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DOMINGO ¡ 29 maio 2016 folhadeportugal.pt folhadeportugal.pt » tema capa t ema c apa « 7 6 DOMINGO ¡ 29 maio 2016 folhadeportugal.pt S e quando ouve falar em Smart Cities, ou Cidades Inteligentes, imagina carros que voam, robots, estradas aéreas e tudo o que os melhores filmes de ficção nos mostram, esqueça. As cidades estão a ficar inteligentes, e é um facto que a tecnologia tem muito a ver com isso, mas a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos são agora o foco principal. Vítor Pereira, diretor da revista Smart Cities, e um dos parceiros do evento Zoom Smart Cities que se realizou recentemente em Lisboa, com o objetivo de congregar toda a informação relacionada com cidades inteligentes, acredita que no futuro, uma Cidade Inteligente permitirá “ao cidadão saber que a tecnologia está presente no decorrer do seu dia a dia, para facilitar, mas quase sem se dar por ela”. “A tecnologia vai entrar naturalmente nas cidades, é um processo irreversível. O que é preciso apostar é num outro tipo de inteligência que diz mais respeito ao planeamento, à interação com os cidadãos, e é aqui que ainda há muito para fazer e muito espaço para desenvolver”, acrescenta. O que é a Cidade Inteligente? Se há sete ou oito anos atrás o conceito de Smart Cities era puramente tecnológico, relacionado com a digitalização das cidades, com a informatização e, sem dúvida, mais ligado à tecnologia, hoje em dia estamos perante a necessidade de existir um conceito mais abrangente. “Hoje não há uma definição concreta para Smart Cities. Faz sentido falar sim em Cidade Inteligente e isso sim é uma congregação de várias coisas. Em primeiro lugar, a própria tecnologia que torna os sistemas inteligentes, eficazes e sustentáveis, que possibilita uma optimização de recursos e, consequentemente, melhorar uma série de serviços. Graças à tecnologia, é possível encontrar alternativas para fazer as mesmas coisas de forma mais célere e mais barata. Depois há também a própria gestão autárquica, da participação dos cidadãos e dentro de todos estes pontos há outras ramificações que se unem em temas como o ambiente, a mobilidade, a energia, a economia, etc”, explica Vítor Pereira. Dois tipos de cidade Quem tem mais problemas com o conceito de Smart City, por vezes, é mesmo quem tem que o assumir e tomar decisões. “É necessário haver lideranças inteligentes também e se calhar são mais importantes do que haver sistemas inteligentes”, sublinha. A Câmara de Lisboa, integra com Londres e Milão um projeto europeu sobre Cidades Inteligentes, o Sharing Cities, que pretende demonstrar de que forma o uso inovador de tecnologias pode melhorar a vida de quem habita em cidades. O projeto usufrui de um financiamento da Comissão Europeia de cerca de 25 milhões de euros para desenvolver soluções replicáveis no âmbito da mobilidade, energia, dados e tecnologias de informação e comunicação. À agência Lusa , o diretor municipal de Economia e Inovação na Câmara de Lisboa, Paulo Carvalho, disse que a estratégia de cidade inteligente “aumenta de uma forma muito significativa a poupança e a eficiência dos recursos”, desde a gestão da iluminação pública à gestão da água utilizada no município. Zoom Smart Cities Lisboa recebeu recentemente a conferência Zoom Smart Cities, na qual vários especialistas nacionais e internacionais debateram questões relacionadas com as cidades inteligentes. Segundo o coordenador do projeto em Lisboa, Rui Franco, os principais problemas que a cidade enfrenta são, as assimetrias e a falta de coesão socioeconómica. Há desafios ao nível da política de habitação e do equilíbrio entre o turismo e a qualidade de vida dos residentes. Um dos instrumentos responsáveis pelo desenvolvimento da cidade “tem a ver com os dados, ou seja, com a informação que hoje é produzida”, disse à Lusa, defendendo que a disponibilização dos dados existentes sobre a cidade permite criar “um leque infindável de medidas concretas setoriais”, na área da mobilidade, da eficiência energética, da recolha dos resíduos urbanos e do turismo. Web Summit Ainda neste âmbito de cariz tecnológico, a capital vai receber o Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia, empreendedorismo e inovação europeus. O vereador das Finanças da autarquia, João Paulo