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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO
LUZINEI NUNES LIRA DE SOUZA
FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DO TURISMO:
CAMPO E CRÍTICA
São Paulo
2014
2
LUZINEI NUNES LIRA DE SOUZA
FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DO TURISMO:
CAMPO E CRÍTICA
Dissertação apresentada como exigência
parcial para a obtenção do título de
Mestre em Educação, no Programa de
Mestrado em Educação da Universidade
Cidade de São Paulo - UNICID, sob a
orientação da Profª. Drª. Sandra Lúcia
Ferreira.
São Paulo
2014
3
Prof(a). Dr(a). Adelina Novaes
Prof(a). Dr(a). Anamérica Prado Marcondes
__________________________________________
Orientadora: Prof(a). Dr(a). Sandra Lúcia Ferreira
BANCA EXAMINADORA
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho а Deus, pоr ser essencial еm minha vida,
autor dе mеu destino, mеu guia. O quе seria dе mіm sem а fé quе еu
tenho nele?
A você “marido” Marcos Adilson, companheiro no amor, na vida
e nos sonhos.
A vocês meus filhos: Igor, Letícia e Marília, cоm quem аmо
partilhar а vida e que SEMPRE me fizeram acreditar na realização dos
meus sonhos.
5
Agradeço
Ao meu Deus, a Santa Terezinha e a São Luiz Gonzaga, pelas bênçãos, proteção e
pela certeza diariamente que me amam!
À Profa. Dra. Edileine Vieira Machado pela dedicação e carinho no inicio do trabalho.
A Prof. Dra. Sandra Ferreira, minha orientadora, pela paciência е incentivo que
tornaram possível а conclusão deste trabalho;
Ao Cesmac, minha gratidão! Obrigada pela oportunidade e por também ser responsável
pela realização deste trabalho;
Ao Senac/AL pelo incentivo;
Aos amigos Águida Veiga, Luciano Araújo, Cláudia Paiva, Sibele Castro, Lívio
Lavagetti pelo apoio e carinho;
Aos meus queridos alunos, sempre acreditando e desejando: “boa sorte Luzi”;
Aos meus pais, irmãos e a querida Lú (Luciana) por terem chorado comigo na
aprovação da seleção e incentivando durante todo o percurso;
As minhas preciosidades: IGOR, LETÍCIA e MARÍLIA. Obrigada pеlа paciência, pelo
incentivo, pela força е principalmente pelo carinho. Valeu а pena a distância, as
ausências, as renúncias... Valeu а pena esperar... Hoje estamos colhendo, juntos, os
frutos do nosso empenho! Esta vitória é muito mais de vocês do que minha!
A minha nora Evelânia pela força, entusiasmo e apoio nas minhas ausências com
minhas filhas;
E o meu agradecimento especial ao marido Marcos Adilson, que de forma especial е
carinhosa mim deu força е coragem, mim apoiando, acreditando e pela companhia – em
TODAS as viagens a São Paulo.
A todos, o meu MUITO obrigada.
6
RESUMO
A presente dissertação foi elaborada com o propósito de ampliar simultaneamente o
campo de pesquisa e a crítica de aspectos constituintes da formação, em nível superior,
do turismólogo. Essa intenção resulta de que, em 2014, por causa de diferentes eventos
internacionais ocorridos no Brasil – Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo,
expressaram-se questões que envolvem esse campo de conhecimento, dando a ele um
notório destaque para seu potencial econômico, social, cultural e ambiental. Apesar de
sua importância, o turismo foi mais sistematizado somente na década de 1970, quando a
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo criou o seu curso.
Depois disso, em 2003, ocorre a criação do Ministério do Turismo. Estudos e discussão
sobre a qualificação dos recursos humanos necessários à área ainda são escassos e
insuficientes para apoiar a formação em Turismo, no nível de graduação superior, e
criar uma base sobre a qual se apoie a constituição da identidade do turismólogo –
associado às Instituições de Educação Superior (IES) – e sua empregabilidade –
associada ao mercado de trabalho. Questiona-se a contradição de um trabalho com
potencial reconhecido e o decrescente número de ofertas de cursos e vagas para
formação de profissionais. Questiona-se também a qualidade da formação oferecida na
IES, considerando-se a necessidade de um trabalho interdisciplinar e sustentabilidade
desses cursos no âmbito das IES. O presente estudo buscou, como ponto de partida, a
experiência pessoal da própria pesquisadora, construída desde sua formação inicial
como bacharel em Turismo, perpassando, sua prática empresarial e a vivência como
docente em uma IES. Essas experiências permitiram aproximar as inquietações
acadêmicas com as da prática profissional. Assim, buscando o levantamento de fatores
que possibilitassem o aperfeiçoamento do campo e da critica, esse trabalho investigativo
caracterizou-se como um descritivo-analítico do objeto, envolvendo uma metodologia
voltada para análise documental. Foram realizadas pesquisas de natureza bibliográfica e
de exploração de contrastes entre as Leis e Normativas – expressões das políticas
públicas – e a realidade dos espaços educativos. Como resultado considera-se que o
desenvolvimento do Curso de Graduação em Turismo passa por discussões que devem
aproximar profissionais, IES e mercado de trabalho. A formação deve sustentar-se pela
articulação da pesquisa, extensão, percepção crítica da realidade sociocultural e pela
formação cidadã. No entanto, a abordagem de um assunto ainda pouco discutido exige
uma investigação que possa contribuir para a superação de visões parciais, por isso, é
forçoso admitir que ainda haja interfaces passíveis de novas pesquisas e outras análises.
Palavras-chave: Bacharelado em Turismo. Politicas Públicas Educacionais.
Profissionalização em Turismo.
7
ABSTRACT
This dissertation was prepared with the purpose of simultaneously expand the field of
research and critical constituent aspects of training at a higher level, the turismólogo.
This intention is clear that, in 2014, because of the different international events in
Brazil - World Youth, World Cup, have expressed issues surrounding this field of
knowledge, giving it a noticeable emphasis on their economic potential, social, cultural
and environmental. Despite its importance, tourism was more systematized only in
1970, when the School of Arts and Communication, University of São Paulo created its
course. After that, in 2003, the creation of the Ministry of Tourism occurs. Study and
discussion of the qualification of human resources to the area are scarce and insufficient
to support training in tourism, the upper undergraduate level, and create a basis on
which to support the establishment of the identity of turismólogo - associated with
institutions Higher education (IHE) - and their employability - linked to the labor
market. Question the contradiction of working with recognized potential and the
decreasing number of course offerings and places for training professionals. Also
questioned the quality of training offered at IES, considering the need for
interdisciplinary work and sustainability of these courses at HEIs. The present study
sought, as a starting point, the researcher's own personal experience, built up since his
initial training as a BA in Tourism, passing, their business practice and experience as a
teacher in an HEI. These experiences have allowed closer academic concerns with
professional practice. So, seeking the lifting of factors that enabled the improvement of
rural and critical, this research work has been characterized as a descriptive-analytic
object, involving a methodology focused on documentary analysis. Expressions of
public policy - - and the reality of educational spaces searches of bibliographic nature
and exploration of contrasts between the Laws and Regulations were made. As a result
it is considered that the development of the Undergraduate Program in Tourism
undergoes discussions should approach professionals, IES and the labor market. The
training must be sustained by the articulation of research, extension, critical perception
of the socio-cultural reality and civic education. However, the approach of a subject still
little discussed require research that can contribute to overcoming partial views, so it
must be recognized that there is still capable interfaces to new research and other
analyzes.
Keywords: Bachelor in Tourism. Educational Public Policy. Professionalization in
Tourism.
8
LISTA DE SIGLAS
CES/CNE
COMBRATUR
CNTur
Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional
de Educação
Comissão Brasileira de Turismo
Conselho Nacional do Turismo
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
ECA/USP Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo
EMBRATUR
FUNGETUR
FISET
Instituto Brasileiro de Turismo
Fundo Geral do
Turismo
Fundo de Investimento Setorial de Turismo.
IES Instituição de Ensino Superior
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC
MTur
OMT
SCO
Ministério da Educação
Ministério do Turismo
Organização Mundial do Turismo
Sociedade Civil Organizada
TCC
UNESCO
Trabalho de Conclusão de Curso
Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÂO 08
I – TURISMO E POLÍTICA PÚBLICA
1.1 – Conceito atual de Turismo....................................................... 18
1.2 – Turismo no Brasil .............................................................................. 23
1.3 – Políticas Públicas de Turismo no Brasil............................................. 28
II – FORMAÇÃO SUPERIOR EM TURISMO NO BRASIL
2.1 – Desenvolvimento Histórico ............................................................... 37
2.2 – Políticas Educacionais para o Turismo no Brasil............................... 43
2.3 – Profissionalização do Bacharel em Turismo............................... 50
III – CONCLUSÕES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIAS
10
INTRODUÇÃO
Este trabalho resulta de aprendizagens, inquietações e desafios vividos ao longo
da minha trajetória pessoal e profissional.
Nasci em 1964, em uma fazenda agrícola no município de Coruripe, litoral sul
do estado de Alagoas. Filha de agricultores, fui alfabetizada em escola particular da
zona rural. Aos seis anos passei a estudar na segunda maior cidade do estado, Arapiraca,
onde cursei o 1º ano primário (na época). Em 1972 fui morar na capital Maceió, onde
resido até os dias atuais. No curso cientifico (hoje ensino médio) era a organizadora dos
passeios da turma. Ao final do curso, ainda com dezoito anos, assumi a
responsabilidade por uma excursão à distante Fortaleza. Tudo deu certo e meus colegas
e eu aproveitamos muito o passeio.
Até hoje planejo, organizo e executo as viagens da família. A cada dois anos
fazemos uma viagem de média duração – entre 10 a 15 dias. Enfim, sempre gostei de
turismo.
Meu gosto pelas viagens e por novos conhecimentos levou-me a ingressar no
curso de Bacharelado em Turismo em julho de 1999. Fui aluna dedicada, ocupando-me
de elaborar diversos projetos nos segmentos: cultural, histórico, eventos. Fiz estágio em
agenciamento e no último período submeti um projeto para a Incubadora Empresarial e
Tecnológica – IET, sendo o mesmo aprovado, constituí uma empresa na área de Gestão,
Projetos e Treinamento, atuante no mercado até hoje.
Durante a graduação preocupei-me com o desvalor do curso de Bacharelado em
Turismo por parte da sociedade e empresariado do setor. Ao ser graduada (2002),
deparei-me com um mercado totalmente alheio ao bacharel em turismo. A falta de
conhecimento da profissão e do papel desse profissional perdurou por muitos anos,
gerando a não inclusão do egresso em turismo no mercado profissional. Os empresários
do ramo do turismo (hotel, agência de viagem, eventos, e até mesmo os órgãos públicos
responsáveis pelo turismo) não absorviam o turismólogo.
11
A designação profissional “turismólogo”, desconhecida por grande parte da
sociedade, não é regulamentada legalmente1, e isso, na opinião de Trigo (2003),
ocasiona a livre concorrência entre os formados em turismo e aqueles com formação em
outras áreas do conhecimento. A regulamentação profissional proporcionaria maior
reconhecimento ao profissional que se prepara para exercer uma das atividades que mais
crescem no mundo.
Minha empresa presta serviços de consultoria em turismo, embora no início essa
atividade fosse pouco compreendida pelas secretarias de governo. Somente quando um
projeto federal abriu a possibilidade de implementação do Turismo Rural no sertão de
Alagoas é que pude mostrar a importância de uma assessoria profissional qualificada e
consolidar os serviços de consultoria oferecidos. Constituímos a primeira cooperativa de
turismo rural de Alagoas. Em razão dessa nova perspectiva busquei especialização em
cooperativismo e também em gestão de empresas e marketing.
Atualmente, presto consultoria na área de gestão em cooperativas de ramos
diversos (turismo, flores, taxi, apicultura, leite), atuando ainda na elaboração de projetos
para captação de recursos que venham a contribuir com o desenvolvimento econômico
do estado de Alagoas.
Em 2005 fui selecionada para ser instrutora do Programa Nacional de Inclusão
de Jovens – PROJOVEM, no arco ocupacional Turismo e Hospitalidade, lá permaneci
até 2010.
Ainda em 2005, através de seleção, fui contratada pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial – SENAC para ser instrutora na área de Turismo e
Hospitalidade e, três anos depois, assumi também a prática supervisionada na área de
hotelaria. Até hoje atuo no ensino profissionalizante no SENAC/AL. Em 2012,
especializei-me em Docência do Ensino Profissionalizante.
1 Em 2008 o Senado e a Câmara Federal aprovaram o projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLC
24/2005), que regulamenta a profissão Turismólogo (ou Bacharel em Turismo). O projeto de lei considera
como turismólogo todo aquele profissional que tem curso superior em Turismo ou que vem exercendo a
profissão de maneira ininterrupta há pelo menos 12 meses até a publicação da referida lei. Cabe ressaltar
que, até o presente momento, o mesmo não foi homologado pela Presidência da República.
12
Dessa experiência docente pude reconhecer que não basta desenvolver
habilidades e virtudes para que as pessoas aprendam novos conhecimentos e com elas se
tornem mais eficientes no que fazem.
Todo modelo de formação, capacitação, treinamento, educação e
desenvolvimento deve assegurar ao ser humano a oportunidade de ser o que pode ser, a
partir das suas próprias potencialidades, sejam elas adquiridas ou inatas
(CHIAVENATO, 1981).
Em 2010, fui convidada para assumir as cadeiras de hotelaria e supervisão de
estágio no curso de bacharelado em turismo no centro universitário CESMAC. Este
convite deixou-me envaidecida, pois lecionaria no curso e na faculdade em que me
formei. Docente do CESMAC até hoje, ministro as disciplinas de eventos em turismo,
gestão ambiental e sustentabilidade, técnicas de alimentos e bebidas e trabalho de
conclusão de curso (TCC).
Assim é que realmente me sinto profissional em turismo, ao transmitir e
construir com os alunos, tudo ou quase tudo que havia aprendido em sala de aula bem
como com as experiências vividas em minhas viagens e lugares onde atuei
anteriormente. Enfim, estou trabalhando para/com pessoas que gostam do mesmo que
eu: o turismo.
Mas ainda muito me preocupa ver que, mesmo com o crescimento do turismo e
com a expansão da hotelaria, a inclusão profissional do bacharel em turismo está muito
aquém do que este segmento precisa. Sinto nos alunos a mesma preocupação e
insatisfação. O mercado profissional turístico ainda hoje não percebe a importância e o
papel deste profissional.
O curso oferecido pelo CESMAC busca qualidade e por isso consulta e
acompanha a trajetória dos graduandos a fim de saber se o percurso curricular tem
atendido às expectativas e demandas dos mesmos, em consonância com os objetivos e
diretrizes propostos.
13
Dentre os fatores que tornam o curso de Turismo atraente estão o fato de
possibilitar uma ampla área de atuação, fornecer oportunidades de entrar em contato
com ambientes múltiplos, envolver relacionamento interpessoal. Os que procuram o
curso de turismo como formação superior, reconhecem-no como área científica e
acadêmica relevante para a profissionalização e consequentemente para a atuação na
sociedade.
