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COLEÇÃO OFICINAS DA HISTÓRIA VOL. i Direção: Edgar Salvadoride Decca A FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA INGLESA --I-- A árvore da liberdade E. P. THOMPSON Tradução: Denise Bottmann . I , , ~ PAZ E TERRA

Formação Da Classe Operária Inglesa - Thompson

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Page 1: Formação Da Classe Operária Inglesa - Thompson

COLEÇÃOOFICINAS DA HISTÓRIA

VOL. iDireção: Edgar Salvadoride Decca

A FORMAÇÃODA CLASSE OPERÁRIA

INGLESA--I--A árvore da liberdade

E. P.THOMPSON

Tradução:Denise Bottmann

. I,,

~PAZ E TERRA

Page 2: Formação Da Classe Operária Inglesa - Thompson

Copyright by". P. Thompson, 1963, 1968Título original em inglês:

The Making of lhe English Working Class

CapaIsabel Carballo

RevisãoArs Typographica

Editora e Assessoria Ltda.1.' edição: maio/87

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.Sihdicato Nacional dos Editores de Livros. RJ.

"Vocês estão lutando contra os Inimigos da Raçahumana, não simplesmente por vocês, pois podemnão chegar a ver o pleno Dia da Liberdade, maspela Criança que trazem ao Seio."

Instruções da Sociedade Londrina de Corres-pondência a seus delegados, 1796

Thompson, Edward P.T39f A formação da classe operária / Edward P.

Thompson; tradução Denise Bottmann. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1987.

3v. (Coleção Oficinas da história, v.L)

Tradução de: The making of the english workingclass.

Conteúdo: _ v.!. A árvore da liberdade. - v.2. Amaldição de Adão. - v.3. A força dos trabalhadores.

1. Trabalho e trabalhadores - Grã-Bretanha. 1.Titulo. lI. Série.

"A Besta e a Prostituta governam desenfreadamente."William Blake, 1798

87-0112CDD-331.0941CDU-331(941l

Direitos adquiridos pelaEDITORA PAZ E TERRA S/A

Rua São José, 90,11.° andarCentro, Rio de Janeiro. RI

Tel.: 221-4066

Rua do Triunfo, 177Santa Ifigênia, São Paulo. SP

TeJ.: 223-6522

Conselho EditorialAntonio Candido

Celso FurtadoFernando Gasparian

Fernando Henrique Cardoso

1987Impresso no Brasil/ Printed in Brazil

Page 3: Formação Da Classe Operária Inglesa - Thompson

/PREFÁCIO

P~II- livro tem um título um tanto desajeitado, mas adequadoli! ~11I1propósito. Fazer-se", porque é um estudo sobre um processo1111'11,1111\'se deve tanto à ação humana como aos condicionamen-

111' ,\ 1'luNHeoperária não surgiu tal como o sol numa hora deter-iillllllllll lilfl estava presente ao seu próprio fazer-se.

'11101'01'(', C não classes, por razões cujo exame constitui umI"I~Itllll'llvos deste livro. Evidentemente, há uma diferença. "Clas-

unhulhadotas" é um termo descritivo, tão esclarecedor quanto1.11'11 Reúne vagamente um amontoado de fenômenos descontí-

i\lIt'l~ i\ 11 estavam alfaiates e acolá tecelãos, e juntos constituem,. i III"NI.\~trabalhadoras.

11111'classe, entendo um fenômeno histórico, que unifica uma1'111 til' ncontecimentos díspares e aparentemente desconectados,

""1111 1111matéria-prima da experiência como na consciência. Res-Idlll IIlll' Ú um fenômeno histórico. Não vejo a classe como umaI ',11111111'11",nem mesmo como uma "categoria", mas como algo

'1"1 III'III'I'C efetivamente (e cuja ocorrência pode ser demonstrada)11I" II'III~C)CS humanas.

AIiI'IlHlis, a noção de classe traz consigo a noção de relaçãoliI~tlldl'll. Como qualquer outra relação. é algo fluido que escapa

I1 1111110original do livro é The Making oi lhe English Working Class.1'[11 vIII'lllHrazões, optou-se pelo título brasileiro A' Formação da Classe11/I"lllltI Inglesa, No entanto, a palavra "formação" perde em muito o"I'lIlllIdll subjetivo e processual de "making": ao substantivar o gerúndio,10 "1 1111I1.(1, o autor pretende, efetiva '" conscientemente, ressaltar esse mo-1111111111de "autofazer-se " das classes sociais ao longo da história. Mantive-

111'" /1/;/11' 81' neste prefácio, onde o leitor poderá captar melhor a intenção.I. 1IltllllllHon e sua referência a "um título um tanto desajeitado". Outra"II~IIII 11(- tradução que talvez mereça um esclarecimento é a de "workingli'." I1 expressão tem claramente o sentido determinado de "classe ope-

Ilillll H Ouuudo o autor se refere às "classes trabalhadoras" em sentidoiil,tI. IlIlIplü c vago. emprega a expressão "working classes". (NT)