Saraiva, afirmou que a estratégia do município para ser uma Cidade Inteligente, assenta na partilha de informação, de forma a promover a inovação, contando com a colaboração de organizações, empresas, instituições do terceiro setor e universidades. “Vai-nos permitir dar um pulo gigante dentro daquilo que é a estratégia de desenvolvimento da cidade”, expressou o autarca à Lusa , sublinhando que a realização em Lisboa do Web Summit é importante para o território e para a dinamização das start-ups e de empresas de matriz tecnológica. Para o autarca, uma Cidade Inteligente não deve estar exclusivamente empenhada na área tecnológica, pelo que a estratégia de Lisboa tem que se focar na “melhoria da qualidade de vida das pessoas” e ser aplicada como “um factor integrador”. J.M. Lisboa , uma cidade cada vez mais inteligente Assimetrias e falta de coesão económica são os principais problemas que a capital portuguesa quer combater com a ajuda da tecnologia. “Uma cidade é inteligente quando souber, definitivamente, o que fazer e decidir fazê-lo” Quanto aos modelos a aplicar nas cidades, é fundamental ter em conta o tipo de cidade que está em causa e as suas características. Hoje em dia as cidades têm a tendência de se imitar umas às outras, mas, na verdade, o que funciona bem numa, pode não ser aplicável na outra. Em relação a isto, Vítor Pereira destaca dois tipos de cidades. Por um lado, as grandes metrópoles que têm problemas relacionados, sobretudo, com o excesso de população; por outro, as cidades que estão a perder pessoas e que não estão a progredir nem económica, nem socialmente. “As grandes cidades são um foco de atração muito intenso. A tendência da população é sair das localidades mais pequenas e dirigirem-se para as grandes cidades. Estas têm que ter os meios e as infraestruturas necessárias para receber as pessoas e para dar resposta a uma série de problemas, sejam eles de foro social ou de gestão de recursos. Há outro tipo de cidade, muito mais complicada de trabalhar que é aquela que está a perder pessoas, que está a sair da rota dos grandes investimentos, que não consegue nem manter nem captar talento. Muitas vezes isto acontece porque as receitas que estão a ser aplicadas nestes sítios são as mesmas que se utilizam nas grandes metrópoles, o que não faz sentido. São dois tipos de cidades diferentes, com diferentes características e problemas distintos”, esclarece. Independentemente do tipo de cidade e dos seus problemas, para o responsável, é fundamental apostar “numa capacidade de decisão, isto é, decidir o que fazer e tomar medidas, efetivamente. Uma cidade é inteligente quando souber, definitivamente, o que fazer e decidir fazê-lo”, conclui Vítor Pereira. Tecnologia, optimização de recursos e bem-estar dos cidadãos. Bem-vindos às cidades inteligentes Ambiente, mobilidade, energia e economia, todas as áreas benefi ciam com o desenvolvimento tecnológico e tocam-se entre si na promoção da ligação dos cidadãos à cidade. ¡Joana Marques [email protected] “A partilha de informação permite criar um leque de medidas concretas setoriais” NÃO HÁ SOLUÇÕES MILAGROSAS, MAS EXISTEM ALGUNS BONS EXEMPLOS: BRAGANÇA: está no Top 4 de cidades inteligentes. Bragança abriu portas a um grande evento internacional, e colocou-se num patamar de discussão aberta do papel das cidades periféricas na sociedade, tentan- do encontrar algumas soluções que se ade- quassem à sua própria identidade. ABRANTES: uma cidade com bastan- tes iniciativas na área social, na promoção de produtos locais, e com uma aposta forte na criação de uma economia baseada em sis- temas inteligentes. Aqui as tecnologias são adaptadas às características da cidade. LISBOA: numa cidade grande, por vezes, não é fácil estabelecer conexões entre os de- partamentos, e o conceito de Cidade Inteli- gente toca todas as áreas. Faltava uma ligação entre departamentos e entre os vários serviços e agora conseguiu- -se criar um consenso e estabelecer um caminho a seguir. Atualmente Lisboa é re- conhecida pela União Europeia como uma Cidade Inteligente, e membro do projeto Sharing Cities juntamente com Londres e Milão. LOULÉ: foi a primeira cidade a entrar na rede de cidades criativas. Não utilizou a vertente tecnológica como porta de entrada para o grupo de cidades in- teligentes mas fê-lo por outros meios.

