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Florianópolis, Março, de 1988 Tributo a Adelmo Genro Filho. Na central AIDS na boca do·povo Na página 12 o Cf) '" I- (J) Ql E '" ...., .9 Pedro Ivo e seu diálogo em "alto nível" Educação: a democracia do coronel Na página 3 Tem rolo no BESC Na página 5 o

Florianópolis, - hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/jornais/Zero/ZERO1988MAR.pdf · Pantoja Lima, Sabrina ... Barreto. Telefone: (0482)33-9215. Telex:(0482)240BR

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Florianópolis, Março, de 1988

Tributo a Adelmo Genro Filho. Na central

AIDSna bocado·povo

Na página 12

oCf)

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Pedro Ivo e seu diálogo em "alto nível"

Educação:a democraciado coronel

Na página 3

Temrolo no

BESCNa página 5

o

Os Editores

ZEROJornal Loboratório do

Curso de Comunicação So­

cial da Universidade Fede­

ral de Santa Catarina. Esta

edição foi executada na ma­

drugada de 25 de março de1988.Textos: Ana Cristina, La­

vratti, Analú Zidko, ArleyMachado, Carla Cabral,Carlos Augusto Locatelli,Carlos Eduardo Caê, Cláu­dia Carvalho, Dauro Veras,Denyris Rodrigues, Emer­son O. Gasperin, EwaldoW. Neto, Geraldo Hoff­

mann, Graziela Nunes, Is­mail Ahmad Ismail, JoãoCarlos Mendonça, Júlio Ce­zar Pompeo, Monique Van­

dresen, Nilva Bianco, Nor­berta V. da Silva, OlávioBiláquio, Ozias "Tormen­

tor", Rozana de Moliner,Romir U. da Rocha, Ro­berta M. Miranda, SamuelPantoja Lima, SabrinaFranzoni, Salete Dalmoro,Éverson Faganello.Diagramação: Analú

Zidko, Carla Cabral, Car­los Augusto Locatelli, De-,nyris L. Rodrigues, IlkaGoldschmidt, Karla Bastos,Zulmar Bartolotta.

Fotografia: Sabrina Fran­zoni.Colaboradores: Hélio

Schuck, Francisco Karam,Tarso Genro (textos), Pau­lo Caruso (arte).Laboratório: Philippe Ar­ruda

Ilustração: Frank.Edição, coordenação e su­

pervisão: Professores Cin­thia Nahra, Eduardo Me­

ditsch, Luiz Alberto Scotto,Ricardo Barreto.

Edição Gráfica: RicardoBarreto.Telefone: (0482) 33-9215.Telex: (0482) 240 BRCorrespondência: Caixa

Postal 472, Departamentode Comunicação e Expres­são, Curso de Jornalismo,Florianópolis/Se.Acabamento e Impressão:

Empresa Editora O Estado.

Distribuição Gratuita.Circulação Dirigida.

OPINIOES

(;s:cQ)(f)oen::J

ÕiÜo'Scua..

o'cuo-

�Uiª

Seguir lutandoCaros amigos do Departamentode Comui'l'icação e do Curso deJornalismo da UFSC. Alunos,professores e funcionários:Ficamos sensibilizados e infini­

tamente gratos pela solidariedadee carinho, nessa hora trágica denossas vidas. As generosas mani­festações sobre o trabalho, a vidae ideais do Adelminho nos como­veram profundamente. Todos os e

que o amavam e com ele comuni­garam dos mesmos sonhos, são

para nós, seus pais, pessoas muitoespeciais. Tentamos não perder a

esperança para poder continuarlutando por um Brasil com uma

sociedade em que todos tenhamdireito à terra, ao pão e à alegriade viver.Santa Maria, março de 1988.Os pais, Elly e Adelmo Genro.

R. Zero fala dá vida e obra do pro­fessor Adelmo Genro Filho na pá­gina central.

* * *

Morro do HorácioCom respeito ao artigo publi­

cado sob o título "Morro do Horá­cio: a prisão na favela", de novem­bro/87, gostaria de esclarecer o se­

guinte: não é inteiramente verda­deira a afirmação de que o discur­so utilizado por "todas as igrejas"ali presentes tenha como tônica a

aceitação da miséria e conseqüen­te alienação.

Existe, no Horário, um traba­lho realizado a partir de um grupode seminaristas que passa, porexemplo, pela luta que visa a possedefinitiva da terra, o que não signi­fica, de forma alguma, conformis­mo.

Seria muito coerente da partede quem escreveu talmatéria, cujaessência é bastante correta, assu­mir uma atitude de busca e divul­gação da verdade e não simples­mente pôr a público uma opiniãomal fundamentada, que descarac-,teriza uma tentativa de conscien-

.

tização quanto às situações de in­

justiça social a que estão subme­tidos os moradores do morro.

Conscientização esta que assume,a cada dia, posturas mais firme na

luta em direção à Libertação, ca­minho oposto ao amém da passivi­dade e da alienação. .

Catarina GewehrPsicologia - UFSC

R. Zero subestimou.

. Zero: uma bosta"oo .Desde o editorial - onde

se avisa na primeira linha qut setrata de uma tentativa de resgatara memoria de Florianópolis dosúltimos 50 anos' - até os port-Io­lias, tudo na publicação protestacontra a existência de uma cidadecom vida. (oo.) As matas exterrni­nadas: em Florianópolis? Refe­rem-se provavelmente a alguma

.

campina rala sem importância ou

ao próprio sítio onde se localizaa cidade. E inelutável: ou a matanativa ou a cidade, decidam-se!

Estamos em falta

(oo.) Nessa trilha de engamos e

equivocas, ensinam os jovens queo Palácio do Governo fica no anti­

go 'Campo doManés', que a Capi­tania dos Portos limitava com o

Hospital de Caridade e que o sr.

Irineu Bornhausen é o avô do se­

nador Jorge Bornhausen ... Eu, deminha parte, fico entristecido e

preocupado. Imaginar que é com

esse tipo de informação que a Uni­versidade está formando meus fu­turos colegas ... Estou perplexo e

confuso (oo.)"Paulo da Costa Ramos - tre­

cho de artigo publicado em O Es-o

tado em 13/3/88R.: Quanto às informações cita­

das, ZERO errou. Quanto à per­plexidade e confusão de nosso "fu­turo colega", atribuímos às preo­cupações com a situação de sua

eterna candidatura a prefeito de

Florianópolis.* * *

Sem ilusões/' É deveras lamentável que o Jor­nal Laboratório do Curso de Co­municação Social seja utilizadopor facções minoritárias inconfor­madas para veicular informaçõestotalmente distorcidas da realida­de factual e comportamental vi­gente na Universidade Federal deSanta Catarina.Em artigo não assinado, intitu­

lado "Sem ilusões", procura-sedeslustrar a vitória insofismável,limpa e legítima do atual Pró-Rei­tor de Ensino nas eleições paritá­rias diretas para Reitor da UFSC.A chamada de capa que caracte-

riza os integrantesda comunidadeuniversitária como "bobos" já éuma agressão gratuita e injustifi­cada a todos os seus componentes,que só serve para desacreditar o

Jornal ZERO.Um professor de jornalismo,

consciente das responsabilidadeséticas associadas à utilização tão

inconsequente deste importantemeio de comunicação, daria real­mente nota ZERO para alunosque escrevessem tal artigo. Certa­mente não é isto que esperamosdos futuros profissionais respon­sáveis pela relevante tarefa de vei­culação de informações e idéias nasociedade. E preciso assegurarneste jornal laboratório um míni­mo de isenção e imparcialidade,evitando-se envolvimentos emo­

cionais que possam comprometero processo de formação profissio­nal dos alunos. E necessárioaprende-r sobretudo que liberdadede imprensa não pode ser confun­dida com libertinagem ou licencio­sidade.Nestas circunstâncias, solicito

que esta correspondência sejatranscrita na íntegra, com o mes­

mo destaque do mencionado arti­go, na próxima edição do JornalZERO. Esta providência permi­tiria descaracterizar a vinculação.deste Jornal a facções ideológicas,totalmente incompatíveis com o

espírito pluralista essencial no am­

biente universitário.

Saudações -

Raul Valentim da SilvaProfessor da UFSC

R. Zero publicou.

CARTAS .

'

Mais uma vez chega às suas mãos o Zero, este experimento que desafiaa lei das probabilidades. O laboratório de fotografia do Curso de Jorna­lismo está desativado, por caduquice e falta de manutenção nos equipa­mentos. No entanto, você está vendo fotos. A Universidade está parandopor falta de professores, mas aqui restaram alguns' para passar umanoite em claro e viabilizar a edição deste jornal, alimentados pela ameaçade congelamento de seus salários e o calor do entusiasmo dos alunosem fazer jornalismo, que nunca faltou.

-

Uma falta, porém, precisa ser registrada. Faltou o professor AdelmoGenro Filho. Faltou a sua cordialidade no trato com os alunos e colegas,sua elegância de fazer política, sua valentia de enfrentar a adversidade,qualquer uma, até a última que foi a sua morte. O Zero saiu maisuma vez, mas o lugar de Adelmo no Curso de Jornalismo da UFSCé insubstituível.

Estranho país, triste país. No plano nacional, nossos honrados consti­tuintes cederam às fortes argumentações do Urutu: veio o presiden­cialismo com um mandato, que o povo repudia, de cinco anos. Noplano interno, a Universidade vem sendo atacada desde o ano passado,numa orquestração regida pelo Planalto. As fraudes nos vestibulares,a lista dos "improdutivos" da USP e os decretos de janeiro do presidenteSarney, acabaram por sufocá-la. Milhares de alunos estão sem aulas'e sem professores no ensino superior. E como no caso das eleiçõespresidenciais: esperar até quando?No planointernacional uma má notícia isolada. Vinte e seis jornalistas

morreram em 87, cobrindo suas pautas, ao redor do mundo. Bem maisnobres, sem "pianistas", clientelismo ou jetons.

! P2 '. ZERO '.

'

MAR/88, I

PRENDO E ARREBENTO

Pedro Ivo impõe AI-5 à EducaçãoDemissões, cassação

de mandatos e fim dasdiretas nas escolas

Em apenas um ano, sob o slo­

gan-compromisso "você decidee Pedro Ivo realiza", o governodo Estado conseguiu "revolucio­nar" o sistema educacional cata­rinense. Rasgou o Plano Esta­dual de Educação 1985 - 1988,demitiu 17 mil professores, cas­sou 98 diretores, acabou com as

eleições diretas nas escolas, ex­tingiu os conselhos deliberativose decretou um plano de matrí­culas para superlotar as salas de

.

aula. O retrocesso imposto pelogovernador ao ensino básico e

médio, em Santa Catarina, che­gou ao climax com a intervençãono Instituto Educacional deEducação e no' Colégio AníbalNunes Pires, em Florianópolis.'No mesmo período, por se re­

cusar a negociar com os educa­dores, PedFO Ivo enfrentou "pe­quenos" revezes: teve que lan­

çar mão de "cassetete democrá­tico" da polícia para reprimiruma greve de 57 dias do Magis­tério e manifestações estudantis,em 1987, e colheu uma derrotaarrasadora no Judiciário, que,em fevereiro último, concedeuliminar de reintegração de posseaos diretores demitidos.

MAIS REPRESSÃOAs cenas de repressão à greve

e a intervenção autoritária nos

dois colégios (quatéis-Iaborató­rios da política educacional do

governo) lembram os bons tem­

pos de aplicação do Ato Institu­cional n? 5 e da Lei de SegurançaNacional, que teima em sobre­viver a esta "transição sem fim".No entanto, ao quebrar o eixo

. democrático do PEE (eleição di­reta para diretor da escola e a

criação do COnselho Delibera­tivo, em cada uma delas), "Pe­dro Ivo aumenta o fogo sob uma

panela de pressão que está pres­tes a explodir" , adverte a profes-.sora Ideli Salvati, presidente da

Associação dos Licenciados deSanta Catatina.Segundo Salvati, até março

deste ano os professores da redeestadual acumularam uma perdasalarial de 156%. Não recebemreajustes desde de julho de 1987,nem mesmo a URP, que todosos trabalhadores vêm receben­do. Apostando na desarticula­ção da categoria, o governador

pagou o gatilho atrasado no últi­mo dia 14 de março, o que teveo efeito de um jato d'água dis­persivo da manifestação marca­

da para o dia seguinte, quandoele completou um ano de gover­no, e José Sarney três anos na

presidência da República.

AÇÃO NA JUSTIÇAA determinação do governa­

dor, de levar a efeito um planode educaçao que ignora os, pon­tos fundamentais do "livro ver­

de", discutido por centenas demilhares de catarinenses, duran­te a gestão de Esperidião Amim(a elaboração do PEE foi uma

conquista da greve dos profes­sores em 1983), não intimida a

Alise, A entidade está .dispostaa ingressar com uma ação na Jus­tiça para pedir a invalidação doano letivo de 1987, já que os 57dias de aulas repostas estão sen­

do anotados nas UCRES -

Unidade de Coordenação' Re­gional de Ensino -;- como faltas

. não justificadas, informa a vice­

presidente, Joaninha de Olivei­ra. Ela explica também que nas

escolas em que a greve de 87foi parcial, há distribuição dasfaltas entre todos os docentes

para não justificar a ausência dosgrevistas.As maiores aberrações', con-

.

forme a Alise, ocorrem no cam­

po das demissões. Há casos em

que professores "formados" queforam demitidos ou transferidossão substituídos por funcioná­rios de outros órgãos públicos,sem nenhuma qualificação paralecionar nos I? e 2? graus. Um

exemplo concreto dessas trocas

é o da Escola Básica Pedro VazCaminha, na Vila São João, emFlorianópolis. Um professor de

.Ciências (5� a 8� séries) foi substi­tuíéo por um egresso do Suple­tivo de 2? grau, relata a profes­sora de Educação Religiosa do

educandário, e estudante de Psi­

cologia da UFSC, Catarina Ge­werd. Demitida, ela continua le­cionando no colégio, -"por um

comprornisso assumido juntosaos alunos". A professora conta

que os alunos' chegam a "fazer

vaquinha" para the pagarem a

passagem de ônibus, uma vez

que não rece�r salários.

Foto: James Tavares/JSC

.

