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_______________________________________ XVIII Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 1
FLOR EM GUAS SUBTERRANEAS: Um Problema Social
Mariana Ribeiro Santiago1 & Jos Luiz Silvrio da Silva
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RESUMO --- O artigo discute aspectos conceituais e metodolgicos do sistema de gesto das guas subterrneas, relacionado s anomalias de concentrao do fluoreto em guas destinadas ao abastecimento humano. Estas anomalias de concentrao de fluoreto, ainda pouco conhecidas, vem acarretando srios problemas de sade pblica e desperdcio de finanas na busca de alternativas para o abastecimento das comunidades, sobretudo rurais. Cenrio este, j identificado por pesquisadores em diversos Estados brasileiros (RS, SC, PR, SP, MG, MT, GO, TO, MS, RJ). Sendo assim, neste mesmo estudo tambm ser realizada uma avaliao geral sobre o conhecimento produzido, bem como a construo do cenrio atual dos Estados brasileiros que sofrem com a problemtica de anomalias de fluoreto em guas de uso para abastecimento humano, onde apresenta-se uma avaliao crtica s legislaes vigentes referentes aos parmetros de potabilidade e parmetros para enquadramento de recursos hdricos subterrneos. Como contribuio, elaborou-se uma cadeia de causa e efeitos da fluorose, que vem se tornando endmica nos locais onde as guas subterrneas apresentam alto teor de fluoreto nas fontes naturais de gua.
ABSTRACT --- The article discusses aspects conceptual and methodological of the management of groundwater, anomalies related to the fluoride concentration in water destined for human supply. These anomalies in fluoride concentration, yet little known, is causing serious health problems and waste of public finances in the search for alternatives to supply the communities, especially rural ones. This scenario, already identified by researchers in many brazilian states (RS, SC, PR, SP, MG, MT, GO, TO, MS, RJ). So, in this study will also be held a general assessment on the knowledge produced, and the construction of the current scenario of the Brazilian states that suffer from the problem of anomalies of fluoride in water supplies for human use, which presents a critical evaluation of existing legislation relating to the parameters of potability of guidelines and parameters for groundwater resources. As input, it produced a chain of cause and effects of fluorosis, which has become endemic in areas where the groundwater have high levels of fluoride in natural sources of water.
Palavras-chave: Gesto das guas subterrnea, Anomalia de concentrao de fluoreto, Abastecimento humano.
1 Aluna do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, CT, Av. Roraima n.: 1000, 97105-900 Santa Maria. E-mail :[email protected] 2 Professor Associado da UFSM, CCNE, Av.Roraima n.: 1000, 97105-900 Santa Maria. E-mail [email protected]
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1. INTRODUO
Cerca de um quarto dos pases do mundo enfrentam hoje problemas de abastecimento de gua
(CARNEIRO et al. 2008). Mesmo no Brasil, uma das maiores reservas de gua doce do planeta, a
escassez e inviabilidade de uso desse recurso essencial, sentida de forma intensa, com destaque a
qualidade desfavorvel de alguns aqferos tanto porosos granulares, cristalinos e/ou crsticos
(SILVRIO da SILVA et al. 2008).
No Rio Grande do Sul, por exemplo, Machado (2008), demonstra que em algumas regies,
abastecidas pelo Sistema Aqfero Guarani/SAG, a gua no de boa qualidade, por ser salobra.
Obtendo ainda, em diversas localidades, resultados que demonstram ocorrncias anmalas de
fluoreto acima do Valor Mximo Permissvel (VMP) de 1,5 mg/L, segundo a Portaria n518/2004, o
que tem comprometido a utilizao da gua subterrnea. Devido a esta anomalia de concentrao de
fluoreto e a falta de conhecimento de qual seria sua origem, srios problemas de sade pblica e
desperdcio de finanas na busca de alternativas para o abastecimento das comunidades, sobretudo
rurais, so sentidos pelas populaes e autoridades responsveis pelo abastecimento nestas regies.
