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FORMAÇÃO HISTÓRICA E QUESTÃO AGRÁRIA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA SISTEMAS DE PRODUÇÃO DISCIPLINA: SISTEMAS AGRÁRIOS DE PRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ABRIL DE 2016

FORMAÇÃO HISTÓRICA E QUESTÃO AGRÁRIA · Ausência de legislação sobre terras devolutas provoca ... proibição do tráfico negreiro ... Plano de Metas de JK

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Page 1: FORMAÇÃO HISTÓRICA E QUESTÃO AGRÁRIA · Ausência de legislação sobre terras devolutas provoca ... proibição do tráfico negreiro ... Plano de Metas de JK

FORMAÇÃO HISTÓRICA E

QUESTÃO AGRÁRIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA

PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA – SISTEMAS DE PRODUÇÃO

DISCIPLINA: SISTEMAS AGRÁRIOS DE PRODUÇÃO E

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

ABRIL DE 2016

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QUESTÃO AGRÁRIA:

refere-se às relações sociais de produção (meios de

produção + forças produtivas) e abrange aspectos

ligados ao “como e de que forma se produz”.

Indicadores:

maneira como se organiza o trabalho e a produção;

nível de renda e emprego;

tecnologia disponível e produtividade do trabalho;

forma como está distribuída a propriedade fundiária.

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QUESTÃO AGRÍCOLA: restringe-se “ao que, onde e

quanto se produz”.

Indicadores:

quantidades

preços

* De modo geral instrumentos de política agrícola visam interferir

apenas nestes dois fatores, mas indiretamente influenciam a

conformação dos sistemas agrários.

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Antecedentes históricos

Capitanias hereditárias

Sesmarias: grandes extensões de terras doadas a

particulares que tivessem recursos (para compra de

escravos)

Tamanho variava de 0,5 a 3 léguas quadradas

Latifúndios escravistas, produção visando exportação.

Terra: por ser meio de produção relativamente não

reprodutível, a forma de sua apropriação histórica

é fundamental

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Classes sociais:

senhores e escravos

Outros*

1820: extinção do regime de sesmarias

Ausência de legislação sobre terras devolutas provoca

rápida expansão de pequenos agricultores

* Dentre estes, pequenos agricultores que produziam para

subsistência e vendiam parte da produção nas feiras das

cidades; posse da terra era precária ou ilegal.

1850: proibição do tráfico negreiro

Criação da Lei de terras

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Lei de Terras

Proibia as aquisições de terras por outro meio que não a

compra, extinguindo o regime de posses;

Elevava o preço das terras e exigia pagamento à vista;

Destinava produto da venda de terras à importação de

colonos.

Terra livre + homem livre: quem iria trabalhar nas

grandes propriedades?

Lei buscava evitar que imigrantes se tornassem

proprietários de terras (Sul: processo diferenciado,

imigrantes compraram lotes)

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CAFÉ, URBANIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO

Final do século XIX:

crescimento da urbanização

Ampliação dos produtores familiares, devido a

maior demanda por alimentos e possibilidade de

produção de matérias primas como algodão e tabaco.

Início do século XX:

crises periódicas do café

Desvalorização cambial

Retenção de estoques.

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A partir de 1926 ocorreu crescimento da área dos cafezais

e da produção: entre 1928 e 1934 ocorreram três safras

superiores 28 milhões de sacas.

Expansão do complexo cafeeiro criou condições para

surgimento da indústria, tanto via investimentos dos lucros,

como gerador de força de trabalho que demandava consumo

crescente de gêneros alimentícios

Período de 1933-55: setor industrial vai se consolidando;

política de substituição de importações.

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Limitações da industrialização: incapacidade de

implantação da indústria pesada ou de base pelo setor

privado e mesmo o Estado tinha dificuldades de assumir

esta tarefa.

Companhia Siderúrgica Nacional – 1953.

Governo Vargas: com a centralização do poder ao nível

federal, oligarquias rurais perdem hegemonia, mas

continuam influindo nas decisões.

Relativa diversificação da produção agrícola leva a criação

de políticas setoriais.

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Período de 1955/61: Plano de Metas de JK

consolidação das indústrias de base (siderurgia;

petroquímica; metalurgia)

desenvolvimento do setor de energia e transporte (infra-

estrutura);

aumento da produção dos bens de capital e de bens

consumo duráveis;

investimento maciço do Estado em infra-estrutura e na

indústria de base por meio de endividamento e confisco

cambial (transferência de renda da agricultura para a

indústria).

