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Ano IV - N.°11 - 21 Março/21Dez. 2004 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído Espigueiro: Recriação da Desfolhada Entrevista: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional paga pela associação dos amigos do parque

Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

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Page 1: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Ano IV - N.° 11 - 21 Março/21Dez. 2004 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído

Espigueiro: Recriação da DesfolhadaEntrevista: Fotografia da Natureza

Educação: Encontro Nacional

paga pela

associação

dos amigos

do parque

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Sum

ário

10 Quinteiro: Ninhos — Berços de vida

No buraquito de um muro ou na areia, numaárvore ou numa manjedoura, num tronco àborda do rio ou em ninhos de madeira no seujardim, o engenho natural das aves temencantos renovados. Os ninhos despontam na Primavera e ensaiam osprimeiros passos da vida

20 Evento: Encontro Nacional de EducaçãoAmbiental

Castelo de Vide acolheu entre 2 e 5 de Outubro o XVEncontro Nacional de Educação Ambiental: alteraçõesclimáticas e ecoturismo foram o tema central!

22 Entrevista: João Luís Teixeira —Fotografia da Natureza

A revelação do Salão de Fotografia daNatureza do Parque Biológico de Gaia doano passado explica o que pensa desta arte.Abordam-se questões das mais diversas:qual a melhor época para fotografar? É importante ter conhe-cimentos sobre os motivos da fotografia? E os equipamentos digitais eanalógicos, quais se devem preferir?

Revista“Parque Biológico”

DirectorNuno Gomes Oliveira

EditorJorge Gomes

TextosRedacção

FotografiasArquivo Fotográfico do Parque Biológicode Gaia, E. M.

RevisãoFernando Pereira

MaquetagemORGALimpressores

PropriedadeParque Biológico de Gaia, E. M.

Pessoa colectiva504888773

Tiragem5000 exemplares

ISSN1645-2607

N.º Registo no I.C.S.123937

Dep. Legal170787/01

Execução GráficaORGALimpressoresRua do Godim, 2724300-236 Porto

Administração e RedacçãoParque Biológico de Gaia, E. M.Estrada Nacional 2224430-757 AVINTES – PortugalTelefone: 22 7878120E-mail: [email protected]ágina na internet:http://www.parquebiologico.pt

Conselho de AdministraçãoLuís Filipe MenezesNelson CardosoNuno Gomes Oliveira

Ano IV - N.° 11 - 21 Março/21Dez. 2004 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído

Espigueiro: Recriação da DesfolhadaEntrevista: Fotografia da Natureza

Educação: Encontro Nacional

paga pela

associação

dos amigos

do parque

Fich

a Té

cnic

a

SecçõesVer e Falar: O Leitor escreve 5Breves 7Colectivismo: Associação dos Amigos do Parque Biológico 8Quinteiro: Jardim cheio de passarada 12Habitat: Dunas cinzentas 14Flora: Perpétua-das-areias 15Fauna: O dragão das dunas 16Investigar: Mergulhos no invisível 18Espigueiro: Acontece no Parque 24Arboricultura: A árvore e a arte têxtil 40Actualidade: A floresta negra 41Arquitectura: Bioconstrução e arquitectura tradicional 42Cultivar: Agricultura biológica 44Parágrafo 45Infância: O rabirruivo Rafa 46Foto da Estação: Pirilampo 48

O site do Parque Biológico de Gaia e o da revista «PARQUEBIOLÓGICO» estão em plena reforma. Em breve de novovoltam ao mundo da internet renovados. Também os e--mails já são outros! Anote o novo e-mail da revista«PARQUE BIOLÓGICO»: [email protected]

FOTO DA CAPA

Foto de Jorge Gomes. Recriação da Desfo-lhada no Parque Biológico de Gaia, noOutono de 2004: alguém encontrou omilho-rei!

Page 3: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 3

e d i t o r i a l

OS INCÊNDIOS FLORESTAIS... O país voltou a arder,desta vez com forte incidência no Norte. Aqui noParque viveram-se momentos de tensão, particular-mente na popular Noite de S. João: 27 balões a ardercaíram na área do Parque, e só não houve consequên-cias devido à presença de muitos funcionários e aofacto da noite estar húmida.

E OS BALÕES DE S. JOÃO... Com todo o respeito pelatradição, não compreendemos como é possível conti-nuar a lançar autênticos engenhos incendiários, comosão os balões de S. João. No passado, aquecidos comuma mecha de desperdícios embebida em petróleo ouálcool, normalmente apagavam-se ao cair; hoje, muni-dos de uma resistente “acendalha” das usadas naslareiras, os balões caem e continuam a arder!

UM VERÃO SECO... O ano extremamente seco foialtamente prejudicial para a vegetação, mesmo para avegetação espontânea, havendo a registar a morte demuitas árvores plantadas em anos recentes.

Mau presságio, este ano, pela primeira vez, algumasaves migradoras trans-sharianas, como o Cuco e aPoupa, não apareceram no Parque Biológico.

Em contrapartida, as Garças-reais ficaram por cá oVerão inteiro, os Gaviões e Açores foram presençaregular e os Pirilampos deram luz às noites de Junho,algumas das quais o Parque esteve aberto e recebeumais de 500 visitantes.

A CAÇA... Mas as aves que se cuidem: um caçador fur-tivo costuma rondar as matas a sul do Parque e, esteano, já abateu pelo menos uma Garça-real que acaboupor vir, em voo, cair no Parque e aqui morrer. Apesar daperseguição que a GNR e a Polícia Florestal já lhemoveram, ainda não foi possível deter este energúme-no que se entretém a abater a pouca fauna que restana região.

O ICN... Fauna que nós persistimos em conservar,mesmo sem o apoio de quem mais o devia dar, oInstituto de Conservação da Natureza que, há mais deum ano, não toma uma decisão sobre o protocolo jáassinado com o IBAMA (Instituto Brasileiro do MeioAmbiente), para devolver ao Brasil algumas aves apre-endidas, que não estão a fazer nada no ParqueBiológico, e poderiam, do outro lado do Atlântico, serúteis para a Conservação da Natureza.

O MELHOR ZOO DE PORTUGAL... e por falar em ani-mais, recordamos a polémica instalada nos jornais

sobre o “melhor zoo” de Portugal, na sequência de umestudo feito pelo Eurogroup for Animal Welfare, para aDirecção-Geral de Veterinária. Não se tratava, natural-mente, de um concurso, mas apenas de verificar se oszoos cumpriam, melhor ou pior, a directiva comunitá-ria e a lei nacional sobre a matéria. E lá que era oParque Biológico quem melhor cumpria, disso não res-tam dúvidas!

E ALGUMA CONFUSÃO NA LEI DOS ZOOS... a lei quepassa a reger a detenção de fauna selvagem em par-ques zoológicos (Decreto-lei n.º 59/2003 de 1 de Abril)foi em boa hora publicada, na sequência de um pro-cesso de elaboração promovido pela Direcção-Geral deVeterinária, de forma extremamente transparente eparticipada, caso raro na Administração Pública portu-guesa e que, por isso, sempre temos elogiado. Isso nãoquer dizer que, publicada a lei, e iniciada a sua aplica-ção, não comecem a surgir problemas que importaresolver em futura revisão. É o caso da confusão entreparques zoológicos, aquários, “safaris”, etc. A lei deveregulamentar “colecções de animais” e não impor umestatuto ao local; assim, já não haveria a confusão “domelhor zoo de Portugal”. A lei deve, também, e comurgência, incluir as colecções privadas de fauna (queaumentam constantemente de número), e as exposi-ções temporárias, na generalidade, de péssima quali-dade educativa.

OS PRIVILÉGIOS DO ORÇAMENTO DE ESTADO... OOrçamento de Estado para 2005 prevê, no seu art.º 6.º,autorizações de transferência de verbas para determi-nadas entidades (pág. 119).

Mais um Verão tristepara a Natureza

Gansos-patolas no Parque Biológico de Gaia

Page 4: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Entre elas, figura a Sociedade Anónima do JardimZoológico e de Aclimatação em Portugal (ao que cons-ta, parcialmente adquirida pela espanhola El CorteInglês), a que são destinados e874,098.00; nada con-tra esta transferência, nem nada contra o Zoo deLisboa. Mas... só existe o Zoo de Lisboa? Parte dessasverbas serão transferidas ao abrigo de um “Programade Apoio a Instituições Ligadas à EducaçãoAmbiental”, dos Ministérios da Educação e doAmbiente. Que programa é esse? Como pode o ParqueBiológico ter-lhe acesso? Perguntas que já fizemos,sem qualquer resposta!

O INSTITUTO DE ESTRADAS... quer que o ParqueBiológico retire a sinalização que tem nos seus aces-sos, nomeadamente na EN 222, e a substitua por sim-ples placas a dizerem “parque” e com o logótipo deparque de merendas. Curiosamente foi a JuntaAutónoma das Estradas (antecessora do Instituto deEstradas) que colocou essa sinalização.

O PARQUE MUNICIPAL DA LAVANDEIRA... está a serconstruído pelo Parque Biológico, e será mais um par-que público de Gaia, especialmente vocacionado parao lazer; como disse o Senhor Presidente da Câmara, emrecente conferência de imprensa (ver, nesta revista,página 39), “o Parque Biológico começa a ter filhos”.

O PARQUE BIOLÓGICO PROCURA PARCERIAS PARACRESCER... A Câmara Municipal de Gaia não esqueceuo objectivo de ampliação do Parque Biológico dosactuais 35 hectares para cerca de 50. No entanto, asituação financeira generalizada impede uma opera-ção de compra de terrenos desta envergadura. Por isso,a Câmara admite (ver conferência de imprensa já refe-rida) uma parceria com privados, que estejam interes-sados em investir nas margens do Parque; estamos, já,a elaborar um eventual modelo para essa parceria, e aprocurar potenciais parceiros.

A REVISTA “PARQUE BIOLÓGICO”... atrasou-se!Razões financeiras ditaram algum abrandamento noritmo de publicação. Esperamos que a situação se nãorepita.

A EMPRESA MUNICIPAL... continua de boa saúde,provando ter sido uma opção acertada da CâmaraMunicipal para o modelo de gestão do ParqueBiológico. O primeiro semestre de 2004 foi encerradocom resultados positivos de cerca de e60.000. Noentanto, quem percebe de contabilidade sabe que istocorresponde ao “valor” da empresa e não às suas reaisdisponibilidades financeiras, complicadas, neste tempode crise. Entretanto, o Conselho de Administração daEmpresa Municipal passou, desde Julho, a ter um novopresidente, o Dr. Luís Filipe Menezes: bem-vindo abordo!

e d i t o r i a l

4 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

Texto: Nuno Gomes Oliveira

No Outono os cogumelos brotam da terra, aqui no início do percurso de descoberta da naturezado Parque Biológico de Gaia

Page 5: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

v e r e f a l a r

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 5

Boa tarde. Li na vossa revista umartigo sobre libertação de águias.Como acho que isso é uma das coisasmais bonitas que o ser humano écapaz de fazer, a contrastar com oscaçadores que disparam contra tudo.

Gostava de saber se fazem isso pe-riodicamente, se posso levar os meusfilhos a assistir a uma dessas coisas.Obrigada.

Maria Teresa

21/05/2004

Nem sempre é fácil prever com in-falibilidade qual a data em que sedeve soltar espécimes recuperados.Isso é o resultado final de um pro-cesso mais complexo do que parece.

Primeiro há que analisar quais asrazões de entrada desses animais.

A entrada de águias e de outrosbichos no Parque Biológico de Gaiadá-se por apreensão pelas autorida-des que as localizam em cativeiro ouporque alguém ia, por exemplo, apassear na praia e viu uma torda-mergulheira debilitada, já sem for-ças para fugir, na rebentação.

O tempo que medeia entre a cap-tura e os cuidados de saúde que oParque proporciona são fundamen-tais na recuperação. Se os animaisvêm de cativeiro, há que verificar seestão de saúde. Caso não estejam,são tratados. Depois, é necessárioverificar se sabem alimentar-sepelos seus próprios meios; com fre-quência, não sabem sequer caçar,pois sendo pilhados dos ninhos, ali-mentados pelo homem, não sabemcomo sobreviver. Soltar animais nes-tas condições equivale a matá-los.

Se as águias que chegam à clínicado Parque Biológico não vêm decativeiro, mas estão doentes e, ape-sar de tudo, reagem bem ao trata-mento, há um primeiro passo que édado da melhor maneira. Aindaassim não chega: é imperioso quesejam observados em termos decomportamento, sejam desparasita-dos, entre outros procedimentos.

E, por fim, isto interessar-lhe-ámais, por regra: os animais em con-dições de serem libertados entreterem público e não terem, preferemcom certeza não ter...

Em todo o caso, ficamos com o seucontacto e, estando prevista umnova libertação com público, avisá--la-emos via e-mail.�

A liberdade das águiasUma das mensagens mais interessantes que recebemos fala da libertação de águias

Libertação de águias-de-asa-redonda no Parque Biológico de Gaia em 2003.12.12

Page 6: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

FICHA DE ASSINANTEFICHA DE ASSINANTE

Pode receber em sua casa a revista «Parque Biológico» através de dois processos:

1) enviando o seu pedido de admissão de sócio à Associação dos Amigos do Parque Biológico ou então:

2) fazendo-se assinante desta Revista pela quantia de 7.5 euros por ano, preenchendo e enviando esta ficha:

Nome:

Morada:

Telefone: N.º contribuinte:

Junto envio 7.5 euros para pagamento de uma assinatura anual da revista «Parque Biológico». Enviar para: Parque Biológico – 4430-757 Avintes

ASSINATURA:

A Loja do Campo, agora junto à Recepção do Parque Biológico,aguarda pela sua visita.O Parque possui também um horto, onde os visitantes podemadquirir plantas e árvores. Telefone: 227878120

Assine a revista “Parque Biológico”

Loja do Campo

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b r e v e s

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 7

CURSO DE INICIAÇÃO À IDENTIFICAÇÃO DE AVESAQUÁTICAS E OUTROS

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA)escolheu o Estuário do Tejo para, em 4 e 5 deDezembro, organizar um curso de identificação de avesaquáticas. O formador é Pedro Afonso Henriques.Serão focados aspectos da biologia e ecologia das avesaquáticas, a sua importância mundial, entre muitosoutros itens, ilustrados por saídas de campo.

