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CAPÍTULO 16 FORRAGEIRAS DE CLIMA TEMPERADO Paulo César de Faccio Carvalho Davi Teixeira dos Santos Edna Nunes Gonçalves Anibal de Moraes Carlos Nabinger 1. INTRODUÇÃO As forrageiras de clima temperado são plantas que apresentam seu melhor crescimento em temperaturas entre 20 e 25°C. Ocorrem predominantemente ao norte da latitude 30°N e sul da latitude 30°S. Portanto, nas regiões temperadas do globo terrestre. Nestas condições constituem a base da alimentação de herbívoros domésticos sendo utilizadas, principalmente, sob pastejo, feno ou silagem. A sua importância também é reconhecida na conservação dos solos, na manutenção de bacias hidrográficas e na proteção à vida selvagem (Moser e Hoveland, 1996). São plantas que podem ser cultivadas em regiões com clima mais quente desde que o inverno seja frio, como é o caso das regiões subtropicais, ou mesmo em regiões tropicais de altitude. Na região sul do Brasil as forrageiras de clima temperado são de grande relevância para os sistemas agropastoris, principalmente no que tange ao suprimento de forragem para os rebanhos durante os meses de inverno (Quadro 1). São utilizadas em cultivo singular ou consorciadas, em áreas integradas com cultivos estivais (grãos ou pastos de verão), ou sobressemeadas em pastagens naturais (pastagens naturais melhoradas). No caso do Rio Grande do Sul (RS), aproximadamente 76% da área pastoril utilizada na pecuária de corte é coberta por vegetação natural, sendo 8% desta área melhorada por adubação e sobressemeadura de espécies forrageiras de clima temperado (Nabinger, 2006). Ainda que se prestem para utilização sob diversas formas, o principal uso é sob pastejo, seja em sistemas integrados com lavoura de grãos ou em melhoramento de pastagens naturais. Na maior parte dos casos, as forrageiras de clima temperado são implantadas como misturas ou consorciações visando aumentos de produção e valor nutritivo da forragem a ser ofertada.

Forrageiras de Clima Temperado

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  • CAPTULO 16

    FORRAGEIRAS DE CLIMA TEMPERADO

    Paulo Csar de Faccio Carvalho Davi Teixeira dos Santos Edna Nunes Gonalves

    Anibal de Moraes Carlos Nabinger

    1. INTRODUO

    As forrageiras de clima temperado so plantas que apresentam seu melhor

    crescimento em temperaturas entre 20 e 25C. Ocorrem predominantemente ao norte da

    latitude 30N e sul da latitude 30S. Portanto, nas regies temperadas do globo terrestre.

    Nestas condies constituem a base da alimentao de herbvoros domsticos sendo

    utilizadas, principalmente, sob pastejo, feno ou silagem. A sua importncia tambm

    reconhecida na conservao dos solos, na manuteno de bacias hidrogrficas e na

    proteo vida selvagem (Moser e Hoveland, 1996). So plantas que podem ser

    cultivadas em regies com clima mais quente desde que o inverno seja frio, como o

    caso das regies subtropicais, ou mesmo em regies tropicais de altitude.

    Na regio sul do Brasil as forrageiras de clima temperado so de grande

    relevncia para os sistemas agropastoris, principalmente no que tange ao suprimento de

    forragem para os rebanhos durante os meses de inverno (Quadro 1). So utilizadas em

    cultivo singular ou consorciadas, em reas integradas com cultivos estivais (gros ou

    pastos de vero), ou sobressemeadas em pastagens naturais (pastagens naturais

    melhoradas). No caso do Rio Grande do Sul (RS), aproximadamente 76% da rea

    pastoril utilizada na pecuria de corte coberta por vegetao natural, sendo 8% desta

    rea melhorada por adubao e sobressemeadura de espcies forrageiras de clima

    temperado (Nabinger, 2006).

    Ainda que se prestem para utilizao sob diversas formas, o principal uso sob

    pastejo, seja em sistemas integrados com lavoura de gros ou em melhoramento de

    pastagens naturais. Na maior parte dos casos, as forrageiras de clima temperado so

    implantadas como misturas ou consorciaes visando aumentos de produo e valor

    nutritivo da forragem a ser ofertada.

  • Quadro 1. Perodos (meses) de utilizao sob pastejo das principais forrageiras de clima

    temperado em uso no sul do Brasil

    J F M A M J J A S O N D Aveia-preta Azevm Trevo-branco Trevo-vermelho Cornicho

    Legenda: perodo normal de utilizao. variaes de utilizao conforme regio, cultivares e condies climticas.

    Ao longo de mais de 50 anos de pesquisa em forrageiras, diversas espcies e/ou

    cultivares foram avaliadas na Regio Sul. Algumas espcies exticas alcanaram

    expressiva participao nos sistemas agropastoris em uma ou outra poca, mas nem

    todas conseguiram superar as dificuldades enfrentadas pelo lento processo de

    lanamento de cultivares e posterior aceitao e utilizao pelos produtores rurais. o

    caso de gramneas anuais como centeio (Secale cereale L.), triticale (X Triticosecale

    Wittmack), capim-lanudo (Holcus lanatus L.) ou perenes como festuca (Festuca

    arundinacea Schreb.), falris (Falaris aquatica L.) e capim-dos-pomares (Dactylis

    glomerata L.); e de leguminosas como trevo-subterrneo (Trifolium subterraneum L.),

    ervilhaca (Vicia sativa L.) e trevo-vesiculoso (Trifolium vesiculosum Savi.), sendo este

    ltimo ainda de expresso no sul do pas.

    Dentre as gramneas de clima temperado que se consolidaram como alternativas

    forrageiras efetivamente usadas nos sistemas de produo, a aveia-preta (Avena strigosa

    Schreb.) a de maior projeo em sistemas de integrao lavoura-pecuria da Regio

    Sul, tambm utilizada em outros estados brasileiros (Gerdes et al., 2005; Floss, 1988). O

    azevm (Lolium multiflorum Lam.) pode ser considerado como a mais importante

    forrageira para o contexto agropecurio do sul do Brasil, visto sua complementaridade

    de ciclo vegetativo com as pastagens naturais, alto valor nutritivo, facilidade de

    estabelecimento e excelente capacidade de ressemeadura natural. A maior causa de

    resistncia dos produtores quanto ao uso da aveia e/ou azevm para produo animal em

    reas de lavoura ainda o suposto efeito do pisoteio animal. Vrias pesquisas, no

    entanto, esto desmistificando este paradigma mostrando, inclusive, os benefcios para o

  • sistema advindos do uso de animais nessas reas (Terra Lopes et al., 2008; Aguinaga et

    al., 2006; Carvalho et al., 2004; Moraes et al., 2002).

    Quanto s leguminosas, o trevo-branco (Trifolium repens L.) a espcie mais

    utilizada, seguida do cornicho (Lotus corniculatus L.), do trevo-vermelho (Trifolium

    pratense L.) e, mais recentemente, do El Rincn (Lotus subbiflorus L.). Apesar da

    reconhecida importncia na fixao de nitrognio (N) e alto valor forrageiro (Frame e

    Boyd, 1987), a baixa persistncia das leguminosas em sistemas de produo tem sido

    apontada como uma das principais causas de sua pequena representatividade apenas

    2% das reas de pastagens no Brasil e algo semelhante no RS (DallAgnol et al., 2002).

    Essa baixa persistncia e utilizao estariam relacionadas a problemas de

    estabelecimento e manejo, como o baixo uso de corretivos e fertilizantes,

    desconhecimento dos processos de inoculao e peletizao de sementes, dentre outros.

    No contexto das forrageiras de clima temperado utilizadas no Brasil, o presente

    captulo tem como perspectiva centrar-se sobre aquelas que, em nosso entender, esto

    sendo trabalhadas de forma mais relevante, tanto pelas instituies de pesquisa como

    em nvel de sistemas de produo. So elas a aveia-preta (Avena strigosa Schreb.) e o

    azevm anual (Lolium multiflorum Lam.) pelas gramneas, e o trevo-branco (Trifolium

    repens L.), trevo-vermelho (Trifolium pratense L.) e cornicho (Lotus corniculatus cv.

    So Gabriel e Lotus subbiflorus cv. El Rincn) pelas leguminosas. No se trata de

    desestimo a outras espcies que, por distintos motivos, perderam expresso, mas sim de

    dar nfase s forrageiras de clima temperado que resistem ao tempo e que, de uma

    forma ou outra, se consolidaram a despeito de todas as adversidades comumente

    encontradas.

  • 2. AVEIA-PRETA (Avena strigosa Schreb.)

    2.1. Origem e relevncia

    A origem das aveias, assim como de outros cereais, se perdeu na antiguidade.

    Porm, o geneticista Nikolai Ivanovich Vavilov aponta a sia Menor e o Norte da

    frica como os provveis centros de origem para a aveia. As principais aveias

    cultivadas apareceram por volta de 1.000 A.C. na Europa Central (Horn, 1985).

    A aveia-preta uma das gramneas anuais mais utilizadas para suprir as

    necessidades de forrageamento hibernal. Foi introduzida no Rio Grande do Sul no incio

    de 1940. uma forrageira de clima temperado muito rstica e resistente aos perodos

    "secos", com excelente capacidade de perfilhamento e produo de massa verde. De

    forma geral, produz mais forragem que as aveias branca e amarela, da o nome aveia-

    Forrageira.

    Com o advento do plantio direto (PD), essa espcie passou a ser fundamental na

    rotao de culturas e na formao de palha, com boa relao carbono/nitrognio (C/N).

    Com o crescimento dos modelos de explorao envolvendo a produo animal, ou seja,

    a integrao lavoura-pecuria, a importncia das aveias tornou-se ainda maior, com a

    aveia-preta destacando-se em sistemas pastoris por sua maior resistncia a pragas e

    doenas, bem como maior tolerncia ao pisoteio animal.

    2.2. Caractersticas morfolgicas

  • Gramnea cespitosa, com colmos cilndricos, eretos, compostos de ns e entrens.

    O sistema radicular do tipo fasciculado sendo as razes fibrosas, o que facilita a

    penetrao no solo. As folhas apresentam bainha vilosa, lgula obtusa de 1,5 a 7,0 mm e

    margem denticulada, com lminas de 14 a 40 cm de comprimento por 5,5 a 22 mm de

    largura, apresentando forma plana de pr-folhao convolutada. As folhas apresentam-

    se sem aurcula e com lgula bem desenvolvida, o que difere a aveia de outros cereais de

    inverno. Apresenta inflorescncia em pancula piramidal e difusa, apresentando

    espiguetas contendo um gro primrio e um secundrio e raramente um tercirio. O gro

    uma cariopse encoberto pela lema e a plea. O termo cariopse utilizado para

    designar gros pequenos, secos, indeiscentes, apresentando semente nica por fruto e

    uma fina camada de pericarpo, originado pelo desenvolvimento do vulo superior. O

    peso de mil sementes varia de 15 a 18 g, em mdia (Floss, 1988a).

    2.3. Caractersticas agronmicas

    Os trs principais tipos de aveia cultivados so a preta (Avena strigosa Schreb.), a

    branca (Avena sativa L.) e a amarela (Avena byzantina C. Koch.). As aveias brancas e

    amarelas so de duplo propsito, pois, so capazes de boa produo de forragem, alm

    de razovel produo de gros. Porm, essas espcies so mais susceptveis ferrugem

    da folha e sua utilizao na formao de pastagens somente recomendvel para

    regies menos afetadas por esta doena (Floss et al., 1985).

