Fotografia de Celular - Poetizando o dia a dia através do Instagram

7/21/2019 Fotografia de Celular - Poetizando o dia a dia através do Instagram

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FUNDAÇÃO ARMANDO ÁLVARES PENTEADO

FAAP PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FOTOGRAFIA

KAREN NEME MENDES CAETANO

FOTOGRAFIA DE CELULAR

POETIZANDO O DIA A DIA ATRAVÉS DO INSTAGRAM

SÃO PAULO2012



Karen Neme Mendes Caetano

FOTOGRAFIA DE CELULAR:

POETIZANDO O DIA A DIA ATRAVÉS DO INSTAGRAM

Monograa apresentada à

FAAP Pós-Graduação, como

parte dos requisitos para a

aprovação no curso de Pós-

Graduação em Fotograa .

SÃO PAULO

2012



Karen Neme Mendes Caetano

FOTOGRAFIA DE CELULAR:POETIZANDO O DIA A DIA ATRAVÉS DO INSTAGRAM

Monografia apresentada à FAAP Pós-

Graduação, como parte dos requisitos

para a aprovação no curso de Pós-

Graduação em Fotografia.

( ) Recomendamos exposição na Biblioteca.

( ) Não recomendamos exposição na Biblioteca.

Nota: __________________________________

São Paulo, ____ de ______________ de ______

_______________________________________

Professor (a)

_______________________________________

Professor (a)

_______________________________________ Professor (a)



Dedico esse trabalho a quem vê poesia no dia a dia.



AGRADECIMENTO

E s t e t r a b a l h o é u m a h i s t ó r i a d e a m o r .

A apaixonada sou eu. O objeto do meu afeto, a tecnologia.

Agradeço a quem me ensinou a ser sempre pioneira.

Agradeço a quem compartilha comigo a paixão.

Agradeço aos colegashardcore users .

Agradeço aos amigosearly adopters .

Agradeço a quem reconhece.

Agradeço a quem admira.

Agradeço a quem curte.



A mudança é a lei da vida.

E aqueles que apenas olham para o passado ou para

o presente irão com certeza perder o futuro.

John Kennedy



RESUMO

A fotografia pessoal é parte integrante da vida de muitas pessoas há um bom tempo, desde a popularização das câmeras compactas e o surgimento das digitais. As fotos não representam apenas

um registro da vida de alguém, mas também são de grande valor sentimental. As pessoas usam afotografia para captar sentimentos, eventos e experiências pessoais, e também para se comunicar com os outros. As últimas inovações não só apoiam as interações das pessoas com a tecnologia, mastambém facilitam novas formas de diálogo. Os telefones celulares com câmera, em particular, sãoexemplos de tal tecnologia. Nos últimos anos, a sua função principal deixou de ser a comunicaçãoverbal ou de texto para ser a utilização de imagens que facilitam a interação social. Telefonescelulares com câmera integrada e recursos de vídeo mudaram a forma de como as pessoas secomunicam e se relacionam, dando forma às suas atividades sociais. Os smartphones onipresentes esua infinidade de funções agregadas operam hoje, segundo bem sugeriu um dos pioneiros datecnologia móvel, Irwin Jacobs, como uma extensão do cérebro de quem os carrega. Com o rápido

crescimento no mercado de telefonia e as melhorias contínuas no desempenho técnico das câmerase da qualidade de imagem, os telefones com câmera já começam a suplantar o uso de câmerasdigitais compactas em muitas ocasiões, criando uma linguagem com práticas particulares,motivações específicas e estética própria. Nesse panorama cultural, surgem os aplicativos móveis deedição e o Instagram, fenômeno das redes sociais, ambos objetos de estudo do presente trabalho,que pretende discutir as formas pelas quais a fotografia de celular e o Instagram vêm mudando o papel da Fotografia na vida cotidiana, expondo um panorama da cultura em que estão envolvidos.

Palavras-chave: Fotografia; fotografia de celular; fotografia móvel; iPhone; Instagram; aplicativosfotográficos, fotografia móvel.





SUMÁRIO

1 . Introdução .................................................................................. 10

2 . Do armário para o bolso ................................................................. 14

3 . Alô?............................................................................................ 17

4 . Particularidades ........................................................................... 20

5 . Imagesfera .................................................................................. 24

6 . Prêt-à-cliquer ............................................................................... 27

7 . O iSímbolo................................................................................... 298 . Apps, apps e mais apps .................................................................. 31

9 . Snapshots de aplicativos ................................................................ 33

10 . Telegrama instantâneo ................................................................ 56

11 . Por quê? .................................................................................... 59

12 . O quê?...................................................................................... 61

13 . Clichês...................................................................................... 63

14 . Instamundo ............................................................................... 64

15 . Não curti ................................................................................... 68

16 . Boas práticas .............................................................................. 70

17 . Take it easy ................................................................................ 80

18 . Cor de instantâneo ...................................................................... 84

19 . Saudade de ontem ....................................................................... 86

20 . Grande livro de pequenas memórias ............................................... 88

21 . Conclusão ................................................................................. 90

22 . Bibliograa............................................................................... 92



1 INTRODUÇÃO

As tecnologias de comunicação são os meios que nos auxiliam a perceber e a construir nossas maneiras de ver o mundo. É um processo incessante, construído a todo instante e acelerado

pelo desenvolvimento tecnológico frenético e pela dinâmica da informação globalizada em sua

infinidade de redes.

Durante muito tempo, os vários dispositivos para comunicação, entretenimento e

computação, como o telefone, a televisão, o rádio, o aparelho de som, o computador e a calculadora

eram concebidos e produzidos de forma que cada um deles era indissociável de sua função. Um

dispositivo, como o telefone, possuía apenas uma função, que era exclusiva daquele artefato e

nenhum outro a possuía.

Hoje diferentes funcionalidades convergem para um único dispositivo. É o fenômeno

chamado de convergência digital: a migração de várias funções de comunicação, entretenimento ecomputação para um único dispositivo, como as televisões ehome theaters com acesso à internet e,no caso desse estudo, o celular, transformado emsmartphone , os computadores de bolso essenciaisà vida moderna.

Em pesquisa realizada pelo Instituto Suíço ICT ( International Telecommunication Union ),

um número impressionante atesta a explosão da cultura móvel: no nal de 2011 existiam quase seisbilhões de linhas de celular habilitadas no mundo, 87% de penetração global.

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Fonte: ICT Facts and Figures 2011

O jornal internacional Financial Times divulgou, em Novembro de 2012, pesquisa realizadapela Ericsson armando que, com o atual ritmo de expansão da telefonia móvel, o número de linhasde celulares no mundo vai superar o de pessoas em 2013.

As implicações de carregar por toda a parte, por todo tempo um dispositivo, conectadocontinuamente à internet e com acesso a centenas de aplicativos esites , muda as formascontemporâneas de interação social e de comportamento.Como afirma Marshall Macluhan (1964),

o proclamado padroeiro da revolução digital: “Os efeitos da tecnologia não ocorrem aos níveis das

opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas relações entre os sentidos e nas estruturas da

percepção, num passo firme e sem qualquer resistência.”

A relação pessoal com as mídias mudou radicalmente, seja para quem as usa para assistir a

seu programa favorito, para comprar e vender serviços, ou para distribuir conteúdos produzidos. Aforça dessa relação é determinada pelo modo como as partes lidam com as mudanças e, nesse exato

momento, há uma infinidade de mudanças em curso. É impossível ignorá-las e improdutivo temê-

las. Aceitá-las é o caminho para novas ideias e oportunidades. O futuro das mídias (e

consequentemente da cultura) é passar da atividade interativa para participativa. Da cadeia em

massa para a coletiva.

Os pesquisadores portugueses Fidalgo e Canavilhas (2009) discutem a respeito da

convergência dos dispositivos referindo-se a um dispositivo tudo-em-um, identificando-o em três

esferas complementares:

• Dispositivos de comunicação, voz e escrita.

• Dispositivos de produtividade com funções de agenda, calculadora, relógio, gravador de

voz, etc.

• Dispositivos de lazer, que incluem jogos, fotografias, vídeos e músicas.

Já o Doutor em sociologia André Lemos define o telefone celular como um “teletudo”, que

representa na atualidade um controle remoto do cotidiano.

As funções disponíveis hoje nesses pequenos aparelhos são das mais diversas naturezas,

algumas especialmente práticas e outras surpreendentes. Com a explosão de desenvolvedores de

softwares móveis, as possibilidades são infinitas. As “lojas” de aplicativos, como a App Store da

Apple para dispositivos iOs, se multiplicaram. Hoje os usuários de Android têm a Google Play

Store e os de Windows Mobile, a Windows Phone Store.

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Em um único (e portátil) aparelho é possível carregar: uma máquina fotográfica, um

localizador GPS, um personal trainer, um dicionário, um videogame, um player de filmes, um

editor de texto e planilhas, um servidor deemails , um planejador de viagem, uma agenda, um

acesso ao banco, um catálogo de endereços, um conversor de medidas, um bloco de notas, um

manual de primeiros socorros, as redes sociais das mais diversas naturezas, um completo livro dereceitas, umlink para as compras de supermercado, outro paradelivery de comida, um auxiliar de

dieta, um rádio com as músicas prediletas, um curso de idiomas, um simulador de maquiagem, um

monitor de horas de sono, uma câmera de vídeo e até alguns itens mais curiosos, como um

sintetizador de ondas cerebrais ou de auto-hipnose. O aparelho é precisamente um "faz-tudo",

daqueles que há pouco tempo só imaginaríamos ver em filmes de espionagem. O celular se

transforma de imediato na ferramenta que o dono bem entender.

O resultado de toda essa variedade, aliado à estabilização dos custos de tecnologias móveis,

é a explosão das vendas de smartphones e o desaceleramento do faturamento dos outros

dispositivos sobre os quais os celulares obtêm sucesso em substituir, ainda que parcialmente. Para

visualizar melhor esse panorama, podemos observar o gráfico abaixo, baseado em pesquisa mundial

realizada pela consultoria norte-americana especializada em tecnologia, Gartner Inc, mostrando o

volume de eletrônicos de uso pessoal vendidos no ano de 2011.

