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FOLCLORE E CONSERVAÇÃO: O PLANEJAMENTO DE UMA TRILHA INTERPRETATIVA PARA A ESTAÇÃO ECOLÓGICA DA UFMG Mariana Fonseca Mauro [email protected]/ 31 88311707 e Raoni Araujo Ferreira [email protected] 31 8734-9505 – UFMG/ IGC - Turismo EIXO TEMÁTICO: O homem/ SUB EIXO: A Trilha INTRODUÇÃO Segundo MURTA & GOODEY (1995:19): “NUMA DEFINIÇÃO SIMPLES, A INTERPRETAÇÃO É UM PROCESSO DE ADICIONAR VALOR À EXPERIÊNCIA DE UM LUGAR, POR MEIO DA PROVISÃO DE INFORMAÇÕES E REPRESENTAÇÕES QUE REALCEM SUA HISTÓRIA E SUAS CARACTERÍSTICAS CULTURAIS E AMBIENTAIS. COMO TAL, A INTERPRETAÇÃO EXISTE DESDE QUE OS PRIMEIROS VIAJANTES REGISTRARAM IMPRESSÕES EM SEUS DIÁRIOS, QUE OS HABITANTES DE UM LUGAR ELABORARAM AS PRIMEIRAS EXCURSÕES ORGANIZADAS”. A Estação Ecológica da Universidade Federal de Minas Gerais é uma das poucas áreas de conservação do país, que se encontra dentro de um campus universitário. Está localizada no campus da Pampulha, região norte de Belo Horizonte, ocupando uma área de aproximadamente 114 hectares. É uma unidade de conservação urbana, caracterizada por uma boa diversidade de flora e fauna, onde se encontram várias espécies de mamíferos (Tapeti, Capivara, Mico-estrela, Gambá), de anfíbios e répteis e mais de 220 espécies de aves (Alma-de-gato, Tucanuaçu, Jacu, Saíra, Bico-de-veludo, dentre outras), além de espécies vegetais nativas (Mutamba, Cedro, Ipê, Cotieira e outras) e exóticas (Eucalipto, Mangueira, Abacateiro e Capim Elefante). A Estação possui um programa de caminhadas ecológicas, no qual alunos de escolas do ensino fundamental, médio e superior são acompanhados por monitores ambientais, cujo objetivo principal é integrar os visitantes as questões ambientais e a necessidade de conservação dos recursos naturais. Após as caminhadas, duas oficinas são oferecidas de maneira a estimular o debate sobre questões como excesso de lixo, desperdiço de energia, importância da água, dentre outros assuntos. Apesar de tratar de questões relacionadas ao meio ambiente através das caminhadas ecológicas, a Estação Ecológica, não conta com trilhas interpretativas.

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FOLCLORE E CONSERVAÇÃO: O PLANEJAMENTO DE UMA TRILHA INTERPRETATIVA PARA A ESTAÇÃO ECOLÓGICA DA UFMG

Mariana Fonseca Mauro [email protected]/ 31 88311707 e Raoni Araujo

Ferreira [email protected] 31 8734-9505 – UFMG/ IGC - Turismo

EIXO TEMÁTICO: O homem/ SUB EIXO: A Trilha INTRODUÇÃO

Segundo MURTA & GOODEY (1995:19):

“NUMA DEFINIÇÃO SIMPLES, A INTERPRETAÇÃO É UM

PROCESSO DE ADICIONAR VALOR À EXPERIÊNCIA DE UM

LUGAR, POR MEIO DA PROVISÃO DE INFORMAÇÕES E

REPRESENTAÇÕES QUE REALCEM SUA HISTÓRIA E SUAS

CARACTERÍSTICAS CULTURAIS E AMBIENTAIS. COMO TAL,

A INTERPRETAÇÃO EXISTE DESDE QUE OS PRIMEIROS

VIAJANTES REGISTRARAM IMPRESSÕES EM SEUS DIÁRIOS,

QUE OS HABITANTES DE UM LUGAR ELABORARAM AS

PRIMEIRAS EXCURSÕES ORGANIZADAS”.