Tendo em vista a preocupao com a notria contaminao do corpo hdrico de subsuperfcie,
seja de origem natural ou antrpica, cresce o interesse em saber qual o motivo do enriquecimento
do fluoreto em guas subterrneas, apontando assim uma infinidade de hipteses. Estas ainda pouco
organizadas, agindo sozinhas ou simultaneamente, sem, contudo confirmar a fonte ou fontes. Sendo
que as mais aceitas no meio cientfico esto caracterizadas como de origem natural.
Considerando, a afirmativa anterior feita por Machado (2005) e que existem vrias hipteses
para explicar as ocorrncias anmalas de flor em guas subterrneas. Pode-se perceber, que para
os Estados brasileiros que apresentam problemas de altas concentraes de fluoreto em guas
subterrneas, este elemento qumico ser relevante como parmetro, para caracterizar a qualidade e
enquadrar guas para o uso abastecimento humano.
Porm, recentemente foi aprovada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, a Resoluo
CONAMA n 396/2008 cujo assunto trata da Classificao e Diretrizes Ambientais para
enquadramento, preveno e controle da poluio das guas subterrneas. Na mesma, no foi
contemplado o elemento flor como Valores de Referncia de Qualidade VRQ, estando tambm
ausente da tabela de elementos advindos de contaminao natural.
Dessa forma, devido a no saber-se qual a origem e as formas de ocorrncia do flor e que
ocorrncias anmalas de fluoreto em guas subterrneas so realidades de alguns Estados do pas.
Esta legislao pode parecer falha, mas deve-se lembrar que a mesma por ser a nvel federal, ela
veio para facilitar os trmites necessrios para tornar constitucional as leis estaduais especficas.
No Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, existe uma Portaria Estadual n10/1999 que
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sugere a faixa de concentrao de flor na gua para consumo humano, esteja entre 0,6 a 0,9 mg/L.
Sendo esta mais restritiva do que a Legislao Federal, que estabelece como valor mximo
permissvel 1,5 mg/L de fluoreto.
Sendo assim, diante da problemtica de aplicao dos instrumentos de gesto em relao as
concentraes anmalas de fluoreto nas guas subterrneas. O estudo objetiva demonstrar a
relevncia e importncia do Flor, suas causas e efeitos e por fim, de acordo com alguns
pesquisadores da rea, apontar no decorrer do texto os Estados brasileiros que obtm a mesma
problemtica, como no Estado do Paran - PR, Rio Grande do Sul - RS, Santa Catarina - SC, So
Paulo-SP, Minas Gerais - MG, Mato Grosso do Sul - MS, Mato Grosso - MT, Gois - GO,
Tocantins - TO e Rio de Janeiro - RJ.
2. METODOLOGIA
Uma vez que o presente trabalho pretende realizar uma abordagem sobre aspectos
conceituais e metodolgicos das guas subterrneas versus anomalia de concentrao do fluoreto, a
metodologia para seu desenvolvimento se pautou na reviso crtica da literatura tanto nacional
como internacional.
3. IMPORTNCIA E EFEITOS DO FLOR NA SADE HUMANA
Nos ltimos anos tem-se observado um aumento significativo da exposio da populao s
diversas fontes de flor, tais como dentifrcios e gua de abastecimento pblico, este flor ingerido
pode ter um papel fundamental na preveno e controle das cries dentrias em crianas e adultos.
E pode tambm, dependendo da dose e do tempo de exposio, ocasionar intoxicao crnica.
A fluorose dentria o efeito txico mais comum da intoxicao crnica pelo flor,
caracteriza-se como uma anomalia do desenvolvimento dos dentes associada a deformaes do
esmalte que provoca aumento de porosidade, opacidade, manchamento e eroso do esmalte. Alm
de causar mudanas estticas nos dentes, com o aparecimento de manchas de cor branca, marrom e
at preta em sua superfcie, a perda da substncia do esmalte pode gerar deformidades anatmicas
nos dentes, levando, em alguns casos, perda dos mesmos. A doena ocorre em conseqncia da
ingesto, por perodos prolongados, de flor em quantidade acima do limite estabelecido para a
regio, durante a fase de vida em que o esmalte est em formao, ou seja, do nascimento da
criana at a idade dos quatro a cinco anos. Essa ingesto de fluoretos em excesso pode causar uma
leso de hipomineralizao, subsuperficial profunda at a superfcie do esmalte externo, que, em
casos mais severos, se rompe logo aps a erupo (Who, 1984 apud Fejerskov et al., 1991).