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à análise ao tentarmos imobilizá-Ia num dado momento e dissecarsua estrutura. A mais fina rede sociológica não consegue nos ofe--recer um exemplar puro de classe, como tampouco um do amorou da submissão. A relação precisa estar sempre encarnada empcs oa e contextos reais. Além disso, não podemos ter duas elas-

. distintas, cada qual com um ser independente, colocando-asa eguir em relação recíproca. Não podemos ter amor sem aman-tes, nem submissão sem senhores rurais e camponeses. A classeacontece quando alguns homens, como resultado de experiências .comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a identidadede seus interesses entre si, e contra outros homens cujos inte-resses diferem (e geralmente se opõem) dos seus. A experiência declasse é determinada, em grande medida, pelas relações de produ-ção em que os homens nasceram - ou entraram involuntaria-mente. A consciência de classe é a forma como essas experiênciassão tratadas em termos culturais: encarnadas em tradições, siste-mas de valores, idéias e formas institucionais. Se a experiênciaaparece como determinada, o mesmo não ocorre com a consciên-cia de classe. Podemos ver uma lógica nas reações de grupos pro-fissionais semelhantes que vivem experiências parecidas, mas nãopodemos predicar nenhuma lei. A consciência de classe surge damesma forma em tempos e lugares diferentes, mas nunca exata-mente da mesma forma.

Existe atualmente uma tentação generalizada em se supor quea classe é uma coisa. Não era esse o significado em Marx, emseus escritos históricos, mas o erro deturpa muitos textos "mar-xistas" contemporâneos. "Ela", a classe operária, é tomada comotendo uma existência real, capaz de ser definida quase matematica-mente - uma quantidade de homens que se encontra numa certaproporção com os meios de produção. Uma vez isso assumido,torna-se possível deduzir a consciência de classe que "ela" deveriater (mas raramente tem), se estivesse adequadamente conscientede sua própria posição e interesses reais. Há uma superestruturacultural, por onde esse reconhecimento desponta sob formas ine-ficazes. Essas "defasagens" e dístorções culturais constituem umincômodo, de modo que é mais fácil passar para alguma teoriasubstitutiva: o partido, a seita ou o teórico que desvenda a cons-ciência de classe, não como ela é, mas como deveria ser.

Mas um erro semelhante é diariamente cometido do outrolud da divisória ideológica. Sob uma forma, é uma negação pura, simples. Como a tosca noção de classe atribuída a Marx pod

er criticada sem dificuldades, assume-se que qualquer noção de'Iasse é uma construção teórica pejorativa, imposta às evidências,N ga-se absolutamente a existência da classe, Sob outra forma epor uma inversão curiosa, é possível passar de uma visão dinâ-ml 'o par~ uma visão estática de classe. "Ela" - a classe operá-riu - existe, e pode ser definida com alguma precisão como com-ponente d.a estrutura social. A consciência de classe, porém, é algodnninho, mventado por intelectuais deslocados, visto que tudo o1111' perturba a coexistência harmoniosa de grupos que desempe-uhum diferentes "papéis sociais" (assim retardando o crescimentot· '011 mico) deve ser lamentado como um "sintoma de motim injus-t I .ado".' O problema consiste em determinar a melhor formati .ondicioná-t'Ia", para que aceite seu papel social, e de melhor"t rutur e canalizar" suas queixas.

e lembramos que a classe é uma relação, e não uma coisa,11 li po~emos pensar dessa maneira. "Ela" não existe, nem parah I' um mteresse ou uma consciência ideal, nem para se estenderuuno .um. paciente na mesa de operações de ajuste. Tampouco1'1 I mos inverter as questões, tal como fez uma autoridade no

unto q~e (num es!u.do de classe obsessivamente preocupado1111I questões metodológicas, excluindo o exame de qualquer situa-

11 I' 01 de classe num contexto histórico real) nos informou:

As classes se baseiam nas diferenças de poder legítimo associadoli certas posições, i.é, na estrutura de papéis sociais em relação alias expectativas de autoridade. ... Um indivíduo torna-se mem-

hr de uma classe ao desempenhar um papel social relevante dop nto de vista da autoridade .... Ele pertence a' uma classe por-qu ocupa uma posição numa organização social; i.é, ó perten-cimento a uma classe é derivado da incumbência de um papelli 'ial.2

Evidentemente, a questão é como o indivíduo veio a ocupar"papel social" e como a organização social específica (com

u direitos de propriedade e estrutura de autoridade) aí chegou.111 suo questões históricas. Se detemos a história num determi-

t 11111 1\ implo que aborda o período referente a este livro, pode ser encon-11 1111 1111. Il'lIbal~o de um colega do Professor Taleott Parsons: N. J. Smelser,

111M ( ',unge tn the Industrial Revolution, 1959.I Dnhrcndorf, Class and Class Conflict in Industrial Society 1959I "li. ' ,