Cassetete democrático agradecendo os votos

Governador não pede, decretaO ponto crucial do conflito

entre o governo do Estado e o

Magistério diz respeito às elei­

ções diretas nos estabelecimen­tos de ensino. "O diretor da es­

cola deve ser alguém de irrestritaconfiança do governo, porquesobre ele o governo pode execu­

tar uma fiscalização plena. É um

cargo preenchido e esvaziado

quando o governador entenderpor bem", sustentou Pedro Ivo,ameaçador, diante das câmerasde TV, no dia 18 de fevereiro,quando usou a imprensa para re­

velar duas outras conclusões bri­lhantes, baseadas em pesquisasde seus assessores especiais:"Há alunos em todas as cidadesdo Estado e não haverá maisgreve dos professores, porque o

governo não pagará os dias para­dos.A Alise, respondeu no dia se­

guinte, com um documento queanalisa o pronunciamento do go­vernador (a "grande mídia" deSC não publicou), que "o respei­to à maioria se dá pelo cumpri­mento do que a maioria decide.Eleição direta nas escolas foiuma decisão de mais de meio mi­lhão de catarinenses na colabo­

ração do '?EE. O diretor de es­

cola é cargo de confiança da co­

munidade, para quem deve

prestar serviço e com quem deveestar sintonizado. Com a descul­

pa de 'despolitizar a educação',não respeitando o processo elei­toral, legal, o governo quer, isso

. sim, transformar a escola em

curral eleitoral do PMDB.Quem não dançar conforme a

música é exonerado, a comuni­dade queira ou não".

Esta análise é aprofundadapela professora e doutorandaem Filosofia da Educação na

UFSC, Marli Auras, quandoquestiona se os anos e anos deprática de nomeação de direto­res vinha garantindo a qualidadeda Educação em Santa Catarina."Onde está o direito de o gover­nador nomear e exonerar o dire­tor da escola", queixa-se PedroIvo, acenando com a lei federal5.692, hierarquicamente supe­rior ao PEE, que não é lei. Eleconsidera "intervenção político­partidária" o processo de escõ­lha de diretores escolares.O governador não pode dizer,

é lógico - raciocina Marli Au­ras - que, com a volta das no­

meações, pretende mesmo é queapenas o seu partido político, oPMDB, influa na escola dos di­retores, restabelecendo, assim,a velha prática oligárquica. "Odiretor seria o delegado do go­vernador dentro da escola e dei­xaria de ser o delegado da escola,

.

seu representante máximo juntoaos escalões administrativos",dispara.Como observa a professora

Marli, não é preciso ser muitointeligente pãra perceber ("até'mesmo pela pobreza da argu­mentação palaciana") que a ver­

dadeira preocupação do gover­nador não é com a qualidade doensino, como afirma reiterada­mente mas, isso sim, com a p�e­mente necessidade de encontrarmeios para promover o "des­mantelamento do movimentodos educadores, que vem contri­buindo para desnudar a face au­

toritária deste governo de 'opo­sição'''. Não basta punir com

transferência os professores quese destacaram na luta pela de­mocartização escolar.Os sucessivos decretos do go-

vernador atingiram no cerne o

PEE: o de novembro de 87, queextingue os conselhos delibera­tivos, cria os conselhos comuni­tários, cujos presidentes serão os

diretores indieados pelo Execu­tivo estadual; a exoneração dos98 diretores desrespeita a lei es­tadual6.709 e o PEE -que pro­põem eleições diretas para todasas chefias; sob a alegação de darvagas a mais de 200 mil criançascatarinenses em idade escolarque se encontram fora da escola,o Plano Anual de Matrícula -

1988, incha as salas de aula com

até 50 alunos por turma, depen­dendo da série, enquanto o nú­mero máximo permitido peloPEE é 35. O próprio documen­to-processo "Democratizaçãoda Educação - A Opção dosCatarinenses" condiciona a re­

vogação Ou alteração de "livroverde" ao mesmo processo peloqual foi elaborado. Prevê tam­bém a renovação de 1/3 dosmembros do Conselho Estadualde Educação, o que ainda nãoaconteceu.

Os retrocessos aqui sucinta­mente analisados dão uma idéiade como o atual governo pre­tende colocar em prática aquiloque define como "a diretriz maisfundamental da educação" em

seus Cadernos de campanha"Rumo à Nova Sociedade": reo­rientar, repensar, melhorar, res­gatar e reordenar o setor. Naspalavras da diretoria da Alise,o governador extrapola suas fun­ções, coloca-se acima do Legis­lativo e do Judiciário e transfor­má a sua vontade em lei máxi­ma, parodiando o Rei Luis XV,da França: "O Estado sou eu".

Geraldo Hoffmann

ALTOS E BAIXOS

Bolonha comemora 900anos de'Universidade

É a mais antigado mundo, masse moderniza

A universidade. mais antiga domundo está comemorando seus 900anos de existência. É a Universidadede Bolonha, Itália, na qual estuda­ram personalidades ilustres como

Dante Alighieri, Petrarca.ifirasmode Roterdã, Copérnico e muitos ou­

tros, construindo toda uma históriade lutas e conquistas.

O aniversário vai ser abrilhantadocom uma série de manifestações en-

.

volvendo centenas de seminários e

conferências científicas, mostras de

arte, lançamentos de livros e de edi­ções especiais, além de espetáculosde esporte, música, teatro e cinema ..

Fundada em 1088, sem nunca nes­

se período ter interrompido suas ati­vidades, a Universidade de Bolonhatem como atual reitor, Fabio Ro­versi Monaco, que para dar conti­nuidade as atividades de comemo-

. rações convidou reitores de todo o

mundo para participarem das ativi­dades e debates sobre o sistema uni­versitário , entre eles o reitor da Uni-

Quatro dizemnão à greve.Tudo igual

Greve. se houver. só será de­cidida na próxima quarta-feira,dia cinco de abril, data-que fi-ocou marcada para a efetivaçãode nova Assembléia GeralAcadêmica. É que na tensa as­

sembléia do dia 29 de março,por uma estreita diferença dequatro votos, foi decidida a

não-paralisação das atividadesda Universidade Federal deSanta Catarina. Ao longo das3h20min de duração, foram en­

caminhadas e votadas duas pro­postas. A primeira indicava pa­ralisação até o dia 5 de abrile a segunda pela não realizaçãoda greve geral. Venceu a segun­da, com 663 votos (23 de pro­fessores) contra a greve. Foramderrotados 630 alunos e 29 pro­fessores.

Diante de uma diferença tãoreduzida, entre sua categoria,os professores exigiram nova

contagem de seus votos'; queconfirmou a primeira conta­

gem. Antes, para evitar confu­sões, a assembléia foi divididaem dois grupos, com os favorá­veis e os contários de cada um

dos lados do ginásio. Foram os

50 minutos mais tensos da As­sembléia Geral Acadêmica.

Encerrada a AGA, e cumprin­do outra decisão tomada, cercade 200 alunos invadiram a rei-.toria para exigir uma audiênciacom o reitor Rodolfo Pinto daLuz. Não perca a próxima as­

sembléia.

tino, o Africano, marcam o inícioda ruptura com o ensino monástico,seguido pelas aulas de direito.

No século 13 já haviam dez milestudantes em Bolonha, a maioria

estrangeiros, sem direito à cidada­nia. Somente na segunda metade doséculo 14 é que a universidade passaa ser reconhecida. Até o século 16,Bolonha tem uma universidade go­vernada pelos estudantes, que passapouco a pouco a se tornar uma insti­

tuição estatal. Depois do século.14,-a universidade passa a explorar ou­tras áreas de estudos, deixando o di­reito de ser seu único ponto de refe­rência.

Palácio Poggi, sede

versidade de São Paulo, José Gol­

demberg, que já confirmou presen­ça.

UM POUCO DA mSTÓRIAA função da Universidade de Bo-

lanha marca o 'rompimento do· mo­nopólio da Igreja na educação, insti­tuindo o ensino livre e independentedas escolas eclesiásticas. As aulas demedicina ministradas por Constan-

Hoje, com dezoito mil estudantese vários centros de estudos avança­dos, a Universidade de Bolonha éuma das mais importantes de todaa Europa. Além de ter o título damais antiga universidade do mundo,procura transforrnar-se na universi­.dade do futuro, associando à tradi­

ção modernos sistemas de informa­

ção. e automação. E tem tudo paraisso ...

Cláudia Carvalho

. Calouros entram sem ilusões1� de março de 1988. Antes

das 7 horas da manhã começaa invasão dos calouros que,como baratas tontas, arras­tam-se pelo Campus daUF�C à procura de suas sa­

las.

Tanto os que foram mere­

cidamente aprovados quantoos que passaram por acaso novestibular, já vêm cientes dasdificuldades porque passa a

Universidade. Alguns já es­

peravam um ensino falho, co­mo a caloura Margareth, deJornalismo:' "Está melhor doque eu pensei. Esperava en­

contrar uma Universidademais medíocre." Já seu cole­

ga Fabiano vai mais longe:"A impressão que estou ten­

do era a esperada: falta deprofessores, displicência deprofessores e alunos, inép­cia". Como eles, a maioriados novos universitarios vêmde um 21trau defasado. "Essadefasagem é uma seqüêncialogica que não é culpa dessainstituição, mas do sistemade ensino em geral", afirmaMargareth. A décepção étanta que não são poucos os

calouros que, como menos deum mês de aulas, já pensamem mudar de curso.

Além das dificuldades di­retamente ligadas ao ensino,outras como a falta de mate­

rial, transporte coletivo, mo­radia estudantil e a semprelembrada comida do R:U.,só agravam a situação. Háquem não reclama. e esteja

achando tudo um baratodesde as aulas até a falta de­las; a recepção calorosa, combanhos na lagoa do Centrode Convivência; os tradicio­nais trotes e tudo o mais.Dizer que os estudantes

vêm para a Universidadecheios de sonhos e perspec­tivas seria, no mínimo, inge­nuidade. Mas também não éerrado afirmar que são pou­cos os que têm realmenteconsciência da situação e de.suas conseqüências. (Há sig­nificativa diferença entre es­

tar ciente e estar consciente).Essa alienação fica claraquando se toca o assunto degreve, palavra maldita. Agrande maioria posiciona-secontrária sem antes questio­nar-se , sem estar a par dosfatos. E mais cômodo ter au­las "tapando buracos" doque reagir com posiciona­mento definido diante dosdisparates que denigrem a

educação em todo o país. Noscalouros o receio da greve émais explícito. O argumentoé que esta: greve g�e hora se

articula não atingirá seus ob­jetivos.BUSCANDO OS DADOSSe as expectativas dos ca­

louros em relação à Univer­sidade ficam daras, o mesmonão acontece com o perfil só­cio-econômico dos estudan­tes quando se tenta usar os

dados do questionário for­mulado pela COPERVE. Jánum primeiro mom e n to

constatam-se falhas gritantesno dados, como no caso deduas questões, uma delas so-

. bre a ocupação principal dopai do vestibulando e outrasobre a renda total da famí­lia. A resposta com maior

percentual à primeira per­gunta apontava para proprie­tários e administradores- degrandes empresas; parado­xalmente, a segunda questãoassinalou "a predominância

. (56,7%) de famílias receben­do até um salário mínimo (naépoca, Cz$ 1.969,92).Revela-se uma grave falta

de sinceridade nas respostasdos vestibulandos, o que pre­judica o trabalho de informa­ção e pesquisa da Universi­dade. A quase totalidade doscandidatos, ao preencher o

questionário, parece não en­

carar com a seriedade mere­

cida.A falta de esclarecimento

quahto à finalidade, quemvai consultá-lo, como vai serutilizado, aliada ao fato de o

questionário caracterizar-sepor penetrar na individualia­de dos candidatos de maneirapouco sutil, sem um mínimode bom senso, incitam a men­

tir ou omitir informações.Convém discutir se esse

questionário não é proposita­damente mal elaborado paraque a verdadeira situação douniversitário não apareça.

Julio C. Pompeo eGraziela S. Nunes

P4 ZERO MAR/8S

Para reitorCâmara só dáquatros anos

A Câmara dos Deputados já apro­vou projeto de lei que determina a

nomeação de reitores das universi­dades federais, pelo presidente da

República, a partir de uma lista trí­

plice escolhida em eleições diretasda qual todos participam - alunos,professores e servidores. O mandatodos novos reitores será de quatroanos, sem direito à recondução ao

cargo. Agora, o projeto de lei seráenviado ao Senado Federal para no·

vos estudos.

Com a aprovação, através de'

acordo de lideranças - já que à essa

.

altura é difícil conseguir quórum pa­ra boa parte das votações....,... foi der­rotado o projeto de lei do deputadoVictor Faccioni (PDS-RS), que pre­via a reeleição dos reitores. As lide­ranças, ao optarem pelo substitutivode Ruy Nedel (PMDB-RS) - quedefendeu uma lista tríplice - e pelaemenda de Otávio Elísio (PMDB­MG) - Suprimindo a recondução- acolheram pressões da esquerda,do Conselho de Reitores do Brasil(Crub), Associação Nacional dosDocentes do Ensino Superior (An­des) e Federação dos Servidores dasUniversidades Brasileiras (Fasu­bra). As entidades entendem que a

reeleição dos reitores é prejudicialaos propósitos de renovação em dis­cussão nas universidades.

Caso a proposta de reeleição dodeputado gaúcho Iosse aprovada, o

.

reitor da Universidade Federal doRio Grande do Sui, Francisco Fer­raz, convicto de que ela era "demo­cratizante e avançada", tentariacumprir mais uma gestão dirigindoa UFRGS.

MEC estuda a'

Universidade

Aberta, é mole?O Conselho Federal de. Educação

aprovou um parecer criando um grupode trabalho para planejar e incentivara implantação da "universidade abertano Brasil". Segundo o conselheiro Ar­naldo Niskier seria uma primeira ex­

periência com, o ensino à ·distância a

ser implantado no País. Niskier aca­

bou de .concluir um estágio na OpenUniversity da Inglaterra, que funcionapor correspondência -emitindo certifi­cados, e considera viável a idéia, jáque o modelo da universidade no Bra­sil está sendo questionado e o momen­

ta seria ideal para a implantação de

algo semelhante no Brasil.

Um dos objetivos da "universidade

aberta", seria a capacitação de profes­sores que' já lecionam, como é o caso

'dos professores de 1? grau, cuja habili­tação é feita a nível de 2? grau. Alémda capacitação de professores, tam­bém é possível dentro o projeto, o

treinamento de mão-de-obra e recicla­gem, que poderia contar com o apoioe interesse da iniciativa privada. Nosdois casos ele defende a utilização dasuniversidades federais e estaduais pa­ra a coordenação do projeto.

A partir dessa idéia surge uma ques­tão: dar diploma seria umaboa? Nis­kier sugere que na experiência pilotonão seja dado o diploma. (A.R.M).

