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    FACULDADE DE CINCIAS DA EDUCAO E DA SADECURSO: PSICOLOGIA

    FATORES QUE INFLUENCIAM NA

    MOTIVAO DE PROFESSORES

    JAQUELINE LOPES BARREIROS

    Braslia, Junho/2008

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    JAQUELINE LOPES BARREIROS

    FATORES QUE INFLUENCIAM NA

    MOTIVAO DE PROFESSORES

    Monografia apresentada comorequisito parcial para concluso docurso de Psicologia do UniCEUB Centro Universitrio de BrasliaProf. orientadora: Dr. EileenPfeiffer FloresProf. co-orientadora: Dr. MariaEleusa Montenegro

    Braslia, Junho de 2008

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    ii

    Este trabalho primeiramente dedicado a

    minha pessoa, por todo meu esforo e

    dedicao. Dedico-o tambm a minha

    professora Eileen por toda a ajuda,

    competncia e dedicao, que mesmo comtodos os imprevistos que passou, nunca

    deixou de estar presente nos momentos

    certos. Dedico, alm destes a todos os

    professores que lutam diariamente pela

    educao e que na maioria das vezes no

    vem seu esforo reconhecido.

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    iii

    Meu agradecimento vai primeiramente aos meus pais, que me criaram da

    melhor maneira possvel, sempre me incentivaram aos estudos e transformaram meu

    sonho de cursar o ensino superior em realidade.

    Agradeo ao Senhor nosso Deus por me dar fora, inteligncia, pacincia e

    estabilidade emocional para superar as dificuldades do curso e por no me deixar

    desistir nos momentos em que cheguei a duvidar de minha capacidade.

    Agradeo tambm a todos os amigos que estiveram ao meu lado, a todos que

    compartilharam comigo da luta diria pelo aprendizado e principalmente Llian,

    minha melhor amiga, que sempre esteve pronta a me ajudar e aconselhar nas horas de

    indeciso, e ao Fabio que sempre est ao meu lado incentivando meu progresso.

    Mas, o meu agradecimento principal nesse momento professora que me fez

    ter interesse pela rea escolar, uma das melhores professoras de toda a minha vida

    escolar, - Eileen - obrigada por fazer parte dos meus estudos e que mesmo com todos

    os imprevistos que teve, sempre que precisei tive ajuda na difcil tarefa da

    Monografia. Meu agradecimento final professora Maria Eleusa que de um dia

    para o outro teve que nos guiar na reta final da Monografia, obrigada.

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    iv

    Todos os dias quando acordo

    No tenho mais

    O tempo que passou

    Mas tenho muito tempo

    Temos todo o tempo do mundoRenato Russo

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    v

    Resumo

    O presente estudo teve como objetivo identificar os fatores que influenciam na motivao edesmotivao dos professores que lecionam no mesmo contexto de escolar, analisandoaspectos de satisfao, insatisfao, motivao e desmotivao relacionados aos professoresde uma escola pblica. A metodologia adotada foi a pesquisa quantitativa e qualitativo-descritivo, com a utilizao de uma escala de motivao e da entrevista semi-estruturadacomo instrumentos. A amostra foi composta por seis professoras do sexo feminino, com idadeentre 24 e 40 anos, que lecionam na mesma escola de Ensino Fundamental da rede pblica.Os principais resultados consideram que a motivao maior dos professores est no processode desenvolvimento dos alunos, em como estes se desenvolvem, aprendem e valorizam o

    trabalho do professor. Os fatores que levam desmotivao dos professores englobam adesvalorizao da profisso, o mal comportamento do aluno, as condies precrias da escolae o salrio. Alm do estudo da motivao e da desmotivao dos professores, a pesquisatambm demonstrou o importante papel do professor para a educao das crianas.

    Palavras-chave: Motivao, desmotivao, professores, contexto escolar

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    SUMRIO

    DEDICATRIA....................................................................................................................... ii

    AGRADECIMENTOS............................................................................................................. iii

    EPGRAFE............................................................................................................................... iv

    RESUMO....................................................................................................................................v

    SUMRIO.................................................................................................................................vi

    INTRODUO......................................................................................................................... 8

    CAPTULO 1: FORMAO E PROFISSO DOCENTE.................................................... 10

    CAPTULO 2: MOTIVAO................................................................................................ 19

    2.1 CONCEITOS DE MOTIVAO..................................................................................... 19

    2.2 TEORIAS DA MOTIVAO........................................................................................... 21

    2.2.1 TEORIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW......................................................... 21

    2.2.2 A TEORIA BIFATORIAL DE HERZBERG................................................................. 22

    2.3 PESQUISAS EMPRICAS SOBRE MOTIVAO E DESMOTIVAO EM

    PROFESSORES...................................................................................................................... 24

    CAPTULO 3: FATORES QUE INFLUENCIAM NA MOTIVAO E DESMOTIVAO

    DE PROFESSORES................................................................................................................ 33

    3.1 MTODO........................................................................................................................... 33

    3.2 INSTRUMENTO............................................................................................................... 34

    3.3 PROCEDIMENTO............................................................................................................ 36

    4 RESULTADOS..................................................................................................................... 37

    5 DISCUSSO........................................................................................................................ 52

    CONSIDERAES FINAIS.................................................................................................. 57

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    REFERNCIAS....................................................................................................................... 59

    APNDICE A CONSENTIMENTO INFORMADO........................................................... 63

    APNDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA.................................................................... 64

    APNDICE C ENTREVISTAS........................................................................................... 66

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    As pesquisas que envolvem educao em geral so direcionadas aos alunos,

    aprendizagem, s condies de ensino, valorizao da educao e, no meio do caminho, a

    figura do professor tratada apenas como o que ensina, quando a mesma importncia deveria

    ser direcionada a ele.

    O professor preparado durante toda a sua graduao para uma realidade diversa da

    que encontrar em sua prtica, os conhecimentos adquiridos tero que ser postos dentro de

    sala de aula em condies muitas vezes precrias e insuficientes. O desenvolvimento

    profissional torna-se um desafio constante, o professor precisa ter domnio de contedo,

    domnio de sala, de competncias, habilidades e atitudes para enfrentar as adversidades da

    luta diria pelo aprendizado do aluno. Na vivncia da profisso, o professor aprende que no

    s o aluno que far parte de sua rotina, existe tambm a relao com a coordenao da escola

    e a participao ativa ou no dos pais de seus alunos.

    difcil, para quem olha de fora, compreender por que o professor fica tantas vezes

    doente, defende tanto seus direitos e reclama dos alunos. O prazer de lecionar tem sido

    deixado de lado diante das dificuldades da vida profissional, a desmotivao clara quando se

    observa que o governo e a sociedade desvalorizam a profisso que base de uma pessoa

    depois da famlia. Foi na expectativa de mostrar que, para alguns professores, existe o prazer

    de lecionar juntamente com a expectativa de uma educao de qualidade, que a presente

    pesquisa foi realizada no intuito de verificar quais fatores em um mesmo contexto escolar

    influenciam na motivao e na desmotivao.

    A pesquisa tem por justificativa, alm de analisar os fatores de motivao e

    desmotivao, acrescentar literatura um estudo voltado para o professor e para a sua

    motivao dentro do seu ambiente de trabalho, pois se entende que a sua motivao ou

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    desmotivao podem partir de diferentes aspectos e serem diferenciados para cada

    profissional, dependendo do contexto de cada um.

    Os objetivos centrais da pesquisa so: a anlise dos fatores que influenciam na

    motivao e desmotivao dos professores e verificar se existe alguma diferenciao relevante

    entre estudos com grupos de um mesmo contexto escolar (trabalham numa mesma escola) e

    estudos com grupos de contexto escolares diferentes (trabalham em escolas diferentes).

    Os resultados da pesquisa se do por meio das entrevistas, analisando como a

    motivao e a desmotivao influenciam cada professora, observando que o contexto em que

    trabalham o mesmo, ou seja, todas lidam com a falta de recursos, com alunos

    indisciplinados, alunos que se empenham nos estudos alm das dificuldades pelas quais todas

    passam no que se refere a questes dentro da escola.

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    Aprender fazendo a fazer

    O que no se sabe fazer

    Meir ieu, 1996.

    CAPTULO 1 - FORMAO E PROFISSO DOCENTE

    De acordo com o dicionrio Aurlio (2007), professor aquele que ensina uma

    cincia, arte, tcnica. O professor no somente um facilitador da aprendizagem, mas

    tambm participante ativo da formao social, afetiva e psicolgica de seus alunos no

    apenas um conjunto de competncias, uma pessoa em relao e em evoluo. (Perrenoud,

    Paquay, Altet e Charlier, 2001)

    por meio de da figura do professor que a aprendizagem se d na escola, ele que

    precisa estar consciente de seu trabalho, e possui grande influncia sobre o aluno. Para que

    haja uma educao de qualidade, preciso que os professores estejam capacitados a lecionar,

    que se dediquem e que tenham competncia. A relao professor-aluno um fator importante

    no contexto escolar, quando h uma boa relao entre ambos, tanto o professor quanto o aluno

    demonstram mais interesse para ensinar e aprender.

    Larocca (1999) acrescenta que a mediao proporcionada pela escola e pelo

    professor pode favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento da criana: [...] a escola pode

    promover o desenvolvimento da criana ou atrapalhar esse desenvolvimento [...] o professor

    pode ser o dinamizador, aquele que propulsiona este desenvolvimento, ou no, no ? (S. 8,

    s: 1)(Larocca, 1999, p. 49).

    Para Vygotsky (1987) citado em Rego (1995), o processo de educao escolar se d

    por trs aspectos: a formao de conceitos cientficos, o papel que o sistema de conceitos na

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    direo dos processos de educao e o papel de mediador do professor na aprendizagem e o

    ensino por compreenso. As atividades desenvolvidas e os conceitos aprendidos na educao

    escolar permitem novas operaes intelectuais: abstraes e generalizaes mais amplas da

    realidade, na medida em que o sujeito expande seus conhecimentos, modifica sua relao

    cognitiva com o mundo. (Rego, 1996, p. 104). O conceito de mediao refere-se interveno

    de um elemento intermedirio numa relao, fazendo com que essa relao seja direta.

