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IDENTIFICAÇÃO DE ALGUNS PROCEDIMENTOS / ESTRATÉGIAS PREDOMINANTES NA TRADUÇÃO DE FILMES: UMA ABORDAGEM SOBRE A LEGENDAGEM PARA VÍDEO Daniel R. Forner Profª. Sônia M. M. Gazeta Introdução Dentre as mais diversas artes existentes no mundo, existe uma que se destacou muito desde que foi lançada pelos Irmãos Lumière, na França em 1895: a chamada Sétima Arte – o cinema – que se tornou uma das formas de diversão e entretenimento mais popular do mundo. É através de sua obra-prima – o filme – que choramos, nos emocionamos, rimos, aprendemos, criticamos e analisamos o mundo ao nosso redor. Enfim, o filme prende a nossa atenção e apela aos sentidos; mas para que esse apelo seja eficaz, o filme, principalmente quando produzido originalmente em língua estrangeira, requer que a tradução entre em cena em primeiro lugar, para que o obstáculo de não saber a língua estrangeira seja superado através de legendas ou dublagens. Embora até muito recentemente não se considerasse a legendagem relevante como objeto de estudo, temos que reconhecer não somente o valor da tradução de filmes, mas também o trabalho de se fazer legendas, pois exige tanto esforço, conhecimento e habilidade quanto a prática de tradução de um livro. Este trabalho tem como objetivo analisar alguns procedimentos / estratégias utilizados pelo tradutor de filmes na hora de realizar sua atividade. Neste trabalho, vou me limitar apenas a falar sobre a legendagem, já que a dublagem exige outras técnicas que merecem um estudo à parte. A tradução de um filme envolve uma série de requisitos que um tradutor deve ter sempre em mente. Tais requisitos referem-se às técnicas em relação à composição das legendas, que trabalham simultaneamente a relação tempo / espaço. Isso significa que o tradutor, além de elaborar sua tradução, deve ficar atento para não ultrapassar os limites de tempo, em segundos, e de espaços relacionados à quantidade de caracteres por legenda. O trabalho do tradutor de filmes, neste caso o legendista (Alvarenga 2000), pode utilizar alguns procedimentos / estratégias, que procuraremos descrever, neste estudo. Além disso, discutiremos algumas questões relacionadas ao grau de liberdade do tradutor de filmes ao desempenhar sua tarefa, bem como questões pertinentes à legenda. Capítulo 1 Cinema: um pouco de sua história Antes de focalizar o processo de tradução para legendagem de filmes, faremos, neste capítulo, uma breve retrospectiva em relação às origens do cinema, cuja invenção inaugurou uma dos entretenimentos mais populares de todos os tempos. O cinema, declarou o historiador Paul Rotha, “é a grande equação não resolvida entre a arte e a indústria”. É uma das maiores formas de arte industrializada que dominou a cultura no século XX. Desde seus primórdios, surgiu para se tornar uma indústria bilionária e uma das mais espetaculares e originais expressões da arte contemporânea. A história do cinema não começou com um “big bang”. Nenhum acontecimento exclusivo - quer seja a invenção patenteada do cinetoscópio de Thomas Edison ou a primeira exibição de filmes pelos Irmãos Lumière a um público pagante em 1895 – possa distinguir o précinema incerto do cinema em si. Pelo contrário, há uma seqüência que começa com os primeiros testes de aparelhos de projeção de imagens em movimento, o que inclui não só o surgimento, nos anos de 1890, do mecanismo

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IDENTIFICAÇÃO DE ALGUNS PROCEDIMENTOS / ESTRATÉGIAS PREDOMINANTES NA TRADUÇÃO DE FILMES: UMA ABORDAGEM SOBRE A LEGENDAGEM PARA VÍDEO Daniel R. Forner Profª. Sônia M. M. GazetaIntroduçãoDentre as mais diversas artes existentes no mundo, existe uma que se destacou muito desde que foi lançada pelos Irmãos Lumière, na França em 1895: a chamada Sétima Arte – o cinema – que se tornou uma das formas de diversão e entretenimento mais popular do mundo.É através de sua obra-prima – o filme – que choramos, nos emocionamos, rimos, aprendemos, criticamos e analisamos o mundo ao nosso redor. Enfim, o filme prende a nossa atenção e apela aos sentidos; mas para que esse apelo seja eficaz, o filme, principalmente quando produzido originalmente em língua estrangeira, requer que a tradução entre em cena em primeiro lugar, para que o obstáculo de não saber a língua estrangeira seja superado através de legendas ou dublagens.Embora até muito recentemente não se considerasse a legendagem relevante como objeto de estudo, temos que reconhecer não somente o valor da tradução de filmes, mas também o trabalho de se fazer legendas, pois exige tanto esforço, conhecimento e habilidade quanto a prática de tradução de um livro.Este trabalho tem como objetivo analisar alguns procedimentos / estratégias utilizados pelo tradutor de filmes na hora de realizar sua atividade. Neste trabalho, vou me limitar apenas a falar sobre a legendagem, já que a dublagem exige outras técnicas que merecem um estudo à parte.A tradução de um filme envolve uma série de requisitos que um tradutor deve ter sempre em mente. Tais requisitos referem-se às técnicas em relação à composição das legendas, que trabalham simultaneamente a relação tempo / espaço. Isso significa que o tradutor, além de elaborar sua tradução, deve ficar atento para não ultrapassar os limites de tempo, em segundos, e de espaços relacionados à quantidade de caracteres por legenda.O trabalho do tradutor de filmes, neste caso o legendista (Alvarenga 2000), pode utilizar alguns procedimentos / estratégias, que procuraremos descrever, neste estudo. Além disso, discutiremos algumas questões relacionadas ao grau de liberdade do tradutor de filmes ao desempenhar sua tarefa, bem como questões pertinentes à legenda.

Capítulo 1 Cinema: um pouco de sua históriaAntes de focalizar o processo de tradução para legendagem de filmes, faremos, neste capítulo, uma breve retrospectiva em relação às origens do cinema, cuja invenção inaugurou uma dos entretenimentos mais populares de todos os tempos. O cinema, declarou o historiador Paul Rotha, “é a grande equação não resolvida entre a arte e a indústria”. É uma das maiores formas de arte industrializada que dominou a cultura no século XX. Desde seus primórdios, surgiu para se tornar uma indústria bilionária e uma das mais espetaculares e originais expressões da arte contemporânea.A história do cinema não começou com um “big bang”. Nenhum acontecimento exclusivo - quer seja a invenção patenteada do cinetoscópio de Thomas Edison ou a primeira exibição de filmes pelos Irmãos Lumière a um público pagante em 1895 – possa distinguir o précinema incerto do cinema em si. Pelo contrário, há uma seqüência que começa com os primeiros testes de aparelhos de projeção de imagens em movimento, o que inclui não só o surgimento, nos anos de 1890, do mecanismo reconhecido como cinema, mas também os precursores da produção de imagem eletrônica. Os primeiros testes de transmissão de imagens por um aparelho do tipo televisão são, de fato, tão antigos quanto o cinema: Adriano de Paiva publicou seus primeiros estudos sobre o assunto em 1880, e George Rignoux parece ter alcançado uma transmissão efetiva em 1909. Enquanto isso, certas técnicas pré-cinema continuaram a ser usadas em conjunto com o cinema em si por volta de 1900-5, quando o cinema estava se firmando como uma nova forma de entretenimento e ensino em massa. Portanto, a lanterna mágica, o filme e a televisão não constituem três universos separados, com campos de estudo distintos, mas fazem parte, em conjunto, de um único processo de evolução (Geoffrey Nowell-Smith: 1996, minha tradução).1.1 As primeiras experiências:Os filmes produzem a ilusão de movimento contínuo pela passagem rápida de uma série de imagens distintas e seqüenciais à frente de uma fonte de luz, possibilitando que essas imagens

