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1 Eixo: Formação de Professores FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA SEGUNDA CONJUNTURA DO NEOLIBERALISMO DE TERCEIRA VIA NO BRASIL (2007-2014) Melânia Mendonça Rodrigues - UFCG 1 Resumo: Resultante do estudo da política de formação de professores para a educação básica, implementada na segunda conjuntura do neoliberalismo de Terceira Via no Brasil (2007-2014), o texto apresenta as sínteses acerca das objetivações e tensões centrais do sistema hierarquizado e diversificado de formação de professores para a educação básica. Como procedimentos teórico-metodológicos, o estudo abrangeu: a revisão da literatura referente à política de formação para o trabalho simples e de formação de professores da educação básica na primeira década do século XXI, assim como a análise de documentos originários do governo federal relativos às políticas de formação de professores da educação básica. Em uma breve síntese, constata a vigência de um sistema hierarquizado e diversificado de formação, claramente explicitado, no texto, quando tratamos da EaD, modalidade profundamente privatizada, deslocando a formação dos professores para o âmbito da lógica mercantil, com graves rebatimentos na formação ético-política dos docentes. Palavras-chave: Formação de Professores; Educação Básica; Política Educacional. Introdução A partir do início dos anos 1990, com o agravamento dos problemas econômicos e sociais consequentes à implementação das políticas neoliberais ortodoxas, ganha corpo a ideia de revitalização do capitalismo mediante um projeto que aliasse a economia de mercado à ideia de justiça social, denominado, por Neves (2005), de projeto neoliberal da terceira via. 1 Melânia Mendonça Rodrigues, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil. E-mail: [email protected]

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Eixo: Formação de Professores

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA

SEGUNDA CONJUNTURA DO NEOLIBERALISMO DE

TERCEIRA VIA NO BRASIL (2007-2014)

Melânia Mendonça Rodrigues - UFCG1

Resumo: Resultante do estudo da política de formação de professores para a educação

básica, implementada na segunda conjuntura do neoliberalismo de Terceira Via no

Brasil (2007-2014), o texto apresenta as sínteses acerca das objetivações e tensões

centrais do sistema hierarquizado e diversificado de formação de professores para a

educação básica. Como procedimentos teórico-metodológicos, o estudo abrangeu: a

revisão da literatura referente à política de formação para o trabalho simples e de

formação de professores da educação básica na primeira década do século XXI, assim

como a análise de documentos originários do governo federal relativos às políticas de

formação de professores da educação básica. Em uma breve síntese, constata a vigência

de um sistema hierarquizado e diversificado de formação, claramente explicitado, no

texto, quando tratamos da EaD, modalidade profundamente privatizada, deslocando a

formação dos professores para o âmbito da lógica mercantil, com graves rebatimentos

na formação ético-política dos docentes.

Palavras-chave: Formação de Professores; Educação Básica; Política Educacional.

Introdução

A partir do início dos anos 1990, com o agravamento dos problemas econômicos

e sociais consequentes à implementação das políticas neoliberais ortodoxas, ganha

corpo a ideia de revitalização do capitalismo mediante um projeto que aliasse a

economia de mercado à ideia de justiça social, denominado, por Neves (2005), de

projeto neoliberal da terceira via.

1 Melânia Mendonça Rodrigues, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil. E-mail:

[email protected]

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No Brasil, a implementação desse projeto efetivou-se em duas conjunturas: a

primeira, de 1995 a 2006, compreendendo os dois governos Fernando Henrique

Cardoso e o primeiro governo Lula da Silva, nos quais a política para a educação básica

desenvolveu-se sob o slogan Educação para Todos; a segunda, abrangendo o período

de 2007 a 2014, corresponde ao segundo governo Lula da Silva e primeiro governo

Dilma Roussef, quando a política educacional passa a se nortear pelo slogan Todos pela

Educação.

Objetivando compreender as múltiplas determinações da política para a

educação básica, o Coletivo de Estudos de Política Educacional desenvolveu a pesquisa

nacional “A formação para o trabalho simples no Brasil contemporâneo: da Educação

para todos ao Todos pela educação”, na qual a formação dos professores constitui uma

das dimensões analisadas, compreendendo esse profissional como um intelectual – na

acepção gramsciana do termo – estratégico ao projeto educacional e societal oficial2.

Os estudos concernentes à primeira conjuntura do neoliberalismo de Terceira

Via (MARTINS; NEVES, 2015) constataram que as políticas de formação de

professores integram-se, organicamente, às políticas educacionais, como uma das

estratégias de construção de consensos em torno do modelo de acumulação capitalista

adotado no país. As sínteses elaboradas acerca do amplo conjunto de medidas

implementado no período atestam a constituição de um sistema hierarquizado e

diversificado de formação, articulado a mecanismos de privatização, tendo por

fundamento a lógica mercantil e a pedagogia das competências. Objetivamente, na

primeira conjuntura, observa-se a reconfiguração dos marcos jurídico-políticos da

política de formação de professores, um expressivo crescimento de cursos de formação

inicial e de programas de formação continuada de professores, notadamente na

modalidade EaD, viabilizado pela incorporação das TIC no processo didático

(FALLEIROS; NEVES, 2015).

2 Para as autoras: “Quer seja pelo seu expressivo contingente nesses anos iniciais do século atual, quer

seja pela influência que exercem na conformação técnica e ético-política das novas gerações, a formação

e a prática dos professores da educação básica adquirem progressivamente relevância estratégica para a

construção e consolidação da hegemonia de qualquer projeto político-social na atualidade brasileira. O

professor da educação básica vem se tornando, no Brasil, um importante intelectual orgânico neste século

que se inicia” (FALLEIROS; NEVES, 2015, p. 145).

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Dando sequência a essa investigação, voltamo-nos ao estudo da política de

formação de professores para a educação básica, implementada na segunda conjuntura

do neoliberalismo de Terceira Via no Brasil (2007-2014), objetivando identificar, na

segunda conjuntura, as principais continuidades na política de formação de professores

da educação básica implementada na primeira conjuntura, refletindo,

predominantemente, sobre as implicações do sistema hierarquizado e diversificado de

formação desses profissionais.

Consoante com os procedimentos teórico-metodológicos definidos para o

projeto no âmbito nacional, nosso estudo abrangeu: a revisão da literatura referente à

política de formação para o trabalho simples e de formação de professores da educação

básica na primeira década do século XXI, assim como a análise de documentos

originários do governo federal relativos às políticas de formação de professores da

educação básica.

