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Cita Forrageira de Clima Temperado
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CAPTULO 16
FORRAGEIRAS DE CLIMA TEMPERADO
Paulo Csar de Faccio Carvalho Davi Teixeira dos Santos Edna Nunes Gonalves
Anibal de Moraes Carlos Nabinger
1. INTRODUO
As forrageiras de clima temperado so plantas que apresentam seu melhor
crescimento em temperaturas entre 20 e 25C. Ocorrem predominantemente ao norte da
latitude 30N e sul da latitude 30S. Portanto, nas regies temperadas do globo terrestre.
Nestas condies constituem a base da alimentao de herbvoros domsticos sendo
utilizadas, principalmente, sob pastejo, feno ou silagem. A sua importncia tambm
reconhecida na conservao dos solos, na manuteno de bacias hidrogrficas e na
proteo vida selvagem (Moser e Hoveland, 1996). So plantas que podem ser
cultivadas em regies com clima mais quente desde que o inverno seja frio, como o
caso das regies subtropicais, ou mesmo em regies tropicais de altitude.
Na regio sul do Brasil as forrageiras de clima temperado so de grande
relevncia para os sistemas agropastoris, principalmente no que tange ao suprimento de
forragem para os rebanhos durante os meses de inverno (Quadro 1). So utilizadas em
cultivo singular ou consorciadas, em reas integradas com cultivos estivais (gros ou
pastos de vero), ou sobressemeadas em pastagens naturais (pastagens naturais
melhoradas). No caso do Rio Grande do Sul (RS), aproximadamente 76% da rea
pastoril utilizada na pecuria de corte coberta por vegetao natural, sendo 8% desta
rea melhorada por adubao e sobressemeadura de espcies forrageiras de clima
temperado (Nabinger, 2006).
Ainda que se prestem para utilizao sob diversas formas, o principal uso sob
pastejo, seja em sistemas integrados com lavoura de gros ou em melhoramento de
pastagens naturais. Na maior parte dos casos, as forrageiras de clima temperado so
implantadas como misturas ou consorciaes visando aumentos de produo e valor
nutritivo da forragem a ser ofertada.
Quadro 1. Perodos (meses) de utilizao sob pastejo das principais forrageiras de clima
temperado em uso no sul do Brasil
J F M A M J J A S O N D Aveia-preta Azevm Trevo-branco Trevo-vermelho Cornicho
Legenda: perodo normal de utilizao. variaes de utilizao conforme regio, cultivares e condies climticas.
Ao longo de mais de 50 anos de pesquisa em forrageiras, diversas espcies e/ou
cultivares foram avaliadas na Regio Sul. Algumas espcies exticas alcanaram
expressiva participao nos sistemas agropastoris em uma ou outra poca, mas nem
todas conseguiram superar as dificuldades enfrentadas pelo lento processo de
lanamento de cultivares e posterior aceitao e utilizao pelos produtores rurais. o
caso de gramneas anuais como centeio (Secale cereale L.), triticale (X Triticosecale
Wittmack), capim-lanudo (Holcus lanatus L.) ou perenes como festuca (Festuca
arundinacea Schreb.), falris (Falaris aquatica L.) e capim-dos-pomares (Dactylis
glomerata L.); e de leguminosas como trevo-subterrneo (Trifolium subterraneum L.),
ervilhaca (Vicia sativa L.) e trevo-vesiculoso (Trifolium vesiculosum Savi.), sendo este
ltimo ainda de expresso no sul do pas.
Dentre as gramneas de clima temperado que se consolidaram como alternativas
forrageiras efetivamente usadas nos sistemas de produo, a aveia-preta (Avena strigosa
Schreb.) a de maior projeo em sistemas de integrao lavoura-pecuria da Regio
Sul, tambm utilizada em outros estados brasileiros (Gerdes et al., 2005; Floss, 1988). O
azevm (Lolium multiflorum Lam.) pode ser considerado como a mais importante
forrageira para o contexto agropecurio do sul do Brasil, visto sua complementaridade
de ciclo vegetativo com as pastagens naturais, alto valor nutritivo, facilidade de
estabelecimento e excelente capacidade de ressemeadura natural. A maior causa de
resistncia dos produtores quanto ao uso da aveia e/ou azevm para produo animal em
reas de lavoura ainda o suposto efeito do pisoteio animal. Vrias pesquisas, no
entanto, esto desmistificando este paradigma mostrando, inclusive, os benefcios para o
sistema advindos do uso de animais nessas reas (Terra Lopes et al., 2008; Aguinaga et
al., 2006; Carvalho et al., 2004; Moraes et al., 2002).
Quanto s leguminosas, o trevo-branco (Trifolium repens L.) a espcie mais
utilizada, seguida do cornicho (Lotus corniculatus L.), do trevo-vermelho (Trifolium
pratense L.) e, mais recentemente, do El Rincn (Lotus subbiflorus L.). Apesar da
reconhecida importncia na fixao de nitrognio (N) e alto valor forrageiro (Frame e
Boyd, 1987), a baixa persistncia das leguminosas em sistemas de produo tem sido
apontada como uma das principais causas de sua pequena representatividade apenas
2% das reas de pastagens no Brasil e algo semelhante no RS (DallAgnol et al., 2002).
Essa baixa persistncia e utilizao estariam relacionadas a problemas de
estabelecimento e manejo, como o baixo uso de corretivos e fertilizantes,
desconhecimento dos processos de inoculao e peletizao de sementes, dentre outros.
No contexto das forrageiras de clima temperado utilizadas no Brasil, o presente
captulo tem como perspectiva centrar-se sobre aquelas que, em nosso entender, esto
sendo trabalhadas de forma mais relevante, tanto pelas instituies de pesquisa como
em nvel de sistemas de produo. So elas a aveia-preta (Avena strigosa Schreb.) e o
azevm anual (Lolium multiflorum Lam.) pelas gramneas, e o trevo-branco (Trifolium
repens L.), trevo-vermelho (Trifolium pratense L.) e cornicho (Lotus corniculatus cv.
So Gabriel e Lotus subbiflorus cv. El Rincn) pelas leguminosas. No se trata de
desestimo a outras espcies que, por distintos motivos, perderam expresso, mas sim de
dar nfase s forrageiras de clima temperado que resistem ao tempo e que, de uma
forma ou outra, se consolidaram a despeito de todas as adversidades comumente
encontradas.
2. AVEIA-PRETA (Avena strigosa Schreb.)
2.1. Origem e relevncia
A origem das aveias, assim como de outros cereais, se perdeu na antiguidade.
Porm, o geneticista Nikolai Ivanovich Vavilov aponta a sia Menor e o Norte da
frica como os provveis centros de origem para a aveia. As principais aveias
cultivadas apareceram por volta de 1.000 A.C. na Europa Central (Horn, 1985).
A aveia-preta uma das gramneas anuais mais utilizadas para suprir as
necessidades de forrageamento hibernal. Foi introduzida no Rio Grande do Sul no incio
de 1940. uma forrageira de clima temperado muito rstica e resistente aos perodos
"secos", com excelente capacidade de perfilhamento e produo de massa verde. De
forma geral, produz mais forragem que as aveias branca e amarela, da o nome aveia-
Forrageira.
Com o advento do plantio direto (PD), essa espcie passou a ser fundamental na
rotao de culturas e na formao de palha, com boa relao carbono/nitrognio (C/N).
Com o crescimento dos modelos de explorao envolvendo a produo animal, ou seja,
a integrao lavoura-pecuria, a importncia das aveias tornou-se ainda maior, com a
aveia-preta destacando-se em sistemas pastoris por sua maior resistncia a pragas e
doenas, bem como maior tolerncia ao pisoteio animal.
2.2. Caractersticas morfolgicas
Gramnea cespitosa, com colmos cilndricos, eretos, compostos de ns e entrens.
O sistema radicular do tipo fasciculado sendo as razes fibrosas, o que facilita a
penetrao no solo. As folhas apresentam bainha vilosa, lgula obtusa de 1,5 a 7,0 mm e
margem denticulada, com lminas de 14 a 40 cm de comprimento por 5,5 a 22 mm de
largura, apresentando forma plana de pr-folhao convolutada. As folhas apresentam-
se sem aurcula e com lgula bem desenvolvida, o que difere a aveia de outros cereais de
inverno. Apresenta inflorescncia em pancula piramidal e difusa, apresentando
espiguetas contendo um gro primrio e um secundrio e raramente um tercirio. O gro
uma cariopse encoberto pela lema e a plea. O termo cariopse utilizado para
designar gros pequenos, secos, indeiscentes, apresentando semente nica por fruto e
uma fina camada de pericarpo, originado pelo desenvolvimento do vulo superior. O
peso de mil sementes varia de 15 a 18 g, em mdia (Floss, 1988a).
2.3. Caractersticas agronmicas
Os trs principais tipos de aveia cultivados so a preta (Avena strigosa Schreb.), a
branca (Avena sativa L.) e a amarela (Avena byzantina C. Koch.). As aveias brancas e
amarelas so de duplo propsito, pois, so capazes de boa produo de forragem, alm
de razovel produo de gros. Porm, essas espcies so mais susceptveis ferrugem
da folha e sua utilizao na formao de pastagens somente recomendvel para
regies menos afetadas por esta doena (Floss et al., 1985).
Apesar de ser conhecida como uma forrageira de clima temperado, trabalhos de
melhoramento tm desenvolvido cultivares adaptadas s regies mais quentes, como o
Centro-Oeste do Brasil. Temperaturas baixas na fase inicial de desenvolvimento
favorecem o perfilhamento, sendo que pulsos de calor na florao (temperaturas acima
de 32C) provocam esterilidade e aceleram a maturao dos gros. Quanto altitude, a
aveia-preta pode ser cultivada tanto em nvel do mar quanto acima de 1.000 m
(Federizzi e Mundstock, 2004).
A aveia-preta parece exigir maior teor de umidade para a formao de uma
unidade de massa seca em comparao com outros cereais (com exceo do arroz),
muito embora no tolere solos encharcados ou gua estagnada necessitando solos bem
drenados. A maior exigncia em gua ocorre nos estdios de florescimento at o incio
da formao dos gros. Vegeta bem em solo com pH entre 5,0 e 7,0 e no muito
exigente em relao a fertilidade dos solos; entretanto, responde bem adubao
nitrogenada, fosfatada e potssica.
A aveia-preta, alm de sua precocidade, rusticidade e resistncia s principais
enfermidades, produz uma elevada quantidade de massa no perodo de inverno. Quando
manejada sob cortes, apresenta excelente produo de forragem na primeira colheita,
baixando a produo nas seguintes. Essa espcie no utilizada na produo de gros,
pois eles no apresentam qualidade industrial devido colorao escura, pequeno
tamanho e baixo rendimento de gros descascados em relao ao gro inteiro (Floss,
1988b).
