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FORUM DE ÁGUAS DAS AMÉRICAS INFORME DA SUBREGIÃO AMÉRICA DO SUL Preparado para o BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO Por Francisco Lobato Consultor ARC para América do Sul OUTUBRO 2008

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FORUM DE ÁGUAS DAS AMÉRICAS

INFORME DA SUBREGIÃO AMÉRICA DO SUL

Preparado para o

BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO

Por

Francisco Lobato

Consultor ARC para América do Sul

OUTUBRO 2008

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DOCUMENTO SUB-REGIONAL - AMÉRICA DO SUL

Parte I – Dados e Informações Gerais I. 1. Características Gerais da América do Sul

O ponto central da América do Sul se localiza a 60º00'00" de longitude Oeste do Meridiano de Greenwich e a 20º00'00" de latitude Sul da Linha do Equador. Seus limites naturais são: ao Norte, o mar do Caribe; ao Leste, Nordeste e Sudeste, o oceano Atlântico; e, a Oeste, o Oceano Pacífico. Com aproximadamente 18.000.000 km², abrange 12% da superfície terrestre e 6% da população mundial. Territorialmente, forma divisas com a América Central, junto ao Canal do Panamá, contando com cerca de 8.000 km de extensão desde o mar do Caribe até ao Cabo Horn, no extremo Sul. Outros extremos do continente são: ao Norte, Punta Gallinas, na Colômbia; ao Leste, Ponta do Seixas, no Brasil; e, a Oeste, a Punta Pariñas, no Peru.

Em termos hidrográficos, como conseqüência da localização e sentido Norte-Sul da Cordilheira dos Andes com 9.000 km de extensão, predomina a vertente Atlântica (Tabela 01), com as principais bacias hidrográficas dispostas na Tabela 02.

Tabela 01: Vertentes Hidrográficas Tabela 02: Principais Bacias Hidrográficas Vertentes

Hidrográficas Área

(km2 x 106) % Principais Bacias -

Área (km2 x 106)

Volume médio (m3/s)

Atlântico 15,15 85 Amazônia 6,5 290.000

Pacífico 1,24 7 Prata 3,5 22.000

Áreas Fechadas 1,41 8 Orenoco 1,0 34.000

Total 17,80 100 São Francisco 0,6 2.850

Fontes: SAMTAC, 2000

Madalena 0,2 8.200

O Continente abrange os seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela, acrescidos dos territórios adicionais de diversas ilhas.

Atualmente, possui uma população aproximada de 385 milhões de habitantes, com vácuos demográficos em extensas áreas de bosques tropicais (Amazônia), no deserto de Atacama e em poções geladas da Patagônia, convivendo com regiões de alta densidade populacional, como as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires, que superam os dez milhões de habitantes. Na faixa de 5 a 10 milhões de habitantes, se registram as aglomerações urbanas de Lima, Bogotá, Santiago e da Grande Belo Horizonte. Em seqüência, na proporção de 2,5 a 5,0 milhões de pessoas, se encontram as regiões metropolitanas de Salvador, Fortaleza, Brasília, Caracas, Curitiba, Recife e Porto Alegre (Mapa 01).

De acordo com diferentes níveis de desenvolvimento econômico, especialmente dos segmentos industrial e de serviços, as taxas de urbanização são bastante variáveis, na maioria das vezes, refletidas em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e de IPH (Índice de Pobreza e Indigência Humana), ainda que nichos de pobreza tenham se concentrado em territórios rodeados totalmente por outro de diferente jurisdição e periferias de aglomerações urbanas e regiões metropolitanas. O fato é que há uma estreita relação entre os processos de industrialização e urbanização, com tecnologias mais sofisticadas e

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maior produtividade, inclusive em relação à agropecuária, atualmente, também com tendência de comando urbano e de articulação ao setor de serviços (Tabela 03).

Tabela 03: População, Urbanização, Renda, IDH e IPH dos países sul-americanos

País Área

(mil km²) População

(mil) Taxa (%) de Urbanização

PIB per capita (US$) IDH1 IPH (%)

Argentina 2.812,59 40.677,348 90,1 14.280. 0.869 4,1

Bolívia 1.098,580 9.247,816 64,2 2.819. 0.695 13,6

Brasil 8.511,965 191.908,598 84,2 8.402. 0.800 9,7

Chile 756,950 16.454,143 87,6 12.027. 0.867 3,7

Colômbia 1.138,910 45.013,674 72,7 7.304. 0.791 7,9

Equador 283,560 13.927,650 62,8 4.341. 0.772 8,7

Guiana 214,970 770,794 28,2 4.508. 0.750 14,0

Paraguai 406,750 6.831,306 58,5 4.642. 0.755 8,8

Peru 1.285,220 29.180,899 72,6 6.039. 0.773 11,6

Suriname 163,270 475,996 73,9 7.722. 0.774 10,2

Uruguai 176,220 3.477,778 92,0 9.962. 0.852 3,5

Venezuela 916,445 26.414,815 93,4 6.632. 0.792 8,8 Fontes: Central Intelligence Agency. Disponível em HTTPS://www.cia.gov, em julho 2008; e PNUD, 2005.

Observações dessa ordem são importantes, na medida em que os problemas predominantes de recursos hídricos no continente sul-americano estão vinculados às dinâmicas de desenvolvimento urbano, regional, a forma de atividades produtivas e, por conseqüência, as próprias populações se organizam sobre o território, que apresenta, na sua maior parte, boa disponibilidade hídrica (12.030 km3, ou 28% dos recursos hídricos renováveis do mundo), permanentemente bem distribuída2. As exceções ocorrem em determinadas áreas, que cobrem 23% do continente sul-americano, localizadas: a Oeste, em mais da metade do território argentino; na Bolívia; no semi-árido nordestino do Brasil; ao Norte do Chile, em quase 50% do país; e, no extremo Oeste do Peru (Gráfico 01 e Mapa 02).

Muitos dos principais problemas de recursos hídricos que afetam a América do Sul estão relacionados a deficiências de setores usuários – p. ex., a prestação de serviços de saneamento básico e de baixos níveis de eficiência na irrigação – e a gestão de conflitos locais por usos múltiplos, sem deixar de considerar temas que abranger diversos países, no contexto de macro-bacias, ou a eventos hidrológicos críticos, com o seu agravamento nos últimos anos - conseqüência de mudanças climáticas globais e regionais.

No caso dos recursos hídricos subterrâneos, as significativas disponibilidades continentais – 3 milhões de km3, na sua maior dimensão localizadas a 2.000 m abaixo do nível do mar, com destaque ao Aqüífero Guarani – são localmente afetadas, especialmente pela sobre- exploração nas áreas metropolitanas e aglomerações urbanas (São Paulo, Buenos Aires e Recife, p. ex.), sem o devido manejo e proteção de áreas de recarga das 16 províncias hidrogeológicas, que disponibilizam de 15 a 17 km3 de águas subterrâneas a cada ano.

Gráfico 01: Porcentual de Aridez nos países Mapa 02: Áreas Áridas e Semi-áridas

1 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é considerado elevado acima de 0,800. 2 Segundo estudos de Antunes, Antônio J. C., no âmbito do Convênio PNUD/CEPAL/NAE (set/2007), América do Sul apresenta grande disponibilidade hídrica, com elevado potencial para hidroeletricidade e “excepcional importância econômica, social e geoeconômica, tanto num contexto regional quanto no mundial”.

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Fontes: SAMTAC, CEPAL

No que diz respeito à diversidade climática, a distribuição das temperaturas médias apresenta regularidade constante a partir dos 30º de latitude Sul, enquanto que as isotérmicas tendem a se confundir com os graus de latitude. De fato, as temperaturas médias anuais na Bacia Amazônica oscilam entorno de 27ºC, com pequenas variações durante as estações. Como a porção sul-americana mais extensa é a da zona equatorial, a região possui mais áreas de planícies tropicais do que qualquer outro continente. Entre o lago de Maracaíbo e a desembocadura do Orenoco, abrangendo toda a bacia desse rio, predomina um clima tropical úmido e quente, que engloba também o Centro-Leste do antilhano brasileiro, incluindo a alta bacia do rio Paraná, quase toda a bacia do rio São Francisco, a maior parte do território de Paraguai e o Sudoeste da Bolívia.

Já nas latitudes temperadas, os invernos são mais quentes e os verões mais frios quando comparados aos da América do Norte. As partes Norte e Leste do pampa argentino têm clima temperado oceânico, enquanto a banda Oeste apresenta clima temperado, mas de característica continental mais seca. Nos pontos mais elevados da região andina, os climas são bem mais frios. Nos antilhanos andinos, desde o Norte da América do Sul até o trópico de Capricórnio, predomina o clima quente, ainda que amenizado pela altitude, enquanto que na banda costeira, ao Oeste dos Andes, desde o extremo Norte até o Golfo do Guayaquil, se registra um clima equatorial do tipo guineano. Deste ponto até o Norte do litoral chileno aparecem, sucessivamente, climas mediterrâneos, oceânicos, temperados e, já na Terra do Fogo, clima frio do tipo siberiano.

Vinculada a características climáticas, a distribuição das chuvas se relaciona ao regime dos ventos e das massas de ar. Na maior parte da região tropical ao Leste dos Andes, os ventos que sopram do Nordeste, Leste e Sudeste trazem umidade do Atlântico, provocando abundante precipitação pluviométrica: totais anuais de 2.200 a 3.000 mm no baixo Amazonas; no litoral das Guianas, de 1.500 a 1.800 mm no meio Amazonas, e de 2.200 a 3.800 mm no trecho superior da bacia. Nos planaltos do Orenoco e no antilhano das Guianas, as precipitações vão de moderadas a elevadas. O litoral Colombiano do Pacífico e o Norte do Equador são regiões bastante chuvosas, enquanto que o Golfo de Guayaquil destaca a transição para os litorais secos do Peru e ao Norte do Chile. O deserto de Atacama, em toda sua extensão desse trecho da costa, é uma das regiões mais secas do mundo.

Os canais centrais e meridionais do Chile estão sujeitos a ciclones e a maior parte da Patagônia Argentina é desértica. Nos pampas da Argentina, Uruguai e Sul do Brasil, a pluviosidade é moderada, mas as chuvas são bem distribuídas durante o ano. As condições moderadamente secas do Chaco se opõem a intensa pluviosidade da região

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Oriental do Paraguai. Na costa do semi-árido Nordeste brasileiro, o baixo índice de chuvas está relacionado a um regime de monções.

Por fim, cabe ressaltar que fatores importantes na determinação dos climas são as correntes marítimas. A Corrente de Humboldt é, em parte, responsável pelo esfriamento da costa do Pacífico, enquanto que a corrente das Malvinas conserva o litoral argentino frio. A corrente equatorial do Atlântico Sul se desvia no litoral do Nordeste e se divide em duas outras: a corrente do Brasil, que se dirige para o Sul, e uma corrente costeira que flui para o Noroeste, rumo as Antilhas. No litoral Norte do Pacífico, a contra-corrente envia suas águas quentes até as praias ocidentais da Colômbia e do Equador.

Conforme estas características gerais, muitos dos principais problemas locais relacionados aos recursos hídricos ocorrem com menor freqüência e conflitos no contexto de macro-bacias e corpos hídricos que operam além das fronteiras. O que se entende é que o principal subsídio a ser oferecido pela presente caracterização do continente sul-americano se refere à identificação dos problemas preponderantes postos na sua pauta de recursos hídricos3, que deveria repercutir sobre as estruturas institucionais a serem avaliadas, não como fins em si mesmas, ou como uma tradução volátil de acordos políticos locais, mas sim, como a resposta consistente mais adequada ao ajuste dos problemas a serem enfrentados.

Para seguir essa abordagem, se torna importante registrar o contexto no qual se insere a gestão dos recursos hídricos. O Esquema 01 demonstra que as questões ambientais são suscitadas quando se pensa nas relações de apropriação dos recursos naturais (água se torna recurso hídrico), empreendidas por determinada sociedade sobre seu respectivo espaço geográfico. Essas relações de apropriação, relacionadas a esforços para a promoção de desenvolvimento regional, geram impactos sobre o território (tensão da sustentabilidade), conformando variáveis supervenientes à gestão dos recursos hídricos, na medida em que os problemas de disponibilidade quantitativa e qualitativa das águas estarão referidos as demandas da produção e do consumo regional e a medidas de proteção ao meio ambiente.

Por outro lado, essas relações de apropriação são operadas por diferentes setores (saneamento, indústria, irrigação, geração de energia, navegação e outros), caracterizando outras variáveis intervenientes na gestão dos recursos hídricos, algumas das quais associadas à prestação de serviços a população. A propósito de setores usuários, a Tabela 04 lista os percentuais utilizados pelos principais consumidores de água.

Ao lado desses principais usos, cabe mencionar o potencial hidroelétrico do continente, no qual 9 países contam com mais de 50% de suas matrizes de energia elétrica a base de água. No Brasil, por exemplo, 85% da eletricidade provém de usinas hidroelétricas que respondem a 70% da potência instalada. Inclusive sob tal porcentual, o país explora apenas 30% de seu potencial estimado. No caso da Bolívia, somente cerca de 5% do potencial hidroelétrico se encontra em operação, suprindo os 35% da potência instalada. Apesar de que a região possui um potencial hidroelétrico significativo, existem diversos questionamentos em referencia aos impactos ambientais que são gerados por grandes empreendimentos, o que resultou, no caso da Bolívia e outros países na priorização de pequenos e médios empreendimentos.

3 Assim, se privilegia o conceito de problem-sheds, considerado mais adequado ao contexto sul-americano - Grigg, N. S. – in Water Resources Management – Principais, Regulations and Cases, McGran-Hill, NY (1996).

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Esquema 01: Contexto Institucional da Gestão dos Recursos Hídricos

Tabela 04: Porcentuais de Água Utilizados pelos Principais Setores Usuários Consumidos

Países

Usos Principais A

rgentina

Bolívia

Brasil

Chile

Colômbia

Equador

Guiana

Parag

uai

Peru

Suriname

Urugu

ai

Ven

ezuela

Doméstico 9 10 22 6 41 7 38 15 19 6 6 43

Indústria 18 5 19 5 16 3 23 7 9 5 3 11

Agricultura 73 85 59 89 43 90 39 78 72 89 91 46

Fonte: SAMTAC, 2000

No que concerne aos serviços de abastecimento de água potável, a média continental de consumo está no nível de 200 l/hab./dia, com desempenhos de atendimento à população bem mais avançados no Chile (99,3%) e Uruguai (93%), níveis intermediários na Venezuela, Brasil, Argentina e Colômbia (entre 80 a 92% de suas populações atendidas) e percentuais mais baixos no Paraguai e Equador (entre 45% e 60%), sendo importante registrar que há elevadas discrepâncias entre a média continental e disponibilidades sub-regionais, mostrando setores não atendidos em muitos dos países e em diversas áreas específicas.

Igualmente no Brasil, não obstante avanços importantes registrados nos últimos anos, como a aprovação de um novo marco regulamentar (2005) para o setor, persistem perdas médias nacionais superiores a 50% (60% no Grande Recife), novamente revelando encargos não atendidos. Com um perfil diferenciado, sob um regime regulamentar bem estabelecido, Chile novamente se destaca, com índices de perdas – físicas e financeiras – de ordem de 28%.

Déficits mais graves de atenção podem ser observados em serviço de recolhimento e tratamento de bueiros domésticos, frente aos quais, de novo, somente Chile (93%) alcança índices superiores. Mesmo em Colômbia, Peru, Venezuela e Equador, com índices razoáveis de recolhimento em rede, as águas servidas não recebem tratamento devido, revelando que o maior passivo ambiental da América do Sul advém de bueiros domésticos, que comprometem a qualidade do meio ambiente urbano e a saúde de seus habitantes.

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De fato, na maioria dos países deficiências em sistemas de esgotamento sanitário superam cargas dispostas por indústrias, submetidas de modo bem mais rigoroso a processos de licenciamento e fiscalização ambiental. Inclusive na Região Metropolitana de Curitiba, considerada uma das capitais de melhor padrão urbano do Brasil, o porcentual de DBO de origem industrial se aproxima de 10%, contra 90% a conta da concessionária de saneamento, considerada entre as de melhor desempenho no país. Sabe-se que menos de 30% dos bueiros gerados no Brasil são tratados, com índices menores na maioria dos demais países sul-americanos.

Ainda no que diz respeito a serviços de saneamento básico, outra significativa fonte de poluição dos meios urbano e rural é a disposição inadequada de resíduos sólidos, a maioria das vezes o lixo a céu aberto, sem o manejo e operação de forma mínima adequada de cheios sanitários. Por fim, a corrente de deficiências locais de micro-drenagem, eventos mais substantivos de inundações afetam 15% da população brasileira, 10% dos argentinos e 7% dos Bolivianos, de modo general, como conseqüência da impermeabilização do solo nas grandes cidades.

Em relação ao uso industrial, cerca de 20 km3 são dispostos por ano como insumo produtivo, concentrados especialmente no Brasil e na Argentina que, juntos, respondem pelos 80% dessa demanda. Quanto ao setor de mineração, 40% do uso da água no continente sul-americano provem do Chile e 12% do Peru (fonte: SAMTAC, 2000).

Em termos quantitativos, 70% da demanda sul-americana por água é destinada a irrigação de mais de 11,0 milhões de hectares. A média observada, de 7.500 m3 anuais/he, resulta de valores extremos, que revelam elevada ineficiência no caso de Equador (21.000 m3/he/ano) e níveis de aproveitamento bem mais otimizados em cultivos peruanos (2.500 m3/he/ano). Com efeito, na maioria dos casos ainda persistem níveis muito baixos de aproveitamento de água, de ordem, de apenas 30% em sistemas de irrigação por gravidade, que sobem ao nível de 70% na eficiência de perímetros mais sofisticados, a exemplo de empreendimentos privados no Norte do Chile.

Os mencionados 11,0 milhões de hectares se distribuem em: 4,0 milhões no Brasil, com predomínio de cultivos de arroz no Rio Grande do Sul e perímetros implantados na semi-árido nordestino; cerca de 2,0 milhões no Peru, especialmente nas regiões de maior aridez; 1,8 milhões também com o predomínio nas regiões de maior escassez no território argentino, como na Província de Mendonça; 1,3 milhões no Chile; além de 1,1 milhão de hectares na Colômbia, acrescidos de áreas menores nos demais países.

Outro setor usuário interveniente na gestão dos recursos hídricos é a hidro-navegação, que apresenta enorme potencial de expansão no continente sul-americano, ainda que, com baixo nível de aproveitamento no presente.

De fato, segundo se pode observar no Mapa 03, a atual limitação de hidrovias em canais locais – por exemplo, no Tietê-Paraná – pode ser substantivamente ampliada, em consonância com eixos regionais de desenvolvimento, particularmente uma função de novos cenários da economia global, com elevação de preços do petróleo e do transporte de via, sempre que seja empreendido um planejamento integrado entre a instalação de usinas hidroelétricas, a localização de perímetros de irrigação e a manutenção operacional de quantidade escoada de água mínima para permitir as profundidades exigidas pela hidro-navegação.

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Mapa 01: Países, capitais, principais cidades, aglomerações e regiões metropolitanas.

Mapa 02: Bacias Hidrográficas e Áreas Homogêneas. Fonte: Cepal, 1985.

Mapa 03: Hidrovias e Eixos de Integração e Desenvolvimento América do Sul

Fonte: ANTAQ (2008)

Por outra parte, as hidrovias vêm sendo questionadas por instituições ambientais e organizações sociais, especialmente indígenas, devido aos impactos negativos que ocasionam. Esta confrontação abre sem duvida a necessidade de consertar os projetos de navegação ou múltiplos com os atores locais e propor a desenhos com o menor impacto ambiental possível.

Por fim, no que diz respeito aos setores usuários intervenientes junto aos recursos hídricos, se deve considerar as atividades relacionadas ao turismo, com rebatimentos

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relativos à proteção ambiental, tanto em regiões marcadas pela escassez, como pela abundancia de água, a exemplo das planícies do Pantanal, localizadas na região central de América do Sul.

Em diversos destes setores usuários, ainda são reduzidas as tecnologias dirigidas ao reaproveitamento de águas servidas, a exceção de áreas, especialmente no Chile, Peru e Argentina, com níveis elevados de escassez, como o “Zanjón de La Aguada”, que recebe 80% de águas residuais de Santiago, para a irrigação de 16.000 hectares.