    Apesar de ser conhecida como uma forrageira de clima temperado, trabalhos de

    melhoramento tm desenvolvido cultivares adaptadas s regies mais quentes, como o

    Centro-Oeste do Brasil. Temperaturas baixas na fase inicial de desenvolvimento

    favorecem o perfilhamento, sendo que pulsos de calor na florao (temperaturas acima

    de 32C) provocam esterilidade e aceleram a maturao dos gros. Quanto altitude, a

    aveia-preta pode ser cultivada tanto em nvel do mar quanto acima de 1.000 m

    (Federizzi e Mundstock, 2004).

    A aveia-preta parece exigir maior teor de umidade para a formao de uma

    unidade de massa seca em comparao com outros cereais (com exceo do arroz),

    muito embora no tolere solos encharcados ou gua estagnada necessitando solos bem

    drenados. A maior exigncia em gua ocorre nos estdios de florescimento at o incio

    da formao dos gros. Vegeta bem em solo com pH entre 5,0 e 7,0 e no muito

    exigente em relao a fertilidade dos solos; entretanto, responde bem adubao

    nitrogenada, fosfatada e potssica.

  • A aveia-preta, alm de sua precocidade, rusticidade e resistncia s principais

    enfermidades, produz uma elevada quantidade de massa no perodo de inverno. Quando

    manejada sob cortes, apresenta excelente produo de forragem na primeira colheita,

    baixando a produo nas seguintes. Essa espcie no utilizada na produo de gros,

    pois eles no apresentam qualidade industrial devido colorao escura, pequeno

    tamanho e baixo rendimento de gros descascados em relao ao gro inteiro (Floss,

    1988b).

    Tem-se observado a reduo da populao de plantas espontneas (plantas

    invasoras) pela ao da aveia-preta e de sua palhada, sendo que o seu efeito

    supressor/aleloptico acaba por reduzir os custos com capinas ou herbicidas nas culturas

    subseqentes. Essa tcnica particularmente benfica quando precede as culturas do

    feijo, da soja e de suas associaes com outras espcies. A aveia-preta bastante

    resistente ao ataque de pulges e incidncia de ferrugem da folha. As condies

    ambientais que favorecem esta ltima so altas temperaturas associadas a alta umidade

    (Federizzi e Mundstock, 2004).

    A produo de forragem depende da espcie ou cultivar de aveia (Scheffer-

    Basso et al., 2002) podendo atingir 10 t.ha-1 de MS, dependendo do nvel de adubao

    nitrogenada (Alves, 2002).

    2.4. Estabelecimento, utilizao e manejo

    Diferentemente do azevm, a aveia uma espcie que no assegura a

    ressemeadura natural. Como suas sementes no germinam bem na presena de luz, a

    semeadura deve prover o enterrio das sementes. Para tanto, recomendado que em

    situao de estabelecimento em sobressemeadura deva-se fazer uso de equipamentos

    para semeadura direta. J no estabelecimento em rea preparada convencionalmente, e

    em semeadura a lano, a passagem de uma grade niveladora com meia trava ou

    menos recomendada para um adequado enterrio da semente.

    uma espcie que no deve ser semeada precocemente em regies mais quentes

    devido ao risco de ataque de ferrugem e pulges. Nessas regies recomenda-se seu

    estabelecimento a partir de abril at maio. Devido ao tamanho de suas sementes uma

    espcie de rpido estabelecimento podendo, de forma geral, ser utilizada aps 40 a 50

    dias de sua semeadura, ou mesmo antes, dependendo da fertilidade do solo e do manejo

    da adubao. Em razo dessa caracterstica de suas sementes, e do seu ciclo ser, via de

  • regra, mais curto que o do azevm, a aveia-preta muito utilizada como pastagem

    cultivada em reas de sucesso com soja ou milho.

    A mistura com azevm utilizada quando se pretende estender o ciclo de uso da

    pastagem alm do perodo permitido pela aveia-preta, que em cultivo singular permite

    pastejos at final de setembro, embora j nesta fase a sua qualidade seja baixa devido ao

    florescimento. No caso da associao com azevm esta deficincia compensada, pois

    o azevm tem seu ciclo mais tardio e complementar.

    Alm de sua associao com azevm tambm possvel consorci-la com

    leguminosas como ervilhaca, trevo-vesiculoso e trevo-vermelho, as quais apresentam

    semelhante exigncia de solo quanto drenagem. Essas espcies cumprem o papel de

    qualificadoras da dieta do animal em termos de protena e, tambm, no suprimento de

    clcio que, no caso da aveia, pode no atender as necessidades de vacas leiteiras em

    produo ou animais jovens em crescimento.

    Uma proposio de consorciao multi-especfica a da aveia-preta com centeio e

    azevm. Apesar de ser uma consorciao constituda de trs gramneas, tem por

    estratgia estender o ciclo de utilizao da pastagem por perodo maior de tempo. O

    centeio a gramnea mais precoce, concentrando 55% de sua produo entre maio e

    junho. J o azevm, mais tardio, tem 70% da sua produo nos meses de agosto-

    setembro ficando a aveia numa posio intermediaria, com 60% de sua produo

    concentrada nos meses de junho-julho (Postiglioni, 1982).

    A fertilizao deve estar de acordo com a anlise de solo. Para a adubao

    nitrogenada, Alvim (2006) recomenda a aplicao mnima de 270 kg.ha-1 de uria ou

    500 kg.ha-1 de sulfato de amnio. Alves (2002) verificou mximas respostas com aveia-

    preta (IAPAR 61) com aplicaes entre 150 e 225 kg.ha-1 de N, evidenciando que a

    dose tima depende do tipo de solo (Tabela 1). Nessas doses a produo anual pode

    alcanar mais de 9,0 t.ha-1 de MS. Siqueira (1987) sugere utilizar 20 kg.ha-1 de N na

    semeadura e o restante da dose em duas ou trs parcelas iguais, a partir do incio do

    perfilhamento, 30 a 40 dias aps a emergncia.

    Tabela 1. Produo de massa seca da parte area (kg.ha-1) de aveia-preta cultivar IAPAR

    61 em quatro cortes, sendo trs durante a fase vegetativa da cultura (1, 2 e 3) e

    um na fase de enchimento de gros

    Cortes Dose de N (kg.ha-1)

  • 0 75 150 225 300 1 966 2466 2861 3597 3303 2 1003 1641 2049 2126 1858 3 904 1488 1582 1547 1446

    Fase vegetativa 2873 5595 6492 7270 6607 4 549 1507 1758 1984 3346

    Total 3422 7102 8250 9254 9953 Fonte: Alves, 2002

    Como referido anteriormente, a semeadura pode ser realizada a lano ou em

    linhas. Em cultivo singular, e usando-se sementes de boa qualidade, recomenda-se uma

    densidade de semeadura entre 70 e 80 kg.ha-1. O espaamento entre linhas deve ser

    entre 20 e 30 cm e as sementes distribudas a uma profundidade mxima de 3-4 cm.

    Quando a semeadura for a lano, necessria uma quantidade maior de sementes, entre

    30 e 50%. Na associao com o azevm ou outras espcies a densidade de semeadura

    deve situar-se ao redor de 50 a 60 kg.ha-1, ou ainda menos para aveia-preta, e 60-80

    kg.ha-1 para as demais aveias.

    O ciclo de utilizao do pasto varia muito em funo da cultivar e depende

    fundamentalmente da poca de semeadura quanto mais tardia, menor o perodo de

    crescimento vegetativo. Por exemplo, Josifovich et al. (1968), citados por Carmbula

    (1977), relatam variaes no perodo de utilizao entre 80 e 160 dias, conforme a

    semeadura seja realizada em maro ou maio, respectivamente.

    Quando o objetivo a utilizao da aveia-preta como cobertura de solo ou

    adubao verde, o manejo da fitomassa deve ser realizado na fase de gro leitoso o que

    ocorre entre 120 e 140 dias aps a semeadura. Nessa fase, normalmente no h gros

    viveis e ocorre o menor ndice de rebrotao aps o manejo. Conforme o caso, a aveia-

    preta pode ser incorporada (arao), cortada sobre o solo (rolo-faca) ou dessecada com

    herbicida com manejo posterior (arao, rolo-faca, roadeira).

    Com relao ao manejo da desfolhao sob pastejo em lotao contnua,

    recomenda-se manter uma altura constante ao redor de 20 a 25 cm. J no pastejo com

    lotao rotativa, a entrada dos animais no piquete deve ocorrer quando o pasto estiver

    com cerca de 25-30 cm, retirando-os quando o resduo se aproximar de 10-15 cm.

    Em pequenas propriedades comum a utilizao da aveia-preta cortada e picada,

    sendo oferecida aos animais no cocho. O corte deve ser efetuado altura de 7 cm acima

    do solo, para facilitar a rebrotao. A aveia-preta deve ser fornecida no cocho

    gradativamente, iniciando-se com pequenas quantidades que vo aumentando at atingir

  • a capacidade mxima de consumo dos animais, caso a aveia seja o nico alimento

    suplementado evitando, assim, problemas metablicos.

    A silagem de aveia-preta uma alternativa de utilizao para esta forrageira,

    porm, seu uso no comum. O perodo mais favorvel para o corte aps o pleno

    florescimento, pois este o momento de mais alto teor de carboidratos, fundamental

    para que o processo fermentativo ocorra. Quando o corte feito no estdio de

    florescimento recomendvel a ensilagem pelo sistema de pr-murchamento

    aumentando, assim, o teor de matria seca, pois a ensilagem do produto fresco, com

    28% de massa seca, produz uma silagem mida, com alto teor de acido butrico, o que

    indesejvel por reduzir a qualidade do alimento (Lpez, 1975).

    3. AZEVM (Lolium multiflorum Lam.)

    3.1. Origem e relevncia

    A origem provvel do azevm anual o norte da Itlia (Spedding e Diekmahns,

    1972). No Brasil foi introduzido por colonizadores italianos em 1875 no estado do Rio

    Grande do Sul (Arajo, 1971).

    O gnero Lolium apresenta duas espcies de larga distribuio; o azevm perene

    (Lolium perenne L.), que praticamente no utilizado no Brasil, e o azevm anual

    (Lolium multiflorum Lam), que a segunda forrageira hibernal mais cultivada no Rio

    Grande do Sul.

    O azevm uma planta amplamente utilizada pelos produtores, apresentando boa

    produo de forragem, boa rebrotao, resistente ao pastejo e ao excesso de umidade,

    que suporta altas lotaes, apresenta alto valor nutritivo e boa palatabilidade

  • (Carmbula, 1977). Possui alta ressemeadura natural, alm de fcil aquisio de

    sementes e baixo custo de implantao. O germoplasma de azevm utilizado pela

    maioria dos produtores o azevm diplide (2n), denominado azevm comum. Alguns

    produtores vm utilizando cultivares tetraplides (4n), que apresentam algumas

    caractersticas diferentes do azevm diplide, como por exemplo, sementes maiores,

    folhas mais largas e de colorao mais escura.

    3.2. Caractersticas morfolgicas

    O azevm uma gramnea anual, cespitosa, cujo porte chega a atingir 1,2 m de

    altura. Os colmos so cilndricos e eretos, compostos de ns e entrens, com 30 a 60 cm

    de altura. Possui folhas finas, tenras e brilhantes, com 2 a 4 mm de largura. As bainhas

    so cilndricas e as folhas jovens so enroladas. A lgula curta e as aurculas so

    abraantes. A inflorescncia uma espiga dstica, isto , com duas fileiras de

    espiguetas, com 15 a 20 cm de comprimento, contendo cerca de 40 espiguetas

    arranjadas alternadamente, com 10 a 20 flores frteis por espiga. O gro uma cariopse

    e apresenta peso de mil sementes mdio de 2 a 2,5 g nas variedades diplides e 3 a 4,5 g

    nas tetraplides (Balasko et al., 1995). O peso da semente, no entanto, uma

    caracterstica que depende muito do manejo da lavoura sendo que, em nossas condies,

    o peso de mil sementes raramente excede 2 g nas variedades diplides.