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Quanto mais acentuado for o grau de fluorose, mais opaco e at amarelo-castanho ficar o
esmalte, conforme demonstrado na figura 1, onde caracteriza uma pessoa vtima de fluorose
dentria na localidade de Mocambo, municpio de So Francisco, abastecido pelo Aqufero Bambu.
Figura 1. Fluorose dentria em nvel generalizado-Mocambo/MG
Esta doena tem sido identificada em vrios pases, como no Leste da frica (NANYARO et
al., 1984; GACIRI e DAVIES, 1993; GIZAW, 1996); Turquia (ORUC, 2003); no Sudeste da Coria
(KIM e JEONG, 2005), Iran na Provncia de Azerbaijo com concentraes de at 5,96 mg/L de
fluoreto associados a rochas vulcnicas (MOGHADDAM; FIJANI, 2008), em Israel, com valores
de concentraes de fluoreto de 0,5 a 3 mg/L (KAFRI et al., 1989 apud MARIMON, 2006); China
com concentraes de 1 a 45 mg/L (ZAOLI et al., 1989 apud MARIMON, 2006); ndia com valores
mximos de 3,4 mg/L (RAO, 1997 apud MARIMON, 2006); Mxico com anomalia de at 16 mg/L
(MAHLKNECHT et al., 2004 apud MARIMON, 2006). Cruz e Amaral (2004), relataram
ocorrncias associadas a rochas vulcnicas no arquiplago dos Aores, Portugal.
J no Brasil, ocorrncias pontuais tm sido associadas ao consumo de guas subterrneas no
Aqfero Guarani registradas em So Paulo e Paran (FRAGA, 1992), Santa Catarina (CAPELLA,
1989), e no Rio Grande do Sul (BACCAR, 1998), (SILVRIO et al., 2004), em zonas coloniais do
municpios de Santa Cruz do Sul e Venncio Aires. Havendo registros tambm em outros Aqferos
do pas, que afloram nos Estados do Rio de Janeiro, So Paulo, Minas Gerais e Tocantins.
A legislao brasileira estabelece, o limite mximo de fluoreto aceitvel para consumo
humano fixado pela Portaria 518/2004 do Ministrio da Sade, o valor 1,5 mg/L (BRASIL, 2004).
Estudos tem demonstrado que concentraes superiores a 1 mg/L de fluoretos nas guas podem
causar fluorose dentria e acima de 4 mg/L podem causar leses sseas (fluorose ssea), que
ocorrem quando ingerido dosagens com concentraes de fluoreto acima de 8 mg/L em um longo
tempo de vida do ser humano (MARIMON, 2006). E em alguns Estados como no caso do Rio
Grande do Sul, esse nmero se torna ainda mais restritivo com a Portaria n 10/1999 onde a faixa de
concentrao em flor na gua aceita para consumo humano, entre 0,6 a 0,9 mg/L.
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A seguir na figura 2, aps o exposto, pode-se apresentar uma cadeia de causa e efeito da
fluorose, que faz uma interligao entre vrios fatores que leva a esta problemtica social.