Outra actividade prevista pela SPEA, esta para 30 e 31de Outubro, é um Curso de Digiscoping (fotografia danatureza). O formador será José Viana e o materialcom que os interessados se devem apetrechar consisteem máquinas fotográficas digitais (máquinas reco-mendadas – Nikon Coolpix – modelos 990, 995 ou4500), telescópios e computadores portáteis.

A mesma associação é responsável, em 13 e 14Novembro, por um outro Curso, este de Observação deAves, ministrado por Paulo Travassos, na Serra deMontejunto.

Para participarem em qualquer uma destas activida-des, os interessados deverão contactar a SPEA – tele-fone 213220430, telemóveis: 963998995, 919382722.

CUIDA DA MINHA CASA!

A Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S.Pedro de Arcos, de Ponte de Lima, lançou uma pastadirigida aos mais pequenos, com vista a, através dejogos, aprenderem a respeitar mais a natureza.

Uma banhoca outonal: osostraceiros são uma das espéciesde aves do litoral que podem ser

vistas no Parque Biológico

Foto: Jorge Gomes

Page 8: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Trinta e cinco hectares com floresta, lagos, quintas,relvados e diversas exposições são o que a qualqueraltura do ano os visitantes encontram no ParqueBiológico. Mas mais aqui do que noutros sítios, nada éestático: há sempre novidades que surgem, melhoriassucessivas, que fazem com que praticamente a cadamês a visita seja diferente.

Caminhada

E é isso mesmo que verá quando se mete a caminho.Não há vozerio: começa por ouvir as aves e os seuscantares, na moldura da água que aqui e ali chocalhapor entre córregos.

Quem for sócio da Associação dos Amigos do ParqueBiológico, não ficará com pena de não vir em breve.Sabe que tem a vantagem de, com a quota em dia,dispor de um cartão que lhe dá livre-trânsito nopercurso de descoberta da natureza, bem como noself-service, onde pode almoçar todos os dias se quiser.

Embora se contem quase três quilómetros de percurso,há sentimentos opostos: alguns visitantes queriam

mais alguma extensão para caminhar, e aí o que tem afazer de momento é repetir a dose; por outro lado,para quem não deseja caminhar tanto, há sempre aopção dos atalhos.

Em todo o Parque Biológico, que é vedado, a segurançaé uma constante, um bem raro hoje em dia.

Nos caminhos há bastante informação, nas vitrinasque oportunamente esclarecem quem passa poranimais e plantas, por um moinho-de-água ou pelo rioFebros, que atravessa a área.

Do início ao fim desta agradável caminhada há umadata de mostras, umas temporárias e outraspermanentes. Logo junto à recepção há a exposição«Encantos e Desencantos», que ocupa uma grandeparte da cave do edifício. Entrados no percurso háoutra, «Da floresta tropical ao deserto». Depois érelvado e carvalhal seguido da ruralidade da quinta deSanto Tusso com o seu espigueiro típico da região, umdos dois que há no Parque. E chega-se, logo após osburricos e corços, à mostra «Exóticas: pela mão do

c o l e c t i v i s m o

Conte vantagensPara quem vive na região do Porto, visitar o Parque Biológico de Gaia é aproveitar aoportunidade de um encontro com a natureza em meio urbano. Se for sócio daAssociação dos Amigos do Parque Biológico, é um privilegiado...

Tradescância ou erva-da-fortuna

O feto-comum érastilho de incêndiose, se comido, écancerígeno

Erva-das-pampas

PROPOSTA DE SÓCIOPROPOSTA DE SÓCIO

Nome:

Morada:

Telefone: Bilhete de Identidade: Arquivo: Data: / /

N.º contribuinte:

Junto envio 15 euros para pagamento da quota do ano em curso e fico a aguardar recibo, cartão de sócio e outra documentação. Enviar para: Amigos do Parque Biológico – 4430-757 Avintes – Vila Nova de Gaia(Inclui entrada gratuita no Parque Biológico)

ASSINATURA

Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia

Page 9: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 9

homem», que fala dos impactes da flora e fauna exó-ticas nos ecossistemas autóctones portugueses.

Voluntariado

Por vezes sócios pedem à Associação dos Amigos doParque Biológico de Gaia programas de colaboraçãocom esta empresa municipal. Um dos problemas degestão do Parque Biológico é o controlo de plantasinfestantes, que colocam em perigo outras espéciesmenos competitivas. Em Junho, surgiu algo que vem deencontro a esses pedidos. Foi possível contar com a

ajuda de sócios e não sócios da AAPBG e essa oferta àNatureza de uma jornada de trabalho, foi eficaz nocontrolo do excesso de feto-comum no ParqueBiológico. Um trabalho simples: com uma tesoura depoda corta-se o feto a meia altura, e recolhe-se.Outras infestantes que estiveram na mira foram atradescância (erva-da-fortuna) e a erva-das-pampas.São exemplos de plantas que estão a levar aodesaparecimento outras espécies vegetais do ParqueBiológico e, por consequência, de alguns animais.�

O início do percurso do Parque Biológico de Gaia dá de imediato para estender avista, entre a água e a flora com o seu verde omnipresente. Em primeiro plano, acultura de arroz alusiva ao Ano Internacional do Arroz

Page 10: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Instalar ninho em sítios tão curiososnão terá tanto a ver com uma crisede habitação das aves, apesar doshabitat estarem em crise, sejam elesnaturais ou resultem da intervençãohumana, como os meios rurais.

O instinto destas aves faz com quesituações artificiais criadas pelohomem obtenham delas respostasoportunas. Um saco de palha, afinal,resulta bem: é como uma moitagenerosa de cor diferente para umacarriça. Esta espécie não regateia

oportunidades e considera umacaneca pendurada no alpendre deManuel Costa, um dos funcionáriosdo Parque Biológico que faz a broanas actividades com as escolas, umsítio de eleição para criar a prole.

O muro rústico com um buraquitoperdido entre muitos outros é opçãode primeira linha para uma fêmeade chapim-real. Ali acama o ninho —contámos cinco crias. Aconteceu emAbril no Parque Biológico de Gaia. Étão eficiente como qualquer outro

nicho natural, um buraco num tron-co ou quejando.

Um ninho de melro foi descobertopor Francisco Oliveira durante a ma-nutenção do amial no terraço do rioFebros há um par de anos, entre doistroncos cruzados a meio metro dosolo...

Agora olhe para o seu jardim, se otiver. Pode fazer dele um sítio atrac-tivo para estas aves.

Se a vegetação for adequada, possi-velmente já várias espécies fazem

10 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

q u i n t e i r o

Ninhos: berços de vidaSeja na manjedoura, no alpendre, num muro ou até num eucalipto, a passaradaengendra soluções que nos sugerem um sorriso. Arte e engenho não lhes falta...

Uma carriça elegeu a manjedoura de rede do atrelado de transporte de cavalos doParque Biológico de Gaia para fazer ninho. Um rodopio de palha implícito nãopassou despercebido à vista de Joaquim Brito, condutor do autocarro do percurso«Dunas: conhecer e conservar». Uma cria está à vista.

Ninho de borrelho, noParque de Dunas da

Aguda

Ninho depica-pauno Parque

Ninho de melro no amialdo rio Febros

Page 11: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

ninho nele. Ao acrescentar um ninhoartificial de madeira, alarga os moti-vos de interesse do sítio para si epara os amigos alados.

Até porque esta experiência não énova, já conta uns séculos. Os pri-meiros ninhos artificiais surgiram naFlandres, no século XVI. Há telas depintores flamengos como o conheci-do Brueghel, entre outros, que dãonota disso.

Pelo ano de 1770, na Rússia europeia,os camponeses já construíam ninhosde madeira para os estorninhos, cujocanto e utilidade na agricultura apre-ciavam, sendo a pilhagem de ovosconsiderada um delito grave.

Em 1858, uma zoóloga alemã denome Gloger inventou o ninho arti-ficial moderno. Em França, Mayaudd’Aubusson aperfeiçoou-o.

Em Portugal, foram utilizados pelaprimeira vez em 1956 no Parque dasTermas de Carvalhelhos pelo Prof.

Santos Júnior e, a partir de 1972,por Nuno Oliveira, na actual Reservadas Dunas de S. Jacinto, no ParqueNacional da Peneda-Gerês, e nou-tros locais.

Para iniciar esta experiência, terá deconstruir um ou de o adquirir. Não écomplicado. Por exemplo, no ParqueBiológico de Gaia pode comprar umkit de ninho e comedouro por baixopreço, com os esclarecimentos ne-cessários.

Depois, há que fixar o ninho a umaárvore, com a entrada virada a sulde preferência, para o proteger dovento norte e um pouco voltadapara baixo, para que a chuva nãoentre.

Os ninhos devem ficar de dois aquatro metros de altura e nãodevem ser pintados.

Não coloque qualquer material nointerior do ninho, isso é tarefa daspróprias aves.

Não adianta encher de ninhos umquintal ou uma mata, pois as avestêm territórios mínimos.

Uma carriça precisa de mil metrosquadrados para nidificar, um casalde chapins-carvoeiros pede meiohectare e um de pica-paus quer dedois a três hectares.

Há excepções, como o pardal-mon-tês e as andorinhas: nidificam emcolónias.

Na cidade e arredores os ninhosserão maioritariamente ocupadospor pardais. Em meio rural ou na flo-resta é mais fácil encontrar chapins--reais, carvoeiros, azuis e de poupa,carriças, trepadeiras-cinzentas eazuis, gira-pescoço, pica-paus, entreoutros.

Agora, resta-lhe avançar, com estereparo: cuidado para que os ninhosnão sejam alvo de predadores comoos gatos.�

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 11

Ninho de madeiraocupado porpardal-montês

Ninho de carriça numacaneca esquecida no alpendre

Cinco crias de chapim-real saíram do seu ninho numburaquito do último muro rústico do percurso de descobertado Parque Biológico de Gaia

Um casal de galinhas-de-água, em Junho, resolveuconstruir ninho no rio Febros, em cima de um troncomeio submerso

Page 12: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

12 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

Escreve-nos um leitor, de Oliveira doDouro, Pedro Figueiredo Pinto, em 12de Maio: Sendo sócio da Associaçãodos Amigos do Parque Biológico, souum visitante regular do parque eadoro tudo o que diz respeito àNatureza e aos animais.

Assim, quando li na revista do parquea secção Quinteiro e vi que podiafazer parte do Clube dos Amigos dasAves, fiquei interessado até porquetenho bastante espaço arborizadoem casa e os pássaros são presençaconstante.

Inclusivamente tenho o hábito decolocar pequenos pedaços de pãomolhado num local acessível aospássaros, embora um pouco maisalto, pois também tenho diversosgatos.

Esse «comedouro» é frequentado pormelros, gaios e pequenos pássarosque penso serem felosas (por compa-ração com imagens da revista e dosite do P. Biológico).

Gostava pois, então, de saber o que

devo fazer para entrar para o vossosimpático clube, até porque li no siteque oferecem um comedouro (porcerto bem mais apropriado que omeu improvisado prato de plástico) eum ninho artificial.

Fico a aguardar a vossa resposta, e jáagora gostaria de saber qual o tipode alimento mais adequado aos pás-

saros que referi anteriormente eonde o posso adquirir.

Desde já muito obrigado pelo cuida-do dispensado.

O Clube dos Amigos das Aves é umgrupo aberto. Para o integrar nãoprecisa de formalizar a sua adesão.Com esta figura pretende-se agre-gar as pessoas interessadas emimplementar o passatempo de nutrirno seu jardim as aves silvestres. NoClube, através da revista PARQUEBIOLÓGICO, além das informaçõesúteis já divulgadas, vamos adiantan-do outras complementares.

Assim, recomendávamos-lhe a leitu-ra de livros dessa área específica,bem como dos artigos da revista queapontam na direcção desta activida-de. Um guia das aves da Europa,como o do FAPAS e o da SPEA*, sãoesclarecedores. Uns binóculos paraver alguns pormenores poderão darmuito jeito.

Em síntese, o que mais atrai as avesa um sítio é o tipo de vegetação do

Jardim cheio de passarada

q u i n t e i r o

No passatempo de oferecer comedouros à passarada no seu jardim, há apetrechosa não desprezar: um manual de aves europeias, e até uns binóculos que lhepermitirão ver pormenores do maior interesse, que não veria de outro modo...

Chapim-real aalimentar-se de bolo-de-sementes noParque Biológico

Verá pássarosque apreciamgrão comodiversas espéciesde chapins,pardais,tentilhões,verdilhões, entreoutros

Comedouro de mesa

Page 13: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 13

local — que lhes deve agradar —para abrigo ou alimento, bem comolocais para nidificarem e alimenta-dores que lhes disponibilizem adieta da sua especialidade.

Falando de alimento, há comedou-ros de rede, de mesa, de copo e mui-tos outros. Como visita o Parque comassiduidade, passe na Loja do Campo,e repare nessa diversidade que chegaa saltar das aves para os morcegos e,imagine, até para borboletas, no quetoca a hibernação, claro.

No caso dos melros e das felosas,agrada-lhes mais uma ementa insec-tívora. Se optar por um comedouro

de mesa, adquira em lojas da espe-cialidade mistura de grão e experi-mente oferecê-la à passarada pol-vilhando as sementes com farinhainsectívora.

Os gaios são mais generalistas. Maspoderá contar com os pássaros queapreciam grão como diversas espé-cies de chapins, pardais, tentilhões,verdilhões, entre outros. Por exem-plo, os chapins-carvoeiros e os cha-pins-reais apreciam o chamadoamendoim-verde em comedouros derede.

Decerto porque a necessidade a issoobriga, as aves que refere na sua

carta têm aceitado o seu pão mo-lhado, mas não é a melhor dieta:apanhando sol, exposto ao ar, essepão pode tornar-se uma culturapara bactérias passíveis de trazerproblemas de saúde a algumas aves.

Contudo, caso alguma destas ques-tões lhe levante dúvidas, peça maisesclarecimentos. Dentro das nossaspossibilidades, estamos ao seu dis-por.�

* FAPAS: Fundo para a Protecção dosAnimais Selvagens. SPEA: SociedadePortuguesa para o Estudo das Aves

Os bons projectos estão no meio:antes e depois ficam as boasideias. Uma delas consiste emcriar o Clube dos Amigos dasAves de jardim. O que é isso?