O presente texto visa apresentar nossas sínteses acerca das objetivações e

tensões centrais do sistema hierarquizado e diversificado de formação de professores

para a educação básica, para o que, após uma ligeira revisão dos norteamentos legais

dessa formação, traça o perfil dos docentes em atuação na três etapas da educação

básica e, por fim, apresenta considerações por nós entendidas como mais relevantes.

Norteamentos da formação dos professores da educação básica

Legalmente, o perfil da formação do docente da educação básica encontra-se

estabelecido no artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional (LDB) Lei

nº 9.394/1996, segundo o qual

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em

nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em

universidades e institutos superiores de educação, admitida, como

formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil

e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em

nível médio na modalidade normal (BRASIL, 1996).

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Independente de possíveis justificativas, tal dispositivo consolida uma

hierarquia3, com rebatimentos na carreira e na remuneração dos docentes, entre uma

formação preconizada e outra, tolerada e restrita aos anos iniciais do processo de

formação educacional da criança. Segundo entendemos, a diferenciação entre anos

iniciais e finais, estabelecida no LDB, no tocante à formação do corpo docente, expressa

a permanência da concepção de educação elementar ou escola primária, cuja

configuração organizacional e pedagógica começa a se definir nos últimos anos do

século XIX e primeiras décadas do século XX, com a criação e disseminação dos

grupos escolares.

Em suas linhas mais gerais, essa organização é consolidada na estrutura do

ensino estabelecida pela primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

nº 4024/1961), a saber: curso primário, com duração mínima de quatro anos, seguido do

ensino médio, constituído de dois ciclos – o ginasial, de quatro anos e o colegial, de três

anos (SAVIANI, 1997; RIBEIRO, 1989).

Em que pesem as positividades do modelo de escola primária instituído pelos

grupos escolares, cuja análise extrapola o âmbito desta abordagem, essa estrutura do

ensino restringe, efetivamente, o direito à escola aos quatro anos do ensino primário e

instaura uma falta de integração entre aqueles dois níveis da escolarização, do que “a

barreira histórica” – na expressão de Souza (2004) – do exame de admissão é o exemplo

emblemático.

Formalmente, tais fragilidades seriam superadas pela edição da Reforma do

Ensino de 1º e 2º Graus (Lei nº 5691/1971), que, adotando a integração – horizontal e

vertical – como um dos seus princípios, ampliou para oito anos a duração da etapa

obrigatória da escolarização, o ensino de 1º grau, resultado da junção dos antigos

primário e primeiro ciclo do secundário. Para além da terminologia, no entanto, pouco a

reforma repercutiu na organização das escolas, que mantiveram, via de regra, travestidas

sob as denominações de ‘1º grau menor’ e ‘1º grau maior’, as históricas diferenciações

entre primário e ginásio, à exceção dos exames de admissão – suprimidos na maioria

3 Aprofundar a discussão acerca desse dispositivo legal extrapola os limites deste trabalho. No entanto,

consideramos importante registrar que a manutenção da formação no nível médio, curso Normal, embora

respaldada em justificativas plausíveis (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2000, p. 100), torna-se

uma determinação de duração indefinida, ao integrar o ”corpo permanente” da LDB.

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dos casos, mas mantidos em grandes estabelecimentos de ensino, alcunhados de

‘vestibulinhos’ (RODRIGUES, 2009).

Também a atual LDB (Lei 9394/1996) determinou a duração mínima de nove

anos (Lei nº 11.274/2006) para o ensino fundamental, que pode adotar formas variadas

de organização, como séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de

períodos de estudos, grupos não-seriados, ou outras recomendadas pelo processo de

aprendizagem (Lei nº 9394/1996, art. 23).

A abertura a essas outras modalidades de organização, notadamente aos ciclos,

poderia descortinar possibilidades de superação das rupturas e segmentações no

processo de aprendizagem, historicamente evidenciadas na escola primária, atribuídas à

rígida gradação das séries. No entanto, essa expectativa parece não se haver efetivado,

uma vez que a popularização da denominação Fundamental I e II – em lugar dos termos

anos iniciais e anos finais, estabelecidos na LDB – reflete uma forma de organização

escolar similar à descrita por Souza, referindo-se à escola paulista, a seguir.

A reestruturação das escolas de ensino fundamental implementada

no estado de São Paulo a partir de 1996 sinaliza o ressurgimento da

escola primária. O desmembramento dos dois segmentos em espaços

físicos distintos – escola fundamental de 1ª a 4ª série e escola

fundamental de 5ª a 8ª série – ratificou a inconciliável integração

(SOUZA, 2004, p.154-155).

Uma vez mantida a diferenciação como disposição permanente da LDB, a

formação, no nível superior, dos professores da educação infantil e anos iniciais do

ensino fundamental configura-se, nesse diploma legal, como uma perspectiva de

universalização, constante das disposições transitórias dessa Lei, cujos limites podem

ser percebidos no excerto do Parecer CNE/CEB n.º 01/2003, a seguir transcrito.

O Artigo 874 [...] integra o conjunto das disposições transitórias da

Lei nº 9394/96, e que exatamente por isto têm sua validade limitada

no tempo. No entanto não se pode deixar de levar em conta – mesmo

com a imprecisão do texto legal – que o legislador pretendeu apontar

para a universalização da formação em nível superior, dos professores

da Educação Básica.

É esta a meta, o objetivo, o ideal a ser traçado no menor espaço de

tempo possível (MEC.CNE.CEB, 2003, p.2, supressão, itálicos e nota

desta citação).

4 O caput do referido artigo institui a Década da Educação, a ter início um ano após a publicação da LDB

e, em seu parágrafo 4º, dispõe que “Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos

professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço” (BRASIL, 1996, s.p.)

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Em outro momento do texto, o parecerista indica respaldar-se no entendimento

de que “a formação em nível médio, frente aos avanços pedagógicos e exigências sócio-

educacionais, vai se tornando cada vez mais insuficiente para dar respostas aos desafios

da escolarização” (MEC.CNE.CEB, 2003, p. 3), formulação convergente com os

consensos construídos, na década de 1980 (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA,

2000), pelo movimento de educadores e por associações acadêmico-científicas da área

de educação, acerca da valorização e qualificação do magistério.

