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Formação Básica I Escola de Formação Shalom 1 FORMAÇÃO BÁSICA 1 Ana Carla Coelho Bessa Germana Perdigão

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Formação Básica I

Escola de Formação Shalom 1

FORMAÇÃO BÁSICA 1

Ana Carla Coelho Bessa Germana Perdigão

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SUMÁRIO

Primeira Aula Deus se Revela .................................................................................................. 03

Segunda Aula Renovando a Experiência Pessoal com Deus .................................................... 18 Terceira Aula A Santíssima Trindade ...................................................................................... 27 Quarta Aula Deus Pai ............................................................................................................. 33 Quinta Aula A Pessoa de Jesus I ........................................................................................... 42 Sexta Aula A Pessoa de Jesus II .......................................................................................... 51 Sétima Aula A Pessoa de Jesus III ........................................................................................ 57 Oitava Aula Relatório de Avaliação ...................................................................................... 65 Nona Aula A Pessoa do Espírito Santo I ............................................................................. 67 Décima Aula A Pessoa do Espírito Santo II ........................................................................... 73 Décima Primeira Aula A Pessoa do Espírito Santo III ........................................................................... 84 Décima Segunda Aula Os Dons Infusos do Espírito Santo .................................................................... 92 Décima Terceira Aula os carismas do Espírito Santo l ............................................................................ 102 Décima Quarta Aula os carismas do Espírito Santo II .......................................................................... 113 Décima Quinta Aula Relatório de Avaliação ...................................................................................... 124

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INTRODUÇÃO GERAL

“O desconhecimento da verdade sobre Jesus Cristo, das verdades fundamentais da fé e da ação do Espírito Santo que atua nos corações e os converte, fazendo assim possível a santidade, o desenvolvimento das virtudes e o vigor para tomar, a cada dia, a cruz de Cristo, deve ser um fato freqüente, entre nós, católicos”1, foram fortes aspectos que nos impulsionaram a nos comprometermos com o veemente apelo do Santo Padre, João Paulo II, para uma Nova Evangelização e nos impeliu a assumir o nosso papel de “agentes e destinatários da Boa Nova da Salvação e a exercer no mundo, vinha de Deus, uma tarefa evangelizadora indispensável” 2.

Todo processo evangelizador só se concretiza plenamente

através de duas etapas profundamente importantes, onde uma não prescinde da outra. Como primeira etapa prioritária e fundamental compreendemos a “proclamação vigorosa do anúncio de Jesus Cristo morto e ressuscitado (querigma), raiz de toda a evangelização, fundamento de toda promoção humana e princípio de toda e autêntica cultura cristã”3, anúncio este capaz de levar os batizados a darem “sua adesão pessoal a Jesus Cristo pela conversão primeira” e como segunda etapa imprescindível, a catequese, pois cometeríamos um erro grave se ficássemos satisfeitos em apenas anunciar Jesus Cristo, sem oferecer posterior e permanentemente formação doutrinária e teológica que proporcione subsídios que permitam ao indivíduo ultrapassar os desafios da vida nova em Cristo. É esta formação que “atualizará incessantemente a revelação amorosa de Deus manifestada em Jesus Cristo, levando a fé inicial à sua maturidade e educando o verdadeiro discípulo de Jesus Cristo”4. Portanto esta catequese não pode chegar de “forma superficial, incompleta quanto aos seus conteúdos, ou puramente intelectual, sem força para transformar a vida das pessoas e de seus ambientes” 5.

Diante desta necessidade fundamental de atingirmos o

processo de evangelização em sua plenitude, surgiu o curso de Formação Básica (FB), que tem a proposta de oferecer uma formação

1 Doc. de Sto. Domingo Cap. I, 39 - 40 2 Idem Cap. I,94. 3 Idem Cap. I,33 4 Idem Cap. I,33 5 Idem Cap. I,42

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sólida na doutrina e pontos fundamentais da teologia católica adaptadas à realidade dos leigos hoje, que tenham tido uma primeira experiência com Deus através dos diversos canais que a Igreja oferece.

Como o objetivo deste curso é de ultrapassarmos o conteúdo

informativo e atingirmos o aspecto formativo, isto é, que verdadeiramente a informação doutrinária e teológica recebida penetre no mais profundo do ser de cada pessoa e transborde em mudança concreta de vida; vimos a necessidade de levarmos os alunos a orarem com o conteúdo ministrado em sala de aula. Para isto, cada módulo é composto de um livro texto que contém os objetivos e conteúdo de cada aula, destinado somente àqueles que anteriormente receberam o treinamento para se tornarem ministros de ensino e um livro de exercícios de oração, destinado principalmente ao aluno. Este livro de exercício de oração traz orientações para orações diárias sobre os temas apresentados no livro texto, com o intuito de aprofundar o que o ministro de ensino informou em sala de aula.

Com a finalidade de atender à própria pedagogia do curso,

quer dizer, para que o curso seja de caráter informativo e formativo, além dos exercícios de oração, os alunos deverão ter um acompanhamento pessoal, se for necessário, pelo seu ministro de ensino, que visará a um cuidado pastoral com o seu crescimento espiritual. Portanto, é essencial o esquema de uma aula de duas horas por semana, somada aos exercícios diários de oração e partilha dos frutos concretos de sua vida nova.

O ministro de ensino deverá, pelo menos uma vez, fazer os

exercícios diários de oração, relativo ao módulo que está ensinando, por dois motivos fundamentais: primeiro, para que ele possa acrescentar ao conteúdo experiências pessoais daquele determinado assunto que está ministrando; segundo, para ficar em unidade com o que seus alunos estão experimentando pessoalmente e possa promover e fomentar a oração diária e a partilha semanal, pois é através da partilha dos frutos trazidos pela oração diária que o aluno verificará o seu real crescimento e vivência do tema que está sendo estudado. Isto deve ser feito durante os quinze minutos primeiros de aula, uma vez que, sem oração, a teologia e a doutrina serão mero conhecimento intelectual que não transforma vidas.

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Nossa experiência na formação de leigos nos Centros de Formação da Comunidade Católica Shalom nos tem ensinado que, em nenhum momento, este curso de Formação Básica (FB) deverá substituir a reunião de grupo de oração, círculos bíblicos, círculos de casais ou outras atividades características da riqueza de cada movimento. A formação de leigos deve ser feita a partir destes encontros nas células-mãe e de forma paralela a eles, mediante o curso de formação básica, que abrange casais, adultos, jovens e adolescentes.

O curso é ministrado através de módulos. Cada módulo

contém material para ser ministrado em catorze ou quinze aulas por semestre. Cada aula semanal possui uma carga horária de duas horas.

Duas vezes por semestre, será pedido do aluno um relatório

de avaliação do aproveitamento do curso, através de prova oral para aqueles que tem dificuldades intelectuais ou físicas (analfabetos ou deficientes físicos), ou escrita. São realizadas durante o semestre duas provas: a primeira prova é feita na metade do curso (oitava aula), a segunda no final do curso (décima quinta aula). Também utilizamos a assiduidade como critério para continuidade do aluno no curso, isto é, aquele que tem três faltas seguidas ou quatro intercaladas é automaticamente desligado. Para facilitar, permitimos, extraordinariamente, que o aluno assista em outra sala a aula perdida, apresentando ao seu professor a confirmação assinada pelo professor substituto. Tudo isto com o objetivo de fazer com que o aluno valorize os ensinamentos recebidos e assim aprofunde pessoalmente cada assunto através de estudos e pesquisas.

Este curso vem sendo aplicado desde o ano de 1991, em

diversas cidades, idades e níveis culturais, que já fizeram seminário de vida no Espírito Santo e continuam a freqüentar seus grupos de oração no período do curso. Temos colhido frutos concretos e abundantes: um maior amor à Igreja, à Palavra de Deus, aos sacramentos, à oração, à liturgia, a Maria Santíssima, aos sacerdotes, e também crescimento espiritual e profundas conversões. O programa de formação foi aplicado também em algumas cidades onde não havia escolas de formação, no sistema de final de semana, ministrado em duas etapas, tendo as pessoas se comprometido a fazerem os exercícios de oração durante os dois meses que separavam a primeira etapa da segunda e concluir os exercícios de oração após a segunda etapa por mais dois meses. É muito

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importante que este programa de Formação Básica atinja um maior número de pessoas.

Entregamos este curso aos cuidados da Rainha da Paz e de

Santa Teresa de Jesus. Shalom!

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OBSERVAÇÕES IMPORTANTES Caro irmão (ã), ministro de ensino, Louvado seja Deus por sua presença no ministério de

ensino! Que o seu ministério possa ser exercido sempre na unção do Espírito Santo, em unidade perfeita com o Senhor Jesus, o verdadeiro e único Mestre. A seguir você encontrará os pontos básicos e fundamentais que não podem deixar de ser abordados nas aulas. Esses textos são como roteiros que contém os assuntos de cada aula. Você, ministro de ensino, se guiará por ele, mas confiamos que dará continuidade pesquisando e aprofundando cada um dos temas na bibliografia indicada no final de cada assunto.

Observe os procedimentos importantes a serem tomados no

início do curso, conforme orientação abaixo: 1. oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus para

este curso. 2. explicação aos alunos sobre a pedagogia do curso, isto é,

o aspecto informativo e formativo, o que requer a fidelidade às aulas e aos exercícios de oração.

3. apresentação do livro de exercícios de oração com a devida explicação sobre o seu uso.

4. explicação aos alunos do sistema de avaliação do seu aproveitamento que será baseado nos seguintes itens: freqüência, participação em sala de aula e empenho no aprendizado; crescimento espiritual e assimilação da formação doutrinária.

5. explicação aos alunos da importância da partilha dos exercícios de oração em sala de aula e como se processará.

Para as demais aulas, no decorrer do curso, faz-se

necessário observar os seguintes procedimentos iniciais:

1. Oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus. 2. Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração. 3. Preenchimento da lista de freqüência dos alunos. 4. Avisos. Que Deus o abençoe e faça primeiramente em você tudo

aquilo que será ensinado para seus alunos. Shalom!

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PRIMEIRA AULA

DEUS SE REVELA ROTEIRO DO CONTEÚDO 1Deus se revela 1.1 Na criação do universo 1.2 Na criação do homem 1.3 Na história da salvação do homem 2. O homem recebe a revelação de Deus 2.1 Na natureza. 2.2 Nas intervenções de Deus na história " Deus-conosco" 2.3 Em si 2.4 No outro 3. A Igreja: transmissora da Revelação divina (Cat 84-95)

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

1. DEUS SE REVELA

"Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e se doa

ao homem. Fá-lo revelando seu mistério, seu projeto benevolente, que concebeu desde toda a eternidade em Cristo em prol de todos os homens. Revela plenamente seu projeto enviando seu Filho Bem-Amado, Nosso Senhor, Jesus Cristo, e o Espírito Santo"6.

Como Deus é uno e trino, é impossível amar e conhecer

um, sem amar e conhecer os outros dois necessariamente. Este conhecimento de Deus (conhecimento no sentido bíblico da palavra, que pressupõe intimidade e relação prolongada entre duas pessoas), é sempre iniciativa de Deus. Ele é quem se faz ver (e é este o sentido da palavra revelar ou seja, tirar o véu), e esta revelação é gradativa.

Historicamente falando, Deus escolheu um povo, e a partir

de Abraão foi-se deixando ver, experimentar, foi dando curso ao que hoje em dia chamamos de História da Salvação. O Senhor Deus Altíssimo resolve entrar no tempo e levar a criatura humana a usufruir da eternidade, não só depois da morte, mas desde aqui e agora, como nos diz São João: "A vida eterna consiste em que te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste"

7. Esse conhecimento de Deus alcança o homem pela luz

natural da razão e pelo senso da fé, que é exercitado e sustentado pelo Espírito Santo, a partir das palavras e ações de Deus. Assim é que ensina o catecismo da Igreja católica: "Mediante a razão natural, o homem pode conhecer a Deus com certeza a partir de suas obras. Mas existe uma outra ordem de conhecimento, que o homem de modo algum pode atingir por suas próprias forças, a da revelação divina”8.

1.1 Na criação do universo

Leia Gn 1 (todo), sublinhando as palavras-chave, como:

"Princípio", "Deus disse", "Faça-se", "Façamos" e outras....

6 Catecismo da Igreja Católica,50 7 Jo 17,3 8 Catecismo da Igreja Católica,50

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Através destas passagens das escrituras encontramos

quatro afirmações importantes: - O Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora

dele. Tudo e todos, temos um princípio. - Só Ele é Criador. Só Deus cria do nada, só Deus é capaz

de dar a vida, pois só Ele tem a vida em si mesmo. E tudo isso Ele fez e faz movido por um só motivo: deixar transbordar de si mesmo sua essência - o amor. Deus é amor que cria, que dá vida e que sustenta a criação. Deus é amor traduzido e refletido em todo ser vivente. Deus não está em tudo como se tudo fosse um pedaço de Deus, mas toda a criação é sinal daquilo que Ele é: Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Deus disse: Faça-se a luz! E a luz foi feita

8. A Revelação assim nos ensina que tudo foi criado por

uma ordem explícita de Deus. - Tudo o que Deus faz corresponde ao que Ele pensa e está

em uníssono com o que Ele é. E Deus é amor. É esta a verdade da qual precisamos estar profundamente imbuídos e convencidos: Deus é amor, e tudo criou por amor e para o amor.

- Tudo o que existe depende daquele que o criou. Nós

sabemos que só Deus é, que nele nada tem princípio ou fim, que tudo nele é absoluto e perfeito, que "todas as coisas subsistem nele"

9 e

que, como rezamos a cada missa, só Ele "dá vida e santidade a todas as coisas".

Observação: Algumas pessoas questionam se as coisas

aconteceram como está escrito no primeiro capítulo da Bíblia ou se foi uma evolução de milhões de anos. O que a Igreja diz é que esta linguagem é, obviamente, uma linguagem figurada, e que os capítulos 1 e 2 do livro de Gênesis têm por objetivo descrever a criação e afirmar a verdade de fé de que tudo vem de Deus, e não, descrever o mecanismo que Deus utilizou para esta criação.

8 Gn 1,3 9 Col 1,17b

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1.2 Na criação do homem "Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e

semelhança"10

. A obra prima da criação de Deus é o homem. É sobre o

homem que Ele imprime sua imagem e semelhança. É ao homem que capacita conhecê-lo e amá-lo. É com o homem que Deus partilha outro atributo que é só seu: a liberdade, o livre arbítrio. Deus doa-lhe a vida, uma alma imortal e a liberdade.

Os dois primeiros capítulos de Gênesis deixam bem claro

que tudo foi criado para o homem. Do universo mais longínquo ao elemento mais microscópico que talvez nunca venha a ser descoberto pelo homem. Tudo foi criado para ele, em prol de sua vida, de sua felicidade, do seu conhecimento de Deus, de sua caminhada de amor. O Senhor Deus cria todas as coisas para dá-las ao homem. Deus criou todas as coisas para que o homem delas usufruísse, e visse nelas o quanto era amado pelo seu Senhor; para que o homem gozasse de suas criaturas e em resposta louvasse, na mais perfeita liberdade e consciência, Àquele que tudo lhe dera por amor. Para nós o importante neste momento da formação básica, é estarmos conscientes de que tudo foi criado por amor para o homem.

a) O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus Mas o que o difere das demais criaturas, dos animais e das

plantas que também foram criados por amor? É que o homem participa da natureza divina ao receber de Deus uma alma imortal dotada de inteligência e vontade que formam a base de sua liberdade, elevando-o assim à semelhança de Deus. O ser humano é a obra prima de Deus porque foi criado por amor e para o amor. O homem é vocacionado a amar. e é livre para amar a Deus acima de todas as coisas, e aos outros por amor a Deus. Dentre todas as outras obras da criação visível, só o homem pode amar a Deus. A criação reflete a glória de Deus, mas o homem a reflete de forma perfeita porque pode, como Deus, ser livre e amar. E esta, na verdade, é a única e real liberdade do homem: optar por amá-lo acima de todas as coisas, com toda a sua inteligência, vontade, com todas as suas forças.

10 Gn 1,26

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b) O homem é um ser religioso O desejo por Deus está no coração de homem. O homem

tem a graça de buscar a Deus, de desejar ir ao encontro de Deus, pois foi criado por Ele e para Ele. O seu princípio e fim último é Deus. A felicidade da sua vida se encontra no coração de Deus, por isto, é somente na vida de união com Deus que será verdadeiramente feliz.

A dignidade do homem está na sua vocação de viver em

comunhão com Deus. Ele precisa se relacionar com Deus, ser íntimo de Deus da mesma forma que um filho precisa se relacionar com o seu pai. Assim nos diz S. Agostinho: "Quando eu estiver por inteiro a vós não mais haverá dor e provação; repleta de vós por inteiro, minha vida será verdadeira"11.

Esta busca de Deus pode se manifestar de várias maneiras:

através das orações, sacrifícios, cultos, meditações, etc. ou até mesmo esta busca pode acontecer através de caminhos falsos onde será impossível encontrá-lo. E ainda esta busca pode ser esquecida, ignorada ou até rejeitada claramente. Esta busca do homem a Deus é uma conseqüência da busca de Deus ao homem. É Deus que ama primeiro, quem nos busca primeiro12. Deus não cessa de chamar todo homem a procurá-lo, para que viva e encontre a felicidade: "Um semeador saiu a semear"

13. Deus que sai em direção ao homem.

Deus que não espera a vinda do homem, mas sai à sua procura, não escolhendo ninguém e querendo a todos.

Encontramos ainda que: "Com efeito, o reino dos céus é

semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã a fim de contratar operários para a sua vinha"

14. Deus, continuamente como este pai de família, chama os homens ao reino dos céus, à salvação. Chama a todos, e a qualquer hora, sem fazer nenhuma discriminação, nem acepção de pessoas. Todos são chamados a esta vida de união com Deus. Deus chama o homem e o capacita, com o dom da graça, oferecido no batismo, a responder ao seu chamamento.

11 Hipona, Agostinho, Confissões, 10,28-39 12 cf. 1 Jo 4,10 13 Mt 13,3 14 Mt 20,1

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“Esta busca de Deus requer do homem todo esforço de sua inteligência, retidão da sua vontade, um ‘coração reto’, e também o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar Deus"15, "pois todo o mal do homem e todos os seus erros são conseqüência de não seguir plenamente os ensinamentos de Deus"

16. c) O homem é chamado a viver a comunhão com Deus e

os irmãos A criação do homem à imagem e semelhança de Deus lhe

concede a capacidade intrínseca e essencial para amar e para conhecer a Deus, como já vimos, mas também lhe confere a capacidade intrínseca e essencial para amar e conhecer a si mesmo, ao outro e às coisas.

Havendo Deus criado o homem, “homem e mulher”

17, Ele colocou na essência do ser humano a abertura intrínseca para o outro, a profunda necessidade do outro para conhecer-se a si próprio, para amar e ser amado, para chegar a Deus. O homem sexuado é "metade" (= sexus, parte) e está, assim aberto para o outro, de quem necessita, e para Deus de quem vem e para quem vai. O livro do Eclesiástico capítulo 17,1-12 nos ajuda a aprofundar isto.

d) O homem é chamado a participar da obra da criação

administrando a terra À semelhança de Deus-Criador, o homem é chamado a

participar da obra de criação administrando a terra como Deus a administraria e utilizando a sua inteligência para descobrir e inventar o que é para o bem do homem.

Exatamente porque o homem é livre, é racional, é

inteligente e dotado de uma alma imortal que o possibilita a amar a Deus, pois dele é imagem e semelhança, o Senhor lhe dá domínio sobre tudo, como lemos nos dois trechos propostos. O homem recebe de Deus a ordem de administrar toda a criação (tudo em que haja sopro de vida); Deus lhe dá a posse da lei da vida, chamando-o a ser co-criador que significa gerar novas vidas, ou seja, outros seres humanos, além de poder transformar a natureza. As palavras que

15 Catecismo da Igreja Católica,30 16 Is 48,17s 17 cf. Gen 1,27

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encontramos em Gênesis são: "Que ele reine", "Eis que vos dou", "dominai", "multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a". E com a bênção de Deus, o homem e a mulher foram chamados a assim viver e a agir com um único fim: "celebrar a santidade do seu nome, e o glorificar por suas maravilhas apregoando a magnificência das suas obras". O domínio e a posse em Deus é sinônimo de serviço de doação, e não de poder de dominação ou de destruição. E esta reflexão nos leva a perceber a diferença gritante entre o projeto inicial de Deus ao criar o homem e dar a ele a posse da criação, e o que aconteceu depois do desastre do pecado original... Nós hoje, recriados em Jesus Cristo, somos chamados a novamente viver o projeto inicial do Senhor, seja nos relacionamentos, seja na posse dos bens materiais, seja no respeito da vida humana, seja no que consideramos prioridade para a nossa vida. Nós fomos criados para receber o olhar de Deus em nossos corações e celebrar a santidade de seu nome, ou seja, sermos o louvor da sua glória, celebrando-o continuamente18. Nesta semana nós somos convidados a louvar a Deus Pai Criador, que tudo fez por amor com perfeita sabedoria. Somos chamados a nos encantarmos com a criação e agradecermos por ela e pela sensibilidade de sabermos que ela é um presente seu e meu. Somos chamados à gratidão por podermos usufruir dela e de sermos capazes de transformá-la, de sermos co-criadores com o Senhor. Também devemos pedir ao Senhor a sua sabedoria para fazer com responsabilidade o nosso papel de administradores dos bens do Senhor a nós confiados, tanto os espirituais (a inteligência, a vontade, a liberdade, a razão, a alma imortal) quanto os materiais.

1.3 Na história da salvação

Da caminhada com o homem no paraíso, passando pela

promessa do Salvador após o pecado, Deus vai dando ao longo da História da Salvação momentos especiais onde Ele se revela tal como é, e o homem o percebe dentro de suas limitações humanas e na medida em que corresponde à graça.

Deus utiliza uma pedagogia toda especial de revelar-se ao

homem de uma maneira que este possa percebê-lo e interpretar o que Ele quer dizer. Exemplos disso seriam a sarça ardente (Ex 3), a coluna de fogo (Num 9,15-23) e o carro divino (Ez 1).

18 cf. Ef 1,12

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Ao longo da História da salvação, Deus se utiliza igualmente de acontecimentos para revelar ao homem seu modo de ser e agir. Exemplos disso seriam: 2 Sam 11 e 12, o livro de Jó, o livro de Rute, inúmeros Salmos, entre eles o 63, 64, 65, 91. Poderiam ainda ser listados os episódios da vida de José no livro de Gênesis, da torre de Babel, da Arca de Noé, todo o livro de Oséias, e episódios da vida de José, Maria, Mãe de Jesus e Saulo, no Novo Testamento (para citar somente alguns).

2. O HOMEM RECEBE A REVELAÇÃO DE DEUS

Deus, que por uma decisão totalmente livre, se revela e se

doa ao homem, comunicando-lhe a sua própria vida divina, o cria e o capacita a conhecê-lo e amá-lo.

2.1 Na natureza

Desde cedo, na história da salvação, o homem foi capaz de

perceber a presença de Deus através da natureza19. Esta percepção é fruto da reflexão de um povo, que se abriu à graça de entender que tudo vem de Deus, que só Deus é eterno, não criado, existe antes de tudo e desde sempre e que tudo criou. O texto de Gen 1 é antiquíssimo e um dos exemplos mais preciosos de revelação de que o homem, através da natureza criada, vê Deus não criado e criador de tudo. Outro belo exemplo disto encontramos no Salmo 8.

Existem também outros textos bíblicos do Antigo

Testamento que mostram o homem percebendo que Deus se utiliza da natureza para falar-lhe. É o caso do dilúvio, do episódio de Sodoma e Gomorra, da Torre de Babel (todos no Livro do Gênesis), da nuvem de fogo, do maná e das codornizes, das doze pragas do Egito, da abertura do Mar Vermelho (todos no Livro do Êxodo), da abertura do rio Jordão, no sol que parou (no Livro de Josué nos capítulos 3 e 10), entre inúmeros outros exemplos que você mesmo recordará. É ainda o caso de muitíssimas passagens dos Evangelhos (Mt 8,27, dentre outras) e do Livro dos Atos (At 27 e 28). A natureza, em si, fala ao homem de Deus. Deus se utiliza da natureza para revelar-se ao homem.

19 cf. Gen 1

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2.2 Nas intervenções de Deus na história -"Deus - conosco"

O exemplo típico de como o homem percebe Deus

intervindo em sua história é a expressão muito típica do Antigo Testamento: "Deus de Abraão, Isaac e Jacó". Deus "entra" na história da vida pessoal de Abraão para formar um povo, de tal forma que a cada vez que Ele intervém, a partir daí20 intervirá em toda a história do povo e não mais na existência de um homem apenas, uma vez que ele não é mais Abrão ( = pai elevado), mas Abraão ( = pai de uma multidão)21.

Da revelação e intervenção na história do povo através da

natureza ou teofanias (muitas vezes chamadas de aparições de "anjos" no Antigo Testamento, como por exemplo no capítulo 18 de Gênesis, Deus passa a revelar-se através dos profetas, homens e mulheres escolhidos por Deus para falar ao povo em seu nome. Os patriarcas, que foram os "pais" de Israel, (Abraão, Isaac, Jacó), os grandes líderes que conduziram o povo (Moisés, Josué, Juizes, Esdras, Neemias, Davi, Salomão, Judas Macabeu) foram mais e mais sendo substituídos pelos profetas, que falavam ao povo em nome de Deus, exortando-o, ensinando-lhe, anunciando Aquele que seria a maior e mais definitiva participação de Deus na pobre vida humana, o Emanuel, o Deus-conosco (vale a pena ler Is. 7,10-24): Jesus Cristo, o próprio Deus que se faria homem.

2.3 Nas intervenções de Deus em sua vida pessoal

Deus se revelou ao homem ao longo de muitos séculos, até

que finalmente no tempo propício, enviou o seu próprio Filho em quem se revelou, fazendo-se Deus-conosco. Hoje, Deus ainda age na história, como na vida pessoal de cada um de nós. De forma muito concreta, posso experimentar isto pelas graças que recebo, pelas transformações que percebo ir além da ação humana.

Neste item será interessante levar os alunos a partilharem

várias intervenções de Deus em suas vidas pessoais. Seria bom que o professor introduzisse o item com um testemunho de sua própria vida, deixando claro que a grande e fundamental intervenção de Deus

20 cf. Gn 12ss 21 cf. Gn 18

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em sua vida foi o batismo que recebeu quando criança e que abriu sua alma para receber e acolher Deus. 2.4 "Deus no outro"

Tome Mt 25,31-46 Peça aos alunos para avaliarem em silêncio como têm visto

Deus no outro e como têm amado concretamente Deus, em seus irmãos. Em seguida, conte-lhes como você tem feito isso, como Deus tem utilizado dos seus irmãos para revelar-se a você.

3. A IGREJA: TRANSMISSORA DA REVELAÇÃO DIVINA

A Revelação está completa em Jesus. Assim, em Jesus e

com Jesus se dá a plenitude da Revelação de Deus. Em Jesus e por Jesus Ele se revela plenamente como Trindade. Em Jesus Ele nos faz filhos no Filho e se revela como Pai: Pai de Jesus e - em Jesus - nosso Pai.

A Igreja, porém, tem por dever e missão aplicar a verdade

revelada por Jesus às diversas necessidades pelas quais passam seus fiéis ao longo da história. Assim, os documentos da Igreja são aplicações da verdade revelada pelo evangelho às situações e desafios concretos da vida do homem no tempo. Vejam-se, por exemplo, as diversas encíclicas sobre o trabalho, a família, o controle da natalidade, o sofrimento humano, a missão dos leigos, a defesa da vida, etc. Jesus não falou diretamente da pílula anticoncepcional, por exemplo, nem da eutanásia. Porém, o que Ele revelou e o modo como viveu e morreu aplica-se a toda situação da vida humana e permite à Igreja, iluminada pelo Espírito Santo, e após estudo científico da realidade de hoje, responder, à luz do Evangelho, qual a vontade de Deus acerca destes e de outros desafios tão cruciais na vida do homem.

Embora este assunto seja aprofundado mais adiante,

quando falarmos de Jesus especificamente, é necessário que se saiba que nele, por Ele e com Ele, realiza-se a plena revelação de Deus e que a Igreja vela e zela por esta revelação - da qual é depositária - e tem o dever de aplicá-la ao concreto da vida humana.

Fale da importância da obediência à Igreja para estar no

centro da vontade de Deus, especialmente hoje em dia, quando

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tantas idéias e mentalidades tentam nos afastar dessa vontade, mascarando-a e distorcendo-a. Partilhe como você descobriu orientações essenciais através de um documento da Igreja e leve-os a partilhar como eles têm recebido as orientações do Magistério da Igreja.

É importante que estimule seus alunos a procurar conhecer,

e se aprofundar no conhecimento da vontade de Deus através dos documentos da Igreja. Leve para sala de aula, alguns documentos que você tenha ou que seja fácil de arranjar, para apresentá-los aos seus alunos, esclarecendo-os que eles podem encontrar respostas para os mais variados assuntos.

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SEGUNDA AULA

Renovando a Experiência Pessoal com Deus

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1.O que significa

2. Exemplos Bíblicos

3. A experiência de alguns santos

4. A nossa resposta a esta experiência

4.1.Despojamento

4.2 Reconhecimento do próprio nada

4.3.Um momento reservado para Deus

4.4.Confiança absoluta no Senhor

4.5.Compromisso profundo na transformação do mundo

(apostolado)

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

INTRODUÇÃO No decorrer da nossa vida é muito fácil se ouvir ou falar de

Deus, porém o mais difícil é ter uma experiência viva de Deus, encontrá-lo verdadeiramente no caminho de nossas vidas, reconhecê-lo e assumi-lo como amigo íntimo e verdadeiro, e a partir daí aderir a Ele incondicionalmente. Por isto precisamos deixar que o Espírito Santo de Deus aprofunde concretamente em nossas vidas o que aprendemos desde cedo na Igreja, família e escola. Os ensinamentos recebidos e estudos feitos sobre Deus, sua Palavra e sua doutrina devem ultrapassar nossa inteligência, a capacidade de investigação científica, o conhecimento da história, até chegar pela fé a uma experiência viva com o mistério do encontro interpessoal com os segredos de Deus, sem se preocupar em entendê-los, defendê-los ou prová-los. É ser alguém cansado de ouvir ou de falar de Deus e que sai em busca de uma experiência amorosa, esponsal, conjugal com o Senhor. Aquele que dilata a sua capacidade de acolhida e se esvazia do mero conhecimento intelectual, que fecha seu ouvido a toda palavra e ensinamento, e se abre à comunicação íntima de Deus, à experiência de Deus, ao conhecimento de Deus. No sentido bíblico, conhecer é mais que uma aquisição de conhecimentos, enriquecimento intelectual; é, antes, uma experiência existencial de intimidade e de amor.

A experiência pessoal com Deus permite que em um

momento da sua vida, Deus deixe de ser alguém distante e impessoal, um mero conceito que você aprendeu quando criança, uma idéia vaga e abstrata, um pensamento ideológico, e passe a ser “alguém” muito perto, especial, amoroso, querido, e muito íntimo. Esta é uma graça muitíssimo especial que tem o poder de redirecionar toda a sua vida. É o momento especial de conhecê-lo, de se comunicar, de se relacionar inteiramente com Ele, senti-lo presente na história de cada dia; uma pessoa viva com quem é possível dialogar; mais que amá-lo, deixar-se amar por Ele.

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1. O QUE SIGNIFICA A EXPERIÊNCIA PESSOAL COM DEUS

“O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já

que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar”22.

Plenamente feliz e completo na comunhão trinitária (Pai,

Filho e Espírito), Deus não necessitava criar-nos, mas o fez por livre desígnio de amor. Criou-nos por uma só razão: o amor, que quer difundir-se, dar-se, amar.

Tome At 17, 23-28 No seu amor, Deus não somente criou-nos, mas nos

sustenta na existência. Fomos criados e sustentados pelo Amor Divino. Se por um instante Deus deixasse de nos amar, cairíamos no vazio, na inexistência. Mas isto não ocorre, porque o Seu amor por nós é eterno.

Mas não cessa aí o que precisamos conhecer acerca da

nossa criação. É preciso que tenhamos em mente que fomos criados à semelhança da comunidade trinitária que vive em constante troca de amor. Pai, Filho e Espírito Santo amam-se sem cessar, num movimento de doação e atração mútua. Criados por esta comunidade trinitária, fomos também criados para esta comunidade trinitária, e por isto somos, por criação, atraídos para Deus. Há em todo ser humano criado um movimento inevitável de atração por Deus.