Tem-se observado a reduo da populao de plantas espontneas (plantas
invasoras) pela ao da aveia-preta e de sua palhada, sendo que o seu efeito
supressor/aleloptico acaba por reduzir os custos com capinas ou herbicidas nas culturas
subseqentes. Essa tcnica particularmente benfica quando precede as culturas do
feijo, da soja e de suas associaes com outras espcies. A aveia-preta bastante
resistente ao ataque de pulges e incidncia de ferrugem da folha. As condies
ambientais que favorecem esta ltima so altas temperaturas associadas a alta umidade
(Federizzi e Mundstock, 2004).
A produo de forragem depende da espcie ou cultivar de aveia (Scheffer-
Basso et al., 2002) podendo atingir 10 t.ha-1 de MS, dependendo do nvel de adubao
nitrogenada (Alves, 2002).
2.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
Diferentemente do azevm, a aveia uma espcie que no assegura a
ressemeadura natural. Como suas sementes no germinam bem na presena de luz, a
semeadura deve prover o enterrio das sementes. Para tanto, recomendado que em
situao de estabelecimento em sobressemeadura deva-se fazer uso de equipamentos
para semeadura direta. J no estabelecimento em rea preparada convencionalmente, e
em semeadura a lano, a passagem de uma grade niveladora com meia trava ou
menos recomendada para um adequado enterrio da semente.
uma espcie que no deve ser semeada precocemente em regies mais quentes
devido ao risco de ataque de ferrugem e pulges. Nessas regies recomenda-se seu
estabelecimento a partir de abril at maio. Devido ao tamanho de suas sementes uma
espcie de rpido estabelecimento podendo, de forma geral, ser utilizada aps 40 a 50
dias de sua semeadura, ou mesmo antes, dependendo da fertilidade do solo e do manejo
da adubao. Em razo dessa caracterstica de suas sementes, e do seu ciclo ser, via de
regra, mais curto que o do azevm, a aveia-preta muito utilizada como pastagem
cultivada em reas de sucesso com soja ou milho.
A mistura com azevm utilizada quando se pretende estender o ciclo de uso da
pastagem alm do perodo permitido pela aveia-preta, que em cultivo singular permite
pastejos at final de setembro, embora j nesta fase a sua qualidade seja baixa devido ao
florescimento. No caso da associao com azevm esta deficincia compensada, pois
o azevm tem seu ciclo mais tardio e complementar.
Alm de sua associao com azevm tambm possvel consorci-la com
leguminosas como ervilhaca, trevo-vesiculoso e trevo-vermelho, as quais apresentam
semelhante exigncia de solo quanto drenagem. Essas espcies cumprem o papel de
qualificadoras da dieta do animal em termos de protena e, tambm, no suprimento de
clcio que, no caso da aveia, pode no atender as necessidades de vacas leiteiras em
produo ou animais jovens em crescimento.
Uma proposio de consorciao multi-especfica a da aveia-preta com centeio e
azevm. Apesar de ser uma consorciao constituda de trs gramneas, tem por
estratgia estender o ciclo de utilizao da pastagem por perodo maior de tempo. O
centeio a gramnea mais precoce, concentrando 55% de sua produo entre maio e
junho. J o azevm, mais tardio, tem 70% da sua produo nos meses de agosto-
setembro ficando a aveia numa posio intermediaria, com 60% de sua produo
concentrada nos meses de junho-julho (Postiglioni, 1982).
A fertilizao deve estar de acordo com a anlise de solo. Para a adubao
nitrogenada, Alvim (2006) recomenda a aplicao mnima de 270 kg.ha-1 de uria ou
500 kg.ha-1 de sulfato de amnio. Alves (2002) verificou mximas respostas com aveia-
preta (IAPAR 61) com aplicaes entre 150 e 225 kg.ha-1 de N, evidenciando que a
dose tima depende do tipo de solo (Tabela 1). Nessas doses a produo anual pode
alcanar mais de 9,0 t.ha-1 de MS. Siqueira (1987) sugere utilizar 20 kg.ha-1 de N na
semeadura e o restante da dose em duas ou trs parcelas iguais, a partir do incio do
perfilhamento, 30 a 40 dias aps a emergncia.
Tabela 1. Produo de massa seca da parte area (kg.ha-1) de aveia-preta cultivar IAPAR
61 em quatro cortes, sendo trs durante a fase vegetativa da cultura (1, 2 e 3) e
um na fase de enchimento de gros
Cortes Dose de N (kg.ha-1)
0 75 150 225 300 1 966 2466 2861 3597 3303 2 1003 1641 2049 2126 1858 3 904 1488 1582 1547 1446
Fase vegetativa 2873 5595 6492 7270 6607 4 549 1507 1758 1984 3346
Total 3422 7102 8250 9254 9953 Fonte: Alves, 2002
Como referido anteriormente, a semeadura pode ser realizada a lano ou em
linhas. Em cultivo singular, e usando-se sementes de boa qualidade, recomenda-se uma
densidade de semeadura entre 70 e 80 kg.ha-1. O espaamento entre linhas deve ser
entre 20 e 30 cm e as sementes distribudas a uma profundidade mxima de 3-4 cm.
Quando a semeadura for a lano, necessria uma quantidade maior de sementes, entre
30 e 50%. Na associao com o azevm ou outras espcies a densidade de semeadura
deve situar-se ao redor de 50 a 60 kg.ha-1, ou ainda menos para aveia-preta, e 60-80
kg.ha-1 para as demais aveias.
O ciclo de utilizao do pasto varia muito em funo da cultivar e depende
fundamentalmente da poca de semeadura quanto mais tardia, menor o perodo de
crescimento vegetativo. Por exemplo, Josifovich et al. (1968), citados por Carmbula
(1977), relatam variaes no perodo de utilizao entre 80 e 160 dias, conforme a
semeadura seja realizada em maro ou maio, respectivamente.
Quando o objetivo a utilizao da aveia-preta como cobertura de solo ou
adubao verde, o manejo da fitomassa deve ser realizado na fase de gro leitoso o que
ocorre entre 120 e 140 dias aps a semeadura. Nessa fase, normalmente no h gros
viveis e ocorre o menor ndice de rebrotao aps o manejo. Conforme o caso, a aveia-
preta pode ser incorporada (arao), cortada sobre o solo (rolo-faca) ou dessecada com
herbicida com manejo posterior (arao, rolo-faca, roadeira).
Com relao ao manejo da desfolhao sob pastejo em lotao contnua,
recomenda-se manter uma altura constante ao redor de 20 a 25 cm. J no pastejo com
lotao rotativa, a entrada dos animais no piquete deve ocorrer quando o pasto estiver
com cerca de 25-30 cm, retirando-os quando o resduo se aproximar de 10-15 cm.
Em pequenas propriedades comum a utilizao da aveia-preta cortada e picada,
sendo oferecida aos animais no cocho. O corte deve ser efetuado altura de 7 cm acima
do solo, para facilitar a rebrotao. A aveia-preta deve ser fornecida no cocho
gradativamente, iniciando-se com pequenas quantidades que vo aumentando at atingir
a capacidade mxima de consumo dos animais, caso a aveia seja o nico alimento
suplementado evitando, assim, problemas metablicos.
A silagem de aveia-preta uma alternativa de utilizao para esta forrageira,
porm, seu uso no comum. O perodo mais favorvel para o corte aps o pleno
florescimento, pois este o momento de mais alto teor de carboidratos, fundamental
para que o processo fermentativo ocorra. Quando o corte feito no estdio de
florescimento recomendvel a ensilagem pelo sistema de pr-murchamento
aumentando, assim, o teor de matria seca, pois a ensilagem do produto fresco, com
28% de massa seca, produz uma silagem mida, com alto teor de acido butrico, o que
indesejvel por reduzir a qualidade do alimento (Lpez, 1975).
3. AZEVM (Lolium multiflorum Lam.)
3.1. Origem e relevncia
A origem provvel do azevm anual o norte da Itlia (Spedding e Diekmahns,
1972). No Brasil foi introduzido por colonizadores italianos em 1875 no estado do Rio
Grande do Sul (Arajo, 1971).
O gnero Lolium apresenta duas espcies de larga distribuio; o azevm perene
(Lolium perenne L.), que praticamente no utilizado no Brasil, e o azevm anual
(Lolium multiflorum Lam), que a segunda forrageira hibernal mais cultivada no Rio
Grande do Sul.
O azevm uma planta amplamente utilizada pelos produtores, apresentando boa
produo de forragem, boa rebrotao, resistente ao pastejo e ao excesso de umidade,
que suporta altas lotaes, apresenta alto valor nutritivo e boa palatabilidade
(Carmbula, 1977). Possui alta ressemeadura natural, alm de fcil aquisio de
sementes e baixo custo de implantao. O germoplasma de azevm utilizado pela
maioria dos produtores o azevm diplide (2n), denominado azevm comum. Alguns
produtores vm utilizando cultivares tetraplides (4n), que apresentam algumas
caractersticas diferentes do azevm diplide, como por exemplo, sementes maiores,
folhas mais largas e de colorao mais escura.
3.2. Caractersticas morfolgicas
O azevm uma gramnea anual, cespitosa, cujo porte chega a atingir 1,2 m de
altura. Os colmos so cilndricos e eretos, compostos de ns e entrens, com 30 a 60 cm
de altura. Possui folhas finas, tenras e brilhantes, com 2 a 4 mm de largura. As bainhas
so cilndricas e as folhas jovens so enroladas. A lgula curta e as aurculas so
abraantes. A inflorescncia uma espiga dstica, isto , com duas fileiras de
espiguetas, com 15 a 20 cm de comprimento, contendo cerca de 40 espiguetas
arranjadas alternadamente, com 10 a 20 flores frteis por espiga. O gro uma cariopse
e apresenta peso de mil sementes mdio de 2 a 2,5 g nas variedades diplides e 3 a 4,5 g
nas tetraplides (Balasko et al., 1995). O peso da semente, no entanto, uma
caracterstica que depende muito do manejo da lavoura sendo que, em nossas condies,
o peso de mil sementes raramente excede 2 g nas variedades diplides.
3.3. Caractersticas agronmicas
Esta gramnea adaptada a temperaturas baixas (no resiste ao calor)
desenvolvendo-se, sobretudo, entre o outono e a primavera. Ela desaparece no vero,
pois conclui seu ciclo vegetativo na ocorrncia de dias longos e temperaturas altas.
Alvim et al. (1987) destacam existir uma relao direta entre a temperatura ambiente e a
produo do azevm, que mxima quando ao redor de 22C.
uma gramnea considerada rstica, competitiva, com boa capacidade de
perfilhamento e que se desenvolve bem em qualquer tipo de solo, mas prefere os
argilosos, frteis e midos. Porm, em condies onde o solo apresente alta deficincia
de drenagem, o azevm tem seu desenvolvimento prejudicado. Embora tolere bem a
acidez, mais exigente em fertilidade e umidade do que a aveia-preta.
Trata-se de uma forrageira que tem alta palatabilidade pelos animais e contm
elevados teores de protena e digestibilidade, bem como equilibrada composio
mineral. Alm de excelente opo forrageira, presta-se muito como alternativa para
proteo e cobertura de solo, proporcionando boa produo de massa. A produo de
massa varivel, podendo ultrapassar de 10,0 t.ha-1 de MS em situaes de bom
manejo.