    Vygotsky descreve dois tipos de elementos de mediao: os instrumentos possuem uma

    direo externa e os signos uma direo interna. Vygotsky considera que a educao

    possibilita desenvolver modalidades especficas de pensamento, tendo um papel diferente e

    insubstituvel, na experincia culturalmente acumulada do sujeito.

    A competncia do professor comea por sua formao, que nos ltimos anos no Brasil

    vem melhorando, a partir das reformas na educao e no contexto de formao dos

    profissionais de educao. A Nova LDB (1996) tem como finalidade da formao dos

    profissionais da educao, atender aos objetivos dos diferentes nveis e modalidades de ensino

    e s caractersticas de cada fase de desenvolvimento do educando.

    A da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (1996), em seu ttulo VI, fala da

    formao de professores e pedagogos que passaram a ser denominados de profissionais da

    Educao. O presente trabalho ressalta essa lei, no que se refere formao dos profissionais

    da educao, nos artigos, 61 a 67, que estabelecem os fundamentos da formao dos

    profissionais da educao; os nveis de formao docente exigidos para a atuao dos

    professores na educao bsica; as competncias dos Institutos Superiores de Educao; o

    tempo mnimo para a prtica de ensino, na formao dos docentes da educao bsica; e as

    estratgias para valorizao dos profissionais da educao, estatuto, planos e carreira,

    condies de trabalho.

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    O Artigo 61 refere-se formao dos profissionais da educao que tem como

    fundamentos a associao entre a teoria e a prtica e a capacitao em servio e

    aproveitamento da formao e experincias anteriores. necessrio que, durante o curso de

    formao, a teoria esteja interligada com prtica para que os professores tenham condies de

    chegar sala de aula sabendo da realidade vivida pelos professores.

    O Artigo 62 aborda sobre a formao de docentes na atuao da educao bsica em

    nvel superior, em curso de licenciatura, graduao plena, universidades e institutos

    superiores, admitindo-se, para a atuao do magistrio na educao infantil e nas quatro sriesiniciais do ensino fundamental, que o ideal seja a formao em nvel superior.

    O Artigo 63 refere-se s instituies superiores que devem manter os cursos de

    formao de profissionais para a educao bsica, inclusive o normal superior destinado a

    docentes da educao infantil e sries iniciais do ensino fundamental e programas de

    formao para os que j possuem diploma em educao superior e desejem dedicar-se

    educao bsica, juntamente com programas de educao continuada para professores de

    todos os nveis.

    O Artigo 64 estabelece a formao de profissionais de educao para administrar,

    planejar, inspecionar, supervisionar e orientar para a educao bsica, a ser realizada em

    cursos de graduao em Pedagogia ou ps-graduao.

    O Artigo 65 estabelece que a formao docente, exceto para a educao superior,

    incluir a prtica de no mnimo trezentas horas.

    O Artigo 66 refere-se preparao do exerccio do magistrio superior, que dever ser

    em nvel de ps-graduao, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.

    O Artigo 67 remete valorizao dos profissionais da educao, assegurando a eles,

    em termos de estatuto, planos de carreira do magistrio pblico, ingresso somente por

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    concurso pblico de provas e ttulos, aperfeioamento profissional continuado com

    licenciamento remunerado para esse perodo, piso salarial, progresso funcional por ttulo ou

    habilitao e avaliao de desempenho, perodo reservado a estudos e condies adequadas de

    trabalho.

    Mesmo com leis que visem melhoria da formao do professore difcil que se

    tenha uma educao de qualidade, enquanto as polticas no levarem efetivao da lei e

    enquanto a prpria sociedade mostrar descaso com estes profissionais. Cria-se um mal estar

    na comunidade educacional que atinge o profissional diretamente na sua motivao paraensinar.

    De fato, o processo do fracasso escolar no se deve somente aos professores, mas

    envolve alunos, pais, escolas e polticas educacionais. De acordo com Moyss (2001), o

    problema da competncia pedaggica no se restringe somente ao professor, h tambm a

    questo da poltica educacional, o descaso com a educao, o despreparo na formao dos

    profissionais, a desmotivao relacionada a diversos fatores como condies precrias de

    ensino, baixos salrios, alunos indisciplinados, desmotivados e o descompromisso do

    professor com seu papel de agente de mudana. Patto (1990), afirma que dentre os fatores que

    colaboram para o fracasso escolar est a alta insatisfao dos professores em relao s suas

    condies de trabalho.

    Mesmo diante de tantos fatores negativos ainda h muitos profissionais dedicados ao

    ensino e muitos que esto por se formar. Moyss (2001), ressalta que a formao dos

    professores no est vinculada somente preparao acadmica, mas prpria prtica na

    experincia profissional, atualizao e aperfeioamento.

    A questo da formao uma problemtica tanto nos que verbalizam o inicio dessa

    formao quanto no decorrer do incio da carreira. O incio da formao considerado muito

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    terico, pouco prtico e diferente da realidade de sala de aula. Esses novos profissionais

    queixam-se que durante a formao no so orientados quanto aos problemas de sala. Os

    contedos de formao se resumem em aprendizagem definida como um processo

    organizado, o ensino definido como ao de comunicao, a auto-avaliao e o

    questionamento esto implicados na formao e as competncias adquiridas esto

    relacionadas com as classes, sociedade, as disciplinas, ao aluno e ao prprio futuro

    professor. (Perrenoud, Paquay, Altet e Charlier, 2001)

    A formao de professores objeto de diferentes pesquisas por se tratar de umaquesto essencial sociedade em geral, pois se refere a como esto sendo formados os

    professores. Quais seriam os princpios e quais so as finalidades que os cursos de formao

    estariam preocupados para com esses profissionais. Como o processo de formao est sendo

    realizado, visto e avaliado.

    Os desafios que se colocam formao so os desafios reflexo pessoal e coletiva,

    enquanto processo e instrumento de conscientizao progressiva, de

    desenvolvimento continuado e partilhado, de persistncia na investigao

    constante, enquanto fonte de novos informes, de crena, de algum modo sublime, na

    hiptese de o homem vir a descobrir-se e a encontrar-se com a sua prpria

    humanidade (S-Chaves, citada em Alarco, 2001, p. 89).

    Larocca (1999) defende a necessidade de formar o professor com o senso de atentar

    aos processos de desenvolvimento e aprendizagem na criana, saindo do pensar do adulto

    principalmente nas sries iniciais:

    [...] que o professor tenha o contato direto com crianas aprendendo e observe o

    fenmeno de aprender, seja a lngua escrita, seja na Matemtica, seja na Histria ou

    na Geografia. que ele veja, porque ele tambm fica centrado na lgica adulta, sem

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    uma condio de entendimento de que a lgica se constri [...] (S. 5, s: 1) (Larocca,

    1999, p. 49)

    A relao professor-aluno um fator importante no contexto escolar e quando h

    uma boa relao entre ambos tanto o professor quanto o aluno demonstram mais interesse

    para ensinar e aprender. A figura do professor essencial na aprendizagem, seu contato com o

    aluno, durante esse processo que a criana desenvolve seus significados, como discorrem

    Leontiev e Luria sobre a educao:

    Durante o processo de educao escolar a criana parte de suas prprias

    generalizaes e significados; na verdade ela no sai dos seus conceitos, mas, entra

    num novo caminho acompanhada deles, entra no caminho da anlise intelectual, da

    comparao, da unificao e do estabelecimento de relaes lgicas, novas para

    ela, de transio de uma generalizao para outras generalizaes. (Leontiev &

    Luria, apudVygotsky 1984 p. 147 (Moyss, 2001))

    Uma das problemticas dos professores recm-formados a dificuldade que

    encontram assim que partem para a prtica pedaggica, em que tem que enfrentar a realidade

    das salas e tentar fazer os alunos aprenderem de maneira que estes gostem da aula e o

    professor necessita sentir-se bem sabendo que conseguiu ensinar. preciso formar

    profissionais competentes, reflexivos e crticos. Bolzan (2002), discorre que a reflexo do

    conhecimento e do saber prtico coloca em ao o processo em que os conceitos e idias so

    reestabelecidos em uma nova sntese com o poder de transformar a prtica. De acordo com

    Tardif,

    A questo da epistemologia da prtica profissional se encontra, evidentemente, no

    cerne do movimento de profissionalizao. De fato, no mundo do trabalho, o que

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    distingue as profisses das outras ocupaes , em grande parte, a natureza dos

    conhecimentos que esto em jogo (Tardif, 2002, p. 247).

    Vm-se discutindo as dificuldades envolvidas na formao de profissionais crticos

    englobando fatores como a construo de teorias e a prtica na organizao dos contextos de

    formao. (Magalhes, 2004). Giroux (1992) citado em Magalhes (2004) aborda que uma

    pedagogia crtica procura:

    Buscar a criao de novas formas de conhecimento, no s rompendo com os limites

    disciplinares, mas tambm criando novos espaos onde o conhecimento pode ser

    produzido. [...] O conhecimento deve ser reinventado e construdo, convidando-se os

    alunos para transpor limites, encorajando-os a pr fim s disciplinas que separam

    cultura superior da cultura popular, a teoria da prtica, a poltica do quotidiano, a

    pedagogia da educao (1992, p. 259).

    De acordo com Perrenoud, Paquay, Altet e Charlier (2001) a construo do saber que

    se origina da prtica e a sua transferncia ocorrem por meio de da articulao da dimenso

    dos saberes existentes e da dimenso que remete a adaptao desses saberes ao. O futuro

    professor deve-se preparar para refletir sobre sua prtica, onde os profissionais precisam ser

    capazes de evoluir, aprender com as experincias, capazes de refletir sobre o que fizeram e o

    que podem fazer. (Perrenoud, 2002). Rios argumenta que:

    O desenvolvimento profissional dos professores tem se constitudo em objetivo de

    polticas que valorizam sua formao no mais baseada na racionalidade tcnica,

    que os considera como meros executores de decises alheias, mas numa perspectiva

    que considera sua capacidade de decidir(Rios, 2001, p. 12)

    Tanto o professor recm-formado quanto os que j lecionam h algum tempo precisam

    se atualizar tem se ento a formao contnua que, de acordo com Perrenoud (2002), uma

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    forma de transmitir novos saberes ao professores, saberes esses que no tenham recebido na

    formao inicial. Na formao contnua o profissional tem uma experincia a mais para sua

    formao da prtica reflexiva pela convivncia com profissionais experientes.