    3.3. Caractersticas agronmicas

    Esta gramnea adaptada a temperaturas baixas (no resiste ao calor)

    desenvolvendo-se, sobretudo, entre o outono e a primavera. Ela desaparece no vero,

    pois conclui seu ciclo vegetativo na ocorrncia de dias longos e temperaturas altas.

    Alvim et al. (1987) destacam existir uma relao direta entre a temperatura ambiente e a

    produo do azevm, que mxima quando ao redor de 22C.

    uma gramnea considerada rstica, competitiva, com boa capacidade de

    perfilhamento e que se desenvolve bem em qualquer tipo de solo, mas prefere os

    argilosos, frteis e midos. Porm, em condies onde o solo apresente alta deficincia

    de drenagem, o azevm tem seu desenvolvimento prejudicado. Embora tolere bem a

    acidez, mais exigente em fertilidade e umidade do que a aveia-preta.

    Trata-se de uma forrageira que tem alta palatabilidade pelos animais e contm

    elevados teores de protena e digestibilidade, bem como equilibrada composio

    mineral. Alm de excelente opo forrageira, presta-se muito como alternativa para

  • proteo e cobertura de solo, proporcionando boa produo de massa. A produo de

    massa varivel, podendo ultrapassar de 10,0 t.ha-1 de MS em situaes de bom

    manejo.

    Floresce geralmente em setembro e produz quantidades apreciveis de sementes.

    Devido a sua grande capacidade de ressemeadura natural, mesmo fenecendo, se

    restabelece na rea quando do incio de um novo perodo favorvel para crescimento.

    3.4. Estabelecimento, utilizao e manejo

    As sementes de azevm tm capacidade de permanecer viveis no solo desde a

    queda das sementes no fim de seu ciclo (novembro ou dezembro dependendo da cultivar

    ou populao) at a estao favorvel seguinte. Muitas dessas sementes ainda podem

    permanecer viveis no solo por mais de um ano, formando o que se chama banco de

    sementes. Esta caracterstica pode ser aproveitada pelo produtor para evitar nova

    semeadura nos anos subseqentes primeira semeadura, desde que o manejo de fim de

    ciclo seja feito de maneira a permitir o florescimento e formao adequada de sementes.

    O estabelecimento do azevm, assim como o da aveia, em sucesso com culturas

    de vero realizado preferencialmente por meio de semeadura direta. Esse mtodo de

    semeadura, alm dos benefcios do controle da eroso pela menor mobilizao do solo e

    a conservao dos restos culturais na superfcie, tambm apresenta menores custos. A

    semeadura direta s no recomendada se os solos estiverem muito compactados e com

    alta infestao de plantas invasoras (Floss, 1988a).

    Numa condio de solo preparado convencionalmente, e com distribuio das

    sementes bem feita, a densidade de sementes de boa qualidade (germinao e pureza

    superiores a 90%) pode ser em torno de 20 kg.ha-1. J se as condies de preparo do

    solo no forem boas ou at mesmo inexistirem, como no caso da sobressemeadura a

    lano em campo nativo ou mesmo sobre pastagens perenes de vero, esta densidade

    dever ser aumentada em 50% no caso de boas sementes ou at mais se as sementes no

    tiverem as caractersticas acima. A qualidade das sementes, sobretudo o seu peso,

    fundamental para um rpido estabelecimento, podendo abreviar o perodo entre a

    semeadura e a primeira utilizao em at 20 dias, quando se comparam sementes leves e

    pesadas (e.g., 1,5 g contra 2,0 g por 1000 sementes).

    Outro aspecto a ser considerado quando da escolha da semente que o azevm

    comum, produzido na integrao com a soja, normalmente colhido mais cedo e isto

    tem levado, de forma geral, a uma seleo para tipos de ciclo mais curto, que florescem

  • j a partir de setembro-outubro, ou mesmo antes. Por outro lado, o mesmo azevm

    comum, cujas sementes so produzidas em regies de pecuria, normalmente utilizado

    sob pastejo at setembro-outubro e, somente ento, diferido para produo de sementes.

    Isto leva eliminao dos indivduos mais precoces determinando que as sementes

    colhidas sejam da parte da populao com florescimento tardio. Portanto, o

    conhecimento da origem da semente do azevm Comum-RS fundamental para o

    planejamento de seu uso. Ambos os tipos so interessantes, dependendo do sistema em

    que ser utilizado. Os tipos precoces so importantes em sistemas de integrao

    lavoura-pecuria, enquanto os de ciclo mais longo so mais desejados em sistemas

    exclusivamente pecurios.

    A poca de semeadura do azevm no outono, dando-se preferncia aos meses de

    maro e abril para que as plantas, ainda jovens, aproveitem o calor dessa estao e se

    desenvolvam mais rapidamente de maneira que, quando entrem no inverno, j tenham

    altura suficiente para serem pastejadas.

    O azevm pode ser semeado sobre pastagem nativa, em meados de maio, quando

    essas pastagens na regio Sul tendem a diminuir seu crescimento. Nesse caso, a

    semeadura pode ser feita a lano, utilizando o pisoteio dos animais para se colocar a

    semente em contato com o solo, ou mesmo utilizar mquinas de plantio direto sobre o

    campo. Outro contexto de uso do azevm aproveitar a seqncia de uma cultura de

    soja. Esta prtica tem sido utilizada em boa escala no Rio Grande do Sul, com

    excelentes resultados. Quando a lavoura estiver apresentando as folhas inferiores

    amareladas, comeando a cair, se procede a semeadura area. Nesse caso, recomenda-se

    maior densidade de sementes, entre 45 e 50 kg.ha-1. Essas folhas, caindo sobre as

    sementes, mantm umidade adequada e estimulam o incio da germinao. Essa prtica

    permite que, uma vez efetuada a colheita da soja, o azevm j tenha germinado. Alm

    disso, o azevm pode aproveitar os resduos de nitrognio que a cultura da soja

    incorpora ao solo. Entretanto, isso no significa que no decorrer do desenvolvimento da

    cultura no se deva fazer uso de adubaes nitrogenadas.

    No momento em que o azevm produz as primeiras 5 a 6 folhas seu perfilhamento

    se inicia. Isto ocorre no outono, quando normalmente a liberao de nitrognio a partir

    da matria orgnica do solo baixa, uma vez que as temperaturas comeam a diminuir.

    Se no houver adubao com nitrognio neste momento, o perfilhamento tem o risco de

    ser lento e em menor densidade, e a pastagem leva muito tempo at ter condio de ser

    utilizada com os animais. A aplicao de cerca de 45 a 50 kg.ha-1 de N nesta fase tem

  • possibilitado a entrada dos animais na pastagem em at 40 dias aps a emergncia das

    plntulas, com altura do pasto entre 20 e 25 cm e massa de forragem entre 1.500 e 2.000

    kg.ha-1 de MS. O tempo necessrio para ser atingido este rendimento varia conforme as

    condies climticas e a fertilidade do solo.

    A espera pela massa de forragem ou altura de pasto ideais para incio do pastejo

    constitui um grande dilema em sistemas pecurios. comum se deparar com situaes

    onde, de um lado, determinada categoria animal encontra-se com necessidade urgente

    de melhoria de seu nvel nutricional sob pena de comprometimento das metas de

    produo. De outro, pastos de azevm que ainda no atingiram seu ponto timo de

    interceptao da radiao solar e enraizamento e que no esto prontos para uso.

    Existem alternativas para iniciar a utilizao do pasto antes do ponto timo, tais como o

    pastejo controlado (horrio) ou o uso inicial de baixas taxas de lotao (consumo

    inferior ao crescimento). Embora ambas as situaes procurem minimizar problemas no

    estabelecimento do pasto recomenda-se, sempre que possvel, a espera pelo momento

    ideal, pois 15-20 dias a mais de espera para o pleno estabelecimento podem representar

    40 a 50 dias a mais de utilizao do pasto, e numa condio potencial de ganho de peso

    bastante superior.

    A silagem de azevm no tem sido amplamente utilizada, pois o alto teor de

    protena e o baixo teor de carboidratos solveis desta forrageira originam um produto

    com pH alto, acima do recomendado para uma boa silagem (Lopez, 1975). No caso da

    fenao, os cortes devem ser efetuados antes do florescimento, sendo o primeiro corte

    realizado prximo de 90 dias aps a semeadura, e o segundo 40 a 50 dias aps primeiro.

    Possui tima palatabilidade e digestibilidade. Pode apresentar produo entre 25 e 30

    t.ha-1 de massa verde. No entanto, a produo em feno varia muito, e est diretamente

    relacionada com as condies de fertilidade do solo e adubaes empregadas (Moraes,

    1995). Para a utilizao como forragem fornecida no cocho (cortes) podem ser feitos de

    2 a 4 cortes, dependendo tambm da fertilidade do solo e da adubao.

    A produo de sementes de azevm tambm pode se constituir em atividade

    agrcola importante. Depois de garantir um perodo longo de pastejo, retiram-se os

    animais em fins de setembro e meados de outubro, podendo se proceder uma adubao

    em cobertura com uria. Com esse manejo, comum que em fins de novembro e incio

    de dezembro a lavoura possa atingir produo de sementes superior a 500 kg.ha-1.

    Alm do cultivo exclusivo, o azevm pode ser consorciado com outras gramneas

    (aveia, centeio) e com leguminosas (trevos, alfafa, cornicho, etc.). Normalmente, em

  • comparao com a aveia, ele apresenta um crescimento inicial um pouco lento, mas em

    compensao sua utilizao atinge um perodo de pastejo mais prolongado, variando de

    60 a 180 dias conforme o sistema adotado. Com relao consorciao com

    leguminosas como cornicho ou trevos, alm do aumento do teor de protena na

    forragem, pode tambm ser aumentada sua produo. Sob o ponto de vista econmico, a

    incluso de leguminosas (fixadoras de nitrognio atmosfrico) permite uma economia

    na aplicao de N para as gramneas. No caso do azevm ou da aveia, por exemplo, que

    respondem a adubaes superiores a 450 kg.ha-1 de uria, praticamente dois teros dessa

    quantidade total poderia ser suprimida pela leguminosa.

    4. TREVO-BRANCO (Trifolium repens L.)

    4.1. Origem e relevncia

    uma espcie leguminosa de

    grande notoriedade e amplamente

    distribuda no mundo. A histria e a

    presena de suas diversas formas

    indicam que o trevo-branco seja

    originrio dos pases do Leste do

    Mediterrneo ou da sia Menor. A sua

    disperso para outros continentes foi

    rpida e aparentemente associada com a

    colonizao e a presena de animais

    domsticos em pastejo.

    Constitui-se atualmente em componente da flora de todos os continentes,

    atestando sua ampla distribuio. No ocidente a sua presena estende-se desde o Alasca

    at o extremo sul da Amrica do Sul (Gibson e Hollowell, 1966).

    O trevo-branco a mais importante leguminosa semeada com gramneas em

    pastagens de clima temperado (Frame e Newbould, 1986), destacando-se pela alta

    produo de forragem e elevado valor nutritivo (DallAgnol et al., 1982). A espcie

    particularmente valorizada para uso sob lotao contnua, pois adaptada para produzir

    sob condies de desfolhao intensa, incrementando a palatabilidade e o teor de

    protena da forragem colhida pelos animais.

