Formao Humana Em Geriatria e Gerontologia - Mdulo 1

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    EmentaEsta disciplina fundamentada no campo terico da

    Gerontologia. O conhecimento gerontolgico tem muito a contribuirpara a cultura e para vida em sociedade. Trata-se de rea com ligaescom muitas disciplinas, como Psicologia, Cincia Poltica, Filosofia, Socio-logia e Histria. Muitos tericos tm gerado conhecimento sobre o quesignifica envelhecer para aqueles que esto envelhecendo.

    Estas anlises, que operam com conceitos derivados das CinciasHumanas e Sociais, so teorias emergentes do envelhecimento que pre-

    cisam ser aplicadas em muitas pesquisas para se estabelecerem comoreferenciais. Desta forma, vo se tornar mais e mais confiveis e respei-tadas medida que seus conceitos sejam testados com mais preciso e osestudos derivados destas teorias indiquem sua capacidade de prever fatosou fenmenos.

    Esta disciplina pretende oferecer a oportunidade para a discussoe o aprofundamento dos conceitos bsicos que vo possibilitar a consti-tuio de um novo paradigma no qual os idosos possam ser consideradoscidados ativos e participantes.

    Contedo programtico e docentesIntroduo Gerontologia Clia Pereira Caldas.Enfermeira,

    professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da UERJ, vice-diretorada UnATI, mestre pela UERJ e doutora pela UFRJ.

    Interdisciplinaridade em Gerontologia Teresinha Mello. Psiclo-ga, professora do Instituto de Psicologia da UERJ, doutora pela PUC doRio de Janeiro.

    1MDULOCONCEITOS BSICOS EM GERONTOLOGIACoordenao Professora Clia Pereira Caldas

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    O desenvolvimento histrico e terico da Gerontologia CliaPereira Caldas.

    Desenvolvimento e envelhecimento: paradigmas contemporneos Clia Pereira Caldas.

    A prtica gerontolgica na ateno sade do idoso LucianaMotta. Mdica, coordenadora do ambulatrio Ncleo de Ateno aoIdoso da UnATI, mestre pela UERJ.

    Ementas Introduo Gerontologia Clia CaldasNesta aula sero apresentados os conceitos e os princpios bsicos

    em Gerontologia, particularmente aqueles que fundamentam as aborda-gens da Organizao das Naes Unidas (ONU) e da Organizao Mun-dial da Sade (OMS), segundo as quais o envelhecimento populacional uma das maiores conquistas da humanidade. As pessoas idosas so umafonte preciosa de recursos para a nossa sociedade. No entanto, suascontribuies so ignoradas. Podemos responder ao desafio de envelhe-cer se formos valorizados, em vez de sermos considerados apenas um

    peso para os sistemas econmicos. Para isto, necessrio que organi-zaes multinacionais, nacionais, regionais e locais, pblicas, privadas ouno-governamentais estabeleam polticas e programas que visem umenvelhecimento ativo.

    Interdisciplinaridade em Gerontologia Teresinha MelloOs cuidados necessrios pessoa idosa precisam dar conta da com-

    plexidade do processo do envelhecimento. Para isso, necessrio todoo conhecimento disponvel, em todas as reas do saber. Nesta aula, seroabordados os conceitos e tipos de prticas interdisciplinares einterparadigmticas e apontada a possibilidade de uma abordagemtransdisciplinar.

    O desenvolvimento histrico e terico da Gerontologia CliaPereira Caldas

    O propsito desta aula apresentar o desenvolvimento histrico eas aplicaes das teorias do envelhecimento, pois muito importante afundamentao terica nos discursos sobre os problemas do envelheci-

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    mento. Vamos procurar integrar as perspectivas evolucionrias biolgi-cas, sociais e culturais numa abordagem transdisciplinar.

    Desenvolvimento e envelhecimento: paradigmas contemporneos Clia Pereira Caldas

    A aula vai focalizar a evoluo do campo desde a dcada de 1970,quando comearam a se delinear os paradigmas L ife-Span, em Psicologia,e Life Course,em Sociologia, num contexto intelectual e social influenci-ado no s pelos avanos cientficos precedentes na Biologia, na Socio-logia e na Psicologia do Desenvolvimento como tambm pelo progresso

    social e pelas mudanas demogrficas nos pases que produziam conhe-cimento. Ateno especial ser dada aos avanos metodolgicos propor-cionados pela adoo desses novos paradigmas, pelas teorias contempo-rneas e pelos dados empricos a eles vinculados.

    A prtica gerontolgica na ateno sade do idoso LucianaMotta

    Esta aula se destina a discutir o processo de avaliao e assistnciaintegral ao idoso, com o objetivo de exercitar o planejamento de inter-veno em equipe, de acordo com o paradigma de ateno integral.

    Ser apresentado o modelo de trabalho desenvolvido no NAI/ UnATI/UERJ.

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    A Gerontologia um campo interdisciplinar que visa estu-dar as mudanas tpicas do processo do envelhecimento e de seusdeterminantes biolgicos, psicolgicos e socioculturais. um campomultiprofissional e multidisciplinar. Embora a Gerontologia envolva mui-tas disciplinas, a pesquisa repousa sobre um eixo formado pela Biologia,pela Psicologia e pelas Cincias Sociais.

    A Geriatria o estudo clnico da velhice. Compreende a preven-o e o manejo das doenas do envelhecimento. uma especialidadeem Medicina e tambm em Enfermagem, Odontologia e Fisioterapia.