    Segundo Perrenoud (2002), o profissional reflexivo precisa ser um profissional com

    autonomia e responsabilidade; preciso possuir capacidade de refletir em e sobre sua ao,

    que est sempre se desenvolvendo pela experincia, competncia e saberes profissionais,

    medidas pela natureza e pelas conseqncias da reflexo do cotidiano do professor.

    Perrenoud, Paquay, Altet e Charlier (2001), entendem por competncias profissionais

    conhecimentos, posturas, aes e atitudes necessrias para o exerccio da profisso do

    professor. No ensino, as competncias compreendem os saberes do planejamento, da

    organizao e da preparao cognitiva da aula pela experincia prtica da sala de aula.

    Anderson (1986) citado por Perrenoud, Paquay, Altet e Charlier (2001), cita conhecimentos,

    habilidades e atitudes para abranger a tarefa e o papel do professor, sinalizando essas

    competncias como de ordem cognitiva, afetiva conativa e prtica. De acordo com Tanguy

    (citado por Rios, 2001)

    O discurso sobre as competncias pode ser compreendido como uma tentativa de

    substituir uma representao da hierarquia de saberes e prticas, notadamente

    aquela que se estabelece entre o "puro" e o "aplicado", entre o "terico" e o

    prtico" ou entre o "geral" e o "tcnico", por uma representao da

    diferenciao entre formas de saberes e formas de prticas, diferenciao que

    seria essencialmente horizontal e no mais vertical(Citado em Rios, 2001, p. 82)

    A formao de professores deve ser feita de maneira a constituir nesses futuros

    profissionais uma qualidade de servio voltada para a educao no intuito de trazer novos

    conceitos e aes que faam de seus alunos no somente indivduos que aprendam teorias

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    dadas em sala de aula, mas que sejam indivduos capazes de pensar e construir novos

    conceitos. O professor tem em suas mos a base da construo da sociedade, o saber; a

    figura do professor que proporciona uma educao seqencial ao longo da vida do indivduo.

    Durante sua formao, o futuro professor precisa aprender a teoria, construir por meio

    da prtica e criar mtodos que facilitem seu trabalho e que o mantenham sempre motivado,

    ativo e disposto atualizao. Mas, para isso, preciso que o prprio professor analise em sua

    profisso o que influncia suas expectativas, o que mais recompensador, fazer de si um

    profissional capaz de atuar e de ter um diferencial por capacidade prpria e no esperar que aspolticas educacionais faam do professor e da educao fatores de qualidade. O professor

    alm da sua prtica e teoria depende de fatores externos e internos, a motivao, para sua

    rotina do dia-a-dia. O captulo a seguir descreve algumas definies de motivao e teorias

    que colaboram para a motivao relacionada aos professores.

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    CAPTULO 2 MOTIVAO

    2.1 Conceitos de Motivao

    A motivao no possui uma definio nica, mas depende de como cada autor a

    aborda e da teoria que utiliza, por exemplo, Chiavenato (2004b) salienta que motivao um

    processo psicolgico bsico, junto com as percepes, atitude, personalidade, aprendizagem,

    sendo um importante processo da compreenso humana. J Zanelli, Borges e Bastos (2004),

    definem motivao por um processo objetivo bsico de complexidade relativa, que est

    associada a fatores como satisfao, desejo, recompensas extrnsecas e intrnsecas,

    comprometimento, entre outros.

    Figura 1:Classificao das teorias da motivao.Fonte:Chiavenato (2004a).

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    Conforme a figura 1, diversas so as teorias que estudam a motivao, envolvendo

    aspectos diferentes baseados em razes, comportamento, habilidades, satisfao, desempenho,

    entre outros, e que fazem diferentes previses relacionadas ao comportamento. Podendo ser

    classificadas, de maneira geral, como teorias de contedo relacionadas a fatores internos

    pessoa, as necessidades que motivam as pessoas; as teorias de processo que descrevem e

    analisam o processo do comportamento humano; e as teorias de reforo baseadas nas

    conseqncias do comportamento.

    Salanova, Hontanguas e Peir (1996, p. 16) citados em Zanelli, Borges e Bastos(2004) definem motivao como a ao guiada a objetivos, auto regulada, biolgica e

    cognitiva, ativada por necessidades, emoes, valores, metas e expectativas. De acordo com

    Spector (2006), a motivao o desejo de adquirir ou alcanar objetivos, sendo resultado de

    desejos, necessidades e das vontades. Partindo do princpio de aspectos relacionados

    construo dos processos psicolgicos referentes motivao: a nfase, o foco, a pergunta e a

    resposta, so aspectos que colaboram para o conceito de motivao e para a construo das

    teorias, como mostra a figura 2. (Zanelli, Borges e Bastos, 2004)

    Figura 2:Principais fatores implicados na motivao, ressaltando as perguntas demandadas eas respostas presentes nas teorias da motivao.Fonte:Borges, Zanelli e Bastos (2004).

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    As teorias da motivao de Maslow (1943) e Herzberg (1959) citados em Zanelli,

    Borges e Bastos (2004) tm sido mais utilizadas pela abordagem psicolgica para o estudo da

    motivao em professores, pois so baseadas nas necessidades e contedos do trabalho e da

    avaliao das aes a partir das atribuies de causas e razes e, por isso, essas duas teorias

    sero mais enfatizadas neste trabalho.

    2.2 Teorias da Motivao

    2.2.1 Teoria das Necessidades de Maslow (1943)

    A Teoria das Necessidades Humanas proposta por Abraham Maslow tm origem

    biolgica e sua concepo parte da idia de que o homem deve atingir seu

    autodesenvolvimento e crescimento. Na pirmide proposta por ele, so destacadas cinco

    categorias de necessidades, onde as necessidades inferiores precisam em parte estar satisfeitas

    para que as necessidades superiores mostrem-se como motivadoras. (Zanelli, Borges e Bastos,

    2004)

    As necessidades propostas na pirmide de Maslow so: as fisiolgicas, de segurana,

    as sociais, de estima e de auto-realizao. De acordo com Zanelli, Borges e Bastos (2004), a

    pirmide de Maslow possui duas categorias de necessidades inferiores (fisiolgicas e de

    segurana) e trs de superiores (social, de estima e auto-realizao).

    As necessidades fisiolgicas so indispensveis sobrevivncia e continuao da

    espcie. So necessidades inatas ao indivduo, como alimentao, desejo sexual entre outras

    desse nvel. As necessidades de segurana referem-se proteo contra ameaas ou perigo, e

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    surgem quando a primeira necessidade, a fisiolgica, est em parte satisfeita. As necessidades

    sociais partem da aceitao do outro, do afeto, da aceitao dos grupos sociais dos quais se

    participa. Segundo Chiavenato (2003), a necessidade social surge quando as fisiolgicas e de

    segurana esto quase satisfeitas e, quando no h satisfao suficiente dessa necessidade, a

    pessoa se torna hostil com as pessoas sua volta. As necessidades de estima esto ligadas

    busca da valorizao, de respeito, considerao e status. As necessidades de auto-realizao

    formam a condio mais elevada da pirmide de Maslow, sendo o mximo do crescimento e

    busca de autodesenvolvimento. Segundo Spector (2006), as necessidades so satisfeitas de

    formas e por meio de comportamentos diferentes, onde uma necessidade pode no ter relao

    com um determinado comportamento.

    2.2.2 A Teoria Bifatorial de Herzberg (1959)

    Herzberg concebe a motivao como satisfao das necessidades complexas - estima

    e auto-realizao. A motivao, nessa concepo, resultado do trabalho em si e no de

    recompensas externas ou de condies do trabalho. A teoria foi formulada a partir da anlise

    de descries sobre o que as pessoas desejavam obter com o seu trabalho. A concluso foi que

    os fatores motivacionais podiam ser divididos em fatores higinicos, que seriam fatores

    externos, variando da condio de insatisfao no insatisfao (extrnsecos), e a dos fatores

    motivadores que seriam os fatores internos, variando de satisfao no satisfao

    (intrnsecos). Para Herzberg, a motivao s aconteceria por meio de fatores motivadores.

    (Zanelli, Borges e Bastos, 2004).

    Os fatores higinicos (extrnsecos) seriam definidos por salrios, tipo de chefia,

    poltica e diretrizes das organizaes. O trabalho teria fatores positivos e negativos apenas

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    evitando a insatisfao e no elevando a satisfao. Os fatores motivacionais (intrnsecos)

    seriam fatores de valorizao e reconhecimento que levam satisfao quando timos e

    bloqueiam a satisfao quando precrios. (Chiavenato, 2003). Os fatores que levam

    motivao estariam relacionados prpria tarefa ou localizados na pessoa, enquanto os

    fatores de insatisfao no se referem pessoa, mas a algo externo a ela como, por exemplo, o

    descaso dos governantes em relao educao para os professores. (Zanelli, Borges e

    Bastos, 2004).

    Para Herzberg, em resumo, motivar seria oferecer nveis adequados de fatores paramotivao, j que os fatores de carter higinico no promovem a satisfao, (Spector, 2003).

    Segundo Chiavenato (2003) so apenas preventivos e evitam a insatisfao.

    O trabalho de Herzberg sobre sua Teoria Bifatorial ajudou as pessoas a focalizarem a

    questo da importncia de um trabalho significativo, enriquecendo o trabalho em vrias

    empresas, oferecendo nveis apropriados para os fatores de motivao. (Spector, 2006)

    A motivao muitas vezes mostra-se pela satisfao que o indivduo tem em sua

    realizao profissional, sendo um sentimento em relao ao trabalho, o quanto gosta de

    realiz-lo, o quanto se sente valorizado e recompensando por sua profisso. As duas teorias

    aqui descritas sero utilizadas para a anlise da pesquisa, com o intuito de investigar os

    fatores que motivam e desmotivam os professores e quais so os aspectos que diferenciam e

    contribuem para esses fatores.

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    2.3 Pesquisas empricas sobre motivao e desmotivao em professores

    Com o surgimento da escola e as transformaes que foram ocorrendo ao longo da

    histria, verifica-se uma grande preocupao, ao menos na teoria, com a qualidade do ensino,

    com o aprendizado do aluno e com a formao dos professores. De acordo com Cunha (1999)

    citada por Oliveira e Alves (2005) h um jogo de expectativas com relao ao desempenho de

    cada um, onde essa relao professor-aluno determinada socialmente.