Tomar a decisão de fazer um curso superior em Turismo é um passo importante.
Se o aluno faz essa opção sem pesquisar sobre o curso e a área de atuação, corre o risco
de se decepcionar logo no primeiro ano, o que resulta em frustração e perda de tempo.
Muitas pessoas ainda confundem a profissão de turismólogo com a de Guia de
Turismo, mas a graduação não inclui essa habilitação no currículo de bacharel. Para
atuar como Guia de Turismo faz-se um curso técnico específico, que dura em média
dois anos.
Como citado anteriormente, a profissão de turismólogo não é regulamentada e,
portanto, não existe reserva de mercado para que o exercício desta profissão fique
somente a cargo de bacharéis em turismo. Isto implica a concorrência com outros
profissionais, formados em diferentes áreas, mas sem qualificação específica. Para o
professor Dr. Luiz Gonzaga Godoi Trigo não é a regulamentação da profissão de
turismólogo que garantirá visibilidade ao bacharel ou criará uma reserva de mercado
para esse profissional; pois, como é enfatizado por Barretto, Tamanini e Silva (2004), o
turismo gera muitos empregos para profissionais de diversas áreas; há tanto um médico
que trabalha a bordo de um cruzeiro marítimo quanto um advogado que defende os
direitos dos turistas.
De acordo com Ansarah (2002) o reconhecimento dessas peculiaridades deve
levar a uma formação mais abrangente do turismólogo de modo que ele possa
desenvolver uma visão mais ampliada da realidade econômica, política e cultural e das
particularidades humanas.
Considerando todas essas questões e ocupada em ampliar meus conhecimentos,
inscrevi-me para a seleção do mestrado na UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO
PAULO (UNICID). Tarefa árdua, pois, de fato, descobri que me encontrava diante do
que realmente queria, mas ao mesmo tempo muito próxima das dificuldades que me
inquietavam.
14
Ao iniciar as aulas do mestrado, meu entusiasmo foi mostrando o caminho para
as possibilidades. E hoje, em fase final, o caminho transformou-se numa estrada. O
relato dessa vivência é sinal de que posso contribuir de algum modo para uma mudança
de expectativas aos estudantes de Turismo, incentivando-os a enfrentar os desafios e
salientar nossa importância enquanto gestores e pesquisadores desse setor da vida
social.
Meus recentes estudos e também meu trabalho docente fazem confirmar que a
formação do Bacharel em Turismo é muito questionada quanto à simetria entre o
formado e seu lugar no mercado. O curso de Bacharelado em Turismo surge no Brasil,
na década de 1970, a partir do entendimento de que esta seria uma nova fonte de água
inesgotável. Considerada a profissão do futuro, o curso de turismo passou a ser ofertado
em todo Brasil, chegando, nos últimos anos, a uma quantidade significativa de
programas de formação em todo o país.
No decorrer desses quarenta anos, os currículos foram ampliados e vem surgindo
uma boa produção científica na área. Entretanto, a inserção no mercado profissional do
turismo ainda é muito inferior ao almejado pelos acadêmicos e egressos.
Atualmente, verifica-se a diminuição da procura pelos cursos de graduação na
área, obrigando instituições de ensino tradicionais do país a repensarem suas estruturas
curriculares, tornando-as mais enxutas. E isso é uma preocupação para mim, pois indica
que o campo profissional para o bacharel vem diminuindo e com ele menos pesquisas e
professores serão requeridos.
As cidades turísticas precisam de profissionais habilitados. O bacharel em
Turismo compreende os elementos que compõem a relação turismo e meio ambiente e
com isso é capaz de criar planos de manutenção do equilíbrio entre natureza e atividade
econômica, assegurando a continuidade da atividade turística e a preservação ambiental.
Além disso, a atividade turística tem grande importância na sistemática de
desenvolvimento local, pois cria novas frentes de trabalho e novos conhecimentos. A
combinação desses dois fatores tornam-se atrativos importantes para investimentos
sociais e ambientais, essência da melhoria da qualidade de vida das comunidades
envolvidas.
15
O turismo enquanto fenômeno social, político, econômico e cultural vem sendo
praticado ao longo dos tempos de acordo com as características de cada povo e de cada
época. A prática do turismo foi se modificando e se moldando às novas necessidades
que surgiram e, na atualidade, segundo a Organização Mundial de Turismo - OMT, este
se coloca entre os três mais importantes segmentos do comércio mundial em um
contexto caracterizado por grandes transformações sociais e econômicas.
O turismo é reconhecidamente uma atividade econômica e tem como um de seus
objetivos alcançar a taxa de lucro e de retorno. No entanto, o turismo também passou a
ser reconhecido enquanto uma atividade capaz de gerar novas oportunidades de
empreendimento, de emprego e de desenvolvimento capaz de propiciar inclusão social,
ou seja, uma atividade que favorece a todos os atores sociais, o privado, o público e a
população local.
Devido a variados eventos internacionais sucedidos aqui no Brasil, Jornada
Mundial da Juventude e Copa do Mundo, estendeu de forma significante o acréscimo de
distintas questões que abrace essa área de conhecimento dando a esse tema um evidente
interesse para seu excelente potencial econômico, social, cultural e ambiental. Por esse
histórico, faz-se oportuno à contenda sobre a qualificação dos recursos humanos que
forma a constelação desta área, mas evidencia-se aqui a formação de graduandos em
Turismo investigando buscando estudar a identidade do turismólogo – associado às
Instituições de Educação Superior (IES) – e sua empregabilidade – associado ao
mercado de trabalho. Indaga-se a incoerência de uma atividade com potencial declarado
e o declinante número de oferta de vagas para a formação de novos profissionais.
Questiona-se também a qualidade da formação ofertada na IES, a primordialidade de
um trabalho interdisciplinar e sua sustentabilidade na comunidade onde está inserida a
IES.
Os cursos superiores de bacharel em Turismo, desde a formação da primeira
turma nos anos de 1970, sempre buscaram colocar em prática um projeto pedagógico
aliado ao planejamento e organização do turismo com responsabilidade e critérios; e,
para isso, foram definidas suas competências e habilidades previstas nas Diretrizes
Curriculares Nacionais de forma a uniformizar essa conduta profissional. Porém, desde
então, pouco se fez enquanto políticas públicas e privadas nacionais para dar conta da
demanda de formação dos bacharéis disponíveis para o mercado.
16
Vale dizer que o amadurecimento dos cursos de turismo e sua expansão
provocaram o aparecimento de propostas diferenciadas, adaptadas ou direcionadas às
necessidades e realidades locais e regionais, ao lado de propostas incoerentes,
inconsistentes e mal formuladas. Pouco adianta dispor de atrativos turísticos ímpares se,
por exemplo, o atendimento nos meios de hospedagem for de regular a ruim, se não
houver guias nos monumentos históricos; se os garçons de restaurantes forem
impacientes e desatentos; se o motorista de táxi não souber a história e os principais
atrativos da cidade; se, nos órgãos públicos, não houver informações turísticas; se,
ainda, a própria população local não valorizar o seu patrimônio natural e cultural. Não
se deve esquecer, também, que faltam pesquisadores para desenvolver pesquisas básicas
e aplicadas à resolução de variados problemas, faltam planejadores e gestores do
desenvolvimento turístico; enfim, faltam recursos humanos qualificados e capacitados
(Rejowski, 2002).
Sobre a sustentabilidade, destaca-se a proposta de um modelo de educação
superior no qual a instituição de ensino teria um papel relevante na promoção de
valores, competências e habilidades para um atuar sustentável. Sobre a inclusão social, a
proposta de construção do currículo considera básicos os conceitos de qualidade social,
identidade dos cursos; bem como sua função social, fundamentada em valores como
ética, tolerância, solidariedade, igualdade social e democratização das relações de
ensino. Em relação à hospitalidade, esta deve ser inserida no projeto pedagógico do
curso, sendo aplicada não apenas como termo isolado nas matrizes curriculares, mas
também como aspecto a ser discutido durante todo o processo de formação.
Com base no exposto formulou-se o objetivo do presente estudo: contextualizar
o campo e realizar a crítica da formação do bacharel em turismo. Para atingir tal
objetivo, algumas indagações se impõem: o desconhecimento sobre a abrangência da
formação do bacharel em turismo é o fator determinante para o mercado não perceber a
diferença entre um profissional devidamente formado e outro profissional sem essa
formação? Gerentes e demais gestores de empresas de turismo, sem formação
específica, que desenvolveram suas competências pela experiência no setor sentem-se
ameaçados pelo bacharel em turismo? Esses mesmos gerentes, por desconhecimento,
não reconhecem o bacharel como um profissional com qualificação? O mercado
reconhece o valor e significado do bacharelado em turismo?
17
Em face dessas indagações é necessário pensar sobre os fatores representativos
da melhoria dos serviços turísticos. Tal melhoria, que está intimamente ligada à
hospitalidade2 profissional, é elemento chave para a sustentação do setor.
A hotelaria é um segmento de mercado fortemente aliado ao turismo, não
importa se de lazer ou de negócios. O termo hostellum começou a ser utilizado para
designar palacetes, onde reis e nobres se hospedavam na época do Império Romano.
Porém, os primeiros registros de hospedagens no mundo vêm do século VI a.C.,
mostrando que comerciantes ficavam em casas ou quartos de outras pessoas quando
viajavam entre a Europa e o Oriente. De 1750 a 1820, na Inglaterra, serviços de
limpeza e alimentação passaram a ser vistos como atrativos para novas hospedagens.
Reportando-se ao método de produção de bens e serviços em hotelaria
CASTELLI (2001) afirma que a qualidade destes depende de todas as pessoas
ocupadas com cada uma das unidades básicas do sistema operacional do hotel. Para
Campos (1992), os (as) funcionários (as) representam o maior patrimônio para as
organizações de serviços. A qualidade humana é crucial à empresa hoteleira, uma vez
que a produção de bens e serviços depende quase por completo da atuação das pessoas,
seja em grupo, seja individualmente. De acordo com o mesmo autor, o conjunto de
atividades empresariais pode ser reduzido a três palavras-chave: pessoal, produtos e
benefícios; prioritariamente o quadro de pessoal, ou seja, de colaboradores,
responsáveis pelos produtos e serviços. O bacharel em Turismo atua nos segmentos
turísticos que envolvam pesquisa, planejamento, organização, operacionalização,
administração, gestão, controle, treinamento e qualificação.
Temos escolas técnicas profissionalizantes que preparam as pessoas que atuarão
na linha de frente de um hotel ou de um restaurante e que não têm conhecimentos
primordiais como uma língua estrangeira e mesmo noções de higiene suficientes. Logo,
essa formação ainda mantém-se no nível básico de conhecimentos exigidos pelo
mercado. Em contrapartida, a falta desses profissionais qualificados desvaloriza o
trabalho realizado e interfere na remuneração concedida aos empregados.
2Hospitalidade é uma palavra originária do Latim hospitalitate e significa o ato de hospedar, a qualidade
de quem é hospitaleiro, acolhimento afetuoso. www.trabalhosfeitos.com/topicos/transporte-turismo-e-
hospitalidade/0
18
Nas universidades oferece-se uma noção de gerenciamento e conhecimentos
generalizados, porém o mercado está à procura daqueles que tenham competência
técnica para trabalhar. Mesmo os graduados que, de certo modo, são mais preparados
não conseguem muito mais que um cargo operacional e, por conta disso, recebem baixa
remuneração. Esta é uma situação ambígua, porque o profissional que está entrando no
mercado de trabalho ainda não tem habilidades suficientes para um cargo de maior
responsabilidade e acaba se igualando àqueles que se qualificaram operacionalmente.
Em razão disso, algumas universidades também oferecem cursos com ênfase
operacional a fim de colocarem seus alunos no mercado.
Conforme Ruschmann (2002), as instituições de ensino formam uma massa de
bacharéis em turismo para trabalharem em ramos turísticos que são dinâmicos,
competitivos e complexos, mas o simples fato de alguém possuir formação diplomada
em nível superior não garante competência para o exercício profissional, muito menos
lugar reconhecido no mercado de trabalho.
A diretriz curricular do curso de graduação em turismo afirma que o egresso
deve possuir uma sólida formação em termos teóricos, práticos e éticos, visando ao
desenvolvimento de competências e habilidades gerais para que levem o profissional a
atuar de forma competente em suas funções.
Enfim, dessa breve descrição é possível reconhecer a relevância da preocupação
com a formação do bacharel em turismo. É forte a participação do setor na economia
mundial em suas variadas atividades, por isso mesmo, o mercado de trabalho continua
atraente.
Apesar do forte processo de mundialização no qual os homens estão inseridos,
carregando características como o individualismo e múltiplas estratégias na busca
incessante por uma identidade globalizada — exatamente na mesma medida em que os
mercados mundiais valorizam e definem comportamentos individuais, habilidades e
competências para atuar neste mercado, desprovido de valores sociais —, a formação
deve atender aos princípios de cidadania que deverão nortear a formação de um
profissional que trabalhe essencialmente com pessoas e em busca da satisfação destas.
Neste sentido, compreender o que é o propósito de trabalho deste profissional poderá
19
contribuir para avançar nas discussões sobre a formação destes e seu compromisso
social.
As viagens — tema de estudo e de trabalho dos profissionais do turismo — são
peculiares aos seres humanos desde os mais remotos tempos, mas principalmente após a
quebra de fronteiras entre o local e o global, estimulada pelo avanço dos meios de
comunicação e de transporte. As viagens, portanto, colocam-se como prioritárias nas
relações humanas a partir da compreensão de que o turismo transcende a produção, os
sentidos envolvendo a matéria, o fenômeno da mobilidade, os aspectos psicológicos, as
atitudes, as reações, os sentimentos e as sensações de ver e sentir uma localidade.
Dessa perspectiva, profissionais bem formados são essenciais não ao só ao setor,
mas também ao próprio desenvolvimento humano considerado, na atualidade, como
fruto do conhecimento amplo do mundo e das culturas.
Ruschmann (2002, p. 6) analisando o mercado de trabalho do turismólogo,
elenca vários tipos de empresas e atividades com serviços especializados nas quais esse
profissional atua.
Com base no exposto formulou-se o objetivo do presente estudo: contextualizar
o campo e realizar a crítica da formação do bacharel em turismo.
A partir dos objetivos aqui propostos, esta pesquisa caracterizou-se como estudo
descritivo-analítico com os seguintes encaminhamentos: estudo da produção teórica da
área em busca de base empírica e de base teórica para ampliar a compreensão das
categorias de análise da problemática estudada.
O ponto de partida referencial é a experiência pessoal da própria pesquisadora,
construída ao longo do seu bacharelado em Turismo. Além dela, a pesquisa se apoia em
inúmeras coletas de dados, incluindo-se a vivência, no mercado de trabalho, com
colegas de profissão e profissionais de turismo.