  • 4.2. Caractersticas morfolgicas

    O trevo-branco uma leguminosa perene e estolonfera. Suas folhas so

    compostas por fololos ovais e glabros, com margens denteadas e mancha esbranquiada

    em forma de meia lua na face superior da folha. A inflorescncia um captulo com

    muitas flores (50 a 200) brancas ou rosadas. Possui sementes muito pequenas de cor

    limo-plido, com 1 a 1,5 mm de comprimento e 0,9 a 1,0 mm de largura. H

    aproximadamente 1.374.000 a 1.764.000 sementes por kg (Pederson, 1995).

    Em pastagens permanentes as plantas de trevo-branco persistem, de forma geral,

    na forma de um estolo principal ou planta-me com crescimento predominantemente

    apical (Chapman, 1983). Em climas temperados, o trevo-branco um exemplo clssico

    de uma espcie clonal que se reproduz vegetativamente, com mnima dependncia sobre

    a reproduo sexual (Chapman, 1987).

    4.3. Caractersticas agronmicas

    De clima temperado e subtropical, o trevo-branco no resiste a altas temperaturas

    e razoavelmente tolerante geada e ao sombreamento. A temperatura adequada para o

    crescimento est entre 20 e 25C. De forma geral, apresenta um crescimento mais lento

    do que as gramneas de clima temperado em temperaturas abaixo de 10C, e mais rpido

    em temperaturas acima de 20C.

    Temperatura do solo abaixo de 5C a principal causa do crescimento lento das

    razes do trevo-branco (Kessler et al., 1994). Tolera seca moderada, mas no severa

    (Hutchinson et al., l995). No obstante, a recuperao do trevo pode ser rpida depois

    do trmino da seca (Aparicio-Tejo et al., 1980).

    O trevo-branco no uma leguminosa pioneira, mas adaptada a boas condies de

    fertilidade de solo (Sears, 1953). Tambm exigente em fsforo e para sua implantao

    fundamental realizar inoculao. Esta leguminosa geralmente mais sensvel do que

    as gramneas s deficincias de fsforo e potssio (Rangeley e Newbould, 1985) e

    muito sensvel acidez do solo (Helyar e Anderson, 1971).

    O pH timo para o crescimento do trevo-branco prximo de 6,0, e o limite

    crtico de pH 5,0. Segundo Bailey e Laidlaw (1999), o aumento do pH do solo de 5,4

    para 6,1 resultou na duplicao da produo do trevo-branco. Pode apresentar, ainda,

    baixa nodulao em solos muito cidos. Porm, desde que as plantas estejam

    efetivamente inoculadas, o trevo-branco persiste e produz bem. A baixa nodulao

    ocorre devido aos efeitos txicos do alumnio e mangans sobre a multiplicao do

  • Rhizobium (Wood et al., 1984). Da a preocupao com a correo da acidez do solo.

    Alm disso, em baixo pH a deficincia de molibdnio pode impedir a formao do

    complexo enzimtico que essencial para a fixao do N2 (During et al., 1960).

    Ainda que em cultivo singular o trevo-branco possa produzir entre 7 a 11 t.ha-1 de

    MS (Frame e Newbould, 1986), o seu principal objetivo deve ser a consorciao com

    gramneas e at outras leguminosas. arriscado quando dominante na pastagem dada

    sua caracterstica de gerar timpanismo nos bovinos, sendo que o principal cuidado

    manter sempre gramneas em consorciao. Nestas circunstncias, a sua produo

    reduzida devido competio por gua, luz e nutrientes contribuindo, no raramente,

    com aproximadamente 25% (2.800 a 5.500 kg.ha-1 de MS) da produo total de

    forragem,de misturas tpicas de clima temperado.

    O trevo-branco produz sementes por polinizao cruzada, chegando a se colher

    entre 350 e 500 kg.ha-1de sementes. Na Nova Zelndia, que produz entre 4.500 e 5.000

    toneladas anuais (50% da produo mundial), so alcanados rendimentos entre l00 e

    l.000 kg.ha-1, sendo a mdia nacional de 300 kg.ha-1 (Mather et al., 1996). Na

    Califrnia, a principal regio fornecedora de sementes nos Estados Unidos, a produo

    fica em torno de 420 kg.ha-1 (Pederson, 1995).

    As sementes das inflorescncias que so pastejadas retm sua viabilidade aps a

    passagem no trato digestrio dos bovinos ou ovinos, e so depositadas no solo por

    intermdio das fezes (Chapman, 1987).

    O trevo-branco tem elevado valor nutritivo, sendo rica fonte de protena, clcio,

    fsforo e caroteno. As inflorescncias e os pednculos tm menor digestibilidade do que

    as folhas e os pecolos (Soegaard, 1994). Comparado com pastagem de gramnea

    adubada com nitrognio, as misturas de gramneas/trevo tm, geralmente, ndices mais

    elevados de protena, minerais, incluindo pectina e lignina, porm, ndices mais baixos

    da celulose e hemicelulose (Thomson et al., 1985).

    4.4. Estabelecimento, utilizao e manejo

    O trevo-branco pode ser semeado em cultivo singular ou em mistura com

    gramneas em solos preparados ou no. Tambm pode ser sobressemeado sobre

    pastagens nativas. As tcnicas de sobressemeadura so mais bem sucedidas em

    pastagens com baixa massa de forragem, e desde que a umidade do solo seja adequada

    para a germinao e o desenvolvimento da plntula. As pastagens com alta densidade de

    plantas, por sua vez, podem ser rebaixadas por pastejo intenso, corte ou por dessecao

  • parcial antes da sobressemeadura. Os princpios para uma sobressemeadura bem

    sucedida so: controle de ervas daninhas antes da semeadura; pH do solo satisfatrio e

    fertilizao com fsforo; umidade do solo adequada; pastejo aps a semeadura para

    limitar a competio da gramnea existente, intercalando com perodos de descanso para

    evitar superpastejo da espcie introduzida (Tiley e Frame, 1991).

    uma espcie que encontra seu habitat ideal na regio dos Campos de Cima da

    Serra (RS e SC), em funo das condies climticas favorveis (sem perodos secos e

    com temperaturas amenas no vero). Nessa condio sua perenidade mantida, desde

    que condies de alta fertilidade do solo sejam asseguradas. Nesse sentido, bom

    lembrar que se trata de uma espcie altamente exigente quanto correo da acidez do

    solo, pois no tolera alumnio e suas exigncias em fsforo tambm so elevadas.

    Portanto, uma espcie cuja utilizao s recomendada quando o solo for de alta

    fertilidade natural, ou esta seja corrigida conforme recomendao da anlise do solo.

    Obrigatoriamente, como para todas as demais leguminosas forrageiras de clima

    temperado, as sementes devem ser previamente inoculadas com rizbio especfico e

    peletizadas. Para facilitar sua distribuio se pode misturar as sementes inoculadas e

    peletizadas com azevm ou at mesmo com adubos, desde que no contenham

    nitrognio e sua concentrao em potssio seja baixa. Em qualquer caso, somente fazer

    a mistura no momento da semeadura.

    A poca de semeadura desta leguminosa deve ser de maro a junho, com 2 a 4

    kg.ha-1 de sementes. A profundidade de semeadura deve ser de 1,0 a 1,5 cm, sob uma

    leve, mas firme camada de solo, devido ao minsculo tamanho das sementes. Quando

    semeado visando a produo de sementes deve-se utilizar cerca de 3 kg.ha-1 em fileiras

    espaadas entre 30 e 45 cm (Laidlaw, 1978). Quando em consorciao gramnea/trevo,

    para reduzir a competio, a gramnea deve ser semeada com a metade da

    recomendao para um pasto exclusivo. Pode ser consorciado, por exemplo, com

    azevm, trevo-vermelho e cornicho. Como a gramnea a componente com produo

    mais elevada na consorciao, a escolha da mistura feita geralmente com base nela.

    Segundo Fothergill e Davies (1993), as cultivares de azevm tetraplides so mais

    compatveis na consorciao do que as cultivares diplides devido a uma menor

    capacidade de perfilhamento.

    O trevo-branco o componente mais sensvel em pastos consorciados s

    deficincias ou a baixa disponibilidade de nutrientes como P ou K (Dunlop et al., 1987).

    Nas pastagens, apesar de boa parte dos nutrientes serem reciclados com o retorno da

  • excreta dos animais, esta reposio desuniforme, e uma aplicao de P e de K

    requerida anualmente para manuteno da leguminosa. Quando o trevo-branco

    utilizado para feno ou silagem, cerca de 3 kg de P e 30 kg de K por tonelada de massa

    seca so retirados da rea pela forragem (Frame e Boyd, 1987). A quantidade anual de

    fertilizante nitrogenado necessria em pasto exclusivo de gramnea para alcanar

    produes de pastagens de trevo-gramnea varia de l24 a 278 kg.ha-1 de N, com mdia

    de 172 kg.ha-1 de N (Royal Society, 1983).

    O trevo-branco pode ser utilizado em lotao contnua ou rotativa. Sob lotao

    contnua, o tamanho do fololo muitas vezes reduzido, e um aumento das ramificaes

    pode ocorrer. No mtodo rotativo, o trevo tem tempo para produzir estoles e folhas

    maiores durante os intervalos de descanso, razo pela qual este mtodo de pastejo

    contm, geralmente, mais trevo do que pastos manejados sob lotao contnua (Steen e

    Laidlaw, 1995).

    Por se tratar de uma planta que desenvolve seus estoles prximos superfcie

    do solo, bastante tolerante a desfolhaes intensas, pois seus pontos de crescimento

    ficam protegidos do pastejo. Alm disso, seu arranjo foliar permite que, mesmo sob

    pastejo intenso, haja rea foliar que permita a interceptao de luz necessria ao seu

    crescimento. por essa razo que sob pastejo intenso o trevo-branco, quando em

    associao com gramneas como o azevm ou mesmo com o cornicho, acabe

    prevalecendo na mistura e causando timpanismo. Em se tornando o principal

    componente da dieta dos animais, o seu elevado teor de protenas de alta

    degradabilidade acaba por prover as condies para a ocorrncia do timpanismo. Por

    conseguinte, h situaes de manejo onde se deva privilegiar a presena da gramnea

    associada. Excessos de trevo-branco podem ser corrigidos aliviando-se a carga animal e,

    ou adubando estrategicamente a gramnea com nitrognio. Tambm, em curto prazo, a

    suplementao com volumosos, como feno de gramneas, pode ser uma soluo para

    esta situao. Associaes bem equilibradas dessa espcie com gramneas podem

    assegurar ganhos mdios dirios de bovinos em crescimento superiores a 1.200

    g.cabea-1.

    Comparado com as gramneas, o trevo-branco tem baixo contedo de carboidratos

    solveis em gua e de massa seca, e um elevado teor de protena. Para melhorar a

    qualidade da silagem devem ser realizados os seguintes procedimentos: cortar a

    forragem no campo com o objetivo de provocar um pr-murchamento e, com isso,

    aumentar a concentrao de carboidratos solveis, alm de, picar a forragem para ajudar

  • liberao dos acares e a compactao no silo. No feno importante tentar evitar a

    perda de nutrientes da folha do trevo durante o processo de corte (Bax e Browne, 1995).

    5. TREVO-VERMELHO (Trifolium pratense L.)

    5.1. Origem e relevncia

    Acredita-se que o trevo-vermelho

    tenha sua origem na sia e Sudeste da

    Europa. Esta leguminosa foi introduzida

    na Inglaterra e na Alemanha por volta

    de 1650 e levada para a Amrica por

    colonizadores ingleses

    (Merkenschlager, 1934).