Postas as variáveis supervenientes aos recursos hídricos – desenvolvimento regional e meio ambiente – e, bem assim, as características predominantes em cada país dos setores usuários, é possível concluir que, em América do Sul, persistem deficiências e problemas locais, muitos dos quais, quando bem resolvidos, poderão até postergar potenciais conflitos entre setores e países, no âmbito de escalas macro-regionais.

Acrescentando, se deve reconhecer que, em termos locais além de aspectos relacionados à necessária coordenação regulamentar (eficiência na prestação de serviços e na utilização das disponibilidades hídricas), as articulações entre os setores usuários apresentam mútuas sobreposições e interdependências, uma vez que a gestão de recursos hídricos deve perseguir, ainda que debaixo do formato de diretrizes que a conformam, a maior compatibilidade possível com a natureza plena dos problemas em cada bacia hidrográfica. A propósito das variáveis intervenientes, também é importante constatar que a maior parte das intervenções em recursos hídricos é empreendida pelos setores usuários4.

Portanto, para uma avaliação consistente dos problemas sul-americanos, a abordagem por bacias hidrográficas deve ser, então, cruzada com outras leituras espaciais, especialmente com áreas homogêneas, de características específicas, casos de ecossistemas singulares (Mapa 02), e com eixos que expressem a dinâmica econômica e suas tendências de expansão sobre o território – uso e ocupação do solo e eixos de infraestrutura (Mapas 03).

Assim, tomando-se em consideração aspectos de desenvolvimento regional, segundo o citado documento PNUD/CEPAL/NAE (set, 2007), podem ser traçados dez eixos de integração, a saber: Andino; do Escudo Guianês; Peru – Brasil – Bolívia; do rio Amazonas; da Hidrovia Paraguai – Paraná; Interoceânico Central; do Capricórnio; MERCOSUL – Chile; do Sul; e, Andino do Sul.

O Eixo MERCOSUL-Chile, de grande importância continental, abrange, no seu território: os estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no Sul-Sudeste brasileiro; toda a República Oriental do Uruguai; no Paraguai, a região ao Leste do Rio Paraguai e ao noroeste do Rio Paraná (região Ocidental Paraguaia); na Argentina, as províncias de Misiones, Correntes, Entre Rios, Buenos Aires, Santa Fe, Córdoba, La Pampa, San Luis, Mendoza e San Juan; no Chile, as regiões de Coquimbo, Valparaíso, Libertador El’Higgins, e a Região Metropolitana de Santiago.

Também com relevância sul-americana, o Eixo Andino é integrado pelos principais nodos de articulação (redes de vias principais, portos, aeroportos e passos de fronteira) da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Articula as principais cidades desses países através dos grandes corredores de vias Norte-Sul: a Estrada Pan-americana, ao longo da Cordilheira Andina, na Venezuela, Colômbia e Equador, e ao longo da costa no

4 No Brasil, os orçamentos do Ministério do Meio Ambiente e do ANA, somados, respondem por apenas 5% dos investimentos dirigidos aos recursos hídricos, com 95% originados de setores usuários (energia, saneamento, agricultura, navegação, etc.).

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Peru; e, a Estrada Marginal da Selva, costeando a Cordilheira Andina, nos Planos da Venezuela e da selva amazônica, na Colômbia, Equador e Peru.

O Eixo Peru-Brasil-Bolívia abrange os estados brasileiros do Acre, Rondônia, Amazonas e Mato-Grosso com os departamentos de Tacna, Moquegua, Arequipa, Apurimac, Cusco, Puno e Madre de Dios, ao Sul do Peru, e Pando e Beni, na Bolívia. Nele estão os portos peruanos de Matarani e, com importante papel em termos de integração econômica.

Com menores importâncias no contexto atual, o Eixo da Hidrovia Paraguai-Paraná ainda demanda avanços substantivos em termos de hidro-navegação, um dos setores usuários de recursos hídricos que abrange macro-escalas de planejamento. O Eixo do Escudo Guianês busca integrar a região oriental da Venezuela com o arco Norte do Brasil (estados de Amapá e Roraima), também incorporando a Guiana e o Suriname.

Já o Eixo do rio Amazonas se refere a uma possibilidade de longo prazo. Também sob futuras projeções, o Eixo Interoceânico Central apresentará intercessão com o Eixo MERCOSUL-Chile, tanto geograficamente, como na dinâmica do desenvolvimento econômico. Igualmente o Eixo de Capricórnio, que se desenvolve em torno desse Trópico de Capricórnio, com vocação de conectar os dois oceanos, possuindo importantes instalações portuárias. Por fim, o Eixo do Sul compreende três municípios do Sudoeste da Província de Buenos Aires, Bahía Blanca, Villarino e Patagones; as Províncias argentinas de San Antonio e Rio Negro; e, as regiões chilenas de Maule, de Bio-Bio, de Araucania e dos Lagos. O Eixo Andino do Sul ainda merece investigações e a definição de objetivos específicos.

A propósito de todas essas linhas de integração macro-regional dos recursos hídricos, se percebe que a maioria dos projetos e abordagens se refere a questões de transporte viário e a matriz energética, com inserção na hidroeletricidade e hidro-navegação. Nos demais temas, prevalecem problemas e conflitos locais relacionados ao uso da água. Em termos macro-regionais, entre os principais problemas a enfrentar, se destaca a expansão de fronteiras agropecuárias, com pressões cada vez mais substantivas sobre o bosque amazônica e repercussões já identificadas sobre o clima continental e global, além de grandes empreendimentos hidroelétricos e multiuso, por suas conseqüências ambientais e sociais.

I.2. Identificação e Perfil dos Principais Atores da Política e da Gestão da água

Para identificação e traçado do perfil dos principais atores da política e gestão das águas, a abordagem terá, primeiramente, enfoque em variáveis supervenientes (Matriz 01 - meio ambiente e desenvolvimento regional) e, depois, nas intervenientes (Matriz 02 – principais setores usuários de recursos hídricos).

Todas as constituições dos países de América do Sul dispõem de domínio publico (estatal) dos recursos hídricos, a maioria com gestão responsável por parte do governo central. Como exceções, Argentina apresenta a gestão e domínio hídrico sob responsabilidade provincial, considerando também a cidade de Buenos Aires; e Brasil, onde a tutela é repartida entre a União Federal e os estados, tendo como parâmetros à extensão dos rios, considerados federais quando abrangem mais de um estado ou façam fronteira com países vizinhos, ou estatais, com nascente e foz limitadas ao território de um único estado.

As instâncias nacionais responsáveis da gestão dos recursos hídricos estão sob a coordenação e subordinação de ministérios de desenvolvimento, de obras públicas, da agricultura, do saneamento ou, mais especificamente, sob o ministério do meio ambiente o de recursos hídricos. No Uruguai recentemente se unificou no Ministério de Vivenda,

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Ordenamento Territorial e Meio Ambiente tudo o que se limita à política nacional de recursos hídricos. Na Bolívia, em 2006, se criou uma instância específica para os recursos hídricos e serviços associados, o Ministério da Água. Na Venezuela, caracterizada por um sistema central de competências, a gestão dos recursos hídricos está sob a coordenação direta do Ministério do Poder Popular para o Ambiente, com instâncias regionais que atuam sob a subordinação direta deste ministério. Em relação às instâncias locais de gestão dos recursos hídricos, esta competência cabe a órgãos municipais, provinciais ou regionais. No caso do Chile, considerando que este país dispõe o uso dos recursos hídricos como um direito real de seu proprietário, já seja ele público ou privado, as instâncias locais estão, em sua maioria, fragmentadas em setores usuários específicos. Destaca-se também o caso do Paraguai, onde, apesar da previsão constitucional de organismos de gestão no âmbito local, estes quase não existem, seja pela falta de capacitação técnica ou por deficiências operacionais.

As organizações de bacias, em sua maioria, estão estabelecidas na forma de comitês, comissões ou conselhos de meio ambiente ou de recursos hídricos. Na Argentina, apesar da competência provincial em administrar os recursos hídricos, se destacam os sistemas de gestão Inter-jurisdicionais, cabendo a estes comitês a gestão única de uma bacia hidrográfica, extrapolando, portanto, a competência territorial provincial.

No Brasil foi adotado um Sistema Nacional de Gestão (SINGREH), composto por um Conselho Nacional, por conselhos provinciais, por comitês locais de Bacia e pelas respectivas entidades executivas (agências de bacia).

Atualmente no Uruguai, a participação dos usuários e a sociedade civil na gestão dos recursos hídricos se da através da Comissão Assessora de Águas e Saneamento (COASAS), que foi criada pela mesma lei que criou a Direção Nacional de Águas e Saneamento, na órbita do Ministério de Vivenda, Ordenamento Territorial e Meio Ambiente. Estes avanços na legislação estão dando cumprimento da reforma constitucional de 2004 (ver capítulo específico a respeito do Uruguai).

Finalmente, na Bolívia, por Decreto Supremo foi criado o Conselho Técnico Social como instâncias do Ministério da Água, onde se articula o poder executivo com representantes da sociedade civil, e a Lei 2878 onde se cria um novo organismo regulador do uso de água para irrigação, agropecuário e florestal, com participação majoritária das organizações de irrigação. Sob o marco desta lei se habilita a criação de comitês locais da bacia.

Por causa das variáveis intervenientes, a titularidade dos serviços de saneamento nos países de América do Sul está sob a competência dos estados, das províncias ou dos municípios. No Paraguai, os operadores destes sistemas são quase que exclusivamente públicos, dado que não existe neste país regulamentação jurídica para a exploração deste serviço por particulares. Argentina, apesar de possuir operadores privados, optou por encerrar grandes contratos de concessão a particulares, re-estatizando estes sistemas, como no caso da Grande Buenos Aires. No Peru, tendo em conta as grandes diferenças econômicas e sociais entre o meio urbano e o rural, a administração dos serviços de saneamento nas cidades está a cargo de Entidades Prestadoras de Serviços de Saneamento, enquanto que no meio rural, de Juntas Administradoras de Serviços de Saneamento, administradas por cooperativas de usuários.

No caso de irrigações, há operações por sistemas comunitários (p. ex., na Bolívia), sendo a maioria dos perímetros operados por particulares, como no Brasil, que apresenta 4,0 milhões de hectares irrigados. Destaca-se que, apesar deste uso representar uma grande

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parte do consumo de água em todos os países, a eficiência dos sistemas é muito baixa, a exemplo da Bolívia, entre 15 a 30% de rendimento.

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Matriz 01: Instituições e Atores de Variáveis Supervenientes

País Regime Domínio Hídrico

(Gestão) Instâncias Nacionais Instâncias Locais Organizações de Bacias

Argentina Federativo Provincial + Cidade Autônoma de Buenos

Aires

Ministério de Planificação Federal, Investimento Público e Serviços =>

Secretaria de Obras Públicas da Nação => Subsecretaria de Recursos Hídricos =>

Instituto Nacional da Água (INA)

Departamentos Provinciais de Águas (DPAs)

Muitas são interprovinciais. Comitê Inter-jurisdicional do Rio Colorado; Comissão

Regional do Rio Bermejo; Autoridade Inter-jurisdicional de Bacia dos Rios Limay, Neuquém

e Negro; Comitê de Bacia do rio Pasaje – Juramento – Salgado e muitos outros.

Bolívia Central Governo Central

Ministério de Águas, Vice-ministério de Serviços Básicos; Vice-ministério de Bacias e Recursos Hídricos; Vice-ministério de Irrigação;

Superintendência de Saneamento Básico; Serviço Nacional de Irrigação; e Conselho

Interinstitucional da Água.

Governos de Departamentos e Municipais.

Existe o marco normativo que se encontra em processo a constituição de organizações em

nível de bacias. Contudo, existem organizações setoriais e departamentais.

Brasil Federativo União e Estados Ministério do Meio Ambiente e Secretaria de Recursos Hídricos e Agência Nacional de

Águas (ANA)

Secretarias de Meio Ambiente e/ou de Recursos Hídricos; Órgãos

gestores estatais SINGREH composto pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, comitês e agências de bacia.

Chile Central Governo Central

Ministério de Obras Publicas => Direção Geral de Águas (DGA).

Obs: Caber assinalar que se bem a DGA se

encarrega da planificação do recurso hídrico; existem outras instituições,

dependentes de diferentes ministérios e diferentes serviços públicos que tem

ingerência direta ou indireta na gestão dos recursos hídrico; por ex. o Ministério da

Agricultura,

Instâncias locais fragmentadas por setores usuários.

Obs: Estas organizações são exclusividade de usuários com

direitos de água constituídos, todos aqueles usuários de uma bacia que

não contam com direitos constituídos não são reconhecidos pela lei como atores e, portanto, estão à margem de qualquer

decisão para a gestão da Bacia.

Comissão Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) – iniciativas de corporações de

bacias.

Obs: É importante assinalar que recém se está implementando uma Estratégia de Bacias no país; com a aplicação de três experiências

pilotos; portanto não está definida a forma em que se organizarão concretamente; portanto se lhes define como “organismos de bacias”, sem especificar uma figura jurídica. Das experiências resultantes a partir destas experiências é que se

darão as diretrizes necessárias para a implementação da Gestão Integrada de Bacias.

Colômbia Central Governo Central Ministério de Ambiente, Moradia e

Desenvolvimento Territorial - MAVDT

Corporações autônomas regionais do ambiente, departamentos e

distritos ou municípios

Participação da sociedade civil na administração da Política Nacional Hídrica, vinculada ao

MAVDT.

Equador Central Governo Central Secretaria Nacional da Água.

Corporações Regionais (CEDEGE, CRM, CREA, PREDESUR, CORSICEN, CORSINOR e

CODOORO).

Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), e os Conselhos Regionais vinculados a

este órgão.

Guiana Central Governo Central Políticas do setor são definidas pelo Ministério de Habitação e Água.

Governos locais não atuam no setor.

Não há organismos de Bacias.

Paraguai Central Governo Central Secretaria do Ambiente – SEAM e a Direção Geral de Proteção e Conservação dos Recursos Hídricos.

Conselho de Águas Públicas de Distrito e Juntas de saneamento e

sistemas privados:

Os organismos existentes ao nível de Bacias e micro-Bacias estão ainda na sua etapa inicial.

Peru Central Governo Central Autoridade Nacional Da Água (em processo

de implementação), Direções Regionais de Agricultura. Autoridade Autônoma de Bacia Hidrográfica

(AACH); Juntas de Usuarios.

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Suriname Central Governo Central

Sistemas de subministro de água são operados a baixo da supervisão da

Companhia Suriname de Água. O Serviço de Subministro de Água do Ministério de

Recursos Naturais e Energia é responsável por sistemas do interior e áreas rurais.

O Departamento de Hidrologia do Ministério de Obras Públicas é responsável por

controle de inundações e mobilização de recursos hídricos.

Somente sistemas locais de abastecimento de água. Não há organismos de Bacias.

Uruguai Central, com departamentos

União “Ministerio de Habitação, Ordenamento

territorial e Meio Ambiente” Intendências municipais.

Na Comissão Assessora de Águas e Saneamento (COASAS) participam a sociedade

civil e os usuários

Venezuela Central Governo Nacional Ministério do Poder Popular

Para o Ambiente Direções Regionais e de comunidades locais.

Aprovadas na Lei de Águas

Atualmente em processo de criação

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Matriz 02: Instituições e Atores de Variáveis Intervenientes

Setores Usuarios Países Argentina Bolívia Brasil Chile Colômbia Equador

Titularidade do Serviço

Provincial Municipal e comunitário

cooperativo. Municipal Regional De distrito ou municipal. Municipal

Principais Operadores

Público e privado. Processo de re-estatização do serviço. Água e

Saneamentos Argentinos (AYSA).

Entidades Públicas Prestadoras de Serviços de Água Potável e esgoto. Operadoras municipais e

comunitárias.

Concessionários Estatais, Serviços Autônomos de Água e Esgoto (SAAE) e operadores privados.

Concessionários privados Empresas de Serviços

Públicos, regulamentadas por lei.

Prestação direta dos serviços, com retirada da participação privada.

Órgãos Reguladores

Associação de Entes Reguladores de Água

Potável e Saneamento das Américas

Superintendência de Saneamento Básico

(SISAB); Comitês técnicos de Registros e Licenças

(CTRL.).

Não possui, exceto em casos isolados. A nova

legislação de saneamento (2005) prevê essa necessidade.

Superintendência de Serviços Sanitários.

Superintendência de Serviços Públicos

Domiciliários (SSPD); Comissão de Regulamento

de Água Potável e Saneamento Básico.

- Saneamento

Importância Relativa

Juntamente com irrigação, um dos maiores usuários

Setor com grandes demandas em investimentos

Maior passivo ambiental Elevada eficiência, frente aos demais países do

continente. Baixo nível de eficiência

Titularidade do Serviço

Provincial Comunitário Pública e privada.

Não necessariamente é regional; é mais bem zonal, pois no extremo sul não

existe uma descentralização do nível central, pois as necessidades de irrigação praticamente não existem.

De distrito ou municipal Regional e municipal

Principais Operadores

Público e privado. Consorcio de Irrigação do

Valle Los Pericos.

Mais de 500 sistemas comunitários.

Perímetros privados Público e privado. Público e privado. Público e privado - maioria.

Órgãos Reguladores

Ente Nacional de Obras Hídricas de Saneamento

(ENOHSA)

Serviço Nacional de Irrigação (SENARI) e

Serviço Departamental de Irrigação SEDERI.

DNOCS Comissão Nacional de

Irrigação (CNR).

Instituto Colombiano de Hidrologia, Meteorologia e Adequação de Terras

(HIMAT); Instituto Nacional de Adequação de Terras

(INAT)

Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Regula e opera o sistema.

Irrigação

Importância Relativa

Juntamente com saneamento, um dos maiores usuários

Maior usuário consumidor, com baixo rendimento nos sistemas, de 15 a 30 %.

Maior usuário consumidor. Maior usuário consumidor. Somente 11% da área de agricultura são preparadas

para irrigação.

Representa 80% do consumo total.

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Titularidade do Serviço

Provincial Estatal Federal.

Principais Operadores

Público e privado. Binacional Yacyreta.

Operadores privados e Empresa estatal.

Concessionários estatais e federais com participação

do setor privado.

A geração de hidroeletricidade, no país radica no setor privado. Sendo as três empresas

mais importantes: ENDESA, Colbún e Gener (possuindo

93% dos direitos no consumo de água do país).

Empresas estatais e municipais

Instituto Equatoriano de eletrificação (INECEL)

Órgãos Reguladores

Secretaria de Energia no Estado Nacional

Superintendência de Eletricidade

ANEEL Comissão Nacional de

Energia CNE). Empresa de Interconexão Elétrica Nacional S.A. (ISA)

Conselho Nacional de eletricidade (CONELEC); H

idroeletricidade

Importância Relativa

Maior potencial na Bacia do Prata. 20 % do potencial

instalado.

Predomínio de hidrocarbonetos, com 35% de energia gerada feita por

hidroelétricas.

85% da energia gerada e 72% da potencia instalada

Do total de energia elétrica gerada, 64% são de termoelétricas e 36%

hidroelétricas (dados 2007).

O potencial hídrico é o mais utilizado para geração de

energia.

O potencial hídrico é o mais utilizado para geração de

energia.

Titularidade do Serviço

Provincial Estatal Federal estatal. Nacional, dividida em 4

regionais.

Principais Operadores

Público e privado. Publica e privada Concessionários privados. Público - Intendências

regionais. Privados

Órgãos Reguladores

Organismos de Bacia hidrográfica

interjurisdicionais.

Serviço Nacional de Hidrografia Naval

ANTAQ Direção de Navegação e

Portos Ministerio de Defesa =>

Polícia Marítima

Hidronavegação

Importância Relativa

Maior importância na Bacia do Prata.

Maior importância na Bacia do Amazonas

Relevância baixa, com exceções.

Menor importância 19 mil km de vias navegável Baixa importância.

(continuação)

Setores usuários

Países Guiana Paraguai Peru Suriname Uruguai Venezuela

Titularidade do Serviço

Governo Central Governo departamental Municipal Governo Central Nacional, Departamental (Intendência Municipal de

Montevidéu) Municipal

Principais Operadores

A provisão dos serviços está a cargo da Corporação

Guiana de Água (CGA), uma empresa pública comercial.