Diz o catecismo da Igreja católica: “Na sua história, e até os

dia de hoje, os homens têm expressado de múltiplas maneiras a sua busca de Deus através de suas crenças e seus comportamentos religiosos (orações, sacrifícios, cultos, meditações, etc.). Apesar das ambigüidades que podem comportar, estas formas de expressão são tão universais que o homem pode ser chamado de um ser religioso”23.

Aí está a dignidade de cada ser humano desde a sua

criação: Cada um de nós é criado para Deus, para chegar a uma plena comunhão com Ele, que é a origem de toda a felicidade.

22 Catecismo da Igreja Católica,27 23 idem,28

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Ensina o catecismo da Igreja católica: “Esta união íntima e vital com Deus pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente pelo homem”24. Mas “se o homem pode esquecer ou rejeitar a Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo, para que viva e encontre a felicidade”25. Deus manifestou-se desde o começo da criação do homem, convidando-o a uma comunhão íntima consigo mesmo, mas esta revelação foi interrompida pelo pecado dos nossos primeiros pais.

Mas, conforme a Oração Eucarística IV do Missal Romano

temos que “quando pela desobediência perdeu a vossa amizade, não os abandonaste ao poder da morte.(...) Ofereceste muitas vezes aliança aos homens e às mulheres”, até que nos deu o seu próprio Filho, que morreu por amor a nós, ressuscitou e nos oferece incessantemente a oportunidade de experimentar a sua presença, e nos unir a Ele, no mistério da vida cristã. Hoje, podemos ter uma experiência com Deus através de seu Filho Jesus Cristo, pela ação do seu Espírito Santo. Por Ele, Cristo vem ao encontro de todo o nosso ser, e podemos ter uma experiência com Deus vivo, e experimentar a mais profunda transformação em nossa vida.

Foi esta experiência que tiveram os patriarcas, os profetas,

os homens e mulheres de Deus que a Bíblia narra, os apóstolos, os santos e uma multidão imensa de homens e mulheres que até hoje experimentam e experimentaram, não a presença meramente intelectual, ou emocional, mas a experiência do seu ser inteiro, da sua humanidade com as Pessoas Divinas.

2. EXEMPLOS BÍBLICOS

Tome Gn 12 “Para congregar a humanidade dispersa, Deus elegeu

Abraão, chamando-o para fora de seu país, da sua parentela e da sua casa”26, para fazê-lo “pai de uma multidão de nações”27. Abraão viveu uma profunda experiência com Deus, assim como sua descendência, Isaac, Jacó, José, e os filhos de seus filhos, como a Bíblia narra.

24 Catecismo da Igreja Católica, 29 25 idem,28 26 Gn 12,1 27 Catecismo da Igreja Católica,29

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Os profetas também foram homens bíblicos que tiveram uma experiência profunda com Deus, que os fez mediadores da sua Palavra para a humanidade. Assim também os juizes, os reis e muitas mulheres santas que a Bíblia narra, como Judite, Rute e Ester, por exemplo.

E quando veio Jesus, através de sua presença, Palavra e

sinais (milagres, curas), muitos homens e mulheres viveram esta experiência que nós hoje, também somos chamados a ter. (Caro professor, você pode tomar, para aprofundar com os alunos, a experiência com Jesus de Zaqueu, ou da Samaritana28, ou da pecadora perdoada. Em seguida deve pegar a experiência da conversão de Saulo. Pode também fazer uma dinâmica dividindo os alunos em equipes e distribuindo estas passagens bíblicas, que eles deverão apresentar em forma de teatro ou jogral, enfatizando a experiência com Deus que estes homens e mulheres tiveram).

3. A EXPERIÊNCIA DE ALGUNS SANTOS

Na verdade, todos os santos tiveram um momento como

este em suas vidas, onde a experiência viva e pessoal com Deus transformou as suas vidas. Estes momentos ocorreram da forma mais inusitada para cada um:

Para São Tomé, foi preciso colocar seu dedo no lugar dos

pregos e introduzir sua mão ao lado aberto de Jesus. Sua viva experiência pessoal com Deus se traduziu na exclamação: “Meu Senhor e meu Deus!”29 que a Igreja inteira repete até hoje em cada Eucaristia.

O caso de São Pedro exigiu caminhada maior. Não foi bastante que exclamasse: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!”30. Foi necessária uma caminhada de buscas, pois diante de Jesus surgia a pergunta: Quem és tu? De onde vens? Não é fácil responder, porque existe desconcertamento. De um lado, a pretensão de Jesus de ter sido enviado por Deus (e os sinais que a manifestam); de outro, a realidade do fenômeno (tão humana, cotidiana) que parece desmentir tal pretensão: foi o que aconteceu em Nazaré31 e com os

28 cf. Jo 4,1-10 29 Jo 20,28 30 Mt 16,16 31 cf. Mc 6, 1ss

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judeus da sinagoga de Cafarnaum32. De um lado, a afirmação de que o reino chegou, de outro o malogro da cruz. Toda esta caminhada de contradições aos pobres olhos humanos de Pedro foi iluminada pela graça quando ele exclamou em desespero apaixonado:

“Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo!”33,

comprovando seu amor pessoal por Jesus por cuja pessoa viva e ressuscitada ele tivera uma experiência de amor e perdão.

São Paulo, homem prático e nem por isso menos espiritual,

precisou ser derrubado por terra para ver transformada sua altivez em obediência e seu ódio em amor, pronto para provar-se em atos: “Senhor, que queres que eu faça?”34.

São Francisco precisou passar por uma grave enfermidade. Santa Teresinha do Menino Jesus, no entanto, precisou

apenas de uma infância cheia de amor e boa educação da alma. Este processo de experimentar Jesus como uma pessoa

viva, real, ressuscitada e próxima, de experimentar Deus como Pai amoroso, é promovido e continuado em toda a nossa vida pelo Espírito Santo, o Santificador das Almas, aquele que nos leva a conhecer, experimentar e participar dos segredos mais íntimos da Trindade Santa. Hoje chamamos a este processo um “renascer no Espírito Santo”, como Jesus disse a Nicodemos35 uma “efusão do Espírito Santo”, uma renovação do nosso Batismo e de nossa Crisma, não mais a nível de sacramento como estes, mas a nível de experiência espiritual, nem por isso menos transformadora de nossas vidas de maneira impressionante como temos testemunhado desde o Concílio Vaticano II no meio dos leigos.

Experimentar Jesus vivo, como Senhor, Salvador e Rei e

deixar que Ele nos leve ao seu Pai amoroso pelo Espírito Santo, é um passo essencial em nossa caminhada para a santidade, pois não se caminha para a santidade pela força da vontade somente, mas pelo fruto de uma experiência de amor. É preciso, portanto, renovar esta experiência pessoal com Jesus.

32 cf. Jo 6, 41-42 33 Jo 21,17 34 At 22,10 35 cf. Jo 3

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Por outro lado, esta experiência essencial é um primeiro

passo. São Tomé entregou-se à ardorosa vida dedicada ao Senhor e à conversão de seus irmãos; São Paulo teve sua fé provada de inúmeras formas; São Pedro carregou nos ombros o peso da Igreja que se implantava; São Francisco percorreu os árduos caminhos de reconstrução da Igreja; Santa Teresinha do Menino Jesus mergulhou nos espinhos entre rosas para conhecer o grande segredo da infância espiritual que culminou em sua morte aos vinte e quatro anos.

Como eles, você também terá uma caminhada a fazer. À

experiência é necessário somar a vida; à vida, é necessário somar o conhecimento das coisas de Deus. Pela vida em Deus tem-se o conhecimento bíblico do Senhor; pelo estudo das coisas de Deus aprende-se a amá-lo e louvá-lo mais profunda e concretamente. Este estudo, porém, deve ser feito em oração, pois para começarmos a caminhar são essenciais:

a. A experiência pessoal com Jesus Senhor e Salvador; b. A disposição de orar com a Palavra; c. O desejo de mergulhar, pela oração, nos segredos de

Deus.

4. A NOSSA RESPOSTA A ESTA EXPERIÊNCIA

4.1 Despojamento Em primeiro lugar, a experiência viva e pessoal de Deus

requer de nós despojamento, vazio de tudo, libertação das coisas e pessoas, pois para se buscar a Deus é necessário um coração despojado e forte, livre de todos os males e bens que não são puramente de Deus: “Teu amado Esposo é um tesouro escondido no campo de tua alma; convém, pois, para achares, que, esquecendo todas as tuas coisas e alheando-te a todas criaturas te escondas em teu aposento interior”36.

Para encontrá-lo, é preciso ir pobre, despojar-se das

próprias seguranças, caminhar no desconhecido e até enfrentar uma

36 cf. S. João da Cruz, Obras Completas: Cântico Espiritual, Canção I, 596.

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solidão aparente, a qual se torna cheia de vida quando percebe que Deus caminha consigo. É aí no profundo do ser que se ouve a voz clara de Deus envolvendo-o amorosamente. E apesar da resistência a se entregar, vai se encontrando cada vez mais sem forças, todas as desculpas e justificativas para não assumir o que Deus quer, são destruídas pela força do seu amor:

4.2 Reconhecimento do próprio nada

A experiência com Deus requer de nós o reconhecimento

do próprio nada diante dele, do auto-conhecimento, do reconhecimento das próprias fraquezas, misérias e pecados, para sentir verdadeiramente a necessidade de Deus e dos outros. E a partir desta experiência verdadeira de si pode aventurar-se no conhecimento do outro o qual por sua vez nos conduz ao conhecimento de Deus. Desta experiência da própria fraqueza e ao mesmo tempo do amor de Deus, nasce o amor ao próximo. Para se chegar a Deus é necessário amar os irmãos, reconhecer seus talentos e qualidades. O amor a Deus e ao próximo são inseparáveis. Assim nos ensina Santa Teresa: “É preciso aprender a amar o Senhor que vive no coração humano e amar o homem que está presente no coração de Deus”. O nosso relacionamento com Deus, portanto, não será verdadeiro se for um relacionamento solitário, vazio, com Deus sem os irmãos. Precisamos ir ao encontro de Deus juntos, unidos, com o coração cheio de todos os homens.

4.3 Um momento reservado para Deus

A experiência com Deus requer de nós um momento

reservado para Ele, através da oração. Silenciar e aproximarmo-nos do nosso íntimo e de nossa identidade e ouvir a voz de Deus interiormente que nos chama à unidade. Para nos aproximarmos do Amado e descansar nele precisamos de silêncio, tranqüilidade e paz de nós mesmos. Desta forma, podemos ter um diálogo submisso com Deus. Sua voz ressoará concretamente em nossas vidas e seremos novas criaturas.

4.4 Confiança absoluta no Senhor

A experiência com Deus requer confiança absoluta no

Senhor, pois ao buscá-lo o homem percebe toda a sua incapacidade, pobreza, insegurança das próprias forças e infidelidade ao projeto de Deus para sua vida. Por outro lado, descobre que é infinita e

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gratuitamente amado por Deus, que se compromete fielmente com o homem e por isto deve confiar plenamente nEle; compreender que Deus cuida de cada criatura humana com amor ao mesmo tempo paterno e materno, e que a sua vida tem valor para Ele. Somente no encontro amoroso com alguém em que confiamos profundamente, que nos conhece pelo nome, se torna possível nos lançarmos na aventura da fé experimentando concretamente Deus, que assim nos fala:

“Tu és meu servo, eu te escolhi, não te rejeitei, não tenhas

medo, pois estou contigo, não olhes com espanto, pois eu sou o teu Deus, eu te torno robusto, sim, eu te ajudo”

37.

4.5 Compromisso profundo na transformação do mundo

A experiência com Deus requer de nós compromisso

profundo na transformação do mundo e desenvolvimento da Igreja. Se o nosso encontro com Deus, a nossa experiência com o seu amor não nos impulsiona ao apostolado, ao serviço, ao zelo pela salvação das almas, com certeza foi uma experiência falsa e alienante. Deus deseja levar o homem para dialogar com Ele, para que o homem possa dar espaço para Ele. Deus nos conduz ao deserto, mas nos manda voltar do deserto para sermos testemunhas vivas da sua presença e do seu amor: “Vai e retoma o caminho de volta em direção à estepe de Damasco”38. Vamos ao deserto e à solidão com Deus, para sermos ainda mais capazes de amar. Por isso, é importante compreendermos que Deus se deixa encontrar, que Deus quer que o homem o encontre, que o homem o experimente e o conheça. Porém o homem imagina que só encontrará Deus através de fenômenos extraordinários, enquanto que Deus se deixa encontrar no cotidiano da vida, na simplicidade, no ordinário, na brisa suave39.

Oração final:

É importante que você, ministro de ensino, conduza seus

alunos à um momento de profunda oração com cânticos, suplicando que o Espírito Santo renove todas as graças (dons infusos, efusos e virtudes) e as promessas recebidas no Batismo (sacramento). Deve

37 Is 41,10 38 1Rs 19,15 39 cf. I Rs 19, 9-15

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ser um momento cheio de muita unção e fervor. Em seguida, partilhe os frutos desta oração.

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TERCEIRA AULA

A Santíssima Trindade

ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. A fé Católica é trinitária

2. Elementos constitutivos-Doutrina da Santíssima

Trindade

3. Três aspectos da Santíssima Trindade: O dogma

3.1 Igualdade

3.2 Diferença

3.3 Unidade

4. Mistério e dinâmica da Trindade

5. A ação trinitária de Deus:

6. A Trindade e nós:

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6.1 Nós e o Pai

6.2 Nós e o Filho

6.3 Nós e o Espírito Santo

6.4 Na Trindade encontramos nossa identidade

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

1. A FÉ CATÓLICA É TRINITÁRIA

O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé

e da vida cristã. Cremos e confessamos um único Deus, que é Pai, é Filho e é Espírito Santo. Todos nós cristãos somos batizados "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"40. "Batizar em nome de" significa "consagrar a alguém" ou mesmo "colocar a serviço de". Portanto, pelo batismo, todos os homens são colocados a serviço ou são consagrados ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

2. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS - DOUTRINA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

É o próprio mistério de Deus. Deus é três. São Três

Pessoas iguais e distintas, mas subsistentes em uma só natureza.

Um só Deus: existe uma só essência ou uma só natureza ou substância divina, um só princípio: uma só divindade;

Três Pessoas: significa dizer que um único Deus se dá a

conhecer como Pai, como Filho e como Espírito Santo. Não são três deuses, mas um só Deus ou uma só natureza divina, que se afirma três vezes. 3. TRÊS ASPECTOS DA SANTÍSSIMA TRINDADE: O DOGMA

3.1 Igualdade: A Trindade é Una

A igualdade das três Pessoas da Santíssima Trindade é

uma verdade fundamental para a nossa fé. As três Pessoas divinas são iguais em tudo, idênticas em tudo. Todas três Pessoas divinas possuem a mesma santidade, a mesma glória, a mesma fortaleza, a mesma bondade, a mesma eternidade, onipotência, onisciência. Enfim, todas as grandezas e perfeições divinas são iguais nas três Pessoas divinas. Elas não dividem, nem retalham a única natureza divina. Pai, Filho e Espírito Santo são iguais em tudo: " A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas um só Deus em três

40 Mt 28,19

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Pessoas: “a Trindade é consubstancial”. As Pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro: “O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus quanto à natureza”. “Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina"41.

Assim nos diz um testemunho da Igreja dos primeiros

séculos: "É esta a fé católica: veneramos um só Deus na Trindade,

e a Trindade na unidade. Sem confundir as Pessoas e sem dividir a substância. Porque uma é a Pessoa do Pai, outra é a Pessoa do Filho, e outra, a do Espírito Santo. Mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo tem a mesma divindade, igual glória, uma co-eterna majestade".42

3.2 Diferença: As Pessoas são distintas

As pessoas divinas são iguais em tudo, mas são distintas

entre si: "Deus é único, mas não solitário. ‘Pai’, ‘Filho’, ‘Espírito Santo’ não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são realmente distintos entre si: ‘Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho”43. O que torna as três Pessoas distintas sem dividir a unidade divina é unicamente o seu relacionamento entre si, ou seja, "a distinção real das três Pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras":44a primeira pessoa é o "Pai" em relação à segunda, o “Filho” único.

Deus Pai - É a origem dos outros dois, não no sentido de

procedência, de ser a fonte dos outros dois. Ele é a natureza original, por isto os outros dois se chamam Deus Filho e Deus Espírito Santo.

Deus Filho - A segunda Pessoa só é "Filho" em relação à

primeira que é seu Pai. É a segunda Pessoa divina, que procede (não no sentido de tempo nem de criação, porque as pessoas divinas são

41 Catecismo da Igreja Católica, 253 42 Símbolo pseudo-atanasiano em: MADALENA, G. de Sta. M. Intimidade Divina, n. 224, 2 43 Catecismo da Igreja Católica, 254 44 idem, 255

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incriadas) do Pai, vive um relacionamento perfeito de amor com o Pai, e expressa em si o pensamento do Pai, sendo por isto mesmo também chamado Palavra, Verbo, ou Sabedoria divina. Jesus também é chamado na bíblia de “Princípio”

45, porque foi nele e por

Ele que o Pai criou todas as coisas visíveis e invisíveis46. Jesus procede do Pai também porque é o enviado do Pai47. É o Filho quem revela o Pai48. Jesus ao revelar que Deus é "Pai", quis dizer que Deus é origem primeira de tudo e ao mesmo tempo é bondade e amor para todos os seus filhos.

Deus Espírito Santo - Aquele que é gerado do Pai antes

de todos os séculos - o Filho -, anuncia o envio de um "outro Paráclito", a terceira Pessoa que procede do Pai e do Filho, o Espírito Santo, que é assim revelado como uma outra pessoa divina em relação a Jesus e ao Pai. Este também tem origem eterna e revela-se na sua missão temporal: é enviado aos Apóstolos e à Igreja, pelo Pai e pelo Filho49. O Espírito procede do Pai pelo Filho50, pois o Filho tem comunhão consubstancial com o Pai do qual procede o Espírito.

O Concílio de Florença, 1438, assim nos ensina: "O

Espírito Santo tem sua essência e seu ser subsistente ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de Ambos como de um só Princípio e por uma única expiração"51. Assim é este a terceira Pessoa divina, que procede do Pai (que é a fonte dele e do Filho) e também do Filho (porque é o Filho que o envia a nós)52. Sendo onipresente, se reúne aos dois e vive com eles, numa comunidade de vida e de amor, e representa com perfeição o amor divino que os une.

A relação íntima entre as três Pessoas divinas é

irreversível, mas não permutável. Cada Pessoa "tem o seu lugar" no mistério Trinitário. O Pai será sempre Pai, apesar de comunicar substancialmente tudo aquilo que Ele é. O Filho será sempre Filho, mesmo que tenha recebido do Pai a mesma natureza divina, e o Espírito Santo será sempre Espírito Santo, mesmo procedendo do Pai e do Filho.

45 cf. Gn 1,1 46 cf. Col 1,15-17 47 cf. Jo 17,18 48 cf. Mt 11, 27 49 cf. Jo 14, 26; 16,14 50 cf. Jo 15,26 51 Catecismo da Igreja Católica, 246 52 Jo 16,7

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3.3 Unidade: A Unidade divina é Trina.

Tome Jo 17,21-23 Tudo procede do Pai e tudo volta para o Pai. Do Pai

procede o Filho e o Espírito Santo. O Espírito Santo tem a missão de congregar tudo e todos em torno de Cristo para que Cristo entregue definitivamente tudo e todos ao Pai. Desta forma acontece a união, a comunhão total entre as três Pessoas divinas. "Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho"53. Por esta unidade trinitária ao rendermos glória ao Pai, o fazemos pelo Filho no Espírito Santo: É o culto das pessoas, infinitamente distintas na Trindade.

Tome Jo 10,38 Estas palavras de Jesus revelam sua íntima união com o

Pai. O Verbo de Deus está, por natureza, unido ao Pai de modo substancial, assim como Deus-homem vive intimamente unido ao Pai: toda as suas potências, forças, afeto, inteligência tendem sempre para o Pai; toda a sua vontade está voltada intimamente para a vontade do Pai. Mesmo exercendo o seu ministério, percorrendo os caminhos da Palestina, pregando, instruindo, discutindo com os fariseus, curando os doentes, ocupando-se de todos, Jesus continua, no seu íntimo, a viver esta maravilhosa vida de união com as divinas Pessoas.

Tome Jo 16,13-15 Estas palavras de Jesus denunciam a unidade do Espírito

Santo com o Pai e com Ele, o Espírito Santo não falará palavras suas, mas palavras que ouviu do Pai e conseqüentemente do Filho.

4. MISTÉRIO E DINÂMICA DA TRINDADE

As três Pessoas divinas gozam no íntimo de sua essência

de uma perfeita amizade: luz, amor, felicidade, num grau infinito. Portanto, Deus nunca está sozinho, nem em si mesmo e nem em nossas almas. Este mistério como já dissemos, não pode ser 53

Catecismo da Igreja Católica, 255

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entendido e explicado pela lógica, porém pode ser abraçado e vivenciado pela oração e pela vida, na fé.

"A vida trinitária é uma mútua e incansável doação em

perfeita comunhão: O Pai que se dá totalmente ao Filho, o Filho que se dá totalmente ao Pai e dessa mútua doação procede o Espírito Santo dom substancial que, por sua vez, reflui no Pai e no Filho”54.

Tome Col 1,15-17 O Pai serve o Filho ao criar todas as coisas para Ele e

esvazia-se de si ao doar-se inteiramente ao Filho. Assim é que ensina o catecismo da Igreja Católica: "Tudo o que é do Pai, o Pai mesmo o deu ao seu Filho Único ao gerá-lo, excetuado o seu ser de Pai"55.

Tome Jo 4,34 O Filho, que por ser Filho faz a vontade do Pai, ama-o ao

esvaziar-se de si de tal forma que só se alimenta da vontade do Pai e do desejo de cumprir a Sua Vontade Salvífica para nós. Assim Jesus serve o Pai.

Retome Jo 16,13-15 Da mesma forma toda a alegria do Espírito Santo está em

servir, amar, e abrir-se ao Pai e a Jesus sem reservas. O Pai que tudo criou no poder e no amor do Espírito Santo, também vê seu Filho fazer tudo no mesmo Espírito.

5. A AÇÃO TRINITÁRIA DE DEUS

Cada Pessoa divina opera a obra comum segundo a sua

propriedade pessoal. É através das missões divinas que as três Pessoas manifestam o que lhes é próprio na Trindade: Deus Pai, do qual são todas as coisas; Deus Filho, que se fez carne56, assumindo a natureza humana para realizar nela a nossa salvação e Deus Espírito Santo, que une todos os homens a Cristo e fá-los viver nele.57 Mas as três Pessoas divinas são inseparáveis naquilo que são e naquilo que

54

Catecismo da Igreja Católica,246 55

idem, 56 cf. Jo 1,14 57 cf. Catecismo da Igreja Católica, 258

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fazem58: A ação de Deus é uma obra comum das três Pessoas divinas.

Na ação própria de cada Pessoa da Santíssima Trindade,

as outras Pessoas também estão presentes e ativas. Cada Pessoa da Trindade, só é ela mesma porque vive numa total entrega para as outras duas Pessoas. Como o Pai seria Pai se não tivesse Jesus, o Filho, o revelador de forma perfeita e irrestrita? Como Jesus seria o Filho se o Espírito Santo não o tivesse gerado no seio da Virgem Maria, revelando-o como homem no mistério da Encarnação do Verbo, e a partir daí tê-lo acompanhado e ungido, fazendo dele o Cristo, o Ungido do Pai? Como o Espírito Santo seria o amor de Deus "derramado em nossos corações"59 ou "o penhor", a garantia da nossa salvação, se Jesus não tivesse obedecido ao Pai até o fim, morrendo e ressuscitando por nós? Percebemos, então, que nunca somente uma das Pessoas da Trindade age. Em tudo o que Deus é e faz Ele é Uno e Trino, seja na Criação, na Encarnação, na vida pública de Jesus, na Crucificação, na Ressurreição ou em Pentecostes. Um não vive ou age sem o outro, mas só vive e age para o outro, na verdade e na transparência, na luz e no amor. Somente quando buscamos a Deus com esta mesma disposição de alma: amor, verdade, serviço, abertura e transparência poderemos encontrá-lo e conseqüentemente sabermos quem de fato nós somos.

6. A TRINDADE EM NÓS

O relacionamento Trinitário transborda para as criaturas.

Da mesma forma que as três Pessoas da Santíssima Trindade vivem um relacionamento íntimo, um diálogo de amor entre si, elas desejam viver esse diálogo com cada um de nós. O Filho que se inclina para o Pai permanecendo um no outro60. O Filho e o Espírito Santo que juntos se voltam para o Pai; ambos enviados para uma missão, pelo Pai. Há uma comunhão tão profunda na ação deles que quase se confunde um com o outro61. Tanto Jesus quanto o Espírito Santo vivem e agem em nós. Esta união dos dois se abre para a fonte comum, para o Pai62. O Pai e o Espírito Santo estão unidos no amor a Cristo. A vinda de Jesus ao mundo é obra do Pai e do Espírito

58 cf. Idem, 268 59 Rm 5,5 60 Jo 1,18 61 cf. Rm 8,2.9-10 62 cf. Rm 8,11; Jo 14,26

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Santo63. São os dois que orientam a caminhada de Jesus. É o Filho de Deus porque se deixa conduzir pelo Espírito Santo64.

A Trindade totalmente feliz e perfeita em si mesma, não fecha dentro de si sua vida, seu bem, sua felicidade, mas quer compartilhar seus bens próprios com as suas criaturas. A Trindade deseja iniciar um diálogo com o homem. Não apenas a divindade única, mas cada uma das três Pessoas deseja ter uma relação especial com ele, levando-o a encontrar e firmar sua identidade. Deus chama à existência inúmeros seres para comunicar-lhes a bondade e a felicidade em diferentes graus e modos. Não por necessitar das criaturas, porque elas nada podem acrescentar à sua glória e felicidade65. Não por haver nelas algum bem ou amabilidade, mas para fazê-las participantes de seu bem. Por mais que Deus se doe às inúmeras criaturas, jamais se esgotará, e tudo que Ele toca se transforma em bem.

6.1 Nós e o Pai

Temos uma relação especial com o Pai. Somos

considerados por Ele, seus filhos. É Cristo que nos leva a Ele: "Ninguém vem ao Pai senão por mim"

66. É vivendo e amando no Cristo que vivemos e amamos no Pai67. Em Cristo, o Pai deseja ter essa vida de união com cada um dos seus filhos. Deseja participar e interferir na história de cada um de nós. A vida de cada homem tem muito valor para o Pai e Ele deseja cuidar dela. Para isso necessita viver conosco um relacionamento íntimo e concretiza isto fazendo morada no nosso coração68. Morar um no outro é a intimidade da convivência. Deus deseja conviver conosco, partilhar vidas. E este nosso relacionamento com o Pai é participado com o Filho e o Espírito Santo. Cada pequeno detalhe de nossas vidas não passa despercebido diante dele, porque Ele nos ama. 6.2 Nós e o Filho

Jesus assim roga ao Pai: "Dei-lhes a glória que me deste,

para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e Tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo reconheça que me

63 cf. Lc 1,35 64 cf. Rm 8,14 65 cf. Eclo 42 21 66 Jo 14,6 67 cf. Jo 16,27; Jo 14,21 68 cf. Jo 14,23

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enviaste e os amaste, como amaste a mim"69

. A profunda e misteriosa união entre as três Pessoas divinas, Jesus quer vê-la prolongada em nossos corações. Nós somos para Jesus seus "irmãos" (amigos)70. Ele é o nosso eterno intercessor diante do Pai. Nós somos tão importantes para Ele, no Pai, que Ele deu sua vida por cada um de nós, e destruiu o muro de inimizade entre nós e as três Pessoas. Ele nos revela o Pai e o Espírito71. São Paulo chegou a viver esta intimidade total e radical da Trindade e com a Trindade, através de Cristo: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim"

72. O Pai e o Espírito Santo se alegram e nos impulsionam a

intensificar nossa relação íntima com Cristo, pois assim intensificam nossa relação íntima com eles.

6.3 Nós e o Espírito Santo

E como não poderia deixar de ser, nós temos também

uma relação especial com o Espírito Santo. A relação do Filho com o Pai, quem nos introduz nela é o Espírito Santo: "O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse"

73. O Espírito Santo nos fará "conhecer", isto é,

vivenciar o mistério divino. Nós somos templos do Espírito Santo e por habitar dentro de nós, por viver conosco na intimidade, nós podemos conhecê-lo e Ele pode e deseja nos ensinar profundamente74. É necessário que como Jesus, nos deixemos conduzir pelo Espírito Santo para nos tornarmos filhos de Deus75 e podermos ter essa relação íntima, filial, porque o Espírito Santo foi derramado nos nossos corações76. É Ele quem nos santifica, quem nos ensina a rezar, a falar com o Pai, pelo Filho. É Ele quem socorre a nossa fraqueza e ao dialogarmos com Ele, o nosso diálogo está aberto e transparente para o Pai e o Filho. 6.4 Na Trindade encontramos nossa identidade

Esta vida de união com cada uma das Pessoas da

Santíssima Trindade é a nossa realização mais profunda: "a gloriosa

69 Jo 17,22s 70 cf. Lc 12,4; Jo 15,15 71 cf. Jo 15,9s 72 Gal 2,19s 73 Jo 14,26 74 cf. Rm 8,16 75 cf. Rm 8,14-16 76 cf. Gal 4,6

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liberdade dos filhos de Deus"77. A morada da Santíssima Trindade em

nossos corações, a "permanência" com a Santíssima Trindade tem o objetivo de nos santificar e nos transformar sempre mais na imagem do Filho de Deus78. Este relacionamento íntimo entre cada Pessoa da Trindade e o homem o levará a viver "pela Trindade", isto é, viver pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito, transformando-o cada vez mais semelhante ao Filho, que serve e ama o Pai no Espírito Santo. Precisamos crescer cada vez mais nesta vida de união com eles. É isto que Deus nos chama a viver.

Tome Col 3,1-3 Nossa identidade, origem e fim último é Deus. Numa

imagem bem simples: nós só conhecemos nosso rosto quando temos um espelho. Caso não tenhamos, nunca de fato saberemos como e quem nós somos e viveremos às custas daquilo que dizem de nós ou de como os outros nos vêem. Da mesma forma nossa verdadeira identidade, imagem e rosto só podem ser vistos se tivermos Deus como espelho, pois Ele é o nosso criador e só Ele pode dar a vida, como já no-la deu.

É na oração, na busca desse Tu que encontraremos o

nosso verdadeiro Eu e teremos curadas as deformações que temos da nossa própria imagem. No seu amor, Deus nos convida e chama a participarmos da mesma dinâmica de relacionamento que existe na Trindade. Se o Pai só se reconhece como Pai no Filho, da mesma forma eu só serei verdadeiramente filho ou filha de Deus, só serei pessoa íntegra, inteira e livre quando participar da vida trinitária desde agora neste mundo. Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus e isso significa que nós temos com Ele a mesma relação de origem, ou seja, o amor. Cada um é único, especial e insubstituível, como nos asseguram as Escrituras79, e cada um é fruto dessa infinita e abundante criação que nunca se esgota e nunca se repete (eis aqui um argumento lógico, real e irrefutável contra o princípio da reencarnação). A oração nos dá o verdadeiro sentido da individualidade e da autonomia que cada ser humano tem diante de Deus e diante de si mesmo. Olhando para o Pai, para Jesus e para o Espírito Santo como pessoas reais e vivas, veremos que nós também

77 Rm 8,21 78 Rm 8,29 79 cf. Is 43,1-5

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estamos nos tornando reais, pois a realidade é Cristo80, no sentido pleno da palavra.

A oração voltada para a realidade da Trindade nos

ensinará também a nos relacionarmos uns com os outros, pois sendo Deus comunidade de amor, nos levará também a sê-lo. A oração verdadeira diante do Senhor nos arrancará das garras do nosso egocentrismo capaz de nos levar à morte, e nos assegurará o papel que temos a cumprir no Reino, dentro da soberana e perfeita vontade do Pai, sendo servos e transparentes uns com os outros.