    Para que o professor possa ensinar e fazer com que o aluno aprenda, no somente o

    professor deve querer ensinar e estar motivado para tal, mas o interesse do aluno tambm

    deve estar presente na aquisio de conhecimento. Um professor desmotivado no motiva o

    aluno a querer aprender e um aluno desmotivado no tm interesse em aprender, nem motiva

    seu professor a faz-lo, ou seja, se no h conexo de saberes e interesses de ambas as partes

    para o ensino, no h motivao mtua.

    Segundo Cruz (2000), citado em Mendes e Gitary (2006), o termo motivao vem do

    latim motio(movimento) e tm sua origem na palavra motivo, com sentido de causa ligada s

    aes psicolgicas do homem. Tapia e Fita (1999, p. 77), citados em Oliveira e Alves (2005),

    consideram que motivao um conjunto de variveis que ativam a conduta e a orientam em

    determinado sentido para alcanar um objetivo.

    A motivao no contexto escolar um determinante na qualidade da aprendizagem e

    no desempenho, e o professor tem um grande impacto na motivao dos alunos. Essa

    motivao ameaada quando o professor apresenta ausncia de motivos, frustrao em no

    ter alcanado seu sucesso ao longo de sua carreira ou de experincia negativas, ou seja, existe

    a desmotivao.

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    Em sua pesquisa A Motivao e o comprometimento do professor na perspectiva do

    trabalho docente,Moreira (2005) teve como objetivos analisar a relevncia da satisfao no

    trabalho, investimentos pessoais, alternativas a carreira e o comprometimento, segundo o

    modelo de investimento para o trabalho de Rusbult e Farrell (1983), e identificar possveis

    necessidades para a elaborao de itens de um questionrio com uma amostra maior de

    participantes.

    Moreira (2005), descreve que h poucas pesquisas e ateno da literatura direcionada

    motivao dos professores, apesar de ser tratada como certa ou constante. Contudo, esteautor considera que existem discrepncias entre os professores quanto aos conceitos de

    motivao e comprometimento, pois h variaes dirias de interesse, comprometimento e

    motivao dos professores em relao ao trabalho.

    Moreira (2005), realizou uma pesquisa, adotado o modelo de investimento de

    Rusbult e Farrell (1983, citado em Moreira, 2005) na definio do comprometimento no

    contexto de trabalho, como o grau que o indivduo permanecer no trabalho se sentira

    afeioado a ele. Nesse modelo, tanto a satisfao quanto os investimentos pessoais

    contribuem positivamente para o comprometimento. Esse modelo tem como combinao a

    satisfao do trabalho, a disponibilidade e atratividade de alternativas e os investimentos

    pessoais no atual emprego.

    Para a realizao da pesquisa, Moreira (2005), utilizou-se de uma abordagem

    qualitativa interpretativa. Os participantes foram selecionados por critrios de disciplina que

    ministravam, sexo e estgio na carreira. Utilizou-se uma entrevista semi-estruturada para

    coleta dos dados e, para a anlise dos dados, a abordagem qualitativa de natureza

    interpretativa.

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    Em seus resultados, Moreira encontrou como fontes de satisfao no trabalho ver o

    aluno aprender, relacionar-se com jovens, ajud-los a tomar decises na vida e a qualificao

    profissional. Como fontes de insatisfao, foram encontradas a falta de unio da classe, a falta

    de reconhecimento no trabalho desenvolvido, a indisciplina dos alunos, o aumento da carga

    administrativa e, at certo ponto, o salrio. Observou-se tambm que a pesquisa diferiu em

    alguns pontos do modelo de Rusbult e Farrel, no que se refere a aspectos que funcionam para

    satisfao e insatisfao, pois estes autores consideram satisfao apenas como uma questo

    de recompensa.

    Em sua pesquisa, Moreira (2005), considera que, alm do ato de ensinar, o professor

    tem outras trs formas de satisfao: as recompensas intrnsecas, extrnsecas e as

    complementares de dimenso objetiva e subjetiva, por exemplo, a estabilidade do emprego

    pblico. A satisfao movida por recompensas intrnsecas foi descrita pelos professores, por

    exemplo, quando relatam que, ao trabalhar com jovens, verifica-se que eles aprenderam e que

    os professores podem ajud-los em suas vidas, fatores que os motivam no trabalho.

    O que me traz satisfao como professora o meu relacionamento com as pessoas,

    eu gosto de me relacionar com as pessoas, conversar e trocar idias, gosto de

    conversar com os jovens (Professor de Biologia 2 anos de Magistrio). (Citado

    em Moreira, 2005, p. 216)

    [...] quando eu percebo que h uma mudana, inclusive at mudana de

    hbitos e de comportamento, ento melhor ainda (Professor de Portugus/Ingls

    22 anos de Magistrio). (Citado em Moreira, 2005, p. 216)

    J a satisfao pela recompensa extrnseca mostrou-se por meio de fatores como

    salrio, prestgio e status, estabilidade e frias. As recompensas complementares no tiveram

    tanta relevncia para os professores que citaram destas apenas frias e feriados prolongados

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    como fatores de satisfao. Moreira descreve ainda que a insatisfao tem sua causa maior na

    relao professor-aluno, incluindo a indisciplina, o desinteresse, as aulas montonas, a falta

    de unio da classe e o trabalho burocrtico.

    Muitas vezes a minha insatisfao tambm vem dos prprios alunos,

    principalmente quando eu percebo que eles no querem aprender. O aluno que no

    quer nada com nada (Professora de Matemtica 28 anos de Pedagogia) (Citado em

    Moreira, 2005, p. 219)

    s vezes eu penso: que droga de aula mesmo. Perdi o meu tempo hoje (Professor

    de Portugus 22 anos de Magistrio). (Citado em Moreira, 2005, p. 218)

    Um dos fatores que me trazem muita insatisfao a falta de coleguismo. A nossa

    classe infelizmente muito desunida (Professor de Geografia 10 anos de

    Magistrio). (Citado em Moreira, 2005, p. 219)

    Outra coisa que eu detesto no magistrio o trabalho burocrtico. Eu no gosto

    desse trabalho burocrtico [...] quanto desse tempo voc poderia estar usando para

    se informar melhor e preparar melhor uma aula [...] (Professor de Ingls 22 anos de

    Magistrio). (Citado em Moreira, 2005, p. 219)

    Em suma, Moreira conclui em sua pesquisa que os professores do diferentes

    significados ao trabalho, quando se referem a fatores como motivao e comprometimento.

    A pesquisa sobre Ensino Fundamental: Papel do Professor, Motivao e

    Estimulao no Contexto Escolarde Alves e Oliveira (2005), teve como objetivos a anlise

    do papel do professor no processo de estimulao e manuteno do interesse do aluno.

    Abordou temas como a formao, a concepo do bom e mau professor, do bom e mau aluno,

    satisfao na profisso e definio de motivao e estimulao de acordo com a fala dos

    professores.

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    Participaram da pesquisa cinco professoras entre trinta e quarenta e cinco anos que

    lecionam na 1, 2 e 4 sries do ensino fundamental. Utilizou-se roteiro de entrevista semi-

    estruturado, contendo 15 perguntas com o objetivo de coletar dados scio-demogrficos e

    explorar os temas levantados, por meio de uma anlise no modelo qualitativo-descritivo.

    Nos resultados verificou-se a concepo do bom aluno valorizando fatores da cultura

    escolar e participao dos alunos, o bom e o mau professor, a relao professor-aluno, a

    satisfao do professor pela profisso, queixas sobre remunerao e desvalorizao no

    magistrio e descries para motivao e estimulao. As autoras perceberam a necessidadede instrumentalizar os professores na sua atuao como os mediadores no processo de ensino-

    aprendizagem pra evitar o desinteresse, fracasso e evaso escolar.

    De acordo com os resultados da pesquisa de Alves e Oliveira (2005), o bom e o mau

    professor so concebidos em relatos como:

    (O bom professor ) Esse que entende muito da pedagogia do amor, por aquilo quefaz. Entendo disso qualquer outra pedagogia funciona (participante 4). (Citado em

    Alves e Oliveira, 2005, p. 9)

    (O mau professor) O mau professor aquele que no se envolve que no quer

    sofrer... no est a fim de procurar coisa nova, no l, no se informa, no gosta de

    buscar (participante 1).(Citado em Alves e Oliveira, 2005, p. 9)

    As concepes do bom aluno incluem fatores como serem participativos,

    argumentativos, a terem um bom desenvolvimento acadmico, o aluno que no d

    trabalho para aprender, fatores ligados famlia como o interesse na escola, e relao

    professor-aluno, que esteja pautada no afeto:

    Bom aluno aquele que no tem problemas disciplinares, grandes problemas

    disciplinares (Participante 5).(Citado em Alves e Oliveira, 2005, p. 10)

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    Para ter interesse e responsabilidade dentro da escola preciso ter atividades

    diversificadas, aulas interessantes, participao da famlia (Participante 3).

    (Citado em Alves e Oliveira, 2005, p. 10)

    Com relao satisfao, apenas uma das professoras entrevistadas, na pesquisa de

    Alves e Oliveira relatou estar insatisfeita; as demais relataram que h satisfao por gostarem

    do trabalho e pelos resultados obtidos com os alunos, mas h queixas de falta de material, m

    remunerao e desvalorizao da profisso:

    Eu gosto do que eu fao, mas acho que eu sou muito mal remunerada, eu acho que

    a gente trabalha muito e pouco valorizada (Participante 1). (Citado em Alves e

    Oliveira, 2005, p. 11)

    As professoras relataram vrias definies para motivao, identificando-se itens

    como a motivao sendo algo interno, a estimulao externa do indivduo e a que desperta

    interesse e vontade de realizar:

    A motivao o que empurra a criana pra frente, o que faz ela querer

    saber, ir atrs, algo de dentro porque voc pode fazer de tudo, mas se ela no quiser no

    vai conseguir, e Estimulao esse que vem de fora para dentro, que o professor

    pode fazer para que ele busque, para que ele se motive (Participante 2). (Citado em

    Alves e Oliveira, 2005, p. 11)

    o motivo porque alguma coisa anda, o que causa ou faz uma coisa andar.