A Estação Ecológica da Universidade Federal de Minas Gerais é uma das poucas

áreas de conservação do país, que se encontra dentro de um campus universitário. Está

localizada no campus da Pampulha, região norte de Belo Horizonte, ocupando uma área

de aproximadamente 114 hectares. É uma unidade de conservação urbana, caracterizada

por uma boa diversidade de flora e fauna, onde se encontram várias espécies de

mamíferos (Tapeti, Capivara, Mico-estrela, Gambá), de anfíbios e répteis e mais de 220

espécies de aves (Alma-de-gato, Tucanuaçu, Jacu, Saíra, Bico-de-veludo, dentre outras),

além de espécies vegetais nativas (Mutamba, Cedro, Ipê, Cotieira e outras) e exóticas

(Eucalipto, Mangueira, Abacateiro e Capim Elefante).

A Estação possui um programa de caminhadas ecológicas, no qual alunos de escolas

do ensino fundamental, médio e superior são acompanhados por monitores ambientais,

cujo objetivo principal é integrar os visitantes as questões ambientais e a necessidade de

conservação dos recursos naturais. Após as caminhadas, duas oficinas são oferecidas de

maneira a estimular o debate sobre questões como excesso de lixo, desperdiço de

energia, importância da água, dentre outros assuntos.

Apesar de tratar de questões relacionadas ao meio ambiente através das caminhadas

ecológicas, a Estação Ecológica, não conta com trilhas interpretativas.

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Mediante essa constatação e visando agregar valor ao projeto da Estação Ecológica

através da INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL, o presente trabalho teve como finalidade

desenvolver um projeto de trilha interpretativa, no qual foi trabalhado a questão do

FOLCLORE e como ele poderia auxiliar na conscientização dos visitantes no que diz

respeito à conservação dos recursos naturais, tanto na Estação, quanto fora dela.

A Estação possui várias trilhas, porém, duas delas foram escolhidas para serem

trabalhadas as questões de conservação, colocando personagens do FOLCLORE

brasileiro como figuras centrais das explanações e do tema a ser desenvolvido. A

intenção de trabalhar com o FOLCLORE deveu-se ao fato de já existir um “trabalho

embrionário” que é feito em certo trecho de uma das trilhas existentes, onde se fala de

maneira breve sobre a lenda do SACI.

A trilha, uma vez implantada, será destinada ao público infanto-juvenil. Ressalta-se a

importância de trabalhar as questões relacionadas ao FOLCLORE e conservação para

que esse público conheça um pouco mais sobre as lendas brasileiras e valorizem a

cultura, ajudando a transmitir os valores da Educação e Interpretação Ambiental, através

da relação entre os “seres mágicos” e os lugares que eles habitam.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

O presente trabalho desenvolveu o planejamento de uma trilha interpretativa para a

Estação Ecológica da UFMG, cujo objetivo é despertar nas crianças o interesse pelo

conhecimento do FOLCLORE e seus personagens, e através disso, demonstrar a

importância de conservar e conhecer as matas e os animais que nelas sobrevivem.

Objetivos Específicos Agregar valor ao projeto “Caminhadas Ecológicas” da EECO através da

interpretação ambiental; Introduzir a Interpretação Ambiental nas atividades da EECO; Trabalhar os conceitos básicos da Interpretação Ambiental com os visitantes; Resgatar o FOLCLORE e mostrar que através das lendas é possível trabalhar com

os conceitos básicos da conservação dos recursos naturais; Trabalhar conceitos de conservação com o público infantil;

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Despertar o interesse do público infantil pelo FOLCLORE através de uma atividade

lúdica e ao mesmo tempo responsável; Proporcionar às crianças um momento de lazer e contemplação das riquezas da

estação ecológica;

Instigar as crianças a novas descobertas;

Estimular um sentimento de afeto entre crianças e os recursos naturais;

Estimular as crianças a desenvolverem um comportamento diferenciado dentro de

áreas conservadas;

Estimular o repasse da experiência vivida na estação para os amigos.