80 cf. Col 2,17

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QUARTA AULA

Deus Pai

ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. As falsas imagens de Deus

2. As imagens de Deus no Antigo Testamento

2.1 O Senhor de toda vida do homem

2.2 O Deus dos Exércitos

2.3 O Deus protetor oculto na nuvem

2.4 O Criador de todas as coisas

2.5 O Deus de Abraão, Isaac e Jacó

2.6 O Rochedo

2.7 Todo-Poderoso (El Shadai)

2.8 Deus misericordioso, lento para cólera

2.9 Deus Pai de Amor

3. Jesus nos revela que Deus é Pai

4. Obras de amor de Deus Pai

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4.1 Encarnação

4.3 nos participantes da sua natureza divina

4.4 Providenciando tudo para nós

4.5 Concedendo a Filiação Divina

4.6 Perdoando os nossos pecados

5. Fé no Amor misericordioso de Deus

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

1. AS FALSAS IMAGENS DE DEUS

Tomar Jo 14,8s Todos nós, de uma forma ou de outra, guardamos em nós

uma imagem deformada de Deus, isso porque aprendemos errado ou porque projetamos em Deus as imagens imperfeitas que nos cercavam na primeira infância. Qual de nós não ouviu um dia na vida: "Não faz isso senão papai do céu castiga" ou, "papai do céu vai ficar triste com você?" Precisamos purificar nossa mente sobre o que recebemos e sabemos de Deus. Em grande parte esta foi a missão de Jesus: revelar-nos o Pai. A única possibilidade de sairmos destas falsas imagens é vermos o que Deus fala de si mesmo na Bíblia, entendendo as Escrituras a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo. Reconhecendo que o nosso conhecimento de Deus é parcial e imperfeito, devemos empreender um itinerário para encontrá-lo, não como imaginamos, mas como verdadeiramente ele é…

É importante levantarmos falsas imagens que, de modo

geral, parecem ocupar os pensamentos de muitos cristãos de nosso tempo. Estas imagens nascem a partir de visões deturpadas de Deus, visões que todos trazemos, em menor ou maior nível. Deus não é Um Deus distante

Muitas pessoas acham que Deus é distante, quer dizer, indiferente ao que acontece aos homens, que não se importa se estejam bem ou mau. Este pensamento não é verdadeiro, porque Deus não é egoísta, nem deixa os homens na solidão, sem se importar com seus sofrimentos, ansiedades, problemas ou tristezas. Tem falsa imagem de Deus quem o vê como alguém muitíssimo poderoso que não dá espaço para o homem, que o reduz a um "nada" de quem ele se afasta e que não deseja acolher. Devemos lembrar a imagem do Filho pródigo que manifesta o coração amoroso de Deus ansioso pelo retorno do seu filho (nós pecadores). O ensinamento de Jesus sobre Deus não diminui a majestade divina, Deus continua como aquele que “está nos céus”, porém é também o

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“Pai Nosso” ou segundo a expressão do tempo de Cristo o “Abbá”, que significa paizinho ou papai. Um Deus escravo

Esta é outra falsa imagem de Deus onde o homem o instrumentaliza, achando que Deus é um objeto de resolução para seus problemas, seu "escravo". Esta falsa concepção de Deus perde de vista a majestade divina, sendo o ponto inverso da anterior, não compreende que os juízos divinos são eternos e imutáveis, que devemos sempre nos aproximar de Deus com o santo temor.

Um Deus opressor

É a falsa imagem do Deus tirano e cobrador, que vê em Deus alguém que anota nossas faltas para nos castigar uma a uma. É um Deus que oprime, com o qual eu tenho que manter aparências para ao morrer ser recompensado por uma boa vida. Desta forma, compreende-se Deus como alguém a quem "pago" minha salvação com promessas, esmolas, novenas e ritos feitos não por amor e com o coração, mas por medo de ir para o inferno e para aplacar a cólera de Deus. O não reconhecimento da misericórdia e da gratuidade de Deus faz nascer esta deturpação que atinge no âmago o relacionamento com o Pai.

Nesta visão, Deus, de vez em quando, "até" pode conceder

um presente, atender à minha oração, mas isso se eu fizer tudo certinho e merecer. Esta falsa imagem de Deus nos leva a ter um relacionamento cheio de cobranças a Deus, que provoca um profundo fechamento de coração à sua ação amorosa em nossas vidas. Precisamos compreender que Deus nos deu tudo e mesmo que Ele nos tire algo, Ele não nos deve nada, porque tudo que temos ou somos não merecíamos ter ou ser. Tudo é graça, tudo é acréscimo de Deus para as nossas vidas. Ao contrário do que muitos pensam, nós é que devemos tudo a Deus.

2. AS IMAGENS DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

Mesmo não tendo sido ainda totalmente revelado, o que só

aconteceu com a vinda de Jesus Cristo, os livros do Antigo Testamento vão descortinando gradativamente a verdadeira imagem de Deus. Vejamos as seguintes passagens:

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2.1 Deus é Senhor da vida humana: "Hoje, fizeste o Senhor, teu Deus, prometer que ele seria

teu Deus, enquanto tu... Observarias suas leis, seus mandamentos... e lhe obedecerias fielmente. E o Senhor fez-te prometer, neste dia, que serias um povo que lhe pertença de maneira exclusiva,... um povo consagrado ao Senhor, teu Deus, como ele o prometeu"

81.

"Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.

Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças"

82.

2.2 O Deus dos exércitos

83

É usado no sentido daquele que combate em favor do seu

povo. Evoca a manifestação de Deus na história dos homens. O termo hebraico (Sebaot) pode ser também traduzido como “Deus de todo o poder”, o que traduz ainda melhor a imagem de um Deus que intervém em favor do seu eleito, do seu povo, dos seus filhos. Deus que deseja interferir, participar da vida de seus filhos. Que se importa com eles.

2.3 O Deus protetor oculto na nuvem:

"Então o Senhor lhe disse: Eis que me vou aproximar de ti

na obscuridade de uma nuvem, a fim de que o povo ouça quando eu te falar, e para que também confie em ti para sempre”84.

"Durante todo o curso de suas peregrinações, os israelitas

se punham a caminho quando se elevava a nuvem que estava sobre o tabernáculo; do contrário, eles não partiam até o dia em que ela se elevasse. E, enquanto duravam as suas peregrinações, a nuvem do Senhor pairava sobre o tabernáculo durante o dia, e durante a noite havia um fogo na nuvem, que era visível a todos os israelitas"85.

81 Dt 26,17-19 82 Dt 6,4-5 83 cf. 2Sm 5,10 84 cf. Ex 19,9 85 cf. Ex 40,36-38

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2.4 Deus, o Criador de todas as coisas "Quem, pois, realizou estas coisas? Aquele que desde a

origem chama as gerações à vida, eu, o Senhor, que sou o primeiro o que estarei ainda com os últimos"86.

"Fui eu quem fez a terra, e a povoei de homens; foram as

minhas mãos que estenderam os céus, e eu comando todo o seu exército"87.

2.5 O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó

"Deus disse ainda a Moisés: Assim falarás aos israelitas: é

Javé, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, que me envia junto de vós. Este é o meu nome para sempre, e é assim que me chamarão de geração em geração"88.

2.6 Deus, o Rochedo

A imagem do rochedo traduz a confiança do povo na

proteção de Deus, evoca a firmeza e a segurança, um sentimento muito bem descrito pelo frei Raniero Cantalamessa: “Quem sabe, talvez impressionados pelo contraste entre a areia do deserto e as rochas do maciço do Sinai, os poetas de Israel viram simbolizado nisso a diferença entre o homem e Deus: o homem ‘é como pó’; Deus é um ‘rochedo eterno’!”89

Esta imagem foi decisiva para a caminhada do povo de

Israel, manifestada de forma especial nos salmos: “Eu te amo, Senhor, minha força. O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador. Ele é meu Deus, a rocha em que me refugio, meu escudo, a arma da minha vitória, minha cidadela. Louvado seja ele! Invoquei o Senhor, e venci os meus inimigos”90.

2.7 Deus, o Todo-Poderoso (El-Shadai)

Quando se apresenta a Abraão, Deus apresenta-se como o

“El-Shadai”. Esta expressão é de difícil tradução e parece querer 86 Is 41,4 87 Is 45,12 88 Ex 3,15 89 CANTALAMESSA, Raniero, Subida ao monte Sinai, p.45 90 Sl 18, 2-4

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indicar o “Deus das montanhas”, o que evoca o Deus que se coloca sobre todas as coisas e as governa. Neste sentido a tradução Todo-Poderoso apresenta-se muito significativa. Deus é aquele que do alto governa todas as coisas e vela por seu povo Israel. Este mesmo título é usado pelo salmista para manifestar a proteção de Deus sobre os que se colocam sob sua guarda: “Aquele que habita onde se esconde o Altíssimo e passa a noite à sombra do Poderoso (Shadai). - Do Senhor eu digo: ‘Ele é meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus: nele confio!’ -“91.

2.8 Deus Misericordioso, lento para cólera

Uma manifestação de Deus no Antigo Testamento merece

especial atenção, o episódio que Moisés intercede junto a Deus pelo povo que havia pecado construindo o bezerro de ouro92. Deus manifesta sua misericórdia e passa diante de Moisés que grita em louvor: “O Senhor, o Senhor, Deus misericordioso e benevolente, lento para a cólera, cheio de fidelidade e lealdade, que permanece fiel a milhares de gerações…” Esta experiência de Moisés faz entrever o coração cheio de misericórdia de Deus que seria revelado por Jesus Cristo.

2.9 Deus, Pai de amor

O profeta Isaías revela a figura majestosa de Deus, que

com o seu infinito poder, vem libertar Israel, mas ao mesmo tempo a figura terna do pastor que gera seu povo, que cuida do seu rebanho, que ama como um pai:

Tome com seus alunos Is 40,10-11 Is 41,8-10 Isaías 41,13s Todas estas belíssimas manifestações de amor são

características de alguém que ama como um pai. E esta é a verdadeira e única imagem de Deus: Pai. Deus é um Pai de amor.

91 Sl 91,1-2 92 Ex 34, 5-7

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Precisamos nos relacionar com Deus como nosso Pai e crer no seu amor por nós para que possamos ter uma vida de união verdadeira com Ele. Só os que crêem que Deus os ama com amor profundo expõem suas vidas para Ele, permitem que Deus interfira na sua história. O mundo causou uma ferida profunda no coração de muitas pessoas que não conseguem sentir o amor de Deus por elas, por esta razão são pessoas que cobram de Deus, de si mesmas e dos outros, não conseguem enxergar o valor da sua vida e a dos seus irmãos. Pessoas que não se lançam na providência de Deus, que não compreendem o valor do sofrimento que, apesar de não dizerem, sentem que Deus é um risco para sua vida. A experiência com o amor do Pai é uma necessidade para os homens do nosso mundo…

Deus também se revela como nosso redentor e auxílio:

"Pois eu, o Senhor, teu Deus, eu te seguro pela mão, e te digo: Nada temas, eu venho em teu auxilio... Aqui Deus nos revela que em todas as situações da nossa vida nós podemos contar com a sua ajuda, com a sua salvação. Deus quer nos auxiliar para que possamos ultrapassar as nossas dificuldades e desafios da vida. É importante sabermos que contamos sempre com a ajuda de Deus, que Ele nos livra de todos os perigos, basta que o procuremos e nos unamos a Ele. Desta forma, afasta todo o medo do nosso coração e nos faz crescer na esperança e na fé.

Apesar de, desde o Antigo Testamento, já ser revelado a imagem de Deus como Pai, é Jesus quem culmina esta revelação.

3. JESUS NOS REVELA QUE DEUS É PAI

Assim nos fala Jesus: "Ora, a vida eterna consiste em que te conheçam a ti, um só

Deus verdadeiro"93. "Ninguém jamais viu a Deus, o Filho unigênito que está no

seio do Pai, foi quem o revelou"94. Só Jesus pode nos fazer conhecer a Deus Pai.

"Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o

Filho o quiser revelar"95. "Eu falo o que vi junto de meu Pai"96.Revelar

93 Jo 17,3 94Jo 1,18

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o Pai para a humanidade é o grande dom de Jesus. É Jesus que nos mostra a paternidade divina.

Jesus revela a bondade do Pai celeste que faz nascer o sol

sobre maus e bons: "Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos"

97; que alimenta as aves do céu e veste os lírios do campo, o que fará pelo homem?98; que sempre está pronto para perdoar seus filhos99; que vai atrás da ovelha perdida100. Jesus afirma que o Pai nos ama: "Pois o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus"

101.

4. OBRAS DE AMOR DE DEUS PAI:

Jesus nos revela que Deus é um pai de amor. Meditemos

sobre as obras e as provas de amor que Deus realizou por cada um de nós:

4.1 Encarnação

Deus nos prova concretamente o seu amor através da

encarnação do seu filho, que humilhou a si mesmo assumindo a condição humana:

"Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos

ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados"102.

"Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu

seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna"103.

95 Mt 11,27 96 Jo 8,38 97 Mt 5,45 98 cf. Mt 6,26-30 99 cf. Lc 15,11-24 100 cf. Lc 15,3-7 101 Jo 16,27 102 1Jo 4,9-10 103 Jo 3,16

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4.2 Através da morte do seu Filho O ápice da manifestação do amor de Deus-Pai por nós é a

morte do seu Filho amado para nos conceder salvação e vida nova: "Mas, eis aqui uma prova brilhante do amor de Deus por

nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Portanto muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira"104.

"Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus

Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo, para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova"105.

4.3 Fazendo-nos participantes da sua natureza divina

Fomos elevado à participação na vida divina, e esta é a

prova da vida nova que o Pai nos concedeu pela morte do seu Filho: "O poder divino deu-nos tudo o que contribui para a vida e a

piedade, fazendo-nos conhecer aquele que nos chamou por sua glória e sua virtude. Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas a fim de tornar-vos por este meio participantes divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo"106.

4.4 Providenciando o que precisamos

Tome Mt 6,25-26. 32-34 No Sermão da Montanha, Jesus anunciou a providência de

Deus-Pai na vida do homem, que abraça todas as suas necessidades.

4.5 Concedendo a filiação divina

Tome Gal 4,4-7, Ef 1,5, Rm 8,14-17 e I Jo 3,1

104 Rm 5,8-9 105 Rm 6,3-4 106 II Pd 1,3-4

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Em Cristo, fomos adotados como filhos e herdeiros de

Deus, e recebemos o Espírito Santo, que é o único capaz de nos convencer desta filiação, a ponto de clamarmos a Deus como Pai, e de fato nos apossarmos dos bens espirituais, que Ele derrama sobre nós abundantemente, sendo que o maior bem é a vida eterna.

4.6 Perdoando os nossos pecados

Tome Lc 15,18-24 Nesta parábola observamos que o amor de Deus é concreto

através das suas atitudes com relação ao filho: como o espera, o acolhe, o restaura, parecendo esquecer todo o passado... O Senhor sabe que somos frágeis e por isso nos ama e tem misericórdia.

5. FÉ NO AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS

Santa Teresa d'Ávila, definiu a oração, isto é, a vida

espiritual como "um comércio de amizade entre a alma e Deus, por quem se sente amada"107. Sentir-se amado, estar convicto do amor de Deus por nós, é a condição primeira, para termos esse relacionamento íntimo com Deus. Precisamos deixar que Deus nos faça experimentar o seu amor por nós. Precisamos deixar Deus nos amar. É a experiência com o amor de Deus que enfraquece as resistências do nosso coração soberbo, prepotente, independente de Deus.

Deus é Pai, Deus é nosso Pai! O mais amoroso, o mais

terno dos pais! É desta raiz que germina toda a nossa vida espiritual. É isto que nós precisamos respirar, deixar crescer e desabrochar: Deus é meu Pai de amor. Para que seja gerado em nós o amor filial, humildade, confiança, abandono, alegria. Só uma pessoa que se sente, que se crê infinitamente amada corresponde a esse apelo de amor por um impulso, um desejo bem simples de amar. As virtudes são germinação espontânea e natural da fé no amor de Deus. Precisamos compreender, experimentar que somos filhos de Deus e, por conseguinte, infinitamente amados, com amor paternal por Deus, nosso Pai.

107 Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, 8, 5

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É a fé no amor de Deus por nós que explica tudo, que ilumina tudo, que esclarece tudo para nós. Mesmo quando Deus nos faz passar por caminhos sombrios, momentos difíceis, é a fé firme no amor de Deus Pai que nos guiará e sustentará. É esta fé que nos fará dizer como Santa Teresinha: "É tão doce servir a Deus na noite da provação! Temos só esta vida para vivermos de fé" e ainda: "Sei que, além das nuvens, meu Sol está sempre a brilhar". Como sabe isto? Pela fé no amor misericordioso de Deus.

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QUINTA AULA

A Pessoa de Jesus I ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. Quem é Jesus Cristo?

2. Jesus Cristo e a Criação

3. O Pecado Original

4. O Pai nos dá Jesus, nosso Salvador

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

1. QUEM É JESUS CRISTO? Já houve quem duvidasse da existência histórica de Jesus

Cristo, julgando sua figura um mito, ou a personificação da doutrina cristã. Hoje em dia, opiniões como estas são absurdas entre aqueles que possuem um mínimo de conhecimento da história da humanidade. Além dos documentos cristãos bíblicos ou não, documentos históricos judaicos e até documentos pagãos falam muito claramente de Jesus e de sua morte violenta. (Exemplo: documentos judaicos do conhecido historiador Flávio Josefo, os "Anais" do historiador pagão Tácito, etc.)

Porém, quem foi Jesus Cristo e o que Ele veio realizar entre

os homens? Uns o admiram apenas como um homem perfeito, ou como

um suave idealista, e até como um revolucionário pacífico... Mas como se pode excluir de Jesus sua condição sobrenatural? Infelizmente, entre os que reconhecem a condição sobrenatural de Jesus ainda há alguns profundamente enganados a seu respeito, como por exemplo, os que partiram para considerá-lo "uma das manifestações" de Deus no tempo, como Zoroastro, Buda, etc.

Menos grave são os que consideram Jesus apenas como

um profeta que tão dedicado à sua missão, acabou dando a vida por ela. Sim, Ele é de fato profeta, mas não só, nem principalmente isto, embora seja o maior de todos os profetas e criador de um rumo novo para a humanidade. A figura de Jesus, suas palavras e seus milagres são de tal dimensão, que se torna absurdo conhecê-lo realmente sem proclamar que Ele é o Filho de Deus e o Salvador de todos os homens.

Você deve tomar Rm 5,12-21 e aprofundá-los com seus

alunos. Estes versículos nos ensinam que "algo" foi realizado por Jesus Cristo, que não diz respeito somente a alguns homens de um determinado tempo e lugar na história, mas é o segredo profundo da vida de todo homem. São Paulo, nesta passagem, explica para nós os elos de ligação entre a culpa de Adão e a condenação de todos os homens, para nos fazer ver a indiscutível relação entre Jesus Cristo e

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todos os homens, de todos os tempos e lugares, deixando claro para nós a natureza Divina de sua Pessoa, e o alcance de sua obra salvífica.

É através de Jesus Cristo, de "um" só homem, que "todos"

os homens receberam "um juízo de justificação". Antes, todos estavam submetidos ao "veredicto da condenação" e à morte; por Jesus, receberam a abundância da graça e o dom da justiça, substituindo a morte pela vida.

2. JESUS CRISTO E A CRIAÇÃO

As leituras da Vigília Pascal (sábado santo), começam pela

narrativa da criação do mundo, dos animais e do homem. A criação é o fundamento dos desígnios salvíficos de Deus para o homem e o princípio da história da salvação da humanidade. Por seu lado, o mistério de Cristo derrama sobre o mistério da criação a luz decisiva: revela o fim em vista do qual Deus "criou o céu e a terra", e a glória da nova criação em Cristo108. Assim, a revelação da criação é inseparável da obra de salvação da humanidade.

Para aprofundarmos esta relação, Criação-Salvação, vamos

estudar as seguintes passagens bíblicas. Peça a três alunos que localizem cada um estas passagens bíblicas e leiam, um por vez, em voz alta para toda a turma:

- Ef 1,1-10 - Jo 1,1-3 - Col 1,15-18 Em seguida comente: para criar, Deus não teve outra razão,

senão o seu amor e sua bondade, que quis conceder às criaturas, já que Ele é sumamente feliz e perfeito e nada podemos acrescentar à sua pessoa. Assim, sua glória está na realização da manifestação e comunicação de seu amor em nossas vidas. E o fez em íntima relação com seu Filho Jesus Cristo, a quem devemos nossa criação e redenção. Devemos portanto, estar conscientes de que Jesus não é um remédio de última hora dado por Deus para nós, mas foi em vista dEle que fomos criados.

108 cf. Romanos 8,18-23

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3. O PECADO ORIGINAL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

PARA TODA A HUMANIDADE Tome Gênesis 1,15-17; 3,1-19 Através deste gênero literário carregado de simbolismo, o

autor sagrado nos revela o mal uso que fez o primeiro homem de sua liberdade, e as conseqüências dele para toda a humanidade. Ensina o Catecismo da Igreja Católica que graças à comunidade de origem, o gênero humano forma uma unidade, e vive uma misteriosa lei de solidariedade, mesmo na sua rica variedade de culturas109. Em virtude desta unidade e desta solidariedade, ensina também o Catecismo que todos os homens nascem implicados no pecado de Adão, por uma transmissão que é ainda um mistério para as criaturas. Este pecado que recebemos de Adão é assim por nós contraídos, e consiste no fato de nascermos110:

- na culpa (privados da justiça diante de Deus); - sem os meios que possibilitam alcançar a Deus, (privados

da graça sobrenatural ou santificante). - inclinados a negar a Deus e sua vontade, em prol de nós

mesmos e dos bens passageiros que nos atraem. Isto é o que chamamos de concupiscências, ou inclinação à ânsia desordenada do ter, do poder, e do prazer. São estas as concupiscências com que o demônio enganou Adão e Eva, que tentou enganar Jesus no deserto e que ainda hoje nos tenta enganar:

- A concupiscência da carne - "o fruto da árvore era bom

para comer"; - A concupiscência dos olhos - "de agradável aspecto"; - a soberba da vida - "e mui apropriado para abrir a

inteligência".

109 cf. Catecismo da Igreja Católica, 360 e 361 110 cf. Idem 404, 405

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O que é concupiscência? É um "desejo desordenado", oriundo do pecado original,

que leva o homem a pecar. São João sintetiza as concupiscências com o termo "mundo", que é o oposto ao amor. O desejo desordenado do mundo opõe-se à disposição para amar como Deus ama.

"Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós

mesmos, e a verdade não está em nós”111. "Por isso, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo gênero humano, porque todos pecaram"112.

No coração de todo homem, mais dia menos dia, surgirá a

pergunta: se Deus é amor e é todo poder, porque: - A nível pessoal vivemos com tantas angústias, temores,

invejas, inseguranças, insatisfações, desequilíbrios emocionais, carências, desesperos, tristezas, etc.?

- A nível comunitário os filhos se rebelam contra os pais, as

famílias não se entendem, há ódios, rivalidades, conflitos de geração?

- A nível mundial há guerras, pobreza, tráficos de drogas,

opressão, assassinatos? Em Mt 15,18-20, Jesus explicitamente fala que não é o que

está fora do homem que o mancha, mas o que brota de seu coração. O homem geralmente toma duas atitudes diante do pecado: ou sucumbe dizendo que é isso mesmo, a vida vale é pelo aqui e agora, essa história de ser santo não está com nada, cada um sabe de si, foi a Igreja que inventou essa história de pecado, etc., etc.; ou então o oposto: não admite que o mal exista, nega o pecado original (esta é uma das maiores heresias do nosso século, que é o ressurgimento de uma heresia do século VI, defendida por Pelágio, que é conhecida como pelagianismo, e que afirma que no fundo do ser ele era bom), e a partir daí surgem seitas, teorias, muitas vezes até dentro da Igreja, que querem modernizar o pecado ou melhor, tentando dar uma solução mais moderna e psicológica para o pecado. A verdade é a

111 1Jo 1,8 112 Rm 5,12

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seguinte: se o homem olha para dentro de si e não ao seu redor, percebe que tem um problema que há séculos procura solucionar e não consegue: eliminar o mal do mundo ou deixar de gerar filhos pecadores. O que fazer?

Enquanto o homem não olhar para Deus, ele não

encontrará a solução para este seu problema insolúvel. Ele tem tentado de todas as formas, com mudanças de estruturas, reformas e resoluções, sistemas econômicos e sociais, teorias psicológicas e sociológicas, só que o mundo nunca esteve tão tenso, angustiado, alienado, inconseqüente e, os homens tão imaturos. O homem moderno não tem mais em quem acreditar. Tudo falha, tudo se acaba, e quanto mais olha para si mesmo mais se frusta e tudo parece só piorar...

Tome Rm 7,15-20 O homem, pelas suas próprias forças, não pode e nem

consegue salvar a si próprio e a seus irmãos, pois é incapaz de mudar a natureza. Jesus diz: “aquele que quiser salvar a sua própria vida perdê-la-á". Então, o que fazer? Como voltar a termos a intimidade com Deus? Usando uma linguagem bíblica, como voltar a "passearmos com ele no jardim ao cair da tarde", como lemos em Gênesis, no relato da criação? Como restaurar o erro cometido? Como o alcançarmos novamente?

4. O PAI NOS DÁ JESUS, O NOVO ADÃO, QUE NOS

SALVA, REDIME, JUSTIFICA E PERDOA O pecado atraiu ao homem maldições e sofrimentos como

nós lemos no relato do livro do Gênesis, capítulo 3. No entanto, podemos constatar a fidelidade do amor de Deus em relação ao homem ao respeitar a sua liberdade, embora ele a tenha usado de maneira errada. Mesmo tendo-se envolvido na morte e perdido a intimidade com Deus, este não lha tirou e lhe prometeu salvação. Depois da primeira queda, que chamamos original e originante, o homem não foi abandonado por Deus. Isto é atestado pelo autor sagrado no livro do Gênesis, através de toda uma linguagem simbólica: "Então o Senhor Deus disse à serpente: Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida. Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a

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dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar"113. A tradição cristã vê aí o anúncio de Jesus que, pela sua obediência até a morte na cruz, repara superabundantemente a desobediência do primeiro homem.

Agora é o momento de você voltar com seus alunos ao texto

de Rom 5,12-21. Concebido pelo Espírito Santo no ventre de Maria, por um

mistério chamado Encarnação, Jesus tornou-se homem sem deixar de ser Deus-Filho. E é justamente nesta verdade que se apoia a nossa fé na Salvação que Ele nos trouxe, porque:

- Sendo Deus é que Jesus pôde obedecer perfeita e

incondicionalmente a Deus até a morte na Cruz; - E sendo Homem é que Jesus pôde, por sua obediência,

possibilitar a todo homem que se unir à Ele pelo Sacramento do Batismo:

a. Tornar-se justo diante de Deus, ou seja, ter cancelada a

culpa que, pela unidade e solidariedade de toda a raça humana trouxe ao nascer.

b. E receber a Graça que o possibilitará alcançar seu fim

Supremo que é a perfeita união com Deus. Você deve parar um instante, neste momento, e levar os

alunos a imaginarem a cena de Jesus morto na cruz. Enquanto isto, leia para eles as seguintes passagens: I Cor 1,17-31 e I Cor 3,18-20

Em seguida explique o significado da Morte de Jesus, que

sendo verdadeiramente Deus-Filho, é capaz de realizar atos eternos que ultrapassam o tempo e o espaço Portanto Sua morte é ao mesmo tempo:

a. O Sacrifício Pascal capaz de realizar a Salvação definitiva

de todos os homens, tempos e lugares. É por esta razão que Ele é chamado "O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29).

113 Gn 3,14s

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b. O Sacrifício da Nova Aliança, porque restabelece a comunhão entre os homens e Deus. Todos os sacrifícios que vemos no Antigo Testamento tinham o valor de preparação do homem para compreender o Sacrifício de Cristo, que é o único capaz de tornar útil qualquer sacrifício que façamos. Diz o Catecismo da Igreja Católica: "Nenhum homem, ainda que fosse o mais santo, estava em condições de tomar sobre si o pecado de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos"7. Só Deus tem este poder, e o fez em Jesus Cristo, Seu único Filho, cabeça de toda a humanidade, constituído Mediador único entre Deus e os homens (cf. I Tm 2,5).

Veja novamente Ef 1,1-14. Cristo é desde sempre a cabeça

da humanidade e, podendo agir em nome de todos, cumpriu Sua missão de modo perfeito, pelo Seu Sacrifício na Cruz. Sabendo disto, precisamos estar conscientes de que Ele é, queira-se ou não acredite-se ou não, indiscutivelmente ligado a todo o homem, que só nele poderá compreender:

- Sua condição de criatura - Qual o seu Fim Supremo - A necessidade que tem de acolher dele o dom da

Salvação e de viver unido a Ele para chegar à finalidade de sua existência.

5. O PAI SE DÁ A NÓS EM JESUS Depois de tudo o que vimos hoje, podemos responder a

estas perguntas que muitas pessoas têm em seu coração: Qual é a atitude de Deus perante o pecado do homem? Como reage Aquele que fora traído por nós? Como o ofendido se "vinga do ofensor"? P-E-R-D-O-A-N-D-O, dando o maior dom de si mesmo, o maior presente de si mesmo, que é seu Filho Unigênito, em resgate por nós. O Pai se dá em perdão e em totalidade a nós na pessoa de Jesus. Jesus na cruz é o retrato fidedigno do Pai, que perdoa porque ama e não porque seja fraco. Perdoar vem do latim PER-DONARE, que significa: cercar com o dom de si mesmo. Por isso o Pai não nos manda um "remédio" para nos salvar da condenação eterna por termo-nos afastado dele pela desobediência, ELE SE DÁ INTEIRAMENTE,

7 Catecismo da Igreja Católica, 616

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CONCRETAMENTE na pessoa de Jesus, a quem Ele é inseparável pelo mistério da Trindade. Pela sua morte de Cruz, Jesus diz não à desobediência, ao contrário de Adão, e assim reconcilia toda a humanidade e toda a criação com o Pai. Ele vence Satanás (I Jo 3,8b) e anula o “documento de acusação” que havia contra nós, como eloqüentemente nos relata S. Paulo em Col 2,13-15 (ler com os alunos).

Nisto consiste a justiça de Deus manifestada pela Salvação

em Jesus Cristo. Numa linguagem humana, ser justo é que todos tenham direito às mesmas coisas. Na perspectiva bíblica e espiritual, fazer justiça, justificar, é algo muito mais profundo: A PERFEITA JUSTIÇA É O CONHECIMENTO DE DEUS! Leiamos o capítulo 15 do livro da Sabedoria de 1-3 e constataremos isso. A justiça de Deus se confunde com a sua misericórdia! Eis o grande rhema para nós que é a fonte para a nossa constante gratidão: o Pai se "vinga" de nós dando-nos Jesus que nos justifica. Ou seja, nos leva ao perfeito conhecimento de Deus. Ele não somente nos perdoa e nos dá o direito à vida eterna como também nos dá seu Pai, nos faz com Ele, filhos e herdeiros. O Pai agora pode dizer novamente aquilo que dissera a Adão e que disse ao filho pródigo e ao filho mais velho (e a mim e a você): TUDO QUE É MEU É TEU! (Lc 15,31). E da mesma forma, eu devo e posso dizer: Senhor, tudo que é meu, é teu! A Salvação é um presente que já nos foi dado mas nós o experimentamos à medida que, no poder e na abertura ao Espírito Santo, vamos permitindo que esta troca aconteça: tudo o que é da minha natureza decaída, frágil, corrupta, todos os frutos da carne: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódios, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes (Gal 5,19-21), bem como a impiedade, as paixões mundanas, a desobediência, a fofoca, o julgamento do próximo, a insensatez, a rebeldia, a malícia, inveja... (Tt 3) ou seja, o homem velho, seja gradativamente substituído pelo homem novo, que produz os frutos do Espírito Santo e não mais da carne. "Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade". (Ef 4,22-24).

6. A GRATUIDADE DA SALVAÇÃO

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A salvação é gratuita e cabe a nós nos abrirmos a ela em profunda gratidão e quem opera em nós a salvação é o Espírito Santo. O que significa isso? Quem faz com que aquele fato histórico da morte e da ressurreição de Jesus me alcance e atinja no hoje de minha vida e me transforme , como transformou Pedro, Tiago, João, Madalena, Zaqueu, Agostinho, Francisco, Teresa, Teresinha e milhões de outras pessoas é o Espírito Santo através do batismo sacramental, que é a minha via de acesso, a minha porta de entrada, o meu "passaporte" para a vida cristã, a vida na fé, a vida em Deus. Jesus ordenou aos apóstolos que fossem pelo mundo e batizassem todas as nações (cf. Mt 28,19).