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nado ponto, não há. classes, mas simplesmente uma multidão deindivíduos com um amontoado de experiências. Mas se examinar-m s cs es homens durante um período adequado de mudançasicciais. observaremos padrões em suas relações, suas idéias e ins-tituições. A classe é definida pelos homens enquanto vivem suaprópria história e, ao final, esta é sua única definição.

e mostrei um entendimento insuficiente das preocupaçõesmctodológicas de certos sociólogos, espero, no entanto, que estelivro seja tomado como uma contribuição para a compreensão daclasse. Pois estou convencido de que não podemos -entender aclasse a menos que a vejamos como uma formação social e cul-tural, surgindo de processos que só podem ser estudados quandoeles mesmos operam durante um considerável período histórico.Nos anos entre 1780 e 1832 os trabalhadores ingleses em suamaioria vieram a sentir uma identidade de interesses entre si, econtra seus dirigentes e empregadores. Essa classe dirigente estava,ela própria, muito dividida, e de fato só conseguiu maior coesãonesses mesmos anos porque certos antagonismos se dissolveram(ou se tornaram relativamente insignificantes) frente a uma classeoperária insurgente. Portanto, a presença operária foi, em 1832,o fator mais significativo da vida política britânica.

Assim está escrito o livro. Na Parte I, trato das tradiçõespopulares vigentes no século 18 que influenciaram a fundamentalagitação jacobina dos anos 1790. Na Parte 11, passo das influên-cias subjetivas para as objetivas - as experiências de grupos detrabalhadores durante a Revolução Industrial que me parecem deespecial relevância. Tento também avaliar o caráter da nova dis-ciplina industrial do trabalho e da posição, a esse respeito, da.Igreja Metodista. Na- Parte 111, recolho a história do radicalismoplebeu, levando-a, através do luddismo, até a época heróica no finaldas Guerras Napoleônicas. Finalmente, discuto alguns aspectos dateoria política e da consciência de classe nos anos 1820 e 1830.

Este é antes um conjunto de estudos sobre temas correlatosdo que uma narrativa seqüenciada. Ao selecionar os temas, estavaciente de, por vezes, escrever contra o peso de ortodoxias predo-minantes. Há a ortodoxia fabiana, onde os trabalhadores em suagrande maioria são vistos como vítimas passivas do laissez-faire,com a exceção de alguns organizadores com uma visão de longoalcance (especialmente Francis Place). Há a ortodoxia dos histo-riadores econômicos empíricos, onde os trabalhadores são vistoscomo força de trabalho, migrantes ou dados de séries estatísticas.

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Iló a ortodoxia do "Progresso do Peregrino", onde aquele período( esquadrinhado em busca de pioneiros precursores do Estado doB .m-Bstar Social, progenitores de uma Comunidade Socialista ou(mais recentemente) precoces exemplares de relações industriais'I' 1 .ionais. Cada uma dessas ortodoxias tem uma certa validade.Todas contribuíram para nosso conhecimento. Discordo dás d~asprimeiras porque tendem a obscurecer a atuação dos trabalhado-r 'S, e o grau com que contribuíram com esforços conscientes, nofuzcr-se da história. Discordo da terceira porque lê a história àlux de preocupações posteriores, e não como de fato ocorreu. .Ape-I1US os vitoriosos (no sentido daqueles cujas aspirações antecipa-l'UI11 a evolução posterior) são lembrados. Os becos sem saída, ascausas perdidas e os próprios perdedores são esquecidos.

Estou tentando resgatar o pobre tecelão de malhas, o meeiroluddita, o tecelão do "obsoleto" tear manual, o artesão "utópico"(' mesmo o iludido seguidor de Joanna Southcott, dos imensos aresupcriores de condescendência da posteridade. Seus ofícios e tra-

dições podiam estar desaparecendo. Sua hostilidade frente ao novoindustrialismo podia ser retrógrada. Seus ideais comunitários po-diam ser fantasiosos. Suas conspirações insurrecionais podiam serI -mcrárias, Mas eles viveram nesses tempos de aguda perturbaçãoocial, e nós não. Suas aspirações eram válidas nos termos de sua

própria experiência; se foram vítimas acidentais da história con-tinuam a ser, condenados em vida, vítimas acidentais. '

Não deveríamos ter como único critério de julgamento o fatoti, as ações de um homem se justificarem, ou não, à luz da evolu-ÇIlO posterior. Afinal de contas, nós mesmos não estamos no finallu evolução social. Podemos descobrir, em algumas+das causasperdidas do povo da Revolução Industrial, percepções de malessociais que ainda estão por curar. Além disso, a maior parte domundo ainda hoje passa por problemas de industrializacão e deformação de instituições democráticas, sob muitos aspectos seme-lhantes à nossa própria experiência durante a Revolução Indus-trial. Causas que foram perdidas na Inglaterra poderiam ser ganhasna Ásia ou na África. .