É simples: quem tem — ou preten-de vir a ter — este passatempo(apoiar as aves no seu próprio jar-dim) contacta a revista “ParqueBiológico”, secção Quinteiro, queune os Amigos das Aves. E isso aoponto de fornecer dados a respei-to deste saudável passatempo.

É facultativo, para cada membroinscrito, associar-se à Associaçãodos Amigos do Parque Biológico.

Que tal? Gostou? Ficamos à es-pera das suas novidades, venhamelas por carta (Parque Biológicode Gaia – Revista "Parque Bioló-gico" – 4430-757 AVINTES) oupor correio electrónico:

[email protected]

Clube dos Amigos das Aves

Pequeno alimentador derede para amendoim-verdeou avelãs

Outros tipos dealimentadorespossíveis

Um comedouromisto, de rede e demesa, concebidopor André Morais

Page 14: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

h a b i t a t

Dunas cinzentas

Em tempo de praia, as dunas foram antigamente piso-teadas, devastadas, desconhecidas. Hoje, nota-se quehá a ideia de as proteger, e daí os passadiços de madei-ra que dão acesso às praias.

Inundadas de sol, as dunas são o primeiro sustento daprotecção do litoral. Separadas da linha de costa pelasdunas primárias estes terrenos sentem menor influên-cia marítima.

O vento penteia as plantas e casa-se com a areia. Emrelação às dunas primárias, as ventanias chegam que-bradas e a salsugem marítima que as acompanha jádeixou algum sal pelo caminho.

O solo tende a ficar mais fértil quanto mais se cami-nha para o interior. A estabilidade do substracto vaipermitindo o aparecimento de pequenos arbustos. Estaflora diversa e específica abriga uma fauna variada

que ora aqui reside ora está de passagem. Se os cara-cóis abundam, uma diversidade considerável de insec-tos está por todo o lado, e nutrem anfíbios e répteis,pequenos mamíferos e aves. Muitas destas nidificamnas dunas, mas muitas mais, durante as migrações,precisam da protecção destes espaços para refazerenergias até poderem continuar viagem.

Este ambiente natural consta da Directiva Habitats econstitui um espaço onde a vida engendra estratage-mas singulares para se conseguir impor à adversidade.

Entre as ameaças às dunas destacam-se o pisoteio e aocupação física de espaço dunar (exemplo: constru-ções), que destroem a flora e com ela tudo o resto.Somam-se a este problema as alterações na dinâmicamarítima, que diminuem a deposição de areia nas praiase o avanço do mar.

14 Parque Biológico Primavera 2004

A cor acinzentada das plantas dunares resulta da selecção natural. A paisagempede-lhes a cor para o nome em dinâmicas e sólidas ondas de areia vestidas devida que constituem um património natural ainda pouco conhecido

No Parque de Dunas da Aguda é possível ter uma ideia do que são as chamadas dunas cinzentas

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f l o r a

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 15

Perpétua-das-areiasAs plantas das dunas têm de se defender, logo na primeira linha, da forte exposiçãosolar e das condições de secura do solo em que medram

Vivem em ambiente agreste. Além de seremacinzentadas, há pêlos distribuídos pelas pequenitasfolhas e pelo caule, capazes de sombrear a acçãointensa do sol.

Planta macia ao tacto, aveludada, liberta um cheiroagradável.

Arbustiva, a perpétua pode atingir cerca de meio metrode altura, exibindo uma forma atarracada oval, porrazões aerodinâmicas. É a resposta desta espécie aovento do litoral, passado muito tempo de evolução. Oêxito é tal que, numa área dunar, facilmente se tornamaioritária. A essa peculiaridade associa-se outrofacto: trata-se de uma espécie muito variável e abun-dante em quase todo o nosso litoral.

Nesta época, ostenta flores amarelas. Dizem os espe-cialistas que têm funções diferenciadas: as flores ex-ternas são femininas e as internas são hermafroditas.Se olhar de perto, verá que têm pétalas, apesar de

diminutas. As sementes são escuras e pequeninas,leves. Ao toque do vento dispersam-se pela duna assimque se soltam.

A perpétua-das-areias tem um gosto especial pornitratos e tende a desenvolver-se em solos básicos.

Nas areias estabilizadas da duna secundária desenvol-ve-se lado a lado numa comunidade dominada pelamadorneira (Artemisia crithmifolia), e onde aparececom frequência um grande número de outras espéciescomo a granza-da-praia (Crucianella maritima), ogoivo-da-praia (Malcolmia littorea), a luzerna-das--praias (Medicago maritima), o lírio-das-praias(Pancratium maritimum) e o cominho-de-marselha(Seseli tortuosum).

BibliografiaFolheto do Parque Biológico de Gaia «As Plantas das Dunasda Aguda».

Perpétua-das-areias (Helichrysum italicum picardi )

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f a u n a

16 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

O dragão das dunas

Apesar da Primavera já se ter estre-ado no calendário, o dia está nubla-do, mas sem chuva. Levanto pedras.Vejo que insectos diversos têm alicasa e, não querendo perturbar, tudofaço para deixar os calhaus como osencontrei.

De repente, a marca da pedra quelevanto enche-se de cor e movimen-to: um pequeno sardão ocelado, decores vivas, abre-me a boca, comoum anão contra o gigante Golias,

sem desarmar. A ameaça do lagartoé clara: Não me mexas que te mordo!Convenceu-me. A preocupaçãopassa mais por não ter à mão umacâmara fotográfica e, depois, porestar a atemorizá-lo, mesmo semquerer. Olho-o uma última vez, noesplendor da cor juvenil, aindaentorpecido pelo frio, e deixo-ofugir para outro esconderijo, elimi-nando a hipótese de o poder trilharao pousar a pedra.

Apesar deste réptil contar apenas 20cm, há espécimes de Lacerta lepidaque chegam a medir da ponta dacauda ao focinho um metro, dizemos livros.

Sejam eles maiores ou menores, aPrimavera é sem dúvida a época quemais oferece à vista este lagarto. Osopro de dias mais quentes inicia ociclo de reprodução e essa excitaçãofaz com que os machos se eviden-ciem, podendo ocorrer lutas territo-riais. Esta agressividade é uma cons-tante: até com as fêmeas as meigi-ces são enérgicas, havendo lugar amordidelas cujo fim pode ter a vercom informações importantes acer-ca da boa saúde do namorado. Apósa perseguição feita pelo macho, afêmea lá consente imobilizar-se e énessa altura que o rapagão arqueiao corpo e — antes que ela mude de ideias! — infiltra o hemipénis nacloaca da fêmea, colhendo assim arecompensa perseguida tão ardua-mente.

Distribuído pelo Sudoeste europeu epelo Noroeste africano, as fêmeasdo sardão-ocelado põem entre cincoa 25 ovos. Os pequenos lagartossaem dos ovos no fim do Verão.

Alimentam-se de insectos, pequenasaves e mamíferos, outros lagartosmais pequenos e não desdenhamovos. Sem ficar por aí, a sua dietaabrange ainda, mas em menor per-centagem, vegetais e frutos maduros.

Em Portugal não, mas na Extrema-dura (espanhola) pode passar de co-medor a comido: entre os «nuestroshermanos» ainda há quem se ensaiea dar-lhes uma dentadinha, cozi-nhados, e à mesa, claro!�

Pequenos círculos azulados no flanco são típicos do sardão-ocelado, que emboranão viva apenas no litoral, nas dunas secundárias marca pontos. Sabe esconder-sequando convém, para caçar ou para se proteger, mas a maior parte das vezes bastaque não se mexa no meio das plantas para ficar imperceptível...

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O laboratório do Parque Biológico deGaia foi o território, em Maio, destafinalista de Veterinária, da Univer-sidade de Évora.

Catarina veio cumprir parte do seuestágio curricular, na área laborato-rial. O contacto entre a orientadorae Vanessa Soeiro, veterinária doParque, estabeleceu um acordo devantagens recíprocas: «Dá-me jeito,

e ao Parque também!», diz Catarina.A estagiária cumpre a sua função eo sector veterinário do ParqueBiológico adianta um serviço útil,para o qual o tempo se esvai, face àtotalidade das tarefas a cumprir.

Os animais silvestres cujas fezes sãoanalisadas para detectar parasitassão os javalis, toirões, texugos,raposas, ginetas, saca-rabos, fui-nhas, corços, gamos, cabras-bravas,lontras, bisontes-europeus.

Nesse trabalho, Catarina vai aoscercados do Parque com os tratado-res de animais e recolhe as amos-tras. Depois de tratadas, os parasitasque só conhecia das aulas surgem--lhe à vista armada, e identifica-os.Palavras que a si e a mim até podemlembrar monstros extraterrestres daficção, como capilárias e ténias, sur-gem em catadupa. Mas o trabalhonão se fica por aqui. Ainda há umrelatório a ser feito com vista a queseja implementado um plano dedesparasitação.

OS MAUS DA FITA

CapillariaO hospedeiro infecta-se ao ingeriros ovos libertados nas fezes. As lar-vas eclodem no intestino e migramaté aos pulmões, onde se alojam sobo epitélio da traqueia, brônquios ebronquíolos. Os adultos deitam ovos,que são libertados nas vias aéreas,engolidos e expulsos nas fezes.As infecções leves podem não pro-duzir sintomas ou bronquites ligei-ras. Infecções severas produzembronquites, traqueítes e, raramente,rinites e sinusites. Os animais infec-tados têm tosse, espirros, mal-estargeral, caquexia e anemia.O diagnóstico é feito por observaçãodos ovos nas fezes.Uma desparasitação adequada eli-mina os parasitas.As Capillaria foram encontradas nosfurões.

EimeriaO hospedeiro infecta-se ao ingeriroocistos que são libertados nasfezes de outro hospedeiro.Uma vez ingeridos, multiplicam-seno intestino delgado podendo darsintomas leves que nalguns casospassam despercebidos (como diar-reia leve) e eventualmente desapa-recer ou, nalgumas espécies, causar

18 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

i n v e s t i g a r

Mergulhos no invisívelAgarrada ao microscópio, Catarina Faustino mergulha noutro mundo, o dosmicrorganismos, e empreende uma pesquisa parasitológica sobre mamíferossilvestres

CatarinaFaustino àcoca deparasitas

Após a colheita deamostras de fezes decabra-brava, Catarinafiltra uma solução.As lâminas mostrarãoao microscópiobichos diminutos

CAPILLARIA

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infecções graves que são rapida-mente fatais. As infecções são auto-limitantes, ficando o hospedeirocurado da infecção ao fim de algumtempo.O diagnóstico é feito por observaçãodos oocistos nas fezes. As eimeria foram encontradas noscorços, ginetas, fuinhas e lontras,mas, claro, de espécies diferentes.

TrichurisO hospedeiro infecta-se ao ingeriros ovos libertados nas fezes. Osadultos vivem no intestino grosso.A maioria das infecções são assinto-

máticas. Mas, como os parasitasvivem muito tempo, pode-se atingiruma carga parasitária muito grandee aí aparecem sintomas como diar-reia, disenteria e anemia.O diagnóstico é feito por observaçãodos ovos nas fezes.Uma desparasitação adequada eli-mina os parasitas.Os trichuris foram encontrados noscorços.

OesophagostomumO hospedeiro infecta-se ao ingeriros ovos libertados nas fezes. Osadultos vivem no intestino grosso.

Os parasitas provocam nódulos nointestino grosso, impedindo a suanormal função de absorção, ficandoos animais inapetentes, caquéticos eem mau estado geral (infecçõesgrandes) e provocam irritação docólon.O diagnóstico é feito por observaçãodos ovos nas fezes.Deve fazer-se uma desparasitaçãoadequada e repetida, uma vez queos parasitas são resistentes a algunsanti-helmínticos.Os oesophagostomum foram encon-trados nos corços.�

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 19

EIMERIA TRICHURIS OESOPHAGOSTOMUM

MárciaTentúgal

Este Sábado doParque com

visita guiadaviu-se incluído

no estágio

Márcia Tentúgal, de 17 anos, estu-da para ser técnica de turismoambiental e rural. Entre 29 deMarço e 18 de Abril estagiou noParque, para poder alcançar aprova de aptidão profissional obri-gatória. «O Parque Biológico surgiucomo primeira opção, pois do meuponto de vista era a instituiçãoideal para a minha primeira forma-ção em contexto de trabalho», diz.

Márcia, neste estágio, recebeu gru-pos de visitantes e deu-lhes asnoções de partida para uma visitamais útil ao percurso de descober-ta. Ao participar nos ateliers deeducação ambiental viveu a experi-ência de lidar com crianças e per-cebeu que a melhor forma de ensi-nar é envolver os participantes noprocesso de fazer.

«Já conhecia o Parque Biológico,

visto já o ter visitado algumasvezes em visitas de estudo realiza-das pelas escolas que frequentei,mas como decorreram alguns anosa minha ideia do Parque Biológicoera muito fugaz». Como era de cal-cular, «tinha sofrido algumas alte-rações ou pelo menos eu não merecordo deste Parque tal e qualcomo se encontra agora».

Por isso, diz Márcia, «foi uma expe-riência fantástica e proveitosa.Permitiu observar muitas coisasque irão contribuir para o meudesenvolvimento quer a nível pes-soal quer a nível profissional, e épara isso que o Parque está voca-cionado, para a educação ambien-tal. Tem uma equipa de funcioná-rios bem qualificados para a funçãoque desempenham: aproveito paraagradecer por todo o apoio!».

Os estágios que decorrem no Parque são de áreas diversas. Por exemplo, os de cursos deturismo ambiental e rural têm todo o cabimento

Turismo ambiental e rural

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20 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

e v e n t o

Educação ambientalCastelo de Vide acolheu de 2 a 5 de Outubro o XV Encontro Nacional de EducaçãoAmbiental. O tema foi alterações climáticas e ecoturismo

Cerca de 300 pessoas participaramno 15.º Encontro Nacional deEducação Ambiental. Organizadopelo Parque Biológico de Gaia, peloInstituto do Ambiente e pelaCâmara Municipal de Castelo deVide, o programa baseou-se em visi-tas de campo e em conferências,decorrendo estas no CineteatroMouzinho da Silveira. Os participan-tes apresentaram posters, com vistaà divulgação de projectos e activi-dades de educação ambiental.

