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Folhas que se 70 Natureza Clube dos Amantes da Natureza O I N F O R M A T I V O O F I C I A L D O A s folhas que decoram sachês aromatizantes, capas de cadernos e bloquinhos de anotação parecem de tecido. Mas são, na verdade, exemplares reais, que caíram das árvores e passaram por um processo chamado de esqueletização – a técnica retira toda a clorofila da folha, deixando apenas o sistema vascular – para ganhar essa aparência. A paulistana Maria Aparecida Barros conheceu o procedimento oito anos atrás, em uma viagem à região de Campos do Jordão, SP, e viu nele a oportunidade que procurava para mudar os rumos de sua vida e também a vida das mulheres dos empregados da fazenda de seu marido em Mogi Mirim, SP. Tradutora por formação, Maria Aparecida se sentia solitária em seu ofício – no qual a convivência se restringia aos livros e computadores. Ela queria interagir com pessoas e, por isso, decidiu aprender o método de esqueletização e promover oficinas sobre o tema na fazenda. Algumas aulas depois, formou um grupo de mulheres com o intuito de realizar experiências com a técnica usando como matéria-prima as folhas de magnólia, seringueira e figueira-religiosa, entre outras espécies encontradas na propriedade rural. Oito anos depois, pode-se dizer que a iniciativa mais que superou as expectativas. O projeto, que ganhou o nome de No artesanato com folhas sem clorofila, a paulistana Cida Barros encontrou uma oportunidade de mudar a própria vida e a das pessoas à sua volta transformam TEXTO E FOTOS A ANA LUÍSA VIEIRA Cida Barros se apaixonou pela arte de transformar folhas por meio da esqueletização

Folhas que se transformam · 2015. 2. 13. · Folhas que se 70 Natureza Clube dos Amantes da Natureza O INFORMATIVO OFICIAL DO A s folhas que decoram sachês aromatizantes, capas

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Folhas que se

70 Natureza

Clube dosAmantes da Natureza

O I N F O R M A T I V O O F I C I A L D O

As folhas que decoram sachês aromatizantes, capas de cadernos e bloquinhos de anotação parecem de tecido. Mas são, na verdade, exemplares reais, que caíram das árvores e passaram

por um processo chamado de esqueletização – a técnica retiratoda a clorofila da folha, deixando apenas o sistema vascular –para ganhar essa aparência.

A paulistana Maria Aparecida Barros conheceu oprocedimento oito anos atrás, em uma viagem à região deCampos do Jordão, SP, e viu nele a oportunidade que procurava para mudar os rumos de sua vida e também a vida das mulheres dos empregados da fazenda de seu marido em Mogi Mirim, SP.

Tradutora por formação, Maria Aparecida se sentia solitáriaem seu ofício – no qual a convivência se restringia aos livros ecomputadores. Ela queria interagir com pessoas e, por isso,decidiu aprender o método de esqueletização e promoveroficinas sobre o tema na fazenda. Algumas aulas depois, formouum grupo de mulheres com o intuito de realizar experiênciascom a técnica usando como matéria-prima as folhas demagnólia, seringueira e figueira-religiosa, entre outras espéciesencontradas na propriedade rural.

Oito anos depois, pode-se dizer que a iniciativa mais quesuperou as expectativas. O projeto, que ganhou o nome de

No artesanato com folhas sem clorofila, a paulistana Cida Barros encontrou umaoportunidade de mudar a própria vida e a das pessoas à sua volta

transformam

TEXTO E FOTOS AANA LUÍSA VIEIRA

Cida Barros seapaixonou pela arte detransformar folhas por

meio da esqueletização

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Natureza 71

SkeletonLeaves, não só fez surgir verdadeiras artesãscomo mudou a percepção das mulheres sobre aNatureza e a vida. Hoje, elas vendem seus trabalhos nomercado de artesanato brasileiro e recebem até algumasencomendas de fora do País.

PPROCESSO PRODUTIVO A receita que o grupo utiliza para esqueletizar as

folhas é relativamente simples: elas são coletadas ecozidas em um banho fervente com água alcalinizada.Nesse processo, boa parte da clorofila se desmancha. Oque sobra é apenas o sistema vascular das lâminas.Depois, passam por uma última lavagem para removerpossíveis resíduos de clorofila e estão prontas parasecar no varal – etapa que costuma durar um dia.

O próximo passo depende do resultado que sedeseja obter: se forem folhas coloridas, elas passam porum processo de descoloração com substâncias químicase, posteriormente, tingimento – feito com tinta têxtil.Caso contrário, são aproveitadas na cor natural daesqueletização: um tom pálido de bege.

Nas mãos das artesãs, as folhas se transformam emprodutos variados e até em flores – elas ganhamdetalhes em madeira e acrílico e passam a adornararranjos, anéis, gargantilhas, broches, presilhas e peçasdecorativas com preços que variam entre R$ 7 e R$ 12.

O processo que transforma as folhas em peças de artesanato inclui a retirada da clorofila e o tingimento

MUDANÇAS E PLANOS FUTUROSSegundo Cida, cerca de 60% do montante obtido com

as vendas é investido na compra de insumos para acomposição de novas peças e o pagamento de taxas paraa participação do grupo em feiras de decoração,paisagismo e artesanato. Os outros 40% são revertidosem renda para as artesãs. O maior ganho, entretanto, nãose mede em cifras: “O processo produtivo ensina a lidarcom valores como calma, delicadeza e paciência. Alémdisso, a descoberta da importância do trabalhotransforma a vida das pessoas e interfere na autoestimadelas”, conta.

A própria Cida se diz mudada: “Sempre tive muitaproximidade com a Natureza, mas depois do início doprojeto eu aprendi mais sobre plantio e manejo legal deáreas naturais, para que pudéssemos seguir adiante com aesqueletização sem causar nenhum dano ao meioambiente”, ressalta.

Para 2014, o grupo prepara a coleção Saíra, inspiradaem um pássaro homônimo. Peças confeccionadas comfolhas tingidas em tons vivos de verde, amarelo e azul –típicos das penas da ave – farão parte da linha. De resto, oplano é angariar cada vez mais adeptos à prática deconservar as belezas da Natureza. Para obter outrasinformações sobre o trabalho das artesãs, acesse o sitewww.skeletonleaves.com.br.

Vidrosperfumeiros,cartões ebloquinhos deanotação sãoalguns dosprodutos feitoscom as folhasesqueletizadas

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