Finalmente, uma nota de desculpas aos leitores escoceses egaleses. Negligenciei essas histórias, não por chauvinismo, mas porI' speito. Visto que a classe é uma formação tanto cultural comoeconômica, tive o cuidado de evitar generalizações para além daexperiência inglesa. (Tratei dos irlandeses não na Irlanda, masnquanto imigrantes na Inglaterra.) O registro escocês, em parti-

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cular é t o dramático e atormentado como o nosso. A agitaçãojacob'iiul escocesa foi mais intensa e mais herói~a: Mas a_hist~riac c a significativamente diferente. O calvinismo nao fOI om 1)10que o metodismo, embora seja difícil dizer qual dos dois'I'H pl r nó início do século 19. Não tivemos na Inglaterra ne-ill 'um campesinato comparável aos migrantes das Terras Altas. Eo .ultura popular era muito diferente. B possível, pelo menos até08 anos 1820, considerar como distintas as experiências inglesac escocesa, visto que os laços sindicais e políticos eram incons-tantes e imaturos.

Este livro foi redigido em Yorkshire, e vem por vezes tingidopelas fontes de West Riding. Devo meus agradecimentos à Un~-versidade de Leeds e ao professor S. G. Raybould por me permi-tirem, alguns anos atrás, iniciar a pesquisa que aqui desembocou;e aos membros da Fundação Leverhulme pela concessão de umabolsa de pesquisa, que me permitiu concluir a obra. Também aprendimuito com estudantes de minhas turmas, com quem discuti muitosdos temas aqui tratados. Devo agradecimentos também às entidadesque me permitiram citar fontes manuscritas e impressas: os agra-decimentos específicos se encontram no final da primeira edição.

Também tenho de agradecer a muitas outras pessoas. Chris-topher Hill, professor Asa Briggs e [ohn Saville fizeram críticasa partes do rascunho, embora não sejam de modo algum respon-sáveis pelos meus julgamentos. R. W. Harris demonstrou umagrande paciência editorial, quando o livro ultrapassou os limitesde uma série onde inicialmente se ilitCluiria. Perry Anderson, DenisButt, Richard Cobb, Henry Collins, Derrick Crossley, Tim Enright,dr. E. P. Hennock, Rex Russell, dr. [ohn Rex, dr. E. Sigsworth eH. O. E. Swift me ajudaram em diversos pontos. Agradeço tam-bém a Dorothy Thompson, historiadora com quem estou ligadopelo acidente do casamento. Cada capítulo foi discutido com ela,e eu estava numa boa posição para tomar de empréstimo não sósuas idéias, como o material de suas anotações. Sua colaboraçãose encontra, não neste ou naquele ponto em particular, mas naforma de encarar todo o problema.

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NÚMERO ILIMITADO DE MEMBROS

"Que o número de nossos Membros seja ilimitado." Esta éu primeira das "diretrizes" da Sociedade Londrina de Correspon-d ncia tLondon Corresponding Society), assim citada pelo seu Se-.rctãrio, ao iniciar correspondência com uma sociedade similarIII heffield, em março de 1792.1 O primeiro encontro da socie-

dudc londrina ocorrera dois meses antes, numa taverna nos arre-dOI' s da Strand ("O Sino", em Exeter Street), com a presença denove "homens bem-intencionados, sóbrios e industriosos". Maisinrdc, seu fundador e primeiro secretário, Thomas Hardy, reme,1II000uvao encontro:

Após terem jantado pão, queijo e cerveja, como de hábito, e fu-mado seus cachimbos, com um pouco de conversa sobre a durezados tempos e o alto preço de todas as coisas necessárias à vida. .. veio à tona o assunto que ali os reunira - a Reforma Par-lamentar -, um tema importante a ser tratado e deliberado portal tipo de gente.

Naquela noite, oito dos nove presentes se tornaram membroslundadores (o nono refletiu e se uniu a eles na semana seguinte)

pagaram sua primeira subscrição semanal de um pêni. Hardy(qu era também o tesoureiro) voltou para sua casa, no númeronove da Piccadilly, com todos os fundos da organização em seu11111 : oito penies para o papel destinado à correspondência comrupos de idéias semelhantes no país. .

Ao cabo de uma quinzena, estavam registrados vinte e cinco11Imbros, e a soma em mãos do tesoureiro subia a quatro xelins

UIl1pêni. (Seis meses depois, a associação anunciava ter mais.000 membros.) A admissão era simples, e o teste consistia

Halifax, agosto de 1963

t M moir oi Thomas Hardy ... Written by Himself (1832)/ p. 16.

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numa respo ta afirmativa a três perguntas, das quais a mais im-portan te era:

Você está totalmente convencido de que o bem-estar destes reinosexige que cada adulto, em posse de sua razão e sem impedimentocriminal, possa votar para um Membro do Parlamento?

No primeiro mês' de sua existência, a sociedade, po:, cinconoites seguidas, debateu a questão: "Nós, que somos artesaos, lo-jistas e artífices mecânicos, temos algum direito a obter u~a Re-forma Parlamentar?", tomando-a "de todos os pontos de vista deque somos capazes de apresentar o tema a nossas mentes" Deci-diram que tinham tal direito.