A sessão de abertura do encontroteve lugar às 11h00 de sábado, 2 deOutubro. Pronunciaram-se o presi-dente da Câmara Municipal deCastelo de Vide, António Ribeiro, ogovernador civil de Portalegre,Cristóvão Crespo, Nuno GomesOliveira e um representante doInstituto do Ambiente.

Seguiu-se uma palestra de RicardoMoita, da empresa Ecoprogresso,sobre «Alterações climáticas: impac-te, adaptação e mitigação».

Pelas 16h00, houve visitas guiadasao centro histórico de Castelo deVide. Região fronteiriça, foi desde aIdade Média baluarte do reino, daí ocastelo que, entre outros, pontua napaisagem. Um percurso por ruelasestreitas, com passagem pelaJudiaria, reparar em portas e janelasogivais dos séculos XIV a XVI, respi-rar o burgo medieval e ladear asmuralhas que envolvem a vila coro-adas pelo castelo.

Esta vila toca a área do ParqueNatural da Serra de S. Mamede, omaciço montanhoso mais alto a sul

do rio Tejo, onde influências medi-terrânicas e atlânticas criam precio-sidades como os montados mistosde carvalho-negral, azinheira esobreiro. As visitas guiadas a esteparque ocuparam manhã e tarde dedomingo. Marvão, claro, de visitaobrigatória.

Ao fim da tarde, três conferências.Carla Gomes, da Universidade dosAçores (IMAR), expôs «Rede Natura2000 no ambiente marinho: umaexperiência de ecoturismo nosAçores», ligada aos cetáceos.Eduardo Santos falou sobre«Ambifuga: um caso prático de eco-turismo em Portugal». José Alho, daLiga para a Protecção da Natureza,relacionou «Conservação da nature-za e ecoturismo».

No dia seguinte, um salto a Espanha,logo de manhã: a visita ao monu-mento natural de Los Barruecos, emMalpartida de Cáceres, a AldeiaEuropeia das Cegonhas, assimconhecida desde 1977. Os grandesninhos por toda a parte dão o mote,mas já sem cegonhas, finda a criação

Mesa de abertura do EncontroNacional de Educação Ambiental

Momento da visita ao ParqueNatural da Serra de S. Mamede

Pormenor dopúblico, naabertura doencontro

Visita ao Parque Natural da Serra de S. Mamede: omenir da Meada demonstra que esta região é ocupadapor populações humanas desde há muito tempo

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 21

e a batida de asa dada para os lados de África noOutono. Ao fim da tarde uma visita a Cáceres e ao seuex-líbris, outro castelo, este de intensa atmosferainquisitorial. Quem não se importa com isso são as gra-lhas-de-nuca-cinzenta no alto de torres e muralhas...

Terça-feira, feriado, de manhã, duas conferências:«Ecoturismo: mais um recurso de educação ambien-tal?», por Nuno Gomes Oliveira, doutorando daUniversidade de Perpignant, e «Equipamentos para aEducação Ambiental em Portugal - situação actual epropostas para reflexão», por Helena Barracosa, daUniversidade de Santiago de Compostela. Debatidosestes temas, concluiu-se o evento, sendo marcado opróximo para o ano que vem em Almada, também noinício de Outubro.�

Visita a uma dasantas da região

Castelo deVide: LargoJosé FredericoLaranjo,Judiaria

Esta Calçada Medieval está a serrestaurada no exterior de Castelo de Vide

Sessão de posters

Um grifo do bando que se viuno céu do Parque Natural daSerra de S. Mamede

Museu Vostell-Malpartida: oautor decertonão pensounos ninhos quese apropriaramda escultura

Interior do Castelo de Marvão

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e n t r e v i s t a

22 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

Apostou na fotografia da natureza.E ganhou. Cavaqueamos com elesobre as imagens que reflectem pre-ocupações naturais.

O que é a chamada fotografia daNatureza?

João Luís Teixeira — Pode-se chamarfotografia da natureza a tudo aquiloque nos faz sair de casa e que retra-ta espécies animais, vegetais ou pai-sagens; ou seja, o que nos põe emcontacto com o meio que nos rodeia.

São necessários conhecimentos dezoologia, botânica e afins?

JLT — Para começar penso que não,embora estes conhecimentos aju-dem muito, pois se conseguimosidentificar as espécies, se conhece-

mos o seu habitat e ciclo de vida,estamos melhor preparados paraconseguir óptimas fotos.

Hoje em dia, devido a alguns canaiscomo o Discovery ou o Odisseia, e aalgumas séries de televisão, existeum maior conhecimento e conscien-cialização sobre a preservação danatureza. Inspirados em algumasdas imagens que se mostram e por-que, ao contrário de outros génerosde fotografia, só é necessário disporda máquina e vontade, existe umgrande número de fotógrafos quepraticam a fotografia da natureza,facto salientado por quase todas asrevistas de fotografia que disponibi-lizam alguns ensinamentos. Existempor todo o mundo clubes de foto-

grafia dedicados à fotografia depássaros, macrofotografia, fotogra-fia subaquática...

O que há de comum e o que dis-tingue esta disciplina fotográficade outras categorias?

JLT — O que tem de comum é anecessidade de haver alguns conhe-cimentos básicos de fotografia. Oque a distingue é o facto do objectodas imagens estar à nossa disposi-ção sem grandes exigências e ficar-mos com um maior conhecimentoda Natureza sempre que fazemosuma foto.

Há um equipamento básico paraalguém começar a experimentar afotografia da natureza?

Natureza fotogénicaJoão Luís Teixeira, um jovem desconhecido do júri do concurso fotográfico «A Luzdo Parque» do ano passado viu as 15 fotografias com que concorreu distinguidasna mostra que esteve exposta no Centro de Acolhimento do Parque Biológico deGaia. Uma delas conquistou o 1.º prémio!

Gamos, por João Luís Teixeira, 2003

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 23

JLT — No meu entender, qualquerequipamento serve para fazer boasfotografias da natureza. O principalé conhecer as limitações do mate-rial e procurar os assuntos em fun-ção do nosso material fotográfico.Independentemente das máquinasfotográficas, o que mais conta sãoos géneros de objectivas que temose a forma como as utilizamos. Se foruma grande-angular podemos optarpor paisagens, primeiros planos...uma objectiva 50 mm, “normal”, umpouco de tudo e as tele para osretratos dos animais.

Como incentivar mais a fotografiada natureza?

JLT — Através de concursos e pré-mios: são uma excelente forma deincentivar a fotografia e atrair aspessoas a fotografar a natureza, con-seguindo deste modo despertar-lheso gosto e consciência para com anatureza.

Também existe a área de formação,muito importante. Fazer workshopsde fotografia da natureza, de macro,de iluminação, e como tirar partidoda câmara fotográfica. Dar a conhe-cer e informar sobre as espécies deanimais e plantas existentes nonosso país, quais os seus hábitos, asmelhores alturas para fotografar, osmelhores locais... Debates sobre asfotografias, exposições e publicaçãodas mesmas são mais algumas das

lacunas existentes no nosso país eque de algum modo o ParqueBiológico tem ajudado a colmatar.

Máquinas digitais ou convencio-nais: quais as melhores?

JLT — Não existem melhores, ambasproduzem excelentes resultados. Nomeu entender prefiro as digitais,para se obter uma fotografia exce-lente de uma determinada espécie é

por vezes necessário tirar cerca de500 ou mil fotografias, no analógicoisso fica muito caro... É a grandevantagem do digital, de resto sãomuito equivalentes.

Qual a melhor época para praticar?

JLT — Todas as épocas são boas parafazer fotografia, fotografa-se é coi-sas diferentes. Quem não gosta dever uma flor, uma paisagem deOutono, uma teia de aranha recor-tada pelas gotas de chuva ou umgamo a descansar ao sol de um fim--de-tarde? Podendo fotografar nãohesite...

Qual a sua experiência nestaespecialidade: grande, pequena?

JLT — Como já disse, não faço gran-de distinção entre as várias áreas,faço fotografia há já alguns anos eporque gosto de relaxar em contac-to com a natureza, pego na máqui-na saio por aí a fazer umas fotos, oque me dá uma grande experiência,mas não me considero um “especia-lista”, até porque fiz um curso supe-rior de fotografia e tomei consciên-cia que em Portugal não é possíveluma especialização em qualquer dasvertentes da fotografia, pois temosum mercado demasiado pequeno.

Como soube do concurso do anopassado, onde foi uma revelação?

JLT — Soube pelas visitas regularesque faço ao Parque Biológico. Paraalém de vir fotografar, é um sítiomuito bom para descansar, ler umlivro e vir passear com a família.

Das 15 fotografias entradas noconcurso, a qual delas daria o pri-meiro prémio?

JLT — Quando decidimos participarnum concurso, escolhemos as quepensamos serem as melhores foto-grafias para o tema proposto. Querocom isto dizer que estão todas aomesmo nível, qualquer delas podeganhar ou não. A mim competefazer a escolha, ao júri, em funçãodos critérios que tem para avaliação,compete premiar.�

Quem não gostade ver uma flor,uma paisagemde Outono, umateia de aranharecortada pelasgotas de chuvaou um gamo adescansar ao solde um fim-de--tarde?

João Luís Teixeira

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e s p i g u e i r o

24 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

Trata-se do II Salão de Fotografia da Natureza doParque e esteve aberto a todos os fotógrafos, amado-res ou profissionais. Este ano o júri inclui JoãoMeneres, Ricardo Fonseca e Nuno Gomes Oliveira. EmNovembro os melhores trabalhos serão por eles distin-guidos, e converter-se-ão numa mostra que pode servista no Centro de Acolhimento do Parque Biológico deGaia até 30 de Janeiro de 2005.

O 1.º prémio é uma câmara fotográfica digital, bemcomo o segundo, e o 3.º prémio uma Menção Honrosa.

Folheto de inscrição e regulamento estiveram disponí-veis na Recepção do Parque Biológico de Gaia desde aPrimavera.

Os motivos fotográficos do Parque Biológico são imen-sos, como se compreende: paisagens, actividades deeducação ambiental, animais, plantas, arbustos, árvo-res, em macrofotografia ou não. Embora no ano passa-

do já tenha atingido um bom nível, agora a expectati-va coloca a fasquia ainda mais acima.

A luz do Parque

Guia de actividades

Esteve aberta até dia 1 de Novembro a segunda edição do concurso de fotografiada natureza promovido pelo Parque Biológico de Gaia. Dia 4 de Dezembro aexposição das fotos distinguidas pelo júri abre ao público, com a entrega deprémios marcada para as 17h30

Com início em 1 de Setembro e a estender-se até 31de Agosto de 2005, «o Parque Biológico de Gaia apre-senta um Guia e Agenda de Actividades para todo oano lectivo 2004/2005», informa logo na abertura estapublicação.

Guia preparado com o objectivo de ajudar professorese animadores culturais a organizarem visitas de estu-do ao Parque Biológico de Gaia, não exclui de nenhu-ma forma o público em geral, pois oferece uma vastagama de informações. Este guia fornece alguns ele-mentos para a preparação das visitas de estudo, quersob o ponto de vista pedagógico — informações sobreo local — quer sob o ponto de vista prático — acessos,horários e outras facilidades.

Apesar de diversos dos ateliers mais populares seterem mantido, entre os novos, disponíveis nos diasagendados, destacamos os seguintes: Descobrir as bor-boletas, Percurso ornitológico, A vida na água,Descobrir a flora do Parque, Técnicas de propagação de

plantas, Iniciação à fotografia da natureza,Observações astronómicas, entre outros.

Com este breve abrir de página, uma convicção: vaisentir-se compelido a procurar o guia e a rever a suaagenda — não se esqueça de anotar aquilo em quemais lhe agrada participar.

Em Outubro, o Parque Biológico divulgou o seu Guia de Actividades para 2004/5

Esquilo, junto à Quinta do Chasco, no Parque Biológico de Gaia. Fotode João Luís Teixeira candidata na edição do ano passado

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 25

A moto-serra guincha na madeira viva. Persistente, insis-te e chega a dar vários sons. O tronco, pesado, tem decair para o lado riscado pelo lenhador. Pausa: a marreta,ritmada, insiste nos cinzéis. Gritam: «Pim... pim... pim...».

Não há letras que dêem conta do som deste grandeeucalipto a cair, mas o ar foge e silva a correr dele, emqueda acelerada. A fibra estala, há ramos a embrenha-rem-se noutros até que o baque sufocado denuncia ochoque final do gigante com a terra. Passam visitantes.Uma senhora pára. Lê-se no seu olhar: «É um ser vivo,uma árvore!». Compadecida, ao ver os troncos retalha-dos à força das máquinas, justifica a defesa da vidanuma óptica estreita. Não teria ainda lido a explicaçãoexposta no caminho:

NO PARQUE BIOLÓGICO NÃO QUEREMOS EUCALIPTOS! Existem em todo o mundo cerca de 600 espécies dife-rentes de eucalipto, mas a mais comum em Portugal é oEucalyptus globulus, originário da Austrália e Tasmâniae introduzido no nosso território em meados do séculoXIX. Na Europa existe também em Espanha e França.

Actualmente, segundo dados da Direcção-Geral das

Florestas, a área ocupada por eucaliptos corresponde acerca de 8% do território continental.

O eucalipto é uma das árvores mais altas do mundo,podendo atingir cem metros de altura e mais de seis dediâmetro do tronco.

Mas o eucalipto levanta grandes problemas: diminui abiodiversidade, por não produzir alimento nem abrigopara animais e por competir e destruir a flora natural,já que acidifica o solo; abre caminho à erosão; por serde crescimento rápido, retira grandes quantidades deágua e nutrientes ao solo.

Se se mantivessem os eucaliptos no Parque Biológico eao mesmo tempo se plantassem outras árvores (carva-lhos, sobreiros, etc.), aconteceriam duas coisas: oseucaliptos iriam prejudicar o desenvolvimento dessasespécies e quando, um dia, as árvores autóctones esti-vessem desenvolvidas e quiséssemos abater os euca-liptos, iríamos no abate destruir as outras árvores.

Por isso, no Parque Biológico, optamos por eliminar aospoucos os eucaliptos e, em sua substituição, plantar carva-lhos, sobreiros, azevinhos e outras espécies da nossa flora.

Pouco a pouco, no Parque Biológico deGaia, a floresta enriquece, mas paraisso há que substituir espéciesdanosas, como os eucaliptos. No iníciode Setembro, notou-se isso!