Aparente convergência, no entanto, dissimula divergências entre as concepções

dos referidos setores da sociedade civil e do governo federal quanto à qualidade da

formação, exemplarmente objetivadas no embate decorrente da publicação do Decreto

nº 3.276, em dezembro de 19995. Já então, criticavam-se o aligeiramento e a

fragilização da formação docente, no nível superior, proposta pelo governo federal.

Tampouco a perspectiva do curto prazo para a universalização da formação no

nível superior dos professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino

fundamental, enfatizada no parecer da Câmara de Educação Básica do Conselho

Nacional de Educação – CEB-CNE - anteriormente citado, chegou a se concretizar. Em

contrário, postergada ao longo da primeira conjuntura do capitalismo neoliberal de

terceira via (1995-2006), tal perspectiva é, formalmente, suprimida do texto da LDB, no

penúltimo ano da segunda conjuntura (2007-2014), por força das reformulações

introduzidas pela Lei nº 12.796, de abril de 2013.

Assim, enquanto a versão original da LDB, publicada em dezembro de 1996,

permitia – em que pesem as inconsistências apontadas no já citado parecer da

CEB/CNE – a interpretação de que o quadro dos professores normalistas entraria em

extinção após o final da Década da Educação (dezembro de 2007), as metas do Plano

Nacional de Educação (PNE) 2001-2010 (Lei nº 10.172, de janeiro de 2001) referentes

5 Como já bastante disseminado em publicações da área, segundo esse Decreto, a formação dos

professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental seria realizada,

exclusivamente, no Curso Normal Superior. A mobilização das entidades contra o Decreto, criticando o

retrocesso dessa determinação ante os já referidos consensos e apontando as consequências nefastas que

decorreriam de sua implementação (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2000, p. 102), logrou a

edição do Decreto nº 3.554, em agosto de 2000, que reformulou o texto legal do Decreto anterior,

substituindo o termo “exclusivamente” por “preferencialmente”.

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à formação dos professores e valorização do magistério da educação básica, traçam

projeções bem menos ambiciosas, como sejam:

17. Garantir que, no prazo de 5 anos, todos os professores em

exercício na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino

fundamental, inclusive nas modalidades de educação especial e de

jovens e adultos, possuam, no mínimo, habilitação de nível médio

(modalidade normal), específica e adequada às características e

necessidades de aprendizagem dos alunos.

18. Garantir, por meio de um programa conjunto da União, dos

Estados e Municípios, que, no prazo de dez anos, 70% dos professores

de educação infantil e de ensino fundamental (em todas as

modalidades) possuam formação específica de nível superior, de

licenciatura plena em instituições qualificadas.

19. Garantir que, no prazo de dez anos, todos os professores de ensino

médio possuam formação específica de nível superior, obtida em

curso de licenciatura plena nas áreas de conhecimento em que atuam

(BRASIL, 2001, s.p.)

Conforme podemos constatar no texto da meta 17, o ano de 2006 – penúltimo da

Década da Educação – torna-se o horizonte, apenas, para a extinção da figura do

professor leigo na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino

fundamental, ou seja, daquele que exerce o magistério sem a formação mínima

requerida por lei. E, para o ano de 2010 – três anos após o término daquela Década –, a

meta 18 estabelece um percentual (70%) bem aquém da universalização da formação no

nível superior.

Encerram-se, portanto, a primeira conjuntura do capitalismo neoliberal de

terceira via e a Década da Educação, sem o alcance do “ideal [da formação no nível

superior] a ser traçado no menor espaço de tempo possível” (MEC.CNE.CEB, 2003,

p.2), delineado na LDB, cujo texto, nesse aspecto, permanece inalterado até o penúltimo

ano da segunda conjuntura, quando a Lei nº 12.796, de abril de 2013, suprime o

parágrafo 4º do Artigo 87 das Disposições Transitórias e reformula o artigo 62 do Título

VI – Dos profissionais da educação – da lei maior da educação nacional.

Considerando o citado artigo 62, cabe assinalar, primeiramente, que a Lei nº

12.796/13 apenas procedeu a um ajuste na redação original do seu caput, até então ainda

vigente, substituindo a expressão “quatro séries iniciais” por “cinco primeiros anos”,

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uma vez que, desde a edição da Lei nº 11.274, de fevereiro de 2006, o ensino

fundamental passara a ter uma duração de nove anos.

Substantivamente, importa frisar o veto presidencial ao parágrafo 7º desse artigo,

incluído pela Lei nº 12.796/13, de acordo com o qual “os docentes com a formação em

nível médio na modalidade normal terão prazo de 6 (seis) anos, contado da posse em

cargo docente da rede pública de ensino, para a conclusão de curso de licenciatura de

graduação plena” (BRASIL, 2013, s. p.). Na mensagem de veto encaminhada ao

Senado, é apresentada a seguinte razão:

O texto não prevê consequências ao descumprimento da regra,

gerando incerteza sobre o destino do profissional que não concluir os

estudos no prazo determinado. Além disso, diante da significativa

expansão de vagas na educação infantil, a exigência de formação em

nível superior para essa etapa, no curto prazo apresentado pela

medida, atinge sobremaneira as redes municipais de ensino, sem a

devida análise de viabilidade de absorção desse impacto

(PRESIDÊNCIA. DA REPÚBLICA. CASA CIVIL, 2013).

Conforme compreendemos, tal veto constitui um retrocesso, uma vez que a

inclusão do parágrafo citado expressaria uma tentativa de equilíbrio entre a garantia do

direito de ingresso na carreira do magistério dos portadores da “formação mínima”6 e o

estabelecimento de uma ação efetiva, no sentido da pretendida universalização da

formação no nível superior de todos os docentes da educação básica, uma vez que –

ratificamos – a formação na modalidade normal do nível médio é reconhecida, inclusive

pelo CNE, como “insuficiente para dar respostas aos desafios da escolarização”.

Ainda acerca da mensagem de veto, dois aspectos merecem destaque: por um

lado, a indefinição de prazo para a meta de universalização da formação no nível

superior permite a protelação ad infinitum do seu alcance; por outro, o argumento de

que “a exigência de formação em nível superior para essa etapa, no curto prazo

apresentado pela medida, atinge sobremaneira as redes municipais de ensino”

6 Ainda como preservação dos direitos adquiridos, a Lei nº 12.796/13 incluiu, nas Disposições

Transitórias da LDB, o artigo 87-A: “O disposto no § 7o do art. 62 não se aplica aos docentes com

formação em nível médio na modalidade normal que se encontrarem em exercício na educação infantil ou

nos anos iniciais do ensino fundamental, em rede pública, na data da publicação desta Lei” (BRASIL,

2013, s.p.). Tal dispositivo também recebeu veto presidencial.

