções,

para evocar uma excitação proficiente em romper o adestramento emocional social outorgado.

No entanto, no futebol televisionado, ou seja, aquele considerado de elite, é possível ver, pelo

menos em traços gerais, um tipo de configuração de jogo apto a proporcionar o prazer ótimo,

no qual trata-se de um confronto prolongado, em um espaço amplo e aberto, quase que como

um campo de batalha entre duas equipes bem preparadas em seus aspectos técnicos, táticos e

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no que diz respeito as capacidades biomotoras. Além disso, consiste em um jogo que oscila em

momentos claros de ataque e defesa, conta com momentos inesperados de contra-ataque, nem

tão rápidos a ponto de serem perdidos de vista, nem tão demorados que percam sua

configuração de surpresa. A forma dinâmica do ritual futebolístico evidencia um continnum

interligado de sensações associadas aos padrões de frustração e de realização. Assim, os lances

que ocorrem durante a partida de futebol são fatos desencadeadores de algum nível de adaptação

orgânica relacionadas as nuances dessas experiencias emocionais.

Ainda, no torcedor fanático, esses fatos desencadeadores encontram acolhimento e

expressão de maneira acentuada, permitindo-nos uma observação mais clara das emoções

despertadas pelo confronto esportivo.

Mas afinal, o que é emoção? E como é sua fisiologia na literatura?

Em geral entende-se por emoção um estado, movimento ou condição que provoque nas

espécies animais, incluindo a humana, a percepção do alcance ou importância que determinada

situação tem para sua vida, suas necessidades e/ou seus interesses (ABBAGNANO, 2007).

Desde o início da era comum e durante os séculos iniciais foi-se instruído que as

emoções estão estreitamente relacionadas com a satisfação das necessidades e/ou desejos, além

de se fundamentarem quase que exclusivamente no fato ou na tentativa de atrair o bem e afastar

o mal. Muitos filósofos e pensadores concordavam que as emoções eram propriedades

sensíveis, ou seja, atributos da alma, embora fossem acompanhadas de alterações físicas

(ABBAGNANO, 2007).

No período que compreendeu os séculos XVI e XVII, os teóricos das emoções

reconheceram marcadamente a presença e a importância do corpo biológico em sua teoria. As

emoções eram consideradas como originárias da difícil situação em que o espírito vital e o

corpo físico se encontram no mundo. O corpo, envoltório do espírito, não consegue protegê-lo,

por vezes permitindo que se canse ou se enfraqueça. Neste sentido, o espírito precisa perceber

e entender as forças de todas as outras coisas para que possa estabelecer meios de manter a

própria existência. Além disso, é necessário que sinta prazer quando estes meios estão a sua

disposição. Assim, o prazer e a dor foram estipulados, neste período, como os dois polos das

experiencias emotivas. Graças a alegria, a alma adverte ao corpo o que é útil. O mesmo acontece

quando o ódio avisa algo nocivo à experiencia do corpo. Neste caso, as emoções faziam parte

dos princípios invisíveis do movimento do corpo humano. Estes princípios precederiam as

ações visíveis (ABBAGNANO, 2007).

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A partir do final do século XIX houve um notório aprofundamento na busca sobre os

processos neuropsicológicos envolvidos nas emoções. Darwin (1890) foi o primeiro autor a

sistematizar suas ideias na obra ‘The expression of the emotions in man and animals’. O estudo

assumiu a expressão muscular e comportamental de diversas espécies animais como

marcadores da experiencia emocional – uma resposta ‘física’ para uma sensação ‘mental’-

como afirma o prefácio da republicação da 2ª edição do livro, pela Universidade de Cambridge

em 2009. O pesquisador defendeu em sua tese que um sistema básico de emoções era inato aos

seres humanos, ou seja, hereditariamente transmitido e ainda, filogeneticamente conservado,

pois características faciais semelhantes indicavam que as mesmas sensações eram vivenciadas

entre as espécies. A raiva (anger), o medo (fear) e o prazer ou a alegria (joy) faziam parte deste

escopo primário de estímulos que provocam significado adaptativo ou funcional no individuo

em relação ao ambiente.

Darwin (2009) suscitou ainda a ideia de três princípios básicos que poderiam regular as

expressões e gestos involuntários, usados por seres humanos e outros animais em resposta a

uma experiencia emocional. O primeiro princípio discorreu sobre a capacidade de estados

mentais específicos regularem ações e comportamentos que almejam aliviar, gratificar ou saciar

desejos e vontades. Assim, a cada momento que um determinado estado mental se repete, há

uma tendência habitual de reproduzir os mesmos movimentos e assim atingir a mesma

finalidade. Este é o princípio de ‘hábitos úteis associados’ (serviceable associated habits). A

partir deste postulado, Darwin (2009) nos guiou para o oposto disso, o segundo princípio: a

antítese (Antithesis). Assim, no caso de um estado mental oposto a uma determinada cadeia de

sinalizações e ações previamente experienciada satisfatoriamente, haveria uma tendência

natural dos animais em regular seus movimentos na direção contrária àqueles que foram

associados ao primeiro estado mental.

O terceiro e último princípio instruído pelo autor nesta obra, indicou a ocorrência de

uma forte excitação dos receptores sensoriais. A sinalização desta percepção acontece em uma

direção específica, que é dependente das conexões celulares e da capacidade energética corporal

e independente da vontade ou do hábito. Como é o caso do tremor muscular (trambling of the

muscle) e do rubor facial (blushing). Este é o princípio das ações que acontecem devido a

constituição do sistema nervoso.

Na mesma época, William James (James- Lange theory) se apoiou no princípio das

ações devido a constituição do sistema nervoso e o personalizou, reduzindo sua complexidade.

Escreveu que as experiencias emocionais seriam idênticas aos ‘sentimentos corporais’ (bodily

feelings), um processo orgânico, no qual um ‘fato’ estimula um ou mais órgãos sensitivos, em

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que impulsos aferentes são transmitidos ao córtex e correntes sinalizadoras chegariam

principalmente aos músculos e as vísceras alterando-os de múltiplas e complexas maneiras.

Assim, as comunicações desses órgãos alterados de volta ao córtex transformariam aquele fato

simplesmente existente em um fato emocionalmente sentido (REISENZEIN, 2014;

CANNON,1927).

Sua sugestão dissertou que as emoções eram desencadeadas de forma reflexa pela

percepção ou imaginação de uma situação em seu contexto geral, em detrimento de um processo

avaliativo do organismo que ocorreria no córtex sensorial. Neste caso, para cada tipo de emoção

sentida por uma pessoa em um determinado tempo e espaço, haveria um tipo de sensação

corporal anterior e específico relacionado, o ‘sentimento corporal’, ativado como ondas difusas

que integrariam alterações orgânicas periféricas, em especial nas vísceras e nos músculos. Um

caminho não psicológico para a experiencia emocional. Uma rota exclusivamente

neurofisiológica na qual o córtex motor seria a área onde os programas neurais para alterações

corporais se comunicariam, de forma inata ou por reflexos aprendidos. De acordo com sua

teoria, as emoções que evidentemente se apresentavam acompanhadas de modificações

corporais eram: a raiva (anger), o medo (fear), o amor (love), o ódio (hate), a alegria ou prazer

(joy), o luto (grief), a vergonha (shame) e o orgulho (pride). Outras emoções, por ele chamadas

de moral ou sentimentos mentais, poderiam sim ter alterações periféricas associadas, mas não

tão evidentes quanto as primeiras; ou ainda, não seriam emoções e sim julgamentos intelectuais

(REISENZEIN, 2014; CANNON,1927).

Sugeriu ainda que as impressões percebidas pelos sentidos deveriam ser fortes o

suficiente para ativar o centro vasomotor humano, de outra maneira, não seriamos capazes de

sentir nenhum tipo de emoção, pois a percepção subjetiva não seria em sobremaneira confiável,

tendo em vista que o sujeito seria capaz de discernir os elementos e as intensidades dessas

alterações, para expressar o seu sentimento emocional, mas não de diferenciar a origem

anatômica e fisiológica do estímulo (REISENZEIN, 2014; CANNON,1927).

Desta maneira, sua teoria defendeu que a percepção das mudanças corporais como elas

ocorrem, eram as emoções. Além disso, chamou a atenção para o debate entre a emoção e a

sensação e advertiu a comunidade cientifica sobre a existência das diferentes intensidades e

qualidades do fenômeno emoção.

O pesquisador Cannon (1927) realizou um exame crítico, ponto a ponto, sobre a teoria

que antecedia seus achados e escritos. Para o pensamento emergente, a expressão emotiva

residente e desencadeada principalmente pela ativação e regulação da área visceral, circulatória

e motora do ser humano, estava equivocada. Nas suas pesquisas, Cannon e cols. (1915)

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removeram cirurgicamente todas interferências viscerais dos canais simpáticos de comunicação

e observaram ainda a presença de comportamentos de medo e raiva em seus modelos animais.

Além disso, seu estudo evidenciou a inervação e consequente sinalização difusa dos neurônios

do SNA. Simpático nos músculos lisos assim como a uniformidade de ação das mudanças

viscerais em múltiplos estados, sugerindo que sem o fator subjetivo do significado emocional,

restaria apenas um aglomerado de alterações orgânicas.

Um dos pontos da revisão de Cannon (1927) sobre a teoria de James-Lange foi o fato

de que, ao assumir que as emoções são resultado de ativações e comunicações periféricas,

esperar-se-ia que uma experiência química exógena e induzida por um modelo experimental,

geraria impulsos simpáticos efetivos para produzir emoções. Assim, o autor foi buscar na

literatura da época como robustecer seus questionamentos. Ao citar Marañon (1924) em seu

trabalho, dissertou sobre a exposição de estudantes a adrenalina exógena e suas reações: “Era

como se eu fosse chorar sem saber porque”, “Eu me senti como se com medo”, “Como se eu

estivesse esperando uma grande alegria” (CANNON,1927. p.113). Embora o fator

subjetividade tenha sido abordado, Cannon (1927) não admitiu estes relatos subjetivos como

experiencias emocionais concretas, decorrentes da comunicação e sinalização instigada pela

experiência química exógena. Não aceitou como “verdadeiro sentimento” (true feeling) as

descrições dos estudantes, ignorou que os estímulos periféricos podem sim causar respostas

centrais a um nível muito parecido com as emoções, “como se eu estivesse com muito medo,

mas estou calmo” (CANNON,1927. p.113) e que talvez, a dúvida que os relatos transparecem

seja exatamente a falta de significado para aquele estado orgânico, característico da emoção.

Entretanto, o pesquisador assumiu que as mudanças corporais ocasionadas pela

adrenalina exógena incitariam, nos seres humanos, mudanças corporais parecidas com as

sensações. Considerou também que as posições e tensões musculares específicas poderiam

interferir na diferenciação emocional, porém, enalteceu que os arranjos neurais para a expressão

emocional residiriam nos processos talâmicos subcorticais em detrimento ao controle visceral

cortical. Para Cannon (1915 e 1927) um estímulo externo interagiria com receptores

específicos, acionando-os para emanar impulsos elétricos para o córtex, onde os neurônios

corticais excitariam os processos talâmicos em combinações especiais de acordo com uma

determinada expressão emocional. Ainda de acordo com o autor, ao passo que as descargas no

tálamo aconteceriam, as modificações corporais também ocorreriam quase que

simultaneamente com a experiência emocional.

Dez anos depois, James Papez (1937) publicou sua hipótese aliando uma possível

conexão anatômica à integração fisiológica de sinalização emocional. Para ele, a reciprocidade

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conectiva entre hipotálamo, giro cingulado e hipocampo poderia oferecer um importante

circuito de informações com o córtex. Assim, o que ele chamou de córtex do giro cingulado

seria a área da experiencia emocional ativada e regulada pelos impulsos provenientes da região

hipotalâmica. O tálamo e suas conexões facilitariam o processo emocional fisiológico e a

função psicológica da emoção, ao atuar como um receptor genérico de estímulos provenientes

dos receptores periféricos, ao mesmo tempo que agiria como distribuidor de sinais para cada

via de sinalização específica: a rota dos pensamentos, aportando no córtex lateral e no corpo

estriado, sendo transformadas em percepções, pensamentos e lembranças. A rota dos

movimentos, chegando a porção dorsal do tálamo e aos corpos estriados e a rota dos

sentimentos, transmitidas do tálamo ao hipotálamo e ao giro cingulado, proporcionando as

reações corporais pertinentes a cada emoção. (Figura. 7).

Figura 7 - Teoria dos sistemas emocionais organizados em rede

Figura 7. Esquema representativo da teoria de James Papez (1937)

Papez (1937) deslocou o caminho da teoria das emoções de centros reguladores

hierarquizados para sistemas emocionais organizados em rede, com funções mediadoras,

interligadas e interdependentes entre si. Sugeriu que a experiencia emocional é diferente da

expressão emocional e evidenciou a importância da subjetividade na constituição do que

significa emoção.

Em um contínuo progresso científico acerca da função animal chamada de emoção, um

modelo anatômico mais robusto foi descrito por MacLean em 1949. Sua teoria sugere que a

experiencia emocional integra as sensações do mundo externo com as informações corporais e

a parte anatômica responsável por esta integração é o ‘cérebro visceral’; assim denominado pela

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disposição estratégica de algumas estruturas anatômicas e sua estreita ligação com o controle

das funções vegetativas. Em sua pesquisa, o autor observou que a estimulação do rinencéfalo

por meio de odores de predadores, que supostamente desencadeariam a emoção do medo,

geraria reações autonômicas de regulação na pressão arterial, frequência respiratória e cardíaca

(DALGLEISH, 2004; ROXO, 2011).

Em ordem de designar um sistema funcional e não apenas um sistema anatômico, o

sistema límbico (Figura. 8), ficou conhecido como o circuito neuronal que regularia o

comportamento emocional e as forças motivacionais do ser humano. Nesta tese, o hipocampo

desempenharia função primordial como núcleo regulatório e, ao sugerir que a comunicação

hipotalâmica com todos os outros níveis do sistema límbico acontece por três vias: (1)

descendente em direção ao tronco cerebral → mesencéfalo, ponte e bulbo → nervos periféricos

do sistema autônomo; (2) ascendente em direção as áreas superiores do diencéfalo, tálamo e

áreas límbicas do córtex e (3) em direção ao hipotálamo no intuito de controlar as funções

secretórias da hipófise; esta teoria aponta o hipotálamo como principal estrutura de controle

deste complexo sistema de comunicação emocional (ROXO, 2011; GUYTON, 2006).

De acordo com LeDoux (2012a), o sistema límbico surgiu no intuito de explicar todas

as emoções com um único conceito anatômico que definiu áreas corticais e subcorticais como

geradoras das emoções humanas. Assim, precipitadamente, concluiu uma certeza acerca de sua

sinalização global, como é marco da ciência positivista.

Embora a ideia do sistema límbico ainda seja extremamente utilizada por pesquisadores

das experiências emocionais, também tem sido bastante criticada principalmente por três

aspectos: o primeiro é que a teoria presume que apenas mamíferos possuem as estruturas

indicadas no sistema límbico. Porém, neuroanatomistas tem descartado esta possibilidade ao

encontrar estruturas correspondentes em pássaros e repteis. Em segundo plano, a teoria do

sistema límbico argumenta que as células do hipocampo são inadequadas para o processo

cognitivo. Todavia, atualmente o hipocampo é uma área chave relacionada as funções

cognitivas superiores. Por último, não há evidências sólidas de que o sistema límbico atue de

forma integrada na mediação de todas as emoções, em seus múltiplos níveis e intensidades

(LeDOUX, 2012 b).