Figura 2. Cadeia de causa e efeito da fluorose Org.: SILVRIO DA SILVA, J. L., SANTIAGO, M. R., (2009), adaptado de WHO, (2000)
4. RELAO ENTRE SISTEMA DE GESTO DAS GUAS SUBTERRANEAS E
ENRIQUECIMENTO DE FLOR
notria a importncia em se estudar regies que sofrem com anomalia de concentrao do
fluoreto no aqfero que abastece regies tanto urbanas quanto rurais, pois a primeira h existncia
de redes pblicas, obedecendo aos padres estabelecidos pelo Decreto n 5444/2005, sendo que na
segunda o cenrio completamente diferente, onde o meio rural a zona que mais sofre com
doenas relacionadas anomalia de fluoreto. Normalmente as vigilncias sanitrias municipais
ainda no esto equipadas para realizar o monitoramento dos parmetros mnimos de qualidade,
incluindo-se o flor.
Diante do exposto, se torna relevante abordar as legislaes relacionadas a gesto das guas
subterrneas, na busca de tentar interlig-las a problemtica abordada, problema este que acarreta
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srios problemas de sade pblica e desperdcio de finanas na busca de alternativa de
abastecimento das comunidades atingidas.
Para que o abastecimento humano cumpra os seus objetivos fundamental que ele seja feito
de forma a respeitar a legislao ambiental, de modo que os recursos naturais possam ser bem
utilizados, oferecendo-os com qualidade, confiabilidade e que a sua disponibilidade esteja garantida
para as futuras geraes com qualidade e quantidade considerveis. Esse um preceito bsico da
legislao do Brasil, a qual, tambm, considera a gua como um bem de domnio pblico, cabendo
ao Estado estabelecer a sua alocao entre os diversos setores usurios de modo a garantir um uso
equilibrado, sem conflitos e com um mnimo de impactos ambientais.
Nesse sentido a Constituio Federal (1988), traz definies em relao s guas
subterrneas, onde no art. 26 diz que incluem-se como bens dos Estados: I- as guas superficiais ou
subterrneas, emergentes em depsito, ressalvados neste caso, na forma da lei, as decorrentes de
obras da unio. A partir desta cabe aos Estados realizarem as outorgas de direitos de uso da gua.
A Lei 9.433 (1997) vem refletir uma maneira adequada de administrar e promover o
processo de desenvolvimento na conduta de utilizao dos Recursos Hdricos do pas, passando a
tratar a gua como um recurso escasso e finito, sendo a ela atribudo um valor econmico. Esta
mesma lei institui a Poltica Nacional de Recursos Hdricos e cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hdricos, que estabeleceu cinco instrumentos de gesto, estando em
destaque neste artigo o Enquadramento que, por sua vez, visto como o elo entre os aspectos
qualitativos e quantitativos dos recursos hdricos.
Aps a publicao da Portaria do Ministrio da Sade n 518/2004, a qual alterou a Portaria
do n.1469/2000, houve um incremento em relao ao estudo das guas subterrneas e pode-se efetivar um pouco melhor o conhecimento dos aqferos e at propostos alguns modelos
conceituais. Esta portaria estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e
vigilncia da qualidade da gua para consumo humano e seu padro de potabilidade, e d outras
providncias. Nesta Portaria os valores recomendados para a concentrao de on fluoreto presente
na gua para consumo humano de 1,5 ml/L.
O Decreto n 5.440/2005, veio para auxiliar no controle da qualidade das guas distribudas
pelas empresas fomentadoras de guas para abastecimento pblico, e institui mecanismos e
instrumentos para divulgao de informao mensais ao consumidor sobre os resultados das
anlises referentes aos parmetros bsicos de qualidade da gua e anuais informaes referentes as
particularidades prprias da gua do manancial ou do sistema de abastecimento, como presena de
algas com potencial txico, ocorrncia de flor natural no aqfero subterrneo, ocorrncia
sistemtica de agrotxicos no manancial, intermitncia, dentre outras, e as aes corretivas e
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preventivas que esto sendo adotadas para a sua regularizao.
E por fim recentemente, foi aprovada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, a
Resoluo n 396/2008 cujo assunto trata da Classificao e Diretrizes Ambientais para
enquadramento, preveno e controle da poluio das guas subterrneas. Na mesma, no foi
contemplado o elemento flor como Valores de Referncia de Qualidade VRQ, estando tambm
ausente da tabela de elementos advindos de contaminao natural.