    Motivao na educao o que a faz andar. Vontade de ver as coisas mudarem, de

    chegar um mundo e pessoas melhores, e estimulao Nunca pensei nisso, mas

    acho que aquilo que desperta interesse, desperta a vontade de fazer mais

    (Participante 3). (Citado em Alves e Oliveira, 2005, p. 12)

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    Motivao... a vontade de crescimento, vontade de se fazer alguma coisa, pro

    futuro e estimulao Est bem ligado motivao n, se eu vou estimular eu vou

    motivar, pra mim basicamente a mesma coisa (Participante 5). (Citado em Alves

    e Oliveira, 2005, p. 12)

    Motivao, na fala das professoras entrevistadas por Alves e Oliveira, se d por querer

    crescer, por vontade e estimulao. Identifica-se nas falas satisfao por recompensas

    intrnsecas como a de ver o aluno ir atrs, de estimul-lo a conseguir. retomando a esse

    tema que a prxima pesquisa de Mendes e Gitahy (2005), se refere aos fatores que interferemna motivao dos professores.

    Mendes e Gitahy (2005), em sua pesquisa Fatores que Influenciam na Motivao de

    Professores da Rede Estadual de Ensino, no Exerccio do Magistrio na Cidade de Maring-

    PR, tiveram como objetivo a verificao dos fatores que interferem na motivao dos

    professores do ensino mdio e fundamental da cidade de Maring e a possibilidade de

    mudanas da realidade encontrada.

    Participaram da pesquisa onze professores de uma escola estadual do ensino mdio,

    sendo quatro do ensino fundamental e sete do ensino mdio, todos do turno diurno, por meio

    de um questionrio aberto e validado para recolher as informaes pertinentes pesquisa. A

    anlise utilizada foi a descritiva, para descrever o verificado sem interferir nas variveis

    encontradas.

    De acordo com os resultados encontrados por Mendes e Gitary (2005), a

    desmotivao tem sua principal causa na realidade escolar, que reflexo de uma relao

    poltica, social e cultural que estava em crise, refletindo negativamente. O fator salrio, por

    sua vez, no foi o que mais contribuiu para a desmotivao. Segundo os professores,

    necessrio conscientizar famlia e comunidade a assumirem o papel educacional juntamente

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    com a escola e reestruturar polticas educacionais, e tambm uma educao continuada para

    os professores no intuito de trazer para a escola idias e projetos novos.

    Mendes e Gitahy (2005) colocam que, em relao primeira questo de quais foram

    s mudanas conceituais, no mbito escolar, que ocorreram em nvel poltico-social e/ou

    pessoal durante os anos como docente, foi citada como principal mudana a inviabilidade de

    trabalhar corretamente em face da realidade, achar-se incapaz de exercer a profisso hoje, o

    descaso e a falta de respeito com o professor e que a realidade levou ao desinteresse a

    profisso.

    A segunda questo abordou os fatores que levaram desmotivao ao longo dos

    anos, e teve como principal resposta a indisciplina e a falta de compromisso com o aluno,

    seguido do no compromisso da famlia e do governo, problemas sociais e culturais, de ordem

    econmico-financeira da famlia dos alunos, baixos salrios, falta de recursos, excesso de

    trabalho e desvalorizao da disciplina na escola.

    A questo do que pode ser feito para que se tenha a manuteno da motivao

    enquanto profissional da educao teve como critrio principal a ateno dos pais na

    manuteno da educao dos filhos juntamente com a escola, em seguida foram relacionados

    mais ateno do governo, aprendizagem continuada do professor e atualizao dos mesmos e

    mais investimento na educao.

    Diante de tantos aspectos que podem levar o professor a estar ou no satisfeito pode-

    se perguntar quais so os motivos mais importantes que levam o professor a um bom

    desempenho e a estar motivado? Talvez um bom salrio, alunos conscientes dos estudos, boas

    escolas, condies estruturais e matrias e valorizao de carreira? No basta um profissional

    dedicado, com um bom diploma e vontade de ensinar, se as condies para isso no suprem

    sua paixo ou vocao em ser professor. E como explicar que mesmo em condies no

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    favorveis para o ensino ainda se encontram professores que conseguem estar motivados em

    relao a outros? So esses fatores, que separam os motivados dos desmotivados, que o

    presente trabalho pretendeu verificar.

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    CAPTULO 3 FATORES QUE INFLUENCIAM NA MOTIVAO E

    DESMOTIVAO DE PROFESSORES

    A presente pesquisa teve por objetivos analisar quais so os fatores que influenciam na

    motivao e na desmotivao dos professores num mesmo contexto de trabalho.

    Alm desses, apresentar quais so os fatores que se diferem na motivao e

    desmotivao dos professores que lecionam numa mesma escola e relacionar, esta pesquisa

    com outras pesquisas que apresentem estudos com professores que lecionam na mesma escola

    e com professores que lecionam em escolas diferentes.

    3.1 Mtodo

    A amostra foi composta por seis professoras, todas do sexo feminino, com idades entre

    24 e 40 anos que lecionam na mesma escola do Ensino Fundamental da rede pblica.

    As professoras entrevistadas tm em mdia trinta e um anos, com desvio padro de

    seis anos, e em mdia dez anos de atuao no magistrio com desvio padro de seis anos e

    meio. Quanto formao acadmica somente uma no concluiu o ensino superior, tendo

    somente o magistrio, trs possuem o ensino superior e duas com ps-graduao, como

    mostra a tabela 1.

    Foi realizada uma pesquisa com dados quantitativos e qualitativos, baseado no modelo

    qualitativo-descritivo, Alves (2002) citado em Alves e Oliveira (2005), permitindo ver em

    cada questo seus contedos emergentes, pela anlise das entrevistas semi-estruturadasanalisada considerando as propostas.

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    Tabela 1

    Caractersticas da amostra

    Participante Idade Sexo Estado Civil EscolaridadeTempo que Leciona

    (anos)

    1 24 F SolteiraGraduaoIncompleta

    5

    2 25 F Solteira Graduao 6

    3 30 F Casada Graduao 14

    4 33 F Casada Graduao 3

    5 34 F Casada Ps-graduao 13

    6 40 F Casada Ps-graduao 20

    3.2 Instrumentos

    A realizao da pesquisa teve como instrumento um roteiro de entrevista semi-

    estruturada com os objetivos de coletar os dados scio-demogrficos do grupo e explorar os

    temas referentes de motivao, desmotivao, satisfao, insatisfao e temas globais

    relacionados a comprometimento, dificuldades para lecionar, frustraes, valorizao,

    respeito, salrio, condies de trabalho, porque escolheram serem professoras alm de uma

    escala1para medir o grau de motivao das professoras. (Apndice - B)

    Antes de responderem s perguntas da entrevista, foram feitas s participantes trs

    questionamentos relacionados motivao onde, numa escala de 1 a 10, elas se situariam,

    sendo o nmero um totalmente desmotivado e dez totalmente motivado, com a finalidade de

    escolher para a entrevista professoras que apresentassem nveis diferentes de motivao e

    desmotivao, como mostra a tabela 2, visando atender aos objetivos da pesquisa. (Apndice -

    B)

    1 A escala de motivao foi elaborada em conjunto pela aluna da monografia e a professora/orientadora.

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    Tabela 2

    Perguntas para medir o grau de motivao das professoras em trs momentos

    Perguntas P1 P2 P3 P4 P5 P6

    Como osoutros

    professoreslhe vem,

    motivado oudesmotivado?

    6 9 8 7 10 8

    Como voc seconsidera emrelao ao ano

    passado?

    7 9 5 6 10 10

    E onde vocse situa hoje?

    6 9 9 6 10 10

    A tabela dois mostra na primeira pergunta que somente uma professora se sente vista

    pelos outros professores no to motivada como as outras se sentem. Em relao ano passado

    e hoje, quatro mantiveram seu estado de motivao, uma teve um bom aumento na motivao

    de cinco para nove e uma considerou ter ficado um pouco desmotivada com relao ao ano

    passado.

    Foi ento feita uma diviso das seis participantes em dois grupos: as professoras mais

    motivadas e as menos motivadas como mostra a tabela 3. Essa diviso foi feita para depois ser

    utilizada na anlise das entrevistas, levando em conta o objetivo deste estudo, analisar alguns

    fatores que levam a uma maior ou menor motivao no mesmo ambiente de trabalho.

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    Tabela 3

    Categorizao das professoras em mais motivadas e menos motivadas

    Professoras Mais Motivadas Professoras Menos MotivadasP 2 P 5 P 6 P 1 P 3 P 4

    9 10 8 6 8 7

    9 10 10 7 5 6

    9 10 10 6 9 6

    As trs professoras consideradas mais motivadas apresentam uma mdia de motivao

    de 9,44 e um desvio padro de 0,67, enquanto as trs consideradas menos motivadas

    apresentam uma mdia de desmotivao de 6,67 e um desvio padro de 0,87, como mostra a

    tabela 3.

    3.3 Procedimentos de Coleta

    O primeiro procedimento para a realizao da pesquisa foi a elaborao de um projeto

    de pesquisa para o Comit de tica e Pesquisa do UniCEUB, que aps avaliao foi aprovado

    recebendo o processo de nmero CAAE 0904.0.000.303-08.

    O prximo passo foi pedir o consentimento da direo da escola para a realizao da

    pesquisa, seguindo-se da escolha das professoras e verificao da participao das mesmas na

    pesquisa. A realizao das entrevistas foi realizada individualmente na biblioteca e numa sala

    de coordenao, onde todas as professoras assinaram um termo de consentimento (Apndice -

    A) e todas as entrevistas foram gravadas, transcritas na ntegra e separadas por categorias de

    respostas. (Apndice - C)

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    4. RESULTADOS

    A partir da anlise das falas das professoras com relao escolha da carreira, os

    fatores abordados pelo grupo estudado referiam-se a gostar de crianas e do mundo delas,

    pelo desejo de ser igual a alguma professor que se teve quando criana e por nunca ter

    pensado em exercer outra profisso, relatada nas seguintes falas: Desde pequenininha... trs

    anos de idade que j queria ser professora, eu gosto... Eu gosto de ajudar as crianas, eu

    gosto de estar perto das crianas, gosto da parte didtica mesmo... De t planejando, de t

    levando novidade pra criana... eu gosto desse mundo aqui. (Participante 5). Porque eu

    gosto, sempre... Desde... de criana... Nunca pensei em exercer outra profisso... Foi algo

    assim natural.(Participante 6). Outro ponto levantado ainda sobre a escolha da carreira foi a

    fala seguinte: Questo de oportunidade... Porque foi o primeiro concurso que eu fiz e

    passei... Eu no escolhi ser professora... Foi a oportunidade que eu tive na poca e eu fiz a

    prova e passei. (Participante 1).