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(PRESIDÊNCIA. DA REPÚBLICA. CASA CIVIL, 2013) desconsidera o regime de

colaboração entre as instâncias federativas, na implementação da política de formação

docente, formalmente garantido, dentre outros, na já citada meta 18 do PNE 2001-2010

e no Decreto nº 6.755/1999, posteriormente abordado neste texto.

As ponderações que acabamos de apresentar tornam-se mais fortes quando,

pouco mais de um ano após a referida mensagem, em junho de 2014, é sancionada a Lei

nº 13.005/14 que aprova o Plano Nacional de Educação 2014-2024, no qual a formação

dos professores para a educação básica é contemplada em duas metas, tratando da

formação no nível superior (meta 15) e no nível da pós-graduação, como também, da

formação continuada (meta 16). Tais metas desdobram-se, respectivamente, em 13 e em

seis estratégias, nenhuma das quais prevê resultados para o curto prazo dos seis meses

após a publicação do PNE, ultrapassando, portanto, o marco temporal do nosso estudo.

No entanto, considerando que a meta 15 guarda relação direta com as

observações feitas acerca do veto presidencial à inserção do parágrafo 7º no artigo 62 da

LDB, como também ratifica nosso entendimento de contínua postergação do

proclamado objetivo de universalização da formação, no nível superior, de todos os

professores da educação básica, passaremos, na sequência, a apresentar e discutir essa

meta.

Meta 15. Garantir, em regime de colaboração entre a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1 ano de

vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais

da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da

Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado (sic) que todos

os professores e as professoras da educação básica possuam formação

específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de

conhecimento em que atuam (BRASIL, 2014, s.p., itálico e parênteses

desta citação).

Para além de imprecisões e dubiedades textuais7, a meta 15 padece de

inconsistências que comprometem sua efetividade, a primeira das quais concerne a uma

fragilidade de todo o PNE: a ausência de um diagnóstico balizador das proposições, sem

7 O emprego do particípio do verbo assegurar (“assegurado”), em lugar do gerúndio (assegurando)

introduz uma ambiguidade no texto, de modo que a formação, no nível superior, dos docentes da

educação básica parece constituir-se como um requisito, não como a finalidade da “política nacional de

formação”.

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o qual “várias das metas resultam arbitrárias”, porque “o diagnóstico, enquanto

caracterização da situação com seus limites e carências, fornece a base e a justificativa

para o enunciado das metas que compõem o plano a ser executado” (SAVIANI, 2014, p.

84).

Desse modo, ausentes uma avaliação dos resultados alcançados no âmbito da meta

18 – formação, na licenciatura específica, de 70% dos professores da educação infantil e

do ensino fundamental – e, principalmente, da meta 17 – 100% dos professores em

exercício na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental com

habilitação no curso Normal, até o ano de 2006 – do PNE 2001-2010, bem como dados

estatísticos – disponibilizados pelo próprio governo federal, por intermédio do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) – torna-se difícil

aquilatar o universo a ser alcançado pela meta 15 do PNE 2014-2024.

Também ratificando a fragilidade apontada, e expressando a reconhecida

descontinuidade nas políticas públicas brasileiras, a meta 15 estabelece o prazo de um

ano para “garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, política nacional de formação dos profissionais da educação”

(BRASIL, 2014, s.p), sem se referir ao fato de que essa política já fora instituída cinco

anos antes da publicação do PNE, mais especificamente, em 29 de janeiro de 2009, por

meio do já referido Decreto nº 6.7558, conforme dispõe o seu primeiro artigo, transcrito

a seguir.

Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Formação de

Profissionais do Magistério da Educação Básica, com a finalidade de

organizar, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios, a formação inicial e continuada dos

profissionais do magistério para as redes públicas da educação básica

(BRASIL, 2009, sp).

Por fim, a efetividade da meta 15 do PNE 2014-2024 – entendida como

compromisso de formação de todos os docentes da educação na licenciatura específica –

resta comprometida pela omissão do prazo para seu pleno cumprimento.

8 Para além de instituir a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação

Básica, o Decreto trata da sua implementação, determinando a criação dos Fóruns Estaduais Permanentes

de Apoio à Formação Docente e disciplinando as funções a serem desempenhadas pela Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, aspecto abordado em outro momento deste estudo.

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Em síntese, por não explicitar o universo a ser atingido nem o prazo para sua

concretização, a meta 15 constitui-se como um dispositivo inócuo, o que, segundo nossa

compreensão, indica a permanência, durante a segunda conjuntura do capitalismo

neoliberal de terceira via no Brasil (2007-2014), e implica a manutenção para além dela,

do sistema hierarquizado de formação docente na educação infantil e nos anos iniciais

do ensino fundamental (FALLEIROS; NEVES, 2015, p. 148).

Quanto aos docentes dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, a

LDB somente admite a formação no nível superior, em curso de licenciatura, de

graduação plena. Posteriormente, os Planos Nacionais de Educação 2001-2010 e 2014-

2024 acrescentam uma explicitação a essa formulação genérica, estabelecendo que os

docentes devem “possuir formação específica de nível superior, obtida em curso de

licenciatura plena nas áreas de conhecimento em que atuam” (BRASIL, 2001, sp,

itálicos desta citação). Segundo a meta 19 da seção formação dos professores e

valorização do magistério do PNE 2001-2010, os 10 anos do Plano constituiriam o

prazo para que todos os professores do ensino médio atendessem a tal exigência.

No entanto, determinações do já referido Decreto nº 6.755/2009 não somente

permitem a inferência de expressarem a admissão, pelo governo federal, de que tal meta

não seria alcançada, como indicam a provável existência de docentes, em exercício na

educação básica, com formação no nível superior diversa da licenciatura:

Art. 11. A CAPES fomentará, ainda:

[...]

III - oferta emergencial de cursos de licenciaturas e de cursos ou

programas especiais dirigidos aos docentes em exercício há pelo menos

três anos na rede pública de educação básica, que sejam:

a) graduados não licenciados;

b) licenciados em área diversa da atuação docente;

[...] (BRASIL, 1999, sp).