Em Ef 2,1-10 (ler em alta voz com os alunos, enfatizando a

gratuidade da salvação, iniciativa de Deus movido por sua rica misericórdia), vemos S. Paulo proclamando uma realidade que já acontecera: Jesus já havia assumido a nossa condição humana, já havia morrido e ressuscitado, vencendo Satanás e o jugo que ele nos impusera; estava decretada a lei do amor e da liberdade: o pecado já não tem poder sobre nós! (Rm 6,14 que diz: "O pecado já não vos dominará: pois agora não estais mais sob a Lei, e sim sob a graça"). S. Paulo testemunhava em si e ao seu redor e para toda a cristandade, aquilo que o profeta Isaías havia dito no capítulo 35,4: "Dizei àqueles que tem o coração perturbado: Tomai ânimo, não temais! Eis o vosso Deus! Ele vem executar a vingança. Eis que chega a retribuição de Deus: ele mesmo vem salvar-vos". Como disse um autor: "Deus se faz justiça, reabilita, fazendo misericórdia! Está aqui a grande revelação, a "vingança" de Deus contra os homens que pecaram. o Apóstolo diz que Deus é 'justo e justificado', ou seja, é justo consigo mesmo ao justificar (reabilitar) o homem; Ele é, em efeito, amor e misericórdia; por isso faz justiça a si mesmo - ou seja, mostra-se verdadeiramente como é - ao fazer misericórdia".

Nota : Caso algum aluno pergunte sobre a necessidade das

obras para se salvar, ou se basta a fé, é só mostrar que as obras são sinais da fé (Ver Tiago 2,14-26), e a conseqüência da nossa adesão à salvação que dá Jesus "são as boas ações que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos" (ver Ef 2,10).

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Sexta Aula

A Pessoa de Jesus II I. PROCEDIMENTOS INICIAIS: 1. Oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus. 2. Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração 3. Preenchimento da lista de freqüência dos alunos. 4. Avisos II. ROTEIRO DO CONTEÚDO: 1. A Salvação é uma Pessoa 2. A mediação definitiva de Jesus. 3. O Único Mediador e os "Mediadores criados".

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA: A PESSOA DE JESUS II

1. A SALVAÇÃO É UMA PESSOA O relato do Gênesis, que vimos na semana passada, mostra

de modo simbólico como, por causa do pecado, o universo se tornou hostil ao homem. (Gn 3,17-19): É claro que não vamos concluir ingenuamente ter sido a partir do pecado que surgiram os terremotos, as pragas do campo, os espinhos das rosas, o cansaço do homem, etc. Mas estas imagens Bíblicas exprimem de modo simbólico todos os desequilíbrios que o pecado, ainda hoje, introduz no mundo do trabalho, na organização da sociedade, no progresso que, em lugar a serviço do homem, devido a sua própria ambição o reduz à escravidão. Toda a história da Salvação, que vem depois do livro do Gênesis, na qual Deus vai se manifestando a fim de preparar a vinda de Jesus, exprime bem a condição pecadora do homem que, sem a Graça Redentora, seria incapaz de construir sua própria existência em sentido plenamente correspondente aos desejos de sua natureza e de sua vocação de filho de Deus.

Se percorrermos as páginas do Antigo Testamento,

veremos a busca incessante do homem por Deus, até mesmo quando lhe envia as Tábuas da Lei, que têm o poder de lhe revelar como seu coração está avesso à ela e incapaz de cumpri-la. Ao criar o homem, Deus escreveu no mais profundo de sua consciência a Lei Eterna de fazer o bem e evitar o mal, mas quando a vê nas "tábuas", não é capaz sequer de suportá-la ou cumpri-la por si mesmo. Assim, nossa condição humana é fundamentalmente pecadora, e o mal radical de nossa existência é o pecado.

Se percorrermos a história da humanidade até hoje e a

história de nossa própria vida, veremos que hoje repetimos os pecados de todo aquele povo que contemplamos na Palavra. Somos como Davi, a quem foi contado pelo profeta Natã um crime horroroso, e este, depois de se escandalizar com tal homem pecador, escutou do Profeta: - Tu és este homem! Muitos de nossos padecimentos procedem de nós mesmos, do mal que causamos a nós mesmos e uns aos outros, por cedermos ao nosso egoísmo, à inveja, e aos

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apetites desordenados do ter, do poder e do prazer. Por isto que não existe maior e mais eficaz remédio para os males do mundo do que a conversão do coração do homem. Qualquer renovação técnica, tecnológica, econômica ou política será insuficiente se não se consegue esta renovação fundamental. Escreve o Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral, Gaudium et spes, que "os desequilíbrios que atormentam o mundo moderno se vinculam com aquele desequilíbrio mais fundamental radicado no coração do homem. Com efeito, no próprio homem muitos elementos lutam entre si.(...) Em suma, sofre a divisão em si mesmo, da qual se originam tantas e tamanhas discórdias na sociedade 8 (cf. Mc 7,21-23).

Vimos na aula passada que Jesus é a Salvação desde toda

a eternidade. Porém, a Salvação que é Jesus, entrou para a história do homem, na plenitude dos Tempos. Isto não significa que Jesus tenha apenas coberto nossos pecados. Jesus se fez homem sem deixar de ser Deus, e exatamente assim pode nos resgatar da situação de pecado na qual nasce cada homem. O sacrifício de Jesus pagou o nosso resgate ao Pai e nós fomos inseridos definitivamente neste Mistério da Mediação de Jesus, que se encontra à favor do pecador arrependido, entre ele e o Pai. Por isto não podemos encarar a Salvação como algo que, apenas historicamente aconteceu na vida do homem. Jesus é a Salvação, que se dá continuamente a nós. "A Salvação não está em nenhum outro, pois não existe sob o Céu outro nome dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos". (At 4,12)

O nome Ieshuah (Deus que salva) mostra bem que quando

os judeus esperavam o Messias, o Ungido, o Emanuel (= Deus-conosco), eles esperavam uma PESSOA e não um acontecimento. Muitos de nós não encontramos a salvação porque a vemos como um fato (e um fato passado!) e não como uma pessoa.

Certa vez um judeu convertido ao catolicismo testemunhou

que sua conversão se tinha dado no momento em que, lendo o Livro do Profeta Isaías, ele percebeu que a desinência final (última partícula do nome) Ieshuah era usada apenas com referência a pessoas e nunca a acontecimentos ou a coisas. Deu-se conta, então, de que a Salvação era uma pessoa e aderiu a JESUS, o Deus que salva. É importante levar os alunos a refletirem bastante sobre este fato. Jesus É A SALVAÇÃO. No nosso linguajar, ao entrar em nossa história, Ele entrou como Salvador = aquele que salva (assim como

8 Gaudium et spes, n. 10

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professor = aquele que ensina; pintor, aquele que faz o ato de pintar). Jesus, sem dúvida, praticou a ação de nos salvar. O que nos salvou, porém, não foi nenhuma de suas ações de cura, libertação, exorcismo, milagre. O que nos salvou foi o abandono de sua vida. O que nos salvou foi sua PESSOA entregue por nós. Ele mesmo é o nosso resgate, o preço pago por nós. Eu valho a vida de Jesus, que é Deus feito homem.

Leia com seus alunos João 17. Somos chamados a viver

unidos com o Pai em Jesus, com Jesus e por Jesus. A salvação nos insere na Trindade de maneira indelével e indivisível. Podemos, portanto, viver o céu na terra. Deus vive em nós e nós vivemos nEle, pois ELE é, para nós, o DEUS-SALVAÇÃO, desde toda eternidade, na pessoa de Jesus. Sem a Graça de Cristo, seremos sempre incapazes de extirpar do mundo o pecado, obstáculo ao verdadeiro progresso do homem. E, de qualquer forma, jamais poderemos somente por nossas forças naturais ser libertados da morte. Isso só poderemos em Jesus Cristo, nosso Salvador. Eis porque, sem Jesus Cristo, todas as outras respostas para os problemas do mal e da Salvação só podem permanecer superficiais e incompletas.

2. A MEDIAÇÃO DEFINITIVA DE JESUS Antes de começar a estudar esta parte, você deverá ler toda

a Carta aos Hebreus. Quando o primeiro homem pecou, perdeu a Graça

Santificante, que seria para ele caminho para chegar à Deus, à Vida Eterna. (Sabemos que a raiz dos males do homem é, em última análise, o afastamento de Deus). Quando Jesus realizou a Redenção do homem, a Graça Santificante retornou ao homem devido à Ele, de modo que só nEle temos a Graça. (cf. Jo 14,6). O que isto significa?

Significa que o Sacrifício de Jesus não foi um Sacrifício

apenas cultual, como os sacrifícios do Antigo Testamento, nos quais o sacerdote entrava no santuário para aspergir com sangue de animais o propiciatório, a fim de interceder pelos pecados do povo. Cristo entrou no santuário Celeste com Seu próprio sangue e obteve uma Redenção Eterna (cf. Hb 9,12-15). Aquele rito sacrificial de expiação era uma prefiguração do Sacrifício definitivo que Jesus iria fazer. O Sacrifício de Cristo inaugura uma Aliança Nova e objetiva entre Deus e os homens (cf. I Tm 2,6). Ele aparece então como

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Mediador, que se apresenta a nosso favor ante a face de Deus (cf. Hb 9,24).

Aspectos de Sua intercessão: a. Súplica (Hb 12,24). b. Mérito (I Pd 1,19) Algumas outras passagens: I Tm 2,5; Col 1,16; I Pd 1,11; Jo

1,3; Gl 3,15-18; Lc 2,22-35; Lc 4,17-21; Mt 12,17-21; Mt 21,4-9; Mt 26,64

3. O ÚNICO MEDIADOR E OS MEDIADORES CRIADOS O fato de Jesus ser o único Mediador entre Deus e os

homens não põe fim à função intercessora: a. De Maria: A ela é reservado um posto especial no

exercício da Mediação de Jesus Ressuscitado. Maria é associada à realeza e à intercessão de Jesus, como Sua Mãe e de todos os discípulos;

b. Dos Anjos: Os anjos continuam sua função de

intercessores e de instrumentos dos desígnios de Deus (cf. Hb 1,14), mas fazem-no como anjos do único Mediador;

c. Dos Santos: Associados à realeza do único Mediador (Ap

2, 26s; 3,21; 12,5); d. Dos membros da Igreja terrestre: pelo Apostolado e pelas

orações, unidos aos méritos de Jesus. A doutrina da Igreja afirma que sem a Redenção pela Cruz

de Jesus Cristo o homem descendente de Adão é irremediavelmente pecador. Portanto, para o homem, quer tenha vivido antes ou depois de Jesus Cristo, quer O conheça ou ignore, não pode haver Graça alguma que não venha de Jesus Cristo: Este é a fonte infinita e superabundante de toda a Graça e de toda santidade.

Assim, nosso destino sobrenatural (nascemos para um dia

ver Deus face a face) não pode se realizar sem Jesus Cristo. Não

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temos nem podemos ter por nós mesmos nem mérito, nem virtude, nem santidade, pois todo mérito, virtude e santidade é Jesus vivendo em nós.

Tudo o que sobrenaturalmente recebem os homens vem sempre de Jesus, "pela riqueza de Sua Graça" (Ef 1,7). Se quisermos unir-nos a Deus, outro meio não há senão apoiar-nos em Jesus, passar através dele: nosso Mediador (cf. I Tm 2,5), nossa ponte, nosso Caminho. Eis o caminho único de Salvação e Santificação. Eis o Grande Mistério da nossa incorporação em Cristo, por Ele mesmo revelado aos Apóstolos na noite anterior à Sua paixão: "Eu Sou a verdadeira vide... Permanecei em mim e Eu em vós"... (Jo 15,1-4). Estamos em Cristo comunitariamente por causa de sua Morte e Ressurreição e individualmente porque Seu Sacrifício foi aplicado a nós no nosso Batismo. Porém, "permanecer nele" requer também nossa colaboração livre e pessoal.

Isto acontece na medida em que: a. Temos vida Sacramental b. Renunciamos continuamente à nossos próprios

julgamentos e vontade acerca de tudo e procuramos descobrir o pensamento de Cristo para assim cumprir e viver como Ele, para que Ele viva em nós e por nós, exatamente no lugar e circunstância particulares de nossas vidas.

É isto que Ele realizou na vida dos Santos, aos quais Jesus

invadiu totalmente, porque estes se deixaram invadir, enquanto outros permaneceram, por sua própria vontade divididos entre Jesus Cristo e sua natureza pecadora, ocultando ou mascarando tudo o que não está disposto a mudar para se conformar a Jesus Cristo, e "permanecer nele".

4. O SIGNIFICADO DO AMOR E DA OBEDIÊNCIA DE CRISTO

Ao nos salvar pela obediência, Jesus substituiu a nossa

obediência pela Sua obediência. Somente Deus poderia, desta forma, refazer o laço amoroso que nós havíamos quebrado pelo pecado original. Assim, fomos salvos não pelo sofrimento de Jesus em si, mas pela OBEDIÊNCIA AMOROSA DE JESUS AO PAI.

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Jesus nos diz : “O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo porque tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai” (Jo 10,17s). Percebemos através destas palavras de Jesus, que o “mandamento” que o Filho recebeu é antes de tudo de nos amar. O Pai transmitiu ao Filho a Sua “paixão de amor”, que o conduziu à cruz. Jesus morreu por nosso amor, porque isto consiste em obedecer ao Pai. Desta forma, Cristo morreu por amor a nós (cf. Ef 5,2) para obedecer ao Pai (cf. Fl 2,8). Amor e obediência se confundem mutuamente. A Salvação operada por Jesus foi um ato de amor a nós por amor ao Pai. Não há obediência verdadeira sem amor e não há amor verdadeiro sem obediência. A obediência é uma homenagem de amor, em reconhecimento amoroso da autoridade do Pai e do seu desejo de ter todos os seus filhos consigo. Da unidade da Trindade deriva o amor. É o amor a fonte da obediência mais perfeita, porque ela “não consiste em cumprir com toda a perfeição a ordem recebida, mas em fazer sua a vontade de quem ordena”. 9É o amor de Jesus ao pai que o faz compartilhar perfeitamente com o Pai a mesma vontade.

É importante ressaltar que a obediência de Jesus ao Pai não foi

fácil. Pelo contrário, foi a obediência mais difícil, mais dolorosa, custou-lhe muito, custou-lhe o suor de sangue, porque Jesus obedeceu divinamente com uma vontade igual à nossa.

Jesus ao ser um com o Pai, cumpriu a obediência perfeita e

amorosa que o levou a morrer na cruz (cf. Jo 3,35; Jo 5,17; Jo 5,20; Jo 5,37; Jo 8,49; Jo 10,15; Jo 10,30; Jo 12,26.49; Jo 14,6.9-10.20.28; Jo 15,8.15.23; Jo 16,3.23.25.32; Jo 20,17-21). 5. AS CONSEQUÊNCIAS DA OBEDIÊNCIA DE CRISTO

A vida de Jesus Cristo foi, desde a Sua entrada no mundo até a morte de cruz, obediência, isto é, adesão a Deus. Porém, Ele obedeceu a Deus na pessoa de intermédio que Ele, mesmo sendo Deus e superior a todos eles, não rejeitou obedecer autoridades (cf. Lc 2,51) e a instituições humanas (cf. Mt 17,27). Devido ao meu pecado atual, sou também merecedor da morte espiritual.

E Jesus foi além: na Sua Paixão, Ele leva sua obediência ao

ponto culminante, entregando-se sem resistência a poderes

9 Cantalamessa, Raniero, – A vida sob o Senhorio de Cristo, cap VI, número 4, p. 111.

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desumanos e injustos, “passando, através de todos os seus sofrimentos, pela experiência da obediência” (Hb 5,8), fazendo de Sua morte, “o sacrifício mais precioso a Deus, o da obediência” (cf. Hb 10,5-10). Por esta razão é que “Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos” (Fil 2,9-11).

Por isto, a morte de Jesus também me atinge, porque foi

também para merecer de Deus o seu perdão e a restauração da minha amizade com Ele, que Jesus morreu e ressuscitou. Com Sua obediência, a Salvação nos foi oferecida gratuitamente, em troca de nada (cf. Fil 2,6-11; II Tim 1,9-10). A obediência de Jesus Cristo é a nossa salvação e nos obtém de novo o dom de sermos de novo obedientes a Deus (cf. Rm 5,19). Viver a salvação é aceitar, extasiado, a gratuidade deste amor obediente e, em retribuição obedecer amorosamente a Deus, SENDO COMO JESUS, ASSIM COMO JESUS FOI COM O PAI. Só Deus poderia fazer-se homem para nos levar de volta ao seio amoroso da Trindade (cf. Jo 17). Só Ele poderia fazer este caminho de tornar-se homem para nos introduzir Nele, por Ele e com Ele no relacionamento amoroso que é a VIDA TRINITÁRIA.

Todo fiel deve “ter em si os mesmos sentimentos de Cristo Jesus

que se aniquilou, tomando a condição de servo (…) fazendo-se obediente até a morte” (Fl 2,7-8).10 A obediência cristã deve sempre ultrapassar a criatura que ordena e fixar os olhos em Deus, pois é por Ele que nos submetemos.

Por nossa obediência assumiremos o senhorio de Jesus em

nossa vida e seremos verdadeiramente livres, não com a falsa liberdade que o mundo chama de liberdade, mas com a verdadeira liberdade dos filhos de Deus (cf. Gal 5). Nós obedecemos porque em primeiro lugar obedecemos a Deus e, a única exceção para não obedecermos, é no caso de nos imporem ordens contrárias ao querer divino (cf. At 4,19). Exceto neste caso, é sempre lícito obedecer, mesmo quando a nossa vontade é contrariada, mesmo quando temos que renunciar a nossos próprios desejos, nossos projetos pessoais, pois com certeza esta renúncia é mais agradável a Deus que qualquer boa obra, principalmente quando está em jogo a vontade clara de Deus, sua Lei, o bem da Igreja, a dependência das

10 cf. Lumen Gentium 42

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autoridades constituídas (cf. Dn 9,4-10; Jo 6,38; Rm 13,1; Lc 10,16; Ef 5,21-22 e 6,1.5; I Sm 15,22).

Sétima Aula

A Pessoa de Jesus III

I.PROCEDIMENTOS INICIAIS: 1. Oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus. 2. Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração. 3. Preenchimento da lista de freqüência dos alunos. 4. Avisos II. ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. Recapitulando: Criação - Pecado - Jesus 2. Jesus e a sua missão 3. A perpetuação do mistério da salvação 4. O Corpo de Cristo toma parte em sua missão

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA:

A PESSOA DE JESUS III 1. RECAPITULANDO: CRIAÇÃO - PECADO - JESUS Deus criou todo homem para a Vida Eterna, ou seja, para

chegar um dia à perfeita comunhão com Ele no Céu. Esta é a maior felicidade que uma criatura pode alcançar, porque Deus é o Bem supremo, ou seja, o maior bem que existe. Este é um destino sobrenatural, porque, como criaturas, não podemos chegar à Ele de modo natural, somente com as forças de nossa natureza. Por isto é que Deus deu ao primeiro homem a Graça. Mas o primeiro homem, convidado pelo demônio (criado anjo, mas decaído por rejeitar a Deus) a rejeitar a Deus e à Graça, optando pelo pecado, e a partir daí todo homem nasce separado de Deus e atraído pelo pecado, de modo que, para retornar ao caminho de seu destino eterno, precisa de Salvação.

Vimos na aula passada que todos nós somos pecadores e

portanto necessitados da Salvação, que deve se efetuar hoje, na vida de todo homem. Vimos que a Salvação é Jesus, e ser salvos significa inserirmo-nos definitivamente nele. JESUS, na história da humanidade, É O SALVADOR, e pode se tornar A SALVAÇÃO REAL E EFETIVA na vida particular de todo aquele que para Ele se volta com sinceridade de coração e disposição de vida. Por isto, por causa de todos os homens, de todos os tempos e lugares foi que Jesus se tornou homem sem deixar de ser Deus; e pelo Mistério de Sua Morte e Ressurreição adquiriu para a humanidade, das qual agora faz parte, o perdão e a possibilidade de relacionar-se de novo com Deus para chegar à vida Eterna. Por isto é que dizemos que Jesus tornou-se definitivamente MEDIADOR de todos os homens: Só Ele tem por si mesmo mérito suficiente diante de Deus para apagar os nossos pecados, e só Ele tem para nós a Graça que necessitamos para nos relacionar com Deus e chegar à vida Eterna.

2. JESUS E A SUA MISSÃO:

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Jesus, na Trindade, desde toda a eternidade, é SALVAÇÃO. Jesus, na história da humanidade, é SALVADOR e, para aqueles que permitem que ELE O SEJA em si, é a salvação. Sendo sua missão salvar todos os homens de todos os tempos e lugares, a Jesus interessa salvar o homem por inteiro, e abranger todos os problemas de todos os homens de todos os tempos e lugares. Assim, Ele mesmo sintetizou sua missão ao dizer as palavras de Lucas 4,1-19, e de Mateus 4,23 e de João 17. Vamos hoje fazer uma análise dos sinais de salvação que Jesus veio dar e da sua importância e simbolismo para o povo judeu.

Tome Lucas 4,14-19 O Profeta Isaías (Is 61,1-2) já havia falado a respeito do

Messias. Em Nazaré, Jesus se faz intérprete de Isaías e atesta que a palavra do profeta encontra nEle o seu cumprimento. É Ele o Messias prometido, consagrado pelo Espírito do Senhor e enviado para anunciar uma jubilosa mensagem: a libertação dos prisioneiros, a visão dos cegos, a liberdade aos oprimidos, o ano de graça do Senhor.

A situação destes homens, segundo o sentir da época,

não se pode mais chamar de vida. Mas Jesus veio com o fim de ressuscitar aqueles que, pela situação desesperada, estão como mortos. Originalmente, os desolados na palavra dos profetas são os oprimidos e os pobres, aqueles que se sabem inteiramente entregues ao auxílio do Senhor. Com certeza todos os necessitados, os que sofrem sede, fome, doenças, os estrangeiros, os doentes e os prisioneiros. Mas o círculo se abre mais, o que fica claro ao observarmos as figuras com que Jesus os caracteriza. Ele se abre aos pecadores, que estão como cegos, como prisioneiros, quase que como mortos.

A estes Jesus anuncia que chegou o momento da Graça,

e a Graça é Ele mesmo. A Salvação é destinada justamente a estes que Deus, na sua imensa capacidade de compreensão, acolhe para salvar. Jesus vem tratar com os mais necessitados de Salvação, que estão como doentes que precisam de médico (Veja Mc 2,17). Jesus vem para os pecadores e necessitados de Salvação; Ele vem abrir os olhos daqueles que ainda necessitam enxergar o seu pecado e encontrar-se com Ele. A estes, Deus concedeu o tempo da Graça.

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O homem é pobre porque é pecador. Torna-se concretamente pobre quando reconhece o seu pecado. Está então apto a receber a Salvação, que é próprio de Jesus. "Bem-aventurados os que tem um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5,3). Estas palavras nos ensinam sobre a necessidade de nos sabermos pobres porque somos pecadores, cegos, cativos, etc., porque somente estes podem ter a contrição verdadeira de coração para receber Jesus como uma pessoa cuja missão, também em minha alma, é libertar, anunciar, curar, publicar, recuperar...

Nas páginas do Evangelho, vemos que cada pecador

tocado pelo Amor misericordioso de Deus dá ao Senhor a resposta de um amor contrito. Reconhece com o coração cheio de gratidão que Deus se dignou em devolver-lhe a Sua amizade e a Sua graça. Um coração contrito é capaz de chorar suas faltas passadas, por amor a Deus e não por si mesmo. Ele chora as conseqüências amargas do pecado, penetrando na sua essência: ingratidão, desobediência, recusa de amor ao Deus de infinita bondade e ao mesmo tempo recusa todo falso complexo de culpabilidade.

Jesus realizou sua missão salvífica percorrendo a Galiléia,

proclamando a Boa-Nova de Deus, ensinando nas sinagogas o Mistério do Reino, curando os enfermos, formando discípulos.

3. A PERPETUAÇÃO DO MISTÉRIO DA SALVAÇÃO Jesus é a Salvação desde toda a eternidade. Nele fomos

criados, nele somos salvos. Jesus, sendo Deus, é Eterno (sempre existiu e existirá), onipotente (pode tudo) e onipresente (está em todo tempo e lugar). O ato de Sua Morte e Ressurreição é o ato de Deus-Filho e portanto, ilimitado. Este ato, tendo em vista a Salvação de todos os homens de todos os tempos e lugares, ultrapassou e ultrapassa os limites do tempo e do espaço. Assim, tudo o que Jesus realizou em prol da Salvação humana tem o poder de tornar-se atual e eficaz na vida de cada cristão, de modo que:

a. Quando fui batizado, a Salvação que Jesus trouxe foi

aplicada em minha vida, de forma que a culpa do Pecado Original, que pesava em mim por eu fazer parte da humanidade, foi perdoada, e eu recebi novamente a Graça Santificante que o primeiro homem não pôde passar para mim porque perdera. Lembrar que esta Graça

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Santificante é quem me une a Deus e me possibilita chegar um dia à felicidade suprema no Céu

b. Quando peco, perco a Graça Santificante, embora

continue sendo filho de Deus pelo Batismo que recebi. Porém, quando me reconcilio com Deus pelo Sacramento da Penitência, a Graça Santificante retorna a mim, de modo que a Salvação que Jesus trouxe é novamente aplicada em minha vida.

c. Quando participo da Missa, presencio de modo real e

eficaz o Sacrifício de Jesus, tal qual ele é, porque é um Sacrifício Eterno, sem fim. E quando recebo a Eucaristia, recebo Jesus realmente morto e Ressuscitado por amor a mim. A Obra de Salvação é assim verdadeiramente perpetuada em minha vida.

d. Assim por diante, cada Sacramento da Igreja, não é

apenas um símbolo exterior, mas sinal de uma realidade eficaz, que ocorre por causa da Obra de Salvação que realizado por Jesus no meio de todos os homens. Cada vez mais sou imerso no mistério Salvífico, cada vez mais a Salvação vai tomando a minha vida.

É por isto que posso dizer com segurança que o Sacrifício

de Jesus é perpétuo e real. Jesus veio salvar e santificar o mundo, e continua realizando isto por meio do Seu Espírito Santo que age na Igreja. Apesar de ter dado a vida e derramado o Seu Sangue pelos homens, colocando à disposição deles Seus preciosíssimos méritos, sacramentos e doutrina, quis que a Igreja fosse depositária e dispensadora destes bens. O Concílio nos diz que "Cristo constituiu a Igreja como sacramento universal de salvação"11, isto é, "sinal e instrumento" da santificação dos homens e de sua "íntima união com Deus". E isto de fato acontece através da pregação da Palavra de Deus que semeia a fé, como também através da administração dos Sacramentos, pois por meio deles comunica e alimenta a vida da graça. Desta forma os homens são inseridos em Cristo como membros vivos de seu Corpo, tornando-se como células vivas desta grande família que ao que une os homens a Deus e os une entre si, como filhos do mesmo Pai.

Jesus instituiu a Igreja para que através dela a Salvação e

a Santificação efetuada por Ele atingisse todos os homens de todos os tempos e lugares. Pelo Batismo, a mancha do Pecado Original é

11 LG 48

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de fato apagada em nós. Além disto, através do Batismo recebemos a presença da Santíssima Trindade em nós, e todos os dons e virtudes que necessitamos para chegarmos ao nosso Fim Supremo. Quanto ao Sacramento da Penitência, a Igreja não apenas declara que os homens estão perdoados, mas perdoa realmente em nome de Jesus, e imprime novamente a Graça que me leva a crescer cada vez mais na união com Deus em Cristo, e pelo poder do Espírito Santo.

4. O CORPO DE CRISTO TOMA PARTE EM SUA MISSÃO Chamamos Corpo de Cristo: a. Ao Corpo individual de Jesus; b. Ao Corpo Eucarístico de Jesus; c. À Igreja, que recebe a denominação especial de Corpo

Místico de Cristo Tome I Cor 12,12-27 - Desde a fundação da Igreja, cada

um de seus membros unidos pelo Batismo passou a formar o que chamamos de Corpo Espiritual da Igreja. Regenerados como filhos no Filho, os batizados são inseparavelmente membros de Cristo e membros do Corpo da Igreja. Esta incorporação é invisível e sobrenatural, porém real, e acarreta aquela unidade misteriosa da qual Jesus falou em Jo 17,21.

Podemos observar claramente Atos 9,5, quando Jesus

interpela Paulo identificando-se como Membro da Igreja, a quem Paulo perseguia. Por isto, a união dos membros da Igreja só existe em Cristo, e por Cristo, pois é enxertados em Cristo que nos tornamos membros de um só Corpo (Jo 15,5).

São membros do Corpo Místico de Cristo todos os

batizados que estão na terra, no Céu e no purgatório: - Os que estão na terra são chamados Igreja Militante,

porque lutam pela santidade, que é a completa obediência amorosa a Deus em Jesus, com Ele e por Ele;

- Os que estão no Céu são chamados membros da Igreja

Gloriosa ou Triunfante;

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- Os que estão no purgatório, à espera das orações dos

outros para um dia irem para o Céu. São chamados de membros da Igreja padecente, que participa do mistério da Salvação em Cristo, no "banho de misericórdia de Deus" que é o purgatório, onde o grande sofrimento é não poder corresponder à misericórdia que Deus derrama sobre as almas que lá estão.

Obs: Os que estão no inferno, negaram definitivamente a

Deus, e não fazem parte da Igreja. A missão do Corpo Místico de Cristo é a mesma missão

de Cristo. (cf. I Pd 2,4-5.9). Estreitamente unido à Cristo pelo Batismo, cada membro da Igreja participa do seu Múnus Sacerdotal, Profético e Real:

a) Múnus Sacerdotal: Jesus se ofereceu sobre a cruz e

perpetuamente se oferece na celebração da Eucaristia, para a glória do Pai e Salvação da humanidade. Os batizados se unem à Ele e ao Seu sacrifício, na oferta de si mesmo e de todas as suas atividades (cf. Rm 12,1-2; I Pd 2,5). Ensina o Concílio Vaticano II: "Todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem feitos no Espírito, e as próprias incomodidades da vida, suportadas com paciência, se tornam em outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cf. 1Pd 2,5); sacrifícios estes que são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia. E deste modo, os leigos, agindo em toda parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo". 12

Através do Múnus sacerdotal cada batizado se torna um

intermediário entre Deus e o povo. É aquele que doa a sua vida a serviço de Deus através do serviço ao seu povo. Cada membro da Igreja (isto é, você, eu...) faz isto não por seus próprios méritos, mas PORQUE É PARTE DE CRISTO, isto é, é o Corpo de Cristo, e pode ser sacerdote (intercessor) porque nEle foi batizado e Cristo vive nele e ele em Cristo. É como sacerdote (intercessor) que posso orar pelos enfermos, operar curas, milagres e prodígios em nome de Jesus, expulsar demônios e transformar vidas.

12 CONC. ECUM. VAT. II, Const. Dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 34.

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b) Múnus Profético: "pelo testemunho da vida e pela força

da palavra, (Cristo) proclamou o Reino do Pai, habilita e empenha os fiéis leigos a aceitar, na fé, o Evangelho e anunciá-lo com a palavra e com as obras, sem medo de denunciar corajosamente o mal. Unidos a Cristo, o ‘grande profeta’ (Lc 7,16), e constituídos no Espírito ‘testemunhas’ de Cristo Ressuscitado, os fiéis leigos tornam-se participantes quer do sentido de fé sobrenatural da Igreja, que “não pode errar no crer”, quer da graça da palavra (cf. At 2,17-18; Ap 19,10); eles são igualmente chamados a fazer brilhar a novidade e a força do Evangelho na sua vida quotidiana, familiar e social, e a manifestar, com paciência e coragem, nas contradições da época presente, a sua esperança na glória “também por meio das estruturas da vida secular"13. O profeta, portanto, é aquele que fala em nome de Deus e anuncia, proclama, denuncia. Este ministério (assim como o primeiro encontrado em Lc 4,17ss) é mais pertinente à Igreja Militante, que somos nós. Enquanto o ministério de intercessão que atrai os sinais e milagres é comum à Igreja inteira, este ministério profético é reservado de maneira especial à Igreja militante, embora os santos continuem profetizando por seus escritos e seu exemplo de vida. Caso especial é o de Maria, que está viva no céu e que nas aparições profetiza, isto é, fala em nome de Deus.

c) Múnus Real: "Ao pertencerem a Cristo Senhor e Rei do

universo, os fiéis leigos participam do seu múnus real e por ele são chamados para o serviço do Reino de Deus e para a sua difusão na história. Vivem a realeza cristã, sobretudo no combate espiritual para vencerem dentro de si o reino do pecado (cf. Rm 6,12), e depois, mediante o dom de si, para servirem, na caridade e na justiça, o próprio Jesus presente em todos os seus irmãos, sobretudo nos mais pequeninos (cf. Mt 25,40).