Fonte: 1000 Memories Blog

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A esse panorama cultural, o jornalista e editor da Wired.com, Brian X. Chen, deu o nome de

“anything-anytime-anywhere future ” - um futuro onde os celulares com acesso à internet e os

aplicativos transformarão tudo que se conhece hoje, desde as salas de aula até o modo em que se

reporta um crime, passando pelos meios de fazer negócios e de tratar da saúde. Para ele, os

smartphones (especialmente o iPhone) estão transformando os seres humanos em seres sempre-

conectados que sabem tudo . Mesmo sem treinamento médico, uma pessoa com um iPhone em mãos

pode usar um aplicativo de primeiros socorros para auxiliar uma vítima de acidente em uma

urgência. De fato, é sabido que vítimas do terremoto no Haiti (em Janeiro de 2010) usaram um

aplicativo móvel para saber como tratar as próprias feridas e, em última estância, ajudá-los a

sobreviver.

Barbara Scifo (2005) vê o uso da comunicação móvel como reforço da dimensão da

experiência com um local, ressaltando que: “Seu uso parece responder a uma necessidade, por parte

dos usuários, de inserir suas relações sociais num contexto e também de se apropriar visualmente de

seus espaços sociais.” O acesso a dados a todo momento é tão evidente no dia a dia que muda até a

maneira de interagir com o mundo físico, como quando procuramos no aplicativos de mapas o

caminho com menos trânsito para chegar a um destino, ou quando fazemos “check-in ” em um

restaurante em redes sociais.

A mudança está em toda parte, em todo comportamento, em toda forma de expressão e de

arte. A mudança alcançou a Fotografia.

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2 DO ARMÁRIO PARA O BOLSO

Eternizar momentos e experiências tem sido a maior motivação de quem fotografa desdesempre. Uma imagem tem o poder de trazer de volta memórias e emoções que ficaram em outros

tempos. Selecionar um instante para ser fotografado é presenteá-lo com relevância e valor. Segundo

Baudrillard (1997), “A Fotografia é nosso exorcismo. A sociedade primitiva tinha suas máscaras, a

sociedade burguesa, seus espelhos, nós temos nossas imagens.” Guardar, mostrar e expor as fotos é

uma prática social que reafirma a identidade e conecta os grupos, reforçando sua coesão social.

A Fotografia em seu início era uma atividade para poucos, pouquíssimos. Os equipamentos

eram caros, pesados e de difícil manejo. Câmeras escuras, placas de vidro, químicos experimentais

e óticas elaboradas eram pesquisados e explorados por estudiosos e especialistas, limitando as

descobertas a uma classe restrita, tanto em recursos como em conhecimento. As famílias marcavam

horários para que os fotógrafos visitassem as casas e viagens eram feitas para fotografar em estúdio

nos grandes centros. Mesmo com o posterior desenvolvimento dos aparatos, possuir uma câmera

fotográfica era sinal de luxo.

Com o passar do tempo, as tecnologias tanto da captura quanto da revelação evoluíram e

possibilitaram uma maior difusão das máquinas fotográficas. As câmeras compactas tornaram-se

um produto de consumo geral e levaram a atividade de fotografar para outro nível, democratizando-

a. O equipamento passa das mãos de profissionais para as mãos das famílias, que selecionam seus

"melhores momentos" para serem capturados e compartilhados, a Fotografia se torna umhobby que

qualquer um pode cultivar, no panorama que podemos chamar de "Cultura Kodak" (Richard

Chalfen,1987). Os momentos singulares, que construíam a memória e a ideia do passado, eram

eternizados em papel. As famílias organizavam seus álbuns e contavam sua história através dasimagens exibidas. A fotografia impressa era um recurso social, um recurso que criava e mantinha a

conversação e a coesão dos grupos.

A tecnologia ligada à Fotografia está sendo ampliada constantemente. Com o surgimento das

câmeras digitais, o custo de fotografar, revelar e ampliar deixou de ser um fator restritivo para a

prática, o que fez com que todos se arriscassem mais. Também, com a possibilidade de conferir o

resultado do que foi fotografado imediatamente, há uma mudança fundamental no que se conhecia

como experiência fotográfica.

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Os melhores momentos são amplificados e o ato de fotografar começa a fazer parte das

experiências em si, intensificando-as, validando-as, expandindo-as. Novas possibilidades fizeram

com que essa fotografia se tornasse mais portátil. Novos métodos de exibição e compartilhamento

foram desenvolvidos, baseados em computadores ewebsites criados com essa finalidade, como, por

exemplo, o Fotolog (mais de 32 milhões de assinantes) e o Flickr (70 milhões de assinantes e 1,5milhão de grupos ativos), serviços que possibilitam visibilidade, postagens e comentários. Mais

recentes, as redes sociais Twitter, Facebook e Instagram também dependem muito da força das

imagens para reunir adeptos, criar e manter interesse.

De acordo com pesquisa divulgada pelo site de finanças e negócios Business Insider, o

segundo conteúdo mais consumido por usuários de dispositivos móveis ( smartphones e tablets ) é o

de redes sociais, atrás somente de notícias.

Fonte: Business Insider - The Future of Digital

Em pesquisa recente sobre presença em redes sociais e conectividade ininterrupta, divulgada

pela revista Time, 62% dos Brasileiros afirmaram que o maior benefício da comunicação sem fio é

estreitar o relacionamento com seus amigos. Os Ingleses, no entanto, responderam que estar on-line

facilita o fato de estarem longe de suas famílias. O celular assume valor social, reforçando os laços

sociais enquanto compartilha momentos que se tornam objetos de troca entre pessoas distantes ou

não.

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O costume de carregar uma foto de um ente querido na carteira se transforma em definí-la

como imagem de fundo no celular. O hábito de reunir a família em torno de um álbum pesado e

virar as suas páginas, conversando entre uma foto e outra, se transformou no envio por email de um

link para um álbum digital,online , instantâneo.

A fotografia de celular floresce nesse ambiente.

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3 ALÔ?

A revolução da telefonia celular começou em 1983, com o Motorola DynaTAC, um aparelhocaro e pesado que se tornou instantaneamente um símbolo de status e um ícone cultural, porém foi

só em 2000 que ocameraphone surgiu comercialmente, com o aparelho da Sharp, J-SH04 e sua

impressionante (para a época) resolução de 0.1megapixel .

Aparelho Sharp J-SH04

Nesse início, existiam alguns fatores limitadores para a adesão total à comunicação por

imagem: o custo da transmissão de dados era muito alto, a tecnologia era pouco acessível, a duração

da bateria era reduzida e as fotos eram de baixa qualidade. Com o passar do tempo, essas barreiras

foram superadas, os custos reduzidos, funções como zoom e flash foram adicionadas, e hoje já

existe no mercado umcameraphone com resolução de 41megapixels , lentes Carl Zeisse sensor

com tamanho de 1/1,2 polegada, o Nokia 808 PureView, com atributos que superam não apenas osde celulares modernos, mas também os de algumas câmeras compactas dedicadas.

Em nenhuma área do universo das telecomunicações, a velocidade e a voracidade dastransformações são tão visíveis como na indústria dos celulares.

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De acordo com pesquisas divulgadas pelas próprias operadoras nacionais, em 2011,10 dos

10 aparelhos mais vendidos no Brasil possuíam câmera integrada, entre eles o iPhone 4 (5

megapixels ), o Motorola Atrix (5megapixels ), o Blackberry Curve 9300 (2megapixels ) e o Nokia

N8 (12megapixels ), mostrando que esse diferencial é valorizado pelos consumidores e pode ser

adquirido por todas as classes sociais. Em pesquisa realizada no site Submarino, em Novembro de2012, o smartphone LG C365, com câmera de 2megapixels , foi encontrado por R$ 190, um preço

acessível para um aparelho completo.

Sem a necessidade de outros aparatos técnicos, a portabilidade da fotografia se evidenciou

barbaramente. Os smartphones se tornaram os álbuns de memórias que as pessoas carregam

consigo todo o tempo em seus bolsos e as câmeras acopladas são as dilatadoras de experiências.

Quando perguntado sobre a eminência do assunto "fotografia de celular" entre os círculos

artísticos, o jornalista, fotógrafo e diretor da Cooperativa VII de Fotojornalistas, Stephen Mayes

(2012), analisa: “Eu acho que a fotografia de telefone celular marca ‘o’ momento de transformação.

A transição do analógico para o digital na Fotografia era um ponto de pivô, mas é um pivô que não

foi integralmente reconhecido, já que, ao trabalhar com essas câmeras DSLR, temos sido capazes de

imitar a fotografia [analógica] como a conhecemos. O telefone celular é uma implementação

genuinamente pura do fenômeno digital.” Ele declara que o caráter fluido da fotografia móvel a

diferencia fundamentalmente da tradicional: é um processo de streaming e de reação imediata.

De acordo com o "Estudo de Confluência da Imagem" realizado pelo NPD Group com

consumidores norte-americanos, a porcentagem de fotos tiradas em smartphones chegou a 27% no

ano de 2011 e vem aumentando de forma galopante. Enquanto as diferenças de tecnologia entre

celulares e câmeras compactas se tornam cada vez menores, muitos vêm optando pelas fotos de

celular, diminuindo no mesmo período em 18% o faturamento obtido com a venda das point-and-

shoot . Em pesquisa realizada pelo site especializado em imagens1000 Memories (provedor de um

dos serviços mais inovadores atuais, descrito a seguir, no campo dos aplicativos), também no ano de2011, os Norte-americanos fotografaram 34% a mais com os celulares e 13% a menos com

compactas de bolso.

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Essa tendência é evidenciada ainda quando buscamos os dispositivos mais populares entre

os uploads do site Flickr , um dos pioneiros no compartilhamento de fotos:

Fonte: Flickr - Localizador de Câmeras

Em 2011, no Foto em Pauta – Tiradentes, o consagrado fotógrafo brasileiro Claudio Edinger

disse em sua palestra, com tom de brincadeira (séria), que “quando chegarmos ao iPhone 10 não

precisaremos de mais câmeras”. Hoje o ato fotográfico é dissociado da posse de um objeto

específico, a câmera, o que derruba a limitação de estar presente somente em determinadas

situações e libera a fotografia para outros usos inesperados.

Fotografar se torna uma experiência diária e oscameraphone s vão levar a Fotografia para

outras esferas.

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4 PARTICULARIDADES

Algumas características inerentes à fotografia de celular podem começar a explicar osucesso da atividade nos dias de hoje. Segundo Brunet (2007), são elas:

• Popularidade : com as novas práticas fotográficas que o celular propicia, um número cada

vez maior de pessoas, muitas das quais nunca pensaram em levar uma máquina fotográfica ao

sair de casa, agora fotografam sem parar, criando uma enxurrada de imagens sem precedentes.