Por melhoresbosques

Dias 23 e 24 de Julho, às 16h30 e às 22h00, osvisitantes do Parque encontraram-se com os astros.Não os de TV, que depressa passam, mas com algunsdaqueles que são tão antigos quanto a história da vida.Registou-se uma boa afluência do público.

A astronomia foi uma actividade que se reeditounoutra oportunidade, no programa Ciência Viva no

Verão, a 17 de Setembro. Também desta vez, osvisitantes do Parque Biológico de Gaia olharam osastros com um telescópio. De dia, observaram o Sol eelementos da sua superfície e da sua atmosfera, comomanchas solares e granulação. De noite, observou-se aLua e a sua topografia, bem como outros objectos docatálogo de Messier e planetas visíveis.

Astronomia

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Quer receber notícias do Parque Biológico por e-mail?

Um novo serviço informativo, rápido e grátis, está tão perto desi que fica ao alcance de um simples clique do rato! Com cerca de duas semanas de antecedência, saiba da acti-vidade preparada para si pela equipa de educação ambientaldo Parque Biológico de Gaia!Para isso, basta enviar um e-mail para [email protected] com a seguinte frase: «Quero passar a receber notí-cias sobre o Parque por e-mail». Não esqueça: dê-nos notícia de si!

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Nessa oportunidade, os visitantes iniciam uma visitaguiada pelo director do Parque, Nuno Oliveira, e porespecialistas em botânica e zoologia. Este programasurgiu com a intenção de proporcionar a quem visita oParque explicações mais aprofundadas sobre o univer-so multifacetado que engloba enquanto meio de edu-cação ambiental em contexto urbano.

«Não se andou atrás dos animais que estão aqui paraos engaiolar!», diz o director. «Os animais do Parque sãoquase todos da fauna europeia e muitos deles nasce-ram em cativeiro, enquanto outros são irrecuperáveispara devolução ao meio natural, como por exemploeste flamingo», aponta Nuno Oliveira. E a ave, como seouvisse, bate as asas, melhor, bate asa e meia. Explica:«Muita gente ignora, mas temos bandos de flamingosselvagens em Portugal. Por exemplo, no estuário do rioTejo é fácil dar com eles. Este flamingo que estão a verfoi recolhido na ria de Aveiro, atingido por um tiro. Veiopara cá e foi necessário amputar-lhe a asa...».

Depois, entre flora e fauna, chega-se aos toirões, nahora bem enroscadinhos na toca. Porém, olho aberto,não vá aparecer de repente algum ágil esquilo. No cer-cado dos gamos, de passagem ninguém adivinharia,mas a manada acabava de aumentar, soube-se depois,com a informação de que nascera silenciosamentemais um.

Vai um copinho?

Entre os diversos detalhes desta visita, retemos estepara si: se o leitor fosse um Lucanus cervus, vulgoescaravelho cabra-loura, este subtítulo servia-lhedireitinho. Nenhum dos participantes no Sábado doParque de 5 de Junho, pelas 17h00, deixou de conside-rar inédita esta observação. Ao longo do tronco de umcarvalho--roble de tronco macerado por antigos vizi-nhos desatinados, de cujas antigas feridas ainda hojeflui lento caudal de seiva, uma dúzia de cabras-louras,machos e fêmeas, lembravam o clima de um bar

Sábados no ParqueJá há ano e meio que os visitantes do Parque Biológico de Gaia desfrutam de umprograma especial que, no calendário, se fixa no primeiro sábado de cada mês

Início da visita guiada de 5 de Junho, quandoNuno Oliveira definia o horizonte da visita

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26 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

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humano. Com uma diferença, entre «copos» de seiva,alguns pares dir-se-ia que desprezaram os prelimina-res e entregavam-se aos amores da estação. Apesar dediscretos, mesmo perante olhares atentos, não esta-vam petrificados. A dada altura, um destes escarave-lhos de cerca de oito centímetros (machos) por algumarazão chega mesmo a levantar da casca da árvore umafêmea com as hastes por instantes, como que a pousá-la para uma continuada sessão reprodutiva.

Sem ser entendido, diria que ali havia uma concentra-

ção de feromonas tão excitantes que atraíam de formairresistível aqueles seres de porte respeitável para amédia dos insectos.

Batia certo: os quantitativos destes animais nalgunspaíses têm regredido bastante. Associam-se aos carva-lhais. Dizem os livros que as suas larvas se nutrem demadeira de carvalho apodrecida por fungos durantecerca de cinco anos. Os adultos durarão cerca de qua-tro meses apenas. Na próxima edição publicaremos umartigo sobre estes animais.

Flamingo da fauna ibérica na companhia deuma galinha-de-água exótica

Cabras-louras copulam. O macho, por cima, a dada alturasentiu-se incomodado e esguichou um líquido esbranquiçadosem aviso, safou-nos, a mim e à câmara fotográfica, a sua mápontaria!

Os corços nasceram em cativeiro, mas ainda assim o instinto fá-los tímidos e nem sempre é fácil vê-los, comoaconteceu neste sábado. Valeu a informação de que tinham nascido duas crias há cerca de duas semanas

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 27

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28 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

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Oficinas de PrimaveraQuando as férias da Páscoa chegaram, o Parque Biológico reuniu um conjunto deactividades muito divertidas e, sob orientação de Rita Valente, chamou-se Oficinasde Primavera

O espantalho Primavera, a constru-ção de tipi (tenda típica índia), acaça aos ovos, os mestres cozinhei-ros, a cesta de ovos, a fornada debroa, a volta da alimentação, a caça

ao baú de primavera foram algumasdas actividades que envolveram aparticipação de cerca de 65 crian-ças, nos passados dias 5, 6, 7, 12, 13,15 e 16 de Abril.

Com idades entre os sete e os 15anos de idade, usufruíram do ParqueBiológico, juntando memórias difí-ceis de esquecer.

VISITAS GUIADAS EM VIATURA ELÉCTRICAPalmilhar o percurso de descoberta do ParqueBiológico de Gaia já não é problema para ido-sos, deficientes físicos ou, simplesmente, paraos mais comodistas.

Esta viatura eléctrica permite descobrir comcomodidade o Parque e observar os animais.Mesmo que chova, não há problema.

Uma visita guiada ao Parque conduzida porum dos seus técnicos de Educação Ambiental,para um máximo de 5 pessoas, com duraçãoaproximada de 30 minutos custa, com marca-ção, à semana, e10,00; ao fim-de-semana eferiados, e20,00 (independentemente do n.ºde pessoas e com entrada no Parque incluída).Sem marcação, aos sábados, às 14h30 e às16h00, custa dois euros por pessoa. Marca-ções: 227 878 120.

Pormenor da visita ao percurso doParque: Quinta de Santo Tusso

Aprenderama fazerespantalhos

Construção de tendaíndia, uma actividadenova e entusiasmante

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 29

Oficinas de InvernoO Parque Biológico de Gaia organiza as suas Oficinas de Inverno de 20 a 23 e de 27a 30 de Dezembro, das 9h30 às 18h00

Limitadas a 20 inscritos por dia,estas oficinas de Inverno abrangemcrianças dos 6 aos 9 anos e dos 10aos 15 e têm em vista a ocupaçãodestes estudantes nas suas fériasnatalícias.

Aconselha-se roupa prática, calçadoconfortável e impermeável, uma vezque o calendário promete. Um gran-de leque de actividades diferentesgarantem surpresa, entusiasmo e

dedicação dos participantes. Eisalgumas delas: no Almoço daBicharada as crianças têm um con-tacto directo com alguns dos ani-mais do Parque, já que ajudarão aalimentá-los de forma adequada;Pegadas e Sinais de Animais é umatelier novo que desvenda atravésde vestígios a existência de animaismais tímidos que deambulam noParque, tais como esquilos, fuinhas e

até raposas; Dos Cereais à Broa éoutra actividade através da qual sepercorre o processo de confecção dabroa desde a moagem dos cereaisaté à preparação da cozedura dabroa.

O valor da inscrição/dia é de 20euros e inclui acompanhamento, osmateriais das actividades, as refei-ções e os seguros.

Campos de VerãoO Parque Biológico de Gaia organizou nopassado Verão quatro campos estivais.Decorreram de 10 de Julho a 27 de Agosto

Houve jogos, surpresas, muita diver-são enquanto se ia aprendendo.Estes tópicos agarraram a atençãodos participantes ao longo dosCampos. As actividades dirigidas àscrianças prometiam. Para além daCaça ao Tesouro, experimentaramdiferentes trabalhos na horta, nos

canteiros aromáticos, na manuten-ção desses espaços e dos cuidados ater com eles. A dada altura chegou avez do Teatro Brincalhão – o grupofoi dividido em pequenos grupos,que trabalharam em conjunto.Passando a actividade nocturna, eiso Parque à Noite – uma voltinhapara se descobrir as diferenças dossons, dos cheiros, dos movimentos,que alguns animais têm tão desper-tos nesta altura.

Para além destas, muitas outrasactividades encheram esses dias,durante os quais os participantesficaram alojados nas camaratas doParque Biológico. Montagem do tipi

Almoço da Bicharada

Jogo

Preparação do tipi

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30 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

Ao ar livre, no Parque Biológico deGaia, inúmeras crianças riram eaprenderam com uma história debruxas más e boas, entre 29 de Maioe 26 de Junho.Numa escola de bruxas más ensina--se a destruir as florestas e a conta-minar os rios, mas há uma alunadiferente. Esta apenas quer vaguearpor entre as árvores e ouvir o cantodas aves. Ora, uma bruxa boa nãoserve as intenções dos seus mestresmalvados, e será por ela que a flo-resta se pode salvar dos que lhequerem mal. O prémio concretiza-secom a possibilidade de voar porentre as árvores numa vassoura ajacto que a leva pelos ares com omenino que a ajuda a libertar dasbruxas que só querem fazer asnei-ras. O público assistiu ao trabalho deactores do Teatro Experimental doPorto, encenados por NorbertoBarroca, numa peça de Maria ClaraMachado.

Teatro: A bruxinha«A Bruxinha que era boa», teatro para crianças ao ar livre

O Parque Biológico engalanou-se nos dias de Marçocom poemas em várias línguas alusivos às árvores

De uma forma original, em 6 Março, das árvores doParque brotaram folhas e poemas, em comemoraçãodo Dia da Árvore e do Dia da Poesia.

Ao longo desse mês os visitantes encontraram poemasde diversos autores em português, espanhol, francês einglês, com um denominador comum: o elogio daárvore, esse ser natural que dá oxigénio, retém a água,proporciona sombra, gera riqueza, pode enriquecer osolo, e ainda é musa de inúmeros poetas!

A Companhia de Teatro «Os Últi-mos» regressa ao Parque Biológicocom mais duas peças

Gil Vicente e as suas coisas Partindo das obras de Gil Vicente,nomeadamente «Auto da Índia»,«Auto da Barca do Inferno», «Autoda Feira», «Quem tem farelos», «Ojuiz da Beira» e a «Farsa de InêsPereira», Fernando Ary criou umanova composição que aparece empalco com uma linguagem actual,sem descurar de todo a típica lin-guagem vicentina que virá a públiconas intervenções do personagemimaginário do próprio Gil Vicente. O

resultado final desta peça incluiainda influências de «Alguns Passosem Volta», de Herberto Helder,«Cenas de Valentim», de KarlValentin, «Antes de Começar», deAlmada Negreiros, e outros, paraalém de vários originais. Espectáculo vocacionado para jovensdos 2.º e 3.º ciclos, bem como doensino secundário. Pode ser visto no auditório doParque Biológico de Gaia de 12 deFevereiro a 19 de Março de 2005.

Baú de histórias animadas Quando o Pai Natal abre as cartas

com os pedidos da criançada, ficaboquiaberto: em vez das prendasusuais, estes miúdos pedem histó-rias de encantar! Não tarda muito — de súbito há livrosque saem como que por magia dedentro do baú, e as personagens sur-gem em palco e interagem umas comas outras, criando novas histórias.Trata-se de um original de FernandoAry que vai estar em palco noParque Biológico de Gaia de 27 deNovembro a 18 de Dezembro. O público-alvo desta peça de teatroreúne as crianças dos infantários,bem como dos 1.º e 2.º ciclos.

Gil Vicente e animadas histórias

A poesia subiu às árvores

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 31

Uma explicação dada por Nuno Oliveira confirma ointeresse da deslocação. Os pirilampos mesmo semcontrato não desdenham a oportunidade de aparecer. Algumas das ideias faladas no início do percurso estãoescritas no caderno informativo desta actividade quefoi dado aos visitantes destas quatro noites especiais,de 16 a 19 de Junho. Dia 17, apesar de serem 21h40, a noite ainda não estáescura. Pormenor importante, pois o breu optimiza opiscar de olho aos pirilampos que todos vêm dar. Palavra daqui e dali, alguns passos e começam a apa-recer. «Ai, que bonito!», diz uma senhora. Como se osvaga-lumes ouvissem, a verdade é que aparecem cadavez mais...A criançada, cheia de vivacidade, furtivamente, tentaapanhar um, curiosa de ver como a maravilha desta luzestranha acontece...O guia do grupo não dá baldas: recolhe um na mão,saca da lanterna e mostra o insecto brilhante, peque-nito, na palma iluminada. Após a incursão dos vaga-lumes, um telescópio nosrelvados da entrada do Parque aproximava dos visitan-tes outras luzes mais altas, as dos astros.

Vaga-lumes fascinantes Todos os anos é assim: quando o Parque Biológico divulga as Noites dos Pirilampos,constituídas de visitas nocturnas, os visitantes afluem como que para ver estrelasque descem do céu e piscam luzes ao nível dos seus olhos

Um dos pirilampos, este pousado, num dostocos de madeira que orientam os arames dopercurso do Parque (junto aos grifos)

As noites dos pirilampos no ParqueBiológico de Gaia fascinam miúdos egraúdos, daí o seu êxito continuado

Apesar dos pirilampos nãodeixarem o seu crédito em mãos alheias, eabundarem, outrosanimais nocturnos podem ser vistos: sapos, morcegos eouriços-cacheirospontuam entre outros

Como conseguem os pirilampos, bichinhos tãopequenos, dar esta luz? É a bioluminescência, umapalavra nova para deslindar!

