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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007

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    Imagens digitais e imprensa - alteraes na produo fotojornalstica1

    Jorge Carlos Felz2Faculdade Estcio de S de Juiz de Fora (MG)

    Resumo:Hoje a fotografia digital amplamente utilizada pelos jornais e revistas impressos e,especialmente pelos novos veculos eletrnicos de comunicao baseados na internet.Este meio, por sinal to recente quanto a informatizao das redaes ou como afotografia digital, hoje responsvel por importantes mudanas na comunicao. Estetrabalho aborda a chegada da fotografia digital s redaes dos jornais brasileiros eprocura discutir as alteraes decorrentes dessa nova tecnologia, especialmente no quese refere s possibilidades de manipulao e as alteraes no olhar.

    Palavras-chave: Comunicao; Jornalismo; Fotojornalismo; Fotografia digital.

    O primeiro grande teste para a cmeras digitais utilizadas no fotojornalismo foi a

    Copa do Mundo de Futebol nos EUA em 1994. Todos os principais fabricantes de

    equipamentos aproveitaram o evento para lanar e testar suas mquinas. Entretanto,

    como ainda eram equipamentos pesados e de difcil manuseio, com pouca memria e

    qualidade final ainda reduzida, a impresso deixada pelas cmeras testadas indicava

    que a fotografia analgica (baseada em filmes e papis) ainda manteria a supremacia

    por muito tempo.Mas as cmeras digitais j vinham sendo utilizadas e testadas h um bom

    tempo. As primeiras experincias de utilizao de cmeras digitais em coberturas

    fotojornalsticas ocorreram na primeira Guerra do Golfo (1990), quando tambm se

    experimentaram dispositivos de transmisso de imagens digitais via satlite, e durante

    os Jogos Olmpicos de Barcelona, em 1992.

    Em Barcelona, a inovao tecnolgica na rea da fotografia foi uma troca de

    guarda radical, que causou um grande impacto tecnolgico. No lugar das idolatradas

    mquinas pretas Nikon, at ento soberanas no mercado profissional, desembarcaram as

    branquinhas da Canon, que saiu na frente com mquinas profissionais de foco

    automtico e sistemas digitais de captura de imagem - o que, para provas de velocidade

    1 Trabalho apresentado ao NP Jornalismo do VII Encontro dos Ncleos de Pesquisa em Comunicao.2 Jornalista, fotgrafo profissional, mestre em Comunicao pela Umesp. professor de Fotografia e webjornalismona Faculdade Estcio de S de Juiz de Fora MG. E-mail: [email protected].

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    e cobertura esportiva em geral, era uma revoluo. A partir da, fotgrafo olmpico sem

    uma branquinha passou a ser considerado de segunda classe3.

    Em 1996, a Associated Press (AP) utilizou cmeras digitais da Kodak na

    cobertura da final do SuperBowl (campeonato de futebol americano). Embora ainda

    desajeitadas, As cmeras usadas, as NC2000, resultado prtico do consrcio formado

    pela Kodak, Associated Press, Nikon e pela Canon, j indicavam que o futuro seria

    digital.

    Atualmente os fotojornalistas trabalham com modelos da Nikon e da Canon,

    como a Nikon D2Xde 12,4 Megapixels e a Canon EOS 1DS Mark II de 16,7

    Megapixels. Alm disso, com o uso de cartes de memria com maior capacidade

    armazenagem (alguns com capacidade para at 8 Gigabytes), o nmero de imagens

    capturadas sem necessidade de descarga bem maior.

    As cmeras digitais j substituram as cmeras convencionais na maioria das

    redaes, apesar do custo ainda ser elevado. A utilizao dos equipamentos digitais de

    captura e editorao de imagens tem sido facilitada, em grande parte pela substituio

    gradual dos equipamentos de impresso.