• Mobilidade : a possibilidade de enviar e receber imagens em movimento, longe de casa ou

do computador. A difusão das imagens tornou-se móvel, agilizando assim o processo de

propagação e também de feedback (retorno). A possibilidade de salvar a localização GPS de

onde a foto foi tirada também é padrão para muitos smartphones , facilitando o

armazenamento e a publicação posteriores.

• Adjacência : junto aos celulares, as câmeras tornaram-se objetos corriqueiros, que são

levadas a toda parte, todos os dias. Para Koskinen (2004), “as pessoas planejam levar as

câmeras compactas consigo, enquanto os celulares seguem as pessoas para todos lugares”. O

ato de levar a câmera consigo é limitado a certas ocasiões, já o telefone celular age como um

objeto protético, faz parte do dono.

• Instantaneidade : as imagens são, na maioria das vezes, espontâneas e não planejadas. São

fotos de momentos que serão compartilhados imediatamente e revividos segundos depois.

• Socialização : intensifica as relações sociais quando, por exemplo, grupos de amigos se

fotografam e trocam as imagens, amigos fotografam momentos de lazer e enviam para quem

não pode estar junto, ou mesmo quando levam fotos de pessoas queridas como fundo de tela.

A disponibilidade permanente e a natureza instantânea do compartilhamento fazem com que

o ato de fotografar com o celular vire parte do uso comum e diário. Estar permanentemente

conectado, registrando cada momento, muda a relação com o tempo e com o outro.

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Outra característica levantada especificamente pelos fotógrafos profissionais é o

“descompromisso” ao fotografar com o celular. Muitos descrevem a atividade como experimental,

fluida, leve, espontânea, sem grandes cobranças e sem grandes expectativas. O que começa muitas

vezes como uma brincadeira acaba surpreendendo com os resultados, ampliando fronteiras e

criando oportunidades inesperadas.A natureza casual de fazer a imagem é transformadora para fotógrafo e fotografado. O

fotojornalista americano Ron Haviv, por exemplo, fala sobre quando, em 2011 na Líbia, optou por

não levar suas câmeras consigo. Despojado do equipamento ele tornou-se invisível, o que de

alguma forma facilitou não só sua inserção no ambiente, como também a realização de seu trabalho.

Todos os soldados tinham telefones celulares e também estavam tirando fotos. Ron era apenas mais

um na multidão. As fotos resultantes dessa viagem, como a foto a seguir, da série “Glimpses of the

Fall of Tripoli ”, foram premiadas com medalha de ouro no Prix de la Photography de Paris (Px3) .

Foto: Ron Haviv - Glimpses of the Fall of Tripoli

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A empresa americana de pesquisas de mercado IC Insights divulgou, em Fevereiro de 2012,

um estudo comparando as vendas decameraphones com mais de 3megapixels de resolução com as

de câmeras point-and-shoot (compactas) nos Estados Unidos. Ao olhar para o gráfico se percebe

como a tendência é clara. É importante ressaltar que esse indício de substituição não se aplica às

câmeras DSLR, que continuam com as vendas em ascensão no mesmo período.

Fonte: IC Insights

Outra pesquisa, dessa vez realizada também com consumidores norte-americanos, em

Dezembro de 2011, pelo Grupo NPD, vai mais fundo na questão, separando as pessoas que estão

trocando outras câmeras por smartphones de acordo com tipo de atividade que esperam do

dispositivo:

Fonte: NPD Group - Imaging Confluence Study

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O que se percebe, mais uma vez, é a propensão das pessoas para fotografar cenas

espontâneas com a câmera do celular, enquanto os “momentos importantes” ainda são

preferencialmente capturados pelas câmeras.

Com tantos cliques em circulação, só se pode esperar uma grande onda de imagens

inundando o mundo todo.

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5 IMAGESFERA

Ao concluir os ensaios da Câmara Clara, em 1979, Roland Barthes afirma que: “O quecaracteriza as sociedades ditas avançadas é o fato de essas sociedades consumirem hoje imagens e

já não crenças, como as de outrora.” O advento das mídias digitais e a (cada vez mais) intensa

utilização de tecnologias de comunicação, reconfigurou nossas percepções, culminando em um

ambiente de hiperestímulo visual, que apela cada vez mais aos nossos sentidos, através de imagens

que chocam, deleitam, inspiram e provocam emoções.

Mais do que nunca, confirmam-se as palavras de Flusser (2011):“Imagens são mediações entre o homem e o mundo. O homem existe, mas o mundo não lhe é acessívelimediatamente. As imagens têm o propósito de serem para o homem mapas do mundo, mas passam a ser biombos, porque o homem, ao invés de se servir das imagens em função do mundo, passa a viver emfunção delas. Isso, o mundo vivenciado como conjunto de cenas, é inversão da função. É idolatria.”

Essa premissa é observada nas redes sociais em diversos níveis. As pessoas transformam-se

em compartilhadoras compulsivas, verdadeiras escravas delikes e de respostas imediatas.

A cultura midiática atual é baseada na hegemonia das imagens. A rede social Pinterest,

último “hit ” das mídias sociais, evidencia a fixação por imagens. Não é uma plataforma onde

simplesmente se compartilham imagens. Também se colecionam, montam e remixam fotos de

outras fontes, criando álbuns sobre saúde, casamentos dos sonhos, decorações ideais, exemplos de

artesanato e atividades de sala de aula, entre outras tantas ideias.

Fonte: Site Pinterest24





Em artigo publicado no NY Times, o fotógrafo e editor do blog Lens, James Estrin (2012),

afirma que a fotografia hoje não é mais vista como um tesouro das memórias familiares, e sim “uma

moeda colorida de interação social e uma forma de olhar ainda mais para o próprio umbigo”. Para

ele, essa mudança fundamental pode acarretar dois efeitos para a “fotografia séria”:

• Milhões de pessoas pensando mais visualmente, que podem ser capazes de setornarem público para imagens documentais e fotojornalísticas e/ou

• A incapacidade de se destacar em meio a um bombardeio de imagens, pois se todo

mundo gosta de tudo, nenhuma imagem é melhor do que a outra.

O comportamento com a câmera do celular nas mãos está mudando. A maneira como nos

relacionamos com as imagens está mudando. Nosso novo relacionamento é menos sobre a provas

testemunhais ou documentais e muito mais sobre a experiência, partilha de momento, e streaming .

O cameraphone , como agente democratizador, é o prenúncio de uma transformação

significativa.

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6 PRÊT- À- CLIQUER

O processo de avanço tecnológico estendeu a atividade fotográfica para mais e maissituações diversas e transformou em comum o que antes era reservado somente para ocasiões

especiais. Essa produção imagética exacerbada, desordenada e superdifundida muda os rumos da

Fotografia atual, que, como afirma a filósofa francesa, Dominique Baque (2012, apud

PERSICHETTI), “não se pretende mais heróica, mas uma imagem que brinca com a banalidade.”

A Fotografia sempre tentou transformar o mundano em extraordinário através da sua prática.

Mas agora, com a facilidade da câmera ubíqua e de seus aplicativos, há a oportunidade de

compartilhar o trivial, sem, necessariamente, o objetivo de elevar. Estas imagens podem ser apenas

comuns e, através da sua simplicidade, um ponto de conexão e comunicação, um novo meio

subjetivo de comunicação interpessoal.

Graças à onipresença do aparelho em nossas vidas, todos os momentos são fotografáveis,

desde a mesa de café da manhã até as recordações de viagem. Traçando um paralelo com a

democratização da moda e o prêt-à-porter , podemos afirmar que vivemos na cultura do prêt-à-

cliquer : a possibilidade de fotografar está em todos os lugares, em todos os momentos, para todas as

pessoas. A Fotografia está em todos as esferas, para quem quiser testar. O prazer de expressar algo

no momento presente imediato se transforma em hábito automático.

O espaço ordinário, banal, familiar, cotidiano se transforma no espaço de criação.Snapshots

do dia a dia se multiplicam e se difundem em um espaço que parece não ter fim.

As aplicações inusitadas da fotografia de celular são diversas. Advogados a usam para

agilizar processos, médicos fazem diagnósticos remotos, telespectadores se tornam repórteres,

engenheiros e arquitetos documentam a evolução de seus trabalhos, estudantes registramreferências, entediados retratam o trânsito, fotojornalistas se disfarçam na multidão, esportistas

mostram sua força, românticos registram o nascer do sol, gourmands eternizam seus pratos, e tantos

mais, de tantas naturezas para tantos fins. Vilém Flusser (2011), no livro Filosofia da Caixa Preta

(2011), proclama: “Quanto mais houver gente fotografando, tanto mais difícil se tornará o

deciframento de fotografias, já que todos acreditam saber fazê-las.”

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Não é o objetivo do presente trabalho a discussão (retrógrada) se a arte digital se caracteriza

ou não como arte. Grande parte das fotografias feitas com o celular sequer almejam essa condição.

A realidade que nos cerca prova que, em um mundo que muda cada vez mais rápido, novas formas

de expressão devem ser incorporadas, reconhecidas e validadas, ainda mais quando tomam

proporções em nível global (não se tratando apenas de local, mas também de classe social, hábitocultural e faixa etária).

Nesse sentido, o discurso do teórico britânico Roy Ascott (2000) deve ser considerado

enquanto afirma que “A interatividade promovida pela tecnologia digital almeja derrubar as

barreiras outrora intransponíveis entre objeto e sujeito, material e imaterial, natural e artificial” .

Enquanto as barreiras são derrubadas, janelas se abrem para novas possibilidades. Pessoas

que jamais haviam demonstrado interesse pela Fotografia descobrem, ao acaso, uma nova paixão. O

celular permite experimentar, em qualquer momento de tédio, um novo aplicativo, um novo filtro,

um novo ponto-de-vista. O olhar fotográfico é constantemente exercitado, há a descoberta de estilos

e preferências pessoais e a surpresa de se perceber entretido e apaixonado por uma nova forma de

expressão.

O olhar curioso, analítico, selecionador e atento surge, mudando a rotina dos olhares

perdidos e distraídos de quem não procurava composição, enquadramento e luz em toda cena

cotidiana.

E nem tudo são flores e céus azuis. A possibilidade de fotografar com o celular atingiu uma

parcela da população que jamais teve condições de possuir uma máquina fotográfica. O acesso ao

meio de expressão trouxe algumas consequências poderosas, como os usos políticos no Irã, no norte

da África e na Primavera Árabe. O papel que os celulares com câmera e as mídias sociais

desempenharam durante esses eventos são inestimáveis sinais de grandes mudanças.