Não existem regras fixas que produzam resultados completamente livres de erros
ou desvios, bem como, nenhuma área do conhecimento está limitada a um conjunto fixo
de métodos. A ciência é dinâmica e, portanto, novos métodos podem ser desenvolvidos
ou aprimorados. Assim, como diferentes disciplinas utilizam-se de diferentes métodos
de pesquisa, em áreas multidisciplinares como o Turismo, o conhecimento do método é
20
de extrema importância para uma boa condução de um processo de pesquisa bem como
a avaliação.
Também foi realizado um levantamento bibliográfico que compreendeu textos e
publicações (livros, dissertações), bem como outros tipos de trabalhos ou documentos
eletrônicos que pudessem se r utilizados como fonte de estudo ou leitura.
Para ampliar e complementar o estudo da literatura, foi também realizada uma
pesquisa documental, que “consiste na coleta, classificação, seleção e utilização de toda
espécie de informações, compreendendo também as técnicas e os métodos que facilitam
a sua busca e a sua identificação .” (FACHIN, 2006, p.146).
Alguns autores divulgam que pesquisa documental e pesquisa bibliográfica são
sinônimas. Appolinário (2009), no Dicionário de Metodologia Científica descreve o
seguinte: pesquisa documental: [bibliographical research,; documental research];
pesquisa bibliográfica: [bibliographical research,; documental research]. Pesquisa que se
restringe à análise de documentos. Além disso, ele faz a indicação para ver também as
estratégias de coleta de dados (p.152). Seguindo as recomendações do autor citado
buscamos compreender o sentido desses termos e chegamos à definição estratégia de
coleta de dados. No verbete, Estratégia de coleta de dado, ele nos informa que:
Normalmente, as pesquisas possuem duas categorias de
estratégias de coleta de dados: a primeira refere-se ao
local onde os dados são coletados (estratégia-local) e,
neste item, há duas possibilidades: campo ou laboratório.
[...] A segunda estratégia refere-se à fonte dos dados:
documental ou campo. Sempre que uma pesquisa se
utiliza apenas de fontes documentais (livros, revistas,
documentos legais, arquivos em mídia eletrônica, diz-se
que a pesquisa possui estratégia documental (ver pesquisa
bibliográfica). Quando a pesquisa não se restringe à
utilização de documentos, mas também se utiliza de
sujeitos (humanos ou não), diz-se que a pesquisa possui
estratégia de campo (APPOLINÁRIO, 2009: 85).
A pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica têm o documento como objeto
de investigação. No entanto, o conceito de documento ultrapassa a ideia de textos
escritos e/ou impressos.
A pesquisa documental focalizou as Diretrizes Curriculares Nacionais para os
cursos de Graduação em Turismo no Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
21
Nacional -9.394 – 20/12/1996, Plano Nacional de educação – PNE (Lei nº 10.172 –
9/01/2001).
A pesquisa em Turismo passa a fazer parte de um campo multidisciplinar e é
influenciada, assim como também influencia áreas da sociologia, economia,
administração, psicologia e geografia entre tantas outras.
Constatou-se que as pesquisas sobre o ensino superior em Turismo são recentes,
pois começaram a ser desenvolvidas somente na década de 2000 e refletem as políticas
públicas normativas do ensino superior. O perfil dos autores ficou comprometido pela
inexistência do currículo Lattes ou pela falta ou dados incompletos neste.
Isso se reflete no fato de que o MEC - Secretaria de Educação Superior, através
do Modelo de Enquadramento das Propostas de Diretrizes Curriculares estabelece que o
bacharel em Turismo deve “proporcionar a integração curricular através de mecanismos
tradicionais e inovadores, possibilitando ao graduado a capacidade de abordagem
multidisciplinar, integrada e/ou sistêmica”.
No entanto, por abordar um assunto ainda pouco discutido, que propõe novos
olhares a exigir uma investigação mais aprofundada, admite-se que há ainda interfaces
passíveis de análise.
A opção pela pesquisa de natureza qualitativa deveu-se à repercussão
significativa que essa metodologia goza em assuntos da área social e, em especial, da
educação. Os resultados obtidos com a pesquisa serão apresentados a seguir.
Através desse mapeamento a autora, coloca em questão o que levaria, um
mercado tão abrangente impor obstáculos à absorção dos bacharéis em turismo. Uma
das causas apontadas pela autora é o fato de as empresas do setor existirem há mais
tempo que os cursos de Turismo em nível superior, o que faz com que o empresariado
do setor julgue desnecessária essa formação.
Reafirmo, aqui, que a principal contribuição do presente trabalho é mostrar que a
formação superior em turismo é de fundamental importância para a melhoria da
qualidade dos serviços de turismo oferecidos no Brasil.
Para expor os resultados dessa reflexão, o presente texto foi estruturado em
capítulos temáticos.
22
I– TURISMO E POLÍTICA PÚBLICA: este capítulo apresenta conceitos do
turismo, mostra como se deu a evolução do turismo no Brasil e a complexidade das
políticas públicas em turismo. Utilizou-se como fonte Montejano (2001), Castelli
(2001), Beni (2003), Moesch (2002), Solha (2002), Coriolano (2008), Trigo (2003) e
Cruz (2000).
II - FORMAÇÃO SUPERIOR EM TURISMO NO BRASIL: nesta etapa busquei
apresentar a construção do referencial teórico sobre a evolução do ensino superior no
Brasil e, em especial, dos Bacharelados em Turismo, sobre as políticas educacionais
onde apresenta algumas bases legislativas da organização e estruturação da atividade.
Para tanto, utilizei de autores como: Teixeira (2007), Ansarah (2002), Trigo (2000),
Horta (1996), Severino (2001), Beni (2003), Moesch (2002), além de normativas do
Ministério da Educação – MEC para fundamentar o capítulo.
III – METODOLOGIA: esta etapa constitui os passos metodológicos para realização
da pesquisa - método utilizado, autor utilizado: Rejowski, 2002, FACHIN, 2006, p.146)
e as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Graduação em Turismo no
Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -9.394 – 20/12/1996, Plano
Nacional de educação – PNE (Lei nº 10.172 – 9/01/2001).
IV – ANÁLISES: neste capítulo apresentam-se as análises documentais, bem como
os resultados encontrados. Utilizou-se de Teixeira (2007) para fundamentar as
análises.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: nesta etapa são apresentados os resultados da
pesquisa, onde são apresentadas algumas sínteses teóricas bem como os próximos
caminhos a serem seguidos.
23
I – TURISMO E POLÍTCA PÚBLICA
Neste capítulo foram abordados a evolução histórica do turismo, os diferentes
conceitos que transitam na área, bem como a atualidade do turismo no Brasil e suas
políticas públicas. Tais informações são necessárias para contextualizar o universo de
pesquisa.
1.1. Conceito atual de Turismo
Desde o final do século XVIII, na Inglaterra quando a nobreza e a incipiente
classe burguesa realizavam o gran tour3
surgiram os conceitos modernos de turismo,
porém vale lembrar que desde a Antiguidade até os séculos XVIII e XIX vários
acontecimentos foram registrados sendo relativos ao lazer, à atividade turística e às
viagens.
Desde outros tempos, as viagens são atividades necessárias, pois relacionam-se
ao comércio e à busca, de bens para subsistência e melhoraria das condições de vida. As
conquistas de territórios motivadas politicamente e os desejos de descanso e saúde de
poucos privilegiados também moviam as pessoas.
Festas religiosas, visitação a templos e santuários e competições atléticas como
as ocorridas em Atenas, Delfos, Corinto e Olímpia (cidade em que se originaram os
Jogos Olímpicos) também registravam a ocorrência de viagens com guias que
especificavam os itinerários, o tempo da viagem e as distâncias.
Também podemos destacar os romanos como grandes colaboradores do
crescimento do turismo, com as construções de suas estradas, facilitando e aumentando
o percurso dos viajantes, que viajavam por lazer e exploração de novas regiões. No
percurso das estradas foram construídos hospedarias e centros de tratamentos termais.
Os espetáculos circenses e lutas nas famosas arenas de gladiadores serviram como
atração para o entretenimento, sendo os romanos os primeiros povos a se deslocarem de
suas regiões em busca desse prazer.
3 Gran tour: viagens que os jovens da nobreza e da classe média inglesa realizavam para o Continente
com o objetivo de complementar seus estudos e adquirir experiência. Tinham duração de um a três anos -
a palavra que deu origem ao termo turismo. (MONTEJANO, 2001, p. 85)
24
Outro fato importantíssimo na história do turismo foram as peregrinações
religiosas, acontecendo com bastante relevância em Roma, com os cristãos e à Meca,
com os islamitas, no século VI d.C.
Destaca-se neste contexto a descoberta do túmulo de São Tiago Maior, em
Patrón, na Espanha e a visita ao Santo Sepulcro, em Jerusalém. Das visitas ao túmulo de
São Tiago, no ano de 1440, criou-se o primeiro roteiro de viagem, escrito pelo francês
Aymeric Picaud, orientando como se chegar a Santiago a partir da França; reconhece-se
que este foi o primeiro guia turístico impresso.
A partir desse período, as hospedarias começaram a receber pelos serviços
prestados, tornando-se atividades lucrativas.
O turismo pode ser assim conceituado:
Viagem ou excursão, feita por prazer, e locais que despertam
interesse. O conjunto dos serviços necessários para atrair aqueles que
fazem turismo e dispensar-lhes atendimento por meio de provisão de
itinerários, guias, acomodações, transporte, etc. (FERREIRA, 1999, p.
218).
Ao longo dos caminhos da Europa Medieval, o movimento das cruzadas fez
retornar os motivos de comércio impulsionando viajantes como soldados, peregrinos e
mercadores que, de alguma forma, procuravam sentir, ser, agir, realizar, pensar ou
imaginar outras formas de se viver, buscando o desconhecido, o novo, o imaginado.
O movimento das viagens começou a tomar vulto por volta de 1282 quando os
proprietários de pousadas se reuniram na cidade de Florença formando o primeiro
grêmio de donos de pousadas – dando a esta atividade um caráter comercial
(MONTEJANO, 2001, p. 87).
Nos séculos XVII e XVIII, os “tours” movimentavam a Europa e desse período
originam-se obras escritas que descreviam os itinerários realizados na França, Itália e
Alemanha realizados por motivo educacional e/ou aventureiro.
25
Durante os duros anos da Segunda Guerra Mundial, o turismo apresentou um
refluxo, superado por volta de 1950, quando o turismo retornou com força total. Esse
retorno foi motivado por questões de ordem política, econômica, e social, pois o
turismo se apresentou como atividade capaz de gerar ganhos financeiros e também
apagar terríveis marcas deixadas pela recente guerra.
Das conceituações aplicadas ao turismo, no âmbito global, uma das mais
objetivas pertence ao economista austríaco Hermam Von Schullard que, em 1911,
conceituou o turismo como: “a soma das operações, especialmente as de natureza
econômica, diretamente relacionada com a entrada, permanência e deslocamento de
estrangeiros para dentro e para fora de um país, cidade e região” (BARRETTO, 2010, p.
9). Nesse sentido, define o turismo como um mecanismo gerador de renda, quando da
utilização da cadeia produtiva do trade turístico4. Nessa concepção o turismo é
meramente uma atividade econômica e desprovida de qualquer valor cultural e social.
sem que haja uma definição quanto à permanência do turista, onde que a atividade era
vista nesse caso meramente no âmbito econômico.
A Revolução Industrial inseriu uma nova forma de lidar com o tempo. Ao lado
do trabalho industrial e da vida urbana surge a necessidade de lazer, pois que “no
passado o indivíduo tinha a sensação de fazer sempre as mesmas coisas por obrigação
ou necessidade” (CASTELLI, 2001, p.30). A ideia de lazer que se opõe ao trabalho vai
se fortalecer no século XX. O trabalhador passa a ter direito a um período de férias e
nesse tempo quer afastar-se do ambiente cotidiano. Tanto a urbanização quanto o
trabalho nas indústrias chegarão a várias partes do mundo; ao mesmo tempo os direitos
trabalhistas também chegarão. É o caso do Brasil.
Por outro lado, a concepção de turismo no Brasil será marcada pelo se caráter de
atividade econômica, mais fortemente do que pela sua inserção no âmbito sociocultural.
A EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo – cujo atual nome é Instituto
Brasileiro de Turismo e está vinculado ao Ministério do Turismo no Brasil), define
turismo como uma atividade econômica representada pelo conjunto de transações
4 O conceito de trade turístico é compreendido aqui a partir da conceituação Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Trade_tur%C3%ADstico 22 de setembro de 2014. Que em síntese pode ser
assim definido: conjunto de equipamentos da superestrutura constituintes do produto turístico.
26
(compra e venda de produtos e serviços turísticos) efetuadas entre os agentes
econômicos do turismo.
É gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora dos
limites da área ou região em que têm residência fixa, por qualquer motivo, excetuando-
se o de exercer alguma atividade remunerada no local de visita.
Segundo Beni (1998), o turismo
É o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria
que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a
indústria, geram sobre os ambientes físicos, econômicos e
socioculturais da área receptora. (p.27).
Depreende-se, por conseguinte, que é fundamental uma visão ampliada do
significado do turismo tanto em termos da economia nacional quanto do seu impacto
social e até da paisagem de um determinado local. O turismo é um verdadeiro
conglomerado de processos e fases, sistematicamente destinados à satisfação da
necessidade da demanda..
Sendo o turismo uma atividade própria da sociedade de consumo a combinar
ações públicas e privadas, ele exige grandes investimentos financeiros e tecnológicos no
fornecimento de bens e serviços aos turistas. Além disso, visa alcançar resultados que
permitam o desenvolvimento econômico, político, social e cultural da sociedade
envolvida. Esses aspectos são reverenciados no conceito que segue de acordo com
Oliveira (2005):
Dá-se o nome de turismo à atividade humana que é capaz de produzir
resultados de caráter econômico, político, social e cultural produzidos
numa localidade, decorrentes do relacionamento entre os visitantes
com os locais visitados durante a presença temporária de pessoas que
se deslocam de seu local habitual de residência para outros, de forma
espontânea e sem fins lucrativos. (p.36)
27
Então, viajar é o ato de deslocar-se temporariamente de um lugar para outro,
sempre com a intenção de retornar, de voltar, à origem. Sendo assim, fazer turismo
pressupõe uma viagem temporária que exige infraestrutura adequada, ou seja,
hospedagem, alimentação, transporte, serviços e bens que por sua vez exige qualidade e
pessoas especializadas.
Atualmente, porém, o turismo deixou de ser obra de grandes empreendedores
individuais a arriscarem seus ganhos e sua competência empresarial, para tornar-se um
dos mais sólidos campos da economia mundial.
Talvez por sua complexidade e abrangência, o turismo ainda seja um conceito.
São muitas as definições possíveis para essa atividade. Vejamos algumas dessas
definições.