Moacir fala de dependência da atuação faz um trabalho de melhor to? E o problema do díplo-

jornalismo, seu profissional. Mas eu vejo qualidade do que em FIo- ma obrigatório para exer-

que nós estamos cami- rianópolis. Se você for a cer a profissão de jornalis-livro, diploma ... nhando realmente para Joinville,Blumenau, Cri- ta?

uma profissionalização. ciúma, vai encontra jorna-�

Zero _ Fale do livro que Primeiro que as pessoas, lismo sério, rádio que faz M.P. _ Eu constato quevocê pretende publicar. os egressos das escolas de prestação de serviços, dá realmente os cursos de co-

Moacir Pereira _ Preten- comunicação, e os que já informação, dá orienta- municação não estão for-�

do examinar, a imprensaatuavam na profissão pas- ção, permanenternente ,

mando os profissionaissam a viver exclusivamen- com as grandes reporta- que o mercado deseja,

de Santa Catarina, ainda te do jornalismo. Hoje já gens, com as transmissões com uma boa formaçãoque, não com muita pro- existem empresas que es- diretas. Eu vejo o rádio e humanística, uma boafundidade - as quatro tão pagando salários que a TV como instrumento de qualificação técnica. Eetapas da nossa imprensa. permite esta situação. Há prestação de serviços, de agora, os cursos de medi-A etapa da instalação, com 20 anos atrás isso era im- informação, e de lazer, de cina também não estãoa característica político- possível. Eram apenas ca- elevação do nível educa- formando OS médicos departidária, a fase da ex-

sos excepcionais, que nós cional e cultural da popu- que o Brasil precisa. E issopansão dos meios, a fase encontrávamos nos meios lação. Em função, até vai se repetindo na enge-da modernização e agora, de comunicação de massa. mesmo do processo polí- nharia, na odontologia, naessa que eu considero a

Z. Você trabalhou durante tico brasileiro, do' regime filosofia. Então essa ca-rnais importante, que é a 6 anos no Jornal de Santa autoritário, nós vemos as rência não é uma carênciada profissionalização. Catarina e agora retorna emissoras de TV, transfor- doscursos de comunicação.Uma pequena nota histõ-

ao jornal O Estado. PorNa mudança, contentamento madas em redes nacionais Isso se torna mais eviden-rica sobre a imprensa em

que a mudança? que sufocaram manifesta-Santa Catarina, porque M.P. -:- Em primeiro lugar ções artísticas, culturais e

te, exatamente porque os

nós temos realmente uma'. porque o jornal O Estado folclóricas, em várias re- jornalistas que 'são forma-

memória muito fraca. Nós dos pelos cursos de comu-

não temos memória sobretinha um espaço aberto giões do Brasil, e o Brasil, nicação estão mais na vitri-

o

a imprensa ou sobre a polí- que não estava preenchi- mação. hoje, está uniformizadone. Os médicos e os dentis-

tica de Santa Catarina. Eudo. No momento em que Z. O Jornalista Estácio Ra- pelas redes nacionais de

tas estão atrás do balcão,gostaria até, se -tivesse .

eu aceitei o convite, do mos.deixa a RBS para assu- TV, lamentavelmente, ecada um no seu gabinete.Comelli e do Osmar para mir a superintendência da as estações. de rádio, em

mais tempo e condições, trabalhar no Jornal O Es-. RCE. Quem ganha e quem sua grande maioria, foram O que não se pode chegarde tentar resgatar a histó- tado, eu vi essa perspec- perde com isso? transformadas em toca- a concluir a partir dessasria da política catarinense,

M.P. _ Vi com muita sa- deficiências é que os cur-que realmente não existe.

tisfação, como jornalista e sos são dispensáveis. Eu

Z _ Os meios de comuni- como cidadão, essa trans- desafio alguém a me mos-

cação em SantaCatarinajá .

" Jornalistas ferência do Estácio Ra- trar de maneira lógica, ra-atingiram um boni nível formados estão mos, e o lançamento desse "O rádio do cional que os jornalistasprofissional? projeto novo, de instalção interior é formados no dia a dia da

na vitrine. Os de uma nova rede em SC, melhor. Na profissão - eu acho que.M.P. _ Eu creio que sim. médicos ficam que ainda não existe, que capital só se

estou muito à vontade praDo ponto de vista tecnoló-

no balcão" é a RCE, derádio e de falar sobre isso, porque eu

gico, está até na frente dos TV. Em segundo lugar de ouve música" , não sou formado em jor-outros estados. O DC tem

. executar um projeto alta: u nalismo. Eu sou formadohoje o equipamento mais mente profissional. Ganha em direito. - Mas um

moderno de composição tiva. Quer dizer, eu saio o público por que? porque quadro geral comparativo,que existe no Brasil, com do JSC, onde eu tenho em o Estácio Ramos vai lançar discos, E desgraçadamen- .

os jornalistas que salvo ex-

sofisticados equipamentos espaço, e eu que conquis- novos projetos na área jor- . te transmitindo músicas ceções, natur'almente ,, de computação, acoplados . tei, modéstia à parte, que nalística. Eu tenho infor- estrageiras, o rock paulei- aqueles que procuraram o

às centrais. Mas eu acho o jornal não tinha: também mação de projetos bastan- ra que faz sucesso na nove- seu aprimoramento técni-que só isso não basta. Eu colunista na época, em te ousados na .área jorna- la das oito. Quando o que co, pela sua formação hu-entendo que nós estamos 1982, e no momentto que lística. Pelo que eu conhe- nós deveríamos fazer é manfstica, a elevação donum bom nível, estamos eu deixasse o JSC, iria per- ço do ER e o que eu conhe- exatamente utilizar e ex- seu nível cultural - mas

caminhando para um bom mitir que um outro compa- ço do mercado catarinen- piorar o potencial das isso são exceções à regra.nível de profissionaliza- nheiro assumisse aquele se, a RCE não tem como emissoras de rádio, para Mas no geral os que saem

ção, na medida em que posto: Em segundo lugar competir com a Globo na levar orientação sobre no- dos cursos de comunicaçãoabandonamos a fase que porque me sensibilizei programação nacional. ções de higiene, levar saú- têm uma visão crítica daacompanhou a imprensa com o projeto de moderni- . Ela tem uma grande fatia de, levar lazer, levar a in- sociedade, muito mais am-catarinense no império e zação e de profissionaliza- do mercado, exatamente formação, a reportagern, pIa, têm uma formação hu-na república, que é a da ção do jornal O Estado, na programação local. debates e entrevistas para manística muito melhor,vinculação partidária. apresentado pelo Comelli, Z. Quat o meio de comuni- as emissoras de rádio. têm uma noção de. históriaVeio um segundo momen- pelo Cesar Valente e pelo cação, no estado, que você Z. Os cursos de comunica- muito mais aguda, muitoto, do início da censura po- Osmar, diretor. Eu senti classificaria como de me- ção não estão formando mais forte. E até mesmolítica. Veio mais outra eta- uma disposição firme deles Ihor qualidade profissio- jornalistas, já que os alu- uma certa preparação téc-pa, do exercício do jorna- de efetivamente ocuparem nal? nos só aprendem quando nica.lismo ou de uma maneira uma parcela do mercado M.P. _. No meio radiofô- ingressam no mercado deamadorística ou de um en- de Santa Catarina que está nico, eu tenho constatado ' trabalho. Você concorda,gajamento que levava à carente, sediosa de infor- que no interior de SC, se vê alguma solução à respei-

Entrevista a Carla Cabral

RADICAL DA CAUTELA

Regime autoritário presente na TV

MARISS- --�, - ZERO -

'

,

"

, PS I

COMVOZ

A garotadajá pode votarcom 16 anos

Eleitorado dá pau em Sarney

A constituinte aprovou o votofacultativo para os maiores de16 anos. Serão, segundo o IB­

GE, 200 mil novos eleitores em

Santa Catarina e 5,7 milhões em

todo o país. Destes, 60 por centoexercem algum tipo de atividade

profissional remunerada. Polê­mica, a proposta foi lançada pelaprimeira vez em 1985,' no con­

gresso da União da JuventudeSocialista. Daquela data até sua

aprovação, a entidade desenvol­veu um intenso trabalho paratornar lei sua reivindicação. Joa­quim Perez, da coordenação na­

cional da UJS, conta como foi. esta campanha e o lobby que ga­rantiu a vitória do voto aos 16anos:

"Logo após o congresso, rea­lizado em fevereiro, a entidadepassou a divulgar sua propostapor todo o Brasil. Uma das for­mas utilizadas foi a pichação em

muros, feita em tão grandequantidade que mereceu desta­que na televisão nacional. Em1986 a campanha prosseguiu,com debates e outras atividdes.Neste ano, o deputado HermesZanetti (PMDB-RS), a .pedidoda UJS, apresentou um projetona Câmara dos Deputados."Mas a mesa manobrou, e nósfomos derrotados", diz Joa­quim.

A derrota, contudo,. não con­

seguiu abalar o ânimo do UJS.No mesmo ano ela voltava às'ruas com sua campanha. No en­

tanto, segundo Perez, "a im­

prensa iniciou uma contra-cam­

panha por todo o país". O coor­

denador da entidade conta queum dos argumentos utilizadosnesta "contracampanha", era a

possível redução da idade penalpara 16 anos. Um argumentosem consistência: "o prórpioBernardo Cabral, que iambém

'

é jurista, garantiu que este argu-

A solução para os problemas. brasileiros passa, segundo Evilá­sio Salvador - de 17 anos -

,

"pelo fim do governo Sarney e

a eleição de um governo ligadoao povo". Evilásio o é auxiliarde escritório em Criciúma, e tra­balha desde os 14 anos de idade.

Acompanhando a vida políticado país pela imprensa, ele acre­

dita que "sem a participação da

juventude nada mudará".Outro que também não sim­

patiza com o "Zé Ribamar" -

vulgo Sarney - éMárcio Daniel

mento é falso".Quando a constituinte foi ins­

talada, a UJS deu a ela uma

atenção especial. "Nós sabiamosque sua composição era demaioria conservadora", diz Pe­rez, "mas nós não podiamos ig­norá-la". Na primeira fase, dascomissões temáticas, o voto aos

16 anos foi rejeitado. Quandoteve inicio o trabalho da comis­são de sistematização, começoua funcionar o lobby da UJS.Diferente do lobby de outras

entidades, como a UDR, estenão utilizou o poder econômico.A forma de pressão utilizada foia visita a todos os membros dacomissão. Alguns deles foram

procurados mais de uma vez, natentativa de serem convencidosa votar na proposta da UJS. Nofinal, a comissão de sisternati­

zação aprovou o voto aos 16

da Silva. Eie tem 16 anos, e éauxiliar de escritório-em Floria­

nópolis. Márcio considera-se su­

ficientemente responsável paravotar, "afinal, eu trabalho o

mesmo tanto que um adulto e

ajudo a construir este país. "Es­te, aliás, foi o principal argu-mento da UJS.

<,

Cearense de nascimento, e

morando em Florianópolis des­de 1984, o office-boy Andocides

Gomes considera o presidenteSarney "um inimigo'da juven-

anos. Aprovada naquela comis­

são, a proposta apresentada pe­los dep'utados Hermes Zanetti eEdimilson Valentim (PCdoB­RJ) - iria para votação em ple­nário.

A partir daí todos os presiden­tes de partido, líderes de banca­das e de grupos foram visitados.Até mesmo o "centrão", cujaspropostas divergem das da UJS,foi procurado. "Nós apresentá­vamos os nossos argumentos,mas não negociavamos nossas

propostas", diz Joaquim".

Uma segunda etapa, realizadapor 40 membros da entidade, foia visita a todos os constituintes.O senador catarinense JorgeBornhausen (PFL) foi procura­do oito vezes, mas em nenhumadelas foi encontrado no congres­so. No dia da votação em plená­rio, a UJS e a União Brasileirade Estudantes Secundaristas co­

locaram mais de 350 jovens nas

galerias. Uma nota dirigida aos

deputados, foi distribuída pelosjovens, minutos antes do inícioda seção. Defendido pelo sena­

dor Afonso Arinos (PL-RJ) -

o constituinte mais idoso - o

voto aos dezesseis anos foi apro ..

vado.

Agora, a UJS pretende desen­cadear uma campanha por todoo Brasil esclarecendo o jovemde seu novo direito além disso,vai incentivá-lo a se inscrever na

Justiça Eleitoral- pois o alista­mento não é obrigatório para os

menores de 18. A entidade tam­bém pretende lançar uma nota

denunciando os constituintes

que votaram contra a sua pro­posta. De Santa Catarina, ape­nas três parlamentares deixaramde votar na proposta da UJS.Além do senador Jorge Bor­

nhausen, os deputados VitorFontana (PFL) e AlexandrePuzzina (PMDB).

tude brasileira". Ele que tem 17anos, lembra que um jovem declasse baixa não pode se divertire muitas vezes nem estutiar: "S�ele - o jovem - não trabalhar,a sobrevivência da família corre

um sério risco". Triste com o

presente, Andocides não perdeua esperança no futuro, "se de­

pender de briga, as. futuras-gera­ções vão herdar um mundo me­

lhor", diz ele.

Carlos Eduardo Caê

/

Com Imprensa,jornalista virou

pauta (sem morrer)

A melhor capa de março

A_ revista Senhor da terceirasemana de março (aquela quemostra uma "mãozinha" signifi­cativa na capa) traz uma matériasobre o declínio do PIB brasi­leiro. É mostrado que, não fosseo desempenho da agropecuáriaem 87, o nosso produto internobruto seria uma total desgraça.

A indústria, que mostrava' forçaem anos anteriores, mostra um

raquítico crescimento, e o setorde serviços continua patinando.A matéria não aborda, mas po­de-se desconfiar de uma coisa:não foi apenas a agropecuáriague segurou as pontas de um

fiasco deprimente. A produçãoeditorial deve ter contribuído e

muito. Quem duvidar que passenuma banca de revistas e jornaise examine os títulos. Desde "co­mo fazer cerveja em casa" atérevistas semanais de informaçãoexiste uma quantidade imensade publicações.

E certo que alguns títulos de­

saparecem após uma ou duasedições, Quem (com mais de 30

anos) não se lembra dé uma re­

vista chamada Repórter? Em­

placou apenas três números. Eo Jornal da República? E bom

parar por aqui. Espera-se quea revista Imprensa, que tem o

próprio jornalismo 'como pautapermanente, tenha um melhordestino. Em fevereiro a revista

(publicação da Feeling Promo­

ção e Comunicação, São Paulo)apresenta uma matéria de capasobre o livro "Minha Razão deViver" do jornalista SamuelWainer e um número seis juntoao logotipo. Quer dizer, está

agüentando ...