Dois anos depois, a 12 de maio de 1794, o mensa?e~ro real,dois oficiais de justiça, o secretário particular do ministro doInterior, Dundas, e outros dignitários chegaram ao número nove ~aPiccadilly, para prender Thomas Hardy, sapateiro, sob acusaçaode alta traição. Os Hardy ficaram a olhar, enq~a?t.o os age?tespúblicos revistavam a sala, arrombavam um escritório, remexiamnas roupas da Sra. Hardy (ela estava grávida e permaneceu nofeito) e enchiam quatro grandes lenços de seda com ~arta~ e ~msaco com panfletos, livros e manuscritos. No mesmo dia fOI envia-da uma mensagem especial do Rei para a Câmara dos CO~u?S,relativa às práticas sediciosas das Sociedades de Correspondência:dois dias depois, foi designada uma Comissão de Assuntos Con-fidenciais da Câmara para o exame dos papéis do sapateiro.

O sapateiro foi interro~ado várias vezes pelo próprio Conse-lho Privado. Hardy pouco registro deixou desses enco?tros; masum de seus companheiros de prisão entreteve seus lelÍor~s comuma reconstrução dramática do seu próprio Interrogatório peloconselho mais elevado da região. "Fui chamado a entrar", contavaIohn Thelwall, "e contemplei o elenco de Dramatis Personae e~-trincheiradas e afundadas até o queixo em Leituras e manuscn-tos ... todos espalhados na maior confusão". O lorde chanceler,o Ministro do Interior e o primeiro-ministro (Pitt) estavam todospresentes:

Procurador Geral (piano): Sr. Thelwall, qual é 'seu nome de ba-tismo?T. (um tanto soturnamente): John.., .?P.G. (ainda piano): ... Com um ou dois eles no fmal.

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T: Com dois, mas isso não importa. (Com indiferença, ou antesmau humor, ou algo assim.) Você não precisa se dar ao trabalho.Não pretendo responder a nenhuma pergunta.Pitt: O que diz ele? (Disparando furiosamente do outro lado dasala e vindo se sentar ao lado do Chanceler.)Lorde chanceler (com uma suavidade persuasiva, quase se dis-s Ivendo num sussurro): Ele não tenciona responder a nenhumapergunta.Pitr: O que é isso? O que é isso? O quê? (furiosamente) ... 2

I hn Thelwall, então, deu as costas à augusta companhia e"I'(lI1l .cc: a contemplar uma aquarela". O primeiro-ministro o dis-IH'II~(li e intimou para o interrogatório um rapaz de catorze anos,Ih'III'Y Eaton, que vivera com os Thelwall. Mas o garoto se man-I1VI' firme e "começou uma arenga política onde usou uma lin-pllllPl'1I1 muito áspera contra o Sr. Pitt, censurando-o por ter Ian-I IIdlI .normes impostos sobre o povo ... " ~.

Pelo padrões dos cem anos seguintes, os antagonistas pare-1I I1I ler sido estranhamente amadores e incertos quanto ao seuIIIIPl'l. ensaiando em confrontos curiosamente pessoais o que se-111111Ios embates massivos impessoais do futuro." Misturam-se civi-Ildll!! . e malignidade; ainda há espaço para atos de gentileza pes-11111,11 lado da malícia do ódio de classe. Thelwall, Hardy e

dl'/ outros prisioneiros foram encaminhados para a Torre e depois/1"111Ncwgate. Enquanto esteve lá, Thelwall ficou por um tempoI 1IIII'IIluelOno ossuário, e a Sra. Hardy morreu durante o parto, emI 111I'il'qüência do choque sofrido ao ter sua casa sitiada por umaIllIhu ti gritos de "Igreja e Rei". O Conselho Privado determi-I11111que se insistisse na acusação de ..alta traição: a pena máximaplll' I um traidor era a de ser pendurado pelo pescoço, retirado1I111dllvivo, estripado (e as entranhas queimadas à sua frente) e11111111decapitado e esquartejado. Um Grande Júri de cidadãos

[

, t rlbune, 4 de abril de 1795. Compare-se com a ata do Conselho Privado1""1' o interrogatório de ThelwaIl: "Sendo indagado pelo Escrivão do Cano111111obre como se soletrava o seu nome - Respondeu: ele podia soletrar

11111111bem quisesse, pois ele não responderia a perguntas de nenhumaI 1'11!t·... ", T. S. Ir. 3509, f. 83.

Murning Post, 16 de maio de 1794.I I\lul tarde, quando o jacobino [ohn Binns foi preso sem julgamento, no'I h,l" de Gloucester, o Ministro do Interior, sua esposa e duas filhas

II 1111111lhe Limavisita de cortesia.