Dencker (1998. p. 12) define turismo como o conjunto de relações e
manifestações que se originam da viagem e as estadas dos não residentes, com a
condição de que essa viagem ou estada não tenha sido estabelecida com a finalidade
principal de exercer uma atividade remunerada. Ou seja, que a viagem tenha motivos
diversos como lazer, religião, saúde, negócios, férias, família, mas uma finalidade
econômica.
Hoje, existem estudiosos do turismo que trabalham com uma visão mais
complexa sobre o assunto, incluindo aspectos sociais ao fenômeno.
Moesch (2002, p. 33) ressalta que o turismo é:
[...] “uma combinação complexa de inter-relacionamento entre
produção e serviços” [...] e essa combinação é composta por [...] uma
prática social com base cultural, com herança histórica, a um meio
ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de
hospitalidade, troca de informações interculturais [...].
Nota-se que o tratamento do turismo sob um ponto de vista econômico, em
primeiro lugar, não é tão recente; e, também, não surge do nada, mas aparece conforme
se desenvolve o próprio negócio que se preocupará em definir.
28
De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT)5, ele é responsável
pela geração de 6% a 8% do total de empregos no mundo. É também uma das atividades
econômicas que demanda o menor investimento para a geração de trabalho A
Organização Mundial de Turismo (OMT) traz um conceito mais atual e claro, definindo
assim como turismo: “[...] o deslocamento para fora do local de residência por período
superior a 24 horas e inferior a 60 dias motivados por razões não econômicas”. (OMT,
1995).
Enfim, o que se verifica é que o conceito de turismo tem se transformado ao
longo do tempo, bem como a própria atividade que tem se estendido a outros diversos
aspectos da vida social e setores da vida econômica.
1.2. Turismo no Brasil
Falar de turismo em um país como o Brasil parece ser tarefa fácil, devido ao
grande potencial que o país apresenta. Entretanto, ao analisar o turismo como um
fenômeno sociocultural, econômico, ambiental e, por que não, científico, depara-se com
uma atividade complexa, que não depende somente de belos lugares, mais sim de
profissionalismo, estudos e pesquisas.
Segundo Solha (2002, p. 117) “o desenvolvimento do turismo no Brasil não é
um fenômeno recente e pontual”, a autora coloca que também aqui, como na Europa, o
turismo tem evoluído acompanhando as mudanças econômicas, sociais e culturais.
Acredita não ser tarefa fácil estudar o processo evolutivo da atividade turística
brasileira, uma vez que, como ela coloca:
levantar, identificar e analisar esta evolução significa deparar- se
continuamente com uma série de dificuldades como:
. a inexistência de registros da memória histórica do turismo no país;
5Organização Mundial do Turismo (UNWTO /OMT) é uma agência especializada das Nações Unidas e a
principal organização internacional no campo do turismo. Ela serve como um fórum global para questões
de políticas turísticas e como fonte prática do know-how em turismo.
29
. a falta de sistematização das informações do setor;
. a falta de estudos abrangentes do fenômeno em âmbito nacional;
. a dispersão dos estudos no tempo e no espaço;
. as poucas informações empresariais dispersas entre os vários órgãos,
entidades e associações “(p. 118).
O turismo no Brasil começa com o próprio descobrimento, IGNARRA (2003,
p.07):
[...] As primeiras expedições que chegaram com Américo Vespúcio, Gaspar Lemos
e Fernando de Noronha outros, não deixavam de estar fazendo turismo de aventura
[...] O autor continua ressaltando que [...] com a instalação das capitanias
hereditárias e do Governo Geral, criou-se um turismo de negócios entre as
metrópoles e a colônia e também a necessidade das viagens de intercambio
cultural, pois os filhos das classes mais abastadas em mandados a Portugal para
estudar. [...] No inicio do século XIX, a corte portuguesa transfere-se para o Brasil
e com isso há um grande desenvolvimento urbano, notadamente no Rio de Janeiro
[...]. A partir daí é grande o crescimento da demanda em razão da visita de
diplomatas e de comerciantes no Brasil.[...] Apenas em 1968 o governo brasileiro
criou o primeiro instrumento de regulamentação da atividade com formação do
Conselho Nacional de Turismo - CNTUR, do fundo Geral do Turismo -
FUNGENTUR, e do Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR.[...].
Segundo Solha (2002) as viagens pelo país, “só ocorriam em função da
necessidade de expansão para novos territórios, da busca de riquezas e dos gêneros de
primeira necessidade” (p. 118). Mas, na região açucareira do nordeste, já era habitual
entre os filhos dos senhores de engenho, viajar para a Europa para estudar.
Ela cita também as condições precárias, para moradia e a inexistência de
estrutura para hospedar a corte portuguesa em 1808. No entanto, a vinda da família real
para o Brasil, desencadeou profundas modificações “no cotidiano, no comportamento,
na economia e na infraestrutura da cidade do Rio de Janeiro”( p. 118). Aponta como
exemplo a relação com o mar, para uso terapêutico, a talassoterapia (Solha, 2002).
30
Segundo ela, consequência deste hábito europeu, o aluguel de casa na praia, tornou-se
comum, para prevenção e recuperação da saúde.
O turismo é considerado como um dos melhores segmentos da economia
mundial. Segundo estudo da Organização Mundial de Turismo, realizado em 2012,
foram mais de 1 bilhão de desembarques internacionais, em 2013 esse índice
ultrapassou 1,8 bilhão. Já o desembarque doméstico terá em 2013, chegou a 90 milhões.
Segundo Panosso Netto (2005) “[...] um fenômeno de experiências vividas de
maneira e desejos diferentes por parte dos seres envolvidos, tanto pelos ditos turistas
quanto pelo empreendedor do setor envolvido[...]” (p. 30) Ou seja é um fenômeno de
experiências que é vivida tanto pelos turistas como por aqueles que trabalham em prol
da atividade, pois os mesmos trazem suas experiências e fazem troca dentro da atividade
por meio de suas vivências.
O crescimento do turismo no Brasil conduz, cada vez mais, à necessidade de
formação de profissionais aperfeiçoados para o setor. Eles devem assegurar o
atendimento aos turistas por meio da qualidade de seus serviços, que são os principais
responsáveis pela sustentabilidade do setor.
O Brasil, com sua exuberância natural e cultural, propõe grandes possibilidades
de promover os desenvolvimentos local e regional, capazes de abrandar as
desigualdades sociais do país. Porém, para a execução desse potencial deve-se
estabelecer novas formas de planejamento e gestão, no contexto das políticas públicas,
para que o turismo cumpra tal papel.
Coriolano (2008) diz sentir a necessidade urgente da prática dos princípios da
hospitalidade, visto que o crescimento do turismo declarado global tira proveito da força
de homens e mulheres que trabalham longas jornadas com baixa remuneração para
atender turistas que brincam, passeiam, comem e bebem sem preocupação.
A dicotomia entre os dois comportamentos – o do turista que quer mesmo ser
bem atendido em suas necessidades e a do trabalhador que deve servi-lo bem – só
encontra equilíbrio no estabelecimento de boas condições de trabalho, ou seja, em um
sistema de compensação.
31
A OMT define os papéis do setor público no desenvolvimento turístico,
responsabilizando-o pela política, planejamento e pesquisa, pela infraestrutura básica,
além do desenvolvimento de alguns atrativos, fixando e administrando padrões para
instalações e serviços turísticos por meio de regulamentos para o uso da terra e proteção
ambiental e padrões para a educação e o treinamento para o turismo; cabe ainda a
manutenção da segurança e a saúde pública.
No Brasil, o direcionamento do setor público no turismo foi marcado pelo
estabelecimento de políticas milagrosas para resolver os problemas do país. Os
investimentos e incentivos destinavam-se à urgência em crescer quantitativamente, sem
nenhuma preocupação com a qualidade do planejamento elaborado para o setor. O
turismo acabou sendo assinalado pelo amadorismo e improvisação em toda a cadeia
produtiva, do planejamento à implantação, da gestão à operação turística (TRIGO,
2003). Porém, para trilhar o caminho das mudanças sociais faz-se necessário planejar o
turismo, partindo de uma visão integrada capaz de promover o envolvimento com
amplos setores sociais a fim de fortalecer e/ou redefinir as perspectivas de
desenvolvimento. Além da reestruturação econômica do turismo, deixando de pensar na
atividade apenas em termos financeiros promovendo ações em longo prazo,
comprometidas com o desenvolvimento, o turismo deve ser encarado como uma
atividade que apresenta inter-relações com os mais diversos segmentos.
No Brasil, o turismo, enquanto atividade econômica é preocupação do governo
federal há 70 anos. Mas a EMBRATUR é criada apenas em 1966 e, somente em 2003,
efetivamente, é criado o Ministério do Turismo, com estrutura e orçamento próprios.
Badaró (2006) classifica a regulamentação jurídica do turismo no Brasil em três
períodos. O primeiro período, até 1966, tem apenas uma legislação incipiente: em 1938,
é sancionado decreto-lei sobre a autorização estatal para a exploração da atividade de
venda de passagens para viagens aéreas, marítimas ou rodoviárias; em 1940, o que trata
das empresas e agências de viagens e turismo, do registro junto a órgãos do governo e
da autorização para as viagens coletivas de excursão, e, em 1958, é criada a Comissão
Brasileira de Turismo (COMBRATUR), atribuindo-lhe a função do planejamento
turístico nacional.
O segundo período ocorre a partir do Decreto-lei 55, de 1966, que implanta o
Sistema Nacional de Turismo, cria o Conselho Nacional do Turismo (CNTur) e a
Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) e tem sua sustentação com a criação dos
fundos de financiamento de projetos turísticos: FUNGETUR – Fundo Geral do
32
Turismo, e FISET – Fundo de Investimento Setorial de Turismo. Em 1977, a Lei 6505
trata das atividades e serviços turísticos, as condições para seu funcionamento e
fiscalização, enquanto a Lei 6513, aborda a política de conservação do patrimônio
natural e cultural com valor turístico, acompanhando a Convenção do Patrimônio
Mundial da UNESCO, de 1972.
Em 1980 inicia-se o processo de regulamentação da Lei 6505/77 com o Decreto
84910, que trata dos meios de hospedagem de turismo, restaurantes e acampamentos
turísticos e o Decreto 84934, sobre as atividades e serviços das agências de turismo. Em
1982, o Decreto 87348, trata das condições de prestação de serviço de transporte
turístico de superfície e , em 1984, o Decreto 89707 aborda as empresas de organização
de eventos.
Ainda conforme Badaró (2006) o Decreto-lei 2.294/ 86 e, depois, a Constituição
de 1988, “encerram a fase de intervenção e arbítrio, encaminhando o turismo brasileiro,
ao terceiro período, o das liberdades de ação econômica, de concorrência, de ofício”(p.
1), pois com o Decreto-Lei 2294/86 torna-se livre o exercício da atividade turística no
Brasil e, com a nova Constituição Federal, o turismo, por meio do art. 180, é
considerado “fator de desenvolvimento social e econômico”. Em 1991, a Lei 8181 altera
a denominação da EMBRATUR, que passa a Instituto Brasileiro de Turismo. Em
11993, a Lei 8623 cria a profissão de Guia de Turismo, regulamentada pelo Decreto
946.
O artigo 35 da Lei 10683/03 cria o cargo de Ministro do Turismo, e o Ministério
é consolidado na gestão 2003/2006, já no governo Lula e, a partir daí, são elaborados os
Planos Nacionais de Turismo- 2003/ 2007 e o atual, 2007/ 2010.
33
1.3 – Políticas Públicas de Turismo no Brasil
A função que o Estado desempenha em nossa sociedade sofreu inúmeras
transformações ao longo do tempo. No século XVIII e XIX, seu principal objetivo era a
segurança pública e a defesa externa em caso de ataque inimigo.
Entretanto, com o aprofundamento e expansão da democracia, as
responsabilidades do Estado se diversificaram. Atualmente, é comum se afirmar que a
função do Estado é promover o bem-estar da sociedade. Para tanto, ele necessita
desenvolver uma série de ações e atuar diretamente em diferentes áreas, tais como
saúde, educação, meio ambiente.
A fim de atingir resultados em diversas áreas e promover o bem-estar da
sociedade, os governos se utilizam das Políticas Públicas que podem ser definidas da
seguinte forma: “[...] Políticas Públicas são um conjunto de ações e decisões do
governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da sociedade [...]” (PEREIRA,
1999, p. 9).
Dito de outra maneira, as políticas públicas são a totalidade de ações, metas e
planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o
bem-estar da sociedade e o interesse público. É certo que as ações que os dirigentes
públicos (os governantes ou os tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades)
são aquelas que eles entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade. Ou
seja, o bem-estar da sociedade é sempre definido pelo governo e não pela sociedade.
Isto ocorre porque a sociedade não consegue se expressar de forma integral. Ela faz
solicitações (pedidos ou demandas) para os seus representantes (deputados, senadores e
vereadores) e estes mobilizam os membros do Poder Executivo, que também foram
eleitos (tais como prefeitos, governadores e inclusive o próprio Presidente da
República) para que atendam as demandas da população.
As sociedades contemporâneas se caracterizam por sua diversidade, tanto em
termos de idade, religião, etnia, língua, renda, profissão, como de ideias, valores,
interesses e aspirações.
34
No entanto, os recursos para atender a todas as demandas da sociedade e seus
diversos grupos são limitados ou escassos. Como consequência, os bens e serviços
públicos desejados pelos diversos indivíduos se transformam em motivo de disputa.
Assim, para aumentar as possibilidades de êxito na competição, indivíduos que têm os
mesmos objetivos tendem a se unir, formando grupos.
Não se deve imaginar que os conflitos e as disputas na sociedade sejam algo
necessariamente ruim ou negativo. Os conflitos e as disputas servem como estímulos a
mudanças e melhorias na sociedade, se ocorrerem dentro dos limites da lei e desde que
não coloquem em risco as instituições.
Assim, o interesse público – o qual, por sua vez, reflete as demandas e
expectativas da sociedade – se forma a partir da atuação dos diversos grupos. Durante a
apresentação de suas reivindicações os grupos tentam obter apoio de outros grupos, mas
também sofrem oposição daqueles que têm outras reivindicações contrárias. O interesse
público se forma, portanto, por meio da disputa de todos os grupos da Sociedade Civil
Organizada (SCO).
Cabe ao formulador de Políticas Públicas perceber, compreender e selecionar as
diversas demandas. Em outras palavras, as Políticas Públicas são o resultado da com-
petição entre os diversos grupos ou segmentos da sociedade que buscam defender (ou
garantir) seus interesses. Tais interesses podem ser específicos – como a construção de
uma estrada ou um sistema de captação das águas da chuva em determinada região – ou
gerais – como demandas por segurança pública e melhores condições de saúde.
O turismo, como atividade econômica organizada, teve seu grande salto com a
Revolução Industrial, que impulsionou os avanços nos transportes, comunicações e
técnicas mercadológicas, assim como com a conquista, pelos trabalhadores, de um
tempo livre cada vez maior, contribuindo para o desenvolvimento desse setor. A partir
da década de 1950, passou a ser um fenômeno de massa, especialmente nos Estados
Unidos, berço da chamada indústria turística.