Mas o que se deve esperar deuma revista que tem o jornalis­mo corno matéria? Publicar o

que a grande imprensa não pu­blica?' Entrevistas com jornalis­tas famosos? Ironizar as manca­das dos jornais?Mostrar o entra­e-sai das redações? Apesar deter cativa uma das melhores pau­tas deste País - a imprensa bra­sileira - os leitores certamente

querem mais que folclore. Pro­curam nas bancas um produtoescasso, existente, mas raro, queé o prõprio jornalismo. Dissoninguém pode duvidar: à medi-

da que aumentou o número de

publicações o jornalismo defi-nhou. _

A questão não é ditar receitasde como deveria ser uma revista'

que trata do jornalismo. Masuma coisa é' certa: deve haverum diferencial entre uma revistacomo. Imprensa e os jornais e

revistas existentes. Isso porquehá o perigo demisturar, mesclar,este tipo de publicação com as

já existentes. Hoje, no Brasil,a publicação que pretende ter-a

imprensa como assunto, deveprocurar e praticar diferanças noestilo de trabalho. Do contrário,pode acontecer uma situação deatoleiro onde as referências queainda existem serão inevitavel­mente perdidas. Pode acontecer

uma situação surrealista onde o

objeto de matéria (imprensa)torna-se exemplo para a revistaImprensa.

Se o futuromostrar que a dire­ção foi esta, a revista lmprensaserá apenas "mais uma publica­ção". Bem intencionada, semdúvida, mas apenas mais uma

nas recheadas bancas e revistas.A imprensa brasileira, nos tem­pos que correm, precisa voltara praticar o jornalismo. Isto éo óbvio. Para isso, necessita sen­tir concorrência e diferenciação.A pior política agora (e mesmo

de marketing) é uma publicaçãocomo Imprensa não perceber is­so.

A situação que se apresenta,como uma revista querendopautar a imprensa nacional, de­ve indicar novos caminhos parao jornalismo. Isso é fundamen­tal, para que não descambe devez os últimos resquícios que se

têm de jornalismo. E alguma pu­blicação precisa fazer ISSO. OUserá que tem gente pensandocomo Barão de Münchausen

que conta o seguinte em uma desuas famosas histórias: o mesmoestava caminhando quando caiuem um pantanal. A lama já esta­

va cobrindo o Barão que deses­perado não sabia o que fazer.Neste momento ele teve uma

idéia brilhante: agarrou seus

próprios cabelos e foi puxandoaté conseguir sair do pantanal.

Hélio A. SchuchProfessor e jornalista

"

. It.i I" - .. \

PEGA O LADRA0

,"

Besc: .mais roubo ':e

- impunidade, ;-

- ,. ,,," ".

-, ,-

Carlos Passoni, homenageadopelos interventores do BC,é justamente o envolvido

nesses documentos inéditosDecorridos os primeiros doze

meses, de intervenção federal noSistema Financeiro Besc, pou­cos catarinenses podem afirmarque conhecem o trabalho dos in­terventores do Banco Central.Até o momento, no melhor esti­lo do Brasil de Sarney/Centrão,aqui tem prevalecido a impuni­dade. Os deputados estaduaisMário Cavallazzi (PDS) e Júlio'Garcia (PFL), ex-diretores dobanco no governo Amin, que ti­veram seus nomes levantadoscomo suspeitos 'em desvios derecursos do Finsocial e outros

programas oficiais de crédito,escondem-se hoje sob a capa daimunidade parlamentar. E como

em terra de cego quem tem um

mandato é rei, a imunidade foi

rapidamente transformada em

impunidade.,

Ao mesmo tempo, o principalenvolvido nessa história, o ex­

presidente do banco, Carlos Pas­soni Júnior, recebeu diplomasde mérito das mãos dos inter­ventores do BC, por "relevantesserviços prestados à sociedadecatarinense" .

ClientelismoFundado há vinte cinco anos,

o Banco do Estado de Santa Ca­tarina sempre foi utilizado parafins políticos, pelos grupos oli­gárquicos que se alternaram no­

poder. Concurso público é pala­vrão, onde o clientelismo sem-

pre foi a política de recursos hu­manos, da admissão às vanta­

gens e promoções dentro do. quadrode carreira, em prejuízoda maioria dos funcionários. Atéaqui, tudo tem sido decidido porinteresses eleitorais.

,

No governo Amin, durante a

administração Passoni, o proces­so de crise f in a n c e i r o­administrativa do Besc chegoua extremos. Nas eleições muni­cipais de 85 e no ano seguinte,nas eleições para governador,Assembléia Legislativa e Consti­tuinte, os recursos públicos do

, banco foram utilizados na ma-

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Empresa fantasma se beneficia

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(tri,nta per cento) na data da assinatura

do presente contrato, a segunda de 262,50(duzentos e sessenta.e dois virgula cin­

coen ta)- ORTN IS, cu seja, 35ft (trinta .e

cinco por cento) nad data da apresentaçãodo módulo PESQUISA SALARIAL, em 30/07/85e a terceira e última, também de 262,50. -

(duzentos e sessenta e dois 'virgula cin­

coenta) ORTN1s, ou seja, 35% (trinta e

ci�co por cento) na data de apresentaçãoou entrega final do trabalho.

E assim, por estarem justos e contratados, firma o presént�contrato ern �üatro (O�) vias de igua) teor e forma.

Florianópolis, 'e�, 10 de rr.aio de 1985.

Diretor

��Vit'@"'" .

Nas assinaturas, o envolvimento da família

ASSOCIADOS DE RECURSOS HUMANOS'LTDh,

,

neira mais acintosa possível.Junho de 1985. Numa rápida

viagem a Araranguá, Sombrio,Turvo e Meleiro, o então presi­dente Passoni Jr. requer a líbera­çõ de Cr$ 517 mil para cobriras despesas. Objetivo: reuniõescom lideranças comunitárias e

bancadas de vereadores do PDSe, de quebra, um jantar com a

administração da agência de Cri­ciúma. Nada extraordinário, di­'ria Passoni, apenas uma pontadesse iceberg que entrou em ro­

ta de colisão com o Besc, culmi­nando com a intervenção do BCem 25 de fevereiro de 1987.

Colarinho BrancoEm recente Assemlbéia Geral

de Acionistas, o governo do es­

tado, representado pelaCompa­nhia de Desenvolvimento do Es­tado de Santa Catarina (CO­DESC), levanta - em linhas ge­rais - as irregularidades apura­das na administração Passoni.Entre outras, a manutenção

de um contrato de prestação deserviço com a CONARH -

Consultores Associados de Re­cursos Humanos Ltda - dirigi­da por Carlos Melim Passoni, fi­lho de Passoni Jr., que ocupavaa função de Superintendente deRecursos Humanos do Besc e..

Ernesto Augusto Ferreira, en­

tão Diretor de Recursos Huma­nos do banco. A CONARHprestava serviços à empresas doSFE e também atuava em outros

estados, facilitada por "apoio lo-gístico" do banco, que custeava

" ,. '''''''0

"1425;485�passagens e liberava seus dire to- -

-_--_o,., '., 500.000

res para a prestação de consul-C:"

WOO", ""'''"''"•

,.,.

E.

d 85 CO TtOTAL C<£ II"" I"(ACO"RI005tonas. m mato . e ,a -

J TO'4l 4 �( .. I'fll1T4DONARH assinou um contra�o IF;Oii-;---'''' ; __

'�.'74.515

com a BESCVAL - Besc DIS- I�-'� .

17 06 'DlC. -

.-::�- J

tribuidora de títulos e Valores P_.:=�.o --"-'- o�"'.__� ._ . '::J,:çvnOJ"" _ I

Imobiliários S.A. -, que totali- edldo de diária para a camp;--nhd---- ....",.. " " ....____j

zava 750 ORTNs ou exatamente '

a o PDS ._=-.

636 mil cruzados em valores dehoje.Njl área-de operações, prosse­

gue o voto da CODESC, há inú­meros casos de deferimentos ir­regulares.de Operações de Cré­dito, muitas vezes à empresasinexistentes, que foram todasbater nas contas de "prejuízo"nos balanços de 86 e 87. E final­mente, há ainda os casos deapropriação de recursos do ban­co para cobrir gastos de ativida­des do Partido Democrático e

Social (PDS), tais como reu­

niões com bancadas de vereado­res, congressos estaduais, cujaliberação era autorizada pelopróprio Carlos Passoni Jr.

Propostas do SindicatoOs sindicatos de bancários do

estado têm denunciado, insis­tentemcnte, todas estas ques­tões, argumentando que o fun­cionalismo do Besc não pode ser

responsabilizado pelos desman­dos administrativos e pela cor­

rupção, que debilitaram, o ban­co. Os bancários defendem uma

posição baseada na punição dosculpados pelo rombo, não fecha­mento de agências, auditoria pú­blica para apuração de responsa­bilidades e garantia de empre­gos. Nesta, última proposta, o

Departamento Intersindical deEstatística e Estudos Sócio-Eco-

• ReprOduçõeS/Zero,

'--1/r-JUN·1S8S_.

'JUN '19fJ5

a"f ";'''��".'.� 'II

.. ... , ,., "f , •• <""�.O"OA,

nômicos (DIEESE) apresentouum estudo comprovando a com­

patibilidade entre o número defuneóonãrios do Besc - 6 mile 500 empregados e a sua estru­tura de agências - 216 no total.Portanto, dizem os sindicalistas,não existe fundamento técnico­administrativo para redução doquadro.

pressão, nos quais o banco pagaapenas 50% dos direitos. Alémdissó, o fantasma da demissãoem massa, propagado pelo pró­prio governador Pedro Ivo, temmorado em cada agência doBesc, no último ano.

Até q final de março o SistemaBesc volta ao controle do esta­

do, com a nomeação de um novo

Conselho Diretor. A composi­ção da nova diretoria - agorade 14 diretores e não os 44 daépoca de Passoni --:- deve colo­car um ponto final na história.Pedro Ivo fica com a presidênciae com as diretorias que envol­vem recursos humanos: ao BCcabe as diretorias operacionaise financeiras.

Diretoria MistaO resultado operacional do

Besc no ano de 87 foi superior '

a 1 bilhão e 200 milhões de cru­

zados: No balanço que será pu­blicado até o final de março, estevalor cai sensivelmente, em fun­ção das provisões para paga­mento das multas aplicadas peloBanco Central do Brasil.

_

Esse lucro, lugar-comum no

sistema financeiro nacional, éresultado de toda uma políticade recuperação mercadológica- marketing ofensivo - finan­ciada por polpudas injeções derecursos públicos, repassadospelo BC. E nessa história de al­tos lucros, os funcionários paga­ram a conta convertida em cen­

tenas de demissões indiretas -

transferências compulsórias pa­ra o interior -, aposentadoriasforçadas, acordos feitos'soh

Samuel p', Lima

O rombo não deu pano prasmangas como previam os arau­

tos do PMDB. O momento é decosturar um velho paletó, coma participação de todas as partes,repartir os cargos e abotoar maisum golpe de colarinho brancoà sociedade catarinense. Al­guém se importa?

NOVA POSrURA

Foto: Flávio CanalongaNeja

Traje recomendável para muitas mulheres

Delegacia da Mulherganha confiança e

amplia atendimentoso primeiro movimento de re­

percussão social desencadeadopelas mulheres aconteceu dia 8de março de 1857, em Nova Ior­que, quando 127 operárias fo­ram incendiadas dentro de uma

fábrica, durante um protestocontra a jornada de 16 horas detrabalho diárias. Somente 53anos depois, na mesma data, foioficializado o Dia Internacionalda Mulher.

Este foi o começo de uma luta

que, com o passar dos anos, con­tinua. Hoje a mulher ainda é ví­tima de preconceitos na sua vidapessoal e principalmente na área

profissional, onde o homem ga­nha em média 20% a' mais do

que amulher, exercendo as mes­

mas ocup�ções técnicas.

Alguns historiadores, atravésda análise de desenhos feitos no

interior das carvernas, acredi­tam que na Idade da Pedra a

mulher, por gerar filhos, era

'considerada mais forte. O ho-mem era submisso à sua condi­ção e, só quando descobriu ter

um papel fundamental na con­

cepção dos filhos, ele desmiti­ficou a mulher e, sob o uso docassetete da pedra, a intimidou.Vale lembrar que, apesar de

não estarmos na Idade da Pedra,. há homens que continuam usan­--

do de violência contra a mulher.Com o propósito de baixar esteíndice e garantir os direitos femi­ninos, foi criada a Delegacia daMulher. Em Santa Catarina, elafoi instalada na capital, em se-

tembro de 1983. A Delegacia (6?DP) fica na Av. Mauro Ramos,em frente ao banco redondo.A delegada Ester Coelho Car­

doso Biz que seu trabalho "estáum pouco mais fácil", agora quepode contar com a confiança dasmulheres e da sociedade. "An­tes as mulheres não procuravama Delegacia por medo de poste­riores agressões, ou mesmo pelafalta de confiança na seriedadedo nosso trabalho. No entanto,as que nos procuram, hoje, ml¥\­tas vezes retiram suas queixas nahora em que elas são levadas ao

Tribunal", explica Ester: O tra­balho da Delegacia então é pre­judicado e esse tipo de atitudeacaba contribuindo para o au-

mento da violência.'

O 6? DP conta com algunsPM's para dar apoio, mas o tra­balho feminino se restringe à

parte de atendimento, registrode queixas, e situações burocrá­ticas. Faltam carros e pessoal es-pecializado.

.

Entre janeiro e março, o 6? DPatendeu; em média, dois a trêscasos por dia, sendo a maioria(99%) agressões físicas. Os ca­

sos de estupros raramente sãodenunciados. Segundo Ester, a

mulher não dá queixa de estupropor receio de ser ridicularizada

pela sociedade, além do medode ser violentada novamente.

Roberta M. Miranda

Cresce na Ilhabusca ao ensinoalternativoAumenta o número de pais que procuramnovas opções de ensino para seus filhos.Florianópolis oferece quatro chances

'uma das principais caracterís­ticas das Escolas Alternativas éo respeito que elas têm pelo rit­mo próprio do desenvolvimentoda criança. Além disso, nessas

escolas as professoras não sãochamadas de "tias", mas pelonome, tornando a relação aluno­professor uma relação de ami­zade."Nas escolas tradicionais o

professor transmite o conheci­mento aos alunos. As criançassão consideradas uma vasilha:Há uniforme, as professoras sãochamadas de tia, uma metodo­logia específica", explica um. osdiretores da Escola AlternativaSarapicuá, que fica no CórregoGrande. Essa escola surgiu em

1981 através da reunião de um

grupo de professores da univer­sidade que não queriam colocarseus filhos nas escolas em queestudaram quando Crianças, e

além disso, queriam participardo processo educativo dos fi­lhos.A escola, na verdade, é uma

Associação de Pais e Professo­res. Todas as decisões como sa­

lário dos professores, demis­sões, aumento das mensalida­

des, são tomadas em assem­

bléia, e é feita também a eleiçãoda direção de ano em ano. Na

contratação de professores nãose exige uma formação superior.O professor se enquadra na me­

todologia da escola participandodas reuniões pedagógicas e dos

grul?os de estudo. Os pais se_ or­garnzarn formando cormssoes.

