UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

TEORIA LITERÁRIA II

O FOCO

NARRATIVO

Profa. Hilda Cordeiro

A PERSPECTIVA ADOTADA PELO

NARRADOR DIRECIONA NÃO

APENAS O DESENROLAR DA

NARRATIVA, MAS TAMBÉM

INDICA SOB QUE CONDIÇÕES

ELA FOI ESCRITA. A PARTIR DO

CONHECIMENTO DESSAS

CONDIÇÕES, O LEITOR É

CONDUZIDO A ENTENDER DE

DETERMINADA MANEIRA O QUE

ESTÁ SENDO CONTADO. DENTRO

DESTE PROCESSO CONHECEMOS

AS CIRCUNSTÂNCIAS TEMPORAIS E ESPACIAIS.

VEJAMOS AS PERSPECTIVAS:

SEGUNDO JEAN POUILLON:

* VISÃO COM – EM PRIMEIRA PESSOA:

“ESCOLHE-SE UMA ÚNICA PERSONAGEM QUE CONSTITUIRÁ O CENTRO DA NARRATIVA, AO QUAL SE ATRIBUI UMA ATENÇÃO MAIOR OU MENOR [...]

NA REALIDADE, [A PERSONAGEM] É CENTRAL NÃO PORQUE SEJA VISTA NO CENTRO, MAS SIM PORQUE É SEMPRE A PARTIR DELA QUE VEMOS OS OUTROS”.

VISÃO POR DETRÁS:

NARRADOR ONISCIENTE, QUE TUDO SABE, DESDE OS COMPORTAMENTOS EXTERIORES ATÉ OS PENSAMENTOS DAS PERSONAGENS.

“EM LUGAR DE SITUAR-SE NO

INTERIOR DE UMA

PERSONAGEM, O NARRADOR PODE TENTAR

DISTANCIAR-SE DA MESMA, NÃO PARA VÊ-LA

DO EXTERIOR, PARA VER SEUS GESTOS E

OUVIR SIMPLESMENTE AS SUAS PALAVRAS,

MAS PARA CONSIDERAR DE MANEIRA

OBJETIVA E DIRETA A SUA VIDA PSÍQUICA”.

O NARRADOR EM TERCEIRA PESSOA NÃO-ONISCIENTE. “O EXTERIOR DA PERSONAGEM É APRESENTADO DE UMA MANEIRA A NOS IR REVELANDO PROGRESSIVAMENTE O SEU CARÁTER. O ROMANCISTA SE ABSTÉM MESMO DE O MOSTRAR EXPLICITAMENTE, DE O COMENTAR, LIMITA-SE EM DESCREVER SUA CONDUTA. SERIA ESTA A VISÃO NATURAL QUE TERÍAMOS DAS PERSONAGENS QUANDO NOS COLOCAMOS FRENTE A ELES [...] FICAMOS “POR FORA” E POR ASSIM DIZER DIANTE DO HERÓI”.

VISÃO DE FORA:

SEGUNDO NORMAN FRIEDMAN

* NARRADOR ONISCIENTE INTRUSO – O AUTOR PODE

OCUPAR AS MAIS DIFERENTES VISÕES, E PODE TECER COMENTÁRIOS SOBRE VÁRIOS ASPECTOS DA NARRATIVA, SEJAM ELES DE ORDEM MORAL, DE COSTUMES OU DE CARACTERES.

* NARRADOR ONISCIENTE NEUTRO – SEMELHANTE AO ANTERIOR, MAS SEM AS INTROMISSÕES, EVITA TECER COMENTÁRIOS.

* O “EU” COMO PROTAGONISTA – NARRAÇÃO EM PRIMEIRA PESSOA, NESTA SITUAÇÃO O NARRADOR É PERSONAGEM PRINCIPAL. NÃO TEM ACESSO AO ESTADO MENTAL DAS PERSONAGENS. NARRA DE UM CENTRO FIXO, LIMITADO QUASE QUE EXCLUSIVAMENTE ÀS SUAS PERCEPÇÕES, PENSAMENTOS E SENTIMENTOS.

ONISCIÊNCIA SELETIVA MÚLTIPLA – O NARRADOR DESAPARECE E EM SEU LUGAR ASSUMEM A VOZ DA ENUNCIAÇÃO, AS PRÓPRIAS PERSONAGENS, VÁRIAS DELAS.