Tendo por base o dispositivo legal ora citado, parece-nos lícito inferir que o

corpo docente dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio compreende

profissionais com diversificada formação, inclusive, em áreas pouco afins à educação,

ao longo de toda a segunda conjuntura do capitalismo neoliberal no Brasil (2007-2014).

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As considerações e cogitações até o momento apresentadas demonstram a

relevância do conhecimento dos dados empíricos da formação do corpo docente em

exercício na educação básica, o que passamos a apresentar e discutir na sequência.

Perfil dos professores da educação básica, segundo a formação

Explicitadas as bases legais da formação do professor da educação básica,

entendendo-as como um norteamento para as políticas públicas voltadas a essa área,

aproximamo-nos analiticamente de tais políticas por uma de suas expressões

fenomênicas, o perfil dos docentes em exercício na educação básica, segundo sua

formação.

Buscamos captar o panorama mais geral da formação docente ao longo da

segunda conjuntura do capitalismo de Terceira Via no Brasil (2007-2014), considerando

três anos referenciais do período: 2007, início do período estudado e último ano da

Década da Educação instituída, em 1996, pelo artigo 87 das Disposições Transitórias da

LDB (1997-2007); 2010, término da década de vigência do PNE 2001-2010, e 2014,

ano final da segunda conjuntura, de cujos dados lançaremos mão mais amplamente.

A Tabela 1, a seguir, apresenta o quadro da formação dos docentes da educação

básica em cada um dos anos destacados.

TABELA 1

Formação do corpo docente da educação básica brasileira, por etapa de atuação, em

percentuais (2007, 2010 e 2014)

Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio

2007 2010 2014 2007 2010 2014 2007 2010 2014

Fundamental 1,8 1,3 0,6 0,7 0,5 0,2 0,1 0,1 0,0

Médio 7,2 9,9 5,9 5,0 7,2 3,8 2,9 6,4 2,0

Normal 42,4 38,1 22,3 24,1 21,1 11,1 3,6 2,6 0,6

Superior 5,4 1,8 4,8 5,7 2,1 5,7 6,4 3,7 9,7

Licenciatura 43,2 48,9 66,4 64,5 69,1 79,2 87,0 87,2 87,7

Fonte: INEP.MEC.

Observados de modo mais global, o apresentado na Tabela 1 confirma, para o

período 2007-2014, a tendência de aumento do nível de formação do corpo docente

atuante na educação básica, verificada durante a primeira conjuntura do capitalismo

neoliberal de terceira via no Brasil – de 1995 a 2006 (FALLEIROS; NEVES, 2015, p.

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145), caracterizada pelo contínuo incremento do percentual de professores diplomados

no nível superior, em cursos de licenciatura, formação que, ao final do período aqui

focalizado, apresenta-se largamente predominante, em todas as três etapas da educação

básica.

Tal predomínio, no entanto, não significa o alcance da universalização da

formação no nível superior, mesmo no ano de 2014, indicando haver-se frustrado a

expectativa delineada – ainda que dubiamente – para o final da Década da Educação

(ano de 2007), posta no artigo 87 das Disposições Transitórias da LDB, já discutido no

item precedente.

Ademais, o incremento observado no período não foi suficiente para que, no ano

de 2010, 70% dos professores de educação infantil e de ensino fundamental contassem

com formação específica de nível superior, de licenciatura plena, conforme estabelecido

na anteriormente citada meta 18 do PNE 2001-2010, referente à formação docente.

Tomadas as duas etapas conjuntamente, o percentual de docentes com essa formação

alcança 59%, média na qual se dilui uma variação superior a 20% entre as etapas, uma

vez que, enquanto o ensino fundamental conta um percentual bastante próximo do

previsto (69,1%) de professores licenciados, menos da metade (48,9%) dos docentes da

educação infantil possui essa formação.

Observando os dados de forma mais específica, quando consideramos os

docentes das etapas da educação infantil e do ensino fundamental, a formação no nível

superior, em cursos de licenciatura, registra expressivos aumentos no período 2007-

2014. No concernente ao ensino fundamental, quando se comparam os dados do ano de

2007, com os dados relativos a 2014, o acréscimo observado no percentual de

licenciados quase alcança os 15%, subindo de 64,5% para 79,2%, no ensino

fundamental.

Mais expressivo, ainda, é o crescimento observado na educação infantil, etapa

cujo corpo docente, no ano inicial do período aqui considerado, apresenta-se quase

equitativamente distribuído entre normalistas (42,4%) e licenciados (43,2%). Já no ano

de 2014, enquanto o percentual de professores normalistas decresce significativamente

(22,3%), o de licenciados aumenta em mais de 20%, alcançando 66,4% dos professores

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em exercício, pelo que esse nível de formação torna-se amplamente majoritário nessa

etapa da educação básica.

Por outro lado, os dados apurados para o ensino médio apresentam-se algo

divergentes dessa tendência de incremento de professores licenciados, mantendo quase

inalterado o seu percentual nos anos de 2007 e 2014 (87,0% e 87,7%, respectivamente),

enquanto aumenta, embora pouco expressivamente, o percentual de professores

formados no nível superior, não licenciados – de 6,4%, em 2007, para 9,7%, em 2014.

Embora, de modo global, os dados expressem avanços efetivamente ocorridos na

formação do corpo docente da educação básica, cabe ponderar que, apesar do

significativo crescimento no percentual de professores, o período estudado encerra-se –

ano de 2014 – com a atuação, no magistério da educação básica, de profissionais sem as

qualificações mínimas estabelecidas no já referido artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (Lei nº 9394/1996), a saber:

pessoas cuja escolarização restringe-se ao ensino fundamental, embora em

reduzido percentual, ainda lecionam, no ano de 2014, nas etapas da educação

infantil (0,6%) e do ensino fundamental (0,2%);

egressos de cursos de nível médio, sem magistério, exercem a docência nas três

etapas da educação básica (5,9%, na educação infantil; 3,8% no ensino

fundamental; 2,0%, no ensino médio);

formados no nível médio, na modalidade normal, embora em percentuais

decrescentes e pouco expressivos no ano de 2014 (0,6%), atuam no ensino

médio ao longo de todo o período;

graduados em cursos de nível superior, sem licenciatura, estão presentes nas três

etapas, ao longo de todo o período considerado, representando, em 2014, 4,8%

dos docentes da educação infantil, 5,7% do ensino fundamental e 9,7% do

ensino médio.