    Sua grande importncia se deve a alta produtividade e grande valor nutritivo,

    semelhante ao da alfafa, sendo um dos trevos mais cultivados em pases de clima

    temperado. No sul do Brasil, est adaptado a variadas condies de solo e clima, e suas

    sementes (maiores) permitem rpido estabelecimento em relao a outras leguminosas.

    5.2. Caractersticas morfolgicas

    O trevo-vermelho uma leguminosa de ciclo bienal, ereta, que alcana at 80 cm

    de altura. As folhas so trifoliadas, pubescentes e alternas, com uma mancha plida, em

    V invertido, na parte ventral dos fololos. Os caules s vezes enrazam nos ns

    quando em contato com a superfcie mida do solo.

    O trevo-vermelho uma planta com caules erguidos ou decumbentes, podendo

    apresentar razes adventcias ao lado da raiz pivotante. A raiz pode estender-se a um

    metro ou mais de profundidade. Possui inflorescncia sobre uma ou duas folhas normais

    com estpulas dilatadas. As inflorescncias consistem de um captulo com numerosas

    flores cor-de-rosa ou roxas, normalmente 125 flores por inflorescncia. A polinizao

    cruzada realizada com a ajuda de abelhas, que so os principais agentes polinizadores

    dos trevos. As vagens contm uma ou duas sementes na cor amarela, marrom ou roxa,

    medindo cerca de 2 a 3 mm de comprimento (Taylor e Smith, 1995). As sementes roxas

    so geralmente mais pesadas do que as das outras cores (Puri e Laidlaw, 1984).

  • 5.3. Caractersticas agronmicas

    uma planta de clima temperado e subtropical, de ciclo outono-inverno-

    primavera, decrescendo no vero. Sob regime de chuvas regulares, que se prolonguem

    durante o vero, torna-se de ciclo bienal. Normalmente apresenta melhor produtividade

    em regies mais frias, enquanto que nas regies mais quentes apresenta menor

    desenvolvimento com a seca estival, perdendo folhas. Em conseqncia a temperaturas

    elevadas, a respirao da planta aumenta diminuindo a disponibilidade de carboidratos

    totais, tendo por resultado plantas enfraquecidas com problemas de sobrevivncia no

    inverno e maior susceptibilidade a microorganismos do solo, alm de problemas de

    emergncia de plntulas (Volonec e Nelson, 1995).

    Embora com adaptao ampla no Rio Grande do Sul, as regies preferenciais so

    aquelas com clima mais ameno como a Encosta do Nordeste, Serra do Sudeste e nos

    solos profundos da Campanha. uma planta que apresenta boa produtividade em solos

    semi-profundos, drenados e de boa fertilidade. Desta forma, os solos argilo-arenosos,

    com razovel teor de matria orgnica, so os mais indicados. Embora menos exigente

    em fsforo que o trevo-branco, particularmente intolerante a baixos nveis deste

    nutriente (Taylor e Quesenberry, 1996). Para uma boa produtividade e nodulao da raiz

    so exigidos solos com pH na faixa de 6,0 a 7,0 e com baixos teores de alumnio

    trocvel. O trevo-vermelho muito sensvel toxicidade de Mn. Portanto, importante

    manter o pH acima de 5,7, pois a disponibilidade deste nutriente pode diminuir a partir

    deste pH (Taylor e Quesenberry, 1996).

    Em cultivo singular o trevo-vermelho produz de 8 a 10 t.ha-1 de massa seca,

    podendo chegar entre 15 e 23 t.ha-1 com irrigao. A produo de forragem

    normalmente declina com o avano da idade da pastagem. Trabalhos realizados na

    Europa com durao de trs anos registraram produes de 9 a 18, 9 a l5 e 4 a 14 t.ha-1

    (Laidlaw e Frame, 1988). Na Frana, uma associao gramnea/trevo-vermelho com l50

    kg.ha-1 de N aplicados anualmente produziu o equivalente a uma pastagem de gramnea

    pura recebendo 300 kg.ha-1 de N (Guy, 1989).

    O valor nutritivo de um pasto de trevo-vermelho est fortemente relacionado com

    o seu estdio de crescimento no momento da utilizao, bem como com a relao

    caule/folha, que aumenta com a maturidade do pasto. Cultivares tetraplides tm, de

    forma geral, digestibilidade, teores de protena e de carboidratos solveis em gua mais

    elevados do que o das cultivares diplides (Mousset-Declas et al., 1993). As

    concentraes de N, Ca, Mg, Fe, Co, pectina e lignina so geralmente mais elevadas do

  • que nas gramneas, mas outros constituintes podem estar em concentraes equivalentes

    ou menores (Narasimhalu e Kunelius, l994).

    As produes de sementes de trevo-vermelho, quando bem manejado, so de

    aproximadamente 600 a 700 kg.ha-1 (Rincker e Rampton, 1985).

    5.4. Estabelecimento, utilizao e manejo

    Em comparao com as demais leguminosas abordadas neste captulo, a

    espcie que tem as maiores sementes. Por essa razo seu estabelecimento mais rpido,

    propiciando pastejo antes que o trevo branco, cornicho ou trevo vesiculoso. Por isso

    preferido para consrcios com aveia, que tambm de crescimento rpido. Alm disso,

    pode ser utilizada em consorciao com azevm e trevo branco, quando cumpre a

    funo de propiciar uma disponibilidade precoce de forragem de leguminosa no ano do

    estabelecimento da pastagem.

    O estabelecimento feito com 6 a 8 kg.ha-1 de sementes em cultivo singular, ou

    pouco menos (4 a 6 kg.ha-1) nas consorciaes. Taylor e Smith (1995) chegam a

    recomendar de 10 a 15 kg.ha-1 de sementes quando em cultivo singular.

    igualmente recomendada a inoculao das sementes e que a semeadura seja

    superficial. Embora germine em profundidades maiores que o trevo branco e o

    cornicho, quanto mais superficial mais rpido emerge e mais vigoroso o seu

    desenvolvimento inicial. A profundidade de semeadura deve ser de 1,0 a 1,5 cm. Uma

    populao com cerca de 200 plantas.m-2 no ano do estabelecimento corresponde a um

    estande razovel para a cultura do trevo-vermelho.

    O trevo-vermelho tambm pode ser semeado conjuntamente a culturas de cereais.

    Diminuir a densidade de semeadura do cereal, reduzir a fertilizao nitrogenada e cortar

    o cereal no estdio de crescimento apropriado para silagem so opes para reduzir o

    estresse da competio. O trevo-vermelho tambm pode ser sobressemeado em

    pastagens de gramneas para sua recuperao. Esta tcnica mais bem sucedida em

    vegetao com baixa massa e quando houver umidade adequada no solo para a

    germinao da semente e o desenvolvimento da plntula.

    Fsforo e potssio adequados na implantao da cultura so necessrios para o

    desenvolvimento da plntula, com preferncia para fontes prontamente disponveis.

    recomendada uma pequena aplicao de N para iniciar o desenvolvimento do trevo nos

    solos com baixa disponibilidade deste nutriente. Depois da remoo da forragem para a

  • conservao (feno e silagem) os nutrientes, especialmente P e K, exigem reaplicaes

    para manter a persistncia e a produo ao longo das rebrotaes.

    A semeadura preferencialmente feita entre os meses de maro e abril. A

    quantidade de sementes por hectare varia conforme a utilizao que se vai dar a cultura.

    Quando se destina a produo de feno so necessrios de 6 a 8 kg.ha-1 de sementes.

    Com mquinas apropriadas e bom preparo essas quantidades podem ser menores, entre

    4 e 5 kg.ha-1. Se o cultivo se destina produo de sementes pode-se empregar de 3 a 4

    kg.ha-1 de sementes em linhas distanciadas de 80 cm.

    O trevo-vermelho no suporta pastejo intenso e quando a isto submetido torna-

    se dominado por outros componentes da consorciao. Entretanto, em regime de pastejo

    leve acaba reduzindo o desenvolvimento das outras espcies (Sheldrick et al., 1986). A

    pastagem formada com esta leguminosa, observados os cuidados principais, tais como

    poca de semeadura e preparo do solo, adubao e manejo eficiente, permite iniciar o

    pastejo em 90 dias, desde que as plantas atinjam uma altura mnima de 15 a 20 cm.

    Quando consorciada com azevm tem como potencial ser aproveitada por, no mnimo,

    150 a 180 dias no ano,.

    Pelo seu porte ereto, grande volume de massa e intolerncia a desfolhaes

    freqentes sua utilizao indicada para corte, possibilitando excelentes produes de

    feno ou silagem e permitindo substituir com vantagens econmicas os concentrados,

    podendo atingir produo de 4 t.ha-1 de massa fenada.

    Mesmo apresentando ndices baixos de matria seca e carboidratos solveis, uma

    boa silagem de trevo-vermelho pode ser feita utilizando aditivo eficaz, picando e

    realizando o murchamento da forragem antes da ensilagem (Collins, 1982).

    De forma geral, a semente colhida no primeiro ano de florescimento aps um

    corte. O objetivo do corte remover o crescimento vegetativo, reduzindo a

    desuniformidade do florescimento at que a atividade do agente polinizador esteja

    realada por temperaturas de primavera.

  • 6. CORNICHO (Lotus corniculatus L. e Lotus subbiflorus L.)

    Lotus corniculatus L. Lotus subbiflorus L.

    6.1. Origem e relevncia

    Lotus corniculatus L. tem distribuio natural na Europa ocidental e no norte da

    frica, e distribuio secundria no nordeste e centro-oeste dos Estados Unidos, sudeste

    do Canad, sul da Amrica Latina, Europa oriental e central, e partes de sia. A histria

    do cornicho, no Rio Grande do Sul, se iniciou em 1940 a partir do desenvolvimento da

    cv. So Gabriel, caracterizada pelas folhas grandes, de crescimento ereto e

    indeterminado e sem rizomas (Paim, 1988).

    Lotus subbiflorus L. foi citado pela primeira vez com interesse forrageiro no norte

    da Nova Zelndia em 1918, devido a sua adaptao a solos de baixa fertilidade e

    perodos de seca estival. No Uruguai foi introduzido h mais de 40 anos acompanhando,

    provavelmente como impureza, uma mescla de sementes forrageiras importadas. Sua

    destacada produtividade provocou sua posterior multiplicao e a obteno da cultivar

    denominada El Rincn a partir de 1987 (INIA, 1994).

    6.2. Caractersticas morfolgicas

    Trata-se de uma planta herbcea, perene, glabra (Lotus corniculatus L.) ou pilosa

    (Lotus subbiflorus L.), com folhas pinadas compostas de trs fololos apicais digitados e

    dois basais distanciados, assemelhando-se a estpulas. Possui fololos sem nervuras

    visveis ou com somente a principal aparente. Com inflorescncia em umbelas de 4 a 6

    flores amarelas, possui vagem linear, cilndrica, deiscente e bivalva com falsos septos

    transversais entre as sementes. Tem uma raiz pivotante, o que confere tolerncia a

    estiagens. A sua altura pode variar entre 50 e 80 cm quando no pastejada.

  • Do ponto de vista morfolgico, apresenta variaes quanto ao tamanho, a forma, a

    pubescncia e a colorao das folhas, entre outras. O hbito de crescimento, de forma

    geral, ereto, embora possa ser prostrado ou ascendente (Seaney e Henson, 1970). A

    grande variabilidade dos gentipos dessa espcie deve-se ampla base gentica e sua

    forma tetraplide, embora tambm seja encontrado na forma diplide a exemplo de

    alguns gentipos rizomatosos originrios do Marrocos (Steiner e Garcia de Los Santos,

    2001), como tambm a hibridaes interespecficas (Grant, 1999).