Folha de Portugal - Smart Cities

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Tecnologia, optimização de recursos e bem-estar dos cidadãos. Bem-vindos às cidades inteligentes Ambiente, mobilidade, energia e economia, todas as áreas benefi ciam com o desenvolvimento tecnológico e tocam-se entre si na promoção da ligação dos cidadãos à cidade.

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DOMINGO ¡ 29 maio 2016

folhadeportugal.ptfolhadeportugal.pt » tema capatema capa « 76 DOMINGO ¡ 29 maio 2016

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S e quando ouve falar em Smart Cities, ou Cidades Inteligentes, imagina carros que voam,

robots, estradas aéreas e tudo o que os melhores filmes de ficção nos mostram, esqueça. As cidades estão a fi car inteligentes, e é um facto que a tecnologia tem muito a ver com isso, mas a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos são agora o foco principal.

Vítor Pereira, diretor da revista Smart Cities, e um dos parceiros do evento Zoom Smart Cities que se realizou recentemente em Lisboa, com o objetivo de congregar toda a informação relacionada com cidades inteligentes, acredita que no futuro, uma Cidade Inteligente permitirá “ao cidadão saber que a tecnologia está presente no decorrer do seu dia a dia, para facilitar, mas quase sem se dar por ela”.

“A tecnologia vai entrar naturalmente nas cidades, é um processo irreversível. O que é preciso apostar é num outro tipo de inteligência que diz mais respeito ao planeamento, à interação com os cidadãos, e é aqui que ainda há muito para fazer e muito espaço para desenvolver”, acrescenta.

O que é a Cidade Inteligente?Se há sete ou oito anos atrás o conceito de Smart Cities era puramente tecnológico, relacionado com a digitalização das cidades, com a informatização e, sem dúvida, mais ligado à tecnologia, hoje em dia estamos perante a necessidade de existir um conceito mais abrangente.

“Hoje não há uma definição concreta para Smart Cities. Faz sentido falar sim em Cidade Inteligente e isso

sim é uma congregação de várias coisas.

Em primeiro lugar, a própria tecnologia que torna os sistemas inteligentes, efi cazes e sustentáveis, que possibilita uma optimização de recursos e, consequentemente, melhorar uma série de serviços. Graças à tecnologia, é possível

encontrar alternativas para fazer as mesmas coisas de forma mais célere e mais barata.

Depois há também a própria gestão autárquica, da participação dos cidadãos e dentro de todos estes pontos há outras ramifi cações que se unem em temas como o ambiente, a mobilidade, a energia, a economia, etc”, explica Vítor Pereira.

Dois tipos de cidadeQuem tem mais problemas com o conceito de Smart City, por vezes, é mesmo quem tem que o assumir e tomar decisões. “É necessário haver lideranças inteligentes também e se calhar são mais importantes do que haver sistemas inteligentes”, sublinha.

■A Câmara de Lisboa, integra com Londres e Milão um projeto europeu sobre Cidades Inteligentes, o Sharing Cities, que pretende demonstrar de que forma o uso inovador de tecnologias pode melhorar a vida de quem habita em cidades.

O projeto usufrui de um financiamento da Comissão Europeia de cerca de 25 milhões de euros para desenvolver soluções replicáveis no âmbito da mobilidade, energia, dados e tecnologias de informação e comunicação.

À agência Lusa, o diretor municipal de Economia e Inovação na Câmara de Lisboa, Paulo Carvalho, disse que a estratégia de cidade inteligente “aumenta de uma forma muito signifi cativa a poupança e a efi ciência dos recursos”, desde a gestão da iluminação pública à gestão da água utilizada no município.

Zoom Smart CitiesLisboa recebeu recentemente a conferência Zoom Smart Cities, na qual vários especialistas nacionais e internacionais debateram questões relacionadas com as cidades inteligentes.

Segundo o coordenador do projeto em Lisboa, Rui Franco, os principais problemas que a cidade enfrenta são, as assimetrias e a falta de coesão socioeconómica. Há desafios ao nível da política de habitação e do equilíbrio entre o turismo e a qualidade de vida dos residentes.

Um dos instrumentos responsáveis pelo desenvolvimento da cidade “tem a ver com os dados, ou seja, com a informação que hoje é produzida”, disse à Lusa, defendendo que a disponibilização dos dados existentes sobre a cidade permite criar “um leque infindável de medidas

concretas setoriais”, na área da mobilidade, da efi ciência energética, da recolha dos resíduos urbanos e do turismo.

Web SummitAinda neste âmbito de cariz tecnológico, a capita l vai receber o Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia, empreendedorismo e inovação europeus.