Se considerarmos a Cultura Kodak como a primeira grande onda de democratização da

Fotografia, estamos com certeza diante da segunda. Está mais para um tsunami, cujo núcleo seencontra em um pequeno dispositivo, carregado no bolso.

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7 O iSÍMBOLO

Um sonho de consumo voraz.Umcase de Marketing que vai entrar para a história.

Lançado em 29 de Junho de 2007, nos Estados Unidos, o iPhone é um dos maiores prodígios

dos últimos tempos. Seu sucesso é tamanho que ainda hoje milhares de pessoas esperam

ansiosamente pelo lançamento dos novos modelos e se acotovelam em filas às vésperas do início de

cada venda. Desde seu surgimento, ele é o “teletudo ” ícone: o mais desejado, o mais inovador, o

mais belo. Praticamente um fetiche, criado pela união de inovação edesign .

Segundo Alessandra Bittencourt (2009), em artigo apresentado no III Simpósio Nacional da

Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura, “O iPhone pode ser considerado o artefato

“símbolo” da convergência midiática do início do século XXI. Além deste smartphone ter sido

desejado por uma multidão antes do seu lançamento, o ‘fenômeno iPhone’ mudou o pensamento da

indústria da comunicação móvel e transformou o modo de comunicação da sociedade: ampliando

sentidos, gerando empregos, mobilizando a imprensa, aumentando o número de conexões à internet

móvel e favorecendo a interação entre redes sociais.”

Mesmo sendo tão diferente do que era referência na época, o iPhone revolucionou o mundo

dos smartphones . O tamanho da tela, as funçõestouchscreen , a interface intuitiva e a aparente

simplicidade de manejo foram fatores-chave e inovadores para o sucesso. Em Junho de 2012, com

cinco anos “de vida”, mais de 217 milhões de unidades foram vendidas em todo mundo.

Foto: Divulgação Apple iPhone 529



A câmera do primeiro modelo tinha resolução de 2megapixels , sem funções especiais ou

flash . A partir do iPhone 4, o flash foi adicionado. A resolução do último modelo, iPhone 5, lançado

em 2012, é de 8megapixels, e possui as funções de flash , macro, toque para foco, zoom digital de 5

vezes, detecção de rostos, filtro híbrido e fotos panorâmicas.

Quando anunciado, em 2007, Steve Jobs, o executivo chefe da Apple na época, disse que onovo aparelho estava “literalmente cinco anos à frente de qualquer outro celular ”. Ao avaliar a

evolução do mercado e da concorrência, percebe-se que ele não estava exagerando. Até hoje os

concorrentes de outros fabricantes lutam para alcançar a tecnologia do iPhone (isso sem contar os

concorrentes que simplesmente sumiram do mercado).

Todos smartphones têm seus prós e contras, e isso certamente se aplica aoiPhone , porém a

mobilização que ele causou (e ainda causa) na indústria é incomparável. Os padrões dos

dispositivos móveis foram repensados, novas comunidades se formaram e as mudanças dedesign e

tecnologia foram incorporadas.

Um dos grandes trunfos do iPhone, que não só fideliza como praticamente escraviza seus

usuários, é a infinidade de possibilidades dos aplicativos, que transformam o aparelho em tudo que

se pode imaginar.

30





Entre os 100 aplicativos pagos mais populares da App Store em 21 de Novembro de 2012,

15 estão na categoria Fotografia. Três grandes classes podem ser reconhecidas dentro do grupo:

aplicativos de câmera (que efetivamente capturam a imagem), de tratamento de foto (filtros, efeitos

e etc.) e de compartilhamento (redes sociais e redes fechadas).

A abundância de aplicativos inserida na minúscula caixa preta do celular desperta acuriosidade de quem fotografa no celular, desperta a vontade de experimentar e proporciona

facilidade na tarefa de tratar a imagem, antes reservada a profissionais especializados no assunto.

Os aplicativos abrem as portas para a experimentação, o caminho da criatividade.

32



9 SNAPSHOTS DE APLICATIVOS

Muitas vezes os aplicativos compensam as limitações da câmera de celular, instigando a

criatividade, desmistificando o tratamento de imagens e simulando características das câmerasanalógicas.

A seguir, uma seleção de capturas de imagem da tela do iPhone rodando os aplicativos mais

utilizados, mais populares e com as funções mais interessantes. O critério de escolha (com exceção

dos aplicativos populares da app store) foi pessoal, pois há uma infinidade de opções.

Novos aplicativos surgem todos os dias trazendo novas funções e mesmo os aplicativos já

instalados são atualizados com aperfeiçoamentos e novidades.

Dentre os cento e sessenta e cinco aplicativos de fotografia instalados, a seguir quarenta equatro destaques, suas breves descrições e algumas particularidades:

Os mais clicados:

Instagram: um jeito simples e rápido de tratar e compartilhar imagens. Uma rede social que

não para de crescer.

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Awesome Camera: infinidade de filtros, molduras e texturas. Facílimo manejo. Prático e

rápido.

GyroCropper: gira a foto com o movimento do celular.

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Populares da app store :

Camera+: além da própria interface de câmera, importa as imagens do álbum em um

organizador. Tem ferramentas de controle de exposição, balanço de branco e alguns filtros de cor.

Lumiè: Possibilita aplicar diversos efeitos mágicos de luz, como o efeitobokeh .

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Fisheye Pro: produz o efeito das lentes fisheye.

PicFrame: combina múltiplas fotos em diferentes formatos.

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Dermandar: cria e compartilha imagens panorâmicas com incrível facilidade e rapidez.

Vintique: seleção de filtrosvintage e ferramentas de edição.

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360 Panorama: produz fotos em 360 graus, panoramas completos.

Snapseed: um dos aplicativos de edição mais completos, com controles manuais de

intensidade de filtros, exposição e ajustestilt-shift .

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Instacollage: permite fazer montagens com múltiplas fotos em vários formatos, também

possibilita a aplicação de filtros em cada uma e a inserção de legendas.

InstaPicFrame: outro aplicativo de montagens, molduras e legendas.

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Predileções pessoais:

LensFlare: efeitos óticos, tipos de lente e efeitos de flare .

FX Photo Studio: efeitos, tratamento básico,color splash , criação de postais, ferramentas de

texto e compartilhamento.

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Magic Shutter: testes de luz e desfoques de movimento. Controles Manuais.

Microsoft Photosynth: captação de panoramas interativos, não só da direita para a esquerda,

mas também de cima para baixo. Pode também compartilhar o resultado em rede social própria.

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PicGrunger: efeitos grunge e kit de edição.

Pixlr-o-matic: infinidade de efeitos, texturas e molduras. Botãorandomizer para testar

combinações aleatórias.

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Tonaltopia: nostalgia pura. Estilos de preto e branco, sépia e desbotados.

Percolator: transforma as fotos em mosaicos coloridos.

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Color Splash: efeito de cor seletiva.

Incredibooth: tiras de fotografias que lembram as feitas em cabinas fotográficas antigas.

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Finger Focus: cria efeitos de desfoque com apenas um toque

PhotoForge: ferramentas básicas de edição, filtros, suporte a múltiplas camadas, simulação

de lentes, revelações e filmes analógicos.

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WordFoto: porque uma imagem vale mais que mil palavras. Nesse caso, bem mais que mil!

Phoster: transforma as fotos em pôsteres, com a possibilidade de filtros para a imagem e

edição de texto.

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Decim8: simula interferências digitais nas imagens, "digital data-mashing ".

ShoeBox: aplicativo que escaneia fotos antigas e cria um álbum virtual para guardá-las,

onde o usuário pode anexar legendas, datas e locais para cada imagem, além de poder compartilhá-

las online com a família e amigos. O aplicativo organiza as fotos em "caixas de sapato", cada uma

com seu tema, descrição e participantes.

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InstantCam: o aplicativo em si não apresenta novidades em funções, seu diferencial é ser um

aplicativo da Polaroid, que faz o usuário sacudir o telefone de um lado para o outro a fim de

"revelar" a foto.

Squaready: prepara as fotos para o formato quadrado do Instagram, com possibilidades de

escolher cores de fundo e enquadramento.

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TiltShift Generator: produz o efeitotilt-shift , miniatura, além de possuir ajustes de desfoque,

cor e vinheta também.

Tiny Planets: transforma as fotos em esferas, em mini-planetas, criando imagens muito

interessantes.

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100Cameras: cem filtros compilados pelo fotógrafo e blogueiro de viagens Trey Ratcliff.

645 Pro: interface supersofisticada, histograma, salva em TIFF e até em RAW, medição de

exposição primorosa, filtros que simulam filmes analógicos… Praticamente uma câmera

profissional.

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Simply HDR: produz foto HDR a partir de uma única imagem e vários estilos pré-

programados.

Pictwo: produz composições que simulam dupla-exposição.

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EyeEm: pode ser visto como concorrente do Instagram, pois é uma plataforma que permite

fotografar, localizar, legendar, editar e compartilhar.

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10 TELEGRAMA INSTANTÂNEO

Um grande destaque (pode-se chamar até de fenômeno, sem exagero) nesse contextocultural e comportamental contemporâneo é o aplicativo Instagram. Rápido, prático e encantador, é

presença indispensável nos smartphones atuais.

O nome Instagram veio da combinação deinstant + telegram , lembrando do formato da

imagem e da facilidade de transmissão. Uma ideia inovadora, executada com maestria, e relevante

no contexto cultural e social contemporâneo.

O Instagram é uma rede social de compartilhamento de fotos gratuita. O serviço permite aos

usuários tirar uma foto, aplicar um filtro digital para, em seguida, compartilhá-la com outros

usuários Instagram e outras redes sociais. Já foi definido como o Twitter das imagens e oauto-tune

das fotos ruins. É um erro subestimá-lo reduzindo-o apenas aos filtros, observando-o sob o prisma

social, há muito mais.

Muitos aplicativos fotográficos foram desenvolvidos antes do Instagram e muitos ainda são

e serão, mas o que faz do Instagram um sucesso tão inabalável é sua plataforma de publicação com

características de mídia social (seguir, curtir, comentar). A analogia mais próxima seria o Flickr,

porém o Instagram existe em outra dimensão: a móvel. Isso faz toda a diferença.

O aplicativo tem poucos recursos, interface simples de usar, navegação rápida e interação

intuitiva, leve. A utilização se torna uma atividade lúdica, que afasta os usuários da enxurrada de

informações, notícias e pessimismo das demais redes sociais.