    A partir da descoberta de tipos rizomatosos de cornicho, em 1988, muitos

    trabalhos se voltaram para a incorporao dessa caracterstica em cultivares comerciais,

    como as cvs. ARS-2620 e ARS-2622 (Kallenbach et al., 2003). Acredita-se que o hbito

    de crescimento rizomatoso possa contribuir para o aumento da persistncia da espcie,

    visto que os rizomas funcionam como reservas e como rgos de propagao vegetativa

    (Li e Beuselinck, 1996). Poucos trabalhos tm sido conduzidos com esses gentipos,

    quanto resposta a corte ou pastejo (Kallenbach et al., 2001).

    No Brasil, a cultivar mais utilizada o So Gabriel, desenvolvido pela Estao

    Experimental de So Gabriel, RS, a partir de pesquisas entre 1955 e 1965, tendo seu

    cultivo se expandido para outros pases da Amrica do Sul (Paim, 1988). Essa cultivar

    caracterizada pelo rpido crescimento inicial, boa produtividade e elevada qualidade de

    forragem, longo perodo vegetativo e boa ressemeadura natural. Contudo, apresenta

    problemas de persistncia, principalmente por causa de seu crescimento ereto (Oliveira

    e Paim, 1990).

    6.3. Caractersticas agronmicas

    O Lotus corniculatus L. bastante resistente ao frio, preferindo climas de

    temperado frio a temperado mdio, resistindo bem s geadas. uma espcie perene

    muito bem adaptada maioria dos solos e regies do RS, especialmente nas regies

    mais sujeitas a seca. Por essa razo uma das leguminosas preferenciais para a regio

    da Campanha do RS. Sua tolerncia deficincia hdrica deriva de seu sistema de razes

    pivotantes que se aprofunda no solo, buscando gua em camadas mais profundas, alm

    de outras caractersticas fisiolgicas que determinam essa maior tolerncia. Embora seja

    muito utilizado em reas de vrzea bem drenada, adapta-se bem em solos de coxilha.

    No tolera sombreamento. Vegeta na primavera/vero e possui alto valor nutritivo,

    tendo problemas de persistncia devido a seu porte ereto, o que o torna sensvel ao

  • pisoteio e ao pastejo. semelhante alfafa, porm, com menor produo e maior

    rusticidade.

    uma das poucas leguminosas que no muito exigente com relao a solos. No

    entanto, mesmo sendo uma planta rstica, responde correo de fertilidade,

    principalmente do fsforo. D-se bem em solos arenosos, argilosos, pobres, mdios e

    tolera pH inferior a 6,0, at 4,8. Entretanto, sua produtividade melhor se forem

    corrigidos o pH do solo, a drenagem e a fertilidade (Russelle et al., 1991).

    O excelente valor nutritivo do cornicho deve-se aos elevados teores de protena e

    digestibilidade. Lpez et al. (1996) observaram at 24% de protena bruta e 86% de

    digestibilidade. Alm disso, o cornicho possui taninos condensados, responsveis pelo

    aumento de 18% a 25% no aproveitamento de protenas (Hedqvist et al., 2000), cujos

    teores atingem 28% quando em estdio bem jovem. Quando do florescimento os teores

    se situam entre 15 e 18% e, quando as sementes esto maduras, os teores caem para

    nveis prximos a 8%. No pleno florescimento a porcentagem de protena semelhante

    da alfafa e do trevo-vermelho.

    A produo de massa pode variar entre 10 e 17 t.ha-1 para associaes de

    cornicho/gramnea, e entre 6 e 14 t.ha-1 para monoculturas (Bullard e Crawford, 1995).

    A produo de sementes pode alcanar 600 kg.ha-1, mas o comum que as

    produes variem entre 50 e 175 kg.ha-1 (McGraw et al., 1986). Os baixos valores de

    produo de sementes so resultado do hbito de florescimento indeterminado, do

    suprimento limitado de fotossntese ao crescimento reprodutivo, do aborto de flores e da

    deiscncia das vagens (McGraw e Beuselinck, 1983). Elevada produo de sementes

    pode ser obtida pelo uso de reguladores de crescimento, que promovem o

    desenvolvimento reprodutivo e encurtam o perodo de florescimento (Li e Hill, 1989).

    O Lotus subbiflorus L. uma espcie hibernal com crescimento semi-ereto, que

    em pastejo baixo e freqente apresenta crescimento prostrado. Ocorrem plantas desde

    quase glabras a muito pilosas de acordo com bitipos e condies ambientais

    prevalecentes. Adapta-se a uma ampla diversidade de solos, estabelecendo-se tanto nos

    solos cidos, como nos de baixa fertilidade ou de drenagem deficiente.

    Embora o ciclo seja anual na maioria dos casos, h ocasies em que pode-se

    observar certa proporo de plantas bienais, tais como em semeaduras de primavera ou

    manejo de desfolhao baixo e tardio que impeam o florescimento, sempre que ambas

    as circunstncias sejam acompanhadas por abundantes precipitaes estivais.

  • Quando do seu uso como estratgia de melhoramento de campo nativo, embora a

    contribuio de forragem muitas vezes no seja relevante, o aporte qualitativo no

    perodo de inverno parece ser importante. Aparentemente, isto se deve ao incremento no

    nvel de protenas de forma complementar ao campo nativo, que em muitos casos

    dominado por espcies estivais de menor qualidade por ocasio do inverno.

    Frente a outras espcies, em geral perenes, a cv. El Rincn apresenta baixa

    produo de forragem em fins do outono e durante o inverno, sendo tal produo menor

    quanto mais seca e fria forem as condies climticas, e menor for a disponibilidade de

    fsforo no solo. As maiores taxas de acmulo dirio (em torno de 30 a 40 kg.ha-1 de

    MS) so obtidas entre novembro e dezembro.

    Ao final de seu ciclo esta espcie oferece uma elevada produo de sementes de

    tamanho pequeno e com alta porcentagem de sementes duras. A quantidade de sementes

    por kg de 2.180.000, nmero importante quando comparado com o Lotus corniculatus

    L. (830.000) e o trevo-branco (1.700.000) (INIA, 1994).

    6.4. Estabelecimento, utilizao e manejo

    Lotus corniculatus L.

    Como se trata de uma leguminosa que tem a semente muito pequena, o solo

    precisa ser muito bem preparado no caso de semeadura convencional. No se pode

    cobrir demasiadamente a semente sob risco de comprometer a emergncia. Deve-se

    levar em considerao um estabelecimento de cultura perene, observando para que as

    condies iniciais de desenvolvimento sejam as melhores.

    O cornicho apresenta estabelecimento lento, atingindo o mximo de sua

    produo somente depois de um ano. As sementes demoram a germinar, e as plntulas

    apresentam-se com reduzido crescimento inicial; um competidor fraco no estdio

    inicial de crescimento, pois os colmos so fracos e tendem a acamar, a menos que

    estejam apoiados por outras espcies em consorciao.

    So duas as pocas indicadas para a semeadura do cornicho: incio de outono e

    na primavera. D-se preferncia ao outono, por haver menor concorrncia com plantas

    invasoras, e tambm para que, ao chegar primavera, a cultura j esteja estabelecida. A

    semeadura outonal permite, ainda, que a planta aproveite o perodo de chuva e frio para

    ampliar seu sistema radicular. Outro benefcio que se tem, para o inverno seguinte, o

    pasto bem estabelecido, com plantas que podem inclusive antecipar o incio do pastejo

    (maio).

  • As quantidades de sementes empregadas por hectare dependem de vrios fatores,

    tais como a qualidade das sementes, o mtodo de semeadura e a utilizao que se quer

    dar a cultura (feno, pastagem ou produo de sementes). Uma boa semente deve

    apresentar cerca de 80% de germinao. Nas semeaduras a lano emprega-se maior

    quantidade de sementes do que nas semeaduras em linhas (considerada particularmente

    para produo de feno ou sementes). Na formao de pastagens utiliza-se at 8 kg.ha-1

    de sementes e, na semeadura em linhas, 5 a 6 kg.ha-1 distanciadas entre 25 e 30 cm.

    uma espcie de crescimento ereto, o que determina que seu manejo deva ser

    feito com cuidado para manter uma rea de folhas elevada e no se remova os pontos de

    crescimento, os quais, em sua maioria, esto bem acima da superfcie do solo.

    Raramente so relatados casos de timpanismo, mesmo em pastagens dominadas pelo

    cornicho. Em suas folhas encontram-se elevados teores de tanino.

    Ainda devido ao crescimento ereto bastante utilizado para fenao exigindo,

    entretanto, alturas de corte adequadas para no prejudicar a rebrotao (7 a 10 cm do

    solo). O crescimento mais intenso do cornicho vai de meados de julho a novembro.

    Isto permite colheitas para a produo de feno a cada 35-40 dias. A cultura pode

    produzir at 30 t.ha-1 de massa verde, ou 5 a 6 t.ha-1 de feno.

    Quando o objetivo produzir sementes, e em se tratando de uma cultura de

    primeiro ano, o cornicho dever manter-se em crescimento at o fim de setembro,

    quando ento dever ser pastejado com elevada lotao para que, de forma rpida, seja

    rebaixado. Essa prtica proporciona florescimento mais homogneo e concentrado. A

    maturao da semente, que j bastante desuniforme, poder, assim, se uniformizar,

    permitindo at mesmo a colheita mecnica com mquinas convencionais de trigo ou

    soja, bem reguladas.

    Consegue-se, em anos favorveis (veres regularmente chuvosos), at duas safras.

    A primeira colheita se d em fins de dezembro, e cerca de 40 a 50 dias se procede a

    segunda colheita, se as condies de tempo assim o permitirem. No se recomenda,

    entretanto, realizar colheitas freqentes, pois essa prtica pode deixar as plantas frgeis

    e menos competitivas com aquelas invasoras eventualmente presentes.

    Lotus subbiflorus L.

    Essa leguminosa tem seu principal uso no melhoramento dos campos nativos do

    sul do Brasil e no Uruguai. Neste contexto, antes da semeadura deve-se efetuar

    previamente um pastejo intenso no vero, depois das chuvas do ms de maro. Esse

  • pastejo no deve ser realizado com muitos meses de antecedncia, nem tampouco

    prolongar-se por longo perodo de tempo, sob pena de que se promova a formao de

    uma estrutura de pasto mais rasteiro que far com que as espcies do campo se tornem

    mais competitivas sobre as plntulas de L. subbiflorus L. devido, principalmente, ao

    maior perfilhamento das gramneas.

    A cultivar El Rincn se adapta bem a semeaduras em cobertura, a lano e em

    linhas. As taxas de semeadura recomendadas variam entre 3 e 7 kg.ha-1 de sementes,

    buscando-se estandes de plantas entre 30 e 40 plantas.m-2.

    Trata-se de uma espcie com baixa exigncia em fsforo e excelente capacidade

    de associao com Rizhobium. No entanto, responde positivamente aplicao de doses

    crescentes de fsforo (superior registrada pelo Lotus corniculatus L.) promovendo-se

    uma melhor disponibilidade de forragem na poca crtica do inverno (INIA, 1994).

    Diferentemente dos resultados com outras leguminosas anuais, a nodulao

    ocorre de forma eficiente. Entretanto, a populao de Rizhobium no solo pode ser

    fortemente afetada por acidez elevada, nveis limitados de fsforo e veres longos,

    secos e com temperaturas elevadas. imprescindvel suprir o mnimo de fertilizante

    fosfatado necessrio para obter uma populao adequada, favorecendo a transferncia

    contnua de nitrognio para as plantas do campo nativo. Para tanto, as fertilizaes de

    manuteno podem ser anuais, realizadas em anos alternados ou a cada trs anos.