O vereador das Finanças da autarquia, João Paulo Saraiva, afi rmou que a estratégia do município

para ser uma Cidade Inteligente, assenta na partilha de informação, de forma a promover a inovação, contando com a colaboração de organizações, empresas, instituições do terceiro setor e universidades.

“Vai-nos permitir dar um pulo gigante dentro daquilo que é a estratégia de desenvolvimento da cidade”, expressou o autarca à Lusa, sublinhando que a realização em Lisboa do Web Summit é importante para o território e para a dinamização das start-ups e de empresas de matriz tecnológica.

Para o autarca, uma Cidade Inteligente não deve estar exclusivamente empenhada na área tecnológica, pelo que a estratégia de Lisboa tem que se focar na “melhoria da qualidade de vida das pessoas” e ser aplicada como “um factor integrador”. J.M.

Lisboa, uma cidade cada vez mais inteligenteAssimetrias e falta de coesão económica são os principais problemas que a capital portuguesa quer combater com a ajuda da tecnologia.

“Uma cidade é inteligente quando souber, definitivamente, o que fazer e decidir fazê-lo”

Quanto aos modelos a aplicar nas cidades, é fundamental ter em conta o tipo de cidade que está em causa e as suas características.

Hoje em dia as cidades têm a tendência de se imitar umas às outras, mas, na verdade, o que funciona bem numa, pode não ser aplicável na outra.

Em relação a isto, Vítor Pereira destaca dois tipos de cidades. Por um lado, as grandes metrópoles que têm problemas relacionados, sobretudo, com o excesso de população; por outro, as cidades que estão a perder

pessoas e que não estão a progredir nem económica, nem socialmente.

“As grandes cidades são um foco de atração muito intenso. A tendência da população é sair das localidades mais pequenas e dirigirem-se para as grandes cidades. Estas têm que ter os meios e as infraestruturas necessárias para receber as pessoas e para dar resposta a uma série de problemas, sejam eles de foro social ou de gestão de recursos.

Há outro tipo de cidade, muito mais complicada de trabalhar que é aquela que está a perder pessoas, que está a sair da rota dos grandes investimentos, que não consegue nem manter nem captar talento.

Muitas vezes isto acontece porque as receitas que estão a ser aplicadas nestes sítios são as mesmas que se

utilizam nas grandes metrópoles, o que não faz sentido. São dois tipos de cidades diferentes, com diferentes características e problemas distintos”, esclarece.

Independentemente do tipo

de cidade e dos seus problemas, para o responsável, é fundamental apostar “numa capacidade de decisão, isto é, decidir o que fazer e tomar medidas, efetivamente. Uma cidade é inteligente quando souber, defi nitivamente, o que fazer e decidir fazê-lo”, conclui Vítor Pereira.

Tecnologia, optimização de recursos e bem-estar dos cidadãos. Bem-vindos às cidades inteligentesAmbiente, mobilidade, energia e economia, todas as áreas benefi ciam com o desenvolvimento tecnológico e tocam-se entre si na promoção da ligação dos cidadãos à cidade.

¡Joana Marques [email protected]

“A partilha de informação permite criar um le que de medidas concretas setoriais”

NÃO HÁ SOLUÇÕES MILAGROSAS, MAS EXISTEM ALGUNS BONS EXEMPLOS:

BRAGANÇA: está no Top 4 de cidades inteligentes. Bragança abriu portas a um grande evento internacional, e colocou-se num patamar de discussão aberta do papel das cidades periféricas na sociedade, tentan-do encontrar algumas soluções que se ade-quassem à sua própria identidade.

ABRANTES: uma cidade com bastan-tes iniciativas na área social, na promoção de produtos locais, e com uma aposta forte na criação de uma economia baseada em sis-temas inteligentes. Aqui as tecnologias são adaptadas às características da cidade.

LISBOA: numa cidade grande, por vezes, não é fácil estabelecer conexões entre os de-partamentos, e o conceito de Cidade Inteli-gente toca todas as áreas.Faltava uma ligação entre departamentos e entre os vários serviços e agora conseguiu--se criar um consenso e estabelecer um caminho a seguir. Atualmente Lisboa é re-conhecida pela União Europeia como uma Cidade Inteligente, e membro do projeto Sharing Cities juntamente com Londres e Milão.

LOULÉ: foi a primeira cidade a entrar na rede de cidades criativas. Não utilizou a vertente tecnológica como porta de entrada para o grupo de cidades in-teligentes mas fê-lo por outros meios.