Existe a Comissão da Saúde, dasFinanças e a que se ocupa da

organização das festas.A escola possui uma biblio­

teca onde são guardados os li­vros de histórias, um museu on­

de ficam animais dentro de vi­dros (ratos, cobras e outros) e

uma oficina onde se trabalhacom argila, madeira e sucata. Hádias em que as crianças vão paraa cozinha e fazem sopa, pizzaou outra comida para o lanche.Mas cada escora é alternativa

do seu jeito. A Associação daPraia do Riso que fica em Co­

queiros, era uma escola particu­lar e há um ano virou uma-asso­

ciação de pais e professores. Aparticipaçã<;> d.os pais nã? é tãointensa.' Diariamente ha bate­

papos no portão e sempre queé preciso os pais são chamadosna escola para conversar sobreos filhos. Há também reuniões

pedagógicas mensais ou qua�doos professores sentem necessida­de de maior troca entre eles.A escola tem desde 1987 o pri­

meiro ano, além da pré-escola,maternal e jardim. Agora já tem

o segundo .ano e logo-logo have­rá o terceiro. No pnrneiro ano

Este modelo educacional está em xeque

o currículo é o mesmo das esco­las comuns, o que é diferenteé o método conio é aplicado. Se­gunda Tânia, coordenadora dapré-escola, não há aulas exposi­tivas e não se trabalha com as

tradicionais cartilhas. "As crian­

ças aprendem através da pesqui­sa e da descoberta". Um, exem­plo é a forma como é trabalhadaa questão da páscoa. "Tentamosresgatar o sentido histórico e fol­clórico. O lado religioso tambémexiste, mas não é colocado comouma verdade absoluta.""Não se agrada todo-mundo",

diz Bernadeti Zanetti, a Deti­

nha, uma das diretoras da Esco­la Vivência. Ela conta que jáaconteceu de pessoas se desa­

pontarem com a escola, acha­rem um absurdo e tirarem seus

filhos .. "Isso acontece com paisque não têm nada a ver com a

escola." Detinha, professora dehistória e Keka, pedagoga, fun­daram a escola em 84. No inícioalém de administrar. eram tam­bém professoras e aos sábadose domingos ajudavam na limpe­za. Desde o ano passado cuidamapenas da parte administrativa.Trabalham com crianças a partirde dois anos até os.seis.Eles possuem uma horta, mu­

seu, viveiro, o oficina criativaalém de um professor de música.No ano passado, a Escola Vivên-

cia montou um projeto que foienviado para a prefeitura de Flo­rianópolis na tentativa de conse­

guir verbas para participar deum projeto piloto sob a orien­

tação da Escola da Vida queatua lia cidade de São Paulo, de­senvolvendo um trabalho de al­fabetização na linha de EmíliaFerreiro. Emília Ferreiro faz umestudo sobre o processo de alfa­betização tentando relacionar a

lógica da criança com níveis de

aprendiza,do.A Escola Vivência oferecia em

troca repassar os conhecimentosadquiridos em São Paulo paraos coordenadores das escolasmunicipais. A verba não foi libe­rada. Há o cuidado permanentede promover cursos para os pro­fessores que também se formamdentro da escola. Há um pai psi­quiatra que trabalha a questãoemocional dando uma assistên­'cia a nível idos professores. Osonho de Detinha é ter um terre­no maior, onde haveria todo o

tipo de criação e fosse possívelcontinuar com a proposta da .es­

cola: permitir que a criança te­

nha um grande número de expe­riências e, através delas, capteos conhecimentos.

Arley R. Machado

"

-"Pl.Q,'· '. '

'

. '. .'. ZERO, '"_',.,, .. ", -: ',. " '. > .,:- MAR/88 .

SEGREGADOS

Movimentos negrosquestíonama festapela abolição oficial .."Decreto n� 3353, de 13 de

maio de 1888, que extinguea escravidão no Brasil"."A Princesa Imperial Re­

gente, em nome do Impera­dor o senhor D. Pedro II,há por bem sancionar e �an­dar que se execute a seguJI�!eResolução da AssembleiaGeral:

_

"Art. 1�"""": E declarada dadata da presente lei, extintaa escravidão no Brasil"."Art. 2� - Revogam-se as

disposições em con�rário.Rodrigo Augusto da Silva doConselho de Sua Majestadeo Imperador, ministro e se­

cretário do Estado dos negó­cios da Agricultura, Comér­cio e Obras Públicas, assimo tenha entendido e faça exe­cutar.Palácio do .Rio de Janeiro

em treze de maio de 1888 -

Izabel, Princesa Imperial Re­gente. Rodrigo Augusto daSilva".

.

Os 100 anos de Lei Aurea,essa comemoração toda',vem, de forma subjetiva, di­vidir o movimento negro. Elanão tem apenas um caráterfestivo do reconhecimento da

abolição, maspossui uma co-notação política. .

O movimento negro não é

umaorganização de ação úni-. ca. A meta de todas as orga­nizações negras é o combateao racismo, embora cada gru­po tenha um estilo de ação.Algumas-não estão festejan­do a abolição mas outros cer­tamente vão comemorar, en­trando dentro do projetão de

comemoração e isso causa 5lruptura do movimento. Euma ouestão ideológica.A nível nacional foi deter­

minado por esses grupos umamarcha de protesto no diatreze de maio, como formade não comemorar o feriadoda Lei Áurea. A morte doúltimo líder do Quilombo dosPalmares, Zumbi, representaa resistência do povo negro.·Explica-se, então, o porquê.da escolha do dia vinte de no­vembro para o feriado. Dessaforma o que é passado atra­vés do treze de maio é uma

liberdade que não aconteceu.História

A história oficial do Brasilnão falha apenas' no que se

refere ao negro: A escoladentro de uma sociedade ca­

pitalista tem como função re­

produzir as relações de ex­

ploração. Os dominados são

aqueles indivíduos que histo­ricamente trazem o estigmade serem inferiores e que nãoé por coincidência que são

negros, mestiços, ·nordesti­nos e mulheres os premiados.Desde a pré-escola se tra­

balha muito em cima da cor

Ele é maioria na pcpulação e sabe

negra. A criança não vê o an­

jo negro, não vê a fada negra.No entanto, o boi que vem

pegá-la é de cara pretaja noi­te, é assustadora, e é preta.O indivíduo pobre não temcondições econômicas parase manter em uma escola, e

.o negro é pobre. No primeirograu existe um número con­

centrado de negros, mas até

chegaram à universidade estenúmero se torna irrisório.

Jerusi, mestrada em edu­cação, nos conta que quando,foi à biblioteca fazer sua car­

teira; a funcionária não acre­

ditou que ela, uma negra,cursava um mestrado e até

ameaçou ligar para a sécre­taria de educação a fim deverificar. Paulino, estudantede história da UFSC diz quenegro é visto como pobre,feio, sujo, marg�l e vai poraí. .. Deixar de ser negro, as­cender socialmente, significadeixar de ter comportamentonegro e para isso é necessário

passar a assumir todos os pa­drões de comportamento dasociedade branca. "Se vocênão corresponde a esses pa­drões, você passa a ser rejei­tado" .

Ivan, integrante do Núcleode Estudos Negros fala queas pessoas tentam insistente­mente despojá-lo de assumirsua posição como negro. "Eusempre fui encarado-moreno,

como forma de amenizar o

preconceito" .

MulherA mulher negra sofre uma

discriminação tripla, no sen­

tido em que é pobre, negrae mulher. Durante o séculodezenove e todo o período de

• escravidão, as negras manti­nham relações com seus se­

nhores. Enquanto senhor ho­je, ele continua mantendo re­lações com as negras, mas a

relação de casamento é com

amulher branca. No próximodia trinta de abril, vai acon­tecer uma reunião estadual

para refletir a questão da mu­lher negra no contexto social.O evento vai ser em Floria-

nópolis..

Seja para o homem ou paraa mulher negra continua a lu­ta pelo direito de ser negro:

- "Nós não temos históriadentro do contexto brasileiroe o que passa do negro é queele ere pacato, passivo e acei­tava com resignação a escra­

vidão. O resgate da data devinte de novembro se deveao fato de que Zumbi não'morreu. Não vamos come­

morar o dia de suamorte mas

o dia em que à gente forta­lece. É urna-data de resistên-cia" .

Negros do Brasil

Rozana de Moliner eSabrina Franzoni

, J

09 de dezembro de 1987: gru­pos de palestinos revoltados coma repressão que vinham sofren­

do, começaram uma série demanifestações nas ruas dos terri­tórios palestinos ocupados portropas israelenses desde 167

(Faixa de Gaza e Cisjordânia).Em apenas 102 dias, já morre­

ram 100 palestinos, vítimas dasbalas do Exército israelense.

Agora morreu O primeiro solda­do de Israel com dois tiros, os

primeiros disparados pelos ma­

nifestantes. E Israel reaje: "Vaihaver represálias".Mesmo assim, as'autoridades

israelenses começaram a temer

por ul)l levante armado dos ára­bes. E sabido que até agora os

palestinos haviam se defendido

apenas com paus, pedras e gaso­lina. Por este motivo, os solda­dos receberam ordens para ati­rar - não mais nas pernas -

em quem oferecer "ameaça" aoExército. Desta forma eles pre­tendem evitar uma "revolta ar'

mada", que, na verdade, nãotem a menor chance de aconte­cer. A população não possui ar­mas de fogo. Além do territórioocupado, os palestinos não têmcomo .se defender, quanto maisatacar.

Dia da-Terra ,

.

Outro fato que vem preocu­pando os sionistas, é a greve ge­rai decretada dia 30 de março.

.

Neste dia os palestinos comemo­ram o Dia da Terra, que lembraos sangrentes distúrbios ocorri­dos na Galiléia em 1976 quandopalestinos protestam contra a

desapropriação de suas .terra�.Esta greve geral conta, inclusi­ve, com o apoio do Partido Co­munista Israelense (Rakha) e daLiga Progressista da Paz.

Enquanto isto, a repressãocontinua solta em Israel. Depoisde invadir o Hospital de Rama­lah, com a desculpa de que aliestava montado um quartel ge­neral dos manifestantes. Isso tu-

Luta territorial ou raciál?

do. porque de seu telhado .foramvistos algumas pessoas agitandouma bandeira palestina. Foi de­cretada também a ilegalidade daA-Chabiba (juventude em ára­

be), uma organização estudantil

palestina, sob a alegação de queeste grupo estava disseminandoa "subversão" nas escolas da

Cisjordânia e Gaza.Plano de Paz

Parte interessada no conflito, cisEstados Unidos mandaram ao

Egito o enviado especial Philip.Habib para buscar apoio dosárabes ao plano de paz feito pe­los norte-americanos. Porém,antes mesmo que as negociaçõesesquentem, o plano já está fada-

_

do ao insucesso. Primeiro por­que é época de eleição em Israele só o novo governo deverá to­

mar alguma posição concreta.

Segundo que o órgão oficial pa­lestino, a OLP, está sendo deixa­da de fora das conversações.Além disso, a situação do Orien­te Médio só vai se resolver paci­ficamente caso Israel devolva os

'territórios ocupados aos palesti­nos. Como isto nunca acontece­

rá, os árabes continuarão a se

manifestar cada vez com mais in-tensidade.

.

OLP, Ausente!O que mais chamou a atenção

no inicio das' manifestações foia ausência da OLP, que se man­

teve afastada dos conflitos e quesó agora começa a entrar no

bonde, mais sem pagar passa­gem, de carona. O movimento

começou com a revolta da popu­lação, veio de baixo. Assim,tem-se a certeza de que o povoestá mobilizado e unido.Daqui para frente, ninguém

sabe o que pode acontecer. Sóuma coisa é certa: os conflitosdevem se arrastar até que uma

solução seja dada ao povo pa­lestino.

Ismail Ahmad Ismail

Polêmica: beijo dá AIDS?

Na opinião de muitos infecto�logistas, as afirmações do casalMarsters e Johnson não tem ne-

Masters &

Johnsondizem sim

As revelações contidas no li­vro Crisis, dos pesquisadoresnorte-americanos William Mas­ters e Virgínia Johnson, afirmamque através do beijo na boca po­de se contrair AIDS. A célebredupla de terapeutas sexuais estásendo, agora, bombardeada porespecialistas que contestam a va­

lidade científica do trabalho. Olivro causa polêmica, pois os

.

pesquisadores alegam que a con­taminação pelo vírus não efetua

apenas através de relações se­

xuais e uso compartilhado 'de

agulhas intravenosas. O bejio na

boca deu uma nova dimensão àAIDS.

O livro de Masters e Johnsonbaseia-se num estudo realizadoentre 800 voluntários, homens e

mulheres de 21 a 40 anos. Elesprocuraram pesquisar um con­

tingente fora dos chamados"grupos de risco". As pessoasforam divididas em dois grupos,400 que tiveram relações mono­gârnicas e igual número que tive­ram, no mínimo seis parceiros.

Os dados indicam que 7% dasmulheres e 5% dos homens he­

terogâmicos estavam infectados,contra 0,25% de monogâmicosque têm probabilidade de con-.trair a doença. As conclusões a

que chegaram foram que as

chances de contágio entre os he­terossexuais são·muito maioresdo que se pensa e a fragilidadedo tecido inferior da boca (sujei­to a cortes e a outros ferimentos)faria do beijo um perigoso meiode transmissão do vírus.

NOV� AMEAÇA?

Foto: Chisson/Gamma-Liaison

cientes muito avançados.O estudante de Economia da

UFSC, Carlos Alberto, achaque é somente uma maneira en­

contrada pelos dois pesquisado­res de venderem mais livros. Pa­ra ele AIDS não é preocupação,"pois tenho minha companheiraa 2 anos e confio muito nela".E além do mais "os meios decomunicação sempre aumentammais do que é, dando uma visãosensacionalista dos aconteci­mentos".