METODOLOGIA

A proposta de desenvolvimento de uma trilha interpretativa dentro da Estação

Ecológica, é uma idéia que surge através de leituras sobre a interpretação ambiental e

sua importância para a conservação dos recursos naturais.

Essas leituras foram importantes para nos familiarizarmos com a história e

desenvolvimento da Interpretação Ambiental no Brasil e em outros países, observando

suas peculiaridades e formas de utilização em diferentes situações e para diferentes

pessoas.

Após essas leituras preliminares, percorremos as trilhas já existentes na Estação

Ecológica, com o objetivo de observar e avaliar possíveis potencialidades das trilhas nas

quais poderiam ser trabalhadas. As potencialidades encontradas na trilha foram

desenvolvidas de acordo com as principais características propostas em uma trilha

interpretativa, ser provocativa, significativa, organizada, provocante, diferenciada e

temática, tendo em vista que a proposta é desenvolver uma alternativa para o público que

visita a Estação regulamente e agregar valor ao “Projeto caminhadas ecológicas”.

Através do reconhecimento das trilhas, foi possível começar um trabalho de escolha

mais eficaz de qual trilha seria trabalhada. Após essa escolha reuniu-se as

potencialidades que a trilha oferecia e foi definido um tópico a ser trabalhado ao longo da

mesma, o FOLCLORE.

Já existe na Estação um trabalho embrionário sobre a lenda do SACI e dessa forma,

optou-se por trabalhar com outras “figuras mágicas” de nossa cultura e a relação existente

entre elas e a conservação dos recursos naturais.

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Iniciou-se também a definição do público-alvo, e como o assunto seria trabalhado com

os mesmos, desde linguagem adotada até nível de dificuldade da trilha, logo foi

determinado que a atividade necessitaria do acompanhamento dos monitores, portanto,

seria uma trilha guiada.

A definição do tema interpretativo foi feita mediante visitas à trilha, onde foram

decididos também o objetivo principal e os específicos, preocupando-se sempre com os

assuntos abordados (características relevantes) e sua atratividade (riqueza visual).

Após essas etapas, foi proposto a trilha definitiva, onde detalhou-se o “corpo” da trilha

(desenvolvimento da trilha, assuntos abordados, objetivos, tema interpretativo, etc.) e

seus principais aspectos técnicos (número de paradas, locais onde serão as paradas,

intervenções, acompanhamentos, dentre outros). Essas paradas foram determinadas para

auxiliar os monitores no desenvolvimento da atividade, porém existe uma flexibilidade que

permite ao monitor parar de acordo com o desenvolvimento da trilha e a interação com

público.

DISCUSSÃO

Para iniciar, de fato, a elaboração de um projeto de Trilha Interpretativa relacionada ao

tópico proposto, FOLCLORE, faz-se necessário uma discussão teórica sobre a

Interpretação Ambiental como forma de resgate dos principais conceitos e discussões

tratadas por seus fundamentais pensadores.

O Interesse pelo patrimônio natural e cultural sempre foi motivo real de deslocamento

das pessoas em seu tempo livre. A partir do momento em que, com a modernidade são

engolidas a tranqüilidade e harmonia, fazendo parte efetiva da vida das pessoas o

estresse e pressões diárias, o ato de viajar ou obter momentos de lazer com a família, são

vistos como necessidade para o prosseguimento do ciclo humano.

Como conseqüência percebe-se um acréscimo no Turismo realizado em dados locais

como retratam MURTA & GOODEY (2002, p.13):

[...] NAS TRÊS ÚLTIMAS DÉCADAS, O CRESCENTE NUMERO

DE VISITANTES A SÍTIOS HISTÓRICOS E NATURAIS, VEM

LEVANDO GOVERNOS E EMPRESÁRIOS E COMUNIDADES

LOCAIS A GERENCIAR E PROMOVER O SEU PATRIMÔNIO

COMO RECURSO EDUCACIONAL E COMO RECURSO DE

DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO. A ESTRATÉGIA MAIS

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UTILIZADA NA EUROPA E NOS ESTADOS UNIDOS TEM SIDO

A INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO PARA VISITANTES,

ASSOCIADA À SUA REVITALIZAÇÃO “. NO BRASIL, A

DISCUSSÃO ENCONTRA-SE EM PERÍODO DE INICIAL. [...]