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respeitáveis não teve estômago para isso. Após nove dias de julga-mento, Hardy foi absolvido (no Dia de Guy Fawkes de 1794).O primeiro jurado desmaiou após pronunciar o seu "Não Culpa-do", e a mul tidão londrina foi tomada de um entusiasmo selva-gem e carregou Hardy em triunfo pelas ruas. Seguiram-se as absol-vições de Horne Tooke e Thelwall, e a anulação dos outros pro-cessos. Mas as comemorações da multidão eram prematuras. Noano seguinte, renovou-se a dura repressão contra os reforma dores(ou "jacobinos"). E no final da década era como se toda a agita-ção tivesse se dispersado. A Sociedade Londrina de Correspon-dência fora proscrita. Direitos do Homem de Tom Paine foi proi-bido. Proibidas também as reuniões. Hardy dirigia então uma sa-pataria perto de Covent Garden, recorrendo a antigos reforma-dores para que o ajudassem em paga de seus serviços passados.[ohn Thelwall havia se retirado para uma chácara isolada, naGales do Sul. No final das contas, parecia que "artesãos, lojistase artífices mecânicos" não tinham o direito de obter uma Reforma

Parlamentar.Muitas vezes a Sociedade Londrina de Correspondência foi

apresentada como a primeira organização política de perfil operá-rio definido da Grã-Bretanha. Pedantismo à parte (as sociedadesde Sheffield, Derby e Manchester foram formadas antes da deLondres), essa afirmação requer um esclarecimento. Por um lado,sociedades de debate com a participação de trabalhadores exis-tiam esporadicamente em Londres desde a época da Guerra Ame-ricana. Por outro lado, talvez seja mais preciso pensar a SLC comouma sociedade antes "radical popular" do que "operária".

Hardy certamente era um artesão. Nascido em 1752, foi apren-diz de sapateiro em Stirlingshire; teve mostras do novo industria-lismo como pedreiro na Fundição de Ferro Carron (quase morreuquando despencou o andaime onde trabalhava, na casa de Roebuck,o mestre de fundição); e veio jovem para Londres, logo antes daGuerra Americana. Lá trabalhou num desses numerosos ofícios emque o artesão aspira a se tornar independente e, com sorte, a setornar ele mesmo um mestre - tal como finalmente aconteceucom Hardy. Casou-se com a filha de um carpinteiro e construtor.Um de seus colegas, presidente da SLC, era Francis Place, emvias de se tornar mestre alfaiate. Muitas vezes cruzava-se a fron-teira entre o oficial e os pequenos mestres. Os Oficiais Botoeirose Sapateiros foram contra Hardy, em seu novo papel de pequenopatrão, em 1795, ao passo que Francis Place, antes de se tornar

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mestre alf . t . d. ala e, aju ou a organizar uma greve dos Ofi .. C 1cetros em 1793 E f . rcrais a -. . . ..a ronteíra entre o artesão com estatuto inde-pendente ..(cuja oficina era ao mesmo tempo sua "1 . ")queno lojista era ainda mais indistinta H' oja e o pe-até o mundo d . avia um outro passo daíSharp e WiHiar:sBl~~va~ore~ por conta própria, como William

sores e ~orna1istas, do:' cirO:r;~~sre:s~~::ig~Sb~~is~~~~:;e~os profes-

, .Asslm, por um lado, a Sociedade Londrina d Cdência alcançava os cafés tavernas . . .. e orrespon-dores de Piccadill FI 's e Igrejas dissidentes nos arre-data podia se ladea ee~ treet e Strand, onde o oficial autodi-jovem advogado. ;~r a~~:;r~~~~, aollotjista, ao gravador. ou ao

ti . . ' a es e e ao sul do no ela~i~~r::nh~s c~;lUmdad.es operárias _mais antigas: os trabalhadores

. Wapping, os tecelões em seda de Spitalfieldantigo baluarte dissidente de Southwark P d s, o"Lo~dres. Radical" sempre foi mais heter'ogê~:a ~z;l:ti~sa ::s~e~perfil SOCial e profissional do que os centros das Midlands ou dn rt~, agrupados em torno de duas ou três indústrias básicas Ao~I:lov~mentos .populares em Londres muitas vezes faltaram a'I neta e o vigor resultantes do envolvimento de tod coe-nidade e t _ . . a uma comu-lida d m ~nsoes ~oclals e profissionais coletivas. Em contrapar-

." ,e mo. o gera estavam mais sujeitos a motivacões "ideais"mte ectuais, Em Londr . , ,

nudiência do que no nort:s, ~ prd~pa~landa lldeol.ogica teve maior. ra ica tsrno ondrino logo ad "

muior sofisticação, devido à necessidade d . ,. .qU1~lUIIl1m movimento comum Teori e unir vanas agitações

ti I' . nas novas e novos argumentos emI se uniam antes ao movime t 1ti lá se dif di n o popu ar em Londres, e então

un Iam para os centros provinciais.~ SLC fo~ um desses pontos de junção. Lembremos u

prlmciro organizador vivia em Piccadill _ q. e seu11I Southwark. Mas há tracos y, : ?ao em ~~ppmg ou