    Em termos biolgicos, o envelhecimento compreende os processosde transformao do organismo que ocorrem aps a maturao sexual eque implicam na diminuio gradual da probabilidade de sobrevivncia.No entanto, o envelhecimento e o desenvolvimento so processos quecoexistem ao longo do ciclo vital.

    A idade cronolgica uma informao que no diz muito sobre oreal envelhecimento humano, embora seja um parmetro importantepara o planejamento de polticas de ateno ao idoso ou para a gestode servios. A nica caracterstica importante a ser destacada em relaoao processo de envelhecimento humano a heterogeneidade. Ou seja,cada indivduo envelhece de maneira prpria, pois se trata de um pro-cesso multifatorial.

    Tradicionalmente, considera-se a velhice uma terceira idade; ainfncia a primeira idade, e a idade adulta, a segunda. Hoje, com oaumento da expectativa de vida j prximo ao limite biolgico da esp-cie humana, fala-se de uma quarta idade, que seria um perodo difcilde se determinar, pois foge ao critrio cronolgico. A quarta idade seriauma fase da vida na qual o organismo no consegue dar conta das de-

    AULA 1

    INTRODUO GERONTOLOGIAClia Pereira Caldas

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    mandas exigidas pelo meio ambiente e os recursos externos meios deapoio e suporte se tornam insuficientes. Ou seja, na quarta idade valeo conceito de idade funcional e no o conceito de idade cronolgica.

    A capacidade funcional o principal indicador da capacidadeadaptativa do ser humano. Sua determinao nos informa sobre a idadeou o envelhecimento funcional do indivduo, e isso no depende daidade cronolgica. Ou seja, existem pessoas jovens cronologicamente ebastante envelhecidas funcionalmente, e vice-versa.

    J a idade social determinada pela atualidade da participao nasociedade. O envelhecimento social ocorre quando existe um

    desengajamento do indivduo, que deixa de interagir socialmente. Isto, quando a sociedade oferece oportunidade para o engajamento e osindivduos mantm a capacidade de se adequarem ao desempenho depapis sociais, o envelhecimento social pode at no ocorrer. A aposen-tadoria e a chamada sndrome do ninho vazio, que quando a mulherque se dedicou famlia se v s com a partida dos filhos, so situaesque podem precipitar o envelhecimento social. Por isso, muito impor-tante que o indivduo atualize seus projetos de vida.

    Idade psicolgica e envelhecimento psicolgico se referem rela-o entre a idade cronolgica e as capacidades de percepo, aprendi-

    zagem e memria potencial de funcionamento futuro , e inclui umsenso subjetivo de idade, na comparao com outros. Embora haja umaalterao das funes cognitivas, perceptveis em testes de desempenhomental com o avanar da idade, no foi detectada uma alterao marcantena personalidade.

    Destacam-se como caractersticas psicossociais do envelhecimento,a vivncia de perdas, o declnio fsico, a intensificao de reflexes sobrea vida e a diminuio de perspectiva de futuro. So caractersticas de umprocesso natural de desenvolvimento em fases avanadas da vida, ou seja,de um envelhecimento normativo.

    O envelhecimento normativo pode ser sistematizado em dois n-veis: o primrio, que est presente em todas as pessoas, por ser geneti-camente determinado, e o secundrio, que varia entre indivduos e decorrente de fatores cronolgicos, geogrficos e culturais.

    O conceito de envelhecimento bem-sucedido (Rowe & Kahn, 1987)envolve baixo risco de doenas e de incapacidades, funcionamento fsicoe mental excelente e envolvimento ativo com a vida. Depende da capa-cidade de adaptao s mudanas fsicas, emocionais e sociais. Esta ha-

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    bilidade o resultado da estrutura psicolgica e de condies sociaisconstrudas ao longo da vida.

    Para um envelhecimento bem-sucedido, necessrio que haja asubstituio simblica das inexorveis perdas por ganhos em outras di-menses; preciso o atendimento s necessidades sociais, com boas con-dies de vida e oportunidades socioculturais, e a renovao dos projetosde vida.

    J o envelhecimento malsucedido se d quando ocorre perda dosprojetos de vida; falta de reconhecimento; dificuldade de satisfazer suasprprias necessidades; sentimentos de fragilidade, incapacidade, baixa

    estima, dependncia, desamparo, solido, desesperana; ocorrncia deansiedade, depresso, hipocondria e fobias.

    As doenas que colocam a vida em risco, a morte de pessoa pr-xima, a sada dos filhos de casa, as mudanas de residncia, a privaoda autonomia e as perdas materiais so circunstncias importantes paraque se estabelea um processo de envelhecimento malsucedido.

    Qualidade de vida pode ser definida como a percepo do indi-vduo de sua posio na vida no contexto da cultura e do sistema devalores nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas,padres e preocupaes (WHOQOL Group). Na velhice, os principais

    indicadores de qualidade de vida so a prpria longevidade, a sadebiolgica, a sade mental, a satisfao com a vida, um bom desempenhocognitivo, a competncia social, a produtividade e a atividade.

    A fragilidade outro conceito importante em Gerontologia. defini-da como uma vulnerabilidade que o indivduo apresenta aos desafios doprprio ambiente. Esta condio observada em pessoas muito idosas, ounaqueles mais jovens, que apresentam uma combinao de doenas oulimitaes funcionais que reduzem sua capacidade de se adaptar ao estressecausado por doenas agudas, hospitalizao ou outras situaes de risco.

    A fragilidade representa risco de dependncia, que se traduz poruma ajuda indispensvel para a realizao dos atos elementares da vida.

    No apenas a incapacidade que cria a dependncia, mas sim osomatrio da incapacidade com a necessidade. Por outro lado, a depen-dncia no um estado permanente. um processo dinmico cujaevoluo pode se modificar, e at ser prevenida ou reduzida, se houverum ambiente e assistncia adequados.