Mas os fiéis leigos são chamados de forma particular a restituir à criação todo o seu valor originário. Ao ordenar as coisas criadas para o verdadeiro bem do homem, com uma ação animada pela vida da graça, os fiéis leigos participam do exercício do poder com que Jesus Ressuscitado atrai a si todas as coisas e as submete, com ele mesmo, ao Pai, de forma que Deus seja tudo em todos" (cf. I Cor 15,28; Jo 12,32).14

13 EX. APOST. de João Paulo II, Christifideles laici, 14 14 Idem

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A importância dos sinais Jesus conquistou a Salvação para a humanidade através

de Sua obra de Redenção, que começou desde que Ele veio ao mundo, e teve seu ponto máximo na Sua morte e Ressurreição. Porém, não só nos salva, mas nos convida a colaborar com a Obra da Salvação e Santificação nossa e dos outros homens. E nos dá todos os meios para que isto aconteça. Cabe à nós conhecê-los com disposição e coração reto.

É importante que compreendamos que também somos

chamados a operar prodígios e sinais em nome de Jesus. Com Jesus, nEle e por Ele, somos reis, isto é, vitoriosos, vencedores da morte, da tentação. Com Jesus, nEle e por Ele, somos filhos adotivos de Deus e herdeiros do reino do Céu, TODOS nós os batizados, quer estejamos na terra, no purgatório ou no céu. Para deixar isto mais claro, tome Mt 10,1; Mc 16,15 e passagens do livro de Atos que mostrem a ação do Espírito Santo através dos apóstolos. Conte também - ou faça-os contar - casos em que a Igreja Triunfante operou milagres em suas vidas pela intercessão e, continuando a missão de Jesus, curou enfermos, fez cegos verem, libertou cativos, etc. ... Leve-os igualmente a testemunhar ocasiões onde através deles ou neles viu-se SINAIS DA SALVAÇÃO como de Lc 4,17ss.

Os sinais são muito importantes para a evangelização,

especialmente no mundo de hoje, tão cheio de falsos profetas com falsos sinais. Através do nosso Batismo, o Espírito Santo nos unge com os carismas para que assumamos a mesma missão de Jesus: "anunciar a boa nova aos pobres, sarar os contritos de coração, anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, por em liberdade os cativos e publicar o ano da graça do Senhor"(Lc 4,18-19). É através dos carismas que "fomentamos a renovação e o incremento da Igreja" (LG 9,25- não encontrei esta citação). É através dos carismas que o nosso apostolado será da "vida nova" (Rm 6,4) em Cristo Jesus, um apostolado vivido no Espírito Santo e na graça. Através dos carismas o mundo vê Deus atuando em seu meio, dando testemunho de sua presença. Se a missão de Jesus precisou ser confirmada por prodígios e sinais porque a nossa não precisaria? Se a nossa missão é a mesma de Jesus nós não temos porque utilizar metodologia diferente.

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Oitava Aula

Relatório de Avaliação

Caro (a) aluno

Esta avaliação tem como objetivo colher o seu testemunho das bênçãos que Deus tem derramado em sua vida através das aulas ministradas e dos exercícios de oração que você tem praticado neste semestre. Não se trata portanto de uma avaliação intelectual, mas espiritual, ou seja, uma avaliação de sua caminhada com Deus nestas últimas sete semanas. Por esta razão, as questões devem ser respondidas em oração e escuta do Senhor sobre a sua vida. Trata-se de um momento muito importante, em que Deus pode realizar maravilhas no seu coração, e através de sua partilha, também no coração de todos os que conhecerem seu testemunho. 1.Tome João 3,1-9 depois de orar com esta Palavra, escreva o que você entende hoje pela expressão “experiência pessoal com Jesus”.

2.Depois de ler o texto abaixo, escute o Senhor sobre o que mudou em sua vida de oração com o mistério da Santíssima Trindade:

“É a prática do amor que abre o verdadeiro acesso ao mistério da Trindade. Se Deus é amor, caminha tu até ele, pelo caminho do amor fraterno. Abraça a Deus-Amor, e abraçarás a Deus com amor. Não me digas que em Deus não descobres a Trindade. Se vês o Amor, vês a Deus. Sonda tua alma e se amas, aparecerás no amor uma Trindade que requer exame atento: o Amante (Pai), o que é Amado (Filho) e o Amor (Espírito Santo)”. 15

3.Ainda em oração leia Lc 15,11-24 e faça uma breve partilha da experiência que você vive hoje com a Pessoa de Deus Pai.

15 Sto. Agostinho – A Trindade, Ed. Paulus, 1995

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4. “Vós rejeitastes o Santo e Justo, e reclamastes para vós o agraciamento de um assassino! Mas o Príncipe da Vida que vós havíeis matado, Deus o ressuscitou dos mortos – disso nós somos testemunhas. (...) Convertei-vos portanto, e voltai a Deus, a fim de que os vossos pecados sejam apagados: assim virão os tempos de refrigério concedidos pelo Senhor, quando ele enviar o Cristo que vos é destinado, Jesus, que o céu deve acolher até os tempos do restabelecimento de tudo aquilo de que Deus falou pela boca dos seus santos profetas de outrora. (...) É para vós que Deus primeiro suscitou, depois enviou o seu Servo, para vos abençoar, desviando cada um de suas más ações.” (Atos 3,14-15.19.26).

Coloque-se como o evangelizador que todos nós fomos feitos pelo Batismo, e faça um breve anúncio da Salvação em Jesus Cristo aqui, por escrito. Faça de um modo bem simples, como quem está conversando com alguém que tem pouco tempo, mas você não pode perder esta oportunidade de anunciar a grande graça que recebeu.

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Nona Aula

A Pessoa do Espírito Santo I

I. PROCEDIMENTOS INICIAIS: 1. Oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus. 2. Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração. 3. Preenchimento da lista de freqüência dos alunos. 4. Avisos. II. ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. A identidade do Espírito Santo 2. O sentido da palavra “Espírito” no Antigo Testamento 3. A personalidade do Espírito Santo no Antigo Testamento 4. O sentido da palavra “Espírito” no Novo Testamento. 5. O Espírito Santo é uma Pessoa

Formação Básica I

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA: A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO I 1. A IDENTIDADE DO ESPÍRITO SANTO Nós cristãos, confessamos com a Igreja que o Espírito

Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, distinta do Pai e do Filho, dos quais procede eternamente:

“Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida; que

com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Foi Ele que nos falou por meio dos profetas; Ele nos foi enviado por Jesus Cristo, depois da Sua ressurreição e da Sua ascensão ao Pai. Ele ilumina, vivifica, protege e conduz a Igreja, cujos membros purifica se eles não se furtam à ação da graça, que penetra no mais íntimo da alma, e torna o homem capaz de responder ao apelo de Jesus: Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito”16.

Sabemos que na sua vida íntima, Deus é Amor (I Jo 4, 8.

16), amor comum às três pessoas divinas (Pai, Filho e Espírito Santo). E o Espírito Santo é a expressão pessoal desse doar-se, desse ser-Amor, Pessoa-Dom, do qual deriva: a doação da existência a todas as coisas, mediante a criação; e a doação da graça a nós, mediante toda a economia da Salvação.

2. A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO DIVINO NO

ANTIGO TESTAMENTO No Antigo Testamento, desde o Livro do Gênesis, o Espírito

é a pessoa divina por meio da qual Deus Pai infunde a vida. Segundo o sentido latino “Ruah”, significa hálito, respiração. Sopro vital (cf. Ecle 3, 21; Sl 103 (104), 29-30), por esta razão o Espírito Santo é a efusão do amor divino, pois assim como a respiração é a expressão da vida do homem, em Deus o Espírito Santo é a expressão da vida, a efusão da vida e do amor do Pai e do Filho, efusão tão substancial e perfeita que é Pessoa. Neste sentido, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade é chamada de “Espírito do Pai e do Filho”, “Espírito de amor em Deus”, “Sopro” do amor divino, “dom de Deus”.

16 Paulo VI, Credo do povo de Deus

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É nesse sentido que é interpretada a expressão de Gen 1, 1-2: “No princípio, Deus criou o céu e a terra e o Espírito Santo de Deus pairava sobre as águas”.

“Este conceito bíblico de criação comporta não só o

chamamento à existência do próprio ser do cosmos, ou seja, o Dom da existência, mas comporta também a presença do Espírito de Deus na criação, isto é, o início do comunicar-se salvífico de Deus às coisas que cria. Isto aplica-se, antes de mais nada, ao homem, o qual foi criado à imagem e semelhança de Deus: “façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança” (Gn 1, 26)17.

• Tudo foi criado com a participação uníssona da Trindade, que participou da Criação como três pessoas em uma só pessoa, unida em sua vontade e em seu poder. “A criação é a obra comum da Santíssima Trindade”18.

• Deus criou tudo através do Verbo Eterno, seu Filho Único e do Espírito Santo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ela estava no princípio junto de Deus.... tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia vida e a vida era a luz do homens” (Jo 1, 1-4).

• “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e pelo sopro de sua boca todo o seu exército” (Sl 32 (33), 6).

Nestas passagens anteriormente mencionadas do Antigo

Testamento, o Espírito Santo não aparece como uma pessoa, quer dizer, como alguém que tem ação distinta de Deus, ele aparece como o Espírito de Deus que inspira, dá vida, transforma o interior do homem, porém isto não significa que o Espírito divino (Ruah) não tivesse sua personalidade. O que acontece é que o Antigo Testamento fala do Espírito Santo de modo velado, porque a REVELAÇÃO NÃO ESTAVA COMPLETA, mas desde o PRINCÍPIO Ele agia no mundo. Somente no Novo Testamento, com Jesus, teremos a revelação nítida, explícita do Espírito Santo, como uma das três Pessoas da Santíssima Trindade.

17 Dominum et Vivificantem, João Paulo II 18 Catecismo da Igreja Católica, 292

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Apesar de certos homens, entre eles, os profetas, serem inspirados e considerados como porta-vozes de Deus, pouco sabiam a respeito de Deus e do seu plano de salvação comparados com os Apóstolos de Jesus Cristo, no entanto, isto não significa que Deus era um e depois da Revelação completa em Jesus Cristo se tornou outro. Deus não deixou de ser o que ele é. Deus é sempre o mesmo Deus e, não pode mudar. O que muda é simplesmente o conhecimento que temos dele, que depende do grau que ele nos faz conhecer a sua riqueza interior e seus desígnios salvíficos. O próprio Jesus foi paulatinamente dando-nos a conhecer a personalidade do Espírito Santo e a sua divindade.

Ainda encontramos no Antigo Testamento algumas

passagens, que nos mostram o espírito divino se comportando como um mestre que indica um caminho a ser seguido (Sl 142(143), 10; Ne 9, 20; Zc 7, 12; Is 59, 21); outras que ressaltam que o Messias prometido seria pleno do Espírito divino (Is 11,1-5; Is 42,1-3; Is 61,1; Joel 3,1-3), que este Espírito seria dado a “todos” os homens (Is 32,15-20; 44,3-5) e os transformaria em novas criaturas (Ez 11, 19; 18,31; 36,26; 37,1-14).

É importante lembrarmos ainda que o Antigo Testamento vê

Deus como uma só pessoa, tendo-se em vista que o povo de Israel estava cercado de nações pagãs politeístas (acreditavam em vários deuses) e a lei de Moisés e os profetas enfatizavam a unicidade de Deus, pois não havia como revelar ao povo de Israel toda a riqueza da vida de Deus, isto é, afirmar que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, sem perder a sua unidade.

É no livro da Sabedoria, escrito já mais próximo do Novo

Testamento, que temos uma figura mais nítida (embora não perfeitamente delineada, pois isso só acontecerá com Jesus) da pessoa (que é descrita como a sabedoria de Deus) e da ação do Espírito Santo (santificador, educador das almas ). Veja com seus alunos Sab 1,5 e Sab 12,1. Também no livro da Sabedoria, o autor dá qualidades antropomórficas à “sabedoria”, que “convive” com Deus. Veja Sab 8, 1-8. Ainda no livro da Sabedoria, temos uma tênue insinuação sobre o Espírito Santo como uma “efusão da luz eterna”, sopro do poder de Deus”, e, especialmente, “irradiação límpida da glória do Todo-Poderoso”. Veja isto com seus alunos em Sab. 7,22-30.

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3. A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO

Percebemos, portanto, que desde o Antigo Testamento já

havia uma tendência entre os judeus de querer apresentar o Espírito Santo como uma pessoa (Is 63,10s; II Sm 23,2), porém é no Novo Testamento que o Espírito Santo é apresentado como a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade (cf. Jo 14,26; Jo 16,7; At 2,1-22).

Através da vinda do Filho de Deus ao mundo (cf. Rm 8,32),

o homem passou a ter um conhecimento mais profundo de Deus: “Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça. Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,16-18).

Jesus nos deu a conhecer o “nome” do Pai: “Manifestei o

teu nome aos homens (cf. Jo 17,6-26). Dar a conhecer um nome, para o judeu é revelar ou dar a conhecer o “ser na sua totalidade e “manifestar o nome de Deus” era dar a conhecer Deus na sua natureza íntima em toda a sua riqueza interior. E Jesus dar a conhecer o Pai a “todos” os homens, de uma forma mais sublime e profunda. É exclusivamente com Jesus que temos o conhecimento pleno do Pai. Neste sentido, Jesus nos apresenta o Espírito Santo como Pessoa divina que “procede do Pai”, e que ele mesmo “enviará” junto com o Pai.

“O Espírito Santo é enviado para santificar o seio da Virgem

Maria e fecundá-la divinamente, ele que é “o Senhor que dá a Vida”, fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma humanidade proveniente da sua”19.

4. OS VÁRIOS SIGNIFICADOS DA PALAVRA "ESPÍRITO" NO NOVO TESTAMENTO

A palavra “pneuma” tem vários significados:

- Vento, brisa silenciosa, tempestade ou ar em movimento (cf.

Jo 3,8)

19 Catecismo da Igreja Católica, 485

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- Também é usado para indicar o “espírito humano”, associado, portanto, à idéia de vida, fonte de vida (cf. Gen 2,7; Lc 8,54-55; 23,44-46; At 7,59; Hb 12,23). Em razão deste espírito (pneuma) que o homem passa a ser considerado pessoa, dotada de vontade e inteligência.

- E o terceiro significado do termo “espírito” (pneuma) refere-

se a Deus. Deus é espírito em toda a sua essência e em toda a sua dimensão (cf. Jo 4,24). É um Deus que não está limitado a lugar, montanha ou, mesmo, à cidade de Jerusalém, nem tampouco a um espaço limitado dos céus.

5. O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA: Em muitos textos do Novo Testamento, que já vimos e

outros que vamos estudar detalhadamente adiante, o Espírito de Deus manifesta-se com personalidade toda sua, própria e distinta do Pai e do Filho.

O próprio Deus, respeitando a limitação humana que

associou a Sua ação por Seu Espírito a elementos da natureza, utilizou-se e ainda hoje se utiliza destes mesmos elementos para manifestar a presença do Seu Espírito. Não podemos, porém, nos fixarmos na idéia de que o Espírito Santo é uma ação de Deus, ou que é um vento, ou uma pomba, ou fogo. Estes elementos são símbolos ou sinais da presença e da ação do Espírito. Nosso relacionamento com o Espírito Santo deve ter por base o fato de que ELE É UMA PESSOA. Vejamos o conceito de pessoa: a reflexão humana define, distingue a PESSOA, como o ser vivo que possui inteligência e vontade, tem personalidade própria, de modo que não se confunda com outras, é capaz de apreciar outras pessoas e a si mesma. Assim, é necessário que nós nos esforcemos por conhecer o Espírito, falar com Ele, pedir-lhe sua ajuda e estar atentos às suas inspirações.

Abra para testemunhos de alguém que percebe ser o

Espírito Santo uma pessoa e que se relaciona com Ele assim. Em seguida, dê seu próprio testemunho sobre isto e crie uma expectativa nos alunos sobre a próxima aula, onde veremos como Jesus se relacionava com o Espírito Santo como uma Pessoa.

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Décima Aula

A Pessoa do Espirito Santo II I. PROCEDIMENTOS INICIAIS: 1. Oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus; 2. Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração; 3. Preenchimentos da lista de freqüência dos alunos; 4. Avisos

II. ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. O Espírito Santo e Jesus nos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) 1.1 Na Encarnação do Verbo 1.2 Na pregação de João Batista 1.3 No Batismo de Jesus 1.4 Nas ações de Jesus 2. O Espírito Santo no Evangelho de São João 2.1 São João fala da presença do Espírito Santo no Sacrifício de Jesus 2.2 São João fala da presença do Espírito Santo na Ressurreição de Jesus 3. O Espírito Santos nos Atos dos Apóstolos

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA: A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO II

1. O ESPÍRITO SANTO NOS EVANGELHOS SINÓTICOS: Cronologicamente, a primeira referência que temos nos

Evangelhos ao Espírito Santo é em Lucas 1,15, quando se faz o anúncio do nascimento do precursor (João Batista), que seria cheio do Espírito Santo no ventre de sua mãe: "porque será grande diante

do Senhor e não beberá vinho nem cerveja, e desde o ventre de sua

mãe será cheio do Espírito Santo"; o que se cumpriu em Lucas 1, 41: "Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança

estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do "Espírito Santo". Veja estas duas passagens com seus alunos, analisando

como no Novo Testamento o Espírito Santo - certamente por influência da revelação feita por Jesus - é apresentado como uma Pessoa da Santíssima Trindade que age em conjunto com o Pai e o Filho, para interferir na história da humanidade através do derramamento de poder, unção, graça e amor.

1.1 Na obra da Encarnação:

Analise com seus alunos as passagens de Mateus 1,20 e

Lucas 1,35. Compare com o momento da Criação (Gen 1), quando o Espírito junto com o Pai e o Filho dão origem a vida. Aqui, nestas duas passagens, a Pessoa do Espírito Santo é responsável também junto com o Pai de gerar Jesus no ventre de Maria. A diferença é que no texto de Gênesis este Espírito aparece como Deus que é espírito, aqui já aparece como uma das pessoas da Trindade que com o Pai gera o Filho em Maria. É importante ressaltar que o Filho foi "gerado", não "criado" e que é e continua sendo por toda a eternidade "consubstancial ao Pai" "um com o Pai e o Espírito Santo". Chame a atenção para a diferença entre "encarnação" e "criação". Na Encarnação Deus realiza o ato de fazer com que o Verbo - que sempre existiu, pois não tem princípio nem fim - se tornasse carne. Na criação, Deus realiza o ato de dar a vida do nada.

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Entre os profetas e servos de Deus do Antigo Testamento, as manifestações do Espírito Santo sempre eram ocasionais e transitórias. Para que o dom se tornasse definitivo, era preciso que se realizasse o gesto inigualável, correspondente às aspirações do Profeta: "Sois vós, Senhor, o nosso Pai... Porque, Senhor, desviar-nos para longe dos vossos caminhos?... (Is 63,16s)" Oh! se rasgásseis os céus, se descêsseis (Is 64,1).

"Os céus abertos", Deus descendo à terra a fim de

converter os corações... esta será com efeito, a obra do Espírito Santo, manifestada na Encarnação do Verbo.

João 1,14: O Verbo que se fez carne para manifestar-se

aos homens, já existia desde sempre (Jo 1,1; I Jo 1,2). E começou a ser carne no seio de Maria, por obra do Espírito Santo.

O Espírito Santo tem assim, papel fundamental na vinda

de Jesus ao mundo, e em toda a obra de nossa salvação.

1.2 Na pregação de João Batista

Em Lucas 3,16 (Mt 3,11s; Mc 1,6-8; Jo 1,26-34). Nesta

passagem e em suas paralelas, João Batista diz que é Jesus quem "batizará no Espírito Santo". Sabemos que "batizar" significa "mergulhar". Jesus, de fato, é o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1,29) que, nos resgata da escravidão do pecado, com seu sangue derramado e nos "mergulha no Amor Unificador da Trindade - o Espírito Santo - que, por sua vez, testemunha Cristo ao nosso próprio coração e (cf. I Cor 12,1-3) e ao mundo (cf. At 2). Este "mergulho no Espírito de Deus", nos insere na Trindade, tornando-nos templos do Espírito (cf. I Cor 3,16). Assim, o batismo de João Batista não era um sacramento, mas um sinal de arrependimento e de adesão à doutrina de preparação para a vinda de Cristo; enquanto que o Batismo de Jesus é "no Espírito Santo", quer dizer, na "Pessoa do Espírito Santo", sendo um sacramento, um "sinal eficaz" que nos insere na própria Trindade. Ele nos torna-nos filhos de Deus (cf. Rm 8,1-27), torna-nos novas criaturas (cf. II Cor 5,17; Tia 1,18), faz de nós testemunhas do Evangelho (Jo 14,16-20; Lc 12,12) e leva a Igreja a clamar pela nova vinda de Cristo (Ap. 22,17).

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Atualmente se usa muito a expressão "batizar no Espírito Santo". Esta é uma expressão inadequada, retirada do livro dos Atos dos Apóstolos, quando a Igreja fazia ainda uma diferença entre o "batismo de João" - pela água - e o "batismo no Espírito", ou imposição de mãos para receber o Espírito Santo. Um bom exemplo disto é Atos 18,25 e 22,16, para o "batismo de João" e Atos 10, para o "batismo no Espírito" (isto é, ministrar a efusão do Espírito pela imposição das mãos) e Atos 1,1-5 para a diferença entre os dois. Devido a esta prática que persiste até hoje, devemos substituir a expressão "batismo no Espírito Santo ( = mergulho no Espírito Santo) por" efusão do Espírito Santo" (= transbordar do Espírito Santo), uma vez que o Espírito Santo está em nós desde o batismo sacramental.

1.3 No Batismo de Jesus:

Em Mateus 3,13-17 (Mc 1,9-11; Lc 3,22; Jo 1,32),

percebemos novamente a presença da Trindade, onde o Espírito de Deus se manifesta sob a forma de uma pomba a fim de ser visível e reconhecível como um sinal a João (Jo 1,32). Vem desta passagem a representação do Espírito Santo como uma pomba.

João Batista é possuído pelo Espírito Santo de modo

especial, três meses antes de nascer (na visitação de Maria a Isabel). Mas, ao esperar pela vinda do Messias, esperava ou aguardava uma nova manifestação do Espírito Santo, a qual substituísse o Batismo de arrependimento que ele pregava. Porém Jesus o surpreendeu, quando quis ser "Batizado" no mesmo lugar em que João batizava. O Espírito Santo então se manifesta sobre Ele numa forma ao mesmo tempo simples e divina revelando a divindade sem parecer agir, porque quem fala é o Pai. Contudo, Sua presença é indispensável para o diálogo entre o Pai e o Filho. É o Espírito Santo que faz com quem o encontro se realize, que comunica a palavra de complacência, de orgulho e de amor que Lhe vem do Pai, e que O coloca na atitude de Filho. E o Batismo de água, que João julgava abolido, torna-se, pelo gesto de Jesus, o que futuramente será usado para nós.

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Então, no Batismo de Jesus, percebemos a presença das Três Pessoas da Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, cada qual com a sua personalidade própria.

1.4 Nas ações de Jesus:

Nenhuma criatura tem o Espírito Santo tão plenamente

quanto Ele: "Além de toda medida" (Jo 3,34) como também do modo dele: Ele não sente o Espírito Santo como um força que lhe vem de fora e o invade: Ele é um com o Espírito Santo (Jo 16,14s). Todas as ações de Jesus manifestam que nele age permanentemente o Espírito Santo. "Cheio do Espírito Santo", Jesus manifesta-O por todos os seus gestos. É o Espírito que O conduz ao deserto, para prepará-lO pela oração e jejum para sua missão (Mt 4,1; Lc 4,1).

Faça um paralelo com o dia a dia dos alunos,

especialmente em referência a decisões importantes que tenham de tomar na vida. Como, nestas e em outras ocasiões fundamentais, devem pedir ao Espírito que os leve ao deserto e lhes fale ao coração (cf. Os 2,16); é "cheio da força do Espírito Santo" que Jesus volta para a Galiléia (Lc 4,14) e ensina nas sinagogas, proclama que o Espírito Santo O ungia para que Ele cumprisse a sua missão de Salvador do mundo (Lc 4,18s; Mt 12,18-21). É pelo Espírito Santo que Jesus expulsa os demônios (Mt 12,22-35). Toca-se aqui no ponto crucial do pecado contra o Espírito Santo, que consiste em atribuir-se ao demônio algo que é feito por Deus, exatamente como ocorreu aqui nesta passagem: os fariseus, que conheciam a Lei e o poder de Deus, ainda assim atribuem a Belzebu algo que havia sido feito pelo Espírito Santo de Deus. Este episódio mostra o quanto Deus é cioso da ação do Espírito na Trindade, no nosso coração e na Igreja.

Nas passagens de Mc 13,11; Mt 28,16-20 (Lc 24,44-49;

Mc 16,15-18; Jo 20,21s) e suas paralelas, percebemos que o Espírito Santo é uma pessoa atuante na evangelização, aliás, é somente no Espírito e pelo Espírito que se dá a verdadeira evangelização, pois Ele é o seu autor.

2. O ESPÍRITO SANTO NO EVANGELHO DE SÃO JOÃO:

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Embora Lucas seja conhecido como "Evangelista do Espírito Santo", é João quem o menciona mais vezes e quem dá uma doutrina mais detalhada sobre a sua ação.

Na passagem de João 3,1-15, o Espírito Santo é

apresentado como "Espírito" e como "vento", manifestando que Ele é uma Pessoa que realiza o renascimento do homem no Espírito.

Em João 3,25-36 encontramos a presença das Três

Pessoas da Santíssima Trindade, o Pai e o Espírito Santo que testemunham o Filho, o Filho e o Espírito Santo que testemunham o Pai e o Pai e o Filho que testemunham o Espírito Santo concedendo-Lhe sem medidas.

2.1 São João fala da presença do Espírito Santo no Sacrifício de

Jesus:

Jo 7,37-39; Jo 14,16-26; Jo 15,26s; Jo 16,1-15. Jesus manifesta o Espírito Santo que vive nEle e com Ele

por todos os seus gestos, mas não pode mostrá-lO como distinto dele mesmo. Para que o Espírito Santo seja derramado e reconhecido, é preciso que Jesus parta. Enquanto Jesus vivia sua vida terrena, os discípulos nada temiam porque Jesus sempre tomava sua defesa e os livrava de qualquer embaraço. Depois que Jesus partiu, o Espírito Santo tomará Seu lugar de Paráclito (Defensor). Porém, Ele não falará em Seu próprio nome, mas em nome de Jesus, de quem é inseparável: relembrará aos discípulos os seus gestos e palavras, dando-lhes a verdadeira compreensão delas mesmas; Dar-lhes-á forças de enfrentar o mundo "em nome de Jesus", de descobrir o sentido de Sua morte e de dar testemunho do Mistério divino que se esconde atrás destes acontecimentos. Convencê-los-á do amor de Deus, do próprio pecado, do triunfo da verdadeira justiça e da derrota de Satanás.

Por isto, quando chega a "hora de Jesus" (Jo 13,1/ Jo

17,1), este entrega o seu espírito nas mãos do Pai (não se trata do Espírito Santo, mas de Sua alma). Porém, o Pai e Jesus glorificado derramarão Sua presença no Espírito Santo que nos será dado em Pentecostes.

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2.2 São João fala da presença do Espírito Santo na Ressurreição de

Jesus:

Jo 12,23-32; Jo 19,30; Jo 20,22ss. Morto e Ressuscitado, Jesus traz à Igreja o dom do

Espírito. Um homem que morre, por maior que tenha sido, e continue a influência de sua memória entre os povos, está fadado a pertencer ao passado e suas idéias e influências serem substituídas por outras melhores e mais modernas. Suas palavras e idéias podem passar adiante, mas ele não tem mais nenhum poder sobre elas, que ficam à mercê das mudanças e interpretações particulares de cada um. Jesus, pelo contrário, quando morre, entrega seu espírito a Deus e, depois de Ressuscitar e subir aos céus, exaltado à Sua direita, derrama sobre a humanidade o Espírito Santo, que guardará intacta a verdade, e mais ainda, será o portador de Sua presença real, e não apenas de suas idéias.

No Evangelho de São João, vemos acentuadamente e

com maior riqueza de conteúdo o Espírito Santo como Pessoa. Jesus fala do Espírito Santo com o termo "Paráclito", que significa: consolador, advogado, defensor, aquele que segura a outra ponta. Alguém que inteligente e amorosamente socorre, defende, consola, auxilia e cujas atividades que serão desempenhadas são próprias de uma pessoa.

Jesus, através do Espírito, nos assegura a presença e a

assistência de um outro consolador até que Ele venha por uma segunda vez. É o Espírito Santo que guiará e ensinará sobre o pecado, a justiça e o juízo, além de conduzir à verdade plena. Não "falará de si mesmo, mas "dirá" tudo o que ouvir e anunciará as coisas futuras (cf. Jo 16,8-13). Por estas razões, o Espírito Santo não pode ser uma força ativa, que não possui inteligência, pois só uma pessoa pode falar, confortar, iluminar, guiar e confirmar. O Espírito Santo tem diversos nomes, como já vimos, mas Ele é uma Pessoa.

A obra do Paráclito é convencer o mundo a respeito do

pecado, que consiste em não crer em Deus. Ele vem nos ensinar a crer em Deus. Ele vem nos revelar concretamente a existência de Deus que é amor, vem nos convencer a cerca do amor de Deus por nós, e nos leva a ter uma experiência com o Pai, que é nosso Criador,

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que é nosso Salvador que é Aquele que nos santifica, que nos sustenta, que providencia tudo para nós. O Espírito nos faz ser cristãos, retirando-nos da vida pagã, da vida natural, puramente humana, puramente materialista.

O Espírito Santo, Paráclito, o Espírito da Verdade nos

convencerá a respeito da justiça, porque Jesus vai para junto do Pai para nos justificar. Nada pode justificar os nossos erros, os nossos pecados, nem os traumas, o sofrimento, as nossas obras, as nossas próprias punições e tantas outras coisas que nos apegamos para nos justificar. O Espírito Santo vem nos fazer compreender e experimentar a justificação de Jesus.

São João também nos diz que o Espírito Santo nos

convencerá a respeito do juízo, que consiste que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado com todas as sus obras que são mortas, com todas as suas seduções. O Espírito Santo denuncia as obras do mal, faz-nos discernir as obras das trevas e nos torna livres para optar sempre pelo bem.

A pomba, no Batismo de Jesus, e as línguas de fogo, no

dia de Pentecostes, são a missão visível do Espírito Santo, enquanto que a comunicação de um dom e de uma graça são a missão invisível, espiritual do Espírito Santo. No entanto, todos os dois modos são realizados Ele.

3. O ESPÍRITO SANTO NOS ATOS DOS APÓSTOLOS: O Livro dos Atos nos mostra um dos períodos de maior

vitalidade do Espírito Santo na Igreja. Não que a Sua vitalidade jamais tenha diminuído (Ele é Deus e não muda), mas a nossa fé e abertura a Ele oscilam no decorrer da história da Igreja.

Em Atos 1,8, Jesus nos revela que a Pessoa do Espírito

Santo, a pessoa divina, terceira pessoa da Santíssima Trindade, nos dará a força de sermos suas testemunhas, onde nós estivermos. O Espírito Santo agindo poderosamente em nós, nos fará testemunhas autênticas de Jesus Cristo. Dar-nos-á a sua força, que é um dom.

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Jesus distingue claramente a força que os apóstolos receberão e Aquele que dará esta força com a sua vinda.