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Taxas de crescimento do PIB:

1956-61: 8,3% ao ano;

1963-67: 3,7% ao ano e inflação crescente;

Governo João Goulart: reformas de base

1964: Golpe Militar

Período de crise: concentração empresarial; redução do

gasto público; aumento de impostos; arrocho salarial.

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QUESTÃO AGRÁRIA: o debate nas décadas de 50 e 60

Economistas NEOCLÁSSICOS X ESTRUTURALISTAS;

Estruturalistas: consideravam a estrutura agrária como um

empecilho para o desenvolvimento agrícola e defendiam

alterações;

Neoclássicos: as causas da falta desenvolvimento

(modernização agrícola) era a abundância de terra e mão-de-

obra, e não a estrutura agrária.

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QUESTÃO AGRÁRIA: o debate na década de 1960

As divergências entre os Estruturalistas:

Tese Feudal (Alberto Passos Guimarães):

reforma agrária possibilitaria a remoção dos restos feudais;

destruiria também subordinação econômica dos

camponeses à estrutura de dominação do latifúndio;

a modernização se daria pela penetração do capitalismo no

campo.

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QUESTÃO AGRÁRIA: o debate na década de 1960

As divergências entre os Estruturalistas:

Crítica à Tese Feudal (Caio Prado Júnior)

afirmava que a grande empresa agromercantil sempre foi

capitalista, o que havia era resquício escravista-colonial;

a oposição principal era entre grandes proprietários e

trabalhadores;

propunha mudanças na legislação trabalhista para propiciar

melhoria de condições de trabalho;

reforma agrária seria indicada para regiões com menor

dinamismo econômico.

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QUESTÃO AGRÁRIA: o debate na década de 1960

As divergências entre os Estruturalistas:

Tese Estruturalista (Celso Furtado)

estrutura agrária, baseada no latifúndio, seria ineficiente,

incapaz de atender a expansão da demanda de alimentos e

matérias-primas;

questionava pressuposto neoclássico para o progresso

técnico (via aumento da demanda e migração rural-urbana);

reorganização da agricultura deveria possibilitar que sua

modernização pudesse atingir a grande massa da população

do país.

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QUESTÃO AGRÁRIA: o debate nas décadas de 50 e 60

Neoclássicos e a Teoria da Modernização:

Schultz (1965) considerava que produtores tradicionais

alocam eficientemente os fatores de produção, o que lhes

falta é ter acesso/conhecimento de técnicas modernas.

O aumento da produção e produtividade não dependia de

mudanças na estrutura fundiária, mas de uma revolução

tecnológica com oferta de máquinas e insumos modernos a

preços baixos.

Esforços deveriam dirigir-se aos grupos de agricultores

com maior capacidade de adoção das tecnologias (médios e

grandes) (SANTOS, 1986)

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Padrão tecnológico adotado:

o uso intensivo da química mineral (fertilizantes e

agrotóxicos);

mecanização do preparo do solo, plantio e colheita de

cereais;

e melhoramento genético de plantas e animais.

O apoio a este padrão tecnológico teve como base:

o crédito rural fortemente subsidiado

a assistência técnica e extensão rural difusionista

MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA

Período: final da década de 1960 e a década de 1970

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A modernização:

aumentou a produção e produtividade, especialmente

das culturas de exportação e daquelas utilizadas como

insumos agroindustriais;

causou um êxodo rural de cerca 28 milhões de

pessoas no período de 1960-80;

inseriu a esfera financeira nas atividades da

agropecuária; promoveu a integração de capitais

agroindustriais e agro-comerciais; e fortaleceu a

valorização especulativa do imóvel rural;

não mudou e até acentuou o caráter desigual da

estrutura fundiária brasileira;

teve consequências nefastas para o meio ambiente e

para a conservação dos recursos naturais ligados à

produção.

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Questão agrária e as Constituições brasileiras

1824 (Império):

propriedade garantida em toda a sua plenitude

1934:

Usucapião para posse de até 10 ha e com 10 anos de

ocupação;

Alienação: até 10 mil ha sem autorização do Senado;

1969:

Usucapião para posse de até 100 ha e 5 anos de

ocupação;

Alienação: até 3 mil ha sem autorização do Senado;

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Constituição de 1988

Usucapião para posse de até 50 ha e com 5 anos de

ocupação;

Alienação: até 2.500 ha sem autorização do Senado.

Pagamento de terra desapropriada:

1946: em dinheiro, previamente e pelo preço justo;

1969: em títulos, posteriormente e pelo preço justo

(inicialmente com base no ITR);

1988: em títulos; previamente e pelo preço justo.

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MUITO OBRIGADO!