    Faz-se necessrio classificar a incapacidade em graus de depen-dncia: leve, parcial ou total. exatamente o grau de dependncia que

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    determina os tipos de cuidados que sero necessrios. Para se avaliar ograu de dependncia, utiliza-se o Mtodo de Avaliao Funcional. Fun-o a capacidade do indivduo de se adaptar aos problemas cotidianos,ou seja, quelas atividades que lhe so requeridas por seu entorno ime-diato, o que inclui a sua participao social, ainda que apresente limita-o fsica, mental ou social.

    Martins S (2002), ao apresentar o perfil do gerontlogo, declaraque este profissional precisa estar apto a apreender, histrica e critica-mente, o processo do envelhecimento em seu conjunto; compreendero significado social da ao gerontolgica; situar o desenvolvimento da

    Gerontologia no contexto scio-histrico; atuar nas expresses da ques-to da velhice e do envelhecimento, com elaborao e implementaode propostas para o enfrentamento; realizar pesquisas que subsidiem aformulao de aes gerontolgicas; compreender a naturezainterdisciplinar da Gerontologia, com aes compatveis no ensino, pes-quisa e assistncia; zelar por uma postura tica e solidria no desempe-nho de suas funes e orientar a populao idosa na identificao derecursos para o atendimento s necessidades bsicas e de defesa de seusdireitos.

    Referncias bibliogrficas

    MARTINS DE S, J. L. A formao de recursos humanos em Gerontologia: funda-mentos epistemolgicos e conceituais. In: FREITAS, E. V. et al. (Org.). Tratadode Geri atr ia e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

    MORAGAS, R. M. Gerontologia social: envelhecimento e qualidade de vida. SoPaulo: Paulinas, 1997.

    NERI, A. L. Palavras-chave em Gerontologia. Campinas, SP: Alnea, 2001.ROWE, J. W. & KAHN, R. L. Successful aging. New York: Dell Trade Paperback, 1999.

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    O nmero crescente de idosos no Brasil e no mundo con-duz a pensar na ateno e cuidados adequados a essa faixa da populao.O envelhecer uma etapa do ciclo de vida com perdas e ganhos, inseridaem um momento histrico, sociocultural, econmico e poltico, comoqualquer outra fase da vida. Diante disso, os profissionais de Sade sevem confrontados com as demandas da totalidade do sujeito idoso. nesse contexto que as prticas interdisciplinares se apresentam como ummodelo adequado para os profissionais que vo trabalhar com adultosmais velhos na rea da Educao e da Sade.

    As especializaes cientficas tm seu apogeu no incio do sculo XX,com o objetivo de possibilitar o aprofundamento do saber. Surgem as rami-ficaes que buscam atingir o nvel micro, como o estudo do gene de umabactria, por exemplo. A despeito da importncia destes estudos, acompartimentalizao favorece o esfacelamento do conhecimento se nohouver uma ponte para o dilogo e para possveis ligaes. Faz-se necessrioestabelecer conexes lgicas em prol de um objetivo maior. Assim, ainterdisciplinaridade toma expresso na dcada de 70 do sculo passado.

    Segundo Japiassu (1976), a interdisciplinaridade se faz com a co-laborao de disciplinas diferentes ou de setores heterogneos de umamesma cincia. Contudo, preciso que haja interao e um tanto dereciprocidade nos intercmbios para que cada disciplina, ao final, saiamais enriquecida. O espao interdisciplinar , ao mesmo tempo, tericoe prtico, se levarmos em conta a complexidade das questes humanas.Assim, tanto a produo de conhecimento que tem uma dimensoterica favorecida pelo intercmbio disciplinar como a necessidadede atender s demandas sociopolticas dimenso prtica so metas daabordagem interdisciplinar.

    AULA 2

    INTERDISCIPLINARIDADE EMGERONTOLOGIATeresinha Mell o da Silveira

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    naes, na prtica, deixa de ser importante, e valorizam o conceito maisamplo de equipe. Para eles, se falarmos de mltiplos profissionais interativos,com interesse de transferir conhecimentos em todos os sentidos, estamosfalando de uma equipe, tenha ela o adjetivo que tiver, e no de umconjunto de profissionais (p. 440).

    Numa equipe multidisciplinar no existe hierarquia de papis.Profissionais de diversas reas do saber, com diferentes propostas detrabalho e atuaes variadas, agem dentro dos seus limites e intersees,num exerccio constante a interdisciplinaridade uma construo. Eladeve ser desenvolvida de tal forma que as aes sejam planejadas e

    executadas segundo um cdigo de tica e de organizao comum atodos os integrantes (p. 442).

    O trabalho com idosos, em seu modelo mais atual, se concretiza nainterdisciplinaridade. No entanto, no se trata de quem est com a razoe sim qual o objetivo de cada profissional. A prtica dainterdisciplinaridade implica numa tentativa constante de acrescentaralgo ao conhecimento de um determinado especialista, em prol da to-talidade da pessoa que procura um atendimento. Torna-se necessriouma viso de conjunto, na qual olhares diferentes contribuem para acompreenso de um ser global.

    Falar em ser global faz lembrar que a interdisciplinaridade se tornamais relevante como um apelo aos estudiosos para se preocuparem como homem enquanto humano. Assim, a interdisciplinaridade, para almdo tcnico e do cientfico, tem uma chamada tica. Ela inclui umapostura de abertura, de cooperao, de exerccio de uma boa comuni-cao, de respeito s diferenas em prol do que se prope. Desta forma,a interdisciplinaridade transcende o conhecimento e, na medida emque envolve o portador desse saber, ela s plenamente reconhecvelquando possvel viv-la.