Empresa de Serviços Sanitários do Paraguai – ESSAP e a Câmara Paraguaia da Água – CAPA, como serviços privados de água potável.

Meio urbano - Entidades Prestadoras de Serviços de Saneamento (EPS); Meio

Rural - Juntas Administradoras de Serviço de Saneamento (JASS).

Sistemas de subministro de água são operados sob a supervisão da Companhia Suriname de Água. O

Serviço de Subministro de Água do Ministério de Recursos Naturais e

Energia é responsável por sistemas do interior e áreas

rurais.

Nacional Administração das Obras Sanitárias do Estado) (OSE); Departamental – Intendência Municipal de

Montevidéu

Empresas Hidrológicas Regionais (EHR)

Órgãos Reguladores

A Comissão de Utilidades e Serviços Públicos (PUC) é

responsável pelo regulamento multisetorial e

revisão das tarifas.

Ente Regulador de Serviços sanitários do Paraguai

(ERSSAN)

Superintendência Nacional de Serviços de Saneamento

(SUNASS)

Unidade Reguladora de Serviços de Energia e Água

(URSEA)

Ministério do Poder Popular para o Ambiente

Saneamento

Importância Relativa

Serviços de baixa qualificação.

Um dos maiores usuários. Principalmente na zona

costeira. Uso social de maior

importância Aspecto social de especial

Atenção

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Titularidade do Serviço

Governo departamental Nacional Nacional

Principiais Operadores

Cooperativas e privados Privado (cooperativas) Administrações Técnicas dos Distritos de Irrigação

(ATDR).

O ministério de Agricultura, Animais e Pesca é

responsável pela irrigação e gestão de drenagem

Na grande maioria, particular.

Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural

(INDER)

Órgãos Reguladores

Ministério da Agricultura e Pecuária; Divisão de Águas

Públicas. Ministério de Agricultura

Direção Nacional de Águas e Saneamento (DINASA) e

Recursos Naturais Renováveis (RENARE)

Ministério do Poder Popular para a Agricultura e Terras Ir

rigação

Importância Relativa

Elevada disponibilidade hídrica

Um dos maiores usuários. Setor agrícola apresenta-se como maior consumidor.

O maior usuário de águas Maior consumidor. Aspecto social de especial

Atenção

Titularidade do Serviço

Governo Central Governo departamental Governo Central Nacional Nacional

Principais Operadores

Energy e Luz de Guiana Itaipú e Yacyretá EletroPeru A Companhia de Utilidade

Elétrica do Suriname

Administração Nacional de Usinas e Transmissões

Elétricas (UTE ) Comissão Técnica Mista de Salto Grande (Comissão

Binacional)

Corporação Elétrica Nacional Ministério do Poder Popular para a Energia e Petróleo

Órgãos Reguladores

Operadora publica

Instituto Nacional de Desenvolvimento (INADE); Ministério de Energia e

Minas.

Ministério dos Recursos Naturais e Energia.

URSEA

Corporação Elétrica Nacional Ministério do Poder Popular para a Energia e Petróleo

Hidroeletricidade

Importância Relativa

Domínio de termelétricas a diesel

Produz mais energia que consome. Fonte de recursos

financeiros.

Somente um reservatório de hidroeletricidade.

Com elevada capacidade hídrica, suficiente para cobrir a demanda; caso contrário, se recorre ao respaldo térmico e/ou a importação de energia.

Aspecto social de especial Atenção

Titularidade do Serviço

Governo departamental. - Nacional Nacional

Principais Operadores

Privados Ministerio do Poder Popular

para La Infraestrutura

Órgãos Reguladores

-

MTOP, Existe Comissão

Intergovernamental (Uruguai, Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai) para a

hidrovia.

Ministério do Poder Popular para a Infra-estrutura-

Hidronavegação

Importância Relativa

Importante artéria de transporte com países

vizinhos. Baixo potencial Grande potencialidade.

Navegação fluvial muito pouco desenvolvida.

Notas: Por uma parte, é importante assinalar que a esta tabela não contempla outros usos importantes de recurso hídrico, como são a indústria, agricultura e o turismo, com perfis bem mais variáveis e distintos nos diversos países do continente sul americano. De outra parte, e não menos importante, cabe assinalar que a água não é somente um insumo para a produção de bens, sendo importante considerar sua relação chave como apoio de ecossistemas, com todos os bens e serviços que brindam a humanidade; tal como registram os princípios de Dublin.

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Com relação à importância relativa da hidroeletricidade nos países baixa consulta, se destaca o potencial energético da bacia do Prata comparado a sua efetiva utilização, a exemplo da Argentina, que utiliza somente 20% de seu potencial energético. Frente a outras formas de geração de energia elétrica, a hidroeletricidade na Bolívia representa menos da metade da geração total de energia, feito que se deve a reservas de gás natural desse país, por conseqüência, com empreendimentos de geração de energia por termoelétricas. Merece destaque, também, o caso de Paraguai, dado que este país produz mais energia que consume, transformando desta forma este uso em fonte de ingressos do Estado.

Na Venezuela o maior potencial hidroelétrico o representa o Rio Caroní, com um estimado de 20.000 MW. 72% da energia elétrica que se consome no país, provêm da hidroeletricidade. Por fim, a hidronavegação, de forma geral, é subtilizada nos países de América do Sul, apesar de que represente importante artéria de transporte. Existem importantes processos de discussão gerados sobre integração através de vias de transporte (terrestre e hídrico), com atenção sobre os impactos ambientais de grandes projetos. Um caso clássico é o Paraguai, que poderia buscar acordos com o Brasil e a Argentina para que esta modalidade de transporte seja utilizada para o deságüe de bens e produtos, via Oceano Atlântico. Podemos ressaltar, também, que a regulagem deste uso hídrico na Argentina está a cargo, na maioria dos casos, de organismos de bacia interjurisdicionais, dado que as principais artérias de transporte utilizadas extrapolam a competência territorial de uma única província (caso similar na Bolívia).

Os canais de navegação mais transitados na Venezuela são o do Lago de Maracaíbo e o trecho Matanzas-Boca Grande do rio Orenoco. Segundo cifras obtidas do Instituto Nacional de Canalizações, no período 1996-2005, pelo Lago de Maracaíbo transitaram entre 2.867 e 1.547 navios e entre 861 e 1.093 pelo canal do Orenoco.

Outra menção significativa de atores tem relação com institutos de investigação e desenvolvimento na área de recursos hídricos. Nos países sul-americanos se destacam: na Argentina, o Instituto Argentino de Recursos Hídricos - IARH; no Chile, o Instituto Nacional de Hidráulica - INH; na Colômbia, o Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais - IDEAM; no Equador, o Instituto Nacional de Meteorologia e Hidrologia - INAMHI; no Peru, o Instituto de Promoção para a Gestão das Águas - IPROGA e o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru; na Bolívia, e Conselho Interinstitucional da Água CONIAG, espaço de articulação de diferentes instâncias do Estado com os setores da sociedade civil - SENARI, constituído como organismo regulador e panificador, com participação social efetiva; no Uruguai, o Programa Hidrológico Internacional; e, por fim, no Brasil, destaque para fundações e institutos relacionados a universidades públicas, como o IPH – Instituto de Investigações Hidráulicas de a Universidade Federal de Rio Grande do Sul, o CEHPAR – Centro de Hidráulica de Paraná, a FCTH – Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica da Universidade de São Paulo, o Laboratório de Hidráulica da Fundação COPPETEC – Coordenação de Investigação e Projetos Tecnológicos da UF do Rio de Janeiro e FUNCEME – Fundação de Ciências e Estudos Meteorológicos, do Estado de Ceará, além da menção obrigatória a ABRH – Associação Brasileira de Recursos Hídricos, existente há mais de 30 anos.

Na Venezuela, foi criado recentemente, no ano 2007, o Instituto Nacional de Meteorologia e Hidrologia (INAMEH), mediante a aprovação da lei Nacional de Meteorologia e Hidrologia.

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Além dessas entidades, em todos os países sul-americanos, uma forte intervenção na gestão dos recursos hídricos é conferida por órgãos setoriais, como, somente a exemplo no caso do Brasil, da Empresa de Investigação Energética – EPE, responsável de estudos e investigações dirigidas ao planejamento do setor energético, além da Operadora Nacional do Sistema Interconectado – ONS, instituída como organização social autônoma, de direito privado, que estabelece regras operativas para otimizar o desempenho conjunto da geração de energia, especialmente em usinas hidroelétricas, térmicas e nucleares.

Ainda como registro de atores institucionais, as maiores proporções de financiamento para América do Sul advém de organismos internacionais, destacando se operações de crédito obtidas junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ao Banco Mundial (BIRD). Com o suporte dessas entidades, foi criado o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia Do Plata – FONPLATA, formalizado pelos governos da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, mediante Tratado Internacional.

No que diz respeito a fontes de financiamento interno, ações em recursos hídricos e de seus setores usuários são geralmente conferidas por instituições financeiras públicas. Em alguns países se criaram fundos específicos que financiem estudos e projetos na área de meio ambiente e recursos hídricos.

Ainda, no entanto, a atores institucionais envolvidos com a gestão das águas em América do Sul, se destacam diversas associações de usuários, como: na Argentina, a Associação Nacional de Irrigantes, a Associação de Energias Renováveis e Ambiente; da Associação Argentina de Engenharia Sanitária e Ciências ao Ambiente; na Colômbia, da Associação Colombiana de Engenharia Sanitária e Ambiental – ACODAL; na Bolívia, a Associação Nacional de Irrigação e Sistemas Comunitários de Água Tabele várias organizações relacionadas à água potável e saneamento de caráter regional; no Peru, da Junta Nacional de Usuários dos Distritos de Irrigação; e, no Brasil, da Associação das Empresas Estatais de Saneamento Básico – AESBE, constituída por 24 companhias de economia mista, e da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE, que reúne quase 2 mil municípios que administram de forma direta os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Por fim, em todos os países, cabe recordar o papel desempenhado na gestão de recursos hídricos por entidades do nível sindical, tais como confederações nacionais ou federações estatais ou provinciais da indústria, do transporte, da agricultura e pecuária, sempre com o objetivo de atuar na defesa de interesses específicos. No que concerne a entidades da sociedade civil, são incontáveis organizações não-governamentais que militam especialmente nas áreas sociais e de meio ambiente, com forte participação nas instâncias coletivas de sistemas de gestão, como conselhos de recursos hídricos e comitês de bacias.

Com relação à existência de legislação própria aos recursos hídricos, cabe registrar que: na Argentina, tendo em consideração a competência provincial em administrar os recursos hídricos, quase todas editaram suas leis de águas, exceto as províncias de Santa Fé e Terra Do Fogo; Brasil aprovou, em janeiro de 1997, a lei de sua política nacional de gestão de recursos hídricos; Bolívia aprovou sua primeira lei nacional em 1906 e procedeu a dezenas de alterações, com recente (2005/06) criação do Ministério da Água; Chile editou seu Código de Águas em 1981, ainda vigente, todavia com diversas adequações; Uruguai aprovou sua lei em 1978, ressaltando a reforma constitucional ocorrida em 2004, na qual considerou a água como

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um bem público e o acesso à água potável e o acesso ao saneamento como direitos humanos fundamentais; na Colômbia está vigente o Código de Recursos Naturais, de 1978, com o legislativo do país debatendo um projeto de lei que dispõe sobre um mercado de concessão de águas; o Paraguai aprovou sua Lei de Recursos Hídricos em 2007; a lei de recursos hídricos do Equador editada em 1972 traduz basicamente questões afeta a irrigação, sendo recentemente revogada (maio de 2008) pela Lei General de Águas, sendo que, ao final de setembro de 2008, se aprovou uma reforma constitucional declarando a água como um direito humano fundamental e irrenunciável; e, Peru, apesar de já possuir sua Lei de Águas, emitiu recentemente (junho de 2008) seu regulamento, criando seu Sistema Nacional de Recursos Hídricos.

Na Venezuela se promulgou a Lei de Águas no dia 2 de janeiro de 2007 a qual tem por objeto estabelecer as disposições que regem a gestão integral das águas, como elemento indispensável para a vida, o bem estar humano e o desenvolvimento sustentável do país, e é de caráter estratégico e interesse de Estado. No que diz respeito a planos nacionais de recursos hídricos (PNRHs), se destaca o Brasil como o primeiro país de América do Sul a aprovar seu PNRH, em janeiro de 2006. Tendo em vista a competência concorrente dos estados, varias das unidades federadas do país também já aprovaram planos de amplitude estatal. Também cabe citar a Argentina que criou no final de 2007, seu Plano Nacional de Recursos Hídricos; este dividiu o país em seis regiões hídricas abrangendo cerca de uma centena de bacias existentes no país. É importante recordar que este PNRH não tira a competência provincial de gestão das águas, devendo ser compartilhadas em bacias de mais de una província.

Parte II – Sobre as Políticas de Recursos Hídricos

Disposta a uma abordagem geral e todos esses dados, a Parte II do documento pretende sintetizar os avanços regionais obtidos nos últimos 10 a 15 anos, analisado os desafios a gestão dos recursos hídricos gerados por mudanças globais e do próprio continente sul-americano.

Para isso, na reunião sul-americana do 5º FMA foram constituídos quatro grupos de trabalho temáticos (GTs) e um de cunhagem parlamentaria. Os GTs temáticos enfocaram as seguintes questões: (i) evolução da população, migração e urbanização; (ii) uso do solo; (iii) globalização; e, (iv) mudança climática.

II.1. Principais Problemas da Evolução da População, Migração e Urbanização

Segundo relatório emitido por este GT, foram considerados três tipos de migrações: do campo para as cidades, do centro para a periferia e migração entre regiões e países (definitivas e temporárias).

Os principais problemas relacionados com a água (atuais e potenciais) revelam a superposição de áreas de pobreza, degradação ambiental e ausência de infraestrutura sanitária, listados a seguir:

1) incremento na urbanização leva a um aumento da demanda da água superficial e subterrânea;

2) aumento da deterioração da qualidade da água;

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3) aumento da quantidade de efluentes superficiais ;

4) incremento de resíduos sólidos;

5) insuficiência de estruturas gerais;

6) impacto das inundações urbanas;

7) incremento de enfermidades relacionadas a questões hídricas;

8) alta porcentagem de água não contabilizada (perdas).

Para a superação dessa lista de problemas, foram identificados os seguintes processos:

a. incremento do fortalecimento institucional através de reformas legais;

b. reconhecimento do direito humano a água na maioria dos países;

c. incremento da participação comunitária em projetos para a gestão dos recursos hídricos;

d. aumento de programas de apoio a populações carentes;

e. elaboração de planos nacionais de GIRH e planos diretores de água e saneamento;

f. Mudança do modo de regulagem na prestação de serviço público.

Todavia, muitas barreiras dificultam esses processos, a saber: falta de financiamento e investimento; insuficiência de recursos humanos capacitados; em alguns casos insuficiência ao acesso a tecnologia adequada; insuficiência de comunicação e educação ambiental; e dificuldades de harmonização e coordenação institucional.

Para superar essas barreiras, é necessária a atuação articulada entre diversos atores, com destaque para governos em todos os níveis, legisladores, prestadores de serviços, setores usuários, comunidades e representantes da sociedade civil, além de organismos de financiamento em alguns países. O alcance dos processos, vencimento das barreiras e a articulação entre os atores listados permitirá um notório progresso para a concepção das metas do milênio com conseqüente aumento da cobertura nos serviços de água potável e saneamento5.

Como exemplos de processos foram identificados: no Brasil – fortalecimento do Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (comitês de bacias e cobrança pelo uso da água – valor econômico da água); no Uruguai – constituição, unificação no Ministério do Meio Ambiente sobre questões de quantidade e qualidade; na Venezuela – lei de água e definição da água como domínio público e valor social; na Argentina – consolidação da organização institucional federal, desenvolvimento do Plano Nacional Federal e estabelecimento e fortalecimento do Conselho Hídrico Federal (COHIFE); e, na Bolívia, a conformação de um Ministério da Água, com instâncias de participação social, processo de transformação da institucionalização de regulagem e o CONIAG.

Na Parte 3, deste documento, está o registro das recomendações e suas relaciones com processos e problemas.

II.2. Principais Problemas relacionados com o Uso do Solo

O informe emitido por este GT apresenta os seguintes problemas detectados:

5 Relação processo/problemas: A – 5; B – 7; C – 1 a 8; D – 1 a 8; E – 1 a 8; F – 5, 7 e 8.

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1) pouco conhecimento de quantidade e qualidade dos recursos hídricos, em especial das águas subterrâneas - existem dificuldades no intercambio de dados hidrometeorológicos entre os países da região sul-americana;

2) falta de investigação e conhecimento sobre a transformação de precipitação em corrente de água e sua relação com o uso do solo;

3) manejo inadequado do solo com fins agropecuários que deteriora a qualidade do recurso hídrico;

4) a biomassa residual com gestão inadequada está produzindo processos acelerados de represamento, deteriorando a qualidade dos recursos hídricos;

5) carência na gestão integrada de bacias nacionais e transfronteiras debilitam a sustentabilidade do recurso água e solo, com: fragmentação (setorialização) da gestão da água e do solo; carência de políticas destinadas à promoção da GI de bacias; falta de participação efetiva da sociedade civil representativa nas distintas etapas da gestão; financiamento não disponível para assegurar uma GIRH; e, centralização da gestão dos RRHH como resposta ao desafio das divisões geopolíticas a nível nacional e transfronteiras;

6) falta de políticas, harmonização e o respaldo econômico efetivo da parte dos Estados afeta a organização territorial e impossibilita a adequada gestão dos recursos solo e água;

7) falta de educação, comunicação e informação a comunidade sobre o manejo racional do solo e água;

8) desmatamento acelerado que incide na geração de processos erosivos e no incremento de processos de desertificação e vulnerabilidade dos ecossistemas.

A exemplo do GT anterior, na Parte 3 deste documento está o registro das recomendações para cada um dos problemas listados.

Em relação a estes dois GTs (evolução da população, migrações e urbanização – uso do solo), lembramos que a integração intersetorial deve ser estabelecida de modo específico, segundo as bases territoriais. Ou seja, de forma distinta no meio ambiente urbano, nas zonas rurais de elevadas atividades agro-produtivas e, também, de acordo com especificidades de regiões áridas e semi-áridas.

No meio ambiente urbano6 são graves os problemas de recursos hídricos relacionados, principalmente à poluição urbano-industrial e as inundações nas cidades de grande e meio porte. Problemas estes inequivocamente derivados das características dos processos de urbanização verificados nas últimas décadas, muitos ainda em curso, ou seja, ainda sem estabilidade em fluxos migratórios sul-americanos. Apenas como exemplo, as cidades brasileiras absorveram, entre a década de 1940 e o inicio dos anos 2000, nada menos que 120 milhões de novos habitantes, subindo uma taxa de urbanização da ordem de 35% ao atual nível, já superior a 85%.

Nos últimos anos, ainda que a taxa anual do crescimento urbano haja reduzido, indicando alguma atenuação de fluxos migratórios, tanto do meio rural ao urbano como de pequenas para cidades de maior porte, o fato é que a concentração nas áreas metropolitanas e nas

6 Projeções indicam 94% para a taxa media de urbanização sul-americana, no horizonte de 2025.

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maiores aglomerações urbanas tende a manter seus impactos sobre o meio ambiente no geral, e sobre os recursos hídricos em particular.

Em termos intra-regionais, o crescimento se da marcadamente nas periferias e em territórios rodeados totalmente por outro de diferente jurisdição ocupadas pelos estratos inferiores de renda, em que as taxas de crescimento chegam a superar a marca de 10 a 12% ao ano, em contraponto a relativa estabilidade dos núcleos centrais. O resultado das elevadas concentração e velocidade que marcaram e persistem nesse processo (ainda que atenuadas), reproduz, em grande medida, o quadro de comprometimento do meio ambiente urbano.

Esse quadro se caracteriza pela superposição de problemas na mesma porção de território - milhares de fontes contaminantes pontuais e dispersas, como resultado da disposição de esgotos domésticos, resíduos sólidos e afluentes industriais não tratados. Mais grave é a situação de encostas, fundo de vale, pantanais, plantações, orla de rios e córregos. Estes geralmente são ocupados de modo irregular por favelas e loteamento desconformes, configurando nichos onde se conjugam a pobreza urbana, ausência de serviços de infraestrutura básica, degradação ambiental e comprometimento de mananciais de abastecimento e dispersão.