Em Pentecostes o Espírito Santo é derramado sobre a

Igreja, formada pelos discípulos reunidos no Cenáculo. E Sua ação apresenta primeiramente dois aspectos: um aspecto exterior, que são os prodígios e milagres (sinais), um aspecto interior que é conversão e o perdão dos pecados, para em seguida lançar os seus fiéis "até os confins da terra", a fim de colaborarem com o Espírito na Sua obra, que não está presente somente no ponto de partida, mas acompanha e guia todas as ações dos que a Ele se entregam docilmente.

Em Atos 2,1-36, no dia de Pentecostes, vemos os frutos

maravilhosos e concretos da presença e ação pessoal do Espírito Santo, pois, com a Sua chegada Ele concede os dons divinos, que só podem ser dados necessariamente por uma Pessoa divina. Com a Sua chegada, Ele concede aos apóstolos uma capacidade sobrenatural que os transforma em verdadeiras testemunhas de Jesus.

Cada nação que há debaixo do céu viu e ouviu os

apóstolos proclamarem as maravilhas de Deus em sua própria língua. O Espírito Santo não deixa, portanto, que a Boa Nova de Deus fique acorrentada, mas faz com que se difunda larga e poderosamente.

O Espírito Santo também realiza a unidade, a comunhão

dos fiéis entre si e com Deus. Todos são atraídos ao redor de Deus, formando a Igreja.

Percebemos ainda que o Espírito Santo cura, liberta e

fortalece aqueles homens que antes estavam fechados, medrosos, incapazes de serem testemunhas de Jesus, para todos os povos de todos os lugares. Como um vento impetuoso poderia proporcionar mudanças tão profundas e radicais, e graças especiais? Somente uma pessoa divina poderia conceder graças divinas: a cura, a libertação, a mudança de vida, de mentalidade, a santificação, a compunção de corações.

O Espírito Santo era concedido a todos e com Ele todas

as suas características pessoais, os seus dons, a sua graça, não por

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fim último de dar-se a conhecer à alma, mas porque quer que façamos uso dessas graças, pois a sua posse e uso tornam-nos participantes da Vida divina. Tudo isto não era mais privilégio de alguns, mas de todos aqueles que cressem e se abrissem à Sua ação, para "todos que ouvissem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus" (At 2,39).

"Ser cheio do Espírito Santo", ser "pleno do Espírito

Santo", significa ser cheio, ser pleno da força, das virtudes, dos dons concedidos pela Pessoa do Espírito Santo. É comparável a um pai de família que transmite à sua mulher e filhos sua riqueza interior: o amor, alegria, confiança etc. Ficar sem a sua presença é ser privado da participação de sua riqueza interior. Portanto, não é ficar repleto de uma pessoa, mas repleto das suas virtudes e dons que emanam da presença do Espírito.

"Falar em outras línguas" é um dom que só o Espírito

Santo possui, mas Ele concede aos discípulos o poder ou capacidade de falarem em outras línguas. É alguém que doa alguma coisa que é Sua, ou seja, o Espírito Santo doa o falar em línguas.

"Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido do Pai o

Espírito Santo prometido, derramou-o como vós vedes e ouvis" (At

2,33s). Este verbo "derramar" empregado para descrever a ação do Espírito Santo, não tem o significado ou idéia do ato de derramar, como se o Espírito Santo fosse um líquido. Ao contrário, significa sempre uma atividade de uma Pessoa que através da sua presença divina penetra o cristão. Ou seja, Ele penetra uma realidade impessoal que se distingue claramente do seu doador e que é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

Em todo o livro dos Atos dos Apóstolos nos é apresentada

a ação do Espírito Santo, o que confirma mais e mais que Ele é uma pessoa e admirável.

O Espírito Santo é alguém que tem pressa em instaurar o

Seu Reino, em estabelecer e fazer com que a Igreja se desenvolva e ainda atingir e transformar a vida de cada fiel. É o que percebemos claramente neste livro dos Atos: depois de seu envio no dia de Pentecostes, encontramos frutos de conversão (Atos 2,37). Os primeiros cristãos se tornaram profundamente virtuosos (Atos 2,42-

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47), possuíam um só coração e uma só alma, oravam todos cheios de grande graça e não havia entre eles nenhum necessitado (Atos 4,32-35). A assistência da Pessoa do Espírito Santo fazia com que os Apóstolos "anunciassem com intrepidez a Palavra de Deus" (Atos 3,12-26; 4,1-12.31; 5,20-32; 7,1-53; 13,16-52; 14,21; 17,22-34; 20,17-38; 22,1-22; 26,1-23) e a Igreja crescesse em número (Atos 9,31). Era reconhecida a Sua ação na vida dos Apóstolos, pois se admiravam a coragem e a sabedoria dos Apóstolos, que eram "homens iletrados e sem posição social" (Atos 4,13). Enfrentavam açoites, prisões, humilhações, mais em primeiro lugar obedeciam a vontade de Deus (Atos 4,19. 5,29). Por suas mãos realizavam-se entre o povo muitos milagres e prodígios (Atos 3,6-10; 5,12-16; 6,8; 8,4; 9,32-43; 14,8-10; 19,11s; 20,9-11; 28,1-10).

O Espírito Santo, que é o próprio Deus, demonstra assim

a sua atividade e ação, que sempre existiu, mas que no Novo Testamento aparece de uma maneira clara e concreta. É desta forma que Ele é e continua sendo a "alma" da Igreja, a "respiração" da Igreja, a "vida" da Igreja e quer ser presente e atuante em nossas vidas.

Todas essas atividades dos Apóstolos eram a ação, a

força ativa da Pessoa do Espírito Santo, que as transformaram em canal de graças para os seus irmãos (Atos 8,18-25.34-40; 10,44-48; 16,11-15; 19,6); que os fizeram perceber a astúcia do demônio (Atos 5,1-11), que os tornaram cheios de sabedoria, de autoridade, de firmeza, de terem um apostolado cheio de vigor, de força, de eficácia, pois se deixavam conduzir pela inspiração do Espírito Santo (Atos 21,4) e tinham coragem de ir até as últimas conseqüências, ao ponto de não se importarem não só de serem presos, mas até de morrer pelo nome do Senhor Jesus (Atos 21,13s). Eles mesmo reconheciam que todas as ações de Jesus, a força, a coragem, a decisão de fazer a Vontade do Pai, todo o bem que Ele fez e continua fazendo, tem como autor a Pessoa atuante do Espírito, a unção do Espírito Santo (Atos 10,38).

Precisamos estar conscientes da importância do

relacionamento íntimo que precisamos ter com a Pessoa do Espírito Santo, depois de termos conhecido mais profundamente a sua ação poderosa, não só na nossa vida de apostolado, mas também na nossa vida pessoal.

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Quando nós experimentamos uma consolação, uma

doçura que inebria a nossa alma, quando nós reconhecemos os nossos pecados que nos faz derramar lágrimas de arrependimento sincero, e engolirmos as palavras do sacerdote ao pronunciar a nossa absolvição e o coração, a alma se estremecer de alegria pela reconciliação e a paz com Deus. Quando oramos com fervor, o nosso coração nada em delícias do céu e as horas passam ligeiras e não trocaríamos estas horas por todas as alegrias da terra. Pois bem toda essa felicidade, essa consolação, essa alegria, esse fervor, essa força é o Espírito Santo, é a ação do Espírito em nossas vidas.

Imaginemos como não vai ser nossa alegria, nosso prazer

no céu, já que desde agora mesmo pobres e cheios de miséria, nosso coração goza de tanta alegria e arrebatamento sob a ação do Espírito Santo.

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Décima Primeira Aula

A Pessoa do Espírito Santo III I. PROCEDIMENTOS INICIAIS: 1. Oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus (Rhema); 2. Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração; 3. Preenchimento da lista de freqüência dos alunos; 4. Avisos.

II. ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. O Espírito Santo na carta aos Romanos 2. O Espírito Santo e nós

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO III 1. O ESPÍRITO SANTO NA CARTA AOS ROMANOS: Tome Rom 8 e leia até o versículo 27, pedindo que os

alunos sublinhem toda vez que encontrarem a palavra Espírito escrita com letra maiúscula (as vezes em que esta palavra aparece aqui em minúscula ela não se refere ao Espírito Santo de Deus).

Para que nós possamos compreender o que S. Paulo diz

sobre o dom do Espírito no capítulo oitavo da carta aos Romanos, precisamos antes compreender o significado do Pentecostes e da nova aliança.

Assim exclama Sto. Agostinho: "Quem não ficaria

impressionado desta coincidência e, simultaneamente, desta diferença? Contam-se cinqüenta dias da celebração da Páscoa até o dia em que Moisés recebeu a lei em tábuas escritas pelo dedo de Deus; da mesma forma, cinqüenta dias depois da morte e ressurreição dAquele que, como cordeiro foi conduzido à imolação, o Dedo de Deus, isto é, o Espírito Santo, enche de si todos os fiéis reunidos" 20

As profecias de Jeremias e Ezequiel, citadas anteriormente (item 3.2), nos esclarecem sobre o significado da nova aliança: "Eis a aliança que, então, farei com a casa de Israel - oráculo do Senhor: Incutir-lhe-ei a minha lei; grava-la-ei em seu coração. Serei o seu Deus e Israel será o meu povo."(Jr 31,33). A lei de Deus não era mais gravada em tábuas de pedra, mas nos nossos corações. Não era mais um mandamento (lei) exterior, vindo de fora para dentro, mas um mandamento selado no mais profundo dos nossos corações, era agora um mandamento (lei) interior, vindo de dentro para fora. Recebíamos com a lei do Espírito a capacidade, o desejo, como se fosse a nossa própria vida, algo nosso, de praticar os mandamentos de Deus, e isto quem nos explica melhor é o profeta Ezequiel: "Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo, tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Dentro de vós meterei meu Espírito, fazendo que obedeçais as minhas leis e sigais e observais os meus preceitos"(Ez 36,26s).

20 Sto. Agostinho, De Spir. litt. 16, 28; CSEL 60, 182.

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Em seguida, analise com os alunos os seguintes temas: "A lei do Espírito de vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei

do pecado e da morte" (Rm 8,2). Enquanto o homem vive separado de Deus, parece-lhe um

obstáculo para sua felicidade (Ex: os Mandamentos parecem difíceis ou até impossíveis de se viver). O "homem velho" que há em nós vive até sem perceber numa revolta contra Deus, que parece querer o contrário de determinadas coisas que Ele deseja. Mas quando lhe vem o Espírito Santo, dá-se uma mudança em seu coração: O Espírito Santo atesta-lhe que Deus é verdadeiramente favorável e benigno, põe-lhe diante dos olhos tudo o que Deus foi capaz de fazer por ele, e o quanto a vontade de Deus é para o seu bem, pois Ele, que não poupou Seu próprio Filho em nosso favor, não é nosso inimigo, mas nosso aliado. E mais: faz-nos compreender que Seus Mandamentos nos foram dados para nosso bem, e que agora Deus não se limita mais a ordenar-lhe que façamos ou não algo, mas Ele mesmo faz conosco e em nós. Esta é a Nova Lei de que S. Paulo fala em Rom 8. Ele que havia sido fariseu, era profundo conhecedor da Lei. Na Epístola aos Romanos ele fala exaustivamente que a Lei (Torá) não tem poder de salvar, pois é "letra morta", isto é, não tem poder como mera palavra, de salvar o homem, pois ignora a salvação de Jesus, que é o que dá sentido e poder a toda a Lei e os Evangelhos. O Poder da Palavra de Deus vem da morte e ressurreição de Cristo que dá a vida e sentido à Lei. Assim, os judeus que não reconheceram Cristo viviam desta "letra morta" ou "lei do pecado e da morte", não no sentido de que esta lei mate, mas no sentido de que ela não tem o poder de dar a vida, uma vez que a vida vem pela morte e ressurreição de Jesus, que enviou o Seu Espírito para explicar a Lei, dar a vida à Lei, testemunhar a Lei em Jesus (cf. Jo 14 e 16).

Rom 8,2-5 - a lei do Espírito de Vida - a mentalidade nova

do Evangelho, com o poder salvífico da morte de Jesus e o testemunho do Espírito Santo.

- A lei do pecado e da morte - a Torá, cujo fundamento está

embasado em exigências legais e morais boas, mas não tem por fundamento a única coisa que pode salvar do pecado: a morte de Jesus. A lei exterior, só confere o conhecimento do pecado (cf. Rom

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3,20), mas não o elimina, não dá a vida, não modifica a situação interior, não influi no coração (cf. Gal 3,21).

Daí podemos concluir que mesmo hoje podemos viver a

religião como "letra morta" se resumirmos nossa prática `a obediência de leis morais sem um encontro pessoal com Jesus, sem uma vivência amorosa da Palavra com base na ação do Espírito de Deus. O pecado fundamental, que é o egoísmo, "o amor de si mesmo levado até ao ódio de Deus" 21não pode ser apagado apenas pela observância da lei, mas somente com a redenção feita por Cristo.

- A salvação era impossível à Lei (v. 3), pois a carne a

tornava impotente. Embora a Lei tenha sido inspirada por Deus, ela não contém em si a salvação, pois a Lei não testemunha a salvação. Somente o Espírito Santo testemunha a salvação, que é impossível à carne e é possível somente ao próprio Deus, que a imprime em nossos corações pelo Espírito Santo.

- Deus condenou o pecado na carne (v. 3) ao enviar Seu

próprio Filho numa carne SEMELHANTE à do pecado, isto é, semelhante à nossa. Jesus tem duas naturezas (humana e divina), mas é uma só Pessoa (divina). Daí somente a Ele ser possível vencer o pecado na carne (por sua natureza e pessoa divinas) e pagar com sua morte o resgate por todo homem.

- Com a morte e ressurreição de Jesus e o envio do

Espírito Santo, a santidade (justiça) que a Lei de Moisés prescrevia (mas não tinha poder de realizar) foi realizada nos que conhecem e aceitam Jesus e a sua salvação. É o Espírito que imprime a Lei no coração do homem segundo a profecia de Ezequiel (Ez 11,19-20 + 36,26s) e o faz viver não mais segundo a mentalidade da carne, mas segundo o poder do Espírito que o santifica. Jesus arrancou na cruz todo rancor, toda a inimizade e ressentimento contra Deus. Libertou-nos da morte e nos concedeu a "vida", isto é, o seu amor pelo Pai, a sua obediência, o seu novo relacionamento com Deus e o seu "espírito de filho" 22

21 Sto. Agostinho - De civ. Dei, XIV, 28 22 cf. CANTALAMESSA Raniero, A vida sob o senhorio de Cristo, pág. 139.

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Rom 8,5-8 - a chave para o entendimento destes versículos é o versículo 8, que significa: somente podem agradar a Deus os que vivem segundo o Espírito de Deus, que revela a vontade de Deus, a verdade, que explica as Escrituras, que revela o que é a justiça e o julgamento (Jo 16), que habita em nós e nos impulsiona à santidade. A santidade não é o resultado de nosso esforço moral nem de qualquer esforço de boa vontade ou de força de vontade humana. A santidade é a docilidade e a correspondência ao trabalho de Deus em nossas almas através do Seu Santo Espírito. A carne não se submete à lei de Deus, sua aspiração é a morte, enquanto que o Espírito Santo faz nosso espírito submeter-se à lei do amor a Deus, ama o que é espiritual e aspira à vida.

Rom 8,9-11 - Analise versículo por versículo deste texto

com seus alunos. Eis o tema principal de cada versículo: - Versículo 9 - só pertence a Jesus quem tem o Seu Espírito

Santo, que nos é dado no Batismo. Assim, os batizados deveriam viver segundo o Espírito (em obediência a Deus, em amor a Deus acima de todas as coisas) e não segundo a carne, como infelizmente constatamos. É o fato de sermos batizados mas optarmos por viver segundo a carne que faz com que não nos diferenciemos dos pagãos, mas vivamos muitas vezes como "ateus práticos". Se o Espírito Santo habita em nós e nós damos espaço para que Ele haja e faça a Sua obra de santificação, vivemos segundo o Espírito e pertencemos a Jesus.

- Versículo 10 - mesmo vivendo ainda "neste mundo" - na

carne - podemos viver como filhos de Deus, no poder do Espírito Santo, na santidade e obediência amorosa a Deus, pois o Espírito Santo habita em nós e vive em virtude da salvação de Jesus.

- Versículo 11 - o Espírito Santo que ressuscitou Jesus dos

mortos nos ressuscitará dos mortos um dia e HOJE nos dá vida de ressuscitado, de renascidos no Espírito (Jo 3). Conseqüências: � Agora o homem conhece a Deus por Ele; � Agora o homem sabe que Sua vontade é a melhor;

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� Agora o homem sabe que por si mesmo é fraco e necessita de Deus;

� Agora o homem ama a lei de Deus e anseia por ela.

Romanos 8,12-17 - nada devemos à carne para vivermos

segundo a carne (ver Gal. 5,16-25). Ao Espírito, porém, devemos a vida de Cristo impressa em nossos corações. Assim, devemos viver segundo o Espírito Santo de Deus, produzindo os "frutos do Espírito" (cf. Gal. 5). Assim vivem os filhos de Deus: no Espírito e por Ele é isto que os diferencia do restante do mundo, que tende a viver segundo a carne e seus apetites.

Versículos 15-17 - espírito de escravidão - o espírito que

regia a Lei, pois tratava-se de uma série de prescrições morais (mais de 600) que, no entanto, não tinha apoio na salvação, como já dissemos. Assim, a Lei de Moisés torna-se, segundo o próprio Jesus (Mt 11,28), um "fardo", pois escraviza à letra morta.

- Viver no temor - viver no temor da lei e das punições que

ela trazia implícitas para os que não a cumprisse (cf. Lv 26,3-25) e não na obediência amorosa pelo poder do Espírito Santo.

- Espírito de adoção - pela morte e ressurreição de Jesus, e

pelo nosso batismo (que nos mergulha nesta morte e ressurreição) nos tornamos, de fato, filhos de Deus. Assim, somente por ação do Espírito Santo poderemos clamar "Abba! Pai!" como Jesus clamou tantas vezes. E o Espírito Santo que nos convence (dá testemunho) de que, na verdade, somos filhos e herdeiros de Deus, com todos os direitos que um filho de Deus pode ter.

- Co-herdeiros de Cristo - com Cristo, por Cristo e em Cristo,

herdamos o Reino dos Céus. Porém, esta herança vem de nos fazermos um com Cristo, como hóstias vivas oferecidas a Deus, vivendo por Cristo e em Cristo, mortificando as obras da carne (vivendo pelo Espírito e não pela carne), fazendo com que o sentido de nossa vida seja viver tudo em Cristo pelo Espírito Santo de Deus. O sentido da palavra "soframos" aqui não é o de buscar o sofrimento, mas o de unir a própria vida à de Cristo, ou melhor, de voluntariamente aderir à vida de Cristo que, por nosso batismo, já é inerente à nossa.

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Deus é nosso Pai, e não somos obrigados a viver segundo a mentalidade do mundo, mas segundo a mentalidade do nosso Pai. Pelo poder do Espírito Santo, devemos perder cada dia mais a afinidade com as más obras e adquirir cada dia mais a afinidade com o modo de ser de Jesus, pois somos filhos do mesmo Pai.

Romanos 8,18-25 - o versículo de sentido mais difícil é o 23,

onde "adoção e redenção do nosso corpo" significa a ressurreição da carne, uma vez que, em espírito fomos adotados já nesta vida com Jesus, pelo poder do Espírito Santo.

Romanos 8,26-30 - devemos estar firmes na esperança de

que Aquele que começou em nós esta obra há de concluí-la, desde que tenha a nossa adesão e colaboração. Para isto mesmo o Espírito Santo vem em nosso socorro, na oração e na ação, a fim de nos conduzir ao verdadeiro e Sumo bem que é Deus.

Romanos 8,31-39: O Espírito Santo faz esta obra de troca

de valores e de esperança nAquele que verdadeiramente pode salvar.

2. O ESPÍRITO SANTO E NÓS: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome

de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos aqueles que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus" (Atos 2,38s).

A intenção de Deus é conceder o Seu Espírito não só sobre

algumas pessoas escolhidas, mas sobre todos os homens, para continuar "no Espírito" a obra de Jesus. É o Espírito que nos assiste, nos conforta, nos fortalece, interioriza nossa fé, defende-nos e nos sustenta nas perseguições, converte-nos em arautos valorosos e fiéis. É o Espírito Santo que nos santifica, purifica-nos, e nos faz novas criaturas.

“No Antigo Testamento, fala-se do Espírito Santo como

sendo o sopro de Deus que cria e dá vida, que pousa sobre certas pessoas, investindo-as da sua força e dotando-as de poderes extraordinários para combater, governar ou profetizar”23, tudo em

23 CANTALAMESSA Raniero, A vida sob o senhorio de Cristo, pág. 138

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vista do bem comum do povo de Deus. Mas é especialmente através dos profetas, principalmente Jeremias e Ezequiel, que deixamos de observar esta ação pública e exterior do Espírito Santo, para receber a promessa de uma ação interior deste no coração de cada homem.

Sabemos que desde o pecado original todo homem nasce

culpado diante de Deus, e separado dEle pela falta daquela graça primeira, capaz de unir o homem a Deus, mas que o primeiro homem perdeu, e por isto não pôde transmitir. Mas sabemos também que Deus, na Sua infinita Misericórdia prepara para nós a vinda de Seu Filho, para assumir a natureza humana e nossa culpa, obedecendo a Deus até Sua morte de Cruz, e retornando ao Pai, para nos enviar o Espírito Santo.

Antes que tudo isto acontecesse, Deus já vinha preparando

o mundo para receber o Espírito Santo, que depois da Morte e Ressurreição de Jesus viria gravar Sua vontade no coração do homem e ao mesmo tempo capacitar o homem a cumpri-la, e assim alcançar a Salvação e a Santificação, a Graça nesta vida, e a Glória na vida futura (alguns passos desta preparação: preparação de um povo: Gen 12,1-3; promessa de Aliança: Gen 17,1-8).

A raça humana, que um dia conhecera o bem para a qual foi

criada, se desviara, e agora precisava reconhecer a Lei divina que rege seu caminho para o Pai. Por isto Deus começou por escrever, pelo Espírito, aqui intitulado "dedo de Deus", a lei nas tábuas de Pedra (ver Ex 31 todo, especialmente o versículo 18), para que este mesmo Espírito, após o Sacrifício de Jesus, viria para "escrever" a lei no coração do homem.

Deus promete isto através dos Profetas, especialmente

Jeremias 31,33 e Ezequiel 36,26-27. O Espírito Santo viria colocar a Lei divina dentro do coração do homem e capacitá-lo a vivê-la. E foi o que aconteceu em Pentecostes. É o que acontece com cada um de nós que recebe o Espírito Santo no Batismo.

“O Espírito Santo que, no Pentecostes, foi efundido sobre a

Igreja, provém da Páscoa de Cristo, é um Espírito pascal. . É o sopro do Ressuscitado"(...). Jesus, sobre a Cruz, "soprou" (cf. Jo 19,30) e isto, na linguagem de João, tem dois significados:

a. Um natural = deu o último suspiro, morreu;

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b. Um místico = emitiu o Espírito. Para João, o último suspiro de Jesus foi o primeiro respiro

da Igreja; a Igreja simbolizada pelos sacramentos do batismo e da Eucaristia (a água e o sangue), nasce da morte de Cristo. Este significado místico é confirmado pouco depois quando, na tarde da Páscoa, no cenáculo, o Ressuscitado "sopra" sobre os discípulos e diz: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20,22). 24

O Espírito Santo vem então ao nosso coração e começa a

realizar no nosso íntimo toda a obra de nossa Salvação, e vai progressivamente nos santificando:

a. Através da Sua presença, que é Trina (quando nos vem o

Espírito Santo, vem-nos o Pai e o Filho, já que os três são inseparáveis).

b. Através das virtudes, dons e frutos que O acompanham.

24 idem

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Décima Segunda Aula

Os Dons Infusos do Espírito Santo

I. PROCEDIMENTOS INICIAIS: 1. Oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus (Rhema); 2. Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração; 3. Preenchimento da lista de freqüência dos alunos; 4. Avisos

II. ROTEIRO DO CONTEÚDO: 1. Papel dos dons do Espírito Santo na vida espiritual 2. Dom do temor do Senhor 3. Dom da Piedade 4. Dom da Fortaleza ou Espírito de Fortaleza; 5. Dom da Prudência ou Espírito de Conselho; 6. Dom de Ciência ou Espírito de Ciência; 7. Dom do Entendimento ou Espírito de Inteligência; 8. Dom da Sabedoria ou Espírito de Sabedoria;

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA OS DONS INFUSOS DO ESPÍRITO SANTO

1. PAPEL DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA ESPIRITUAL E CRISTÃ.

Toda pessoa humana ao ser batizada recebe além da

habitação de Deus na sua alma, virtudes (Cf. I Cor 13,3; Sb 8,7), dons infusos ou de santificação (Is 11,1-2) e dons efusos ou carismáticos (I Cor 12,4-11). Com o batismo, o cristão nasce para a vida em Cristo, que pela intervenção do Espírito Santo o justifica e o renova em todo o seu ser, formando nele um filho de Deus. Os dons infusos ou de santificação são instrumentos poderosos de Deus para a construção da santidade em nossas vidas e os dons efusos ou carismáticos são instrumentos poderosos que nos capacitam a ser servos competentes e eficientes. Mas, para que isto aconteça, precisamos nos abrir à sua atividade, e à sua ação, tanto num caso como no outro.

Os dons infusos estão profundamente ligados às mais

elevadas operações da vida espiritual, isto é, eles realizam no homem uma atividade deiforme que consiste em revestir as almas dos "hábitos da Trindade", com o desaparecimento do "eu" para que só Deus tome as iniciativas.

O objetivo verdadeiro da atividade dos dons do Espírito

Santo portanto, é proporcionar a transformação do modo humano de agir para o modo divino, quer dizer, encaminham, conduzem as almas para a união transformante. A pessoa batizada inicia sua vida, essencialmente deiforme, imperfeitamente, pois não sabe ainda como agir para viver "à maneira de Deus" até que seja estabelecida, de modo permanente, na intimidade das Pessoas divinas.

A medida que o cristão avança na vida divina e nele

desabrocha a graça do batismo que o faz participante da natureza divina, que foi comunicada ao Filho pelo Pai e por ambos ao Espírito Santo e finalmente pela graça recebida no batismo, foi comunicada a todos nós. É desta graça recebida no batismo que deriva o sentido sobrenatural das virtudes e dos dons do Espírito Santo.

É importante levar os alunos a se abrirem para viver sob a

moção especial das Pessoas divinas, sob a ação do Espírito Santo que no princípio age moderadamente, mas progressivamente e se a

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alma é dócil, corresponde à Sua ação, Sua atividade é cada vez mais freqüente, mais rápida, até tornar-se permanente. Algumas pessoas pensam muitas vezes, que as moções do Espírito Santo são reservadas de forma exclusiva aos atos heróicos, e que eles são acompanhados de graças extraordinárias. Porém a alma que vive unida a Deus faz obras sobrenaturais, santifica as menores ações, diviniza os atos mais ordinários da vida, que longe estão de afastá-la, aproximam-na cada vez mais de Deus. O menor ato de Jesus Cristo, pelo fato de proceder da pessoa de um Deus, tinha um valor meritório, impetratório e satisfatório infinito.

Os dons infusos ou de santificação são o Temor de Deus,

dom da Piedade, dom de Fortaleza ou Espírito de Fortaleza ou ainda Coragem, dom da Prudência ou Espírito de Conselho, dom de Ciência ou Espírito de ciência, dom do Entendimento ou Espírito de inteligência e dom de sabedoria ou Espírito de Sabedoria. 25

2. DOM DO TEMOR DO SENHOR A Sagrada Escritura nos diz que o temor de Deus é o

princípio da Sabedoria (Prov. 1,7), pois só poderemos possuir a sabedoria divina se estivermos unidos tão estreitamente a Deus que nada possa nos separar dEle. Este dom consiste em um temor filial da alma que receia, rejeita, tem horror de causar uma ofensa ao Pai infinitamente bom, digno de toda fidelidade, quer dizer, consiste num horror ao pecado, que modera os ímpetos desordenados da nossa concupiscência, e nos impede de desgostar a Deus, afastando, com todas as forças, tudo quanto poderia desagradar a Deus. Portanto, este dom difere totalmente do temor mundano, que é o medo de desgostar os homens; do temor de pena, que é o medo de um mal terreno; do temor servil, que é o medo do castigo (este, muito embora impeça de pecar, não provém do amor).

O Espírito de Temor conserva a alma na humildade que

guarda a caridade, perfeita, e na temperança, que modera os prazeres sensíveis, pois a este dom está unida a Bem-Aventurança dos "pobres de espírito", que concede à alma uma perfeita docilidade ao Espírito Santo. "Os pobres de espírito" são aqueles que, desprendidos de tudo, só consideram a Santíssima Trindade como a única riqueza e só a ela ambicionam. Fora da Santíssima Trindade

25 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 192-193

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consideram tudo nada: nada nas criaturas, nada na memória e nos sentidos, nada nos bens espirituais e materiais, nada na inteligência, na vontade, no íntimo da alma, a não ser a presença da Trindade santa.

Sob a ação deste Espírito de Temor a alma, livre de todo

apego, de todo amor estranho a Deus, mergulha no seu nada, na sua miséria, reconhece que é pó, esvazia-se de si mesma, teme o menor pecado, a menor mancha, a menor imperfeição, o menor apoio na criatura. Experimenta a liberdade proporcionada pela pobreza, deseja apenas caminhar "só com o Só". O Espírito Santo impulsiona a alma a desapegar-se de tudo e a refugiar-se somente em Deus, longe de todas as coisas criadas.26

Alguns dos frutos alcançados através do dom do Temor do

Senhor são: - O reconhecimento do próprio nada e o vivo

reconhecimento da grandeza, da majestade de Deus, o que leva ao horror a tudo o que ofenda sua infinita majestade;

- Uma viva e profunda contrição das menores faltas

cometidas, porque reconhece-se a suma gravidade por terem ofendido a um Deus que é infinito e infinitamente bom, o que faz brotar um desejo ardente e sincero de reparar estas faltas, através de atos de penitência e de amor.

- Um profundo empenho e um cuidado incansável de evitar

as ocasiões de pecado. É importante esclarecer para os alunos que existe um

crescimento na vivência deste dom proporcional à abertura e docilidade a ação do Espírito Santo. Começa-se com um sentimento de horror ao pecado e força para vencer as tentações, porque se compreende o grande mal que é o pecado e o Sumo bem que é Deus. Mas ao nos abrirmos mais à ação deste dom, ele produz, além do horror ao pecado uma adesão a Deus, além de uma profunda reverência, o que nos leva a evitar não só os pecados, mas também as pequenas imperfeições, por amor a Deus e também a reverenciar tudo o que é divino, que é sagrado, como a Igreja, as Escrituras, os sacerdotes. E caminhando ainda mais em abertura a ação deste dom,

26 cf. idem, 201-202

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experimenta-se uma adesão tão profunda a Deus que nos impulsiona a nos afastar de tudo o que possa nos separar dEle. Fora de Deus tudo perde o valor, a alma sente-se livre e experimenta o desprendimento de todas as coisas. 27

Para nos abrirmos ao dom do temor de Deus, faz-se

necessário reconhecer a majestade de Deus, o quanto somos pobres, o quanto Deus está acima de todas as coisas, o que nos leva a nos inclinar somente para Ele, a termos "horror" ao pecado e a nos desprendermos de tudo fora de Deus. Só assim poderemos ter um amor filial para com Deus, conseguiremos suportar as tribulações, os sofrimentos, as tentações, viveremos sob a orientação do Espírito Santo, saberemos o que convém fazer e dizer, entenderemos as verdades reveladas e teremos o conhecimento das coisas criadas nas suas verdades. Porque o dom do temor do Senhor nos aproxima verdadeiramente de Deus e nos afasta de todo mal (Eclo 2,18-21a). Assim nos ensina Sta. Teresa D'Ávila através do seu livro Caminho de Perfeição: "Por amor de Deus, irmãs, se quereis adquirir este temor santo, prestai atenção ao que vos digo. Há grande necessidade de compreender a gravidade de uma ofensa a Deus. Havemos de nos aplicar sempre a estas considerações. E ainda mais enraizar em nossas almas o santo temor de Deus. Para nós é questão de vida ou de morte! Enquanto não o possuirdes, andai sempre com muito cuidado. Apartai-vos de todas as ocasiões e companhias que não vos ajudem a ir para o Senhor. Aplicai-vos com grande vigilância em dobrar vossa vontade em tudo o que fizerdes, e cuidai para que vossas palavras sejam edificantes. Fugi de onde houver conversas que não sejam de Deus. É necessário muito empenho para imprimir profundamente na alma este temor, o que, aliás, depressa se consegue, se deveras há amor. Haverá algumas quedas porque somos fracos e não podemos contar conosco.”28".