    Por fim, cabe-nos dizer que o exerccio da interdisciplinaridadeexige esforo, j que posies diferentes geram conflitos que podem edevem ser geridos pelo grupo, quando no solucionados. Contudo, al-guns fatores favorecem e outros dificultam, ou mesmo obstruem, o fluirda prtica em equipe. De fato, preciso que os participantes sejamrazoavelmente maduros e construtivos, diminuam as lutas pelo poder eequilibrem competio e cooperao, fenmenos sempre presentes nosgrupos. preciso que haja competncia e segurana para que os parti-cipantes no se sintam ameaados de perder sua identidade profissional

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    e mantenham atitudes corporativistas. Resta-nos lembrar que, se a insti-tuio tiver uma outra ideologia de trabalho, as equipes interdisciplinaresesto fadadas a fracassar.

    Referncias bibliogrficas

    JACOB FILHO, W. & SITTA, M. C. Interprofissionalidade. In: PAPALO NETTO,M. et al. Gerontologia:a velhice e o envelhecimento em viso globalizada. SoPaulo: Atheneu, 1996. p. 440-450.

    JAPIASSU, H. Interdi sciplinari dade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.VASCONCELOS, E. M. Complexidade e pesquisa interdisciplinar: epistemologia e

    metodologia operativa. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

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    A preocupao com o envelhecimento existe desde aAntigidade. Referncias podem ser encontradas em textos arcaicos emsnscrito, em evidncias arqueolgicas, na Bblia, nas pinturas em ca-vernas, nos dramas clssicos, na poesia e alegorias medievais, nos re-latos do incio da era mdica moderna e nos achados dos alquimistas.Mas foi apenas no sculo XIX que se disseminou um pensamentogerontolgico.

    Adolphe Quetelet e Jean-Martin Charcot so personagens impor-tantes para o desenvolvimento da Gerontologia no sculo XIX. Adolphe

    Quetelet (1842) defendia que o homem nasce, cresce e morre deacordo com certas leis que precisam ser investigadas. Jean-Martin Charcot(1867), em sua obra Doenas dos idosos e suas enfermidades crnicas, chamoua ateno nos Estados Unidos para o envelhecimento, pois propunhaparadigmas etiolgicos e tcnicas modernas.

    O incio do sculo XX foi marcado pelas formulaes de ElieMetchnikoff, com suas obras A natureza do homem(1903) e O prolongamen-to da vida (1908). A Geriatria surge a partir de 1914, quando I. L.Nascher publicou Geriatria. Embora no formato se parea muito com ocompndio de Charcot, o trabalho de Nascher um precursor da Soci-ologia mdica. Seu subttulo As doenas da velhice e seu tratamento, incluindoo envelhecimento fisiolgico, o cuidado domicil iar e insti tu cional e relaes mdico-

    legais atesta a orientao transdisciplinar. Esta obra introduz o termoGeriatria e estabelece a agenda para anlises abrangentes e integrativasdas condies de vida na velhice.

    Em 1922, G. Stanley Hall publicou Senescncia. Metade desta obrarecupera os modelos pr-modernos de envelhecimento. Utiliza o concei-to de senectude bem-sucedida, e critica os arranjos sociais contempo-

    AULA 3

    O DESENVOLVIMENTO HISTRICO ETERICO DA GERONTOLOGIAClia Pereira Caldas

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    rneos. Em seu texto, ele mescla resultados da pesquisa bsica sobre oenvelhecimento com sugestes prticas para os idosos.

    Nos anos anteriores Segunda Grande Guerra, as abordagensholsticas ganham fora nos Estados Unidos. Os cientistas se preocupamcom o estabelecimento de uma grande teoria que abrangesse todo oconhecimento de outras disciplinas para explicar o envelhecimento. Arealizao mais destacada deste perodo foi a obra Problemas do envelheci-mento, de 1939, organizada e editada por E. V. Cowdry, com recrutamen-to de 25 cientistas e apoio financeiro do Conselho Nacional de Pesquisa.Esta obra permanece como um marco, pelo qual se pode avaliar os

    esforos subseqentes para a construo terica gerontolgica.Ao longo de todo o sculo XX houve uma polarizao entre os

    tericos e os cientistas que se preocupavam com o envelhecimento: al-guns especialistas afirmaram que o envelhecimento resultava de doen-as degenerativas enquanto outros consideravam o envelhecimento comoum processo natural, sem relao com qualquer particular patologia.

    John Dewey, o mais importante filsofo norte-americano nesta poca,enfatizava a dificuldade inerente ao fato de se desconectar dados cien-tficos do contexto social. Ele foi um precursor do reconhecimentode que, no importam os mecanismos subjacentes, as expresses das

    nuanas dos contextos sociais podem traduzir a diferena entre o queRowe & Kahn (1987) se referiram meio sculo aps como envelheci-mento normal ou envelhecimento bem-sucedido.

    Na segunda edio de Problemas do envelhecimen to, em 1942,Lawrence Frank apontou que o problema multidimensional e irrequerer para sua soluo no apenas uma abordagem multidisciplinar,mas tambm uma correlao sinptica de diversos achados e diversospontos de vista. Estas posies emolduraram a agenda do desenvolvi-mento da Gerontologia no sculo XX.