Em aumento a contaminação hídrica, se agravou, também, os problemas derivados de inundações que, virtualmente, paralisam muitas cidades, com custos que se repercutem amplamente sobre toda sociedade, pela obstrução do tráfico, perdas patrimoniais e interrupção das atividades em general.

É importante mencionar que a identificação genérica dos fatores mencionados, todavia, não faz trivial o desenho das soluções reclamadas para o saneamento ambiental urbano. A múltipla e complexa combinação destes fatores, frente a outras variáveis de natureza geomorfológica, peculiares cada espaço geográfico, assim como, as questões institucionais, sócio-culturais e econômicas, exige esforços analíticos e metodológicos importantes para o enfrentamento de esses problemas, entre os quais a população hídrica e a preservação de mananciais (qualidade versus escassez) ocupam lugares centrais.

Em grande parte da zona rural, América do Sul conta com uma agricultura dinâmica, moderna e diversificada, nos últimos anos com domínio crescente de cultivos de maior valor para exportação e uso industrial (soja, trigo e milho; cana de açúcar, algodão, café e fruticultura). À parte deste setor moderno, também na zona rural atuam pequenos produtores agrícolas, inclusive para subsistência, que igualmente são afetados por todos os temas que se referem à água, mas que usualmente são marginalizados por não serem considerados atores relevantes ou por pertencerem a grupos minoritários.

A propósito, fatores predominantes de problemas ambientais e de recursos hídricos são hoje observados na zona rural sul-americana. Estes estão principalmente relacionados com o processo de expansão das fronteiras agropecuárias, praticamente esgotadas em muitas províncias da Argentina, do Uruguai, do Sul e Sudeste brasileiro, portanto, com tendências a deslocamentos sobre países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, além da forte pressão hoje exercida sobre fronteiras do bosque amazônico.

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Em relação à irrigação extensiva, trata-se de um problema adicional a ser resolvido em determinadas regiões: onde se verificam conflitos por usos múltiplos, particularmente no Rio Grande do Sul (cultivo de arroz), ou sérias deficiências derivadas de condições climáticas e baixos índices de pluviometria, como na Argentina, Chile, Peru e Bolívia.

De fato, sem embargo de conflitos específicos gerados pela irrigação, nas áreas extensas de agricultura predominam os impactos de plantações até a margem dos cursos de água, com remoção quase completa da cobertura vegetal, inclusive do bosque de preservação ciliar, com vistas a explorar todo o potencial disponível nos terrenos, o que significa elevada mecanização e brisa dos solos, uso intensivo de agro-químicos (pesticidas e fertilizantes), colheitas estacionais sucessivas e desconsideração pelos impactos ambientais e na qualidade dos corpos de água derivados de tais procedimentos.

Esse panorama geral é complementado pela estreita vinculação das culturas primarias7 com a agroindústria alimentar (de comando urbano) – partindo dos derivados de soja até os produtos de origem animal –, o que resulta na presença de enclaves especializados no seu processamento (clusters e cadeias produtivas do agro-negócio), entorno dos quais gravitam pequenos e médios produtores, com sérios problemas de lançamentos concentrados de resíduos animais.

Entre as repercussões mais graves relacionadas a esse conjunto de atividades, se anotam: (i) a perda das capas superficiais dos solos8, no ciclo vicioso de menor fertilidade e uso mais intensivo de nutrientes; (ii) o betume derivado nos cursos de água, com elevação da turvação causada por a sólidos suspensos; (iii) contaminação por agrotóxicos, inclusive conservantes; (iv) poluição das águas por resíduos de animais in natura; e, (v) a elevação generalizada dos custos relacionados ao aproveitamento dos recursos hídricos, para abastecimento doméstico ou insumo industrial, inclusive para a própria agroindústria.

Por fim, a gestão de recursos hídricos em regiões áridas e semi-áridas, dos tipos de problemas e desafios devem ser enfrentados. Primeiramente, em função da escassez hídrica, as atividades agrícolas demandam padrões mais avançados de irrigação, que superem dispersão e desperdício de água, não somente em termos de tecnologias e equipamentos mais modernos, como também, com ajustes nos tipos de cultivos empregados. Sistemas adequados de gestão, operação e manutenção, financeiramente sustentáveis, assim como a valoração de cultivos e de seus insumos produtivos – água, entre eles –, devem ser objetivados9.

Em segundo lugar, de modo mais econômico, os desafios se referem ao ordenamento das atividades sobre as porções áridas e semi-áridas do território sul-americano. Duas referências a respeito podem ser de forma exemplificada avaliadas.

Outra referência a ser analisada evidencia a paradoxal de, não obstante a adversidade climática e hidrológica, somada a solos de baixa fertilidade, persistir elevado contingente de população dispersa, no meio rural ou em pequenos núcleos do semi-árido brasileiro. De fato, cerca de 27% dos mais de 50 milhões de nordestinos10, com amplo predomínio de baixa

7 Em alguns casos, inclusive de comunidades e povos indígenas camponês. 8 Perdas médias de ordem de 15 t/he/ano.

9 Ainda restam debates e análises sobre uso de organismos geneticamente modificados. 10 Taxa de urbanização de ordem de 73% (com 27% de habitantes rurais), contra media nacional que já supera os

85%.

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renda, geram contínuas e inexoráveis migrações diretas para a periferia de regiões metropolitanas e grandes aglomerações do Nordeste do país (além de São Paulo e de outras capitais brasileiras, no passado recente), sem a atenuação de impactos urbanos e sociais, que poderia ocorrer caso os migrantes tivessem outras opções, ao menos temporais, como residir em pequenas e, depois, em cidades médias11.

II.3. Principais Problemas relacionados à Globalização

O relatório emitido por este GT buscou lograr uma elaboração da proposta com o mais consenso possível, talvez não em todos os temas, mas sim em temas como demonstrar os recursos que se tem para a busca de financiamento para seu manejo e sua proteção. Lograr um consenso, mas não forçá-lo, que se reflete a diversidade e tendências dos distintos países.

Os problemas relacionados com a água (atuais e potenciais) foram:

1) preço dos alimentos: América do Sul é forte geradora de alimentos; forte tendência a expansão de fronteira agropecuária e mudança de uso de solos, o que implicou num impacto direto no comportamento hidrológico das bacias e processos socioeconômicos internos; explosão na produção de cereais, incremento da demanda (ex. problema de a soja); utilização de técnicas agrícolas não apropriadas adaptadas a região;

2) processo de urbanização de AS (77% de sua população vivendo na área urbana tendências a se incrementar): a maioria dos países tem grandes territórios desocupados com muita gente nas zonas urbanas;

3) implicância da mineração nos recursos hídricos: preço dos metais; venda de água de um país a outro para ser usada na mineração; impactos negativos em qualidade e quantidade de água;

4) variabilidade climática (variações próprias do clima sem intervenção do homem) e mudança climática (mudanças que ocorrem por intervenção humana);

5) impacto das regras do mercado, exigências de multilateralismo que causam os principais impactos nas reservas naturais de AS; o continente está sofrendo os principais efeitos destas políticas (regras de subsidio, instalação de indústrias / empresas na região); produzir tanto alimento para populações que não tem capacidade de comprá-lo;

6) classificação da água como mercadoria nos Acordos de Livre Comércio e todas as normas que tem a ver com uma mercadoria, se aplicam a água;

7) demanda energética: a energia está cruzando a fronteira da água e pode levar a conflitos entre os países pelos impactos ambientais, e sociais que geram;

8) desmatamento: por pecuária ou por exploração da madeira;

9) consumismo – sistema que pressiona a natureza e os alimentos, forma de vida que desperdiça os recursos; sustentação do planeta implica mudança de modo de vida;

10) desnível diante de certos avanços no regional e internacional de manejo de bacias, com respeito a atrasos no local;

11 Usando uma expressão marxista, se pode qualificar esse contingente como um “exercito rural de reserva”, de

equilíbrio instável e, na sua maior parte, sustentado por políticas compensatórias.

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11) financiamento: muitas vezes as condicionais dos financiamentos gerando problemas: conflitos sociais, dívidas dos Estados;

12) tensão entre o global e o local: por ex. impactos de mudanças climáticas que ainda que não se faça um grande porcentagem das emissões globais, os impactos estão tendo a nível local;

13) usar a mudança climática como mudança de responsabilidades: se usa como escusa - problema de secas, inundações, tem a ver com o mau uso dos solos nas bacias; isto implica a uma mudança de responsabilidade local, com nome e sobrenome a uma responsabilidade global, sem nome;

14) a legislação outorga propriedade aos usuários que se lucram (mineiros) do uso dos recursos, desvios, etc.;

15) existência de legislação, mas falta de aplicação.

Com respeito aos processos para enfrentar os problemas, enquanto a governabilidade, financiamento, educação e outros), que tem tido lugar para enfrentar os desafios hídricos, foram listados:

a. processos de legislações que definam aos postulados citados;

b. avanços no manejo de bacias: soberania e complementaridade, consolidação na governabilidade das bacias – ex. Comissão Binacional para o Desenvolvimento da Alta bacia do Rio Bermejo e Rio Grande de Tarija;

c. maior conscientização entre as ações dos países nas grandes bacias em direção a GIRH, a concepção de bacias;

d. há três países: Colômbia, Equador e Bolívia com propostas de reformas constitucionais que declaram a água como Direito Humano. Uruguai e Venezuela já têm a reforma constitucional aprovada;

e. AS tem uma historia de tratar de ter uma visão do manejo integral de bacias e que tratou de desenvolver políticas nesse sentido e demanda fundos internacionais para poder atender;

f. o Grupo de trabalho sobre recursos hídricos da CAN se comprometeu a incentivar pequenos e médios empreendimentos hidroelétricos no lugar de grandes empreendimentos/

g. projetou-se uma instância regional ao redor do desenvolvimento sustentável e de recursos hídricos que se pode impulsionar o GIRH e fortalecer mais (já é mais que OEA);

h. na Bolívia, a água é um direito fundamental para a vida;

i. no Brasil tem a União Federal, em duas bacias, e dois estados que cobram pelo uso econômico da água.

A exemplo dos GTs anteriores, na Parte 3 deste documento está o registro das recomendações para cada um dos problemas listados.

II.4. Problemas relacionados à mudança Climática

Neste GT, os problemas foram ordenados de acordo com diferentes temas:

- Tema: disponibilidade de água potável

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- Problemas: Tendência em redução das precipitações e sua implicação em leitos. Em anos secos, foi constatada a presença de desabastecimento continuo de água. Na rede de monitoramento não estão localizadas nos melhores lugares para o monitoramento.

Como processo para enfrentar os problemas, se registrou Projeto piloto de colheita de água na Colômbia como medida de adaptação ao cambio climático. No Peru há pilotos para reuso de água em pequenas comunidades agrícolas.

- Tema: aumento do nível do mar

- Problemas: Introdução do berço salina em aqüíferos e Impacto na estrutura de aquedutos em zonas costeiras.

Como processos, Uruguai e Colômbia desenvolvem um projeto de adaptação para determinar a vulnerabilidade dos aqüíferos e zonas costeiras.

- Tema: energia

- Problemas: Diminuição da capacidade de açudes representado na geração da energia elétrica; falta de previsão ambiental na construção de represas em zonas de alta vulnerabilidade; presença de conflito entre setores agrícola e energético; e, abastecimento energético gera maior pressão sobre os recursos naturais.

Os processos identificados foram que Peru, Colômbia e Uruguai estão fomentando políticas de energia renováveis. Chile tem uma legislação onde 15% da geração total deveria provir de energia renovável. Na Argentina pequenos projetos bio-gestores abastecem escolas.

- Tema: saúde

- Problemas: Aumento de geração de brotes de dengue e malaria. Desabastecimento de água potável traz a conseqüência do aparecimento de maiores enfermidades como o mal de chagas, salmonela, leishmaniose que se expandiu a regiões onde afeta comunidades mais pobres. Vinculação direta da degradação de ecossistemas com a saúde humana. Falta de informação sobre a relação de mudança climática e saúde.

Como processo, Colômbia desenvolve projeto piloto de alerta precoce de dengue e malaria por mudança climática.

- Tema: eventos extremos

- Problemas: geleiras; aumento de seca; aumento de freqüência de inundações; desertificação em regiões mais ricas; savanização da Amazônia; aumento da variabilidade climática; aumento ou diminuição das precipitações extremas; aumento dos caudais dos rios; diminuição de caudais mínimos de rios; bacia Amazônica: no Peru há 35 micro bacias secas. Também falta de informação sobre salinização de cursos profundos de águas.

Os processos atuais identificados são: (i) desenhos passados de políticas diante de eventos Menino/Menina servem como piloto para enfrentar a mudança climática (Colômbia); (ii) fortalecimento do sistema nacional de emergências trabalhando coordenadamente com Programa Nacional de Mudança Climática e autoridades de gestão da água (Uruguai); (iii) monitoramento e ação integrada para proteção da Amazônia, como resultado se tem uma curva descendente de desmatamento (Brasil); e, (iv) sistema de alerta frente a crescidas.

- Tema: agricultura

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- Problemas: favorecimento ao desenvolvimento de pragas; diminuição do rendimento de bacias; perda de colheitas; corrimento da fronteira agrícola; variabilidade climática / geleiras fora de época; incertezas no regime de cultivos; maior demanda hídrica por aumento de temperatura: pressão forte por irrigação complementaria; e, corrimento da fronteira agrícola em direção a ecossistemas altamente vulneráveis.

Os processos atuais em curso são: recolhida de informação para analisar vulnerabilidade e recomendar medidas de adaptação (Chile); estudo dos impactos de mudança climática na agricultura e recomendação de medidas de adaptação (Uruguai); trabalho conjunto entre agricultura e meio ambiente para implementação de zonas agroecológicas; e, estudos de comportamento de pragas versus aumento de temperatura.

- Tema: biodiversidade

- Problemas: afetação/perda de espécies por eventos extremos (inundações e secas: perda de espécies como bioindicadores; aparecimento de outras espécies que atuam como pragas; migração de espécies; branqueamento de corais; a desertificação provoca redução de espécies; mudanças em ciclos biológicos de espécies por modificação da temperatura; escassa informação nestes temas em nível de países; perda de biodiversidade por efeito de incêndios; afetação de umidades; desaparecimentos de espécies em plantas medicinais.

Como processos, foram listados: estudo sobre o impacto da mudança climática no Roble na Colômbia; piloto de monitoramento do ciclo da água em ecossistemas de alta montanha; e, Projeto de Adaptação a Mudança Climática em zonas costeiras do Uruguai – dos pilotos sobre o impacto da mudança climática na biodiversidade costeira.

- Tema: geleira.

- Problemas: Não existe informação sobre vulnerabilidade da sociedade e ecossistemas frente aos impactos da fusão de glaciais. Atuais e potenciais problemas de desabastecimento de água. Também, não existe consciência da sociedade.

Os processos em curso são: integração da região Andina compartindo informação e experiências; monitoramentos glaciais; projetos pilotos de vulnerabilidade e impacto; implementação de programas de recuperação de bacias relacionadas com glaciais; e, existem centros de informação de toma de consciência com escolas.

Como nos GTs anteriores, na Parte 3 deste documento está o registro das recomendações para cada um dos problemas listados, acrescidos de recomendações gerais.

II.5. Principais Progressos e Aprendizagens Alcançados por América do Sul para o Enfrentamento de Desafios na Gestão de Recursos Hídricos12

Frente a suas características regionais e aos perfis de problemas apresentados, se verifica que alguns avanços substantivos tem sido observados na América do Sul, especialmente nos últimos 10 anos, dessa vez, não somente em provinciais e áreas específicas, mas também em termos nacionais.

- Argentina

A República Argentina se caracteriza por uma grande variedade de climas e ecossistemas

12 Com base nos documentos elaborados pelos países.

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associados: uma extensa costa atlântica com riqueza marítima; a Cordilheira dos Andes

localizada a Oeste, que se destaca por seu potencial mineral e pela maior altitude no

continente sul-americano; extensas planícies temperadas no centro oeste (a pampa argentina), aptas para atividades agropecuárias; vales com agricultura irrigada e

importantes atividades agroindustriais; e zonas áridas e semi-áridas que representam mais

de 70% do país, predominantes no extremo Oeste, aptas para a cria de ovinos, exploração de

energia eólica e extração de minerais e petróleo.

Em função da abundancia ou do déficit hídrico, 70% da população argentina habita em

a pampa úmida, com quase a metade na região metropolitana de Buenos Aires. Os grandes

centros urbanos são os lugares onde convivem as situações mais heterogêneas: altos

níveis de ingressos de pobreza social. Neste quadro, a infraestrutura exerce

um papel importante quanto ao desenvolvimento econômico e em conseqüência, ao

ordenamento da população sobre o território.

De igual maneira, a água subterrânea exerceu um papel fundamental particularmente no

contexto de regiões áridas e semi-áridas. No ano de 2006, a Subsecretaria de Recursos

Hídricos decidiu fortalecer as atividades relacionadas com água subterrânea no país e

criou um programa coordenado desde a Direção Nacional de Conservação e Proteção de

Recursos Hídricos para tal efeito. No presente, este programa se encontra abocado a

planificação de uma rede de monitoramento de água subterrânea com a participação das

jurisdições provinciais e o Instituto Nacional da Água (INA).

De acordo com sua Constituição Nacional (Art. 124) o domínio dos recursos naturais,

incluído a água, é das províncias. Recentemente se destaca o esforço realizado pela

Subsecretaria de Recursos Hídricos e as províncias, tendente a promover uma gestão

integrada da água. Neste aspecto, são de menção a criação do Conselho Hídrico Federal

(COHIFE), no marco do Acordo Federal da Água, e o fortalecimento das autoridades

interjurisdicionais de Bacia. Tudo isto em consonância com o que indicam os Princípios

Reitores de Política Hídrica.

No ano 2007, foi apresentado o Plano Nacional Federal dos Recursos Hídricos da

República Argentina, realizado num processo participativo e de consenso nos distintos

âmbitos jurisdicionais.

A ASSRH promove a criação de Organizações de Bacia Interprovinciais como âmbito

de gestão de consenso e eficiente dos recursos compartidos e atenção de conflitos

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hídricos inter jurisdicionais. Atuam nem sempre que as províncias se o solicitem,

exercendo o papel de facilitador e mediador que lhe cabe por ser a Autoridade Hídrica Nacional.

O principio que orienta esta coordenação, é promover e fomentar a cooperação entre as

partes, evitando decisões não acordadas que conduzam a situações de conflito e

identificando ações conjuntas que beneficiem a todas as partes.

Organizações da Bacia:

1) Comissão Regional do Rio Bermejo

(COREBE)

2) Comissão de Bacia do Rio Pasaje –

Juramento – Salado

3) Comitê de Bacia do Rio Salí - Dulce

4) Comissão Interjurisdicional da Bacia

da Lagoa La Picasa

5) Comitê Interjurisdicional do Rio

Colorado (COIRCO)

6) Autoridade Interjurisdicional das

Bacias dos Rios Limay, Neuquén e

Negro (AIC)

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7) Região Hídrica Bajos Submeridionales

8) Região Hídrica do Noroeste da Planície

Pampeana

9) Rio Desaguadero

10) Rio Senguerr

11) Rio Azul

No âmbito de suas competências, a Subsecretaria de Recursos Hídricos (SsRH), como

Autoridade Hídrica Nacional realizaram esforços no posicionamento da República

Argentina no âmbito internacional, mediante uma participação ativa coordenada com os

diversos organismos e jurisdições envolvidas.

- Bolívia

O sistema hidrográfico de Bolívia compreende três grandes vertentes: a vertente Amazônica com uma extensão aproximada de 724,0 km2, ocupando 65,9% do território nacional; a vertente fechada ou endorreica que cobre 145,08 km2 de superfície (13,2%); e a do Plata que abrange 229,50 km2 (20,9%) do território nacional.

A vertente endorreica apresenta vegetação de punho e alto andina, a zona dos vales inter-andinos está dominada por bosques montanhosos e vales secos, enquanto que na região oriental se apresentam bosques amazônicos, bosques decíduos e bosques úmidos de planície além de savanas úmidas.

Nos vales inter-andinos o principal problema radica na alta pendente dos solos que não favorecem as atividades agrícolas, obrigando a realizar importantes investimentos nos sistemas de irrigação e práticas de conservação de solos. Nas zonas tropicais a fragilidade do solo está acompanhada por um deficiente sistema de drenagem das bacias, o que aumenta o risco de investir em projetos agrícolas, ainda assim é a região com maior atividade agrícola, especialmente aquela orientada a exportação e ao uso industrial.