Para além de contrariar o disposto na LDB, os destaques apresentados

demonstram também não haverem sido alcançadas as anteriormente apresentadas metas

17 e 19 do Plano Nacional de Educação 2001-2010 (Lei nº 10.172/01), o que configura,

ao lado do já apontado insucesso da meta 18, o malogro do previsto nesse PNE quanto à

formação de professores da educação básica. Conforme entendemos, a meta 15 do Plano

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Nacional de Educação 2014-2024 (Lei nº 13.005/14) expressa o reconhecimento formal,

no âmbito da política nacional, desse malogro, conquanto suspeitemos – conforme já

exposto no item anterior – de sua efetividade, dadas as inconsistências de sua

formulação.

Até o momento, baseamo-nos nos dados globais relativos ao perfil do corpo

docente da educação básica, relevantes para demonstrar diferenciações e deficiências

grosso modo presentes na formação dos profissionais em efetivo exercício nesse nível

da educação escolar brasileira. No entanto, restringirmo-nos a essa “visão indiferenciada

do todo” obscureceria importantes diferenciações constituintes da estrutura9 dessa

totalidade, como as verificadas entre: redes de escolarização (pública e privada) e

segmentos da educação infantil e do ensino fundamental. Ademais, e considerando,

especificamente, os professores licenciados em exercício na educação básica, dois

aspectos substantivos devem ser explicitados: a adequação da formação às disciplinas

lecionadas, bem como a modalidade de licenciatura cursada, implicando a distinção

entre cursos presenciais e a distância.

Na sequência, passamos a apresentar o perfil da formação do corpo docente nos

anos delimitadores da terceira conjuntura, segundo as dimensões apontadas.

1. Por redes de escolarização

Analisado o perfil de formação do corpo docente da educação básica por esse

aspecto, podemos observar a melhoria, no período em foco (2007-2014), dos

percentuais de professores licenciados nas duas redes, preponderantemente na rede

pública, que apresenta maiores índices de crescimento e chega ao último ano do período

superando a rede privada, nas três etapas do nível educacional por nós focalizado. Para

melhor apreensão do processo, passamos a detalhar a trajetória da formação docente nas

9 Aqui, utilizamos esse termo na acepção adotada por José Paulo Netto (sd), ao tratar do método em

Marx: “O objetivo do pesquisador, indo além da aparência fenomênica, imediata e empírica – por onde

necessariamente se inicia o conhecimento, sendo essa aparência um nível da realidade e, portanto, algo

importante e não descartável –, é apreender a essência (ou seja: a estrutura e a dinâmica) do objeto. Numa

palavra: o método de pesquisa que propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, visa alcançar a

essência do objeto. Alcançando a essência do objeto, isto é: capturando a sua estrutura e dinâmica, por

meio de procedimentos analíticos e operando a sua síntese, o pesquisador a reproduz no plano do

pensamento” (NETTO, sd, p. 5).

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redes de escolarização, em cada etapa da educação básica, considerando os dados

concernentes aos anos por nós selecionados.

Em se tratando da educação infantil, constatamos, com base nos dados, a

melhoria global da formação do corpo docente da educação infantil no país, objetivada

no aumento nos percentuais de professores licenciados concomitante com a diminuição

da percentagem de professores normalistas. Ademais, verificamos uma sensível

diferenciação entre as redes de escolarização, em que se destaca, positivamente, a rede

pública em relação à privada.

Com efeito, não apenas aquela primeira destaca-se nos dois aspectos

anteriormente apontados, como a segunda mantém, nos momentos considerados,

percentuais mais elevados de professores leigos, como sejam, os que possuem apenas

escolarização na etapa do ensino fundamental ou do ensino médio, sem formação para o

magistério – estes últimos nada desprezíveis: 10,8% em 2007, 15,4% em 2010 e 9,5%

em 2014.

No que respeita ao ensino fundamental, as redes de escolarização apresentam

percentuais bastante aproximados, conquanto observemos uma superioridade da rede

pública ao final do período estudado, quando alcança um percentual de 86,2% de

professores licenciados, enquanto a privada atinge 80,9%.

Há, no entanto, uma diferenciação a ser destacada, na trajetória da formação

docente do ensino fundamental nessas redes, durante a segunda conjuntura do

capitalismo neoliberal no Brasil: enquanto a pública desenvolve um processo

ininterruptamente ascendente, a rede privada experimenta um descenso no ano de 2010,

expresso tanto na diminuição no percentual de licenciados – de 77%, em 2007, para

71,4%, em 2010 – quanto no aumento de normalistas – de 17,1% para 18,4%,

respectivamente, em 2007 e 2010.

Também no ensino médio, no ano de 2010, há um decréscimo no percentual de

licenciados em atuação na docência de ambas as redes, menos acentuado na rede

pública que na privada – na primeira, de 92,8%, em 2007, para 91,3%, em 2010,

enquanto, na segunda, de 94,5%, em 2007, para 89,5%, em 2010. Em consequência

desse maior decréscimo na rede privada, inverte-se, nos dois últimos anos por nós

focalizados, a discreta superioridade apresentada, por essa rede, no primeiro ano, de

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modo que, em 2014, a rede pública conta com 97,8% de professores licenciados no seu

quadro e a privada, com 96,6%.

2. Por segmento da educação infantil e do ensino fundamental

Determinantes históricos da educação brasileira indicam a necessidade de

observarmos, mais acuradamente, os segmentos constitutivos das duas primeiras etapas

da educação básica, como sejam, na educação infantil, a creche e a pré-escola e, no

ensino fundamental, os anos iniciais e os anos finais.

Em se tratando da educação infantil, tais determinantes, além de recorrente

referência na literatura da área, foram satisfatoriamente sintetizados no diagnóstico

dessa etapa da educação básica, constante do Plano Nacional de Educação 2001-2010,

no fragmento a seguir transcrito.

É preciso analisar separadamente as faixas etárias de 0 a 3 e de 4 a 6

anos, porque foram grupos tratados diferentemente, quer nos

objetivos, quer por instituições que atuaram nesse campo, sejam

públicas ou privadas. A primeira faixa esteve predominantemente sob

a égide da assistência social e tinha uma característica mais

assistencial, como cuidados físicos, saúde, alimentação. Atendia

principalmente as crianças cujas mães trabalhavam fora de casa.