* O “EU” COMO TESTEMUNHA – NARRAÇÃO EM PRIMEIRA PESSOA, EM QUE O NARRADOR É PERSONAGEM PERIFÉRICA.

ONISCIÊNCIA SELETIVA – O PONTO DE VISTA EM

TERCEIRA PESSOA É SUSTENTADO POR UMA ÚNICA PERSONAGEM FIXA, QUE TUDO CONHECE, TANTO O INTERIOR COMO O EXTERIOR.

O MODO DRAMÁTICO - COM A AUSÊNCIA DE NARRADOR, DE

AUTOR, A ENUNCIAÇÃO É ASSUMIDA PELAS PERSONAGENS, QUE SE APRESENTAM

DIRETAMENTE E SÃO IDENTIFICADAS PELO QUE DIZEM E FAZEM.

CASO-LIMITE DA NARRAÇÃO, PRESENTE EM

NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS – HÁ

EXCLUSÃO TOTAL DO AUTOR E OS FATOS SÃO

RELATADOS COMO FLASHES, TAKES

(TOMADAS DE CENA), COMO SE APANHADOS

POR UMA CÂMERA.

CÂMERA

MONÓLOGO

FORMA DIRETA E CLARA DE APRESENTAÇÃO DOS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS DA PERSONAGEM.

MONÓLOGO INTERIOR

CARACTERIZA-SE POR TRANSCORRER NA MENTE DA PERSONAGEM , COMO SE O “EU” SE DIRIGISSE A SI PRÓPRIO. SÃO PENSAMENTOS QUE FLUEM NA MENTE ANTES DE SE TRANSFORMAREM EM FALA “REAL”.DIRETO-PRIMEIRA PESSOA, TEMPO PRESENTE.INDIRETO-TERCEIRA PESSOA, TEMPO PASSADO.

SOLILÓQUIO

A PERSONAGEM FALA EM VOZ ALTA, EXPONDO DE FORMA

AUDÍVEL OS SEUS PENSAMENTOS,

LEMBRANÇAS, IMAGENS, IDÉIAS,

INTUIÇÕES.

FLUXO DE CONSCIÊNCIA

EXPRESSÃO DIRETA DOS ESTADOS MENTAIS, MASDESARTICULADA, EM QUE SE PERDE A CONSCIÊNCIA LÓGICA.

GÉRARD GENETTE

NARRADOR INTRADIEGÉTICO

HOMODIEGÉTICO ESTÁ DENTRO

DA ESTÓRIA, NARRA O

QUE “VIVEU”, SITUANDO-SE NO

MESMO PLANO QUE AS DEMAIS

PERSONAGENS.

AUTODIEGÉTICO SE FOR A

PERSONAGEM CENTRAL DA ESTÓRIA.

NARRADOR EXTRADIEGÉTICO E HETERODIEGÉTICO – O

NARRADOR SE POSICIONA FORA, NARRA O QUE OS

OUTROS VIVERAM.

[...] Pedro sentou-se, cruzou as pernas, tirou

alguns notas da flauta, como para experimentá-

la e depois, franzindo a testa, entrecerrando os

olhos, alçando muito as sobrancelhas, começou

a tocar. Era uma melodia lenta e meio fúnebre. O

agudo som do instrumento penetrou Ana terra como uma

agulha, e ela se sentiu ferida, trespassada. [...] Tirou das mãos

de dentro da água da gamela, enxugo-as num pano e

aproximou-se da mesa. Foi então que deu com os olhos de

Pedro e daí por diante, por mais esforços que fizesse, não

conseguiu desviar-se deles. Parecia-lhe que a música saía dos

olhos do índio e não da flauta – morna, tremida e triste como a

voz duma pessoa infeliz. (O tempo e o vento, de

Érico Veríssimo.)

Narrador observador – não apenas narra o que se passa com

as personagens, mas também o que sentem.

Agora que morri sei de tudo.

Era isso que eu esperava

que acontecesse, mas, como

muitos dos meus desejos,

deixou de se realizar. Sei

apenas alguns fatos dispersos

que antes ignorava.

Desnecessário dizer, trata-se de

um preço alto demais a pagar

pela satisfação da curiosidade.