    At bem pouco tempo, jornais e revistas utilizavam sistemas onde as imagens

    deviam ser impressas sobre papel, com alta qualidade, e junto com os textos estas eram

    enviadas para as oficinas grficas para montagens de fotolitos4 (filmes) e

    posteriormente os conjuntos (pginas) eram transferidos paras as chapas de impresso

    (RIBEIRO, 2001)5. Atualmente, a grande maioria das empresas utiliza rotativas

    modernas onde as imagens e textos so enviados diretamente dos computadores de

    3 Interessante como os grandes eventos esportivos, especialmente as Olimpadas podem funcionar tambm comomarcos tecnolgicos. Nos Jogos de Moscou (1980), marcados pela ausncia dos Estados Unidos e de outros 64pases, uma mquina estranha, do tamanho de uma geladeira pequena, e que somente os franceses sabiam operar,fazia sua estria no Centro de Imprensa. Atendia pelo nome de telefax, reproduzia e transmitia instantaneamentepginas inteiras de texto ou imagem para quem tivesse mquina semelhante na outra ponta. Foi a ltima vez, numaOlimpada, que uma tecnologia nova ficou restrita a meia dzia de usurios. Todos os outros jornalistas continuaramtransmitindo textos por telex e despachando fotos por malote. J em Los Angeles (1984), naquela que foi a primeiraOlimpada informatizada, todos os jornalistas credenciados foram apresentados a terminais espalhados por toda parte.Eram terminais burros, que apenas davam acesso a um banco de dados com resultados de provas e biografias deatletas, alm de uma senha individual para troca de mensagens com o resto da famlia olmpica. Esse primeiro contatocom a vida eletrnica escancarou o abismo entre mundos tecnologicamente distantes: boa parte dos jornalistas vindosde pases abaixo da linha do Equador se intimidou com a ferramenta nova e no a usou. Em Seul (1988) o mapa doanalfabetismo digital foi constrangedor. Primeira Olimpada a testar linhas telefnicas dedicadas para transmisso dedados, ela foi coberta por duas tribos de jornalistas - a dos datilgrafos, que ainda trabalhavam com papel,mquinas de escrever e transmisso por telex, e a dos sem papel, que operavam a sua primeira gerao decomputadores pessoais primitivos. Dado o estado ainda embrionrio da tecnologia digital, nem sempre os segundosderrotaram os primeiros em velocidade. Mas ficou claro que era uma revoluo sem volta (Cf.:O Globo, suplementode Informtica, 24 de abril de 2004).4 Diz-se do negativo ou diapositivo fotogrfico utilizado para a gravao da imagem no fotolito ou na chapa. In:http://www.guiadografico.com.br/glossario_e_f.htm#f.5 RIBEIRO, Milton. Planejamento visual grfico. 3a edio. Braslia: Linha Grfica, 2001.

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    editorao para as chapas impressoras, atravs de feixes de laser, sem que sejam

    utilizados os velhos fotolitos.

    Apesar do processo digital para captao e edio das imagens j estar bastante

    avanado, ainda existem locais onde o processamento se d de forma convencional,

    com os filmes sendo revelados e ampliados manual ou automaticamente e depois

    levados para a grfica para separao de cores (fotografia em cores) ou, no caso das

    fotografias em preto-e-branco, para a transformao da imagem em retcula de meio-

    tom utilizando-se um processo chamado de PMT6. Tambm so empregados processos

    mistos, isto , o processo inicia-se como analgico, com as imagens capturadas em

    filme fotogrfico por cmeras convencionais e posteriormente, passa-se para o meio

    digital, com os negativos sendo copiados atravs de scanner para negativos.

    A tecnologia digital nas redaes brasileiras

    No Brasil, as cmeras digitais j esto presentes h muito tempo no dia-a-dia

    das equipes de fotojornalistas dos grandes jornais dirios e revistas semanais de

    informao. A Folha de S. Paulo, por exemplo, vem testando modelos de cmeras

    digitais desde 1992.

    O processo de informatizao dos jornais um pouco mais antigo. As primeiras

    redaes informatizadas de jornais brasileiros comearam a ser implantadas a partir de

    19857. O primeiro jornal a montar uma redao totalmente informatizada, foi o Dirio

    de Canoas, cidade vizinha a Porto Alegre, em 19838.