Floresce geralmente em setembro e produz quantidades apreciveis de sementes.
Devido a sua grande capacidade de ressemeadura natural, mesmo fenecendo, se
restabelece na rea quando do incio de um novo perodo favorvel para crescimento.
3.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
As sementes de azevm tm capacidade de permanecer viveis no solo desde a
queda das sementes no fim de seu ciclo (novembro ou dezembro dependendo da cultivar
ou populao) at a estao favorvel seguinte. Muitas dessas sementes ainda podem
permanecer viveis no solo por mais de um ano, formando o que se chama banco de
sementes. Esta caracterstica pode ser aproveitada pelo produtor para evitar nova
semeadura nos anos subseqentes primeira semeadura, desde que o manejo de fim de
ciclo seja feito de maneira a permitir o florescimento e formao adequada de sementes.
O estabelecimento do azevm, assim como o da aveia, em sucesso com culturas
de vero realizado preferencialmente por meio de semeadura direta. Esse mtodo de
semeadura, alm dos benefcios do controle da eroso pela menor mobilizao do solo e
a conservao dos restos culturais na superfcie, tambm apresenta menores custos. A
semeadura direta s no recomendada se os solos estiverem muito compactados e com
alta infestao de plantas invasoras (Floss, 1988a).
Numa condio de solo preparado convencionalmente, e com distribuio das
sementes bem feita, a densidade de sementes de boa qualidade (germinao e pureza
superiores a 90%) pode ser em torno de 20 kg.ha-1. J se as condies de preparo do
solo no forem boas ou at mesmo inexistirem, como no caso da sobressemeadura a
lano em campo nativo ou mesmo sobre pastagens perenes de vero, esta densidade
dever ser aumentada em 50% no caso de boas sementes ou at mais se as sementes no
tiverem as caractersticas acima. A qualidade das sementes, sobretudo o seu peso,
fundamental para um rpido estabelecimento, podendo abreviar o perodo entre a
semeadura e a primeira utilizao em at 20 dias, quando se comparam sementes leves e
pesadas (e.g., 1,5 g contra 2,0 g por 1000 sementes).
Outro aspecto a ser considerado quando da escolha da semente que o azevm
comum, produzido na integrao com a soja, normalmente colhido mais cedo e isto
tem levado, de forma geral, a uma seleo para tipos de ciclo mais curto, que florescem
j a partir de setembro-outubro, ou mesmo antes. Por outro lado, o mesmo azevm
comum, cujas sementes so produzidas em regies de pecuria, normalmente utilizado
sob pastejo at setembro-outubro e, somente ento, diferido para produo de sementes.
Isto leva eliminao dos indivduos mais precoces determinando que as sementes
colhidas sejam da parte da populao com florescimento tardio. Portanto, o
conhecimento da origem da semente do azevm Comum-RS fundamental para o
planejamento de seu uso. Ambos os tipos so interessantes, dependendo do sistema em
que ser utilizado. Os tipos precoces so importantes em sistemas de integrao
lavoura-pecuria, enquanto os de ciclo mais longo so mais desejados em sistemas
exclusivamente pecurios.
A poca de semeadura do azevm no outono, dando-se preferncia aos meses de
maro e abril para que as plantas, ainda jovens, aproveitem o calor dessa estao e se
desenvolvam mais rapidamente de maneira que, quando entrem no inverno, j tenham
altura suficiente para serem pastejadas.
O azevm pode ser semeado sobre pastagem nativa, em meados de maio, quando
essas pastagens na regio Sul tendem a diminuir seu crescimento. Nesse caso, a
semeadura pode ser feita a lano, utilizando o pisoteio dos animais para se colocar a
semente em contato com o solo, ou mesmo utilizar mquinas de plantio direto sobre o
campo. Outro contexto de uso do azevm aproveitar a seqncia de uma cultura de
soja. Esta prtica tem sido utilizada em boa escala no Rio Grande do Sul, com
excelentes resultados. Quando a lavoura estiver apresentando as folhas inferiores
amareladas, comeando a cair, se procede a semeadura area. Nesse caso, recomenda-se
maior densidade de sementes, entre 45 e 50 kg.ha-1. Essas folhas, caindo sobre as
sementes, mantm umidade adequada e estimulam o incio da germinao. Essa prtica
permite que, uma vez efetuada a colheita da soja, o azevm j tenha germinado. Alm
disso, o azevm pode aproveitar os resduos de nitrognio que a cultura da soja
incorpora ao solo. Entretanto, isso no significa que no decorrer do desenvolvimento da
cultura no se deva fazer uso de adubaes nitrogenadas.
No momento em que o azevm produz as primeiras 5 a 6 folhas seu perfilhamento
se inicia. Isto ocorre no outono, quando normalmente a liberao de nitrognio a partir
da matria orgnica do solo baixa, uma vez que as temperaturas comeam a diminuir.
Se no houver adubao com nitrognio neste momento, o perfilhamento tem o risco de
ser lento e em menor densidade, e a pastagem leva muito tempo at ter condio de ser
utilizada com os animais. A aplicao de cerca de 45 a 50 kg.ha-1 de N nesta fase tem
possibilitado a entrada dos animais na pastagem em at 40 dias aps a emergncia das
plntulas, com altura do pasto entre 20 e 25 cm e massa de forragem entre 1.500 e 2.000
kg.ha-1 de MS. O tempo necessrio para ser atingido este rendimento varia conforme as
condies climticas e a fertilidade do solo.
A espera pela massa de forragem ou altura de pasto ideais para incio do pastejo
constitui um grande dilema em sistemas pecurios. comum se deparar com situaes
onde, de um lado, determinada categoria animal encontra-se com necessidade urgente
de melhoria de seu nvel nutricional sob pena de comprometimento das metas de
produo. De outro, pastos de azevm que ainda no atingiram seu ponto timo de
interceptao da radiao solar e enraizamento e que no esto prontos para uso.
Existem alternativas para iniciar a utilizao do pasto antes do ponto timo, tais como o
pastejo controlado (horrio) ou o uso inicial de baixas taxas de lotao (consumo
inferior ao crescimento). Embora ambas as situaes procurem minimizar problemas no
estabelecimento do pasto recomenda-se, sempre que possvel, a espera pelo momento
ideal, pois 15-20 dias a mais de espera para o pleno estabelecimento podem representar
40 a 50 dias a mais de utilizao do pasto, e numa condio potencial de ganho de peso
bastante superior.
A silagem de azevm no tem sido amplamente utilizada, pois o alto teor de
protena e o baixo teor de carboidratos solveis desta forrageira originam um produto
com pH alto, acima do recomendado para uma boa silagem (Lopez, 1975). No caso da
fenao, os cortes devem ser efetuados antes do florescimento, sendo o primeiro corte
realizado prximo de 90 dias aps a semeadura, e o segundo 40 a 50 dias aps primeiro.
Possui tima palatabilidade e digestibilidade. Pode apresentar produo entre 25 e 30
t.ha-1 de massa verde. No entanto, a produo em feno varia muito, e est diretamente
relacionada com as condies de fertilidade do solo e adubaes empregadas (Moraes,
1995). Para a utilizao como forragem fornecida no cocho (cortes) podem ser feitos de
2 a 4 cortes, dependendo tambm da fertilidade do solo e da adubao.
A produo de sementes de azevm tambm pode se constituir em atividade
agrcola importante. Depois de garantir um perodo longo de pastejo, retiram-se os
animais em fins de setembro e meados de outubro, podendo se proceder uma adubao
em cobertura com uria. Com esse manejo, comum que em fins de novembro e incio
de dezembro a lavoura possa atingir produo de sementes superior a 500 kg.ha-1.
Alm do cultivo exclusivo, o azevm pode ser consorciado com outras gramneas
(aveia, centeio) e com leguminosas (trevos, alfafa, cornicho, etc.). Normalmente, em
comparao com a aveia, ele apresenta um crescimento inicial um pouco lento, mas em
compensao sua utilizao atinge um perodo de pastejo mais prolongado, variando de
60 a 180 dias conforme o sistema adotado. Com relao consorciao com
leguminosas como cornicho ou trevos, alm do aumento do teor de protena na
forragem, pode tambm ser aumentada sua produo. Sob o ponto de vista econmico, a
incluso de leguminosas (fixadoras de nitrognio atmosfrico) permite uma economia
na aplicao de N para as gramneas. No caso do azevm ou da aveia, por exemplo, que
respondem a adubaes superiores a 450 kg.ha-1 de uria, praticamente dois teros dessa
quantidade total poderia ser suprimida pela leguminosa.
4. TREVO-BRANCO (Trifolium repens L.)
4.1. Origem e relevncia
uma espcie leguminosa de
grande notoriedade e amplamente
distribuda no mundo. A histria e a
presena de suas diversas formas
indicam que o trevo-branco seja
originrio dos pases do Leste do
Mediterrneo ou da sia Menor. A sua
disperso para outros continentes foi
rpida e aparentemente associada com a
colonizao e a presena de animais
domsticos em pastejo.
Constitui-se atualmente em componente da flora de todos os continentes,
atestando sua ampla distribuio. No ocidente a sua presena estende-se desde o Alasca
at o extremo sul da Amrica do Sul (Gibson e Hollowell, 1966).
O trevo-branco a mais importante leguminosa semeada com gramneas em
pastagens de clima temperado (Frame e Newbould, 1986), destacando-se pela alta
produo de forragem e elevado valor nutritivo (DallAgnol et al., 1982). A espcie
particularmente valorizada para uso sob lotao contnua, pois adaptada para produzir
sob condies de desfolhao intensa, incrementando a palatabilidade e o teor de
protena da forragem colhida pelos animais.
4.2. Caractersticas morfolgicas
O trevo-branco uma leguminosa perene e estolonfera. Suas folhas so
compostas por fololos ovais e glabros, com margens denteadas e mancha esbranquiada
em forma de meia lua na face superior da folha. A inflorescncia um captulo com
muitas flores (50 a 200) brancas ou rosadas. Possui sementes muito pequenas de cor
limo-plido, com 1 a 1,5 mm de comprimento e 0,9 a 1,0 mm de largura. H
aproximadamente 1.374.000 a 1.764.000 sementes por kg (Pederson, 1995).
Em pastagens permanentes as plantas de trevo-branco persistem, de forma geral,
na forma de um estolo principal ou planta-me com crescimento predominantemente
apical (Chapman, 1983). Em climas temperados, o trevo-branco um exemplo clssico
de uma espcie clonal que se reproduz vegetativamente, com mnima dependncia sobre
a reproduo sexual (Chapman, 1987).
4.3. Caractersticas agronmicas
De clima temperado e subtropical, o trevo-branco no resiste a altas temperaturas
e razoavelmente tolerante geada e ao sombreamento. A temperatura adequada para o
crescimento est entre 20 e 25C. De forma geral, apresenta um crescimento mais lento
do que as gramneas de clima temperado em temperaturas abaixo de 10C, e mais rpido
em temperaturas acima de 20C.