O gosto pelas caminhadas, com o intuito de desvendar os mistérios e curiosidades de

dado local, sempre existiu e levou as pessoas a percorrerem caminhos diferentes, nos

quais, na maioria das vezes, o grupo era acompanhado por uma pessoa do local. Essa,

dotada de conhecimentos ditos populares a cerca do trajeto, seria como um intérprete,

que mostraria todas as peculiaridades existentes e evitaria que caminhos equivocados

fossem seguidos. Foram atividades dessa natureza, que deram origem ao que viria a ser

mais tarde a Interpretação Ambiental.

A partir de 1957, a Interpretação Patrimonial (voltada para o meio ambiente) alcança

maior destaque. Contribuindo e sendo considerado o “pai” da Interpretação, o filósofo

Freeman Tilden, inicia a discussão sobre o tema como uma disciplina. O mesmo, com

grande propriedade propõe uma definição que seria a clássica sobre Interpretação

Ambiental, que foi considerada, por ele, como “UMA ATIVIDADE EDUCACIONAL QUE

OBJETIVA REVELAR SIGNIFICADOS E RELAÇÕES ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE

OBJETOS ORIGINAIS, DE EXPERIÊNCIA DE PRIMEIRA MÃO E POR MEIO DA MÍDIA

ILUSTRATIVA, AO INVÉS DE APENAS COMUNICAR INFORMAÇÕES FACTUAIS”.

(TILDEN 1977)

Em sua obra, Interpreting of heritage – Interpretação do Patrimônio, o norte americano

inicia uma sistematização, fundamentada em uma definição e na elaboração de conceitos

e princípios básicos para a Interpretação Ambiental.

Princípios da Interpretação Ambiental, por TILDEN (1977,117p.):

• "Qualquer interpretação que não relaciona, de alguma forma, o que se está

exibindo ou descrevendo, com algo da personalidade ou experiência do visitante será

estéril".

• "A informação, como tal, não é interpretação. Elas se diferenciam, sendo que a

interpretação utiliza revelações baseadas em informação. Toda interpretação,

portanto, inclui informação. Mas isso não significa que só informação seja

Interpretação”.

• "A interpretação é uma arte que combina com muitas outras artes;

independentemente dos materiais apresentados serem científicos, históricos ou

arquitetônicos. Como arte, é possível, de alguma forma, ser ensinada".

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• "O propósito principal da interpretação não é a instrução (o ensino), mas sim a

provocação (para estimular a curiosidade e o interesse do visitante)".

• "A interpretação dirigida às crianças não deve ser um desmembramento da

apresentação para adultos, mas, sim, ter uma abordagem fundamentalmente

diferente. Neste caso, o melhor, é dispor de programas separados e específicos".

• "A interpretação deve apresentar os fatos na sua totalidade, evitando a

fragmentação". Ou seja, eles não devem ser tratados de uma forma isolada e sem

suas respectivas inter-relações no contexto.

Diz-se que a interpretação do patrimônio deve ser tão antiga como a humanidade,

visto que os povos antigos transmitiam as historias oralmente de geração para geração.

No contexto moderno, interpretação é utilizada para descrever atividades de comunicação

que melhorem a compreensão dos visitantes acerca dos valores naturais e culturais. Em

artigo sobre a importância da atividade interpretativa no Ecoturismo, DOBE e TAGLIANE

(sd.), descrevem Interpretação como “[...] A ARTE OU TÉCNICA DE TRADUZIR A

LINGUAGEM DA NATUREZA E AS VOZES DO PASSADO EM HISTORIAS E

EXPERIÊNCIAS QUE O PÚBLICO POSSA COMPREENDER E DESFRUTAR [...]”.