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sejam projetadas na tela. Cada imagem é mantida brevemente – uma questão de milésimos de segundos – e então é rapidamente substituída pela imagem seguinte. Se o processo for rápido e suave o suficiente, e as imagens semelhantes uma das outras, as imagens descontínuas são então percebidas como contínuas, criando-se, assim, a ilusão de movimento. A sensação luminosa produzida por um raio de luz que atinge a retina perdura, mesmo depois que o raio cessou de chegar ao olho, aproximadamente durante um décimo de segundo. O movimento que se aprecia no cinema é possível devido a essa persistência das imagens na retina. Na tela se projeta uma imagem que se mantém durante um tempo muito curto (aproximadamente 0,04 s), embora suficiente para que impressione a retina. A seguir é substituída por outra, enquanto no olho persiste ainda a anterior, e assim sucessivamente; de modo que para o olho essa sucessão produz o efeito de um movimento contínuo. O obturador do projetor permite que a luz chegue ao quadro do filme somente quando este se encontra em posição na janela, não deixando que a luz passe enquanto avança. Um mecanismo de ganchos encaixa-se nas perfurações no filme para sincronizar o avanço com a rotação do obturador.1.2 ProjetorTodos os projetores, desde os primeiros projetores de filmes até os mais modernos, possuem os mesmos componentes: fonte de luz, condensador e lente de projeção. O material transparente, com a imagem a ser projetada, é colocado no plano objeto de maneira que a fonte de luz, orientada pelo condensador, possa brilhar através do material e atingir a lente, que projeta a imagem ampliada sobre a tela.O sistema condensador é indispensável para a iluminação uniforme de todos os pontos da tela. Em geral, tem duas partes: um espelho esférico atrás da fonte de luz e um sistema de lentes que se localiza entre a fonte luminosa e o plano objeto. O espelho esférico capta a luz que, de outra maneira, se irradiaria para longe do objeto, e a reflete em direção ao objeto, dobrando com isso o brilho da fonte.1.3 O filmeO filme consiste numa seqüência de quadros transparentes que mostram objetos e pessoas em diferentes posições. O projetor de cinema possui, além da fonte luminosa e da lente, uma garra que puxa o filme, quadro por quadro, através de orifícios. É equipado também com um obturador, que corta o feixe luminoso quando se dá a mudança de quadro. Quando o filme é projetado, o obturador corta o feixe de luz cada vez que ocorre mudança de um quadro para outro. Nesse instante não há projeção. Entretanto não percebemos esse corte porque, apesar de apagado o feixe de luz, a imagem ainda persiste em nossa retina o tempo necessário para a troca de quadro. Se a freqüência é maior que trinta lampejos por segundo, não conseguimos perceber a variação da luminosidade, e temos a ilusão de que a luz permanece continuamente acesa.Assim o filme é uma seqüência de quadros separados e a imagem projetada na tela é sempre imóvel. Mas, como nossa vista guarda a imagem por um certo tempo, quando vemos um quadro a imagem do anterior ainda está em nosso olho. Assim, não percebemos o intervalo entre a projeção dos quadros de movimento.1.4 FormatosA largura de 35 mm para a película de celulose de filme foi primeiramente adotada por Thomas Edison, em 1892, para o seu cinetoscópio, um aparelho primitivo de visão de imagens, na qual era possível um espectador por vez assistir a um breve segmento do filme. O cinetoscópio teve tamanho sucesso comercial, que outros aparelhos criados posteriormente adotaram a largura de 35 mm como formato padrão.Hoje, os cinemas continuam adotando o formato de 35 mm de largura, com a taxa de projeção de 24 quadros por segundo, ou seja, um segundo é o resultado da projeção de 24 quadros seqüenciais. Já a televisão trabalha com a taxa de 30 quadros por segundo. Como arte e como tecnologia, o cinema já completou um século de existência. Os primeiros aparelhos cinemáticos começaram a ser testados nos anos de 1890 quase ao mesmo tempo nos EUA, França, Alemanha e Grã-Bretanha. Dentro de vinte anos, o cinema se propagou para o mundo todo. Desenvolveu-se uma tecnologia sofisticada e esteve no caminho para se tornar uma grande indústria, proporcionando a forma de entretenimento mais popular para o público do mundo todo, atraindo a atenção de empresários, artistas, cientistas e políticos, tal como é hoje, pois somos povoados de inúmeros filmes, que, além de terem os mais sofisticados efeitos especiais, mexem com nossa imaginação, fazendo-nos entrar no mundo da magia do cinema. Além de entretenimento, o filme era usado para fins educativos, propaganda e pesquisas científicas. Esse novo meio de