Temperatura do solo abaixo de 5C a principal causa do crescimento lento das
razes do trevo-branco (Kessler et al., 1994). Tolera seca moderada, mas no severa
(Hutchinson et al., l995). No obstante, a recuperao do trevo pode ser rpida depois
do trmino da seca (Aparicio-Tejo et al., 1980).
O trevo-branco no uma leguminosa pioneira, mas adaptada a boas condies de
fertilidade de solo (Sears, 1953). Tambm exigente em fsforo e para sua implantao
fundamental realizar inoculao. Esta leguminosa geralmente mais sensvel do que
as gramneas s deficincias de fsforo e potssio (Rangeley e Newbould, 1985) e
muito sensvel acidez do solo (Helyar e Anderson, 1971).
O pH timo para o crescimento do trevo-branco prximo de 6,0, e o limite
crtico de pH 5,0. Segundo Bailey e Laidlaw (1999), o aumento do pH do solo de 5,4
para 6,1 resultou na duplicao da produo do trevo-branco. Pode apresentar, ainda,
baixa nodulao em solos muito cidos. Porm, desde que as plantas estejam
efetivamente inoculadas, o trevo-branco persiste e produz bem. A baixa nodulao
ocorre devido aos efeitos txicos do alumnio e mangans sobre a multiplicao do
Rhizobium (Wood et al., 1984). Da a preocupao com a correo da acidez do solo.
Alm disso, em baixo pH a deficincia de molibdnio pode impedir a formao do
complexo enzimtico que essencial para a fixao do N2 (During et al., 1960).
Ainda que em cultivo singular o trevo-branco possa produzir entre 7 a 11 t.ha-1 de
MS (Frame e Newbould, 1986), o seu principal objetivo deve ser a consorciao com
gramneas e at outras leguminosas. arriscado quando dominante na pastagem dada
sua caracterstica de gerar timpanismo nos bovinos, sendo que o principal cuidado
manter sempre gramneas em consorciao. Nestas circunstncias, a sua produo
reduzida devido competio por gua, luz e nutrientes contribuindo, no raramente,
com aproximadamente 25% (2.800 a 5.500 kg.ha-1 de MS) da produo total de
forragem,de misturas tpicas de clima temperado.
O trevo-branco produz sementes por polinizao cruzada, chegando a se colher
entre 350 e 500 kg.ha-1de sementes. Na Nova Zelndia, que produz entre 4.500 e 5.000
toneladas anuais (50% da produo mundial), so alcanados rendimentos entre l00 e
l.000 kg.ha-1, sendo a mdia nacional de 300 kg.ha-1 (Mather et al., 1996). Na
Califrnia, a principal regio fornecedora de sementes nos Estados Unidos, a produo
fica em torno de 420 kg.ha-1 (Pederson, 1995).
As sementes das inflorescncias que so pastejadas retm sua viabilidade aps a
passagem no trato digestrio dos bovinos ou ovinos, e so depositadas no solo por
intermdio das fezes (Chapman, 1987).
O trevo-branco tem elevado valor nutritivo, sendo rica fonte de protena, clcio,
fsforo e caroteno. As inflorescncias e os pednculos tm menor digestibilidade do que
as folhas e os pecolos (Soegaard, 1994). Comparado com pastagem de gramnea
adubada com nitrognio, as misturas de gramneas/trevo tm, geralmente, ndices mais
elevados de protena, minerais, incluindo pectina e lignina, porm, ndices mais baixos
da celulose e hemicelulose (Thomson et al., 1985).
4.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
O trevo-branco pode ser semeado em cultivo singular ou em mistura com
gramneas em solos preparados ou no. Tambm pode ser sobressemeado sobre
pastagens nativas. As tcnicas de sobressemeadura so mais bem sucedidas em
pastagens com baixa massa de forragem, e desde que a umidade do solo seja adequada
para a germinao e o desenvolvimento da plntula. As pastagens com alta densidade de
plantas, por sua vez, podem ser rebaixadas por pastejo intenso, corte ou por dessecao
parcial antes da sobressemeadura. Os princpios para uma sobressemeadura bem
sucedida so: controle de ervas daninhas antes da semeadura; pH do solo satisfatrio e
fertilizao com fsforo; umidade do solo adequada; pastejo aps a semeadura para
limitar a competio da gramnea existente, intercalando com perodos de descanso para
evitar superpastejo da espcie introduzida (Tiley e Frame, 1991).
uma espcie que encontra seu habitat ideal na regio dos Campos de Cima da
Serra (RS e SC), em funo das condies climticas favorveis (sem perodos secos e
com temperaturas amenas no vero). Nessa condio sua perenidade mantida, desde
que condies de alta fertilidade do solo sejam asseguradas. Nesse sentido, bom
lembrar que se trata de uma espcie altamente exigente quanto correo da acidez do
solo, pois no tolera alumnio e suas exigncias em fsforo tambm so elevadas.
Portanto, uma espcie cuja utilizao s recomendada quando o solo for de alta
fertilidade natural, ou esta seja corrigida conforme recomendao da anlise do solo.
Obrigatoriamente, como para todas as demais leguminosas forrageiras de clima
temperado, as sementes devem ser previamente inoculadas com rizbio especfico e
peletizadas. Para facilitar sua distribuio se pode misturar as sementes inoculadas e
peletizadas com azevm ou at mesmo com adubos, desde que no contenham
nitrognio e sua concentrao em potssio seja baixa. Em qualquer caso, somente fazer
a mistura no momento da semeadura.
A poca de semeadura desta leguminosa deve ser de maro a junho, com 2 a 4
kg.ha-1 de sementes. A profundidade de semeadura deve ser de 1,0 a 1,5 cm, sob uma
leve, mas firme camada de solo, devido ao minsculo tamanho das sementes. Quando
semeado visando a produo de sementes deve-se utilizar cerca de 3 kg.ha-1 em fileiras
espaadas entre 30 e 45 cm (Laidlaw, 1978). Quando em consorciao gramnea/trevo,
para reduzir a competio, a gramnea deve ser semeada com a metade da
recomendao para um pasto exclusivo. Pode ser consorciado, por exemplo, com
azevm, trevo-vermelho e cornicho. Como a gramnea a componente com produo
mais elevada na consorciao, a escolha da mistura feita geralmente com base nela.
Segundo Fothergill e Davies (1993), as cultivares de azevm tetraplides so mais
compatveis na consorciao do que as cultivares diplides devido a uma menor
capacidade de perfilhamento.
O trevo-branco o componente mais sensvel em pastos consorciados s
deficincias ou a baixa disponibilidade de nutrientes como P ou K (Dunlop et al., 1987).
Nas pastagens, apesar de boa parte dos nutrientes serem reciclados com o retorno da
excreta dos animais, esta reposio desuniforme, e uma aplicao de P e de K
requerida anualmente para manuteno da leguminosa. Quando o trevo-branco
utilizado para feno ou silagem, cerca de 3 kg de P e 30 kg de K por tonelada de massa
seca so retirados da rea pela forragem (Frame e Boyd, 1987). A quantidade anual de
fertilizante nitrogenado necessria em pasto exclusivo de gramnea para alcanar
produes de pastagens de trevo-gramnea varia de l24 a 278 kg.ha-1 de N, com mdia
de 172 kg.ha-1 de N (Royal Society, 1983).
O trevo-branco pode ser utilizado em lotao contnua ou rotativa. Sob lotao
contnua, o tamanho do fololo muitas vezes reduzido, e um aumento das ramificaes
pode ocorrer. No mtodo rotativo, o trevo tem tempo para produzir estoles e folhas
maiores durante os intervalos de descanso, razo pela qual este mtodo de pastejo
contm, geralmente, mais trevo do que pastos manejados sob lotao contnua (Steen e
Laidlaw, 1995).
Por se tratar de uma planta que desenvolve seus estoles prximos superfcie
do solo, bastante tolerante a desfolhaes intensas, pois seus pontos de crescimento
ficam protegidos do pastejo. Alm disso, seu arranjo foliar permite que, mesmo sob
pastejo intenso, haja rea foliar que permita a interceptao de luz necessria ao seu
crescimento. por essa razo que sob pastejo intenso o trevo-branco, quando em
associao com gramneas como o azevm ou mesmo com o cornicho, acabe
prevalecendo na mistura e causando timpanismo. Em se tornando o principal
componente da dieta dos animais, o seu elevado teor de protenas de alta
degradabilidade acaba por prover as condies para a ocorrncia do timpanismo. Por
conseguinte, h situaes de manejo onde se deva privilegiar a presena da gramnea
associada. Excessos de trevo-branco podem ser corrigidos aliviando-se a carga animal e,
ou adubando estrategicamente a gramnea com nitrognio. Tambm, em curto prazo, a
suplementao com volumosos, como feno de gramneas, pode ser uma soluo para
esta situao. Associaes bem equilibradas dessa espcie com gramneas podem
assegurar ganhos mdios dirios de bovinos em crescimento superiores a 1.200
g.cabea-1.
Comparado com as gramneas, o trevo-branco tem baixo contedo de carboidratos
solveis em gua e de massa seca, e um elevado teor de protena. Para melhorar a
qualidade da silagem devem ser realizados os seguintes procedimentos: cortar a
forragem no campo com o objetivo de provocar um pr-murchamento e, com isso,
aumentar a concentrao de carboidratos solveis, alm de, picar a forragem para ajudar
liberao dos acares e a compactao no silo. No feno importante tentar evitar a
perda de nutrientes da folha do trevo durante o processo de corte (Bax e Browne, 1995).
5. TREVO-VERMELHO (Trifolium pratense L.)
5.1. Origem e relevncia
Acredita-se que o trevo-vermelho
tenha sua origem na sia e Sudeste da
Europa. Esta leguminosa foi introduzida
na Inglaterra e na Alemanha por volta
de 1650 e levada para a Amrica por
colonizadores ingleses
(Merkenschlager, 1934).
Sua grande importncia se deve a alta produtividade e grande valor nutritivo,
semelhante ao da alfafa, sendo um dos trevos mais cultivados em pases de clima
temperado. No sul do Brasil, est adaptado a variadas condies de solo e clima, e suas
sementes (maiores) permitem rpido estabelecimento em relao a outras leguminosas.
5.2. Caractersticas morfolgicas
O trevo-vermelho uma leguminosa de ciclo bienal, ereta, que alcana at 80 cm
de altura. As folhas so trifoliadas, pubescentes e alternas, com uma mancha plida, em
V invertido, na parte ventral dos fololos. Os caules s vezes enrazam nos ns
quando em contato com a superfcie mida do solo.