Em entrevista com o presi­dente do GAPA (Grupo deApoio e Prevenção à AIDS),Rui Iwerstn, falou sobre a doen­ça e a atuação da equipe no Esta­do. A entidade, que reúne pro­fissionais em geral (principal­mente ás da saúde) e outros vo­

luntários que estejam interessa­dos em trabalhar com portado­res do vírus e com sua família.O GAPA funciona através dequatro subgrupos: prevenção,apoio, eventos, estudos e pes­quisas.Mas há uma preocupação. A

entidade ainda não teve tempode chamar a imprensa e dar-lhemaiores informações sobre o as­

sunto, para que injustiças não

sejam cometidas. E dizer-lhesque: "AIDS é uma doença quetem um estigma social muito

grande". Assim, o trabalho dedivulgação em Santa Catarina

Mas o debate em torno do"beijo na boca" não é de formaalguma sensacionalista. O casalfez muitos trabalhos sérios. Em1966 publicou o livro "ReaçãoSexual Humana" (estudo sobrea fisiologia e a anatomia da ativi­dade sexual humana observadaem laboratório) leva o médicoWilliam Masters e sua esposa,a psicóloga Virgínia Johnson, aoreconhecimento internacionalda comunidade científica. Aoressaltarem, em 1979, conversão

está atrasado, dando margens a

manchetes que criam um falsomoralismo, como o que aconte­ceu em Itajaí. Lá uma notíciaveiculada por um jornal, fez comque os travestis e prostitutas pas­sassem a ser apedrejados. Alémdisso a imprensa divulgou uma

lista com nomes e fotos de pes­soas portadoras ou doentes deAIDS. E caça às bruxas - mes­

mo.

TESTE NÃO É DEFINITIVOÉ necessário que todos' sai­

bam que o-fato do primeiro testeter dado positivo não significaque a pessoa esteja doente. Paradetectar o vírus são necessáriostrês testes, o primeiro é o citado.anteriormente, após tem o deimunoflorecência e por último o

teste comprobatóno, que é o

wester plood.O Dr. Rui ressalta ainda que

a AIDS já é considerada uma

GAPA querflm do preconceito

de homossexuais em heterosse­xuais e surpreendem psiquiatrase psicoterapeutas com a decla­ração que "da mesma forma quea pessoa aprende a ser homos­sexual, a pessoa pode desapren­der". As pesquisas do casal sem­pre foram polêmicas, mas com

o "beijo na boca" eles decola-:ram.

.P12 ZERO',

(/

-- -

MAR/88-

Masters & Johnson:oportunistas ou

equivocados?

nhum embasamento ou doeu­rnentação cieutífica. MortonSheinberg, imunologista, afirmaque os dados apresentados no

livronão levam a conclusão deque realmente "ocorra contami­nação durante o beijo na boca" ..

O diretor interino da Divisãode AIDS do Ministério da Saú­de,.Pedro Chequer fala que "es­tá comprovada a existência dovirus da AIDS na saliva, suore lágrima" mas ressalta que a

contaminação só se daria ern.pa-

Analú Zidko e

Sabrina Franzoni

pandemia (uma doença queatinge. todo o globo terrestre).E declara: "Não há país que pos­sa dizer que não tem AIDS."Quanto à questão do beijo o mé­

dico diz que: "Para que a doençaseja transmitida é necessário queo vírus caia direto na.correntesangüínea, o que não é permi­tido pelas mucosas do corpo hu­mano, inclusive a bucal."Para aliviar as críticas à im­

prensa o Dr. Rui afirma que a

mesma tem ajudado e muito na

divulgação dos trabalhos pre­ventivos. E os cita que são: "osque incluem as ações individuaiscomo o uso da camisinha; a açãodos grupos, com filmes e pales­tras e o geral, como a boa saúdeda população."

Denyris Rodrigues

Os espelhosdeformados dávida, em Genet,Fassbinder e.Pasolini

Um fabricante de chocolate pla­neja matar sua sósia para fugir como dinheiro do seguro e sua mulher

gorda. Um industrial grita desespe­rado no deserto depois de doar suafábrica aos operários. As duas damadrugada, em um bar do subúrbio,uma bicha toma calmamente um

chá. É a mesma atmosfera decaden­te, o mesmo amor à vulgaridade,rondando a obra de três criadores:Rainer Werner Fassbinder, PierPaolo Pasolini e Jean Genet. Doiscineastas e um escritor, três homos­sexuais, o mesmo mundo mórbidoe decadente."Cheira a intestinos e esperma é

leite", era o que o amigo Sartreachava da obra de Genet. Preso di­versas vezes, em uma delas pergun­tou se seus livros não seriam sempreum pretexto para mostrar um solda­do de azul, um anjo e um negro jo­gando dados em uma prisão. Aca­bou mostrando muito mais. Acabou

questionando, com seu mundo deprostitutas, cafetões e homosse-

.

xuais, as contradições e aberraçõesdo pensamento moderno.

.

Em todos os três, a paixão e a

Brigitte Bardot: costume não é de "país civilizado"

CADERNO

violência, o amor e a morte. Anjosque viram demônios e demônios queviram anjos. "E essa palavra me in­

quieta, me seduz e me repugna. Seeles têm asas, também têm dentes?"Pergunta Genet. "Querelle" é sua

única obra levada às telas, pelo tam­bém maldito Fassbinder, que carre­

ga de amargura e ironia os discursosdo escritor francês sobre o compor­tamento social.É a mesma paixão dominada por

obsessões. A decadência como um

triunfo sobre a sociedade que enter­

ra, nos subúrbios, seus verdadeiros

desejos. São os mesmos marginaismachos, violentos e doces, beatifi­cados em segredos no útero da mãe."Sou um escandaloso namedida em

que estendo um cordão umbilical en-'

tre o sagrado e o profano". Em"Teorema", talvez o mais polêmico .

de seus filmes, Pasolini fala de uma

nova civilização que se vai erguerdo deserto, de um homem quasedeus, que surge depois do apareci­mento de um anjo que transa com

seus filhos, sua mulher e sua empre­gada. Italiano, processado várias ve­zes por baixeza moral, Pasolini mor­reu em circunstâncias estranhas em

75. Da crítica mais ferrenha a estestrês malditos, a de que mostram a

realidade através de seus espelhosdeformados. Será?

Monique Vandresen

Demônios'•

que viram•

anjos

i MAR/88.__

.

Z�RO Pt3

J

Diáriofaloubem ...

o número especial do Zero, o Do-� cumento, editado em dezembro de87, ganhou críticas severas de um

colaborador do jornal O Estado.Mas houve jornalistas que concluí­ram pelo contrário. Como demons­tra o texto 'publicado dia 13 de janei­ro nocaderno Variedade, do DiárioCatarinense, (cujo têxto reproduzi­mos) abaixo do título, "Os meninosprometem ... ": "Uma ótima safra denovos jornalistas está a caminho, a

julgar pela última edição do jornallaboratório do Curso de Comunica­ção Social da Universidade Federalde Santa Catarina, o Zero. Toda de-

'

dicada a realizar' "um mergulho no

passado, na gente, costumes e luga­res de Florianópolis", o Zero-Do­cumento está simplesmente o máxi­mo, passando em revista todos os

lugares e aspectos que já entraram

para o folclore da cidade. Um traba­lho de pesquisa digno do Globo Re­

pórter. O jornal é elaborado pelospróprios alunos, com edição, coor­denação e supervisão dos professo­res Henrique Finco e Ricardo Barre­to, e distribuído gratuitamente na

Universidade". Aléfn da redação docaderno, o colunista Cacau Menezestambém elogiou esta edição e a ante-

.

rior. A equipe do Zero agradece.

A Farra do Boiincomoda atéBrigitte Bardot,

, .

A Farra do Boi cruzou fronteirase chegou aos ouvidos de urna das'maiores defensoras da preservaçãoda vida animal, a atriz francesa Bri­

gitte Bardot. Segundo a'FrancePress, a atriz enviou uma carta ao

ministro Paulo Brossard, em abrildo �<ilO passado, protestando contra

a tradicional festa que acontece to­

dos os anos em grande parte do lito­ral de Santa Catarina,

..

Brigitte Bardot criticou '!- festa di­zendo que "isso não é digno de um

país que se diz civilizado", Mesmo'

generalizando, suas declarações sur­tiram efeitos e desde o ano passadoo governo proibiu a realização da

farra, embora os moradores do lito­ral continuem li sacrificar o boi, des­respeitando a medida.

A Farra do Boi é realizada todosos anos entre o Carnaval e a SemanaSanta. Originalmente era feita com

bodes, herança de um costume ju­deu que os espanhóis trouxeram pa­ra o Brasil - daí a expressão "Bodeexpiatório" - hoje, com a substi­

tuição do animal, a festa se desen­rola num ritual bastante sádico quetermina depois da tortura do boi,com um grande churrasco.

Ewaldo W. Neto

Heavy radical',ganha força .emFlorianópolis

Há algo diferente no ar... Amedida que nos. aproximamos.de uma pacata rua no Estreito,sentimos o som aumentandovindo de uma garagem. Lá, a

temperatura já passa dos limitesdo 'inferno, e .cinco gladiadoresestão num regozijo metálico.Estamos falando do Scaffol­

death, banda heavy metal for­mada em janeiro deste ano, queconta em suas fileiras com San­dro (vocais), Richard (baixo),Alexandre e Miguel (guitarras)e um baterista anônimo. A ban­da faz um som poderoso, comvisiveis influências de grupos co­mo o Metallica, Iron Maiden e

Helloween, e até um pouco demúsica clássica, o que torna o

Scaffoldeath diferente de tudoo que se fez até agora em maté­ria de som pesado em Florianó­

polis.No começo, tudo foi difícil.

O grupo precisou tocar música

"pop" em bares da cidade, paraarrecadar algum dinheiro. Hojeisso faz parte do passado e a ban­da está em plena ascensão, mos­trando muita garra e sintonia porparte de seus integrantes. A pro­posta do Schaffoldeath se ex­

pressa muito bem nessa decla­

ração do guitarrista Miguel:"Nossa banda e nossa músicanunca vão se prostituir a pontode executar temas fáceis e des­

cartáveis, apenas. para agradarmaioria leigas no que se refereao conhecimento musical. Pre­tendemos agradar ao públicocom a nossa competência instru­mental e com a fé no heavyme­tal, que é o estilo de rock quecontém os mais talentosos e

conscientes músicos".

Ozias Tormentor'

I • GELÉIA GERAL

Seção CardiológicaQuerida Madame Calandra,Sou solteira, 37 anos, filiada

ao PFL e estou atravessando.uma terrível crise: me apaixoneipor um membro do MR-8. Oque faço para atingir uma felizcoligação carnal com meu novo

amor? Conto com seu lobby.Ass.: Alzirinha Hermes' da

Fonseca Peixoto

R.: Querida Alzirinha,Sua' carta carece de informa­

ções mais concretas para que eu

possa dar um conselho baseado,

pi� 6(/£ AliojElL fu11J�.. •

���

fininho e fundamentado. Me di­ga, fofa: o membro já se embre­nhou em florestas úmidas? Eleé rígido ou flácido quanto aosconceitos políticos? Como elereage diante de uma Frente Li­beral desinibida? Não se deses­pere, querida, a glasnost veio­para ficar. Pra você eu receitouma solução infalível que apren­di durante a Constituinte de 46e que continua válida até hoje:minha filha, o negócio é manipu­lar. Vá com jeito, use o talentoda direitâ e boa sorte.

... t ES>é· fJlI1S �AíjJCX /.lESEAfff.

)

Nino Noya

Soneto do calouro

Queres ser jornalista polític� de primeira?Autor brasileiro do novo Watergate,derrubando ministros por simples deleíte'[Pois não passarás de Moacir Pereira!Ou, Cebolinha, é espolte o que plefek ,1?Ser mistula de Sandlo Moleyla e João Saldanha,esclever clônicas com elegância e manha?Pois semple selás urn J. B. Telles!Então é na cultura que entornarás o caldo?Lido como Paulo Francis, dos livros dando o caldo?Pois teu futuro é ser Janer Cristaldo!Não? ... apelas para a coluna social?Sonhas, tal qual �ózimo, dar a nota quente e atual?Pois morrerás igual Cacau!Olávio Bilaquio

Tumor Maligno-perde guitarrista,'mas vai à luta

Ano: 1986. Cenário: pátio doInstituto Estadual de Educação.Dois jovens, insatisfeitos com a

monotonia reinante no meiomusical ilhéu, resolvem criaruma banda punk.Para fazer a sua primeira

apresentação em púbhco, apro­veitaram-se do clima de eleiçõesque havia se instalado no colé­gio, fazendo a cabeça do candi­datei oposicionista para deixá-lostocar. Neste dia, eles contavam

apenas com os integrantes MW­ceIo Ricardo (guitarra) e Fer­nando Trevas (vocal), conheci­dos respectivamente como Ale­mão Putrefação e Maligno (sen­do este último, também, o nome'da banda) e com o apoio de doiscomponentes do grupo Vísceras- Andrei e Robson - que ao

ver o número de conhecidos na

platéia permitiram que o nervo­

sismo falassem mais alto, dei­xando o então Maligno na mão.Na hora H eles tiveram que re­

correr à "colaboração" de um

baxista de formação heavy,Gean, e de Keka, que de bateriaconhecia pouca coisa. Este fatí­dico e calamitoso show aconte­ceu no dia 27 de novembro de1986.Passado este episódio, a ban­

da passou por um período de re­

formulação, abrangendo novas

músicas e a inclusão de um bate­rista, Gordinho. Até que no dia16 de junho de 1987 o grupo par­ticipou de Juni Rock Festival,apresentando duas músicas deAlemão: "Vamo Fumá Baru­lho" e "total Destruição". Após

esta apresentação, o nome- dabanda mudou para Tumor Ma­ligno e o seu guitarrista transfe­riu-se para o conjunto gaúchoAsgardh.No dia 13 de novembro, coin­

cidentemente uma sexta-feira, oTumor Maligno cometeu maisum show, novamente no Insti­tuto Estadual de Educação,mais uma vez com a sua forma­

ção alterada: Dani (baixo), Tre­vas (guitarra e vocal) e BianoKill Masturb (bateria). O resul­tado foi uma debandada deaproximadamente 80% dos ou­

vintes, na sua maioria boyzinhose new wavers .

As letras da banda abordaramos mais diversos temas sociais,Uma das que mais ilustram este

exemplo é "A Culpa é do Sar­ney": "Essa inflação/Eu não sei/O salário mínimo/Eu não sei/Dequem é a culpa?/A culpa é doSarney". Outra tendência dassuas letras é ridicularizar a atualsociedade, como em "Surfista deFloripalVocê é um ... artista".O Tumor Maligno está cons­

ciente da situação punk no Bra­

sil, sua não aceitação e poucadivulgação, mas espera vencer

as dificuldades e partir para uma

excursão em julho, pelas cidadesde Brasília, Goiânia, Rio de Ja­neiro e São Paulo, finalizandoem Porto Alegre, onde têm es­

peranças de encontrar e recupe­rar o seu guitarrista dissidente.