Destaca-se, a necessidade de se realizar a atividade de Interpretação Ambiental

baseada em um prévio planejamento, atuando esse, como ferramenta de organização da

atividade. Baseando-se no mesmo, serão compostas estratégias de ação mais eficientes

e adequadas à realidade do local, servindo como auxílio tanto para autoridades

municipais quanto para diversos segmentos da comunidade – moradores, empresários,

grupos religiosos e associativos.

Desse modo:

“[...] O PLANEJAMENTO DA INTERPRETAÇÃO ORIENTA A

LIMPEZA E A DESCOBERTA DE FACHADAS ORIGINAIS, A

HARMONIA NA SINALIZAÇÃO E DO DESENHO DE PLACAS E

LETREIROS COMPATÍVEIS COM O ESPÍRITO DO LUGAR; AS

TRILHAS PELA MALHA URBANA QUE DECIFRAM A CIDADE E

AS PLACAS INFORMATIVAS QUE AMPLIAM A PERCEPÇÃO

AMBIENTAL DO VISITANTE [...]”. (MURTA E GOODEY 2002,

p.19)

Um plano interpretativo, incorporando as várias vozes da comunidade, objetiva

concretizar-se no espaço vivido, uma rede de descobertas e de desfrutes, tanto para

residentes quanto para visitantes.

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São três as etapas essenciais de um Plano Interpretativo:

• Inventário e registro de recursos, temas e mercados;

• Desenho e montagem da interpretação;

• Gestão e promoção;

A primeira etapa engloba o levantamento e organização de recursos, temas e

mercados. Refere-se ao inventário de recursos, culturais, ambientais, técnicos e

financeiros, que envolverá diferentes setores da administração públicas e da

comunidade.Refere-se a temas, os principais e potencias aspectos a serem retratados

pela Interpretação, sendo de relevância a identificação de significados que definam a

identidade do lugar.

A etapa de desenho e montagem diz respeito aos meios e técnicas a serem aplicados

na atividade. Ressalta-se que, esses, serão escolhidos de acordo com a sua adequação a

realidade de cada local. A escolha dependerá do conhecimento aprofundado dos recursos

e mercados inventariados na etapa anterior e, da decisão dos profissionais envolvidos e

da concordância dos financiadores e patrocinadores.

A terceira etapa é a de gestão e promoção, sendo a mesma, crucial para a

manutenção e atualização das instalações interpretadas. É importante programar as

necessidades de monitoramento e avaliação permanentes, treinamento de equipe, de

modo a planejar o custeio e assegurar o financiamento adequado.

No que diz respeito à atividade interpretativa, indica-se a constante utilização de

características ou critérios, que tem como objetivo torná-la mais efetiva, alcançando o

sentido de aprendizagem por parte dos visitantes e comunidade local. Baseadas nos

princípios de TILDEN (1977) são elas:

• Prazerosa; a interpretação deve ser interessante, amena, cativa, prender a

atenção e audiência e, até mesmo, diverti-la.

• Significativa; a interpretação deve ser significativa, relevante ou pertinente,

relacionando o seu conteúdo com o que já se conhece ou vivencia-se.

• Organizada; a interpretação deve ter uma estrutura coerente, para ser

acompanhado com facilidade, exigir poucos esforços do visitante e evitar a

dispersão. As idéias devem seguir um encadeamento lógico; é preciso que exista

princípio, meio e fim.

• Provocante; os meios e técnicas devem instigar o visitante, fazendo-o refletir com

mais profundidade sobre um fato ou processo ambiental, que é lhe apresentado.

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• Diferenciada; adequando a atividade aos diferentes públicos recebidos, um

programa para crianças não pode ser o mesmo que para adultos, ocorrendo apenas

uma simplificação.

• Temática; a interpretação é considerada temática quando possui ima mensagem a

ser comunicada. Quando se tem uma mensagem central em torno da qual a

interpretação acontece, fica mais fácil para o visitante acompanhar a mensagem a

ser passada.