35
O turismo deve ser compreendido aqui como um “fenômeno que ocorre quando
um ou mais indivíduos se transladam a um ou mais locais diferentes de sua residência
habitual por um período maior que 24 horas e menor que 180 dias, sem participar nos
mercados de trabalho nos locais visitados” (ARENDIT, 1999, p. 17).
É este o conceito adotado pela Organização Mundial de Turismo (OMT),
também aceito no Brasil pelos órgãos oficiais do setor, especialmente pela
EMBRATUR. Portanto, a definição a que chegamos das políticas públicas em turismo é
que elas “compreendem ao conjunto das decisões e ações relativas à alocação
imperativa de valores” que se encontram consubstanciadas, amparadas legalmente nos
programas, projetos, planos, metas e orçamentos dos poderes públicos (federal, estadual
ou municipal) referentes ao turismo.
Por incorporar um amplo conjunto de atividades, de competência de diferentes
atores e agências estatais e privados, as políticas públicas em turismo são, por
excelência, multissetoriais e, na sua implementação, tornam-se extremamente
complexas. Este, aliás, tem sido um dos motivos das dificuldades de sua
implementação, como apontado por Beni (2000).
Assim, em outras políticas setoriais, podemos encontrar programas, projetos e
atividades com forte rebatimento sobre o turismo, como é o caso da infraestrutura, das
políticas urbanas, de desenvolvimento regional, de emprego e renda e, mais
recentemente, de preservação ambiental e do patrimônio histórico-cultural.
A história das políticas públicas em turismo vincula-se ao Estado de bem-estar
social e tem na sua origem “na regulação do trabalho, a limitação do seu tempo, as
férias remuneradas, a aposentadoria, a evolução dos transportes, da comunicação, além
de outras conquistas da sociedade moderna” (PEREIRA, 1999, p. 9).
Cruz (2000), baseando-se em estudo de Ferraz (1992) e tomando como critério a
emissão de diplomas legais, propõe uma periodização da história dessas políticas.
O primeiro período, denominado pela autora de “pré-história” jurídico-
institucional das políticas nacionais de turismo, iniciou-se com a emissão do Decreto-lei
406, de 4 de maio de 1938, art. 59, que dispõe sobre a venda de passagens aéreas,
marítimas e terrestres, indo até 1966, quando ocorreu a promulgação do Decreto-lei 55,
de 18 de novembro de 1966, que institui a Política Nacional de Turismo.
36
Apesar de a partir da década de 1930 o Estado valorizar mais a atividade de
planejamento setorial e passar a elaborar e implementar os planos nacionais de
desenvolvimento, esse período se caracteriza pela emissão de diplomas legais voltados
para aspectos parciais da atividade, não se configurando ainda num programa ou
política nacional de turismo.
Na década de 1930 foi criada a Divisão de Turismo, setor do Departamento de
Imprensa e Propaganda, vinculado à Presidência da República, cuja principal atribuição
era a fiscalização das atividades relativas às agências de viagens. No decorrer do Plano
de Metas (1956/61), criou-se a Comissão Brasileira de Turismo (COMBRATUR –
1958), à qual caberia coordenar, planejar e supervisionar a execução da política nacional
de turismo (Ferraz, 1992). A COMBRATUR foi extinta em 1962 e, com ela, foram
enterradas as diretrizes que propôs e que jamais foram implementadas.
Com essas diretrizes, ainda que jamais implementadas, pelo menos no campo da
concepção, “começa a se transferir o eixo prioritário das políticas públicas de turismo da
organização do setor – do ponto de vista das agências de viagens e turismo – para a
ampliação e modernização do parque hoteleiro do país”. (CRUZ, 2000, p. 47).
Nesse período, o turismo também não recebia referências na agenda
governamental nem como política regional, nem como política urbana, uma vez que,
como assinala Steinberger (1998), essas políticas, entre os anos 1962 e 1985, eram, na
verdade, “pseudopolíticas” e, por isso mesmo, jamais foram implementadas.
O segundo período teve início com o Decreto-lei 55/66, indo até 1991, com a
Lei 8.181, de 28 de março de 1991, editada durante o governo Collor, que reestruturou a
EMBRATUR.
Considera-se que a história das políticas públicas de turismo no Brasil inicia-se
com esse decreto, que estabeleceu a Política Nacional de Turismo, definida como o
“conjunto de diretrizes e normas integradas em um planejamento de todos os aspectos
ligados ao desenvolvimento do turismo e seu equacionamento como fonte de renda
nacional” (FERRAZ, 1992).
37
Segundo Cruz (2000, p. 49) o Decreto 55/66 estava em consonância com o Plano
de Ação Econômica do Governo que, tinha por objetivos, entre outros, “atenuar os
desníveis econômicos setoriais e regionais, e as tensões criadas pelos desequilíbrios
sociais, mediante a melhoria das condições de vida”.
Em nenhum dos demais planos e programas governamentais desse período –
Plano Decenal (1967-1976), Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED – 1968-
1970), Metas e Bases para a Ação do Governo (1970), I e II Plano Nacional de
Desenvolvimento –, o turismo recebeu tratamento explícito como atividade estratégica
de desenvolvimento econômico.
A Constituição Federal de 1988 contemplou o turismo pela primeira vez na
história das constituições brasileiras, no art. 180, cap. I, do título VII, que trata da
Ordem Econômica. Nesse artigo, lê-se que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios promoverão e incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social
e econômico” (FERRAZ, p. 24, 1992).
Chama atenção no artigo a corresponsabilidade das três esferas de governo na
promoção do turismo e no incentivo a esse setor, apontando para a descentralização das
políticas de turismo.
Cabe salientar que, de acordo com Cruz (2000), “a política nacional de turismo,
nesse período, acabou restringindo-se a uma política de incentivos financeiros e fiscais,
especialmente direcionados para o setor hoteleiro” (p. 56).
A Política Nacional de Turismo não chegou a ser aplicada em face da grave
instabilidade institucional e econômica no período, que viria culminar com o
impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Seu sucessor, Itamar
Franco, deu início a uma nova diretriz da política de turismo ao implantar o Programa
Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT).
No entanto, a partir de 1996, que a Política Nacional de Turismo passou a ser
efetivamente implementada. Para o período de 1996 a 1999, tem como principais
objetivos:
38
a) a ordenação das ações do setor público, orientando o esforço do Estado e
a utilização dos recursos públicos para o bem-estar social;
b) a definição de parâmetros para o planejamento e a execução das ações
dos governos estaduais e municipais;
c) a orientação referencial para o setor privado.
Concebida como política de correção de “desequilíbrios regionais”, a Política
Nacional de Turismo poderá não atingir os objetivos propostos, uma vez que, “sem
mudanças na política regional que se tem levado a cabo no Brasil há décadas, com um
privilégio latente ao das porções do território, não há setor da economia que possa
minimizar disparidades socioeconômicas entre uma e outra região” (CRUZ, 2000, p.
64).
O Sistema Nacional de Turismo, conjunto de órgãos criado com o objetivo de
planejar e coordenar a execução da Política Nacional de Turismo foi criado pelo
Decreto-lei 55, de 18 de novembro de 1966. Esse decreto definiu o que corresponderia à
Política Nacional de Turismo e também criou o Conselho Nacional de Turismo
(CNTur) e a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), órgãos ligados ao Ministério de
Indústria e Comércio.
De acordo com o artigo 1o do referido decreto,
Política nacional de turismo é a atividade decorrente de todas as
iniciativas ligadas à indústria do turismo, sejam ordinárias do
setor privado ou público, isoladas ou coordenadas entre si,
desde que reconhecido seu interesse para o desenvolvimento
econômico do país. (FERRAZ, 1992)
39
O parágrafo 1º do artigo 2º afirma que “O Governo Federal orientará a política
nacional de turismo, coordenando as iniciativas que se propuserem a dinamizá-lo, para
adaptá-la às reais necessidades de desenvolvimento econômico e cultural”. No
parágrafo 2º, o governo federal se propõe, através dos órgãos próprios, coordenar “todos
os programas oficiais com os da iniciativa privada, garantindo um desenvolvimento
uniforme e orgânico à atividade turística nacional” (FERRAZ, p. 17, 1992).
Ao CNTur foi atribuída a tarefa de formular, coordenar e dirigir a política
nacional de turismo, sob a presidência do ministro da Indústria e do Comércio, e à
Embratur, a função de “incrementar o desenvolvimento da indústria de turismo e
executar, no âmbito nacional, as diretrizes que lhe forem traçadas pelo Governo”.
Vinculada ao Ministério da Indústria e do Comércio, a EMBRATUR passou a se
caracterizar mais como organismo fiscalizador e classificador de atividades.
Beni (1991), assinala que uma das grandes dificuldades para a implementação
das políticas públicas de turismo é a situação do setor e do órgão competente, na
estrutura administrativa do Estado. O fato de se tratar de uma atividade que não pode ser
identificada claramente como setor econômico diferenciado contribui para essa situação,
já que os bens e serviços vendidos aos visitantes e aos turistas domésticos originam-se
de vários ramos da produção.
Outras dificuldades apontadas pelo autor são a indefinição da própria política
com relação à normatização institucional da gestão dessa política; a falta de integração e
coordenação entre os organismos oficiais de turismo em todos os níveis; a inexistência
de uma ação intersetorial no desenvolvimento do turismo; a descontinuidade
administrativa; a carência de mão-de-obra qualificada e especializada, e a ausência de
pesquisas científicas (BENI, 1991, p. 161-9).
Em 1971, o artigo 11 do Decreto-lei 1191 criou o Fundo Geral do Turismo
(Fungetur), que tem como objetivo prover recursos para financiamento de
empreendimentos, obras e serviços de finalidade ou interesse turísticos. Em 1973, o
Decreto 71.791 dispôs sobre zonas prioritárias para o desenvolvimento do turismo. Em
1974, a Resolução CNTur 641 definiu a prestação de serviços turísticos das agências
transportadoras e, pelo Decreto-lei 1376, foram criados o Fundo de Investimento do
Nordeste (Finor), o Finam (da Amazônia) e o Fiset (setorial).
40
Já no início dos anos 70, foram elaboradas as diretrizes do que viriam a ser o
Plano Nacional de Turismo (Plantur), considerado instrumento básico de execução da
política nacional de turismo. Mas devido à sua não aplicação,
a política nacional de turismo, nesse período, acabou restringindo-se a
uma política de incentivos financeiros e fiscais, especialmente
direcionados para o setor hoteleiro. Não sendo instituído o Plantur,
permaneceu válido o Plano de Prioridade de Localização de Hotéis de
Turismo, da Resolução CNTur. (CRUZ, 2000, p. 56)
A chamada “indústria do turismo” impressiona pelas cifras que movimenta e
pelas expectativas que alimenta. Segundo dados da Organização Mundial do Turismo, o
setor emprega um em cada dez trabalhadores no mundo. Hoje, quando se fala em
desenvolvimento e, mais especificamente, em desenvolvimento sustentável, a atividade
turística é sempre citada.
Para Balastreri (1997), o turismo é uma das alternativas para reduzir a exclusão
social, uma vez que oferece novas oportunidades de investimentos e empregos para uma
massa crescente de desempregados que o mercado formal não absorve.
Alerta Souza (1997, p. 17) que a noção de desenvolvimento deve ser
compreendida como “um processo de superação de problemas e conquistas de
condições” (culturais, técnico-tecnológicas, político institucionais, espaços-territoriais)
propiciadoras de maior felicidade individual e coletiva, exigindo “considerações
simultâneas das diversas dimensões constituintes das relações sociais (cultura,
economia, política) e, também, do espaço natural e social”.
As políticas públicas em turismo no Brasil têm sido ineficazes e não têm estado
à altura das expectativas criadas em torno dessa atividade. Em parte, essas dificuldades
podem ser creditadas à característica multissetorial e multiinstitucional do turismo.
Os atores, públicos e privados, são uníssonos (Carta de Goiás, 1999)6 quando se
solicita maior empenho, especialmente do governo federal, na tomada de decisão e
6 CARTA DE GOIÁS. Agenda única do turismo nacional – ano 2000. Brasília: Frente Parlamentar do
Turismo, 1999.
41
implementação dos programas, projetos e atividades diretamente relacionados ao
turismo ou que nele encontram rebatimento.
Em especial, quando uma política envolve diferentes níveis de governo –
federal, estadual, municipal –, ou diferentes regiões de um mesmo país, ou, ainda,
diferentes setores de atividade, a sua implementação pode ser problemática, já que o
processo torna-se mais complexo e mais difícil de ser controlado.
Mesmo quando se trata apenas do nível local, há de considerar, ainda, a
importância dos vínculos entre diferentes organizações e agências públicas para o
sucesso da implementação. Geralmente, quando a ação depende de certo número de elos
em uma cadeia de implementação, o grau necessário de cooperação entre as
organizações para que essa cadeia funcione pode ser muito elevado.
Deve-se considerar também que, enquanto houve planejamento econômico no
país, o turismo jamais foi uma prioridade. Os anos 80 foram uma década em que
vigoraram somente planos econômicos que buscavam objetivos de curto prazo. Apesar
da criação da Política Nacional de Turismo no governo Collor de Mello em 1991, o
turismo só se tornou efetivamente objeto de planejamento a partir do primeiro mandato
do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O turismo tem se configurado como uma demanda recorrente na agenda
governamental, visto que, apesar de ser lembrado, ainda que vagamente, em diferentes
conjunturas, persiste como questão a ser resolvida em seus aspectos básicos.
42
II - FORMAÇÃO SUPERIOR EM TURISMO NO BRASIL
Neste capítulo discorremos sobre o desenvolvimento histórico do curso superior
em turismo no Brasil, visando a uma melhor compreensão das políticas educacionais
voltadas para o turismo no Brasil com foco na Educação Superior para, em seguida
finalizar o capítulo explorando a profissionalização do futuro profissional da área.
2.1. Desenvolvimento Histórico
A década de 1970, em seus primeiros anos, ficou conhecida como a época do
milagre econômico brasileiro. Ocorreu a entrada de capital estrangeiro, por meio de
empréstimos e investimentos, para alavancar a economia e dispor um tempo de
crescimento rápido com a criação de empregos em massa, em função do processo de
crescente industrialização, e a inflação sob controle. O que estimulou o retorno do
capital externo ao país foi a estabilidade política e econômica propiciada pelo governo
militar. O mesmo governo que derrubou a democracia e pôs-se a censurar, perseguir e
até, torturar cujas atitudes eram consideradas subversivas ao regime. Nesse ambíguo
cenário, são criados os primeiros cursos de turismo no Brasil, principalmente
caracterizados para atender ao setor empresarial (TEIXEIRA, 2007). A preocupação
justifica-se pelo fato de que era necessário profissionalizar os serviços prestados em um
setor importante para atração de investimentos externos.