Criado pelo Brasileiro Mike Krieger e seu sócio Kevin Systrom, o aplicativo foi lançado em

Outubro de 2010 na App Store. Menos de três meses depois, já contava com um milhão de usuários.

Um ano depois, dez milhões. Em Abril de 2012, foi vendido para o gigante Facebook pela módicaquantia de um bilhão de dólares, colocando o serviço como um dos mais promissores e lucrativos

entre as redes sociais. Também em Abril alcançou pela primeira vez a primeira posição como

aplicativo gratuito mais baixado na App Store.

Hoje o Instagram conta com mais de 40 milhões de usuários registrados e recebe

aproximadamente 5 milhões de fotos por dia.

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Criado inicialmente para iPhones, hoje o Instagram já tem versão para os dispositivos

Android e até uma plataforma naweb onde é possível visualizar e comentar o conteúdo (oupload

continua sendo exclusivo para dispositivos móveis). Boatos na indústria de tecnologia também

apontam para a possibilidade da presença do aplicativo em máquinas fotográficas compactas, já que

a Polaroid estaria preparando uma câmera que roda o sistema operacional Android e já existem nomercado câmeras com conexãowi-fi, como a Samsung Galaxy Camera.

Fonte: Instagram Web Profile

Desde seu lançamento, o Instagram transformou a prática de fotografar pelo celular em algo

muito mais interativo, descontraído, popular e por que não dizer, divertido. Segundo palavras do

próprio Co-fundador, Kevin Systrom (2012, apud BROOK): “A ideia era fazer com que a fotografia

por telefones celulares fosse rápida, linda e divertida. Nós aprendemos que tirar fotos com o

telefone não garantia os resultados que queríamos, por isso criamos filtros e ferramentas para se

obter uma experiência mais artística.” A plataforma de rápidas atualizações visuais diárias é uma

plataforma de entretenimento. Segundo Alexandre Belém (2012), “O que de mais significativo o

Instagram trouxe para a Fotografia foi devolver a leveza ao ato de fotografar. Ao deixar de lado o

‘peso’ de câmeras e lentes, o fotógrafo abandona sua presença invasiva. A fotografia se torna mais

intimista e menos agressiva.”

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Viajar pelo cotidiano alheio leva a milhares de crianças, cachorros, gatos, paisagens,

horizontes, autorretratos, tendências de moda ou beleza, viagens, pratos de comida, mesas de café

da manhã, livros, discos, programas de TV, passeios, cenas de trânsito, asas de avião, detalhes das

casas ou dos ambientes de trabalho. O que importa é o ponto de vista. Nas palavras do jornalista

editor do caderno de cultura digital do jornal O Estado de S. Paulo, Alexandre Matias (2012):“Janelas em que podemos ver os cantos da cidade e do mundo”.

De uma forma ou de outra, todos tentam contar suas histórias.

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11 POR QUÊ?

A questão da motivação é sempre levantada quando se trata de questões culturais. O que erasabido como fundamental para fotografar não se aplica em sua totalidade quando se fala em

fotografia de celular, ainda mais quando se considera a interferência das redes sociais na equação.

Em pesquisa realizada pelo especialista em produção de mídias digitais e plataformas sociais

Zachari McCune (2011), foram identificados seis tipos principais de motivação para compartilhar

conteúdo pessoal no Instagram: compartilhar, documentar, ver, interagir, exercitar a criatividade e

alcançar bem-estar.

Compartilhar é uma palavra-chave para as atividades e comunidades criadas pelas mídias

sociais atuais. O Instagram é sempre descrito como um aplicativo de fotografia, edição e, seu valor

essencial, compartilhamento. O ato doupload da foto para o feed permite à fotografia se tornar um

objeto de valor não só para quem a tirou, mas também para outras pessoas, como amigos,

familiares, pessoas que compartilham um ponto de vista, uma localização, umatag , que constroem

uma espécie de público e alimentam a motivação social.

Compartilhar é comunicar. Um status visual compartilhado é desfrutado em conjunto.

Possuir um ponto de vista em comum com outros é um princípio óbvio de uma rede como o

Instagram. As visões individuais se tornam objetos de um conjunto maior e essa troca é um dos

pilares principais da cultura social.

Outro comportamento ligado ao ato de compartilhar é o desejo de participar de uma

comunidade crítica, cujos feedbacks levam ao autoaperfeiçoamento de quem fotografa. Ao entregar

sua imagem para a comunidade, quem fotografou pode aproveitar os elogios, dicas e aprovações

que chegam como um prêmio virtual. Documentar é capturar, recordar e preservar memórias e momentos. Para essa nova leva de

clicadores, a fotografia detém e objetifica um mundo que rapidamente passa e muda. É importante

capturar um momento interessante ou emocionante antes que ele suma.

O comportamento de quem documenta através de celular cria uma narrativa das vidas em

imagens, um diário fotográfico das jornadas pessoais, memórias e experiências, a prática do

storytelling .

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Ver está mais ligado à transmissão dos pontos de vista pessoais ao mundo, encarando o

aplicativo mais como uma plataforma de difusão do que como uma simples rede social. O exercício

é buscar seu estilo individual, seu ponto-de-vista singular e uma maneira de ver as coisas que nunca

havia sido percebida antes. É um exercício de descoberta.

No momento em que seu ponto-de-vista é compartilhado em uma comunidade, ele se torna parte de uma visão coletiva, uma troca incessante das individualidades, que enriquece e fascina

através das trocas culturais.

Interagir é agir mutuamente. Ao reconhecer o volume do diálogo entre os usuários,

especialmente o apoio, o encorajamento nos comentários e o feedback instantâneo, percebe-se que

esse é um dos motores do Instagram. Seus mecanismos de resposta são mais rápidos do que as

outras plataformas de compartilhamento fotográfico. A resposta instantânea significa satisfação

instantânea, que significa incentivo para continuar produzindo, e assim sucessivamente. É um ciclo

que entusiasma e vicia.

O ambiente do aplicativo é reconhecido pelos usuários como um espaço paraexercitar a

criatividade , uma oportunidade para inovar, aprender, descobrir novos interesses e dedicar-se. O

desafio de uma nova foto segue a pessoa em um tipo de brincadeira que descontrai o dia a dia.

Aprender com as técnicas vistas no feed também incentiva a experimentação e amplia o sentido de

crescimento pessoal.

Por fim, também foi reconhecida como motivação na pesquisa a habilidade praticamente

terapêutica do Instagram, já que os usuários relataram que participar os ajuda aalcançar o bem-

estar , que a atividade é relaxante e que dividir os sentimentos ajuda a passar por dificuldades e a

aprender e a ensinar lições de vida.

As motivações listadas acima não esgotam o assunto. A experiência com o aplicativo é

muito particular, individual. Cada usuário abre o aplicativo por um motivo, com um hábito próprio,

não há regras. Alguns passam horas passeando nos feeds e curtindo fotos, outros se dedicam a procurar novos usuários interessantes, há quem navegue pelastags prediletas e ainda há o caso dos

lurkers , quem simplesmente assiste a tudo sem postar nada.

O ato de tirar uma foto já não é suficiente para confirmar a realidade e aprimorar a

experiência, só compartilhar pode atestar a validade do que aconteceu. E acontece tanta coisa que,

na tentativa de alguma ordem, é preciso um sistema que classifique as imagens.

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12 #O QUÊ?

Ao postar uma foto, além de uma legenda ou um comentário, tornou-se hábito classificá-laatravés detags , assim como acontece com ostweets no Twitter. Atag pode conter o assunto da foto,

os aplicativos usados na edição, a emoção que se quer transmitir e a afiliação a algum grupo ou

comunidade, de prêmios e interesses em comum. É possível navegar por umatag , encontrando

somente os temas desejados. Astags mais populares, segundo pesquisa do site Mashable (2012)

são:

#love,

#instagood (tag social, para fotos reconhecidas por comentários elikes),

#tweegram (aplicativo que permite postar mensagens),

#photooftheday (a melhor do dia é postada em uma galeria),

#iphoneasia (utilizada por usuários asiáticos),

#instamood (fotos que representem o humor ou emoção do momento),

#me (autorretratos),

#igers,

#iphoneonly,

#instagramhub (comunidade voltada ao aprendizado de técnicas),

#girl,

#summer,

#jj (comandada pelo IGer Josh Johnson, tem regras que estimulam a interação),

#beautiful,#sky.

Fotos: Karen Caetano - Instagram

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Os grupos organizados dentro da própria rede social começaram a usar tags para facilitar o

acesso direto aos temas e às postagens por cidade, para organizar concursos e encontrar novos

usuários para seguir. Logo apareceram vários concursos, exibições por assunto, shoutouts

(destaques, agradecimentos). Legendar a foto com umatag popular aumenta as oportunidades da

foto de ser vista e do usuário de ser descoberto.No final de Outubro de 2012, mais um recorde de postagens comemorado noblog oficial do

Instagram. Logo após o furacão Sandy, quando foram 1,3 milhão de fotos foram postadas sobre o

assunto (com um pico de 10 envios por segundo), astags relacionadas à comemoração do dia de

ação de graças somaram mais de dez milhões de fotos compartilhadas. Durante algumas horas do

dia 28 de Outubro, uma das datas mais celebradas entre os feriados dos Estados Unidos, mais de

200 fotos foram postadas por segundo, quebrando todos os recordes anteriores, marcando o dia

mais movimentado da história do aplicativo.

Fonte: Blog do Instagram

Interessante perceber que o pico de postagens é justamente o horário do almoço, então

imagens das famílias reunidas e dos pratos nas mesas de comemoração foram as mais celebradas.

Difícil é escolher, em 2 milhões de fotos, o peru mais fotogênico.

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13 CLICHÊS

O clichê é o lugar-comum, o chavão, a banalidade repetida com frequência.O fotojornalista inglês Martin Parr (2011) listou, em seublog , treze clichês fotográficos que

ele vem identificando nos trabalhos de fotografia fine art atuais. Ele concluiu que a arte fotográfica

vem se comportando de maneira muito previsível, criando imagens genéricas, com referências

facilmente reconhecíveis.

Alguns temas, com o passar do tempo, se tornaram clichês absolutos também na

comunidade dosinstagramers . São verdadeiras manias, das quais nenhum usuário escapa: fotos dos

próprios pés nos mais diversos lugares, nuvens carregadas povoando o céu, pratos de comidas

apetitosas ( food porn ), sobremesas espalhafatosas, unhas esmaltadas, cenas urbanas ( street

photography ), frases de efeito, altos prédios fotografados de baixo, infinitas xícaras de café, asas de

avião, autorretratos no espelho, coloridos pores-do-Sol, postes de eletricidade, copos cheios de

bebidas, engarrafamentos tediosos, tatuagens, animais de estimação (em qualquer situação),

criativoslooks do dia, só pra começar.