É importante lembrar que a atividade deve ser considerada fundamentalmente

recreativa, ainda que educativa. Deve ser lembrado que os visitantes encontram-se em

um momento de descontração, de aproveitamento do tempo livre. Sendo assim, os

mesmos não têm obrigação se se ater à informação a ser repassada.

Iniciada a discussão sobre a Interpretação Ambiental, parte-se para a apresentação de

um tema específico, relativo e relevante, a proposta de interpretação a ser elaborada, a

criação de um trilha interpretativa para a Estação Ecológica da UFMG.

RESULTADO Concluída a revisão bibliográfica, pesquisas de gabinete e de campo, o planejamento

(resultado final do trabalho) da trilha está descrito a seguir, onde são colocados tanto os

dados técnicos da trilha, como dados específicos da trilha e do planejamento.

Dados Técnicos da Trilha

• Extensão: Aproximadamente 1km

• Distância a ser percorrida: 1 km

• Grau de dificuldade: fácil

• Tempo de Duração: Aproximadamente 1 hora

Público Alvo Por se tratar de um assunto relativamente difundido nas escolas primárias e do ciclo

básico (1ª à 4ª série), o público alvo, ao que a trilha e as atividades desenvolvidas se

destinam, são preferencialmente crianças de até 10 anos.

Modalidade e Meios A estação ecológica já dispõe de monitores que acompanham visitantes regularmente

durante as caminhadas. Dessa forma, o modo de realização será desenvolvido pelos

próprios monitores existentes de acordo com a necessidade de diversificação na estação.

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Esses visitantes são estudantes de diversas faixas etárias e com diferentes objetivos.

A elaboração e desenvolvimento da Trilha do FOLCLORE seria uma opção para

diversificar as caminhadas já realizadas na estação.

A proposta presente é que a trilha do folclore seja guiada, uma vez que os monitores

são fundamentais para auxiliar as crianças na interpretação da trilha. Os monitores

também são importantes, pois agregam valor à atividade e são capazes de instigar as

crianças durante o percurso. Os meios interpretativos são fundamentais para uma boa interpretação e envolvimento

do público alvo. Pensando nisso, será interessante e de grande importância, os monitores

fazerem além das explanações orais, exposições visuais, onde esses mostrariam objetos,

desenhos e outros itens relacionados ao tema abordado. As exposições visuais durante a

trilha serão complementos fundamentais para uma melhor compreensão do público e

também para prender mais a atenção dos mesmos.

Um outro fator a ser pensado durante a elaboração do planejamento da trilha é sua

“capacidade de carga”, ou seja, o número máximo de pessoas que não comprometam o

bom andamento da atividade e não tragam conseqüências ao ambiente. Dessa maneira,

ficou definido que o número ideal será de 10 pessoas incluindo o monitor, uma vez que

a atividade não será comprometida assim como o desgaste da trilha.

Tópico e Tema a ser Abordado Como já foi dito anteriormente, o nome é: Trilha do Folclore, e a partir disso

pretendemos trabalhar o tema: Como o FOLCLORE, seus personagens e lendas podem

ajudar na conservação das matas.

Desenvolvimento do Tema Interpretativo e da Atividade A atividade será dividida em paradas, onde o monitor irá trabalhar e desenvolver o

tema interpretativo de maneira dinâmica e divertida, principalmente em se tratando do

caráter do público alvo. Em cada uma das paradas o monitor deverá incentivar os

visitantes a reflexões e indagações sobre o que está sendo abordado durante a trilha. Ao

final é muito importante o resgate do que foi “trabalhado” durante o percurso.

1ª Parada Localização: Início da trilha, próximo à sede administrativa da Estação Ecológica;

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Nessa primeira parada o monitor deverá fazer sua apresentação e fazer um breve

histórico sobre a estação ecológica. Após essa apresentação, ele deverá falar um pouco

sobre a trilha, dando informações sobre a extensão do percurso, o tempo de caminhada e

algumas recomendações de segurança (andar somente na trilha, não correr, andar

sempre junto com os monitores, dentre outras).