    Embora inicialmente restrita aos profissionais do texto, essa tecnologia acabou

    por acarretar profundas alteraes no cotidiano de todos os profissionais envolvidos na

    produo dos jornais. Os jornalistas tiveram que se adaptar a uma nova realidade

    profissional: a exigncia de maior qualificao, a especializao crescente, as

    6 PMT a abreviao de photomechanical transfer (transferncia fotomecnica), processo pelo qual uma imagemfotogrfica transformada em micro pontos para que os tons de cinza de uma foto PB - ou de cada uma das coresbsicas usadas para imprimir imagens coloridas possam ser impressos em impressoras do tipo rotativa. Os micropontos so maiores nas reas onde a fotografia mais escura e menores nas zonas mais claras da imagem. In: Pginado Artista Grfico: http://www.digram.net/pagina4_defin_P.htm.7 Neste perodo, os usurios de microcomputadores podiam contar com o Macintosh que derivava de umcomputador chamado LISA, o primeiro a possuir uma interface grfica e com o recm-lanado, IBM PC-AT. OMacintosh, fora criado em 1984 para ser um Lisa para se ter em casa e a Apple obteve um sucesso estrondoso comsua mquina. A IBM lanou o seu IBM PC AT (Advanced Technology) no mesmo ano em que a Apple lana o seuMacintosh e, logicamente, a Microsoft lana novas verses de seu MS-DOS, a 3.0 e a 3.1. Baseado agora nomicroprocessador de 16 bits reais, o 80286, a IBM conseguiu projetar um microcomputador que operasse compalavras de 16 bits tanto interna como externamente, sem perder a compatibilidade com os perifricos e circuitos deapoio j existentes. Embora o Mac da Apple fosse muito superior mquina desenvolvida pela IBM, a possibilidadede produo do projeto da IBM por outros fabricantes foi decisiva para a supremacia de mercado e de tecnologia por

    esse padro de mquina . No Brasil, a grande maioria das redaes, desde o incio, operam com computadores nopadro IBM PC. In: http://www.comp.ufla.br/~monserrat/icc/Historia2.html. Acessado em 12 de setembro de 2004.8 Conforme: http://www.gruposinos.com.br . Acessado em 12 de setembro de 2004.

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    No caso das revistas de informao semanal, onde o tempo de produo

    sempre mais dilatado e as fotografias podem ser melhor trabalhadas, a tecnologia digital

    ainda menos empregada. A revista poca, criada pela Editora Globo em 1998,

    quando as cmeras digitais j despontavam no mercado, ainda hoje quase no emprega

    imagens digitais. Quando de sua implantao, os responsveis pela equipe de

    fotografia preferiram apostar na aquisio de equipamentos convencionais

    (MEDITSCH, apud GIACOMELLI, 2000)15. Segundo Meditsch (2000), editor

    executivo da revista e responsvel pela montagem da equipe de fotografia, essa escolha

    ocorreu devido a necessidade de obter imagens com alta qualidade final pois a revista

    era impressa em papel de melhor qualidade e gramatura16, o que evidenciaria a ainda

    baixa qualidade dos equipamentos digitais.

    Entretanto, todas as imagens utilizadas pela imprensa passam por algum tipo de

    processamento digital. A grande maioria dos jornais e revistas publicados atualmente

    so produzidos em computadores com o emprego de softwares de editorao de textos e

    de imagens o que, sem dvida, pode ser traduzido em maior eficincia e rapidez na

    preparao dos layouts das pginas e fechamento das edies dirias. Hoje, tornou-se

    comum, nas grandes cidades brasileiras, a distribuio e venda das edies dominicais

    ainda no final da tarde de sbado.

    Alteraes nas rotinas de trabalho

    A partir do final da dcada de 1990, com os softwares de editorao e edio de

    imagens, scanners (digitalizadores) e cmeras digitais, tornando-se comuns nas

    redaes e departamentos de diagramao, percebe-se uma valorizao das equipes de

    arte em geral. A prpria denominao da funo mudou, com o diagramador virando

    designer ou diretor de arte e o exerccio dessa funo tambm se alterou, requerendo

    novas habilidades e conhecimentos para o manuseio do aparato tecnolgico.