3. DOM DA PIEDADE O dom da Piedade produz em nós um amor filial para com

Deus, adorando-O com amor sobrenatural e santo fervor, e um amor verdadeiro para com os irmãos, seja quem for, e para com as coisas divinas.29

27 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, p.20 28 DE JESUS, Santa Teresa, Caminho de Perfeição, p. 244 29 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, p. 45

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O Espírito de Deus torna a alma mais consciente da

paternidade divina e da graça de adoção, o que vivifica todo o seu culto para com Deus, toda a sua oração é cheia de confiança, de intimidade, vai para Deus sem constrangimento, sem se deixar manipular por métodos rígidos e complicados, que poderiam paralisar os impulsos do coração de filho. Todos os seus movimentos são dirigidos a Deus como a um pai ternamente amado. A sua oração é um diálogo aberto, sincero, confiante de um filho para seu pai, longe de todo comércio interesseiro que embaraça tantas vidas de oração, cujo primeiro objetivo, ao se dirigirem a Deus, parece ser exclusivamente para mendigar socorros, graças. Este dom faz com que a Trindade seja para nós uma morada, lar, casa paterna, donde não queremos mais sair. Sentimos uma atmosfera familiar, como se estivéssemos inteiramente em casa.

O dom da piedade conduz a nossa oração em primeiro lugar

para o silêncio e a adoração, e faz-nos pairar acima de toda consideração interesseira, acima de toda necessidade ou benefícios, faz-nos olhar em primeiro lugar para o autor das graças, dos benefícios, das consolações. Isto não quer dizer que não façamos orações de súplica, de perdão, de intercessão, mas em nossa oração está em primeiro lugar o louvor e a adoração. É o puro Espírito de Jesus, que veio ao mundo, antes de tudo, para congregar em torno de si os verdadeiros adoradores, tais como o Pai procura (Jo 4,26).

Através do Magnificat, Maria Santíssima, impulsionada pelo

Espírito de piedade (de generosidade, de amor sem medidas, de amor puro e sincero), exalta a Deus, não somente por causa das suas "miséricórdias infinitas realizadas de geração em geração", tampouco pela graça de ser a mãe do Salvador, mas principalmente pela grandeza que Deus tem em si. Reconhece que Suas obras, Suas graças são apenas uma pálida manifestação da magnificência divina.

O dom da Piedade nos eleva acima de todos os motivos da

bondade divina para com o homem, nos faz só considerar Deus em Si mesmo e o mistério insondável das infinitas perfeições da essência divina no seio da Trindade. Este dom nos leva a penetrar nas mais íntimas profundezas da Divindade; perscrutar as riquezas mais ocultas da Natureza incriada. O motivo do dom da Piedade é a própria Santíssima Trindade, por isto leva a alma a adorar Deus por

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Ele mesmo e porque é Deus, não mais pelos seus benefícios, mas pela sua majestade, exclusivamente pela grandeza de Deus, pela própria Excelência Incriada, infinitamente superior a todos os dons. É sob a moção especial do dom da Piedade que a Igreja da terra canta o glória, todos os dias na Missa e impulsiona o seu olhar contemplativo às perfeições divinas. É a adoração de um amor admirado diante da beleza, da força, da grandeza imensa de Deus. Consegue perceber que Ele possui em Si toda a felicidade, toda a glória, e assim, esquece-se de si mesmo, perde-se de vista e só consegue olhar para Ele.

Este dom também nos leva a olhar os outros como irmãos e

produz em nós um desejo profundo de servi-los, de nos dar generosamente a eles. Precisamos crescer em todos os dons e aprofundar-nos na vivência concreta. Num primeiro momento, a pessoa se comunica com Deus e com os irmãos, em seguida essa comunicação passa a ser mais generosa, dando-lhes tudo o que é necessário, para depois ir além de lhes dar o necessário, dá-se a si mesma, para finalmente entregar-se sem reservas, em dar tudo e em dar-se a si mesmo.30

Alguns dos frutos alcançados pelo dom da piedade são: - Confiança ilimitada em Deus e abandono nas suas mãos; - Fraternidade; - Capacidade de se santificar alegremente dando-se a si

mesmo sem limites ( II Cor 12,15).

4. DOM DA FORTALEZA OU ESPÍRITO DE FORTALEZA O dom da Fortaleza é um dom de santificação que imprime

na alma um impulso, uma força que lhe permite suportar com paciência e alegria, sem murmuração, por amor a Deus, as maiores dificuldades e tribulações, todas as crucifixões da vida e se necessário empreender ações extraordinárias ou atos sobrenaturais heróicos: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fil 4,13); "Basta-te

30 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 207-209

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a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força" (II Cor 12,9).

Todos nós passamos por momentos de tribulações, de

sofrimentos, como doenças, perda de familiares queridos, desemprego, fracassos em empreendimentos. Precisamos do dom da fortaleza para podermos suportar e superar algo que humanamente é impossível de superarmos. É pelo Senhor em nós que conseguimos vencer toda e qualquer adversidade e desafios do dia a dia, não só as grandes e mais difíceis adversidades, mas também os pequenos desentendimentos, as alfinetadas da vida comum.

O dom da fortaleza nos faz cumprir nosso dever, praticar

mortificações voluntárias, não nos esquivar das provações, sem nos queixar, sem pedir ao Senhor que nos tire a cruz, mas nos dê forças para carregá-la. O Senhor nos concede através deste dom a força divina para se viver o calvário, a cruz; dá-nos a consciência do verdadeiro sentido da vida no meio da dor; nos faz reconhecer que Deus está em nós e que somos possuídos por Seu amor ao recebermos não só com paciência, mas com gratidão, o que nos fere e faz sofrer. Dá-nos a honra de partilhar os sofrimentos de nosso Esposo crucificado e ir à paixão com Ele, para com Ele sermos redentores.31 Ir. Elizabete da Trindade assim nos diz: "Há um Ser chamado Amor, que deseja viver em sociedade conosco. Ele está ao meu lado, fazendo-me companhia, ajudando-me a sofrer, ensinando-me a sobrepujar a dor para repousar nele... Como isto transforma tudo!" 32

Alguns dos frutos alcançados pelo dom da Fortaleza são: - Uma superação constante de nós mesmos em meio aos

desafios, às tentações, às provações e os acontecimentos difíceis; - Uma paz inalterável, sobrenatural; - A disposição firme para colaborar com o que é

necessário para a salvação de nossa alma; 5. DOM DA PRUDÊNCIA OU ESPÍRITO DE CONSELHO:

31 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, pp. 38-39 32 C 327, in. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 206

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O Espírito de Conselho é um dom de santificação que nos faz viver sob o a orientação do Espírito. O que falar? O que fazer? É tempo de calar ou de falar? É tempo de plantar ou arrancar? A resposta certa para estas perguntas com que muitas vezes nos deparamos nos é dada pelo dom de Conselho, que é o dom das luzes que nos orientam certamente. Desta forma é por excelência o dom de governar, pois é muito importante para aqueles que são constituídos em autoridade, concedendo-lhes um governo prudente e sobrenatural, que se preocupa antes de tudo com o bem espiritual das almas e da glória de Deus (Pai, Educadores, Coordenadores, Diretores espirituais, formadores...). No entanto não deixa de ser necessário a todas as almas para a perfeita orientação da vida de acordo com os planos de Deus. A esses ele dá uma docilidade vigilante em se submeterem a todos os desejos do Senhor manifestados por seus representantes legítimos.

Pelo dom do Conselho, o Espírito Santo nos fala ao coração

e nos faz compreender o que devemos falar e agir sem timidez ou incerteza, mas com toda a confiança, com a audácia dos santos. É através deste dom que são ordenadas as ações que provém dos demais dons de santificação. Ele nos faz ter a palavra decisiva que nos deve orientar para a verdadeira união com Deus, e para a vida daqueles a quem nós aconselhamos. Porém, retira de nós algum vestígio do pedantismo de quem pretendesse dar lições de moral; ao contrário, nos concede grande espírito de discrição, tato particular, verdadeira compreensão das situações e discernimentos dos meios mais rápidos para se chegar ao ápice da união divina.33

Alguns dos frutos alcançados pelo dom de Conselho: - Conhecer com segurança o que é da vontade de Deus

para sua vida e dos seus irmãos; - Conhecer os meios de agradar a Deus, ultrapassando o

que é obrigatório; - Deixar-se guiar pela mão de Deus, sem resistência, para o

caminho de perfeição a que Deus o chamou.34

33 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 211 34 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, pp. 52-53

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6. DOM DE CIÊNCIA OU ESPÍRITO DE CIÊNCIA Os dons de Ciência, Inteligência e Sabedoria nos fornecem

a chave da vida espiritual, da vida de intimidade com Deus, de união com Deus. Através do dom de Ciência que não é um conhecimento intelectual, nós conhecemos as coisas criadas nas suas relações com o Criador.

Explicando melhor, o dom de Ciência nos faz reconhecer

que as coisas criadas são vãs em si mesmas. Descobrimos o "nada" da criatura e o "Tudo" de Deus, experimentamos o vazio da criatura, do seu nada, porque nenhuma pode preencher o nosso coração, e ao mesmo tempo, descobrimos os vestígios de Deus na criação, reconhecemos que nas coisas criadas há uma centelha de Deus. "A ciência nos arranca a tudo e a nós mesmos para lançar-nos em Deus e vivermos dEle".35 O dom da Ciência nos leva a contemplar a glória de Deus em cada coisa criada. Não contemplamos as criaturas e as coisas criadas por si mesmas, mas porque nelas vemos a glória de Deus. Tudo canta a glória de Deus: o homem, as flores, a relva, as árvores, as montanhas, os vales, os animais, os rios, o mar, as cachoeiras, o vento, as nuvens, o sol, a lua, o dia, e a noite. Vemos de maneira nova as criaturas, percebendo nelas a manifestação da glória de Deus.

Este dom nos faz perder o fascínio pelas coisas materiais,

pela honra, glória, prazer, poder, o amor das pessoas... porque percebemos que tudo é nada diante do tudo que é Deus. Neste sentido passamos a ver o sofrimento e a humilhação de maneira nova, eles não ocorrem em vão, mas nos assemelham a Jesus Cristo.36

Alguns dos frutos alcançados pelo dom de Ciência: - O conhecimento profundo e perfeito das coisas que nos

cercam, sabemos distinguir o que é vão do que realmente tem valor; - A santa liberdade dos filhos de Deus, que desprezam de

maneira definitiva tudo que é próprio do mundo; - Ver as criaturas como obras do Criador;

35 Ir. Elizabete da Trindade, C184 36 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 212-214

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- A Verdadeira humildade, pois nos conscientiza de que o

sofrimento e a humilhação nos assemelham a Jesus Cristo.37

7. DOM DO ENTENDIMENTO OU ESPÍRITO DE INTELIGÊNCIA: “O dom do entendimento é um dom de santificação que nos

dá uma compreensão profunda das verdades reveladas, sem contudo nos revelar o seu mistério”.38 O seu efeito essencial “é fazer-nos penetrar o mais possível no íntimo das verdades sobrenaturais, às quais a fé se contenta em aderir só pelo testemunho exterior”.39

O plano de Deus, Sua vontade, ou mesmo uma realidade

divina podem estar escondidos por trás de acidentes, palavras, figuras, coisas sensíveis, nos vestígios imperceptíveis, nos menores acontecimentos da vida. Porém a alma atenta ao Espírito Santo, descobre de relance, sem o trabalho da inteligência humana, todo o plano da providência a seu respeito e a respeito de seus irmãos.

Este dom produz em nós efeitos maravilhosos, pela

penetração das verdades reveladas. Por exemplo, crer em Jesus vivo e real nas espécies eucarísticas.

É importante saber que as manifestações do Espírito são

diversas, de acordo com a pessoas e as circunstâncias. A uns, ele pode dar a compreensão da ação divina nas almas; a outros o sentido da Redenção, da providência; e a outros o conhecimento do mistério de Maria, da unidade da Trindade, etc..

Através deste dom também se compreende o sentido das

Escrituras. Basta às vezes uma palavra da Sagrada Escritura para nos dar "a luz da vida"(Jo 8,12). Por esse dom descobre-se o sentido das comparações: "Fomos, pois sepultados com ele (Jesus) na sua morte pelo batismo, para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova" (Rm 6,4); passamos a ver nos irmãos a pessoa de Jesus Cristo; constatamos a

37 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, pp. 56-58 38 idem, p.61 39 PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, p. 215

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graça de Deus nos Sacramentos; passamos a nos conhecer profundamente e a reconhecer a profundidade de nossa miséria.40

Alguns dos frutos alcançados pelo dom do entendimento

são: - A vida de contemplação, que é o olhar profundo a Deus, e

às coisas divinas; - Descoberta da providência divina nos acontecimentos

humanos; - Um conhecimento profundo de nós mesmos.41

8. O DOM DA SABEDORIA OU ESPÍRITO DE SABEDORIA

O dom da Sabedoria é um dom de santificação que nos faz

ter um conhecimento experimental de Deus, das suas criaturas, das relações entre Deus e as criaturas, das relações das criaturas entre elas. Não é só ter o conhecimento de tudo isto, que nos é permitido pelo dom de Inteligência, mas é nos fazer experimentar este conhecimento e saboreá-lo. Nós podemos assim "gozar de Deus"42. Pelo dom da sabedoria, apreciamos, saboreamos, gostamos de tudo o que Deus fez, faz e fará por nós e, ao mesmo tempo, fazemos o que é bom, ou seja, amamos a Deus e ao próximo.

Como experimentamos as verdades reveladas e a presença

amorosa de Deus através do dom da Sabedoria, é fortalecida em nós a fé, a esperança e a caridade, as virtudes infusas e as virtudes cardeais são praticadas com deleite. Este conhecimento nasce da experiência íntima com Deus.43

Alguns dos frutos alcançados pelo dom da Sabedoria são: - Um juízo reto para julgar as coisas e regular as nossas

ações;

40 cf. idem, p. 216-217 41 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, pp. 61-63 42 Sto Tomás, I, q. 43, a. 3,1 43 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, p. 220-222

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- Um gosto sobrenatural por tudo que se refere a Deus; - O conhecimento de experimentar paz e alegrias no

sofrimento, que não é mais rejeitado, mas até desejado, conforme colabore para a união com Deus;

- Uma vida celestial onde se olha de forma nova para as

coisas da terra e se vê tudo relacionado a Deus.

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Décima Terceira Aula

Os Carismas do Espírito Santo I

I. PROCEDIMENTOS INICIAIS: 1.: Oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus (Rhema); 2.: Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração; 3.: Preenchimento da lista de freqüência dos alunos; 4.: Avisos

II. ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. O Espírito Santo unge os batizados com a mesma unção espiritual de Jesus; 2. Os carismas e a vivência do nosso sacerdócio comum; 3. Os carismas são dados para o bem comum; 4. Dom de Ciência ou Palavra de Ciência 5. Dom de Sabedoria ou Palavra de Sabedoria

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA OS CARISMAS DO ESPÍRITO SANTO I

INTRODUÇÀO

Concebemos a Trindade como família ou comunhão originária que realiza e goza eternamente o mistério do amor. Nessa família existe apenas uma substância, um só coração e uma só alma, como se dizia dos primeiros membros da Igreja (At 4,32): cada Pessoa dá aos demais tudo o que possui. Dessa forma em mistério de unidade, as três realizam o encontro de amor originário: Deus é processo de generosidade ou geração que brota do Pai: Deus é acolhida ou filiação que descobrimos no Filho; finalmente, Deus é unidade e comunhão no Espírito Santo.

No credo professamos um Deus que em sua essência é Pai, Filho e Espírito Santo. Deus é comunhão de Três Pessoas: Deus é pessoa justamente porque é o Ser em diálogo, em relação. A primeira Pessoa é o princípio de tudo, é o Pai. A segunda Pessoa é o eternamente gerado pelo Pai, o Filho. E a terceira Pessoa é o Espírito Santo, expirado pelo Pai e pelo Filho. Deus é comunhão de Amor: desde toda a eternidade o Pai gera, no amor, o Filho dando-se a este inteiramente. Também desde toda eternidade, o Filho acolhe inteiramente o Pai, e se devolve a ele por completo. E esta relação de amor é uma Pessoa, o Espírito Santo.

A partir daí é que podemos traçar conseqüências importantes para nós. O Espírito Santo, por sua própria realidade comunitária, não pode encarnar-se como indivíduo na terra; por isso dizemos que se expressa, revela-se, ali onde faz surgir a comunhão. Sua presença só é possível onde fazemos surgir vida dando pelos outros a nossa vida. Assim é que a vida comunitária, como o Mistério Trinitário, completa-se na presença do Espírito Santo, que é pura comunhão que procede dali onde acontece a entrega no amor perfeito, comunicando e compartilhando todo o ser. Filho e Pai se define pelo amor mútuo, e como selo de sua entrega, convertemos nossa via em espaço de presença e vida no Espírito.

Assim é que confessar a Trindade é aceitá-la como modelo último de nossa vida. Quando nos esforçamos para Ter um só coração e uma só alma, e sabemos pôr tudo em comum para que ninguém sofra necessidade.

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Tome Jo 15,26-27. Não é possível testemunhar a Cristo sem

a força do Espírito Santo. É dele que recebemos a força para testemunhar. S. Cirilo de Jerusalém dizia que “se ninguém pode sequer dizer que Jesus Cristo é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo (cf. ICor 12,3), quem poderá dar a vida por Jesus a não ser sob a ação do mesmo Espírito Santo?”

As testemunhas por excelência são os mártires (que em grego, significa exatamente “testemunhas”), os de ontem e os de hoje, os quais doaram a própria vida até o extremo, para com Deus e para com os homens. Mas todo cristão é chamado a testemunhar o Evangelho com a doação da própria vida, ainda que isso não exija o martírio de sangue, mas o das dificuldades da vida cotidiana: solidão, doença, velhice, pobreza, incompreensões, fracassos da vida. Em todas essas coisas é o Espírito Santo que intervém para nos fazer experimentar, na provação e no abandono, a perfeita alegria” (Veja Tg 1,2 e IPd 4,14). Por isso, S. Francisco considera que “acima de todas as graças e dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos seus amigos, está o fato de vencer a si mesmo, e de boa vontade, por amor a Cristo, agüentar castigos, injúrias, opróbrios e incômodos”44. Que os batizados estejam conscientes de que ser cristão significa estar prontos para morrer por Cristo a cada momento, de tal modo que o martírio se prolongue assim em toda a sua vida.

Tome Jo 14,12.16. Precisamos deixar que o Espírito produza seus frutos em nossas vidas, e em primeiro lugar, o fruto do amor. Porém para que isso aconteça, precisamos nos deixar conduzir pelo Espírito (Gal 5,16). Pelo Espírito Santo poderemos fazer as mesmas obras de Jesus e até maiores, podemos amar como Jesus amou o Pai e a cada um de seus irmãos, podemos como Jesus fazer tudo por amor, indo até as últimas conseqüências, porque o Espírito de Jesus que habita nos nossos corações nos impulsionará como impulsionou a Jesus. Nós recebemos o dom do Espírito, e devemos produzir frutos do Espírito.

São Paulo nos ensina: “Aspirai aos dons superiores. E agora, ainda vou indicar-vos o caminho mais excelente de todos” (ICor 12,31), que é a caridade. Com estas palavras São Paulo quer dizer que devemos nos empenhar em ter os dons e usá-los abundantemente, mas usá-los por amor, porque é o amor sincero,

44 Fioretti, VIII

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autêntico que fará com que as nossas obras tenham valor de vida eterna, senão elas serão obras mortas. Todas as nossas obras passarão, mas ficará o amor pelo qual as fizemos (ICor 13,8). É muito importante como vimos anteriormente, vivenciamos o nosso apostolado no fogo do Espírito, com abundância dos carismas, mas tudo isso feito por amor a Deus e aos irmãos. Assim é que Santa Teresinha repete com o Apóstolo; “que os dons, mesmo os mais perfeitos, nada são sem o amor; que a caridade é a via mais excelente para ir seguramente a Deus”45 .

“Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas é ter-nos Ele amado, e enviado o Seu Filho para expiar os nossos pecados... nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (I Jo 4,10.19).

Nós só conseguimos amar porque Deus nos amou primeiro. Deus é a fonte do Amor, nos inunda de amor e é a partir daí que nós amaremos a Ele em primeiro lugar e aos nossos irmãos por amor a Ele. Somente experimentado e crendo no amor de Deus por nós é que nos tornaremos aptos a amar com o mesmo amor de Deus, e “todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (IJo 4,7)... “Se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amamos mutuamente Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito” (IJo 4,11-12), isto é, atinge a sua plenitude: é ao mesmo tempo amor de Deus por nós, o nosso amor a Deus e aos outros.

Deus demonstra seu amor por nós através das obras da Criação, de Sua providência, mas de uma forma especial através de Seu Filho Jesus Cristo, que ofereceu a Si mesmo, Seu Corpo, Seu Sangue, ao Pai por todos e cada um de nós. Jesus que sofre a agonia, o sacrifício cruento da cruz por amor a cada um de nós.

Devemos, então, mergulhar neste amor, no amor concreto a Ele e aos irmãos, de amá-lO e aos irmãos como o mesmo amor que Ele nos ama. Precisamos, portanto, “lançar fora o temor” (I Jo 4,18) para que o nosso amor seja perfeito. Precisamos obstruir todos os obstáculos que tentam nos impedir de nos deixarmos tanto de ser amados por Ele, como de amar os nossos irmãos, que com toda a certeza não serão poucos.

45Santa TERESINHA, História de uma Alma, p. 215

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Precisamos crescer no amor a Deus para que com a mesma

medida possamos amar nossos irmãos, porque “Se dissemos que amamos a Deus e não amamos os nossos irmãos, somos mentirosos” (I Jo 4,20). Se queremos conhecer a profundidade do nosso amor aos irmãos, “porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (I Jo 4,20). Além do que, este é o mandamento do Senhor: “O que amar a Deus, ame também a seu irmão.” Tome I Jo 4,16

Para vivermos esta vida de amor que deus nos indica como “o caminho mais excelente de todos” (I Cor 12,31), precisamos conhecer o amor de Deus por nós, experimentar concretamente em nossas vidas o amor de Deus, não um conhecimento intelectual, que fica à nível de nossa razão, que não se transforma em vida, mas um conhecimento do amor de Deus que penetra no mais íntimo do nosso ser, da nossa alma e nos faz novas criaturas. Para isto é necessário permitir que Deus demonstre o seu amor através de fatos concretos do dia a dia de nossa vida. Abandonar as nossas vidas nas mãos de Deus, par darmos oportunidades a Ele de demonstrar todo o seu amor concretamente através de grandes e pequenos atos de amor. Se não experimentarmos o amor de Deus por nós, não é porque Deus não nos ame suficiente e plenamente, mas somos nós que não damos espaço para que Ele nos demonstre o seu Amor. Só assim poderemos ir crescendo no conhecimento profundo de Deus porque “Deus é amor” e experimentar o seu amor é experimentar do próprio Deus.

A partir desta experiência verdadeira do amor de Deus, iremos crescendo também na confiança neste amor, até chegarmos a dizer como São João: “Eu creio no amor de Deus por mim”. Crer verdadeiramente no amor de Deus por nós é o caminho certo para vivermos a vida verdadeira, autêntica de filhos de Deus. É a mola propulsora de nossa vida cristã que atingirá todos os aspectos de nossas vidas. Sentir-se amado, estar convicto, ter a certeza de ser amado por Deus onipotente, crer firmemente no amor de Deus por nós, a condição primeira, necessária de todo o relacionamento verdadeiro entre Deus e o homem.

Tome I Cor 13,4-7. Estas palavras de S. Paulo sobre o amor verdadeiro, sobre a caridade, estas características da caridade são

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descritas por uma série de quinze verbos, que demonstram uma ação, uma atividade, não é algo abstrato, mas uma forma de comportamento que exige sacrifício, renúncia, empenho, exercício diligente. É pelas nossas ações que se conhece o verdadeiro amor, que sempre está pronto a obedecer, nunca afrouxar, nunca desanimar. “Nem todos os que dizem Senhor, Senhor, entrarão no reino dos céus.” (Mt 7,21)

“A caridade é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14) porque “a caridade é a plenitude da lei” (Rm 13,10) é o amor que nos capacita a sermos santos, ao alcançar a santidade, é o amor que nos faz ser virtuosos, é o único meio par se chegar a perfeição, é fazendo tudo por amor que se alcança a perfeição. Santa Teresinha nos diz: “Sem o amor, todas as obras não são nada, mesmo as mais brilhantes. Não, Jesus não pede grandes ações, mas unicamente o abandono e a gratidão; isto é, o amor”46. E acrescenta: “o Senhor não precisa de nossas obras, mas unicamente de nosso amor. Este mesmo Deus que declara não ter nenhuma necessidade de nos dizer se tem fome (Sl 49), não hesita mendigar um pouco de água à Samaritana... Ele tinha sede!... Mas dizendo: ‘ Dá-me de beber (Jo 4,7), era o amor de sua pobre criatura que desejava. Tinha sede de amor!’ 47

É o amor que nos faz pacientes, bondosos, humildes, conformados, sem nos irritarmos, sem procurar os nossos próprios interesses, sem guardar rancor, sem nos alegrar a injustiça, nos regozijando com a verdade, faz-nos tudo desculpar, tudo crer, tudo esperar, tudo suportar. Aquele que me ama, voa, vive alegre, é livre, nada o detém ... Dá tudo por todos e tem tudo em todos; pois acima de tudo, repousa o único Bem Soberano donde precedem todos os outros bens... O verdadeiro amor abrange dois aspectos importantes: o universo exterior, que a caridade das obras e das palavras, e o universo interior, que é a caridade interior. Precisamos viver então estes dois aspectos, pois seria um erro fatal contrapor entre si a caridade do coração e caridade dos atos. Nem se pode “fazer o bem” ”sem querer o bem”, ostentar algo por fora que não tem correspondência no coração, ter uma aparência de caridade, que na verdade pode disfarçar egoísmo, procura de si mesmo, instrumentalização, ou mesmo simples remorso de consciência ( I Cor 13, 1-3) e nem se pode “querer o bem” sem “fazer o bem”, apenas

46 Santa TERESINHA, História de uma alma, pp. 142e 209 47 Idem p. 210

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refugiar-se na caridade interior sem demonstrar concretamente (cf. Tg 2,16s; I Jo 3,18).

A caridade deve ser a raiz e o fundamento de tudo. Não adianta exercitar os dons de serviço (carismáticos) se for não for por amor, pois estas obras não terão valor de vida eterna, pois tudo passará, somente a caridade ficará. Todas as nossas obras passarão, mas o amor que nos impulsionou a fazer cada uma delas, ficará eternamente, como já foi dito: “A caridade jamais passará” (I Cor 13,8).

1. O ESPÍRITO SANTO UNGE OS BATIZADOS COM A MESMA UNÇÃO ESPIRITUAL DE JESUS.

Através do batismo todos os homens são regenerados para

a vida dos filhos de Deus, unidos a Jesus Cristo e ao seu corpo que é a Igreja e são ungidos pelo Espírito Santo, tornando-se templos espirituais. 48 "Foi num só Espírito que todos nós fomos batizados a fim de formarmos um só um corpo" (I Cor 12,13). Portanto todos os batizados vivenciam a "unidade misteriosa com Jesus entre si" (cf. Jo 17,21), todos somos ramos de uma única videira, Jesus Cristo. Além de desfrutarmos pelo batismo da unidade com o Cristo e com os irmãos, nos tornamos "pedras vivas" edificados sobre Cristo, "Pedra angular", destinada a construção de um edifício espiritual (cf. I Pd 2,4ss). O Espírito Santo então unge o batizado e com esta unção espiritual e ele pode repetir e assumir para si as palavras de Jesus: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu; enviou-me para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para por em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor" (Lc 4,18-19), porque a efusão batismal e crismal torna o batizado participante do tríplice múnus sacerdotal, profético e real de Jesus Cristo, enquanto membros da Igreja49. Isto vem nos certificar que os batizados são configurados em Jesus Cristo (cf. Fil 3,21) de uma forma total, inclusive em todas as suas atividades (cf. Rm 12,1s). Jesus mesmo disse: "Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crer em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas: porque vou para junto do Pai" (Jo 14,12).

48 cf. CL, 10 49 idem, 13

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2. OS CARISMAS E A VIVÊNCIA DO NOSSO SACERDÓCIO COMUM

Os dons provêm da intercessão que todos devemos praticar

em nosso sacerdócio comum recebido no Batismo: "Cristo Senhor, Pontífice tomado dentre os homens, (cf. Hb 5, 1-5), fez do novo povo “um reino e sacerdotes para Deus Pai” (Apoc 1,6; cf. 5, 9-10). Pois os batizados, pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados como casa espiritual e sacerdócio santo, para que por todas as obras do homem cristão ofereçam sacrifícios espirituais e anunciem os poderes d'Aquele que das trevas os chamou à sua admirável luz (cf. 1 Pd 2, 4-10). Por isto todos os discípulos de Cristo, perseverando em oração e louvando juntos a Deus (cf. At 2, 42-47), ofereçam-se como hóstia viva, santa, agradável a Deus (cf. Rom 12, 1). Por toda parte dêem testemunho de Cristo. E aos que o pedirem dêem as razões da sua esperança da vida eterna (cf. 1Pd 3, 15)." 50

No exercício dos carismas estamos vivendo a nossa

vocação sacerdotal, o nosso chamado de entregarmos as nossas vidas para o serviço do reino de Deus. Um serviço não mais vivido pelas nossas forças humanas debilitadas, mas pela força que brota da união com o sacerdócio de Cristo, que "se entregou por nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação" (Rm 4,25), o único que "tem por condição a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, em cujos os corações habita o Espírito Santo como num templo" .51

Dotados pelos carismas do Espírito Santo, submetidos a

Cristo Jesus, em unidade com a Igreja, somos chamados a fomentar a renovação e o incremento da mesma, como de todos aqueles que estão distantes e a estabelecer, então, “o Reino de Deus, iniciado pelo próprio Deus na terra, a ser estendido mais e mais até que no fim dos tempos seja consumado por Ele próprio, quando aparecer Cristo nossa vida (Col 3,4) e "a própria criatura será libertada do cativeiro da corrupção para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus" (Rom 8,21)52.

Somos chamados a desempenhar o apostolado da "vida

nova" (Rom 6,4) em Cristo Jesus, um apostolado vivido no Espírito Santo e na graça. Um apostolado vivido em comunhão com o Filho de

50 LG 10 51 Idem, 9, 25 52 Idem

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Deus (I Cor 1,9), com seus sofrimentos (Fil 3,10), temos "participação" no Seu sangue e no Seu corpo (I Cor 10,16). Um apostolado vivido em comunhão com o Espírito Santo ( II Cor 13,13). O Espírito que nós "participamos", nos alcança os dons espirituais, a caridade e os outros frutos seus, os carismas.

Estes dons aparecem como uma participação na pessoa do

Espírito: é uma pessoa divina que se comunica a si própria nos dons espirituais. Ele é intermediário entre Deus e os homens, comunicando-se aos homens, parece identificar-se com os dons que dEle emanam e assim penetrar nas realidades deste mundo.53

Através dos carismas o mundo vê Deus atuando em seu

meio, dando testemunho de Sua presença. Os carismas abrem valas profundas na alma dos homens de vida nova no Espírito Santo.

3. OS CARISMAS SÃO DADOS PARA O BEM COMUM Tudo e todas as riquezas derramadas tem como finalidade o

bem comum. Assim nos exorta o Catecismo da Igreja Católica; "Tudo tenham em comum" (At 4,32). Tudo o que possui o verdadeiro cristão deve considerá-lo como um bem em comum e deve estar disposto a ser diligente para socorrer o necessitado e a miséria do próximo. O cristão é um administrador dos bens do Senhor (Lc. 16,1-3). Na comunhão da Igreja o Espírito Santo "reparte graças especiais entre os fiéis" para a edificação da Igreja. Pois bem, "a cada um é dado a manifestação do Espírito para proveito comum" (I Cor 12,7), e ajudar o povo de Deus ao alcançar a santidade.54

Os carismas do Espírito Santo, concedidos a todos por

ocasião do Batismo e intensificados na Crisma, também são chamados de dons carismáticos ou de dons de serviço. O Espírito Santo nos capacita com estes dons para servirmos à Igreja de Cristo, através dos irmãos. Os carismas são portanto, dons de poder para o serviço da comunidade cristã.