O chiquérrimo casal Sampaiofoi visto nesta semana freqüen­tando os salões do CastelmarHotel. Acompanhado de um

grupo de amigos bissexuais, elesembriagavam-se com uma classefora do comum Na pauta dasconversas, Sérgio e Mara Sam­paio combinavam as melhoresposições do Kamasutra, com o

intuito de alcançar a performan­ce ideal na suruba daquela noite.Foi um luxo. Podre de chique.

Irradiando alegria depois devoltar de sua viagem ao Afega­nistão, o socialite Marinho Vei­ga trouxe consigo uma perna deum oficial soviético que haviacaído de um helicóptero ameri­cano. Marinho pretende usá-Ia

como destaque de sua exposi­ção, que conta ainda com outrastenebrosas surpresas. Quem vi­ver verá.Maravilhosamente vestida

por Fabinho, que entendidosqualificam como a reencarnaçãodo nosso querido ex-aidéticoMarkito, Gan Gan Vidal, desfi­lava na Vidal com seu boy aus­

. traliano que ela conseguiu raptardo último Hang Loose. O moço,devidamente algemado por GanGan, ainda tinha forças para fa­lar de sua especialidade - o

"cut-back" cavadão. I am thebest.

Ulysses Ribamar

J

Emerson Gasperin

Fernanda arrebata outra vez

"Um trem de ferro é uma coisamecânica, mas atravessa a noite,a madrugada, o dia. Atravessouminha vida. Virei só sentímen­to". Com estas palavras, Fer­nanda Montenegro entrou no

palco do Teatro Alvaro de Car­valho, dias 21 e 22 de março, pa­ra apresentar Dona Doida - Uminterlúdio. O monólogo baseia-seem poemas e poesias de AdéliaPrado e tem direção de NaumAlves de Souza.Considerada a grande dama

do teatro brasileiro, Fernandaencheu o paleo com sua graçae tranqüilidade. Toda vestida de

'

azul e com a voz um pouco rou­

ca, ela interpreta uma DonaDoida que dilacera seu corpo edeixa nú seus sentimentos. Fer­nanda veio para Florianópolisem homenagem ao tombamentodo teatro Alvaro de Carvalho.Para isso teve que alterar o ca­

lendário de suas viagens com

Dona Doida, que só estavam

programadas para agosto. O in­teressante é que Fernanda tam­bém participou da reinaugura­ção do TAC em 1955, após o

teatro tersofrido uma grande re­

forma. Ela integrava o grupoTeatro Popular de Arte que in­terpretou a peça L'Alouette (OCanto da Cotovia). A estrela era

, "No palco nãotem sexo,

tem talento"

Maria bella Costa 'e Fernandatinha o terceiro ou quarto papel."Nesta época eu não imaginavao quanto avançariá em minhacarreira", diz a atriz.Dona Doída lotou o TAC nas

três apresentações. Foram colo-,

cadas cadeiras extras por todoteatro e ainda houve q,s que senta­ram no chão e os que ficaramde fora por falta de ingresso. Opúblico de Florianópolis, que nãoé freqüentador assíduo de teatroe que pagou 600 cruzados pela'entrada, estava bastante eufóricoe ansioso na fila de espera. Den­tro do teatro o calor era intensoe a maioria dos folhetos distri­buídos na entrada transforma­ram-se em leques improvisados.Fernanda considera a profis­

são de atriz "maldita e mágica".Para ela "o teatro é o umbigoda cidade, onde as coisas germi­nam, e é um lugar tão sagradoquanto à igreja". Ela tambémacredita que "no paleo não tem ,

homem nem mulher, tem talen­to".Em seu primeiro monólogo,

com o cenário improvisado mas

semelhante ao do Rio de Janeiro,Fernanda enaltece Dona Doida

DONA DOIDA

TAC só sentimentoNo reencon�ro com o ,

com uma interpretação singular. ,

A atriz não acredita que fal­tem bons autores de teatro atual­mente, "exceto sesó pensarmosem teatro padronizado, semprecom dois ou três atos". Fernan­da já interpretou peças de gran­des autores como Bernard Shaw(A profissão da Sra. Warren),Rainer Werner Fassbinder (Aslágrimas amargas de Petra VonKant), Racine (Fedra) e MiIlôrFernandes (E ... e O Homem doPrincípio ao Fim). Para Fernan­da "nada é fácil em teatro". "Noteatro não se pode contar só coma expressão facial, você tem querepresentar com, as costas tam-bém".

'

Em Dona Doida, Fernanda éAdélia. Seus olhos se enchem delágrimas e brilham como os as­

tros que tiritam, azuis, em nossa

madrugada, Adélia fala: "Deusnão me fez até a cintura parao diabo fazer o resto ... " Ela querum jeito novo de viver: "Comere não fazer jejum. Amar e nãofazer jejum. Amar sem jejum desentimento". Adélia é sensível:"A poesia é triste. O que é bonito

enche os olhos de lágrimas". Elanão concorda que a coisa maisfina do mundo é ir à escola: "A.coísa mais fina do mundo é o sen­timeIfto". Reclama: "Não queroser emancipada. Quero ser ama­

da", o que foi uma afronta àsfeministas. Adélia falado amorde menina: "Eu amava o amor

e esperava-o sob árvores, virgementre lírios". Exalta seu amor

porAntônio Castro Alves. Adéliagosta da humanidade, "em par­ticular da porção masculina dahumanidade" .

Dona Doida é um espetáculoliterário, muito profundo e querequer o máximo de atenção. Aexcelente iluminação conquis­tou o prêmio Moliere. As músi­cas de Lizt, Jessy Norman, Pac­co de Lucia e Chico Mário e a

atuação de Fernanda, não per­mitem que a peça, geralmentemelancólica, se torne monóto­na. Com excelente utilização doespaço cênico e domínio total daentonação de voz, ela interpreta.uma Adélia que arrebata suas

lembranças e se perde em deva­neios.

Adélia quer entender o muno

do: "É difícil entender as coisas.Um dia fiquei observando um

, abacaxi por muito tempo e che­

guei _à conclusão de que enten�iamais Deus do que aquela coisa

cascuda". Adélia tem desejos:"Quero comer o mundo e ficar

grávida, ficar gigante". Ela amaa vida: "A vida é de ferro e nãose acaba nunca". "O mar éimenso. Meu amor é maior ... Avida é tão bonita, basta um beijoe a delicada engrenagem movi-,menta".A peça Dona Doida - Um

interlúdio, está em cartaz no Riode Janeiro sob a direção deNaum Alves de Souza, um artis­ta que iniciou suas atividades em

1972 e já trabalhou como figuri­nista, cenógrafo, em artes plás­ticas e com seus próprios textos.A expectativa com a peça era

boa, mas segundo Fernanda,eles não esperavam tanto suces­

so. Por sua atuação em DonaDoida, Fernanda recebeu maisum Moliere. Para ela a. impor­tância de um prêmio está no afe­to e incentivo que ele exprime."Minha vida não está melhornem pior por eu ter recebido es­

te prêmio". Fernanda considerao paleo um lugar libertador:"Assim que a mulher pisa nele,

"Quero amar

semjejum desentimento"

"O palco épm lugarlibertador' ,

ela tem todo um espaço para si",diz ela.Na peça, Adélia comenta o ma­

chismo: "A vida é servidão. Des­cubro isso olhando meus sapa­tos". Adélia reclama da idade:"Juventude de espírito eu nãoquero ... Acho muito ridículo a

alma fazendo trejeitos". "Hojeenchi os olhos de lágrimas. Nãosou mais jovem". Relembra o fi­lho que saiu de casa para estudare escreveu para ela: "Mãe, estoudesesperado" . Recorda as noitesque passou com o marido lim­pando os peixes que ele pescou.Adélia ama o marido e fala: "Teamo, homem" , e chora. Recordasua mãe com nostalgia. Pensa nofuturo: "Não acredito que a hu­manídadese salvará por uma desuas classes ... Quero que me go­verne um homem bom, justo.Quero que chegue a noite e todomundo vá dormir cansado portanto trabalho que tinha para fa­zer e que foi feito". Adélia sonha:"O sonho encheu a noite ... Ex­travasou minha vida e é dele queeu vou viver, porque sonho nãomorre".

Entrevista a Ana Lavratti

MAR/88--� o

ZERO -

, PIS .,1

IMPRENSA LIVRE

Na guerra de contra-informaçãomontadapelas agências norte-americanas, a

.

Nicarágua rompe o bloqueio e chega àsbancas com o órgão oficial da Revolução

Há quase dez anos a Nicaráguaestá em guerra. Primeiro foi Somo­

za, nas ruas e nos campos. Depoisvieram os contras nas montanhas de

Jinotega e, por último, a guerra da

informação, um inimigo que o fuzil

guerrilheiro não conseguiu enfren­

tar. Mas o Sandinismo contra-ata­

cou, o jornal "Barricada Internacio­

nal" mostra a face desconhecida da

nova Nicarágua."Barricada Internacional chegou

ao Brasil para furaro bloqueio inter­nacional das notícias nicaragüen­ses", comentou Leopoldo Saraiva,editor da versão em português, du­rante uma entrevista concedida no

Curso de Comunicação Social da

UFSC, no último dia 23. Em 24 pági­nas mensais, os brasileiros terão a

oportunidade de receber informa­

ções que não passaram na triagemdas grandes agências de notícias.

"Barricada", que significa trinchei­

ra, apresenta reportagens sobre o

povo, a economia e a guerra. Enfim,a versão sandinista da história ou se­

ja, o outro lado da guerra.Até hoje o leitor ficou somente

com a versão apresentada na grandeimprensa. Em junho de 79,-quandoSomoza estava de joelhos e os guer­rilheiros sandinistas corriam pelasruas de Manágua, os jornalistas de

aluguel reconheceram que havia

uma revolta popular e o brasileiro

ficou sabendo que a Nicarágua exis­tia. "Veja': n� 563, dias após a revo­

lução, estava mais preocupada com

o rumo ideológico do Sandinismo do

que' a realidade nicaragüense. Da

mesma forma, "Isto E" de 04.07.79questionava:

"... o que ocorrerá

após uma vitória sandinista? Umaditadura de proletariado? Um regi­me tipo chinês? Um socialismo ter­

ceiromundista à argelina? .. Quemvai afinal suceder Somoza, se se con­firmar sua derrota? ..

" A linha de

frente do jornalismo brasileiro dor­

mia, novamente, em berço esplên­dido.Somente alguns jornais alternati­

vos falaram a verdade. "Movimen­to" foi um deles. Em plena ditadurabrasileira, o melhor alternativoabriu a boca denunciando a Guarda

Nacional de Somoza como respon­sável por "um dos mais bárbarosmassacres cometidos contra a popu­lação civil em toda a história daAmérica". E foi mais longe, ao afir-

mar que o Brasil estaria fornecendoannas para o regime do ditador.

Respondendo às antigas indaga­ções da imprensa brasileira, Leopol­de Saraiva é categórico: "A revolu­

ção não é baseada em modelos res­

tritos, dogmáticos. O modelo sandi­nista é sandinista. Não se pode falarem sandinismo como produto acaba­

do, porque ainda o estamos cons­

truindo". E construir é a palavra de

ordem na Nicarágua. A capital, Ma­nágua, totalmente destruída por umterremoto em 72, com um saldo e

18 mil mortos, nunca mais se rer­

gueu. A Guarda Nacional vendeuprodutos que chegavam do exterior,enquanto Somoza embolsava os 250milhões de dólares da reconstrução.Nessa época, 46% das crianças mor­riam antes dos quatro anos e 60%das mortes ocorriam sem qualquerassistência médica. Saúde e educa-.

o

"Nossas idéias é querepresentam perigopara os americanos"

ção são agora prioridades, junta-mente com a guerra. r-

A Nicarágua investe hoje 50% doseu orçamento na defesa. Este volu­

me de recursos, se canalizados paraoutras áreas possibilitaria ao paísuma rápida reconstrução. "Temosque desviar metade de nossa mão­

de-obra para a guerra e estamos pa­gando um preço muito alto em vidas

humanas. Mas agüentaremos as

pressões até o fim. Nosso povo tem

dignidade, tradição de luta, e come­rá a metade do que precisar paravencer", explica Saraiva.

Nessa resistência, a imprensa ni­

caragüense é um fator vital. Durantea guerrilha, a "Rádio Sandino" era

a voz oficia1 dos revolucionários.Além dela, dezenas de jornais e pan­fletos clandestinos orientavam a po­pulação. Saraiva relata outra forma

de comunicação muito peculiar daépoca: o "boca-a-boca", passadodas frentes de combate até os pontosmais distantes do país. E foi dos jor­nais clandestinos que surgiu o mais

importante veículo do sandinismo:

o Barricada, órJ?;� oficial da FrenteSandinista de Libertação Nacional.

Além dele, estava na rua o "La

Prensa" - jornal fundado por Pe­

dro Joaquim Chamorro, jornalistaassassinado por Somoza - e que se

transformou num símbolo nacional.Em setembro de 87, após 15 meses

de censura, "La Prensa" voltou. O

governo sandinista, cumprindo um

acordo de paz, estabeleceu liberda­de de imprensa e permitiu que seu

maior adversário interno retornasse."La Prensa" foi fechado num dosmomentos mais críticos da revolu­

ção. Ele apoiava abertamente a aju­da de 100 bilhões de dólares que os

EUA estavam votando para ajudaros contras. O governo sandinista es­

tava em guerra, precisava defender­se de seus inimigos:', disse Saraiva

justificando o fechamento do jornal.Ele exemplifica ainda que hoje háuma guerra de palavras entre o "LaPrensa" e o "Barricada". Os jornaissão baratos e os leitores assistem a

várias versõs sobre o fato.