    Um exemplo dessas transformaes pode ser visto no jornal ValorEconmico, criado em 2000. Fruto da parceria entre asEmpresas Folha daManh (Folha de S. Paulo) e Organizaes O Globo ( jornal O Globo/ TVGlobo) para ser o concorrente direto do jornal Gazeta Mercantil, jornaltradicional no mundo dos negcios e com um layout conservador e sem usode fotografias. O Valor Econmico, para fazer frente e buscar insero nomercado, nasce como um design arrojado, com um editor de fotografia quevem do campo das artes (designer) e com todas as imagens j produzidas emmeio digital (BATISTA, 2001)17.

    15 MEDITSCHI, Jorge. Entrevista apud GIACOMELLI, Ivan Luiz. Impacto da fotografia digital no fotojornalismodirio: um estudo de caso. Dissertao de mestrado. Florianpolis: UFSC, 2000.16 Valor que exprime o peso, em gramas, de uma folha com um metro quadrado de um determinado papel.17 BATISTA, Eugnio Svio Lessa. Fotojornalismo digital no Brasil: a imagem na imprensa da era ps-fotogrfica.Dissertao de mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.

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    para novas impresses ou para permitir (re)construes e manipulaes, embora exija

    sistemas de arquivo muito maiores e seguros.

    O processo , na verdade, um pouco mais complexo. Embora o formato JPEG

    permita imagens de boa resoluo para a visualizao na web ou at mesmo para uma

    impresso em pequeno formato, no o ideal para a captura de imagens de uso

    profissional na imprensa. A compresso do JPEG causa perdas que no podem ser

    recuperadas.

    Da mesma forma, sucessivos comandos de gravao causam sucessivas perdas.

    A cada gravao um pouco da imagem perdido definitivamente, e isso um fator

    muito srio. O grau de perda, no entanto, parametrizvel. Isto , possvel sabermos

    o quando de perda teremos em cada cpia da imagem realizada. Quando um programa

    qualquer nos pergunta em que qualidade queremos gravar o arquivo ele est, na

    realidade, definindo sua taxa de compresso. Quanto maior a compresso, menor o

    espao usado pela foto, maiores as perdas e menor a qualidade final. Dessa forma, os

    fotojornalistas no costumam capturar as imagens diretamente em JPEG, a no ser que

    essas imagens devam ser empregadas exclusivamente na web. Como rotina a

    distribuio da mesma imagem para diferentes mdias, o reprter fotogrfico emprega

    um formato de arquivo chamado deRAW.

    Arquivos RAW so arquivos proprietrios (Adobe) que armazenam os pixels de

    uma imagem exatamente como eles foram capturados pelo sensor digital da mquina.

    So uma espcie de negativo digital. Como no sofrem processamento de nenhuma

    espcie, no h aplicao de sharpening22, contraste, saturao. Nem o balano de

    branco definido para arquivos RAW o que, para muitos, o grande benefcio do

    formato.

    Os arquivos quando criados neste formato, permitem que se faa pequenos

    ajustes na exposio da imagem, em geral em torno de um ponto de exposio. possvel, com isso, recuperar detalhes nas altas ou baixas luzes que seriam perdidos

    caso a imagem fosse salva como JPEG ou TIFF. No entanto, trabalhar com arquivos

    RAW toma mais tempo e exige maior ateno por parte do fotgrafo, bem como

    consome mais espao para arquivo.

    imagem gerada no formato TIFF convertida para formato JPG, automaticamente cair para 8 bits e no pode voltaraos 16 bits.22Sharpening: formatar; modelar, ajustar contorno. Enquadrar.

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    A captura de imagens em arquivos RAW, exige que o fotojornalista, aps a

    tomada das imagens, transfira os arquivos para o computador porttil ou da redao

    usando algum programa capaz de manipular arquivos RAW, e que trate a imagem

    definindo o balano de branco, ajustes de exposio, saturao, contraste e sharpening.

    Aps essa edio inicial, a imagem deve ser salva como TIFF, em 16 bits. Esta ser a

    imagem original que enviada para a redao, para os arquivos de originais e que ser

    editada para incluso na verso online ou na verso impressa do jornal.