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entretenimento e comunicação de massa atraía público cada vez maior onde quer que o filme fosse exibido. Atualmente, o cinema é conhecido como a única arte com um perfil tecnológico, que se desenvolve cada vez mais. Nesse capítulo procuramos fazer um breve comentário sobre a surpreendente história do cinema, desde seus primórdios até os dias de hoje. No próximo capítulo vamos falar sobre as técnicas referentes à composição das legendas. Capítulo 2 O segredo de quem traduz e faz legendasOs filmes produzidos são exibidos por três veículos: o Cinema, o vídeo (VHS) e o DVD. Como já mencionamos, a tradução do material é necessária pois é através dela que podemos entender o filme através de duas modalidades: dublagem e legendagem. Filme Dublado Legendado Cada uma das modalidades de tradução exige suas técnicas próprias. Este estudo se limitará a uma abordagem sobre a legendagem que, por sua vez, divide-se em: Legendagem para Cinema, Legendagem para Vídeo (VHS) e agora, legendagem para DVD. Neste caso, estudaremos a legendagem para vídeo. Para falar do contexto histórico das legendas, apresentamos uma cronologia dos primórdios do cinema: A primeira fase do cinema é denominada cinema mudo (silent cinema, 1895 -1930) que vai desde as primeiras exibições de trechos curtos de imagens (early cinema), passando pela consolidação da indústria cinematográfica poderosa com fins comerciais (1915), até a introdução do som no início da década de 1930. Embora essa época seja denominada cinema mudo, os filmes exibidos não eram totalmente mudos: A trilha sonora era reproduzida, ao vivo, separadamente por uma orquestra (Ou apenas um pianista, dependendo da classe social onde o filme fosse exibido), ao lado da tela de projeção enquanto o filme fosse exibido. Também nesse período, todos os filmes mudos tinham algum tipo de sonoplastia, também executada ao vivo, para reprodução de alguns efeitos sonoros, além de uma espécie de orador (lecturer) que fazia comentários em relação às imagens que passavam na tela, explicando o conteúdo e o significado à platéia.Com o passar dos anos, inovações tecnológicas para a época foram-se desenvolvendo. O cinema cresceu rapidamente nas duas primeiras décadas de sua existência. Foi no período de transição (transitional cinema), entre 1907 e 1913, em pleno cinema mudo, que as legendas começaram a ser introduzidas para reproduzir os diálogos dos filmes. Este novo recurso permitia ao público entender o enredo durante sua exibição, além de reduzir os custos com a exibição, já que antes era preciso contratar vários oradores para transmitirem a mensagem do filme ao público. A mudança para o uso das legendas durante o período de transição foi um dos fatores responsáveis pela vivacidade e credibilidade individual das personagens. As legendas eramproduzidas quadro a quadro, como se fosse uma cena do filme, com um fundo preto, pois nessa época não havia tecnologia que permitisse “imprimir” as legendas na película cinematográfica, nem mesmo programas de computador que facilitasse a composição das legendas e sua inserção na tela conforme se faz hoje. Inicialmente, as legendas eram explicativas, sempre precedendo a cena e proporcionando descrições longas sobre a ação seguinte. Gradativamente, legendas explicativas mais curtas se distribuíram por toda a cena, substituindo as mais longas. O mais importante é que as legendas de diálogos começaram aaparecer a partir de 1910. Os cineastas experimentaram a colocação dessas legendas, primeiramente inserindo-as antes da cena onde houvesse o diálogo. Nessa época, as legendas eram escritas no mesmo idioma do país de origem para exibição local; e játraduzidas para o idioma de determinado país, onde quer que fosse exibido. A partir de 1913, as legendas começaram a ser introduzidas no momento da fala da personagem. Isso era uma forma de promover uma integração mais forte entre o diálogo e o ator, fortalecendo, assim, a individualidade da personagem.2.1 Legendas – Em Busca de um ConceitoAté o presente, a literatura e estudos sobre tradução cinematográfica parecem não ter se preocupado em definir, do ponto de vista lingüístico, o que é uma legenda. Até mesmo os profissionais da área estão em busca de um conceito, apesar de a legenda estar presente nas telas desde 1913. Etimologicamente, “legenda” significa ler. Ela constitui, como já visto, um dos elos de comunicação entre o filme e o público: nitidamente, podemos perceber que é a tradução escrita da fala que acompanha a imagem sendo, portanto, visual, pois consiste na impressão de um texto escrito na imagem. Como as legendas transmitem por escrito algo que foi falado, uma das possibilidades seria considerar que elas transformam a língua falada em língua escrita. Marcuschi (1994), em seu artigo intitulado Da Fala para a Escrita, chama o processo de transformação da fala para a escrita de retextualização. Na realidade, a língua escrita possui

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suas marcas próprias referentes à legibilidade do texto, onde as sentenças seguem uma ordem lingüística. Já a fala, quando naturalmente transcrita, não se torna legível pois a organização dodiscurso falado segue normas diferentes da escrita. A fala é marcada por pausas, reiterações, hesitações, omissões e outras características normalmente não presentes no texto escrito. Se observarmos um texto transcrito, podemos ver que as marcas da fala se refletem na escrita, tornando os enunciados difíceis de compreender. As operações de transformação da fala para a escrita seguem um processo de tratamento da seqüência dos enunciados de forma que o texto escrito fique legível.Se considerarmos a legenda como um produto da retextualização (transformação da fala para a escrita), observaremos que o processo que envolve a legendagem é um pouco mais complexo, pois sua composição passa por um processo lingüístico mais longo até chegar na sua forma final, conforme os passos a seguir: 1 – O filme é escrito por um roteirista, portanto, temos um roteiro original escrito; 2 – Esse roteiro será decorado por um ator que, por sua vez, repetirá oralmente as falas do roteiro original, podendo modificar algo sobre esse roteiro, usando sua criatividade, o talento artístico que envolve a interpretação ou aorientação do diretor do filme; 3 – O tradutor fará a tradução no formato de legendas, recorrendo ao roteiro escrito para a elaboração da forma escrita traduzida, também utilizando sua criatividade e domínio lingüístico através de certas estratégias. Assim, temos a seguinte representação:Roteiro (texto escrito) ® Representação do ator (texto falado) ® LEGENDA (texto escrito traduzido)De acordo com essa perspectiva mencionada acima, podemos observar que o processo de composição de legendas não segue os procedimentos comuns de uma retextualização; porém envolve maior complexidade em termos de manobras lingüísticas. As etapas de transição (escrita – fala – tradução escrita) envolvem operações de ajustes da linguagem para que haja clareza e legibilidade. Seguindo esse raciocínio, podemos atribuir esse conjunto de características próprias da legenda à formação de um gênero discursivo que chamamos de legenda, pois, segundo Bakhtin (1993), “cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo denominado de gêneros do discurso.” Portanto, podemos considerar a legenda como um gênero discursivo com suas características próprias, atuando na esfera ou no mundo dos filmes. Além do processo descrito acima, é necessário que o tradutor siga as regras técnicas que serão descritas a seguir.As legendas trabalham, via de regra, com a relação tempo / espaço simultaneamente. O tempo é cronometrado em segundos, e o espaço é medido pela quantidade máxima de caracteres por linha. Esse espaço varia de acordo com o programa utilizado na geração das legendas. No cinema, as legendas normalmente compõem-se de, no máximo, duas linhas com 36 a 44 espaços cada, e na televisão / vídeo / DVD, as legendas compõe-se de duas linhas entre 26 e 30 espaços.Segundo Alvarenga (2000), convencionou-se que o tempo médio de leitura de cada legenda de duas linhas de 30 caracteres cada, na tela, é de quatro segundos. Fazendo as divisões proporcionais, até 15 caracteres, numa linha, representam 1 segundo de leitura. 30 caracteres, 2 segundos de leitura; 45 caracteres (uma linha e meia), 3 segundos de leitura e, finalmente 60 caracteres, 4 segundos de leitura. Vejamos os seguintes exemplos de legendas tirados do filme O Fugitivo (1993, Warner) – Fala de RichardNão matei minha esposa! A legenda acima possui 24 caracteres, portanto, o tempo que ficará na tela será de 2 segundos.A próxima legenda é um vocativo, extraído da fala de Helen Kimble. Como ela possui menos de 15 caracteres, ficará na tela apenas 1 segundo, servindo de exemplo também para outras legendas de uma ou duas palavras como: Vai!, Corra!, Rápido! Peguem-no!, Agora!, etc.Richard!Nesta próxima legenda composta de duas linhas, a primeira linha tem 15 caracteres, portanto, 1 segundo, mais a linha de baixo com 27 caracteres, portanto, 2 segundos. Somando o tempo das duas linhas, essa legenda ficará ao todo 3 segundos na tela. Fala de Kimble: Quando cheguei, havia um cara em minha casa2.2 O processo de legendagem para videoDescrevemos o processo lingüístico de composição das legendas, a seguir descreveremos o processo técnico que envolve sua elaboração. A legendagem de um filme consiste de quatro etapas:1 – A tradução:

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O filme é traduzido por um tradutor, que irá se encarregar de transmitir a mensagem da língua-alvo ao público. Durante a tradução, o tradutor deve ter em mãos: um computador, onde irá formular a legenda, geralmente em um processador de texto como o MS-Word, um vídeocassete, uma TV e o mais importante: normalmente o profissional é auxiliado pelo roteiro original do filme que está traduzindo. Portanto, ele assiste ao filme enquanto traduz, pois o filme, a imagem, a seqüência das cenas é o seu objeto de trabalho. Ao fazer a tradução para legendas, os principais aspectos a serem analisados são a duração e o tamanho da legenda medido pelo número de caracteres por linha. Como podemos perceber, o tradutor que atua na área de tradução de filmes está diante de um processo rigoroso e delicado que exige muita habilidade, percepção e esforço, pois é necessário seguir à risca suas normas técnicas e, conseqüentemente, adaptar sua tradução à legenda. Para Alvarenga (2000) essa etapa inicial pode ser chamada de legendação. Nesta etapa, o tradutor traduz os diálogos e compõem as legendas, recebendo, assim, o título de tradutor legendista. Alvarenga também afirma que o tradutor legendista deve ter, além da habilidade com a língua portuguesa e domínio cultural, a habilidade para articular a língua com o objetivo de compor a legenda em português. Para isso, é necessário que haja percepção da cena e “enxugar ao máximo possível” o diálogo para obter uma legenda adequada. Muitas vezes, as pessoas criticam a tradução de um filme sem contudo, conhecer o rigoroso e delicado processo que é traduzir e fazer legendas.2 – A Marcação:A tradução é encaminhada para o marcador, que é o profissional encarregado de fazer a marcação das legendas. Nesta etapa o arquivo traduzido em formato .DOC é convertido para o software de legendagem específico - analógico ou digital. O Software digital é utilizado também para legendagens em DVDs. A marcação é dividida em duas etapas. Primeiramente, o marcador irá indicar o tempo da entrada e da saída de cada legenda, respeitando o sincronismo entre a fala e os padrões de tempo da mesma. Na segunda etapa ele assistirá ao filme fazendo um controle de qualidade da marcação.3 – A RevisãoNesta etapa, o revisor, profissional encarregado da revisão com amplo conhecimento lingüístico da Língua Portuguesa, assistirá ao filme para fazer o controle de qualidade das legendas, onde a tradução é analisada para se detectar possíveis erros gramaticais e ortográficos cometidos pelo tradutor.4 – Gravação FinalEsta é a etapa final em que o revisor encaminhará o arquivo com as legendas marcadas e revisadas para o responsável pelo centro de masterização. Neste centro, que consiste numa enorme ilha de edição, as legendas serão gravadas no filme, em uma nova fita matriz, através de equipamento profissional de última geração. A este responsável, Alvarenga sugere que seja chamado de legendador , pois é o profissional técnico cuja tarefa é de gravar o filme, já fazendo a inserção das legendas. Depois de feita a nova fita matriz já com as legendas gravadas, esta fita é encaminhada para o centro de duplicação onde são feitas centenas de duplicações ou replicações, a partir do original, destinando-se, assim, para serem comercializadas. Para finalizar, todo esse processo é chamado de legendagem, abrangendo as quatro etapas.Vale lembrar que normalmente emprega-se o termo duplicação ou replicação para se referir às cópias dos filmes devidamente legais com destino à comercialização e à locação, o que conhecemos por fita selada, para distinguir do mero termo “cópia”, empregado para fins ilícitos (pirataria).2.3 Duração da legenda:A legenda deve permanecer na tela durante o tempo adequado para leitura, nem mais - tornando se cansativa e prendendo a atenção desnecessariamente, e nem menos – tornando a legenda muito rápida para a leitura. Portanto, é necessário que haja sincronismo entre a fala e a velocidade com que é realizada, ou seja, uma boa legenda deve entrar junto com a fala e sair junto com ela, observando-se sua velocidade. A velocidade da fala é o fator determinante nos seguintes aspectos: quando uma determinada frase é falada pausadamente a legenda pode sair logo após o término; se a fala é feita de forma mais rápida a legenda será mantida um pouco mais tempo na tela ou se ligará com a fala seguinte, como nos dois exemplos abaixo extraídos do filme Indiana Jones e A Última Cruzada (Paramount : 1989), envolvendo a fala de Henry Jones e Indy, respectivamente,formando um único diálogo:

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- Eles estão querendo nos matar!- Eu sei, Pai!+- Ela é nazista!- O quê disse?Nesses dois diálogos acima, cada linha é a fala de uma personagem diferente que se uniu numa só legenda, pois a velocidade de ambas as falas foi muito rápida. O legendista, neste caso, também atua como um marcador, mas um marcador “virtual”, pois, durante a tradução, ele precisa contar o tempo de cada diálogo. Há também critérios como a mudança de cena. Neste caso é ideal que a legenda não transponha uma cena, a não ser que a fala também a transponha. Se assim for, a legenda será em itálico.2.4 TamanhoOutro fator determinante é a limitação do número de caracteres permitidos por linha, que, como já foi dito, irá variar de acordo com o software utilizado para a legendagem - Muitas empresas que produzem legendas normalmente utilizam o programa SYSTIMES e também o TRANSPOTTING. Já a VIDEOLAR utiliza o programa sueco de marcação e legendagem CAVENA SCAN TITLING. Considerando a limitação do número de caracteres permitidos por linha o tempo máximo e mínimo para leitura, o tradutor, muitas vezes, terá que fazer resumos e adaptações para adequar a legenda às falas. Neste capítulo analisamos sinteticamente os procedimentos técnicos necessários para a composição das legendas. A seguir, trataremos das estratégias de tradução cinematográfica, utilizadas pelo tradutor conforme as normas técnicas.Capitulo 3Estratégias de tradução para legendagem de vídeo Como vimos, a tradução de um filme para legendagem envolve uma série de requisitos que um tradutor deve ter sempre em mente. Esses requisitos, como vimos no capítulo anterior, referem-se às técnicas em relação à composição das legendas, além de o profissional ter uma ampla bagagem cultural e domínio nas articulações dos diálogos no estilo da língua alvo. Para realizar este estudo, alguns filmes legendados foram selecionados, sempre fazendouma comparação entre o Roteiro original e a tradução. Nessas observações, constatamos que o tradutor adota algumas estratégias para tradução em vários diálogos, em virtude das técnicas impostas para a legendagem, a fim de transmitir da melhor maneira possível a fala das personagens. No livro Procedimentos Técnicos da Tradução, Barbosa (1990) apresenta váriosprocedimentos, ou modelos, para traduzir textos de qualquer natureza, como uma ferramenta auxiliar no trabalho do tradutor. Segundo a autora, essa obra constitui: “...uma tentativa de recaracterização e de recategorização dos procedimentos técnicos necessários para transferir significados de um código lingüístico para outro.”Através das observações feitas, procuraremos apresentar as estratégias que o tradutor legendista utiliza para traduzir de tradução utilizadas, tendo em vista os procedimentos3 que a autora defende em seu livro, pois, como também ocorre na tradução de filmes, esses procedimentos são utilizados para transmitir a mensagem da língua de origem para a língua alvo. Heloísa Barbosa faz um levantamento de quatorze procedimentos técnicos descritos sinteticamente a seguir:3.1 TRADUÇÃO PALAVRA-POR-PALAVRAÉ a tradução em que determinado segmento textual (palavra, frase, oração) é expresso na LT mantendo-se as mesmas categorias numa mesma ordem sintática, utilizando vocábulos cujo semantismo seja (aproximadamente) idêntico ao dos vocábuloscorrespondentes no TLO (Aubert, 1987:15), por exemplo:He wrote a letter to the mayor sans retard.Ele escreveu uma carta para o prefeito sem demora.3.2 TRADUÇÃO LITERALÉ a tradução em que se mantém uma fidelidade semântica estrita, adequando porém a morfossintaxe às normas gramaticais na LT (Aubert, 1987:15). Alguns autores como Vazquez-Ayora (1977), negligenciam esse procedimento pois, segundo eles, é o responsável por muitos erros de tradução. Os exemplos abaixo são de segmentos textuais, onde é possível observar as alteraçõesmorfossintáticas a que foram submetidos. Essas alterações distinguem a tradução palavra por-palavra da tradução literal. Exemplo:

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It is a known fact\ é \ fato conhecido3.3 A TRANSPOSIÇÃOConsiste na mudança de classe gramatical de elementos que constituem o segmento a traduzir, como se observa nos exemplos abaixo: She said apologetically - advérbio(ela) disse desculpando-se - verbo reflexivo(ela) disse como justificativa - adjunto adverbial3.4 A MODULAÇÃOEsse procedimento consiste em... “...reproduzir a mensagem da TLO no TLT4 mas sob um ponto de vista diverso, o que reflete uma diferença no modo como as línguas interpretam a expressão do real ...” Em outras palavras, esse procedimento / estratégia consiste em transmitir a mesmamensagem em outras palavras. É um procedimento muito utilizado nos diálogos traduzidos, visto que eles são necessários caso as normas administrativas tenham que ser seguidas, obrigando o tradutor a fazer uma reestruturação ou uma adaptação na legenda para não ultrapassar os limites de espaço e tempo de leitura permitidos, resultando, assim, no uso desses procedimentos / estratégias.3.5 OMISSÃOQuanto à omissão, a autora afirma que: “...consiste em omitir elementos do TLO que, do ponto de vista da LT, são desnecessários ou excessivamente repetitivos. Na tradução do inglês para o português, esse procedimento é usado, por exemplo, em relação aos pronomes pessoais. Em inglês ocorre aquilo que, em português, seria considerada uma repetição excessiva deles, já que o português, auxiliado pelas desinências verbais que deixam claro a que pessoa se refere o verbo, costuma omitir o pronome pessoal na posição de sujeito, ao contrário do inglês, onde é obrigatória sua presença.”3.6 EQUIVALÊNCIAA equivalência consiste em substituir um segmento de texto da LO por um outro segmento da LT que não o traduz literalmente, mas que lhe é funcionalmente equivalente. Esse procedimento é muito utilizado em clichês, expressões idiomáticas, provérbios, ditos populares. Exemplos:It´s a piece of cake - É sopa!Yours faithfully - CordialmenteHe fell off a turnip truck - Caiu de pára-quedas3.7 EXPLICITAÇÃOAo passo que a omissão consiste em omitir elementos desnecessários para a LT, como é o caso dos pronomes pessoais (ver: omissão), a explicitação é o processo inverso quando se traduz do português para o inglês, já que é necessária a explicitação do pronome, pois sua presença é obrigatória em inglês. (Vazquez-Ayora 1977, q.v. 2.1.4, p.46).3.8 A COMPENSAÇÃOConsiste em deslocar um recurso estilístico, ou seja, quando não é possível reproduzir no mesmo ponto, no TLT, um recurso estilístico usado no TLO, o tradutor pode usar um outro recurso de efeito equivalente em outro ponto do texto. Os trocadilhos, por exemplo, muito freqüente nos filmes, quando não podem ser efetuados com um mesmo grupo de palavras, podem ser feitos em outro ponto do texto onde sejam possíveis para equilibrar o texto estilisticamente. (Nida, 1964; Vazquez-Ayora, 1977, q.v. 2.1.4, p.47; Newmark, 1981, 1988)3.9 A RECONSTRUÇÃO DE PERÍODOSConsiste em re-dividir ou reagrupar os períodos e as orações do original ao passá-los para a LT. Na tradução do português para o inglês, é necessário, muitas vezes, distribuir as orações complexas do português em períodos mais curtos em inglês. Já na tradução do inglês para o português ocorre o inverso (Newmark, 1981, q.v. 2.1.5, p. 55).3.10 AS MELHORIASAs melhorias consistem em não se repetirem na tradução os erros de fato ou outros tipos de erros cometidos no TLO. (Newmark, 1981, p. 55, 1988).3.11 A TRANSFERÊNCIAConsiste em introduzir material textual da LO no TLO (Newmark, 1988 : 81-82) e pode assumir as seguintes formas:Estrangeirismo: copiar ou transcrever para o TLT vocábulos ou expressões da LO que se refiram a um conceito, técnica ou um objeto mencionado no TLO;

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Estrangeirismo transliterado: consiste em substituir uma convenção gráfica por outra, como no caso de glasnost, uma transliteração do alfabeto cirílico para o romano, e que não deve ser confundida com a transcrição fonética. Na tradução entre o inglês e o português normalmente não haverá lugar para este procedimento, uma vez que as duas línguas utilizam o alfabeto romano. Estrangeirismo aclimatado; processo através do qual os empréstimos são adaptados à língua que os toma. (Ex: coktail = coquetel; Football = futebol; Whisky = Uísque, etc) Estrangeirismo + explicação = pode ser uma nota de rodapé ou através de uma diluição do texto para situar um expectador ou um leitor a um determinado contexto.3.12 EXPLICAÇÃOHavendo a necessidade de eliminar do TLT os estrangeirismos para facilitar a compreensão, pode-se substituir o estrangeirismo pela sua explicação. Isso pode acontecer numa peça de teatro, por exemplo, em que, por uma questão de ritmo cênico, é preciso que o expectador tenha uma compreensão imediata da situação. Este procedimento é descrito por Nida (1964).3.13 O DECALQUEO decalque consiste em traduzir literalmente sintagmas ou tipos frasais da LO no TLT, abandonando a confusão que se criou em torno do termo decalque empregado por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1, p. 27), já que, como foi visto, muitos autores interpretam o decalque como sendo uma aclimatação do empréstimo lingüístico.3.14 ADAPTAÇÃOÉ o limite extremo da tradução: aplica-se em casos onde a situação toda a que se refere o TLO não existe na realidade extralingüística dos falantes da LT. Esta situação pode ser recriada por uma outra equivalente na realidade extralingüística da LT.O tradutor utiliza esses procedimentos / estratégias para adequar sua tradução de acordo com as técnicas da legenda que devem ser respeitadas. Se um diálogo for muito longo, ele pode omitir elementos desnecessários, deixando apenas a informação essencial para o expectador.3.15 A Liberdade do Tradutor sob Limitações de Tempo e EspaçoDependendo do gênero do filme, principalmente comédia, com exceção aos filmes de linguagem mais técnica, a maioria dos seus diálogos possui uma linguagem coloquial no estilo cultural do país que o produziu. Diante disso, o tradutor pode utilizar essesprocedimentos estratégias não apenas para adaptar a tradução na legenda, levando em conta a noção de tempo e espaço, mas também pode utilizá-las como recurso estilístico para adequar a linguagem coloquial do diálogo original ao nosso estilo de linguagem coloquial compreendendo provérbios e trocadilhos, expressões idiomáticas, e os aspectos culturais próprios da região. Neste caso, o uso desses procedimentos é facultativo. Diante disso, mesmo sob as limitações de tempo e espaço impostos pela legenda, o tradutor pode desfrutar de uma certa liberdade para realizar a transferência da mensagem do original para a língua alvo, sempre com o objetivo de formular uma legenda natural, seguindo o ritmo do enredo, das cenas, para que não desvie a atenção do expectador do filme. Normalmente os tradutores legendistas fazem uso da modulação, ou da adaptação, ou de algum outro procedimento, dependendo da situação, com a finalidade de aproximar o diálogo original de uma cultura diferente ao nosso estilo de linguagem, recorrendo, assim, ao uso das nossas expressões idiomáticas, do nosso estilo de linguagem coloquial. Tudo isso para não perder a essência da trama, embora muitos afirmem que a trama é prejudicada na tradução. Portanto, eis mais um motivo pela qual se requer tanta habilidade e percepção do tradutor, justamente para evitar essa perda, e, assim, tentar resgatar o valor que devemos dar a essa atividade. No próximo capítulo, faremos uma discussão na prática como esses procedimentos / estratégias são utilizados, com exemplos de diálogos traduzidos de alguns filmes famosos. Capítulo 4Da teoria à prática: o emprego de alguns dos procedimentos / estratégias Nesse capítulo, faremos uma exemplificação de vários diálogos traduzidos: primeiro o Roteiro original e, a seguir, a tradução final que foi legendada. Quero chamar a atenção paraos procedimentos / estratégias presentes na versão brasileira.4.1 Indiana Jones e A Última Cruzada - O filme Indiana Jones e A Última Cruzada (1989) conta as aventuras de Indiana Jones eseu pai em busca do Santo Graal, o cálice que, segundo a lenda, foi usado por Cristo na última ceia. Neste filme podemos observar algumas modulações nos seguintes diálogos:Roteiro Original