Neste sentido, LeDoux (2000, 2003,2012a,2012b) e Pfaff (2008) têm incessantemente

apresentado a função da amigdala na regulação dos sentimentos de medo e raiva em detrimento

de todo escopo anatômico fisiológico estrutural do sistema límbico para a regulação destes

estados emocionais, sugerindo um grau de especificidade na ativação das estruturas nervosas

centrais em relação a um estado emocional particular.

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Figura 8 - Anatomia do sistema límbico

Figura 8. Sistema límbico (GUYTON, 2006).

Em toda a história do estudo sobre o significado e repercussão do estímulo emocional

no ser humano, o conceito de emoção foi correlacionado aos estados de atração e repulsa à

objetos e situações para a manutenção da existência do ser que a sente. Mesmo na modernidade

e na contemporaneidade, onde as pesquisas sobre o processamento das emoções têm sido

realizadas em diversas áreas e grandes avanços sobre a ativação, regulação e atuação dos

sistemas têm sido apresentadas, principalmente quando relacionados à cognição (LeDOUX,

2000; DEAK, 2011), a memória (LeDOUX, 1994; LeBAR, 2006) e às patologias (CANNON,

1927; NORIYUKI, 2001; MESQUITA, 2014); fica claro que o conceito de emoção nos remete

ao princípio fisiológico de ‘luta ou fuga’ e há a busca, muitas vezes ingênua, por uma unificação

na sua sinalização.

Neste sentindo, Hans Selye (1950) nos indicou uma série de ações fisiológicas

periféricas que enormemente nos auxiliam a descrever, como o próprio autor se expressa,

pontes entre as muitas vias de sinalização interconectadas na natureza. A chave destas

interconexões é que todo organismo vivo responde a um estímulo externo em busca da

harmonia. Quando este estímulo põe em risco a vida do ser, é denominado stress e desencadeia

uma adaptação generalizada básica em todos os organismos, sempre relacionada a mecanismos

de defesa ou danos.

Na Síndrome de Adaptação Geral (SAG) (SELYE, 1950) existe uma reação adaptativa

integrada, estreitamente relacionada a respostas internas independentes da especificidade do

estímulo externo estressor. Esta síndrome se desenvolve em três estágios: (1) reação de alarme,

com características de catabolismo tecidual, hipoglicemia e descargas de secreção advindas do

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córtex adrenal; (2) estágio de resistência, onde essas sinalizações fisiológicas desaparecem e,

(3) estágio da exaustão onde as alterações orgânicas da reação de alarme regressam. Porém, o

autor enfatiza que a especificidade do estímulo desencadearia reações próprias e estas não

fazem parte da SAG.

De acordo com Selye (1950) o sistema de medidas defensivas do ser humano estaria

diretamente ligado a regulação hipofisária e os centros vegetativos hipotalâmicos ativados pelos

receptores periféricos nervosos ou hormonais. Consequentemente, estes dois grandes sistemas

de comunicação orgânica se alterariam frente a um estímulo estressor. Na sinalização eferente

(Figura. 9), estímulos nervosos partiriam do hipotálamo para nervos autonômicos e órgãos

periféricos. A medula adrenal seria ativada para liberação de hormônios adrenérgicos

(adrenalina e noradrenalina) no sangue, o que induziria a contração da musculatura lisa,

provocando vasoconstrição, aumento da resistência periférica e elevação da pressão arterial.

Haveria ainda evidências da intensificação da ação colinérgica, uma concorrente ativação de

sistemas efetores agonistas e antagonistas no intuito de estabilizar os órgãos alvos frente ao

estímulo e a regulação do metabolismo de água e da glicose. Estas alterações estão associadas

em parte dos resultados da ativação do eixo Hipotálamo – Hipófise – Adrenal (GOLDSTEIN e

KOPIN, 2009).

Selye (1950) afirmou que as respostas orgânicas a estímulos estressores têm o objetivo

específico de tentar reverter os efeitos do estressor, contudo, em adição a respostas especificas,

há uma síndrome não especifica ‘do estresse’. Chrousos (1992) adicionou à proposta de Selye,

que deveria haver o limiar de intensidade para diferenciar o tipo de resposta orgânica ao

estresse; acima deste limiar, a síndrome não específica poderia ser ativada.

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Figura 9 – Via de sinalização da Síndrome de Adaptação Geral – SAG

Figura 9. Desenho original da publicação de Hans Selye (1950) sobre a síndrome geral da adaptação sem

a regulação do metabolismo de água e açúcar (SELYE, 1950).

O sistema nervoso autônomo é a porção do sistema nervoso central responsável pela

regulação da maioria das funções viscerais do organismo. É ativado principalmente por núcleos

dispostos na medula espinhal, tronco cerebral, hipotálamo e centros de comunicação

interligados em algumas áreas do córtex. Uma das características mais marcantes do SNA é a

rapidez e a intensidade que ele pode mudar as funções viscerais. Para tanto, os sinais autônomos

eferentes são transmitidos aos órgãos do corpo por meio de duas grandes vias: O sistema

nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático (Figura 10) (GUYTON, 2006).

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Figura 10 – Representação do Sistema Nervoso Autônomo em suas vias efetoras

simpáticas e parassimpáticas

Figura 10. Esquema representativo das funções dos sistemas nervoso simpático e parassimpático. 3Fonte:

Endereço eletrônico Anatomia do Corpo

Diante de um estímulo estressor, o sistema nervoso regula da concentração de glicose

plasmática, muscular e hepática, responsável ainda pelo redirecionamento do fluxo sanguíneo

para os músculos ativos, atividade mental elevada, incremento do metabolismo celular,

aumento dos níveis de glicocorticoides e das catecolaminas (epinefrina, norepinefrina e

dopamina), que por sua vez, inicia uma cadeia de sinalização que proporciona o aumento dos

níveis séricos de hormônios produzidos pelo córtex. Além de ser também responsável pela

regulação da pressão arterial através da contração organizada das arteríolas para aumento da

3 Disponível em: <https://www.anatomiadocorpo.com/sistema-nervoso/autonomo-simpatico-parassimpatio/>.

Acessado em: 03 ago. 2018

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resistência periférica ao fluxo sanguíneo, da contração forte dos grandes vasos, principalmente

das veias no intuito de elevar o volume sanguíneo nas câmaras cardíacas e de aumentar o

bombeamento cardíaco, o que consequentemente provoca um incremento da frequência

cardíaca em até três vezes mais que o normal, em um intervalo de tempo de três a cinco

segundos (GUYTON, 2006, SELYE, 1950).

Para a elevação da FC, o sistema nervoso simpático e sua vasta inervação do músculo

cardíaco, aumenta a frequência de descargas elétricas no nodo sinusal, bem como a

excitabilidade e a velocidade de condução do impulso em todas as porções do coração. Além

disso, aumenta a força de contração do músculo cardíaco e induz à liberação de norepinefrina

pelas terminações nervosas. Que por sua vez, possivelmente, regula a permeabilidade das fibras

aos íons de sódio e cálcio (GUYTON, 2006).

Além da regulação da PA e da FC o hipotálamo participa do eixo HHA com importante

desempenho na sinalização hormonal. Assim, dentro deste contexto, o sistema endócrino teria

importante função nos mecanismos de defesa do ser humano, principalmente no que diz respeito

a diminuição da secreção de somatotrofinas, gonadotrofinas e tirotrofinas, por não serem

essenciais à manutenção da vida e em contrapartida, provocar a secreção do hormônio

adrenocorticotrófico, ACTH.

O hormônio liberador de corticotrofina (CRH) em situações não estressantes é liberado

de acordo com o ciclo circadiano, agindo na regulação da ação hipotalâmica e no eixo

Hipotálamo Hipófise Adrenal, a fim de iniciar uma cascata de sinalização que também regula

a liberação do ACTH e do cortisol, seus efetores finais. A ativação do sistema do stress como

Charmandari and cols. (2005) denominaram o conjunto de estruturas e sinalizações

interconectadas na parte central e na parte periférica do organismo em resposta a um estímulo

estressor, tem como principais funções a secreção do CRH, das catecolaminas e dos

glicocorticoides. Pode levar a alterações físicas e comportamentais como aumento da excitação

generalizada, melhoria da cognição, euforia, aumento de analgesia, elevação da temperatura

corporal e inibição das funções vegetativas de apetite e reprodução. Além disso outras

características metabólicas como lipólise e gliconeogênese também são encontradas. A

depressão representa um típico exemplo da desregulação generalizada da resposta ao stress.

Indivíduos acometidos por esta desarmonia apresentam hipersecreção de CRH,

consequentemente uma elevação dos níveis de cortisol (CHARMANDARI, 2005; SMITH,

2006; MAGIERA, 2018).

Em continuidade ao percurso das pesquisas sobre a experiencia e expressão emocional,

cientistas da contemporaneidade têm se dedicado na busca de circuitos específicos para cada

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situação emocional em detrimento de uma única macro associação anatômica que seja

responsável por toda a gama de sentimentos. No entanto, as vias de sinalização ativadas por

estímulos que causem alegria/prazer/felicidade, são em grande medida desconhecidas no meio

científico. Em parte, pela subjetividade envolvida em todos os estados emocionais e em parte

pelos circuitos específicos que cada tipo de alegria, prazer ou felicidade podem desencadear. O

prazer de se alimentar pode regular vias de comunicação distintas do prazer relacionado a

procriação, assim como a alegria de rever um ente querido pode ativar circuitos de sinalização

diferentes da alegria proporcionada pelo alcance da vitória pelo seu time de futebol (LeDOUX,

2012 b).

Desta maneira, o foco das teorias emocionais voltadas para a subjetividade de um

conceito singular de emoção ou convertendo em uma única palavra (medo, alegria, prazer...)

diversos estados mediados por diferentes tipos de circuitos, pode estar negligenciando detalhes

do processo emocional. Destarte, ‘os circuitos de sobrevivência’, ganham evidência no auxílio

à elucidação dos caminhos escolhidos pelo organismo em resposta a um estímulo interno ou do

ambiente. Estes circuitos contribuem para organização das funções cerebrais, priorizando

específicos tipos de resposta e inibindo atividades que são irrelevantes para uma dada situação

(LeDOUX, 2012 b).

Os circuitos de sobrevivência (Figura. 11) são dispositivos sensório motores integrados

que servem para propósitos adaptativos específicos. São acionados frente a situações

desafiadoras, comumente chamadas de ‘situações emocionais’ e utilizam esta informação para

controlar respostas comportamentais e ajustar fisiologicamente o organismo, no intuito de

trazer um desfecho positivo a situação; um retorno aos índices habituais da busca pela

homeostase (LeDOUX, 2012 b).

Quando um estímulo emocional aciona o circuito, respostas comportamentais, respostas

do sistema autonômico e resposta hormonais são enviadas como feedback ao cérebro. O sistema

neuromodulador inicia a regulação de excitabilidade e neurotransmissão pelo cérebro. O

comportamento dirigido a objetivos é acionado pelo sistema motivacional. Os sistemas

sensoriais, cognitivos e de memória são regulados para direcionar a atenção ao estímulo

relevante, o que forma uma memória sobre a interação estímulo /resposta corporal (LeDOUX,

2012 b).

Nesta teoria, dois estágios são encontrados diante de uma situação desafiadora: A

excitação cerebral e a excitação generalizada (general arousal). A excitação cerebral pode ser

caracterizada pela regulação de neurônios que sintetizam e liberam aminas biogênicas

(norepinefrina, dopamina, serotonina ou acetilcolina) e peptídeos. A chamada excitação

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generalizada ocorre pela ativação dos sistemas endócrinos periféricos na sinalização e liberação

hormonal na circulação sanguínea (PFAFF, 2008).

Figura 11– Circuitos de Sobrevivência

Figura 11. Consequências da ativação dos circuitos de sobrevivência adaptado de LeDoux (2012 b).

Para LeDoux (2012 b) estes estados orgânicos são chamados de ‘estados globais do

organismo’ e incluem circuitos específicos de sobrevivência, assim como componentes gerais

de motivação, que regulam o comportamento e a excitação generalizada do cérebro e do corpo.

A ideia proposta pelo autor é que sentimentos conscientemente percebidos por seres

humanos estão relacionados com a representação cognitiva dos estados globais do organismo.

Os componentes destes estados incluem um estimulo desencadeador, a percepção de aspectos

físicos e sociais do ambiente do estímulo, a especificidade de circuitos que o referido estimulo

ativa, a excitação específica do sistema nervoso central (SNC), o feedback expresso pelo corpo

e memórias de longo prazo relacionadas ao estímulo e sobre o estado que se resulta dele (Figura

12).

Os estados de excitação descritos por LeDoux (2012 b) e Pfaff (2008) são muito

similares a reação de alarme descrita por Selye (1950) durante a SAG - Síndrome Geral da

Adaptação. Desta forma, tanto nos circuitos de sobrevivência como na SAG, há a presença de

um estímulo responsável por suscitar respostas centrais e periféricas específicas no organismo

a fim de adaptar-se a uma nova situação que se concretiza em um dado momento (SELYE,

1950; LeDOUX, 2000; LeDOUX, 2003; CHARMANDARI, 2005; PFAFF, 2008;

CHROUSOS, 2009; LeDOUX ,2012 a; LeDOUX, 2012 b).

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Figura 12 – Estados Globais do Organismo

Figura 12. Esquema sobre os estados emocionais conscientemente percebidos e os componentes dos

estados globais do organismo para a sua representação cognitiva.

Fonte: Adaptado de Depositphotos, 2018.

Em seu texto “sobre seres humanos e suas emoções: um ensaio sob a perspectiva da

sociologia dos processos”, Elias sugere que nenhuma emoção de uma pessoa adulta é um

padrão reativo geneticamente fixado ou filogenicamente preservado de maneira intacta.

Segundo o autor, os impulsos emocionais não aprendidos estão sempre relacionados a uma auto

regulação aprendida. Além disso, propõe que a emoção humana é constituída por três aspectos

distintos e complementares: um componente comportamental (expressão emocional), um

componente fisiológico e um componente sensível (sentimentos auto percebidos). Mesmo na

resposta ‘automática’ de luta ou fuga, na qual encontramos o componente fisiológico na

regulação orgânica, o componente comportamental na tomada de decisão e o componente

sensível na descrição do sentimento auto percebido geralmente de medo ou raiva, existe em

alguma extensão, o compartilhamento do padrão da experiencia emocional com animais não

humanos, porém, no caso de humanos há uma capacidade muito maior de diversificação desta

resposta em relação a situações e experiências aprendidas (GEBARA, WOUTERS, 2009).

Elias afirma ainda, que os seres humanos são naturalmente preparados para o

aprendizado e se vinculam uns aos outros por meio de uma linguagem, variações emocionais e

consciência aprendidas, deixando explicito o engate entre a evolução biológica e o

desenvolvimento social (GEBARA, WOUTERS, 2009).

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Neste sentido afirmamos que não é fácil lidar cientificamente com sentimentos

humanos. Porém, parece claro para os autores apresentados, que as vias de sinalização

desencadeadas pelos estímulos emocionais, sejam estes prazerosos ou ameaçadores, passam

pelos mediadores naturais e aprendidos a fim de regular ações posteriores de finalidade muitas

vezes desprezada, além de caracterizar um estado emocional específico. Desta maneira,

aspectos fisiológicos indiretos, acionados frente a estados emocionais específicos, com

descrições subjetivas sobre a experiencia emocional podem nos indicar os caminhos

percorridos, desde a percepção da variação no meio ambiente até a regulação comportamental

dos indivíduos.