A maior parte da população se concentra nos departamentos da Paz, Cochabamba e Santa Cruz, onde vivem mais de 70% dos Bolivianos. O processo de concentração demográfica nas cidades de Santa Cruz, O Alto e Cochabamba, sugerem que existem difíceis condições de vida na região andina, o qual incentiva a migração definitiva. De fato, mais de 90% da população rural se encontra abaixo o umbral de pobreza e cerca de 50% da população urbana registra os mesmos indicadores.

A economia nacional da Bolívia foi tradicionalmente com base no material prima, especialmente minerais, hidrocarbonetos e produtos agrícolas, com o aproveitamento dos recursos naturais existentes nas diferentes vertentes hidrográficas, que apresentam enormes contrastes na precipitação media anual, desde menos de 200 mm ao sudoeste do país, até mais de 5.000 mm no Chapare ao leste de Cochabamba. Existe no país mais de 600 sistemas

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de irrigação de diferentes magnitude, desde 1 até 8.500 he, somando mais de 80.000 he regadas, que beneficiam algo como 50.000 famílias.

Nos últimos anos, foram conduzidas alterações extremas no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos e de serviços de abastecimento de água, especialmente pelo atual Governo Boliviano. O Ministério das Águas foi implantado por Evo Morais em janeiro de 2006, com a intenção de um grande impulso a reformas e investimentos no setor hídrico. A par de restrições as usinas hidroelétricas de grande porte13, no setor de saneamento, as principais concessionárias privadas deixaram ao país que determinou que “a água tem que ser tratada como um bem público, social e cultural, antes de ser tratada como um bem mercantil”.

No presente, o Ministério consolidou programas importantes de investimentos em irrigações, bacias hidrográficas e água potável, trabalha na constituição de empresas públicas para a gestão da água, que “devem ser transparentes e ter ampla participação das comunidades locais”. Por outra parte se aprovou por consenso, dentro da proposta de reforma constitucional, “o direito da água para a vida”, se entende este como o direito da água para a gente, para a alimentação e para o meio ambiente.

Além disso, o Ministério da Água da Bolívia em base ao protocolo de Hyogo, está implementando ações orientadas a responder de maneira eficiente nas etapas de Prevenção, Mitigação e Resposta no marco da gestão de riscos diante de fenômenos Meteorológicos e Hidrológicos extremos, como um aporte à política nacional posto marco na Lei Nº 2140 de Redução de Riscos e atenção a Desastres e/ou Emergências.

As ações de Prevenção são realizadas através de um Fortalecimento da capacidade institucional para a geração de informação de Alerta Precoce através da implementação de um sistema nacional responsável do monitoramento climatológico e das condições meteorológicas e hidrológicas no tempo real, realizadas pelo Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia SENAMHI dependente do Ministério da Água.

Assim também para a etapa de Mitigação se está levando adiante a elaboração do Plano Nacional de bacias na qual se contemplam a implementação de uma serie de ações orientadas a construção de obras estruturais para redução dos impactos dos fenômenos recorrentes em zonas de alta vulnerabilidade diante destes eventos.

Para a etapa de resposta se tem organizado Planos de contingência para o transporte, distribuição, capacitação para o uso de insumos como potabilizadores, bombas de água entre outros, mesmos que obedecem a uma planificação antecipada realizada pelas diferentes repartições dependentes do Ministério da Água como são o Vice-ministério de Bacias, Vice-ministério de Serviços Básico que coordenaram de maneira previa ações de resposta imediata com os serviços de Defesa Civil e as Forças Armadas para a atenção dos danificados.

Na reunião sul-americana do 5º Foro Mundial de Água, realizada em Montevidéu, representantes da Bolívia e Equador coincidiram na posição de que os operadores de saneamento devem ser de natureza pública e que a água não deve ser uma mercadoria, 13 Segundo o Informe da Bolívia - GWP/SAMTAC-CEPAL, apresentado no 2º Foro Mundial da água (p.8),

“Considerando o potencial hidroenergético existente nas bacias das vertentes amazônica e do Plata, é imprescindível fazer modificações as políticas energéticas nacionais, por quanto às atuais privilegiam ao setor de hidrocarbonetos. Pelas características destas bacias, a aplicação de grandes projetos de geração de energia elétrica, lograria a regulagem dos caudais nas zonas com potenciais agropecuários, reduzindo os níveis de inundação permitindo contar com as bases para um desenvolvimento sustentável em longo prazo”.

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portanto não deve ser parte de acordos de livre comercio. Equador e Bolívia ressaltam a importância de mudar o atual modo de desenvolvimento mundial que está levando ao planeta a uma catástrofe ambiental. Ambos os países rumam em direção a implementação de um modo de desenvolvimento mais sustentável e eqüitativo. Destacando a importância de um pensamento ideológico, ambos “reprovam países cosmopolitas e consumistas, defendendo a alternativa de uma forma nova de vida baseada na cultura indígena”.

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- O Sistema Nacional de gestão de Recursos Hídricos de Brasil (Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Brasil)

No ano de 1988 foi promulgada o Congresso Nacional a nova Constituição de Brasil, que vigora até os dias de hoje. Questões como a redistribuição de atribuições entre União, Estados e Municipalidades, a descentralização e o fomento a iniciativa privada foram alguns dos temas tratados na nova Carta. Entre as mudanças relacionadas à água se destacam: (i) se altera o domínio das águas no âmbito da União e dos Estados, com exclusão das municipalidades. (ii) o domínio de águas particulares desapareceu; as águas se tornam exclusivamente públicas; e (iii) passa a ser competência da União legislar sobre águas e sobre energia elétrica, bem como instituir o Sistema Nacional de gestão de Recursos Hídricos (SINGREH).

A Constituição de 1988, a Política Nacional dos Recursos Hídricos é instituída em 1997 e se cria o SINGREH, por meio da promulgação da Lei Nacional Nº 9433/1997. O modo de gestão adotado no Brasil incorpora novos princípios e instrumentos de gestão e enquadra o modo sistêmico de integração participativa, que determina a criação de uma estrutura na forma de matriz institucional de administração, responsável pela execução de funções específicas, e se adota a planificação estratégica por bacia hidrográfica, a tomada de decisão por intermédio de deliberações multilaterais e descentralizadas, e o estabelecimento de instrumentos legais e financeiros. Com o sancionar de dita Lei, os estados brasileiros adaptaram ou elaboraram suas políticas de recursos hídricos, tomando como referencia a legislação federal mantendo em sua formulação geral algumas similaridades. Em todas as 27 leis estatais é possível identificar três blocos principais: (i) fundamentos, objetivos e diretrizes gerais de ação; (ii) um modo institucional, composto por um colegiado deliberativo superior (Conselho Nacional e suas correspondentes nos estados); órgãos gestores de recursos hídricos; colegiados regionais deliberativos de unidades de planejamento e gestão (os comitês de bacias); e instancias executivas dos comitês (agências de bacia hidrográfica); e, por fim, (iii) um conjunto de instrumentos de gestão composto por: planos nacional e estatais de recursos hídricos e de planos de Bacias; classificação dos corpos de água em classes; outorga pelo direto de uso da água; cobrança pelo uso da água; e, sistemas de informações. Os Conselhos ou Colegiados foram instituídos no SINGREH como entes políticos, onde ocorreram definições estratégicas, se constituem em espaço de negociação social. é importante reforçar a representação municipal nesses colegiados, pois apesar de que não sejam detentores do domínio sobre as águas, são responsáveis pela titularidade dos serviços de saneamento e pelo uso e ocupação do só, com interferência direta em as características dos corpos de água, tanto qualitativas como quantitativas. Nos seus 10 anos, completos em dia 8 de Janeiro de 2007, a referida Lei possibilitou o avanço do Brasil na gestão dos recursos hídricos. O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi elaborado por meio de um processo participativo que se encerrou no ano 2006 com sua aprovação pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH).

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Além disso, 8 das 27 unidades da Federação já elaboraram seus planos de recursos hídricos estatais e outros cinco estão em processo de desenvolvimento. Em nível de bacia hidrográfica, se identificaram 75 estudos de planificação de recursos hídricos entre os quais 65 se encontram já concluídos; a maioria é anterior a criação dos comitês de Bacia, pelo que não tiveram seguimento nem validação, por parte dos atores regionais envolvidos, como estabelece a Lei. No inicio dos anos 90, os principais vetores da dinâmica da gestão de recursos hídricos em Brasil ocorriam na esfera dos estados federados, com dos destaques principais: São Paulo e Ceará. São Paulo foi o primeiro estado a aprovar uma legislação específica para a gestão de recursos hídricos (dezembro de 1991), que acabou inspirando diversas outras leis estatais. No que diz respeito ao Ceará, tanto a legislação estatal de 1993, como o inicio pioneiro de cobrança por entrega de água bruta (1997), está associado à continuidade empreendida ao sistema de gestão de recursos hídricos. O modo institucional estabelecido pela Lei 9433 se destaca, na esfera da União, atuação da Agencia Nacional de Águas - ANA e da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério de Meio Ambiente (SRHU/MMA). Criada a partir da Lei nº 9.984 de 2000 a ANA é uma entidade executiva e reguladora, que foi criada para dar impulso a Política Nacional de Recursos Hídricos, surgindo como resposta institucional ao reconhecimento da complexidade e dificuldades inerentes à implementação do SINGREH. O rol da SRHU é propor a formulação da Política Nacional de Recursos Hídricos, assim como fazer seguimento e monitorar sua implementação, coordenar a elaboração e auxiliar no processo de implementação do PNRH e a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental. Estudos e avaliações feitos por entidades de investigação e observação do sistema indicam que Brasil avançou em vários aspectos relativos à implementação do Sistema, entre eles: • 22 Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e o Distrital estão em funcionamento,

entre as 27 Unidades da Federação existentes, e outros 4 se encontram em processo de regulamentação;

• 140 comitês de bacias hidrográficas foram criados e estão em funcionamento; • 2 comitês com suas respectivas agências de águas e todos os instrumentos de gestão

foram implantados, inclusive a cobrança pelo uso da água (Comitê dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí – PCJ e comitê do Rio Paraíba do Sul);

• O PNRH recém lançado orienta a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos;

• A Agência Nacional de Águas (ANA) mantém a dinâmica de avanços na gestão dos recursos hídricos, na esfera da União;

• O Programa de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos para o semi-árido brasileiro (Pro Água: semi-árido) aumentou a qualidade na gestão dos recursos hídricos na região Nordeste;

• No nível dos estados, convém destacar que os estados de Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo já contam com mecanismos que permitem a cobrança pelo uso da água dos rios de domínio dos estados;

• O Programa de Descontaminação de bacias (PRODES), criado pelo Governo Federal por mediação da ANA, se constitui em uma inédita forma de pago por resultados mensurados no tratamento de bueiros sanitários;

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• O projeto “Cultivando água Boa” da Itaipu Binacional Brasil-Paraguai em Foz de Iguaçu implementa ações que vão desde a adequação das atividades econômicas, especialmente a agropecuária até a conservação da biodiversidade e educação ambiental das comunidades da região. O projeto é um dos melhores e mais exitosos exemplos brasileiros no cuidado com o solo, com a água e a biodiversidade.

Sobre os muitos projetos de gestão dos recursos hídricos que operam além das fronteiras que, ao longo dos últimos anos, estão sendo ou foram executados, se destacam:

� Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani (PSAG);

� International Sharede Aquifer Resource Management (ISARM); � Implementação de Práticas de gestão Integrada de bacias Hidrográficas para o

Pantanal e bacia do Alto Paraguai (Projeto GEF Pantanal – Alto Paraguai); � Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da bacia do Plata (CIC-Plata).

Considerando, sob uma avaliação crítica construtiva, passados mais de dez anos depois da promulgação da Lei Nacional, três tipos de problemas podem ser identificados no Brasil, causando dificuldades para novos avanços do SINGREH. Primeiramente, se verifica a ocorrência de deficiências operacionais, especialmente na escala estadual, relacionadas à: Fragilidade de órgãos gestores14, em termos de orçamentos menores e de quadros de pessoal (em quantidade e qualificação); deficiências de dados e informações hidrológicas, principalmente, de postos de monitoramento de qualidade de água, com evidentes repercussões sobre sistemas de suporte a tomada de decisão; inconsistências e brechas na legislação, em especial na regulação de Leis estaduais; funcionamento precário de muitos dos mais de 140 comitês de bacia já implementados, com necessidade de construção de pautas estratégicas concretas e deliberativas; aplicação incipiente dos instrumentos de gestão, inclusive com precariedade de cadastros de usos e usuários de água, portanto, com baixo porcentual de eficácia na concessão de outorgas de direito de uso de recursos hídricos; falta de sustentação financeira dos sistemas, na maioria das vezes dependentes de transferências tradicionais promovidas pelos governos, com baixo número de bacias nas quais foi implementada a cobrança pelo uso da água; ausência de articulações consistentes com setores usuários; e, junto com relativa insuficiência de comunicação social, a ausência de uma avaliação sistemática do SINGREH, de modo que se favoreçam os ajustes de melhoras em seu desempenho. O segundo conjunto de deficiências é de natureza estrutural, incluindo descompasses entre os modernos fundamentos do SINGREH, confrontados com o substrato administrativo-legal regente do aparato governamental brasileiro. Em termos estruturais, também há dificuldades de coordenação e dificuldades relacionadas ao dobro domínio dos corpos hídricos e a questão federativa em Brasil, com dificuldades para realização de estudos, projetos e ações

14 com notável exceção no caso da Agência Nacional de águas (ANA), hoje a principal referência, com atuação diferenciada

no país, não obstante ter entrado em operação apenas em 2001.

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integradas na mesma conta que possui corpos de água com domínio da Federação e de diferentes Estados. Por fim, o terceiro conjunto de problemas se refere às ênfases adotadas pela estratégia institucional traçada para a construção do Sistema e condução dos processos decisórios. Verifica-se que muitos comitês instalados, todavia não tem pautas objetivas associadas ao cadastro de uso e usuários da água e de planes para intervenções consistentes em suas respectivas bacias hidrográficas. Assim, cada reunião se transforma em um universo aberto e indefinido, quando deveria consubstanciar ao passo seguinte, na direção de objetivos e metas socialmente pactuadas com relação aos recursos hídricos. De fato, os principais temas continuam sendo pautados pela compatibilidade entre a lógica econômica, a sustentabilidade ambiental, as políticas setoriais e os atos institucionais que envolveram os recursos hídricos. Ao final das contas, só mediante a harmonização entre aspectos ambientais, técnicos, institucionais, socioeconômicos e jurídico-legais, simultaneamente com a adoção de princípios participativos, descentralização, construção de consensos entre os principais agentes da gestão, a ser expressos via planes de bacia, será possível reverter o quadro geral de risco das disponibilidades hídricas.

- Aprendizagens e Aperfeiçoamentos do Código de águas do Chile15

Como já registrado em diversos casos, outra referência a ser observada na América do Sul é o caso de Chile, sem dúvidas, um país com desempenho diferenciado, particularmente em setores usuários de recursos hídricos, como no saneamento e na irrigação.

A primeira versão do Código de águas de Chile, de 1981, sofreu constantes questionamentos e avaliações, particularmente em razão de suas inovações conceituais, que a expulsaram como um projeto experimental de abordagem classificada como neoliberais. De fato, por primeira vez no continente, foram adotados mecanismos de mercado para a localização de recursos hídricos, propiciando as demais nações, ao corrente das especificidades de cada país o região, à apreciação dos resultados que foram alcançados ou de dificuldades identificadas, em mais de duas décadas.

Um dos princípios fundamentais incorporados pela legislação chilena foi o de direitos sólidos, ou confiáveis, de aproveitamento da água, permitindo ajustes e negociações entre diferentes usos e usuários, por conseqüência, estabelecendo um “mercado” com atuação menos impositiva do Aparelho e da burocracia do Estado.

A propósito, segundo Huberto P. Torrealba, “se conclui que a existência de direitos de aproveitamento com uma alta segurança jurídica teve uma positiva influência no melhoramento da eficiência de aproveitamento. Por sua parte, a idéia de incorporar mecanismos de mercado na atribuição de direitos originais a novos interessados, praticamente não operou, gerando um processo de caráter especulativo” que atualmente se trata de corrigir com uma reforma legal” (texto de 2004).

Como exemplos de problemas gerados pelo mencionado processo especulativo, vale citar casos de “escassez jurídica formal”, e no real. Também foram constatadas tendências de

15 Fonte: Humberto Peña Torrealba, 20 Anos Do Cígo de águas de Chile, Revista REGA, jan-jun/2004.

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monopolização: pouco mais de 2.500 m3/s são utilizados, dos 13.000 adquiridos por empresas geradoras de hidroeletricidade16.

Por seu turno e ao contrário, ainda segundo H.P. Torrealba, o uso de mercado – ou, em outros termos, de processos de negociação – para a re-confirmação de direitos existentes, em geral se considerou como exitosa, permitindo a transferência de concessões de uso para novas demandas, propiciando, especialmente em regiões de escassez e disputas pelo uso da água, acordos sociais pautados por benefícios sociais e por maior eficiência econômica. Em muitos desses casos, os bônus resultados obtidos foram acompanhados por acordos informais coletivos entre usuários, que dividiram em restrições individuais. De fato, não houve problemas de monopolização entre o mudança de outorgas de uso da água já existentes, como os observados na especulação por novos direitos.

A experiência chilena também permitiu confirmar a importância da regulação a ser exercida pela administração pública, que deve ser fortalecida – e não reduzida – como instância que acompanhe e estabeleça condicionantes – sociais, ambientais e econômicos – para as transações e acordos entre usuários de recursos hídricos. Essa atuação regulamentar do Poder Público deve ocorrer sempre com base em perspectivas estratégicas, abordagens integradas de gestão e indicativos de um planejamento amplio para o país, nos cenários de mais largo prazo, vistas como responsabilidades e atribuições próprias ao Estado. De fato, não se concebe qualquer país – desenvolvido no processo de Desenvolvimento – onde instrumentos de comando e Controle sejam simplesmente descartados.

Não obstante tais dificuldades e, também, expressivas resistências e divergências de ordem ideológico, manifestadas no contexto sul-americano, o fato inquestionável é que os diversos governos sucessores de Chile, a maioria deles de nível social-democrata, não alteraram a sustância do Código de águas, salvo em correções e ajustes pontuais, o que revela o reconhecimento político e da própria sociedade chilena, que mantém identidade com muitos dos conceitos prevalecentes, confirmados em termos de níveis de eficiência, tal como os já explicitados por diversos indicadores mencionados no presente documento.

De fato, se percebe, em Chile, o pragmatismo de tratar a gestão de recursos hídricos a partir da identificação de ineficiências e de conflitos potenciais entre setores usuários das águas, portanto, menos com um fim em si mesmo, e mais como uma resposta operacional (particularmente via instrumentos de mercado) demandada pela natureza dos problemas a ser superados.

Todavia, esses méritos não indicam que o Chile tenha um sistema no qual não sejam identificadas lacunas, contradições e questões sujeitas a potenciais aperfeiçoamentos. Ao contrario, continuamente se deve questionar a capacidade do sistema chileno agregar esforços da sociedade e do governo, de forma coerente e harmônica, para maximizar, não somente benefícios econômico-financeiros particulares, mas sim, sociais e ambientais, ou seja, na busca de um Desenvolvimento sustentável, visto sob uma perspectiva mais amplia.

A propósito, entre as aprendizagens já reconhecidas no próprio país, se sabe que não é razoáveis que direitos de uso da água sejam outorgados sem o prévio conhecimento de sua

16 Questões dessa natureza exigiram uma interação entre a Direção geral de águas e a comissão Preventiva Central

Anti-monopólios.

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utilização e as cargas de aproveitamentos efetivas (reais), portanto, baixo um liberalismo extremo que motivou ações e demandas especulativas, claramente explicitadas em Chile.

Tampouco é razoável que transações de direitos de uso da água possam ser efetuadas por usuários, sem a informação de novas utilidades dos recursos hídricos para fins de regulação pública, tanto em termos de registro de demandas existentes, como de potenciais externos ambientais e sociais a ser geradas. Mais que isso, se constatou no Chile que o mercado para concessões de novos usuários não funcionou, na medida em que os interessados não detinham informações consistentes sobre disponibilidades e demandas da água, variáveis que exigem constante monitoramento hídrico, balanços e modos de simulação e, a atualização periódica de cadastros, o seja, atividades de gestão bem mais próprias ao Estado que a agentes privados.