Fig 1. Sede Administrativa da EECO Fig 2. Início da Trilha do FOLCLORE

O monitor deve falar também sobre o tema que será abordado durante a caminhada,

procurando esclarecer possíveis dúvidas aos visitantes e instigá-lo a percorrer a trilha.

2ª Parada

Localização: Meio do Bosque do Sossego Nesse ponto, o monitor deverá fazer uma breve introdução sobre o Folclore brasileiro,

a relação dos seres mágicos com a mata e o que eles representam para a manutenção

das mesmas. Nesse local, o monitor poderá levantar algumas questões relativas ao

cotidiano dos visitantes, fazendo perguntas: “Vocês já ouviram falar do Saci? Do

Curupira? Quem são eles?”

Fig 3. Local onde será a 1ª parada Fig 4. Bosque do Sossego

3ª Parada Localização: Saída do Bosque do Sossego e início da estrada;

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O monitor deverá fazer uma breve parada, um giro de 360º, demonstrando as

diferentes paisagens e comparando-as com o que foi observado no bosque do sossego.

Fig 5. Saída do Bosque do Sossego Fig 6. Estrada que corta a EECO

Nesse ponto é importante demonstrar para o visitante como a paisagem se modificou,

que barulho de carros pode ser facilmente ouvido, que a vegetação se modificou e até

mesmo a diferença da temperatura, que pode ser detectada devido à falta de mata. Construções

Fig 7. Construções ao fundo Fig 8. Diferença da vegetação

(paisagem modifica)

4ª Parada Localização: Encruzilhada das Estradas

Na encruzilhada das estradas, o monitor deverá fazer uma parada e relatar um pouco

da estória da MULA-SEM-CABEÇA mostrando desenhos, e alguns artefatos utilizados

para capturar esses seres fantásticos. O monitor deve também fazer perguntas aos

visitantes se eles conhecem ou já ouviram falar sobre a mula.

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Fig 9. Encruzilhada onde será trabalhado a lenda da Mula

5ª Parada Localização: No meio do Bambuzal;

Já é trabalhada na estação, a lenda do SACI dessa maneira, os monitores continuarão

abordando a lenda e agregar a questão da armadilha (buraco para estudos pedológicos)

usada para captura de caçadores.

Nessa parada seria interessante que os monitores apresentassem uma armadilha de

saci, um cachimbo e até um gorro utilizado pelo mesmo, isso irá gerar grande interesse

nos visitantes e muita curiosidade.

O monitor deverá abordar também nesse local, os malefícios da monocultura, uma vez

que só existe bambu no local. Ele deverá enfatizar a importância de se ter uma grande

variedade de espécies vegetais.

Fig 10. Entrada do Bambuzal Fig 12. Buraco de Estudos Pedológicos

6ª Parada Localização: Lagoa Assoreada

Nesse local, existia uma lagoa que foi assoreada. Aproveitando essa degradação da

lagoa, o monitor deverá discutir com os visitantes, a importância da manutenção dos

cursos d´água para a manutenção dos animais, das plantas e do ser humano.

É importante, que nesse local o monitor fale sobre a IARA e a relação dela com as

águas, mostrando que ali ela não está mais presente, devido à degradação da lagoa.

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Fig 14. Trilha da Lagoa Assoreada Fig 15. Lagoa Assoreada

7ª Parada Localização: Subida do Bosque do Sossego;

Essa é a parada localizada no caminho de volta, onde os visitantes entrarão

novamente na mata mais densa. Nesse local, o monitor deverá chamar a atenção para os

barulhos da mata, pássaros, insetos e possíveis animais. Após essa pausa para “ouvir a

mata”, o monitor deverá falar um pouco a importância em manter a vegetação e sobre o

protetor dos animais e da mata: o CURUPIRA.

Fig 16. Início do Caminho do Curupira Fig 17. Caminho do Curupira

Seria interessante mostrar desenhos e esculturas do curupira, uma vez que seus pés

são diferentes, o que despertaria a curiosidade dos mesmos.