Decerto as emoções não são, em sobremaneira, exclusivamente primitivas, respostas

instintivas ou tampouco desassociadas das complexas funções intelectuais e cognitivas como

afirmava Descartes (1983) em suas reflexões. A experiência emocional tem uma extraordinária

plasticidade de engates fisiológicas e sociais. Assim como a percepção e a ação, a emoção é

parte de uma rede intrincada de conexões de circuitos nervosos, acompanhada por respostas

autonômicas, endócrinas, motoras e sensíveis, capazes de adaptar o ser humano ao estímulo ao

qual se é exposto, seja este agudo ou crônico (LIU, 1997; SANCHEZ, 2009; ESPERIDIÃO -

ANTÔNIO, 2008; DAMÁSIO, 1994; TOMAZ, 1997; DESCARTES, 2000).

Em alguns casos o estímulo emocional pode ser agradável e prazeroso. Portanto, uma

partida de futebol, na qual são experienciadas situações miméticas de confronto físico, euforia

e frustração, sem necessariamente o risco à vida, tem a possibilidade de ativar o sistema do

stress. Assim, hormônios de fácil, rápido e relativo baixo custo de analise, como o cortisol,

liberado pelo córtex adrenal, regulado pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, característicos da

excitação generalizada e feedback periférico frente a estímulos emocionais, alterações

metabólicas na síntese, liberação e direcionamento de substratos energéticos tais como a

glicose, além da regulação autonômica do fluxo sanguíneo pela frequência cardíaca e pressão

arterial, podem ser considerados como marcadores periféricos da ativação emocional (TANNO,

2002; DALGLEISH, 2004; CHROUSOS, 2009; JORGE, 2010; CAMPOS, 2014)

desencadeada por ações de uma partida de futebol.

O delineamento experimental focado nos eventos externos captados pelos receptores

periféricos tem sido apresentado como a alternativa mais completa de observar as funções e

conexões orgânicas de circuitos inicialmente moldados pela experiência vivida. LeDoux (1994,

2000, 2003 e 2012a) descreve os caminhos transcorridos pela sinalização cérebro-corporal a

partir da detecção de uma ameaça até o sentimento do medo. Nossa hipótese é que uma partida

de futebol gera tensões nos torcedores que estimulam os circuitos de sobrevivência e

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proporcionam os estados globais do organismo através do mimetismo. Desta maneira, o

estímulo seria percebido por receptores sensoriais adequados à qualidade e intensidade do

estímulo dado, em seguida os neurônios aferentes transportariam este influxo para o SNC, onde

seria processado e desencadearia uma cascata de sinalização típica, em resposta a determinada

ação dentro da partida.

Para tal apresentamos no próximo capítulo a metodologia de coleta destes marcadores,

assim como os resultados da pesquisa desenvolvida, no intuito de identificar as peculiaridades

da fisiologia das emoções nos torcedores fanáticos de futebol.

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CAPÍTULO III

MÉTODO DA PESQUISA DE CAMPO, ANÁLISE DOS DADOS,

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética sob o nº. de protocolo 2.338.140 (Anexo

A). Trata-se de um estudo com uma abordagem qualitativa, de natureza aplicada, com objetivos

exploratórios e com procedimento de estudo de caso.

Foram contatados mais de 20 torcedores da Sociedade Esportiva Palmeiras e do Sport

Club Corinthians Paulista durante o primeiro semestre de 2018. Esta escolha se deu pela

grandiosidade nacional dos dois times, pela evidente rivalidade histórica na capital paulistana,

pelo fato da torcida do Corinthians ser considerada uma das maiores do Brasil e uma das mais

fanáticas pelo seu time.

O contato inicial se deu prioritariamente a partir de jogos de futebol televisionados ou

por conversas em ambientes sociais compartilhados. No primeiro caso, ao perceber homens

torcedores atentos a jogos específicos do Corinthians ou do Palmeiras, uma pergunta

introdutória era feita: “para qual time você torce?”, em seguida o fluir do convívio social em

diálogos futebolísticos norteava a conversa. Porém, uma pergunta em algum momento da

conversa era intencionalmente feita: “você se considera um torcedor fanático?”. À medida que

a resposta era positiva, e o torcedor era fanático pelo Corinthians ou pelo Palmeiras, maiores

explicações sobre a pesquisa eram apresentadas e ao final desta conversa informal, o convite

para a participação da pesquisa era oficialmente realizado. No segundo caso, contato iniciado

em outros ambientes sociais que não o futebolístico, à medida que o assunto futebol se

estabelecia nas rodas de conversa o mesmo roteiro era seguido. A investigação pelo time de

preferência e pelo nível de entrega ao ato de torcer, para que assim se desse o convite formal

para a participação na pesquisa.

Inúmeras histórias sobre as vivências futebolísticas destes voluntários em potencial

poderiam ilustrar uma grande revista em quadrinhos. Tantas emoções compartilhadas

conduziram a uma mudança de visão desta pesquisa sobre o torcedor fanático de futebol. Ainda,

outros contatos foram feitos com torcedores organizados ícones ou não, conhecidos local e/ou

nacionalmente por sua atuação frente as torcidas organizadas de seus times. Estes últimos,

quase todos com algum tipo de doença cardíaca, tiveram que ser excluídos do estudo.

Durante o processo de execução desta pesquisa, passamos por diversos encontros de

aprimoramento do seu desenvolvimento. Em um desses momentos estivemos em um congresso

internacional sobre as teorias de Norbert Elias, no estado do Paraná, onde diversos

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pesquisadores de diferentes nacionalidades se encontraram. Um desses pesquisadores, um

alemão também intrigado pelas questões futebolísticas escolheu a camisa do Corinthians para

ser souvenir de sua viagem. Neste momento pude vislumbrar o alcance deste símbolo.

A priori a proposta de coleta era unir torcedores fanáticos de ambos os times, na final

do campeonato paulista de 2018, para simular o que acontece em alguns estádios do Brasil nos

quais não há a imposição de torcida única4. Este tipo de convite a priori não atraiu a nenhum

dos sujeitos. As justificativas por menos explicitas que fossem, afirmavam ser impossível não

brigar com homens desconhecidos ou conhecidos, torcedores do time rival, em uma final de

campeonato. Este fato por si só, de acordo com Redden e Steiner (2000), comprova o fanatismo

da população estudada. Os autores indicam que alguém fanático pode reagir violentamente com

alguém de opinião contrária.

Passou-se então a segunda estratégia, comparar jogos de magnitude diferentes com

torcedores de um mesmo time. Fizemos então a coleta da final do campeonato paulista 2018

apenas com torcedores fanáticos pelo Corinthians. Para isto, observamos atentamente a tabela

de jogos de todos os campeonatos que o Corinthians participava no referido ano. A partida do

segundo turno do brasileirão 2018, novamente com o Palmeiras se encaixou perfeitamente nos

pré-requisitos para a comparação. O jogo se deu no mesmo horário e dia da semana que a final,

entre os mesmos times, em um contexto completamente diferente do primeiro jogo.

Na final do campeonato paulista de 2018, o Corinthians havia perdido o primeiro jogo

da disputa, precisava marcar um gol para decidir o campeonato nos pênaltis, ou vencer por dois

gols de diferença para arrematar o campeonato no tempo regulamentar. No segundo jogo, o

time do Corinthians havia sido desmontado, como é de praxe no futebol brasileiro quando é

aberta a janela de contratação internacional. O Palmeiras estava em melhor campanha e não era

um jogo decisivo em nenhuma hipótese. Mesmo assim, era uma partida considerada clássica.

Quando selecionados, os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e

esclarecido (Anexo B), informado anteriormente ao início de qualquer procedimento. A

identificação das amostras coletadas foi numeral e não nominal, garantindo assim a

confidencialidade e a privacidade dos indivíduos analisados, tendo estas sido identificadas de

acordo com o dia de coleta (CF ou CR) e ao momento no qual a coleta foi realizada (1, 2, 3, 4,

4 Implantada pela Secretaria da Segurança Pública desde abril de 2016, vigora no estado de SP a política de

torcida única nos estádios. Em jogos entre dois dos maiores clubes do estado (Corinthians, Palmeiras, São Paulo

e Santos) apenas quem tem o mando de campo pode receber seus torcedores nas arquibancadas.

Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/03/23/O-que-%C3%A9-a-pol%C3%ADtica-de-torcida-

%C3%BAnica-e-por-que-h%C3%A1-quem-queira-acabar-com-ela

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5). Os resultados dessa pesquisa foram divulgados por meio de apresentação de trabalho como

comunicação oral no ‘2018 Elias conference Brussels’ e por meio de um artigo científico

submetido à revista IRSS - Internacional Review for Sociology in Sport. Um termo de liberação

de imagens também foi assinado (Anexo C) permitindo assim a exemplificação de expressões

emocionais corporais nesta tese e nas publicações.

Os instrumentos de coleta foram utilizados em três encontros, com no mínimo 48 horas

de intervalo entre um e outro (Tabela. 1). Em suma, o primeiro encontro com os voluntários

teve o objetivo de explicar os procedimentos, colher a assinatura no termo de consentimento

livre e esclarecido (TCLE), preencher o questionário sobre a caracterização socioeconômica

dos torcedores e o significado do torcer, além de entregar o instrumento de coleta de cortisol

salivar referente às medidas CF1 e CR1. O questionário aplicado (Anexo D), no intuito de

caracterizar os torcedores avaliados, foi elaborado pela equipe de pesquisa e revisado por uma

equipe de especialistas quanto ao seu conteúdo e aparência (TERRA, 2010).

O segundo encontro, coleta futebol (CF), aconteceu em duas etapas: a primeira em 8 de

abril de 2018, final do campeonato paulista de futebol e a segunda em 9 de setembro de 2018,

durante o segundo turno do campeonato brasileiro de futebol. Ambas as partidas foram

disputadas entre o Sport Clube Corinthians Paulista e a Sociedade Esportiva Palmeiras, as

mesmas ocorreram em domingos e tiveram seu início às 16 horas.

Nas duas etapas do segundo encontro, os participantes foram reunidos em uma sala

reservada para os fins de coleta desta pesquisa, na faculdade de Educação Física da UNICAMP,

com temperatura controlada entre 22 e 25 graus, água a vontade e televisor com transmissão do

jogo pela rede aberta de televisão (Globo). A priori, os voluntários passaram por um período de

familiarização com o ambiente. Em seguida foram convidados a preencher o inventário sobre

ansiedade assim como sobre a presença/intensidade de depressão e, só então, foi colocado o

equipamento para coleta de frequência cardíaca (firstbeat SPORTS team 4.6®). Neste mesmo

dia foram feitas as coletas de cortisol salivar, glicose sérica e pressão arterial em cinco

momentos distintos: imediatamente após o despertar (CF1 – pelo próprio voluntário – tendo

sido este previamente orientado pela pesquisadora), 30 minutos antes do início da partida (CF2),

durante o intervalo do jogo (CF3), imediatamente após o termino do jogo (CF4) e 40 minutos

após o fim da partida (CF5). Todos os horários que aconteceram cada coleta foram anotados

para serem replicados na coleta rotineira (CR).

O terceiro encontro com os sujeitos/voluntários, denominado de coleta rotineira (CR),

aconteceu no mesmo horário e período de duração do jogo que o voluntário assistiu, em um dia

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rotineiro, de forma individual, sem jogo do Corinthians por pelo menos 24h antes ou depois do

dia de CR, de acordo com a disponibilidade de cada participante.

Os inventários de ansiedade e presença/intensidade de depressão de Beck foram

aplicados pela psicóloga (CRP -06/110928) Luciana Bittencourt (Anexo H) que ofereceu

suporte à equipe durante todo o processo de coleta e análise de dados, obedecendo assim, a

exigência da Casa do Psicólogo.

População da Pesquisa

A amostra foi composta por seis homens (n=03 em cada jogo) a partir de 18 anos de

idade, sem histórico de doença neurológica, cardíaca ou metabólica, que não fizessem uso de

esteroides e, que se autodenominaram torcedores fanáticos5 de futebol. Os indivíduos foram

orientados a não consumir álcool6 ou doces nos dias das coletas, tampouco se alimentarem ou

escovarem os dentes imediatamente antes de cada coleta no intuito de preservar a fidedignidade

dos dados coletados.

5 Aquele indivíduo que assume que se altera quando assiste a um jogo. 6 muitos dos participantes convidados, demonstraram insatisfação e até impossibilidade de participação devido a

necessidade de não ingestão de álcool no dia da partida.

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Tabela 1 - Resumo do delineamento experimental

Instrumentos para coletas de dados

Questionário para caracterização socioeconômico e do significado de torcer

Este questionário (Anexo D), de nossa autoria, contém 25 perguntas, abordando as

variáveis: idade, crença religiosa, estado civil, renda familiar mensal, número de filhos, tipo de

moradia, nível de escolaridade, regime de trabalho, tabagismo, consumo de bebida alcoólica,

doenças, uso de medicamentos, experiência pessoal em estádios de futebol, relação emocional

com seu time de futebol, significado pessoal do torcer, frequência de acompanhamento dos

jogos e experiência pessoal sobre descontrole no ato de torcer.

O modelo de coleta de dados por meio de questionário possibilita medir o que se deseja

com exatidão, tendo em vista que a resposta das questões é realizada pelo próprio informante,

devendo ter a natureza impessoal, ser limitado em sua extensão e finalidade (CERVO e

BERVIAN, 2002).

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Este instrumento foi submetido a um processo de refinamento (validação de aparência),

no intuito de verificar o alcance do objetivo traçado, a clareza, a objetividade e a abrangência

em relação ao que se propõe verificar (GALDEANO, 2007).

Para esta validação, o questionário foi encaminhado a dois docentes/pesquisadores,

especialistas no estudo sobre torcedores de futebol, junto com um formulário contendo questões

avaliativas sobre a forma de apresentação, facilidade de leitura, clareza e conteúdo, assim como

espaço para sugestões de modificação (Anexo E).

Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)

Este instrumento fornece informações sobre as propriedades psicométricas através de

uma escala construída no auto relato (Anexo F). O inventário foi traduzido para o português e

validado no Brasil por Cunha (2017) e estabelece uma diferença precisa com os aspectos

depressivos. Este inventário não tem como propósito revelar um diagnóstico, mas sim, refletir

somaticamente, afetivamente e cognitivamente os sintomas característicos da ansiedade (BECK

et al, 1988; CUNHA, 2017).

A escala do tipo likert (4 pontos) é constituída por 21 itens afirmativos descritivos sobre

a ocorrência de incomodo por cada um dos sintomas durante a semana que passou, refletindo

os níveis de gravidade dos sintomas. O escore total é o resultado da soma dos escores de cada

item e pode variar de 0 a 63. As indicações de interpretação do resultado são: 0 a 10- ansiedade

mínima; 11 a 19 – ansiedade leve; 20 a 30 – ansiedade moderada; 31 a 63 – ansiedade grave

(BECK et al, 1988; CUNHA, 2017).

Inventário de Depressão de Beck (BDI-I)

Este instrumento (versão brasileira, GOERENTEIN e ANDRADE, 1996) é aprovado

pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos/ Conselho Federal de Psicologia, com

autorização do The Psychological Corporation e, apoio da Casa do Psicólogo (PINTON, 2006).