    Observou-se que a partir das falas e de como as professoras foram categorizadas em

    mais motivadas e menos motivadas, as descries da escolha da carreira para as participantes

    5 e 6 correspondem alta motivao, o fato de gostar de crianas um aspecto muito motivador

    para a escolha inquestionvel da carreira de professor. Tal situao foi evidenciada na fala da

    participante 1, considerada menos motivada, j que no foi uma escolha da participante, sendo

    uma questo de oportunidade da poca.

    Na fala das professoras, os fatores relacionados motivao para lecionar esto

    ligados aos alunos, em fazer o melhor por gostar de crianas, a motivao pelo

    desenvolvimento do aluno e por ele adquirir conhecimento, descrito na seguinte fala: de

    gostar... de ver o desenvolvimento do aluno... no momento que voc comea a desenvolver

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    um trabalho e voc percebe o desenvolvimento do aluno, voc percebe que o aluno vai

    adquirindo conhecimento que o aluno vai desenvolvendo, que ele vai descobrindo outro

    mundo, a isso que me motiva a estar sempre gostando do que fao. (Participante 6).

    Enquanto outra professora considera que existe motivao,Tenho... S que eu sinto

    muita dificuldade na turma, s vezes eu me sinto desmotivada por esse motivo, mais se for s

    a minha parte eu tenho motivao [...] (Participante 1), mas tambm existe a desmotivao

    pela dificuldade da turma, a tristeza pelo salrio, porm destaca que este no influencia no

    comprometimento com a sala: [...] Tem muitas coisas que concorrem pra deixar a gente

    triste, mas o compromisso que voc tem na sua sala de aula... agente no pode deixar

    influenciar... porque tem questes a meu salrio deveria ser melhor, a escola deveria ser

    melhor, a porque o aluno deveria ser melhor, porque a famlia do aluno deveria ser melhor...

    com certeza muitas coisas deveriam ser melhores, mas no isso que vai fazer com que a

    gente comece a botar culpa nas outras partes e deixar o compromisso da gente de lado...

    deixa o papel da gente pra l.(Participante 5).

    A fala da Participante 5 um discurso de uma professora mais motivada, mesmo

    diante das questes aversivas que se tem ao lecionar, ela considera que o comprometimento

    no deve ser deixado de lado, mesmo quando considera que o aluno deveria ser melhor, o que

    diferente com relao na fala da Participante 1 que, tem na turma, os seja, em seus alunos

    os responsveis pela desmotivao ao lecionar.

    Quando questionadas como, mesmo, diante das dificuldades, continuam a lecionar as

    professoras colocaram que continuam porque precisam de dinheiro e pela estabilidade no

    emprego, e pelo amor profisso, conforme relatado nas falas seguintes: Porque eu preciso

    de dinheiro, a minha motivao maior , alm de paz e um pouco de satisfao, o dinheiro.

    (Participante 1); Eu continuo dando aula porque eu sou concursada, porque se eu no fosse

    j teria procurado outra coisa...(Participante 4), e Pelo amor profisso, por necessidade

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    tambm, n... Por precisar do dinheiro... Muitos no so por amor... So pelo dinheiro

    mesmo... Mas eu sou pelo amor mesmo.(Participante 3). O outro grupo de professoras, mais

    motivadas, considera que mesmo com dificuldades a professora deve estar preparada para os

    desafios e problemas, continuam lecionando por acreditar na educao e que, mesmo quando

    se tem problemas de sade continuam por ter muito a oferecer e aprender, como descrito:

    [...] Na sala de aula nenhum dia igual ao outro... s vezes voc planeja uma coisa e chega

    l completamente diferente... E eu acho que a pessoa tem que t preparada pros desafios,

    pros problemas [...] (Participante 2); [...] Eu respondo por mim, eu dou aula porque eu

    acredito na educao, eu tambm acho que... Que muita coisa se resolveria se a famlia e a

    educao andassem juntas... Porque assim existem problemas de famlia que a escola ajuda

    muito, sana muita coisa, claro, no a grande salvao do planeta a educao... Mas tem

    muita coisa que a escola assim um suporte muito grande. (Participante 5); e [...] Eu

    tenho mais dificuldade pelo problema de sade que eu tenho... E eu continuo porque eu gosto

    n... E acho que ainda tenho muito a oferecer e muito a aprender, porque o profissional em

    sala de aula, ele tanto tem muita coisa a oferecer criana como a aprender [...]

    (Participante 6).

    As falas das Participantes 1 e 4, consideradas menos motivadas, continuam a lecionar

    por dinheiro e por estabilidade financeira, enquanto as professoras consideradas mais

    motivadas assumiram seu papel de professora acreditando na educao, preparando-se para os

    desafios e que, mesmo quando as dificuldades so relacionadas a aspectos pessoais do

    professor, continuam na profisso por gostar. Relacionados com a questo dos fatores

    intrnsecos e extrnsecos a profisso, nota-se que as Participantes 1 e 4 so mais guiadas por

    fatores como dinheiro e estabilidade, que de acordo com Herzberg (1959) citado Zanelli,

    Borges e Bastos (2004) ocorrem por fatores higinicos de motivao extrnseca.

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    Quando questionadas sobre valorizao e respeito ao professor, foram unnimes ao

    afirmarem que o professor no valorizado e que h pouco respeito pela profisso. Disseram

    que o professor era valorizado antigamente e est sendo desvalorizado a cada dia pelos pais,

    pela sociedade, pelo governo e que o professor no tem status, conforme as falas a seguir:

    [...] Eu acho que o professor no valorizado, no valorizado nem pela sociedade e nem

    pelo governo... Porque o professor hoje visto como vagabundo, como algum que no leva

    a srio sua profisso [...](Participante 6); e [...] Voc no tem status, se voc t numa roda

    de amigos... Voc... A, o pessoal pergunta o que voc faz... A voc responde que professor

    e o pessoal fica ahhh... ... Falta desmaiar assim do seu lado... Eu acredito que seja todo um

    contexto histrico, as pessoas no tm noo da importncia do professor, que ela a base

    que pode ta mudando uma sociedade, que ela pode t mudando a realidade das famlias. Que

    a criana vem de famlia de pai e me analfabetos e por meio de da educao pode t

    mudando, pode ta melhorando [...] (Participante 2).

    Transparece na fala das participantes que h pouco respeito por parte da sociedade e

    de alguns pais e que o respeito que existe vm dos alunos, que tm um clima de respeito em

    casa e da famlia que v o professor como figura de respeito e que valorizam o prximo, como

    verifica-se a seguir: [...] Algumas pessoas sim, ainda vem o professor como uma figura de

    respeito, acho que das algumas famlias que realmente valorizam o prximo, se ela t

    acostumada a respeitar as pessoas em casa ela chega dentro de sala de aula e respeita o

    professor, agora a criana que no t acostumada a ter respeito pelas pessoas ela encara o

    professor da mesma forma.(Participante 6); Os alunos eles valorizam, os alunos aqui pelo

    menos na educao infantil da pr escola at o quarto ano e eles valorizam, eles tm o

    respeito [...](Participante 2); e ... A viso do professor t muito desvirtuada, os pais acham

    que o professor virou a bab e que a escola s serve pro pai se livrar do aluno... No vem

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    mais a funo social do professor... Essa funo mesmo de educar, de formar um cidado

    crtico, um cidado atuante da sociedade... Os pais no reconhecem isso.(Participante 4).

    Quando questionadas se em algum momento sentiram-se frustradas na profisso,

    relataram que sim, quando agredidas por aluno, quando era preciso fazer algo que no era de

    seu arcabouo, quando, antes mesmo de pegar uma nova turma, disseram que a turma era

    difcil, que a frustrao constante, que h frustrao todo final de ano se um aluno no

    consegue o desenvolvimento esperado, como ilustram as falas: [...] Quando eu fui agredida

    por um aluno na sala de aula... Mordeu meu brao, comeou a gritar, a rolar no cho, correuna sala, bateu nos meninos, jogou os cadernos no cho, jogou mesa e carteira no cho...

    Fiquei assim completamente sem reao [...] (Participante 1); [...] Quando eu peguei a

    turma e me disseram que eu tinha pego um pepino, sabe... Ah voc doida de pegar uma

    turma de 2 srie, voc no sabe o pepino que voc t pegando, eu fiquei muito frustrada com

    isso, fiquei realmente arrasada... Porque fica parecendo tambm que voc no vai dar conta,

    que voc no vai conseguir atingir o objetivo... Eu fiquei bem frustrada. (Participante 4); e

    Acho que a frustrao constante, hoje mesmo eu t frustrada [...] (Participante 5).

    Apenas uma, ao contrrio das outras, disse que mesmo com as dificuldades e de ter tido um

    ano com alunos com necessidades educacionais especiais, no levou a experincia para o lado

    da frustrao e sim para o amadurecimento profissional e pessoal, conforme descrito a seguir:

    Eu tive dois alunos especiais, um com Sndrome de Willians e outro com Doena Mental e

    foi dai que eu amadureci... Eu acho que deu tempo deu amadurecer pessoalmente... Fui

    amadurecendo, eu fui vendo o meu papel como educadora... Fui assumindo uma postura

    diferente... tem males que vem pra bem... fui amadurecendo, uma experincia muito

    positiva...(Participante 2).

    Tanto as professoras do grupo mais motivado quanto do grupo menos motivado,

    exceto a Participante 2, tiveram em algum momento uma situao frustrante e que foi

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    considerada meio negativa. Somente a Participante 2 fez a ressalva de que as mesmo situaes

    difceis foram encaradas como oportunidades para o crescimento.