Dessa forma, devido a no saber-se qual a origem e as formas de ocorrncia do flor e que
ocorrncias anmalas de fluoreto em guas subterrneas so realidades de alguns Estados do pas.
Esta legislao apresenta algumas lacunas, porm deve-se lembrar que por ser a nvel federal, a
mesma veio para facilitar os trmites necessrios para tornar constitucional as leis estaduais
especficas. Nestas leis estaduais, devem ser abordados os aspectos ainda no abordados, ou pouco
aprofundados, aspectos estes que devem ser considerados segundo as problemticas locais e
regionais.
5. OCORRNCIAS DE FLOR NO PAS
A ocorrncia do flor est relacionada comumente aos processos gneos ou magmticos.
Liberado pelo intemperismo dos minerais, o flor passa s solues aquosas supergnicas na forma
do on fluoreto livre dissolvido (F-), com alta mobilidade. A concentrao mdia de flor na gua
do mar 1-1,3 mg/L F-. Nas guas subterrneas, pode variar desde menos que 1 a mais de 35 mg/L
F-, enquanto em guas de rios e lagos geralmente as concentraes so baixas (0,01-0,3 mg/L)
(ANDREAZZINI et al., 2006).
No Brasil foram identificadas concentraes de fluoretos acima do Valor Mximo Permissvel
de 1,5 mg/L, nos trs tipos diferentes de aqferos; no poroso granular do Sistema Aqfero
Guarani/SAG; no cristalino fissural como no Sistema Aqfero Serra Geral na Bacia Sedimentar do
Paran; no cristalino do Estado do Rio de Janeiro, no Cristalino e Bacia Sedimentar em So Paulo e
ainda no Crstico-poroso, Grupo Bambu, em rochas carbonticas no NE de Gois e na regio de
So Francisco no Estado de Minas Gerais.
Desta forma pode-se perceber a extensa rea que esta problemtica abrange, onde a mesma
deve ser considerada e mapeada, devido aos problemas fluorose dentria e ssea em crianas e
adultos, conforme constatado nos Municpios de Venncio Aires e Santa Cruz do Sul no Rio
Grande do Sul (BACCAR, 1998).
Nas localidades de Mocambo e Boca do Mato, municpio de So Francisco, norte de Minas
Gerais, os teores na gua subterrnea de algumas reas variam entre 1,17 e 5,2 mg/L F-
(ANDREAZZINI et al, 2006). Nesse municpio desenvolveram-se trabalhos prospectivos para
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fluorita e galena em reas de ocorrncia de rochas carbonticas do Grupo Bambu.
Diversos artigos (Licht et al. 1996b, Licht et al., 1997; Licht 2001) baseados no Levantamento
Geoqumico Multielementar de Baixa Densidade do Paran, delimitaram uma grande rea
fluoranmala na regio do Norte Pioneiro do estado do Paran, onde foram determinados teores de
at 1,9 mg/L de flor em amostras de gua supercial. Na localidade de So Joaquim do Pontal,
municpio de Itambarac - PR, a prevalncia de fluorose dental encontrada na populao em idade
escolar foi de 72 %, sendo 61 % com nveis 4 e 5 de severidade (ANDREAZZINI et al, 2006). E
ainda no Estado do Paran, um estudo feito pela Agncia Nacional de guas - ANA (2005),
identificou concentraes de fluoreto acima 5 mg/L no municpio de Londrina, regio pertencente
ao Sistema Aqfero Guarani Confinado.
Panagoulias (2006), observou em seu estudo no Estado do Rio de Janeiro, os municpios de
Tangu e Rio Bonito que se tornaram mais evidentes devido as concentraes > 6mg/L de flor,
regio com ocorrncias de veios de Fluorita, especialmente para poos profundos. Poos rasos
apresentaram baixas concentraes do elemento, sugerindo diluio dessas guas por infiltrao de
guas de chuva e/ou superficial nesses poos.