    Os esforos de Cowdry, John Dewey e Lawrence Frank para cons-truir teorias baseadas na multidisciplinaridade no foram continuadospelas geraes subseqentes de pesquisadores do envelhecimento. Amaioria dos gerontlogos construiu sua reputao ao se aprofundar nostemas relativos ao envelhecimento, em sua especialidade de origem. Apartir de ento, teorias inovadoras passaram a surgir do trabalho realiza-do no interior de campos especficos e no de investigaes conduzidascom lgica interdisciplinar. A American Geriatrics Society, fundada em1942, complementaria a misso da Gerontological Society of Amrica

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    (1945), mas se subscreve aos cnones das Cincias Mdicas e endossaapenas secundariamente os princpios da pesquisa transdisciplinar.

    O esforo para gerar teorias ressurge no ps-Guerra. S que agoracada rea se preocupa com seus objetos prprios, sem buscar umaintegrao de saberes com os outros campos de conhecimento. Assim, aBiologia desenvolve as teorias biolgicas do envelhecimento e as CinciasHumanas e Sociais aperfeioam as teorias psicolgicas e sociais.

    Os bilogos assumem como definio de envelhecimento umasrie de mudanas letais que diminuem as probabilidades de sobrevivn-cia do indivduo e passam a se preocupar com a busca pelos

    determinantes ou marcadores do envelhecimento. As teorias biolgicasmais conhecidas so as seguintes: Teoria do Envelhecimento Celular(Weismann, 1882); Teoria do Uso e Desgaste (Pearl, 1928); Teoria dosRadicais Livres (Harman, 1956); Teoria da Mutao Somtica (Curtis,1961); Teorias Imunolgicas (Walford, 1969; Finch & Rose, 1995); e

    Teorias Hormonais Relgio Biolgico (Denckla, 1975).Nas Cincias Sociais, principalmente na Psicologia e na Sociologia,

    observa-se maior esforo para gerar teorias do envelhecimento. Na Soci-ologia, h trs geraes distintas de conceituaes. A primeira, de 1949a 1969, caracterizou a Gerontologia Social, cujos precursores so as obras

    Personal Adjustment in old Age (Cavan, Burgess, Havinghurst &Goldhammer, 1949) e Older People (Havinghurst & Albrecht, 1953). Soos marcos tericos da Gerontologia Social.

    Estes esforos se alinhavavam com as abordagens da Psicologia So-cial e tratavam das vrias formas de atividade e da satisfao de viver.Para explicar o ajuste em face do suposto declnio entre os idosos, estasabordagens se baseavam em fatores de nvel micro, como papis, normase grupos de referncia. As teorias desta gerao destacam o indivduocomo a unidade de anlise, no seu esforo de explicar os padres timose os padres no funcionais de ajuste. Estas teorias foram apresentadascomo modelos aplicveis universalmente, independentes de arranjoscontextuais ou sociais. Virtualmente sem exceo, os primeiros esforosse concentraram no ajuste individual, com os fatores sociais considera-dos como inquestionavelmente dados. So alguns exemplos de teoriassociolgicas da primeira gerao: Teoria do Desengajamento(Cumming & Henry, 1961); Teoria da Atividade (Havighurst, 1968);

    Teoria da Modernizao (Cowgill & Holmes, 1972); e Teoria daSubcultura (Rose, 1965).

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    A segunda gerao das teorias sociolgicas do envelhecimento, de1970 a 1985, adotou uma abordagem estrutural no nvel macro e incluiua estratificao por idade e teorias de modernizao. O foco estava nasformas pelas quais as condies estruturais cambiantes ditam os parmetrosdo processo de envelhecimento e a situao do idoso como uma catego-ria coletiva. Como reao aos seus pares da primeira gerao, os tericosda segunda gerao sugerem que o foco no nvel individual reducionistae desnecessrio. Nesta abordagem, considera-se que as pessoas envelhe-cem de acordo com a maneira que a sociedade se organiza, com aagenda poltica, e com o posicionamento dos indivduos na hierarquia

    social. A unidade de anlise nesta concepo a circunstncia estruturale no os atributos derivados do indivduo. So alguns exemplos das te-orias sociolgicas da segunda gerao: Teoria da Continuidade (Atchley,1989); Teoria do Colapso de Competncia (Kuypers & Bengtson, 1973);

    Teoria da Troca (Dowd, 1975); Teoria da Estratificao por Idade (Riley,Johnson & Foner, 1972); e Teoria Poltico-Econmica do Envelhecimento(Walker & Minkler, dcada de 1980).

    A terceira gerao de teorias sociolgicas do envelhecimento, nadcada de 1990, busca uma posio intermediria. Os atores so vistoscomo contribuintes ativos para os seus prprios mundos. A perspectiva

    fazer a sntese das duas geraes anteriores. A terceira gerao incorpo-ra a preocupao estruturalista com a distribuio de recursos, com as-pectos econmicos, e com os rumos da economia; mas tambm reconhe-ce que os atores criam significado e at a estrutura tem nuanas distin-tas, de acordo com o modo como vista pelos atores. Talvez a transiomais importante tenha sido o reconhecimento de que o envelhecimento um processo baseado em experincias, no ocorre isoladamente, e altamente influenciado pelas condies do entorno. Exemplos de teoriassociolgicas da terceira gerao: Teoria do Construcionismo Social; Te-oria Crtica; Perspectiva do Curso de Vida.