    Quando questionadas se em algum momento a desmotivao foi fator para deixar a

    profisso, as professoras relataram que houve desmotivao quando se sentiam sozinhas por

    no ter recursos suficientes na escola, pela agitao dos alunos, por ofensas do governo, por

    cansao e insatisfao, relatadas nas seguintes falas: [...] Quando eu tava no segundo ano

    aqui na escola, que ningum entendia os meus anseios... Porque voc sozinha, sabe voc

    tem que t com muito cuidado com as palavras, eu no podia falar que o menino no davaconta... Que eu no queria a criana... Eu no podia falar nada... fiquei muito desmotivada...

    Porque voc se sente sozinha, as coisas acontecem e voc no tem com quem contar... E o

    pessoal s sente pena, ajuda que bom no vem de ningum... (Participante 2); J teve

    alguns momentos que eu senti... quando numa escola que no tinha recurso, nem sala

    adequada, nem material adequado, voc se sente assim numa ilha, o que voc vai fazer

    agora, voc no tem nenhuma folha pra dar pra criana, j cheguei em escola assim, ento

    nesse momento eu me senti desmotivada [...] (Participante 3); e Alguns momentos dentro

    da sala de aula mesmo, momentos assim quando os alunos esto muito agitados, voc fala e

    os meninos no param, tem hora que eu penso ai, meu Deus porque que eu t aqui, vou

    largar isso, no quero mais, so nesses momentos dentro de sala de aula mesmo.

    (Participante 4). Uma professora relata que j ficou muito triste, mas no a ponto de largar a

    profisso e que a desmotivao parte da no valorizao do professor: Eu nunca pensei em

    mudar de profisso, eu acredito assim que o que deixa hoje o profissional triste no a sala

    de aula, exatamente essa falta de valorizao, ento so nesses momentos que voc pensa

    em deixar de ser professor, ai voc me pergunta o que eu faria se no fosse professora e eu

    no me vejo em outra profisso... Ento eu sei que apesar de tudo pode no ser na secretaria

    de educao, mas que eu exerceria essa profisso.(Participante 6).

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    Quando questionadas em que contexto j se sentiram muito motivadas na profisso, os

    motivos foram descritos como o de esperar que a turma do ano que vem seja melhor e mais

    comportada e quando a secretaria promove cursos de atualizao: O momento em que a

    secretaria de educao desenvolve cursos pra que a gente... Fazendo as atualizaes...

    Sempre esto disponibilizando cursos, encontros, palestras... ultimamente tem melhorado a

    questo do material... A secretaria vai t recebendo um material de alta qualidade pra poder

    t trabalhando com os alunos... um ganho muito grande voc sente motivada [...]

    (Participante 3). A gratificao do reconhecimento e carinho do aluno, a convivncia com o

    aluno um fator de motivao: Ofato de ser professora tem a sua parte que gratificante

    quando voc v o resultado do aluno, quando seu aluno vem te agradecer... Te trata com

    carinho, quando voc v que o seu trabalho foi reconhecido no final do ano, v que o aluno

    alcanou, que ele progrediu, que ele teve um bom desempenho. Isso gratificante e o

    estmulo que eu tenho pra continuar, se no fosse isso mesmo sendo concursada acho que

    no estaria mais. (Participante 4). Para uma professora a motivao aumentou quando

    voltou de um tempo que esteve doente onde quase teve que se aposentar: [...] Eu fiquei dois

    anos de licena mdica, eu corri um risco muito grande de ser aposentada e quando voc tem

    um problema srio voc pensa que nunca mais vai estar numa sala de aula e de repente voc

    volta pra sala de aula, faz um bem muito grande pra voc, pra mim foi algo maravilhoso

    retornar depois de dois anos, voltar a desenvolver projetos, voltar a ter contato com aluno...Isso ai pra mim muito importante.(Participante 6).

    A Participante 6 mostrou grande motivao pela sala de aula e pelos alunos, seu

    problema de sade no foi contratempo para o surgimento da desmotivao, ao contrrio, foi

    uma alavanca para estar ainda mais motivada em sala de aula. A Participante 4 mesmo

    estando no grupo das menos motivadas, v-se estimulada pelo desempenho do aluno que pode

    ser interpretado como reflexo do seu empenho.

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    Na questo de comprometimento com a escola e com os alunos, todas salientaram que

    se consideram comprometidas, cada uma a sua maneira, como ser comprometida por passar as

    tarefas e adaptar o currculo aos alunos que tm necessidades especiais: Eu me considero

    mais comprometida com os alunos... No sentido de passar as tarefas, corrigir as tarefas... De

    seguir o currculo deles, de adaptar a aqueles alunos que tm deficincia.(Participante 1).

    So comprometidas por chegarem no horrio e participar dos eventos da escola, que mesmo

    com falta de estmulo no se desliga dos alunos: Acho com a escola e com os alunos sim...

    Porque mesmo com minha... Falta de estmulo que eu tenho, eu fao meu trabalho direitinho,

    eu sou responsvel, sou organizada eu me preocupo muito com os meus alunos, eu no

    consigo me desligar... T o tempo todo pensando, eu acordo pensando como que vai ser

    como que vai ser o dia, eu durmo pensando meu Deus eu devia ter feito uma tarefa assim

    [...] (Participante 4); e o que se tem que valorizar so os alunos e a escola: Sim... Eu

    sempre falo o seguinte que acima de tudo no porque ns no temos bons salrios e que

    no somos valorizados que no vamos valorizar aquilo que temos e o que ns temos so os

    alunos e a escola [...](Participante 6).

    A fala da Participante 4 mesmo estando no quadro das menos motivadas, sua

    satisfao/motivao se concentra no aluno assim como nas falas das professoras

    consideradas mais motivadas, onde aluno aparece como grande fonte de motivao e

    satisfao para o professor, assim como descreve a Participante 6 que considera que se deve

    tanto valorizar o aluno quanto a escola, mesmo os professoras no tendo essa valorizao.

    Com relao s condies de trabalho, os professores afirmaram que tm o bsico,

    mas que precisa melhorar: Sim o bsico sim... A gente no tem uma estrutura melhor, por

    exemplo, agente no tem uma brinquedoteca que importantssima, acho assim que a

    ludicidade essencial ao aluno... A biblioteca tambm, voc v que no l essas coisas, os

    alunos no so to motivados a virem aqui, tem coisas que deixam a desejar mesmo.

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    (Participante 4). Acrescentam que as condies so precrias e que as salas no so

    adequadas: Em termos as nossas salas no so adequadas como a gente gostaria

    principalmente pra quem tem aluno especial como a gente tem muito complicado... Nosso

    ambiente poderia ser melhor, eles poderiam investir melhor nas escolas. (Participante 3); e

    uma no concorda dizendo que de forma alguma as condies de trabalho so satisfatrias:

    De forma nenhuma, a gente tem uma sala de vdeo quando chove cai goteira na nossa

    cabea... A quadra horrvel... Estrutura mesmo no tem no... Temos que ser guerreiros,

    levar, na esportiva.(Participante 2).

    Mesmo relevando s condies de trabalho evidente que todas as professoras

    concordaram que a escola deve ser um lugar adequado e agradvel, tanto para o aluno quanto

    para o professor, j que o ambiente tambm influencia na qualidade do ensino e da

    aprendizagem.

    Quanto ao aspecto do salrio, todas as professoras concordaram que no tm o salrio

    que merecem e que o mesmo deveria ser melhor: [...] Deveria ser melhor... E assim tem dia

    que eu at sorrio, porque puxa essa aula valia dez mil reais porque o que eu passei hoje e tem

    dia assim que voc nem lembra do seu salrio... Mas seria importante a valorizao... Que

    quando voc t bem... Com certeza voc vai ta mais tranqilo tambm pra trabalhar... A

    gente no ganha to mal, mas a gente poderia ganhar melhor... (Participante 5). Uma

    afirmou que custo de vida em Braslia muito alto, mas que d para pagar as contas e que em

    relao realidade do pas so privilegiadas: Acho assim que no o que a gente merece

    porque voc v a nossa realidade e aqui ainda somos privilegiados... Diante da realidade do

    nosso pas, a gente sabe que a gente privilegiada...(Participante 2); e [...] Eu acho muito

    pouco, a gente vive numa cidade, Braslia que tem um custo de vida muito alto, mais caro...

    E mesmo nosso salrio sendo mais alto do que alguns estados ainda muito pouco, eu acho

    que deveria valorizar bem mais [...](Participante 3).

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    No importa se a professora do grupo das mais motivadas ou das menos motivadas,

    pois concordam que o salrio deveria ser melhor, ainda mais para a profisso to importante

    como a do professor, mas que diante da realidade brasileira o salrio melhor em relao ao

    de outros estados.

    Quando perguntadas em quais aspectos sentem mais satisfao todas as respostas,

    mesmo de maneiras diferentes, remetem ao aluno, em v-lo vencer: Satisfatrio ... o que a

    gente tem depois de todo um trabalho, voc v que voc alcanou um objetivo que o aluno

    venceu [...] (Participante 4). Tambm, o aluno desenvolve-se: O que me traz satisfaoseria... o desenvolvimento do aluno... Me traz satisfao tambm essa busca, sempre

    estudando, t sempre procurando o que melhor pro meu aluno, tentando fazer diferente pra

    consegui o desenvolvimento do meu aluno, isso ai pra mim fundamental [...] (Participante

    6). Quando aprenderem a ler: Satisfao eu vejo assim quando a criana aprende a ler, uma

    criana que no sabia nada e de repente comea a ler e a escrever [...] (Participante 2). H

    satisfao quando h retorno dos alunos, no trabalho do professor e quando os alunos

    procuram a professora, questionando algo: Satisfao quando eles aprendem, eu corrijo uma

    prova, um trabalho. Quando eu t corrigindo no quadro e eles respondem, quando eu vejo

    que eu fao diferena no s no contedo, mas em aprendizado da vida [...] (Participante 1)

    Em relao aos aspectos relacionados insatisfao as professoras relataram diversas

    caractersticas como brigas e palavres dos alunos: O que me traz insatisfao briga,

    brigam muito na sala, falam muito palavro, tem muita ofensa, so coisas que a gente

    trabalha sempre, t conversando e no vejo resultado. (Participante 1). Por alunos so

    desinteressados: O que insatisfatrio v que voc trabalhou o ano todo e tem aluno que

    no progride e voc tentou e se esforou e o aluno no progrediu, no foi pra frente.