    Sob pastejo rotativo as plantas de L. subbiflorus L. mantm crescimento ereto, o

    que favorece o desenvolvimento das inflorescncias nos estratos superiores do pasto,

    expondo as sementes ao do pastejo. Por outro lado, se mantivermos um pastejo com

    lotao contnua, as plantas se mantm com crescimento mais rasteiro e as

    inflorescncias se desenvolvem prximas ao solo. Desta forma, as estratgias de pastejo

    utilizadas circunstancialmente durante a fase final da estao de crescimento afetam as

    populaes de sementes e determinam a capacidade de ressemeadura desta espcie na

    pastagem. importante lembrar que, mesmo sob lotao contnua, intensidades de

    pastejo moderadas no impedem uma boa produo de sementes.

    Embora o desenvolvimento inicial das plantas de L. subbiflorus L. seja muito

    lento, seu crescimento subseqente marcado por grande competitividade,

    especialmente na primavera. Outra opo consiste em permitir que o cornicho alcance

    disponibilidade elevada de forragem durante a primavera/vero com o intuito de se

    obter uma reserva forrageira (feno) para os meses de inverno.

  • 7. A pesquisa nacional em forrageiras de clima temperado na ltima dcada

    As espcies exticas de clima temperado fazem parte do contexto histrico da

    experimentao cientfica em forrageiras no Brasil desde seu incio, na dcada de 50.

    Desde ento, uma gama de informaes foi gerada nos mais variados segmentos da

    pesquisa (produo, manejo, melhoramento, etc). Ressaltem-se trabalhos envolvendo

    produo de forragem em consorciaes de gramneas e leguminosas (Fontanelli e

    Freire Junior, 1991), avaliao de cultivares e prognies (DallAgnol et al., 1982),

    dinmica do florescimento e rendimento de sementes (Franke e Nabinger, 1991a;

    Franke e Nabinger, 1991b; Nabinger, 1981), valor nutritivo (Fontanelli et al., 1991),

    produo animal (Restle et al., 1998; Lesama e Moojen, 1999) e melhoramento de

    pastagem natural com introduo de espcies (Vidor e Jacques, 1998; Fontanelli e

    Jacques, 1991).

    At o final da dcada de 90, a maior preocupao era a gerao de nmeros que

    expressassem potenciais produtivos das espcies e cultivares. Nos anos recentes, os

    avanos observados na pesquisa cientfica referem-se principalmente busca pelo

    entendimento dos processos, como veremos a seguir.

    7.1. Dinmica da produo de forragem

    O acmulo de fitomassa area ao longo do ciclo produtivo das espcies continua

    sendo uma das principais caractersticas de avaliao de forrageiras, seja qual for a

    subrea da pesquisa. Dados recentes ratificam com alguma superioridade aqueles

    referenciados em dcadas passadas, fruto da prpria evoluo cientfica no

    entendimento dos processos produtivos e seu manejo. Na Universidade Federal do

    Paran (UFPR), Ido et al. (2005) apresentaram resultados de produo primria em

    consorciao de azevm com trevo-branco, trevo-vermelho e cornicho da ordem de 7,0

    a 9,0 t.ha-1 de MS em um perodo de 110 dias (Tabela 2). Esses valores, oriundos de

    taxas de acmulo dirio de forragem entre 40 e 50 kg.ha-1 de MS, cada vez mais

    evidenciam o pleno potencial das espcies de clima temperado em suprir o dficit

    forrageiro existente em pastagens nativas no sul durante o inverno.

    Tabela 2. Taxas de acmulo e de desaparecimento e produo total de MS na pastagem

    de azevm associada com leguminosas de inverno, submetida a diferentes

    ofertas de forragem. Oferta de forragem Oferta de forragem Taxa de acmulo Taxa de Acmulo total de Produo total de

  • pretendida real desaparecimento MS MS % PV % PV kg.ha-1.dia-1de MS kg.ha-1.dia-1de MS

    4 3,5 43,4 63,9 4861 7154 4 3,8 46,5 71,8 5208 7816 8 9,6 46,3 52,1 5186 8024 8 9,2 47,9 59,5 5365 8296 12 13,8 51,4 54,8 5757 8993 12 14,0 52,5 58,1 5880 9094 16 19,2 46,0 36,9 5152 8481 16 19,4 44,6 30,7 4995 8192

    Fonte: Ido et al., 2005

    Apesar da produo de forragem ainda constituir um dos principais alvos de

    estudo em forrageiras, as metodologias mostraram grande avano a partir do incio dos

    anos 2000, sobretudo com o estudo da morfognese das plantas. No RS, caractersticas

    morfognicas de azevm foram avaliadas quanto a alturas de manejo do pasto (Pontes et

    al., 2003), doses de N (Gonalves et al. 2004; Viegas e Nabinger, 1999, Viegas et al,

    1999; Lustosa, 2002), doses de N e sistemas de manejo (Quadros e Bandinelli, 2005) e

    mtodos e intensidades de pastejo (Cauduro et al. 2006). De forma geral, os autores

    observaram que as variveis efetivamente afetadas pelas estratgias de manejo so a

    taxa de alongamento foliar e o comprimento final de folhas, os quais aumentam com a

    diminuio da intensidade de desfolhao. Esses trabalhos deram nmeros a

    observaes anteriormente empricas em nossas condies, com explicaes

    consistentes sobre o menor aproveitamento dos recursos do meio para produo de

    forragem em situaes de desfolhao severa da planta.

    Cauduro et al. (2007) avaliaram o fluxo de biomassa (acmulo, senescncia e

    consumo) de pastos de azevm sob mtodos e intensidades de pastejo, para melhor

    entendimento das relaes planta-animal e a definio de ambientes pastoris favorveis

    produo e bem-estar animal. A produo de forragem passou a ser esmiuada em

    caractersticas como taxa de aparecimento foliar, durao de vida da folha,

    comprimento final da folha, nmero de folhas vivas por perfilho, etc. Com isso, a

    dinmica do pasto entra em uma nova escala de observao e detalhamento,

    fundamentais tanto para definio de critrios de controle em nvel experimental como

    de estratgias de manejo do pasto em sistemas de produo.

    A fertilizao tem sido estratgia constante de distino de tratamentos

    experimentais ao longo dos anos. Respostas potenciais em produo de forragem j

    foram bastante avaliadas, como por exemplo a do azevm sob doses de nitrognio (N)

    (Soares et al., 2002; Lustosa, 2002; Lupatini et al., 1998), estudos comparando a

    produo forrageira e de gros em cultivo subseqente a partir da aplicao de N em

    cobertura no pasto ou via fixao pela introduo de leguminosas hibernais (Assmann et

  • al., 2003, Amado et al., 2003) e dinmica do N na produo de fitomassa em espcies

    hibernais de cobertura (Aita et al, 2006).

    Atualmente, um projeto coordenado pela unidade Embrapa Pecuria Sul (Bag,

    RS), em colaborao com o Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia

    da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DPFA UFRGS), busca avanar com a

    pesquisa em modelagem de sistemas forrageiros ao ter por objetivo construir um

    modelo matemtico para a predio e simulao das taxas de crescimento em azevm

    em diferentes condies de nitrognio no solo e clima. Os dados esto sendo coletados

    em pontos distintos da Regio Sul contando, para isso, com uma equipe multi-

    institucional (Embrapa Clima Temperado, Universidades Federais do Paran e de Santa

    Maria, Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de SC, Fundao Estadual

    de Pesquisa Agropecuria do RS. Um dos objetivos com esse projeto a divulgao

    peridica de boletins on line da previso do crescimento do pasto de azevm nas regies

    de abrangncia dos locais de avaliao: Bag (extremo Sul do RS), Eldorado do Sul

    (Centro do RS), Lages (Alto da Serra de SC) e Pinhais (Serra do PR). Uma vez

    consolidada, a validao e disponibilizao desta tcnica representar um marco na

    contribuio da pesquisa cientfica ao manejo de pastagens no sul do Brasil.

    7.2. As forrageiras de clima temperado em outras regies do Brasil

    As forrageiras de clima temperado tm sido alvo de estudos tambm como

    alternativa ao perodo da seca nas regies tropicais do pas. Por exemplo, no anterior

    Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, SP, aveia-preta, azevm e trevo-branco foram

    sobressemeados em pastagem de capim-aruana. Resultados de dois anos de avaliao

    deram conta de que a mistura das forrageiras hibernais aumentou a produo de

    forragem no perodo crtico (Gerdes et al., 2005a), mas no influenciou na qualidade da

    forragem ofertada em relao ao cultivo exclusivo de capim-aruana sob irrigao e

    adubao (Gerdes et al., 2005b). Constataram, ainda, a baixa tolerncia do trevo-branco

    ao sombreamento provocado pela gramnea, comprometendo seu estabelecimento. Na

    ausncia da condio hdrica artificial, provvel que as forrageiras de clima temperado

    tivessem apresentado maior contribuio qualidade da forragem produzida. Ainda

    assim, fica evidente que o maior impacto dessas espcies dar-se- em sistemas pastoris

    da Regio Sul, onde o limitante primeiro da produo forrageira no perodo de inverno

    no o regime hdrico, e sim a temperatura.

  • A espcie de clima temperado de maior interesse para pastejo em outras regies

    que no o Sul do Brasil , sem dvida, a aveia-preta. Na Universidade do Estado de So

    Paulo, a dinmica de perfilhos dessa espcie foi avaliada por Rosseto e Nakagawa

    (2001), com objetivo de melhor definir as estratgias de manejo adequadas para aquelas

    condies. Mais recentemente, Ferolla et al. (2008) avaliaram a composio

    bromatolgica e o fracionamento de carboidratos e protenas em aveia-preta e triticale

    no Norte do Rio de Janeiro. Concluram que a alta solubilidade dos carboidratos e

    protenas faz dessas espcies potenciais alternativas para forrageamento hibernal em

    sistemas base de pastagens tropicais no estado fluminense.

    No Paran, o IAPAR desenvolve, h muitos anos, o melhoramento gentico das

    aveias preta e branca, com duas cultivares a se destacar: a IAPAR 61 (preta) e a IPR 126

    (branca), esta ltima com resultados mais promissores que sua antecessora FAPA 2.

    Essas forrageiras tm sido avaliadas e recomendadas pela Comisso Nacional de

    Pesquisa de Aveia. Selecionadas a partir de populaes da cultivar Comum, tm

    apresentado respostas semelhantes em produo total de MS quando colhidas no estdio

    vegetativo, mas com notado avano gentico na relao folha-colmo em relao s

    cultivares comuns. No RS, Macari et al. (2006) compararam as cultivares de aveia-preta

    cv. IAPAR 61 e comum em produo primria e secundria, no encontrando

    diferenas para taxa de acmulo de MS, taxa de lotao, ganho de peso mdio dirio e

    por rea e protena bruta. Esses autores definiram como satisfatrias as respostas obtidas

    com a cultivar paranaense, recomendando sua utilizao para pastejo no Rio Grande do

    Sul.

    7.3. Melhoramento gentico

    Os pesquisadores dedicados ao melhoramento gentico de forrageiras de clima

    temperado tm literalmente lutado contra o tempo, cronolgica e climaticamente.

    preciso ter persistncia tanto no campo como fora dele. O lanamento de cultivares

    especficos um desafio de mdio-longo prazos, e muitas vezes o processo se perde ao

    longo do caminho. A seleo de gentipos adaptados tem sido o direcionamento das

    pesquisas, e os mtodos utilizados tm permitido avanos importantes.