Frente a análises do Código de águas, é importante destacar que, se vem traspassando das mãos privadas da gestão do recurso em termos de consumo humano e saneamento a permitir alcançar logros importantes em termo de acesso a uma fonte segura de abastecimento de água e o saneamento, não se pode deixar de notar outras iniqüidades que gerou uma Lei cujo norte foi normal o uso da água como insumo para a produção privada.

Em tal sentido, se deve destacar que dito código não aborda os assuntos da água de maneira integrada, pois não se faz cargo de uma serie de matérias tão fundamentais como a eliminação de contaminantes aos cursos de água superficiais aos subterrâneos, a qualidade das mesmas, ou sua proteção como um bem essencial para a sustentabilidade dos ecossistemas, entre outros. Portanto isto implica e permite a coexistência de numerosos corpos normativos de distinta hierarquia e de distinta índole, de acordo ao uso setorial que da água se faz, o que produz vazios, superposições e até contraposições em distintos âmbitos relativos à água.

Outro fato que não se pode esquecer e que atentar contra a governabilidade17 do setor, é que se vem o mesmo Código, em seu Art. 5° a define como um “Bem Nacional de uso Público; este se contradiz, pois, se limita quase exclusivamente a regular o direito de aproveitamento de águas desde uma perspectiva limitada e individualista, como é o direito de propriedade, não contemplando se querem conceitos como o de comunidade social ou coletividade, em relação ao caráter intrínseco da água, enquanto bem comum a todos os membros da nação; pelo que se pôde traçou que o enfoque individualista que traçou o Código sem uma interação suficiente entre os distintos atores e agentes envolvidos, implica um manejo limitado da realidade do recurso.

Isto mesmo faz com que a participação dos envolvidos, outro feito fundamental para a geração de governabilidade, e, portanto, de Desenvolvimento sustentável do recurso; seja insuficiente sob a mirada do código, pois este se limita a reconhecer só como atores válidos de uma bacia, a aqueles que são titulares efetivos de direitos de aproveitamento de águas,

17 O conceito de controle conforme aplicação a águas refere-se a “capacidade do sistema social mobilizar esforços de forma coerente para o desenvolvimento sustentável de recursos hídricos. Esta noção inclui a capacidade de desenvolvimento de políticas públicas (e mobilização de recursos para patrociná-las) o que as torna socialmente aceitas, pois têm como objetivo o desenvolvimento sustentável e uso de recursos hídricos; e para tornar esta implementação eficiente por parte dos atores e investidores envolvidos nos processos (Rogers, 2002). Para que seja eficiente, o controle deve ser transparente, aberto, responsável, participativo, comunicativo, baseado em incentivos, sustentável, eqüitativo, coerente, eficiente, integrante e ético. (Controle Hídrico para Desenvolvimento e Sustentabilidade – CEPAL 2006)

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pelo que todos aqueles usuários que não contém com direitos estabelecidos, nem se quer lhes reconhece sua tal qualidade.

As escassas instâncias de participação e interação se realizam por baixo a forma de comunidades de águas, que são organizações autônomas, regidas por um diretório, aonde o peso de cada parte vai à direta relação aos direitos que possuía; portanto fica em evidência a iniqüidade, pois a resolução dos temas importantes é relegada às regras do mercado, onde invariavelmente a vantagem fica com usuários melhor posicionados.

Por fim, entre as aprendizagens com a experiência chilena, nota-se que em muitos casos, ainda é fundamental contar com investimentos e incentivos gerados pelo setor público; especialmente no em relação à infraestrutura hídrica, uma vez que a viabilidade de mercados exige determinado nível de amortização prévia de capitais, que não serão financiados por agentes privados, como não foram no Chile, inclusive em termos de melhorias operacionais e de manutenção em determinados sistemas privatizados.

- A gestão de Recursos Hídricos na Colômbia

A respeito dos problemas de recursos hídricos (superficial e subterrâneo), dos indicadores são importantes: índice de escassez e disponibilidade per capita de água. O índice de escassez surgiu da relação que existe entre a oferta hídrica das fontes e a demanda de água.

Em Colômbia, o IDEAM, como entidade científica e autoridade nacional em matéria de Hidrologia (Decreto 1277 de 1994), desde 1998 vem elaborando as estatísticas a nível municipal do índice de escassez. Além disso, a Organização de Estados Americanos (OEA), através de seu Departamento de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, promoveu o projeto Sistema de Indicadores do Meio Ambiente (SIMA), liderado em Colômbia por parte do DANE, mediante o qual se realizaram vários acompanhamentos científicos por parte dos expertos do IDEAM.

Na Colômbia, de acordo com as avaliações realizadas, a disponibilidade per capita anual de água está diminuindo, principalmente devido ao crescimento populacional do país. Mesmo assim, o valor atual de disponibilidade é de 40.000 m3 por ano para cada Colombiano, muito acima dos valores críticos traçados por Falkenmark, o que faz Colômbia figurar como potência hídrica mundial, muito apesar dos problemas atuais relacionadas com o desabastecimento de água e o desaparecimento de fontes hídricas naturais.

De fato, o problema da água em Colômbia não está relacionado com sua oferta hídrica. Assim, é necessário estabelecer os níveis de demanda potencial de água, segundo os diferentes sectores e sua distribuição no território nacional. Só esta correlação deixa em evidência o conflito existente pela localização das altas demandas de água em territórios com poucas ou pequenas fontes de água. Cidades como Quibdo, Sincelejo, Cali e Cúcuta sofrem fortes desabastecimentos, devido principalmente, a ausência de uma infraestrutura adequada e a uma incipiente gestão do recurso hídrico por parte das entidades com assentamento local.

A demanda de água corresponde aos requerimentos potenciais para os setores econômicos: agrícola, pecuário, industrial, lares e serviços. A demanda total de água dos setores socioeconômicos alcançou os 13.000 milhões de metros cúbicos de água doce ao ano. Estes requerimentos se distribuem por setor, com a maior demanda para agricultura (61%), enquanto que o setor industrial não supera 10%.

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A respeito da participação dos cidadãos junto à gestão de recursos hídricos, verifica-se vetores muito mais consumidos que deliberativos. Não mais, entre os principais instrumentos de gestão e de financiamento econômico, se destacam a regulação de tarifas relacionadas à prestação de serviços públicos (Lei n0 142, de 1994) e a taxa re-distributiva por contaminação pontual dos corpos de água. Essa cobrança começou a operar em 1997, no inicio com aplicação incipiente. Nota-se, ainda a existência do Fundo Nacional de Regalias, com recursos provenientes do setor de minérios, que paga pela exploração de recursos naturais não renováveis.

Como em outros países, persistem na Colômbia diversos fatores que limitam uma adequada gestão sustentável dos recursos hídricos, entre os quais merece registro a debilidade e baixa hierarquia institucional da temática do meio ambiente, frente às entidades responsáveis do Desenvolvimento do país (supervenientes), somada ao baixo nível de integração intersetorial da gestão ambiental e dos recursos hídricos junto aos sectores usuários (intervenientes), ou seja, a falta de transversalidade na política ambiental e dos recursos hídricos.

Enfim, também predominam em Colômbia deficiências e problemas locais, que se acabam sobrepondo como prioridades e afetando variáveis de nível territorial mais amplio. Mais especificamente no que diz respeito aos serviços de saneamento básico, um destaque específico deve ser conferido à criação da comissão Reguladora de água potável e Saneamento Básico.

Contudo, cumpre reconhecer o elevado passivo ambiental deste setor, ainda com baixos índices de tratamento de águas servidas, feito que compromete a proteção de mananciais e eleva os custos de potabilização da água, por vezes, trazidas a crescentes distâncias. Enfim, com os atuais custos de operação e manutenção de plantas de tratamento de esgotamentos sanitários, se verifica que a maioria das cidades não dispõe de sistema estruturado com capacidade para os investimentos requeridos, somente pela via de excedentes tarifários.

Conclui-se que em Colômbia, como também, na maioria dos países sul-americanos, o tratamento de águas servidas demanda fortes subsídios, tal como ocorreu, tanto em países europeus, como em Japão e nos Estados Unidos.

- Equador

No Equador, para os recursos hídricos o Decreto nº 871 já estabeleceu, em setembro de 2003, a Organização do Regime Institucional das águas. Em maio de 2008, o Decreto Presidencial nº 1.088 procedeu à reorganização do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), além de criar uma nova entidade, a Secretaria Nacional da água, tendo como intenções e fundamentos: promover a gestão integrada dos recursos hídricos, o fomento a sectores usuários, o controle de fontes de poluição, a proteção de bacias hidrográficas e a formalização de concessões de uso da água.

Quanto aos serviços de água potável e de saneamento, o Ministério de Desenvolvimento Urbano e Vivenda, com sua Subsecretaria de água Potável, Saneamento e Resíduos Sólidos, desenvolveram programas de investimentos com base na CEREPS - Conta Especial de Reativação Produtiva e Social, do Desenvolvimento Científico-Tecnológico e de Estabilização Fiscal, tendo como objetivo “a construção de sistemas de água potável e infra-estrutura sanitária em municípios, conselhos provinciais, juntas de água e juntas paroquiais do país”.

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Tenta-se o melhoramento e ampliação da cobertura de água e saneamento, envolvendo construção e reabilitação de sistemas de água potável e bom manejo de resíduos sólidos, a nível nacional, “articulando esforços do Governo e da sociedade, para melhorar as condiciones de vida especialmente dos mais vulneráveis”.

Com o fim de aperfeiçoar os recursos transferidos aos governos seccionais, a subsecretaria enviou um grupo de técnicos para, ao mesmo tempo em que apoiassem tecnicamente, fiscalizassem e “ajudem a diminuir os níveis de pobreza e elevar as condições de vida da população”.

O Programa de água potável e Saneamento (PRASCI) pretende melhorar o desempenho das empresas prestadoras de serviços de água potável e saneamento (EPS) das cidades intermediárias, no que diz respeito a: eficiência, qualidade de serviços e sustentabilidade financeira. Em seu turno, o Programa de água potável e Saneamento para as comunidades rurais e pequenos municípios (PRAGUAS) deve apoiar e investir em pequenos municípios para dotar e melhorar a prestação de serviços de água potável e saneamento.

Por fim, o Ministério também tem ações para a reabilitação sanitária e de água potável para os danificados do Vulcão Tungurahua, ainda está se desenvolvendo um programa de água e saneamento para as populações afetadas pela erupção do vulcão. O programa consiste em implementar unidades sanitárias básicas e o melhoramento de alguns sistemas de água potável.

Atualmente, o Equador, assumiu uma forte vertente ideológica, com importantes alterações quanto à gestão de recursos hídricos e de serviços de saneamento. De fato, o país aprovou uma reforma constitucional que declara a água como um direito humano, proibindo, além disso, a privatização do recurso. Assim, foi determinada a operação de sistemas somente por concessionários públicos.

- Guiana

Localizada na costa norte do continente, a Guiana tem características muito similares a Suriname, em termos geofísicos e territoriais. De fato, Guiana significa terra de muitas águas, rica em recursos hídricos. Assim como Suriname, a maioria de sua população, próxima aos 800 mil habitantes (38% urbana e 62% rural), se localiza na planície costeira, com sua maior área aos níveis do mar e protegida por drenagens marítimas. Uma série de bancos de areia, reservatórios e planícies costeiras, chamadas de “conservações da água”, reservam água da superfície para demandas destinadas a irrigação primaria.

Quanto às águas subterrâneas, três níveis de aqüíferos são detectados, os mais superiores com elevados porcentuais de ferro. Assim, 90% do abastecimento humano são assegurados pelo terceiro nível de águas subterrâneas (B terra), com profundidade de 350 a 800 m.

Em termos institucionais, o setor de abastecimento envolvia duas distintas entidades, GS&WC e GUYWA, que foram juntadas em 2002, formando a Corporação Guiana de água (CGA). Em 2003 foi firmado um contrato de gestão com metas para 5 anos, cancelado pelo Governo em 2007. No presente, essa CGA pretende consolidar debaixo do chamado Plano de Contorno.

A Georgetowm Sewerage and Water Commissioners (GS&WC) foi instituída durante o período colonial, para operar e manter os sistemas de abastecimento de água e coleção de efluentes, na capital da Guiana, Georgetown. Depois da independência, em 1966, a Divisão de Sub-Ministério de Água Pura, vinculada ao Ministério de Obras Publicas assumiu a

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responsabilidade pelas políticas do setor e também pelo sub-ministério de água em outras regiões do país. O Ministério da Saúde foi responsável pelas atividades de saneamento.

A Autoridade Guiana de água (GUYWA) foi formada em 1972, com os encargos de construir, operar e manter os sistemas de distribuição, especialmente em pequenas cidades e na zona rural, assumindo a provisão dos serviços de água do Ministério de Obras Públicas Comunicações e Desenvolvimento Regional. A partir de 1984, foram criados os Conselhos Democráticos Regionais (RDCs) em 10 regiões que trabalham com a GUYWA.

A GS&WC foi alterada em 1994, para uma instituição autônoma, mantendo sua vinculação com o Ministério. Em 2000, contando com assistência britânica e do Banco Mundial, o Governo de Guiana inicio uma reorganização do setor, com metas e objetivos de expansão dos serviços, em termos de modernização, maior eficiência, financiamento sustentável ao longo prazo e uma nova estrutura institucional, com regulação independente e clara divisão entre os responsáveis.

Foi aprovado, em 2002, o Ato de água e Efluentes, com a fusão na mencionada Corporação Guiana de água (CGA), com a atribuição do contrato de gestão, recentemente cancelado (inicio de 2007), abaixo justificações, por parte do governo, de que não se cumprirão 5 das 7 metas fixadas, relacionadas com pagamento das tarifas (somente cerca de 30 a 35% dos serviços são remunerados), medição dos consumos (hoje, pouco mais de 25% se medem) e a expansão dos sistemas em áreas rurais e pequenas cidades do interior.

Por fim, como início de uma nova etapa, em dezembro de 2007 o Governo de Guiana aprovou o “Plano de Contorno” para a CGA, com focos similares de redução de serviços num reembolso e consolidação sustentável para o setor, o qual, em termos de sua oferta, pode ser qualificado como de baixos padrões, tanto nos índices de oferta quanto no produto entregue, ou seja, uma água com qualidade segura a respeito à contaminação. Para encerrar, cabe o registro de que somente 5% da população tem acesso às redes de coleção de águas servidas.

- Paraguai

O Paraguai forma parte dos 12 % da bacia do Rio da Plata e como país se acha inserido totalmente nula, de 1000 km das costas atlânticas, situação que faz um país com clima continental, geralmente cálido, úmido a sub-úmido.

O Rio Paraguai é um de seus principais, com uma extensão que supera os 1000 km desde suas nascentes no Pantanal, até a confluência com o rio Paraná, no sul do país. Este rio divide o território Paraguaio em dos grandes regiões naturais de características morfológicas, hidrológicas e culturais distintas: a Oriental (39%) e a Ocidental o Chaco (61%). A região oriental tem uma media anual de precipitação pluvial de 1500 mm e temperatura media anual de 23°C, enquanto que a ocidental tem precipitação media anual de 800 mm e temperatura media anual de 24,5 °C.

É um rio navegável por buques de maior calado desde sua confluência com o rio Paraná até Assunção, e com buques médios desde Assunção até Corumbá (Brasil) no norte. Por seu turno, o rio Paraná, com uma extensão de 679 km, é navegável por embarcações de qualquer tamanho desde sua confluência com o rio Paraguai até a Represa de Itaipu, no distrito Hernandarias, e por embarcações menores desde a represa de Itaipu até perto das suas nascentes no Brasil.

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Respeito da disponibilidade e usos da água: (i) existe uma enorme oferta de água doce superficial (67.000 m3/hab./ano) comparado com o consumo atual (112 m3/hab./ano) – No entanto, a qualidade de água se deteriora vertiginosamente, agravado por deficiências no controle e normalização do mesmo; (ii) se bem que as disponibilidades são grandes, sua distribuição espacial é desequilibrada – este é o caso da região Oriental e Ocidental do Paraguai, sendo que esta última tem problemas de déficit de água potável; (iii) os níveis de cobertura de água potável são baixos (42 % em todo o país); (iv) os sistemas de bueiro são praticamente nulos – só 7% da população nacional conta com este serviço; (v) o abastecimento de água no interior do Paraguai é predominantemente subterrâneo; e, (vi) não existem critérios de medida nem lugares definidos para conhecer as condições de qualidade de águas subterrâneas.

No país, a Direção de Meteorologia e Hidrologia da Direção Nacional de Aeronáutica Civil – DINAC é a principal instituição que trabalha sistematicamente na área da meteorologia e a climatologia, contribuídos com outros setores na provisão de serie de informações de alta importância.

A respeito da base legal, a Lei 3239/07, dos Recursos Hídricos do Paraguai, dispõe que “O acesso à água para a satisfação das necessidades básicas é um direito humano e deve ser garantido pelo Estado, em quantidade e qualidade adequada”. A Política Nacional de Recursos Hídricos, expressada na própria Lei, se encontra em processo de inicial de Implementação, pela Secretaria do Ambiente a través da DGPCRH.

- Avanços Recentes Empreendidos pelo Peru

No que diz respeito ao Peru, o país consolidou, em dezembro de 2004, sua Estratégia Nacional para a gestão de Recursos Hídricos (ENGRH), expressa em documento não foram destacados objetivos de aproveitamento racional e sustentável da água, o reconhecimento da bacia hidrográfica como unidade para a gestão integrada de recursos hídricos, metas de proteção e preservação da água e, com elevada importância para o país, maior ênfases em abordagens multisetoriais, uma vez que, em Peru, sempre houve predomínio da gestão hídrica com foco em perímetros irrigados.

De fato, a partir da Lei geral de águas (1969), a maior parte das normativas complementares foi dedicada ao setor da agricultura, portanto, com uma nova abordagem prevista pela ENGRH, com rebatimentos importantes no Plano Nacional de Recursos Hídricos de Peru.

Incluso recentemente, em junho de 2008, o Decreto nº 1.081 estabeleceu um novo ordenamento jurídico e administrativo para a gestão das águas, criando o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, regido por princípios de gestão integrada entre usos múltiplos, precaução frente a eventos críticos, metas de sustentabilidade, objetivos de conferir seguridade jurídica a direitos de uso, pelo reconhecimento e respeito a usos comunitários já existentes, pela intenção de incentivar uma cultura nacional da água, além de objetivos de melhoria na eficiência do aproveitamento da água, com preservação de ecossistemas e transparência social em relação à gestão nacional dos recursos hídricos.

Este mesmo Decreto criou a Autoridade Nacional da água, responsável da gestão e regulação de uso dos recursos hídricos, com atuação conjunta com ministérios de setores usuários, como os de agricultura, habitação e saneamento, saúde, produção e minas e

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energia. Foram também instituídos conselhos de bacias hidrográficas e estabelecida a previsão de pago econômico pelo uso da água.

Na seqüência, o Decreto nº 1.083, também de junho de 2008, se dedicou a incentivar o aproveitamento eficiente e a conservação dos recursos hídricos, com base em marco normativo pautado por parâmetros e indicadores a ser alcançados, pela certificação de usos e usuários, por mecanismos de incentivo e pela “retribuição econômica pelo uso da água”.

Com estas boas noticias, a expectativa é de que a implementação de tais avanços no Peru confirma um novo nível para a GIRH no continente sul-americano.

- Suriname

Localizado na costa norte do continente, Suriname tem 163.270 km2 de área, 80% ocupada por florestas tropicais. O país pode ser dividido em quatro principais zonas ecológicas: a jovem planície costeira, com 16.200 km2, é ocupada por estuários, florestas típicas, lagos, pântanos e planícies argilosas; com as riquezas dos rios Maronwijne, no leste, e Corantjin, no oeste; a velha planície costeira, com 4.300 km2 consiste em remanescentes de ilhas, com 4 a 10 m de altitude; as savanas, com 8.750 km2 e 10 a 100 m arriba do nivele do mar, contem planícies secas argilosas e terras ásperas; e, por fim, as residuais terras altas do interior ocupam 134.000 km2, o seja, mas de 80% do país, com montanhas de 1.250 me de altitude, cobertas por florestas tropicais.