    Na Psicologia, o envelhecimento visto como parte do processo dedesenvolvimento humano. Algumas teorias psicolgicas do envelhecimen-to visam caractersticas amplas, como a personalidade, enquanto outrasexploram facetas particulares da percepo ou memria. Em qualquercaso, o propsito da Psicologia de Desenvolvimento Adulto e do Envelhe-cimento explicar como o comportamento se organiza no adulto e emque circunstncias se torna timo ou desorganizado. As teorias psicol-gicas do envelhecimento podem ser sistematizadas em trs paradigmas:

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    Paradigma da Mudana Ordenada (Bhler, 1935; Jung, 1930; Erikson,1950); Paradigma Contextualista (Neugarten, 1969; Havighurst, 1951);e Paradigma do Desenvolvimento ao Longo de Toda a Vida (L ife-SpanDevelopment), de orientao dialtica (Riegel, 1973, 1975, 1976).

    Referncias bibliogrficas

    HENDRICKS, J. & ACHENBAUM, A. Historical development of theories of aging.In: BENGTSON, V. L. & SCHAIE, K. W. (Eds.). Handbook of theories of aging.New York: Springer Publishing Company, 1999.

    NERI, A. L. Palavras-chave em Gerontologia.Campinas, SP: Alnea: 2001.____. Paradigmas contemporneos sobre o desenvolvimento humano em Psicolo-gia e em Sociologia. In: ____. (Org.).Desenvolvimento e envelhecimento. Campinas,SP: Papirus, 2001.

    ____. Teorias psicolgicas do envelhecimento. In: FREITAS, E. V. et al. Tratado deGeri atr ia e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

    ____. ROWE, J. W. & KAHN, R. L. Successfu l Aging. New York: Dell Trade Paperback,1999.

    SIQUEIRA, M. E. C. Teorias sociolgicas do envelhecimento. In: FREITAS, E. V. etal. Tratado de Geri atr ia e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

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    O Paradigma do Desenvolvimento ao Longo de Toda aVida (L ife-Span Development) reconhecido como fundamental para ainvestigao gerontolgica mais atual. Embora seja uma abordagem ori-ginada na Psicologia, esta perspectiva terica fruto de uma snteseentre as perspectivas sociolgicas e psicolgicas. Suas formulaes tmorigem nas ticas do Ciclo de Vida da Psicologia e do Curso de Vida da Sociologia.

    Na Psicologia, a perspectiva do Ciclo de Vida, proposto por ErikErikson na dcada de 1950, adota o critrio de estgios como princpio

    organizador do desenvolvimento Paradigma da Mudana Ordenada.Na Sociologia, o ponto de vista do Curso de Vida a partir de 1970 entende que a sociedade constri percursos de vida na medida em queprescreve expectativas e normas de comportamento apropriado para asdiferentes faixas etrias teorias sociolgicas de segunda e terceira ge-rao.

    Ainda na Psicologia, Erikson (1950) consagrou o termo Ciclo deVida quando o utilizou em sua teoria de desenvolvimento sobre as oitoidades do homem. Em sua concepo, as idades representam ciclos;tambm a vida humana, uma vez completa, representa um ciclo. O autorexerceu influncia sobre os tericos dos modelos de Curso de Vida Sociologia e Life-Span Psicologia.

    Na Sociologia, a perspectiva do Curso de Vida comea a se firmarna dcada de 1970 e usada para se analisar questes como a naturezadinmica e processual do envelhecimento; como o envelhecimento moldado pelo contexto, pela estrutura social e pelos significados culturais;e como o tempo, o perodo histrico e a coorte acomodam o processo deenvelhecimento, tanto para indivduos como para grupos sociais.

    AULA 4

    DESENVOLVIMENTO E ENVELHECIMENTO:PARADIGMAS CONTEMPORNEOSClia Pereira Caldas

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    Nesta viso, critrios de classe social, etnia, profisso e educao seentrelaam com a idade para determinar a posio dos indivduos e dosgrupos na sociedade. Pode ser identificada a partir da Teoria daEstratificao por Idade segunda gerao , mas se firma como umaperspectiva de terceira gerao dcada de 1990. influenciada pelasteorias psicolgicas do relgio social e das tarefas evolutivas ParadigmaContextualista, em Psicologia.

    A perspectiva de Curso da Vida apresenta os seguintes elementos:o envelhecimento acontece desde o nascimento at a morte no hum foco exclusivo na velhice; o envelhecimento envolve processos soci-

    ais, psicolgicos e biolgicos; a experincia de envelhecer marcada porfatores histricos de coorte.

    O primeiro terico a propor uma viso dialtica no mbito daPsicologia do Desenvolvimento foi Klaus Riegel, ao apresentar a perspec-tiva dialtica da cognio (Riegel, 1973). Esta teoria se refere capaci-dade de se viver em meio a contradies e habilidade que o ser hu-mano tem de sintetizar o conhecimento como resultado de uma longaexperincia de vida. Neste ponto de vista, os idosos podem no ser bem-sucedidos em operaes formais em testes cognitivos, mas tm xito emavaliaes dialticas. Operaes formais no representam a medida da

    inteligncia na maturidade. O pensar, em qualquer idade, essencial-mente dialtico.Riegel (1975, 1976) tambm contribuiu com este paradigma por

    meio de outra abordagem: a perspectiva dos Eventos da Vida, que con-sidera que a pessoa vai mudando medida que a estrutura social setransforma. Assim, a situao pessoaambiente totalmente passvel deinterveno por meio de medidas fsicas, psicolgicas e sociais. O desen-volvimento influenciado pelos seguintes processos: processo biolgicointerno de maturao e declnio sensorial na idade avanada; processoextra-fsico de maturao, que envolve eventos traumticos; processo dematurao psicolgica; e processo de maturao sociolgica. Os dois l-timos envolvem a capacidade de interagir em sociedade.