A origem dos cursos universitários de turismo no Brasil é diferente da origem
dos cursos de turismo na Europa ocidental e na América do Norte. Enquanto em outros
países os cursos de turismo surgiram dentro de outros cursos, no Brasil, muitos cursos
nasceram com autonomia própria, por iniciativa de seus fundadores (BARRETTO;
TAMANINI; SILVA, 2004). Essa diferença serve para explicar a falta de integração dos
cursos com o mercado, a super oferta de profissionais ao mercado e a expansão
desordenadas dos cursos.
43
Os primeiros cursos são criados em São Paulo pela iniciativa privada. O
primeiro curso de turismo de nível superior foi criado em 1971 pela Faculdade de
Turismo do Morumbi - atual Universidade Anhembi-Morumbi. No ano seguinte tem-se
a criação de outro curso na Faculdade Ibero-Americana de Letras e Ciências Humanas,
também em São Paulo. O primeiro curso de turismo do Rio de Janeiro só foi criado em
1973 pela Faculdade da Cidade – atual Centro Universitário da Cidade do Rio de
Janeiro (UniverCidade), cujo reconhecimento pelo MEC só ocorreria em 1978
(HALLAL, 2010).
Esses primeiros cursos surgiram logo depois da criação da Empresa Brasileira de
Turismo - EMBRATUR, no Rio de Janeiro, em 1966. Entre os motivos expostos para a
criação deste órgão encontram-se a significativa participação do turismo na. Outra
importante função da EMBRATUR era fiscalizar as atividades das agências de viagens,
sinal de que a indústria do turismo estava em crescimento acelerado; mas,
principalmente, divulgar uma boa imagem do país no exterior, encobrindo o momento
crítico da ditadura pelas belezas naturais, o clima e as características do povo brasileiro
como acolhedor. (TEIXEIRA, 2007).
Para atender a crescente demanda, proliferam-se instituições particulares, as
chamadas faculdades e os centros universitários, onde nem sempre se privilegiava o
ensino de qualidade. Em decorrência, muitos dos egressos experimentavam uma
situação de frustração em relação ao exercício profissional, com a escassez de vagas no
mercado de trabalho. Além disso, criou-se uma cultura de que a formação universitária
é essencial, ainda que os cursos oferecidos não fossem bons.
Dentre outras razões que motivaram a criação dos cursos de nível superior em
turismo por instituições privadas podem ser citadas: a facilidade oferecida pelo governo
na época, o fato de que as IES privadas viam no curso de turismo um segmento
promissor para o mercado de ensino, inclusive porque aqueles cursos exigiam pouco
investimento. Muitos estudantes foram atraídos pela novidade e pela crença de que o
curso de turismo era de fácil ingresso, além de oferecer profissionalização e os
“benefícios” típicos de um diploma de nível superior. (TEIXEIRA, 2007).
44
A primeira universidade pública do país a oferecer um curso de turismo foi a
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP. O curso
foi criado em 1973, a pedido do Conselho de Turismo, e sua matriz curricular foi
formulada pelo professor Mário Carlos Beni, passando a servir de modelo para a
formulação de currículos em outras instituições. Pode-se afirmar que o curso de turismo
dentro da universidade pública surgiu para produzir mão de obra qualificada.
(TEIXEIRA, 2007).
Por outro lado, foi a inserção desse curso na universidade pública que fomentou
os estudos acadêmicos do turismo no Brasil. Os acadêmicos pioneiros esbarraram em
algumas dificuldades nos primeiros anos do curso de turismo, dentre as quais a ausência
de bibliografia nacional sobre o assunto, com estudos sobre a realidade brasileira do
momento. (TEIXEIRA, 2007). A pesquisa em turismo no Brasil iniciou-se na década de
70, em áreas correlatas. Nos anos 1990, foi criada a primeira pós-graduação em Turismo
na Universidade de São Paulo.
Atualmente, a educação superior no Brasil está dividida em duas modalidades de
ensino: Bacharelado e Tecnologia. A principal diferença entre elas está na formação que
se pretende oferecer aos alunos.
Acontece, com isso, que os cursos de turismo de nível superior, em sua maioria,
têm priorizado planos pedagógicos tecnológicos. Disso decorre a grande dificuldade de
constituir um processo educacional voltado à concepção humanista da educação. Essa
pedagogia acaba por se caracterizar, no Brasil, como uma volta ao princípio pedagógico
tecnicista, que coloca a educação a serviço do mercado. Formar alguém na área de
Turismo é preparar essa pessoa para vender e comprar serviços.
A designação profissional “turismólogo”, desconhecida por grande parte da
sociedade, não é regulamentada legalmente7, e, graças a essas indefinições conceituais,
na opinião de Trigo (2003), propicia a livre concorrência entre os formados em turismo
e aqueles com formação em outras áreas do conhecimento.
7Em 2008 o Senado e a Câmara Federal aprovaram o projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLC
24/2005), que regulamenta a profissão Turismólogo (ou Bacharel em Turismo). O projeto de lei considera
como turismólogo todo aquele profissional que tem curso superior em Turismo ou que vem exercendo a
profissão de maneira ininterrupta há pelo menos 12 meses até a publicação da referida lei. Cabe ressaltar
que, até o presente momento, o mesmo não foi homologado pela Presidência da República.
45
A regulamentação profissional proporcionaria maior reconhecimento ao
profissional que se prepara para exercer uma das atividades que mais crescem no
mundo, mas que disputa seu posto de atuação com dezenas de outros profissionais. É
preciso destacar que inserção e sucesso profissional, no entanto, não são garantidos pela
regulamentação ou pela conclusão de um curso superior.
O turismo, entendido como um fenômeno social, revela muito sobre a
sociedade, seus costumes e valores conforme teorizou Urry (2001). Além disso, o
fenômeno turístico é complexo e multifacetado, envolvendo questões do universo da
Ecologia, da Antropologia, da Sociologia entre outras (PANOSSO NETTO e
LOHMANN 2008). Esta complexidade inerente ao turismo pode ser percebida na
definição (BARRETTO, 2000):
O Turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento
voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que,
fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou
saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não
exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando
múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural. (
p.13)
Mesmo reconhecendo a complexidade do fenômeno turístico, no contexto desta
pesquisa, dar-se-á ênfase ao turismo como atividade econômica, geradora de divisas e
de postos de trabalho.
É inegável que o turismo está associado ao capitalismo e, portanto se desenvolve
à medida que aumenta a renda do cidadão. Para Moesch (2002), a produção do saber
turístico no Brasil nasceu a partir da necessidade de instituições privadas e empresariais
e isso fez com que o ensino fosse reduzido a informações e sistemáticas sobre o setor
produtivo. Esta situação gerou a crença de que não existe saber turístico que não seja
resultante de um fazer-saber, enfatizado pela posição tecnicista das IES privadas. É
importante salientar que o turismo é uma atividade que transcende questões comerciais
e econômicas, tão superficiais, na medida em que o ponto central do estudo turístico
deve ser o caráter humano dessa atividade.
46
Assim, o papel da academia é mudar o foco da construção do saber turístico,
passando a enfatizar mais o fator humano e menos o econômico, dando atenção a
questões como as motivações, as trocas culturais, a hibridização cultural, o impacto
sociocultural, a construção de não-lugares e a destruição ambiental que o turismo
também gera (MOESCH, 2002). A tardia criação dos primeiros cursos de turismo em
universidades públicas no Rio de Janeiro se deu em um momento de otimismo gerado
pela campanha eleitoral e subsequente eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
Como vitórias do seu governo contam-se a redução na taxa de desemprego da
população economicamente ativa do país, a criação de postos de trabalho com carteira
assinada e a redução da taxa de pobreza, que passou de 40% em 1990 para 9,1% em
2006 em função da inflação sob controle. Na área do ensino superior, o grande marco
foi a criação do ProUni, no ano de 2005, considerado pelo Ministério da Educação -
MEC o maior programa de bolsas de estudo da história da educação brasileira
(LESBAUPIN, 2006). Na área do turismo, logo no início de seu mandato, o governo
Lula criou um ministério exclusivo, o Ministério do Turismo, que instituiu o Plano
Nacional de Turismo com programas, diretrizes e metas para vigorar entre 2003 e 2007.
Além disso, segundo dados da EMBRATUR, o número de turistas estrangeiros que
visitaram o Brasil em 2003 teve um aumento de 8,12% em relação ao ano anterior.
Assim, os indicadores do crescimento mostravam que o setor de turismo estava em
expansão, por isso se justificava o investimento na qualificação profissional para atuar
na área de turismo (CATRAMBY; COSTA, 2004).
Tomar a decisão de fazer um curso superior em Turismo é um passo importante.
Se o aluno faz essa opção sem pesquisar sobre o curso e a área de atuação, corre o risco
de se decepcionar logo no primeiro ano, o que resulta em frustração e perda de tempo. É
preciso ter em mente que gostar de línguas, entrar em contato com outras culturas,
interagir com pessoas, não são fatores, por si sós, decisivos para escolher esse curso.
Certamente tais fatores são importantes, mas não se constituem nos pontos centrais da
formação curricular.
47
Muitas pessoas ainda confundem a profissão de turismólogo com a de Guia de
Turismo, mas a graduação não inclui essa habilitação ao currículo de bacharel. Para
poder atuar como Guia de Turismo é necessário fazer um curso técnico específico, que
dura em média dois anos.
É importante ainda destacar que a profissão de turismólogo não é
regulamentada, portanto não existe reserva de mercado para que o exercício desta
profissão fique somente a cargo de bacharéis em Turismo ou Hotelaria, fazendo com
que o bacharel concorra a vagas de trabalho com profissionais de outras áreas com ou
sem formação acadêmica.
Para o professor Dr. Luiz Gonzaga Godoi Trigo, não é a regulamentação da
profissão de turismólogo que garantirá visibilidade ao bacharel, muito menos uma
reserva de mercado, pois, como é enfatizado por Barretto, Tamanini e Silva (2004), o
turismo gera muitos empregos, mas é preciso reconhecer que o turismo não é espaço de
trabalho só para turismólogo, ao mesmo tempo em que trabalhar na área de turismo
pode ser um ato praticado por pessoas de diversas profissões, pois “profissional da área
de turismo” é um termo amplo, que serve para definir tanto um médico que trabalha a
bordo de um cruzeiro marítimo quanto um advogado que defende os direitos dos
turistas.
Dentre os fatores que tornam o curso de Turismo atraente estão o fato de
possibilitar uma ampla área de atuação, fornecer oportunidades de entrar em contato
com ambientes múltiplos, envolver relacionamento interpessoal. Os que procuram o
curso de turismo como formação superior, reconhecem-no como área científica e
acadêmica relevante para a profissionalização e consequentemente para a atuação na
sociedade.
Para Barretto, Tamanini e Silva (2004), grande parte dos estudantes que
ingressaram nos cursos de turismo no Brasil entre 1980 e 2000 o fez por gostar de viajar
e as empresas mais procuradas por eles depois de concluído o curso foram as
companhias aéreas e as agências. Cabe ressaltar que a formação profissional em turismo
envolve a formação humana, em consideração as preocupações que envolvem a
formação do cidadão integralmente, capacitando-o para enfrentar novas situações,
organizando e planejando localidades, gerindo escassos e frágeis recursos naturais,
valorizando culturas, preservando patrimônios.
48
2.2 – Políticas Educacionais para o turismo no Brasil
Partindo da preocupação com a legitimação que o trabalho em turismo deve
alcançar na sociedade e como forma de iniciar as discussões sobre a formação do
profissional do turismo, retoma-se a base dessa formação que se dá no Plano Nacional
de Educação.
Plano este considerado, ao longo dos tempos, capaz de, como instrumento
político, organizar, orientar e definir políticas públicas que se preocupassem com os
caminhos a seguir para a construção de indivíduos capazes de pensar, articular e
desenvolver conhecimento, ou seja, indivíduos cidadãos.
A institucionalização do Turismo no âmbito acadêmico se deu a partir de 1971,
quando da criação do primeiro curso de Turismo e da definição do currículo mínimo
pelo MEC. A formação em nível superior em turismo no Brasil começou nesse período,
motivada pelas múltiplas possibilidades do setor turístico para o desenvolvimento
socioeconômico nacional. Na década de 1970 vivia-se num período político de
“repressão, censura e violência característica da linha dura do governo militar [...] neste
cenário, o turismo aparecia como atividade econômica do futuro”. (REJOWSKI, 2002,
p.134).
Na reflexão de Trigo (2003):
Foi neste contexto, rico em crises e sonhos, que a educação em
turismo foi implantada no Brasil. Um novo curso para um país
promissor que se descobria herdeiro das benesses do futuro, um curso
que encontrava sua vocação plena em um paraíso tropical repleto de
belezas naturais ainda intocadas; enfim, o país do futuro encontrava a
profissão do futuro. (p. 245)
49
Outra questão importante de pontuar, neste período, são alguns dos fundamentos
históricos e legais, principalmente quanto à atuação do Conselho Federal de Educação, e
como este propiciou o surgimento de novos currículos de cursos superiores, entre eles o
de Turismo. Celeste Filho (200, p. 01) nos lembra de que “o caso específico da criação
de cursos superiores de turismo é exemplo significativo das mudanças de enfoque que
os intelectuais e a sociedade atribuíam à educação, à universidade e à cultura nos anos
1960 e início da década de 1970”.
A fixação de um Plano Nacional de Educação foi contemplada no artigo 150 da
Constituição de 1934 ao declarar ser de competência da União elaborar o Plano
Nacional de Educação, “compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e
especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução em todo o território do País”
cabendo ao artigo 152 a definição de que a elaboração do plano seria de competência do
Conselho Nacional de Educação (HORTA, 1996, p. 141).
Não sendo concretizado, mas incluído como ideia em todas as Constituições,
exceto a de 1937, surge o primeiro Plano apenas em 1962 na vigência da Lei 4.024/61
(MENDONÇA, 2002, p. 14); proposto como iniciativa do Ministério da Educação e
aprovado pelo então Conselho Federal de Educação como um conjunto de metas a
serem atingidas no prazo de oito anos.
A Constituição Federal de 1988 prescreveu, em seu artigo 22, inciso XXIV, que
a União editou em 20 de dezembro de 1996, a nova LDB 9.394/96 - Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007 b). Esta nova
LDB lançou desafios para todo o sistema de ensino, como erradicação do
analfabetismo; universalização do atendimento escolar; melhoria da qualidade de
ensino; formação para o trabalho e promoção humanística, científica e tecnológica, além
de fixar prazo para vigência e criação do Plano, sendo instituída a década da educação.
Em linhas gerais, o Plano Nacional de Educação surgiu com a intenção de ser um
instrumento que garantiria a oferta de ensino fundamental de oito anos, prevendo apenas
ampliação de escolaridade para os níveis infantil, médio e superior, além da educação
de jovens e adultos, educação tecnológica e a formação profissional, a educação
especial, a educação indígena e o magistério.