Em um trabalho feito pela ANA (2005), retratou-se o panorama geral da qualidade das guas
subterrneas no Brasil, onde foi possvel detectar teores elevados de fluoreto, acima de 5 mg/L,em
alguns poos de grande profundidade que captam o Sistema Aqfero Guarani confinado em
Presidente Prudente, no Estado de So Paulo.
Hirata et al. (2007) em um estudo realizado em 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos
Hdricos do Estado de So Paulo, detectaram em zonas aflorantes do Sistema Aqfero Guarani, o
componente Flor em altas concentraes.
Diante desta problemtica de gesto para guas subterrneas e a sua contaminao por flor,
podendo este ser de origem natural ou antrpica, reconhecido a necessidade de se ter um
conhecimento mais afundo do comportamento hidrogeolgico dos aqferos, perante aos rgos
gestores destes recursos, reafirmando assim, a importncia para desenvolvimento de pesquisas que
dem subsdios a gesto das guas subterrneas, devido esta se apresentar com algumas lacunas a
serem preenchidas.
5. CONHECIMENTO PRODUZIDO
Visto a problemtica em que anomalias de fluoreto representam, algumas das vrias hipteses
merecem ser consideradas, no intuito de explicar qual as possveis fontes deste flor enriquecido.
No entanto, a grande maioria aponta uma ou vrias possibilidades agindo sozinha ou
simultaneamente, sem, contudo confirmar a fonte. Portanto existem trabalhos que relacionam como
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fontes os fertilizantes fosfatados enriquecidos em flor e aplicados em solos para diversos cultivos
Flores et al. (2003) utilizando a pirohidrlise na Universidade Federal de Santa Maria - UFSM,
Marimon (2006) usando istopos, este ltimo chegando a valores que descartam o fertilizante como
fonte de enriquecimento do flor em guas subterrneas. As fontes de interao
rocha/mineral/guas subterrneas so de origem Geognica e foram tentativamente avaliadas em
Silvrio da Silva et al. (2002), Marimon (2006) e Oliveira et al. (2007).
Nanni (2006) j aponta o enriquecimento em flor em guas subterrneas seja atravs da
interao gua-rocha em prolongado tempo de residncia bastante aceito no meio cientfico Fraga
(1992), Carrilo-Rivera et al. (2002) e Kim & Jeong (2005). Ainda Nanni (2006) cita que esta
hiptese de filiao litogeoqumica para explicar as concentraes anmalas de flor foi descrita
como atreladas em zonas de fluxo lento no Sistema Aqfero Serra Geral/SASG no Estado do
Paran Fraga (1992).
Outra hiptese esta alicerada no controle estrutural para a origem de flor nas guas do
SASG e baseia-se na conexo hidrulica entre diferentes aqferos, por intermdio de estruturas
tectnicas que possibilitam a ascenso de guas de aqferos sotopostos ao SASG, neste caso as
unidades pertencentes ao SAG. Como produtos tm-se guas com diversas condies de mistura
Lisboa e Menegotto (1997), Portela Filho et al. (2002), Machado (2005).
Neste sentido os trabalhos iniciados por Silvrio da Silva (no prelo) desde 2001 mapearam
cerca de 19 diques de rochas vulcnicas de composio variada e ainda no estudada
petrograficamente. Salienta-se que os afloramentos do SAG na Depresso Central do Estado do Rio
Grande do Sul estudados por Silvrio da Silva (2000 e 2002) ainda apresentam outros diques de
materiais de composio ainda pouco conhecida imersos nas rochas sedimentares da Formao
Santa Maria Membro Alemoa em Venncio Aires/RS. Estes materiais j foram estudados por
Difrao de Raios-X e indicaram a presena de traos de alofana e imogolita, indicando possvel
associao com fumarlas tardias e enriquecidas em flor. Estes materiais necessitam de estudos
mais detalhados, pois ocorrem em algumas reas de afloramento prximo de poos tubulares com
elevadas concentraes de flor nas guas. Recentemente novas hipteses para explicar a origem do
flor dos aqferos da Bacia do Paran foram apresentadas por Frank et al. (2007) associando a
desgaseificao de instrusivas da Formao Serra Geral. Descrevem que a completa ausncia de
minerais de flor tais como: (fluorita, criolita, topzio, lepidolita, apatita, etc.) nas rochas
sedimentares da Bacia fez com a origem dos teores anmalos de flor tenha sido atribuda a trs
origens:
Silvrio da Silva et al. (2002), flor associado a guas muito sdicas de pH elevado (>8),
encontraram correlaes de cerca de 60% das guas ricas em Na com ocorrncias anmalas de
flor, mas tambm notaram que este elemento ocorria em guas de pH cido (
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questionam-se a origem de flor associado a ambientes sedimentares de caractersticas desrticas
das Formaes Botucatu e Pirambia (Rosa Filho et al. 1987; Fraga, 1992). Estes autores nunca
mostraram as ocorrncias desses minerais em afloramento e ou no subsolo, portanto hiptese sem
comprovao at o momento.