Ele avalia as manifestações comportamentais que indicam a intensidade da depressão,

caso esta exista. É um instrumento estruturado no auto relato, composto de 21 categorias de

sintomas e atitudes (Anexo G) que descrevem manifestações cognitivas, afetivas e somáticas

da depressão.

As categorias contêm quatro alternativas que expressam níveis de gravidade dos

sintomas da depressão, sendo sua pontuação por categoria entre 0 e 3, onde zero indica ausência

de sintomas e 3 a presença dos mais intensos. Os itens não foram escolhidos para refletir

qualquer teoria sobre a depressão (TERRA, 2010).

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Para este estudo foi adotada a recomendação de Cunha (2017) para pontos de corte. Até

15 escores para população sem diagnóstico de depressão; 16 a 20 para o grupo com disforia ou

depressão leve; 21 a 29 para o grupo com depressão moderada e, 30 ou mais, para depressão

grave.

Este instrumento foi selecionado para este estudo por ter a depressão, uma relação direta

com os níveis de cortisol, por ser de fácil aplicação e por ser considerado referência padrão na

avaliação da depressão (CUNHA, 2017). O objetivo da utilização deste instrumento neste

estudo é tão somente identificar a situação emocional em que o indivíduo se encontrava para,

se necessário, comparar com os marcadores periféricos coletados, no intuito de obter uma

qualidade mais acurada da descrição da expressão fisiológica emocional de cada indivíduo no

momento da coleta.

Aferição da Pressão Arterial (PA)

A aferição da PA foi efetivada por meio do medidor de pressão arterial automático de

braço Deluxe HEM 7113 (Omron®) que realizou medidas de pressão sistólica, diastólica e de

pulso.

Para uma aferição fidedigna foi solicitado a cada participante não ingerir álcool ou

exercitar-se pelo menos 30 minutos antes do início da coleta. O indivíduo foi requisitado a

sentar-se com os pés apoiados no chão e repousar o braço sobre uma mesa, previamente

preparada para a aferição. A braçadeira foi colocada no braço esquerdo de acordo com as

indicações do fabricante.

Coletas de Glicose e Cortisol Salivar

As amostras de glicose foram coletadas por uma gota de sangue retirada da ponta do

dedo indicador das mãos, alternadamente 1 a 5 de cada dia (CF e CR). Para tanto, foi utilizado

o aparelho Glicosímetro accu-chek connect® (Roche) e suas respectivas lancetas descartáveis.

A coleta de cortisol salivar ocorreu por meio de tubo específico (salivette®), nos

momentos 1 a 5 de cada dia (CF e CR). Em suma, o voluntario posicionou o algodão

armazenado no tubo debaixo de sua língua por 60 segundos e em seguida, com o algodão

umedecido de saliva, o reposicionou novamente dentro do tubo, fechando-o bem. Para a coleta

CF1 e CR1, após acordar o voluntário acionou a pesquisadora que foi ao seu encontro para

coletar a pressão arterial, a glicose e acondicionar adequadamente o tubo contendo a saliva.

Para transporte e armazenamento, as amostras foram acondicionadas a -20ºC de acordo com as

recomendações do fabricante do kit de análise (Salivary cortisol ELISA kit-Salimetrics ®). O

material coletado permaneceu adequadamente armazenado por até 6 meses e para a extração e

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análise do cortisol proveniente da saliva, as amostras foram centrifugadas a 3000 x g, em

temperatura ambiente por 5 minutos no intuito de remover as mucinas. O sobrenadante foi

coletado para a análise de acordo com as orientações do kit. Em seguida ao processo de extração

do analito, foi confeccionada uma curva padrão de diluições do cortisol contendo as

concentrações finais de 0, 0.1, 0.5, 1.5, 4.0, 10 e 30 ng/mL, a fim de normalizar o resultado

final das amostras. Para análise em ELISA, a placa foi montada com poços contendo uma

concentração padrão de cortisol, um poço para controle de contaminação sem conter cortisol e

as amostras teste em duplicata. A leitura de absorbância foi a 450nm.

Os cálculos de concentração foram feitos pela média de absorbância das amostras teste

em relação a curva de diluição.

Aferição da Frequência Cardíaca (FC)

O comportamento da frequência cardíaca e a frequência cardíaca máxima (FC máxima)

foram mensurados, em tempo real, através do equipamento firstbeat SPORTS team 4.6

performance monitoring system ® (Firstbeat techinologies). Para tanto, foi necessário aferir

previamente o peso e a altura dos voluntários, assim como indicar o momento que se deu o

início de cada tempo do jogo e suas ações.

Foram utilizadas cintas (individuais) de monitoramento cardíaco conectados ao

software, identificados e específicos para cada voluntário, em concordância com os dados de

altura e peso previamente anotados e inseridos no programa. Os medidores foram acionados

através do receptor USB apropriado, de acordo com as instruções do fabricante e, o momento

de início da coleta de dados foi anotado para posterior comparação entre os outros parâmetros

coletados.

Relação da FC com as ações dos jogos

Para a análise de comportamento da frequência cardíaca durante os jogos de futebol, foi

estabelecida a FC máxima e os valores correspondentes a 50% e 70% da FC máxima de cada

indivíduo, como ponto de corte. O início do jogo foi considerado o momento do apito do árbitro

e este tempo foi indicado como tempo zero, desta forma todas as ações subsequentes puderam

ser identificadas no momento do jogo que aconteceram e relacionadas com sua correspondente

FC. No intuito de sincronizar o comportamento da FC com as ações do jogo, foram extraídas

da coleta total dos sujeitos as medidas de FC que se igualavam ou ultrapassavam os valores de

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corte estabelecidos, para então serem associadas as ações do jogo. Cada partida foi assistida

posteriormente pela internet.7

Análise de Dados

Para organização, descrição e análise de observações dos dados, foram utilizadas as

escalas de medida nominal, ordinal e de razão, descritas por média e desvio padrão quando

necessário.

A análise das características socioeconômica e do significado de torcer foram feitas de

forma qualitativa e o comportamento dos parâmetros bioquímicos, mesmo com uma quantidade

de sujeitos reduzida, foi feita de forma quantitativa, utilizando a média aritmética como medida

de posição de tendência central. A análise de variância foi feita por meio do ANOVA (2way)

quando os grupos e os momentos de coleta influenciavam a análise. Quando apenas os grupos

em sua totalidade e não o momento da coleta estava sendo avaliado foi utilizado o teste T para

amostras independentes. A representação gráfica está exibida em colunas e barras assim como

em gráfico de linhas.

A análise do comportamento da FC foi feita de maneira descritiva em comparação às

ações do jogo e apresentado em gráficos de linha.

Resultados e Discussão

Os resultados expostos a partir deste momento serão informados seguindo a

apresentação metodológica. Quando o bloco de dados não tiver sofrido interferência da

dinâmica da partida será exposto em conjunto, como a caracterização socioeconômica dos

torcedores e o significado de torcer. Informações bioquímicas, de estado emocional ou qualquer

variável afetada diretamente pela dinâmica de tensão-excitação dos jogos, serão expostas

separadamente evidenciando sempre as peculiaridades das ações do jogo que desencadearam

determinada sinalização.

Caracterização Socioeconômica da População da Pesquisa e Significado de Torcer

Todos os voluntários (n=6) eram homens, com uma idade média de 30 anos (± 7,8),

renda familiar mensal que variou entre R$ 1.200,00 e R$ 15.000,00, com o ensino superior em

andamento ou completo e de crenças religiosas diversas. Todos torcedores se

autodenominaram fanáticos pelo Corinthians, assistem a todos os jogos que podem,

71º jogo – final do campeonato paulista 2018 08/04/2018 – 16:00 - https://www.dailymotion.com/video/x6hjm6v

1ºtempo; https://www.dailymotion.com/video/x6hk7cu 2ºtempo; https://www.dailymotion.com/video/x6hk7cv

pênaltis. 2º jogo – 24ª rodada do campeonato brasileiro de 2018 09/09/2018 – 16:00 -

https://www.dailymotion.com/video/x6tdd74 1ºtempo; https://www.dailymotion.com/video/x6tdd73 2ºtempo.

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independente do campeonato. Metade deles estava desempregado no período da coleta, solteiro

e praticante de atividade física diária. Sessenta e seis por cento destes torcedores residem em

casa alugada e 44% desempenham carga semanal de trabalho próxima a 40 horas. Somente um

dos voluntários afirmou fumar cigarros regularmente (aproximadamente 10 unidades por dia)

e ele foi o único que assegurou não consumir bebidas alcoólicas com frequência. Todos os

outros participantes fazem uso de bebida alcoólica, sendo quatro deles semanalmente e um com

frequência de consumo quinzenal. Nenhum dos voluntários apresentou algum tipo de doença

crônica e apenas um se referiu a consumo diário de medicamentos para ansiedade.

Quando perguntados sobre o motivo da escolha do Sport Club Corinthians Paulista para

time do coração, 4 dos 6 voluntários indicaram a influência dos parentes como fator

determinante. Dos seis entrevistados citados, apenas dois tinham filhos. Estes informaram que

seus filhos também gostam de futebol, mas apenas em um dos casos o filho segue a tradição

familiar de torcer para o Corinthians.

Um dos voluntários respondeu que a escolha por torcer pelo Corinthians foi uma opção

de criança e que sua primeira vivência no estádio foi com seu irmão, fanático por outro time da

capital paulista em um jogo deste time. Relatou ainda que durante a mesma semana desta

experiencia, foi ao estádio para um jogo do Corinthians e nesta ocasião teve a certeza que este

era o seu time de futebol favorito. “Foi em um jogo do São Paulo com meu irmão que também

é fanático, mas, são paulino. Foi um misto de surpresa (pelo novo) com tensão, pois estava

torcendo pelo time de fora, dentro da torcida da casa. Contudo, na mesma semana fui ao

primeiro jogo do Corinthians e tive a certeza que era o meu time. A minha paixão.” (Voluntário

4)

Os relatos sobre a primeira ida a um estádio de futebol sempre destacam o fator

emocionante e marcante da experiencia, mesmo que em jogos ruins ou que não eram do

Corinthians. “Foi no ano de 2010 Guarani e Palmeiras. Fui com amigos palmeirenses, mas

fiquei na torcida do Guarani. Foi um jogo ruim, xôxo. [...] Mesmo o jogo sendo ruim, ir ao

estádio foi muito bom. Assistir jogos em estádios é uma experiencia marcante. Muito diferente

de ver em casa. A atmosfera é vibrante.” (Voluntário 1). ‘Foi fantástico, sensação única. Pude

perceber o significado de emoção, empolgação, sentir a entrega por tanta emoção.”

(Voluntário 5)

Apenas um dos voluntários relatou não ter feito nenhuma loucura pelo seu time. Todos

os outros já ultrapassaram as regras sociais outorgadas em prol do seu fanatismo. Um já se

envolveu em brigas por causa do Corinthians, outro já realizou apostas malsucedidas, um

terceiro saiu abraçando pessoas desconhecidas no meio da madrugada após a vitória da copa

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Libertadores da América pelo seu time, além de soltar bombas nas janelas das casas de

torcedores palmeirenses. Na comemoração deste mesmo título, outro voluntário disse que foi

loucura feita por amor ao time, ir para quadra da torcida organizada Gaviões da Fiel, enquanto

um outro disse ter sido loucura ter transposto o alambrado do estádio para se juntar a referida

torcida organizada para assistir a um jogo.

Os sujeitos se sentem, em suas palavras “representados”, “orgulhosos”, “felizes”, “em

casa” e “bem”, quando estão em outro Estado do Brasil e se deparam com uma camisa do

Corinthians. Em alguns casos se sentem contemplados pela escolha por este time, mesmo com

a presença de clubes locais.

No intuito de compreender um pouco mais o que significa ser torcedor, o que um

torcedor fanático espera de torcedores do seu time e o que cada um sente em determinadas ações

da partida ou diferentes tipos de jogo, nós claramente perguntamos. O que significa ser

torcedor? Nas respostas encontramos as seguintes afirmativas:

“Significa se aproximar dos valores do time. Representação identitária. Me identifico

com o símbolo do time e com minha vida pessoal. É participar sem participar. É torcer/sofrer

sem ser ouvido. Sofrer sem uma razão lógica. É viver uma ilusão e um momento de que você

fez parte daquilo, mas que no fim você é só mais um.” (Voluntário 1)

“Orgulho de cada dificuldade e superação da história do glorioso Corinthians. Acima

de tudo, em nenhuma hipótese, deixar de amar esse time. É minha segunda religião.”

(Voluntário 2)

“Significa torcer, rezar e amar o time independente da situação. Significa defender a

história, as cores do time perante a de um rival. Significa se juntar a pessoas diferentes pelo

motivo de torcer pelo seu time.” (Voluntário 3)

“Significa sentir amor/paixão por algo que não se tem qualquer laço sanguíneo, ou

relação social previa que, por conseguinte torna esse sentimento o mais espontâneo possível.”

(Voluntário 4)

“Ter uma paixão por uma camisa. Um clube, algo que transforma, ter amor, por torcer

é ser torcedor.” (Voluntário 5)

“Despejar um pouco das dificuldades do dia a dia em algo.” (Voluntário 6)

Claramente cada fala corrobora com a teoria apresentada. Fica evidente e inegável o

vínculo do indivíduo com o clube de futebol da sua escolha, no caso, o “glorioso Corinthians”.

Os três primeiros voluntários ressaltaram o sentimento de pertencimento e identificação com

ambiente material e imaterial do clube, no sentido que indicam em suas falas a importância de

ter orgulho da história do time, defender estes duelos assim como os símbolos e cores perante

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os rivais, além de citarem ter a ilusão de fazer parte de um determinado momento do time tão

valoroso para si e isto ser motivo de união entre diferentes.

Por vezes, esse vínculo afetivo foi dito como sem propriedade racional explícita ou

conhecida capaz de explicar como este significado cognitivo, denominado de paixão ou amor

pelo time, representativo de estados orgânicos globais experienciados ao torcer em jogos do

Corinthians, pode nortear comportamentos, inclusive de transgressão das regras sociais

estabelecidas, como descrito a seguir.

As falas ainda corroboram com o entendimento do conceito de torcer como experiencia

mimética de dinâmicas de tensão-excitação, na busca de uma excitação específica pressuposta

por um nível de sofrimento que satisfaz um desejo, seja de pertencimento, de glória pela vitória

ou de honra pelo envolvimento.

Apenas um voluntário expressou o significado do torcer como uma válvula de escape

para as tensões rotineiras.

Em resposta à pergunta “O que você espera de um torcedor?” Encontramos um perfil

que demonstra a busca por um ideal de individuo estruturado por uma masculinidade guerreira,

honrada, leal e dedicada. Persistente em sua busca por vitória.

“Lealdade e apoio ao time. Mas quando o time deixa de representar, não tem como

este se mostrar fixo.” (Voluntário 1)

“Que seja fiel.” (Voluntário 2)

“Respeito, fanatismo e apoio sempre maior do que as críticas.” (Voluntário 3)

“Que seja uma pessoa com garra na vida. Que não desiste fácil, que nunca abandona

a luta.” (Voluntário 4)

“Que tenha orgulho, paixão, que se entregue pelo time, que o apoie e o defenda sobre

todas as coisas.” (Voluntário 5)

“Que goste de raça, justiça e seja humilde. O Corinthians é o hino da democracia,

importante lembrar.” (Voluntário 6)

No intuito de investigar o conceito subjetivo aplicado para descrever uma determinada

experiencia emocional, os sentimentos conscientemente percebidos e expressos foram

interrogados como apresenta a Tabela 2.