    Na redao, se for necessrio, a imagem passar por outra edio ou tratamento,

    com o emprego de um programa de edio de imagens como o Adobe Photoshop. Essa

    cpia, manipulada ento salva, ainda em formato TIFF de 16bits, mas com outro

    nome. A imagem ento enviada nesse formato para impresso nas oficinas grficas.

    feita uma segunda cpia emJPEG para uso na web e para o banco de dados.

    O mtodo de trabalho tambm se altera com o emprego da tecnologia digital. O

    editor de fotografia do jornal Dirio Catarinense, Jurandir Silveira (1999), ainda se

    espanta com a velocidade em se alterou a tecnologia. Embora a jornal tivesse adquirido

    um transmissor de fotos via satlite em 1995, menos de quatro anos depois, embora o

    aparelho funcionasse corretamente j no podia mais ser usado. Porque no se

    fabricam mais e nem existe sistemas de recepo para ele. Se antes uma mquina levava

    30 anos para virar pea de museu, hoje, esse tempo no de mais do que alguns poucos

    anos (SILVEIRA In REVISTA PHOTOS, 1999)23.

    O prprio Silveira porm, admite que os novos equipamentos aumentaram a

    eficincia e simplificaram o trabalho dos fotojornalistas. Em 1978, para cobrir a Copa

    do Mundo na Argentina, ele recorda que foi preciso transportar para o pas vizinho

    mais de 100 quilos de equipamentos s para montar um pequeno laboratrio de

    fotografia. Para que as fotografias pudessem ser reveladas foi preciso levar, alm das

    cmeras, dois ampliadores, produtos qumicos e vrias caixas de papel fotogrfico. E,depois de reveladas, as fotos ainda precisavam ser enviadas por telefoto para a redao

    em Florianpolis, o que demorava quase uma hora (SILVEIRA In REVISTA

    PHOTOS, 1999)24.

    Se antes o fotgrafo ia a campo para cumprir uma pauta com uma cmera, um

    conjunto de objetivas e muitos rolos de filme, agora, depois de fazer a pauta junto com

    23 SILVEIRA, Jurandir. Entrevista concedida revista Photos. maio de 1999. Disponvel em.http://www.photos.com.br.24 Idem.

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    o editor de fotografia, ele parte com uma cmera digital, vrios cartes de memria25,

    um telefone celular e um notebook ou um palmtop26 equipado com um software de

    edio de imagens e outro para transmisso de dados. Este ltimo, pelo reduzido

    tamanho e peso, tem se tornado a opo ideal (ALVES, 2003)27.

    Aps a captura das imagens, e a transferncia dos arquivos para o notebookou o

    palmtop, o fotgrafo, segundo Alves (2000), precisa manipula-la minimamente,

    clareando ou escurecendo e reduzindo o rudo na imagem como uso de um filtro (a

    imagem digital tem um padro de rudo, que parece gro de filme). Depois dessas

    correes, as fotografias so transmitidas via telefone celular utilizando um programa

    de transmisso de dados, como o FTP ( file transfer protocol), que usa a internet ou o

    Zmodem (que conecta direto dois computadores). Atualmente a Folha de S. Paulo conta

    com um novo padro, que opera numa base Unix, que associa as duas formas de envio

    (FTP e Zmodem) e permite que as imagens estejam disponveis imediatamente a todos

    os setores, via sistema de arquivos de imagens (Digicol). Entretanto,

    estas imagens no podem ser acessadas livremente por todos os diferentessetores da redao. Aps a chegada das imagens, o editor de fotografia asdistribui entre as diferentes editorias. Dessa forma, imagens de esporte spodem ser visualizadas pela equipe de esportes que no poder, porexemplo, acessar imagens da editoria de poltica (ALVES, 2000) 28.