Silvrio da Silva (1997) em sua tese de doutoramento em Geocincias notou que algumas
unidades pertencentes Formao Santa Maria (Membro Alemoa) mostravam caractersticas em
parte evaporticas estudando calcretes (concrees carbonticas) o que concordavam os professores
alemes da Equipe de Kiel/Frankfurt Bger e Kowalczyk (1993). Realizaram-se estudos detalhados
de diversos materiais contendo inclusive apatitas em osso de rpteis fsseis Silvrio da Silva et al.
(2002), com concentraes de 25000 ppms.
Consideraes genricas a processos hidrotermais associados a lineamentos tectnicos de
grande porte (Campos, 1993; Bittencourt, 1996; Marimon, 2006 e Provenzano, 2006), por onde
ascenderiam guas de aqferos profundos que conteriam flor proveniente das rochas do
embasamento (granitides) seguindo o Modelo de Kim e Jeong (2005). Silvrio da Silva (2002)
levantou a hiptese de serem as micas negras que sofrendo alterao liberariam o flor para as
guas de formao e assim para o Sistema Aqfero Guarani na regio Central do Estado do Rio
Grande do Sul. Hiptese no comprovada.
Uma origem contempornea aos derrames da Formao Serra Geral foi aventada por Rosa
Filho et al. (1987) sem apresentar documentao das fases minerais geradoras de flor.
Assim surgiu uma hiptese nova da desgaseificao de rochas intrusivas da Formao Serra
Geral (FRANK et al., 2007), infere-se que apartir desta hiptese a mesma poderia ter validade para
uma rea de grande extenso da ordem de 1.000.000 Km2 na Bacia do Paran em parte de oito
Estados brasileiros. Ainda devesse esclarecer estes derrames de rochas vulcnicas recebem outra
denominao no Uruguai, Argentina e Paraguai formam as Lavas Arapey Montao et al. (1998).
Tais fatos demonstram, que existem muitas hipteses no comprovadas para esclarecer a
origem ou origens das concentraes anmalas de flor tanto no Sistema Aqfero Guarani como
no Serra Geral e ainda mais recentemente em calcrios do Grupo Bambu onde (MENEGASSE et
al., 2004) aponta como origem ser atribuda dissoluo do mineral fluorita presente nos calcrios.
Em estudos feito por Velsquez (2006), foi observada ainda uma grande influncia das
estruturas geolgicas na concentrao de fluoreto encontrado nessas guas. No aqfero crstico-
fraturado, o fluxo das guas infiltradas facilitado ao longo das fraturas abertas, ocorrendo o
inverso com aquelas fechadas. Assim, as fraturas distensivas propiciam maior vazo aos poos do
que as interceptam, com menores teores de fluoreto dissolvido, ao passo que as fraturas
compressivas, como as de cisalhamento, propiciam baixas vazes aos poos que as interceptam e
mais elevado teor de flor a essas guas. Na regio rural do municpio de So Francisco (MG), em
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que predomina o abastecimento atravs de poos, foi considerada endmica a ocorrncia de fluorose
dentria, doena que ataca o esmalte dos dentes, e concentraes de fluoreto de at 3,9 mg/L.