Ao comparar as emoções autodeclaradas durante ações especificas do jogo, a única

situação em que um mesmo estado emocional foi descrito é a felicidade quando o time ganha

uma partida. Todos os voluntários autodeclararam sentir-se felizes quando o Corinthians vence

um duelo esportivo. Emoção parecida com a do momento do tento alcançado pelo time. Nesta

ação do jogo, três voluntários declararam sentir-se felizes quando o Corinthians faz um gol,

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enquanto as emoções “alegria”, “vibrante” e “muito bem” também foram citadas como

representações cognitivas de um estado global do organismo desencadeado pelo ato do time do

Corinthians fazer um gol no adversário. Ambas as experiências foram vivenciadas na 1ª etapa

da nossa coleta CF, na final do campeonato paulista de 2018. A emoção associada ao estado de

perder uma partida variou de “triste” para “bravo”, “nervoso”, “humor muda para pior” e “meu

dia fica ruim”. Esta situação foi vivenciada pelos voluntários que assistiram ao jogo da 24ª

rodada do brasileirão, 2ª etapa da nossa coleta CF. Estas três situações terão o comportamento

da FC para cada uma das situações descrito a posteriori.

Tabela 2 - Percepções Cognitivas do estado Orgânico

Todas estas percepções emocionais podem descrever graus de prazer e frustração em

relação ao desempenho dos atores da disputa em campo. Sobre isso Elias e Dunning (1992)

sugerem:

“Se colocarmos os fatos miméticos ao longo de uma escala, em um de seus polos

estará o prazer ótimo em outro o fracasso” p.134 “O maior ou menor prazer da

participação como atores ou espectadores de um fato de lazer, fornece o critério para

distinguir aqueles que são bem-sucedidos daqueles que são um fracasso. Ao mesmo

tempo pode-se encontrar quais e de quais modos os aspectos fisiológicos de prazer e

excitação são diferentes perante jogos de nível ótimo e aqueles que estão no limite

oposto da escala.” p.135

Como você se

sente quando

seu time faz um

gol?

Como você se

sente quando

seu time sofre

um gol?

Como você se

sente quando

seu time perde

uma

oportunidade de

gol?

Como você se

sente quando

seu time ganha

uma partida?

Como você se

sente quando

seu time perde

uma partida?

Como você se

sente quando

seu time empata

uma partida?

Voluntário 1 Normalmente

feliz

Depende Normalmente

chateado

Feliz de maneira

geral

Triste de maneira

geral

Indiferença e

raiva se era uma

partida ganha.

Voluntário 2 Muita felicidade Com raiva Solto vários

palavrões

Feliz demais Fico bravo Dependendo do

desempenho fico

tranquilo

Voluntário 3 Feliz, satisfeito Conformado,

bravo

As vezes perde a

voz de tão

nervoso.

Se a partida for

dificil, feliz. Se for

facil, indiferente.

Bravo,

conformado.

Varia a situação.

Voluntário 4 Explosão de

alegria e alivio

Depende do

contexto. As

vezes, mais ou

menos nervoso.

Ansioso pela

proxima

Muito feliz Nervoso Frustrado

Voluntário 5 Vibrante Puto da vida Puto da vida Muito feliz, o

humor muda

muito.

Humor muda pra

pior.

As vezes

compreendo

Voluntário 6 Muito bem Mal Nervoso Feliz Meu dia fica ruim Nada

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Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e Inventário de Depressão de Beck (BDI-

I)

Os voluntários 2 e 5, participante do jogo da final do paulistão e participante da partida

na 24ª rodada do brasileirão, respectivamente, apresentaram ansiedade leve nos dois dias de

coleta (CF e CR). O voluntário 3, participante da final do paulistão, apresentou ansiedade leve

apenas em CF. Os outros voluntários se mantiveram na escala de ansiedade mínima (escores de

0 a 10) em ambos os dias de coleta.

Ambos os voluntários que apresentaram ansiedade leve nos dois dias de coleta

(voluntários 2 e 5), apesar de uma renda familiar distinta, possuem filhos e são casados, ou seja,

embora esta pesquisa apenas tenha almejado uma caracterização da população estudada, não

podemos relevar a similaridade destas situações no que tange as características de vida dos

sujeitos que buscam a excitação através da torcida em jogos de futebol. Ambos os voluntários

possuem um estilo de vida bastante incentivado na modernidade e contemporaneidade (HINTZ,

2001) e apresentam graus significativos de ansiedade em seu dia rotineiro, assim como no dia

de jogo de futebol. Parece coerente então, ressaltar a ligação direta do estilo de vida moderno

com algum grau de ansiedade na população estudada.

A seguir, para que possamos compreender de forma menos superficial a qualidade de

seus componentes, será apresentado o detalhamento dos aspectos presentes neste estado de

ansiedade momentânea.

As percepções subjetivas mais relatadas foram o sentir-se nervoso e a incapacidade de

relaxar. Em onze dos doze momentos de coleta (91%), os voluntários se autodeclararam

sentirem-se nervosos em diversos graus. Em dez, dos doze momentos de coleta (83%) os

indivíduos afirmaram se sentir incomodados em algum grau pela incapacidade de relaxar. Sobre

este tema Elias e Dunning (1992) afirmam:

“Em geral pode-se dizer que o tipo de socialização característico das sociedades

altamente industrializadas tem como resultado uma interiorização mais forte e mais

firme do autocontrole individual, resultando em uma armadura do autodomínio, a qual

opera de forma relativamente harmoniosa e, em comparação, de maneira moderada,

mas sem muitas saídas em todas as esferas da vida.” (p. 166)

Ainda sobre o quesito ‘incapacidade de relaxar’, apenas o voluntário 3, em CF e o

voluntário 6 (24ª rodada brasileirão) em CR, afirmaram que em absoluto se sentem

incomodados por não conseguirem relaxar. Ao observar o comportamento da FC média dos

dois voluntários encontramos que este parâmetro do voluntário 3, no momento em que ele

afirma que em absoluto se sente incapaz de relaxar (CF), é mais elevada do que em seu controle

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(CR) onde ele se encontra levemente incomodado pela incapacidade de relaxar, assim como

mais alta do que a de seus pares voluntários em quaisquer outra situação. Este mesmo voluntário

foi o único que relatou o medo de perder o controle durante a CF da final do paulistão. Diante

disso, Elias e Dunning (1992) indagam:

“Em vez de condenar as tensões como algo que prejudica, não se deveria antes

explorar as necessidades que as pessoas revelam por uma certa dose de tensão [...]?

[...] distinguir com maior clareza entre tensões que são sentidas como agradáveis e

tensões que são sentidas como desagradáveis?” (p.143)

“Que gênero de tensão é este que é contrabalanceada através de outro tipo de tensão

e encontra uma resolução [...]?” (p.162)

Seguindo adiante, nenhum dos voluntários, em nenhum momento da coleta total,

afirmou se sentir trêmulo ou com o rosto afogueado. Porém, o voluntário 3 relatou tremores

especificamente nas pernas, moderadamente em CF e levemente em CR e tremores

especificamente nas mãos em CR. Assim como o voluntário 1 (final do paulistão) que relatou

tremores especificamente nas mãos em CF. O voluntário 3 ainda relatou sensação de calor

moderadamente em CF e levemente em CR, e suor (não devido ao calor) em CF. A sensação

de calor e o suor não devido ao calor foram citados em 66% (8) dos momentos de coleta. Estes

sintomas aparentemente contraditórios ou, no mínimo confusos, podem se robustecer em uma

base teórica remota para se apresentarem. De acordo com Darwin (2009), o tremor muscular e

o rubor facial acontecem segundo o princípio da constituição do sistema nervoso e independente

da vontade do ser. Ainda, a teoria de Selye (1950) aprimorada por Chrousos (1992) indica a

necessidade de um limiar excitatório para uma síndrome inespecífica da resposta a um estímulo

que afete a harmonia orgânica. Neste sentido, parece claro propor que um grau específico de

excitação foi acionado em cada situação e para cada indivíduo, causando tremores em locais

particulares e não de forma generalizada no corpo. Além disso, a teoria de Cannon (1915 e

1927) ressalta a maneira difusa como o sistema autônomo sinaliza suas regulações, por isso a

negação de que a emoção seja posterior a uma ativação deste sistema. Porém, existe a

possibilidade de o sujeito ser capaz de discernir os elementos e as intensidades dessas

alterações, mas não de diferenciar a origem anatômica e fisiológica do estímulo, o que causaria

a percepção do suor sem diretamente uma ligação à sensação de calor.

Ainda, foram relatados pelo voluntário 5, em ambos os dias de coleta (CF e CR), um

estado moderado de se sentir assustado e de medo de acontecer o pior, com percepções leves

de falta de equilíbrio, de sentir-se aterrorizado e sensação de calor e suor (não devido ao calor),

além do medo moderado de perder o controle. As sensações de sufocação e de dificuldade de

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respirar em CR se apresentaram em grau moderado e em CF, em grau leve e inexistente,

respectivamente. Para este voluntário o medo de morrer se apresentou exclusivamente em CR.

O voluntário 2 apresentou nos dois dias de coleta (CF e CR) leves sintomas de

dormência e formigamento, tontura ou atordoamento. Grave sensação de calor e suor (não

devido ao calor). Além disso, também foram relatadas experiencias de palpitação e dificuldade

de respirar de grau leve em CF e moderada em CR, assim como sensação de desmaios em CF

e indigestão em CR.

Diante do exposto, fica claro que os tipos de ansiedade experienciados por cada sujeito,

no dia de jogo do Corinthians e em seu dia rotineiro, ativam estados orgânicos globais

diferentes, desencadeando sinalizações específicas que culminam em respostas corporais

particulares e representações cognitivas subjetivas próprias, as quais carecem de maior

investigação, no intuito de desvendar os caminhos acionados diante de um estímulo emocional

e seu estado orgânico periférico.

O inventario de depressão de Beck (BDI) apresenta itens cognitivo-afetivos, queixas

somáticas e de desempenho que, pelos itens assinalados, revela uma configuração específica do

estado emocional do sujeito.

Neste caso, o voluntário 5 apresentou depressão moderada nos dois dias de coleta e os

voluntários 3 e 6 apresentaram depressão leve apenas no dia CF. No entanto, nenhum deles em

momento algum apresentou qualquer ideia suicida, tampouco alteração no apetite. O item mais

assinalado foi a presença de autocrítica em relação as próprias fraquezas e erros. Apenas o

voluntário 6 relatou que não se sentia, em hipótese nenhuma pior do que outras pessoas (CR).

Em seguida, os itens mais citados foram a preocupação com problemas físicos referentes a dores

no corpo, indisposição estomacal e constipação, assim como o fato de ficar irritado mais fácil

do que antes. Relatos sobre dificuldades em dormir apareceram em três voluntários (2, 4 e 6),

todos em CF. Outros itens assinalados foram: o desânimo com o futuro, a percepção que o

sujeito fracassou mais que uma pessoa comum, a decepção consigo mesmo, a presença do

choro, a perda de interesse por outras pessoas, a preocupação em estar parecendo velho e sem

atrativos e, a presença do sentimento de culpa em grande parte do tempo.

Análise do comportamento de marcadores bioquímicos periféricos

A seguir estão apresentados os resultados referentes ao estado orgânico momentâneo

dos marcadores periféricos de algumas vias de sinalização relacionadas às experiencias

emocionais. Faz-se imprescindível informar que por motivos pessoais, o voluntário 5 não

realizou a coleta controle (CR).

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Pressão Arterial

Uma das mais importantes funções do controle nervoso simpático da circulação

sanguínea no organismo é a regulação da PA. Durante o medo extremo é possível observar a

elevação de até 100% deste marcador em apenas poucos segundos. Isto acontece principalmente

durante a reação de alarme da SAG, no intuito de suprir o aporte sanguíneo em caso de luta ou

fuga (SELYE, 1950; GUYTON, 2006).

Nosso estudo aferiu a PA em cinco momentos distintos de um dia com jogo de futebol

(CF) e de um dia rotineiro (CR). A Tabela 3 apresenta os valores das PA sistólica e diastólica

durante toda a coleta. As curvas de comportamento deste marcador não exibem diferenças

significantes na sua composição.

Tabela 3 - Comportamento da pressão arterial ao longo de cada dia de coleta

Com o objetivo de aprofundar a compreensão da sua estrutura de atuação no tocante as

dinâmicas de tensão especificas de cada jogo, as curvas representativas da PA sistólica estão

apresentadas na figura 13.

CLOLETA 1

sistólica diastólica sistólica diastólica sistólica diastólica sistólica diastólica sistólica diastólica sistólica diastólica sistólica diastólica sistólica diastólica sistólica diastólica sistólica diastólica

Voluntário1 122 71 112 59 128 63 110 62 117 63 112 60 121 61 106 59 111 63 110 62

Voluntário2 133 83 108 74 128 82 123 79 127 78 130 69 134 79 123 83 121 82 125 75

Voluntário3 106 64 112 71 106 68 116 74 115 76 128 83 124 66 113 72 115 66 126 71

média coleta 1 120 73 111 68 121 71 116 72 120 72 123 71 126 69 114 71 116 70 120 69

desv. pad. 14 10 2 8 13 10 7 9 6 8 10 12 7 9 9 12 5 10 9 7COLETA 2

Voluntário 4 122 69 110 63 130 64 135 71 121 58 121 49 117 59 114 77 115 77 112 63

Voluntário 5 121 79 - - 112 69 - - 117 68 - - 127 70 - - 115 70 - -

Voluntário 6 117 75 118 76 117 64 112 65 115 69 110 71 115 62 122 75 113 67 120 75

média coleta 2 120 74 114 70 120 66 124 68 118 65 116 60 120 64 118 76 114 71 116 69

desv. pad. 3 5 6 9 9 3 16 4 3 6 8 16 6 6 6 1 1 5 6 8

CR2

CR2

CR3 CR4 CR5CF1 CF2 CF3 CF4 CF5CR1

CR3 CR4 CR5CF1 CF2 CF3 CF4 CF5CR1

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Figura 13 – Gráfico representativo do Comportamento da Pressão Arterial

Figura 13. Gráfico de Linhas representativo das Curvas da PA ao longo dos dias de coleta CF (P>0,05).

Fonte: Análise da Amostra

Note que, embora sem significância estatística, o comportamento da PA ao final de cada

jogo apresenta uma pequena discrepância, imediatamente após o término da final do paulistão,

a média pressórica desta população visualmente está mais elevada. Como será apresentado na

fig. 27 A, neste mesmo momento a frequência cardíaca destes voluntários se encontrava acima

de 50% da FCmáx. Enquanto os valores de FC observados na partida da 24ª rodada do

brasileirão, na qual os torcedores do Corinthians experienciaram a derrota para o Palmeiras,

não alcançou os 45% da FCmáx.

Neste sentido, Carter (2008) também encontrou discrepâncias no controle simpático ao

avaliar a PA e a FC de voluntários em resposta ao estresse emocional e mental. Ele utilizou a

observação de imagens neutras e negativas para o estímulo emocional do estresse e realizou

testes amplamente conhecidos como estressores mentais. Nestes últimos, houve uma clara

elevação da FC e da PA. Porém, no que disse respeito ao estresse emocional não houve

alterações significantes. O autor sugere que o estresse emocional desempenhado pelas imagens

negativas não teve magnitude suficientemente percebida para promover adaptação neural e

cardiovascular nos sujeitos. O autor indica que baixos níveis de estresse emocional percebido

não alteram o controle cardiovascular.