    Em 1987, Baltes prope o Paradigma L i fe-Span, de orientaodialtica. Para isso, Baltes sintetiza as idias de Riegel, a perspectivacontextualista Teoria do Relgio Social e Teoria das Tarefas Evolutivasda Vida Adulta e da Velhice e a Teoria da Aprendizagem Social, e asintegra com o Paradigma da Mudana Ordenada (Bhler e Erikson), oque resulta na proposio de que existem trs classes de influncia sobre

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    o desenvolvimento: a) normativas, graduadas por idade; b) normativas,balizadas por histria; e c) no-normativas.

    As variveis normativas graduadas por idade so as influncias bio-lgicas e socioculturais claramente associadas passagem do tempo. Porexemplo, maturao fsica; casamento, etc. As variveis normativas liga-das histria so eventos de alcance genrico, que so vividos por indi-vduos de uma dada unidade cultural e que guardam relaes commudanas biossociais que afetam todo o grupo etrio. So exemplos, aguerra, as crises econmicas, etc. As variveis no-normativas podem serde carter biolgico ou ambiental e no atingem a todos os indivduos

    de um grupo etrio ao mesmo tempo. Podemos exemplificar com de-semprego, divrcio, adoecer repentinamente, etc.

    A descrio do envelhecimento cognitivo como um duplo processoque prev o aperfeioamento da inteligncia cristalizada e, ao mesmotempo, o declnio da inteligncia fluida exemplifica essa questo. OParadigma de Desenvolvimento ao Longo de Toda a Vida Life-Spanadota uma perspectiva de declnio com compensao. De fato, hprejuzos nas capacidades biolgicas e comportamentais. No entanto, odeclnio moderado por experincias sociais que produzem capacida-des socializadas estveis ou at crescentes.

    Para Baltes (1987, 1997), a idade cronolgica no causa o desen-volvimento nem o envelhecimento, mas um importante indicador. Naverdade, o desenvolvimento se estende por toda a vida. Trata-se de umprocesso finito e limitado por influncias gentico-biolgicas,determinantes que o indivduo na velhice seja cada vez mais dependen-te dos recursos da cultura e, simultaneamente, cada vez menos responsivos suas influncias. Com o envelhecimento, diminui a plasticidadecomportamental, definida como a possibilidade de mudar para se adaptarao meio. Fica resguardado o potencial de desenvolvimento, dentro doslimites da plasticidade individual, a qual depende das condies histrico-culturais. Cada idade tem sua prpria dinmica de desenvolvimento.

    Referncias bibliogrficas

    NERI, A. L. Paradigmas contemporneos sobre o desenvolvimento humano emPsicologia e em Sociologia. In: NERI , A. L. (Org.).Desenvolv imento e envelhecimen-to. Campinas, SP: Papirus, 2001.

    ____. Teorias psicolgicas do envelhecimento. In: FREITAS, E. V. et al. (Org.).Tratado

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    de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.SIQUEIRA, M. E. C. Teorias Sociolgicas do Envelhecimento. In: FREITAS, E. V.

    et al. (Org.). Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 2002.

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    A interdisciplinaridade intrnseca constituio do cam-po da Gerontologia, pois o processo de envelhecimento permeia todosos aspectos da vida, do biolgico ao social, e demanda um trabalho emequipe para sua operacionalizao.

    Martins de S (1998) trabalha a definio de Gerontologia comocincia e explicita que ela utiliza contedos cientficos e tcnicos deoutros campos, dos quais participam dimenses biolgicas, psquicas, so-ciais, culturais e estticas. No se pode fragmentar o objeto porque aparte que ela isola ou arranca do contexto originrio do real o velho

    e o processo de envelhecimento s pode ser explicada efetivamentena integridade de suas caractersticas (p. 43).Assim, a Gerontologia no se limita a uma incorporao de saberes,

    mas um processo de criao contnua de novas estruturas conceituaise operacionais. Estes conhecimentos, ao romperem com as estruturasdisciplinares de origem, so recombinados, reconstrudos e sintetizadosde forma a configurar uma nova totalidade. Portanto, ainterdisciplinaridade caracterstica do processo de estudo daGerontologia, com troca permanente de conhecimentos, movimentoconstante e estabilidade dinmica. A estrutura terico-metodolgica podeser explicada como um conjunto de procedimentos interligados,interdependentes e coerentes.

    Outro autor, Bass (2000), tambm analisa o conceito deGerontologia, e lista suas bases de conhecimento:

    estudo cientfico do envelhecimento, perpassa por vrias discipli-nas incluindo a biologia, psicologia, sociologia, cincia poltica,histria, antropologia, economia, humanidades, tica, sendo inte-

    AULA 5

    A PRTICA GERONTOLGICA NAATENO SADE DO IDOSOLuciana Branco da Motta

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    grada a profisses como sade pblica, enfermagem, servio social,direito e medicina, entre outras. (p. 97)

    O debate acadmico acerca da interdisciplinaridade surge comocrtica fragmentao do saber e da produo de conhecimento.

    O reconhecimento da realidade como complexidade organizadaimplica que se busque compreend-la mediante estratgias din-micas e flexveis de organizao da diversidade percebida, de modoa se compreender as mltiplas interconexes nela existentes.

    (Lck, 2002)

    Desse modo, a Gerontologia objetiva trabalhar com uma viso derealidade que ultrapasse os limites disciplinares e conceituais do conhe-cimento e extrapole a sntese de conhecimento simplesmente porintegrao dos seus campos de origem, com vista associao dialticaentre dimenses polares como teoria e prtica, ao e reflexo, conte-do e processo. A prtica interdisciplinar permite a superao da frag-mentao, da linearidade e da artificializao, tanto do processo de pro-duo do conhecimento como do ensino e do afastamento em relao

    realidade (Lck, 2002).No campo da cincia, a interdisciplinaridade mostra a necessidadede se superar a fragmentao da produo de conhecimento. Seu obje-tivo ultrapassar a viso restrita de mundo e compreender a complexi-dade da realidade, e com isso resgatar a centralidade humana na reali-dade e na produo do conhecimento como ser determinante e deter-minado. Representa uma nova conscincia da realidade, do pensar, eambiciona a troca, a reciprocidade e a integrao entre diferentes reas,com o objetivo de resolver os problemas de forma global e abrangente.