O trevo-vermelho uma planta com caules erguidos ou decumbentes, podendo
apresentar razes adventcias ao lado da raiz pivotante. A raiz pode estender-se a um
metro ou mais de profundidade. Possui inflorescncia sobre uma ou duas folhas normais
com estpulas dilatadas. As inflorescncias consistem de um captulo com numerosas
flores cor-de-rosa ou roxas, normalmente 125 flores por inflorescncia. A polinizao
cruzada realizada com a ajuda de abelhas, que so os principais agentes polinizadores
dos trevos. As vagens contm uma ou duas sementes na cor amarela, marrom ou roxa,
medindo cerca de 2 a 3 mm de comprimento (Taylor e Smith, 1995). As sementes roxas
so geralmente mais pesadas do que as das outras cores (Puri e Laidlaw, 1984).
5.3. Caractersticas agronmicas
uma planta de clima temperado e subtropical, de ciclo outono-inverno-
primavera, decrescendo no vero. Sob regime de chuvas regulares, que se prolonguem
durante o vero, torna-se de ciclo bienal. Normalmente apresenta melhor produtividade
em regies mais frias, enquanto que nas regies mais quentes apresenta menor
desenvolvimento com a seca estival, perdendo folhas. Em conseqncia a temperaturas
elevadas, a respirao da planta aumenta diminuindo a disponibilidade de carboidratos
totais, tendo por resultado plantas enfraquecidas com problemas de sobrevivncia no
inverno e maior susceptibilidade a microorganismos do solo, alm de problemas de
emergncia de plntulas (Volonec e Nelson, 1995).
Embora com adaptao ampla no Rio Grande do Sul, as regies preferenciais so
aquelas com clima mais ameno como a Encosta do Nordeste, Serra do Sudeste e nos
solos profundos da Campanha. uma planta que apresenta boa produtividade em solos
semi-profundos, drenados e de boa fertilidade. Desta forma, os solos argilo-arenosos,
com razovel teor de matria orgnica, so os mais indicados. Embora menos exigente
em fsforo que o trevo-branco, particularmente intolerante a baixos nveis deste
nutriente (Taylor e Quesenberry, 1996). Para uma boa produtividade e nodulao da raiz
so exigidos solos com pH na faixa de 6,0 a 7,0 e com baixos teores de alumnio
trocvel. O trevo-vermelho muito sensvel toxicidade de Mn. Portanto, importante
manter o pH acima de 5,7, pois a disponibilidade deste nutriente pode diminuir a partir
deste pH (Taylor e Quesenberry, 1996).
Em cultivo singular o trevo-vermelho produz de 8 a 10 t.ha-1 de massa seca,
podendo chegar entre 15 e 23 t.ha-1 com irrigao. A produo de forragem
normalmente declina com o avano da idade da pastagem. Trabalhos realizados na
Europa com durao de trs anos registraram produes de 9 a 18, 9 a l5 e 4 a 14 t.ha-1
(Laidlaw e Frame, 1988). Na Frana, uma associao gramnea/trevo-vermelho com l50
kg.ha-1 de N aplicados anualmente produziu o equivalente a uma pastagem de gramnea
pura recebendo 300 kg.ha-1 de N (Guy, 1989).
O valor nutritivo de um pasto de trevo-vermelho est fortemente relacionado com
o seu estdio de crescimento no momento da utilizao, bem como com a relao
caule/folha, que aumenta com a maturidade do pasto. Cultivares tetraplides tm, de
forma geral, digestibilidade, teores de protena e de carboidratos solveis em gua mais
elevados do que o das cultivares diplides (Mousset-Declas et al., 1993). As
concentraes de N, Ca, Mg, Fe, Co, pectina e lignina so geralmente mais elevadas do
que nas gramneas, mas outros constituintes podem estar em concentraes equivalentes
ou menores (Narasimhalu e Kunelius, l994).
As produes de sementes de trevo-vermelho, quando bem manejado, so de
aproximadamente 600 a 700 kg.ha-1 (Rincker e Rampton, 1985).
5.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
Em comparao com as demais leguminosas abordadas neste captulo, a
espcie que tem as maiores sementes. Por essa razo seu estabelecimento mais rpido,
propiciando pastejo antes que o trevo branco, cornicho ou trevo vesiculoso. Por isso
preferido para consrcios com aveia, que tambm de crescimento rpido. Alm disso,
pode ser utilizada em consorciao com azevm e trevo branco, quando cumpre a
funo de propiciar uma disponibilidade precoce de forragem de leguminosa no ano do
estabelecimento da pastagem.
O estabelecimento feito com 6 a 8 kg.ha-1 de sementes em cultivo singular, ou
pouco menos (4 a 6 kg.ha-1) nas consorciaes. Taylor e Smith (1995) chegam a
recomendar de 10 a 15 kg.ha-1 de sementes quando em cultivo singular.
igualmente recomendada a inoculao das sementes e que a semeadura seja
superficial. Embora germine em profundidades maiores que o trevo branco e o
cornicho, quanto mais superficial mais rpido emerge e mais vigoroso o seu
desenvolvimento inicial. A profundidade de semeadura deve ser de 1,0 a 1,5 cm. Uma
populao com cerca de 200 plantas.m-2 no ano do estabelecimento corresponde a um
estande razovel para a cultura do trevo-vermelho.
O trevo-vermelho tambm pode ser semeado conjuntamente a culturas de cereais.
Diminuir a densidade de semeadura do cereal, reduzir a fertilizao nitrogenada e cortar
o cereal no estdio de crescimento apropriado para silagem so opes para reduzir o
estresse da competio. O trevo-vermelho tambm pode ser sobressemeado em
pastagens de gramneas para sua recuperao. Esta tcnica mais bem sucedida em
vegetao com baixa massa e quando houver umidade adequada no solo para a
germinao da semente e o desenvolvimento da plntula.
Fsforo e potssio adequados na implantao da cultura so necessrios para o
desenvolvimento da plntula, com preferncia para fontes prontamente disponveis.
recomendada uma pequena aplicao de N para iniciar o desenvolvimento do trevo nos
solos com baixa disponibilidade deste nutriente. Depois da remoo da forragem para a
conservao (feno e silagem) os nutrientes, especialmente P e K, exigem reaplicaes
para manter a persistncia e a produo ao longo das rebrotaes.
A semeadura preferencialmente feita entre os meses de maro e abril. A
quantidade de sementes por hectare varia conforme a utilizao que se vai dar a cultura.
Quando se destina a produo de feno so necessrios de 6 a 8 kg.ha-1 de sementes.
Com mquinas apropriadas e bom preparo essas quantidades podem ser menores, entre
4 e 5 kg.ha-1. Se o cultivo se destina produo de sementes pode-se empregar de 3 a 4
kg.ha-1 de sementes em linhas distanciadas de 80 cm.
O trevo-vermelho no suporta pastejo intenso e quando a isto submetido torna-
se dominado por outros componentes da consorciao. Entretanto, em regime de pastejo
leve acaba reduzindo o desenvolvimento das outras espcies (Sheldrick et al., 1986). A
pastagem formada com esta leguminosa, observados os cuidados principais, tais como
poca de semeadura e preparo do solo, adubao e manejo eficiente, permite iniciar o
pastejo em 90 dias, desde que as plantas atinjam uma altura mnima de 15 a 20 cm.
Quando consorciada com azevm tem como potencial ser aproveitada por, no mnimo,
150 a 180 dias no ano,.
Pelo seu porte ereto, grande volume de massa e intolerncia a desfolhaes
freqentes sua utilizao indicada para corte, possibilitando excelentes produes de
feno ou silagem e permitindo substituir com vantagens econmicas os concentrados,
podendo atingir produo de 4 t.ha-1 de massa fenada.
Mesmo apresentando ndices baixos de matria seca e carboidratos solveis, uma
boa silagem de trevo-vermelho pode ser feita utilizando aditivo eficaz, picando e
realizando o murchamento da forragem antes da ensilagem (Collins, 1982).
De forma geral, a semente colhida no primeiro ano de florescimento aps um
corte. O objetivo do corte remover o crescimento vegetativo, reduzindo a
desuniformidade do florescimento at que a atividade do agente polinizador esteja
realada por temperaturas de primavera.
6. CORNICHO (Lotus corniculatus L. e Lotus subbiflorus L.)
Lotus corniculatus L. Lotus subbiflorus L.
6.1. Origem e relevncia
Lotus corniculatus L. tem distribuio natural na Europa ocidental e no norte da
frica, e distribuio secundria no nordeste e centro-oeste dos Estados Unidos, sudeste
do Canad, sul da Amrica Latina, Europa oriental e central, e partes de sia. A histria
do cornicho, no Rio Grande do Sul, se iniciou em 1940 a partir do desenvolvimento da
cv. So Gabriel, caracterizada pelas folhas grandes, de crescimento ereto e
indeterminado e sem rizomas (Paim, 1988).
Lotus subbiflorus L. foi citado pela primeira vez com interesse forrageiro no norte
da Nova Zelndia em 1918, devido a sua adaptao a solos de baixa fertilidade e
perodos de seca estival. No Uruguai foi introduzido h mais de 40 anos acompanhando,
provavelmente como impureza, uma mescla de sementes forrageiras importadas. Sua
destacada produtividade provocou sua posterior multiplicao e a obteno da cultivar
denominada El Rincn a partir de 1987 (INIA, 1994).
6.2. Caractersticas morfolgicas
Trata-se de uma planta herbcea, perene, glabra (Lotus corniculatus L.) ou pilosa
(Lotus subbiflorus L.), com folhas pinadas compostas de trs fololos apicais digitados e
dois basais distanciados, assemelhando-se a estpulas. Possui fololos sem nervuras
visveis ou com somente a principal aparente. Com inflorescncia em umbelas de 4 a 6
flores amarelas, possui vagem linear, cilndrica, deiscente e bivalva com falsos septos
transversais entre as sementes. Tem uma raiz pivotante, o que confere tolerncia a
estiagens. A sua altura pode variar entre 50 e 80 cm quando no pastejada.
Do ponto de vista morfolgico, apresenta variaes quanto ao tamanho, a forma, a
pubescncia e a colorao das folhas, entre outras. O hbito de crescimento, de forma
geral, ereto, embora possa ser prostrado ou ascendente (Seaney e Henson, 1970). A
grande variabilidade dos gentipos dessa espcie deve-se ampla base gentica e sua
forma tetraplide, embora tambm seja encontrado na forma diplide a exemplo de
alguns gentipos rizomatosos originrios do Marrocos (Steiner e Garcia de Los Santos,
2001), como tambm a hibridaes interespecficas (Grant, 1999).
A partir da descoberta de tipos rizomatosos de cornicho, em 1988, muitos
trabalhos se voltaram para a incorporao dessa caracterstica em cultivares comerciais,
como as cvs. ARS-2620 e ARS-2622 (Kallenbach et al., 2003). Acredita-se que o hbito
de crescimento rizomatoso possa contribuir para o aumento da persistncia da espcie,
visto que os rizomas funcionam como reservas e como rgos de propagao vegetativa
(Li e Beuselinck, 1996). Poucos trabalhos tm sido conduzidos com esses gentipos,
quanto resposta a corte ou pastejo (Kallenbach et al., 2001).