Comparando o comportamento no Instagram com o texto de Parr, reconhecemos alguns

traços comuns, como o diário pessoal, o olhar nostálgico, a fotografia de rua e a paisagem

estendida.

Fotos: Karen Caetano - Instagram

Por um lado a fotografia muitas vezes pode parecer a repetição teimosa de um mesmo tom,

mas, no outro extremo, representa um som que só foi ouvido uma única vez.

O Instagram é uma sinfonia, a trilha sonora de um mundo particular.

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14 INSTAMUNDO

Com o reconhecimento do potencial de mercado da fotografia de celular, várias empresasinvestiram seus esforços na criação de produtos e serviços relacionados à prática, criando outras

formas de lidar com o conteúdo digital e também propondo soluções analógicas para incrementar a

experiência com ocameraphone . São muitas tentativas gerando novos negócios e novas

possibilidades.

Foi criado o termo "iphoneography ", para designar a atividade das fotografias feitas e

tratadas em iPhones. Existem sites , grupos de discussão e livros publicados a respeito do assunto,

que discutem não só alguns fundamentos fotográficos tradicionais como enquadramento,

composição e captação de luz, mas também os lançamentos em aplicativos, as melhores técnicas e

as descobertas. Também existem osiPadographers , dedicados a fotografar com oiPad .

Foto: Livro iPhoneography, Editora Pixiq

Ainda há o grupo dos Instagramers , internacional e multicultural, dedicado a trocar

experiências e compartilhar conhecimento. São organizadasinstameets , que reúnem os

instagramers de uma cidade, para que se conheçam, troquem dicas e saiam para passeios

fotográficos.

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Os instagramers são tão frenéticos, viciados e facilmente reconhecíveis que sua obsessão

virou piada. Eles não são apenas engajados, são obcecados por suas imagens. A consultoria em

mídias sociais, Flowtown (2012) criou uma charge satirizando os comportamentos estranhos de

quem vive procurando imagens para postar. O iPhone sempre na altura dos olhos, dor nos dedos de

tanto navegar entre as fotos e manchas de grama nos joelhos pelas tentativas de encontrar umângulo inédito são algumas das características básicas dos junkies .

Fonte: Blog Flowtown, How to spot an Instagram Junkie

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Na tentativa de compensar as limitações da câmera do celular, foram criados vários tipos de

lentes que se integram à lente do iPhone, de diversos formatos e capacidades técnicas.

Fonte: Divulgação Olloclip

Por fim, há a tentativa de transformar completamente ocameraphone em câmera, como o

foto.sosho, da i.am +, lançado em Dezembro de 2012. O modelo tem um sensor próprio que

transforma a câmera de 8megapixels do iPhone em uma câmera de 14megapixels . O acessório

também conta com três lentes intercambiáveis e um flash embutido. O modelo mais completo tem

ainda um teclado físico, que permite compartilhar e marcar fotos facilmente.

Fonte: Site Engadget, Teste foto.sosho

Por mais que as invenções surpreendam e excitem oshardcore users, famintos por

novidades que estimulem seu ladohi-tech-artístico , sempre tem alguém para torcer o nariz quandovê um celular sendo sacado do bolso, pronto para clicar um momento qualquer.

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15 NÃO CURTI

Ainda que pareça impossível para alguns, ainda existem pessoas que se sentemdesconfortáveis com coisas “não-autênticas” produzidas com ferramentas digitais nos dias de hoje.

Arlindo Machado, em Arte e Mídia (2010) atesta que “A arte sempre foi produzida com os meios do

seu tempo”, porém os meios eletrônicos sempre enfrentaram oposição no meio artístico.

As críticas mais contundentes recaem tanto na utilização do dispositivo como ferramenta

quanto nos aplicativos enquanto artifícios.

Nina Velasco e Cruz (2010, apud FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO), pesquisadora em

tecnologia e arte discorre sobre o assunto:A concepção original de techné, que pressupunha uma manualidade e um certo saber fazer do artista, nãofaz mais sentido no novo estatuto da arte tecnológica, quando a possibilidade de a mão exercer a suadestreza, em uma realização natural entre a vontade e a realização, é substituída por uma mediaçãotecnológica equivalente a uma caixa preta miraculosa que trabalha obscuramente. Na medida em que acriação contemporânea é tecnológica, o meio aparece em primeiro plano. O problema é que ele se tornademasiadamente visível, funcionando não como um instrumento estético, mas sim, constituindo muitasvezes o próprio objeto de arte.

E, para adquirir esse objeto de arte, que produz imagens “artísticas”, os “funcionários” seacotovelam em filas gigantescas, na expectativa de serem dos primeiros a manejá-lo, ou dos

primeiros a serem manejados por ele. Arte pressupõe liberdade. E esse dom maior se encontra

cerceado na caixa preta de Flusser (2011), com programas “imexíveis”, antes complexos, agora,

num segundo, ao alcance de um clique. Só os fotógrafos experimentais, que extrapolam as

programações, poderão, um dia, conquistar a liberdade em Fotografia. A linha que divide os

dispositivos eletrônicos entre serem puramente uma ferramenta ou pertencerem ao processo criativo

como um todo está cada vez mais frágil.A facilidade de aplicação de filtros em imagens fotográficas deteriora o trabalho fotográfico

e o infantiliza, em um processo que à primeira vista depende só de tentativa e erro, em um clicar

frenético.

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16 BOAS PRÁTICAS

Enquanto alguns criticam, alguns ignoram e alguns se acostumam com a ideia de fotografar no celular, já existem bons projetos ao redor do mundo para inspirar e provar que é possível

carregar a criatividade no bolso e criar qualidade móvel.

Everyday Africa : Peter DiCampo e Austin Merrill, dois jornalistas que muitas vezes

trabalharam na África como voluntários do Corpo de Paz, fotografam para redefinir a maneira com

que o Ocidente vê o continente africano. Peter DiCampo (2012 apud GORDON), ao explicar a

decisão pelo iPhone como aparato, ele afirma:Parecia que as outras fotos que eu estava fazendo simultaneamente - em um telefone bobo com umaplicativo bobo - pareciam mais honestas em sua natureza experimental. Às vezes a gente fotografa semum tema. Eu observo o homem no elevador, a simetria dos homens ao seu redor e as suas reflexões, afileira de luzes acima de sua cabeça. A imagem é interessante em seu caráter mundano, e é aí que reside averdade.

Foto: Everyday Africa

Glenna Gordon (2012), fotógrafa americana que tem vários trabalhos sobre a África, apoia o

uso do dispositivo: “Talvez o iPhone realmente banalize, mas, no caso das representações

controversas de Everyday Africa, esta não é a sua fragilidade, mas a sua força.”

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Damon Winter : O fotógrafo do New York Times, Damon Winter, ganhou terceiro lugar no

concurso de fotojornalismo “ Pictures of the Year International ” em 2011. Sua foto, " A GRUNT'S

LIFE " foi tirada e tratada em um iPhone, no aplicativo Hipstamatic. O emprego do iPhone e não da

câmera proporciona um processo mais casual e menos deliberado, que deixa os soldados mais à

vontade com a presença do fotógrafo e rende imagens mais espontâneas (não encenadas) eextremamente valiosas quando se registra um espaço de guerra.

Foto: Damon Winter

Alguns críticos simplesmente não se conformaram com o prêmio, que supostamente

"assassinava" de uma vez por todas o fotojornalismo. Winter (2012, apud BROOK), em sua defesa,declarou:

A essência de todas essas fotos é um momento ou um detalhe ou uma expressão que conta a história dodia a dia desses soldados durante uma missão de combate. Nada pode mudar isso. Nenhum conteúdo foiadicionado, retirado, disfarçado ou alterado. Estas são imagens extremamente francas e simples.

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Ben Lowy é um fotógrafo de guerra que está sempre trabalhando no Afeganistão, Líbia e

Iraque para capturar o drama dos conflitos. Recentemente foi chamado para cobrir os efeitos do

furacão Sandy nos Estados Unidos. Ocasionalmente, Lowy escolheu usar como ferramenta somente

seu iPhone e alguns aplicativos de edição, como Hipstamatic e Snapseed, além de usar o Instagram

para mandar as fotos para a revista Time enquanto trabalhava para eles. Uma dessas imagens setornou a capa da revista impressa de 12 de Novembro de 2012.

Foto: Ben Lowy - Revista Time

Quando perguntado sobre o iPhone, Lowy (2012, apud MARTIN) acredita que não é o

equipamento fotográfico que define a qualidade de uma fotografia, é a mente de um fotógrafo."Todo mundo tem uma caneta", disse ele, "mas nem todos podem desenhar."

Lowy ganhou como homenagem ao seu trabalho um set de lentes e efeitos de filme

batizados com seu nome no Hipstamatic. Ele estreou a novidade, que aplica um processamento

mínimo nas fotos, em sua viagem à Líbia.

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O fotógrafoJordan Murph , enviado para Londres pela revista Sports Illustrated, reportou

cenas das Olimpíadas de 2012 pelo Instagram.

Foto: Jordan Murph

O streaming das imagens de competições e preparação de atletas e torcedores alcançou seus

seguidores em tempo real, mostrando cenas curiosas e inéditas para um público ávido por

novidades.

Brad Mangin é um fotógrafo de esportes norte-americano, especializado na cobertura de

jogos de beisebol. Ele começou a tirar fotos com o iPhone em um dia em que teria que esperar uma

hora pelo início de um jogo importante, e se surpreendeu com o resultado. Logo baixou aplicativosque facilitassem a experiência e se cadastrou no Instagram. Foi quando teve a ideia de aproveitar

seu acesso aos bastidores dos estádios e procurar cenas inusitadas que pudesse postar enquanto o

jogo acontecia. O exercício foi tão divertido que o fez pensar em aposentar sua câmera. Aos 47

anos, Mangin (2012) diz: “É como se eu fosse um fotógrafo recém nascido vendo as coisas pela

primeira vez.”

Fotos: Brad Mangin73



Once In a Lifetime HD : projeto criado por um grupo de estudantes da Universidade de Tel

Aviv, financiado em parte pelo Ministério do Turismo de Israel. Seu objetivo é mostrar ao mundo

que há aspectos de sua terra natal que vão além do conflito político, que a vida cotidiana segue, que

há beleza e humor na sua história. Foram escolhidos dez usuários do Instagram para uma viagem de

dez dias a locais e lugares selecionados, especialmente belos e cativantes.