No Brasil, onde os jornais são ca­

ros e nem existem opções, a notíciaé manipulada para que o leitor assi­mile somente uma versão da reali­dade. Dentre os grandes, "O Estadode São Paulo" foi o que mais se em­

penhou na contra-informação da si­

tuação nicaragüense. Manchetes co­mo "Sandinistas declaram guerracontra a Igreja" ou "Nicarágua gasta30milhões de dólares em obra faraô­

nica" estavam freqüentemente em

suas paginas. A prova concreta da

associação do "Estadão" com os

contras é o jornal "Nicarágua Hoy",encartado como "informe publicitá­rio", com tiragem de 250 mil exem­

.plares, "Eles (os contras) têm di­nheiro da CIA para gastar dessa for­ma" , revela Saraiva.Sem dinheiro, com dedicação e

"A revolução não ébaseada em modelosrestritos, dogmáticos"

criatividade. E assim que, desde a

clandestinidade, os jornais nicara­

güenses sobrevivem. "Trabalhamosem qualquer condição. Filmes foto­gráficos são escassos, há pouco pa­pei e o parque gráfico é obsoleto",conta Saraiva. Mesmo nestas condi­

ções, "Barricada" circula com 80mil

exemplares diários em todo país.Como acontece a manipulação da

I informação? Para Saraiva ocorre dediversas formas. Se, por exemplo,umjornal americano publica que os

sandinistas montaram uma base mi­litar na fronteira com Honduras, oleitor associa essa base ao modelo

americano, com centenas de solda­

dos bem armados, tanques emísseis.'

Na verdade essas bases são apenas. algumas barracas com poucos solda-

dos. Diante desses fatos, a perguntase torna inevitável: Por que a maior

potência do planeta teme um paíscom apenas 130 mil quilômetrosquadrados e três milhões de habi­tantes?"Nossas idéias são as que repre­

sentam perigo para eles" , afirma Sa­.

raiva. As idéias sandinistas, segundo

os americanos, podem gerar o cha­mado "efeito dominó", no qual ospequenos países daAmérica Centralseguiriam os mesmos passos da Ni­

carágua. Mas o editor de "BarricadaInternacional" não concorda com

essa tese, comentando que cada paísdeve achar seu modo particular, e

unicamente seu, de combater o im­

perialismo. Sobre o futuro da Nica­rágua após a guerra, Leopoldo Sa­raiva prefere não comentar. Res­

ponde, ansioso, que quer apenas o

fim da guerra.

Enquanto ela não acaba, o traba­lho desse jornalista de 46 anos, quedeixou a Argentina natal há nove

e se engajou na revolução, vai conti­nuar. "Barricada Internacional" em

português já possui o apoio de diver­sos setores no Brasil, principalmentenas universidades, sindicatos, parti­dos políticos e da Prefeitura do Rio

deJaneiro.Em84, oRioe Manáguaforam declaradas cidades-irmãs.

Agora, a Prefeitura auxilia "Barri­cada" na divulgação e distribuiçãodos exemplares.

Com isso, Leopoldo Saraiva espe­ra cumprir sua missão, que é tão ou

mais importante que a dos guerri­lheiros que combatem os contras na

fronteira de Honduras. "Barricada

Internacional" espera solidariedade

para os problemas nicaragüenses. Éum grande passo nesta guerra de le­

trinhas. ANicarágua ainda é um paísno zero, onde a única coisa que estáem todos os lugares é o entusiasmo

popular.

Carlos A. Locatelli

Campanha eleitora" (85)

OMARXISMO

Nos últimos cinco anos, o

companheiro Adelmo Genro Fi­lho dedicou quatro. aos Cursosde Jornalismo da UniversidadeFederal de Santa Catarina. Háum ano licenciado sem remune­

ração, entendia que neste perío­do poderia dedicar-se com maisdeterminação a investigar e bus­car, através de uma disciplina ri­gorosa consigo mesmo, a reno­

vação do marxismo que o manti­vesse dialético e revolucionário.Adelmo teria ainda mais um

ano de licença, mas sua morte,aos 36 anos, no Hospital Univer­sitário de Florianópolis, às seteda manhã do dia 11 de fevereirode 1988, uma ensolarada quinta­feira, poê em nossos ombros um

duplo peso difícil de suportar:o do teórico e militante, que am-

PERDE

parado numa sólida formação,apontava novos caminhos possí­veis de percorrer no interior domarxismo e do .colega e amigoque, navegando entre uma pos­tura generosa e cordial, conse­

guia socorrer as pessoas em seus

mais.duros momentos existen­ciais e, ao mesmo tempo enfren­tar os adversários políticos com

uma exemplar conduta ética e

política.

A morte de Adelmo deixauma vazio difícil de preencherno curso de jornalismo, nos de­bates, palestras e aujas em quesempre brilhavam sua lucidezteórica, clareza didática e cora­

gem política, sem jámais abrirmão de uma sincera humildadepara tratar dos tem.as mais sim-

pies aos mais complexos.A lembrança de suapresença

amiga e sábia continuará po­voando nossos dias, assim como

a sempre bela imagem de seu

coleguismo, combatividade e in­tervenções públicas.

Adelmo morreu no HospitalUniversitário, três dias após sua

internação de uma maneira, atéeste momento, inexplicável. Acausa mortis ainda não foi escla­recida pelo H. U.Neste número de ZERO nos­

sa homenagem ao professor, co--

lega e amigo Adelmo Genro Fi­lho, à sua vida e obra e a corno­

vente despedida de seu irmão,Tarso Fernando Genro, publi­cada dia 22 de fevereiro no Jor­nal Diário do Sul, Porto Alegre.

Seu trabalho: de Hegel à LSN

UM REVOLUCIONARIO

Último livro publicado (87)

Adelmo Genro Filho nasceu

em São Borja, em 1951. Profes­sor e jornalista, rormado em'1975 pela Universidade Federalde Santa Maria, trabalhou desdeestudante no jornal A Razão, deonde o Exército pediu sua de­missão por denunciar a carne

podre servida no Restaurante'Universitário.

Eleito vereador pelo ex-MDB(atual PMDB), em 1976, dele foise afastando progressivamenteaté ingressar no Partido dos Tra­balhadores em 1985. Entendiaque, já àquela altura, o PMDBpercorria um caminho sem voltarumo à conciliação nacional.

Em 1979, Adelmo foi enqua­drado na Lei de Segurança Na­cional (LSN), por dizer na Tri­buna da Câmara que o ex-presi­dente João Figueiredo não tinha

condições mentais de dirigir a

nação. Ele se referia ao inciden­te de Florianópolis, a novembra­da, quando o ex-presidente res­

pondeu com ofensas à popula­ção que o vaiava no centro dacidade. Na ocasião, sete estu­dantes catarinenses foram tam-

bém enquadrados na LSN e

Adelmo os defendeu da Tribu­na.

Mas Adelmo não foi um jor­nalista preocupado somentecom a· especificidade técnica dojornalismo, a elaboração roti­neira de matérias e a moderni­zação tecnológica do setor.Também preocupava-se com a

importância e o papel do jorna­lismo na investigação da reali­dade e em sua transformação.Daí, resultou o trabalho de tesede mestrado em Sociologia na

UFSC, que originou o livro "OSegredo da Pirâmide, para uma

teoria marxista do Jornalismo"(Porto Alegre, 'Tchê!, 1987). Naabordagem, sustenta que o Jor­nalismo pode ser vislumbradocomo uma nova forma de conhe­cimento que se cristaliza no sin­gular.

Preocupado com a totalidadedo Homem na História, expôssuas concepções em vários ou­

tros livros, como "Hora do Po­vo, uma vertente para o fascis­mo", juntamente com MarcosRolim e Sérgio Weigert (São

Paulo, Brasif Debates, 1981);"Lênin, coração e mente", comTarso Genro (Porto Alegre,Tchêl, 1985); "Marxismo, filo­sofia profana" (Porto Alegre,Tchê l, 1986) e "Contra o Socia­lismo Legalista" (Porto Alegre,Tchê!, 1987). Foi um dos funda­dores do Jornal Informação, dePorto Alegre, e fundador e

membro do conselho editorialdo jornal Fazendo o Amanhã, deSão Paulo. Escreveu outras tan­tas séries de artigos e ensaios pa­ra diversas publicações do país,como as revistas Teoria e Políticae Civilização Brasileira.Ultimamente, Adelmo estava

empenhado em estudar Hegel eaprofundar, sistematicamente, oestudo e a renovação do Marxis­mo revolucionário. Esta preocu­pação faz parte. de seu últimotrabalho publicado, "A filosofiamarxista e o legado dos here­ges", uma extensa introdução ao

livro "Filosofia e praxis revolu­cionária" (São Paulo, Brasil De­bates, 1988).

Francisco J. KaramProfessor e jornalista

ADELMO GENRO FILHO 1951-1988

"Não há nadamais ousado

-no universo

do que o homem"Adelmo Genro Filho

A vida retomará seu ciclo

A despedida doirmão, publicada no

Diário do Sul

A morte de Adelmo Genro Fi­

lho, no amanhecer do dia 11 de

fevereiro, aos 36 anos, transtor-'nou a todos os que privavam doseu convívio, seja no âmbito desua família, seja no seu vasto cír­culo de relações políticas e inte­lectuais.Não reivindico dor maior do

que a de qualquer amigo ou fami­liar, mas como relacionava-mecom o Adelmo - e de forma in­tensa - em ambas as esferas, te­nho clara a dimensão brutal dasua ausência prematura, para os

que tinham qualquer tipo de pro­ximidade com ele. Com este pe­queno texto quero resgatar, paraos que o admiravam, aquela partedos seus últimos momentos entre

nós, que me envolveram direta­mente.Sem dúvida Adelmo Genro Fi­

lho foi uma pessoa muito espe­cial. Todas as pessoas que tive­ram algum grau de relaciónarnen­to com ele sabem disso. Sua pai­xão pela filosofia e pela políticaoperária, comandaram a sua vidadesde os dezesseis anos. Esta pai­xão ele levou até as suas últimas

conseqüências, já que vinha estu­

dando e escrevendo, ultimamen­te em tempo integral, sobre os

problemas cruciais que - na sua

opinião - o marxismo deveriaenfrentar, para retomar a sua

postura originária de filosofiaherdeira das principais conquistasteóricas da humanidade e rejeitara condição burocrática de "recei­

ta", apta para responder a todasas indagações sobre o destino dohomem.'

.

Como intelectual foi o avesso

do academicismo. As glórias doascenso universitário não lhe se­

duziam e tanto isso é verdadeiro

que interrompera a sua atividadede professor na UFSC, para po­der dedicar-se plenamente a pes­quisar e escrever sobre temas filo­sóficos que, pela sua incidênciana "praxis", seriam capazes de

constranger o movimento da his­tória num sentido escolhido pelosujeito político moderno - a

.

classe operária.A última conversa que tive­

mos, poucos dias antes da sua

morte, versou sobre o livro de

Serge, "Memórias de um revolu­cionário", que eu lhe recomen­

dara um mês antes. Falamos tam­bém sobre seu último e ousado

No curso, com os colegas

trabalho teórico que recentemen­te terminara, "A Filosofia Mar­xista e o Legado dos Hereges",que brevemente será publicadopela Editora Brasil De6ãtes deSão Paulo: Trata-se de um longoensaio onde ele discute, entre ou­

tras, as contribuições de Korche Bloch ao marxismo, de um pon­-to de vista independente da tradi­ção "clássica".Adelmo ficara tão impressio­

nado como eu sobre o livro deVictor Serge e achava que o autor

dera o testemunho histórico da­

quilo que ele vinha tentando for­mular na filosofia, a saber, quea paralisia teórica e a fossilizaçãodogmática pode ser o suporte da

tragédia política, dos limites e das.

deformações do primeiro ciclodas revoluções socialistas, que,no caso específico da RevoluçãoRussa, estavam sintetizados na

chacina de toda a velha guardabolchevique.Convínhamos que, se tínhamos

- ainda - algum -resquício deromantismo sobre o que é, de fa­to, uma revolução, o livro de Ser-_ge, soterrara-o definitivamente.De outra parte, nos animava verSerge, alguém que, mesmo tendo

.

vivido aquele período de irracio­

nalismo, compreendia a grandepossibilidade que a Re,volução deOutubro abria para a humanida­de, num" expectativa superior à

própria Revolução Francesa, noséculo XIX.A parte da conversa que girou

em torno do seu ensaio "A Filo­sofia Marxista e o Legado dosHereges" foi apenas uma preli­rninar daquilo que combinamos

seria, mais tarde, uma conversa

"sem teto", já que eu tinha feito

apenas uma leitura rápida do tex­

to, incompatível para responderàs necessidades de um debate fi­losífico que considerávamos demuita seriedade.Minha posição em relação aos

seus textos sempre foi "defensi­

vista", já que, pelos meus com­

promissos cotidianos não' tinha

condições de acompanhar, a sua

evolução e mesmo a totalidadedas fontes dos seus estudos.Não tenho dúvidas que ele es­

tava a muitos quilômetros de dis­tância e que a minha posição,mais chegada ao marxismo clássi­co, "via Lukacs", compunha um

contraponto.que ele checava per-

manentemente, como exercícioreflexivo que the era útil. Às ve­

zes, nossa conversa tornava-se di­fícil e árdua. Era quando a polí­tica só poderia expressar-se comofilosofia e eu não conseguia lidarcom o seu sistema categorial.Neste pontó' não eram raros os

"acordos", no sentido de que eu

pelo menos declarasse "insufi­ciente" meu "marxismo-lukacsia­no" para desafiar os problemasque ele revolvia.Creio que poucas vezes diver­

gimos em problemas políticos de

fundo, embora não raro, na dis­cussão de posições prévias a uma

postura mais consistente sobreum assunto importante, trocásse­mos um diálogo agudo e sem ne­

nhuma concessão, inclusive em.

relação à quantidade de decibéisusados no confronto.Estivemos juntos em momen­

tos importantes das nossas vidas.

Creio, até, que nos mais impor­tantes. Jamais pairou entre nós

qualquer sombra de desconfiançaque tivesse a capacidade de aba­lar nossa amizade e o respeitomútuo que conseguimos dar soli­dez ao longo de nossa relação.Sei, que para ele, eu estava entre

as pessoas especiais. Para mim,ele era mais que isso: era uma

referência que estava muito maisadiante e que eu também, de al­

guma maneira;ajudaria a estimu­lar.É claro que a vida retomará o

seu ciclo e que às árvores secas

do inverno sucederão flores e fru­tos. Depois, as tardes quentes e

os crepúsculos adornados de co­

res e de pássaros que se recolhem,continuarão a sua seqüência ime­morial. A sabedoria do homemnão permite que ele permaneçaem crise porque a fatalidade damorte nos assedia sempre. É pre­ciso superá-Ia. Mas cada dos queconheceram Adelmo terão sem­

pre uma reserva de dor insupe­rada. Fina e pontuda como um

punhal mouro, nesta jornada delutas em que é preciso ousar sem­

pre, atitude que Adelmo jamaisse negou, pois, como ele mesmo

escrevera certa vez, "não há nadamais ousado no universo do queo homem ... ".

Tarso G-enroAdvogado e escritor