No Brasil, a cultivar mais utilizada o So Gabriel, desenvolvido pela Estao
Experimental de So Gabriel, RS, a partir de pesquisas entre 1955 e 1965, tendo seu
cultivo se expandido para outros pases da Amrica do Sul (Paim, 1988). Essa cultivar
caracterizada pelo rpido crescimento inicial, boa produtividade e elevada qualidade de
forragem, longo perodo vegetativo e boa ressemeadura natural. Contudo, apresenta
problemas de persistncia, principalmente por causa de seu crescimento ereto (Oliveira
e Paim, 1990).
6.3. Caractersticas agronmicas
O Lotus corniculatus L. bastante resistente ao frio, preferindo climas de
temperado frio a temperado mdio, resistindo bem s geadas. uma espcie perene
muito bem adaptada maioria dos solos e regies do RS, especialmente nas regies
mais sujeitas a seca. Por essa razo uma das leguminosas preferenciais para a regio
da Campanha do RS. Sua tolerncia deficincia hdrica deriva de seu sistema de razes
pivotantes que se aprofunda no solo, buscando gua em camadas mais profundas, alm
de outras caractersticas fisiolgicas que determinam essa maior tolerncia. Embora seja
muito utilizado em reas de vrzea bem drenada, adapta-se bem em solos de coxilha.
No tolera sombreamento. Vegeta na primavera/vero e possui alto valor nutritivo,
tendo problemas de persistncia devido a seu porte ereto, o que o torna sensvel ao
pisoteio e ao pastejo. semelhante alfafa, porm, com menor produo e maior
rusticidade.
uma das poucas leguminosas que no muito exigente com relao a solos. No
entanto, mesmo sendo uma planta rstica, responde correo de fertilidade,
principalmente do fsforo. D-se bem em solos arenosos, argilosos, pobres, mdios e
tolera pH inferior a 6,0, at 4,8. Entretanto, sua produtividade melhor se forem
corrigidos o pH do solo, a drenagem e a fertilidade (Russelle et al., 1991).
O excelente valor nutritivo do cornicho deve-se aos elevados teores de protena e
digestibilidade. Lpez et al. (1996) observaram at 24% de protena bruta e 86% de
digestibilidade. Alm disso, o cornicho possui taninos condensados, responsveis pelo
aumento de 18% a 25% no aproveitamento de protenas (Hedqvist et al., 2000), cujos
teores atingem 28% quando em estdio bem jovem. Quando do florescimento os teores
se situam entre 15 e 18% e, quando as sementes esto maduras, os teores caem para
nveis prximos a 8%. No pleno florescimento a porcentagem de protena semelhante
da alfafa e do trevo-vermelho.
A produo de massa pode variar entre 10 e 17 t.ha-1 para associaes de
cornicho/gramnea, e entre 6 e 14 t.ha-1 para monoculturas (Bullard e Crawford, 1995).
A produo de sementes pode alcanar 600 kg.ha-1, mas o comum que as
produes variem entre 50 e 175 kg.ha-1 (McGraw et al., 1986). Os baixos valores de
produo de sementes so resultado do hbito de florescimento indeterminado, do
suprimento limitado de fotossntese ao crescimento reprodutivo, do aborto de flores e da
deiscncia das vagens (McGraw e Beuselinck, 1983). Elevada produo de sementes
pode ser obtida pelo uso de reguladores de crescimento, que promovem o
desenvolvimento reprodutivo e encurtam o perodo de florescimento (Li e Hill, 1989).
O Lotus subbiflorus L. uma espcie hibernal com crescimento semi-ereto, que
em pastejo baixo e freqente apresenta crescimento prostrado. Ocorrem plantas desde
quase glabras a muito pilosas de acordo com bitipos e condies ambientais
prevalecentes. Adapta-se a uma ampla diversidade de solos, estabelecendo-se tanto nos
solos cidos, como nos de baixa fertilidade ou de drenagem deficiente.
Embora o ciclo seja anual na maioria dos casos, h ocasies em que pode-se
observar certa proporo de plantas bienais, tais como em semeaduras de primavera ou
manejo de desfolhao baixo e tardio que impeam o florescimento, sempre que ambas
as circunstncias sejam acompanhadas por abundantes precipitaes estivais.
Quando do seu uso como estratgia de melhoramento de campo nativo, embora a
contribuio de forragem muitas vezes no seja relevante, o aporte qualitativo no
perodo de inverno parece ser importante. Aparentemente, isto se deve ao incremento no
nvel de protenas de forma complementar ao campo nativo, que em muitos casos
dominado por espcies estivais de menor qualidade por ocasio do inverno.
Frente a outras espcies, em geral perenes, a cv. El Rincn apresenta baixa
produo de forragem em fins do outono e durante o inverno, sendo tal produo menor
quanto mais seca e fria forem as condies climticas, e menor for a disponibilidade de
fsforo no solo. As maiores taxas de acmulo dirio (em torno de 30 a 40 kg.ha-1 de
MS) so obtidas entre novembro e dezembro.
Ao final de seu ciclo esta espcie oferece uma elevada produo de sementes de
tamanho pequeno e com alta porcentagem de sementes duras. A quantidade de sementes
por kg de 2.180.000, nmero importante quando comparado com o Lotus corniculatus
L. (830.000) e o trevo-branco (1.700.000) (INIA, 1994).
6.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
Lotus corniculatus L.
Como se trata de uma leguminosa que tem a semente muito pequena, o solo
precisa ser muito bem preparado no caso de semeadura convencional. No se pode
cobrir demasiadamente a semente sob risco de comprometer a emergncia. Deve-se
levar em considerao um estabelecimento de cultura perene, observando para que as
condies iniciais de desenvolvimento sejam as melhores.
O cornicho apresenta estabelecimento lento, atingindo o mximo de sua
produo somente depois de um ano. As sementes demoram a germinar, e as plntulas
apresentam-se com reduzido crescimento inicial; um competidor fraco no estdio
inicial de crescimento, pois os colmos so fracos e tendem a acamar, a menos que
estejam apoiados por outras espcies em consorciao.
So duas as pocas indicadas para a semeadura do cornicho: incio de outono e
na primavera. D-se preferncia ao outono, por haver menor concorrncia com plantas
invasoras, e tambm para que, ao chegar primavera, a cultura j esteja estabelecida. A
semeadura outonal permite, ainda, que a planta aproveite o perodo de chuva e frio para
ampliar seu sistema radicular. Outro benefcio que se tem, para o inverno seguinte, o
pasto bem estabelecido, com plantas que podem inclusive antecipar o incio do pastejo
(maio).
As quantidades de sementes empregadas por hectare dependem de vrios fatores,
tais como a qualidade das sementes, o mtodo de semeadura e a utilizao que se quer
dar a cultura (feno, pastagem ou produo de sementes). Uma boa semente deve
apresentar cerca de 80% de germinao. Nas semeaduras a lano emprega-se maior
quantidade de sementes do que nas semeaduras em linhas (considerada particularmente
para produo de feno ou sementes). Na formao de pastagens utiliza-se at 8 kg.ha-1
de sementes e, na semeadura em linhas, 5 a 6 kg.ha-1 distanciadas entre 25 e 30 cm.
uma espcie de crescimento ereto, o que determina que seu manejo deva ser
feito com cuidado para manter uma rea de folhas elevada e no se remova os pontos de
crescimento, os quais, em sua maioria, esto bem acima da superfcie do solo.
Raramente so relatados casos de timpanismo, mesmo em pastagens dominadas pelo
cornicho. Em suas folhas encontram-se elevados teores de tanino.
Ainda devido ao crescimento ereto bastante utilizado para fenao exigindo,
entretanto, alturas de corte adequadas para no prejudicar a rebrotao (7 a 10 cm do
solo). O crescimento mais intenso do cornicho vai de meados de julho a novembro.
Isto permite colheitas para a produo de feno a cada 35-40 dias. A cultura pode
produzir at 30 t.ha-1 de massa verde, ou 5 a 6 t.ha-1 de feno.
Quando o objetivo produzir sementes, e em se tratando de uma cultura de
primeiro ano, o cornicho dever manter-se em crescimento at o fim de setembro,
quando ento dever ser pastejado com elevada lotao para que, de forma rpida, seja
rebaixado. Essa prtica proporciona florescimento mais homogneo e concentrado. A
maturao da semente, que j bastante desuniforme, poder, assim, se uniformizar,
permitindo at mesmo a colheita mecnica com mquinas convencionais de trigo ou
soja, bem reguladas.
Consegue-se, em anos favorveis (veres regularmente chuvosos), at duas safras.
A primeira colheita se d em fins de dezembro, e cerca de 40 a 50 dias se procede a
segunda colheita, se as condies de tempo assim o permitirem. No se recomenda,
entretanto, realizar colheitas freqentes, pois essa prtica pode deixar as plantas frgeis
e menos competitivas com aquelas invasoras eventualmente presentes.
Lotus subbiflorus L.
Essa leguminosa tem seu principal uso no melhoramento dos campos nativos do
sul do Brasil e no Uruguai. Neste contexto, antes da semeadura deve-se efetuar
previamente um pastejo intenso no vero, depois das chuvas do ms de maro. Esse
pastejo no deve ser realizado com muitos meses de antecedncia, nem tampouco
prolongar-se por longo perodo de tempo, sob pena de que se promova a formao de
uma estrutura de pasto mais rasteiro que far com que as espcies do campo se tornem
mais competitivas sobre as plntulas de L. subbiflorus L. devido, principalmente, ao
maior perfilhamento das gramneas.
A cultivar El Rincn se adapta bem a semeaduras em cobertura, a lano e em
linhas. As taxas de semeadura recomendadas variam entre 3 e 7 kg.ha-1 de sementes,
buscando-se estandes de plantas entre 30 e 40 plantas.m-2.
Trata-se de uma espcie com baixa exigncia em fsforo e excelente capacidade
de associao com Rizhobium. No entanto, responde positivamente aplicao de doses
crescentes de fsforo (superior registrada pelo Lotus corniculatus L.) promovendo-se
uma melhor disponibilidade de forragem na poca crtica do inverno (INIA, 1994).
Diferentemente dos resultados com outras leguminosas anuais, a nodulao
ocorre de forma eficiente. Entretanto, a populao de Rizhobium no solo pode ser
fortemente afetada por acidez elevada, nveis limitados de fsforo e veres longos,
secos e com temperaturas elevadas. imprescindvel suprir o mnimo de fertilizante
fosfatado necessrio para obter uma populao adequada, favorecendo a transferncia
contnua de nitrognio para as plantas do campo nativo. Para tanto, as fertilizaes de
manuteno podem ser anuais, realizadas em anos alternados ou a cada trs anos.
Sob pastejo rotativo as plantas de L. subbiflorus L. mantm crescimento ereto, o
que favorece o desenvolvimento das inflorescncias nos estratos superiores do pasto,
expondo as sementes ao do pastejo. Por outro lado, se mantivermos um pastejo com
lotao contnua, as plantas se mantm com crescimento mais rasteiro e as
inflorescncias se desenvolvem prximas ao solo. Desta forma, as estratgias de pastejo
utilizadas circunstancialmente durante a fase final da estao de crescimento afetam as
populaes de sementes e determinam a capacidade de ressemeadura desta espcie na
pastagem. importante lembrar que, mesmo sob lotao contnua, intensidades de
pastejo moderadas no impedem uma boa produo de sementes.