A odisséia de Penélope, de Margaret Atwood

Narrador

protagonista/autodiegético

Confesso que fiquei bastante surpreso com essa nova prova da natureza prática das

teorias de meu companheiro. Meu respeito pelos seus poderes de análise aumentou extraordinariamente. Ainda permanecia uma suspeita oculta na minha mente, entretanto, de que toda história fosse um episódio arranjado, destinado a me aturdir, embora não conseguisse compreender qual poderia ser o objetivo dele em me enganar. Quando olhei para Holmes, ele acabara de ler a nota, e seus olhos tinham assumido a expressão vazia e sem brilho que revelava abstração mental.

Um estudo em vermelho (O mistério dos jardins Lauriston), de Sir Arthur Conan Doyle

TEMPO E ESPAÇO

TEMPO CRONOLÓGICO

É O TEMPO QUE TRANSCORRE

NA ORDEM NATURAL DOS

FATOS NO ENREDO, ISTO É

DO COMEÇO PARA O FINAL [...]

CHAMA-SE CRONOLÓGICO

PORQUE É MENSURÁVEL EM

HORAS, DIAS, MESES, ANOS,

SÉCULOS [...] PENSE NUMA HISTÓRIA QUE COMEÇA

NARRANDO A INFÂNCIA DO PERSONAGEM E DEPOIS OS

DEMAIS FATOS DE SUA VIDA NA ORDEM EM QUE

OCORRERAM.

TEMPO PSICOLÓGICO

É O TEMPO QUE TRANSCORRE NUMA ORDEM DETERMINADA PELO DESEJO OU PELA IMAGINAÇÃO DO NARRADOR OU DOS PERSONAGENS, ISTO É, ALTERA A ORDEM NATURAL DOS ACONTECIMENTOS [...] UMA DAS TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS É O FLASHBACK.TEMOS POR EXEMPLO MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, NO QUAL O NARRADOR CONTA SUA ESTÓRIA DEPOIS DE SUA MORTE.

ESPAÇO E AMBIENTE

ESPAÇO

É POR DEFINIÇÃO, O LUGAR ONDE SE PASSA A AÇÃO NUMA NARRATIVA [...] TEM COMO FUNÇÃO SITUAR AS AÇÕES DOS PERSONAGENS E ESTABELECER COM ELES UMA INTERAÇÃO, QUER INFLUENCIANDO SUAS

ATITUDES, PENSAMENTOS OU EMOÇÕES, QUER SOFRENDO

TRANSFORMAÇÕES PROVOCADAS PELOS PERSONAGENS. É DETALHADO EM TRECHOS DESCRITIVOS.

É O ESPAÇO CARREGADO DE CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS, MORAIS, PSICOLÓGICAS, EM QUE VIVEM OS PERSONAGENS. É A CONFLUÊNCIA DO TEMPO E DO ESPAÇO CRIANDO UM CLIMA.

CLIMA – CONJUNTO DE DETERMINANTES QUE CERCAM AS PERSONAGENS. SÃO CONDIÇÕES:

*SOCIOECONÔMICAS*MORAIS*RELIGIOSAS*PSICOLÓGICAS

AMBIENTE

AMBIENTE

FUNÇÕES DO AMBIENTE

*SITUAR PERSONAGENS NO TEMPO,

NO ESPAÇO.NO GRUPO SOCIAL.

*SER A PROJEÇÃO DOS CONFLITOS

VIVIDOS PELOS PERSONAGENS.

*ESTAR EM CONFLITO COM OS

PERSONAGENS.

*FORNECER ÍNDICES PARA O

ANDAMENTO DO ENREDO. É MUITO COMUM, NOS

ROMANCES POLICIAIS OU NAS NARRATIVAS DE

SUSPENSE OU TERROR, CERTOS ASPECTOS DO

AMBIENTE CONSTITUÍREM PISTAS PARA O DESFECHO

QUE O LEITOR POSSA IDENTIFICAR NUMA LEITURA MAIS

ATENTA.

CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE

* ÉPOCA (EM QUE SE PASSA A NARRATIVA)*CARACTERÍSTICAS FÍSICAS*ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS*ASPECTOS PSICOLÓGICOS, MORAIS E RELIGIOSOS.