8ª Parada Localização: Mesmo local onde a trilha se iniciou;

Essa última parada é para uma reflexão sobre a trilha e os assuntos abordados

durante a mesma. Momento de descontração e brincadeiras.

CONCLUSÂO

O estudo e prática da Interpretação Ambiental, encontram-se em fase embrionário no

Brasil. São poucos e quase inexistentes os locais, nos quais são desenvolvidas atividades

relacionadas à Interpretação. Durante a elaboração do trabalho, observou-se que, muitas

vezes, confunde-se uma trilha interpretativa com aquela que, repleta de informações, não

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se preocupa com a interação e maior participação dos visitantes. Constata-se que, muitas

vezes, as placas e intérpretes não alcançam a Interpretação Ambiental, sendo essa,

conseqüência da falta de conhecimento dos administradores e planejadores das áreas

destinadas ao fim de visitação.

Observou-se que a Estação Ecológica desenvolve um programa interessante,

destinado a sensibilização dos visitantes para a importância da conservação dos recursos

naturais. Porém, não existe um projeto de interpretação ambiental, mas uma tentativa de

se obter e seguir os princípios da mesma. Dentro dessa, podemos observar atividades

desenvolvidas com qualidade, que buscam informações e ensinamentos de forma que os

visitantes, saiam, de fato, sensíveis aos objetivos do local.

Foi possível perceber que a participação da comunidade é muito importante no

planejamento, desenvolvimento e gestão da atividade interpretativa. Entende-se por

comunidade, aqueles que moram no entorno das áreas protegidas e que, de alguma

forma, são afetados pela atividade de visitação e que também irão visitar os locais de

proteção.

A Interpretação Ambiental é uma importante ferramenta para a aproximação entre

visitantes e meios naturais preservados. Faz-se entender essa importância, quando, após

a realização de uma atividade interpretativa, os visitantes se mostram mais sensíveis à

causa ambiental.

Baseando nas discussões feitas em sala de aula e a leitura de bibliografias

complementares, foi proposto no presente trabalho uma trilha interpretativa guiada que,

de alguma maneira, agregasse todos os princípios da Interpretação Ambiental, retratando

e resgatando a cultura brasileira.

O Folclore com seus personagens, que possuem estreita relação com a natureza e o

homem, foi usado como ponto de partida para o alcance do objetivo principal da atividade.

Optando por elaborar uma trilha interpretativa destinada ao público infanto – juvenil, aliar

o folclore à conservação das matas torna-se de grande valia, pois as lendas e

personagens povoam o imaginário de todos.

Tentou-se transformar a caminhada ecológica da Estação pela Trilha do folclore, em

um momento de extremo prazer e aprendizado, possibilitando futuras discussões dos

visitantes com os pais, professores e amigos.

Ao final deste trabalho, conclui-se que, a Interpretação Ambiental, por mais simples

que pareça ser, constitui-se como uma forma eficaz de aproximação - e entendimento -

entre pessoas e meios naturais, de maneira a aliar a recreação à conservação. Releva-se

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o planejamento e, posterior gestão, como ferramenta estratégica das atividades, que

desenvolvidas com responsabilidade, faz do Turismo o mais sustentável possível. BIBLIOGRAFIA • MURTA, Stela Maris; GOODEY, Brian; Cidades Mineiras. Interpretação do

patrimonio para o turismo sustentado: um guia. Belo Horizonte: 1995. 114p.

• Projeto Doces Matas/Grupo Temático Interpretação Ambiental Manual de Introdução à Interpretação Ambiental. Belo Horizonte, 2002. 108p.

• DOBE, C. S; TAGLIANE, L. G. La importancia de la interpretación ambiental en la

calidad de la experiencia ecoturística • CASTRO, Paulo Valadas de.Turismo Sostenible y Conservación Del Paisaje.

DRAEDM. Portugual • PAGANI, Maria Inez. As Trilhas Interpretativas da natureza e o Ecoturismo

• TILDEN 1977 in Recomendações para Planejamento do Uso Público em

Unidades de Conservação. Projeto Doces Matas. Belo Horizonte, 2005.