Embora o desenvolvimento inicial das plantas de L. subbiflorus L. seja muito
lento, seu crescimento subseqente marcado por grande competitividade,
especialmente na primavera. Outra opo consiste em permitir que o cornicho alcance
disponibilidade elevada de forragem durante a primavera/vero com o intuito de se
obter uma reserva forrageira (feno) para os meses de inverno.
7. A pesquisa nacional em forrageiras de clima temperado na ltima dcada
As espcies exticas de clima temperado fazem parte do contexto histrico da
experimentao cientfica em forrageiras no Brasil desde seu incio, na dcada de 50.
Desde ento, uma gama de informaes foi gerada nos mais variados segmentos da
pesquisa (produo, manejo, melhoramento, etc). Ressaltem-se trabalhos envolvendo
produo de forragem em consorciaes de gramneas e leguminosas (Fontanelli e
Freire Junior, 1991), avaliao de cultivares e prognies (DallAgnol et al., 1982),
dinmica do florescimento e rendimento de sementes (Franke e Nabinger, 1991a;
Franke e Nabinger, 1991b; Nabinger, 1981), valor nutritivo (Fontanelli et al., 1991),
produo animal (Restle et al., 1998; Lesama e Moojen, 1999) e melhoramento de
pastagem natural com introduo de espcies (Vidor e Jacques, 1998; Fontanelli e
Jacques, 1991).
At o final da dcada de 90, a maior preocupao era a gerao de nmeros que
expressassem potenciais produtivos das espcies e cultivares. Nos anos recentes, os
avanos observados na pesquisa cientfica referem-se principalmente busca pelo
entendimento dos processos, como veremos a seguir.
7.1. Dinmica da produo de forragem
O acmulo de fitomassa area ao longo do ciclo produtivo das espcies continua
sendo uma das principais caractersticas de avaliao de forrageiras, seja qual for a
subrea da pesquisa. Dados recentes ratificam com alguma superioridade aqueles
referenciados em dcadas passadas, fruto da prpria evoluo cientfica no
entendimento dos processos produtivos e seu manejo. Na Universidade Federal do
Paran (UFPR), Ido et al. (2005) apresentaram resultados de produo primria em
consorciao de azevm com trevo-branco, trevo-vermelho e cornicho da ordem de 7,0
a 9,0 t.ha-1 de MS em um perodo de 110 dias (Tabela 2). Esses valores, oriundos de
taxas de acmulo dirio de forragem entre 40 e 50 kg.ha-1 de MS, cada vez mais
evidenciam o pleno potencial das espcies de clima temperado em suprir o dficit
forrageiro existente em pastagens nativas no sul durante o inverno.
Tabela 2. Taxas de acmulo e de desaparecimento e produo total de MS na pastagem
de azevm associada com leguminosas de inverno, submetida a diferentes
ofertas de forragem. Oferta de forragem Oferta de forragem Taxa de acmulo Taxa de Acmulo total de Produo total de
pretendida real desaparecimento MS MS % PV % PV kg.ha-1.dia-1de MS kg.ha-1.dia-1de MS
4 3,5 43,4 63,9 4861 7154 4 3,8 46,5 71,8 5208 7816 8 9,6 46,3 52,1 5186 8024 8 9,2 47,9 59,5 5365 8296 12 13,8 51,4 54,8 5757 8993 12 14,0 52,5 58,1 5880 9094 16 19,2 46,0 36,9 5152 8481 16 19,4 44,6 30,7 4995 8192
Fonte: Ido et al., 2005
Apesar da produo de forragem ainda constituir um dos principais alvos de
estudo em forrageiras, as metodologias mostraram grande avano a partir do incio dos
anos 2000, sobretudo com o estudo da morfognese das plantas. No RS, caractersticas
morfognicas de azevm foram avaliadas quanto a alturas de manejo do pasto (Pontes et
al., 2003), doses de N (Gonalves et al. 2004; Viegas e Nabinger, 1999, Viegas et al,
1999; Lustosa, 2002), doses de N e sistemas de manejo (Quadros e Bandinelli, 2005) e
mtodos e intensidades de pastejo (Cauduro et al. 2006). De forma geral, os autores
observaram que as variveis efetivamente afetadas pelas estratgias de manejo so a
taxa de alongamento foliar e o comprimento final de folhas, os quais aumentam com a
diminuio da intensidade de desfolhao. Esses trabalhos deram nmeros a
observaes anteriormente empricas em nossas condies, com explicaes
consistentes sobre o menor aproveitamento dos recursos do meio para produo de
forragem em situaes de desfolhao severa da planta.
Cauduro et al. (2007) avaliaram o fluxo de biomassa (acmulo, senescncia e
consumo) de pastos de azevm sob mtodos e intensidades de pastejo, para melhor
entendimento das relaes planta-animal e a definio de ambientes pastoris favorveis
produo e bem-estar animal. A produo de forragem passou a ser esmiuada em
caractersticas como taxa de aparecimento foliar, durao de vida da folha,
comprimento final da folha, nmero de folhas vivas por perfilho, etc. Com isso, a
dinmica do pasto entra em uma nova escala de observao e detalhamento,
fundamentais tanto para definio de critrios de controle em nvel experimental como
de estratgias de manejo do pasto em sistemas de produo.
A fertilizao tem sido estratgia constante de distino de tratamentos
experimentais ao longo dos anos. Respostas potenciais em produo de forragem j
foram bastante avaliadas, como por exemplo a do azevm sob doses de nitrognio (N)
(Soares et al., 2002; Lustosa, 2002; Lupatini et al., 1998), estudos comparando a
produo forrageira e de gros em cultivo subseqente a partir da aplicao de N em
cobertura no pasto ou via fixao pela introduo de leguminosas hibernais (Assmann et
al., 2003, Amado et al., 2003) e dinmica do N na produo de fitomassa em espcies
hibernais de cobertura (Aita et al, 2006).
Atualmente, um projeto coordenado pela unidade Embrapa Pecuria Sul (Bag,
RS), em colaborao com o Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DPFA UFRGS), busca avanar com a
pesquisa em modelagem de sistemas forrageiros ao ter por objetivo construir um
modelo matemtico para a predio e simulao das taxas de crescimento em azevm
em diferentes condies de nitrognio no solo e clima. Os dados esto sendo coletados
em pontos distintos da Regio Sul contando, para isso, com uma equipe multi-
institucional (Embrapa Clima Temperado, Universidades Federais do Paran e de Santa
Maria, Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de SC, Fundao Estadual
de Pesquisa Agropecuria do RS. Um dos objetivos com esse projeto a divulgao
peridica de boletins on line da previso do crescimento do pasto de azevm nas regies
de abrangncia dos locais de avaliao: Bag (extremo Sul do RS), Eldorado do Sul
(Centro do RS), Lages (Alto da Serra de SC) e Pinhais (Serra do PR). Uma vez
consolidada, a validao e disponibilizao desta tcnica representar um marco na
contribuio da pesquisa cientfica ao manejo de pastagens no sul do Brasil.
7.2. As forrageiras de clima temperado em outras regies do Brasil
As forrageiras de clima temperado tm sido alvo de estudos tambm como
alternativa ao perodo da seca nas regies tropicais do pas. Por exemplo, no anterior
Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, SP, aveia-preta, azevm e trevo-branco foram
sobressemeados em pastagem de capim-aruana. Resultados de dois anos de avaliao
deram conta de que a mistura das forrageiras hibernais aumentou a produo de
forragem no perodo crtico (Gerdes et al., 2005a), mas no influenciou na qualidade da
forragem ofertada em relao ao cultivo exclusivo de capim-aruana sob irrigao e
adubao (Gerdes et al., 2005b). Constataram, ainda, a baixa tolerncia do trevo-branco
ao sombreamento provocado pela gramnea, comprometendo seu estabelecimento. Na
ausncia da condio hdrica artificial, provvel que as forrageiras de clima temperado
tivessem apresentado maior contribuio qualidade da forragem produzida. Ainda
assim, fica evidente que o maior impacto dessas espcies dar-se- em sistemas pastoris
da Regio Sul, onde o limitante primeiro da produo forrageira no perodo de inverno
no o regime hdrico, e sim a temperatura.
A espcie de clima temperado de maior interesse para pastejo em outras regies
que no o Sul do Brasil , sem dvida, a aveia-preta. Na Universidade do Estado de So
Paulo, a dinmica de perfilhos dessa espcie foi avaliada por Rosseto e Nakagawa
(2001), com objetivo de melhor definir as estratgias de manejo adequadas para aquelas
condies. Mais recentemente, Ferolla et al. (2008) avaliaram a composio
bromatolgica e o fracionamento de carboidratos e protenas em aveia-preta e triticale
no Norte do Rio de Janeiro. Concluram que a alta solubilidade dos carboidratos e
protenas faz dessas espcies potenciais alternativas para forrageamento hibernal em
sistemas base de pastagens tropicais no estado fluminense.
No Paran, o IAPAR desenvolve, h muitos anos, o melhoramento gentico das
aveias preta e branca, com duas cultivares a se destacar: a IAPAR 61 (preta) e a IPR 126
(branca), esta ltima com resultados mais promissores que sua antecessora FAPA 2.
Essas forrageiras tm sido avaliadas e recomendadas pela Comisso Nacional de
Pesquisa de Aveia. Selecionadas a partir de populaes da cultivar Comum, tm
apresentado respostas semelhantes em produo total de MS quando colhidas no estdio
vegetativo, mas com notado avano gentico na relao folha-colmo em relao s
cultivares comuns. No RS, Macari et al. (2006) compararam as cultivares de aveia-preta
cv. IAPAR 61 e comum em produo primria e secundria, no encontrando
diferenas para taxa de acmulo de MS, taxa de lotao, ganho de peso mdio dirio e
por rea e protena bruta. Esses autores definiram como satisfatrias as respostas obtidas
com a cultivar paranaense, recomendando sua utilizao para pastejo no Rio Grande do
Sul.
7.3. Melhoramento gentico
Os pesquisadores dedicados ao melhoramento gentico de forrageiras de clima
temperado tm literalmente lutado contra o tempo, cronolgica e climaticamente.
preciso ter persistncia tanto no campo como fora dele. O lanamento de cultivares
especficos um desafio de mdio-longo prazos, e muitas vezes o processo se perde ao
longo do caminho. A seleo de gentipos adaptados tem sido o direcionamento das
pesquisas, e os mtodos utilizados tm permitido avanos importantes.
Vargas et al. (2006) avaliaram 26 populaes de azevm coletadas em diferentes
regies do RS (Tabela 3). No observaram superioridade para uma ou outra populao
em todos os caracteres avaliados, sugerindo que o melhoramento gentico desta espcie
possa ser direcionado ao desenvolvimento de sintticos combinados entre as
populaes. Inferiram, ainda, que futuros estudos podero discutir a possibilidade de
seleo intrapopulacional no melhoramento gentico.