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LegendaChaps, don't anybody wander off!Some of the passageways in here can run for milesNão vão se distrair!Algumas trilhas são muito fundas!Essa cena se passa no início do filme. Nesse diálogo, houve uma concordância de significados entre as versões. Dizer que as passagens subterrâneas são fundas em sentido horizontal (e não de profundidade) é o mesmo de dizer que elas se estendem porquilômetros, conforme mencionado no Roteiro original, por se tratar de passagens subterrâneas. Esta próxima cena se passa depois que o jovem Indiana recupera um crucifixo de ouro que estava sendo roubado por um suposto dono (Fedora5). Este recupera a peça, e, juntamente com um xerife local, diz:Roteiro OriginalLegendaFEDORA: You lost today, kid, but that doesn't mean you have to like it!Hoje você perdeu, mas não quer dizer que não ganhe.Hoje você perdeu, que quer dizer “perder a parada”. Os dois diálogos basicamente dizem a mesma mensagem. Literalmente no roteiro original, Fedora quis dizer: Mas não significa que precisa gostar de perder. Já na tradução, o tradutor optou por fazer uma alteração que soe melhor na nossa língua para transmitir a mesma mensagem do original: “... mas não quer dizer que não ganhe.” Portanto, ao analisar ambos pontos de vista, Indiana um dia iria vencer e que ele não seria um perdedor.Nesse próximo diálogo, Indy fala sobre seu pai a Walter Donovam:Roteiro OriginalLegendaINDY - Grail lore is his hobby. He's a teacher of Medieval Literature. The one the students hope they don't get.Seu hobby é os mitos do Graal. Ele é professor de Literatura Medieval, matéria da qual os alunos tentam fugir.Como o próprio diálogo diz, o pai de Indy (Henry Jones) é professor de uma disciplina que não é do agrado dos alunos. Portanto, dizer que a Literatura Medieval é uma disciplina que os alunos esperam não ter é o motivo de eles tentarem fugir. O que importa é que eles não gostam mesmo.Na próxima cena, Indy e seu pai estão sentados cada um na sua cadeira e amarrados um de costas para o outro. Então, a traidora nazista Elza Schneider dirige a palavra para Indy. Eis o diálogo, dando ênfase à fala de Indy:Roteiro OriginalLegendaELZA - Don't look at me like that-we both wanted the Grail, I would have done anything to get it. You would have done the same.INDY - I'm sorry you think soNão me olhe assim, nos dois queremos o Grall. Eu faria qualquer coisa para obtê-lo, e você faria o mesmo que eu.É o que pensa?Nesta cena, Indy contraria a opinião de Elza. Literalmente, segundo original, seria lamento por você pensar assim. O tradutor optou por uma colocação mais próxima ao nosso estilo e de uma forma mais reduzida, fazendo o uso da modulação e da omissão, pois, além de manter a mesma idéia segundo o original, observe que a tradução se transformou numa pergunta. Além da escolha, É o que pensa?, poderia também ser usado a colocação É aí que você se engana!, pois, neste caso, a modulação mudou o ponto de vista semântico, sem transformá-la numa pergunta, mantendo a frase no modo afirmativo como no original.Portanto, a tradução literal de 29 caracteres foi traduzida para uma legenda de 10caracteres: É o que pensa?Vejamos o próximo diálogo:Roteiro OriginalLegendaHENRY - Those people are trying to kill us!INDY - I know, DadlHENRY - It's a new experience for me.

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INDY- It happens to me all timeEles estão querendo nos matar!Eu sei, Pai!É uma novidade para mim!Estou acostumado!Esse diálogo se passa na cena em que pai (Henry) e filho (Indy) tentam escapar de dois aviões nazistas. Eles estão passando por perigos a que o pai não está acostumado, só o filho, Indiana, que diz literalmente, acontece comigo a toda hora (Perigo). Na tradução final se estabeleceu: estou acostumado!, por ele correr perigo a toda hora. Poderia até arriscar uma outra opção como: pra mim já virou rotina. A fala de Henry dizendo é uma nova experiência pra mim literalmente como no original, ficou É uma novidade pra mim!, o que também poderia ser expressa como: nunca passei por isso!Nesse mesmo filme, destaco algumas omissões, que também não fugiram da mensagem original. Foram usadas por se tratarem de falas rápidas, e se as legendas fossem longas, iria atrapalhar a observação da cena.Esta cena se passa dentro da biblioteca, em Veneza, onde Indy, Elza Schneider e Marcus Brody procuram pistas sobre o paradeiro do pai de Indy. Num determinado momento, Elza sai de cena e Indy pede a Marcus para não contar a ela sobre o diário do Grall, escrito pelo pai de Indy.Roteiro OriginalLegendaINDY - My dad sent me this Diary for a reason. Until we find out why, I suggest we keep it to ourselves.Não conte a ela que tenho o diário.Indy disse sussurrando e rapidamente. Se todas as palavras fossem colocadas, haveria a necessidade de compor duas ou até três legendas com tempo muito curto na tela. Portanto, o tradutor reduziu o texto para que essa fala rápida pudesse ser descrita em uma legenda de uma linha, podendo ficar até 4 segundos no ar, que foi o tempo da fala toda, sem fugir da mensagem que Indy queria passar para Brody e, conseqüentemente para o público.Observemos a seqüência dos diálogos a seguir:Roteiro OriginalLegendaINDY - Since I've met you, I've nearly been incinerated, drowned, shot at, and chopped into fish bait. We're caught in the middle of something sinister here. My guess is Dad found out more than he was looking for. And until I'm sure..., I'm going to continue to do things the way I think they should be done.INDY - Até agora fui quase afogado,Incinerado e picado. 1É sinistro. Meu pai descobriumais do que procurava. 2E até ter certeza... 3Vou continuar fazendo tudoÀ minha maneira. 4No diálogo acima, a velocidade da fala de Indy foi muito rápida e, para não perder o conteúdo, foi necessário fazer um resumo de toda a fala, resultando em quatro legendas. Por exemplo, a frase Since I've met you foi reduzida e modulada para Até agora, para sintetizar a seqüência dos acontecimentos até o presente momento. Se fosse para colocar todo o texto em legendas, elas teriam um tempo muito curto na tela – a metade do tempo requisitado - impossibilitando o expectador de acompanhar o raciocínio do protagonista. Embora a tradução tenha sido reduzida, o conteúdo permaneceu e as legendas tiveram o temposuficiente para leitura, sem causar prejuízo ao expectador. A frase the way I think they should be done também foi reduzida e modulada para à minha maneira, pois, literalmente, ficaria: do modo que eu acho que deveriam ser feitas (as coisas).Roteiro OriginalLegendaHENRY - The quest for the Grail is not archaeology. It's a race against evil. If it is captured by the Nazis,the armies of darkness will march all over the face of the earth. Do you understand me?