    Outra alterao importante a forma correta de identificao de cada imagemproduzida. Cada imagem precisa receber uma identificao de acordo com os padres

    estabelecidos pelo IPTC International Press Telecommication Council. Alm das

    legendas, dados tcnicos do equipamento, local e sujeitos presentes na imagem, o

    fotgrafo deve criar corretamente palavras-chave para facilitar posteriormente o

    trabalho de arquivamento e de pesquisa.

    No caso da Folha isso facilitado no apenas pelos softwares de aquisio earquivamento de imagens hoje utilizados, mas tambm pelas prprias

    cmeras digitais que gravam, nos arquivos originais, dados que no podemser alterados, como o nmero de srie da mquina que fez, capturou aimagem, data e tipo de objetiva utilizada. Para questes legais relativas aodireito autoral, essas informaes so muito importantes (ALVES, 2000)29.

    25 Os cartes de memria funcionam como unidades portteis e cambiveis para armazenagem das imagens, funoantes exercida pelos filmes fotogrficos. Embora se diga que os cartes de memria (regravveis) possam serutilizados vrias vezes, na prtica, percebe-se que a vida til desses cartes bem inferior ao especificado pelosfabricantes.26 Palmtops: so equipamentos portteis do tamanho de uma agenda eletrnica grande e permitem uma imensa gamade opes tanto em software como em multimdia .27 ALVES, Ormuzd. Palmtop dispensa notebook e envia imagens via celular. Folha de S. Paulo. Caderno de

    Informtica. 23/04/2003. Disponvel em : http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u12763.shtml.28 ALVES, Ormuzd. Op. Cit. 2000.29 Idem.

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    Para Evandro Teixeira (2004), reprter fotogrfico do Jornal do Brasil, os

    equipamentos digitais trazem muitas vantagens para as redaes, especialmente quanto

    se est trabalhando fora da sede do jornal. O ponto negativo que todo mundo se

    tornou fotgrafo e os e-mails das redaes esto cheios de fotografia sem qualidade.

    Embora seja totalmente contra seu emprego, Teixeira acha que o emprego das

    ferramentas de edio, como o Photoshop, do uma liberdade de criao e manipulao

    das imagens sem precedentes.

    Para Sousa (2000), a adoo da tecnologia digital pela mdia, especialmente

    pelos jornais dirios irreversvel. A tecnologia no campo da imagem digital tem

    avanado rapidamente e as vantagens tcnicas e econmicas so maiores do que as

    possveis desvantagens. As novas tecnologias digitais transformam as imagens, antes

    formadas por pontos impressos pela luz sobre uma superfcie, em pulsos eletrnicos.

    Isso torna possvel armazenar as imagens e manipul-las como nunca se pensou30.

    O editor de fotografia de O Globo, Alexandre Sassaki (2004), acha que a

    cmera digital tambm trouxe uma mudana radical no dia-a-dia dos profissionais.

    Por incrvel que parea, os fotgrafos so unnimes ao declarar que, hoje,gastam mais tempo trabalhando numa imagem, j que ela sai da cmeradigital e, na maior parte das vezes, passa por uma maquiagem no AdobePhotoshop, ou em algum outro programa de tratamento de imagens. Hoje,para trabalhar com foto, um bom conhecimento de Photoshop fundamental. Para ele, deve-se pensar a imagem digital como umarevoluo do software. Mais do que nunca, devemos nos aproximar dainformtica e entender a cmera digital como hardware. Daqui para a frenteo que vai definir a fotografia digital no ser mais a quantidade demegapixels de uma cmera (SASSAKI, 2004)31.

    No fotojornalismo, a principal vantagem do emprego da imagem digital a

    rapidez com que as fotos ficam prontas. Aps a captura das imagens, estas podem ser

    enviadas rapidamente para a redao ou serem armazenadas em discos para posterior

    tratamento. Se o equipamento de captao (cmera) for digital, basta transferir o arquivoda mquina para os computadores de edio, na redao. Se a cmera for convencional,

    revela-se o filme e o negativo pode ser escaneado para se transformar em arquivo

    digital.