Assim, este resultado aponta a possibilidade de um final de jogo mais excitante

(decidido nos pênaltis) e um menos excitante (‘derrota anunciada’) promoveram ativações do

sistema nervoso simpático, em níveis e graus diferentes, no que diz respeito principalmente ao

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débito sistólico e à complacência da árvore arterial. Porém para confirmação dessa hipótese

novos estudos almejando o aumento da população investigada serão necessários.

Glicose Sérica

As concentrações de glicose sérica nas situações vivenciadas nesta pesquisa não

apresentam diferenças significantes entre si como exposto na tabela 4 e figura 14.

Tabela 4 - Níveis séricos de glicose ao longo de ambos os dias de coleta

Os eventos controlados pela atividade simpática do sistema nervoso autônomo no intuito

de regular a liberação de glicose pelo fígado, glicogenólise hepática e muscular, culminando

em elevação da glicose sérica, que muitas vezes são associados a situações que desencadeiam

uma experiencia emocional, não puderam ser verificadas neste experimento.

Isto pode sugerir que este tipo e intensidade de lazer mimético tenha outras regulações

estresse-dependentes que não estão diretamente associadas ao controle metabólico da glicose

circulante.

CLOLETA 1 CF1 CR1 CF2 CR2 CF3 CR3 CF4 CR4 CF5 CR5

Voluntário1 87 79 98 125 94 108 93 90 96 91

Voluntário2 97 92 95 99 99 109 97 98 95 94

Voluntário3 90 89 107 131 92 100 105 96 97 96

média coleta 1 91 87 100 118 95 106 98 95 96 94

desv. pad. 5 7 6 17 4 5 6 4 1 3

COLETA 2 CF1 CR1 CF2 CR2 CF3 CR3 CF4 CR4 CF5 CR5

Voluntário 4 101 84 129 80 117 82 105 80 105 66

Voluntário 5 100 - 91 - 107 - 87 - 99 -

Voluntário 6 82 95 121 88 92 91 84 93 83 94

média coleta 2 94 90 114 84 105 87 92 87 96 80

desv. pad. 11 8 20 6 13 6 11 9 11 20

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Figura 14 – Comportamento da Glicose Sérica

Figura 14. Gráfico de linhas representativo do comportamento individual das curvas glicêmicas durante

os dois jogos (CF) (P>0,05). Fonte: Análise da Amostra

Cortisol Salivar

A literatura demonstra que a elevação das concentrações de cortisol no organismo está

diretamente ligada a alterações de humor, incluindo o estado de euforia (ABERCROMBIE,

2005). Neste estudo, os indivíduos relataram sentir-se felizes quando seu time vence uma

partida, situação vivenciada na final do paulistão 2018 (Figura 15A).

Nesta coleta, houve significância estatística na concentração de cortisol salivar

imediatamente após acordar (CF1) e no intervalo de jogo (CF3). A aferição da concentração

de cortisol matinal tem sido tema de inúmeros estudos (FEDERENKO, 2004; WILLIAMS,

2005) com resultados inconclusivos sobre a hora do acordar (cedo ou tarde) e as respostas

subsequentes ao estresse. Schmidt – Reinwald (1999) sugere que em delineamentos

experimentais com a comparação de concentrações entre os mesmos voluntários existe uma

estabilidade teste-reteste à resposta do cortisol ao despertar. Desta maneira, nós assumimos que

este momento, embora possa ter influenciado as concentrações de cortisol em CF1 e CR1, por

serem relativas aos mesmos sujeitos, estão de fato representando a atividade do eixo HHA, sem

o viés da hora de acordar de cada voluntário.

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Figura 15 A – Análise do cortisol na final do campeonato paulista

Figura 15A. Gráfico de linhas representando o comportamento do cortisol na final do paulistão (CF) e em

seu respectivo dia rotineiro (CR). (P< 0,05) Fonte: Análise da Amostra

Desta maneira, pode-se sugerir que os voluntários da primeira etapa da coleta iniciaram

seu dia CF (coleta futebol), com uma maior excitação periférica do que em CR (coleta

rotineira). Assim como, estavam mais excitados no intervalo de jogo (CF3), momento o qual o

Corinthians vencia por 1x0, do que às 15:30h do dia rotineiro (CR3).

Na segunda etapa da coleta (24ª rodada do brasileirão e seu respectivo dia rotineiro)

(Figura 15B), o time do Corinthians estava completamente desmontado e sem expectativas

concretas de vitória sobre o arquirrival. Talvez pela característica de menor importância desta

partida, o comportamento do cortisol destes voluntários não tenha apresentado nenhuma

significância estatística com seu respectivo dia de rotina. O contexto do jogo atua como um dos

componentes dos estados globais do organismo: a percepção dos aspectos físicos e sociais do

ambiente do estímulo (LeDOUX, 2012). Portanto fator de importante influência para regulação

da experiencia e expressão emocional. Neste caso específico, pode ter agido como um fator

atenuante de excitação, nos quais os fatos miméticos da disputa já estão quase claramente

preestabelecidos.

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Figura 15 B – Análise do cortisol na 24ª rodada do campeonato brasileiro

Figura 15B. Gráfico de linhas representando o comportamento do cortisol na 24ª rodada do brasileirão

(CF) e em seu respectivo dia rotineiro (CR) (P>0,05). Fonte: Análise da Amostra

Desta maneira, os resultados encontrados podem corroborar com a hipótese de Elias e

Dunning (1992), na qual os autores sugerem que há níveis de tensão para cada disputa. Há

partidas nas quais a excitação se aproxima do clímax e, se sua equipe faz o gol decisivo, esta

excitação se resolve na felicidade do triunfo. Neste caso, há então o gatilho para a liberação

desta tensão, seguida de um alívio do conflito de tensões, esta liberação se faz através da

transmissão do que se sente por intermédio dos movimentos, incluindo aqueles necessários a

expressão oral. Porém, no futebol como em todos os fatos miméticos, existem os insucessos e

estes estariam no polo oposto da escala de satisfação alcançada pela vivência de uma dinâmica

de tensão-excitação futebolística, provocando outro tipo de expressão fisiológica emocional.

Na figura 15 C está exposta a comparação entre os dois jogos e os respectivos estados

de excitação dos voluntários representados pelas concentrações de cortisol.

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Figura 15 C – Cortisol e a Comparação entre os dois jogos

Figura 15C. Gráfico de linhas representando o comportamento do cortisol dos voluntários em comparação

nos jogos representados nas figuras 15 A e 15 B (P<0,05). Fonte: Análise da Amostra

Mais uma vez parece evidente que o contexto do jogo pode ser um fator de grande

influência na regulação fisiológica das emoções desencadeadas principalmente no tocante as

concentrações de cortisol salivar. Além disso, de acordo com este resultado, a análise do cortisol

se apresenta como método acessível para a observação do feedback corporal decorrente de um

estresse mimético desencadeado pelo ato de torcer durante uma partida de futebol. A exposição

deste feedback, associada aos sentimentos auto percebidos e auto relatados e à expressão

comportamental nos momentos dos jogos, podem significar um vislumbre do engate no

caminho de sinalização emocional aprendido e natural das experiências vivenciadas pelos

torcedores fanáticos de futebol.

Frequência Cardíaca

A FC é amplamente conhecida como um marcador de atividade do sistema nervoso

autônomo e do eixo HHA devido sua interação com as catecolaminas da medula adrenal

(MAGIERA, 2018). Neste sentido, as figuras abaixo (16 a 30) almejam descrever as

características da FC em relação aos dias de coleta e as ações específicas do jogo de futebol.

Neste aspecto é importante relacionar este achado com os resultados encontrados no

BAI. Note que o voluntário 3 apresenta uma média de FC mais baixa no dia rotineiro (CR) do

que no dia com o jogo de futebol (CF), no entanto, o mesmo individuo relatou estar incomodado

com a incapacidade de relaxar em CR. Neste dia sua FC esteve apenas 4% do tempo de coleta,

acima de 50% FC máxima. Ao contrário, em CF, sua FC permaneceu 25% do tempo de jogo

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superior a 50% FC máxima, e nesta situação o voluntário 3 foi o único que relatou não estar

incomodado com a incapacidade de relaxar e ainda declarou o medo de perder o controle.

O voluntário 2 apresentou uma média de FC em CF menor do que em CR. Neste mesmo

dia (CR), o voluntário 2 acrescentou sintomas de indigestão e dificuldade de respirar ao seu

BAI, que esteve dois escores mais elevado do que em CF, todavia, mantendo-se no grau de

ansiedade leve. Parece adequado afirmar que em ambos os casos, o estado de ansiedade leve

demonstrado pelo escore alcançado no inventario de ansiedade de Beck (1988) pode estar

momentaneamente diretamente interligado com o controle da FC.

Figura 16 - Comportamento da Frequência Cardíaca Média Durante a Vitória

Figura 16. Gráfico representativo Média da frequência cardíaca dos voluntários nos dias de jogo (final do

paulistão 2018) e sem jogo (CR). Fonte: Análise da Amostra

Mais uma vez a teoria multidisciplinar das emoções de Elias e Dunning (1992) é

reafirmada neste ponto. As atividades da vida cotidiana promovem um certo aspecto tensional

que precisa ser aliviado, mas que diferem em termos fisiológicos e subjetivos da experiência

emocional desencadeada pela dinâmica tensão-excitação do lazer ao torcer pelo seu time de

futebol no tocante ao comportamento da FC.

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Figura 17 - Comportamento da Frequência Cardíaca Média Durante a Derrota

Figura 17. Gráfico representativo da média da frequência cardíaca nos dias de jogo (24ª rodada do

brasileirão 2018) e sem jogo (CR). Fonte: Análise da Amostra

Figura 18 - Comparação da média da frequência cardíaca entre vitória e derrota

Figura 18. Gráfico representativo da média da frequência cardíaca dos voluntários em comparação entre

os dois jogos. Fonte: Análise da Amostra

As figuras 19 (A e B) e 20 (A e B) representam o comportamento da frequência cardíaca

durante o período de familiarização com o equipamento e procedimento de coleta em ambos os

dias configurando assim a FC repouso.

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Figura 19 A- Frequência cardíaca de repouso CF (final do campeonato paulista)

Figura 19 A. Gráfico representativo do comportamento da FC dos voluntários que assistiram a final do

campeonato paulista durante o período de familiarização ao ambiente de coleta. Fonte: Análise da

Amostra

Figura 19 B- Frequência cardíaca de repouso CR (final campeonato paulista)

Figura 19 B. Gráfico representativo do comportamento inicial da FC dos voluntários que assistiram a

final do campeonato paulista durante o período de coleta rotineira. Fonte: Análise da Amostra

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Figura 20 A - Frequência cardíaca de repouso CF (24ª rodada do campeonato

brasileiro)

Figura 20 A. Gráfico representativo do comportamento da FC dos voluntários que assistiram a

24ª rodada do brasileirão durante o período de familiarização ao ambiente de coleta. Fonte: Análise da

Amostra

Figura 20 B - Frequência cardíaca de repouso CR (24ª rodada do campeonato

brasileiro)

Figura 20 B. Gráfico representativo do comportamento inicial da FC dos voluntários que assistiram a 24ª

rodada do brasileirão durante o período de coleta rotineira. Fonte: Análise da Amostra

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Em seguida, a figura 21A apresenta o comportamento da FC, desde o início da jogada

que culminou com o gol do Corinthians durante o tempo regulamentar, descrito como um

momento de felicidade pelos voluntários, até 20 segundos depois de ter sido concretizado o gol.

Note que, exceto pelo voluntario 2, a FC sofre um leve decréscimo no início da jogada que leva

ao gol corintiano. Nestes momentos o marcador palmeirense se aproxima do atacante corintiano

que se desvencilha da marcação e executa o cruzamento. Essa associação de controle cardíaco

com a ação do jogo pode indicar a relação entre a percepção do ambiente do estímulo e as

características de excitação central e periférica do organismo humano. Quando o lançamento

acontece e a possibilidade de gol se aproxima, há um acréscimo da FC que continua na hora do

gol e chega ao seu pico em aproximadamente 9 segundos depois do tento, em todos os

voluntários, para em seguida decair novamente. Comportamento este completamente diferente

do mesmo período da CR (Fig.21B).

Figura 21 A - FC durante o gol do Corinthians (tempo regulamentar)

Figura 21A. Gráfico representativo do comportamento da FC dos voluntários na jogada do gol corintiano

em tempo regulamentar. Fonte: Análise da Amostra

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Figura 21B - FC controle gol do Corinthians (tempo regulamentar)

Figura 21 B. Gráfico representativo do respectivo momento controle, com cada momento das ações do

jogo igualmente assinalados. Fonte: Análise da Amostra

Estes achados ilustram um refinado controle simpático-parassimpático da bomba

cardíaca em resposta a um estresse mimético, seguido da liberação por meio da expressão

emocional pelo comportamento, da tensão desencadeada pela ação de torcer; possivelmente

relacionados com a emoção auto relatada de felicidade.

Os gráficos de 22 a 24 apresentam o comportamento da FC nos momentos de

oportunidades perdida de gol, nos quais as emoções auto relatadas são a de nervosismo,

chateação e “puto da vida”.

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Figura 22A - FC oportunidade de gol perdida (1ª)

Figura 22A. Gráfico representativo do comportamento da FC durante a primeira oportunidade de gol perdida.

Fonte: Análise da Amostra

Figura 22B - FC controle oportunidade de gol perdida (1ª)

Figura 22B. Gráfico representativo do respectivo momento controle, com cada momento das ações do jogo

igualmente assinalados. Fonte: Análise da Amostra.

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Figura 23A - FC oportunidade de gol perdida (2ª)

Figura 23A. Gráfico representativo do comportamento da FC durante a segunda oportunidade de gol

perdida. Fonte: Análise da Amostra

Figura 23B - FC controle oportunidade de gol perdida (2ª)

Figura 23B. Gráfico representativo do respectivo momento controle, com cada momento das ações do

jogo igualmente assinalados. Fonte: Análise da Amostra

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Figura 24A - FC oportunidade de gol perdida (3ª)

Figura 24A. Gráfico representativo do comportamento da FC durante a terceira oportunidade de gol

perdida. Fonte: Análise da Amostra

Figura 24B - FC controle oportunidade de gol perdida (3ª)

Figura 24B. Gráfico representativo do respectivo momento controle, com cada momento das ações do

jogo igualmente assinalados. Fonte: Análise da Amostra

Perceba que a maioria das situações apresentadas pelas figuras 22A, 23A e 24A

demonstra uma elevação da FC que antecede o momento do ataque, ou seja a finalização da

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jogada. Isto também foi observado no momento do lançamento para o gol (21A). Assim, parece

coerente sugerir que acontece uma ativação do sistema nervoso simpático estimulada pela

incerteza do desfecho da jogada e pela expectativa de concretização da ânsia de todo torcedor,

o êxito no lance. Esta elevação da atividade simpática conta com a ação dos receptores

periféricos associados à visão, à audição e ao sistema ortostático. Caso a expectativa pela

‘felicidade’, ‘alegria’ e ‘vibração’ do gol seja concretizada (figura 21A), sugere-se então, que a

ativação persiste por determinado período diretamente associado à duração do estímulo,

podendo elevar-se de acordo com a importância deste êxito em relação ao desfecho da

partida/campeonato ou ainda em relação ao contexto subjetivo do torcedor. Ademais, quando a

análise do sujeito acerca do desfecho da jogada estabelece o estado emocional auto denominado

como ‘nervoso’ ou ‘puto da vida’ desencadeado pela oportunidade de gol perdida (figuras 22A,

23A e 24A), a ativação via sistema nervoso simpática diminui.