Grande parte era atendida por instituições filantrópicas e associações

comunitárias, que recebiam apoio financeiro e, em alguns casos,

orientação pedagógica de algum órgão público, como a antiga LBA

(BRASIL, 2001, sp).

Considerando, por um lado, essa diferenciação histórica entre os dois momentos

da educação infantil e, por outro, as disposições da LDB – ao considerar a educação das

crianças pequenas como etapa da educação básica – e das Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB nº 05/2009), para as quais

creches e pré-escolas “se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que

constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam

de crianças de 0 a 5 anos de idade” (MEC.CNE.CEB, 2009, sp, itálicos desta citação),

entendemos necessário desagregar, de acordo com os dois segmentos, a formação do

corpo docente dessa primeira etapa.

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Considerando o segmento da creche, constatamos que seu corpo docente, no

primeiro ano do período, é majoritariamente constituído de normalistas (47,5%),

ocupando os licenciados o segundo lugar (38,8%), distanciando-se, em 10 pontos

percentuais em relação à pré-escola (48,8% de licenciados). Ao longo do período,

observamos uma diminuição dessa diferença, de modo que, em 2014, os percentuais de

licenciados dos dois segmentos são bastante aproximados (70,2%, na creche e 73%, na

pré-escola), como também, o corpo docente da creche passa a se constituir,

majoritariamente, de professores licenciados.

Tendo em conta os dois segmentos da educação infantil, o processo de

aprimoramento da formação do corpo docente – caracterizado pela diminuição no

percentual de normalistas e pelo aumento no de licenciados – coexiste, algo

contraditoriamente, com um incremento no percentual de profissionais em exercício

com escolarização de nível médio, sem magistério, no ano de 2010.

Já em se tratando o ensino fundamental, expusemos, no item anterior, as razões

por que consideramos pertinente observar o perfil da formação do corpo docente

segundo os dois segmentos.

Os dados consultados demonstram a melhoria na formação dos professores em

exercício nos anos iniciais, caracterizada pelo decréscimo de normalistas e pela

ampliação do contingente de licenciados, do que decorre uma redução da diferenciação

relativas a esse nível de formação, entre os segmentos do ensino fundamental, de

18,9%, em 2007, para 10,5%, em 2014. Também se reduzem, ao longo do período, os

percentuais de professores leigos, de 6,9%, no primeiro ano (0,9%, ensino fundamental

e 6,0%, ensino médio sem magistério), para 4,3%, em 2014 (0,2%, ensino fundamental

e 4,1%, ensino médio sem magistério).

Quanto aos anos finais, cabe ponderar que, embora expressivo, o percentual de

licenciados apurado em 2014 (90,3%) revela uma precariedade da formação do corpo

docente em exercício nesse segmento: 9,7% de professores sem a qualificação requerida

pela LDB, dos quais, 0,2% cursaram apenas o ensino fundamental, 3,4% completaram o

ensino médio, sem magistério e 6,1% são normalistas.

3. A adequação da formação do professor às disciplinas lecionadas

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As elevadas cifras de licenciados, no entanto, não podem ser tomadas, a priori,

como indicador da formação docente legalmente prevista, dado que o professor pode ser

formado em uma licenciatura em área diversa daquela na qual exerce a docência.

Atentando para essa possibilidade, o INEP, por meio da Nota Técnica nº 020/2014,

buscou “introduzir um indicador da adequação da formação inicial dos docentes das

escolas de educação básica brasileira, segundo as orientações legais” (MEC.INEP,

2014, p. 1).

A referida Nota apresenta cinco categorias de adequação da formação dos

docentes em relação à disciplina que lecionam10, das quais destacamos a referente a

“docentes com formação superior de licenciatura (ou bacharelado com complementação

pedagógica) em área diferente daquela que leciona” (MEC.INEP, 2014, p. 5). Buscados

os dados apurados nessa categoria, coligidos pelo INEP11, elaboramos a tabela

apresentada na sequência.

TABELA 2

Docentes da educação básica brasileira, licenciados em área diferente da disciplina

lecionada, por etapa de atuação, em percentuais (2014)

Etapa de atuação docente Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste

Educação Infantil 17,8 10,6 10,8 20,5 20,1 20,6

Ensino Fundamental 18,8 18,5 22,6 15,6 18,5 20,0

Ensino Fundamental – Anos Iniciais 11,6 8,1 12,0 11,2 13,5 12,7

Ensino Fundamental – Anos Finais 27,3 29,0 34,2 21,0 25,0 29,2

10 A Nota Técnica construiu as seguintes categorias de adequação da formação dos docentes em relação à

disciplina que leciona: Grupo 1 - Docentes com formação superior de licenciatura (ou bacharelado com

complementação pedagógica) na mesma área da disciplina que leciona; Grupo 2 - Docentes com

formação superior de bacharelado (sem complementação pedagógica) na mesma área da disciplina que

leciona; Grupo 3 - Docentes com formação superior de licenciatura (ou bacharelado com

complementação pedagógica) em área diferente daquela que leciona; Grupo 4 - Docentes com formação

superior não considerada nas categorias anteriores; Grupo 5 - Docentes sem formação superior

(MEC.INEP, 2014, p.5). 11 Coligidos na tabela “Percentual de docentes por grupo de adequação da formação à disciplina que

leciona e etapa de ensino” (MEC.INEP, 2014).

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Ensino Médio 24,3 25,8 31,0 20,0 21,5 28,3

Fonte: MEC. INEP

Mesmo à observação mais ligeira, os dados da Tabela 2 retratam um quadro algo

paradoxal: os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio, nos quais a

licenciatura é o requisito obrigatório de formação mínima, são os que contam com os

mais altos percentuais de inadequação do curso à disciplina lecionada, acima dos 20%.

Com discretas diferenças nos números, esse é o quadro do corpo docente do

ensino médio, etapa em que, embora a média nacional situe-se pouco abaixo dos 25%

(24,3%), apenas nas regiões Sudeste e Sul (com, respectivamente, 20% e 21,5%),

menos de um quarto dos licenciados enquadra-se na categoria de docente com formação

em área diferente daquela em que leciona.