6. CONCLUSOES
De forma geral, as guas subterrneas no pas, so de boa qualidade com propriedades
fsico-qumicas e bacteriolgicas adequadas a diversos usos, incluindo o consumo humano.
Todavia, na sua forma natural, existem eventualmente algumas restries que devem ser
consideradas:
Em destaque, a ocorrncia natural nas rochas de minerais cuja dissoluo, localmente, gera
guas com concentraes acima do padro de potabilidade. o caso do flor nos calcrios do
Grupo Bambu, no Sistema Aqufero Guarani e no Sistema Aqufero Serra Geral. Onde as altas
concentraes de fluoreto acarretam a endemia de fluorose dentria em regies que hoje reclamam
por soluo, pois esta problemtica pode acarretar altos ndices de dficit hdrico, no momento em
que a mesma inviabiliza o uso para abastecimento pblico.
Salienta-se que a origem antrpica ou natural deste composto na gua ainda controversa.
Inclusive existindo varias hipteses para sua origem e muitas vezes ainda atribuda a ocorrncia em
mineralizaes de fluorita, o que consideram-se ocorrer para algumas regies de rochas especficas
oriundas de embasamento cristalino como granitos e/ou granitides, mas no sendo atribuda a
todos o terrenos geolgicos. De acordo com Hem, (1970) as apatitas normalmente obtm fluoretos,
logo uma associao com rochas granitides pode ser feita incluindo-se outros minerais, tais como,
anfiblios do tipo hornblenda e algumas micas, podem conter fluoreto substituindo parte do
hidrxidos. Este autor ainda cita que o mineral fluorita o mineral mais comum de flor.
Acrescenta que guas subterrneas contendo fluoretos em concentraes superiores a 1 mg/L, so
encontradas em muitas localidades nos Estados Unidos.
Quanto ao sistema de gesto das guas subterrneas, foi percebido, que informaes sobre a
qualidade das guas no pas ainda se encontram de forma dispersa e esto concentradas,
principalmente, nos aqferos localizados prximos s capitais. H uma carncia de estudos
sistemticos sobre os aqferos em um contexto regional e a qualidade qumica e microbiolgica de
suas guas. Uma medida fundamental para o gerenciamento da qualidade da gua subterrnea o
estabelecimento de uma rede de monitoramento de poos. A avaliao espacial e peridica da
qualidade da gua, que normalmente apresenta uma variao sazonal, s pode ser obtida atravs de
um monitoramento sistemtico realizado pelas companhias de abastecimento pblico,
Universidades e Servios de Sade Municipais.
No pas, entre os estados, apenas So Paulo possui uma rede de poos para monitoramento da
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qualidade de gua que foi iniciada no ano de 1990. Mais recentemente, no ano de 2004, foram
instaladas redes em trs bacias do Estado de Minas Gerais, na Regio Metropolitana de Recife e no
aqfero Jandara, na regio de Barana - RN (ANA, 2005).
Sem esse tipo de informaes difcil avalia-se a influncia destas atividades na
contaminao dos aqferos. Neste sentido, o zoneamento dos aqferos, segundo a sua
vulnerabilidade e qualidade natural, servem para orientar a ocupao e explorao futura do local.
Tal ao de particular relevncia nas reas crticas onde a demanda por gua subterrnea elevada
e onde so fortes as tendncias de crescimentos populacional, industrial e agrcola.
A legislao federal, j contempla e limita os parmetros e ndices de qualidade da gua
subterrnea, mas como abordado anteriormente mesma se encontra com algumas lacunas, na qual
as legislaes Estaduais devem supr-las e monitor-las.
Por fim, a efetiva gesto integrada dos recursos hdricos subterrneos, ou seja, o planejamento
e a gesto dos recursos hdricos devem contemplar os aspectos de quantidade e qualidade das guas
como componentes de um ciclo nico.
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