I 1'1111iros encontros que i~di~=smo na. rápida ddescnçao de seus, . . _' o surgímento e um novo tipo

t 01gamzaçao - tracos que nos . dI III de 1790-1850) , aju am a esclarecer (no con-I I . a natureza de uma "organização operária"11 I: ~~~:~hador como dsecretário. Eis a baixa subscrição semanal'

I ruzamento . e temas políticos e econômicos - "a d .t ,'111 os tempos" e a Reforma Parlamentar. Eis a funcão da u-ti 11, lunt~ como ocasião social quanto centro para ~ ativi;:~~I 1I ·U. ,~IS a. atenção realista para as formalidades de rocediI 111 ' Eis, acima de tudo. a determinação de propagar opiniões ~

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de organizar os adeptos, contida na diretriz: "Que o número denossos Membros seja ilimitado".

Hoje poderíamos passar por tal norma como se fosse um lu-gar-comum: no entanto, é um dos eixos onde gira a história. Signi-fica o término de qualquer noção de exclusividade, de políticacomo reserva de uma elite hereditária ou de um grupo proprietário.Assentir a esta norma significava que a SLC voltava as costas à

. identificação secular entre direitos políticos e direitos de proprie-dade - voltava-se também contra o radicalismo do tempo de"Wilkes e liberdade", quando "a Turba" não se organizava embusca de seus próprios fins, mas era chamada à ação espasmódicapor uma facção - ainda que uma facção radical -, para fortale-cer sua posição e atemorizar as autoridades. Abrir as portas à pro-paganda e à agitação, dessa forma "ilimitada", implicava uma novanoção de democracia, que punha de lado as velhas inibições econfiava nos processos de auto-ativação e auto-organização da gentesimples. Tal desafio revolucionário estava destinado a levar à acusa-ção de alta traição.

Tal desafio certamente havia sido levantado antes - peloslevellers do século 17. E a questão fora suscitada entre os oficiaisde Cromwell e os agitadores do exército, em termos que prenun-ciavam os conflitos da década de 1790. No debate decisivo dePutney," os representantes dos soldados sustentavam que, vistoterem obtido a vitória, eles mereciam se beneficiar de amplosufrágio popular. É bem conhecida a reivindicação do coronelleveller Rainborough:

Em t~das as principais coisas que defendo, estou muito atento àpropriedade. Espero que não venhamos a disputar a vitória _mas, qu~ ~ada homem considere consigo mesmo que não preten-der.a eliminar toda a propriedade. Pois este é o caso da partemais fund~menta~ ~a constituição do reino, e se vocês a elimi-nam, com ISSO eliminam tudo o mais.

. "Se se admitisse qualquer homem que viva e respire" con-,t,l.nuou ele, poderia se eleger para os Comuns uma maioria sem

interesse local permanente". "Por que tais homens não votariamcontr~ toda propriedade? '" Mostrem-me a que ponto vocês sedeteriam e., so~ .tal ~ov~rno, ?rotegeriam algum proprietário."

Ess~ IdentIfIca~ao irrestrita entre direitos políticos e direitosde propriedade SUSCItOUásperas discussões. De Sexby:

Muitos milhares dentre nós, soldados, arriscamos nossas vidas'c.omo terras. n~ssas, pouca propriedade temos tido no reino, ma~tivemos o d~elto de nascimento. Contudo, agora parece que umhome~, a nao. se: que tenha uma fazenda estabelecida neste rei-no, nao tem direito algum C' , ., .. ... relO que estavamos muitíssimoenganados.

E Rainborough reforçou com ironia:

S~n~or, vejo que é impossível haver liberdade a não ser que seelimine tod.a a propriedade. Se ela é reconhecida por um governo... que assim seja. Mas então eu gostaria de saber pelo que temI~tado o soldado durante todo esse tempo. Ele luta para se escra-vlza~, para dar poder aos homens de fortuna e terras, para fazerde SI um eterno escravo.

Pois eu realmente acho que o homem mais pobre que há naInglaterra tem uma vida para viver, assim como o mais rico; eportanto verdadeiramente penso, senhor, que cada homem quevem a viver sob um governo deveria antes de tudo se pôr, comseu próprio consentimento, sob tal governo ... Eu duvidaria queele fosse um inglês, caso tivesse alguma dúvida sobre tais coisas.