50
Os principais desafios para as Instituições de Ensino Superior no Brasil,
considerando a expansão do setor privado, encontram-se nas questões referentes ao
aumento do número de instituições de ensino superior assim como no aumento da oferta
de cursos de graduação em diversas áreas do conhecimento, não se excetuando os
cursos de Graduação em Turismo.
Essa proliferação, desencadeada após a LDB 9394/96, defendida como a
oportunidade de propiciar alternativas de escolha para a comunidade e competição de
mercado, reforçada pela ideia de “comércio de ensino”, nem sempre tem cumprido esse
papel, pois a proliferação permitida pelas políticas educacionais, concretizadas em
Decretos, Resoluções e Pareceres, desarticulados dos demais níveis de ensino
(fundamental e médio) não está propiciando o desenvolvimento da melhora da
qualidade do ensino em nível superior, tampouco a comunidade está tendo a
oportunidade de escolha sugerida pelas políticas educacionais.
Ao se analisar as Diretrizes Curriculares para o curso superior de Turismo faz-se
necessário pensar o núcleo epistemológico e os conteúdos específicos que deverão ser
abordados e construídos para formar indivíduos capazes de pensar, sentir e agir de
acordo com princípios éticos e morais, com respeito ao próximo, preservando recursos,
valorizando patrimônios, respeitando a vida humana.
Observando-se a LDB e as Diretrizes Curriculares nas seguidas referências à
formação para o trabalho e para a cidadania tem-se a impressão que um vazio teórico
permeia esses propósitos
O que se percebe é uma ausência de preocupação com o contexto histórico das
sociedades, e uma visão pragmática acerca da formação, com forte preocupação com a
função técnica que o profissional irá exercer.
Não se pretende questionar a validade do conhecimento técnico, tampouco sua
importância na formação dos sujeitos privilegiados que conseguem chegar ao ensino
superior, o que está em pauta é a necessidade de ir além desta proposta e tecer outros
objetivos para esta formação.
51
Esses objetivos deverão materializar-se na formação de um indivíduo capaz de
compreender o seu tempo, possuindo entendimento sobre seu papel social, na mais
profunda dimensão de cidadania, que se baseia e estrutura pelo conhecimento político
que permitirá marcar as relações entre as pessoas pela justiça, lealdade, equidade,
levando em conta as peculiaridades socioculturais, políticas e econômicas de uma
determinada sociedade em um determinado tempo histórico.
No entanto, as finalidades para a Educação Superior de acordo com o Plano
Nacional de Educação e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei
9394/96, promulgada em 21 de dezembro de 1996, são:
I – Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do
pensamento reflexivo;
II – Formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos a inserção
em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade
brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
III – Incentivar o trabalho de pesquisa e a investigação científica, visando ao
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e,
desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;
IV – Promover a divulgação de conhecimento culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade, e comunicar o saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação;
V – Suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e
possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que
vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
conhecimento de cada geração;
VI – Estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular
os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e
estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
52
VII – Promover a extensão aberta à participação da população, visando à difusão
das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa
científica e tecnológica geradas na instituição.
Apesar de tais finalidades estarem voltadas para as ações de: estimular a criação
cultural; incentivar a pesquisa, o desenvolvimento e difusão da cultura; promover a
divulgação de conhecimentos culturais; estimular o conhecimento dos problemas do
mundo; e com elas propiciar a construção de um conhecimento não somente técnico,
mas também científico e cultural, um rápido olhar para os Parâmetros Curriculares dos
diversos níveis de ensino verifica-se que o foco apoia-se no ensino e não na
aprendizagem.
Mas, se o ensino pode ser considerado um procedimento quase sempre não
terminado, a aprendizagem deve auxiliá-lo, sendo constante e criativa ao mesmo tempo.
No mesmo sentido, as Diretrizes Curriculares que indicam os critérios que os
cursos deverão assumir para a implementação de projetos pedagógicos, não estabelecem
currículos, conforme expressa Severino (2001) “É por isso que, em vez de estabelecer
currículos, o novo modelo estabelece apenas diretrizes curriculares, deixando às
instituições a atribuição de delinear seus currículos” (p. 179).
Onde está a formação integral e humana, ou seja, a formação para a cidadania
que deveria basear a formação dos profissionais?
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) são normas obrigatórias para a
educação elas orientam o planejamento curricular das instituições de ensino, visando à
preparação dos futuros profissionais dos cursos de graduação em nível superior, para
qualquer área no Brasil. As DCNs têm origem na LDB de 1996.
Segundo Tojal (2004), considerando a questão da sua autonomia, as
universidades são incentivadas a organizar sua matriz curricular de acordo com os
conteúdos que lhe pareçam apropriados para a formação das competências que são
exigidas nas diretrizes.
53
A proposta para as diretrizes curriculares dos cursos de turismo foi aprovada em
agosto de 2003 e o parecer homologado foi publicado no Diário Oficial da União em 12
de abril de 2004. O objetivo dessas diretrizes, instituídas pela Câmara de Educação
Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/CNE), é o de orientar as IES na
definição do currículo e alguma possível reforma deste, para os cursos de graduação em
Turismo, imprimindo a cada IES a responsabilidade de definir os elementos que
compõem o curso, de acordo com suas particularidades, sua forma de conduzir e avaliar
o aluno. (GOMES, 2008).
A CES/CNE firma ainda que os cursos de turismo devam inserir no currículo,
além da teoria também o desenvolvimento de habilidades práticas que podem ser
iniciadas em projetos de extensão, monitoria, iniciação cientifica, seminários,
congressos ou projetos de pesquisa. Tudo isso pensado para que o aluno tenha um
panorama do que é o turismo.
As diretrizes atuam como uma referência para que as instituições possam
estruturar seus programas de formação, proporcionando certa flexibilidade e antepondo
as áreas de conhecimento que as IES decidam aproximar-se mais das necessidades reais
de uma formação acadêmica completa para o turismólogo. (GOMES, 2008).
A profissão de bacharel em turismo abrange uma formação generalista e
especializada ao mesmo tempo, pois o turismo é muito amplo e pode gerar impactos na
vida social, cultural, econômica e no meio ambiente. Desse modo, as diretrizes
estabelecem que nos cursos de graduação em turismo, esta formação generalista se dê
no sentido do conhecimento geral das ciências humanas, sociais, políticas e econômicas,
e a formação especializada tenha base principalmente nas áreas culturais, históricas,
ambientais, antropológicas, eventos e administração.
As diretrizes determinam que o egresso do curso de turismo deva apresentar
algumas competências e habilidades básicas para o exercício da profissão. Porém
compreender o significado de competências e habilidades no contexto educacional não é
uma tarefa fácil, principalmente pela escassez de produção teórica a respeito.
54
Conhecimentos, habilidades e atitudes estão especificados, ainda que de forma
implícita, no projeto pedagógico que é o instrumento de organização do ensino, a ser
elaborado e executado pela instituição com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs), sempre respeitando as características regionais, locais, culturais e econômicas.
Conforme preconizado nas Diretrizes Curriculares do Curso de Turismo, o
Estágio Curricular Supervisionado é um componente curricular obrigatório. Uma de
suas funções é avaliar o desempenho profissional do aluno antes da conclusão do curso,
observando sua capacidade de aplicação dos conteúdos aprendidos em sala de aula. Ele
é útil também para o estudante traçar um perfil realista de seu desempenho no estágio e
com ele reorientar-se em termos práticos ou dos conhecimentos teóricos essenciais,
visando ao aprimoramento das suas condições de inserção profissional.(BRASIL).
As atividades complementares, componentes curriculares enriquecedores que
ajudam a desenvolver o perfil do formando (BRASIL), permitem o desenvolvimento de
habilidades e competências fora do ambiente escolar. Possibilitam também a
participação em projetos de pesquisa, monitoria, iniciação científica, projetos de
extensão, seminários, simpósios, congressos, conferências, além de cursos de férias,
palestras ou disciplinas oferecidas por outras instituições de ensino.
Assim como o estágio supervisionado e a Monografia ou Trabalho de Conclusão
de Curso - TCC é opcional para a instituição. Esta deve definir, no momento da
formulação do projeto pedagógico do curso, se a entrega será ou não obrigatória para
efeito de avaliação final do aluno e para a obtenção do título de bacharel em turismo. Se
a instituição optar por incluir no currículo do curso de graduação em Turismo, o TCC,
deverá emitir regulamentação própria, aprovada pelo seu Conselho Superior
Acadêmico, contendo, obrigatoriamente, critérios, procedimentos e mecanismos de
avaliação, além das diretrizes técnicas relacionadas com a sua elaboração (MEC).
Quanto à avaliação do desempenho escolar, as IES devem adotar formas
específicas e alternativas, envolvendo todas aquelas contidas no processo do curso;
observados os aspectos considerados fundamentais para a identificação do perfil do
formando. Além disso, os alunos deverão ter acesso aos planos de ensino contendo os
conteúdos, as atividades, a metodologia do processo de ensino-aprendizagem, os
critérios de avaliação a que serão submetidos e a bibliografia básica antes do início do
período letivo (MEC).
55
As Diretrizes Curriculares para os cursos de turismo encontram dificuldade ao
tentar definir um perfil para o bacharel em turismo, por conta da diversidade de
habilidades e competências sugeridas. O caráter generalista da formação faz com que
seja necessário que o egresso busque cursos de especialização e invista
permanentemente no seu aperfeiçoamento cultural e profissional.
É inegável que o turismo está associado ao capitalismo e, portanto se desenvolve
à medida que aumenta a renda do cidadão. Para Moesch (2002), a produção do saber
turístico no Brasil nasceu a partir da necessidade de instituições privadas e empresariais
e isso fez com que o ensino fosse reduzido a informações e sistemáticas sobre o setor
produtivo. Esta situação gerou a crença de que não existe saber turístico que não seja
resultante de um fazer-saber, enfatizado pela posição tecnicista das IES privadas. É
importante salientar que o turismo é uma atividade que transcende questões comerciais
e econômicas, tão superficiais, na medida em que o ponto central do estudo turístico
deve ser o caráter humano dessa atividade.
Assim, o papel da academia é mudar o foco da construção do saber turístico,
passando a enfatizar mais o fator humano e menos o econômico, dando atenção a
questões como as motivações, as trocas culturais, a hibridização cultural, o impacto
sociocultural, a construção de não-lugares e a destruição ambiental que o turismo
também gera (MOESCH, 2002).
Além disso, os currículos deverão ter conteúdos que sigam, entre outras, a
orientação para o trabalho e a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos
direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática
como diretrizes (Art. 27, I e III).
2.3. A profissionalização do bacharel em turismo
É fundamental haver consenso entre o perfil ideal do profissional de turismo e o
modelo ideal de formação desse profissional. Entretanto, isso depende da conjunção de
interesses e do diálogo responsável entre mercado e instituições de ensino, levando
ainda em consideração os ideais educativos da sociedade brasileira e ideais pedagógicos
relativos à formação humana.
56
Beni (2000) destaca no sistema turístico o Conjunto das Ações Operacionais que
engloba as relações do mercado turístico: oferta/demanda, produção e
distribuição/consumo. A tomada de decisão por parte do turista de viajar começa a gerar
uma série de ações e reações desencadeando a necessidade de uma série de serviços e de
infraestrutura para que a viagem se concretize. De forma direta, podem-se citar as
agências de viagens que são os intermediários clássicos da venda de viagens, as
empresas de transporte turístico e as empresas de hospedagem. Também no destino,
uma série de empresas e serviços será envolvida para suprir as necessidades do turista;
guias de turismo, serviços de alimentação, atrações e entretenimento, por exemplo.
Outros serviços, não especificamente turísticos também acabam beneficiando-se com o
fluxo de turistas como postos de gasolina, farmácias, entre tantos outros. Esta complexa
rede que envolve serviços e produção industrial para suprir estas empresas, foi o que
Lemos (1998) caracterizou como efeito link age do turismo.
Pela importância na economia mundial e pela diversidade de atividades
econômicas envolvidas o mercado de trabalho em Turismo parece promissor. Vale
lembrar, porem, que a imensa maioria de postos de trabalho gerados não exige formação
superior.
No caso do Bacharel em Turismo, o mercado oferece uma série de áreas para sua
atuação, que segundo Ansarah (2002, p.27), são as seguintes:
• Hospedagem: empresas relacionadas à acomodação em geral e com diversas
categorias (hotelaria, motéis, camping, pousadas, albergues...), cassinos, shopping
centers e, atualmente, o direcionamento para hospitais;
• Transportes: aéreos, rodoviários, ferroviários e aquaviários e demais
modalidades de transportes;
• Agenciamento: em agências de viagens, operadoras e representações (GSA e
Consolidadoras);
• Alimentação: restaurantes, fast food, cruzeiros marítimos, parques temáticos,
eventos e similares;
57
• Lazer: com atividades de animação / recreação – clubes, parques temáticos,
eventos, empresas de entretenimento, agências, cruzeiros marítimos, hotéis,
colônias de férias;
• Eventos: empresas organizadoras para atuação em mini e megaeventos, e
também feiras, congressos, exposições de caráter regional, nacional e
internacional ou similares;
• Hospitalidade: atuação no núcleo turístico em atividades de caráter hospitaleiro;
• Órgãos oficiais: atuação em planejamento e em programas estabelecidos por
uma política de turismo, fomento, pesquisa e controle de atividades turísticas;
• Consultoria: atuação em pesquisa e/ou em planejamento turístico;
• Marketing e vendas turísticas;
• Magistério: cursos de graduação, pós-graduação, especialização, extensão,
atualização e cursos livres;
• Publicações: empresas e/ou instituições de ensino para atuação em editoração
especifica, escritor de textos para jornais e revistas especializadas;
• Especialização em mercado segmentado: turismos ecológicos, sociais, infanto-
juvenis, para idosos, deficientes físicos, de negócios, segmentos étnicos ou
culturais em geral;
• Pesquisa: centros de informação e documentação;
• Outros ramos de conhecimento humano: algumas áreas novas, quando tomadas
em uma dimensão mais ampla, estão surgindo, como geração de banco de dados
para o turismo, tradução e interpretação dirigidas para o setor, instituições
culturais, informática aplicada ao turismo, entre outras.
A realidade do mercado de trabalho para o Bacharel em Turismo pode variar de
região para região, dependendo de fatores como o nível de desenvolvimento turístico,
do reconhecimento profissional e também da cultura de contratar bacharéis em Turismo.
58
Neste sentido, o próprio poder público não tem contemplado em seus concursos
o Bacharel em Turismo, ainda que o setor seja uma pasta constante das administrações.
Pode ser que ocorra um “efeito cascata” e os concursos públicos para a área de Turismo
sejam ampliados, ainda que timidamente, nos estados e municípios, como se pode
observar.
De forma empírica, pode-se afirmar que os Bacharéis em Turismo não se sentem
valorizados pelo mercado, a luta pela regulamentação da profissão desde a década de
1970 é um dos indicadores disso. Para Trigo (2000), a contratação de bons profissionais
está diretamente ligada a boa prestação de serviços e ao próprio desenvolvimento do
turismo:
Ainda existe, em vários lugares do planeta, resistência à compreensão
de que a elevação da qualidade dos serviços turísticos, dos padrões de
segurança, lucratividade e eficiência depende em boa parte de
formação profissional séria e continuada. (p.172).