    Vargas et al. (2006) avaliaram 26 populaes de azevm coletadas em diferentes

    regies do RS (Tabela 3). No observaram superioridade para uma ou outra populao

    em todos os caracteres avaliados, sugerindo que o melhoramento gentico desta espcie

    possa ser direcionado ao desenvolvimento de sintticos combinados entre as

  • populaes. Inferiram, ainda, que futuros estudos podero discutir a possibilidade de

    seleo intrapopulacional no melhoramento gentico.

    Vieira et al. (2004) avanaram no entendimento da distribuio da variabilidade

    intra e interpopulacional de azevm. Estudos dessa natureza, bem como a avaliao de

    prospeco de gentipos com superioridade em caracteres morfolgicos, tal qual

    trabalhada por Castro et al. (2003), podem constituir importante base de trabalho aos

    melhoristas em azevm. Entretanto, existe um longo caminho a ser trilhado, o qual

    provavelmente j deveramos ter percorrido, dada a importncia dessa espcie para os

    sistemas agropastoris do Sul do Brasil.

  • Tabela 3. Mdias de nmero de perfilhos por planta, dimetro de cobertura do solo e

    ciclo vegetativo para populaes de azevm coletadas em diferentes regies

    do RS

    Regio de coleta

    Designao da populao em funo do municpio

    Variveis

    N de afilhos Dimetro de

    cobertura do solo (cm)

    Ciclo

    vegetativo (dias)

    Central (C)

    Jlio de Castilhos 17 C 41 C 172 C Pntano Grande 21 C 40 C 172 C

    Rio Pardo 25 B 41 C 186 A Tupanciret 17 C 42 C 177 B

    Noroeste (NO)

    Campo Novo 23 B 34 D 163 D Cruz Alta 19 C 55 A 155 E Erechim 19 C 37 D 166 D

    Iju 22 C 46 B 166 D Lagoa Vermelha 20 C 43 C 190 A

    Marau 23 B 40 C 172 C Panambi 17 C 46 B 160 D

    Passo Fundo 28 B 49 B 169 C Santo ngelo 18 C 54 A 136 F Santo Augusto 12 C 35 D 172 C

    So Luiz Gonzaga 12 C 42 C 171 C Sarandi 27 B 51 A 152 E

    Tucunduva 23 B 43 C 154 E Vacaria 27 B 38 D 185 A

    Sudeste (SE)

    Camaqu 22 C 38 D 172 C Capo do Leo 18 C 39 C 194 A

    Sudoeste (SO)

    Dom Pedrito 1 21 C 31 D 184 A Dom Pedrito 2 37 A 42 C 176 B

    Dom Pedrito (Guatambu) 32 A 36 D 190 A So Borja 20 C 47 B 161 D

    So Gabriel 13 C 46 B 166 D Uruguaiana 18 C 41 C 177 B

    CV (%) 22,7 9,8 334 Fonte: Vargas et al., 2006

    Rebuffo et al. (2005) tambm salientaram a importncia da utilizao de

    germoplasmas locais nos programas de melhoramento gentico de forrageiras de clima

    temperado. Argumentam que as variedades crioulas podem formar distintos grupos

    adaptados a ecossistemas especficos. O prprio Lotus corniculatus cv. So Gabriel

    citado pelos pesquisadores uruguaios como sendo mais produtivo que outras cultivares

    introduzidas, e na ltima dcada o processo de melhoramento gentico a partir de

    populaes locais j possibilitou a identificao de cultivar com produo de matria

    seca superior do cornicho So Gabriel para condies do Uruguai (Figura 1).

    Algumas cultivares desenvolvidas no pas vizinho tm cruzado as fronteiras para o Rio

    Grande do Sul e Santa Catarina, como o caso do Lotus corniculatus cv. Inia Dracco e

    do Lotus uliginosus cv. Maku.

  • Figura 1. Produo anual de forragem (t.ha-1 de MS) de Lotus corniculatus cv. So

    Gabriel e cv. INIA Draco em quatro anos de experimentos sob corte. Fonte: Rebuffo et al., 2005

    No Rio Grande do Sul, no incio dcada de 90, Paim e Riboldi (1991)

    demonstraram a variabilidade do cornicho So Gabriel e seu alto potencial de resposta

    seleo para produo de MS, e alertaram para o longo caminho a ser percorrido em

    adaptao e seleo de gentipos em outras espcies e cultivares de Lotus para o RS.

    Pois este caminho vem sendo trilhado nesses quase 20 anos de pesquisa, e os resultados

    mais promissores so o L. subbiflorus cv. El Rincn e o L. uliginosus cv. Maku,

    desenvolvidos no Uruguai e selecionados para condies do Sul do Brasil. Maroso e

    Scheffer-Basso (2007) observaram caractersticas superiores do Lotus uliginosus cv.

    Maku em relao ao Lotus corniculatus cv. So Gabriel no que tange tolerncia ao

    pastejo. Ambas cultivares j foram, por demais, utilizadas como forrageiras-padro para

    avaliao de espcies leguminosas nativas do RS (Scheffer-Basso et al., 2002; Scheffer-

    Basso et al., 2000). Independentemente de qual espcie ou cultivar seja melhor em uma

    ou outra caracterstica, a imagem a ser emoldurada a de que a pesquisa em torno do

    gnero Lotus tem se mantido atenta a questes de interesse dos sistemas de produo,

    como adaptao, produo e persistncia.

  • Soster et al. (2004a) avaliaram sete populaes de Lotus corniculatus cv. So

    Gabriel coletadas no RS. Os autores observaram variabilidade quanto ao comprimento

    de entrens, altura, dimetro, comprimento de vagens, produo de forragem e valor

    nutritivo. Para os mesmos gentipos de cornicho, Soster et al. (2004b) encontraram

    boa variabilidade morfofisiolgica no germoplasma (e.g., morfologia das folhas, dos

    caules e da coroa; hbito de crescimento), recomendando o uso desses materiais em

    programas de melhoramento da espcie.

    Na mesma linha de estudo de caracterizao da diversidade gentica para

    avanos no melhoramento de leguminosas, Bortolini et al. (2006) avaliaram na

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul a divergncia de 78 acessos de trevo-branco

    provenientes da coleo nuclear do Sistema Nacional de Germoplasma Vegetal do

    Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Encontraram ampla variabilidade nos

    caracteres morfolgicos e agronmicos avaliados, sendo a rea foliar, a altura, a

    intensidade de florescimento e a produo de MS os que mais contriburam para a

    divergncia gentica entre os acessos.

    Este trabalho de seleo de germoplasma de trevo-branco realizado no

    Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da UFRGS tem, desde 2006,

    servido de base gentica para programa de melhoramento desenvolvido em parceria

    com a Embrapa Pecuria Sul, com previso de lanamento de novas cultivares para

    2009. Nessa mesma unidade da Embrapa foi reiniciada a seleo dentro da cultivar de

    trevo-branco BR1-Bag, lanada na dcada de 1980, e cuja populao selecionada

    encontra-se atualmente em ensaios de VCU para lanamento de cultivares. Em 2007,

    sob a coordenao da Embrapa Clima Temperado, foi lanada a cultivar de azevm

    BRS Ponteio, e a partir de 2008 as unidades da Embrapa firmaram parceria com a

    UFRGS para programas de melhoramento de outras espcies como trevo-vermelho,

    cornicho e aveias.

    Para ampliar a base gentica de trevo-vermelho, Simioni et al. (2006)

    trabalharam com a poliploidizao sexual nesta espcie, novamente com o objetivo de

    proporcionar aos melhoristas maior variabilidade para o processo de seleo. Montardo

    et al. (2003a), por sua vez, avaliaram a persistncia de prognies da espcie em

    diferentes regies do RS, confirmando ser esta uma grande limitante da utilizao de

    trevo-vermelho em regies abaixo da Encosta Superior do Nordeste. Atravs de anlise

    de trilha, Montardo et al. (2003b) identificaram o nmero de inflorescncias por planta

  • como a principal caracterstica a ser utilizada na busca de maior produo de sementes

    em trevo-vermelho.

    Numa compilao experimental de espcies e cultivares de forrageiras de clima

    temperado de destaque nos ltimos anos, Rocha et al. (2007) avaliaram alguns dos

    principais acessos do Programa de Melhoramento Gentico do Instituto Nacional de

    Investigacin Agropecuaria do Uruguai. Os resultados mdios de produo de forragem

    total e por componentes estruturais (Figura 2) realaram forte expresso da cultivar de

    azevm Titan, a qual alm de apresentar alta produo de MS (prxima a 7,0 t.ha-1)

    tambm se destacou por concentrar, aproximadamente, 85% desta no componente

    lmina foliar. A preocupao em se selecionar para alta produo de lminas foliares, j

    comentada anteriormente nas cultivares de aveia, um passo adiante em relao

    produo de MS total e uma tendncia no melhoramento de gramneas de clima

    temperado. J para as leguminosas, preciso avanar em gentipos adaptados a

    condies especficas (e.g., hdricas, nutricionais).

    Figura 2. Produo de folha, colmo, material morto e inflorescncia (kg.ha-1 de MS) das

    cultivares de aveia (RLE 115A e 1095a), azevm (Cetus, Estanzuela e Titan),

    cornicho (So Gabriel), Trevo-vermelho (Estanzuela 116) e trevo-branco

    (Zapicn). Fonte: Rocha et al. , 2007

    Kg.

    ha-1

    Kg.

    ha-1

  • 7.4. Silvipastoralismo

    Face ao avano das reas de florestamento no Sul do Brasil a partir do incio dos

    anos 2000, ganharam destaque no cenrio cientfico pesquisas em sistemas silvipastoris

    (SSP). Estudos de produo e valor nutritivo de espcies de clima temperado em

    ambientes arbreos tm sido realizados em toda Regio Sul. Na Universidade Federal

    Tecnolgica do Paran, Sartor et al. (2006) avaliaram a produo de forragem de

    gramneas e leguminosas de inverno sob sombreamento de Pinus taeda. Das espcies

    trabalhadas, observaram ser o azevm a mais tolerante a essas condies,

    principalmente em condio de maior espaamento entre rvores (Tabela 4).

    Constataram, ainda, entre as leguminosas, maior adaptao do cornicho ao

    sombreamento em comparao ao trevo-branco.

    Tabela 4. Produo de forragem (kg.ha-1 de MS) de cinco espcies hibernais submetidas

    a dois nveis de sombreamento.

    Fonte: Sartor et al., 2006

    No Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul, o objetivo com a linha de pesquisa em SSP o estudo

    das interaes rvore-pastagem-animal. Enfoque especial tem sido dado ao estudo dos

    efeitos do sombreamento (natural ou artificial) sobre a produo e o valor nutritivo da

    forragem (Barro et al., 2006), bem como efeitos sobre a morfofisiologia das plantas

    usadas em sub-bosques. Barro et al. (2002), avaliando o teor de protena bruta, a

    digestibilidade in vitro da matria orgnica e os nutrientes digestveis totais de

    forrageiras de clima temperado, em pleno sol ou sob densidades de Pinus elliottii,

    constataram aumento da qualidade com a diminuio da luminosidade para azevm,

    aveia-branca e aveia-preta.

    Especial ateno tem sido dada caracterizao microclimtica do SSP

    mediante a avaliao de diferentes densidades arbreas e seus efeitos sobre o acmulo

    de forragem, alm dos efeitos da introduo de bovinos e ovinos no sistema. Destaca-se

  • tambm a avaliao de gentipos forrageiros para utilizao em SSP, com nfase s

    espcies de estao fria mais utilizadas em sistemas de produo do RS (azevm, trevos

    branco e vermelho, cornicho, aveias branca e preta, etc.), alm de espcies de ciclo

    estival (gneros Panicum e Brachiaria) e espcies nativas.

    A produo de carne em SSP no Sul do Brasil tem sido invest