A isso, Ireton ~ _Cromwell responderam com argumentos queparecem uma antevisão da apologética do compromisso de 1688.O soldado ra8~ lutara por. tr~s coisas: a limitação da prerrogativa1,1. I Coro~ ~e VIOlar seus direitos pessoais e liberdade de consciên-cru; ,o. direito de ser governado por representantes, ainda que nãopurucípasse da sua escolha' e a "liberdade d .h di , ' e comerctar paraMlln ar lll?eIrO e adquirir terras" - dessa forma adquirindo di-" ltos .pOlítIcos, .Em tais termos, "Pode haver liberdade e não se11 'strUIr a propriedade",

Após ~?~8, esse compromisso - entre as oligarquias comer-11111 e fundiária - se manteve inconteste por cem anos, embora

A resposta do genro de Cromwell, general Ireton - o porta-V071 dos "Grandes" - foi a de que "nenhuma pessoa tem direitoa interesse ou participação na disposição dos negócios do reino ...se não tiver um interesse permanente estabelecido neste reino".Quando Rainborough o pressionou, Ireton subiu o tom:

5. A. S. P. Woodhouse, Puritanism and Liberty (1938), p, 53 58.

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propriedade privada ou como liberdade pública estará à mercêde uma gentalha furiosa e sem lei"." '

_ É a continuação do velho debate. Aí estão as mesmas aspi-raçoes,. temores e tensões: mas surgem num novo contexto, comnova linguagem e argumentos e num equilíbrio de forças modifi-cad~. _Tentemos entender ambas as coisas - a continuidade dastradições e o ~ontexto que se alterou. E. muito freqüente, vistoque toda narrativa tem que começar de algum ponto q .. ' ue vejamosapenas as COIsas novas. Começamos em 1789 e o' biinglê ' Jaco mismo

es aparece como subproduto da Revolução Francesa. Ou co-meçamos e~ 1819, c,?m Peterloo, e o radicalismo inglês aparececomo geraçao espontanea da Revolução Industrial. A Revol -Frances.a c~rtamente .precipitou uma nova agitação, e certam~~~essa agitação se enraizou entre o operariado modelado po.• . . . ' r novasexpenencias, _ nos distritos manufatureiros em desenvolvimento.Mas a que~t~o permanece: quais eram os elementos tão pronta-mente precipitados por esses acontecimentos? Imediatamente en-contramos as longas tradições dos artesãos e artífices urbanos tãosemelhantes a~ me~u peuple, que George Rudé mostrou ser; ele-mento revolucionário mais volátil na multidão parisiense." Talvezpossamos perceber um pouco das complexidades dessas tradiçõespersistentes se isolarmos três problemas: a tradição da D' idê .difi _ ISSI enctae sua mo I icaçao pelo revivalismo metodista; a tradição composta~o;. todas" a~u~las vagas noções populares que se combinam naIdel~ ~o direito de nascimento" do homem inglês' e a ambígtradição da ".turba" do sé.c~lo 18, temida por Wyvill, e que Har~;tentou organizar em comitês, seções e manifestações responsáveis .

com uma tes itura cada vez mais espessa de corrupção, interessese aquisrc es cujas complexidades foram carinhosamente narradasp r ir Lcwis Narnier e sua escola. O desafio leveller se dissolveul ltllmcnle _ embora freqüentemente se invocasse o espectro deuma r vivescência leveller, como a Cila para a Caribde dos papis-ta e jacobistas. por onde o belo barco da Constituição guiaria seucurso. Mas, até o último quartel do século 18, os moderados im-pulsos republicanos e libertários do republicanista (Common-wealthsman) .parecem ter se imobilizado nos limites definidos porIreton." Ler as controvérsias dos anos 1790 entre reformadores eautoridades, e entre os diferentes grupos reformadores, é ver res-suscitarem os Debates de Putney. O "homem mais pobre" da Ingla-terra, o homem com o "direito de nascimento" se convertem nosDireitos do Homem, enquanto que a agitação de um "númeroilimitado" de membros é vista por Burke como a ameaça da "mul-tidão porca". A grande organização semi-oficial para a intimida-ção dos reforma dores se chamava "Associação para a Proteção daLiberdade e Propriedade contra Republicanos e Levellers". Omoderado reformador de Yorkshire, reverendo Christopher Wyvill,sobre cuja piedade não cabem dúvidas, acreditava, contudo, queuma reforma fundada no princípio do voto universal "não poderia'se efetivar sem uma Guerra Civil":

Em épocas de debate político aceso, o Direito de Voto dado aum Populacho feroz e ignorante levaria ao tumulto e' à confusão.. . . Depois de uma série de Eleições desvirtuadas pela corrupçãomais vergonhosa, ou perturbadas pela mais furiosa comoção, espe-raríamos que a turbulência ou venalidade do Populacho Inglêsfinalmente desagradasse tanto à Nação que, para se livrar dosmales intoleráveis de uma Democracia devassa, eles se refugia-riam .,. sob a proteção do Poder Despótico.7

" c o Sr. Paine fosse capaz de despertar as classes baixas", es-creveu ele em 1792, "a sua intervenção provavelmente será mar-.ada pela ação selvagem, e tudo o que agora possuímos, seja como

IJ. V r Caroline Robbins, The Eighteenth-Century Commonwealthsman(III1I'Vllrd, 1959).7. '. WyviII a [ohn Cartwright, 16 de dezembro de 1797, em Wyvill,l'I//llkal Papers (York, 1884), V. p. 381-2.

H. Ibid., V, p. 23.9. Ver G. Rudé. The Crowd in French Revolution (1959).

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