Sobre o ponto de vista hidrológico Suriname não faz parte da bacia do rio Amazonas, no entanto, o país participa do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), em função das características e extensão do ecossistema da floresta tropical.

A propósito da população do Suriname, de um total com 480 mil habitantes, 85% se concentra na zona costeira, sendo o restante disperso nas áreas do interior. Cerca de 70% da população habita na capital Paramaribo. A respeito, do setor de água potável se divide em estas duas regiões geográficas, com diferentes operadores e níveis muito distintos de atendimento. O Ministério de Recursos Naturais supervisa os serviços de abastecimento, num contando com estrutura reguladora especifica.

De fato, a zona costeira tem bom nível de atendimento com sistema de água potável, operado por N.V. Surinaamsche Waterleiding Maastschapjj (SWM), como empresa do Governo e de uma companhia operadora independente. Enquanto SWM não opera toda a zona costeira, é intenção do Governo que se expanda os serviços, com metas a reabilitação e expansão, com redução de perdas, de modo a ampliar o atendimento as demandas crescentes. Para tanto, SWM deve atualizar o Plano Diretor da Zona Costeira, para preparar a próxima fase de seu programa de investimento. Desse modo, cerca de 95% da população urbana da zona costeira é atendida com água potável, mas somente 3% está conectado a rede de cloacas.

Em contraste, as comunidades dispersas do interior têm baixos níveis de abastecimento de água, com problemas de qualidades nos serviços e na própria água ofertada. No interior, uma divisão interna do Ministério de Recursos Naturais é responsável pelos sistemas. A partir de 1998, Suriname firmou uma estratégia nacional para 2015, com um Plano para suprir água em vilas e comunidades. No entanto, poucas ações foram implantadas, com a necessidade de atualizar o referido Plano para áreas rurais e do interior.

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É possível notar que, devido à intensa participação do Governo nestes sistemas, não há separação entre o Desenvolvimento de políticas, o regulamento e a operação de sistemas e provisão de serviços.

Quanto aos usos de recursos hídricos, 6% é para o setor doméstico, 5% para a indústria e 89% para produção agrícola. Somente águas superficiais são utilizadas para irrigação de cultivos, com águas subterrâneas utilizadas para abastecimento em função de sua elevada qualidade. Ainda a respeito aos usos da água, somente 1,5 milhões puderam ser utilizados para uma agricultura sustentável, com a maior parte destinada a arroz e banana. Por fim, quanto à matriz energética, há somente um reservatório hidroelétrico no rio Suriname, em Atobakka.

- Uruguai

Os aspectos mais relevantes dos avanços realizados nos últimos anos no Uruguai são em relação ao marco jurídico-institucional para enfrentar os desafios na gestão dos Recursos Hídricos. Com a Victoria do Se por um 66% de votos, se possibilitou a Reforma Constitucional do ano 2004 que agregou a seu artículo 47: “A água é um recurso natural essencial para a vida. O acesso à água potável e o acesso ao saneamento, constituem direitos humanos fundamentais.

1) a política nacional de águas e Saneamento estará baseada em:

a) o ordenamento do território, conservação e proteção do Meio Ambiente e a restauração da natureza;

b) a gestão sustentável, solidária com as gerações futuras, dos recursos hídricos e a preservação do ciclo hidrológico que constituem assuntos de interesses geral. Os usuários e a sociedade civil participarão em todas as instâncias de planificação, gestão e controle dos recursos hídricos, estabelecendo as bacias hidrográficas como unidades básicas;

c) o estabelecimento de prioridades para o uso da água por regiões, bacias o parte de elas, sendo a primeira prioridade o abastecimento de água potável a populações;

d) o principio pelo qual a prestação do servisse de água potável e saneamento, deverá se fizer antepostos às razões de ordem social e de ordem econômica.

) As águas superficiais, assim como as subterrâneas, com exceção das pluviais, integradas no ciclo hidrológico, constituem um recurso unitário, subordinado ao interesses geral, que forma parte do domínio público estatal, como domínio público hidráulico.

3) O serviço público de saneamento e o serviço público de abastecimento de água para o consumo humano serão prestados exclusiva e diretamente por pessoas jurídicas estatais”.

O Poder Executivo é a autoridade nacional em matéria de águas correspondendo a ele a formulação das políticas na matéria, o exercício da potestade regulamentaria e aquelas intervenções de caráter mais geral o relevante. Entre suas principais competências, lhe corresponde através do Ministério de Vivenda Ordenamento Territorial e o Meio Ambiente

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(MVOTMA), a formulação da política nacional de águas e sua concreção em programas correlacionados e integrados com a programação geral do país.

O MVOTMA, é o Ministério pelo qual a Administração das Obras Sanitárias do Estado (OSE) se relaciona com o Poder Executivo.

A Lei 17.930 do Orçamento 2005 - 2009 - (19/12/2005) criou a Direção Nacional de águas e saneamento (DINASA), que se encontra na órbita do Ministério de Vivenda Ordenamento Territorial e o Meio Ambiente.

“Art. 327 – o Ministério de Habitação, Ordenamento Territorial e o Meio Ambiente proporá ao Poder Executivo, em atenção ao disposto no artigo 47 da Constituição da República, a formulação das políticas nacionais de água e saneamento (…) dos serviços de água potável e saneamento, atenderá especialmente sua extensão e as metas para sua universalização, os critérios de prioridade (…) em suas propostas atenderá a participação efetiva dos usuários e da sociedade civil em todas as instâncias de planificação, gestão e controle…”.

“Art. 328 –… Cria-se a Direção Nacional de águas e saneamento (DINASA)…”.

“Art. 331 – Constitui-se a Comissão Assessora de águas e saneamento (COASAS) aos efeitos de incorporar as visões dos distintos atores da sociedade na formulação das políticas do setor e atendendo a participação efetiva dos usuários e da sociedade civil em todas as instâncias de planificação, gestão e controle”.

Na COASAS participam ativamente entre outros, além da Sociedade Civil através de organizações de universitários, de câmaras industriais, dos trabalhadores organizados, e a Comissão de Defesa da água e a Vida, técnicos de OSE, de UTE, duelados da Intendência Municipal de Montevidéu, dos Ministérios de Saúde, Educação, Indústria e Energia, Pecuária, Agricultura, Pesca, Defesa, Relações Exteriores, e o regulador do setor: URSEJA.

Desta Comissão Assessora surgiu um projeto de Lei que regulamenta o art.47 da constituição, o que uma vez aprovado pelo Parlamento possibilitará que se comece transitar por uma nova maneira de administrar os recursos hídricos de acordo ao mandato constitucional.

Finalmente por Lei de rendição de contas do ano 2007 se transferiu MVOTMA todas as competências que ficavam no Ministério de Transporte e Obras Públicas, relacionadas com a administração, uso e controle dos recursos hídricos, com exceção das questões relativas à navegabilidade.

- Venezuela

O Governo da República Bolivariana de Venezuela criou o Ministério do Poder Popular Para o Ambiente, o qual, em seus documentos, registra que “o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, das Nações Unidas; marca um marco na historia dos direitos humanos, ao reconhecer o acesso aa água segura como um direito humano fundamental, indispensável para levar uma vida digna humana”. Segundo o documento do Ministério, isso “reflete um mudança respeito a políticas baseadas no mercado, que mostram o custo real da água, reduzem os subsídios e possivelmente envolvem o setor privado nos serviços de subministro”. O direito humano a água implica sua

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disponibilidade, qualidade e acessibilidade a todos, “sem discriminação alguma, dentro da jurisdição do Estado”. Venezuela considera o acesso a água um direito humano e promove seu uso sustentável, “propiciando as bases para um movimento de resistência contra sua privatização, para assegurar a igualdade e a participação social das comunidades, a fim de manter um domínio público do líquido e reverter qualquer processo de privatização em sua distribuição”. O seja, os Governos devem dar esses passos para que a água seja considerada bem público, administrado somente pelo Estado. O Ministério do Poder Popular para o Ambiente entende que “a apropriação em mãos privadas significa dominação, dependência e discriminação, princípios estes contrários a solidariedade, cooperação, participação protagoniza e integração entre os povos, princípios que propugna o Socialismo do Século 21”. Assim, o enfoque integral para a gestão da água se apóia de forma participativa, com desenho e execução de políticas e projetos comunitários. O reconhecimento da água deve ser como um bem social e no econômico, por conseguinte, o Governo Bolivariano reprova a privatização do recurso. O aproveitamento da água é função da soberania e segurança nacional, com a conservação das fontes de água por encima de interesses econômicos. Venezuela é um dos países mais ricos em recursos hídricos, a maioria dos quais se encontram concentrados ao sul do rio Orenoco. A água em Venezuela destinada a três grandes setores é o seguinte: 43% agropecuário, 46% uso doméstico e 11 % restante para uso industrial. A maior bacia da Venezuela é a do rio Orenoco, que ocupa 73% do território nacional e 90% do caudal meio anual do país. Outras bacias de importância são as do Mar Caribe que inclui ao Lago de Maracaíbo e representando 4,1% do leito meio anual, a bacia do Lago de Valencia representando 0,03% do caudal médio anual e a bacia do Rio Cuyuní que leva suas águas ao Oceano Atlântico e que representa 1,2%. Outra bacia importante é a do Braço Casiquiare que é tributário do Rio Negro e este a sua vez drena ao rio Amazonas, representando 4,7% do território nacional e 0,8% da bacia do Amazonas, e o leito meio anual, representa 4,5% do leito médio nacional. Além disso, a Venezuela faz uso comum em 6 bacias com outros países, que são: Carraipía-Paráguachón, Catatumbo, Arauca, Orenoco (Colômbia), Amazonas (Brasil) e Cuyuní (Guiana). Venezuela alcançou a meta do Milênio em quanto ao acesso à água potável no ano 2003, quando a porcentagem da população sem acesso a serviços de domésticos de água potável era de 13%, valor inferior à metade da porcentagem sem serviço ao ano 1990 (32%). Este valor indica que para o ano 2003 – sem incluir a população servida atualmente por sistemas de fácil acesso e alcançou a meta do milênio proposta para o ano 2015. Ao fim de 2007, a cobertura de água potável alcançou 92% da população e a meta é cobrir 100% da população para 2010. Também, no que se refere ao serviço de reciclagem de águas servidas, ao fechar do ano 2007, 79% da população já dispõe deste serviço. Uma das estratégias identificadas pelo Governo Bolivariano está na Gestão Comunitária dos Recursos Hídricos, que refere aos princípios de liberdade, responsabilidade e solidariedade, onde o cidadão se faz dono de seu próprio destino, reconhece o direito do outro, brinda seu apoio ao esforço comum e exerce de maneira direta o poder que de ele emana para elevar seu nível de vida e se da uma existência digna e soberana.

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No que diz respeito à água potável e saneamento, se estabeleceram mecanismos de gestão comunitária da água através da criação das Mesas Técnicas de Água, que são espaços para a discussão, o acordo, a coordenação e a busca das possíveis soluções a todos aqueles dois distintos problemas traçados das comunidades, um lugar para os iguais, para o comum, onde a dificuldade de um vizinho é dificuldade de todos, e se unem para resolvê-lo. Até agora se criaram mais de dos mil quinhentas mesas técnicas de água, ao longo de todo o país, as quais reapresentam a plataforma real de participação protagoniza no marco dos processos de transformação que vive nossa nação, fazendo realidade o lema: “Uma Ferramenta da Revolução”. Com isso o Governo Bolivariano demonstra que o caminho da água é com a gente, razão que impõe um novo horizonte de estratégias orientadas a consolidar um modo de gestão administrativa, financeira e operativamente eficiente. Em matéria de mudança climática, o Governo da Venezuela firma o compromisso de impulsionar alternativas energéticas mais eficientes, baseadas no desenvolvimento de tecnologias com uso mais limpo dos combustíveis fósseis, com posição contra os agro-combustíveis que possam comprometer a produção de alimentos. Também, reitera a firme posição de não executar projetos baseados no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), principalmente aqueles que se orientem a gerar certificados de redução de emissões no contexto do Mercado de Carbono, por ser uma prática que, segundo o Governo Bolivariano, “em nada contribui a lograr os compromissos de redução dos países desenvolvidos, mais bem alenta o que ditos países continuem com seus modos capitalistas de desenvolvimento de produção e consumo insustentáveis”. Quanto às centrais hidroelétricas, de acordo com o documento do Ministério do Poder Popular para o Ambiente, desde 2003 a Venezuela “realiza importantes investimentos neste setor, a fim de substituir as usinas elétricas que ainda funcionam a gás e convertê-las em usinas hidroelétricas”. Finalmente, o Governo da Venezuela reprova a criação de uma instância internacional que reduza a atuação da Organização Mundial de Comércio (OMC) e dite políticas impositivas a respeito de padrões ambientais.

Parte III – Políticas, Ajustes Institucionais e Alternativas para Enfrentar Desafios da Gestão de Recursos Hídricos no Continente Sul – Americano

Para encerrar o presente documento, tendo como base todos os insumos já dispostos, restam propostas e recomendações – de políticas, ajustes institucionais e estratégias – que proporcionem novos avanços na gestão dos recursos hídricos, no contexto sul-americano.

Como registrado, as recomendações estão vinculadas aos problemas e processos, conforme os relatos dos GTs temáticos.

III.1. GT - Evolução da população, Migrações e Urbanização

As recomendações estão ordenadas pela Matriz abaixo:

Recomendações Relação:

Recomendação e

problemas

Relação: Recomendação e

processos

I - Exortar as instituições internacionais a cumprir seus compromisso assumidos, para respaldar os esforços que fazem os países com o fim de assegurar o acesso à água e ao saneamento.

I – 1 a 8 I – D

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II - Aumentar a participação cidadania na definição de políticas de GIRH. II – 1 a 8 II – C, D

III - Incorporar o uso sustentável da água na educação formal e informal III – 1 a 8 III – C IV - Fomentar a formação profissional enfocada a GIRH e a prestação dos serviços.

IV – 1 a 8 IV – A

V – Recomendar que todos os países da América do Sul elaborem e implementem seus planos nacionais de GIRH e seus planes de ordenamento territorial.

V – 1 a 8 V – B, E, F

VI - Incremento da transferência tecnológica e da cooperação horizontal entre os países do área, e fortalecimento dos centros de investigação e capacitação.

VI – 1 a 8 VI – A

VII - Assegurar em todos os países o acesso aa água segura (quantidade, qualidade, continuidade, confiabilidade e custo acessível).

VII – 1 a 8 VII – B, D

VIII - Continuar fortalecendo a coordenação inter-institucional e as instituições gestoras e executoras das políticas de GIRH.

VIII – 1 a 8 VIII – A, B, E, F

IX - Continuar avançando na gestão coordenada dos recursos hídricos compartidos entre os países da região.

III.2. GT – Uso do Solo

Para os 8 pontos identificados, seguem as recomendações abaixo:

Pto 1: - Desenvolvimento ou fortalecimento de redes de monitoramento hidrometeorológicas a nível nacional, com disponibilidade e acessibilidade da informação;

- Fomentar redes de intercâmbio de dados hidrometeorológicos entre países, buscando mecanismos para agilizar o intercâmbio de informação entre os integrantes das bacias compartidas nacionais e internacionais, com disponibilidade e acessibilidade da informação; e,

- Incremento de partidas orçamentárias para a reciclagem, processamento e publicidade dos dados.

Pto 2: - Incrementar os fundos de investigação (públicos e privados) e ser considerados como investimento e não gasto; e,

- Potenciar redes de cooperação entre países para o intercâmbio de especialistas (investigadores) e de informação.

Pto 3: - Estabelecimento de políticas em relação ao ordenamento do território que assegurem a sustentabilidade dos recursos naturais; e,

- Estabelecimento de planos de manejo de bacia de maneira de lograr produtividade silvo- agropecuária, mas considerando as capacidades dos distintos ecossistemas para manter suas funciones hidrogeológicas, ecológicas e socioculturais.

Pto 4: - Monitorar o território a fim de identificar fontes geradoras de biomassa residual que geram os problemas de contaminação e represa; e,

- Aplicar as leis e regulamentos ambientais de maneira que se valorizem os subprodutos da biomassa como a bioenergia elétrica e biofertilizantes.

Pto 5: - para a fragmentação: institucionalidade única da gestão = criação de autoridade única de gestão da água; harmonização do marco legal entre setores; mecanismo de intercâmbio de informação para apoiar processo da GIRH;

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- para a carência de políticas da GI de bacias, desenvolvimento do marco legal e político de maneira participativa;

- para a falta de participação da sociedade civil: gerar espaços de diálogo multisetoriais e multiatores aos níveis de gestão;

- para o financiamento da GIRH, gerar mecanismos, incluindo uma maior atribuição de recursos por parte dos Governo s nacionais;

- para a centralização da gestão dos RH, estabelecer acordos e comissiones de GIRH a nível trans-fronteiriço e de bacias.

Pto 6: - Promover a integração interinstitucional e interjurisdicional relativa ao processo de ordenamento e gestão do território tendo a bacia como unidade de gestão;

- Fortalecimento institucional (recursos humanos e orçamento); e, - Capacitação de usuários do ordenamento territorial.

Pto 7: - Educação participativa transformadora (formal, não-formal, e informal); - Informação em linguagem acessível; - Comunicação em tempo real (acesso aos meios de comunicação das comunidades); - Controle social dos investimentos realizadas e monitoramento independente; - Formação e capacitação como intercâmbio de conhecimento entre comunidades e

Governos; e, - Fortalecer os mecanismos e instâncias de participação real e efetiva na toma de

decisões que afetam aa água.

Pto 8: - Transferência de capacidades tecnológicas entre países, para deter processos de desmatamentos;

- Fortalecimento dos programas de educação ambiental a nível local; - Estabelecimento de subsídios e instrumentos econômicos por parte do Estado para

fomentar as florestas e o reflorestamento; e, - Estabelecimento de acordos de atuação ambiental conjunta, em bacias trans-fronteiriças.

Além destas recomendações, o GT registrou que o uso eficiente e racional do solo e o conseqüente impacto positivo na disponibilidade e qualidade da água colabora diretamente com:

(i) o objetivo 1 dos objetivos do Milênio de erradicar a pobreza extrema e o fome ao preservar terrenos para a produção de alimentos;

(ii) ao objetivo 2, sobre promover a igualdade de gênero, porque facilita a labor e o rol da agricultura familiar camponesa, a que é desenvolvida majoritariamente por mulheres;

(iii) contribui diretamente com o objetivo 4 e 5 sobre reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde materna;

(iv) ao ter melhor qualidade de solos e de água se tende ao logro do objetivo 6 de reduzir enfermidades associadas aa água; e,

(v) aporta grandemente ao logro do objetivo 7 de garantir a sustentabilidade do meio ambiente, ao reduzir o número de pessoas sem água potável e saneamento adequado pois se deixa de contaminar com resíduos urbanos e domiciliários as fontes de água e os solos.

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Por fim, o GT indicou o seguinte tema para debate: para América do Sul, que tem a maior disponibilidade hídrica superficial do mundo, não é possível abdicar da hidroeletricidade como fonte primaria de energia, que impeça a sustentabilidade de seu desenvolvimento empregar tecnologias adequadas nos novos empreendimentos hidroelétricos para reduzir consideravelmente os impactos ambientais e sociais. Por exemplo, as tecnologias de plataforma, o uso ambiental e socialmente adequado do fluxo dos rios e a preservação do entorno da instalação industrial pelo operador do empreendimento.