Durante o Verão do ano passado oParque Biológico de Gaia solicitou atodas as Câmaras Municipais dePortugal, à Associação dos Amigosdo Parque e a outras pessoas e enti-dades que registassem e lhe comu-nicassem observações de pirilam-pos.Aqui estão os resultados.Havendo no Parque Biológico umagrande população de Pirilampos,resolveu esta empresa municipalcontribuir para o seu conhecimentoa nível nacional. Sendo os Pirilampos «bio-indicado-res», isto é, indicadores do estadodo ambiente, o conhecimento dasua evolução é muito importante.

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32 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

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O Parque Biológico de Gaia participou na Feira PortugalAmbiente, na Exponor, em Matosinhos. Um grupo detécnicos do Parque foram escalados para atenderem osnumerosos visitantes que, de 14 a 17 de Abril, estabe-leceram contacto com as edições do Parque Biológicoe os seus produtos típicos como o kit de construção deninhos e comedouros ou o de herbários.

No périplo que englobou contactos pessoais comdiversas universidades da Península Ibérica, o Prof. Dr.Alex Fiúza de Mello, reitor da Universidade Federal doPará, passou pelo Parque Biológico de Gaia, calcorre-ando o seu percurso de descoberta da natureza.

Durante a visita teceu comentários elogiosos a estaempresa municipal e congratulou-se pela sua existên-cia.

REITOR VISITA O PARQUEBIOLÓGICO

O reitor da Universidade brasileira do Parávisita o Parque Biológico na companhia do

seu director, Nuno Oliveira

Origami

Stand do ParqueBiológico no MercadoFerreira Borges

Stand do ParqueBiológico na Exponor

EXPONOR: FEIRA PORTUGALAMBIENTE

De 28 a 30 de Maio o Parque Biológico de Gaia estevepresente com um stand na VI Feira de AgriculturaBiológica.

Organizada pela AGROBIO – Associação Portuguesa deAgricultura Biológica, de Lisboa, e pelo IDARN – Insti-tuto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte,de Vairão, agregou expositores de artesanato ecoló-gico, agricultores e empresas que se dedicam à produ-ção, instituições que se relacionam com a qualidade devida e o ambiente, entre outras.

AGRICULTURA BIOLÓGICA NOMERCADO FERREIRA BORGES

A Associação Ilha Mágica associou-se às comemo-rações do Dia da Criança e Dia do Ambiente no ParqueBiológico de Gaia e desenvolveu dia 5 de Junho diver-sas actividades: origami e jogos tradicionais, contado-res de histórias e dança jovem. Este programa decorreude manhã e de tarde. O encerramento no auditóriocom os palhaços da Associação Ilha Mágica.

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 33

Voluntariado: mãos à obraGalochas, cabelo apanhado, braços libertos de mangas, que o trabalho nãotitubeia. Aos olhos dos visitantes do Parque, Susana não é voluntária, poisconfunde-se com qualquer outro trabalhador

O Parque Biológico de Gaia lançouum programa de voluntariado hácerca de meio ano para as áreas deeducação ambiental, jardinagem etratamento de animais.

Susana soube do voluntariado do

Parque «quando vim entregar o meucurrículo na esperança de vir para cátrabalhar, no fim de Fevereiro passa-do». Como as vagas para tratadorade animais, em regime de quadro,estavam todas preenchidas, «sugeri-

ram-me fazer o serviço de volunta-riado. Preenchi os impressos, ondehavia várias actividades. Entre elaspreferi a de tratadora».

Numa primeira fase, que ainda nãoterminou, Susana acompanha ostratadores. «Nasci a gostar de ani-mais. Quando acabei o 9.º ano jáqueria trabalhar com eles, a minhamãe é que não me deixou». Agorasurgiu-lhe esta oportunidade,«pronto, toca a vir». Aliás, adianta,«um dos sonhos que gostava de rea-lizar era trabalhar aqui no ParqueBiológico».

Há um horário mínimo a cumprir deacordo com os regulamentos do tra-balho voluntário, mas Susana, numcalculismo que favorece o Parque,resolveu a dada altura «fazer maisuma hora do que o que estava nohorário. Passei a vir às 9h00: perce-bi que se viesse mais cedo podiaentrar em mais gaiolões do que seviesse mais tarde».

Não é caso único, embora na suamaior parte outros voluntários setenham inscrito e, quando o traba-lho pesou, mudaram de planos.

O Parque Biológico de Gaia foi palco de uma formaçãodo Instituto de Conservação da Natureza, que decorreude 26 e 27 de Abril.

Este Curso de Manuseamento e Identificação deAnimais Selvagens e Procedimentos de Fiscalização emLojas e Hortos, Feiras, Circos e Particulares, dirigiu-seàs forças militarizadas do Serviço de Protecção daNatureza e Ambiente (SEPNA) e da GNR.

INSTITUTO DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA: FORMAÇÃO

João Loureiro, biólogo do ICN, num momento daformação no auditório do Parque Biológico

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34 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

A cama, mesa e roupa lavada oferecida pelo ParqueBiológico de Gaia às lontras que chegaram do Algarveem Abril é bem merecida. Sem que lhes fosse pedido,estes mustelídeos contagiam os visitantes com as suasbrincadeiras espontâneas. Estas quatro lontras, oriun-das do Zoomarine, têm nomes tão pitorescos quanto asua boa disposição: Zé Lontra, Aquiles, Alimário,Amazona. Aquiles e Amazona são irmãos e foram apa-nhados na barragem de Castelo de Bode. Alimário foiencontrado a nadar desorientado e houve pescadoresque o recolheram.

O objectivo é repovoar o rio Febros, que está a ser des-poluído, mas que até aos anos 80 tinha lontras.Segundo Vanessa Soeiro, veterinária do Parque, «aintenção é conseguir ter um casal a reproduzir-se, demodo a introduzir as crias no habitat natural, o rio.Deve ter-se em atenção que, como estes quatro ani-mais estão habituados ao contacto com os sereshumanos, não estão habilitados para serem liberta-dos». Antes de tudo, é necessário que o rio Febros este-ja completamente despoluído.

Centro de recuperaçãoLontras brincalhonas

Quando os agentes da Guarda Republicana passaramdiante da porta em passo acelerado, estava longe de

supor que transportavam uma víbora de uma dúzia decentímetros. Nunca vira nenhuma ao vivo...

Pouco depois, num copo tapado, Henrique Alves, bió-logo, põe-ma diante do nariz: «Sabes o que é?». Pensei,uma Coronella? «É uma víbora, pá!». Atentei no dese-nho do dorso, a cabeça era tão pequena que não des-cortinava os pormenores mais evidentes, os olhos depupila fendida e nariz arrebitado, que dá nome à víbo-ra-cornuda, a única víbora ibérica cujo território natu-ral engloba todo o Portugal Continental. Bem, depois,foi a odisseia de a fotografar...

Este réptil, protegido por lei, mordera, sem consequên-cias graves, viemos depois a saber, um homem que atinha tentado apanhar lá para os lados de S. João daMadeira. Assistido no Hospital Santos Silva, as entida-des competentes providenciaram no sentido de serentregue ao Parque Biológico, que a libertará próximoda origem, na Serra da Freita, a fim de não interferir naevolução natural das subespécies.

Víbora-cornudaA víbora (Vipera latastei) entregue no Parque Biológico deGaia distingue-se da outra espécie de víbora autóctonesobretudo por ter um nariz arrebitado

Fase da transferência da gaiola detransporte para o cercado das lontras

Duas das quatro lontras que os visitantesdo Parque podem ver durante a visita

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 35

Em 31 de Março nasceu uma primeira vitela, a Milka.«Este nome foi escolhido pelos funcionários do Parquede entre uma lista de nomes sugeridos pelos alunosque passaram aqui a noite na altura do parto», explicaAna Mafalda, engenheira zootécnica. O outro vitelo éo Nevão, e parece um dálmata! Entretanto, de lá paracá os novos hóspedes do Parque Biológico não pararamde chegar. Os mais recentes são gansos, patos, pintose garnisés, e ainda uma dúzia de faisões, dois javalis,três gamos, dois corços.

Maronesa: a vaca do MarãoEmbora outros nomes lhe sejam atribuídos (Serrana,Penato, Pinheira…), o nome da raça responde à to-ponímia da região tida como principal área de cria-ção, a serra do Marão.

Durante muito tempo considerou-se que esta raçaera o resultado de um cruzamento de Mirandês eBarrosão devido à proximidade dos seus solares.Hoje o Maronês é considerado uma raça, por se

apresentar, no seu aspecto étnico, tal como há 100anos, quando se registaram pela primeira vez assuas características.

O solar de criação delimita toda a região serrana doMarão: Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Murça,Mondim de Basto, Ribeira de Pena, Alijó e Sabrosa.

De pelagem escura (mais pronunciada no macho) ecabeça pequena rematada por um “grosso focinhonegro e orlado de pêlos brancos”, esta raça é explo-rada na produção de trabalho e carne. A quase tota-lidade das fêmeas são recriadas com vista à renova-ção dos efectivos de reprodução. Daí a dificuldadeem adquirir um exemplar de tenra idade para que seadapte sem dificuldade ao dia-a-dia do Parque.Porém, os visitantes do Parque Biológico já podemapreciar as belas e rústicas características destaraça nas suas deslocações a esta instituição.

Texto de Ana Mafalda, eng.ª zootécnica. Fonte: A.C.R. -Associação dos Criadores do Maronês

A raça Maronesa, típica do Nordeste,é tida como arisca

Javalis, vitelos, cabras, gamos, corços...O sopro desta época de fartura trazconsigo ritmos de renovação

Férteis aragens primaveris

Nasceram dois javalis em Maio

As cabras-anãs do Parque sãodas mais prolixas

Nasceu no Parque um casal de vitelos, aqui com aCasa do Bogas ao fundo

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36 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

Ao Parque Biológico de Gaia chegam informações dasmais variadas. Até agora, uma informação peculiarchegou através de José Presas.

Este visitante descreveu um encontro imediato comum lobo, em 27 de Fevereiro, pelas 9h00, quando «iapara Castelo de Paiva, na Estrada n.º 222, e ao chegarao entroncamento para Canedo, aí a uns cem metros,quem vem direccionado da Barragem de Crestumapara Gaia, olho e vejo um lobo, pela berma da estrada,no lado direito».

Surpreendido, parou o carro.

Ao olhá-lo com maior cuidado, viu que «tinha aquelapelagem castanha, bastante escura, o focinho carac-terístico do lobo e aquela cauda bastante larga, farfa-lhuda, típica» deste predador.

Lobo na vilaLobo-ibérico. Foto cedida por José Carlos Presas

Patrocínio de animais

Qualquer pessoa, singular ou colectiva, pode apoiar os animais doParque Biológico de Gaia. Trata-se de um dos poucos locais que asse-gura a recolha e tratamento de fauna que, de outro modo, não teriacomo sobreviver.

Milhares de animais são anualmente entregues aos cuidados do Parquepor quem os encontrou feridos, doentes ou caídos de ninhos, ou pelasautoridades que os apreenderam por posse ilegal. Quando não é possí-vel a sua recuperação total, e consequente libertação na natureza, essesanimais ficam na colecção do Parque, como meio de educação ambien-tal. Qualquer pessoa, singular ou colectiva, poderá apoiar os animais doParque Biológico de Gaia, ficando o seu nome (ou marca) inscrito nainstalação que patrocinar.

Já há algumas empresas que, compreendendo a utilidade do seu apoio,se adiantaram e estão a patrocinar os animais do Parque, bem comoalgumas das suas exposições.

A empresa municipal Águas de Gaia patrocina as lontras que estão doParque Biológico. A empresa arrozeira Orivárzea, S. A. oferece apoiotécnico aos dois campos de arroz que crescem no Parque bem como aexposição alusiva ao Ano Internacional do Arroz. A FundaçãoPatrimónio Natural patrocina a mostra «Exóticas: pela mão do homem»e a Oficina Beiranense, Lda apoia os comedouros para aves selvagens.

Apadrinhar animais é uma forma de reunir mais recursos parao bem-estar animal, algo que, por questões éticas e até legais,é fundamental. Apurámos que o Parque Biológico cuidatambém disso, e conta com a sua ajuda!

Gamo nascido natarde do 1.º sábado

de Junho

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 37

Sem pressas, um pé atrás do outro.Afinal, entre frondosas árvores eapetecíveis vistas, a calma ajuda asaborear o caminho. Ao longo dopercurso de descoberta da naturezado Parque Biológico de Gaia qual-quer olhar menos atento dá a ver osninhos de madeira pendurados noarvoredo.

Como o passar do tempo tem destascoisas, estes objectos degradam-se— é chuva, sol, caruncho e muitomais. A madeira encarquilha, sur-gem brechas, deixa de servir a pas-sarada. No início do ano, algunsdestes ninhos estavam mesmo apedir substituição. André e DanielMorais, técnicos do Parque, mete-ram mãos à obra.

Logo de início, surpresa! Um dos pri-meiros ninhos, que até pareciaabandonado por ser muito velho,assim que desceu da escada, mos-trou como recheio uma fofa camade musgo e folhagem envelhecida,mas ainda assim coroada por reben-tos ali deixados de madrugada.

Depois, plano numa mão escada naoutra, a tarefa seguiu. Ora aqui oraali, um ninho vazio, a precisar dereforma. Mais adiante, um dos maisencardidos atemoriza: é colmeia dezangões! Alérgicos, cuidado! Outroninho mostra uma cama fofa defibra de casca de eucalipto, trabalhode esquilo.

De uma maneira ou de outra, passa-do um tempo, em Maio já muitosdestes novos ninhos estavam ocupa-dos, sobretudo por pardal-montês.Ao passar perto, dentro de váriosdos ninhos colocados nas árvores do

Parque, conseguirá ouvir crias apedir alimento aos pais: é que istode ter asas e não as usar não estácom nada…

Ninho novo, vida novaNão é difícil vê-los. Manchas novas que contrastamnas árvores com outros ninhos de madeira maisantigos. Em Fevereiro passado, houve que reformar osdegradados, porque na Primavera alguma dapassarada selvagem aproveitou-os, sem hesitar!

s

Ovo de pardal-montêstemporariamente

extraído de um dosninhos

André e Daniel Morais no diada reforma dos ninhos

Pinto de pardal-montês retirado do ninhopor uns segundos: pensei «Ai o porcalhote!»