Resta conhecer qual a realidade local, não somente do número de contratados,
mas também que opinião as empresas turísticas têm do Bacharel em Turismo e de sua
formação.
Se pensarmos nas empresas de turismo que investem nos seus funcionários, a
realidade também não é diferente. Os proprietários de hotéis, restaurantes e outras
empresas do sistema turístico também tentam estabelecer uma política de treinamento
voltado para as atividades que necessitam de procedimentos e técnicas de execução.
Poucos são aqueles que estão treinando seus colaboradores com cursos onde o
desenvolvimento humano e suas habilidades de comunicação ou de relacionamento são
enfatizados.
A importância do turismo na economia mundial tem se tornado inquestionável,
devido aos altos índices de geração de divisas e renda. Porém, sua importância vai
muito além do significativo valor econômico.
59
Faz-se necessário pensar o turismo como ferramenta transformadora, um agente
de resgate de tradição local. O turismo tem sido foco de estudo e pesquisa para várias
áreas da ciência, reconhecendo a necessidade de compreender seu rápido e tão
expressivo crescimento em todo o mundo.
Apesar do poder público reconhecer o turismo em seus discursos políticos como
uma atividade propiciadora de melhorias e benefícios sociais, pouco ainda se faz, na
prática, para que as comunidades que apostam no desenvolvimento gerado com o
turismo venham a vivenciá-lo. O crescimento econômico é parte importante do
desenvolvimento, mas não pode ser um alvo em si mesmo. O desenvolvimento só é real
se tornar nossas vidas melhores.
A formação do profissional do Turismo, historicamente está acompanhada pelas
técnicas do saber fazer, das inúmeras estatísticas sobre o setor, das atualizações
tecnológicas dos transportes e das comunicações; mas também, deverá estar balizada
pelos questionamentos sobre a função que este profissional desempenha na sociedade
atual, contribuindo para a valorização da vida humana, com sensibilidade para
compreender cada momento, cada espaço, cada cultura, com sabedoria, capacidade de
inovação e de sensibilidade nos processos de reconstrução da sociedade onde estiver
acontecendo o fenômeno social da mobilidade humana denominado de turismo. Só
assim, a formação profissional contemplará a formação humana.
Esta formação humana é necessária para que aconteça o exercício profissional de
forma consciente, compreendendo as múltiplas relações que acontecem no espaço em
determinado tempo, valorizando e compreendendo as linguagens, as artes, a cultura, a
história, preservando e valorizando os bens naturais e culturais como retrato de sua
própria história.
Atribui-se esse descompromisso, esse desinteresse do setor empresarial, com a
contratação de profissionais habilitados, nas áreas especificas e por faculdades
reconhecidas pelo MEC as tendências do mercado, em evolução como as terceirizações,
privatizações e desregulamentações (TRIGO, 2000, p. 195).
60
Trigo (2000, p. 195) entende que nesse momento econômico globalizado, cuja
pelo é o avanço tecnológico e a exacerbada competitividade, o profissional de turismo
tem que se impor pela “competência e eficiência”.
Segundo ele, “É necessário também que esse profissional tenha uma postura
ética e não subestime a capacidade e as aptidões dos outros profissionais, graduados
em diversos cursos superiores e que disputam empregos no turismo”.
Essa parece ser também a visão de Beni (2003) quando diz que “o profissional de
Turismo é gerente dele mesmo. (...) empregos para a vida toda e com estabilidade já
acabaram” (p. 93). O autor acredita que “capacidade e conhecimento, são hoje valores
determinantes de empregabilidade, no entanto, vínculos empregatícios duradouros,
“para sempre”, é que estão sendo ameaçados”. Como ele diz, ou “os profissionais
caminham para o futuro com suas próprias pernas ou serão colocados para lá” (BENI
2003, p. 94).
61
IV - CONCLUSÕES
A compreensão do que vem a ser Turismo constituiu-se no ponto de partida da
investigação para que se pudesse adentrar as determinações, relações e formas de
contribuir para a formação do profissional do turismo, responsável e comprometido com
uma prática profissional transformadora.
Teixeira (2007) informa que, ao final da década de 90, foram iniciadas
discussões no MEC/SESU sobre a criação das diretrizes curriculares para os cursos
existentes até aquele período com o objetivo de nortear as Instituições de Ensino para as
reformas curriculares, embora os cursos já existissem, no Brasil, há mais de duas
décadas. Assim, uma das características do panorama em que se encontram os cursos
das áreas de Turismo no Brasil é a questão da aprovação tardia das Diretrizes
Curriculares do MEC, fator agravante ao desenvolvimento desses cursos.
De um lado, ao final da década de 1990 — vinte anos após a criação da
formação em nível superior no Brasil, houve uma proliferação de cursos em razão do
Bacharelado em Turismo estar entre as formações universitárias mais concorridas em
território nacional, ainda que a maioria dos cursos ser oferecida por Instituições de
Ensino Superior privadas. A desproporção entre Instituições Públicas e Privadas foi
sempre muito grande. A dominação dos cursos pelas Instituições Privadas sempre
despontou.
Além da oferta dos cursos, percebe-se que inicialmente os mesmos eram criados
e oferecidos sob a pauta de uma normativa própria, visto que as Diretrizes Curriculares
do MEC foram criadas somente algumas décadas após o surgimento dos cursos; o que
propiciou um caminhar diversificado, compositor de uma formação de diversas
focagens.
Posteriormente, quando da criação e aprovação das Diretrizes Curriculares para
os cursos da área, evidenciou-se que tal documento respaldava fortemente as
Instituições de Ensino, inclusive quanto à criação de disciplinas que estivessem
relacionadas às realidades locais nas quais os cursos estavam inseridos. Tratava-se de
uma maneira de se facilitar o acesso do egresso ao mercado de trabalho, quando de sua
formação.
62
Pela existência de interesses comerciais e ao mesmo tempo sob o respaldo da
exigência da criação de disciplinas que estivessem em concordância com a realidade
local, Instituições de Ensino, especificamente privadas, deram início à oferta de cursos
que conferiam formações de múltiplos perfis. Trata-se, nesse momento, de uma maneira
encontrada para se angariar um número significativo de acadêmicos seduzidos pelas
propostas dos folhetins Institucionais veiculados no mercado. O foco da formação
parecia ser secundário, mas o número de acadêmicos imprescindível.
Dessa forma, a Educação em Turismo parece ter sido validada muito mais pela
função econômica do que pela intenção educativa de formar pessoas.
Inegavelmente, a formação multifacetária de um profissional é responsável pelo
desinteresse e baixa demanda de cursos, ocasionando o fechamento dos mesmos, hoje
fortemente vivenciada. Os próprios egressos, ao inserirem-se no mercado de trabalho,
podem perceber que estudaram muito, mas muito pouco ou quase nada dominam dos
campos de atuação existentes.
Considera-se que, uma vez que o profissional bacharel atuará na prestação de
serviços relacionados à hospitalidade em um contexto geral, deve-se visar à
consolidação da formação acadêmica tecnicamente competente, ética e socialmente
relevante ao seu segmento. Dando-se ênfase para a integração entre a teoria e prática,
prezando pela inter e multidisciplinaridade.
Por se tratar de um ramo de atividade caracterizado pelo deslocamento
voluntário de pessoas para locais diferentes de seu ambiente comum e original, uma
gama de empresas oferece serviços de transporte, alojamento, alimentação,
gerenciamento, entretenimento e outros, buscando atender a demanda existente. O
principal papel é o de satisfazer os anseios e necessidades do turista, uma vez que por
ser um produto intangível, o turismo acaba gerando sonhos em seus consumidores,
surgindo assim à necessidade de profissionais especializados, ou seja, de Bacharéis em
Turismo.
Dessa forma, de acordo com os documentos analisados, os cursos de turismo na
universidade privada pretende, durante a graduação, fornecer ao futuro profissional uma
63
visão abrangente e completa do que é a profissão, bem como, sobre o que o mercado
turístico e hoteleiro representa, prezando sempre pela hospitalidade.
O curso deve ainda garantir uma Matriz Curricular que permita uma sólida
formação profissional de acordo com as necessidades inter e multidisciplinar que
interagem com o fenômeno turístico.
Toda a análise foi pautada no documento das Diretrizes Curriculares para os
cursos de Graduação em Turismo, já que no portal eletrônico do MEC apenas são
disponibilizadas as diretrizes para o curso de Turismo ou Administração com ênfase em
Hotelaria. Nada se trata sobre Hotelaria especificamente, tampouco Turismo e
Hotelaria, o que não deixa de ser interessante.
Existe uma relativa discrepância entre as propostas do MEC, Projetos Políticos
dos Cursos e os anseios das universidades. O Turismo e/ou Hotelaria parecem estar
sendo vítimas de um modelo de formação não condizente com a realidade sofrida dos
brasileiros que ainda vive às sombras de outros modelos de formação, não
necessariamente passíveis de adaptação em nosso país. O Ensino em Turismo e
Hotelaria no Brasil carece de urgente revisão.
Durante a execução desse trabalho, percebeu-se que não são poucas as
dificuldades enfrentadas pelos profissionais. Explicá-las considerando somente aspectos
da evolução mercadológica e profissional parece-nos um tanto simplista, encarando
como reflexo direto, ignorado ou concebido como de menor significância na atividade
turística, por si só bastante complexa. As informações e os conhecimentos sobre as
evoluções do setor podem motivar a busca de aproveitamento das oportunidades que
surgem.
Por outro lado, o crescimento do turismo conduz, cada vez mais, à necessidade
de formação de profissionais adequadamente preparados para o setor. Espera-se que os
profissionais graduados possam assegurar a qualidade de atendimento aos turistas,
condição que sustenta economicamente o setor.
Pode-se afirmar que são várias as possibilidades de atuação fora do turismo,
entendidas em ambientes passíveis de ocupação, porém não necessariamente
excludentes da atividade turística, mas antes, interdependentes. Isso permite a utilização
dos conceitos e aprendizados adquiridos na faculdade e configura-se em uma ampla
64
possibilidade para os profissionais do turismo. Antes da ampliação do horizonte
profissional, torna-se essencial firmarmos nossa atuação na atividade turística, pois não
são poucos os espaços que ainda carecem de turismólogos e os setores que necessitam
de amparo técnico e profissional. No entanto, por abordar um assunto ainda pouco
discutido, que propõe novos olhares, exigindo uma investigação mais aprofundada,
admite-se que há ainda interfaces passíveis de análise.
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta de analisar os cursos de Turismo, bem como a expansão partiu da
premissa que é tarefa fundamental da Universidade, não somente preparar o indivíduo
para práticas e técnicas, mas servir de ambiente aberto para a busca do saber, como
argumenta Delors: (1999):
Além da tarefa de preparar numerosos jovens para a pesquisa ou para
empregos qualificados, a universidade deve continuar a ser a fonte
capaz de matar a sede de saber dos que, cada vez em maior número,
encontram na sua própria curiosidade de espírito o meio de dar sentido
à vida. A cultura, tal como a entendemos, inclui todos os domínios do
espírito e da imaginação, das ciências mais exatas à poesia. (p.144)
O desenvolvimento da reflexão sobre o papel das Universidades, especialmente
dos cursos de Turismo, remete-nos a compreender como se deu a sua rápida expansão e
justifica a análise em torno de um imaginário coletivo sobre a potencialidade do turismo
no Brasil. A construção da imagem do país como generoso em potenciais turísticos,
grande por natureza e com todos os requisitos para se transformar em um dos principais
polos turísticos receptivos do mundo, exerce grande influência direta na disseminação
das graduações.
Com relação ao Projeto Político Pedagógico, Vasconcelos (2004) o define como:
Plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização,
nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que
se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o
tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico-
metodológico para a intervenção e mudança da realidade. É um
elemento de organização e integração da atividade prática da
instituição neste processo de transformação. (p.169)
Pode-se compreender que tal projeto serve de ferramenta norteadora para a
Instituição de Ensino por encaminhar ações para o futuro, baseadas em sua realidade
atual, bem como em sua História.
66
De acordo com Teixeira (2007), as matrizes curriculares dos cursos eram
baseadas no mercado.
Pela recente condição de existência e, portanto pela pouca regulamentação a
formação em turismo, possui conhecimentos ainda muito fragmentados (GOELDNER,
1988).
Assim, vale apontar que foi desenvolvido no Brasil um modelo de educação em
Turismo à sombra de um modelo europeu, especificamente o espanhol. Trata-se de uma
espécie de cópia fiel que não necessariamente condiz à realidade de nosso país.
Uma das dificuldades da atividade no país está justamente atrelada ao fato do
profissional brasileiro não se adaptar a esse modelo europeu, implantado como prática
de atividade no Brasil. O povo brasileiro é vítima de um processo de colonização que
deixou marcas profundas, ainda não apagadas, especificamente nas questões
relacionadas à escravatura.
Dessa forma, sujeitar-se a desempenhar funções de garçom, faxineira, atendente
(funções típicas da profissão do turismólogo ou hoteleiro), podem significar ao
brasileiro, uma espécie de diminuição perante a sociedade. A subserviência no Brasil
conota diminuição com relação ao próximo, embora a razão do Turismo esteja
justamente relacionada à expressão do Bem Servir, o que supõe qualificação e
dignidade. A própria característica multidisciplinar e interdisciplinar da área gera
desafios a serem enfrentados no processo de formação discente, uma vez que existe um
grande campo de atuação comum ao setor, representado por algumas atividades como:
gestão e liderança de organizações turísticas, bem como hoteleiras; desenvolvimento de
projetos relacionados a aspectos histórico-culturais, visando à preservação dos mesmos
em benefício da sociedade; busca pela sustentabilidade da atividade turística,
principalmente quando conectada ao meio ambiente; viabilização de planos de viagem
(seja através dos meios de transporte, serviços de hospedagem e receptivos);
funcionalismo público, docência no ensino superior, organização e execução de eventos,
atividades relacionadas aos alimentos e bebidas, etc., todas mencionadas no decorrer do
presente trabalho.
67
O esvaziamento dos cursos superiores de turismo pode ser consequência tanto da
acomodação natural decorrente do fim do modismo que os caracterizou, quanto pelas
dificuldades de absorção de mão-de-obra pelo mercado.
Para o entendimento pleno das inconstâncias mercadológicas no que tange à
contratação, torna-se necessário estreitar laços entre mercado, profissionais e grades
curriculares. Somente analisando sob essa nova conjuntura teremos dados mais
consistentes e análises pertinentes sobre tal processo.
As apurações sobre as condições que propiciam atuar em outros ramos
demonstram que as debilidades do ramo turístico tais como: baixos salários, baixa
autoestima dos trabalhadores, grande oferta de mão de obra, dentre outros são
recorrentes e interferem não só na opção profissional, mas também na valorização do
exercício profissional para o qual o individuo se preparou.
68
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