Foto: Once in a Lifetime

#BabesAtTheMuseum : fascinado com a elegância das pessoas que frequentam galerias dearte e museus, o jornalista e fotógrafo Xavier Aaronson promove atag #BabesAtTheMuseum e

seleciona, através do Instagram, fotos de mulheres belas em exposições de arte.

Fonte: Instagramtag #babesatthemuseum

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iDyssey , do fotógrafo Stefano De Luigi, é um projeto excelente que utiliza o iPhone para

recontar uma história épica, a Odisseia de Homero. Ele viajou pela Turquia, Grécia, Tunísia e Itália,

fotografando com o aplicativo Hipstamatic e gravando os ruídos de ruas, mares e estradas, pedindo

às pessoas que ele conheceu ao longo do caminho para que lessem trechos da Odisséia em sua

língua materna. Segundo De Luigi (2012, apud WENDER), “Na sociedade contemporânea, arevolução digital mudou drasticamente a transmissão de conhecimento e informação. Todo mundo

agora pode ser um contador de histórias”.

Fonte: Vídeo iDyssey

Steph Goralnick : a fotógrafa tem duzentos mil seguidores e, em média, quatro millikes por foto. A exposição de seu trabalho no Instagram abriu portas para oportunidades inesperadas, como

secretarias de turismo que a contratam para fotografar e postar sobre uma cidade e patrocinadores

de esportes que a levam para promover os jogos. Seu sucesso se deve a cenas cativantes, que

contam um pouco de história e, muitas vezes, trazem emoção. Ela costuma trocar experiências

sobre processo criativo e uso dos aplicativos com os fãs.

Foto: Steph Goralnick 75



O fotógrafo brasileiroClicio Barroso (@clicio), reconhecido no ramo por estar sempre à

frente quando o assunto é tecnologia, foi um dos primeiros profissionais a se aventurar no

Instagram. Em um texto de seublog , em 2011, caracterizou a atividade como um vício, um

exercício diário e divertido. Hoje Clicio tem mais de 55 mil seguidores e já ministrou cursos sobre

aplicativos e práticas da fotografia de celular, além de ter participado de exposições, como em 2011,"Unidades Instagram".

Foto: Clício Barroso

Nas palavras do fotógrafo (2011):"O que posso afirmar é que nunca imaginei que fosse ser tão feliz ao abandonar equipamentos pesados, princípios rígidos, regras engessadas e papos técnicos intermináveis. Apertar o botão sem nenhumcompromisso a não ser comigo mesmo, com um minúsculo aparelhinho que está sempre no bolso, é a

libertação total de que precisava para simplesmente fotografar."

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A estética e a tecnologia do Instagram ultrapassaram a esfera da fotografia e influenciaram

também a criação devideoclipes musicais . Alguns exemplos das práticas são: o clipe “Invasión”,

da Banda Mexicana The Plastic Revolution, um stop-motion com 1900 fotos tratadas

exclusivamente com o aplicativo.

Fonte: Vídeo Invasión

Já a cantora Alicia Keys convocou os fãs pelo Instagram para mandarem imagens com a tag

#aknewday, as melhores foram selecionadas e apareceram no clipe da música “New Day”. A Banda

The Vaccines fez algo parecido, pedindo que os fãs mandassem fotos que representassem a loucura

dos festivais musicais com atag #vaccinesvideo. Também por essa linha, a cantora britânica, Ellie

Goulding e a Australiana Kylie Minogue já usaram fotos de fãs para divulgar as faixas “Anything

Could Happen” e “Flower”. A banda brasileira Móveis Coloniais de Acaju também fez o clipe

“Vejo em teu Olhar” da mesma maneira, com fotos de fãs e atag #instamoveis.

Por fim, o clipe “Turn Up The Radio”, da Madonna, não usa o Instagram como ferramenta,

porém a referência dos filtrosvintage é facilmente percebida.

Fonte: Vídeo Turn Up The Radio

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O premiado produtor de vídeo emultimídia Richard Koci Hernandez (@koci) é um

verdadeiro entusiasta da fotografia móvel. Como street photographer, mudou todo seu processo

fotográfico graças ao iPhone: acelerou ooutput , expandiu a motivação e criou outras possibilidades

artisticas. Além disso, ele lançou oblog Life in Lo-Fi , com dicas sobreiPhoneography e

desenvolveu, para seu público de mais de cento e sessenta mil followers , um estilo inconfundível noInstagram, tanto visualmente quanto em suas legendas, sempre citações muito inspiradas.

Foto: Richard Koci Hernandez - Instagram

Para encerrar os bons exemplos com grandeza, até a sonda espacial da Nasa,Mars

Curiosity tem uma conta no Instagram (@marscuriosity).Se um robô a 225 milhões quilômetros da

Terra se dá ao trabalho de atingir o seu público através do Instagram, não há quem não deva.

Foto: Mars Curosity79



17 TAKE IT EASY

Muito do encanto do Instagram se deve à leveza da plataforma e dos temas. Enquanto asoutras redes sociais se preocupam com notícias, pedidos e denúncias, o Instagram só vê muito mais

beleza, cor e poesia. Prevalecem o caráter lúdico e o ambiente tranquilo. Algumas vezes também, a

ironia tomou conta das notícias e deu motivo para diversão e riso. Alguns casos e usos notáveis que

exploram a fotografia de celular com a graça que lhe é característica são exemplificados a seguir:

#instagramporescrito

Os servidores do Instagram saíram do ar, o aplicativo não respondia. Enquanto isso, no

Twitter, os viciados entravam em abstinência sem poder postar. Foi então que o jornalista e

blogueiro Alexandre Matias, com medo de perder o registro diário do céu matinal, postou no

Twitter: “Sol lindo, vou pra rua. #instagramporescrito”. Em pouco tempo atag dominou as

timelines com todo tipo de hilárias imagens-clichê transcritas e foi parar no topo dostrending topics

do Brasil.

Fonte: Twitter

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Put a filter on me

Julia Mattison, cantora americana, famosa no Youtube por paródias cheias de sarcasmo,

lançouThe Instagram Song (put a filter on me) , satirizando os viciados no aplicativos, que passam

o dia fotografando e fazendo malabarismos no meio da rua, procurando aquele clique mágico em

tudo que elas veem, desde um morador de rua até à comida, passando ainda por cocô de cachorroque, com o filtro certo, vira arte.

Fonte: Vídeo Put a Filter on Me

Não adianta negar

A banda Forró Real se aproveitou de um aspecto da fotografia de celular nas redes sociais

que sempre dá o que falar: as brigas dos casais diante das provas virtuais:

“Você só me falou porque / Não tinha como esconder

Como ia negar? / Deixou alguém te fotografar

Você foi infantil / Vacilou, todo mundo viu

Não vou te perdoar / Eu vi a foto no celular .”

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@Ambulante

Direto do cruzamento da Avenida Brasil com a Rua Venezuela, o vendedor de rua Alê Das

Capas, conhecido dos fanáticos por capinhas personalizadas de celular, informa, via Instagram, os

lançamentos da semana, as promoções e agradece aos melhores clientes pela compra. Isso não é só

fotografia ao alcance de todos, é Marketing ao alcance de todos!

Foto: Ale Das Capas - Instagram

Chic é não ter regra

A jornalista de moda e etiqueta Glória Kalil resolveu, em um belo dia de Abril de 2012,

escrever uma coluna em seu blogChic sobre o Instagram. Nela, citou 11 “regrinhas” do que não

postar no aplicativo, como fotos de pratos de comida, no espelho e de pés. O artigo imediatamente

ecoou nas redes sociais, e osinstagramers , sentindo-se invadidos pela chuva de pode-não-pode,

revoltaram-se e transformaram os princípios em piada, postando milhares de fotos do que era

“proibido” com as tags provocativas #instakalil e #beijogloria. A graça do Instagram é exatamente a

falta de regras e a liberdade para expressar o que bem quiser, sem preconceitos. Não dá para brincar

com isso!

Foto: Karen Caetano - Instagram

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18 COR DE INSTANTÂNEO

O Instagram despertou no mundo da fotografia digital uma verdadeira febre acerca das fotoscom aspectoretrô , como se todos tivessem viajado no tempo para o início dos anos 70. Há a

valorização da imagem com falhas, no sentido do apuro técnico, adicionando subjetividade à cena,

na tentativa da criação de uma linguagem própria e um estilo individual.

A palavra-chave quando se trata das escolhas visuais do Instagram é nostalgia. Os filtros, tão

adorados e populares, nada mais são do que técnicas analógicas antigas “requentadas” e facilitadas

digitalmente. Com isso em mente, não há consenso em definir se há uma estética própria (e nova)

para a fotografia de celular ou se não há inovação alguma.

O site de serviços fotográficos 1000 Memories publicou a “fórmula” analógica para cada um

dos filtros do Instagram, desvendando de onde vem a inspiração do aplicativo:

Fonte: Blog 1000 Memories - Old School Instagram Filters

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A inovação está na facilidade técnica, na tentativa e erro e no apertar de botões. Cada vez

mais os aplicativos sugerem formas rápidas e intuitivas de tratar as imagens, desmistificando um

trabalho, antes visto como exaustivo: o tratamento da imagem.

Cores super saturadas, vazamentos de luz, sobreposições, brilhos estourados e molduras

vintage , saíram da rede social e invadiram também a publicidade, o vídeo e a moda. Antes doInstagram, o aplicativo Hipstamatic já tentava reproduzir nas imagens o visual das câmeras de

brinquedo de baixa definição, como a Lomo, por exemplo. A sensação em torno da câmera foi tanta

que transformou (ressuscitou?) atoy camera em um ícone cultural e provocou a retomada de sua

produção.

Foto: Divulgação Lomo

Uma referência inegável para a estética do Instagram é a Polaroid, a referência em câmeras

instantâneas. O Instagram cumpre hoje o mesmo papel social que as Polaroids cumpriram em seutempo: gerar fotos de qualidade aceitável e divertidas, que podem ser facilmente compartilhadas

com amigos, mesmo que existam soluções de qualidade técnica muito maior e estética mais

apurada. Além disso, assim como o Instagram, as Polaroids sempre foram extremamente populares

e discriminadas pelos defensores da “fotografia séria”. As pessoas tornaram ambos populares não

apesar de, mas exatamente por causa das suas limitações técnicas.