Os carismas manifestam que Jesus está presente e age

através do seu Espírito por meio de nós ( Jo 14,18-19) e que nos capacita a cumprir o grande mandamento de Jesus: "Ide por todo o

53 O cristão na teologia de São Paulo 54 cf. Catecismo da Igreja Católica, 951ss

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mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura" (Mc 16,15). Os carismas são os sinais que acompanham e confirmam a nossa pregação. São sinais visíveis de poder e do amor de Deus.

Sabemos que o Espírito "sopra onde quer" e "como quer", e

que jamais poderemos limitar sua ação. Somos plenamente conscientes que Ele pode ultrapassar os dons relacionados na própria palavra de Deus, pois Ele é uma fonte inesgotável de graças. Ele está sempre atento às necessidades de seu povo, para supri-las da forma mais plena, com intenção de aproximar cada vez mais o homem do seu Criador. No entanto, iremos restringir nossos estudos sobre os dons àqueles que São Paulo relaciona em sua primeira carta aos Coríntios: "Há diversidade de dons, mas um só é o Espírito.

Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também

diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos:.

A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum. A

um é dado pelo espírito uma palavra de sabedoria, a outro, uma

palavra de ciência, por esse mesmo espírito; a outro a fé, pelo mesmo

espírito; a outro, a graça de curar as doenças, no mesmo espírito; a

outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento

dos espíritos; a outro, por fim, a interpretação das línguas. mas um e

o mesmo espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um

como lhe apraz (I Cor 12,4-11).

4. DOM DE CIÊNCIA OU PALAVRA DE CIÊNCIA A palavra de ciência é o dom através do qual o Senhor faz

com que o homem entenda as coisas da maneira como Ele as entende. Faz com que o homem penetre na raiz de cada acontecimento, fato, sentimento, situação, estado de espírito.

O dom de ciência é um diagnóstico dado por Deus. Quando

estamos com febre, nos dirigimo-nos a um médico para saber a causa, uma vez que a febre não é doença propriamente dita, mas um sinal de que algo não vai bem. Através deste dom, Deus dá o diagnóstico de um fato, de uma situação, de um estado de espírito ... e do que Ele quiser revelar.55

55 cf. FALVO. S. ,O despertar dos carismas, p. 202

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A palavra de ciência, assim como todos os outros dons espirituais, está sempre a serviço da edificação do Reino de Deus, levando as pessoas à conversão, à consciência da cura que Deus realizou nelas, ao crescimento no amor e gratidão a Deus. Temos exemplo disto em Jo 4,7-26 - A Samaritana experimentou a misericórdia de Deus que a levou a arrepender-se e a converter-se, reconhecendo Jesus como Messias, além de levar muitos habitantes da Samaria conhecer Jesus pelo seu testemunho.

Também a palavra de ciência denuncia e arrasa as obras do

mal (cf. At 5,1-11), como também é canal para o ensino doutrinal. Neste caso esta revelação fez com que toda a comunidade compreendesse que o salário do pecado é a morte, e que cabia a Pedro a autoridade e o dever de zelar pela verdade e pela vivência da fé. Lc 7,36-47 - A palavra de ciência revela a Jesus o pensamento íntimo do fariseu, o que lhe trouxe assim a oportunidade de ensinar-lhe sobre a mentalidade do Reino dos Céus.

A palavra de ciência é sinal de amor e salvação tanto para

aquele que é instrumento de Deus para os irmãos, como para aquele que é o objeto da revelação.

A palavra de ciência se manifesta através de um sentimento

ou percepção da ação curativa de Deus, de uma frase (Jo 4,50), de uma visão, de um sonho (Mt 1,18-25).

O dom da palavra de ciência revela uma ação que Deus já

está fazendo (a cura), uma obra que Deus acaba de fazer ou uma obra que Deus quer fazer, mas precisa da colaboração da pessoa ou uma situação ou através do poder e da misericórdia de Deus que cura o corpo e o coração.

Esta revelação se manifesta a uma pessoa para sua vida

pessoal, para a vida de outro irmão, para vida de um grupo e está sempre a serviço de um outro dom: cura, palavra de sabedoria, profecia.

5. O DOM DA SABEDORIA OU PALAVRA DE SABEDORIA

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"A um é dada pelo Espírito uma palavra de Sabedoria" (I Cor 12,8).

A palavra de sabedoria é um dom carismático do Espírito

Santo, o dom gratuito de Deus, que dá a graça ao homem, inspira o homem a saber como deve ser o seu comportamento em cada situação, em cada vez em que tem que resolver um fato ou um problema. Inspira o homem como agir e falar inteligentemente em situações concretas da sua vida ou de sua comunidade, levando-o a decidir acertadamente e de acordo com a vontade de Deus no dia a dia, no matrimônio, no trabalho, na educação dos filhos, nos relacionamentos com os irmãos e na sua vida cristã. É uma orientação de Deus sobre como se viver cristãmente (cf. Lc 18,18-30).

A palavra de sabedoria é uma palavra, atitude ou ação que

faz com que os acontecimentos passem a decorrer segundo a vontade de Deus, ou ainda, que as pessoas percebam a verdade que antes não conheciam.

Diante das situações desconcertantes:

- Como agir (I Rs 3,16-28); - Como falar (Mt 22,21; Lc 12,11-12; Jo 8,7); - Prepara o nosso coração para receber o ensinamento

divino (Lc 12,13-21); - Como fonte de ensinamento segundo a sabedoria de Deus

(Mt 6,1-21); - Nos faz testemunhar com sabedoria (At 26,28): Paulo

diante do rei Agripa. A palavra de sabedoria deve ser amplamente exercitada na

oração pessoal e comunitária para que transborde o poder de Deus em nossas vidas.

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A palavra de sabedoria se manifesta também através de palavras da própria Escritura, por uma palavra escrita, por uma visão, por um sentimento, por um sonho.

Oficina do dom de Ciência e Sabedoria:

Após o breve ensino, comece um momento de muito louvor

em português e depois um louvor em línguas. Em seguida peça às pessoas que imponham as mãos sobre alguém que está ao seu lado e orem dois a dois um pelo outro pedindo ao Senhor uma palavra de ciência para a outra pessoa. Após este momento de oração, peça para as pessoas partilharem uma com a outra a palavra de ciência que receberam do Senhor.

Utilize o mesmo procedimento para o exercício da palavra

de sabedoria. Finalize a oração com louvor.

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Décima Quarta Aula

Os Carismas do Espírito Santo II

I.PROCEDIMENTOS INICIAIS: 1. Oração, com louvor e escuta de Deus. 2. Momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração; 3. Preenchimento da lista de freqüência dos alunos; 4. Avisos.

II. ROTEIRO DO CONTEÚDO: 1. Dom de línguas; 2. Dom de interpretação das línguas; 3. Dom de Profecia ou Palavra de Profecia 4. Dom Carismático da Fé 5. Dom dos Milagres 6. Dom das Curas 7. Dom do Discernimento dos Espíritos

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA: OS CARISMAS DO ESPÍRITO SANTO II

1. DOM DE LÍNGUAS

"Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza,

porque não sabemos pedir, nem orar com convém, mas o Espírito

mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis (Rm 8,26).

O dom de línguas é um dom de oração. Este dom vem

socorrer a nossa dificuldade de orar: nós não sabemos "o que" nem "como" pedir a Deus ou o que dizer a Deus. Ele vem suprir nossa oração fraca e débil, vem nos fazer orar, mas orar segundo a vontade de Deus. O próprio Espírito Santo que habita em nós, ora em nós e por nós. Vem nos capacitar a orar de forma divina.

Ainda que nós não entendamos os gemidos inefáveis com

que o Espírito ora, canta e fala em nós e através de nós, sentimos que algo nos toca profundamente, sentimos que o nosso coração e o nosso espírito estão em oração, o mais profundo do nosso ser comunga de maneira especial com Aquele que nos criou e ao qual pertencemos. No entanto, não deixamos de estar conscientes, sabemos perfeitamente o que estamos fazendo, pois oramos com a nossa língua e com a nossa vontade, por isso somos livres para começar e terminar quando queremos. Oramos naturalmente, da mesma forma que fazemos nossas orações mentais e vocais. A única diferença é que, quem realiza todo o trabalho é o Espírito Santo.

- O dom de línguas nos coloca submissos e unidos a Deus

em qualquer situação que estejamos enfrentando, por isso nos faz vencer os momentos de sofrimento, nos faz orar como filhos, nos dá experiências de adoração a Deus, nos faz ultrapassar os momentos em que nada sentimos e nos leva a descansar nas mãos da divina providência.

- O dom de línguas é a porta para todos os outros dons

carismáticos, porque abre todo o ser do homem para a ação do Espírito Santo e para o crescimento da vida no Espírito.

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- O dom de línguas é a primeira manifestação sensível e visível da presença do Espírito Santo (Atos 2,1-4; 10,46s; 19,6s).

- O dom de línguas nos une em torno de Cristo. É dom que

promove a unidade entre os cristãos, atraindo-os a Jesus Cristo e à Igreja (At 2,5-6).

O Espírito Santo de Deus, plenamente rico de graças,

concede aos fiéis o dom de "cantar" em línguas: "Cantarei com o

Espírito" (I Cor 14,15), que significa que o Espírito Santo através do dom de línguas, utiliza-nos para elevarmos um canto ao nosso Deus, levando-nos a expressar-Lhe um louvor no Espírito a Deus. O Espírito nos capacita a glorificar o Senhor de maneira profunda, sincera e perfeita. O Senhor merece todo o nosso louvor e deseja que nós O louvemos, não porque Ele necessita do nosso louvor, mas porque necessitamos louvá-lO. Vem o Espírito em nosso auxílio, vem louvar em nós e por nós através de um hino de louvor. Nesse louvor no Espírito, unimo-nos aos anjos e santos que não cessam de no céu louvar o Senhor.

Oficina do Dom de línguas

Após o breve ensino, ore em línguas juntamente com todos

aqueles alunos que também já oram em línguas, cerca de 2 minutos. Peça aos alunos que imponham as mãos sobre a pessoa

que está à sua direita, sem interromper a oração em línguas, para que estas pessoas cresçam ainda mais no dom, se tornem livres nas mãos do Espírito.

Interrompa e peça que levante a mão quem ainda não ora

em línguas ou que se sinta bloqueado com o dom. Em seguida, peça para aqueles que estão próximos e que já oram em línguas que imponham as mãos sobre elas e peçam a Deus por elas enquanto todo o resto do grupo continua orando em línguas.

Peça às pessoas que se abram também para o louvor em

línguas. Encerre com um grande louvor com cântico, palavras em

português e em línguas cantadas.

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Passe em seguida para o ensino do dom seguinte.

2. DOM DE INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS

"Maior é quem profetiza do que quem fala em línguas, a não

ser que este as interprete, para que a assembléia receba edificação"

(I Cor 14,13)..."Por isso, quem fala em línguas, peça na oração o dom

de as interpretar". (I Cor 14,13).

O dom de línguas também se expressa através de "falar"

em línguas, que significa proclamar uma mensagem de Deus, numa linguagem desconhecida, e em Seu nome para uma assembléia através de línguas estranhas. Ao falarmos em línguas para os nossos irmãos, é necessário suplicarmos o dom de as interpretar, pois toda mensagem de Deus para o seu povo tem o objetivo de edificá-lo, e ao proferirmos palavras ininteligíveis, como se compreenderá o que dizemos? Seremos como quem fala ao vento. (cf. I Cor 14,9).

"...a outros, por fim, a interpretação das línguas". ( I Cor

12,10). Algumas vezes, para o bem dos que estão participando da oração e porque Deus deseja que eles compreendam o que se está orando ou proclamando em nome do Senhor, o Espírito concede que se compreenda o que está sendo dito. Esta compreensão se dá com "o coração", e não através de uma tradução conceitual e gramatical das palavras. Este carisma chama-se "carisma de interpretação das línguas". Notemos que não se chama de "tradução" das línguas!

Este carisma pode ser dado à pessoa que está orando ou

falando uma mensagem vinda de Deus, a uma outra pessoa na assembléia ou a todas as pessoas que estão ouvindo como aconteceu em Pentecostes (Atos 2,5-11).

Ele não se manifesta concomitantemente com as

mensagens em línguas proferidas na assembléia; ao término desta mensagem, silenciamos para que o Espírito conceda o dom da interpretação, sempre sendo vivido na ordem e no respeito e se não houver quem interprete, deve-se guardar silêncio, falando somente consigo e com Deus (I Cor 14,27-28). O dom de línguas e a interpretação das línguas são dons que se complementam

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reciprocamente: aquele que tem o dom de falar em línguas reze para ter o dom de interpretá-las (I Cor 14,13).

O Senhor também pode nos revelar através do dom da

interpretação das línguas o que o Espírito está orando em nós, quando isto serve para nossa edificação.

Oficina do dom de falar e interpretação das línguas:

Após o breve ensino, comece um louvor em línguas.

Quando você sentir que é o momento, peça as pessoas para pedirem a Deus uma palavra de profecia em línguas (falar em línguas) e o dom de as interpretar.

Silenciem e a um sinal seu (e somente então) aqueles que

receberam uma profecia em línguas devem proclamá-la, cada um por sua vez, para todo o grupo. Ao término de cada profecia em línguas, silenciem e peçam o dom de as interpretar, para em seguida proclamarem a interpretação das profecias em línguas.

Finalize a oração com louvor e passe para o ensino do dom

seguinte.

3. DOM DE PROFECIA OU PALAVRA DE PROFECIA Deus se manifesta aos homens também através do dom da

profecia na nossa oração pessoal (Ex.: Abraão, Moisés, Davi), através da Igreja (documentos e pronunciamentos oficiais do Papa e daqueles a quem Ele delega poderes), através dos membros do grupo, nas nossas orações comunitárias e através de um irmão que ora por nós ou que nos esteja orientando espiritualmente.

O dom da profecia pode se manifestar através de uma

palavra, de um sentimento, em línguas, que requer uma interpretação, de um canto, de uma visão (At 10,9-48), com o entendimento espiritual de um sonho (Num 12,6).

Deus fala com os homens para que este cumpram a Sua

vontade. Não adianta sermos apenas ouvintes da palavra de Profecia, mas ao escutar a voz de Deus ter esmero em cumpri-la (At 18,5-11).

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São Paulo considera o dom da profecia superior a todos os

outros dons, pois reconhece que através deste dom, Deus fala claramente e de forma simples mas direta com o homem (I Cor 14,5).

- O dom da profecia é para todos os homens de boa

vontade e de fé que querem recebê-lo (I Cor 14,31). - Apesar de não devermos desprezar as profecias, devemos

passá-las pelo "crivo" do discernimento dos espíritos. É importante que as examinemos se são divinas, humanas, ou diabólicas (I Tel 5,21; Mt 7,15).

- Geralmente as profecias são ditas na primeira ou na

segunda pessoa, pois o Senhor é um Deus pessoal e nos falará diretamente: "Não temas", tu és o meu povo", "Eu sou o teu Deus".

- Também é importante que nos abramos para a

confirmação da profecia através de moções dadas a outros membros da comunidade. Deus pode se utilizar da própria Palavra, de visões, sentimentos ou palavras para confirmar a veracidade da profecia.

- O centro de toda a profecia é Jesus Cristo e o seu

Evangelho, portanto as palavras proféticas têm que estar de acordo com a palavra de Deus, com a palavra da Igreja e dirigida a glória de Deus e a salvação dos homens (Dt 13,2-4).

- Deus fala aos homens para edificar, exortar e consolar (I

Cor 14,3), portanto as profecias são de edificação, exortação e consolação.

Oficina do dom de profecia:

Após o breve ensino (aqui se deve ter um cuidado especial

para ser bem claro e não complicar, pois quanto mais simples for, mais se sente incentivado a abrir-se a ele), comece a oficina com muito louvor. Em seguida, peça-lhes para orar em línguas pedindo ao Senhor uma profecia para suas vidas pessoais.

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Após este momento, em clima de oração, agrupe as pessoas e diga-lhes para orarem em línguas pedindo ao Senhor uma profecia.

A um sinal seu (e somente então) cada um por sua vez

deverá partilhar a profecia que recebeu para o seu pequeno grupo de três, seja em forma de visão, palavra, sentimento, em línguas...

Finalize a oração com um louvor.

4. DOM CARISMÁTICO DA FÉ:

"A outro é dado pelo Espírito, a fé" (I Cor 12,9).

A fé deve ser vivida pelo cristão sob três aspectos

fundamentais: a fé teologal ou doutrinal, a fé virtude ou fruto do Espírito Santo e o dom carismático da fé.

Aqui iremos aprofundar o terceiro aspecto da fé, isto é, o

dom carismático da fé. O dom carismático da fé acrescenta um dado novo e

importante ao qual o homem vivência através da fé teologal e da fé virtude: "O dom da fé (carismática) é o poder de Deus que nos move a uma confiança íntima de que Deus agirá. Essa confiança leva a uma oração convicta, a uma decisão, a uma firmeza ou algum outro ato que liberta a bênção de Deus”. 56

Através da fé carismática o Espírito Santo nos dá a certeza

de que Deus agirá, de que o poder de Deus irá intervir em alguma situação da vida do homem. Pela fé carismática cremos que Deus opera hoje maravilhas em favor do seu povo. A fé move a manifestação do poder de Deus através do Espírito Santo.

Em toda a Palavra de Deus encontramos vários episódios

que descrevem a ação poderosa de Deus movida pela fé:

56 VALLE, Pe. Isaac Isaías, Manifestação da presença do Espírito Santo

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Jesus derramou esta mesma fé carismática, especial certeza interior de que Ele age poderosamente sobre os Apóstolos e consequentemente sobre todos os batizados.

Os Apóstolos realizaram grandes e inúmeros milagres

porque foram dóceis à ação do Espírito Santo através do dom da fé carismática (At 3,1-11; At 28,3-6).

O carisma da fé, portanto, é uma graça especial de Deus

que nos faz agir em nome de Jesus com toda a certeza de que Ele já confirma nossa ação e oração com o sinal que Lhe pedimos. É uma graça à qual devemos nos abrir e que devemos pedir a Deus.

5. DOM DOS MILAGRES

"A um é dado pelo Espírito o dom de milagres" (I Cor 12,10). O dom de milagres é a ação do Espírito Santo que, para o

bem de alguém, modifica o curso normal da natureza: O milagre é uma intervenção clara, sensível e visível de Deus no decurso "ordinário" ou "normal" dos acontecimentos: curas instantâneas de doenças incuráveis, ressurreição dos mortos, fenômenos extraordinários da natureza. (Cf. At 3,4-11;At 4,30-31; At 5,12-15; At 5,16; At 6,8; At 8,13; At 9,31; At 9,33-35; At 9,40-42; At 13,9-12; At 14,10; At 19,11-12).

É o poder de Deus interferindo em determinada situação em

relação à natureza, à saúde e à vida. São fenômenos sobrenaturais realizados por Deus, com a finalidade de que os homens conheçam o seu amor efetivos por eles, conheçam sua glória, o seu poder e se convertam. Através dos milagres, o homem tem uma experiência concreta do amor de Deus por ele, da sua presença concreta na sua vida, na vida dos seus irmãos e no mundo.

Deus manifesta através da realização de um milagre que

não está indiferente à vida do homem e de todo o seu povo, que é um Deus que se inclina para o homem no momento oportuno e necessário para salvá-lo. É uma das maneiras de Deus manifestar a ação de sua divina providência, que está sempre pronta para resgatar o homem.

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O mundo atual necessita do exercício do dom de milagres,

que não é algo do passado, pois Deus deseja e continua a realizar suas obras extraordinárias no meio do seu povo, hoje. Se afirmarmos que milagres não acontecem, afirmamos que Jesus é alguém ultrapassado. Jesus é o mesmo de ontem, hoje e sempre, está vivo e ressuscitado! Precisamos estar abertos e disponíveis para prolongarmos as obras que Jesus deseja operar hoje.

Devemos fazer distinção entre milagre e curas: O primeiro

quando se relaciona com uma cura acontece quando se trata de uma cura que nenhuma ciência médica poderia conseguir, e que Deus realiza; o segundo caso acontece quando o Senhor acelera o processo de cura que se poderia conseguir através de um medicamento, de uma cirurgia, de repouso.

6. DOM DAS CURAS

"A outro, a graça de curar as doenças no mesmo Espírito" (I Cor 12,9b).

Jesus mostrou através da cura dos enfermos um sinal

visível de que Ele é o salvador do mundo. Mais que isso, desejou que fossem sinais da salvação e de reconhecimento da autoridade espiritual de seus discípulos. Jesus reúne seus discípulos e lhes confere o poder de curar as enfermidades, expulsar os espíritos do mal (Lc 9,1-2) e por fim, confere a Igreja, continuadora de Sua missão salvífica, poder e autoridade para pregar o Evangelho e batizar os que cressem. A todos os batizados que cressem, prometeu a salvação e a confirmação da fé através de sinais (Mc 16,17-18).

O dom das curas se manifesta de três formas. Tomando-se

por base as três dimensões do homem: corpo, alma e espírito (I Tes 5,23), compreendemos que este mesmo homem pode ser atingido por enfermidades em suas três dimensões. Existem os males físicos, os males da alma ou males interiores, e existem os males espirituais. Se somos atingidos em qualquer área da nossa alma necessitamos de uma prece para cura interior. Se somos atingidos em nosso espírito, contaminando-nos com falsas doutrinas e apartando-nos da

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sã doutrina da salvação, precisamos de uma oração para cura espiritual, ou oração de libertação.

Oficina do dom carismático da fé do dom de milagres e o

dom das curas do Espírito Santo.

Após breve ensino leve o grupo a louvar e pedir ao Espírito

Santo que se manifeste através de curas físicas, emocionais e espirituais.

Oriente as pessoas a orarem pela que está a sua direita e

depois a mesma coisa pela pessoa que está à sua esquerda, abrindo-se para palavras de sabedoria, de ciência e de profecia, e pedindo cura para estas pessoas.

Faça com que toda a assembléia ore junta pedindo a cura

das pessoas enfermas no local apresentando palavras de ciência sobre as curas realizadas.

Peça que levante o braço quem se sentiu tocado por Deus e

quem se sente melhor física, emocional e espiritualmente. Em seguida, peça as pessoas que orem pedindo ao Senhor

um milagre, e que escrevam aquele pedido em um papel que guardarão dentro da Bíblia, como um sinal. Orem todos juntos pelos milagres que as pessoas pediram ao Senhor e que aconteçam de acordo com Sua vontade e pela intercessão de Maria.

Termine a oração com muito louvor pelas curas realizadas e

pelo o que o Senhor fará.

7. DOM DO DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS

"A outro é dado pelo Espírito o discernimento dos espíritos" (I Cor 12,10).

O dom do discernimento dos espíritos é uma graça que

provém da presença do Espírito Santo em nós. Este dom espiritual nos permite discernir, examinar, perceber e identificar em nós mesmos, nas outras pessoas, nas comunidades, nos ambientes e nos

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objetos o que é de Deus, o que é da natureza humana ou o que é do maligno.

São João da Cruz nos ensina que nossa alma tem três

grandes inimigos: o mundo, o demônio e a nossa carne. Inimigos a fazer guerra e dificultar o caminho que a nossa alma deseja trilhar até Deus. É necessário, portanto, o exercício do dom do discernimento dos espíritos, que nos ajuda a vencer esses grandes inimigos, que tentam nos confundir na busca de vencer e viver a vontade de Deus. Este dom nos permite identificar qual espírito está impulsionando ou está influenciando uma ação, uma situação, algum desejo nosso, alguma decisão a tomar, algo que nos digam, ponham ou oferecem. Veja Mt 16,13-23.

O dom do discernimento dos espíritos é muito importante na

nossa vida cristã, pois nos levará a distinguir a voz de Deus das outras vozes que tentam nos confundir. O próprio Jesus nos diz que as suas ovelhas conhecem a voz dos estranhos (Jo 10,4-5). As ovelhas de Jesus receberem uma iluminação divina que lhes revelam a verdadeira intenção dos sentimentos, palavras, desejos, planos, atitudes. Protege-nos da falsidade que há no mundo, orientando nossas vidas, nossas decisões para a verdade que vem do Senhor.

Segundo as Escrituras, Davi que não entrava em nenhuma

batalha sem antes perguntar ao Senhor o que deveria fazer, deixa-se enganar e seduzir por sua própria carne e pela tentação do inimigo, cometendo não só adultério, como mentira e assassinato (II Sm 11). E São Paulo nos diz: "Quem está de pé, cuide para não cair" (I Cor 10,12). Santa Teresa D’Ávila nos diz que, quando oramos nos tornamos tão sensíveis ao discernimento dos espíritos que qualquer alfinetada, por menor que seja, é percebida e discernida por nós. Quando estamos em estado de pecado e sem oração tornamo-nos insensíveis ao discernimento dos espíritos e nos deixamos enganar facilmente por nossos desejos, ou pelo inimigo.

É imprescindível termos uma vida sacramental, de oração,

de louvor, uma vida de intimidade com Deus e com sua Palavra, a fim de que o Espírito Santo possa agir em nós livremente, fazendo-nos discernir a origem de nossas intenções e ações. São Paulo nos exorta que "não nos conformemos com este mundo, mas

transformemo-nos pela renovação do nosso espírito, para que

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possamos discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe

agrada e o que é perfeito" (Rm 12,2). Precisamos nos abrir, então, ao dom do discernimento dos espíritos para não nos deixamos arrastar pelas nossas paixões e pelas tentações do inimigo e assim livremente fazermos a vontade do Pai. Talvez, momentaneamente, uma atitude ou palavra nossa nos traga realização, alegria, mais logo percebemos quão vazia ficou a nossa alma ou a alma dos nossos irmãos, pois só a vontade de Deus pode nos levar à verdadeira alegria e realização de nossas vidas.

Por isso é muito precioso ter discernimento com relação a

todas as coisas que às vezes com boa intenção e com desejo de nos agradarmos são apresentadas, e que no entanto podem não ser da vontade de Deus para nós. Este dom é precioso para todas as atividades da vida do homem. Ao orar por algum irmão é preciso discernir não só se seu problema vem de sua fraqueza ou do inimigo, mas também, de que tipo de problema emocional ou de que tipo de tentação ou opressão.

O dom do discernimento dos espíritos resguarda nossas

vidas pessoais e o nosso serviço aos irmãos de toda influência do inimigo, “para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus artífices enganadores. Mas pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo (...) não persistindo em viver como pagãos, que andam à mercê de suas idéias frívolas, com o entendimento obscurecido e por sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantém-se afastado da obra de Deus. (Ef 4,11-18).

Veja At 16,16-18. “O discernimento dos espíritos também

protege o uso dos dons carismáticos. Por ele os cristãos reconhecem os dons do Espírito Santo e não são enganados por falsos dons provindos do maligno ou da imaginação do homem”.57

São João também nos adverte quanto à necessidade de

examinarmos se os espíritos são de Deus e nos ensina como conhecê-lo "todo espírito proclama Jesus Cristo que se encarnou, é

57 AMARAL, Luciano, Dons Espirituais de Serviço - Edições Loyola, São Paulo, 1993 - p. 41

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de Deus e que os espíritos do mundo falam segundo o mundo, e

quem conhece a Deus, ouve a Deus". (I Jo 4,1-6). É isto que nos dá a graça de distinguir o espírito da verdade e o espírito de erro.

Oficina do dom do discernimento dos espíritos:

Após o breve ensino, conduza uma oração com muito louvor

e abertura aos dons espirituais. Oriente as pessoas a ficarem de duas a duas, pedindo o

dom do discernimento dos espíritos para uma atitude, sentimento, ou situação que estejam passando. Em seguida à este momento de oração peça para as pessoas partilharem uma com a outra o discernimento que o Senhor inspirou sobre cada coisa específica que tenham orado.

Em todos estes ensinos bem breves, é preciso levar as

pessoas a desejarem usar os dons para o seu próprio bem e para o bem dos irmãos, sabendo que toda a graça e todo o poder vem de Jesus.

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Décima Quinta Aula

Relatório de Avaliação Caro (a) Aluno (a) Esta avaliação tem como objetivo colher o seu testemunho sobre os frutos que você tem percebido em sua vida de oração a partir das que você participado, e dos exercícios de oração que você tem praticado neste semestre. Não se trata das últimas sete semanas. Por esta razão cada questão deve ser respondida em oração e escuta do Senhor. Trata-se, pois, de um momento muito importante, no qual o Espírito Santo pode realizar maravilhas em seu coração, como no coração daqueles que vierem a conhecer a sua partilha. Que Nossa Senhora Rainha da Paz, seja sua mestra e companheira nesta tarefa!

1. “Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida; que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Foi Ele que nos falou por meio dos profetas; Ele nos enviado por Jesus Cristo após sua ressurreição e Sua Ascensão ao Pai. Ele ilumina vivifica, protege e conduz a Igreja, cujos membros purifica se eles não se furtam à oração da Graça, que penetra no mais íntimo da alma, e torna o homem capaz de responder ao apelo de Jesus: Sede perfeito como o Pai celestial é perfeito” (Paulo VI, Credo do Povo de Deus). Comece sua avaliação partilhando sobre seu relacionamento com o Espírito Santo como Pessoa. Se julgar necessário. Se julgar necessário, partilhe situações de sua vida ou algum acontecimento.

2. Os dons infusos, ou de santificação são instrumentos

poderosos de Deus para a construção da santidade em nossas vidas. Sabendo que a santidade é união com Deus em seu Filho Jesus e pelo poder do Espírito, partilhe aqui como a vivência dos dons de santificação lhe tem unido a Deus mais especificamente, como fruto de suas orações neste semestre. Se encontrar dificuldades, ore, que o próprio Espírito sondará seu coração e lhe recordará.

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3. “Em verdade, em verdade eu vos digo: aquele que crer em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou par junto Pai” (Jo 14, 12). Partilhe aqui como tem sido, neste semestre, a sua vivência do dons carismáticos.

4. Este espaço é para a sua partilha pessoal sobre o curso.

Não deixe de fazê-la, pois isto é importante para nós e para você também.

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INDICAÇÀO DE LIVROS PARA FB I “NÓS SOMOS UM” D. Valfredo Tepe “O DESPETAR DOS CARISMAS” Serafino Falvo

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BIBLIOGRAFIA

DOCUMENTOS DA IGREJA:

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (Cat)

Constituição Dogmática Lumen Gentium: Compêndio do Vaticano II, Constituições, Decretos e Declarações, 22° ed. Petrópolis: Vozes, 1991.

Exortação Apostólica pós-sinodal Christifideles Laici: Do Sumo Pontífice João Paulo II, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, 5ª ed. São Paulo: Paulinas, 1990

LIVROS CONSULTADOS: FLORES, José Prado. Ide e Evangelizai os batizados. 2° ed. São

Paulo: Loyola, 1981

Imitação de Cristo. Paulinas

MESCHLER, Maurício, SJ. O Dom do Pentecostes. Vozes

AMARAL, Luciano do. Os dons de santificação do Espírito Santo. São Paulo: Loyola, 1991

CANTALAMESSA, Raniero. A Vida sob o Senhorio de Cristo. São Paulo: Loyola, 1993

FALVO, Serafino, O Despertar dos Carismas. 8ª ed. São Paulo: Paulinas, 1987.

MADALENA, Gabriel de Santa Maria, OCD. Intimidade Divina. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1990.

PHILIPON, M. Michel OP. Doutrina Espiritual de Elizabete da Trindade. São Paulo: Paulinas, 1988.

RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. CONSELHO NACIONAL. Carismas: Coleção Paulo Apóstolo. Aparecida, SP: Santuário, 1994.

SCIADINI, Patrício OCD. Eu te Amo, não Tenhas Medo! 3ª ed. Loyola

Formação Básica I

Escola de Formação Shalom 152

SCIADINI, Patrício OCD. Mística e Compromisso: Pistas para dias de Deserto. 2ª ed. Coleção: Temas de Espiritualidade. Loyola.