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HENRY – A busca pelo GraalNão é arqueologia.É a luta contra o mal.Se cair nas mãos dos nazistas...As forças do mal vencerão.Entende?Neste diálogo, passo a destacar as estratégias utilizadas nos diálogos em itálico. O primeiro período, If it is captured by the Nazis, teve um outro tratamento na tradução: Se cair nas mãos dos nazistas... (Santo Graal), mantendo-se a mesma idéia do original. Já o Segundo período, the armies of darkness will march all over the face of the earth, Henry usou toda uma retórica para dizer quão era importante o Grall para ele, e as conseqüências que acarretariam caso o Grall fosse capturado pelos nazistas. Neste caso, também foram utilizadas a omissão e a modulação para sintetizar, não de forma retórica, mas sim de forma objetiva, a mensagem de Henry. A legenda ficou As forças do mal vencerão. Já literalmente, ficaria: Os exércitos das trevas marcharão sobre a face da terra. Vejamos este próximo diálogo, quando Indy encontra com seu pai, Henry.Roteiro OriginalLegendaINDY - I came here to save you.Vim te salvar.Podemos observar que foi omitido o sujeito Eu, o adjunto adnominal de lugar aqui (here), a conjunção subordinativa final para (to) se transformou em pronome para substituir o pronome você. Portanto, o diálogo original de seis palavras foi reduzido à metade. A seguir, quando eles ainda estão amarrados e o tapete começa a pegar fogo embaixo deles, há uma omissão que quero destacar em itálico:Roteiro OriginalLegendaHENRY - I ought to tell you something.INDY - Don't get sentimental now Dad, save it 'til we get out of here.HENRY - The floor's on fire! See?!Preciso te dizer uma coisa.Conte mais tarde!O chão está pegando fogo! Está vendo?Literalmente seria: Nada de sentimentalismo agora, Papai, guarde para quando sairmos daqui. Essa frase foi possível dizer com apenas três palavras: Conte mais tarde. Nesta próxima cena, Henry foi capturado pelos nazistas e é mantido como refém dentrodo tanque de guerra. Um dos nazistas, Vogel, faz perguntas a Henry sobre o diário do Grall.Eis o diálogo:Roteiro OriginalLegendaVOGEL - What are you hiding?VOGEL - What does the Diary tell you that it doesn't tell us?!HENRY - It tells me that goose-stepping morons like yourself should try reading booksinstead of burning them.O quê está escondendo?O que este diário diz a você que não sabemos?Diz que idiotas como vocêsDeveriam ler livrosEm vez de queimá-los!Podemos perceber a incidência da omissão, começando pelo pronome oblíquo me; goose-stepping morons (débil mentais com andar de ganso) foi substituído apenas por idiotas; foi omitido o try resultando numa legenda objetiva, sempre mantendo a mesma mensagem.4.2 O Rei Leão IO filme O Rei Leão (Walt Disney Pictures, 1994) conta a história do leãozinho Simba que queria ser rei. O pai de Simba, Mufasa, começa lhe mostrando todo o reino de cima da grande pedra. Simba pergunta sobre uma região sombria ao fundo e Mufasa alerta o filhopara não ir lá:Roteiro OriginalLegenda

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MUFASA – That´s beyond our borders.Não faz parte do nosso reino.É clara a modulação, pois uma região além dos nossos limites, da nossa fronteira, significa que não faz parte do nosso reino, no caso, do território deles. A seguir, Simba e sua amiga Nala, juntamente com Zazu, o papagaio fiel escudeiro do Rei, vão até esse local sombrio, desobedecendo, assim, as ordens do pai.Nala diz:Roteiro OriginalLegendaNALA – We can get a big trouble.Podemos entrar numa fria.Entrar numa fria é o estilo nosso de dizer quando existe a possibilidade de um grande problema ocorrer.A seguir, os dois são perseguidos por hienas, lembrando que eles já não estão mais em suas terras. Após a perseguição, as hienas desaparecem e Simba diz:Roteiro OriginalLegendaSIMBA – We lost them.Escapamos deles!Nós os perdemos, no sentido de despistar, se livrar, é outra maneira de dizer que escapamos deles.Mas as hienas continuam perseguindo os dois leões. De repente, Mufasa entre em cena e põe para correr os agressores! Mufasa fica muito sentido com seu filho pela desobediência. A sós, pai e filho conversam. Simba se justifica: ele queria ser corajoso e valente igual ao pai. Mufasa, além de dizer que ser corajoso não é se envolver com problemas, também diz:Roteiro OriginalLegendaMUFASA – I am brave when I have to be.A coragem tem hora e lugar.Eu sou valente quando é preciso ser pode ser dito em outras palavras que a coragem tem hora e lugar, conforme foi traduzido. Portanto, existe o momento certo para ser corajoso. Neste diálogo também há o uso da transposição, pois brave, que no original é um adjetivo (Sou corajoso), passou a ser um substantivo (A coragem), havendo também a mudança do ponto de vista: sou corajoso – pessoal; a coragem – impessoal.4.3 Perigo Real e ImediatoPasso a destacar uma modulação no filme Perigo Real e Imediato (1994). Numa conversa entre o chefe de segurança dos EUA (Cutter) e um dos chefes do narcotráfico (Felix Cortez), Cortez pergunta a Cutter o que acharia se fosse diminuída a entrada de drogas nos EUA. A resposta de Cutter:Roteiro OriginalLegendaCUTTER – I would say that you´re using to much your product.Diria que você está cheirando muito.Nesse diálogo, há os dois procedimentos / estratégias juntos. A modulação: o fato de usar muito ter o mesmo significado, no nosso estilo popular de dizer, que cheirar muito (drogas). Nessa modulação o tradutor quis até dar um tom cômico para o diálogo. Quanto à omissão, foi omitido o sujeito Eu, e seu produto. Este diálogo, tendo dez palavras no original, foi reduziu para seis na tradução para poder adequar a legenda ao tempo e espaço. 4.4 O FugitivoPasso agora a apontar algumas estratégias no filme O Fugitivo (1993). Esse filme conta a história de um médico famoso (Richard Kimble) acusado injustamente de matar sua esposa, pois ele alega que um homem de um só braço a matou. No caminho para a penitenciária, há um acidente com o ônibus que levava os condenados, dentre eles, Kimble. A partir daí, o médico foge para provar sua inocência. Numa das primeiras cenas da caçada ao fugitivo, Kimble foge numa ambulância e entra em um túnel. O agente federal Sam Gerard sobrevoa a área de helicóptero atrás dele e cerca o fugitivo na saída do outro lado do túnel dizendo:Roteiro Original