Foto: Divulgação Polaroid

A Polaroid tem cor de saudade.

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19 SAUDADE DE ONTEM

A nostalgia é o sentimento de leve pesar, despertado pela lembrança de um tempo bom, deum tempo passado. Levando o conceito para a Fotografia,Susan Sontag (2004) deniu bem: “Todas

as fotos sãomemento mori , lembranças de algo que já desapareceu.”O curioso da nostalgia na estética instagrâmica é que a maioria dos usuários apaixonados

pelos efeitosvintage sequer viveu na época em que esses eram referência, então o sentido implícitonas cores desbotadas não é o de sentir saudade de um tempo em que não se viveu, é da saudade deontem, já que os dias passam rápido demais.

A narrativa fotográfica, intimamente conectada com a duração do tempo, vem sofrendo

alterações consideráveis na cultura contemporânea. O comportamento atual, que une a produção

fotográfica exacerbada e a nostalgia, evidencia uma mudança fundamental na noção de tempo, na

percepção da temporalidade.

A Fotografia, antes enunciada como lugar de memória e construção do passado, integra-se

ao próprio fato presente, intensificando-o e fazendo parte da experiência em si. A pesquisadora da

Universidade de Princetown, nos Estados Unidos, Christy Wampole (2012) reflete:Os ciclos da nostalgia se tornaram tão curtos que tentamos injetá-los até mesmo no momento presentecom sentimentalismo, por exemplo, usando certos filtros digitais para "pré-lavar" as fotos com uma aurade historicidade. Nostalgia precisa de tempo. Não se pode acelerar lembrança significativa.

A partir do momento em que todo acontecimento é registrado e tem status de especial, não

há mais singularidade nos fatos, que se sucedem em um ritmo frenético e contínuo, cada vez mais

acelerado, implacável. Cria-se assim uma saudade do ontem, uma nostalgia do minuto anterior, um

sentimento de que o tempo passa rápido demais e que tudo perde significado rápido demais. Nas

palavras de Umberto Eco (2012), os acometidos pela síndrome do olho eletrônico “...estãocondenados para sempre a esquecer hoje o que registraram ontem.”

Por outro lado, pode ser que os filtros coloridos disfarcem uma vida de insatisfação e vazio.

Pode ser que as falhas técnicas mascarem a falta de sentido. Pode ser que a busca social engane um

pouco a carência. Na sabedoria de Pablo Picasso: “A arte é uma mentira que diz a verdade.”

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Diante disso há, sem dúvidas, um certo caráter efêmero em grande parte da fotografia de

celular. Sua importância é transitória: após o registro e o compartilhamento, sobram poucas marcas

para o futuro. A imagem é descartável. O foco é no imediato. Há muito pouca preocupação com a

preservação dessas imagens no tempo. O armazenamento é feito de forma descuidada e, entre tantos

serviços de dados disponíveis atualmente, poucos têm ferramentas dedicadas a preservar essesregistros. Há de se ressaltar que atualmente vem sendo percebida uma maior preocupação com a

durabilidade desses registros, através dobackup em nuvem e de várias formas de impressão.

As fotografias, ainda que efêmeras, fazem parte hoje da construção da imagem das pessoas.

O acúmulo de experiências compartilhadas se torna fundamental, já que a consciência de si só se

consolida na exterioridade. Sem visibilidade não há personalidade. As novas referências, porém, são

efêmeras, baseadas em modismos e ondas que passam cada vez mais rápido. As identidades são

construídas por narrativas não lineares, instáveis e passageiras. O filósofo polonês Zygmunt

Bauman (2008) em sua obra A Sociedade Individualizada define com precisão:Como tudo o mais, as identidades humanas – suas autoimagens – se dividiram em coleções deinstantâneos, cada uma tendo que evocar, carregar e expressar seu próprio significado, muitas vezes semse referir a outros instantâneos. Em vez de construir nossa identidade de maneira gradual e paciente,como se constrói uma casa, lidamos com formas montadas instantaneamente, apesar de desmanteladascom facilidade, pintadas umas sobre as outras; é uma identidade palimpséstica. É o tipo de identidade quese adapta a um mundo em que a arte de esquecer é um bem mais importante do que a arte de memorizar;

em que esquecer, mais do que aprender, é a condição de adequação contínua, segundo a qual novas coisase pessoas entram e saem do campo de visão da câmera estacionária da atenção e onde a própria memóriaé como uma fita de vídeo, sempre pronta para ser apagada para poder gravar novas imagens.

Entre tantas imagens fica difícil definir onde moram as verdadeiras memórias.

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20 GRANDE LIVRO DE PEQUENAS MEMÓRIAS

Em conjunto com o trabalho teórico, também é apresentado um projeto prático: Grande livrode pequenas memórias. O objetivo do projeto é a edição de ume-book a partir de fotografias feitas

com celular e compartilhadas no aplicativo Instagram, representando, através da abundância de

imagens, a tendência contemporânea de poetizar os momentos cotidianos e transformá-los em algo

memorável, tudo ministrado com leveza, poesia e bom humor. O caráter lúdico está presente na

seleção e na disposição das imagens, dispostas primeiramente por assunto e, em seguida, por tom de

cor outag em comum.

Fonte: Grande livro de pequenas memórias - Karen Caetano

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O formato dee-book foi escolhido, pois é um meio portátil, assim como o celular. A

facilidade de acesso emtablets , smartphones , notebooks e computadores é um valor de

diferenciação do projeto, pois reafirma a evolução dos caminhos da mídia.

A portabilidade também contribui para facilitar a difusão do conteúdo, além de resolver

problemas de custos com impressão e capacidade de armazenamento. O Grande livro de pequenasmemórias foi confeccionado no software iBooks Author, que além de permitir a publicação

instantânea naiBooks Store , permite também a inserção de efeitos de multimídia como áudio e

videoclipes, expandindo a experiência da leitura e excedendo expectativas. O tamanho da tela e a

diagramação das páginas foram decididos pensando nas proporções de visualização emtablets ,

especialmente oiPad .

Outro fator-chave considerado é a acessibilidade, pois a visualização no arquivo eletrônico

pode ser facilitada para os mais distintos grupos, mesmo os que têm alguma dificuldade de leitura

podem usar o zoom e os diferentes níveis de contraste a seu favor.

Além de links nas mídias sociais que podem disponibilizar odownload do arquivo no

formato Adobe PDF, esse também pode ser divulgado e acessado viaiBooks Store , a livraria dos

dispositivos iOS, o que desperta o interesse de novos leitores e potencializa as oportunidades de

difusão do conteúdo para um público que difere do público original, formado somente por próximos

e conhecidos.

O objetivo do livro é tornar-se um passeio descompromissado entre memórias e momentos

cheios de cores e significados, é um sneak peek de uma vida, uma seleção de snapshots e recortes

visuais , sem maiores pretensões. Algumas imagens despertam emoções, algumas provocam. Outras

tantas são somente curtos fragmentos de uma situação específica, doces lembranças de um dia ou

outro. Às vezes também amargam a garganta. Há uma certa tentativa de coesão, porém a balbúrdia

insiste em dar o tom, ainda mais quando o exercício de selecionar se dá entre mais de novecentas

imagens criadas em pouco mais de dois anos.

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21 CONCLUSÃO

A proliferação da cultura digital e da convergência de dispositivos trouxe, e traz, mudanças profundas no modo em que as pessoas vivem, trabalham, se comunicam e se divertem. O ritmo das

mudanças se intensifica cada vez mais e não há como voltar no tempo. A possibilidade de estar

sempre conectado mudou os hábitos de maneira tão profunda que as redes sociais se tornaram bases

importantes para a construção da personalidade e percepção da realidade. O surgimento dessa nova

tecnologia de comunicação tem grandes impactos na organização social e na forma como os

indivíduos se percebem no tempo e no espaço.

As pessoas encontraram na comunicação móvel uma forma eficiente de expressão e de

reafirmação de identidade. Em meio a esse contexto, a Fotografia de celular encontrou espaço para

crescer barbaramente. Ocameraphone democratizou o clique. O ato fotográfico faz parte do dia a

dia e se insere em toda ocasião. Contando suas histórias através das mídias sociais e do Instagram,

surge o interesse pelos aplicativos fotográficos e pela fotografia em si. O interesse evolui para

paixão, obsessão, vício. Olhos eletrônicos curiosos invadem todos os ambientes, desde os mais

exuberantes até os mais inóspitos. As cores lavadas de efeitos do passado migram para outras

manifestações culturais, em um episódio de estéticas requentadas e de nostalgia desenfreada.

As práticas dessa nova horda de fotógrafos domésticos são particulares. Os motivos que os

levam a fotografar são diversos, distintos daqueles de quem carrega uma câmera. Se por um lado o

cameraphone tem limitações técnicas inquestionáveis, por outro sua ubiquidade e praticidade

surpreendem. Enquanto isso, os aplicativos se multiplicam, tornando cada vez mais fácil fazer cada

vez mais coisas.

Os fotógrafos casuais formam uma comunidade coesa e dedicada, de crítica, aprendizado edesenvolvimento criativo. A comunicação via imagens não substitui os outros meios de

comunicação de mídia, pois é vista como umhobby , uma forma de entretenimento, uma paixão que

é desenvolvida e aprimorada, uma nova habilidade descoberta.

Há quem critique, alegando que o excesso de tratamento descaracteriza a essência da

fotografia e que um processo tão automatizado não pode criar nada senão lixo eletrônico. Entretanto

alguns fotógrafos precursores obtiveram sucesso em suas experimentações móveis, seja pela

imperceptibilidade do dispositivo, pela agilidade alcançada ou pela simples ampliação de seu público.

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De qualquer maneira, "Enquanto parece que uma nova tecnologia fotográfica nasce a cada

dia, a fotografia ainda é o que fazemos dela, não o que ela faz de nós.", afirma a professora de arte

da Syracuse University, Mary Warner Marien (2012).

Mesmo que sejam adicionados novos usos e novas práticas e que nos valhamos das

fotografias para novas formas de expressão e comunicação, a essência de congelar os momentoscolecionáveis sobrevive acima de tudo. Somos acumuladores compulsivos de cenas.

Mesmo em meio a tanto estímulo visual, algumas imagens ficam para sempre, gravadas não

em papel nem em espaço digital, mas na memória. A emoção é a matéria-prima da Fotografia.

Mesmo que haja tanta saudade, as imagens encantam o olhar, encontram poesia no dia a dia

e criam, a todo o momento, uma história que vale a pena contar.

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