Vieira et al. (2004) avanaram no entendimento da distribuio da variabilidade
intra e interpopulacional de azevm. Estudos dessa natureza, bem como a avaliao de
prospeco de gentipos com superioridade em caracteres morfolgicos, tal qual
trabalhada por Castro et al. (2003), podem constituir importante base de trabalho aos
melhoristas em azevm. Entretanto, existe um longo caminho a ser trilhado, o qual
provavelmente j deveramos ter percorrido, dada a importncia dessa espcie para os
sistemas agropastoris do Sul do Brasil.
Tabela 3. Mdias de nmero de perfilhos por planta, dimetro de cobertura do solo e
ciclo vegetativo para populaes de azevm coletadas em diferentes regies
do RS
Regio de coleta
Designao da populao em funo do municpio
Variveis
N de afilhos Dimetro de
cobertura do solo (cm)
Ciclo
vegetativo (dias)
Central (C)
Jlio de Castilhos 17 C 41 C 172 C Pntano Grande 21 C 40 C 172 C
Rio Pardo 25 B 41 C 186 A Tupanciret 17 C 42 C 177 B
Noroeste (NO)
Campo Novo 23 B 34 D 163 D Cruz Alta 19 C 55 A 155 E Erechim 19 C 37 D 166 D
Iju 22 C 46 B 166 D Lagoa Vermelha 20 C 43 C 190 A
Marau 23 B 40 C 172 C Panambi 17 C 46 B 160 D
Passo Fundo 28 B 49 B 169 C Santo ngelo 18 C 54 A 136 F Santo Augusto 12 C 35 D 172 C
So Luiz Gonzaga 12 C 42 C 171 C Sarandi 27 B 51 A 152 E
Tucunduva 23 B 43 C 154 E Vacaria 27 B 38 D 185 A
Sudeste (SE)
Camaqu 22 C 38 D 172 C Capo do Leo 18 C 39 C 194 A
Sudoeste (SO)
Dom Pedrito 1 21 C 31 D 184 A Dom Pedrito 2 37 A 42 C 176 B
Dom Pedrito (Guatambu) 32 A 36 D 190 A So Borja 20 C 47 B 161 D
So Gabriel 13 C 46 B 166 D Uruguaiana 18 C 41 C 177 B
CV (%) 22,7 9,8 334 Fonte: Vargas et al., 2006
Rebuffo et al. (2005) tambm salientaram a importncia da utilizao de
germoplasmas locais nos programas de melhoramento gentico de forrageiras de clima
temperado. Argumentam que as variedades crioulas podem formar distintos grupos
adaptados a ecossistemas especficos. O prprio Lotus corniculatus cv. So Gabriel
citado pelos pesquisadores uruguaios como sendo mais produtivo que outras cultivares
introduzidas, e na ltima dcada o processo de melhoramento gentico a partir de
populaes locais j possibilitou a identificao de cultivar com produo de matria
seca superior do cornicho So Gabriel para condies do Uruguai (Figura 1).
Algumas cultivares desenvolvidas no pas vizinho tm cruzado as fronteiras para o Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, como o caso do Lotus corniculatus cv. Inia Dracco e
do Lotus uliginosus cv. Maku.
Figura 1. Produo anual de forragem (t.ha-1 de MS) de Lotus corniculatus cv. So
Gabriel e cv. INIA Draco em quatro anos de experimentos sob corte. Fonte: Rebuffo et al., 2005
No Rio Grande do Sul, no incio dcada de 90, Paim e Riboldi (1991)
demonstraram a variabilidade do cornicho So Gabriel e seu alto potencial de resposta
seleo para produo de MS, e alertaram para o longo caminho a ser percorrido em
adaptao e seleo de gentipos em outras espcies e cultivares de Lotus para o RS.
Pois este caminho vem sendo trilhado nesses quase 20 anos de pesquisa, e os resultados
mais promissores so o L. subbiflorus cv. El Rincn e o L. uliginosus cv. Maku,
desenvolvidos no Uruguai e selecionados para condies do Sul do Brasil. Maroso e
Scheffer-Basso (2007) observaram caractersticas superiores do Lotus uliginosus cv.
Maku em relao ao Lotus corniculatus cv. So Gabriel no que tange tolerncia ao
pastejo. Ambas cultivares j foram, por demais, utilizadas como forrageiras-padro para
avaliao de espcies leguminosas nativas do RS (Scheffer-Basso et al., 2002; Scheffer-
Basso et al., 2000). Independentemente de qual espcie ou cultivar seja melhor em uma
ou outra caracterstica, a imagem a ser emoldurada a de que a pesquisa em torno do
gnero Lotus tem se mantido atenta a questes de interesse dos sistemas de produo,
como adaptao, produo e persistncia.
Soster et al. (2004a) avaliaram sete populaes de Lotus corniculatus cv. So
Gabriel coletadas no RS. Os autores observaram variabilidade quanto ao comprimento
de entrens, altura, dimetro, comprimento de vagens, produo de forragem e valor
nutritivo. Para os mesmos gentipos de cornicho, Soster et al. (2004b) encontraram
boa variabilidade morfofisiolgica no germoplasma (e.g., morfologia das folhas, dos
caules e da coroa; hbito de crescimento), recomendando o uso desses materiais em
programas de melhoramento da espcie.
Na mesma linha de estudo de caracterizao da diversidade gentica para
avanos no melhoramento de leguminosas, Bortolini et al. (2006) avaliaram na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul a divergncia de 78 acessos de trevo-branco
provenientes da coleo nuclear do Sistema Nacional de Germoplasma Vegetal do
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Encontraram ampla variabilidade nos
caracteres morfolgicos e agronmicos avaliados, sendo a rea foliar, a altura, a
intensidade de florescimento e a produo de MS os que mais contriburam para a
divergncia gentica entre os acessos.
Este trabalho de seleo de germoplasma de trevo-branco realizado no
Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da UFRGS tem, desde 2006,
servido de base gentica para programa de melhoramento desenvolvido em parceria
com a Embrapa Pecuria Sul, com previso de lanamento de novas cultivares para
2009. Nessa mesma unidade da Embrapa foi reiniciada a seleo dentro da cultivar de
trevo-branco BR1-Bag, lanada na dcada de 1980, e cuja populao selecionada
encontra-se atualmente em ensaios de VCU para lanamento de cultivares. Em 2007,
sob a coordenao da Embrapa Clima Temperado, foi lanada a cultivar de azevm
BRS Ponteio, e a partir de 2008 as unidades da Embrapa firmaram parceria com a
UFRGS para programas de melhoramento de outras espcies como trevo-vermelho,
cornicho e aveias.
Para ampliar a base gentica de trevo-vermelho, Simioni et al. (2006)
trabalharam com a poliploidizao sexual nesta espcie, novamente com o objetivo de
proporcionar aos melhoristas maior variabilidade para o processo de seleo. Montardo
et al. (2003a), por sua vez, avaliaram a persistncia de prognies da espcie em
diferentes regies do RS, confirmando ser esta uma grande limitante da utilizao de
trevo-vermelho em regies abaixo da Encosta Superior do Nordeste. Atravs de anlise
de trilha, Montardo et al. (2003b) identificaram o nmero de inflorescncias por planta
como a principal caracterstica a ser utilizada na busca de maior produo de sementes
em trevo-vermelho.
Numa compilao experimental de espcies e cultivares de forrageiras de clima
temperado de destaque nos ltimos anos, Rocha et al. (2007) avaliaram alguns dos
principais acessos do Programa de Melhoramento Gentico do Instituto Nacional de
Investigacin Agropecuaria do Uruguai. Os resultados mdios de produo de forragem
total e por componentes estruturais (Figura 2) realaram forte expresso da cultivar de
azevm Titan, a qual alm de apresentar alta produo de MS (prxima a 7,0 t.ha-1)
tambm se destacou por concentrar, aproximadamente, 85% desta no componente
lmina foliar. A preocupao em se selecionar para alta produo de lminas foliares, j
comentada anteriormente nas cultivares de aveia, um passo adiante em relao
produo de MS total e uma tendncia no melhoramento de gramneas de clima
temperado. J para as leguminosas, preciso avanar em gentipos adaptados a
condies especficas (e.g., hdricas, nutricionais).
Figura 2. Produo de folha, colmo, material morto e inflorescncia (kg.ha-1 de MS) das
cultivares de aveia (RLE 115A e 1095a), azevm (Cetus, Estanzuela e Titan),
cornicho (So Gabriel), Trevo-vermelho (Estanzuela 116) e trevo-branco
(Zapicn). Fonte: Rocha et al. , 2007
Kg.
ha-1
Kg.
ha-1
7.4. Silvipastoralismo
Face ao avano das reas de florestamento no Sul do Brasil a partir do incio dos
anos 2000, ganharam destaque no cenrio cientfico pesquisas em sistemas silvipastoris
(SSP). Estudos de produo e valor nutritivo de espcies de clima temperado em
ambientes arbreos tm sido realizados em toda Regio Sul. Na Universidade Federal
Tecnolgica do Paran, Sartor et al. (2006) avaliaram a produo de forragem de
gramneas e leguminosas de inverno sob sombreamento de Pinus taeda. Das espcies
trabalhadas, observaram ser o azevm a mais tolerante a essas condies,
principalmente em condio de maior espaamento entre rvores (Tabela 4).
Constataram, ainda, entre as leguminosas, maior adaptao do cornicho ao
sombreamento em comparao ao trevo-branco.
Tabela 4. Produo de forragem (kg.ha-1 de MS) de cinco espcies hibernais submetidas
a dois nveis de sombreamento.
Fonte: Sartor et al., 2006
No Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, o objetivo com a linha de pesquisa em SSP o estudo
das interaes rvore-pastagem-animal. Enfoque especial tem sido dado ao estudo dos
efeitos do sombreamento (natural ou artificial) sobre a produo e o valor nutritivo da
forragem (Barro et al., 2006), bem como efeitos sobre a morfofisiologia das plantas
usadas em sub-bosques. Barro et al. (2002), avaliando o teor de protena bruta, a
digestibilidade in vitro da matria orgnica e os nutrientes digestveis totais de
forrageiras de clima temperado, em pleno sol ou sob densidades de Pinus elliottii,
constataram aumento da qualidade com a diminuio da luminosidade para azevm,
aveia-branca e aveia-preta.
Especial ateno tem sido dada caracterizao microclimtica do SSP
mediante a avaliao de diferentes densidades arbreas e seus efeitos sobre o acmulo
de forragem, alm dos efeitos da introduo de bovinos e ovinos no sistema. Destaca-se
tambm a avaliao de gentipos forrageiros para utilizao em SSP, com nfase s
espcies de estao fria mais utilizadas em sistemas de produo do RS (azevm, trevos
branco e vermelho, cornicho, aveias branca e preta, etc.), alm de espcies de ciclo
estival (gneros Panicum e Brachiaria) e espcies nativas.
A produo de carne em SSP no Sul do Brasil tem sido invest