III.3. GT – Globalização

Para os 15 pontos de problemas, as recomendações deste GT abrangem a governabilidade, financiamento, educação e outros, com as seguintes bases e estratégias a implementar:

- Promover a água como um instrumento da Paz, não se devendo incorporar nos processos de militarização e defesa;

- Fortalecer a capacidade reguladora dos Estados sobre a produção de alimentos, favorecendo a sustentabilidade dos recursos naturaliza: água, solo e biodiversidade;

- Promover um tratamento integral dos impactos sobre as bacias, com consenso social nos casos de uso intensivo da água, como por exemplo: na produção de alimentos, geração hidroelétrica e em biocombustíveis:

a) fomentar pequenos e médios empreendimentos; b) resguardar a produção de alimentos e a existência de mata, entre outros com

respeito ao incremento dos agrocombustiveis;

- Recomendar ações orientadas a reduzir o impacto ambiental que as atividades mineras tem sobre a água, tanto em qualidade, como em quantidade:

a) revisar as leis e normativas ao respeito que em alguns casos não existem e em outros não se aplicam;

- Promover o reconhecimento do acesso a água potável e saneamento como um direito humano, garanti-lo através de um Pato Internacional da água;

- Promover o reconhecimento da água como domínio público que deve ser garantido pelo Estado como um serviço público;

- Promover o reconhecimento do direito da Água para a vida (gente, alimentação, meio ambiente), garanti-lo através de um Pato Internacional da água;

- Fomentar a colaboração, cooperação e uma gestão concertada de bacias nacionais e trans-fronteiriças com participação, para a busca da paz e o desenvolvimento;

- Promover a participação dos usuários e de sociedade civil em todas as instâncias de planificação, gestão e controle, das bacias, assegurando uma correta gestão dos recursos;

- Desenvolver uma Agenda Sul-Americana para a conservação e uso sustentável dos RH continentais, que deveria se constituir no marco das políticas públicas nacionais, para que exista um denominador comum que permita enfrentar as pressões internacionais;

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- Fortalecer e melhorar as capacidades dos países da região na investigação e monitoramento dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos, tanto em qualidade e quantidade: o Monitoramento Global dos recursos hídricos;

- Propor uma Convenção Sul-Americana (Acordo, Tratado), para demonstrar ao mundo o compromisso da região no manejo e proteção de recursos hídricos;

- Impulsionar a GIRH e o ordenamento territorial como ferramentas para reduzir a vulnerabilidade de nossos territórios ante os impactos das mudanças globais;

- Aumentar a contribuição de capacidades técnicas e financeiras para a proteção das águas trans-fronteiriças e exigir a comunidade internacional e ao GEF, em particular, se contribui fundos para a proteção e uso sustentável das águas trans-fronteiriças;

- Fortalecer as capacidades dos países para atender a descentralização na gestão dos recursos hídricos, dado que estes tem dificuldade em términos técnicos, financeiros e institucionais para apoiar dita descentralização;

- Incorporar nos códigos penais os ditos ambientais e de contaminação;

- Reconhecer a tendência à maior utilização dos aqüíferos como reservas de água para o futuro e desenvolver monitoramento e investigações que antecipem melhor conhecimento dos mesmos para mitigar mudanças globais; e,

- Desenvolver e/ou fortalecer as instâncias regionais ou sub-regionais de coordenação no manejo das bacias, desde uma visão integral dos recursos hídricos.

III.4. GT- Mudança Climática

Em este GT, as recomendações estão vinculadas aos temas e problemas indicados:

- Tema: disponibilidade de água potável - Recomendações: - Desenvolver um conjunto de indicadores que registro acesso a água potável; - Reorganizar e complementar o sistema de monitoramento de parâmetros hidrológicos; - Conhecer a demanda real de água e melhorar a rede de distribuição; - Realizar programas de manejo integral de água potável; e, - Aprofundar estudos de aqüíferos de águas subterrâneas.

- Tema: aumento do nível do mar - Recomendações: - Realização de estudos mais profundos e específicos sobre impactos sobre os

aqüíferos.

- Tema: energia - Recomendações: - Desenhos de obras de infra-estrutura hidroelétrica deverão considerar o componente

de mudança climático num sentido integral onde se inclua a vulnerabilidade do setor; - Criação de projetos energéticos com propósitos múltiplos ou multiuso; - Fomentar a investigação sobre energias renováveis não convencionais; - Gerar políticas públicas energéticas, coordenadas a nível regional; e, - Integração do setor energético de água com as autoridades nacionais de água;

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- Tema: saúde - Recomendações: - Fortalecer estudos epidemiológicos que vinculem fatores ambientais e climáticos a

nível acadêmico; - Capacitação à sociedade civil e aos profissionais da saúde; - Maior compromisso por parte das autoridades da saúde pública na inclusão dos

impactos de mudança climático; e, - Identificação de indicadores sobre mudança climático e saúde.

- Tema: eventos extremos - Recomendações: - Melhoras na gestão dos recursos hídricos para enfrentar os impactos do mudança

climático; - Prudência na utilização de informação em nível de escalas globais e locais; - Estudar como produzir, colheita e semear água ante eventuais cenários de estresse

hídrico; - Intensificação de medidas; - Criação de um observatório sul-americano; - Quantificar economicamente as conseqüências dos eventos extremos; - Fortalecer as redes dos centros de investigação a nível regional; e, - Integração dos sistemas nacionais de emergência com os encarregados de mudança

climático e recursos hídricos.

- Tema: agricultura - Recomendações: - Estudo do ciclo hidrológico relacionado com os cultivos; - Lograr maior interdisciplinaridade nos estudos e maior relação entre os institutos e

universidades; - Mudança no modo produtivo, buscando sustentabilidade; - Mediadas urgentes de restauração de áreas degradadas (margens de cursos de águas

por cultivos de soja, por exemplo); - Implementar mecanismos de responsabilidade de custos por contaminação; e, - Reforçar marcos legais e institucionais em temas de água e mudança climático.

- Tema: biodiversidade - Recomendações: - Integração dos países que compartem as mesmas espécies a nível regional (por

exemplo: resiliência da Amazônia); - Implementação de projetos piloto sobre resiliência das espécies frente à mudança

climática; e, - Realização de estudos sobre desaparição de plantas medicinais e avaliação de

espécies que se adaptam ao mudança climático.

- Tema: glaciares - Recomendações: - Criação de programa de educação e comunicação em uma linguagem compreensível

e implementação do artigo 6; - Criação de centros regionais; - Fortalecer e implementar estudo de vulnerabilidade; e,

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- Implementação de desenho de medidas de adaptação.

Além destas, o GT elaboro as seguintes recomendações gerais:

• Integrar o componente mudança climático a gestão dos recursos hídricos e a todas as políticas públicas setoriais como a saúde, agricultura, energia;

• Trabalhar coordenadamente a nível regional para o desenvolvimento de estratégias comuns de vulnerabilidade para a adaptação ao impacto climático;

• Desenvolver e adotar tecnologias próprias que respondam as necessidades dos países da região;

• Desenvolver e compartir programas de educação sensibilidade e educação do problema do mudança climático e seus impactos em um linguagem entendível para toda a comunidade;

• Instar a cooperação internacional no desenvolvimento de capacidades e de estudos que respondam a implementação de medidas de adaptação à mudança climática de acordo ao principio de responsabilidades comuns e diferenciadas.

Para encerrar o documento, é importante mencionar que modos institucionais não devem constituir fines em si mesmo, sendo, respostas objetivas frente a problemas concretos, segundo uma postura que lhes proporcione consistência e estabilidade, como instâncias do Estado e não apenas de Governos temporais, a maioria das vezes marcada por entidades voláteis, que tanto caracterizam os países sul-americanos.

Sobre tal abordagem, sistemas institucionais para a gestão de recursos hídricos devem estar coligados a um conjunto de instrumentos que, sob uma perspectiva moderna, não devem se limitar aos tradicionais mecanismos de comando e controle, mas incluir a construção de consensos sociais, os chamados instrumentos econômicos de gestão e mecanismos certificações da qualidade de processos e de formas de produção ambientalmente corretas.

Contudo, para uma aplicabilidade efetiva destes instrumentos, dos conceitos fundamentais devem ser observados, com rebatimentos sobre alternativas que podem ser adaptadas em modos diferenciados de ajustes institucionais: o da governabilidade ou governo.

Na medida em que a qualidade do meio ambiente e, por conseqüência, dos recursos hídricos, é socialmente construída – o seja, não depende exclusivamente do Estado, mas de todos os atores (participantes) envolvidos – é essencial que, sob o conceito da governabilidade, objetivos e metas sejam mensurados, com o acompanhamento coletivo de seus alcances e resultados. A gestão dos recursos hídricos não deve vigorar apenas como retórica política, sendo de forma objetiva em términos de melhoria das disponibilidades hídricas.

Em aumento, sob o conceito de governo, é necessário que os atores sejam inseridos de modo orgânico junto aos sistemas de gestão, para incorporam as variáveis hídricas como relevantes em seus processos decisórios e em suas matrizes de custos de produção. Em outros términos, os mecanismos tradicionais de gestão, via comando e controle, continuam sendo necessários, mas não são mais suficientes, cabendo, portanto, a introdução de instrumentos mais modernos de gestão.

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O próximo fundamento importante se refere à transversalidade e a articulação intersetorial que a política de recursos hídricos deve ter em relação: (a) as variáveis que lhe são supervenientes, o seja, ao desenvolvimento regional e ao meio ambiente; e, também, (b) as variáveis intervenientes, quais sejam aos setores usuários (saneamento básico, geração de energia, irrigação, uso industrial, hidronavegação, recreação e expansão, e outros).

A propósito das articulações com o desenvolvimento regional, o rebatimento fundamental tem relação com as políticas de uso e ocupação do solo, que apresentam impactos significativos sobre os corpos hídricos, especialmente no meio ambiente urbano, cuja importância é crescente frente ao processo de urbanização, ainda em marcha significativa na América do Sul.

Ainda em relação às esferas de instrumentos de gestão, cabe citar o reconhecimento de que a água tem, simultaneamente, valores ambientais, sociais e econômicos, na medida em que: (i) é um recurso natural, essencial para ecossistemas de flora e fauna; (ii) se trata de elemento fundamental a vida humana; e, (iii) constitui insumo para atividades produtivas, desde o cultivo de alimentos, passando pela geração de energia, até produtos industriais.

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Anexo 01 – Casos e Referencias Específicas

- Os casos dos estados de São Paulo e do Ceará (Brasil)

São Paulo foi o primeiro estado a aprovar uma legislação específica para a gestão de recursos hídricos (dezembro de 1991), que acabou inspirando diversas outras leis estatais, tendo como principal referencia o modo institucional desenvolvido por Francia, com base em comitês e agencias de bacias hidrográficas.

Até 1998, São Paulo seguiu na vanguarda, instalando 22 comitês em suas Unidades de Gestão de Recursos Hídricos (UGRHs), com principal suporte em aportes do Fundo Estatal de Recursos Hídricos (FEHIDRO), derivados de compensações por áreas inundadas por depósitos, pagadas por usinas de geração hidroelétrica. Todavia, o sistema paulista enfrentou uma relativa estagnação a partir de 1998, na expectativa de aprovação de Lei específica para a aplicação da cobrança pelo uso da água em rios de domínio estatal. Somente em 2005 o estado retomou sua dinâmica anterior, depois de dos novos avanços substantivos ocorridos: (a) a qualificação, pela Agencia Nacional de águas (ANA), do Consorcio Intermunicipal das bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Consorcio PCJ), como agencia executiva de esse complexo de bacias, acompanhada pelo inicio da cobrança pelo uso da água em rios federais; e, finalmente, (b) a aprovação da Lei estatal da cobrança nos rios de domínio do estado, depois de 08 anos de tramitação legislativa.

No que diz respeito ao Ceará, tanto a legislação estatal de 1993, como o inicio pioneiro da cobrança pela entrega de água bruta (1997), estão associados à continuidade empreendida ao sistema de gestão de recursos hídricos por sucessivas administrações estatais e, também, a elevada importância do suporte institucional e financeiro obtendo em seguidas operações de crédito celebradas com o BIRD. Até o presente, o Ceará continua sendo a principal referencia nacional para a gestão de recursos hídricos no semi-árido brasileiro.

De modo sintético, o modo de Ceará se caracteriza pela administração de existências de água reservados em diques, dada a escassez derivado da temporada plurianual das precipitações (de 400 a 900 mm/ano) e a elevada evapo-transpiração presente no semi-árido (por volta de 2.500 mm/ano). O processo de localização de água serve a usos múltiplos, respaldado por decisões socialmente negociadas em colegiados de usuários (p. ex., em associações de utilizadores de diques), tendo como apoio a decisão no traçado de curvas-chave (relações cota-volume) que oferecem projeções e estimativas para as disponibilidades, em horizontes de curto e médio-prazo.

O sistema também é responsável do transporte de água bruta a largas distancias, vencendo limites de bacias, rumo aos maiores centros de demanda, especialmente a Região Metropolitana de Fortaleza, onde se concentram os grandes consumos, industrial e doméstico. A cobrança pela água bruta, estabelecida no formato de tarifa por serviços de reservas, transporte e distribuição de água não potabilizada, apresenta larga diferenciação entre preços unitários: a indústria pagou valores cerca de 25 vezes superiores, caracterizando subsídio cruzado em favor do abastecimento doméstico.

O principal órgão do Sistema é a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH), instituída como uma autarquia com atribuições específicas, propiciando ganâncias de eficiência operacional e redução de custos na disponibilidade de água bruta. Entre os

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méritos observados, cabe anotar: (i) a adoção de mecanismos de negociação entre segmentos usuários, para permitir ajustes na localização de disponibilidades hídricas, para fines de aumento na eficiência de usos – setores com maior valor agregado efetuam pagos para subsidiar a redução o suspensão de atividades – irrigação, em particular – de utilizadores com menor capacidade de pago; e, (ii) a promoção do associativismo local de pequenos usuários, com vistas a facilitar os mencionados processos de negociação.

COGERH atua sobre todo o território do Estado de Ceará, na medida em que opera para além de bacias hidrográficas, mediante a interconexão de sistemas de diques e adutoras, com demandas relativas à sua operação e manutenção.

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Anexo 02 – Contribuição aos Relatos dos Grupos de Trabalho

Problemas relacionados à Mudança Climática

Na América Latina e principalmente nos países andinos, a mudança climática tem particularidades regionais marcantes. uma delas é a relação entre a variabilidade do clima e o Fenômeno do Niño, o que somado a tendência de incremento de temperaturas está provocando na atualidade alterações nos ecossistemas relacionados com fontes de água utilizadas para consumo humano, geração de energia elétrica e irrigação. Os escorrimentos mensais das bacias com baixo componente glacial estão estreitamente correlacionados com a distribuição mensal das precipitações. Em bacias com importante componente glacial os escorrimentos são mais sustenido na estação seca e fria. A variabilidade interanual destes escorrimentos depende fortemente da ocorrência dos eventos ENSO, os quais aceleram o retrocesso dos glaciais através de um aumento das temperaturas (em Bolívia, Peru e Equador) e de uma diminuição das precipitações (em Bolívia e sul do Peru).

As projeções nos cenários de mudança climático prevêem um incremento temporal dos caudais, seguido por uma diminuição drástica do volumem e regularidade dos recursos hídricos em as bacias abastecidas por glaciais. Na Cordilheira Blanca, esta diminuição poderia alcançar até 60% dentro de 100 o 200 anos.

Como processo para enfrentar os problemas, nos países andinos (Colômbia, Equador, Peru e Bolívia) se está trabalhando na identificação das medidas de adaptação frente aos impactos do mudança climático. Estas análises se realiza a través de diversas iniciativas coordenadas entre organismos governamentais, serviços Meteorológicos, universidades, empresas de Água e Eletricidade, Banco Mundial, Cooperação internacional IRD (Francia) e ouros.

Recomendações

Recomenda-se aprofundar os estudos de quantificação da disponibilidade de recursos hídricos em bacias baixo cenários de mudança climático, validação de: corridas de modos climáticos regionais e modos Precipitação-Excurrente que tomem em conta o componente glacial, modos de gestão de recursos hídricos. A validação destes modos permitirá a identificação precisa e a priorização das medidas de adaptação. É importante incorporar em todos estes estudos o componente “Dimensão Humana”. As medidas de adaptação de tipo engenharia deverão tomar em conta em seu dimensionamento o efeito da mudança climática sobre suas variáveis de desenho.

É importante melhorar as redes de observação e buscar mecanismos para garantir a sustentabilidade de operação das mesmas. É necessário atualizar os Equilíbrios Hídricos superficiais e subterrâneos em cada país.

As modificações em variáveis climáticas tais como a precipitação e temperatura, assim como a perda de superfícies glaciais poderiam provocar uma modificação na capacidade de regulação dos embases, o que pode repercutir na produção de energia elétrica. Identificou-se uma falta de previsão ambiental na construção de represas em zonas de alta vulnerabilidade, tomando em conta que o abastecimento energético gera maior pressão sobre os recursos naturais.

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Os processos identificados foram que Peru, Colômbia e Uruguai estão fomentando políticas de energia renováveis. Chile tem uma legislação onde 15% da geração total é energia renovável. Em Argentina pequenos projetos de biodigestores abastecem escolas.

Segundo a Declaração de Manizais de agosto de 2008, redigida pela comunidade científica do Grupo de Trabalho de Neves e Gelos do Programa Hidrológico Internacional (GTNH-PHILAC-UNESCO), se identificaram os seguintes problemas:

- na América do Sul, numerosos glaciais tropicais andinos de pequena magnitude desapareceram: 145 casos registrados somente na Cordilheira Blanca do Peru entre 1970 e 2003 e uma redução total de 26% da superfície glacial;

- em Equador, os inventários de 1997 e 2006 indicam uma redução de 27% ;

- em Colômbia, nos últimos dez anos a redução é de 2 a 5 % anual, enquanto que a Venezuela só ficam restos dos glaciais que ocuparam a Cordilheira de Mérida, logo da perda de 87% da superfície gelada nos últimos 50 anos;

- em Bolívia desapareceram pequenos glaciais como o Chacaltaya e há preocupação ante a perda de massa dos que aportam as fontes de água da cidade da Paz e a geração de energia hidroelétrica;

- na Cordilheira Norte e Central de Chile e Argentina os glaciais Echaurrem e Piloto, monitorados desde a década de 70 incrementaram suas perdas de massa desde 1980. Em esta zona, os glaciais e a neve estacional aportam a irrigação, que é base da economia regional;

- nos Campos de Gelo Patagônio Norte e Sul (CHPN, CHPS), que conformam a maior reserva de gelo de América Latina a taxa anual de contribuição a elevação do nível do mar em 2000-05 é mais do dobro da de 1975-2000, observando se retrocesso de mais de 10 km em vários glaciários.

Os pequenos glaciários do setor Argentino de Terra do Fogo perdem entre 0,5 e 1,0 m de densidade ao ano, com redução de superfície de 50% desde 1970, tanto que no setor chileno os mais afetados foram os situados na vertente Norte de Cordilheira Darwin.

Os processos em curso são: integração da comunidade científica glaciológica da região sul-americana compartilhando informações e experiências através do Grupo de Trabalho de Neves e Gelos (GTNH-PHI-LAC-UNESCO). Conta-se em cada país membro com centros de referencia sobre monitoramento de glaciários. Estão-se desenvolvendo em vários países projetos piloto de identificação de vulnerabilidade e impacto, assim como a implementação de programas de adaptação ao impacto da perda das superfícies glaciárias.

Recomendações

Segundo a declaração de Manizais se faz ênfases na necessidade de melhorar o entendimento dos glaciários latino-americanos, já que são fontes essenciais de recursos hídricos; tem um rol fundamental como testemunhas de mudanças climáticas no passado e como sensíveis indicadores do clima atual; o aquecimento climático provoca maiores riscos como a instabilidade em zonas de montanha; mudanças nos ecossistemas e o derretimento contribui diretamente com aumento do nível do mar em forma global.

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Os países em vias de desenvolvimento são mais vulneráveis aos efeitos negativos da mudança climática devido a sua menor capacidade de adaptação. Também se apresenta um notável desequilíbrio geográfico nos dados e literatura científica sobre mudanças observadas, com escassez nos países menos desenvolvidos, incluindo a América Latina. Portanto, é indispensável propiciar e fortalecer os estudos sobre neves e gelos a nível regional e nacional.

Frente às conseqüências da mudança climática é necessária uma maior toma de consciência por parte de todos os atores e em todos os níveis para desenvolver uma cultura de prevenção, preservação, mitigação e adaptação, considerando que os Governos devem estabelecer estratégias de caráter imediato.18

18 A informação utilizada para o material proposto foi extraída de: UNESCO, GTNH - PHI- LAC (2008); Declaração sobre Glaciais e Mudança Climático; VII Encontro de Investigadores do Grupo de Trabalho de Gelos e Neves para América Latina e Caribe, Manizais – Colômbia Agosto 2008; CAN, UNEP, IRD and AECI (2007). Is the end of snowy heights? Glaciers and Climate Change in the Andean Community. Lima 18 - Peru, General Secretariat of the Andean Community; United Nations Programme for the Environment.