    (Participante 4). Quando a escola no tem uma equipe especializada para ajudar nos

    problemas, pela desvalorizao por parte da sociedade, e pelo professor no participar das

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    decises na rea da educao:O que me deixa triste chegar e voc ver que a sociedade no

    valoriza mais o profissional professor e que... Nem sempre o professor chamado pra

    decidir, pras decises da rea de educao, a coisa j chega pronta pra voc e nem sempre

    aquilo o melhor [...] (Participante 6).

    A insatisfao na concepo das professoras est nos alunos, quando estes no tm

    bom comportamento e nem interesse pelo estudo, como relatam as Participantes 1 e 4,

    consideradas menos motivadas. J no quadro das professoras mais motivadas a insatisfao

    parte da desvalorizao que o professor enfrenta e de ser um agente passivo nas tomadas dedecises referentes educao.

    Com relao carga horria, todas concordaram que s cinco horas de aula e s trs

    horas de coordenao so ideais e que no atrapalham o ensino, ao contrrio, ajuda no

    aperfeioamento da aprendizagem: Nossa carga horria dividida em 8 horas, 5 de sala e 3

    de coordenao, isso tambm foi uma conquista nossa ao longo dos anos que se chama

    jornada ampliada, ampliou pro aluno 1 hora e pra ns a gente continuou com as 8... Essas

    trs horas de coordenao de reunies administrativas, tem a coordenao individual, tem

    a coordenao coletiva [...] (Participante 3); e Eu acho que t bom, que essa jornada

    ampliada, essas trs horas de coordenao foi assim um ganho muito grande pra categoria e

    foi um ganho muito grande para o aluno. Porque o professor hoje ele tem condio de

    realmente preparar um material melhor pro aluno, ele tem condio de fazer um atendimento

    de aula de reforo no horrio da coordenao e assim s cinco horas aula eu acho que

    importante sim, interessante, no s ficar cinco horas em sala de aula, a gente desenvolve

    outras atividades fora de sala de aula que vo contribuir pra formao do aluno [...]

    (Participante 6). Algumas consideram que mesmo as horas divididas, dessa forma, sejam

    satisfatrias, mas que cinco horas de aula para o aluno muito: No atrapalha no acho at

    que bem dividida, eu s acho assim, parte da coordenao t super tranqila... Mas tarde

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    eu acho assim que a carga horria muito extensa pra falta de recursos que a gente tem...

    Tem que ficar cinco horas com a criana l s com o lpis, a borracha e o caderninho deles...

    No oferecem recursos, n, pra gente ta ficando com esses meninos cinco horas em sala

    [...](Participante 2).

    Quando perguntadas sobre o que hoje motiva o professor, as respostas foram variadas.

    A motivao ocorre por acreditar que um dia diferente do outro e que os alunos podem

    mudar de um dia pro outro, afirmou uma professora: O que mais eu fico pensando em

    como vai ser o outro dia, que s vezes acontece uma coisa triste... e voc fica, poxa, como que vai ser no outro dia, vai acontecer uma coisa diferente, ser que eles vo se comportar

    de forma diferente, ento essa dinmica de um dia pro outro o que mais me motiva porque

    eu sei que um dia no vai ser como o outro... que um dia ele vai aprender uma coisa a mais,

    ento eu acho que essa mudana de um dia pro outro, acho que o que mais me motiva... eu

    sei que no outro dia eles podem estar bem diferentes, fazer pergunta diferente [...]

    (Participante 1); e [...] A motivao eu acho que justamente em pensar que isso um dia vai

    mudar tem que mudar, um dia eu acho que isso a motivao que as pessoas tm, pensar que

    um dia a educao vai melhorar. (Participante 4). A motivao pelo desafio dirio de

    ensinar, pelo contato com as crianas e pela valorizao por parte delas, tambm foi

    ressaltado: O que motiva o professor eu acho que so... ... os desafios, o contato com a

    criana, a valorizao pelas crianas, os grupos de professores que voc faz amizade e... o

    desafio constante, desafio dirio o que motiva isso e superao... (Participante 2). H os

    professores que mesmo com dificuldades, conseguiram resultados positivos: O que motiva o

    professor saber que mesmo com tantas dificuldades, tudo a gente ainda consegue resultados

    positivos, como eu tava, te falei da alfabetizao... Voc pegar um aluno com problemas e

    tudo, saber que na escola ele se sente melhor... aonde ele vai ser preparado pra vida...

    muitos pais no esto preocupados em estar preparando seus filhos pra vida futura, a gente

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    que tem que se virar mesmo... muitos pais colocaram na escola a funo de casa, muitos

    porque trabalham e outros porque nem trabalham nem querem desenvolver o seu papel

    querem jogar tudo pra escola [...] (Participante 3). Tambm, a vontade de ajudar o aluno:

    Motiva o professor a vontade de ajudar o aluno, acho que esse o grande... E a grande

    motivao, a vontade de falar poxa eu quero levar esse menino at to ponto. voc pegar

    uma turma e falar eu consegui chegar... A grande motivao do professor pegar aquela

    criancinha ele passou por mim e aprendeu isso aqui [...] (Participante 5). E quanto ao

    desenvolvimento do aluno: Acho que o grande motivador do profissional ainda o

    desenvolvimento do aluno porque no tem nada melhor do que vrios anos depois voc

    encontrar um aluno que t no mercado de trabalho que continuou os estudos [...]

    (Participante 6).

    Os fatores em comum que influenciam na motivao das professoras consideradas

    mais motivadas o aluno, seja por ver o desenvolvimento dele, por ajud-lo ou por se sentir

    valorizada pelas crianas. Nas professoras consideradas menos motivadas os fatores que as

    motivam a espera de um melhor comportamento do aluno, o aguardo de mudana na

    educao e saber que mesmo com dificuldades ainda se conseguem resultados positivos.

    No que se refere aos aspectos que desmotivam hoje o professor, esto o de encontrar

    com os alunos depois de um tempo e ver que no concluram os estudos: O que mais me

    desmotiva quando eu encontro meus alunos j adultos e pararam de estudar, ah, mas

    porque voc parou ah, porque eu tive que trabalhar... Ah, porque a carga horria do meu

    trabalho no era compatvel da escola ou porque ele no se adaptou escola... Sempre no

    final do ano o que me preocupa no foram os alunos que conseguiram um desenvolvimento,

    aquele aluno que eu sinto que ele no desenvolveu todas as potencialidades que ele poderia

    ter desenvolvido, ento esse o aluno que me deixa preocupado e o que desmotiva isso,

    encontrar esses alunos no futuro e perceber que aquele probleminha que eu j havia

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    detectado no incio, que ele foi virando uma bola de neve e que hoje o aluno t fora da

    escola, ele no concluiu os estudos, isso ai pra mim uma tristeza muito grande.

    (Participante 6). Quando a criana no tem ateno da famlia e no v sentido na escola, so

    outros fatores desmotivantes: O que mais desmotiva quando a criancinha t sozinha, s

    vezes voc pensa, puxa eu acho que precisava do pai vir aqui, a me vir aqui, algum vir aqui

    saber se a criana tem problemas e t precisando de carinho, de uma conversa, uma ateno

    ou s vezes s vir aqui na porta buscar ele, levar [...] (Participante 5). O que, tambm,

    desmotiva o sistema educacional e no ver progresso na educao: [...] O que t

    desmotivando eu acho que o sistema educacional como um todo, eu fico muito

    decepcionada com o sistema como um todo voc v que no tem progresso na educao, voc

    no v a educao progredir, isso no uma falha... ah, professor, a escola o problema

    vem do sistema [...] (Participante 4). As brigas dos alunos tambm aparecem na fala das

    participantes: [...]Oque desmotiva eu j falei so... ... Palavres, brigas... xingamento

    entre eles... (Participante 1). Alm disso, a falta de recursos materiais, espao fsico e o

    governo: [...] O que desmotiva o salrio, o salrio horrvel e desmotiva... A falta de

    recurso que te falei, de espao... Falta de espao, de recursos tcnicos desmotiva.

    (Participante 3); e [...] O que desmotiva eu acho que a falta de recursos, a falta de escola

    mais apropriada, a falta de apoio do pessoal da direo do colgio, dos coordenadores que

    no sabem o que est acontecendo em sala... eu acho que isso, o que motiva so as crianase o que desmotiva o governo.(Participante 2).

    No que se referem desmotivao, as professoras consideradas mais motivadas

    relataram que a desmotivao ocorre quando no se tm recursos na escola para o

    desenvolvimento do aluno, h o descaso do governo, as dificuldades que alguns alunos

    encontram para continuar seus estudos, em geral porque precisam trabalhar e quando os pais

    no do a devida ateno a seus filhos e os deixam a cargo da escola. Na fala das professoras

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    consideradas menos desmotivadas os fatores que as influenciaram foi o mau comportamento

    do aluno, o salrio, as condies precrias de trabalho e com o sistema educacional, no qual

    no v melhoria para a educao. Nos dois grupos de professoras foram encontrados em

    comum, nos fatores de desmotivao, a falta de recursos e o descaso do governo com o

    sistema educacional.

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    5. Discusso

    Pode-se esperar que a maior satisfao de um professor esteja no prazer de ensinar,

    mas o que a presente pesquisa mostrou que foi esse fator no o nico. O gostar de ensinar

    juntamente com o aprendizado do aluno so fatores de satisfao intrnsecos, segundo

    Herzberg (1959) citado em Borges, Zanelli e Bastos (2004), assim como o professor ter o

    reconhecimento do seu trabalho, sendo valorizado e respeitado. O salrio, a estabilidade de

    emprego, ter condies de crescer na profisso e o status do professor so vistos como fatores

    motivacionais extrnsecos e tambm so fatores de satisfao quando ocorrem. Quando se

    referem a fatores de insatisfao temos a falta de interesse e indisciplina dos alunos, as

    condies precrias do ambiente de trabalho, a falta de valorizao, a falta de respeito e o

    salrio que no corresponde s expectativas dos professores.

    Como fatores externos de motivao extrnseca valorizao e o reconhecimento, na

    fala do grupo estudado, apresentam-se insuficientes, pois alm da profisso no ser valorizada

    pela sociedade, governo e por pais de alunos, tambm no so valorizados em remunerao

    onde, segundo