A final do campeonato paulista estava envolta por uma atmosfera de tensão, o Palmeiras

havia ganho a primeira partida da disputa pelo título estadual e se encontrava a um empate da

derradeira conquista. O Corinthians precisava de uma vitória por 2 gols de diferença para ser

campeão no tempo regulamentar ou de 1 gol de diferença para levar a disputa para os pênaltis.

Foi o que aconteceu.

A seguir estão dispostas as figuras em gráficos referentes aos momentos das penalidades

que estimularam o controle cardíaco a elevar a FC acima de 50 % da FC máxima.

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Figura 25A - comportamento da FC primeiro pênalti

Figura 25A. Gráfico representativo do comportamento da FC durante a defesa do primeiro pênalti Fonte:

Análise da Amostra

Figura 25B - FC controle primeiro pênalti

Figura 25B. Gráfico representativo do momento controle da defesa do primeiro pênalti Fonte: Análise da

Amostra

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Figura 26A - Comportamento FC quinto pênalti

Figura 26A. Gráfico representativo do comportamento da FC durante a defesa do quinto pênalti Fonte:

Análise da Amostra

Figura 26B - FC controle quinto pênalti

Figura 26B. Gráfico representativo do momento controle da defesa do quinto pênalti Fonte: Análise da

Amostra

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Figura 27A - Comportamento FC sexto pênalti

Figura 27A. Gráfico representativo do comportamento da FC durante a defesa do sexto pênalti Fonte:

Análise da Amostra

Figura 27 B - FC controle sexto pênalti

Figura 27B. Gráfico representativo do momento controle da defesa do sexto penlati Fonte: Análise da

Amostra

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Figura 28A - Comportamento FC oitavo pênalti

Figura 28A. Gráfico representativo do comportamento da FC durante o pênalti perdido pelo Corinthians

Fonte: Análise da Amostra

Figura 28B - FC Controle oitavo pênalti

Figura 28B. Gráfico representativo do momento controle do pênalti perdido pelo Corinthians Fonte:

Análise da Amostra

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Figura 29A - Comportamento FC no último pênalti e vitória corintiana

Figura 29A. Gráfico representativo do comportamento da FC durante o último pênalti cobrado pelo

Corinthians com realização do tento e consagração da vitória do campeonato paulista 2018. Fonte: Análise

da Amostra

Figura 29 B - FC controle no último pênalti e vitória corintiana

Figura 29 B. Gráfico representativo do momento controle do último pênalti cobrado pelo Corinthians.

Fonte: Análise da Amostra

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Note que as situações onde houve elevação da FC acima de 50% da máxima, foram as

ações de defesa do goleiro, a realização do gol e a perda da oportunidade de fazer gol. Mais

uma vez a expectativa do desfecho da jogada se mostra eficiente em estimular um aumento de

ativação específica no que diz respeito ao controle da FC. Neste caso principalmente quando

relacionado a defesa do goleiro corintiano às investidas do time palmeirense. O fato de ter um

jogador capaz de impedir o êxito do adversário no momento decisivo da partida, se apresenta

como situação desencadeadora de uma excitação periférica aguda.

Além disso, a excitação alcança um grau muito mais elevado quando a vitória é

conseguida. Isto pode se dar pelo fato de, neste momento, a expressão emocional pelo

comportamento quase livre ser permitida, duradoura e retroalimentada pelos companheiros de

torcida, replays das jogadas e estimulação midiática através dos efeitos televisivos para

congratulações e o tipo de narração no momento da conquista.

No segundo jogo da coleta, a partida estava envolta em uma atmosfera de pouca tensão.

Comentários informais caracterizavam a disputa como o clássico estadual, porém no meio de

um campeonato longo, com o time do Palmeiras em melhor campanha que o time do

Corinthians nos últimos jogos.

A figura 30A apresenta o comportamento da FC frente ao gol sofrido na 24ª rodada do

brasileirão. Conforme em outros momentos, as emoções auto relatadas referentes a sofrer um

gol (raiva, ‘puto da vida’ nervoso e mal), ou perder uma partida (triste, bravo, nervoso) parecem

ter baixos índices de estimulação simpática para elevação da FC, assim como para uma

expressão emocional corporal como um todo (Figura 31B).

Figura 30A - Comportamento FC frente ao gol sofrido pelo Corinthians

Figura 30 A. Gráfico representativo da FC no momento em que o Corinthians sofre o gol durante a 24ª

rodada do brasileirão. Fonte: Análise da Amostra

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Figura 30 B - FC controle frente ao gol sofrido pelo Corinthians

Figura 30 B. Gráfico representativo da FC controle no momento em que o corinthians sofre o gol durante

a 24ª rodada do brasileirão. Fonte: Análise da Amostra

Figura 31A - Comemoração da vitória pelos voluntários da final do paulistão

Figura 31A. Expressão emocional diante da vitória. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 31 B – Final do jogo da 24ª rodada do brasileirão

Figura 31 B. Expressão emocional diante da derrota. Fonte: Arquivo Pessoal

No tocante as diferenças nas dinâmicas de tensão-excitação vivenciadas por jogo de

futebol distintos, Elias e Dunning (1992) enfatizam:

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“A respeito dos jogos-desporto tais como o futebol é possível ver, pelo menos em

traços gerais, que tipo de configuração de jogo proporciona o prazer ótimo: é um

confronto prolongado no campo de futebol entre duas equipes bem preparadas em

técnica e força. Um jogo que oscila de um lado para o outro no qual as equipes estão

bem equilibradas entre si e a determinação das equipes em marcar o gol decisivo

cresce à medida que o tempo passa... A tensão do jogo comunica-se visivelmente aos

espectadores. A sua excitação crescente comunica-se em contrapartida aos jogadores

até que a tensão atinge um ponto em que apenas se pode suportar e conter, no limite.”

(ELIAS, DUNNING, 1992 p. 133 e 134

Desta maneira, para uma pesquisa sobre os prazeres do lazer, é imprescindível estudar

o caráter daquelas práticas que proporcionam uma satisfação ótima e também o caráter

distintivo dos fracassos. A análise destes dois extremos serve como um estudo piloto para a

identificação da relação entre diferentes tipos miméticos de lazer futebolistico, e a produção de

um tipo particular de tensão (ELIAS, DUNNING, 1992), refinadamente regulada por graus

específicos de ativação e interação dos estados globais do organismo. Esses ajustes apresentam-

se dependentes de cada situação do jogo, sendo o ato de comemorar a vitória do Corinthians, o

estímulo mais capaz de induzir uma excitação periférica. Essa excitação parece estar

diretamente relacionada com a emoção autodenominada felicidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O contexto específico de torcedores de futebol é de fato um campo capaz de despertar

uma experiência emocional e principalmente de permitir uma expressão clara e livre dessa

experiência. Seja em aspectos fisiológicos ou sociais, o ato de torcer por um time de futebol

promove um estímulo desencadeador de uma excitação agradável que parece óbvio, ser

indispensável para uma ruptura saudável da rotina.

Esta excitação agradável também pode ser denominada de estresse mimético, já que ao

ser experienciada, requer ajustes fisiológicos específicos no que diz respeito às vias efetoras

periféricas reguladas pelo sistema nervoso autônomo. De acordo com a análise dos nossos

resultados conseguidos por meio das respostas ao questionário, do comportamento da FC e da

concentração de cortisol, a condição de estresse mais eficiente em induzir uma excitação

periférica foi a felicidade de vencer o arquirrival em uma partida. Além disso, nossos resultados

confirmam parte da teoria de Norbert Elias e Eric Dunning (1992) na qual os autores sugerem

que jogos mais disputados, como por exemplo a final de um campeonato, trazem consigo uma

característica de tensão-excitação muito maior que um jogo sem essa qualidade de disputa.

Porém, um dos limites involuntários dessa pesquisa foi o número reduzido de

voluntários. A impossibilidade de ingerir bebidas alcoólicas no dia da coleta reduziu a adesão

de participantes, assim como, a falta de financiamento adequado restringiu a quantidade de

análises que poderiam ser desenvolvidas. Esta pesquisa se apresenta como marco inicial nos

estudos sobre a fisiologia das emoções nos esportes. Para investigações mais acuradas, existe a

possibilidade de analisar minuciosamente o contexto do estímulo desencadeador, ou seja, as

características específicas de cada lance responsável por elevar a FC, em cada indivíduo. Nosso

desejo é que outras pesquisas surjam para reproduzir este modelo experimental, podendo assim

engrandecer o conhecimento sobre o comportamento dos marcadores periféricos regulados pela

partida de futebol em torcedores fanáticos. Desejamos ainda, que mais estudos se desenvolvam

no intuito de extrapolar este modelo para outras modalidades e contextos esportivos. Ademais,

é possível expandir o delineamento metodológico para sinalizações centrais e conexões

orgânicas inteiras, utilizando o tomógrafo ou equipamentos portáteis de eletroencefalograma,

reduzindo as dificuldades de avaliação in loco da pesquisa emocional, como é o caso do

internacional Emotiv. Este tipo de análise associada a uma investigação subjetiva, ao

comportamento periférico de marcadores clássicos ou não, de pontos diferentes das vias de

sinalização, dos sistemas de ativação e regulação emocional, podem ampliar enormemente os

conhecimentos sobre as vias de sinalização relacionadas a excitação agradável desencadeada

pelo futebol e por todos os confrontos esportivos, conforme sugerido por Elias e Dunning

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(1992), assim como o desenvolvimento de estratégias e possibilidades de coletas de dados no

interior dos estádios com os espectadores diretamente assistindo ao jogo. Por vários limites,

infelizmente essa pesquisa não pode realizar a coleta em estádios. O que nos leva a sugerir para

novas pesquisas esse tipo de mudança metodológica.

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ANEXOS

ANEXO A – PARECER COMITÊ DE ÉTICA

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ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO –

SUJEITOS AVALIADOS

Você está sendo convidado a participar, como voluntário, da pesquisa intitulada

Fisiologia das emoções: Os torcedores de futebol, conduzida pela doutoranda Aline Marques

Colares Camurça e orientada pela Profª. Drª. Heloisa Helena Baldy dos Reis. Este documento,

chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos como

participante.

Você foi selecionado por indicação de especialistas na área da busca pela excitação no

contexto do futebol. Sua participação não é obrigatória. A qualquer momento, você poderá

desistir de participar e retirar seu consentimento.

Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se

houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com a

pesquisadora. Se preferir, pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou outras

pessoas antes de decidir participar. Não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo se você

não aceitar participar ou retirar sua autorização em qualquer momento.

Justificativa e Objetivos

Este estudo tem por objetivo avaliar o comportamento de marcadores periféricos

(cortisol salivar, glicose e lactato sanguíneos, pressão arterial e frequência cardíaca) durante

uma partida de futebol do seu time, assim como em um dia de sua rotina habitual.

Procedimentos

Sua participação nesta pesquisa consistirá em assistir a um jogo de futebol do seu time,

na sua casa, em companhia das pesquisadoras que farão a coleta e aferição dos marcadores

periféricos (cinco vezes durante o dia, durante o tempo de uma partida de futebol). Ainda, será

pedido a cada participante a permissão para serem acompanhados, pelo tempo da duração de

um jogo de futebol oficial, na mesma hora que os mesmos acontecem, em um dia rotineiro

para as mesmas coletas. Será explicado como fazer as coletas de cortisol, glicose e lactato,

para que os participantes possam fazer as coletas matinais em cada dia de avaliação. Além

disso, serão realizadas anotações sobre as características do jogo e sobre as atividades do

cotidiano durante o período estabelecido para a coleta.

Desconfortos e Riscos

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Você não deve participar do estudo caso seja menor de 18 anos, tenha algum tipo de

doença cardíaca, metabólica ou neurológica; ou ainda, faça uso de algum tipo de esteroide.

Deixamos claro que não há riscos previsíveis envolvidos na pesquisa e que a mesma

não é remunerada, e ainda, que não haverá despesas por parte dos participantes.

Benefícios

Não há benefícios diretos ao voluntário. Porém com o estabelecimento das

características fisiológicas da excitação agradável no ato de torcer, será possível ter

argumentos científicos da importância dessa forma de lazer para a sociedade e assim fomentar

melhores diretrizes para os projetos públicos, assegurando o necessário para que esta prática

aconteça de forma acessível e segura.

Acompanhamento e Assistência

O acompanhamento da equipe de pesquisa acontecerá em dois dias distintos agendados

previamente. Um dia de jogo de futebol e um dia de rotina regular.

Deverá haver, ainda, um encontro entre o voluntário e a pesquisadora, anterior aos dias

de coleta para a explicação sobre as coletas; principalmente sobre as de cortisol salivar, glicose

e lactato sanguíneo. Isso se dá porque a primeira coleta de cada dia (30 minutos após acordar)

será realizada sem a presença da pesquisadora.

Sigilo e Privacidade

Os dados obtidos por meio desta pesquisa serão confidenciais, sendo coletados sem

identificação nominal, visando assegurar o sigilo de sua participação.

A pesquisadora responsável se comprometeu a tornar públicos nos meios acadêmicos

e científicos os resultados obtidos de forma consolidada sem qualquer identificação de

indivíduos participantes.

Ressarcimento e Indenização

A pesquisa será realizada sem atrapalhar sua rotina, em local de sua escolha; sem

acarretar qualquer despesa ao voluntário. Dessa forma não haverá ressarcimento de despesas

nessa pesquisa. O voluntário terá a garantia ao direito à indenização diante de eventuais danos

decorrentes da pesquisa.

Caso você concorde em participar desta pesquisa, assine ao final deste documento, que

possui duas vias, sendo uma delas sua, e a outra, da pesquisadora responsável / coordenadora

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da pesquisa. Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, seguem os telefones e o endereço

institucional da pesquisadora responsável.

Contatos

Contatos da pesquisadora responsável: Aline Marques Colares Camurça; estudante de

doutorado; Faculdade de Educação Física, departamento de ciências do esporte, UNICAMP.

55 19 997433203 /

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas

do estudo, você poderá entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) da UNICAMP das 08:30hs às 11:30hs e das 13:00hs as 17:00hs na Rua: Tessália Vieira

de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936 ou (19) 3521-

7187; e-mail: [email protected].

O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

O papel do CEP é avaliar e acompanhar os aspectos éticos de todas as pesquisas

envolvendo seres humanos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tem por

objetivo desenvolver a regulamentação sobre proteção dos seres humanos envolvidos nas

pesquisas. Desempenha um papel coordenador da rede de Comitês de Ética em Pesquisa

(CEPs) das instituições, além de assumir a função de órgão consultor na área de ética em

pesquisas.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa “Fisiologia das

emoções: os torcedores de futebol.”, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais

riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar e declaro estar recebendo uma

via original deste documento assinada pelo pesquisador e por mim, tendo todas as folhas por

nós rubricadas:

Nome do participante:___________________________ Contato telefônico: ______________

e-mail (opcional): ____________________________________________________________

Campinas, ____ de ____________ de _____

Assinatura do participante: _________________

Responsabilidade do Pesquisador

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Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares

na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo

que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado e pela CONEP,

quando pertinente. Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa

exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o consentimento

dado pelo participante.