Ninho acamado por esquilo

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38 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

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No meio rural antigo, por esta datahavia várias desfolhadas. Quandochegava a vez da última, essa eraconhecida como a «desfolhada doresto».

Recriar estas tradições, no ParqueBiológico, faz com que visitantes,espigueiro, eira e campos de milhoda Quinta de Santo Tusso seconjuguem num quadro peculiar.

Não agrada só à vista. Isso percebe--se quando o suposto dono da eirasaca do corno e sopra aquele somrústico, a chamar dali e dacolá oscamponeses devidamente trajados,

que paulatinamente se agrupam naeira.

Isto é só o começo de uma históriarica, bem guardada e transmitidapelo grupo de danças e cantares.

Na roda em que as espigas serevelam, quando o milho-rei, degrão vermelho, surge na mão dealguém, há uma explosão de alegriaque dá até para se levantar de umsalto para beijar, sendo rapaz, asmoças todas da eira.

Num repente, uma lavradeira solta avoz num cantar regional e, com isso,assinala o fim do descamisar das

espigas. Vassoura de giestas nasmãos, faz-se a limpeza da eira.Chega a vez do bailarico!

As uvas gritavam já nas ramadas paraserem colhidas quando, em 25 deSetembro, de tarde, entre baldes,escadas, tractor e alegria, crianças efamiliares deitaram mão aos cachossob a batuta de Manuel Costa e DanielMorais, do Parque Biológico de Gaia.

A animação estendeu-se até ao sol--posto, no lagar, onde as crianças quequiseram puderam experimentar opisar da uva...

Desfolhada do milhoAo ritmo do Rancho Danças e Cantares de Santa Maria do Olival o Parque Biológicode Gaia recriou a chamada «desfolhada do resto», em 9 de Outubro, sábado de tarde

Vindimas: em torno da uva

No bailarico, não vale discriminarquem não traja a rigor

Desfolhar asespigas toca atoda a família

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 39

A jóia-da-coroaA agenda de actividades para o corrente ano lectivo, com propostas diárias deateliers dirigidos especialmente às escolas, foi apresentada aos jornalistas nopassado dia 13 de Outubro de manhã pelo Conselho de Administração do ParqueBiológico de Gaia, presidido por Luís Filipe Menezes

Nesta conferência de imprensa, Nuno Oliveira, admi-nistrador-executivo do Parque, apresentou uma sínte-se ilustrada sobre as actividades de educação ambien-tal desenvolvidas e explanou as expectativas para2004/2005. «O nosso público-alvo são as escolas»,afirma Nuno Oliveira e insiste que «interessa mais criarpúblicos qualificados, com destaque para a educaçãoambiental».

O presidente da Câmara Municipal de Gaia explica:«Não nos interessam os predadores. Isto não é um cen-tro comercial». Luís Filipe Menezes referiu o ParqueBiológico como a jóia-da-coroa do ambiente e adian-tou que prevê uma ampliação dos terrenos, em confor-midade com o Plano Director Municipal, que só não éfeita de imediato por falta de verbas. Além disso, disse,«a lei das expropriações complica o trabalho das autar-quias e com a actual legislação é muito difícil encon-trar solução para o parque». Uma opção poderá vir aser «celebrar parcerias com o sector privado que per-mitam financiar mais cerca de 20 hectares».

O presidente salientou ainda que «a acção do Parque

Biológico não se cinge às instalações e espaço quepossui em Avintes. Cabe-lhe ainda tratar da constru-ção e gestão de dois novos espaços: o Parque daCidade e o Parque de Crestuma, estando ambos emandamento, mas com uma filosofia diversa. O Parqueda Cidade tem 15 mil metros quadrados de área delazer e 10 mil de área desportiva».

Com cerca de 117 mil visitantes previstos para este ano, o ParqueBiológico diz apostar mais na "qualidade e na curiosidade dosvisitantes" do que na quantidade

Conselho de Administração do ParqueBiológico de Gaia: (da esquerda paraa direita) Nuno Oliveira, Luís FilipeMenezes e Nelson Cardoso

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A árvore é uma fonte praticamenteinesgotável, porque dela pode-seobter alimento, sombra, calor, etc. Aárvore fornece matéria-prima paraferramentas, meios de transporte,combustível e até vestuário; comcertos filamentos retirados das cas-cas das árvores pode-se construirtecidos e até tingi-los com substân-cias extraídas, também, das suasbagas e raízes. Assim, o homem con-siderava as árvores como a maiordádiva da Mãe Natureza e por issopreparava e executava rituais deveneração quando eram abatidas. Ospovos da Europa e do Médio Orientetinham bosques sagrados nos quaisse praticava a filomancia que é aarte da adivinhação pela escuta dosruídos das folhas. Por vezes, escolhi-am-se determinadas árvores consi-deradas especiais e por isso elevadasà categoria de Deuses, cujas vozessó podiam ser interpretadas porsábios ou sacerdotisas que residiamjunto à árvore eleita. A árvore representa a ligação entreo submundo profundo, onde seencontram as raízes e a iluminaçãoespiritual para onde ascendem osramos. A árvore é o símbolo naturalda renovação e regeneração sazonalrepresentada pela Árvore da Vida. Aárvore estilizada é frequentementerepresentada, e simboliza a fecundi-dade da terra e da vida. Nalgumasculturas, a Árvore da Vida represen-ta simbolicamente a evolução e arenovação cíclica do Cosmos.A árvore da vida é uma simbologiaaltamente difundida em todas asformas de arte, traduzindo-se de ummodo original na arte têxtil: tape-çarias, tapetes, colchas e bordados.A árvore da vida preenche o centroda peça, de alto a baixo, estendendoos ramos por todo o campo doobjecto têxtil e o espaço livre é pre-enchido por todo o tipo de vegeta-ção e de animais, enaltecendo arelação do homem com a naturezano seu aspecto místico. Nos tapetes

orientais, o denominado tapete jar-dim mostra o quanto era importan-te a representação da natureza, quercomo símbolo do paraíso, quer comoprenúncio de bom augúrio a quemse destina. O jardim é um delicado símbolo davida terrena e do além, visto que ojardim sempre foi considerado umaimportante fonte de felicidade. ABíblia fala do jardim do Éden, ondetodos os tipos de vegetação flores-ciam sob a protecção da árvore davida, a árvore do conhecimento dobem e do mal, que era continua-mente regada por um límpido ribei-rão. O Corão, por sua vez, prometepara o além uma vida que será pas-sada em dois frondosos jardins.A iconografia e a literatura cristãmostram com frequência umaestreita relação simbólica entre asárvores do paraíso e a cruz de Cristoe que é "verdadeira Árvore da Vida".A cruz representada com folhas, flo-res e frutos é o símbolo da supera-ção da morte. Muitas vezes, umaárvore com flores e frutos trazendoo Crucificado indica também árvoreda sabedoria no paraíso e, destemodo, a superação do pecado origi-nal por intermédio de Cristo.O culto da árvore atravessa todas asculturas e religiões, estejam elasimplantadas em zonas desérticas ouem luxuriantes florestas, traduz-sena relação mágica que o homemdesenvolve com a natureza, sendofonte de inspiração e representaçãona Arte.

Bibliografia

LEXIKON, Herder; - DICIONÁRIO DESÍMBOLOS - Editora Cultrix, São Paulo,1990.

WARKER, BARBARA G.; - Dicionário dosSímbolos e Objectos Sagrados da Mulher- Planeta editora, Lda, Lisboa, 2002.

a r b o r i c u l t u r a

40 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

A árvore e a arte têxtilA Árvore! Esse ser que impressionou o homem desde os tempos imemoriaise foi objecto de veneração; pelas suas características, o homem elegeu-acomo símbolo, e consequentemente conferiu-lhe um estatuto especial.

Texto: Paula Maria Tomaz, ConservadoraRestauradora de Têxteis

FORMAÇÃOA SPA organizou mais duas acçõesformativas: sob a forma deWorkshop: a Análise Visual deÁrvores e o Transplante de Árvorese Arbustos foram os dois temasescolhidos.Nestes Workshops, para além deaspectos de formação, pretendeu-se dinamizar duas questões queestão interligadas e em relação àsquais se verifica forte necessidadede informação por parte de técni-cos, arboricultores ou jardineiros,promovendo o debate entre conhe-cimentos adquiridos e experiênciaspráticas. O número de inscrições recebidasmostraram o acolhimento favorá-vel destas iniciativas e para ambasas acções foram organizadassegundas edições.A SPA continua a tentar correspon-der às solicitações dos associados epúblico em geral no âmbito da for-mação. Se tiver alguma sugestãoou interesse em áreas específicasda Arboricultura Urbana contacte-nos para o nosso endereço electró-nico: [email protected].

ROLAGENSMais uma vez em plena época depodas são visíveis um pouco portodo o país situações aberrantes defalta de respeito pelo patrimónioarbóreo, e o desconhecimento totalda implicação que semelhantespodas podem ter na gestão futurado arvoredo assim tratado.Como exemplo fica a imagem deduas situações elucidativas daquiloque não se deve fazer em árvoresadultas.�

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a c t u a l i d a d e

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 41

Grande parte da história dos bosquesactuais começa há cerca de 18 milanos, quando os glaciares ocupavamgrande parte da Europa, encontran-do-se os bosques naturalmentereduzidos a uma expressão mínima.

Nos últimos 10 mil anos os bosquescomeçaram a recuperar. Nessaépoca os carvalhos (Quercus), sobre-tudo os carvalhos de folha caduca,dominavam. Pelo início do Neolítico,os bosques de quercíneas (carvalhos,sobreiros, azinheiras) deveriamcobrir a quase totalidade do territó-rio nacional.

Contudo, desde então, as alteraçõesdos bosques começaram a estarrelacionadas não só com as altera-ções climáticas como também coma acção do homem.

A degradação do bosque começoupois há muito tempo, no advento daagricultura e da pastorícia e com aocupação humana do território.

A Revolução Neolítica, primeiro, e aBaixa Idade Média, mais tarde,constituem marcos importantes nadestruição dos bosques naturais donosso país. A degradação da paisa-gem natural era, no entanto, lenta enão devastadora como actualmente,quando a cada Verão infernal sesegue uma perda de solo no Inverno,irreparável à escala de uma vidahumana.

Os incêndios florestais, pela dimensãoe pelos estragos provocados constitu-em, ano após ano, um sinal de alarmee uma exigência de que qualquercoisa terá de mudar. Mas, ano apósano, arde tudo novamente…

Com perdas sucessivas de solos —que invariavelmente se encontramsujeitos aos factores erosivos e vão,

em última análise, parar aos rios,arrastados pelas chuvas —, perde-setambém mais esse valiosíssimopatrimónio e a desertificação doterritório vai ganhando terreno.

As árvores que vamos poder plantarserão cada vez menos, e o bosqueresultante cada vez mais pobrenuma componente de riquezainsubstituível: a diversidade dasespécies.

O sucesso e a notoriedade da flores-ta continuam, ano após ano, a sermedidos pela taxa de arborização,mesmo nas áreas protegidas. E arbo-rização com quê? Claro: com euca-lipto e pinheiro-bravo...

Como dizia o poeta, “mudam-se ostempos, mudam-se as vontades”,mas em Portugal tudo parece ficarna mesma...

Estava eu a escrever estas palavrasquando me veio à ideia um artigoque li há uns tempos, e do qual voucitar aqui alguns excertos: «Osdefeitos da cultura outrora exagera-da da Picea na Alemanha, ou dopinheiro-bravo e do eucalipto emPortugal, são hoje do conhecimentode todos». Bom, se dito hoje, istonão constituiria grande novidade;no entanto, esta frase foi escritapelo grande botânico alemão,Werner Rothmaler, em 1941! E pros-segue: «Boas florestas, melhor solo,melhor clima, melhores produções,elevação do nível de vida das popu-lações é o que a actual silviculturaportuguesa deve preparar para asgerações futuras». Palavras paraquê?!...

Texto: Henrique N. Alves, botânico.Foto: Jorge Gomes

O bosque ou a floresta negraNão, não é dessa que eu estou a falar, é mesmo da nossa. Vou usar o termo bosquede propósito, não gosto do termo floresta, hoje, como todos sabem aplicado àsmonoculturas de pinheiro ou eucalipto, e essa é que é a floresta... mas não a minha.

Carvalho-alvarinho

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42 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

a r q u i t e c t u r a

Tendo como pano de fundo uma região de Portugal –Miranda do Douro – que ainda conserva alguns valo-res da ruralidade e da pacífica convivência do homemcom a natureza, marcada pelo rio Douro, pelas suasescarpas, que fazem fronteira com a vizinha Espanha eassinalam de uma forma indelével a força da naturezanuma zona do país onde ainda é possível viver o ritmoda natureza no seu estado mais puro.

A participação neste seminário vem mais uma vezacentuar a importância de repensar a forma como nosrelacionamos com o ambiente natural, sabendo que apostura que escolhermos vai ditar o futuro que reser-vamos para os nossos filhos.

A relação entre a construção tradicional e a constru-ção ecológica é muito próxima, ambas procuram asmelhores soluções com o menor desperdício de mate-riais e energia. Neste capítulo são muitas as lições queainda temos de reaprender com os nossos antepassa-dos. Os antigos sistemas de construção utilizavammateriais de fontes renováveis e que provinham das

Bioconstruçãoe arquitectura tradicionalDe 28 a 30 de Abril decorreram as I Jornadas Transfronteiriças de Bioconstrução eArquitectura Tradicional em Trás-os-Montes. Seminário organizado pelaPlataforma Cultural Transfronteiriça – Adidodec, Aldeia, Associartecine e Palombar– procurou fazer o encontro entre os arquitectos da cidade e da aldeia, entre aarquitectura da “escola” e a arquitectura popular, partilhando modos de fazer eexperiências, dentro de um ambiente informal e de saudável convivência

- Os edifícios para habitação deverão ser construídos em zonas não poluídas por indústrias ou tráfego viário.

- Devem ter como vizinhança amplas zonas verdes.

- Os materiais de construção terão de ser naturais e não tóxicos, deverão também ser escolhidos de forma a teremum longo tempo de vida e baixa manutenção. Durante a sua manufacturação deverão provocar o mínimo deimpactos negativos sobre o ambiente, nem devem explorar recursos limitados ou em perigo de extinção.