    A realidade construda mediante uma teia de eventos e fatoresque ocasionam conseqncias encadeadas e recprocas, dinmica, emcontnuo movimento, e construda socialmente. A verdade relativa,pois o que se conhece depende diretamente da tica do sujeito, notem significado prprio, que atribudo pelo ser humano. Desta forma,a interdisciplinaridade vem como uma reao a esta fragmentao emdiversos campos, como o da Cincia, no qual pretende contribuir paraa superao da dissociao do conhecimento produzido. Na Educao,representa uma condio para a melhoria de qualidade pela superao

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    contnua da sua clssica fragmentao disciplinar, uma vez que orientaa formao global (Lck, 2002).

    necessria uma mudana de atitude individual e institucionalpara que a interdisciplinaridade floresa. No campo da Sade, ainterdisciplinaridade acena com a possibilidade da compreenso integraldo ser humano e do processo sadedoena (Feuerwerker, 1998). Aconstruo da interdisciplinaridade ultrapassa a renovao da estratgiaeducativa. E necessita ser consolidada por uma reestruturao acadmi-ca e institucional comprometida com a formao do profissional adequa-do para prestar atendimento eficaz, humano, baseado nas demandas do

    processo sadedoena (Sobral, 1990).Vasconcelos (2002) contextualiza e define tipos de prticas de

    produo de conhecimento e interpretao da realidade como multi,intere transdisciplinares. A prtica multi composta por campos de sabersimultneos, que mantm um objetivo nico, porm sem cooperao, erealiza um trabalho isolado e sem troca de informaes. Na pluri,h uma

    justaposio de campos em um mesmo nvel, no qual aparecem as rela-es existentes entre eles, com objetivos mltiplos e cooperao, pormsem coordenao. Na trans, h a estabilizao de um campo terico,aplicado ou disciplinar de tipo novo ou mais amplo em relao aos que

    lhe embasam. E na inter, na qual a interao participativa constri umeixo comum a um grupo de saberes, h apresentao de objetivos ml-tiplos, com horizontalizao das relaes de poder e coordenao.

    H uma busca de mudana estrutural que gere reciprocidade,identificao de problemtica comum, um trabalho conjunto que colo-que os princpios e conceitos bsicos dos campos originais, um esforo dedecodificao em linguagem mais acessvel e de traduo de sua signi-ficao para o senso comum que incorpore o interesse na aplicabilidadedo conhecimento produzido. Portanto, h uma recombinao dos ele-mentos, o que permite, com o tempo, a criao de campos novos desaber: tericos, prticos ou disciplinares.

    Para Vasconcelos (2002), as prticas interse desenvolvem em cam-pos como as disciplinas, teorias, paradigmas, campos epistemolgicos,profisses e campos de saber e fazer. Porm, o termo disciplina utilizado mais freqentemente para exprimir este contexto a interaoentre fronteiras de saber.

    Vasconcelos (2002) ressalta os obstculos e limitaes encontrados.No campo das profisses e instituies, o conflito se deve ao processo de

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    insero histrica na diviso social e tcnica do trabalho e na constitui-o dos saberes enquanto estratgia de poder e ao mandato socialsobre um campo de saber. A formalizao das profisses se acompanhado reconhecimento de reivindicaes de um saber e competncia exclu-sivos, aos quais atribudo um mandato social para tomar decises, re-alizar tarefas especficas, controlar recursos e responsabilidade legal, ecristalizar uma diviso social e tcnica do trabalho. A legislao profissi-onal e assistencial influencia as prticas profissionais e tambm as polti-cas sociais, a sociedade civil e o Estado.

    A institucionalizao de organizaes corporativas, como sindicatos

    e conselhos, que estabelecem fronteiras de saber e competncia, exercecontrole na formao e prtica, nas normas ticas, e defende interesseseconmicos e polticos de cada grupo. A cultura profissional tende aassumir valores culturais, imaginrios e identidades sociais, prefernciastcnicas e tericas, estilos de vida, padres de relao com a clientela,com a sociedade e com a vida poltica.

    Outro fator de dificuldade a precarizao das condies de tra-balho, nas quais os vnculos informais e frgeis, a multiplicidade de ocu-paes, a competitividade e a introduo de tecnologia levam a umasituao na qual a estruturao e o desenvolvimento da equipe se tor-

    nam difceis.

    Referncias bibliogrficas

    FEUERWERKER, L. C. M. & SENA, R. R. Interdisciplinaridade, trabalhomultiprofissional e em equipe. Sinnimos? Como se relacionam e o que tma ver com a nossa vida? Olho Mgico, ano 5, n. 18, p. 5-6, mar. 1998.

    LCK, H. Pedagogia interdi scipli nar: fundamentos terico-metodolgicos. 10 ed.Petrpolis, RJ: Vozes, 2002. 92 p.

    MARTINS DE S, J. L. Gerontologia e interdisciplinaridade: fundamentosepistemolgicos. Gerontologia, v. 6, n. 1, p. 41-45, 1998.

    VASCONCELOS, E. M. Complexidade e pesquisa interdisciplinar:Epistemologia e

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