Campinas, ____ de __________ de _____. Assinatura da pesquisadora: _____________

ANEXO C – TERMO DE LIBERAÇÃO DE IMAGENS

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM - Pessoa maior de 18 anos.

Neste ato, e para todos os fins em direito admitidos, autorizo expressamente a utilização da

minha imagem, em caráter específico para divulgação de resultados acadêmicos, constante em

fotos e filmagens decorrentes da minha participação no projeto de doutorado a seguir

discriminado: Programa de pós-graduação em Educação Física – UNICAMP título do projeto:

Fisiologia das emoções: os torcedores fanáticos de futebol. Pesquisadora: Aline M. Colares

Camurça. Orientadora: Heloisa Helena Baldy dos Reis.

Objetivos Principais

Evidenciar a possibilidade de uma nova linha de pesquisa para o campo de estudos da

Educação Física. Descrever o significado do torcer e o estado emocional do fanático torcedor

no dia do jogo; Relatar o comportamento de marcadores fisiológicos periféricos relacionados a

fisiologia das emoções; correlacionar o comportamento da frequência cardíaca com as ações

decorridas no jogo. As imagens, editadas ou não, serão exibidas: na tese final do referido

projeto, na apresentação audiovisual do mesmo e em publicações e divulgações acadêmicas.

Não haverá associação de caráter explicito com os resultados encontrados na pesquisa. Ou seja,

mesmo com o uso da imagem, estará preservado o anonimato dos resultados.

Por ser esta a expressão de minha vontade, nada terei a reclamar a título de direitos conexos a

minha imagem e esta pesquisa, em tempo algum.

Campinas, _____________ de _______________________ de 2018

______________________________________

Assinatura

Nome:______________________________________________________________________

RG.:_______________________________ CPF:____________________________________

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130

Telefone1: ( ) ______________________ Telefone2: ( ) ___________________________

Endereço: ___________________________________________________________________

ANEXO D - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS

SOCIOECONÔMICOS E SIGNIFICADO DO TORCER

Questionário

1) Idade (em anos): ___________

2) Crença religiosa:

2.1) ( ) católica

2.2) ( ) espírita

2.3) ( ) evangélica

2.4) ( ) sem religião

2.5) ( ) outra (especificar): _____________________________________________________

3) Estado civil:

3.1) ( ) casado

3.2) ( ) mora com companheiro (a)

3.3) ( ) solteiro

3.4) ( ) divorciado

3.5) ( ) viúvo

3.6) ( ) outro (especificar):

4) Renda Familiar mensal: R$_____________________________________________________

5) Você tem filhos? Quantos? _____________________________________________________

6) Tipo de moradia:

6.1) ( ) casa própria

6.2) ( )casa alugada

6.3) ( ) outra (especificar):_____________________________________________________

7) Estudos:

7.1) ( ) nenhum

7.2) ( ) alfabetização a 8ª série (9º ano)

7.3) ( ) ensino médio completo (1º, 2º e 3º)

7.4) ( ) ensino superior completo

7.5) ( ) Ensino Superior Cursando

7.6) ( ) Pós Graduação

8) Situação trabalhista:

8.1) ( ) empregado

8.2) ( ) desempregado

8.3) ( ) empresário

8.4) ( ) autônomo

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9) Carga horária de trabalho semanal:

9.1) ( ) variável

9.2) ( ) ≤ 20horas

9.3) ( ) ≤ 40 horas

9.4) ( ) > 40 horas

10) Com relação a prática de exercícios físicos você se considera:

10.1) ( ) sedentário

10.2) ( ) pratica raramente

10.3) ( ) pratica semanalmente

10.4) ( ) pratica diariamente

10.5) ( ) atleta

11) Você fuma cigarros?

11.1) ( ) sim quantos cigarros por dia?____________________________________________

11.2) ( ) não

12) Você consome bebida alcoólica?

12.1) ( ) sim

12.2) ( ) não

13) Se sim, qual a frequência do consumo no último mês?

13.1) ( ) uma vez

13.2) ( ) semanalmente

13.3) ( ) diariamente

13.4) ( ) outro (especifique):____________________________________________________

14) Você possui alguma doença crônica?

14.1) ( ) sim. Qual?___________________________________________________________

14.2) ( ) não.

15) Você consome algum medicamento diário?

15.1) ( ) sim. Qual? __________________________________________________________

15.2) ( ) não.

16) Você torce para algum time de futebol?

16.1) ( ) sim.

17.2) ( ) não.

17) Qual time de futebol que você torce? _____________________________________________

18) Por que você torce para este time? _______________________________________________

19) Se você tem filhos, eles gostam de futebol?

19.1) ( ) sim

19.2) ( ) não

20) Se você tem filhos e eles gostam de futebol, eles torcem para o mesmo time que você?

20.1) ( ) sim.

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20.2) ( ) não.

21) Você já foi assistir a jogos em estádio?

21.1) ( ) sim.

21.2) ( ) não.

22) Como foi sua primeira vez em um estádio? ________________________________________

___________________________________________________________________________

23) Quais os jogos do seu time que você assiste?

23.1) ( ) todos os jogos.

23.2) ( ) todos os que passam da tv.

23.3) ( ) exclusivamente do campeonato brasileiro.

23.4) ( ) exclusivamente do campeonato estadual.

23.5) ( ) exclusivamente clássicos.

23.6) ( ) alguns jogos independente da competição.

23.7) ( ) outro (especifique): ___________________________________________________

24) Como você se sente quando o seu time faz um gol? __________________________________

___________________________________________________________________________

25) Como você se sente quando o seu time sofre um gol? ________________________________

___________________________________________________________________________

26) Como você se sente quando o seu time perde uma oportunidade de gol? _________________

___________________________________________________________________________

27) Como você se sente quando o seu time ganha uma partida? ___________________________

___________________________________________________________________________

28) Como você se sente quando seu time perde uma partida? _____________________________

___________________________________________________________________________

29) Como você se sente quando seu time empata uma partida? ____________________________

___________________________________________________________________________

30) O que você sente ao ver a camisa do seu time em alguém em outro estado? _______________

___________________________________________________________________________

31) O que significa ser torcedor? ___________________________________________________

___________________________________________________________________________

32) O que você espera de um torcedor do seu time? _____________________________________

___________________________________________________________________________

33) Você já fez alguma loucura pelo seu time de futebol?

33.1) ( ) sim. Qual? _________________________________________________________

33.2) ( ) não.

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34) Você se considera um torcedor fanático (que se altera durante uma partida)?

34.1) ( ) sim.

34.2) ( ) não.

ANEXO E - FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DOS ESPECIALISTAS

(VALIDAÇÃO DE APARÊNCIA E CONTEÚDO)

Este formulário foi utilizado como instrumento de validação para o questionário

socioeconômico e sobre o significado de torcer, a ser aplicado na coleta de dados realizada pela

pesquisa Fisiologia das emoções: os torcedores fanáticos de futebol. Como especialista em

sociologia do esporte, você está sendo convidado a contribuir para otimização deste instrumento

de coleta. Ao avaliar cada item, pedimos que você escreva suas sugestões refletindo se: a) O

instrumento apresenta-se de forma didática e com boa apresentação/formato? b) Os itens do

instrumento estão coerentes com o tema investigado e permite alcançar o objetivo do

instrumento? c) Os itens do instrumento possuem uma linguagem de fácil leitura e

compreensão?

Itens do Questionário Sugestão

1) Idade (em anos):

2) Crença religiosa:

( ) católica

( ) sem religião

( ) espírita

( ) evangélica

( ) outra (especificar):

3) Estado civil:

( ) casado

( ) divorciado

( ) mora com companheiro (a)

( ) viúvo

( ) solteiro

( ) outro (especificar):

4) Renda Familiar mensal:

5) Você tem filhos? Quantos?

6) Tipo de moradia:

( ) casa própria

( ) casa alugada

( ) outra (especificar):____________

7) Estudos:

( ) nenhum

( ) alfabetização a 8ª série (9º ano)

( ) ensino médio completo (1º, 2º e 3º anos)

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( ) ensino superior completo

( ) ensino superior cursando

( ) pós graduação

8) Situação trabalhista:

( ) empregado

( ) desempregado

( ) empresário

( ) autônomo

9) Carga horaria de trabalho semanal:

( ) variável

( ) ≤ 20horas

( ) ≤ 40 horas

( ) > 40 horas

10) Com relação a pratica de exercícios físicos,

você se considera:

( ) sedentário

( ) pratica raramente

( ) pratica semanalmente

( ) pratica diariamente

( ) atleta

11) Você fuma cigarros?

( ) Sim. Quantos cigarros por dia?_______

( ) não

12) Você consome bebida alcóolica?

( ) sim

( ) não

13) Se sim, qual a frequência de consumo no

último mês?

( ) uma vez

( ) semanalmente

( ) diariamente

( ) outro (especifique):

14) Você possui alguma doença crônica?

( ) sim. Qual?______________

( ) não.

15) Você consome algum medicamento diário?

( ) sim. Qual?______________

( ) não.

16) Você torce para algum time de futebol?

( ) sim.

( ) não.

17) Qual o time de futebol que você torce?

18) Por que você torce para este time?

19) Se você tem filhos, eles gostam de futebol?

( ) sim.

( ) não.

20) Se você tem filhos e eles gostam de futebol,

eles torcem para o mesmo time que você?

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( ) sim.

( ) não.

21) Você já foi assistir a jogos em estádio?

( ) sim.

( ) não

22) Como foi sua primeira vez em um estádio?

23) Quais os jogos do seu time que você assiste?

( ) todos os jogos.

( ) todos os que passam da tv.

( ) exclusivamente do campeonato

brasileiro.

( ) exclusivamente do campeonato estadual -

( ) exclusivamente clássicos.

( ) alguns jogos independente da

competição.

( ) outro (especifique):

24) Como você se sente quando o seu time faz

um gol?

25) Como você se sente quando o seu time sofre

um gol?

26) Como você se sente quando o seu time perde

uma oportunidade de gol?

27) Como você se sente quando o seu time ganha

uma partida?

28) Como você se sente quando seu time perde

uma partida?

29) Como você se sente quando seu time empata

uma partida?

30) O que você sente ao ver a camisa do seu time

em alguém em outro Estado?

31) O que significa ser torcedor?

32) O que você espera de um torcedor do seu

time?

33) Você já fez alguma loucura pelo seu time?

( ) sim. Qual?______________

( ) não.

34) Você se considera um torcedor fanático (que

se altera durante uma partida)?

( ) sim.

( ) não.

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ANEXO F – INVENTÁRIO DE ANSIEDADE DE BECK

Abaixo está uma lista de sintomas comuns à ansiedade. Por favor, leia cuidadosamente

cada item da lista. Identifique o quanto você tem sido incomodado por cada um dos sintomas

durante a última semana, incluindo hoje, colocando um X no espaço correspondente, na

mesma linha de cada sintoma.

ANEXO G – INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK

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Este questionário consiste em 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente

cada grupo, faça um círculo em torno do número (0, 1, 2 ou 3) próximo à afirmação, em cada

grupo, que descreve melhor a maneira como você tem se sentido na última semana, incluindo

hoje.

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ANEXO H - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO –

PARTICIPAÇÃO DA PSICÓLOGA.

Você está sendo convidada a participar, como parte da equipe pesquisadora, na função

de psicóloga apta a aplicar os inventários de ansiedade e depressão (BECK,1988), da pesquisa

intitulada Fisiologia das emoções: Os torcedores de futebol, conduzida pela doutoranda Aline

Marques Colares Camurça e orientada Pela Profª.Drª. Heloísa Helena Baldy dos Reis.

Por favor, leia este termo de consentimento com atenção e calma, aproveitando para

esclarecer suas dúvidas. Se houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá

esclarecê-las com a pesquisadora. Se preferir, pode levar este Termo para casa e consultar

seus familiares ou outras pessoas antes de decidir participar. Não haverá nenhum tipo de

penalização ou prejuízo se você não aceitar participar ou retirar sua autorização em qualquer

momento.

Justificativa e objetivos

Este estudo tem por objetivo avaliar o comportamento de marcadores periféricos

(cortisol salivar, glicose e lactato sanguíneos, pressão arterial e frequência cardíaca) dde

voluntários durante uma partida de futebol do Sport Clube Corinthians Paulista, assim como

em um dia de sua rotina habitual.

Procedimentos

Sua participação nesta pesquisa consistirá em aplicar os inventários de ansiedade e

depressão (BECK,1988) a voluntários durante um jogo de futebol do Sport Clube Corinthians

Paulista, assim como em um dia de suas rotinas e posteriormente analisá-los quanto aos seus

resultados.

Desconfortos e riscos

Deixamos claro que não há riscos previsíveis envolvidos na pesquisa e que a mesma

não é remunerada, e ainda, que não haverá despesas por de sua parte.

Benefícios

Não há benefícios diretos.

Acompanhamento e assistência

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O acompanhamento da equipe de pesquisa acontecerá em dois dias distintos agendados

previamente. Um dia de jogo de futebol e um dia de rotina regular.

Sigilo e privacidade

Os dados obtidos por meio desta pesquisa serão confidenciais, sendo coletados sem

identificação nominal, visando assegurar o sigilo da participação de cada voluntário.

A pesquisadora responsável se comprometeu a tornar públicos nos meios acadêmicos

e científicos os resultados obtidos de forma consolidada sem qualquer identificação de

indivíduos participantes.

Ressarcimento e indenização

A pesquisa será realizada sem custos para você, dessa forma não haverá ressarcimento

de despesas nessa pesquisa. Você terá a garantia ao direito à indenização diante de eventuais

danos decorrentes da pesquisa.

Caso você concorde em participar desta pesquisa, assine ao final deste documento, que

possui duas vias, sendo uma delas sua, e a outra, da pesquisadora responsável / coordenadora

da pesquisa. Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, seguem os telefones e o endereço

institucional da pesquisadora responsável.

Contatos

Contatos da pesquisadora responsável: Aline Marques Colares Camurça; estudante de

doutorado; Faculdade de Educação Física, departamento de ciências do esporte, UNICAMP.

55 19 997433203 /

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do

estudo, você poderá entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

da UNICAMP das 08:30hs às 11:30hs e das 13:00hs as 17:00hs na Rua: Tessália Vieira de

Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936 ou (19) 3521-7187;

e-mail: [email protected].

O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

O papel do CEP é avaliar e acompanhar os aspectos éticos de todas as pesquisas

envolvendo seres humanos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tem por

objetivo desenvolver a regulamentação sobre proteção dos seres humanos envolvidos nas

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pesquisas. Desempenha um papel coordenador da rede de Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs)

das instituições, além de assumir a função de órgão consultor na área de ética em pesquisas.

Consentimento livre e esclarecido

Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa “Fisiologia das

emoções: os torcedores de futebol.”, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais

riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar e declaro estar recebendo uma

via original deste documento assinada pelo pesquisador e por mim, tendo todas as folhas por

nós rubricadas:

Nome do participante:____________________________________________________

Contato telefônico: ______________________________________________________

e-mail (opcional): _______________________________________________________

Campinas, ____ de _________________ de _____

Assinatura do participante: ________________________________

Responsabilidade do Pesquisador

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares

na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo

que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado e pela CONEP,

quando pertinente. Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa

exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o consentimento

dado pelo participante.

Campinas, ____ de _________________ de _____.

Assinatura da pesquisadora: _____________________________