Ainda acerca do ensino médio, estudo realizado pelo INEP, com base no Censo

Escolar do ano de 2013, analisou, dentre outros aspectos, a adequação do corpo docente

segundo as disciplinas dessa etapa da educação básica, concluindo, ante os percentuais

apurados, que “o tema ganha um contorno ainda mais preocupante quando analisado

para disciplinas específicas” (MEC.INEP.DEED, 2015, p. 109). Com efeito, os

percentuais de professores do ensino médio brasileiro, sem formação específica para a

disciplina lecionada, alcançam patamares preocupantes, a saber: Sociologia - 88,2%;

Artes - 78,7%; Filosofia - 78,2%; Física - 73,2%; Química - 56,8%; Língua Estrangeira

- 53,2%; Geografia -42,9%; História - 38,3%; Educação Física - 33,8%; Matemática -

33,5%; Biologia - 33,1%; Língua Portuguesa - 24,4%.

Ao tempo em que ratificam a conclusão do próprio INEP, quanto ao “contorno

ainda mais preocupante” do perfil da formação dos professores do ensino médio, os

dados ora expostos permitem-nos questionar a aparência de melhoria dessa formação,

ao longo do período 2007-2014, consubstanciada no elevado percentual de professores

licenciados (87,7%) em atuação no ensino médio, no ano de 2014 (ver Tabela 1, no

presente texto).

4. As modalidades de licenciatura

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No marco temporal do nosso estudo, marcando continuidade com o processo

desencadeado, mais fortemente, desde a segunda metade dos 1990, compartilham a

formação dos professores da educação básica, no nível superior, as modalidades

presencial e a distância dos cursos de licenciatura, como podemos constatar pelos

percentuais de concluintes, nos anos de 2007 e 2014: 70,3%, nos cursos presenciais e

29,7%, nos cursos a distância, naquele primeiro; 65,6%, em cursos presenciais, e

34,4%, nos cursos a distância, no último.

Neste item, vamo-nos voltar à demonstração do concurso das duas modalidades

de licenciatura para a formação de professores da educação básica, considerando a

categoria administrativa – pública ou privada – e a organização acadêmica das

instituições – universidades, centros universitários, faculdades e Institutos Federais

Educação, Ciência e Tecnologia ou Centros Federais de Educação Tecnológica

(IF/CEFET) – a que os cursos se vinculam. Dada a diferença na categorização da

organização acadêmica das instituições, nas sinopses estatísticas dos anos de 2007 e

2014, restringir-nos-emos aos dados desse último ano.

Em uma primeira aproximação aos dados globais, quando consideramos a

categoria administrativa das instituições de ensino superior (IES), constatamos a

predominância das instituições privadas, com 61,5% dos concluintes, confirmando o

predomínio já identificado, por Gatti (2013-2014), nas matrículas em licenciaturas, no

período 2009-2011. Já quando observamos a modalidade dos cursos, conforme já

apresentado no início deste item, a maioria dos concluintes encontra-se nos cursos

presenciais (65,6%). Mais detalhadamente, reunimos, na Tabela 3, os dados referentes

às dimensões selecionadas para a abordagem do aspecto ora enfocado.

TABELA 3

Concluintes de cursos de licenciatura, por modalidade,

categoria administrativa e organização acadêmica, em

percentuais (2014)

Modalidade Categoria

administrativa

Organização Acadêmica

TOTAL Universidades

Centros

Universitários Faculdades

IF e

CEFET

Presencial Pública 50,5 75,6 4,0 9,6 100,0

Privada 49,5 24,4 96,0 90,4

EaD Pública 15,5 24,5 100,0 Privada 84,5 75,5 100,0 100,0

Fonte: INEP. MEC.

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Os dados constantes da Tabela 3 evidenciam a predominância da inciativa

privada nos percentuais de concluintes em instituições de organização acadêmica não-

universitárias (centros universitários e faculdades), bem como nas licenciaturas a

distância. Também evidenciam que a totalidade dos concluintes das licenciaturas

vinculadas a centros universitários e faculdades, na modalidade EaD, está nas

instituições privadas. Tal hegemonia privatista permite afirmarmos a permanência do

que Saviani (2014) classifica como “uma grande distorção do processo de formação

docente no Brasil”, qual seja:

(...) a grande maioria dos docentes que atuam nas redes públicas de

educação básica do país é formada em instituições particulares de

ensino superior de duvidosa qualidade. Com isso a educação básica

pública fica refém do ensino privado mercantilizado, sem

possibilidade de resolver seus problemas de qualidade (SAVIANI,

2014, p. 88).

Ademais, o quadro traçado na Tabela 3 constitui nítida objetivação do sistema

hierarquizado e diversificado de formação de professores para a educação básica,

expressão particular do processo mais geral de diversificação e diferenciação de

instituições e de cursos no ensino superior, proposto pelos organismos multilaterais, que

“[produz] também hierarquizações no que tange ao status social e à qualidade da

formação oferecida” (CASTRO; LAVANDE, 2009, p. 169).

Considerações

Os dados relativos à formação docente, aqui apresentados, ensejam,

contraditoriamente, avaliações positivas e negativas. Positivamente, podemos destacar

os bons índices de formação do corpo docente das redes públicas, superando, como na

educação infantil, os da rede privada.

Em contrapartida, concorre, para o questionamento dessa positividade, por um

lado, a elevada inadequação da formação dos professores às disciplinas lecionadas,

tornando inócua a diplomação em curso de licenciatura.

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Por outro, a efetiva vigência de um sistema hierarquizado e diversificado de

formação, claramente explicitado, no texto, quando tratamos da EaD, modalidade

profundamente privatizada, deslocando a formação dos professores para o âmbito da

lógica mercantil, com graves rebatimentos na formação ético-política dos docentes.

Referências

BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. CASA CIVIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro

de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em 10 de abril de 2016.

______. Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá

outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001 /

l10172. htm> Acesso em 10 de abril de 2016.

______. Decreto no 3.276, de 6 de dezembro de 1999. Dispõe sobre a formação em nível

superior de professores para atuar na educação básica, e dá outras providências. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3276.htm> Acesso em 06 de agosto de 2015.

______. Decreto nº 3.554, de 7 de agosto de 2000. Dá nova redação ao § 2o do art. 3o do

Decreto no 3.276, de 6 de dezembro de 1999, que dispõe sobre a formação em nível superior de

professores para atuar na educação básica, e dá outras providências. Disponível em

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