- Os edifícios deverão ser construídos de forma a captarem a energia solar de forma eficaz e na medida correcta,deverão também possuir inércia térmica de forma a minimizarem o uso de sistemas de climatização artificial.

- A ventilação é fundamental para a qualidade do ar interior.

- A iluminação natural deve ser uma das prioridades do desenho do edifício.

- Deverão neutralizar-se os ruídos e campos magnéticos artificiais.

- A água é um recurso vital e escasso, deverá ser uma das preocupações do projecto e da manutenção dos edifícios.

Princípios fundamentais da Bioconstrução

Agora em fase de declínio, os pombais, muito caracterís-ticos desta zona, foram em tempos um elemento funda-mental desta sociedade rural. Hoje em dia, poucos aindase encontram em funcionamento, principalmente devidoà caça; a criação de pombos era praticada tanto paraconsumo como para a produção de um adubo de grandequalidade – pombinho – resultante dos seus excrementos.

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Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 43

proximidades do local de constru-ção, as tecnologias aplicadas eramsimples e eficazes, muito contextua-lizadas com a realidade e o climalocal, premissas da chamada bioar-quitectura, uma arquitectura mais“amiga” das pessoas e do ambienteque tem vindo a ganhar adeptos.

Tendo como ponto de partida adivulgação, experiência prática e odebate, este seminário reuniu parti-cipantes e oradores dos dois lados dafronteira, representando áreas apa-rentemente distintas como as dosarquitectos, antropólogos, biólogos,agrónomos, entre outros. Isto possi-bilitou a discussão e a partilha deconhecimentos e experiências extre-mamente interessantes.

Durante os três dias em que decorreueste seminário, pudemos observardiversas casas tradicionais, cujaforma e técnicas construtivas seadequam perfeitamente ao meio emque se inserem; utilizando materiaisda região e adoptando uma formaperfeitamente adequada à funçãoque desempenham. Numa visita àcasa de Avelina e Vítor Rodrigues —onde provámos uns fantásticos bolostradicionais muito bem acompanha-dos pelo vinho da região —, percebe--se como todos os espaços da casaestavam perfeitamente dimensiona-dos para as funções que desempe-nhavam. Estas casas destacam-sepelo pátio interior que é o seu epi-centro.

Os grandes portões voltados para arua permitiam um fácil acesso aoscarros-de-bois, carregados de feno eprodutos agrícolas. Nestas casas ofim do dia era passado a organizarpelas diversas divisões tudo o quechegava pela porta principal, sendoo pátio o local que distribuía as fun-ções pelo resto da casa. A casa tinhadois pisos, o rés-do-chão era ondese localizava a cozinha, as divisõesafectas às alfaias agrícolas, os locaisde armazenamento e espaços paraos animais. Ao nível do primeiro piso

localizavam-se os quartos, semprepontuados com uma varanda volta-da para o pátio interior. Este conjun-to resultava em edifícios com umaárea coberta considerável.

Estas construções de carácter ruralsão constituídas por largas paredesde pedra granítica da região, apare-lhadas segundo técnicas ancestrais.Numa demonstração feita porEduardo Paulo, um antigo pedreiro,foi possível entender como se esco-lhem e colocam as pedras na cons-trução de uma parede — o principalsegredo deste tipo de construção. Aspedras são ligadas com argamassasnaturais, uma mistura de terra epalha, formando muros de grandesolidez.

Numa outra visita tivemos a oportu-nidade de observar um forno detelhas, recentemente recuperado,onde José Xisto trabalhou muitosanos. Com recurso a três instrumen-tos rudimentares ele conformavauma telha de cerâmica, que depoisera colocada ao alto, no interior doforno. O forno é uma construção empedra com um formato quase cúbi-co, mas cujo topo está aberto, porbaixo existe um espaço onde secoloca a lenha, e acende a fogueira.Quando o forno ficava cheio detelhas, era coberto e acendia-se afogueira, que tinha de ser mantidapor cerca de dois dias. Estas telhasde cerâmica produzidas manual-mente têm uma resistência superioràs fabricadas actualmente comrecurso às novas tecnologias.

Para quem quiser visitar aqui fica oroteiro: cidade de Miranda do Douro– aldeias de Freixiosa - Atenor –Castelo de Algoso – Sendim – Ifanes– Minas de Sto. Adrião – Barrocal.

Texto e fotos: FranciscoSaraiva - [email protected]

Mistura de terra com palha que serve comoligante, para a construção de muros e paredesde pedra. A pasta que resulta desta misturadepois de seca ao sol dá uma grande resistên-cia às paredes, testemunho disso são as inú-meras construções centenárias constituídas porestes materiais.

Aspecto de uma parede de granito acabada deconstruir com a técnica de terra e palha. Aspedras não são apenas empilhadas, todas elastêm um local certo para assentarem. Este tipo demuros é constituído por duas fiadas de pedra,uma interior outra exterior, travadas em algunspontos pelos "juntouros", pedras de uma maiordimensão que unem as duas faces, eram poste-riormente rebocadas com argamassas naturais.

Início de uma construção com fardos de palha.Este tipo de construção não muito comum nonosso país, é mais uma das formas de construircom poucos recursos e de uma forma sustentável.Apesar do seu aspecto frágil, quando terminadas,estas construções revelam-se extremamente sóli-das e confortáveis, mesmo em locais com climasextremos. A espessura das paredes e a capacidadeisolante da palha permitem criar ambientes interiores termicamente optimizados.

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44 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

c u l t i v a r

Em Portugal há um Plano Nacionalpara o Desenvolvimento da Agricul-tura Biológica. O ano passado o Mi-nistério da Agricultura contou 1174produtores e atribuiu 120 mil hecta-res de área agrícola como sendo de-dicados à agricultura biológica. Até2007, pretende-se que esta áreapasse a ser de 260 mil hectares e osprodutores venham a ser 4700.

Pretende-se com este plano (2004/2007) atingir os seguintes objectivosestratégicos no final dos quatro anosem que decorre: tornar o modo deprodução biológico mais conhecido ecompetitivo; aumentar e melhorar aactividade agrícola em MPB; aumen-tar e racionalizar a concentração,acondicionamento e comercializaçãode produtos de agricultura biológica;

reforçar, desenvolver e consolidar aactividade de transformação de pro-dutos obtidos a partir do MPB (modode produção biológico); aumentar oconsumo de produtos da agriculturabiológica.

Dentro dos objectivos instrumentaisque visam aumentar a confiança eprocura dos consumidores portu-gueses nos produtos da agriculturabiológica, estão previstas maisacções: divulgação e promoção juntodos consumidores (medida esta queo Parque Biológico já implementou);aperfeiçoamento da fiscalização e darepressão das fraudes; melhoramen-to dos sistemas de controlo e certifi-cação; prevenção da contaminaçãodas culturas obtidas em MPB por ou-tros modos de produção.

Densidade de emprego

Em geral, as análises demonstramque a agricultura biológica requerum maior volume de trabalho, prin-cipalmente devido às tarefas manu-ais e mecânicas indispensáveis àsculturas. Este facto é de grandeimportância num país em que existeuma taxa tão grande de abandonodas zonas rurais. O MPB contribui deforma significativa para o desenvol-vimento dos meios rurais. Além disso,ajuda a fixar os agricultores na terra,valorizando a sua produção e digni-ficando a sua profissão.�

Agricultura biológicaA feira “Terra Sã”, que decorreu no mercado Ferreira Borges nos dias 28, 29 e 30 deMaio, teve a participação do Parque Biológico de Gaia

Fonte: Ministério da Agricultura,Desenvolvimento Rural e Pescas

Quinta de Santo Tusso, no percurso do Parque Biológico de Gaia. Nosprimeiros sábados de cada mês há feira de agricultura biológica

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Conhece D. Lavandisca Alvéola?

Quanto não vale esta serra!

«Quando os pintos saíram do ninho, o trabalho da mãeaumentou. Tinha de lhes levar a comida aos sítios ondeestavam escondidos e os seus cuidados para que ninguémos visse tinham de ser redobrados.Dona Lavandisca Alvéola levava uma lagarta verde bemgorda para o seu pinto mais pequeno, quando o coraçãolhe estremeceu de susto! O Pequenote saíra do esconderijoe caminhava, decidido, pelo carreiro abaixo...Lá ao fundo vinham duas pessoas!»Mas não se preocupe que, apesar das pessoas e do gato,os perigos que fazem parte da vida neste caso não sãodecisivos na sobrevivência desta família.Este extracto da vida do casal de Lavandiscas mostradanas páginas deste livro dá só um cheirinho de um con-teúdo onde a acção e os tópicos fundamentais de com-portamento marcam pontos. As traves-mestras das ne-

cessidades diversas, cujasatisfação torna possívelcontinuar a ver as Alvéo-las ou Lavandiscas por aí,estão descritas no livro deforma especialmente atra-ente por Mouta Faria.Se considera importanteenvolver os mais pequenosno entendimento e conser-vação da natureza, encon-tra nesta obra um autênti-co passo em frente. À venda no Parque Biológico de Gaia, pode ser pedidopelo correio. Informações: Loja do Campo, 227878120 oue-mail [email protected]

p a r á g r a f o

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 45

Manuel Mouta Faria desenhou, escreveu, o Parque Biológico publicou. Uma históriaem forma de livro dedicado à infância, que adianta muita informação sobre estasaves simpáticas que pululam aqui e ali

Com coordenação de Manuel Nunes, surge o livro «Serrada Aboboreira: a terra, o homem e os lobos». Uma dúzia de autores, alguns renomados, assinam asdiversas vertentes deste trabalho, da arqueologia à flora,da fauna ao imaginário popular. João Queirós, director doAgrupamento de Escolas de Vila Caiz, aponta a obra como«uma viagem única pela Serra da Aboboreira, guiada porpessoas de reconhecido mérito e competência nas maisdiversas áreas de investigação». Acrescenta nas suaspalavras prévias: «Este trabalho servirá não apenas comoguia de estudo e reflexão para aqueles que se debruçamsobre o estudo da arqueologia, da flora e da fauna desteespaço montanhoso único, com realce particular para o

lobo, esse misterioso habitantedas nossas serras, mas tambémcomo cartão-de-visita para todosquantos se queiram deixar, comonós, seduzir pelas belezasrecônditas e raras de um espaçomontanhoso tão belo quantodesconhecido como é a Serrada Aboboreira». A Câmara Municipal deAmarante editou o livro.

Quem tem medo das aves?Há pessoas que têm fobia a tudo o quetenha penas, inclusive pintos! Emborasejam uma minoria, a maioria vê-se gregapara distinguir um quarto das espécies deaves autóctones que pululam nos camposmas também nas cidades. Uma forma denão recear essa lacuna é deitar a mão aum bom guia de aves. Há cerca de um ano, a SociedadePortuguesa para o Estudo das Aves(SPEA) assina no nosso país «O Guia deCampo mais completo das aves de

Portugal e da Europa», uma adaptaçãodo original europeu de Killian Mullarney, Peter Grant

(texto), Lars Svensson, Dan Zetterstrom (ilustrações).

«Tem toda a informação necessária para identificarqualquer espécie em qualquer época do ano», lê-se. Otexto abrange aspectos do habitat, da área geográfica, dadescrição e dos cantos de cada espécie. As espéciesportuguesas são contempladas com mapas dedistribuição com dados sobre as áreas de presença, demigração e de invernada. Helder Costa, presidente da SPEA, afirma: «Só podemosproteger aquilo que conhecemos. Para enfrentar os gravesproblemas de conservação que ameaçam as nossaspopulações de aves selvagens é fundamental a ajuda deuma opinião pública esclarecida e consciente. Tal só podeser conseguido tornando acessível informação sobre oassunto». Edição Assírio & Alvim.

Page 46: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

46 Parque Biológico Primavera/Outono 2004

i n f â n c i a

Sou eu um rabirruivo -

preto de nome Rafa e

descobri, numa casa bem

velhinha, o meu

c o n f o r t á v e l

lar.

Sou um

p á s s a r o

pequenino preto

com um rabo de

cor alaranjada ou

meia avermelhada,

dependerá dos olhos de

quem me observa!

Tenho uma pequenina

mancha branca nas

asas e o meu bico é

preto e curto.

Este ano encontrei um

local ideal para o meu ninho, e

tenho sido o encanto dos

meus vizinhos humanos

que com

m u i t a

atenção

me têm

observado. Até são

simpáticos, não se metem na

nossa vida e deixam-nos andar

à vontade.

Nunca um ninho

me saiu tão bem

como este último.

Está bem defendido,

entre dois tijolos

antigos, a que chamam

adobos, é bem arejado e

OO RRaabbiirrrruuiivvoo RRaaffaa Texto e desenhos: Rita Valente

Page 47: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Primavera/Outono 2004 Parque Biológico 47

muito fresquinho,

m e s m o

naqueles dias

mais quentes.

Os nossos

vizinhos, para além

dos dois humanos,

são os

pardais, umas abelhas bem

trabalhadoras, um casal de

melros, que saltitam de um

lado para o outro, um

excelente manjar de insectos

e depois um belo jardim de

árvores de fruto que tem

feito as delícias de

muitos.

É um local

fantástico, cheio de água,

de belos esconderijos, de

rosas cheias de cheiro e

muitas migalhas que a

humana vai

deixando para

n o s

contentar!

T e m

sido giro este

nosso novo

sítio e, se tudo

correr bem, para o ano

estaremos cá. Disseram-nos

os melros que é já o

s e g u n d o

ano que

vêm para

este sítio

e com tão

boa vizinhança o mesmo

faremos nós!

Falta pouco para os

nossos pequenos começarem

a fazer os seus primeiros voos,

e aqui espaço não lhes faltará

para se libertarem num

voo fantástico, que

com certeza será bem

aplaudido pelos nossos

caríssimos vizinhos, que

bem atentos estão!

Mas essa será uma

história que vos contarei

num próximo

encontro – a

aventura de voar!

Page 48: Fotografia da Natureza Educação: Encontro Nacional

Foto

da

Esta

ção

PIRILAMPOSEstrelas adormecidas

No seio da terraQue despertaram

Para alegrarA noite escura dos homens

O homem sábio agradeceEsta solidariedade

Saudando a luzDos PIRILAMPOS.

Fátima Gabriel2004/6/19

Poema elaborado após visita às Noites dosPirilampos do Parque Biológico de GaiaFoto de João Luís Teixeira