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LegendaSAM - All right, we got him.Agora ele é nosso!Agora ele é nosso ficou uma outra forma de dizer Pegamos ele, como no Roteiro original. Agora outra cena. Sam e seu assistente Kosmo vão em direção ao prédio onde acreditase que Kimble esteja lá. Eles ouvem uma conversa da polícia de Chicago, pelo rádio amador, dizendo que Kimble matou um policial no metrô.Roteiro OriginalLegendaSam: What did he do, shot a cop?O quê ele fez, matou um policial?Kosmo: Chicago P. D. will eat him alive!A polícia de Chicago o matará!Nesse diálogo, a expressão will eat him alive é uma expressão coloquial para a polícia de Chicago o matará. Pode-se usar também outras expressões que denotam matar, tais como: enterrar vivo, acabar com, arrancar a pele, etc. Essa próxima cena se passa no telhado do prédio onde o fugitivo brigava com seu falso companheiro, Charles Nichols. Os dois estão sendo observados por um helicóptero da polícia federal com um atirador de elite apontando sua arma para eles. O agente federal Sam Gerard entra no telhado e o atirador começa a abrir fogo em direção ao fugitivo. Sam fica desesperado e ordena que o helicóptero saia do local dizendo:Roteiro OriginalLegendaSAM - I don’t wanna get shot!Não quero levar chumbo!I don’t wanna get shot foi traduzido como não quero levar chumbo, uma expressão coloquial muito familiar na nossa língua. Poderia ser também: não quero levar tiro, bala, etc. Na seqüência, o assistente de Sam comunica à polícia de Chicago:Roteiro Original LegendaNewman: CPD, there´s a U. S. Marshall on the roof. Hold your fire.Há um agente federal no telhado, não atirem!Da mesma forma como o diálogo anterior, a expressão hold you fire (cessar fogo) é o mesmo que dizer Não atirem!, já que fogo também significa tiro.O filme também possui omissões como:Roteiro OriginalLegendaNichols: I´ve never seen that person in my life before.Eu jamais o vi!Esse diálogo, literalmente: eu nunca vi essa pessoa em minha vida antes foi perfeitamente reduzida para eu jamais o vi, ficando numa frase curta e objetiva, ou seja, dando a informação máxima em poucas palavras.Roteiro OriginalLegendaKimble: Do you remember what you´ve said?Sam: I remember you´re appointed my gun at meVocê se lembra do que disse?Você estava apontando minha arma pra mim!Nesse diálogo, omitiu-se “Eu me lembro” da fala do Sam, já que não houve a necessidade de repeti-la, pois ficou subentendido de acordo com a fala anterior de Kimble e também para não formar uma legenda muito longa.Podemos perceber que, em muitos casos, o tradutor legendista faz uso de um ou mais procedimentos / estratégias em um mesmo diálogo, como um recurso para que o texto não tenha uma impressão de tradução, mas sim, que as legendas sejam tão naturais quanto ao próprio roteiro original, levando em conta as expressões idiomáticas, comparações com fins cômicos, etc.De acordo com a análise dessas legendas, pude observar, na maioria dos casos, a incidência muito forte da síntese do roteiro original para a legendação. A essa síntese atribuo a estratégia omissão, pois pode ser utilizada para sintetizar a mensagem em um determinado espaço e tempo de leitura no filme. Penso que não haveria a necessidade de colocar uma legenda completa de duas linhas se há a possibilidade de sintetizá-la em uma linha, transmitindo sempre a mesma

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mensagem (Ver: técnicas de composição das legendas), já que não podemos desviar a atenção do expectador da imagem do filme. Ao fazer uma analogia com a análise do discurso, verifiquei que a estratégia omissão relaciona-se de certo modo com a lei da exaustividade. Essa lei consiste numa não repetição da lei da informação. Enquanto essa lei incide sobre o conteúdo dos enunciados e estipula que não se deve falar para não se dizer nada, que os enunciados devem fornecer informações novas ao destinatário, a lei da exaustividade especifica que o enunciador deve dar a informação máxima, considerando-se a situação. A lei da exaustividade também exige que não se deve esconder uma informação importante (Maingueneau, 2001). Portanto, uma legenda (o enunciador) adequada é aquela que transmite a informação máxima, mas sem informações desnecessárias que possam desvincular o expectador do filme.Neste capítulo, discutimos algumas legendas levando em consideração o uso dos procedimentos técnicos para tradução. A seguir, exporemos nossas minhas considerações finais sobre o assunto.Considerações FinaisCom este trabalho, procuramos apresentar os procedimentos que mais se destacam no processo de tradução de um filme. Através de observações feitas entre o roteiro original e a legenda, concluímos que a omissão, a modulação e a transposição são os procedimentos predominantes que auxiliam o tradutor para transmitir a mensagem do enredo ao telespectador, seguindo as técnicas da legenda. Há casos em que a omissão é obrigatória, dependendo da velocidade e do tamanho do diálogo, e há casos em que é facultativa. Na tradução de filmes, a omissão vai além de apenas omitir elementos. Ela consiste na verdadeira redução, ou seja, na síntese da idéia empregada na legenda, que normalmente poderá resultar no uso da modulação. Mesmo sob limitações de tempo e espaço, o tradutor de filmes - o legendista – também tem a liberdade de transmitir a mensagem original ao estilo coloquial de discurso da cultura alvo para a cultura de chegada, além do que, um filme também pode apresentar uma terminologia própria de áreas como política, economia, saúde, direito e outros. Portanto, o bom tradutor – o profissional – deve conhecer as técnicas de legendagem e transmitir a mensagem original seguindo-as, além de possuir uma ampla bagagem cultural, pois, afinal, são duas culturas diferentes postas lado a lado. Portanto, ele deve transmitir a mensagem, ter ótima habilidade técnica e lingüística e percepção para sintetizar e ainda ser capaz de fazer com que o público possa ler e entender a mensagem dofilme, garantindo, assim, sua apreciação.Também procuramos discutir e valorizar a tradução de filmes, já que há muito pouco material publicado sobre o assunto, restringindo-se apenas a alguns artigos e teses que tentam, da mesma forma, divulgar a extrema importância desse trabalho. Temos que reconhecer a árdua tarefa que envolve o processo de legendagem, pois apesar das limitações impostas, o tradutor deve manter o conteúdo sem desviar a atenção do expectador da imagem. Depois de melhor conhecer o processo que envolve a legendagem, chegamos à conclusão de que a tradução de filmes também é relevante como objeto de estudo.