    Especialmente nos jornais dirios, onde a velocidade item fundamental, com os

    prazos de fechamento cada vez mais apertados, a possibilidade de obter imagens

    rapidamente um fator capaz de fazer a diferena. Alm disso, caso seja preciso a

    30 SOUSA, Jorge Pedro. Histria crtica do fotojornalismo ocidental. Chapec: Grifos, 2000. P 212.31 SASSAKI, Alexandre. Mudana de atitude. In: Caderno Especial Fotografia Digital. O Globo. Rio de Janeiro:30 de abril de 2004.

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    reproduo dessas imagens, cada cpia poder ser reproduzida como se fosse um

    original, pois no h perda de qualidade. Como lembra Sousa,

    assim como a fotografia tradicional se diferencia da pintura, a imagemdigital difere da fotografia tradicional quanto realidade fsica. Enquanto a

    fotografia tradicional vive de processos analgicos e contnuos, a imagemdigital uma realidade codificada em um cdigo de zero e um (0/1),subdivida numa grade de clulas, os pixels. A imagem digital pode serrepetida ao infinito sem perda de qualidade, mas tambm fcil erapidamente manipulvel atravs da substituio de dgitos no cdigo binrioque a sustenta (SOUSA, 2000)32.

    Giacomelli (2000) afirma que uma outra grande vantagem apontada pelos

    fotojornalistas e pelos editores a possibilidade do profissional verificar no ato da

    captura da imagem, atravs da tela de cristal lquido, como ficou a imagem e, se a

    imagem no ficar boa ou o enquadramento no ficou perfeito, o reprter pode eliminaraquele arquivo e repetir a tomada, at acertar (GIACOMELLI, 2000, p. 62)33. Se de

    um lado, isso elimina os problemas que ocorriam anteriormente com os filmes

    fotogrficos, que precisavam ser revelados para se ter certeza do que foi fotografado,

    por outro, como lembra Kossoy (2004), tambm nos leva a um processo de

    manipulao at ento no imaginado.

    Agora, alm de todos os elementos j conhecidos, que podiam exercer suafora de censura sobre a notcia, o prprio fotgrafo poder, caso no tenha

    obtido o resultado desejado, eliminar imediatamente as imagens registradas.O ato de fotografar ser, cada vez, mais um ato seletivo de parte da realidadeem se inscreve o fato presenciado pelo reprter (KOSSOY, 2004)34.

    Rodowick (2003)35, por sua vez, afirma que as distines entre os processos

    analgico e digital, do a este ltimo, uma srie de vantagens importantes capazes de

    alterarem o prprio modo de ver o mundo.

    Alteraes conceituais decorrentes da tecnologia digitalA alteraes decorrentes da utilizao da nova tecnologia digital no afetam

    apenas as estruturas fsicas dos jornais e, em especial, das editorias de fotografia. Os

    prprios conceitos e tcnicas fotojornalsticas acabam, necessariamente, sofrendo

    revises para se adaptarem nova forma de fotografar.

    Muitos conceitos de linguagem atualmente empregados, como os de

    composio e de enquadramento, levam em considerao o formato da imagem obtida

    32 Idem. P. 214.33 GIACOMELLI, Ivan Luiz. Impacto da fotografia digital no fotojornalismo dirio: um estudo de caso.Dissertao de mestrado. Florianpolis: UFSC, 2000 p.62.34 KOSSOY, Bris. Mdia: memria, esquecimento e censura. Conferncia (mesa 4) - XXVII Ciclo de Estudos

    Interdisciplinares da Comunicao. XXVII congresso da Intercom. Poro Alegre: PUCRS, 2004.35 RODOWICK, David. Cinematic to digital culture . London: Centre for Computing in the Humanities (CCH),School of Humanities, King's College, 2003. In: http://www.kcl.ac.uk/humanities/cch/filmstudies/courses/CDC/.

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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007

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    GIACOMELLI, Ivan Luiz. Impacto da fotografia digital no fotojornalismo dirio: umestudo de caso. Dissertao de mestrado. Florianpolis: UFSC, 2000 p.62.

    KOSSOY, Bris. Mdia: memria, esquecimento e censura. Conferncia (mesa 4) - XXVIICiclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicao. XXVII congresso da Intercom. PoroAlegre: PUCRS, 2004.

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